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<p>1</p><p>Educação</p><p>à Distância</p><p>Ebook</p><p>Autor: Equipe Multidisciplinar</p><p>Ecoteologia</p><p>Apresentação da Disciplina</p><p>Prezados alunos,</p><p>Sejam bem-vindos à disciplina de Ecoteologia! Neste curso, teremos a oportunidade</p><p>de explorar a interseção entre princípios teológicos, éticos e de responsabilidade</p><p>socioambiental, buscando uma compreensão mais profunda sobre o cuidado com o meio</p><p>ambiente e com o próximo.</p><p>Ao longo desta jornada, analisaremos conceitos fundamentais relacionados ao meio</p><p>ambiente e à sustentabilidade, aplicando-os à criação cultural e ao desenvolvimento do</p><p>pensamento reflexivo sobre as questões ambientais. Também exploraremos a relação entre</p><p>os princípios teológicos e as questões ambientais, fomentando uma perspectiva ética e</p><p>responsável em relação ao cuidado com a criação de Deus.</p><p>Nosso objetivo é capacitá-los a aplicar as concepções de meio ambiente de forma</p><p>integrada, vinculando-as à educação ambiental, às práticas sociais e ao mundo do trabalho.</p><p>Desejamos despertar em vocês uma consciência mais profunda sobre a importância do</p><p>cuidado com o próximo e com o meio ambiente, estimulando-os a serem multiplicadores</p><p>desses conhecimentos em suas comunidades.</p><p>Através de uma variedade de recursos, como aulas síncronas e assíncronas, fóruns de</p><p>discussão, chats, vídeos e leituras complementares, proporcionaremos um ambiente de</p><p>aprendizado rico e interativo. Juntos, refletiremos sobre o papel crucial da ética, da moral,</p><p>dos valores e dos direitos no processo ecoteológico, buscando uma compreensão mais</p><p>abrangente de nossa responsabilidade como mordomos da criação de Deus.</p><p>2</p><p>Convidamos vocês a embarcar nessa jornada de descoberta e crescimento, unindo fé</p><p>e ação em prol de um mundo mais sustentável e compassivo. Que possamos, através desta</p><p>disciplina, fortalecer nosso compromisso com a justiça socioambiental e nos tornarmos</p><p>agentes de transformação em nossas comunidades.</p><p>Estamos ansiosos para caminhar ao lado de vocês nesta jornada de aprendizado e</p><p>crescimento espiritual. Vamos juntos construir um futuro mais ético, responsável e</p><p>sustentável, honrando nossa missão como filhos de Deus e cuidadores de sua criação.</p><p>Bem-vindos à disciplina de Ecoteologia!</p><p>1. Objetivo Geral</p><p>O objetivo geral desta disciplina é analisar conceitos relacionados ao meio ambiente</p><p>e sustentabilidade para aplicar a criação cultural, desenvolver o espírito científico e o</p><p>pensamento reflexivo para as questões ambientais. Utilizar adequadamente conceitos</p><p>teológicos relacionando-os às questões ambientais, bem como a responsabilidade</p><p>socioambiental. Aplicar, adequadamente, as concepções de meio ambiente em sua</p><p>totalidade, vinculando-as a ética, à educação ambiental, ao trabalho e as práticas sociais.</p><p>2. Objetivos específicos</p><p>a) Analisar e compreender os principais conceitos relacionados ao meio</p><p>ambiente, sustentabilidade e responsabilidade socioambiental, a fim de aplicá-los na</p><p>criação cultural e no desenvolvimento do pensamento reflexivo sobre as questões</p><p>ambientais.</p><p>b) Explorar a relação entre os princípios teológicos e as questões ambientais, de</p><p>modo a fomentar uma perspectiva ética e responsável em relação ao meio ambiente.</p><p>c) Aplicar as concepções de meio ambiente de forma integrada, vinculando-as à</p><p>educação ambiental, às práticas sociais e ao mundo do trabalho, promovendo</p><p>soluções sustentáveis.</p><p>3</p><p>3. A problematização do Conteúdo</p><p>Podemos perceber que as grandes lideranças do mundo contemporâneo têm</p><p>discutido a ética e a responsabilidade social com o meio ambiente. Dentro desse contexto, as</p><p>religiões, bem como o cristianismo, tem muito a contribuir com os processos educacionais</p><p>para a formação de uma nova consciência e de novas práticas éticas, responsáveis e amigas</p><p>da vida, consequentemente do meio ambiente.</p><p>Conscientizar o acadêmico sobre a preocupação e cuidado com o semelhante.</p><p>Proporcionar por meio de atividades interativas a melhoria do ambiente em que o acadêmico</p><p>se insere e convive no cotidiano. Estimular os futuros teólogos a serem multiplicadores dos</p><p>conhecimentos sobre o meio ambiente em sua comunidade. Compartilhar com os alunos a</p><p>seguinte metodologia da prática nas comunidades: aulas, estudos, palestras, cursos, visitação</p><p>às comunidades, projetos de sustentabilidade e extensão direcionados ao IBN, empresas e</p><p>comunidades urbanas e rurais.</p><p>No nosso cotidiano é comum vermos reportagens que informam e denunciam a falta</p><p>de ética e respeito com o meio ambiente. Mas, o que é meio ambiente? O que fazer para o ser</p><p>humano preocupar-se e comprometer-se eticamente com o meio ambiente em que vive?</p><p>As escolhas das atitudes para a preservação da vida no planeta Terra devem ser</p><p>orientadas por critérios coerentes com o propósito de mais justiça e paz. Tais escolhas</p><p>devem contribuir para a superação das desigualdades e das agressões à criação. Por isso,</p><p>hoje, as preocupações e consequentes ações no âmbito do saneamento passam a incorporar</p><p>não só questões de ordem sanitária, mas também de justiça social e ambiental. É, portanto,</p><p>necessária e urgente que as ações para a preservação ambiental busquem também construir</p><p>a justiça, principalmente para os pequenos e pobres.</p><p>O bem comum, desejado por Deus, é o grande objetivo das sagradas escrituras. A</p><p>igreja está consciente da sua responsabilidade? O compromisso com a construção do bem</p><p>comum é um projeto de adesão do reino de Deus para a igreja?</p><p>4</p><p>Divisão do Conteúdo</p><p>O conteúdo a seguir está dividido em três unidades, cada unidade dividida em três</p><p>subunidades. Na unidade um será abordado as Bases Éticas para o Estudo do Meio Ambiente,</p><p>o estudo da ética e do meio ambiente, a ética, moral, valores e direitos são essenciais no</p><p>processo ecoteológico, e ainda analisar a ética como percepção e avaliação da moralidade</p><p>das ações. Na unidade dois, o tema proposto estará associado ao Cristão e o Cuidado Integral</p><p>do Planeta, mostrando que a Terra pede socorro, a bíblia e a questão do meio ambiente, e a</p><p>responsabilidade cristã. E por fim, na unidade três será tratado sobre o O Cristão e o Cuidado</p><p>Integral Pelo Planeta, além disso o cristão e o uso responsável da água e o cuidado pelo</p><p>planeta e discipulado</p><p>Unidade 1 – Bases Éticas para o Estudo do Meio Ambiente</p><p>Subunidade 1.1 – O Estudo da Ética e do Meio Ambiente</p><p>A compreensão do homem e sua relação com o ambiente que vive é a base da ética</p><p>que consiste em determinar se o interesse está exclusivamente vinculado ao amor-próprio,</p><p>ao egoísmo ou também se supõe intenções altruísticas. Logo, o que faz o ser humano</p><p>preocupar-se com o ambiente que vive é centro do estudo da ética.</p><p>Compreender a ética envolvida no campo do ambiente em que se vive é crucial para</p><p>a sobrevivência do ser humano tanto física como moral. Física, porque depende dos recursos</p><p>naturais que a natureza oferece e que podem, ao longo dos tempos, esvair-se de seu potencial</p><p>e causar sérios prejuízos à existência humana. Moral, porque preocupar-se simplesmente</p><p>pelos danos e prejuízos causados que podem trazer repercussões drásticas à sociedade não</p><p>é o suficiente. Há uma necessidade premente de conscientização por parte das pessoas, pois</p><p>as pessoas precisam compreender que o mundo foi criado com o objetivo de oferecer vida,</p><p>não apenas vida vegetal, mas, como o próprio Jesus mencionou “vida em abundância” –</p><p>5</p><p>Evangelho de João 10:10 (Bíblia Sagrada): “o ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a</p><p>destruir; eu vim para terem vida, e a tenham com abundância”.</p><p>Geisler, entende que a religião é diariamente bombardeada por uma série de dilemas</p><p>éticos e morais que indicam que os caminhos apontados pela sociedade atual ou pela cultura</p><p>vigente não raro são bem diferentes daqueles apontados pela ética propriamente dita. Fica,</p><p>então, a dúvida: Como lidar com questões como aborto,</p><p>Revista de Estudos</p><p>Pentecostais. Disponível em: https://azusa.faculdaderefidim.edu.br.</p><p>ELI, Aluísio. Desenvolvimento sustentado e meio ambiente. Porto Alegre: FEPLAN, 1992.</p><p>ELIADE, Mircea. O profano e o Sagrado. São Paulo, Martins Fontes Editora.1992.</p><p>FERN, Richard L. Nature, God And Humanity- Envisioning an Ethics of Nature. New York,</p><p>Cambridge University Press, 2003.</p><p>GEISLER, Norman. Ética Cristã. São Paulo, Editora Vida Nova, 2010.</p><p>GUILHERMO, Kerber. O ecológico na Teologia latino-americana. Articulações e desafios.</p><p>Porto Alegre, sulina, 2006</p><p>GUIMARÃES, M. A educação ambiental no consenso um embate? Campinas: Papirus</p><p>INSTITUTO TRATA BRASIL. Ranking do Saneamento. Abril, 2008. Disponível em:</p><p>http://www.tratabrasil.org.br/blog/2018/04/19/trata-brasil-lanca-ranking-do-</p><p>saneamento/</p><p>http://www.tratabrasil.org.br/blog/2018/04/19/trata-brasil-lanca-ranking-do-saneamento/</p><p>http://www.tratabrasil.org.br/blog/2018/04/19/trata-brasil-lanca-ranking-do-saneamento/</p><p>35</p><p>JESUS, Edilza Laray de et al. Educação Ambiental. Material Didático. Manaus: UEA, 2007.</p><p>JONAS, Hans. O princípio responsabilidade: Ensaio de uma ética para a civilização</p><p>tecnológica. Rio de Janeiro: Contraponto, 2006.</p><p>JUNIOR, Josias da Costa. O Espírito Criador. A ecologia na Teologia trinitária de Jürgen</p><p>Moltmann. Tese de doutorado. PUCRJ, Rio de Janeiro, 2008.</p><p>LAZZAROTO, E. M. (org) Educação Ambiental, Saúde e Sociedade. Cascavel: Coluna do Saber,</p><p>2006.</p><p>LAZZAROTO, E. M. White, Lynn. The Historical Roots of Our Ecologic Crisis” Makron, NY, EUA,</p><p>1967. (org) Educação Ambiental, Saúde e Sociedade. Cascavel: Coluna do Saber, 2006.</p><p>PAPA FRANCISCO I. Encíclica Laudano si. Vaticano 2015. Disponível em</p><p>https://ferreiramacedo.jusbrasil.com.br/artigos/207408620/carta-enciclica-laudato-si-</p><p>do-santo-padre-francisco-sobre-o-cuidado-da-casa-comum. Reflexões sobre teologia</p><p>pentecostal e ecologia.</p><p>ROSA, André Luiz. Reflexões sobre teologia pentecostal e ecologia. Revista Unitas, v.5, n.2 (n.</p><p>especial), 2017.</p><p>RUSCHEINSKY, A. Educação ambiental: abordagens múltiplas. Porto Alegre: Artmed, 2002</p><p>SILVA, Cassiano Augusto de Oliveira, Nascimento, Kelly Thaisa Lopes. Teologia e Ecologia:</p><p>uma ética para a preservação ambiental. Diversidade Religiosa, v 1, n.2. 2015.</p><p>SLEETH, J. Matthew. Serve God, save the planet: A Christian call to action. Chelsea Green</p><p>publishing, New York, 2007.</p><p>SOCIEDADE BÍBLICA DO BRASIL. Bíblia Sagrada. SBB, Barueri, 2014</p><p>TRAJBER, R. Avaliando a educação ambiental. Petrópolis, 2001.</p><p>TUCKER, Mary Evelyn, GRIM John. The challenge of the environmental crisis. Disponível em</p><p>http://fore.yale.edu/publications/books/cswr/the-challenge-of-the-environmental-</p><p>crisis/#end3</p><p>ULTIMATO. Quem leva a bíblia a sério obriga-se a levara sério também a justiça social.</p><p>Disponível em: https://ultimato.com.br/sites/elbencesar/2018/04/06/quem-leva-a-</p><p>biblia-a-serio-obriga-se-a-levar-tambem-a-serio-a-justica-social/</p><p>https://ferreiramacedo.jusbrasil.com.br/artigos/207408620/carta-enciclica-laudato-si-do-santo-padre-francisco-sobre-o-cuidado-da-casa-comum</p><p>https://ferreiramacedo.jusbrasil.com.br/artigos/207408620/carta-enciclica-laudato-si-do-santo-padre-francisco-sobre-o-cuidado-da-casa-comum</p><p>http://fore.yale.edu/publications/books/cswr/the-challenge-of-the-environmental-crisis/#end3</p><p>http://fore.yale.edu/publications/books/cswr/the-challenge-of-the-environmental-crisis/#end3</p><p>eutanásia, biomedicina, ecologia,</p><p>direito dos animais, entre tantos outras?</p><p>Segundo Geisler (2010) quando se refere a ética ambiental diz:</p><p>Na raiz da poluição está o egoísmo. O homem tira muito da natureza e coloca</p><p>pouco de volta, usando os recursos naturais com ganância, de maneira</p><p>indiscriminada e predatória, requerendo os fanhos para si, sem qualquer</p><p>preocupação com os outros, com as gerações futuras.</p><p>O propósito de Geisler é justamente quem busca fornecer aos cristãos os</p><p>fundamentos para responder a essas questões tão frequentes e complexas com argumentos</p><p>sólidos e bastante coerentes. Leonardo Boff busca tecer criativamente ecologia e</p><p>espiritualidade como resposta para os conflitos humanos, em um momento em que as</p><p>dificuldades da humanidade tomam novas proporções. Tanto sua ideia de ecologia,</p><p>espiritualidade e ética, buscam apresentar o emaranhado das relações humanas. Para ele, a</p><p>falta de relações, em vários setores do humano, é que leva a uma desintegração generalizada.</p><p>Sua visão de cuidado pelo ser humano, pela natureza transpassa as discussões</p><p>infrutíferas de moral e direito e parte para uma nova investigação de contexto ético nunca</p><p>observados antes desta mundialização de conflitos e soluções (Boff, 2008).</p><p>Logo, há de se convir que as preocupações que norteiam o estudo da Ecoteologia vão</p><p>muito além do campo puramente físico, local e temporal, elas atingem um âmbito</p><p>transcendente, escatológico e pneumatológico quando se refere à ação do Espírito Santo, na</p><p>santificação do povo de Deus em sua jornada solidária com o universo e as pessoas que nele</p><p>habitam. Assim, a ética transcende a dimensão tão necessária para uma nova consciência</p><p>Ecoteológica, cidadã e de responsabilidade social com o meio ambiente.</p><p>6</p><p>Subunidade 1.2 – Filosofia, Ética, Virtude e Meio Ambiente</p><p>Saiba que o conteúdo desta unidade é fruto de uma caminhada lecionando sobre ética</p><p>geral, ética religiosa, profissional, na educação e tantas outras esferas da vida e da sociedade.</p><p>Existe uma diferença entre as várias nuances da ética, entretanto, todas convergem para um</p><p>mesmo ponto – viver uma vida melhor, mais humana e feliz.</p><p>A filosofia nos ensina a pensar, viver e agir. Todo o ser humano tem esta capacidade</p><p>de entender o mundo e, da sua maneira, interpretá-lo. Não existe um padrão único de</p><p>pensamento e conclusão. Tudo depende de como o ser humano vê o mundo em que se</p><p>encontra, seja ele rural, urbano, metropolitano, acadêmico e profissional.</p><p>Veja as imagens abaixo e reflita: qual ambiente você se identifica mais? Qual deles</p><p>agrada mais o seu olhar? O que os diferentes ambientes representam para você?</p><p>Figura 1 – Ambiente rural</p><p>Fonte: Pixabay</p><p>7</p><p>Figura 2 – Ambiente urbano</p><p>Fonte: Pixabay</p><p>Independente da sua cultura, status, conhecimento intelectual, o ser humano</p><p>sempre vai tirar suas próprias conclusões, sejam elas precipitadas ou não, resultado do seu</p><p>estado de espírito, emocional ou racional. Todos têm direito de expressar sua vontade, mas</p><p>também de pensar o próprio pensamento.</p><p>Todos têm esta fantástica capacidade. Afinal, todos são seres racionais. Todavia,</p><p>existem alguns parâmetros para a ação do ser humano que provém do direito instituído e</p><p>da moral predominante, o que será analisado na próxima etapa desta unidade.</p><p>De acordo com Kelsen (1984)</p><p>Não há qualquer diferença essencial entre as esferas. As regras morais são</p><p>em tudo idênticas às normas jurídicas, salvo por um aspecto, por assim dizer,</p><p>externo: as normas jurídicas são as normas morais com maior condição de</p><p>se impor socialmente de modo eficaz.</p><p>A filosofia trabalha a questão da ética com o objetivo de guardar, proteger e</p><p>preservar a sociedade. A ética é avaliativa e tem o objetivo de avaliar as ações humanas de</p><p>tal modo que prevaleça a verdade e a justiça. Ela visa a cidadania de tal modo que envolve</p><p>as várias facetas da sociedade, sejam elas civil, social, econômica e política.</p><p>8</p><p>Por outro lado, a virtude é uma das áreas de discussão da filosofia cujo objetivo é</p><p>analisar o modo de ser, o caráter, os hábitos e como deveria ser e acontecer na vida do ser</p><p>humano.</p><p>Subunidade 1.2 - Ética, Moral, Valores e Direitos São Essenciais No Processo</p><p>EcoTeológico</p><p>É extremamente importante saber diferenciar a ética da moral e do direito. Estas três</p><p>áreas de conhecimento se distinguem, porém, têm grandes vínculos e até mesmo</p><p>sobreposições. Tanto a Moral como o Direito baseiam-se em regras que visam estabelecer</p><p>uma certa previsibilidade para as ações humanas. Ambas, porém, são diferentes entre si.</p><p>A moral se baseia nos princípios que norteiam a vivência da sociedade. É um conjunto</p><p>de normas e regras aceitáveis pela maioria a fim de que se possa viver e sobreviver na</p><p>sociedade. A moral sempre vai acontecer por adesão das pessoas. Esta será a norma de</p><p>conduta que indica os usos e costumes de um povo ou nação. Cada povo tem sua cultura e se</p><p>deixa influenciar pela mesma, por isso que cada lugar tem sua maneira de ser e agir. A moral</p><p>não é a mesma para todos. Encontramos diferentes situações nos mais variados lugares. Veja</p><p>o exemplo.</p><p>É como diz o apóstolo Paulo “todas as coisas me são lícitas, mas nem toda convém”.</p><p>(Bíblia Sagrada. Primeira carta aos Coríntios, capítulo 6, versos 12 e 13). A moral visa o bem</p><p>comum, é identificada em todas as regiões geográficas, apontando para um modo de viver</p><p>comunitário e, nem sempre facilmente identificável.</p><p>Nem sempre a moral predominante é cumprida e surgem algumas transgressões da</p><p>mesma. Surge neste ínterim o direito cujo objetivo é garantir a liberdade de uma</p><p>comunidade. Assim para Durant (1995):</p><p>A lei é uma submissão exterior. A lei se relaciona a uma comunidade em</p><p>particular, bem determinada e situada geograficamente (Estado). A lei se</p><p>preocupa, a curto prazo, com a organização atual das liberdades. A lei se</p><p>contenta em impor um mínimo de regras constritivas, que solicitam esforços</p><p>mínimos.</p><p>9</p><p>O direito, portanto, não exige adesão, pelo contrário, é impositivo independente da</p><p>aceitação ou não da Lei. Quando não existe um relacionamento recíproco, de cordialidade e</p><p>respeito à lei, cria mecanismos para dirimir tais problemas. Não tem a intenção de impedir</p><p>o cometimento de uma transgressão, mas sim impedir que haja injustiça. Ela produz um</p><p>processo de não maldade, um pacto, não produzir e nem sofrer danos ao ser humano em</p><p>todas as suas dimensões. Ela garante os direitos espirituais, emocionais, materiais das</p><p>pessoas e garante que haja ordem nos relacionamentos interpessoais, políticos e</p><p>econômicos.</p><p>Subunidade 1.3 - Analisar a Ética Como Percepção e Avaliação Da</p><p>Moralidade Das Ações</p><p>A ética está presente em todos os lugares e tempos, inclusive no mundo animal. Um</p><p>exemplo caro disso é a cadeia alimentar entre os animais. Enquanto o leão está com fome, os</p><p>animais necessitam estar em constante vigilância depois que ele saciou sua fome, os mesmos</p><p>animais podem pastar tranquilo ao redor do mesmo, inclusive. O único que mata o ser da sua</p><p>espécie e sem objetivo algum é o próprio ser humano, apesar de ser o único racional entre</p><p>os mamíferos.</p><p>Por isso, a necessidade de analisar a ética na percepção e avaliar o comportamento</p><p>humano na sua dimensão legal e moral. A ética é o estudo daquilo que bom ou mal. Ela é</p><p>avaliativa e busca as justificativas para as regras propostas pela moral e pelo direito. Até que</p><p>ponto necessitamos de Leis quando estamos em busca de um ideal humanitário para a</p><p>sociedade. Até que ponto nosso entendimento ético é suficiente para julgar as leis e não um</p><p>equívoco? A moral predominante faz bem para a sociedade? Não significa que se todos</p><p>aceitam é bom para todos. A ética não estabelece regras. É uma reflexão sobre a ação humana</p><p>a sua principal característica.</p><p>10</p><p>Neste sentido que classificamos</p><p>a ética como:</p><p>Sendo assim, a ética como percepção analisa se a moral e o direito preserva o que as</p><p>pessoas tanto desejam, ou seja, dignidade humana, qualidade de vida, justiça, autonomia,</p><p>valoração da vida (dar sentido à vida) e felicidade como objetivo último da existência</p><p>humana.</p><p>Repensar a ética para o nosso tempo no agir global e local</p><p>A ética para o nosso tempo tem sua dimensão globalizada e antropocêntrica.</p><p>Globalizada porque há na atualidade uma tendência de espaço e de tempo. Se vive numa</p><p>época que o futuro está nas mãos de alguns poucos e suas consequências são mundiais. Há</p><p>uma preocupação com países que sequer podem desenvolver-se e são escravos dos grandes</p><p>impérios econômicos e tecnológicos. Há um monopólio das tecnologias modernas e uma</p><p>busca constante do poder por parte dos países que detém o conhecimento. Existe hoje o que</p><p>chamamos de onisciência do conhecimento de poucos em detrimento de muitos.</p><p>Esta tendência tem a ver como tempo porque a maneira do agir humano hoje pode</p><p>trazer péssimas consequências para o seu futuro. E, portanto, necessário rever ações que</p><p>trarão no futuro prejuízos e colocarão em risco o futuro da humanidade.</p><p>Ética do futuro (sustentabilidade);</p><p>Ética da responsabilidade (amor ao próximo);</p><p>Ética como exercício da cidadania;</p><p>Ética e educação;</p><p>Ética e limites (prudência);</p><p>Ética ambiental.</p><p>11</p><p>Antropocêntrica porque também existe um posicionamento narcisista que coloca o</p><p>ser humano como absoluto diante das necessidades globalizadas. A luta pela sobrevivência,</p><p>o número crescente da população dos países pobres, a disputa armamentista, o fanatismo</p><p>religioso, as doenças oportunistas, terrorismos e guerras civis induzem as grandes nações a</p><p>se fecharem e se blindarem em suas trincheiras, resistindo ao pedido de socorro dos menos</p><p>favorecidos.</p><p>Hans Jonas (2006) preconiza o seguinte: a teoria da responsabilidade está na ideia de</p><p>que a natureza tem um fim: que é existir, o ser e continuar existindo para sempre. Mas de</p><p>nada adiantará se num futuro não muito distante o homem deixar de existir.</p><p>Unidade 2 – O Cristão e o Cuidado Integral do Planeta</p><p>Subunidade 2.1 - A Terra Pede Socorro</p><p>Nas últimas décadas a questão ambiental passou a ser tema de vital importância em</p><p>todas as áreas do conhecimento, bem como nos meios de comunicação em massa e sobretudo</p><p>em discussões políticas. Em virtude das catástrofes ecológicas, falta de infraestrutura,</p><p>miséria, corrupção, poluição e degradação do meio ambiente, o tema vem ocupando</p><p>proeminência no cenário nacional e internacional, levando o homem a discutir sobre</p><p>ecologia e responsabilidade ambiental em todos os momentos e com certa emergência.</p><p>Diante disso, o ser humano não pode mais ficar omisso com respeito ao assunto e</p><p>deixar de lado a sua responsabilidade como elemento transformador do mundo em que vive.</p><p>A teologia, por sua vez, não pode ficar apática diante de tamanho desafio. Ela</p><p>necessita estar no front como aquela que usa de seu conhecimento na difusão de valores</p><p>vitais para a sobrevivência na sociedade.</p><p>Por que a teologia deve preocupar-se com este assunto? Porque o ser humano, além</p><p>de ser alguém bio – psico – social, lhe é atribuído uma dimensão espiritual que busca</p><p>constantemente a presença do transcendental. Em toda a história a religião sempre foi o elo</p><p>importante entre o ser humano e o ser divino. Através dela se buscou e busca respostas para</p><p>os mais diferentes dilemas que se apresentam na experiência humana/religiosa. Entre tantos</p><p>12</p><p>está a relação do ser humano com a criação que sempre foi obra do ser divino indiferente da</p><p>sua religião, seja o hinduísmo, islamismo, taoísmo, cristianismo, budismo ou judaísmo. Neste</p><p>caso vamos trabalhar com o cristianismo propriamente dito e como Deus se manifesta diante</p><p>dos dilemas da natureza e do ambiente que vivemos.</p><p>Diz a Escritura em Romanos 8: 22: “Porque sabemos que toda a criação geme e está</p><p>juntamente com dores de parto até agora”. O que isto significa nas palavras de Paulo? A</p><p>natureza reivindica seu direito de viver e que, por ambição, egoísmo, total descontrole, está</p><p>se de vaiando sob a perda de não voltar mais ao seu estado natural como já acontece em</p><p>muitos países e em regiões brasileiras.</p><p>Os humanos do presente século colocaram a Terra, e este espaço que Deus criou e</p><p>lhes confiou a gestão de tudo em uma situação alarmante. A própria escritura adverte para</p><p>isso: “Porque naqueles dias haverá uma aflição tal, qual nunca houve desde o princípio da</p><p>criação, que Deus criou, até agora, nem jamais haverá”. (Mc 13.19). Nesse contexto</p><p>vivenciado pela humanidade surgem dois tipos de atitudes: um grupo (maioria) se mostra</p><p>indiferente em relação ao assunto, enquanto outro faz da preservação da natureza uma</p><p>verdadeira filosofia de vida, com nuances de religiosidade, beirando às vezes a um fanatismo</p><p>e intolerância presenciados em determinadas militâncias.</p><p>O cristão como sal e luz do mundo tem muito para contribuir neste momento caótico</p><p>que vive a sociedade com respeito ao ambiente, ser um elemento renovador na busca por</p><p>soluções que estejam ao seu alcancem e que respondem ao desejo do criador ao criar este</p><p>mundo da maneira como criou.</p><p>Subunidade 2.2 - A Bíblia e a Questão do Meio Ambiente</p><p>A Bíblia tem muito a dizer sobre o tema. Embora possa não discorrer de forma</p><p>pormenorizada sobre a temática ambiental, ela contém princípios que devem nortear o</p><p>modo como os servos de Jesus lidam com o meio ambiente. As Escrituras anteveem dias ruins</p><p>e catastróficos para o planeta (E Jesus, respondendo, disse-lhes: Acautelai-vos, que ninguém</p><p>vos engane; porque muitos virão em meu nome, dizendo: eu sou o Cristo; e enganarão a</p><p>muitos.</p><p>E ouvireis de guerras e de rumores de guerras; olhai, não vos assusteis, porque é</p><p>mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim. Porquanto se levantará nação contra</p><p>13</p><p>nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares. Estas</p><p>coisas são o princípio de dores. (Mt 24.4-8). Portanto, por que o cristão deveria estar</p><p>interessado em envolver-se com o meio ambiente se é Deus quem veste a erva, que hoje está</p><p>no campo e amanhã é lançada no forno</p><p>Considerai os lírios, como eles crescem; não trabalham, nem fiam; e digo-vos que nem</p><p>ainda Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. E, se Deus assim veste a erva</p><p>que hoje está no campo e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca</p><p>fé? Não pergunteis, pois, que haveis de comer, ou que haveis de beber, e não andeis inquietos.</p><p>(Lc 12.27-31). Existiria um motivo real para preocupação, visto que o principal foco do</p><p>cristão precisa ser a vida eterna com Cristo, no céu?</p><p>Destarte, as Escrituras falarem da salvação eterna não quer dizer estar alheio e</p><p>omisso diante e dos desafios que a sociedade oferece e convida para uma busca de respostas.</p><p>A igreja não pode, de maneira alguma, eximir-se de suas responsabilidades e de sua missão</p><p>original que era a de preservar e gerir a natureza de maneira sensata, justa e piedosa.</p><p>O movimento do cristianismo por um mundo melhor é uma reação não somente</p><p>religiosa como também científica e global contra o paradigma da vida industrial, uma</p><p>concepção consumista e racionalista imposta ao mundo pelos pós-modernidade, vindo do</p><p>continente europeu, ocidental e, principalmente cristianizado.</p><p>Numa sociedade em que predomina os mais diferentes instrumentos digitais de</p><p>comunicação, rede sociais, internet, acesso às informações de forma rápida e eficaz não é</p><p>possível aceitar a desculpa de que as pessoas não sabem o que estão fazendo. Até Oseias hoje</p><p>ficaria deslumbrado com esta parafernália tecnológica, mas continuaria afirmando O meu</p><p>povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento,</p><p>também eu te rejeitarei...(Oséias 4.6).</p><p>O Chamado à Consciência</p><p>Nosso planeta está sendo ameaçado. Não podemos, portanto, ficar calados. Deus nos</p><p>convoca para cuidar da sua criação. Promover a justiça climática, assumir nossas</p><p>responsabilidades pelo cuidado com a Casa Comum e denunciar os pecados que ameaçam a</p><p>vida no planeta é a missão confiada por Deus a cada um e a cada uma de nós.</p><p>14</p><p>O profeta Amós diz “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual</p><p>riacho que não seca” (Am 5. 24). A bíblia traz uma revelação que é progressiva. Antes mesmo</p><p>de Cristo, os profetas anunciavam aspectos importantes da prática da misericórdia e justiça</p><p>social. O bem comum é o alvo de Deus para o mundo que se vive.</p><p>Três profetas contemporâneo de Amós também mencionaram esta prática de</p><p>misericórdia, compaixão e justiça social ou coletiva. Isaías fala sobre a justiça social dizendo</p><p>que, quando houver de fato justiça, “o meu povo se estabelecerá em um remanso de paz, em</p><p>moradias seguras, tranquilos, lugares de repouso” (Isa 32.18) Miquéias fala de fidelidade</p><p>quando diz: “Foi-te dado a conhecer, ó homem, o que é bom, o que o senhor exige de ti: nada</p><p>mais que respeitar o direito, amar a fidelidade e aplicar-te a caminhar com teu Deus (Mq.6,8).</p><p>Oséias enaltece a fraternidade entre os povos ao dizer: Oseias afirma que Deus quer</p><p>fraternidade, mas do que homenagens: “pois é o amor que me agrada e não o sacrifício, e o</p><p>conhecimento de Deus, eu prefiro aos holocaustos” (Os. 6.6).</p><p>O que acontece então?</p><p>Voltamos ao começo, a corrupção e a violência da sociedade humana estão destruindo</p><p>a ordem e a harmonia planejada por Deus desde a criação. Estas ações humanas e violentas</p><p>é que colocam em risco a integridade e a sobrevivência do nosso planeta. A palavra de Deus,</p><p>no entanto, não se cala e deixa bem claro que a fidelidade a Deus tem tudo a ver com o</p><p>cuidado que necessitamos ter uns com os outros e com tudo aquilo que nos proporciona a</p><p>natureza criada por Deus.</p><p>Tem muita tarefa a ser feita, o trabalho não é de um nem do outro, a responsabilidade</p><p>é coletiva, porém diferente em muitos aspectos. Culpamos nossos governos municipais,</p><p>estaduais e federais, pois a eles cabe realizar as obras de infraestrutura, implementar planos</p><p>de saneamento, garantir limpeza e segurança pública, educação e tudo o mais. Neste interim</p><p>um voto consciente seria o ideal, mas não seria tudo.</p><p>O povo de Deus tem outras responsabilidades que entre elas, está a prática da justiça,</p><p>da misericórdia e do amor que se nutre uns pelos outros como diz o próprio Jesus ao chamar</p><p>os cristãos de sal e luz do mundo. (Mt 5.13-14)</p><p>Embora a Teologia não esteja ligada diretamente ao tema meio ambiente, pode-se</p><p>admitir que é de suma importância a interferência teológica dentro das questões que se</p><p>15</p><p>referem a preservação ambiental. A pergunta que constantemente se faz és esta: será que a</p><p>comunidade cristã está cuidando dessa natureza que tanto se prega com tanta ênfase a sua</p><p>perfeição?</p><p>Esta é mais uma das interrogações que se faz ao se promover um repensar sobre a</p><p>intervenção do povo cristão na luta pela conscientização da sociedade para salvar a natureza,</p><p>a qual foi criada por Deus. Segundo o que já ouvimos falar, a primeira ordem de Deus ao</p><p>homem para cuidar da natureza: “Tomou, pois, o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim</p><p>do Éden para o lavrar e guardar” (Gn 2.15).</p><p>Geisler comenta sobre o assunto:</p><p>De todos os grandes sistemas religiosos e filosóficos, nenhum dá maior</p><p>dignidade ao mundo material do que a tradição judaico-cristã. Os dois</p><p>testamentos das escrituras apoiam o argumento de que a matéria é boa,</p><p>e que o mundo natural é semelhante a Deus.</p><p>Baseado nisso, o Cristão deve estar informado e informar ao mundo acerca dos males</p><p>que causam por falta da conscientização na sociedade, isso porque, Deus quer que sejamos</p><p>dignos de confiança, pois somos a sua imagem e semelhança. “E criou Deus o homem à sua</p><p>imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. (Gn 1.27). Nestas</p><p>considerações é claro e notório que o povo de Deus está diretamente compromissado com a</p><p>preservação do meio ambiente. Portanto, o homem está neste reflexo criador, mordomo e</p><p>gestor da criação de Deus. Não pode mais olhar para trás e sim para frente buscando soluções</p><p>e se envolvendo nesta causa que já atinge dimensões catastróficas.</p><p>Subunidade 2.3 - A Responsabilidade Cristã</p><p>Quando observamos cada passagem que na seção anterior foi trabalhada, deduzimos</p><p>que Deus tinha propósito bem delineados para a ação do homem junto a natureza. O homem</p><p>é um ser dotado de racionalidade e isto não ocorre com outros seres viventes. Lavrar e cuidar</p><p>da terra é um destes propósitos que Deus concedeu ao homem. O que, no estado de perfeição</p><p>não seria uma obrigação, pelo contrário, seria um privilégio ao ser humano: cuidar de toda</p><p>16</p><p>criação divina. Após a queda o homem deixa de possuir privilégios e todo o seu trabalho vira</p><p>um sacrifício. “Do suor do teu rosto...” (Gn 3.19).</p><p>Se antes ou depois da queda, um dos propósitos de Deus foi não deixar o homem</p><p>mergulhado no ócio. Aliás, Deus não criou o homem para o ócio. Muitas das tragédias</p><p>humanas aconteceram porque o ser humano estava no ócio. Adão e Eva certamente não teria</p><p>tempo para atender aos clamores de satanás senão estivessem num período de ociosidade.</p><p>Davi jamais teria cobiçada a Bate Sebá se estivesse com seus exércitos na luta contra os</p><p>inimigos do povo de Israel ao invés de ficar passeando pelos átrios do seu palácio olhando</p><p>para a mulher do próximo. (2 Sm 11.13).</p><p>Como dizem: Todas as escolhas trazem consequências no futuro. Por isso o cristão</p><p>vive uma vida impulsionada por uma fé inteligente e racional. Uma fé que avalia as</p><p>consequências e faz o que é correto. Ao falar das consequências é necessário que as escolhas</p><p>futuras sejam conscientes e evitem todo e qual quer problema para a própria vida e da</p><p>sociedade.</p><p>Neste sentido, Deus oportunizou a Adão e Eva a levarem uma vida de</p><p>responsabilidade diante de tudo o que criou. Infelizmente o desejo de ser “igual a Deus”</p><p>sobressaiu-se e os dois optaram por sua própria ruína. O que antes era um privilégio agora</p><p>torna-se um pesadelo. Apesar de tudo isso, Deus continuou a confirmar sua aliança junto ao</p><p>Homem. “Porei inimizade entra ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela.</p><p>Tu lhe feriras o calcanhar e ele esmagar tua cabeça” (Gn 3.15).</p><p>Deus reatou a sua aliança para com o homem. Era o protoevangelho, a boa nova da</p><p>salvação em Cristo Jesus que não somente redimiu homem bem com toda a sua criação. A</p><p>partir deste momento o ser humano deixa de ser um gestor para ser um mordomo de tudo</p><p>daquilo que Deus criou e por favor, deu ao ser humano.</p><p>Desta forma o ser humano redimido assume esta nova função. Mordomo das coisas</p><p>que pertencem ao criador, como diz o salmista “Do SENHOR é a terra e a sua plenitude, o</p><p>mundo e aqueles que nele habitam” (Sl 24.1). O homem como mordomo é aquele que</p><p>administra os bens de Deus aqui na terra e isto implica em responsabilidade e fidelidade,</p><p>como acrescenta o apóstolo Paulo, “Portanto, que todos nos considerem como servos de</p><p>Cristo e encarregados dos mistérios de Deus. O que se requer destes encarregados sejam</p><p>fiéis” (1 Co 4.1,2).</p><p>17</p><p>Ainda mais, Deus quer que sejamos zelosos com a criação como um administrador</p><p>que tem de dar constas da sua administração. Diz Jesus no evangelho: “O seu senhor lhe</p><p>disse: Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no</p><p>gozo do teu senhor… porque a qualquer que tiver será dado, e terá em abundância; mas ao</p><p>que não tiver até o que tem ser-lhe-á tirado (Mt 25. 21 e 29).</p><p>Desta forma o ser humano possui esta responsabilidade e nenhum outro ser recebeu</p><p>este encargo.</p><p>a) Pensamento teológico e pensamento ecológico</p><p>O pensamento ecológico e o pensamento cristão</p><p>não podem ser tratados</p><p>separadamente. O ponto de partida de qualquer discussão cristã sobre ecologia é o</p><p>conceito bíblico sobre a doutrina da criação expressa no primeiro artigo do Credo.</p><p>Apostólico que diz: Creio em Deus Pai todo-poderoso, criador dos céus e da terra,</p><p>baseado nos relatos dos primeiros capítulos de Gênesis e reforçado em muitas outras</p><p>passagens como anteriormente foi visto. “Viu Deus tudo que tinha feito e eis que tudo era</p><p>muito bom. E foi tarde e manhã o sexto dia.” (Gn 1.31)</p><p>O pensamento ecológico envolve a natureza na totalidade, entretanto, a ela se une</p><p>diversos fatores como ações humanitárias, pastorais, sociais e políticas. Tudo se entrelaça e</p><p>se relaciona. Como já foi visto anteriormente, o homem, coroa da criação, era o mordomo e</p><p>gestor do paraíso criado por Deus. A partir de sua queda o homem passa a ser um intruso em</p><p>meio a esta criação.</p><p>As escrituras ensinam desta maneira que os homens antediluvianos eram grandes</p><p>pecadores “o meu espírito não agirá para sempre no homem, pois este é carnal... viu o Senhor</p><p>que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo</p><p>o desígnio do seu coração” (Gn 6.2, 5).</p><p>Em Noé Deus vê a oportunidade de um mundo melhor e ordena que leve animais de</p><p>todos os tipos para povoarem novamente a terra. Tudo era novo. Tinha tudo para dar certo.</p><p>Todavia, os homens pós-diluvianos não eram melhores, pois Deus afirma: “não tornarei a</p><p>amaldiçoar a terra devido ao homem, porque é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua</p><p>mocidade” (Gn 8:21).</p><p>18</p><p>A humanidade continuou audaciosa e soberba tentaram criar uma torre para que não</p><p>houvessem mais o abismo entre a terra e os céus. “Vinde, edifiquemos para nós uma torre</p><p>cujo tope seja o céu” (Gn 11:4). No jardim do Éden, a tentação de ser igual a Deus provocou</p><p>a queda. Depois o homem cria o próprio caminho aos céus e assim continua a história da</p><p>humanidade marcada por uma profunda incerteza do caminho certo.</p><p>O filosofo grego Protágoras disse “o homem é a medida de todas as coisas”. Em outras</p><p>palavras, as necessidades do homem estão em primeiro lugar. Assim sendo, o homem</p><p>continuava sua viagem rumo ao desconhecido e incerto. O mundo moderno está afundado</p><p>em guerras, fomes, desastres naturais, crises financeiras, mesmo assim alega estar em pleno</p><p>controle das nossas vidas.</p><p>O homem se coloca no lugar de Deus. Isso acontece no decorrer de toda a história da</p><p>humanidade. Apenas para ilustrar a maldade inata do ser humano que não foi criado para</p><p>estar acima dos propósitos de Deus.</p><p>Hoje o homem retira da natureza as riquezas necessárias à sua sobrevivência, sejam</p><p>elas de origem mineral, animal ou vegetal. Isto estava nos planos de Deus para suas criaturas</p><p>e sua subsistência no mundo. Entretanto, a exaustão dos recursos não se deve</p><p>exclusivamente a isto. Antes, tamanha degradação tem origem muitas vezes na ganância e</p><p>pelo desejo do progresso desenfreado.</p><p>O egoísmo do homem caído utiliza os suprimentos destinados à subsistência do corpo</p><p>como fonte de enriquecimento. Fato é que o único ser dotado de racionalidade, no planeta, é</p><p>o que mais prática atos irracionais contra ele próprio.</p><p>Esta situação chama atenção para sinais claros de esgotamento ou mudança</p><p>irreversível em diversos ecossistemas da Terra, impulsionados pelo alto crescimento</p><p>populacional e desenvolvimento econômico. O consumo e produção aumentam de maneira</p><p>astronômica que chega a assustar aqueles que detém o poder de escolha e decisão em todos</p><p>os âmbitos da sociedade.</p><p>Sabendo de antemão que o mundo passa e passará por muitas tribulações, pode</p><p>parecer mais cômodo e sensato para alguns deixar a vida seguir seu caminho. Uma santa</p><p>inquietação para outros. De modo tal que a Teologia não pode mais se omitir e continuar</p><p>crendo que o dever do cristianismo se resume à anunciação do evangelho!</p><p>19</p><p>b) Ecoteologia</p><p>As discussões em torno dos pensamentos teológico e ecológico tem tido pouca</p><p>importância para as comunidades de fé, nas camadas evangélicas católicas e evangélicas, nas</p><p>escolas confessionais e também nas academias teológicas.</p><p>“Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. ”</p><p>(Sl 19.1). O salmista convoca a todos cristão para que se envolvam na problemática</p><p>ambiental e desenvolvam uma consciência ecológica onde a criação de Deus deixe de ser</p><p>vista como objeto de domínio e a acolha com reverência e louvor.</p><p>Diante disso surge o conceito de uma teologia integral que pensa na Criação de Deus</p><p>na totalidade e que torne reais os valores do Reino de Deus. Parte do princípio que Deus</p><p>governa todas as coisas e deu a incumbência de governar o mundo a fim de glorificar a Deus</p><p>e repensar na proposta do reino.</p><p>O pensamento teológico provê os fundamentos epistemológicos, morais, espirituais e</p><p>éticos através dos seguintes fundamentos:</p><p>a) Existência real do mundo: A natureza, o mundo que na cerca é real. Gn 1.1</p><p>b) O mundo foi criado bom: Veredicto do Criador sobre a Sua criação.</p><p>c) O mundo funciona de acordo com a vontade de Deus: Leis e princípios</p><p>regulares, constantes e previsíveis. A visão cristã é que o mundo foi criado por</p><p>um Deus de ordem, de forma ordenada, coerente e unificada.</p><p>d) O homem é distinto da natureza porque foi criado à imagem e semelhança de</p><p>Deus: Portanto, pode interpretar as leis do mundo e prover meios para</p><p>preservá-lo.</p><p>e) Vivemos num mundo afetado pelo pecado: Separado de Deus, o homem</p><p>perdeu a referência da sua existência e a crise que vivemos hoje se deve a esta</p><p>separação.</p><p>20</p><p>Pensamento Ecológico E Pensamento Teológico</p><p>A ecoteologia é uma forma de teologia construtiva que se concentra nas inter-relações</p><p>da religião e da natureza, particularmente à luz das preocupações ambientais. A ecoteologia</p><p>geralmente parte da premissa de que existe uma relação entre visões de mundo religiosas /</p><p>espirituais humanas e a degradação da natureza. Explora a interação entre valores</p><p>ecológicos, como a sustentabilidade, e a dominação humana da natureza. O movimento</p><p>produziu numerosos projetos religiosos e ambientais em todo o mundo.</p><p>A crescente consciência da crise ambiental levou a uma reflexão religiosa</p><p>generalizada sobre a relação humana com a Terra. Tal reflexão tem fortes precedentes na</p><p>maioria das tradições religiosas nos domínios da ética e da cosmologia, e pode ser vista como</p><p>um subconjunto ou corolário da teologia da natureza.</p><p>É importante ter em mente que a ecoteologia explora não apenas a relação entre</p><p>religião e natureza em termos de degradação da natureza, mas também em termos de gestão</p><p>de ecossistemas em geral. Especificamente, a eco teologia busca não apenas identificar</p><p>questões proeminentes dentro da relação entre natureza e religião, mas também delinear</p><p>possíveis soluções. Isto é de particular importância porque muitos defensores e</p><p>colaboradores do eco teologia argumentam que a ciência e a educação simplesmente não são</p><p>suficientes para inspirar a mudança necessária em nossa atual crise ambiental.</p><p>Logo, a teologia necessita assumir seu papel, responsabilidade e desafio. É necessário</p><p>explorar alguns caminhos para abordar esse desafio às religiões de uma forma mais limitada,</p><p>concentrando-se em dimensões do cristianismo convocados para o pensamento revisionista</p><p>em face do crescente ameaça ao planeta.</p><p>Aqueles que trabalham na interface de religião e ecologia estão cientes do</p><p>pensamento que permeia esta problemática ambiental. Existe uma lista uma de</p><p>pesquisadores nesta área que inclui Thomas Baga, Sallie McFague, Jay McDaniel, James</p><p>Gustafson, alecrim Ruether e brasileiro tais como Leonardo Boff, Paulo D. Branco sócio-</p><p>diretor da Ekobé Consultoria em Sustentabilidade e professor da Escola Superior de</p><p>Conservação Ambiental e Sustentabilidade (ESCAS). O economista francês Serge Latouche; o</p><p>economista Ladislau Dowbor, professor</p><p>da PUC-SP; o ambientalista e coordenador do Portal</p><p>Eco Debate, Henrique Cortez; a economista Hazel Henderson; e a professora da Fundação</p><p>Getúlio Vargas Isleide Arruda.</p><p>21</p><p>Existem também organizações ambientais cristãs e programas que tentam elevar a</p><p>consciência dentro das igrejas e seminários. Mas no geral, a reconfiguração ecológica do</p><p>pensamento e a prática cristãos continuam em sua infância. A ecologia dificilmente penetrou</p><p>na casca do cristianismo moderno. O impacto desta reconfiguração espiritual não foi sentido</p><p>de forma significativa nas circunstâncias concretas da vida cristã; é como um cometa distante</p><p>ainda mais distante de onde moramos.</p><p>O novo desafio nos chama muito além da reciclagem ou algumas preces e orações</p><p>para a terra na missa ou no culto ou virar o jardim da igreja em um santuário de pássaros,</p><p>ou falando ocasionalmente sobre uma ética da mordomia estritamente voltada para a</p><p>natureza.</p><p>Se levarmos o desafio a sério, ele necessariamente penetrará no âmago de nossa</p><p>consciência e atividades religiosas e atividade. Este desafio requererá dos cristãos se eles</p><p>estão dispostos a tornar o cristianismo numa religião da natureza (se se transformar numa</p><p>forma de panteísmo). É necessário considerar aspectos deste desafio nas áreas de doutrina,</p><p>liturgia, espiritualidade e ética.</p><p>Honestamente quando mencionamos as atividades acima temos de admitir que na</p><p>área de doutrina, a reflexão cristã dificilmente se presta a tornar-se uma doutrina da</p><p>natureza Lynn White em sua crítica sobre o cristianismo como antropocêntrico e de outro</p><p>mundo, lançou na década de 1960 um desafio que alguns teólogos tem abraçado aos poucos,</p><p>ou seja, parecer mais ecológico do que a própria reflexão cristã é na realidade, inclusive</p><p>quando mencionamos um Irineu na antiguidade e um Francisco de Assis na Igreja Medieval</p><p>que, mesmo que timidamente se tornará, por assim dizer, porta vozes de uma visão um tanto</p><p>teológica.</p><p>Na realidade, apesar de todos os indícios levarem a uma consciência ambiental cristã,</p><p>a tradição tanto na teologia como na filosofia e na história das religiões o maniqueísmo,</p><p>gnosticismo e outros sempre penderam para a racionalidade humana no que tangem os dois</p><p>polos da vida – espiritual e material.</p><p>O drama da tradição judaico-cristã sempre foi a salvação dos seres humanos e não</p><p>sobre a salvação do planeta. O próprio povo judeu em toda a sua história sempre esteve em</p><p>constante lutas contra símbolos pagãos, estátuas de fertilidade em altos lugares e bezerros</p><p>de ouro. Eles estavam protegendo a transcendência do divino; eles não estavam encorajando</p><p>sua imanência, em sua maior parte.</p><p>22</p><p>Os primeiros pensadores cristãos tentaram se defender contra os dualismos</p><p>extremos de gnosticismo e maniqueísmo, mas a herança do pensamento dualista de</p><p>Agostinho (Cidade de Deus / Cidade do homem, a depravação do corpo sexual e a vontade</p><p>humana contra a graça de Deus) influenciaram profundamente a história cristã. Até mesmo</p><p>a famosa doutrina cristã da graça baseava-se na natureza, não sobre a natureza dos rios,</p><p>pássaros e montanhas.</p><p>O pensamento sobre a reflexão crista sobre esta questão doutrinária leva a dois</p><p>caminhos. Um caminho pode ser resumido na frase de A. N. Whitehead: “Todas as religiões</p><p>são os produtos da imaginação e experiência espirituais humanas mais de milênios”. Esta</p><p>declaração não exclui a revelação divina; em vez disso, aponta para o modo como esta</p><p>revelação gradualmente se renova, isto é, através do desenvolvimento da consciência</p><p>humana na história ao longo de uma vasta evolução do Tempo.</p><p>A mente humana faz o seu melhor, pois se limita na formação criativa de suas</p><p>doutrinas para representar o que acredita e que, na realidade, são experiências e contornos</p><p>de experiência com o divino. Isso é feito individualmente (pessoa) e grupos (igreja). Nesta</p><p>perspectiva, as religiões estão sempre se comportando de acordo com os processos de</p><p>revelação na história.</p><p>Essa perspectiva pode ser desconfortável para aqueles que exigem uma ortodoxia e</p><p>literalidade em seus conceitos teológicos; na realidade, torna-se um teste para verificar qual</p><p>a capacidade da reflexão cristã de viver com a ambiguidade e até mesmo experimentar uma</p><p>novidade doutrinal.</p><p>Isso significa que as reflexões podem mudar, à luz das novas condições e experiências,</p><p>muito mais profundamente do que muitos de nós estamos dispostos a reconhecer. Ou seja,</p><p>sempre há uma esperança para o novo!</p><p>Um segundo caminho para lidar com a continuidade deste problema tem a ver com a</p><p>contemplação, a dimensão mística da religião com seriedade notável. Nossos princípios</p><p>doutrinários são subsídios muito valiosos, mas não deixam de ser secundários.</p><p>O desafio ecológico ao cristianismo consiste muito mais do que simplesmente da</p><p>experiência de oração e contemplação. O cristianismo, como a maioria das religiões,</p><p>pretende central a transformação interior, tanto ética, espiritual, individual e comunitária,</p><p>de seus adeptos.</p><p>23</p><p>Em conclusão, cremos, apesar de todo o histórico da Igreja e evolução do mundo,</p><p>existir uma relação indissolúvel de natureza histórica e lógica, entre religião e ecologia.</p><p>Precisamos crer no fato que o cristianismo, enquanto fiel às suas raízes bíblicas, pode e tem</p><p>condições de oferecer uma visão de mundo que permite enfrentarmos de forma coerente e</p><p>lógica as questões ecológicas de hoje.</p><p>Unidade 3 – O Cristão e o Cuidado Integral Pelo Planeta</p><p>Subunidade 3.1 - A Responsabilidade do Cristão é Cuidar do Planeta</p><p>Não muito tempo atrás, J. Matthew Sleeth tinha uma vida fantástica e um ótimo</p><p>trabalho como chefe da equipe médica em um grande hospital. Ele vivia o sonho americano</p><p>- até ver um número crescente de pacientes sofrendo de câncer, asma e outras doenças</p><p>crônicas. Começou a suspeitar que a Terra e seus habitantes estavam em apuros. Voltando-</p><p>se para o evangelho de Jesus em busca de orientação, Sleeth descobriu na escritura como a</p><p>responsabilidade pessoal, simplicidade e mordomia poderiam ser aplicadas à vida moderna.</p><p>Vendeu sua grande casa e doou mais da metade de seus bens em busca desta vida de</p><p>servir a Deus e, ao mesmo tempo, na busca e tentativa da salvação do planeta. Sleeth</p><p>compartilha a alegria de adotar um estilo de vida menos materialista e saudável,</p><p>relacionamentos mais fortes e vida espiritual mais ricas. Suas ideias sobre as mudanças na</p><p>vida ambientalmente responsável é um convite para re-imaginar a maneira como vivemos.</p><p>Na cura de um mundo em crise e ferido na sua essência.</p><p>Esta é uma maneira interessante de revelar a preocupação e a responsabilidade cristã</p><p>diante das situações as quais vivemos e, de outro lado, as escolhas das atitudes para a</p><p>preservação da vida no planeta Terra que devem ser orientadas por critérios coerentes com</p><p>o propósito de mais justiça e paz. Tais escolhas devem contribuir para a superação das</p><p>desigualdades e das agressões à criação. Por isso, hoje, as preocupações e consequentes</p><p>ações no âmbito do saneamento passam a incorporar não só questões de ordem sanitária,</p><p>mas também de justiça social e ambiental. É, portanto, necessária e urgente que as ações para</p><p>24</p><p>a preservação ambiental busquem também construir a justiça, principalmente para os</p><p>pequenos e pobres.</p><p>Cuidado Pelo Planeta e Justiça Social</p><p>Os teólogos têm argumentado frequentemente que o esplendor e a maravilha da</p><p>criação - Revelação Natural - é uma prova incontestável da existência de Deus e do seu poder.</p><p>Entretanto, o que acontece quando isso não é visível? Quais as consequências desta</p><p>evidência destrutiva do nosso mundo?</p><p>O conceito de Revelação Natural é frequentemente ensinado de uma perspectiva</p><p>privilegiada e ocidentalizada, onde cenas de montanhas pitorescas, lagos e rios imaculados,</p><p>belos animais selvagens e plantas adoráveis são usadas para retratar a pura majestade de</p><p>Deus. Para alguns,</p><p>essa é uma realidade fácil de absorver, porque amam a natureza e tem</p><p>acesso ao exterior, a parques pitorescos e a terrenos não poluídos. Mas para muitos ao redor</p><p>do mundo, a ideia da Revelação Natural é absurda e, muitas vezes, um pensamento que</p><p>realmente argumenta sobre a existência de um ser superior misericordioso e todo poderoso.</p><p>Por que isso? Quando a água é imprópria para beber, o ar é muito tóxico para respirar</p><p>e a pura decadência do ambiente circundante põe em perigo o ser humano e sua família -</p><p>como Deus pode ser glorificado? Quando a existência física natural em torno dele é</p><p>degradada, em acelerada devassidão ou caminhando para a morte em vez da vida, como isso</p><p>levará as pessoas ao encontro de um Deus bom cuja fidelidade e bondade duram para</p><p>sempre?</p><p>A triste realidade, é que a Revelação Natural - tal como é interpretada - não existe</p><p>realmente para milhões e milhões de pessoas que vivem em condições inapropriadas,</p><p>desumanas, sem moradia e infraestrutura, saneamento básico e outras condições atenuantes</p><p>onde seu ambiente é explorado para ganhos corporativos e políticos e se esquece dos menos</p><p>favorecidos e oprimidos por esta massa de corruptores da sociedade e do ambiente em que</p><p>vivem.</p><p>A verdade é que a Revelação natural de Deus não é igualmente aparente para todos,</p><p>e, portanto, todo o cuidado com a criação e preocupação ambientalista são tão importantes.</p><p>Neste sentido, o discurso teológico não é coerente. Se a Terra reflete a glória de Deus,</p><p>25</p><p>entretanto, não há cuidado por ela e, ainda se permite que ela seja corrompida, como as</p><p>pessoas vão experimentar a bondade de Deus?</p><p>Os céus proclamam a glória de Deus. Os céus exibem seus atributos. Dia após dia eles</p><p>continuam a falar; noite após noite eles o fazem conhecido. Eles falam sem som ou palavra;</p><p>sua voz nunca é ouvida. No entanto, sua mensagem vai por toda a terra e suas palavras para</p><p>todo o mundo. A Bíblia diz que os céus declaram os atributos de Deus, mas o que acontece</p><p>quando as pessoas não conseguem ver o céu devido à poluição e desperdício?</p><p>A poluição, a destruição e a exploração do planeta não é um crime sem vítimas - é</p><p>consciente ou não, esconder Deus dos outros ou tornar este mundo menos desejável e</p><p>aprazível cegando os outros para a bondade, misericórdia e fidelidade divinas. Se o objetivo</p><p>cristão é fazer com que outros experimentem a graça e dádivas divinas, necessita aceitar o</p><p>desafio de fazer da terra um lugar melhor - refletindo a generosidade de Deus.</p><p>Subunidade 3.2 - O Cristão e o Uso Responsável da Água</p><p>Um exemplo está no uso indiscriminado da água que para uns não deixou de ser uma</p><p>fonte inextinguível e para outros um recurso precioso que falta na maioria dos lares e,</p><p>porque não dizer, em muitos municípios. Não somente o líquido em si, mas também a</p><p>qualidade da mesma. Não se pode viver sem água fresca e prosperar sem a sua abundância.</p><p>Pode-se debater se outros bens são “básicos” para a prosperidade humana, mas não</p><p>há argumentos sobre a necessidade da água. Enquanto poucos se beneficiam com a mesma,</p><p>a maioria carece de um suprimento regular de água utilizável, e mais de um terço (2,5 bilhões</p><p>de pessoas no mundo) não têm saneamento básico. O problema do acesso tende a ser mais</p><p>severo em regiões pobres e áridas, ainda assim, não se limita a esses lugares.</p><p>O Instituto Trata Brasil, em parceria com a GO Associados, divulga o novo Ranking</p><p>do Saneamento Básico – 100 Maiores Cidades do Brasil que aborda novamente os</p><p>indicadores de água e esgotos com base nos dados do Sistema Nacional de</p><p>Informações sobre Saneamento (SNIS), divulgado anualmente pelo Ministério das</p><p>Cidades, que reúne informações fornecidas pelas empresas prestadoras dos</p><p>serviços nessas cidades.</p><p>Os dados consultados são de 2016, os últimos publicados pelo Ministério das</p><p>Cidades.</p><p>Além disso, dos indicadores tradicionais, o relatório aborda perdas de água e</p><p>investimentos das 100 maiores cidades do país.</p><p>http://www.tratabrasil.org.br/?utm_source=social%20media&utm_medium=site&utm_campaign=blog&utm_content=estudositb-19042018</p><p>26</p><p>Na nova edição, três novos municípios foram incluídos nas amostras devido aos</p><p>índices do IBGE em relação à população. Palmas–TO, Taboão da Serra–SP e</p><p>Camaçari–BA. Deixaram de integrar o Ranking os municípios de Foz do Iguaçu–PR,</p><p>Juazeiro do Norte–CE e Volta Redonda–RJ.</p><p>Em 2016, os indicadores mostravam que 35 milhões de brasileiros (17% da</p><p>população naquele ano – 207 milhões) ainda não era abastecida com água potável,</p><p>mais de 100 milhões (48% da população) não tinha coleta de esgotos e somente</p><p>45% dos esgotos gerados no país eram tratados.</p><p>Ao transpor esta realidade para as 100 maiores cidades do Brasil, onde mora mais</p><p>de 40% da população, víamos que 93,62% da população tinha abastecimento de</p><p>água, 72,14% coleta de esgotos e 54,33% dos esgotos gerados eram tratados.</p><p>Esta é uma realidade atual e deveria preocupar o cristão de maneira concreta. Pode-</p><p>se optar por responder a esses problemas e desafios com uma perspectiva fria da</p><p>sobrevivência do mais apto ou talvez da sobrevivência dos mais afortunados. (Seleção</p><p>natural das espécies – Charles Darwin). O cristão não vê o universo nesses termos. Para ele,</p><p>o acesso à água, a moradia, ao saneamento, aos requisitos mínimos de humanidade, não deve</p><p>ser sobre a arbitrariedade do nascimento e da geografia ou os caprichos do poder.</p><p>É uma questão de justiça, e sua resposta está fundamentada no chamado de Deus para</p><p>buscar esta justiça social, abordando os problemas de acesso e conflitos inevitáveis que</p><p>surgem quando um bem é negado a muitos e distribuído de maneira desigual.</p><p>Aqui encontramos um silêncio intrigante, especialmente entre os cristãos de vertente</p><p>evangélica. Os cristãos deram uma atenção considerável às respostas políticas a uma série</p><p>de bens públicos ostensivamente, entretanto, deram uma reflexão relativamente pequena</p><p>sobre a questão do planeta, do meio ambiente, preservação e resolução de problemas para</p><p>uma massa populacional que beira a linha da miséria ou abaixo da mesma. Isso tem sérias</p><p>implicações para políticas públicas e planejamento.</p><p>Concordando que os cristãos deveriam pensar em acesso à água limpa em termos de</p><p>justiça, é preciso refletir:</p><p>O que isso sugere sobre o papel do governo na abordagem dos problemas de acesso?</p><p>Qual é a resposta cristã apropriada para a distribuição da água como uma questão de justiça</p><p>pública?</p><p>Os cristãos raramente discutem política ou política da água. Alguns estudiosos</p><p>cristãos fazem referência à água como parte de perspectivas cristãs mais gerais sobre</p><p>sustentabilidade e meio ambiente, mas essas alusões são geralmente de passagem e sem</p><p>atenção especial a questões distintas da política de recursos hídricos.</p><p>27</p><p>O Papa Francisco, por exemplo, dedica uma breve passagem à água em sua encíclica</p><p>de cuidado da criação “Láudano si”, mesmo afirmando que a água potável é um direito</p><p>universal. Mas ele não desenvolve um argumento para uma resposta política ou legal nem</p><p>pondera valores concorrentes. Essa negligência da política da água não é um ponto cego</p><p>contemporâneo. Quando os historiadores traçam a evolução da lei e da política da água, eles</p><p>justamente dão atenção às tradições islâmicas e judaicas, que surgiram de conflitos nas</p><p>regiões áridas do Oriente Médio de hoje. Mas eles não encontram um pensamento cristão</p><p>igualmente distinto sobre a lei global da água.</p><p>É uma oportunidade perdida, porque os cristãos têm muito a dizer ao mundo. Afirmar</p><p>que a água é “básica” é apenas o começo de um debate que se concentra em uma série de</p><p>perguntas e questões sobre como se entende o valor e a alocação da água. Devem lutar e</p><p>empreender políticas da água que privilegie o consumo humano e o saneamento básico</p><p>quase que inexistente em mais de 40% das moradias no mundo e no Brasil.</p><p>Anunciar e denunciar junto às autoridades as desigualdades na distribuição</p><p>da água</p><p>(sua escassez em alguns lugares e abundância em outras) e apontar para o uso e distribuição</p><p>temporal desta é uma responsabilidade que envolve todos, iniciativa pública, privada e</p><p>políticos da esfera executiva, legislativa e judiciária, inclusive os cristãos.</p><p>Não é difícil ver onde as vozes cristãs poderiam se encaixar nos debates sobre essas</p><p>questões. Os pensadores cristãos têm uma longa história de articular disputas na esfera da</p><p>justiça pública e da autoridade do Estado, considerando o mercado e a sociedade civil. Se os</p><p>cristãos têm uma compreensão distinta de como os bens básicos devem ser distribuídos com</p><p>e, se a água é tão boa, então que se pode esperar dos recursos intelectuais do cristianismo</p><p>para discutir e propor uma distribuição justa da água. Sendo assim, a relação do cristão com</p><p>a água que faz parte do meio ambiente deve ser impregnada de cuidado, ética e amor.</p><p>Subunidade 3.3 - Cuidado Pelo Planeta e Discipulado</p><p>A Bíblia é uma revelação progressiva. Antes mesmo que Jesus revelasse plenamente</p><p>o Deus Amoroso e Misericordioso, os profetas já anunciavam aspectos importantes da</p><p>compaixão e da justiça como fundamentos do Reino de Deus. O bem comum, desejado por</p><p>Deus, é o grande objetivo das Sagradas Escrituras. Entretanto, Igreja está cônscia de sua</p><p>responsabilidade? É possível afirmar que existe um compromisso com a construção do bem</p><p>28</p><p>comum, é um projeto de adesão do Reino de Deus para a Igreja? O Apóstolo Paulo escreve</p><p>para Igreja: Para alguém unido em Cristo, há uma nova criação: a velha ordem foi embora;</p><p>uma nova ordem já começou.</p><p>O apóstolo revela que através de Cristo há tanto a redenção quanto o estabelecimento</p><p>de uma nova ordem – ofertada por Deus vindo com o Logos para a terra. A encarnação de</p><p>Jesus Cristo é esta nova ordem que realmente importa. Isto não vale apenas para o natal onde</p><p>a caridade prevalece entre as pessoas, mas para a vida diária, ou seja, o dom de Jesus Cristo</p><p>não é apenas para momentos especiais ou campanhas especiais ou destinatários especiais,</p><p>mas para todo o mundo e em todo momento.</p><p>O discipulado que Jesus requer dos seus é um dos maiores desafios contra o</p><p>materialismo e capitalismo exacerbados. 0 Arcebispo William Temple disse uma vez, "o</p><p>cristianismo é o mais materialista de todas as religiões”. No entanto, a escritura sagrada</p><p>encerra dizendo que o cerne da fé cristã é a proclamação de um Deus muito terra-a-terra,</p><p>que não apenas cria e sustenta o cosmos, mas que é encontrado dentro dele e que tornou</p><p>carne conosco em todos os aspectos de nossas vidas. É isso que a Doutrina da Encarnação de</p><p>Cristo declara: A realidade última é manifestada em Jesus Cristo.</p><p>Quando se olha para os evangelhos do Novo Testamento, observa-se que aqueles que</p><p>seguiram Jesus verdadeiramente foram seus discípulos. Devido a seu amor por Cristo,</p><p>muitos deixaram seus empregos, lares e segurança para caminhar com Ele ao ministrar às</p><p>pessoas em toda a Palestina. Eles tiveram o benefício de andar com Cristo na carne e isso se</p><p>tornou fundamental para seu discipulado. Então, o que falta agora - com Cristo ressuscitado</p><p>e o Espírito Santo habitando na vida do cristão - para ser discípulo de Jesus?</p><p>Paulo sugere que é necessário desenvolver uma “mudança de mentalidade”</p><p>expressando um “não conformismo”, através da qual os efeitos do encontro com Jesus Cristo</p><p>se tornam evidentes no relacionamento com o mundo ao redor. O problema é o</p><p>relacionamento rompido com Deus (pecado), que falha em procurar a sabedoria de Deus e,</p><p>em seu lugar, coloca uma sabedoria humana baseada em poder e controle, que desenvolve</p><p>medo e violência quando tal controle e poder são ameaçados.</p><p>O discipulado cristão é um ato de descoberta que muitas vezes leva a ação através da</p><p>Fé no Cristo encarnado, no Deus terra a terra. A fé encoraja a humildade, integridade,</p><p>respeito e admiração no cristão, o que, não somente pode levar a louvor e adoração como</p><p>também a atos que favorecem a redescoberta dos relacionamentos e leva o discípulo de Jesus</p><p>29</p><p>não somente a reatar seu processo amoroso junto ao próximo como de assumir as ideias</p><p>ecológicas que visam a preservação do planeta bem como as ações de justiça social tão</p><p>disseminadas até este momento.</p><p>A fé é esta compreensão de que o mundo é de todos e para todos e existe uma busca</p><p>incansável pelo bem-estar do semelhante que se desenvolve através da revelação e do</p><p>relacionamento com Deus, que fornecem significado para a vida.</p><p>O discipulado busca a sabedoria que vai além do superficial para o ato misericordioso</p><p>de Deus amando e cuidando da humanidade. É este amor que Deus desenvolve uma sensação</p><p>de gratidão e admiração que conquista as mentes e os corações dos seus discípulos. Nunca</p><p>se está sozinho na jornada do discipulado e compartilhar a fé e a esperança com uma</p><p>comunidade de cristãos, todos com dons e talentos especiais, é que marca a segunda</p><p>dimensão do discipulado.</p><p>Mas esta parte da jornada é difícil de ser carregada, com o individualismo e o egoísmo</p><p>ameaçando a harmonia da unidade. O mundo é caracterizado por diferentes tiranias! A</p><p>tirania das maiorias que exige conformidade dos outros para preservar seu próprio</p><p>privilégio; a tirania das minorias que exige tratamento especial para minar os outros. A</p><p>sociedade é inundada por imagens da mídia que retratam diferenças irreconciliáveis entre</p><p>comunidades e indivíduos presos em uma busca egoísta de excesso de privilégio. Sendo este</p><p>o caso, o verdadeiro discipulado, seguindo o exemplo de Cristo, requer uma linguagem que</p><p>fale de esperança, reconciliação.</p><p>Para o seguidor de Jesus, essa linguagem também envolve ação. E a ação, conforme</p><p>modelada por Jesus, é de serviço compassivo. Além de cuidar das necessidades dos</p><p>pobres, dos doentes, dos sem-teto, dos prisioneiros, o discípulo de Jesus também é</p><p>chamado a desafiar um fundamentalismo que sufoca e difunde a vida. Hoje, há a</p><p>necessidade de se envolver o fundamentalismo da ciência e deixar a imaginação</p><p>religiosa se envolver com novas descobertas em cosmologia, medicina e ciências</p><p>sociais, onde encontrará um Deus criativo e amoroso.</p><p>Há a necessidade de se combater o discurso que valoriza a pessoa humana apenas</p><p>como uma unidade econômica de produção, dando origem à exclusão de certos grupos de</p><p>compartilhar a riqueza de uma sociedade. É necessário combater o discurso político que</p><p>procura excluir todos os aspectos da religião no debate público. Logo, o discipulado não</p><p>30</p><p>somente requer ações e linguagens como também uma postura de anúncio e denúncia. Tais</p><p>como fizeram os profetas do antigo testamento.</p><p>As Escrituras Sagradas não nos deixam à vontade no que diz respeito à justiça social.</p><p>Ao contrário, elas criam incômodos problemas de consciência, elas nos azucrinam,</p><p>elas nos envergonham, elas nos condenam. De todos os nossos pecados e crimes, a</p><p>falta de consciência social é o mais coletivo, o menos reconhecido e o causador das</p><p>maiores tragédias, que vão desde a fome até as guerras. Em nenhum momento, o</p><p>evangelho nos dispensa da obrigação de elaborar as leis da justiça social no papel e</p><p>no modo de viver.</p><p>O discipulado cristão é dinâmico e se propõe a apresentar uma proposta para uma</p><p>vida melhor, mais sadia e feliz, como também levanta a voz em favor dos pobres, oprimidos,</p><p>excluídos e marginalizados pela sociedade. Reconhece seu papel como administrador das</p><p>coisas que Deus lhe confiou e busca no caminho da consciência ecológica - uma nova maneira</p><p>de ser e agir com respeito ao ambiente e as coisas concernentes a ele que privilegiam o</p><p>semelhante.</p><p>O Meio Ambiente – Um Desafio Para a Igreja Cristã</p><p>A sociedade cristã reconhece que a Igreja pode ter um papel profético e visionário em</p><p>uma sociedade que precisa encontrar formas de mitigar a degradação ambiental e a mudança</p><p>climática ou adaptar-se a ela. Os desafios exigem uma resposta de todos.</p><p>A mudança no estilo</p><p>de vida, juntamente com o envolvimento da comunidade, poderia transformar a Igreja e seus</p><p>membros em agentes de mudança e transformação.</p><p>Para muitas pessoas, uma crise ambiental dessa complexidade e abrangência não é</p><p>apenas o resultado de certos fatores econômicos, políticos e sociais. É também uma crise</p><p>moral e espiritual que, para ser abordada, exigirá entendimentos filosóficos e religiosos mais</p><p>amplos dos cristãos como criaturas da natureza, imersas em ciclos de vida e dependentes de</p><p>ecossistemas.</p><p>As religiões, portanto, precisam ser reexaminadas à luz da atual crise ambiental, pois</p><p>as mesmas ajudam dar formas e atitudes em relação à natureza de maneiras conscientes e</p><p>inconscientes. As religiões fornecem histórias interpretativas básicas sobre quem somos, o</p><p>que é a natureza, de onde viemos e para onde estamos indo. Isso compreende uma visão de</p><p>mundo de uma sociedade. As religiões também sugerem como se deve tratar os outros</p><p>31</p><p>humanos e como se deve relacionar com a natureza. Esses valores compõem a orientação</p><p>ética de uma sociedade. As religiões geram visões de mundo e ética que fundamentam</p><p>atitudes e valores fundamentais de diferentes culturas e sociedades. Como o historiador</p><p>Lynn White observou:</p><p>O que as pessoas fazem sobre sua ecologia depende do que pensam sobre si mesmas</p><p>em relação às coisas ao seu redor. A ecologia humana é profundamente condicionada</p><p>por crenças sobre nossa natureza e destino - isto é, pela religião.</p><p>Hoje se vive um momento em que a sociedade humana está em busca de novas e</p><p>sustentáveis relações com a terra em meio a uma crise ambiental muito grande que ameaça</p><p>toda a forma de vida existente na terra.</p><p>Embora as causas e soluções estejam sendo debatidas com especialistas, cientistas,</p><p>economistas e políticos, os fatos desta destruição estão causando alarme em todos os</p><p>setores, inclusive na própria igreja. É o futuro da própria vida que está sendo ameaçado.</p><p>A igreja como sal e luz do mundo não somente é convidada, mas desafiada a dar mais</p><p>sabor a sociedade, preservar e curar, bem como iluminar um mundo que jaz nas trevas da</p><p>ignorância e falta de conhecimento.</p><p>a) Conclusão - Repensando a visão do mundo, a ética e a ecologia</p><p>Como mencionado anteriormente, esta crise pela qual a humanidade passa e cujo</p><p>alcance sobrepuja em muito os fatores sociais, necessita ser vista do ponto de vista ético</p><p>religioso. Sua resposta perpassa o pensamento humano e revela a noção de um universo</p><p>criado por Deus cujos propósitos estabelecem uma verdadeira ordem onde persiste o caos</p><p>que se vive, ou seja, aponta para a atividade humana de forma reflexiva, compromissada e</p><p>responsável por uma obra que não é sua, mas que lhe é emprestada para poder viver e muitas</p><p>vezes sobreviver.</p><p>Thomas Berry apud in Tucker sugere que o ser humano tornou-se um autista em sua</p><p>interação com o mundo natural. Novamente enfatiza que os seres humanos são incapazes de</p><p>valorizar a vida e a beleza da natureza porque estão trancados em suas próprias perspectivas</p><p>egocêntricas e necessidades míopes. Ele sugere que precisam de uma nova cosmologia,</p><p>codificação cultural e energia motivadora para superar essa privação.</p><p>32</p><p>Ele observa que a magnitude dos processos industriais destrutivos é tão grande que</p><p>é necessário um repensar radical do mito do progresso e do papel da humanidade no</p><p>processo evolutivo. De fato, ele fala da evolução como uma nova história do universo,</p><p>a saber, como uma vasta perspectiva cosmológica que irá re-situar o sentido e direção</p><p>humanos no contexto de quatro bilhões e meio de anos de história da Terra.</p><p>Para Berry e para muitos outros, um componente importante da atual crise ambiental</p><p>é espiritual e ético. Neste ínterim, o cristianismo tem um papel preponderante na</p><p>cooperação com outros indivíduos, instituições e iniciativas que se envolvem com questões</p><p>ambientais há muito tempo. Apesar do atraso na abordagem da crise, o cristianismo está</p><p>reagindo de maneira notavelmente criativa. Não está apenas repensando sua teologia, mas</p><p>também reorientando práticas sustentáveis e compromissos ambientais de longo prazo.</p><p>Ao realizar tamanha façanha, a própria natureza da religião e da ética cristã está</p><p>sendo desafiada e alterada. Isso é verdade porque o reexame da visão cristã sobre o mundo</p><p>passa a ser crítica para a recuperação de práticas suficientemente abrangentes, amplas,</p><p>estruturais, conceituais para uma ética ambiental efetiva para o século XXI.</p><p>Enquanto no passado nenhuma das religiões do mundo teve de enfrentar uma crise</p><p>ambiental como a que estamos enfrentando agora, elas continuam sendo instrumentos-</p><p>chave na formação de atitudes em relação à natureza. Os cristãos não podem mais</p><p>permanecer à margem das discussões e posicionamentos.</p><p>As religiões do mundo, em toda a sua complexidade e variedade, continuam sendo um</p><p>dos principais recursos para ideias simbólicas, inspiração espiritual e princípios</p><p>éticos. De fato, apesar de suas limitações, historicamente eles forneceram</p><p>cosmologias abrangentes para a direção interpretativa, fundamentos morais para a</p><p>coesão social, orientação espiritual para a expressão cultural e celebrações rituais</p><p>para uma vida significativa. Em nossa busca por cosmovisões ecológicas mais</p><p>abrangentes e ética ambiental mais efetiva, é inevitável que nos baseamos nos</p><p>recursos simbólicos e conceituais das tradições religiosas do mundo.</p><p>Muito mais que apenas preocupações com o clima e a natureza é necessário</p><p>relembrar que a situação é muito mais complexa do que se imagina por que ela abranja uma</p><p>série de sistemas interligados em si como a ciência, economia, política, saúde e políticas</p><p>públicas. Entretanto, a medida que o cristianismo se esforça em formular as mais diversas</p><p>atitudes em relação à natureza; vincular os conceitos mais amplos da ética cristã abrangendo</p><p>33</p><p>as concepções mais abrangentes de seu compromisso religioso em transformar a crise</p><p>ambiental em fato e verdade e tornar o discurso religioso em realidade e em ação;</p><p>O cristianismo passa a ter um papel significativo ao desempenhar sua missão que,</p><p>assim como no passado em tempo de ameaças internas e externa sustentaram indivíduos,</p><p>culturas e nações. A tarefa do cristianismo sempre foi e será explorar seus recursos</p><p>conceituais, teóricos e teológicos de maneira desafiadora e frutífera. Reconhecer as</p><p>limitações, tensões, mas não deixar de buscar uma alternativa, mais humana, saudável e</p><p>otimista, cumprindo desta maneira o mandamento mais importante e vontade do Senhor</p><p>Jesus Cristo para seus discípulos.</p><p>34</p><p>Referências Bibliográficas</p><p>AMARAL, Wagner Lima. Eco e o Ego – uma análise da crise teológica e o egoísmo humano.</p><p>Revista último andar, n 21, março de 2013. São Paulo, PUCSP, 2013.</p><p>LOPES, Augusto Nicodemos. Ecologia uma perspectiva Cristã reformada. Disponível em:</p><p>azusa.faculdaderefidim.edu.br/index.php/azusa/article/download/185/126/</p><p>BARBIERI, J. C. Desenvolvimento e meio ambiente: as estratégias de mudanças da agenda 21.</p><p>Petrópolis, Vozes, 1997.</p><p>BOFF, Leonardo. Ecologia, mundialização e espiritualidade. São Paulo, Ática, 2008.</p><p>CARVALHO. Sonia Aparecida. Justiça social e ambiental: um instrumento de consolidação à</p><p>sustentabilidade.</p><p>COSTA Edilson. A contribuição do cristianismo na construção de um pensamento</p><p>socioambiental. Disponível em:</p><p>periodicos.est.edu.br/index.php/nepp/article/viewFile/222/306.</p><p>DALL’AGNOLL, Renan. Salvar a terra. Uma contribuição da Teologia para a ética do cuidado</p><p>na Teologia. X Salão de iniciação científica da PUCRS. Porto Alegre, PUCRS, 2009. Disponível</p><p>em https://www.ultimato.com.br/revista/artigos/289/quem-leva-a-biblia-a-serio-obriga-</p><p>se-a-levar-tambem-a-serio-a-justica-social.</p><p>DURANT, G. A Bioética: natureza, princípios, objetivos. São Paulo: Paulus, 1995.</p><p>ECOPENTECOSTALIDADE: Teologia ecológica pentecostal. Azusa:</p>

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