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<p>UNIVERSIDADE</p><p>Centro</p><p>Candidato: Andrey Roosewelt Chagas Lemos</p><p>ANÁLISE SOBRE AS POLÍTICAS NACIONAIS DE SAÚDE INTEGRAL DA POPULAÇÃO NEGRA E DE LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS, TRAVESTIS E TRANSEXUAIS: UM OLHAR SOBRE A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA FORMULAÇÂO E IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE</p><p>Anteprojeto de Doutorado apresentado ao</p><p>Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do</p><p>Candidato: Andrey Roosewelt Chagas Lemos</p><p>Brasilia, 2024</p><p>SUMÁRIO</p><p>1. INTRODUÇÃO _____________________________________________________04</p><p>2. OBJETIVOS _______________________________________________________07</p><p>3. JUSTIFICATIVA ____________________________________________________08</p><p>4. METODOLOGIA ___________________________________________________09</p><p>5. CRONOGRAMA ____________________________________________________12</p><p>REFERENCIAS _____________________________________________________13</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Estudar a saúde no Brasil constitui um desafio imenso, especialmente quando se compreende a multiplicidade de segmentos, reivindicações e propostas de ações em execução ao longo das duas últimas décadas, pelas três esferas de governo, como premissa para a efetivação do Sistema Único de Saúde (SUS), conforme a Lei nº 8.080/90. O reconhecimento de tal cenário impõe à ciência, para adentrar em tal reflexão, a análise de políticas públicas implementadas. Neste sentido, a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra se constitui como política pública emblemática, devido ao seu papel estratégico de fomento às ações de acesso ao SUS, bem como seu papel para a melhoria da qualidade de vida das pessoas negras por meio de ações de prevenção, promoção da saúde e proteção.</p><p>Deve-se considerar como obstáculo ao acesso aos serviços de saúde um histórico de negação da cidadania aos negros no Brasil. Isso se deu de forma sistemática, apesar do discurso de não haver racismo, como se observa na argumentação do antropólogo Gilberto Freyre (2009), ao considerar o Brasil uma democracia racial - embora pesquisas posteriores tenham descontruído radicalmente tal perspectiva e apontado para o caráter excludente da nossa sociedade.</p><p>O cenário vivenciado por negras e negros na sociedade brasileira desmerece o status de Estado democrático de direito, ou seja, convivemos com direitos amplamente assegurados na Constituição Federal e amplamente negados, especialmente quando se diz não ser possível tratamento desigual, dado que a isonomia deve ser o alicerce das relações sociais. Ocorre que a tão propalada democracia racial, alegada por Gilberto Freyre, em Casa Grande e Senzala, ainda serve de ponto de apoio para argumentos que procuram negar uma sociedade amplamente marcada pelo preconceito racial. O fato é ainda mais grave quando se compreende a existência de racismo institucional, como apregoa Laura Cecília López, e esse racismo encontra-se cotidianamente materializado nas instituições de tal forma que passa despercebido por muitas pessoas, ao se verificar um processo de racialização no atendimento e disponibilidade dos serviços.</p><p>Diante do que apresentamos, identificamos como objeto da presente proposta de investigação no doutorado em Saúde Coletiva para analisar o processo de implantação e implementação das Políticas Nacionais de Saúde Integral da População Negra e de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais e a participação da sociedade civil com as questões norteadoras: quais os atores que incidiram na agenda da formulação e implantação das políticas nacionais de saúde integral da população negra e de LGBT? Quais os processos históricos que contribuíram com a formulação das políticas nacionais de saúde integral da população negra e de LGBT? Quais os efeitos desse processo no acesso dessas populações ao cuidado integral na saúde?</p><p>2. OBJETIVOS</p><p>Objetivo Geral:</p><p>Analisar a participação social nos processos de formulação e implementação das políticas nacionais de saúde integral da população negra e de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e transexuais no SUS.</p><p>Objetivos Específicos:</p><p>1. Apresentar os contextos dos processos de formulação das Políticas Nacionais de Saúde Integral da População Negra e de LGBT a partir dos marcos legais que contribuíram para sua publicação;</p><p>2. Descrever as ações estratégicas e experiências articuladas entre propostas no eixo do acesso dos planos operativos da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra no Brasil no processo da implementação e o papel da sociedade civil;</p><p>3. Analisar os principais efeitos das Políticas Nacionais de Saúde Integral da População Negra e de LGBT no SUS desde sua implementação, junto aos atores sociais envolvidos.</p><p>3. JUSTIFICATIVA</p><p>O estudo das políticas públicas reveste-se de importância singular, tanto para o gestor, quanto para a população, quando se busca desvelar os meandros de sua proposta, estratégias e resultados alcançados (embora tal procedimento nem sempre seja uma ação prioritária desenvolvida pelos governos no país). O olhar aproximativo sobre a efetivação das Políticas Nacionais de Saúde Integral da População Negra e de LGBT, constitui-se de ação de alta relevância e pertinência, especialmente em relação à verificação da relação entre acesso aos serviços de saúde e melhoria da qualidade de vida dessas populações.</p><p>A relevância da realização desta pesquisa está no fato de se verificar um número maior de negros e negras vítimas de violência, expostos a situação de vulnerabilidade social – a exemplo de residências em locais insalubres, menor grau de escolaridade e subemprego. E a importância de avaliar o dimensionamento das reais condições de tal segmento e capacidade do SUS em atender suas demandas por saúde revela a pertinência de realização de estudos e pesquisa sobre o acesso da população negra à PNSIPN.</p><p>A originalidade de tal proposta se encontra na premissa de se filiar aos estudos em saúde pública sobre segmentos sociais ainda pouco estudados no âmbito do Sistema Único de Saúde, quando se busca compreender o acesso e a efetividade das políticas no setor. Ainda, a presente pesquisa se mostra viável, devido a suas fontes de dados estarem disponíveis em bancos de dados do Ministério da Saúde, e do autor deste projeto ter participado e atuado junto a essas políticas públicas de saúde.</p><p>4. METODOLOGIA</p><p>O presente estudo operará um conjunto de conceitos e argumentos científicos para darem conta do desafio de relacionar as populações negra e de LGBT e o acesso a saúde. Assim, o primeiro conceito a ser trabalhado é o de identidade, junto com o de pertencimento, isso implica em expor a noção de racismo, e lgbtfobia como materialização do preconceito e da discriminação, e consequentemente com a iniquidade. Além disso, serão mobilizados também os conceitos de saúde, acesso a saúde, implementação de políticas públicas em saúde, racismo estrutural, racismo e lgbtfobia institucional, entre outros.</p><p>Uma primeira assertiva para este estudo é dada por Kabengele Munanga, ao reconhecer a desigualdade entre as diferentes etnias brasileiras e identificar que essa condição demarca o acesso ou a exclusão a políticas sociais, gerando ainda mais exclusão, quando por trás se encontra o racismo arraigado nas relações sociais.</p><p>O desenho metodológico vincula-se as pesquisas de cunho qualitativo e quantitativo, com o firme propósito de analisar a implementação das Políticas Nacionais de Saúde Integral da População Negra e de LGBT. Assim, procuram-se combinar métodos e técnicas para desvelar práticas dos atores públicos, da população negra e de LGBT quanto à oferta e o acesso aos serviços de saúde, com a intenção de compreender o alcance de tais ações.</p><p>Inicialmente será necessário realizar revisão bibliográfica e documental, de portarias, resoluções e outros instrumentos voltados a sua implementação. Por isso trata-se também de uso do recurso do estudo documental (relatórios de gestão, relatórios das conferências, relatórios da Comissão de Equidade do Conselho Nacional de Saúde, publicações institucionais, entre outros).</p><p>Como sujeitos da pesquisa estão previstas</p><p>lideranças sociais identificadas como informantes chaves que participaram e acompanharam diretamente a implementação dessas políticas, de forma a serem também considerados sujeitos desta pesquisa. O critério de elegibilidade para as entrevistas será o protagonismo no processo de construção da luta em defesa da saúde das populações negra e lgbt e lideranças sociais que atuaram no controle social, principalmente em grupos de trabalho e comitês nacionais, para que se possa compreender a experiência da execução das referidas políticas.</p><p>Os dados serão coletados através de entrevistas semiestruturadas, com roteiro de perguntas previamente elaborado e de acordo com eixos a serem definidos para facilitar o processo de apreensão do fenômeno. Em relação a lideranças sociais, serão observados o protocolo de tal técnica de coleta de dados. O processo será mediado pela elaboração de carta convite as pessoas previamente selecionadas, explicando as intenções da pesquisa e a importância de cada um para o estudo. Logo, parte das perguntas serão previamente elaboradas (acrescidas de outras perguntas que podem emergir durante a entrevista), com definição de local, horário, registro de áudio e fotográfico, e tempo de duração não superior a 120 min.</p><p>As entrevistas semiabertas serão utilizadas como suporte para capturar pontos de vista de atores sociais também importantes para o estudo e não contemplados nos grupos focais.</p><p>Os dados oriundos de fontes secundárias serão analisados de forma descritiva e inferencial. Isso permitirá oferecer subsídios para a composição de argumentos sobre o fenômeno em estudo. Enquanto os dados empíricos serão analisados segundo referencial de análise do discurso, como estratégia para captação das percepções e ações dos diferentes atores pesquisados.</p><p>Assim, seguindo o cronograma apresentado no tópico que segue, pretende-se desenvolver uma investigação que dialogue com as políticas públicas que consideramos de extrema relevância, no sentido de identificar as limitações e desafios de sua implementação, a fim de extrapolar a observação cotidiana de quem participa da gestão ou do controle social e poder oferecer um quadro mais completo e rigorosamente analisado. Dessa maneira, pretende-se contribuir com o debate teórico-acadêmico em saúde pública e, ao mesmo tempo, oferecer elementos que permitam aos gestores, atores sociais ligados a movimentos de saúde e de combate ao racismo, a lgbtfobia, bem como à sociedade em geral, trabalhar no sentido do aprimoramento de políticas que promovam acesso a um direito fundamental previsto na Constituição Federal, nossa Constituição Cidadã, que é o direito a saúde.</p><p>5. CRONOGRAMA</p><p>Atividades programadas /por semestre</p><p>2.024/2</p><p>2.025/1</p><p>2.025/2</p><p>2.026/1</p><p>2.026/2</p><p>2027/1</p><p>2.027/2</p><p>2.028/1</p><p>Revisão da literatura</p><p>X</p><p>X</p><p>X</p><p>X</p><p>X</p><p>X</p><p>X</p><p>X</p><p>Levantamento de relatórios</p><p>X</p><p>X</p><p>X</p><p>X</p><p>Construção do instrumento para entrevistas</p><p>X</p><p>Exame de Qualificação</p><p>X</p><p>Submissão ao CEP</p><p>X</p><p>Entrevistas</p><p>X</p><p>X</p><p>Análise das respostas e dos discursos</p><p>X</p><p>Redação da Discussão e Considerações Finais</p><p>X</p><p>X</p><p>Defesa da Tese</p><p>X</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>1 Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Brasília, 19 set 1990. [Acesso em 25 abr 2018]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm</p><p>2 Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil, 8 de outubro de 1988. Brasília: Senado Federal, 2008.</p><p>3 Freyre G. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob regime da economia patriarcal. 51. ed. São Paulo: Global; 2009.</p><p>4 López LC. O Conceito de racismo institucional: Aplicações no Campo da Saúde. Botucatu: Interface: Comunicação, Saúde, Educação, 40 (16): 121-134, 2012. [Acesso em 25 abr 2018]. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/icse/2012nahead/aop0412.pdf</p><p>5 Instituto Ethos. Perfil social, racial e de gênero das 500 maiores empresas do Brasil e suas ações afirmativas. São Paulo: Instituo Ethos e BID; 2016. [Acesso em 16 abr 2018]. Disponível em: https://www3.ethos.org.br/wp-content/uploads/2016/05/Perfil_Social_Tacial_Genero_500empresas.pdf</p><p>6 Cerqueira D, Lima RS, Bueno S, Valencia LI, Hanashiro O, Machado PHG, Lima AS. Atlas da Violência 2017. Brasília: IPEA e FBSP; 2017. [Acesso em 16 abr 2018]. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/2/2017</p><p>7 Waiselfsz JJ. Mapa da Violência 2016: homicídios por armas de fogo no Brasil. Rio de Janeiro: FLACSO/CEBELA; 2016.</p><p>8 Oliveira C. Atlas da Violência 2017: negros e jovens são as maiores vítimas. Portal Carta Capital; 2017. [Acesso em 16 abr 2018]. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/sociedade/atlas-da-violencia-2017-negros-e-jovens-sao-as-maiores-vitimas</p><p>9 Munanga K. Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia. Palestra proferida no 3º Seminário Nacional Relações Raciais e Educação PENESB-RJ, 05/11/03. Niterói: UFF; 2003. [Acesso em 25 abr 2018]. Disponível em: https://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2014/04/Uma-abordagem-conceitual-das-nocoes-de-raca-racismo-dentidade-e-etnia.pdf. Sem página.</p><p>10 Hall S. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. São Paulo: DP&A; 2006.</p><p>11 Costa C. Sociologia: Introdução à ciência da sociedade. 4. ed. São Paulo: Moderna; 2010, p. 282.</p><p>12 Parsons T. Ensayos de teoria sociologica. Buenos Aires: Paidos; 1967.</p><p>13 Goffman E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro: Zahar; 1975.</p><p>14 Januzzi PM. Indicadores sociais na formulação e avaliação de políticas públicas. Rio de Janeiro: Revista Brasileira de Administração Pública, 36 (1): 51-72, 2002.</p><p>15 Sanchez RM, Ciconelli RM. Conceitos de acesso à saúde. Washington: Revista Panamericana de Salud Pública, 3 (31): 260–268, 2012.</p><p>(16) K. Munanga 2006. Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia. Palestra proferida no 3º Seminário Nacional Relações Raciais e Educação PENESB-RJ, 05/11/03. Niterói: UFF; 2003. [Acesso em 25 abr 2018]. Disponível em: https://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2014/04/Uma-abordagem-conceitual-das-nocoes-de-raca-racismo-dentidade-e-etnia.pdf. Sem página.</p><p>17 Faustino DM. A equidade racial nas políticas de saúde In: Batista LE, Werneck J, Lopes F (orgs.). Saúde da população negra. 2. ed. Brasília, DF: ABPN; 2012, p. 106.</p><p>18 Roso A. Os grupos focais em Psicologia Social: da teoria à prática. Porto Alegre, Revista Psico, 2 (28): 155-169, 1997.</p><p>19 Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8. ed. São Paulo/Rio de Janeiro: HUCITEC-ABRASCO, 2004, p. 99.</p><p>20 Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8. ed. São Paulo/Rio de Janeiro: HUCITEC-ABRASCO, 2004, p. 211.</p><p>2</p>