Prévia do material em texto
<p>2</p><p>SUMÁRIO</p><p>1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3</p><p>2 CONCEITOS ............................................................................................... 4</p><p>2.1 Saúde Pública ...................................................................................... 4</p><p>2.2 Saúde coletiva ...................................................................................... 6</p><p>2.3 Meio ambiente e saúde coletiva ........................................................... 8</p><p>2.4 Atuação da saúde coletiva ................................................................. 10</p><p>3 POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL ....................................................... 13</p><p>3.1 Modelo político atual........................................................................... 16</p><p>4 HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA EM SAÚDE .................................... 19</p><p>4.1 Política nacional de humanização (PNH) ........................................... 19</p><p>4.2 Princípios e diretrizes da humanização .............................................. 22</p><p>4.3 Humanização em gestão e serviços de saúde ................................... 23</p><p>5 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA SAÚDE DA CRIANÇA E DO</p><p>ADOLESCENTE ....................................................................................................... 25</p><p>5.1 Atendimento público voltado à criança e ao adolescente. .................. 26</p><p>5.2 Tipos de ações no atendimento às crianças e aos adolescentes ....... 28</p><p>5.3 Proteção à saúde da criança e do adolescente .................................. 31</p><p>6 ÓRGÃOS REGULADORES DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL ............ 33</p><p>6.1 Conceito de órgão regulador .............................................................. 33</p><p>6.2 Objetivo dos órgãos reguladores ........................................................ 37</p><p>7 REFRÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 40</p><p>3</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>Prezado aluno!</p><p>O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante</p><p>ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável -</p><p>um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma</p><p>pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum</p><p>é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a</p><p>resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas</p><p>poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em</p><p>tempo hábil.</p><p>Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa</p><p>disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das</p><p>avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que</p><p>lhe convier para isso.</p><p>A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser</p><p>seguida e prazos definidos para as atividades.</p><p>Bons estudos!</p><p>4</p><p>2 CONCEITOS</p><p>Fonte: universaude.com</p><p>A saúde sempre foi um tema muito debatido na sociedade, pois faz parte de</p><p>nossas vidas. Trata-se de um assunto fundamental para a preservação da vida</p><p>humana, e sua promoção vai muito além de descobrir curas para determinadas</p><p>doenças, pois inclui também a prevenção delas. A prevenção envolve tanto aspectos</p><p>relacionados à saúde, como também aspectos sociais. Essa visão mais ampla de</p><p>saúde pública é a base para a formação de uma saúde coletiva.</p><p>2.1 Saúde Pública</p><p>Embora próximas e muitas vezes confusas, saúde pública e saúde coletiva não</p><p>são a mesma coisa: têm origens, projetos e compromissos diferentes.</p><p>A saúde pública refere-se às intervenções e serviços voltados ao combate de</p><p>doenças ou outras situações que ameacem a saúde da população, sendo o Estado o</p><p>principal responsável pela realização da saúde pública, ou seja, promover ações</p><p>voltadas ao desenvolvimento do bem-estar e da saúde da população.</p><p>No entanto, a promoção da saúde pública vai além do que o Estado pode fazer:</p><p>a sociedade civil também contribui para a construção da saúde pública por meio de</p><p>ações de desenvolvimento da cidadania, e importantes elementos do capital social</p><p>5</p><p>contribuem para a construção de uma cultura em uma sociedade que entende a saúde</p><p>como um valor social.</p><p>Winslow (apud SOUZA, 2014, p. 15) define saúde pública como:</p><p>[...] a ciência e a arte de prevenir a doença, prolongar a vida, promover</p><p>a saúde física e a eficiência através dos esforços da comunidade</p><p>organizada para o saneamento do meio ambiente, o controle das</p><p>infecções comunitárias, a educação dos indivíduos nos princípios de</p><p>higiene pessoal, a organização dos serviços médicos e de enfermagem</p><p>para o diagnóstico precoce e o tratamento preventivo da doença e o</p><p>desenvolvimento da máquina social que assegurará a cada indivíduo</p><p>na comunidade um padrão de vida adequado para a manutenção da</p><p>saúde.</p><p>Seguindo este entendimento, Winslow apud Lechopier, 2015, p. 209, apresenta</p><p>os meios para alcançar os objetivos da saúde pública. São eles:</p><p> sanitização do ambiente;</p><p> controle das infecções transmissíveis;</p><p> educação individual da higiene pessoal;</p><p> organização de serviços médicos e de enfermagem para o diagnóstico</p><p>precoce e o tratamento preventivo de doenças;</p><p> construção da maquinaria social para assegurar a todos um padrão de</p><p>vida adequado para a manutenção da saúde.</p><p>Portanto, a saúde pública é uma atividade coletiva entre o Estado e a sociedade</p><p>com o objetivo de preservar e melhorar a saúde de cada indivíduo. A saúde pública é</p><p>muitas vezes considerada sinônimo de ações de saúde promovidas pelo Estado, mas</p><p>também inclui ações não estatais, e nem todas as ações de saúde promovidas pelo</p><p>Estado são iguais à saúde pública.</p><p>Dessa forma, a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) define 11</p><p>funções atuais essenciais da saúde pública na América:</p><p>1. monitoramento, avaliação e análise da situação de saúde;</p><p>2. vigilância da saúde pública, pesquisa e controle de riscos e danos à saúde</p><p>pública;</p><p>3. promoção da saúde;</p><p>4. participação dos cidadãos na saúde;</p><p>6</p><p>5. desenvolvimento de políticas e capacidade de planejamento e gestão</p><p>institucional da saúde pública;</p><p>6. fortalecimento da capacidade institucional de regulação e fiscalização em</p><p>questões de saúde pública;</p><p>7. avaliação e promoção do acesso equitativo aos serviços de saúde</p><p>essenciais;</p><p>8. desenvolvimento e treinamento de recursos humanos para a saúde pública;</p><p>9. garantia da melhoria da qualidade dos serviços de saúde individuais e</p><p>coletivos;</p><p>10. pesquisa em saúde pública;</p><p>11. redução do impacto de emergências e desastres na saúde.</p><p>2.2 Saúde coletiva</p><p>A saúde coletiva no Brasil foi construída a partir do movimento sanitarista latino-</p><p>americano e da corrente da reforma sanitária no país, que aconteceu entre 1960 e</p><p>1970. Nesse mesmo período foram instituídos programas para expandir o</p><p>atendimento médico às zonas rurais e periféricas urbanas; também foram elaborados,</p><p>nos cursos de medicina, departamentos de medicina preventiva.</p><p>Elementos como por exemplo as políticas de saúde pública e de ciências</p><p>sociais fazem parte da formação da saúde coletiva. Ela tem uma visão econômica,</p><p>social e ambiental sobre as possíveis propagações de doenças nas regiões, lidando</p><p>de forma preventiva para combatê-las. A prevenção se torna possível por meio de</p><p>dados sociais, econômicos e informações sobre a propagação de doenças. As formas</p><p>de prevenção adotadas devem levar em consideração específicas de cada região.</p><p>Souza (2014, p. 11) define saúde coletiva como:</p><p>[...] uma área do saber que toma como objeto as necessidades sociais</p><p>de saúde (e não apenas as doenças, os agravos ou os riscos),</p><p>entendendo a situação de saúde como um processo social (o processo</p><p>saúde-doença) relacionado à estrutura da sociedade</p><p>Regulação do Ministério da Saúde (BRASIL, 2008),</p><p>criada em 2008, tem como principal objetivo a promoção do acesso equânime,</p><p>universal e integral dos usuários ao SUS. Sem uma lógica puramente financeira, a</p><p>regulação em saúde contribui para otimizar o uso dos serviços, em busca da qualidade</p><p>da ação, da resposta adequada aos problemas clínicos e da satisfação do usuário,</p><p>sem, portanto, gerar uma fragmentação da atenção. Em Minas Gerais, a Portaria</p><p>é vista como um conjunto de regras de proteção impostas para monitorar e controlar</p><p>os serviços prestados.</p><p>Nesse plano, o objetivo pode ser social ou econômico e geralmente visa</p><p>promover atividades consideradas úteis (MENICUCCI, 2005, p. 152). Na região</p><p>metropolitana de São Paulo, a regulação da saúde pública tem o caráter de</p><p>racionalização dos serviços complementares e suplementares (FIANI, 2004).</p><p>Para operacionalizar o processo de regulação do acesso aos serviços de saúde,</p><p>observa-se a implantação de diversos centros em todo o país nas seguintes áreas:</p><p>urgências e emergências, consultas e investigações de média e alta complexidade,</p><p>internações clínicas ou cirúrgicas e de terapia intensiva, transplantes, obstetrícia e</p><p>recém-nascidos.</p><p>Um exemplo é o complexo regulatório do Distrito Federal, que foi</p><p>institucionalizado em 2009. Esse serviço é responsável por um conjunto de políticas</p><p>e ações, definidas em um plano de regulação assistencial para todos os níveis de</p><p>complexidade, visando à organização efetiva de uma rede pública hierarquicamente</p><p>articulada, a partir de um planejamento estruturado em base regional.</p><p>Sua missão é proporcionar aos usuários acesso adequado por meio de centros</p><p>de regulação na área ambulatorial, nas especialidades de dermatologia, oftalmologia,</p><p>radiologia e cardiologia, e na área de internação, com foco no acesso a leitos de</p><p>terapia intensiva. Outro modelo é a Central Estadual de Regulação do Ceará, com</p><p>sede em Fortaleza, que tem como foco regular o acesso aos cuidados intensivos com</p><p>a disponibilidade de leitos públicos e privados. Um estudo desenvolvido neste cenário</p><p>discute a relação entre o público e o privado na prestação de serviços e aborda ainda</p><p>o papel do Estado e da sociedade civil na exigência de um controle efetivo sobre o</p><p>uso dos serviços prestados.</p><p>40</p><p>7 REFRÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS</p><p>ALMEIDA, N. D. A saúde no Brasil, impasses e desafios enfrentados pelo</p><p>Sistema Único de Saúde: SUS. Revista Psicologia e Saúde. Campo Grande,</p><p>2013.</p><p>41</p><p>AZEREDO, C. M. et al. Avaliação das condições de habitação e saneamento: a</p><p>importância da visita domiciliar no contexto do Programa de Saúde da Família.</p><p>Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 2007.</p><p>BISPO JÚNIOR, J. P. Fisioterapia e saúde coletiva: desafios e novas</p><p>responsabilidades profissionais. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 2010.</p><p>BRASIL. Agência Nacional de Saúde Suplementar. Manual técnico de</p><p>promoção da saúde e prevenção de riscos e doenças na saúde suplementar.</p><p>3. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: ANS, 2009.</p><p>BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de</p><p>1988. Brasília, DF, 1988.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Secretários Municipais de</p><p>Saúde. O SUS de A a Z: garantindo saúde nos municípios. Brasília, DF: Ministério</p><p>da Saúde, 2005.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS n. 1.559, de 1.o de agosto de</p><p>2008. Institui a Política Nacional de Regulação do Sistema Único de Saúde.</p><p>Diário Oficial da União, Brasília, DF, 4 ago. 2008.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de</p><p>Regulação, Avaliação e Controle de Sistemas. Diretrizes para a implantação de</p><p>Complexos Reguladores. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2006.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção em Saúde. Departamento</p><p>de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes nacionais para a atenção integral</p><p>à saúde de adolescentes e jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde.</p><p>Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2010.</p><p>42</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva, Núcleo Técnico da Política</p><p>Nacional de Humanização. Humaniza SUS: política nacional de humanização:</p><p>documento base para gestores e trabalhadores do SUS. 2. ed. Brasília, DF:</p><p>Ministério da Saúde, 2004.</p><p>DIAS, R. D. M. A informação na regulação da saúde suplementar. 2004. 137 f.</p><p>Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) – Fundação Oswaldo Cruz, Rio de</p><p>Janeiro, 2004.</p><p>FIANI, R. Afinal, a quais interesses serve a regulação? Economia e Sociedade.</p><p>Campinas, v. 13, n. 1, p. 81-105, 2004.</p><p>KORNIS, G. E. M. et al. A regulação em saúde no Brasil: um breve exame das</p><p>décadas de 1999 a 2008. Physis: Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 21,</p><p>n. 3, p. 1077-1101, 2011.</p><p>LECHOPIER, N. Quatro tensões na saúde pública. Estudos Avançados, São</p><p>Paulo, v. 29, n. 83, 2015.</p><p>LUCCHESI, G. Globalização e regulação sanitária: os rumos da vigilância</p><p>sanitária no Brasil. Brasília, DF: ANVISA, 2008.</p><p>MENDONÇA, M. H. M. O desafio da política de atendimento à infância e à</p><p>adolescência na construção de políticas públicas equitativas. Cadernos de</p><p>Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 18, supl., p. 113-120, 2002.</p><p>MENICUCCI, T. M. G. Público e privado na política de assistência à saúde no</p><p>Brasil: atores, processos e trajetórias. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2007.</p><p>MENICUCCI, T. M. G. Regulação da assistência à saúde: o caso de Minas</p><p>Gerais. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 2005.</p><p>43</p><p>PACHECO, R. S. Brasil: avanços da contratualização de resultados no setor</p><p>público. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DO CLAD, 11., 2006.</p><p>PAIM, J. et al. O sistema de saúde brasileiro: história, avanços e desafios. The</p><p>Lancet, 2011.</p><p>PAIM, J. S.; ALMEIDA FILHO, N. Saúde coletiva: uma “nova saúde pública” ou</p><p>campo aberto a novos paradigmas? Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 32,</p><p>n. 4, p.299-316, 1998.</p><p>PAIM, P. S. Uma análise sobre o processo da Reforma Sanitária brasileira.</p><p>Saúde em Debate, Rio de Janeiro, 2009.</p><p>PORTAL BRASIL. Agências reguladoras fiscalizam a prestação de serviços</p><p>públicos. Brasília, DF, 2009.</p><p>REGIS, C. G.; BATISTA, N. A. O enfermeiro na área da saúde coletiva:</p><p>concepções e competências. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, DF,</p><p>2013.</p><p>RIOS, I. C. Humanização: a essência da ação técnica e ética nas práticas de</p><p>saúde. Revista Brasileira de Educação Médica, São Paulo, 2009.,</p><p>SÁNCHEZ, A. I. M.; BERTOLOZZI, M. R. Pode o conceito de vulnerabilidade</p><p>apoiar a construção do conhecimento em Saúde Coletiva? Ciência & Saúde</p><p>Coletiva. Rio de Janeiro, 2007.</p><p>SOUZA, L. E. P. F. Saúde Pública ou Saúde Coletiva? Revista Espaço para a</p><p>Saúde. Londrina, 2014.</p><p>44</p><p>VERONESE, J. R. P.; COSTA, M. M. M. da. Violência doméstica: quando a vítima</p><p>é criança ou adolescente. Florianópolis: OAB, 2006.</p><p>VILARINS, G. C. M. et al. A regulação em saúde: aspectos conceituais e</p><p>operacionais. Saúde em Debate. Rio de Janeiro, v. 36, n. 95, p. 640-647, out./dez.</p><p>2012.</p><p>e concebendo as</p><p>ações de atenção à saúde como práticas simultaneamente técnicas e</p><p>sociais.</p><p>7</p><p>Em relação ao campo de conhecimento, Paim e Almeida (1998, p. 309)</p><p>expressam a seguinte visão sobre saúde coletiva:</p><p>[...] a saúde coletiva contribui com o estudo do fenômeno</p><p>saúde/doença em populações enquanto processo social; investiga a</p><p>produção e distribuição das doenças na sociedade como processos de</p><p>produção e reprodução social; analisa as práticas de saúde (processo</p><p>de trabalho) na sua articulação com as demais práticas sociais; procura</p><p>compreender, enfim, as formas com que a sociedade identifica suas</p><p>necessidades e problemas de saúde, busca sua explicação e se</p><p>organiza para enfrentá-los.</p><p>Por vezes, pode parecer que não existe diferença entre a saúde coletiva e a</p><p>saúde pública, todavia, é importante lembrar que a saúde coletiva tem como objeto de</p><p>estudo as necessidades da saúde, enquanto que a saúde pública tem como objeto de</p><p>estudo os problemas de saúde. A diferença entre esses dois objetos de estudo, dizem</p><p>respeito aos aspectos de combate à doença e longevidade; já as necessidades da</p><p>saúde, além disso, também engloba os aspectos de melhoria na qualidade de vida,</p><p>liberdade humana e busca pela felicidade (SOUZA, 2014, p. 17 e 18).</p><p>A saúde coletiva é um elemento social fundamental e a sua promoção está</p><p>diretamente vinculada ao conceito de políticas públicas e popularização da vida social.</p><p>Outra maneira de verificar a diferença entre saúde pública e coletiva é analisar</p><p>os meios de trabalhos utilizados por ambas. No entendimento de Souza, (2014, p. 18),</p><p>o instrumento de trabalho da saúde pública é a epidemiologia tradicional, ou seja, a</p><p>concepção biologista da saúde, e o instrumento da saúde coletiva é:</p><p>[...] a epidemiologia social ou crítica que, aliada às ciências sociais,</p><p>prioriza o estudo da determinação social e das desigualdades em</p><p>saúde, o planejamento estratégico e comunicativo e a gestão</p><p>democrática. Além disso, abre-se às contribuições de todos os saberes</p><p>- científicos e populares - que podem orientar a elevação da</p><p>consciência sanitária e a realização de intervenções intersetoriais</p><p>sobre os determinantes estruturais da saúde. Assim, os movimentos</p><p>como promoção da saúde, cidades saudáveis, políticas públicas</p><p>saudáveis, saúde em todas as políticas compõem as estratégias da</p><p>Saúde Coletiva.</p><p>De certa forma, pode-se afirmar que a saúde pública é uma forma de saúde</p><p>coletiva, ou seja, a saúde coletiva é um aspecto mais amplo da saúde. Atualmente, a</p><p>saúde pública engloba um planejamento nacional e mais recursos do Estado. Já a</p><p>8</p><p>saúde coletiva deve ser elaborada de forma regional, em consonância com a realidade</p><p>local, e atuar estrategicamente na prevenção.</p><p>2.3 Meio ambiente e saúde coletiva</p><p>Antes de compreender a relação da saúde coletiva com o meio ambiente, se</p><p>faz necessário definir o que é meio ambiente, porque muitas vezes vinculamos essa</p><p>palavra apenas às florestas e aos rios afastados da urbanização. Todavia, o meio</p><p>ambiente é tudo aquilo que está à nossa volta, é o local do qual fazemos parte.</p><p>Portanto, sendo o ambiente rural ou urbano, das duas formas é meio ambiente.</p><p>A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938, de 31 de agosto de</p><p>1981) no artigo 3, nos diz que o meio ambiente pode ser compreendido como “o</p><p>conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e</p><p>biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (BRASIL, 1981).</p><p>As dimensões do meio ambiente seriam tanto os patrimônios naturais</p><p>(fauna, flora, recursos minerais, recursos hídricos) e sua relação direta</p><p>e indireta com os seres vivos e humanos quanto os patrimônios</p><p>artificiais construídos pelos seres humanos e toda a sua infraestrutura</p><p>relacionada, como a construção de uma cidade e seu devido</p><p>saneamento básico, rodovias, serviços médico-hospitalares, sem</p><p>esquecer a cultura humana que perpassa por esses ambientes</p><p>diferentes (OLIVEIRA; CASTRO, 2013, p. 6).</p><p>A partir dessa compreensão sobre o meio ambiente, é possível entender a sua</p><p>relação com a saúde coletiva. Os indivíduos fazem parte do meio ambiente e as</p><p>alterações no meio ambiente afetam o bem-estar e a saúde dos seres humanos, assim</p><p>como as modificações humanas alteram o meio ambiente. Sendo assim, as condições</p><p>sanitárias, como parte do ambiente em que o homem vive, atingem a saúde humana.</p><p>Como dito anteriormente, a saúde coletiva atua diretamente na prevenção das</p><p>epidemias, e, para isso, é necessário também que ela atue sobre a área sanitária, ou</p><p>seja, na higiene. Por isso, por volta de 1980, no Brasil, a luta pela saúde coletiva ficou</p><p>vinculada com a busca pela Reforma Sanitária. Durante alguns anos, esses dois</p><p>assuntos foram pensados de maneira separada, mas ainda estão estreitamente</p><p>ligados.</p><p>9</p><p>Um importante fator para a prevenção de doenças, é a higiene em volta do</p><p>ambiente onde as pessoas moram. Muitas vezes a saúde é prejudicada por conta da</p><p>poluição e pela destruição da água, do ar e do solo, bem como também pelas</p><p>condições ruins de moradia, e ausência de saneamento básico. Essas condições são</p><p>muito comuns nas grandes regiões urbanas, principalmente nas favelas e nos</p><p>cortiços. Para assegurar a saúde, a habitação das pessoas necessita ser saudável.</p><p>[...] a habitação é considerada como um agente da saúde de seus</p><p>moradores e relaciona-se com o território geográfico e social onde se</p><p>assenta, os materiais usados para sua construção, a segurança e</p><p>qualidade dos elementos combinados, o processo construtivo, a</p><p>composição espacial, a qualidade dos acabamentos, o contexto global</p><p>do entorno (comunicações, energia, vizinhança) e a educação em</p><p>saúde e ambiente de seus moradores sobre estilos e condições de vida</p><p>saudável. Do ponto de vista do ambiente como determinante da saúde,</p><p>a habitação se constitui em um espaço de construção e</p><p>desenvolvimento da saúde da família. (AZEREDO et al., 2007, p. 744).</p><p>De acordo com a empresa Terra Ambiental, o não tratamento do esgoto pode</p><p>acarretar doenças como febre tifoide, cólera, hepatite A e leptospirose. No Brasil,</p><p>segundo o IBGE, uma pesquisa feita em 2017 mostrou que 60,9% das residências</p><p>tinham banheiro e esgoto sanitário por rede geral de esgoto, ou seja, 39,1% dos</p><p>domicílios brasileiros ainda não têm saneamento básico (IBGE, 2020).</p><p>A poluição e a degradação da água e do solo têm origem por diversos fatores,</p><p>e o principal deles é o despejo de resíduos químicos, como mercúrio e enxofre, pelas</p><p>indústrias de mineração, que podem produzir graves danos à saúde da população que</p><p>se encontra no meio ambiente afetado. Os alimentos transgênicos e o uso em excesso</p><p>de agrotóxicos são também fatores que afetam de forma considerável a saúde da</p><p>população.</p><p>Há sérias evidências de que os alimentos transgênicos afetam a saúde do</p><p>consumidor, reduzindo a expectativa de vida e aumentando as possibilidades de</p><p>desenvolver câncer.</p><p>O lixo sólido despejado nas ruas e avenidas das áreas urbanas também é</p><p>causa de problemas de saúde pública, esse lixo acumulado prejudica a rede de</p><p>drenagem das ruas, levando a alagamentos e aumentando o risco de epidemias como</p><p>a leptospirose.</p><p>10</p><p>Em 2011, houve um caso de intensos deslizamentos de terras nos municípios</p><p>de Nova Friburgo, Petrópolis, São José do Vale do Rio Preto e Teresópolis; nesse</p><p>mesmo período, ocorreu um aumento no número de internações causadas pela</p><p>leptospirose, chegando a quase 20 internações em fevereiro de 2011 – sendo que a</p><p>média registrada para esse mês era menor que cinco internações.</p><p>Quando esses resíduos estão acumulados em terrenos abandonados, tornam-</p><p>-se redutos de larvas do mosquito Aedes aegypti, que transmite dengue, zika, febre</p><p>chikungunya e febre amarela.</p><p>Através das informações citadas, é possível perceber que a maioria das causas</p><p>ambientais mencionadas até agora que afetam a saúde das pessoas</p><p>atingem</p><p>diretamente a população mais pobre. Por isso, podemos considerar que a</p><p>desigualdade, a exclusão social e a marginalização de indivíduos estão entre as</p><p>condições que mais acarretam impactos na saúde humana.</p><p>As condições básicas de vida a que todos os seres humanos têm</p><p>direito (saúde, segurança, trabalho, educação, moradia etc.),</p><p>dependem diretamente de um meio ambiente saudável (Johnston,</p><p>1995). Os elevados índices de morbidade e mortalidade nos países em</p><p>desenvolvimento, com os conhecimentos de prevenção que se têm,</p><p>poderiam ser reduzidos quase aos níveis dos países desenvolvidos. As</p><p>causas dos atuais excessos de doenças nos países em</p><p>desenvolvimento são, na sua maioria, originárias do meio ambiente e</p><p>poderiam essencialmente ser evitadas (DOLL, 1992; MENDES, 1988</p><p>apud FERREIRA; ANJOS, 2001, p. 695)</p><p>A melhoria na distribuição de renda, que envolve fatores políticos, econômicos</p><p>e sociais, proporcionaria uma melhoria na saúde da população.</p><p>2.4 Atuação da saúde coletiva</p><p>A saúde coletiva, representa um conceito mais amplo de saúde, atuando em</p><p>vários focos. De modo geral, ela atua na promoção, proteção e recuperação da saúde.</p><p>A promoção da saúde atua no diagnóstico, reconhecimento e tratamento das</p><p>doenças e de aspectos que interfiram na qualidade de vida da população, bem como</p><p>no desenvolvimento e elaboração de tecnologias voltadas para os variados aspectos</p><p>da saúde, como cultura, educação e cuidado. Já a proteção da saúde, age no</p><p>11</p><p>diagnóstico, reconhecimento e tratamento dos fatores que geram a desigualdade e a</p><p>vulnerabilidade social, no controle de doenças, na vigilância epidemiológica, sanitária</p><p>e ambiental e na redução de riscos. Combater a desigualdade e a vulnerabilidade</p><p>social é uma tarefa que deve incluir todas os suportes sociais e estatais, bem como a</p><p>participação de toda a população.</p><p>A recuperação da saúde atua no âmbito institucional, na gestão e no</p><p>planejamento das clínicas, hospitais, nos processos de acolhimento, nos programas</p><p>e sistemas assistenciais e de apoio psicológico e de toda a rede de saúde.</p><p>A saúde coletiva atua em inúmeras áreas para garantir a promoção da saúde</p><p>em todos seus aspectos. Por meio dos estudos e pesquisas acadêmicas</p><p>desenvolvidas para tentar compreender as dimensões em que a saúde coletiva deve</p><p>atuar, também se tem compreendido que a saúde coletiva exige uma</p><p>transdisciplinariedade, ou seja, a junção de várias disciplinas para se chegar ao</p><p>conhecimento.</p><p>Acerca desse assunto, observe o que escrevem Sánchez e Bertolozzi (2007,</p><p>p. 322):</p><p>A abordagem na perspectiva da determinação social da saúde-doença</p><p>e que o modelo de vulnerabilidade apresentado incorpora aponta para</p><p>a necessidade da transdisciplinariedade, o que é fundamental quando</p><p>se trata de problemas ou de necessidades de saúde, na medida em</p><p>que a complexidade do objeto da saúde requer diferentes aportes</p><p>teórico-metodológicos, sob pena de reduzir as ações a “tarefas”</p><p>pontuais, de caráter emergencial, que não modificam a estrutura da</p><p>teia de causalidade.</p><p>Uma outra maneira de ver os focos de atuação da saúde coletiva é através de</p><p>uma análise da forma como os profissionais que nela atuam podem exercer suas</p><p>atividades.</p><p>Regis e Batista (2015, p. 835) explicam como deve ser a atuação do enfermeiro</p><p>na saúde coletiva:</p><p>[...] desenvolver atividades gerenciais e contribuir com a consolidação</p><p>da estratégia da saúde da família. É competência do enfermeiro, ainda,</p><p>promover atividades educativas e ações que garantam a integralidade</p><p>do ser humano na atenção à saúde. Evidencia-se a importante</p><p>contribuição da saúde coletiva para o empoderamento de enfermeiros</p><p>dentro do atual contexto brasileiro e mundial. A saúde coletiva</p><p>configura-se como uma nova perspectiva de saberes e práticas: as</p><p>possibilidades teóricas são ampliadas para além da enfermagem</p><p>centrada em procedimentos e no corpo biológico; a autonomia e o</p><p>trabalho em equipe ressignificam a prática dos enfermeiros e atributos</p><p>12</p><p>como comprometimento social e visão crítica e reflexiva são</p><p>identificados não só como características do ser humano-cidadão, mas</p><p>também do ser humano-profissional enfermeiro.</p><p>O nutricionista pode ser compreendido como um profissional que atua na saúde</p><p>coletiva, e promove a segurança alimentar como uma maneira de prevenir doenças</p><p>de uma pessoa ou de um determinado grupo da população; por exemplo, ele pode</p><p>trabalhar no combate à obesidade em um caso específico ou com campanhas</p><p>educativas junto a grupos de crianças em escolas.</p><p>O fisioterapeuta também pode exercer suas atividades na saúde coletiva, tanto</p><p>desenvolvendo seu trabalho no atendimento de reabilitação, como também na</p><p>orientação postural, que é um importante aliado na prevenção de inúmeras doenças.</p><p>Bispo Júnior (2010, p. 1633) relata a importância da orientação postural e diz como</p><p>deve ser construída essa orientação nas comunidades:</p><p>A questão da postura deve ser difundida em âmbito coletivo não</p><p>apenas como questão estética, mas como atitude corporal inerente a</p><p>uma vida saudável e fator preventivo para diversas doenças. No âmbito</p><p>da atenção básica, o fisioterapeuta deve atuar preferencialmente com</p><p>grupos populacionais, orientando sobre as posturas mais adequadas</p><p>para cada grupo ou para cada situação. A prática da educação em</p><p>saúde não deve e não pode ser entendida como ação vertical e</p><p>unidirecional, do profissional que sabe para a população que não sabe.</p><p>O processo de educação e orientação postural deve ser construído</p><p>coletivamente, levando-se em consideração quais os hábitos,</p><p>costumes e crenças com poder de influência na postura daquela</p><p>comunidade.</p><p>O psicólogo saindo das práticas individuais de consultórios pode abranger sua</p><p>contribuição para o campo coletivo. Sua principal atuação é exercer acolhimento e</p><p>cuidado com os usuários das redes de saúde pública, suas famílias e os profissionais</p><p>que atuam nela. Esses profissionais, são apenas exemplos para que se possa</p><p>compreender melhor como acontece o trabalho na saúde coletiva. Todavia, existem</p><p>outros profissionais que também podem colaborar com as áreas da saúde coletiva,</p><p>uma vez que ela integra diversos focos de atuação dentro da saúde, economia e</p><p>sociedade.</p><p>13</p><p>3 POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL</p><p>Fonte: interface.org.br</p><p>Durante muitos anos, as políticas públicas de saúde no Brasil sofreram</p><p>modificações e adequaram-se aos momentos políticos, econômicos e sociais do país.</p><p>Apenas em 1808, com a chegada da família real portuguesa ao Brasil, certas normas</p><p>sanitárias foram colocadas em prática, mesmo que apenas nos portos, para evitar a</p><p>entrada de doenças contagiosas que pudessem alcançar a nobreza. Por volta de</p><p>1822, novas políticas públicas frágeis foram aplicadas no controle dos portos, mas,</p><p>sem muito sucesso. Somente após a Proclamação da República é que foram</p><p>implementadas práticas de saúde ao nível nacional. Após um longo período, a saúde</p><p>ganhou força no Brasil a partir da Constituição de 1988, que criou o Sistema Único de</p><p>Saúde (SUS). O SUS surgiu para proporcionar aos excluídos a assistência à saúde</p><p>(BRASIL, 1988).</p><p>14</p><p>Fonte: Palm et al. (2011).</p><p>15</p><p>No ano de 1904, ocorreu a chamada Revolta da Vacina, em decorrência de um</p><p>modelo de intervenção chamado Campanhista, que, apesar de alguns abusos nas</p><p>práticas de saúde, obteve também algumas vitórias contra as epidemias. Um dos</p><p>médicos desse período foi Oswaldo Cruz, que elaborou uma reforma, incorporando</p><p>ações de Saúde, inserindo novos elementos, como:</p><p>a) o registro demográfico, proporcionando o conhecimento da composição e os</p><p>fatos vitais de importância da população;</p><p>b) a inserção do laboratório como auxiliar do diagnóstico etiológico;</p><p>c) a produção organizada de produtos profiláticos para uso em massa (PAIM,</p><p>2009).</p><p>Em 1920 Carlos Chagas surgiu como sucessor de Oswaldo Cruz, e conseguiu</p><p>inserir a propaganda</p><p>e a educação sanitária na rotina de ação, reinventando o modelo</p><p>Campanhista de Oswaldo, que era apenas fiscalizador. Foram instituídos, nesse</p><p>período, órgãos especializados contra a tuberculose, a lepra e as doenças venéreas.</p><p>Como foi uma luta marcada por muitos professores, pesquisadores e médicos, esse</p><p>movimento conquistou bases e sindicatos.</p><p>Através desses primeiros esforços, o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde</p><p>(CEBES) foi criado em 1976, organizando o movimento da reforma sanitária e, em</p><p>1979, formou-se a Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva</p><p>(ABRASCO) ambas ajudaram nas reformas da saúde.</p><p>No decorrer da ditadura militar, pouco foi feito pela saúde dos brasileiros. No</p><p>período, foram desenvolvidos os Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAP),</p><p>unificados no Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Foi um período em que</p><p>houve também um aproveitamento da medicina pela previdência social.</p><p>Foi uma época em que a população brasileira enfrentava a ditadura e</p><p>denunciava o autoritarismo nas práticas de saúde (PAIM, 2009). Em 1970, foi criado</p><p>o Movimento da Reforma Sanitária, “que tinha como finalidade conquistar a</p><p>democracia para mudar o sistema de saúde” (PAIM, 2009).</p><p>O movimento da reforma sanitária no Brasil acabou se desenvolvendo, e a</p><p>partir de 1979, acorreram inúmeras reuniões de pesquisadores, gestores de Saúde e</p><p>outros movimentos sociais e, em 1980, foi instituído o Conselho Nacional de</p><p>16</p><p>Secretários de Saúde (CONASS). Na 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986,</p><p>foi feita a elaboração do SUS, com base em estratégias de saúde que foram realizadas</p><p>no Brasil (PAIM et al., 2011).</p><p>Dessa forma, é possível fazer uma ligação de que o SUS é uma decorrência</p><p>direta da Reforma Sanitária, mas não é filho único. O SUS foi regulamentado na</p><p>Constituição de 1988, onde ficou garantido o direito à saúde como sendo um direito</p><p>fundamental e social do ser humano (BRASIL, 1988).</p><p>O SUS foi elaborado com princípios doutrinários, que são a base de tudo que</p><p>é praticado para a população. Sendo eles:</p><p> Universalidade: o acesso às ações deve ser garantido a todas as pessoas.</p><p> Equidade: garante a igualdade da assistência à saúde sem preconceitos ou</p><p>privilégios.</p><p> Integralidade: considera o indivíduo como um todo, e as ações de saúde devem</p><p>atender a todas as necessidades.</p><p> Hierarquização: é um conjunto de ações e serviços preventivos e curativos,</p><p>individuais e coletivos, para todos os níveis de complexidade.</p><p> Participação popular: democratização dos processos decisórios dos serviços</p><p>de saúde.</p><p> Descentralização: consolidada com a municipalização, torna o município gestor</p><p>do SUS.</p><p>3.1 Modelo político atual</p><p>O sistema de saúde vigente atual é descentralizado, ou seja, o poder e a</p><p>responsabilidade sobre o setor são distribuídos entre as três competências do</p><p>governo, buscando uma prestação de serviços mais eficiente, e com maior</p><p>fiscalização. Podemos dizer ainda, que o modelo de saúde vigente no Brasil é</p><p>composto por uma rede complexa que gera uma combinação público-privada,</p><p>financiada por recursos privados. Nesse atual Sistema de Saúde existem subsetores,</p><p>sendo eles:</p><p>17</p><p> subsetor público, no qual os serviços são financiados e providos pelo Estado</p><p>nos níveis federal, estadual e municipal, incluindo os serviços de saúde</p><p>militares;</p><p> subsetor privado (com fins lucrativos ou não), no qual os serviços são</p><p>financiados de diversas maneiras com recursos públicos ou privados;</p><p> subsetor de saúde suplementar, com diferentes tipos de planos privados de</p><p>saúde e de apólices de seguro, além de subsídios fiscais.</p><p>A política de saúde vigente incentiva o setor privado e possibilita a privatização</p><p>da saúde através de credenciamentos de médicos, remuneração e criação de clínicas</p><p>diagnósticas ou terapêuticas e hospitais e ainda estimula empresas de planos de</p><p>saúde. Grande parte dos planos de saúde no Brasil são de empresas comerciais e</p><p>oferecem planos com diferentes níveis.</p><p>Para regulamentar esses planos, no ano de 2000 foi elaborada a Agência</p><p>Nacional de Saúde Suplementar.</p><p>O modelo é hierarquizado, separado em níveis de complexidade os serviços,</p><p>formados pela atenção básica, que é a principal porta de entrada no sistema, a qual</p><p>deve ser a sua ordenadora. Dessa forma, temos: atenção primária ou básica; atenção</p><p>secundária; e atenção terciária ou de média e alta complexidade (PAIM et al., 2011)</p><p>Atenção básica: por conta do processo de descentralização, tem melhorado</p><p>muito. Por meio dela são realizadas diversas estratégias, como, por exemplo, o</p><p>Programa de Agentes Comunitários de Saúde e o Programa de Saúde da Família</p><p>(PSF), também conhecido como Estratégia de Saúde da Família (ESF).</p><p>A ESF funciona por meio de equipes de saúde, que atuam em áreas</p><p>geográficas e populações bem definidas. As atividades de promoção de saúde</p><p>funcionam nas unidades, nas casas dos pacientes e na comunidade.</p><p>Atenção secundária: é pouco regulamentada, e os procedimentos de média</p><p>complexidade normalmente são deixados de lado em prol dos procedimentos de alto</p><p>custo. Nessa atenção secundária, o SUS é totalmente dependente de contratos com</p><p>o setor privado, sobretudo no caso de serviços de apoio diagnóstico e terapêutico. Na</p><p>atenção secundária, encontramos especialidades odontológicas, serviços de</p><p>aconselhamento para HIV, centros de referência de Saúde do trabalhador, além da</p><p>18</p><p>criação das unidades de pronto atendimento (UPAs), que são articuladas com o</p><p>Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).</p><p>Atenção terciária ou hospitalar: incluem-se aqui procedimentos de alto custo,</p><p>que muitas vezes são realizados por prestadores privados ou hospitais públicos de</p><p>Ensino. Nesse nível de atenção à saúde está incluso o sistema de gerenciamento de</p><p>listas de espera para transplantes de órgãos.</p><p>As políticas públicas de saúde desenvolvidas no Brasil são pautadas por</p><p>diretrizes e medidas que expressem o posicionamento do Estado diante de situações</p><p>consideradas de interesse público, visando à recuperação ao nível individual ou</p><p>coletivo.</p><p>Essas são políticas que devem sempre reconhecer as desigualdades e buscar</p><p>uma redução das diferenças existentes entre os cidadãos. Uma das políticas</p><p>implementadas é a questão da disparidade de gênero.</p><p>As políticas públicas devem considerar não somente as diferenças biológicas</p><p>nas condições de saúde entre homens e mulheres, mas, também, a dimensão social</p><p>e os meios de adoecimento, que são diferentes entre homens e mulheres. A</p><p>naturalização da agressividade como um atributo masculino e da fragilidade e</p><p>submissão como características femininas impactam negativamente nas condições de</p><p>saúde (LIMA, 2015).</p><p>Entre as reformulações nos processos de saúde vigentes, uma das mais novas</p><p>foi a de Contratualização. A Contratualização acontece nos cuidados primários de</p><p>saúde e é uma tendência internacional das reformas dos sistemas de saúde, adotada</p><p>entre as décadas de 1990 e 2000, nos países da Europa. No Brasil, a Contratualização</p><p>foi recepcionada na atenção básica das três esferas governamentais, através do</p><p>Programa de Melhoria de Acesso e Qualidade, com base em parcerias estabelecidas</p><p>entre a administração direta e instituições do terceiro setor.</p><p>A Contratualização pode ser compreendida como um processo no qual o gestor</p><p>do SUS e o representante legal do hospital público ou privado elaboram metas</p><p>quantitativas e qualitativas de atenção à saúde e de gestão hospitalar. Se trata de um</p><p>modelo novo, fundamentado no repasse de incentivos financeiros calculados a partir</p><p>19</p><p>da série histórica da produção hospitalar, possibilitando um incentivo de Adesão à</p><p>Contratualização (IAC) (PACHECO, 2006).</p><p>A seguir temos algumas vantagens da Contratualização:</p><p> Programação Orçamentária e Financeira;</p><p> Facilitação dos Processos de Avaliação, Controle e Regulação dos Serviços</p><p>Ofertados;</p><p></p><p>Possibilidade de Investimento na Gestão Hospitalar;</p><p> Adequação dos Serviços conforme a demanda e as necessidades do gestor</p><p>local de saúde;</p><p> Maior transparência na relação com o gestor local do SUS;</p><p> Melhor inserção institucional na rede de serviços de Saúde.</p><p>4 HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA EM SAÚDE</p><p>Fonte: hilab.com</p><p>4.1 Política nacional de humanização (PNH)</p><p>A humanização é um tema muito comum nos serviços públicos de saúde, textos</p><p>oficiais e publicações no campo da saúde pública na atualidade. O termo</p><p>“humanização” evoca movimentos para restaurar valores humanos esquecidos</p><p>durante um período de relaxamento moral. Ao longo da história, a humanização surgiu</p><p>20</p><p>à medida que uma sociedade pós-moderna reexamina valores e atitudes. Os</p><p>princípios da PNH se originam de inspiração humanística: universalidade, integridade,</p><p>equidade e participação social. Com o resultado final em mente, eles conceituam a</p><p>humanidade em qualquer conceito, em qualquer instância de enfermagem ou gestão.</p><p>Essa característica faz do SUS, hoje, o principal sistema de inclusão social do país. O</p><p>cuidado humanizado no SUS envolve a compreensão de que o trabalho em saúde</p><p>requer a mudança das necessidades humanas e a melhoria da vida. As visitas são</p><p>bem-vindas e garantidas, com todo o cuidado e atenção determinada, sempre justa.</p><p>Humanizar significa compreender a necessidade dos conflitos existentes para que a</p><p>produção do mundo e dos seus valores seja coletiva e pública.</p><p>A Política de Atenção à Saúde da Humanidade (PHAS) propõe uma linha de</p><p>ação baseada no princípio do respeito às particularidades de cada instituição,</p><p>incentivando a cooperação entre elas por meio da troca de experiências comprovadas</p><p>para melhorar a qualificação dos serviços públicos de saúde. Anos depois de seu</p><p>surgimento, o SUS é um sistema pensado para atender aos anseios do povo</p><p>brasileiro, porém, também é um sistema público de saúde que apresenta algumas</p><p>contradições e heterogeneidade, pois se caracteriza por serviços modernos, além de</p><p>serviços abandonados nos quais existe perpetuação de formas ultrapassadas de</p><p>prestação de serviços públicos, burocratização e representação da violência</p><p>institucional. Em 2000, o Ministério da Saúde, atento à atuação departamental e às</p><p>diversas iniciativas de práticas humanizadas em saúde realizadas ao nível local,</p><p>elaborou o Plano Nacional de Humanização Humanizada da Enfermagem em</p><p>Hospitais (PNHAH).</p><p>O programa estimula a disseminação do pensamento humanitário, bem como</p><p>diagnósticos emergentes, e promove ações humanizadas com base na realidade de</p><p>cada localidade. Como um projeto inovador cuidadosamente elaborado por um grupo</p><p>de psicanalistas, ainda dá forte ênfase à transformação das relações interpessoais</p><p>devido ao aprofundamento da compreensão dos fenômenos no domínio da</p><p>subjetividade. Em 2003, o Ministério da Saúde fez uma análise da PNHAH, lançou a</p><p>Política Nacional de Humanização (PNH), que alterou o alcance da humanização em</p><p>toda a rede de hospitais do SUS, e estabeleceu uma política com foco prioritário na</p><p>21</p><p>gestão e fluxo de trabalho. Dessa forma, a PNH torna-se um conjunto de diretrizes</p><p>transversais que, em qualquer situação de implementação, fundamentam todas as</p><p>atividades do órgão, incluindo usuários ou profissionais de saúde.</p><p>Nesse sentido, humanidade enfatiza modelos de fluxo de trabalho e</p><p>planejamento de gestão que participam da vida institucional. O resultado esperado da</p><p>humanidade é a valorização das pessoas em todas as práticas de enfermagem e</p><p>gestão, a integração, o compromisso e a responsabilidade de todos pelo bem comum.</p><p>O Ministério da Saúde tem desenvolvido diversas ações e indicadores de verificação</p><p>e monitoramento para estimular e acompanhar o processo de humanização, não</p><p>apenas nos hospitais, mas também nos três níveis de atenção à saúde do SUS. A</p><p>estratégia de capacitação e fortalecimento de grupos de trabalho humanitários nas</p><p>instituições (grupos de sujeitos relacionados e gestores de serviços de saúde que</p><p>implementam a atuação da PNH em suas unidades) tem se mostrado exitosa em</p><p>vários lugares, acumulando boas práticas.</p><p>No entanto, a humanização se torna real em uma instituição somente quando</p><p>seus gestores fazem dela mais do que mera retórica um modelo de gestão. Apenas</p><p>boas intenções e programas vinculados a medidas econômicas não são suficientes</p><p>para realizar a humanização como processo de transformação.</p><p>Os meios que realmente asseguram este processo são a informação, a</p><p>formação e a gestão participativa. Focar na humanização significa menos o que fazer</p><p>e mais como fazer. Embora importantes, as chamadas medidas humanizadoras não</p><p>necessariamente estabelecem um caráter humanizado do serviço como um todo. Na</p><p>verdade, são os princípios conceituais que definem a humanização como base de</p><p>qualquer atividade. Portanto, o desafio é criar uma cultura institucional cercada pelos</p><p>valores da humanização.</p><p>Humanizar a saúde significa ter voz não apenas para os usuários, mas também</p><p>para os profissionais de saúde, engajando-se tanto em redes conversacionais. A rede</p><p>deve promover ações, campanhas e políticas de ajuda baseadas na ética, respeito,</p><p>reconhecimento mútuo, solidariedade e responsabilidade. De acordo com esse</p><p>entendimento, a política de humanização em saúde apresenta diferentes parâmetros</p><p>para a humanização da assistência hospitalar em três dimensões: acolhimento e</p><p>22</p><p>cuidado ao usuário, atuação dos profissionais e lógica de gestão e gestão. Esses</p><p>padrões podem ser usados para análise, reflexão e trabalho para desenvolver ações,</p><p>campanhas, programas e políticas de ajuda que orientam a programação humana. O</p><p>objetivo do PHAS é desenvolver uma nova cultura da humanidade que valorize as</p><p>ações da humanidade já em andamento, criando uma filosofia organizacional que</p><p>estimule a incorporação cotidiana do verbo humanizar.</p><p>Uma cultura de humanização leva tempo para ser construída e exige a</p><p>participação de todos os atores do sistema, ela determina a quebra de paradigmas. O</p><p>verbo humanizar é pessoal e inegociável, pois ninguém pode ser humano em nosso</p><p>lugar.</p><p>4.2 Princípios e diretrizes da humanização</p><p>Atualmente, diversas revoltas conceituais, protestos ideológicos, elaborações</p><p>teórico-técnicas e programas temáticos fazem da humanização um estímulo para</p><p>inovações na produção teórica e prática no campo da saúde.</p><p>A humanização pode ser entendida sob diferentes perspectivas como:</p><p>• um princípio de ação humanística e ética;</p><p>• um movimento contra a violência institucional no setor saúde;</p><p>• uma política pública voltada para a atenção e gestão no SUS;</p><p>• uma metodologia que contribui para a gestão participativa;</p><p>• uma tecnologia de cuidado relacionada à saúde.</p><p>A humanização, baseada na importância e reconhecimento do ser humano,</p><p>figura um curso que visa à reforma do plantio institucional transversalmente da</p><p>edificação em adjeto de compromissos éticos e de métodos para as ações de</p><p>reverência à saudação e de administração dos serviços. Dessa figura destacamos:</p><p> Valorização da dimensão subjetiva e social em todas as práticas assistenciais</p><p>e gerenciais no SUS, fortalecendo o compromisso com os direitos de todos os</p><p>cidadãos, independentemente de gênero, etnia, raça e orientação sexual;</p><p> Reforçar o trabalho em equipa multidisciplinar, promovendo a transversalidade</p><p>e o agrupamento;</p><p>23</p><p> Apoiar a construção de redes colaborativas e solidárias dedicadas à produção</p><p>de saúde e à produção de sujeitos;</p><p> Elaboração da autonomia e protagonismo dos sujeitos e grupos envolvidos na</p><p>rede SUS;</p><p> Corresponsabilidade destes sujeitos nos processos de gestão e apoio;</p><p> Fortalecimento do controle social com caráter participativo em todos os órgãos</p><p>administrativos da SBS (sistema brasileiro de saúde);</p><p> Compromisso com a democratização das relações laborais e a qualificação dos</p><p>profissionais</p><p>de saúde, promoção de processos de formação contínua.</p><p>4.3 Humanização em gestão e serviços de saúde</p><p>Por meio do HPN, a humanização aborda os processos de gestão e</p><p>organização do trabalho em saúde, e a gestão participativa surge como o modelo</p><p>escolhido para a implementação dessa política. Quando falamos de gestão</p><p>participativa ou cogestão, estamos falando de um tipo de gestão que não se limita ao</p><p>nível da alta direção e envolve o pensamento e a ação coletiva.</p><p>Os planos de gestão participativa nos serviços de saúde precisam ser analisados caso</p><p>a caso, com base no conhecimento das realidades institucionais individualizadas; no</p><p>entanto, abaixo estão algumas medidas que tornam isso possível em qualquer</p><p>contexto:</p><p> O desenvolvimento de espaços de discussão para contextualização dos</p><p>impasses, sofrimentos, medos e desgastes que os profissionais de saúde</p><p>passam diariamente pela natureza do seu trabalho;</p><p> Pensar e decidir coletivamente sobre a organização do trabalho, dividindo</p><p>gestores, usuários e trabalhadores em grupos de diferentes formações;</p><p> Formar equipes transdisciplinares eficazes para garantir a diversidade dos</p><p>diferentes discursos na instituição e facilitar o uso da inteligência coletiva.</p><p>De certa forma, as estratégias, metodologias e ferramentas usadas para o</p><p>profissional da extensão de extrema importância. A deliberação desses meios</p><p>promove atendimentos quão sejam em verdade humanizados. Nesse sentido, a</p><p>24</p><p>educação contínua é um ardil para a abordagem da gestão participativa, visando à</p><p>reforma das práticas de constituição, de consideração e de gestão na extensão do</p><p>brinde. Através do aprendizado significativo, infindável elabora os saberes a atorar</p><p>das experiências das pessoas. Através dos encontros, é provável rebater os</p><p>problemas, aventar soluções gerenciais, transformação na companhia do emprego e</p><p>empregar ações educativas de contrato com as necessidades detectadas. Dessa</p><p>forma, é provável modificar a gestão participativa no meio para a humanização dos</p><p>serviços.</p><p>O tecnicismo da prática atual tem negligenciado os aspectos humanísticos da</p><p>assistência à saúde. Algumas pesquisas mostram que os recursos tecnológicos, uma</p><p>visão voltada para os aspectos biológicos da doença e a organização do trabalho</p><p>médico para a atenção em massa aumentaram o acesso da população aos bens e</p><p>serviços de saúde, mas, por sua vez, criou-se um distanciamento entre médico e</p><p>paciente. A tecnologia, elemento essencial para aumentar a sobrevida humana e</p><p>aliviar o sofrimento relacionado à saúde, tornou-se um mediador entre os profissionais</p><p>de contato mais próximo e mais longo do que com o paciente. A tecnologia agiliza o</p><p>atendimento e aumenta a produtividade em números, mas também atrai e desperta o</p><p>interesse dos profissionais de saúde, principalmente os médicos. Dessa forma, o</p><p>paciente torna-se objeto de estudo e manipulação no desenvolvimento do</p><p>conhecimento e da prática “científica”. Os especialistas, por outro lado, tornam-se os</p><p>facilitadores da máquina institucional. O profissionalismo ignora as experiências que</p><p>são importantes para a atuação em saúde.</p><p>Já no modelo psicossocial, somam-se conhecimentos a partir de teorias</p><p>abrangentes sobre o relacionamento, capazes de revelar atitudes e emoções que</p><p>facilitam ou dificultam um bom diagnóstico e aliança terapêutica. Por exemplo, a</p><p>psicanálise ensina que, quando uma pessoa adoece, ela passa por um processo que</p><p>chamamos de regressão narcísica, que a torna mais ou menos frágil, dependendo de</p><p>sua história pessoal, de sua personalidade e da gravidade de sua doença mais</p><p>sensível e mais dependente de quem cuida dele. É como se o paciente tivesse</p><p>revertido inconscientemente ao tempo em que sua mãe cuidava dele e dependia dela</p><p>para sobreviver.</p><p>25</p><p>As mudanças sociais e culturais ocorridas ao longo do tempo mudaram a face</p><p>da medicina e das práticas de saúde, atingindo o contexto aqui discutido e o impacto</p><p>na emergência da humanização na atenção à saúde.</p><p>A partir de ações amadoras isoladas e seletivas, a humanização desenvolveu</p><p>conceitos e tecnologias para sua aplicação tanto no campo da relação profissional-</p><p>paciente quanto no campo da gestão, chegando à forma de política pública de saúde.</p><p>A falta de uma compreensão mais profunda da dimensão psicossocial que engloba os</p><p>processos saúde-doença, a falta de compromisso com o resultado do trabalho, a falta</p><p>de decisões compartilhadas com os pacientes, de projetos de cuidado discutidos em</p><p>equipe multidisciplinar e até mesmo participativos gestão em saúde, fazer da</p><p>humanização do cuidado um projeto ainda distante da realidade da atenção à saúde.</p><p>5 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE</p><p>Fonte: crianca.mppr.mp</p><p>A saúde das crianças trata-se de um tema que merece grande destaque.</p><p>Inicialmente, a mortalidade infantil e a prevenção com as doenças que poderiam levar</p><p>as crianças a óbito ou deixar alguma sequela. Hoje, é possível notar toda a inclusão</p><p>de ações voltadas aos cuidados dos adolescentes e à promoção da saúde, desde a</p><p>26</p><p>gestação, englobando ações de melhoria da qualidade do pré-natal, fomento ao</p><p>aleitamento materno, desenvolvimento infantil da primeira infância, imunização,</p><p>nutrição e até mesmo sexualidade.</p><p>Algumas ações mais amplas, ainda incluem o tratamento de reabilitação, o</p><p>progresso da saúde e a prevenção de doenças. A equipe de saúde pode ainda</p><p>prevenir e combater eventuais violências contra crianças e adolescentes.</p><p>5.1 Atendimento público voltado à criança e ao adolescente.</p><p>Nas últimas décadas do século XX, os processos de modernização e</p><p>democratização experimentados no Brasil permitiram reordenar a política de</p><p>assistência social para o conjunto da população, estabelecendo novos parâmetros</p><p>para a intervenção pública.</p><p>No âmbito da assistência pública, a infância e a adolescência foram</p><p>reconduzidas como processos sociais de desenvolvimento humano. A proteção social</p><p>direcionada aos jovens, pessoas em formação que exigem atenção específica,</p><p>acabou se tornando uma prioridade.</p><p>A visão sobre a criança e ao adolescente como seres em desenvolvimento no</p><p>mundo moderno foi ampliada ao longo de um processo social que envolveu</p><p>modificações na organização social, tanto no âmbito privado das famílias, e também</p><p>na esfera pública do convívio social.</p><p>Em 2002, a geração de adolescentes e jovens de 10 a 24 anos de idade já era</p><p>a mais numerosa em toda a história do Brasil, representando um total de 51.429.397</p><p>pessoas – 30,3% da população brasileira –, sendo 35.287.882 adolescentes de 10 a</p><p>19 anos e 16.141.515 jovens com idades entre 15 e 24 anos (IBGE, 2002 apud</p><p>BRASIL, 2010). A grande maioria (84%) dos adolescentes e jovens brasileiros (10 a</p><p>24) vivia em áreas urbanas, enquanto 16% viviam em áreas rurais (IBGE, 2002 apud</p><p>BRASIL, 2010). Existia uma prevalência de homens jovens nas áreas rurais (15-17</p><p>anos: 52,90% e de 18-24 anos: 53,16%) e, na zona urbana, de mulheres jovens (15-</p><p>17: 50,47% e de 18-24: 50,99%).</p><p>27</p><p>Os jovens supracitados, são exatamente os que estão expostos às mais altas</p><p>taxas de mortalidade por causas externas. É fundamental a existência de serviços de</p><p>saúde que ampare suas necessidades específicas e que elas sejam eficazes na</p><p>integralidade da atenção à saúde.</p><p>O Ministério da Saúde adota a convenção elaborada pela Organização Mundial</p><p>da Saúde (OMS) que marca o período entre 10 e 19 anos, 11 meses e 29 dias de</p><p>idade como adolescência, e, aqueles com idade entre 15 e 24 anos como juventude.</p><p>Dessa forma, existe uma interseção entre a segunda metade da adolescência e os</p><p>primeiros anos da juventude. O termo “pessoas jovens”, é comumente citado para se</p><p>referir ao conjunto de adolescentes e jovens, abrangendo assim faixa compreendida</p><p>entre 10 e 24 anos.</p><p>Esses limites relacionados a faixa etária, são um marco útil para a elaboração</p><p>de políticas e de estratégias,</p><p>contudo, é importante lembrar que na vida concreta e na</p><p>experiência individual, não existem fronteiras fixas e homogêneas para a adolescência</p><p>e a juventude (BRASIL, 2009). Sendo assim, talvez seja mais adequado falar em</p><p>adolescências e juventudes, dando importância aos diversos grupos populacionais,</p><p>uma vez que essa etapa da vida decorrerá em experiências diferenciadas e em</p><p>significados peculiares. É importante pensar na adolescência e na juventude como</p><p>procedimentos complexos de emancipação, que não se limitam à passagem da escola</p><p>para o trabalho.</p><p>Esses procedimentos envolvem três dimensões interdependentes: a</p><p>macrossocial, referente as desigualdades sociais (classe, gênero e etnia); a dimensão</p><p>dos dispositivos institucionais, no qual se encontram os sistemas de ensino, as</p><p>relações produtivas e o mercado de trabalho; e, por fim, a dimensão biográfica, ou</p><p>seja, as particularidades da trajetória pessoal de cada indivíduo.</p><p>Existem duas vertentes das políticas do governo federal voltadas à juventude</p><p>que procuram modificar o quadro retratado. Uma delas é a Política de Promoção e</p><p>Proteção Integral da Infância e da Adolescência, desenvolvida desde 1995, pelo</p><p>Ministério da Justiça, e a outra vertente é o Programa Comunidade Solidária, que se</p><p>direcionou preferencialmente ao jovem vulnerável em situação de risco social, através</p><p>28</p><p>de uma série de programas setoriais voltados para a saúde, educação, geração de</p><p>renda e trabalho.</p><p>Essas duas vertentes dão preferência a uma intervenção específica e a</p><p>reversão de situações especiais ou de risco social, que atinge a população-alvo.</p><p>Essas ações homogêneas não ponderam diferenças entre os diversos grupos ou</p><p>reações em face das intervenções. O que as diferenciava era o local onde ocorriam e</p><p>os agentes que as executavam (VOLPI, 1999).</p><p>Para a saúde da criança e do adolescente, um conjunto de ações essenciais</p><p>de saúde são priorizadas segundo os princípios da integralidade e universalidade que</p><p>vêm sendo definidos na saúde pública desde a década de 1980. No novo contexto,</p><p>esse foco se concentra no risco de grupo, em sua intercessão com os critérios</p><p>seletivos que definem pobreza e indigência. No entanto, mantém seu objetivo principal</p><p>de garantir a manutenção e reprodução das condições necessárias para uma vida</p><p>humana saudável.</p><p>5.2 Tipos de ações no atendimento às crianças e aos adolescentes</p><p>A saúde infantil é uma área prioritária na saúde da população. Para desenvolver</p><p>efetivamente esse campo, além de compreender características associadas à</p><p>morbimortalidade, como aspectos biológicos, demográficos e socioeconômicos, é</p><p>importante ressaltar o papel dos serviços e sistemas de saúde, inclusive em setores</p><p>complementares.</p><p>É possível notar, que ainda hoje há a necessidade de desenvolver um conjunto</p><p>de ações de promoção, prevenção e proteção infantil, considerando aspectos</p><p>epidemiológicos, sociais, culturais, ecológicos e psicológicos, visando fortalecer e</p><p>construir políticas de saúde para essa população.</p><p>Os programas de promoção e prevenção voltados para a saúde da criança</p><p>devem deslocar o foco do cuidado baseado na patologia para uma abordagem</p><p>assistencial que inclua a criança em seu processo de crescimento e desenvolvimento</p><p>e cidadania. Alguns dos principais eixos estratégicos são: redução da mortalidade</p><p>29</p><p>infantil, humanização e melhoria da qualidade da assistência prestada, mobilização</p><p>social e política, construção de parcerias e promoção da vida saudável.</p><p>A redução da mortalidade infantil continua sendo um grande desafio para o</p><p>país. Apesar dos declínios substanciais nas últimas décadas, a mortalidade continua</p><p>alta devido à redução da mortalidade infantil pós-neonatal (28 dias a 1 ano). A</p><p>mortalidade neonatal (0 a 27 dias após o nascimento) no país é um dos principais</p><p>componentes da mortalidade infantil desde a década de 1990 e concentra-se nas</p><p>regiões e populações mais pobres, refletindo as desigualdades sociais.</p><p>Nota-se a gravidade da situação ao reconhecer que, em sua maioria, essas</p><p>mortes precoces podem ser consideradas evitáveis. As causas perinatais, a</p><p>pneumonia e a diarreia associadas à desnutrição são as principais causas de morte</p><p>no primeiro ano de vida (BRASIL, 2004). Sendo assim, o nascimento saudável, a</p><p>promoção do crescimento, o desenvolvimento e a alimentação saudáveis, bem como</p><p>a prevenção de doenças respiratórias não podem ser incompletas e nem deixar de</p><p>abranger todos os níveis de atenção. Promover a saúde geral das crianças, realizar</p><p>operações de prevenção e assistência e reduzir a mortalidade infantil demonstram</p><p>nosso compromisso em proporcionar às crianças uma vida de qualidade para que</p><p>possam crescer e atingir seu potencial.</p><p>As principais ações gerais são:</p><p> Proporcionar o nascimento saudável.</p><p> Auxiliar no crescimento, desenvolvimento e a imunização.</p><p> Proporcionar o aleitamento materno e alimentação saudável: atenção aos</p><p>distúrbios nutricionais e anemias.</p><p> Abordar as doenças respiratórias e infecciosas.</p><p> Realizar visita domiciliar de enfermagem ao recém-nascido na primeira</p><p>semana.</p><p> Realizar consulta médica.</p><p> Realizar consulta de nutrição.</p><p> Realizar atividades educativas coletivas para as mães/pais/responsáveis com</p><p>equipe multiprofissional, com abordagem sobre os fatores de risco e ênfase no</p><p>desenvolvimento de um estilo de vida saudável.</p><p>30</p><p> Orientar a execução de atividades de vida diária e prevenção de acidentes.</p><p> Orientar a execução de atividades de desenvolvimento psicomotor.</p><p> Sensibilizar sobre o tema do desenvolvimento saudável por meio de palestras</p><p>ou outras atividades organizadas/patrocinadas pela operadora.</p><p> Realizar atividades físicas coletivas orientadas.</p><p> Criar rotina e calendário vacinal.</p><p> Realizar integração com os programas voltados para a prevenção de doenças</p><p>comuns da infância.</p><p> Realizar exames periódicos.</p><p> Inserir no site da operadora informações sobre fatores de risco e doenças, bem</p><p>como sobre o Programa de Promoção da Saúde.</p><p> Inserir informações sobre fatores de risco e doenças no serviço de atendimento</p><p>ao cliente via telefone.</p><p> Criar e distribuir material educativo sobre fatores de risco, doenças e o</p><p>Programa de Promoção da Saúde.</p><p>A adolescência é o período de transição entre a infância e a fase adulta (entre</p><p>10 e 19 anos) com intensas transformações biopsicossociais (BRASIL, 2006). A</p><p>Saúde do Adolescente tem como características as ações e o enfoque preventivo e</p><p>educativo. Conhecer os conteúdos da Atenção Integral à Saúde dos Adolescentes é</p><p>importante para as equipes de saúde. Para ser bem-sucedido, o programa deve</p><p>interagir com o público-alvo, respeitar sua cultura e conhecimentos adquiridos, criando</p><p>condições para o crescimento adequado.</p><p>A abordagem desses conteúdos aumentam a possibilidade de absorção dos</p><p>conhecimentos pelos participantes do programa, o que favorece o aperfeiçoamento</p><p>da sociedade (BRASIL, 2002). No caso do Brasil, país com história e formação social</p><p>continental e multicultural, levar em conta a diversidade dos ambientes de vida dos</p><p>adolescentes e jovens, não é apenas uma ferramenta analítica, mas uma</p><p>compreensão das condições dos adolescentes e jovens brasileiros.</p><p>Os principais temas a serem abordados em programas de promoção e</p><p>prevenção voltados à área de atenção à saúde do adolescente são:</p><p>31</p><p> Desenvolvimento de ações de promoção da saúde, prevenção,</p><p>tratamento e reabilitação dos agravos;</p><p> Crescimento e desenvolvimento;</p><p> Alimentação saudável e atividade física; e</p><p> Saúde reprodutiva e sexualidade.</p><p>5.3 Proteção à saúde da criança e do adolescente</p><p>A legislação vigente no Brasil reconhece a família como estrutura importante</p><p>para a humanização e socialização de crianças e adolescentes, espaço ideal para o</p><p>desenvolvimento integral do indivíduo.</p><p>As crianças e adolescentes têm o direito de constituir família, e seus vínculos</p><p>devem ser protegidos pela sociedade e pelo Estado. Em situações de risco e</p><p>fragilização familiar, as estratégias de cuidado devem fazer todo o possível para</p><p>preservar esses vínculos, combinando o suporte socioeconômico com o</p><p>desenvolvimento de novas formas de interação e referenciamento emocional dentro</p><p>dos grupos familiares.</p><p>O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que é a Lei nº 8.069, de 13 de</p><p>julho de 1990, determina que medidas de proteção à criança e ao adolescente são</p><p>aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou</p><p>violados:</p><p>I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;</p><p>II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;</p><p>III - em razão de sua conduta.</p><p>A disposição descrita nos artigos 101 e 129 da mesma Lei, reserva a aplicação</p><p>das medidas mais sérias, que se referem a separação da criança e do adolescente de</p><p>sua família, por autoridade judicial. Ainda assim, se trata de uma lei que busca</p><p>preservar os vínculos familiares originais e evitar rupturas que possam interferir o seu</p><p>desenvolvimento.</p><p>De fato, o ECA tem a relevante função de regulamentar e impedir que o texto</p><p>constitucional “não se constitua em letra - morta”. Mas, para isso, é preciso “[...] uma</p><p>32</p><p>política social eficaz, que de fato assegure materialmente os direitos já positivados”</p><p>(HOPPE apud VERONESE; COSTA, 2006, p. 132).</p><p>Sendo assim, nota-se a importância das medidas expressas no ECA visando à</p><p>inclusão das famílias nos programas de assistência e proteção. Com esses programas</p><p>disponíveis e bem estruturados, é possível superar as dificuldades que determinadas</p><p>famílias passam, e restaurar direitos ameaçados ou violados sem retirar a criança ou</p><p>adolescente de seu núcleo familiar.</p><p>No âmbito das medidas protetivas, os programas sociais de apoio à família</p><p>devem fortalecer as famílias e desenvolver programas de trabalho ou programas de</p><p>promoção familiar de forma participativa, valorizando sua capacidade de encontrar</p><p>soluções para os problemas que enfrentam com apoio técnico e institucional.</p><p>Os programas buscam basicamente:</p><p> superação de vulnerabilidades sociais em consequência da pobreza e</p><p>privação –inclusive as condições de habitabilidade, segurança alimentar,</p><p>trabalho e geração de renda;</p><p> consolidação de vínculos familiares e de pertencimentos sociais</p><p>fragilizados.</p><p> acesso à informação sobre as demandas individuais e coletivas.</p><p> orientação da família e, especialmente, dos pais, quanto ao adequado</p><p> exercício das funções parentais, em termos de proteção e cuidados a</p><p>serem dispensados às crianças e adolescentes em cada etapa do</p><p>desenvolvimento, mantendo uma abordagem dialógica e reflexiva.</p><p> superação de conflitos relacionais e/ou transgeracionais, rompendo o</p><p>ciclo de violência nas relações intrafamiliares.</p><p> orientação jurídica, quando necessário.</p><p>As estruturas destes programas requerem técnicos teóricos e qualificados e</p><p>são dimensionados para se adequarem às necessidades existentes de cada região.</p><p>Existem duas características importantes nesse aspecto, que são a</p><p>interdisciplinaridade e interdepartamentalidade. Os programas de apoio social à</p><p>família devem articular as diferentes políticas sociais básicas (saúde, assistência</p><p>33</p><p>social e educação) e trabalhar em estreita colaboração com o governo e as políticas</p><p>de habitação, trabalho, esportes, lazer e cultura.</p><p>A efetividade do programa de apoio social à família é essencial para promover</p><p>o direito de convivência das famílias e comunidades e é um dos pilares desse</p><p>programa nacional para ampliar sua cobertura e melhorar sua qualidade. Isso deve</p><p>acontecer com a integração de políticas públicas universais e de qualidade e a</p><p>integração entre o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), o Sistema Único de</p><p>Saúde (SUS), o Sistema de Garantia de Direitos (SGD) e o sistema educacional.</p><p>6 ÓRGÃOS REGULADORES DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL</p><p>Fonte: abramed.org.br</p><p>Os órgãos reguladores são criados por leis específicas e fazem parte da</p><p>administração pública para determinar como as atividades devem ser executadas e</p><p>fiscalizar os serviços públicos ou empresas privadas que exercem essas atividades.</p><p>O sistema público de saúde brasileiro é administrado por órgãos como a Anvisa e a</p><p>Agência Nacional de Saúde Suplementar.</p><p>6.1 Conceito de órgão regulador</p><p>O processo de descentralização do setor saúde, embora recente, mostra o</p><p>fortalecimento das capacidades administrativas nos níveis estadual e municipal e a</p><p>34</p><p>ampliação da rede de atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, a</p><p>realidade mostra vários modelos de prestação de serviços de saúde em silos, muitas</p><p>vezes competindo com a compra de uma proporção significativa de serviços privados</p><p>para atender às necessidades de gestão local.</p><p>Observam-se também desigualdades na capacidade administrativa estadual e</p><p>municipal, resultando em diferentes capacidades dos sistemas de saúde para atender,</p><p>inclusive para populações fora de sua área de atuação. A organização das redes de</p><p>serviços de saúde e o planejamento das intervenções são realizados de forma</p><p>fragmentada ou parcial, o que dificulta o estabelecimento de referências pactuadas,</p><p>refletindo as significativas barreiras físicas e burocráticas ao acesso de</p><p>pessoas às intervenções e serviços e a expansão das redes nos últimos anos.</p><p>A política regulatória da atenção à saúde deve ter como objetivo implementar</p><p>um conjunto de ações que afetem os prestadores públicos e privados para orientar</p><p>ações de saúde eficientes e promover melhorias no acesso, integridade, qualidade,</p><p>resolutividade e humanização dessas ações. Deve articular e incorporar mecanismos</p><p>que possibilitem aos gestores regular as intervenções e serviços de saúde, tais como:</p><p>- a celebração de contratos entre gestores e fornecedores;</p><p>- reformular as atividades de controle assistencial e avaliação da atenção à</p><p>saúde;</p><p>- desenvolver protocolos de atendimento e implementar a regulação do acesso</p><p>por meio de complexos de regulação.</p><p>Essa política é um dos elementos do Pacto pela Saúde em sua diretriz do Pacto</p><p>de Gestão e se concentra em três eixos estruturantes:</p><p>1. Recursos financeiros para implantação e financiamento dos complexos</p><p>regulatórios.</p><p>2. Instrumentos para operacionalizar os complexos regulatórios.</p><p>3. Programa Permanente de Capacitação de Recursos Humanos.</p><p>Na década de 1990, após um severo processo inflacionário, o Brasil alcançou</p><p>a estabilidade monetária com o Plano Real de 1994 e avançou na reforma do Estado,</p><p>entendida como pré-requisito para a retomada do crescimento. Nesse contexto, os</p><p>35</p><p>reguladores foram criados na década de 1990 como um novo modelo institucional de</p><p>intervenção no mercado e na sociedade. Esta foi uma mudança importante, pois o</p><p>regulamento é baseado em “[...] nas intervenções do Estado no mercado e na</p><p>sociedade, substituindo as intervenções diretas que caracterizaram o</p><p>desenvolvimento do estado de bem-estar..." (MENICUCCI, 2007, p. 234).</p><p>Nessa perspectiva, alguns órgãos reguladores foram criados para substituir</p><p>algumas atividades que foram assumidas pela administração do Estado. Oito órgãos</p><p>reguladores e um no governo de Luiz Inácio Lula da Silva foram criados durante a</p><p>gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso. Neste governo fracassou a</p><p>tentativa de fundar a Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual (ANCINAV).</p><p>Analisando os principais reguladores do Brasil, Menicucci (2007, p. 271) afirma que</p><p>“[...] os reguladores expressam simultaneamente a expansão das atividades privadas</p><p>para novas áreas e a reorganização das funções do Estado [...]".</p><p>Reguladores foram criados para supervisionar os serviços públicos do setor privado.</p><p>Eles não apenas controlam a qualidade da prestação de serviços, mas também</p><p>definem as regras do setor. Hoje são dez reguladores. A regulação engloba políticas</p><p>e ações governamentais,</p><p>incluindo padronização, controle e revisão dos segmentos</p><p>de mercado utilizados pelas empresas para garantir o interesse público.</p><p>Mas as principais são:</p><p>Agência Nacional de Saúde Complementar (ANS): Criada em 2000, a Agência</p><p>Nacional de Saúde Complementar (ANS) é vinculada ao Ministério da Saúde. A ANS</p><p>promove a defesa do interesse público na saúde complementar, regulamenta os</p><p>atores do setor, incluindo suas relações com prestadores e consumidores, e contribui</p><p>para o desenvolvimento das ações de saúde no país.</p><p>Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): A Agência Nacional de</p><p>Vigilância Sanitária (Anvisa) foi criada em 1999, é administrativa e financeiramente</p><p>independente e vinculada ao Ministério da Saúde.</p><p>Protege a saúde da população por meio do controle sanitário da produção e</p><p>comercialização de produtos e serviços que devem estar sujeitos à vigilância sanitária,</p><p>incluindo a fiscalização dos ambientes, processos, insumos e tecnologias</p><p>relacionados a esses produtos e serviços. A Anvisa também controla portos,</p><p>36</p><p>aeroportos e fronteiras e trata de assuntos internacionais relacionados à vigilância</p><p>sanitária.</p><p>Por outro lado, pode-se notar que até a década de 1990 não existiam</p><p>mecanismos regulatórios para o setor complementar de saúde, que já existiam antes</p><p>dessa época com a presença do setor privado e fraca regulação. Com a criação do</p><p>SUS, passa a integrar o Sistema Único de Saúde (SNS), mas permanece</p><p>praticamente sem regulamentação por mais uma década.</p><p>A Anvisa foi a primeira agência não criada para regular os setores privatizados.</p><p>Portanto, pela Lei 9.782/99, a criação do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária</p><p>(SNVS) e a substituição da Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária no Ministério</p><p>da Saúde superaram a situação anterior de fragmentação institucional.</p><p>Antes da criação da Anvisa, as atividades de vigilância sanitária eram fragmentadas</p><p>e reportadas à Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária.</p><p>Mas as práticas de clientelismo e a baixa capacidade técnica começaram a</p><p>irritar os envolvidos. Da mesma forma, a Anvisa assumiu as funções de secretaria e</p><p>também assumiu a coordenação do SNVS, a implementação do programa nacional</p><p>de sangue e plasma ou o programa nacional de prevenção e controle de infecções</p><p>hospitalares, bem como o monitoramento dos preços de dois medicamentos e dois</p><p>produtos para a saúde; aplicar sanções; implementação das normas de higiene para</p><p>derivados do tabaco; assessoria ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual</p><p>(INPI); fiscalizar os anúncios e promoções dos produtos de vigilância sanitária; e emitir</p><p>o certificado de conformidade com as boas práticas de fabricação.</p><p>A missão institucional da Anvisa diz respeito à proteção da saúde da população</p><p>brasileira por meio do controle higiênico exercido sobre os produtos e sobre a</p><p>comercialização de medicamentos. Esse controle também inclui os serviços</p><p>subordinados à Anvisa, incluindo localidades, processos, entregas e tecnologias. A</p><p>Anvisa também é responsável pelo controle sanitário de aeroportos, portos, fronteiras</p><p>e relações exteriores com outras instituições estrangeiras responsáveis pela</p><p>regulação do setor de saúde, bem como pelo diálogo com o Ministério das Relações</p><p>Exteriores. Portanto, em muitos casos, a Anvisa está sujeita a pressões exercidas por</p><p>vetores econômicos.</p><p>37</p><p>Destacam-se algumas das medidas desenvolvidas pela Anvisa no que hoje é o</p><p>Brasil: o Programa Nacional de Verificação da Qualidade dos Medicamentos, criado</p><p>em 2004 e voltado para o monitoramento da qualidade dos medicamentos</p><p>consumidos pela população; o Projeto Farmácias Notificantes, lançado em 2005 para</p><p>ampliar as fontes de notificação de suspeitas de reações adversas a medicamentos e</p><p>reclamações técnicas; o projeto EducAnvisa, lançado em 2005, que visava</p><p>desenvolver ações e estratégias de educação e comunicação em saúde para atingir</p><p>os mais diversos segmentos da sociedade.</p><p>Destaca-se também o Sistema de Notificação de Vigilância Sanitária (Notivisa),</p><p>definido em 2006, que é utilizado para coletar e gerenciar notificações de eventos</p><p>adversos e reclamações técnicas de todas as áreas do Sistema Nacional de Vigilância</p><p>Sanitária (SNVS), bem como a gestão de produtos. (SNGPC), instituído em 2007,</p><p>com o objetivo de aprimorar as medidas de vigilância sanitária no controle e vigilância</p><p>de substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial (ANVISA, 2009).</p><p>Segundo Lucchesi (2008, p. 102103):</p><p>“[...] a criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, então ANVISA,</p><p>no final da década de 1990 teve como objetivo aumentar a eficiência</p><p>econômica do Estado - por meio da gestão gerencial - na avaliação e</p><p>enfrentamento dos riscos à saúde, com transparência de seus processos e</p><p>clara responsabilização política pelos gastos públicos, e com maior</p><p>envolvimento da sociedade no escrutínio de suas</p><p>ações".</p><p>Aumentar a eficiência da vigilância sanitária significa, em particular, mas não</p><p>só, fortalecer a capacidade fiscalizadora do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária.</p><p>No entanto, o próprio processo de criação da ANVISA e do SNVS não parece ter sido</p><p>realizado de acordo com os pressupostos de transparência, participação e</p><p>responsabilização de todos os agentes que operam no sistema.</p><p>6.2 Objetivo dos órgãos reguladores</p><p>Garantir o acesso da população aos serviços públicos de saúde para uma</p><p>assistência qualificada por meio de uma rede organizada de serviços requer a ação</p><p>38</p><p>direta do Estado na busca de estabelecer regras definidas para o funcionamento dos</p><p>mercados que estão configurando a transição de um estado provedor para um estado</p><p>regulador.</p><p>No Brasil, o debate mais profundo sobre o conceito, as práticas e as finalidades</p><p>da regulação, controle, avaliação e auditoria em saúde começou em 2001 com as</p><p>Normas Operacionais de Atenção à Saúde (NOAS). A NOAS SUS 01/2001 amplia a</p><p>responsabilidade dos municípios pela atenção básica e deixa a administração dos</p><p>serviços públicos de saúde de média e alta complexidade para a União e os Estados.</p><p>A regulação no SUS ganha força após o Acordo de Gestão (2006), cujo objetivo</p><p>principal é buscar maior autonomia estadual e municipal em relação aos processos</p><p>regulatórios do SUS e definir a responsabilidade pela saúde de cada área de governo</p><p>e esclarecer as respectivas atribuições e, assim, contribuir para o fortalecimento da</p><p>gestão compartilhada dos fundos.</p><p>No final da década de 1990, como você aprendeu na seção anterior, a Lei nº</p><p>9.782/99 criou o primeiro regulador social do Brasil: a Inspetoria Nacional de Saúde</p><p>(ANVISA), que não atua em um setor específico da economia, mas em todos os</p><p>setores relacionados a produtos e serviços que possam afetar a saúde da população</p><p>brasileira. Uma das características especiais deste órgão é sua competência tanto na</p><p>regulação econômica do mercado (precificação e fiscalização do mercado) quanto na</p><p>regulação sanitária (por exemplo, registros de medicamentos).</p><p>Você também deve lembrar da seção anterior que o outro órgão regulador</p><p>criado pela Lei 9.961/00 foi a Agência Nacional de Saúde Complementar (ANS) com</p><p>o objetivo de regular os seguros privados de saúde. Desenvolveu mecanismos tanto</p><p>para a formulação de políticas de saúde quanto para a busca de uma melhor atenção</p><p>ao beneficiário, a fim de equilibrar as práticas de mercado das operadoras e o direito</p><p>da sociedade a uma assistência de saúde de melhor qualidade (DAYS, 2004). Com a</p><p>aprovação do Ministério da Saúde (BRASIL, 2005, p. 318) e a aprovação do Conselho</p><p>Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), a Portaria</p><p>passa a ser definida como um conjunto de relações, conhecimentos, tecnologias e</p><p>ações que mediam demanda do usuário relações, saberes, tecnologias e ações que</p><p>intermedeiam a demanda dos usuários por serviços de saúde e o acesso a estes.</p><p>39</p><p>A Política Nacional de</p>