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ECONOMIA EMPRESARIAL

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Wanessa Silva

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<p>ECONOMIA EMPRESARIAL</p><p>TEMA 1 - Introdução</p><p>Onboarding</p><p>Seja bem-vindo à disciplina de Economia Empresarial, uma disciplina projetada para proporcionar a você, futuro gestor, uma base sólida e abrangente de conhecimentos econômicos que são fundamentais para a análise e tomada de decisões no ambiente empresarial. Esta disciplina representa um importante passo na sua jornada educacional, oferecendo ferramentas essenciais que irão enriquecer sua compreensão dos mecanismos econômicos e aprimorar sua habilidade de aplicar esses conceitos no mundo dos negócios.</p><p>Inicialmente, você irá definir e explorar conceitos fundamentais para a compreensão das análises econômicas. Isso inclui uma jornada através da história do pensamento econômico, proporcionando um panorama das ideias que moldaram a economia moderna. Essa base histórica é essencial para entender as teorias e práticas atuais.</p><p>Prosseguindo, iremos descrever a agenda de pesquisa econômica atual, permitindo que você compreenda os desafios e as oportunidades enfrentados pelos economistas hoje. Você também aprenderá a identificar a escolha ótima de um consumidor racional, com base em suas preferências e renda, além de reconhecer as curvas de indiferença e suas propriedades, um conceito chave na compreensão do comportamento do consumidor.</p><p>Na sequência, abordaremos os tipos de custo da firma e suas aplicações, um aspecto crucial para a gestão financeira e a análise de custos. Você aprenderá a demonstrar a quantidade de produto necessária para a maximização do lucro do produtor, uma habilidade vital na gestão de negócios.</p><p>Definir demanda e oferta agregadas e descrever a formação de preços e quantidades de equilíbrio em um mercado competitivo são pontos centrais desta disciplina. Esses conceitos são fundamentais para entender como os mercados operam e como as empresas podem se posicionar estrategicamente neles.</p><p>Você também irá explorar o excedente do produtor e do consumidor, aplicando-o como medida de bem-estar, e descrever o comportamento de uma firma monopolista. Estes tópicos são essenciais para a compreensão das dinâmicas de mercado e para o desenvolvimento de estratégias empresariais eficazes.</p><p>Além disso, reconhecer os princípios básicos das contas nacionais e os indicadores complementares às contas nacionais lhe dará uma visão ampla da economia. Construir as curvas de oferta e demanda agregada para diferentes horizontes de tempo e identificar os diferentes equilíbrios na economia irão aprofundar sua compreensão das políticas fiscal e monetária.</p><p>Ao concluir esta disciplina, você terá adquirido não apenas conhecimento teórico, mas também prático, preparando-se para aplicar essas habilidades no ambiente empresarial. Esta disciplina é um investimento valioso na sua carreira, proporcionando as bases para você se tornar um gestor bem-sucedido e um economista perspicaz.</p><p>TEMA 2 - Conceitos básicos da economia</p><p>Módulo 1: Primeiros conceitos econômicos</p><p>Uma digressão sobre economia e ciência</p><p>O termo “economia” vem do grego e significa “casa” e “lei”, ou também “gerir”, “administrar”, daí “regras da casa” ou “administração doméstica”.</p><p>Mas o que é, de fato, Economia?</p><p>Economia é uma ciência social que estuda a produção, distribuição, acumulação e o consumo de bens e serviços.</p><p>Ela busca entender como indivíduos, empresas, governos e nações fazem escolhas sobre alocação de recursos, de forma a satisfazer suas necessidades, e busca entender como esses agentes podem se organizar e coordenar esforços para alcançar o melhor resultado possível.</p><p>Mas o que é uma ciência?</p><p>Ciência é uma forma de conhecimento, assim como religião, intuição e senso comum. A ciência produz conhecimento por meio de teorias.</p><p>Por exemplo, a Astronomia, por meio da teoria geocêntrica, considera a Terra fixa no centro do universo, com todos os outros corpos celestes orbitando ao seu redor. Poucas pessoas acreditam na teoria geocêntrica, mas qualquer um quando vai à praia utiliza essa teoria para posicionar um guarda-sol.</p><p>Da mesma forma, existem diversas teorias nas quais não é necessário acreditar, embora sejam úteis, como, por exemplo, modelos econômicos, a física newtoniana ou mapas. Você acredita que o mundo é bidimensional ao olhar um aplicativo de mapas em seu celular?</p><p>É preciso deixar claro que a Ciência não trata de verdade, mas sim de erro útil. A Ciência é apenas uma ferramenta para resolver problemas, e não para estabelecer verdades.</p><p>A teoria nada mais é do que uma ferramenta imperfeita, baseada em simplificações grosseiras da realidade (natural, social, econômica etc.), pois seu o objetivo é ser útil.</p><p>O precursor da Ciência Moderna é Francis Bacon, que, no século XVI, deixou registrado que “Saber é poder”. A partir de Bacon e da Revolução Científica Moderna, começa a busca pelo desenvolvimento de um conhecimento sistemático da natureza que permita atingir objetivos concretos.</p><p>Exemplo: Se chove, nós nos molhamos. Se determinado medicamento for utilizado, a mortalidade de certa doença será reduzida. Assim, há uma tentativa de compreensão do mundo por meio de relações de causalidade.</p><p>Mas como sabemos se uma teoria é útil? Geralmente, submetemos a teoria ao teste empírico, ou seja, ela deve explicar determinado conjunto de dados.</p><p>Por exemplo, se a teoria diz que “se chove, então molha”, buscamos uma série de dados sobre “chuva ou sol” e sobre “objeto molhado ou seco”, e vemos se a teoria explica a relação empírica observada.</p><p>O teste empírico deve sempre ser construído de forma a isolar as variáveis relevantes do problema ― ou, em outras palavras, tomar “tudo mais como constante” para não comprometer o resultado da avaliação. Afinal, geralmente há outras variáveis que afetam as observações (uma superfície pode estar molhada porque alguém a lavou com água encanada).</p><p>Embora um teste empírico seja bem-sucedido, jamais afirmamos que aceitamos a teoria. Dizemos apenas que não a rejeitamos, mas não podemos aceitá-la porque, desde o princípio, sabemos que ela é imperfeita, e seguimos com ela enquanto não for rejeitada e não aparecer outra melhor (isto é, que explique melhor os dados).</p><p>A ciência econômica é tipicamente dividida em:</p><p>Microeconomia: Estuda o comportamento de agentes individuais.</p><p>Macroeconomia: Analisa a economia de maneira agregada.</p><p>Para entender a diferença entre elas, analise as seguintes questões:</p><p>Qual deve ser a regulação do setor de telefonia para garantir cobertura adequada à população?</p><p>Essa questão é tipicamente estudada em Microeconomia.</p><p>Por que a inflação aumentou?</p><p>Essa questão é tipicamente estudada em Macroeconomia.</p><p>Em todos os casos, porém, precisamos analisar a escolha individual dos agentes envolvidos. Esse será o próximo assunto do nosso estudo.</p><p>Escolha individual</p><p>Qualquer questão em Economia envolve escolha individual, independentemente de estarmos no campo de Macroeconomia ou Microeconomia. Em última instância, até decisões macroeconômicas são baseadas em uma série de decisões individuais sobre o que fazer ou não. Portanto, podemos dizer que economia é sobre escolhas.</p><p>Quando vamos à feira, há diversos produtos em inúmeras barracas. É pouco provável que tenhamos dinheiro para comprar tudo o que desejamos e, mesmo que tenhamos, não há espaço suficiente na geladeira para guardar todos esses bens.</p><p>Alguém pode argumentar que basta comprar outra geladeira. Contudo, o espaço de sua casa é limitado, de forma que precisamos escolher qual produto comprar e qual colocar na geladeira.</p><p>O fato de alguns produtos estarem à venda na feira já envolve uma escolha. O feirante escolheu quais produtos levar para a feira, e os produtores agrícolas também escolheram quais bens iriam cultivar.</p><p>Notamos, então, que todas as atividades econômicas passam por escolhas.</p><p>Existem quatro princípios econômicos contidos na escolha individual:</p><p>Escassez de recursos</p><p>Custo real</p><p>Decisão marginal</p><p>Oportunidades de melhoria</p><p>A seguir, conheceremos melhor cada um deles.</p><p>Escassez de recursos</p><p>No geral, não podemos ter tudo o que queremos. Nossa renda é limitada, o que restringe o que podemos adquirir. A renda que escolhemos</p><p>​Por exemplo, o que te faz mais feliz: viajar no feriado ou comprar um videogame novo?</p><p>Para medir essa utilidade, podemos supor — a fim de simplificar o processo — que ela possa ser mensurada com uma unidade hipotética denominada util. Ilustrando um exemplo de função utilidade, o gráfico (a) que segue mostra a utilidade total que Júlia obtém ao comer (sem nenhum custo) salgadinhos numa festa:​​</p><p>A função utilidade de Júlia indica uma inclinação positiva em sua maior parte, mas, à medida que o número de salgadinhos consumidos aumenta, ela se torna mais achatada. Isso significa que uma iguaria a mais traz mais utilidade até certo ponto, ou seja, o valor dela diminui quando mais unidades são consumidas.</p><p>A partir do décimo salgadinho, adicionar um a mais demonstra ser algo ruim para Júlia, piorando a sua situação. Se for racional, ela perceberá isso e não consumirá o décimo primeiro. Desse modo, quando Júlia for decidir sobre o número de iguarias a ser consumido, ela tomará essa decisão considerando a mudança na sua utilidade total proveniente do consumo de mais um salgadinho.</p><p>Resumindo: Isso revela a seguinte ideia geral: para maximizar sua utilidade total, o consumidor precisa se concentrar na utilidade marginal, ou seja, a utilidade de se consumir um pouco a mais, como, por exemplo, um salgadinho adicional.​</p><p>Utilidade marginal decrescente</p><p>O gráfico (b), a seguir, mostra a utilidade marginal gerada para Júlia ao consumir uma unidade de salgadinho adicional. Ele indica a curva de utilidade marginal implícita construída a partir da variação de utilidade gerada por intervalos unitários.</p><p>A curva de utilidade marginal, por sua vez, tem inclinação negativa: cada salgadinho a mais acrescenta menos valor em utilidade que o anterior. O próprio gráfico informa isto: enquanto o primeiro salgadinho rende 15 utils, o décimo primeiro oferece -1,5 utils. Trata-se, portanto, do primeiro salgadinho a ter utilidade marginal negativa: o seu consumo diminui a utilidade total, ou seja, o excesso de salgadinhos começa a cair mal!</p><p>Atenção!</p><p>Isso não é uma verdade imutável para todos os bens e serviços. Afinal, o consumo de algo em excesso não vai necessariamente render uma utilidade marginal negativa no final da curva.</p><p>Apesar desse alerta, a suposição de que as curvas de utilidade marginal sejam negativamente inclinadas é bastante aceita pelos economistas. O princípio da utilidade marginal decrescente atesta que a primeira unidade traz mais valor que a segunda; a segunda, por sua vez, possui mais valor que a terceira unidade; e assim por diante. A intuição por trás desse princípio é a seguinte:</p><p>À medida que o montante consumido de um bem ou serviço aumenta, a satisfação adicional que um indivíduo obtém de uma unidade a mais diminui.</p><p>Quanto mais consumimos algo, mais próximos ficamos do estágio de satisfação até finalmente atingirmos a saciedade, ponto em que uma unidade a mais do bem não nos acrescenta em nada em termos de utilidade. ​</p><p>Comentário: Embora o princípio da utilidade marginal decrescente nem sempre seja verdadeiro (você consegue pensar em um exemplo?), ele vale na maior parte dos casos, sendo o suficiente para embasar a teoria do comportamento do consumidor.</p><p>Orçamento e restrição</p><p>Até aqui trabalhamos com a ideia de que uma pessoa pararia de consumir um bem ao atingir um certo nível de saciedade em que uma unidade a mais dele não traria satisfação extra ou até mesmo diminuiria sua utilidade total. Um exemplo disso foi o caso dos salgadinhos. Temos, então, os seguintes pressupostos implícitos na análise que fizemos até aqui:</p><p>- Não há custo adicional para o consumo de uma unidade a mais do bem.</p><p>+</p><p>- Existe dinheiro infinito; logo, o indivíduo não precisa se preocupar com isso.</p><p>A realidade, no entanto, é diferente: consumir mais de um bem requer, em geral, recursos adicionais — e o consumidor precisa levar em conta esse fator ao fazer suas escolhas.</p><p>O que são esses recursos adicionais? Para simplificar, serão chamados de custo. O que levamos em consideração é o denominado custo de oportunidade, isto é, o ganho potencial ao qual se renuncia quando se opta por uma alternativa. Em outras palavras, trata-se do benefício de que abrimos mão quando fazemos uma escolha.</p><p>Exemplo: O custo de oportunidade de jogar uma partida de futebol é o prazer que você teria ao dar um mergulho na praia no mesmo período.</p><p>Um dos pressupostos básicos da economia é que os recursos são escassos. O custo de oportunidade faz a ponte entre a escassez de recursos e a escolha. O recurso escasso, neste caso, é o dinheiro, pois o consumidor tem um orçamento limitado. Vejamos o exemplo a seguir.</p><p>Gabriel está fazendo uma dieta especial para treinos, alimentando-se exclusivamente de frango e batata-doce. Ele recebe em salário, semanalmente, 30 reais. Dado o seu apetite, a satisfação dele aumenta ao consumir mais de cada bem; por conta disso, ele gasta toda sua renda nas duas iguarias. O quilo da batata custa R$3 e o do frango, R$6. Quais são as possibilidades de escolha para Gabriel? Qualquer que seja a cesta de consumo escolhida por ele, sabemos que seu custo não pode ser maior que o seu salário, ou seja, o montante total de dinheiro que ele possui para gastar.</p><p>Assim: (1) Gasto em batatas + gasto em frango ≤ renda total</p><p>Como Gabriel, os consumidores têm uma renda finita que restringe suas possibilidades de consumo. Demonstrando que o consumidor deve escolher uma cesta de consumo menor ou igual à sua renda total, a condição (1) é chamada de restrição orçamentária. Isso significa que ele não pode gastar mais do que o total de recursos (renda) de que dispõe. Desse modo, as cestas de consumo só são factíveis — isto é, financeiramente viáveis — quando obedecem à restrição orçamentária.</p><p>O conjunto de cestas de consumo factíveis de um consumidor recebe o nome de conjunto de possibilidades de consumo. As pertencentes a esse conjunto dependem tanto da renda do consumidor quanto dos preços de bens e serviços.</p><p>A seguir, é possível ver as possibilidades de consumo de Gabriel. O montante de batatas no seu pacote está representado no eixo horizontal; o de frango, no vertical.</p><p>Conectando os pontos de A a F, a linha inclinada para baixo divide os pacotes de consumo entre quais se pode comprar e aqueles em que não é possível. Os pacotes factíveis ficam abaixo dessa linha (cuja divisória também deve ser incluída na lista), enquanto os de cima pertecem ao grupo dos que não são.</p><p>No ponto D, há 6kg de batatas e 2kg de frango. Multiplicando-os pelos preços, temos 6 × R$3 + 2 × R$6 = R$30. Logo, a cesta D satisfaz a restrição orçamentária, custando exatamente a renda de Gabriel.</p><p>Verifique que os demais pontos sobre a linha negativamente inclinada são as cestas nas quais Gabriel gastaria exatamente o total de sua renda. Mostrando todas as cestas de consumo disponíveis quando ele gasta inteiramente sua renda, tal linha recebe o nome de reta orçamentária.</p><p>Como vimos acima, Gabriel precisa escolher um número de batatas (o que vamos denominar Xb ) e outro de frango (Xf), multiplicando-os por seus preços respectivos: Pb e Pf. A soma das duas multiplicações deve ser menor ou igual ao total de sua renda m.</p><p>(2) XbXPb+XfXPf≤m</p><p>Quando Gabriel consome uma cesta sobre a sua reta orçamentária, isto é, gasta todo o seu salário, seu gasto com batata-doce e frango é exatamente igual à sua renda. Assim:</p><p>(3) XbXPb+XfXPf=m</p><p>Podemos utilizar as equações (2) e (3) para fazer manipulações algébricas e calcular as cestas possíveis para Gabriel de forma mais fácil. Supondo que ele queira gastar toda a sua renda e substituindo m = R$30, podemos testar as diferentes combinações de cesta consumidas por ele.</p><p>Vejamos agora um caso extremo: Gabriel consome apenas frango (isto é, Xb=0 ): substituindo os valores na equação (3), temos 0×3 +Xf×6=30. Assim, o máximo de frango Xf que pode ser consumido é igual a 5Kg, pois 30÷6=5. Desse modo, o intercepto do eixo vertical da reta orçamentária fica no ponto A quando toda a renda dele é consumida nessa iguaria. Fazendo o exercício análogo para o ponto F, no</p><p>qual sua renda agora é dedicada inteiramente à batata-doce, ficamos com uma cesta de 10Kg dela.</p><p>Dica: Podemos repetir este exercício para todos os pontos da reta orçamentária.</p><p>Os demais pontos sobre a linha orçamentária podem ser analisados à luz da relação de perdas e ganhos com a qual Gabriel se depara ao gastar todo o seu salário. Essa relação é tipicamente chamada pelo seu nome em inglês: trade-off.</p><p>Vejamos outro exemplo!</p><p>Gabriel quer sair do ponto A e consumir 2kg de batata-doce ao mesmo tempo em que deseja comer a maior quantia possível de frango. Para ingerir 2kg de batatas, ele precisa renunciar ao equivalente de R$6 em frango, medida que corresponde exatamente ao valor do quilo dessa iguaria. Ou seja, para consumir 2kg de batata, Gabriel precisa renunciar a 1kg de frango, o que o coloca na posição da cesta B de sua reta orçamentária, ficando com 4kg de frango e 2kg de batata-doce.</p><p>Se repetirmos este exercício para os pontos C, D, E e F, isto é, deslizando sobre a sua reta orçamentária, veremos que Gabriel está sempre trocando mais batata por menos frango e vice-versa.</p><p>A mudança de cestas de consumo sobre essa reta (tanto para cima quanto para baixo) expressa o custo de oportunidade de um bem em termos do outro.</p><p>A inclinação da reta orçamentária informa, para um indivíduo, o custo de oportunidade ao consumir uma unidade a mais de um bem de acordo com a quantidade a ser renunciada de outro bem pertencente à cesta de consumo dele.</p><p>A inclinação da reta orçamentária de Gabriel é −1/2. Trata-se da variação no eixo vertical (a mudança na quantidade de frango denotada por ΔXf ) dividida pela variação no horizontal (modificação na quantidade de batata denotada por ΔXb). Ou seja, a razão (Δ Xf  /ΔXb) é igual 1/2 (meio), o que significa o seguinte: 0,5kg de frango tem de ser sacrificado para ele conseguir 1Kg a mais de batata.</p><p>O número de quilos de frango ao qual é preciso renunciar para obter 1kg a mais de batata é chamado pelos economistas de preço relativo da batata em termos do frango.</p><p>wb_incandescent</p><p>Dica</p><p>É possível calcular o mesmo tipo de preço do frango em termos da batata. Basta fazer a conta inversa: para obter 1kg a mais de frango, é preciso renunciar a 2kg de batata. Sendo assim, 2 é o preço relativo do frango em termos da batata.</p><p>Desse modo, a inclinação da reta orçamentária não depende da renda do indivíduo, e sim dos preços de cada bem. Perceba que -1/2 = -R$3/R$6 = -pb/pf. No entanto, isso não é verdade para a posição da reta orçamentária: o quanto essa reta está afastada da origem depende da renda do consumidor.</p><p>Exemplo: se a renda de Gabriel aumentasse para R$42 por semana, então ele poderia comprar um montante maior dessas duas iguarias, totalizando um máximo de 7kg de frango, ou 14kg de batata, ou qualquer outra cesta de consumo intermediária. Como indica esta figura, a reta orçamentária se desloca para direita ou para fora.</p><p>Se, por outro lado, seu salário diminuísse para R$18 por semana, a reta dele se deslocaria para a esquerda (ou para dentro); neste caso, o máximo que Gabriel poderia adquirir agora seria o seguinte: 3kg de frango, ou 6kg de batata-doce, ou novamente uma cesta intermediária. Nos dois casos, a inclinação da reta orçamentária dele é a mesma da sua situação inicial, pois os preços relativos dos bens não mudaram.</p><p>Escolha ótima de consumo</p><p>Vamos supor agora que a renda de Gabriel não mude, mantendo o orçamento inicial de R$30 por semana. Sabemos que, para aumentar sua saciedade, ele prefere consumir maiores montantes dos dois bens já citados. Como podemos identificar qual cesta Gabriel vai escolher? Em outras palavras, qual escolha traz mais utilidade para ele?</p><p>Relembrando: Os consumidores querem escolher cestas de consumo que maximizem a sua utilidade total dada uma determinada restrição orçamentária.</p><p>Este tipo recebe o nome de cesta de consumo ótima. Para descobrirmos a cesta que satisfaz essa condição para Gabriel, precisamos analisar, entre as cestas de consumo factíveis, qual delas conta com a combinação de bens (frango e batata-doce) que lhe rende mais utilidade.</p><p>A tabela a seguir aponta o grau de utilidade que os diferentes consumos de frango e batata-doce geram para ele. De acordo com ela, quanto mais Gabriel consumir de cada um dos bens, maior será a sua utilidade. Para maximizar sua utilidade, ele deve escolher a combinação dos dois bens que gera maior utilidade total, isto é, a soma das utilidades geradas pelo consumo de cada bem. Contudo, Gabriel tem uma restrição orçamentária e deve enfrentar um trade-off entre frango e batata: para obter mais de um, ele deve consumir menos de outro.</p><p>A cesta de consumo ótima de Gabriel recai sobre a sua reta orçamentária, pois ela tem as combinações máximas de consumo dos dois bens, gastando, assim, toda a renda dele.</p><p>Já a próxima tabela indica as cestas sobre a reta orçamentária de Gabriel conforme ele desliza para baixo nessa reta. Suas colunas apontam as combinações de quantidade de cada bem em cada cesta e as respectivas utilidades, além da utilidade total de cada cesta na última coluna:</p><p>Conforme observamos na tabela, a cesta de consumo que maximiza a utilidade total dele é a D, com 2kg de frango e 6kg de batata-doce. Com ela, Gabriel obtém a utilidade total de 87 utils, índice maior que o de qualquer outra cesta.</p><p>Perceba que, nas combinações das cestas à esquerda de D, ou seja, com menos batata-doce e mais frango, a utilidade cresce à medida que Gabriel prescinde de frango por mais batata. A partir da cesta D, no entanto, a utilidade total começa a cair. Assim, podemos dizer que a cesta de consumo D é a que melhor resolve o trade-off entre o consumo de frango e o de batata. O pacote D é, portanto, a cesta ótima dele, maximizando sua utilidade total.</p><p>Este gráfico ilustra a relação entre as cestas da reta orçamentária de Gabriel e a sua utilidade total:</p><p>Análise marginal</p><p>No exemplo anterior, descobrimos o topo da curva de utilidade total de Gabriel usando a observação direta. No entanto, a construção dessa curva pode ser muito trabalhosa. Em geral, a análise marginal é uma ferramenta mais rápida e eficiente para resolver o problema da escolha ótima. Sabemos que Gabriel toma uma decisão sobre o montante de batata a ser consumido levando em conta o seguinte:</p><p>Aplicando a análise marginal, podemos verificar que sua decisão passa a ser em torno do gasto de um real marginal, ou seja, a maneira de alocar uma unidade adicional de moeda entre as duas iguarias. Para isso, primeiramente devemos nos perguntar:</p><p>Quanto de utilidade adicional ele irá ganhar ao gastar um real a mais em frango ou batata? Ou melhor, quanto de utilidade marginal por real a mais isso rende?</p><p>Esta tabela indica o cálculo da utilidade marginal (Umg) por real gasto em frango ou batata:</p><p>A tabela está dividida em dois painéis, um para cada bem. Observemos as colunas de cada painel:</p><p>O valor de Umg é obtido dividindo a utilidade marginal pelo preço de cada unidade de bem: R$6 por quilo de frango e R$3 pelo de batata. Como podemos observar, assim como a utilidade marginal de ambos diminui à medida que ele aumenta o montante consumido de cada bem, a utilidade marginal por real também decresce.</p><p>Isso significa que, em virtude da utilidade marginal decrescente de Gabriel, cada real a mais gasto lhe rende menos utilidade extra que o anterior.</p><p>Denotando respectivamente por UmgF e UmgB a utilidade marginal por quilo de batata-doce e de frango, a utilidade marginal por real de cada bem é igual a:</p><p>Veja abaixo as curvas de utilidade marginal por real gasto em cada bem:</p><p>Já observamos em outra tabela que D (a cesta ótima de consumo de Gabriel) é composta por 2Kg de frango e 6Kg de batata, correspondendo aos pontos Df  e Db em cada painel. Repare que, neste ponto, a utilidade marginal por real gasto para cada bem é igual:</p><p>Isso não é apenas uma coincidência. Analisemos outra cesta de consumo factível para Gabriel.</p><p>Na cesta C, a utilidade marginal de cada bem por real está representada na figura pelos pontos Cf e Cb. Além disso, a Umg de Gabriel por</p><p>real gasto em frango é 0.8; já em batata-doce, ela é 2.7. Esse dado revela que ele está consumindo muito frango e pouca batata.</p><p>- Mas por que isso acontece?</p><p>Se a Umg por real gasto em batata é maior que a de frango, é um indício de que ele pode melhorar sua situação respeitando o próprio orçamento. Basta gastar 1 real a menos em frango e 1 a mais em batata, adicionando 2.7 utils com esta em sua utilidade total e perdendo 0.8 utils com aquele. Ao todo, Gabriel terá ganhado 1.9 em utilidade fazendo essa “troca”. Ele procederá dessa maneira até que a utilidade marginal dos dois bens se iguale. Neste ponto, não será mais vantajoso trocar um real a mais de um bem pelo outro. Assim, quando Gabriel escolher seu pacote de consumo ótimo, sua utilidade marginal por real gasto em frango e batata será igual.</p><p>Essa regra constitui um princípio básico da teoria da escolha do consumidor conhecido como regra de consumo ótimo. Quando um consumidor maximiza a sua utilidade total segundo a restrição orçamentária dele, a utilidade marginal por unidade de moeda gasta em cada bem ou serviço que faz parte da sua cesta de consumo é igual.</p><p>De forma matemática, para qualquer um dos bens b e f, a regra do consumo ótimo frisa que, na cesta ótima de consumo, ocorre o seguinte cálculo:</p><p>Embora seja mais fácil compreender essa regra quando a cesta de consumo tem apenas dois bens, ela poderá ser aplicada para qualquer quantidade de bens e serviços que o consumidor comprar. Na cesta ótima de consumo, as utilidades marginais por real gasto em cada um dos bens são iguais.</p><p>Módulo 2: Curvas da Indiferença</p><p>Função de utilidade total</p><p>No módulo anterior, introduzimos o conceito de função utilidade, que é responsável pela determinação da utilidade total do consumidor dada a sua cesta de consumo. Vimos ainda como a utilidade total de Júlia variava quando mudávamos o número de salgadinhos consumido, ou seja, a quantidade consumida de um bem. Entretanto, quando estudamos o problema de escolha de Gabriel, vimos que a opção pela cesta de consumo ótimo envolvia o seguinte dilema: como alocar o último real gasto entre dois bens (frango e batata-doce)? Surge ainda outra pergunta.</p><p>Atividade discursiva</p><p>Como é possível expressar a função de utilidade total em termos de dois bens?</p><p>Basta usar o mapa da função utilidade.</p><p>Vejamos agora o caso de Ana, que consome apenas cerveja e drinks (coquetéis) quando vai ao bar. Como seria a função utilidade dela para esses dois bens? Uma possibilidade (complicada!) é fazer um gráfico similar ao de Júlia acrescido de um terceiro eixo para o segundo bem.</p><p>O gráfico (a), portanto, ilustra um morro de utilidade tridimensional:</p><p>Observemos as correspondências dos eixos:</p><p>Horizontal - Quantos drinks foram consumidos.</p><p>Vertical - Número de latinhas de cerveja que ela consome.</p><p>Já a altura do morro, indicada por uma linha de contorno constante por ponto, mede a quantidade de utilidade gerada por combinações de consumo ao longo de cada linha de contorno. Todos os pontos ao longo de uma linha do tipo geram o mesmo retorno em utilidade para Ana.</p><p>Com 4 latinhas de cerveja e 2 drinks, o ponto A gera 20 utils para Ana, enquanto B, com 1 latinha e 6 drinks, consegue a mesma quantia. No entanto, não existe apenas uma forma de representar a relação entre utilidade total e consumo de dois bens. Como na geografia com mapas topográficos, é possível fazer a representação da superfície tridimensional em curvas de nível em apenas duas dimensões.</p><p>Trata-se do gráfico (b) acima. Nele, as linhas de contorno que mapeiam as cestas de consumo do gráfico (a) estão representadas como curvas achatadas num plano cartesiano. Os economistas definem como curvas de indiferença as que geram a mesma quantidade de utilidade total para diferentes combinações de bens.</p><p>Um indivíduo é indiferente em relação a duas cestas que estão sobre a mesma curva de indiferença, já que elas lhe rendem a mesma utilidade.</p><p>Dadas as preferências de um consumidor, existe uma curva de indiferença para cada nível de utilidade total. A curva de indiferença I2 destacada no gráfico (b) mostra as cestas que geram 20 utils; as outras duas curvas (I1 e I3), respectivamente, 10 e 40 utils. Existem ainda outras infinitas curvas de indiferenças de Ana que não estão representadas nos gráficos.</p><p>Observe com atenção o gráfico (b) e verifique por que o consumidor é indiferente entre as cestas de consumo A e B: elas estão na mesma curva de indiferença, gerando, portanto, o mesmo nível de utilidade!</p><p>Observaremos agora as propriedades dessas curvas. Embora diferentes indivíduos tenham preferências únicas e nunca apresentem o mesmo conjunto de curvas de indiferença, os economistas acreditam que elas apresentem algumas propriedades gerais. Essas curvas estão ilustradas a seguir:</p><p>Vamos, agora, analisar as curvas.</p><p>A - Curvas de indiferença nunca se cruzam</p><p>Se duas curvas de indiferença com diferentes níveis de utilidade se cruzassem, qual seria o nível de utilidade da cesta de consumo em que elas se cruzam? Seria diferente pelas curvas serem díspares? Ou seria igual por uma cesta de consumo ter um só nível de utilidade total? Essa inconsistência indica que curvas de indiferença diferentes não podem de cruzar.</p><p>cruzar.</p><p>B - Quanto mais distante da origem, maior a utilidade total da curva</p><p>Partimos do princípio de que mais é melhor; assim, quanto maior a quantidade dos dois bens, mais para “fora" está situada a curva de indiferença.</p><p>C - Curvas de indiferença são naturalmente inclinadas</p><p>Novamente, a razão para isso é a hipótese de que mais é melhor. O diagrama no painel (c) anterior ilustra o que aconteceria se uma curva de indiferença tivesse inclinação para cima: à medida que aumentássemos as quantidades dos dois bens, permaneceríamos nessa mesma curva. Isso é incompatível com nosso pressuposto de que mais é melhor.</p><p>D - Curvas de indiferença são convexas</p><p>Geometricamente, isso significa que um segmento de reta ligando dois pontos da curva de indiferença fica inteiramente em uma região de utilidade maior. O diagrama (d) atesta que a inclinação dela diminui à medida que deslizamos para baixo e para a direita. Desse modo, o arco da curva vai em direção à origem; além disso, a inclinação dela é maior em cima do que embaixo. Esse atributo se deve ao princípio da utilidade marginal decrescente: na prática, indivíduos preferem médias (cestas com um pouco dos dois bens) a extremos.</p><p>Desse modo, o arco da curva vai em direção à origem; além disso, a inclinação dela é maior em cima do que embaixo. Esse atributo se deve ao princípio da utilidade marginal decrescente: na prática, indivíduos preferem médias (cestas com um pouco dos dois bens) a extremos.</p><p>Taxa marginal de substituição</p><p>Como vimos, as curvas de indiferença são inclinadas para baixo. Também observamos que sua inclinação diminui à medida que deslizamos para baixo delas. A inclinação da curva de indiferença em cada ponto está diretamente relacionada aos termos do trade-off enfrentado por um consumidor.</p><p>Esta figura representa uma curva de indiferença de Ana:</p><p>Na curva I1, se Ana se move da cesta A para a B, ela precisa renunciar a 2 unidades de cerveja por 1 drink adicional para manter a utilidade total. Porém, estando mais à direita da curva (no ponto C), se renunciar a apenas 1 cerveja, ela terá de tomar mais 4 drinks para manter a utilidade total.</p><p>Isso ilustra que, quando se move para baixo e para a direita da curva de indiferença, ocorre o seguinte:</p><p>· Ana troca mais de um bem por menos de outro.</p><p>· Os termos desse trade-off, ou seja, a razão entre drinks adicionais consumidos e cervejas renunciadas, são escolhidos para manter a sua utilidade total constante.</p><p>Reformulando os trade-offs examinados acima em termos de inclinação, podemos calcular a inclinação em diferentes pontos da mesma curva de indiferença. A inclinação da curva de indiferença entre A e B da figura que acabamos de ver é -2 e a inclinação dessa curva entre os pontos C e D é -1/4. A inclinação da curva de indiferença, portanto, diminui à medida que deslizamos para a direita e que a curva</p><p>vai se tornando mais achatada.</p><p>Mas por que os trade-offs mudam ao longo da curva de indiferença?</p><p>Isso se deve ao ponto inicial de Ana e ao princípio da utilidade marginal decrescente. Analisando o caso intuitivamente, no ponto A ela tem muita cerveja e poucos drinks. Quanto à sua utilidade marginal, verifica-se que:</p><p>- A utilidade das últimas unidades de cerveja é relativamente pequena se comparada às primeiras unidades dela.</p><p>- A utilidade de uma unidade adicional de drinks é relativamente alta, já que Ana só consome uma unidade deles na cesta A, ou seja, ainda está nas unidades iniciais de consumo de drinks.</p><p>check_circle</p><p>- Ao deslizar para a direita da curva, Ana está perdendo em consumo de cerveja e ganhando no de drinks – e esses dois efeitos precisam se anular entre si.</p><p>Reformulando esse raciocínio, temos que, ao longo da curva de indiferença: Mudança na utilidade total por causa de menos consumo de cerveja + Mudança na utilidade total por mais consumo de drinks = Zero (nível de utilidade estável).</p><p>À medida que Ana se move para a direita da curva de indiferença, assim como o faz sua posição inicial, o trade-off dos dois bens vai mudar, uma vez que a utilidade marginal do consumo de um bem adicional também é modificada. No exemplo da mudança do ponto C para o D, a situação inicial de Ana é inversa à da mudança de A para B: ela já consome alguns drinks e pouca cerveja. Desse modo, a utilidade marginal que ela perde renunciando uma unidade de cerveja é relativamente alta, enquanto a de consumir um drink a mais é relativamente baixa, já que Ana:</p><p>Ex: Está numa posição c/ pouca cerveja e muitos drinks X Quer mudar para ainda menos cerveja e mais drinks</p><p>Utilizando as notações UmgC e UmgD para denotar respectivamente as utilidades marginais de cerveja e drinks e representar as mudanças no consumo de ambos, podemos formalizar esse mecanismo com o emprego de equações. De forma geral, a mudança na utilidade total gerada pela variação no consumo de um bem é igual a essa variação multiplicada pela utilidade marginal dele. Assim:</p><p>· Mudança na utilidade total devido à variação no consumo de cervejas =</p><p>· Mudança na utilidade total devido à variação no consumo de drinks =</p><p>Reescrevendo a equação nos novos termos, fica expresso o seguinte:</p><p>Rearranjando-a, ela agora fica assim:</p><p>Perceba o sinal de negativo do lado esquerdo da última equação: ele representa a perda de utilidade total por conta da redução do consumo de latinhas de cerveja, o qual, por sua vez, deve ser igual ao ganho de utilidade total proveniente do aumento do número de drinks no lado direito da equação.</p><p>Devemos entender a relação dessas mudanças com a inclinação da curva de indiferença. Dividindo os dois lados da equação 2 por ΔQd e por Umgc, encontramos isto:</p><p>Nesta equação, temos:</p><p>Lado esquerdo: Menos a inclinação da curva de indiferença é a taxa pela qual Ana está disposta a trocar uma quantidade de cerveja por outra de drinks.</p><p>X</p><p>Lado direito: Razão entre a utilidade marginal de drinks e a de cerveja — ou seja, a razão entre o que Ana ganha a mais de utilidade com aqueles e com esta.</p><p>A razão entre as utilidades marginais do lado direito da equação acima é conhecida como taxa marginal de substituição (TMS). Substituição, no caso específico, refere-se aos drinks no lugar das cervejas. Juntando tudo isso, vemos que a inclinação da curva de indiferença de Ana é exatamente igual à razão entre a utilidade marginal de um drink e a de uma cerveja — ou à sua TMS.</p><p>Relembrando: A inclinação das curvas de indiferença diminui quando que nos movemos para baixo e para a direita, tornando-se mais achatadas. Logo, se o lado esquerdo da equação está diminuindo, essa diminuição deve acontecer no direito para satisfazer a igualdade. Quando deslizamos para a direita, o que acontece na prática é o seguinte: a razão entre a UmgD e a UmgC diminui. Verificamos isso na análise intuitiva da utilidade marginal decrescente dos bens.</p><p>O achatamento das curvas de indiferança a refletir a lógica da utilidade marginal decrescente é denominado taxa marginal de substiuição decrescente. Em termos gerais, ela informa que um indivíduo que consome poucas unidades do bem C e muitas de D está disposto a trocar uma quantidade grande do bem D por uma unidade a mais do C — e vice versa.</p><p>A condição de tangência</p><p>De que forma os conceitos de curva de indiferença e TMS se relacionam com o que vimos de restrição orçamentária e cesta ótima no módulo 1? Para ilustrarmos essa relação, indicamos a figura a seguir. Seu diagrama contém algumas curvas de indiferença de Ana e sua restrição orçamentária:</p><p>Atividade discursiva</p><p>Ana só pode gastar R$40 quando sai. O preço da latinha de cerveja é de R$5 e o de um drink, R$8.</p><p>Qual é a cesta ótima de consumo dela?</p><p>Para responder a essa pergunta, devemos analisar as curvas de indiferença representadas por I1, I2 e I3 no diagrama.</p><p>A representada por I3 é a utilidade máxima que Ana gostaria de ter. No entanto, não é possível alcançá-la, uma vez que todas as cestas de consumo dessa curva de indiferença estão acima de sua reta orçamentária. Ela está limitada por sua renda.</p><p>Ana tampouco deveria escolher as cestas da curva de indiferença I1, pois, embora as cestas entre os pontos B e C ao longo dessa curva sejam factíveis, há outras cestas de consumo que lhe geram mais utilidade e que cabem na sua renda.</p><p>Veja o caso da cesta A: assim como B e C, ela está sobre a sua reta orçamentária, porém gera mais utilidade que ambas por estar na curva de indiferença I2, ou seja, mais afastada da origem que a curva I1.</p><p>De fato, a cesta de consumo A é a escolha ótima de Ana, com 3 latinhas de cerveja e 3 drinks. Ela está na curva de indiferença mais afastada que Ana pode alcançar dada a sua renda.</p><p>Na cesta ótima, a reta orçamentária apenas toca a curva de indiferença mais afastada, sendo tangente em relação a ela. Essa é a chamada condição de tangência, sendo aplicada quando as curvas de indiferença são convexas.</p><p>Preços e taxa marginal de substituição</p><p>No ponto de tangência entre a curva de indiferença e a reta orçamentária, ou seja, a cesta ótima, a curva de indiferença tem a mesma inclinação da reta orçamentária.</p><p>Retomando a equação representada acima, temos que:</p><p>Inclinação da curva de indiferança = -UmgD/UmgC</p><p>Na cesta ótima, podemos substituir a inclinação dessa curva pela da reta orçamentária, pois já vimos que ambas são iguais nesse ponto. Assim:</p><p>Inclinação da reta orçamentária = -UmgD/UmgC</p><p>Relembrando: O que é a inclinação da reta orçamentária? Como vimos no módulo anterior, essa inclinação é exatamente a razão de preços — pd/pc.</p><p>Juntando as duas equações, chegamos à regra do preço relativo:</p><p>Lembrando que a razão entre as utilidades marginais dos bens é chamada de TMS, obtemos uma regra geral para a cesta ótima de consumo: a taxa marginal de substituição é igual à razão entre os preços dos dois bens.</p><p>Efeitos de uma variação no preço e na renda</p><p>O que vai acontecer se o preço de um dos bens mudar? Suponha que, por alguma razão, o bar que Ana frequenta resolva aumentar os preços dos drinks. Agora, em vez de R$8, eles custam R$20. Como essa mudança vai afetar a escolha de consumo dela?</p><p>Com o aumento dos preços dos drinks, ela vai consumir menos unidades do que antes, mas, como o preço da cerveja se manteve, Ana ainda pode consumir a mesma quantidade máxima dessa bebida. O painel (a) desta figura destaca a nova reta orçamentária de Ana (RO2) e a inicial (RO1):</p><p>A inclinação da reta orçamentária de Ana mudou. Isso ocorre porque o preço relativo dos drinks em termos de cervejas subiu, isto é, a razão pd/pc aumentou em seu valor absoluto.</p><p>A RO de Ana agora intercepta o eixo horizontal em 2, que é o número máximo de drinks que ela pode consumir. Sua cesta ótima de consumo inicial consistia em 3 cervejas e 3 drinks, o que agora deixou de ser factível, já que está acima de sua reta orçamentária.</p><p>Para lidar com a nova situação, ela terá de escolher uma nova cesta de consumo ótima ao eleger um ponto na RO2 que toque a curva de indeferença mais afastada possível. É o que mostra</p><p>o painel (b) da figura: sua nova cesta ótima será de B, com 4 cervejas e 1 drink.</p><p>Resta uma dúvida: se o preço dos drinks permanecer constante, mudando, em vez disso, a renda direta de Ana, o que acontecerá?</p><p>Suponhamos que ela recebeu um aumento de salário, podendo agora gastar R$80 no bar. A inclinação de sua reta orçamentária não muda, pois os preços dos bens permaneceram iguais. No entanto, Ana agora terá mais dinheiro para gastar tanto em cerveja como em drinks.</p><p>Os dois interceptos de sua reta orçamentária mudam, pois ela tem mais poder aquisitivo. Assim, sua reta orçamentária inteira se desloca para fora, se afastando da origem. Ana pode escolher outra cesta de consumo, ou seja, uma que toque sua nova reta orçamentária RO2. Isso consequentemente aumentará o seu consumo.</p><p>Ela, portanto, consome mais os dois bens quando sua renda aumenta: o consumo de drinks sobe de 3 (cesta A) para 6 (B); o de cerveja, de 3 para 6 latinhas. Isso é possível porque, em sua função utilidade, ambos constituem bens normais, isto é, aqueles cuja demanda varia positivamente de acordo com a variação na renda.</p><p>Substitutos e complementos perfeitos</p><p>Algumas vezes, a preferência pela combinação de dois bens pode ter algum tipo de relação.</p><p>Exemplo: Se Pedro toma exclusivamente café com açúcar e, a cada xícara da bebida, coloca duas colheres de açúcar, existe uma relação complementar entre os dois bens. Por outro lado, se gosta tanto de mate quanto de guaraná, ele pode substituir um pelo outro. Isso resulta em formatos diferentes da curva de indiferença.</p><p>No primeiro caso, quando um consumidor quer consumir dois bens na mesma proporção, eles são chamados de complementos perfeitos. Como dissemos, Pedro só gosta de tomar uma xícara de café acompanhada de duas colheres de açúcar. Uma xícara extra sem açúcar não lhe oferece utilidade adicional, tampouco uma colher extra sem café. O gráfico (a) desta figura indica as curvas de indiferença de Pedro para xícaras de café e colheres de açúcar:</p><p>Essas curvas formam ângulos retos, pois uma unidade adicional de cada bem fora da proporção 1:2 não lhe dá mais utilidade, o que significa que ele permanece na mesma curva de indiferença. Somente um aumento dos dois bens na proporção de sua preferência faria Pedro dar “um salto” nas suas curvas de indiferença. O diagrama (a) ainda evidencia:</p><p>· Reta orçamentária de Pedro (em cinza);</p><p>· Cesta A tangenciando a reta (sua cesta de consumo ótimo).</p><p>Note que a inclinação da reta orçamentária aqui não afeta seu consumo relativo de café e açúcar. Ele consome ambos sempre na mesma proporção independentemente de seu preço. Repare ainda que, no ponto A, as curvas de indiferença sofrem uma mudança abrupta de inclinação: da esquerda para a direita, a curva deixa de ser vertical, passando a ser horizontal.</p><p>O que acontece com a taxa marginal de substituição?</p><p>No caso de complementos perfeitos, essa taxa é indefinida, pois o consumidor não está disposto a fazer qualquer substituição entre os dois bens.</p><p>Já o diagrama (b) da figura acima aponta as curvas de indiferença de Pedro para o segundo caso: gostar tanto de mate quanto de guaraná, ou seja, os dois bens lhe conferem a mesma utilidade. Como está sempre disposto a substituir a mesma quantidade de um item pela de outro, suas curvas de indiferença são linhas retas e sua taxa marginal de substituição, constante (afinal, a TMS é a inclinação da CI, que é uma reta. Logo, trata-se de uma constante).</p><p>O painel (b) também destaca a reta orçamentária de Pedro: quando ela tem inclinação diferente das curvas de indiferença, como é o caso, essa curva vai encostar na reta em um dos eixos. Desse modo, ele consumirá apenas o bem:</p><p>· Mais barato;</p><p>· O que ele puder comprar a maior quantidade possível, como o mate (indicado pela cesta b).</p><p>Composta apenas por um dos bens, esse tipo de cesta ótima é chamada pelos economistas de solução de canto. O que aconteceria se a inclinação da reta orçamentária de Pedro fosse igual à da própria reta? Uma de suas curvas de indiferença a tocaria em todos os seus pontos, de modo que qualquer cesta sobre a reta de Pedro seria uma cesta ótima.</p><p>Módulo 3: Tipos de custo</p><p>Custos e insumos</p><p>Já verificamos como o consumidor racional toma decisões de consumo. Agora veremos como a firma realiza as suas decisões de produção. Primeiramente, precisamos definir o que é firma.</p><p>É a organização que produz bens e serviços com o objetivo de vendê-los. Para produzi-los, ela precisa de insumos que envolvem custos.</p><p>Já a função de produção da firma é a relação entre a quantidade de produto feita por ela e seu montante de insumos. Um exemplo de insumo é o número de trabalhadores da firma. O custo seria o salário deles.</p><p>Para uma compreensão melhor desses conceitos, tomaremos a fábrica de Vitória como exemplo. Por questão de simplicidade, vamos supor que ela:</p><p>· Produz apenas um produto: automóveis.</p><p>· Usa somente dois insumos: capital (máquinas) e trabalho.</p><p>· Possui apenas um tipo de máquina.</p><p>· Conta com trabalhadores da mesma qualidade, isto é, com as mesmas capacidades para executar o seu trabalho.</p><p>Vitória paga o aluguel de 20 máquinas em sua fábrica; no momento, não tem capacidade de alugar mais máquinas nem menos, pois já assinou contrato com o locatário delas. Isso é conhecido como insumo fixo, pois sua quantidade é fixa e não pode variar — ao menos, não no curto prazo.</p><p>No entanto, ela pode escolher quantos trabalhadores irá contratar. Esse outro tipo de insumo é denominado insumo variável; com ele, uma firma pode variar a sua quantidade a qualquer momento. A rigidez do montante dos insumos — isto é, se eles são fixos ou variáveis — depende, na verdade, do horizonte de tempo: no longo prazo, passado um tempo suficientemente grande, as firmas podem ajustar a quantidade de qualquer insumo.</p><p>Exemplo: Após alguns anos ou o tempo do contrato de aluguel de Vitória, ela poderia negociar outro contrato com o locatário de máquinas e ajustar sua quantidade de capital fixo.</p><p>Desse modo, não existem insumos fixos no longo, mas apenas no curto prazo. O número de carros produzido por ela depende de quantos trabalhadores foram contratados. Cada um — mesmo sem ser muito eficiente — pode operar as 20 máquinas adquiridas por Vitória.</p><p>1 - Quando um trabalhador adicional é contratado, as máquinas são divididas igualmente entre os funcionários.</p><p>2 - Quando há dois trabalhadores, cada um opera dez máquinas.</p><p>3 - Se forem três, cada um mexe em 6 e se reveza nas 2 restantes.</p><p>E assim por diante. Se Vitória empregar um número maior de trabalhadores, as máquinas serão operadas de forma mais intensiva; assim, mais carros estarão sendo produzidos. A função de produção da firma é a relação entre a quantidade de trabalho e a de produto (carros) para um dado montante de insumo fixo (máquinas). A figura a seguir informa a função de produção da fábrica de Vitória em dois formatos (gráfico e tabela):</p><p>Denominada curva de produto total da fábrica, essa função de produção revela como uma quantidade de produto depende do montante de insumo variável para uma dada quantidade de insumo fixo. O eixo vertical exibe o número de carros produzidos (Y); o eixo horizontal, por sua vez, o montante de insumo variável, ou seja, o número de trabalhadores empregados (L).</p><p>A curva de produto total está positivamente inclinada, mas sua inclinação não é constante: à medida que se acrescentam trabalhadores empregados, o número de carros produzido aumenta, mas esse acréscimo na produção é cada vez menor. Ou seja: ao deslizarmos para a direita da curva, ela se tornará mais achatada.</p><p>Para entendermos essa mudança na inclinação, observemos a tabela da figura acima: ela mostra o produto marginal do trabalho (PMgL), isto é, a variação na quantidade de produto ao se acrescentar uma unidade de trabalho. Já possuímos as informações sobre a quantidade dele para todas as unidades de trabalho, isto é, para 1, 2, 3 trabalhadores — e assim por diante.</p><p>Dica: Nem sempre é necessário haver uma informação individualizada dessa maneira: muitas vezes, a quantidade de produto para a variação do trabalho</p><p>é conhecida em dezenas (para empresas com 10 ou 20 trabalhadores, por exemplo) ou outros intervalos possíveis.</p><p>Para calcularmos o PMgL nesses casos, podemos usar a seguinte equação:</p><p>Ou, mais formalmente, esta:</p><p>A inclinação na curva de produto total é igual ao produto marginal do trabalho. Podemos observar que ele diminui quando mais trabalhadores são empregados; portanto, a curva se achata à medida que outros mais são contratados.</p><p>A razão para isso é simples: em geral, ocorrem retornos decrescentes de um insumo quando se registra um aumento em sua quantidade. Mantido constante o montante dos demais insumos, reduz-se o produto marginal dele.</p><p>Exemplo: Pense numa sorveteria: se só houver uma máquina de sorvete e um trabalhador operando, pode-se aumentar bastante a produção ao contratar um empregado extra para eles se revezarem entre duas atividades: fazer sorvete e atender os clientes. Mas não se ganha muito em produção contratando 10 empregados com apenas uma máquina: não é possível que todos eles a operem ao mesmo tempo.</p><p>O mesmo ocorre com a fábrica de Vitória. Cada trabalhador adicional passa a dividir com mais trabalhadores o insumo fixo de 20 máquinas. Isso faz com que ele não consiga produzir tanto quanto o anterior; portanto, o produto marginal por trabalhador diminui.</p><p>Atenção!</p><p>A hipótese dos retornos decrescentes só é válida caso tudo mais seja mantido de maneira</p><p>constante. Se os demais insumos pudessem mudar também, as curvas de produto total e marginal se deslocariam.</p><p>Veja as curvas de produto total (PT) e marginal por trabalhador (PMgL) na fábrica de Vitória na situação inicial (20 máquinas) e na atual (10):</p><p>Observemos os dois gráficos:</p><p>Gráfico (a): A menos que sejam empregados 0 trabalhadores, PT10, que representa a produção com 10 máquinas, está situada abaixo de PT20 (20 máquinas), pois, com menos unidades disponíveis, qualquer número de trabalhadores produz menos carros.</p><p>Gráfico (b): Mostra o exposto no gráfico anterior em termos de produto marginal. Embora as duas curvas tenham inclinação para baixo, já que o número de máquinas em cada situação é fixo, PMgL20 fica acima de PMgL10 em todos os pontos, refletindo, assim, que o PMgL é mais alto quando há mais insumo fixo.</p><p>Curvas de custo</p><p>Mostramos que Vitória pode conhecer sua função de produção verificando a relação entre insumos de trabalho e capital e produção de automóveis. Mas nada falamos sobre suas escolhas de produção. Em geral, os produtores vão escolher uma produção que maximize seus lucros. A definição formal de lucro é: Lucro = receita total - custo total</p><p>Ou, em notação, ele é expresso da seguinte forma:</p><p>A receita total (RT) é o que um produtor obtém pela produção vendida, ou seja, o preço daquele bem multiplicado pelo montante vendido dele. Se estamos falando do número de automóveis (qA) e do seu preço (pA), a receita total é dada pela igualdade:</p><p>E o custo total?</p><p>Como vimos neste módulo, insumos são custosos e apresentam dois tipos: fixos e variáveis. Cada insumo vai ter seu custo ao ser empregado na produção. O do aluguel de máquinas — insumos fixos, ou seja, que não variam — recebe o nome de custo fixo (CF).</p><p>O CF não depende do montante produzido, uma vez que o produtor já incorre nele quando toma a decisão de produzir, não podendo mudar sua quantidade — ao menos, não no curto prazo. Já o custo do insumo variável é denominado custo variável (CV).</p><p>Exemplo: Os trabalhadores da fábrica de Vitória são um exemplo de custo variável.</p><p>O CV consiste no número de trabalhadores multiplicado pelo seu salário (que é o custo por unidades de trabalho). Como a quantidade produzida depende desse número, o custo variável também depende dele. A soma dos custos fixo e variável para um determinado montante de produto configura, portanto, o custo total (CT) dela. Essa relação pode ser expressa pela equação:</p><p>Custo total = custo fixo + custo variável</p><p>ou</p><p>CT = CF + CV</p><p>A tabela a seguir indica como é calculado o custo total da fábrica de Vitória. Perceba que o CT sobe conforme o número de unidades produzida aumenta. Isso ocorre por conta do CV: quanto maior for o montante produzido, maior será o custo total da fábrica.</p><p>Custo marginal e médio</p><p>Imaginemos agora que Vitória queira fazer uma análise na margem sobre seus custos e compreender o custo de cada unidade a mais de carro em sua produção. Assim como acontece no caso do produto marginal, será mais fácil entender o custo adicional de uma unidade a mais de produto se tivermos as informações detalhadas para cada unidade dele. Infelizmente, este não é o caso: ela só dispõe desses dados em intervalos de produção. Exemplo: Zero, 13, 24 carros.</p><p>Vamos analisar então a sorveteria de Mateus. A tabela a seguir detalha, na primeira coluna, a produção dela e os seus custos. Ele possui um custo fixo: diariamente, são gastos R$125 com aluguel, máquina etc.</p><p>Mateus precisa pagar seus funcionários e os insumos para a feitura do produto, como açúcar, leite e outros ingredientes. Eles representam o seu custo variável (expresso na coluna 3) e dependem de quantos sorvete são produzidos. Já o custo total, ou seja, a soma dos custos fixo e variável, figura na coluna 4:</p><p>Já apresentamos esses conceitos neste módulo. Além dessas medidas de custo, existem ainda outras duas muito usadas pelos economistas:</p><p>· Custo marginal (CMg);</p><p>· Custo médio (CMe).</p><p>Assim como observamos no produto marginal, o custo marginal é a variação no custo total ao se acrescentar uma unidade de trabalho (por exemplo, um trabalhador a mais ou um dia a mais de trabalho). Sua forma de cálculo também é parecida com a que vimos antes:</p><p>O custo médio, por sua vez, possui um cálculo ainda mais simples: como o próprio nome diz, ele é uma média. Para calculá-lo, basta dividir o custo total pela quantidade de produto.</p><p>As colunas 5 e 6 da tabela anterior oferecem respectivamente os custos médio e marginal da sorveteria de Mateus. O marginal aumenta com o número produzido de sorvetes, enquanto o médio começa alto e diminui à medida que mais unidades são produzidas. No entanto, a partir da 5ª unidade de sorvete, ele volta a crescer. Para compreendermos o comportamento das duas curvas, devemos observar os gráficos desta figura:</p><p>Vamos, agora, analisar esses gráficos.</p><p>Gráfico (a)</p><p>Mostra a curva de CT da sorveteria de Mateus, indicando o aumento dela com o número de unidades produzida. A inclinação da curva de CT também não é constante, pois ela se torna cada vez mais inclinada à medida que se desliza para a direita. Os retornos decrescentes do insumo variável são a razão para isso.</p><p>Gráfico (b)</p><p>No segundo gráfico, vemos a curva de custo marginal (CMg) da sorveteria. Como pudemos ver anteriormente no caso da curva de produto marginal, que corresponde à inclinação da de produto total, o custo marginal é igual à inclinação da curva de CT. Como ela é positivamente inclinada, a inclinação da própria curva de custo total aumenta. Novamente, os retornos decrescentes de insumos justificam a inclinação da CMg. Como o produto marginal do insumo declina, cada vez mais insumo variável será necessário para produzir qualquer unidade adicional de produto. Como cada unidade adicional de insumo variável tem de ser paga, o custo por unidade adicional de produto também aumenta.</p><p>Gráfico (c)</p><p>Indica o custo médio. Conforme apontamos, ele não tem inclinação constante: a curva de CM tem um formato de “U”. Isso ocorre por dois efeitos acontecerem simultaneamente na curva de custo médio.</p><p>Atenção!</p><p>Lembre-se de que o produto marginal é decrescente.</p><p>Recordemos que o custo total é composto por dois tipos de custo: variável e fixo. Assim, o médio também pode ser decomposto em dois componentes:</p><p>· Custo fixo médio (CFM);</p><p>· Custo variável médio (CVM).</p><p>O cálculo de ambos é direto: divide-se cada um pela quantidade de produto produzida.</p><p>No início da produção, quando há poucas unidades, o custo total médio (CME) é alto por conta do peso grande que o componente do custo fixo tem sobre ele. Conforme se produz mais, esse componente de custo fixo vai sendo “diluído”. Em outras palavras, assim</p><p>que o denominador aumenta, o CFM diminui, de modo que a inclinação da curva também diminui, tornando-a mais achatada. Isso ocorre até ela atingir um ponto mínimo e voltar a crescer.</p><p>O crescimento do custo médio depois do ponto de mínimo ocorre por conta do outro efeito: o do custo variável. Se, por um lado, o CFM cai, o CVM sobe. Esse crescimento do custo variável se deve ao efeito dos retornos decrescentes dos insumos, fazendo com que, quanto maior for a quantidade de produto, mais insumo variável será necessário para produzir unidades adicionais, aumentando, por sua vez, o custo variável.</p><p>Veja a seguir o gráfico com essa dinâmica dos custos, ilustrando, para tal, cada uma das curvas. Como se pode observar, o CME e o CMg se cruzam no ponto mínimo de custo total médio. A partir deste ponto (destacado pela letra M na figura), o CVM ultrapassa o CFM; dessa forma, o custo variável passa a ser maior que o custo fixo. O ponto em que a curva de custo marginal intercepta a de custo médio é o ponto custo total médio mínimo. A quantidade de produto desse ponto recebe o nome de produto de custo mínimo.</p><p>Módulo 4: Lucro do produtor</p><p>Oferta e competição perfeita</p><p>No módulo anterior, estudamos as curvas de custo do produtor e enunciamos os conceitos de lucro e receita. Mas resta saber ainda como esses conceitos estão relacionados entre si e de que forma afetam as escolhas de produção e oferta das firmas. Isso depende do tipo de mercado em que uma firma se encontra. Analisaremos neste módulo a seguinte situação: competição perfeita.</p><p>Se você já foi a uma feira, deve ter notado que, em geral, existe mais de um feirante vendendo batatas ou tomates. Também já deve ter percebido que o preço desses produtos repetidos costuma ser muito parecido ou igual entre as barracas. O barulho alto característico das feiras é um sintoma da competição que os feirantes enfrentam entre si. Para vender produtos que não oferecem muitas diferenças entre uma barraca e outra, competir é inevitável. Para isso, recorre-se à voz. Mas por que eles não usam outros recursos, como alterar o preço e a quantidade ofertada, para tentar vender mais?</p><p>José e Sônia são dois feirantes que vendem batatas. Ambos comercializam o seu produto na mesma feira aos domingos. Suponha também que suas batatas sejam da mesma qualidade. Na prática, eles competem entre si ao disputarem potenciais compradores.</p><p>Será que um dos dois devia impedir o outro de vender batatas? Ou eles deveriam fazer um acordo para aumentar o preço dela?</p><p>É provável que a resposta seja não. Há centenas de outros feirantes vendendo esse item, seja na mesma feira ou em outra talvez não muito distante. Sônia e José definitivamente estão competindo com todos esses vendedores de batata.</p><p>Se ambos tentassem aumentar o preço da batata, provavelmente não conseguiriam vender muito, pois os consumidores encontrariam outra mais barata a apenas algumas barracas de distância. Desse modo, podemos dizer que José e Sônia são produtores tomadores de preço.</p><p>Um produtor é chamado assim quando suas ações não afetam o preço de mercado do bem que ele vende. O raciocínio análogo vale para os consumidores tomadores de preço: eles não podem influenciar esse preço por meio de suas ações. Em um mercado perfeitamente competitivo, consumidores e produtores são tomadores de preço. Com isso, decisões individuais, de quem quer que elas partam, não afetam o preço de mercado de determinado bem. Além disso, há duas condições necessárias para a competição perfeita:</p><p>1 - A indústria deve possuir um número relativamente grande de produtores e nenhum deles pode ter grande participação no mercado.</p><p>A participação de mercado de um produtor é a fração do produto total da indústria pela qual ele é responsável. Se possuir uma parcela muito grande dele, ele passará a influenciar o preço de mercado do bem que produz. Por exemplo, na crise do petróleo da década de 1970, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) tinha quase um terço de fatia da produção total de petróleo mundial. Ao diminuir a quantidade ofertada, ela influenciou diretamente no preço do barril. Este não é o caso de José nem de Sônia.</p><p>2 - Os consumidores devem considerar os produtos de todos os produtores equivalentes.</p><p>Isso não seria verdade se os compradores acreditassem que as batatas de Sônia são de melhor qualidade que as de José. Caso realmente fossem melhores, ainda que ela aumentasse um pouco o seu preço, os consumidores continuariam comprando em virtude de sua melhor qualidade.</p><p>No caso de commodities (ou produtos padronizados), os consumidores costumam considerar o produto de um produtor como perfeitamente substituível pelo de outro. Temos como exemplo um produtor de batatas como José ou Sônia. Eles não podem aumentar o preço de suas batatas sem perder todas as suas vendas para outros vendedores. Assim, para que uma indústria seja perfeitamente competitiva, é necessário que seu produto seja padronizado.</p><p>Livre entrada e saída</p><p>Além das duas condições enunciadas acima, os mercados perfeitamente competitivos têm ainda outra característica: a livre entrada e saída de firmas e produtores. Dito de outra forma, não há barreiras para seu acesso ao mercado.</p><p>Tampouco existem custos adicionais associados à saída do mercado, como tarifas associadas ao fechamento de uma firma. Contudo, a livre entrada e saída não é uma condição necessária para a competição perfeita, e sim uma característica comum na maioria dos mercados competitivos.</p><p>Exemplo: Acesso limitado a recursos, obstáculos legais e regulamentações governamentais.</p><p>Como funcionam os mercados perfeitamente competitivos?</p><p>Quando um produtor aumenta o montante dele em uma unidade, sua receita cresce, mas, infelizmente, acontece o mesmo com seu custo.</p><p>Também vimos que esse aumento no custo por unidade extra de produto é conhecido como custo marginal. Analisemos agora outro conceito relativo a esse tópico: receita marginal (RMg). Analogamente, ela é a receita adicional gerada com a venda ao se aumentar o produto em uma unidade. Formalmente, temos a seguinte equação:</p><p>Para responder a essa pergunta, primeiramente examinaremos de que modo um produtor maximiza o seu lucro individualmente em uma indústria perfeitamente competitiva. Em seguida, entenderemos o significado de lucro econômico a partir da análise dos lucros e prejuízos de um negócio hipotético.</p><p>Imagine que João e Maria administrem um cultivo de café. Suponha que o preço de mercado da saca seja R$40 e que eles sejam tomadores de preço, podendo, assim, vender o montante que quiserem com esse preço. Quantas sacas eles devem produzir para maximizar seu lucro?</p><p>Já vimos que o lucro é igual à receita total menos o custo total, assim como a receita total é o preço de mercado multiplicado pela quantidade de produto. Como fizemos no caso do consumidor, recorreremos agora à análise marginal para encontrar a quantidade ótima de produto (que maximiza o lucro) a ser vendida.</p><p>Quando um produtor aumenta o montante dele em uma unidade, sua receita cresce, mas, infelizmente, acontece o mesmo com seu custo.</p><p>Também vimos que esse aumento no custo por unidade extra de produto é conhecido como custo marginal. Analisemos agora outro conceito relativo a esse tópico: receita marginal (RMg). Analogamente, ela é a receita adicional gerada com a venda ao se aumentar o produto em uma unidade. Formalmente, temos a seguinte equação:</p><p>Mas como isso ajuda a descobrir a quantidade ótima de sacas de café que João e Maria devem produzir para maximizar os lucros de sua produção?</p><p>A tabela a seguir aponta a receita total, o custo total e o lucro total por unidade de saca de café do cultivo de ambos, além dos cálculos de custo e receita marginais. A última coluna, por sua vez, exibe o ganho líquido por saca, isto é, a receita marginal menos o custo marginal.</p><p>Como vimos no módulo 3, esta tabela evidencia que o custo variável e o total crescem à medida que a produção aumenta. O custo marginal também sobe a cada unidade de café por conta dos retornos decrescentes dos insumos. A RMg, no entanto, permanece</p><p>constante, uma vez que o preço do produto não muda (afinal, João e Maria são tomadores de preço).</p><p>Examinemos agora a última coluna, a de ganho líquido por saca: até a quarta saca de café produzida, ambos registram um ganho líquido positivo. Produzir, portanto, gera mais receita do que custos. Na quarta saca, o ganho líquido já é zero; a partir da quinta, ele passa a ser negativo, pois o custo marginal é maior que a receita marginal.</p><p>Podemos observar essas curvas graficamente para a melhor absorção desse conceito:</p><p>A curva de custo marginal (CMg) apresenta uma inclinação positiva e permanece abaixo da de receita marginal (RMg) até o ponto E, onde ela intercepta a RMg. Até E (ou até a quarta saca), João e Maria contabilizam um ganho líquido positivo por saca.</p><p>A partir de E, a CMg ultrapassa a curva de receita marginal, enquanto o ganho líquido se torna negativo, ou seja, eles passam a perder dinheiro com a produção de unidades adicionais de sacas de café.</p><p>Desse modo, o ponto que maximiza o lucro de ambos é o E, com uma produção de quatro sacas de café. Note que, neste ponto, a receita marginal é exatamente igual ao custo marginal. Isso é chamado de regra de produto ótimo do produtor. Na quantidade ótima de produto, RMg = CMg.</p><p>Atividade discursiva</p><p>Sabemos então que, no ponto indicado, João e Maria não encontram incentivos para produzir mais nem menos, pois ele se trata da quantidade de produto ótima deles. Mas este é o único ponto no qual a produção dele e sua manutenção no mercado fazem sentido?</p><p>A resposta é não.</p><p>A decisão de uma firma permanecer ou não em um mercado depende de seu lucro econômico, medida que considera o custo de oportunidade dos recursos de um negócio além de suas despesas explícitas.</p><p>Se fôssemos pensar no lucro econômico de João e Maria, poderíamos incluir como custo de oportunidade de investir na produção de café o quanto esse dinheiro renderia no banco. Lembremos que custo de oportunidade é o que você deixa de obter (rendimento do banco) ao optar por outra atividade (produção de café).</p><p>O que diferencia o lucro econômico do contábil é o custo implícito, isto é, os benefícios dos quais se abdica no uso dos recursos da firma.</p><p>Vamos supor que todos os custos (implícitos e explícitos) estejam incluídos na tabela a seguir, mostrando, portanto, o lucro econômico. Para saber se Maria e João operam em lucro ou prejuízo, devemos olhar para:</p><p>· Custo total médio mínimo de sua produção.</p><p>· Preço de mercado do café.</p><p>Esta tabela calcula o custo variável médio e o total médio para a produção de ambos. Consideramos o custo fixo como dado; portanto, são valores de curto prazo:</p><p>Como se pode observar, o custo total médio é minimizado na terceira saca no valor de R$36,67, que corresponde ao produto de custo mínimo.</p><p>No módulo anterior, frisamos que o lucro π é igual à receita total (RT) menos o custo total (CT).</p><p>Logo:</p><p>Também é possível manipular essas equações dividindo os dois lados pelo produto Y e expressar essa ideia em termos de receita e custo por unidade de produto:</p><p>O primeiro termo do lado direito da equação (RT/Y) representa a receita média, que é igual ao preço de mercado das sacas de café, uma vez que o preço é constante. Já o segundo termo constitui o custo total médio. Dessa maneira, uma firma será lucrativa se o preço de mercado de seu produto exceder o custo total médio da quantidade que ela produz e terá prejuízo se o preço de mercado for inferior.</p><p>Reescreveremos essas relações a seguir:</p><p>Também podemos observar essa relação graficamente. Esta figura apresenta dois gráficos com diferentes preços de mercado de saca de café:</p><p>No gráfico (a), o preço de mercado da saca de café excede o custo total médio mínimo, em que p = 40, e a firma opera em lucro. João e Maria possuem uma situação lucrativa, pois o preço de R$40 excede o custo total médio a equilibrar receita e custo; afinal, o ponto de custo total médio mínimo é R$36,67.</p><p>O ponto E do gráfico é o caso já analisado no qual ambos produzem a quantidade maximizadora de lucro: quatro sacas de café. Nesse montante, o custo total médio, indicado por B no gráfico, é de R$37,50. Como o preço de mercado por saca é maior que o custo total médio por unidade, a produção de João e Maria mostra ser lucrativa.</p><p>Esse lucro é indicado pela distância vertical entre a reta de receita marginal e o custo total médio dessa quantidade de sacas ou pela distância entre os pontos E e B multiplicada pelo número de sacas. A área sombreada (cinza) no gráfico ilustra o lucro de João e Maria.</p><p>É possível expressar o lucro total também em termos de lucro por unidade:</p><p>Já no gráfico (b), conforme indica a letra D, a firma, com p = 30, ou seja, abaixo do custo total médio mínimo, opera em prejuízo. Nessa situação, a curva de custo marginal corta a de receita marginal (ou preço) no ponto C, que corresponde ao montante de duas sacas de café.</p><p>Agora é negativa a distância entre a reta de receita marginal e o ponto de custo total médio associado à quantidade W, que equivale a R$37,50. O custo total médio excede o preço de mercado. Com isso, a produção de Maria e João opera em prejuízo.</p><p>Assim, para determinar se um produtor é lucrativo ou não, é necessário comparar o preço de mercado do bem e o que iguala receita e custo para o produtor, ou seja, seu custo total médio mínimo.</p><p>A curva de oferta</p><p>Vimos até aqui como os produtores de um mercado perfeitamente competitivo decidem suas quantidades ótimas de produção. Também apontamos neste módulo que, no curto prazo, o número de produtores ou firmas desse tipo de indústria é fixo, não havendo entrada nem saída. Mas qual é a quantidade total de bens ofertada em um determinado mercado?</p><p>Sabemos que cada produtor tomará o preço como dado e fará sua escolha individual sobre a quantidade ótima de produto. Neste módulo, fizemos a suposição de que não haja diferença na qualidade dos bens dos produtores. Vamos estender essa hipótese para supor também que todos os produtores sejam iguais, ou seja, arquem com os mesmos custos e insumos.</p><p>Como seria a curva de oferta dessa indústria?</p><p>Revisitemos o mercado de café analisado anteriormente. Vamos supor, que além de João e Maria, existam outros 49 participantes idênticos, totalizando, assim, um grupo de 50. Sabendo que o número de produtores desse mercado é dado, cada um vai tomar sua decisão de produzir individualmente.</p><p>Desse modo, cada um igualará seu custo marginal à receita marginal, isto é, ao preço de mercado. Como os produtores são iguais e têm os mesmos custos, todos eles decidirão produzir o mesmo número de sacas de café: quatro (quantidade ótima de produto).</p><p>Se houver 50 produtores de café, a quantidade de oferta da indústria será 50 vezes 4 sacas, ou seja, 200 sacas de café. Já o preço dela será de R$40. O resultado disso é a curva de oferta da indústria de curto prazo ilustrada no gráfico (a):</p><p>Neste diagrama, D representa a curva de demanda e E, o ponto de equilíbrio de mercado de curto prazo, no qual a quantidade de oferta é igual à de demanda para um dado número de produtores.</p><p>No curto prazo, não há entrada nem saída de participantes, pois estamos olhando um período pequeno de tempo. No longo prazo, no entanto, eles podem entrar e sair livremente do mercado, havendo, desse modo, uma variação no número de produtores que altera tanto o montante ofertado quanto o equilíbrio.</p><p>Suponhamos agora que, além dos 50 produtores de café operando no mercado, haja muitos outros querendo entrar nele que também são idênticos a João e Maria. Quantos participantes adicionais entrarão na indústria? Em que situação o farão?</p><p>Enquanto a produção for lucrativa, haverá incentivos para novos produtores. Logo, quando o preço de mercado for superior ao custo de produção total médio mínimo (R$36,67), isto é, o valor que iguala custo e receita, mais pessoas estarão disputando uma fatia desse mercado.</p><p>Porém, à medida que novos produtores ingressam na indústria, a quantidade ofertada aumenta. Com esse aumento, existe uma pressão para o preço de mercado cair, e é isso que acontece: a curva de oferta se desloca</p><p>para a direita até atingir o ponto em que o preço se iguala ao custo total médio mínimo. Quando a curva de oferta atingir esse ponto, os produtores vão parar de querer entrar no mercado, pois não haverá mais lucro.</p><p>O painel (b) da figura acima demonstra essa dinâmica: a curva de oferta inicial S1 se desloca para a direita até S2, onde encontra a curva de demanda D no novo ponto de equilíbrio E2. Neste ponto, o preço de mercado equivalerá ao custo total médio mínimo; com isso, cada produtor irá produzir um total de três sacas. A nova quantidade de equilíbrio do mercado de sacas de café será, portanto, a seguinte: 250 sacas ao preço de R$36,67.</p><p>Considerações finais</p><p>Introduzimos neste material alguns dos conceitos básicos de microeconomia. Você deve ter notado que as escolhas tanto do consumidor quanto da firma são determinadas por diversos fatores. Por isso, estabelecemos uma análise criteriosa de tais escolhas para entendermos sua dinâmica, mantendo constantes os demais fatores e assumindo algumas hipóteses.</p><p>A realidade, no entanto, é muito mais complicada que os modelos adotados aqui. Afinal, eles nada mais são que uma simplificação dela para facilitar a compreensão de seus principais mecanismos.</p><p>TEMA 4 – Estrutura de Mercados e Formação de Preços</p><p>Módulo 1: Demanda e oferta agregadas</p><p>Curva de demanda agregada</p><p>Você sabe o que é curva de demanda individual e agregada? Confira agora o conceito de cada uma delas!</p><p>- Curva de demanda individual</p><p>Mostra quanto um consumidor está disposto a pagar para obter um bem ou serviço, ou quantas unidades irá adquirir para cada preço.</p><p>- Curva de demanda agregada</p><p>Representa a quantidade total que o conjunto de consumidores de uma economia irá adquirir para cada preço.</p><p>Supondo que em uma certa economia existam N indivíduos. A curva de demanda agregada pelo bem X será o somatório de todas as curvas de demanda individuais por aquele bem:</p><p>Em que q1, q2, ..., qn são as demandas individuais de cada um dos N consumidores.</p><p>A demanda de cada indivíduo para cada bem depende dos preços e da renda individual. Assim, a demanda agregada depende dos preços e também da distribuição de renda. Para simplificarmos, costumamos olhar para a demanda agregada como a demanda de um consumidor representativo, que tem sua renda igual à soma de todas as rendas individuais.</p><p>A imagem, a seguir, ilustra a curva de demanda agregada para um dado bem, mantendo a renda fixa:</p><p>Gráfico: Curva de demanda de um bem</p><p>Podemos notar que a curva de demanda agregada tem inclinação negativa, ou seja, quanto maior o preço, menor a quantidade demandada pelos consumidores, tudo o mais sendo constante. No geral, as curvas de demanda possuem inclinação negativa, com algumas exceções. Temos, então, a proposição de que, ceteris paribus, um preço mais alto de um bem faz com que as pessoas queiram uma quantidade menor deste bem.</p><p>Elasticidade-preço de demanda</p><p>Comentário: O motivo para multiplicamos a inclinação da curva pela razão de preço e quantidade é ter uma medida que independa da unidade de medida utilizada: a elasticidade não tem unidade de medida, ao contrário do preço (medido em reais, dólares etc.) e da quantidade (medido em quilos, pacotes etc.).</p><p>Substituindo na fórmula acima, obtemos uma elasticidade igual a 1/3 (interprete esse número a partir da definição de elasticidade).</p><p>O sinal da elasticidade da demanda é, em geral, negativo, e por isso nos referimos comumente ao seu valor absoluto, de forma a permitir comparações mais simples - ou seja, ignoramos o sinal, supostamente negativo, salvo menção explícita em contrário.</p><p>O gráfico, a seguir, apresenta a elasticidade da curva de demanda linear. Como podemos observar, em uma curva de demanda linear, a elasticidade da demanda varia conforme a quantidade e o preço.</p><p>Gráfico: Elasticidade da demanda linear</p><p>Seja a curva de demanda linear igual a q = a - bp, em que a e b são parâmetros quaisquer. A inclinação dessa curva é, portanto, -b. Utilizando a fórmula da elasticidade apresentada, temos:</p><p>Como pudemos observar na última imagem, a elasticidade é igual a 1 em valor absoluto no ponto médio. Podemos classificar um bem em:</p><p>- Elástico: Quando sua elasticidade-preço for maior do que 1 em módulo.</p><p>Um bem elástico é bastante sensível a variações no preço, e um aumento de 1% faz a quantidade reduzir em mais do que 1% (são bens dos quais os consumidores têm facilidade para abrir mão).</p><p>- Inelástico: Quando sua elasticidade for menor do que 1 em valor absoluto.</p><p>Uma curva de demanda inelástica é pouco sensível a variações no preço, e um aumento de 1% ocasionará uma redução de menos de 1% na quantidade.</p><p>- Elasticidade unitária: Quando sua elasticidade for igual a |1|.</p><p>Uma curva de demanda com elasticidade unitária é aquela em que a variação de 1% no preço leva a uma variação de 1% na quantidade demandada.</p><p>A elasticidade da demanda de um determinado bem depende da quantidade de substitutos próximos.</p><p>Exemplo: Suponha que pão e tapioca sejam considerados substitutos perfeitos. Se o preço do pão aumenta, a demanda de pão iria para zero, de forma que todos os consumidores prefeririam consumir tapioca, afinal, para os consumidores, eles são perfeitamente equivalentes.</p><p>Caso um bem tenha muitos substitutos próximos, ele será extremamente sensível a variações nos preços, e sua demanda será bastante elástica. O oposto também vale: se um bem possui poucos substitutos próximos, ele será pouco sensível a qualquer variação de preço e, portanto,</p><p>inelástico.</p><p>Elasticidade renda da demanda</p><p>Além da elasticidade-preço, temos a elasticidade-renda da demanda, que mede o quanto a quantidade demandada reage a variações da renda.</p><p>Sua equação é análoga à de elasticidade preço da demanda, sendo nada mais do que a razão entre as variações percentuais da quantidade (Q) e da renda (m):</p><p>A partir da elasticidade-renda, podemos classificar os bens em:</p><p>- Normais: Cuja demanda cresce devido ao aumento da renda, e cuja elasticidade-renda é positiva.</p><p>Exemplos comuns de bens normais são produtos de qualidade (como carne de primeira), que o consumidor quer adquirir em maior quantidade quando sua renda aumenta.</p><p>- Inferiores: Cuja demanda diminui devido ao aumento da renda, e cuja elasticidade-renda é negativa.</p><p>Bens de baixa qualidade (como carne de segunda), por sua vez, são frequentemente inferiores, porque os consumidores os abandonam à medida que a renda aumenta.</p><p>Também classificamos bens cuja elasticidade-renda é maior do que 1, como os de luxo, isto é, cuja demanda aumenta em mais de 1% quando a renda aumenta em 1%. Quando a elasticidade-renda fica entre 0 (zero) e 1, falamos em bens de necessidade (pense, por exemplo, em remédios: você compraria o dobro se sua renda duplicasse?). É frequente que a elasticidade-renda seja próxima de 1.</p><p>Receita e elasticidade</p><p>Receita é o quanto se ganha com a venda do bem, ou seja, é a quantidade vendida multiplicada pelo preço do bem. Quando o preço do bem varia, a quantidade também variará, ocasionando mudanças na receita.</p><p>Se o preço da batata aumenta, sua quantidade demandada irá reduzir.</p><p>O que acontecerá com a receita da venda das batatas?</p><p>Isso dependerá da elasticidade-preço da batata. Seja a receita de vendas igual a:</p><p>Para calcularmos a variação da receita, devemos subtrair R de R’. Desta forma:</p><p>Para pequenas variações, o último termo da equação é muito menor que os outros (é “quase” zero multiplicado por zero!), e podemos ignorá-lo. Agora que já calculamos a variação da receita, gostaríamos de chegar a uma equação em que fosse possível identificar qual é a variação da receita quando o preço varia. Para isso, vamos dividir a variação da receita, na última equação, pela variação do preço:</p><p>Para que essa resposta seja positiva, devemos ter:</p><p>Considere novamente a expressão da variação na receita:</p><p>Para evitar confusões pela elasticidade-preço ser, às vezes, um número negativo, podemos reescrever a receita marginal usando valor absoluto, como a seguir:</p><p>Deslocamentos da curva de demanda agregada</p><p>A lei da demanda diz que, todo o mais constante,</p><p>um aumento do preço faz com que a quantidade demandada se reduza. Contudo, existem situações em que um aumento de preço faz com que a quantidade aumente. Você deve estar se perguntando: “Como isso é possível?”.</p><p>A resposta para essa pergunta reside no “todo o mais constante” da lei da demanda. Como pode o preço da cerveja ter aumentado e, mesmo assim, o consumo ter aumentado nos últimos anos? Certamente, todo o resto não foi mantido constante. A população cresceu, os hábitos se modificaram, logo, a curva de demanda agregada também se modificou, ela se deslocou para a direita.</p><p>O gráfico, a seguir, ilustra os possíveis deslocamentos da curva de demanda agregada:</p><p>Existem cinco principais motivos pelos quais a demanda agregada se desloca: mudança na renda, mudança nas preferências, mudança na quantidade de consumidores, mudança no preço de bens relacionados e mudança de expectativas.</p><p>Antes de prosseguirmos, precisamos fazer uma distinção entre movimentos ao longo da curva e deslocamentos da curva. Para que fique claro, movimentos ao longo da curva de demanda ocorrem devido a mudanças no preço.</p><p>O gráfico a seguir mostra a diferença entre o deslocamento da curva e o movimento ao longo dela:</p><p>Os movimentos ao longo de uma curva de demanda ocorrem quando há mudança no preço do bem em questão. Observando a figura ao lado, suponha que, inicialmente, estejamos na curva D1, no ponto a, que tem preço p1 e quantidade demandada q1.</p><p>Se o preço do bem cai para p2, a quantidade demandada será q2, e então nos moveremos para o ponto b. Por outro lado, se estamos no ponto a, e há, por exemplo, um aumento da renda, nos deslocamos para D2. O aumento da renda não aumenta o preço, portanto, estaremos no ponto c, cujo preço é p1 e a quantidade demandada é q3.</p><p>Agora que já compreendemos a diferença entre movimentos ao longo da curva e deslocamento, podemos avançar e falar um pouco mais de cada um dos motivos que fazem uma curva se deslocar.</p><p>Vamos começar pela mudança de renda, ilustrada na gráfico anterior.</p><p>A mudança na renda, em geral, leva as pessoas a consumirem mais de um determinado bem, uma vez que, em geral, os bens são normais.</p><p>Como vimos na parte de elasticidade-renda, um aumento de renda eleva a quantidade demandada de bens normais e reduz a quantidade demandada de bens inferiores.</p><p>Para entendermos como a mudança no preço relativo de bens relacionados desloca a curva de demanda agregada, vamos a um exemplo.</p><p>Exemplo: Suponha que pão e tapioca sejam substitutos: um aumento no preço da tapioca fará com que os consumidores substituam o consumo de tapioca por pão, elevando a quantidade demandada de pão. Esse aumento leva a um deslocamento da curva de demanda agregada.</p><p>Agora, suponha que café e pão sejam complementares, afinal, nada como um pão na chapa com cafezinho. Uma queda no preço do café fará com que mais pessoas consumam café, mas como o consumo do café é acompanhado do pão, ocorrerá um aumento na demanda por pão, e a curva de demanda agregada do pão se deslocará.</p><p>Note que a redução do preço do café leva a um deslocamento ao longo da curva de demanda agregada de café e um deslocamento para direita da curva de demanda agregada de pão, de forma que o preço do pão se mantém, mas a quantidade demandada aumenta.</p><p>A variação no número de consumidores desloca a curva de demanda agregada pois, como vimos, ela é a soma das demandas individuais (para cada preço). Já uma mudança nas preferências pode fazer com que os consumidores demandem mais a cada preço (deslocando a curva para a direita) ou menos (deslocando para a esquerda). Isso pode ocorrer por questões culturais, por exemplo quando um ator famoso usa uma determinada roupa, é comum que a demanda por essa roupa aumente.</p><p>Por fim, a expectativa futura do preço do bem pode afetar a demanda no presente. Como exemplo, temos as liquidações de ovos de Páscoa. Muitas pessoas, sabendo que o preço se reduzirá após a Páscoa, irão aguardar para consumir depois. Da mesma forma, expectativas sobre a renda também afetam a demanda presente: se um indivíduo tem uma expectativa de aumento de renda no futuro, ele pode aumentar sua demanda por bens no presente, pagando parcelado.</p><p>Oferta agregada</p><p>Assim como a demanda agregada, estudamos também as curvas de oferta das firmas. Estas curvas são individuais, assim com as curvas de demanda dos consumidores.</p><p>Suponha que tenhamos N firmas que produzam um determinado bem. Para obtermos a curva de oferta agregada, ou curva de oferta da indústria, devemos somar a curva de oferta individual das N firmas:</p><p>A oferta agregada é apenas a soma horizontal das curvas de oferta individuais.</p><p>A curva de oferta mede o quanto um produtor está disposto a ofertar a cada preço.</p><p>Portanto, a curva de oferta agregada define, a cada preço P, a quantidade do bem que será ofertada naquela indústria.</p><p>Para compreendermos melhor como construímos a oferta de mercado, vamos a um exemplo:</p><p>Seja um mercado de pães com apenas dois produtores, Joana e Gabriel:</p><p>- Joana oferta 2 pães ao preço de R$1,00, e 5 pães quando o preço é R$3,00.</p><p>- Gabriel oferta 3 pães ao preço de R$1,00, e 7 pães quando o preço é de R$3,00.</p><p>Nos gráficos, a seguir, temos nos painéis A e B a curva de oferta individual desses produtores. Para chegarmos à oferta agregada desse mercado, somemos a quantidade ofertada pelos dois produtores a cada preço, de modo que a R$1,00 são ofertados 5 pães e a R$3,00 são ofertados 12 pães. A curva de oferta agregada está ilustrada no painel C da figura a seguir:</p><p>A curva de oferta da indústria tem inclinação positiva, refletindo a proposição de que preços mais altos levam a uma quantidade ofertada maior. Assim como a demanda agregada, existem acontecimentos que deslocam a curva de oferta. A entrada de novos produtores no mercado, por exemplo, desloca a oferta para a direita, fazendo com que, ao mesmo preço, seja ofertada uma quantidade maior do bem em questão. Para que haja um movimento ao longo da curva de oferta, é preciso que seja ocasionado por variações no preço do bem cuja oferta agregada esteja em análise.</p><p>Os motivos pelos quais a curva de oferta se desloca são variados: mudanças na tecnologia, na expectativa, no preço dos insumos, no número de produtores e nos preços de bens e serviços relacionados.</p><p>A mudança do preço esperado no futuro pode levar um produtor a fornecer mais ou menos quantidade daquele bem no presente. Uma expectativa do aumento de preços futuro faz com que a oferta no presente se reduza, deslocando a curva de oferta para a esquerda. Já uma expectativa de queda dos preços no futuro leva ao aumento da oferta no presente e desloca a curva de oferta para a direita.</p><p>Considere agora os insumos, ou seja, bens e serviços utilizados no processo produtivo. Um aumento no preço dos insumos deixará o preço do bem final mais alto.</p><p>Exemplo: Para produzir pão é preciso de trigo. Gabriel precisa de 10kg de farinha de trigo por mês para produzir 100 pães, e paga R$2,00 no quilo de farinha de trigo. Gabriel gasta R$20,00, e cobra R$0,50 por pão produzido.</p><p>Assim, sua receita da venda de pães é de R$50,00. Se por algum motivo, o preço do trigo sobe para R$3,00, para produzir 100 pães, Gabriel gastará R$30,00. Sua receita de vendas continuará no valor de R$50,00, contudo, seu lucro se reduzirá.</p><p>Dessa forma, é bem provável que Gabriel repasse parte da alta dos preços dos insumos para o consumidor, e o preço do pão aumente como consequência.</p><p>Tecnologia é o termo usado por economistas para descrever a relação entre insumos e produto em um dado processo produtivo. Uma melhora tecnológica geralmente reduz o custo de produção. Essa redução de custo permite que o produtor gaste uma quantidade menor de insumo para produzir o mesmo bem, de modo que a quantidade ofertada aumenta e a curva de oferta se desloque para a direita. Podemos observar isso no próximo gráfico:</p><p>Quando há um aumento no número de produtores naquele mercado, a oferta se desloca para a direita, afinal, a oferta agregada nada mais é do que a soma das ofertas individuais.</p><p>Há situações em que produtores produzem</p><p>gastar indo ao cinema equivale à que deixamos de gastar com algum outro bem ou serviço.</p><p>Todavia, existem alguns indivíduos muito ricos, e você deve estar pensando que eles podem ter tudo. Mesmo eles não podem fazer tudo o que querem, porque há uma limitação de tempo: o dia possui apenas 24 horas.</p><p>Assim, o tempo que escolheremos dedicar a determinada atividade não poderá ser dedicado a outra. O tempo que dedicamos ao nosso sono é também um momento em que deixamos de trabalhar, por exemplo.</p><p>Precisamos realizar escolhas, o que apenas reflete o fato de que os recursos são escassos.</p><p>Recurso é qualquer elemento que pode ser usado na produção de um bem. Em uma economia, geralmente consideramos como recursos o trabalho, a terra, o capital físico e o capital humano (conquistas educacionais e habilidades individuais).</p><p>Sendo assim, podemos afirmar que:</p><p>“Um recurso é escasso quando sua quantidade disponível é insuficiente para satisfazer todos os usos que uma sociedade quer fazer dele.” (KRUGMAN; WELLS, 2001)</p><p>A escassez de recursos faz com que os indivíduos e a sociedade sejam obrigados a fazer escolhas, e há diversas formas de fazê-las. Uma delas é permitir que surjam como o resultado de escolhas individuais, o que acontece, normalmente, em economias de mercado.</p><p>Há também decisões que a sociedade considera que é melhor não serem fruto do resultado de escolhas individuais, como consumir bebida alcoólica e dirigir.</p><p>Custo real</p><p>O custo de adquirir algo envolve também o que dispensamos para realizar a aquisição.</p><p>Suponha que você tenha prestado vestibular para uma universidade privada e tenha sido aprovado para o curso integral em Ciências Econômicas. O custo monetário de estudar em uma universidade privada é o valor da mensalidade mais o gasto com passagem, alimentação e material. Mas isso não inclui tudo: esse não é custo real de estar em uma universidade privada.</p><p>Estudar em tempo integral significa que você está abrindo mão de fazer um curso de inglês pela tarde ou de trabalhar em algum estabelecimento. O custo de abrir mão de outra atividade se chama custo de oportunidade.</p><p>O custo de oportunidade de uma atividade da qual abrimos mão. É o que abdicamos ao deixar de escolher nossa segunda melhor alternativa.</p><p>O custo real de algo é a soma de seus custos monetário e de oportunidade. Portanto, no final das contas, todo custo é um custo de oportunidade.</p><p>Observe o exemplo a seguir para entender melhor:</p><p>Exemplo Programas sociais e custo de oportunidade</p><p>Custo de oportunidade é um conceito essencial em Economia, e é usado na formulação e no funcionamento de programas sociais. Há alguns anos, a Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro formulou o programa Renda Melhor Jovem.</p><p>O projeto consistia em depósitos na poupança de jovens beneficiados pelo Renda Melhor e pelo Cartão Família Carioca que cursassem o Ensino Médio em escolas públicas. Após a conclusão do Ensino Médio, os jovens poderiam usar essa poupança.</p><p>A ideia de pagar um valor para esses jovens estudarem tem como base o conceito de custo de oportunidade. Muitos desses jovens pobres largam a escola para trabalhar e ajudar suas famílias.</p><p>Decisão marginal</p><p>Diversas decisões importantes em nossas vidas começam com a pergunta: “Quanto?”. Ou seja, tem relação com a quantidade.</p><p>Se você está cursando duas disciplinas ― Microeconomia e Macroeconomia ―, precisa escolher o quanto vai dedicar de tempo de estudo para cada uma delas.</p><p>Quando temos decisões de “quanto?”, em Economia, vemos isso como uma decisão marginal.</p><p>Gastar mais tempo estudando Microeconomia significa que você terá um benefício nessa matéria: é provável que você tire uma nota mais alta, mas também implica menos tempo estudando Macroeconomia.</p><p>Sua decisão envolverá um trade-off, ou seja, uma comparação entre o custo e o benefício. Essa comparação faz parte de uma escolha.</p><p>Como decidir, então, quanto tempo dedicar a cada uma das disciplinas? No geral, decisões desse tipo são tomadas a cada momento.</p><p>Suponha que as duas provas, de Microeconomia e Macroeconomia, sejam no mesmo dia. No dia anterior, você decide dedicar metade do tempo à Macroeconomia e a outra metade, à Microeconomia.</p><p>Antes de chegar ao fim do tempo destinado à Macroeconomia, você nota que é melhor dedicar mais tempo do que o que tinha pensado. À noite, já com sono, você percebe que ainda faltou conteúdo de Macroeconomia, mas ainda está finalizando o de Microeconomia. O que fazer? Se você teve nota melhor em uma prova anterior de Microeconomia, possivelmente optará por dedicar o tempo disponível restante à Macroeconomia.</p><p>Decisões como essas são marginais. Elas envolvem um trade-off na margem, isto é, uma análise de custo benefício de um pouco mais de uma atividade e um pouco menos de outra.</p><p>Muitas decisões no nosso dia a dia são tomadas com base em análises marginais, que desempenham um papel fundamental na economia.</p><p>Se estou com sede, decido se vou tomar um copo d’água ou não. Após o primeiro copo, avalio se ainda quero tomar o segundo, e assim por diante. Não tomamos uma decisão apenas entre “não beber água’” ou “tomar toda a água da casa”, mas entre “um copo a mais” ou “um gole a mais”. Essa decisão sobre um gole adicional é uma decisão na margem.</p><p>Oportunidades de melhoria</p><p>Para começar, observe o exemplo a seguir:</p><p>Exemplo: Todo mês de outubro, os supermercados Guanabara realizam uma promoção de aniversário, que é bastante famosa no Rio de Janeiro. Diversas propagandas passam na televisão, e alguns jornais enviam repórteres para cobrir o evento.</p><p>Sempre que vemos as notícias, reparamos que há uma enorme quantidade de pessoas nas lojas. Mas por que, se esses produtos são vendidos normalmente no dia a dia?</p><p>Segundo os consumidores, os preços durante as promoções são melhores que em qualquer outra época do ano. Assim, quando as pessoas veem uma oportunidade de melhorar sua situação, nesse caso por meio da compra de produtos mais baratos, elas aproveitam.</p><p>Ao tentarem prever como os indivíduos se comportarão em alguma situação econômica, em geral, os economistas consideram que os indivíduos aproveitarão a oportunidade de melhorar suas situações. Essas oportunidades são exploradas até que se esgotem, isto é, até que tenham sido plenamente aproveitadas pelas pessoas.</p><p>No geral, o fato de que as pessoas exploram oportunidades de melhorar sua própria situação é uma hipótese amplamente adotada em modelos econômicos.</p><p>Quando há redução do preço do chocolate, mais consumidores irão comprá-lo. Se o salário dos engenheiros se reduz e o dos médicos aumenta, é provável que alguns alunos do Ensino Médio deixem de prestar vestibular para Engenharia e mudem para Medicina.</p><p>Quando há mudanças nas oportunidades disponíveis e, consequentemente, de comportamento, afirmamos que as pessoas se deparam com novos incentivos.</p><p>Para os economistas, qualquer tentativa de mudança de ação é fruto de mudanças de incentivos. Portanto, uma política que peça às indústrias que poluam menos só será eficaz se gerar uma mudança de incentivos condizente com o objetivo de redução da poluição.</p><p>Exemplo: Política econômica e mudança de incentivos</p><p>Durante a pandemia da Covid-19, diversas medidas foram tomadas para seu combate. Duas delas foram: a proibição de frequentar praias e a de sair sem o uso de máscaras.</p><p>Para que essas medidas tivessem resultado, não bastou pedir à população para mudar de comportamento. Os governos instituíram multas caso as obrigações não fossem cumpridas. Dessa forma, a população teve uma mudança de incentivos.</p><p>Para reforçar seu aprendizado, assista ao vídeo com uma breve contextualização sobre os princípios econômicos contidos na escolha individual.</p><p>Mercados: interações entre indivíduos</p><p>Uma economia é um sistema que coordena a produção de muitos agentes. Em uma economia de mercado, essa coordenação ocorre sem centralização: cada indivíduo toma sua própria decisão.</p><p>Todavia, as decisões individuais dependem das decisões dos demais. Portanto, para compreendermos como funciona uma economia de mercado, precisamos entender a interação entre as escolhas individuais.</p><p>diversos bens e não apenas um, como uma refinaria produz gasolina e diesel, entre outros combustíveis, por exemplo.</p><p>Quando um produtor oferta bens diferentes, a quantidade que ele está disposto a ofertar dependerá conjuntamente dos preços dos bens que ele produz.</p><p>Um aumento de preço do diesel faz com que uma refinaria produza menos gasolina e mais diesel, deslocando para a direita a curva de oferta do diesel e para a esquerda a oferta da gasolina. Isso acontece porque, em termos produtivos, a gasolina e o diesel são substitutos. Pode ser que também haja bens complementares na produção.</p><p>Módulo 2: Formação de preços e quantidades de equilíbrio</p><p>Oferta, demanda e equilíbrio</p><p>Vimos os elementos essenciais para a determinação do equilíbrio, a oferta e a demanda agregadas. Neste módulo, apresentaremos o conceito de equilíbrio e como calculá-lo a partir da interação entre oferta e demanda.</p><p>Quando já estivermos familiarizados com o equilíbrio, veremos um pouco sobre excedente do consumidor e do produtor, medidas úteis de bem-estar econômico.</p><p>Em Economia, dizemos que há equilíbrio em uma determinada situação quando não há incentivos para que qualquer agente econômico (consumidor ou firma) altere seu comportamento individual, dado o que os demais agentes estão fazendo.</p><p>Segundo a definição de equilíbrio em Varian:</p><p>Todos os agentes escolhem a melhor ação possível de acordo com seus próprios interesses, e o comportamento de cada pessoa é coerente com o das outras. (VARIAN, 2012, n. p.)</p><p>Isso significa que ninguém ficaria melhor caso decidisse agir individualmente de forma diferente.</p><p>Sabemos que, em um mercado competitivo, nenhum agente tem capacidade de afetar o mercado, o preço e a quantidade total. Contudo, o que determina o preço e a quantidade de equilíbrio é a interação conjunta de todos os indivíduos nesse mercado.</p><p>O preço de equilíbrio é aquele em que oferta e demanda são iguais. A esse preço nenhum consumidor poderia melhorar sua situação ao propor a compra por um preço diferente, assim como nenhum produtor poderia ficar melhor propondo vender o bem por outro preço.</p><p>Como curvas de oferta e demanda representam as melhores escolhas dos agentes envolvidos, quando elas se igualam em um preço de equilíbrio denotado por p∗, temos que o comportamento dos consumidores e dos produtores são compatíveis. Em qualquer outro preço, essa condição não seria satisfeita.</p><p>O preço de equilíbrio é o preço que ajusta o mercado, garantindo que cada indivíduo que demande um bem encontre um ofertante disposto a vendê-lo pelo mesmo preço.</p><p>Geometricamente, podemos encontrar o equilíbrio ao colocar as curvas de oferta e demanda no mesmo diagrama, como no gráfico a seguir.</p><p>Gráfico: Equilíbrio</p><p>O ponto E é o ponto em que as curvas se cruzam, e oferta e demanda são iguais; p∗ representa o preço de equilíbrio e q∗ é a quantidade de equilíbrio.</p><p>Existe um princípio básico de que os mercados, com frequência, se movem para o equilíbrio. Para melhor ilustrar esse princípio, observe o seguinte gráfico:</p><p>Gráfico: Preço acima do equilíbrio</p><p>Suponha que o preço de mercado, isto é, o preço pelo qual o bem é transacionado, seja igual a p', acima do equilíbrio.</p><p>A esse preço, a quantidade ofertada é qs, e a quantidade demandada é qd.</p><p>Como a quantidade ofertada é maior do que a demandada, temos um excedente, ilustrado pela diferença entre qs e qd.</p><p>Existem alguns produtores que não encontram consumidores para comprar seus produtos. O excesso de oferta fornece incentivos para que os produtores ofereçam um preço mais baixo, buscando atrair outros consumidores. O preço vai sendo gradativamente reduzido, até chegar no preço de equilíbrio. Portanto, sempre que o preço está acima do equilíbrio, há um excesso de oferta, que faz o preço baixar até o equilíbrio.</p><p>Agora, suponha que o preço esteja abaixo do preço de equilibrio, em � ". Observe o próximo gráfico:</p><p>Gráfico: Preço abaixo do equilíbrio</p><p>Com o preço em p", a quantidade demandada é maior do que a quantidade ofertada, e, portanto, há excesso de demanda ou escassez. Nessa situação, existem consumidores que gostariam de comprar, mas não conseguem, e então passam a oferecer preços mais altos. É possível que os produtores notem que também podem cobrar um preço maior. Em qualquer mecanismo, o resultado é o mesmo. O preço vai aumentando gradualmente, atraindo novos produtores e expulsando consumidores que não estão dispostos a pagar um preço mais alto. Esse movimento acontece até o preço de equilíbrio, em que as quantidades ofertada e demandada se igualam.</p><p>Mudanças na oferta, demanda e equilíbrio</p><p>Como vimos anteriormente, há muitos eventos que deslocam as curvas de oferta e demanda. Existem eventos que deslocam a curva de demanda, como um relatório médico afirmando que chocolate faz bem à saúde, o que não tem efeito algum sobre a oferta. Da mesma forma, existem situações que deslocam a oferta, como a entrada de novos produtores de cacau, mas que não afetam a demanda.</p><p>O que acontece com o equilíbrio nesses dois eventos descritos?</p><p>Quando um novo estudo médico divulgado credita benefícios ao chocolate, a curva de demanda se desloca, como nesse gráfico:</p><p>Gráfico: Deslocamento positivo da demanda e novo equilíbrio</p><p>Você pode observar que o ponto E1 mostra o equilíbrio correspondente à curva de demanda original, D1, cujo preço de equilíbrio é p∗1, e a quantidade de equilíbrio é q∗1</p><p>O relatório médico divulgado faz com que a curva de demanda se desloque positivamente, para a direita, de D1 para D2. Ao preço original, p∗1, o mercado não está mais em equilíbrio. Há um excesso de demanda, uma escassez. O preço do chocolate aumenta, gerando um aumento da quantidade ofertada. Esse aumento da quantidade ofertada é um movimento ao longo da curva de oferta. Um novo equilíbrio, E2, se estabelece. Nesse ponto, oferta e demanda voltam a se cruzar. O equilíbrio E2 ocorre com um preço mais alto e uma quantidade maior. Isso reflete um princípio geral: quando a demanda de um bem aumenta, seu preço e sua quantidade de equilíbrio também aumentam.</p><p>Suponha agora uma situação diferente. Pão e tapioca são substitutos. Se o preço do pão cai, a demanda por tapioca diminui. O gráfico, a seguir, ilustra esse evento:</p><p>Gráfico: Deslocamento negativo da demanda e novo equilíbrio</p><p>Observando a figura acima, vemos que a queda do preço do pão faz a demanda por tapioca se deslocar, negativamente, para a esquerda. Ao preço inicial p∗1, há um excesso de oferta, uma vez que a quantidade ofertada é maior do que a quantidade demandada. O preço cai até que a nova curva de demanda, D2, encontre a curva de oferta S. Isso é ilustrado no ponto E2, o novo equilíbrio. Nesse ponto, o preço e a quantidade de equilíbrio são menores. Assim, quando a demanda de um bem se reduz, sua quantidade e preço de equilíbrio também se reduzem.</p><p>Considere agora outro gráfico:</p><p>Gráfico: Deslocamento positivo da oferta e o novo equilíbrio</p><p>Inicialmente, o mercado estava em equilíbrio, no ponto E1, em que as curvas de oferta e demanda eram S1 e D, respectivamente. No ponto E1, o preço de equilíbrio é p∗1, e a quantidade de equilíbrio é q1∗.</p><p>A entrada de novos produtores no mercado de cacau desloca a curva de oferta para a direita. Assim, a nova curva de oferta é S2. Ao preço inicial p∗1, há um excesso de oferta, que faz com que o preço se reduza, até que a nova curva de oferta cruze com a curva de demanda. Esse ponto é ilustrado por E2, o novo ponto de equilíbrio. Em E2, o novo preço de equilíbrio é p2∗, e a nova quantidade de equilíbrio é q∗1. Portanto, quando a oferta aumenta, o preço de equilíbrio diminui e a quantidade de equilíbrio aumenta.</p><p>Nova Friburgo é uma cidade no estado do Rio de Janeiro que produz hortaliças. Suponha que, em 2012, a cidade teve um verão atípico, com altas temperaturas e pouca chuva. Esse fenômeno fez com que as hortaliças morressem, ocasionado um deslocamento para a esquerda da curva de oferta. O seguinte gráfico ilustra essa situação:</p><p>Deslocamento negativo da oferta e o novo equilíbrio</p><p>A curva de oferta passa, então, a ser S2. Ao preço inicial p∗1 há</p><p>um excesso de demanda, que pressiona os preços para cima, que vão subindo, gradualmente, até que a nova curva de oferta cruze com a demanda. Isso é ilustrado pelo ponto E2, o novo equilíbrio. Nesse ponto, o preço de equilíbrio é p2∗, e a quantidade de equilíbrio é q2∗. Portanto, quando há uma redução da oferta, o preço de equilíbrio é mais alto e a quantidade de equilíbrio é menor.</p><p>Por fim, veremos o que acontece quando há deslocamentos simultâneos de oferta e demanda. No gráfico do painel A, temos um grande deslocamento da demanda para a direita, e um pequeno deslocamento da oferta para a esquerda, enquanto no gráfico do painel B, a oferta se desloca bastante para a esquerda, e a demanda sofre um pequeno deslocamento para a direita:</p><p>Gráfico: Deslocamento simultâneo e novo equilíbrio</p><p>Esses deslocamentos podem ser imaginados como uma mudança nas preferências por milho, junto com uma quebra de safra. A diferença entre os dois painéis é a magnitude de deslocamento e é descrito da seguinte forma:</p><p>Painel A: A demanda sofre um deslocamento de magnitude maior que a oferta.</p><p>X</p><p>Painel B: A oferta sofre um deslocamento maior do que a demanda.</p><p>Nos dois painéis, o preço se move de p1∗ para p2∗, conforme o equilíbrio se move de E1 para E2. Como no painel A a queda de oferta é menor do que o aumento da demanda, a quantidade de equilíbrio aumenta de q1∗ para q2∗. Já no painel B, com retração da oferta maior do que a expansão da demanda, a quantidade de equilíbrio é reduzida de q1∗ para q2∗.</p><p>Esse exemplo nos permite constatar que, quando a oferta se reduz e a demanda aumenta, o preço de equilíbrio aumenta, mas o que de fato ocorre com a quantidade de equilíbrio dependerá de qual efeito é maior, ou seja, qual deslocamento tem maior magnitude.</p><p>Quando oferta e demanda se deslocam em direções opostas, no geral, podemos fazer algumas previsões, como:</p><p>- Se a demanda aumenta e a oferta cai, o preço de equilíbrio sobe, mas a quantidade dependerá de qual dos deslocamentos teve maior magnitude.</p><p>- Quando a demanda cai e a oferta aumenta, o preço de equilíbrio é menor, mas o efeito sobre a quantidade de equilíbrio é ambíguo.</p><p>Se as duas curvas se deslocam no mesmo sentido, ou seja, oferta e demanda se deslocam ambas para a esquerda ou para a direita, podemos saber o efeito sobre a quantidade, mas não sobre o preço de equilíbrio. Se oferta e demanda aumentam, a quantidade de equilíbrio é maior, mas nada podemos dizer sobre o preço. Quando oferta e demanda diminuem, a quantidade de equilíbrio é reduzida, mas, mais uma vez, nada podemos afirmar sobre o preço de equilíbrio. Em ambos os casos, o preço de equilíbrio dependerá de qual efeito prevalecerá.</p><p>Módulo 3: Excedente do produtor e do consumidor</p><p>Excedente do consumidor e curva de demanda</p><p>A curva de demanda é derivada a partir das preferências dos consumidores, que, por sua vez, definem o quanto de bem-estar um indivíduo obtém ao realizar transações em um mercado.</p><p>Considere, por exemplo, o mercado de roupas usadas. Uma calça jeans usada pode não ser tão boa quanto uma nova, pois pode estar gasta, manchada etc. O quanto isso incomoda alguém dependerá das preferências de cada um.</p><p>Vitória pode valorizar uma roupa de brechó mais do que Fernando, que só compraria uma roupa usada se fosse muito barata.</p><p>Esse exemplo ilustra um conceito importante, o de disposição a pagar.</p><p>A disposição a pagar, ou preço reserva, reflete o preço máximo que um consumidor está disposto a pagar por determinado bem.</p><p>Um indivíduo não pagará mais do que este valor por um bem. Se o preço é igual à disposição a pagar, o consumidor estará indiferente entre comprar ou não.</p><p>O gráfico, a seguir, ilustra a disposição a pagar de três consumidores, Júlia, Manuel e Beatriz, com preços de reserva de R$50,00, R$35,00 e R$22,00, respectivamente:</p><p>Gráfico: Preço de reserva e excedente do consumidor</p><p>Seus preços de reserva estão acima do preço pelo qual o bem é vendido, que é de R$10,00. O preço de reserva deles está acima do preço de mercado e, portanto, eles irão realizar a transação. Há também aqueles consumidores com preço de reserva abaixo do preço de mercado. Esses indivíduos não irão comprar o bem.</p><p>A compra do bem por consumidores cuja disposição a pagar é maior ou igual ao preço de mercado do bem gera bem-estar para os mesmos.</p><p>Esse bem-estar pode ser medido, e é conhecido como excedente do consumidor.</p><p>Nesse exemplo, podemos notar que cada comprador de um bem alcança algum excedente individual. Ao somarmos os excedentes individuais, chegamos ao excedente total do consumidor. Supondo que no exemplo acima só haja três consumidores no mercado, o excedente total do consumidor é de: R$40,00 + R$25,00 + R$ 22,00 = R$77,00.</p><p>A próximo gráfico representa graficamente o excedente total do consumidor para um grande mercado:</p><p>Gráfico: Excedente total do consumidor</p><p>Esse mercado possui tantos consumidores que a curva de demanda é contínua. O excedente total do consumidor é a área abaixo da curva de demanda e acima do preço, sendo igual a R$20,00.</p><p>Quando o preço muda, o excedente do consumidor também varia. O seguinte gráfico ilustra o que acontece quando o preço aumenta.</p><p>Gráfico: Mudança no preço e mudança no excedente</p><p>Excedente do produtor e curva de oferta</p><p>Considere um grupo de amigos que são vendedores potenciais de discos usados. Como eles possuem preferências distintas, cada vendedor terá um preço pelo qual estará disposto a realizar a venda. Vejamos:</p><p>Afonso: Não vende um disco por menos de R$9,00, mas por qualquer preço acima deste.</p><p>Robson: Só aceita vender por, pelo menos, R$15,00.</p><p>Joaquim: Vende por R$22,00.</p><p>Assim, podemos definir o custo do vendedor como o menor preço pelo qual o produtor está disposto a vender seu produto.</p><p>A diferença entre o preço que o produtor, de fato, vende o produto e seu custo é o excedente do produtor.</p><p>Da mesma forma que a curva de demanda foi derivada a partir da disposição a pagar dos consumidores, podemos derivar a curva de oferta do custo do produtor.</p><p>A gráfico, a seguir, ilustra a curva para um mercado de discos com três produtores:</p><p>Gráfico: Custo individual e excedente do produtor</p><p>O excedente de Afonso equivale à área do polígono mais escuro da esquerda, o de Robson, à área do retângulo do meio, e o de Joaquim, ao do polígono mais claro da direita.</p><p>Como no caso do excedente do consumidor, podemos somar os excedentes individuais para chegarmos ao excedente total do produtor. Com um grande mercado e uma curva de oferta contínua, como no próximo gráfico, o excedente total do produtor é a área acima da curva de oferta e abaixo do preço, sendo igual a R$20,00:</p><p>Gráfico: Excedente total do produtor</p><p>Assim como para o excedente do consumidor, mudanças de preço afetam o excedente total. O gráfico, a seguir, ilustra o que ocorre quando o preço aumenta:</p><p>Gráfico: Mudança no preço e no excedente</p><p>Bem-estar e excedente</p><p>Um dos princípios fundamentais da Economia é que os mercados são, frequentemente, uma maneira eficiente de alocar recursos. De forma geral, a alocação de recursos pelo mercado torna a situação da sociedade a melhor possível (não é sempre assim - você verá ao final deste tema um caso em que isso não acontece). Por meio do excedente, podemos entender o motivo disso ocorrer.</p><p>Seja um grande mercado competitivo, com N consumidores e K produtores. As curvas de oferta e de demanda desse mercado estão representadas no gráfico adiante, junto com os excedentes totais do consumidor e do produtor:</p><p>Gráfico: Equilíbrio de mercado e excedente</p><p>O equilíbrio do mercado de livros encontra-se no ponto E, com o preço de R$45,00 e a quantidade de 100 unidades.</p><p>A área em azul mais claro é igual ao excedente do consumidor, e a área em azul mais escuro é igual ao excedente do produtor.</p><p>Podemos calcular o excedente total da sociedade ao somarmos as duas áreas. O exemplo do mercado de livros deixa claro que há ganhos tanto para os produtores quanto para os consumidores. Isso indica que produtores e consumidores estão melhores, pois o mercado existe, refletindo o princípio econômico sobre ganhos de troca, em que ocorrem</p><p>ganhos no comércio.</p><p>Esses ganhos são a razão pela qual todos, quando fazem parte de uma economia de mercado, estão em uma situação melhor do que se fossem autossuficientes.</p><p>Participar de uma economia de mercado é melhor do que ser autossuficiente, mas será que estão todos em uma situação tão boa quanto possível?</p><p>Um critério útil para compararmos diferentes situações econômicas é o de eficiência de Pareto. Para começar a defini-lo, primeiro vamos delinear outro conceito, o de melhora de Pareto: se há uma forma alternativa de melhorar a situação de um indivíduo sem piorar a situação de outro, temos uma melhora de Pareto.</p><p>Exemplo: Se João está disposto a vender um produto por R$10,00, e Maria, a comprá-lo por R$ 20, então, a venda a R$15,00 (ou a qualquer valor entre R$10,00 e R$20,00) é uma melhora de Pareto, pois nenhum dos dois perde e ao menos um fica em situação estritamente melhor.</p><p>Se uma situação admite uma melhora de Pareto, dizemos que a alocação de recursos é Pareto ineficiente, ou seja, existem ações (ou transações) que podem melhorar a situação de alguém sem prejudicar ninguém. Se existe essa possibilidade, devemos exercê-la, ou estaremos desperdiçando recursos.</p><p>Caso seja impossível melhorar a situação de alguém sem piorar a de outra pessoa (ou seja, se não houver melhorias de Pareto disponíveis), dizemos que estamos em uma situação Pareto eficiente, ou, simplesmente, que a alocação de recursos é eficiente no sentido de Pareto, ou ainda ótima de Pareto. Há diferentes alocações eficientes de Pareto, correspondendo a distribuições de recursos mais benéficas a um ou outro agente econômico.</p><p>Supondo que em uma economia de mercado todas as trocas voluntárias sejam realizadas, de modo a esgotar os ganhos de troca, obtemos um resultado conhecido como primeiro teorema do bem-estar: todo equilíbrio em um mercado competitivo é ótimo de Pareto. Em equilíbrio, um mercado competitivo esgota a possibilidade de ganhos com novas trocas.</p><p>O segundo teorema do bem-estar nos diz que qualquer alocação ótima de Pareto pode ser obtida como equilíbrio de mercado, bastando, então, distribuir recursos e permitir que os agentes econômicos realizem trocas voluntárias.</p><p>Para ilustrar esse teorema, suponhamos que exista um comitê que busca melhorar o equilíbrio de mercado. A finalidade do comitê é aumentar o excedente total. Para isso, eles pensam em três planos:</p><p>Esse resultado independe do par de consumidores e produtores escolhidos para exemplificar. Pode ser qualquer produtor que tenha um custo de R$1,50 ou menos, e qualquer consumidor que tenha um preço de reserva de R$1,50 ou mais. Portanto, impedir vendas reduz o excedente total. Da mesma forma, qualquer um que não estivesse comprado banana estaria disposto a pagar menos de R$1,50, e qualquer um que não tivesse vendido banana tem um custo maior que R$1,50.</p><p>Apesar de termos exemplificado os teoremas, existem algumas ressalvas a serem feitas.</p><p>A primeira delas é que o conceito de eficiência de Pareto nada diz sobre equidade, de forma que é possível que um resultado no qual um indivíduo detenha toda a riqueza e os demais não tenham nada seja Pareto eficiente.</p><p>A outra ressalva diz respeito ao funcionamento dos mercados competitivos. Em todos os exemplos, o mercado funcionava perfeitamente. Quando existe alguma falha que impeça que o mercado funcione corretamente, ele não maximiza mais o excedente total, e, portanto, os resultados do primeiro e do segundo teoremas do bem-estar não são mais válidos. Por fim, mesmo que o equilíbrio de mercado maximize o excedente total, isso não diz nada a respeito de maximização de excedente individual.</p><p>Módulo 4: Firma monopolista</p><p>Monopólio</p><p>Monopólios são mercados em que há apenas um produtor ofertando um bem e, portanto, ao contrário de um mercado em concorrência perfeita, não há competição alguma. Além disso, o bem ofertado não deve possuir nenhum substituto próximo.</p><p>Para que seja possível existir apenas um produtor em um mercado monopolístico, é preciso existir razões para dificultar a entrada de novos produtores. No geral, as barreiras de entrada que permitem a existência de um monopólio são a regulamentação governamental (patentes, por exemplo); grandes custos iniciais, diluídos apenas com uma grande produção (por exemplo, uma usina hidrelétrica); ou tecnologia e controle de insumos; ou recursos necessários à produção.</p><p>No monopólio, o monopolista se move para cima ao longo da curva de demanda: ou seja, aumenta o preço e diminui a quantidade produzida. Como só existe um produtor, a curva de demanda enfrentada pela firma é exatamente igual à curva de demanda agregada.</p><p>Assim, a curva de demanda enfrentada pelo monopolista é negativamente inclinada. O gráfico, a seguir, ilustra isso:</p><p>Gráfico: Monopólio.</p><p>Ec representa o equilíbrio do mercado competitivo. Em Ec o preço de equilíbrio é Pc, e a quantidade ofertada em equilíbrio é igual a Qc.</p><p>Já no equilíbrio de monopólio, a quantidade ofertada de equilíbrio é Qm, ao preço Pm.</p><p>Escolha de preço e de quantidade</p><p>Provavelmente, você está se perguntando: “Como o monopolista escolhe o preço para maximizar o lucro?”.</p><p>Como sabemos, um produtor que deseja maximizar seu lucro tem uma ótima regra: produz a quantidade em que o custo marginal se torna igual à receita marginal. A regra é válida para qualquer produtor, e a aplicação desta leva a diferentes quantidades ofertadas, embora todas maximizem o lucro.</p><p>Isso acontece porque a curva de demanda que um produtor enfrenta em concorrência perfeita é diferente da enfrentada em monopólio.</p><p>Enquanto a curva do produtor perfeitamente competitivo é horizontal, a do monopolista é negativamente inclinada.</p><p>Dessa forma, a receita marginal da firma competitiva é o preço de mercado: se ela vende uma unidade a mais, sua receita adicional é o preço de mercado daquele bem.</p><p>Como o monopolista enfrenta uma curva de demanda negativamente inclinada, a receita marginal do monopolista se altera conforme as quantidades vendidas:</p><p>Quanto mais unidades ele vende, menor é o preço!</p><p>Isso ocorre exatamente porque a demanda de mercado (igual à demanda do monopolista) é negativamente inclinada: quanto maior a quantidade, menor o preço.</p><p>A tabela, a seguir, apresenta esta relação para um confeiteiro, que é monopolista no mercado de sonhos:</p><p>Podemos observar que a receita marginal do sonho é menor do que o preço pelo qual ele é vendido. Isso acontece porque o aumento da oferta do monopolista tem dois efeitos sobre a receita, o efeito quantidade, em que uma unidade a mais vendida aumenta a receita total, e o efeito preço, em que, para vender uma unidade a mais, o monopolista deve reduzir o preço de mercado de todas as demais unidades, o que reduz a receita. Assim, a curva de receita marginal do monopolista está sempre abaixo da curva de demanda, devido ao efeito preço.</p><p>Para maximizar seu lucro, o monopolista irá, assim como um produtor em competição perfeita, olhar o ponto em que custo marginal é igual à receita marginal, como ilustrado na gráfico adiante:</p><p>Gráfico: Lucro de monopólio</p><p>Para encontrar o preço ótimo de monopólio, contudo, é preciso subir verticalmente no ponto A até encontramos a curva de demanda, no ponto B. Assim, a regra da quantidade ótima é válida para determinar a quantidade escolhida pelo monopolista. O que muda é que, encontrada essa quantidade, devemos usar a curva de demanda para encontrar o preço. O polígono azul mostra o lucro de monopólio.</p><p>Monopólio, concorrência perfeita e bem-estar</p><p>Voltemos ao último gráfico. O equilíbrio competitivo é o ponto C. Como o mercado é um monopólio, ou seja, há apenas um confeiteiro ofertando o bem, seu equilíbrio ocorre no ponto B, a uma quantidade menor e a um preço maior.</p><p>Em competição perfeita, isso não ocorre: se uma firma tem lucro econômico positivo, outras podem entrar no mercado cobrando um pouco menos. As barreiras à entrada em um mercado monopolista, porém, permitem que essa situação seja sustentável.</p><p>Comentário: Observe que um monopolista não possui uma curva de oferta, uma vez que a curva de oferta mostra a quantidade</p><p>que os produtores estão dispostos a ofertar a qualquer preço de mercado dado. Como o monopolista não toma o preço como dado, ele escolherá a quantidade que maximiza o lucro levando em conta sua própria capacidade de influenciar o preço.</p><p>Como já sabemos algo sobre bem-estar, você deve estar se perguntando qual é o impacto do monopólio sobre o excedente do produtor, do consumidor e total.</p><p>O próximo gráfico apresenta dois painéis com o excedente do consumidor, tanto para o mercado competitivo quanto para o monopólio:</p><p>Gráfico: Painel A e B</p><p>Comparandos os dois, temos o seguinte:</p><p>Painel A: Mostra o que acontece em um mercado no qual há concorrência perfeita. O produto de equilíbrio é Qc, e o preço Pc é igual ao custo marginal do bem. Cada firma tem receita igual ao custo, de forma que não há excedente do produtor. O excedente do consumidor é igual à área do triângulo azul, que também é igual ao excedente total.</p><p>X</p><p>Painel B: O monopolista produz Qm e cobra Pm. Ele tem um lucro igual à área do polígono azul claro, que é igual ao excedente do produtor. Podemos notar que este lucro foi capturado dos consumidores, uma vez que o excedente do consumidor passa a ser igual à área do triângulo azul escuro. Assim, comparando o excedente total do painel A com o do painel B, vemos que há uma redução do excedente e, portanto, do bem-estar. A área do triângulo laranja é igual à perda de excedente, e é conhecida como peso morto, que nada mais é do que a perda líquida para a sociedade.</p><p>Consumidores e produtores têm sempre um conflito de interesses. Contudo, no caso do monopólio, as perdas dos consumidores são maiores que os benefícios do monopolista.</p><p>O monopólio é, portanto, uma fonte de ineficiência, no sentido de Pareto: é possível melhorar a situação de todos sem piorar a de ninguém - por exemplo, se a firma monopolista produzir uma unidade a mais e vendê-la a um preço maior que seu custo de produção, mas menor que o preço de reserva do consumidor, haverá ganho de troca. O monopolista, porém, não tem incentivo a fazer isso porque seria obrigado a reduzir o preço de todas as demais unidades vendidas, o que diminuiria seu lucro.</p><p>Essa é a razão pela qual, com frequência, governos buscam impedir o surgimento de monopólios.</p><p>Considerações finais</p><p>Ao longo deste conteúdo, desenvolvemos uma série de ferramentas teóricas para entender o funcionamento dos mercados. Construímos as curvas de oferta e de demanda, estudamos a formação de preços e a definição de quantidades transacionadas, e consideramos diferentes estruturas de mercado - como competição perfeita e monopólio. Apresentamos ainda critérios para avaliar se uma alocação de recursos é “boa” em um sentido específico: eficiência de Pareto.</p><p>Esses instrumentos estarão presentes em qualquer análise econômica, de estudos abstratos à prática cotidiana. Observe como esses conceitos podem ser usados em debate sobre o possível investimento em uma nova máquina ou sobre a definição de como distribuir tarefas entre os funcionários, ou sobre uma política pública.</p><p>TEMA 5 – Contas Nacionais e Indicadores Econômicos</p><p>Módulo 1: Princípios básicos das contas nacionais</p><p>Produto Interno Bruto – PIB</p><p>Para começar, vamos analisar a questão a seguir:</p><p>“Em 2010, o Brasil registrou um crescimento expressivo do PIB, da ordem de 7,5%.” (Fonte: UOL Educação). Refletindo sobre essa informação, o que você entende sobre PIB?</p><p>Resposta: O PIB é o indicador mais utilizado para analisar o desempenho de uma economia. Seu objetivo é sintetizar em um único número o valor correspondente à atividade econômica em moeda corrente.</p><p>Percebemos que o PIB é um indicador essencial e muito útil. Ele é utilizado, preponderantemente, em nossa economia. No Brasil, quem é responsável pelo cálculo do PIB? O PIB é calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a partir de diversos dados, tanto administrativos quanto oriundos de pesquisas domiciliares. Alguns desses dados são produzidos pelo próprio IBGE e outros são provenientes de fontes externas, como o Banco Central e a Fundação Getúlio Vargas.</p><p>Fluxo circular do PIB</p><p>O PIB é a soma do valor de todos os bens e serviços finais produzidos em um país ao longo de um período de tempo. Uma forma de calcular diretamente o PIB é pesquisar as firmas desta economia e somar o valor de sua produção de bens e serviços finais, ou seja, somando o fluxo de fundos recebidos pelas vendas no mercado de bens e serviços. Mas, afinal, só existe essa forma de cálculo?</p><p>Cálculo do PIB</p><p>Podemos visualizar diversas maneiras de calcular o PIB analisando o fluxo circular expandido. O princípio fundamental das contas nacionais é que o fluxo de dinheiro que entra em cada setor ou mercado é igual ao que sai. O princípio fundamental exige que a soma total de fluxos de capital que sai de determinada caixa seja igual à soma total que entra. É uma questão de contabilidade. Observe o fluxo circular na imagem.</p><p>Diagrama do Fluxo Circular expandido.</p><p>As famílias têm gastos nos mercados de bens e consumo, e também são proprietárias dos fatores de produção, vendendo o uso destes às firmas e recebendo em troca salários, lucros, juros e aluguéis. As empresas compram e pagam pela utilização desses fatores de produção.</p><p>A maior parte da renda das famílias é proveniente de salários pela venda da mão de obra. Além dos salários, a renda das famílias é composta por ações (participação na propriedade de empresas), aluguéis (de imóveis, terras e bens de capital) e bônus (títulos de dívidas que pagam juros). Portanto, a renda familiar é composta por salários, aluguéis, juros e lucros.</p><p>As famílias pagam impostos ao governo e também podem receber transferências governamentais, como no caso de aposentadorias e auxílios sociais. A renda total das famílias após elas pagarem impostos e receberem transferência é conhecida como renda disponível. As famílias não costumam gastar toda sua renda disponível em bens e serviços, de forma que parte da renda disponível é transformada em poupança privada, indo para mercados financeiros.</p><p>Os mercados financeiros recebem renda tanto das famílias do país em questão, como também do governo e do resto do mundo. Os mercados financeiros são instituições, como bancos, onde indivíduos, governo e empresas podem comprar e vender ações, bônus e fazer empréstimos.</p><p>O governo destina parte dos impostos às famílias, na forma de transferências. A outra parte das arrecadações tributárias é utilizada para a compra de bens e serviços, e, frequentemente, precisa ser complementada na forma de empréstimos governamentais.</p><p>Os bens e serviços adquiridos pelo governo variam de equipamentos hospitalares até o pagamento de salário de professores. O “resto do mundo” (todos os demais países) participa comprando bens e serviços produzidos no Brasil, como petróleo, soja e minério de ferro, que são denominadas exportações, ou vendendo bens e serviços ao Brasil, como respiradores hospitalares, combustíveis e automóveis, por meio das importações. Os demais países também realizam transações nos mercados financeiros, seja pela compra de ações de empresas brasileiras por estrangeiros ou por empréstimos de firmas brasileiras com instituições estrangeiras.</p><p>Além das famílias, as empresas compram máquinas e mão de obra no mercado de bens e serviços para viabilizar a sua produção. A aquisição de máquinas é considerada como gasto em investimentos, uma vez que estão relacionados à capacidade física produtiva. O gasto com aumento de estoques também é considerado investimento, pois contribui para o aumento das vendas futuras de uma firma.</p><p>Apresentamos a segunda maneira de calcular o PIB: somando as despesas no mercado de bens e serviços!</p><p>Incluímos também as despesas do governo e os gastos em investimentos realizados pelas firmas. Pela regra fundamental da contabilidade, o fluxo de despesa realizado pelas famílias no mercado de bens e serviços deve ser igual ao que entra no mercado e sai de outras fontes.</p><p>O fluxo total direcionado ao mercado de bens e serviços é conhecido como gasto agregado, ou seja, a soma dos gastos</p><p>de consumo, de investimento, das compras governamentais e das exportações, subtraindo as importações.</p><p>Por fim, podemos calcular o PIB a partir do fluxo de renda das firmas!</p><p>Essa é a terceira maneira de calcular o PIB: a partir do fluxo de renda das firmas para os mercados de fatores. Nesse fluxo, temos os salários pagos à mão de obra, juros, lucros e aluguéis.</p><p>Para calcular o PIB, podemos somar o total das rendas dos fatores recebidas pelas famílias e pagas pelas firmas. O PIB pode ser calculado a partir de três prerrogativas: o valor da produção de bens e serviços finais, os gastos em bens e serviços finais produzidos internamente e a renda de fatores obtidos pelas firmas na economia.</p><p>Comentário: O PIB mede somente bens e serviços finais, a fim de evitar dupla contagem. Considere, por exemplo, que um país produz R$ 100,00 de cevada e R$ 500,00 de cerveja. Nesse caso, o PIB do país será de R$ 500,00, uma vez que o valor da cevada já é considerado no valor da cerveja.</p><p>Como são contabilizados os bens e serviços? Os bens e serviços finais são contabilizados a preços enfrentados pelo consumidor, levando-se em conta os impostos sobre os produtos comercializados. Uma forma de calcular o valor de todos os bens e serviços finais de uma economia é representado pela soma do valor agregado em cada etapa da produção, em que este valor agregado é igual ao valor do produto da firma menos o valor de todos os bens intermediários utilizados na produção. Assim, existe outra definição: PIB é o total do valor agregado de todas as firmas na economia.</p><p>Bens usados, estoques e valores imputados</p><p>Há bens e serviços que são computados de forma especial no PIB. O primeiro deles são os bens usados.</p><p>Exemplo: Quando a Som Livre produz discos do Jorge Benjor e os vende por 15 reais, esse montante é adicionado ao PIB do Brasil. Quando uma pessoa que comprou esse disco resolve revendê-lo, anos depois, por 50 reais, esse valor não entra no cálculo do PIB.</p><p>Isso acontece porque somente os valores correspondentes a bens e serviços produzidos no momento presente são contabilizados, e a venda do disco do Jorge Benjor reflete apenas a transferência de um ativo, e não um acréscimo à renda da economia.</p><p>Além de bens usados, os estoques também apresentam uma abordagem diferenciada. A produção de um bem aumentou durante um mês e, ao final deste, ele estragou, pois era perecível, ou foi para estoque.</p><p>O aumento da produção aumenta o PIB em ambos os cenários. No primeiro, em que o bem estragou, houve maior pagamento de salários, e a não venda do bem reflete em menores lucros. Já no segundo cenário, em que o bem foi para o estoque da firma, é tratado como compra por parte da própria firma, e, portanto, faz parte do PIB. Contudo, a venda desses bens que se encontravam estocados não entra no cálculo.</p><p>Como a economia é diversa e oferece bens e serviços bastante diferenciados, não é possível, em todos os casos, calcular o PIB desses bens e serviços em preços de mercado. Quando isso acontece, utilizamos uma estimativa do preço, conhecida como valor imputado. Aluguéis, moradias e serviços prestados pelo governo são alguns dos casos nos quais utilizamos valores imputados, em vez de preços de mercado.</p><p>No caso de moradia, estima-se que a dona do imóvel pague um valor de aluguel para ela mesma, e esse valor é considerado parte do PIB.</p><p>No caso dos serviços públicos, os salários dos servidores são usados como uma medida de valor correspondente à sua produção.</p><p>Embora existam mais casos em que uma imputação seja necessária, em muitos desses não é realizada, como aluguéis de carros e outros bens duráveis, bens e serviços produzidos e consumidos em casa, como refeições, e bens e serviços da economia informal.</p><p>Atividade discursiva</p><p>Suponha que uma economia produza 3 peixes e 5 cocos. Para fazer o cálculo do PIB, utilizamos preços de mercado, ou seja, preços que refletem a disposição dos indivíduos a pagar sobre aquele produto. Se cada unidade de peixe custa R$ 5,00 e de coco, R$ 2,00, o PIB desta economia é de:</p><p>PIB = (Preço do peixe × Quantidade de peixe) + (Preço do coco × Quantidade de coco)</p><p>= (R$ 5,00 × 3) + (R$ 2,00 × 5)</p><p>= R$ 25,00</p><p>Ótica da despesa</p><p>As contas nacionais dividem o PIB em quatro categorias para despesa:</p><p>· Consumo (C);</p><p>· Investimento (I);</p><p>· Compras do governo (G);</p><p>· Exportações líquidas (NX).</p><p>Portando, sendo Y o PIB, temos: \(Y = C + I + G + NX\)</p><p>Essa equação é conhecida como identidade das contas nacionais.</p><p>Consumo</p><p>O consumo compreende os bens e serviços adquiridos pelos domicílios. Os bens são classificados em duráveis e não duráveis.</p><p>Duráveis - São bens que duram um longo período de tempo, como automóveis e eletrodomésticos.</p><p>X</p><p>Não duráveis - São bens que duram um curto período de tempo, como alimentos e vestuário.</p><p>Investimento</p><p>O investimento consiste em bens adquiridos para uso futuro, e pode ser de três naturezas: investimento fixo de empresas, investimento fixo imobiliário e investimento em estoques. O primeiro equivale à compra de nova unidade para produção ‒ por exemplo, equipamentos e maquinários. O segundo consiste na aquisição de uma nova residência para fins de moradia ou de aluguel pelas famílias. Por fim, o investimento em estoques é o aumento de estoques de bens por uma firma.</p><p>Compras do governo</p><p>As compras do governo são os bens e serviços adquiridos pelos governos federais, estaduais e municipais, e incluem itens como equipamentos hospitalares e escolares, e serviços prestados por servidores públicos. Não consideramos gasto do governo transferências como previdência e assistência social. Essas transferências não são contabilizadas no PIB, pois apenas realocam uma renda que já existe, e não há transação entre bens e serviços.</p><p>Exportações líquidas</p><p>As exportações líquidas são a parte da identidade das contas nacionais que considera o comércio com outros países. Elas são o valor das exportações (o que é vendido para outros países) menos o valor das importações (o que compramos de outros países). As exportações líquidas são negativas quando o valor das importações é maior do que o valor das exportações, e positivas, no caso oposto.</p><p>Ótica da oferta</p><p>Para calcular o PIB pela ótica da oferta, somamos os valores agregados totais de cada firma, que é denominado valor adicionado bruto (VAB), e representa o valor da diferença entre o que é produzido e o consumo intermediário. Para chegar ao PIB a preços de mercado, somamos o VAB com impostos indiretos e subtraímos subsídios:</p><p>\(PIB =\sum VAB +\) impostos indiretos - subsídios</p><p>Para compreendermos melhor, vamos resolver a questão a seguir.</p><p>Atividade discursiva</p><p>Seja uma padaria que produza um pão e o venda a R$ 1,00. Para produzi-lo, o padeiro gastou 100g de farinha de trigo e 10ml de água. O custo de R$ 1,00 considera os gastos com os ingredientes para produzi-lo. Suponha que o custo desses ingredientes seja de 30 centavos. Qual será o valor agregado a essa padaria e o valor da sua contribuição para o PIB?</p><p>O valor agregado dessa padaria é de 70 centavos, e sua contribuição para o PIB é de R$ 0,70.</p><p>Ótica da renda</p><p>O cálculo do PIB, pela ótica da renda, consiste na soma de todas as rendas dos agentes habitantes do país em questão, como salários, juros, lucros e aluguéis. A soma dos juros, lucros e aluguéis é conhecida na contabilidade nacional como excedente operacional bruto (EOB). Portanto, para chegar ao PIB a preços de mercado, devemos somar salários, EOB e impostos indiretos, e subtrair os subsídios, veja:</p><p>\(PIB =\) salários \(+ EOB +\) impostos indiretos - subsídios</p><p>Fluxo x estoque</p><p>O PIB é uma medida de fluxo de novos bens e serviços finais produzidos durante certo período de tempo, e não um estoque de riqueza existente em um país. Se um país não produz durante um ano, seu PIB anual é zero.</p><p>O estoque é uma quantidade medida em certo ponto do tempo, enquanto o fluxo é uma quantidade medida por unidade de tempo.</p><p>Atividade discursiva</p><p>Pense numa caixa d’água. A água dentro da caixa é um estoque e equivale à quantidade de água da caixa em certo período do tempo. Já a água que entra na caixa</p><p>pelo cano é um fluxo, sendo a quantidade de água adicionada ao longo do tempo. O que podemos considerar sobre a unidade de medida dessas variáveis?</p><p>A unidade de medida dessas duas variáveis é diferente. Enquanto pelo cano (fluxo) entram 10L por minuto, a caixa d’água contém 100L.</p><p>Veja um exemplo do cálculo do PIB pelas três óticas em uma economia hipotética:</p><p>Cálculo do PIB em uma economia hipotética.</p><p>PIB real x PIB nominal e o deflator do PIB</p><p>Como já vimos, o PIB nos possibilita fazer comparações tanto entre nações quanto entre períodos de tempo. Contudo, devemos prestar atenção ao fazermos comparações entre períodos de tempo. Parte do aumento do PIB ao longo do tempo representa um aumento nos preços dos bens e serviços, e não um aumento na quantidade produzida, uma vez que o PIB é calculado em moeda corrente.</p><p>Da mesma forma, uma economia pode estar aumentando, mas seu PIB pode estar caindo se os preços estiverem reduzindo.</p><p>Para compreender melhor a questão, analise a situação a seguir:</p><p>Em minhas pesquisas, verifiquei que o PIB do Brasil em 2019, segundo o IPEA Data, foi de 7.256.882,00 milhões de reais, enquanto em 2009 foi de 3.333.039,30 milhões de reais. Todavia, em 10 anos, a economia brasileira não mais que dobrou de tamanho. Para fazermos essa comparação de forma correta, é preciso calcular o PIB real, ou seja, a quantidade de bens e serviços finais que uma economia produziu.</p><p>1 - Para entendermos como calculamos o PIB real, vamos imaginar uma economia que produza apenas peixes e cocos. No primeiro ano, o preço do peixe é de R$ 3,00, o do coco é de R$ 1,00, e são produzidos 10 peixes e 25 cocos. No segundo ano, o preço do peixe é de R$ 5,00, o do coco é de R$ 2,00, e são produzidos 15 peixes e 30 cocos.</p><p>2 - No primeiro ano, o valor total da produção é de R$ 55,00. No segundo ano, é de R$ 135. O PIB nominal do segundo ano é 145% maior que o do primeiro. Contudo, fica claro, a partir do exemplo, que os preços aumentaram, e mesmo que a quantidade também tenha aumentado, o aumento da quantidade é menor do que 145%.</p><p>3 - Para chegarmos ao aumento da quantidade produzida, devemos calcular o PIB como se os preços não tivessem mudado, ou seja, utilizando os preços do primeiro ano e as quantidades do segundo. Assim, o PIB do segundo ano calculado a partir dos preços do primeiro é igual a R$ 75, o que representa um aumento de 36%. Portanto, o PIB real é o valor total de bens e serviços finais produzidos na economia durante um ano, e calculado como se os preços tivessem permanecidos constantes, ou seja, no nível de determinado ano base.</p><p>O PIB real sempre vem acompanhado de informações do ano-base em questão. Os dados do PIB em que os preços não são ajustados é denominado PIB nominal, isto é, o PIB a preços correntes. Se tivéssemos utilizado o PIB nominal para comparar a economia dos dois anos, como mostrado no exemplo anterior, teríamos encontrado um crescimento de 145%, enquanto, na realidade, a economia cresceu 36%. O PIB real também previne que a variação dos preços distorça o valor da mudança na produção de produtos e serviços ao longo do tempo. Na prática, o ano-base é atualizado periodicamente, a cada cinco anos, para garantir que os preços não estejam demasiadamente defasados.</p><p>Deflator do PIB</p><p>Além do PIB nominal e do PIB real, podemos calcular o deflator do PIB, que corresponde à razão entre o PIB nominal e o PIB real. O deflator do PIB reflete o que está ocorrendo com o nível geral de preços da economia.</p><p>Deflator do \(P I B=\frac{\text { PIB nominal }}{\text { PIB real }}\)</p><p>No exemplo sobre a economia hipotética, a variação do deflator do PIB é de 80% (135 ÷75 = (1,8 – 1) x 100 = 80%). O deflator do PIB representa a variação de preços mais abrangente na economia, pois sintetiza uma medida de preços de todos os bens e serviços produzidos. Como veremos, o deflator é diferente dos índices de preço frequentemente utilizados, porque sua estrutura muda conforme a composição do PIB se altera, enquanto os índices de preço, no geral, possuem uma cesta de bens fixa.</p><p>Sazonalidade</p><p>Além do PIB anual, os economistas se interessam pelo PIB de períodos de tempo mais curtos (trimestrais). Contudo, conforme estudamos sua evolução trimestral, logo notamos um padrão sazonal regular.</p><p>A imagem a seguir ilustra a evolução do PIB trimestral do Brasil entre 2016 e 2019. O número 1 no eixo x representa o primeiro trimestre de 2016, o número 5 representa o primeiro trimestre de 2017, e assim por diante. As linhas pontilhadas marcam o último trimestre de cada ano.</p><p>Série trimestral do PIB brasileiro.</p><p>A produção total aumenta durante o ano, com pico no último trimestre, conforme ilustra a imagem anterior. Parte da variação sazonal do PIB reflete a variação na capacidade de produção ao longo do ano. Por exemplo, certos cultivos são produzidos em determinadas estações, assim como indivíduos apresentam preferências sazonais, como a de comprar presentes no Natal, chocolates na Páscoa e viajar no verão.</p><p>Para estudar as flutuações reais do PIB, tiramos a parte da flutuação previsível atribuída à sazonalidade do PIB. A maior parte das estatísticas é ajustada sazonalmente, ou seja, os dados são ajustados de modo a remover as flutuações sazonais regulares. Portanto, quando observamos flutuações no PIB real ou em outros indicadores, devemos buscar outros fatores além da sazonalidade para explicar tais flutuações.</p><p>Outros indicadores de renda das contas nacionais</p><p>PIB per capita</p><p>PIB per capita é a renda média individual de um país. Para calcular o PIB per capita, dividimos o PIB daquele país pela sua população:</p><p>\(P I B_{\text {per capita }}=\frac{P I B}{\text { População }}\)</p><p>Assim como o PIB real, o PIB per capita permite uma melhor comparação entre economias, porque eliminamos o efeito de uma população maior. Assim, um país cuja população é maior terá uma economia maior simplesmente pelo fato de que há mais indivíduos trabalhando.</p><p>A razão para o PIB ser frequentemente usado para analisar o desempenho econômico é que uma economia com grande produção de bens e serviços é capaz de satisfazer melhor às demandas dos domicílios, empresas e governo.</p><p>A partir do PIB, podemos comparar o tamanho da economia de países, avaliar a evolução do PIB no tempo, comparando o seu desempenho anual, analisar o PIB per capita etc.</p><p>Relembrando: PIB é um indicador imperfeito da economia, uma vez que existem limitações para o seu cálculo. Portanto, diversos fatores relevantes não são considerados no PIB: distribuição de renda, qualidade de vida, educação, saúde, segurança etc.</p><p>Produto Nacional Bruto - PNB</p><p>Além do PIB, existem outros indicadores de renda bastante utilizados que se relacionam com ele. O primeiro deles é o Produto Nacional Bruto (PNB), que considera o valor da produção de propriedade de residentes, ou seja, de brasileiros. A produção de estrangeiros no Brasil é levada em consideração no PIB, mas não no PNB. A produção de brasileiros em países estrangeiros, por exemplo, não é considerada no PIB, mas entra no PNB.</p><p>PNB = PIB + pagamentos de fatores oriundos do exterior - pagamentos de fatores destinados ao exterior = PIB - RLEE</p><p>Nessa expressão, a renda líquida enviada ao exterior (RLEE) é a diferença entre pagamentos de fatores destinados ao exterior (como o salário de um norte-americano que trabalha no Brasil) e pagamentos de fatores oriundos do exterior (por exemplo, o salário de um brasileiro que trabalha na Europa).</p><p>As diferenças entre PIB e PNB podem ser expressivas em alguns países, como também podem quase não existir em outros. Isso acontece devido à composição da economia, ao grau de endividamento externo e à quantidade de empresas multinacionais que remetem lucros aos seus países de origem.</p><p>Podemos calcular o Produto Nacional Líquido (PNL) a partir da subtração da depreciação do capital, isto é, da parcela do capital que se desgasta ao longo de um período:</p><p>PNL = PNB - Depreciação do Capital</p><p>Como a depreciação do capital representa um custo para a produção, por meio da sua subtração, temos o resultado líquido da atividade econômica.</p><p>Imagine, por exemplo, uma máquina de moer café que precisa de manutenção, pois está com uma peça quebrada. Essa peça quebrada é um exemplo de depreciação do capital.</p><p>O Produto Nacional Líquido é aproximadamente igual a outro indicador de renda, a Renda Nacional, que mede o quanto ganharam todas as pessoas que integram uma economia. A diferença entre os dois indicadores ocorre devido a uma pequena correção, conhecida como discrepância estatística, ocasionada porque fontes diferentes de dados podem não ser exatamente correspondentes.</p><p>Em uma economia fechada, ou seja, sem trocas com o exterior, as estimativas de PIB e PNB são idênticas.</p><p>Módulo 2: Indicadores complementares às contas nacionais</p><p>Índice de preços ao consumidor e inflação</p><p>Para começar, vamos analisar a seguinte informação:</p><p>Ipea reduz projeção para a inflação de 2020, de 2,9% para 1,8%.</p><p>Os alimentos, que dispararam de preço na quarentena, contudo, devem encerrar o ano com uma alta de 3%. (Correio Braziliense, 2020)</p><p>Como podemos observar, ao acompanhar notícias sobre nossa economia, é comum analisar as projeções sobre as altas e baixas dos preços.</p><p>O que são índices de preço?</p><p>Resposta: Assim como o PIB e as medidas de renda que vimos no módulo anterior, existem diversos índices de preços em uma economia. O mais utilizado é o índice de preços ao consumidor (IPC), mas também há o índice de preços do produtor (IPP), que mostra como o custo de produção evoluiu.</p><p>No Brasil, esses índices são calculados pelo IBGE, FGV e Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (FIPE). De forma análoga ao PIB, os índices de preço transformam inúmeros valores de bens e serviços em um único indicador de nível geral de preços.</p><p>Índice de preços ao consumidor amplo (IPCA)</p><p>O índice de preços ao consumidor amplo (IPCA) é, desde 1999, o índice oficial do governo para medir a inflação, isto é, o aumento no nível geral de preços. Seu objetivo é mensurar a inflação de um conjunto de produtos e serviços comercializados no varejo, referente ao consumo pessoal das famílias com rendimento mensal entre 1 e 40 salários mínimos. Para calcular o IPCA, o IBGE envia funcionários a estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços, entre os dias 1 e 30 de cada mês de referência para coletar o preço de determinada cesta de bens e serviços.</p><p>A divulgação do índice acontece até o décimo-quinto dia do mês seguinte. A coleta de informações é realizada nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto Alegre, São Paulo, Recife, Belo Horizonte, Belém, Salvador, Curitiba, e nos municípios de Brasília e Goiânia.</p><p>A composição da cesta de consumo é baseada na pesquisa de orçamento familiar (POF). São coletados por volta de 430 mil preços em 30 mil locais. Todos esses preços são comparados com os do mês anterior, resultando em um único valor que reflete a variação geral de preços ao consumidor no período.</p><p>Composição da cesta do IPCA</p><p>Para melhor compreensão sobre o cálculo do IPCA, vamos a um exemplo:</p><p>Suponha que um consumidor padrão compre 10 bananas e 2 abacaxis todos os meses. Sua cesta de consumo é, portanto, composta por 10 bananas e 2 abacaxis, e o seu IPCA é:</p><p>\(IPCA _{em\ dado\ ano}\) \(=\frac{(10 \times \text { preço da banana })+(2 \times \text { preço do abacaxi })}{(10 \times \text { preço da banana no ano-base })+(2 \times \text { preço do abacaxi no ano base })}\)</p><p>Suponha que o preço da banana seja R$ 2,00, e do abacaxi, R$ 5,00. Escolhendo 2010 como ano-base, os preços da banana e do abacaxi eram respectivamente de R$ 1,00 e de R$ 3,00. Assim, o IPCA desta cesta de consumo é de:</p><p>\(I P C A_{2020}=\frac{(10 \times 2)+(2 \times 5)}{(10 \times 1)+(2 \times 3)}=1,87\)</p><p>Esse valor nos informa a razão do custo, no momento corrente, para adquirir 2 abacaxis e 10 bananas em relação a quanto custava a aquisição desses mesmos bens em 2010. Assim, em 2020, a compra de 10 bananas e 2 abacaxis custa 87% a mais do que em 2010.</p><p>IPCA x deflator do PIB</p><p>Como vimos, o deflator do PIB nos fornece uma medida de evolução de preços. O deflator do PIB considera uma cesta de bens e serviços igual à produção do país naquele ano, enquanto o IPCA considera uma cesta fixa. Portanto, um aumento dos preços de bens e serviços adquiridos por empresas e governo serão refletidas no deflator, mas não aparecerão no IPCA.</p><p>É importante saber também que o deflator só considera bens e serviços produzidos internamente, enquanto na cesta do IPCA pode haver itens importados, como vinhos, eletrônicos e queijos.</p><p>Exemplo: Suponha que o preço do vinho aumentou porque a França teve um ano atípico, com temperaturas altas e muita chuva, que estragaram grande parte da plantação de uvas. A quebra da safra da uva resultou em um aumento no preço do vinho. Dessa maneira, o crescimento no preço do vinho francês importado aparecerá no IPCA brasileiro, mas não no deflator do PIB.</p><p>A outra diferença deve-se à forma que cada índice pondera os pesos dos bens. O IPCA atribui um peso fixo ao preço dos bens, devido à utilização de uma cesta fixa, enquanto o deflator concede pesos variados, de acordo com a produção interna daquele ano. Índices de preços que possuem cestas de bens e serviços fixas chamam-se índices de Laspeyeres, e os com cestas variáveis chamam-se índices de Paasche. Portanto, o IPCA é um índice de Laspeyeres e o deflator do PIB é um índice de Paasche.</p><p>E por que usar o IPCA e não o deflator no PIB? Na realidade, não existe uma resposta certa, nem um índice melhor do que o outro. Cada índice tem suas propriedades e diferentes utilidades. Quando os preços de bens diferentes estão variando em proporções diversas, um índice de Laspeyeres, de cesta fixa, costuma superestimar o aumento do custo de vida. Isto acontece visto que uma cesta fixa não leva em consideração a possibilidade de substituição de bens e serviços pelos consumidores. Por outro lado, um índice de Paasche, de cesta variável, subestima o aumento do custo de vida, pois, ao levar em conta a substituição de itens, não reflete a redução de bem-estar e satisfação que tal substituição pode causar.</p><p>Exemplo: Se você é proprietário de uma empresa de construção civil, o seu índice de interesse para negócios será o índice de preços do produtor. No entanto, um senhor aposentado certamente estará mais interessado em acompanhar o IPCA.</p><p>Dependendo do interesse em questão, podemos escolher um índice em detrimento do outro.</p><p>Índice de preços do produtor</p><p>O IPP (índice de preços do produtor) mede o preço de uma cesta adquirida por empresas, não por consumidores. O foco do índice reside nas indústrias extrativas e de transformação, tendo como principal objetivo mensurar a mudança média dos preços de venda recebidos pelos produtores domésticos de bens e serviços, assim como sua evolução ao longo do tempo.</p><p>O IPP é calculado pelo IBGE e abrange informações de, aproximadamente, duas mil empresas, sobre os preços recebidos pelo produtor, isentos de impostos e tarifas, o que resulta na coleta de aproximadamente seis mil preços. Como os produtores, tendem mais rápido do que o IPCA acerca das pressões inflacionárias, e, por isso, algumas vezes é considerado como um aviso prévio de alerta sobre mudanças na inflação.</p><p>O IPP é calculado de forma análoga ao IPCA, mas considera sua cesta de consumo específica.</p><p>Taxa de inflação</p><p>Com tantos índices apresentados, você deve estar se perguntando o porquê de tantas formas diferentes de mensurar a evolução dos preços e de calcular a taxa de inflação. Por que isso é tão importante?</p><p>Para ilustrar sua importância, devemos definir primeiro o que é a taxa de inflação. Como mencionado na apresentação do IPCA, ele é o índice oficialmente utilizado para medir a inflação no Brasil. A partir do IPCA, podemos calcular a taxa de inflação, que é a sua mudança percentual anual:</p><p>Taxa de inflação \(=\frac{I P C A_{\text {ano } 2}-I P C A_{\text {ano } 1}}{I P C A_{\text {ano } 1}} \times 100\)</p><p>Para explicar a importância da taxa de inflação em uma economia, precisamos definir o que é poder de compra. Poder de compra é a quantidade de bens e</p><p>serviços que determinada renda pode adquirir.</p><p>Atividade discursiva</p><p>Suponha que Gabriel seja assistente em um centro de pesquisa de economia e receba R$ 1.300,00 mensais. O prato preferido de Gabriel é galeto, acompanhado de uma Coca-Cola gelada, cujo preço é de R$ 20,00. Se a sua cesta de consumo é apenas galeto com Coca-Cola, e ele gasta toda sua renda com isso, qual é o seu poder de compra?</p><p>Seu poder de compra é a quantidade de cestas de consumo que ele consegue adquirir com a sua renda. Sendo assim, com sua renda, Gabriel pode consumir 65 galetos acompanhados de Coca-Cola (R$ 1.300,00 ÷ R$ 20,00 = 65).</p><p>No Brasil, mais do que em outros países, a inflação foi, por décadas, um problema comum. O grande problema da inflação é que ela deteriora o poder de compra dos consumidores.</p><p>Exemplo: Como ilustrado no exemplo das bananas e abacaxis, a compra destes bens em 2020 era 1,87 vezes mais cara do que em 2010. Podemos também medir a queda no poder de compra ocasionado pela inflação. Por exemplo, suponha que Júlia tivesse R$ 10,00 para comprar bananas em 2010. Com as bananas custando R$ 1,00 em 2010, Júlia comprava 10 unidades. Todavia, em 2020, quando o preço da banana passou a ser R$ 2,00, com os mesmos R$ 10,00, Júlia comprava 5 bananas.</p><p>Com o aumento dos preços dos bens e serviços, o poder de compra vai sendo reduzido, ou seja, podemos comprar menos unidades de bens e serviços, uma vez que a maioria dos contratos e salários tendem a ser reajustados de forma mais lenta, enquanto os outros preços da economia são reajustados mais rapidamente.</p><p>Caso todos os preços se ajustassem na mesma velocidade, proporção e periodicidade, não haveria problema em um aumento no nível de preços daquela economia, já que todos seguiriam com sua renda real inalterada.</p><p>Os economistas consideram que as taxas de inflação elevadas geram custos econômicos significativos. Os mais importantes são os custos de sola de sapato, de menu e de unidade de conta.</p><p>No geral, as pessoas mantêm moeda, seja em forma de dinheiro na carteira, seja em contas correntes em bancos, por conveniência, para realizar transações. Uma alta taxa de inflação desestimula os indivíduos a manterem moeda, porque o poder de compra do dinheiro se deteriora. Isso faz com que as pessoas busquem formas de reduzir a quantidade de moeda que retêm, mesmo que envolva custos consideráveis.</p><p>O primeiro custo é o de sola de sapato, que se trata de uma alusão à necessidade de andar de um lado para o outro quando as pessoas não mantêm dinheiro. Um retrato desse custo é a hiperinflação alemã dos anos 20, em que comerciantes contratavam maratonistas para ir ao banco diversas vezes ao dia para converter o dinheiro em moeda estrangeira mais estável ou em ativos que rendiam juros. Ao se esforçarem para evitar a redução do poder de compra, esses maratonistas poderiam ter sido utilizados em outras atividades produtivas</p><p>A quantidade de transações bancárias é tamanha que exige que o número de empregados em bancos aumente consideravelmente. No Brasil, nos anos de hiperinflação, o setor bancário correspondia a 15% do seu PIB. Para lidar com a hiperinflação, o tamanho necessário do setor bancário representou uma perda de recursos reais para a sociedade, uma vez que esses funcionários também poderiam estar empregados em outras atividades produtivas.</p><p>Outro custo da inflação é o de menu. Em economias modernas, em geral, os preços dos bens e serviços são listados. Em um restaurante, por exemplo, a mudança do preço de um item significa necessidade de confeccionar novos cardápios, o que envolve custos. Quando temos uma inflação alta, os preços são alterados com mais frequência e, portanto, as empresas incorrem com mais frequência nesses custos. No Brasil, os funcionários de supermercados gastavam quase metade do tempo de trabalho remarcando preços.</p><p>Na economia moderna, os contratos deixaram de ser expressados em espécie, como galinhas, e deram lugar à moeda, assim como outros cálculos da economia. Essa função da moeda é conhecida como unidade de conta, e é um papel que se degrada pela inflação: um real vale menos no próximo ano do que neste.</p><p>A consequência é a redução da qualidade das decisões econômicas devido à incerteza da mudança da unidade de conta. Portanto, os custos de unidade de conta da inflação refletem a forma com que ela torna a moeda uma unidade de medida menos confiável. Esse custo se reflete particularmente no sistema tributário, pois a inflação distorce a medida de renda pela qual o imposto é cobrado.</p><p>Exemplo: Suponha uma taxa de inflação de 10% e uma família que compre um apartamento por R$ 100.000,00, e o venda um ano depois por R$ 110.000,00. A família não teve lucro em termos reais com a transação, mas, segundo o sistema tributário, obteve um ganho de R$ 10.000,00, e deverá pagar impostos sobre esse ganho “fantasma”.</p><p>Diversas empresas são desencorajadas a realizar investimentos produtivos devido aos impostos sobre esses ganhos, gerando mais custos para a economia.</p><p>Sendo assim, quando temos uma inflação muito alta, como aconteceu no Brasil nas décadas de 80 e 90, o aumento da renda dos indivíduos não acompanhou a rapidez do aumento dos preços dos bens e serviços, reduzindo o poder de compra dos consumidores. A redução do poder de compra reduz o bem-estar e satisfação dos indivíduos, uma vez que deixam de consumir os itens desejados e, em muitos casos, até os necessários.</p><p>Durante esses anos, a inflação brasileira chegou à marca dos 1000%, e o Brasil ficou conhecido mundialmente pela hiperinflação que assolava a sociedade. Foram realizadas diversas tentativas de reduzir a inflação, algumas deixando a situação ainda mais crítica. Por fim, em 1994, foi lançado o Plano Real, que, entre muitas outras medidas, deu fim ao cruzeiro e implantou o real que conhecemos hoje em dia.</p><p>A imagem a seguir exibe a série histórica do IPCA, iniciada nos anos 80, e mostra sua evolução até os dias de hoje. É possível notar claramente a hiperinflação dos anos 80 e 90, dando lugar a uma estabilidade dos preços a partir de 1995:</p><p>Série histórica do IPCA.</p><p>Veja a evolução do IPCA a partir de 1995 até 2019:</p><p>Evolução do IPCA (1995-2019).</p><p>Taxa de desemprego</p><p>A taxa de desemprego, assim como o PIB e a taxa de inflação, constitui-se como um indicador sobre a situação da economia. Ela é calculada e divulgada atualmente pelo IBGE, a partir da pesquisa nacional de amostra por domicílio contínua (PNADC).</p><p>Até 2016, contudo, era utilizada a pesquisa mensal do emprego (PME). A PNADC foi planejada para produzir indicadores trimestrais sobre a força de trabalho e outros indicadores anuais sobre temas suplementares permanentes.</p><p>O desemprego, como é conhecido popularmente, aparece na pesquisa pelo conceito de desocupação.</p><p>Veja a série histórica para o desemprego no Brasil:</p><p>Taxa de desocupação trimestral (2012-2019).</p><p>Para definirmos desemprego, vamos primeiro definir o que é emprego. Emprego é o número total de pessoas correntemente empregadas, seja em tempo integral ou parcial. O desemprego, por sua vez, é o número de pessoas com idade para trabalhar (acima de 14 anos) que não estão trabalhando, mas estão disponíveis e tentam encontrar trabalho.</p><p>Para alguém ser considerado desempregado, não basta não possuir um emprego. Aposentados e incapacitados que recebem benefícios não são considerados desempregados, uma vez que não procuram emprego e nem estão disponíveis para tal. Portanto, o desemprego é o número total de pessoas que estão ativamente procurando emprego, mas não estão empregadas.</p><p>Para calcular o desemprego de um país, precisamos definir antes outros conceitos.</p><p>A população em idade ativa (PIA) é composta de pessoas que têm idade para trabalhar, ou seja, pessoas acima de 14 anos de acordo com o critério adotado pelo IBGE. A força de trabalho, ou população economicamente ativa (PEA), é composta de pessoas que têm idade para trabalhar, acima de 14 anos, e que estão trabalhando ou procurando trabalho. A taxa de participação na força de trabalho é a parcela da população em idade ativa, ou seja, apta a trabalhar, e</p><p>que está na força de trabalho.</p><p>Taxa de participação na força de trabalho \(=\frac{\text { Força de trabalho }}{\text { População maior de } 14 \text { anos }} \times 100\)</p><p>Segundo a metodologia do IBGE, o aposentado e incapacitado do exemplo estão fora da força de trabalho. Um universitário que dedica seu tempo somente aos estudos e uma dona de casa que não trabalha fora também não estão na força de trabalho. Já uma empreendedora que possui seu próprio negócio está ocupada na força de trabalho.</p><p>População brasileira, de acordo com as divisões do mercado de trabalho, no 4º trimestre de 2019.</p><p>A taxa de desemprego é a parcela dos indivíduos da força de trabalho que estão desempregadas.</p><p>Taxa de Desemprego \(=\frac{\text { Número de desempregados }}{\text { Força de trabalho }} \times 100\)</p><p>A taxa de desemprego é um bom indicador da situação do mercado de trabalho, mas, assim como qualquer indicador, não dever ser considerada um reflexo exato de pessoas que desejam trabalhar, porém não conseguem emprego.</p><p>Como encontrar o emprego adequado leva algumas semanas ou meses, um trabalhador que tem certeza de que encontrará um emprego, mas ainda não aceitou uma oferta, é considerado desocupado. Esse aspecto reflete o motivo de, mesmo em situações de crescimento econômico, a taxa de desemprego não ir a zero.</p><p>Além disso, há pessoas que gostariam de trabalhar, mas não estão, e também não são contabilizadas como desempregados. Isso acontece porque, para ser classificado como desocupado, é preciso ter procurado emprego recentemente.</p><p>Os desalentados são pessoas que gostariam de trabalhar e estariam disponíveis, porém não procuraram trabalho por acharem que não encontrariam. Vários são os motivos que levam as pessoas a desistirem, por exemplo: não encontrar trabalho na localidade em que vivem, não conseguir trabalho adequado por ser considerado muito jovem ou idoso, não ter experiência profissional ou qualificação etc.</p><p>É possível que a taxa de desemprego subestime a real situação do mercado de trabalho, não contabilizando uma parte das pessoas que querem trabalhar, mas não acham emprego. Existem também aqueles marginalmente ligados à força de trabalho, pessoas que responderam que gostariam de ter um emprego e o buscaram no passado recente, mas que, no momento, não estão buscando.</p><p>Por fim, existem os subempregados, que são aqueles empregados em tempo parcial, mas que gostariam de ter um trabalho em tempo integral e não o encontram. Estes últimos também não são contabilizados como desocupados.</p><p>O recebimento de algum benefício de programas sociais como Bolsa Família e Seguro Desemprego não significa que o indivíduo que o recebe é considerado desocupado. É possível que alguém esteja recebendo, mas trabalhe na informalidade e seja classificado como ocupado.</p><p>Pode ocorrer que beneficiários não estejam de fato ocupados e também não estejam buscando emprego, e, portanto, serão classificados como fora da força de trabalho.</p><p>Atenção!</p><p>A taxa de desemprego precisa ser avaliada com cuidado, uma vez que varia bastante em grupos etários, gênero e raça. Por exemplo, é mais fácil conseguir um emprego para jovens maiores de 24 anos, uma vez que já são qualificados e/ou possuem alguma experiência prévia. Empregos para trabalhadores acima dos 54 anos costumam ser mais difíceis, podendo o desemprego ser maior nessa faixa etária.</p><p>Além disso, pelo fato de o Brasil ser um país muito extenso e diverso, as taxas de desemprego tendem a ser diferentes segundo as regiões do país.</p><p>As imagens a seguir apresentam a taxa de desemprego em regiões distintas do país, para diferentes gêneros e grupos etários.</p><p>Taxa de desocupação no Brasil e nas Grandes Regiões, no 4º trimestre de 2019.</p><p>Taxa de desocupação, por idade, 1º trimestre de 2012 - 4º trimestre de 2019.</p><p>Taxa de desocupação por gênero, 1º trimestre de 2012 - 4º trimestre de 2019.</p><p>Coeficiente de GINI</p><p>É importante compreendermos que o coeficiente de Gini é uma medida de distribuição criada em 1912 pelo italiano Corrado Gini, e frequentemente utilizada como indicador da desigualdade em uma economia, medindo a distribuição de renda e de riqueza entre a população. O coeficiente varia de 0 (zero) a 1, em que 0 (zero) representa igualdade perfeita, e 1, desigualdade perfeita. Por exemplo, um país em que apenas um indivíduo detém toda a renda da economia e o restante não tem renda, tem um coeficiente de Gini igual a 1</p><p>Dentre as diversas medidas de desigualdade de renda, o coeficiente de Gini é a mais utilizada, sendo baseado na curva de Lorenz.</p><p>Para construir o coeficiente, coloque a porcentagem cumulativa dos domicílios no eixo horizontal, dos mais pobres aos mais ricos, e no eixo vertical, a porcentagem cumulativa de renda. O coeficiente é calculado por meio da razão das áreas no diagrama da curva de Lorenz. Se a área entre a linha de perfeita igualdade e a curva de Lorenz é a, e a área abaixo da curva de Lorenz é b, então, o coeficiente de Gini é a/(a+b). Se não existe diferença entre as duas, o coeficiente é 0 (zero), o caso de igualdade perfeita.</p><p>O exemplo a seguir ilustra a construção deste índice:</p><p>Na prática, o índice é utilizado para analisar diferenciais na concentração da renda pessoal ao longo de toda a distribuição de renda, o que permite contribuir para a análise da situação socioeconômica da população, identificando quais são os segmentos que requerem maior atenção de políticas públicas de saúde, educação e proteção social, entre outras. Além disso, fornece mais insumos para processos de planejamento, gestão e avaliação de políticas de distribuição de renda.</p><p>Veja a evolução do coeficiente de Gini para alguns países da América do Sul:</p><p>Evolução da desigualdade na América do Sul.</p><p>Altos níveis de desigualdade representam um custo para a economia, afetando seu desempenho e o bem-estar dos indivíduos.</p><p>Sabemos que o acesso ao mercado financeiro não é perfeito, ou seja, nem todos os que desejam obter empréstimo o conseguem. Isso acontece porque a instituição, por exemplo, um banco, faz uma análise de crédito e, no geral, exige que o indivíduo tenha uma fonte de renda ou patrimônio para oferecer como garantia.</p><p>Em uma economia cuja desigualdade é alta, poucos indivíduos concentram a maior parte da renda e do patrimônio. A consequência é que diversas pessoas que precisam de um empréstimo não vão consegui-lo.</p><p>Exemplo: Suponha que Vitória deseje obter um empréstimo para começar uma pequena empresa de tecnologia, uma vez que não tem renda suficiente para fazê-lo sem ajuda. Contudo, como Vitória não tem renda ou patrimônio suficientes, ela não consegue o empréstimo no banco. Vitória, então, perderá a oportunidade e terá de fazer outra coisa menos produtiva, deixando de contribuir para o PIB daquele país, de empregar diversos funcionários e de lançar um novo produto com maior qualidade e menor preço no mercado, o que tem consequência também sobre o bem-estar dos consumidores.</p><p>Em uma sociedade com alto índice de desigualdade, muitas pessoas deixam de utilizar suas habilidades que poderiam contribuir para o bem-estar por falta de acesso às oportunidades. A situação ilustrada, ainda que hipotética, é apenas uma das consequências da desigualdade. Veja:</p><p>Desigualdade entre países.</p><p>O coeficiente usado no mapa da imagem “Desigualdade entre países” é o mais recente, contudo, o ano de mensuração varia entre países. O índice de Gini é medido em termos percentuais. As cores mais escuras representam as nações em que a desigualdade é maior.</p><p>Índice de desenvolvimento humano (IDH)</p><p>O índice de desenvolvimento humano (IDH) é uma medida resumida do progresso a longo prazo em três dimensões básicas do desenvolvimento humano: renda, educação e expectativa de vida. Quanto mais próximo de 1, mais desenvolvido é o país, e quanto mais próximo de 0 (zero), menos desenvolvido.</p><p>O objetivo da criação do IDH foi o de oferecer uma medida alternativa de bem-estar e desenvolvimento ao Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento.</p><p>Criado por Mahbub Ul Haq, o IDH pretende ser</p><p>uma medida geral e sintética que, apesar de ampliar a perspectiva sobre o desenvolvimento humano, não abrange nem esgota todos os aspectos de desenvolvimento. Portanto, não é uma representação da satisfação ou felicidade das pessoas, nem classifica o melhor lugar para viver.</p><p>Veja agora fragmentos do ranking do IDH para alguns países em 2019. O Brasil, no Relatório de Desenvolvimento Humano de 2019, se encontrava na posição 84.</p><p>Embora o IDH considere outros aspectos do desenvolvimento, e não apenas o econômico, como o PIB, há ainda muitos aspectos do desenvolvimento humano que não são contemplados nesse índice, tais como: democracia, participação, equidade e sustentabilidade.</p><p>Buscando lidar com a dimensão da desigualdade no IDH, foi criado, em 2010, o IDH ajustado à desigualdade (IDHAD), que leva em consideração a desigualdade em todas as três dimensões do IDH, considerando o valor médio de cada uma das dimensões de acordo com seu nível de desigualdade.</p><p>Com a introdução do IDHAD, o IDH tradicional pode ser visto como um índice de desenvolvimento humano potencial, e o IDHAD, como um índice do desenvolvimento humano real. A diferença entre o IDH e o IDHAD pode ser considerada uma perda no desenvolvimento humano potencial devido à desigualdade.</p><p>Índice de desenvolvimento humano municipal (IDHM)</p><p>No Brasil, além do IDH, existe o IDHM, uma adaptação do IDH global para os municípios brasileiros. O IDHM brasileiro segue as mesmas três dimensões do IDH Global ‒ longevidade, educação e renda, mas vai além: adequa a metodologia global ao contexto brasileiro e à disponibilidade de indicadores nacionais.</p><p>Como está organizado o IDHM brasileiro?</p><p>Resposta: Embora quantifiquem as mesmas dimensões, os indicadores levados em conta no IDHM são mais adequados para avaliar o desenvolvimento dos municípios brasileiros. Assim, o IDHM ― incluindo seus três componentes, IDHM Longevidade, IDHM Educação e IDHM Renda ― conta um pouco da história dos municípios em três importantes dimensões do desenvolvimento humano durantes duas décadas da história brasileira.</p><p>Veja a seguir o mapa do IDHM para o Brasil em 2010:</p><p>Mapa do IDHM em 2010.</p><p>Considerações finais</p><p>Vimos as contas nacionais e alguns dos mais importantes indicadores socioeconômicos e aprendemos como calcular o Produto Interno Bruno (PIB), uma das medidas fundamentais de renda em uma economia. Percebemos que o PIB, porém, é insuficiente como medida de bem-estar, pois, de que vale ter uma renda alta se há muitas pessoas desempregadas ou se a desigualdade de renda é alta?</p><p>Estudamos medidas de preços e inflação para avaliar as mudanças no custo de vida. Abordamos também a taxa de desemprego e suas imperfeições para avaliar o mercado de trabalho. Apresentamos o índice de Gini como medida de desigualdade e, por fim, o índice de desenvolvimento humano (IDH) para incorporar outras dimensões da economia e da sociedade.</p><p>Você encontrará todos esses indicadores com grande frequência nos jornais, e acompanhará os mais acalorados debates sobre o que deve ser feito para aumentar a renda, diminuir a inflação, melhorar a qualidade de vida etc. Use os conceitos que aprendemos aqui para participar do debate!</p><p>TEMA 6 – Política Macroeconômica</p><p>Módulo 1: Curvas de oferta e demanda</p><p>Introdução</p><p>Você já deve ter ouvido falar em crises econômicas, recessões e períodos de crescimento. Em períodos de crise, é frequente ver nos jornais e na televisão economistas dando entrevistas, tentando explicar as razões para o desempenho ruim da economia e fazendo previsões de cenários futuros.</p><p>Em geral, o crescimento da economia é medido pelo Produto Interno Bruto (PIB) de um país. O crescimento é mais alto em uns anos do que outros, e, quando a economia sai do trilho, o crescimento passa a ser negativo, ou seja, há redução do PIB. Flutuações no PIB estão muito associadas a flutuações no emprego.</p><p>Exemplo: Quando passamos por uma recessão, a economia passa por um período de produção decrescente e desemprego crescente.</p><p>O Brasil passou por uma forte recessão entre 2014 e 2016.</p><p>Declínio - Entre o segundo trimestre de 2014 e o segundo trimestre de 2016, o PIB real caiu sistematicamente, indicando declínio na produção de bens e serviços da economia. Mesmo com o fim da recessão em 2016, a economia mostrou recuperação muito lenta e, até a data de publicação desta aula (2º trimestre 2020), não havia se recuperado completamente.</p><p>Crescimento - Desde o 2º trimestre de 2014 até o 4º semestre de 2016, o crescimento médio foi de -1,8 %. A taxa de desemprego passou de 6,5% em dezembro de 2014 para 13,7% em janeiro de 2017. O mau desempenho econômico permeou os noticiários daquele período, sendo destacado por ter sido um dos piores períodos da economia brasileira nos anos recentes.</p><p>Essas oscilações de curto prazo no produto e no emprego recebem o nome de ciclos econômicos. A terminologia é um pouco enganosa, podendo sugerir que as oscilações sejam regulares e previsíveis, quando não são. Muito pelo contrário, elas são bastante irregulares e carregam um elevado componente de incerteza. Podem acontecer próximas umas às outras, ou distantes. Não há como garantir com segurança.</p><p>Exemplo: A crise de 2009 ocorreu relativamente próxima à de 2015. Pouco depois, quando a economia brasileira apresentava alguns fracos indícios de recuperação, a crise da pandemia da covid-19 surgiu, causando impacto imediato na economia mundial e a paralisação de muitos setores internacionalmente - algo que ninguém poderia prever.</p><p>No entanto, nem todas as oscilações são completamente imprevisíveis. Algumas delas apresentam sinais antes de o cenário mais grave acontecer.</p><p>Como explicar essas oscilações de curto prazo? Quais modelos são capazes de explicá-las? É possível que os formuladores de política econômica as evitem? No próximo tópico, vamos procurar desenvolver a teoria para explicar o comportamento da economia no curto e no longo prazo.</p><p>Os componentes do PIB e a lei de Okun</p><p>Como você deve ter aprendido, o PIB mede a soma de todos os bens e serviços finais produzidos na economia durante um determinado período de tempo. A próxima imagem mostra o crescimento do PIB real do Brasil desde 1997.</p><p>Figura 1 - Taxa de crescimento do PIB real</p><p>Não é preciso ser economista para perceber que o crescimento econômico não é estável e que, às vezes, é negativo, como foi durante a recessão de 2014-16. Mas, como se define uma recessão? Há definições distintas, como:</p><p>Existe uma regra técnica que define recessão a partir do momento em que o PIB de um país cai por dois trimestres consecutivos.</p><p>Já o Codace considera que existe recessão quando é observada uma queda generalizada no nível de atividade econômica, independentemente de haver dois trimestres negativos de PIB. A explicação para isso é que muitas vezes o PIB é afetado por algum setor específico, e não reflete a dinâmica da economia como um todo. Assim como o PIB reflete a dinâmica de diferentes setores da economia, ele também é uma soma de seus diversos componentes, refletindo-os, portanto. Ele é composto por quatro componentes de despesa:</p><p>1. Consumo;</p><p>2. Investimento;</p><p>3. Compras do Governo;</p><p>4. Exportações Líquidas.</p><p>Nesses componentes, os ciclos econômicos também acabam se tornando aparentes, sendo alguns mais voláteis que outros, tal qual o investimento. Ademais, os ciclos são visíveis nos dados que descrevem as condições do mercado de trabalho.</p><p>A imagem, a seguir, mostra a taxa de desemprego desde 2012.</p><p>Figura 2 - Taxa de desemprego</p><p>Pode-se observar que o desemprego cresceu durante a recessão de 2014-16. Ao olhar para outros indicadores de mercado de trabalho, vamos notar trajetórias semelhantes. Quando há declínio na atividade econômica, torna-se mais difícil encontrar uma vaga de emprego.</p><p>Se há mais desempregados em períodos de crise e recessão, e são justamente os trabalhadores empregados que contribuem para a produção de bens e serviços, aumentos na taxa de desemprego devem estar relacionados a declínios no PIB real.</p><p>Essa relação negativa entre produto e desemprego é chamada pelos economistas de Lei</p><p>O resultado da escolha de diversas pessoas pode ser bem diferente daquilo que os indivíduos esperariam. O uso de novas técnicas agrícolas é um exemplo.</p><p>Alguns agricultores, ao adotarem novas tecnologias, tiveram uma produção tão grande que o resultado foi uma redução do preço do produto, que fez com que diversos produtores saíssem do mercado.</p><p>Enquanto a escolha individual possui quatro princípios, a interação entre indivíduos em uma economia de mercado possui cinco:</p><p>Ganhos de comércio</p><p>Os economistas consideram que o comércio, ou a possibilidade de trocas entre indivíduos, é uma ferramenta importante para melhorar a situação de uma sociedade.</p><p>Suponha que uma pessoa tente suprir sozinha todas as suas necessidades. Ela produz seus tecidos, costura suas roupas, planta seu alimento, pinta seus próprios quadros e constrói sua própria casa. Deve ser possível viver dessa forma, mas parece uma vida bastante dura.</p><p>A existência do comércio torna possível que as pessoas dividam tarefas entre si e ofertem bens ou serviços demandados por outras pessoas em troca de bens e serviços que ela deseja. Na maioria das sociedades, há poucos indivíduos tentando viver de forma autossuficiente, porque existem ganhos de comércio.</p><p>Duas pessoas, ao trocar e dividir, podem obter aquilo que mais desejam. Pode ser que Gabriel seja melhor que Rafael na cozinha, e que Rafael seja melhor na faxina. Isso permite que Gabriel seja o responsável pela comida e a troque com Rafael por faxina.</p><p>Os ganhos de comércio são oriundos dessa divisão de tarefas, conhecida como especialização: cada indivíduo se ocupa de poucas atividades. Os mercados permitem que as pessoas se especializem, pois sabem que podem encontrar os bens e serviços que desejam e trocar com outras pessoas.</p><p>Moeda e suas funções</p><p>Moeda costuma ser definida como qualquer ativo que pode ser utilizado facilmente para comprar bens e serviços.</p><p>Um ativo é líquido quando pode ser convertido em dinheiro vivo de forma simples. Portanto, moeda consiste no próprio dinheiro vivo, que é, por definição, líquido (ou, então, em outros ativos altamente líquidos).</p><p>A moeda tem papel fundamental em uma economia, pois gera ganhos de comércio. Isso é possível porque a moeda permite que trocas indiretas sejam realizadas, acabando com problema da dupla coincidência de necessidades que ocorria em um sistema de escambos.</p><p>A moeda tem três funções:</p><p>· Meio de troca: pois cumpre o papel de um ativo que as pessoas utilizam para trocar bens e serviços.</p><p>· Reserva de valor: pois é uma forma de guardar poder de compra ao longo do tempo.</p><p>· Unidade de conta: que representa uma medida que as pessoas utilizam para fixar preços e fazer cálculos econômicos.</p><p>Movimentação dos mercados em direção ao equilíbrio</p><p>Aprendemos que há um princípio afirmando que as pessoas aproveitam oportunidades de melhorar sua situação.</p><p>Por exemplo, quando vamos à praia, buscamos um pedaço de areia que tenha menos gente para nos instalarmos. No verão, não restam muitos espaços vazios. Isso acontece porque as pessoas buscam explorar as oportunidades para melhorar de situação.</p><p>Conforme as pessoas vão chegando à praia, elas buscam o local mais vazio, até não haver mais locais vazios: todas as oportunidades de melhoria acabam, pois já foram exploradas.</p><p>Os economistas chamam de equilíbrio uma situação em que os indivíduos não podem melhorar, fazendo, individualmente, algo diferente.</p><p>Uma economia está em equilíbrio quando nenhum indivíduo pode melhorar sua situação adotando uma ação diferente.</p><p>Os mercados, normalmente, alcançam o equilíbrio por meio da mudança de preços, que aumentam ou diminuem, até que todas as oportunidades para melhorar a situação individual tenham se esgotado. Portanto, cada vez que houver uma mudança, a economia se moverá em direção a um novo equilíbrio.</p><p>Uso eficiente dos recursos para o alcance dos objetivos da sociedade</p><p>O que importa para economistas não é o dinheiro, mas o bem-estar das pessoas em uma sociedade.</p><p>Os recursos de uma economia são usados de forma eficiente quando todas as oportunidades de melhorar a situação de cada um são exploradas por completo.</p><p>Uma economia é eficiente quando utiliza todas as oportunidades de melhorar a situação de uma pessoa sem piorar a de outras.</p><p>Por exemplo, Mariana mora na zona rural e planta hortaliças. Contudo, sua terra é pequena e sua plantação está morrendo por falta de espaço. Por sua vez, Pedro, vizinho de Mariana, é proprietário de um latifúndio, e não usa a terra para nada. Claramente, a terra dessa economia está sendo usada de forma ineficiente.</p><p>Há uma maneira de melhorar a situação de todos, transferindo a plantação de hortaliças de Mariana para as terras de Pedro.</p><p>O exemplo é fictício. Embora essa situação ocorra na vida real, não é simples de resolver ineficiências dessa forma, uma vez que existe propriedade privada, e, para isso, o estado deveria realizar uma reforma agrária.</p><p>Quando uma economia está operando de forma eficiente, os ganhos oriundos do comércio são maximizados, dados os recursos disponíveis.</p><p>Quando uma economia é eficiente, a única maneira de melhorar a situação de uma pessoa é piorando a de outra: ou seja, já esgotamos os ganhos de troca.</p><p>Dado que eficiência é algo ótimo, ela deveria ser o único objetivo em uma economia?</p><p>A resposta é não. Eficiência não é o único critério que importa. Equidade e justiça também são critérios relevantes. Em geral, há um trade-off entre eficiência e equidade, uma vez que políticas que almejam a equidade, muitas vezes, alcançam-na às custas da eficiência.</p><p>Considere, por exemplo, a política de assentos preferenciais. Para assegurar que sempre haja assento disponível para grávidas, deficientes, idosos e pessoas com crianças de colo, normalmente, há um número reservado de vagas no transporte público.</p><p>Muitas vezes, esses assentos ficam vagos, enquanto algumas pessoas ficam em pé. Isso gera ineficiência, mas será que gostaríamos de resolver essa ineficiência deixando as pessoas do grupo preferencial sem assento?</p><p>Essa situação envolve um trade-off entre eficiência e justiça.</p><p>Mercados rumo à eficiência</p><p>Frequentemente (mas não sempre), os mercados levam à eficiência.</p><p>Normalmente, não temos um “planejador central” que se certifica de que a economia esteja operando de forma eficiente. O Estado não precisa gerar eficiência, porque os mercados já cumprem essa função razoavelmente bem.</p><p>Como estudaremos mais a diante, Adam Smith chama isso de “mão invisível do mercado”. Assim, os incentivos presentes em uma economia de mercado já garantem que os recursos sejam utilizados da melhor maneira possível, sem que haja desperdício de oportunidades. Contudo, há exceções para esse princípio.</p><p>Quando temos falhas de mercado, a busca individual a partir do interesse próprio piora a situação da sociedade, e o resultado é ineficiente. Isso acontece, em geral, quando a ação individual de uma pessoa tem efeitos colaterais sobre outras pessoas, o que os economistas chamam de externalidade.</p><p>Poluição é um exemplo clássico de externalidade negativa.</p><p>Ação governamental em prol do aumento de bem-estar</p><p>Quando há falhas de mercado, é possível que ações governamentais melhorem o bem-estar da sociedade.</p><p>Considere uma indústria que produz algo importante, mas gera poluição (por exemplo, usinas termoelétricas que geram energia, mas são muito poluentes). Essa indústria não tem incentivo para levar em conta o custo de sua ação para a sociedade e deixar de produzir poluição.</p><p>Há duas possíveis respostas para essa situação:</p><p>A sociedade pode subsidiar a adoção de uma nova tecnologia que gere menos poluição.</p><p>O governo pode multar a indústria.</p><p>Essas soluções mudam os incentivos da indústria, dando a ela motivos para poluir menos. No entanto, as possíveis soluções vão depender da intervenção do Estado.</p><p>Assim, quando os mercados não funcionam corretamente, a ação do governo pode tornar o resultado mais próximo de algo eficiente, mudando a forma de alocar recursos na sociedade.</p><p>Em geral, o mercado não funciona corretamente quando há externalidades. Também há uma falha quando</p><p>de Okun. Essa lei torna evidente que os determinantes do ciclo econômico de curto prazo são diferentes dos determinantes de longo prazo.</p><p>Longo prazo - O longo prazo é determinado principalmente pelo progresso tecnológico.</p><p>Curto prazo - O curto prazo é determinado pelo emprego da força de trabalho da economia.</p><p>As quedas na produção de bens e serviços presentes nas recessões estão frequentemente associadas a um aumento do desemprego.</p><p>A próxima imagem mostra essa relação para o Brasil.</p><p>Figura 3 - Lei de Okun no Brasil 2012-2017</p><p>Horizontes de tempo na macroeconomia</p><p>Como mencionado, na macroeconomia existem diferentes determinantes a depender do horizonte temporal em análise e, consequentemente, diferentes modelos. Mas, por que modelos de longo prazo e curto prazo não podem ser iguais? A maioria dos economistas entende que a principal diferença entre o curto e o longo prazo está na forma como os preços se comportam.</p><p>Longo prazo - No longo prazo, os preços são flexíveis e reagem a mudanças na oferta e na demanda.</p><p>Curto prazo - No curto prazo, os preços são mais rígidos e permanecem “fixos" em um nível determinado por algum tempo.</p><p>Como os preços se comportam de forma diferente no curto e no longo prazo, eles também reagem de maneira diferente a mudanças econômicas, sejam elas choques externos ou alterações na política econômica.</p><p>Veja um exemplo de como o preço se comporta no curto prazo:</p><p>1 - Agropecuária</p><p>Ocorre uma mudança inesperada na produção agropecuária (uma quebra de safra).</p><p>2 - Restaurantes</p><p>Os restaurantes não aumentam imediatamente o preço de suas refeições.</p><p>3 - Empresas</p><p>As empresas não alteram os salários de seus funcionários de pronto.</p><p>4 - Mercados</p><p>Os mercados não mudam as etiquetas de seus produtos.</p><p>A maior parte dos preços demora um certo período de tempo para se alterar. No longo prazo, no entanto, esses preços se ajustam lentamente, respondendo a essas alterações de política econômica ou a choques. A rigidez temporária dos preços sugere que o impacto no curto prazo decorrente de uma variação na oferta monetária difere do impacto no longo prazo.</p><p>Desse modo, um modelo que deseje capturar a dinâmica dos preços no curto prazo deve levar em consideração essa rigidez. Veremos mais adiante que variáveis reais como produto e emprego sofrerão algum ajuste no curto prazo, uma vez que os preços não se adequam rapidamente. Isso significa que as variáveis nominais poderão influenciar as variáveis reais enquanto durar o período no qual os preços se mantiverem rígidos.</p><p>Demanda agregada</p><p>Na Teoria Macroeconômica Clássica, supõe-se que os preços se ajustam para garantir que a quantidade demandada de produto seja igual à quantidade ofertada. A oferta de bens e serviços, por sua vez, depende da capacidade de produção da economia e está atrelada às ofertas de capital e de mão de obra, além da tecnologia disponível para a produção.</p><p>Quando os preços são rígidos, no entanto, esse ajuste de preço não pode ser realizado. Assim, o produto depende também da demanda por bens e serviços. Já a demanda depende de uma série de fatores, como:</p><p>Consumidores - Confiança dos consumidores em relação ao cenário econômico.</p><p>Investidores - Percepção dos investidores a respeito de lucratividade.</p><p>Fiscal - Política fiscal.</p><p>Monetária - Política monetária.</p><p>Para melhor compreender como esses fatores influenciam a demanda, vamos introduzir o conceito de demanda agregada. Demanda agregada (DA) é a relação entre a quantidade de produto demandada e o nível de preços agregado da economia. O nível de preços, por sua vez, é uma medida de preços globais de um conjunto determinado de bens e serviços — nesse caso, da economia como um todo.</p><p>Resumindo: Assim, a demanda agregada aponta para a quantidade de bens e serviços que as pessoas desejam adquirir para cada nível de preços.</p><p>A chamada Teoria Quantitativa da Moeda (TQM) sustenta que:</p><p>MV=PY</p><p>M = Oferta monetária</p><p>V = Velocidade da Moeda</p><p>P = Nível de preços</p><p>Y = Montante do produto</p><p>A oferta monetária é o valor total de dinheiro disponível em uma economia em um determinado período do tempo. A velocidade da moeda é simplesmente a frequência média com que uma unidade de moeda (por exemplo, um real) troca de mãos em uma transação econômica.</p><p>Supondo que a velocidade da moeda seja constante, essa equação diz que a oferta monetária determina o valor nominal do produto PY. Partindo do pressuposto de que a quantidade de moeda ofertada M é fixada pelo Banco Central, então a equação quantitativa enuncia uma relação negativa entre preços P e quantidade de produto Y. De outra maneira:</p><p>\(\overline{M V}=P Y\)</p><p>As barras sobre as variáveis indicam que elas assumem valores fixos. Para manter o lado esquerdo da equação constante, P e Y precisam ter uma relação negativa entre si: Se o preço aumenta, o produto diminui. A próxima imagem mostra um gráfico para combinações de P e Y que satisfazem essa equação para uma dada velocidade da moeda V e oferta monetária:</p><p>Figura 4 - Combinações de P e Y</p><p>A curva com inclinação negativa é conhecida como curva de demanda agregada. Assim, a oferta monetária M e a velocidade da moeda V determinam o valor nominal do produto PY. Como PY é uma constante, quando P aumentar, Y deve diminuir, e vice-versa.</p><p>A intuição econômica por trás dessa igualdade é que, uma vez determinada a oferta monetária, ela estabelece o valor de todas as transações da economia em moeda corrente.</p><p>Se o nível de preços aumenta, todas as transações exigirão uma quantidade maior de moeda corrente para ocorrer, de modo que o número de transações caia e, por consequência, a quantidade de bens e serviços adquirida também.</p><p>Também podemos analisar a inclinação negativa da curva de demanda agregada sob outra ótica: quanto maior o montante do produto, maior o número de transações realizadas pelas pessoas, assim a necessidade de moeda corrente passa a ser mais alta. Em outras palavras, há uma demanda por encaixes monetários reais, M/P, mais alta.</p><p>Encaixes monetários reais é o nome dado ao termo correspondente à razão de quantidade de moeda M sobre o nível de preços P.</p><p>Por que é importante dividir a quantidade de moeda M pelo nível de preços P?</p><p>Resposta: Porque não faz diferença ter o dobro do dinheiro se os preços forem duas vezes maiores. O que interessa é o poder de compra da moeda, e não só o número impresso em uma cédula.</p><p>Uma vez que a oferta monetária M é constante, um encaixe real mais alto significa um nível de preços mais baixo. Analogamente, uma demanda por encaixes reais mais baixos por conta de menos transações implica um nível de preços mais alto.</p><p>Deslocamentos na demanda agregada</p><p>Até aqui, consideramos a oferta monetária M como dada. O que aconteceria se o Banco Central decidisse alterar a oferta monetária? Certamente, as combinações possíveis de P e Y se alterariam, de modo que a curva de demanda agregada se deslocaria.</p><p>Suponha que o Banco Central aumente a oferta monetária. Pela equação quantitativa da moeda, um aumento de M deve provocar um aumento proporcional do valor nominal do produto PY.</p><p>Comentário: Para qualquer nível de preços, o montante de produto passa a ser maior, assim como para qualquer montante de produto, o nível de preços passa a ser mais alto.</p><p>Dessa forma, há um deslocamento da curva de demanda agregada para a direita e para cima, ou para fora. O painel (a) da figura 5 mostra essa dinâmica.</p><p>Figura 5 (a) Deslocamentos da DA por um aumento em M.</p><p>Do mesmo modo, o mecanismo contrário também ocorre. Se o Banco Central decide reduzir a oferta monetária, o montante de produto para qualquer nível de preços passa a ser menor e, para qualquer montante de produto, o nível de preços se torna mais baixo. Nesse caso, a curva de demanda agregada se desloca para baixo e para a esquerda, ou para dentro. O painel (b) da figura 5 exibe esse deslocamento.</p><p>Figura 5 (b) Deslocamentos da DA por uma redução em M.</p><p>Embora seja responsável por alguns dos deslocamentos da demanda agregada, a oferta de moeda não é o único fator que pode causar esse efeito. Mudanças na velocidade da moeda, por exemplo, também podem deslocar</p><p>a demanda agregada, na mesma lógica da equação quantitativa da moeda. Contudo, é importante ter em mente que a TQM é uma simplificação da teoria para se compreender a curva de demanda agregada.</p><p>Como veremos em outro módulo, oscilações na oferta monetária ou na velocidade da moeda não são a única fonte de oscilação na demanda agregada. A realidade é bem mais complexa.</p><p>Oferta agregada</p><p>Sozinha, a curva de demanda agregada não diz em que ponto a economia se encontra, isto é, qual o nível de preços vigente e o montante de produto correspondente. Ela mostra apenas uma relação entre essas duas variáveis. Todavia, existe outra curva que também apresenta uma relação entre P e Y que cruza a curva de demanda agregada: a chamada curva de oferta agregada.</p><p>Essas curvas determinam de forma conjunta o nível de preços P e a quantidade de produto Y da economia, e a interseção entre elas indica em que ponto a economia está.</p><p>A oferta agregada (OA) é a relação entre a quantidade de bens e serviços ofertada e o nível de preços da economia.</p><p>Atenção!</p><p>Dado que os bens e serviços ofertados têm preços flexíveis no longo prazo e preços rígidos no curto prazo, a oferta agregada depende do horizonte de tempo que está sendo analisado.</p><p>Desse modo, pode-se dizer que existem duas curvas de oferta agregada: a oferta agregada de longo prazo (OALP) e a oferta agregada de curto prazo (OACP).</p><p>Como explicado, no longo prazo, a capacidade de oferta de bens e serviços da economia depende dos montantes fixos de capital e mão de obra e da tecnologia disponível para a produção. Formalmente:</p><p>\(Y=f(\bar{K}, \bar{L})\)</p><p>Essa equação indica que o produto Y é uma função do montante fixo de capital �¯ e do montante fixo de trabalho �¯ . Como ambos os insumos são fixos, o produto também será fixo.</p><p>Relembrando: A barra superior indica que a variável assume um valor fixo.</p><p>Note que o nível de preços P não entra na função de produção, ou seja, não é um insumo: consequentemente, não afeta o montante de produto Y. Essa função deriva do modelo clássico, que descreve como a economia se comporta no longo prazo. De acordo com esse modelo, o produto não depende do nível de preços.</p><p>Se o produto é fixo no longo prazo e não depende do nível de preços, a curva de oferta agregada será uma linha reta vertical cujo intercepto no eixo do produto é o montante de produto fixo �¯.</p><p>A imagem, a seguir, mostra a curva de oferta agregada do longo prazo (OALP) cruzando a curva de demanda agregada (DA).</p><p>Figura 6 - Oferta agregada de longo prazo (OALP) e Demanda agregada (DA)</p><p>Dado que a curva de oferta agregada do longo prazo é uma linha vertical, então um deslocamento da curva de demanda agregada não afetará a quantidade de produto Y, mas apenas o nível de preços P.</p><p>Se a oferta monetária aumenta, por exemplo, e a curva de DA se desloca para fora, como mostra a imagem a seguir, o que ocorre?</p><p>Figura 7 - Oferta agregada de longo prazo (OALP) e deslocamento da Demanda agregada (DA)</p><p>O ponto de cruzamento das duas curvas muda do ponto A para o ponto B, aumentando o nível de preços. Desse modo, oscilações na demanda agregada afetam apenas os preços no longo prazo.</p><p>A oferta agregada de longo prazo vertical satisfaz a chamada dicotomia clássica, de acordo com a qual variáveis nominais não afetam variáveis reais, afinal, o nível de produto não depende da oferta monetária. O nível do produto no longo prazo �¯ é chamado de nível natural do produto ou nível do produto de pleno emprego, que é o ponto da economia no qual a taxa de desemprego está em seu nível natural, ou, de outro modo, os recursos da economia estão plenamente empregados.</p><p>No entanto, esse é o caso apenas do longo prazo. No curto prazo, o modelo clássico não se aplica. Como há rigidez de preços no curto prazo, a curva de oferta agregada de curto prazo não é vertical.</p><p>Vamos tomar como exemplo o caso extremo: todos os preços são fixos no curto prazo e vamos supor a seguinte situação:</p><p>1 - É muito caro para os restaurantes trocarem seus menus.</p><p>2 - As empresas não possuem capital para alterar os salários de seus empregados.</p><p>3 - É muito custoso para os mercados mudarem suas etiquetas.</p><p>Posto isso, todos os preços estão fixados em valores predeterminados. A esses preços, os produtores ofertam a quantidade que os consumidores estiverem dispostos a comprar, e utilizam a quantidade exata de capital e mão de obra para produzir aquela quantidade.</p><p>Obviamente, isso é apenas uma simplificação e não representa a realidade em toda a sua complexidade. Mas, por ora, vamos analisar este modelo: se o nível de preços é completamente rígido, isso significa que ele não muda. Assim, a curva de oferta agregada do curto prazo é uma reta horizontal. O gráfico da próxima imagem mostra esse caso.</p><p>Figura 8 - Oferta agregada de curto prazo (OACP) e Demanda agregada (DA)</p><p>No curto prazo, um deslocamento para fora da curva de demanda agregada ocasionado por uma ampliação da oferta monetária deslocada não altera o nível de preços, como ilustra a imagem a seguir. A economia passa do ponto inicial A para o novo ponto de equilíbrio B, alterando o nível de produto de Y1 para Y2, elevando-o a um nível constante de preços. Dessa forma, um aumento na demanda agregada eleva o produto no curto prazo, dado que os preços não se ajustam instantaneamente.</p><p>Agora, veja outro exemplo, na próxima imagem, depois de um movimento positivo repentino na demanda agregada.</p><p>Figura 9 - Oferta agregada de curto prazo, (OACP) e deslocamento da Demanda agregada (DA)</p><p>Nesse cenário, a economia passa por um período de aquecimento.</p><p>1 - Produtores ficam amarrados a preços demasiadamente baixos para seu nível elevado de produção.</p><p>2 - Com a demanda elevada por seus produtos, as empresas vendem uma alta quantidade de bens e serviços, o que gera um aumento de sua produção.</p><p>3 - Com isso, as empresas utilizam mais capital e contratam mais trabalhadores.</p><p>Como sabemos, a economia não se resume a um momento estático no curto prazo. Veremos a seguir o que ocorre depois de um deslocamento repentino da demanda agregada.</p><p>Atenção!</p><p>Devemos frisar que os casos ilustrados aqui são dois casos extremos e que a realidade da economia é um tanto mais complexa do que isso.</p><p>Utilizamos esses dois casos extremos como pontos de partida para fundamentar o restante da teoria. Como veremos mais adiante, num intervalo de tempo em que alguns preços são flexíveis e outros rígidos, a curva de oferta agregada será uma mistura das duas apresentadas até então. Ou seja, será uma curva positivamente inclinada.</p><p>A transição do curto prazo para o longo prazo</p><p>Até agora, vimos como a economia e os preços se comportam no curto prazo e no longo prazo. Mas, como a economia faz a transição do curto prazo para o longo prazo? Suponha que a economia esteja inicialmente num equilíbrio de longo prazo. O equilíbrio de longo prazo ocorre quando a curva de demanda agregada intercepta a curva de oferta agregada de longo prazo, ilustrado pelo ponto E na imagem a seguir.</p><p>Figura 10 - O equilíbrio de longo prazo.</p><p>A imagem anterior mostra três curvas: a curva de demanda agregada, a curva de oferta agregada de curto prazo e a oferta agregada de longo prazo.</p><p>A curva de oferta agregada de curto prazo também cruza o ponto de equilíbrio, porque, dado que no longo prazo os preços se ajustam para alcançar o equilíbrio, quando a economia está no equilíbrio de longo prazo, ela também está em um equilíbrio de curto prazo.</p><p>Vamos continuar com o exemplo de um aumento na demanda agregada induzido por uma expansão da oferta monetária, como mostra na próxima imagem. Haverá um deslocamento para a direita da curva de demanda agregada. No curto prazo, os preços são rígidos, de modo que a produção aumenta e a economia se move do ponto E para o ponto E’.</p><p>Figura 11 - Uma expansão da DA e a transição para um novo equilíbrio.</p><p>Veja a seguinte situação:</p><p>1 - Produção e emprego aumentam e passam a ficar acima de seus níveis naturais, o que significa que a economia está aquecida.</p><p>2 - As empresas passam a vender e a produzir uma quantidade alta de bens e serviços e, para isso, utilizam</p><p>mais capital e contratam mais trabalhadores.</p><p>3 - A alta da atividade econômica pressiona os preços para cima, deslocando a economia gradativamente para cima, ao longo da curva de demanda agregada.</p><p>4 - Com maiores preços, a quantidade demandada por bens e serviços diminui, até o ponto E’’, que é o novo equilíbrio de longo prazo.</p><p>Nesse novo equilíbrio, a produção e o emprego voltam aos seus níveis naturais, mas os preços se encontram num nível mais elevado do que no antigo equilíbrio de longo prazo, representado pelo ponto E. Assim, uma oscilação da demanda agregada afeta o nível de produção no curto prazo, mas esse efeito é mitigado conforme o tempo passa e as empresas ajustam seus preços.</p><p>Política de estabilização</p><p>Vimos o exemplo de quando oscilações na economia são decorrentes de mudanças na demanda agregada. Oscilações derivadas de mudanças na oferta agregada também são possíveis. Vamos conhecer esses tipos de “choques”.</p><p>Choques econômicos - Eventos exógenos que deslocam essas curvas são chamados pelos economistas de choques econômicos.</p><p>Choque de demanda - Se um evento desloca a curva de demanda agregada, ele recebe o nome de choque de demanda.</p><p>Choque de oferta - Caso desloque a curva de oferta agregada, é chamado de choque de oferta.</p><p>Esses choques tiram a economia do equilíbrio, pois afastam o produto e o emprego de seus níveis naturais, e o modelo de oferta e demanda agregadas busca explicar como esses choques fazem a economia oscilar.</p><p>Os choques também podem ser de dois tipos, veja no próximo recurso.</p><p>Endógenos - Dizemos que choques são endógenos quando há alterações em uma variável explicada pelo modelo.</p><p>Exógenos - Quando há alterações em variáveis tidas como fixas ou determinadas fora do modelo, chamamos de choques exógenos.</p><p>O modelo também nos permite avaliar como a política macroeconômica pode reagir a esses choques. Ações realizadas pelas autoridades voltadas para amenizar os efeitos negativos de oscilações econômicas de curto prazo recebem o nome de políticas de estabilização. As políticas de estabilização atuam no sentido de atenuar o ciclo econômico, a fim de manter o produto e o emprego o mais próximo possível de suas taxas naturais.</p><p>Choques na demanda agregada</p><p>O que aconteceria se o choque na demanda agregada fosse provocado por uma redução na oferta monetária? O cenário seria o inverso do que vimos na figura 7. A diminuição na oferta de moeda deslocará a curva de demanda agregada para a esquerda, como visto anteriormente.</p><p>A rigidez dos preços no curto prazo faz com que a economia se mova do equilíbrio de curto prazo no ponto E para o ponto E’, como mostra na próxima imagem. Nesse ponto, a produção e o emprego estão abaixo de seus níveis naturais, e a economia se encontra em recessão.</p><p>Figura 12 - Uma redução da DA e a transição para um novo equilíbrio</p><p>Em resposta à diminuição da demanda, os preços e os salários caem. Essa diminuição dos preços faz com que a economia se mova para baixo, deslizando ao longo da curva de demanda agregada, até o ponto E’’, o novo equilíbrio de longo prazo. Neste novo equilíbrio, produção e emprego voltam às suas taxas naturais, mas os preços se encontram abaixo do nível inicial.</p><p>Até aqui, trabalhamos com choques de demanda ocasionados por uma alteração na oferta monetária M. Lembre-se de que definimos a curva de demanda agregada como uma relação entre o nível de preços P e produto Y, que mantinha constante o lado esquerdo da equação quantitativa da moeda, MV. Nesse sentido, choques na demanda agregada também podem ser ocasionados por uma alteração na velocidade da moeda V.</p><p>Considere, então, um novo exemplo de choque na demanda agregada: a introdução de aplicativos de banco e compras online nos smartphones e sua rápida disseminação, possibilitando a realização de transações em qualquer momento do tempo de qualquer lugar, sem a necessidade de deslocamento físico.</p><p>Dado que constituem um meio mais rápido de realizar compras e transações do que o uso prévio de dinheiro físico em lojas físicas, as inovações tecnológicas reduzem a quantidade de moeda que as pessoas escolhem reter em mãos. Com isso, a redução da demanda por moeda equivale a um aumento na velocidade da moeda.</p><p>Resumindo: Se cada pessoa reduz a quantidade de moeda que tem em mãos, isso implica que cada unidade de moeda passa de mão para mão de forma mais rápida, de modo que a velocidade de moeda V aumenta.</p><p>Mantida constante a oferta de moeda, o aumento na velocidade acarreta um deslocamento para fora na curva de demanda agregada.</p><p>No curto prazo, o aumento da demanda faz com que o nível de produto da economia aumente, aquecendo a economia. Para o nível de preços do equilíbrio inicial E, as empresas vendem uma quantidade maior de bens e serviços, o que as leva a contratarem mais trabalhadores e utilizarem uma quantidade maior de capital.</p><p>Com o passar do tempo, o nível elevado da demanda agregada empurra os preços para cima, de modo a se ajustarem gradativamente. A quantidade demandada de produto diminui à medida que os preços aumentam, e, aos poucos, a economia vai retornando ao nível natural de emprego e produção. Durante toda a transição para o novo equilíbrio E’’, o produto da economia permanece acima de sua taxa natural.</p><p>Isso levanta uma questão:</p><p>É possível que o Banco Central faça algo para conter esse hiper crescimento da economia e manter o produto mais próximo de suas taxas naturais, evitando ocasionar um aumento elevado do nível de preços? Em outras palavras, o Banco Central pode atuar para reduzir o nível de atividade econômica e impedir inflação alta?</p><p>Resposta: Sim, é possível que o Banco Central possa atuar para reduzir o nível de atividade econômica e impedir inflação alta.</p><p>As autoridades monetárias podem reduzir a oferta monetária compensando o efeito do aumento da velocidade da moeda na curva de demanda agregada. Desse modo, é possível que o Banco Central mitigue ou até elimine os impactos de choques na demanda agregada sobre o produto e o emprego. Isso é possível porque o Banco Central tem controle, ainda que parcial, sobre a oferta monetária - o que é assunto de outros temas.</p><p>Choques na oferta agregada</p><p>Analisamos os eventos exógenos que podem causar choques na demanda agregada. A oferta agregada, contudo, também pode sofrer choques e causar oscilações na economia. Choques de oferta alteram o custo da produção de bens e serviços e, como consequência, geram alterações nos preços dos bens e serviços ofertados pelas empresas.</p><p>Como afetam diretamente o nível de preços, choques de oferta também são conhecidos como choques de preços. Veja alguns exemplos:</p><p>1. Eventos climáticos adversos que destroem colheitas, como secas, tempestades etc. A diminuição da oferta desses alimentos aumenta seu preço;</p><p>2. Alterações nas leis de proteção ambiental: Mudanças nas exigências de emissão de agentes poluentes, desmatamento permitido, entre outros. Mudanças no sentido do relaxamento dessas leis diminuem os custos das empresas, enquanto o endurecimento dessas leis representa um aumento dos custos das empresas, que podem repassá-los ao menos parcialmente para os consumidores por meio de preços mais altos;</p><p>3. Pressão sindicalista por salários mais altos. Se atendida, haverá um aumento dos salários e também nos preços dos bens e serviços produzidos por empregados sindicalizados;</p><p>4. Atuação de cartéis internacionais. Por exemplo, o aumento do preço do petróleo na década de 1970 pela OPEP representou um choque de oferta.</p><p>Os choques também podem ocorrer de outras maneiras, como:</p><p>Choques adversos de oferta - Eventos que elevam os preços são choques adversos de oferta.</p><p>Choques favoráveis de oferta - Eventos que diminuem os custos e preços, tal qual a dissolução de um cartel internacional de petróleo, por exemplo, são choques favoráveis de oferta.</p><p>Um choque adverso de oferta impulsiona a oferta agregada de curto prazo para cima. Se a demanda agregada permanece constante, a economia diminui sua produção e aumenta o nível de preços, movendo-se do ponto A para o ponto B, como mostra a imagem a seguir.</p><p>Figura 13</p><p>- Choque adverso na oferta.</p><p>No ponto B, o nível de preços está alto e a produção e o emprego estão abaixo de seu nível natural: Fenômeno conhecido como estagflação.</p><p>Ao se deparar com um choque adverso de oferta, a autoridade formuladora de política econômica, como o Banco Central, pode escolher entre duas alternativas:</p><p>Primeira opção</p><p>Não fazer nada, mantendo constante a demanda agregada, e deixar a economia realizar o processo de ajuste sozinha. Veja as vantagens e desvantagens:</p><p>Vantagem - Como a produção e o emprego estão abaixo de suas taxas naturais, a tendência dos preços é cair, retornando ao nível de preços anterior naturalmente. Assim, a economia sai do ponto B e volta ao ponto A.</p><p>Desvantagem - O problema é que esse processo de ajuste apresenta um custo em forma de recessão, com várias pessoas enfrentando desemprego e baixa produção.</p><p>Segunda opção</p><p>Acomodar o choque na oferta. O Banco Central pode fazer isso impulsionando a demanda agregada por meio do aumento da oferta monetária.</p><p>A vantagem é que isso acelera o processo de ajuste e conduz a economia de forma mais rápida em direção ao nível natural de produto e emprego. O diagrama, a seguir, ilustra esse mecanismo.</p><p>Figura 14 - Acomodação de um choque adverso na oferta.</p><p>Se um aumento na demanda agregada coincide com o choque na oferta agregada, a economia salta do ponto A para o ponto C imediatamente.</p><p>A desvantagem é que o nível de preços se torna permanentemente mais alto. Não há uma forma de ajustar a demanda agregada de modo a manter o produto e o emprego em seu nível natural e o nível de preços estável.</p><p>Módulo 2: Os diferentes equilíbrios na economia</p><p>Introdução</p><p>Até aqui, estudamos a curva de demanda agregada como a relação entre o nível de preços e o produto, mantido constante do lado esquerdo da equação quantitativa da moeda. Vimos também que variações na velocidade da moeda e na oferta monetária deslocam a curva de demanda agregada. Neste módulo, vamos aprofundar o aprendizado sobre a curva de demanda agregada. O modelo que vai servir de alicerce para a curva de demanda agregada é conhecido como IS-LM.</p><p>No modelo de demanda agregada desenvolvido anteriormente, não demos atenção para uma variável importante da economia: a taxa de juros. Conheça agora sobre as curvas IS e LM:</p><p>Curva IS - A taxa de juros afeta o mercado de bens e serviços, por meio do investimento e da poupança. Este mercado é representado pela curva IS.</p><p>Curva LM - A taxa de juros afeta o mercado de moeda, influenciando a oferta e demanda por moeda. Este mercado é representado pela curva LM.</p><p>Dado que ela afeta tanto o investimento quanto a demanda por moeda, a taxa de juros é a variável que conecta as duas partes do modelo IS-LM. Neste módulo, vamos examinar com mais atenção esses dois mercados.</p><p>A cruz keynesiana</p><p>Antes de entrar no modelo IS-LM, contudo, vamos começar com um modelo básico, chamado de a cruz keynesiana. Em sua obra intitulada A Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda, John Maynard Keynes propôs que, no curto prazo, a economia era determinada pelo planejamento dos gastos, por parte dos domicílios, empresas e governo.</p><p>A intuição por trás dessa teoria é que, se as pessoas desejassem gastar mais, maior seria a quantidade de bens e serviços que as empresas conseguiriam vender e, assim, optariam por produzir mais bens e serviços e contratariam mais trabalhadores. Nesse sentido, Keynes acreditava que o problema durante as recessões era o gasto insuficiente.</p><p>Para compreender essa teoria, façamos uma distinção conceitual. Há dois tipos de gastos na economia:</p><p>Gasto planejado - Correspondente ao montante que os domicílios, empresas e governo gostariam de gastar com bens e serviços.</p><p>close</p><p>Gasto efetivo - Correspondente ao montante que os domicílios, empresas e governo efetivamente gastam com bens e serviços.</p><p>Essa distinção sugere que nem sempre o gasto planejado e o gasto efetivo serão iguais. A razão para isso é que, no caso de as vendas não corresponderem às expectativas das empresas, as firmas poderiam ter um investimento não planejado em estoques. Se as vendas superam o montante planejado, os estoques diminuem, caso contrário, os estoques se acumulam.</p><p>O que determina o gasto planejado?</p><p>Supondo uma economia fechada, isto é, uma economia que não realiza exportações nem importações, o gasto planejado, YP , será determinado assim:</p><p>\(Y_{P}=C+I+G\)</p><p>C – Consumo</p><p>I - Investimento planejado</p><p>G - Compras do governo</p><p>O consumo C, por sua vez, será uma função da renda disponível, que é simplesmente a diferença entre a renda total (Y) e os tributos pagos ao governo (T). Então, escrevemos:</p><p>\(C=c(Y-T)\)</p><p>Para simplificar, consideraremos que o investimento I, os dispêndios do governo G e os impostos T são exógenos. Isso significa que a política fiscal (dada pelos gastos do governo e pelos tributos) é fixa.</p><p>Logo:</p><p>\(I=\bar{I}\)</p><p>\(G=\bar{G}\)</p><p>\(T=\bar{T}\)</p><p>Juntando as equações acima, temos que:</p><p>\(Y_{P}=c(Y-\bar{T})+\bar{I}+\bar{G}\)</p><p>Essa equação revela que o gasto planejado Yp é uma função da renda, Y, do investimento, �¯, e da política fiscal, representada por �¯ e �¯. Dado que as demais variáveis estão fixas, temos uma relação entre o gasto planejado e a renda. Essa relação é positiva, uma vez que uma renda mais alta provoca um maior consumo e, por consequência, um maior gasto planejado.</p><p>A próxima imagem mostra a curva de gasto planejado. A inclinação da curva é chamada de propensão marginal a consumir (PMgC). Isso significa pensar: quanto você consumiria a mais se ganhasse um real adicional? Ou, o quanto o gasto planejado aumenta com uma unidade a mais de renda?</p><p>Como visto, nem sempre o gasto efetivo e o gasto planejado são iguais. Quando isso ocorre, no entanto, dizemos que a economia se encontra em equilíbrio.</p><p>Figura 15 - O gasto planejado YP.</p><p>Lembre-se que o produto, ou PIB, é igual ao total da renda, mas também pode ser interpretado como o gasto total com bens e serviços. A condição de equilíbrio pode ser expressa então da seguinte maneira:</p><p>Gasto Efetivo = Gasto Planejado</p><p>Ou seja:</p><p>\(Y=Y_{P}\)</p><p>Representamos essa igualdade por uma reta de 45o no painel (b) da imagem a seguir. Essa reta passa por todos os pontos no qual a igualdade é válida e os eixos do gráfico são iguais. O equilíbrio dessa economia está no ponto em que as duas retas se cruzam, representado pelo ponto A no gráfico. O produto de equilíbrio está sinalizado por Y*.</p><p>Figura 16 - A cruz keynesiana.</p><p>Entretanto, quando o gasto efetivo e o planejado não são iguais, como se alcança o equilíbrio?</p><p>Vamos analisar primeiro o caso, em que o gasto efetivo Y supera o gasto planejado YP (ou seja, Y > YP), e, portanto, estamos à direita do produto de equilíbrio Y*. Nessa situação, os produtores produziram (Y) efetivamente mais do que os gastos planejados (YP). Então, a produção que não foi vendida gera um aumento não planejado de estoques. Devido a isso, as empresas decidem cortar a produção e diminuir o número de trabalhadores, o que acarreta a diminuição do PIB, deslocando o produto pouco a pouco para a esquerda.</p><p>Esse processo de redução da renda continua até que a renda se iguale ao nível de equilíbrio. Analogamente, se Y</p><p>B.</p><p>Figura 18 - Um aumento nos gastos do governo.</p><p>O gráfico mostra que um aumento nos gastos do governo resulta num aumento de ainda maior magnitude da renda. Isso significa que ΔY>ΔG, e, portanto, ΔY/ΔG>1. A razão ΔY/ΔG é chamada de multiplicador dos gastos do governo. Esse multiplicador informa o quanto o produto ou a renda aumentam em virtude de um aumento de uma unidade monetária nos gastos do governo.</p><p>report_problem</p><p>Atenção!</p><p>O fato de ΔY ser maior que ΔG implica que o multiplicador dos gastos do governo é maior do que 1: um real a mais gasto pelo governo gera um aumento de renda superior a um real.</p><p>A razão para esse efeito multiplicador está no componente do consumo, que depende positivamente da renda: C=c(Y-T). Assim, uma renda maior provoca um consumo mais elevado. Isso gera um efeito espiral na renda: O aumento nos gastos do governo faz a renda crescer, o que, por sua vez, causa um aumento do consumo, que gera um aumento ainda maior da renda, que faz crescer novamente o consumo, e assim por diante.</p><p>Qual a magnitude do multiplicador? Podemos responder a essa pergunta algebricamente, indicando por t1, t2, t3 etc. os diferentes momentos no aumento do consumo:</p><p>Uma mudança inicial nos gastos do governo =</p><p>\(\Delta G\)</p><p>Aumento do consumo em t1 =</p><p>\(P M g C \times \Delta G\)</p><p>Aumento do consumo em t2 =</p><p>\(P M g C^{2} \times \Delta G\)</p><p>Aumento do consumo em t3 =</p><p>\(P M g C^{3} \times \Delta G\)</p><p>Logo:</p><p>\(\Delta Y=\left(1+P M g C+P M g C^{2}+P M g C^{3}+\ldots\right) \times \Delta G\)</p><p>No primeiro momento, o consumo aumenta ΔG multiplicado pela PMgC. No segundo momento, o consumo aumenta a renda que foi aumentada no primeiro momento, ou seja, PMgC x (PMgC x ΔG), e assim sucessivamente.</p><p>wb_incandescent</p><p>Dica: Para calcular o multiplicador dos gastos do governo, basta dividir os dois lados da equação por ΔG.</p><p>O primeiro termo do lado esquerdo é uma série geométrica infinita e pode ser substituído por 1/(1-PMgC). Assim:</p><p>\(\frac{\Delta Y}{\Delta G} = \frac{1}{(1-P M g C)}\)</p><p>Essa é a equação do multiplicador dos gastos do governo.</p><p>O multiplicador de impostos</p><p>Um processo similar ocorre quando há uma alteração nos impostos cobrados pelo governo. Quando o governo decide reduzir os impostos em ΔT, a renda disponível Y - T aumenta imediatamente em ΔT, o que gera, portanto, um aumento do consumo em PMgC×ΔT.</p><p>O gasto planejado se torna maior para qualquer nível de renda Y. O painel (b) da figura 19 mostra o deslocamento para cima do gasto planejado, causado por um aumento no consumo da magnitude de PMgC×ΔT. Novamente, o equilíbrio salta do ponto A para o ponto B. Assim como o aumento nos gastos do governo gera um efeito multiplicador sobre a renda, o mesmo ocorre com a diminuição dos impostos.</p><p>Figura 19 - Uma redução nos impostos.</p><p>Novamente, o aumento na renda gerado por um aumento no consumo vai resultar em um aumento ainda maior do consumo, que aumentará a renda ainda mais, e assim sucessivamente. A diferença é que agora a variação inicial não é mais da ordem de ΔG, e sim de PMgC×ΔT.</p><p>Observe a diferença:</p><p>· Um aumento no gasto público tem impacto imediato sobre o gasto total.</p><p>· Uma diminuição dos impostos se transforma em renda dos consumidores, que transformam apenas uma parte dessa renda em consumo.</p><p>Ou seja, apenas PMgC×ΔT se transformam em consumo no primeiro instante. Assim como antes, a mudança inicial nos gastos é multiplicada por 1/(1-PMgC). O efeito na renda pode ser expresso por:</p><p>\(\Delta Y / \Delta T=-P M_{g} C /\left(1-P M_{g} C\right)\)</p><p>A diferença é que, para a conta anterior, está no denominador do lado esquerdo da igualdade. Em vez de 1, temos o PMgC, pois o termo de impostos T na equação do gasto planejado aparece multiplicado por c, que é a propensão marginal a consumir. O sinal negativo do lado esquerdo da equação indica que o consumo se movimenta na direção contrária aos impostos (maiores impostos, menos consumo, e vice-versa).</p><p>Resumindo: Essa expressão recebe o nome de multiplicador gerado por impostos e indica o montante em que a renda varia em resposta a uma variação de uma unidade monetária nos impostos.</p><p>A curva IS</p><p>Usamos a cruz keynesiana para mostrar como a economia se comporta quando o governo decide alterar a política fiscal, isto é, modificar seu nível de gastos ou impostos cobrados. Além disso, vimos que o fato de o consumo ser positivamente relacionado com a renda gera um efeito multiplicador quando esta aumenta. Todavia, o modelo da cruz keynesiana supõe que o nível de investimento planejado, I, é fixo. O componente do investimento, no entanto, depende da taxa de juros, r. Escrevemos:</p><p>\(I=I(r)\)</p><p>A taxa de juros r mede o custo dos recursos para financiar o investimento. Para que um investimento seja lucrativo, o seu retorno deve superar seu custo, ou seja, os pagamentos pelos empréstimos realizados para financiar projetos de investimento, que são determinados pela taxa de juros. Se a taxa de juros aumenta, a quantidade de projetos de investimentos que é lucrativa diminui, assim como o investimento.</p><p>Dessa forma, o investimento é negativamente relacionado com a taxa de juros. A imagem a seguir mostra essa relação, ilustrando a curva da função investimento.</p><p>Figura 20 - A função investimento.</p><p>E o que acontece com o produto se a taxa de juros se altera? Vamos supor um aumento na taxa de juros, de r1 para r2. Dado que o investimento é negativamente relacionado com a taxa de juros, uma taxa de juros maior implica uma redução no nível de investimento, de I(r1) para I(r2), como mostra a próxima imagem.</p><p>Figura 21 - A cruz keynesiana.</p><p>A função do gasto planejado é uma soma do investimento com os componentes de consumo e gastos do governo. Essa diminuição do gasto planejado, por sua vez, diminui o produto de Y1 para Y2. Consequentemente, uma elevação na taxa de juros resulta numa redução da renda, tudo mais constante.</p><p>A curva IS sintetiza a interação entre a taxa de juros e o nível de renda do mercado de bens e serviços. Ela está representada no diagrama da imagem a seguir. A curva IS combina a relação entre r e I, expressa pela função investimento, e a relação entre I e Y, implícita na cruz keynesiana.</p><p>Figura 22 - A curva IS.</p><p>Cada ponto na curva IS representa um equilíbrio no mercado de bens, e a curva explicita a relação entre a taxa de juros e o nível de renda de equilíbrio. Visto que um aumento na taxa de juros provoca uma queda no investimento planejado, que, por sua vez, gera uma diminuição da renda, a curva IS tem inclinação negativa.</p><p>Política fiscal na curva IS</p><p>Aprendemos com a cruz keynesiana que, além do investimento, o nível de equilíbrio da renda depende também da política fiscal, isto é, dos gastos do governo G e dos impostos T. A curva IS mostra o nível de renda para qualquer taxa de juros determinada, variando o nível de investimento, que traz o equilíbrio no mercado de bens. No entanto, ela é construída para uma determinada política fiscal.</p><p>Quando há variações na política fiscal, a curva IS se desloca.</p><p>Vimos que um aumento dos gastos do governo desloca a curva de gasto planejado na cruz keynesiana. Esse aumento no nível de dispêndios também deslocará a curva IS. A próxima imagem utiliza a cruz keynesiana para mostrar como um aumento da ordem de ΔG nas compras do governo desloca a curva IS.</p><p>Contudo, essa figura é referente ao equilíbrio de uma determinada taxa de juros �¯ , e, portanto, para um determinado nível de investimento. Assim, um aumento nos gastos do governo desloca a curva IS para fora.</p><p>Figura 23 - A cruz keynesiana | A curva IS.</p><p>É possível replicar o mecanismo para outras mudanças na política fiscal do governo. Fizemos anteriormente a análise, via cruz keynesiana, do que ocorre com a renda no caso de uma diminuição nos impostos. Novamente, a curva de gasto planejado se desloca para cima e aumenta a renda. Do mesmo modo, uma diminuição nos impostos resultará no deslocamento para fora da curva IS.</p><p>Por outro lado, uma redução nos dispêndios do governo ou um aumento nos impostos reduz a renda, deslocando a curva IS para dentro.</p><p>O mercado monetário e a preferência pela liquidez</p><p>Mostramos o que acontece com a renda no mercado de bens e serviços quando há alterações no nível de investimento e na política fiscal, ilustrado pela curva IS. O próximo passo é mostrar o que acontece no mercado de encaixes monetários. A curva LM representa graficamente a relação entre a taxa de juros e o nível de renda nesse mercado. Para entender essa relação, vamos retomar a teoria de Keynes.</p><p>Ainda em sua obra A Teoria Geral, Keynes desenvolveu uma teoria para explicar como a taxa de juros se comporta no curto prazo, à qual deu o nome de teoria da preferência pela liquidez. Esse nome vem da hipótese de que a taxa de juros se ajusta para equilibrar a oferta e a demanda por moeda corrente, o ativo mais líquido da economia.</p><p>A liquidez de um ativo considera a facilidade com a qual ele pode ser convertido em dinheiro. Por exemplo:</p><p>Poupança - A poupança tem alta liquidez, pois é fácil resgatar o dinheiro da conta.</p><p>Imóvel - Um imóvel tem baixa liquidez, pois não se converte em dinheiro facilmente.</p><p>Retomando o exemplo de uma economia fechada, denotamos por M a oferta monetária e P o nível de preços dessa economia. Logo, M/P é a oferta de encaixes monetários reais. A teoria da preferência pela liquidez começa supondo que a oferta por encaixes monetários reais é fixa:</p><p>\((M / P)^{s}=\bar{M} / \bar{P}\)</p><p>O Banco Central ou alguma autoridade monetária determina de maneira exógena a oferta monetária. Tomaremos o nível de preços P também como variável exógena, utilizando o modelo IS-LM para explicar o comportamento da economia no curto prazo, em que o nível de preços é fixo. A combinação de ambos esses pressupostos implica que a oferta de encaixes monetários reais é fixa e, portanto, independe da taxa de juros.</p><p>Graficamente, se representarmos esse mercado como função da taxa de juros e dos encaixes monetários reais, a curva de oferta de encaixes monetários reais será uma reta vertical, como mostra o diagrama na imagem a seguir.</p><p>Figura 24 - A teoria da preferência pela liquidez. A cruz keynesiana | A curva IS.</p><p>A demanda por encaixes reais, por sua vez, não é fixa. A teoria de Keynes presume que o montante de moeda corrente que as pessoas optam por ter disponível é determinado pela taxa de juros. O motivo por trás dessa hipótese é que a taxa de juros seria o custo de oportunidade de reter moeda.</p><p>Em outras palavras, quando se opta por ter moeda em mãos, o indivíduo está deixando de manter o dinheiro sob outras formas que rendem juros, como títulos ou depósitos bancários.</p><p>Nesse sentido, quando a taxa de juros sobe, aumenta o custo de oportunidade de se manter moeda corrente, e, portanto, as pessoas diminuem a parcela da renda que mantêm sob a forma de moeda corrente. Formalmente, podemos definir a demanda por encaixes monetários reais como:</p><p>\((M / P)^{d}=L(r)\)</p><p>A função L(r) mostra que a quantidade de encaixes monetários reais demandada depende da taxa de juros r. Como explicamos, dado que a quantidade demandada de moeda corrente é menor a taxas de juros mais altas, a curva de demanda possui inclinação negativa, também presente na próxima imagem.</p><p>Figura 25 - A teoria da preferência pela liquidez | Um aumento na oferta monetária.</p><p>Segundo a teoria da preferência pela liquidez, oferta e demanda por encaixes monetários reais determinam conjuntamente a taxa de juros no mercado de moeda. No equilíbrio, oferta e demanda por encaixes monetários reais são iguais. Assim, a taxa de juros se ajusta a fim de equilibrar o mercado monetário.</p><p>Esse ajuste ocorre, porque, caso o mercado monetário esteja fora do equilíbrio, os indivíduos ajustam suas carteiras de ativos e acabam por alterar a taxa de juros no processo.</p><p>Se a taxa de juros está abaixo do nível de equilíbrio, a demanda por encaixes monetários reais excede a oferta.</p><p>Nesse cenário, seu João da padaria prefere manter mais dinheiro no caixa do que no banco, as pessoas tentam vender títulos e retirar dinheiro de suas contas bancárias, e os bancos reagem aumentando as taxas de juros que oferecem para tentar atrair recursos que agora estão mais escassos.</p><p>A taxa de juros alcança então um nível de equilíbrio no qual os indivíduos estão satisfeitos com as carteiras de ativos não monetários e monetários.</p><p>De maneira similar, se a taxa de juros está acima do nível de equilíbrio, a oferta por encaixes monetários reais excede a demanda, e os indivíduos que detêm o excedente da oferta monetária buscam trocar uma parte da moeda corrente, que não rende juros, por títulos ou depósitos bancários que rendam juros.</p><p>Nesse caso, seu João da padaria preferirá deixar o dinheiro rendendo no banco do que no caixa de seu estabelecimento.</p><p>As entidades emissoras de títulos, como os bancos, respondem ao excesso de oferta monetária reduzindo suas taxas de juros.</p><p>Uma vez que a taxa de juros se ajusta para responder a desequilíbrios no mercado monetário, é apenas lógico assumir que ela reage a mudanças na oferta de moeda.</p><p>Caso o Banco Central decida, por exemplo, aumentar a oferta monetária M repentinamente, o que ocorreria com a taxa de juros?</p><p>Resposta: Um aumento em M faz subir, por sua vez, a razão de encaixes monetários reais M/P, dado que P é fixo. A oferta de encaixes monetários se desloca para a direita, e a taxa de juros de equilíbrio cai de r1 para r2.</p><p>Um nível mais baixo da taxa de juros faz com que os indivíduos dessa economia fiquem satisfeitos em reter uma parcela maior de encaixes monetários reais. Com mais moeda em circulação, seu João não se importa em deixar mais dinheiro no caixa da padaria. A imagem a seguir mostra esse movimento.</p><p>Figura 26 - Um aumento na oferta monetária.</p><p>Caso o Banco Central tivesse repentinamente reduzido a oferta monetária, o movimento seria contrário. A oferta de encaixes monetários reais se deslocaria para a esquerda e a taxa de juros subiria.</p><p>A curva LM</p><p>Agora que vimos como a teoria da preferência pela liquidez explica os determinantes da taxa de juros, podemos construir a curva LM. Precisamos traçar a relação entre a taxa de juros r e o nível de renda Y. Como uma mudança no nível de renda afeta o mercado de encaixes monetários reais? Quando a renda é elevada, gasta-se mais, e os indivíduos realizam um número maior de transações que demandam moeda. Assim, uma maior renda implica mais demanda por moeda.</p><p>Nesse sentido, pode-se dizer que o nível de renda afeta positivamente a demanda por encaixes monetários reais. Como a demanda por moeda é negativamente relacionada com a taxa de juros, podemos sintetizar essa relação pela expressão:</p><p>\((M / P)^{d}=L(r, Y)\)</p><p>Mas, o que acontece com a taxa de juros quando o nível de renda se altera? Quando a renda aumenta, por exemplo, a curva de demanda por moeda se desloca para a direita. Esse deslocamento acarreta um aumento da taxa de juros para equilibrar o mercado monetário, de r1 para r2, mantida fixa a oferta de encaixes monetários reais.</p><p>Assim, de acordo com a teoria da preferência pela liquidez, uma renda mais alta resulta numa taxa de juros mais alta. A próxima imagem mostra essa relação, com o ajuste no mercado de encaixes monetários reais ilustrado no painel (a) e a curva LM no painel (b).</p><p>Figura 27 - Mercado de encaixes monetários reais | A curva LM.</p><p>Política monetária e a curva LM</p><p>Como vimos, a curva LM mostra a taxa de juros que equilibra o mercado de encaixes monetários reais para qualquer nível de renda. No entanto, a taxa de juros de equilíbrio depende também do nível da oferta de encaixes monetários reais, M/P, que consideramos como fixa. Assim, curva LM é desenhada para uma determinada oferta de encaixes monetários reais. Se o Banco Central decide alterar a oferta monetária, a curva LM se desloca.</p><p>Exemplo: Se a autoridade monetária aumenta subitamente a oferta monetária, de M' para M'', a oferta de encaixes monetários reais também aumenta na mesma proporção, dado que P é fixo. Mantendo a renda constante e, consequentemente, a curva de demanda por moeda também constante, um aumento na oferta monetária faz com que a taxa de juros de equilíbrio do mercado monetário diminua.</p><p>Desse modo, um aumento na oferta</p><p>monetária desloca para baixo (ou para a direita) a curva LM. A imagem a seguir mostra esse deslocamento. O gráfico (a) mostra o que ocorre no mercado monetário quando o Banco Central aumenta a oferta monetária.</p><p>(a) Um aumento na oferta monetária | (b) A curva LM.</p><p>O modelo IS-LM</p><p>Examinamos como cada curva se comporta separadamente e como respondem a alterações nas políticas fiscal e monetária. A combinação das duas curvas determina o nível da renda e taxa de juros na economia. Se há um deslocamento em uma das duas curvas, há uma oscilação na renda nacional e o equilíbrio de curto prazo se modifica.</p><p>A da próxima imagem mostra um possível equilíbrio de curto prazo da economia. O ponto no qual as duas curvas se interceptam indicado pela letra E é o equilíbrio inicial, correspondente à renda nacional Y1 e à taxa de juros r1.</p><p>Figura 28 - O modelo IS-LM.</p><p>Exemplo: Suponha que o governo decida realizar uma política fiscal contracionista, isto é, visa a melhorar o resultado das contas públicas ao diminuir seus gastos ou aumentar os impostos. Por ora, vamos considerar uma redução nos dispêndios (G). Como vimos acima, esse tipo de política desloca a curva IS para dentro, sem alterar a curva LM.</p><p>Uma vez que a renda diminui, pela teoria da preferência da liquidez, sabemos que a quantidade de moeda demandada também diminui, pois o número de transações diminui. Como a oferta monetária não se modificou, a menor demanda por moeda faz cair a taxa de juros de equilíbrio para r2.</p><p>A diminuição da taxa de juros, no entanto, afeta o mercado de bens por meio do investimento. Como o nível de investimento é sensível à taxa de juros, a queda na taxa de juros aumenta os planos de investimento das empresas. Por conseguinte, a redução da renda, em resposta a uma contração fiscal, é menor no modelo IS-LM do que na cruz keynesiana, em que supomos que o nível de investimento é fixo. Podemos ver esse deslocamento no diagrama da imagem a seguir.</p><p>Figura 29 - Uma política fiscal contracionista.</p><p>Vamos examinar agora os efeitos de uma política monetária. Considere que o Banco Central decida reduzir a oferta monetária repentinamente. Relembrando o que estudamos aqui, uma diminuição em M resulta numa queda nos encaixes monetários reais M/P, dado que os preços são rígidos no curto prazo.</p><p>A diminuição na oferta de encaixes monetários reais acarreta uma taxa de juros mais alta, segundo a teoria da preferência pela liquidez. Com isso, a curva LM se desloca para cima, como mostra a próxima imagem. No novo equilíbrio, a taxa de juros é maior e o nível de renda diminui.</p><p>Figura 30 - Uma diminuição da oferta monetária.</p><p>Mas, o que aconteceria se o governo mudasse a política fiscal e a política monetária simultaneamente, ou em um curto intervalo de tempo? Vamos retomar o exemplo de uma política fiscal contracionista.</p><p>Sabemos que, no novo equilíbrio, o produto diminui e a taxa de juros também. Mas esse é o resultado apenas se o Banco Central não fizer nada. É possível que o Banco Central decida reagir a esse aumento para atingir algum objetivo específico na economia.</p><p>Comentário: Se o Banco Central deseja manter constante a taxa de juros, ele precisa responder com uma política que aumente a taxa de juros. Como vimos, esse é o caso de uma política de redução da oferta monetária. A figura 20 mostra uma possibilidade de resposta do Banco Central à contração fiscal.</p><p>Num primeiro momento, a curva passa do ponto A para o ponto B na próxima imagem, reduzindo a renda e a taxa de juros. Com a reação do Banco Central, a taxa de juros sobe, mas o produto cai ainda mais, e o novo equilíbrio passa a ser o ponto C.</p><p>É possível ainda que o Banco Central saiba antecipadamente da decisão do governo de aumentar os gastos e realize a redução da oferta monetária simultaneamente. Nesse caso, o equilíbrio salta do ponto A para o ponto C, sem alterar a taxa de juros. Contudo, este é apenas um dos resultados possíveis.</p><p>Figura 31 - Política monetária como resposta à política fiscal: Banco Central mantém a taxa de juros.</p><p>Outra possibilidade é o Banco Central manter constante o produto. Nesse caso, ele precisaria realizar uma política fiscal no sentido contrário: para responder a uma diminuição no nível do produto, ele deve realizar uma política que desloque a LM para a direita (para baixo), a fim de empurrar o nível de renda para cima. Assim, a resposta do Banco Central deve ser no sentido de um aumento na oferta monetária.</p><p>A imagem, a seguir, mostra como seria essa resposta. O nível de renda de equilíbrio se manteria, mas a taxa de juros cairia tanto em resposta à política fiscal quanto à política monetária.</p><p>Figura 32 - Política monetária como resposta à política fiscal: Banco Central mantém o nível de renda.</p><p>Em ambos os casos, o ajuste na oferta monetária que o Banco Central fez foi exatamente o suficiente para manter ou a taxa de juros constante, ou o nível de renda constante.</p><p>Muitas vezes, na realidade, o Banco Central não saberá a magnitude exata do deslocamento da IS e, consequentemente, não saberá o tamanho preciso do ajuste que deve realizar, apenas o seu sentido. Nessas situações, podemos afirmar com certeza o que ocorre com a variável que o Banco Central ignora, isto é, a que ele não quer manter constante, mas o resultado sobre a variável que ele pretende manter pode ser ambíguo.</p><p>No primeiro caso, sabemos que o produto cai com certeza em consequência de uma contração fiscal e uma diminuição na oferta monetária. No entanto, se o Banco Central errar a mão na política monetária, o resultado sobre a taxa de juros será ambíguo. É possível que a taxa de juros do novo equilíbrio seja um pouco mais alta do que a inicial, caso o Banco Central diminua demais a oferta monetária, ou que a taxa de juros seja um pouco mais baixa, caso ele não diminua o suficiente a oferta monetária. No segundo caso, sabemos que a taxa de juros com certeza cai em virtude de uma contração fiscal acompanhada de uma expansão monetária, mas o efeito sobre o produto pode ser ambíguo se o Banco Central não for preciso.</p><p>É possível que a taxa de juros do novo equilíbrio seja um pouco mais alta do que a inicial, caso o Banco Central diminua demais a oferta monetária, ou que a taxa de juros seja um pouco mais baixa, caso ele não diminua o suficiente a oferta monetária. No segundo caso, sabemos que a taxa de juros com certeza cai em virtude de uma contração fiscal acompanhada de uma expansão monetária, mas o efeito sobre o produto pode ser ambíguo se o Banco Central não for preciso.</p><p>IS-LM como uma teoria para a demanda agregada</p><p>O modelo IS-LM serviu para explicar o equilíbrio no curto prazo quando o nível de preços é fixo. Para compreender como o modelo IS-LM se encaixa no modelo de oferta e demanda agregada visto no início da aula, permitiremos que o nível de preços se modifique.</p><p>Como visto anteriormente, a demanda agregada expressa uma relação entre o nível de preços e o nível da renda nacional. Utilizamos a teoria quantitativa da moeda para derivar essa relação. Agora, utilizaremos o modelo IS-LM.</p><p>Sabemos que a relação entre renda e nível de preços ilustrada pela curva de demanda agregada é uma relação negativa. Para entender por que o produto aumenta à medida que o nível de preços diminui, vamos examinar o que acontece no modelo IS-LM quando o nível de preços se altera.</p><p>Relembrando: Recorde que no modelo IS-LM, a variável de nível de preços estava presente, de maneira implícita, na curva de oferta de encaixes monetários reais M/P. Naquele momento, consideramos o nível de preços P fixo. Se o nível de preços aumenta, todavia, a oferta de encaixes monetários diminui.</p><p>Essa redução na oferta de encaixes monetários reais desloca a curva LM para cima, o que acarreta um aumento da taxa de juros de equilíbrio e a redução do nível de renda, como mostra o painel (a) da próxima imagem.</p><p>O nível de preços sobe de P1 para P2 e a renda cai de Y1 para Y2. O painel (b) mostra a curva de demanda agregada, que ilustra graficamente a relação negativa entre renda nacional e nível de preços.</p><p>Figura 33 - Uma diminuição da</p><p>oferta monetária | A curva de demanda agregada.</p><p>Assim, a curva de demanda agregada mostra o conjunto de pontos de equilíbrio no modelo IS-LM ao passo que se altera o nível de preços e, consequentemente, a renda. Agora, veja o vídeo para fixar os pontos importantes que vimos nesse módulo.</p><p>Considerações finais</p><p>Construímos neste conteúdo o modelo de oferta e demanda agregada, uma das ferramentas mais importantes para a análise do comportamento da economia. Com esse instrumento, podemos avaliar o impacto de diversas políticas econômicas - em particular, a política monetária e a política fiscal - para lidar com os choques que atingem a economia.</p><p>Leia agora as manchetes de Economia dos jornais: Você encontrará chamadas como “Banco Central diminui a taxa de juros para enfrentar recessão”, ou “Economistas debatem o efeito de um aumento de gastos públicos”. Tente entender essas manchetes a partir do instrumental desenvolvido aqui!</p><p>image5.jpeg</p><p>image95.jpeg</p><p>image96.jpeg</p><p>image97.jpeg</p><p>image98.jpeg</p><p>image99.png</p><p>image100.png</p><p>image101.png</p><p>image102.jpeg</p><p>image103.png</p><p>image104.png</p><p>image6.png</p><p>image105.png</p><p>image106.jpeg</p><p>image107.png</p><p>image108.jpeg</p><p>image109.jpeg</p><p>image110.jpeg</p><p>image111.jpeg</p><p>image112.jpeg</p><p>image113.jpeg</p><p>image114.jpeg</p><p>image7.png</p><p>image115.jpeg</p><p>image116.jpeg</p><p>image117.jpeg</p><p>image118.jpeg</p><p>image119.jpeg</p><p>image120.jpeg</p><p>image121.jpeg</p><p>image122.jpeg</p><p>image123.png</p><p>image124.png</p><p>image8.png</p><p>image125.png</p><p>image126.png</p><p>image127.png</p><p>image128.jpeg</p><p>image129.jpeg</p><p>image130.jpeg</p><p>image131.jpeg</p><p>image132.jpeg</p><p>image133.jpeg</p><p>image134.jpeg</p><p>image9.png</p><p>image135.jpeg</p><p>image136.jpeg</p><p>image137.jpeg</p><p>image138.jpeg</p><p>image139.jpeg</p><p>image140.jpeg</p><p>image141.jpeg</p><p>image142.jpeg</p><p>image143.jpeg</p><p>image144.jpeg</p><p>image10.jpeg</p><p>image145.jpeg</p><p>image146.jpeg</p><p>image147.jpeg</p><p>image148.jpeg</p><p>image149.jpeg</p><p>image150.jpeg</p><p>image151.jpeg</p><p>image152.jpeg</p><p>image153.jpeg</p><p>image154.jpeg</p><p>image11.jpeg</p><p>image155.jpeg</p><p>image156.jpeg</p><p>image157.jpeg</p><p>image158.jpeg</p><p>image159.jpeg</p><p>image160.jpeg</p><p>image161.jpeg</p><p>image162.jpeg</p><p>image163.jpeg</p><p>image164.jpeg</p><p>image12.png</p><p>image13.png</p><p>image14.png</p><p>image15.png</p><p>image16.png</p><p>image17.jpeg</p><p>image18.png</p><p>image19.png</p><p>image20.jpeg</p><p>image21.jpeg</p><p>image22.jpeg</p><p>image23.png</p><p>image24.png</p><p>image25.jpeg</p><p>image26.png</p><p>image27.jpeg</p><p>image28.jpeg</p><p>image29.jpeg</p><p>image30.jpeg</p><p>image31.png</p><p>image32.jpeg</p><p>image33.jpeg</p><p>image34.png</p><p>image35.png</p><p>image36.png</p><p>image37.png</p><p>image38.png</p><p>image39.png</p><p>image40.png</p><p>image41.png</p><p>image42.png</p><p>image43.png</p><p>image44.png</p><p>image45.png</p><p>image46.png</p><p>image47.png</p><p>image48.png</p><p>image49.png</p><p>image50.png</p><p>image51.png</p><p>image52.png</p><p>image53.png</p><p>image54.png</p><p>image1.jpeg</p><p>image55.png</p><p>image56.png</p><p>image57.jpeg</p><p>image58.png</p><p>image59.png</p><p>image60.png</p><p>image61.jpeg</p><p>image62.png</p><p>image63.png</p><p>image64.png</p><p>image2.jpeg</p><p>image65.png</p><p>image66.png</p><p>image67.png</p><p>image68.png</p><p>image69.png</p><p>image70.png</p><p>image71.png</p><p>image72.png</p><p>image73.png</p><p>image74.png</p><p>image3.jpeg</p><p>image75.png</p><p>image76.png</p><p>image77.png</p><p>image78.png</p><p>image79.png</p><p>image80.png</p><p>image81.png</p><p>image82.png</p><p>image83.jpeg</p><p>image84.jpeg</p><p>image4.jpeg</p><p>image85.jpeg</p><p>image86.jpeg</p><p>image87.jpeg</p><p>image88.jpeg</p><p>image89.jpeg</p><p>image90.jpeg</p><p>image91.jpeg</p><p>image92.jpeg</p><p>image93.jpeg</p><p>image94.jpeg</p><p>o bem em questão não consegue ser eficientemente administrado pelo mercado.</p><p>Por exemplo, vamos pensar na iluminação pública. Não precisamos pagar para passar sob um poste de luz na rua, o que diminui o incentivo a contribuir para a provisão do serviço. Esse último caso é conhecido como bem público.</p><p>Por fim, alguns agentes econômicos podem ter poder de mercado, como uma firma monopolista, que poderá restringir o uso de recursos por outros indivíduos para maximizar seu lucro individual.</p><p>Variáveis endógenas e exógenas</p><p>O objetivo de um modelo econômico é demonstrar como as variáveis exógenas afetam as endógenas.</p><p>As variáveis endógenas são aquelas que o modelo tenta explicar. Já as variáveis exógenas são as que o modelo toma como dadas.</p><p>A imagem a seguir representa um esquema mais intuitivo para essas variáveis:</p><p>Modelo econômico.</p><p>Como explicitado na imagem anterior, as variáveis exógenas são determinadas fora do modelo, servindo como insumo, enquanto as endógenas são determinadas dentro do modelo: são seu resultado.</p><p>Considere um produtor de cogumelos. A demanda por seus cogumelos vai depender de seu preço e da renda dos consumidores. A oferta, por sua vez, vai depender dos preços do cogumelo e dos insumos utilizados na produção.</p><p>O equilíbrio acontece quando oferta e demanda se igualam. Nesse caso, as variáveis exógenas são a renda individual e o preço dos insumos, e a variável endógena será o preço do cogumelo.</p><p>Módulo 2: História do pensamento econômico</p><p>Origem da Ciência Econômica</p><p>No módulo anterior, falamos sobre a Economia enquanto ciência contemporânea. Mas até se tornar o que é atualmente, a ciência econômica passou por diversas transformações. Não há consenso a respeito de quando o pensamento econômico começou.</p><p>Embora a maior parte das pessoas só tenha ouvido falar de Economia como ciência a partir de Adam Smith, pode-se argumentar que, nas formas mais rudimentares de civilização, já existia algum tipo de pensamento econômico, partindo do pressuposto de que seres racionais já se preocupavam com seu sustento.</p><p>É ingênuo pensar que uma civilização antiga como a egípcia, que era caracterizada pela produção e distribuição de parte dos recursos, não tenha desenvolvido algum tipo de ideias econômicas, especialmente quando se considera a existência de comércio (em forma de troca) com outras nações e a propensão egípcia a manter registros escritos.</p><p>Na Grécia Antiga, Platão já contribuía para o pensamento econômico tocando alguns conceitos como a divisão do trabalho, a teoria da moeda, a produção como base da riqueza do Estado (na época, Cidade-Estado) e até a propriedade comum. Seu discípulo Aristóteles também contribuiu no campo, sistematizando sua teoria, mas se opunha a seu mestre no tópico da propriedade comum.</p><p>A Idade Média representa um período de transformações na estrutura da sociedade, e grandes transformações costumam vir acompanhadas de novas ideias.</p><p>Seguindo a queda do Império Romano, cuja economia era escravocrata e latifundiária, o período deu origem à forma de organização econômica conhecida como feudalismo. Trabalho e terra passaram a ser transferidos e não mais vendidos.</p><p>O feudalismo sofreu muitas transformações ao longo da Idade Média, atingindo seu auge por volta do século X.</p><p>O desenvolvimento de novas técnicas agrícolas aumentou a produtividade das terras, e a Europa vivenciou um período de estabilidade que permitiu o crescimento populacional e a formação de cidades. Essa combinação de fatores deu origem ao mercador independente.</p><p>A Igreja Católica se tornou a instituição dominante na Europa e, portanto, quase todos os acadêmicos e escritores ocidentais do período eram clérigos.</p><p>Escolásticos</p><p>Nos primeiros anos da Idade Média, os escritores cristãos tinham uma abordagem puramente ética do estudo econômico. Sua aversão ao comércio e à propriedade baseava-se na convicção de que a busca pela riqueza os desviaria do “caminho da graça”.</p><p>Os estudiosos da economia medieval ficaram conhecidos como escolásticos, e seu principal expoente foi Tomás de Aquino.</p><p>Aquino buscou assimilar a filosofia aristotélica ao cristianismo. Recorrendo aos argumentos éticos e econômicos de Aristóteles, ele pôde justificar a propriedade privada defendendo obrigações para o proprietário individual, desde que atendesse aos interesses da comunidade.</p><p>Ele desenvolveu ideias a respeito do valor de um bem, introduzindo uma teoria do salário justo e do preço justo, esboçando uma noção de justiça distributiva e condenando a cobrança dos juros e da usura.</p><p>Seus interesses chegavam à Economia somente a partir de questões morais e éticas, não tratando, dessa maneira, os assuntos econômicos como um fim em si.</p><p>Dentre as principais contribuições dos escolásticos para o pensamento econômico, podemos citar dois elementos: uma ênfase na utilidade como principal fonte de valor e a noção de preço justo.</p><p>Esse período é considerado como a pré-história do pensamento econômico e começou a desaparecer no século XVI com a revolução científica que se iniciou na Europa.</p><p>O Renascimento deixava suas marcas no pensamento das ciências naturais e políticas e influenciaria diretamente o desenvolvimento do pensamento econômico.</p><p>Surgimento da Economia política</p><p>As bases para o capitalismo industrial moderno também haviam sido estabelecidas. A classe mercantil enriqueceu, a aristocracia e o clero começaram a perder influência, a expansão do comércio proporcionou o surgimento de centros comerciais e industriais, e universidades foram criadas.</p><p>A esfera de produção se transformou, com os comerciantes deixando de ser apenas fornecedores de matérias-primas e se tornando também detentores de meios de produção e empregadores de mão de obra. A alta inflação vigente na Europa no período também influenciou o pensamento econômico.</p><p>Nesse período pré-mercantilismo, Jean Bodin esboçou a primeira teoria quantitativa da moeda, em sua Resposta aos Paradoxos de Malestroit (Réponseaux Paradoxes de M. de Malestroit, 1568), afirmando que a principal causa do aumento dos preços era o aumento do ouro e da prata em circulação.</p><p>A revolução cultural e científica proporcionou a ascensão de uma abordagem de pensamento secular no lugar da religiosa. No campo da Economia, não foi diferente: ela passou a se emancipar da ética e da filosofia política. Influenciado pelo crescimento dos Estados-Nação e pelos trabalhos de pensadores como Maquiavel, Hobbes e Locke, o pensamento econômico deixou de se preocupar apenas com o comportamento de agentes econômicos individuais e passou a examinar também o Estado. Assim, foram estabelecidos os pilares para o pensamento econômico moderno.</p><p>Emergiu uma nova disciplina como ciência: a Economia Política, cujo objeto de estudo era a atividade pública, tratando da acumulação e do gerenciamento da riqueza, a fim de aumentar a eficiência do Estado.</p><p>Agora, o conhecimento passava a ser baseado nos aspectos individuais e empíricos dos objetos.</p><p>Sir William Petty é considerado um dos pais da economia política moderna, pois foi um defensor e expoente do método empírico e quantitativo.</p><p>Mercantilistas</p><p>Outra fase de transformações ocorreu durante o Mercantilismo. No campo do pensamento econômico, foram propostas ideias de um sistema comercial restritivo com o objetivo de aumentar a prosperidade econômica de uma nação.</p><p>Os pensadores do período podem ser divididos entre:</p><p>Bulionistas (metalistas)</p><p>Mercantilistas</p><p>O primeiro grupo (bulionistas ou metalistas) defendia a regulamentação do câmbio. Por não entenderem a teoria do comércio internacional, enxergavam qualquer saída de metais preciosos como uma desvantagem. Desse modo, advogaram pela proibição da exportação de qualquer espécie que tivesse como consequência a saída de ouro e prata da nação, assim como a proibição de importações, especialmente de mercadorias de luxo, que envolviam pagamentos na forma de metais preciosos. Em contrapartida, defendiam a exportação de mercadorias, como bens manufaturados, cujos pagamentos significavam a entrada de metais preciosos em seus países.</p><p>O segundo grupo (mercantilistas)</p><p>acreditava que havia a necessidade de incentivar a troca de mercadorias, buscando alcançar uma balança comercial favorável, isto é, o país deveria exportar mais do que importar.</p><p>Ficou claro que a Economia passara a ser Política, influenciada por um envolvimento maior do Estado. A nação passou a ser vista como uma grande empresa comercial, o que acarretou a defesa e a adoção de políticas protecionistas.</p><p>Em geral, o pensamento mercantilista dialogava com o poder do Estado, com ideias de unidade nacional, e seus objetivos eram identificados com a riqueza de uma nação.</p><p>Atenção!</p><p>Algumas teorias sobre a conceituação do valor e teorias monetárias sobre o papel dos juros na economia também foram esboçadas nessa época. Os principais contribuintes para o pensamento econômico da época foram: Thomas Mun, Antonio Serra e Edward Misselden.</p><p>Contudo, a posição teórica mercantilista foi se tornando inadequada frente à acumulação capitalista e ao seu controle sobre a produção, com a difusão do comércio e da competição, que resultaram em uma queda dos lucros.</p><p>Nasceu uma classe capitalista de mestres artesãos que controlava a produção, em conflito com os interesses dos comerciantes. Essas mudanças foram acompanhadas por uma mudança radical na maneira de conceber os fatos econômicos.</p><p>A intervenção do Estado na economia passou a ser vista com suspeita, e a ideia de que o lucro se originava na esfera de produção começou a se disseminar. Para prosperar, a nova classe de empresários capitalistas precisava abrir mão dos laços morais e ideológicos tradicionais.</p><p>A partir do final do final do século XVII, a celebração do individualismo, em conjunto com o desenvolvimento da ética protestante, legitimou a usura e a atividade econômica.</p><p>Entre os economistas da época, começou a se disseminar a noção de que restrições administrativas na produção criavam mais desvantagens do que vantagens para a coletividade. Passaram a defender a intervenção do Estado apenas no reconhecimento e na proteção ao direito de propriedade.</p><p>Os autores desse período foram os precursores da Economia Política Clássica.</p><p>Precursores da Economia Política clássica</p><p>Influenciados pela Política Aritmética de Sir William Petty, publicada em 1690, que marcou o início do pensamento precursor da economia política clássica, iniciou-se uma crítica ao pensamento mercantilista prévio. Dudley North e Mandeville atacaram o protecionismo do Estado e defenderam o livre comércio.</p><p>A ênfase mercantilista em uma balança comercial positiva também foi criticada: o comércio internacional não poderia ser uma fonte de perda para nenhuma das partes, uma vez que, sendo uma atividade voluntária, não ocorreria em primeiro lugar se não gerasse ganhos para todos.</p><p>A teoria também avançou em outros aspectos. Richard Cantillon propôs que a terra era a principal fonte de riqueza, e que essa riqueza seria produzida com o poder do trabalho empregado. Além disso, distinguiu o valor intrínseco do valor de mercado dos bens, o que foi considerado um esboço da teoria de preço e custo.</p><p>Na França do final do século XVIII, os conceitos pós-mercantilistas foram sofisticados por um grupo de pensadores que ficaram conhecidos como fisiocratas, encabeçados por François Quesnay.</p><p>As principais contribuições da escola fisiocrata para o pensamento econômico moderno consistem na rejeição do conceito mercantilista de riqueza por meio da troca e no reconhecimento da produção como fonte de riqueza, na invenção do termo e da política do laissez faire, laissez passer, e no Tableau Economique (1759), principal obra de Quesnay.</p><p>Interessado em transformar o setor agrícola em indústria capitalista eficiente, o autor apresentou um modelo quantitativo da produção de mercadorias. Ao fazer uma distinção entre trabalho produtivo e improdutivo, apontou uma fonte de riqueza no excedente que a terra é capaz de produzir, que seria advinda do fato de que nela se produz mais do que se consome.</p><p>Quesnay foi precursor da acumulação de capital. Seu trabalho também traz a ideia de interdependência entre os setores da economia e a inovadora representação de trocas como um fluxo circular de dinheiro e bens. Desse modo, os fisiocratas foram os primeiros a tentar analisar, de maneira sistemática, a circulação da riqueza na economia.</p><p>O filósofo David Hume também fez valiosas contribuições ao pensamento econômico. Embora não tenha estruturado suas ideias de maneira sistemática, como os pensadores que viriam depois, suas obras tiveram grande influência na filosofia geral encontrada posteriormente no trabalho de Adam Smith.</p><p>Suas principais ideias econômicas envolviam o destaque ao trabalho, bem como a atenção a oscilações e mudanças na economia, e apontaram a inter-relação de fatos econômicos com outras forças sociais.</p><p>Na parte monetária, descreveu o mecanismo pelo qual uma mudança na quantidade de moeda em circulação alteraria o valor do dinheiro na economia ― assunto debatido até os dias atuais.</p><p>Economia Política clássica</p><p>Economia clássica é o nome dado ao sistema de teoria econômica que foi desenvolvido a partir do final do século XVIII, iniciado com a publicação do livro Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações, mais conhecido simplesmente por A Riqueza das Nações, de Adam Smith, em 1776. Mas o que torna sua obra tão importante?</p><p>- A teoria clássica proposta nesse período contrastou fortemente com as tendências anteriores do pensamento econômico. Embora tenham assimilado diversos conceitos estabelecidos por seus antecessores, os clássicos identificaram falhas em todas as soluções propostas previamente para os problemas econômicos.</p><p>- Uma das principais discrepâncias é que os clássicos viam como positivos os resultados que decorriam naturalmente das forças econômicas. Nesse período, surgiu a noção de uma “mão invisível do mercado”, de forças que naturalmente convergiriam para um equilíbrio eficiente, sem necessidade de intervenção estatal.</p><p>- A visão clássica de um sistema econômico harmonioso destoava das crenças mercantilistas e escolásticas de que o mercado era caracterizado por desequilíbrios que exigiam intervenções e restrições. Essa visão otimista do funcionamento dos mercados é um dos principais traços do pensamento clássico.</p><p>Outra característica é seu interesse no crescimento econômico. Essa preocupação os levou a estudar os mercados e o sistema de preços sob a ótica da alocação de recursos. Os economistas clássicos estudaram a formação de mercados e preços relativos para entender seu impacto no crescimento econômico.</p><p>Teóricos da Economia Política Clássica</p><p>Alguns dos principais teóricos da Economia Política Clássica, além de Adam Smith, são Thomas Malthus, David Ricardo e John Stuart Mill. Conheça um pouco mais as suas contribuições:</p><p>Adam Smith</p><p>Um dos principais diferenciais de Adam Smith em relação aos autores que lhe antecederam foi o fato de que ele se empenhou em construir sua teoria de forma sistemática. Em A Riqueza das Nações, ele lançou as bases da teoria econômica clássica de livre mercado.</p><p>Suas principais contribuições para o campo do pensamento econômico envolvem o desenvolvimento do conceito de divisão do trabalho e a exposição de que o interesse individual racional e a concorrência podem conduzir ao desenvolvimento econômico. Além disso, suas obras também tocaram temas como a teoria do valor, passando por conceitos de excedente, teoria dos salários e distribuição.</p><p>Os escritos de Smith tocaram uma infinidade de temas, uma vez que a Macroeconomia da época se preocupava com um escopo mais amplo dos determinantes do crescimento ― não apenas com fatores econômicos, mas com fatores culturais, políticos, sociológicos e históricos.</p><p>Thomas Malthus</p><p>Thomas Malthus, mais conhecido por sua teoria da população, também contribuiu para o pensamento clássico. Em suas obras, discorreu sobre distribuição de renda e consumo improdutivo e apontou os riscos de uma crise de superprodução frente à falta de demanda ― ideia que foi retomada por Keynes quase um século depois.</p><p>David Ricardo e John Stuart Mill</p><p>Ricardo,</p><p>contemporâneo de Thomas Malthus, acrescentou à teoria econômica a noção de que há ganhos na troca internacional para as duas partes que estão comercializando, mesmo que uma seja mais competitiva que a outra.</p><p>Em outras palavras, mesmo que uma das partes consiga produzir mais de todos os bens com a mesma quantidade de recursos, é economicamente vantajoso para as duas partes comercializar bens. Essa ideia foi aprimorada posteriormente por John Stuart Mill sob a forma de vantagens comparativas.</p><p>Os escritos de Ricardo trataram de muitos outros tópicos, como as teorias do valor, dos salários, lucros e aluguel, da acumulação, do desenvolvimento econômico e de moeda e bancos. Ricardo também levantou a questão sobre as leis naturais que determinariam a distribuição do produto entre as classes da sociedade.</p><p>Foi ainda nesse período que as noções de utilitarismo começaram a ser desenvolvidas, sendo posteriormente incorporadas à teoria econômica. O utilitarismo, de maneira geral, afirma que ações que maximizam felicidade e bem-estar são boas, e que a utilidade é uma propriedade de um bem ou objeto capaz de produzir um benefício ou prazer.</p><p>Jeremy Bentham e John Stuart Mill foram alguns dos filósofos a desenvolver esse conceito. Mill é considerado o último dos grandes economistas clássicos do período.</p><p>Pensamento econômico socialista</p><p>O período em que se desenvolveu a escola clássica de pensamento econômico foi, ao mesmo tempo, uma época de crescimento econômico e desenvolvimento teórico, e de intenso conflito entre as classes de trabalhadores e capitalistas.</p><p>O fim das guerras napoleônicas, o movimento trabalhista que se desenvolveu a partir do ludismo e as revoluções de 1848 influenciaram as correntes de pensamento do período.</p><p>Enquanto para os economistas clássicos como Smith, Ricardo e Mill o capitalismo significava uma expansão da produção, aumento da riqueza e troca econômica entre as nações, outros não viam esse sistema econômico com o mesmo entusiasmo.</p><p>Malthus já apresentava uma visão mais pessimista, argumentando que, nesse sistema, não seria permitido ao trabalhador receber mais que um salário de subsistência ― uma crença compartilhada por Ricardo e alguns outros economistas clássicos.</p><p>A derrota da classe trabalhadora no movimento de 1848 encerrou um ciclo de luta que havia durado mais de 30 anos e inaugurou uma fase de hegemonia cultural burguesa e crescimento econômico.</p><p>Para os trabalhadores da época, essa fase inicial do capitalismo significava arcar com os custos da expansão da produção: condições perigosas ou insalubres de trabalho, desemprego e longas horas de trabalho duro. O contexto era terreno fértil para o surgimento de novas ideias.</p><p>Duas escolas de pensamento se opuseram à ordem social e econômica vigente:</p><p>- Escola Histórica Alemã: Pensamento que faz uma crítica radical da economia e da política clássica.</p><p>- Movimento Socialista: Pensamento social e econômico revolucionário conhecido como marxismo.</p><p>Nesse período, muitas teorias socialistas novas e alternativas foram elaboradas, destacando-se a grande síntese da crítica de Marx à Economia Política Clássica.</p><p>Embora Marx reconhecesse os méritos científicos dos grandes economistas clássicos ingleses, considerava a Economia Política Clássica como uma expressão teórica da burguesia no período em que o capitalismo se afirmava.</p><p>Marx desenvolveu sua teoria com forte ênfase no conflito de classes, acusando a burguesia de cooptar as necessidades de toda a sociedade para combater a aristocracia e, depois, estabelecer-se como classe dominante, apresentando seus interesses próprios como coletivos e o espírito da acumulação privada de capital como instrumento para fazer crescer a riqueza nacional.</p><p>Segundo a crítica de Marx, o sistema teórico clássico se baseou na análise de classe sociais, até que essa análise deixasse de ser útil, ou seja, quando a burguesia alcançasse o poder ― momento em que as teorias de harmonia de interesses e de fatores produtivos se tornaram mais úteis. Nesse sentido, a herança científica da Economia Política Clássica estava comprometida e deveria passar, agora, aos economistas socialistas.</p><p>Marx buscou identificar os limites da Economia Política Clássica a fim de criticá-la. Ele diferiu desse grupo de economistas quanto ao pano de fundo filosófico: Marx não era utilitário, empirista ou baseado em leis naturais da Filosofia.</p><p>Dentre as críticas feitas por Marx aos economistas clássicos, três se sobressaíram, listando a incapacidade dos clássicos de:</p><p>· explicar a natureza do lucro e do capital;</p><p>· reconhecer o caráter histórico do capitalismo;</p><p>· reconhecer o caráter exploratório do modo de produção capitalista ― o que os levou a focar sua atenção nas relações de troca em vez da produção.</p><p>Revolução marginalista ou utilitarista</p><p>O final do século XIX testemunhou o nascimento da teoria microeconômica moderna. Essa época foi marcada pela elaboração de um conjunto de ferramentas analíticas que transformaram a economia clássica em neoclássica.</p><p>A análise marginal, atualmente presente nos livros-texto de Microeconomia, pode ser considerada a mais importante dessas ferramentas. A Matemática foi incorporada de maneira definitiva na análise econômica.</p><p>Jevons, Menger e Walras são alguns dos principais nomes associados a essa mudança radical na forma de conceber a teoria econômica.</p><p>À medida que a teoria marginalista se desenvolveu, a estrutura da teoria econômica se modificou, de modo a elaborar um sistema muito diferente do exposto pela economia clássica.</p><p>O interesse no crescimento econômico dos economistas clássicos deu lugar ao interesse na alocação dos recursos. O centro do sistema neoclássico girava em torno do problema da alocação de recursos escassos, dados os seus possíveis usos alternativos.</p><p>Os marginalistas aceitavam a abordagem utilitarista e, a partir dela, reformularam a análise do comportamento humano, que foi construído a partir de cálculos racionais, visando à maximização da utilidade individual.</p><p>Atenção!</p><p>Isso revela outra face distinta da abordagem neoclássica: A mudança no agente econômico como objeto de análise.</p><p>Os clássicos tinham como objeto principal agentes econômicos coletivos, como as classes sociais e o governo. Os marginalistas, por sua vez, concentravam-se em agregados sociais mínimos: a unidade tomadora de decisão, como consumidores, famílias ou firmas.</p><p>Ortodoxia neoclássica</p><p>A revolução marginalista se espalhou pelo mundo ocidental, impactando significativamente o pensamento econômico. No contexto político-econômico, a Europa Ocidental experimentava um momento de desenvolvimento industrial e capitalista. Em conjunto, esses fatores estabeleceram as bases para a economia neoclássica.</p><p>Alfred Marshall foi um matemático que ofereceu uma enorme contribuição ao pensamento econômico com a publicação de seu livro Princípios de Economia (1890). Sua obra pode ser entendida como uma reformulação geral da teoria econômica produzida até então, sintetizando a análise clássica e a abordagem marginalista de custo e utilidade, elaborando um mecanismo de análise econômica.</p><p>Uma de suas principais contribuições ao campo foi sua análise de equilíbrio parcial, que conseguiu unir várias partes da teoria econômica, até então analisadas separadamente.</p><p>Marshall fez a importante distinção entre os períodos da economia, diferenciando o curto do longo prazo.</p><p>Ele introduziu e aprimorou uma série de conceitos que são utilizados na análise econômica, desde propriedades da curva de demanda, distinção de retornos crescentes e decrescentes, e maximização do bem-estar – temas abordados até os dias atuais em cursos de Economia.</p><p>Curiosidade: O americano Irving Fisher também utilizou a Matemática de forma extensiva em sua análise econômica. No entanto, seu trabalho estava voltado para a Macroeconomia. Ele propôs a versão mais conhecida da equação quantitativa da moeda, e sua contribuição central para a teoria econômica foi a teoria sobre juros – há até uma Equação de Fisher, batizada em sua homenagem.</p><p>Economia keynesiana</p><p>A Primeira Guerra Mundial foi um conflito</p><p>de dimensões até então desconhecidas pela humanidade. Na esfera econômica, seus impactos envolveram a interrupção do comércio e de pagamentos internacionais, e levaram governos a realizar intervenções econômicas até então inimagináveis. Foi feita uma produção de larga escala para atender necessidades de guerra, gerando enormes dívidas nacionais.</p><p>O grau de profundidade das crises vivenciadas no período entre guerras não tinha precedentes. Eclodiu a crise econômica de 1929. O desemprego atingiu níveis recordes e se tornou persistente. O descontentamento social não tardou a aparecer, e a tradição clássica ortodoxa de pensamento econômico não estava preparada para lidar com essa situação.</p><p>O pensamento neoclássico havia se estruturado em torno da Lei de Say, que previa que o pleno emprego era o estado normal de funcionamento da economia. Se houvesse um afastamento do nível de emprego considerado normal, não seria de grande magnitude, e o próprio sistema econômico providenciaria uma resposta que faria o emprego retornar ao seu nível normal.</p><p>No entanto, a realidade parecia bastante distante do que previa o pensamento econômico. Não apenas a ociosidade na força de trabalho e da capacidade da indústria alcançaram proporções incomuns, como também havia poucos indícios de que a situação estava caminhando para se corrigir.</p><p>Comentário: Apesar da enorme distância entre as premissas neoclássicas e os eventos do mundo real, os economistas neoclássicos ofereciam uma justificativa para essas supostas anormalidades no funcionamento da economia. A persistência dos altos níveis de desemprego poderia ser explicada pela rigidez no sistema econômico, que paralisava o mecanismo de ajuste natural.</p><p>Segundo eles, a inflexibilidade dos salários, causada, principalmente, pela estrita adesão ao salário mínimo por influência dos sindicatos, não permitia que a economia seguisse sua trajetória natural. Do contrário, se os salários baixassem, empregadores contratariam mais trabalhadores, e a economia voltaria ao nível de pleno emprego.</p><p>No início do século XX, a análise econômica retomou o interesse dos economistas clássicos em economia agregada, ou seja, nas teorias macroeconômica e monetária.</p><p>John Maynard Keynes, um economista britânico, revolucionou as esferas acadêmica e política com as ideias que propôs em seu livro A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. O pensamento keynesiano, com ênfase na política fiscal, foi tão influente que dominou a política econômica dos EUA e de diversas outras nações ocidentais do período.</p><p>De certa forma, as ideias de Keynes se assemelham em vários aspectos às escolas que antecederam os economistas clássicos – a mercantilista e a fisiocrata. A ideia de que a poupança tende a causar baixo consumo e depressão econômica, interrompendo o fluxo circular da renda, já havia sido apontada por economistas anteriores a Adam Smith e seus seguidores.</p><p>Keynes também rompeu com a escola clássica em sua descrença na Lei de Say: à diferença dos clássicos, ele não acreditava que a oferta cria sua própria demanda.</p><p>Dentre as principais ideias expressas em sua teoria geral, estão:</p><p>- A teoria da preferência pela liquidez ― que ofereceu uma explicação para os determinantes da taxa de juros sob a ótica do mercado de moeda.</p><p>- A teoria da demanda efetiva.</p><p>- A noção de um efeito multiplicador na economia ― devido ao componente do consumo na renda.</p><p>- A relação entre poupança e investimento.</p><p>Boa parte desses conceitos está presente nos cursos contemporâneos de Macroeconomia.</p><p>As ideias desenvolvidas por Keynes representaram uma mudança na meta da política pública: de estabilização dos preços em valores altos para manutenção do nível de renda e emprego.</p><p>Economia depois de Keynes</p><p>Entre as décadas de 1940 e 1970, muitos economistas aprimoraram as ideias de Keynes, enquanto alguns se opuseram a elas.</p><p>A influência mais importante do trabalho de Keynes foi sua incorporação em forma de síntese na estrutura geral de princípios econômicos aceitos. Uma das maiores contribuições nesse aspecto foi o livro Fundamentos da Análise Econômica (1947), de Paul Samuelson. Essa obra explicava as ideias e os princípios do pensamento econômico em conjunto com os princípios ortodoxos dos economistas neoclássicos.</p><p>Outros, no entanto, discordavam de Keynes, como Milton Friedman, um grande defensor da eficiência dos mercados e da interferência mínima dos governos. Uma de suas maiores contribuições para a economia foi sua teoria da renda permanente.</p><p>No período subsequente, durante as décadas de 1970 e 1980, outras teorias ganharam força: a teoria das expectativas racionais, de Robert Lucas, e as ideias da economia pelo lado da oferta. Ambas as teorias se utilizam das premissas neoclássicas básicas e desafiam as proposições teóricas da economia keynesiana.</p><p>Módulo 3: Pesquisa econômica atual</p><p>Caminhos da pesquisa econômica</p><p>A pergunta que você deve estar se fazendo neste momento é:</p><p>Para onde vamos e para onde caminhamos: o que tem sido feito na pesquisa econômica?</p><p>Como vimos ao longo deste conteúdo, a Economia como ciência teve sua origem há muitos séculos. Ao longo dessa trajetória, passou por transformações em seu objeto de análise, seu método e sua abordagem teórica, sendo diretamente influenciada pelos contextos sociais e políticos da época em que seus teóricos viveram.</p><p>Mais recentemente, no século XX, a Economia consolidou o ferramental matemático como instrumento de análise, que a distingue das demais Ciências Sociais, subdividindo-se em duas grandes áreas: Macroeconomia e Microeconomia</p><p>De forma mais específica, você deve estar se perguntando:</p><p>Mas e atualmente, como está a ciência econômica?</p><p>Ela tem o mesmo enfoque e os mesmos métodos de antigamente?</p><p>Quais campos têm sido estudados pela Economia, e o que tem sido pesquisado?</p><p>Pensando em todas essas questões, vamos apresentar algumas áreas da Economia que não são muito conhecidas fora da profissão. Citaremos também alguns grandes economistas dos últimos tempos.</p><p>Ao longo dos anos, conforme a ciência econômica foi se desenvolvendo, novas áreas foram surgindo, principalmente na Economia Aplicada.</p><p>Os economistas, em vez de focarem nas relações econômicas tradicionais como objeto de estudo, passaram a aplicar as teorias desenvolvidas e o ferramental econômico em outras áreas, como educação, saúde, desenvolvimento, política e meio ambiente.</p><p>Essas novas áreas de pesquisa, muitas vezes, deixam de fazer uma clara distinção entre Macro e Microeconomia, juntando, inclusive, algumas das áreas citadas, como veremos.</p><p>Teoria dos Jogos</p><p>Como vimos ao longo dos módulos anteriores, a ciência econômica busca analisar as decisões individuais, e como indivíduos tomam decisões ótimas.</p><p>O campo da Teoria dos Jogos tem como interesse situações em que os indivíduos se comportam estrategicamente, isto é, como os indivíduos vão realizar escolhas quando as escolhas dos outros interferem no resultado.</p><p>Exemplo: Um dos exemplos clássicos é o famoso dilema dos prisioneiros.</p><p>Dois criminosos foram presos pela polícia, que os interroga em salas separadas. Caso apenas um dos criminosos confesse individualmente, o confessante é libertado imediatamente pela sua colaboração, e o outro tem uma pena maior (três anos de prisão). Caso ambos confessem, eles são condenados a uma pena igual: dois anos de prisão. Se nenhum dos dois confessar, eles receberão apenas uma pena por um crime menor (um ano de prisão).</p><p>Qual será a decisão individual? Qual será o resultado? Claramente, a ação de um dos criminosos influencia no resultado do outro.</p><p>Os pioneiros da área são os matemáticos John Von Neumann, John Nash e o economista Oskar Morgenstern.</p><p>O desenvolvimento da Teoria dos Jogos foi uma revolução em Economia, embora a área seja considerada nova, ao abordar problemas cruciais por meio de modelos matemáticos.</p><p>Por exemplo, a Economia Neoclássica tinha grande dificuldade em lidar com a competição imperfeita, como oligopólios. Com o crescimento da Teoria dos Jogos, foi possível modelar o comportamento competitivo dos agentes.</p><p>Além disso, a Teoria dos</p><p>Jogos tem uma vasta gama de aplicações, sendo usada em Economia, Psicologia, Biologia Evolucionária, Guerras e Política.</p><p>Economia política</p><p>Como vimos no Módulo 2, a Economia Política como campo de estudo é antiga. Contudo, a atividade de sua vertente contemporânea é bem distinta da de antigamente. Nos dias atuais, a pesquisa estuda escolhas de políticas públicas, como são realizadas por políticos, que, por sua vez, são escolhidos por eleitores que compõem uma sociedade (democrática ou não).</p><p>Uma de suas grandes contribuições foi mostrar que, para explicar resultados econômicos, é preciso olhar além de preços e renda, analisando, também, a História e a Sociologia.</p><p>Um dos fundadores da área como a conhecemos atualmente é o italiano Alberto Alesina. Em seus trabalhos, ele atentou para os seguintes aspectos:</p><p>· O fato de que ciclos eleitorais podem gerar comportamento cíclico na atividade econômica.</p><p>· Como fatores políticos levavam a um acúmulo de dívida pública maior do que o socialmente desejável.</p><p>· Como a independência dos bancos centrais em relação a pressões políticas era um fator preponderante para a estabilidade macroeconômica.</p><p>Alesina estabeleceu como a desigualdade de renda poderia ser prejudicial ao crescimento econômico, ao desencadear conflitos políticos redistributivos, e trouxe o estudo da cultura como um grande determinante de resultados políticos e econômicos.</p><p>Segundo ele, as mesmas variáveis culturais, sociológicas e históricas que influenciam nas escolhas de determinadas formas de instituições podem estar correlacionadas com a política fiscal. Perguntas como o motivo de os EUA gastarem pouco com bem-estar em comparação à Europa podem ter suas respostas em questões culturais.</p><p>Assim como Alesina, dois outros italianos, Persson e Tabellini, contribuíram consideravelmente para a área. Eles combinaram o melhor de três diferentes áreas para sugerir uma abordagem unificada em economia política. Veja:</p><p>Macroeconomia Moderna</p><p>Indivíduos se comportam de forma racional, e suas preferências sobre os resultados econômicos induzem suas preferências acerca de políticas.</p><p>Escolha pública</p><p>Em escolha pública, a delegação de decisões políticas para representantes políticos pode resultar em problemas de agência entre políticos e eleitores.</p><p>Problemas de agência são situações em que uma ação é delegada de um agente para o outro. Em geral, esses agentes possuem objetivos conflitantes, de forma que o resultado ótimo para um não é desejável para outro.</p><p>Por exemplo, existe um fazendeiro e um agricultor que trabalha em sua fazenda. O objetivo do fazendeiro é maximizar seu lucro, enquanto o objetivo do agricultor é maximizar seu bem-estar. Nesse cenário, em que o fazendeiro delega o cuidado da plantação para o agricultor, o resultado do lucro dependerá do esforço do agricultor.</p><p>Na ausência de mecanismos que incentivem o agricultor a se esforçar, buscando a maximização de lucro, o resultado final não será a maximização esperada pelo fazendeiro. Na política, isso também ocorre, uma vez que o incentivo dos políticos difere do incentivo dos eleitores.</p><p>Escolha racional</p><p>Em escolha racional, as instituições políticas moldam os processos pelos quais os políticos são eleitos e as políticas públicas são executadas.</p><p>Economia comportamental</p><p>Como vimos no Módulo 2, os economistas clássicos introduziram a noção de que interesses individuais racionais importam.</p><p>A teoria contemporânea pressupõe que indivíduos são racionais e tomam decisões com base nas informações disponíveis, fazendo as escolhas que geram maiores ganhos com base em alguma medida de benefício.</p><p>Partindo desse entendimento, um consumidor não vai comprar dois pares de sapatos quando precisa apenas de um. Também é razoável supor que as pessoas vão economizar ao longo de suas vidas para garantir uma aposentadoria, enquanto pessoas endividadas cortariam seus gastos em vez de parcelar uma nova televisão no cartão de crédito.</p><p>Entretanto, se somos realmente racionais, por que tantas pessoas fazem o oposto do que a teoria supõe?</p><p>Richard Thaler, um economista norte-americano, e Daniel Kahneman, psicólogo israelense, foram pioneiros em unir Economia e Psicologia, criando e desenvolvendo o campo da Economia Comportamental. Ambos foram premiados com o Nobel pelas suas contribuições.</p><p>A premissa básica é que os seres humanos nem sempre são racionais. Muitas vezes, suas escolhas podem ser baseadas em questões subjetivas e culturais, que, em alguns momentos, pesam mais que a racionalidade. Isso não significa que a Economia Comportamental abandona por completo a noção de racionalidade – apenas incorpora ao processo de tomada de decisão outros fatores antes desconsiderados.</p><p>A Economia Comportamental tenta explicar por que as pessoas não economizam para a aposentadoria, priorizando o consumo no presente. Isso ocorre porque o prazer presente é mais próximo e mais palpável do que o possível sofrimento em um tempo futuro e distante.</p><p>Thaler explica também o comportamento de manada nos mercados financeiros: quando o mercado está em alta, mais pessoas decidem investir nas ações, o que decorre de um pensamento irracional de que os preços vão subir amanhã porque estão subindo hoje.</p><p>Outro aspecto da economia comportamental é o nudge, uma espécie de "empurrãozinho" que pode influenciar o processo de tomada de decisão de um indivíduo. É mais provável que as pessoas escolham uma opção específica se ela for a opção padrão.</p><p>Exemplo: No preenchimento de cadastros, por exemplo, as pessoas estão mais inclinadas a receber e-mails de promoções, se essa for a opção padrão, devendo clicar no botão de que não desejam estar na lista desses e-mails para desativar o recebimento, do que se necessitarem clicar em um botão afirmando que desejam estar nessa lista. Em outras palavras, as pessoas tendem a aceitar a opção que lhes é oferecida, e não arcar com os custos psicológicos da escolha.</p><p>Desenvolvimento econômico</p><p>A Economia do Desenvolvimento estuda o processo de desenvolvimento dos países de baixa renda. Como o processo de desenvolvimento econômico é amplo e complexo, essa área cobre diversos outros campos que afetam o crescimento social e econômico dos países.</p><p>Nesse sentido, foca não somente em métodos que promovam o crescimento econômico e nas mudanças estruturais, mas também na melhora de aspectos que envolvam a população, como condições de saúde, educação e trabalho.</p><p>O crescimento econômico, em particular, é investigado há muitos anos pelos economistas, como vimos no módulo anterior, de História do Pensamento Econômico. Como a Economia, essa área passou por diversas transformações até se tornar o que é atualmente.</p><p>Os neoclássicos propuseram alguns modelos de desenvolvimento econômico que frequentemente são vistos nos cursos de Macroeconomia e desenvolvimento de um currículo de graduação em Economia.</p><p>Com o passar dos anos, esses modelos foram ficando cada vez mais sofisticados, incorporando mais elementos e variáveis determinantes do crescimento econômico, visando torná-los mais próximos da realidade.</p><p>Características como crescimento populacional, progresso tecnológico, capital humano, e até o papel e a qualidade das instituições foram, pouco a pouco, sendo incorporadas nas equações.</p><p>Saiba mais</p><p>Alguns dos economistas mais importantes a elaborar modelos de desenvolvimento são: Roy Harrod, Evsey Domar, Robert Solow e Paul Romer.</p><p>Algumas das características que foram, pouco a pouco, sendo incorporadas nas equações são:</p><p>1 Crescimento populacional</p><p>2 Progresso tecnológico</p><p>3 Capital humano</p><p>4 Papel e a qualidade das instituições</p><p>Daron Acemoglu e James Robinson são dois economistas contemporâneos que mostraram evidências empíricas robustas sustentando a tese do papel desempenhado pelas instituições no desenvolvimento econômico, com ênfase nos direitos de propriedade.</p><p>Outros economistas apontam, entre outros tantos fatores institucionais que impactam o crescimento, para:</p><p>- A importância da organização dos sistemas financeiros nacionais.</p><p>- O desenho de Constituições.</p><p>- O tipo de regime de um país (democrático ou</p><p>autoritário).</p><p>- O grau de liberalização comercial de um país.</p><p>O grande desafio da área é a dupla causalidade que esses fatores costumam apresentar com o crescimento econômico. Nesse caso, é difícil responder:</p><p>Instituições melhores levam a mais crescimento econômico, ou países que têm mais crescimento econômico estabelecem melhores instituições?</p><p>Outra camada do desenvolvimento econômico ― talvez a mais desafiadora ― é a do impacto das culturas e das crenças no crescimento. Nesse caso, o obstáculo é que crenças e costumes são elementos muito difíceis de serem medidos e capturados pelos dados, mas isso não significa que devam ser ignorados.</p><p>A literatura econômica vem desenvolvendo muitos estudos nessa área na última década, mostrando como normas sociais, crenças individuais e coletivas influenciam as preferências dos indivíduos, e que essas normas variam lentamente ao longo do tempo.</p><p>Economia da pobreza</p><p>Outro campo que se propôs a investigar a economia de baixa renda é o de Economia da Pobreza.</p><p>Os laureados com o Prêmio Nobel de Economia de 2019, Michael Kremer, Esther Duflo e Abhijit Banerjee, fizeram contribuições com uma abordagem experimental para aliviar a pobreza global.</p><p>Os três economistas publicaram uma série de artigos, muitas vezes em conjunto, utilizando um método bastante empregado na Medicina: os Randomized Controled Trials (RCTs), ou Estudos Aleatorizados Controlados. De forma resumida, essa abordagem experimental consiste em dividir a população de um estudo em grupos aleatorizados de controle e tratamento para testar a efetividade de determinada política.</p><p>Os autores realizaram uma série de estudos desse tipo, desenvolvendo uma ferramenta muito poderosa para testar intervenções que podem reduzir a pobreza. Essas intervenções variam desde a realização de tutorias corretivas nas escolas, passando pelo fornecimento de redes contra mosquitos para famílias a fim de prevenir doenças, até políticas de microcrédito.</p><p>O sucesso dessa abordagem influenciou consideravelmente a forma de avaliar políticas de nossa geração. Embora não apontem um amplo conjunto de conclusões, esses estudos permitem tirar lições simples, mas poderosas, com grandes efeitos para a erradicação da pobreza.</p><p>Outra vantagem é que, pelo fato de serem estudos controlados, há a possibilidade de verificar possíveis efeitos colaterais não antecipados, colocando na balança, ao final dos experimentos, os benefícios e os custos não antecipados das intervenções.</p><p>Economia da desigualdade</p><p>A desigualdade econômica é um tópico de interesse e preocupação de cientistas sociais. Existe uma grande variedade de tipos de desigualdade econômica, muitas vezes medida na forma de distribuição de renda ou de riqueza. Também pode ser avaliada como desigualdade entre países, regiões ou grupos de pessoas.</p><p>A lista de pessoas que já estudou esse tópico é extensa.</p><p>O economista francês Thomas Piketty escreveu o livro O Capital no Século XXI (2013), sobre o crescimento da desigualdade da riqueza mundial. A obra causou rebuliço no meio acadêmico ao trazer à tona o debate sobre taxação progressiva e tributação da riqueza global como único caminho eficiente para combater a concentração da renda, que, segundo o autor, seria consequência inevitável do capitalismo.</p><p>Documentando com dados detalhados a evolução histórica da concentração da renda e da riqueza, Piketty desenvolve uma grande teoria do capital e da desigualdade. Alguns autores já desenvolveram estudos rebatendo suas conclusões, mas o debate ainda está em desenvolvimento.</p><p>Economia da saúde e da educação</p><p>Conheça as principais características da Economia da saúde e da educação:</p><p>- Economia da Saúde</p><p>A Economia da Saúde é a área de estudo aplicado que permite uma análise rigorosa e sistemática dos problemas enfrentados na promoção de saúde para todos. Economistas da saúde utilizam como ferramental as teorias do consumidor, do produtor e da escolha social para entender o comportamento dos indivíduos, dos provedores de saúde e de organizações públicas e privadas.</p><p>Um dos muitos exemplos estudados pelos economistas da saúde envolve perguntas como: Transferências governamentais durante a gravidez melhoram a saúde da criança ao nascer?</p><p>- Economia da Educação</p><p>A Economia da Educação é a área que estuda questões relacionadas à Educação, sejam elas de demanda própria, seu financiamento e sua provisão, ou relacionadas à eficiência comparativa entre diferentes programas e políticas.</p><p>Uma pergunta que os economistas da Educação se preocupam em responder é:</p><p>Há uma relação entre escolaridade e resultados no mercado de trabalho?</p><p>Como estudamos no Módulo 1, o programa Renda Melhor Jovem era um exemplo de política pública que aplicava o conceito de custo de oportunidade. Será que essa política foi eficaz, fazendo com que os jovens permanecessem mais tempo na escola para, no futuro, terem um salário melhor no mercado de trabalho? Questões assim também fazem parte das preocupações da área.</p><p>Outras áreas voltadas à economia</p><p>Listamos aqui uma série de áreas nas quais a literatura econômica tem apresentado terreno fértil e se expandido nas últimas décadas.</p><p>Existem muitos outros campos que um economista pode estudar e nos quais pode atuar, o que é uma das grandes vantagens da profissão. Campos mais clássicos como Macroeconomia e Microeconomia seguem igualmente trazendo novidades.</p><p>1. Economia do Trabalho: Procura entender o funcionamento e a dinâmica dos mercados de trabalho assalariado.</p><p>2. Economia Ambiental: Dedica-se a estudar a escassez dos recursos ambientais, propondo minimizar o impacto causado no meio ambiente.</p><p>3. Economia do Crime: Área relativamente nova. Usa o raciocínio econômico para explicar a tomada de decisões em condutas ilícitas.</p><p>4. Econometria: Desenvolve um ferramental mais aplicado do que outras áreas e pesquisas citadas aqui e possui uma gama de possibilidades praticamente infinita</p><p>Considerações finais</p><p>Estudamos alguns conceitos básicos de Ciências Econômicas. Além disso, vimos como essa ciência evoluiu ao longo do tempo e que caminhos está trilhando neste momento.</p><p>Vimos, também, os diversos objetos de estudo da Economia, que, afinal, busca responder como alocar recursos da melhor forma possível. Essa é a régua para determinar se a profissão é bem-sucedida: devemos contribuir para a melhor alocação possível dos recursos que temos à nossa disposição. Assim, teremos mais desenvolvimento, menos pobreza e desigualdade, e melhores políticas públicas para a sociedade.</p><p>TEMA 3 – Introdução à microeconomia</p><p>Módulo 1: Escolha do consumidor</p><p>Utilidade e consumo</p><p>Quando se fala sobre o comportamento do consumidor, não é uma tarefa trivial medir o sentimento subjetivo de satisfação gerado ao consumir uma pizza ou um refrigerante. Muito menos trivial se mostra a comparação da sua satisfação com a de outros indivíduos. Felizmente, isso não é necessário.</p><p>Para analisarmos esse comportamento, só precisamos supor que cada pessoa busca maximizar alguma medida própria de satisfação obtida por meio do consumo de bens e serviços. A essa medida damos o nome de utilidade do consumidor. Trata-se de um conceito utilizado pelos economistas para compreender o comportamento de escolha, cujo valor, na prática, sequer precisa ser medido. A utilidade do consumidor depende de tudo aquilo que um indivíduo consome. O conjunto de bens e serviços consumidos é chamado de cesta de consumo.</p><p>Exemplo: Duas fatias de pizza e um refrigerante podem constituir uma cesta de consumo, enquanto três fatias e nenhum refrigerante podem ser outra.</p><p>Existe uma relação entre as cestas de consumo individuais possíveis e o montante total de utilidade gerado por elas. Essa relação é conhecida como função utilidade. Ela varia em cada indivíduo, pois trata-se de uma questão pessoal e subjetiva.​​</p><p>Evidentemente, as pessoas não possuem calculadoras em suas cabeças para medir exatamente o quanto de utilidade suas escolhas de consumo irão gerar. Porém, ainda que de forma grosseira, elas tomam decisões partindo do princípio de qual escolha irá lhes trazer mais satisfação.</p>

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