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Introdução ao Direito Penal Prof.º Edigardo Neto Introdução ao Direito Penal EVOLUÇÃO HISTÓRICA História da Humanidade – Ser Social – Sociedade/Transgressão VINGANÇA DIVINA Temor religioso ou mágico Caráter expiatório (totens e tabus) Punia-se o infrator para acalmar a divindade VINGANÇA PRIVADA Complexidade social (forte laço do homem com a comunidade) Reação entre os grupos (lei do mais forte – vingança de sangue) Justiça pelas próprias mãos Surgimento da Lei de Talião (primeira manifestação do princípio da proporcionalidade) VINGANÇA PÚBLICA Organização comunitária Formação do Estado O Estado avoca o poder-dever de manter a ordem e a segurança Castigos intimidatórios e cruéis Introdução ao Direito Penal CONCEITO DE DIREITO PENAL Conjunto de princípios e leis Combate ao crime e a contravenção penal Sanção penal Objetivo e Subjetivo CARACTERÍSTICAS Ciência Normativo Valorativo Finalista Sancionador Caráter fragmentário FUNÇÕES Proteção de bens jurídicos Educador Instrumento de controle social Garantia Introdução ao Direito Penal Infração penal - É a mais grave dentre as condutas humanas indesejadas. Isso significa que a descrição em lei de uma conduta como Infração Penal se dá quando essa conduta é tão grave aos olhos da sociedade que todos os demais ramos do Direito são insuficientes para puni-lo. Em decorrência da gravidade da infração penal, comina-se ao agente que a pratica uma pena que pode até chegar ao extremo de privação da liberdade. Só pra exemplificar, vamos pensar num descumprimento de um contrato de prestação de serviços. Apesar de ser uma conduta indesejada, não é tão grave a ponto de ser sancionada com a restrição da liberdade do inadimplente, concordam?! Assim, apesar de ser um ilícito, é somente um ilícito civil. De modo diverso, é fácil perceber que matar alguém é uma conduta bem mais grave! Assim, o homicídio é previsto em lei como infração penal (CP, art. 121). Introdução ao Direito Penal Espécies de Infração Penal - Sistema dualista. Os crimes (ou delitos); e, As contravenções penais. Quem faz essa valoração é o legislador positivo, que através de sua função de representante dos interesses da sociedade, define o que deve ser considerado crime e o que deve ser considerado contravenção penal, sempre através de lei! Prova de que a diferença é meramente valorativa é a evolução das leis que descreveram a conduta de portar ilegalmente uma arma de fogo. Até 1997, tal conduta era tipificada como mera contravenção penal. No entanto, em face da frequente associação entre o porte ilegal e infrações penais mais graves (roubos, homicídios, tráfico ilícito de entorpecentes...), a Lei n° 9.437/97, transformou em crime o porte ilegal de arma de fogo (tal delito hoje é previsto na Lei n° 10.826/03). Introdução ao Direito Penal Lei de Introdução ao Código Penal distinção entre as sanções aplicadas ao crime e à contravenção penal (art.1°, Decreto-Lei nº 3.914/41): Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa (art.1°, Decreto-Lei nº 3.914/41). Considera-se contravenção penal a infração penal a que a lei comina, isoladamente, penas de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. Exceção: Consumo de drogas, infração prevista no art. 28, da Lei n° 11.343/06, apesar de não ser cominada a ela nem pena privativa de liberdade nem pena pecuniária, é considerada pela doutrina como crime e não como mera contravenção penal! Esse entendimento decorre de uma interpretação sistemática: mesmo não se enquadrando na regra de tratamento dos delitos (previsão de detenção ou reclusão), é considerado crime simplesmente por estar inserido no Cap. III, da Lei de Drogas, o qual é intitulado de “Dos Crimes e das Penas”. O próprio STF já se manifestou nesse sentido (RE 635659). Introdução ao Direito Penal Outras diferenças: Crime: A depender do crime, admite três espécies distintas de ação penal. Pune-se a tentativa na forma do art. 14, II, do CP. Justiça Federal ou Estadual, a depender das regras de fixação de competência. Limite de pena - 30 anos (art. 75, do CP). É possível a extraterritorialidade da lei penal. Contravenção Penal: Só admite ação penal pública incondicionada. Não se pune a tentativa por ausência de previsão legal. Sempre da Justiça Estadual, salvo se o agente for detentor de foro por prerrogativa de função. Limite de pena - 05 anos (art. 10, LCP). Não é possível a extraterritorialidade da lei penal. Introdução ao Direito Penal A CIÊNCIA DO DIREITO PENAL DOGMÁTICA PENAL – Princípios e Regras POLÍTICA CRIMINAL – Ideais jurídico-penais e de justiça CRIMINOLOGIA – O que é? FONTES MATERIAIS OU DE PRODUÇÃO – União (Art. 22, I, CF/88) (...) Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I – direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; (...) Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo. Introdução ao Direito Penal FONTES FORMAIS, DE CONHECIMENTO Imediata – Lei Mediatas Costumes Secundum legem ou Interpretativo Contra legem ou Negativo Praeter legem ou Integrativo Princípios Gerais do Direito Atos da Administração Pública Introdução ao Direito Penal Princípios Constitucionais Penais Valores fundamentais que inspiram a criação e a manutenção do sistema de leis. Mandamentos nucleares, alicerces, disposições fundamentais que se irradiam. Princípio (ponderação) X Regras (tudo ou nada). Função Orientar o legislador ordinário. Limitar o poder punitivo estatal. Garantias aos cidadãos. Os princípios são fontes ou causas de um conjunto de regras. O Direito Penal se baseia em diversos princípios, de origem constitucional e legal. Alguns deles veremos já nesse primeiro momento, mas não os esgotaremos agora. Isso porque há princípios do Direito Penal que se aplicam especificamente a algum tema específico (como o princípio da consunção, que se insere no estudo do conflito aparente de normas). Introdução ao Direito Penal Princípios Penais I. Princípio da Legalidade - nullum crimen nulla poena sine lege O Princípio da Legalidade é de tanta importância pro Direito Penal, que além de estar previsto constitucionalmente no art. 5°, XXXIX, da CF/88, também é tratado logo no primeiro artigo no nosso Código Penal: Art. 1° Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. Trata-se de princípio basilar do Direito Penal, voltado à fixação dos limites do poder punitivo do Estado. Liga-se diretamente à ideia da função garantista do Direito Penal, segundo a qual o Direito Penal tem a função de garantir que o agente somente poderá ser punido pelo Estado se cometer alguma das condutas previstas na lei penal. Introdução ao Direito Penal O Princípio da Legalidade Penal não se restringe aos crimes e às penas, mas alcança qualquer norma de natureza penal, como as normas que regem as contravenções penais, as medidas de segurança e a execução penal. Ainda sobre tal princípio, a doutrina cita que são quatro suas funções fundamentais, a saber: 1° Nullum crimen nulla poena sine lege praevia. 2° Nullum crimen nulla poena sine lege scripta. 3° Nullum crimen nulla poena sine lege stricta. 4° Nullum crimen nulla poena sine lege certa. 1° Função do Princípio da Legalidade Penal - Nullum crimen nulla poena sine lege praevia – a lei deve ser anterior ao fato. Visa proibir a retroatividade maléfica da lei penal! Essa função do princípio da legalidade penal consubstancia o princípio da anterioridade da lei penal, previsto no art. 5°, XL, da CF/88, segundo o qual a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. Atenção! O princípio da anterioridade penal veda apenas a retroatividade maléfica, não impedindo, portanto, a retroatividade da lei para beneficiar o réu! Introdução ao Direito Penal 2° Função do Princípio da Legalidade Penal - Nullum crimen nulla poena sine lege scripta - a lei deve ser escrita. Visa proibir a criação de crimes e penas pelos costumes. Importante! O costume, apesar de não poder ser empregado para criar crimes e penas, tem aplicação no Direito Penal no campo da interpretação de normas penais! Ex.: Determinadas palavras que constituem ofensa em determinadas regiões não constituem em outras, a conduta deve ser interpretada conforme o costume do local para a caracterização ou não do crime contra a honra. Importante! Prevalece o entendimento de que o costume, além de não poder criar crimes, também não pode revogar crimes! Introdução ao Direito Penal 3° Função do Princípio da Legalidade Penal - Nullum crimen nulla poena sine lege stricta – não há crime sem lei formal (lei em sentido estrito) – Visa proibir o emprego de analogia para criar crimes, fundamentar ou agravar penas. Essa função do princípio da legalidade consubstancia o princípio da reserva legal. Importante! A proibição do emprego da analogia para criar crimes, fundamentar ou agravar penas não significa que a analogia não tem aplicação no Direito Penal! Isso porque o que é vedado é a analogia in malam partem, ou seja, em prejuízo do réu. A analogia, no Direito Penal, pode perfeitamente ser aplicada em benefício do réu (analogia in bonam partem)! Importante! Em decorrência do princípio da reserva legal, entende-se que Medida Provisória não pode criar crimes e cominar penas! Também não quer dizer que uma Medida Provisória não possa versar sobre nenhuma matéria de Direito Penal: o STF entende que, é perfeitamente admissível Medida Provisória que verse sobre normas penais não incriminadoras (RE 254.818 – PR). Ex.: criação de hipótese de extinção da punibilidade. Introdução ao Direito Penal 4° Função do Princípio da Legalidade Penal - Nullum crimen nulla poena sine lege certa – a lei deve ser certa – Visa proibir incriminações vagas e indeterminadas. Essa função é tratada por muitos como o princípio da taxatividade da lei penal. É recorrente em provas de concursos a questão sobre a relação entre o princípio da taxatividade e o uso das leis penais em branco. O uso de Leis Penais em Branco não caracteriza ofensa ao princípio da taxatividade! Leis Penais em Branco são normas que dependem de complemento normativo. Ex.: o crime de peculato, previsto no art. 312, do Código Penal, que utiliza a expressão “funcionário público”, expressão esta que é explicada no art. 327 do próprio CP, dispositivo este que funciona como complemento normativo. Introdução ao Direito Penal II. Princípio da Intervenção Mínima O Princípio da Intervenção Mínima se define com base em duas características: 1° - A SUBSIDIARIEDADE - A intervenção do Direito Penal apenas se justifica quando os demais ramos não se mostrarem suficientes. Ou seja, a criação de uma infração penal é medida excepcional no Direito (medida de ultima ratio). 2° - A FRAGMENTARIEDADE - A criação legislativa de infrações penais somente pode ocorrer para proteger os bens jurídicos mais importantes. Um exemplo de crime que violava o princípio da intervenção mínima era o Adultério. Assim, por não merecer a proteção do Direito Penal, em 2005 (apenas em 2005!), através da Lei n° 11.106/05, o adultério foi descriminalizado. Introdução ao Direito Penal III. Princípio da Presunção de Inocência O princípio da presunção de inocência, também chamado de princípio da não culpabilidade, é previsto como direito fundamental no art. 5°, LVII, da CF/88: LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; Desse princípio se subtrai uma inversão do ônus da prova, ou seja, cabe à parte acusadora provar a culpa, pois a inocência do acusado é presumida. Com base nesse princípio, o STF entendeu que ninguém pode ter sua pena privativa de liberdade executada antes do trânsito em julgado da sentença condenatória (Inf. 534/STF). Introdução ao Direito Penal IV. Princípio do ne bis in idem O princípio do ne bis in idem - veda a dupla punição pelo mesmo fato. Assim, o agente que tiver sido absolvido não pode ser processado novamente pelo fato objeto de sua absolvição, ainda que surjam novas provas de sua autoria. V. Princípio da Personalidade ou da responsabilização pessoal - é previsto como direito fundamental no art. 5°, XLV, da CF/88: XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; Significa que a punição, em matéria penal , não pode nunca ultrapassar a pessoa do criminoso. A família do condenado, por exemplo, não deve ser afetada pelo crime cometido. Introdução ao Direito Penal VI. Princípio da Individualização da Pena - é previsto como direito fundamental no art. 5°, XLV, da CF/88: XLVI - a lei regulará a individualização da pena (...). Significa que a pena não pode ser padronizada e que cada pessoa deve responder pelos seus atos na medida exata do que fez. Mesmo quando dois agentes praticam o mesmo fato não necessariamente receberão a mesma pena. Se um deles for reincidente e o outro não, por exemplo, sobre ele incidirá uma agravante que tornará sua pena mais severa do que o agente primário. Trata-se de medida que visa aplicar o princípio constitucional da igualdade (tratar desigualmente os desiguais na medida de sua desigualdade). Introdução ao Direito Penal VII Insignificância ou criminalidade de bagatela Tipicidade Penal = Tipicidade formal + tipicidade material. Interpretação restrita do tipo penal – causa de exclusão da tipicidade. Tem aplicação a qualquer espécie de delito compatível. Contudo, é incompatível com crimes praticados com emprego de violência à pessoa ou grave ameaça. Análise do caso concreto. Para o STF, a mínima ofensividade da conduta, ausência de periculosidade social da ação, reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídico constituem requisitos objetivos, sendo o reduzido valor, requisito subjetivo. Não confundir a criminalidade de bagatela (irrelevância para o direito penal) com as infrações penais de menor potencial ofensivo (quantidade da pena). Introdução ao Direito Penal VIII Alteridade – Claus Roxin Proibição da incriminação de atitude meramente interna do agente, bem como do pensamento ou de condutas moralmente censuráveis, incapazes de invadir o patrimônio jurídico alheio. Não se pune a Autolesão X Art. 28, lei nº 11.343/06. IX Adequação social Não pode ser considerado criminoso o comportamento humano que, embora tipificado em lei, não afronta o sentimento social de justiça. Ex.: Tatuagem, colocação de brincos e circuncisão realizada pelos judeus. Introdução ao Direito Penal X Proporcionalidade Forte barreira impositiva de limites ao legislador. Limitação também imposta ao aplicador do direito na dosimetria da pena-base. XI Humanidade Decorre da dignidade da pessoa humana, consagrado como um dos fundamentos da CF/88. XII Ofensividade ou da Lesividade Não há infração, quando a conduta não tiver oferecido ao menos perigo de lesão ao bem jurídico. Delimitação do direito penal Legislador – impede configurar tipos penais. Julgador – excluir a subsistência do crime - fato inofensivo ao bem jurídico. Introdução ao Direito Penal
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