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<p>DIREITOS FUNDAMENTAIS</p><p>1. Conceito</p><p>Os direitos fundamentais são os direitos básicos que todo ser humano possui,</p><p>independentemente de suas características pessoais. Eles formam um núcleo essencial de</p><p>direitos que devem ser respeitados por qualquer sistema jurídico. Esses direitos não são</p><p>concessões do Estado, mas sim direitos naturais ou reconhecidos pelos ordenamentos</p><p>jurídicos. Alguns são estabelecidos pelas constituições e leis, enquanto outros são apenas</p><p>reconhecidos pelos documentos legais.</p><p>A Constituição Federal de 1988 lista os Direitos e Garantias Fundamentais no Título II,</p><p>divididos em cinco capítulos:</p><p>A) Direitos Individuais e Coletivos: Referem-se à proteção da pessoa e sua dignidade,</p><p>incluindo o direito à vida, igualdade, dignidade, segurança, honra, liberdade e propriedade</p><p>(Art. 5º).</p><p>B) Direitos Sociais: Relacionam-se ao bem-estar dos indivíduos e incluem educação,</p><p>saúde, trabalho, previdência social, lazer, segurança, proteção à maternidade e infância, e</p><p>assistência aos desamparados. Estes direitos visam melhorar as condições de vida e</p><p>promover a igualdade social (Arts. 6º a 11).</p><p>C) Direitos de Nacionalidade: Referem-se ao vínculo jurídico-político entre um indivíduo e</p><p>um Estado, conferindo ao indivíduo proteção e sujeição a deveres (Art. 12).</p><p>D) Direitos Políticos: Permitem a participação ativa dos cidadãos na política do Estado</p><p>(Art. 14).</p><p>E) Direitos Relacionados a Partidos Políticos: Garantem a autonomia e liberdade dos</p><p>partidos políticos, essenciais para a democracia (Art. 17).</p><p>2. Características</p><p>2.1. Historicidade</p><p>Os direitos fundamentais evoluem com o tempo e variam de lugar para lugar. Na França da</p><p>Revolução, os direitos fundamentais eram resumidos em liberdade, igualdade e</p><p>fraternidade. Atualmente, incluem questões como o direito a um meio ambiente equilibrado</p><p>e igualdade de gênero.</p><p>2.2. Relatividade</p><p>Os direitos fundamentais não são absolutos. Eles podem entrar em conflito e devem ser</p><p>equilibrados de acordo com o caso específico. As limitações devem respeitar os princípios</p><p>de razoabilidade e proporcionalidade. O princípio da proporcionalidade, adotado pelo STF, é</p><p>um parâmetro para controlar essas restrições.</p><p>2.3. Imprescritibilidade</p><p>Os direitos fundamentais não prescrevem com o tempo, ou seja, não podem ser perdidos</p><p>pela simples passagem dos anos.</p><p>2.4. Inalienabilidade</p><p>Não se pode vender, doar ou emprestar os direitos fundamentais. Eles têm uma eficácia</p><p>objetiva, beneficiando toda a coletividade, não apenas o indivíduo.</p><p>2.5. Indisponibilidade (Irreunição)</p><p>Os direitos fundamentais geralmente não podem ser renunciados, pois são de interesse</p><p>coletivo. No entanto, alguns direitos, como a intimidade, podem ser disponibilizados em</p><p>certas circunstâncias, mas apenas de forma temporária e sem comprometer a dignidade</p><p>humana.</p><p>2.6. Indivisibilidade</p><p>Os direitos fundamentais formam um conjunto interdependente. Desrespeitar um direito é,</p><p>de certa forma, desrespeitar todos. Não é possível sacrificar um direito "só um pouquinho"</p><p>sem afetar o todo.</p><p>2.7. Eficácia Vertical e Horizontal</p><p>Tradicionalmente, pensava-se que os direitos fundamentais se aplicavam apenas nas</p><p>relações entre o Estado e o cidadão (eficácia vertical). No entanto, a teoria da eficácia</p><p>horizontal, aceita no Brasil, afirma que esses direitos também se aplicam nas relações entre</p><p>particulares (eficácia horizontal). Exemplos incluem a igualdade de tratamento entre</p><p>trabalhadores de diferentes nacionalidades e o respeito à ampla defesa em associações</p><p>privadas.</p><p>2.8. Conflituosidade (Concorrência)</p><p>Os direitos fundamentais podem entrar em conflito. Nesses casos, a solução deve buscar</p><p>um equilíbrio que maximize a efetividade de ambos os direitos em disputa, respeitando o</p><p>princípio da proporcionalidade.</p><p>2.9. Aplicabilidade Imediata</p><p>De acordo com o Art. 5º, §1º da CF de 1988, as normas definidoras de direitos</p><p>fundamentais têm aplicação imediata. No entanto, nem todos os direitos são expressos em</p><p>normas de eficácia plena ou contida; alguns são de eficácia limitada e dependem de</p><p>regulamentação para sua efetivação.</p><p>3. Gerações (Dimensões) dos Direitos Fundamentais</p><p>A classificação dos direitos fundamentais em gerações ou dimensões leva em conta a</p><p>cronologia e a natureza dos direitos conquistados. Cada geração não substitui a anterior,</p><p>mas a complementa.</p><p>3.1. Primeira Geração (Individuais ou Negativos)</p><p>Esses direitos surgiram primeiro e visam proteger o indivíduo da ação do Estado. Incluem a</p><p>liberdade de religião, direito à vida, igualdade formal, e são caracterizados por impor ao</p><p>Estado a obrigação de não interferir (direitos negativos).</p><p>3.2. Segunda Geração (Sociais, Econômicos e Culturais ou Direitos Positivos)</p><p>Esses direitos exigem do Estado a criação de condições para a igualdade material. Incluem</p><p>saúde, educação, e segurança pública, e surgiram com a Revolução Industrial, buscando</p><p>garantir condições mínimas para exercer a liberdade (direitos positivos).</p><p>3.3. Terceira Geração (Difusos e Coletivos)</p><p>São direitos que transcendem o indivíduo e beneficiam grupos ou a coletividade. Exemplos</p><p>incluem o direito ao meio ambiente equilibrado, paz, e desenvolvimento. Dentro dessa</p><p>geração, há categorias como direitos coletivos (para grupos determinados), direitos</p><p>individuais homogêneos (protegidos em conjunto), e direitos difusos (de todos, sem</p><p>titularidade individual).</p><p>3.4. Quarta Geração</p><p>Ainda não há consenso sobre essa categoria. Alguns autores a relacionam com direitos de</p><p>engenharia genética, enquanto outros a associam à participação democrática e outras</p><p>áreas emergentes.</p><p>4. Titularidade dos Direitos Fundamentais</p><p>4.1. Pessoas Físicas</p><p>Os direitos fundamentais são geralmente considerados universais, mas com algumas</p><p>exceções. Isso significa que alguns desses direitos são específicos para certos grupos de</p><p>pessoas. Por exemplo, o direito à nacionalidade é exclusivo para quem é cidadão de um</p><p>país.</p><p>Em resumo, os direitos fundamentais se aplicam principalmente dentro do território e do</p><p>sistema jurídico de um país. No Brasil, isso significa que os direitos garantidos pela</p><p>Constituição não se aplicam a todos os indivíduos do mundo, mas sim a quem está sob a</p><p>jurisdição brasileira.</p><p>Aqui estão os grupos de pessoas que podem ter direitos fundamentais no Brasil:</p><p>● Brasileiros natos (aqueles que nasceram no Brasil)</p><p>● Brasileiros naturalizados (aqueles que se tornaram brasileiros depois de nascerem</p><p>em outro país)</p><p>● Estrangeiros residentes no Brasil (aqueles que vivem no país)</p><p>● Estrangeiros em trânsito (aqueles que estão apenas passando pelo Brasil)</p><p>● Qualquer pessoa que esteja sob a lei brasileira (mesmo fora do Brasil, se estiver</p><p>envolvida com a justiça brasileira)</p><p>Alguns direitos são exclusivos para determinados grupos. Por exemplo:</p><p>● Direitos apenas para estrangeiros em trânsito (como proteção contra prisão</p><p>arbitrária)</p><p>● Direitos apenas para brasileiros (como o direito à nacionalidade e aos direitos</p><p>políticos)</p><p>● Direitos apenas para brasileiros natos (como a proteção contra extradição e o</p><p>direito de ocupar certos cargos públicos)</p><p>Portanto, brasileiros natos têm mais direitos que brasileiros naturalizados, que por sua vez</p><p>têm mais direitos do que estrangeiros.</p><p>4.2. Pessoas Jurídicas</p><p>Os direitos fundamentais também se aplicam às pessoas jurídicas (como empresas e</p><p>associações), mas apenas quando esses direitos são compatíveis com a natureza dessas</p><p>entidades. Por exemplo:</p><p>● Direitos aplicáveis a pessoas jurídicas: devido processo legal</p><p>● Direitos não aplicáveis a pessoas jurídicas: liberdade de locomoção e integridade</p><p>física (pessoas jurídicas não podem pedir habeas corpus, que é um recurso para</p><p>proteger a liberdade de locomoção)</p><p>Pessoas jurídicas podem pedir indenização por danos morais e ser vítimas de crimes como</p><p>calúnia e difamação (mas não injúria, que é sobre a autoimagem). Mesmo órgãos públicos</p><p>(pessoas jurídicas de direito público) podem ter direitos fundamentais, pois atuam de forma</p><p>autônoma e podem precisar proteger seus próprios direitos.</p><p>5. Fontes dos Direitos Fundamentais</p><p>Os direitos fundamentais</p><p>estão principalmente na Constituição do Brasil, mas a lista na</p><p>Constituição não é definitiva. Isso significa que há outros direitos fundamentais que podem</p><p>não estar explicitamente listados, mas são reconhecidos, como o direito ao duplo grau de</p><p>jurisdição.</p><p>Os tratados internacionais sobre direitos humanos têm uma hierarquia específica no Brasil:</p><p>1. Tratados sobre direitos humanos aprovados depois de 2004: têm a mesma força</p><p>das emendas constitucionais e são considerados parte da Constituição.</p><p>2. Tratados sobre direitos humanos aprovados antes de 2004: têm uma força</p><p>intermediária, chamada supralegal, que está acima das leis, mas abaixo da</p><p>Constituição.</p><p>3. Tratados que não são sobre direitos humanos: têm a força de leis ordinárias.</p><p>Exemplos:</p><p>● Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência</p><p>(2007): hierarquia constitucional.</p><p>● Convenção de Varsóvia sobre indenização de bagagem (não é sobre direitos</p><p>humanos): hierarquia legal.</p><p>● Convenção Americana sobre Direitos Humanos (1992): hierarquia supralegal.</p><p>O STF (Supremo Tribunal Federal) usa essas hierarquias para decidir questões</p><p>importantes, como a revogação de normas que contradizem tratados internacionais.</p><p>6. LIMITES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS</p><p>6.1. Relatividade dos direitos</p><p>Os direitos fundamentais não são absolutos e podem entrar em conflito com outros direitos,</p><p>resultando em limitações recíprocas. Por exemplo, o direito à liberdade de expressão pode</p><p>ser limitado pelo direito à intimidade. Além disso, os direitos fundamentais não podem ser</p><p>utilizados como justificativa para a prática de atos ilícitos. Se uma conduta é considerada</p><p>ilícita, o exercício de um direito fundamental não pode legitimar essa conduta. Assim, não é</p><p>aceitável, por exemplo, usar a liberdade de expressão para propagar ideologias racistas ou</p><p>discriminatórias.</p><p>6.2. Limites dos Direitos Fundamentais</p><p>Há duas teorias principais sobre as limitações dos direitos fundamentais:</p><p>● Teoria externa: As restrições aos direitos fundamentais são vistas como externas a</p><p>esses direitos. Por exemplo, existe um direito à liberdade que pode ser restrito em</p><p>casos específicos.</p><p>● Teoria interna: O conteúdo de um direito é definido em confronto com outros</p><p>direitos, sem a necessidade de restrições externas. A doutrina brasileira adota a</p><p>teoria externa, considerando que é difícil definir o conteúdo de um direito sem</p><p>confrontá-lo com outros direitos.</p><p>6.2.1. Concorrência de Direitos</p><p>Os direitos fundamentais podem entrar em conflito, e esses conflitos devem ser resolvidos</p><p>por meio do princípio da harmonização, concordância prática ou ponderação de valores.</p><p>Esse princípio exige a análise do caso concreto para determinar qual direito deve</p><p>prevalecer. Exemplos de conflitos incluem:</p><p>● Direito à vida vs. segurança do Estado: Pode ocorrer uma prevalência de um</p><p>direito sobre o outro, dependendo das circunstâncias do caso concreto.</p><p>● Direito à liberdade de religião vs. tratamento médico: Por exemplo, as</p><p>Testemunhas de Jeová podem recusar tratamento médico que envolva transfusão</p><p>de sangue.</p><p>● Direito à liberdade de expressão vs. intimidade: Casos como o de uma atriz</p><p>filmada em situação íntima ou o direito de uma pessoa pública fotografada em um</p><p>local privado.</p><p>● Direito à liberdade de expressão vs. proibição de racismo ou incitação a</p><p>crimes: A liberdade de expressão não pode justificar a propagação de discursos de</p><p>ódio ou a incitação a práticas criminosas.</p><p>● Direito à liberdade de expressão vs. atos obscenos: O STF, por exemplo,</p><p>considerou que a exibição pública das nádegas em retaliação a vaias não poderia</p><p>ser criminalizada como ato obsceno.</p><p>6.2.2. Liberdade de Conformação</p><p>Alguns direitos fundamentais precisam ser concretizados pelo legislador, que possui uma</p><p>esfera discricionária de definição, chamada liberdade de conformação.</p><p>6.2.3. Reserva Legal</p><p>A Constituição pode exigir que certos direitos fundamentais sejam regulamentados por lei. A</p><p>reserva legal simples refere-se à necessidade de regulamentação por lei formal. A reserva</p><p>legal qualificada exige que a Constituição já estabeleça as restrições que a lei pode impor,</p><p>como na quebra do sigilo das comunicações telefônicas.</p><p>6.3. Teoria dos “Limites dos Limites”</p><p>Para garantir que as restrições aos direitos fundamentais não sejam tão profundas a ponto</p><p>de esvaziá-los, a teoria dos limites dos limites estabelece que as limitações devem respeitar</p><p>o núcleo essencial dos direitos e a adequação ao princípio da proporcionalidade.</p><p>6.3.1. Proteção do Núcleo Essencial</p><p>O legislador pode restringir os direitos fundamentais, mas não pode esvaziá-los. A proteção</p><p>ao núcleo essencial desses direitos é garantida para evitar restrições excessivas. Um</p><p>exemplo é a exigência de diploma de jornalista, considerada excessiva pelo STF, que</p><p>violava o núcleo essencial do direito.</p><p>6.3.2. Princípio da Proporcionalidade</p><p>O princípio da proporcionalidade analisa a legitimidade das restrições aos direitos</p><p>fundamentais com base na adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito.</p><p>Esse princípio busca garantir que a restrição seja adequada ao fim almejado, necessária e</p><p>não excessiva. O Estado deve agir de forma equilibrada, evitando tanto excessos quanto</p><p>deficiências na restrição de direitos.</p><p>7. DISTINÇÃO ENTRE DIREITOS, GARANTIAS E REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS</p><p>Os direitos fundamentais são essenciais e abrangem direitos individuais, políticos, sociais,</p><p>culturais e econômicos. Já as garantias são dispositivos que asseguram o exercício desses</p><p>direitos e limitam os poderes do Estado.</p><p>A distinção entre direito e garantia fundamental é clara:</p><p>● Direito Fundamental: Exemplo é o direito à livre manifestação do pensamento (art.</p><p>5º, IV, CF). É um dispositivo que declara a existência de um direito.</p><p>● Garantia Fundamental: Exemplo é o direito de resposta proporcional ao agravo (art.</p><p>5º, V, CF). Assegura a proteção e exercício do direito.</p><p>Em um único dispositivo constitucional, podem estar presentes tanto um direito quanto uma</p><p>garantia. Por exemplo, o art. 5º, X, da CF menciona direitos fundamentais e garante</p><p>indenização por violação desses direitos.</p><p>Os remédios constitucionais, também conhecidos como garantias instrumentais ou formais,</p><p>têm a função de assegurar a efetividade dos direitos e garantias fundamentais. Eles visam</p><p>corrigir atos da Administração que violam esses direitos, proporcionando uma proteção</p><p>prática contra abusos e garantindo a intervenção judicial quando necessário.</p>

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