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<p>INTRODUÇÃO À TEOLOGIA</p><p>AULA 4</p><p>Profª Eliane Hubner da Silva Rodrigues</p><p>2</p><p>CONVERSA INICIAL</p><p>Durante o curso de teologia, o estudante é apresentado a uma diversidade</p><p>de disciplinas que mostram a forma como a teologia é estudada e desenvolvida.</p><p>Inicialmente, é preciso uma bússola orientadora para esclarecer esse primeiro</p><p>contato com um novo mundo de estudos teológicos, passando por alguns níveis</p><p>e enfoques diferentes.</p><p>Dessa forma, esta aula tem como objetivo apresentar os grandes eixos</p><p>primordiais da teologia acadêmica, e aprofundá-los.</p><p>TEMA 1 – NÍVEIS DA TEOLOGIA</p><p>Frequentemente, consideramos teologia o que fazem os teólogos; no</p><p>entanto, esse é um sentido estrito do termo. É também a forma como os pastores</p><p>e fiéis pensam, a seu modo, a própria fé. Assim, eles também fazem teologia.</p><p>Libanio e Murad (2003, p. 197) aduzem que a América Latina foi o</p><p>continente que melhor elaborou os níveis e articulações dos discursos</p><p>teológicos, devido à prática libertadora da Igreja e à teologia da libertação.</p><p>Dessa forma, podemos pensar em níveis, ou formas de teologia, que</p><p>segundo Boff (1998, p. 597) se subdividem em teologia profissional, teologia</p><p>pastoral e teologia popular; são linguagens diferentes para falar de teologia. É</p><p>importante destacar que essa classificação não se refere apenas à teologia da</p><p>libertação, mas sim à igreja em geral.</p><p>Esses três níveis de teologia se diferenciam; no entanto, pensam a fé de</p><p>maneira igual, desenvolvendo uma “dimensão de compreensão da realidade</p><p>humana à luz da revelação”. Ou seja, a teologia nesses níveis pode estar</p><p>harmonizada em menor ou maior grau.</p><p>1.1 Teologia profissional</p><p>Em linhas gerais, essa forma de teologia traça um caminho voltado para</p><p>a ciência. O teólogo profissional terá dupla função, dentro da comunidade</p><p>eclesial e na Academia. Aqui, a lógica é metódica e sistemática, respondendo a</p><p>exigências elaboradas na sociedade (Libanio; Murad, 2003, p. 202).</p><p>No entanto, independentemente do local em que exerça seu trabalho, o</p><p>foco sempre será o Povo de Deus. Boff (1998, p. 597) separa esse trabalho em</p><p>dois momentos: 1. Assessoria: nesse trabalho, o teólogo irá exercer seu</p><p>3</p><p>ministério junto às comunidades pobres, no cotidiano; confrontando com,</p><p>discernimento crítico, as situações concretas, ou seja, trabalhando diretamente</p><p>com o povo; 2. Estudo: aqui, o teólogo trabalhará com as questões em</p><p>profundidade, é o momento teórico, de estudo de grandes questões, pesquisas,</p><p>cursos. Nesse momento acadêmico, o teólogo se encontra com o povo quando</p><p>trata das próprias questões que estão colocadas para ele.</p><p>1.2 Teologia pastoral</p><p>Segundo Boff (1998, p. 598), a teologia pastoral é voltada à prática da</p><p>evangelização e animação da fé. Já para Libanio e Murad (2003, p. 202), a</p><p>teologia pastoral está entre a reflexão existencial concreta e a teologia</p><p>acadêmica, passando também pelo pensar sobre a fé, mas com relação à prática</p><p>pastoral.</p><p>Essa é uma forma específica da teologia, isso porque tem procedimentos,</p><p>linguagem e destinatários próprios. Quem elabora essa teologia são pastores,</p><p>agentes pastorais leigos e religiosos; o requisito é a apropriação dos elementos</p><p>da teologia sistematizada.</p><p>1.3 Teologia popular</p><p>A teologia popular é um modo que corresponde ao senso comum, guiada</p><p>pelo Espírito da Verdade. Em linhas gerais, é como a medicina caseira, que, a</p><p>seu modo, é a verdadeira medicina (Boff, 1998, p. 599).</p><p>Essa teologia se processa de forma oral ou falada, e os escritos têm um</p><p>caráter funcional; ou seja, são instrumentos para a fala, como roteiros e</p><p>relatórios. Ela também passa por diversas intermediações: a poesia, o canto, o</p><p>desenho, o gesto, entre outros. A propósito, “esses são alguns dos caminhos</p><p>pelos quais a cultura popular exprime a sua visão das coisas, e isso também é</p><p>um campo de fé” (Boff, 1998, p. 599).</p><p>TEMA 2 – TEOLOGIA BÍBLICA</p><p>A teologia da Bíblia é uma das áreas de estudo teológico que mais</p><p>desperta interesse em novos estudantes, isso porque a própria Bíblia é</p><p>fundamental para a evangelização, além de ser a base para a atuação pastoral</p><p>4</p><p>e movimentos emergentes na Igreja. O estudo é necessário, uma vez que há</p><p>conflitos de interpretação e não há um consenso (Libanio; Murad, 2003, p. 216).</p><p>Durante o curso, esta área de conhecimento abrange os termos técnicos</p><p>e os conceitos da ciência bíblica, ampliando o campo de visão do aluno sobre a</p><p>capacidade de interpretação, em virtude do fato apresentado; são introduzidos</p><p>os livros do Antigo Testamento e do Novo Testamento (Libanio; Murad, 2003, p.</p><p>217).</p><p>A teologia bíblica requer o uso da exegese, que é considerada uma</p><p>disciplina pré-teológica, tendo em vista que o termo significa “tirar para fora”.</p><p>Dessa forma, a exegese é utilizada para extrair cada significado do que está nas</p><p>Escrituras. É importante destacar que a exegese não é considerada teologia,</p><p>porque não trata diretamente do sentido da fé (Libanio; Murad, 2003, p. 218).</p><p>Ainda, existem muitas perspectivas que orientam a teologia bíblica; elas</p><p>se baseiam no método exegético que é adotado, sendo que algumas se</p><p>complementam e outras se enfrentam.</p><p>É natural que esse método de estudar teologia busque estreitar o vínculo</p><p>com a espiritualidade. Isso porque estudar a Palavra Divina, através de um</p><p>mínimo rigor teórico, é alimento para a fé do estudante. E essa relação prática</p><p>pode fortalecer o aluno no caminho da interpretação espiritual dos mistérios de</p><p>Deus (Libanio; Murad, 2003, p. 220).</p><p>TEMA 3 – TEOLOGIA SISTEMÁTICA</p><p>Segundo Libanio e Murad (2003, p. 224), a teologia sistemática, também</p><p>conhecida como dogmática, é um conjunto de disciplinas elaboradas ao longo</p><p>da história da Igreja, que extrapola a mera reprodução dogmática – ou seja, não</p><p>se apega apenas ao ensino objetivo de doutrinas religiosas, mas dá valor à</p><p>reflexão cristã sobre seu patrimônio material e imaterial, sempre sob um olhar</p><p>humanista.</p><p>Essa forma de conduzir a teologia reelabora conceitos fundamentais,</p><p>como revelação, graça, sacramentos etc., de acordo com as experiências</p><p>individuais e coletivas de cada época, entendendo que cada afirmação pode ser</p><p>provisória, mas sem, com isso, cair em um relativismo irracional; o valor</p><p>permanece imutável, mas adaptado às mudanças de época (Libanio; Murad,</p><p>2003, p. 224).</p><p>5</p><p>Esse método é caracterizado por entender o cristianismo como prático,</p><p>operante e transformador, através de uma fé que se reinterpreta de tempos em</p><p>tempos, acompanhando acontecimentos históricos (Libanio; Murad, 2003, p.</p><p>225).</p><p>Ou seja, existem três momentos na teologia sistemática. Um primeiro,</p><p>retrospectivo, em que é feita a análise do que houve e se obteve no passado. No</p><p>segundo momento, introspectivo, é feita uma reflexão de como cada objeto de</p><p>estudo vem sido abordado atualmente; como são as coisas no presente. Por</p><p>último, mas não como a última ação teológica, há uma prospecção dos fatos;</p><p>entende-se os potenciais de cada objeto de estudo, bem como os pontos a</p><p>serem melhorados para, assim, melhorar a teologia na prática (Alfaro, citado por</p><p>Libanio; Murad, 2003, p. 226).</p><p>TEMA 4 – TEOLOGIA PRÁTICA</p><p>A vida prática teológica diz respeito não somente aos aspectos ligados à</p><p>vida pastoral, mas também à vida pessoal do estudante. A moral é um tema</p><p>inerente nesse campo de estudo (Libanio; Murad, 2003, p. 221).</p><p>Segundo Libanio e Murad (2003, p. 221), a teologia prática se preocupa</p><p>com a responsabilidade cristã, e busca uma resposta concreta, crítica e teórica,</p><p>que seja plausível para a sociedade e suas mais diferentes esferas de</p><p>convivência, visando fundamentar seu discurso de forma lógica.</p><p>Num primeiro momento, o estudante é apresentado a um conjunto de</p><p>reflexões sobre como deve ser o posicionamento e o agir cristão, condicionado</p><p>por questões inerentes ao cristianismo, como os conceitos de graça,</p><p>pecado etc.</p><p>Nesse sentido, esse campo de estudo inicial precisa de embasamento de</p><p>outras áreas, como filosofia, psicologia, antropologia etc., para que não sejam</p><p>feitas afirmações autoritárias ou meramente simplistas, por muito</p><p>descontextualizadas dos textos presentes na Palavra de Deus.</p><p>Sendo assim, esse conhecimento permite que o cristão consiga discernir</p><p>a distância que deve ter de outros saberes humanos, e assim possibilita que</p><p>tenha uma maior variedade de ações com base na Bíblia. (Libanio; Murad, 2003,</p><p>p. 222)</p><p>Num segundo momento de estudo, a teologia prática esclarece a relação</p><p>da ética em setores da vida social, como política, ecologia, sexualidade etc.,</p><p>devido à retomada da discussão de valores éticos em diversos setores. A</p><p>6</p><p>vivência ética, tendo como base a fé cristã, torna-se fundamental durante o</p><p>cotidiano do cristão, que enfrenta uma sociedade com graves questões</p><p>específicas e uma subjetividade exacerbada (Libanio; Murad, 2003, p. 223).</p><p>TEMA 5 – TEOLOGIA E ESPIRITUALIDADE</p><p>A espiritualidade é caracterizada pelo ato do cristão seguir a Jesus e se</p><p>entrega de coração: a razão dá lugar à humildade, para que a soberania de Deus</p><p>seja reconhecida. (Libanio; Murad, 2003, p. 232)</p><p>Com a teologia espiritual, há uma nova maneira de apresentar a Palavra.</p><p>O discurso é articulado ao redor de analogias, beleza e afeto, conferindo um</p><p>caráter motivacional ao estudo teológico (Libanio; Murad, 2003, p. 232)</p><p>Segundo Libanio e Murad (2003, p. 232), essa metodologia pode ser</p><p>desenvolvida por dois caminhos. O primeiro, temático, reflete imagens</p><p>contemplativas sobre Jesus, como fé, caridade e esperança. Já o segundo</p><p>caminho é feito de forma histórica, denotando as principais correntes de</p><p>desenvolvimento intelectual da história da Igreja cristã, como franciscana,</p><p>agostiniana, beneditina etc., além de grupos contemporâneos.</p><p>Ainda, a teologia espiritual evidencia sua importância por tratar do</p><p>processo da fé e suas leis. Também estuda como o relacionamento entre Deus</p><p>e o homem se reflete nos sentimentos e ações humanas, e qual o</p><p>desenvolvimento humano frente à ação vivificadora do Espírito Santo.</p><p>Sendo assim, segundo Boff (2015, p. 136), não há teologia espiritual sem</p><p>experiência espiritual. Como vimos, é necessário, essencialmente, que o teólogo</p><p>se envolva com o objeto de estudo, no caso, Deus e sua Palavra. “O</p><p>conhecimento teológico depende da vida de fé, da oração, da conduta cristã, da</p><p>santidade de vida”.</p><p>NA PRÁTICA</p><p>O estudante de teologia, a partir desses relatos, deve estar apto para</p><p>discernir conceitos abrangentes e importantes para o estudo teológico e seu</p><p>método. Mais do que isso, deve embasar continuamente o seu conhecimento,</p><p>tanto na Palavra de Deus quanto em pesquisas relacionadas a outras áreas de</p><p>estudo. A fé deve ser alimentada, como vimos, através de um relacionamento</p><p>7</p><p>íntimo com Deus. As boas práticas teológicas estão obrigatoriamente ligadas a</p><p>uma fé fortalecida e iluminada através da Palavra, tendo como apoio a razão.</p><p>Sempre que possível, reserve um tempo para estudar, entender o</p><p>conhecimento, vivê-lo por meio da fé e colocá-lo em prática em sua vida social.</p><p>Cada vez mais, a sociedade exige respostas que somente a sabedoria de Deus</p><p>é capaz de responder.</p><p>FINALIZANDO</p><p>Nesta aula compreendemos que a teologia pode se desenvolver através</p><p>de diversos métodos, que percorrem diferentes perspectivas, mas que têm um</p><p>centro de estudo em comum, que é Jesus Cristo. Inicialmente, diferimos a</p><p>teologia exercida de forma popular, profissional e pastoral. No decorrer da aula</p><p>trouxemos uma abordagem sobre as grandes áreas de estudo dentro da</p><p>metodologia teológica: bíblica, sistemática, prática e espiritual. Isso para que o</p><p>aluno tenha um contato geral e para que possa discernir as formas de estudo e</p><p>vivência da teologia.</p><p>8</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BOFF, C. Teoria do método teológico. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.</p><p>_____. Teologia e espiritualidade: por uma teologia que ilumine a mente e</p><p>inflame o coração. Rev. Pistis Prax. Teologia Pastoral, v. 7, n. 1, p. 112-141,</p><p>jan./abr. 2015.</p><p>LIBANIO, J. B.; MURAD, A. Introdução à teologia: perfil, enfoques, tarefas. São</p><p>Paulo: Loyola, 2003.</p><p>WESTPHAL, E. R. Teologia como fé inteligente: aspectos teológicos-filosóficos.</p><p>Vox Scripturae – Revista Teológica Brasileira, São Bento do Sul/SC, v. XVIII,</p><p>n. 1, p. 77-109, maio 2010.</p>