Prévia do material em texto
Nesse cenário, o crime de racismo trata-se da conduta de discriminação contra um grupo ou coletividade, assim, as condutas direcionadas a apenas um determinado individuo, no qual é o delito que ocorre com mais frequência, não tem o mesmo tratamento, sendo tipificado como injuria racial, ou seja, a conduta de ofender à honra de determinada pessoa usando da sua raça, cor, etnia ou religião como causa. Havendo assim, uma punição mais branda de um a três anos de reclusão. Portanto, tem se verificado que, como a maior parte dos casos de discriminação se enquadram no Art. 140 do Código Penal, como Injúria, mesmo havendo a Lei Caó para o crime de racismo, raramente os casos são enquadrados nessa. Um dos motivos é a questão do sujeito passivo, ou seja, a coletividade, assim como, a questão da pena e sua dificuldade para tipificar o crime, já que, uma grande parte de juristas consideram a pena determinada como maior que o próprio delito, podendo ter como consequência, excessivos resultados para o autor do crime, fazendo com que se recorra com frequência ao delito de injúria. Dessa forma, pode se notar que é de grande relevância a redefinição do conceito de racismo, como suas circunstâncias e condutas, já que, mesmo que a conduta seja direcionada para somente um indivíduo, essa consequentemente, reflete em toda uma coletividade que busca por igualdade e dignidade diariamente, assim como vem acontecendo em decisões dos Tribunais Superiores, no qual vem abrangendo as condutas, um grande exemplo é o recente enquadramento da homofobia e transfobia nos termos da Lei 7.716/89. Conclusão Este artigo procurou analisar o racismo sob a perspectiva da lei 7.716/89, popularmente conhecida como Lei Caó. Além disso, outro objetivo foi examinar a eficácia ou ineficácia da já citada lei em razão dos recorrentes casos de discriminação racial no Brasil. Nesse viés, foi necessário estabelecer uma definição para o racismo que se pauta na idéia de superioridade racial, uma vez que trata-se de uma expressão relativamente nova. Ademais, foi preciso esclarecer o contexto histórico do racismo que foi elemento crucial para o início de diversos conflitos a nível mundial, como o Nazismo, o Apartheid e a segregação estadunidense. No brasil o racismo também foi um marco negativo em razão cultura escravocrata estabelecida nos séculos XVI à XIX. Com o intuito de reverter o contexto negativo acima mencionado foi elaborada a lei 7.716/89. Entretanto, em virtude das dificuldades semânticas, do despreparo dos operadores do direito e, principalmente, do foco especifico na coletividade a referida lei não alcançou o grau de efetividade esperado. Evidencia-se, assim, que a dificuldade de tipificar o crime reside no excesso de situações especiais elencadas na lei e na necessidade de que a discriminação seja direcionada a coletividade, o que implica na maior aplicação do art. 140, § 3º do CP, a injúria racial qualificada, que ocorre quando a ofensa é voltada apenas ao indivíduo especifico. Nessa senda, verifica-se que a legislação atual carece de uma reforma que resulte numa melhor redação e, também, de uma elevação no rigor das penas referentes as condutas de discriminação racial. Autores: Ana Carolina Yamamoto Carletto, Anna Beatriz Rodrigues Leite, Beatriz Soriano da Silva Fonseca, Natália Nascimento Câmara, Pablo Neves do Nascimento e Thiago de Araújo Silva- Acadêmicos do 6º semestre do curso de Direito da Faculdade de Ilhéus. Orientadora: Prof. Taiana Levinne Carneiro Cordeiro - Advogada e professora de Direito Penal e Processo Penal da Faculdade de Ilhéus. Referências: AYRES, Lair, Preconceito racial contra o negro à luz da Lei nº 7.716/89 - crimes resultantes de preconceito de raça e cor, 2014 – https://jus.com.br/artigos/29420/preconceito-racial-contraonegroaluz-da-lein7-716-89-crimes-resultantes-de-preconceito-de-racaecor. Acesso em 24 agosto.2019 BRASIL. Lei 7.716 de de 05 de janeiro de 1989. Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. Diário Oficial da União, DF, 5 de janeiro de 1989. Seção 1 - 6/1/1989, Página 369. FERREIRA, João Sette Whitaker. São Paulo: cidade da intolerância, ou o urbanismo “à brasileira”. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/eav/article/view/10594/12336. Acesso em 07 set. 2019. JORDÃO, Fernando. Lei que torna racismo crime completa 30 anos, mas ainda há muito a se fazer. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2019/01/05/interna-brasil,729072/lei-que-torna-racismo-crime-completa-30-anos-mas-ha-muitoase-fazer.shtml. Acesso em 08 set. 2019. JORNAL DO COMÉRCIO. Há 28 anos em vigor, Lei do Racismo é pouco executada no País. Disponível em: https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/2017/11/cadernos/jornal_da_lei/596693-ha-28-anos-em-vigor-lei-do-racismoepouco-executada-no-pais.html. Acesso em 08 set. 2019. PENTEADO, Priscila Aparecida, Crimes de Racismo x Injúria Racial Eficácia da Lei 7.716/89. 2014 – https://www.hasse.adv.br/crimes-de-racismoxinjuria-racial-eficacia-da-lei-7-71689/. Acesso em 24 agosto.2019 SANCHES, Rogério; PINTO, Ronaldo; SOUZA, Renee. Leis Penais Especiais - comentadas artigo por artigo. 2º ed. Juspodivm, 2019. Dados da segurança pública mostram urgência para debate do racismo no Brasil O “Anuário Brasileiro de Segurança Pública” mostra uma subnotificação dos registros criminais e as controvérsias das leis aplicadas sobre discriminação e injúria racial Em 2020, o número de casos de injúria racial registrado no Brasil foi de 10.291. Em contrapartida, o número absoluto de casos de racismo no País não ultrapassou 3 mil casos no mesmo ano. Os dados presentes no Anuário Brasileiro de Segurança Pública denunciam a urgência do debate sobre o racismo e o aprofundamento do problema no Brasil, principalmente em relação à subnotificação dos registros criminais e às controvérsias das leis aplicadas nesses casos. A eficácia mede a relação entre o efeito da ação, e os objetivos pretendidos. Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer cargo da Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos. Pena: reclusão de dois a cinco anos.