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<p>Programa Mais Médicos para o Brasil</p><p>CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM MEDICINA</p><p>DE FAMÍLIA E COMUNIDADE</p><p>Semana 16 Encontro 2</p><p>Semana: 16 | Encontro: 2</p><p>Webconferência – Casos Complexos na Atenção Primária à</p><p>Saúde (APS)</p><p>Olá, profissional estudante!</p><p>Este material visa orientar as questões relacionadas à atividade proposta para a</p><p>webconferência sobre casos complexos na APS. Solicitamos que você assista ao vídeo</p><p>produzido para esta semana e leia atentamente as orientações propostas neste guia.</p><p>Orientação da atividade</p><p>Esta atividade terá duas horas de duração e você deve participar ativamente, trazendo</p><p>reflexões a respeito da situação problema, correlacionando-a com casos complexos da</p><p>sua realidade. Nesta semana teremos um vídeo que traz a discussão do manejo de</p><p>casos complexos e uma situação problema que guiarão as discussões do grupo.</p><p>Destacamos a importância da leitura dos materiais sugeridos e dos conteúdos</p><p>abordados na aula.</p><p>Analise os objetivos de aprendizagem a seguir e, no andamento deste encontro,</p><p>verifique se conseguiu atingi-los.</p><p>Objetivos da atividade:</p><p>1. Refletir, a partir de um caso complexo, que ferramentas podem ser utilizadas</p><p>pelo médico de família e comunidade;</p><p>2. Compreender a importância da gestão do tempo na atenção às pessoas com</p><p>problemas complexos;</p><p>3. Elaborar um plano de cuidados com a equipe para estas pessoas.</p><p>Agora, leia e analise a situação problema que aborda as demandas apresentadas pelo</p><p>Sr. José Clemente. Vamos conhecer esta situação, acompanhe!</p><p>Situação problema</p><p>Numa visita domiciliar, o médico da equipe avalia o Sr. José Clemente, aposentado de</p><p>66 anos de idade, pardo, provedor da família, que há 1 ano teve um AVC isquêmico que</p><p>o deixou hemiparético à esquerda. Atualmente, toma regularmente 1 comprimido de</p><p>hidroclorotiazida 25mg pela manhã mantendo a PA em torno de 150x90mmHg. O Sr.</p><p>Guia do Profissional Estudante – Atividades Síncronas</p><p>José Clemente não é etilista nem tabagista, mas tornou-se sedentário após o evento</p><p>isquêmico. Não foi possível averiguar seu peso devido à dificuldade de equilíbrio sobre</p><p>a balança, sendo feita a aferição da cintura abdominal que mediu 118 cm. Seu</p><p>eletrocardiograma e seus exames laboratoriais estão todos dentro da faixa de</p><p>normalidade. Seu LDL foi próximo a 120mg/dL nos 2 últimos exames.</p><p>Médico:</p><p>– Então, Sr. Clemente, o senhor está me dizendo que anda desanimado desde</p><p>que teve o derrame?</p><p>Sr. José Clemente:</p><p>– É verdade, doutor, e Deus me perdoe, mas tem hora que eu acho que era</p><p>melhor eu ter morrido. Eu sempre fui muito ativo, sempre corri para manter as</p><p>coisas aqui em casa funcionando, mas agora não faço nada... (facies depressiva)</p><p>Médico:</p><p>– Dá para ver que o senhor realmente está bastante abalado com a situação, Sr.</p><p>Clemente. Mas me fala o seguinte: o que foi que o senhor deixou de exercer e</p><p>que gostaria muito de voltar a fazer?</p><p>Sr. José Clemente:</p><p>– Ah, doutor, tem tanta coisa, mas acho que o principal mesmo é ir à igreja. Eu</p><p>era muito ativo na igreja e tinha muitos companheiros que encontrava lá. Agora</p><p>de vez em quando eles vêm aqui em casa, mas não é a mesma coisa.</p><p>Médico:</p><p>– E quanto às coisas básicas, Sr. Clemente, o banho, por exemplo, o senhor</p><p>precisa de alguma ajuda?</p><p>Sr. José Clemente:</p><p>– Minha esposa me ajuda a esfregar os lugares que eu não alcanço, mas não é</p><p>todo dia que ela quer ajudar não, doutor.</p><p>Inácia, a esposa, interrompe na hora.</p><p>Inácia:</p><p>– Você sabe que não é querer, não é Clemente? (fala com bastante raiva). É só</p><p>eu para cuidar dessa casa toda e agora tenho que cuidar até de você, como se</p><p>eu mesma não tivesse meus próprios problemas. Eu já estou quase dependente</p><p>de paracetamol para minha coluna, e essa dor nunca resolve, é só eu parar de</p><p>usar o remédio que a dor volta – virando-se para o médico. – Eu já tenho 63</p><p>anos, doutor, não tenho mais a mesma energia e agora com essa “doraiada” a</p><p>coisa ficou pior ainda.</p><p>Médico:</p><p>– É, dona Inácia – o médico responde em tom de apoio – estou vendo que a</p><p>senhora tem se sentido desgastada.</p><p>Inácia:</p><p>– Isso mesmo, doutor, a gente luta tanto para chegar no final da vida e só</p><p>encontra problemas (desabafa). Eu tenho dois filhos que moram comigo, mas</p><p>são dois rapazes, não tem como ajudar. Se pelo menos eu tivesse uma filha para</p><p>me ajudar (suspira). E eu faço as coisas, sim. Eu só não faço quando não dou</p><p>conta. E o tanto de chá que eu faço para baixar sua pressão. Faço sua comida</p><p>separada para baixar a pressão. Compro esses óleos que não têm colesterol</p><p>para ver se baixa sua pressão. E quando tenho tempo faço exercício com seu</p><p>braço para ver se melhora um pouco. Acho que é esse tanto de coisa que está</p><p>piorando minha coluna.</p><p>Sr. José Clemente:</p><p>– Você está aí reclamando, Inácia? Você tinha que agradecer a Deus pela sua</p><p>saúde, olha só para mim com esse braço e essa perna quase mortos...</p><p>Inácia:</p><p>– Não sei que saúde, com esse tanto de dor, não é, doutor?</p><p>Médico:</p><p>– Cada um sabe onde seu calo aperta. Eu quero muito acompanhar vocês dois,</p><p>mas por conta do tempo, hoje eu vou priorizar o Sr. Clemente, que tem</p><p>dificuldades de locomoção e depois eu gostaria de marcar uma consulta só para</p><p>conversar sobre os problemas da senhora, dona Inácia. A senhora concorda?</p><p>Inácia:</p><p>– Sim, doutor, eu concordo.</p><p>Médico:</p><p>– O senhor me dizia que tem dificuldades para realizar algumas atividades.</p><p>Como é com relação à comida?</p><p>Sr. José Clemente:</p><p>– Bem, doutor, eu como sozinho, só a carne que eu não consigo cortar sozinho,</p><p>mas a Inácia já coloca no meu prato cortado e eu como sozinho.</p><p>Médico:</p><p>– E para vestir-se?</p><p>Sr. José Clemente:</p><p>– A Inácia também me ajuda com a calça e a camisa, mas eu faço a maior parte.</p><p>Médico:</p><p>– E para ir ao banheiro, algum problema?</p><p>Sr. José Clemente:</p><p>– Nenhum. Mesmo de noite eu me levanto sozinho, vou até o banheiro na</p><p>minha velocidade, apoiando nos móveis da casa, e faço minhas necessidades.</p><p>Me limpo e volto para a cama. Mas teve uma noite que estava tudo escuro e eu</p><p>tropecei no tapete e caí. Não consegui me apoiar em nada a tempo. Quando</p><p>percebi já estava no chão. Sorte que não bati em nada.</p><p>Médico:</p><p>– Isso já aconteceu antes?</p><p>Sr. José Clemente:</p><p>– Não, foi a primeira vez.</p><p>Médico:</p><p>– E o senhor sentiu alguma tonteira?</p><p>Sr. José Clemente:</p><p>– Não, só cai mesmo porque não vi o tapete. Estava tudo escuro e o interruptor</p><p>fica do outro lado da sala.</p><p>Médico:</p><p>– O senhor consegue segurar a urina e as fezes a tempo de chegar ao banheiro,</p><p>ou já aconteceu de eliminar alguma coisa nas calças?</p><p>Sr. José Clemente:</p><p>– Tem hora que eu fico apertado, porque eu ando devagar, mas sempre deu</p><p>tempo.</p><p>Médico:</p><p>– Tem mais alguma coisa que está incomodando o senhor que eu não</p><p>perguntei, Sr. Clemente?</p><p>Sr. José Clemente:</p><p>– Acho que é só isso, doutor.</p><p>Médico:</p><p>– Está certo então, vamos examiná-lo agora.</p><p>O exame físico não revelou qualquer alteração comparada ao último.</p><p>Na outra semana, durante a reunião de equipe, o médico discute o caso. Todos</p><p>concordam que o Sr. Clemente se encontra desanimado desde o AVC. Quando foram</p><p>discutidas as opções de apoio ao Sr. Clemente, a agente comunitária de saúde</p><p>informou que o paciente possui um vizinho que sempre vai de carro para a igreja e que</p><p>provavelmente não teria problemas em dar carona ao Sr. Clemente, pois o vizinho é um</p><p>homem muito bom.</p><p>Agente de saúde:</p><p>– Sabe outra coisa que a gente podia fazer, doutor, eu poderia conversar com o</p><p>grupo que se reúne toda semana na igreja para ver se eles não podem se reunir</p><p>na casa do Sr. Clemente que é bem grande. Era ele quem conduzia a reunião</p><p>nas quartas-feiras à noite.</p><p>Enfermeira:</p><p>– Boa ideia! Acredito que isso vai animá-lo bastante. Mas tem outras coisas que</p><p>me preocupa. Numa visita o Sr. Clemente estava todo sujo e com fome. Quando</p><p>eu perguntei por que ele estava naquela situação, ele me disse que a esposa</p><p>tinha saído cedo e que até aquele momento não havia voltado.</p><p>Auxiliar de enfermagem:</p><p>– Temos muita coisa para fazer ainda, mas acho que a gente tem que decidir</p><p>quais são as maiores prioridades e fazer as coisas passo a passo, senão a gente</p><p>se perde. O que vocês acham?</p><p>Todos concordam e tentam estabelecer as prioridades, baseadas também nos desejos</p><p>que o Sr. Clemente demonstrou nas últimas consultas.</p><p>A situação enfrentada pelo Sr. José Clemente necessita de muitas abordagens para que</p><p>todas as demandas que ele enfrenta devido à sua condição física e emocional sejam</p><p>compreendidas. Os profissionais da saúde precisam atuar em conjunto e planejar</p><p>ações que incluem o auxílio também da comunidade em que o Sr. José Clemente faz</p><p>parte.</p><p>Podemos, dessa forma, classificar essa demanda como um caso complexo. Para que os</p><p>profissionais estudantes entendam um pouco mais sobre o que significa um caso</p><p>complexo, leia com os estudantes o significado apresentado no Dicionário Infopédia da</p><p>Língua Portuguesa, descrito a seguir, e peça a eles que analisem o significado a partir</p><p>da situação problema apresentada.</p><p>CASOS COMPLEXOS – Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC)</p><p>Autor: Júlio Cesar Rocha Nunes.</p><p>Significado de Complexo: Muito complicado, difícil; complicado, hermético. De difícil</p><p>compreensão; que não é simples de se entender; difícil, confuso. Desprovido de percepção;</p><p>sem entendimento nem clareza; confuso.</p><p>Construção com inúmeras partes que estão ligadas entre si, formando um todo. Que abarca</p><p>e compreende vários elementos ou aspectos distintos, apresentando relações de</p><p>interdependência.</p><p>Etimologia (origem da palavra complexo). A palavra complexo deriva do latim “complexus, a,</p><p>um”, forma derivada de “complecti”, que significa abarcar, compreender, conter em si.</p><p>Classe de palavras: Adjetivo.</p><p>Fonte: Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa.</p><p>Agora que você já conhece a situação problema, analise as perguntas disparadoras e</p><p>anote as suas percepções sobre cada pergunta. E aproveite para participar ativamente</p><p>da discussão.</p><p>Perguntas disparadoras:</p><p>1. Faça a lista de problemas do Sr. Clemente.</p><p>2. Quais as premissas que devem ser levadas em conta para se fazer uma abordagem</p><p>familiar durante uma atividade assistencial?</p><p>3. Discuta como a investigação sobre os processos de decisão familiar ajuda o médico a</p><p>perceber melhor a razão da procura dos serviços de saúde.</p><p>4. Discuta ações que devem ser tomadas junto com a família para melhorar as</p><p>condições do paciente.</p><p>5. Como o tratamento para prevenção secundária de AVC pode ser otimizado?</p><p>6. Discuta a diferença entre atividades básicas de vida diária e atividades instrumentais</p><p>de vida diária.</p><p>7. Classifique a habilidade do Sr. José Clemente (dependente, independente ou</p><p>dependente parcial) em desempenhar cada uma das atividades básicas de vida diária.</p><p>Comente a importância de se obter esses dados.</p><p>8. Cite medidas para se minimizar as quedas e/ou suas consequências.</p><p>9. Classifique e comente o tipo de violência que o paciente vem sofrendo.</p><p>10. Como deve ser abordada a violência sofrida pelo paciente.</p><p>Atenção: é importante que você anote suas reflexões e apontamentos para a discussão</p><p>no encontro síncrono. Sua participação é essencial! Aproveitamos para desejar,</p><p>também, um excelente encontro síncrono.</p><p>Bons aprendizados!</p>