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<p>CONTABILIDADE</p><p>SOCIETÁRIA</p><p>OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM</p><p>> Estabelecer o tratamento contábil para os estoques.</p><p>> Diferenciar a mensuração pelo valor de custo e pelo valor realizável líquido.</p><p>> Relacionar os itens obrigatórios de divulgação sobre os estoques.</p><p>Introdução</p><p>Em decorrência da necessidade de alinhar a contabilidade brasileira com as</p><p>regras contábeis internacionais, os órgãos normativos de nosso país desenvol-</p><p>veram normas com a finalidade de acompanhar a legislação contábil mundial.</p><p>O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), entidade responsável pela</p><p>emissão de documentos técnicos sobre procedimentos de contabilidade a</p><p>serem adotados pelos profissionais contábeis, editou pronunciamentos com</p><p>a finalidade de melhorar a qualidade e a confiabilidade das demonstrações</p><p>contábeis. Ao gerar dados mais confiáveis, a contabilidade propicia segurança</p><p>aos gestores e demais interessados nas informações contábeis.</p><p>O principal interesse de uma empresa privada é obter lucro, seja prestando</p><p>serviços ou vendendo seus produtos (ou até ambos). Gelbcke et al. (2018)</p><p>ensinam que os estoques estão intimamente ligados às principais áreas de</p><p>operação das companhias e envolvem problemas de administração, controle,</p><p>contabilização e, principalmente, avaliação.</p><p>Estoques</p><p>(CPC 16 [R1])</p><p>Marcelo Cristiano de Mello</p><p>Para Rodrigues, Souza e Dalfior (2015), os estoques têm as seguintes utili-</p><p>dades: proteger contra o aumento de preços; criar uma reserva contra contin-</p><p>gências; propiciar economia na produção. Os autores enxergam os estoques</p><p>como agentes reguladores na lei de oferta e demanda, pois eles possibilitam</p><p>uma produção mais constante, não oscilando com as flutuações das vendas</p><p>quando sua gestão é efetiva e a empresa em questão conhece seu mercado.</p><p>Neste capítulo, você vai estudar como definir o tratamento contábil para os</p><p>estoques, contemplando a sua contabilização, o método e os critérios usados</p><p>para atribuir custos aos estoques. Você também vai entender a distinção entre</p><p>a mensuração pelo valor de custo e pelo valor realizável líquido, entendendo</p><p>os seus respectivos critérios, além de identificar e classificar os itens sobre</p><p>os estoques que devem obrigatoriamente ser divulgados nas demonstrações</p><p>contábeis.</p><p>Os estoques e o seu tratamento contábil</p><p>Iudícibus (2021) considera o grupo de contas estoque um item muito impor-</p><p>tante dentro do ativo de muitas empresas e fundamental para determinar</p><p>o resultado do período. Almeida (2014) salienta que todas as empresas têm</p><p>alguma espécie de estoque, seja para revender, utilizar no serviço prestado</p><p>ou então no processo produtivo ao longo da cadeia de produção de algum</p><p>produto. Identificado como um subgrupo localizado no ativo circulante, o</p><p>estoque compreende todas as contas que representam os bens sujeitos à</p><p>comercialização ou produção de itens ligados ao objeto de sua atividade e</p><p>gênero, podendo ser decomposto em estoque de produtos acabados, merca-</p><p>dorias para a revenda, serviços em desenvolvimento, estoques de produtos</p><p>em elaboração, estoque de matérias-primas e estoque de insumos e em</p><p>consignação (HOOG, 2013).</p><p>Para Almeida (2014), os estoques se relacionam diretamente com as re-</p><p>ceitas das entidades, pois estas se originam das vendas ou da prestação de</p><p>serviços e devem ser confrontadas com o valor dos estoques de produtos ou</p><p>materiais que saíram da entidade, na entrega de produtos ou de materiais</p><p>utilizados nos serviços prestados (quando as receitas são confrontadas com</p><p>as despesas). Nesse contexto, cada empresa e cada setor tem características</p><p>próprias no uso/consumo, na manutenção e/ou vendas dos estoques, ou</p><p>seja, quando uma empresa entrega seus estoques aos seus clientes, ela pode</p><p>reconhecer receitas (ALMEIDA, 2014). Para Hendriksen e Van Breda (1999), nor-</p><p>malmente os estoques são encarados como saldos de mercadorias, embora</p><p>a contabilização desse fluxo de mercadorias seja geralmente considerada</p><p>Estoques (CPC 16 [R1])2</p><p>mais importante. Tradicionalmente, na contabilidade, os saldos ao final de</p><p>um período relacionam-se aos fluxos desse período, muito embora possam</p><p>ser determinados de forma residual; assim, a avaliação dos saldos é afetada</p><p>pela vinculação dos valores de entrada a receitas do período precedente à</p><p>data do balanço, podendo, também, ser afetada pelo processo de vinculação</p><p>de exercícios anteriores (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999).</p><p>O pronunciamento técnico CPC 16 define estoques como se observa na</p><p>Figura 1.</p><p>Figura 1. Definições de estoque.</p><p>Fonte: Adaptada de Comitê de Pronunciamentos Contábeis (2009).</p><p>Estoques são ativos</p><p>Mantidos para venda</p><p>no curso normal dos</p><p>negócios</p><p>Na forma de materiais ou</p><p>suprimentos a serem</p><p>consumidos ou transformados</p><p>no processo de produção ou</p><p>na prestação de serviços</p><p>Em processo</p><p>de produção</p><p>para venda</p><p>OU</p><p>Devido à convergência das normas contábeis brasileiras aos padrões de</p><p>contabilidade internacional, o tratamento contábil dos estoques sofreu alte-</p><p>rações significativas. O CPC divulgou, em setembro de 2009, o Pronunciamento</p><p>CPC 16 – Estoques, com orientações sobre a determinação do valor de custo</p><p>dos estoques e sobre o seu subsequente reconhecimento como despesa em</p><p>resultado, além de nortear o profissional de contabilidade sobre o método e</p><p>os critérios utilizados para atribuir custos aos estoques. O propósito do CPC 16,</p><p>em síntese, é instituir o tratamento contábil para os estoques. A questão</p><p>fundamental na contabilização dos estoques é em relação ao valor do custo</p><p>a ser reconhecido como ativo e mantido nos registros até que as respectivas</p><p>receitas sejam reconhecidas (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2009).</p><p>Estoques (CPC 16 [R1]) 3</p><p>Existem exceções para a aplicação desse CPC, ou seja, ele não é utilizado</p><p>nos seguintes estoques:</p><p>� instrumentos financeiros (que estão relacionados à pronunciamentos</p><p>específicos);</p><p>� ativos biológicos que se relacionam com a atividade agrícola e o pro-</p><p>duto agrícola no ponto da colheita (Pronunciamento próprio, o CPC 29).</p><p>Conforme se observa no Quadro 1, o CPC 16 não se aplica também à men-</p><p>suração de alguns outros estoques.</p><p>Quadro 1. Exceções na mensuração dos estoques</p><p>Estoques mantidos por Procedimento</p><p>Produtores de produtos agrícolas</p><p>e florestais, de produtos agrícolas</p><p>após colheita, de minerais e produtos</p><p>minerais, na medida em que eles</p><p>sejam mensurados pelo valor</p><p>realizável líquido de acordo com as</p><p>práticas já estabelecidas nesses</p><p>setores.</p><p>Quando tais estoques são</p><p>mensurados pelo valor realizável</p><p>líquido, as alterações nesse valor</p><p>devem ser reconhecidas no resultado</p><p>do período em que tenha sido</p><p>verificada a alteração.</p><p>Comerciantes de commodities que</p><p>mensurem seus estoques pelo valor</p><p>justo deduzido dos custos de venda.</p><p>As alterações desse valor devem</p><p>ser reconhecidas no resultado do</p><p>período em que tenha sido verificada</p><p>a alteração.</p><p>Fonte: Adaptado de Comitê de Pronunciamentos Contábeis (2009).</p><p>Os estoques referidos no item que diz respeito aos produtores de produtos</p><p>agrícolas e florestais devem ser mensurados pelo valor realizável líquido</p><p>(esse modo de mensuração será mais bem tratado no decorrer do capítulo)</p><p>em determinadas fases de produção. Por exemplo, isso ocorre quando as</p><p>culturas agrícolas tiverem sido colhidas ou os minerais tiverem sido extraí-</p><p>dos e a venda esteja assegurada pelos termos de um contrato futuro ou por</p><p>garantia governamental; ou, ainda, quando existir um mercado ativo e houver</p><p>risco baixo de fracasso de venda. Esses estoques devem ser excluídos apenas</p><p>dos requisitos de mensuração desse pronunciamento.</p><p>Estoques (CPC 16 [R1])4</p><p>Particularidades da conta estoques</p><p>Para que um item seja considerado um ativo, ele precisa ter três termos fun-</p><p>damentais: gerar benefício econômico futuro; ser controlado pela entidade;</p><p>e ser resultante de um evento que ocorreu no passado (NIYAMA; SILVA, 2013).</p><p>Ele precisa satisfazer às três condições em conjunto, conforme se observa</p><p>na Figura 2.</p><p>Figura 2. Conceito de ativo.</p><p>Fonte: Adaptada de Niyama e Silva (2013).</p><p>É resultado</p><p>de eventos</p><p>passados</p><p>É controlado</p><p>pela</p><p>entidade</p><p>Gera benefício</p><p>econômico</p><p>futuro</p><p>ATIVO</p><p>Alguns itens pertencentes ao ativo possuem características similares. No</p><p>entanto, Iudícibus (2021) ressalta a distinção entre estoques, ativos monetários</p><p>e despesas pagas antecipadamente, uma vez que os três se caracterizam</p><p>pela relevante participação no ativo circulante, embora parcelas possam ser</p><p>não circulantes. No Quadro 2 são apresentadas as características dos itens.</p><p>Quadro 2. Características de determinados ativos</p><p>Item Característica</p><p>Ativos monetários São montantes de poder aquisitivo que se tornarão</p><p>disponíveis agora ou no futuro. Assim, o valor corrente</p><p>dos ativos monetários pode ser computado por meio do</p><p>desconto das entradas previstas de caixa.</p><p>Despesas</p><p>antecipadas</p><p>São os serviços a serem recebidos pela empresa no</p><p>processo de obtenção de sua receita. Geralmente, não</p><p>existe uma forma possível de determinar o valor de tais</p><p>serviços em termos da receita adicional a ser gerada por</p><p>eles. Podem ser avaliados apenas em termos de seu valor</p><p>de aquisição-custo corrente ou passado.</p><p>(Continua)</p><p>Estoques (CPC 16 [R1]) 5</p><p>Item Característica</p><p>Estoques Se situa entre os dois extremos. Não são itens</p><p>monetários, pois os recursos de caixa a serem recebidos</p><p>por sua venda ainda dependem de eventos futuros, e</p><p>o momento em que os receberemos também é incerto.</p><p>Entretanto, o valor atual dos fluxos futuros a serem</p><p>gerados pela venda dos estoques pode ser estimado</p><p>mais rapidamente do que no caso das despesas pagas</p><p>antecipadamente.</p><p>Fonte: Adaptado de Iudícibus (2021).</p><p>Hendriksen e Van Breda (1999) identificam que os estoques não são ativos</p><p>monetários, pois o volume de caixa ou de recursos líquidos a ser gerado por</p><p>sua venda geralmente depende de expectativas quanto a variações futuras</p><p>de preços. Contudo, mesmo quando os preços podem ser previstos de forma</p><p>precisa, o momento de ocorrência dos recebimentos futuros também pode</p><p>ser incerto, o que dificulta a elaboração de estimativas de valores presentes.</p><p>A validade de preços de saída para a avaliação de estoques também está</p><p>condicionada ao volume de despesas diretas adicionais e ao uso de recursos</p><p>conjuntos e atividades conjuntas da empresa necessárias à venda dos bens e</p><p>ao pagamento pelos compradores. Nesse sentido, são semelhantes a despesas</p><p>pagas antecipadamente. No entanto, em termos gerais, o valor presente da</p><p>mercadoria pode ser estimado mais facilmente com base em fluxos futuros</p><p>de caixa esperados do que com as despesas pagas antecipadamente (HEN-</p><p>DRIKSEN; VAN BREDA, 1999).</p><p>Para Iudícibus (2021), as finalidades ou os objetivos da mensuração e da</p><p>avaliação dos estoques são de várias ordens, entre as quais a indicação do</p><p>total de recursos que esperamos receber pela venda dos produtos. Entre-</p><p>tanto, o objetivo mais comum refere-se ao esforço de correlacionar a receita</p><p>com as despesas respectivas no processo de mensuração do lucro, o que</p><p>poderia levar a uma preferência por um preço de entrada (ou uma avaliação</p><p>a valores de entrada). Em certas situações, todavia, a avaliação a preços de</p><p>saída é razoável.</p><p>(Continuação)</p><p>Estoques (CPC 16 [R1])6</p><p>Valor de custo e valor realizável líquido:</p><p>identificando os dois modos de mensuração</p><p>Mensuração é, em termos contábeis, o processo de atribuir valores monetários</p><p>significativos a objetos ou eventos associados a uma empresa, obtidos de</p><p>modo a permitir agregação ou desagregação, quando exigida em situações</p><p>específicas (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999). Santos, Schimidt e Machado</p><p>(2011) definiram os atributos básicos da mensuração de um ativo conforme</p><p>apresentado no Quadro 3.</p><p>Quadro 3. Atributos básicos da mensuração</p><p>Atributos Características</p><p>Objetividade As regras devem ser claras o suficiente para não</p><p>propiciarem margem à subjetividade decorrente dos</p><p>julgamentos.</p><p>Confiabilidade Um sistema é considerado confiável quando ele funciona</p><p>da forma esperada. Na contabilidade, a confiabilidade</p><p>da mensuração é definida como grau de objetividade</p><p>acrescido de um fator de julgamento.</p><p>Oportunidade O benefício da informação está ligado ao tempo em que se</p><p>presta tal informação.</p><p>Precisão A mensuração deve ser precisa o suficiente para que</p><p>permita ao gestor distinguir o mais adequado curso de ação</p><p>a ser tomado pela entidade.</p><p>Exatidão A mensuração deve expressar valores verdadeiros.</p><p>Acurácia A informação deve ter uma probabilidade muito pequena</p><p>de se desviar da verdade.</p><p>Fonte: Adaptado de Santos, Schimidt e Machado (2011).</p><p>O Pronunciamento Técnico CPC 16 determina que, para fins de mensuração</p><p>dos estoques, deve ser utilizado o valor de custo ou o valor realizável líquido</p><p>— dos dois o menor (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2009). Valor</p><p>realizável líquido é entendido como o preço de venda estimado no curso</p><p>normal dos negócios deduzido dos custos estimados para sua conclusão</p><p>Estoques (CPC 16 [R1]) 7</p><p>e dos gastos estimados necessários para que seja concretizada a venda.</p><p>A proposição do valor realizável líquido, no entanto, não deve ser confundida</p><p>com o valor justo (GELBCKE et al., 2018). O valor justo é mencionado por esse</p><p>mesmo pronunciamento, que o define como sendo o preço que seria recebido</p><p>pela venda de um ativo ou que seria pago pela transferência de um passivo</p><p>em uma transação não forçada entre participantes do mercado na data de</p><p>mensuração.</p><p>Gelbcke et al. (2018) consideram que esse conceito de valor justo será</p><p>importante, por exemplo, quando da mensuração do custo do produto agrícola</p><p>colhido proveniente de ativo biológico, cujo reconhecimento inicial deve ser</p><p>feito pelo seu valor de mercado, deduzidos os gastos estimados no ponto de</p><p>venda no momento da colheita, o que não é, perfeitamente, o conceito de valor</p><p>justo. Silva, Silva e Denberg (2011) lembram que a avaliação do valor realizável</p><p>líquido deve ser realizada no mínimo anualmente. Quando as circunstâncias</p><p>que anteriormente provocaram a redução dos estoques abaixo do custo</p><p>deixarem de existir ou quando houver uma clara evidência de um aumento no</p><p>valor realizável líquido devido à alteração nas circunstâncias econômicas, a</p><p>quantia da redução deve ser revertida contra o resultado (limitada à quantia</p><p>da redução original), de modo que o novo montante registrado do estoque</p><p>seja o menor valor entre o custo e o valor realizável líquido revisto.</p><p>Critérios de avaliação dos estoques</p><p>O CPC 16 estabelece formas de atribuição de valores aos itens de estoque das</p><p>organizações. Os itens que são únicos e insubstituíveis ou que são destinados</p><p>a um projeto específico devem ter seus custos identificados e escriturados</p><p>individualmente. Por exemplo, móveis produzidos sob encomenda para uma</p><p>casa, grandes equipamentos de uso hospitalar ou a produção de produtos</p><p>perecíveis, como o leite (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2009).</p><p>No entanto, para itens não exclusivos e que sejam estocados em maior</p><p>quantidade é recomendada a utilização de métodos padronizados de atribui-</p><p>ção de custo unitário, o que permite identificar o custo dessas mercadorias,</p><p>quando vendidas, bem como otimizar o valor total do estoque. Podemos citar</p><p>como exemplo de itens não exclusivos os estoques de roupas, calçados e</p><p>medicamentos, vendidos em grande escala e que permitem sua conservação</p><p>por longos períodos.</p><p>Estoques (CPC 16 [R1])8</p><p>Existem dois métodos permitidos pela legislação fiscal para avaliação</p><p>dos estoques, descritos a seguir.</p><p>� Custo médio ponderado: utilizado por empresas que atualizam o valor</p><p>unitário dos itens de estoque mensalmente ou a cada compra. Nesse</p><p>método, a cada nova aquisição de produtos, ou ao final do mês, o</p><p>sistema gera um novo custo unitário para todos os produtos em es-</p><p>toque, calculando o valor total do estoque dividido pela quantidade</p><p>de produtos.</p><p>� Critério PEPS (primeiro a entrar, primeiro a sair): essa metodologia</p><p>de avaliação calcula os valores unitários com base no valor histórico</p><p>dos produtos adquiridos. Considera-se que os itens mais antigos do</p><p>estoque serão os primeiros</p><p>a serem vendidos, e o custo dos produtos</p><p>segue essa linha histórica de evolução, utilizando os valores mais</p><p>antigos para os mais recentes.</p><p>Para ilustrar a diferença entre esses dois métodos, vejamos o exemplo</p><p>a seguir.</p><p>A empresa Beta Com possui a seguinte movimentação em seus estoques</p><p>no mês X1:</p><p>� dia 02: compra de 900 peças no valor unitário de R$ 15,00;</p><p>� dia 05: compra de 100 peças no valor unitário de R$ 18,00;</p><p>� dia 09: venda de 600 peças;</p><p>� dia 16: compra de 1.500 peças no valor unitário de R$ 14,00;</p><p>� dia 25: venda de 1.400 peças;</p><p>� dia 31: compra de 900 peças no valor unitário de R$ 15,00;</p><p>Os valores da venda das peças nos dias 09 e 25 são irrelevantes, pois o que</p><p>se busca aqui é a apuração do custo das peças vendidas.</p><p>Pelo método do custo médio ponderado, temos os seguintes registros:</p><p>Estoques (CPC 16 [R1]) 9</p><p>Vemos aqui que ao final do mês X1 a empresa Beta Com possui um saldo de</p><p>1.400 peças e um valor total de R$ 20.636,84.</p><p>Agora, vamos ver a apuração da escrituração do estoque pelo método PEPS:</p><p>Uma vez que a base histórica é necessária para o cálculo do valor unitário</p><p>dos produtos vendidos, há a necessidade de segregar os itens a partir da data</p><p>de entrada, pois o custo de cada um está baseado no valor da compra histórica.</p><p>Por isso, quando houve a venda de 1.400 peças no dia 25/X1, os valores do CMV</p><p>foram segregados de acordo com a ordem de compra dos itens, identificados</p><p>na tabela pelas cores para melhor visualização.</p><p>Pelo método PEPS, ao final do mês X1 a empresa Beta Com possuía o mesmo</p><p>saldo de itens (1.400 peças), mas o valor apurado foi de R$ 20.500,00.</p><p>Neste pequeno exemplo é possível perceber que os dois métodos podem</p><p>resultar em valores bem diferentes, refletindo em questões fiscais e de resultado</p><p>do período.</p><p>Controle de estoques</p><p>As pessoas jurídicas devem escriturar o registro de inventário contendo todas</p><p>as informações dos bens mantidos em estoque, seja ele de matéria-prima, bens</p><p>em elaboração ou bens prontos para venda, atentando-se para o cumprimento</p><p>da legislação societária e fiscal. Além disso, ele é uma importante fonte de</p><p>informação para a gestão da empresa. O controle contábil dos estoques pode</p><p>ocorrer por meio do sistema periódico (GRECO; AREND, 2013).</p><p>O sistema periódico, ou inventário periódico, geralmente é utilizado por</p><p>empresas que não possuem um sistema de controle de entradas, em que</p><p>os registros contábeis de estoque e do custo de mercadorias vendidas são</p><p>realizados ao final do exercício, com a contagem física de itens do estoque e</p><p>Estoques (CPC 16 [R1])10</p><p>a apuração das contas transitórias relacionadas ao estoque, como custo das</p><p>mercadorias vendidas (CMV), abatimento sobre compras, fretes e seguros.</p><p>No sistema periódico, o valor do custo das mercadorias vendidas é cal-</p><p>culado pela seguinte fórmula.</p><p>CMV = Ei + Co – DevC – AbatC + FreteC + SegC – Ef</p><p>onde:</p><p>� Ei = estoque inicial do período;</p><p>� Co = compras do período;</p><p>� DevC = devolução de compras do período;</p><p>� AbatC = abatimentos sobre compras do período;</p><p>� FreteC = fretes sobre compras do período;</p><p>� SegC = seguros sobre compras do período;</p><p>� Ef = estoque final (das mercadorias inventariadas ao final do período).</p><p>Ao final do período é realizada a apuração da conta CMV, conforme de-</p><p>monstrado a seguir.</p><p>Conta: custo das mercadorias vendidas</p><p>Lançamentos a débito Lançamentos a crédito</p><p>(1) Estoque Inicial R$ ........ (1) Devoluções sem compras R$ ........</p><p>(1) Compras R$ ........ (1) Abatimentos sem compras R$ ........</p><p>(1) Fretes sem compras R$ ........ (2) Estoque final R$ ........</p><p>(1) Seguros sem compras R$ ........</p><p>(3) Saldo R$ ........</p><p>(1) Saldos transferidos das respectivas contas transitórias.</p><p>(2) Valor apurado no inventário ao final do período.</p><p>(3) O saldo da conta CMV deve ser transferido para a apuração do resultado do exercício.</p><p>Estoques (CPC 16 [R1]) 11</p><p>Observação: as empresas que optam por utilizarem o sistema periódico</p><p>não podem utilizar o critério de avaliação de estoques por meio do custo</p><p>médio, em conformidade com a legislação fiscal.</p><p>Os estoques e a obrigatoriedade de</p><p>divulgação de seus itens</p><p>Em decorrência da evolução do ambiente corporativo empresarial e da ine-</p><p>vitável globalização da economia, se fazia necessário desenvolver mecanis-</p><p>mos para acompanhar esse aprimoramento que passou a envolver a esfera</p><p>contábil. As diversas modificações trazidas pela internacionalização das</p><p>normas contábeis introduzidas no Brasil proporcionaram enormes benefí-</p><p>cios. A padronização decorrente desse movimento propiciou uma melhoria</p><p>significativa na qualidade das informações prestadas pelas entidades aos</p><p>usuários por meio de suas demonstrações contábeis. Esse novo regramento</p><p>trouxe alterações em diversos aspectos de mensuração e apresentação dos</p><p>dados contábeis. Uma área importante dentro das demonstrações contábeis</p><p>que foi afetada por essas mudanças foi o grupo de estoques.</p><p>A divulgação das informações contábeis por parte das entidades é de ex-</p><p>trema relevância para orientar as decisões tomadas pelos gestores, acionistas</p><p>e demais interessados nesses dados. Ao transformar dados e registros em</p><p>informações úteis, relevantes e transparentes para esses agentes, a contabi-</p><p>lidade busca oferecer uma divulgação adequada das informações contábeis</p><p>de uma determinada entidade. Essas informações contábeis devem refletir</p><p>uma extrema fidelidade do desempenho operacional da entidade em todos</p><p>os seus aspectos econômico-financeiros. Assim, é necessário que os usuários</p><p>desses dados tenham elementos suficientes para análise e tomada de decisão.</p><p>Conforme consta no CPC 16, em relação aos estoques, as demonstrações</p><p>contábeis devem divulgar (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2009):</p><p>� as políticas contábeis que foram adotadas na mensuração dos estoques</p><p>(incluindo as formas e os critérios de valoração utilizados);</p><p>� o valor total escriturado em estoques e o valor registrado em outras</p><p>contas apropriadas para a entidade;</p><p>� o valor de estoques escriturados pelo valor justo menos os custos de</p><p>venda;</p><p>� o valor de estoques reconhecido como despesa durante o período;</p><p>� o montante escriturado de estoques dados como penhor de garantia</p><p>a passivos;</p><p>Estoques (CPC 16 [R1])12</p><p>� o valor de qualquer redução de estoques reconhecida no resultado do</p><p>período, o valor de toda reversão de qualquer redução do valor dos</p><p>estoques reconhecida no resultado do período, e as circunstâncias ou</p><p>os acontecimentos que conduziram à reversão de redução de estoques</p><p>de acordo com o item 34 do CPC 16.</p><p>Esse item menciona o seguinte: quando os estoques são vendidos, o custo</p><p>escriturado desses itens deve ser reconhecido como despesa do período em</p><p>que a respectiva receita é reconhecida. A quantia de qualquer redução dos</p><p>estoques para o valor realizável líquido e todas as perdas de estoques devem</p><p>ser reconhecidas como despesa do período em que a redução ou a perda</p><p>ocorrer. A quantia de toda reversão de redução de estoques, proveniente de</p><p>aumento no valor realizável líquido, deve ser registrada como redução do item</p><p>em que for reconhecida a despesa ou a perda, no período em que a reversão</p><p>ocorrer (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2009).</p><p>Conforme sinalizado no CPC 16, a informação referente aos valores con-</p><p>tábeis registrados em diferentes classificações de estoques e a proporção</p><p>de alterações nesses ativos são úteis para os usuários das demonstrações</p><p>contábeis. As classificações comuns de estoques são: mercadorias, bens</p><p>de consumo de produção, materiais, produtos em elaboração e produtos</p><p>acabados (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2009).</p><p>O valor do estoque baixado consiste nos custos que estavam incluídos na</p><p>mensuração do estoque que agora é vendido. Esse valor é reconhecido como</p><p>despesa durante o período (frequentemente é denominado como custo dos</p><p>produtos, das mercadorias ou dos serviços vendidos). Os custos indiretos de</p><p>produção eventualmente não alocados aos produtos e os valores anormais</p><p>de custos de produção</p><p>devem ser reconhecidos como despesa do período</p><p>em que ocorrem, sem transitar pelos estoques, dentro desse mesmo grupo,</p><p>mas de forma identificada (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2009).</p><p>O pronunciamento menciona também que algumas entidades adotam</p><p>um formato para a demonstração de resultados, resultando na divulgação</p><p>de valores que não sejam os custos dos estoques reconhecidos como des-</p><p>pesa durante o período. Conforme o padrão desse formato, a entidade deve</p><p>apresentar a demonstração do custo das vendas usando uma classificação</p><p>com base na natureza desses custos, elemento a elemento. Nesse caso, essa</p><p>entidade deve divulgar os custos reconhecidos como despesas item a item,</p><p>por natureza: matérias-primas e outros materiais, evidenciando o valor das</p><p>compras e da alteração líquida nos estoques iniciais e finais do período;</p><p>mão-de-obra; outros custos de transformação, etc.</p><p>Estoques (CPC 16 [R1]) 13</p><p>A fim de fornecer explicações e predições para a prática da contabi-</p><p>lidade, a pesquisa na área tem procurado instrumentalizar-se cada</p><p>vez mais. Dentro da ciência contábil, existem inúmeras teorias que buscam</p><p>entender e explicar algum fenômeno da contabilidade a partir da observação.</p><p>Entre essas teorias existe uma que especificamente estuda a divulgação das</p><p>demonstrações contábeis em todos os seus aspectos: a teoria da divulgação.</p><p>Seu principal objetivo é explicar o fenômeno da divulgação das informações</p><p>contábeis, com base em diversas perspectivas. O que se busca é entender, dentre</p><p>outros aspectos, os motivos econômicos para que uma determinada informação</p><p>seja divulgada. Por exemplo: se busca determinar qual é o efeito da divulgação</p><p>de demonstrações contábeis no preço das ações.</p><p>Outro exemplo seria identificar quais são as razões econômicas para que</p><p>uma determinada informação seja divulgada. A teoria da divulgação possui em</p><p>seu arcabouço três tipos de pesquisas: a divulgação baseada em associação</p><p>(que estuda a relação entre a divulgação e as mudanças no comportamento dos</p><p>investidores que maximizam a sua riqueza); a divulgação baseada em julgamento</p><p>(investiga quais são os motivos da divulgação por parte dos gestores/empresas);</p><p>e a divulgação baseada em eficiência (discute quais são os tipos de divulgação</p><p>mais eficientes). Cabe observar que entender as linhas teóricas que norteiam</p><p>o registro contábil é importante para o desenvolvimento da contabilidade.</p><p>Estreitamente ligado às principais áreas de operação das companhias, o</p><p>grupo estoques do ativo circulante tem a função de agente regulador na lei</p><p>de oferta e demanda, uma vez que possibilita uma produção mais constante,</p><p>não oscilando com as flutuações das vendas quando sua gestão é efetiva</p><p>e a empresa em questão conhece seu mercado. Esse grupo de contas está</p><p>diretamente relacionado com as receitas das entidades, pois essas receitas</p><p>se originam das vendas ou da prestação de serviços.</p><p>Em termos de mensuração dos estoques, o Pronunciamento Técnico CPC 16</p><p>determina que deve ser utilizado o valor de custo ou então o valor realizável</p><p>líquido, sendo usado dos dois o menor. A mensuração determina os valores</p><p>pelos quais os elementos (do ativo e do passivo) devem ser reconhecidos</p><p>e apresentados nas demonstrações contábeis, dessa forma esse item tem</p><p>grande importância para a parte interessadas na informação gerada pela</p><p>contabilidade (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2009).</p><p>Estoques (CPC 16 [R1])14</p><p>Referências</p><p>ALMEIDA, J. E. F. Fundamentos de contabilidade para os negócios: introdução à conta-</p><p>bilidade. São Paulo: Atlas, 2014.</p><p>COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. CPC 16 (R1): estoques. Brasília: CPC, 2009.</p><p>Disponível em: http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/</p><p>Pronunciamento?Id=47. Acesso em: 23 dez. 2021.</p><p>GELBCKE, E. R. et al. Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as socieda-</p><p>des: de acordo com as normas internacionais e do CPC. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018.</p><p>GRECO, A.; AREND, L. Contabilidade: teoria e prática básicas. 4. ed. São Paulo: Saraiva,</p><p>2013.</p><p>HENDRIKSEN, E. S.; VAN BREDA, M. F. Teoria da contabilidade. São Paulo: Atlas, 1999.</p><p>HOOG, W. A. Z. Manual de contabilidade: plano de contas, escrituração e as demons-</p><p>trações financeiras de acordo com as IFRS. 3. ed. Curitiba: Juruá, 2013.</p><p>IUDÍCIBUS, S. Teoria da contabilidade. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2021.</p><p>NIYAMA, J. K.; SILVA, C. A. T. Teoria da contabilidade. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2013.</p><p>RODRIGUES, G. L.; SOUZA, C. A.; DALFIOR, V. A. O. Avaliação do método de mensuração</p><p>dos estoques em uma empresa S.A.: um estudo de caso. In: SIMPÓSIO DE EXCELÊNCIA</p><p>EM GESTÃO E TECNOLOGIA, 12., 2015, Resende. Anais [...]. Resende: AEDB, 2015. Disponível</p><p>em: https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos15/512243.pdf. Acesso em: 23 dez. 2021.</p><p>SANTOS, J. L.; SCHIMIDT, P.; MACHADO, N. P. Fundamentos da teoria da contabilidade.</p><p>São Paulo: Atlas, 2011. v. 6.</p><p>SILVA, A. F. S.; SILVA, E. P.; DENBERG, M. W. S. Mensuração do fair value de ativos tangíveis:</p><p>estoque e ativo imobilizado. Pensar Contábil, v. 13, n. 51, p. 48-55, 2011.</p><p>Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos</p><p>testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da</p><p>publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas</p><p>páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os edito-</p><p>res declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou</p><p>integralidade das informações referidas em tais links.</p><p>Estoques (CPC 16 [R1]) 15</p>