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2 BIOMA CAATINGA Ecologia, Diversidade, Educação Ambiental e Práticas Pedagógicas 3 4 Francisco José Pegado Abílio Organizador BIOMA CAATINGA Ecologia, Diversidade, Educação Ambiental e Práticas Pedagógicas Editora Universitária da UFPB João Pessoa 2010 5 6 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO Capítulo I – Bioma Caatinga: caracterização e aspectos gerais. Francisco José Pegado Abílio, Camila Simões Gomes, Antônio Carlos Dias de Santana ......................................................................................................................... 06 Capítulo II – Vegetação da Caatinga. Maria Regina de Vasconcellos Barbosa, Francisco José Pegado Abílio, Zelma Glebya Maciel Quirino. ........................ 20 Capítulo III – Fauna da Caatinga. Francisco José Pegado Abílio, Thiago Leite de Melo Ruffo. ................................................................................................. 38 Capítulo IV – Impactos ambientais na Caatinga. Francisco José Pegado Abílio, Hugo da Silva Florentino. ..................................................................... 52 Capítulo V – Conservação da Caatinga. Francisco José Pegado Abílio, Hugo da Silva Florentino, Thiago Leite de Melo Ruffo. ............................................. 78 Capítulo VI – Corpos aquáticos da Caatinga paraibana. Francisco José Pegado Abílio, Maria Cristina Crispim, Jane Enisa Ribeiro Torelli de Souza, José Etham de Lucena Barbosa. ..................................................................... 90 Capítulo VII – Convivência no semi-árido: as populações humanas no contexto do bioma Caatinga. Francisco José Pegado Abílio, Aparecida de Lourdes Paes Barreto, Antonia Arisdélia Fonseca M. A. Feitosa. ................. 116 Referências. ................................................................................................. 135 Sobre os Autores. ....................................................................................... 157 7 Dedicamos este livro: À Profa. Drª. Takako Watanabe pela sua contribuição aos estudos e pesquisas no semi-árido paraibano. Gostaríamos de agradecer: Ao Projeto PELD/CNPq – Bioma Caatinga: Estrutura e Funcionamento, pelo financiamento das pesquisas no Cariri paraibano; À Pró-Reitoria de Pós-Graduação da UFPB, pelo Auxílio à Editoração, através do edital 01/2008/PRPG/UFPB. Aos Biólogos Thiago Leite de Melo Ruffo e Hugo da Silva Florentino e a professora Drª. Cristina Crispim pelas contribuições na formatação e revisão geral dos textos; Ao Professor e amigo Nivaldo Maracajá pelo seu apoio e parceria no Projeto de Educação Ambiental em São João do Cariri; Aos docentes e educandos da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio José Leal Ramos, município de São João do Cariri – Paraíba, pelo apoio e amizades. 8 APRESENTAÇÃO O efeito combinado entre as condições climáticas da região semi-árida paraibana e as práticas inadequadas de uso e aproveitamento do solo e demais recursos naturais, tem acentuado o desgaste da paisagem natural, provocando a perda da biodiversidade e o esgotamento dos recursos naturais, além de acentuar o processo de desertificação nas áreas susceptíveis. Buscar a Conservação pela gestão não é algo facilmente executável, principalmente quando as propostas de intervenção apresentadas se contrapõem aos padrões comportamentais da comunidade (1). A mudança de comportamento está diretamente relacionada com a elevação do nível de consciência dos grupos humanos envolvidos. A Escola representa um espaço de trabalho fundamental para iluminar o sentido da luta ambiental e fortalecer as bases da formação para a cidadania(2). Assim, a análise da prática da Educação Ambiental na escola é importante à medida que procura desvendar a natureza do trabalho educativo e como ele contribui no processo de construção de uma sociedade sensibilizada e capacitada a enfrentar o desafio de romper os laços de dominação e degradação que envolve as relações humanas e as relações entre a sociedade e natureza. Os movimentos de reforma educativa da última década têm contribuído para o estudo da qualidade do processo de ensino-aprendizagem, e muitos investigadores focalizam a atenção sobre a capacidade docente e sobre a necessidade de tornar mais atraente e prazerosa a prática pedagógica, tanto para educadores quanto para educandos (3). Portanto, adequar o ensino a essa realidade é incentivar os professores e educandos a serem praticantes da investigação em suas aulas, estabelecendo um sentido maior de valor e dignidade à prática docente. 1 GADOTTI, M. Pedagogia da Terra. São Paulo: Peirópolis, 2000. 2 SEGURA, D.S.B. Educação Ambiental na Escola Pública: da curiosidade ingênua à consciência crítica. São Paulo: Annablume / Fapesp, 2001. 3 ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998. 9 Neste sentido, faz-se necessário levar em consideração as percepções e concepções dos docentes e educandos para organizarmos uma nova ação educativa, que venha resolver ou amenizar os problemas que o homem tem em relação ao ambiente, para que estes atores sociais percebam o ecossistema em que estão inseridos, e assim, sensibilizados e/ou conscientizados, possam melhorar sua qualidade de vida, assim como contribuir para a conservação do bioma Caatinga. Encontramo-nos, neste caso, diante de uma proposta de mudanças. Portanto, nada mais adequado que buscarmos o desenvolvimento da cidadania e formação da consciência ambiental dentro das escolas, sendo a mesma o local adequado para a realização de um ensino ativo e participativo, buscando o conhecimento e a importância da Biodiversidade do Bioma Caatinga e das problemáticas ambientais da bacia hidrográfica do rio Taperoá, no Cariri paraibano, região semi-árida. A produção deste livro é resultado de estudos e pesquisas da equipe do Sub-Projeto “Ecologia Humana e Educação Ambiental”, coordenado pelo Prof. Dr. Francisco José Pegado Abílio (DME/CE/UFPB), vinculado ao PELD (Programa Ecológico de Longa Duração)/CNPq “Bioma Caatinga: Estrutura e Funcionamento” coordenado pela Profa. Dra. Maria Regina de Vasconcellos Barbosa (DSE/CCEN/UFPB). Este livro tem um caráter paradidático e pretende contribuir para ampliar o conhecimento e entendimento do Bioma Caatinga, assim como servir de material didático e de pesquisas para os professores de escolas de ensino fundamental e médio que estão inseridos no referido ambiente, uma vez que neste você vai poder encontrar desde uma caracterização geral do bioma, sua fauna e vegetação, corpos aquáticos, impactos ambientais e conservação, assim como a questão da convivência com o semi-árido na busca de uma sustentabilidade ambiental, com ênfase a exemplos do estado da Paraíba. Ao final de cada capítulo é possível encontrar sugestões de atividades educativas que podem ser aplicadas no âmbito da sala de aula. Boa leitura. 10 CAPÍTULO I BIOMA CAATINGA: CARACTERIZAÇÃO E ASPECTOS GERAIS FRANCISCO JOSÉ PEGADO ABÍLIO CAMILA SIMÕES GOMES ANTÔNIO CARLOS DIAS DE SANTANA ASPECTOS GERAIS Aproximadamente 40% dos solos do planeta Terra correspondem às zonas áridas e semi-áridas e de 20% a 40% da população humana vive nessas regiões. A região semi-árida brasileira representa aproximadamente 13,5% do país e 74,3% da região Nordeste (DINIZ, 1995). O bioma Caatinga é o principal ecossistema existente na Região Nordeste, ocupa uma área de aproximadamente 800.000 km2 (PRADO, 2005), dos quais 200.000 km2 foram reconhecidoscomo Reserva da Biosfera. O conceito de bioma está representado pela interação recíproca dos fatores bióticos e abióticos, na qual a formação vegetal clímax possui características uniformes, como por exemplo, a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica, o Cerrado e a própria Caatinga. O bioma inclui não somente a vegetação, como também o clímax edáfico (ou seja, do solo) e as etapas de desenvolvimento, os quais são dominados, em muitos casos, por outras formas de vida (LIMA-E-SILVA et al., 2002). O bioma Caatinga estende-se pelos estados de Sergipe, Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, parte do Maranhão e a região norte de Minas Gerais (BERNARDES, 1999). Este termo é originário 11 da língua Tupi-Guarani, que significa Mata Branca (4), esse nome, define com primazia/veracidade o aspecto da vegetação desta região durante a época da seca, quando suas folhas caem e apenas os troncos branco-acinzentados das árvores e arbustos destacam-se na paisagem (PRADO, 2005). A Caatinga é o mais negligenciado dos biomas brasileiros, nos mais diversos aspectos, embora sempre tenha sido um dos mais ameaçados em decorrência dos vários anos de exploração e uso inadequado dos seus solos e recursos naturais (VELLOSO et al., 2002). Tendo como apoio para a visualização deste fato, Cortez et al. (2007), afirma que menos de 2% da área de Caatinga remanescente está protegida por entidades governamentais e/ou não-governamentais, mostrando assim, a grande necessidade de conservação dos seus sistemas naturais, bem como, da ampliação do conhecimento científico direcionado a este ecossistema. Localizada em uma área de clima semi-árido (Figura 1), o bioma Caatinga apresenta uma ampla variedade de paisagens e significativa riqueza biológica. As plantas e animais deste bioma possuem propriedades diversas que lhes permitem viver nessas condições aparentemente desfavoráveis. O conjunto de interações entre eles é adaptado de tal maneira que o total de plantas, animais e suas relações formam um bioma especial e exclusivo no planeta. Figura 1. Localização do Semi-árido brasileiro (esquerda) e a distribuição do bioma Caatinga (direita) (Fonte: Embrapa). (4) A etimologia Tupi-Guarani da palavra Caatinga consiste das partículas ca’a, planta ou floresta; ti, branco e o sufixo ‘ngá, que lembra, perto de. Assim, “a mata esbranquiçada”. 12 Estudos demonstram que existe uma impressionante taxa de endemismo no bioma Caatinga, ou seja, uma biodiversidade que ocorre exclusivamente desta região, desmistificando a idéia geralmente disseminada de que essa região é “o que sobrou da Mata Atlântica” (MAIA, 2004) ou que seja um ambiente pobre e sem vida. A Caatinga é dominada por tipos de vegetação com características xerofíticas (que apresentam adaptações ao clima seco), entre as quais podemos destacar as folhas, que de um modo geral são finas, inexistentes ou modificadas em espinhos para evitar a predação e diminuir a transpiração. Algumas plantas, como as cactáceas (cactos), possuem raízes rasas, praticamente na superfície do solo, para maximizar a absorção da água da chuva. Estas plantas podem ainda armazenar água em seus caules. A vegetação da Caatinga (Figura 2) é composta basicamente por arbustos e árvores de porte baixo ou médio (3 a 7 metros de altura), com folhas caducas (caducifólias, folhas que caem) e com grande quantidade de plantas espinhosas, como as leguminosas e as cactáceas. Possui uma elevada diversidade e um alto nível de endemismo, o que mostra sua importância para a biodiversidade brasileira (COSTA et al., 2009). Para mais detalhes sobre a vegetação da Caatinga veja o Capítulo II. Figura 2. Gravura representando a vegetação do Bioma Caatinga - Bico de pena de Percy Lau de 1940. (Fonte: BERNARDES, 1999). 13 CARACTERÍSTICAS DO CLIMA E SOLO DA CAATINGA O clima semi-árido caracteriza-se pelas altas temperaturas, com média anual de 25ºC, baixa pluviosidade (entre 250 e 800 mm anuais) e a presença bem definida de duas estações distintas durante o ano (Figura 3): a estação chuvosa, pode variar de 3 a 5 meses, com chuvas bastante irregulares e locais; e a estação seca, que dura entre 7 e 9 meses, praticamente sem chuvas (CALDEIRON, 1992, MAIA, 2004). Paradoxalmente, neste longo período de secura com forte acentuação de calor, está inserido o inverno meteorológico. Mas o povo que sente na pele os efeitos deste calor, em virtude da ausência de perenidade dos rios e de água nos solos, não tem dúvidas em designá-lo simbolicamente por “verão”; em contrapartida, chama o verão chuvoso de “inverno” (AB’SÁBER, 2003). O autor ainda ressalta que os conceitos tradicionais para as quatro estações são válidos apenas para as regiões que vão dos trópicos até a faixa dos climas temperados, tendo quase nenhuma validade para as regiões tropicais, como é o caso do bioma Caatinga. Figura 3. Paisagem da vegetação Caatinga. A) Durante a época chuvosa; B) durante a época seca. Fotos do município de Boa Vista – Cariri paraibano (Fonte: acervo do grupo de estudos de educação ambiental no semi-árido paraibano). Nos anos em que o índice pluviométrico se mantém muito baixo, podemos encontrar o fenômeno das “secas” (VELLOSO et al., 2002), situação que é agravada pela grande insolação e pela presença de ventos fortes e 14 secos, contribuindo assim, para a aridez da região. A região apresenta ainda a mais alta taxa de radiação solar - 2800 a 3200 h/ano, com a umidade relativa variando acentuadamente e elevada evapotranspiração (REIS, 1976). Os Solos são freqüentemente rasos e muito pedregosos, quase ou totalmente desprovidos de matéria orgânica, isto é devido principalmente à presença marcante de afloramentos rochosos na região. Uma outra característica marcante dos solos da Caatinga é a sua acidez, que pode ser explicada pela grande abundância de Rochas Calcárias na região, associadas ao acúmulo de sais da água devido à alta evaporação. Segundo Ab’Sáber (2003), em relação aos solos no domínio típico das áreas de caatingas, impera a seguinte combinações de fatos: alteração muito superficial das rochas, não raro com afloramentos de lajedos (irregulares e superfícies rochosas); solos rasos e variados, raras vezes salinos; pode apresentar também campos de inselbergs (5) (por exemplo, morrotes ou colinas sertanejas). Durante muito tempo, todas estas características da região semi-árida foram utilizadas como justificativa para a falta de investimento no desenvolvimento regional ou mesmo pela falta de gerenciamento efetivo das ações desenvolvimentistas tendo os fenômenos ambientais usados como explicação para os alarmantes indicadores sociais, fazendo com que o Nordeste brasileiro sustentasse por muito tempo o título de ”inviável” em quase todos os sentidos (SOUZA, 2005), além de ser palco de disputas políticas que deram origem ao termo “indústria da seca”. No Cariri paraibano a Caatinga é do tipo hiperxerófila, decorrente do tipo climático que envolve a região, BSh – semi-árido quente com chuvas de verão, segundo Köppen e um bioclima do tipo 2b (9 a 11 meses secos) - subdesértico quente de tendência tropical, mediante classificação de Gaussen. Nesta região, a umidade relativa é de aproximadamente 70% e a evapotranspiração é de 2.000 mm/ano (PARAÍBA, 1985). (5) Inselbergue: Elevação que aparece em climas áridos quentes e semi-áridos. Caracteriza-se por seu isolamento, remanescente de uma superfície mais elevada que ocorria no passado geológico da área, onde a erosão o modelou. (LIMA-E-SILVA et al. 2002). 15 Diante da importância e das peculiaridades da Caatinga, é fundamental que a escola, em suas atividades pedagógicas diárias, incorpore conteúdose discussões relacionados com a realidade da Caatinga, buscando assim, reverter a visão apresentada na maioria dos Livros Didáticos de que este ecossistema é pobre em biodiversidade e com pouca importância biológica. Para tanto, é necessário que haja a implementação de práticas pedagógicas voltadas para um despertar da consciência ambiental entre todos os atores sociais relacionados com a escola. Porém, a falta de integração entre as disciplinas ainda é uma fonte de sérios problemas no planejamento e aprendizado dos conteúdos referentes ao Meio Ambiente e à Educação Ambiental (BRASIL, 1998). Os professores de ensino fundamental e médio precisam buscar alternativas e/ou instrumentos para desenvolver estes conteúdos no seu cotidiano escolar, com o intuito de promover um aprendizado significativo (GUERRA; ABÍLIO, 2006). A seguir, são apresentadas algumas sugestões de atividades relacionadas com o bioma Caatinga e a região semi-árida que podem ser trabalhadas no dia a dia da escola. SUGESTÕES DE ATIVIDADES PEDAGÓGICAS Atividade 1: Trabalhando com poemas A Poesia é um instrumento educativo e, quando bem trabalhado, é uma atividade que irá atrair e motivar a participação do aluno. Segundo Zóboli (2004), a poesia apresenta valores como: aprimora a linguagem; desenvolve e enriquece as experiências culturais dos alunos; leva o indivíduo a apreciar o belo; despertam bons sentimentos e emoções; eleva espiritualmente o declamador e os ouvintes; desenvolve a memória e a imaginação, estimulando a criatividade do aluno. Além disso, o poema é uma arte que opera na recriação da realidade, possibilitando aos seres humanos o conhecimento de si e dos outros; daí a consideração sobre a experiência criadora e estética que é capaz de 16 proporcionar na educação escolar (JOSÉ, 2006). Para Fronckowiak e Richter (2005), o poema deve abordar diferentes perspectivas de uma mesma temática, desde temas folclóricos a temas mais globais, facilitando assim o melhor entendimento e a apreensão daquilo que deve ser transmitido. É possível encontrar uma grande quantidade de poemas que retratam e/ou descrevem o semi-árido nordestino e o bioma Caatinga. A seguir, apresentamos dois exemplos de poemas que podem ser trabalhados em qualquer disciplina com diferentes enfoques. Exemplo 1: O cheiro da Caatinga (Autoria de Alexandre Eduardo de Araújo) Senti o cheiro da Caatinga Da fulô da Catingueira Da casca do Cumaru Do Pau Pedra e da Aroeira Na "carta" de Severino Eu voltei a ser menino Descendo em minha ribeira Ribeira das Espinharas De Mofumbo e de Favela De Mulungus e Oiticicas Ipês de flor rocha e amarela Da moita de Jaramataia Na beira do rio se "espaia" Só restam saudades dela. Exemplo 2: Caatinga: Nossa Terra, Nosso Lugar (Autoria de Tânia Cristina da Silva): A cultura Nordestina, Estamos aqui pra mostrar, O valor da Caatinga, Nossa terra, nosso lugar. Onde o sol é causticante, Morre planta, morre gente. Mas o homem não desiste, Porque ele é persistente. Convivendo com o Clima Que castiga a região, O nordestino arruma um jeito De reverter a situação. Cria meios, inventa técnicas Para viver na sua terra Que não é só seca, não! Mesmo com as chuvas escassas E a falta de fontes perenes, Ainda se encontra jeito De ajudar toda essa gente, Que não perde a esperança E tem fé em Deus presente. Captando a água das chuvas, Valorizando a Vegetação, Criando animais Típicos da região. O homem vai aprendendo A conviver com o Semi–Árido, Não deixando sua cultura Viver só de passado Basta apenas os governantes No Sertão acreditar, Fazendo com que o homem do campo Permaneça no seu lugar, Planejando e desenvolvendo ações Para sua vida melhorar. 17 Sugestão de leitura: “Plantas, Prosa e Poesia do Semi-árido” (PEREIRA, 2005), na qual há diferentes poemas e músicas com a temática do sertão e da Caatinga, que podem ser utilizadas de forma interdisciplinar e multidisciplinar no contexto da sala de aula. Atividade 2: Uso e Produção de Vídeos Educativos sobre a Caatinga Possíveis observações poderão ser realizadas diretamente no mundo concreto e representadas em articulação com as perguntas levantadas a partir do programa visto pela Televisão. Na educação, cada meio expressivo tem um caminho e aplicações concretas, e o Vídeo Educativo luta para encontrar sua identidade específica como meio expressivo integrado no processo educativo (FERREIRA; SILVA-JÚNIOR, 1986). A televisão pode ser aplicada na educação quando ela se presta como fonte de ampliação de conhecimentos, como motivação da aprendizagem ou mesmo como veículo de formação e instrução (ZÓBOLI, 2004). A transposição de uma linguagem para outra realizada com emoção e reflexão são importantes para o processo de transmissão e assimilação de conhecimentos, atitudes, valores e informações do mundo. As representações em imagens e sons aproximam-se mais do mundo real do que somente as representações verbais, orais ou escritas e, portanto, a utilização do vídeo permite integrar essas representações (FERRÉS, 1996). Os filmes oferecem vantagens quanto à observação dos acontecimentos de uma maneira altamente significativa, pois, através destes, fatos históricos, sistemas de vida, mensagens, arte, recreação são oferecidos de forma atraente, constituindo-se num incentivo visual, sensitivo e auditivo (SANT´ANNA; SANT´ANNA, 2004). Sugestões de Vídeos Educativos: Tv Escola, o programa Globo Ecologia (rede Globo de Televisão), a Tv Cultura, a Tv Educativa e o canal Futura produziram alguns vídeos sobre a Caatinga, os quais podem ser utilizados como recurso didático para ilustrar e ampliar os conhecimentos sobre o bioma. 18 Dependendo do acervo tecnológico (filmadoras, DVD player, televisão, etc.) da escola é possível produzir vídeos sobre a Caatinga. O uso do computador (ou até mesmo, câmeras digitais ou celulares) também pode ser incentivado no contexto da sala de aula, utilizando imagens deste bioma com intuito de produzir pequenos vídeos. Atividade 3: Leitura de Imagens Quando não é possível a realização da excursão didática e para aproximar os alunos de situações do meio, é possível utilizar a técnica da Leitura de Imagens. Como afirma Carlos (2008), em um cenário histórico-cultural, marcado pelo signo da imagem e da cultura visual, pelo imperativo da aquisição da informação, por meio do jogo das cores, das formas e dos movimentos iconográficos, é imprescindível que os indivíduos aprendam a lidar com essa realidade. Com efeito, o exercício da cidadania contemporânea demanda a aprendizagem de novas competências, exige uma educação do olhar, do ver e do analisar criticamente o mundo pela mediação da Imagem. O uso de fotografias e gravuras retiradas de revistas e jornais, materiais didáticos pouco dispendiosos, simples e acessíveis, pode favorecer a motivação dos alunos, ajudando no desenvolvimento da observação, complementam e enriquecem as aulas expositivas, assim como despertam e mantêm o interesse dos alunos nas atividades propostas (ZÓBOLI, 2004). A percepção dos elementos visuais abstraídos de uma imagem requer não apenas um olhar aguçado sobre o objeto, mas um conhecimento prévio das categorias ali representadas. Portanto, essa é uma atividade que poderia ser perfeitamente aplicada para o fechamento de um tema ou assunto previamente trabalhado com os alunos, comportando-se inclusive, como um instrumento de avaliação. Se utilizada como ponto de partida para determinado tema ou assunto, deverá ser retomada ao final, de modo que os alunos percebam os equívocos da primeira leitura da imagem. 19 Objetivos da atividade: Aguçar a percepção ambiental; Exercitar o diálogo; trabalhar conceitos e desenvolver conteúdos; relacionar áreas de estudo; integrar as idéias no sentido de ampliara visão de mundo e da vida; Reconhecer os diferentes usos dos recursos naturais e os diversos tipos de ocupação do espaço geográfico. Categorias a serem analisadas nas imagens: Elementos físicos e biológicos: o natural (lagoas, rio, riachos, açudes, vegetação, fauna, etc.); Elementos culturais: o construído (cidade, bairro, casas, pessoas, modo de vida, cultura). Procedimento: Distribua diferentes “imagens”, fotos e/ou esquemas gráficos de paisagens; discuta com o grupo sua percepção sobre o que vê e tente descrevê-la enfocando os aspectos elencados nas categorias; reflita sobre suas características e os problemas (impactos) ambientais e socialize as discussões entre os grupos. Observação: É importante selecionar fotos e imagens de ecossistemas de sua cidade ou região próxima (Figura 4), a fim de facilitar o processo de aprendizagem. Figura 4. Discussões sobre as imagens e montagem de um painel com fotografias da Caatinga, trabalho resultante de oficinas pedagógicas com professores da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio José Leal Ramos, São João do Cariri – PB (Fonte: acervo do grupo de estudos de educação ambiental no semi-árido paraibano). 20 Atividade 4: Leitura da Paisagem, Estudos do Meio e Trilhas Ecológicas Interpretativas Objetivos da atividade: Despertar a necessidade de conservação do bioma Caatinga; Reconhecer diferentes elementos da natureza, tais como, tipos de vegetação e grupos animais da Caatinga. Procedimento: Os professores podem selecionar uma área próxima à escola ou uma reserva ecológica para desenvolver estas atividades (Figura 5). Figura 5. Trilhas interpretativas e estudos da paisagem no entorno do açude Namorados, realizados com professores e alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio José Leal Ramos, São João do Cariri – PB (Fonte: acervo do grupo de estudos de educação ambiental no semi-árido paraibano). Através da Leitura da Paisagem podemos relacionar a escola com a comunidade onde vive o educando, para que ele se torne consciente da realidade que o circunda e da qual ele deve participar. A realização de Estudos do Meio é motivadora para os alunos, pois desloca o ambiente de aprendizagem para fora da sala de aula (BRASIL, 2002b). Permite a aquisição de atitudes de observação crítica da realidade e despertar da sua curiosidade assim como possibilita a percepção integral da realidade local e obtenção de dados informativos sociais, políticos, históricos, geográficos, econômicos, que o ajudarão a analisar melhor a realidade que o rodeia (ZÓBOLI, 2004). 21 Quando falamos em Trilhas Ecológicas e Interpretativas (Figura 5), estamos falando de um instrumento importante para o desenvolvimento da Educação Ambiental, como forma de despertar a consciência, trazendo à tona a importância de se conservar, por meio de atividades ou dinâmicas que aproximam o público das realidades sobre as questões ambientais, sociais, culturais, históricas e artísticas. Visa à sensibilização do indivíduo, sobre o seu papel como cidadão, garantindo uma atitude consciente no meio em que vive e colaborando para um meio ambiente equilibrado para atuais e futuras gerações (MAMEDE, 2003). Atividade 5: Construindo conhecimento socializado sobre o semi-árido e a Caatinga através do uso de jornais no contexto da sala de aula. Objetivos da atividade: Desenvolver a capacidade criativa do aluno; Selecionar conteúdos referentes ao semi-árido e a Caatinga no contexto dos jornais locais/nacionais; Utilizar uma técnica lúdica-construtiva-interacionista através da produção de um recurso didático inovacional-alternativo; Aplicar o uso de uma Metodologia da Descoberta/Redescoberta no contexto da sala de aula. Procedimento: Utilizar jornais de circulação local/nacional e através destes produzir cartazes referentes à temática estudada (Figura 6). O aluno deve utilizar as figuras e/ou gráficos dos jornais e produzir um recurso didático criativo (Cartaz, Painel, etc.), contextualizado e adequado ao tema proposto. Observações: É interessante que sejam seguidas às normas de elaboração de um recurso visual, evitando colocar muito texto (colar reportagens inteiras), produzir o recurso com título, figuras, etc. Após a elaboração do recurso (que pode ser realizadas em grupos), estes devem discutir e apresentar seu recurso à turma, explicando o conteúdo deste. 22 Figura 6. Oficina de produção e apresentação de cartazes utilizando jornais realizada com professores da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio José Leal Ramos, São João do Cariri – PB (Fonte: acervo do grupo de estudos de educação ambiental no semi-árido paraibano). Atividade 5: Caatinga: temática multidisciplinar Em geral, a pouca discussão existente sobre o bioma Caatinga está restrita aos livros didáticos de Biologia ou de Geografia, sem haver qualquer relação com as demais disciplinas do currículo escolar. Desta forma, se torna cada vez mais difícil transmitir para os educandos a realidade desta região, criando-se uma barreira para o despertar do interesse pela conservação deste ecossistema. Dentro desta perspectiva de integração entre as disciplinas, é totalmente possível que um texto de um livro didático de Biologia, por exemplo, seja utilizado por um professor de Português, Inglês ou Matemática como texto- base para discussões em sala de aula. A seguir, apresentamos uma sugestão de um texto retirado de um livro de Biologia e traduzido para o Inglês, para que a temática da Caatinga seja abordada de forma multidisciplinar e/ou interdisciplinar. 23 Exemplo: O bioma Caatinga (Texto retirado de: AMABIS, J.M ; MARTHO, G.R. Biologia: Biologia das populações, São Paulo: Moderna, 2004, v. 3, 2 ed. ). A Caatinga é um bioma que ocupa cerca de 10% do território brasileiro, estendendo-se pelos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Bahia e norte de Minas Gerais. A Caatinga tem índices pluviométricos baixos, em torno de cerca de 500 mm a 700 mm anuais. Em certas regiões do Ceará, por exemplo, embora a média para anos ricos em chuva seja de 1000 mm, pode chegar a chover apenas 200 mm, nos anos secos. A temperatura situa-se entre 24 e 26 ºC, variando pouco ao longo dos anos. Além de suas condições climáticas serem rigorosas, a região das Caatingas está submetida a ventos fortes e secos, que contribuem para a aridez da paisagem nos meses de seca. A vegetação é formada por plantas com marcantes adaptações ao clima seco, como folhas transformadas em espinhos, cutículas altamente impermeáveis, caules que armazenam água, etc. essas adaptações compõem o aspecto característico das plantas da Caatinga, denominadas xeromórficas (do grego xeros, seco, e morphos, forma aspecto). São plantas cactáceas, como Cereus sp. (mandacaru e facheiro) e Pilocereus sp. (xiquexique), e também arbustos e árvores baixas, como mimosas, acácias, amburanas (leguminosas), que em sua maioria perdem as folhas (caducifólias) na estação das secas, conferindo à região seu aspecto típico, espinhoso e agreste. Entre as poucas espécies da Caatinga que não perdem as folhas na época da seca, destaca-se o juazeiro (Zizyphus joazeiro), uma das plantas mais típicas desse bioma. The Caatinga biome (Texto traduzido por Camila Simões Gomes) The Caatinga is a biome that occupies about 10% of Brazilian territory, extending the state of Piaui, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Bahia and North of Minas Gerais. The pluviometric indices in Caatinga are generally low, around 500 mm to 700 mm per year. In certain regions of Ceará, for example, although the medium precipitations for rainy year is around 1,000 mm, during doughty years can reach only 200 mm per year. The temperature is between75 and 79º F, showing a little variation over the years. Aside from its rigorous climatic conditions, the region of the Caatingas is subjected to strong and dry winds, contributing to the dryness of the scenery in the months of drought. The vegetation is formed by plants with outstanding capacity of adaptations to the dry climate, such as leaves turned into thorns, highly waterproof cuticles, stems that store water and so on. These adaptations compose the characteristic aspect of the plants of the Caatinga, so-called xeromorphics (from the greek xeros, dry and morphos, shape, aspect). They are cactaceous plants, like Cereus sp. (mandacaru and facheiro) and Pilocereus sp. (xiquexique), and also shrubs and low trees, like mimosas, acacias, amburanas (leguminous plants), which in its majority lose the leaves (caducifólias) in the dry station, giving the region its typical, thorny and rural aspect. Among few sorts of the Caatinga species that do not lose the leaves in the time of the drought, it stands out the Juazeiro (Zizyphus joazeiro), one of the most typical plants of this biome. 24 CAPÍTULO II VEGETAÇÃO DA CAATINGA MARIA REGINA DE VASCONCELLOS BARBOSA FRANCISCO JOSÉ PEGADO ABÍLIO ZELMA GLEBYA MACIEL QUIRINO ASPECTOS GERAIS A vegetação de Caatinga ocupa a maior parte do semi-árido nordestino estendendo-se, porém, até o norte de Minas Gerais. Um conjunto de características básicas comuns define a Caatinga como uma vegetação caducifólia, com plantas xerófitas (adaptadas à deficiência hídrica), apresentando acúleos, espinhos ou suculência (RODAL; SAMPAIO, 2002). As ervas são anuais e efêmeras, aparecendo apenas na curta estação chuvosa, predominando arbustos e árvores de pequeno porte, sem formar um dossel contínuo. Cactos e bromélias terrestres são elementos importantes da paisagem da Caatinga. As espécies, em geral, possuem folhas pequenas ou com lâminas subdivididas existindo, inclusive, algumas sem folhas (áfilas), como os cactos (Figura 1) nos quais estas estão transformadas em espinhos para reduzir ao máximo a perda de água por transpiração. Existem vários subtipos de Caatinga, sendo a principal diferença fisionômica entre eles a predominância de arbustos ou árvores, distinguindo-se dessa forma: Caatinga arbustiva, Caatinga arbustiva-arbórea ou Caatinga arbórea. A densidade de indivíduos arbustivos ou arbóreos por sua vez define se aquela é uma vegetação aberta, quando rala, ou fechada, quando mais densa. Assim, como por exemplo, poderíamos ter tanto uma Caatinga arbustiva-arbórea aberta quanto uma Caatinga arbustiva-arbórea fechada. 25 Figura 1. (A) Representação da vegetação e paisagem típica da Caatinga no Cariri Paraibano e algumas espécies nativas: (B) Mandacaru, (C) Coroa-de-frade (D) e Macambira. (Fonte: acervo do grupo de estudos de educação ambiental no semi-árido paraibano). A primeira é a mais comum e compreende as áreas com vegetação lenhosa aberta, onde o estrato dominante é o arbustivo, podendo ocorrer indivíduos arbóreos esparsos. Embora a precipitação seja o principal fator determinante nas variações em porte e biomassa das comunidades vegetais na Caatinga, a profundidade do solo associada à sua permeabilidade secundariamente explicariam grande parte da variação encontrada (SAMPAIO et al., 1981). A vegetação de Caatinga, segundo Sampaio e Rodal (2000), ocupava uma área de aproximadamente 935 mil km2, sendo 297 mil com Caatinga hiperxerófila (característica de áreas extremamente secas); 247 mil com Caatinga hipoxerófila (em áreas um pouco mais úmidas). Os restantes 391 mil km2 correspondiam a áreas mescladas ou em contato com florestas secas (169 mil), cerrado (110 mil km2), floresta e cerrado (101 mil km2) e campos de altitude (22 mil km2). No entanto, estas são áreas de ocupação potencial, sendo grande parte delas já desmatadas ou muito antropizadas. 26 Estudos recentes sobre o bioma Caatinga identificaram uma ampla diversidade de espécies vegetais (Quadro I). Considerando que as estimativas para a flora do Brasil estão em torno de 60 mil espécies, a região Nordeste compreende cerca de 15% do total da flora brasileira (BARBOSA et al., 2006). No semi-árido encontram-se 5.344 espécies, dessas ocorrem na Caatinga aproximadamente 28% (QUEIROZ et al., 2006a). Quadro I. Resumo da diversidade vegetal para o bioma Caatinga no Nordeste brasileiro e no estado da Paraíba (Fonte: GIULIETTI et al. 2002, BARBOSA et al. 2006, QUEIROZ et al. 2006b, BARBOSA, 2007). LOCALIDADE NÚMERO DE ESPÉCIES Flora Total do Nordeste 8.026 espécies em 177 famílias de Angiospermas Flora da Caatinga 1.512 espécies, sendo 318 endêmicas Flora do Cariri Paraibano 400 espécies em 85 famílias de Angiospermas Todavia, diversas espécies já se encontram ameaçadas de extinção, como a Aroeira, Jaborandi e a Baraúna. As famílias arbóreas e arbustivas mais diversas são: Leguminosae (exemplos: catingueira - Caesalpinia pyramidalis Tul., juremas - Mimosa spp., mulungu – Erythrina velutina Willd.); Euphorbiaceae (exemplo: o marmeleiro – Croton sonderianus Müll. Arg.); Cactaceae (exemplo: mandacaru - Cereus jamacaru DC.) e Bromeliaceae (exemplo: macambira), tradicionalmente associadas à fisionomia da Caatinga, também estão bem representadas nessa vegetação, todavia, mais em função do número de indivíduos do que propriamente do número de espécies. A catingueira, as juremas e os marmeleiros são as plantas mais abundantes na maioria dos trabalhos de levantamento realizados em remanescentes de Caatinga. Outras espécies comuns à Caatinga arbustivo- arbórea podem ser citadas, tais como: facheiro (Pilosocereus pachycladus F.Ritter); xique-xique (Pilosocereus gounellei (F.A.C.Weber) Byles & G.D.Rowley); macambira (Bromelia laciniosa Mart. ex Schult. f.) e caroá (Neoglaziovia variegata (Arruda) Mez). 27 Agra (1997) apresentou uma estimativa de 150 espécies de plantas que são empregadas para fins medicinais na Caatinga Para o Cariri paraibano, em dados mais recentes, Agra et al. (2007) registrou 70 espécies de plantas de uso etnomedicinais. No quadro II apresentamos alguns exemplos de Angiospermas da Caatinga e seus usos. Quadro II. Algumas espécies de angiospermas e seus respectivos usos medicinais (Retirado e adaptado de Agra et al., 2007). Algumas espécies de Angiospermas Alguns tipos de usos medicinais Myracrodruon urundeuva Allemão (Aroeira) A casca do caule é usada como antiinflamatório ovariano, uso tópico contra úlceras externas. Spondias tuberosa Arruda (Umbuzeiro) A casca do caule é empregada como oftálmico; Os frutos oferecem grande quantidade de vitaminas. Aspidosperma pyrifolium Mart. (Pereiro, Pau-Pereiro) A casca do caule é utilizada contra inflamações do trato urinário, e externamente contra dermatites. Tabebuia aurea (Silva-Manso) Benth. & Hook.f. ex S. Moore (Craibera) O xarope da casca do caule é indicado no tratamento de gripes e bronquites. Bromeilia laciniosa Mart. ex schult. f. (Macambira) O chá da raiz é empregado no tratamento de hepatites; a “farinha” da macambira é utilizada como fonte de proteína. Commiphora leptophloeos (Mart.) J. B. Gillett (Imburana, Umburana) O lambedor da casca do caule é empregado no tratamento de gripes, tosses e bronquites. Licania rigida Benth. (Oiticica) O macerado das folhas é utilizado no tratamento do diabetes. Combretum leprosum Mart. (Mofumbo) O xarope das folhas e cascas do caule é usado como expectorante, contra tosses e coqueluches. Cnidoscolus quercifolius Pohl (Favela) O macerado da casca do caule é utilizado contra inflamações dos ovários e próstatas. Caesalpinia pyramidalis Tul. (Catingueira) O macerado do caule, misturado em vinho ou cachaça é indicado como afrodisíaco; O xarope do caule é empregado como expectorante e indicado contra bronquitese tosses. Ziziphus cotinifolia Reiss. Ziziphus joazeiro Mart. (Juazeiro) A parte mais utilizada desta planta é a casca do caule, que é utilizada para a escovação dentária e contra caspas e seborréia. A partir desta pode-se ainda fazer um xarope, que pode ser utilizado no tratamento da tosse. Anadenanthera colubrina var. cebil (Griseb.) Altschul (Angico) O xarope da casca do caule é empregado no tratamento de tosses, coqueluches e bronquites. 28 Dentre as plantas da Caatinga, as Cactáceas se destacam como um grupo predominante na sua fisionomia, apresentando importância econômica, com várias espécies sendo cultivadas como ornamentais, forrageiras, medicinais e/ou alimentícias (Quadro III). Quadro III. Alguns tipos de cactáceas e seus respectivos usos. (ANDRADE, 2008, AGRA et al., 2007). Cactácea Alguns tipos de usos Melocactus zehntnerii Britton & Rose (Coroa-de-Frade, Cabeça-de- Frade) Medicinal: a raiz é utilizada como remédio para “quentura”; a polpa do caule misturado ao açúcar ou mel é indicada no tratamento de bronquites, tosses e debilidades físicas; O cacto integral é utilizado para ornamentar casas; O fruto serve para alimentação humana; Culinária: serve para fazer doces. Cereus jamacaru DC. (Mandacaru-de-Boi, Mandacaru) Medicinal: a raiz serve para gripe, sífilis, problema de uretra, dor nos rins, etc.; a polpa do caule misturado ao açúcar, é indicada no tratamento de úlceras do estômago; O espinho, dentre outras funções, pode ser utilizado para costurar roupas; Ornamental e alimentação humana e animal. Pilocereus catingicola (Guerke) Byles & Rowley (Mandacaru-Babão, Mandacaru-de-facho) A planta integral é utilizada para fazer cerca viva; A medula serve para fazer ripas de casas e para alimentação humana; O fruto é utilizado para alimentação humana e animal. Opuntia ficus-indica (L.) Mill. (Palma-de-Gado, Palma- forrageira) Medicinal: a raiz é utilizada para inflamação na vagina e no útero, gripe e chá “pra quentura”; do cladódio (caule) pode-se fazer chá para dor de barriga; Alimentação humana e animal. Opuntia dillenii (Ker-Gawler) Haworth - (Palma-de-Espinho) Serve para alimentação animal; A planta integral é utilizada para fazer cerca viva. Opuntia palmadora Britton e Rose - (Palmatória) A planta inteira é utilizada para fazer cerca viva; O cladódio (caule) é utilizado para alimentar seres humanos. Medicinal: a raiz é utilizada para fazer chás para “quentura” e problemas na uretra. Harrisia adscendens (Gürke) Britton & Rose (Rabo-de-Raposa) Medicinal: a raiz serve para gripe, sífilis, problema de uretra, dor nos rins e coluna. Serve também para fazer “bochechada” para dor de dente; O fruto é utilizado é utilizado para alimentação humana e animal; A planta inteira é utilizada na ornamentação de casas. Pilosocereus gounellei (F.A.C. Weber) Byles & G.D. Rowley (Xique-Xique) O fruto é utilizado é utilizado para alimentação humana e animal; A planta inteira é utilizada na ornamentação de casas e para fazer cerca viva; 29 Na Paraíba, a família Cactaceae está representada por 17 espécies subordinadas a nove gêneros, que se encontram distribuídas nas diversas microrregiões do Estado (ROCHA et al. 2006). Para o Cariri paraibano, são 10 espécies registradas (BARBOSA et al. 2007). Nas áreas onde as condições edafo-climáticas são menos favoráveis como no caso da região do Seridó, a Caatinga constitui-se praticamente de um estrato herbáceo quase contínuo de capim panasco (Aristida setifolia Kunth), com esparsas touceiras de xique-xique e alguns indivíduos de catingueira e jurema, bem separados entre si. Já nas áreas onde a umidade é mais elevada e os solos mais profundos, a Caatinga era originalmente do tipo arbórea. Deveriam ser comuns espécies de porte elevado como a baraúna (Schinopsis brasiliensis Engl.), a aroeira (Myracrodruon urundeuva (Allemão) Engl.), o angico (Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan) dentre outras, hoje bastante raras. Todavia, em função do elevado grau de antropização, predomina hoje nessas áreas uma vegetação de porte arbustivo com domínio de favela (Cnidosculos quercifolius Pohl), pereiro, marmeleiro (Croton sonderianus Müll. Arg.), jurema preta (Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir.), e outras espécies do gênero Mimosa. Ao longo das margens de alguns rios ocorrem oiticicas (Licania rigida Benth.), craibeiras e indivíduos de carnaúba (Copernicea prunifera (Mill.) H.E.Moore) representando os restos de antigas matas ciliares. As principais espécies forrageiras (6), segundo Maia (2004), são o angico, o pau-ferro (Caesalpinia ferrea Mart. ex Tul.), a catingueira, a aroeira, canafístula (Senna spectabilis var. excelsa (Schrad.) H.S. Irwin & Barneby), o marizeiro (Geoffroea spinosa Jacq.), o juazeiro, e outras espécies arbóreas, como a Jurema Preta, além de frutíferas como o umbuzeiro, que servem de alimento à população local. De fato, o umbuzeiro é de grande importância para as populações rurais das regiões mais secas do Nordeste, fornecendo frutos (6) Qualquer espécie de vegetação, natural ou plantada, que cobre uma área e é utilizada para alimentação de animais, seja ela formada por espécies de gramíneas, leguminosas ou plantas produtoras de grãos. Disponível em <http://www.zootecniabrasil.com.br/sistema/modules/tiny1/.>. Acesso em 31 jul. 2009. 30 saborosos e nutritivos e túberas radiculares (“batatas do umbuzeiro”) doces e ricas em água (MENDES, 2001). A Caatinga, através da sua cobertura vegetal, presta inúmeros serviços ambientais em escala global, como o seqüestro de carbono, a manutenção de padrões regionais de clima, a preservação do solo e da água. FENOLOGIA, POLINIZAÇÃO E DISPERSÃO NA CAATINGA A fenologia compreende uma área da Ecologia a qual estuda o funcionamento dos ecossistemas e seus eventos biológicos cíclicos, como períodos de floração e frutificação, queda de folhas e brotamento das espécies. Observações sobre épocas de floração e frutificação das espécies existem desde antiguidade, por estarem diretamente relacionados com alimentação da humanidade. O conhecimento sobre o período vegetativo (brotamento e queda de folhas) e reprodutivo (floração e frutificação) das espécies fornece informações sobre a disponibilidade de recursos para polinizadores e dispersores, assim como a organização temporal destes, dentro das comunidades e ecossistemas (NEWSTRON et al. 1991; MORELLATO; LEITÃO-FILHO, 1990). Atualmente, o conhecimento fenológico vem sendo reconhecido como importante parâmetro a ser utilizado para caracterizar ambientes (LIETH, 1974). Segundo Bowers; Dimmitt (1994), o tempo de floração e frutificação afeta aspectos críticos do ciclo de vida das plantas, particularmente a polinização e a dispersão de sementes, estabelecendo, desta forma, as próximas fases do ciclo de vida (germinação das sementes e estabelecimento das plântulas). No caso das regiões áridas, como a Caatinga, ocorre sazonalidade, isto é, uma diferença marcante entre as estações seca e chuvosa, o que interfere no comportamento fenológico das populações vegetais, que estão submetidas a longos períodos de seca. A maioria das plantas apresenta comportamento decíduo (perdem as folhas) na estação seca, mas também podem ser encontradas espécies perenes (sempre apresentam folhas). 31 A existência de ritmos periódicos para as fenofases vegetativas e reprodutivas em florestas tropicais tem sido ressaltada especialmente para savanas tropicais (SARMIENTO; MONASTÉRIO, 1983; MANTOVANI; MARTINS, 1988; BATALHA; MANTOVANI, 2000; BATALHA; MARTINS, 2004) e Caatinga (BARBOSA et al. 1989; MACHADO et al. 1997; QUIRINO, 2006). De maneira geral, as fenofases no bioma Caatinga ocorrem de maneira concentrada, caracterizando um padrão sazonal nas comunidadesjá estudadas (MACHADO et al. 1997; QUIRINO, 2006). A queda de folhas, por exemplo, ocorre durante a estação seca, em meados de setembro, de forma quase sincrônica, ou seja, com todos os indivíduos perdendo as folhas no mesmo período. A proporção de espécies decíduas é de 85 a 90%, valores maiores que o de outras florestas secas (ex. Costa Rica e Chaco Argentino). Porém, a intensidade de queda foliar pode variar entre os anos, com espécies decíduas comportando-se como semi- decíduas (perdendo apenas parte das folhas), por exemplo, Aspidosperma pyrifolium (Pereiro), Caesalpinia ferrea (Pau-ferro) e Ceiba glaziovii (Kuntze) K. Schum. (Barriguda). A intensidade de perda de folhas esta diretamente relacionada com a variação do estado hídrico, ou seja, em anos com estação chuvosa mais longa, menor a perda de folhas. Segundo Reich; Borchert (1984) e Borchert et al. (2002), a queda foliar representa uma resposta ao estresse hídrico, estando, portanto, envolvida na capacidade de suportar a perda de água, capacidade esta que varia de espécie para espécie. A fase de brotamento também é marcadamente sazonal, ocorrendo no final da estação seca, possivelmente sendo induzida pela perda de folhas, principalmente nas espécies arbóreas. Segundo Borchert (1994) e Reich; Borchert (1984), a perda de folhas permite redução na taxa de transpiração, possibilitando assim a reidratação de ramos sem folhas e, a partir disto, o início da produção de novas folhas, ainda na estação seca. O padrão sazonal para floração não é encontrado para as comunidades de Caatinga em geral. O período de floração ocorre em três grupos: um pequeno número de espécies floresce no início da estação chuvosa, um segundo grupo na transição entre chuvosa e seca e o ultimo grupo formado 32 principalmente por árvores florescendo na durante a estação seca (Quadro IV). Com a floração na comunidade ocorrendo de maneira contínua (sensu Newstrom et al. 1994), embora apresentando dois períodos principais de produção de flores, este padrão facilita a manutenção de polinizadores, e, em se tratando de ambientes sazonais, além da manutenção, reduz a competição por polinizadores. A frutificação apresenta-se durante todo o ano, com maior concentração de frutos maduros na estação chuvosa. O período de frutificação também está associado às características como: tipo de fruto, modo de dispersão e melhor período de germinação das sementes. O amadurecimento dos frutos zoocóricos (dispersos por animais) ocorre no período úmido e dos anemocóricos (dispersos pelo vento) na estação mais seca (Quadro IV). Uma pequena proporção de espécies zoocóricas apresenta frutos maduros na estação seca, e este fato deve estar relacionado à disponibilidade de água no solo, ajudando na manutenção da fauna, disponibilizando recursos alimentares em períodos de escassez. A distribuição de espécies com flores e frutos ao longo das estações possibilita a existência de recursos disponíveis durante todo o período para polinizadores e dispersores, embora se tratando de uma região com uma grande sazonalidade climática. As flores da Caatinga apresentam uma grande variedade de forma, tamanho e cores, isso faz com que várias espécies de animais polinizadores possam estar envolvidas nos mecanismos de polinização da flora. A existência de adaptações entre flores e animais polinizadores foi inicialmente relatada por Christian Konrad Sprengel em 1793 (ENDRESS, 1994). Tais adaptações são definidas como síndromes de polinização, ou seja, o estudo das características florais e a identificação do possível vetor de pólen, que acaba nos levando a uma melhor compreensão da relação planta- polinizador. Os polinizadores buscam diversos recursos florais, como néctar, pólen, óleo, resina e odores. O mais abundante nas espécies de Caatinga é o néctar, 33 o qual serve de alimento para abelhas, borboletas, mariposas, beija-flores e morcegos. Após o início da estação chuvosa encontramos diversas espécies em floração, como a Aroeira, a qual possui flores claras e com odor adocicado, sendo visitadas por abelhas. Na estação seca uma das espécies mais conhecidas é o Umbuzeiro, cuja floração ocorre na estação seca, sendo, portanto, um importante recurso para as abelhas neste período. Os exemplos acima citados são plantas conhecidas como melitófilas, ou seja, que possuem características morfológicas que facilitam a polinização por abelhas. Na Caatinga podemos encontrar também espécies ornitófilas (polinizadas por pássaros) como o Caroá. Outro tipo de polinizador bastante conhecido são espécies de morcegos nectarívoros, os quais visitam frequentemente espécies de Cactaceae, como o Facheiro (Pilosocereus piauhiensis) e o (Xique-xique), sendo denominadas de flores polinizadas por morcegos ou quiropterófitas. As espécies com antese noturna, ou seja, que disponibilizam os recursos de suas flores durante a noite, como o Mandacaru e a Pata-de-vaca (Bauhinia cheilantha (Bong) Steud), são visitadas frequentemente por espécies de mariposas, são denominadas plantas esfingófilas. A Caatinga possui diferentes síndromes de polinização, com uma distribuição temporal. A manutenção destes recursos contribui, portanto, para a manutenção das interações existentes ente plantas e animais. É necessário ressaltar que ainda é necessário obtenção de mais dados sobre a fenologia na Caatinga, com o acompanhamento de vários anos, talvez com auxílio de informações das comunidades locais, para que conclusões mais completas sobre as interações entre o clima e vegetação possam ser obtidas. 34 Quadro IV. Lista de espécies da Caatinga, hábito e estação de floração e frutificação (seca - estação seca; chuvosa - estação chuvosa; transição - na transição entre as estações seca e chuvosa) e dispersão (zoo - zoocórica; ane - anemocórica e aut - autocórica). Fonte: Barbosa et al. 1989; Machado et al. 1997; Quirino, 2006. Família / Espécie Hábito Floração Frutificação Dispersão ANACARDIACEAE Spondias tuberosa Arruda (Umbuzeiro) árvore seca chuvosa zoo Myracrodruom urundeuva Fr. Allen (Aroeira) árvore seca chuvosa zoo ANNONACEAE Rollinia leptopetala R. E. Fr (Pinha Brava) árvore seca chuvosa ane APOCYNACEAE Aspidosperma pyrifolium Mart (Pereiro) árvore seca seca zoo Allamanda blanchetti DC. (Pente-de-macaco ou Quatro pataca) erva chuvosa seca ane BORAGINACEAE Cordia leucocephala Moric. (Moleque duro) arbusto chuvosa chuvosa zoo BROMELIACEAE Bromelia laciniosa Mart. ex Schultf. (Macambira) arbusto transição seca ane BURSERACEAE Commiphora leptophloes (Mart.) J. B. Gillett (Amburana ou Imburana) árvore chuvosa transição zoo CACTACEAE Cereus jamacaru DC. (Mandacaru) arbusto início chuvosa chuvosa zoo Melocactus zehntneri (Britton & Rose) Luetzelburg (Coroa-de- frade) - ano todo ano todo zoo Pilosocereus catingolas (Facheiro) arbusto chuvosa chuvosa e transição zoo Opuntia inamoema K. Schum (Combeba) transição ano todo zoo Pilosocereus gounellei (Weber) Byl. Et Rowl. (Xique-xique) arbusto chuvosa chuvosa zoo COCHLOSPERMACEAE Cochlospermum sp. (Algodão bravo) arbusto seca seca ane 35 COMBRETACEAE Combretum leprosum Mart. (Mofumbo) arbusto chuvosa transição ane Combretum pisonioides Taub. (Canela-de-veado) arbusto chuvosa transição ane EUPHORBIACEAE Jatropha molissima (Pohl) Baill (Pinhão) arbusto chuvosa e seca transição aut Manihot caricaefolia Pohl (Maniçoba) arbusto chuvosa chuvosa aut Croton rhamnifolioides Pax & H. Hoffm. (Marmeleiro branco) arbusto chuvosa chuvosa aut Croton sonderianusMuell. Arg. (Marmeleiro) arbusto chuvosa chuvosa aut FABACEAE (Leguminosas) Amburana cearensis (Allemão) A.C. Smth (Cumaru) árvore chuvosa chuvosa aut Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan (Angico) árvore seca final da seca seguinte aut Bauhinia cheilantha (Bong) Steud. (Mororó) árvore chuvosa chuvosa aut Dioclea grdiflora Mart. Ex Benth. (Mucunã) trepadeira chuvosa chuvosa aut Caesalpinia ferrea Mart. Ex Tul. (Pau-ferro) árvore chuvosa transição aut Caesalpinia pyramidalis Tul (Caatingueira) árvore chuvosa e seca chuvosa e seca aut Piptadenia stipulaceae (Benth) Ducke (Jurema branca) árvore transição transição aut Mimosa sp. (Jurema vermelha) árvore chuvosa e seca seca aut Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. (Jurema preta) árvore seca seca aut MALVACEAE Ceiba glaziovii (Barriguda) árvore transição seca ane NICTAGINACEAE Guapira sp. (João mole) árvore transição transição zoo RHAMNACEAE Ziziphus joazeiro Mart. (Juazeiro) árvore chuvosa chuvosa zoo RUBIACEAE Tocoyena formosa (Cham. & Schltdl) Schum. (Jenipapo) árvore chuvosa transição zoo 36 SUGESTÃO DE ATIVIDADES PEDAGÓGICAS Atividade 1: Elaboração de calendário das flores Objetivos da atividade: Desenvolver a curiosidade e a investigação sobre a paisagem; Reconhecer e classificar as plantas da Caatinga quanto ao período de floração e frutificação. Procedimento: Os professores podem sugerir aos alunos que elaborarem um calendário, verificando a cada mês as espécies que se encontram em período de floração. Sugestão: De forma multi-interdisciplinar os docentes das diferentes disciplinas podem sugerir atividades tais como: o professor de artes pode produzir uma oficina de desenhos e pinturas sobre as flores da Caatinga; o professor de português pode solicitar a produção de textos e/ou poemas relacionados à cores e cheiros da flora; etc. ATIVIDADE 2: Trabalhando com a produção de textos na sala de aula Objetivo da atividade: Desenvolver a criatividade e a capacidade de escrita dos educandos. Procedimento: A partir de palavras chaves sobre a Caatinga, elencadas pelos alunos, é possível construir textos sobre o bioma. No exemplo abaixo é possível ver a produção de um texto de alunas de uma escola pública do Cariri paraibano. Exemplo: A seca e a chuva na Caatinga (de autoria das alunas Ingrid Renaly Ramos Cantalice e Maria Nazaré Alves da Silva; trabalho orientado pela professora Maria Stela Maracajá – Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Jornalista José Leal Ramos). 37 Um retrato da Caatinga O solo da Caatinga é um solo com muita pedra, um solo meio avermelhado e muito difícil para escavação. No Cariri, tem uma vegetação que no período da seca as árvores perdem as folhas para diminuírem o gasto de água para que ela possa resistir à seca. O período da chuva da Caatinga é de março em diante, mas costuma chover no mês de dezembro. As árvores predominantes da Caatinga são: o umbuzeiro, o juazeiro, o xique-xique e o mandacaru. De animais a gente tem a ema, a seriema, o tatu e a juriti. A Caatinga é uma região muito quente com uma evaporação muito grande de água, chegando a faltar na seca. Quando chove, as plantas estabelecem as suas folhas, e a mata volta a ser verdinha de novo. A seca e a chuva Na seca, eu vi que tudo é mais difícil. Os animais ficam mais magros, outros morrem, pois seus donos não podem dar água pra eles beberem porque eles não têm. Muitas famílias perdem plantações, pois não chove e às vezes até passam fome e sede, pois não podem vender o milho que plantaram porque não choveu e eles perdem toda a plantação, e o calor aumenta cada vez mais. Mas quando chega a chuva tudo melhora. Muitas crianças vão tomar banho de chuva, suas mães colocam baldes nas bicas para encher, o rio Taperoá se enche, as árvores ficam mais verdes, as famílias podem vender seu milho, os animais ficam mais gordos e o calor diminuí, muitos homens saem para pescar e pegam muitos peixes. A chuva transforma a paisagem, tudo melhora e voltamos a “viver”. 38 Atividade 3: Trabalhando com Poemas Objetivos da atividade: Desenvolver a temática a partir de uma atividade lúdica; Sensibilizar os diferentes atores sociais para a necessidade da conservação da diversidade tanto biológica quanto cultural. Procedimento: A partir do poema abaixo, discutir na sala de aula aspectos relacionados com um exemplo de planta típica da Caatinga “aroeira” e suas propriedades medicinais, assim como é possível analisar aspectos da cultura local. AROEIRA-DO-SERTÃO - (Autoria de Mary Anne M. Bandeira) Aroeira, dádiva da natureza Abrigo onde a Arara se deleita, És bênção nativa do nosso sertão, És sombra e luz Do pobre sem proteção. És pau para toda obra. Estruturas uma casa, Como se fosses uma rocha. E, se por necessidade, Te põem fogo, No fogão, és tição Que pernoita e não se apaga, Como o amor no coração De quem ama. Árvore forte e firme, Como o sertanejo Que contigo convive. Mas se nele aparece a ferida, A inflamação, Em nome de Deus, Tu és a salvação. Após preparado, no teu sumo, A mulher se assenta. Tu saras as partes escondidas. Tu estancas a criança que vaza. A fêmea que parir tu lavas. Aroeira-do-sertão, Em nossas mãos serviste De experiência. Agora, tu és ciência. A ti, a nossa gratidão. ATIVIDADE 4: Trabalhando com Músicas Dependendo do conteúdo a ser ensinado, a música pode ser uma boa ferramenta para uma maior aprendizagem do ensino, estimulando por sua vez a participação do aluno nas atividades programadas. Através da música, os alunos também têm oportunidade de recreação, quando o professor utiliza o 39 canto coletivo, os brinquedos cantados, as histórias cantadas, as danças e o teatro musicado (ZÓBOLI, 2004). Objetivos da atividade: Tornar a aula dinâmica e levar o aluno a participar durante as atividades desenvolvidas pelo professor; Contribuir para uma aprendizagem significativa dos conteúdos através de uma técnica lúdico- pedagógica. Procedimentos: Acompanhar a letra da música durante a execução do áudio; reconhecer na letra os diferentes vegetais nativos (e não exóticos e/ou introduzidos) que ocorrem na Caatinga. Exemplos de músicas que discutem a flora da Caatinga: CATINGUEIRA (Autoria de Onildo Almeida e José Maria Assis) Catingueira, catingueira diz o segredo que existe que somente a catingueira enfeita a paisagem triste Catingueira se és feliz não zombes nunca deste teu contraste segura tua raiz e pede a Deus que ela nunca se gaste Tão resseca a Imburana a terra quente e rachada o Marmeleiro se enrama mas não agüenta a queimada sentindo como quem ama a terra quente pede invernada quanto mais seca a ribeira a catingueira fica enfolharada Catingueira se um vintém puder se tornar um milhão pede a Deus por quem não tem prá cair chuva no chão pois somente a catingueira enfeita a seca lá no meu Sertão sertanejo não quer nada vê na invernada a maior benção 40 A música MATANÇA (Autoria de Augusto Jatobá - Interpretação: Jatobá/Geraldo Azevedo), retirado de Parâmetros em Ação – PCN Meio Ambiente na Escola (BRASIL, 2001), apresenta ao longo de sua letra espécies típicas da Caatinga. Quem Hoje é Vivo corre Perigo... Cipó caboclo tá subindo na Virola Chegou a hora do Pinheiro balançar Sentir o cheiro do mato da Imburana Descansar morrer de sono na sombra da Barriguda De nada vale tanto esforço do meu canto Pra nosso espanto tanta mata haja vão matar Tal Mata Atlântica e a próxima Amazônica Arvoredos seculares impossível replantar Quetriste sina teve Cedro nosso primo Desde de menino que eu nem gosto de falar Depois de tanto sofrimento seu destino Virou tamborete, mesa, cadeira, balcão de bar Quem por acaso ouviu falar da Sucupira Parece até mentira que o Jacarandá Antes de virar poltrona, porta, armário Morar no dicionário vida eterna milenar Quem hoje é vivo corre perigo E os inimigos do verde da sombra o ar Que se respira e a clorofila Das matas virgens destruídas vão lembrar Que quando chega a hora É certo que não demora Não chame Nossa Senhora Só quem pode nos salvar: É Caviúna, Cerejeira, Baraúna Imbuía, Pau-d’arco, Solva Juazeiro, Jatobá, Gonçalo-Alves, Paraíba, Itaúba, Louro, Ipê, Paracaúba, Peroba, Maçaranduba Carvalho, Mogno, Canela, Imbuzeiro Catuaba, Janaúba, Aroeira, Araribá Pau-ferro, Angico, Amargoso, Gameleira, Andiroba, Copaíba, Pau-brasil, Jequitibá. 41 ATIVIDADE 3: O Jogo – Caça palavras Objetivos da atividade: Dinamizar a aula e levar a participação de todos no contexto da sala de aula; Contribuir para uma aprendizagem significativa dos conteúdos através de uma técnica lúdico-pedagógica; Procedimento: A partir dos nomes das plantas grifadas na letra da música “Matança” (de autoria de Augusto Jatobá) sugerir aos educandos a procura e o destaque da palavra no jogo. 42 CAPÍTULO III FAUNA DA CAATINGA FRANCISCO JOSÉ PEGADO ABÍLIO THIAGO LEITE DE MELO RUFFO ASPECTOS GERAIS O conhecimento sobre a biodiversidade da Caatinga ainda é insuficiente. Isto pode ser justificado pelo fato de que há poucos recursos financeiros alocados para estudos neste bioma, bem como pela falta de interesse de alguns pesquisadores em estudá-lo. Dentre os poucos estudos já realizados, constata-se que mais de 40% da região não foi amostrada e cerca de 80% das áreas estudadas foram sub-amostradas. Diante disso, existe um preconceito em relação à riqueza da biodiversidade da Caatinga, onde muitas pessoas acreditam que este bioma apresenta poucas espécies vegetais e animais. Todavia, apesar de apresentar um número reduzido de espécies quando comparada a ambientes de maior pluviosidade, como a Mata Atlântica e a Floresta Amazônica, a biodiversidade da Caatinga, ao contrário do que muitos pensam, também é bem elevada. Considerando todas as regiões semi-áridas do planeta, o bioma Caatinga é um dos mais ricos (se não o mais rico) em biodiversidade. Para Mendes (1997), onde existem matas e/ou afloramentos de rochas intemperizadas, muitas vezes ocorrem micro-climas mais úmidos que sustentam comunidades mais diversificadas e com maiores densidades de povoamento. Estas informações tornam evidente e urgente a necessidade de ampliar o conhecimento e os estudos dos recursos biológicos da Caatinga. 43 OS ANIMAIS DA CAATINGA A fauna da Caatinga é constituída basicamente por organismos de pequeno porte. Muitos destes são essencialmente noturnos, fugindo da insolação diurna. Neste bioma, podemos encontrar diversas espécies de mamíferos, aves, répteis, anfíbios, peixes e invertebrados. Em relação à Mastofauna (mamíferos) da Caatinga, esta tem sido geralmente reconhecida como depauperada, representativa de apenas um subconjunto da fauna de mamíferos do Cerrado, proposição esta, longe de ser verdadeira (BRASIL, 2002a). Revisões taxonômicas recentes envolvendo amostras de mamíferos da Caatinga têm revelado sua distinção com relação a populações de outros ecossistemas. Estes achados sugeriram a necessidade de uma reavaliação da relevância dessa mastofauna à luz destes novos conhecimentos (OLIVEIRA et al., 2005). Inventários taxonômicos recentemente publicados sobre a diversidade da mastofauna do bioma Caatinga desmistificam a pobreza relativa e o baixo grau de endemismo das espécies de fauna da Caatinga. Todavia, apesar de se tratar um dos grupos de vertebrados mais representativos, os estudos sobre os mamíferos deste bioma ainda são escassos. Até o momento, são 148 espécies registradas de mamíferos, sendo 19 consideradas endêmicas. Os grupos representativos (número de espécies) são os quirópteros (organismos da ordem Chiroptera, que incluem os morcegos) e os roedores (ordem Rodentia, entre os quais podemos citar o preá, mocó e o rato-bico-de-lacre). Outros exemplos de mamíferos da Caatinga são o veado catingueiro, o gato-maracajá, o tatu-bola e o tatu-peba. De acordo com a literatura científica, até o momento tem-se o número de 19 espécies de mamíferos da Caatinga. Em relação à Ornitofauna (aves) já são 510 espécies registradas, sendo 91,96% destas (469 espécies) residentes na Caatinga, ou seja, se reproduzem comprovadamente ou potencialmente nesta região; destas 469 espécies, 284 (60,5%) são dependentes ou semi-dependentes, isto é, só ocorrem em ambientes florestais ou em mosaicos formados pelo contato entre florestas e 44 formações vegetais abertas e semi-abertas, demonstrando assim a importância das florestas da região para este grupo de vertebrados (SILVA et al., 2005). Entre os vários representantes da avifauna da Caatinga estão o Carcará, a Asa branca, a Coruja-buraqueira e a Seriema. Um dos problemas para definir quais são as aves endêmicas da Caatinga é determinar os limites deste bioma (OLMOS et al., 2005). Além disso, existe na Caatinga um número bastante elevado de espécies de aves migrantes, o que torna ainda difícil identificar quais as espécies são endêmicas deste bioma. De acordo com Silva et al. (2005) a migração sazonal é a resposta mais comumente observada na avifauna da Caatinga em resposta à semi-aridez, onde os indivíduos seguem para áreas de maior umidade e com oferta abundante de recursos. No que se refere aos répteis e anfíbios (Herpetofauna), foram registradas até o momento 157 espécies, sendo os grupos mais representativos os Anura (sapos, rãs e pererecas) e os Squamata (cobras e lagartos); contudo, pouco ainda se conhece sobre a diversidade destes grupos no Bioma Caatinga (RODRIGUES, 2005). De acordo com Freitas e Silva (2007), fatores como baixos índices pluviométricos e irregularidade das chuvas acarretam uma menor diversidade de anfíbios na Caatinga, quando comparamos com outros biomas brasileiros. Com fisiologia totalmente dependente de constante umidade na pele, os anfíbios estão em desvantagem em relação aos répteis. Como adaptação ao clima semi-árido, estes organismos podem se enterrar em locais úmidos a espera de um novo período de chuvas. Assim, os anfíbios que vivem na Caatinga apresentam, até o momento, a menor diversidade de espécies entre todos os biomas encontrados no Brasil. No entanto, a diversidade deste grupo, assim como os demais grupos de vertebrados, ainda é pouco conhecida. O exemplo mais representativo de anfíbios da Caatinga é o sapo-cururu, que representa a maior espécie de sapo encontrada no Brasil. Em geral, os adultos desta espécie atingem cerca de 10 a 15 centímetros de comprimento. 45 Por apresentarem uma fisiologia mais independente da água em relação aos anfíbios, os répteis ocupam com maior sucesso os ambientes semi-áridos do Nordeste brasileiro. Assim sendo, os répteis podem ser observados com freqüência durante todo o ano, pois a pele escamosa destes animais está adaptada ao ambiente semi-árido da Caatinga. Portanto, no bioma Caatinga, a diversidade deste grupo é bastante significativa, havendo um número proporcionalmente maior de espécies que os anfíbios e também uma maior taxa de endemismos, o que reflete uma maior complexidade adaptativa a este ambiente semi-árido (FREITAS; SILVA, 2007). Assim sendo, temos uma fauna de répteis bastante diversificada no bioma Caatinga, onde podemos encontrar um grande número de lagartos e cobras. Os representantes mais conspícuos são o teju (teiú), o calango-verde e a jararaca. Sobre os invertebrados do bioma Caatinga, agrande maioria dos pesquisadores indica a Caatinga como ambiente menos conhecido para todos os grupos de invertebrados. Além disso, uma boa parcela das publicações referentes aos invertebrados da Caatinga trata de trabalhos restritos ao estudo de uma determinada família, o que torna difícil fazer uma avaliação deste grupo de animais para o bioma Caatinga. Entretanto, a grande heterogeneidade ambiental e a singularidade de certos ambientes permitem predizer que a fauna de invertebrados deste bioma deve ser riquíssima, com várias espécies endêmicas (BRASIL, 2002a). Estudos recentes têm demonstrado que a riqueza biológica do bioma é bastante superior à descrita na literatura, e que os invertebrados, especialmente insetos, parecem ter sido subestimados nos poucos estudos de campo conduzidos na região até o momento. A enorme importância econômica e ecológica dos invertebrados revela- se nos agroecossistemas, onde estes atuam como “pragas” de plantas cultivadas e grãos armazenados, como agentes polinizadores e de controle biológico de insetos, ou ainda como bioindicadores. Tais papéis biológicos são mais evidenciados em ambientes expostos à intensa ação antrópica, como é o caso do bioma Caatinga (IANNUZZI et al., 2006). 46 Neste bioma, os grupos mais estudados são os Coleoptera (besouros) e Hymenoptera (abelhas e formigas). De acordo com Ianuzzi et al. (2006), a caracterização da diversidade de Coleoptera da Caatinga é importante para subsidiar estudos de impacto ambiental, para contribuir no conhecimento da biodiversidade local e para detectar espécies com potencial status de “praga”. Zanella e Martins (2003) constataram que a fauna de abelhas no bioma Caatinga ainda está subamostrada. Por se tratar de uma região semi-árida, as condições da Caatinga são um pouco desfavoráveis para a sobrevivência dos animais neste ambiente. Assim sendo, alguns animais da Caatinga possuem adaptações fisiológicas e/ou comportamentais que permitem que estes sobrevivam neste local. Por exemplo, Mendes (1997) afirma que durante os estios anuais, conhecidos como verão, muitos animais abandonam a região voltando na época das chuvas, chamada de inverno, ou então quando amadurecem os frutos, em busca de sementes. Assim sendo, pode-se dizer que as secas diminuem a biodiversidade de maneira direta, negando alimento e água aos animais nativos, que migram, morrem ou deixam de se reproduzir nestes períodos. Diante do exposto, podemos concluir que o conhecimento sobre a composição da fauna de invertebrados na Caatinga é extremamente importante, não apenas por este ser o bioma menos conhecido para este grupo, mas também pelo fato que um inventário desta fauna forneceria subsídios para possíveis programas de conservação e manejo de espécies. Logo abaixo, no Quadro I, apresentamos um resumo da diversidade faunística do bioma Caatinga. Tais informações desmentem o mito de que este é um bioma pobre em biodiversidade. 47 Quadro I. Resumo da diversidade faunística da Caatinga registrada até o momento a partir de diversas fontes pesquisadas (*). GRUPOS ANIMAIS DISTRIBUIÇÃO DE TÁXONS POR GRUPOS Anelídeos Estimativa de 15-20 espécies de Oligoquetos (minhocas). Aracnídeos Estimativa de 30-40 espécies de Aranhas. Insetos Estimativa de 28 espécies de Cupins. Estudos apontam 42 famílias de Coleoptera, 1/4 do total de famílias registradas para esta ordem de Besouros. 187 espécies, distribuídas em 77 gêneros de Abelhas; 61 espécies, distribuídas em cinco subfamílias de Formigas. Anfíbios 48 espécies de Anfíbios Anuros (sapos, pererecas e rãs); 03 espécies de Gymnophiona (conhecidos popularmente por cecílias ou cobras-cega). Répteis 47 espécies de Lagartos (teiú ou teju; calango-verde, bico- doce ou bebe-ovo; calanguinho), sendo 25 endêmicos; 10 espécies de Anfisbenídeos (lagartos geralmente sem patas, conhecidos como cobra de duas cabeças); 52 espécies de Serpentes (salamanta-da-Caatinga, cobra cipó, cobra-verde, jararaca, coral falsa e coral verdadeira); 04 espécies de Quelônios (cágados); 03 espécies de Crocodilos (jacaré-do-papo-amarelo, por exemplo). Aves 510 espécies distribuídas em 62 famílias, das quais 469 se reproduzem na região; 15 espécies são endêmicas e cerca de 30 estão ameaçadas de extinção; Como exemplos de aves da Caatinga, podemos citar: seriema, carcará, coruja-buraqueira, asa branca ou arribaçã, fogo-apagou, periquito da Caatinga, rola-caldo-de-feijão, tetéu ou quero-quero. Mamíferos 148 espécies, sendo 19 endêmicas e sete ameaçadas de extinção; 10 espécies de Marsupiais (exemplo: catita); 09 espécies de Edentados (exemplos: tamanduá mirim, tatu-bola e tatu-peba); 69 espécies de Quíropteros (morcegos); 34 espécies de Roedores (exemplos: mocó, preá, rato-bico- de-lacre); 01 espécie de Lagomorfo (exemplo: tapiti); 14 espécies de Carnívoros (exemplos: gato-do-mato, gato- maracajá e raposa); 05 espécies de Ungulados (cateto, queixada, veado catingueiro, veado-mateiro e anta); 06 espécies de Primatas (exemplos: macaco guariba, macaco-prego e sagüi). (*) Fontes pesquisadas: Brandão; Yanamoto (2003), Zanella; Martins (2005), Rodrigues (2005), Silva et al. (2005), Oliveira et al. (2005), Iannuzzi et al. (2005), Leal et al. (2005), Rosa et al. (2005), Freitas; Silva (2007), Fabián (2008). 48 FAUNA DA CAATINGA: UTILIZAÇÃO, IMPORTÂNCIA E IMPACTOS A biodiversidade é uma das propriedades fundamentais da natureza e fonte de imenso potencial de uso econômico; é base das atividades agrícolas, pecuárias, piscícolas, florestais, assim como a base para a estratégica indústria da biotecnologia. No Brasil, apesar da riqueza de espécies nativas, a maior parte das atividades econômicas está baseada em espécies exóticas (ROCHA, 2007), inclusive no bioma Caatinga. A fauna da Caatinga vem sendo bastante utilizada pela população local para diversos fins, como por exemplo, para alimentação e transporte. As espécies mais utilizadas são exóticas, como é o caso dos caprinos, bovinos, alguns peixes, algumas espécies de abelhas e do jumento, este último bastante utilizado como meio de transporte. Os caprinos e bovinos são os mais utilizados na pecuária, uma das atividades principais das populações inseridas na Caatinga. De acordo com Drumond et al. (2000), em função das condições edafoclimáticas desfavoráveis, a pecuária se constituiu ao longo do tempo como atividade principal de uma grande parcela das comunidades rurais, todavia, fatores como condições de semiaridez predominante nas áreas de Caatinga, associado às irregularidades das chuvas limitam o desenvolvimento desta atividade no bioma Caatinga. Os caprinos ainda são ícones de festas populares, como é o caso da festa do Bode-Rei, realizada no município de Cabaceiras-PB. O Capítulo IV (Impactos Ambientais da Caatinga) traz outras informações sobre a pecuária no bioma Caatinga. Em relação à fauna nativa da Caatinga, atualmente esta se encontra bastante escassa, isto em função da caça e pesca predatória, dos desmatamentos e das queimadas e da superexploração dos recursos naturais, que, ao longo dessas últimas décadas, vêm comprometendo a biodiversidade. A exploração predatória dos recursos faunísticos da Caatinga sempre foi a prática corrente na região semi-árida, sendo responsável pelo desaparecimento de algumas espécies, como é o caso do jacaré-do-papo- 49 amarelo (Caiman latirostris), do jacú-verdadeiro (Penelope jacucaca), da arara- azul-de-lear (Anodorhynchus leari), do gato-do-mato (Leopardus trigrinus) e da onça-parda (Puma concolor), que já se encontram ameaçadas de extinção neste bioma. Algumas espécies, como a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) já foi extinta oficialmente da natureza. Estima-se que haja no mínimo 34 espécies de fauna ameaçadas de extinção no bioma Caatinga (7), sendo os mamíferos o grupo mais ameaçado
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