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<p>AULA 8 – SOTERIOLOGIA – INSTITUTO REFORMADO</p><p>AULA 8 - A PERSEVERANÇA DOS SANTOS</p><p>Leandro Lima</p><p>“Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo”</p><p>(Mt 24.13)</p><p>A cristandade não tem uma mesma visão com respeito à segurança da salvação do cristão.</p><p>Uma parte acredita que alguém que foi salvo por Cristo será salvo para sempre e jamais</p><p>perderá esta salvação. Outra parte acha que é possível que alguém que se converteu,</p><p>depois de algum tempo, se desvie, morra e vá para o Inferno. Esses últimos entendem que</p><p>a salvação ou a condenação dependem apenas do homem. Ao longo desse trabalho já</p><p>vimos o quanto essa posição é falha. Muitos têm medo da Certeza da Salvação</p><p>(Perseverança dos Santos) por acharem que a doutrina conduz as pessoas ao desleixo e a</p><p>inércia espiritual, mas, isso só acontece se alguém, de fato, não a entender bem. Queremos</p><p>provar a biblicidade da doutrina da Perseverança dos Santos, bem como a sua utilidade</p><p>para a vida cristã. Ela é, ao contrário do que se pensa, um grande incentivo para a vida de</p><p>santidade, e de compromisso com Deus, com sua Palavra e com sua obra. Esta</p><p>maravilhosa doutrina bíblica nos mostra o quanto nosso Deus é confiável, comprometido</p><p>e poderoso. A obra que ele começou em nossa vida não é uma obra qualquer, indefinida,</p><p>sem previsão de acabamento, mas uma obra de um arquiteto que planejou tudo com</p><p>antecedência, e que tem todo o poder e toda a condição para completá-la. Nas palavras</p><p>de Paulo: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de</p><p>completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6).</p><p>Um slogan mal compreendido</p><p>Dentre aqueles que creem que a salvação não se perde, desenvolveu-se um slogan para</p><p>definir bem a posição, o slogan diz “uma vez salvo, sempre salvo”. Estamos convictos de</p><p>que esse slogan é verdadeiro, mas percebemos que ele é muitas vezes mal-entendido. Ele</p><p>pode sugerir que uma vez que alguma pessoa fez uma decisão por Cristo, ela pode viver</p><p>sua vida irresponsavelmente, e ao mesmo tempo, plenamente confiante de que jamais</p><p>poderá ser condenada. Alguém pode dizer “eu fiz minha decisão, Cristo é meu Salvador,</p><p>e todos os meus pecados – passado, presente, e futuro – estão perdoados e esquecidos.</p><p>Então, eu não tenho que me preocupar mais com os momentos de fraqueza”. Um famoso</p><p>teólogo americano chamado Robert Godfrey sarcasticamente caracterizou esta tendência</p><p>dizendo: “Deus ama perdoar; eu amo pecar, então isso coopera para um bom</p><p>relacionamento”1. É claro que isso simplesmente não é bíblico.</p><p>Para que uma pessoa seja salva é necessário que aconteça um grande evento dentro dela,</p><p>o qual Jesus chamou de “novo nascimento” (Jo 3.3). O novo nascimento acontece no</p><p>momento quando o Espírito Santo cria uma nova vida em nossa alma, e em resposta a</p><p>isso demonstramos arrependimento e fé (conversão). Mas, a salvação é ainda mais do que</p><p>isso. De fato no instante em que Deus efetuou o novo nascimento em nosso ser, somos</p><p>capacitados a responder com fé à pregação do Evangelho e, então, somos</p><p>instantaneamente justificados. Entretanto, a salvação é um processo, um ato contínuo de</p><p>Deus em nos tornar santos. Como vimos, esse processo recebe o nome de santificação.</p><p>Para que alguém seja salvo, é necessário que esse processo tenha sido iniciado em sua</p><p>vida. Ninguém pode ser justificado sem ser também santificado. Isso é um bom resumo</p><p>1 Citado por Michael Horton. As Doutrinas da Maravilhosa Graça, p. 192.</p><p>AULA 8 – SOTERIOLOGIA – INSTITUTO REFORMADO</p><p>de tudo o que já vimos até aqui sobre salvação. A perseverança nada mais é do que levar</p><p>esse processo até ao fim.</p><p>Portanto para que alguém diga “uma vez salvo, sempre salvo” é preciso que tenha sido</p><p>realmente salvo. E para ser realmente salvo é preciso que haja uma transformação, e é</p><p>necessário que a santificação fique evidenciada em sua vida. Alguém que não evidencia</p><p>estas coisas será condenado, não porque perdeu a salvação, mas porque na verdade, nunca</p><p>foi salvo. Todo tipo de orgulho que a expressão “uma vez salvo, sempre salvo” possa</p><p>produzir é incompatível com a humildade que é a marca de quem recebeu a salvação de</p><p>graça.</p><p>Selo de garantia</p><p>A partir do próximo capítulo, começaremos a tratar do Espírito Santo. O Espírito Santo é</p><p>fundamental para a nossa salvação, mas uma das coisas que nem sempre entendemos é</p><p>que o Espírito Santo tem um papel vital na perseverança. Primeiramente devemos lembrar</p><p>o ensino bíblico de que o Espírito é o selo de garantia do crente. Paulo disse aos Efésios:</p><p>“Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o Evangelho da vossa</p><p>salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o</p><p>qual é o penhor da nossa herança, ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória”</p><p>(Ef 1.13-14). Quando alguém se converte recebe um selo divino. Nos tempos do Novo</p><p>Testamento se selavam cartas ou objetos. Lembramos que o túmulo de Jesus foi selado</p><p>(Mt 27.66). A intenção em se colocar o selo era demonstrar que tal objeto pertencia a</p><p>alguém, e assim, o objeto deveria estar sob a proteção máxima. Da mesma forma o selo</p><p>do Espírito Santo na vida do crente indica que ele pertence a Deus e será protegido de</p><p>todas as ameaças. O selo, de acordo com Paulo, continuará sobre o crente até o dia da</p><p>redenção final. Da mesma forma Paulo usa a palavra “penhor”. O penhor nos tempos do</p><p>Novo Testamento era um acordo de negócio onde uma pessoa dava um primeiro</p><p>pagamento, algo como uma entrada, a fim de garantir o negócio. E essa entrada era uma</p><p>garantia de que o restante também seria pago. Assim, pois, o Espírito Santo em nós é a</p><p>garantia de que o resto será pago, ou seja, de que Deus completará sua obra em nós até o</p><p>dia de Cristo Jesus. Deus não colocaria esse selo se não tivesse a intenção firme de</p><p>completar a obra, portanto, o Espírito em nós é a garantia de que Deus nos guardará até</p><p>ao fim. Deus não colocaria o seu selo de garantia em nossa vida se não estivesse disposto</p><p>a nos guardar.</p><p>Por outro lado, o Espírito Santo ativamente proporciona a própria perseverança. No</p><p>momento da conversão, o crente é batizado com o Espírito Santo. A partir desse</p><p>momento, sua casa já não está mais vazia. O Espírito Santo não está aí para ser ocioso,</p><p>ele tem uma função. Paulo trata bastante sobre isto em Romanos 8. Ele diz que a função</p><p>do Espírito é nos “assistir em nossa fraqueza” (Rm 8.26). Paulo está pensando</p><p>primordialmente na oração, mas é óbvio que o Espírito nos ajuda em todas as nossas</p><p>fraquezas. No caso específico da oração, é um fato que não sabemos orar como convém,</p><p>isto quer dizer que não sabemos orar de acordo com a vontade de Deus. Mas quando</p><p>oramos, Deus ouve a voz do Espírito Santo dentro de nós. Às vezes ele geme, porque</p><p>alguma coisa não está certa em nós. O Espírito Santo é a grande ajuda divina para a nossa</p><p>vida de Santificação, e consequentemente, de perseverança. Até porque, ele é o Espírito</p><p>Santo.</p><p>Elo de amor inquebrável</p><p>Após falar da atuação do Espírito, Paulo alarga ainda mais o entendimento da nossa</p><p>AULA 8 – SOTERIOLOGIA – INSTITUTO REFORMADO</p><p>segurança. Ele diz: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que</p><p>amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28). A</p><p>prosperidade e a adversidade, a felicidade e o sofrimento, as intenções maldosas das</p><p>pessoas contra os crentes, os anjos bons e os anjos maus, as nações, os governos, a chuva,</p><p>as montanhas, as nuvens, as estrelas, etc., tudo o que acontece, ainda que seja mau a</p><p>princípio, será transformado em bem para aqueles que amam a Deus.</p><p>Na sequência do texto de Romanos, Paulo diz: “E aos que predestinou, a esses também</p><p>chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses</p><p>também glorificou” (Rm 8.30). Como já estudamos, há uma ordem no processo da</p><p>salvação. São os vários eventos que compõe</p><p>a salvação completa. Esses eventos são</p><p>interligados. Não faz sentido alguém ser predestinado, chamado, justificado, e depois</p><p>perdido. Este texto ensina que quando Deus começa alguma coisa, ele termina (Fp 1.6).</p><p>Como já dissemos anteriormente, todos os eventos de Romanos 8.30 estão no passado.</p><p>Deus vê o crente como já tendo passado espiritualmente por todos os estágios (lembrar</p><p>do contraste entre o já e o ainda não). Portanto, é impossível que esta cadeia seja rompida.</p><p>Os crentes predestinados foram objeto do amor de Deus desde toda a eternidade. Este</p><p>amor não pode ser extinguido.</p><p>Por esta razão, Paulo declara com toda a convicção: “Que diremos, pois, à vista destas</p><p>coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8.31). O que Paulo quer dizer é</p><p>que se Deus fez o mais difícil, por que não faria o mais fácil? Se Jesus já morreu em nosso</p><p>lugar, por que Deus não terminaria a obra da salvação em nossas vidas? Por isto, Paulo</p><p>entende que nada pode nos separar do amor de Cristo. Das sete experiências que Paulo</p><p>relatou, ele já tinha experimentado seis até aquele momento e pela sétima foi executado</p><p>mais tarde. Como Paulo, somos mais que vencedores em meio a estas coisas, ainda que</p><p>nem sempre sejamos livrados delas. E o motivo é o seu amor, somos vencedores porque</p><p>seu amor por nós permanece. Paulo diz: “Nem a morte”: Depois da morte, estaremos com</p><p>Deus. “Nem a vida”: Apesar das distrações da vida, podemos estar com Deus. “Nem</p><p>anjos”: Os anjos bons têm a função de nos ajudar. “Nem principados”: Os anjos maus</p><p>tentam, mas não podem nos afastar. “Nem presente, nem futuro”: Os acontecimentos não</p><p>nos fazem perder o amor de Deus e a salvação. “Nem poderes”: Podem ser poderes de</p><p>espíritos ou de pessoas, mas não são mais fortes que o amor de Deus. “Nem altura, nem</p><p>profundidade”: Acima ou abaixo, estamos seguros. “Nenhuma outra criatura poderá nos</p><p>separar do seu amor”: Nem nós mesmos.</p><p>Uma vez salvos sempre salvos. Nada pode fazer com que percamos a salvação, pois nada</p><p>pode nos separar do amor de Deus. Nós somos vencedores na alegria e na tristeza, na</p><p>saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, na guerra e na paz. Só os crentes são mais</p><p>que vencedores, pois somente eles possuem a obra do Espírito Santo em suas vidas,</p><p>somente para eles todas as coisas cooperam para o bem, somente eles têm recebido uma</p><p>salvação perfeita, e nada nesse mundo poderá fazer com que percam isso.</p><p>A verdadeira segurança</p><p>Muitos acham que depende apenas de si mesmos a tarefa de manter a salvação. Para estes</p><p>bem cabe a repreensão que Paulo fez aos Gálatas: “Sois assim insensatos que, tendo</p><p>começado no Espírito, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne?” (Gl 3.3). De fato</p><p>essas pessoas veem sua salvação em termos de uma decisão que fizeram, e baseiam a</p><p>certeza de sua salvação sobre a inconstante areia da vontade humana. Imagine que vida</p><p>terrível é essa. Ter seu destino eterno pendurado no fino cordão da vontade humana, que</p><p>AULA 8 – SOTERIOLOGIA – INSTITUTO REFORMADO</p><p>pode se romper a qualquer momento, pois a vontade humana pode seguir um curso num</p><p>minuto e mudá-lo no seguinte. Mas é bom saber que as coisas não precisam ser dessa</p><p>forma. É bom saber que nosso destino eterno não depende apenas de nossa inconstante</p><p>vontade. É bom saber que Deus tem um programa, um projeto e um interesse todo</p><p>especial em nossa vida, e que vai executá-lo, e isso depende da vontade dele e não apenas</p><p>da nossa.</p><p>Não devemos jamais buscar a certeza da nossa salvação em nossas habilidades ou em</p><p>nossa vida, mas no selo que Deus pôs sobre as nossas vidas, o selo do Espírito Santo que</p><p>funciona como um penhor da nossa salvação (Ef 1.13-14). Para que perdêssemos a</p><p>salvação teríamos que voltar à antiga condição de morte espiritual. Mas, imagine que tipo</p><p>de regeneração seria essa que o Espírito Santo realizaria na vida de alguém, ressuscitando-</p><p>o e dando-lhe vida eterna, a qual a pessoa poderia de alguma forma perder e voltar a</p><p>morrer. Então, não seria de fato vida eterna. Será que nós podemos cometer suicídio</p><p>espiritual? Certamente que não, pois Pedro diz que nós temos sido “regenerados não de</p><p>semente corruptível, mas de incorruptível” (1Pd 1.23). A Bíblia fala em “nascer de novo”,</p><p>mas graças a Deus, não fala em “morrer de novo”. Do mesmo modo, a Bíblia diz que</p><p>Deus “nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu</p><p>amor” (Cl 1.13). O verbo “libertou” está num tempo verbal grego que representa uma</p><p>ação simples e definitiva realizada no passado, é uma ação feita de uma vez por todas.</p><p>Fomos libertados desse império amaldiçoado e transportados para o reino de Jesus. Se</p><p>pudéssemos nos converter e nos desconverter a cada momento, é como se ficássemos o</p><p>tempo todo saindo e voltando ao Império das Trevas.</p><p>Os crentes, através de Jesus foram feitos filhos de Deus (Jo 1.12; Gl 4.6). Se Deus é nosso</p><p>Pai, e se nós fomos legalmente adotados em sua família por seu desígnio e vontade, como</p><p>é que isso pode ser quebrado? Certamente eu posso até viver algum tempo longe de minha</p><p>família, mas seria possível eu dizer um dia para meu pai ou minha mãe: Eu decidi que a</p><p>partir de hoje não sou mais filho de vocês? Mãe, você não me deu à luz, e pai, você não</p><p>me gerou. Ainda que dissesse algo assim, não mudaria o fato de que sou filho deles. Que</p><p>situação terrível se fosse possível num dia ser filho de Deus, e no outro, do diabo.</p><p>O cuidado do pastor</p><p>Os crentes são chamados de ovelhas pela Palavra de Deus. Uma ovelha possui um pastor</p><p>e esse pastor está aí com a função de cuidar da ovelha. Ele trabalha para impedir que ela</p><p>se perca. Cristo disse: “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me</p><p>conhecem a mim... e dou a vida pelas minhas ovelhas” (Jo 10.14-16). Já dissemos que a</p><p>função de um pastor é defender e buscar a ovelha perdida. Cristo havia dito que o</p><p>mercenário não fazia isso, pois diante do lobo, o mercenário fugia. Um pastor verdadeiro</p><p>não fugiria, antes enfrentaria o lobo. Cristo é ainda mais do que um pastor verdadeiro, ele</p><p>é de fato o “supremo pastor” (1Pd 5.4), pois deu a própria vida pelas suas ovelhas. Pensar</p><p>que ele poderia deixar que alguma delas perecesse é um absurdo. De fato o próprio Jesus</p><p>já declarou: “E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os</p><p>que me deu” (Jo 6.39). O relacionamento de Cristo com suas ovelhas funciona do seguinte</p><p>modo: “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, eternamente, e ninguém as arrebatará</p><p>da minha mão” (Jo 10.28). A segurança eterna do crente não é algo que depende dele</p><p>próprio, mas do pastor que cuida dele. Aqueles que consideram a possibilidade de uma</p><p>verdadeira ovelha de Cristo se perder para sempre, desconsideram a capacidade do pastor</p><p>em cuidar de suas ovelhas.</p><p>AULA 8 – SOTERIOLOGIA – INSTITUTO REFORMADO</p><p>É possível que como ovelhas de Cristo, em algum momento nos afastemos dele, e nos</p><p>tornemos ovelhas perdidas. Isto será terrível para nós, mas ele nunca deixará de nos</p><p>vigiar. Nunca permitirá que nos afastemos para longe do alcance do seu braço. Todos</p><p>podem ter um momento de fraqueza na vida, mas uma coisa é pecar, outra é cometer</p><p>apostasia. João disse que muitas pessoas haviam deixado a igreja em seu tempo, porém,</p><p>segundo o Apóstolo: “Eles saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos;</p><p>porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram</p><p>para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos” (1Jo 2.9). A ovelha verdadeira</p><p>sempre volta aos braços do seu pastor, ou porque o pastor foi atrás dela (Lc 15.4-6), ou</p><p>porque ela própria percebeu o erro e voltou (Lc 15.11-24). Na parábola do filho pródigo</p><p>que se afasta do pai e anda por caminhos tortuosos está muito clara a ideia de que tudo</p><p>conspira para que ele volta à casa do pai. É preciso lembrar que um filho verdadeiro</p><p>sempre volta à casa do pai, pois se ele é filho jamais</p><p>poderá deixar de ser.</p><p>O dom da perseverança</p><p>A Escritura diz que “todo aquele que perseverar até o fim será salvo” (Mt 24.13). Berkhof</p><p>diz que a Perseverança dos Santos tem o “sentido de que aqueles que Deus regenerou e</p><p>chamou eficazmente para um estado de graça não podem cair nem total nem</p><p>definitivamente, mas certamente perseverarão nele até o fim e serão salvos para toda a</p><p>eternidade”2. A perseverança é uma bênção, pois é Deus quem a concede. Mesmo que o</p><p>crente peque, ele sempre encontrará o perdão em Deus. Segundo a Escritura há apenas</p><p>um pecado que não tem perdão, o “pecado contra o Espírito Santo”3. Jesus disse que quem</p><p>blasfemasse contra o Espírito não poderia ser perdoado (Mt 12.31). João também fala de</p><p>um pecado a respeito do qual não se deve sequer orar: “Se alguém vir a seu irmão cometer</p><p>pecado não para morte, pedirá, e Deus lhe dará vida, aos que não pecam para morte. Há</p><p>pecado para morte, e por esse não digo que rogue” (1Jo 5.16). O pecado que João tem em</p><p>mente só pode ser o pecado contra o Espírito Santo, pois é o único que não pode ser</p><p>perdoado. João continua: “Toda injustiça é pecado, e há pecado não para morte” (1Jo</p><p>5.17). Embora toda injustiça seja pecado, todos os pecados podem ser perdoados, mas,</p><p>João continua tendo em mente um pecado que não tem perdão, e por isso declara:</p><p>“Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado; antes, Aquele que</p><p>nasceu de Deus o guarda, e o Maligno não lhe toca” (1Jo 5.18). Literalmente João disse</p><p>que quem nasceu de Deus não peca. Os tradutores da Bíblia entenderam que se</p><p>traduzissem assim estariam fazendo a Bíblia se contradizer, e o próprio João, pois ele</p><p>havia dito antes que os crentes pecavam (Ver 1Jo 1.8; 2.1). Por isso, interpretaram o</p><p>tempo presente do verbo para dar a ideia de continuidade, o que é correto. O caso, porém,</p><p>é que parece que João está falando de um pecado que, se alguém cometer, estará</p><p>condenado e longe até mesmo do alcance da oração. João quer dizer que, aqueles que são</p><p>verdadeiramente nascidos de Deus não pecam, ou seja, não cometem esse pecado. E a</p><p>razão não está em si mesmos, mas pelo fato de que Deus os guarda e o maligno não pode</p><p>tocá-los. Isso confirma a ideia de que a nossa perseverança é um Dom de Deus. Judas diz</p><p>que Deus é aquele que é poderoso para nos guardar de tropeços e para nos apresentar com</p><p>exultação, imaculados diante da sua glória (Jd 24).</p><p>Apesar de todo esse ensino sobre a segurança da nossa salvação, não devemos pensar que</p><p>não temos nenhuma responsabilidade, e que seremos salvos de qualquer jeito,</p><p>independente de nossas atitudes. Para que sejamos salvos, precisamos de perseverança.</p><p>2 Louis Berkhof. Teologia Sistemática, p 549.</p><p>3 Mais à frente trataremos diretamente desse assunto.</p><p>AULA 8 – SOTERIOLOGIA – INSTITUTO REFORMADO</p><p>Foram os puritanos que cunharam o termo “perseverança dos santos”. Eles fizeram isso</p><p>justamente para não deixar a impressão de que alguém poderia estar seguro eternamente</p><p>de sua salvação se não perseverasse. Uma pessoa precisa perseverar até o fim para que</p><p>fique evidenciado que era de fato salva. Como diz McGregor Wright, “uma pessoa que</p><p>abandona a fé apenas proporciona ao observador a evidência de que ela não era</p><p>regenerada”4. É preciso perseverar até o fim, mas isso não significa que uma pessoa não</p><p>possa ter certeza da própria salvação. Ela pode, e sua maior certeza é o testemunho interior</p><p>do Espírito Santo. Paulo diz em Romanos 8:16: “O próprio Espírito testifica com o nosso</p><p>espírito que somos filhos de Deus”. A certeza de nossa salvação vem primariamente de</p><p>dentro, porém, há mais elementos que ajudam, são as evidências ou frutos da salvação.</p><p>Nesse sentido, vida transformada, coração regenerado, constante arrependimento e fé, são</p><p>evidencias bem conclusivas a respeito da salvação. Embora exista a possibilidade de que</p><p>uma pessoa seja salva mesmo sem evidenciar os frutos, como no caso do ladrão na cruz</p><p>que nem teve tempo para isso, nunca devemos nos esquecer da nossa responsabilidade.</p><p>Jesus disse: “Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt 24.13; Ver Lc</p><p>21.19; Hb 10.36). Do mesmo modo, confiar numa suposta conversão acontecida no</p><p>passado, mas que não produz resultado no presente, é como diz Strong “confiar no valor</p><p>da apólice do seguro de vida para o qual não foram pagos os prêmios por vários anos”5.</p><p>É verdade que a apólice pode ser paga por causa da graça de Deus, mas desleixo não</p><p>combina com graça.</p><p>Não somos fatalistas. Uma vez salvo sempre salvo somente tem valor se alguém de se</p><p>tornou um filho de Deus. E para ser salvo é preciso que evidencie em sua vida os frutos</p><p>dessa salvação. Devemos confiar que somos salvos, e enquanto trabalhamos, somos</p><p>capacitados, pelo Espírito que está em nós, a permanecer fiel. É verdade que o pecado</p><p>sempre estará à nossa porta, entretanto, sua graça sempre nos ajudará, e por mais</p><p>endurecidos que possamos estar em certas situações, se formos de fato “ovelhas do seu</p><p>pasto”, Jesus não desistirá de nós (Sl 79.13; Ez 34.31). A certeza da salvação é uma</p><p>bendita esperança, é algo que, como diz Schaeffer, nos “enche de alegria, de modo que</p><p>não tenhamos que ir para a cama todas as noites repassando os eventos do dia e</p><p>perguntando-nos ‘será que eu ainda continuo salvo, ou será que eu me perdi?”6.</p><p>Poderemos repassar os eventos para agradecer as bênçãos e pedir perdão pelos pecados,</p><p>e depois, dormir em paz, seguros na mão poderosa do pastor celeste.</p><p>4 R. C. McGregor Wright. A Soberania Banida, p. 149.</p><p>5 Augustus H. Strong. Teologia Sistemática, vol, 2 p. 631.</p><p>6 Francis Schaeffer. A Obra Consumada de Cristo, p. 232.</p><p>AULA 8 - A PERSEVERANÇA DOS SANTOS</p><p>Um slogan mal compreendido</p><p>Selo de garantia</p><p>Elo de amor inquebrável</p><p>A verdadeira segurança</p><p>O cuidado do pastor</p><p>O dom da perseverança</p>