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<p>CAATINGA</p><p>BIODIVERSIDADE E QUALIDADE DE VIDA</p><p>P</p><p>A</p><p>RADIDÁTICO</p><p>CAATINGA</p><p>BIODIVERSIDADE E QUALIDADE DE VIDA</p><p>P</p><p>A</p><p>RADIDÁTICO</p><p>2010© Universidade Federal Rural de Pernambuco, Laboratório de Etnobotânica Aplicada.</p><p>Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a</p><p>fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial.</p><p>Tiragem:</p><p>1ª Edição – 2010</p><p>Autores:</p><p>Ulysses Paulino de Albuquerque</p><p>Alissandra Trajano Nunes</p><p>Alyson Luiz Santos de Almeida</p><p>Cybelle Maria de Albuquerque Duarte</p><p>Almeida</p><p>Ernani Machado de Freitas Lins Neto</p><p>Fábio José Vieira</p><p>Flávia dos Santos Silva</p><p>Gustavo Taboada Soldati</p><p>Luciana Gomes de Sousa Nascimento</p><p>Lucilene Lima dos Santos</p><p>Marcelo Alves Ramos</p><p>Margarita Paloma Cruz</p><p>Nélson Leal Alencar</p><p>Patrícia Muniz de Medeiros</p><p>Thiago Antônio de Sousa Araújo</p><p>Viviany Teixeira do Nascimento</p><p>Diagramação:</p><p>Pablo Reis</p><p>Revisão Técnica:</p><p>Dr. Elcida de Lima Araújo e</p><p>Dra. Valdeline Atanazio da Silva (UFRPE)</p><p>Este material é fruto de projeto de extensão</p><p>desenvolvido por pesquisadores da</p><p>Universidade Federal Rural de Pernambuco.</p><p>Projeto:</p><p>Plantas Medicinais e Práticas Médicas</p><p>Populares na Caatinga – Sustentabilidade</p><p>Ambiental e Cultural.</p><p>Equipe Técnica:</p><p>Dr. Ulysses Paulino de Albuquerque, Biólogo</p><p>- Coordenador</p><p>M.Sc. Ana Carolina Oliveira da Silva, Bióloga</p><p>Lda. Cybelle Maria de Albuquerque Duarte</p><p>Almeida, Pedagoga</p><p>M.Sc. Fábio José Vieira, Biólogo</p><p>Lda. Luciana Gomes de Sousa Nascimento,</p><p>Bióloga</p><p>Téc. Alexsandro Luiz Santos de Almeida, Nível</p><p>Médio</p><p>Téc. Leon Denis Athanásio Dantas, Nível</p><p>Médio</p><p>Téc. Ricardo Avalone Athanásio Dantas, Nível</p><p>Médio</p><p>Financiamento:</p><p>Ministério do Desenvolvimento Agrário/</p><p>Secretaria de Agricultura Familiar</p><p>Ministério do Desenvolvimento Social e</p><p>Combate à Fome/ Secretaria Nacional de</p><p>Segurança Alimentar e Nutricional</p><p>Conselho Nacional de Desenvolvimento</p><p>Científico e Tecnológico (CNPq)</p><p>Edital: MCT/CNPq/MDA/SAF/MDS/Sesan</p><p>36/2007 – Agricultura Familiar</p><p>Apoio:</p><p>Prefeitura do Município de Altinho</p><p>O texto completo encontra-se disponível em: http://www.etnobotanicaaplicada.com.br/</p><p>pandora_proj1.php</p><p>CAATINGA</p><p>BIODIVERSIDADE E QUALIDADE DE VIDA</p><p>CAATINGA</p><p>BIODIVERSIDADE E QUALIDADE DE VIDA</p><p>NUPEEA – Núcleo de Publicações em Ecologia e Etnobotânica Aplicada</p><p>Copyright © 2010</p><p>Impresso no Brasil / Printed in Brazil</p><p>Diagramação: Pablo Reis</p><p>Capa: Pablo Reis</p><p>Revisão: e autores</p><p>Coordenação Editorial</p><p>Ulysses Paulino de Albuquerque</p><p>Comissão Editorial</p><p>Ângelo Giuseppe Chaves Alves (Universidade Federal Rural de Pernambuco)</p><p>Elba Lucia Cavalcanti de Amorim (Universidade Federal de Pernambuco)</p><p>Elba Maria Nogueira Ferraz (Centro Federal de Educação Tecnológica de Pernambuco) Elcida</p><p>Lima de Araújo (Universidade Federal Rural de Pernambuco)</p><p>Laise de Holanda Cavalcanti Andrade (Universidade Federal de Pernambuco)</p><p>Maria das Graças Pires Sablayrolles (Universidade Federal do Pará)</p><p>Natalia Hanazaki (Universidade Federal de Santa Catarina)</p><p>Nivaldo Peroni (Universidade Federal de Santa Catarina)</p><p>Valdeline Atanázio da Silva (Universidade Federal Rural de Pernambuco).</p><p>Universidade Federal Rural de Pernambuco</p><p>Departamento de Biologia, Área de Botânica,</p><p>Rua Dom Manoel de Medeiros s/n</p><p>Dois Irmãos – Recife – Pernambuco</p><p>52171-030.</p><p>nupeea@yahoo.com.br</p><p>Copyright© Autor, 2010</p><p>Ficha catalográfica desenvolvida pela bibliotecária Mônica Losnak</p><p>Caatinga: biodiversidade e qualidade de vida. / Ulysses Paulino</p><p>de Albuquerque ... [et al.] - - Bauru,SP: Canal6, 2010.</p><p>ISBN 978-85-7917-090-4</p><p>1.Caatinga – vegetação – aspectos gerais 2. Caatinga e bio-</p><p>diversidade. I. Albuquerque, Ulysses Paulino de.</p><p>CDD: 581</p><p>C111</p><p>Apresentação</p><p>1. Por que Conservar a Nossa Biodiversidade?</p><p>2. A Biodiversidade da Caatinga</p><p>3. Plantas com Uso Medicinal</p><p>4. Plantas com Uso Alimentício</p><p>5. Plantas com Uso Forrageiro</p><p>6. Plantas com Uso Madeireiro</p><p>7. O Futuro da Caatinga</p><p>Glossário</p><p>Sugestões de leitura aprofundada</p><p>Sumário</p><p>07</p><p>08</p><p>18</p><p>31</p><p>54</p><p>73</p><p>83</p><p>94</p><p>103</p><p>112</p><p>Apresentação</p><p>Este livro faz um convite a você, caro leitor, para</p><p>mergulhar no fascinante mundo de um dos ambientes mais</p><p>importantes para os que vivem na Região Nordeste: a Caatinga.</p><p>Certamente você já ouviu falar dela ou leu esse nome em</p><p>jornais ou programas de televisão. Mas, infelizmente, muitas</p><p>vezes são passadas informações equivocadas sobre a região e</p><p>as pessoas que habitam nela. As pessoas que não conhecem a</p><p>região associam-na diretamente à imagem de seca, ao gado</p><p>magro e à fome. Mas não é bem assim. Este livro pretende</p><p>mostrar que temos um tesouro em plantas e animais, por</p><p>exemplo. E esse tesouro pode contribuir para melhorar a</p><p>qualidade de vida das pessoas e ajudar a desenvolver o nosso</p><p>Brasil. Você já havia pensando nisso? Vamos falar da</p><p>necessidade de conservar a nossa biodiversidade e dos</p><p>benefícios que podemos tirar da natureza, sobretudo das plantas</p><p>nativas da Caatinga, que, além de fornecerem inúmeros</p><p>produtos para o consumo e para a renda das famílias,</p><p>desempenham um importante papel ecológico, evitando, por</p><p>exemplo, a erosão dos solos, o ataque de pragas às lavouras, a</p><p>diminuição das chuvas e até mesmo a desertificação de extensas</p><p>áreas. No decorrer de sua leitura você encontrará algumas</p><p>palavras em negrito, usualmente termos técnicos, cujo</p><p>significado você encontra no final do livro. Pois bem, não</p><p>demore mais para descobrir isso e outras curiosidades. Vire</p><p>logo a página!</p><p>8</p><p>Quando assistimos à</p><p>televisão, ouvimos o rádio</p><p>ou lemos um jornal, facil-</p><p>mente encontramos alguma</p><p>reportagem sobre a derruba-</p><p>da de florestas, a produção</p><p>Por que Conservar a Nossa</p><p>Biodiversidade?1</p><p>Figura 1: Trecho poluído do Rio Capibaribe cortando a cidade do Recife</p><p>(Foto: Viviany T. Nascimento).</p><p>Caro leitor, este capítulo convida você a uma reflexão sobre a atual</p><p>situação de nossa biodiversidade, sobretudo da Caatinga, que é tema deste</p><p>livro. Aqui, você terá a oportunidade de conhecer quais atividades têm</p><p>provocado a destruição desse ecossistema e discutir como podemos rever-</p><p>ter esse quadro para que as famílias possam continuar fazendo uso dos</p><p>recursos naturais, que, muitas vezes, são a sua principal fonte de renda,</p><p>mas com consciência ambiental e de forma sustentável.</p><p>9</p><p>de lixo urbano, a poluição</p><p>dos rios, a caça de animais</p><p>silvestres, a emissão de ga-</p><p>ses poluentes, o aquecimen-</p><p>to global etc. Esses assuntos</p><p>ganharam grande importân-</p><p>cia neste século e, a cada dia</p><p>Uma banda pernambucana</p><p>chamada Eddie gravou uma</p><p>interessante e divertida música</p><p>que fala da poluição dos rios.</p><p>Veja:</p><p>Sentado na Beira do Rio</p><p>por Trummer/Isaar</p><p>Tô sentado na beira do rio</p><p>esperando a sujeira passar.</p><p>Saco plástico de todas as cores,</p><p>garrafas boiam junto da espuma,</p><p>cheiro forte caracteriza Beberibe, como de costume.</p><p>Como água, um caldo grosso, escura, escorre, como</p><p>referência.</p><p>Como tem lixo, como tem doença!</p><p>Como tem lixo, como tem doença!</p><p>Caso você tenha acesso à internet, poderá escutar a</p><p>música no seguinte endereço: http://letras.terra.com.br/</p><p>eddie/401354/.</p><p>que passa, estão mais pre-</p><p>sentes na nossa vida. Muitas</p><p>pessoas se preocupam em</p><p>não jogar lixo nas ruas, em</p><p>reduzir a utilização de saco-</p><p>las plásticas ou em utilizar</p><p>materiais reciclados.</p><p>10</p><p>A grande repercussão desses</p><p>assuntos se deve à compreensão de</p><p>que grande parte das atividades hu-</p><p>manas destrói os ecossistemas e</p><p>prejudica a biodiversidade do nosso</p><p>planeta. Como alguns exemplos: a</p><p>poluição dos rios mata os peixes e</p><p>pode causar grandes enchentes; o</p><p>desflorestamento acaba com a mo-</p><p>radia de muitos animais; e a polui-</p><p>ção gerada pelos carros e pelas in-</p><p>dústrias aumenta o efeito estufa.</p><p>Um dos efeitos mais trágicos da ati-</p><p>vidade humana no planeta é a extin-</p><p>ção de espécies, como aconteceu na</p><p>Caatinga com a extinção da arari-</p><p>nha-azul devido à sua caça descon-</p><p>trolada para o tráfico de animais</p><p>silvestres. Com toda a preocupação</p><p>com a biodiversidade, vivemos em</p><p>uma época na qual as pessoas têm</p><p>começado a desenvolver uma maior</p><p>consciência ambiental para conser-</p><p>você compare o número de</p><p>plantas consumidas por essas pessoas com o número de plantas consu-</p><p>midas por você e seus colegas. Será que, hoje em dia, alguém se ali-</p><p>menta de forma tão diversificada?</p><p>58</p><p>Em relação às plantas</p><p>com potencial alimentício, a</p><p>quantidade desses recursos na</p><p>Caatinga é muito maior do</p><p>que, à primeira vista, se</p><p>poderia imaginar. Apenas</p><p>para citar alguns exemplos de</p><p>plantas usadas na alimentação,</p><p>temos o trapiá (Crataeva</p><p>tapia L.), o coco-catulé</p><p>(Syagrus cearensis Noblick),</p><p>o icó (Capparis jacobinae</p><p>Moric. ex Eichl), a ubaia</p><p>(Eugenia uvalha Cambess), o</p><p>facheiro (Pilosocereus</p><p>pachycladus), o umbu</p><p>(Spondias tuberosa Arruda),</p><p>dentre outras.</p><p>O fato de essas plantas</p><p>poderem servir de alimento</p><p>para nós, seres humanos, faz</p><p>com que sejam vistas com es-</p><p>pecial destaque, pois o seu</p><p>uso controlado e sustentável</p><p>pode melhorar a qualidade de</p><p>vida de muitas pessoas que</p><p>vivem nas regiões semiáridas</p><p>do Nordeste brasileiro. O uso</p><p>sustentável das plantas ali-</p><p>mentícias se dá pela utiliza-</p><p>ção e/ou coleta em quantida-</p><p>des que satisfaçam as</p><p>necessidades humanas, sem</p><p>prejudicar a preservação da</p><p>flora. Dependendo da parte, a</p><p>sua retirada não produz gran-</p><p>des prejuízos às plantas, como</p><p>ao se usarem frutos e folhas.</p><p>No entanto, se a estrutura</p><p>usada for o caule ou a raiz, a</p><p>coleta excessiva deve ser evi-</p><p>tada, para que se possa garan-</p><p>tir a sobrevivência das plantas</p><p>e a manutenção da oferta de</p><p>alimentos para todos.</p><p>Como nós vimos, exis-</p><p>te um grande número de</p><p>plantas usadas na alimenta-</p><p>ção das pessoas que vivem</p><p>em regiões semiáridas do</p><p>Nordeste brasileiro. Sabendo</p><p>da riqueza e do potencial da</p><p>flora do ecossistema Caatin-</p><p>ga, escolhemos seis das mais</p><p>conhecidas por seus usos ali-</p><p>mentícios para um maior</p><p>aprofundamento.</p><p>Umbu (Spondias</p><p>tuberosa Arruda)</p><p>Dentre as plantas mais</p><p>conhecidas pelas populações</p><p>do semiárido, está o umbu-</p><p>zeiro, ou imbuzeiro (Spondias</p><p>tuberosa Arruda), uma frutei-</p><p>ra nativa do Brasil. A princi-</p><p>pal parte comestível do umbu</p><p>é o fruto, podendo ser consu-</p><p>mido in natura, em refrescos,</p><p>sorvetes e na tradicional um-</p><p>buzada (polpa dos frutos in-</p><p>chados de umbu cozida com</p><p>leite e açúcar). Só que esta</p><p>59</p><p>não é a única forma de se con-</p><p>sumir a umbuzada, ela pode</p><p>ser preparada com os frutos</p><p>maduros do umbu espremi-</p><p>dos e misturados com farinha</p><p>— esse preparado também é</p><p>conhecido por pirão de umbu.</p><p>Segundo estudos desenvolvi-</p><p>dos na Caatinga, os frutos do</p><p>umbu são ricos em vitamina</p><p>C e sais minerais, como cál-</p><p>cio, potássio e magnésio.</p><p>Figura 16: Umbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda). A – porte da planta, B – fruto e</p><p>C – inflorescência (Fotos: Ernani M.F. Lins-Neto).</p><p>A</p><p>B C</p><p>60</p><p>O umbuzeiro é uma</p><p>planta importantíssima para</p><p>populações do semiárido nor-</p><p>destino, sendo considerada</p><p>uma árvore muito consumida</p><p>no Sertão devido à sua mar-</p><p>cante característica de flores-</p><p>cer e frutificar no período de</p><p>seca da região, surgindo como</p><p>uma ótima alternativa de sub-</p><p>sistência e renda para as po-</p><p>pulações humanas dessas áre-</p><p>as. Como visto nas palavras</p><p>de Euclides da Cunha, em seu</p><p>livro Os Sertões, o umbuzei-</p><p>ro</p><p>Além dos frutos, a bata-</p><p>ta (nome popular para uma</p><p>parte da raiz da planta) do</p><p>umbuzeiro também é uma</p><p>parte da planta bastante usa-</p><p>da. Com ela, pode-se preparar</p><p>desde doces e geleias até fari-</p><p>nhas. As batatinhas das plan-</p><p>tas jovens do umbuzeiro tam-</p><p>bém podem ser consumidas</p><p>in natura e/ou em conserva,</p><p>É a árvore sagrada do Sertão. Sócia fiel das rápidas horas felizes e longos</p><p>dias amargos dos vaqueiros [...]. Alimenta-o e mitiga-lhe a sede. Abre-lhe o</p><p>seio acariciador e amigo, onde os ramos recurvos e entrelaçados parecem</p><p>de propósito feitos para a armação das redes bamboantes. E, ao chegarem</p><p>os tempos felizes, dá-lhe os frutos de sabor esquisito para o preparo da</p><p>umbuzada tradicional.</p><p>denominadas picles. Essa for-</p><p>ma de aproveitamento do um-</p><p>buzeiro também pode gerar</p><p>uma fonte alternativa de ren-</p><p>da, mas deve-se ter sempre</p><p>cuidado com excessos, uma</p><p>vez que o uso exagerado das</p><p>batatinhas do umbu possivel-</p><p>mente provocará danos à re-</p><p>novação das populações de</p><p>umbuzeiro de uma região.</p><p>61</p><p>SAIBA MAIS...</p><p>Para evitar que a coleta da batata do umbu acabe com as popu-</p><p>lações naturais da planta, as indústrias de processamento dos frutos</p><p>do umbuzeiro que desejam trabalhar também com os picles costu-</p><p>mam destinar uma área para o plantio das sementes que excedem do</p><p>processamento dos frutos. Pesquisadores e técnicos da Embrapa Se-</p><p>miárido divulgaram instruções técnicas explicando detalhadamente</p><p>como produzir picles do umbuzeiro. Vamos conferir!</p><p>Devem-se plantar as sementes dos frutos em canteiros com 1</p><p>metro de largura e com profundidade de 40 centímetros, em substra-</p><p>to formado de areia de riacho ou areia grossa lavada. As sementes</p><p>devem ser semeadas numa proporção de, aproximadamente, 120 se-</p><p>mentes por metro quadrado, com uma cobertura de 2,5 a 3,0 centí-</p><p>metros de areia. Os canteiros devem ser irrigados três vezes por se-</p><p>mana até o início da germinação. Após esse período, a irrigação deve</p><p>ser semanal. Ao se completarem 120 dias após o plantio, as batatas</p><p>das mudas atingem 17 centímetros de comprimento e 1 centímetro</p><p>de diâmetro, com peso médio de 47,5 gramas. A partir dessa fase, já</p><p>podem ser utilizadas para o consumo in natura e para o processa-</p><p>mento de picles. Este último consiste das seguintes etapas: lavagem</p><p>das batatas em água corrente por 5 minutos; descascamento; imer-</p><p>são da batata em solução de 10 a 20 partes por milhão de cloro para</p><p>10 litros de água por 30 minutos; acondicionamento em vidros; adi-</p><p>ção da salmoura. A salmoura deve ser preparada com 50 gramas de</p><p>sal de cozinha e o suco de dois limões, adicionados a 2 litros de</p><p>água. Após a adição da salmoura, deve-se realizar o branqueamento</p><p>em água aquecida a 80 graus Celsius por 30 minutos; posteriormen-</p><p>te, completa-se a salmoura nos vidros, e realiza-se o tratamento tér-</p><p>mico por 40 minutos em banho-maria a 96 graus Celsius.</p><p>Texto adaptado de: Instrução Técnica da Embrapa Semi-árido. Texto: Cavalcanti, N. B. e</p><p>colaboradores. Picles do Xilopódio do Umbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda), publicada</p><p>em maio de 2007. e disponível em , acessado em 02/02/2010.</p><p>62</p><p>SAIBA MAIS...</p><p>Receitas de umbu</p><p>E já que o umbu é uma planta abundante na Caatinga e muito</p><p>nutritiva, por que não aprender novas receitas para aproveitar me-</p><p>lhor e consumir de diferentes modos os seus frutos?</p><p>Doce de umbu</p><p>1 - Escolha dos frutos</p><p>Para o preparo do doce, os frutos podem ser colhidos em todas</p><p>as fases de amadurecimento:</p><p>• Umbu inchado (entre verde e maduro).</p><p>• Umbu muito inchado (entre o inchado e o maduro).</p><p>• Umbu maduro.</p><p>• Umbu muito maduro (este estraga muito rápido).</p><p>2 - Como preparar a polpa</p><p>Para obter a polpa, proceda do modo seguinte:</p><p>• Lave os frutos em água corrente.</p><p>• Leve-os ao fogo numa vasilha com água de beber até o início</p><p>da fervura.</p><p>• Escorra a água e espere os frutos esfriarem.</p><p>• Passe os frutos numa peneira para separar os caroços da pol-</p><p>pa.</p><p>3 - Preparando o doce</p><p>• Ingredientes: açúcar em quantidade mais ou menos igual à</p><p>metade da quantidade de polpa.</p><p>• Como fazer: misture o açúcar com a polpa; em seguida, po-</p><p>nha a mistura no fogo e mexa-a até chegar ao ponto de massa firme</p><p>e fácil de cortar.</p><p>Rendimento do doce:</p><p>Como o umbu inchado é o que produz mais polpa, o doce fei-</p><p>63</p><p>to com ele é o que apresenta maior rendimento. Depois vem o doce</p><p>de umbu muito inchado e o de umbu maduro. Portanto, o doce de</p><p>menor rendimento é o feito com umbu muito maduro, pois este pro-</p><p>duz menos polpa.</p><p>Para obter mais receitas e informações sobre o umbu, consulte: Umbuzeiro: valorize</p><p>o que é seu. Disponível em http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/</p><p>item/11950/2/00081270.pdf.</p><p>SAIBA MAIS...</p><p>Umbu gigante</p><p>Pesquisadores da Embrapa Semiárido, em Petrolina, estão às</p><p>voltas com um enigma genético desde que colheram, no Sertão</p><p>baiano, um umbu</p><p>com peso cinco vezes maior que a média. O fruto</p><p>do umbuzeiro pesa, em média, 20 gramas, incluindo a polpa, o ca-</p><p>roço e a casca. O gigante tem 107 gramas. “É cinco vezes e meia</p><p>maior que a média”, diz Carlos Antônio, pesquisador da Embrapa.</p><p>O material foi depositado na Embrapa Semiárido, mais especifica-</p><p>mente numa plantação de umbuzeiros silvestres que ocupa três hec-</p><p>tares da unidade. São 78 tipos diferentes da fruteira, que atinge 6</p><p>metros e é exclusiva da Caatinga, não sendo encontrada em nenhum</p><p>outro lugar do planeta. Há umbuzeiros gigantes, os que frutificam</p><p>em cachos e os geminados. O umbu-de-cacho, coletado também no</p><p>Sertão baiano (município de São Gabriel), apresenta 25 frutos num</p><p>mesmo cacho.</p><p>Essas são apenas algumas das peculiaridades dessa fruteira,</p><p>conhecida por armazenar água em raízes modificadas denominadas</p><p>popularmente de batatas do umbu. Outra característica é o apareci-</p><p>mento de flores antes de folhas.</p><p>Adaptado da reportagem Umbu Gigante Intriga Cientistas, publicada no Jornal do</p><p>Commercio, Recife, 26/03/2006.</p><p>64</p><p>Quixabeira</p><p>(Sideroxylon</p><p>obtusifolium (Humb.</p><p>ex Roem. & Schult.) T.</p><p>D. Penn.)</p><p>A quixabeira é uma ár-</p><p>vore natural da região da Ca-</p><p>atinga muito encontrada em</p><p>regiões úmidas próximas a</p><p>rios. Você provavelmente já</p><p>deve ter ouvido falar dessa</p><p>planta, ela é muito conhecida</p><p>porque sua casca é utilizada</p><p>para tratar ferimentos. Tam-</p><p>bém é possível que, na sua</p><p>região, ela seja chamada de</p><p>quixaba. A parte comestível é</p><p>o fruto, de coloração roxa-es-</p><p>cura e produzido entre os me-</p><p>ses de janeiro e fevereiro. São</p><p>frutinhos ingeridos in natura</p><p>pela população e possuem sa-</p><p>bor bastante adocicado graças</p><p>à grande quantidade de açú-</p><p>cares em sua polpa. Por essa</p><p>razão, são bastante aprecia-</p><p>dos pelas crianças, que, ao</p><p>consumi-los em excesso, cos-</p><p>tumam ficar com a boca roxa</p><p>e “grudada” por causa do lá-</p><p>tex que é produzido em dife-</p><p>rentes partes da planta, inclu-</p><p>sive nos frutos.</p><p>Mandacaru (Cereus</p><p>jamacaru D.C.)</p><p>O mandacaru é um</p><p>cacto que está entre as plan-</p><p>tas mais lembradas quando</p><p>se fala em vegetação da Ca-</p><p>atinga. Sua forma é bem ca-</p><p>racterística, tornando-se</p><p>quase impossível não o di-</p><p>ferenciar no meio das outras</p><p>plantas que formam a vege-</p><p>tação. O caule é coberto por</p><p>grandes espinhos, com ra-</p><p>mificações próximas ao</p><p>topo e de coloração verde.</p><p>Essa planta é cercada por</p><p>muitos “causos” sertanejos.</p><p>O mais comum deles e que</p><p>já virou até assunto de mú-</p><p>sica é que a abertura de suas</p><p>flores brancas é um indica-</p><p>tivo de chuva próxima.</p><p>Além disso, é muito</p><p>comum ouvir que o caule do</p><p>mandacaru tem muita água,</p><p>que é utilizada para matar a</p><p>sede de quem anda pelo</p><p>mato. A principal parte co-</p><p>mestível da planta são os</p><p>seus frutos, que nascem gru-</p><p>dados ao caule. A casca do</p><p>fruto é bastante avermelha-</p><p>da e carnosa, e seu conteú-</p><p>do, comestível, é de cor</p><p>eva carvalho</p><p>Destacar</p><p>65</p><p>branca, com grande número</p><p>de sementes pretas e muita</p><p>mucilagem. A polpa tem</p><p>sabor bastante adocicado, o</p><p>que faz com que as crianças</p><p>sejam suas maiores admira-</p><p>doras. Também é um ali-</p><p>mento bastante apreciado</p><p>pelas aves, que descartam</p><p>as sementes derrubando-as</p><p>no chão e favorecendo o</p><p>nascimento de novas plan-</p><p>tas.</p><p>Xote das Meninas</p><p>Luiz Gonzaga e Zé Dantas</p><p>Mandacaru</p><p>quando “fulora” na seca</p><p>é o sinal que a chuva chega</p><p>no Sertão.</p><p>Toda menina que enjoa</p><p>da boneca</p><p>é sinal que o amor</p><p>já chegou no coração.</p><p>Meia comprida,</p><p>não quer mais sapato baixo,</p><p>vestido bem cintado,</p><p>não quer mais vestir timão.</p><p>Ela só quer,</p><p>só pensa em namorar.</p><p>Ela só quer,</p><p>só pensa em namorar.</p><p>De manhã cedo, já está pintada,</p><p>só vive suspirando,</p><p>sonhando acordada.</p><p>O pai leva ao “douto”</p><p>a filha adoentada.</p><p>Não come nem estuda,</p><p>não dorme nem quer nada.</p><p>Ela só quer,</p><p>só pensa em namorar.</p><p>Ela só quer,</p><p>só pensa em namorar.</p><p>Mas o “douto” nem examina,</p><p>chamando o pai do lado,</p><p>lhe diz logo na surdina:</p><p>que o mal é da idade,</p><p>que, pra tal menina,</p><p>não tem um só remédio</p><p>em toda a medicina.</p><p>Ela só quer,</p><p>só pensa em namorar.</p><p>Ela só quer,</p><p>só pensa em namorar.</p><p>eva carvalho</p><p>Destacar</p><p>66</p><p>VOCÊ SABIA?</p><p>Figura 17: Mandacaru (Cereus jamacaru</p><p>D.C.). A – detalhe da flor, B – fruto</p><p>no topo da planta e C – fruto aberto</p><p>revelando sua polpa bem característica</p><p>cheia de pequenas sementes de</p><p>coloração escura (Fotos: ).</p><p>Em outros países, os frutos e até mesmo o “miolo” dos</p><p>cactos são muito utilizados na alimentação diária das pessoas.</p><p>Um desses países é o México, nosso vizinho aqui da América</p><p>Latina. Lá existe uma planta muito parecida com o nosso man-</p><p>dacaru, conhecida como pitaia (Hylocereus undatus (Haw.)</p><p>Britton & Rose). Seus frutos são utilizados para fabricar bebi-</p><p>das, sucos, geleias e até sorvetes. A pitaia é tão popular que já</p><p>foi motivo de estudos científicos, que comprovaram que ela</p><p>possui minerais e vitaminas, incluindo a vitamina C. Agora,</p><p>pense conosco: se o mandacaru é tão parecido com a pitaia,</p><p>será que ele também não pode ser usado para fabricar doces ou</p><p>sorvetes nutritivos? Que tal tentar, hein?</p><p>A</p><p>B</p><p>C</p><p>67</p><p>cacto nativo do Brasil e uma</p><p>das plantas mais frequentes e</p><p>comuns na Caatinga. Devido</p><p>à facilidade de germinação de</p><p>suas sementes, o facheiro</p><p>pode crescer quase que em</p><p>qualquer lugar, sendo comum</p><p>encontrá-lo tanto em terrenos</p><p>Sorvete de pitaia</p><p>Ingredientes</p><p>- 02 xícaras (chá) de polpa de pitaia</p><p>- ½ xícara (chá) de adoçante em pó</p><p>- 01 xícara (chá) de creme de leite light</p><p>- 04 claras em neve</p><p>Ingredientes da calda</p><p>- ½ xícara (chá) de polpa de pitaia</p><p>- ½ xícara (chá) de suco de laranja</p><p>- 02 colheres (sopa) de adoçante em pó</p><p>- 01 colher (chá) de amido de milho</p><p>Modo de preparo</p><p>Misture os ingredientes e coloque a mistura em uma va-</p><p>silha com tampa. Leve-a ao freezer por cerca de 2 horas. Bata-a</p><p>com o auxílio de uma batedeira e leve-a de volta ao freezer até</p><p>a hora de servir. Para a calda, misture os ingredientes e leve a</p><p>mistura ao fogo até engrossar. Sirva fria sobre o sorvete.</p><p>Receita disponível em http://cybercook.terra.com.br/sorvete-de-pitaya-e-salada-</p><p>de-frutas-exoticas-na-comunidade.html?codigo=25444.</p><p>Facheiro</p><p>(Pilosocereus</p><p>pachycladus F. Ritter)</p><p>O facheiro pertence à</p><p>mesma família que o manda-</p><p>caru e, assim como este, é um</p><p>68</p><p>úmidos quanto crescendo em</p><p>cima de rochas. Geralmente,</p><p>essa planta apresenta um cres-</p><p>cimento ramificado e se en-</p><p>contra totalmente coberta de</p><p>espinhos amarelos; tem flores</p><p>azuladas e frutos que, quando</p><p>maduros, tomam uma colora-</p><p>ção avermelhada e adquirem</p><p>uma concentração de açúcar</p><p>que os faz muito apetitosos,</p><p>não só para os animais, mas</p><p>também para os seres huma-</p><p>nos. Além disso, os miolos são</p><p>tradicionalmente utilizados na</p><p>elaboração do tão conhecido</p><p>doce de facheiro. Veja o que</p><p>dizem as doceiras de Altinho</p><p>(Agreste de Pernambuco) so-</p><p>bre a sua preparação:</p><p>O primeiro passo que deve ser feito para preparar o doce de facheiro é ir</p><p>buscar a planta, tirar alguns de seus ramos — os quais devem estar nem</p><p>muito novos nem muito velhos —, tirar os espinhos da planta e raspar o</p><p>miolo. Esse material, que constitui a parte comestível da planta, deverá ir</p><p>para a panela, na qual será adicionado açúcar ou rapadura segundo o gosto</p><p>da pessoa, e terá que ir para o fogo durante várias horas. O tempo de cozi-</p><p>mento do doce depende da quantidade a preparar, mas o indicativo de que</p><p>já está ficando pronto é quando o caldo vai ficando cada vez mais grosso.</p><p>Figura 18: Facheiro (Pilosocereus pachycladus F. Ritter). A – porte da planta, B – detalhe</p><p>do caule espinhoso e C – detalhe dos frutos (Fotos: C – Margarita P. Cruz).</p><p>A</p><p>B</p><p>69</p><p>Gogoia (Solanum</p><p>aculeatissimum Jacq.)</p><p>A gogoia é um erva que</p><p>ocorre desde a América Cen-</p><p>tral até o norte da Argentina.</p><p>Na Caatinga, cresce em cer-</p><p>cas, quintais, áreas de pasto e</p><p>cultivo. No seu caule, cres-</p><p>cem numerosos espinhos, ca-</p><p>racterística que deu origem</p><p>ao seu nome científico. A</p><p>planta tem flores brancas ou</p><p>amarelas e estames amarelos,</p><p>além de frutinhos esféricos</p><p>— que são consumidos in na-</p><p>tura — de cor vermelha,</p><p>quando maduros, e de várias</p><p>tonalidades de verde,</p><p>quando</p><p>imaturos. Devido aos nume-</p><p>rosos espinhos que tem essa</p><p>planta, muitas pessoas não</p><p>costumam coletar e comer os</p><p>frutinhos, deixando, assim,</p><p>de aproveitar uma valiosa</p><p>fonte de vitaminas e mine-</p><p>rais.</p><p>Figura 19:</p><p>Gogóia (Solanum</p><p>aculeatissimum</p><p>Jacq.). A – porte</p><p>da planta, B -</p><p>detalhe da flor</p><p>e C – detalhe</p><p>do fruto (Fotos:</p><p>Margarita P.</p><p>Cruz).</p><p>A B</p><p>C</p><p>70</p><p>Coco-catolé (Syagrus</p><p>cearensis Noblick)</p><p>O coco-catolé é uma</p><p>das plantas alimentícias mais</p><p>amplamente conhecidas na</p><p>Caatinga. É uma palmeira pa-</p><p>recida com o coqueiro, que</p><p>apresenta pequenos coqui-</p><p>nhos com os quais se podem</p><p>fazer inúmeras receitas. Po-</p><p>dem ser consumidos in natu-</p><p>ra, verdes ou maduros (se-</p><p>cos), com açúcar ou</p><p>pulverizados para preparar</p><p>uma farinha que pode ser adi-</p><p>cionada aos alimentos. Algu-</p><p>mas pessoas preparam deli-</p><p>ciosas cocadas com esses</p><p>frutos, que, ainda que peque-</p><p>nos, são muito abundantes;</p><p>outras, usam-nos para elabo-</p><p>rar molhos.</p><p>Figura 20: Coco catolé A – porte da</p><p>planta, B - detalhe do cacho e C –</p><p>detalhe dos cocos, frutos, separados</p><p>(Fotos: Lucilene L. Santos).</p><p>A</p><p>B</p><p>C</p><p>71</p><p>VOCÊ SABIA?</p><p>Na Caatinga, além das plantas nativas que são consumi-</p><p>das normalmente, há outro grupo de plantas que também ser-</p><p>vem como alimento, mas que só são consumidas quando as</p><p>outras fontes de alimento já se acabaram. Isso acontece porque</p><p>essas plantas são difíceis de encontrar ou de preparar; então, as</p><p>pessoas só se dão ao trabalho de procurá-las quando os outros</p><p>alimentos mais fáceis não estão mais disponíveis, ou seja, em</p><p>uma situação de emergência, como em tempos de seca, por</p><p>exemplo. Por essa razão, essas plantas receberam dos cientis-</p><p>tas o nome de alimentos emergenciais.</p><p>Diante disso, você pode nos perguntar: como é que essas</p><p>plantas conseguem sobreviver ao período da seca? Pois bem,</p><p>muitas delas possuem alguma característica especial que faz</p><p>com que suportem, por longos períodos, a falta de água, como,</p><p>por exemplo, a existência de caules ou raízes que armazenam</p><p>água.</p><p>Você já deve estar bastante curioso para conhecer algum</p><p>exemplo de alimento emergencial. Por que você não aproveita</p><p>essa curiosidade para perguntar às pessoas mais velhas da sua</p><p>família se já ouviram falar de algum desses alimentos?</p><p>Vamos matar sua curiosidade citando alguns exemplos</p><p>que você deve conhecer muito bem. O primeiro é o xique-xi-</p><p>que (Pilosocereus gounellei (A. Weber ex K. Schum.) Bly. ex</p><p>Rowl.), um cacto muito usado na alimentação do rebanho. Para</p><p>servir de alimento para as pessoas, é necessário retirar cuida-</p><p>dosamente todos os espinhos, cortar o miolo em rodelas, lavar,</p><p>deixar secar ao sol e, por fim, assá-lo. Ficou cansado só de</p><p>pensar no trabalhão que dá? Então vamos falar agora de outra</p><p>planta, conhecida como mucunã (Dioclea grandiflora), uma</p><p>trepadeira cujas sementes resistentes são armazenadas durante</p><p>o inverno, para serem usadas em caso de necessidade, ou cole-</p><p>tadas do chão na época seca. Para consumir essas sementes, é</p><p>necessário quebrá-las, ralar até que virem farinha e lavar mui-</p><p>tas vezes, pois elas contêm substâncias tóxicas que, se ingeri-</p><p>72</p><p>das, podem matar uma pessoa. Após todas essas lavagens,</p><p>utiliza-se essa farinha para fazer um cuscuz que, segundo as</p><p>pessoas que já o saborearam, não é muito gostoso. Outros</p><p>exemplos bem conhecidos de alimentos emergenciais são a</p><p>macambira (Bromelia laciniosa Mart. ex Schult. f.), que pode</p><p>ser utilizada na preparação de cuscuz, e a maniçoba (Manihot</p><p>dichotoma Ule), que é lavada e torrada para fabricar uma fari-</p><p>nha que substitui a farinha de mandioca.</p><p>Hoje em dia, o uso desses alimentos é muito raro, mas já</p><p>foi muito recorrente em épocas passadas, quando longos</p><p>períodos de seca atingiam a Região Nordeste e, assim, não era</p><p>possível cultivar ou coletar alguma outra planta da vegetação</p><p>para comer. Foi a melhoria nas condições financeiras da</p><p>população que permitiu que as pessoas do Sertão trocassem o</p><p>uso dos alimentos emergenciais pelos produtos adquiridos no</p><p>comércio durante os períodos de longa estiagem. Mas este é</p><p>um tipo de informação que nunca deve ser esquecido, pois</p><p>nunca se sabe quando será preciso utilizá-lo novamente.</p><p>A partir de tudo que vi-</p><p>mos aqui, podemos verificar o</p><p>quão importantes são as plantas</p><p>alimentícias nativas de nossa</p><p>região, as quais são merecedo-</p><p>ras da nossa atenção não so-</p><p>mente por serem fontes de ali-</p><p>mentos alternativos, como</p><p>também pelo forte potencial</p><p>econômico que possuem. Por</p><p>isso, devemos, cada vez mais,</p><p>conhecer a nossa flora, valori-</p><p>zá-la e protegê-la, não só para o</p><p>nosso uso, mas também para</p><p>que as futuras gerações possam</p><p>igualmente aproveitá-la.</p><p>73</p><p>Em determinadas</p><p>regiões do País, as condições</p><p>climáticas dificultam a vida</p><p>das pessoas. Na Caatinga,</p><p>sabemos que o principal</p><p>problema é a falta de água,</p><p>que constitui um grande</p><p>obstáculo para a população e</p><p>para a sobrevivência de alguns</p><p>animais. Entretanto, ao longo</p><p>do tempo, a população buscou</p><p>minimizar essa situação</p><p>desenvolvendo estratégias de</p><p>sobrevivência.</p><p>Uma das atividades</p><p>mais praticadas para fins de</p><p>subsistência é a agropecuária,</p><p>a qual se destina ao cultivo de</p><p>plantas, especialmente as ali-</p><p>mentícias, para o sustento da</p><p>família; e à criação de animais</p><p>domésticos, como bois, cabras</p><p>e ovelhas.</p><p>As plantas forrageiras</p><p>são aquelas usadas na alimen-</p><p>tação dos animais domésticos</p><p>e são encontradas facilmente</p><p>na mata, no quintal, no roçado</p><p>e na beira da estrada, ocorren-</p><p>do nas mais variadas formas</p><p>de vida, desde herbáceas (er-</p><p>vas) a plantas arbustivas e ar-</p><p>bóreas.</p><p>Na estação chuvosa, há</p><p>uma grande riqueza de herbá-</p><p>ceas, que, dependendo da re-</p><p>gião, podem ser suficientes</p><p>para alimentar o rebanho lo-</p><p>cal; além disso, são considera-</p><p>das pela população da região</p><p>Plantas com Uso Forrageiro 5</p><p>Neste capítulo, você conhecerá um pouco a respeito das plantas</p><p>forrageiras, ou seja, as usadas na alimentação de animais. Esperamos</p><p>acrescentar ao seu conhecimento informações sobre esse grupo de plan-</p><p>tas e as suas principais curiosidades. Ao fim do capítulo, você poderá</p><p>compreender o porquê de uma planta ser considerada uma boa forragei-</p><p>ra, a sua importância na vida das pessoas e o quanto contribui para a</p><p>qualidade de vida da população e para a economia da Região Nordeste.</p><p>como um alimento valioso</p><p>para os animais, especialmen-</p><p>te as gramíneas, mais conheci-</p><p>das como capim. Já na estação</p><p>seca, a maioria das ervas desa-</p><p>parece, acarretando uma dimi-</p><p>nuição na oferta de alimento e</p><p>aumentando, assim, as dificul-</p><p>dades para manter essa práti-</p><p>ca. No entanto, a própria re-</p><p>gião oferece excelentes</p><p>alternativas que iremos mos-</p><p>trar adiante.</p><p>O Brasil possui um dos maiores re-</p><p>banhos bovinos comerciais do mundo! Se-</p><p>gundo dados de 2004 do Instituto Brasilei-</p><p>ro de Geografia e Estatística (IBGE), são</p><p>mais de 195 milhões de cabeças, isto é,</p><p>mais que o número de habitantes do Brasil. A</p><p>Região Nordeste destaca-se pela criação de ca-</p><p>prinos — 93% de todo o País —, e a maior parte</p><p>desse rebanho está em Pernambuco e na Bahia. No sudeste da Bahia, a</p><p>exportação de carne e seus derivados tem gerado excelentes expectati-</p><p>vas: só no ano de 2004, foram 6 bilhões de dólares.</p><p>A criação de caprinos no Nordeste passou a ser uma prática expres-</p><p>siva, e muitos criadores investem no melhoramento genético das raças,</p><p>algumas delas já conhecidas pela população local, como Moxotó (animal</p><p>branco com listra preta no dorso e membros igualmente pretos), Parda</p><p>Sertaneja (pelagem parda), Graúna (pelagem preta), Azul (pelagem cin-</p><p>za-azulada), Canindé (pelagem escura com a barriga e região em torno</p><p>dos olhos claras), Marota (pelagem branca), dentre outras.</p><p>Após o ano de 1971, trabalhos de melhoramento — postos em prá-</p><p>tica por Manelito Dantas Vilar e Ariano Suassuna, na Fazenda Carnaúba,</p><p>no município de Taperoá (PB) — foram realizados com sucesso, regene-</p><p>rando raças nordestinas. Segundo Ariano Suassuna, com esse trabalho o</p><p>rebanho da Carnaúba passou a ser constituído por cabras ibero-brasilei-</p><p>ras,</p><p>vermelhas, brancas, negras e azuis, fazendo referência ao povo bra-</p><p>sileiro, na sua síntese entre brancos europeus, negros africanos e índios</p><p>brasileiros.</p><p>75</p><p>Com esses cruzamentos, os resultados foram extremamente pro-</p><p>missores em termos de ganhos em produtividade na função leiteira. Para</p><p>se ter ideia da importância desse trabalho, animais das três raças, que</p><p>antes pouco produziam, atingiram, nas gerações melhoradas subsequen-</p><p>tes, uma produção média de 1,7 litros de leite por dia.</p><p>Adaptado do texto Caprinos: uma Pecuária Necessária no Semiárido Nordestino, de João</p><p>Suassuna, engenheiro-agrônomo e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco. Disponível em</p><p>Enquanto as gramíneas</p><p>espontâneas “desaparecem”</p><p>na estação seca, algumas plan-</p><p>tas permanecem durante todo</p><p>o ano. Isso acontece porque</p><p>essas espécies estão adaptadas</p><p>à falta de água, como acontece</p><p>com o umbuzeiro e o juazeiro,</p><p>exemplos de plantas que man-</p><p>têm suas folhas e, muitas ve-</p><p>zes, seus frutos. Assim aconte-</p><p>ce também com a algaroba,</p><p>planta comumente encontrada</p><p>na Região Nordeste, perten-</p><p>cente ao grupo das legumino-</p><p>sas, já mencionadas nos capí-</p><p>tulos anteriores. Seus frutos</p><p>são do tipo vagem, semelhan-</p><p>tes ao feijão, e, embora não</p><p>seja uma planta brasileira, ela</p><p>se desenvolve muito bem em</p><p>regiões secas, pois possui raí-</p><p>zes muito profundas que po-</p><p>dem ultrapassar 50 metros de</p><p>profundidade, o que facilita a</p><p>obtenção de água.</p><p>A algaroba (Prosopis juliflora (Sw.) D.C.) foi trazida do Peru</p><p>e introduzida no Brasil em 1942, em Serra Talhada (PE), especial-</p><p>mente devido às suas qualidades como forrageira, produtora de le-</p><p>nha e carvão. Durante a década de 1990, houve um grande incenti-</p><p>vo, por parte do governo, para o plantio da algaroba em vários</p><p>estados do Nordeste. Isso aconteceu devido à facilidade de adapta-</p><p>ção da planta a diferentes tipos de solo e ao seu bom desenvolvi-</p><p>mento em regiões secas e quentes; além disso, a planta produz fru-</p><p>to mesmo no período mais seco do ano. Esses frutos podem ser</p><p>SAIBA MAIS...</p><p>76</p><p>utilizados tanto na alimentação animal, em especial de bovinos,</p><p>como na humana, em forma de biscoitos, bolos, licores, pães, entre</p><p>outros. Em função dessas vantagens, por algum tempo a planta foi</p><p>considerada a “salvação do Sertão”. Entretanto, devido à forma</p><p>inadequada de manejo, a algaroba tornou-se um grave problema, o</p><p>que acabou com as expectativas do seu cultivo, pois a planta inva-</p><p>diu, com facilidade, a vegetação da Caatinga, representando uma</p><p>ameaça à conservação da biodiversidade. Estima-se que existe uma</p><p>área superior a 500 mil hectares ocupada pela espécie. O problema</p><p>partiu do governo, que incentivou o plantio, mas não o gerenciou</p><p>de forma correta e ainda cortou os incentivos para a produção, não</p><p>desenvolvendo nenhum projeto visando o controle da espécie.</p><p>Adaptado de CAMPELO, C. R. Algaroba: Planta Mágica. Recife: Edições Edificantes, 1997.</p><p>84 p. & PEGADO, C. M. A. et al. Efeitos da Invasão Biológica de Algaroba – Prosopis</p><p>juliflora (Sw) D. C. sobre a Composição e a Estrutura do Estrato Arbustivo-arbóreo da</p><p>Caatinga, Paraíba. Acta Botânica Brasilica. v. 20. 2006.</p><p>Queremos, agora, cha-</p><p>mar a atenção para outro grupo</p><p>de plantas muito típico da re-</p><p>gião, os cactos ou as cactáceas,</p><p>que se destacam especialmente</p><p>por sua resistência à seca e por</p><p>acumularem água em algumas</p><p>de suas partes. Essa característi-</p><p>ca é de suma importância, espe-</p><p>cialmente para uma planta for-</p><p>rageira, pois a água acumulada,</p><p>além de servir como reserva de</p><p>nutrientes, é capaz de suprir a</p><p>necessidade de líquido do ani-</p><p>mal para a sua sobrevivência.</p><p>Os cactos apresentam</p><p>formato diferenciado em rela-</p><p>ção às outras espécies de plan-</p><p>tas e podem ter muitos espi-</p><p>nhos. Dentre as espécies mais</p><p>utilizadas na alimentação ani-</p><p>mal, está a palma forrageira,</p><p>que, apesar de não ser originá-</p><p>ria da Caatinga, é muito culti-</p><p>vada nesse ambiente. Outras,</p><p>como o facheiro e o mandaca-</p><p>ru, são bem utilizadas pelo ho-</p><p>mem como suplemento alimen-</p><p>tar na seca e geralmente são</p><p>ofertadas aos bovinos. Todavia,</p><p>é necessário um tratamento di-</p><p>ferenciado para que o animal</p><p>possa consumir essas plantas.</p><p>No decorrer do capítulo, essas</p><p>77</p><p>formas de uso serão mais de-</p><p>talhadas, lembrando que você</p><p>poderá rever a descrição des-</p><p>sas espécies no capítulo sobre</p><p>plantas alimentícias.</p><p>A palma (Opuntia fícus-indica L.) foi trazida do México para o</p><p>Brasil no início do século XX. De início, a intenção com a espécie era</p><p>cultivar um inseto conhecido por cochonilha-do-carmim, que, quando</p><p>bem cuidado, sobrevive da planta sem causar danos a ela. Esse inseto</p><p>produz um corante valioso para a indústria. Entretanto, a experiência</p><p>falhou, e a planta passou a ser utilizada como ornamental, até que houve</p><p>uma seca muito severa na Região Nordeste, por volta de 1932, e a palma</p><p>passou a ser reconhecida, então, como uma excelente fonte de alimen-</p><p>tação animal, permanecendo, até os dias atuais, cultivada em boa parte</p><p>da região e somando mais de 460 mil hectares de área plantada.</p><p>Adaptado de Manejo e Utilização da Palma Forrageira (Opuntia e Nopalea) em Pernambuco.</p><p>Recife: IPA, 2006. 48 p. (IPA. Documentos, 30.)</p><p>Xique-Xique</p><p>(Pilosocereus gounellei</p><p>(A. Weber ex K. Schum.)</p><p>Byl. ex Rowl)</p><p>É um cacto arbustivo e fa-</p><p>cilmente encontrado na região.</p><p>Atinge, no máximo, 4 metros de</p><p>altura, com ramos cilíndricos (pa-</p><p>recem pequenas colunas) repletos</p><p>de espinhos. Suas flores, de cor</p><p>variando de alvo-esverdeada a le-</p><p>vemente avermelhada, abrem à</p><p>Conheça melhor algumas plantas</p><p>forrageiras da Caatinga</p><p>noite e são comumente visitadas</p><p>por morcegos. Os frutos, verme-</p><p>lho-escuros, também são aprecia-</p><p>dos por outros animais. Como</p><p>forragem, é oferecida nos perío-</p><p>dos mais críticos de seca, pois os</p><p>espinhos dificultam o manejo e o</p><p>consumo da planta, sendo neces-</p><p>sária a queima para sua retirada.</p><p>Contudo, vale ressaltar que o seu</p><p>elevado valor forrageiro faz com</p><p>que essa espécie seja muito valo-</p><p>rizada pelos agricultores da re-</p><p>gião.</p><p>SAIBA MAIS...</p><p>78</p><p>Figura 21: Xique-xique (Pilosocereus gounellei</p><p>(A. Weber ex K. Schum.) Byl. ex Rowl), porte da</p><p>planta (Foto: Alissandra T. Nunes).</p><p>Figura 22: Palmatória (Tacinga palmadora</p><p>(Britton & Rose) N. P. Taylor & Stuppy). A</p><p>– planta florida. B – detalhe das flores com</p><p>insetos polinizadores (Fotos: Viviny Teixeira).</p><p>Palmatória (Tacinga</p><p>palmadora (Britton &</p><p>Rose) N. P. Taylor &</p><p>Stuppy)</p><p>É um cacto comum na Re-</p><p>gião Nordeste, chegando a atin-</p><p>gir até 3 metros de altura, com</p><p>caules achatados semelhantes às</p><p>raquetes da palma forrageira. As</p><p>raquetes são suculentas, e nelas</p><p>encontram-se os espinhos, que</p><p>medem até 1 centímetro de com-</p><p>primento. As flores são grandes</p><p>e belíssimas, de cor avermelha-</p><p>da. Algumas comunidades tradi-</p><p>cionais usam o fruto na alimen-</p><p>tação humana; já na alimentação</p><p>animal, ele é amplamente usado</p><p>na estação seca. É considerada</p><p>excelente forragem, mas, como</p><p>os demais cactos, é de difícil</p><p>manejo devido aos espinhos. São</p><p>poucos os estudos científicos so-</p><p>bre a planta, entretanto sabe-se</p><p>que ela possui bom conteúdo nu-</p><p>tricional e tem grande potencial</p><p>como forrageira.</p><p>A</p><p>B</p><p>79</p><p>Cumbeba (Tacinga</p><p>inamoena K.</p><p>Schum.)</p><p>Planta comum em</p><p>toda região de Caatinga,</p><p>conhecida popularmente</p><p>por outros nomes, como</p><p>quipá e gogoia. Mas não</p><p>confunda essa espécie</p><p>com a citada no Capítulo</p><p>4, lembrando que o nome</p><p>popular das plantas varia con-</p><p>forme a região, por isso fique</p><p>atento. A cumbeba pode variar</p><p>em tamanho de 20 a 100 centí-</p><p>metros de altura, possui caule</p><p>achatado e, assim como a pal-</p><p>matória, também se assemelha à</p><p>palma forrageira com relação ao</p><p>formato das raquetes, também</p><p>chamadas de cladódio. O fruto,</p><p>de formato globoso, pode apre-</p><p>sentar cores variando entre o</p><p>amarelo e o laranja. Assim como</p><p>ocorre com a palmatória, há</p><p>poucos estudos sobre o conteú-</p><p>do nutricional e mineral dessa</p><p>planta. Entretanto, sabe-se que</p><p>os frutos são muito valiosos</p><p>como alimento humano e ani-</p><p>mal,</p><p>com valores consideráveis</p><p>de cálcio, magnésio e potássio.</p><p>As características químicas do</p><p>fruto da cumbeba são muito pró-</p><p>ximas ao da palma forrageira.</p><p>Figura 23: Cumbeba (Tacinga inamoena K. Schum.)</p><p>em período chuvoso (Foto: Alissandra T. Nunes).</p><p>Feijão-de-boi (Capparis</p><p>flexuosa (L.) L.)</p><p>Conhecida também por fei-</p><p>jão-bravo ou feijão-brabo, é uma</p><p>planta de porte arbustivo, com 3 a</p><p>6 metros de altura. Possui folhas</p><p>simples de formato oval; as flores</p><p>vão de cor verde-clara a quase ver-</p><p>melha; e os frutos secos do tipo va-</p><p>gem, de cor verde passando a cre-</p><p>me-alaranjada, abrigam de três a</p><p>dez sementes. O interessante nessa</p><p>espécie é que, na seca, ela produz</p><p>mais brotos e folhas do que na chu-</p><p>va, sendo muito apreciada pelos</p><p>animais. Vários estudos foram rea-</p><p>lizados com essas plantas, espe-</p><p>cialmente do ponto de vista quími-</p><p>co, os quais comprovam a sua</p><p>importância nutricional quanto à</p><p>presença de proteínas e minerais.</p><p>80</p><p>Figura 24: Feijão-de-boi (Capparis flexuosa (L.) L.).</p><p>A – detalhe do fruto em forma de vagem, B – ramo com</p><p>flores (Fotos: Fábio J. Vieira).</p><p>A</p><p>B</p><p>Macambira (Bromelia</p><p>laciniosa Mart. ex.</p><p>Schult. f.)</p><p>É uma planta de porte</p><p>herbáceo, sem caule, com</p><p>cerca de 60 centímetros de al-</p><p>tura. Possui folhas resistentes</p><p>de cor verde e ápice em tons</p><p>róseos com acúleos circun-</p><p>dando-as. O fruto é uma baga</p><p>com cerca de 6 centímetros</p><p>de comprimento. Assim como</p><p>acontece com as cactáceas,</p><p>essas espécies também são de</p><p>difícil manuseio, especial-</p><p>mente para a retirada da parte</p><p>a ser consumida, que fica en-</p><p>terrada e precisa ser queima-</p><p>da antes do uso na alimenta-</p><p>ção dos animais. A parte</p><p>consumida corresponde ao</p><p>pseudocaule (cabeça), mas</p><p>as pessoas a conhecem por</p><p>batata e afirmam que essa</p><p>parte da planta é riquíssima,</p><p>além de constituir um ele-</p><p>mento importante para os ani-</p><p>mais na estação seca.</p><p>Figura 25: Macambira (Bromelia laciniosa Mart.</p><p>ex. Schult. f.) (Foto: Ulysses P. Albuquerque).</p><p>81</p><p>Marmeleiro (Croton</p><p>blanchetianus Müll.</p><p>Arg.)</p><p>Espécie de porte arbus-</p><p>tivo com cerca de 6 metros de</p><p>altura, possui caule ereto com</p><p>casca de cor vermelho-escura.</p><p>Suas flores são alvas e melí-</p><p>feras. Os frutos possuem for-</p><p>ma de cápsula, com três se-</p><p>mentes que servem de</p><p>alimento para aves e roedo-</p><p>res. As folhas, em especial,</p><p>são forragens para bovinos,</p><p>caprinos e ovinos.</p><p>Figura 26: Marmeleiro (Croton</p><p>blanchetianus Müll. Arg.), porte da planta</p><p>(Foto: Fábio J. Vieira).</p><p>Como as plantas forrageiras são</p><p>manejadas na caatinga?</p><p>Manejar é o mesmo que</p><p>cuidar de ou administrar</p><p>algo. Quando nos referimos</p><p>ao manejo de espécies, seja</p><p>de plantas ou animais, signifi-</p><p>ca algo um pouco complexo,</p><p>mas é importante que você</p><p>entenda o processo, que pode</p><p>ser algo muito bom ou um</p><p>grande problema quando rea-</p><p>lizado de forma inadequada.</p><p>Durante a estação seca, ocor-</p><p>re uma mudança no cenário</p><p>da Caatinga, e é nesse perío-</p><p>do que as pessoas usam de</p><p>seus conhecimentos tradi-</p><p>cionais, buscando soluções</p><p>para contornar as dificuldades</p><p>e melhorar a qualidade de</p><p>vida. Uma das alternativas</p><p>mais comuns é a utilização</p><p>das plantas que as cercam.</p><p>82</p><p>Falamos, anteriormen-</p><p>te, que, em períodos de longa</p><p>estiagem, os cactos e a ma-</p><p>cambira passam a fazer parte</p><p>da alimentação animal, mas</p><p>há um grande problema quan-</p><p>to ao uso dessas espécies,</p><p>pois elas necessitam de um</p><p>manejo diferenciado para se-</p><p>rem consumidas. Nesse caso,</p><p>o procedimento mais comum</p><p>é um pouco agressivo devido</p><p>à queima dos espinhos, o que</p><p>pode ser um problema para o</p><p>ambiente e para a própria</p><p>planta, que perde a chance de</p><p>rebrotar.</p><p>Essas espécies são nu-</p><p>tritivas e importantes para a</p><p>sobrevivência, tanto das pes-</p><p>soas quanto dos animais, mas</p><p>é necessário ampliar os estu-</p><p>dos sobre as formas de mane-</p><p>jo para garantir a ocorrência</p><p>desse rico alimento e melho-</p><p>rar a qualidade de vida da po-</p><p>pulação.</p><p>Quando falamos em</p><p>“manejo sustentável”, esta-</p><p>mos nos referindo à forma</p><p>mais fácil, prática e correta de</p><p>utilizar um recurso. Para que</p><p>isso ocorra, as pessoas preci-</p><p>sam conhecer os limites da</p><p>natureza, fazendo uso desta</p><p>de forma consciente, ou seja,</p><p>respeitando o que ela oferece.</p><p>Um manejo adequado, além</p><p>de manter o recurso, pode au-</p><p>mentar o número de plantas e,</p><p>assim, garantir a conservação</p><p>da natureza para gerações fu-</p><p>turas.</p><p>Com um manejo estra-</p><p>tégico das pastagens, é possí-</p><p>vel elevar consideravelmente</p><p>a sua produtividade e manter</p><p>a sustentabilidade do sistema</p><p>de produção. É importante</p><p>que as pessoas aprendam a li-</p><p>dar com a natureza de forma</p><p>não exploratória, ou seja, sem</p><p>querer tirar todo o lucro pos-</p><p>sível, apenas utilizando o ne-</p><p>cessário à sobrevivência. O</p><p>grande problema que aconte-</p><p>ce com a maioria das pessoas</p><p>é imaginar que a natureza</p><p>sempre se recupera sozinha.</p><p>Felizmente, a percepção das</p><p>pessoas está mudando, e mui-</p><p>tos já tem consciência de que</p><p>os recursos naturais não são</p><p>inesgotáveis.</p><p>83</p><p>6Plantas com Uso Madeireiro</p><p>Neste capítulo, você observará que as plantas da Caatinga pro-</p><p>dutoras de madeira, podem ser utilizadas de diferentes formas — em</p><p>construções, como combustíveis e para artesanato —, mas que, infe-</p><p>lizmente, a exploração inadequada dessas espécies tem levado ao es-</p><p>gotamento de algumas no ambiente. No entanto, este capítulo chama</p><p>a sua atenção para algumas medidas simples, mas que podem contri-</p><p>buir para reverter esse quadro, favorecendo o desenvolvimento sus-</p><p>tentável da Caatinga.</p><p>As pessoas fazem uso</p><p>dos recursos que a natureza</p><p>oferece para suprir as suas</p><p>necessidades diárias, tais</p><p>como alimentar-se, curar</p><p>doenças e construir abrigos.</p><p>Para este último propósito,</p><p>diversos materiais foram e</p><p>são usados; dentre os mais</p><p>importantes, podemos citar</p><p>as pedras e a madeira. Além</p><p>da construção de abrigo, o</p><p>ser humano usou sua criati-</p><p>vidade para trabalhar a ma-</p><p>deira e dela construir muitos</p><p>outros objetos e produtos</p><p>que facilitaram sua vida,</p><p>como, por exemplo: armas,</p><p>jangadas, barcos, utensílios</p><p>domésticos, armadilhas para</p><p>capturar animais e cercas</p><p>que ajudam a delimitar e</p><p>proteger as propriedades.</p><p>No Brasil, até o sécu-</p><p>lo XVI, a extração de madeira</p><p>das nossas imensas florestas</p><p>era realizada apenas pelos in-</p><p>dígenas, que, nessa época, fa-</p><p>ziam uso desses recursos. A</p><p>vegetação era derrubada ape-</p><p>nas para abrir espaço para</p><p>suas aldeias e lavouras, e a</p><p>madeira era utilizada na cons-</p><p>trução de casas e na produção</p><p>de tintas, armas para caça,</p><p>ferramentas de trabalho e ins-</p><p>trumentos musicais, entre ou-</p><p>tros fins. A exploração inten-</p><p>84</p><p>siva da madeira, com</p><p>finalidade comercial, teve iní-</p><p>cio, no nosso país, com a che-</p><p>gada dos colonizadores por-</p><p>tugueses, que viram em</p><p>nossas florestas, ricas em es-</p><p>pécies madeireiras de boa</p><p>qualidade, uma excelente</p><p>fonte de lucro.</p><p>A exploração madeireira</p><p>em nosso país foi tão intensa</p><p>que muitas espécies começa-</p><p>ram a se esgotar, como o pau-</p><p>brasil (Caesalpinia echinata</p><p>Lam.), e os portugueses tive-</p><p>ram que buscar outra forma</p><p>lucrativa de explorar as nos-</p><p>sas terras. Atualmente, parce-</p><p>las do que restou de nossas</p><p>florestas são protegidas por</p><p>leis que objetivam amenizar o</p><p>acelerado processo de degra-</p><p>dação das regiões naturais.</p><p>No entanto, ainda não conse-</p><p>guimos impedir a derrubada</p><p>clandestina de árvores e apa-</p><p>gar o efeito de séculos e sécu-</p><p>los de exploração.</p><p>Uso da madeira</p><p>para construção</p><p>Embora atualmente</p><p>sejam conhecidos muitos ma-</p><p>teriais para construção que</p><p>duram muito tempo (cimento,</p><p>concreto, ferragens, estacas,</p><p>vigas e postes metálicos),</p><p>muitas pessoas ainda preci-</p><p>sam recorrer aos materiais</p><p>vegetais. Essa situação é cla-</p><p>ramente observada, principal-</p><p>mente em países em desen-</p><p>volvimento, como é o caso do</p><p>Brasil. A lenha e o carvão ve-</p><p>getal, por exemplo, ainda es-</p><p>tão entre as fontes de energia</p><p>mais importantes para cozi-</p><p>nhar alimentos e aquecer as</p><p>casas.</p><p>Como você já deve ter</p><p>percebido em outros textos</p><p>deste livro, a Caatinga possui</p><p>uma grande variedade de</p><p>plantas, e estas podem ser</p><p>usadas para as mais diversas</p><p>finalidades, de acordo</p><p>com as</p><p>vontades, habilidades e ne-</p><p>cessidades das pessoas que</p><p>vivem na região. Por exem-</p><p>plo, você sabia que nem todas</p><p>as plantas da Caatinga servem</p><p>para certos tipos de constru-</p><p>ção?</p><p>Isso mesmo, pois gran-</p><p>de parte das espécies que for-</p><p>necem madeira para as pesso-</p><p>as não se apresenta com o</p><p>fuste (tronco) adequado para</p><p>a construção de casas, currais,</p><p>portas e outros utensílios do-</p><p>mésticos do meio rural. Isso</p><p>devido à característica falta</p><p>85</p><p>de água da região, que está re-</p><p>lacionada com a forma de cres-</p><p>cimento das plantas, deixando-</p><p>as ora com tamanhos reduzidos,</p><p>ora com formatos irregulares, o</p><p>que, muitas vezes, torna algu-</p><p>mas inadequadas para determi-</p><p>nados tipos de uso. Um exem-</p><p>plo disso é o cajueiro</p><p>(Anacardium occidentale L.),</p><p>que, na maioria dos casos, cres-</p><p>ce com troncos retorcidos,</p><p>além de ter uma madeira que</p><p>absorve muita umidade, o que</p><p>dificulta sua utilização em de-</p><p>terminadas construções, pois</p><p>rapidamente se deterioraria.</p><p>Se pensarmos que</p><p>muitas das plantas da Caatinga</p><p>têm esse tipo de crescimento</p><p>irregular, parece bem razoável</p><p>uma conclusão: a atenção das</p><p>pessoas está diretamente</p><p>voltada para um grupo</p><p>pequeno de espécies. Mas o</p><p>que isso pode ocasionar?,</p><p>Bem, se nós sabemos que</p><p>poucas plantas são realmente</p><p>boas para serem usadas nas</p><p>construções — porque são</p><p>mais resistentes, por exemplo</p><p>—, então, em pouco tempo,</p><p>os estoques naturais de</p><p>madeira na Caatinga podem</p><p>se esgotar. E parece que é isso</p><p>mesmo que está ocorrendo,</p><p>pois muitas espécies que</p><p>fornecem madeiras nobres</p><p>já não são encontradas com</p><p>tanta facilidade e até já correm</p><p>sérios riscos de extinção. Um</p><p>exemplo significativo disso</p><p>que acabamos de falar é a</p><p>aroeira (Myracrodruon</p><p>urundeuva Fr. All.), que, além</p><p>de servir como planta</p><p>medicinal, tem uma madeira</p><p>de ótima qualidade para ser</p><p>usada nas principais partes</p><p>dos telhados das casas.</p><p>Cercas vivas</p><p>Em algumas localida-</p><p>des da Caatinga, existe um</p><p>tipo de construção chamado</p><p>de cerca viva. Esse tipo de</p><p>cercado possui árvores e ar-</p><p>bustos no lugar de estacas e</p><p>mourões e é mais facilmente</p><p>encontrado em regiões de</p><p>Caatinga mais chuvosas, pois</p><p>a água da chuva favorece a</p><p>sobrevivência das plantas</p><p>colocadas na cerca. Se na sua</p><p>região não existem cercas vi-</p><p>vas, veja, nas imagens abai-</p><p>xo, algumas que encontra-</p><p>mos em cidades do Agreste</p><p>pernambucano.</p><p>86</p><p>Figura 27:</p><p>Cercas vivas</p><p>utilizadas em</p><p>propriedades</p><p>rurais do</p><p>Agreste</p><p>pernambucano</p><p>(Fotos: Viviany</p><p>T. Nascimento).</p><p>Pelas imagens, você</p><p>pode perceber que esse tipo</p><p>de cerca é muito utilizado</p><p>nas margens das estradas, o</p><p>que ajuda a proteger as pro-</p><p>priedades da entrada de pes-</p><p>soas estranhas e animais;</p><p>note também que as plantas</p><p>utilizadas são muito altas,</p><p>por esse motivo também são</p><p>usadas como barreiras para</p><p>conter a força dos ventos.</p><p>Outra função bem interes-</p><p>sante dessas cercas é que,</p><p>dependendo da planta que é</p><p>utilizada, esta pode fornecer</p><p>para as pessoas produtos</p><p>como frutos, remédios, le-</p><p>nha e estacas para novas</p><p>cercas.</p><p>Mas cuidado para não</p><p>pensar que qualquer planta</p><p>pode ser colocada em uma</p><p>cerca viva. Para que isso</p><p>seja possível, a planta tem</p><p>que ter uma característica</p><p>muito especial, que é a ca-</p><p>pacidade de rebrotar quando</p><p>é cortada em estacas. Co-</p><p>nheça, agora, algumas plan-</p><p>tas naturais da Caatinga que</p><p>são muito boas para cons-</p><p>truir cercas vivas:</p><p>• Imburana (Commiphora</p><p>leptophloeos (Mart.) J. B.</p><p>Gillett) – É uma árvore de</p><p>madeira fraca e quebradiça</p><p>87</p><p>cuja cor da casca varia do</p><p>verde, quando jovem, ao</p><p>laranja-avermelhado, quan-</p><p>do a planta é adulta. As es-</p><p>tacas feitas a partir dessa</p><p>planta enraízam facilmen-</p><p>te, tornando-se árvores em</p><p>pouco tempo, como se ti-</p><p>vessem nascido de uma se-</p><p>mente; por esse motivo,</p><p>elas são muito procuradas</p><p>para a construção de cercas</p><p>vivas. O único cuidado que</p><p>se deve ter é com seus es-</p><p>pinhos, que são uma carac-</p><p>terística positiva da planta</p><p>(pois ajudam a cercar me-</p><p>lhor o terreno), mas podem</p><p>machucar as pessoas e os</p><p>animais que passem próxi-</p><p>mo à cerca.</p><p>• Pinhão-bravo</p><p>(Jatropha mollissima (Pohl)</p><p>Baill.) – É uma das plantas</p><p>mais utilizadas atualmente</p><p>em cercas vivas. Seu caule é</p><p>bastante úmido, facilitando</p><p>seu enraizamento. Quando</p><p>já está firmada na cerca, ela</p><p>é excelente fornecedora de</p><p>novas estacas. Muitas</p><p>pessoas gostam de tê-la</p><p>próximo às residências, pois</p><p>o látex do seu caule é</p><p>utilizado na cicatrização de</p><p>ferimentos.</p><p>Uso da madeira</p><p>como combustível</p><p>Outro emprego comum</p><p>de plantas é como combustí-</p><p>vel. Na nossa região da Caa-</p><p>tinga, quase todas as árvores e</p><p>os arbustos podem ser usados</p><p>como lenha. Mas isso não sig-</p><p>nifica que eles sejam iguais.</p><p>As plantas não servem da mes-</p><p>ma maneira para uso como le-</p><p>nha e carvão. Existem aquelas</p><p>com características mais favo-</p><p>ráveis para uso como combus-</p><p>tível. Algumas dessas caracte-</p><p>rísticas vantajosas são:</p><p>madeira que “pegue fogo rápi-</p><p>do”, ou seja, com facilidade</p><p>para ignição; madeiras que</p><p>durem muito tempo até que</p><p>queimem totalmente; madei-</p><p>ras com alto poder calorífico,</p><p>que fazem com que a tempera-</p><p>tura do fogo seja maior; ma-</p><p>deiras com cheiro agradável e</p><p>que não produzam muita fu-</p><p>maça e cinzas. Estima-se que</p><p>de 0,5% a 1% de toda a vege-</p><p>tação da Caatinga seja perdida</p><p>por ano, apenas pelo corte para</p><p>uso como lenha e carvão em</p><p>padarias, em alguns setores in-</p><p>dustriais — como na fabrica-</p><p>ção de gesso — e na cozinha</p><p>de residências rurais.</p><p>88</p><p>Polo gesseiro trocará lenha por gás</p><p>Com a intensificação das ações do Governo Federal contra a</p><p>queima irregular de lenha em Pernambuco, as empresas do polo</p><p>gesseiro, no Sertão do Araripe, buscaram se legalizar. Elas agora</p><p>utilizam lenha de manejo legal. Mas nem todas usam apenas essa</p><p>matriz energética. A busca é por uma matéria-prima que, com um</p><p>preço mais baixo, viabilize uma maior eficiência dos fornos das em-</p><p>presas do Araripe. Agora, a Companhia Pernambucana de Gás (Co-</p><p>pergás) iniciou um estudo para verificar se é viável, do ponto de</p><p>vista financeiro, que transportadores levem em caminhões, para o</p><p>Sertão, gás natural na forma líquida. É o chamado gás natural com-</p><p>primido (GNC). Uma longa viagem, nos dois sentidos: pela distân-</p><p>cia entre Araripina e o Recife e pelo prazo do estudo, ainda não de-</p><p>finido.</p><p>No ano de 2008, o Estado já foi alvo de duas operações do</p><p>Ministério do Meio Ambiente. Na primeira, inclusive, o foco foi</p><p>exatamente o polo gesseiro. No Araripe, existem 152 calcinadoras,</p><p>143 fábricas de pré-moldados e 52 mineradoras.</p><p>Por meio do Programa Cooperar, a consultoria alemã BFZ</p><p>vem promovendo estudos a fim de aumentar a eficiência dos com-</p><p>bustíveis usados no polo.</p><p>Adaptado de Jornal do Commercio, Economia, 21.09.2008.</p><p>SAIBA MAIS...</p><p>Algumas das melhores</p><p>plantas da Caatinga para uso</p><p>combustível, conforme são</p><p>citadas pelas comunidades</p><p>rurais, são o marmeleiro</p><p>(Croton blanchetianus Baill.),</p><p>a catingueira (Caesalpinia</p><p>pyramidalis Tul.) e o angico</p><p>(Anadenanthera colubrina</p><p>(Vell.) Brenan var. cebil</p><p>(Griseb.) Reis).</p><p>89</p><p>Mais de 2 bilhões de pessoas</p><p>usam lenha e carvão vegetal como</p><p>principal combustível para cozinhar e</p><p>para outras atividades domésticas. O</p><p>Brasil é o terceiro maior consumidor</p><p>de lenha e carvão vegetal (cerca de 160</p><p>milhões de metros cúbicos em 1994),</p><p>perdendo apenas para a Índia (256,5 milhões</p><p>de metros cúbicos) e a China (204 milhões de metros cúbicos).</p><p>Adaptado de FAO – Consumo, Produção, Comércio e Preços de Produtos Florestais</p><p>Globais: Projeções para 2010 – 1999.</p><p>Outros usos da</p><p>madeira</p><p>Além de serem utilizadas</p><p>em construções e como</p><p>combustíveis, as madeiras da</p><p>Caatinga também são muito</p><p>usadas na confecção de</p><p>ferramentas de trabalho (como</p><p>cabos para enxadas, foices,</p><p>machados e martelos) e de</p><p>artesanato (como brinquedos,</p><p>esculturas, entre outros) (figura</p><p>A</p><p>B</p><p>Figura 28: Produtos feitos com madeira. A – Gamelas de mulungu, B – parte de uma cangalha,</p><p>C – Ferramentas com cabos de madeiras da caatinga e D – artesanato com base de angico</p><p>(Fotos: Patricia M. Medeiros; B C D</p><p>Nelson L. Alencar)</p><p>C</p><p>D</p><p>90</p><p>SAIBA MAIS...</p><p>Na região do Vale do São Francisco, é muito comum a confecção de</p><p>um tipo de escultura de madeira conhecido como carranca. São escultu-</p><p>ras de cabeças com expressões feias e sombrias, indicando mau humor.</p><p>Sua popularidade parte da crença popular de que existe um ser mitológico</p><p>habitando as águas do Rio São Francisco: o Nêgo-D’água, que costuma</p><p>virar as embarcações que passam pelo rio. As carrancas são postas nos</p><p>barcos e servem como amuleto, porque, também segundo a crença popu-</p><p>lar, elas soltam três gemidos, avisando ao barqueiro quando o barco está</p><p>em perigo de naufrágio e dando a ele uma chance de salvamento.</p><p>Essas carrancas tornaram-se símbolo da região do Vale do São Fran-</p><p>cisco e hoje são comercializadas, nos mais</p><p>diversos tamanhos, como lembranças para tu-</p><p>ristas que passam pelo local. Também por</p><p>isso, plantas como o mulungu sofrem bastan-</p><p>te, pois a retirada da madeira para fazer car-</p><p>rancas tem sido bastante frequente e tem afe-</p><p>tado essa e outras espécies da região.</p><p>Tomando o mulungu ainda como exem-</p><p>plo, devido à qualidade de ser uma madeira</p><p>leve e fácil de trabalhar, é utilizada para fabri-</p><p>cação de utensílios domésticos e bonecos. A</p><p>madeira dessa planta também serve para a</p><p>construção de cangalhas, tábuas, cochos, ga-</p><p>melas e principalmente carrancas, o que está</p><p>28). As plantas mais conhecidas</p><p>para fazer cabo de ferramentas</p><p>são o pereiro (Aspidosperma</p><p>pyrifolium Mart.) e a quixabeira</p><p>(Sideroxylon obtusifolium</p><p>(Roem. et. Sch.) Penn.), que</p><p>têm madeira com a grossura</p><p>adequada ao tamanho das</p><p>ferramentas. Já para a confecção</p><p>artesanal de brinquedos e</p><p>esculturas, são usadas madeiras</p><p>mais macias, para facilitar os</p><p>cortes e o manuseio do material.</p><p>Algumas dessas plantas com</p><p>madeira macia são o mulungu</p><p>(Erythrina velutina Willd.) e a</p><p>imburana (Commiphora</p><p>leptophloeos).</p><p>91</p><p>contribuindo para a diminuição da planta na vegetação da Caatinga.</p><p>Fonte: Adaptado de MACHADO, Regina Coeli Vieira. Carrancas do São Francisco. Pesquisa</p><p>Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: .</p><p>Problemas no uso</p><p>da madeira</p><p>A utilização de madeira</p><p>em construções apresenta</p><p>alguns problemas: um deles é</p><p>a degeneração da madeira</p><p>provocada pelas adversidades</p><p>climáticas, tais como a</p><p>frequente exposição ao sol e à</p><p>umidade do ar e da chuva.</p><p>Um exemplo de construção</p><p>que sofre bastante com esse</p><p>tipo de exposição são as</p><p>cercas feitas com estacas</p><p>mortas, comumente utilizadas</p><p>na região da Caatinga para</p><p>delimitar currais, áreas de</p><p>pasto e propriedades. De</p><p>forma geral, esses materiais</p><p>têm uma vida útil</p><p>relativamente curta, tendo</p><p>que ser repostos em intervalos</p><p>de dois a dez anos, dependendo</p><p>da planta que foi utilizada.</p><p>Assim, algumas plantas cuja</p><p>madeira é mais resistente</p><p>tornam-se mais cobiçadas do</p><p>que outras para a construção</p><p>de cercas. É o que acontece</p><p>com o sabiá (Mimosa</p><p>caesalpiniifolia Benth) e o</p><p>angico (Anadenanthera</p><p>colubrina (Benth.) Brenam).</p><p>Além da degradação</p><p>pelo tempo e clima, outro</p><p>problema que pode incomo-</p><p>dar os usuários de madeira</p><p>em suas construções é a pre-</p><p>sença de cupins, insetos que,</p><p>muitas vezes, são transporta-</p><p>dos juntamente com ela quan-</p><p>do é retirada da floresta. Os</p><p>cupins cavam túneis dentro</p><p>da madeira em busca de água</p><p>e celulose para se alimentar;</p><p>assim, lentamente eles vão</p><p>destruindo portas, telhados,</p><p>janelas, móveis e todo tipo de</p><p>material feito com madeira.</p><p>Outro problema que</p><p>atualmente atinge os usuários</p><p>de madeira nas construções é</p><p>a dificuldade para encontrar</p><p>plantas de boa qualidade, ou</p><p>seja, que apresentem tamanho</p><p>e formato adequados para a</p><p>extração. Na Caatinga, por</p><p>exemplo, esse problema tem</p><p>sido cada vez mais comum</p><p>devido ao desmatamento, que</p><p>92</p><p>avança diariamente, derru-</p><p>bando a vegetação nativa e</p><p>dando lugar a áreas de pastos,</p><p>plantações, casas, estradas,</p><p>etc. Assim, para suprir as ne-</p><p>cessidades madeireiras, as</p><p>pessoas têm que adquirir es-</p><p>tacas ou toras de outras regi-</p><p>ões em armazéns ou serrarias.</p><p>Para os que não têm condi-</p><p>ções, o que resta é uma busca</p><p>ainda mais desgastante e du-</p><p>radoura para encontrar, den-</p><p>tro da vegetação remanes-</p><p>cente da Caatinga, plantas</p><p>que se prestem às suas neces-</p><p>sidades.</p><p>No caso dos combustí-</p><p>veis de origem vegetal, o uso</p><p>inadequado de lenha e carvão</p><p>pode trazer alguns problemas</p><p>à saúde das pessoas. O uso de</p><p>madeira em fogões que estão</p><p>dentro das casas pode trazer</p><p>complicações respiratórias</p><p>por causa do acúmulo de fu-</p><p>maça em locais fechados.</p><p>Além disso, a fumaça da le-</p><p>nha e do carvão pode afetar a</p><p>visão das pessoas. Por isso,</p><p>recomendamos que os fogões</p><p>de lenha e carvão sejam feitos</p><p>em um ambiente externo à</p><p>casa, como uma cozinha ex-</p><p>terna. Se isso não for possí-</p><p>vel, a solução é usar canos</p><p>para expulsar a fumaça para</p><p>fora da casa, como pode ser</p><p>visto na figura 30.</p><p>Figura 30: Casa que apresenta saída de</p><p>fumaça para fogões de lenha e carvão</p><p>(Foto: Alyson L. S. de Almeida)</p><p>Para diminuir a fre-</p><p>quente retirada de madeira</p><p>para combustível, uma solu-</p><p>ção é o uso de fogões eficien-</p><p>tes, ou seja, fogões que apro-</p><p>veitam, ao máximo, a queima</p><p>da madeira, chegando a altas</p><p>temperaturas e evitando o</p><p>desperdício. Dessa forma, se-</p><p>ria necessária uma menor</p><p>quantidade de madeira para</p><p>realizar as mesmas atividades</p><p>que antes eram feitas com fo-</p><p>gões convencionais. O grande</p><p>problema é que muitas pesso-</p><p>as não teriam condições de</p><p>ter esse tipo de fogão eficien-</p><p>te, pelas dificuldades econô-</p><p>micas que existem na nossa</p><p>região.</p><p>Vimos que a madeira</p><p>é muito importante, na Caa-</p><p>93</p><p>tinga, para os mais diversos</p><p>usos. Por isso, é preciso ga-</p><p>rantir que sempre haja madei-</p><p>ra disponível para atender às</p><p>necessidades da população.</p><p>Assim sendo, o uso responsá-</p><p>vel desse produto é importan-</p><p>te para assegurar a sua dispo-</p><p>nibilidade. E como, então, a</p><p>madeira pode ser usada de</p><p>forma responsável? Essa res-</p><p>posta não é tão simples, mas</p><p>os primeiros passos são:</p><p>• Quando possível, usar</p><p>madeira seca em vez de</p><p>madeira viva e galhos em</p><p>vez de troncos, principal-</p><p>mente no caso do uso de</p><p>lenha.</p><p>• Optar por usar cercas vi-</p><p>vas em vez de cortar ma-</p><p>deira para fazer cercas</p><p>mortas.</p><p>• Ao invés de usar sempre</p><p>uma mesma planta, utili-</p><p>ze plantas diferentes, evi-</p><p>tando, dessa forma, a ex-</p><p>tinção local de uma</p><p>espécie.</p><p>• Sempre que possível,</p><p>praticar o plantio (reflo-</p><p>restamento) das princi-</p><p>pais plantas de uso ma-</p><p>deireiro.</p><p>94</p><p>O Futuro da Caatinga</p><p>Ao longo deste livro, você teve a oportunidade de conhecer um</p><p>pouco sobre a importância da Caatinga para a conservação da biodi-</p><p>versidade brasileira. Ao mesmo tempo, você deve ter percebido a im-</p><p>portância desse ambiente, por abrigar uma grande variedade de plan-</p><p>tas com potencial para serem usadas em tantas coisas, não é mesmo?</p><p>Neste último capítulo, discutiremos sobre o papel que cada um de nós</p><p>temos para garantir que a Caatinga continue a existir pelas próximas</p><p>gerações.</p><p>Ultimamente, temos</p><p>escutado que o nosso pla-</p><p>neta já não anda muito</p><p>bem. São tantos os proble-</p><p>mas ambientais que, se</p><p>você parasse agora para</p><p>enumerá-los, com certeza</p><p>teria uma lista bastante rica</p><p>e diversa. Todos nós sabe-</p><p>mos disso, todos nós fala-</p><p>mos sobre o assunto, mas o</p><p>que estamos fazendo para</p><p>mudar essa situação? Você</p><p>concorda, prezado leitor,</p><p>que é necessário começar-</p><p>mos a agir de alguma for-</p><p>ma?</p><p>O passo inicial é mu-</p><p>dar a nossa forma de pen-</p><p>sar. É preciso acreditar que</p><p>a responsabilidade pela</p><p>conservação não é apenas</p><p>do governo, dos cientistas,</p><p>das grandes indústrias po-</p><p>luidoras ou mesmo de seu</p><p>vizinho. A responsabilida-</p><p>de é sua, é de cada um de</p><p>nós que vive e se beneficia</p><p>dos valores diretos e dos</p><p>valores indiretos gerados</p><p>pela biodiversidade. Jun-</p><p>tos, podemos mudar a nos-</p><p>sa rua, a nossa escola, a</p><p>nossa cidade. Podemos fa-</p><p>zer uma grande transfor-</p><p>mação no mundo!</p><p>7</p><p>95</p><p>Em 2000, a Organização das</p><p>Nações Unidas (ONU) analisou os</p><p>maiores problemas mundiais e esta-</p><p>beleceu oito objetivos do</p><p>milênio,</p><p>que são conhecidos como 8 Jeitos de</p><p>Mudar o Mundo. Esses objetivos fo-</p><p>ram criados com a finalidade de melho-</p><p>rar a qualidade de vida de todas as pesso-</p><p>as. Vamos conhecê-los?</p><p>1. Acabar com a fome e a miséria.</p><p>2. Oferecer educação básica de qualidade para todos.</p><p>3. Promover a igualdade entre os sexos e a valorização da</p><p>mulher.</p><p>4. Reduzir a mortalidade infantil.</p><p>5. Melhorar a saúde das gestantes.</p><p>6. Combater a Aids, a malária e outras doenças.</p><p>7. Garantir a qualidade de vida e o respeito ao ambiente.</p><p>8. Todo mundo trabalhando pelo desenvolvimento.</p><p>Que tal contribuir para o sucesso dessa campanha? Lem-</p><p>bre-se de que a soma de pequenas ações pode fazer uma grande</p><p>diferença e mudar o mundo.</p><p>Mas esteja ciente de</p><p>que, antes de querermos solu-</p><p>cionar os problemas ambien-</p><p>tais das nossas florestas, ga-</p><p>rantindo o direito de</p><p>sobrevivência para os seres</p><p>vivos que vivem nelas, preci-</p><p>samos buscar soluções no</p><p>ambiente em que vivemos. É</p><p>isso mesmo, caro leitor.</p><p>Quando falamos em meio</p><p>ambiente, também estamos</p><p>falando do lugar onde vive-</p><p>mos, da nossa própria casa,</p><p>seja ela numa área urbana ou</p><p>mesmo em um sítio na zona</p><p>rural. Não faz sentido querer</p><p>discutir sobre a conservação</p><p>da Caatinga se nem consegui-</p><p>mos resolver os problemas de</p><p>Adaptado de BRAGA, L. J. et al. 8 Jeitos de Mudar o Mundo, Editora Educar.</p><p>Disponível no site</p><p>96</p><p>nossa própria casa. Parece es-</p><p>tranho, mas, por incrível que</p><p>pareça, muitas vezes ela está</p><p>precisando de mais cuidados</p><p>do que muitas das florestas</p><p>naturais. E, muitas vezes, re-</p><p>solvendo os problemas em</p><p>casa, estaremos contribuindo</p><p>para ajudar a resolver os pro-</p><p>blemas do planeta!</p><p>Então, o que</p><p>podemos fazer</p><p>para conservar a</p><p>Caatinga?</p><p>Não temos dúvida de</p><p>que a Caatinga possui um</p><p>grande potencial, fornecendo</p><p>plantas de grande valor medi-</p><p>cinal, forrageiro, madeireiro</p><p>e alimentício. Por isso, acre-</p><p>ditamos que não seria justo</p><p>recomendar, como estratégia</p><p>de conservação, tornar esse</p><p>ambiente intocável, proibin-</p><p>do as pessoas de usarem os</p><p>recursos, você concorda co-</p><p>nosco? O que precisamos fa-</p><p>zer é utilizar esses recursos</p><p>de forma racional e sustentá-</p><p>vel, evitando o desperdício e</p><p>a coleta desordenada, que po-</p><p>dem comprometer a sobrevi-</p><p>vência dos seres vivos.</p><p>Ao longo deste livro,</p><p>foram feitas várias propostas</p><p>de uso sustentável das plantas</p><p>da Caatinga, você está lembra-</p><p>do? Abaixo, trataremos um</p><p>pouco mais dessas questões,</p><p>para relembrar que essas ações</p><p>só terão efeito se você praticá-</p><p>las e também ensiná-las para</p><p>aqueles que ainda não tiveram</p><p>a oportunidade de conhecer</p><p>esse assunto. Que tal começar</p><p>repassando esses conhecimen-</p><p>tos para seus pais, irmãos,</p><p>avós ou vizinhos?</p><p>É muito comum, por</p><p>exemplo, utilizarmos cascas</p><p>de árvores para fazer alguns</p><p>remédios — já comentamos</p><p>sobre isso anteriormente. Para</p><p>esse tipo de extração, não po-</p><p>demos fazer o anelamento do</p><p>tronco da árvore, porque isso</p><p>fatalmente causará a morte da</p><p>planta. Já os usos que preci-</p><p>sam da extração de folhas,</p><p>flores e frutos podem ser me-</p><p>nos danosos para a árvore,</p><p>mas é preciso que a coleta</p><p>seja realizada em quantidades</p><p>que não prejudiquem as fun-</p><p>ções que cada um desses ór-</p><p>gãos possui na planta. Lem-</p><p>bre-se de que as folhas</p><p>representam um órgão de ex-</p><p>trema importância para reali-</p><p>zar a fotossíntese e as trocas</p><p>97</p><p>VOCÊ SABIA?</p><p>gasosas com o ambiente ex-</p><p>terno. As flores, por sua vez,</p><p>são os órgãos reprodutores,</p><p>que, após sofrerem poliniza-</p><p>ção, irão formar os frutos; es-</p><p>tes vão guardar, em seu inte-</p><p>rior, as sementes com um</p><p>embrião (planta em miniatu-</p><p>ra), que vai germinar para</p><p>produzir uma nova planta.</p><p>A coleta de raízes e ma-</p><p>deira das plantas é que preci-</p><p>sa de maior atenção, pois a</p><p>extração dessas partes é res-</p><p>ponsável pelos principais da-</p><p>nos causados às plantas. Por</p><p>isso, quando for necessário</p><p>fazer uso dessas partes, a</p><p>principal recomendação é co-</p><p>letar quantidades que satisfa-</p><p>çam as nossas necessidades</p><p>sem comprometer a vida do</p><p>vegetal. É preciso coletar o</p><p>mínimo possível e evitar ex-</p><p>trair sempre de uma mesma</p><p>espécie. Prefira a extração de</p><p>recursos naquelas plantas que</p><p>existem em maior quantidade</p><p>na região onde você mora, ao</p><p>invés de coletar em plantas</p><p>raras. Lembre-se de que qual-</p><p>quer forma de coleta apresen-</p><p>ta o potencial de gerar algum</p><p>impacto ambiental, seja com-</p><p>prometendo a sobrevivência</p><p>do vegetal ou a de outros se-</p><p>res vivos que vivem associa-</p><p>dos a ele. Por isso, reforça-</p><p>mos mais uma vez: evite o</p><p>desperdício!</p><p>Qualquer forma exa-</p><p>gerada de extrair recursos</p><p>pode gerar impactos am-</p><p>bientais. Por exemplo, usar</p><p>madeira morta, caída no</p><p>solo da floresta, para lenha</p><p>é uma estratégia recomen-</p><p>dada, pois evita a coleta de</p><p>material vivo na planta. Po-</p><p>rém, se isso for feito de for-</p><p>ma excessiva, pode dimi-</p><p>nuir o fornecimento de</p><p>nutrientes ao solo, pois não</p><p>vai existir madeira para entrar</p><p>em decomposição no local.</p><p>Ou, então, pode alterar a di-</p><p>versidade de organismos que</p><p>se desenvolvem sobre a ma-</p><p>deira em estado de decompo-</p><p>sição. Assim, colete sempre</p><p>apenas o necessário e utilize</p><p>o recurso da forma mais efi-</p><p>ciente, aproveitando todo o</p><p>seu potencial.</p><p>98</p><p>Outra atitude importan-</p><p>te que pode ajudar a conser-</p><p>vação da Caatinga é promo-</p><p>ver o plantio de árvores. Você</p><p>já fez isso? Se você mora em</p><p>um sítio, por exemplo, pode</p><p>aproveitar o espaço de seu</p><p>quintal para promover o plan-</p><p>tio de espécies nativas. Aqui</p><p>vão algumas dicas: 1) escolha</p><p>uma espécie que seja natural</p><p>de sua região; 2) selecione</p><p>uma planta que forneça im-</p><p>portantes usos para você e sua</p><p>família, pois assim evita a ne-</p><p>cessidade de ter que recorrer</p><p>aos recursos da floresta; 3)</p><p>faça o plantio em um lugar</p><p>adequado e com espaço sufi-</p><p>ciente para a árvore crescer.</p><p>Mas, se você mora em uma</p><p>zona urbana e também quer</p><p>colaborar para a arborização</p><p>de seu município, é necessá-</p><p>rio que você entre em contato</p><p>com a prefeitura da sua cida-</p><p>de para se informar sobre as</p><p>regras de plantio de árvores</p><p>em calçadas, praças e parques</p><p>públicos.</p><p>Estamos falando bas-</p><p>tante da conservação das</p><p>plantas, mas não podemos</p><p>deixar de mencionar a impor-</p><p>tância de proteger os animais</p><p>que vivem na Caatinga e que</p><p>precisam ter sua sobrevivên-</p><p>cia garantida. A caça de ani-</p><p>mais silvestres é uma tradição</p><p>antiga no Nordeste brasileiro,</p><p>mas é proibida por lei — in-</p><p>clusive, já falamos um pouco</p><p>desse assunto para você no</p><p>início deste livro. Não quere-</p><p>mos negar o direito à continu-</p><p>ação dessa tradição, pois sa-</p><p>bemos que existem muitas</p><p>famílias que caçam por ne-</p><p>cessidade. Mas o grande pro-</p><p>blema é que muitas pessoas</p><p>ainda caçam por divertimen-</p><p>to, ou seja, como uma ativi-</p><p>dade esportiva. Caçar por es-</p><p>porte é errado, e não podemos</p><p>concordar com esse tipo de</p><p>atividade, não é mesmo? É</p><p>necessário que cada um de</p><p>nós conscientize as pessoas</p><p>que têm essa prática, pois,</p><p>muitas vezes, elas não sabem</p><p>que estão provocando um</p><p>problema ambiental.</p><p>99</p><p>Caçadores humanos estão fa-</p><p>zendo com que suas presas sofram</p><p>alterações em suas populações de</p><p>forma mais rápida do que o natural.</p><p>As atividades de caça estão resultan-</p><p>do em indivíduos (presas) menores e</p><p>mais jovens com o passar do tempo.</p><p>Isso é a consequência da preferência</p><p>dos caçadores por animais maiores,</p><p>o que acaba aumentando o número</p><p>de animais menores para reprodu-</p><p>ção.</p><p>O biólogo Chris Darimont,</p><p>da Universidade da Califórnia, re-</p><p>lata que a tendência a se ter ani-</p><p>mais menores e de idade reprodu-</p><p>tiva precoce também ocorre 50%</p><p>mais rápido como resultado da</p><p>caça do que de outros impactos</p><p>humanos, como poluição e perda</p><p>de hábitat.</p><p>Exemplos podem ser obser-</p><p>vados no tamanho do corpo e dos</p><p>chifres do carneiro selvagem, por</p><p>exemplo, que diminuíram cerca de</p><p>Caçadores promovem</p><p>alterações no ciclo de vida</p><p>das espécies</p><p>20% nas</p><p>últimas três</p><p>décadas devido à caça humana.</p><p>Em geral, os humanos ca-</p><p>çam em um ritmo mais elevado</p><p>do que os predadores naturais. A</p><p>preocupação é que o funciona-</p><p>mento</p><p>do ecossistema possa mu-</p><p>dar se uma espécie diminuir tão</p><p>rapidamente.</p><p>Uma estratégia sustentável</p><p>exige que as pessoas deixem de</p><p>preferir caçar os animais maiores</p><p>e mais férteis das populações,</p><p>focando-se mais em uma alterna-</p><p>tiva que preserve a estrutura do</p><p>tamanho normal das espécies. A</p><p>melhor maneira de manter tama-</p><p>nhos saudáveis de animais alvos</p><p>de caça é “imitar os predadores</p><p>naturais”. “Isso significa reduzir</p><p>amplamente nossas caças e abrir</p><p>mão dos animais maiores”, afir-</p><p>ma o biólogo.</p><p>Texto extraído e adaptado de uma matéria publicada na revista National Geographic/Terra</p><p>(fevereiro de 2009). Disponível também no site</p><p>100</p><p>Proteger a Caatinga</p><p>é garantir uma</p><p>melhor qualidade</p><p>de vida</p><p>Você pode estar se per-</p><p>guntando por que falamos tan-</p><p>to em conservar a Caatinga.</p><p>Nós acreditamos e insistimos</p><p>nessa ideia porque sabemos</p><p>que esse ambiente pode ofere-</p><p>cer, a todas as pessoas que vi-</p><p>vem nele, uma qualidade de</p><p>vida melhor. Viver com quali-</p><p>dade não quer dizer que sua</p><p>família precise ter uma renda</p><p>mensal muito alta nem está re-</p><p>lacionado com o número de</p><p>bens que sua família possui.</p><p>Ter qualidade de vida é saber</p><p>desfrutar dos benefícios que a</p><p>natureza nos fornece, como</p><p>uma sombra agradável ofere-</p><p>cida por uma árvore, a beleza</p><p>natural de um local. É poder</p><p>usar um remédio que produza</p><p>pouco ou nenhum efeito cola-</p><p>teral e também se alimentar de</p><p>forma saudável com os recur-</p><p>sos provenientes da natureza.</p><p>Em sua casa, você usa</p><p>lenha ou conhece algum vizi-</p><p>nho que utilize? Já observou o</p><p>trabalho que dá ter que coletar</p><p>esse recurso? Saiba que exis-</p><p>tem famílias vivendo em</p><p>regiões de Caatinga que pre-</p><p>cisam andar mais de quatro qui-</p><p>lômetros por dia para poder ob-</p><p>ter o mínimo de madeira</p><p>necessário para cozinhar suas</p><p>refeições. Se essas árvores esti-</p><p>vessem mais próximas das resi-</p><p>dências, ou seja, se as florestas</p><p>não tivessem sido tão desmata-</p><p>das, com certeza as pessoas so-</p><p>freriam menos para conseguir os</p><p>recursos de que precisam.</p><p>Outra satisfação promo-</p><p>vida por um ambiente bem</p><p>conservado é a possibilidade</p><p>de contemplar a sua beleza.</p><p>Caso você ainda não conheça</p><p>a Caatinga, pode ter a imagem</p><p>desse ambiente como um local</p><p>desolado, entristecido e pobre.</p><p>Às vezes, ficamos com essas</p><p>ideias na cabeça porque asso-</p><p>ciamos a Caatinga com um</p><p>ambiente seco e sem cores.</p><p>Mas convidamos você a uma</p><p>bela experiência, a de contem-</p><p>plar esse ambiente após a chu-</p><p>va, quando as cores surgem,</p><p>trazendo alegria, renovação e</p><p>mais vida (figura 31). Temos</p><p>certeza de que, nessa oportu-</p><p>nidade, sua mente irá silenciar</p><p>e se afastar dos pensamentos e</p><p>das preocupações do dia a dia.</p><p>Você será tomado por um esta-</p><p>do de alegria e conforto. Viva</p><p>essa experiência!</p><p>101</p><p>Figura 31:</p><p>Diversidade</p><p>de plantas</p><p>da Caatinga</p><p>(Fotos:</p><p>Autores).</p><p>102</p><p>Diante de tantos benefícios</p><p>gerados por esse rico ambien-</p><p>te natural, todos nós devemos</p><p>assumir a responsabilidade de</p><p>manter um padrão de consu-</p><p>mo que facilite a sua conser-</p><p>vação. Vamos ter e também</p><p>incentivar atitudes ecologica-</p><p>mente corretas. Vamos garan-</p><p>tir que o direito de desfrutar</p><p>os recursos oferecidos pela</p><p>Caatinga possa ser de toda a</p><p>sociedade, independentemen-</p><p>te da classe social. Especial-</p><p>mente, não vamos ser egoís-</p><p>tas: devemos garantir que as</p><p>próximas gerações (seus fi-</p><p>lhos e netos, por exemplo) te-</p><p>nham o direito de se beneficiar</p><p>e conhecer esse ambiente.</p><p>103</p><p>Acúleos – Projeções na superfície da planta, sobretudo no cau-</p><p>le, semelhantes a espinhos.</p><p>Adversidades climáticas – Alterações no clima de uma região</p><p>que podem provocar situações desfavoráveis.</p><p>Afecções – Conjunto de sintomas provenientes de uma</p><p>doença.</p><p>Afilas – Plantas sem folhas.</p><p>Alimentos emergenciais – Alimentos utilizados em períodos</p><p>de escassez alimentar, ou seja, quando pouco ou nenhum outro</p><p>alimento está disponível.</p><p>Ameaçada de extinção – Espécie de planta ou animal cuja</p><p>população está diminuindo ao ponto de colocá-la em risco de</p><p>não existir mais.</p><p>Anelando – Em formato de anel. Diz respeito ao corte na cas-</p><p>ca da planta de forma que a casca é retirada formando um cír-</p><p>culo, ou anel, ao redor do tronco.</p><p>Anfisbenídeos – Répteis raros e parentes próximos das cobras</p><p>e dos lagartos. Eles são diferentes destes; não possuem patas;</p><p>os crânios são grossos; as caudas, curtas; e o pulmão direito,</p><p>menor do que o esquerdo.</p><p>Angiospermas – Plantas que apresentam frutos envolvendo as</p><p>sementes.</p><p>Arbórea – Termo relativo à árvore.</p><p>Arbustiva – Termo relativo a arbusto.</p><p>Biocentrismo – Corrente de pensamento que defende que to-</p><p>dos os seres vivos são igualmente importantes e devem receber</p><p>igual atenção, proteção e direitos.</p><p>Biodiversidade – Riqueza de seres vivos de um local qualquer</p><p>ou de todo o planeta, ou seja, a totalidade dos animais, das</p><p>plantas e dos micro-organismos de um lugar.</p><p>Glossário</p><p>104</p><p>Biologia da Conservação – Ciência que estuda os efeitos das</p><p>atividades humanas no meio ambiente para desenvolver formas</p><p>de prevenir a extinção de espécies e proteger os ecossistemas.</p><p>Bovinos – Grupo composto de bois e vacas, animais ruminantes</p><p>e mamíferos domesticados pelo homem e muito importantes para</p><p>a economia, principalmente para a produção de carne e leite.</p><p>Broncodilatador – Substância que promove a dilatação dos</p><p>brônquios, usada na crise de asma, por exemplo. Ela auxilia os</p><p>brônquios por permitir uma maior entrada e saída de ar e, as-</p><p>sim, uma melhor respiração.</p><p>Caducifolia – Fenômeno em que as plantas perdem completa-</p><p>mente as folhas em uma determinada época do ano.</p><p>Calcinadoras – Fábricas que produzem gesso usando, como</p><p>fonte de energia, o calor vindo de combustíveis como a lenha</p><p>e o carvão.</p><p>Cangalha – Armação que se coloca no pescoço de alguns ani-</p><p>mais, como cavalos e bois, para sustentar uma carga.</p><p>Caprinos – Grupo composto de bodes domésticos e cabras.</p><p>São animais capazes de sobreviver em condições de alimenta-</p><p>ção escassa e de baixa qualidade; no entanto, nessas condições,</p><p>seu desenvolvimento é pouco satisfatório.</p><p>Características fisiológicas – Características internas, relati-</p><p>vas ao funcionamento do organismo.</p><p>Características morfológicas – Características externas, rela-</p><p>tivas à forma.</p><p>Celulose – Molécula que faz parte da estrutura das células ve-</p><p>getais.</p><p>Cladódios – Ramos ou galhos de caules das cactáceas, como</p><p>o mandacaru, o facheiro e a palma.</p><p>Colesterol – Um tipo de gordura encontrada em nossas células</p><p>e transportada no sangue.</p><p>Combustível – Qualquer produto que libera energia na forma</p><p>de calor, chamas e gases, como é o caso da lenha, do gás de</p><p>cozinha e do carvão vegetal e mineral.</p><p>105</p><p>Conhecimento tradicional – Saber que caracteriza um deter-</p><p>minado grupo social.</p><p>Conservação – O mesmo que conservar. Qualquer atividade</p><p>ou quaisquer ideias que ajudem a manter as espécies de um</p><p>lugar determinado ou de toda a Terra. Reflorestamento, coleta</p><p>seletiva, uso de materiais reciclados são exemplos de ativida-</p><p>des que ajudam na conservação da biodiversidade.</p><p>Crocodylia – Uma ordem de répteis que inclui os jacarés.</p><p>Cultura – Conjunto de conhecimentos, costumes e valores de</p><p>uma determinada sociedade.</p><p>Curtimento artesanal – Processo de beneficiamento do couro</p><p>cru com a finalidade de deixá-lo utilizável para a indústria e o</p><p>atacado. Diz-se artesanal pelo fato de ser um trabalho manual,</p><p>produzido por um artesão.</p><p>Curtume – Atividade econômica que transforma a pele de ani-</p><p>mais, como de cabra e de boi, em couro para produção de cha-</p><p>péus, bainhas de facas e facões, etc.</p><p>Decompositores – Seres vivos, como bactérias e fungos, que</p><p>degradam matéria orgânica, como, por exemplo, folhas, trans-</p><p>formando-a em sais minerais, gás carbônico e água para serem</p><p>utilizados pelas plantas.</p><p>Desenvolvimento sustentável – Desenvolvimento que procu-</p><p>ra satisfazer as necessidades dos seres humanos sem degradar</p><p>o meio ambiente e a biodiversidade, conservando os recursos</p><p>naturais e toda a riqueza do planeta para as gerações futuras.</p><p>Desflorestamento – Derrubada das florestas de uma</p><p>região.</p><p>Deteriorado/degenerado – Estado em que um material se</p><p>estraga ou se danifica.</p><p>Digestório – Relativo ao sistema digestivo.</p><p>Dimorfismo – Diferenças entre machos e fêmeas da mesma</p><p>espécie, podendo estas serem no tamanho (normalmente a fê-</p><p>mea é maior) ou na coloração (frequentemente, o macho é</p><p>mais colorido, o que ajuda na hora de atrair as fêmeas).</p><p>Diversidade – O mesmo que conjunto de coisas diferentes em</p><p>uma ou várias características.</p><p>106</p><p>Doença de Alzheimer – Doença progressiva que compromete</p><p>o cérebro das pessoas, causando diminuição da memória, difi-</p><p>culdade no raciocínio e alterações comportamentais.</p><p>Domesticação – Prática exercida pela Humanidade sobre</p><p>plantas e animais, visando suprir as necessidades. Na verdade</p><p>este é um conceito muito complexo, pois envolve alterações</p><p>genéticas nesses organismos, por exemplo, o milho que come-</p><p>mos hoje é fruto de um processo que levou anos de manipula-</p><p>ção. Quando as pessoas começaram a prestar a atenção no mi-</p><p>lho, essa planta era muito diferente do que é hoje.</p><p>Ecossistemas – Conjunto formado pelos seres vivos e pelo</p><p>meio ambiente.</p><p>Efeito estufa – Processo natural que permite a vida na Terra,</p><p>pois aquece o planeta até uma temperatura ideal para todos os</p><p>seres vivos. O problema atual é que os gases e poluentes libe-</p><p>rados pelas indústrias e automóveis estão aumentando esse</p><p>efeito, levando a uma elevação da temperatura fora do ideal.</p><p>Com isso, pode haver um grande aquecimento em nosso pla-</p><p>neta, provocando graves problemas.</p><p>Endêmica – Planta ou animal que é exclusivo de determinada</p><p>região, como é o caso do umbu.</p><p>Erva – Planta efêmera, ou seja, que não está presente durante</p><p>todo o ano e não cresce muito como as árvores e os arbustos.</p><p>Exemplo de ervas são os capins.</p><p>Estames – Órgãos sexuais masculinos das plantas, de forma</p><p>alongada e fina, presentes no interior das flores, onde se encon-</p><p>tra o pólen.</p><p>Expectorante – Que provoca ou facilita o escarro; que promo-</p><p>ve a expulsão do catarro.</p><p>Extinção – Desaparecimento total de alguma espécie da natu-</p><p>reza.</p><p>Farmacológica – Relativo à farmacologia, parte da medicina</p><p>que estuda as drogas e os seus efeitos no organismo.</p><p>Fauna – Conjunto de espécies de animais de uma região.</p><p>107</p><p>Fitoquímicos – Relativos à fitoquímica, ciência destinada ao</p><p>estudo dos componentes químicos das plantas.</p><p>Floema – Tecidos da planta que funcionam transportando ali-</p><p>mentos no seu interior. O conjunto desses alimentos é chama-</p><p>do de seiva elaborada.</p><p>Flora – Conjunto de espécies de plantas de uma região.</p><p>Florescer – Ato de a planta produzir suas flores durante sua</p><p>reprodução.</p><p>Formação vegetacional – Conjunto de plantas de uma região</p><p>que apresenta características muito específicas.</p><p>Fuste – Parte correspondente ao tronco da árvore, sem consi-</p><p>derar os ramos.</p><p>Gamela – Vasilha com forma de tigela ou bacia geralmente</p><p>feita com madeira. Serve para armazenar água e alimentos,</p><p>para dar de comer a animais, etc.</p><p>Gastrite – Inflamação na parede do estômago.</p><p>Gonorreia – Doença sexualmente transmissível (DST) causa-</p><p>da por uma bactéria chamada Neisseria gonorrheae.</p><p>Gramíneas – Plantas da família Poaceae, também conhecidas</p><p>popularmente como capins e gramas. Muito importantes para</p><p>a economia devido à utilização na produção de forragem e</p><p>grãos para a alimentação, como o arroz e o milho.</p><p>Gymnophiona – Ordem de anfíbios que se caracterizam pela</p><p>ausência de patas e parecem-se com minhocas e cobras. Esses</p><p>anfíbios são popularmente chamados de cobra-cega, devido à</p><p>sua semelhança com a cobra e à sua aparente ausência de</p><p>olhos.</p><p>Hábitat – Ambiente de um organismo, local onde é normal-</p><p>mente encontrado.</p><p>Herpetofauna – Conjunto de répteis de um ambiente.</p><p>Ibama – Sigla do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos</p><p>Recursos Naturais Renováveis, entidade responsável por execu-</p><p>tar e desenvolver diversas atividades para a preservação e con-</p><p>servação dos recursos naturais (água, flora, fauna, solo, etc).</p><p>108</p><p>Ignição – Dispositivo ou qualquer elemento com a capacidade</p><p>de provocar (inflamar) o fogo.</p><p>Imaturo – não amadurecido.</p><p>In natura – Modo de consumo de algumas estruturas de plan-</p><p>tas alimentícias que consiste em ingerir a parte comestível do</p><p>vegetal tal como é achada, quer dizer, sem nenhuma prepara-</p><p>ção prévia.</p><p>Infarto – Ataque cardíaco.</p><p>Látex – Substância de coloração geralmente branca presente</p><p>em algumas plantas. Pode ser produzido por diferentes partes</p><p>do vegetal, tais como o caule, as folhas, os frutos e até mesmo</p><p>as raízes; costuma ser notado quando a planta sofre algum</p><p>corte. Exemplos de látex bem conhecidos são o do avelós</p><p>(Euphorbia tirucalli L.) e o do pinhão (Jatropha mollissima</p><p>Muell. Arg.), os quais são usados por suas propriedades</p><p>medicinais.</p><p>Leucorreia – Corrimento vaginal caracterizado por causar ir-</p><p>ritação, coceira ou ardência na vagina e vontade de urinar fre-</p><p>quentemente, podendo ter ou não cheiro desagradável.</p><p>Madeira nobre – Madeira que naturalmente dura muito e que</p><p>se presta a finalidades consideradas muito importantes.</p><p>Manejo legal – Uso de um recurso natural de acordo com as</p><p>leis ambientais.</p><p>Metabolismo – Conjunto de transformações que as substân-</p><p>cias químicas sofrem no interior do nosso corpo para a produ-</p><p>ção de energia.</p><p>Micro-organismos – Nome que se dá aos organismos vistos</p><p>apenas por microscópio, como, por exemplo, vírus e bactéria.</p><p>Monogâmico – Animal que apresenta apenas uma parceira se-</p><p>xual durante toda a sua vida.</p><p>Mucilagem – Substância viscosa resultante da mistura de al-</p><p>guns elementos sólidos da planta com água e que pode ser en-</p><p>contrada envolvendo algumas sementes. Provavelmente, tem</p><p>109</p><p>função protetora.</p><p>Nativo – Que é próprio e originário de uma determinada</p><p>região.</p><p>OMS – Sigla da Organização Mundial de Saúde, agência espe-</p><p>cializada em saúde e que faz parte da Organização das Nações</p><p>Unidas (ONU). A OMS tem por objetivo combater as doenças</p><p>que ocorrem em todo o mundo, promovendo campanhas de</p><p>prevenção e cura, como as de vacinação e até mesmo as de</p><p>aleitamento materno.</p><p>Ovinos – Grupo composto de ovelhas e carneiros. São geral-</p><p>mente criados em rebanhos e de manejo muito trabalhoso por</p><p>se tratar de animais sensíveis.</p><p>Países em desenvolvimento – Países com padrão de vida re-</p><p>lativamente baixo quando comparados aos países desenvolvi-</p><p>dos, mas que estão em processo de desenvolvimento, como é o</p><p>caso do Brasil, da Índia, do México e da África do Sul.</p><p>Patógenos – Organismos capazes de causar doenças, como al-</p><p>guns tipos de fungo, bactéria e vírus.</p><p>Perene – Termo empregado em botânica para designar uma</p><p>planta que vive por mais de dois anos.</p><p>Perenifólia – Termo empregado em botânica para designar</p><p>uma planta que mantém suas folhas durante todo o ano.</p><p>Picles – Conserva de produtos vegetais em vinagre (legumes,</p><p>por exemplo).</p><p>Polo gesseiro – Área onde há forte produção de gesso.</p><p>Pré-moldados – Peças (de gesso, por exemplo) fabricadas em</p><p>formatos que só necessitam ser montados para se fazer uma</p><p>construção.</p><p>Pressão extrativista – Ação humana de retirada de recursos</p><p>naturais com grande intensidade.</p><p>Princípios ativos – Substâncias responsáveis por uma deter-</p><p>minada atividade biológica em nosso organismo. Os princípios</p><p>ativos podem ser fabricados pelas pessoas, como no caso de</p><p>alguns medicamentos, ou produzidos pelas plantas.</p><p>110</p><p>Prisão de ventre – Dificuldade de evacuar, ou defecar.</p><p>Psitacídeos – Grupo de aves caracterizadas por possuírem</p><p>uma cabeça larga e robusta, em que se apoia um bico forte, alto</p><p>e curvo especializado em quebrar e descascar sementes. São</p><p>exemplos a arara-azul e o papagaio.</p><p>Quelônios – Répteis de vida longa e que possuem uma carapaça</p><p>resistente que serve de proteção (exemplos: jabuti e cágado).</p><p>Recifes de corais – Formações marinhas que crescem espe-</p><p>cialmente nos trópicos. Os recifes são compostos de muitos</p><p>animais microscópicos que produzem uma carapaça dura.</p><p>Como resultado, os recifes de corais formam verdadeiras bar-</p><p>reiras marinhas.</p><p>Resíduos – Vulgarmente conhecidos como lixo, os resíduos</p><p>são materiais resultantes das atividades</p><p>var e preservar o meio ambiente e o</p><p>mundo em que vivemos.</p><p>Dessa forma, quando vemos</p><p>nossos pais, professores, amigos e os</p><p>meios de comunicação discutindo a</p><p>preservação do meio ambiente, to-</p><p>dos estão preocupados com um mes-</p><p>mo assunto: a conservação da biodi-</p><p>versidade. Todos estão querendo</p><p>entender como as atividades huma-</p><p>nas interferem no meio ambiente,</p><p>para criar alternativas que não preju-</p><p>diquem a diversidade de todos os se-</p><p>res vivos existentes na Terra. Assim,</p><p>quem se preocupa em conservar a</p><p>biodiversidade está preocupado em</p><p>não destruir os ecossistemas e em</p><p>proteger todas as formas de vida de</p><p>nosso planeta, como também a nós</p><p>mesmos. E qual a importância disso?</p><p>Como a derrubada de uma mata ou a</p><p>extinção de uma espécie pode afetar</p><p>a nossa vida? Os próximos capítulos</p><p>deste livro tentarão deixar isso mais</p><p>claro para você.</p><p>Nós acreditamos que os seres</p><p>humanos podem conviver com os</p><p>animais e as plantas, mas é preciso</p><p>apenas mudar a forma de lidar com</p><p>o meio ambiente e pensar sobre ele.</p><p>Atualmente, muitas pessoas só pen-</p><p>sam em explorar os recursos natu-</p><p>rais sem se preocupar com o dia de</p><p>amanhã. Elas pensam muito mais no</p><p>lucro do que no bem do nosso plane-</p><p>ta e, assim, destroem as matas, po-</p><p>luem os rios. E isso não é diferente</p><p>com a Caatinga, ambiente que esta-</p><p>mos estudando neste livro. As pes-</p><p>soas necessitam rever a sua forma</p><p>de pensar, os seus valores; precisam</p><p>criar alternativas de desenvolvimen-</p><p>to e sobrevivência sem ameaçar os</p><p>outros seres vivos, ou seja, precisa-</p><p>mos crescer e, ao mesmo tempo,</p><p>conservar a biodiversidade.</p><p>Quando falamos que as pesso-</p><p>as devem conciliar os seus interesses</p><p>com a conservação da biodiversida-</p><p>de, estamos falando de uma ideia</p><p>também muito difundida, a ideia de</p><p>11</p><p>PARA VOCÊ REFLETIR:</p><p>Dilemas na conservação da biodiversidade</p><p>As últimas décadas têm presenciado um crescente interesse nos</p><p>assuntos relativos à biodiversidade. Tem-se discutido os fatores que afe-</p><p>tam a diversidade do planeta, estando isso ligado ao declínio e à degrada-</p><p>ção dos recursos naturais. De outra parte, busca-se compreender as im-</p><p>plicações das atividades humanas como um dos mais importantes fatores</p><p>de agressão ao ambiente. Apesar de hoje se reconhecer que as diferentes</p><p>estratégias de conservação precisam respeitar as peculiaridades e carac-</p><p>terísticas de cada região, como a cultura e a economia, na prática as dis-</p><p>cussões ainda estão focalizando aspectos puramente biológicos.</p><p>Para se ter uma ideia das discordâncias quanto às ações em conser-</p><p>vação, vale lembrar o comentário do biólogo Daniel Janzen. Para ele,</p><p>somente os biólogos deveriam decidir sobre o futuro dos recursos natu-</p><p>rais. Esse autoritarismo biológico surgiu como uma verdadeira cruzada</p><p>anti-humanista: só o conhecimento biológico poderia produzir resultados</p><p>relevantes. Essa ideia dominou as ações da Biologia da Conservação.</p><p>desenvolvimento sustentável. Esse</p><p>conceito diz que a humanidade pode</p><p>satisfazer suas necessidades, mas</p><p>respeitando a vida de todos os seres</p><p>vivos e sem comprometer as gera-</p><p>ções futuras. Crescer e conservar a</p><p>biodiversidade: seria este o caminho</p><p>para o verdadeiro desenvolvimento</p><p>sustentável. Mas por que conservar a</p><p>biodiversidade?</p><p>A primeira e talvez a mais</p><p>importante razão para conservar a</p><p>biodiversidade é que todas as espé-</p><p>cies têm o direito de existir, têm o</p><p>seu lugar e o seu papel no meio am-</p><p>biente. Devemos entender que so-</p><p>mos apenas mais uma espécie no</p><p>mundo, sendo que todas merecem</p><p>sobreviver, grandes ou pequenas,</p><p>feias ou bonitas; todas apresentam</p><p>algum tipo de importância que não</p><p>é necessariamente econômica.</p><p>Existe outro motivo para nos</p><p>preocuparmos com a conservação</p><p>de toda a biodiversidade: os seres</p><p>vivos estão ligados entre si, ou seja,</p><p>um depende do outro para sobrevi-</p><p>ver e para que o meio ambiente fun-</p><p>cione direito. Isso ocorre em qual-</p><p>quer ambiente, como em uma mata.</p><p>Caso um elo dessa corrente se que-</p><p>bre, a corrente se desfaz.</p><p>12</p><p>VOCÊ SABIA?</p><p>A equipe do Prof.</p><p>Rômulo Romeu da Nóbrega</p><p>Alves, da Universidade</p><p>Estadual da Paraíba, tem feito</p><p>descobertas muito</p><p>interessantes. O Dr. Rômulo</p><p>documentou o uso de cerca</p><p>de 250 tipos diferentes de</p><p>animais que são utilizados na</p><p>medicina popular do Nordeste</p><p>do Brasil. Por exemplo, o</p><p>cavalo-marinho é um animal</p><p>usado em toda a região para</p><p>tratar problemas respiratórios.</p><p>É muito fácil você encontrar</p><p>esses animais sendo</p><p>comercializados em mercados</p><p>É preciso ouvir e trabalhar com as pessoas que vivem em contato</p><p>com os diferentes ecossistemas, saber de sua experiência e de seus in-</p><p>teresses. A postura ideal agora é a conscientização do que precisa ser</p><p>feito urgentemente: conservar para uso atual e futuro, respeitando as</p><p>tradições de outros povos, buscando elementos científicos sérios para a</p><p>tomada de decisões.</p><p>Ainda estamos numa encruzilhada! Mas uma coisa é certa: a situ-</p><p>ação exige que diferentes vozes sejam ouvidas. Acreditamos que a me-</p><p>lhor estratégia para conservar é aquela que prevê a parceria entre todas</p><p>as pessoas envolvidas (sociedade abrangente) e que respeite a comple-</p><p>xidade e a pluralidade das questões ambientais.</p><p>Texto adaptado de Dilemas na Conservação da Biodiversidade. Usuário Ulysses Albuquerque.</p><p>Jornal do Commercio, 15/11/2001.</p><p>e feiras livres. O grande</p><p>problema é que alguns deles</p><p>estão ameaçados de extinção.</p><p>Então, precisamos refletir</p><p>muito sobre o seu uso, e não</p><p>apenas criar proibições.</p><p>Muitos animais da Caatinga,</p><p>por exemplo, são também</p><p>caçados, seja para uso nas</p><p>práticas da medicina familiar,</p><p>seja para o consumo da carne.</p><p>Estas são tradições muito</p><p>fortes no Nordeste brasileiro</p><p>que necessitamos discutir.</p><p>Nós acreditamos que toda a</p><p>sociedade deve estar</p><p>envolvida nesse debate —</p><p>13</p><p>cientistas, governantes,</p><p>caçadores e comunidades —</p><p>para que se desenvolvam</p><p>estratégias que permitam dar</p><p>continuidade a essas tradições</p><p>sem prejudicar a existência</p><p>futura desses animais. Vale</p><p>ressaltar que a caça de</p><p>animais silvestres é proibida</p><p>por lei no Brasil. Entretanto,</p><p>na Caatinga, muitas vezes as</p><p>pessoas caçam não por</p><p>necessidade, mas por</p><p>divertimento ou aventura. Os</p><p>animais caçados são</p><p>descartados, vendidos ou</p><p>doados a vizinhos e/ou</p><p>amigos. Esse tipo de prática</p><p>é muito agressiva ao</p><p>ambiente, e precisamos</p><p>discutir fortemente esse</p><p>assunto!</p><p>Figura 2: Produtos de animais comercializados para fins medicinais no Nordeste Brasileiro.</p><p>A, Couro de jacaré; B, banha de cobras e de peixe-boi (Fotos: Rômulo Nobrega)</p><p>Para as diferentes co-</p><p>munidades rurais da Caatin-</p><p>ga, esse uso direto dos recur-</p><p>sos naturais é um dos aspectos</p><p>mais positivos da biodiversi-</p><p>dade. Muitas vezes, diferen-</p><p>temente das pessoas que vi-</p><p>vem nas grandes cidades,</p><p>famílias que vivem no meio</p><p>rural dependem do meio am-</p><p>biente e utilizam-no direta-</p><p>mente, pois extraem recursos</p><p>para a sua alimentação, cons-</p><p>trução de casas e cercas, cura</p><p>de doenças, fabricação de fer-</p><p>ramentas, entre outras fun-</p><p>ções. Muitas pessoas acham</p><p>que, por explorarem da natu-</p><p>reza os recursos necessários</p><p>para a sua vida, essas comu-</p><p>14</p><p>Figura 3:</p><p>Comércio</p><p>de plantas e</p><p>outros produtos</p><p>naturais com</p><p>fins medicinais</p><p>em feira livre</p><p>do Município</p><p>de Caruaru,</p><p>Pernambuco</p><p>(Foto: Júlio M.</p><p>Monteiro).</p><p>nidades rurais são a princi-</p><p>pal causa da degradação da</p><p>biodiversidade, mas não é</p><p>bem assim. Algumas vezes,</p><p>essas comunidades extraem</p><p>apenas a quantidade neces-</p><p>sária para sobreviver, o que</p><p>dificilmente prejudica o</p><p>meio ambiente. Porém, em</p><p>algumas situações, especial-</p><p>mente quando a intenção é</p><p>vender o que é explorado, a</p><p>extração de recursos naturais</p><p>pode comprometer a conser-</p><p>vação da biodiversidade. É</p><p>preciso ter controle dessa</p><p>extração.</p><p>Vejam o seguinte exem-</p><p>plo: apesar de, nas cidades</p><p>grandes, não necessitarem</p><p>usar diariamente os recursos</p><p>naturais, muitas pessoas bus-</p><p>cam, nos mercados públicos e</p><p>nas feiras livres, cascas e se-</p><p>mentes de plantas da Caatin-</p><p>ga para tratar alguns proble-</p><p>mas de saúde. Vamos imaginar</p><p>outro exemplo:</p><p>domésticas,</p><p>industriais e comerciais e considerados inúteis. São divididos</p><p>em líquidos, sólidos e gasosos. Como resíduo líquido, temos</p><p>os exemplos dos esgotos e do chorume; como exemplos de</p><p>resíduo sólido, temos os copos plásticos e as latinhas de</p><p>refrigerante.</p><p>Ritidoma – Designação dada às porções mais velhas de cascas</p><p>de alguns caules que se vão destacando da superfície do tronco</p><p>das plantas.</p><p>Ruminantes – Mamíferos que se alimentam de vegetais e que</p><p>possuem o estômago dividido em várias partes. O termo rumi-</p><p>nante é proveniente do fato de esses animais ruminarem, isto</p><p>é, depois de ingerirem rapidamente o alimento, entre os perío-</p><p>dos de alimentação, eles tornam a regurgitar o alimento para a</p><p>boca, onde é de novo mastigado (ruminado) e engolido. Exem-</p><p>plos: bois e vacas.</p><p>Sazonalidade climática – Alteração do clima típico de am-</p><p>biente semiárido: em uma parte do ano, o clima é seco; e, na</p><p>outra, é chuvoso.</p><p>Seiva elaborada – Solução aquosa composta principalmente</p><p>de produtos derivados da fotossíntese, atividade na qual a</p><p>planta produz seus próprios alimentos.</p><p>111</p><p>Silvestre – Designação dada às plantas ou aos animais que</p><p>ocorrem de forma espontânea em um determinado ambiente,</p><p>isto é, sem intervenção humana direta.</p><p>Suculentas – Plantas que apresentam grande quantidade de</p><p>água em sua estrutura.</p><p>Tanino – Substância presente em alguns vegetais para defen-</p><p>dê-los do ataque de animais. Percebemos essa substância quan-</p><p>do sentimos um travor na língua ao ingerirmos banana-verde</p><p>ou chupamos caju.</p><p>Toxicológica – Relativo à toxicologia, ciência que estuda os</p><p>efeitos nocivos que as substâncias químicas causam nos orga-</p><p>nismos.</p><p>Tratamento tópico – Tipo de tratamento em que a aplicação</p><p>do medicamento é feita diretamente na pele ou em áreas de</p><p>superfície de feridas, tais como o uso de pomadas, cremes,</p><p>sprays e loções.</p><p>Triglicérides – Forma de gordura originária da alimentação,</p><p>mas que pode ser produzida por nosso corpo. Altos níveis em</p><p>nosso organismo podem levar a problemas no coração.</p><p>Valores diretos – Todos os produtos e recursos naturais que</p><p>são diretamente colhidos e usados pelas pessoas, como água,</p><p>lenha, frutas e animais.</p><p>Valores indiretos – Todos os benefícios que os ecossistemas</p><p>oferecem para a sociedade quando estão íntegros, como o ciclo</p><p>da água, que produz a chuva, ou a produção de oxigênio pelas</p><p>plantas.</p><p>Valores – Normas e princípios que regem a vida em uma so-</p><p>ciedade, como respeitar os mais idosos e não roubar.</p><p>Vegetação nativa – Vegetação típica de uma área que sofreu</p><p>pouca ou nenhuma interferência humana.</p><p>Vegetação remanescente – Parte da vegetação original de</p><p>uma área.</p><p>Vertebrados – Animais que apresentam coluna vertebral.</p><p>112</p><p>Sugestões de leitura</p><p>aprofundada</p><p>ALBUQUERQUE, Ulysses Paulino; MOURA, Ariadne do</p><p>Nascimento & Araújo, Elcida de Lima (organizadores).</p><p>Biodiversidade, potencial econômico e processos eco-</p><p>fisiológicos em ecossistemas nordestinos. Volume 2. Bauru:</p><p>Canal 6/Recife: NUPEEA, 2010. 544p.</p><p>ARAÚJO, Francisca Soares; RODAL, Maria Jesus Noguei-</p><p>ra, BARBOSA, Maria Regina de Vasconcellos (organizado-</p><p>res). Análise das variações da biodiversidade do bioma</p><p>caatinga. Suporte a estratégias regionais de conservação.</p><p>MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE - MMA. Secretaria de</p><p>Biodiversidade e Florestas. Brasília: Ministério do Meio Am-</p><p>biente, 2005. 446 p.</p><p>Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Caatinga. Cenários</p><p>para o Bioma Caatinga/ Conselho Nacional da Reserva da</p><p>Biosfera da Caatinga (Brasil). Secretaria de Ciência, Tecnologia</p><p>e Meio Ambiente. Recife: Sectma, 2004. 224p.</p><p>LEAL, Inara Roberta, TABARELLI, Marcelo & SILVA, José</p><p>Maria Cardoso (organizadores). Ecologia e conservação da</p><p>Caatinga. Editora Universitária. Universidade Federal de Per-</p><p>nambuco, Recife. Brasil, 2003. 804p.</p><p>MAIA, Gerda Nickel. Caatinga - Árvores e arbustos e suas</p><p>utilidades. 1ª. ed. São Paulo: D&Z, 2004. 413 p.</p><p>MOURA, Ariadne do Nascimento; ALBUQUERQUE,</p><p>Ulysses Paulino & Araújo, Elcida de Lima (organizadores).</p><p>Biodiversidade, potencial econômico e processos eco-</p><p>fisiológicos em ecossistemas nordestinos. Volume 1. Recife:</p><p>Comunigraf/NUPEEA, 2008. 361p.</p><p>113</p><p>SAMPAIO, Everardo; GIULIETTI, Ana Maria; VIRGÍNIO,</p><p>Jair & GAMARRA-ROJAS, Cíntia. (organizadores) Vegetação</p><p>& Flora da Caatinga. Recife: APNE, 2002. 176p.</p><p>SILVA, José Maria Cardoso; TABARELLI, Marcelo;</p><p>FONSECA, Mônica Tavares & LINS, Lívia Vanucci</p><p>(organizadores). Biodiversidade da Caatinga: áreas e ações</p><p>prioritárias para a conservação. Brasília: Ministério do</p><p>Meio Ambiente: Universidade Federal de Pernambuco, 2004.</p><p>382p.</p><p>TABARELLI, Marcelo & SILVA, José Maria Cardoso (orga-</p><p>nizadores). Diagnóstico da Biodiversidade de Pernambuco.</p><p>Volume 1. Recife, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio</p><p>Ambiente. Fundação Joaquim Nabuco. Editora Massangana,</p><p>2002. 356 p.</p><p>TABARELLI, Marcelo & SILVA, José Maria Cardoso (orga-</p><p>nizadores). Diagnóstico da Biodiversidade de Pernambuco.</p><p>Volume 2. Recife, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio</p><p>Ambiente. Fundação Joaquim Nabuco. Editora Massangana,</p><p>2002. 722 p.</p><p>ANOTAÇÕES</p><p>ANOTAÇÕES</p><p>ANOTAÇÕES</p><p>ANOTAÇÕES</p><p>ANOTAÇÕES</p><p>PRESERVE A</p><p>NATUREZA</p><p>IMPRESSO EM</p><p>PAPEL RECICLÁVEL</p><p>Av. Dr. Pedro Camarinha, 31 - Santa Cruz do Rio Pardo-SP - T: (14) 3332.1155 - www.graficaviena.com.br</p><p>Impressão e Acabamento:</p><p>a coleta da</p><p>casca do angico para o uso</p><p>medicinal, uma das ativida-</p><p>des mais comuns na Caatin-</p><p>ga. Quando essa coleta é feita</p><p>apenas para o uso local, para</p><p>curar as doenças da própria</p><p>família, isso pode não trazer</p><p>prejuízo ao meio ambiente.</p><p>Entretanto, quando as cascas</p><p>são extraídas em muita quan-</p><p>tidade ou de forma descontro-</p><p>lada, como fazem algumas</p><p>indústrias farmacêuticas, cer-</p><p>tamente podem ocorrer preju-</p><p>ízos, e essa planta pode, um</p><p>dia, deixar de existir. Com</p><p>isso, estamos dizendo que não</p><p>devemos extrair os recursos</p><p>15</p><p>da natureza para nosso uso?</p><p>Não é isso. Estamos falando</p><p>que a extração deve ser feita</p><p>de forma controlada e adequa-</p><p>da. Para pensarmos no uso</p><p>sustentável das plantas e dos</p><p>animais, temos que compre-</p><p>ender todas as atividades que</p><p>prejudicam as espécies alvo</p><p>de exploração. Por exemplo,</p><p>no caso do angico, citado an-</p><p>teriormente, além das cascas</p><p>serem utilizadas como produ-</p><p>to medicinal, elas são muito</p><p>exploradas na fabricação do</p><p>couro (curtume), pois têm</p><p>uma substância que impede</p><p>que a pele do animal apodre-</p><p>ça. Além disso, o angico é</p><p>muito utilizado como lenha e</p><p>carvão e na construção de cer-</p><p>cas.</p><p>SAIBA MAIS...</p><p>O curtume é uma das atividades econômicas mais importantes na</p><p>Caatinga. O problema é que essa atividade gera uma quantidade de resí-</p><p>duos (sólidos e líquidos) que são descartados e poluem o meio ambien-</p><p>te. Existem algumas alternativas para reaproveitar toda a água e os com-</p><p>postos químicos utilizados no tratamento do couro, diminuindo o</p><p>impacto ambiental dessa atividade. Uma das cidades que mais se desta-</p><p>cam nessa atividade é Cabaceiras, no Cariri da Paraíba, onde alguns</p><p>curtumes chegam a curtir mais de quinhentas peles por dia. Pensando na</p><p>preservação ambiental e na conservação da biodiversidade, a Prefeitura</p><p>de Cabaceiras contratou dois profissionais para resolverem o problema</p><p>ambiental dos curtumes. Como resultado, um investimento de 155 mil</p><p>reais, foram construídas estações de tratamento de toda a água utilizada</p><p>nas atividades de curtir couro. Dessa forma, toda a água que era despe-</p><p>jada nos solos e rios é agora tratada e pode ser reutilizada. Os resíduos</p><p>químicos, por sua vez, podem ser reaproveitados em outras atividades</p><p>econômicas.</p><p>Texto adaptado de site do Governo da Paraíba (http://www.paraiba.pb.gov.</p><p>br/), acessado em 11/11/2009. Texto: O Ambiente e o Layout, de Renata</p><p>Paes de Barros Câmara e Eduardo Vila Gonçalves, publicado nos Anais do</p><p>XII Simpósio de Engenharia de Produção, Bauru, São Paulo, novembro de</p><p>2005.</p><p>16</p><p>Figura 4: A - angico que teve sua casca retirada para curtir couro, B - cascas que serão utilizadas</p><p>no curtimento do couro, C e D - pequeno curtume evidenciando a pele do animal e as cascas</p><p>(Fotos: Gustavo T. Soldati).</p><p>Falamos dos valores</p><p>diretos. Já os valores indire-</p><p>tos são todos os benefícios</p><p>que o meio ambiente nos dá</p><p>sem que haja a necessidade</p><p>de exploração direta dos re-</p><p>cursos. Vamos citar um</p><p>exemplo: as matas ajudam a</p><p>melhorar e controlar o clima,</p><p>ou seja, deixam os ambien-</p><p>tes mais frescos, suavizando</p><p>a temperatura, por exemplo.</p><p>Isso é muito importante em</p><p>locais muito quentes, como</p><p>é o caso da Caatinga. Per-</p><p>gunte as pessoas que moram</p><p>com você se não é verdade</p><p>que, em lugares mais próxi-</p><p>mos das matas, o ambiente é</p><p>um pouco mais frio. As ma-</p><p>tas ainda aumentam a quan-</p><p>tidade de chuva que cai numa</p><p>área. Assim, a agricultura é</p><p>facilitada em lugares que</p><p>têm um número maior de ve-</p><p>getação nativa. A manuten-</p><p>ção dos ambientes naturais</p><p>ainda pode ajudar a agricul-</p><p>tura de outra forma: aumen-</p><p>tando a produção das plan-</p><p>tas. Um grande número de</p><p>plantações, como é o caso</p><p>do feijão e do amendoim,</p><p>depende de certos tipos de</p><p>17</p><p>inseto para produzir as suas</p><p>vagens. Sem os insetos, não</p><p>há produção. Sabemos que,</p><p>nas matas, temos uma maior</p><p>quantidade de insetos que</p><p>fazem esse papel, dessa for-</p><p>ma, as plantações próximas</p><p>a elas irão produzir muito</p><p>mais. Você pode perceber</p><p>esse valor indireto observan-</p><p>do o umbu, outra planta que</p><p>depende dos insetos para dar</p><p>os frutos. Olhe para os um-</p><p>bus perto de sua casa, perce-</p><p>ba que, quando eles flores-</p><p>cem, suas flores brancas</p><p>ficam cheias de abelhas e</p><p>vespas. São esses animais</p><p>que vão ajudar a planta a</p><p>produzir o fruto tão gostoso</p><p>e apreciado por pessoas de</p><p>todo o Nordeste.</p><p>Outro valor indireto é a</p><p>beleza das paisagens natu-</p><p>rais, algo que é muito impor-</p><p>tante para o turismo. Muitos</p><p>turistas procuram regiões de</p><p>beleza natural, como monta-</p><p>nhas, praias e cachoeiras,</p><p>para se divertir e passear. Al-</p><p>gumas empresas ou profis-</p><p>sionais do turismo aprovei-</p><p>tam a visitação dessas áreas</p><p>naturais a fim de despertar a</p><p>consciência para a importân-</p><p>cia de se conservar a biodi-</p><p>versidade. Esse tipo de turis-</p><p>mo é conhecido como</p><p>ecoturismo. O problema é</p><p>que, quando essas visitações</p><p>são feitas sem programação,</p><p>de forma desordenada ou</p><p>descontrolada, podem oca-</p><p>sionar a degradação ambien-</p><p>tal. Temos um caso muito tí-</p><p>pico em Porto de Galinhas,</p><p>no Estado de Pernambuco,</p><p>uma das praias mais visitadas</p><p>no Brasil, onde a grande</p><p>quantidade de turistas está</p><p>afetando os recifes de corais</p><p>próximos à praia.</p><p>Apesar de tudo o que</p><p>dissemos, os cientistas e a</p><p>sociedade como um todo</p><p>ainda estão buscando cami-</p><p>nhos para melhor entender a</p><p>nossa biodiversidade. As</p><p>pessoas têm diferentes opi-</p><p>niões sobre o assunto. Aqui,</p><p>nós procuramos mostrar a</p><p>você por que esse assunto é</p><p>tão interessante e importante</p><p>para a nossa vida. Às vezes,</p><p>os animais e as plantas, por</p><p>exemplo, estão tão perto de</p><p>nós, e não conseguimos va-</p><p>lorizar ou respeitar a sua</p><p>existência. Você já havia pa-</p><p>rado para pensar, por exem-</p><p>plo, que, se não existissem</p><p>alguns tipos de inseto, não</p><p>teríamos os deliciosos frutos</p><p>do umbuzeiro? Pense nisso!</p><p>18</p><p>Vamos conhecer a</p><p>Caatinga?</p><p>A Caatinga é conside-</p><p>rada a quarta maior forma-</p><p>ção vegetacional e a única</p><p>exclusivamente brasileira;</p><p>abrange uma área que vai</p><p>desde o Piauí até o norte de</p><p>Minas Gerais. Possui várias</p><p>espécies endêmicas, tanto de</p><p>plantas quanto de animais.</p><p>Apresenta diferentes tipos,</p><p>ou seja, alguns lugares apre-</p><p>sentam mais árvores; outros,</p><p>mais arbustos que árvores;</p><p>ou, ainda, há áreas que apre-</p><p>sentam muitas ervas, repre-</p><p>sentando um ambiente muito</p><p>rico em biodiversidade.</p><p>A palavra caatinga é de</p><p>origem tupi e significa mata</p><p>branca, referindo-se ao</p><p>aspecto da vegetação durante</p><p>a estação seca, quando a</p><p>maioria das árvores perde as</p><p>folhas, e os troncos</p><p>esbranquiçados dominam a</p><p>paisagem. O juazeiro e o</p><p>umbuzeiro são exemplos de</p><p>plantas que permanecem com</p><p>as folhas durante a estação</p><p>seca. Entre as espécies mais</p><p>comuns e características</p><p>desse ambiente, destacam-se</p><p>os cactos, como o facheiro, o</p><p>mandacaru e o xiquexique; e</p><p>as bromélias, como a</p><p>macambira e o caroá.</p><p>Na Caatinga, ocorre o</p><p>fenômeno da sazonalidade</p><p>climática, em que a maior</p><p>parte dos meses (de sete a</p><p>nove) são quentes e secos,</p><p>restando poucos meses (de</p><p>A Biodiversidade da Caatinga2</p><p>Neste capítulo, você encontrará informações sobre os aspectos físi-</p><p>cos e biológicos da vegetação da Caatinga, tais como plantas e famílias</p><p>botânicas mais comumente encontradas e importantes e os animais ca-</p><p>racterísticos desse ambiente. Você conhecerá, ainda, as ameaças à biodi-</p><p>versidade da Caatinga e as curiosidades sobre algumas espécies.</p><p>eva carvalho</p><p>Destacar</p><p>19</p><p>três a cinco) com chuvas</p><p>intensas. Logo, podemos</p><p>diferenciar a Caatinga de</p><p>acordo com a disponibilidade</p><p>de chuvas: algumas áreas são</p><p>mais úmidas, como, por</p><p>exemplo, os municípios de</p><p>Altinho e Caruaru, na região</p><p>Agreste; e outras, mais secas,</p><p>como os municípios de</p><p>Petrolina e Serra Talhada, na</p><p>região do Sertão, todas</p><p>localizadas no Estado de</p><p>Pernambuco.</p><p>Figura 5: Área de caatinga. A – durante a estação seca e B – durante a estação</p><p>chuvosa (Foto: Fábio J. Vieira).</p><p>20</p><p>Vamos conhecer melhor as plantas e os</p><p>animais da Caatinga?</p><p>As plantas que ocorrem na Caatinga têm características</p><p>que possibilitam o seu desenvolvimento nesse ambiente,</p><p>que</p><p>é, na maior parte do tempo, seco. Em geral, elas apresentam</p><p>espinhos, possuem tamanhos variados — desde plantas peque-</p><p>nas como as ervas até grandes árvores — e algumas são sucu-</p><p>lentas ou afilas. A maioria das plantas apresenta caducifolia,</p><p>que é a perda completa das folhas durante a estação mais seca,</p><p>e muitas outras têm espinhos no lugar das folhas.</p><p>PARA VOCÊ REFLETIR:</p><p>Atualmente, a Caatinga sofre com a degradação am-</p><p>biental, que hoje já atinge mais de 80% de sua área. Em-</p><p>bora o número de pesquisas tenha aumentado nos últimos</p><p>anos, ainda é pouco o conhecimento. O número de Unida-</p><p>des de Conservação no domínio da Caatinga é bastante</p><p>reduzido. Isso reflete a carência de políticas voltadas para</p><p>a conservação da diversidade biológica da Caatinga e de</p><p>seus demais recursos naturais. Por isso, caro leitor, nós</p><p>precisamos, mais do que nos conscientizar, colaborar para</p><p>alterar essa situação, propondo atividades conservacionis-</p><p>tas e de educação ambiental, não só para as pessoas que</p><p>alteraram os ambientes da Caatinga, mas para toda a so-</p><p>ciedade proporcionando, dessa forma, melhoria de vida às</p><p>populações de diferentes regiões.</p><p>VOCÊ SABIA?</p><p>De acordo com o Centro Nordestino de Informações sobre Plan-</p><p>tas (CNIP), na Caatinga conhecem-se, até o momento, 1.041 espécies</p><p>de angiospermas. As leguminosas (plantas que normalmente apresen-</p><p>tam um fruto que é uma vagem, como, por exemplo, a algaroba, o mu-</p><p>lungu e o angico) apresentam o maior número de espécies, com cerca de</p><p>40% das plantas conhecidas; seguidas das euforbiáceas (exemplos co-</p><p>muns são o pinhão, o avelós, a urtiga e o marmeleiro). Embora seja um</p><p>ambiente muitas vezes identificado por características que lembram</p><p>uma paisagem seca e com o solo rachado, a Caatinga é muito rica em</p><p>diversidade e número de plantas.</p><p>Você sabia que, assim como</p><p>as pessoas, as plantas também são</p><p>agrupadas em famílias e possuem</p><p>nomes que são conhecidos em</p><p>qualquer lugar do mundo, chama-</p><p>dos nomes científicos?</p><p>Conhecemos as plantas, as-</p><p>sim como os animais, pelo nome</p><p>popular, nome vulgar, nome local</p><p>ou, ainda, nome comum, que va-</p><p>riam muito de um lugar para o ou-</p><p>tro. O ramo da Biologia que se</p><p>ocupa da classificação e da nomen-</p><p>clatura dos seres vivos é a Taxono-</p><p>mia (do</p><p>g r e g o</p><p>t a x o n ,</p><p>catego-</p><p>ria, gru-</p><p>po; e no-</p><p>m o s ,</p><p>conheci-</p><p>mento). São sete categorias: reino,</p><p>filo (para animais) ou divisão (para</p><p>plantas), classe, ordem, família, gê-</p><p>nero e espécie. Para entender melhor</p><p>essas categorias, veja a classificação</p><p>dos exemplos abaixo:</p><p>Cão doméstico Mandacaru</p><p>Reino: Animalia</p><p>Filo: Chordata</p><p>Classe: Mammalia</p><p>Ordem: Carnívora</p><p>Família: Canidae</p><p>Gênero: Canis</p><p>Espécie: Canis familiares - Linnaeus,</p><p>1758</p><p>Reino: Plantae</p><p>Divisão: Magnoliophyta</p><p>Classe: Magnoliopsida</p><p>Ordem: Caryophyllales</p><p>Família: Cactaceae</p><p>Gênero: Cereus</p><p>Espécie: Cereus jamacaru D.C.</p><p>22</p><p>Podemos citar algumas</p><p>plantas importantes nesse</p><p>ambiente por apresentarem</p><p>múltiplos usos para as</p><p>comunidades locais. São</p><p>elas: umbu (Spondias</p><p>tuberosa Arruda), pereiro</p><p>(Aspidosperma pyrifolium</p><p>Mart.), mandacaru (Cereus</p><p>jamacaru D.C.), facheiro</p><p>(Pilosocereus pachycladus</p><p>F. Ritter), imburana</p><p>(Commiphora leptophloeos</p><p>(Mart.) J. B. Gillett), jucá</p><p>(Caesalpinia ferrea Mart.),</p><p>catingueira (Caesalpinia</p><p>pyramidalis Tul.), angico</p><p>Como você deve ter observa-</p><p>do, os nomes das espécies são es-</p><p>critos na mesma língua (latim) e</p><p>obedecem a um sistema binomial,</p><p>ou seja, o nome de cada espécie é</p><p>formado por dois termos (binômio).</p><p>Tomando como base o exemplo do</p><p>mandacaru, temos o primeiro, que</p><p>chamamos de gênero (Cereus) e o</p><p>segundo, que é o epíteto especí-</p><p>fico (jamacaru). Após o nome</p><p>da espécie, há também o nome</p><p>do cientista que descobriu a</p><p>planta (D.C.), o qual normal-</p><p>mente está abreviado. Todos</p><p>juntos representam a espécie</p><p>Cereus jamacaru D.C., nome</p><p>conhecido mundialmente.</p><p>Importante: Neste livro, o nome científico de plantas e animais</p><p>irá obedecer ao sistema binomial descrito acima; no entanto, quando</p><p>aparecer pela segunda vez ao longo do texto, pode estar abreviado.</p><p>Por exemplo, na primeira vez em que for citada a planta pereiro, seu</p><p>nome será escrito na forma completa: com gênero, epíteto específico</p><p>e autor (Aspidosperma pyrifolium Mart.); e, quando aparecer nova-</p><p>mente, poderá ser abreviado para apenas a primeira letra do gênero e</p><p>o epíteto específico (A. pyrifolium).</p><p>(Anadenanthera colubrina</p><p>(Vell.) Brenan), imburana-</p><p>açu (Amburana cearensis</p><p>(Allemão) A.C. Sm.),</p><p>jurema-preta (Mimosa</p><p>tenuiflora (Willd.) Poir.</p><p>Benth.), incó (Capparis</p><p>jacobinae Moric. ex.</p><p>Eichler), feijão-bravo</p><p>(Capparis flexuosa (L.) L.),</p><p>baraúna (Schinopsis</p><p>brasiliensis Engl.), pinhão</p><p>(Jatropha mollissima (Pohl)</p><p>Baill.), marmeleiro (Croton</p><p>blanchetianus Baill.),</p><p>barriguda (Chorisia</p><p>glaziovii (Kuntze) E.</p><p>eva carvalho</p><p>Destacar</p><p>23</p><p>Santos), cedro (Cedrela</p><p>odorata L.), quixaba</p><p>(Sideroxylon obtusifolium</p><p>(Humb. ex. Roem. &</p><p>Schult.) T. D. Penn.), bom-</p><p>nome (Maytenus rigida</p><p>Mart.). Elas podem ser</p><p>usadas como plantas</p><p>medicinais, alimentícias,</p><p>forrageiras; em construções</p><p>rurais (casas e cercas); como</p><p>madeira para combustível,</p><p>dentre outros usos.</p><p>Quanto aos animais da</p><p>Caatinga, eles são bem dife-</p><p>renciados em relação aos de</p><p>outros ecossistemas, pois, ao</p><p>longo do tempo, desenvolve-</p><p>ram características morfo-</p><p>lógicas e fisiológicas que per-</p><p>mitem um melhor desempenho</p><p>e adaptação nesse tipo de am-</p><p>biente seco. Alguns estudos</p><p>sobre a fauna da Caatinga</p><p>apontaram uma boa diversi-</p><p>dade de espécies. Só de ani-</p><p>mais vertebrados, foram en-</p><p>contrados representantes das</p><p>cinco classes:</p><p>1. Mamíferos – foram</p><p>registradas 143 espécies.</p><p>Entre estas, estão os maca-</p><p>cos e as raposas.</p><p>2. Aves – foram en-</p><p>contradas 348 espécies, das</p><p>quais quinze são endêmicas</p><p>da Caatinga. Entre estas,</p><p>podemos citar o azulão, a</p><p>rolinha, a lavandeira e o sa-</p><p>biá. Dessa lista de aves, in-</p><p>felizmente uma espécie já</p><p>está extinta no ambiente</p><p>natural: a ararinha-azul</p><p>(Cyanopsitta spixii). Em</p><p>outro estudo, foi registra-</p><p>do um número maior de</p><p>aves (510 espécies), das</p><p>quais 419 se reproduzem</p><p>apenas na Caatinga.</p><p>3. Peixes – já foram</p><p>registradas 239 espécies;</p><p>destas, 135 são consideradas</p><p>endêmicas da Caatinga. É</p><p>muito difícil identificar</p><p>quais espécies de peixe são</p><p>exclusivas desse ecossiste-</p><p>ma, porque muitas estão dis-</p><p>tribuídas ao longo dos rios</p><p>que cortam a Caatinga e ul-</p><p>trapassam seus limites, al-</p><p>cançando outros rios de</p><p>ecossistemas vizinhos.</p><p>4. Répteis e anfíbios</p><p>– já foram registradas 167</p><p>espécies, com 47 espécies</p><p>de lagartos, dez espécies de</p><p>anfisbenídeos, 52 espécies</p><p>de serpentes, quatro quelô-</p><p>nios, três crocodylia, 48 an-</p><p>fíbios anuros e três gymno-</p><p>phiona. O grupo está</p><p>representado por cobras, cá-</p><p>gados, jacarés, tatus, etc.</p><p>24</p><p>SAIBA MAIS...</p><p>Descoberta cobra-de-duas-cabeças no Vale do Catimbau</p><p>Considerado o</p><p>segundo maior parque</p><p>arqueológico do Brasil, o</p><p>Vale do Catimbau (Buíque-</p><p>PE) vem se tornando berço</p><p>de descobertas de espécies</p><p>de anfíbios e répteis. A</p><p>mais recente delas, a</p><p>A m p h i s b a e n a</p><p>supernumeraria, um tipo</p><p>da popularmente conhecida</p><p>cobra-de-duas-cabeças, foi</p><p>descoberta na Fazenda</p><p>Porto Seguro, localidade</p><p>conhecida como Meu Rei,</p><p>em Buíque, por</p><p>pesquisadores das</p><p>universidades Federal</p><p>Rural de Pernambuco –</p><p>Unidade Acadêmica de</p><p>Serra Talhada (Uast/</p><p>UFRPE), de São Paulo</p><p>(USP) e Federal do Mato</p><p>Grosso (UFMT).</p><p>Há dois anos, a equipe</p><p>realiza o projeto Anfíbios e</p><p>Répteis do Ecossistema</p><p>Caatinga: Indicadores de</p><p>Conservação para o Sertão</p><p>de Pernambuco, sob a</p><p>orientação da professora</p><p>Ednilza Maranhão, bióloga</p><p>da UFRPE, com a</p><p>finalidade de explorar o</p><p>potencial da região.</p><p>Estudos realizados</p><p>até o momento, para a des-</p><p>coberta dos hábitos e da</p><p>origem da nova espécie,</p><p>revelam que o animal vive</p><p>enterrado no solo, onde</p><p>passa grande parte da sua</p><p>vida, alimentando-se pos-</p><p>sivelmente de vermes e in-</p><p>setos. A espécie é pequena</p><p>— cerca de 20 centíme-</p><p>tros.</p><p>Para a coordenadora</p><p>da pesquisa, a professora</p><p>da UFRPE Ednilza Mara-</p><p>nhão, a descoberta signifi-</p><p>ca mais uma conquista para</p><p>o universo acadêmico e um</p><p>alerta para a valorização</p><p>merecida da área de pes-</p><p>quisa científica no País.</p><p>“Sabemos muito pouco so-</p><p>bre o que existe de anfíbios</p><p>25</p><p>e répteis em Pernambuco e</p><p>no Brasil. É necessário</p><p>mais incentivo aos pesqui-</p><p>sadores e alunos para que</p><p>eles possam desvendar a</p><p>nossa biodiversidade, pois,</p><p>conhecendo o nosso poten-</p><p>cial biológico, podemos</p><p>definir estratégias de con-</p><p>servação e o melhor uso</p><p>sustentável dos nossos re-</p><p>cursos naturais”, informa</p><p>Ednilza.</p><p>Para o Parque Nacio-</p><p>nal do Catimbau, a desco-</p><p>berta da espécie destaca</p><p>ainda mais a importância</p><p>da reserva como área prio-</p><p>ritária para conservação,</p><p>principalmente da herpe-</p><p>tofauna (anfíbios e rép-</p><p>teis) no semiárido nordes-</p><p>tino. Considerada também</p><p>região de riqueza biológi-</p><p>ca por possuir registros de</p><p>pinturas rupestres e ves-</p><p>tígios da ocupação pré-</p><p>histórica, com a continua-</p><p>ção das pesquisas</p><p>possivelmente serão des-</p><p>cobertas novas espécies,</p><p>reafirmando a necessidade</p><p>de preservação do vale</p><p>como verdadeiro local de</p><p>origens.</p><p>Exploração da</p><p>reserva – A parceria entre a</p><p>UFRPE e a UFMT e a USP</p><p>teve início quando, em 2008,</p><p>foi descoberto, pela equipe,</p><p>um lagarto de cinco</p><p>centímetros, conhecido</p><p>como Escrivão, na região de</p><p>Buíque. Vivendo nas areias</p><p>do Parque do Catimbau, o</p><p>réptil não desenvolveu patas,</p><p>provavelmente para melhor</p><p>locomoção.</p><p>Texto adaptado de site da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE):</p><p>http://www.ufrpe.br/noticia_ver.php?idConteudo=6150, acessado em 22/12/2009.</p><p>Texto: Descoberta Cobra-de-duas-cabeças no Vale do Catimbau, notícia publicada</p><p>on-line em 25 de novembro de 2009.</p><p>26</p><p>Grupo biológico Número de</p><p>espécies</p><p>Número de espécies endêmicas</p><p>Número % do total</p><p>Flora</p><p>Nordeste 8.760 - -</p><p>Caatinga 1.981 318 16,1</p><p>Fauna</p><p>Aves 348 15 4,3</p><p>Peixes 191 109 57,0</p><p>Répteis e anfíbios 167 24 14,4</p><p>Mamíferos 143 12 8,4</p><p>Invertebrados</p><p>(abelhas)</p><p>187 30 16,0</p><p>Tabela adaptada de Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Caatinga</p><p>(Brasil). Cenários para o Bioma Caatinga/ Conselho Nacional da Reserva da</p><p>Biosfera da Caatinga (Brasil). Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente.</p><p>Recife: Sectma, 2004. p. 224.</p><p>A tabela a seguir faz uma compilação de vários estudos</p><p>segundo o Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da</p><p>Caatinga (Brasil), com as espécies encontradas na Região</p><p>Nordeste, em especial na Caatinga, com destaque para as en-</p><p>dêmicas, ou seja, aquelas que só ocorrem nesse ecossistema.</p><p>Esse número poderia ser ainda maior se não fosse a caça pre-</p><p>datória e o desmatamento dessas áreas, destruindo o hábitat</p><p>natural dessas espécies.</p><p>27</p><p>SAIBA MAIS...</p><p>Extinção da Ararinha Azul</p><p>Figura 6: A – Casal de ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) no zoológico de São Paulo</p><p>(Foto: René Cardoso dos Santos) e B – Último exemplar de ararinha-azul próximo</p><p>a um maracanã (Foto: Luis Cláudio Marigo). Fonte: Portal Arara azul: http://www.</p><p>projetoararaazul.org.br/arara/Home/AAraraAzul/Asararasazuis/Ararinhaazul/tabid/298/</p><p>Default.aspx, acessado em 02/02/2010.</p><p>Reino: Animalia</p><p>Filo: Chordata</p><p>Classe: Aves</p><p>Ordem: Psitaciformes</p><p>Família: Psittacidae</p><p>Gênero: Cyanopsitta</p><p>Espécie: Cyanopsitta spixii</p><p>Status: Espécie considerada</p><p>EXTINTA na natureza. O úl-</p><p>timo exemplar foi visto em</p><p>liberdade na cidade de Cura-</p><p>çá – BA no ano de 2000. Atu-</p><p>almente cerca de 60 indiví-</p><p>duos são criados em</p><p>cativeiros espalhados por</p><p>todo o mundo.</p><p>A ararinha Cyanopsitta</p><p>spixii, ou ararinha-azul, era</p><p>uma ave endêmica da Caa-</p><p>tinga, ocorrendo do extremo</p><p>norte da Bahia ao sul do Rio</p><p>São Francisco, na região de</p><p>Juazeiro. Com coloração de</p><p>tonalidade azul e presença</p><p>de uma faixa cinza que se</p><p>estende da região superior</p><p>de seu negro e curto bico até</p><p>os olhos — destacando a cor</p><p>amarela da íris —, tornou-se</p><p>alvo frequente do tráfico in-</p><p>ternacional de animais, em</p><p>28</p><p>razão de sua exuberância.</p><p>Esse fator, aliado também à</p><p>invasão de seus ninhos por</p><p>abelhas-africanas — o que</p><p>matou fêmeas e filhotes —</p><p>e, principalmente, à perda</p><p>de hábitats, permitiu que</p><p>essa espécie fosse conside-</p><p>rada como extinta da nature-</p><p>za desde 2002, quando o úl-</p><p>timo exemplar em liberdade</p><p>desapareceu sem deixar ras-</p><p>tros. Este, um macho de</p><p>aproximadamente 20 anos</p><p>de idade, era vigiado por</p><p>cientistas e voluntários na</p><p>cidade de Curaçá, BA. Du-</p><p>rante oito anos, teve uma fê-</p><p>mea como parceira, sem, no</p><p>entanto, dar origem a ovos</p><p>viáveis. Mais tarde, tentati-</p><p>vas de aproximação entre</p><p>ele e uma fêmea de cativeiro</p><p>de sua espécie foram em</p><p>vão, já que são monogâmi-</p><p>cos, e este já considerava a</p><p>outra como sua parceira.</p><p>Assim, a arara C. spixii</p><p>só pode ser vista em cativei-</p><p>ros, sendo sua reprodução,</p><p>nesses locais, um evento</p><p>bastante raro. Quando ocor-</p><p>re, fêmeas colocam aproxi-</p><p>madamente três ovos para</p><p>cada ninhada, depositando-</p><p>os em ninhos de madeira, e</p><p>não em ocos de árvore carai-</p><p>beira (Tabebuia caraiba),</p><p>tais como seus exemplares</p><p>em liberdade faziam. Não há</p><p>dimorfismo sexual nítido,</p><p>ou seja: fêmeas e machos</p><p>são semelhantes.</p><p>Sementes de buriti,</p><p>pinhão e frutos em geral fa-</p><p>ziam parte de sua dieta, que</p><p>hoje também inclui ração</p><p>comercial para psitacídeos</p><p>e suplementação mineral e</p><p>polivitamínica.</p><p>Por Mariana Araguaia, graduada em Biologia, equipe Brasil Escola.</p><p>Texto adaptado do site do Brasil Escola: http://www.brasilescola.com/animais/</p><p>ararinha-azul.htm, acessado em 22/12/2009. Texto: Ararinha-azul (Cyanopsitta</p><p>spixii), notícia publicada on-line.</p><p>29</p><p>Os ambientes de Caa-</p><p>tinga encontram-se bastante</p><p>alterados, devido à substitui-</p><p>ção de vegetação nativa por</p><p>áreas de cultivo e pastagens.</p><p>O desmatamento e as quei-</p><p>madas também são práticas</p><p>comuns para a preparação da</p><p>terra com fins agropecuários,</p><p>alterando esses ambientes e</p><p>tendo como consequência a</p><p>diminuição da diversidade</p><p>vegetal e animal.</p><p>Em decorrência dessa</p><p>devastação de ambientes</p><p>naturais da Caatinga, o</p><p>Ministério do Meio Ambiente</p><p>publicou uma lista com 395</p><p>espécies de animais ameaçadas</p><p>de extinção. Destas, 234</p><p>ocorrem nos estados do</p><p>Nordeste e/ou em Minas</p><p>Gerais. Quanto à flora, baraúna</p><p>(Schinopsis brasiliensis) e</p><p>aroeira (Myracrodruon</p><p>urundeuva) encontram-se na</p><p>lista de espécies ameaçadas de</p><p>extinção.</p><p>Ameaças à biodiversidade</p><p>da Caatinga</p><p>VOCÊ SABIA?</p><p>Existem órgãos governamentais e não governamentais que</p><p>são responsáveis por gerenciar as atividades desenvolvidas na Caa-</p><p>tinga, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), a Re-</p><p>serva da Biosfera da Caatinga e o Instituto do Patrimônio Histórico</p><p>e Artístico Nacional (Iphan). Esses órgãos trabalham em parceria</p><p>com a sociedade, fiscalizando como os recursos naturais são utiliza-</p><p>dos e orientando as pessoas quanto ao uso racional desses recursos</p><p>para obter-se o máximo de desenvolvimento, porém com o máximo</p><p>de conservação e preservação, visando sempre à sua manutenção</p><p>para as gerações futuras, ou seja, para que o desenvolvimento seja</p><p>sustentável.</p><p>30</p><p>Finalmente, esse am-</p><p>biente tem características</p><p>especiais e paisagens muito</p><p>bonitas, que representam re-</p><p>cursos turísticos atraentes,</p><p>embora esse tipo de ativida-</p><p>de não seja tão bem desen-</p><p>volvido. Nos últimos anos, a</p><p>criação de parques nacionais</p><p>e outras áreas de conserva-</p><p>ção possibilitou às pessoas</p><p>observarem a natureza com</p><p>uma visão mais próxima da</p><p>realidade.</p><p>Muitas espécies de</p><p>plantas e animais que ocor-</p><p>rem na Caatinga são úteis</p><p>para as pessoas. Só as plan-</p><p>tas possuem diversos usos,</p><p>como medicinal, alimentí-</p><p>cio, forrageiro e madeirei-</p><p>ro, como veremos nos pró-</p><p>ximos capítulos deste livro.</p><p>Além de saber um pouco</p><p>mais sobre esses usos, você</p><p>terá a oportunidade de co-</p><p>nhecer estratégias simples</p><p>que podem contribuir, e</p><p>muito, para que as famílias</p><p>continuem utilizando esses</p><p>recursos, sem afetar a sus-</p><p>tentabilidade e a biodiver-</p><p>sidade da Caatinga.</p><p>31</p><p>O uso de plantas me-</p><p>dicinais é uma das práticas</p><p>mais antigas da população</p><p>humana. É tão antiga quan-</p><p>to a própria</p><p>existência dos</p><p>seres humanos. A Organi-</p><p>zação Mundial de Saúde</p><p>(OMS) estimou, na década</p><p>de 1990, que cerca de 70%</p><p>das pessoas que vivem em</p><p>países em desenvolvimen-</p><p>to dependiam de plantas</p><p>medicinais como sendo a</p><p>única maneira de cuidar da</p><p>saúde. Em nosso país, a</p><p>medicina popular é fruto</p><p>da mistura de saberes de</p><p>diversos grupos indígenas,</p><p>juntamente com os euro-</p><p>peus e africanos vindos</p><p>para o Brasil. Esses povos,</p><p>quando vieram, trouxeram</p><p>consigo uma grande quan-</p><p>tidade de plantas. Então,</p><p>podemos dizer que a maio-</p><p>ria das formas de uso das</p><p>plantas medicinais, hoje, é</p><p>o resultado da interação de</p><p>pessoas de diferentes cul-</p><p>turas. No Nordeste, nós te-</p><p>mos uma grande diversida-</p><p>de cultural, representada</p><p>por diferentes grupos,</p><p>como os quilombolas e os</p><p>grupos indígenas.</p><p>3Plantas com Uso Medicinal</p><p>Neste capítulo, você encontrará informações sobre o conheci-</p><p>mento tradicional e o uso das plantas, em especial as utilizadas no</p><p>tratamento de doenças: as medicinais. Verá também que uma mesma</p><p>planta pode ser utilizada para diferentes enfermidades, sendo, por</p><p>isso, importante não fazer uso delas sem a devida orientação. Encon-</p><p>trará, ainda, algumas dicas sobre a melhor forma de coletar essas</p><p>plantas sem prejudicar suas propriedades químicas nem o seu desen-</p><p>volvimento, de forma que elas estejam sempre disponíveis no ambiente.</p><p>32</p><p>Existem 43 grupos in-</p><p>dígenas na Região Nordeste,</p><p>distribuídos em sete dos</p><p>nove estados locais. Apenas</p><p>os estados do Piauí e do Rio</p><p>Grande do Norte não têm</p><p>tribos. Já o Estado da Bahia</p><p>e o de Pernambuco se desta-</p><p>cam por terem os maiores</p><p>números de grupos indíge-</p><p>nas, treze e onze, respectiva-</p><p>men-</p><p>t e .</p><p>Como</p><p>p o d e -</p><p>mos ver</p><p>na tabela seguinte, poucos</p><p>falam uma língua própria.</p><p>Na tabela, também observa-</p><p>mos quais são essas tribos e</p><p>que outros nomes elas po-</p><p>dem receber.</p><p>Índios do Nordeste</p><p>Alagoas – 7 grupos indígenas</p><p>Nome Outros nomes ou grafias Família/Língua</p><p>Jiripancó Jeripancó, Geripancó</p><p>Karapotó</p><p>Kariri-Xocó Cariri-xocó</p><p>Tingui-Botó</p><p>Tuxá</p><p>Wassu</p><p>Xukuru-Kariri Xucuru</p><p>Ceará – 8 grupos indígenas</p><p>Nome Outros nomes ou grafias Família/Língua</p><p>Anacé Payaku</p><p>Jenipapo-Kanindé</p><p>Kariri Potiguara, Pitaguari</p><p>Pitaguary</p><p>Potiguara</p><p>Tabajara Tapebano, Perna-de-pau</p><p>Tapeba</p><p>Tremembé</p><p>Tribos Indígenas do Nordeste do Brasil</p><p>33</p><p>Bahia – 13 grupos indígenas</p><p>Nome Outros nomes ou grafias Família/Língua</p><p>Atikum Aticum</p><p>Kaimbé</p><p>Kantaruré</p><p>Cantaruré, Pankararu</p><p>Kiriri Kariri</p><p>Pankararé</p><p>Pankaru Pankararu-Salambaia</p><p>Pataxó Maxacali</p><p>Pataxó Hã-Hã-Hãe Maxacali</p><p>Truká</p><p>Tumbalalá</p><p>Tupinambá Tupinambá de Olivença</p><p>Tuxá</p><p>Xukuru-Kariri Xucuru</p><p>Pernambuco – 11 grupos indígenas</p><p>Nome Outros nomes ou grafias Família/Língua</p><p>Atikum Aticum</p><p>Fulni-ô Iatê</p><p>Kambiwá Cambiuá</p><p>Kapinawá Capinauá</p><p>Pankaiuká</p><p>Pankará</p><p>Pankararu</p><p>Pipipã</p><p>Truká</p><p>Tuxá</p><p>Xukuru Xucuru</p><p>Paraíba – 1 grupo indígena</p><p>Nome Outros nomes ou grafias Família/Língua</p><p>Potiguara</p><p>34</p><p>Mas você sabe o que os</p><p>cientistas entendem por plantas</p><p>medicinais? São plantas que</p><p>possuem um ou vários princí-</p><p>pios ativos, podendo tratar do</p><p>organismo de pessoas ou até</p><p>mesmo de animais de uma for-</p><p>ma geral, assim como apenas</p><p>combater sintomas de doenças.</p><p>Ou seja, são plantas que pos-</p><p>suem substâncias capazes de</p><p>tratar não apenas do nosso cor-</p><p>po, eliminando patógenos,</p><p>como vermes e fungos, mas</p><p>também dos sintomas que uma</p><p>doença causa como dor e fe-</p><p>bre, por exemplo. Além de</p><p>curar, as plantas também po-</p><p>dem prevenir, protegendo nos-</p><p>so corpo de enfermidades cau-</p><p>sadas, por exemplo, pelo</p><p>acúmulo de gordura no san-</p><p>gue, conhecido como coleste-</p><p>rol. Já descobriram plantas</p><p>que diminuem os níveis de co-</p><p>lesterol no sangue, reduzindo,</p><p>Maranhão – 2 grupos indígenas</p><p>Nome Outros nomes ou grafias Família/Língua</p><p>Tabajara</p><p>Tembé Tenetehara Tupi-Guarani</p><p>Sergipe – 1 grupo indígena</p><p>Nome Outros nomes ou grafias Família/Língua</p><p>Xokó Chocó, Xocó</p><p>Tabela adaptada de http://pib.socioambiental.org/pt/c/quadro-geral, acessado em:</p><p>20/12/2009.</p><p>assim, o risco de infarto.</p><p>As plantas medicinais são</p><p>muito conhecidas na Caatinga.</p><p>Elas desempenham uma função</p><p>muito importante, pois, em mui-</p><p>tos lugares, são a única forma</p><p>existente de preparar um remé-</p><p>dio para se melhorar de alguma</p><p>doença ou para diminuir os sin-</p><p>tomas que ela causa. Atualmen-</p><p>te, os cientistas reconhecem</p><p>que, na Caatinga, existem cerca</p><p>de 400 espécies utilizadas me-</p><p>dicinalmente para os mais dife-</p><p>rentes problemas de saúde.</p><p>Muitas vezes, o acesso a</p><p>médicos e a postos de saúde</p><p>não existe, e, quando existe, es-</p><p>tes ficam muito distantes das</p><p>vilas, dos sítios e das fazendas</p><p>onde algumas pessoas moram.</p><p>Imagine que podemos morar</p><p>em comunidades em áreas ru-</p><p>rais que ficam a dezenas de</p><p>quilômetros do centro da cida-</p><p>de, onde estão os serviços de</p><p>35</p><p>saúde — hospitais, médicos,</p><p>medicamentos. Isso reforça a</p><p>importância dos vegetais para</p><p>a melhoria da nossa qualidade</p><p>de vida.</p><p>As plantas medicinais da</p><p>nossa Caatinga são usadas pelas</p><p>pessoas para combater vários</p><p>tipos de problema de saúde.</p><p>Dentre as doenças mais tratadas</p><p>com o uso de plantas medici-</p><p>nais, estão as que atacam o sis-</p><p>tema respiratório, como gripes,</p><p>resfriados, tosses; e também as</p><p>que atacam o sistema digestivo,</p><p>como problemas de digestão,</p><p>sensação de estômago cheio</p><p>(empachamento), azia, diarréia,</p><p>prisão de ventre, entre outros</p><p>problemas.</p><p>Muitas pessoas têm a cren-</p><p>ça de que, por estar tomando um</p><p>remédio à base de plantas, não</p><p>podem sofrer nenhum mal, já que</p><p>é algo natural. Mas isso não é</p><p>verdade, pois o preparo e/ou uso</p><p>errado de um remédio caseiro po-</p><p>dem trazer complicações graves.</p><p>Então, quais os cuidados que</p><p>você deve ter ao usar um remédio</p><p>feito com plantas?</p><p>Tenha sempre cuidado na</p><p>preparação de um medicamento</p><p>caseiro, pois um erro durante o</p><p>preparo pode transformá-lo em</p><p>algo extremamente perigoso. Por</p><p>isso, tenha sempre certeza de que</p><p>você está preparando o remédio</p><p>com as plantas certas e na quanti-</p><p>dade recomendada pelo médico</p><p>ou pessoa experiente no assunto;</p><p>do contrário, não terá efeito ou</p><p>Usar um remédio feito de planta</p><p>medicinal é perigoso? p o d e r á</p><p>agravar a</p><p>d o e n ç a ,</p><p>podendo le-</p><p>var à morte.</p><p>Sempre que for preparar um</p><p>remédio, utilize água limpa e tratada</p><p>para evitar micro-organismos que</p><p>possam contaminá-lo durante o pre-</p><p>paro. Além disso, use sempre partes</p><p>sadias da planta, isto é, que não este-</p><p>jam contaminadas com fungos ou</p><p>que não tenham um cheiro não carac-</p><p>terístico.</p><p>Tenha cuidado para não exage-</p><p>rar na dose ou tomar o remédio por um</p><p>período muito longo, pois usar um chá,</p><p>uma garrafada, um xarope ou outro</p><p>medicamento por muito tempo pode</p><p>ser perigoso. Caso o remédio prepara-</p><p>do não esteja fazendo efeito, suspenda</p><p>o seu uso e consulte um médico para</p><p>aconselhar o seu tratamento.</p><p>36</p><p>Algumas plantas nati-</p><p>vas da Caatinga merecem uma</p><p>atenção especial, pois estão</p><p>sofrendo forte pressão extra-</p><p>tivista devido à sua grande</p><p>utilidade e também ao seu va-</p><p>lor comercial. Destas, desta-</p><p>cam-se a aroeira e o angico,</p><p>pois ambas estão na lista ofi-</p><p>cial da flora ameaçada de ex-</p><p>tinção, publicada pelo Minis-</p><p>tério do Meio Ambiente. As</p><p>SAIBA MAIS...</p><p>Testes comprovam ação de plantas medicinais</p><p>As propriedades medi-</p><p>cinais de três espécies da</p><p>Caatinga — a moricica, a</p><p>catingueira-rasteira e a ba-</p><p>raúna — foram testadas na</p><p>Universidade Federal de</p><p>Pernambuco (UFPE). O tra-</p><p>balho teve duração de quatro</p><p>anos e estudou mais vinte</p><p>espécies.</p><p>A primeira etapa da</p><p>pesquisa foi concluída no ano</p><p>de 2000 pelo Programa Xin-</p><p>gó/Chesf. Ela consistiu em</p><p>uma relação de 190 plantas</p><p>da Caatinga, das quais as três</p><p>citadas foram escolhidas.</p><p>“Levamos em conta, princi-</p><p>palmente, se a planta é nativa</p><p>e se é amplamente usada na</p><p>medicina popular”, explicou</p><p>a coordenadora do trabalho, a</p><p>professora Maria Bernadete</p><p>Maia. Depois, a equipe pro-</p><p>duziu um banco de dados</p><p>com informações sobre a flo-</p><p>plantas que apresentaremos</p><p>em seguida estão entre as mais</p><p>conhecidas e usadas pelas</p><p>pessoas que moram em áreas</p><p>de Caatinga, e, com isso, fo-</p><p>caremos</p><p>nas indicações popu-</p><p>lares, relatando como essas</p><p>pessoas costumam usar essas</p><p>plantas. Mas precisamos ter</p><p>cuidado, pois não devemos</p><p>tomar remédio sem a orienta-</p><p>ção de um médico.</p><p>Conheça melhor algumas plantas</p><p>medicinais da Caatinga</p><p>37</p><p>ra e fauna da Caatinga.</p><p>Uma das plantas, a ba-</p><p>raúna, tem suas folhas e cas-</p><p>cas empregadas em remé-</p><p>dios caseiros contra asma,</p><p>dor de dente e inflamação. A</p><p>planta, que atinge 12 metros,</p><p>também é encontrada no</p><p>Cerrado. Já a moricica, tem</p><p>suas folhas e raízes usadas</p><p>como no tratamento de gas-</p><p>trite. A catingueira-rasteira,</p><p>por sua vez, é indicada, pela</p><p>medicina popular, para gri-</p><p>pe, flatulência e gastrite,</p><p>além de ser empregada como</p><p>afrodisíaco.</p><p>A terceira etapa con-</p><p>sistiu na identificação e ca-</p><p>racterização química, far-</p><p>macológica e toxicológica</p><p>das plantas. As plantas fo-</p><p>ram testadas não apenas para</p><p>as afecções indicadas pela</p><p>medicina popular. Os testes,</p><p>que tiveram a colaboração</p><p>da Universidade Federal da</p><p>Paraíba (UFPB), foram fei-</p><p>tos no Laboratório de Far-</p><p>macologia de Produtos Na-</p><p>turais da UFPE.</p><p>Durante a primeira</p><p>etapa, os pesquisadores ano-</p><p>taram os usos medicinais</p><p>das plantas listadas, fazen-</p><p>do uma triagem para verifi-</p><p>car, de fato, para que serve</p><p>cada planta. A coordenadora</p><p>do projeto, Profa. Bernadete</p><p>Maia, ainda destacou o es-</p><p>tudo toxicológico.Este estu-</p><p>do é para identificar o</p><p>quanto a planta é tóxica.</p><p>A partir dos estudos fi-</p><p>toquímicos é que podem ser</p><p>realizados os testes do extra-</p><p>to retirado da planta em ani-</p><p>mais e, posteriormente, em</p><p>humanos. A pesquisa sobre</p><p>as três espécies envolveu,</p><p>ainda, a determinação do seu</p><p>princípio ativo, que é a subs-</p><p>tância que possui o efeito</p><p>terapêutico.</p><p>Texto adaptado de: Caderno de Ciência/Meio Ambiente - Testes comprovam ação de</p><p>plantas medicinais, Jornal do Commercio, publicado em 12/12/2001.</p><p>38</p><p>Aroeira (Myracrodruon</p><p>urundeuva Allemão)</p><p>A aroeira é uma árvore</p><p>que pode chegar a 10 metros</p><p>de altura e é dioica, ou seja,</p><p>apresenta sexo separado,</p><p>existindo o pé de aroeira fê-</p><p>mea e o pé de aroeira-macho.</p><p>No período seco, suas folhas</p><p>podem cair, o que faz com</p><p>que a denominemos planta</p><p>decídua. No Brasil, ela está</p><p>presente por toda a Caatinga,</p><p>em áreas de Mata, Agreste e</p><p>Sertão. Essa planta é uma das</p><p>mais conhecidas e utilizadas</p><p>pelo povo nordestino e, em</p><p>especial, por aqueles que mo-</p><p>ram na Caatinga.</p><p>Devido a suas proprie-</p><p>dades terapêuticas anti-in-</p><p>flamatórias e cicatrizantes,</p><p>as pessoas utilizam essa</p><p>planta para diversos tipos de</p><p>inflamação, como inflama-</p><p>ções na garganta, no útero e</p><p>no ovário, e também para</p><p>curar ferimentos na pele,</p><p>podendo estar infeccionados</p><p>ou não. Além disso, é usada</p><p>para tratar úlcera gástrica e</p><p>hemorroidas, ferimentos e</p><p>cortes. Alguns estudos cien-</p><p>tíficos vêm demonstrando a</p><p>eficiência dessa espécie para</p><p>tratar doenças como infla-</p><p>mações, dores em geral,</p><p>problemas gástricos e na</p><p>pele. Foram encontrados,</p><p>nesses estudos, substâncias</p><p>capazes de curar ou tratar</p><p>alguns desses problemas,</p><p>mas isso não quer dizer que</p><p>podemos usar essas plantas</p><p>livremente.</p><p>Suas cascas são, prefe-</p><p>rencialmente, a parte coleta-</p><p>da para o preparo dos medi-</p><p>camentos. Elas contêm</p><p>elevadas concentrações de</p><p>tanino, substância que auxi-</p><p>lia na formação de uma ca-</p><p>mada protetora sobre a pele,</p><p>ajudando, assim, na cicatri-</p><p>zação de feridas.</p><p>Além de seu uso medi-</p><p>cinal, a aroeira é uma das</p><p>espécies mais úteis na Caa-</p><p>tinga. Devido à dureza de</p><p>sua madeira, é intensamente</p><p>utilizada para a construção</p><p>de casas, cercas, postes, en-</p><p>tre outros. Graças à intensi-</p><p>dade dos seus usos, ela é</p><p>considerada uma das espé-</p><p>cies com alto risco de extin-</p><p>ção, de acordo com uma lis-</p><p>ta publicada pelo Ibama</p><p>(Figura 7).</p><p>39</p><p>Figura 7: Aroeira.</p><p>A - porte da planta</p><p>e B – flores (Fotos:</p><p>Fábio J. Vieira).</p><p>A</p><p>B</p><p>40</p><p>Angico</p><p>(Anadenanthera</p><p>colubrina (Vell.)</p><p>Brenan)</p><p>O angico é uma árvore</p><p>de 12 a 15 metros de altura,</p><p>também conhecida como an-</p><p>gico-preto ou angico-de-ca-</p><p>roço. Essa árvore é monoica,</p><p>ou seja, apresenta o sexo fe-</p><p>minino e o masculino em</p><p>uma mesma planta, e seu</p><p>tronco é coberto por acúleos,</p><p>que podem estar densos ou</p><p>até mesmo dispersos, daí ser</p><p>chamada de angico-de-caro-</p><p>ço. Suas flores são brancas, e</p><p>os seus frutos são longos e</p><p>achatados. Ocorre em todas</p><p>as regiões da Caatinga e em</p><p>algumas áreas do Cerrado,</p><p>mas também pode ser encon-</p><p>trada desde o Maranhão até o</p><p>Paraná. É uma planta inten-</p><p>samente utilizada para várias</p><p>finalidades, que vão desde a</p><p>construção de casas, cercas e</p><p>artesanato até o curtimento</p><p>artesanal de couros e peles</p><p>de animais para a fabricação</p><p>de calçados, entre outras pe-</p><p>ças.</p><p>Na medicina popular, o</p><p>angico ajuda na eliminação</p><p>de produtos do metabolis-</p><p>mo. Também é utilizado para</p><p>estancar pequenas hemorra-</p><p>gias e no tratamento de leu-</p><p>correia e gonorreia. Assim</p><p>como a aroeira, devido à alta</p><p>concentração de tanino em</p><p>suas cascas, é utilizado para</p><p>o tratamento tópico de feri-</p><p>mentos e cortes. Essa planta</p><p>também é empregada no tra-</p><p>tamento de doenças respira-</p><p>tórias, como: bronquite, co-</p><p>queluche, tosse e inflamações</p><p>no pulmão. É também utili-</p><p>zada como expectorante (fi-</p><p>gura 8).</p><p>Figura 8: Angico.</p><p>A - porte da</p><p>planta, B – flores</p><p>e C – detalhe do</p><p>tronco repleto de</p><p>acúleos (Fotos:</p><p>A e B - Fábio J.</p><p>Vieira; C – Nélson</p><p>L. Alencar) A</p><p>B C</p><p>42</p><p>Cumaru (Amburana</p><p>cearensis (Allemão) A.</p><p>C. Sm.)</p><p>Essa árvore é também</p><p>conhecida como imburana-</p><p>de-cheiro, amburana ou</p><p>cumaru e apresenta de 4 a</p><p>10 metros na vegetação</p><p>mais seca, alcançando até</p><p>20 metros em áreas mais</p><p>úmidas. Assim como a aro-</p><p>eira, a imburana-de-cheiro</p><p>é dioica e perde as folhas</p><p>durante o período seco. As</p><p>flores são brancas, e seus</p><p>frutos são pequenos, do</p><p>tipo vagem. Seu tronco</p><p>possui descamação seme-</p><p>lhante à encontrada em</p><p>troncos de goiabeira, e essa</p><p>camada que foi descamada</p><p>recebe o nome de ritido-</p><p>ma. A imburana-de-cheiro</p><p>ocorre na Caatinga e tam-</p><p>bém nos estados do Espíri-</p><p>to Santo e de Minas Gerais.</p><p>Sua distribuição não é fre-</p><p>quente, sendo, inclusive,</p><p>apontada como uma planta</p><p>que sofre riscos de extin-</p><p>ção devido à sua baixa</p><p>ocorrência nas matas e à</p><p>sua intensa exploração.</p><p>Sua madeira é utilizada no</p><p>fabrico de móveis, devido</p><p>à sua boa qualidade, e em</p><p>esculturas, além de outros</p><p>usos nobres. Tradicional-</p><p>mente, suas sementes são</p><p>usadas como odorizante de</p><p>roupas em armários e guar-</p><p>da-roupas por causa do seu</p><p>aroma agradável.</p><p>Como medicamento,</p><p>é usada popularmente no</p><p>tratamento de problemas</p><p>respiratórios, a exemplo de</p><p>bronquite, asma, sinusite,</p><p>gripe, resfriado; e como</p><p>expectorante, o que pode</p><p>ser devido à sua ação bron-</p><p>codilatadora. Suas semen-</p><p>tes são utilizadas no trata-</p><p>mento de inflamações nos</p><p>dentes e de dores reumáti-</p><p>cas. Estudos científicos de-</p><p>monstram que essa planta</p><p>parece ser promissora no</p><p>tratamento da doença de</p><p>Alzheimer, mas devemos</p><p>ter cuidado, pois essa fun-</p><p>ção ainda não foi totalmen-</p><p>te comprovada (figura 9).</p><p>Figura 9 - Imburana</p><p>de cheiro. A - porte</p><p>da planta, B - detalhe</p><p>do tronco mostrando</p><p>os ritidomas e C – flor</p><p>(Fotos: Fábio J. Vieira). A</p><p>B C</p><p>44</p><p>Juá (Ziziphus joazeiro</p><p>Mart.)</p><p>Conhecida popular-</p><p>mente como juazeiro, é uma</p><p>árvore monoica de 15 a 20</p><p>metros, nativa da Caatinga.</p><p>Possui flores amarelo-es-</p><p>verdeadas, pequenas e pou-</p><p>co vistosas; o fruto é peque-</p><p>no, porém doce e de sabor</p><p>agradável, e costuma cair</p><p>bastante no período chuvo-</p><p>so. Durante a estação de</p><p>seca, não perde suas folhas,</p><p>daí ser considerada uma</p><p>planta perenifólia. É uma</p><p>das poucas plantas que re-</p><p>sistem às frequentes secas</p><p>da região, graças às suas</p><p>grandes raízes, que retiram</p><p>água das regiões mais pro-</p><p>fundas do solo. Seus frutos,</p><p>suas folhas e seus ramos são</p><p>utilizados para a alimenta-</p><p>ção de bovinos, caprinos e</p><p>suínos. O juá ocorre em</p><p>todo o Nordeste brasileiro,</p><p>desde o Piauí até a Bahia, e</p><p>também no norte de Minas</p><p>Gerais.</p><p>Na medicina popular,</p><p>são utilizadas a casca e a fo-</p><p>lha do juazeiro para aliviar</p><p>alguns problemas relacio-</p><p>nados</p><p>aos aparelhos diges-</p><p>tório e respiratório, como,</p><p>por exemplo, gripe e tosse.</p><p>Mas apenas a casca é usada</p><p>como anti-inflamatório, to-</p><p>nificante para os cabelos e</p><p>anticaspa. Apesar de serem</p><p>poucos os estudos científi-</p><p>cos sobre essa planta, ela</p><p>vem demonstrando ter uma</p><p>boa atividade antibacteria-</p><p>na, agindo sobre algumas</p><p>bactérias (figura 10).</p><p>Figura 10 -</p><p>Juazeiro. A - porte</p><p>da planta, B -</p><p>folhas e frutos e</p><p>C - flores, frutos</p><p>jovens e folhas</p><p>(Fotos: A e C -</p><p>Fábio J. Vieira;</p><p>B – Nélson L.</p><p>Alencar). A</p><p>B C</p><p>46</p><p>Mororó (Bauhinia</p><p>cheilantha (Bong.)</p><p>Steud.)</p><p>Conhecida também po-</p><p>pularmente por pata-de-vaca</p><p>ou unha-de-vaca, devido às</p><p>suas folhas serem semelhan-</p><p>tes a uma pata de vaca. É um</p><p>arbusto monóico nativo da</p><p>Caatinga que mede de 5 a 7</p><p>metros de altura e tem como</p><p>traço mais evidente suas fo-</p><p>lhas, apesar de haver outras</p><p>espécies desse mesmo gêne-</p><p>ro com essa característica.</p><p>Sua madeira é usada para fa-</p><p>zer estaca, cabo de ferramen-</p><p>tas, lenha e carvão.</p><p>Popularmente, essa</p><p>planta é usada para o trata-</p><p>mento de diabetes, proble-</p><p>mas respiratórios (tosse, in-</p><p>flamações na garganta, gripe,</p><p>asma), distúrbios nervosos,</p><p>Figura 11: Pata de vaca. A - porte</p><p>da planta, B - flor e C – frutos</p><p>(Fotos: Fábio J. Vieira).</p><p>A</p><p>B</p><p>C</p><p>47</p><p>enxaqueca e como expecto-</p><p>rante e calmante. Atualmen-</p><p>te, não existem trabalhos</p><p>com avaliação farmacológi-</p><p>ca dessa planta. Os estudos</p><p>que existem são de plantas</p><p>aparentadas, ou seja, da mes-</p><p>ma família. Essas plantas de</p><p>parentesco próximo do mo-</p><p>roró vêm demonstrando se-</p><p>rem interessantes no trata-</p><p>mento de diabetes por</p><p>Bom-nome (Maytenus</p><p>rigida Mart.)</p><p>Conhecida como bom-</p><p>nome ou rompe-gibão, é</p><p>uma planta de 4 a 8 metros</p><p>de altura, com copa arre-</p><p>dondada, muito densa e ra-</p><p>mificada. É presente na Ca-</p><p>atinga, crescendo em</p><p>terrenos pedregosos e se-</p><p>cos. Desenvolve-se princi-</p><p>palmente em terrenos com</p><p>alta incidência luminosa.</p><p>Na Caatinga, sua madeira é</p><p>utilizada para fazer cabo de</p><p>ferramentas, estaca, lenha e</p><p>carvão. Sua casca é usada</p><p>no preparo de remédios para</p><p>problemas renais e do fíga-</p><p>do. Além disso, há também</p><p>relatos de usos para reuma-</p><p>tismo, impotência sexual,</p><p>distúrbio da menstruação,</p><p>asma, tosse, anemia, pro-</p><p>blemas cardíacos e na cir-</p><p>culação sanguínea e infla-</p><p>mações em geral, inclusive</p><p>na garganta e no ovário.</p><p>Apesar de ser uma planta</p><p>muito conhecida pelas pes-</p><p>soas da Caatinga, ainda são</p><p>poucos os estudos científi-</p><p>cos a seu respeito.</p><p>diminuírem as concentrações</p><p>de açúcares no sangue; além</p><p>disso, parecem ser importan-</p><p>tes para diminuir as taxas de</p><p>colesterol e triglicérides,</p><p>que são duas gorduras forte-</p><p>mente associadas a doenças</p><p>cardíacas. Mas isso não quer</p><p>dizer que o mororó da nossa</p><p>região também tenha essas</p><p>mesmas características (figu-</p><p>ra 11).</p><p>48</p><p>Figura 12: Ramos de</p><p>catingueira floridos</p><p>(Foto: Luciana G.S.</p><p>Nascimento).</p><p>Catingueira</p><p>(Caesalpinia</p><p>pyramidalis Tul.)</p><p>Conhecida popular-</p><p>mente como catingueira ou</p><p>catinga-de-porco devido ao</p><p>cheiro da planta, essa árvore</p><p>é monoica e possui de 4 a 10</p><p>metros de altura. Suas flores</p><p>são amarelas, e seus frutos</p><p>são do tipo vagem, que,</p><p>quando secos, estouram para</p><p>lançar suas sementes. Suas</p><p>folhas podem cair durante as</p><p>estações secas, ficando a</p><p>planta completamente sem</p><p>folhas. Cresce em todos os</p><p>ambientes de Caatinga, tan-</p><p>to nos úmidos como nos se-</p><p>cos, porém, nas Caatingas</p><p>mais secas, é vista apenas</p><p>como um arbusto. É utiliza-</p><p>da em projetos de refloresta-</p><p>mento de áreas da Caatinga.</p><p>Sua madeira é intensamente</p><p>utilizada como lenha e car-</p><p>vão, além de servir para o</p><p>fabrico de cercas e pequenas</p><p>construções.</p><p>Na medicina popular,</p><p>o chá de suas flores e sua</p><p>casca é usado para proble-</p><p>mas respiratórios, como gri-</p><p>pes e resfriados, e também</p><p>como expectorante. Mas</p><p>apenas suas folhas são usa-</p><p>das no tratamento de gastri-</p><p>te, cólicas, febre e diarreias.</p><p>Estudos realizados por cien-</p><p>tistas mostraram a eficiência</p><p>dessa planta no tratamento</p><p>de diarreia e disenterias.</p><p>Jatobá (Hymenaea</p><p>courbaril L.)</p><p>Conhecida popular-</p><p>mente como jatobá, é uma</p><p>árvore de 8 a 18 metros de al-</p><p>tura, com uma copa vistosa</p><p>devido a seus amplos ramos;</p><p>folhas perenes, inclusive na</p><p>estação seca; tronco curto; e</p><p>casca bem grossa. A flor é de</p><p>cor creme, seu fruto é uma</p><p>vagem (figura 14) de casca rí-</p><p>gida e polpa constituída de</p><p>uma massa amarelada e sabor</p><p>fortemente adocicado muito</p><p>apreciado.</p><p>Medicinalmente, seus</p><p>frutos são utilizados no fabri-</p><p>co de remédios para tosse,</p><p>gripe, bronquite, entre outros</p><p>problemas respiratórios; além</p><p>de anemia, dor de cabeça e</p><p>gastrite. A resina pode ser</p><p>usada em lambedores para a</p><p>cura de gripe ou como chá</p><p>para tosse e catarro. Da casca,</p><p>é feito o chá para dores em</p><p>geral e problemas no sistema</p><p>respiratório, funcionando</p><p>também como calmante. De-</p><p>vido à qualidade de sua ma-</p><p>deira, é empregada na cons-</p><p>trução de vigas e confecção</p><p>de caibros. Seus frutos são</p><p>comestíveis para as pessoas e</p><p>os animais.</p><p>Figura 13: Frutos do jatobá</p><p>(Foto: Thiago A.S. Araújo).</p><p>50</p><p>Mulungu (Erythrina</p><p>velutina Willd.)</p><p>Conhecida popular-</p><p>mente como mulungu, é uma</p><p>planta de 8 a 12 metros de al-</p><p>tura e com tronco espinhento.</p><p>Suas flores são alaranjadas e</p><p>bem vistosas devido ao seu</p><p>tamanho e também por ocor-</p><p>rerem durante o período em</p><p>que a planta perde suas fo-</p><p>lhas. Seus frutos, quando se-</p><p>cos, abrem-se e liberam, no</p><p>ambiente, suas sementes, que</p><p>são de cor avermelhada.</p><p>Ocorre em toda a Região Nor-</p><p>deste até Minas Gerais e é</p><p>bem adaptada a ambientes</p><p>com forte incidência lumino-</p><p>sa, apesar de estar frequente-</p><p>mente associada a ambientes</p><p>úmidos, como leito de rios ou</p><p>várzeas. Sua madeira é bem</p><p>leve e úmida e, por isso, pos-</p><p>sui pouco interesse econômi-</p><p>co, já que é atacada por de-</p><p>compositores rapidamente.</p><p>Mas, mesmo assim, é usada</p><p>para fazer estacas e gamelas</p><p>e no fabrico de caixotes ou</p><p>brinquedos.</p><p>Popularmente, sua</p><p>casca é utilizada no fabrico</p><p>de chás para o tratamento de</p><p>insônia, cólicas e prisão de</p><p>ventre e como calmante e an-</p><p>ti-inflamatório. A literatura</p><p>reporta usos para tratar de in-</p><p>flamações dos dentes, dores</p><p>de cabeça, febre e até mesmo</p><p>como estimulante da produ-</p><p>ção de leite materno. Já exis-</p><p>tem estudos que mostram</p><p>que, futuramente, poderemos</p><p>ter bons remédios com efeito</p><p>tranquilizante à base de mu-</p><p>lungu.</p><p>Quixaba (Sideroxylon</p><p>obtusifolium (Humb. ex</p><p>Roem. & Schult.) T. D.</p><p>Penn.)</p><p>Conhecida como quixa-</p><p>ba, é uma árvore dioica de até</p><p>15 metros de altura, com vá-</p><p>rios troncos partindo do solo.</p><p>Possui caule com muitos es-</p><p>pinhos grandes e pontiagu-</p><p>dos. Sua madeira é dura e uti-</p><p>lizada no fabrico de pequenas</p><p>ferramentas, como enxadas e</p><p>foices. É nativa da Caatinga e</p><p>ocorre desde o Piauí até Mi-</p><p>nas Gerais. Sua flor é de cor</p><p>amarelo-esverdeada, e seu</p><p>fruto, por ter sabor adocica-</p><p>do, é consumido pelas pesso-</p><p>as e pelos animais da Caatin-</p><p>51</p><p>ga, como aves e pequenos</p><p>mamíferos.</p><p>Na medicina popu-</p><p>lar, sua casca é utilizada</p><p>no preparo de remédios</p><p>para pancada, inflama-</p><p>ções crônicas internas —</p><p>como gastrite e inflama-</p><p>ções ovarianas — e</p><p>problemas renais. Seus</p><p>frutos servem para a ali-</p><p>mentação humana; e sua</p><p>madeira, para a produção</p><p>de estacas.</p><p>Caro leitor, fizemos</p><p>uma breve descrição de algu-</p><p>mas das plantas bem conheci-</p><p>das da Caatinga. No próximo</p><p>tópico, veremos alguns cui-</p><p>dados que precisamos ter com</p><p>as plantas na hora de coletar</p><p>alguma de suas partes para</p><p>fazer um remédio.</p><p>Quais os cuidados que</p><p>devemos ter ao coletar</p><p>partes de uma planta</p><p>medicinal?</p><p>Quando vamos coletar</p><p>alguma parte da planta, deve-</p><p>Figura 14: Detalhe do tronco de quixabeira</p><p>com marcas de extração de casca (Foto:</p><p>Ulysses P. Albuquerque).</p><p>mos tomar alguns cuidados,</p><p>pois o uso sem controle de</p><p>plantas pode levar, com o pas-</p><p>sar do tempo, à sua escassez</p><p>na região. Devemos coletar</p><p>folhas, cascas, frutos, látex,</p><p>raízes, caules subterrâneos,</p><p>sementes ou flores em uma</p><p>quantidade ideal para evitar o</p><p>desperdício.</p><p>Para cada parte utiliza-</p><p>da, tem-se um cuidado espe-</p><p>cífico. Na</p><p>coleta de casca,</p><p>você deverá ter o cuidado de</p><p>não retirá-la anelando (figu-</p><p>ra 15) o tronco, pois isso le-</p><p>52</p><p>vará à morte da planta. É pre-</p><p>ciso compreender que toda</p><p>retirada da casca de uma</p><p>planta, por si só, já compro-</p><p>mete, de alguma forma, a sua</p><p>sobrevivência; por isso, de-</p><p>ve-se coletar o mínimo possí-</p><p>vel. Devemos também evitar</p><p>coletar casca em plantas com</p><p>caules muito finos, pois isso</p><p>pode torná-las frágeis, fazen-</p><p>do-as quebrarem facilmente</p><p>e até mesmo afetando o seu</p><p>desenvolvimento. A casca,</p><p>além de proteger a planta,</p><p>também é o local onde passa</p><p>o floema, os vasos conduto-</p><p>res de seiva elaborada.</p><p>Figura 15: Planta com grande retirada de cascas do</p><p>caule (Foto: Ulysses P. Albuquerque).</p><p>53</p><p>No caso da flor, deve-</p><p>mos ter o cuidado de não re-</p><p>tirá-la em excesso, pois isso</p><p>poderá prejudicar a reprodu-</p><p>ção da planta no ambiente. É</p><p>importante termos em mente</p><p>que a flor é o seu órgão re-</p><p>produtor. Já para a retirada</p><p>de raízes, ter o cuidado de</p><p>não derrubar toda a árvore</p><p>para não prejudicar o hábitat</p><p>de outros animais que preci-</p><p>sam desse local para sobrevi-</p><p>ver.</p><p>Neste capítulo, vimos</p><p>que as plantas medicinais são</p><p>bastante utilizadas pelas pes-</p><p>soas residentes em regiões de</p><p>Caatinga, sendo, assim, um</p><p>recurso muito importante</p><p>para melhorar a qualidade de</p><p>vida. A diversidade da flora</p><p>da nossa Caatinga tem sido</p><p>uma fonte importante para a</p><p>produção de novos remédios.</p><p>Por isso, caro leitor, devemos</p><p>ter bastante cuidado com as</p><p>plantas, principalmente na</p><p>hora de extrair alguma parte</p><p>delas, para não prejudicar a</p><p>sua vida e também para tê-las</p><p>disponíveis e podermos fazer</p><p>algum uso para melhorar nos-</p><p>sa saúde e bem-estar.</p><p>54</p><p>Uma das necessidades</p><p>básicas para nós, seres huma-</p><p>nos, é a alimentação. Desde</p><p>os primórdios da humanida-</p><p>de, as pessoas utilizam os re-</p><p>cursos naturais, tanto os de</p><p>origem animal quanto os de</p><p>origem vegetal, para satisfa-</p><p>zer essa necessidade. Em se</p><p>tratando destes últimos, a</p><p>contribuição das plantas para</p><p>a alimentação humana é bas-</p><p>tante considerável, basta lem-</p><p>brar das nossas refeições diá-</p><p>rias para constatarmos que a</p><p>maior parte da nossa dieta</p><p>vem das plantas, como, por</p><p>exemplo, o feijão, o arroz, o</p><p>milho, a ervilha, a soja, o tri-</p><p>go, a aveia, a cevada, as hor-</p><p>taliças em geral etc. Todas</p><p>essas plantas, e muitas outras,</p><p>foram domesticadas há mi-</p><p>lhares de anos.</p><p>Plantas com Uso Alimentício4</p><p>Este capítulo quer chamar sua atenção para um tipo de uso que</p><p>algumas vezes tem sido negligenciado: o uso alimentício das plantas da</p><p>Caatinga. Aqui, você encontrará informações sobre algumas plantas</p><p>que podem ser utilizadas na alimentação das pessoas — em especial de</p><p>quem vive em regiões semiáridas, onde a oferta desse recurso é maior</p><p>—, além de conhecer a importância delas para o desenvolvimento eco-</p><p>nômico e a conservação do meio ambiente.</p><p>55</p><p>VOCÊ SABIA?</p><p>Não se tem um número exato das plantas alimentícias em todo o</p><p>mundo, porém um pesquisador alemão, Günther Kunkel, em seu livro</p><p>Plantas para o Consumo Humano, publicado em 1984, forneceu uma</p><p>das listas mais completas sobre plantas alimentícias, na qual se contabi-</p><p>lizaram cerca de 12.500 espécies com potencial uso alimentício. No</p><p>entanto, a incerteza desses números levou outros pesquisadores a esti-</p><p>marem, posteriormente, algo entre 27 mil e 75 mil espécies potencial-</p><p>mente alimentícias.</p><p>Apesar do grande núme-</p><p>ro de espécies com potencial</p><p>alimentício, a alimentação hu-</p><p>mana é baseada principalmente</p><p>em apenas cem plantas. Esse</p><p>número reduzido de plantas na</p><p>nossa dieta tem como principal</p><p>consequência o mau aproveita-</p><p>mento de outras espécies com</p><p>potencial nutricional, principal-</p><p>mente a flora alimentícia nati-</p><p>va de uma região. O grande</p><p>problema é que o interesse</p><p>econômico mundial destina-</p><p>se a um conjunto reduzido de</p><p>aproximadamente vinte espé-</p><p>cies vegetais, como soja, mi-</p><p>lho, sorgo, trigo, cevada, ar-</p><p>roz. Toda a forte influência da</p><p>mídia e os interesses econô-</p><p>micos culminaram no aumen-</p><p>to da procura e do uso desse</p><p>grupo reduzido de vegetais,</p><p>em detrimento do consumo</p><p>de plantas nativas de uma re-</p><p>gião. A incorporação destas</p><p>últimas na dieta, além de fa-</p><p>zer com que ela seja mais va-</p><p>riada, proporcionaria às po-</p><p>pulações humanas uma fonte</p><p>alternativa de alimentação,</p><p>podendo, inclusive, melhorar</p><p>a renda familiar através de</p><p>sua comercialização.</p><p>56</p><p>SAIBA MAIS...</p><p>Muitas foram as influências que o Brasil recebeu ao longo de</p><p>sua história. Povos de todas as partes do mundo aqui chegaram, e,</p><p>com eles, também vieram seus costumes e suas crenças, somando-</p><p>se à cultura dos povos indígenas que aqui estavam. Assim se origi-</p><p>nou a complexa mistura cultural que caracteriza o povo brasileiro.</p><p>Um dos aspectos que simbolizam bem isso é a culinária, a qual so-</p><p>freu fortes influências, principalmente indígenas, europeias — com</p><p>destaque para a portuguesa — e africanas.</p><p>A principal influência indígena na dieta brasileira é a mandio-</p><p>ca, mais especificamente a farinha da mandioca, sendo a tapioca</p><p>um dos seus principais produtos. Além dessa planta, outras foram</p><p>incorporadas, por etnias indígenas, na alimentação do povo brasi-</p><p>leiro, como batata-doce, cará, cacau, amendoim, buriti, cupuaçu e</p><p>caju, só para citar alguns exemplos.</p><p>Os europeus, principalmente os portugueses, também deram</p><p>a sua contribuição. Dos navios lusitanos, desembarcaram cereais,</p><p>trigo, couves, alfaces, pepinos, abóboras, lentilhas, etc.; além de</p><p>temperos, como alho, cebola, cominho, coentro e gengibre, os quais</p><p>são heranças das primeiras hortas portuguesas em terras brasilei-</p><p>ras.</p><p>Dentre as plantas alimentícias introduzidas pelos africanos,</p><p>encontra-se a banana. Essa planta é considerada a maior contribui-</p><p>ção africana para a alimentação do Brasil, em termos de quantida-</p><p>de, distribuição e consumo. Dentre outras plantas trazidas pelos</p><p>africanos, destacam-se a manga, a jaca, o quiabo, o jiló, a cana-de-</p><p>açúcar, etc. O coqueiro e o leite de coco, à primeira vista tão tupini-</p><p>quins, na verdade também vieram do continente africano, bem</p><p>como o dendê e o azeite dele extraído, tão característico da culiná-</p><p>ria baiana.</p><p>Texto adaptado de Alimentação e Cultura. Disponível em: ().</p><p>57</p><p>VOCÊ SABIA?</p><p>No entanto, ainda que</p><p>muito variadas as influências</p><p>na culinária brasileira, a maior</p><p>parte das plantas que chegam à</p><p>nossa mesa é de origem euro-</p><p>peia, ocupando o lugar das</p><p>plantas locais; com isso, não só</p><p>a tradição do que é nosso se</p><p>perde, mas também o conheci-</p><p>mento dos vegetais nativos que</p><p>podem ser empregados como</p><p>alimento. Outra consequência</p><p>disso é a perda das próprias</p><p>plantas, já que, muitas vezes,</p><p>estas são cortadas para abrir es-</p><p>paço para o plantio das princi-</p><p>pais monoculturas (milho e fei-</p><p>jão, por exemplo). Por que,</p><p>então, não transmitir o conheci-</p><p>mento das plantas silvestres a</p><p>nossos filhos e promover o uso</p><p>controlado destas?</p><p>Para termos uma ideia de como são poucas as plantas que consu-</p><p>mimos diariamente, convidamos você para fazer uma rápida lista dos</p><p>vegetais que comeu no dia anterior. Procure colocar tudo: frutas, verdu-</p><p>ras, legumes, temperos, cereais, bebidas, etc. Depois que você terminar</p><p>sua listagem, tente compará-la com a de outros colegas e você verá que,</p><p>na maioria das vezes, o número não é superior a vinte plantas.</p><p>Mas nem sempre isso foi assim. Os nossos antepassados tinham</p><p>hábitos alimentares diferentes dos nossos e incluíam, na sua alimenta-</p><p>ção, um grande número de espécies vegetais, coletadas ao se desloca-</p><p>rem de um lugar para outro. Uma história bastante interessante que</p><p>exemplifica essa afirmação é a das duas múmias encontradas na Euro-</p><p>pa, conhecidas como homem de Tollund e homem de Grauballe. Essas</p><p>múmias são datadas da Idade do Ferro, período compreendido entre os</p><p>anos 1200 a.C. a 1000 d.C. A análise do conteúdo de seus estômagos</p><p>revelou que, antes da morte, essas pessoas tinham consumido cerca de</p><p>66 espécies de plantas. Sugiro agora que</p>