Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

<p>CONTABILIDADE GERAL II</p><p>Olá!</p><p>O processo de estabelecer sociedades empresárias é complexo e exige</p><p>compreensão jurídica. O contador, embora não envolvido em todos os</p><p>procedimentos, deve entender os tipos de pessoas jurídicas e sociedades,</p><p>auxiliando em escolhas.</p><p>Nesta aula, você aprenderá sobre o estabelecimento de uma pessoa</p><p>jurídica, suas obrigações legais, contrato social e estatutos</p><p>Bons estudos!</p><p>AULA 2 –</p><p>CONSTITUIÇÃO DE</p><p>UMA SOCIEDADE</p><p>EMPRESÁRIA</p><p>2 ESTABELECENDO UMA SOCIEDADE EMPRESÁRIA</p><p>O estabelecimento dessas entidades constitui um processo complexo e exige</p><p>a compreensão de conceitos jurídicos. Mesmo que, em determinadas situações, como</p><p>será discutido a seguir, o contador não esteja diretamente envolvido em todos os</p><p>procedimentos essenciais para o início regular de uma entidade, é fundamental que o</p><p>profissional contábil possua conhecimento acerca das variedades de pessoas</p><p>jurídicas e dos diversos tipos de sociedades previstos em nossa legislação.</p><p>Além disso, é necessário estar ciente das obrigações legais e do processo de</p><p>elaboração dos documentos constitutivos (CARVALHO; GUIMARÃES; CRUZ, 2019).</p><p>Primeiramente, é de relevância explorar os conceitos de empresa e pessoa</p><p>jurídica. A empresa se caracteriza como uma atividade, uma atividade de natureza</p><p>econômica que se apresenta de diversas formas (TEIXEIRA, 2016).</p><p>O autor aborda quatro elementos distintivos coexistem de forma inerente ao</p><p>conceito de empresa:</p><p> Objetivo: a organização é um patrimônio, ou conjunto de bens destinados ao</p><p>exercício da atividade;</p><p> Subjetivo: a empresa é um sujeito de direitos, seja o empresário ou constituída</p><p>sob a forma de sociedade, possuindo personalidade jurídica, podendo adquirir</p><p>direitos ou contrair obrigações;</p><p> Corporativo: a entidade é uma instituição que reúne pessoas em prol de um</p><p>objetivo comum;</p><p> Dinâmico: organização produtiva pelo empresário, ou sociedade empresária,</p><p>dos fatores de produção (capital e trabalho) com o objetivo de lucro.</p><p>As pessoas jurídicas são entidades que possuem personalidade jurídica</p><p>própria, completamente distinta dos indivíduos ou outras pessoas que as constituem.</p><p>Isto é, são pessoas que possuem a capacidade de serem titulares de direitos e</p><p>obrigações. As pessoas jurídicas podem ser de natureza pública (União, Estados,</p><p>Municípios, autarquias, organismos internacionais) ou de natureza privada.</p><p>É importante ressaltar que o conceito de empresa difere do conceito de pessoa</p><p>jurídica. Como mencionado anteriormente, a empresa representa uma atividade</p><p>econômica que pode ser conduzida por um indivíduo (empresário individual) ou por</p><p>um grupo de indivíduos (sociedade empresária).</p><p>O Código Civil Brasileiro, Lei nº 10.406 de 2002, é o instrumento legal que trata</p><p>das categorias de pessoas jurídicas e das diversas formas de sociedades. O art. 44</p><p>do Código elenca os diferentes tipos de pessoas jurídicas que existem no âmbito</p><p>privado:</p><p>Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:</p><p>I − As associações;</p><p>II − As sociedades;</p><p>III − As fundações;</p><p>IV − As organizações religiosas;</p><p>V − Os partidos políticos;</p><p>VI − As empresas individuais de responsabilidade limitada (BRASIL, 2002).</p><p>Apesar da Contabilidade desempenhar um papel significativo e estar envolvida</p><p>em todas as variedades de pessoas jurídicas mencionadas anteriormente, nosso foco</p><p>de estudo será direcionado para as sociedades e suas categorias.</p><p>De fato, todas as formas de pessoas jurídicas mencionadas demandam os</p><p>serviços do profissional contábil. Tanto as associações, quanto as fundações,</p><p>organizações religiosas, os partidos políticos necessitam de informações qualificadas</p><p>sobre o seu patrimônio, direitos e obrigações. Contudo, o objetivo aqui é explorar</p><p>como se dá o início de uma entidade de negócios no âmbito privado.</p><p>O Código Civil estabelece as características de sociedades no País.</p><p>Segundo Gonçalves Neto (2004), podem-se classificar as sociedades conforme a</p><p>natureza do objeto que elas buscam realizar. Nesse contexto, o Código delineou a</p><p>divisão das sociedades da seguinte maneira:</p><p> Empresárias;</p><p> Simples (ou não empresárias).</p><p>As sociedades empresárias são entidades que desempenham uma atividade</p><p>econômica organizada com o propósito de produzir bens ou prestar serviços. Por outro</p><p>lado, as sociedades simples não possuem essa finalidade específica.</p><p>Consequentemente, não são enquadradas como atividades empresariais as</p><p>sociedades cujo propósito envolve atividades de caráter intelectual, científico ou</p><p>artístico.</p><p>Essa descrição está em conformidade com a definição estipulada pelo Código</p><p>Civil para o termo "empresário", que diz respeito àquele que realiza uma atividade</p><p>econômica devidamente organizada para a produção ou comercialização de bens e</p><p>serviços. No mesmo sentido, o Código define aqueles que não são considerados</p><p>empresários: indivíduos que exercem uma ocupação de cunho intelectual, científico,</p><p>literário ou artístico (mesmo se contarem com auxiliares ou colaboradores).</p><p>Consequentemente, consideram-se sociedades empresárias aquelas</p><p>compostas por duas ou mais indivíduos que se engajam em atividades típicas de</p><p>empresa, como comércio, indústria ou prestação de serviços, exceto quando</p><p>desempenhada por profissionais especializados. Tais sociedades empresárias devem</p><p>ser formalizadas em uma das seguintes categorias:</p><p> Sociedade em nome coletivo;</p><p> Sociedade em comandita simples;</p><p> Sociedade limitada;</p><p> Sociedade anônima;</p><p> Sociedade em comandita por ações.</p><p>As sociedades simples reúnem indivíduos com interesse comum e que realizam</p><p>atividades de natureza profissional intelectual, científica ou artística. As sociedades</p><p>simples podem adotar qualquer um dos tipos anteriormente elencados para as</p><p>sociedades empresárias, com exceção da sociedade por ações, que necessariamente</p><p>é uma sociedade empresária. Por outro lado, o Código Civil estipula que,</p><p>independentemente da sua finalidade, uma cooperativa é considerada uma sociedade</p><p>simples.</p><p>Para melhor exemplificar a distinção entre sociedade simples e sociedade</p><p>empresária considere uma associação de dois contadores que oferece os serviços</p><p>contábeis. Uma sociedade de contadores que presta os serviços próprios do</p><p>contabilista para uma ou diversas empresas é uma sociedade simples. Tal sociedade</p><p>pode contar com o auxílio de técnicos e outros funcionários. Nessa situação, os</p><p>clientes demonstram interesse na especialização dos profissionais de natureza</p><p>intelectual.</p><p>Caso essa sociedade decide contratar outros contadores e passa a oferecer</p><p>os serviços desses profissionais, como auditoria e consultoria, os clientes passarão a</p><p>buscar tais serviços em razão do negócio (empresa) e não somente em razão da</p><p>atividade profissional intelectual. Nessa circunstância, ocorrerá a sociedade</p><p>empresária.</p><p>Uma das principais vantagens ao estabelecer sociedades é a concretização da</p><p>separação jurídica entre o patrimônio da entidade e o patrimônio dos sócios. Isso</p><p>resulta na responsabilidade dos sócios limitada às dívidas da sociedade somente até</p><p>o limite de sua contribuição para o capital social (em cotas ou ações). Esse princípio</p><p>assegura a salvaguarda dos bens individuais. Há uma proteção do patrimônio</p><p>individual. É o caso da sociedade limitada, um dos tipos de sociedade empresária</p><p>mais frequentes no País, onde os sócios não estão sujeitos a responder com seus</p><p>próprios patrimônios por quaisquer obrigações da entidade.</p><p>Essa situação não se aplica ao empresário individual, que, por livre escolha,</p><p>realiza atividade empresarial sem a participação de sócios. O empresário tem direito</p><p>ao registro dos atos e outros direitos atinentes às sociedades empresárias. Entretanto,</p><p>não possui a limitação da responsabilidade como os sócios</p><p>das sociedades. Não há,</p><p>nesse caso, a separação jurídica do patrimônio do empresário e da atividade</p><p>empresarial.</p><p>Diante dessa restrição, surgiu em 2011 a Empresa Individual de</p><p>Responsabilidade Limitada (EIRELI), uma nova categoria de pessoa jurídica</p><p>estabelecida por uma única pessoa física, seu titular, para a realização de atividades</p><p>empresariais. Uma das vantagens da EIRELI é a limitação da responsabilidade do</p><p>titular às dívidas da empresa, restrita ao montante do capital social investido. Portanto,</p><p>trata-se de uma forma de pessoa jurídica unipessoal autônoma, que representa uma</p><p>técnica de limitação dos riscos empresariais em favor dos empreendedores individuais</p><p>(CARVALHO; GUIMARÃES; CRUZ, 2019).</p><p>Essa empresa possuía personalidade jurídica e patrimônios independente</p><p>daquele pertencente ao seu titular, de modo que o empreendedor realizava a atividade</p><p>econômica de forma individual, mas tinha garantida a separação jurídica de seus bens</p><p>e direitos particulares dos bens e direitos da entidade empresarial.</p><p>O capital social da EIRELI não poderia ser inferior a 100 (cem) vezes o maior</p><p>salário-mínimo em vigor no país. Embora a EIRELI tenha proporcionado aos</p><p>empreendedores a oportunidade de conduzir atividades empresariais sem a</p><p>necessidade de sócios e sem os riscos de ser um empresário individual, a espécie</p><p>teve pouca adesão em razão do alto valor exigido para o capital social.</p><p>A Lei 13.874, promulgada em 2019, fortaleceu ainda mais a independência</p><p>patrimonial da EIRELI e a restrição da responsabilidade do titular, com exceção</p><p>apenas em situações de fraude.</p><p>Além disso, a mencionada lei também introduziu no Código Civil uma nova</p><p>figura: a Sociedade Limitada Unipessoal, constituída por um único socio, com sua</p><p>responsabilidade, também, limitada e com a grande vantagem de não exigir um capital</p><p>social mínimo e integralizado para sua constituição.</p><p>Diante dessas alterações que esvaziaram a sua função, a Lei 14.195/2021</p><p>determinou a transformação das EIRELIs existentes em sociedades limitadas</p><p>unipessoais, sem que para tanto fosse necessário modificar seu ato constitutivo.</p><p>A sociedade anônima segue um conjunto específico de regulamentos: a Lei no</p><p>6.404/76. Em geral, esse formato de organização societária é empregado em</p><p>negócios de grande vulto. A principal característica aqui é que o capital da entidade é</p><p>dividido em ações. A responsabilidade dos sócios, nos casos de dívidas da</p><p>companhia, é restrita ao valor das ações que adquirir. Existem determinadas</p><p>entidades que, por determinação legal, devem ser constituídas como sociedades</p><p>anônimas, por exemplo, os bancos.</p><p>As sociedades anônimas podem ser de capital aberto, nas quais as ações</p><p>podem ser negociadas em um mercado aberto a um grande público, ou fechado, em</p><p>quando as ações não são livremente negociadas (eventuais compra e venda de ações</p><p>são restritas a um público privado).</p><p>As companhias de capital aberto têm suas ações negociadas em bolsa e estão</p><p>sujeitas à regulamentação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). É necessário</p><p>obter aprovação da CVM para que uma sociedade anônima de capital aberto possa</p><p>iniciar suas atividades.</p><p>2.1 Obrigações legais</p><p>As pessoas jurídicas devem ser registradas em conformidade com a lei. O</p><p>objetivo do registro é dar publicidade aos atos jurídicos. Com o registro, as pessoas</p><p>jurídicas adquirem personalidade jurídica e podem realizar suas atividades perante</p><p>terceiros de forma regular.</p><p>A existência legal da pessoa jurídica é estabelecida mediante a inscrição do</p><p>ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando for necessário, da</p><p>autorização ou aprovação do poder executivo.</p><p>As sociedades empresárias devem ter seus atos constitutivos averbados nas</p><p>Juntas Comerciais dos respectivos Estados, enquanto as sociedades simples têm</p><p>seus atos arquivados no Registro Civil de Pessoas Jurídicas. São atos constitutivos o</p><p>contrato social ou o estatuto.</p><p>Uma sociedade que tenha formalizado um contrato social escrito, porém atue</p><p>sem o registro no órgão competente é considerada uma sociedade irregular. Isso</p><p>significa que sem o respectivo registro não obteve a personalidade jurídica.</p><p>Outra situação surge quando não existe contrato social escrito, mas apenas um</p><p>acordo verbal. Nesse caso, há uma sociedade de fato. A consequência em ambas as</p><p>situações é que, em situações de litígios, os sócios responderão de forma ilimitada</p><p>pelas obrigações contraídas, independentemente de quanto investiram no negócio.</p><p>Nessas situações, a sociedade poderá sofrer sanções administrativas e</p><p>judiciais e não poderá pedir falência ou recuperação judicial. Também não poderá</p><p>utilizar os livros contábeis, eventualmente escriturados, como prova perante terceiros.</p><p>Com o registro na Junta Comercial, a sociedade empresária recebe o Número</p><p>de Identificação do Registro da Empresa (NIRE). Através desse número, a sociedade</p><p>poderá solicitar sua inscrição na Receita Federal, obtendo assim um Cadastro</p><p>Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ). Se a sociedade exerça atividade que seja</p><p>tributada pelos Estados (ICMS), deverá obter também um número de inscrição</p><p>estadual na respectiva Secretaria de Fazenda. Por fim, com o NIRE e o CNPJ, a</p><p>sociedade deverá solicitar na prefeitura o alvará de licença para funcionamento da</p><p>atividade econômica.</p><p>Pode existir outras exigências para o início da atividade econômica,</p><p>dependendo da atividade que será exercida, tais como atividades voltadas para</p><p>alimentação ou saúde.</p><p>Realizados os procedimentos de constituição formal, a organização estará apta</p><p>a iniciar sua atividade econômica.</p><p>2.2 Contrato social e estatuto</p><p>O contrato social e o estatuto social são os documentos que formalizam o</p><p>surgimento de sociedades. O estatuto é o documento de constituição das sociedades</p><p>por ações e cooperativas. Por sua vez, o contrato social é aplicado às demais</p><p>sociedades.</p><p>O Código Civil esclarece que celebram contrato de sociedade as pessoas que</p><p>reciprocamente se comprometem a contribuir, com bens e serviços, para o exercício</p><p>de atividade econômica e a partilha entre si dos resultados (lucro ou prejuízo).</p><p>Tanto o contrato social quanto o estatuto estabelecem as normas de</p><p>funcionamento, o objeto da entidade (atividade que será exercida), a denominação, a</p><p>sede, assim como as disposições relativas à composição do capital.</p><p>A participação do profissional contábil nas deliberações da entidade desde o</p><p>começo é de grande importância, isso envolve o acompanhando dos sócios no</p><p>processo de constituição, de forma a recomendar aos empreendedores as escolhas</p><p>mais vantajosas para o pleno desenvolvimento do negócio (atividade a ser exercida,</p><p>forma jurídica, divisão do capital, participação nos lucros, entre outros).</p><p>Os atos constitutivos das sociedades como o estatuto e o contrato social devem</p><p>ser avaliados por advogados, conforme a legislação vigente. No entanto, isso não</p><p>exclui a contribuição do contador no monitoramento dessa etapa. Ressalve-se que,</p><p>conforme a Lei Complementar no 123/2006, o contrato social das microempresas e</p><p>empresas de pequeno porte não precisa ser assinado por advogados (CARVALHO;</p><p>GUIMARÃES; CRUZ, 2019).</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS</p><p>BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial</p><p>da União: seção 1, Brasília, DF, ano 139, n. 8, p. 1-74, 11 jan. 2002.</p><p>CARVALHO, M. da S.; GUIMARÃES, Guilherme O. M.; CRUZ, C. F. da.</p><p>Contabilidade Geral: Uma Abordagem Interativa. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2019.</p><p>GONÇALVES NETO, A. de A. Lições de Direito Societário: regime vigente e</p><p>inovações do novo Código Civil. 2. ed. São Paulo: Ed. Juarez de Oliveira, 2004.</p><p>TEIXEIRA, T. Direito Empresarial Sistematizado: doutrina, jurisprudência e prática.</p><p>5. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.</p>

Mais conteúdos dessa disciplina