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<p>FARMACOLOGIA</p><p>APLICADA À</p><p>ODONTOLOGIA</p><p>OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM</p><p>> Explicar o que é uma doença cardiovascular.</p><p>> Aplicar o tratamento odontológico correto em pacientes com doenças car-</p><p>diovasculares.</p><p>> Avaliar os principais riscos para os pacientes com doenças cardiovasculares.</p><p>Introdução</p><p>Por resultarem de uma variedade de fatores genéticos e ambientais, as doenças</p><p>cardiovasculares fazem parte de um grupo de patologias que apresentam uma</p><p>frequência significativa na população, sendo atualmente consideradas a principal</p><p>causa de mortalidade no mundo (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2018). Nos tratamentos</p><p>odontológicos em pacientes com doenças cardiovasculares, alguns cuidados</p><p>especiais devem ser seguidos, e o dentista deve estar apto a atendê-los, reduzindo</p><p>o risco de comprometimento cardiovascular.</p><p>Atendimento</p><p>odontológico</p><p>aos pacientes</p><p>com doença</p><p>cardiovascular</p><p>Natália Galvão Garcia</p><p>Neste capítulo, você vai estudar o que são doenças cardiovasculares e quais</p><p>são as mais comuns, além de conhecer os principais riscos dessas doenças para</p><p>os pacientes e os tratamentos mais seguros.</p><p>Doenças cardiovasculares</p><p>As doenças cardiovasculares são divididas em patologias vasculares e pa-</p><p>tologias cardíacas. As vasculares, na maioria das vezes, abrangem lesões</p><p>clinicamente significativas envolvendo artérias e, com menor frequência,</p><p>envolvendo as veias. Dois mecanismos principais são considerados a base</p><p>dessas doenças: o estreitamento (estenose) ou obstrução completa da luz</p><p>vascular, tanto progressivamente quanto abruptamente; e o enfraquecimento</p><p>das paredes dos vasos, que leva à dilatação ou à ruptura. As doenças cardíacas,</p><p>por sua vez, na maioria dos casos, manifestam-se como alterações estruturais</p><p>e/ou funcionais em um ou mais componentes do coração. O rompimento de</p><p>qualquer elemento do coração, como miocárdio, valvas, sistema de condução</p><p>e vasculatura coronariana, pode afetar adversamente a eficiência do bombe-</p><p>amento, levando à mortalidade (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2016, 2018). A seguir</p><p>serão descritas as principais categorias de cardiopatias.</p><p>Hipertensão</p><p>A hipertensão é uma doença comum, complexa e multifatorial, que envolve</p><p>fatores ambientais e polimorfismos genéticos. É considerada de alto risco para</p><p>aterosclerose, insuficiência cardíaca congestiva e insuficiência renal (MITCHELL</p><p>et al., 2017). Considera-se um quadro de hipertensão arterial sistêmica valores</p><p>persistentes de pressão arterial (PA) ≥ 140/90 mmHg.</p><p>A hipertensão arterial é dividida em duas categorias: hipertensão sistólica</p><p>de forma isolada e hipertensão sistólica e diastólica combinadas. Na maioria</p><p>dos casos, a hipertensão arterial não tem causa aparente, sendo classificada</p><p>como primária. Seu tratamento pode envolver desde a mudança de hábitos</p><p>até o uso de medicamentos anti-hipertensivos. A hipertensão secundária</p><p>é decorrente de outras patologias, sendo o tratamento direcionado para a</p><p>doença de base (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2018).</p><p>Insuficiência cardíaca</p><p>A insuficiência cardíaca, também chamada de insuficiência cardíaca con-</p><p>gestiva, é uma condição geralmente progressiva e comum, com prognóstico</p><p>Atendimento odontológico aos pacientes com doença cardiovascular2</p><p>ruim. Essa doença ocorre quando o coração é incapaz de bombear o sangue</p><p>devido a uma diminuição da contratilidade do músculo cardíaco. Desse modo,</p><p>o coração torna-se incapaz de fornecer a perfusão adequada para atender</p><p>às necessidades metabólicas dos tecidos (MITCHELL et al., 2017).</p><p>Os fatores etiológicos envolvidos podem ser diversos, como hipertensão</p><p>arterial, doenças valvares, doença cardíaca isquêmica, entre outros. Um</p><p>indivíduo com insuficiência cardíaca pode apresentar sinais e sintomas como</p><p>dispneia, edema dos quadris, distensão das grandes veias do pescoço e tosse</p><p>não produtiva. O tratamento da insuficiência cardíaca vai depender do fator</p><p>etiológico, podendo envolver desde medicamentos betabloqueadores e</p><p>diuréticos até procedimentos cirúrgicos (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2016).</p><p>Cardiopatia isquêmica</p><p>A cardiopatia isquêmica representa um grupo de patologias que provocam</p><p>isquemia do miocárdio. Essa diminuição do fluxo sanguíneo, consequente-</p><p>mente, provoca um aumento do trabalho do coração. Na maioria dos casos,</p><p>a cardiopatia isquêmica é decorrente da obstrução das artérias coronárias</p><p>por placas de lipídeos, o que justifica essa condição também ser chamada</p><p>de doença arterial coronariana (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2018; MITCHELL et</p><p>al., 2017). Mesmo que em menor frequência, a cardiopatia isquêmica pode</p><p>ser causada por outros fatores, como embolia coronariana, inflamação dos</p><p>vasos do miocárdio e espasmo vascular. Na maioria dos casos, há um longo</p><p>período de progressão silenciosa e lenta das lesões coronarianas antes do</p><p>início súbito dos sintomas.</p><p>Quando a isquemia é transitória, causada por perfusão inadequada, pode</p><p>ser observada dor torácica, que pode se irradiar para a direção da cervical</p><p>e do braço esquerdo. Esse quadro é chamado de angina pectoris, ou angina</p><p>do peito, que geralmente se instala após esforço físico, emoções fortes e</p><p>situações de estresse. No caso de isquemia persistente, que pode ser cau-</p><p>sada por ruptura de placa de ateroma, trombose e embolia, normalmente</p><p>ocorre um quadro de infarto agudo do miocárdio, resultando na necrose da</p><p>parte afetada. Geralmente, os sinais e sintomas incluem dor intensa, náusea,</p><p>palpitação, palidez, sudorese e hipotensão arterial. Já em casos extremos</p><p>de uma arritmia fatal, pode ocorrer um quadro de morte súbita (MITCHELL</p><p>et al., 2017).</p><p>Atendimento odontológico aos pacientes com doença cardiovascular 3</p><p>Arritmias</p><p>A arritmia é caracterizada pela alteração do ritmo do coração. Fisiologica-</p><p>mente, o ritmo sinusal normal se origina de células do nódulo sinoatrial,</p><p>que representam o marca-passo, produzindo uma frequência média normal</p><p>de 60–100 bpm. Os ritmos alterados podem ser iniciados em qualquer lugar</p><p>no sistema de condução, desde o nó sinoatrial até o nível de um miócito</p><p>individual, podendo se manifestar como uma frequência cardíaca acelerada,</p><p>também conhecida como taquicardia, como uma frequência cardíaca mais</p><p>lenta, a chamada bradicardia, como um ritmo irregular, ou como ausência</p><p>total de atividade elétrica (KUMAR; ABBAS; ASTER, 2016).</p><p>As arritmias podem ser causadas por alterações isquêmicas ou estruturais</p><p>no sistema de condução ou por instabilidade elétrica intrínseca do miócito. A</p><p>lesão isquêmica é a causa mais comum de distúrbios de ritmo, decorrente de</p><p>dano direto ou da dilatação das câmaras cardíacas, o que altera a ativação</p><p>do sistema de condução. Na maioria dos casos, os indivíduos portadores de</p><p>arritmias não sabem que têm a doença. Em casos persistentes, no entanto,</p><p>podem ser observadas tontura e perda de consciência e, nos casos mais</p><p>graves, pode haver morte súbita (MITCHELL et al., 2017).</p><p>Pacientes portadores de doenças cardiovasculares enquadram-se no</p><p>grupo de pacientes com necessidades especiais durante o tratamento</p><p>odontológico. Por isso, é essencial fazer uma anamnese minuciosa, investigando</p><p>o diagnóstico médico estabelecido, os sinais e sintomas apresentados, o trata-</p><p>mento proposto e os medicamentos utilizados. Além disso, é necessário verificar</p><p>os sinais vitais, principalmente a pressão arterial e a frequência cardíaca, em</p><p>todas as sessões de atendimento (MALAMED, 2016).</p><p>Tratamento odontológico aos pacientes</p><p>com doenças cardiovasculares</p><p>O tratamento odontológico destinado a pacientes com doenças cardiovascu-</p><p>lares inclui cuidados específicos. No caso da hipertensão, para a realização</p><p>do tratamento odontológico, deve-se considerar a classificação da doença,</p><p>de modo a traçar a conduta clínica ideal (ANDRADE, 2014). De acordo com os</p><p>critérios da Sociedade Brasileira de Cardiologia, a hipertensão é classificada</p><p>em estágios, como pode ser observado no Quadro 1.</p><p>Atendimento odontológico aos pacientes com doença cardiovascular4</p><p>Quadro 1. Classificação da hipertensão de acordo com a Sociedade Brasileira</p><p>de</p><p>Cardiologia</p><p>Classificação Pressão sistólica</p><p>(mmHg)</p><p>Pressão diastólica</p><p>(mmHg)</p><p>Ótima 180 >110</p><p>Hipertensão sistólica isolada >140</p><p>de endocardite infecciosa prévia;</p><p>� paciente transplantado portador de valvopatia adquirida;</p><p>� pacientes portadores de cardiopatias congênitas.</p><p>O regime terapêutico estabelecido pela Associação Americana de Cardio-</p><p>logia deve ser feito em dose única, de 30 a 60 minutos antes da intervenção,</p><p>seguindo o regime padrão ou o regime para pacientes alérgicos (Quadro 2).</p><p>Quadro 2. Profilaxia antibiótica segundo a Associação Americana de</p><p>Cardiologia</p><p>Regime Antibiótico Dose</p><p>Padrão Amoxicilina 2 g</p><p>Alérgicos às penicilinas Cefalexina ou</p><p>Clindamicina ou</p><p>Azitromicina ou</p><p>Claritromicina</p><p>2 g</p><p>2 g</p><p>500 mg</p><p>500 mg</p><p>Fonte: Adaptado de Andrade (2014).</p><p>Atendimento odontológico aos pacientes com doença cardiovascular8</p><p>Neste capítulo, foram abordadas as doenças cardiovasculares mais co-</p><p>muns, como hipertensão, insuficiência cardíaca, cardiopatia isquêmica e</p><p>arritmias, ressaltando os cuidados que devem ser tomados durante o aten-</p><p>dimento odontológico de pacientes portadores dessas patologias. De forma</p><p>geral, indicam-se sessões curtas, monitoramento dos sinais vitais e uso</p><p>das soluções anestésicas com vasoconstritores com precaução. Além disso,</p><p>foram apontados os principais riscos para esses pacientes, como angina do</p><p>peito, infarto agudo do miocárdio, crise hipertensiva arterial e endocardite</p><p>bacteriana. Os pacientes portadores de doenças cardiovasculares estão cada</p><p>vez mais presentes no consultório odontológico. É essencial que o cirurgião-</p><p>-dentista tenha conhecimento sobre esse grupo de patologias para oferecer</p><p>um tratamento odontológico adequado e seguro.</p><p>Referências</p><p>ANDRADE, E. D. Terapêutica medicamentosa em odontologia. 3. ed. São Paulo: Artes</p><p>Médicas, 2014.</p><p>BARROSO, W. K. S. et al. Diretrizes brasileiras de hipertensão arterial: 2020. Arquivos</p><p>Brasileiros de Cardiologia, v. 116, n. 3, p. 516-658, 2021.</p><p>KUMAR, V.; ABBAS, A.; ASTER, J. Robbins: patologia básica. 10. Ed. Rio de Janeiro: Gua-</p><p>nabara Koogan, 2018.</p><p>KUMAR, V.; ABBAS, A.; ASTER, J. Robbins e Cotran: patologia: bases patológicas das</p><p>doenças. 9. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.</p><p>MALAMED, S. F. Emergências médicas em odontologia. 7. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara</p><p>Koogan, 2016.</p><p>MALAMED, S. F. Manual de anestesia local. 7. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.</p><p>MITCHELL, R. et al. Robbins e Cotran: fundamentos de patologia. 9. Ed. Rio de Janeiro:</p><p>Guanabara Koogan, 2017.</p><p>SILVA, V. A. A clínica odontológica e o tratamento de pacientes cardiopatas: das con-</p><p>cepções teóricas às práticas cotidianas. Facit Business and Technology Journal, v. 8,</p><p>n. 2, p. 109-118, 2018.</p><p>Leitura recomendada</p><p>ANDRADE, E. D. et al. Emergências médicas em odontologia. 3. ed. São Paulo: Artes</p><p>Médicas, 2011.</p><p>Atendimento odontológico aos pacientes com doença cardiovascular 9</p>