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<p>UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA</p><p>FACULDADE DE DIREITO</p><p>MARIA EDUARDA VITORINO DO NASCIMENTO</p><p>1240116461</p><p>ANÁLISE DO ART.5º, INCISO XLII</p><p>INTERPRETAÇÃO DO STF E CASOS DE RACISMO</p><p>RIO DE JANEIRO</p><p>2024</p><p>MARIA EDUARDA VITORINO DO NASCIMENTO</p><p>ANÁLISE DO ART.5º, INCISO XLII</p><p>INTERPRETAÇÃO DO STF E CASOS DE RACISMO</p><p>Trabalho apresentado a Universidade</p><p>Veiga de Almeida como requisito para</p><p>conclusão do Projeto de extensão da matéria</p><p>de Constituição, Princípios e Direitos</p><p>Fundamentais.</p><p>Orientador: Prof. Mariana Rasga.</p><p>RIO DE JANEIRO</p><p>2024</p><p>RESUMO</p><p>O texto analisa o inciso XLII do artigo 5º da Constituição Federal, que classifica</p><p>o racismo como um crime que não pode ser fiança e é imprescritível, sujeito a</p><p>reclusão. Também discute a interpretação do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a</p><p>aplicação dessa norma. A Lei 7.716/89 estabelece as sanções para atos</p><p>discriminatórios relacionados à raça, cor, etnia e religião. O STF expandiu o alcance</p><p>desse artigo para incluir crimes de homofobia e transfobia, reconhecendo-os como</p><p>manifestações de racismo. Apesar de algumas condenações, como a de Day</p><p>McCarthy, a maior parte das situações de racismo no Brasil não leva a punições</p><p>adequadas. O STF reafirma que qualquer forma de racismo, seja direta ou indireta,</p><p>infringe os direitos fundamentais assegurados pela Constituição, embora a</p><p>impunidade continue a ser um grande desafio.</p><p>Palavras-chave: Racismo; Artigo 5°; Constituição; Inafiançável; Direitos.</p><p>SUMÁRIO</p><p>1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 5</p><p>2 DESENVONVIMENTO ................................................................................................ 5</p><p>2.1 INTERPRETAÇÃO DO ART.5º, XLII E VISÃO DO STF ......................................... 5</p><p>2.2 CASOS DE RACISMO, TEMPO DE PENA E CASO PERDIDO ............................ 6</p><p>3 CONCLUSÃO.............................................................................................................. 7</p><p>REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 8</p><p>5</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p>O artigo 5 da Constituição Federal do Brasil garante que todas as pessoas são</p><p>iguais diante da lei, sem qualquer tipo de distinção. Essa norma protege tanto</p><p>brasileiros quanto estrangeiros residentes no país, assegurando a inviolabilidade de</p><p>seus direitos e garantias fundamentais. Entre os direitos e garantias elencados no</p><p>artigo 5, destaca-se o inciso XLII, que estabelece que a prática do racismo é</p><p>considerada um crime inafiançável e imprescritível, sujeitando o infrator a pena de</p><p>reclusão. Conforme disposto na lei 7.716/89, conhecida como Lei do Racismo, o artigo</p><p>1 estabelece que delitos resultantes de discriminação ou preconceito em relação à</p><p>raça, cor, etnia, religião ou origem nacional serão passíveis de punição</p><p>Conforme estipulado pelo STF, o inciso XLII do artigo 5 abrange atitudes</p><p>homofóbicas e transfóbicas, independentemente da forma de expressão adotada e</p><p>escrever, editar, divulgar e comercializar livros que fazem apologia a ideias</p><p>preconceituosas e discriminatórias contra a comunidade judaica (Lei 7.716/89, art.20).</p><p>Nos episódios de racismo e homofobia, tanto nas interações cotidianas quanto nas</p><p>plataformas digitais, é comum que a vítima saia prejudicada, já que muitas vezes o</p><p>infrator recebe uma pena branda ou acaba se esquivando da punição, mesmo após</p><p>longos anos de tramitação do processo.</p><p>2 DESENVOLVIMENTO</p><p>2.1 INTERPRETAÇÃO DO ART.5º, XLII E VISÃO DO STF.</p><p>O artigo 5º, inciso XLII, estabelece que a prática do racismo é considerada um</p><p>crime inafiançável e imprescritível, sujeitando o infrator a pena de reclusão, conforme</p><p>os princípios da Lei 7.716/89, que abrange os artigos 1º a 22. Embora alguns desses</p><p>artigos tenham sido vetados, os que permanecem em vigor contemplam diversas</p><p>situações que caracterizam o crime de racismo. No artigo 20, parágrafo 1º, é</p><p>mencionado que a fabricação, comercialização, distribuição ou divulgação de</p><p>símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que apresentem a cruz</p><p>suástica ou a cruz gamada, com a intenção de promover o nazismo, resulta em uma</p><p>pena de reclusão de 2 a 5 anos, além de multa. Esse parágrafo está relacionado à</p><p>declaração do Ministro Maurício Corrêa, proferida em 17/09/2003 pelo STF (HC</p><p>6</p><p>82.424), onde ele afirma que a escrita e a venda de livros que promovem ideias</p><p>preconceituosas contra a comunidade judaica constituem crime de racismo, sendo</p><p>também sujeitas às cláusulas de inafiançabilidade e imprescritibilidade (CF, art. 5º,</p><p>XLII).</p><p>De forma semelhante, a declaração feita pelos Ministros Celso de Mello e Edson</p><p>Fachin em 13 de junho de 2019 estabelece que, até que uma lei proveniente do</p><p>Congresso Nacional seja promulgada para efetivar os mandados de criminalização</p><p>previstos no inciso XLII do artigo 5º da Constituição Federal, comportamentos</p><p>homofóbicos e transfóbicos, sejam eles reais ou supostos, que demonstrem aversão</p><p>ou ódio à orientação sexual ou à identidade de gênero de outra pessoa, configuram</p><p>uma expressão de racismo adaptada às diretrizes básicas de incriminação dispostas</p><p>na Lei 7.716/89. Isso se aplica especialmente em casos de homicídio doloso, o que já</p><p>é tipificado no Código Penal (artigo 121, §2º, I). Esta declaração foi apresentada</p><p>porque, segundo o entendimento do STF, os indivíduos da comunidade LGBTI+, assim</p><p>como qualquer outra pessoa, nascem com igualdade em dignidade e direitos,</p><p>possuindo a mesma autonomia para fazer suas escolhas afetivas. Para os Ministros,</p><p>em uma sociedade democrática e justa, ninguém deve ser privado de seus direitos ou</p><p>enfrentar limitações em sua esfera jurídica devido à sua orientação sexual ou</p><p>identidade de gênero.</p><p>2.2 CASOS DE RACISMO, TEMPO DE PENA E CASO PERDIDO.</p><p>Uma influenciadora foi sentenciada a 8 anos de prisão por cometer racismo</p><p>contra Titi, a filha de Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank. Em 2017, Day McCarthy</p><p>praticou atos de injúria racial contra a menina, que na época tinha apenas 4 anos. Ela</p><p>fez ofensas à criança nas redes sociais e publicou diversos posts contendo</p><p>comentários racistas sobre a cor da pele, o nariz e o cabelo de Titi, chegando a</p><p>comparar a menina a um animal. Naquele período, Bruno Gagliasso apresentou uma</p><p>denúncia contra ela. A influenciadora também teve que pagar 180 mil reais em um</p><p>processo civil que acontecia paralelamente. No entanto, no dia 23 de agosto de 2024,</p><p>Bruno fez uma declaração pública celebrando a condenação de Day McCarthy, que</p><p>resultou em 8 anos de prisão, a maior pena já imposta por crimes de racismo no Brasil.</p><p>Vale destacar que o caso ainda pode ser objeto de recurso.</p><p>7</p><p>Lamentavelmente, este é um dos raros episódios de racismo que teve um</p><p>desfecho "favorável". Na maioria das vezes, esses casos no Brasil não resultam em</p><p>nada, seja pela escassez de provas ou pela estratégia de alguns racistas que</p><p>apresentam laudos médicos para justificar doenças mentais no momento da prisão.</p><p>Um exemplo ocorreu em Valinhos, São Paulo, onde um entregador sofreu</p><p>humilhações durante uma entrega. O morador do condomínio proferiu várias ofensas</p><p>ao entregador de comida, agredindo-o verbal e fisicamente, inclusive cuspindo no</p><p>rosto do motoboy. Embora o morador tivesse sido indiciado, sua família apresentou</p><p>um laudo psiquiátrico alegando que ele era esquizofrênico, o que resultou em sua</p><p>absolvição. Posteriormente, a família enviou uma carta de desculpas ao motoboy.</p><p>3 CONCLUSÃO</p><p>Concluindo a pesquisa, foi possível entender que o inciso XLII do art.5º da</p><p>Constituição Federal de 88 estabelece que “a prática do Racismo é um crime</p><p>inafiançável e imprescritível, sujeito</p><p>à pena de reclusão, conforme a legislação”. Este</p><p>artigo evidencia o compromisso da Constituição brasileira no enfrentamento ao</p><p>racismo, tratando como uma ofensa grave, passível de severas punições, uma vez</p><p>que tal conduta atenta contra a dignidade humana e o princípio da igualdade.</p><p>O Supremo Tribunal Federal (STF) tem reforçado sua posição de o racismo</p><p>representa umas das formas mais sérias de violação aos direitos humanos, sendo</p><p>absolutamente inaceitável em qualquer manifestação. Em julgamentos significativos,</p><p>como Ação Penas 496/DF (Caso Ellwanger, 2003, o STF apontou que o crime de</p><p>racismo não se restringe apenas à discriminação racial explicita, abrangendo também</p><p>ações que fomentam preconceitos através de publicações e manifestações, incluindo</p><p>o antissemitismo. Nesse contexto, o STF destacou que qualquer ação que mantenha</p><p>o racismo deve ser considerada uma violação dos direitos fundamentais assegurados</p><p>pela Constituição.</p><p>Assim o inciso XLII se torna um elemento crucial na batalha contra o racismo</p><p>no Brasil, definindo-o como um delito que o Estado tem a obrigação de enfrentar de</p><p>maneira firme, sem tolerar a impunidade. O STF, por meio de suas deliberações,</p><p>reafirma esse compromisso ao expandir a definição de racismo e aplicá-la</p><p>fundamentada nos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da</p><p>igualdade.</p><p>8</p><p>Embora este artigo ressalte o compromisso da Constituição brasileira no</p><p>combate ao racismo, ainda há um longo e difícil percurso pela frente. Isso se deve ao</p><p>fato de que, na maioria das situações, raramente uma pessoa que pratica o racismo</p><p>enfrenta sanções adequadas pelo seu ato. Muitas vezes, quando é responsabilizada,</p><p>a pena imposta é bastante branda.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>1 DE MORAES, Alexandre. Constituição da República Federativa do Brasil de 5</p><p>de outubro de 1988. 55ª ed. Campos Elíseos, SP: Atlas, 2024</p><p>2 LENZA, Pedro. Direito Constitucional. 24ª. Várzea da Barra Funda, SP: Saraiva,</p><p>2020.</p><p>3 BARBOSA, Marília. Exclusivo: Advogado esclarece motivo de Day McCarthy</p><p>aparecer em vídeo aos prantos e diz que recorrerá de “maior condenação da</p><p>história”. ISTOÉ, 31 de agosto de 2024 https://istoe.com.br/exclusivo-advogado-</p><p>esclarece-motivo-de-day-mccarthy-aparecer-em-video-aos-prantos-e-diz-que-</p><p>recorrera-de-maior-condenacao-da-historia/ Acesso em: 18 set.</p><p>4 DIAS, Carlos Henrique. Laudo aponta que acusado de humilhar entregador com</p><p>falas racistas e “inimputável”; Justiça impõe tratamento ambulatorial. G1, São</p><p>Paulo, 05 de outubro de 2023 https://g1.globo.com/google/amp/sp/sao-</p><p>paulo/noticia/2023/10/05/laudo-aponta-que-acusado-de-humilhar-entregador-com-</p><p>falas-racistas-e-inimputavel-justica-impoe-tratamento-ambulatorial.ghtml Acesso em</p><p>18 set.</p><p>https://istoe.com.br/exclusivo-advogado-esclarece-motivo-de-day-mccarthy-aparecer-em-video-aos-prantos-e-diz-que-recorrera-de-maior-condenacao-da-historia/</p><p>https://istoe.com.br/exclusivo-advogado-esclarece-motivo-de-day-mccarthy-aparecer-em-video-aos-prantos-e-diz-que-recorrera-de-maior-condenacao-da-historia/</p><p>https://istoe.com.br/exclusivo-advogado-esclarece-motivo-de-day-mccarthy-aparecer-em-video-aos-prantos-e-diz-que-recorrera-de-maior-condenacao-da-historia/</p><p>https://g1.globo.com/google/amp/sp/sao-paulo/noticia/2023/10/05/laudo-aponta-que-acusado-de-humilhar-entregador-com-falas-racistas-e-inimputavel-justica-impoe-tratamento-ambulatorial.ghtml</p><p>https://g1.globo.com/google/amp/sp/sao-paulo/noticia/2023/10/05/laudo-aponta-que-acusado-de-humilhar-entregador-com-falas-racistas-e-inimputavel-justica-impoe-tratamento-ambulatorial.ghtml</p><p>https://g1.globo.com/google/amp/sp/sao-paulo/noticia/2023/10/05/laudo-aponta-que-acusado-de-humilhar-entregador-com-falas-racistas-e-inimputavel-justica-impoe-tratamento-ambulatorial.ghtml</p>