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Modelo para a formatação dos artigos para publicação nos anais no XV SIMPEP (2008)

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<p>Editora Poisson</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo</p><p>Volume 1</p><p>1ª Edição</p><p>Belo Horizonte</p><p>Poisson</p><p>2020</p><p>Editor Chefe: Dr. Darly Fernando Andrade</p><p>Conselho Editorial</p><p>Dr. Antônio Artur de Souza – Universidade Federal de Minas Gerais</p><p>Msc. Davilson Eduardo Andrade</p><p>Dra. Elizângela de Jesus Oliveira – Universidade Federal do Amazonas</p><p>Msc. Fabiane dos Santos</p><p>Dr. José Eduardo Ferreira Lopes – Universidade Federal de Uberlândia</p><p>Dr. Otaviano Francisco Neves – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais</p><p>Dr. Luiz Cláudio de Lima – Universidade FUMEC</p><p>Dr. Nelson Ferreira Filho – Faculdades Kennedy</p><p>Msc. Valdiney Alves de Oliveira – Universidade Federal de Uberlândia</p><p>Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)</p><p>E38</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo –</p><p>Volume 1/Organização Editora Poisson –</p><p>Belo Horizonte - MG:Poisson, 2020</p><p>Formato: PDF</p><p>ISBN: 978-65-86127-22-5</p><p>DOI: 10.36229/ 978-65-86127-22-5</p><p>Modo de acesso: World Wide Web</p><p>Inclui bibliografia</p><p>1. Arquitetura 2. Urbanismo.I. Título</p><p>CDD-720</p><p>O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de</p><p>responsabilidade exclusiva dos seus respectivos autores.</p><p>www.poisson.com.br</p><p>contato@poisson.com.br</p><p>SUMÁRIO</p><p>Capítulo 1: ESCALA 1-1. Trayectos experimentales en el proceso proyectual. ............. 07</p><p>Ana Valderrama, Renata Berta , César Sant' Ana, Marcelo Tironi, Juan Manuel Serralunga</p><p>DOI: 10.36229/978-65-86127-22-5.CAP.01</p><p>Capítulo 2: O uso da tectônica no processo de projetação: Como a relação com o sítio de</p><p>implantação influencia na escolha dos materiais e sistemas construtivos ao longo da</p><p>elaboração do projeto arquitetônico ................................................................................................. 21</p><p>Rafaela Santana Balbi, Carla Ariadna Torres Rocha, Laysa Alves Rodrigues</p><p>DOI: 10.36229/978-65-86127-22-5.CAP.02</p><p>Capítulo 3: Propostas conjunturais para problemas estruturais: Pico Colectivo ......... 32</p><p>Mariana Tealdi Sant’Anna, Vera Santana Luz</p><p>DOI: 10.36229/978-65-86127-22-5.CAP.03</p><p>Capítulo 4: A inserção mais incisiva de conceitos referentes à arquitetura sustentável</p><p>dentro das grades curriculares do curso de arquitetura e urbanismo ............................... 44</p><p>Lucas Carvalho Lisboa</p><p>DOI: 10.36229/978-65-86127-22-5.CAP.04</p><p>Capítulo 5: Parque de esportes radicais urbanos para Várzea Grande ............................ 57</p><p>Silas Carnaúba Barbosa, Ana Cristina Hillesheim, Fabiane krolow, Paula Roberta Ramos Libos</p><p>DOI: 10.36229/978-65-86127-22-5.CAP.05</p><p>Capítulo 6: Requalificação do Parque Cortado como artifício para a reciclagem urbana</p><p>............................................................................................................................................................................ 67</p><p>Elaine Kellen Luciano Marinho, Nathálya Louise Macêdo Leal, Camila Correia Teles, João Renato Carneiro</p><p>Aguiar</p><p>DOI: 10.36229/978-65-86127-22-5.CAP.06</p><p>SUMÁRIO</p><p>Capítulo 7: A manutenção da segregação socioespacial em conjuntos Minha Casa Minha</p><p>Vida: Um estudo de caso do Residencial Parque dos Caetés em Maceió-AL .................... 83</p><p>Giovanna Veloso Rocha, Camila Nayane Santos Ferreira, Layse Emily Tavares de Magalhães Oliveira,</p><p>Raiane Rebeca dos Santos Araúna</p><p>DOI: 10.36229/978-65-86127-22-5.CAP.07</p><p>Capítulo 8: El rol del Estado en la integración espacial, movilidad urbana y acceso a</p><p>oportunidades en el hábitat popular. El caso del periurbano de San Juan, Argentina. 92</p><p>Carlos Romero Grezzi, Alción Alonso Frank, Ana María Blanco Avila, Mirta Beatriz Romero, Carlos</p><p>Reinuaba, Alejandra Albarracín</p><p>DOI: 10.36229/978-65-86127-22-5.CAP.08</p><p>Capítulo 9: A consolidação da Politica de Regularização Fundária: O caso de Juiz de Fora</p><p>(MG). ................................................................................................................................................................ 101</p><p>Mariana Camillo Sant’Ana, Teresa Cristina de Almeida Faria</p><p>DOI: 10.36229/978-65-86127-22-5.CAP.09</p><p>Capítulo 10: As galerias comerciais de Juiz de Fora (Brasil) e suas relações com o</p><p>imaginário urbano ..................................................................................................................................... 110</p><p>Virgínia Campos Grossi, Frederico Braida Rodrigues de Paula</p><p>DOI: 10.36229/978-65-86127-22-5.CAP.10</p><p>Capítulo 11: Transpondo imaginários: A ponte estaiada Octavio Frias de Oliveira como</p><p>atrativo turístico? ...................................................................................................................................... 119</p><p>Cesar Alves Ferragi, Pedro Augusto Bertuga, Thaynara Moreira de Araújo</p><p>DOI: 10.36229/978-65-86127-22-5.CAP.11</p><p>Capítulo 12: Recomposição histórica: A rua José Bonifácio como princípio conector do</p><p>setor histórico de Curitiba ..................................................................................................................... 137</p><p>Pedro Seiji Tokikawa</p><p>DOI: 10.36229/978-65-86127-22-5.CAP.12</p><p>SUMÁRIO</p><p>Capítulo 13: Pautas para la rehabilitación energética de edificios existentes en la ciudad</p><p>de Rosario, Argentina ............................................................................................................................... 157</p><p>Patricia Irene Mosconi, Laura Bracalenti, Nora Gabriela Diaz, Jorge Alberto Vazquez, Sonia Edith</p><p>Omelianiuk, Melina Ayelen Duca</p><p>DOI: 10.36229/978-65-86127-22-5.CAP.13</p><p>Capítulo 14: Patrimonio reciente. la biblioteca como proyecto de la modernidad.</p><p>reflexiones para su adecuación a la vida contemporánea ........................................................ 171</p><p>María Cristina Carasatorre, Valeria Pagani, Susana Tuler, Agostina Babaglio, Florencia Estelrrich</p><p>DOI: 10.36229/978-65-86127-22-5.CAP.14</p><p>Autores: ......................................................................................................................................................... 181</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>7</p><p>Capítulo 1</p><p>ESCALA 1-1. Trayectos experimentales en el proceso</p><p>proyectual</p><p>Ana Valderrama</p><p>Renata Berta</p><p>César Sant' Ana</p><p>Marcelo Tironi</p><p>Juan Manuel Serralunga</p><p>Resumo: Esta ponencia refiere a un proyecto de investigación donde se exploran las posibilidades</p><p>pedagógicas y disciplinares de la introducción ejercitaciones a escala real como dispositivos de interfaz</p><p>entre sucesivas instancias de trans-formación en el proceso la determinación de la arquitectura en los tres</p><p>primeros años de la carrera de Arquitectura. El motivo de la investigación se asienta en la identificación de</p><p>falencias en las competencias y destrezas adquiridas por los estudiantes como resultado del sistema</p><p>tradicional enseñanza-aprendizaje en nuestra casa de estudios. De este modo, se intenta superar los</p><p>modelos de relación docente-estudiante de escaso nivel de sistematicidad (el referente, el maestro, el</p><p>corrector, el sistema empaquetado), así como el carácter a-situado de las propuestas proyectuales</p><p>derivadas del paradigma de composición formal y del campo estrictamente especulativo y representativo.</p><p>El objetivo de la propuesta es aportar alternativas al proceso de enseñanza-aprendizaje del proyecto</p><p>arquitectónico que impulsen competencias y destrezas vinculadas a la producción de la arquitectura en el</p><p>contexto sudamericano. Un contexto que demanda un perfil de profesional capaz de desenvolverse en la</p><p>gestión de la contingencia y la expresión de lo disponible. Este cambio de concepción requiere de la</p><p>priorización del campo experimental y empírico, la incorporación de procesos sistemáticos que puedan</p><p>ser monitoreados, y la reformulación disciplinar dentro del propio origen epistemológico de la palabra</p><p>arquitectura. De este modo, intentamos</p><p>twentieth century</p><p>architecture. Chicago: Graham Foundation for Advanced Studies in The Fine Arts, 1995.</p><p>[15] Frampton, K. Studies in tectonic culture: the poetics of construction in nineteenth and twentieth century</p><p>architecture. Chicago: Graham Foundation for Advanced Studies in The Fine Arts, 1995.</p><p>[16] ______________. Histo ria crí tica da arquitetura moderna. Traduça o de Jefferson Luiz Camargo. 2 ed. Sa o Paulo:</p><p>Martins Fontes, 2008.</p><p>[17] _______________ Seven points for the millennium: an untimely manifesto. In: The Journal of Architecture, vol. 5,</p><p>nº 1, Printemps 2000, p. 21-33.</p><p>[18] __________. The tectonic revisited. In CHUPIN, J.P. SIMONNET, C. Le projet tectonic. France: Info lio</p><p>[19] E ditions, 2005 (Collection Archigraphy Les Grands Ateliers). p. 201-206.</p><p>[20] __________. Rappel a l’ordre: argumento em favor da tecto nica. In: NESBITT, K (org). Uma nova agenda para a</p><p>arquitetura: antologia teo rica 1965 – 1995. Traduça o Vera Pereira. 2. ed. Sa o Paulo: Cosac Naify, 2008. p. 556-559.</p><p>[21] Guimara es, C. A. A. G. ET AL. Manual para adequaça o de pre dios escolares, 5 ed. Brasí lia:</p><p>Fundescola/DIPRO/fnde/mec, 2005.</p><p>[22] Lawson, B. Como arquitetos e designers pensam. Traduça o de Maria Beatriz Medina. Sa o Paulo: Oficina de</p><p>Textos, 2011.</p><p>[23] Resultados. Fonte: . Acesso em 25 set. 2019.</p><p>[24] Sekler, E. Structure, construction, tectonics. In: KEPES, G. (Org). Structure in art and science. Nova York:</p><p>George Braziller, 1965.</p><p>[25] Semper, G. Style in the Technical and Tectonic Arts; or Practical Aesthtics: A Handbook for Techinicians,</p><p>Artist, and Friend of Arts. Traduça o: H.F. Mallgrave e Michael Robinson. Los Angeles: Getty Research Institute, 2004.</p><p>[26] Sobre o clima de Pau dos Ferros/RN. Fonte: . Acesso em: 25 ago 2019.</p><p>[27] Waterman, T. Fundamentos de paisagismo. Traduça o de Alexandre Salvaterra. Porto Alegre: Bookman, 2011.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>32</p><p>Capítulo 3</p><p>Propostas conjunturais para problemas estruturais:</p><p>Pico Colectivo</p><p>Mariana Tealdi Sant’Anna</p><p>Vera Santana Luz</p><p>Resumo: Um trabalho em curso, apresentamos uma metodologia de pesquisa que busca</p><p>o entendimento de ações projetuais com participação comunitária, de pequeno ou médio</p><p>porte, como ações potencializadoras do território que apontem para transformações</p><p>estruturais, em especial no contexto da américa latina, tendo como estudo de caso o pico</p><p>colectivo, grupo de arquitetos que atua mediante projetos participativos em locais</p><p>caracterizados por fragilidade socioespacial, carência de infraestrutura urbana,</p><p>equipamentos e espaços públicos de qualidade. Questões como o significado de lugar, o</p><p>direito à cidade e a importância da participação da comunidade constituem o escopo</p><p>central que, associado à possibilidade de efetivação concreta, envolvam a proposição de</p><p>novos paradigmas no enfrentamento da situação sistêmica das periferias urbanas, onde</p><p>muitas vezes o estado não se faz presente na condução de políticas públicas. A</p><p>metodologia de investigação pressupõe investigação teórica a respeito dos principais</p><p>condicionantes de estratificação urbana, tendo como foco a situação dos países</p><p>semiperiféricos latinoamericanos; revisão bibliográfica sobre direito à cidade e a noção</p><p>de lugar; seleção e investigação de projetos realizados no estudo de caso, em seus</p><p>pressupostos, métodos e resultados, tendo as comunidades como agentes indissociáveis.</p><p>Palavras-chave: Direito à cidade; Lugar; Projeto Participativo; América Latina; PICO</p><p>Colectivo.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>33</p><p>1. INTRODUÇÃO</p><p>A causa básica da favelização urbana parece ser não a pobreza urbana, mas a</p><p>riqueza urbana (VERMA, 2002, p.19).</p><p>O fenômeno de urbanização acelerada nos países dependentes, observado especialmente a partir do pós-</p><p>guerra ocorreu, em grande medida, devido à pressão do processo capitalista periférico, cujo fenômeno da</p><p>industrialização tardia e incompleta provocou uma explosão de grandes polos urbanos, onde o Estado não</p><p>foi capaz de constituir instrumentos suficientes para a provisão de moradia, infraestrutura e qualidade</p><p>urbana para as ocupações de populações expulsas do campo e recém chegadas às cidades.</p><p>Como resultado, a espoliação urbana (KOWARICK, 1980), da qual resulta a estratificação social e espacial</p><p>(MARICATO, 1982; ROLNIK, 1997) no que se denomina, para alguns autores “urbanização desigual”</p><p>(FERREIRA: 2000) causou a formação de metrópoles marcadas pela divisão social do espaço urbano como</p><p>decorrência da relação capital/trabalho, da produção e da lógica do processo de acumulação capitalista, ou</p><p>seja, um sistema de exclusão e irregularidade fundiária que é funcional para o mercado, incluindo o setor</p><p>imobiliário - restrito e especulativo – por uma aplicação muitas vezes arbitrária da lei, de acordo com</p><p>relações de favor, teorizada por Schwarz (2014) como estruturante da sociedade brasileira, porém de</p><p>certa forma extensivo a países latinoamericanos, por seu passado colonial.</p><p>Nesses territórios marginalizados da cidade formal, a legalidade urbana é um marco delimitador de</p><p>fronteiras de poder e um referente cultural fortíssimo especialmente de prestígio ou desprestígio de</p><p>classe, onde a face obscura que determina grande parte do espaço da cidade é a ilegalidade, como um</p><p>mesmo projeto, complementar e indissociável. A cidade legal, portanto, atua como um modelo de cidade</p><p>ideal, abrangendo apenas a menor parte do território, sendo o espaço urbano como um todo submetido a</p><p>relações de especulação imobiliária. Entretanto, ao estabelecer formas permitidas e proibidas, a legislação</p><p>configura regiões de plena cidadania e regiões de cidadania limitada (ROLNIK, 1997).</p><p>Perante esse cenário adverso, a procura de alternativas a problemas estruturais têm se ampliado,</p><p>especialmente em países periféricos e semiperiféricos, o que é ressaltado por Boaventura de Souza Santos</p><p>(colocar data da referência bibliográfica, da antologia porque é uma coleção praticamente completa dos</p><p>textos dele). Milton Santos (2008) formulou uma aposta na inflexão dessa realidade como um movimento</p><p>de “baixo para cima”, provindo dos países subdesenvolvidos e não dos ricos, como “o pensamento livre e</p><p>não o discurso único” (SANTOS, 2008, p.14).</p><p>Como salienta Luz (2018), no âmbito mais específico da arquitetura, poderia ser possível um processo de</p><p>resistência ou superação, mediante atitudes na pequena escala local, associando o saber acadêmico aos</p><p>movimentos sociais, quando descreve a possibilidade de constituir um acervo técnico-construtivo</p><p>compartilhado, como subsídio para autonomia popular:</p><p>No nosso âmbito estrito, a realização de insumos para protótipo de Cartilhas ou</p><p>Cadernos de Técnicas e Sistemas utilizáveis, potencialmente geradores de</p><p>autonomia para comunidades em regiões de fragilidade socioespacial e/ou</p><p>ambiental enfrenta fronteiras entre a expectativa em ser um arcabouço</p><p>pactuado e sistematizado que possa subsidiar ou contribuir no</p><p>aperfeiçoamento técnico, na geração de renda, no estabelecimento de matrizes</p><p>construtivas eficientes e viáveis destas comunidades, no sentido de ação</p><p>política para maior liberdade, emancipação, identidade e possibilidades de</p><p>resolução de sistemas de caráter imediato ou urgente ou fracassar na</p><p>probabilidade de confirmação da exclusão, da pobreza, da miséria e da</p><p>conformação a um estatuto de indigência urbana.</p><p>Com essa preocupação, esquadrinha-se como modelo a consecução de um</p><p>trabalho de caráter prático e teórico simultaneamente investigativo e</p><p>propositivo, no limiar da arte, técnica e conceituação, passível de testes e</p><p>verificações e o enfrentamento das contingências e estruturas políticas,</p><p>econômicas e sociais (LUZ, 2018, p. 1090).</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>34</p><p>É importante ressaltar o perigo que se corre ao recorrer a essas ações conjunturais de projetos dessa</p><p>natureza, pela particularidade e especificidade de seus territórios.</p><p>Deve-se ter em mente que ações conjunturais de caráter ativista, a saber, sem uma ação política</p><p>coadunada, apesar de serem importantes para uma emergência momentânea podem, ao mesmo tempo, se</p><p>auto-sabotar correndo o risco, no limite, de esvaziar essa responsabilidade das mãos do Estado. Caminha-</p><p>se no fio na navalha de uma confirmação da precariedade e conformação da comunidade envolvida, como</p><p>alerta Luz (id. 2018, p.1090).</p><p>Segundo Freire (1982), os denominados oprimidos têm que entender seu lugar no mundo e as questões</p><p>que isso pode envolver, no sentido de planejar sua ação de luta por liberdade e autonomia, indicando que</p><p>a transformação depende da práxis, não sendo suficiente apenas o discurso ou a teorização abstrata.</p><p>Tais ações, às quais denominamos conjunturais, para expressão de sua real potencialidade, devem estar</p><p>relacionadas a processos estruturais, acompanhadas de lutas por medidas sociais de impacto político</p><p>ampliado, ou seja, buscar-se resolver problemas de segregação em sua raiz, mediante políticas públicas</p><p>territoriais, condicionadas às pressões populares.</p><p>Pretende-se o não conformismo e o intuito de projetar o presente a partir do futuro. A segregação</p><p>socioespacial deveria ser um dos limites a serem superados pelo urbanismo moderno, pelo desenho, no</p><p>que falhamos. Pode-se indagar se o projeto moderno falhou ou se está em curso (Luz, 2019, no prelo).</p><p>Buscando aproximações entre a universalidade e a particularidade, esta Pesquisa pretende, como</p><p>salientado, por meio do olhar sobre situações específicas, o entendimento de ações projetuais com</p><p>participação comunitária, de pequeno ou médio porte, como ações potencializadoras do território que</p><p>apontem, como decorrência, para transformações estruturais, em especial no contexto da América Latina.</p><p>Elegeu-se como estudo de caso o Pico Colectivo, grupo de arquitetos que atua na América Latina, mediante</p><p>projetos participativos em locais caracterizados pela fragilidade socioespacial, carentes de infraestrutura,</p><p>equipamentos e espaços públicos de qualidade, pelo cotejamento de seus pressupostos, métodos e</p><p>resultados, investigando-o como exemplaridade replicável em contextos análogos.</p><p>2. ESTRATIFICAÇÃO URBANA</p><p>Pobre não faz greve. Pobre não deve fazer campanha política porque pobre não</p><p>tem vez. Quem nasceu pra ser tatu tem que continuar cavando (KOWARICK,</p><p>1983, p.158).</p><p>Petare, Venezuela.</p><p>Fonte: Caracas Chronicles.</p><p>Disponível em https://images.app.goo.gl/cv5csPkuGYxKW3fW7. Acesso em 20/10/2019.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>35</p><p>O Estado prioriza investimentos para determinadas áreas da cidade que são voltadas às áreas de interesse</p><p>do mercado, cujo fenômeno de especulação imobiliária condiciona a expulsão de camadas mais pobres</p><p>para as periferias.</p><p>Mais recentemente este fenômeno se articula ao abandono de centros históricos pela elite econômica</p><p>causando a complementaridade da pobreza, por vezes extrema, em áreas providas de infraestrutura e</p><p>serviços porém em estado de degradação e, ao mesmo tempo, apropriação por moradores de rua,</p><p>enquanto edifícios habitacionais paradoxalmente se mantém desocupados.</p><p>É outra face da mesma moeda. Doutra sorte, o pobre urbano, sem meios para viver dignamente em áreas</p><p>centrais infraestruturadas, se afasta para áreas cada vez mais distantes, sem condições urbanas básicas de</p><p>provimento e qualidade espacial ou garantia fundiária.</p><p>Traçando inicialmente um paralelo com a sociedade brasileira, pode-se afirmar que as camadas populares</p><p>são frequentemente classificadas com uma espécie de fragilidade política, quase como impregnadas por</p><p>um “conformismo pacífico e passivo” (KOWARICK, 1983, p.22). O autor defende que visões dessa natureza</p><p>são oportunamente utilizadas como um ingrediente ideológico para justificar o controle estatal perante as</p><p>políticas públicas voltadas às camadas populares: “dada a fragilidade “natural” da sociedade civil, caberia</p><p>ao estado suprir suas “deficiências”, tutelando-a dentro dos parâmetros considerados desejáveis e</p><p>permissíveis pelo poder instituído” (id. 1983, p.22). Camuflada por visão, existe a ideia de que as camadas</p><p>populares não são capazes de governar ou pensar por si, como se esse ato fosse, em sua raiz, privilégio de</p><p>uma elite “restrita e iluminada” (id. 1983, p.22) que acredita saber o que é desejável para a maioria. Tal</p><p>discurso desclassifica as classes populares para interferir em decisões políticas. Nesta perspectiva, não são</p><p>os grupos sociais em sua maioria que controlam o estado, mas uma parcela restrita e privilegiada. É o</p><p>estado que decide, cooptado pelos valores dominantes e hegemônicos, o que é o melhor para o “cidadão de</p><p>bem” e para se construir a “boa sociedade”. Como não poderia deixar de ser, isto é o rebatimento direto de</p><p>como a economia e a política se posicionam e apoiam projetos de desenvolvimento no país.</p><p>Para entendermos o fenômeno historicamente, é oportuno utilizarmos como modelo como ocorreu a</p><p>industrialização brasileira. Com a expulsão de contingentes populacionais do campo e incremento</p><p>quantitativo de mão de obra urbana, a crescente pressão sobre a oferta de habitação popular</p><p>simultaneamente à valorização dos terrenos próximos às fábricas, se dá a transferência dos gastos fabris</p><p>com moradia para os próprios trabalhadores e os de infraestrutura para o estado; as vilas operárias</p><p>começam a desaparecer e o problema habitacional passou a ser resolvido pelas relações econômicas no</p><p>mercado imobiliário, onde o salário não era suficiente para a própria reprodução da força de trabalho,</p><p>especialmente para o provimento de moradia adequada (Kowarick, 1983).</p><p>Surgem, então as periferias: aglomerações distantes dos centros urbanos, carentes de infraestrutura, em</p><p>territórios habitados principalmente pela mão de obra responsável por girar a produção industrial. A</p><p>classe trabalhadora passa a ser subjugada aos interesses imobiliários e o estado se movimenta de forma</p><p>tardia em sua tentativa de ordenamento do uso e ocupação do solo urbano, cujo desenho já estava em</p><p>grande parte traçado seguindo os interesses de grupos privados, regentes até hoje da ação governamental</p><p>(id. 1983, p.31). “Devido à alquimia do setor imobiliário- construtor e à “neutralidade” tecnicista do</p><p>planejamento público, [o estado] converte-se em instrumento dos interesses dos estratos privilegiados”</p><p>(KOWARICK, 1983, p.37). Para o capital, “a cidade e a classe trabalhadora interessam como fonte de lucro”</p><p>(id. 1983, p.53) e “o sistema capitalista pressupõe a destruição dos meios autônomos de vida,</p><p>basicamente, na expropriação de terra e dos instrumentos produtivos” (id. 1983, p.55).</p><p>O autor, de modo premonitório, aborda o tema das multinacionais e suas concessões pelo estado em prol</p><p>da globalização, afirmando que “um modelo econômico marcado por tantas “concessões liberticidas”, só</p><p>poderia contrapor-se a um clima de “debate social”(KOWARICK, 1983, p.67), onde uma política marcada</p><p>por facilitadores para o mercado implicaria no necessário controle partidário, dos sindicatos e</p><p>representações sociais que se opusessem ao sistema excludente.</p><p>O cenário mais recente é avassalador. As forças neoliberais do capital globalizado submetem o papel dos</p><p>estados nacionais às contingências de livre mercado, destruindo o arcabouço industrial nacional,</p><p>priorizando o volátil capital financeiro, desmontando o patrimônio público pela privatização de empresas</p><p>e serviços públicos em nome do estado mínimo onde esforços incipientes de estado de bem estar social no</p><p>caso dos países periféricos não chega a se constituir e se dissolve como possibilidade. O reflexo urbano é</p><p>evidente. A favelização global se torna a face tenebrosa deste fenômeno, de extensão imprevisível, onde</p><p>hordas continentais não detém garantia de trabalho,</p><p>urbanidade e cidadania (DAVIS, 2006, p.214).</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>36</p><p>A mercantilização urbana em extratos marginais deve, também ser considerada. Como aponta Davis</p><p>(2006), quando se trata de invasão de terras periféricas, são raros os casos em que não haja algum custo</p><p>prévio ou permanente.</p><p>O que ocorre em sua maioria é que os denominados invasores sejam coagidos a pagar propina a políticos</p><p>ou milícias para terem acesso à terra urbana e se mantenham pagando “aluguel” ou “proteção”, no caso do</p><p>poder paralelo instituído pela ausência do estado ou, na melhor das hipóteses, sejam condicionadas pelo</p><p>clientelismo, articulado por meio de votos. Por outro lado, em sociedades marcadas pela desigualdade, a</p><p>favela ainda choca o “cidadão de bem” e alarma sua consciência quando grita a desigualdade, como um</p><p>espelho que denuncia a segregação e o quanto as leis de direitos só valem para uma parcela privilegiada</p><p>da sociedade. Em contraposição, importantes movimentos sociais reivindicatórios contra hegemônicos, no</p><p>campo e na cidade, apontam para outros rumos.</p><p>Historicamente, em resposta ao florescimento das favelas, governantes, com o apoio das classes</p><p>dominantes, atacaram intensamente os assentamentos irregulares. Guerra com forte cunho racial, já que</p><p>grande parte dos invasores eram, na década de 1940, indígenas ou negros descendentes de escravos.</p><p>Exemplo claro deste conflito na América Latina ocorreu durante o governo do ditador Marcos Pérez</p><p>Jiménez, na Venezuela. A solução estatal foi a invasão de militares, caminhões e tratores em bairros</p><p>informais e a execução de uma verdadeira varredura. Os pertences dos moradores foram levados a</p><p>apartamentos – chamados de superbloques, cortiços de quinze andares odiados em massa pela população</p><p>- e as casas destruídas em seguida (DAVIS, 2006, p.63).</p><p>3. PELO DIREITO DE SER</p><p>Nem sociologismo, nem psicologismo, nem economismo. Nem historicismo.</p><p>Algo de novo se anuncia (LEFEBVRE, 1991, p.139).</p><p>A segregação pode ser entendida, segundo Lefebvre, por três aspectos: como espontânea, vinda das rendas</p><p>e ideologias; voluntária, quando se estabelecem espaços separados, e programada, quando surge de um</p><p>pretexto de organização e planificação proveniente do pensamento analítico (LEFEBVRE, 1991, p.94).</p><p>Os excluídos da cidade legal, que sobrevivem em áreas de fragmentos sociais, só querem o direito de</p><p>participar em um cenário até agora fundado em contradições entre o global e o parcial. Lefebvre (1991)</p><p>sugere uma nova contradição, agora não interessando mais à teoria mas sim a uma prática social</p><p>integrativa.</p><p>O direito à cidade se manifesta como forma superior dos direitos: direito à liberdade, à individualização na</p><p>socialização, ao habitat e ao habitar. O direito à obra (à atividade participante) e o direito à apropriação</p><p>(bem distinto ao direito à propriedade) estão implicados no direito à cidade (LEFEBVRE, 1991, p.135).</p><p>Freire (2001) defende que apenas o poder que venha dos chamados por ele de oprimidos terá força</p><p>suficiente para buscar a liberdade. Somente quem sofre uma injustiça se encontraria preparado para</p><p>entender o seu significado e suas consequências, compreendendo a necessidade de libertação que apenas</p><p>chegará por meio da práxis, pelo conhecimento e entendimento da necessidade de luta.</p><p>O mesmo é apontado por Lefebvre (1991), quando enuncia que a reforma urbana tem alcance</p><p>revolucionário e dá lugar a uma estratégia contra-hegemônica e somente a classe trabalhadora pode</p><p>renovar o sentido na atividade de produção e, portanto, destruir a ideologia do consumo, detendo a</p><p>capacidade de criar um novo humanismo, diferente do humanismo liberal antigo.</p><p>Para Santos (2018), um dos maiores desafios ao se pensar sobre possíveis soluções para a sociedade</p><p>vigente é saber quais são os problemas fundamentais. É fato para ele que a ciência moderna e em</p><p>particular as ciências sociais estejam passando por uma crise epistemológica e que atravessamos um</p><p>momento de transição, neste campo, para um conhecimento pós moderno. O autor defende que talvez seja</p><p>hora de “por um lado, ir às raízes da regulação social e, por outro, inventar ou reinventar não só o</p><p>pensamento emancipatório como a vontade de emancipação” (SANTOS, 2018, v1, p.148). Seria, para tanto,</p><p>necessário o conhecimento da causa das crises para se analisar suas possíveis soluções. Conformadas em</p><p>diferentes escalas mas globalmente relacionadas, onde cada país tem uma relação com os diferentes</p><p>problemas e a solução em um lugar pode significar o agravamento dos mesmos em outro, toda solução é</p><p>composta por alternativas e a ausência destas é uma decisão política.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>37</p><p>Para Boaventura Souza Santos (2018), o conhecimento científico proveniente da modernidade ocidental,</p><p>quando se une ao privilégio econômico e militar, é o que garante aos países colonizadores -o por ele</p><p>denominado Norte - o poder de dominação sobre os outros povos.</p><p>A epistemologia do norte se baseia numa linha abissal que separa pessoas e formas de sociabilidade de</p><p>modo que o que é válido para o lado metropolitano não o é para o colonial. O autor considera que a</p><p>racionalidade do cartesianismo capitalista não condiz com a realidade humana mas é bastante atraente</p><p>para quem deseja uma estabilidade e hierarquia para as regras universais. Nesse sentido, a modernidade</p><p>teria esperado que os homens deixassem suas paixões de lado e que se tornassem metódicos e firmes</p><p>como uma personalidade humana “unidimensional” (SANTOS, 2018, v1, p. 560).</p><p>Em analogia, Freire (2001, p. 46) apontara que os opressores viveriam em uma ânsia desenfreada por</p><p>posse porque para eles ser é ter. Nesta busca de ter cada vez mais, matam a vida; se apropriam da ciência e</p><p>tecnologia como instrumentos para suas finalidades e caracterizam os “outros” como preguiçosos e</p><p>incapazes, que invejam suas conquistas. Nesse sentido buscam mudar a mentalidade dos chamados</p><p>oprimidos e não a situação que os oprime, a fim de facilitar sua dominação. Quanto mais a maioria se</p><p>adapta às prescrições das classes dominantes, mais as mesmas continuam a prescrever os limites; definem</p><p>conceitos como organização e luta como perigosos, alienando ainda mais as classes dominadas e,</p><p>consequentemente, as dividindo e dominando ainda mais. Quanto mais as minorias dividem as maiorias,</p><p>mais conseguem estabelecer seu poder sobre elas.</p><p>Contemporaneamente, esse processo de formação de ideologias tem a capacidade fazer aceitar a</p><p>globalização neoliberal como um destino inevitável e necessário da economia universal, portanto</p><p>inescapável, onde as especificidades das diferentes culturas e economias são niveladas em uma mesma</p><p>direção. Existe a necessidade de nos distanciar do pensamento eurocêntrico - ou internacional</p><p>hegemônico - com o objetivo de abrir espaço para realidades novas ou invisibilizadas. Segundo Santos</p><p>(2018a, p. 301), as chamadas epistemologias do sul - conhecimento das sociedades dominadas - se</p><p>relacionam com os saberes empíricos que surgem das lutas sociais. Segundo o autor, deseja-se tornar</p><p>sujeitos invisíveis em presentes, como uma emancipação social, em que é preciso revalorizar os</p><p>conhecimentos e práticas não hegemônicas e aprender com os oprimidos sobre os oprimidos para</p><p>também se aprender sobre os dominadores, de modo que “é nas margens que se faz o centro e é no</p><p>escravo que se faz o senhor” (SANTOS, 2018, v1, p.201).</p><p>Se as sociedades dominadas se tornaram incapazes de representar o mundo como próprio, não é possível</p><p>haver justiça social nem de conhecimentos, prossegue o pensamento do autor. Nesse sentido, a intenção</p><p>não seria a substituição da epistemologia do Norte pela do Sul, nem apagar as diferenças, mas sim as</p><p>hierarquias criadas por esse sistema de dominação e a identificação dessa linha abissal segregadora, como</p><p>o primeiro impulso. Em concordância com Santos (idem, p. 320), se esta exclusão abissal começou com o</p><p>colonialismo</p><p>e foi agravada pela difusão do conhecimento eurocêntrico moderno, onde se teve a</p><p>monocultura do conhecimento válido, do tempo linear, da classificação social, da superioridade e</p><p>produtividade, “um conhecimento situado é, portanto, a condição para um governo situado” (SANTOS,</p><p>2018a, p. 548). O autor define ainda como fascismo social a globalização hegemônica e apresenta como</p><p>alternativa, não só necessária mas urgente para a propagação de tal fenômeno, a construção de um novo</p><p>modelo de relações locais, nacionais e internacionais, onde, ao invés de se importar ideias estrangeiras</p><p>baseadas no eurocentrismo, seja preciso sinvestigar as especificidades locais, como uma globalização</p><p>contra-hegemônica, uma nova política, direito e cultura, cosmopolitas e insurgentes (SANTOS, 2018,</p><p>p.541). Em concordância com seu pensamento cpara a definição de lugar, sublinhamos sua indicação de</p><p>que seja necessário pensarmos no pluralismo democrático e intercultural, além de uma nova linguagem do</p><p>que significa ser digno, já que a dimensão dos direitos humanos está presa numa ideia simplista e</p><p>cartesiana que transita entre direitos e deveres, em que a globalização, avançando com a tecnologia de</p><p>informação, pode ter grande potencial para uma expansão desse conhecimento. Adotamos sua premissa</p><p>de que o conhecimento deva surgir de “baixo para cima”, em forma de luta, reunindo os saberes</p><p>acadêmicos e não acadêmicos formando “rebeldes competentes” (SANTOS, 2018b, p. 338).</p><p>Seguindo o preconizado por Freire (2011), concordamos que este discurso de libertação, portanto, não</p><p>pode ser explicado às massas, mas sim conduzido em um diálogo sobre esta ação; diálogo que só pode</p><p>existir se houver um profundo amor ao homem e ao mundo. A raiz da pedagogia do oprimido, que é na</p><p>verdade a pedagogia dos homens em luta por sua libertação, precisa estar nos próprios sujeitos, que</p><p>precisam se reconhecer criticamente como oprimidos, de modo que “os oprimidos hão de ser o exemplo</p><p>para si mesmos, na luta por sua redenção”.(FREIRE, 2001, p.41). Por este motivo, a pedagogia freireana</p><p>não pode ser elaborada pelas classes dominadoras opressoras. Quando o oprimido entende sua posição e</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>38</p><p>luta com clareza pela transformação, acontece o que Freire (2001) denomina como ação profunda. É</p><p>preciso existir o anseio pelo direito de ser.</p><p>Resta a incômoda sensação de afastamento de classe, ao re-enunciar estas teorias. Seria possível constituir</p><p>um diálogo interclasses a partir do conhecimento acadêmico articulado aos saberes e anseios populares?</p><p>Seria transponível o abismo entre o saber profissional e as demandas populares na construção de um</p><p>pacto concretizado em projetos verdadeiramente comunitários e profundamente participativos? Este é o</p><p>desafio que pretendemos vislumbrar como possibilidade na atuação do Pico Colectivo como estudo de</p><p>caso.</p><p>4. ESTUDO DE CASO</p><p>Prefiro ser criticado como idealista e sonhador inveterado por continuar, sem</p><p>relutar, a apostar no ser humano, a me bater por uma legislação que o defenda</p><p>contra as arrancadas agressivas e injustas de quem transgride a própria ética</p><p>(FREIRE, 2015, p.126).</p><p>O Pico Coletivo se define como uma estrutura de ação política territorial que aposta no desenvolvimento</p><p>de estratégias e operações de infraestrutura em ambientes onde ocorrem conflitos urbanos não</p><p>convencionais.</p><p>Criado por Marcos Coronel, Juan Carlos Castillo e Kenneth Gómez , destaca-se pela iniciativa Espacios de</p><p>Paz, interdisciplinar e em conjunto com outros escritórios de arquitetura e engenharia. São projetos que</p><p>contam com a participação da comunidade envolvida que buscam converter “áreas de risco” em “áreas de</p><p>paz”. Com a indispensável a imersão da população residente nos territórios onde acontecem as</p><p>intervenções, as atividades buscam a transformação física e social a partir da autoconstrução em um</p><p>processo baseado no intercâmbio de saberes; geralmente em áreas residuais de em periferias, a intenção é</p><p>a criação de lugares que fomentem novas formas de convívio e produção cultural.</p><p>Poliesportivo Reducido em construção.</p><p>Fonte: PICO Colectivo- José Bastidas. disponível em . Acesso em 29/10/2019</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>39</p><p>O coletivo aponta como princípios do Espacios de Paz a constituição de obras-escola nas quais os eventos</p><p>acontecem em diversas comunidades ao mesmo tempo e em três etapas: pré produção, desenho e</p><p>execução e comprovação dos resultados. Trata-se de um processo de escala global onde busca-se criar</p><p>uma oficina onde os moradores ganhem experiência e autonomia para mudar sua própria realidade.</p><p>5. INVESTIGAÇÃO DE PROJETOS</p><p>Para a compreensão da atividade do estudo de caso, foi feita uma seleção de obras significativas do projeto</p><p>Espacios de Paz. Nesta seleção buscou-se entender em quais territórios acontecem as intervenções, seus</p><p>principais programas, a composição interdisciplinar da equipe e de que modo se dá o investimento para</p><p>viabilizar a constituição dos espaços.</p><p>Conforme mostra a tabela a seguir, a maior parte de projetos realizados se deu na Venezuela, com alguns</p><p>exemplos em outros países latino-americanos, como Cuba, e também em alguns países europeus, como na</p><p>Espanha.</p><p>Percebe-se, como demonstra a tabela 1, que o investimento para tais projetos é efetivado de diversas</p><p>formas, caso a caso, podendo ser por meio de doação de materiais de construção por lojas do ramo ou</p><p>mesmo, como é o caso do projeto “Zona de Produção Cultural”, em Guácara, por órgãos como o Banco de</p><p>Desarrollo Económico y Social (BANDES), Fondo de Desarrollo Microfinanciero (FONDEMI) e pelo</p><p>Ministério de comunidades e movimentos Sociais.</p><p>Todos os projetos e obras foram efetivados de modo coletivo, com participação de outros escritórios de</p><p>arquitetura, assim como profissionais de diversas áreas, como engenheiros e assistentes sociais.</p><p>A principal característica dos projetos elencados é o envolvimento da comunidade, desde sua concepção. O</p><p>resultado é a transformação de territórios antes marcados pelo medo em espaços agora disputado pela</p><p>população para novos usos, sejam culturais, esportivos ou para convívio e acessibilidade.</p><p>Parlamento Abierto.</p><p>Fonte: PICO Colectivo- Jose Bastidas. Disponível em. Acesso em 29/10/2019.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>40</p><p>Tabela 1 – Descrição dos locais, usos, participantes da equipe, investidores e ano de trabalhos elencados</p><p>da iniciativa Espacios de Paz.</p><p>local uso equipe investidor ano</p><p>Casa Comunitaria</p><p>“Restaurar pero</p><p>reconvertir”</p><p>La Guaíra-</p><p>Venezuela</p><p>Centro de</p><p>encontro</p><p>cultural</p><p>PICO; CAPA;</p><p>Asymetric; Abono;</p><p>comunidades de</p><p>La Guaíra, Valle</p><p>del Pino e Estado</p><p>Vargas</p><p>Misión Saber, Frente</p><p>Construtor Francisco</p><p>de Miranda</p><p>2015</p><p>La Ye</p><p>“Trincheiras contra-</p><p>culturales”</p><p>Petare-</p><p>Venezuela</p><p>Espaço de uso</p><p>esportivo e</p><p>cultural</p><p>PICO; PGRC; TXP;</p><p>comunidade 5 de</p><p>Julho.</p><p>Missão Saber e</p><p>Trabalho, Frente</p><p>Construtor Francisco</p><p>de Miranda</p><p>2014</p><p>Navio de Parede</p><p>Animal</p><p>“Patrimônios</p><p>instantâneos”</p><p>Havana- Cuba</p><p>Eixo de</p><p>mobilidade</p><p>PICO</p><p>Centro de Arte</p><p>Contemporanea</p><p>Wilfredo Lam ,</p><p>Comissão</p><p>Presidencial por la</p><p>Paz y la Vida,</p><p>Instituto de las Artes,</p><p>de la Imagen y el</p><p>Espacio</p><p>2015</p><p>Plaza Estacional</p><p>“Granjas Urbanas”</p><p>Caracas-</p><p>Venezuela</p><p>Sistema de</p><p>Equipamentos</p><p>comunitários</p><p>PICO, AGA estudio</p><p>Vice Presidência</p><p>territorial; Instituto</p><p>Nacional de Parques;</p><p>Missão Bairro Novo</p><p>Tricolor</p><p>2018</p><p>Parlamento Aberto</p><p>“Artilharia Popular”</p><p>Caracas-</p><p>Venezuela</p><p>Sistema de</p><p>Equipamentos</p><p>comunitários</p><p>PICO, AGA estudio</p><p>Vice Presidência</p><p>territorial; Instituto</p><p>Nacional de Parques;</p><p>Missão Bairro Novo</p><p>Tricolor</p><p>2015</p><p>Zona de Produção</p><p>Cultural</p><p>“Microeconomias</p><p>Subversivas”</p><p>Guácara-</p><p>Venezuela</p><p>Centro</p><p>Cultural</p><p>PICO, La Vieja</p><p>Escuela</p><p>BANDES, FONDEMI,</p><p>Ministerio de</p><p>Comunas</p><p>y</p><p>Movimientos</p><p>Sociales.</p><p>2016</p><p>Polideportivo</p><p>Reducido</p><p>“Artilharia Popular”</p><p>Caracas-</p><p>Venezuela</p><p>Sistema de</p><p>Equipamentos</p><p>comunitários</p><p>PICO, AGA estudio</p><p>Vice Presidência</p><p>territorial; Instituto</p><p>Nacional de Parques;</p><p>Missão Bairro Novo</p><p>Tricolor</p><p>2015</p><p>Workout el Risco</p><p>“Ressignificando o</p><p>resíduo”</p><p>Las Palmas-</p><p>Espanha</p><p>Revitalização</p><p>de espaços</p><p>reiduais</p><p>PICO</p><p>Prefeitura de Las</p><p>Palmas</p><p>Fonte: Pico Colectivo</p><p>Disponível em . Acesso em 12/10/2019.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>41</p><p>6. LA YE</p><p>La Ye.</p><p>Fonte: PICO Colectivo- Jose Bastidas</p><p>Disponível em. Acesso em 20/10/2019.</p><p>Na busca do entendimento da dinâmica de tais projetos, foi elegida para uma primeira análise a</p><p>intervenção “La Ye”, construída na comunidade 5 de Julho, no Petare, bairro venezuelano localizado na</p><p>região metropolitana de Caracas.</p><p>Petare é a maior favela das Américas, sendo três vezes maior que a brasileira da Rocinha, no Rio de</p><p>Janeiro. Considerado um dos lugares mais perigosos da América Latina, é marcado e julgado</p><p>convencionalmente pela violência e falta de equipamentos básicos.</p><p>La Ye é parte do programa Espacios de Paz e trata da transformação de uma casa precária onde</p><p>aconteciam jogos de azar e venda de bebidas alcoólicas, tendo como ponto de partida o impacto que esta</p><p>obra poderia trazer à comunidade, causa principal da escolha do programa como um espaço comunitário</p><p>de múltiplos usos.</p><p>O projeto foi realizado por Juan Carlos Castillo (PICO), José Naza Rodríguez (PGRC), Diego Peris y Jon</p><p>Garbizu (TXP). O projeto, interdisciplinar, conta estrategicamente com quatro equipes: atividade,</p><p>identidade, design e comunicação. Em conjunto, com a intenção de somar conhecimentos, os grupos</p><p>buscaram soluções a problemas que permeavam vários âmbitos.</p><p>No primeiro nível da edificação existente, com área de 120m², consistia em um espaço pouco iluminado e</p><p>sua ventilação dependia apenas de pequenas aberturas na fachada. Em seu interior, materiais de</p><p>construção e fios se encontravam expostos.</p><p>O mesmo espaço agora conta com um espaço amplo, sem paredes divisórias internas, onde conseguiu-se</p><p>organizar um estúdio de gravação, sala de estar, oficina multiuso, cozinha, banheiro e sala de informática.</p><p>No segundo pavimento, que é também a cobertura da edificação, o projeto propõe uma quadra</p><p>poliesportiva com suas dimensões adaptadas ao perímetro da casa.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>42</p><p>La Ye</p><p>Fonte: PICO Colectivo- Jose Bastidas</p><p>Disponível em . Acesso em 20/10/2019.</p><p>A entrada se dá diretamente desde a rua por uma escada que atinge um patamar recuado que funciona</p><p>como uma pequena praça que articula de modo delicado as relações interior- exterior, ao conectar o</p><p>entorno urbano e a cobertura utilizável ao ar livre, propondo uma nova leitura de espaço público aos</p><p>moradores.</p><p>La Ye.</p><p>Fonte: PICO Colectivo- Jose Bastidas</p><p>Disponível em. Acesso em20/10/2019</p><p>Com a participação da comunidade 5 de Julho tanto nas decisões de projeto, quanto na obra, a antiga casa</p><p>de jogos tornou-se um espaço muito importante para a população que agora se apropria dele e o preserva.</p><p>Os desdobramentos desta Pesquisa, procurarão investigar, como pontos principais, estas potencialidades</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>43</p><p>de transformação de propostas cojunturais, ou seja, ações localizadas de pequena escala, como capazes de</p><p>induzir mudanças estruturais.</p><p>7. CONCLUSÃO</p><p>A proposição de novos paradigmas de enfrentamento da situação sistêmica das periferias urbanas, por</p><p>ações projetuais de participação comunitária como hipótese de propostas conjunturais para problemas</p><p>estruturais pode ser uma das formas de resistência na afirmação de indentidade dos lugares, autonomia</p><p>comunitária, qualificação de espaços coletivos indicando uma direção de ampliação das reivindicações</p><p>populares perante o desastre ambiental e socioespacial para o qual converge a maioria das regiões</p><p>periféricas das cidades contemporâneas, em especial na realidade latinoamericana dos países</p><p>dependentes e submetidos ao processo neoliberal hegemônico ora em curso.</p><p>A ausência do Estado, ou pior, o descaso do Estado como projeto, permite paradoxalmente que possam</p><p>ocorrer insurgências dessa natureza, cujo fio da navalha oscila entre a autonomia ou a confirmação da</p><p>sujeição. Para tanto, a contribuição de coletivos profissionais, em aliança aos movimentos populares, pode</p><p>fomentar formas organizadas de processos de apropriação, formação cívica e, no limite, instrumental para</p><p>reivindicação de direitos.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>[1] Freire, Paulo. Pedagogia do oprimido. 11.ed. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1982.</p><p>[2] Gramsci , Antonio. Passato e presente. Roma: Granica, 1977.</p><p>[3] Kowarick, Lúcio. Espoliação Urbana. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979.</p><p>[4] Lefebvre, Henri. O direito à cidade. São Paulo, SP: Moraes, 1991.</p><p>[5] Luz, Vera Santana. Por uma Busca de Compromisso Socioambiental: reflexões sobre uma metodologia</p><p>pedagógica em arquitetura e urbanismo, 2019. No prelo.</p><p>[6] Luz, Vera Santana. Por uma autonomia concretizável: proposição de técnicas de Arquitetura e infraestrutura</p><p>de pequeno e médio porte para Comunidades em regiões de fragilidade socioespacial e ambiental .Anais V Enanparq,</p><p>p. 1082- 1104. Salvador, BA, 2018.</p><p>[7] Maricato, Ermínia. A produção capitalista da casa (e da cidade) no Brasil Industrial. 2. ed. São Paulo, SP: Alfa</p><p>Omega, 1979.</p><p>[8] Pico Colectivo disponível em Rolnik, Raquel. A cidade e a lei: legislação,</p><p>política urbana e territórios na cidade de São Paulo. São Paulo, SP: Studio Nobel: FAPESP, 1997.</p><p>[9] Santos, Boaventura de Sousa. Construindo as Epistemologias do Sul: Antologia Essencial. Volume I e II: Para</p><p>um pensamento alternativo de alternativas. Buenos Aires, CLACSO, 2018.</p><p>[10] Santos, Milton. Por uma outra globalização: do pensamemto único à consciência universal. 15 ed. Rio de</p><p>Janeiro: Record, 2008.</p><p>[11] Schwarz, roberto. As ideias fora do lugar: ensaios selecionados. São paulo, companhia das letras, 2014.</p><p>[12] Valencia, Nicolás. Venezuelan urban acupuncture: Spaces of Peace by PICO Estudio. Disponível em .</p><p>Acesso em: 03 out. 2019.</p><p>[13] Verma, Gita Dewan. Slumming India. Penguin Books India, 2002.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>44</p><p>Capítulo 4</p><p>A inserção mais incisiva de conceitos referentes à</p><p>arquitetura sustentável dentro das grades</p><p>curriculares do curso de arquitetura e urbanismo</p><p>Lucas Carvalho Lisboa</p><p>Resumo:Toda grande cidade possui alguns problemas bem parecidos, alguns destes são</p><p>consequências de ações antrópicas diante de nosso meio ambiente, visto que, quanto</p><p>maior o número de pessoas e de atividades ali realizadas, os processos de serviços e</p><p>estilos de vida, independentemente de quais sejam, passam a crescer paralelamente,</p><p>produzindo assim maior quantidade de resíduos, ações e processos diversos. Diante</p><p>deste panorama, vale citar as inferências do setor da construção civil, mais precisamente</p><p>da Arquitetura e Urbanismo na forma de vida dos seres humanos, através de reforma,</p><p>demolição, construção e afins. Estes são responsáveis pela produção de grande parte dos</p><p>resíduos produzidos no mundo todo, e fazem uso de considerável quantidade dos bens</p><p>naturais afim de sanar suas necessidades, por isso, buscar alternativas viáveis para</p><p>resolver tais problemas sem comprometer o acesso aos mesmos pelas futuras gerações</p><p>deve ser prioridade por parte dos profissionais da área. Ao mesmo tempo em que o setor</p><p>da construção civil gera diversos problemas à sociedade, ele é um dos que consegue</p><p>absorver com maior facilidade os resíduos, e outros</p><p>materiais de forma eficiente dentro</p><p>de seu setor, tornando-o um grande aliado na luta contra o desperdício de materiais;</p><p>busca por alternativas inovadoras e viáveis, produção de pesquisa e trabalhos científicos</p><p>trazendo assim grandes vantagens e benefícios para os setores de saúde, economia,</p><p>mobilidade urbana, entre outros. Diante deste quadro, fica clara a importância da devida</p><p>formação dos futuros Arquitetos e Urbanistas, afim de que venham desenvolver seus</p><p>trabalhos de acordo com as necessidades da Arquitetura Sustentável, então este trabalho</p><p>mostra a atual situação das grades curriculares de algumas IES pelo Brasil, e vem</p><p>também indicando algumas opções de inserção nas referidas grades, baseando-as no que</p><p>vem sendo solicitade pela sociedade.</p><p>Palavras-chave: construção civil, arquitetura sustentável, grade curricular.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>45</p><p>1. INTRODUÇÃO</p><p>Com o passar dos anos, o modo de vida da sociedade global tem sofrido consideráveis mudanças, devido</p><p>às novas necessidades e buscas que estas passam a ter. Por isso, a preparação devida para os cidadãos de</p><p>forma geral é de grande importância, pois estes são agentes diretos no desenvolvimento social de sua</p><p>sociedade ambiental através de suas ações diárias.</p><p>Sabe-se que todo ser humano e todo setor de trabalho possui inferências sobre o meio ambiente, porém,</p><p>existem alguns que tem influências maiores do que outros. Através de diversos estudos, percebeu-se que o</p><p>da construção civil é um dos que mais influenciam o funcionamento do meio ambiente, visto que fazem</p><p>uso de grande quantidade dos bens naturais em suas atividades rotineiras, como também suas obras</p><p>causam consequências diretas no meio ambiental em que estão inseridas.</p><p>Diante do exposto e das diversas discussões à respeito de temas e ações voltadas à sustentabilidade, nota-</p><p>se a cada dia maior necessidade pela formação de profissionais qualificados a desenvolver seus trabalhos</p><p>em conformidade com os padrões da arquitetura sustentável. Sabendo destas necessidades, foram</p><p>observadas e analisadas algumas grades curriculares do curso de Arquitetura e Urbanismo nas</p><p>universidades do Brasil, onde percebeu-se a baixa frequência do tema dentro das mesmas.</p><p>Nesse caso, o presente trabalho trata da necessidade da inserção de novas disciplinas e da atualização de</p><p>algumas pré-existentes, em vista da maior abordagem quanto às questões ambientais aplicadas ao curso,</p><p>favorecendo a sociedade em geral, através da formação dos novos profissionais, tornando-os aptos a</p><p>desenvolver as ações necessárias ao tema e facilitando a entrada dos mesmos no mercado de trabalho.</p><p>2. JUSTIFICATIVA</p><p>Diante dos novos padrões sociais e ambientais, foram realizados com o passar do tempo diversos eventos</p><p>a nível mundial, afim de indicar objetivos referentes à ações que visem a minimização dos problemas</p><p>ambientais dentro do meio ambiente, e que venham ajudar o desenvolvimento ambiental e social de forma</p><p>eficiente, tendo suas necessidades sanadas, porém, sem comprometer o acesso aos bens naturais das</p><p>sociedades futuras.</p><p>Além do crescimento pela demanda de matéria-prima e das ineficientes politicas que incentivem e</p><p>fiscalizem o uso consciente dos mesmos, o problema se estende também às ações erradas em relação ao</p><p>gerenciamento dos bens naturais, seja no cotidiano da sociedade, pelo setor industrial, da construção civil,</p><p>entre outros, o que acaba por gerar diversos problemas para a sociedade, direta e indiretamente,</p><p>ocasionando mazelas de ordem da saúde pública, de mobilidade urbana, dentre outros.</p><p>Atualmente cobra-se muito ações e práticas sustentáveis dentro de cada setor de trabalho, visto que os</p><p>problemas gerados pela má gestão dos bens naturais vêm se tornando cada vez maiores e mais presentes</p><p>no meio da sociedade, por isso, afim de solucionar os mesmos, entende-se que a educação é o maior aliado</p><p>dentro desta questão, auxiliando na formação de cada cidadão conforme os padrões que a</p><p>sustentabilidade pede.</p><p>Então, no setor da construção civil defende-se que haja maior presença de conceitos e diretrizes</p><p>relacionadas à sustentabilidade aplicada. No caso da Arquitetura e Urbanismo, a chamada Arquitetura</p><p>Sustentável, que trata das ações arquitetônicas de acordo com os padrões sustentáveis, sanando suas</p><p>necessidades e buscas, sem comprometer os bens naturais para as futuras gerações.</p><p>Sabe-se que as áreas de atuação do Arquiteto e Urbanista são diversas, logo, devemos entender como e de</p><p>que forma será possível realizar suas ações de forma eficiente sob as diversas óticas, sejam estas técnicas,</p><p>ambientais, sustentáveis, entre outras. É de grande importância saber que, quanto mais cedo definir tais</p><p>ações, menores os problemas e maiores os benefícios para com seu trabalho e sua sociedade, atual e</p><p>futuramente.</p><p>3. METODOLOGIA</p><p>Será utilizado o processo de pesquisa bibliográfica, de abordagem qualitativa, através de comparações e</p><p>busca por alternativas que venham gerar significativas alterações na formação dos futuros arquitetos e</p><p>urbanistas, mostrando a importância da prática de ações e atividades conforme este conceito, os</p><p>benefícios para sua formação, em seu trabalho e para a sociedade de forma geral. A pesquisa se dará</p><p>através de livros, artigos, monografias, dissertações, teses e documentações existentes em revistas ou sites</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>46</p><p>científicos. Também terá como objetivo, a existência de discussões e estudos a respeito do assunto, para</p><p>que os benefícios gerados por essas novas práticas sejam desfrutadas pelo maior número possível de</p><p>pessoas e locais.</p><p>4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA</p><p>4.1. CONTEXTO HISTÓRICO</p><p>Os temas Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável são e sempre serão dependentes entre si, estes</p><p>tem se tornado objetos de discussão cada vez mais presentes entre governantes, empresários e da</p><p>população mundial como um todo devido grande força da mídia sobre tais conceitos, porém, inicialmente</p><p>é necessário que os mesmos venham ser devidamente definidos.</p><p>Discussões fortes e aparentes vieram à tona a partir da formação do clube de Roma, em 1968, onde foram</p><p>reunidos diversos cientistas, pesquisadores, dentre outros profissionais de diversas áreas de atuação,</p><p>discutindo sobre diversos temas, entre eles, a sustentabilidade.</p><p>A década de 70 foi marcada pela maior conscientização ambiental no Brasil. Em 1971 foi realizado o I</p><p>Simpósio sobre poluição ambiental, onde participaram diversos pesquisadores e técnicos brasileiros e</p><p>estrangeiros, trazendo para próximo da sociedade temas relacionados a sustentabilidade, porém, foi</p><p>somente em 1972, com a realização da Conferência das Nações Unidas em Estocolmo, que foram tomadas</p><p>decisões mais sérias quanto ao desenvolvimento do País.</p><p>4.2. DEFINIÇÃO:</p><p>Uma das definições que é aceita por diversas literaturas é a que foi elaborada pela ONU (Organização das</p><p>Nações Unidas) através do Relatório de Brundtland (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E</p><p>DESENVOLVIMENTO, 1988, p. 49), a qual diz que o desenvolvimento sustentável deve ser entendido</p><p>como: “a sustentabilidade consiste em suprir as necessidades da geração presente sem, no entanto, afetar</p><p>a habilidade das gerações futuras de suprir as suas”.</p><p>Após o referido evento vale ressaltar os seus posteriores, entre eles, a Agenda 21, que nasceu no cenário</p><p>mundial da crise ambiental e de energia, onde já eram facilmente perceptíveis diversos problemas</p><p>ambientais, e que passaram a ser relacionados diretamente com os impactos gerados pelas ações do setor</p><p>da construção civil, como pode ser observado neste trecho de documento do evento: “As atividades do</p><p>setor da construção são vitais para a concretização das metas nacionais de desenvolvimento</p><p>socioeconômico: proporcionar habitação, infraestrutura e emprego. Ao mesmo tempo, por meio do</p><p>esgotamento da base de recursos naturais, da degradação de zonas ecológicas frágeis, da contaminação</p><p>química e do uso de materiais de construção nocivos para a saúde humana, elas podem ser uma fonte</p><p>importante de danos ambientais” (UNCED - Agenda 21- Global, 1992, p.18).</p><p>Segundo (CIB/ UNEP, 2002) a Agenda 21 mensurou que o setor da construção civil é responsável pelo</p><p>consumo de aproximadamente 40% do consumo de recursos naturais existentes no mundo, bem como</p><p>produz cerca de 40% do total de resíduos gerados no mundo, o que deixa mais claro ainda que a relação</p><p>entre o setor e a sustentabilidade é alta e forte, por isso a importância da implementação de ações que</p><p>venham garantir as necessidades da construção civil respeitando e valorizando os bens naturais.</p><p>Segundo o (FORUM FOR THE FUTURE, 2012):</p><p>A sociedade global está diante de uma crise de sustentabilidade por estar</p><p>consumindo seus estoques de capital natural (ambiental ou ecológico), humano</p><p>e social mais rápido do que eles podem ser repostos ou produzidos. E se não</p><p>houver controle da taxa de consumo, não será possível sustentar as ações vitais</p><p>em longo prazo. Sendo extremamente importante que num futuro próximo,</p><p>através de um processo dinâmico, a sociedade gerencie seus bens de capital no</p><p>longo prazo com o objetivo de alcançar o equilíbrio entre suas atividades</p><p>ambientais, sociais e econômicas.</p><p>De acordo com (CAVALCANTI, 1995, p.21) não existe economia da sustentabilidade, nem uma única forma</p><p>de chegar aos predicados de uma vida sustentável, bem como apenas uma teoria ecologicamente</p><p>equilibrada. O que existem são diversos métodos de compreender e entender a questão, agrupando-os e</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>47</p><p>assim buscar sanar as necessidades de uma população sem comprometer as demais, bem como as que</p><p>estão por vir, pensando e respeitando os demais ao mesmo passo em que realizam suas carências.</p><p>Ou seja, o conhecimento amplo e diversificado sobre conforto, composição físico-química de materiais,</p><p>questões ambientais, entre outras questões importantes para a arquitetura sustentável são de grande</p><p>valia para a formação de profissionais capacitados para o desenvolvimento de ações, práticas e fabricação</p><p>de materiais compósitos, que respeitem ao meio ambiente e que visem a melhor relação entre ser humano</p><p>e natureza, ambos existindo e respeitando um ao outro.</p><p>4.3. CURRÍCULO ACADÊMICO DOS CURSOS DE ARQUITETURA E URBANISMO</p><p>Sua matriz curricular é definida através da resolução MEC / CNE/CES Nº 02/2001 tendo 3 unidades</p><p>dividindo-a em dois núcleos de conteúdo e um trabalho de curso. Os núcleos de conteúdo são constituídos</p><p>de conhecimentos de Fundamentação e Conhecimentos Profissionais, onde o primeiro é integrado pelos</p><p>quatro tópicos, que entre os mesmos possui o tópico “Estudos Ambientais”, e no segundo núcleo são</p><p>definidos dez tópicos, sendo um relativo a Conforto Ambiental, restringindo bastante no que se refere a</p><p>repasse de informações ambientais.</p><p>Ao analisar a matriz do curso de uma forma geral percebe-se rapidamente a necessidade da</p><p>implementação de temas relacionados a produção de arquitetura sustentável, seja através da alteração no</p><p>planejamento de algumas disciplinas, na inserção de artigos e estudos, ou até mesmo ser considerada a</p><p>inclusão de disciplinas que relacionem-se diretamente com as demais, em vista da relação de integração</p><p>entre os assuntos abordados no decorrer do curso.</p><p>Dessa forma, haverá maior capacitação dos alunos e futuros profissionais de arquitetura e urbanismo,</p><p>criando senso crítico, instigando a pesquisa e busca por aprofundamento de conhecimento na área, bem</p><p>como embasando os mesmos para produção de estudos e edifícios que façam uso de meios e técnicas</p><p>sustentáveis, desempenhando sua função principal, ao mesmo passo em que respeita e considera as</p><p>questões ambientais.</p><p>Todo edifício, em seu processo de construção, o qual consiste desde o momento de projeto/idealização,</p><p>passando pela execução da obra e a operação do edifício, devem receber práticas sustentáveis, e para que</p><p>sejam bem sucedidos em todos os pontos, deve haver integração entre os elementos, afim de que consiga</p><p>atingir os requisitos de ambientais, sociais, financeiros, entre outros, melhorando a vida das sociedades</p><p>envolvidas direta e indiretamente no processo, segundo (PLESSIS, 2002).</p><p>4.4. NECESSIDADE DA ATUALIZAÇÃO DA GRADE CURRICULAR NO CURSO DE ARQUITETURA E</p><p>URBANISMO</p><p>Segundo (BARRETO, 2001) o ensino passa necessariamente por mudanças com o decorrer dos anos, visto</p><p>que o campo de pesquisa/científico deve estar atualizado quanto as necessidades de sua sociedade de</p><p>estudo, por isso a importância da atualização da grade curricular do curso de Arquitetura, tornando-os</p><p>mais próximos do que é muito solicitado atualmente, a arquitetura sustentável.</p><p>Diversos estudos comprovam a necessidade da mudança de pensamentos e ações quanto as matrizes</p><p>curriculares, entre os autores que comprovam tal afirmação vale citar (KOVALESKI, 2009) e (SOUSA et.al,</p><p>2009) os quais dizem que é necessária a revisão curricular acadêmica dos cursos relacionados ao setor da</p><p>construção civil, afim de inserir nos mesmos os conceitos de sustentabilidade.</p><p>Os arquitetos e urbanistas desenvolvem papéis importantíssimos dentro da sociedade, influenciando</p><p>diretamente no funcionamento de cidades, nos sentimentos de bem-estar dentro e fora de edifícios, na</p><p>fabricação e utilização de materiais, inferindo em diversas práticas e ações de diferentes setores e meio de</p><p>trabalho.</p><p>Por isso a inserção de temas voltados a sustentabilidade dentro do currículo acadêmico dos cursos de</p><p>Arquitetura e Urbanismo trata-se também de interdisciplinaridade, o que acaba por integrar as disciplinas</p><p>ministradas pelos professores, recebendo uma nova forma de ser vista, sob óticas de outras áreas e</p><p>setores, conforme (BRASIL, 2002), afim de que sejam agregados conhecimentos distintos que possuem a</p><p>mesma finalidade, produção de boa arquitetura.</p><p>Dentre as questões que são de grande importância dentro da arquitetura atualmente, vale ressaltar os</p><p>projetos, a construção e a gestão de edifícios com certificação, o que acaba por garantir que os mesmos</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>48</p><p>respeitem normas e diretrizes em conformidade com os padrões sustentáveis, evidenciando o caráter</p><p>social e ambiental de seus profissionais.</p><p>Outra questão é o uso de materiais compósitos, formados a partir do reuso de diversos resíduos</p><p>juntamente com outras matérias-primas, dando um novo uso aos mesmos, como pode ser visto na Figura</p><p>01, mostrando blocos de concreto fabricados com pó de serra como agregado miúdo, favorecendo ao meio</p><p>social devido à formação de oportunidades de trabalho, melhoria de tráfego em vias onde possuam</p><p>resíduos em sua extensão; de pesquisa, com a produção de estudos e análises científicas sobre o tema;</p><p>ambiental, através da retirada de materiais antes destinados em locais inadequados e com reuso de</p><p>resíduos; entre outros.</p><p>Figura 01: Bloco de concreto fabricado com pó de serra como agregado miúdo.</p><p>Fonte: www.unicamp.br. 2014</p><p>Segundo (SOBREIRA, 2009), a base da sustentabilidade encontra-se no uso de ações passivas, na criação</p><p>de alternativas de projeto, opções de materiais, técnicas e afins, adequando as necessidades do referido</p><p>juntamente as questões ambientais.</p><p>Trabalhando com a proximidade dos alunos e futuros profissionais com estes temas, haverá uma formação</p><p>mais completa e os tornará mais aptos para as solicitações de mercado atuais, favorecendo com sua</p><p>inserção no mesmo, e a presença em maior número de profissionais habilitados e capacitados para</p><p>trabalhar em conformidade com as questões ambientais e sustentáveis.</p><p>4.5. MATRIZ CURRICULAR DO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO</p><p>A introdução da sustentabilidade, dentro do curso de arquitetura e urbanismo na experiência de agrupar</p><p>ao ensino das universidades, iniciou em 1961 e foi tendo como embasamento a UNB (Universidade do</p><p>Brasil). A partir de então, nasceram as primeiras LBDEN (Leis de</p><p>Diretrizes e Bases da Educação</p><p>Nacional), que dariam origem a primeira reforma em 1969 (VILELLA, 2007).</p><p>Ainda em 1961, havia a distinção das disciplinas básicas dentro da grade curricular, como matérias</p><p>profissionais. Em 1994, o então ministro da educação Murilio Hingel constituiu através da portaria n°</p><p>1.770 as novas diretrizes curriculares do curso de arquitetura e urbanismo, sendo acrescidas como</p><p>disciplinas obrigatórias: conforto ambiental, informática e os trabalhos de conclusão de curso (VILELLA,</p><p>2007).</p><p>Diante de tudo isso era perceptível que ainda não existiam relações aplicadas e mais diretas das</p><p>disciplinas de Estudos Sociais e Ambientais, e Conforto Ambiental junto as demais, as questões ecológicas</p><p>e das ambientais. Somente a partir de 2006 é que foram passar a existir diretrizes que viessem a ressaltar</p><p>tais questões e relacionar interdisciplinarmente cada uma dentro do currículo do curso.</p><p>Atualmente a matriz curricular do curso é instituída através da (Resolução nº 6, de 2 de fevereiro de</p><p>2006), a qual traz ao conhecimento de quem a lê a organização do mesmo, o padrão das disciplinas, entre</p><p>outros dados que são de cumprimento obrigatórios por parte das instituições que pleiteiam a aprovação</p><p>de seus cursos juntamente ao MEC.</p><p>Dentre as diversas providências tomadas no corpo do documento, vale ressaltar algumas, por exemplo, o</p><p>que diz no (MEC, 2006) no artigo 4º, que trata do perfil esperado do futuro profissional de arquitetura e</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>49</p><p>urbanismo, dentre os quais, existe o item d, que diz: “proteção do equilíbrio do ambiente natural e</p><p>utilização racional dos recursos disponíveis”, mostrando a importância da formação de arquitetos e</p><p>urbanistas comprometidos com o meio ambiente, e que realizem suas funções seguindo diretrizes que</p><p>respeitem o meio ambiente.</p><p>Porém, essa expectativa acaba por ficar sem definição clara, abrindo brechas para diversas disciplinas, que</p><p>por vezes são tidas como estudos ambientais, quando de fato não proporcionam o devido embasamento</p><p>teórico e prático para seus alunos, sanando apenas em partes a referida diretriz.</p><p>Conforme o artigo 6°, § 2º do (MEC, 2006):</p><p>“O núcleo de conhecimentos profissionais será composto por campos de saber</p><p>destinados à caracterização da identidade profissional do arquiteto e urbanista</p><p>e será constituído por: Teoria e História da Arquitetura, do Urbanismo e do</p><p>Paisagismo; Projeto de Arquitetura, de Urbanismo e de Paisagismo;</p><p>Planejamento Urbano e Regional; Tecnologia da Construção; Sistemas</p><p>Estruturais; Conforto Ambiental; Técnicas Retrospectivas; Informática Aplicada</p><p>à Arquitetura e Urbanismo; Topografia”.</p><p>Como pode ser observado no parágrafo anterior, não existe um núcleo específico para arquitetura</p><p>sustentável dentro da matriz curricular do curso, o que deixa clara a importância de implementar</p><p>disciplinas e alternativas dentro de algumas já existentes, podendo se dar através de tópicos e ensinos a</p><p>respeito da sustentabilidade aplicada.</p><p>Ao mesmo tempo em que espera-se a formação de profissionais que consigam equilibrar o ambiente</p><p>natural, e fazer uso devido dos recursos naturais dentro da produção de seus trabalhos, não há disciplinas</p><p>e preparação adequada em grande parte das IES que proporcionem tais embasamentos para que os</p><p>futuros profissionais venham desenvolver seu trabalho da forma pelos quais são exigidos pela sociedade.</p><p>No que tange a formação dos arquitetos e urbanistas, mais precisamente as atribuições profissionais dos</p><p>mesmos, a Lei n.°12378, de 31 de dezembro de 2010 é direta quanto a relação dos mesmos para com a</p><p>sustentabilidade, em seu parágrafo único que aborda suas atividades:</p><p>“XI - do Meio Ambiente, Estudo e Avaliação dos Impactos Ambientais,</p><p>Licenciamento Ambiental, Utilização Racional dos Recursos Disponíveis e</p><p>Desenvolvimento Sustentável”.</p><p>São diversas as formas pelas quais podem ser ministradas disciplinas e ensinos referidos à arquitetura</p><p>sustentável, assim como os temas à serem abordados, estes não precisam ser necessariamente estudos</p><p>complexos e aprofundados, deixando-os por parte de quem buscar desenvolver trabalhos de iniciação</p><p>científica, de conclusão de curso, especialização, oficinas, e afins, visto que serão novidades em meio a</p><p>formação dos alunos dentro das instituições de ensino, e por isso, não deve ser algo que cause espanto</p><p>para com os alunos, porém, tratar-se de mudanças gradativas em suas rotinas de estudo.</p><p>A quantidade de disciplinas relacionadas a arquitetura sustentável na maioria das instituições de ensino</p><p>superior é muito pequena se comparada as demais. Foi realizado um levantamento rápido e conciso à</p><p>cerca de algumas instituições de ensino, afim de observar a frequência de disciplinas com a presença de</p><p>temas sustentáveis aplicados à arquitetura.</p><p>No levantamento dos dados de pesquisa foi possível observar IES que não possuem nenhuma disciplina</p><p>aplicada à arquitetura sustentável em sua grade curricular, outras apenas 1 (uma), e algumas que</p><p>conseguem desenvolver com maior êxito esta prática, admitindo uso de mais de 1 (uma) em seu corpo</p><p>curricular.</p><p>Entre as IES que não possuem nenhuma disciplina relacionada ao tema, como, por exemplo a (UFPA,</p><p>2008), vemos a situação preocupante das grades curriculares de algumas instituições no Brasil,</p><p>evidenciando a necessidade da atualização das suas grades, das práticas e ações dentro das mesmas.</p><p>Conforme dados do levantamento abordado acima existe o exemplo da (UFES, 2013), que só possui uma</p><p>disciplina com proximidade do tema, a: “Tecnologia Recursos Naturais”, a qual aborda um tema muito</p><p>interessante e relevante dentro da arquitetura sustentável: o uso de materiais compósitos a partir de</p><p>resíduos, o que interage com diversos setores sociais simultaneamente.</p><p>A (FACI-WYDEN, 2018) oferece uma disciplina bastante interessante e que fica mais próximo do que é</p><p>solicitado atualmente aos profissionais da Arquitetura e Urbanismo: “Fundamentos de Bioclimatologia e</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>50</p><p>Sustentabilidade”, abordando o tema sustentabilidade de forma direta, integrando o mesmo com os que</p><p>norteiam as demais disciplinas, abrangendo ainda mais o círculo de conhecimento de seus alunos.</p><p>Um ótimo exemplo de IES é a (USP, 2018), que em sua grade curricular do curso apresenta 1 (uma)</p><p>disciplina que trata de forma direta sobre sustentabilidade: “Desempenho Ambiental, Arquitetura e</p><p>Urbanismo”, assim como a maioria das IES, porém, como optativas possui várias disciplinas no ramo,</p><p>possibilitando o acesso à diversos temas e conteúdos para seus alunos, por exemplo: “Reciclagem e</p><p>Reforma de Edificação”, “Gestão Ambiental Urbana”, “Ambiente Construído e Desenvolvimento</p><p>Sustentável”, “Arquitetura, Ambiente, e Desenvolvimento Sustentável”, e “Design para a Sustentabilidade”,</p><p>sendo um ótimo exemplo de grade curricular para as demais IES do Brasil, pois traz apenas uma disciplina</p><p>como obrigatória, porém, possibilita o acesso as informações referentes à arquitetura sustentável de</p><p>forma ampla e fácil.</p><p>Segundo (BONFIM, 2017), os problemas ambientais devem ser tratados e resolvidos entre o poder</p><p>público, privado, juntamente com a sociedade, trabalhando todos em conjunto para que haja de fato</p><p>solução nos problemas enfrentados; este também levanta a questão da baixa ou ineficientes repercussão e</p><p>ensino referentes ao tema dentro das IES’s.</p><p>O autor acima citado chega a conclusão que a educação ambiental é necessária para que todo ser humano</p><p>perceba sua interação no meio ambiente, suas funções, relações e afins, deixando mais claras questões</p><p>referentes às implicações de suas ações sob o meio natural e social em que o mesmo está inserido, e que</p><p>como parte do processo de educação, podem vir associadas algumas proibições e medidas legislativas</p><p>como alternativas de reeducação para quem entrar em desacordo com as normas e leis postas em vigor</p><p>(BONFIM et al., 2017).</p><p>Como prova da importância a</p><p>sustentabilidade e ambiental dentro da formação dos alunos de Arquitetura</p><p>e Urbanismo, (PARANÁ, 1997, p.1) afirma que: “A educação ambiental é o resultado de uma reorientação e</p><p>articulação de diversas disciplinas e experiências educativas que facilitam a percepção integrada do meio</p><p>ambiente, tornando possível uma ação mais racional e capaz de responder às necessidades sociais[...]”.</p><p>Segundo (PINHEIRO, 2020, p. 127) “a conscientização dos profissionais e o incentivo ao estudo e aplicação</p><p>de práticas que aproximem a construção civil do desenvolvimento sustentável e do ambiente, é possível e</p><p>indispensável, pois, as cidades com suas edificações são um dos maiores instrumentos de transformação</p><p>do meio”.</p><p>Esta afirmação mostra a importância da devida capacitação referente aos profissionais da construção civil</p><p>dentro dos padrões da sustentabilidade, devido a grande influência de seus trabalhos para com o meio</p><p>social e ambiental da sociedade em que estão inseridos, podendo os mesmos favorecer ou trazer</p><p>problemas para a mesma.</p><p>4.6. A NECESSIDADE DE PROFISSIONAIS APTOS À PRODUÇÃO DE ARQUITETURA SUSTENTÁVEL</p><p>Segundo (LEEF, 2001), as cidades modificaram-se rapidamente devido a busca por capital e crescimento</p><p>financeiro, agrupando ao mesmo tempo consumo e produção, desgastando assim os bens naturais, além</p><p>de estarem desperdiçando energia, água, e outros de forma rápida; assim como também aborda o conceito</p><p>de racionalidade ambiental, que seria um conjunto de ações e práticas de caráter social, possibilitando a</p><p>implantação de conhecimentos científicos e empíricos ao mesmo tempo.</p><p>Devido ao aumento nas discussões referentes à sustentabilidade, meio ambiente e gestão de recursos</p><p>naturais, a demanda por práticas, ações, e profissionais habilitados para o desenvolvimento de atividades</p><p>voltadas para estes temas, também têm crescido substancialmente em todo o mundo, pois atualmente a</p><p>sociedade vem percebendo cada dia mais a necessidade da manutenção de seus bens naturais e do planeta</p><p>como um todo, garantindo qualidade de vida no presente e futuro.</p><p>Entretanto, a formação de profissionais que visem o uso de tecnologias alternativas, novas e</p><p>independentes não deve ser o foco da Arquitetura Sustentável de acordo com (VEIGA, 2010) que diz “(...)</p><p>muitas sociedades já demonstraram notável talento em introduzir tecnologias que conservam os recursos</p><p>que lhe são escassos”.</p><p>(AMODEO; BEDENDO; FRETIN, 2006) apontam a grande responsabilidade dos arquitetos dentro deste</p><p>sistema devido seu compromisso e engajamento com a situação da paisagem urbana e suas influências na</p><p>vida de seus usuários, por isso, os mesmos deveriam ter o mesmo compromisso: “na busca de soluções</p><p>técnicas, econômicas e sociais viáveis para o desenvolvimento da sustentabilidade”.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>51</p><p>Conforme (HAWKEN, 2002) o caráter do Capitalismo Natural está ganhando maiores proporções ao passo</p><p>de cada dia, onde já é percebido no meio da arquitetura, encontrando neste um grande aliado, sendo isso</p><p>evidenciado pelo fato de que lugares planejados de acordo com suas necessidades e de seus usuários de</p><p>forma justa acabem por gerar economia a longo prazo. Além dos denominados de “prédios verdes”, que</p><p>são relativamente mais baratos que os convencionais, possuem estética única, e têm toda possibilidade de</p><p>alterações e ajustes de acordo com as necessidades da atual sociedade.</p><p>Segundo (ADAM, 2001), as construções e os edifícios necessitam operar como sistemas integrados,</p><p>relacionando diretamente cada instalação dentro do complexo civil, sejam estas elétricas, hidráulicas,</p><p>telefonia, e as demais que vierem a existir na operação do mesmo, as tecnologias usadas em sua execução</p><p>devem possuir caráter social até maior técnico, devido toda influencia que o edifício desempenha sobre</p><p>seu entorno, na Figura 02 pode-se observar um exemplo de construção sustentável.</p><p>Figura 02 :Edifício Jacarandá – SP: certificação LEED Platinum.</p><p>Fonte:</p><p>Estes pensamentos vêm reafirmar a certeza de que é necessário preocupar-se antes de tudo com o meio</p><p>ambiente e com as pessoas envolvidas em todo o processo construtivo e operacional de cada edificação,</p><p>capacitando devidamente os profissionais integrantes de todo o processo, para que haja assim uma</p><p>satisfatória relação entre as atividades realizadas em prol das construções.</p><p>Na figura 03 temos um conjunto habitacional localizado em Victoria, na Austrália, pela construtora</p><p>australiana Hansen Yuncken. O edifício opera com um conjunto de ações e métodos componentes da</p><p>arquitetura sustentável, onde foram utilizados materiais compósitos em sua execução, placas</p><p>fotovoltaicas, aquecimento natural a partir do sol, tratamento de água, coleta e uso de águas pluviais.</p><p>Figura 03:Conjunto residencial em Victoria, Austrália</p><p>Fonte:</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>52</p><p>Outro exemplo de edifício que segue os padrões da arquitetura sustentável é o Bank of America – New York, prédio</p><p>localizado em Nova Iorque/Estados Unidos, projetado por Cook + Fox Architects. Foi projetado utilizando-</p><p>se de materiais reciclados e reutilizados, fazendo assim uso de renovação dos ciclos de diversos materiais.</p><p>Assim como também faz uso de sistema de reuso das águas pluviais dentro de parte do seu sistema</p><p>hidrosanitário, além de faces envidraçadas, utilizando a luz solar ao máximo, tanto para iluminação,</p><p>quanto para aquecimento em parte do edifício, como pode ser visto na figura 04.</p><p>Figura 04:Bank of America – New York</p><p>Fonte:</p><p>Comumente o setor da construção civil não preocupa-se em realizar o reaproveitamento de materiais já</p><p>utilizados em seus processos, sem contar com as solicitações de forma superdimensionadas, acabando por</p><p>gerar diversos problemas à sociedade, como a saúde, mobilidade, financeiro, entre outros, muito disso</p><p>deve-se a falta de educação a respeito do reuso de materiais, o que poderia ser facilmente combatido e</p><p>resolvido através da aplicação devida métodos e ações que viessem a melhorar a vida de seus usuários.</p><p>Apoiar, explicar e difundir a Arquitetura Sustentável comprova e manifesta o compromisso do ser humano</p><p>com o ambiente, mostrando a importância e influência que os edifícios possuem sobre a sociedade em que</p><p>estão inseridos, garantindo ao mesmo tempo às necessidades do local e a manutenção de bens naturais</p><p>para as sociedades futuras, além de transformar significados que uma construção pode ter diante de seus</p><p>usuários, podendo a mesma trazer paz, bem-estar e relaxamento para quem utilizar os referidos locais.</p><p>4.7 ALTERAÇÕES PROPOSTAS DENTRO DAS GRADES CURRICULARES DO CURSO DE ARQUITETURA</p><p>E URBANISMO PELO BRASIL</p><p>Como já fora mencionado anteriormente, o meio científico voltado à construção civil é um grande aliado</p><p>na luta pela manutenção dos bens naturais do meio ambiente, visto que este setor funciona como um</p><p>grande usuários desses bens afim de sanar suas necessidades diárias, então, o correto tratamento com o</p><p>setor trará simultâneos benefícios à natureza e ao homem.</p><p>Para que haja essa interação de forma harmônica e eficiente, é de grande importância que esta venha ter</p><p>início o mais rápido possível, afim de criar e seguir parâmetros e diretrizes segundo os padrões solicitados</p><p>para a produção de arquitetura sustentável, portanto, propõe-se que esta relação tenha início desde a fase</p><p>projetual, para que tudo venha ser moldado a partir deste modelo.</p><p>Todo esse pensamento acaba por afirmar a necessidade sobre os devidos planejamentos de cada etapa</p><p>existente dentro do processo construtivo, conhecendo a fundo cada uma, para que então seja possível</p><p>reduzir ao máximo os impactos ambientais produzidos pela obra, e assegurar o cumprimento de cada</p><p>necessidade do empreendimento conforme o orçamento do mesmo (JOHN, 2010).</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>53</p><p>É necessário por parte de qualquer projetista conhecer as necessidades de seu cliente, do edifício em</p><p>questão, bem como seguir normas e diretrizes, das mais diversas origens, afim de obter aprovação diante</p><p>dos órgãos competentes. Por isso, é importante que os mesmos sigam padrões pré-estabelecidos por</p><p>certificações ambientais, afim de que sejam produzidos projetos ambientalmente corretos, e que terão</p><p>diversos benefícios, para seus proprietários, usuários e ao meio ambiente em geral; assim como o uso de</p><p>materiais frutos do reuso de resíduos sólidos, que seriam descartados, muitas das vezes em locais</p><p>inadequados.</p><p>Dentre os diversos pontos que são importantes para aplicação dentro da arquitetura sustentável vale</p><p>ressaltar dois que são: o uso de resíduos sólidos dentro da construção civil (Figura 05) e as certificações</p><p>ambientais (Figura 06), por se tratarem de ações atuais e que contribuem para o melhor funcionamento</p><p>dos sistemas dentro de edifícios.</p><p>Figura 05: Figura 06:</p><p>Bloco de solo-cimento fabricado com serragem de</p><p>madeira.</p><p>Fonte:(SILVA, Sandra, 2005)</p><p>Exemplos de certificações ambientais para a construção</p><p>civil.</p><p>Fonte:</p><p>Estes podem ser inseridos na grade curricular dos cursos de Arquitetura e Urbanismo sem causar conflitos</p><p>com as disciplinas já existentes, pelo contrário, viriam a auxiliar ainda mais a formação dos futuros</p><p>arquitetos, auxiliando assim na inserção destes conceitos de maneira mais eficiente.</p><p>Diante da importância do setor da construção civil e todo seu raio de influência no que envolve pessoas,</p><p>materiais, locais e outros quesitos dentro de uma sociedade, justifica-se a relevância das certificações</p><p>ambientais para edifícios e complexos, mostrando e explicando quais existem, seus quesitos, para o que,</p><p>onde são mais adequadas e como obtê-las, aproximando os futuros arquitetos e urbanistas desta questão</p><p>dentro da arquitetura.</p><p>Dentre as diversas certificações existentes indica-se o ensino mais específico de pelo menos dois: a LEED</p><p>(Lidership in Energy and Environmental Design) desenvolvida nos Estados Unidos e AQUA-HQE (Alta</p><p>Qualidade Ambiental) certificação inicialmente brasileira, formulada a partir dos conceitos da HQE (Haute</p><p>Qualité Environnemetale), de origem francesa,</p><p>Por se tratar de uma certificação bastante requisitada e utilizada ao redor do mundo, vale ressaltar a</p><p>quantidade de edifícios que obtiveram a mesma, sendo esta a que possui maior representatividade dentro</p><p>do Brasil, como pode ser observado na tabela 01, colocando o País em 4° no ranking de países com maior</p><p>número de certificações.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>54</p><p>Tabela 01:</p><p>Ranking de países com mais quantidade de edifícios certificados</p><p>Para obtenção da certificação existem alguns pré-requisitos à serem seguidos, que conforme o</p><p>cumprimento de cada um, são contabilizados pontos que farão o enquadramento do edifício dentro dos</p><p>níveis, que seguem a seguinte forma. Conforme a figura 05, sem o cumprimentos dos tais, não haverá</p><p>outorga de certificação de forma alguma.</p><p>Figura 07:Níveis de certificação</p><p>Fonte: Adaptado de USGBC</p><p>Além dos pré-requisitos, que são itens obrigatórios à serem seguidos, existem os créditos, que são</p><p>recomendações opcionais apenas e tendo seu valor de pontuação variando segundo a categoria à ser</p><p>pretendida, sendo que quanto maiores os impactos, maior é sua relevância para com os demais, trazendo</p><p>maiores benefícios ao meio ambiente, além de favorecer sua condição junto ao sistema de certificação.</p><p>Outra certificação indicada para fazer parte da grade curricular do curso de Arquitetura e Urbanismo</p><p>dentro desta reforma, que por nós é proposta trata-se da AQUA-HQE (Alta Qualidade Ambiental), a qual a</p><p>partir de 2013 passou a fazer parte do grupo das certificações com identidade e reconhecimento</p><p>internacional.</p><p>Conforme (VANZOLINI, 2015) o procedimento de certificação utiliza-se de uma Sistema de Gestão do</p><p>Empreendimento - SGE, o qual possibilita a operação e a gerência de todos os processos do local,</p><p>tramitando entre as fases projetuais, de execução e operação do edifício, fases estas que devem ser de</p><p>acordo com padrões de um modelo de Qualidade Ambiental do Edifício – QAE.</p><p>No decorrer do processo de certificação AQUA-HQE, o empreendimento postulante deve obter uma</p><p>condição mínima segundo os padrões da mesma: atingir pelo menos três categorias no nível MELHORES</p><p>PRATICAS, quatro categorias no nível BOAS PRATICAS e sete categorias no nível BASE, de acordo com</p><p>perfil ambiental estabelecido na fase de pré-projeto, como pode ser observado através da Figura 08.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>55</p><p>Figura 08: Perfil Mínimo de desempenho para certificação</p><p>Fonte: (VANZOLINI, 2015)</p><p>De posse do conhecimento à respeito das características desta certificação, os alunos sairão das</p><p>universidades com olhar mais crítico no que refere-se às questões ambientais de um edifício, além de</p><p>auxiliar no processo de produção projetual de cada um, tornando-os mais completos do ponto de vista</p><p>técnico, e social, devido suas preocupações e soluções de projeto.</p><p>5 CONSIDERAÇÕES</p><p>Os estudos até aqui realizados vieram para comprovar a importância do devido conhecimento e aplicação</p><p>dos termos relacionados à sustentabilidade dentro da arquitetura, haja visto que as alterações no meio</p><p>ambiente relacionadas às ações antrópicas são perceptíveis, bem como suas inferências sobre o mesmo.</p><p>Cabe a todos a tomada de atitudes que venham afastar-se ao máximo de ações que possam agravar ainda</p><p>mais os problemas já conhecidos, e a partir de então, fazer uso de ações que venham sanar as necessidades</p><p>dos seres humanos, sem comprometer às gerações futuras.</p><p>De posse deste conhecimento, também foi mostrada a carência das grades curriculares do curso de</p><p>Arquitetura e Urbanismo entre as diversas instituições pelo Brasil, além das propostas de inserção de</p><p>assuntos pertinentes ao tema da Arquitetura Sustentável dentro das grades curriculares, e como esta ação</p><p>favoreceria a formação dos futuros arquitetos e urbanistas, possibilitando aos mesmos maior proximidade</p><p>com o que já vem sendo solicitado aos profissionais ao redor do mundo, proporcionando mais facilmente a</p><p>inserção destes no mercado de trabalho, e proporcionando à sociedade serviços qualificados em relação</p><p>ao tema.</p><p>É de responsabilidade nossa, como arquitetos e urbanistas, a realização de trabalhos e estudos que</p><p>venham contribuir com o meio científico e ampliar o conhecimento à respeito de temas pertinentes a</p><p>nossa área de atuação. No caso deste trabalho espera-se que venham ser atendidas as propostas dispostas</p><p>em seu desenvolvimento, visto que foram mostradas as necessidades, o que pode agir como aliado na</p><p>solução da problemática, como aplicar, assim como a viabilidade do exercício do proposto.</p><p>No cumprimento do que foi proposto, espera-se a formação de uma nova geração de profissionais, mais</p><p>preocupados e comprometidos com o meio ambiente e social, recebendo assim capacitação acadêmica</p><p>adequada e eficiente para o desenvolvimento de seus trabalhos segundo os conceitos da arquitetura</p><p>sustentável, e inserindo-se mais rapidamente no mercado conforme o que vem sendo solicitado pelo</p><p>mesmo.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>[1] Adam, Roberto S. – Principios do Ecoedificio – Interacao entre Ecologia, Consciencia e Edificio – São Paulo:</p><p>Aquariana, 2001.</p><p>[2] Amodeo, W.; Bedendo, I.; Fretin, D. Conceitos de Sustentabilidade em Arquitetura S.O.S. ARQ: Sistema de</p><p>Orientação em Sustentabilidade na Arquitetura Brasileira. In: Nutau, 2006, São Paulo. Anais... São Paulo: Fauusp, 2006.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>56</p><p>[3] Barreto, M. M,; Salgado, M. S. (2001) “O ensino de</p><p>estimular al estudiante a construir su propia capacidad</p><p>instrumental, reflexiva, crítica y de autogestión de conocimiento en la transformación de nuestra realidad.</p><p>El proyecto de investigación desarrollado durante los años 2013-2017 (PID SCYT Arq.135) consolidó una</p><p>didáctica para el proceso proyectual como una sucesión de trans-formaciones encadenadas que fue</p><p>incorporando progresivamente trayectos experimentales a escala 1:1 en una apuesta hacia el aprendizaje</p><p>situado, la participación corporal en la lectura de los territorios y el vínculo con la práctica artesanal. La</p><p>experiencia contribuyó sustancialmente a la capacidad perceptiva del espacio, el manejo de la</p><p>performatividad de los materiales y sus técnicas constructivas. A partir de estos últimos avances, se</p><p>introdujeron ejercitaciones experimentales en cada una de las fases del proceso de trans-formación,</p><p>avanzando no solo en la estimulación de los aspectos perceptivos y performativos de la construcción 1:1,</p><p>sino también en la capacidad de interrelación con el paisaje en sus materiales físicos y simbólicos.</p><p>Actualmente se trabaja con una secuencia didáctica de contextualización-descontextualización-</p><p>recontextualización, que incluye una parametrización del proceso de determinación a partir de “tipos”</p><p>elaborados en una articulación entre el estudio del proceso de formación y transformación del territorio</p><p>con los patrones de organización espacial del programa específico en cada caso. El proyecto de</p><p>investigación obtuvo el Premio Barbieri de la Bienal de Arquitectura Argentina 2018 y la Beca a la</p><p>Producción 2018 del Fondo Nacional de las Artes.</p><p>Palavras-chave: escala 1:1, experimental, proceso</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>8</p><p>1. INTRODUCCIÓN</p><p>Esta ponencia refiere a un proyecto de investigación donde se exploran las posibilidades pedagógicas y</p><p>disciplinares en la introducción a ejercitaciones en escala real que funcionan como dispositivos de</p><p>interfaz entre sucesivas instancias de transformaciones en el proceso de determinación de la</p><p>Arquitectura en los tres primeros años de la carrera.</p><p>El motivo de la investigación se asienta en la identificación de falencias en las competencias y destrezas</p><p>adquiridas por los estudiantes como resultado del sistema tradicional enseñanza-aprendizaje en nuestra</p><p>casa de estudios. De este modo, se intenta superar los modelos de relación docente-estudiante de escaso</p><p>nivel de sistematicidad (el referente, el maestro, el corrector, el sistema empaquetado), así como el</p><p>carácter a-situado de las propuestas proyectuales derivadas del paradigma de composición formal y del</p><p>campo estrictamente especulativo y representativo.</p><p>El objetivo de la propuesta es aportar alternativas al proceso de enseñanza-aprendizaje del proyecto</p><p>arquitectónico que impulsen competencias y destrezas vinculadas a la producción de la arquitectura en el</p><p>contexto sudamericano. Un contexto que demanda un perfil de profesional capaz de desenvolverse en la</p><p>gestión de la contingencia y la expresión de lo disponible. Este cambio de concepción requiere de la</p><p>priorización del campo experimental y empírico, la incorporación de procesos sistemáticos que puedan</p><p>ser monitoreados, y la reformulación disciplinar dentro del propio origen epistemológico de la palabra</p><p>Arquitectura. De este modo, intentamos estimular al estudiante a construir su propia capacidad</p><p>instrumental, reflexiva, crítica y de autogestión de conocimiento en la transformación de nuestra</p><p>realidad.</p><p>El proyecto de investigación desarrollado durante los años 2013-2017 (PID SCYT Arq.135)1consolidó una</p><p>didáctica para el proceso proyectual como una sucesión de transformaciones encadenadas2 que fue</p><p>incorporando progresivamente trayectos experimentales a escala 1:1 en una apuesta hacia el aprendizaje</p><p>situado, la participación corporal en la lectura de los territorios y el vínculo con la práctica artesanal. La</p><p>experiencia contribuyó sustancialmente a la capacidad perceptiva del espacio, el manejo de la</p><p>performatividad de los materiales y sus técnicas constructivas. A partir de estos últimos avances, se</p><p>introdujeron ejercitaciones experimentales en cada una de las fases del proceso de transformación,</p><p>avanzando no solo en la estimulación de los aspectos perceptivos y performativos de la construcción a</p><p>escala 1:1, sino también en la capacidad de interrelación con el paisaje en sus materiales físicos y</p><p>simbólicos. Actualmente se trabaja con una secuencia didáctica de contextualización-</p><p>descontextualización-recontextualización, que incluye una parametrización del proceso de determinación</p><p>a partir de “tipos” elaborados en una articulación entre el estudio del proceso de formación y</p><p>transformación del territorio con los patrones de organización espacial del programa específico en cada</p><p>caso. El proyecto de investigación obtuvo el Premio Barbieri3de la Bienal de Arquitectura Argentina 2018</p><p>y la Beca a la Creación 2018 del Fondo Nacional de las Artes.4</p><p>2. MARCO TEÓRICO</p><p>Trabajar a escala 1:1 en las materias de proyecto implica invertir el modo tradicional de producción de</p><p>conocimientos sobreponiendo el campo experimental y la base empírica por sobre el campo especulativo</p><p>y de representación. En su obra "The man in the moon" (Lewis Carroll, 1893, Chapter XI), Lewis Carroll</p><p>proponía una discontinuidad ontológica mapa-territorio cuando el territorio está hecho para funcionar</p><p>como su propio mapa.</p><p>1El proyecto "PID SCYT Arq.135, Encadenamientos y traslaciones: una dida ctica interdisciplinaria para la ensen anza-</p><p>aprendizaje del proceso proyectual en primer an o de la carrera de arquitectura.” planteo la necesidad de profundizar</p><p>temas que se abrira n en este nuevo proyecto de investigacio n.</p><p>2Para ampliar el concepto de la teorí a de las trans-formaciones ver Focillon (1948), Kubler (2008) Machado (2004),</p><p>Ovidio (1), Thompson (1917)</p><p>3 El premio Barbieri en marco de la Bienal de Arquitectura Argentina 2018: el taller obtuvo Primer Premio en Pra cticas</p><p>Acade micas . Categorí a: te cnica, artesaní a e industria. (http://biaar.com/ganadoras-practicas-</p><p>academicas/?area=tecnica-artesania-e-industria)</p><p>4 Premio la creacio n Fondo Nacional de las Artes, Buenos Aires, Argentina.2018.</p><p>(https://fnartes.gob.ar/novedades/ganadores-de-becas-creacion)</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>9</p><p>Existía un mapa que había llegado a tener el tamaño del territorio. Al resultar que el mapa arrojaba</p><p>sombra en vez de luz, un grupo de campesinos propone utilizar al país mismo como su propio mapa y es</p><p>en este sentido que la historia de Carroll puede arrojar luz sobre muchas de las prácticas artísticas,</p><p>formativas y políticas contemporáneas que tienen efecto en el territorio dejando de lado la representación</p><p>e incrementando su escala de acción a 1:1. En sentido similar Francesco Careri (2002) en su libro "El</p><p>andar como práctica estética", recorre todas las experiencias de la percepción del paisaje a través del</p><p>cuerpo 1:1 desde el mito de Caín y Abel5, hasta las derivas situacionistas, surrealistas y el minimalismo</p><p>land art. Propone el caminar como acto primario de transformación estética y simbólica del territorio.</p><p>Este cambio de concepción en la producción de conocimientos requiere, así mismo, una reformulación</p><p>dentro del propio origen epistemológico de la palabra arquitectura: la arché, referida al aspecto simbólico</p><p>y metafísico y la techné, referida al aspecto de lo técnico, material. De acuerdo a las definiciones de Dussel</p><p>(1984), la primer condición del hombre no es la inteligencia teórica sino la práctica, y el la define como</p><p>poiesis. La palabra poiesis deriva etimológicamente del término griego ποιέω: hacer, producir, crear y</p><p>refiere al hacer trans-formativo que reconcilia la naturaleza con el hombre, ya que involucraría tanto el</p><p>conocimiento de las cualidades de la materia (la fluidez del agua,</p><p>arquitetura e a metodologia prática na proução do</p><p>conhecimento na Fau/Ufrj”. In: II Enconto Latinoamericano Sobre Ambiente Construído, 2001, São Pedro, Brasil,</p><p>Anais.</p><p>[4] Bonfim, Dirlêi Andrade; Santos, Bruno Sousa; Meira, João Paulo Alves; Correia, Mateus Silva. A educação</p><p>ambiental como uma ferramenta na construção da cidadania. Revista Integrart, [S.l.], v. 1, n. 1, maio 2017.</p><p>Disponível:. Acesso em:</p><p>22/05/2018, às 16:05.</p><p>[5] Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares</p><p>Nacionais: Ensino Médio. Brasília: Ministério da Educação, 2002.</p><p>[6] Cavalcanti, C. V. Breve introdução à economia da sustentabilidade. In: Cavalcanti, C. (Org). Desenvolvimento e</p><p>natureza: estudos para uma sociedade sustentável. São Paulo: Cortez; Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 1995. p.17-</p><p>25.</p><p>[7] Cib/Unep. Agenda 21 for Sustainable Construction in Developing Countries - First discussion document. The</p><p>International Council for Research and Innovationin Building and Construction , 2002;</p><p>[8] Gbc Brasil, Green Building Construction-Brasil, 2016. Níveis de certificação. Disponível em:. Acesso em 30/05/2018, às 08:48.</p><p>[9] Gsbc, U.S. Green Building Construction. Disponível em: . Acesso em 30/05/2018, às 09:45.</p><p>[10] Hawken, P.; Lovins, A.; Lovins, L.H. 2002. Capitalismo natural. São Paulo, Cultrix, 251 p.</p><p>[11] John, Moacyr Vanderley (coordenador); Pprado, Racine Tadeu Araújo (coordenador). Selo Casa Azul Boas</p><p>Praticas para Habitação Mais Sustentável. São Paulo: Páginas & Letras – Editora e Gráfica, 2010.</p><p>[12] Kovaleski, A. C. Educação em conforto ambiental: avaliação da percepção de três públicos-alvo e de duas</p><p>técnicas didáticas. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) - Universidade Federal do Paraná - Ufpr, Curitiba,</p><p>2009. Disponível em: . Acesso em: 13 dez. 2009.</p><p>[13] Mec - Ministério da Educação. Resolução n° 6, de 2 de fevereiro de 2006. Disponível em:</p><p>. Acesso em: 22/05/2018, às 16:32.</p><p>[14] Paraná. Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hidrícos. Primeira conferência intergovernamental sobre</p><p>educação ambiental. 1997. Disponível:</p><p>http://www.meioambiente.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=72 Acesso em: 09 jun. 2017.</p><p>[15] Pinheiro, Gustavo Focesi. O gerenciamento da construção civil e o desenvolvimento sustentável: um enfoque</p><p>sobre os profissionais da área de edificações. 2002. 159f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Faculdade de</p><p>Engenharia Civil, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2002.</p><p>[16] Plessis, C 2002. Agenda 21 for Sustainable Construction in Developing Countries – A distussion document. In</p><p>Constrction Industry Development Board, Pretoria, South Africa.</p><p>[17] Presidência da República-Casa civil. Lei n° 12.378, de 31 de Dezembro de 2010.</p><p>[18] Sobreira, Fabiano. Concursos de arquitetura e sustentabilidade: entre a etórica e a prática - o enfoque</p><p>ambiental nos concursos realizados no Brasil e no Canadá entre 2000 e 2007. (Disponível</p><p>em:http://fabianosobreira.files.wordpress.com/2009/07/concursos-esustentabilidade-fabianosobreira-</p><p>projetar2009.pdf – acesso em 15/06/12).</p><p>[19] Ufes - Universidade Federal do Espírito Santo. Grade curricular do curso de arquitetura e urbanismo 2013.</p><p>Disponível em . Acesso em 22/05/2018, às 14:43.</p><p>[20] Ufpa - Universidade Federal do Pará. Grade curricular do curso de arquitetura e urbanismo 2008. Disponível</p><p>em : . Acesso em 22/05/2018, às 15:34.</p><p>[21] Unced - Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. Agenda 21. 1992.</p><p>[22] Usp - Universidade de São Paulo. Grade curricular do curso de arquitetura eurbanismo2018.Disponível</p><p>em:. Acesso em: 23/05/2018, às</p><p>08:55.</p><p>[23] Vanzolini, Fundação Vanzolini. Certificação Aqua-Hqe em detalhes. 2015. Disponível em:</p><p>. Acesso em: 30/05/2018, às 10:06.</p><p>[24] Veiga, J. E. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Garamond, 2010, 226p.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>57</p><p>Capítulo 5</p><p>Parque de esportes radicais urbanos para Várzea</p><p>Grande</p><p>Silas Carnaúba Barbosa</p><p>Ana Cristina Hillesheim</p><p>Fabiane krolow</p><p>Paula Roberta Ramos Libos</p><p>Resumo: Considerando que a busca pela satisfação esportiva do homem vem desde a</p><p>antiguidade e que os Esportes Radicais podem ser considerados como uma modalidade</p><p>nova na história, o trabalho tem como objetivo apresentar o projeto de uma proposta de</p><p>construção de um Parque de Esportes Radicais para a cidade de Várzea Grande afim de</p><p>incentivar a prática, uma modalidade em crescimento no Brasil, o inserindo na</p><p>sociedade e valorizando esses espaços na cidade. O artigo apresenta a conceituação do</p><p>tema, as investigações teóricas, legais e práticas do espaço e do tema para então discutir</p><p>as diretrizes projetuais e propor o partido arquitetônico ideal para esse modalidade e</p><p>condizente com o local de inserção do projeto.</p><p>Palavras-chave: Desporte. Desporte Radicais. Desporte de Rua. Espaço Urbano.</p><p>Urbanismo</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>58</p><p>1.INTRODUÇÃO</p><p>No contexto urbano atual, a cidade se tornou a temática principal dentro do cenário mundial. Se antes</p><p>tinha-se países no centro das discussões sócio-espaciais, hoje as cidades tentam encontrar formas de</p><p>sustentar em si seus conflitos sociais, econômicos, de ordem estrutural, que afeta todos seus moradores e</p><p>vizinhanças. Dentre estes surge a questão do lazer, pois onde o cidadão encontrará um espaço adequado e</p><p>atrativo onde ele possa desfrutar deste? Como criar um espaço onde o cidadão sinta-se dono e aproprie-se,</p><p>e a cidade abrace este novo espaço, zelando pela sua longevidade? Tais questões serão debatidas neste</p><p>projeto e por fim apresentando uma proposta de espaço de lazer para uma cidade cujo processo de</p><p>conurbação não contribuiu para seu desenvolvimento pleno.</p><p>Para compreender o objetivo deste tema, faz-se necessário em conceituar as palavras que compõe o tema</p><p>para chegar-se a um entendimento específico do que realmente é um Parque de Esportes Radicais Urbano.</p><p>Segundo Castro (2013), um espaço Público é:</p><p>No plural, o termo “espaços públicos” compreende os lugares urbanos que, em</p><p>conjunto com infraestruturas e equipamentos coletivos, dão suporte à vida em</p><p>comum: ruas, avenidas, praças, parques. Nessa acepção, são bens públicos,</p><p>carregados de significados, palco de disputas e conflitos, mas também de festas</p><p>e celebrações.</p><p>Percebe-se então através desta definição que a cidade não é composta apenas por lotes privativos, ela</p><p>depende da consolidação de espaços públicos para poder se definir, se identificar e criar uma imagem de si</p><p>mesma para seus cidadãos.</p><p>Seguindo com a definição do tema, é preciso conceituar o que são Esportes Radicais para fazermos a</p><p>relação com o espaço público.</p><p>Segundo Pereira, UniCamp, Campinas (2014), a definição de esporte radical é:</p><p>[...] o esporte é um fenômeno que apresenta três elementos distintos e complementares: o rendimento</p><p>(competição), a participação (âmbito do lazer, condicionamento físico voluntário ou saúde) e educação</p><p>(formação do sujeito). [...] O termo radical vem do latim e significa raiz ou extremo.</p><p>2.OBJETIVOS DO ESTUDO</p><p>O presente artigo tem como objetivo apresentar o projeto da proposta de um parque de esportes radicais</p><p>urbanos para a cidade de Várzea Grande.</p><p>Os objetivos específicos do trabalho são:</p><p> Pesquisar sobre o tema e áreas correlatas;</p><p> Entender as condicionantes do terreno;</p><p> Apresentar o</p><p>partido arquitetônico e a definição projetual para o local ideal de implantação na</p><p>cidade.</p><p>3.METODOLOGIA (OU MATERIAIS E MÉTODOS)</p><p>O artigo apresenta a proposta de um projeto de um parque para esportes radicais na cidade de Várzea</p><p>Grande, para investigação sobre o tema foi realizada a pesquisa teórico-científico sobre temas de áreas</p><p>correlatas. Em paralelo foi realizada a investigação do local, o levantamento do terreno e informações</p><p>legais que devem ser condicionantes de projeto e por fim a apresentação do projeto, descrevendo o</p><p>projeto com o auxílio de imagens foto realísticas.</p><p>4.RESULTADOS E DISCUSSÃO</p><p>4.1 DIAGNÓSTICO DA ÁREA E CONDICIONANTES LEGAIS</p><p>A Cidade escolhida para implantação deste projeto é Várzea Grande, vizinha de Cuiabá, capital do Estado</p><p>de Mato Grosso (figura 01). Várzea Grande é uma Cidade que muito carece de espaços públicos de Lazer.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>59</p><p>A escolha do terreno para a implantação do projeto, se baseou no conceito de se estabelecer um local no</p><p>centro da cidade, acessível a todos os moradores do bairro e de toa cidade também. Hoje, a Cidade deve</p><p>ser pensada de modo a ocupar os vazios Urbanos com toda infraestrutura disponível para moradia e Lazer</p><p>da população. O bairro escolhido para a implantação do projeto é o Centro Sul, antigo Jardim Aeroporto, ao</p><p>lado do Aeroporto Internacional Marechal Rondon; bairro onde localiza-se também o Shopping de Várzea</p><p>Grande.</p><p>Figura 01 - Delimitação do Município de Várzea</p><p>Grande.</p><p>Figura 02 - Delimitação do terreno escolhido.</p><p>Fonte: Google Earth. Editado. Fonte: Google Earth. Editado.</p><p>O terreno tem área de 14.258m², com um perímetro de 563m, é limitado pela Av. Pres. Artur Bernardes,</p><p>uma das principais avenidas do centro da cidade, a Av. Pres. Eurico Gaspar Dutra, e a Av. Pres. Prudente de</p><p>Moraes (figura 2). Ao analisarmos as imagens do terreno, vemos a presença de um revestimento florístico</p><p>escasso, e quase nenhuma permeabilidade no solo. As espécies predominantes no terreno são OITI, Pinus</p><p>Ellliotti, Palmeira etc. Dentro do terreno há duas ruas sem uso, que serão desconsideradas para efeito</p><p>deste projeto. Elas deixaram de ser úteis depois que o Detran se mudou para o Estacionamento do</p><p>Shopping.</p><p>Figura 03 - Fotografias do terreno.</p><p>Fonte: Google Earth. Editado.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>60</p><p>A Zona Urbana na qual o Terreno está inserido é a Zona de Uso Misto (ZUM). A categoria que mais se</p><p>assemelha é a de “Parque de Diversão” (Várzea Grande – Lei Complementar 3.727/2012, Anexo II, Tabela</p><p>I , p. 28), que se encaixa como uso Permissível.</p><p>Figura 04 - Fragmento do Mapa de Zoneamento de Várzea Grande.</p><p>Fonte: Lei Complementar 3.727/2012 –Prefeitura de Várzea Grande – Editado.</p><p>Como observamos no Mapa (figura 04), todas as vias que limitam o terreno são locais, embora sejam de</p><p>intenso tráfego de veículos nos horários de Pico.</p><p>Uma das características que norteou a escolha deste terreno foi a sua ótima localização no Centro da</p><p>Cidade, dando liberdade para se estabelecer um marco, uma referência para a Cidade de Várzea Grande;</p><p>em segundo lugar, neste local já é consolidada a prática Esportiva de modalidades como Futsal, Basquete,</p><p>Capoeira, Ginástica, etc. deixando assim a responsabilidade para o projeto de valorizar o espaço e oferecer</p><p>condições dignas para os usuários que já existem. Com a chegada de modalidades novas, essa interação</p><p>cultural esportiva vai acontecer naturalmente trazendo pessoas de bairros vizinhos, não só para a praticar,</p><p>mas também como espectadores do espaço.</p><p>Figura 05 - Mapa de Hierarquia Viária de Várzea Grande</p><p>Fonte: Prefeitura de Várzea Grande. Editado.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>61</p><p>De acordo com os índices urbanísticos, a Taxa de Ocupação do meu terreno é de 65%, podendo construir</p><p>apenas 1x a área do terreno e a Taxa de Permeabilidade é comum de 25%. O público Alvo deste projeto é</p><p>muito amplo. A premissa é atender a todos, já que se trata de um projeto público. Conclusão esta que se</p><p>chegou através de uma pesquisa de campo com os usuários, e muitos deles pediram uma praça para</p><p>família, Playground para as Crianças não se machucarem utilizando os aparelhos de Ginástica dos adultos,</p><p>dentre outras solicitações.</p><p>Mas em se tratando de público, pôde-se levantar questões através da pesquisa, sobre a Residência dos</p><p>usuários, se era no Bairro ou não. A grande maioria diz que sim, mas há os que moram em outros bairros</p><p>como Figueirinha, Costa Verde, e se deslocam até o local de Ônibus ou de bicicleta.</p><p>4.2 DIRETRIZES PROJETUAIS</p><p>As primeiras diretrizes que nortearam a concepção deste projeto foram pensadas a partir da ideia de</p><p>aproveitar uma área nobre do centro da Cidade de Várzea Grande, que já tem consolidada em seu</p><p>território esse apreço pela prática de esportes como futebol, basquete e atividades de ginástica, e a</p><p>realização de lanches noturnos.</p><p>Este espaço público se encontra sem uso atualmente, com sua superfície quase completa coberta de</p><p>concreto, tornando impossível a penetração de água fluvial para o solo. Uma das preocupações desse</p><p>projeto é justamente criar espaços permeáveis no terreno, conforme prevê a Lei de Uso e Ocupação do</p><p>Solo no Plano Diretor do Município de Várzea Grande, 25%.</p><p>Para concluir o motivo pelo qual o terreno encontra-se sem uso hoje, faz-se necessário citar que no início</p><p>de 2017 a unidade do DETRAN na cidade de Várzea Grande, que se situava ao lado do terreno em questão,</p><p>mudou-se para o Shopping de VG, há 500m do antigo local. Atualmente a área é atração para a população</p><p>noturna do bairro Centro Sul e bairros vizinhos para usufruto das quadras poliesportivas existentes no</p><p>local, e também dos trailers de lancha fixos no terreno, logo após o alinhamento da calçada.</p><p>Outra diretriz muito importante que nasceu no desenvolvimento das ideias de projeto foi a verticalização</p><p>das pistas de skate, decisão tomada em função do projeto de referência anteriormente citado, o Parque de</p><p>Skate de Folkstone, na Inglaterra. Este é o primeiro Skate Park vertical do mundo, e ainda não foi</p><p>concluída a sua execução.</p><p>Com a ideia da verticalização, esse projeto cumpre um anseio e uma promessa feita para a cidade no início</p><p>deste trabalho de Graduação – em nível acadêmico, claro – de dar para a cidade através deste projeto, uma</p><p>identidade, um marco, um diferencial nessa modalidade esportiva.</p><p>Em relação ao revestimento florístico do procurou-se manter todas as espécies de árvores presentes no</p><p>terreno. Junto a essas já existentes o projeto propõe a plantação de muitas outras árvores; decisão está</p><p>tomada em função do nosso clima quente, e por se tratar de um projeto público, é muito importante</p><p>oferecer espaços que tenham conforto em qualquer hora do dia para os usuários. Ainda em relação ao</p><p>clima este projeto traz como uma de suas diretrizes o sombreamento das quadras poliesportivas que</p><p>serão preservadas, pois, não há durante o dia, o uso pelos usuários dessas quadras por conta do sol</p><p>intenso.</p><p>Para finalizar este bloco das diretrizes, conclui- se que o programa arquitetônico adotado neste projeto</p><p>teve como premissa atender o máximo dessas modalidades de Esportes Radicais Urbanos como Skate,</p><p>Parkour, Bike Cross, Patins, Patinete, Escalada e as quadras poliesportivas. O que excedeu a esses objetivos</p><p>específicos foram as áreas comuns</p><p>Como praças, estacionamentos, sanitários, lojas, lanchonetes, salas para monitores, Administrativa e</p><p>enfermaria. Literalmente para coroar o projeto, propõe-se a utilização da cobertura como uma laje útil,</p><p>com função de uso pelos usuários e não apenas de cobrir.</p><p>Como todas as outras, esta diretriz está relacionada com o aspecto “Radical” deste projeto, que e a questão</p><p>dos acessos do edifício, que se darão apenas por rampa e não por escadas, propositalmente forçando o</p><p>usuário ao desafio de caminhar e se esforçar por um caminho</p><p>mais longo, até chegar ao pavimento que</p><p>deseja.</p><p>Em relação aos acessos de pedestres ao terreno, em todo o perímetro das faces às três ruas limítrofes ao</p><p>terreno há a possibilidade de se acessar ao terreno. Quanto ao acesso de veículos, foi mantida uma rua</p><p>lateral do antigo DETRAN para fazer o encaminhamento dos veículos da Avenida Presidente Artur</p><p>Bernardes para o terreno.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>62</p><p>4.3 PARTIDO ARQUITETÔNICO</p><p>Frente às diretrizes citadas anteriormente, tomou- se decisões para colocar em prática todas as ideias e</p><p>ideologias dominantes para chegar ao objetivo proposto. O primeiro desafio foi o de encontrar uma forma</p><p>arquitetônica para o edifício principal que abriga a maior parte do programa; e o desejo era de não usar</p><p>uma forma tradicional pois, uma das diretrizes principais era a de fazer do projeto um marco para a</p><p>cidade. Dessa forma ele teria que se diferenciar das demais edificações.</p><p>Procurou-se então uma figura geométrica que se relacionasse com o tema do projeto e que remetesse ao</p><p>sentimento “radical” do esporte. Contudo, através de pesquisas chegou-se à conclusão de que o triângulo</p><p>é a figura geométrica mais resistente da geometria. E isso é notado na arquitetura em um importante</p><p>elemento estrutural que é a treliça.</p><p>Após definir o formato em planta da edificação principal, decidiu-se por locar a mesma no centro do</p><p>terreno,tendo as três extremidades agudas do triangulo direcionada para uma face do terreno, de forma a</p><p>deixar uma de suas fachadas paralela à Av. Pres. Artur Bernardes.</p><p>A extremidade Oeste do terreno, limitada pela Av. Pres. Prudente de Moraes foi pensada como uma grande</p><p>praça com vegetação densa propondo sombreamento e grandes canteiros de grama para permeabilidade</p><p>de águas pluviais.</p><p>Segundo uma pesquisa de campo realizada no local com os usuários mais comuns sobre a relevância do</p><p>projeto, chegamos à certeza de que esse projeto seria aprovado por seus usuários que também deram</p><p>sugestões de espaços para incrementar o programa, como um espaço para família por exemplo.</p><p>Uma das propostas do projeto é a de cobrir e revitalizar as quadras poliesportivas do local para</p><p>possibilitar o seu uso aos usuários durante o dia. E a ideia era fazer duas cascas de cobertura, sendo uma</p><p>sobreposta à outra para deixar livre a circulação de vento interior x exterior. Vê-se que o Skatpark ficou</p><p>dividido entre os três primeiros pisos; e o ultimo piso ficou inicialmente destinado para Paintbaal, lojas e</p><p>uma grande parede de Escalada.Com a forma arquitetônica definida e a divisão do programa por</p><p>pavimento também finalizada, partiu-se para a concepção volumétrica da forma.</p><p>Mais tarde no decorrer do processo do projeto e a lapidação da forma, optou-se por suavizar as três</p><p>extremidades mais agudas do triângulo.</p><p>Posteriormente, a abertura na cobertura proposta no primeiro esboço foi descartada quando se decidiu</p><p>que a parede de escalada tivesse o seu início a partir do 1º pavimento, se estendendo até a laje da</p><p>cobertura.</p><p>Figura 06 - Implantação com cobertura.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>63</p><p>Em função de um problema de congestionamento nos horários de pico na esquina, propôs-se um</p><p>acostamento para os ônibus coletivos, deixando o transito livre no momento de embarque e desembarque</p><p>de passageiros.</p><p>As quadras Poliesportivas já existentes no terreno foram mantidas e revitalizadas neste projeto, com uma</p><p>cobertura moderna tendo sua estrutura inspiradas no eixo de uma roda de bike; uma diretriz dominante</p><p>se repete em vários elementos estruturais do projeto, como arquibancadas, fachadas e no ponto de ônibus.</p><p>Uma das modalidades bastante apreciada pelos praticantes de Esportes Radicais é o BMX. A altura da</p><p>rampa de início de percurso é de 5m, feita com estrutura metálica com ênfase também no eixo de uma</p><p>roda de bike – assim como a Estrutura metálica da cobertura da arquibancada conforme a figura 45 - e</p><p>placas cimentícias. Segundo o projeto que tomou-se como referência que é o Parque Radical para as</p><p>Olimpíadas de 2016, deve haver ao redor da pista uma faixa, continua ao perímetro, de grama natural ou</p><p>sintética, contendo 2m de largura.</p><p>Figura 08 - Planta baixa Quadra Poliesportiva</p><p>Figura 09 – Planta baixa BMX.</p><p>Pensado para abrigar carros e motos, este estacionamento com cerca de 1.370m² tem cobertura com</p><p>vegetação natural para os veículos, e um acesso especial para ambulância ter acesso à enfermaria.</p><p>Figura 10 – Planta baixa pav. térreo.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>64</p><p>Figura 11 – Planta baixa 1º pavimento.</p><p>Figura 12 – Planta baixa 2º pavimento.</p><p>Figura 13 – Planta baixa 3º pavimento.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>65</p><p>Figura 14 – Planta de cobertura.</p><p>Figura 15 – Perspectiva geral.</p><p>Na perspectiva em destaque, mostra-se que a ideia foi de criar uma grande escadaria com degraus largos</p><p>para que servissem como assento para as pessoas no período noturno e para que soasse ao pedestre como</p><p>uma continuação da calçada, convidando-o à entrar no complexo do projeto. Mais ao centro tem-se uma</p><p>visão nítida de como se comportaria a casca de concreto que cobre as duas quadras. Mais a direita entre a</p><p>vegetação nota-se o ponto de ônibus e o espaço de família.</p><p>Figura 16 – Perspectivas do parque.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>66</p><p>5.CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>O projeto tras uma proposta inovadora, desde o tema até a sua forma implantada no local. Diante da</p><p>necessidade de investimento em esporte e lazer, o projeto propoem de forma lúdica um espaço para a</p><p>possibilidade da prática de esportes radicais na cidade de Varzea Grande. O projeto implanta em tres</p><p>pavimentos os equipamentos necessários para atender as necessidades de apoio às modalidades de</p><p>esportes a serem praticadas no local.</p><p>BIBLIOGRAFIA</p><p>[1] Castro, Luiz Guilherme Rivera. O que é Espaço Público? AU Fato e Opinião. Disponível em: julho, 2013. Acesso</p><p>em: 01 de junho de 2018.</p><p>[2] Dima Stouhi. ETH constrói primeiro projeto de arquitetura em escala real usando uma impressora 3D de</p><p>areia. Disponível em: 2018. Acesso em: 20 de novembro de 2018.</p><p>[3] Google Earth. Cidade de Várzea Grande. Disponível em: Acesso em: 13 de junho de 2018.</p><p>[4] Guy Hollaway Architects. Parque de Skate de Folkestone. Disponível em:</p><p>2016. Acesso em: 02 de setembro de 2018</p><p>[5] Idom. Parque Alberto Simões. Galeria da Arquitetura. Disponível em: 2016. Acesso em: 13 de</p><p>junho de 2018.</p><p>[6] Mosna, Eduardo Xavier. Esportes Radicais: uma abordagem histórica e antropológica. Efdportes.com. Revista</p><p>Digital. Disponível em:</p><p>julho, 2011. Acesso em: 05 de junho de 2018.</p><p>[7] Pereira, Dimitri Wuo. Esportes Radicais, de Aventura e de Ação: O Conteúdo dos Ensinos Formal e não formal</p><p>e os Desafios de Formação e prática do profissional de Educação Física. Revista da Faculdade de Educação Física da</p><p>Unicamp. Disponível em: Vol. 12 no. 03</p><p>São Paulo. Julho/ setembro 2014. Acesso em: 01 de junho de 2018.</p><p>[8] Várzea Grande. lei Nº 3.112 de 2007– Institui o Plano Diretor do Município</p><p>de Várzea Grande e dá outras</p><p>providências. Disponível</p><p>em: Acesso</p><p>em: 04 de abril de 2018.</p><p>[9] Várzea Grande. – lei Nº 3727 DE 2012 Dispõe sobre o Zoneamento de Uso e Ocupação do Solo do Município</p><p>de Várzea Grande e dá outras providências. Disponível em: Acesso em: 11</p><p>de abril de 2018.</p><p>[10] Topographic-Map.com. Várzea Grande. Disponível em:. Acesso em: 13 de junho de 2018.</p><p>[11] Vigliecca e Associados. Olimpiadas Rio 2016 – Parque Radical. Arch Daily. Disponível em: 2016.</p><p>Acesso em: 21 de março de 2018.</p><p>[12] Pmam + Skate Arquitectos. Navegamentos Skateplaza.Disponível em: 2018. Acesso em: 15 de</p><p>setembro de 2018.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>67</p><p>Capítulo 6</p><p>Requalificação do Parque Cortado como artifício para</p><p>a reciclagem urbana</p><p>Elaine Kellen Luciano Marinho</p><p>Nathálya Louise Macêdo Leal</p><p>Camila Correia Teles</p><p>João Renato Carneiro Aguiar</p><p>Resumo: Este trabalho visa responder a seguinte questão: Como o Desenho Ambiental</p><p>irá requalificar o contexto urbano local de modo a influenciar a relação homem-</p><p>natureza, o lazer, o convívio social e a reabilitação pessoal, atribuindo ao Parque Cortado</p><p>o papel fundamental no processo de reciclagem urbana?</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>68</p><p>1. INTRODUÇÃO</p><p>As áreas ecológicas do Brasil são de grande potencial ecossistêmico e social, resguardando os recursos</p><p>essenciais para a vida da humanidade. Como parque, a sua incumbência é de aproximar o homem à</p><p>natureza, incentivar o convívio e proporcionar o lazer e a integração social (MACEDO & SAKATA, 2003). É</p><p>responsável por motivar a responsabilidade ambiental, otimizar a economia de forma sustentável e</p><p>promover o dinamismo cultural da população (ROGERS, 2011).</p><p>Porém, a maioria das áreas ecológicas integradas à estrutura urbana perdeu importância, teve seu objetivo</p><p>desvirtuado e seus recursos equivocadamente utilizados (RYLANDS, 2005). O Parque Ecológico Lago</p><p>Cortado de Taguatinga é exemplo dessa realidade. Apesar de ser uma importante fonte de aproximação do</p><p>homem à natureza, abrigando o Córrego Cortado e sua mata ciliar, a área enfrenta um grande desafio em</p><p>relação à degradação e subutilização. Não é compreendida a urgência em implantar mecanismos atrativos</p><p>à população taguatinguence – pouco provida de áreas de convívio e lazer.</p><p>À vista disso, busca-se solucionar o caso presente, atentando-se às questões ambientais, sociais e</p><p>urbanísticas da área e seu entorno. Para isso, será empregado como estratégia de planejamento, o</p><p>Desenho Ambiental, temática que enfatiza a valorização ecológica, atuando na revitalização de áreas</p><p>degradadas e na requalificação de espaços urbanos (FRANCO, 2008).</p><p>Portanto, conforme a problemática apresentada, este trabalho visa responder a seguinte questão: Como o</p><p>Desenho Ambiental irá requalificar o contexto urbano local de modo a influenciar a relação homem-</p><p>natureza, o lazer, o convívio social e a reabilitação pessoal, atribuindo ao Parque Cortado o papel</p><p>fundamental no processo de reciclagem urbana?</p><p>Estes conceitos serão fundamentados, no decorrer deste estudo, como métodos de intervenção com base</p><p>nas solicitações para o desempenho da sustentabilidade e na urgência do caso atual.</p><p>2. OBJETIVOS E METODOLOGIA</p><p>O objetivo geral deste artigo é promover propostas de intervenção para requalificação do Parque Cortado</p><p>de Taguatinga a partir de seu diagnóstico e de um aprofundado estudo de artifícios para uma maior</p><p>eficiência paisagística e urbanística, cumprindo assim o tripé da sustentabilidade: social, econômico e</p><p>ambiental.</p><p>A sessão seguinte objetiva contextualizar a evolução dos parques urbanos no Brasil, utilizando-se como</p><p>método, a pesquisa documental. Posteriormente, busca-se descrever a temática, os conceitos e o tema em</p><p>geral mediante pesquisas bibliográficas, integrando teorias e dados a partir dos seguintes referenciais</p><p>teóricos: Dean (1996); Macedo & Sakata (2003); Scocuglia, (2009); Gomes (2014); Franco (2008); Moura</p><p>(2016); Medeiros (2015); Chacel (2007); entre outros.</p><p>A sessão subsequente tem a finalidade de embasar as diretrizes de projeto em referenciais teóricos</p><p>mediante documentos, como a Carta da Terra e a Lei 6.938/81. Logo após, pretende-se evidenciar a</p><p>principais estratégias para o cumprimento das diretrizes com base nos seguintes autores: Abbud (2006);</p><p>Lerner (2011) e Gehl (2014). Em seguida será elaborado o estudo de caso a partir da análise de obras</p><p>existentes como exemplares com o objetivo de especificar suas principais características para aplicação.</p><p>Por fim, desenvolver-se-á as diretrizes de intervenção, com base no diagnóstico onde serão identificadas</p><p>as causas dos conflitos existentes. Logo, serão designados como critérios, os “aspectos da arquitetura”</p><p>abordados por Frederico de Holanda (2013): funcionais, copresenciais, bioclimáticos, econômicos,</p><p>sociológicos, topoceptivos, estéticos, afetivos, simbológicos. Além destes, será integrado outro quesito</p><p>importante para a efetivação da sustentabilidade: ambiental. A definição das diretrizes estará</p><p>fundamentada nos referenciais teóricos, destacando-se a Carta da Terra.</p><p>2.1. CENÁRIO ECOLÓGICO NO ÂMBITO NACIONAL</p><p>No Brasil, a revitalização de áreas degradadas e a criação de Unidades de Conservação (UCs) estão entre as</p><p>medidas tomadas para alcançar o Desenvolvimento Sustentável (CHACEL, 2007). Porém, hoje esses</p><p>mecanismos não correspondem efetivamente ao que é prescrito pela Política Nacional do Meio Ambiente.</p><p>Consequentemente, grandes áreas legalmente protegidas são reputadas como vazios na zona urbanizada</p><p>que fragmentam a cidade, sujeitas à degradação e ocupação irregular (RYLANDS, 2005; HERCULANO,</p><p>1992).</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>69</p><p>O território brasileiro é amplo e diversificado, subdividido em diferentes biomas e ecossistemas. Com a</p><p>finalidade de assegurar a proteção dessa biodiversidade, mediante à prescrição do Desenvolvimento</p><p>Sustentável, o total de reservas ecológicas têm se multiplicado consideravelmente nas últimas décadas.</p><p>Todavia, demarcações de recursos naturais ainda vêm sendo apropriadas, desmatadas e indevidamente</p><p>exploradas (DEAN, 1996). Dessa forma, é apresentada uma análise geral a respeito da criação e gestão de</p><p>unidades de conservação (UCs) e parques urbanos no Brasil e as legislações que os regem.</p><p>O Parque Urbano é um importante componente da cidade contemporânea e passou por vários estágios de</p><p>transformação em suas características e funções. A partir do Século XIX, os parques urbanos começaram a</p><p>ser formados no Brasil (MACEDO & SAKATA, 2003). No Século XX, compreende-se a necessidade do lazer</p><p>como parte da vida urbana, que passa a ser explorado cientificamente (SCOCUGLIA, 2009). No mesmo</p><p>período, essas áreas passam a obter maior relevância ambiental. Sua configuração foi se adaptando a</p><p>novos contextos da sociedade, sendo implantadas diferentes infraestruturas direcionadoras da prática</p><p>esportiva e da conservação de recursos naturais (MACEDO & SAKATA, 2003).</p><p>Na década de 1970, a partir do início da era do Desenvolvimento Sustentável, novas Unidades de</p><p>conservação (UCs) foram criteriosamente dispostas no território brasileiro (GOMES, 2014). Nessa</p><p>classificação são introduzidos os Parques Ecológicos, que, levando em consideração à vertente do Desenho</p><p>Ambiental, caracterizam-se como aquele que prioriza a “visão ecossistêmica” (FRANCO, 2008). Numa</p><p>outra abordagem, trata-se de um espaço público e aberto composto por um paisagismo que integra</p><p>a</p><p>vegetação e o lazer, destinado para a população (MACEDO & SAKATA, 2003).</p><p>Assimila-se, então, como o Parque Urbano obteve a incumbência de alcançar o parâmetro da</p><p>sustentabilidade. Com a missão de promover a interação social e a aproximação do homem à natureza. No</p><p>entanto, várias áreas de proteção ainda enfrentam uma grande dificuldade quanto às questões de</p><p>degradação e ocupação irregular (RYLANDS, 2005; HERCULANO, 1992). Dessa forma, a sessão a seguir</p><p>trata de um importante método de intervenção capaz de solucionar essas questões: o Desenho Ambiental.</p><p>2.2. O DESENHO AMBIENTAL E A EFETIVAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL</p><p>O conceito de Desenho Ambiental, é retratado por Franco (2008), como prática derivada da aproximação</p><p>de várias vertentes empíricas e científicas, atuando na revitalização de áreas degradadas e na</p><p>requalificação de espaços urbanos. O termo Desenho Ambiental difere do projeto Paisagístico, quando sua</p><p>perspectiva ultrapassa a ideia de “projeto” e passa a explorar um viés mais amplo e progressivo.</p><p>Corresponde à uma temática que vai além da estética, dos estilos e das funções demandadas no</p><p>Paisagismo, trata-se de um processo.</p><p>A distinção entre esses dois preceitos acontece a partir de três conceitos: “Conceito Ecossistêmico”,</p><p>prognosticando o equilíbrio ecológico e protegendo as fontes de energia e de vida; “Conceito de</p><p>Conservação Ambiental”, reduzindo os impactos ambientais de modo a não comprometer as gerações</p><p>vindouras; a concepção do Espaço Urbano como um “ecossistema humano” dependente, que se comunica</p><p>com os “ecossistemas naturais” e precisa deles (FRANCO, 2008).</p><p>Figura 01: Desenho Ambiental como ponte entre Paisagismo e Sustentabilidade.</p><p>Fonte: Esquema criado pelos autores com base nas referências de Medeiros (2015).</p><p>Mediante às peculiaridades do Desenho Ambiental, contempla-se uma ciência direcionada ao</p><p>racionamento dos recursos ambientais, na qual se assegura a restauração da multifuncionalidade dos</p><p>espaços públicos.</p><p>Desenvolvimento</p><p>Sustentável</p><p>Projeto</p><p>Paisagístico</p><p>DESENHO</p><p>AMBIENTAL</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>70</p><p>Assim, o principal foco do Desenho Ambiental é o cumprimento das diretrizes dispostas pelo</p><p>Desenvolvimento Sustentável. Visto que a atenção se volta à paisagem passível à pegada humana, da</p><p>mesma maneira que se atenta à Revitalização e Requalificação dessas áreas. Quando se refere aos aspectos</p><p>econômico e social, busca-se a potencialização dos recursos energéticos e a cooperação da sociedade na</p><p>elaboração de propostas para o meio ambiente e na sua fiscalização (FRANCO, 2008).</p><p>2.3. REVITALIZAÇÃO E REQUALIFICAÇÃO COMO INSTRUMENTOS DO DESENHO AMBIENTAL</p><p>Duas ferramentas importantes como artifícios do Desenho ambiental, são os métodos de Revitalização e</p><p>Requalificação, termos equivalentes que, na maioria dos casos, agem simultaneamente.</p><p>A Revitalização Urbana é um “Planejamento Estratégico”, o qual interliga territórios, atividades e pessoas.</p><p>A sua atuação engloba três fundamentos, tais como a “performance econômica e financeira”; a</p><p>“sustentabilidade física e ambiental”; e a “coesão social e cultural” (MOURA, 2016). Porém, nessa prática,</p><p>os fatores econômicos são priorizados, atentando-se na dinamização da área a partir da criação de pontos</p><p>atrativos, como atividades turísticas e recreativas (MEDEIROS, 2015).</p><p>A Revitalização Ambiental possui uma base voltada à Paisagem Natural e ao conceito de “Ecogênese” –</p><p>processo de regeneração de ecossistemas degradados (CHACEL, 2007). Além do impacto econômico há</p><p>também impacto ambiental positivo, ao operar em busca da recuperação dos recursos naturais.</p><p>A Requalificação trata do resgate aos aspectos qualitativos de uma área, de modo a reurbanizá-la. Há uma</p><p>atenção voltada à qualidade de vida na cidade, onde equipamentos e infraestruturas são instalados e/ou</p><p>reaproveitados a fim de proporcionar a funcionalidade urbana (MOURA, 2016). É um instrumento de</p><p>grande relevância, pois, além dos aspectos econômicos e ambientais da Revitalização, agrega o caráter</p><p>social, visando a inclusão e a interação coletiva (fig. 03) (MEDEIROS, 2015).</p><p>Figura 02: Abrangência de Intervenção: Revitalização X Requalificação, 2019.</p><p>Fonte: Esquema criado pelos autores com base nas referências de Medeiros (2015).</p><p>A Reciclagem Urbana associa-se ao termo em que Lerner (2011) aponta como “acupuntura urbana”,</p><p>exercendo um papel de “reciclagem”, de modo a dinamizar a área através da incorporação de novos usos.</p><p>Tal processo é responsável por garantir a valorização do espaço, nos aspectos econômicos, impulsionando</p><p>as atividades comerciais e de serviço; nos aspectos culturais, promovendo atividades artísticas e</p><p>educativas; e nos aspectos paisagísticos e sociais, criando áreas para convívio e lazer (MOURA, 2016).</p><p>Nesse contexto, o espaço passa a cumprir com as diretrizes prescritas no discurso do Desenvolvimento</p><p>Sustentável.</p><p>Assim, essas definições, serão especificadas em forma de recomendações apresentadas na sessão a seguir.</p><p>2.4. FUNDAMENTAÇÃO DAS DIRETRIZES PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL</p><p>As instruções importantes a serem seguidas para uma proposta urbanística sustentável, devem ser</p><p>embasadas em documentos e autores que defendem a integração social e a valorização ambiental, cultural</p><p>e econômica no espaço urbano. Dessa forma, essa sessão faz um breve estudo de referenciais relevantes</p><p>onde serão fundamentadas as diretrizes deste projeto.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>71</p><p>A Carta da Terra (2000) é a principal base para a estruturação de diretrizes arquitetônicas, urbanísticas e</p><p>paisagísticas para a proposta deste artigo, onde estão enfatizadas, de forma geral, recomendações</p><p>essenciais para o Desenvolvimento Sustentável. Criado em 1992, durante a ECO-92 e autenticado em</p><p>2000, esse documento destaca a correlação entre a pacificidade, a preservação do meio ambiente e os</p><p>direitos e desenvolvimento sociais.</p><p>Na Carta, são apresentadas a situação mundial em relação ao Desenvolvimento Sustentável, as</p><p>adversidades a serem enfrentadas e a importância e urgência em conscientizar-se sobre o futuro. Em</p><p>seguida, são listados e explicados, por meio de diretrizes, os princípios da Carta, tais como: “I. Respeitar e</p><p>cuidar da comunidade da vida”; “II. Integridade ecológica”; “III. Justiça social e econômica”; “IV.</p><p>Democracia, não violência e paz”. Por fim, conclui-se a Carta descrevendo as últimas considerações e o</p><p>ponto de partida para o desempenho da sustentabilidade do nível local ao global.</p><p>Logo, para uma solução sustentável, a arquitetura, o urbanismo e o paisagismo devem atuar no</p><p>cumprimento do que é demandado nesse registro, mediante a elaboração diretrizes mais específicas</p><p>dentro do seu limite de intervenção. Tratando-se mais especificamente dos aspectos ambientais, destaca-</p><p>se a Lei 6.938/81, que prescreve sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, sua finalidade e seus</p><p>métodos de elaboração e atuação, além de outras determinações.</p><p>De acordo com essa lei, cita-se os seguintes itens como diretrizes importantes para serem consideradas, de</p><p>acordo com os incisos (I, IV, VII, VIII, IX e X, respectivamente) do Art. 2º: concepção do meio ambiente</p><p>como um bem público que precisa ser preservado e utilizado pela comunidade; conservação de</p><p>ecossistemas como “áreas representativas”; monitoramento do cenário do meio ambiente; revitalização de</p><p>espaços degradados; preservação das áreas suscetíveis à degradação; difusão da conscientização</p><p>ambiental à comunidade, incentivando a sua atuação na defesa do meio ambiente.</p><p>Mediante o estudo apresentado, serão descritos a seguir, os referenciais teóricos que instruem sobre as</p><p>estratégias capazes de cumprir com a demanda dos documentos citados, para a criação do quadro de</p><p>diretrizes estratégicas.</p><p>2.5. DIRETRIZES ESTRATÉGICAS E NORMATIZAÇÃO</p><p>As estratégias de projeto serão embasadas nos estudos de Abbud (2006), Jan Gehl (2014)</p><p>e Lerner (2011),</p><p>os quais defendem a integração e interação social no espaço urbano.</p><p>Na obra “Criando Paisagens”, Abbud (2006) aponta uma série de solicitações para um projeto paisagístico</p><p>afetivo e receptivo a todas as idades e classes sociais. Ele afirma que a paisagem deve atrair a visão,</p><p>trazendo não só um valor estético, mas também a sua característica paisagística como uma linguagem; a</p><p>audição, através do conforto acústico; o tato, por meio de texturas e da sensação de conforto bioclimático;</p><p>e o olfato e paladar, a partir de diferentes odores e sabores de folhas, flores e frutos.</p><p>Além destes, deve haver uma relação mais intrínseca entre o homem e a paisagem, os ambientes precisam</p><p>manifestar, a cada indivíduo, a valorização de sua singularidade pessoal e cultural (ABBUD, 2006). Dessa</p><p>forma, o espaço passará a ter um significado para a comunidade, acolhendo e incentivando as pessoas a</p><p>frequentá-lo, como uma boa acupuntura urbana, conforme Lerner (2011) afirma.</p><p>Jan Gehl (2014) enfatiza esse pensamento, destacando também que as próprias pessoas podem se tornar</p><p>acolhedoras umas das outras e seguranças do espaço, já que pessoas vão aonde já tem pessoas. Logo,</p><p>melhorar a qualidade do espaço público e dar a ele uma identidade, de modo a convidar a população a</p><p>utilizá-lo, é crucial para a segurança e vida na cidade.</p><p>Contudo, para que o ambiente seja utilizado continuamente, não basta ser convidativo, ele deve ser</p><p>agradável. Ele deve estar em harmonia com a escala humana e propiciar conforto, para que as pessoas</p><p>permanecem continuamente no espaço (GEHL, 2014). As estratégias de conforto bioclimático são</p><p>normatizadas na NBR 15.220, onde são estabelecidos o tipo necessário de parede e cobertura de acordo</p><p>com a transmitância térmica e o tempo do seu material. A Carta Solar indica a temperatura e o percurso</p><p>solar no decorrer do ano, possibilitando também, a demarcação de proteções contra a radiação direta,</p><p>quando a temperatura ultrapassa o limite de conforto.</p><p>Abbud preconiza também a designação de distintos ambientes de convivência e lazer adaptados para</p><p>diferentes idades. À vista disso, é importante conhecer a área de intervenção e entender o público-alvo,</p><p>para assim, abranger toda a comunidade local de diferentes grupos socioeconômicos, estimulando a</p><p>integração social.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>72</p><p>Tratando-se dessa questão, é importante pensar também nas pessoas com deficiência (PCD) e dificuldade</p><p>de locomoção. A NBR 9050 trata precisamente disso, determinando as dimensões mínimas de calçadas,</p><p>ambientes e mobiliários, dentre outras normatizações, a fim de possibilitar a acessibilidade e a integração</p><p>dessas pessoas às áreas internas e externas, públicas e privadas (fig.03).</p><p>Figura 03: Dimensões mínimas das faixas de uso da calçada, 2015.</p><p>Fonte: NBR 9050</p><p>Além desses pontos, Jan Gehl (2014) ressalta a importância em otimizar a mobilidade urbana, motivando o</p><p>deslocamento a pé, de bicicleta ou por transporte público. Desta forma, levanta-se a importância da</p><p>implementação de pontos de ônibus, ciclovias e calçadas de qualidade, estratégias que irão favorecer o</p><p>desenvolvimento econômico e ambiental, como é prescrito na Carta da Terra.</p><p>Para um resultado eficaz e sustentável, as diretrizes finais deste artigo serão fundamentadas nas</p><p>estratégias apresentadas nesse embasamento teórico e nos estudos de caso analisados na próxima sessão.</p><p>2.7. ESTUDO DE CASO</p><p>Para compreender as conceituações e as estratégias apresentadas como mecanismos em atuação, serão</p><p>utilizados nesta sessão, três objetos de estudo, com a finalidade de aprimorar soluções executadas ou pré-</p><p>definidas para serem tomadas como referências. Por fim, será estabelecido um quadro de critérios</p><p>fundamentado nos aspectos de Holanda e nos pilares da sustentabilidade, analisando a eficiência dos</p><p>casos.</p><p>O primeiro caso, é a proposta para o parque de uso múltiplo Burle Marx da Asa Norte de Brasília – antigo</p><p>Parque Ecológico Norte de Brasília (PQEN) – é um importante exemplo de desenho ambiental (Franco,</p><p>2008). A obra, finalista de um concurso nacional, foi idealizada de modo a representar, em conjunto com o</p><p>parque da cidade, dois “pulmões” para a cidade propostos no projeto do plano piloto (franco, 2008). O</p><p>projeto é caracterizado pela dinamização da extensão do parque através de uma variedade de atividades</p><p>ligadas à cultura, ao lazer e à educação ambiental. No entanto, apesar de sua qualificação como protótipo</p><p>de desenho ambiental, a proposta ainda não foi concretizada.</p><p>O segundo caso é o parque naturalístico Mangal das Garças, localizado em Belém, Pará, é solução de um</p><p>processo de revitalização a uma área alagada e degradada. O projeto se tornou um dos locais mais</p><p>frequentados da cidade (Markun, 2014). A obra teve como tema a vegetação natural do estado do Pará,</p><p>contando com o elemento água para a criação de um grande espelho d’água como objeto principal</p><p>(Macedo; Sakata, 2001). Identifica-se, no projeto, soluções sustentáveis, visto que, um espaço, antes</p><p>degradado e subutilizado, torna-se um ponto turístico, promovendo a cidade e sua cultura, sociabilizando</p><p>o espaço e conscientizando a população em relação ao meio ambiente.</p><p>O terceiro caso se dá na cidade de Madri, cortada pelo rio Manzanares. Dessa forma, foi realizado o</p><p>aterramento das vias circundantes ao rio, gerando um grande vazio na área. Em 2005, foi aberto um</p><p>concurso internacional para solucionar a questão do vazio existente (SIQUEIRA, 2011).</p><p>Os escritórios Mrío Arquitectos e West 8 Urban Design and Landscape Architecture formam a equipe</p><p>vencedora do concurso, afirmando que “um dos principais potenciais dos espaços livres gerados junto ao</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>73</p><p>rio era o de estabelecer conexões” (SIQUEIRA, 2011). Buscou-se então integrar as paisagens naturais no</p><p>sul e no norte de Madri, através do rio e uma larga sequência de espaços públicos e verdes.</p><p>2.8. ANÁLISE DOS CASOS</p><p>Com base nos casos apresentados, aponta-se um quadro de análise comparando a eficiência dos casos</p><p>baseados nos quesitos da Sustentabilidade e em alguns aspectos da arquitetura abordados por Frederico</p><p>de Holanda (2003).</p><p>Figura 04: Quadro explicativo da eficiência dos casos em análise.</p><p>Critérios</p><p>Parque de Uso Múltiplo Burle</p><p>Marx</p><p>Parque Mangal das Garças Madrid Río</p><p>Aspectos</p><p>Funcionais</p><p>Equipamentos de convívio e</p><p>lazer social e áreas para</p><p>administração e apoio.</p><p>Áreas de convívio e</p><p>contemplação, com variados</p><p>atrativos.</p><p>Áreas que conectam o contexto</p><p>urbano e o rio, conduzindo a</p><p>interação social e de atividades</p><p>recreativas.</p><p>Aspectos</p><p>Bioclimáticos</p><p>Arborização; Grandes lagos e</p><p>canal de água corrente</p><p>longitudinal.</p><p>Água como elemento paisagístico</p><p>condutor; Existência de árvores</p><p>para sombreamento.</p><p>Sombreamento nas ciclovias</p><p>através da arborização. Fontes</p><p>para conforto ambiental e</p><p>banhos públicos.</p><p>Aspectos</p><p>Econômicos</p><p>Proteção e reciclagem dos</p><p>recursos naturais; dinamização</p><p>econômica através</p><p>estabelecimentos comerciais.</p><p>Ponto turístico e de grande</p><p>importância para a promoção da</p><p>cidade e de sua cultura.</p><p>Implantação de espécies nativas,</p><p>isentas de manutenção.</p><p>Intensificação de atividades</p><p>turísticas, comerciais e de</p><p>serviço. Utilização de espécies</p><p>nativas.</p><p>Aspectos</p><p>Sociológicos e</p><p>Copresenciais</p><p>Centros de convivência</p><p>buscando promover a</p><p>interação social entre a</p><p>população;</p><p>Instalações que convidam</p><p>comunidades de diferentes</p><p>classes sociais a utilizarem o</p><p>espaço.</p><p>Infraestrutura que motiva a</p><p>interação social e atividades</p><p>recreativas.</p><p>Aspectos</p><p>Afetivos e</p><p>Ambientais</p><p>Proposta de reflorestamento e</p><p>concepção paisagística</p><p>acolhedora. Programas de</p><p>Educação Ambiental à</p><p>comunidade.</p><p>Revitalização da área ambiental</p><p>degradada. Concepção</p><p>paisagística que desperta, no</p><p>usuário, a responsabilidade em</p><p>preservar a natureza.</p><p>Recuperação da área</p><p>degradada e desocupada,</p><p>integrando o verde</p><p>e o leito do</p><p>rio à cidade.</p><p>Aspectos</p><p>Simbólicos</p><p>Expressão simbólica do bioma</p><p>local: Museu de História</p><p>Natural do Cerrado.</p><p>Representação das três</p><p>características da flora do Pará:</p><p>A Região da Mata, os Campos e a</p><p>Várzea.</p><p>Símbolo local representando a</p><p>reestruturação da cidade</p><p>fragmentada.</p><p>Fonte: Criado pelos autores de acordo com os quesitos da sustentabilidade e os aspectos da arquitetura de Holanda</p><p>(2013).</p><p>2.9. ESTUDOS URBANOS</p><p>O objetivo dos estudos de caso é estabelecer critérios de análise que servirão como inspirações de projeto.</p><p>Porém, antes de definir propostas, deve-se entender o contexto urbanístico, social e ambiental da área e</p><p>seu entorno. Assim, serão realizados nesta sessão, estudos urbanos a partir de levantamento de dados. O</p><p>trecho estudado nesta sessão abrange o Parque Ecológico Lago Cortado e o entorno, em Taguatinga,</p><p>Região Administrativa do Distrito Federal (fig. 05).</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>74</p><p>Figura 05: Mapa chave demarcando (em vermelho) o trecho em análise dos mapas seguintes (Parque</p><p>Cortado e entorno).</p><p>Fonte: Segeth. Com adaptações realizadas pelos autores</p><p>Figura 06: Demarcação (em vermelho) do Parque integrada à ARIE/JK, 2011.</p><p>Fonte: Ramthum. Com adaptações realizadas pelos autores.</p><p>Criada pelo Decreto Nº 29.118, de 2008, abrangendo 563.500 m², área resguarda as nascentes do Córrego</p><p>Cortado e a vegetação circundante (fig. 07 e 08). É uma das UCs pertencentes à Área de Relevante</p><p>Interesse Ecológico Parque Juscelino Kubitschek - ARIE/JK estabelecida pela Lei Distrital nº 1.002, de</p><p>1996 (fig. 06).</p><p>Figura 07: Vista aérea, 2017.</p><p>Fonte: Google Earth Pro.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>75</p><p>Figura 08: Uma das quedas d’água existentes no parque, 2019.</p><p>Fonte: Autores.</p><p>Quanto ao uso do solo (fig. 09), observa-se que o entorno é caracterizado por zonas de uso residencial,</p><p>institucional e misto (comercial, serviço, institucional e industrial). A área é demandada por um amplo</p><p>público em situação de vulnerabilidade social, que frequenta as instituições comunitárias avizinhadas. São</p><p>elas: Unidade de Acolhimento Para Crianças e Adolescentes (UNAC); Centro de Referência Especializado</p><p>para População em Situação de Rua (Centro POP); e o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas</p><p>Infanto-juvenil (CAPS ADI). Dessa forma, deve-se tirar partido dessa necessidade de integração para</p><p>inclusão e acolhimento dessa comunidade.</p><p>Figura 09: Mapa de Uso e Ocupação do solo e Equipamentos e Mobiliários Urbanos da área de estudo e</p><p>entorno, 2019.</p><p>Fonte: Levantamento realizado pelos autores.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>76</p><p>Figura 10: Mapa de Hierarquia Viária do trecho em análise, 2019.</p><p>Fonte: Levantamento realizado pelos autores.</p><p>A área é demarcada por vias coletoras e locais, ambas de sentido duplo (fig. 10). Com base no estudo de</p><p>campo realizado, constata-se que não há ciclovias e as vias de pedestres circundantes são estreitas,</p><p>interrompidas por obstáculos e desprovidas de sombreamento.</p><p>Figura 11: Mapa de topografia do trecho em análise, 2019.</p><p>Fonte: Levantamento realizado pelos autores com base nos dados do Geoportal.</p><p>De acordo com o mapa de topografia (fig. 11) e seu perfil de elevação (fig. 12), o parque se encontra em</p><p>níveis mais baixos, onde está inserido o córrego Cortado. Por essa razão, a área esteve sujeita a fortes</p><p>impactos devido à emissão das águas pluviais derivadas da região de Taguatinga (GANEM & LEAL, 2000).</p><p>Dessa forma, deve-se pensar na criação de sistemas de drenagem que solucionem essa questão.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>77</p><p>Figura 12: Perfis de elevação topográfica do trecho em análise, 2019.</p><p>Fonte: Levantamento realizado pelos autores com base nos dados do Geoportal.</p><p>O clima predominante de Brasília- DF é o tropical de altitude, caracterizado por inverno seco e verão</p><p>chuvoso. Com base na carta bioclimática (fig. 13), a umidade varia de 15% a 30% e temperaturas de 14°C a</p><p>28°C. De acordo com a NBR 15220, recomenda-se aberturas médias para ventilação (de 15% a 25% da</p><p>área de piso), com sombreamento.</p><p>Figura 13: Carta bioclimática apresentando as normais climatológicas de Brasília, 2003.</p><p>Fonte: NBR 15220.</p><p>Figura 14: Condições de conforto em Brasília, 2019.</p><p>Fonte: Projeteee – Ministério do Meio Ambiente.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>78</p><p>Figura 15: Condições de conforto em Brasília, 2019.</p><p>Fonte: Projeteee – Ministério do Meio Ambiente.</p><p>Mediante ao gráfico de temperatura e conforto (fig. 14), os valores médios da temperatura do ar variam de</p><p>18°C a 23°C, com mínimas de 11°C (em julho) e máximas de 29°C (em setembro). O período de maior</p><p>amplitude térmica mensal é em julho. De acordo com o gráfico de condições de conforto (fig. 15), observa-</p><p>se que a temperatura ultrapassa a zona de conforto devido, principalmente, às baixas temperaturas.</p><p>Figura 16: Mapa de Bioclimatismo, 2019.</p><p>Fonte: Levantamento realizado pelos autores com base no programa SOL-AR.</p><p>De acordo com a carta solar (fig. 16), durante o ano, a temperatura varia de 10° C a 20° C no início do dia, e</p><p>temperaturas iguais ou acima de 20° C a partir das 10h da manhã. Para evitar o superaquecimento, a</p><p>radiação solar direta deve ser retida na fachada Norte e Oeste, onde a temperatura excede os 25 °</p><p>(temperatura limite para conforto).</p><p>Figura 17: Rosas dos Ventos, 2019.</p><p>Fonte: SOL-AR.</p><p>De acordo com as rosas dos ventos (fig 17), os fluxos predominantes acontecem nas direções leste</p><p>(inverno, outono e primavera) e noroeste (verão). A velocidade predominante dos ventos é de 3m/s,</p><p>dentro do limite de conforto (1 a 4m/s).</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>79</p><p>Figura 18: Condições de conforto em Brasília, 2019.</p><p>Fonte: Levantamento realizado pelos autores.</p><p>Com base no estudo bioclimático (fig. 18), a ordem das fachadas (da mais favorável à menos favorável)</p><p>são: Sul, Leste, Norte e Oeste. Dessa forma, os ambientes de maior permanência devem estar nas fachadas</p><p>mais positivas (Sul e Leste). O sombreamento da maior parte do terreno acontece através da arborização.</p><p>Os materiais que compõem o entorno são: asfalto, terra, calçada e cobertura, piso vegetal e superfície</p><p>arborizada (ordenados numa escala de maior à menor temperatura radiante). A área é responsável por</p><p>manter o equilíbrio das temperaturas do ar e a umidade relativa do entorno, onde a existência de uma</p><p>densa massa vegetativa e hidrográfica que corta a área favorecem o microclima.</p><p>2.10. DIRETRIZES DE INTERVENÇÃO</p><p>A partir dos estudos realizados, compreende-se a realidade do entorno e como o parque é capaz de</p><p>melhorar essa situação e atender as necessidades da população. A vista disso, busca-se criar uma proposta</p><p>completa e eficaz, seguindo os preceitos do Desenho Ambiental e reciclando a infraestrutura já existente.</p><p>Para isso o parque deve cumprir com os preceitos da Sustentabilidade aliadas aos critérios dos Aspectos</p><p>da Arquitetura (HOLANDA, 2003). Essas diretrizes estão embasadas, principalmente, nas solicitações da</p><p>Carta da Terra e estabelecidas no quadro a seguir.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>80</p><p>Figura 19: Quadro de diretrizes para o Parque Cortado, 2019</p><p>Critérios Diretrizes Estratégicas</p><p>Fundamentação</p><p>Teórica / Fonte de</p><p>Consulta</p><p>Classificação nas</p><p>Dimensões de</p><p>Sustentabilidade</p><p>Aspectos</p><p>Funcionais</p><p>Investir em calçadas, ciclovias e mobiliário urbano.</p><p>Carta da Terra;</p><p>Jan Gehl (2014).</p><p>Social, Ambiental e</p><p>Econômico.</p><p>Facilitar a circulação e acessibilidade entre os ambientes e locá-los de</p><p>modo que haja compatibilidade de atividades.</p><p>Carta da Terra;</p><p>NBR 9050.</p><p>Social e Econômico.</p><p>Aspectos</p><p>Sociológicos e</p><p>Copresenciais</p><p>Designar áreas de gestão, manutenção e segurança do Parque</p><p>(restritas), assim</p><p>como áreas para uso público, que promovam a</p><p>interação entre diferentes classes sociais (convívio, esporte e lazer).</p><p>Carta da Terra;</p><p>Lerner (2011).</p><p>Social, Ambiental e</p><p>Econômico.</p><p>Às famílias, prover áreas de piquenique, food truck, parquinho,</p><p>parcão, academia e pomar.</p><p>Carta da Terra;</p><p>Abbud (2006).</p><p>Social, Ambiental e</p><p>Econômico.</p><p>Aos jovens, prover quadras poliesportivas e pistas de skate.</p><p>Carta da Terra.</p><p>Abbud (2006).</p><p>Social e Econômico.</p><p>Disponibilizar fontes de informação e conhecimento à população</p><p>(Biblioteca Pública).</p><p>Carta da Terra. Social e Econômico.</p><p>Organizar a dinamização do espaço de modo que haja intercalação</p><p>entre atividades noturnas e diurnas.</p><p>Carta da Terra.</p><p>Social, Ambiental e</p><p>Econômico.</p><p>Definir áreas de apoio para a usuários em situação de vulnerabilidade</p><p>social e ambiente para atividades de tomadas de decisão (anfiteatro).</p><p>Carta da Terra. Social.</p><p>Aspectos</p><p>Bioclimáticos</p><p>Utilizar-se do elemento água e da arborização para o conforto dos</p><p>usuários tanto dentro do parque, quanto nas calçadas de acesso.</p><p>Carta da Terra</p><p>(1997); NBR</p><p>15220.</p><p>Social, Ambiental e</p><p>Econômico.</p><p>Aproveitar a luz e a ventilação natural para conforto ambiental.</p><p>Carta da Terra;</p><p>NBR 15220.</p><p>Social, Ambiental e</p><p>Econômico.</p><p>Utilizar materiais construtivos que proporcionam o conforto térmico</p><p>de acordo com a demanda climática local: parede pesada (U ≤ 2,20 e φ</p><p>≥ 6,5) e cobertura leve isolada (U ≤ 2,00 e φ ≤ 3,3) (NBR 15220).</p><p>Carta da Terra;</p><p>NBR 15220.</p><p>Social, Ambiental e</p><p>Econômico.</p><p>Aspectos</p><p>Econômicos</p><p>Proporcionar a dinamização econômica ao espaço a partir da</p><p>diversidade de tipologias comerciais.</p><p>Carta da Terra. Social e Econômico.</p><p>Propiciar a subsistência coletiva (hortas comunitárias). Carta da Terra.</p><p>Social, Ambiental e</p><p>Econômico.</p><p>Utilizar vegetação nativa, que exige menor quantidade de água e</p><p>manutenção.</p><p>Carta da Terra. Ambiental e Econômico.</p><p>Escolha de materiais locais (adobe, taipa) e de alta durabilidade. Carta da Terra. Ambiental e Econômico.</p><p>Dar preferência a materiais reciclados e/ou pré-fabricados (Drywall). Carta da Terra. Ambiental e Econômico.</p><p>Aproveitar a vegetação e construções existentes. Carta da Terra. Ambiental e Econômico.</p><p>Processo participativo na elaboração do projeto, com entrevistas e</p><p>questionários.</p><p>Carta da Terra. Social e Econômico.</p><p>Uso de energia renovável local (fotovoltaica e aquecimento da água</p><p>com energia solar).</p><p>Carta da Terra.</p><p>Social, Ambiental e</p><p>Econômico.</p><p>Aspectos</p><p>Afetivos e</p><p>Ambientais</p><p>Preservação do patrimônio ambiental.</p><p>Carta da Terra;</p><p>Franco (2008); Lei</p><p>6.938/81.</p><p>Social, Ambiental e</p><p>Econômico.</p><p>Recuperação de áreas degradadas.</p><p>Carta da Terra; Lei</p><p>6.938/81.</p><p>Social, Ambiental e</p><p>Econômico.</p><p>Tratamento de esgoto com fitodepuração e jardins de chuva. Carta da Terra.</p><p>Social, Ambiental e</p><p>Econômico.</p><p>Coleta seletiva e definição de áreas de compostagem para gerar adubo. Carta da Terra.</p><p>Social, Ambiental e</p><p>Econômico.</p><p>Utilizar o vidro Safe Bird em fachadas envidraçadas para proteção dos</p><p>pássaros.</p><p>Carta da Terra. Social e Ambiental.</p><p>Criar uma concepção paisagística acolhedora e ambientes que</p><p>envolvam os cinco sentidos humanos e estimule a preocupação em</p><p>preservar o Meio Ambiente.</p><p>Carta da Terra; Lei</p><p>6.938/81; Abbud</p><p>(2006).</p><p>Social, Ambiental e</p><p>Econômico.</p><p>Aspectos</p><p>Simbólicos</p><p>Trazer os valores culturais da região como inspiração de projeto</p><p>(conceito arquitetônico que representa a cultura indígena).</p><p>Carta da Terra. Social.</p><p>Definir espaços de exposição de espécies vegetais nativa da Região:</p><p>Cerrado (memorial).</p><p>Carta da Terra. Social e Ambiental.</p><p>Disponibilizar áreas para oficinas artísticas ou espaços urbanos para</p><p>artistas locais.</p><p>Carta da Terra.</p><p>Social, Ambiental e</p><p>Econômico.</p><p>Aspectos</p><p>Topoceptivos</p><p>e Estéticos</p><p>As edificações e o paisagismo devem gerar uma identidade própria em</p><p>relação ao entorno e integrar-se harmoniosamente ao ambiente de</p><p>modo a convidar a população a usufruir do espaço.</p><p>Jan Gehl (2014).</p><p>Social, Ambiental e</p><p>Econômico.</p><p>Fonte: Criado pelos autores de acordo com os quesitos da sustentabilidade e os aspectos da arquitetura de Holanda</p><p>(2013).</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>81</p><p>3. CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>O parque é resultado de um longo percurso histórico dos parques urbanos no Brasil, que passaram a obter</p><p>maior incumbência ecológica a partir da década de 1970. Embora direcionados, teoricamente, pela Política</p><p>Nacional do Meio Ambiente de 1981, ainda estão em falta com suas diretrizes.</p><p>A partir da fundamentação teórica e de estudos de caso, compreende-se os mecanismos importantes para</p><p>mitigar a problemática. Utiliza-se como fundamento de intervenção para requalificar o espaço, a temática</p><p>do Desenho Ambiental. Nesse processo abrangem a revitalização da vegetação, a implantação de</p><p>infraestruturas para uso público e a recuperação daquelas já existentes.</p><p>Esses métodos serão fundamentais para aproximar o homem à natureza, proporcionar o lazer à</p><p>população, incentivar o convívio social e promover a reabilitação pessoal. Assim, o Parque cumprirá o seu</p><p>ofício em reciclar o contexto urbano, de modo a efetivar as diretrizes da Sustentabilidade e da Política</p><p>Nacional do Meio Ambiente.</p><p>A partir das diretrizes de intervenção, pretende-se cumprir com eficácia os requisitos precisos a fim de</p><p>que os conflitos existentes sejam solucionados. Porém, trata-se de um processo, que tende a se aperfeiçoar</p><p>no decorrer do tempo, visando a qualidade de vida da população presente e futura.</p><p>Portanto, busca-se tornar esta proposta uma referência a futuras intervenções para áreas análogas</p><p>situadas na Área Metropolitana de Brasília.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>[1] Abbud, Benedito. Criando paisagens: guia de trabalho em arquitetura paisagística. Senac, 2018.</p><p>[2] Carta da Terra, 2000, Disponível em:</p><p>Acesso em: 15 ago. 2019.</p><p>[3] Chacel, Fernando. Paisagismo e Ecogênese. Rio de Janeiro, Editora FRAIHA, 2007.</p><p>[4] De Holanda, Frederico Rosa Borges. Arquitetura e urbanidade. PróEditores, 2003.</p><p>[5] Dean, Warren. A ferro e fogo: a história e a devastação da mata atlântica brasileira. São Paulo: Cia das Letras,</p><p>1996.</p><p>[6] Franco, Maria de Assunção Ribeiro. Desenho Ambiental: Uma Introdução à Arquitetura da Paisagem com o</p><p>Paradigma Ecológico. São Paulo, Annablume, 2008.</p><p>[7] Ganem, Roseli Senna; Leal, Zita de Moura. Parques do Distrito Federal. 2000.</p><p>[8] Gehl, Jan. Cidade para Pessoas. Tradução Anita di Marco. 2013.</p><p>[9] Gomes, Marcos Antônio Silvestre. Parques urbanos de Ribeirão Preto-SP: na produção do espaço, o</p><p>espetáculo da natureza. 2009. Tese (Doutorado em Geografia). Instituto de Geografia. Universidade Estadual de</p><p>Campinas. Campinas, 2009.</p><p>[10] Gomes, Marcos Antônio Silvestre. Parques urbanos, políticas públicas e sustentabilidade (urban parks, global</p><p>politics sustainable development). Mercator, v. 13, n. 2, p. 79 a 90-79 a 90, 2014.</p><p>[11] Herculano, S. C. Do desenvolvimento (in)suportável à sociedade feliz. In: GOLDEMBERG, M. (Org.). Ecologia,</p><p>ciência e política: participação social, interesses em jogo e luta de ideias no movimento ecológico. Rio de Janeiro:</p><p>Revan, 1992. p. 28.</p><p>[12] Lerner, Jaime. Acupuntura Urbana. Rio de Janeiro, Record, 2011.</p><p>[13] Macedo, S. S., & Sakata, F. G. Parques Urbanos no Brasil. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo,</p><p>2003.</p><p>[14] Markun, Paulo. Mangal das Garças. Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, 2014. Disponível em: . Acesso em: 10 de abril. 2019, 16h51.</p><p>[15] Medeiros, Ana Elisabete. Intervenções Urbanas: Reabilita, Reabilitação Ambiental Sustentável Arquitetônica</p><p>e Urbanística. Brasília: Universidade de Brasília, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2015. pp.154, 155.</p><p>[16] Moura, Dulce et al. A revitalização urbana: contributos para a definição de</p><p>um conceito operativo. Cidades,</p><p>Comunidades e Territórios, n. 12-13, 2006.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>82</p><p>[17] NBR, ABNT. 9050: Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Associação</p><p>Brasileiras de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 2015.</p><p>[18] NBR, ABNT. 15220: Desempenho térmico de edificações. Associação Brasileiras de Normas Técnicas, Rio de</p><p>Janeiro, 2015.</p><p>[19] Rogers, Richard. Cidades para um Pequeno Planeta. Londres, Editorial Gustavo Gili, 1997.</p><p>[20] Rylands, Anthony B.; BRANDON, Katrina. Unidades de conservação brasileiras. Megadiversidade, v. 1, n. 1, p.</p><p>27-35, 2005.</p><p>[21] Scocuglia, J. B. C. O Parc de La Tête d’Or: patrimônio, referência espacial e lugar de sociabilidade. Arquitextos,</p><p>São Paulo, 113.03, Vitruvius, out 2009. Disponível em:</p><p>. Acesso em: 18 abr. 2019.</p><p>[22] Siqueira, Mariana. Vias marginais de rio Manzanares são enterradas para criação de parque linear em Madri,</p><p>Espanha. Revista aU, 2011. Disponível em: . Acesso em: 10 de abril. 2019, 12h34.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>83</p><p>Capítulo 7</p><p>A manutenção da segregação socioespacial em</p><p>conjuntos Minha Casa Minha Vida: Um estudo de caso</p><p>do Residencial Parque dos Caetés em Maceió-AL</p><p>Giovanna Veloso Rocha</p><p>Camila Nayane Santos Ferreira</p><p>Layse Emily Tavares de Magalhães Oliveira</p><p>Raiane Rebeca dos Santos Araúna</p><p>Resumo: A segregação socioespacial é uma das principais características das cidades</p><p>brasileiras, tanto no tangente da demografia populacional, quanto nos aspectos</p><p>urbanísticos que envolvem a qualidade da infraestrutura, conservação e manutenção</p><p>dos espaços e equipamentos de domínio público. A fim de combater o déficit</p><p>habitacional e gerar um estímulo econômico em meio à crise financeira de 2008, o</p><p>governo federal lançou o programa Minha Casa Minha Vida (MCMV). Porém, a</p><p>priorização da velocidade e quantidade ao invés da qualidade fizeram com que as</p><p>habitações fossem implantadas às margens da cidade, em que o custo para implantação é</p><p>menor, e com isso mais distantes dos equipamentos urbanos da cidade. Mediante tais</p><p>discussões, este trabalho possui o objetivo de analisar como a implantação desses</p><p>conjuntos habitacionais promovem a manutenção de um processo de produção do</p><p>espaço segregador e os impactos que o espraiamento urbano causa no funcionamento da</p><p>cidade. O método de pesquisa se baseia na revisão bibliográfica e discussão da</p><p>manutenção da desigualdade social através da segregação espacial, e posteriormente, na</p><p>análise de um conjunto habitacional implantado no Bairro Benedito Bentes, zona</p><p>periférica da cidade de Maceió-AL. As análises foram feitas segundo os critérios de</p><p>implantação habitacional disponibilizados pelo Selo Azul da Caixa. Como resultados da</p><p>pesquisa, verificou-se que o conjunto não atende a esses critérios, o Conjunto Parque dos</p><p>Caetés possui marcas expressivas da segregação socioespacial, visto que a população</p><p>residente apresenta vulnerabilidade econômica, está afastada de grande parte dos</p><p>equipamentos urbanos, e com isso precisa enfrentar diariamente longos deslocamentos.</p><p>Assim, quando os conjuntos habitacionais são implantados em áreas inadequadas ao</p><p>desenvolvimento urbano racional, os moradores são penalizados, bem como os</p><p>contribuintes, que terão de arcar com a extensão da infraestrutura a esses locais.</p><p>Palavras-chave: Minha Casa Minha Vida; Segregação socioespacial; Maceió.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>84</p><p>1.INTRODUÇÃO</p><p>A segregação socioespacial é uma das principais características das cidades brasileiras. É possível</p><p>observar, tanto no tangente da demografia populacional, quanto nos aspectos urbanísticos que envolvem a</p><p>qualidade da infraestrutura, da conservação e manutenção dos espaços e equipamentos de domínio</p><p>público. O arquiteto e urbanista, Flávio Villaça, descreve em seu livro Reflexões sobre as cidades</p><p>brasileiras, como ocorre a separação socioespacial das cidades “à segregação é um processo segundo o</p><p>qual diferentes classes ou camadas sociais tendem a se concentrar cada vez mais em diferentes regiões</p><p>gerais ou conjuntos de bairros da metrópole.” [1]</p><p>A forma como a sociedade se divide em função das classes sociais e suas funções no espaço urbano se</p><p>assemelha a um quebra-cabeça, em que cada peça tem um espaço específico para se encaixar e que ficam</p><p>deslocadas em outros territórios. Rolnik [2] cita como um exemplo prático da segregação espacial, a forma</p><p>como a sociedade divide os espaços em locais de trabalho e locais de moradia. Essa separação interfere no</p><p>contexto urbanístico das cidades, pois grande parte da população precisa se deslocar, com isso, os</p><p>transportes públicos ficam superlotados, há um aumento do fluxo de automóveis, e um trânsito cada vez</p><p>mais caótico</p><p>(...) A segregação também se expressa através da separação dos locais de</p><p>trabalho em relação aos locais de moradia. A cena clássica do cotidiano das</p><p>massas se deslocando nos transportes coletivos superlotados ou no trânsito</p><p>engarrafado são a expressão mais acabada desta separação - diariamente temos</p><p>que percorrer grandes distâncias para ir trabalhar ou estudar. Com isto, bairros</p><p>inteiros das cidades ficam completamente desertos de dia, os bairros-</p><p>dormitórios, assim como algumas regiões comerciais e bancárias parecem</p><p>cenários ou cidades-fantasmas para quem as percorre à noite. [2]</p><p>No Brasil, desde o fim da escravidão com a expulsão dos negros do campo e sua migração para a cidade,</p><p>bem como com a vinda de estrangeiros para substituir a mão de obra escrava, as questões relacionadas a</p><p>habitação, já traziam problemas devido à falta de planejamento e ao crescimento desordenado. As pessoas</p><p>de baixa renda passaram a construir moradias em assentamentos precários, como encostas, margem das</p><p>lagoas e assim, foram surgindo as favelas. Assim, as cidades cresciam com uma demanda de moradia e</p><p>serviços urbanos. [3] Ressaltamos o quanto é frequente que os mais pobres estejam ainda mais afastados e</p><p>que os serviços e atividades comerciais não chegam na mesma velocidade que nas proximidades da</p><p>camada de maior renda, que seria a demanda solvável.</p><p>O país realizou diversas tentativas para diminuir essa demanda de moradia, inicialmente oferecendo</p><p>crédito às empresas privadas para que elas produzissem habitações. Porém, as mesmas não obtiveram</p><p>lucro suficiente com a produção dessas habitações e tornou-se ineficiente, fazendo com que o governo</p><p>tomasse para si a responsabilidade sobre a questão, criando programas como: o financiamento de casas</p><p>para aluguel; a Fundação da Casa Popular (FCP), que continuavam deixando a população mais carente</p><p>desatendida. Já na década de 1990, outras tentativas para sanar o problema foram realizados, vários</p><p>programas habitacionais foram criados e extintos no país, como o Programa Pró-Moradia e o Programa de</p><p>Arrendamento Residencial (PAR).</p><p>Foi em 2009, quando o déficit habitacional chegava a 5,5 milhões de unidades, que no governo do</p><p>Presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi lançado o programa Minha Casa Minha Vida (MCMV). O objetivo</p><p>inicial era construir 1 milhão de moradias, porém esse objetivo foi estendido no governo Dilma Rousseff,</p><p>chegando a 3 milhões em 2014. Vale a pena salientar... O programa também tinha como objetivo um</p><p>estímulo econômico na construção civil do país, como uma estratégia para combater a crise financeira</p><p>mundial de 2008, gerando emprego e renda. “Na prática, este duplo objetivo se traduziu pela priorização</p><p>da quantidade e velocidade de construção em detrimento da qualidade da localização, desenho e</p><p>planejamento das unidades habitacionais.” [4]</p><p>Mediante tais discussões, esta pesquisa se propõe, através de um estudo de caso no conjunto residencial</p><p>do PMCMV, analisar a reprodução da segregação socioespacial e as implicações na vida da população e no</p><p>funcionamento urbano. O método de pesquisa se aplica na revisão bibliográfica e na discussão da</p><p>manutenção da desigualdade social através da segregação espacial, e posteriormente, na análise do estudo</p><p>de caso de um conjunto habitacional implantado no Bairro Benedito Bentes, zona periférica da cidade de</p><p>Maceió-AL.</p><p>Para o desenvolvimento da análise, as informações foram obtidas, em agosto de 2019, através de visitas a</p><p>campo no conjunto e em seu entorno, na coleta de dados, em entrevistas que tiveram a participação de</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>85</p><p>moradores e da liderança comunitária, e no levantamento fotográfico. Estes foram confrontados com os</p><p>critérios de implantação habitacionais disponibilizados pelo Selo Azul da Caixa. Pois assim, é possível</p><p>analisar se um conjunto atende aos critérios mínimos de implantação, bem como, construir a problemática</p><p>que envolve a localização e a disposição dos equipamentos e serviços públicos e a dinâmica da mobilidade</p><p>desses conjuntos de interesse social.</p><p>2.OS DESAFIOS E IMPACTOS DO RESIDENCIAL PARQUE DOS CAETÉS</p><p>Ainda que a moradia digna seja considerada um direito social no Brasil, segundo a Constituição Federal de</p><p>1988, o déficit habitacional ainda é um problema enfrentado por grande parte das cidades brasileiras. Em</p><p>Maceió-AL, as famílias mais pobres residem em assentamentos precários, em situação de vulnerabilidade</p><p>e exclusão social. Mediante tais dificuldades, a população resiste e se organiza em forma de movimentos</p><p>sociais, para reivindicar ao poder público o direito à moradia.</p><p>Assim aconteceu no processo de criação do Conjunto Parque dos Caetés. Segundo informações da líder</p><p>comunitária do conjunto, foi através de lutas por moradia que o movimento social Via do Trabalho (MVT)</p><p>conquistou, em 2013, o direito de serem contemplados com as políticas públicas de habitação. Esse</p><p>movimento foi composto por pessoas de diversas áreas da cidade que não possuíam moradia própria e</p><p>não tinham condições financeiras para pagar aluguel, sendo a maior parte, residentes de assentamentos</p><p>precários e de risco, como encostas, áreas alagáveis. Houve também participação do grupo de moradores</p><p>que ocupavam a Vila dos Pescadores no Jaraguá, que estavam passando por um processo de</p><p>desapropriação.</p><p>Essas pessoas de vulnerabilidade social se organizaram e ocuparam um terreno pertencente a uma</p><p>construtora, localizado no bairro da Santa Lúcia, na parte alta de Maceió. Barracos foram erguidos no local,</p><p>tendo o objetivo de atrair a atenção do governo do Estado e da Prefeitura de Maceió, para então,</p><p>reivindicar o acesso a moradia digna. Cerca de 500 famílias permaneceram por pouco mais de um mês no</p><p>terreno, até que houve o cumprimento do mandado de reintegração de posse. Diante do fato de não terem</p><p>um outro local para morar, cerca de 300 famílias ocuparam o prédio da antiga Eletrobrás, localizado na</p><p>Avenida Fernandes Lima, no Farol, e em seguida, migraram para o antigo prédio do INSS localizado na</p><p>Praça Palmares, que estava até então desocupado, no Centro de Maceió. E média, 400 famílias</p><p>permaneceram no prédio desativado do INSS por pouco mais de 3 meses, e só desocuparam quando foram</p><p>despejados novamente por uma determinação judicial, com a promessa da construção de um residencial</p><p>no bairro Benedito Bentes. [5]</p><p>O residencial começou a ser construído em 2013, com iniciativa da prefeitura de Maceió, através do</p><p>programa Minha Casa Minha Vida, e entregue em outubro de 2016, com 2.976 unidades habitacionais</p><p>distribuídas em 12 quadras e 744 blocos. Localizado no bairro Benedito Bentes, Maceió – AL, o conjunto</p><p>está implantado em uma área pouco habitada, afastada de onde ocorre as principais atividades urbanas do</p><p>bairro, em uma região que vem sendo usada para expansão e implantação das HIS. Isso se deve ao fato de</p><p>que as áreas centrais, ocupadas pelas classes mais ricas, possuem uma boa infraestrutura e atraem</p><p>serviços e equipamentos urbanos, com isso se transformam em locais com grande valorização imobiliária.</p><p>O isolamento da comunidade causa impactos e desafios no dia a dia desses moradores, que precisam se</p><p>adaptar à realidade do pseudo progresso e estabilidade econômica propostos pelo programa, além das</p><p>constantes lutas por seus direitos.</p><p>Esse isolamento, segundo Villac [6] se dá pela influência do sistema capitalista moderno, que produz</p><p>espaços homogêneos e fragmentados. Homogêneos, pois produzem espaços monótonos, resultado de</p><p>gestos repetitivos associados com instrumentos que são duplicáveis e projetados para duplicar, e</p><p>fragmentados, pois, está dividido em partes, em parcelas, que podem ser vendidas de acordo com critérios</p><p>estipulados pela renda do solo, segregando assim, a cidade de acordo com renda da população.</p><p>De acordo com Maricato [7], não há facilidade em encontrar nas políticas públicas e nem no mercado, as</p><p>opções de habitação, que abrangem os serviços urbanos e infraestrutura. Por decorrência da</p><p>clandestinidade na ocupação dos assentamentos urbano, em regiões consideradas ambientalmente</p><p>instáveis e na disseminação dessa parte dos habitantes que são repelidos dos centros urbanos da cidade e</p><p>obrigados a ocupar a parte periférica das cidades. Essas implantações espraiadas, como no caso no</p><p>residencial Parque dos Caetés, sem uma oferta mínima de emprego e serviço, gera um deslocamento diário</p><p>de grande parte dos moradores, ocasionando problemas de mobilidade urbana, além de ampliar os custos</p><p>que pesam para esses moradores, que se deslocam em busca de oportunidades de emprego, escolas,</p><p>hospitais e outros serviços não ofertados próximo à moradia.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>86</p><p>“Há, em todos esses casos, a ação do Estado na cidade, produzindo ou gerindo segregação” [2]. Quando o</p><p>espaço é classificado em regiões mais ricas e regiões mais pobres, muito tem a ver com a intervenção e</p><p>investimento do Estado em alguns espaços, equipando-os com o que há de melhor em urbanos, e</p><p>investindo muito pouco na implantação desses mesmos equipamentos em outros espaços. Isso fez com</p><p>que muitos conjuntos residenciais do Programa Minha Casa Minha Vida fossem implantados no Bairro do</p><p>Benedito Bentes, que atualmente tem uma média de 220 mil habitantes.</p><p>3.ANÁLISE DO CONJUNTO HABITACIONAL</p><p>A segregação se manifesta na dificuldade que a população tem em interagir com o restante da cidade, pois</p><p>o conjunto residencial Parque dos Caetés está localizado na extremidade de Maceió, como também do</p><p>bairro Benedito Bentes. Em entrevista, uma moradora fala sobre essa segregação do conjunto em relação à</p><p>cidade, e diz “A gente queria casas no meio urbano também, mas jogaram a gente longe” (moradora, 46</p><p>anos).</p><p>É um conjunto isolado do meio urbano, com acesso feito através de um caminho limitado por terras rurais,</p><p>como mostra a figura 01. Além desse acesso, há promessas para a construção de uma nova via, a Ecovia</p><p>Norte, uma via de grande importância para os moradores, pois facilitaria o deslocamento dessas</p><p>comunidades e desafogaria o trânsito. A obra deveria ser entregue em 2012, porém, durante esse período</p><p>de paralisações e promessas, a comunidade segue em mais uma luta (figura 01), e dessa vez é pela</p><p>conclusão da obra.</p><p>Figura 01: À esquerda, via que dá acesso ao residencial Parque dos Caetés, e à direita, cartaz usado pela</p><p>comunidade em protesto pela construção da Ecovia Norte.</p><p>Fonte: Autores, 2019.</p><p>Esse tipo de segregação afeta diretamente a mobilidade em Maceió. Pois, ela causa o aumento das</p><p>distâncias e do tempo de deslocamentos da população das classes mais baixas, gera maiores gastos com</p><p>transportes diários, além de congestionamentos em horários de pico. Segundo um relato de uma</p><p>moradora entrevistada no conjunto, o principal problema relacionado a mobilidade é o fato de que não há</p><p>linhas de ônibus que os liguem diretamente com as centralidades,</p><p>la densidad de una piedra) y la habilidad</p><p>de trans-formarla para otros propósitos del que le estaban originalmente designados por la naturaleza.6 Es</p><p>por eso que la poiesis no se trata solamente de un hacer automático, sino de un hacer consciente y</p><p>trascendente que reconcilia la naturaleza con el hombre. No es casualidad que de la poiesis sea también la</p><p>raíz del término “poesía,” más teniendo en cuenta que en el mundo antiguo la poesía era considerada la</p><p>manifestación de las musas.</p><p>La poiesis (relación hombre-naturaleza) requiere ser acompañada de una práctica (relación hombre-</p><p>hombre), un oficio que se adquiere y se transmite a través de la experiencia del hacer, no necesariamente</p><p>de la especulación. Es decir, el hacer se adquiere y se consuma haciendo. Pero Godofredo Iommi (1991)</p><p>dice, además que para que haya poiesis debe haber un riesgo, la presencia de lo desconocido a lo que la</p><p>mano se lanza:7</p><p> "Porque así como el trabajo encubre</p><p> la mano que se arriesga</p><p> la sen a,</p><p> la verdadera sen a miente como el dí a</p><p> para salvar de otros usos</p><p> la noche regalada".</p><p>En conclusión, podríamos decir que la construcción a escala 1:1, lejos de ser un acto automático y</p><p>primitivo, es ese lapsus en el que el hombre, enfrentándose a lo desconocido, emprende una acción</p><p>poiética de trans-formación y en ella alcanza una trascendencia. Es el momento en el que aparece la</p><p>poesía, o la arquitectura.</p><p>Richard Sennet (2009) en su obra "El artesano" reflexiona sobre el concepto mismo de actividad artesanal</p><p>que comprende la cultura material y el conocimiento tácito como auténticos bienes de capital social. Es</p><p>decir conocimientos y habilidades que se acumulan y se transmiten a través de la interacción social. Como</p><p>sostiene Sennet (2009), todo buen artesano mantiene un diálogo entre prácticas concretas y pensamiento</p><p>y enfatiza que todas las habilidades, incluso las más abstractas, comienzan como prácticas siendo esto uno</p><p>de los puntos nodales donde se asienta la práctica en nuestros talleres. Por su parte, en otra de sus obras,</p><p>"Juntos" (2012), este autor re posiciona la cooperación y el trabajo colectivo como prácticas</p><p>fundamentales y altamente enriquecedoras para el desarrollo de las sociedades y los individuos que la</p><p>componen.</p><p>5 Hace referencia a relato bíblico. Génesis 4:1-17</p><p>6Michael Maier (1617), Mauro Machado (2004), Monod (1971)</p><p>7Godofredo Iommi.(1967).Hace referencia a documento mecanografiado en papel marfil. El poema no varí a con</p><p>respecto a la edicio n de Amereida de 1967, el documento no esta fechado, mantenemos el an o de la publicacio n de</p><p>todo el poema.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>10</p><p>En esta misma línea, rescatando la importancia del saber hacer propia de muchos talleres de arquitectura,</p><p>el arquitecto Martín Hernández (1997) señala que la enseñanza de la arquitectura está inmersa en un</p><p>enorme simulacro, en lo que Jean Baudrillard (Martín Hernández, 1997) define como “suplantación de lo</p><p>real por los signos de lo real” algo que se traduce en “fingir tener lo que no se tiene” a partir de formas de</p><p>representación como es la gráfica. De alguna manera la construcción de estos artefactos, nos aproximan a</p><p>la obra construida, a lo específico de la arquitectura y nos permiten evaluarlo que será una obra desde</p><p>otro lugar.</p><p>Existe una larga tradición en la aplicación de trayectos experimentales a escala 1:1 en Escuelas de</p><p>Arquitectura, tanto en aplicaciones territoriales como ensayos arquitectónicos, en sus diversas cadencias</p><p>tales como, exploraciones sobre la transformación del territorio, la organización de los materiales y las</p><p>técnicas y los aspectos sensoriales de la materia y el espacio. Entre los más importantes podemos destacar</p><p>el Curso Preliminar de HannesItt en la Bauhaus en Weimar (Droste, 2006), que fue el sello distintivo de la</p><p>Bauhaus, e influyó decisivamente los demás talleres de la escuela. En 1923, tras la partida de Itten, Josef</p><p>Albers es invitado a coordinar el curso junto a László Moholy Nagy, profundizando sobre el estudio de las</p><p>posibilidades estructurales y maleables de los materiales y las técnicas más apropiadas, para luego y</p><p>desde allí abordar el problema de la forma en la construcción de artefactos. La Escuela de Arquitectura y</p><p>Diseño de la Pontificia Universidad Católica de Valparaíso fue una de las primeras en Latinoamérica en</p><p>trabajar a escala 1:1, y en diferentes escalas, desde la territorial hasta la experimentación en laboratorio.</p><p>Experiencias a Escala 1:1 orientadas a la manipulación de los aspectos sensoriales para la generación de</p><p>atmósferas que pueden ser estudiadas en las propuestas de Bernard Lassus (2004), Peter Zumthor (2005)</p><p>y Juanhi Pallasma (2006).</p><p>Más recientemente, la Architectural Association en Londres, Sci-arqen Los Angeles y IAAC en Barcelona</p><p>desarrollan la construcción de artefactos 1:1 introduciendo herramientas digitales en el proceso de diseño</p><p>en prácticas llamadas digital fabrication donde intervienen además robots y drones. Rural Studio en la</p><p>Universidad de Auburn, Alabama, así como Matéricos Periféricos en la Facultad de Arquitectura,</p><p>Planeamiento y diseño de la Universidad Nacional de Rosario, tienen una holgada y creciente experiencia</p><p>en proyectos de arquitectura colaborativa o arquitectura de formulación co-producida entre docentes,</p><p>estudiantes y actores sociales de territorios en conflicto.</p><p>Teniendo en cuenta estos antecedentes, el Taller Valderrama propone una secuencia didáctica de</p><p>contextualización-descontextualización-recontextualización, desde el pensamiento de los sistemas</p><p>complejos, donde es el territorio determina el modo de operar y las variables de organización. Esto</p><p>permite una mejor adecuación de los proyectos al lugar, y requiere, al mismo tiempo, una</p><p>parametrización del proceso de determinación a partir de tipos elaborados en una articulación entre el</p><p>estudio del proceso de formación y transformación del territorio con los patrones de organización espacial</p><p>del programa específico en cada caso.</p><p>3. FASE 1: CONTEXTUALIZACIÓN</p><p>3.1. DERIVAS TRANS-FORMATIVAS</p><p>La primer fase es de reconocimiento in-situ e in-vivo del lugar en la que se propone identificar patrones</p><p>para comprender procesos sociales y naturales a través de grabaciones, filmaciones, fotografías y dibujos.</p><p>Asimismo, se desarrollan ejercicios para la estimulación de la percepción fenomenológica y sensible.</p><p>En una segunda instancia se realiza una deriva con objetivo de generar una aproximación al lugar desde</p><p>una acción transformativa de la actual condición física a escala 1:1. En esta oportunidad se mapea el</p><p>territorio con el cuerpo, tratando de medir y percibir el espacio desde diferentes aristas sensoriales</p><p>reconociendo las dimensiones físicas y la performatividad de los materiales. A partir de ésta primer</p><p>aproximación se ejecutan instalaciones efímeras para detectar cómo la inserción de un elemento externo</p><p>en un contexto puede alterar las condiciones actuales. A partir del acto poético se establecen una serie de</p><p>conceptos relacionados a la experiencia y entre docentes y alumnos se establece la selección de palabras</p><p>para la composición de poesías colectivas.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>11</p><p>Figura 01: Mediciones con el cuerpo. Derivas trans-formativas en Pueblo Esther, Provincia de Santa Fe,</p><p>Argentina</p><p>Figura 02: Elaboración de poesía colectiva. Derivas trans-formativas en Pueblo Esther, Provincia de Santa</p><p>Fe, Argentina</p><p>3.2. CONSTRUCCIÓN DE DISPOSITIVOS 1:1 PARA LA INTERPRETACIÓN DEL TERRITORIO.</p><p>TERRITORIOS SISTEMÁTICOS.</p><p>En esta fase se realiza una ejercitación en laboratorio a escala 1:1 con el fin de replicar procesos latentes</p><p>en el lugar, establecer una interfaz capaz de revelarlos y transformarlos a partir de la introducción de</p><p>variables sistemáticas.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>12</p><p>En función</p><p>sendo necessário o uso de integrações</p><p>até o terminal de ônibus do bairro. Os ônibus usados na integração além de insuficientes para suprir a</p><p>demanda, são em grande parte precários. E ao chegar no terminal, acontece uma nova e longa espera, e os</p><p>ônibus também ficam superlotados devido a demanda de vários novos conjuntos que foram implantados</p><p>no bairro.</p><p>Esse aumento do deslocamento em massa da população da periferia foi constatado com base nos dados da</p><p>pesquisa Origem Destino. Realizada com iniciativa do governo de Alagoas com intuito de colher</p><p>informações a respeito do deslocamento cotidiano da população. Essa pesquisa identifica o número de</p><p>pessoas que precisam se deslocar diariamente dos bairros mais distante, como é o caso do bairro em que</p><p>está inserido o conjunto, o Benedito Bentes, para as áreas centrais da cidade, onde estão a maior parte dos</p><p>locais de trabalhos.</p><p>Os resultados da OD ainda permitiram a avaliação da localização das zonas que</p><p>são responsáveis pela maior produção de viagens, as quais correspondem às</p><p>regiões de Benedito Bentes, Tabuleiro dos Martins, Cidade Universitária e</p><p>Vergel do Lago, condizentes com regiões onde a concentração de moradores é</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>87</p><p>elevada. Já as zonas com maior atração de viagens localizou-se na planície</p><p>litorânea-lagunar como a região Central e Ponta Verde. [8]</p><p>Para a análise foi mapeado a inserção do conjunto na cidade (figura 02), mostrando a distância até o</p><p>Centro, Jatiúca e Ponta Verde, pois são centralidades de Maceió e concentram o maior número de</p><p>empregos. Como resultado, o deslocamento até o Centro corresponde à 20,7 quilômetros, que feito em</p><p>transporte público leva em torno de 2 horas. Como não há muitas opções de emprego para essa</p><p>comunidade, os moradores do conjunto são obrigados a se deslocarem para bairros distantes. Segundo</p><p>informações coletadas na visita, os homens conseguem empregos em bairros mais próximos, já as</p><p>mulheres, a maioria são domésticas e trabalham nos bairros Jatiúca e Ponta Verde, com distância de até</p><p>24,5 quilômetros, levando em torno de 2 horas para chegar ao seu destino.</p><p>Figura 02: Mapa de inserção do conjunto na cidade de Maceió.</p><p>Fonte: Autores, 2019.</p><p>Diante do cenário em que está inserido, o residencial foi analisado conforme as práticas para habitação do</p><p>Guia da Caixa, no qual é um instrumento que reconhece e incentiva a melhoria da qualidade da habitação,</p><p>apresentando critérios para a implantação de unidades habitacionais, sendo um deles a qualidade do</p><p>entorno e infraestrutura. É necessário que a implantação esteja inserida na malha urbana, com a presença</p><p>de equipamentos, infraestrutura, serviços e comércios, proporcionando uma melhor qualidade de vida aos</p><p>moradores, além de evitar o processo de espalhamento das cidades. [9]</p><p>Além da infraestrutura básica, como rede de abastecimento de água, pavimentação, energia, esgotamento</p><p>sanitário e drenagem, o conjunto habitacional deve ser equipado por uma linha de transporte público</p><p>regular, pelo menos uma escola pública de ensino fundamental, um equipamento de lazer e saúde, dois</p><p>pontos de comércio e serviço. A distância desses equipamentos deverá seguir os parâmetros apresentados</p><p>pelo Selo Azul da Caixa, que devem partir do equipamento até o centro geométrico da implantação, como</p><p>mostra a figura a seguir.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>88</p><p>Figura 03: Mapa de parâmetros com as medidas mínimas exigidas pelo Selo Azul da CAIXA.</p><p>Fonte: Autores, 2019.</p><p>O raio de abrangência dos equipamentos e serviços devem apresentar uma distância mínima exigida, a ser</p><p>percorrida a pé pelos moradores. Os equipamentos de lazer e saúde devem possuir uma rota de no</p><p>máximo 2,5 quilômetros de extensão, a escola é de 1,5 quilômetros, já o transporte coletivo, comércios e</p><p>serviços, a distância máxima é de 1 quilômetro.</p><p>A análise foi feita a partir de um mapa (figura 02) com a localização da unidade habitacional e seu entorno</p><p>imediato, com o mapeamento dos serviços e equipamentos, e com suas respectivas distâncias. Foi</p><p>observado que as distâncias de alguns equipamentos são maiores que as exigidas, e que o bairro conta</p><p>com uma grande concentração de comércios e serviços, porém, estão distantes do conjunto, não</p><p>contemplando-o com o mínimo exigido.</p><p>Figura 04: Residencial Parque dos Caetés e seu entorno imediato.</p><p>Fonte: Autores, 2019.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>89</p><p>Na percepção dos moradores questionados, a estrutura do residencial é muito boa, há vias e calçadas</p><p>largas, tem ciclovia e é adaptada para cadeirantes, uma moradora diz que “A estrutura é linda, boa. Mas na</p><p>realidade falta tudo, só deram casas para colocar o pessoal dentro” (mulher, moradora, 46 anos). O projeto</p><p>é excelente, porém a execução deixou a desejar, pois os equipamentos previstos não foram executados ou</p><p>estão inativos, ocasionando grandes deslocamentos dos usuários até os equipamentos mais próximos. Há</p><p>três escolas públicas de ensino fundamental que atendem ao bairro e aos conjuntos existentes na área,</p><p>ambas excedem a distância mínima exigida e não tem o número de vagas suficientes, portanto alguns</p><p>estudantes acabam recorrendo às escolas de outros bairros, como no Conjunto Salvador Lyra, no bairro</p><p>Tabuleiro dos Martins e o CEPA, no bairro do Farol, com distâncias de 8,3 km e 16,2 km, respectivamente.</p><p>A área conta com uma unidade de saúde que está dentro da distância limite de 2,5 quilômetros,</p><p>satisfazendo as exigências da CAIXA, porem na prática ela não atende a população, foi relatado pelos</p><p>moradores, que nunca receberam visita de nenhum agente de saúde para fazer o acompanhamento das</p><p>famílias e quando precisam de atendimento a unidade de saúde relata que não estão incluídos na área</p><p>deles. Já em relação ao mercado/feira livre, há um mercado público (figura 05) implantado dentro do</p><p>conjunto, porém ainda se encontra inativo, e enquanto isso, a comunidade tem que se deslocar cerca de 2,7</p><p>quilômetros até chegar ao comércio, uma distância quase três vezes maior que a ideal, ocasionando</p><p>também um segundo problema com as linhas de transporte pois alguns moradores pegavam carona nos</p><p>ônibus até o terminal pra poder ir ao mercado ou a feira, fazendo com que a empresa de ônibus colocasse</p><p>um fiscal nesta linha, sendo assim, a única linha da cidade a ter um fiscal. Nessa mesma situação, encontra-</p><p>se alguns serviços em que a população se desloca mais que o limite imposto pelos parâmetros, para chegar</p><p>até farmácia e padaria. No conjunto há um shopping popular, que também está inativo, e pela falta de</p><p>comércios e a distância até eles, fez com que alguns moradores adaptassem suas residências para</p><p>comércios informais, como mostra a figura 05, de acordo com as necessidades.</p><p>Figura 05: À esquerda, espaço destinado para o mercado público. À direita, adaptação de comércios</p><p>informais nas residências.</p><p>Fonte: Autores, 2019.</p><p>Dentro do residencial há equipamentos de lazer distribuídos (figura 06), contendo quadras de esportes e</p><p>parques infantis, porém há falta de praças com mobiliário e áreas arborizadas que permitam a</p><p>comunicação e interação entre os indivíduos, a praça mais próxima fica há 2,2 quilômetros de distância,</p><p>mas como há equipamentos de lazer na área interna do conjunto, já atende aos critérios do Selo Azul da</p><p>Caixa. Porém, o espaço público agrega muitas outras funções, além do que o espaço de lazer, Lamas [10]</p><p>define a praça como “lugar intencional de encontro, da permanência dos acontecimentos, de práticas</p><p>sociais, de manifestação da vida urbana e comunitária e de prestígio”, ressaltando que apesar do espaço de</p><p>lazer presente no residencial, há a falta de espaço público destinado para a interação dos moradores.</p><p>Com relação ao transporte público, há dois pontos de ônibus, apenas um tem abrigo e local para sentar, e</p><p>atendem à distância máxima estabelecida. Encontramos diversos problemas relacionados ao</p><p>transporte</p><p>público no relato dos moradores, atualmente existem apenas duas linhas de ônibus para atender a</p><p>população, contendo três ônibus disponíveis, que tem a meta de servir o Residencial Parque dos Caetés e</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>90</p><p>Aprígio Vilela, que foram resultados de muita luta da comunidade, pois quando foram residir no local não</p><p>havia linhas de ônibus pro mesmo. Mesmo com a atual linha devido ao alto número de moradores, os</p><p>ônibus estão sempre lotados e a logística falha muito na questão de funcionamento e tempo estimado de</p><p>trajeto e paradas. De acordo com relatos dos usuários, o coletivo só se desloca pelo entorno imediato que</p><p>desembarca as pessoas até o terminal do bairro Benedito Bentes, para distribuir no restante da cidade,</p><p>esse fator tem se tornado um enorme obstáculo a mais para essa comunidade.</p><p>Figura 06: Equipamentos de lazer dentro do conjunto habitacional.</p><p>Fonte: Autores, 2019.</p><p>Através de registros feitos em alguns pontos percorridos no Caetés, foi possível perceber espaços que</p><p>foram projetados e construídos para servir de entretenimento dos usuários. Na figura 06, apresenta uma</p><p>área destinada para o público infantil e juvenil, com a instalação de um playground de concreto, e ao lado</p><p>conta com a estrutura de quadra para prática de atividades ao ar livre. Esse espaço foi adotado por uma</p><p>das moradoras entrevistadas, que no seu discurso demonstrou muito apreço pelo lugar. Do mesmo modo,</p><p>compartilhou um sonho que tinha de intervenção nessa área aberta da quadra, seu desejo é de inserir uma</p><p>coberta para abrigar as pessoas das intempéries e permitir que o local seja utilizado para realização de</p><p>eventos produzidos pela própria comunidade. É notável o quanto o pensamento coletivo e de empatia está</p><p>inserido nesse grupo social e a disposição em agir na busca de melhorias dos interesses comunitários.</p><p>4.CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Neste artigo buscamos apresentar os impactos da segregação socioespacial identificada no Conjunto</p><p>Parque dos Caetés na cidade de Maceió-AL, tendo em vista que os moradores apresentam vulnerabilidade</p><p>econômica e distanciamento dos equipamentos urbanos, que gera limitações e desgastes diários com os</p><p>longos deslocamentos da população até às áreas de interesse distribuídas na capital. Por estar localizado</p><p>em uma área de expansão, o conjunto habitacional está distante de grande parte dos equipamentos</p><p>urbanos, que segundo a análise dos parâmetros exigidos verificou-se que o conjunto não atende aos</p><p>critérios do Selo Azul da CAIXA e os equipamentos instalados não atendem à sua população. Além disso, os</p><p>moradores enfrentam uma jornada diária de tempo de locomoção até o trabalho, em que grande maioria</p><p>estão situadas nas áreas centrais da capital.</p><p>O estudo nessa região, foi fundamental para ampliar a percepção das questões sociais que afetam</p><p>diariamente os integrantes da sociedade, percebe-se a segregação socioespacial relacionado ao centro-</p><p>periferia e a falta de equipamentos e serviços, que priva o direito dessa população mais carente no meio</p><p>urbano, não proporcionando uma boa qualidade de vida entre os moradores e a cidade, contribuindo para</p><p>a desigualdade social.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>91</p><p>Esse tipo de segregação observada no conjunto Parque dos Caetés, causa grandes problemas para Maceió.</p><p>A desigualdade social reflete-se na segregação espacial e tem como uma das principais consequências</p><p>problemas na mobilidade, uma vez que as habitações da população de classe mais baixa estão localizadas</p><p>nas periferias, longe das centralidades, das concentrações de empregos, e dos serviços e equipamentos</p><p>urbanos. Ou seja, esses fatores ampliam as desigualdades de acesso e aprofunda o abismo entre as</p><p>diferentes classes sociais. E interferem diretamente no funcionamento urbano da cidade, uma vez que</p><p>causam engarrafamentos e necessidade de maiores investimentos em transportes públicos, adensamentos</p><p>em determinadas áreas e vazios urbanos em outras, além da necessidade da extensão dos serviços e</p><p>equipamentos públicos para as áreas que não estão por completo urbanizadas.</p><p>Diante desses fenômenos urbanos, constatamos a presença de grandes áreas ociosas no seu entorno</p><p>imediato, que se torna propício à instalação desses equipamentos. Porém, por ser resultante de um</p><p>processo de espraiamento da cidade, há dificuldade em instalar esses equipamentos e as redes de</p><p>infraestrutura é maior, pois o custo é muito alto e não assegura o valor baixo dos terrenos neste</p><p>perímetro. A aquisição à terra e a manutenção dos conflitos socioeconômicos, intensificou ainda mais a</p><p>periferização do centro urbano com a autorização da inserção de conjuntos habitacionais de interesse</p><p>social em áreas carentes de infraestrutura permanente.</p><p>Consideramos que o espraiamento não é a melhor solução, em comunidades afastadas de áreas</p><p>urbanizadas, á novas demandas de equipamentos urbanos e acesso ao transporte público para o</p><p>deslocamento dessa população para outras áreas da cidade. Portanto, é importante que ocorra um melhor</p><p>planejamento urbano, com a integração dos conjuntos à cidade e criação de novas centralidades para que</p><p>toda população seja beneficiada.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>[1] F. Villaça, Espaço intra-urbano no Brasil, São Paulo: Studio Nobel, Fapesp-Lincoln Institutement, 2001, pp. 142.</p><p>[2] R. Rolnik, O que é a cidade, São Paulo: Brasiliense, 1988, pp. 42-53.</p><p>[3] E. Maricato, Qual planejamento urbano?, Cadernos IPPUR, Rio de Janeiro, Ano XI, n. 1 e 2, pp. 113-130, 1997.</p><p>A. L Cardoso, O programa minha casa minha vida e seus efeitos territoriais, Rio de Janeiro: Letra Capital, 2013.</p><p>[4] G1 Alagoas, Sem-teto ocupam sede do INSS em Maceió para cobrar moradia, available online at:</p><p>http://g1.globo.com/al/alagoas/noticia/2013/07/sem-teto-ocupam-outra-sede-do-inss-em-maceio-para-cobrar-</p><p>moradia.html, 2013.</p><p>[5] V Pedrassa, M. I. Villac, Habitação de Interesse Social (HIS) como instrumento de construção da cidade e inclusão</p><p>social, Vitruvius, a. Julho de 2019.</p><p>[6] E. Maricato, Para entender a Crise Urbana, São Paulo: Expressão Popular, 2015, pp. 81.</p><p>[7] Plano de Mobilidade, Caracterização e diagnóstico da área de estudos e resultados das pesquisas, Maceió:</p><p>Secretaria de Estado da Infraestrutura, available online at:</p><p>http://www.maceio.al.gov.br/wpcontent/uploads/admin/pdf/2015/10/VLT-P9-A3-Plano-de-Mobilidade-</p><p>26_09_2014.pdf, 2014, pp. 111.</p><p>[8] Caixa, Selo casa azul: Boas práticas para habitação mais sustentável, São Paulo, 2010.</p><p>[9] J. M. R. G. Lamas, Morfologia urbana e desenho da cidade, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004, pp. 100.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>92</p><p>Capítulo 8</p><p>El rol del Estado en la integración espacial, movilidad</p><p>urbana y acceso a oportunidades en el hábitat</p><p>popular. El caso del periurbano de San Juan, Argentina</p><p>Carlos Romero Grezzi</p><p>Alción Alonso Frank</p><p>Ana María Blanco Avila</p><p>Mirta Beatriz Romero</p><p>Carlos Reinuaba</p><p>Alejandra Albarracín</p><p>Resumen: La producción de espacio urbano no es un mero acontecimiento material. A</p><p>esta instancia quedan ligadas ciertas condiciones para el devenir social, el modo en que</p><p>se ciñe el despliegue de prácticas cotidianas, así como los costos y oportunidades de</p><p>habitar el territorio. Muchos de estos efectos tienen relación con las posibilidades de</p><p>desplazamiento que ofrece el espacio producido: aquellos que lo habitan necesitan</p><p>moverse a través de él para acceder a bienes y servicios, para integrarse o sostenerse</p><p>dentro del mercado de trabajo, para conectarse con otras personas y conformar</p><p>determinadas redes sociales. En un contexto donde el Estado asume un rol</p><p>preponderante en la producción de espacios urbanos y periurbanos destinados a</p><p>vivienda social, resulta de gran importancia lograr un mayor entendimiento de cuáles</p><p>son los costos sociales y económicos derivados de las configuraciones espaciales</p><p>asociadas al modo público de</p><p>resolver la construcción de nuevos barrios residenciales.</p><p>En este marco, es objetivo de este trabajo mostrar los niveles de integración espacial que</p><p>presentan algunos barrios construidos por el Instituto Provincial de la Vivienda en el</p><p>periurbano oeste del Área Metropolitana de San Juan, Argentina; mostrando cómo</p><p>aquellas estructuras más desintegradas redundan, en definitiva, en una reducción de las</p><p>posibilidades de desarrollo socioeconómico para la población local. Finalmente, se busca</p><p>que las conclusiones sirvan como aporte a políticas habitacionales que pretendan</p><p>producir «espacios de oportunidad» en áreas periféricas. Se recurre a una metodología</p><p>de cálculo de conectividad vial basada en la Sintaxis Espacial, en complemento con datos</p><p>obtenidos en el sector de estudio.</p><p>Palavras-chave: Accesibilidad; Áreas periféricas; Rol del Estado.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>93</p><p>1. INTRODUCCIÓN</p><p>En un contexto donde el Estado asume un rol preponderante en la producción de espacio urbano y</p><p>periurbano destinado a vivienda social, resulta fundamental un conocimiento más profundo acerca de los</p><p>costos sociales y económicos derivados de las configuraciones espaciales, especialmente de aquellas</p><p>resueltas a través de políticas habitacionales. Para ello es necesario entender que todo proceso</p><p>habitacional se genera en el marco de un sistema social, político y económico determinado, por lo que la</p><p>formulación e implementación de políticas resultan no sólo de factores económicos (recursos,</p><p>disponibilidad de financiamiento, créditos, poder adquisitivo de la población), sino principalmente de la</p><p>correlación de distintas fuerzas sociales, que poseen diferentes posicionamientos políticos dentro de una</p><p>determinada sociedad, durante un cierto período histórico.</p><p>El Estado, con sus contradicciones y tensiones internas, se materializa a través de un conjunto de aparatos</p><p>institucionales en las que se encarna (administración), como así de políticas públicas. Ambas</p><p>objetivaciones no son neutrales. Desde el marco teórico al que se adhiere, “las políticas públicas son</p><p>proyectos y actividades que un Estado diseña y gestiona a los fines de satisfacer necesidades de una</p><p>sociedad y, por tanto, el objeto o finalidad principal debe ser la sociedad” (Graglia, 2004, p. 28). Desde este</p><p>punto de vista, las políticas públicas para ser definidas como tales, deben orientarse a la satisfacción social</p><p>entendida como calidad de vida deseada o bien común, siendo el Estado, a través de un gobierno y una</p><p>administración, el principal responsable de las mismas (aunque no exclusivo ni excluyente) (Graglia,</p><p>2004).</p><p>Las contradicciones y tensiones mencionadas se evidencian en el escenario metropolitano como resultado</p><p>de la fragmentación de las decisiones en materia de políticas territoriales y las dificultades del Estado para</p><p>desarrollar formas eficaces de intervención sobre el territorio.</p><p>Con este marco, la política de vivienda se concibe como el conjunto de decisiones y acciones (directas e</p><p>indirectas) del Estado en materia habitacional, según el mandato que ha recibido de la población, teniendo</p><p>en cuenta las diferencias existentes en relación con el poder y las características propias del</p><p>funcionamiento del sistema político en busca de resoluciones adecuadas a las necesidades y problemas</p><p>existentes. Al respecto de las necesidades sociales, éstas se conciben como carencias de una sociedad</p><p>(internacional, nacional o local), es decir, lo que la misma requiere o precisa como calidad de vida deseada</p><p>o bien común. La satisfacción social de esas carencias puede ser demandada o no. A partir de ello, los</p><p>problemas públicos son aquellos “impedimentos que un Estado, es decir un gobierno o una administración</p><p>(nacional, provincial o municipal), debe resolver para satisfacer las necesidades de una sociedad” (Graglia,</p><p>2004, p. 31).</p><p>En ilación, la orientación de las políticas urbanas llevadas adelante por los gobiernos locales, si bien tienen</p><p>la posibilidad de favorecer procesos de integración socio-territorial, en muchos casos generan una ciudad</p><p>cada vez más excluyente, tras responder a los intereses privados por encima del derecho a la ciudad que el</p><p>conjunto de la población posee. De manera que “el escenario urbano resultante, continúa poniendo en</p><p>evidencia una diferencia cada día más nítida entre las partes más ricas y más pobres de cada ciudad” (De</p><p>Mattos, 2008, p. 55).</p><p>2. DESARROLLO</p><p>Las metrópolis actuales se encuentran en un profundo proceso de transformación, que afecta</p><p>significativamente a las estructuras territoriales de sus periferias, resultado de los cambios de uso de</p><p>suelo evidenciados en las áreas de borde de la mancha urbana. Este proceso, promovido por una continua</p><p>expansión urbana sobre los territorios periurbanos, genera desequilibrios territoriales que, enmarcados</p><p>en procesos globales, pone en tela de juicio la sostenibilidad de los actuales procesos de planificación y</p><p>gestión urbana.</p><p>La actividad de mayor relevancia en las transformaciones territoriales que experimentan las ciudades</p><p>tiene que ver con la producción de espacio urbano, principalmente de uso residencial. Este fenómeno, que</p><p>se replica en toda Latinoamérica, cuestiona la eficiencia urbanística de las ciudades y áreas</p><p>metropolitanas, donde los desequilibrios y desigualdades en el acceso a la tierra urbana, los agudos</p><p>problemas de segregación socio-espacial, la asimétrica disponibilidad de medios de movilidad accesibles,</p><p>los impactos de la libre operación del mercado inmobiliario sobre la calidad de vida urbana, entre otros,</p><p>definen algunas de las problemáticas que atraviesan los territorios.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>94</p><p>En este sentido, se evidencia que la producción de espacio urbano no es un mero acontecimiento material,</p><p>sino que favorece o restringe procesos a través de la creación de estructuras fijas en el territorio. En este</p><p>proceso creativo, las propiedades materiales y dominiales del espacio exigen reconsiderar el valor e</p><p>implicancias de su producción, que puede servir tanto para promover el desarrollo de ciertos capitales</p><p>como para fijar problemáticas en el territorio (Bravo, 2017 apud Romero Grezzi, 2018). Por ende, a esta</p><p>instancia quedan ligadas ciertas condiciones para el devenir social, el modo en que se ciñe el despliegue de</p><p>prácticas cotidianas, así como los costos y oportunidades de habitar el territorio.</p><p>Bajo este marco, no puede resultar indiferente la definición de tipologías de vivienda a utilizar, los</p><p>sectores urbanos a intervenir, la preexistencia de equipamientos, infraestructuras, y configuración de las</p><p>dinámicas productivas. Adquieren gran relevancia las decisiones que definen dónde, cómo y en relación a</p><p>qué debe ser producido el nuevo espacio urbano, de modo que éste resulte el sustento y promotor de</p><p>oportunidades para aquellos que lo habitarán, para su entorno inmediato y para el funcionamiento</p><p>armónico de la estructura urbana a la que pertenece (Romero Grezzi, 2018).</p><p>3. CASO DE ESTUDIO: LAS POLÍTICAS HABITACIONALES EN EL PERIURBANO DE SAN JUAN</p><p>A partir de la década de 1970, el Área Metropolitana de la Ciudad de San Juan (AMSJ) manifiesta un</p><p>acelerado crecimiento urbano de tipo difuso, de baja densidad, con elevada dispersión y discontinuidad,</p><p>generando escenarios de alto impacto social y ambiental. Este proceso, llevado a cabo en el marco de los</p><p>menores precios de la tierra productiva-rural en comparación con los precios de la tierra urbana, produce</p><p>suelo urbano periférico mediante la retracción, relocalización y desplazamiento de los suelos agrícolas</p><p>frente a la ocupación urbana (Taber y Nozica, 2011; Malmod et al., 2014). Cuestión ésta que adquiere una</p><p>particular relevancia para el AMSJ debido a la importancia productiva que el periurbano posee en la</p><p>región, en un contexto donde, por un lado, sólo el 2,5% de la superficie provincial está disponible para la</p><p>ocupación</p><p>humana y, por el otro, la disminución de la superficie cultivable que presentan los municipios</p><p>del AMSJ alcanza una merma del 10% entre los ciclos 2000/01 y 2006/078.</p><p>Dichas transformaciones en la periferia de la Ciudad de San Juan tienen al Estado como actor principal, en</p><p>donde los abordajes sectoriales de las políticas de vivienda implementadas por el Instituto Provincial de la</p><p>Vivienda evidencian que, si bien ha permitido solucionar la urgencia del problema habitacional, la</p><p>expulsión de los sectores populares “a la periferia de la periferia”, acentúa la desigualdad socio-territorial,</p><p>al condicionar las posibilidades de movilidad y, en ello, de accesibilidad al trabajo o a los servicios</p><p>satisfactores de sus necesidades (Garay, 2015). Dicha situación contribuye a la configuración de territorios</p><p>fragmentados espacialmente y segmentados socialmente, lo que acentúa la situación de vulnerabilidad</p><p>social de las comunidades que habitan en estos territorios periurbanos haciendo que, en muchos casos, la</p><p>población no pueda desarrollar estrategias que le posibiliten satisfacer sus necesidades básicas y, por</p><p>ende, conservar o mejorar sus condiciones de vida.</p><p>En este sentido, resulta interesante reflexionar acerca de algunos de los efectos más importantes que las</p><p>políticas habitacionales generan sobre la vida de sus destinatarios y sobre las transformaciones de escala</p><p>urbana y metropolitana que éstas han promovido. Muchos de estos efectos tienen relación con las</p><p>posibilidades de desplazamiento que ofrece el espacio producido: aquellos que lo habitan necesitan</p><p>moverse a través de él para acceder a bienes y servicios, para integrarse o sostenerse dentro del mercado</p><p>de trabajo, para conectarse con otras personas y conformar determinadas redes sociales.</p><p>4. MOVILIDAD URBANA Y ACCESIBILIDAD EN TERRITORIOS PERIURBANOS DEL AMSJ</p><p>Las políticas habitacionales influyen decisivamente en los sistemas de transporte y modelos de movilidad</p><p>urbana. En esta línea, Zárate Martín (1991) expone que “en la actualidad, la eficiencia del funcionamiento</p><p>de las ciudades, se mide y percibe por la capacidad de desenvolvimiento de los sistemas y redes de</p><p>transporte público, que guardan estrecha relación con la morfología de las aglomeraciones, con los</p><p>modelos actuales de distribución espacial de las funciones urbanas con la evolución de los usos del suelo, y</p><p>con el contexto socioeconómico” (apud Tejada y Gallegos, 2016, p. 6). A partir de ello, se entiende al</p><p>territorio como “escenario de los desplazamientos cotidianos que realizan las personas para satisfacer sus</p><p>necesidades y dar cumplimiento a sus obligaciones” (Parras, 2014, p. 32).</p><p>8 Según el Plan de Ordenamiento Territorial del Área Metropolitana de San Juan (PLAM SJ) del año 2015.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>95</p><p>En las últimas décadas, los sistemas de transporte y movilidad se han caracterizado por un aumento</p><p>considerable del uso del automóvil particular, con el consiguiente desarrollo de infraestructura viaria.</p><p>Entre algunos de los efectos más adversos de este modelo de movilidad se pueden distinguir: congestión y</p><p>pérdida correspondiente de productividad y de tiempo de desplazamiento; mayor costo del transporte</p><p>para la comunidad; mayor consumo de energía para el transporte de pasajeros; contaminación y sus</p><p>consiguientes problemas para la salud; contribución al cambio climático; menor calidad de vida urbana;</p><p>problemas de salud provocados por la falta de ejercicio físico; exclusión social de quienes no pueden</p><p>permitirse vivir cerca del centro urbano y no tienen acceso a un automóvil particular, entre otros.</p><p>Si bien, en todas las ciudades del mundo, la integración de las diversas modalidades de transporte y</p><p>movilidad en la planificación urbana constituye un reto, el problema resulta especialmente desafiante en</p><p>ciudades, como las de San Juan, que experimentan una acelerada expansión.</p><p>Tras observar el crecimiento de la mancha urbana del AMSJ es posible distinguir en su configuración una</p><p>dinámica de “concentración difusa” (Blanco y San Cristóbal, 2012). La misma promueve la supremacía de</p><p>un modelo de movilidad automóvil-intensivo “accesible por clases medias y altas” subordinando,</p><p>consecuentemente, la movilidad de las clases de menos recursos apoyadas prioritariamente en el</p><p>transporte público (ver Figura 01). El diferencial alcance espacial de dichas modalidades de movilidad</p><p>determina una accesibilidad desigual a las redes metropolitanas. De esta manera, la apropiación de las</p><p>ventajas de accesibilidad por parte de los actores con mayor poder se refleja, por ejemplo, en la ocupación</p><p>del frente de las autopistas, mientras que los sectores de menores ingresos sólo tienen como alternativa</p><p>localizaciones intersticiales, mal provistas o incluso desprovistas de transporte público (Blanco, 2015).</p><p>Figura 01: Evolución temporal del ejido urbano. Fuente: Proyecto de Investigación y Desarrollo Aplicado</p><p>(IDEA) Repensar la ciudad: estudio prospectivo para la gestión del crecimiento urbano del Gran San Juan</p><p>al 2030. Instituto Regional de Planeamiento y Hábitat (IRPHa-UNSJ).</p><p>Este modelo basado en la dependencia del automóvil ha desempeñado un papel destacado en la</p><p>estructuración de los espacios urbanos y periurbanos entorno a los corredores viarios que son</p><p>contemplados según los requerimientos de capacidad, velocidad y seguridad, en desmedro de las</p><p>dimensiones sociales y ambientales. De esta manera, las redes de infraestructuras de transporte y</p><p>movilidad, entendidas como soporte de las interrelaciones económicas y sociales entre las actividades</p><p>urbanas, se acentúa sobre la lógica funcional en las técnicas de su planeamiento y diseño (Alarcón et. al,</p><p>2011). Lo expuesto denota la “decisión política de la gestión local de impulsar procesos de transformación</p><p>urbana de forma radical sin reparar en los costos políticos o sociales de ello ni en la posible oposición de</p><p>una parte de la población” (Guevara, 2017, p. 281).</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>96</p><p>5. METODOLOGÍA</p><p>El presente trabajo de investigación emplea el modelo de Sintaxis Espacial, desarrollado originalmente por</p><p>Hillier y Hanson (1984), actualmente de uso frecuente en institutos de investigación y oficinas de</p><p>planificación a nivel internacional, producto de las facilidades que presentan las nuevas aplicaciones o</p><p>software.</p><p>La Sintaxis Espacial se sustenta en la Teoría de Grafos, la cual responde principalmente a un análisis</p><p>descriptivo-explicativo, es decir, al estudio morfométrico de las redes para conocer su estructura y</p><p>desarrollo, donde el acento es puesto en las propiedades topológicas de las mismas (conectividad,</p><p>accesibilidad) más que en sus dimensiones reales. Bajo esta perspectiva, se considera un idóneo</p><p>mecanismo de abstracción para evidenciar las relaciones funcionales e interacciones entre</p><p>infraestructuras de transporte, asentamientos y actividades humanas con el territorio sobre el cual se</p><p>emplazan.</p><p>De las múltiples aplicaciones que posee la Sintaxis Espacial, en el presente estudio se la utiliza para</p><p>establecer el valor de la integración vial a efectos de conocer qué tan accesible es un elemento desde</p><p>cualquier otro punto de la red. El modelo presenta la ventaja de poseer un enfoque flexible que permite</p><p>agilizar la representación de una red urbana compleja (Patterson, 2016). De esta manera es posible</p><p>analizar nuevos patrones de movilidad que sirvan de aporte a la redefinición de políticas públicas</p><p>integrales que impacten en la movilidad urbana. A la vez, su análisis en el tiempo permite establecer la</p><p>correspondencia que existe entre la configuración del espacio urbano y las formas que adoptan las</p><p>prácticas sociales en la microescala del espacio (Hillier y Vaughan, 2007; Martínez-Martínez y Agüero-</p><p>Valverde, 2017). Así, la Sintaxis Espacial, al hacer posible el análisis de la accesibilidad presente en la</p><p>morfología</p><p>urbana, constituye una herramienta útil que permite examinar los potenciales efectos de las</p><p>configuraciones espaciales propuestas en las políticas habitacionales implementadas (Penn et al. 1998;</p><p>Karimi and Mohamed 2003; Dawson, 2003).</p><p>De esta manera, el análisis de configuración espacial para el caso de estudio propuesto, el AMSJ, se realizó</p><p>a través del software Depth Map. Dicha herramienta permitió la construcción de cartografía posibilitando</p><p>el estudio de los niveles de profundidad, conectividad, integración y choice presentes, así como la</p><p>observación de las relaciones que se dan entre ellos en dos escalas diferentes. Estas últimas nociones se</p><p>encuentran definidas de la siguiente manera:</p><p> La profundidad o nivel de profundidad se refiere a la distancia topológica entre componentes de</p><p>la red. La medida de profundidad es relativa a la localización de cada unidad en el sistema y depende del</p><p>tamaño del sistema por lo que no puede ser comparada a menos que se use una escala común (Martínez-</p><p>Martínez y Agüero-Valverde, 2017).</p><p> La conectividad, por otra parte, se define como la cantidad de elementos que se pueden relacionar</p><p>desde un punto en el primer nivel de profundidad (Martínez-Martínez y Agüero-Valverde, 2017).</p><p> El análisis de integración se puede realizar de forma global o local, esto significa que se puede</p><p>establecer un límite superior al nivel de profundidad de análisis para los elementos y de esta forma hacer</p><p>más regional el estudio, pero son las “características de configuración globales, más que las locales, las que</p><p>son importantes en el funcionamiento urbano” (Pereira, et al., 2012).</p><p> Por último, el análisis choice diferencia las rutas más cortas para el desplazamiento del sistema. El</p><p>nivel de choice global representa el tráfico a mayor escala mientras que el local considera el tráfico a</p><p>menor rango, útil para el estudio de los desplazamientos a nivel peatonal (Andrade et al., 2015).</p><p>6.ANÁLISIS DE LOS RESULTADOS</p><p>A continuación, se exponen los resultados derivados de la aplicación de la metodología enunciada (ver</p><p>Figuras 02 a 05).</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>97</p><p>Figura 02: Nivel de Profundidad Media (R2) de vías del AMSJ. Fuente: Elaboración propia.</p><p>Figura 03: Nivel de Conectividad de vías del AMSJ. Fuente: Elaboración propia.</p><p>Figura 04: Niveles de Integración (R2) del AMSJ. Fuente: Elaboración propia.</p><p>Figura 05: Nivel de Choice (R2) del AMSJ. Fuente: Elaboración propia.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>98</p><p>A efectos de mostrar los niveles de integración espacial que presentan algunos barrios construidos por el</p><p>Instituto Provincial de la Vivienda (IPV) en el periurbano oeste del AMSJ, se hace un análisis local del</p><p>distrito La Bebida, localizado al suroeste del departamento Rivadavia, dentro del límite urbano establecido</p><p>por la Dirección de Planeamiento y Desarrollo Urbano de la Provincia de San Juan (DPDU).</p><p>La Bebida, a partir del año 2007, comenzó un acelerado proceso de transformación territorial al recibir</p><p>asentamientos erradicados que, originalmente, se localizaban en sectores marginales de diferentes</p><p>departamentos de la Ciudad de San Juan. Dicha relocalización fue ejecutada a través de programas</p><p>gubernamentales, duplicando en poco tiempo el número de habitantes existentes originariamente en la</p><p>localidad, y acentuando las condiciones de vulnerabilidad socio-espacial que presentan algunas</p><p>poblaciones locales. Tanto por el modus operandi bajo el cual se llevó adelante este proceso, por los</p><p>criterios de localización, como por las condiciones socio-económicas propias de los grupos sociales</p><p>trasladados, quedó dificultado el acceso a espacios y sistemas de movilidad que le permitiera a los nuevos</p><p>residentes satisfacer sus necesidades básicas y, por ende, mejorar sus condiciones de vida.</p><p>A partir de la aplicación de la metodología propuesta en el Distrito de La Bebida, se obtienen los niveles de</p><p>integración diferenciales que, a su vez, evidencian accesibilidades relativas deficientes con fragmentación</p><p>espacial y áreas poco articuladas (ver Figura 06). Los déficits de conectividad que presentan las nuevas</p><p>áreas residenciales de la periferia urbana se traducen en un mayor costo de desplazamiento, y en una</p><p>reducción de las posibilidades de acceder a bienes y servicios públicos complementarios al uso</p><p>residencial. Esto se torna de gran importancia, sobre todo si se considera que las dificultades de</p><p>desplazamiento para sectores de mayor vulnerabilidad social y económica tienen notable incidencia sobre</p><p>sus posibilidades de desarrollo. En este contexto, la vivienda social constituye quizás una mejora sobre la</p><p>calidad espacial de residencia, aunque, al mismo tiempo, obstaculiza la superación de condiciones críticas</p><p>y su efectiva integración al mercado de trabajo. Así, las intervenciones promovidas por el Estado y la</p><p>dinámica generada por el mercado de suelo, suscita procesos de degradación socio-ambiental,</p><p>marginalidad y pobreza al interior del distrito.</p><p>Figura 06: Nivel de Integración del Distrito La Bebida, Departamento Rivadavia. Fuente: Elaboración</p><p>propia.</p><p>7. CONCLUSIONES</p><p>Avanzar en el conocimiento de la relación entre la configuración del espacio y el devenir social y</p><p>económico de quienes lo habitan, se torna relevante ante la necesidad de conocer con mayor profundidad</p><p>cual es el costo real del emplazamiento de un nuevo barrio, y no sólo a nivel económico en referencia a lo</p><p>edilicio o infraestructural, sino en un sentido holístico. Esta investigación se propone avanzar</p><p>precisamente en esta línea, entendiendo que la movilidad es solo una de las dimensiones que deben</p><p>abordarse en pos de conocer mejor las derivaciones reales de la política habitacional. Habiendo explorado</p><p>esta dimensión, ligada a la movilidad, comienzan a demandar mayor conocimiento algunas dimensiones</p><p>complementarias. Por ejemplo, nos preguntamos cuál es el impacto que tiene sobre las posibilidades de</p><p>desarrollo local una determinada distribución de usos de suelo, o qué cantidad de energía adicional</p><p>implica el diseño de orientaciones solares desfavorables, qué implicancias alcanzan sobre el sistema</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>99</p><p>público de salud las ampliaciones subrepticias de las viviendas existentes por falta de iluminación o</p><p>ventilación adecuada o, incluso, por déficits en términos sanitarios; entre otros.</p><p>En síntesis, el camino hacia políticas habitacionales sustentables desde la perspectiva presentada requiere</p><p>que éstas logren acercar oportunidades de desarrollo a las capacidades locales de aprovecharlas. En estos</p><p>términos, el barrio, será una mejor inversión cuanto menor sea su costo, no entendido en términos</p><p>económicos, sino en el que se transfiere en posibilitar mayores oportunidades para aquellos que lo</p><p>habitarán.</p><p>A partir de las evidencias mostradas en este breve trabajo, se propone entonces comenzar a entender la</p><p>producción pública de nuevas áreas residenciales como un proceso determinante en la construcción de un</p><p>hábitat de oportunidades para el desarrollo personal y comunitario. El acceso a estas oportunidades</p><p>dependerá, en gran medida, de cómo estén configurados los espacios en el hábitat cotidiano. Así, cada</p><p>barrio construido se convierte en una estructura de oportunidades para el desarrollo de diversos</p><p>capitales: capital social, capital humano, capital espacial y, también, capital económico. Estas</p><p>consideraciones cobran relevancia a la hora de pensar la política habitacional en contextos de alta</p><p>vulnerabilidad, como es el caso del Distrito de La Bebida, entendiendo que los déficits identificados no</p><p>quedan asociados exclusivamente a una carencia específica e inmediata, sino a procesos sociales,</p><p>económicos y políticos; a «entornos» que los determinan y sobre los que es necesario planificar las</p><p>actuaciones.</p><p>Por último, se pone en valor la herramienta de Sintaxis Espacial</p><p>por posibilitar el presente análisis integral</p><p>del AMSJ. Los resultados obtenidos serán presentados a la Secretaría de Estado del Gobierno local y al</p><p>Instituto Provincial de la Vivienda para su implementación a modo de sustento de futuras políticas</p><p>habitacionales que pretendan producir «espacios de oportunidad» en áreas periurbanas del territorio</p><p>provincial.</p><p>REFERENCIAS</p><p>[1] Alarcón, A., Montlleó, M. y Herce Vallejos, M. Infraestructuras y Medioambiente. Carajillo de la ciudad-</p><p>Revista digital del Programa en Gestión de la Ciudad. Cataluña, España, Año 3, N. 8, marzo 2011. Disponible en:. Acceso el: 20 de agosto de 2019.</p><p>[2] Andrade, E., Orellana, N., Mesa, J. y Felmer, P. Configuración Espacial y Sociedad. Comparación Socio-Espacial</p><p>entre Feria Libre Tristán Matta y Mercado Tirso de Molina. En: SIGRADI 2015, XIX Congreso de la Sociedad</p><p>Iberoamericana de Gráfica Digital (SIGRADI), 2015, 23-27 de noviembre, Florianópolis, Brasil: Universidad Federal de</p><p>Santa Catarina, 2015, pp. 481-485.</p><p>[3] Blanco, J. y San Cristóbal, D. Reestructuración de la red de autopistas y metropolización en Buenos Aires.</p><p>Revista Iberoamericana de Urbanismo (RIURB). Barcelona, España, Año 2012, N. 8, septiembre 2012. Disponible</p><p>en:. Acceso el: 20 de agosto de 2019.</p><p>[4] Blanco, J. Conferencia dada en Propuestas para el Área Metropolitana de Buenos Aires (PropAMBA):</p><p>Transporte Público Para la Región Metropolitana, Buenos Aires, Argentina, 2015. Disponible en:</p><p>. Acceso el: 20 de agosto de 2019.</p><p>[5] Bravo, P. Desafíos urbanos latinoamericanos y caribeños de cara a los objetivos de desarrollo sustentable y a</p><p>la nueva agenda urbana. Revista INVI. Santiago de Chile, Chile: Instituto de la Vivienda, Facultad de Arquitectura y</p><p>Urbanismo, Universidad de Chile, Vol. 32, N. 89, pp. 199-211.</p><p>[6] Dawson, P. Analysing the effects of spatial configuration on human movement and social interaction in</p><p>Canadian Arctic communities. Ponencia presentada en IV Congreso Internacional de Sintaxis Espacial, Londres</p><p>Inglaterra, 17 a 19 de junio de 2003.</p><p>[7] De Mattos, C. Globalización, negocios inmobiliarios y mercantilización del desarrollo urbano. En: Córdova</p><p>Montúfar, M. (Coord.). Lo urbano en su complejidad: una lectura desde América Latina. Quito, Ecuador: Facultad</p><p>Latinoamericana de Ciencias Sociales (Flacso) Sede Ecuador, 2008, pp. 35-62.</p><p>[8] Garay, F. La Problemática de Vivienda en Argentina. Ponencia presentada en las Jornadas Ugycamba Fadu-</p><p>Uba: Hacia Nuevos Paradigmas de Políticas de Hábitat: EL Derecho A LA Ciudad, Buenos Aires, Argentina, 22 a 25 de</p><p>abril de 2015.</p><p>[9] Graglia, E. Diseño y gestión de políticas públicas: hacia un modelo relacional. Córdoba, Argentina: Editorial de</p><p>la Universidad Católica de Córdoba, 2004.</p><p>[10] Guevara, T. Gobernanza urbana, políticas urbanas y valorización inmobiliaria: el mito del derrame espacial.</p><p>En: Ziccardi, A. y Cravacuore, D. (Coords.). Los Gobiernos Locales y las políticas de vivienda en México y América</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>100</p><p>Latina. Buenos Aires, Argentina: Ediciones del Centro Cultural de la Cooperación Floreal Gorini; Quilmes: Universidad</p><p>Nacional de Quilmes; México D.F.: Universidad Nacional Autónoma de México, 2017, pp. 263-285.</p><p>[11] Hillier, B. y Hanson, J. The social logic of space. New York, Estados Unidos: Cambridge University Press, 1984.</p><p>[12] Hillier, B. y Vaughan, L. The city as one thing. Revista Progress in Planning. Londres: Inglaterra: Bartlett</p><p>School of Graduate Studies, University College de Londres, Vol. 67, N. 3, abril 2007, pp. 205-230.</p><p>[13] Karimi, K. y Mohamed, N. The tale of two cities: the dynamics of the city Isfahan in the past and present.</p><p>Ponencia presentada en IV Congreso Internacional de Sintaxis Espacial, Londres Inglaterra, 17 a 19 de junio de 2003.</p><p>[14] Malmod, A., Tonelli, I, y Deiana, S. Crecimiento urbano periférico. Planificación y mercado de suelo en la</p><p>ciudad de San Juan, Argentina. 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Déficit habitacional en Argentina: el territorio como alternativa. Revista Andinas. San Juan,</p><p>Argentina: Facultad de Arquitectura, Urbanismo y Diseño, Universidad Nacional de San Juan, Año 08, N. 7, diciembre</p><p>2018, pp. 20-31.</p><p>[22] Taber, E. y Nozica, G. Crecimiento urbano y mercado de suelo en la ciudad de San Juan, Argentina. Ponencia</p><p>presentada en el XXIII Congreso Internacional de la Asociación Latinoamericana de Sociología (Alas), Recife, Brasil, 6 a</p><p>11 de agosto de 2011.</p><p>[23] Tejada, H. y Gallegos, G. Estructuración, configuración y accesibilidades en el Gran San Juan y alrededores en</p><p>función de la provisión del servicio de transporte público de pasajeros. Revista EntreVistas. San Juan, Argentina, Año</p><p>7, N. 8, diciembre 2016. Disponible en: . Acceso el: 20 de agosto de 2019.</p><p>[24] Zárate Martín, A. El espacio interior de la ciudad. Madrid, España: Editorial Síntesis, 1991.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>101</p><p>Capítulo 9</p><p>A consolidação da Politica de Regularização Fundária:</p><p>O caso de Juiz de Fora (MG)</p><p>Mariana Camillo Sant’Ana</p><p>Teresa Cristina de Almeida Faria</p><p>Resumo: Enquanto moradia for um privilégio, ocupar é um direito.’’ Assim já diziam os</p><p>movimentos populares urbanos brasileiros. Desde a década de 1940, a industrialização</p><p>desencadeou uma rápida urbanização, corroborando para o surgimento de fenômenos</p><p>como a segregação e exclusão social. O modelo de cidade decorrente desse processo se</p><p>caracterizou pela valorização das áreas centrais, ocupadas pelas classes de maior renda,</p><p>restando à população de baixa renda ocupar as áreas periféricas do tecido urbano, sem</p><p>infraestrutura serviços urbanos, ampliando as áreas informais (BONDUKI, 1988). Ao</p><p>longo da história da urbanização brasileira, diferentes políticas habitacionais tentaram</p><p>corrigir esse tipo de ocupação</p><p>através da erradicação da cidade informal, com a remoção</p><p>de famílias. Essa política não alcançou bons resultados, nem tão pouco conteve o</p><p>crescimento desse tipo de ocupação. Na década de 1980, verifica-se o desenvolvimento</p><p>de algumas políticas favoráveis à manutenção dessas ocupações, mas o marco legal da</p><p>regularização desses espaços aconteceu somente em 2009 com a publicação da lei</p><p>11.977/2009 que regulamenta a regularização fundiária sustentável. Esta lei visa a</p><p>melhor qualidade de vida dos moradores, para além da questão jurídico-nominal. Ela</p><p>também propõe intervenções de caráter ambiental, físico/ urbanístico e social. Já em</p><p>2017, uma nova lei foi promulgada, com o texto específico para a regularização</p><p>fundiária, ampliando o seu conteúdo. Em Juiz de Fora, o contexto em que se desenvolveu</p><p>as políticas habitacionais não foi diferente. A cidade mineira da Zona da Mata, já em</p><p>meados de 1950 apontava suas primeiras ocupações informais (ABREU, 2010). Desse</p><p>modo, este trabalho tem como objetivo fazer uma análise das políticas habitacionais que</p><p>foram efetivadas no município de Juiz de Fora, referente às ocupações informais do</p><p>espaço urbano. Para o desenvolvimento do trabalho, foi realizada uma pesquisa junto</p><p>aos órgãos municipais e acesso aos processos jurídicos já consolidados de regularização.</p><p>Sabe-se que atualmente a cidade de Juiz de Fora, apresenta 136 áreas de ocupação</p><p>informais e em torno de 41 já regularizadas, por diferentes instrumentos que serão</p><p>exemplificados no trabalho (JUIZ DE FORA, 2017). Destacou-se também o papel da</p><p>Empresa Regional de Habitação, responsável desde 1987 pela execução das políticas de</p><p>regularização. É notável a ausência de políticas habitacionais que procuram promover,</p><p>assim como a Lei Federal 13.465/17 institui , perpassando todas as frentes - social,</p><p>ambiental, urbana. Mas por o outro lado, o município busca por uma retomada do</p><p>planejamento da política de regularização, agora ministrado pela Secretária de</p><p>Planejamento e Gestão da Prefeitura municipal.</p><p>Palavras-chave: Regularização fundiária, ocupação informal, Juiz de Fora</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>102</p><p>1. INTRODUÇÃO</p><p>Após um intenso movimento socioterritorial em meados de 1940, as cidades passaram a abrigar a maior</p><p>parte da população brasileira. A população de baixa renda foi excluída do modelo de desenvolvimento</p><p>urbano, restando apenas as áreas periféricas do tecido urbano para ocupar, com pouca ou nenhuma</p><p>infraestrutura disponível. Atualmente, as ocupações irregulares podem ser observadas na maioria das</p><p>cidades brasileiras, como comprova um estudo citado por Rolnik (2006). Para a autora, a exclusão desta</p><p>população à cidade formal vai além de uma questão apenas territorial, mas também impede o acesso ao</p><p>desenvolvimento econômico e humano.</p><p>Por algum tempo, o posicionamento dos governos foi com políticas de erradicação desses aglomerados,</p><p>que não trouxeram bons resultados nem mesmo contiveram o crescimento das mesmas. Depois adotou-se</p><p>a premissa de melhoria destes locais, com a injeção de investimentos de maneira pontual, na urbanização</p><p>das ocupações. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, os assentamentos irregulares</p><p>ganharam legitimidade e consequentemente uma maior dedicação do poder público. Em 2001, é aprovada</p><p>a Lei Federal Nº10.257, conhecida como Estatuto da Cidade, que soma forças ao discurso de regularização</p><p>fundiária, mas somente em 2009 é instituída a Lei Federal Nº 11.977, que dispõe sobre o programa Minha</p><p>Casa Minha Vida e a regularização fundiária de assentamentos localizados em áreas urbanas.</p><p>Mais recentemente, uma nova lei foi promulgada, a Lei Federal 13.465/2017. O instituto dispõe sobre as</p><p>regularizações rurais e urbanas, de interesse social e específico e tem a proposta de ser uma lei menos</p><p>burocrática. Desde decretada, a lei vem recebendo muitas críticas de estudiosos e movimentos populares.</p><p>Uma das críticas é o de que a lei desvincula o projeto urbano da conclusão do processo da REURB</p><p>(Regularização fundiária urbana) . Quer dizer, na lei anterior, para que houvesse a titulação dos</p><p>proprietários era necessário a apresentação e o início das obras do projeto urbanização, o que na maioria</p><p>das vezes era o que deixava o processo mais lento, enquanto a atual norma diz: ‘’As obras de implantação</p><p>de infraestrutura essencial, de equipamentos comunitários e de melhoria habitacional, bem como sua</p><p>manutenção, podem ser realizadas antes, durante ou após a conclusão da Reurb “ (BRASIL, 2017, Art.36, §</p><p>3º). Com esta nova proposição, os processos tendem a ser de natureza muito mais jurídica, opondo-se a</p><p>regularização fundiária plena, da lei de 2009, que prezava por um processo de natureza ambiental, social,</p><p>urbanística e jurídica (Zamoner, 2018). As outras implicações, assim como as inovações da nova lei,</p><p>merecem ser discutidas em artigo a parte.</p><p>Segundo Abreu (2009) em Juiz de Fora, os primeiros aglomerados foram identificados em meados de</p><p>1960, de acordo com a autora que realizou uma pesquisa através de periódicos de jornais. A Vila Olavo</p><p>Costa, na região sudeste, foi umas das primeiras áreas a serem realmente classificadas como favela na</p><p>cidade e chamava atenção pelo alto número de moradias em precariedade. Em 1972, os jornais já</p><p>relatavam que 5% da população juizforana vivia em favelas. A autora destaca, que durante o período de</p><p>1960 e 1970 a construção de um parque industrial acabou atraindo mão de obra para a cidade, o que</p><p>corroborou para o crescimento das áreas informais. Em contrapartida, durante o mandato do prefeito</p><p>Mello Reis (1977- 1982), foi identificado um alto número de remoções por parte da administração pública,</p><p>em prol de grandes obras. Tal política, seguia a linha de ‘’higienização’’ das cidades, também aplicada em</p><p>outras cidades do Brasil, a exemplo do Rio de Janeiro (Abreu, 2009).</p><p>Logo após a criação do Programa Cidade de Porte Médio (PCM)9, o qual Juiz de Fora foi incluído, a cidade</p><p>passou a receber verbas volumosas, financiado pelo Banco Internacional. Desse modo, a gestão pública</p><p>pode fazer investimentos em infraestrutura e ações de regularização (Pereira,2012 apud. Granja,2019).</p><p>Nesse mesmo período, destacou-se a criação da Empresa Regional de Habitação (EMCASA), em 1986. O</p><p>principal objetivo para qual foi criada era conter o crescimento das áreas informais da cidade, através de</p><p>políticas de urbanização e comercialização de moradias para pessoas de baixa renda. Para alcançar seu</p><p>objetivo, a EMCASA, que é uma empresa de economia mista, deveria buscar parcerias com o governo</p><p>federal, estadual, municipal e até mesmo utilizar dos seus próprios recursos. Toledo (2006), apontou os</p><p>principais programas o qual a empresa teve parceria:</p><p>9 O Programa Cidades de Porte Médio foi criado em 1975 pelo Governo Federal com financiamento do Banco</p><p>Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento, tinha o objetivo de munir as cidades de médio porte, a fim que</p><p>atraíssem a população que se direcionava para as metrópoles em busca de melhores condições de vida (GRANJA,</p><p>2019)</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>103</p><p>Programa Habitar- Brasil (federal), Protech (federal), Nosso Lote (federal/municipal), Programa de</p><p>Financiamento para Material de Construção (Caixa Econômica), Programa Lares Gerais (COHAB), entre</p><p>outros. A empresa desde então, atuou por meio de construção de casas, abertura de loteamentos e venda</p><p>de lotes e regularização fundiária. Até 2006, a EMCASA já havia entregue 6725 lotes, 1521 lotes com</p><p>moradia e 1261 apartamentos. Paralelo à criação da empresa, houve a criação do Conselho Municipal de</p><p>Habitação e a Coordenadoria Geral de Regularização de Parcelamentos (CORE), este último, apesar da sua</p><p>massiva atuação foi extinta em 2003 (Toledo, 2006).</p><p>De acordo com a Secretária de Planejamento e Gestão (SEPLAG), atual responsável pelo programa de</p><p>regularização fundiária,</p><p>a cidade possui 138 áreas com ocupação informal. Dentre as áreas, 29 estão</p><p>regularizadas, 6 parcialmente regularizadas e 37 estão com o processo em aberto. A região com um maior</p><p>número de áreas identificadas é a região Leste, somando um total de 26 ocupações. Entretanto, até hoje,</p><p>somente quatro foram regularizadas (Juiz de Fora, 2018). Segundo o atual diretor da EMCASA, nos anos de</p><p>1970, a região foi um eixo de expansão da cidade, sendo alvo de investimentos particulares em</p><p>loteamentos, que mais tarde se tornaram irregulares. Por muito tempo a prefeitura não pode investir em</p><p>urbanização, uma vez que eram particulares, o que ocasionou a precariedade do espaço urbano (Granja,</p><p>2019).</p><p>O objetivo principal deste trabalho é identificar e analisar quais os instrumentos utilizados para a</p><p>consolidação da política de regularização fundiária pela Prefeitura de Juiz de Fora, visto que esta política</p><p>vem sendo desenvolvida a longo prazo e por diferentes responsáveis (EMCASA/ SEPLAG). Quais são as</p><p>regiões privilegiadas até o momento e como estas políticas estão impactando no espaço urbano da cidade?</p><p>2. A IDENTIFICAÇÃO DAS OCUPAÇÕES INFORMAIS PELO PODER MUNICIPAL</p><p>O primeiro Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Juiz de Fora (PDDU), elaborado por intermédio</p><p>do antigo IPPLAN desde 1996, mas aprovado somente em 2000, nomeou as ocupações informais em seu</p><p>diagnóstico como áreas de ocupação subnormais. Com a promulgação da lei ordinária, adotou-se a</p><p>nomenclatura de Áreas de Interesse Especial (AEIS). Na ocasião, foram identificadas 87 áreas, que se</p><p>caracterizam por: ‘’ áreas desprovidas dos padrões mínimos de infra-estrutura (água, luz e esgoto),</p><p>acessibilidade, habitabilidade ou por irregularidade na titulação dos lotes, o que as coloca numa situação</p><p>de segregação social (Juiz de Fora, 2000, art. 30º)’’. Já em 2006, com a publicação do Atlas Social que tinha</p><p>como objetivo identificar as áreas vulneráveis do município, a fim de equacionar a demanda de serviços</p><p>públicas e equipamentos urbanos, houve uma nova classificação. O trabalho foi realizado em parceria com</p><p>a EMCASA, SEPLAG e o Centro de Pesquisas Sociais da UFJF (CPS/UFJF), e classificou em Micro Áreas de</p><p>Exclusão Social (MAES) as definindo como, um conjunto de diferentes áreas com distintos graus de</p><p>precariedade. Tais áreas, foram classificadas como um subconjunto da MAES e nomeadas de Áreas de</p><p>Interesse Especial. Neste documento, foram identificados um total de 147 áreas, que foram divididos em</p><p>cinco grupos de acordo com o grau de precariedade, sabendo que as áreas do Grupo 1 são aquelas com</p><p>maior precariedade e o Grupo 5 áreas que não seriam prioridades de intervenção (Tavares, 2006). A</p><p>posteriori, desenvolveu-se o Plano Municipal de Habitação (PMH), um documento importante para</p><p>nortear as diretrizes da política habitacional juizforana, que recorreu aos dados do PDDU 2000 e Atlas</p><p>Social para desenvolver suas propostas e diretrizes. Uma nova classificação foi proposta, desta vez, as</p><p>áreas foram denominadas como Áreas de Interesses Especial e divididas em três grupos. O conceito</p><p>empregado para a caracterização foi o de moradias com inadequação domiciliar ou inadequação em</p><p>relação a situação fundiária. O documento traz informações mais detalhadas, como por exemplo, o número</p><p>de domicílios classificados em cada grupo, mas não apresenta as informações relativa ao total de áreas</p><p>identificadas, o que quebra o padrão até então utilizado.</p><p>Em um movimento de resgate de planejamento para estratégias de intervenções de regularização</p><p>fundiária e requalificação nas áreas informais, em 2017, a Secretaria de Planejamento e Gestão</p><p>(SEPLAG/JF) em parceria com o Conselho Municipal de Habitação (CMH) realizou uma atualização no</p><p>mapeamento de AEIS, baseando-se no conceito do PDDU 2000, que passaram ou devem passar por</p><p>processo de regularização fundiária. Este diagnóstico identificou 138 áreas.</p><p>Por fim, houve a conclusão da revisão do Plano Diretor e sucedeu a classificação mais atual, em 2019. Este</p><p>documento classifica as ocupações em Zonas de Interesse Especial (ZEIS) que quando estão fisicamente</p><p>próximas, duas ou mais ocupações formam as Áreas de Diretrizes Especiais (ADEs). O PD não enumerou o</p><p>total de áreas identificadas, somente demarcou as ADEs em mapa anexo. As ZEIS são caracterizadas por:</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>104</p><p>ocupadas por população predominantemente de baixa renda, socialmente</p><p>vulnerável, com baixos índices de desenvolvimento humano, com presença ou</p><p>não de riscos geológicos e de inundação, necessitando de disciplina</p><p>particularizada de uso e ocupação do solo, objetivando sua requalificação</p><p>urbanística e/ou sua regularização fundiária de interesse social (LEI</p><p>Complementar Nº82 , 2018a, art.108).</p><p>Após a publicação do Plano Diretor, a Prefeitura estabeleceu um cronograma de implementação das</p><p>atividades do PD, conforme a lei. Neste documento, considera-se que a atualização do Plano Municipal de</p><p>Habitação, principal documento para nortear as políticas habitacionais ‘’ extrapola o horizonte deste</p><p>cronograma’’, o que torna ainda mais incerto os caminhos da gestão de políticas habitacionais. Para</p><p>melhor compreensão das diferentes terminologias, elaborou-se uma tabela (01).</p><p>Tabela 1: Terminologia adotadas pela PJF entre 2000 e 2019.</p><p>Fonte: Elaborada pelos autores</p><p>Tais variações demonstram a inconstância do planejamento das políticas habitacionais da cidade. A falta</p><p>de uma única terminologia e um critério semelhante para definição das áreas ocupadas, impossibilita</p><p>traçar um crescimento, ou decrescimento preciso, de ocupações, assim como dificulta as gestões</p><p>posteriores de viabilizar políticas que sejam evidentemente eficazes.</p><p>3. METODOLOGIA</p><p>Para atingir os objetivos deste trabalho, foi feito em um primeiro momento, uma pesquisa nas produções</p><p>acadêmicas acerca do tema, que reuniram informações locais por meio de entrevistas com os servidores</p><p>da Prefeitura Municipal e inúmeras informações documentais encontradas nos arquivos da PJF e obtidas</p><p>durante os estudos em campo. Destaca-se o trabalho de Christiane Silva de Abreu (2009), intitulado: ‘’</p><p>Favela e remoção em Juiz de Fora: um estudo sobre a Vila da Prata’’, que dispõe de informações através de</p><p>periódicos de jornais da época, permitindo um traçar um rico histórico dos primeiros aglomerados</p><p>urbanos na cidade. Além disso, o trabalho de José Augusto Ribeiro Toledo: ‘’Gestão da política</p><p>habitacional: um estudo de caso em Juiz de Fora’’ que enfatizou o papel da EMCASA no cenário</p><p>habitacional a partir de sua experiência como funcionário da empresa. E também consultas ao trabalho de</p><p>Laura Santos Granja: ‘’ Regularização fundiária em assentamentos de baixa renda: avaliando experiências</p><p>a partir do caso de Juiz de Fora (MG)’’ que a partir de entrevistas com servidores e moradores, somado ao</p><p>estudo de caso nas ocupações, constitui uma análise sobre a importância dessa política fundiária,</p><p>principalmente no âmbito municipal e social.</p><p>Posteriormente, foi realizada uma consulta junto aos órgãos públicos responsáveis: SEPLAG e EMCASA,</p><p>para que houvesse uma atualização dos dados encontrados e também para uma consulta aos processos de</p><p>regularização já concluídos. Desse modo, foi produzida uma tabela, disponível ao final deste capítulo, que</p><p>possibilitou reunir e sintetizar tais informações. A tabela tinha intenção de apresentar as principais</p><p>informações do processo administrativo das áreas regularizadas, ou seja, foram recolhidos apenas os</p><p>dados referentes às áreas consideradas regularizadas pela SEPLAG.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>105</p><p>As informações reunidas foram: a localização da ocupação (região), o ano de abertura do processo, o tipo</p><p>de instrumento utilizado e por fim o número do processo, caso haja necessidade de consultas futuras.</p><p>Durante o desenvolvimento da pesquisa, surgiu a necessidade de pesquisar também sobre o ano de</p><p>conclusão dos processos,</p><p>sabendo que alguns se arrastam por muito tempo dentro da PJF. Cabe ressaltar,</p><p>que as informações cedidas pela SEPLAG, no documento: ‘’ Regularização fundiária no município de Juiz de</p><p>Fora’’, apresentaram uma incoerência de dados, quando comparados a informações10 cedidas pelos</p><p>funcionários da EMCASA. As áreas que apresentam oposição nas informações, foram destacadas em</p><p>vermelho claro na tabela e as destacadas em amarelo são áreas que foram parcialmente concluídas, ou</p><p>seja, ainda há domicílios na mesma região a serem regularizados. Por fim é realizado uma síntese das</p><p>reuniões do Conselho Municipal de Habitação, disponibilizadas em seu site, que junto de representantes</p><p>da sociedade civil e técnicos administrativos suscitam demandas sobre o cenário habitacional de Juiz de</p><p>Fora.</p><p>Tabela 2: Áreas regularizadas identificadas pela SEPLAG.</p><p>Fonte: Elaborada pelos autores com base em dados de Juiz de Fora (2018)( Tabela Editavel no final do</p><p>arquivo)</p><p>10 Segundo informações cedidas pelos funcionários da EMCASA, tais ocupação não tiveram a entrega de título</p><p>concluída.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>106</p><p>4. RESULTADOS E DISCUSSÕES</p><p>Após uma análise dos materiais disponíveis, conclui-se que as principais políticas adotadas pelo poder</p><p>público são a alienação de lotes e a Concessão do Direito Real de Uso (CDRU). A alienação acontece quando</p><p>um grande lote que é recebido pela Prefeitura de Juiz de Fora, é incorporado ao patrimônio da EMCASA,</p><p>lembrando que esta é uma empresa de economia privada e posteriormente, desmembrado e vendido</p><p>através de contrato, com parcelas de valor social. Quanto às ocupações em áreas públicas, a prefeitura</p><p>utiliza do instrumento da CDRU, respaldado pelo Estatuto da Cidade de 2001, que destina um bem, no caso</p><p>a propriedade a um particular, para fins de moradia. Apenas no caso da Vila Sô Neném, o processo se deu a</p><p>partir de usucapião coletivo a pedido da Associação de Moradores, porém orientado por técnicos da</p><p>prefeitura (Granja,2019). Duas ocupações (Cantinho do Céu e Vila Olavo Costa), que foram regularizadas</p><p>antes da Constituição Federal de 1998 foram realizadas por simples doação da prefeitura, como era</p><p>anteriormente permitido.</p><p>Alguns processos apresentam um longo período de trâmite, como é o caso da ocupação denominada</p><p>Campinho - Vila Ideal, o qual o processo foi aberto em 1985 e somente em 2018 foram entregues as</p><p>titulações. O caso se repete na ocupação da Rua do Boto - Linhares (1991 - 2019) e também no Milho</p><p>Branco II (1998- 2009). Em maioria, os processos que são feitos por alienação de lotes são concluídos em</p><p>um menor tempo. A maior parte dos processos foram abertos na década de 1990, destacando o período do</p><p>primeiro mandato do ex prefeito Custódio Mattos (1993-1996) e segundo mandato do ex prefeito Tarcísio</p><p>Delgado (1997 - 2004). O processo aberto mais recente foi em 2010, para a regularização do Milho Branco</p><p>I, entretanto ainda não foi concluída. A Vila Esperança, Vila Santa Cruz e a Vila Paraíso, ambos na região</p><p>Norte da cidade, tiveram um novo processo aberto para a regularização de novas áreas, que foram</p><p>ocupados, após o fim do primeiro processo.</p><p>O processo de regularização, quando feito via alienação dos lotes, abre possibilidades para uma não</p><p>conclusão plena do processo de regularização fundiária, visto que, o morador só recebe sua titularidade</p><p>após a quitação da dívida com a EMCASA. De acordo com Toledo (2006), o índice de inadimplência na</p><p>empresa já chegou a 60% dos mutuários. Muitas vezes há uma renegociação das dívidas, mas não é o</p><p>suficiente para diminuir a inadimplência. Em alguns casos, são feitos os pedidos de reintegração de posse,</p><p>mas segundo a advogada da EMCASA, em conversa informal, os custos para realizar estes processos são</p><p>altos e acabada não sendo de interesse da empresa. Cabe também ressaltar, que muitos dos loteamos</p><p>providos anteriormente pela EMCASA, se tornaram mais tarde, área de ocupação irregular, como é o caso</p><p>da Ocupação do Verbo Divino, que teve seu processo de loteamento em 1994, mas em 2007 teve seu</p><p>processo de regularização reaberto e até hoje está em andamento (Toledo, 2006).</p><p>Com a leitura das Atas das reuniões do CMH, disponibilizadas em seu site, nota-se a pouca efetividade das</p><p>demandas no Conselho no planejamento da política habitacional. Esta é até uma questão que vem sendo</p><p>discutida pelos próprios membros, que há algum tempo, tentam alterar a regulamentação do Conselho</p><p>para que o mesmo, ganhe mais notoriedade frente às decisões. Foi também constatado, que após instituído</p><p>o Programa Minha Casa Minha Vida, a maioria das pautas giraram em torno dos problemas nos</p><p>empreendimentos. Atualmente são, 18 empreendimentos entregues com pendências em problemas</p><p>construtivos e gestão dos condomínios, deixando em segundo plano os problemas e o planejamento</p><p>referentes aos processos de regularização.</p><p>Outro entrave identificado, tanto em conversa com os técnicos da PJF, quanto no trabalho de GRANJA</p><p>(2019), é a não execução da regularização fundiária plena. Sendo a maioria dos processos, apenas</p><p>concluído a parte de titulação dos moradores. Segundo Granja (2019), os investimentos a serem aplicados</p><p>em infraestrutura e equipamentos urbanos são muito altos e não concernem com os orçamentos da</p><p>prefeitura municipal. Dois grandes processos, estudados pela referida autora, Vila Sô Neném e Alto Santo</p><p>Antônio, tiveram um notável investimento em infraestrutura do assentamento, mas foram financiados por</p><p>programas internacionais.</p><p>Em 2017, a SEPLAG retomou a elaboração do Plano de Regularização fundiária da cidade, como um dos</p><p>seus principais objetivos. No ano de 2018, foi publicado uma Resolução Interna, 03/2018, deliberada pelo</p><p>CMH (Juiz de Fora, 2018b), com critérios de hierarquização para a escolha das áreas a serem regularizadas</p><p>prioritariamente, o que permite um melhor planejamento da secretaria e que também tais áreas não sejam</p><p>priorizada em detrimento de fatores políticos ou emergenciais, como vinha acontecendo nas gestões</p><p>anteriores (Granja, 2019).</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>107</p><p>5. CONCLUSÕES</p><p>O objetivo principal desta pesquisa foi elucidar sobre o cenário de política de regularização fundiária, se</p><p>ele foi e vem sendo utilizado ou não pela prefeitura. E se sim, quais seus instrumentos. Ao final podemos</p><p>concluir, que sim, desde 1982 a PFJ vem desenvolvendo políticas de regularização e atualmente conclui-se</p><p>que o instrumento mais utilizado é a Alienação de lotes, sob responsabilidade da EMCASA. Os processos</p><p>de regularização por CDRU são minoria, sob responsabilidade da SEPLAG, possuem um trâmite mais lento.</p><p>Como continuação deste trabalho, deve-se aprofundar em um estudo sobre os anos em que houveram as</p><p>conclusões dos processos, que como exemplificado, em alguns casos os processos estiveram em aberto por</p><p>mais de 10 anos. É desejável também constatar quais são os principais entraves encontrados pela</p><p>administração pública no decorrer do processo.</p><p>A partir desse momento, despertou-se interesse em pesquisar o número aproximado de famílias que já</p><p>foram beneficiadas pelo programa e como isso vêm impactando no déficit habitacional da cidade. Para um</p><p>futuro trabalho, é recomendável buscar informações sobre os projetos que estão sendo desenvolvidos</p><p>paralelamente aos processos, visto que esta pesquisa abordou, em síntese, a questão da titulação e</p><p>identificou a ausência de processos que vão além disto. É notório dizer, que com a promulgação Lei</p><p>13.465/17, a prefeitura acaba tendo um respaldo jurídico para continuar a abordar a regularização apenas</p><p>como um processo de titulação, sabendo que a lei não exige mais o avanço do projeto urbanístico. Essa</p><p>postura admitida pela administração pública, não produz um impacto positivo no espaço urbano, uma vez</p><p>que os assentamentos continuam desconectados da cidade formal, ou seja, segregados. Não possuem</p><p>acesso</p><p>ao transporte público, não criam oportunidades de desenvolvimento local, entre outros.</p><p>Deve-se atentar a partir de agora, para as novas estratégias adotas pela SEPLAG, em afinação com a</p><p>resolução definida pelo CMH (Juiz de Fora,2018b), sabendo que a política de regularização se tornou o</p><p>objetivo maior da secretaria. Sabe-se que a política de habitação não foi priorizada no cronograma de</p><p>implementação do Plano Diretor, o que pode dificultar a dedicação dos técnicos a estes processos. Além</p><p>disso, observar como a secretária irá se alinhar com a política nacional de regularização, posto que vem</p><p>havendo alterações na lei.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>[1] Abreu, Christiane Silva de. Favela e remoção em Juiz de Fora: um estudo sobre a Vila da Prata. Dissertação</p><p>(Mestrado em Serviço Social) - Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2009.</p><p>[2] Brasil. Lei no 13.465, de 11 de julho de 2017. Dispõe sobre a regularização fundiária rural e urbana, sobre a</p><p>liquidação de créditos concedidos aos assentados da reforma agrária e sobre a regularização fundiária no âmbito da</p><p>Amazônia Legal; institui mecanismos para aprimorar a eficiência dos procedimentos de alienação de imóveis da União</p><p>e dá outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial da União, set 2017. Disponível em:</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20152018/2017/lei/l13465.htm. Acesso em: 20 ago . 2019.</p><p>[3] Granja, Laura Santos. Regularização fundiária em assentamentos de baixa renda: avaliando experiências a</p><p>partir do caso de Juiz de Fora (MG). Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano e Regional) - Universidade</p><p>Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019. 2018</p><p>[4] Juiz de Fora, Conselho Municipal de Habitação- CMH. Normatiza a metodologia elaborada pelo Departamento</p><p>de Articulação e Integração de Políticas Setoriais – DAIPS, da Subsecretaria de Planejamento do Território –</p><p>Ssplat/SEPLAG-JF, para a hierarquização de áreas sujeitas a ações de Regularização Fundiária de Interesse Social, no</p><p>município de Juiz de Fora. Diário Oficial Eletrônico do Município de Juiz de Fora. Juiz de Fora, 2018b.</p><p>[5] Juiz de Fora, Prefeitura Municipal. Lei Ordinária 9811, de 27 de junho de 2000. Institui o plano diretor de</p><p>desenvolvimento Urbano de Juiz de fora. Juiz de Fora: Diário Oficial do Município, 2000.</p><p>[6] Juiz de Fora, Prefeitura Municipal. Lei Complementar No 082, de 03 de julho de 2018. Dispõe sobre a Política</p><p>de Desenvolvimento Urbano e Territorial, o Sistema Municipal de Planejamento do Território e o Plano Diretor</p><p>Participativo de Juiz de Fora. Juiz de Fora: Diário Oficial do Município, 2018a.</p><p>[7] Juiz de Fora. Subsecretaria de Planejamento do Território Ssplat/JF. Secretaria de Planejamento e Gestão -</p><p>Seplag/JF. Regularização Fundiária no Município de Juiz de Fora. Juiz de Fora: Departamento de Articulação e</p><p>Integração de Políticas Setoriais – Daips, 2018.</p><p>[8] Rolnik, Raquel. “A Construção de uma Política Fundiária e de Planejamento Urbano para o País – Avanços e</p><p>Desafios” in Políticas Sociais – acompanhamento e análise, nº 12, Brasília: IPEA, fev., 2006.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>108</p><p>[9] Tavares, Gisele Machado (org). Atlas social - Juiz de Fora: diagnóstico. Prefeitura de Juiz de Fora: Prefeitura</p><p>Municipal de Juiz de Fora, 2006. 294 p.</p><p>[10] Toledo, José Augusto Ribeiro. Gestão da política habitacional: Um estudo de caso em Juiz de Fora. 2006.</p><p>Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2006.</p><p>[11] Zamoner, Tatiana. A nova lei e os velhos desafios no contexto de atuação da Defensoria Pública em processos</p><p>de regularização fundiária de interesse social. Cadernos da Defensoria Pública do Estado de São Paulo / Escola da</p><p>Defensoria Pública do Estado de São Paulo. – Vol. 1 (2016), p. 21-32.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>109</p><p>REGIÃO OCUPAÇÃO REGULARIZADA</p><p>ANO DE</p><p>ABERTURA</p><p>CONCLUSÃO</p><p>TIPO DE</p><p>PROCESSO</p><p>Nº</p><p>PROCESSO</p><p>SUL (10)</p><p>Rua Adail Alevato - Santa Efigênia 1990 CDRU 4313/90</p><p>Vila da Conquista - Santa Efigênia 1993 AL 1323/93</p><p>Vale Verde- Sagrado Coração de Jesus 2002 AL 1101/02</p><p>R. Orlando Estephani - Bela Aurora 1993 CDRU 4245/93</p><p>R. JarandiraLimpio Pinheiro - Bela Aurora 1990 CDRU 3055/90</p><p>Vila das Rosas - Santa Luzia 1994 AL</p><p>218/94-</p><p>3554/03</p><p>R. José Orozimbio de Oliveira - Cruzeiro Sul 1994 AL 259/94</p><p>R. Ernestro Batista Pereira - São Geraldo 1996 CDRU 2654/66</p><p>Vila das Margaridas - Santa Efigênia 1994 1996 AL</p><p>R. Pedro Celeste - Cruzeiro do Sul S/I - - -</p><p>NORTE (2)</p><p>Vila Esperança II - R. 1A - Vila Esperança 1997/2015 AL 4850/97</p><p>Vila Mello Reis - R. Luiz Villani- Santa Cruz 1984 2008 CDRU 2533/84</p><p>Vila Paraíso - Santa Cruz 2005/2018 2019 CDRU</p><p>4883/05-</p><p>2598/18</p><p>Verbo Divino - São Judas Tadeu 2007</p><p>N.</p><p>CONCLUÍDO</p><p>AL 4577/2007</p><p>NORDESTE</p><p>(1)</p><p>Vila Santa Terezinha 1983 1992 apx. CDRU 8056/1983</p><p>SUDESTE</p><p>(6) +(1P)</p><p>SEFHAU - Furtado de Menezes S/I</p><p>1989/92</p><p>apx.</p><p>AL via</p><p>Doação</p><p>Vila Olavo Costa - Olavo Costa 1982 1988 Doação 6440/82</p><p>Rua Duce Palmer - Lourdes 1999 AL / CDRU</p><p>Cantinho do céu - Santo Antônio 1987 Doação</p><p>Vila São Gabriel - Santo Antônio 1987 CDRU</p><p>Campinho - Vila Ideal 1985 2018 CDRU 3375/85</p><p>Solidariedade-inclui José Monteiro - Vila Ideal 1986 AL 7790/86</p><p>Pedras Preciosas - Pedras Preciosas 1997 AL 3683/97</p><p>CENTRO R. José Inácio/ Leito da Leopoldina - Ladeira 1996 AL</p><p>2919/96-</p><p>5157/97</p><p>OESTE (2P)</p><p>Jardim Marajoara - Tupã 92/96 apx. AL</p><p>Alto Adolpho Vireque - Adolpho Vireque 92/96 apx. AL</p><p>5711/1971</p><p>***</p><p>CENTRO-</p><p>OESTE (5)</p><p>Parque das Torres - Parque das Torres 1994 AL 4456/94</p><p>Vila Tarcísio - Jardim Natal S/I - -</p><p>Milho Branco I - Fontes - Milho Branco 2010</p><p>NÃO</p><p>CONCLUIDO</p><p>CDRU 4762/10</p><p>Milho Branco II - Área IA -Milho Branco 1998 2009 CDRU 279/98</p><p>Jardim Cachoeira - Carlos Chagas 1993 AL 1416/93</p><p>R. Walquírio Seixas de Faria - Esplanada 1985 92/96 apx. CDRU 3915/85</p><p>LESTE (3)</p><p>+(1P)</p><p>Rua do Boto I e II - Linhares 1991 2019 AL/ CDRU 4001/91</p><p>Loteamento São Paulo - Vila Alpina 1995 AL 2490/95</p><p>Serra Verde - Santa Paula 1995 AL 2922/95</p><p>Vila Sô Neném - Santa Rita 2002 2009</p><p>Usucapião</p><p>Coletivo</p><p>4345/02-</p><p>1658/02</p><p>OBS: Ao lado da região encontra-se descrito o número total de áreas regularizadas + o número de área parcialmente regularizadas. Ex: Leste</p><p>= 3 áreas regularizadas + 1 área parcialmente regularizada. S/I = Sem identificação</p><p>*** Foi encontrado apenas o número do loteamento original do bairro</p><p>Os dados que apresentam a sigla APX. foram preenchidos de acordo com uma conversa informal com o ex presidente da EMCASA, que se</p><p>norteou de acordo com o período de mandato de cada prefeito</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>110</p><p>Capítulo 10</p><p>As galerias comerciais de Juiz de Fora (Brasil) e suas</p><p>relações com o imaginário urbano</p><p>Virgínia Campos Grossi</p><p>Frederico Braida Rodrigues de Paula</p><p>Resumo: Reconhecendo a região central da cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil,</p><p>como um lugar de grande diversidade arquitetônica e cultural, inclusive em função da</p><p>presença das galerias comerciais, este capítulo tem o objetivo de apresentar e discutir</p><p>sobre os usos da Galeria Pio X (primeira galeria comercial criada na cidade, em 1923) e</p><p>da Galeria do Edifício Marechal Shopping (galeria mais recente da cidade, de 2008) e</p><p>suas contribuições para a produção da cidade, bem como sua presença no imaginário</p><p>urbano. Com caráter exploratório e descritivo, a metodologia se baseia, primeiramente,</p><p>em referências bibliográficas e, posteriormente, em análises e observações colhidas em</p><p>campo, por meio de fotografias e anotações, realizadas entre os dias 04/06/2019 e</p><p>06/06/2019, entre 11:00 horas e 13:00 horas e entre 16:30 e 17:30 horas. Dentre o</p><p>referencial teórico adotado, merecem ser destacadas a metodologia de análise dos</p><p>espaços urbanos de Silva (2011), os apontamentos</p><p>de cada territorio y proceso a estudiar, tendrán formato de experimentos situados o aislados,</p><p>pudiéndose desarrollar dispositivos de interfaz a modo de máquinas.</p><p>El trabajo denominado “territorios sistemáticos” tiene la intención de relevar un territorio con el cuerpo,</p><p>al mismo tiempo que traducir, desplazar y abstraer sus cualidades para transformarlo en algo nuevo,</p><p>creando una instalación que conecta lo real y lo imaginado. Se intenta entonces redefinir el territorio en</p><p>algo que puede ser experimentado puertas adentro, invitando a los espectadores a moverse entre, debajo</p><p>o a través de él.</p><p>Figura 03:Estudiantes relevando el territorio a partir de una serie de bastidores de los que cuelgan unas</p><p>plomadas que marcan puntos.</p><p>Figura 04: Se elaboran las topografías a partir de recomponer los puntos relevados anteriormente. Los</p><p>bastidores se cuelgan del cielorraso para dialogar entre las dos topografías espejadas.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>13</p><p>3.3. ORGANIZACIÓN DE DATOS. CONSTRUCCIÓN DE MAPAS Y COLECCIONES</p><p>En esta etapa se realiza un trabajo de organización y clasificación del material en catálogos, secuencias,</p><p>tipos de organización. Se articulan los registros y producciones, aislando cualidades particulares del sitio,</p><p>encontrando componentes sistemáticos y asistemáticos, a modo de leyes formales explícitas o no</p><p>explícitas, que consolidan la indeterminación, los interrogantes, las especificidades y las voluntades en un</p><p>estado de latencia productiva pre-proyectual. Luego se producen conjuntos intencionados de datos</p><p>homogéneos producidos en los pasos anteriores en “colecciones” que puedan ser constitutivos de</p><p>herramientas proyectuales. Por la palabra “colección” nos referimos a la acción de acumular y a clasificar;</p><p>conteniendo en esa acción, la latencia de un proceso de arqueología desplazada y de trans-formación.</p><p>Figura 05: Colección y collage. Alumna autora: Maite Abaca</p><p>4. FASE 2: DESCONTEXTUALIZACIÓN. TRABAJO EN LABORATORIO</p><p>4.1. ELABORACIÓN DE ARTEFACTOS 1:1.</p><p>Durante este período se elaboran tipos estructurales para la elaboración de artefactos, conformados a</p><p>partir de descripción matemática de los procesos de formación y transformación del territorio y su</p><p>articulación con las demandas de organización espacial, material, programática que exige el trabajo final.</p><p>Los artefactos a escala 1:1 funcionan como dispositivo interfaz entre la experimentación y la especulación</p><p>1:100. Luego de elegir un “tipo” los estudiantes realizan pruebas de resistencia, maleabilidad, textura de</p><p>los materiales, técnicas constructivas. Se estudian las alternativas formales-espaciales, leyes de variación y</p><p>organización. Se construyen fragmentos a escala 1:1 para explorar las posibilidades sensoriales, espaciales</p><p>y de la luz. Se elaborarán maquetas a escala 1:50 con materiales similares a los que se utilizarán a escala</p><p>1:1. Se desarrollan los documentos necesarios y suficientes para su codificación gráfica, construcción y</p><p>replicación. Finalmente se construyen modelos 1:1.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>14</p><p>Figura 8: Artefacto inscripto en un espacio de 60cmx60cmx60cm. Alumna autora: Maite Abaca. En este</p><p>caso se trata de un artefacto de agregación sistemática con trayectoria de trans-formación intentando</p><p>consolidar un organismo tensionado horizontalmente, que posibilite manipular los cambios de escala y</p><p>espacialidad propios de las propuestas edilicias de la llamada nueva escuela.</p><p>Figura 9:Artefacto inscripto en un espacio de 3mx3mx3m. Artefacto unitario con trayectoria de</p><p>transformación construido a escala 1:1 en el taller. Tipo: Estructuras recíprocas.</p><p>4.2. ESTUDIO DE CASOS Y EL HABITAR DEL CUERPO. TRABAJO PRÁCTICO CON ASISTENCIA</p><p>DOCENTE.</p><p>En esta etapa cada estudiante realiza estudios comparativos de diferentes casos de acuerdo a la</p><p>investigación que viene realizando. El objetivo es reconocer organizaciones espaciales, consistencias</p><p>materiales y relaciones con la concepción del mundo de la cultura que la genera. Se realizan desarrollos de</p><p>detalles a diferentes escalas hasta llegar a la escala 1:1 que permiten la identificación de los aspectos</p><p>sensoriales del espacio y materia a través del cuerpo.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>15</p><p>Figura 10:Estudio de casos. Alumnos autores: Camila Ibarra y Augusto Pila.</p><p>Figura 11:Estudio de casos.Obra del Arq.Kengo Kuma. Alumnos autores: Camila Ibarra y Augusto Pila.</p><p>5. FASE 3: RE-CONTEXTUALIZACIÓN</p><p>En esta etapa se realizan maquetas del territorio en forma colectiva y a escala 1:200. Luego se procede al</p><p>proceso de re-colocación” y “trans-formacion” del artefacto 1:1, sobre la base de la agregación de variables</p><p>acumulativas relativas a: las condiciones físicas y simbólicas del lugar, las solicitaciones de los procesos</p><p>sociales y naturales relevadas; los aspectos sensoriales del habitar del cuerpo; los cambios de escala, la</p><p>estructura portante, los materiales y técnicas constructivas propias de la especificidad programática de la</p><p>demanda. Se produce una estimulación de retroalimentación artefacto-paisaje yendo desde la mutua in-</p><p>formación y afectación, hasta la indeterminación, donde la arquitectura podría liberar su configuración</p><p>final a los procesos sociales y naturales del lugar.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>16</p><p>Figura 12: Maqueta colectiva construida en el taller. Territorio: Bajada Barbi en la ciudad de Pueblo</p><p>Esther.</p><p>Figura 13: Proceso de trans-formación completo. Escuela Alternativa en Pueblo Esther. Alumna autora:</p><p>Maite Abaca.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>17</p><p>6. FASE 4: EJERCICIO SIMULTÁNEO TRANSVERSAL. TALLER DE OBRA IN-SITU.</p><p>Consolidación de los vínculos entre la Universidad y la Comunidad a través de sus organizaciones</p><p>territoriales, desarrollando espacios de carácter comunitario que apuntalen y expresen las identidades</p><p>locales. Incorporación de nuevas dimensiones al proyecto: la participación activa de los habitantes; la</p><p>demanda de significación de los valores sociales y culturales del grupo social; la austeridad y precariedad</p><p>de los recursos materiales; y la complejidad de una obra colectiva en tanto gestión y construcción.</p><p>Como parte del colectivo matéricos Periféricos, el equipo de este proyecto de investigación ha</p><p>desarrollado prácticas 1:1 en el ámbito académico en articulación con los municipios y comunas y las</p><p>organizaciones sociales del territorio, produciendo un aporte metodológico y conceptual en materia de</p><p>estrategias de consenso y diseño participativo; lectura de las dimensiones físicas e imaginarias de los</p><p>territorios; articulación y co-producción con las comunidades en emergencia social. Por ejemplo, el</p><p>proyecto de recuperación y puesta en valor del antiguo Balneario Los Ángeles en 2007; el proyecto y</p><p>construcción de 17 plazas en el Distrito Sudoeste de Rosario en 2009. Asimismo, en una serie de Proyectos</p><p>de Extensión Universitaria, Vinculación Tecnológica, Vinculación Socio-comunitaria, Voluntariados, se</p><p>trabajó en la ejecución de alrededor de 20 obras de equipamientos comunitarios en territorios en</p><p>emergencia social, co-producidos con las comunidades locales. Estas aplicaciones han sido valoradas por</p><p>la apropiación y el sentido de pertenencia de las comunidades locales, recibiendo numerosos premios</p><p>obtenidos en el campo profesional y académico. Consideramos que el desarrollo de la presente propuesta</p><p>de trabajo en el área proyectual, redunda en la formación de profesionales capaces de recoger,</p><p>comprender, interpretar y dar respuestas a las demandas específicas de los lugares donde se harán</p><p>efectivas las soluciones arquitectónicas. Desde el punto de vista de los vínculos, este proyecto nos ha</p><p>permitido desplazar el lugar habitual la relación maestro-alumno y del saber académico con el saber</p><p>popular para pasar a la producción</p><p>sobre percepção urbana de Ferrara</p><p>(2000), a abordagem de Jacobs (2011) sobre as cidades e as considerações de Canevacci</p><p>(2004), sobre a noção de “cidade polifônica”. Ao longo do capítulo, procurou-se</p><p>evidenciar como a Galeria Pio X e a Galeria do Edifício Marechal Shopping, que compõem</p><p>a rede de galerias do Centro de Juiz de Fora, devido à diversidade de usos e a forma</p><p>como estão inseridas na morfologia e na paisagem da área central, contribuem para a</p><p>vitalidade e centralidade dessa região, propiciando um grande fluxo de pedestres e</p><p>compondo parte relevante do imaginário da cidade. Destaca-se que a presença das</p><p>galerias comerciais em Juiz de Fora se dá em sintonia com o contexto mais amplo da</p><p>participação das galerias na conformação do centro de várias cidades latino-americanas,</p><p>dentre as quais podem ser citadas, por exemplo, Buenos Aires, Santiago do Chile, São</p><p>Paulo, Montevidéu e Concepción.</p><p>Palavras-chaves: galerias comerciais, imaginário urbano, vitalidade, paisagem.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>111</p><p>1. INTRODUÇÃO</p><p>A cidade existe atrave s das modificaço es realizadas pelo homem na paisagem, ale m das atividades que o</p><p>mesmo desenvolve nesses espaços. Logo, a cidade e composta na o apenas por caracterí sticas fí sicas, como</p><p>os edifí cios e os espaços pu blicos, mas tambe m e formada pela vitalidade e palas atividades dia rias que</p><p>acontecem na mesma, as quais expressam diversas culturas, histo rias e formas de viver e habitar.</p><p>Neste contexto, reconhecendo a regia o central da cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, como um</p><p>lugar de grande diversidade cultural, inclusive em funça o da presença das galerias comerciais, este</p><p>capí tulo tem o objetivo de apresentar e discutir sobre os usos da Galeria Pio X (primeira galeria comercial</p><p>criada na cidade, em 1923) e da Galeria do Edifí cio Marechal Shopping (galeria mais recente da cidade, de</p><p>2008) e suas contribuiço es para a produça o da cidade, bem como suas presenças no imagina rio urbano.</p><p>Logo, o capí tulo se divide nas seguintes partes: (i) breve referencial teo rico sobre os espaços urbanos e</p><p>suas relaço es com a vitalidade, paisagem e imagina rio urbano; (ii) contextualizaça o histo rica da cidade de</p><p>Juiz de Fora, da Galeria Pio X e da Galeria do Edifí cio Marechal Shopping; (iii) Discussa o sobre os dados</p><p>colhidos e observados em campo das duas galerias em questa o e suas relaço es com a vitalidade, a</p><p>paisagem e o imagina rio urbano; e (vi) consideraço es finais. Com cara ter explorato rio e descritivo, a</p><p>metodologia se baseia primeiramente em refere ncias bibliogra ficas e posteriormente em ana lises e</p><p>observaço es colhidas em campo por meio de fotografias e anotaço es, realizadas entre os dias 04/06/2019</p><p>e 06/06/2019, entre 11:00 horas e 13:00 horas e entre 16:30 e 17:30 horas. Dentre o referencial teo rico</p><p>adotado, merecem ser destacadas a metodologia de ana lise dos espaços urbanos de Silva (2011), os</p><p>apontamentos sobre percepça o urbana de Ferrara (2000), a abordagem de Jacobs (2011) sobre as cidades</p><p>e as consideraço es de Canevacci (2004), sobre a noça o de “cidade polifo nica”.</p><p>2. VITALIDADE, PAISAGEM E IMAGINÁRIO URBANO</p><p>Segundo Jacobs (2011), alguns dos fatores necessa rios para obtermos vitalidade e um bom funcionamento</p><p>dos bairros, e consequentemente, da cidade, sa o: (i) usos mistos, pois trazem diversidade de usua rios e</p><p>tornam o bairro funcional; (ii) quadras curtas, visto que trazem flexibilidade e permeabilidade ao se</p><p>caminhar pelas ruas, promovendo mais pontos de encontros e segurança; (iii) presença de pre dios antigos,</p><p>pois a diversidade de tempos e contextos histo ricos dos edifí cios trazem identidade para os bairros; (iv) a</p><p>concentraça o de pessoas nos espaços pu blicos que acaba trazendo sociabilidade e segurança para o bairro,</p><p>ale m de valorizar os edifí cios e os empreendimentos no local. Ainda segundo Jacobs (2011), os caminhos</p><p>que interligam as partes da cidade na o devem ser mono tonos e devem apresentar variados</p><p>estabelecimentos comerciais, a fim de despertar interesse nas pessoas em transitar por eles. A autora</p><p>afirma que os pro prios comerciantes e lojistas acabam incentivando a tranquilidade, a segurança e a</p><p>ordem no entorno de seus estabelecimentos. De acordo com Jacobs (2011, p.29), as ruas e as calçadas sa o</p><p>“os o rga os mais vitais” da cidade e devem despertar interesse de seus habitantes.</p><p>Segundo Silva (2001), a interaça o entre os habitantes e os espaços da cidade se da atrave s das atividades e</p><p>atrave s de elementos existentes nas paisagens como, por exemplo, edifí cios, graffiti, monumentos,</p><p>construço es, entre outros. De acordo com o autor, a percepça o coletiva que os habitantes te m dos espaços</p><p>da cidade e construí da ao longo do tempo, e pode ser chamada de imagina rio urbano (Silva, 2011). De</p><p>acordo com Braida (2011, p.17),</p><p>[...] o imaginário urbano se compõe pelas imagens urbanas e elas nem sempre</p><p>estão nas fachadas dos edifícios ou em lugares abertos. Nos dias de hoje, as</p><p>imagens das cidades se formam em todos os lugares: nas ruas, nos interiores</p><p>dos edifícios, no meio virtual. Então, podemos afirmar que as imagens urbanas</p><p>e o imaginário urbano interagem entre si, remodelam-se, formam identidades,</p><p>tanto dos indivíduos quanto das cidades.</p><p>Neste contexto, Ferrara (2000) ressalta a relaça o interdependente entre imagem da cidade e imagina rio da</p><p>cidade, expondo a primeira como algo so lido que representa alguma informaça o de siginficado u nico e que</p><p>expressa algo construí do e concreto na cidade. Com relaça o ao imagina rio da cidade, segundo a autora,</p><p>corresponde a necessidade do homem de produzir conhecimento atrave s da multiplicaça o dos</p><p>significados, ou seja, e a capacidade associativa de produzir diversas imagens a partir de uma imagem</p><p>concreta (Ferrara, 2000). Pode-se dizer portanto que a cidade e um estí mulo para a formaça o do</p><p>imagina rio da cidade, ao mesmo tempo em que as imagens da cidade sa o retratos de um imagina rio</p><p>urbano, visto que o homem a transforma atrave s de seus imagina rios (Ferrara, 2000).</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>112</p><p>Logo, o imagina rio urbano e formado por meio das caracterí sticas fí sicas da cidade (como paisagens e</p><p>construço es) e tambe m atrave s das relaço es (fí sicas ou abstratas) presentes na urbe, ao mesmo tempo em</p><p>que ele pro prio alimenta e influencia as transformaço es das paisagens da cidade, expressando as culturas</p><p>dos habitantes e a identidade das cidades.</p><p>De acordo com Canevacci (2004), uma cidade e formada por uma se rie de eventos, os quais va o se</p><p>modificando ao longo do tempo atrave s dos que a habitam, sendo esses u ltimos atores e espectadores da</p><p>mesma. Ainda segundo o autor, os signos presentes nas paisagens urbanas podem influenciar no</p><p>comportamento da populaça o.</p><p>Em algumas paisagens urbanas, com o passar do tempo um conjunto de signos</p><p>se estratifica (na memória individual, de um casal ou de um grupo), tornando-as</p><p>exemplos de alguns comportamentos que podem criar tendências: isto é,</p><p>retomam os movimentos comportamentais de estratos significativos da</p><p>população, os quais terminam por assumir uma função que atrai também os</p><p>outros estratos, como modelo onde se experimenta e se realiza o grande jogo</p><p>dos códigos urbanos. (Canevacci, 2004, p. 22-23).</p><p>Canevacci (2004) também enfatiza as diversas linguagens dos edifícios para se comunicar com a cidade e</p><p>com os observadores. Os indivíduos, ao observarem os edifícios através de suas bagagens teóricas e</p><p>experimentais, agem sobre as estruturas arquitetônicas, animando-as e mudando seus signos e valores no</p><p>tempo e nos espaços.</p><p>Logo, percebe-se, de forma sucinta, a relação entre a vitalidade, a paisagem e o imaginário urbano na</p><p>cidade, visto que a primeira está expressa principalmente nos usos e fluxos dos espaços, os quais são</p><p>diretamente influenciados por um imaginário urbano que percebe e modifica a cidade,</p><p>expressando sua</p><p>própria identidade.</p><p>3. O CONTEXTO DAS GALERIAS COMERCIAIS EM JUIZ DE FORA</p><p>Juiz de Fora e uma cidade considerada de porte me dio, localizada no sudeste do Brasil, com cerca de 568</p><p>mil habitantes (no ano de 2019), de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatí stica (IBGE,</p><p>2019). Ela foi fundada no se culo XIX e teve um crescimento acelerado, devido ao fato de promover ligaça o</p><p>entre os estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, pelo caminho denominado antigamente como “Caminho</p><p>do Ouro” (Braida, 2008, p.91). A cidade desenvolveu-se fortemente atrave s do setor industrial, com</p><p>destaque para a indu stria te xtil, sendo apelidada na e poca como “Manchester Mineira” (Braida, 2008,</p><p>p.91). Ao longo dos anos, Juiz de Fora recebeu muitos imigrantes de diversas etnias (italianos, alema es,</p><p>negros, portugueses, entre outros), os quais influenciaram diretamente na cultura e na construça o dos</p><p>espaços na cidade (Braida, 2008, p.92).</p><p>O tria ngulo central da cidade, atualmente conformado pelo encontro das Avenidas Bara o do Rio Branco,</p><p>Presidente Itamar Franco e Getu lio Vargas, foi desenvolvido em 1860 por Gustavo Dott e apresenta</p><p>topografia plana e traçados ortogonais (Carvalho, 2006, p. 18). Pode-se dizer que alguns fatores como a</p><p>morfologia via ria do traçado das ruas desta regia o central (vias paralelas e perpendiculares com lotes</p><p>estreitos e compridos), junto a forte presença do come rcio na cidade, podem ter contribuí do para o</p><p>surgimento das galerias comerciais, que hoje em dia totalizam em cerca de 50 na regia o central. Segundo</p><p>Braida (2010), o conjunto de calçado es e galerias no centro da cidade formam uma espe cie de “passagens</p><p>em rede”, contribuindo para a vitalidade e a centralidade da regia o, a qual pode ser comparada a um</p><p>“shopping a ce u aberto”. Neste contexto, as galerias comerciais podem ser entendidas como lugares</p><p>formados por um (ou mais) corredor de lojas coberto, que, geralmente, interligam diretamente duas (ou</p><p>mais) ruas atrave s de entradas distintas (podendo tambe m interligar uma rua a um edifí cio), com acesso</p><p>pu blico de pedestres. Logo, devido ao acesso (praticamente) livre e democra tico a esses locais e ao</p><p>constante fluxo de pessoas, podemos considerar que as galerias comerciais fazem parte dos espaços</p><p>urbanos, uma vez que constituem parte da morfologia e das ligaço es da cidade, cumprindo, muitas vezes, o</p><p>papel de rua (apesar das caracterí sticas distintas entre estes espaços de circulaça o urbana).</p><p>Atualmente, o Centro apresenta edifí cios de diversos contextos histo ricos, escalas e estilos arquiteto nicos</p><p>diferentes (Art Deco , Ecle tico, Modernista e Po s Modernista). Alguns edifí cios da regia o central sa o marcos</p><p>relevantes para a cidade, como, por exemplo, o Edifí cio Clube de Juiz de Fora (que apresenta paine is do</p><p>Candido Portinari nas fachadas), o Cine Theatro Central, o Banco do Brasil (projeto de Oscar Niemeyer),</p><p>entre outros. E tambe m nesse contexto que se inserem a Galeria Pio X e a Galeria do Edifí cio Marechal</p><p>Shopping (Figura 1).</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>113</p><p>Figura 1: Localização da Galeria Pio X e da Galeria Marechal Shopping em Juiz de Fora.</p><p>Desenho: Virgínia Campos Grossi, 2019, sobre mapa original da Prefeitura de Juiz de Fora.</p><p>A Galeria Pio X e uma dentre as galerias de Juiz de Fora de destaque histo rico e arquiteto nico, sendo a</p><p>primeira galeria implantada na cidade, construí da entre os anos de 1923 a 1932, pelo comerciante Sr.</p><p>Arthur Vieira (No brega, 2011). Essa galeria foi implantada pro xima a s grandes vias principais da cidade</p><p>(Av. Rio Branco e Av. Getu lio Vargas). Apesar de o projeto inicial ja prever a ligaça o entre as duas ruas, a</p><p>obra foi executada em duas etapas. A primeira etapa da obra, inaugurada em 1923, foi idealizada pelo</p><p>engenheiro italiano Rosino Baccarini e executada pela Mancebo & Baccarini (No brega, 2001). Nesse</p><p>projeto, a fachada do edifí cio era em estilo neocla ssico (Abdalla, 1996) e apresentava acesso somente pela</p><p>Rua Halfeld (Carvalho, 2006, p. 41). A segunda fase da obra, realizada pela construtora Pantaleone Arcuri,</p><p>desenhada pelo arquiteto Rafael Arcuri, responsa vel pelo projeto da fachada em estilo Art Deco (Figura 2),</p><p>foi inaugurada em 1937 e promoveu a ligaça o do edifí cio com a Rua Marechal Deodoro, atrave s de um novo</p><p>acesso (Abdalla, 1996).</p><p>Na e poca, a obra foi considerada, por muitas pessoas, como uma grande ousadia, visto que Minas Gerais</p><p>ainda na o apresentava nenhuma galeria comercial (Carvalho, 2006). Apo s inaugurada, a galeria abrigou</p><p>diversas lojas de variadas tipologias, como, por exemplo, de vestua rio, sapataria, farma cias, atelie s, cafe s,</p><p>salo es de beleza, imobilia ria, entre outras, trazendo um grande pu blico para o local e se tornando um</p><p>marco simbo lico e ilustrativo no panorama socioecono mico da cidade na e poca (Dias, 2017, p.79). A partir</p><p>daquele momento, o projeto influenciou no surgimento de novas galerias na regia o central (Carvalho,</p><p>2006).</p><p>Ao longo dos anos, a Galeria Pio X sofreu reformas em sua infraestrutura e este tica, tanto em seu interior</p><p>quanto em sua fachada da Rua Halfeld, que, segundo Abdalla (1996, p.12), foi alterada do estilo neocla ssico</p><p>para uma linguagem mais moderna, em 1947 (Figura 2).</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>114</p><p>Figura 2: A esquerda, fachada da Galeria Pio X com acesso a Rua Halfeld. A direita, fachada da Galeria Pio X</p><p>com acesso a Rua Marechal Deodoro</p><p>Fotos: Virgí nia Campos Grossi, 2019.</p><p>Com acesso a s ruas Marechal Deodoro e Mister Moore (Figura 3), a Galeria do Edifí cio Marechal Shopping</p><p>interliga as duas ruas e foi inaugurada em 2008 (DIAS, 2017, p. 118), tornando-se a galeria mais recente da</p><p>cidade. O edifí cio foi projetado pelo escrito rio Lourenço e Sarmento arquitetos (DIAS, 2017, p. 115) e,</p><p>assim como a Galeria Pio X, apresenta seus dois acessos por ruas de uso praticamente restrito para</p><p>pedestres.</p><p>Figura 3: À esquerda, fachada da Galeria do Edifício Marechal Shopping com acesso à Rua Marechal</p><p>Deodoro. À direita, fachada da Galeria do Edifício Marechal Shopping com acesso à Rua Mister Moore.</p><p>Fotos: Virgí nia Campos Grossi, 2019.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>115</p><p>4. GALERIA PIO X E GALERIA DO EDIFÍCIO MARECHAL SHOPPING: RELAÇÕES COM A PAISAGEM, A</p><p>VITALIDADE E O IMAGINÁRIO URBANO</p><p>Visto que o trabalho tem foco na galeria comercial e sua relaça o com a cidade, priorizou-se analisar a</p><p>vitalidade do te rreo das duas galerias em questa o (Galeria Pio X e Galeria do Edifí cio Marechal Shopping),</p><p>devido ao fato de ser, nesses casos, o pavimento que se conecta diretamente com as ruas.</p><p>Atrave s das fotografias, observaço es e ana lises foi percebido que tanto a Galeria Pio X quanto a Galeria do</p><p>Edifí cio Marechal Shopping sa o locais de grande vitalidade (Figura 4). Ambas as galerias sa o muito</p><p>utilizadas diariamente como locais de consumo, abrigo, ponto de encontros, passagem de pedestres e</p><p>lazer, ale m de serem refere ncias espaciais no centro da cidade. Apesar de as diferentes temporalidades e</p><p>estilos arquiteto nicos, foi observada uma grande semelhança dos tipos de serviço e come rcio nas mesmas,</p><p>destacando-se em maior quantidade as lojas de bijuterias, roupas, o tica, calçados, cafe s e lojas de venda e</p><p>manutença o de celulares. O fluxo de pedestres nas galerias e constante durante grande parte do dia. Em</p><p>ambas, foi observada uma boa iluminaça o e manutença o dos espaços de circulaça o, favorecendo a</p><p>circulaça o de pedestres. Tambe m foi constatada uma variedade de ge nero e idade dos usua rios,</p><p>expressando uma diversidade dos mesmos nesses espaços.</p><p>Figura 4: À esquerda, interior da Galeria Pio X. À direita, interior da Galeria do Edifício Marechal Shopping.</p><p>Fotos: Virgínia Campos Grossi, 2019.</p><p>Apesar das diferenças arquiteto nicas e temporais, ambas as galerias</p><p>atraem a presença e o fluxo de</p><p>pessoas durante a maior parte do dia, promovendo mais segurança e valorizaça o imobilia ria para o</p><p>entorno. As ruas pelas quais os edifí cios te m acesso (Rua Halfeld, Rua Marechal Deodoro e Rua Mister</p><p>Moore) sa o praticamente de uso restrito aos pedestres e apresentam o predomí nio de come rcio</p><p>diversificado no te rreo, ale m da presença de apartamentos residenciais e de serviços nos pavimentos</p><p>superiores de grande parte dos edifí cios. Pode-se dizer que este conjunto de edifí cios (residenciais e de</p><p>serviços) junto aos calçado es e a s galerias de usos diversificados acabam promovendo centralidade e</p><p>vitalidade para a regia o, melhorando a segurança e estimulando a mobilidade dos pedestres. Tambe m foi</p><p>observado que o fa cil acesso ao transporte pu blico acaba estimulando a caminhabilidade dos pedestres na</p><p>regia o central.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>116</p><p>Segundo Braida (2010), para que as galerias sejam espaços com vitalidade, o entorno deve apresentar</p><p>algumas caracterí sticas que possibilitem a construça o de atalhos, “tais como grandes dimenso es dos</p><p>quarteiro es, lotes estreitos e alongados ou desní veis topogra ficos”, ale m da existe ncia de “um pu blico</p><p>consumidor em potencial”, elementos estes que sa o presentes na cidade de Juiz de Fora. Ale m disso, o</p><p>autor afirma que as questo es histo ricas e culturais presentes nesses espaços esta o ligadas diretamente a s</p><p>questo es simbo licas e colaboram tambe m para a vitalidade desses locais (Braida, 2010).</p><p>Ao observar a paisagem do entorno imediato das duas galerias, percebeu-se que ambos os edifí cios esta o</p><p>inseridos de forma harmo nica, visto que te m escalas pro ximas a s dos edifí cios vizinhos que, em sua</p><p>maioria, apresentam de quatro a seis pavimentos, com exceça o os edifí cios mais verticalizados pro ximos a</p><p>Av. Rio Branco (Figuras 5, 6 e 7). Nas ruas Halfeld, Marechal Deodoro e Mister Moore, ha um alinhamento</p><p>entre a maioria dos edifí cios com relaça o a s vias, criando uma espe cie de corredor que promove uma</p><p>perspectiva em direça o ao mirante do Morro do Cristo, um local de destaque histo rico e turí stico,</p><p>valorizando o mesmo na paisagem (Figura 5).</p><p>Figura 5: Perspectivas em direção ao Mirante do Morro do Cristo. À esquerda, Rua Halfeld. À direita, Rua</p><p>Marechal Deodoro.</p><p>Fotos: Virgí nia Campos Grossi, 2019.</p><p>Tambe m foi observado que as larguras das ruas por onde as duas galerias te m acesso e as dimenso es de</p><p>grande parte dos edifí cios do entorno nestas ruas valorizam a escala do pedestre.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>117</p><p>Figura 6: Edifício da Galeria Pio X e edifícios vizinhos na rua Marechal Deodoro (à esquerda) e na rua</p><p>Halfeld (à direita).</p><p>Fotos: Virgí nia Campos Grossi, 2019.</p><p>Figura 7: Edifí cio Marechal Shopping e edifí cios vizinhos na Rua Marechal Deodoro (a esquerda) e rua</p><p>Mister Moore (a direita).</p><p>Fotos: Virgínia Campos Grossi, 2019.</p><p>Ao observarmos as volumetrias e as fachadas dos edifí cios vizinhos de ambas as galerias, percebemos que</p><p>apresentam diferentes contextos histo ricos e estilos arquiteto nicos, trazendo para a paisagem do entorno</p><p>imediato uma diversidade cultural, arquiteto nica e temporal. Estas caracterí sticas conferem uma</p><p>identidade para a regia o, ale m de transmitir uma sensaça o de pertencimento ao lugar para os habitantes.</p><p>Pode-se dizer que esta diversidade temporal e arquiteto nica dos edifí cios expressa as variadas</p><p>intervenço es do homem sobre a paisagem ao longo do tempo (cultural e historicamente) e fazem parte da</p><p>memo ria e do imagina rio da cidade.</p><p>Podemos comparar essas paisagens que fazem parte da regia o central de Juiz de Fora como um grande</p><p>quebra-cabeça, em que as partes apresentam caracterí sticas e temporalidades distintas, que foram sendo</p><p>incorporadas ao longo do tempo. Entretanto, ao analisarmos essas partes da paisagem, percebemos que se</p><p>assemelham em alguns pontos, sejam elas pelas formas, cores, elementos arquiteto nicos, escalas, entre</p><p>outros. Logo, este conjunto de edifí cios no espaço urbano sa o produtores de sentidos e se interagem com</p><p>os habitantes atrave s de suas estruturas fí sicas e imagina rias. Segundo Corre a (1989, p. 8), “o espaço</p><p>urbano e um reflexo tanto das aço es que se realizam no presente como tambe m daquelas que se</p><p>realizaram no passado e que deixaram suas marcas impressas nas formas espaciais do presente”, cara ter</p><p>percebido nas paisagens do entorno imediato das duas galerias analisadas.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>118</p><p>5. CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Ao longo deste capí tulo, procurou-se evidenciar como a Galeria Pio X e a Galeria do Edifí cio Marechal</p><p>Shopping, que compo em a rede de galerias do Centro de Juiz de Fora, devido a diversidade de usos e a</p><p>forma como esta o inseridas na morfologia e na paisagem da a rea central, contribuem para a vitalidade</p><p>dessa regia o, propiciando um grande fluxo de pedestres e compondo parte relevante do imagina rio da</p><p>cidade. Destaca-se que a presença das galerias comerciais em Juiz de Fora se da em sintonia com o</p><p>contexto mais amplo da participaça o das galerias na conformaça o do centro de va rias cidades latino-</p><p>americanas, dentre as quais podem ser citadas, por exemplo, Buenos Aires, Santiago do Chile, Sa o Paulo,</p><p>Montevide u e Concepcio n, cujas galerias comerciais compo em o tecido urbano da regia o central.</p><p>A guisa de conclusa o, pode-se dizer que essa tipologia comercial ainda vem servindo de inspiraço es para</p><p>novos projetos em Juiz de Fora, alimentando essa “rede de caminhos” formados pelo conjunto de galerias e</p><p>calçado es presentes na a rea central. Apesar do surgimento das novas tipologias comerciais na cidade,</p><p>como os shopping centers, as galerias na o se tornaram obsoletas e continuam sendo muito utilizadas pelos</p><p>cidada os, garantindo a vitalidade nos espaços urbanos e fazendo parte do imagina rio urbano da cidade.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>[1] Abdalla, J. G. F. Multivalência da arquitetura das galerias de Juiz de Fora: fascínio e identidade entre público e</p><p>privado. Juiz de Fora: UFJF; FAPEMIG, 1996. Relatório de Pesquisa.</p><p>[2] Braida, F. Centralidade e vitalidade como qualidades das redes de galerias comerciais e de calçadões dos</p><p>centros de Juiz de Fora (Brasil) e de Buenos Aires (Argentina). Anais do III Colóquio Internacional sobre o Comércio e</p><p>Cidade: uma relação de origem. São Paulo: USP, 2010. Disponível em:</p><p>. Acesso em: 2 jun. 2019.</p><p>[3] Braida F. As galerias comerciais na rede urbana, na imagem e no imaginário de Juiz de Fora e de Buenos. CES</p><p>Revista, Juiz de Fora, v.2, 2011. Disponível em: .</p><p>Acesso em: 25 maio 2019.</p><p>[4] Braida F. Passagens em rede: a dinâmica das galerias e dos calçadões nos centros de Juiz de Fora e de Buenos</p><p>Aires. Dissertação (Mestrado em Urbanismo) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.</p><p>Disponível em/: .</p><p>Acesso em: 2 jun. 2019.</p><p>[5] Canevacci, M. A cidade polifônica: ensaio sobre antropologia da comunicação urbana. São Paulo: Stúdio</p><p>Nobel, 2004.</p><p>[6] Carvalho, G. As galerias de Juiz de Fora: urbanidade da área central. Dissertação (Mestrado em Urbanismo) –</p><p>Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, 2006. Disponível em: . Acesso em: 2 jun. 2019.</p><p>[7] Côrrea, R. L. O espaço urbano. São Paulo: Ática S.A, 1989.</p><p>[8] Dias F. S. As galerias comerciais em Juiz de Fora após os anos 2000: demandas, agentes e projetos.</p><p>Dissertação (Mestrado em Ambiente Construído) – Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2017.</p><p>Disponível em</p><p>Fabr%C3%ADcio-Dias.pdf>. Acesso em: 2 jun. 2019.</p><p>[9] Ferrara, Lucrécia. Os significados urbanos. São Paulo: Edusp, 2000.</p><p>[10] IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades/ Minas Gerais/ Juiz de Fora, 2018. Disponível</p><p>em: . Acesso em: 22 mar. 2020.</p><p>[11] Jacobs, J. Morte e vida de grandes cidades. 3 ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011.</p><p>[12] Nóbrega, D. Revendo o passado (memória juiz-forana). 3. ed. Juiz de Fora: Edições Caminho Novo, 2001.</p><p>[13] Silva, A. Imaginários urbanos. São Paulo: Editora Perspectiva S. A., 2001.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>119</p><p>Capítulo 11</p><p>Transpondo imaginários: A ponte estaiada Octavio</p><p>Frias de Oliveira como atrativo turístico?</p><p>Cesar Alves Ferragi</p><p>Pedro Augusto Bertuga</p><p>Thaynara Moreira de Araújo</p><p>Resumo: Este trabalho apresenta uma análise da Ponte Octavio Frias de Oliveira,</p><p>popularmente conhecida como ponte estaiada, como símbolo de São Paulo e atrativo</p><p>turístico. A ponte foi inaugurada em 2008 e está localizada na cidade de São Paulo,</p><p>ligando a Marginal Pinheiros à Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, no bairro do</p><p>Brooklin. Uma ponte é um equipamento utilizado para que as pessoas possam transpor</p><p>barreiras, facilitando a mobilidade de um ponto a outro. Constantemente a ponte</p><p>estaiada tem sido retratada como um cartão postal da cidade de São Paulo, atraindo a</p><p>atenção de visitantes e nos fazendo pensar sobre como isso influencia a imagem de São</p><p>Paulo e em como ao longo do tempo a ponte parece ser cada vez mais utilizada como seu</p><p>símbolo. Conceitos do turismo, da geografia e do marketing são os principais</p><p>norteadores para construção da pesquisa. Para entender em que medida a ponte pode</p><p>ser considerada um atrativo turístico ou um símbolo da cidade foi realizada comparação</p><p>da ponte com outras mundialmente famosas, reconhecidas como pontes importantes</p><p>para as cidades em que estão inseridas, e observação da opinião de turistas sobre a</p><p>ponte no site TripAdvisor. A estrutura do trabalho apresenta primeiramente a forma</p><p>como acontece o turismo na cidade de São Paulo, bastante caracterizado por ter como</p><p>destaque o turismo de negócios e pela grande quantidade de turistas que atrai por meio</p><p>dos diversos eventos que ocorrem ao longo do ano. A metodologia utilizada</p><p>é em sua maior parte qualitativa, pois possui abordagem indutiva, incluindo pesquisa</p><p>bibliográfica e análise do material de divulgação do turismo em São Paulo.</p><p>Posteriormente há a conceituação de atrativo turístico e tem-se início a caracterização</p><p>da ponte. Espera-se, ao longo do trabalho, levantar reflexões sobre as sutis nuances</p><p>imbuídas em “desentendimentos” (BORDIEU, 1977), ou percepções incompletas, a</p><p>respeito da potência turística da ponte estaiada e seus significados em São Paulo.</p><p>Palavras-chave: Atrativo turístico; Ponte estaiada; Ponte Octavio Frias de Oliveira; São</p><p>Paulo.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>120</p><p>1. INTRODUÇÃO</p><p>A cidade de São Paulo, capital do Estado de São Paulo, possui cerca de 12 milhões de habitantes (IBGE,</p><p>2017). De acordo com dados divulgados pelo de Turismo e Eventos (2018), São Paulo recebeu 15,44</p><p>milhões de turistas no ano de 2017. Um dos mais potentes ramos de turismo presente na cidade é o</p><p>turismo de negócios, que atrai para 46,7% dos turistas. A oferta de atrativos na cidade é ampla e há</p><p>ocorrência de outros tipos de turismo, como eventos, lazer, estudos e saúde (Observatório do Turismo,</p><p>2017).</p><p>A escolha do tema se deu devido à constante e crescente utilização da imagem da Ponte Octavio Frias de</p><p>Oliveira na representação da cidade de São Paulo por meio de diversas mídias, que tratam de assuntos</p><p>relacionados ou não ao turismo, como filmes, comerciais, músicas, propagandas, entre outros, e em</p><p>divulgações turísticas realizadas pelos órgãos de turismo, como veremos adiante. Concomitantemente a</p><p>Berrini, região em que a ponte está localizada, ganha cada vez mais destaque quando se fala em</p><p>investimentos e locais com foco em negócios na cidade de São Paulo, pois o crescimento da região se deu,</p><p>segundo a São Paulo Turismo (2017), “como uma alternativa de região empresarial, por causa dos altos</p><p>preços de aluguel nas proximidades da Avenida Paulista”.</p><p>O problema de pesquisa está relacionado à constante utilização da imagem da ponte não somente como</p><p>um símbolo da cidade, mas muitas vezes colocando-a de forma que se subentende que a ponte é um</p><p>atrativo turístico. Investigaremos em que medida a ponte se encaixa na classificação de atrativo turístico e</p><p>até que ponto sua divulgação como tal é adequada na venda da imagem do destino São Paulo. A</p><p>justificativa do trabalho, portanto, surge a partir da identificação de possíveis incongruências entre os</p><p>conceitos de atrativo turístico e a promoção da ponte estaiada Octavio Frias de Oliveira como um símbolo,</p><p>ou melhor, “o símbolo”, da cidade de São Paulo, especialmente considerando-se que a capital paulista</p><p>conta com inúmeros outros atrativos turísticos.</p><p>Nesse sentido, enquanto o objetivo geral do presente trabalho é explorar as implicações do uso da imagem</p><p>da ponte Octavio Frias de Oliveira como símbolo da cidade, os objetivos específicos incluem: a) analisar a</p><p>ponte Octavio Frias de Oliveira como um cartão postal de São Paulo; b) identificar quem a ponte</p><p>contempla na cidade; e c) refletir sobre como a divulgação da ponte estaiada em mídias diversas influencia</p><p>a percepção que se cria em relação à imagem de São Paulo.</p><p>A estrutura do trabalho apresenta primeiramente a forma como acontece o turismo na cidade de São</p><p>Paulo. Posteriormente há a conceituação de atrativo turístico e tem-se início a caracterização da ponte e as</p><p>pesquisas realizadas sobre ela. Espera-se, ao longo do trabalho, levantar reflexões sobre as sutis nuances</p><p>imbuídas em “desentendimentos” (Bordieu, 1977), ou percepções incompletas, a respeito da potência</p><p>turística da ponte estaiada e seus significados em São Paulo.</p><p>2. AS CONTRADIÇÕES DA PONTE</p><p>O espaço de vazio atravessado pela ponte Octavio Frias de Oliveira extrapola as profundezas do rio</p><p>Pinheiros. Simbolicamente, ele sugere um abismo entre diferentes camadas socioeconômicas de um país</p><p>em desenvolvimento. Fendas que revelam diferentes percepções a respeito de seu uso, espacialidades e</p><p>significados. Nas palavras de Duarte, Libardi e Sánchez (2007), as contradições econômicas, sociais e</p><p>políticas que compõem a cidade manifestam-se, dentre outros modos, em seus espaços de circulação. Em</p><p>uma cidade global (Beaverstock; Smith; Taylor, 1998) como São Paulo, com profundas desigualdades</p><p>sociais, percebe-se o silenciamento em relação às contradições entre espaços caracteristicamente globais,</p><p>de um lado, e espaços esgarçados e esquecidos, de outro.</p><p>A inauguração da ponte estaiada aconteceu em 10 de maio de 2008. Em 2003, quando a ponte começou a</p><p>ser construída, quem estava na prefeitura de São Paulo era Marta Suplicy (PT). Em 2008 o prefeito era</p><p>Gilberto Kassab (DEM), quem discursou na inauguração da ponte11. A obra é considerada a maior</p><p>realizada durante o governo Kassab, segundo a Folha de S. Paulo (2008).</p><p>11 Na inauguraça o da ponte estiveram presentes tambe m diversos empresa rios e autoridades como secreta rios de</p><p>Estado, vereadores, Jose Roberto Marinho, das Organizaço es Globo, Eduardo Suplicy, Jose Serra, amigo pessoal da</p><p>famí lia Frias, entre outros (Folha de S. Paulo, 2008), disponí vel em</p><p>http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1105200821.htm .</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>121</p><p>De acordo com informações divulgadas pela Folha de S. Paulo protestos foram realizados durante a</p><p>inauguração da ponte. Um deles foi realizado por cerca de 40 ciclistas, que reivindicavam a construção de</p><p>ciclovias e questionavam a proibição de bicicletas trafegando na</p><p>ponte. Em relação a esta proibição a</p><p>prefeitura alega que o motivo está relacionado à segurança. Outro protesto foi realizado por pessoas que</p><p>cobravam a despoluição do rio Pinheiros. Houve ainda um grupo protestando contra a retirada das favelas</p><p>presentes na Avenida Jornalista Roberto Marinho.</p><p>Em tempos em que se discute o uso da cidade por todos, pedestres e ciclistas começam a ganhar</p><p>proeminência em meio aos carros, competindo por espaço (Duarte, Libardi e Sánchez, 2007). Esse</p><p>contexto requer processos colaborativos cuidadosamente planejados e governados e o envolvimento de</p><p>interesses - às vezes conflitantes (Placemaking Brasil, 2018). A ponte estaiada, entretanto, não se mostra</p><p>utilizada por toda a população, uma vez que somente automóveis e motos podem trafegar sobre ela,</p><p>apesar de frequentemente ser utilizada para além do seu intuito inicial. É possível perceber que há um</p><p>privilégio em relação ao automóvel, como aponta Cotrim (2013, p.124) ao dissertar sobre a administração</p><p>pública e suas escolhas que “privilegiaram o meio de circulação individual e motorizado”, ao invés de</p><p>investir no transporte público e buscar maneiras de solucionar o grande problema de congestionamentos</p><p>na cidade.</p><p>Para que a construção da ponte fosse possível, a favela Jardim Edith, no bairro do Brooklin, precisou ser</p><p>desapropriada, apesar de muitas famílias já terem perdido suas casas na favela por conta de obras e</p><p>projetos anteriores. Em 2005 começaram as desapropriações motivadas pela construção da ponte</p><p>estaiada e 199 famílias tiveram que deixar suas casas. Em 2007 houve um incêndio na favela e esta foi a</p><p>oportunidade para que a prefeitura anunciasse que 700 famílias seriam retiradas do local (Grunow, 2013).</p><p>O projeto de habitação de interesse social, que deveria ser feito para receber as famílias retiradas do</p><p>Jardim Edith, ficou sob responsabilidade das construtoras MMBB Arquitetos e H+F Arquitetos, que</p><p>apostaram em um modelo de cidade melhor, para criação do conjunto habitacional Jardim Edite (Grunow,</p><p>2013).</p><p>Ainda segundo Grunow (2013), em artigo para a revista Projeto Design, nem todas as famílias foram</p><p>realojadas no novo conjunto habitacional Jardim Edith, algumas se mudaram para empreendimentos do</p><p>CDHU, em outras partes da cidade, outras optaram por receber uma ajuda de custo no valor de 5 mil reais,</p><p>outras por morar de aluguel, pago pela prefeitura. Moradores também moveram uma ação judicial, que</p><p>resultou em 2008 na determinação de construção de novas unidades habitacionais na área onde antes era</p><p>a favela.</p><p>A região em que a ponte está localizada traz subsídios para se pensar as relações internas da cidade frente</p><p>às suas desigualdades e diferentes realidades, que são, ao mesmo tempo, separadas pelo rio Pinheiros e</p><p>interligadas pela ponte estaiada. De um lado há o Centro Empresarial Nações Unidas (Cenu), composto por</p><p>edifícios modernos, espelhados, que abrigam empresas multinacionais, e o condomínio residencial Parque</p><p>Cidade Jardim. Deste mesmo lado, entre a Avenida Berrini e a Avenida Santo Amaro encontra-se um bairro</p><p>residencial de classe média, com casas antigas e ruas arborizadas, e onde está presente a Sociedade Hípica</p><p>Paulista. Do outro lado do rio Pinheiros, nas palavras de Cotrim (2013, p.104) “a espacialidade se altera</p><p>em um processo de descontinuidade visual do lugar”, pois há o bairro nobre Real Parque e a seu lado está</p><p>a Favela Real Parque, localizada na Avenida Nações Unidas. Nas figuras 1 e 2 é possível ver,</p><p>respectivamente, o Centro Empresarial Nações Unidas e os prédios simples que compõem a Favela Real</p><p>Parque, mostrando o contraste entre o que se pode encontrar nas duas margens do rio Pinheiros. A figura</p><p>3 mostra o que sobrou da demolição da favela Jardim Edith, em contraste com a ponte estaiada e os</p><p>edifícios empresariais.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>122</p><p>Figura 1 - Edifícios do Centro Empresarial Nações Unidas</p><p>Fonte: Wikimapia, 2013.</p><p>Figura 2 - Prédios da Favela Real Parque</p><p>Fonte: Thaynara Araújo, 2017</p><p>Figura 3 - Antiga favela do Jardim Edith</p><p>Fonte: Revista Época, 2009</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>123</p><p>A favela Real Parque vista da Marginal Pinheiros parece ser constituída apenas por edifícios, porém atrás</p><p>dos edifícios encontram-se barracos. A favela começou a ser modificada em 2010, devido a um projeto de</p><p>reurbanização realizado pela Prefeitura, a partir de um contrato entre a Secretaria Municipal de Habitação</p><p>e o consórcio formado pelas empresas OAS e Constran, que substituiu parte dos barracos existentes por</p><p>edifícios (Cotrim, 2013, p.105). Nota-se também a diferença entre os edifícios, pois alguns foram</p><p>construídos pelos próprios moradores, enquanto outros foram projetos de diferentes governos que</p><p>passaram por São Paulo.</p><p>Atualmente o rio Pinheiros, que já foi utilizado para o lazer pela população paulistana, é um rio morto, que</p><p>também escoa o esgoto da cidade. Sobre ele passa a ponte estaiada, que, com sua imponência, desvia a</p><p>atenção do rio e daquilo que ele traz de desagradável (sua sujeira e mau cheiro). A grandiosidade da ponte</p><p>também atrai para ela todos os olhares, tirando o foco da favela, aumentando dessa forma a desconexão</p><p>dos moradores do Real Parque com a Berrini e a ponte. Mais uma vez a ponte ajuda os homens e seus</p><p>automóveis na tarefa de transpor rapidamente um obstáculo – o rio. Porém este obstáculo só é</p><p>ultrapassado por aqueles que possuem um automóvel particular.</p><p>É importante ressaltar que o lado Berrini sofreu modificações em sua visualidade de acordo com os</p><p>interesses da iniciativa privada, enquanto o outro lado, onde está presente a favela, foi sendo modificado</p><p>pela administração pública, “que fez valer suas estratégias políticas frente ao sujeito coletivo, deixando</p><p>marcas que mais eternizam suas ações do que viabilizam um modo de viver adequado aos favelados”</p><p>(Cotrim, 2013, p.105).</p><p>Ao se olhar para a imagem da região os moradores das favelas parecem ser uma sombra, enquanto a luz</p><p>reflete a ponte estaiada e o sucesso dos empreendimentos comerciais, das grandes empresas e da Rede</p><p>Globo. A emissora chegou a São Paulo na década de 1960, operando inicialmente no bairro Santa Cecília,</p><p>onde ficou por 30 anos, até 1999, quando mudou-se para a Berrini, na Avenida Chucri Zaidan, nº 46, e rua</p><p>Evandro Carlos de Andrade, nº 160, com dois prédios de médio porte, que abrigam estúdios onde são</p><p>gravados programas de entretenimento e telejornais (Encontra Brooklin, 2017). Foi em 2007 que a nova</p><p>sede administrativa da emissora foi inaugurada, com um prédio de 12 andares. Em 12 de maio de 2008,</p><p>dois dias após a inauguração da ponte, os telejornais SP1, SP2 e Bom Dia SP passaram a ser transmitidos</p><p>do estúdio panorâmico presente no último andar do edifício, segundo informações do site Encontra</p><p>Brooklin (2017). Este estúdio possui vista para a ponte estaiada Octavio Frias de Oliveira.</p><p>A figura 4 mostra um mapa da região da Berrini em que se encontra a ponte, destacando a localização da</p><p>Favela Real Parque, de um lado do rio Pinheiros, e do outro lado a Rede Globo, CENU e o Jardim Edith.</p><p>Figura 4 - Mapa da região da Berrini em que se encontra a ponte estaiada e destaques do que há em seu</p><p>entorno</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>124</p><p>Fonte: Luciana Cotrim, 2013, p.111.</p><p>3. METODOLOGIA</p><p>A pesquisa apresentada é em sua maior parte qualitativa, pois possui abordagem indutiva, uma das três</p><p>características que Patton (1986) apud Alves (1991) cita como essenciais ao se realizar estudos</p><p>qualitativos e que pode ser entendida como: “[...] aquela em que o pesquisador parte de observações mais</p><p>livres, deixando que as dimensões e categorias de interesse emerjam progressivamente durante o</p><p>processo de coleta e análise de dados.” (Patton, 1986 apud Alves, 1991).</p><p>Fazem parte dos procedimentos de construção do trabalho a pesquisa bibliográfica, análise do material de</p><p>divulgação</p><p>do turismo em São Paulo e análise de mídias em geral que tratem do tema estudado.</p><p>Como referencial teórico foram utilizados trabalhos de diversos autores que discutem, principalmente, as</p><p>temáticas das cidades, do marketing, e da imagem de destinos turísticos. Vale ressaltar, ainda, um trabalho</p><p>específico sobre a ponte estaiada, de grande importância para o nosso trabalho. Trata-se da dissertação de</p><p>Luciana Cotrim (2013), denominada "A Ponte Estaiada Octávio Frias de Oliveira na Construção de</p><p>Sentidos para a Cidade de São Paulo", pois a autora faz diversas análises sobre a ponte estaiada, além de</p><p>trazer dados técnicos, fatos sobre a construção da ponte, entre outros, conforme veremos adiante.</p><p>Escolheu-se comparar a ponte estaiada com outras pontes em cidades de dimensões proporcionais à</p><p>metrópole paulista. Para tanto, partiu-se da abordagem utilizada pelos autores Beaverstock, Smith e</p><p>Taylor (1998), nos quais as cidades são classificadas de acordo com sua conectividade e relevância global,</p><p>sendo classificadas como cidades alfa, beta ou gama.</p><p>Por São Paulo estar na classificação como cidade alfa, comparamos a ponte estaiada com pontes de outras</p><p>cidades alfa, a saber: Nova Iorque, Londres e Tóquio, incluindo por fim uma comparação com uma cidade</p><p>brasileira, Florianópolis, que apesar de não ser “alfa”, ilustra um caso nacional.</p><p>3.1. CONCEITUANDO ATRATIVO TURÍSTICO</p><p>Para o desenvolvimento desta pesquisa é importante apresentar definições de atrativo turístico, para</p><p>assim analisar a ponte estaiada sob esta ótica e entender em que medida ela pode ser considerada um</p><p>atrativo turístico da cidade de São Paulo.</p><p>Oliveira (2005) aponta o conceito da Embratur no qual entende-se que atrativo turístico como “todo lugar,</p><p>objeto ou acontecimento de interesse turístico que motiva o deslocamento de grupos humanos para</p><p>conhecê-los” (Embratur, 1998, p.10 apud Oliveira, 2005). Esse conceito dialoga com o proposto por Pearce</p><p>(1991), que entende atração turística igualmente de modo amplo e operacional, sendo “um local natural</p><p>ou construído que é foco de atenção do turista” (Pearce, 1991). Outro autor que vê o atrativo turístico</p><p>como motivador de uma viagem é Ignarra (2003).</p><p>Outra definição ampla é que “os atrativos turísticos constituem a oferta turística diferencial de uma</p><p>determinada região turística, pois são responsáveis por promover os fluxos turísticos”, além de</p><p>funcionarem “como a ‘mola propulsora’ que leva as pessoas a viajarem”. (Sebrae-SP, 2015, p.11). Ela</p><p>corrobora com a ideia de que “atrações são a raison d´être do turismo, gerando visitas, aumentando os</p><p>circuitos de excursões e criando uma indústria própria” (Boniface; Cooper, 1991, p.30).</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>125</p><p>Para o Ministério do Turismo (2007) compõem o atrativo turístico “locais, objetos, equipamentos, pessoas,</p><p>fenômenos, eventos ou manifestações capazes de motivar o deslocamento de pessoas para conhecê-los”.</p><p>Mais uma vez é mencionada a capacidade que um atrativo turístico tem de motivar viagens.</p><p>Em um destino cada atrativo turístico tem sua importância, e com o intuito de mensurar essa importância,</p><p>Ruschamnn (1997) apresentou as quatro hierarquias que um atrativo pode ter. São elas:</p><p> - Hierarquia 3: atração excepcional, muito significativa para o mercado turístico internacional.</p><p>Tem capacidade de, sozinha, motivar um grande número de turistas.</p><p> - Hierarquia 2: possui aspectos excepcionais em um país. É capaz de motivar, sozinha ou</p><p>juntamente com outros atrativos, turistas nacionais ou estrangeiros.</p><p> - Hierarquia 1: possui alguns aspectos chamativos, sendo capaz de atrair o interesse de turistas</p><p>que vieram de longe para a região devido a outras motivações turísticas, ou capaz de motivar</p><p>correntes turísticas locais. Um exemplo de atrativo em São Paulo considerado de hierarquia 1 é o</p><p>Museu do Ipiranga.</p><p> - Hierarquia 0: é a atração que não possui características suficientes para ser incluída nas</p><p>hierarquias anteriores, mas que faz parte do patrimônio turístico, constituindo-se como um</p><p>complemento a atrativos de maior interesse em um destino. Em São Paulo o parque do Ibirapuera</p><p>é considerado como hierarquia 0.</p><p>Com isso é possível saber que:</p><p>Dependendo da importância de uma atração turística, ela pode se tornar o</p><p>próprio ícone de um destino turístico, assim como a Opera House faz lembrar</p><p>Sidney, a Estátua da Liberdade, Nova York, e o Coliseu, Roma. No mundo inteiro</p><p>essas atrações turísticas são reconhecidas e, em muitos casos, quando se pensa</p><p>no destino, logo vem à mente o ícone e vice-versa. (Lohmann & Panosso Netto,</p><p>2012).</p><p>De acordo com os critérios de níveis de hierarquia de um atrativo, a ponte estaiada dificilmente se encaixa</p><p>em um nível de hierarquia, considerando que o Parque do Ibirapuera, local em que ocorre eventos</p><p>constantemente, atraindo um grande público, está no nível de hierarquia 0, a ponte, que nada oferece ao</p><p>turismo além da possibilidade de sua rápida contemplação, estaria em um nível de hierarquia 0 ou não</p><p>entraria neste tipo de classificação.</p><p>Uma atração turística precisa ser desenvolvida, sua simples existência não basta para manter o interesse</p><p>dos turistas. Wanhill (2005) apresenta então as seguintes características da demanda: mercado,</p><p>localização e imaginário. Essas características podem ser apresentadas em mais de uma ordem, e isso</p><p>influencia o planejamento do atrativo turístico e seu desenvolvimento, como é apresentado a seguir:</p><p> Lógica comercial: tem como caminho o mercado, seguido do imaginário e localização. Na maioria</p><p>dos casos o mercado já existe e tem seu público, que também já tem um imaginário.</p><p> Regeneração: segue o caminho oposto, primeiro com a localização, depois imaginário e por fim</p><p>mercado.</p><p> Desenvolvimentos industriais: a lógica seguida é a localização, mercado e imaginário.</p><p>A ponte estaiada pode se encaixar na lógica dos desenvolvimentos industriais, pois junto com a</p><p>inauguração da ponte, que gerou o surgimento de um novo atrativo, trabalhou-se o marketing da região de</p><p>negócios da Berrini. Neste tipo de lógica, segundo Wanhill (2005), “cria-se um apelo ou imaginário, para</p><p>que as pessoas se sintam atraídas a conhecer mais sobre [...]” o que está sendo desenvolvido, geralmente</p><p>empresas e produtos.</p><p>Como visto diversos autores definem atração turística, porém o conceito ainda é amplo e há divergência</p><p>em algumas definições. Para tornar mais fácil a identificação de uma atração turística existem as</p><p>categorias (Lew, 2000; Page, 2003; Leask, 2005). Assim é possível analisar um atrativo de acordo com</p><p>suas características, identificando se é natural ou construído; nodal ou linear; permanente ou temporário;</p><p>cognitivo; público, privado ou voluntário; e pago ou gratuito.</p><p>Os atrativos podem ser de origem natural, cuidados ou não pelo homem, e construídos, quando criados</p><p>pelo homem.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>126</p><p>A categoria nodal ou linear refere-se à localização espacial dos atrativos, sendo que atrativos nodais</p><p>muitas vezes são destacados pelo marketing turístico, visando atrair visitantes, e podem tornar-se ícones</p><p>do destino, e os atrativos lineares estão localizados em regiões costeiras.</p><p>As atrações permanentes são aquelas presentes sempre no mesmo lugar, enquanto as temporárias</p><p>ocorrem devido a manifestações climáticas, ou ainda eventos esporádicos.</p><p>A categoria cognitiva diz respeito às características que um atrativo deve ter, como autenticidade, aspectos</p><p>educacionais, aventura e recreação, podendo estar isolados ou não, em áreas urbanas ou rurais, com baixa</p><p>ou alta capacidade de visitação e serem sazonais ou perenes.</p><p>A categoria pública, privada ou voluntária é definida de acordo com o tipo de organização responsável por</p><p>administrar a atração turística.</p><p>Por fim define-se um atrativo como gratuito ou pago, quando há cobrança ou não do ingresso de visitantes.</p><p>Se analisarmos a ponte sob o aspecto das categorias</p><p>de atrativos turísticos temos que: é um equipamento</p><p>construído pelo homem, nodal, por estar em uma região da cidade em que há outros empreendimentos e</p><p>ser constantemente utilizada no marketing turístico, é permanente, não possui as características de</p><p>atrativo cognitivo (autenticidade, aspectos educacionais, aventura e recreação), sua administração é</p><p>pública, e seu acesso é gratuito, embora não seja facilitado a todos que desejam, tornando-se excludente.</p><p>Outra possibilidade de análise sobre a ponte voltada ao turismo é a partir da definição de ponto turístico –</p><p>que difere das definições de atrativo turístico – encontrada no dicionário terminológico multilíngue</p><p>voltado para a área de agenciamento de viagens e turismo, proposto em tese de doutorado pela profª dra.</p><p>Claudia Maria Astorino (2013, p.200). Segundo a autora ponto turístico é “aquilo que vale a pena ser</p><p>contemplado em um destino turístico ou no decorrer de um destino turístico”. A partir desta visão a ponte</p><p>estaiada pode ser considerada um ponto turístico, à medida que é alvo da mídia e é contemplada tanto por</p><p>turistas quanto por moradores da cidade de São Paulo. Sua contemplação faz parte da experiência turística</p><p>daqueles que visitam São Paulo.</p><p>4. RESULTADOS E DISCUSSÃO</p><p>4.1. COMPARAÇÃO DA PONTE OCTAVIO FRIAS DE OLIVEIRA COM PONTES MUNDIALMENTE</p><p>FAMOSAS</p><p>O termo cidade-alfa faz parte de uma classificação das cidades globais, que foi realizada a partir de estudos</p><p>da Universidade de Loughborough, na Inglaterra, sobre globalização (Beaverstock; Smith; Taylor, 1998).</p><p>As cidades globais podem ser distinguidas em três níveis: alfa, beta e gama. Estes níveis são definidos de</p><p>acordo com critérios de conectividade internacional das cidades, portanto uma cidade-alfa é aquela que</p><p>possui o índice mais elevado de conectividade internacional. Além disso, segundo classificação de</p><p>Beaverstock et al (1998), as cidades-alfa são divididas ainda em Alfa ++ e Alfa +. Como exemplo de cidades</p><p>Alfa ++ temos Londres e Nova Iorque. São consideradas cidades Alfa + Dubai, Hong Kong, Singapura,</p><p>Sydney, Tóquio, Paris, Pequim e Xangai. Entre as cidades que se classificam apenas em Alfa temos</p><p>Amsterdam, Bruxelas, Cidade do México, Chicago, entre outras. No Brasil São Paulo é considerada uma</p><p>cidade-alfa.</p><p>Conforme mencionado anteriormente, uma característica de cidades globais (Beaverstock; Smith; Taylor,</p><p>1998) como São Paulo é a presença de desigualdades sociais e a contraposição de suas espacialidades,</p><p>aonde desenvolvimento e precariedade se sobrepõe. Não somente a cidade de São Paulo possui a</p><p>desigualdade como uma característica, mas também a região da Berrini, com o centro empresarial</p><p>sofisticado em uma margem do rio Pinheiros, e as comunidades simples que ocupam a margem oposta.</p><p>Algumas das cidades-alfa citadas anteriormente possuem pontes emblemáticas, assim como São Paulo.</p><p>Para tentar entender melhor o interesse em relação à ponte estaiada Octavio Frias de Oliveira podemos</p><p>comparar pontes destas cidades, como a Tower Bridge, em Londres, a Rainbow Bridge, de Tóquio, e a</p><p>Brooklyn Bridge, em Nova Iorque.</p><p>Em Nova Iorque12, ligando o Brooklyn a Manhattan, está a famosa Brooklyn Bridge, que atualmente é um</p><p>dos símbolos de Nova Iorque, não só por sua aparência, mas por ter feito parte da história da cidade. Ao</p><p>contrário da ponte estaiada, além do tráfego de veículos, a ponte pode ser atravessada também por</p><p>bicicletas e a pé. O acesso à ponte é livre, mas é possível encontrar serviços turísticos à venda oferecendo</p><p>12 A cidade de Nova Iorque possui uma populaça o de aproximadamente 8,4 milho es de habitantes (censo 2014).</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>127</p><p>visitas guiadas à ponte, excursão de bicicleta, entre outros. No Brooklyn, muito próximo à ponte, existe o</p><p>Brooklyn Bridge Park (figura 5), um parque que ajuda a complementar a atratividade da ponte e da</p><p>localidade.</p><p>Figura 1 - Brooklyn Bridge e Brooklyn Bridge Park</p><p>Fonte: Phoenix Reisen, sem ano. Brooklyn Bridge Park, com a ponte do Brooklyn ao fundo</p><p>A Tower Bridge (ponte da torre) (figura 6), em Londres13, é uma ponte sobre o rio Tâmisa e possui este</p><p>nome por estar localizada ao lado da torre de Londres, em uma região muito visitada por turistas na</p><p>cidade. Diferente da ponte estaiada de São Paulo, a Tower Bridge pode ser cruzada não só por veículos,</p><p>mas também por pedestres, e por ela passam mais de 40 mil pessoas por dia, segundo o site Visit London.</p><p>Quando grandes embarcações precisam cruzar o rio a ponte se eleva, possibilitando sua passagem. Algo</p><p>interessante a se destacar é que esta ponte não serve somente como meio de transpor o rio, mas abriga</p><p>uma exposição permanente sobre sua história. Outro fato interessante e atrativo aos turistas é a segunda</p><p>plataforma da ponte, que possui piso de vidro, proporcionando uma experiência diferente de observação</p><p>da ponte e da cidade.</p><p>A Tower Bridge possui ainda site oficial, diferente da ponte estaiada ou de outras pontes famosas, com</p><p>diversas informações sobre a visitação da ponte e da exposição (figura 7). Com isso a ponte deixa de ser</p><p>simplesmente um local de passagem e recebe usos além do que o uso que se espera de uma ponte,</p><p>tornando-se um monumento da cidade de Londres e atrativo turístico, com infraestrutura adequada para</p><p>receber a população local e os turistas.</p><p>Figura 2 - Tower Bridge, em Londres, Reino Unido</p><p>Fonte: Mapa de Londres, 2017.</p><p>13 Londres possui 8,7 milhões de habitantes (censo 2016).</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>128</p><p>Figura 3 - Site da Tower Bridge Exhibition</p><p>Fonte: Tower Bridge Exhibition, 2017.</p><p>Captura de tela da página inicial do site da Tower Bridge Exhibition, mostrando um turista fotografando a</p><p>ponte através do piso de vidro. Na imagem também é possível ver que há informações sobre venda de</p><p>ingressos, horários em que a ponte é erguida, como chegar à ponte utilizando diferentes meios de</p><p>transporte, link para a loja online da ponte e informações sobre eventos.</p><p>Em Tóquio14 o destaque é para a Rainbow Bridge (figura 8), ponte de 918 metros de comprimento que</p><p>cruza o cais Shibaura, na Baía de Tóquio, até Odaiba, em Minato-ku. Assim como acontece nas duas pontes</p><p>anteriormente citadas, é possível atravessar a ponte a pé, pois ela possui uma faixa para pedestres. Em sua</p><p>estrutura há oito faixas para veículos e duas linhas ferroviárias. Próximo às torres que sustentam a ponte</p><p>existem bancos para que os pedestres descansem e apreciem a vista. De acordo com o site Japan National</p><p>Tourism Organization (2017), existe um horário de funcionamento para o acesso de pedestres na ponte.</p><p>Há ainda passeios de barco, no qual a vista da ponte é explorada. Para que isso ocorra é preciso que a</p><p>cidade se relacione bem com seu rio, o que não acontece em São Paulo, onde um passeio de barco pelo rio</p><p>Pinheiros, com intuito de contemplar a ponte estaiada, não seria atrativo nas condições atuais em que o rio</p><p>se encontra.</p><p>Segundo St. Michel (2015), em artigo no site de notícias The Japan Times, no verão o passeio de barco</p><p>Tokyo Bay Noryosen tem bebidas inclusas e há apresentações de danças tradicionais japonesas. Os</p><p>passeios acontecem a partir do início de julho, com partidas do terminal Takeshiba. O Noryosen oferece</p><p>ainda descontos para aqueles que forem ao passeio usando kimono.</p><p>14 A populaça o de To quio e de cerca de 127,11 milho es de pessoas (censo 2015).</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>129</p><p>Esta atividade é um diferencial que complementa a atratividade da ponte, além de ser uma forma de</p><p>proporcionar a aproximação dos visitantes e moradores com o rio.</p><p>Figura 4 - Rainbow Bridge e barcos de passeio no rio na baía de Tóquio</p><p>Fonte: Japão em Foco, 2012.</p><p>As pontes citadas anteriormente são tratadas, de</p><p>certa forma, como símbolos das cidades em que estão</p><p>presentes e atraem o interesse dos turistas. Ao contrário da ponte Octavio Frias de Oliveiras, estas pontes</p><p>possuem pelo menos estrutura para a travessia de pedestres. A Tower Bridge destaca-se por oferecer aos</p><p>visitantes opções maiores do que a possibilidade de contemplar a vista do alto da ponte, oferecendo o</p><p>diferencial do piso de vidro e a exibição permanente sobre a história da ponte.</p><p>Os mapas turísticos apresentados a seguir nas figuras 9 e 10 mostram a localização das pontes citadas nas</p><p>cidades de Nova Iorque e Londres. O mapa de Nova Iorque é menos detalhado, mas é possível ver o que há</p><p>nas regiões próximas à Brooklyn Bridge, como o Soho e China Town. No Mapa de Londres a concentração</p><p>de atrativos é ainda mais próxima da Tower Bridge. Ambos os mapas mostram que no entorno das pontes</p><p>há outros atrativos de interesse turístico, sejam eles centros de compras, teatros, avenidas famosas, etc.</p><p>Figura 5 - Mapa turístico de Nova Iorque</p><p>Fonte: Vecteezy, sem ano.</p><p>O destaque em vermelho no mapa turístico da cidade de Nova Iorque mostra a Brooklyn Bridge, e observa-</p><p>se a proximidade de alguns atrativos com a ponte.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>130</p><p>Figura 10 - Mapa Turístico de Londres</p><p>Fonte: Cidade de Londres, sem ano.</p><p>Mapa turístico de Londres, com a Tower Bridge destacada em vermelho, e atrativos em seu entorno, como</p><p>a Tower of London, catedrais, o Tribunal Central Criminal e o Banco da Inglaterra.</p><p>O mapa ilustrado do “Projeto Casulo” (figura 11) mostra a região da Berrini e é possível perceber que não</p><p>há variedade de equipamentos de lazer. O Projeto Casulo promove o desenvolvimento social nas</p><p>comunidades do Real Parque e Jardim Panorama, com diversas atividades. Localizado também na região</p><p>do Morumbi e Berrini, o Projeto Casulo entende que o entorno é composto por “inúmeras grandes</p><p>empresas e dotado de serviços, porém com poucos recursos e equipamentos públicos de educação, saúde,</p><p>transporte e lazer popular”.</p><p>Figura 11 - Mapa da Berrini</p><p>Fonte: Projeto Casulo, sem ano.</p><p>Observação: O mapa tem destaque para a localização do Projeto Casulo e mostra que a região possui centros</p><p>empresariais e de compras.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>131</p><p>A ponte estaiada também pode ser comparada com um exemplo mais próximo, a ponte Hercílio Luz,</p><p>localizada em Florianópolis, Santa Catarina (figura 12). Esta ponte também é considerada um cartão-</p><p>postal da cidade e atrai o interesse de muitos turistas. A ponte é um patrimônio cultural de Santa Catarina</p><p>e do Brasil, segundo a Fundação Catarinense de Cultura. Foi inaugurada em 1936, e liga a ilha de Santa</p><p>Catarina ao continente. Ao contrário da Ponte Octavio Frias de Oliveira, que é uma ponte estaiada, a Ponte</p><p>Hercílio Luz é uma ponte pênsil, que possui extensão total de 819,471 metros, e cada uma de suas torres</p><p>possuem 75 metros de altura, a partir do nível do mar (Fundação Catarinense de Cultura).</p><p>Figura 6 - Ponte Hercílio Luz, em Florianópolis, Santa Catarina.</p><p>Fonte: Viagem e Turismo Abril, sem ano.</p><p>A ponte Hercílio Luz foi interditada duas vezes, primeiro em 1982, devido a problemas estruturais, sendo</p><p>reaberta em 1988 para a travessia de pedestres, motocicletas, bicicletas e veículos de tração animal, e</p><p>totalmente interditada novamente em 1990 (Fundação Catarinense de Cultura). Há alguns anos obras</p><p>estão sendo feitas em sua estrutura.</p><p>É interessante ressaltar a força que a ponte Hercílio Luz possui como símbolo representativo de Santa</p><p>Catarina, tanto para a história do local como para o turismo. No trecho a seguir, presente no site da</p><p>Fundação Catarinense de Cultura, é possível perceber essa importância:</p><p>[...] a Hercílio Luz é a imagem mais recorrente de Santa Catarina, tanto em</p><p>fotografias turísticas, quanto em cartões postais, obras de arte, camisetas e</p><p>material informativo sobre o Estado. Transformada em monumento histórico,</p><p>declarada como patrimônio municipal, estadual e federal, a ponte é o símbolo</p><p>catarinense mais visível e conhecido no país e no mundo. Guardadas as devidas</p><p>proporções, representa para Santa Catarina o que significa para a França a</p><p>Torre Eiffel ou para o Rio de Janeiro o Cristo Redentor.</p><p>Por ser uma ponte emblemática, os turistas e moradores de Santa Catarina, têm a curiosidade de saber</p><p>como é atravessá-la, por isso começaram a ser realizadas visitas guiadas na ponte em obras, promovidas</p><p>pelo Governo do Estado.</p><p>Há uma diferença entre a ponte estaiada e a ponte Hercílio Luz que justifica a importância turística desta</p><p>segunda, pois ela é tombada como patrimônio cultural (Setur SC, 2017), fazendo com que sua importância</p><p>seja reconhecida. A ponte estaiada é uma construção relativamente recente, e apesar de já ser reconhecida</p><p>por muitos turistas e moradores como o cartão postal da cidade, ainda não se observa discurso em torná-</p><p>la um patrimônio, mas pode ser que futuramente exista esse interesse.</p><p>4.2. OPINIÃO DOS TURISTAS SOBRE A PONTE NO SITE TRIPADVISOR</p><p>Em pesquisa sobre a ponte estaiada no site de avaliações sobre destinos de viagens TripAdvisor, foi</p><p>possível observar a opinião de turistas em relação à ponte. O TripAdvisor possibilita que os viajantes</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>132</p><p>possam dar sua opinião sobre destinos, estabelecimentos e atrativos, avaliando-os e deixando dicas para</p><p>outros viajantes (TripAdvisor, 2018).</p><p>No site há avaliações realizadas tanto por turistas brasileiros quanto estrangeiros. A classificação que se</p><p>pode dar a um atrativo é a seguinte: excelente, muito bom, razoável, ruim e horrível, e junto a ela o usuário</p><p>deixa um comentário com sua opinião sobre o lugar visitado. Até a data de 20 de abril de 2018 o total de</p><p>avaliações existentes era de 308. Estas avaliações foram reunidas no quadro 1.</p><p>Quadro 1 – Avaliações sobre a ponte Octavio Frias de Oliveira no TripAdvisor</p><p>Classificação Quantidade de avaliações</p><p>Excelente 101</p><p>Muito bom 131</p><p>Razoável 63</p><p>Ruim 9</p><p>Horrível 4</p><p>Total de avaliações 308</p><p>Fonte: Elaboração própria, com base no TripAdvisor (2018)</p><p>Do total de 308 avaliações, a maioria dos usuários (131) classificou a ponte como “muito bom”. Somente 9</p><p>classificaram como “ruim” e 4 como “horrível”. Entre os comentários que classificam a ponte como</p><p>“horrível” o comentário de um usuário que critica a ponte por ela não realizar ligação direta do bairro do</p><p>Morumbi com a avenida Águas Espraiadas foi destacado na figura 13.</p><p>Entre os comentários que classificam a ponte como “ruim” notamos que havia uma expectativa dos</p><p>turistas em conhecer uma obra grandiosa, mas se decepcionaram, como é possível ver na captura de tela</p><p>apresentada na figura 14. Devido a falta de estrutura da ponte para receber visitantes ela acaba se</p><p>tornando uma obra inóspita e sendo somente um lugar de passagem, e não de encontro e parada.</p><p>Figura 13 - Comentário no TripAdvisor</p><p>Fonte: Captura de tela do site TripAdvisor, 2018.</p><p>Figura 14 - Comentário no TripAdvisor</p><p>Fonte: Captura de tela do site TripAdvisor, 2018.</p><p>Nos comentários positivos os usuários do site ressaltam que a ponte é um cartão postal da cidade ou uma</p><p>grande obra da arquitetura. Algumas pessoas a enxergam como um ponto turístico. Há também as pessoas</p><p>que se lembram que a ponte é utilizada pela Rede Globo como cenário de seus telejornais.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>133</p><p>Algumas vezes o Rio Pinheiros é citado, porém os turistas consideram que o rio não condiz com a beleza</p><p>da ponte, em consonância com o que é retratado no documentário “entre rios” (2009), que demonstra a</p><p>desconexão que há entre as pessoas e os rios da cidade. As pessoas desconhecem a importância que os rios</p><p>tiveram para o desenvolvimento da cidade de São Paulo e este é um dos fatores que contribui com esta</p><p>desconexão, e consequentemente seu descuido e poluição. Os rios, apesar de</p><p>sempre estarem presentes de</p><p>alguma forma na paisagem da cidade, acabam sendo ignorados.</p><p>Há reclamações sobre ser possível transitar na ponte somente de carro, o que parece indicar uma vontade</p><p>das pessoas de chegar por outros meios que não um automóvel particular, talvez a pé ou de bicicleta, visto</p><p>que pedestres e ciclistas passam a competir por espaço (DUARTE, LIBARDI e SÁNCHEZ, 2007), ou até</p><p>mesmo por meio de transporte público. Nota-se no comentário exibido na figura 15 que o questionamento</p><p>da mobilidade relacionada à ponte está presente15.</p><p>Figura 15 - Comentário no TripAdvisor</p><p>Fonte: Captura de tela do site TripAdvisor, 2018</p><p>Em São Paulo, na visão de Luciana Cotrim (2013), a administração pública privilegia a mobilidade por</p><p>meio de carros, devido ao investimento de milhões de reais em estruturas que servem ao transporte</p><p>particular, como a própria ponte estaiada, sem realizar investimentos significativos para melhorias no</p><p>transporte público. Consequentemente existe uma exclusão espacial daqueles que não detêm o meio de</p><p>transporte carro, ao mesmo tempo em que há um desestímulo do uso dos transportes públicos, como</p><p>ônibus e trens, pois as pessoas precisam se aglomerar nas plataformas e pontos de ônibus, para utilizar</p><p>um transporte público superlotado e desconfortável (COTRIM, 2013, p.124). A ponte acaba se tornando</p><p>um local que exclui espacialmente aqueles que não têm recursos financeiros para ter um veículo. Vale</p><p>retornar a Duarte, Libardi e Sánchez, “Introdução à Mobilidade Urbana” (2007, p.11), no qual os autores</p><p>ressaltam que as contradições econômicas, sociais e políticas que compõem a cidade podem ser vistas em</p><p>seus espaços de circulação, onde pedestres e veículos, coletivos ou particulares, competem por espaço.</p><p>Há ainda um comentário importante (figura 16), mostrando que a divulgação da imagem da ponte gera um</p><p>interesse em pessoas de outras regiões, que consideravam a visita a ponte tão essencial quanto uma visita</p><p>ao Masp, por exemplo, atrativo já consolidado na cidade de São Paulo.</p><p>15 Uma grande e moderna ponte, entre edifí cios, e construí da apenas para carros. A ponte tem uma arquitetura</p><p>interessante, pore m e grande demais para o local em que foi construí da. Alguns dizem que foi a Globo (emissora de</p><p>TV) que interveio em sua construça o atrave s do governo local para que fosse apenas um cena rio para seus noticia rios.</p><p>Faz sentido. Apenas carros sa o permitidos nela, na o o nibus, nem pedestres, nem bicicletas. Parece melhor na foto.</p><p>(Traduça o nossa).</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>134</p><p>Figura 16 - Comentário no TripAdvisor</p><p>Fonte: Captura de tela do site TripAdvisor, 2018.</p><p>Observando a avaliação de alguns estabelecimentos no entorno, como restaurantes e hotéis, é possível</p><p>notar que estes se promovem com o argumento de ter uma vista privilegiada da ponte, devido à sua</p><p>proximidade. No site oficial do Hotel Grand Hyatt, localizado na Avenida das Nações Unidas, são</p><p>apresentados como um diferencial da hospedagem as “janelas e vistas privilegiadas da Ponte Estaiada, um</p><p>dos cartões-postais de São Paulo”. Já o hotel Hilton (unidade Morumbi), localizado dentro do Centro</p><p>Empresarial Nações Unidas, apresenta fotos da ponte na página inicial de seu site e informa que possui</p><p>uma “vista magnífica do cartão postal de São Paulo, a Ponte Estaiada”.</p><p>5. CONCLUSÃO</p><p>A constante veiculação da imagem da ponte Octavio Frias de Oliveira na mídia atinge muitas pessoas,</p><p>sendo capaz de influenciá-las em sua forma de ver a cidade de São Paulo, uma vez que a estrutura</p><p>grandiosa da ponte passa a sensação sucesso e poder. De acordo com as definições de atrativo turístico</p><p>apresentadas ao longo do trabalho a ponte estaiada pode ser um atrativo na medida em que é alvo do</p><p>interesse dos turistas que já estão na cidade por outros motivos, e viram a imagem da ponte nos</p><p>telejornais da Rede Globo, por exemplo.</p><p>A pesquisa realizada levanta reflexões a respeito da forma como a cidade, suas espacialidades e seus</p><p>silenciamentos se orquestram de modo a lidar com as desigualdades de uma cidade global como São</p><p>Paulo. As grandes cidades brasileiras não têm o pedestre – ou as bicicletas – como prioridade em sua</p><p>configuração de mobilidade urbana, mais voltada a facilitar o trânsito por meio de automóveis</p><p>particulares. A Ponte Octavio Frias de Oliveira é um claro exemplo de como ocorre a mobilidade em São</p><p>Paulo, pois nela não há ciclovia ou passagem para pedestres, e é uma rota que não é contemplada pelo</p><p>transporte público. Dar foco e visibilidade a uma obra como a ponte estaiada é mostrar aos turistas, e aos</p><p>próprios moradores de São Paulo, quem a cidade prioriza em seu planejamento (ou na falta dele). Neste</p><p>aspecto concordamos com a visão das autoras Cotrim (2013, p.124) e Ulian (2008, p.202), que realizam</p><p>críticas sobre o modo como é desestimulante o uso do transporte público devido à falta de investimentos</p><p>para realização de melhorias, enquanto há altos gastos para a construção de uma ponte que serve somente</p><p>aos veículos particulares. A ponte estaiada é extensa o suficiente para ser útil não somente aos automóveis</p><p>particulares, mas aos ciclistas e às pessoas que dependem de transporte público. Se fosse permitida</p><p>também a passagem de pedestres e ciclistas de maneira segura, a ponte seria mais valorizada e</p><p>democrática, e cumpriria de forma mais completa sua função de transpor barreiras e aproximar as</p><p>pessoas do local onde desejam chegar.</p><p>Ademais, ao compararmos a ponte estaiada com outras pontes nas cidades de Nova Iorque, Londres,</p><p>Tóquio ou Florianópolis, percebemos uma diferença em relação aos seus usos: não há variedade de</p><p>equipamentos em seu entorno, que apesar de anfitriar grandes empresas, possui poucos recursos e</p><p>equipamentos públicos de educação, saúde, transporte e lazer popular.</p><p>A ponte estaiada tem potencial turístico e é interessante desenvolvê-lo, pois ela já é explorada como a</p><p>marca da cidade, mas ainda há pontos a serem melhorados para que a experiência na ponte seja completa.</p><p>A experiência turística é composta por diversos fatores e se estende para além da amplitude da visão,</p><p>sendo influenciada por outras questões sensoriais, como o olfato, por exemplo. Quando entendemos a</p><p>ponte estaiada como algo a ser contemplado, por ser uma obra grandiosa, concluímos que é importante</p><p>que aspectos além da vista bonita sejam considerados.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>135</p><p>Com seus 138 metros de altura e 144 estais, a ponte estaiada tornou-se um dos dez pontos mais altos da</p><p>cidade. Se a altivez e a beleza do concreto se contrapõem às esquecidas e mórbidas margens do rio</p><p>Pinheiros, suas águas sujas anunciam uma história que se compõe de esquecimentos e vazios, por vezes</p><p>propositais. A estética dos cabos de aço, rígidas ordenações do crescimento econômico sem paralelos que</p><p>sustentam os dois tabuleiros curvos da ponte, por onde os automóveis passam, orquestra em seus espaços</p><p>simbólicos as mais variadas dimensões de uma megalópole em constante evolução. A ponte estaiada</p><p>parece, assim, chegar ao olhar do turista (Urry, 2001) com a força implacável de uma locomotiva. Aquela</p><p>mesma que puxa o Brasil, e traz consigo todas as contradições desse país.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>[1] Alves, A. J. (1991, maio)O planejamento de pesquisas qualitativas em educação. Caderno de Pesquisas</p><p>Fundação Carlos Chagas. São Paulo, v.77, p. 53-61. Disponível em:</p><p>Acesso em 05 jun.2017.</p><p>[2] Anjos, S. J. G.; Zucco, F. D.; Mota, K. C. N.; Fontana, R. F. (2016, maio-agosto) A comunicação nos destinos</p><p>turísticos e a expectativa dos turistas. Revista Turismo - visão e ação. Vol. 18, n.2, p. 405 – 418. Disponível em:</p><p>Acesso em 16 jun.2017.</p><p>[3] Astorino, Claudia Maria. (2013) Viajando pela terminologia de Agenciamento de Viagens e Turismo: reflexões</p><p>e proposta de dicionário multilíngue. Tese (Doutorado em Semiótica e Lingüística Geral) - Faculdade de Filosofia,</p><p>Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.</p><p>[4] Beaverstock, J. V., Smith, R. G., & Taylor, P. J. (2000). 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Ponte Hercílio Luz. Patrimônio de Santa Catarina. Patrimônio do</p><p>Brasil. Disponível em: Acesso em 02 jul.2017.</p><p>[11] Ignarra, L. R. (2003) Fundamentos do turismo. 2. ed. São Paulo: Thomson. Instituto Brasileiro de Geografia e</p><p>Estatística (2017). São Paulo: Dados gerais do município. Disponível em: Acesso em: 16 mar. 2017.</p><p>[12] Japan National Tourism Organization (2017) Rainbow Bridge. Disponível em:</p><p>Acesso em 30 jun.2017.</p><p>[13] Leask A. (2005) The nature and purpose of visitor attractions. In: Fyall, A.; Garrod, B. Et al. (Ed.) Managing</p><p>visitor attractions: new directions. Oxford: Elsevier, 2005.</p><p>[14] Lew. A. (2000). Attraction. In: Jafari, J. (Ed.). Encyclopedia of tourism. Londres: Routledge.</p><p>[15] Lohmann, G.; Panosso Netto, A. (2012) Atrativo turístico. In:____ Teoria do turismo: conceitos, modelos e</p><p>sistemas. 2. ed. 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Tese (Doutorado em Geografia Humana) - Faculdade de Filosofia, Letras e</p><p>Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo. Acesso em 16 jan.2017.</p><p>[29] Urry, John (2001). O olhar do turista: lazer e viagens nas sociedades contemporâneas. 3. ed. São Paulo: Studio</p><p>Nobel : SESC. 231p.</p><p>[30] Wanhill, S. (2005) Interpreting the development of the visitor attraction product. In: Fyall, A; Garrod, B. Et Al</p><p>(Ed). Managing visitor attractions: new directions. Oxford: Elsevier Butterworth-Heinemann, 2005.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>137</p><p>Capítulo 12</p><p>Recomposição histórica: A rua José Bonifácio como</p><p>princípio conector do setor histórico de Curitiba.</p><p>Pedro Seiji Tokikawa</p><p>Resumo: Este artigo é o resultado da investigação da ruptura da continuidade do centro</p><p>histórico de Curitiba na década de 1970 para a abertura da Via Estrutural Norte, a</p><p>travessa Nestor de Castro. A pesquisa se baseia em uma revisão bibliográfica histórica e</p><p>análises sensoriais para compreender a complexidade dos espaços urbanos e se equipar</p><p>de subsídios para atuar nele. Foram realizadas repetidas visitas ao trecho de estudo para</p><p>agregar novas percepções do ambiente, pois as estratégias de implantação foram</p><p>determinadas apenas posteriormente como reação às problemáticas encontradas. Ao</p><p>somar o valor histórico do local e a importância da via para o sistema viário da cidade,</p><p>entende-se que a abordagem projetual da intervenção deve unir arquitetura e</p><p>urbanismo para colaborar com a recomposição do tecido urbano do lugar: a arquitetura</p><p>ao suprir a vocação turística e propor novos modos de interação com a cidade e o</p><p>urbanismo ao considerar o pedestre o protagonista do espaço urbano. A proposta de</p><p>intervenção para o local se baseia em três frentes: urbana, com a implantação do viaduto</p><p>originalmente previsto; paisagística, de modo a reapropriar o local ao pedestre e</p><p>arquitetônica, que reformula os equipamentos urbanos e apresenta opção de ocupação</p><p>para um edifício da região.</p><p>Palavras-chave: Setor Histórico de Curitiba, abertura de via, turismo, sensações.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>138</p><p>1. INTRODUÇÃO</p><p>A cidade de Curitiba, reconhecida por um histórico de planejamento urbano ativo entre as décadas de 60 e</p><p>90 (GARCEZ, 2006), equilibrava-se entre a preservação de seu patrimônio histórico e as necessidades do</p><p>crescimento urbano: ao suprimir a histórica conexão entre Largo da Ordem e o Marco Zero da cidade, a</p><p>Travessa Nestor de Castro quebra a narrativa do Centro Histórico gerando uma série de fachadas</p><p>esvaziadas e hostilizadas que não convidam à permanência (GEHL, KAEFER e REIGSTAD, 2015), seu</p><p>último elemento conector é a Galeria subterrânea Júlio Moreira, utilizada como espaço cultural e passagem</p><p>de pedestres.</p><p>O objetivo desse trabalho é, através de um apanhado histórico somado a análises sensoriais in loco,</p><p>compreender a profundidade da cisão causada pela Travessa no Setor Histórico (SH), porém, sem deixar</p><p>de reconhecer intervenções decorrentes da presença da via, como a Galeria Júlio Moreira ou os painéis do</p><p>artista plástico Poty Lazarotto. Ao visualizar essas intervenções</p><p>de conocimientos como una acción colectiva de empoderamiento</p><p>multidireccional.</p><p>Figura 14: Obra finalizada. Plaza del Agua en Bajada Colacho. Pueblo Esther.Santa Fe, Argentina.(2015-</p><p>2017).</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>18</p><p>Figura 15: Ejecución de proyecto junto a alumnos.Plaza del Agua en Bajada Colacho. Pueblo Esther, Santa</p><p>Fe, Argentina. (2015-2017).</p><p>Figura 16: Ejecución de proyecto de Refugio con participación de docentes y alumnos. Premio a la</p><p>creación 2018 Fondo Nacionl de las Artes. En predio de FAPyD, Santa Fe, Argentina. (septiembre 2019).</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>19</p><p>Figura 17: Ejecución de proyecto de Refugio con participación de docentes y alumnos. Premio a la creación</p><p>2018 Fondo Nacionl de las Artes. En predio de FAPyD, Santa Fe, Argentina. (septiembre 2019).</p><p>COLABORADORES</p><p>Arq.Polenta, Berenice; Nakatsuka, Sara; Ambroa, María Emilia; Barrale,</p><p>Victoria, Mansilla, Aneley; González, Alexis; Galizzi, Fausto</p><p>EJE: El proyecto en la producción de la ciudad sudamericana</p><p>contemporánea</p><p>BIBLIOGRAFÍA</p><p>[1] Careri, F. El andar como práctica estética. Barcelona: Gili, 2012.</p><p>[2] Carroll,L. Sylvie and Bruno Concluded. Londres: Macmillan and Co, 1893.</p><p>[3] Carroll,L. The man in the moon. Londres: Macmillan and Co, 1893.</p><p>[4] Droste M. Bauhaus 1919 1933 Reforma y vanguardia. Madrid: Taschen, 2006.</p><p>[5] Dussel, E. Filosofía de la producción. Bogotá: Nueva América, Vol. 5, 1984.</p><p>[6] Escuela de Arquitectura UCV .Amereida Travesías 1984 a 1988, Viña del Mar: Taller de Investigaciones</p><p>Gráficas, Escuela de Arquitectura UCV, 1991.</p><p>[7] Finkelstein, I. La vida y el arte de Josef Albers. Nueva York: Ed. Ph D diss., Universidad de Nueva York, 1968.</p><p>[8] Focillon, H. 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Cartografía del Curso Preliminar.Albers y Chile. Santiago de Chile: Edición</p><p>Universidad Nacional Andrés Bello – Facultad de Arquitectura y Diseño, 2008.</p><p>[17] Pallasmaa, J. Encounters.Architectural Essays. Helsinki: Rakennustieto Oy, 2005.</p><p>[18] Pallasmaa, J. The Eyes of the Skin. Architecture and the Senses. New York: John Wiley, 2005.</p><p>[19] Pallasmaa, J. The Thinking Hand. New York: John Wiley, 2009.</p><p>[20] Sennet, Richard. El Artesano. Barcelona: Anagrama, 2009.</p><p>[21] Sennet, Richard. Juntos. Barcelona: Anagrama, 2012.</p><p>[22] Thompson, D’arcy Wentworth. On Growth and Form. London: Cambridge University Press, 1952.</p><p>[23] Zumthor, Peter. Atmósferas. Barcelona: Gustavo Gili, 2006</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>21</p><p>Capítulo 2</p><p>O uso da tectônica no processo de projetação: Como a</p><p>relação com o sítio de implantação influencia na</p><p>escolha dos materiais e sistemas construtivos ao longo</p><p>da elaboração do projeto arquitetônico</p><p>Rafaela Santana Balbi</p><p>Carla Ariadna Torres Rocha</p><p>Laysa Alves Rodrigues</p><p>Resumo: Nste capitulo objetivou-se identificar como os discentes de uma escola de</p><p>Arquitetura e Urbanismo, localizada na cidade de Pau dos Ferros/RN, consideram as</p><p>questões construtivas, e se estes a associam com a relação do edifício com o sítio de</p><p>implantação e à escolha de materiais construtivos em durante o processo projetual.</p><p>Procurou-se assim, verificar se há expressão Tectônica em seus projetos arquitetônicos</p><p>no sentido apresentado por Kenneth Frampton (1995). A escolha do tema se deu,</p><p>especificamente, pelo interesse de se entender como está se dando a formação do</p><p>profissional arquiteto e urbanista, que é de certo modo, um dos atores na formação das</p><p>cidades contemporâneas.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>22</p><p>1. INTRODUÇÃO</p><p>A arquitetura existente nas cidades contemporâneas é uma maneira de expressão nítida que é refletida a</p><p>partir de métodos, materiais e formas construtivas que podem auxiliar nos processos de desenvolvimento</p><p>das soluções para os impasses projetuais (LAWSON, 2008). Dentro das questões que influenciam a</p><p>produção projetual, deve-se enfatizar, a relação entre o sítio de implantação e edifício dentro do contexto</p><p>em que será inserido, pois esta relação afeta diretamente as decisões projetuais que serão tomadas.</p><p>Pensando-se nisto, torna-se possível as indagações sobre Tectônica, que fugindo de sua conceituação mais</p><p>comum (a relação entre a edificação e sua estrutura), é um termo inerente ao uso e a configuração de uma</p><p>edificação em relação aos materiais utilizados e a disposição deles no conjunto da obra relacionando-se ao</p><p>sítio de implantação (FRAMPTON, 1995; AMARAL, 2009).</p><p>Assim, nesta pesquisa objetivou-se identificar como os discentes de uma escola de Arquitetura e</p><p>Urbanismo, localizada na cidade de Pau dos Ferros/RN, consideram as questões construtivas, e se estes a</p><p>associam com a relação do edifício com o sítio de implantação e à escolha de materiais construtivos em</p><p>durante o processo projetual. Procurou-se assim, verificar se há expressão Tectônica em seus projetos</p><p>arquitetônicos no sentido apresentado por Kenneth Frampton (1995). A escolha do tema se deu,</p><p>especificamente, pelo interesse de se entender como está se dando a formação do profissional arquiteto e</p><p>urbanista, que é de certo modo, um dos atores na formação das cidades contemporâneas.</p><p>Foi realizada a análise de projetos arquitetônicos desenvolvidos ao longo de dois semestres em uma</p><p>disciplina de Projeto de Arquitetura II, na qual o tema central é a concepção de uma edificação de</p><p>arquitetura escolar. Procurou-se verificar os materiais e técnicas construtivas mais utilizados e as</p><p>resoluções das questões de conforto ambiental e estruturais que os discentes utilizam na concepção dos</p><p>projetos de suas edificações escolares. Além disto, foram aplicados questionários junto aos discentes e</p><p>junto a docente da disciplina de modo a complementar as informações coletadas nas análises realizadas,</p><p>sendo esta abordagem essencialmente de cunho qualitativo.</p><p>Os dados coletados foram compilados para investigar e examinar os interesses individuais que cada</p><p>discente adquiriu no decorrer da evolução da disciplina e se foi levado em consideração a vinculação entre</p><p>a edificação e o sítio. Além disto, verificou-se se os próprios discentes acreditavam que havia uma</p><p>vinculação entre a escolha material de seus projetos arquitetônicos e sua produção projetual.</p><p>A observação de como se dá a preocupação dos discentes com materiais que farão parte de suas</p><p>produções arquitetônicas, sendo os materiais e sistemas construtivos, em alguns projetos, utilizados como</p><p>partido arquitetônico do processo de projetação é importante para conhecer a produção arquitetônica que</p><p>virá a formar a cidade sul-americana contemporânea, especificamente ao tratar-se de um local como Pau</p><p>dos Ferros/RN com duas grandes problemáticas: o clima, pois a cidade localiza-se numa região atingida</p><p>por altas temperaturas em grande parte do tempo, e por ser um local em que a arquitetura histórica vem</p><p>sendo cada descaracterizada, deixando de lado, assim técnicas construtivas tradicionais mais adequadas</p><p>como potencialidades para uma</p><p>recomposição urbana do Centro histórico de Curitiba, este trabalho busca uma leitura da realidade local</p><p>que transmita diretrizes e o programa de projeto que deverá reconectar a narrativa histórica e catalisar a</p><p>reapropriação do espaço aos curitibanos.</p><p>2. A HISTÓRIA</p><p>Por muito tempo permanecendo apenas mais uma vila no cruzamento da rota tropeira Viamão-Sorocaba</p><p>(VARGAS, 2005) Curitiba inicia mantendo-se como centro estratégico de apoio humano e de</p><p>abastecimento e armazenamento materiais, equipamentos e suprimentos.</p><p>As primeiras descrições e relatos da Vila de Curitiba sob o olhar de cronistas e viajantes da época como</p><p>Jean Baptiste Debret e August Saint-Hillaire na década de 1820 descrevem o caminho até o topo do Alto do</p><p>São Francisco que parte da igreja Matriz (na</p><p>Figura 7, ver ponto 1) em direção ao norte pela Rua Fechada (atual José Bonifácio, ponto 2) até se abrir no</p><p>Largo da Ordem (ponto 3), continuando a subida à oeste, passa-se pela Igreja do Rosário (ponto 4)até</p><p>chegar no Campo Novo (atual Praça João Cândido, ponto 5), considerada única formação geográfica</p><p>relevante para a conformação original de Curitiba (CAROLLO, 2002). Nota-se desde aqui a importância</p><p>simbólica que esse percurso tem como “passeio” na cidade, e haveria de ter ainda mais após a delimitação</p><p>residual do Setor Histórico.</p><p>Figura 7: Planta de Curitiba em 1857.</p><p>Fonte: Oba, desenho de Irã Dudeque, 1998</p><p>De 10 mil habitantes em 1820 para 50 mil habitantes ao final dos anos 1800 (IPPUC, 2004), Curitiba,</p><p>capital da província do Paraná enriquecida pelo comércio de erva mate e da madeira das araucárias</p><p>(VARGAS, 2005), começa seu processo de modernização ao drenar o banhado do Bittencourt (atual</p><p>Passeio Público), ortogonalizar suas vias e finalmente expandir-se além do limite primordial estabelecido</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>139</p><p>pelo rio Ivo; em 1885 funda sua estação ferroviária alinhada à praça do Mercado Público e da então Casa</p><p>de Câmara e Cadeia, removidos ainda nos primeiros anos do séc. XX, descaracterizando de vez o conjunto</p><p>urbano colonial (DUDEQUE, 2010).</p><p>De acordo com IPPUC (2004), o Setor Histórico de Curitiba foi delimitado apenas em 1971, junto com a</p><p>regulamentação do uso do solo e o sistema viário do Plano Serete/Wilheim, tempo suficiente para diversas</p><p>deformações críticas do restante do cenário histórico da cidade (DUDEQUE, 2010), não obstante uma</p><p>proteção bem-vinda para a memória da cidade.</p><p>3. PLANO DIRETOR DE CURITIBA: WILHEIM/IPPUC</p><p>Embora parcialmente implantado, o Plano Agache16 foi o grande responsável por criar o ambiente de</p><p>reflexão acerca do urbanismo em Curitiba (GNOATO, 2009), embora em 1963, o Relatório SAGMACS já</p><p>apontava que a população de Curitiba havia saltado de 120 mil habitantes em 1940 para mais de 600 mil</p><p>no início dos anos 70, uma taxa real de crescimento de 7,4% ao ano em contrapartida dos 2,5% previstos</p><p>por Agache (GARCEZ, 2006). Além disso, o plano de 1943 não considerou o grande desenvolvimento de</p><p>comunidades, à época rurais, fora do traçado do Plano de Avenidas17, gerando núcleos desprovidos de</p><p>equipamentos urbanos dependentes do Centro de Curitiba (CARMO, 2010), como Santa Felicidade,</p><p>Boqueirão e Colombo.</p><p>A resposta às demandas de Curitiba veio em 1964 com o Plano Preliminar de Urbanismo (PPU) produzido</p><p>pela Sociedade Serete de Estudos e Projetos Ltda. e por Jorge Wilheim Arquitetos; cujas contribuições</p><p>incluíram a compreensão da geografia como fator decisivo para a ocupação do solo curitibano. propondo</p><p>um modelo radial de expansão urbana centrífuga, instituindo os Eixos Estruturais da cidade com um</p><p>conceito de centro indefinidamente alongável (DUDEQUE, 2010).</p><p>Figura 8: Mapa do Sistema Viário, Plano Preliminar de Urbanismo, 1965.</p><p>16 Concluído por Alfred Agache em 1943, o primeiro Plano Diretor de Curitiba se ordenava em 5 extensões principais:</p><p>Plano de Avenidas, os Centros Funcionais, o Código de Posturas, os Espaços Livres e a Extensão da Cidade (CAROLLO,</p><p>2002).</p><p>17 O Plano de Avenidas se baseava em um vias concêntricas em torno do Centro da cidade (CAROLLO, 2002)</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>140</p><p>Fonte: IPPUC 2018</p><p>4.O RETALHAMENTO DO SETOR HISTÓRICO</p><p>A Via Estrutural Norte</p><p>Entre as estruturais previstas ainda no PPU, a Via Estrutural Norte, que conectaria os bairros do Bacacheri</p><p>às Mercês, passaria diretamente pelo Centro histórico da cidade, entre a Praça Tiradentes e o Largo da</p><p>Ordem, de forma a evitar o grande enrolo no trânsito que se concentrava na Praça Tiradentes.</p><p>Figura 9: Rua José Bonifácio, com edifícios que seriam demolidos pela abertura da Via Estrutural Norte,</p><p>déc 20.</p><p>Fonte: FO 77, Casa da Memória, sobreposições do autor, 2018</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>141</p><p>Em 1970, sob a regência do arquiteto Cyro Corrêa Lyra e alinhado com os projetos do Plano Diretor, o</p><p>IPPUC (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba) publica o Plano de Revitalização do</p><p>Setor Histórico de Curitiba (PRSHC), onde é destacada a necessidade da preservação do patrimônio</p><p>histórico da cidade frente a tantas propostas progressistas que estavam surgindo (BARBOZA et al, 2003).</p><p>O Plano, atualizado com as diretrizes publicadas pelas Normas de Quito em 196718 incluía parâmetros</p><p>econômicos e turísticos como ferramentas de preservação e uso dos centros históricos, tais medidas foram</p><p>propostas de forma a complementar as ações de restauração e de revitalização (D’ANGELIS e NASCENTES,</p><p>2017); a iniciativa teve êxito restaurando alguns imóveis e determinando diretrizes de usos para os</p><p>edifícios e trechos históricos da cidade, culminando na proposta da delimitação do Setor Histórico de</p><p>Curitiba. Ao tratar do ponto crítico de atrito entre sistema viário e imóveis históricos, encontra-se:</p><p>“O setor é atravessado por uma via de tráfego rápido – Avenida Estrutural</p><p>Norte, pelas condições do relevo há possibilidades de evitar que esta via</p><p>seccione o setor – o que é fundamental neste plano. Neste sentido propomos</p><p>que a Av. Estrutural Norte passe sob a Rua José Bonifácio. (...) Isso manterá a</p><p>ligação natural entre a Praça Tiradentes e o Largo do Cel. Enéas através da José</p><p>Bonifácio.” (IPPUC, 1970)</p><p>18 As Normas de Quito reúnem uma série de diretrizes para o uso e aproveitamento econômico das zonas de interesse</p><p>histórico, principalmente focadas no turismo. (IPHAN, 1967)</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>142</p><p>Figura 10: Início das demolições para abertura da Tv. Nestor de Castro, 1972.</p><p>Fonte: Ippuc, 2018, sobreposições do autor</p><p>Porém, ainda em 1970 essa recomendação do PRSHC é ignorada e executa-se a demolição de diversos</p><p>casarões ecléticos na Rua José Bonifácio para abrir espaço para a Estrutural, instaurando a Travessa</p><p>Nestor de Castro, seccionando o núcleo histórico remanescente de Curitiba, enquanto o calçamento foi</p><p>extensivamente ocupado por paradas de transporte coletivo, estreitando o passeio. Os automóveis,</p><p>sempre privilegiados pelo urbanismo de Curitiba, agora formariam uma barreira física para o pedestre e</p><p>outra histórica na memória do Centro Histórico curitibano (DUDEQUE, 2010).</p><p>Figura 11: Demolição dos casarões para abertura da nova rua (1970).</p><p>Fonte: S 26, Casa da Memória, 2016.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>143</p><p>Figura 12: Recém-inaugurada Travessa Nestor de Castro, déc 70.</p><p>Fonte: NG 4765, Casa da Memória, 2018</p><p>A destruição do conjunto urbano da Rua Fechada-José Bonifácio foi o último grande golpe desferido pelos</p><p>planejadores contra o patrimônio histórico da cidade (DUDEQUE, 2010); quase imediatamente após a</p><p>execução do plano, Curitiba delimita seu Setor Histórico e satisfeitos por atender a antiga demanda de</p><p>fazer o trânsito tangenciar o Centro (sem</p><p>ao lugar.</p><p>Não procurou-se aqui esgotar o tema, mas sim fazer uma primeira investigação sobre as questões relativas</p><p>à influência da escolha de materiais e sistemas construtivos pelos discentes para, deste modo, conseguir</p><p>traçar um caminho inicial de estudos e tentar entender como seria possível promover melhorias no ensino</p><p>de projeto arquitetônico no que diz respeito ao incentivo ou estímulo do uso de soluções construtivas</p><p>adequadas ao lugar.</p><p>2. SOBRE A TECTÔNICA DA ARQUITETURA</p><p>Dentre outros temas no cerne do desenvolvimento da arquitetura e que estão ligadas à materialidade</p><p>arquitetônica, está a discussão a respeito da tectônica, que é um termo inerente tanto ao uso quanto à</p><p>configuração de uma edificação em relação aos materiais que são utilizados e à disposição deles no</p><p>conjunto da obra (FRAMPTON, 1995). A tectônica tem sua significação mais conhecida do grande público</p><p>se refere à teoria que estuda o movimento das placas continentais no domínio da geologia” (AMARAL,</p><p>2009, p. 148) e para uma melhor compreensão sobre a este tema, e sua abordagem, é necessário recorrer</p><p>à história, o que também irá ajudar em sua definição.</p><p>Deve-se inicialmente observar que o termo deriva da palavra tekton, de origem grega, significando</p><p>carpinteiro ou construtor, e tem a mesma raiz dos termos “arquitetura” e “tecnologia” (SEKLER, 1965).</p><p>Além disto, é importante captar o debate sobre a dimensão da tectônica na atualidade, sendo, deste modo,</p><p>necessário compreendê-la desde o surgimento das primeiras abordagens deste tema até a atualidade. O</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>23</p><p>assunto veio à tona em meados do século XIX, na Alemanha com a chegada de novos materiais e novas</p><p>tecnologias, e foi a partir daí que vários autores embarcaram nesse assunto, buscando principalmente,</p><p>estreitar laços entre a cultura do local, com a edificação arquitetônica que é inserida, a fim de revelar a</p><p>poética que a arquitetura é capaz de manifestar. Esse percurso de questionamentos sobre a tectônica, vem</p><p>sendo perpetuado por muitos caminhos que engloba diversas facetas da teoria, com destino de examinar</p><p>seus conceitos básicos e assimilar com a arquitetura que vem sendo construída nas cidades</p><p>contemporâneas.</p><p>O debate arquitetônico contemporâneo, contudo, tem se afastado cada vez mais</p><p>dos aspectos construtivos, dando lugar a um discurso baseado principalmente</p><p>na abstração das formas e na ênfase imagética, que os relega a segundo plano,</p><p>conforme afirmam críticos contemporâneos, como Juhani Pallasmaa, Kenneth</p><p>Frampton e Harry Francis Mallgrave (CANTALICE II, 2015, p. 29).</p><p>Esses críticos têm se manifestado em prol do retorno deste tema por entenderem o processo de</p><p>construção como algo intrínseco à arquitetura, e muitos deles o fazem resgatando uma teoria tectônica do</p><p>movimento. Com isso, entende-se que a tectônica tenta captar o relacionamento da cultura construtiva do</p><p>lugar com a arquitetura que é inserida em um contexto já existente, apresentando os sistemas</p><p>construtivos e materiais que possam ser usados de forma criativa, sem perder a identidade do local.</p><p>Para entender as formas de projetar, Gouveia (1998), fala que para se concretizar enquanto processo e</p><p>produto, desenvolve-se em diversas fases que vão desde a análise do lócus da intervenção, definição do</p><p>programa, passando pela concepção do conceito e partido projetual, até chegar à proposta executiva, para</p><p>fins construtivos. Ao decorrer desse processo, o arquiteto depara-se com problemas que precisam ser</p><p>solucionados, na qual existem diversos caminhos que podem ser seguidos obtendo múltiplas</p><p>interpretações. Dentro disso, encontra-se a relação entre materiais, técnicas de construção e forma</p><p>arquitetônica.</p><p>Além disso, a tectônica é entendida por ser um termo inerente ao uso e à configuração de uma edificação</p><p>em relação aos materiais utilizados e à disposição deles no conjunto da obra (FRAMPTON, 1995). Com</p><p>isso, Frampton valida o cuidado que a tectônica tem com o enredo de uma edificação, onde consegue</p><p>analisar suas partes, mas juntas compõem um sentido arquitetônico. Quando se fala do “conjunto da obra”,</p><p>deve-se enfatizar a importância da relação sítio-edifício, pois o projeto de arquitetura, de acordo com os</p><p>conceitos de base da tectônica, pode ou não dialogar com o entorno, e é o sítio de implantação que</p><p>apresenta os aspectos essenciais e norteadores para um planejamento arquitetônico.</p><p>Pensando nisso, a arquitetura pertence a um lugar, ou seja, repousa em um local específico: um terreno ou</p><p>sítio. O lugar e a edificação, sabe-se, influenciam-se mutuamente. Cada terreno tem características</p><p>distintas em termos de topografia, localização e definições históricas (FARRELLY, 2014). De acordo com</p><p>suas especificidades o terreno pode trazer maiores ou menores dificuldades de inserção da edificação. Não</p><p>trabalhar esta relação ou não compreender como fazê-la pode trazer dificuldades no que diz respeito ao</p><p>diálogo entre edificação e meio de inserção, a cidade. Desse modo, antes de qualquer coisa para um</p><p>projeto arquitetônico com base na tectônica, a localização vem como processo inicial para a elaboração de</p><p>um planejamento de projeto, pois com a definição do terreno consegue-se deduzir algumas considerações</p><p>essenciais, como a orientação do sol, o acesso viário, o entorno do terreno, a topografia, vegetação</p><p>existente ou a que se adequa ao local, e detalhes para se planejar um projeto completo de arquitetura</p><p>paras as cidades contemporâneas.</p><p>Sabendo disso, é notório que a arquitetura está sempre ligada à construção (SEMPER, 2004), pois apesar</p><p>de toda sua complexidade, arquitetura é construção já que o fim do projeto arquitetônico não é uma</p><p>representação gráfica, mas sim, na grande maioria dos casos, uma edificação construída para ser habitada.</p><p>Dessa forma, a filosofia da arquitetura é expressada pela conexão do sujeito para com o objeto</p><p>arquitetônico que pode ser percebida em diversas áreas do conhecimento. Destarte, é de suma</p><p>importância entender os motivos pelos quais os discentes escolheram os pontos norteadores de seus</p><p>projetos para suprir as necessidades do local, tendo em vista que os projetos podem refletir diretamente</p><p>nas pessoas que irão conviver diariamente e podem causar impactos significativos.</p><p>3. SOBRE O CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO DA-UFERSA E A DISCIPLINA DE PROJETO DE</p><p>ARQUITETURA II</p><p>O curso de Arquitetura e Urbanismo (CAU-UFERSA) no qual foi realizada a análise, pertence à UFERSA ─</p><p>Universidade Federal Rural do Semi-Árido que se localiza na cidade de Pau dos Ferros/RN, região do Alto</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>24</p><p>Oeste Potiguar, distante 389 quilômetros da capital Natal (Figura 01). A cidade ocupa uma área de</p><p>aproximadamente 260 km² e tem uma população de 27.745 habitantes, de acordo com o último censo</p><p>realizado (https://censo 2010.ibge.gov.br/resultados.html).</p><p>O CAU-UFERSA se caracteriza por ser o único curso do Estado em uma universidade pública fora da capital</p><p>potiguar e foi criado por DECISÃO CONSUNI/UFERSA Nº 170/2014 em 19 de dezembro de 2014, tendo</p><p>seu primeiro Projeto Pedagógico aprovado pela DECISÃO CONSEPE/UFERSA Nº 007/2015, de 24 de</p><p>março de 2015 (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO, 2017).</p><p>Após verificada a necessidade de realizar modificações no curso resultando em seu atual Projeto</p><p>Pedagógico.</p><p>Figura 01: Área de estudo situada em seu país, estado, cidade e bairro</p><p>Fonte: GOMES et al (2019).</p><p>Desde sua criação o curso tem natureza participativa na sociedade local e regional não restringindo suas</p><p>atividades acadêmicas aos espaços dentro dos muros do campus, mas sobretudo, se expandiu para além</p><p>destes, especialmente no que se trata das contribuições e participações efetivas dos docentes e discentes</p><p>em atividades de produção e divulgação do conhecimento tecnológico, científico e sociocultural no estado</p><p>do Rio Grande do Norte e, especialmente, no semiárido brasileiro</p><p>(PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DO</p><p>CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO, 2017).</p><p>O CAU-UFERSA tem ainda o importante papel de divulgação da região. Dentro do histórico do curso vale</p><p>destacar ainda algumas atividades e eventos que foram realizados nos últimos anos pelos docentes e</p><p>discentes, como por exemplo, a Semana de Arquitetura e Urbanismo, que em sua última edição destacou a</p><p>importância das características e a valorização da cultura nordestina, notadamente aí incluídas as técnicas</p><p>construtivas. Ao longo do evento foram abordadas questões que resgatavam as tradições, a cultura</p><p>regional, ideologias e problemáticas que circundam o sertão e intimamente ligadas à arquitetura e</p><p>urbanismo.</p><p>A disciplina fruto da análise é Projeto de Arquitetura II que tem carga-horária de 60 horas e o tema de seu</p><p>objeto de estudo é uma edificação de uso educacional. Quanto ao tema de projeto arquitetônico que é</p><p>abordado, que como já mencionado trata-se de uma edificação de uso educacional, a docente responsável</p><p>pela disciplina costuma variar o nível educacional da escola ao longo dos semestres, indo desde</p><p>edificações de ensino infantil até edificações de ensino médio.</p><p>Sua ementa trabalha com a produção arquitetônica e sua inserção na escala urbana. Tratando de</p><p>condicionantes socioambientais relevantes para o desenvolvimento da proposta. Alguns temas que são</p><p>tratados ao longo do semestre, além de questões sobre teoria do projeto e metodologia de projetação</p><p>enfatizando a arquitetura escolar e Avaliação pós-Ocupação (APO) como parte do processo de projetação,</p><p>são condicionantes socioambientais relevantes para o desenvolvimento da proposta como a interferência</p><p>do edifício em seu entorno imediato, do entorno no edifício e, do contexto social na produção</p><p>arquitetônica. Além disto enfatiza-se a relação com o meio ambiente e a paisagem: eixos, acessos, fluxos e</p><p>circulação, pré-existências edificadas, vegetação tentando fazer um paralelo com outras disciplinas do</p><p>semestre como Planejamento e Projeto da Paisagem.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>25</p><p>É importante ressaltar que os temas abordados na disciplina têm o objetivo de incitar no processo de</p><p>criação do discente a percepção da importância da relação entre a edificação em seu entorno,</p><p>considerando que</p><p>Elementos sociais, culturais, econômicos e histórico são expressos em uma</p><p>linguagem espacial que se baseia na topografia, na vegetação, nos materiais</p><p>disponíveis e no clima local “Os arquitetos paisagistas têm como ler todas essas</p><p>variáveis da escala urbana e tomar as decisões de projeto que estejam em</p><p>harmonia com a maneira pela qual as pessoas têm vivido naquele local há</p><p>gerações. A compreensão do caráter da paisagem é essencial para se configurar</p><p>lugares e é a própria essência da arquitetura paisagística (WATERMAN, 2011, p.</p><p>81).</p><p>Este fato dá-se também pela disciplina possuir como co-requisito o componente curricular de</p><p>Planejamento e Projeto da Paisagem II que deve, deste modo, ser cursada paralelamente à Projeto de</p><p>Arquitetura II para que os temas abordados se complementem. Além disto, existe um ponto relativo à</p><p>própria formação da docente que ministra a disciplina, pois esta abordou em seu doutorado como tema a</p><p>Tectônica enfatizando a importância de se expressar a preocupação com o lugar no que se refere à relação</p><p>edifício-sítio e à escolha de materiais e sistemas construtivos, ou seja, se há a expressão tectônica no</p><p>sentido framptoniano em projetos de arquitetura produzidos nos Trabalhos de Curso de estudantes</p><p>quatro universidades de referência no Brasil (BALBI, 2018).</p><p>É importante salientar ainda que a cidade em que se localiza o campus, Pau dos Ferros/RN, possui duas</p><p>grandes problemáticas: o clima, pois a cidade localiza-se numa região atingida por altas temperaturas em</p><p>grande parte do tempo, e por ser um local em que a arquitetura histórica vem sendo cada</p><p>descaracterizada, deixando de lado, assim técnicas construtivas tradicionais mais adequadas ao lugar.</p><p>4. A METODOLOGIA DA PESQUISA</p><p>Para a realização da análise passou-se por três fases, onde a primeira foi a aplicação do questionário com</p><p>os discentes da disciplina de Projeto de Arquitetura II, cujo produto corresponde a uma edificação de</p><p>cunho educacional. No questionário foram feitas algumas abordagens sobre vegetação, topografia, sítio de</p><p>implantação, conforto ambiental, materiais utilizados, sistemas estruturais e sistemas construtivos,</p><p>conforme pode ser percebido nos pontos abaixo:</p><p> Se o discente levou em consideração a topografia local para o desenvolvimento do partido</p><p>arquitetônico;</p><p> O que foi levado em consideração no que diz respeito ao entorno do sítio de implantação;</p><p> Se o discente considerou a que existia no local ou se implementou algum tipo de vegetação</p><p>(solução paisagística);</p><p> Se foi implantada alguma solução em relação ao conforto ambiental;</p><p> Quais materiais e técnicas construtivas que prevalecem no projeto;</p><p> O que influenciou no partido arquitetônico: material escolhido, técnicas construtivas específicas,</p><p>individualidade do local, referências projetuais com técnicas inovadoras ou com técnicas regionais</p><p>(locais);</p><p> Qual a lógica estrutural foi pensada: modulação, planos seriados, indefinido;</p><p> Por fim, se o discente acreditava, numa visão autocrítica, que as escolhas materiais e sistemas</p><p>construtivos de seus projetos arquitetônicos levaram em consideração as questões de localidade, ou seja,</p><p>contexto cultural da cidade de Pau dos Ferros.</p><p>A segunda fase foi feita a partir das análises dos memoriais descritivos da edificação, onde constavam o</p><p>programa de necessidade, o partido arquitetônico, as formas construtivas e estruturais. A terceira e última</p><p>fase foi feita a partir de um relato guiado por uma entrevista com a docente que ministra a disciplina e</p><p>explana as relações dos discentes com o uso da tectônica. Nesta fase os pontos abordados seguiram os</p><p>mesmos temas do questionário respondido pelos discentes.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>26</p><p>O questionário serviu para estabelecer parâmetros que previamente possibilitariam identificar quais</p><p>estudantes fizeram conexões entre o sítio de implantação e os materiais utilizados na edificação,</p><p>permitindo uma análise sintética sobre os trabalhos que posteriormente iriam ser estudados.</p><p>Os memoriais descritivos dos projetos escolares, foram esmiuçados e permitiram a identificação de quais</p><p>discentes utilizaram as relações do sítio de implantação com os materiais e os sistemas construtivos,</p><p>permitindo que algumas questões sobre a elaboração da cidade fossem esclarecidas e posteriormente</p><p>tidas como naturais dos futuros arquitetos e urbanistas da região. Vale salientar que não foi enfatizada</p><p>aqui a questão específica do conforto ambiental na edificação, apesar deste ser um ponto de grande</p><p>importância, especialmente quando tratamos da localidade das propostas projetuais, procurou-se verificar</p><p>a relação entre as escolhas dos discentes e a cultura construtiva sertaneja para perceber se estes as</p><p>valorizaram ou não em suas propostas arquitetônicas. É importante frisar que esta valorização diz</p><p>respeito também à adaptação de processos construtivos e soluções arquitetônicas locais.</p><p>5. O DISCURSO DOS DISCENTES X AS IMPRESSÕES DA DOCENTE DA DISCIPLINA</p><p>Neste tópico serão apresentados os resultados percebidos tanto nos questionários respondidos pelos</p><p>discentes, como nas consultas aos seus trabalhos. Será realizado também um contraponto apresentando as</p><p>questões abordadas pela docente em entrevista estruturada que tratava dos mesmos pontos do</p><p>questionário aplicado aos autores do projeto.</p><p>O levantamento foi realizado em 37 trabalhos da disciplina desenvolvidos por discentes que, estavam no</p><p>5º período do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFERSA nos semestres de 2018.1 e 2018.2. Os temas,</p><p>conforme já foi mencionado são edificações de cunho educacional. Vale salientar que a primeira turma</p><p>(2018.1)</p><p>projetou uma escola para alunos de nível fundamental e a segunda turma (2018.2) trabalhou</p><p>com propostas de uma escola de nível infantil. A docente da disciplina afirma que a variação de nível das</p><p>escolas entre os semestres se deu, principalmente, pela intenção de variar o tema que seria abordado nos</p><p>semestres. Também foi uma opção da docente, como modo de perceber a maneira que as turmas se</p><p>comportariam, variar os terrenos de implantação. Assim, havia também uma diferenciação entre os</p><p>terrenos, que apesar de estarem na mesma rua tinham características próprias em relação a formato,</p><p>dimensão e, obviamente, visuais (Figura 02). Com isto, diagnosticou-se também, as individualidades do</p><p>terreno que influenciaram no desenvolvimento das propostas em características como a área total da</p><p>edificação, se eram desenvolvidas em um ou mais blocos e os materiais que foram incluídos em cada</p><p>projeto.</p><p>Figura 02: Sítios de implantação. 1. Local de intervenção da turma 2018.1 e 2. Local de intervenção da</p><p>turma 2018.2</p><p>Fonte: Google Earth (adaptado pelas autoras), 2019.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>27</p><p>Sobre a relação aos sítios de implantação sugeridos pela professora da disciplina, reparou-se que</p><p>existiram semelhanças e diferenças entre ambos. Na turma 2018.1, o terreno localiza-se na Rua João Alves</p><p>de Queiroz, e na turma 2018.2 situa-se em uma esquina que abrange as ruas Joaquim Torquato, José</p><p>Francisco de Lucena e José Caju. As duas localidades ficam próximas à praça de eventos da cidade no</p><p>bairro São Judas Tadeu, com alguns comércios significativos para a economia local. Na Figura 02, é</p><p>possível perceber a proximidade entre os dois terrenos. Ao longo do trabalho percebeu-se que a</p><p>localização, mesmo sendo tão próxima, cada sítio teve influência foi distinta para a elaboração dos</p><p>projetos. Ambos os terrenos têm uma dimensão de em média 4.000 m², sendo o primeiro maior que o</p><p>segundo e ambos com as características de serem planos, seguindo as recomendações dadas pelo</p><p>Ministério da Educação (GUIMARÃE et al, 2005; BRASIL, 2006), com formato irregular e sem muita</p><p>vegetação.</p><p>Outro ponto que percebeu-se influenciar diretamente nas escolhas projetuais foi a questão do clima</p><p>pauferrense. A cidade, que fica localizada no semiárido potiguar, tem clima quente e seco, caracterizado</p><p>pelas altas temperaturas sendo dezembro o mês com maior temperatura máxima de cerca de 33°C</p><p>(CLIMATE-DATA.ORG, 2019). Com estas informações foi percebida a inquietação de boa parte dos</p><p>discentes com a questão do conforto ambiental, visto que a cidade se encontra na sétima zona bioclimática</p><p>(Figura 03), mostrando mais uma vez a necessidade do cuidado com a associação entre edificação e</p><p>características do sítio.</p><p>Figura 03: Zoneamento bioclimático brasileiro com a demarcação da zona em que se localiza Pau dos</p><p>Ferros/RN.</p><p>Fonte: NBR 15220 – Desempenho Térmico das Edificações.</p><p>Ao analisar os projetos notou-se uma preocupação nítida em apresentar as cartas solares e sua</p><p>interpretação e em alguns casos a distribuição dos ambientes do programa de necessidades sugerido pela</p><p>docente foi cuidadosamente disposta nos sítios de maneira que as áreas nobres das edificações</p><p>recebessem o mínimo de sol possível no decorrer de todo o ano, consequentemente melhorando o</p><p>desempenho da edificação com relação ao conforto ambiental. No entanto, a aplicação de soluções para</p><p>promover o conforto ambiental na edificação nem sempre se refletia nas escolhas projetuais. Em muitos</p><p>trabalhos a apresentação de dados era apenas descritiva, conforme foi confirmado pela docente da</p><p>disciplina. Daí a importância de se confrontar os discursos.</p><p>Outro ponto abordado nos questionários foi qual a solução projetual adotada para que fosse promovido o</p><p>conforto ambiental nas edificações. O resultado pode ser percebido na Figura 04 a seguir, onde é nota-se</p><p>que os estudantes afirmam considerar as recomendações dadas pela NBR-15220 – Desempenho Térmico</p><p>das Edificações, em suas escolhas projetuais.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>28</p><p>Figura 04: Respostas encontradas na questão 8. Para o clima quente e seco de Pau dos Ferros, quais as</p><p>técnicas utilizadas com intuído de obter conforto ambiental em seu projeto?</p><p>Fonte: Autoras, 2019.</p><p>Em relação a influência dos sítios de implantação a principal diferença entre as propostas projetuais foi a</p><p>questão dos visuais a partir dos terrenos sugeridos o que trouxe uma variedade de propostas que</p><p>estabeleceram como partido arquitetônico ou em algum ponto do projeto a questão da valorização das</p><p>vistas, especificamente procurando destacar o pôr do sol a partir da edificação (Figura 05). Esta estratégia</p><p>projetual de valorização das visuais foi, de acordo com a docente, um dos pontos de destaque nos</p><p>discursos a respeito dos projetos em ambas as turmas.</p><p>Figura 05: Projeto em que o discente se utilizou da questão das visuais para o desenvolvimento de seu</p><p>partido: proposta de mirante.</p><p>Fonte: Ian Kennedy, 2018.</p><p>Ainda houve trabalhos que citaram as relações do entorno do sítio com a inserção do edifício e a</p><p>percepção de continuidade que a edificação precisaria passar aos transeuntes para se incorporar no meio,</p><p>existindo a preocupação com as sensações que ele traria para o lugar. Perguntou-se então quais os pontos</p><p>existentes no entorno e que foram levados em consideração no momento do processo de projetação</p><p>ficando a malha viária e as edificações vizinhas como os elementos mais considerados pelos usuários,</p><p>conforme pode ser visto na Figura 06 a seguir.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>29</p><p>Figura 06: Respostas encontradas na questão 6. O que foi levado em consideração no entorno do sítio de</p><p>implantação em seu projeto?</p><p>Fonte: Autoras, 2019.</p><p>Outro ponto percebido ao consultar os memoriais descritivos das propostas foi a preocupação com as</p><p>relações entre o sítio de implantação e a edificação, assim como uma precaução a respeito dos materiais</p><p>escolhidos e o modo como estes seriam inseridos na proposta. Este ponto pôde ser confirmado em</p><p>entrevista com a docente da disciplina, pois esta afirmou que não somente nos trabalhos analisados, mas</p><p>também os que foram apresentados pelo restante da turma em ambos semestres, percebia-se no discurso</p><p>dos autores dos projetos o desejo de valorizar materiais locais, mas que isto, em alguns casos não era</p><p>realizado pelo desconhecimento das características de uso dos materiais construtivos, por exemplo. A</p><p>grande parte dos discursos dos autores destacava que se procurava propor uma edificação que não</p><p>destoasse do entorno imediato, ou seja, não chamasse atenção diretamente para ela, por conta do material</p><p>utilizado ou sua escala em relação ao restante das edificações equiparando, assim, a edificação proposta</p><p>com a arquitetura já existente no local. Assim, percebe-se que para além da preocupação da escala, houve</p><p>também a preocupação com as sensações que a edificação iria causar nos habitantes da cidade e ainda se</p><p>ela iria dar a impressão de continuidade ao lugar que estaria inserida.</p><p>Com relação aos materiais e sistemas construtivos utilizados, embasados a partir dos locais destinados às</p><p>edificações, tem-se majoritariamente a aplicação de alvenaria convencional e do concreto, que com o</p><p>tempo passaram a ser consideradas mão de obra especializadas e de fácil acesso na região. Dessa forma,</p><p>notou-se que a tectônica em relação ao sítio de implantação, no que diz respeito aos materiais utilizados e</p><p>aos sistemas construtivos, é inserida amplamente na maioria das edificações desenvolvidas, visto que,</p><p>houve uma preocupação com o entorno e com os materiais e métodos utilizados. Vale salientar aí que o</p><p>conteúdo ministrado na disciplina e o próprio estilo de ensino da docente pode ter interferido ou</p><p>influenciado nestas questões. A própria afirmou que tentava incentivar ao uso de outros materiais, mas</p><p>percebia um déficit no</p><p>conhecimento dos discentes em relação a isto. Afirma ainda que tentou sanar tais</p><p>problemas encontrados apresentando materiais construtivos ao longo das atividades realizadas em</p><p>atelier.</p><p>A relação dos projetos desenvolvidos na disciplina de Projeto de Arquitetura II, entre os materiais</p><p>escolhidos, os sistemas construtivos e a tectônica, foram constantes. Em sua maioria, os discentes que</p><p>elaboraram as propostas analisada se utilizaram de métodos impostos e aderidos pelo o mercado há anos,</p><p>como a alvenaria comum e o concreto armado, atentando-se ainda, para a mão de obra existente no lugar e</p><p>a facilidade de acesso de materiais como pode ser percebido na citação retirada de um dos trabalhos a</p><p>seguir: “O sistema estrutural consiste em um esqueleto em concreto armado. A justificativa está pautada</p><p>na execução e no uso de obra local, daí surge a referência usada [...]” (QUEIROZ, 2018, p. 17).</p><p>Alguns trabalhos explanaram o desejo de projetar com materiais, como tijolos de adobe e o hiperadobe,</p><p>que no século passado eram uma das poucas alternativas de construção na região nordeste, buscando</p><p>enfatizar e resgatar as raízes do passado, que apesar de rústicas, são ideais para o nosso clima. Outros</p><p>ainda optaram por utilizar estruturas metálicas. Porém, a facilidade imposta pelo o concreto e a alvenaria,</p><p>foram levados em consideração na maioria dos casos.</p><p>Em entrevista com a docente da disciplina foi citado ainda que a principal dificuldade apresentada pelos</p><p>discentes era com relação à inserção ou consideração dos materiais que seriam utilizados desde o início do</p><p>processo projetual. Os discentes iniciavam a projetação tentando montar um quebra-cabeças com os</p><p>ambientes que foram considerados pelos próprios no programa de necessidades para somente depois</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>30</p><p>pensar como seriam resolvidas as questões construtivas da edificação ou até como seria, por exemplo, a</p><p>solução de fechamento (paredes e cobertura). Tal dificuldade percebida fez com que a docente da</p><p>disciplina realizasse modificações nos modos de abordagem dos conteúdos no semestre de 2019.1. A</p><p>professora, em seu relato, afirma que houve uma melhora neste aspecto no semestre corrente.</p><p>6. CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>O que foi possível perceber, tanto no material consultado quanto em relação aos relatos dos discentes foi</p><p>que há, no geral, uma dificuldade de assimilação do que é, de fato, a tectônica. Nas palavras do docente</p><p>também ficou claro que existe esta dificuldade mesmo quando apresentado o conceito aos alunos da</p><p>disciplina. Esta informou que tenta sempre inserir tal conceito em seus conteúdos já que acredita que esta</p><p>é uma maneira de inserir no processo projetual uma leitura completa da edificação que será concebida</p><p>considerando os mais diversos aspectos da materialidade construtiva.</p><p>Vale salientar que a dificuldades de assimilação do que é tectônica, do entendimento deste conceito</p><p>propriamente dito fez com que a docente inserisse em sua programação semestral, uma disciplina</p><p>chamada Tópicos Especiais em Arquitetura e Urbanismo onde trata especificamente do estudo da</p><p>tectônica a arquitetura. Esta afirma que faz isto pela percepção da importância de inserir este tema na</p><p>academia, mas não somente como é entendido ou estudado por alguns autores: sendo conhecida como a</p><p>leitura estrutural de uma edificação. Além disto, a docente tentou, com a inserção desta disciplina, sentir</p><p>como se daria o tratamento deste tema, por vezes considerado complexo, pelos alunos do curso. Vale</p><p>destacar ainda no discurso da professora que esta afirmou perceber um reconhecimento dos discentes no</p><p>que diz respeito a importância da tectônica na arquitetura sertaneja contemporânea.</p><p>Outro ponto que pode ser destacado é a questão da consideração ou assimilação do entorno como um</p><p>elemento importante para o desenvolvimento do partido arquitetônico. Muitos discentes acreditam que</p><p>este somente deve ser estudado em relação às características do conforto ambiental, sem inserir aí</p><p>topografia, métodos construtivos locais, etc.</p><p>Algo comentado pelos próprios discentes foi sobre o desconhecimento ou, até mesmo, falta de</p><p>apresentação de conteúdos pelos professores responsáveis de outras disciplinas de materiais construtivos</p><p>diferentes do concreto ou alvenaria. Algo que os ajudaria a acabar saindo do óbvio e passar a considerar</p><p>ou trazer de volta algumas técnicas construtivas tradicionais em uma perspectiva contemporânea. Pode-se</p><p>dizer que foi percebida a necessidade de uma mudança de abordagem nas disciplinas trazendo assim uma</p><p>melhoria no ensino de projeto arquitetônico.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>[1] Amaral, Izabel Fraga. Um olhar sobre a Obra de Aca cio Borsoi. Natal: UFRN, dissertaça o de mestrado, 2004.</p><p>[2] Amaral, C. S. O ensino do projeto nos cursos de arquitetura. Arquitextos, Sa o Paulo, ano 09, n. 101.05,</p><p>Vitruvius, out. 2008. Disponí vel em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/09.101/104>. Acesso</p><p>em: 15 abr. 2015.</p><p>[3] Amaral, I. Chupin, J. P. Contemporary architecture and the tectonic project in Brazil. In: Tectonics Making</p><p>Meanings: International Conference, 2007. Eindhoven, Netherlands. Anais... Eindhoven, Netherlands: Technische</p><p>Universiteite Eindhoven, 2007.</p><p>[4] Amaral, I. Quase tudo o que voce queria saber sobre tecto nica, mas tinha vergonha de perguntar. Po s –</p><p>Revista do Programa de Po s-Graduaça o em Arquitetura e Urbanismo FAUUSP, Sa o Paulo, v. 16, n. 26, p. 148-167, dez.</p><p>2009. Disponí vel em:. Acesso em: 01 jun. 2015.</p><p>[5] __________. Tensions tectoniques du projet d’architecture: e tudes comparatives de concours canadiens et</p><p>bre siliens (1967-2005), 2010. 427 f. Tese (doutorado em Ame nagement option histoire et the ories de l’architecture) –</p><p>Universite de Montre al, Monstreal, Canada , 2010.</p><p>[6] Arcipreste, C. M. Entre o discurso e o fazer arquiteto nico: reflexo es sobre o ensino da arquitetura e urbanismo</p><p>e seus referenciais a partir do trabalho final de graduaça o.2012. 287 f. Tese (Doutorado em Arquitetura) -</p><p>Universidade de Sa o Paulo, Sa o Paulo (SP), 2012.</p><p>[7] Balbi, R. Medeiros, R. Experie ncias docentes e uma reflexa o sobre o ensino integrado em arquitetura. In:</p><p>XXXIV Ensea – Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo/XVIII Conabea – Congresso da Associaça o</p><p>Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo, 2015. Natal. Anais... Natal: UFRN, 2015.</p><p>Elementos da Arquitetura e Urbanismo – Volume 1</p><p>31</p><p>[8] Balbi, R. S. A poe tica do projeto: a expressa o tecto nica de projetos arquiteto nicos desenvolvidos em Trabalhos</p><p>Finais de Graduaça o em Escolas de Arquitetura e Urbanismo. Tese (doutorado). Programa de Po s-Graduaça o em</p><p>Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2018.</p><p>[9] Brasil. Ministe rio da Educaça o. Secretaria de Educaça o Ba sica. Para metros ba sicos de infra-estrutura para</p><p>Instituiça o de educaça o infantil. Brasí lia: MEC, 2006.</p><p>[10] Brasil. Ministe rio da Educaça o. Secretaria de Educaça o Ba sica. Para metros ba sicos de infra-estrutura para</p><p>Instituiça o de educaça o infantil. Encarte 1. Brasí lia: MEC, SEB, 2006.</p><p>[11] Cantalice, A. S. C. Novas sensibilidades construtivas na arquitetura pernambucana, 1965-1980. In: II Encontro</p><p>da Associaça o Nacional de Pesquisa e Po s-Graduaça o em Arquitetura e Urbanismo: Teorias e pra ticas na Arquitetura e</p><p>na Cidade Contempora neas: complexidade, mobilidade, memo ria e sustentabilidade, 2012, Natal. Anais... Natal: UFRN,</p><p>2012.</p><p>[12] Cantalice II, A. Descomplicando a tecto nica: tre s arquitetos e uma abordagem. Tese (doutorado). Programa de</p><p>Po s-Graduaça o em Desenvolvimento Urbano da Universidade Federal de PErnambico. Recife/PE, 2015.</p><p>[13] Farrelly, Lorraine. Fundamentos da Arquitetura. 2 ed. Porto Alegre/RS: Bookman, 2014.</p><p>[14] Frampton, K. Studies in tectonic culture: the poetics of construction in nineteenth and</p>

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