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<p>ONZE A CRIAÇÃO DO PATRIARCADO o PATRIARCADO É UMA CRIAÇÃO HISTÓRICA formada por homens e mulheres em um processo que levou quase 2.500 até ser concluído. A princípio, o cado apareceu como Estado A unidade básica de sua organização foi a família patriarcal, que expressava e criava de modo incessante suas regras e valores. Vimos como definições de afetaram integralmente a formação do Estado. Faremos agora uma breve revisão do modo como o foi criado, definido e Os papéis e o comportamento considerados apropriados aos sexos eram expressos em valores, costumes, leis e papéis e de forma mais significativa, eram manifestados em primordiais, as quais se torna- ram parte da construção social e do sistema explicativo. A sexualidade das mulheres, consistindo de suas capacidades e seus servi- reprodutivos e sexuais, foi modificada ainda antes da criação da civilização desenvolvimento da agricultura no Período fomentou a "troca de mulheres" intertribal não apenas como um meio de evitar os inces- santes conflitos travados pelas alianças de consolidação do casamento, mas também porque sociedades com mais mulheres poderiam produzir mais Ao contrário das necessidades econômicas das sociedades de tores, agricultores poderiam usar o trabalho de crianças para aumentar a 261 Digitalizado com CamScan</p><p>e que as "mulheres como grupo" não tinham sobre sobre dução acumular excedentes. "Homens como grupo" tinham direitos mulheres tornaram-se um recurso adquirido por homens homens por meio da venda ou filhos negociação de de produtos de trabalho escravo os frutos reprodução, adquiridas por eles. Mulheres eram trocadas ou compradas tanto de sua Claude a quem devemos o conceito de "a troca de erras tos para benefício de suas famílias. Depois, elas foram dominadas em fala sobre a reificação das mulheres, a qual ocorreu como sua das para a escravidão, quando seus serviços sexuais eram parte de ou Porém, não são as mulheres que são reificadas e sua e seus filhos eram propriedade de seus Em toda sua sexualidade e sua capacidade reprodutiva. A distinção é importante. mas hecida, conquistadas escravizadas as mulheres das tribos eram mulheres nunca se tornaram "coisas" nem eram assim percebidas. As mulhe- As uanto os homens eram mortos. Somente depois que os homens res, não importando quanto tinham sido exploradas e sofrido abusos, conser- 10 escravizar as mulheres dos grupos que podiam ser definidos aprenderam varam seu poder de ação e escolha na mesma proporção com é que eles aprenderam a escravizar os homens desses grupos como limitada que os homens de seu grupo. Mas as mulheres sempre, e até os dias uida, grupos subordinados de suas próprias de hoje, viveram em estado relativamente maior de falta de liberdade do que Dessa forma, a escravidão de mulheres, combinando tanto os homens. Uma vez que sua sexualidade, um aspecto de seu corpo, era con- into o machismo, precedeu a formação de classes e a opressão de racismo trolada por outros, as mulheres não apenas estavam em desvantagem, como de classes foram, em seu início, expressas e constituídas em termos As também restritas de maneira muito particular em termos psicológicos. Para relações patriarcais. A classe não é um constructo separado do gênero. Em as mulheres, da mesma forma que para homens de grupos oprimidos e subor- disso, a classe é expressa em termos relacionados ao dinados, a história consistiu de sua luta por emancipação e liberdade devido à necessidade. Porém, as mulheres lutaram contra formas de opressão e domi- Já no segundo milênio a.C., em sociedades mesopotâmicas, as filhas de nação diferentes das dos homens, e a luta delas, até hoje, encontra-se mais pobres eram vendidas para casamento ou prostituição a fim de for- atrasada em relação à dos homens. er auxílio econômico para suas famílias. As filhas de homens pobres primeiro papel social da mulher definido pelo foi ser trocada em diam definir um preço de noiva, pago pela família do noivo à família da transações de casamento. papel de gênero obverso do homem foi ser aquele va, o que não raro permitia à família da noiva garantir casamentos mais que executava a troca ou que definia os termos das financeiramente para seus filhos, melhorando assim a posição eco- Outro papel definido pelo gênero para mulheres foi o de esposa "substituta", mica da família. Se um marido ou um pai não conseguisse pagar sua o qual se tornou estabelecido e institucionalizado para mulheres de grupos de esposa e filhos poderiam ser usados como garantia, tornando-se escravos elite. Esse papel oferecia às mulheres consideráveis poder e privilégios, porém, dívida ao credor. Essas condições estavam estabelecidas com tanta firmeza estes dependiam de sua associação a homens da elite e baseavam-se, minima- ano de 1750 a.C., que a Lei de Hamurabi instituiu uma melhora significa- mente, no desempenho satisfatório ao oferecer a esses homens serviços sexuais a no destino das garantias, limitando seus serviços a três anos, sendo que e reprodutivos. Se uma mulher não conseguisse atender essas demandas, era es eram serviços vitalícios. logo substituída e, consequentemente, perdia todos os seus privilégios e status. O produto desse comércio de mulheres preço de noiva, preço de vendae papel definido pelo gênero para guerreiros levou os homens a adquirir era controlado pelos homens. Pode, portanto, representar os primeiros poder sobre homens e mulheres de tribos conquistadas. Essa conquista os de acúmulo de propriedade privada. A escravização de mulheres de tribos zida pela guerra ocorria sobre pessoas já diferenciadas dos vencedores pela tornou-se não apenas um símbolo de status para nobres e guer- raça, etnia ou simples diferença tribal. Em sua origem derradeira, "diferença" ros, mas de fato permitiu que conquistadores adquirissem riqueza tangível como uma marca de distinção entre conquistados e conquistadores, era baseada 263 262</p><p>detinham. Os donos dos meios de observável produção primeira diferença claramente entre os Os sexuais na tanto de como afirmar e exercer poder sobre mulheres as da diferentes haviam aprendido deles na primitiva troca de mulheres. Dessa um de classes Na própria Antiga sociedades em escravocratas, os adquiriram o conhecimento necessário para elevar "diferença" de qualquer homens dominantes como propriedade, o produto da a um critério para a dominação. função tipo reprodutiva os filhos, de que seriam Desde sua concepção na escravidão, a dominância de classe tomou subordinadas usados como distintas para homens e mulheres escravizados: os homens eram formas mulheres casamento ou vendidos como escravos, conforme Para como trabalhadores; as mulheres eram sempre primeiro negociados mediada por meio de seus vínculos sexuais com trabalhadoras, explorados fornecedoras de serviços sexuais e reprodutoras. exploradas registro como um do que as mulheres recebem ou perdem acesso aos recursos. É por meio de tórico de todas as sociedades escravocratas oferece evidências dessa seu comportamento sexual que zação. A exploração sexual de mulheres de classe baixa por homens generali. de meios "Mulheres respeitáveis" ganham acesso à classe por alta pode ser demonstrada na Antiguidade, sob o feudalismo, em lares classe maridos, mas quebrar as regras sexuais pode de ses dos séculos XIX e XX na Europa, nas complexas relações de sexo/raça burgue. sexual de "desvio" marca uma mulher definição como respei- mulheres dos países colonizados e seus colonizadores homens é onipresente confere a ela o mais baixo fato status social de As mulhe- e disseminada. Para as mulheres, exploração sexual é a própria marca da de serviços heterossexuais (tais como mulheres se abstêm solteiras, ração de classe. estão conectadas ao homem dominante de sua família de Em qualquer momento específico na história, cada "classe" freiras, e, através dele, recebem acesso a recursos. Ou, de outra forma, são de duas classes distintas homens e mulheres. origem rebaixadas. Em alguns períodos históricos, conventos e outros enclaves para A posição de classe das mulheres se tornou consolidada e estabelecida por mulheres solteiras criaram espaços fechados nos quais essas mulheres podiam meio de de suas relações sexuais. Esta foi sempre expressa em graus de falta de desempenhar sua função e manter a respeitabilidade. Mas a grande maioria liberdade, em um espectro que variava da mulher escrava, cujas funções sexuais de mulheres solteiras é, por definição, marginalizada e dependente da proteção e reprodutivas foram comercializadas, assim como ela mesma, até a escrava de parentes homens. Isso se provou verdadeiro ao longo da história até meados concubina, cujo desempenho sexual poderia elevar seu próprio status ou de do século XX no mundo ocidental, e hoje ainda é verdade na maioria dos filhos; depois para a esposa "livre", cujos serviços sexuais e reprodutivos países subdesenvolvidos. O grupo de mulheres independentes e oferecidos a um homem das classes elevadas lhe dava direito a propriedades tes que existe em toda sociedade é pequeno e, em geral, bastante vulnerável direitos legais. Enquanto cada um desses grupos tinha obrigações e privilégios ao desastre econômico. consideravelmente distintos em relação a propriedades, leis e recursos econô- A opressão e a exploração econômicas baseiam-se tanto na transformação micos, compartilhavam a falta de liberdade de serem sexual e reprodutivamente da sexualidade feminina em mercadoria quanto na apropriação pelos homens controlados por homens. Podemos expressar melhor a complexidade dos vários da força de trabalho das mulheres e de seu poder reprodutivo como aquisição níveis de dependência e liberdade das mulheres comparando cada mulher com econômica direta de recursos e pessoas. seu irmão e considerando como a vida e as oportunidades de uma irmã e seu Estado arcaico no Antigo Oriente Próximo emergiu no segundo milênio irmão eram a.C., a partir das raízes idênticas da dominância sexual dos homens sobre as Para os homens, a classe foi e é baseada em suas relações com os meios de mulheres e da exploração de alguns homens por outros. Desde sua chefes produção: aqueles que detinham os meios de produção podiam dominar 0 Estado arcaico foi organizado de modo que a dependência de homens 264 265</p><p>sistema do Onde a mulher do tem relativa dentro capaz de ter, de certa maneira, mais de família do rei ou da burocracia do Estado fosse compensada controle onde ela não tem nenhum sobre a própria família. Os chefes de família distribuiam os sua poder maneira Estado distribuía recursos existência de grupos, associações ou redes sociedade sociedade a suas a eles. famílias controle da dos chefes como de família o sobre os familiares Estado recursos filhos da aumentar a capacidade das mulheres de serve para neutralizar da de idade era tão importante para a existência do e mulheres sistema patriarcal particular. Alguns antropólogos e his- de seu melhoria de menores do rei sobre seus soldados. feminina. Tal grande fato se quantidade reflete nas várias quanto relativa "liberdade" das controle Tal de Leis em especial a de leis comprovada. Reformas e mudanças legais, embora ilusória à regulamentação da sexualidade designação condição das mulheres e sejam parte essencial do processo de A partir do milênio a.C., o controle contínuo sobre não mudará essencialmente mulheres, o patriarcado. Tais das dos cidadãos é o principal meio de controle social em todas emancipação integradas a uma extensa revolução cultural estar para sociedades de Da mesma maneira, a hierarquia de classe é reformas precisam patriarcado assim, aboli-lo. reconstituída na família por meio da dominação Não importa o sempre e, político ou econômico; o tipo de personalidade que pode funcionar sistema em formar patriarcado só pode funcionar com a cooperação das mulhe- do cooperação por diversos meios: doutrinação de sistema hierárquico é criado e nutrido dentro da família um Assegura-se essa A família patriarcal é impressionantemente resiliente e varia em épocas res. educacional, negação às mulheres do conhecimento da própria carência mulheres pela definição de "respeitabilidade" e "desvio" de locais distintos. patriarcado oriental abrangia a poligamia e a prisão de divisão de mulheres nos haréns. patriarcado na Antiguidade clássica e em seu desen- ria, com suas atividades sexuais; por restrições e coerção total; por meio de acordo volvimento europeu baseava-se na monogamia, porém, em todas as suas for- discriminação no acesso a recursos econômicos e poder político e pela conces- mas, um duplo padrão sexual que colocava a mulher em desvantagem era são de privilégios de classe a mulheres que obedecem. parte do sistema. Nos estados industriais modernos, tais como os Estados Uni- Por quase quatro mil anos, as mulheres moldaram sua vida e agiram sob dos, as relações de propriedade dentro da família desenvolvem-se ao longo de "guarda-chuva" do patriarcado, em particular, uma forma do patriarcado mais linhas mais igualitárias do que aquelas em que o pai detém poder bem descrito como dominação paternalista. Essa expressão fala da relação de Ainda assim, as relações de poder econômico e sexual dentro da família não se um grupo dominante, considerado superior, com um grupo subordinado, con- alteram Em alguns casos, as relações entre os sexos são mais siderado inferior, em que a dominação é mitigada por obrigações mútuas e igualitárias, enquanto as relações econômicas permanecem patriarcais; em direitos recíprocos. dominado troca submissão por proteção, trabalho não outros casos, inverte-se o Entretanto, em todos os casos, tais mudanças remunerado por manutenção. Na família patriarcal, as responsabilidades e dentro da família não alteram a dominação masculina básica no domínio obrigações não são distribuídas de modo semelhante entre aqueles a serem público, nas instituições e no governo. protegidos: a subordinação dos meninos à dominação do pai temporária; dura A família não apenas espelha a ordem do Estado e educa os filhos para que até que eles mesmos se tornem responsáveis por suas casas. A subordinação tal a sigam, mas também cria e sempre reforça essa ordem. das meninas e das esposas dura a vida inteira. As filhas podem escapar de Deve-se notar que, quando falamos de melhorias relativas no status das dominação apenas caso se posicionem como esposas sob a dominação/proteção mulheres em dada sociedade, isso costuma significar apenas que vemos de outro homem. A base do paternalismo é um contrato de troca não escrito: melhorias no grau em que sua situação lhes confere oportunidades de exercer sustento econômico e proteção oferecidos pelo homem pela subordinação 266 267</p><p>masculinos, mas todos os campos, serviço sexual e trabalho doméstico não remunerado protetores nunca superou e sob proteção. estado cido pela mulher. Ainda assim, não cumpre a relação com não suas raro continua de fato e manter classes e grupos oprimidos foram mesmo quando o parceiro obrigações. impelidos em Outras pelas mesmas condições de direção à seu Era uma escolha racional para as mulheres, sob condições de falta de de status cons- de podia traçar com clareza uma linha subordinados. público e dependência econômica, escolher protetores fortes para si entre seus filhos. As mulheres sempre compartilharam os privilégios de classe mesmas O/A própria família e sua própria ligação de interesses com a laços De fato, a proteção por pais de homens de sua classe desde que se mantivessem sob a "proteção" de um dos escravos de Para as mulheres, exceto as de classe baixa, o ocorria homem com contra senhor. senhor era outro uma das lado, causas aprendiam mais importantes cedo de suas resistência próprias seguinte maneira: em troca de subordinação sexual, da lias por que seus Mulheres parentes as rebelassem contra expul- a telectual aos homens, você poderá compartilhar o poder dos homens de e in- elas se Em sociedades sariam tradicionais classe para explorar homens e mulheres de classes Na sociedade sua há muitos exemplos registrados de familiares camponesas mulheres que tole- classes, é difícil para as pessoas que têm algum poder ainda que limitado de participavam de castigos, torturas e até mesmo morte da garota circunscrito enxergarem a si mesmas também como desfavorecidas e e ravam praticasse alguma transgressão contra a "honra" da família. Em tempos que dinadas. Os privilégios de raça e de classe servem para destruir a capacidade comunidade se reunia para apedrejar a adúltera até a a Práticas das mulheres de se enxergarem como parte de um grupo conexo, o que de fato toda semelhantes prevaleceram na Grécia e Albânia ao longo do século uma vez que mulheres de todos os grupos oprimidos existem em todas Pais e maridos de Bangladesh expulsavam suas filhas e esposas que haviam sido as camadas da sociedade. A formação de uma consciência de grupo de mulhe- estupradas por soldados invasores, acusando-as de prostituição. Assim, as res deve ocorrer ao longo de diferentes linhas. Essa é a razão pela qual formu- mulheres, não raro, eram forçadas a fugir de um "protetor" para outro, e sua lações teóricas apropriadas a outros grupos de oprimidos são tão inadequadas "liberdade" era quase sempre definida apenas por sua capacidade de transitar ao explicar e conceituar a subordinação das mulheres. entre esses protetores. Há milênios, as mulheres participam do processo da própria subordinação mais significativo de todos os impedimentos quanto ao desenvolvimento por serem psicologicamente moldadas de modo a internalizar a ideia da própria da consciência de grupo das mulheres era a ausência de uma tradição que inferioridade. A falta de consciência da própria história de luta e conquista é reafirmasse a independência e autonomia das mulheres em qualquer período uma das principais formas de manter as mulheres subordinadas. do passado. Nunca houvera nenhuma mulher ou grupo de mulheres vivendo A conexão das mulheres a estruturas familiares tornou muito problemático sem proteção masculina, pelo que a maioria das mulheres sabiam. Nunca hou- qualquer tipo de desenvolvimento da solidariedade feminina e coesão grupal. vera nenhum grupo de pessoas como elas que tivesse feito qualquer coisa sig- Cada mulher individual foi ligada a seu parente homem em sua família de nificativa sozinho. As mulheres não tinham história assim disseram a elas, e origem por laços que implicavam obrigações específicas. Seu doutrinamento, assim elas acreditaram. Desse modo, foi a hegemonia dos homens sobre desde a tenra infância em diante, enfatizava sua obrigação não apenas de con- sistema de símbolos que, de forma mais decisiva, prejudicou as mulheres. tribuir em termos econômicos com a família e a estrutura familiar, mas tam- bém de aceitar um parceiro de casamento alinhado com os interesses A HEGEMONIA DOS HOMENS SOBRE o sistema de simbolos tomou duas formas: Outro modo de dizer isso é afirmar que o controle sexual das mulhe- privação educacional das mulheres e monopólio masculino sobre sua dominan- definição. res estava ligado à proteção paternalista e que, nos vários estágios de sua vida, último aconteceu inadvertidamente, mais como consequência da 268 269</p><p>insights de ambos os sexos e devem ser sobre representados históricos, cia de classe sempre e do acesso houve grandes de elites brechas militares para ao as poder. mulheres Ao longo da elite, dos cujo feita seres em toda à educação era um dos principais aspectos de seu privilégio de classe. acesso dominancia masculina sobre a definição foi deliberada e abrangente Mas DESENVOLVIMENTO através das quais HISTÓRICO os grandes da criou, grupos pela de mulheres primeira enfim, as condições todas as quase quatro mil anos, a existência de mulheres muito educadas e criativas e, mal Por necessarias podem se emancipar subordinação. Uma vez que deixou sua marca. Vimos como homens se apropriaram e depois transformaram os principais mulheres mulheres foi aprisionado a uma estrutura patriarcal limitante pensamento e a simbolos de poder feminino: poder da Deusa-Mãe e as deusas da fertilidade das transformação da consciência das mulheres sobre nós mesmas e nosso pensa- uma precondição para a mudança. Vimos como os homens construíram teologias baseadas na fatual da procriação e redefiniu a existência feminina de maneira restrita mento Começamos são este livro com uma discussão sobre a importância da sexualmente dependente. Por fim, vimos como as mesmas de consciência e o bem-estar do ser A signi- expressaram homem como norma e a mulher como desvio; homem para a à vida humana e conecta cada vida com a imortalidade, porém, a como completo e poderoso, a mulher como inacabada, mutilada e sem ficado ainda outra função. Ao preservar o passado coletivo e Com base em tais constructos simbólicos integrados à filosofia grega, teologias ria presente, tem os seres humanos definem seu potencial e exploram limites de e a tradição legal sobre a qual a civilização ocidental é no possibilidades. Aprendemos com o passado não apenas que as pessoas os homens explicaram o mundo em seus próprios termos e definiram suas antes de nós fizeram, pensaram e planejaram, mas também como falharam e as questões importantes de modo a se colocarem no centro do erraram. Desde os dias das listas de reis da Babilônia, os registros do passado Ao fazer com que o termo "homem" incluísse "mulher", atribuindo-lhe a foram escritos e interpretados por homens e concentraram-se sobretudo em representação de toda a humanidade, os homens criaram um erro conceitual realizações, ações e intenções dos homens. Com o advento da escrita, conhe- de grandes proporções em todo o seu pensamento. Tomando a metade pelo cimento humano avançou a passos largos e a uma velocidade bem maior do todo, não apenas deixaram escapar a essência do que quer que estivessem des- que já ocorrera. Embora, como vimos, as mulheres tenham participado da mas distorceram-na de tal maneira, que não conseguiram vê-la do manutenção da tradição oral e das funções religiosas e de culto no periodo modo correto. Enquanto os homens acreditavam que a terra era plana, não anterior à escrita e por quase um milênio depois, a desvantagem educacional eram capazes de compreender sua realidade, sua função e sua relação real com e destronamento simbólico causaram um profundo impacto em seu futuro outras partes do universo. Enquanto os homens acreditarem que suas expe- desenvolvimento. A lacuna entre a experiência de quem podia (no caso de seu ponto de vista e suas ideias representam toda a experiência homens de classe baixa) participar da criação do sistema de simbolos e quem humana e todo o pensamento humano, serão não só incapazes de definir o que meramente atuava, mas não os interpretava, tornou-se cada vez maior. é abstrato de modo correto, como também incapazes de descrever a realidade Em sua brilhante obra Segundo Sexo, Simone de Beauvoir concentrou-se de maneira adequada. no produto final histórico desse desenvolvimento. Ela descreveu 0 homem A falácia que é incorporada em todos os constructos mentais como autônomo e transcendente; a mulher como imanente. Porém, sua concretos da civilização ocidental, não pode ser retificada apenas com a "adição de ignorou a história. Explicando "por que às mulheres faltam meios afirmou o que é necessário para a retificação é uma reestruturação radical para se organizarem em unidade" em defesa dos próprios interesses, a de pensamento e análise que aceite de uma vez por todas o fato de que a huma- de modo categórico: "Elas [mulheres] não têm o próprio passado, de nidade consiste de partes iguais de homens e mulheres e que as a própria Beauvoir está correta em sua observação 271 270 Digitalizado com CamScann</p><p>"transcendeu", se transcendência significar a mulher não definição de liberdade e alternativas de conhecimento humano. Mas ela e estava errada a em decisivo para do foi a ção mulher não tivera uma história. Duas décadas diferente capacidade do de consequência, a escravidão de essa falácia, revelando ou Mulheres refutaram uma das lista fossem escravizados ou tória economica interpretando a história desvelando oculta das racialmente fontes mulheres. identificar com outros e Esse homens como criação história das mulheres ainda está em da andamento sobre sistema de de e eles Não que muito Estamos apenas começando a importando nuar tempo. entender ou suas era semelhante quanto por mito de que as mulheres estão à margem da criação da ao das senhor caso em Até momento civilização afetou de forma distorcida profunda e essencialmente a psicologia de mulheres das mulheres não da podia confirmar Reforma nem ao homem uma visão errônea do seu a mulheres fortalecer lugar dade humana e no universo. Para as mulheres, conforme demonstrado na por referência outras em posições sua de mulheres autoridade As poucas da nobreza intelectual e de Simone de Beauvoir, sem dúvida uma das mulheres mais cultas de no parte freiras no claustro, eram pela própria ção, a história pareceu durante milênios oferecer apenas lições em a mulher comum. modelos nenhum precedente para exemplos significativos de ação, heroismo negativas improváveis para precedente, não se pode imaginar tação. O mais difícil de tudo foi a aparente ausência de uma tradição ou Onde não essa característica da hegemonia firmasse a independência e a autonomia das mulheres. Parecia que existentes. lhes garante o status de existido nenhuma mulher ou grupo de mulheres que viveu sem a às mulheres subordinadas prejudicial A às mulheres de sua história reforçou a aceitação da ideologia do patriarcado e masculina. É significativo que todos os exemplos contrários consideráveis enfraqueceu a noção de valor próprio da mulher A versão manifestassem por meio de mitos e fábulas: amazonas, matadoras de masculina da história, legitimada como a "verdade universal", apresentou as mulheres com poderes mágicos. Mas, na vida real, as mulheres não tinham mulheres como marginais à civilização e como vítimas do processo história assim aprenderam e assim acreditaram. E, por não terem Ser assim apresentada e acreditar é quase do que ser esquecida por com- não tinham alternativas de futuro. pleto. Como sabemos agora, essa imagem é falsa, em ambas as Mas De certo modo, a luta de classes pode ser descrita como uma luta pelo 0 progresso das mulheres ao longo da história é marcado pela luta contra essa controle dos sistemas de símbolos de determinada grupo opri- distorção incapacitante. mido, enquanto compartilha e participa dos símbolos principais controlados Além disso, há mais de 2.500 anos as mulheres são prejudicadas em termos pelos dominantes, também desenvolve os próprios Estes, em época educacionais e privadas das condições necessárias para desenvolvimento do de mudança revolucionária, tornam-se forças importantes na criação de alter- pensamento abstrato. É evidente que o pensamento não se baseia no sexo; a nativas. Outro modo de dizer isso é que ideias revolucionárias podem ser gera- capacidade de pensamento é inerente à humanidade; pode ser fomentada ou das apenas quando os oprimidos possuem uma alternativa ao sistema de limitada, mas não pode ser contida. Isso por certo é verdadeiro para 0 pensa- símbolos e significado daqueles que os dominam. Assim, escravos que viviam mento gerado e relacionado à vida cotidiana, o nível de pensamento com qual em um ambiente controlado por seus senhores e que estavam fisicamente a maioria dos homens e das mulheres lida a vida inteira. Mas a geração de tos ao controle total deles podiam manter sua humanidade e, por vezes, definir pensamento abstrato e de novos modelos conceituais teoria é limites para seu poder agarrando-se à própria "cultura". Tal cultura consistia outra Essa atividade depende da educação do pensador individual nas de memórias coletivas que eram mantidas vivas de modo cuidadoso de um melhores tradições existentes e na aceitação do pensador por um grupo de 272 273</p><p>julgamentos de valores colorindo pessoas educadas que, por crítica e interação, oferecem As Depende de se ter tempo reservado. Enfim, depende de o pensador cultural ser capaz de absorver tal pensamento e então dar um salto criativo a individual ordem. Historicamente, as mulheres foram incapazes de se valer uma nova desvalorizadas, umas realidade com suas as de experiências si e da Ainda comunidade, carregam assim, vivendo sempre estigma em a conheceram da um mulheres mundo precondições necessárias. A discriminação educacional trouxe de todas as decorrência, aprenderam a desconfiar das próprias no acesso ao conhecimento; o "estímulo cultural", institucionalizado Que sabedoria pode haver na menstruação? Que tos mais altos dos estabelecimentos religiosos e não nos pode haver seio repleto de leite? fonte no Que de conhecimento alimento de para nível para elas. De maneira universal, mulheres de todas as classes estava dispo- na rotina diária alimentar e limpar? abstração pensamento menos tempo livre do que os homens e, em razão da criação dos tinham definidas gênero patriarcal servidão familiar, o tempo livre que tinham em geral não lhes filhos e da tais experiências por ao domínio do "natural", do relega conhecimento das mulheres não torna-se mera tempo de homens pensadores, seu tempo de se dedicar ao trabalho pertencia e "fofoca". mulheres torna-se As mulheres lidam com dos, desde o início da filosofia grega, é respeitado como algo aos estu- como os escravos de Aristóteles, as mulheres, "que, com seus corpos, Assim versa irredimível: entre vivenciam a realidade todos os dias, a cada hora, em sua particular função (cuidando da comida e da sujeira); em seu tempo, necessidades da vida", sofreram por mais de 2.500 anos as desvantagens servem às que sempre; em sua atenção dividida. Pode alguém generalizar enquanto pode ser tempo fragmentado e sempre Por fim, o tipo de desenvolvimento de um de caráter que torna uma mente capaz de ver novas conexões e de moldar a vida particular clama por ela a todo momento? Ele, que faz símbolos e explica nova ordem de abstrações é o exato oposto do que se exige das uma mundo, e ela, que cuida de suas necessidades de corpo e mente e dos filhos nadas para aceitar sua posição de subordinação e orientada ao trei- a disparidade entre ambos é enorme. Ainda assim, sempre houve uma pequena minoria de mulheres privilegia- Historicamente, mulheres pensadoras tiveram de escolher entre vivenciar das, em geral da elite dominante, que tinham certo acesso ao mesmo tipo de uma vida de mulher, com suas alegrias, seu cotidiano e imediatismo, e uma educação de seus Das fileiras dessas mulheres surgiram as vida de homem, para que pudessem pensar. A escolha para gerações de mu- as pensadoras, as escritoras, as Foram essas mulheres que, ao longo da lheres cultas é cruel e custosa. Outras escolheram por vontade própria uma história, tornaram-se capazes de nos dar uma perspectiva feminina, uma alter- existência fora do sistema de sexo-gênero, vivendo sozinhas ou com outras nativa ao pensamento Fizeram-no a um custo enorme e com mulheres. Alguns dos avanços mais significativos no pensamento das mulheres muita nos foram dados por essas mulheres cuja luta pessoal por um modo de vida Essas mulheres, que foram aceitas no centro da atividade intelectual de sua alternativo permeou seus pensamentos. Mas essas mulheres, durante a maioria época em particular nos últimos cem anos, mulheres com educação aca- do tempo histórico, foram forçadas a viver à margem da sociedade; foram precisaram primeiro aprender "como pensar como um homem". No consideradas "desviantes" e, como tais, tiveram dificuldade de generalizar com processo, muitas delas haviam internalizado tanto aquele aprendizado, que base na própria experiência em relação aos outros e de receber influência e perderam a capacidade de conceber alternativas. Pensar de forma abstrata é Por que as mulheres não construíram o sistema? Porque não se pode definir com precisão, criar modelos na mente e generalizar com base neles. Tal pensar de maneira universal quando se está excluída do genérico. pensamento, assim nos ensinaram os homens, devem se basear na exclusão de custo social de se excluir as mulheres da empreitada humana de cons- nais, As mulheres, assim como os pobres, os subordinados, os margi- trução do pensamento abstrato nunca foi calculado. Podemos começar a com- têm conhecimento preciso da ambiguidade, dos sentimentos misturados preender o custo disso para as mulheres pensadoras quando nomeamos com precisão o que foi feito conosco e descrevemos, não importando quão doloroso 274 275</p><p>nas cantigas de roda, nos contos de for, as formas de participação nessa empreitada. Sabemos há tempos bordando fazendo bruxas Costurando, e colchas de estupro é uma forma de nos aterrorizar ainda e nos contra manter nossa subjugadas. Agora que boas. das mulheres expressou uma visão Em cartas, a bém sabemos que participamos, que vontade, do estupro tam- dade artistica orações a força criadora de da criatividade das de nossa mente. Mulheres criativas, escritoras e artistas, lutaram de maneira mulheres rios, pulsou homens e persistiu. entraram no processo sob contra uma realidade distorcida. Um cânone literário, definido pela Mulheres velocidades diferentes ele em por Se condi ato de clássicos gregos e Milton, em sua consagrada obra Paraiso Perdido, passaram registrar, definir marca a entrada passado do homem na riamente enterrariam a importância e o significado da obra literária de interpretar isso terceiro milênio a.C. Para ocorreu as no mulheres res, como os historiadores enterraram as atividades esforço homens (e ainda assim notáveis para para algumas), com ocorreu no século ressuscitar esse significado e reavaliar a obra literária e de mulheres para Até era para as recente. A crítica e a poética literárias feministas nos apresentaram a uma toda conhecimento das mulheres sobre a de própria falta de pretação da literatura de mulheres, que encontra uma visão de mundo oculta e dos principais meios de nos manter um subordinadas. Mas e deliberadamente "inclinada", mas poderosa. Por meio de reinterpretações das conquistas mesmo definem como pensadoras feministas se e críticas literárias feministas, estamos descobrindo, entre as mulheres escritoras já engajadas no processo dos séculos XVIII e XIX, uma linguagem feminina de símbolos aquelas criticar que os sistemas tradicionais de ideias ainda são atrasadas pelas amarras e mitos. Seus temas são com frequência bastante subversivos da tradição de desconhecimento gravado profundamente em nossa psique. A mulher emer- do um desafio à própria definição de si mesma. Como culina. Apresentam crítica da interpretação bíblica da queda de rejeição encara pode seu da dicotomia deusa/bruxa; projeção ou medo do eu dividido aspecto pode- gente pensamento audacioso nomear o até agora inominado, fazer as perguntas roso da criatividade da mulher se torna simbolizado nas dotadas de definidas por todas as autoridades como "inexistentes" como pode tal poderes mágicos de bondade ou em mulheres fortes que são banidas a pensamento coexistir com sua vida de mulher? Ao fugir dos constructos do pen- ou para que vivam como "a louca no Outras escrevem em metáforas samento patriarcal, ela encara, como Mary Daly assinalou, "vazio existencial". elevando o espaço doméstico confinado, fazendo com que ele sirva, simboli- E, de modo mais imediato, teme a ameaça da perda de comunicação com a camente, como o aprovação e o amor do homem (ou dos homens) de sua vida. afastamento Durante séculos, encontramos nas obras de mulheres letradas uma busca do amor e a designação de mulheres pensadoras como "desviantes" são meios patética, quase desesperada, pela História das Mulheres, bem antes da existên- historicamente usados para desencorajar o trabalho intelectual de mulheres. cia de estudos históricos. Escritoras do século XIX leram com avidez a obra de No passado (e agora), muitas mulheres emergentes voltaram-se outras mulhe- mulheres romancistas do século XVIII; repetidas vezes elas leram as "vidas" de res como objeto de amor e reforço de si mesmas. As feministas heterossexuais rainhas, abadessas, poetisas, mulheres sábias. Os primeiros "compiladores" também, ao longo do tempo, tiraram forças da amizade com mulheres, do pesquisaram a Bíblia e todas as fontes históricas às quais tiveram acesso para celibato voluntário ou da separação entre sexo e amor. Nenhum homem criar tomos importantes com heroínas femininas. sador já foi ameaçado em sua própria definição e na vida amorosa como preço desse Ainda assim, as vozes literárias de mulheres, marginalizadas e banalizadas ser pago pelo seu pensamento. Não devemos subestimar a importância com sucesso pelo establishment masculino dominante, sobreviveram. As vozes aspecto de controle de gênero como força que impede as mulheres de de mulheres anônimas estavam presentes como uma tendência na tradição plenamente do processo de criação de sistemas de 277 276</p><p>consciência que devemos fazer ocorre na em duas mulheres cultas, a libertação significou um tempo, permanecer centradas deve- de a menos por nas para essa emocional reforço consciente de nós mesmas por meio quebra do dessa possível, deixar quanto pensamento mulheres. patriarcal Depois tanto para amarra outras mulheres. dificuldades. Alinhadas com nosso histórico MULHER SIGNIFICA: NA perguntar como de preparação é fim das insuficiente para dar um salto no desconhecido Essa seria Não as mulheres buscaram agradar e evitar a CENTRADA mulheres fossem seu ponto definido Significa esse mento de marginalização da mulher ignorar porque, todas mesmo é daquelas uma que concebem novos sistemas. Além disso, cada mulher exigido onde as marginalizadas, trata-se do resultado da mulheres foi educada no pensamento patriarcal. Cada uma de nós guarda emergente intervenção mera aparência. pressuposto nino nos privou de heroínas femininas, que apenas há tempo femi- um grande homem no pensamento. A falta fato de conhecimento do Passado menos sendo corrigido através do desenvolvimento da História das vem muito tempo, as mulheres pensadoras renovaram os sistemas de estejam envolvidas, repressão. participar por meio raro, também para qualquer exceto se coisa tiverem ocorrer sido impedidas no mundo de sem que deve as ser mulheres que criados por pelos homens, travando um diálogo com as grandes mentes ideias conceitos de sistemas tradicionais de nas em seus pensamentos. Elizabeth Cady Stanton assumiu a masculi. da Igreja, fundadores da República Kate Millet discutiu padres Usar do colocadas ponto e de em vista espaços da vazios centralidade de pensamento da mulher. pensamento e sistemas As mulheres significa não ser patriarcais Freud, Norman Mailer e o establishment literário liberal; Simone de Beauvoir com podem deslocarem para o centro, elas transformam o com Sartre, Marx e Camus; todas as feministas marxistas dialogam com Marx e Engels, e algumas também com Freud. Nesse diálogo, a mulher busca tão FUGIR DO PENSAMENTO PATRIARCAL SIGNIFICA: ser cética quanto a cada sis- somente aceitar o que quer que ache útil para ela no grande sistema do tema conhecido de pensamento; criticar todos os pressupostos, valores de homem. Mas, nesses sistemas, a mulher como conceito, entidade ordem e definições. indivíduo é marginalizada ou incorporada. Contestar a afirmação de alguém confiando em nossas na ex- Ao aceitar esse diálogo, a mulher pensadora fica muito mais tempo do que periência feminina. Uma vez que tal experiência costuma ser banalizada ou seria útil dentro dos limites ou da formulação de perguntas definidos pelos ignorada, significa superar a resistência profundamente sedimentada dentro "grandes homens". E, enquanto isso, a fonte de um novo entendimento está de nós mesmas e nos aceitarmos e ao nosso conhecimento como fechada para ela. Isso quer dizer nos livrarmos dos grandes homens em nosso pensamento e pensamento revolucionário é sempre baseado na melhoria da experiência substituí-los por nós mesmas, nossas nossas ancestrais anônimas. do oprimido. camponês precisou aprender a confiar na importância de sua Sermos críticas quanto ao próprio pensamento, que é, afinal, um pensa- experiência de vida antes de ousar desafiar os senhores feudais. trabalhador mento moldado na tradição patriarcal. Por fim, significa desenvolver coragem industrial precisou tomar "consciência de classe", o afrodescendente precisou intelectual, a coragem de se levantar sozinha, a coragem de buscar inalcan- tomar "consciência de raça" antes que o pensamento libertador pudesse ser a coragem de correr o risco do fracasso. Talvez o maior desafio para as desenvolvido na teoria revolucionária. Os oprimidos agiram e aprenderam de mulheres pensadoras seja o desafio de fugir do desejo de segurança e aprovação modo simultâneo o processo de se tornar o mais novo grupo ou pessoa é para a qualidade mais "não feminina" de todas a arrogância intelectual, a libertário por si O mesmo vale para as mulheres. suprema que atribui a si o direito de reordenar o mundo. A dos criadores de deuses, a húbris dos homens que constroem o sistema. 278 279</p><p>o sistema do patriarcado é um constructo tem um Seu tempo parece estar quase acabando ele não um necessidades de homens e mulheres, e, em sua ligação atende mais tarismo, hierarquia e racismo, ameaça a própria existência de vida com organização social, ainda não sabemos. Vivemos em uma era de o que virá depois, que tipo de estrutura será a base para formas no de mação sem precedentes. Estamos no processo de Mas já que a mente da mulher, enfim liberta após tantos também oferecer visão, ordem, soluções. As mulheres por fim estão fizeram os homens no Renascimento, o direito de explicar, o As mulheres, pensando elas mesmas patriarcado, somam transformadores de redefinição. além do direito de insights como ao processo Enquanto homens e mulheres considerarem "natural" a metade da raça humana à outra metade, será impossível conceber de dade na qual as diferenças não signifiquem ou dominância subordinacio uma crítica feminista do edifício patriarcal de conhecimento apresenta 0 A mento para uma análise correta da realidade uma análise que, no consegue distinguir o todo de uma parte. A História das Mulheres, ferramenta inicial ao se criar a consciência feminista nas mulheres, oferece toda a expe- riência em comparação com a qual novas teorias podem ser testadas e sobrea qual mulheres de visão podem se posicionar. Uma visão de mundo feminista permitirá que mulheres e homens libertem a mente do pensamento patriarcal, e também de sua prática, para enfim cons- truírem um mundo livre de dominação e hierarquia, um mundo que seja ver- dadeiramente humano. 280 Digitalizado com CamSca</p>