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<p>W</p><p>BA</p><p>01</p><p>54</p><p>_V</p><p>3.</p><p>0</p><p>ESTUDOS DE CONFLITOS</p><p>AMBIENTAIS: IMPACTOS</p><p>AMBIENTAIS E DE VIZINHANÇA</p><p>2</p><p>Raquel Carnivalle Silva Melillo</p><p>São Paulo</p><p>Platos Soluções Educacionais S.A</p><p>2021</p><p>ESTUDOS DE CONFLITOS AMBIENTAIS:</p><p>IMPACTOS AMBIENTAIS E DE VIZINHANÇA</p><p>1ª edição</p><p>3</p><p>2021</p><p>Platos Soluções Educacionais S.A</p><p>Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César</p><p>CEP: 01418-002— São Paulo — SP</p><p>Homepage: https://www.platosedu.com.br/</p><p>Diretor Presidente Platos Soluções Educacionais S.A</p><p>Paulo de Tarso Pires de Moraes</p><p>Conselho Acadêmico</p><p>Carlos Roberto Pagani Junior</p><p>Camila Turchetti Bacan Gabiatti</p><p>Camila Braga de Oliveira Higa</p><p>Giani Vendramel de Oliveira</p><p>Gislaine Denisale Ferreira</p><p>Henrique Salustiano Silva</p><p>Mariana Gerardi Mello</p><p>Nirse Ruscheinsky Breternitz</p><p>Priscila Pereira Silva</p><p>Tayra Carolina Nascimento Aleixo</p><p>Coordenador</p><p>Nirse Ruscheinsky Breternitz</p><p>Revisor</p><p>Ana Beatriz Ulhoa Cobalchini</p><p>Editorial</p><p>Alessandra Cristina Fahl</p><p>Beatriz Meloni Montefusco</p><p>Carolina Yaly</p><p>Mariana de Campos Barroso</p><p>Paola Andressa Machado Leal</p><p>Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)</p><p>__________________________________________________________________________________________</p><p>Melillo, Raquel Carnivalle Silva</p><p>M522e Estudos de conflitos ambientais: impactos ambientais e</p><p>de vizinhança / Raquel Carnivalle Silva Melillo, – São</p><p>Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2021.</p><p>44 p.</p><p>ISBN 978-65-89881-13-1</p><p>1. Impactos ambientais. 2. Estudo de conflitos</p><p>ambientais. 3. Planejamento. I. Título.</p><p>CDD 577</p><p>____________________________________________________________________________________________</p><p>Evelyn Moraes – CRB 010289/O</p><p>© 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A.</p><p>Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser</p><p>reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio,</p><p>eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de</p><p>sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização,</p><p>por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A.</p><p>4</p><p>SUMÁRIO</p><p>Conceitos e objetivos da avaliação de impacto ambiental ____ 05</p><p>A gestão de estudos ambientais: planejamento e elaboração</p><p>_______________________________________________________________ 20</p><p>Avaliação de impacto ambiental na prática __________________ 36</p><p>Estudo de impacto de vizinhança: conceitos e benefícios ____ 53</p><p>ESTUDOS DE CONFLITOS AMBIENTAIS: IMPACTOS AM-</p><p>BIENTAIS E DE VIZINHANÇA</p><p>5</p><p>Conceitos e objetivos da avaliação</p><p>de impacto ambiental</p><p>Autoria: Raquel Carnivalle Silva Melillo</p><p>Leitura crítica: Ana Beatriz Ulhoa Cobalchini</p><p>Objetivos</p><p>• Compreender a atuação profissional na avaliação de</p><p>impactos ambientais.</p><p>• Reconhecer o histórico e os principais conceitos</p><p>acerca da avaliação de impactos ambientais.</p><p>• Reconhecer e compreender os principais objetivos</p><p>e processos da avaliação de impactos ambientais,</p><p>conforme legislação brasileira.</p><p>6</p><p>1. O campo de atuação na avaliação de</p><p>impactos ambientais</p><p>A avaliação de impacto ambiental (AIA), ao tornar-se uma premissa</p><p>fundamental à concessão da licença ambiental que, por sua vez, pode</p><p>levar ao impedimento do funcionamento de empreendimentos, é</p><p>muitas vezes entendida apenas como uma etapa burocrática-legal</p><p>pelos profissionais e empresários (SÁNCHEZ apud VILELA JUNIOR;</p><p>DEMAJOROVIC, 2006a). A grande problemática da adoção de uma</p><p>postura como essa, bastante comum e recorrente, é que quando o AIA</p><p>se torna apenas uma formalidade, todo o dispêndio de ações, esforços</p><p>e investimentos é interrompido pelos empreendedores após obterem a</p><p>licença ou autorização legal para a implantação do empreendimento.</p><p>Dessa forma, os estudos prévios que deram origem às licenças</p><p>costumam não ter continuidade, não havendo atualizações de dados ou</p><p>monitoramento. Com o passar do tempo, em razão da necessidade de</p><p>renovações ou emissões de novas licenças, seja por conta de mudanças</p><p>nos processos, na planta ou nos produtos e serviços, todo o trabalho</p><p>sendo ser reiniciado. Esse tipo de postura tende a levar à demora na</p><p>obtenção das novas licenças ou autorizações e em maiores custos.</p><p>O que se percebe com o passar do tempo e se torna algo cada vez mais</p><p>fundamental é que a realização de estudos de impacto ambiental tem</p><p>sido considerada uma etapa fundamental do planejamento ambiental,</p><p>principalmente por conta das pressões do mercado globalizado e</p><p>as demandas sociais. Dessa forma, tais etapas podem ser mais bem</p><p>aproveitadas e ter continuidade no ambiente de negócios, trazendo</p><p>grandes benefícios.</p><p>Os estudos de impacto ambiental figuram como uma importante</p><p>ferramenta, uma exigência legal, que pode auxiliar nos processos</p><p>de tomada de decisão e na implantação de sistemas de gestão mais</p><p>7</p><p>eficazes. Realizar o levantamento dos principais aspectos e possíveis</p><p>impactos, positivos e negativos, da atividade desenvolvida, permite</p><p>uma visão mais completa e fundamentada que dá embasamento ao</p><p>planejamento assertivo.</p><p>Menosprezar o potencial de ferramentas como o AIA faz com que se</p><p>gaste tempo e recursos. E implementar as ferramentas do planejamento</p><p>ambiental de maneira eficiente e perene faz com que os estudos prévios,</p><p>a documentação gerada, as análises e atividades desenvolvidas sejam</p><p>proveitosas e norteiem a implementação de um sistema de gestão que</p><p>pode trazer grandes benefícios ao empreendimento (SÁNCHEZ apud</p><p>VILELA JUNIOR; DEMAJOROVIC, 2006b).</p><p>Note que os levantamentos devem ser abrangentes sobre ações</p><p>presentes e futuras a serem desenvolvidas, com finalidade de análise</p><p>de viabilidade das atividades do empreendimento, algo fundamental</p><p>não apenas para cumprimento dos requisitos legais, mas, também,</p><p>para o processo de gestão. O AIA se torna um instrumento fundamental</p><p>quando bem construído, que forma um verdadeiro quebra-cabeças,</p><p>unindo as diferentes peças que interagem entre si para permitir o</p><p>funcionamento e inserção no mercado de um negócio. Assim, considera-</p><p>se necessário levar a uma visão geral e integrada que possibilita</p><p>melhores práticas e ampara o processo decisório, conforme pode-se</p><p>observar na Figura1.</p><p>8</p><p>Figura 1 – Planejando o negócio</p><p>Fonte: tadamichi/iStock.com.</p><p>Informações fundamentais acerca da magnitude do projeto, e medidas</p><p>necessárias para evitar, mitigar ou compensar impactos adversos são</p><p>trazidas à tona e disponibilizadas aos tomadores de decisão, sejam</p><p>empresários, responsáveis técnicos, investidores ou autoridades</p><p>ambientais. Aliado a isso, conforme Sánchez (2006a apud VILELA JUNIOR;</p><p>DEMAJOROVIC 2006a) surgem medidas que ampliam os benefícios</p><p>dos impactos positivos em empreendimento, de forma a alcançar a</p><p>melhoria de imagem da empresa ou a possibilidade de implementação</p><p>de um sistema integrado. É possível potencializar ainda mais o processo</p><p>quando há consultas públicas e o envolvimento da sociedade.</p><p>9</p><p>2. A avaliação de impactos ambientais:</p><p>conceitos e objetivos</p><p>A relação entre ambiente e sociedade evoluiu de tal maneira que</p><p>a tecnologia e as novas práticas propiciaram movimentos culturais</p><p>e técnicos que levaram ao emprego de recursos naturais em suas</p><p>atividades, de diversas formas e em quantidades cada vez maiores. A</p><p>degradação ambiental, com uso de recursos e geração de efluentes,</p><p>emissões e resíduos, sempre houve e haverá. No entanto, a grande</p><p>problemática são as proporções dos impactos gerados pelos</p><p>empreendimentos e suas consequências ao meio ambiente.</p><p>Desde o advento da industrialização, no século XVIII, com produção em</p><p>massa, aumento da complexidade dos produtos, emprego de matérias-</p><p>primas de cada vez mais alta entropia e com o crescimento populacional</p><p>alavancado pelo processo aliado ao acúmulo de pessoas em áreas cada</p><p>vez mais restritas, a degradação alcançou marcos sem precedentes</p><p>(BARBIERI et al., 2010).</p><p>Na década de 1950, começa-se a falar sobre o impacto adverso no</p><p>ambiente, ainda com apenas uma definição mais superficial da poluição</p><p>industriais e equipamentos urbanos para atender as mais</p><p>diversas demandas, de qualidade de vida, da mobilidade e da cultura.</p><p>De acordo com Corrêa (2003), tantas alterações, no entanto, dada</p><p>a rapidez nos processos de transformação do espaço e volume</p><p>populacional, além do acúmulo de grandes empreendimentos</p><p>impactantes, levou à grande degradação e efeitos que hoje afetam a vida</p><p>de sua população em escalas cada vez mais intensas.</p><p>Chegamos a um momento em que não há mais como crescer, adensar e</p><p>expandir sem planejamento urbano. As pessoas habitam áreas distantes</p><p>de seus endereços de trabalho e com acesso dificultado por diferentes</p><p>variáveis, resultando em muitos problemas ambientais urbanos.</p><p>Dentre eles, figuram os eventos de enchentes e deslizamentos, piora da</p><p>qualidade do ar, problemas no fornecimento de água e esgotamento</p><p>sanitário e aumento dos passivos ambientais.</p><p>Neste sentido, instrumentos que possam amparar as políticas de gestão</p><p>urbana se tornam essenciais. Algo que ocorre há muitos anos, desde a</p><p>década de 1960, iniciou-se a preocupação com a questão ambiental e</p><p>a criação de legislações fundamentais para amparar a consolidação do</p><p>espaço urbano.</p><p>Até aquele momento, a legislação vigente se limitava a amparar alguns</p><p>processos decisórios, em relação aos detentores do uso da terra, e nada</p><p>havia sobre parâmetros ou requisitos urbanísticos. O ordenamento do</p><p>55</p><p>solo ficava a cargo dos munícipios que acabam por sofrer com processos</p><p>desordenados.</p><p>Apenas em 1979 é publicada a legislação federal sobre parcelamento</p><p>do solo urbano, a Lei Federal nº 6.766/79 (BRASIL, 1979). Com</p><p>grande avanço, incorporou requisitos urbanísticos, visando o melhor</p><p>ordenamento das áreas urbanas nos municípios e condições de</p><p>salubridade como áreas para equipamentos públicos, faixas não</p><p>edificáveis e condições para loteamentos.</p><p>As pressões sofridas, principalmente por conta do setor habitacional,</p><p>levaram à criação de nova legislação para áreas urbanas. Dentre as</p><p>problemáticas principais, pode-se citar: necessidade de regularização</p><p>de assentamentos, necessidade de melhorias nas habitações existentes</p><p>e ampliação da quantidade, além da necessidade de modernização de</p><p>áreas habitacionais em infraestrutura de apoio e acesso.</p><p>Dessa maneira, em 1999 foi criada a Lei Federal nº 9.785 (BRASIL, 1999),</p><p>a qual altera, entre outros decretos, a Lei de Parcelamento do Solo.</p><p>Dentre as principais alterações, foram incluídas diretrizes com respeito</p><p>às áreas ocupadas para minimizar riscos à população, tais como áreas</p><p>reconhecidamente foco de poluição ou aterro de materiais nocivos,</p><p>ou geologicamente suscetíveis a eventos adversos, alagadiças ou de</p><p>preservação ecológica.</p><p>Outros aspectos fundamentais como detalhamento de projetos de</p><p>loteamentos com designação de vias, projetos para escoamento</p><p>de águas pluviais e superficiais, dentre demais designações, foram</p><p>estabelecidos. Assim, foi publicada a Lei Federal nº 10.257/2001 (BRASIL,</p><p>2001), conhecida como o Estatuto da Cidade.</p><p>O Estatuto da Cidade estabelece as diretrizes gerais da política urbana,</p><p>e tornou-se um verdadeiro marco no movimento urbanístico brasileiro</p><p>que consolidou as normas em prol das cidades e da sociedade,</p><p>56</p><p>conforme ilustrado na Figura 1. Antes dessa legislação, cada cidade</p><p>regulava seus princípios urbanísticos conforme fosse conveniente, o que</p><p>acarretava na instabilidade, falta de organização e problemáticas graves.</p><p>Figura 1 – Encadeamento legal</p><p>Fonte: elaborada pela autora.</p><p>Diversos instrumentos foram estabelecidos pelo Estatuto da Cidade</p><p>buscando equilibrar interesses particulares e coletivos, em concordância</p><p>com os preceitos da Constituição Federal (BRASIL, 1988). O intuito foi</p><p>regular as normas públicas para garantir melhorias de qualidade de</p><p>vida, segurança, bem-estar e equilíbrio ambiental.</p><p>Dentre tais instrumentos, surge o Estudo de Impacto de Vizinhança</p><p>(EIV), um instrumento que se torna obrigatório e prévio para que as</p><p>57</p><p>licenças ou autorizações de implantação, operação ou ampliação de</p><p>empreendimentos impactantes, sejam públicos ou privados, possam ser</p><p>emitidas. No volume 4 da coleção Cadernos Técnicos de Regulamentação e</p><p>Implementação de Instrumentos do Estatuto da Cidade (BRASIL, 2016), o EIV</p><p>é definido como:</p><p>A produção do espaço urbano é um processo constante e que traz</p><p>consequências para as relações socioculturais, econômicas e polıt́icas.</p><p>Alguns empreendimentos e atividades interferem na dinâmica urbana</p><p>impactando a qualidade de vida dos moradores e cidadãos. Sendo assim o</p><p>Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) se apresenta como um instrumento</p><p>necessário e fundamental para o desenvolvimento sustentável das</p><p>cidades. (BRASIL, 2016, p. 5).</p><p>Note que a legislação continua sendo aprimorada, mesmo que muitas</p><p>legislações posteriores trouxeram alterações à Lei de Parcelamento</p><p>do Solo, com inclusão ou aprimoramento de itens no que se refere às</p><p>edificações, faixas edificáveis e ao saneamento. Como descreve Tomanik</p><p>(2008), o Estatuto das Cidades pode ser entendido como um marco que</p><p>norteia as tomadas de decisão no contexto do planejamento urbano,</p><p>propiciando a formulação de legislações mais restritas e adequadas aos</p><p>estados e municípios.</p><p>2. A elaboração de estudos de impacto de</p><p>vizinhança: conceitos e aplicações</p><p>O estudo de impacto de vizinhança, destina-se a gerar informações</p><p>prévias sobre as consequências da implantação ou operação de</p><p>empreendimentos e atividades de potencial impacto, públicas ou</p><p>privadas, que serão desenvolvidas em áreas urbanas, à gestão</p><p>municipal.</p><p>58</p><p>Dentre seus principais objetivos, podem ser citados a minimização de</p><p>desiquilíbrios nos processos de urbanização ou expansão urbana, a</p><p>garantia das condições de qualidade urbana básicas e manutenção da</p><p>ordem urbanística, de maneira a propiciar o uso socialmente justo e</p><p>ambientalmente equilibrado do espaço (BRASIL, 2016).</p><p>Conforme já descrito no item anterior, trata-se de um instrumento de</p><p>apoio ao licenciamento urbanístico com intuito de subsidiar o processo</p><p>decisório, quanto à concessão de licenças e sobre a possibilidade de</p><p>condicioná-las às medidas de compensação ambiental, como em casos</p><p>da necessidade de supressão de vegetação, de impacto em corpos de</p><p>água, entre outros.</p><p>Note que em decorrência da necessidade de garantir acesso à</p><p>sociedade, com transparência e abrindo canais de diálogo, a legislação</p><p>do Estatuto da Cidade (EC) define como obrigatória a publicidade</p><p>e disponibilização dos estudos desenvolvidos (BRASIL, 2001). Tal</p><p>procedimento foi reforçado pela Lei Federal nº 10.650 de 2003 (BRASIL,</p><p>2003) que trata do direito à informação ambiental.</p><p>Importante ressaltar, no entanto, que o EC é uma norma federal, geral.</p><p>Assim sendo, serve de base para a formulação dos procedimentos</p><p>municipais que devem respeitá-lo e, então, designar seus respectivos</p><p>detalhamentos. Isso posto, cabe aos municípios definir as atividades</p><p>ou empreendimentos que dependerão da elaboração de EIV para obter</p><p>licenças ou autorizações:</p><p>Art. 36. Lei municipal definirá os empreendimentos e atividades</p><p>privados ou públicos em área urbana que dependerão de elaboração</p><p>de estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV) para obter as licenças</p><p>ou autorizações de construção, ampliação ou funcionamento a cargo do</p><p>Poder Público municipal. (BRASIL, 2001, [s.p.]).</p><p>Bem como a designação dos empreendimentos e atividades que devem</p><p>apresentar o EIV, fica a cargo da lei municipal estabelecer as condições</p><p>59</p><p>para a obtenção de licenças, sempre respeitando a coletividade e a</p><p>necessidade de evitar danos ambientais (BRASIL, 2016). Significa dizer</p><p>que cada município irá definir a prerrogativa de adequação às suas</p><p>diretrizes de uso e ocupação do solo, bem como outras legislações.</p><p>Para balizar e definir a estrutura básica do EIV, todavia, é definido</p><p>o conteúdo mínimo a ser abordado nos estudos pelo EC, que visa</p><p>melhor orientar o processo de decisão dos municípios e estabelecer a</p><p>possibilidade de análise e comparação</p><p>entre estudos.</p><p>Art. 37. O EIV será executado de forma a contemplar os efeitos positivos e</p><p>negativos do empreendimento ou atividade quanto à qualidade de vida da</p><p>população residente na área e suas proximidades, incluindo a análise, no</p><p>mínimo, das seguintes questões:</p><p>I – adensamento populacional;</p><p>II – equipamentos urbanos e comunitários;</p><p>III – uso e ocupação do solo;</p><p>IV – valorização imobiliária;</p><p>V – geração de tráfego e demanda por transporte público; VI – ventilação e</p><p>iluminação;</p><p>VII – paisagem urbana e patrimônio natural e cultural. (BRASIL, 2001, [s.p.])</p><p>Independentemente do tipo de empreendimento é possível entender</p><p>que quando o EIV é necessário, tal estudo se destina a analisar</p><p>informações que abordam diferentes aspectos não só no que se</p><p>concerne à sua implantação, mas ainda os que envolvem o potencial</p><p>de alterar as características do meio urbano em que atividade ou</p><p>empreendimento se insere.</p><p>60</p><p>Obviamente, deve-se atentar para o fato de que a elaboração do EIV</p><p>não irá, em nenhuma hipótese, substituir a necessidade da elaboração</p><p>e aprovação de um estudo de impacto ambiental, quando este for</p><p>exigido pela legislação ambiental (BRASIL, 2001). Partimos, então para os</p><p>conceitos do EIV. Tendo desenvolvido estudos tão detalhados como um</p><p>EIA, o que falta a ser estudado?</p><p>Primeiramente, em relação ao meio, no EIV, o meio ambiente se</p><p>refere ao meio construído ou criado pelo homem, o espaço urbano.</p><p>Assim sendo, serão analisados os efeitos provenientes dos impactos</p><p>ambientais, positivos ou negativos, sobre a qualidade de vida da</p><p>população.</p><p>Outros dois conceitos são fundamentais para aplicação do EIV, impacto</p><p>e vizinhança. Para caracterizar o conceito de impacto, partiremos</p><p>do conhecimento e pressuposto de que toda e qualquer atividade</p><p>é geradora de impactos, sejam sociais, ambientais, econômicos,</p><p>urbanísticos etc. (BRASIL, 2016). Ventura (2020) afirma que este impacto</p><p>pode ser tanto uma mudança gerada em seu local de instalação quanto</p><p>no entorno e poderá ainda ser positivo ou negativo.</p><p>No caso do EIV, os impactos de interesse são aqueles que podem causar</p><p>qualquer alteração nos parâmetros de qualidade de vida da população</p><p>urbana, gerando o que se entende como “incomodidade significativa”.</p><p>Incomodidade é um termo que se refere ao grau de impacto causado, a</p><p>depender do tipo, porte e local onde será inserido o empreendimento,</p><p>considerando o incômodo que poderá causar à cidade e seus cidadãos</p><p>(BRASIL, 2016).</p><p>Dentre os possíveis impactos, conforme Ventura (2020), figuram:</p><p>emissão de ruído; interferência na qualidade do ar ou na qualidade</p><p>do solo; efeitos nos recursos hídricos; alterações ou transtornos nos</p><p>sistemas de saneamento, viário e infraestrutura urbana; além da</p><p>61</p><p>possibilidade de sobrecarregar os sistemas de fornecimento de recursos</p><p>e energia.</p><p>O conceito de vizinhança, por sua vez, é entendido como um conjunto de</p><p>pessoas, edificações e respectivas atividades que está compreendido em</p><p>uma mesma base territorial (BRASIL, 2016). Ou seja, o conjunto que se</p><p>instala em uma mesma localização dentro da área urbana e que possa</p><p>ser afetado pelo empreendimento em questão.</p><p>A aplicação do conceito, porém, é flexível ao passo que quando</p><p>tratamos de um imóvel, os vizinhos imediatos estarão no enfoque</p><p>principal. Já em um transporte urbano ou empreendimento com</p><p>mobilidade, a vizinhança a ser considerada irá envolver as localidades</p><p>que contemplarão os trajetos deste ponto de estudo. No caso de outros</p><p>empreendimentos, como linhas de transmissão, abastecimento de</p><p>água, a vizinhança pode chegar a extensas regiões como estados, bacias</p><p>hidrográficas etc.</p><p>A Figura 2 denota bem o conceito ao demonstrar o que seria a</p><p>vizinhança no caso de um empreendimento móvel como é o metrô. Note</p><p>que haverá distinção entre as áreas afetadas em graus mais ou menos</p><p>impactantes, mas seu percurso dita a vizinhança.</p><p>62</p><p>Figura 2 – Exemplo de vizinhança</p><p>Fonte: Brasil (2016, p. 14).</p><p>Segundo Ventura (2020), analisar o impacto na vizinhança é uma ação</p><p>sustentada pelo chamado Princípio da Função Social da Propriedade, um</p><p>dos pilares da ordem jurídica brasileira quando tratamos de urbanismo,</p><p>e estabelecido pela Constituição Federal de 1988.</p><p>Na Constituição Federal de 1988, em seu art. 182, parágrafo segundo,</p><p>fica estabelecido: “A propriedade urbana cumpre sua função social</p><p>quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade</p><p>expressas no Plano diretor” (BRASIL, 1988, [s.p.]). Tal informação justifica</p><p>a designação dos municípios como responsáveis por direcionar as</p><p>atividades que devem apresentar EIV e ainda por atuar nas licenças e</p><p>autorizações tendo suas legislações específicas respeitadas.</p><p>63</p><p>3. A natureza jurídica do impacto de vizinhança</p><p>e a sustentabilidade</p><p>Verificamos que as décadas de 1960 e 1970 foram marcadas por</p><p>preocupações acerca do espaço urbano, tal comportamento decorre do</p><p>que se vivenciava no período. Para Tomanik (2008), processos intensos</p><p>de urbanização e exploração do solo urbano ocorriam, deflagrando</p><p>impactos intensos e perturbação da qualidade de vida das populações,</p><p>leva ao Movimento Nacional pela Reforma Urbana (MNRU).</p><p>O processo pode ser resumido de uma maneira bastante simplificada</p><p>por uma extensa busca por frentes de trabalho, melhor qualidade de</p><p>vida, que desencadearam migração para as cidades, em especial, eixos</p><p>mais produtivos. Com esse fenômeno, as cidades crescem, assim como a</p><p>especulação imobiliária e parcelamentos ilegais, levando a situações de</p><p>exclusão e diversas outras problemáticas sociais e ambientais.</p><p>Esses sistemas urbanos, tornaram-se sobrecarregados, vias e</p><p>equipamentos públicos insuficientes e proliferaram “métodos informais”</p><p>de conseguir acesso à infraestrutura urbana. Tais práticas levam a</p><p>riscos, insegurança e efeitos adversos ao ambiente, à saúde humana e</p><p>aos sistemas sociais e econômicos, degradando a qualidade de vida tão</p><p>almejada pelos habitantes.</p><p>Em 1974, como descreve Tomanik (2008), surge a Política Nacional de</p><p>Desenvolvimento Urbano com foco em viabilizar o processo democrático</p><p>no contexto das cidades e propiciar instrumentos e meios para a gestão</p><p>metropolitana. A Constituição Federal de 1988 trouxe, como resultado</p><p>dos movimentos e reivindicações que se formavam e das constatações</p><p>da necessidade de mudanças, um capítulo sobre a política urbana.</p><p>De acordo com Soares (2012), o entendimento da função social dos</p><p>espaços, figura desde a Constituição (BRASIL, 1988) como um ponto</p><p>de partida fundamental para a criação de mecanismos de cuidado</p><p>64</p><p>com o espaço urbano. O EC, assim, além de um marco para o espaço</p><p>urbano em si, foi igualmente um marco para o MNRU e trouxe novas</p><p>possibilidades ao planejamento ambiental urbano.</p><p>Note, como, já mencionado, que o EIV não anula o EIA, mas tem</p><p>conteúdo similar a este. No caso do EIV, o que o difere é o enfoque</p><p>mais restritivo no ambiente urbano e o fato desse tipo de ambiente ser</p><p>muito peculiar. Cada município tem suas peculiaridades, infraestrutura e</p><p>processo de urbanização diferenciados, assim, o EIV deve se adequar ao</p><p>local e respeitar as designações municipais para que o empreendimento</p><p>não gere impacto às condições de vida da população que ali reside,</p><p>conforme demonstra a Figura 3.</p><p>Figura 3 – EIV, do objetivo aos benefícios para a sustentabilidade</p><p>Fonte: elaborada pela autora.</p><p>Outra grande diferença são as diretrizes de apoio. No âmbito ambiental,</p><p>há resoluções que regulamentam instrumentos que se autossustentam;</p><p>tratando-se da política urbana, a estrutura se resume ao EC. Isso</p><p>significa que há apenas o EC para embasar e direcionar as diretrizes</p><p>do EIV. No que tange à aplicação, Tomanik (2008) menciona que há</p><p>65</p><p>uma defasagem grande, e que muitos municípios aplicam apenas as</p><p>exigências mínimas estabelecidas pelo EC para o EIV, sem apresentar</p><p>nenhuma adequacão a seus processos urbanísticos, visto que carecem</p><p>de tal definição e consideram o tema secundário. Sendo assim, não</p><p>criam leis ou instrumentos próprios</p><p>para melhor orientar o EIV em suas</p><p>cidades.</p><p>Essa confusão sobre a real importância de cuidar do espaço urbano</p><p>demonstra a resistência quanto ao entendimento da necessidade</p><p>de que sejam estabelecidos parâmetros urbanísticos fundamentais,</p><p>pretendendo, assim, que se possa garantir a qualidade de vida da</p><p>população. Outro ponto importante de salientar é que quando</p><p>falamos em sustentabilidade, não se trata da variável ambiental</p><p>apenas, mas também do caráter social e econômico. Destaquemos</p><p>que sustentabilidade envolve atender às necessidades humanas, tanto</p><p>no presente quanto no futuro, mantendo equilíbrio entre o social, o</p><p>econômico e o ambiental.</p><p>Dessa forma, o EIV como um instrumento da política urbana, contribui</p><p>para a sustentabilidade nas cidades. O objetivo, segundo Soares</p><p>(2012), é atenuar os danos causados pelos empreendimentos no meio</p><p>urbano, possibilitando uma busca por modelos de cidades sustentáveis,</p><p>um importante marco mesmo não sendo o único instrumento, mas</p><p>fundamental ao que se presta.</p><p>Concluindo, podemos entender que o EIV é um instrumento</p><p>obrigatório que deve ser desenvolvido previamente à implantação</p><p>de empreendimentos, e que se articula ao EIA, com regulamentação</p><p>específica municipal, em vias de contribuir para a sustentabilidade local</p><p>de espaços urbanos. Esse foi um marco que foi possível a um histórico</p><p>longo de evolução no pensamento sobre as necessidades urbanas e de</p><p>minimização de impactos no ambiente das cidades urbanas.</p><p>66</p><p>Referências Bibliográficas</p><p>BRASIL. Presidência da República. Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979. Dispõe</p><p>sobre o Parcelamento do Solo Urbano e dá outras Providências. D.O.U., Brasília,</p><p>1979. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6766.htm. Acesso</p><p>em: 20 jan. 2021.</p><p>BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do</p><p>Brasil de 1988. Brasília, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/</p><p>constituicao/constituicao.htm. Acesso em 22 jan. 2021.</p><p>BRASIL. Presidência da República. Lei nº 9.785, de 29 de janeiro de 1999. Altera o</p><p>Decreto-Lei no 3.365, de 21 de junho de 1941 [...]. D.O.U., Brasília, 1999. Disponível</p><p>em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9785.htm. Acesso em: 20 jan. 2021.</p><p>BRASIL. Presidência da República. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001.</p><p>Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais</p><p>da política urbana e dá outras providências. D.O.U., Brasília, 2001. Disponível em:</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/L10257.htm. Acesso em 20 jan.</p><p>2021.</p><p>BRASIL. Presidência da República. Lei nº 10.650, de 14 de abril de 2003. Dispõe</p><p>sobre o acesso público aos dados e informações existentes os órgãos e entidades</p><p>integrantes do Sisnama. D.O.U., Brasília, 2003. Disponível em: http://www.planalto.</p><p>gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.650.htm. Acesso em: 20 jan. 2021.</p><p>BRASIL. Ministério das Cidades. Estudo de Impacto de Vizinhança. Coleção</p><p>Cadernos Técnicos de Regulamentação e Implementação de Instrumentos do</p><p>Estatuto da Cidade. v. 4. SCHVARSBERG, B. (Org.). Brasília: Universidade de Brasília,</p><p>2016. Disponível em: https://www.caubr.gov.br/wp-content/uploads/2017/10/</p><p>CAPACIDADES4.pdf. Acesso em: 23 abr.2021.</p><p>CORRÊA, L. R. O espaço urbano. 4. ed. São Paulo: Editora Ática, 2003.</p><p>SOARES, W. I. R. O estudo de impacto de vizinhança como instrumento jurídico</p><p>para alcançar a sustentabilidade na cidade. 2012. Disponível em: http://www.</p><p>jurisway.org.br/monografias/monografia.asp?id_dh=7011. Acesso em: 22 jan. 2021.</p><p>TOMANIK, R. Estudo de Impacto de Vizinhança e Licenciamento Urbanístico-</p><p>Ambiental: Desafios e Inovações. 2008. 131 f. Dissertação (Mestrado em</p><p>Engenharia Urbana) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2008.</p><p>Disponível em: https://repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/4245?show=full. Acesso</p><p>em: 21 jan. 2021.</p><p>VENTURA, A. C. Estudo de impacto de vizinhança. Salvador: UFBA, Escola de</p><p>Administração; Superintendência de Educação a Distância, 2020.</p><p>https://www.caubr.gov.br/wp-content/uploads/2017/10/CAPACIDADES4.pdf</p><p>https://www.caubr.gov.br/wp-content/uploads/2017/10/CAPACIDADES4.pdf</p><p>67</p><p>BONS ESTUDOS!</p><p>Sumário</p><p>Conceitos e objetivos da avaliação de impacto ambiental</p><p>Objetivos</p><p>1. O campo de atuação na avaliação de impactos ambientais</p><p>2. A avaliação de impactos ambientais: conceitos e objetivos</p><p>3. Os processos de avaliação de impacto, segundo a legislação brasileira</p><p>Referências Bibliográficas</p><p>A gestão de estudos ambientais: planejamento e elaboração</p><p>Objetivos</p><p>1. O processo de AIA no Brasil: estudos de impactos ambientais</p><p>2. O estudo de impacto ambiental: conceitos fundamentais</p><p>3. Iniciando a AIA: planejamento, escopo e diagnóstico</p><p>Referências Bibliográficas</p><p>Avaliação de impacto ambiental na prática</p><p>Objetivos</p><p>1. Roteiro básico para estudos de impacto ambiental (EIA) e confecção do relatório de impactos ambi</p><p>2. A elaboração de estudos de impacto ambiental: etapas de execução, métodos e prática</p><p>3. Finalizando o EIA: previsões, AIA, resultados e monitoramento ambiental</p><p>Referências Bibliográficas</p><p>Estudo de impacto de vizinhança: conceitos e benefícios</p><p>Objetivos</p><p>1. O estudo de impacto de vizinhança - EIV: histórico e marcos legais</p><p>2. A elaboração de estudos de impacto de vizinhança: conceitos e aplicações</p><p>3. A natureza jurídica do impacto de vizinhança e a sustentabilidade</p><p>Referências Bibliográficas</p><p>ambiental. Nessa ocasião, a preocupação essencial relativa à poluição</p><p>ambiental era com a vida humana, a proliferação de doenças, com o</p><p>foco na redução da saída de resíduos ao final do processo.</p><p>O movimento ambientalista, então, tomou força na década de 1960,</p><p>impulsionado por conta das iminentes constatações acerca do potencial</p><p>de risco das gerações de materiais tóxicos, efluentes e resíduos,</p><p>principalmente de origem industrial. As consequências dessas situações</p><p>foram manifestações, envolvimento social e atenção maior à questão.</p><p>Por fim, se iniciaram processos investigativos e discussões sobre o tema</p><p>e o que vinha acontecendo.</p><p>10</p><p>No final da década, em 1969, os Estados Unidos, de maneira pioneira,</p><p>criam sua política nacional de meio ambiente, o National Environmental</p><p>Policy Act (NEPA), que criava diretrizes e procedimentos para ações</p><p>governamentais no âmbito ambiental. Além disso, foi instituído o</p><p>Conselho de Qualidade Ambiental (do inglês Council of Environmental</p><p>Quality (CEQ), para que houvesse acompanhamento da referida lei.</p><p>2.1 Conceitos</p><p>O conceito de impacto ambiental, no entanto, entendido de maneira</p><p>mais ampla e até considerando suas vertentes positiva e negativa, surge</p><p>apenas na década de 1970 com a publicação da primeira versão da</p><p>ABNT NBR ISO 14.001 (ABNT, 2015) em que ainda vigoravam as políticas</p><p>do chamado “final de tubo” (end of pipe), constante na Figura 2. Nesse</p><p>contexto, o impacto desvincula-se apenas da poluição, outros danos</p><p>como alterações de habitat, prejuízos à fauna e flora etc., passam a ser</p><p>considerados, bem como os efeitos positivos como restauração de áreas</p><p>degradadas, preservação, dentre outros.</p><p>Figura 2 – Foco inicial dos movimentos ambientalistas</p><p>Fonte: SergeYatunin/iStock.com.</p><p>11</p><p>De acordo com Gibson (2012), a partir da conceituação de impacto, os</p><p>Estados Unidos via NEPA, que se pautava no princípio da prevenção</p><p>objetivando antecipar riscos e ameaças de diferentes contextos, criam</p><p>a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) como mecanismo de ação. Essa</p><p>medida rendeu repercussão mundial, e desencadeou um processo de</p><p>novas legislações para aplicação do AIA.</p><p>Nesse período, da década de 1970, a preocupação com o impacto das</p><p>atividades industriais na saúde humana foi crescendo e dando espaço</p><p>a estudos mais aprofundados que demonstravam que o impacto no</p><p>ambiente se tornava cada vez mais intenso e de difícil reparação.</p><p>Segundo Sachs (2004), tais estudos discutiam a possibilidade da escassez</p><p>de recursos, dado o emprego exacerbado nos processos de produção</p><p>em massa, sobre a piora da qualidade do ar e das águas e possível falta</p><p>de alimentos – assim, trouxeram a certeza da necessidade de maiores</p><p>mudanças.</p><p>Na década seguinte, mais precisamente em 1987, é difundido pelo</p><p>Relatório “Nosso Futuro Comum”, da Comissão Mundial sobre o Meio</p><p>Ambiente e o Desenvolvimento, o termo desenvolvimento sustentável.</p><p>Esse conceito passou a contar com uma visão de futuro ao ser definido</p><p>como um modelo que “atende às necessidades do presente sem</p><p>comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas</p><p>próprias necessidades” (CMMAD, 1988, p. 46).</p><p>A compreensão acerca do caráter atemporal e global do impacto,</p><p>passando para as próximas gerações um passivo que pode ser</p><p>impeditivo à qualidade de vida, trouxe força à questão ambiental e</p><p>impulsionou mais mudanças, dentre elas a criação de regulamentações</p><p>diversas. Dessa maneira, a preocupação ambiental começa a ser</p><p>direcionada também aos processos, matérias-primas e produtos.</p><p>Dentre as legislações criadas, podem ser citadas normas que tratam de</p><p>diferentes variáveis como as que definem e conceituam aspectos sociais</p><p>12</p><p>e ambientais de interesse que: geram parâmetros a serem seguidos;</p><p>estabelecem criminalização para atividades nocivas; e as que criam</p><p>instrumentos que devem ser aplicados e podem amparar a execução de</p><p>atividades mais compatíveis à vida e bem-estar social e ambiental.</p><p>A principal referência normativa internacional, surge na década de</p><p>1990 com a publicação do documento Principles of Environmental</p><p>Impact Assessment Best Practice, que criou propostas e objetivos, definiu</p><p>a abordagem para uma Associação Internacional para Avaliação de</p><p>Impacto (do inglês International Association for Impact Assessment – IAIA),</p><p>e, ainda, estabeleceu princípios básicos e operacionais para a AIA (IAIA,</p><p>1999).</p><p>Conforme nos diz Sánchez (2006b), devido à grande relevância e</p><p>abrangência que o tema gera no ambiente financeiro, a fim de que o</p><p>mercado se adeque e a prerrogativa da AIA, torna-se um dos princípios</p><p>dentre as políticas operacionais definidas pelo Banco Mundial. Sua</p><p>aplicação, assim, abrange escala global. No Canadá e na Nova Zelândia</p><p>data de 1973; e em 1974 é instituído seu emprego na Austrália. Na</p><p>França em 1976, e se torna Diretiva Europeia em 1985, a ser adotada</p><p>pela Espanha em 1986, Holanda em 1987, Alemanha em 1990 e</p><p>chegando ao Japão em 1999. Atualmente é aplicado em mais de 120</p><p>países para que seja sempre possível estabelecer um modelo mais</p><p>eficiente e menos impactante de atuação.</p><p>2.2 O que é avaliação de impactos ambientais e quais</p><p>seus objetivos?</p><p>A AIA figura como um dos principais instrumentos criados para amparar</p><p>o processo de licitação ambiental de empreendimentos, totalmente</p><p>relacionado ao conceito de desenvolvimento sustentável. Portanto,</p><p>se apresenta como um modelo com maior interação entre aspectos</p><p>vinculados ao meio ambiente, à economia e à sociedade. Dentro da</p><p>13</p><p>ótica do AIA, entende-se o meio ambiente como provedor de recursos e</p><p>absorvedor de resíduos e impactos, a economia como fonte da oferta de</p><p>possibilidades e a inserção social e a sociedade como focos e objetivos</p><p>finais de adequação.</p><p>Uma AIA completa, assim, deve considerar desde a matéria prima</p><p>retirada da natureza, o processo produtivo, o produto gerado, os</p><p>resíduos e emissões depositados, a viabilidade econômica, os custos de</p><p>adequação e de correção – seja para adequação legal ou melhorias que</p><p>levem à maiores ganhos – e as demandas e o cuidado social.</p><p>Note que com a nova visão, passa-se a trabalhar para evitar e prevenir</p><p>impactos que gerem efeitos adversos ao meio ambiente, já partindo</p><p>da necessidade de que o estudo seja base para a tomada de decisão e</p><p>considere com rigor questões como eficiência, adaptação, custo efetivo,</p><p>relevância, interdisciplinaridade, transparência, integração ao tripé da</p><p>sustentabilidade (ambiental, social e econômico) e tudo de maneira</p><p>sistemática.</p><p>Os estudos devem ser realizados para identificar a situação do meio</p><p>ambiente antes da atividade, então, pode-se realizar um comparativo</p><p>por meio de indicadores coerentes com a natureza das variáveis</p><p>identificadas, que retrate os possíveis impactos ambientais que seriam</p><p>gerados pela ação da atividade, Figura 3 (SÁNCHEZ apud VILELA JUNIOR;</p><p>DEMAJOROVIC, 2006a).</p><p>14</p><p>Figura 3 – O conceito de impacto ambiental</p><p>Fonte: adaptada de Sánchez (2006b, p. 29).</p><p>A avaliação de impacto ambiental envolve uma série de atividades em</p><p>etapas subsequentes que devem ser desenvolvidas, assim, é entendida</p><p>como um processo. Segundo Sánchez (2006a), o processo de identificar</p><p>as consequências futuras de uma ação presente ou proposta.</p><p>O objetivo fundamental é que seja realizada a avaliação prévia dos</p><p>possíveis impactos de um projeto ou futura atividade, visando evitar</p><p>ou prevenir a ocorrência de efeitos indesejáveis ao meio ambiente e</p><p>saúde humana. Consiste em uma verdadeira identificação de riscos com</p><p>qualificação e quantificação dos possíveis efeitos, um estudo amplo</p><p>e completo que deve prever impactos e maneiras para minimizá-los,</p><p>contribuindo para que a atividade prospere.</p><p>A realização da avaliação de impactos ambientais aumenta a</p><p>legitimidade e as chances de sucesso de um empreendimento ao</p><p>permitir que possíveis problemas que podem levar a necessidades de</p><p>adequação ou reformulação ou até que inviabilizariam a atividade, sejam</p><p>15</p><p>previamente identificados. Custos de controle podem ser</p><p>ponderados e</p><p>projetos reformulados com gastos redirecionados e, muitas vezes, pode</p><p>haver apenas troca de opções, no entanto, gastos de adequação ou</p><p>para remediação não são planejados, além de gerarem altos impactos</p><p>econômicos.</p><p>Diversos estudos demonstram como a avaliação de impacto ambiental</p><p>contribui para adequações significativas nos projetos de implantação</p><p>de diferentes atividades antrópicas, além de demonstrar o quanto tais</p><p>alterações beneficiam tanto as atividades quanto o meio ambiente.</p><p>Ademais, a avaliação de impacto ambiental, dependendo da amplitude</p><p>do projeto, prevê a participação pública, o que perfaz uma grande</p><p>possibilidade de democracia e, ainda, gera a possibilidade de adequação</p><p>ao território em que se insere a atividade e às questões sociais. Além de</p><p>entender demandas do entorno e possíveis impactos difíceis de serem</p><p>levantados sem consulta, promovendo ainda maior interação entre</p><p>sociedade e atividade a ser instalada.</p><p>No Brasil, os primeiros estudos de avaliação de impacto ambiental</p><p>decorreram da implantação de grandes obras, as usinas hidrelétricas</p><p>de Sobradinho, na Bahia, e de Tucuruí, no Pará, na década de 1970, por</p><p>exigência de bancos financiadores. A legislação brasileira, porém, veio</p><p>apenas em 1981 com a Lei n. 6.938 que estabeleceu a Política Nacional</p><p>de Meio Ambiente, e em seu art. 9, estabeleceu como instrumento a</p><p>AIA e criou o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) (BRASIL,</p><p>1981).</p><p>16</p><p>3. Os processos de avaliação de impacto,</p><p>segundo a legislação brasileira</p><p>O CONAMA, como órgão consultivo responsável, trouxe definições,</p><p>definiu responsabilidades e diretrizes básicas para implementação</p><p>da AIA mediante a Resolução CONAMA n. 001 de 1986. Dentre alguns</p><p>pontos fundamentais da resolução estão: a necessidade de estudo de</p><p>alternativas tecnológicas e locacionais; a definição do conteúdo básico</p><p>e escopo básico dos estudos, a necessidade de audiência pública para</p><p>discussão do relatório de impacto do meio ambiente e definiu tipologias</p><p>de empreendimentos sujeitos a AIA para seu licenciamento (BRASIL,</p><p>1986).</p><p>A preocupação com o meio ambiente e sociedade foi incorporada no art.</p><p>225 da Constituição Federal do Brasil:</p><p>Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de</p><p>uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao</p><p>Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as</p><p>presentes e futuras gerações. (BRASIL, 1988, [s.p.])</p><p>A Constituição Federal estabeleceu sete ações que devem ser</p><p>desenvolvidas pelo Poder Público, dentre as quais a exigência de</p><p>estudos de impacto ambiental para atividades com potencial poluidor</p><p>(BRASIL, 1988), visando garantir esse direito. Muitas outras legislações,</p><p>então, foram criadas já para se articular com a necessidade da AIA e a</p><p>consideram como parte de seus instrumentos.</p><p>Finalmente, foi promulgada a Lei n. 10.257 de 2001 ou Lei do Estatuto</p><p>da Cidade, que estabelece as diretrizes gerais da política urbana, que</p><p>incorpora a obrigatoriedade do AIA, descrito em estudos de impacto</p><p>ambiental (EIA), além de um estudo prévio de impacto de vizinhança</p><p>(EIV) (BRASIL, 2001).</p><p>17</p><p>De acordo com a Política Nacional de Meio Ambiente, instituída pela</p><p>Lei n. 6.931 de 1981, a Resolução CONAMA 001 de 1986, estabelece as</p><p>definições, responsabilidades, critérios básicos e diretrizes para uso</p><p>e implementação da avaliação de impacto ambiental. Assim sendo,</p><p>conforme art. 1º:</p><p>Considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades</p><p>físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer</p><p>forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que,</p><p>direta ou indiretamente, afetam:</p><p>I–a saúde, a segurança e o bem-estar da população;</p><p>II–as atividades sociais e econômicas;</p><p>III–a biota;</p><p>IV–as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;</p><p>V–a qualidade dos recursos ambientais. (BRASIL, 1986)</p><p>A citada resolução ainda estabelece as atividades modificadoras do</p><p>ambiente que devem realizar estudo de impacto ambiental, com</p><p>respectivo relatório de impacto ambiental (RIMA), a ser submetido à</p><p>análise de órgão ambiental competente para licenciamento das referidas</p><p>atividades. Conforme Brasil (1986), dentre as atividades técnicas a serem</p><p>desenvolvidas foi composto um itinerário técnico.</p><p>Após identificados os possíveis impactos, então, há uma etapa de</p><p>definição de escopo (área de abrangência direta e indireta dos impactos)</p><p>e diagnóstico, prosseguindo para a previsão dos impactos, mitigação</p><p>dos impactos e o monitoramento, conforme ilustrado na Figura 4.</p><p>Deve-se, ainda, contemplar todas as alternativas tecnológicas e de</p><p>localização do empreendimento, além de considerar planos e programas</p><p>governamentais da região e sua compatibilidade com o projeto.</p><p>18</p><p>Figura 4 – Etapas metodológicas da AIA.</p><p>Fonte: elaborada pela autora.</p><p>Nota-se que há três momentos fundamentais que dividem o trabalho.</p><p>A etapa inicial A) em que há montagem da proposta e definição do</p><p>escopo; B) a etapa que chamamos de análise detalhada em que há toda</p><p>a avaliação em si, processos de consulta pública e tomadas de decisão;</p><p>e, finalmente, C) a etapa de monitoramento que deve seguir ao longo de</p><p>toda a vida útil do empreendimento até sua desativação.</p><p>Pode-se concluir que a avaliação de impacto ambiental se trata de um</p><p>estudo fundamentalmente interdisciplinar, de complexidade, que irá</p><p>exigir metodologias bem empregadas para que seja possível chegar</p><p>a um resultado legítimo e completo. Ao mesmo tempo, a natureza da</p><p>demanda por este tipo de estudo e a legislação que o exige denotam</p><p>os benefícios ambientais, sociais e econômicos de sua realização,</p><p>contribuindo para um processo mais coerente e eficaz de tomada de</p><p>decisões.</p><p>19</p><p>Referências Bibliográficas</p><p>ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR ISO 14.001: Sistema de</p><p>gestão ambiental: requisitos e orientações para uso. Rio de Janeiro: ABNT, 2015.</p><p>BARBIERI, J. C. et al. Inovação e sustentabilidade: novos modelos e proposições.</p><p>Revista RAE, São Paulo, v. 50, n. 2, p. 146-154, 2010. Disponível em: https://www.</p><p>scielo.br/scielo.php?pid=S0034-75902010000200002&script=sci_abstract&tlng=pt.</p><p>Acesso em: 22 abr. 2021.</p><p>BRASIL. Presidência da República. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe</p><p>sobre a Política Nacional de Meio Ambiente, seus mecanismos de formulações e</p><p>aplicação e dá outras providências. D.O.U., Brasília, 1981. Disponível em: http://</p><p>www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm. Acesso em: 10 jan. 2021.</p><p>BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do</p><p>Brasil de 1988. Brasília, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/</p><p>constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 10 jan. 2021.</p><p>BRASIL. Presidência da República. Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001. Estabelece</p><p>diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. D.O.U., Brasília, 2001.</p><p>Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10257.htm.</p><p>Acesso em: 10 jan. 2021.</p><p>BRASIL. Ministério do Meio Ambienta. CONAMA. Resolução CONAMA Nº 001, de 23</p><p>de janeiro de 1986. D.O.U., Brasília, 1986. Disponível em: http://www2.mma.gov.br/</p><p>port/conama/res/res86/res0186.html. Acesso em: 10 jan. 2021.</p><p>CMMAD. Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Nosso</p><p>futuro comum. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1988. Disponível em:</p><p>https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4245128/mod_resource/content/3/</p><p>Nosso%20Futuro%20Comum.pdf. Acesso em: 22 abr. 2021.</p><p>GIBSON, R. B. In full retreat: the Canadian government’s new environmental</p><p>assessment law undoes decades of progress. Impact Assessment and Project</p><p>Appraisal, Fargo, v. 30, n. 3, p. 179–188, 2012. Disponível em: https://www.</p><p>tandfonline.com/doi/full/10.1080/14615517.2012.720417. Acesso em: 22 abr. 2021.</p><p>INSTITUTE OF ENVIRONMENTAL ASSESSMENT. IAIA. Principles of environmental</p><p>impact assessment best practice. IAIA: Fargo, 1999.</p><p>SACHS, I. Desenvolvimento: includente, sustentável, sustentado. Rio de Janeiro:</p><p>Garamond.</p><p>2004.</p><p>SÁNCHEZ, L. E. Avaliação de impacto ambiental e seu papel na gestão de</p><p>empreendimentos. In: VILELA JUNIOR, A.; DEMAJOROVIC, J. Modelos e Ferramentas</p><p>de Gestão Ambiental. São Paulo: Senac. 2006a.</p><p>SÁNCHEZ, L. E. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São Paulo:</p><p>Oficina de Textos, 2006b.</p><p>https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-75902010000200002&script=sci_abstract&tlng=pt</p><p>https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-75902010000200002&script=sci_abstract&tlng=pt</p><p>https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4245128/mod_resource/content/3/Nosso%20Futuro%20Comum.pdf</p><p>https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4245128/mod_resource/content/3/Nosso%20Futuro%20Comum.pdf</p><p>https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/14615517.2012.720417</p><p>https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/14615517.2012.720417</p><p>20</p><p>A gestão de estudos ambientais:</p><p>planejamento e elaboração</p><p>Autoria: Raquel Carnivalle Silva Melillo</p><p>Leitura crítica: Ana Beatriz Ulhoa Cobalchini</p><p>Objetivos</p><p>• Reconhecer as etapas fundamentais para elaboração</p><p>dos estudos de impacto ambiental.</p><p>• Compreender o conceito de impactos ambientais e</p><p>como se dá sua aplicação em um estudo de impacto</p><p>ambiental.</p><p>• Compreender o planejamento e as etapas iniciais da</p><p>execução da AIA.</p><p>21</p><p>1. O processo de AIA no Brasil: estudos de</p><p>impactos ambientais</p><p>A avaliação de impacto ambiental (AIA) é estruturada em diversas</p><p>etapas sequenciais, mas que se inter-relacionam. Importante ressaltar,</p><p>conforme Dias (2009), que sendo um instrumento da Política Nacional de</p><p>Meio Ambiente (PNMA) (BRASIL, 1981), a AIA e todos os compromissos</p><p>delineados pelos responsáveis do empreendimento no estudo de</p><p>impacto ambiental (EIA) devem ser implementados.</p><p>Em se tratando de sala aplicação, o EIA é um estudo que subsidia</p><p>o licenciamento ambiental de um empreendimento de significativo</p><p>potencial poluidor, visto que o licenciamento nada mais é do que</p><p>uma avaliação prévia dos impactos. Licenciar é garantir que agentes</p><p>produtivos utilizadores de recursos naturais atendam à legislação</p><p>vigente em todas as fases, de planejamento, implantação e operação de</p><p>suas atividades.</p><p>Assim como a AIA, o licenciamento é um instrumento da PNMA:</p><p>Art 9º–São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:</p><p>(...) IV–o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente</p><p>poluidoras.</p><p>Art 10º–A construção, instalação, ampliação e funcionamento de</p><p>estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva</p><p>ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar</p><p>degradação ambiental dependerão de prévio licenciamento ambiental.</p><p>(BRASIL, 1981)</p><p>Devemos ressaltar, no entanto, que o licenciamento ambiental no</p><p>Brasil é anterior à PNMA, pois já era aplicado na década de 1970, em</p><p>São Paulo e no Rio de Janeiro, os quais haviam instituído por decreto</p><p>sistemas de licenciamento e controle de poluição. Portanto, a PNMA</p><p>22</p><p>apenas legitimou no âmbito nacional sua implementação. Assim, deu-</p><p>se, a ampliação das atividades passíveis de licenciamento, descritas na</p><p>Resolução CONAMA nº 001 de 1986. Cabe ressaltar que a competência</p><p>de licenciar é da União, cabendo à União e Municípios ação suplementar</p><p>(BRASIL, 1986).</p><p>O AIA e, por conseguinte, o EIA, se articulam com o licenciamento e</p><p>permite que o instrumento seja implementado. Portanto, haverá, então,</p><p>um processo com análise do EIA em etapas, até que o empreendimento</p><p>seja efetivo e chegue a uma etapa de acompanhamento. Dentre as</p><p>licenças, segundo aponta Dias (2009), estão a: licença prévia; licença de</p><p>instalação; e, finalmente, a licença de operação, analisadas pelos órgãos</p><p>estaduais competentes.</p><p>De acordo com a Resolução CONAMA 237 de 1997, a licença prévia é</p><p>necessária na fase preliminar do empreendimento ou atividade para</p><p>aprovação de sua localização e concepção, atestando viabilidade. Já</p><p>a licença de instalação, como o nome denota, é posterior à licença</p><p>prévia e visa a implantação em acordo com a concepção aprovada,</p><p>gerando condicionantes para a operação e com base em um plano de</p><p>controle ambiental. Finalmente, a licença de operação visa controle no</p><p>funcionamento do empreendimento em atendimento às condicionantes</p><p>do órgão ambiental (BRASIL, 1997).</p><p>Abordando de maneira geral, segundo Sánchez (2006), o processo</p><p>de licenciamento ocorre em três etapas principais : 1) etapa inicial,</p><p>que envolve a apresentação da proposta, a triagem e a determinação</p><p>do escopo do estudo de impacto ambiental. Em muitos Estados da</p><p>federação é cedido um termo de referência com as informações</p><p>básicas que deve conter o EIA; 2) etapa de análise detalhada, em que</p><p>há elaboração efetiva do EIA e do relatório de impacto ambiental (RIMA)</p><p>correspondente, passando pela análise técnica do estudo de impacto</p><p>ambiental pelo órgão licenciador, consulta pública e o processo de</p><p>decisão acerca da proposta; 3) etapa pós-aprovação, caso a decisão</p><p>23</p><p>tenha sido favorável ao estudo e empreendimento apresentados, há</p><p>implementação de sistema de gestão ambiental para monitoramento</p><p>dos parâmetros que passarão por acompanhamento, todas essas etapas</p><p>podem ser melhor compreendidas na Figura 1.</p><p>Figura 1 – Fluxograma de etapas do licenciamento ambiental:</p><p>processo da AIA</p><p>Fonte: adaptada de Sánchez (2006).</p><p>Descrevendo as principais atividades, a apresentação da proposta</p><p>trata-se de um documento destinado ao órgão ambiental licenciador</p><p>contendo os dados gerais do empreendimento e responsáveis, com</p><p>destaque ao detalhamento da localização, abrangência e características</p><p>técnicas do projeto. Haverá, então, análise perante a legislação vigente</p><p>quanto à significância e abrangência do impacto e necessidade de EIA na</p><p>triagem.</p><p>24</p><p>Não havendo impacto significativo, parte-se para o licenciamento</p><p>comum ou “ordinário”, regido pela Resolução Conama nº 237 DE 1997</p><p>(BRASIL, 1997), respectivas legislações estaduais e demais legislações</p><p>específicas. No caso da necessidade de AIA ou EIA, devem ser seguidas</p><p>as Resoluções Conama nº 237 de 1997 e nº 001 de 1986 (BRASIL, 1986).</p><p>Havendo dúvida quanto ao impacto potencial ou verificação da</p><p>necessidade de aprofundamento dos estudos, segue-se para a etapa da</p><p>análise detalhada que se inicia pala definição do escopo, a abrangência</p><p>e profundidade dos estudos. Para tal etapa são elaborados documentos</p><p>conhecidos como Termos de Referência ou Instruções Técnicas,</p><p>geralmente pelo órgão estadual competente.</p><p>Com essa definição é possível dar início ao EIA – RIMA, que é</p><p>efetivamente o momento central do processo de AIA, preparado por</p><p>uma equipe multidisciplinar que irá considerar os aspectos e impactos</p><p>possíveis do empreendimento no ambiente e propor medidas para</p><p>controle ambiental.</p><p>Uma vez finalizado, o documento parte para análise técnica pela equipe</p><p>do órgão governamental encarregado que irá verificar viabilidade,</p><p>adequação legal, conformidade às exigências do Termo de Referência</p><p>ou Instrução Técnica, e procedimentos aplicáveis para que possa julgar</p><p>quanto à aprovação do empreendimento.</p><p>De acordo com Dias (2009), a AIA ainda antevê o processo de consulta</p><p>pública, principalmente no que tange aos interessados ou diretamente</p><p>afetados, que pode ocorrer no formato de audiência pública, a</p><p>qualquer momento, desde que o EIA-RIMA foi solicitado até antes da</p><p>emissão da autorização final, visando maior efetividade e transparência</p><p>administrativa. Geralmente, a audiência pública costuma ocorrer</p><p>após a aprovação básica do escopo do EIA/RIMA pelo órgão ambiental</p><p>licenciador. Cabe ressaltar, ainda, que o RIMA deve ser elaborado com</p><p>linguagem acessível a todos os públicos e deve ser disponibilizado de</p><p>25</p><p>forma pública para que qualquer ente ou pessoa interessada possa</p><p>acessar e compreendê-lo.</p><p>O processo decisório, neste contexto, compete aos encarregados</p><p>governamentais, a depender do tipo de empreendimento e de sua</p><p>abrangência em termos de território e impactos. Uma vez aprovado,</p><p>é implementado o sistema de monitoramento para garantir todas as</p><p>medidas mitigadoras</p><p>propostas com devidas análises de eficiência e</p><p>correções, quando necessário. Os relatórios de monitoramento do</p><p>empreendimento são periodicamente destinados ao órgão ambiental</p><p>licenciador.</p><p>O licenciamento depende, mesmo liberada a operação, de renovação</p><p>e acompanhamento constante que pode ser realizado por fiscalização,</p><p>auditorias ou supervisão. Neste sentido, serão cobradas as</p><p>documentações propostas por cada órgão competente. Entendidos os</p><p>trâmites, inicia-se o estudo.</p><p>2. O estudo de impacto ambiental: conceitos</p><p>fundamentais</p><p>A AIA é um instrumento detalhado que demanda, antes de quaisquer</p><p>ações, compreensão de alguns conceitos fundamentais em seu</p><p>contexto. Neste sentido há que se questionar: O que é impacto? E o que</p><p>é ambiente?</p><p>Partindo da segunda indagação, o meio ambiente deve ser entendido,</p><p>por um lado, como o provedor de recursos naturais e serviços</p><p>ecossistêmicos essenciais ao desenvolvimento econômico e manutenção</p><p>do status quo, ou da vida como conhecemos. De outro lado,</p><p>devemos sempre ter em mente que é o meio de vida dos seres vivos,</p><p>considerando gerações atuais e futuras como consta na Constituição</p><p>Federal (BRASIL, 1988). Neste ponto, os seres humanos deverão ser</p><p>26</p><p>inclusos, pois desempenham as funções ecológicas que propiciam a</p><p>manutenção da vida no planeta.</p><p>Dessa forma, há que se concluir que meio ambiente, no contexto da AIA</p><p>significa: equilíbrio entre o uso de recursos naturais e a manutenção das</p><p>funções ecológicas do ambiente, ou seja, mobilizar recursos e usufruir</p><p>do ambiente sem comprometer suas funções e sistemas. Partindo</p><p>dessa definição, verificamos que há duas dimensões que devem ser</p><p>consideradas no estudo.</p><p>Ademais, o ambiente, além de “natural” também é cultural – ligado ao</p><p>lado humano. Dessa forma, há que se considerar a ocupação do espaço,</p><p>a cultura, o conhecimento tradicional e demais aspectos relacionados</p><p>ao contexto da paisagem em que o empreendimento se insere. Então,</p><p>neste contexto teremos três definições de ambiente que devem ser</p><p>identificados e avaliados quanto aos impactos (Figura 2).</p><p>Figura 2 – O ambiente na AIA</p><p>Fonte: elaborada pela autora.</p><p>27</p><p>Como apontado na figura, o ambiente, portanto, deve ser dividido em</p><p>meio físico, o qual contempla as condições do solo, relevo, ar e água;</p><p>meio biótico, o qual trata dos seres vivos e dos serviços ecossistêmicos</p><p>entre flora e fauna; e meio antrópico, em que se consideram as questões</p><p>socioeconômicas, e os patrimônios histórico e cultural. Partindo-se de</p><p>tais definições é possível distinguir que o ambiente perfaz um sistema</p><p>amplo que envolve natureza e sociedade, multifacetado e adaptável ao</p><p>se adequar aos interesses dos envolvidos.</p><p>Quando tratamos da alteração ambiental, especificamente, esta</p><p>pode ser de origem natural ou induzida pelo homem. A AIA enfatiza</p><p>a alteração induzida, ou seja, o efeito que foi resultado de uma</p><p>intervenção antrópica. Neste ponto, a palavra efeito se destaca como</p><p>ponto central de análise, já que deve ser analisado quanto à sua</p><p>significância por meio de diferentes fatores coerentes com o objeto de</p><p>análise e as implicações dos meios em que este se insere.</p><p>Para Sánchez (2006), o impacto ambiental é avaliado e classificado</p><p>a depender da significância de um determinado efeito, e trata-se de</p><p>um julgamento de valor. A legislação vigente aponta a necessidade</p><p>de analisar quaisquer alterações das propriedades físicas, químicas e</p><p>biológicas de um ambiente que possam afetar direta ou indiretamente:</p><p>“(I) saúde, segurança e bem estar da população;(II) as atividades sociais e</p><p>econômicas; (III) a biota: (IV) as condições estéticas e sanitárias do meio</p><p>ambiente; (V) a qualidade dos recursos ambientais” (BRASIL, 1986).</p><p>Então, teremos o conceito do que é o ambiente, o impacto e o efeito</p><p>na avaliação de impacto ambiental, bem como, a necessidade de</p><p>diagnosticar as propriedades físicas, químicas e biológicas dos meios</p><p>físico e biológico e parâmetros socioeconômicos do meio antrópico. Tais</p><p>propriedades, segundo Dias (2009), perfazem o que deve ser entendido</p><p>como “ponto de partida” ou “situação base” de análise para comparação</p><p>a posteriori das atividades.</p><p>28</p><p>3. Iniciando a AIA: planejamento, escopo e</p><p>diagnóstico</p><p>Partindo das definições e determinações legais, o primeiro momento de</p><p>uma AIA será o planejamento que depende de reconhecer a situação</p><p>base, tal feito é possível mediante um diagnóstico do ambiente que deve</p><p>envolver suas três dimensões ou definições: físico, biótico e antrópico.</p><p>Certamente que não há como mapear a totalidade de variáveis que</p><p>podem existir, então, faz-se essencial que haja foco nos componentes</p><p>de interesse. Os componentes de interesse são definidos conforme a</p><p>atividade realizada e com base no que estabelece a legislação (BRASIL,</p><p>1986) ou órgão encarregado da autorização do empreendimento.</p><p>Uma vez identificada a situação base do ambiente que será impactado,</p><p>parte-se para o próximo passo. Algumas questões devem ser</p><p>respondidas: O meio será impactado pelo quê? Por quem, quais os</p><p>responsáveis? Como ou de quais maneiras? Em quanto tempo, qual o</p><p>período previsto?</p><p>De acordo com Dias (2009), essa ação demanda profundo conhecimento</p><p>do projeto ou empreendimento, por este motivo, a própria legislação</p><p>estabelece a necessidade de uma equipe multidisciplinar para realizar</p><p>a AIA, formada por especialistas e responsáveis pelo empreendimento,</p><p>instalações e atividades devem ser muito bem detalhadas e ter seus</p><p>aspectos analisados. As ações necessárias para implantação ou</p><p>operação do projeto que podem impactar a situação base, igualmente</p><p>devem ser identificadas.</p><p>Note que uma ação por si não é causadora do impacto ambiental, deve-</p><p>se compreender que o que deflagra o impacto é a interação, em outras</p><p>palavras, o enfoque é a relação entre ação e aspecto ambiental.</p><p>Como descreve Sánchez (2006), o aspecto ambiental é uma variável</p><p>fundamental, que deve ser entendido como o elemento do ambiente</p><p>29</p><p>que pode interagir com as atividades, ações para criar as instalações,</p><p>produtos ou serviços desenvolvidos. Assim, os elementos do ambiente</p><p>já descritos entram no estudo como aspecto ambiental. Dessa maneira,</p><p>o impacto ambiental, seja positivo ou negativo, será a alteração ou</p><p>ação antrópica que pode ser causada no aspecto ambiental, gerando</p><p>um impacto, como demonstra o fluxograma da Figura 3. Por exemplo,</p><p>considerando a qualidade do ar como aspecto, um impacto seria a</p><p>redução dessa qualidade por acúmulo de material particulado (poeiras e</p><p>escórias).</p><p>Figura 3 – Interações entre ações antrópicas, aspectos e impactos</p><p>ambientais</p><p>Fonte: elaborada pela autora.</p><p>A maneira mais eficaz de levantar as ações é separá-las conforme as</p><p>fases do empreendimento, que são: planejamento, implantação e</p><p>operação. Por exemplo, considere uma usina hidrelétrica. Separando</p><p>os grandes grupos de atividades, teremos na fase do planejamento a</p><p>definição do local, os estudos e projetos iniciais e o licenciamento. Já na</p><p>30</p><p>implantação, teremos o canteiro de obras, a supressão de vegetação e</p><p>a intervenção no rio. Finalmente, na operação, teremos o alagamento, o</p><p>controle de vazão e a manutenção.</p><p>Continuando o exemplo, no planejamento poderá haver impactos</p><p>em decorrência de oscilações no preço das terras ou manifestações</p><p>de movimentos sociais; já na implantação, com base nas atividades</p><p>previstas, dentre os impactos há que se considerar a chegada dos</p><p>trabalhadores, a perda de biodiversidade, alterações na ictiofauna e</p><p>alterações no regime hidrológico. No que se trata da operação, por fim,</p><p>há a possibilidade de impactos como desapropriação e reassentamento,</p><p>alteração hidrológica, além de ocupações nas margens da represa.</p><p>Uma vez entendidos os conceitos e levantados os primeiros dados,</p><p>parte-se para a definição do escopo (BRASIL, 1986), para tanto,</p><p>devem ser delineadas as áreas de influência direta e indireta do</p><p>empreendimento. A área diretamente afetada (ADA), que remete à área</p><p>a ser ocupada pelo empreendimento; a área de influência</p><p>direta (AID),</p><p>ou áreas circunvizinhas e de entorno imediato da ADA; e, finalmente, a</p><p>área de influência indireta (AII), que envolve as áreas onde os impactos</p><p>ainda podem ocorrer, conforme mostra a Figura 4.</p><p>31</p><p>Figura 4 – Definição do escopo das áreas de influência do</p><p>empreendimento</p><p>Fonte: elaborada pela autora.</p><p>O intuito da identificação é permitir que se estabeleça uma delimitação</p><p>para o diagnóstico. Essa é uma delimitação geográfica que, ainda, irá</p><p>direcionar o aprofundamento do estudo em cada região, e permitir</p><p>relacionar as áreas aos tipos de impacto, considerando sempre os meios</p><p>em foco (físico, biótico e antrópico), o tipo de empreendimento e os</p><p>aspectos ambientais impactados.</p><p>Para iniciar o levantamento de dados necessários ao diagnóstico,</p><p>pode-se adotar duas abordagens fundamentais: a dirigida ou a</p><p>exaustiva. Na dirigida, o importante é a qualidade das informações,</p><p>independentemente de haver um levantamento em quantidade que seja</p><p>reduzido – o intuito é focar os impactos mais significativos com primor.</p><p>32</p><p>Esta abordagem tende a ser mais eficiente no que se diz respeito a seus</p><p>resultados.</p><p>Todavia, a abordagem mais empregada é a exaustiva que consiste no</p><p>levantamento de grandes quantidades de informações, toma mais</p><p>tempo e recursos e acaba descrevendo genericamente alguns impactos.</p><p>O emprego da forma exaustiva na maioria dos estudos, decorre da</p><p>necessidade de alta especialização na primeira abordagem.</p><p>Uma vez escolhida a abordagem, definido o escopo e realizados os</p><p>primeiros levantamentos, o momento que se segue é o do diagnóstico</p><p>ambiental da área de influência do projeto (BRASIL, 1986). Para tanto,</p><p>os impactos levantados devem ser caracterizados quanto a diversos</p><p>critérios para que seja possível estabelecer sua significância, partindo</p><p>para uma análise qualitativa de classificação dos impactos.</p><p>Para a caracterização, conforme Santos (2007), considera-se como</p><p>variáveis principais:</p><p>a. Valor: positivo, negativo ou nulo.</p><p>b. Escala: local, regional ou estratégico.</p><p>c. Ordem: direto ou indireto.</p><p>d. Reversibilidade: reversível ou irreversível.</p><p>e. Temporalidade: imediato; a médio ou longo prazo, temporário,</p><p>permanente ou cíclico.</p><p>Considerando que o valor, positivo ou benéfico, ocorre quando a ação</p><p>acarreta na melhoria de uma propriedade ou parâmetro ambiental (ex.:</p><p>melhor acomodação de uma população que residia em zona de risco</p><p>ambiental). Já negativo ou adverso está ligado ao dano à qualidade</p><p>de uma propriedade ou parâmetro ambiental (ex.: lançamento de</p><p>contaminantes em um riacho). O nulo remete a uma ação que não</p><p>causa impacto ou alteração de qualquer parâmetro como uma ação</p><p>administrativa.</p><p>33</p><p>No âmbito da escala, considera-se local uma ação que afeta o sítio</p><p>e imediações diretas (ex.: mineração); regional, quando passa das</p><p>imediações e impacta a vizinhança (ex.: centro logístico). Por sua vez,</p><p>o estratégico envolve atividades de relevante interesse coletivo ou</p><p>nacional, tais como projetos de geração de energia, irrigação, linhas de</p><p>transmissão etc.).</p><p>Tratando das variáveis que remetem à ordem, analisa-se a relação causa</p><p>e efeito como impactos diretos (ex.: perda de biodiversidade por corte</p><p>de vegetação), e a cadeia de reações secundárias como impacto indireto</p><p>(ex.: chuva ácida).</p><p>Reversibilidade remete ao momento em que as ações que geram o</p><p>impacto são cessadas, se houver retorno ao estado anterior do meio</p><p>ambiente antes da interferência causada pelo empreendimento, o</p><p>impacto é considerado reversível (ex.: poluição do ar por queima de</p><p>cana-de-açúcar), no entanto, se não houver retorno é irreversível (ex.:</p><p>alteração na crosta por retirada de minérios).</p><p>Finalmente, aborda-se a temporalidade do impacto que é considerada</p><p>imediata, quando o efeito surge no instante em que a ação acontece</p><p>(ex.: mortandade de espécies por conta de efluentes tóxicos); de médio</p><p>ou longo prazo, quando a manifestação surge em um período após a</p><p>ação (ex.: bioacumulação); temporário remete aos efeitos por tempo</p><p>determinado (ex.: vazamento de óleo no mar); permanente, quando em</p><p>um horizonte de tempo humano, não há como recuperar o ambiente</p><p>(ex.: supressão de áreas de mangue); e cíclico, se trata de efeitos que se</p><p>manifestam em intervalos de tempo (ex.: decorrentes de interação com</p><p>questões sazonais).</p><p>Realizar a caracterização dos impactos, conforme os grupos de critérios</p><p>acima descritos, permite estabelecer uma ordem de grandeza, entender</p><p>as propriedades maiores de impacto. Dessa maneira, como aponta</p><p>Santos (2007), dentro dessa ótica de análise de impactos, surgem os</p><p>34</p><p>parâmetros denominados de magnitude, que representam a mudança</p><p>de um ou mais parâmetros ambientais (ex.: quantidade de contaminante</p><p>tóxico lançado em um curso de água), e de importância, que designa o</p><p>grau de significância do fator ambiental afetado (ex.: o curso de água</p><p>contaminado abastece o município).</p><p>Todas essas caracterizações e entendimentos acerca dos componentes</p><p>que a atividade de interesse afeta serão primordiais nas etapas iniciais</p><p>da AIA. Enquanto isso, aplicar o levantamento dos aspectos e impactos</p><p>consiste na identificação de impactos.</p><p>Concluindo, a AIA é um instrumento fundamental que subsidia</p><p>os EIAs e se articula com o licenciamento ambiental, tornando-se</p><p>prerrogativa de seu pleito. Há diferentes etapas que se organizam de</p><p>maneira sequencial, sendo fundamental ser desenvolvida em âmbito</p><p>multidisciplinar e que haja domínio das diretrizes legais e dos conceitos,</p><p>possibilitando, assim, que sejam aplicados adequadamente.</p><p>Referências Bibliográficas</p><p>BRASIL. Presidência da República. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe</p><p>sobre a Política Nacional de Meio Ambiente, seus mecanismos de formulações e</p><p>aplicação e dá outras providências. D.O.U., Brasília, 1981. Disponível em: http://</p><p>www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm. Acesso em: 10 jan. 2021.</p><p>BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do</p><p>Brasil de 1988. Brasília, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/</p><p>constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 10 jan. 2021.</p><p>BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. CONAMA. Resolução CONAMA nº 001, de 23</p><p>de janeiro de 1986. D.O.U., Brasília, 17 fev. 1986. Disponível em: http://www2.mma.</p><p>gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html. Acesso em: 10 jan. 2021.</p><p>BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Resolução nº 237, de 19 de dezembro de</p><p>1997. Disponível em: http://www2.mma.gov.br/port/conama/res/res97/res23797.</p><p>html. Acesso em: 15 jan. 2021.</p><p>35</p><p>DIAS, R. Gestão ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade. São Paulo:</p><p>Editora Atlas, 2009.</p><p>SÁNCHEZ, L. S. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São Paulo:</p><p>Oficina de Textos, 2006.</p><p>SANTOS, R. F. Planejamento ambiental: teoria e prática. Oficina de Textos. 2007.</p><p>36</p><p>Avaliação de impacto ambiental</p><p>na prática</p><p>Autoria: Raquel Carnivalle Silva Melillo</p><p>Leitura crítica: Ana Beatriz Ulhoa Cobalchini</p><p>Objetivos</p><p>• Reconhecer o roteiro básico para elaboração de um</p><p>RIMA.</p><p>• Compreender e interpretar as etapas de execução,</p><p>além das principais metodologias de avaliação de</p><p>impacto ambiental.</p><p>• Compreender os resultados possíveis e a que se</p><p>destina a mitigação e o monitoramento, culminando</p><p>no plano de gestão ambiental.</p><p>37</p><p>1. Roteiro básico para estudos de impacto</p><p>ambiental (EIA) e confecção do relatório de</p><p>impactos ambientais (RIMA)</p><p>A elaboração de estudos de impacto ambiental (EIA) é um processo</p><p>complexo que envolve a extensa análise de diferentes variáveis. Uma vez</p><p>que se compreende quando e por que este tipo de estudo e necessário,</p><p>os conceitos fundamentais e a interpretação de tais conceitos, segundo</p><p>o modelo de análise, se trata mais de um processo laborioso do que</p><p>dificultoso.</p><p>Pensando no processo em si, podemos discorrer e designar alguns</p><p>itens fundamentais do EIA que irão constar e compor o relatório de</p><p>impacto ambiental (RIMA). Donaire (2009), propõe um roteiro muito bem</p><p>estruturado que foi complementado com base em Weiss</p><p>(1989), Brasil</p><p>(1986;1997) e São Paulo (2017) e será discutido a seguir.</p><p>1.1 Introdução</p><p>Trata-se de uma descrição das informações que constarão a cada</p><p>capítulo do EIA e, também, do RIMA, sobre como o trabalho foi</p><p>estruturado e organizado e a descrição do empreendimento. Deve haver</p><p>destaque no histórico, contexto, localização (contando com elementos</p><p>visuais como mapas e incluindo informações sobre bacia hidrográfica),</p><p>tecnologias que serão empregadas na implantação e operação do</p><p>empreendimento, assim como quais serão as atividades principais e</p><p>secundárias que serão desenvolvidas. Finaliza-se com os objetivos e</p><p>justificativa de importância no contexto socioeconômico e ambiental</p><p>da área de abrangência – pode haver menção a planos regionais ou</p><p>setoriais e a estudos de viabilidade.</p><p>38</p><p>1.2 Informações gerais</p><p>Neste ponto, serão incluídas informações gerais como descrição do</p><p>objeto de licenciamento que constará na licença, equipamentos e obras</p><p>necessários, dados do empreendedor ou empresa responsável, além</p><p>de detalhes sobre porte, área ocupada, capacidade instalada total,</p><p>localização detalhada e tipo de atividade.</p><p>1.3 Estudo de alternativas locacionais</p><p>Neste item, deverão constar alternativas locacionais e tecnológicas para</p><p>atender a demanda proposta. O intuito é justificar técnica, econômica e</p><p>ambientalmente a alternativa escolhida para implantação do estudo em</p><p>comparação às demais possíveis ou existentes.</p><p>Variáveis de destaque que deverão ser analisadas e apresentadas no</p><p>estudo: desapropriação, supressão de vegetação nativa, interferências</p><p>em corpos hídricos, interferências em unidades de conservação, área ou</p><p>extensão e investimento cabíveis ao empreendimento.</p><p>Neste ponto, a comparação pode ser qualitativa em quadros ou tabelas</p><p>simples, por análise multicritérios que permita contabilizar ou valorar a</p><p>importância relativa, e por meio de mapas temáticos ou atribuição de</p><p>pesos, possíveis com amparo dos sistemas de informação geográfica</p><p>(mapas, imagens de satélites e outros dados, obtidos sempre de fontes</p><p>confiáveis ou oficiais).</p><p>1.4 Aspectos legais, institucionais, políticas, planos,</p><p>programas e projetos</p><p>Trata-se da identificação e apresentação da legislação ambiental</p><p>aplicável à tipologia de empreendimento, sua localização e intervenções</p><p>que serão necessárias à sua instalação. Podem, assim, apresentar</p><p>39</p><p>documentos legais como certidões de uso e ocupação do solo,</p><p>detalhes sobre a preservação de recursos naturais, principalmente</p><p>no caso de supressão vegetal, designação de obrigações, proibições e</p><p>recomendações para as atividades, área do empreendimento e seus</p><p>ecossistemas.</p><p>O principal objetivo desta parte do estudo é analisar e avaliar a</p><p>compatibilidade do empreendimento às políticas públicas, planos,</p><p>programas e projetos governamentais ou privados aplicáveis. Este</p><p>item, se extenso, pode ser separado do que trata da legislação. Deve-se</p><p>destacar: as políticas ambientais; as unidades de conservação; os planos</p><p>diretores; os planos de bacias; os projetos regionais ou municipais; e</p><p>outros empreendimentos adjacentes (os quais possam interferir em</p><p>questões ambientais ou legais no objeto do estudo).</p><p>1.5 Caracterização do empreendimento</p><p>O presente item do estudo deverá abordar as fases de planejamento,</p><p>implantação, operação e, se for o caso, desativação. Deverá apresentar</p><p>tanto as etapas previstas, expansões ou outras ações que possam se</p><p>fazer necessárias e devem ser detalhadas. Este item deverá conter:</p><p>plantas e cortes; infraestrutura; equipamentos; matérias-primas;</p><p>processos; efluentes e emissões. Os quais deverão descrever: método</p><p>construtivo; mão de obra necessária; utilização de áreas de apoio;</p><p>infraestrutura; equipamentos; materiais e emissões e efluentes para</p><p>implantação. Importante sempre apontar os responsáveis técnicos pela</p><p>elaboração dos materiais e fontes utilizados, além de apresentar mapas</p><p>de uso do solo, desenhos esquemáticos das etapas de implantação e</p><p>demais dados relevantes e visuais que possam facilitar o entendimento</p><p>das informações densas apresentadas nessa etapa do estudo.</p><p>40</p><p>1.6 Área de influência do empreendimento</p><p>Esta parcela do estudo deverá esclarecer os limites geográficos, sempre</p><p>amparado por itens visuais autoexplicativos como mapas, contando</p><p>sempre com a justificativa técnica das áreas a serem diretamente</p><p>afetadas pela implantação e operação do empreendimento. Serão</p><p>definidas as áreas de influência direta, as quais sofrerão seus impactos,</p><p>e das áreas de influência indireta, ou seja, sujeitas aos impactos</p><p>indiretos até o limite de intervenção geográfica da interferência do</p><p>empreendimento sob o meio.</p><p>1.7 Diagnóstico ambiental da área de influência</p><p>Esta etapa irá determinar a “situação base” das áreas de influência</p><p>pela descrição e análise dos fatores ambientais e suas interações antes</p><p>de receber o empreendimento. É necessário, para tanto, considerar</p><p>informações cartográficas, escalas compatíveis com as análises, dados</p><p>primários ou de campo e secundários, de relatórios, artigos, teses,</p><p>instituições ou órgãos de pesquisa; e, por fim, a apresentação espacial</p><p>dos resultados obtidos.</p><p>Para os meios físico e biótico, é primordial apresentar limites físicos das</p><p>áreas de intervenção com destaque às bacias hidrográficas e sub-bacias.</p><p>Já para o meio socioeconômico, o enfoque são os limites sociais com</p><p>regiões administrativas, metropolitanas e municípios.</p><p>Na qualidade ambiental, o meio é composto por um quadro sintético</p><p>contendo as informações das interações entre os fatores físicos,</p><p>biológicos e socioeconômicos, indicando métodos de análise e</p><p>componentes do sistema que será afetado pelo empreendimento,</p><p>os quais deverão ser condizentes com o meio ambiente descrito</p><p>previamente no diagnóstico ambiental.</p><p>41</p><p>1.8 Avaliação dos impactos ambientais</p><p>Apresentar a análise (identificação, valoração e interpretação com as</p><p>devidas quantificações e espacializações) dos impactos ambientais</p><p>decorrentes das atividades previstas de planejamento, implantação</p><p>e operação do empreendimento proposto. É sempre primordial</p><p>esclarecer qual técnica de avaliação de impactos ambiental está sendo</p><p>empregada, com riqueza de detalhamento, assim priorizando a clareza</p><p>e confiabilidade da AIA realizada por equipe multidisciplinar condizente</p><p>com a escala de interferência do empreendimento, ou também chamada</p><p>de potencial poluidor.</p><p>Serão apresentadas as ações antrópicas, aspectos ambientais afetados</p><p>e impactos ambientais esperados. Como ressaltado anteriormente,</p><p>é necessário explicitar os procedimentos metodológicos adotados e</p><p>critérios pré-estabelecidos. Importante que a descrição ocorra por</p><p>etapas de projetos, quais sejam, geralmente, a fase de planejamento,</p><p>fase de implantação, fase de operação e fase de monitoramento. As</p><p>ocorrências significativas deverão ser especializadas, de acordo com o</p><p>embasamento para os dados e significância justificada, assim como os</p><p>resultados da modelagem de uso do solo.</p><p>A síntese conclusiva do estudo deve designar um prognóstico da</p><p>qualidade ambiental da área de influência do empreendimento em</p><p>cada fase prevista, e trazer uma descrição detalhada por meio – este</p><p>prognóstico ambiental pode ser incluído já neste item ou ser disposto</p><p>em um item próprio. Para analisar os meios, considera-se, dentre os</p><p>principais os fatores, a saber:</p><p>a. Meio físico: condições meteorológicas; qualidade do ar; níveis de</p><p>ruído; formação geológica e geomorfológica; condição do solo;</p><p>recursos hídricos.</p><p>b. Meio biológico: ecossistemas terrestres, aquáticos e de transição.</p><p>42</p><p>c. Meio antrópico: dinâmica populacional; uso e ocupação do solo;</p><p>parâmetros de nível de vida; estrutura produtiva e de serviços;</p><p>organização social.</p><p>A respeito dos critérios para análise, os impactos deverão ser</p><p>classificados, sumariamente, em: benéficos ou adversos; diretos ou</p><p>indiretos; temporários, permanentes; de médio e longo prazo ou cíclicos;</p><p>reversíveis; irreversíveis; locais; regionais ou estratégicos, dentre</p><p>outros</p><p>que couberem conforme a análise específica do empreendimento.</p><p>1.9 Proposição de medidas mitigadoras ou</p><p>potencializadoras</p><p>Neste ponto é necessário explicar as medidas que serão desenvolvidas</p><p>em vias de mitigar os impactos adversos, ou maximizar os benéficos</p><p>identificados e quantificados no item anterior, sendo necessário</p><p>contemplar: a descrição do impacto; o objetivo da medida; as medidas</p><p>a serem adotadas; a metodologia de implementação; os indicadores</p><p>ambientais para acompanhamento; os recursos físicos e humanos; o</p><p>cronograma de execução; os sistemas de registros e acompanhamento;</p><p>e responsável de execução.</p><p>As medidas ainda poderão ser classificadas quanto à sua natureza</p><p>preventiva ou corretiva no caso da mitigação; no caso da potencialização</p><p>como prévia ou posterior, ao fator ambiental a que se destinam, à</p><p>fase do empreendimento em que deverão ser adotadas, ao prazo e</p><p>permanência de suas aplicações e ao seu custo estimado.</p><p>É importante que sejam associadas medidas a cada um dos impactos</p><p>levantados, que sejam medidas reconhecidamente eficazes e que o</p><p>custo seja viável perante o projeto.</p><p>43</p><p>1.10 Programa de acompanhamento e monitoramento</p><p>dos impactos ambientais</p><p>Para que as ações sejam efetivas, há a necessidade de um programa</p><p>de acompanhamento ou monitoramento. Neste programa, deve</p><p>haver a proposição de meios para que impactos positivos e negativos</p><p>sejam analisados quanto à sua evolução, considerado as fases do</p><p>empreendimento.</p><p>Neste item, podem-se incluir: parâmetros de análise, rede</p><p>de amostragem e metodologias de coleta (com sistema de</p><p>dimensionamento e distribuição espacial), além de periodicidade da</p><p>amostragem e metodologia de processamento das informações. Todos</p><p>os detalhes são acompanhados de referências, objetivos e justificativa</p><p>da escolha.</p><p>1.11 Conclusões</p><p>Finalmente, deve-se apresentar as principais conclusões no que tange à</p><p>viabilidade ambiental do empreendimento.</p><p>2. A elaboração de estudos de impacto</p><p>ambiental: etapas de execução, métodos e</p><p>prática</p><p>Independentemente dos itens do roteiro para elaboração do EIA-</p><p>RIMA, devemos sempre lembrar que o estudo de impacto ambiental</p><p>em si, conta com algumas etapas fundamentais que irão perfazer a</p><p>análise detalhada, tais como: identificação dos impactos e escopo;</p><p>etapas iniciais que dependem de conceituação; definições iniciais de</p><p>abrangência, tipo de impacto e fatores dos meios que serão afetados;</p><p>44</p><p>avaliação e previsão de impactos que irão compor a execução efetiva do</p><p>EIA; e monitoramento.</p><p>Tratando-se das etapas de execução do EIA, previsão e avaliação são</p><p>etapas que chegam a se sobrepor para que seja possível analisar e</p><p>caracterizar os impactos de maneira a chegar a resultados confiáveis</p><p>quanto à sua significância. O monitoramento irá envolver um processo</p><p>constante de revisão de todo o estudo (SÁNCHEZ, 2006; SANTOS, 2007),</p><p>conforme consta na Figura 1.</p><p>Figura 1 – Etapas para elaboração do EIA</p><p>Fonte: elaborada pela autora.</p><p>Pela figura é possível notar que as etapas iniciais possibilitam a geração</p><p>de informações que darão embasamento, caracterizando-se por uma</p><p>aproximação genérica ainda dos possíveis impactos, considerando</p><p>45</p><p>as diferentes fases do empreendimento e a atividade esperada no</p><p>momento da operação.</p><p>A execução do EIA é o coração do estudo, pois possibilita um</p><p>refinamento de tais levantamentos iniciais. Segundo Dias (2009), este</p><p>é o contexto em que os resultados de identificação e diagnóstico serão</p><p>aprofundados, confirmados, excluídos da análise ou adicionados para</p><p>compor o item do RIMA de avaliação de impacto, foco principal da</p><p>análise técnica pelo órgão competente em vias da emissão de licenças.</p><p>Dessa maneira, a previsão consiste na descrição fundamentada de</p><p>impactos identificados, com base em hipóteses testáveis. O objetivo</p><p>dessa etapa do EIA é permitir a comparação entre as alternativas para</p><p>que seja montado um prognóstico com estimativa de intensidade dos</p><p>impactos a fim de amparar sua avaliação. Por esse motivo, as duas</p><p>etapas podem ser desenvolvidas em concomitância.</p><p>Há diferentes métodos que podem ser empregados para que seja</p><p>possível a previsão e avaliação dos impactos ambientais. Dentre os</p><p>principais estão: ad hoc; listagem de controle; matrizes de interação;</p><p>redes de interação; modelos de simulação; cartográficos; e comparação</p><p>e extrapolação.</p><p>O método ad hoc consiste em uma reunião entre um grupo</p><p>multidisciplinar de técnicos que tenham experiência no tipo de projeto</p><p>em análise. Trata-se de uma metodologia flexível e rápida, no entanto,</p><p>baseia-se no conhecimento empírico dos participantes, assim pode ser</p><p>limitada.</p><p>As listagens de controle, por sua vez, se constituem como uma lista</p><p>de impactos ambientais que devem ser considerados com base</p><p>nos levantamentos e recortes que definem o escopo do projeto. Tal</p><p>metodologia é muito empregada, dada sua praticidade e possibilidade</p><p>46</p><p>de organização, mas permite apenas avaliação qualitativa, e não a</p><p>análise de causa e efeito ou de impactos secundários.</p><p>Matrizes de interação compõem-se como uma listagem bidimensional,</p><p>em que os aspectos ambientais são alocados nas linhas e, as ações</p><p>decorrentes do empreendimento e os impactos ambientais nas colunas.</p><p>Assim, há possibilidade de verificar as interações entre os componentes</p><p>do projeto e os diferentes elementos do meio. A mais empregada é a</p><p>matriz Leopold.</p><p>A matriz Leopold, como descreve Sánchez (2006), foi uma das primeiras</p><p>ferramentas propostas para a AIA, já em 1971, e cruza um número fixo</p><p>de fatores ambientais e ações humanas, permitindo análise de um</p><p>número elevado de informações e fáceis comparações. Sua dificuldade</p><p>está no método se apresentar trabalhoso e no fato de não considerar</p><p>dinamismos ou impactos secundários. A original se compunha de 100</p><p>ações humanas e 88 componentes ambientais, permitindo representar</p><p>importância e magnitude do impacto de maneira bastante visual</p><p>(LEOPOLD et al., 1971).</p><p>Redes de interação são fluxogramas que indicam as relações sequenciais</p><p>de causa e efeito, a partir de uma ação impactante, demonstrando as</p><p>cadeias de impacto. Esses fluxos permitem o bom entendimento das</p><p>relações entre ações, aspectos e impactos ambientais, além de permitir</p><p>identificar impactos de segunda, terceira ordem. No entanto, por ser um</p><p>fluxo, há simplificação dos processos envolvidos.</p><p>Partindo para os modelos de simulação, esses são verdadeiras</p><p>simplificações da realidade, representações empregadas para prever</p><p>impactos físicos e bióticos de menor grau. Permitem, no entanto,</p><p>correlacionar diversos dados em uma mesma base, podendo ser</p><p>empregados dados cartográficos e outras ferramentas que possam</p><p>baseá-los.</p><p>47</p><p>Na simulação são propostos cenários futuros considerando os possíveis</p><p>impactos no ambiente, comumente usados para analisar a dispersão de</p><p>poluentes e alterações hidrológicas, meteorológicas e de uso do solo. É</p><p>possível criar cenários distintos auxiliando a formulação de alternativas</p><p>técnicas e locacionais, porém, exige dados de qualidade, especialistas e</p><p>softwares específicos dependendo do que se irá modelar.</p><p>Os modelos cartográficos, como o próprio nome designa, se constituem</p><p>do emprego de cartas temáticas (declividade, relevo, hidrografia,</p><p>cobertura vegetal, ocupação humana etc.) de forma conjunta. O</p><p>diferencial é a espacialização dos dados que permite fácil visualização da</p><p>diferença entre a situação base e a alteração prevista, mas serve apenas</p><p>para impactos que podem ser espacializados.</p><p>Finalmente, quando se emprega a comparação e extrapolação, o</p><p>intuito é comparar a situação base em análise com situações históricas</p><p>semelhantes. Valem para otimizar o método, aliar às visitas a outros</p><p>empreendimentos, aos levantamentos de histórico e de dados com</p><p>extrapolação para outro porte ou área de abrangência diferente, além</p><p>da realização de medições e testes in situ.</p><p>Com base em tais análises que podem ser selecionadas ou</p><p>complementares, contanto que atendam as solicitações do órgão</p><p>ambiental</p><p>competente e contemplem as necessidades de cada tópico do</p><p>EIA-RIMA, é possível propor alternativas técnicas e locacionais, minimizar</p><p>incertezas e erros, designar a real significância dos impactos e propor</p><p>medidas de monitoramento e de mitigação.</p><p>48</p><p>3. Finalizando o EIA: previsões, AIA, resultados</p><p>e monitoramento ambiental</p><p>Uma vez que os possíveis impactos e alternativas foram previstos, o</p><p>que dever ser considerado relevante? Pode ser que o estudo resulte em</p><p>muitos impactos, à primeira vista importantes, e dessa maneira, há que</p><p>se emitir juízo de valor – quando considera-se o aspecto subjetivo da</p><p>AIA.</p><p>Os impactos são, durante a AIA, classificados separando os mais</p><p>importantes dos demais com base em todas as análises até então</p><p>realizadas. Impactos “grandes” sobre recursos naturais importantes são</p><p>significativos; já os impactos “pequenos” ou sobre recursos resilientes,</p><p>são menos significativos.</p><p>Dessa maneira, são analisados os atributos do impacto ou características</p><p>e propriedades segundo os critérios de avaliação que foram</p><p>selecionados, conforme consta na Figura 2. Há muitos outros critérios</p><p>49</p><p>a depender do tipo de impacto, do aspecto afetado e natureza das</p><p>análises.</p><p>Figura 2 – Classificação do impacto ambiental</p><p>Fonte: elaborada pela autora.</p><p>Pensando no exemplo de ruídos, ao analisar a natureza tem-se que é</p><p>um impacto negativo; do ponto de vista da escala temporal, é imediato;</p><p>de baixa importância; origem direta; reversível, basta cessar a fonte; de</p><p>alta probabilidade; duração temporária; e não cumulativo. Tal análise vai</p><p>possibilitar influir sobre sua significância.</p><p>Para análises de AIA, podem ser adotadas: a abordagem técnica, que</p><p>consiste na combinação e ponderação de atributos; a colaborativa, que</p><p>envolve equipes de análise com ponderamento das partes interessada;</p><p>ou a abordagem argumentativa, em que é argumentada ou justificada</p><p>50</p><p>uma razão para a atribuição da importância. Note que as abordagens</p><p>não são excludentes e sim complementares.</p><p>O art. 6º da Resolução CONAMA nº 001 de 1986 (BRASIL, 1986) designa</p><p>como atividades técnicas de avaliação de impacto a definição de</p><p>medidas mitigadoras para impactos negativos e a composição de um</p><p>programa de monitoramento, tanto para impactos positivos quanto para</p><p>os negativos.</p><p>Uma vez finalizada a AIA, teremos todos os impactos com análise de</p><p>natureza quanto à expressão benéfica ou adversa, de significância</p><p>e detalhamentos. Para todos os impactos haverá a necessidade de</p><p>propor medidas de mitigação ou compensação e de monitoramento.</p><p>O monitoramento nada mais é do que a proposição de um programa</p><p>de gestão ambiental que se destina a minimizar impactos negativos e</p><p>maximizar impactos positivos.</p><p>Mitigar envolve a criação de ações que visam reduzir a importância ou</p><p>significância do impacto previsto, estas devem ser planejadas com base</p><p>na AIA para que sejam implementadas nas etapas de implantação e</p><p>operação do empreendimento.</p><p>A compensação ambiental, estabelecida no art. 36 da Lei n. 9.985 de</p><p>julho de 2000 (BRASIL, 2000), é desenvolvida uma vez que o dano já foi</p><p>materializado, então, são pensadas ações para compensar o ambiente e</p><p>a sociedade. Pode ser um “pagamento” ou implementação de melhoria.</p><p>Dentre os princípios da compensação, pode-se citar a necessidade de</p><p>equivalência no que tange à relevância ambiental, a proporcionalidade</p><p>de extensão e a preferência por áreas contíguas ou na mesma bacia.</p><p>A gestão ambiental deve ser estruturada com base nos planos de</p><p>monitoramento de todas as fases do empreendimento, seja pré-</p><p>operacional, operacional e pós-operacional, ao ponto de verificar</p><p>51</p><p>impacto reais, detectar mudanças e problemas não anteriormente</p><p>previstos e avaliar os processos de mitigação e compensação.</p><p>O programa de gestão ambiental deve ser pensado quanto às ações</p><p>necessárias que devem ser planejadas e detalhadas em atividades,</p><p>propiciando estimar a necessidade de equipes, os cronogramas, bem</p><p>como os custos envolvidos.</p><p>Há muitos cases que podem ser estudados com relatórios públicos que</p><p>podem ser acompanhados. O importante é entender que mesmo um</p><p>empreendimento que à primeira vista tenda a parecer apenas benéfico</p><p>poderá incidir impactos, além de demandar estudo de aprofundamento.</p><p>O EIA-RIMA se compõe como um estudo bastante complexo que</p><p>demanda análise multidisciplinar. Há diversas ferramentas à disposição,</p><p>note que o importante é empregar a melhor ferramenta a cada situação.</p><p>Muitas vezes, um mapa é fundamental e até pré-requisito; em</p><p>outras vezes, uma tabela seria mais conveniente para demonstrar os</p><p>resultados das análises. O fundamental é atentar para cada etapa e o</p><p>que a legislação exige, compondo um estudo completo, coerente, bem</p><p>estruturado e justificado. Erros maiores, falhas, dados sem origem,</p><p>problemas gramaticais, imagens mal elaboradas, incongruências,</p><p>indefinições, todas essas lacunas poderão invalidar o estudo ou</p><p>demandar um esforço muito maior.</p><p>Concluindo, quanto mais completo, bem embasado e de acordo com</p><p>a legislação vigente, maior a chance de seu EIA – RIMA viabilizar seu</p><p>empreendimento visto que será possível entender que o plano de</p><p>gestão ambiental irá ser igualmente bem estruturado e colocado em</p><p>prática. A tomada de decisão pelos órgãos competentes ocorre após</p><p>extensa análise e considera todos os aspectos citados e, ao final,</p><p>o empreendimento poderá ser “não autorizado”, “autorizado” ou</p><p>“autorizado com restrições”.</p><p>52</p><p>Referências Bibliográficas</p><p>BRASIL. Presidência da República. Lei n. 9.985, de 18 de julho de 2000. D.O.U.,</p><p>Brasília, 2000. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm.</p><p>Acesso em: 19 fev. 2021.</p><p>BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. CONAMA. Resolução CONAMA nº 001, de 23</p><p>de janeiro de 1986. D.O.U., Brasília,1986. Disponível em: http://www2.mma.gov.br/</p><p>port/conama/res/res86/res0186.html. Acesso em: 10 jan. 2021.</p><p>BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Resolução Nº 237, de 19 de dezembro de</p><p>1997. Disponível em: http://www2.mma.gov.br/port/conama/res/res97/res23797.</p><p>html. Acesso em 15 de jan. 2021.</p><p>DIAS, R. Gestão ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade. São Paulo:</p><p>Editora Atlas, 2009.</p><p>DONAIRE, D. Gestão ambiental na empresa. 2. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2009.</p><p>LEOPOLD, L. B. et al. A procedure for evaluating environmental impact. U. S.</p><p>Geological Survey. Geological Survey, Washington,1971. 13 p., circular 645.</p><p>Disponível em: https://pubs.er.usgs.gov/publication/cir645. Acesso em: 23 abr. 2021.</p><p>SÁNCHEZ, L. S. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São Paulo:</p><p>Oficina de Textos, 2006.</p><p>SANTOS, R. F. Planejamento ambiental: teoria e prática. Oficina de Textos. 2007.</p><p>SÃO PAULO. CETESB. Companhia Ambiental do Estado de São Paulo.</p><p>Licenciamento com avaliação de impacto Ambiental – AIA. Curso de</p><p>conformidade ambiental com requisitos técnicos e legais. v. 1. Escola Superior da</p><p>CETESB – Gestão do Conhecimento Ambiental. São Paulo: 2017.</p><p>WEISS, E. H. An unreadable EIS is an environmental hazard. The environmental</p><p>professional, 11, p. 236-240, 1989.</p><p>https://pubs.er.usgs.gov/publication/cir645</p><p>53</p><p>Estudo de impacto de vizinhança:</p><p>conceitos e benefícios</p><p>Autoria: Raquel Carnivalle Silva Melillo</p><p>Leitura crítica: Ana Beatriz Ulhoa Cobalchini</p><p>Objetivos</p><p>• Reconhecer o histórico e os marcos legais acerca de</p><p>impactos de vizinhança.</p><p>• Compreender conceitos e a aplicação prática dos</p><p>estudos de impacto de vizinhança.</p><p>• Reconhecer a natureza jurídica dos impactos de</p><p>vizinhança, contribuindo para o licenciamento</p><p>ambiental e para a sustentabilidade.</p><p>54</p><p>1. O estudo de impacto de vizinhança – EIV:</p><p>histórico e marcos legais</p><p>O espaço urbano concentra a maior parcela populacional, constituindo-</p><p>se de um ambiente fabricado pelo homem de maneira bastante intensa,</p><p>desenvolvido para atender as exigências da vida moderna. Nesse</p><p>contexto, o espaço é modificado para implantar vias para o tráfego de</p><p>veículos, grandes construções, impermeabilização, espaços residenciais,</p><p>comerciais,</p>