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Uma teoria muito difundida sustenta que a 
progressiva diminuição do poder aquisitivo da 
unidade monetária teria tido um papel decisivo 
na evolução histórica. A humanidade não teria 
podido atingir o seu atual estado de bem estar se 
a oferta de moeda não tivesse crescido mais 
rapidamente que a demanda. A consequente 
queda no poder aquisitivo, afirma essa teoria, 
teria sido uma condição necessária para o 
progresso econômico; a intensificação da divisão 
do trabalho e o contínuo crescimento da 
acumulação de capital, que centuplicou a 
produtividade do trabalho, só teriam podido 
ocorrer num mundo em que houvesse uma 
progressiva alta de preços. 
A inflação daria origem à prosperidade e à 
riqueza; a deflação, à desgraça e à decadência 
econômica. Um exame da literatura política e das 
ideias que por séculos têm orientado as políticas 
monetária e creditícia das nações revela que essa 
opinião é aceita por quase todo mundo. Apesar 
das advertências de alguns economistas, ainda 
hoje é o núcleo da filosofia econômica leiga. É, 
 
 
também, a essência dos ensinamentos de Lord 
Keynes e de seus discípulos nos dois hemisférios. 
A popularidade do inflacionismo se deve, 
em grande parte, ao arraigado ódio contra os 
credores. A inflação é considerada justa porque 
favorece os devedores em detrimento dos 
credores. Não obstante, a visão inflacionista da 
história tem pouca relação com esse argumento 
anticredor. Sua afirmativa de que o 
"expansionismo" é a força motriz do progresso 
econômico, e de que o "restricionismo" é o pior 
de todos os males, baseia-se sobretudo em outros 
argumentos. 
É óbvio que os problemas suscitados pela 
doutrina inflacionista não podem ser resolvidos 
recorrendo-se aos ensinamentos da experiência 
histórica. É fora de dúvida que a história dos 
preços mostra, de uma maneira geral, uma 
contínua tendência ascendente, embora às vezes 
interrompida por períodos curtos. 
 Evidentemente, não há outra maneira de analisar 
este fato a não ser pela compreensão histórica. A 
precisão da análise econômica não pode ser 
aplicada a problemas históricos. Os esforços de 
alguns historiadores e estatísticos para rastrear as 
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1051
 
 
mudanças no poder aquisitivo dos metais 
preciosos através dos séculos, e medi-las, são 
inúteis. Já foi mostrado que todas as tentativas 
de medir grandezas econômicas estão baseadas 
em suposições inteiramente falsas e demonstram 
uma ignorância dos princípios fundamentais 
tanto da economia como da história. Mas o que a 
história, por meio de seus próprios métodos, 
podem nos dizer nesse particular é suficiente 
para justificar a afirmativa de que o poder 
aquisitivo da moeda tem mostrado ao longo dos 
séculos uma tendência de queda. Em relação a 
isso, todos estão de acordo. 
Mas não é esse o problema a ser elucidado. 
 A questão é saber se a queda no poder aquisitivo 
foi, ou não, um fator indispensável na evolução 
da pobreza de eras passadas para as condições 
mais satisfatórias do moderno capitalismo 
ocidental. Esta questão deve ser respondida sem 
que se recorra à experiência histórica, que pode 
ser, e sempre é, interpretada de diversas 
maneiras, e à qual os defensores e adversários de 
qualquer que seja a teoria ou explicação da 
história se referem como uma prova de suas 
afirmativas mutuamente contraditórias e 
 
 
incompatíveis. O que se faz necessário é 
esclarecer os efeitos que as mudanças no poder 
aquisitivo provocaram sobre a divisão do 
trabalho, a acumulação de capital e o progresso 
tecnológico. 
Ao lidar com esse problema, não nos 
podemos satisfazer apenas em refutar os 
argumentos apresentados pelos inflacionistas em 
defesa de sua tese. O absurdo desses argumentos 
é tão evidente, que fica fácil refutá-los e 
desmascará-los. Desde o começo de sua 
existência, a ciência econômica já mostrou 
repetidas vezes que as afirmativas referentes aos 
supostos benefícios de uma abundância de 
moeda e aos supostos desastres de uma escassez 
de moeda são o resultado de erros crassos de 
raciocínio. Os esforços dos apóstolos do 
inflacionismo e do expansionismo para refutar o 
acerto dos ensinamentos dos economistas pró-
livre mercado têm sido absolutamente inúteis. 
A única questão relevante é a seguinte: é ou 
não é possível baixar a taxa de juros por meio da 
expansão de crédito? Já sabemos da 
interdependência entre a taxa de juros e as 
expansões monetárias. Já sabemos quais são, 
 
 
inevitavelmente, as consequências de expansões 
econômicas artificiais provocadas por uma 
expansão creditícia. 
Mas devemos perguntar-nos se não é 
possível existirem outras razões que possam ser 
apresentadas em favor da interpretação 
inflacionista da história. Não teriam os 
defensores do inflacionismo deixado de recorrer a 
algum argumento válido que pudesse sustentar 
sua posição? É certamente necessário que o 
assunto seja examinado de todos os ângulos 
possíveis. 
Imaginemos um mundo no qual seja rígida 
a quantidade de moeda. Num primeiro estágio, 
os habitantes desse mundo produziram toda a 
quantidade possível da mercadoria a ser usada 
como moeda. Um novo aumento na quantidade 
de moeda é impossível. Os meios fiduciários não 
são conhecidos. Todos os substitutos de moeda 
— inclusive a moeda fracionária — são 
certificados de moeda. 
Nessas condições, a intensificação da 
divisão do trabalho, a evolução da 
autossuficiência econômica das famílias, vilas, 
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=828
 
 
distritos e países para o sistema de mercado 
mundial do século XIX, a progressiva acumulação 
de capital e o progresso tecnológico dos métodos 
de produção teriam resultado numa tendência 
contínua à queda dos preços. Poderia esse 
aumento do poder aquisitivo da unidade 
monetária impedir a evolução do capitalismo? 
O homem de negócios comum responderia 
afirmativamente a essa pergunta; vivendo e 
agindo num mundo em que uma lenta, mas 
contínua, queda no poder aquisitivo da unidade 
monetária é considerada como normal, 
necessária e benéfica, simplesmente não pode 
compreender um estado de coisas diferentes. No 
seu entender, as noções de preços em ascensão e 
lucros estão interligadas, assim como as de 
preços em queda e prejuízos. 
O fato de que também se possa operar 
lucrativamente em um ambiente de queda de 
preços e que grandes fortunas tenham sido feitas 
dessa maneira não abala o seu dogmatismo. São 
casos — diz ele — de transações meramente 
especulativas de pessoas desejosas por lucrar com 
a queda nos preços de bens já produzidos e 
disponíveis; as inovações criativas, os novos 
 
 
investimentos e a utilização de métodos 
tecnológicos aprimorados requerem o estímulo 
que a expectativa de aumento de preços propicia; 
o progresso econômico só é possível em um 
mundo de preços em ascensão. 
Esta forma de pensar é insustentável. Em 
um mundo em que fosse crescente o poderaquisitivo da unidade monetária, o modo de 
pensar das pessoas se ajustaria a esse estado de 
coisas, da mesma forma que, no nosso mundo, se 
ajustaram a uma unidade monetária de poder 
aquisitivo decrescente. Hoje em dia, as pessoas 
em geral estão prontas a considerar um aumento 
na sua renda nominal ou monetária como uma 
melhoria de sua situação material. A atenção das 
pessoas está mais voltada para o aumento dos 
salários nominais e do equivalente monetário da 
riqueza do que para o aumento da quantidade de 
bens disponíveis. 
Em um mundo em que o poder aquisitivo 
da unidade monetária fosse crescente, todos 
concentrariam sua atenção na redução do custo 
de vida. Isto tornaria evidente o fato de que o 
progresso econômico consiste primordialmente 
 
 
em fazer com que as amenidades da vida sejam 
cada vez mais acessíveis. 
Na condução dos negócios, as reflexões 
acerca da tendência secular dos preços não são 
levadas em consideração. Empreendedores e 
investidores não se preocupam com tendências 
seculares. O que orienta suas ações é a sua 
expectativa de quais serão os preços nas próximas 
semanas, meses ou, no máximo, nos próximos 
anos. Não se interessam pelo movimento geral 
de todos os preços. O que lhes interessa é a 
existência de diferenças entre os preços dos 
fatores complementares de produção e o preço 
previsto dos seus produtos produzidos. Nenhum 
empreendedor se lança em um empreendimento 
por acreditar que os preços — isto é, os preços de 
todos os bens e serviços — irão aumentar. Ele se 
engajará no empreendimento em questão se 
acreditar que pode extrair um lucro da diferença 
entre os preços dos bens de várias ordens. 
Em um mundo com uma tendência secular 
de preços decrescentes, as oportunidades de 
lucro surgirão da mesma maneira como surgiram 
num mundo com uma tendência secular de 
preços crescentes. A expectativa de um 
 
 
aumento geral e progressivo de todos os preços 
não intensifica a produção nem provoca uma 
melhoria do nível de vida. Ao contrário: acaba 
resultando numa "fuga para ativos reais", numa 
alta desastrosa e no colapso do sistema 
monetário. 
Se houver uma expectativa geral de que os 
preços de todas as mercadorias irão diminuir, a 
taxa de juros no mercado de curto prazo também 
irá se reduzir no montante correspondente a essa 
redução nos preços. Assim sendo, o 
empreendedor que utiliza recursos emprestados 
está protegido das consequências de tal queda 
nos preços, da mesma forma que, em uma 
situação de preços crescentes, o emprestador se 
protege das consequências da diminuição do 
poder aquisitivo aumentando os juros cobrados 
no mesmo montante do aumento esperado dos 
preços. 
Uma tendência secular de aumento do 
poder aquisitivo da unidade monetária faria com 
que os empreendedores e investidores adotassem 
regras práticas, empíricas, diferentes daquelas 
que se desenvolveram em decorrência da 
tendência secular de queda do poder aquisitivo. 
 
 
 Mas com certeza não influenciaria 
substancialmente o curso dos negócios. Não 
eliminaria o desejo das pessoas de melhorar sua 
situação material, tanto quanto possível, por 
meio de um ajuste adequado da produção. Não 
privaria o sistema econômico dos fatores que são 
a origem do progresso material — a saber, o 
empenho de audazes empreendedores em obter 
lucro e a disposição do público para comprar 
aquelas mercadorias que lhes proporcionam 
maior satisfação pelo menor custo. 
Tais observações, certamente, não são um 
apelo para que se adote uma política de deflação. 
 Implicam meramente uma refutação das 
inextirpáveis fábulas inflacionistas. 
Desmascaram o caráter ilusório da doutrina de 
Lord Keynes, segundo a qual a fonte da pobreza e 
da miséria, da depressão econômica e do 
desemprego deve ser procurada na "pressão 
contracionista". Não é verdade que "uma pressão 
deflacionária [...] teria [...] impedido o 
desenvolvimento da indústria moderna". Não é 
verdade que a expansão do crédito produza o 
"milagre [...] de transformar pedras em pães". 
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=179
 
 
A ciência econômica não recomenda 
políticas inflacionárias nem deflacionárias. Não 
instiga os governos a determinarem e imporem o 
meio de troca a ser utilizado pela economia. Tal 
escolha sempre foi feita — e deveria continuar 
sendo — pelo mercado. A economia apenas 
proclama as seguintes verdades: 
1. Um governo, ao adotar uma política 
inflacionista ou deflacionista, não está 
promovendo o bem estar do público, o bem comum 
ou os interesses da nação em geral. Está 
meramente favorecendo um ou alguns grupos da 
população à custa de outros grupos. 
2. É impossível saber previamente que grupos 
serão favorecidos por uma específica medida 
inflacionária ou deflacionária, e em que extensão. 
 Esses efeitos dependem do conjunto de 
circunstâncias do mercado considerado; dependem 
também, em grande medida, da velocidade do 
movimento inflacionário ou deflacionário e podem 
sofrer uma total reversão no curso desses 
movimentos. 
3. Em qualquer grau, uma expansão 
monetária resulta em investimentos errôneos e 
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=306
 
 
insustentáveis, além de gerar um consumo 
excessivo de bens. A nação, como um todo, fica 
mais pobre e não mais rica. 
4. Uma inflação contínua acaba provocando 
uma alta incontrolável nos preços, além de levar à 
completa ruína do sistema monetário. 
5. A política deflacionária é onerosa para o 
Tesouro e impopular junto às massas. Por outro 
lado, a política inflacionária é vantajosa para o 
Tesouro e bastante popular entre os ignorantes. 
 Na prática, o perigo da deflação é apenas ligeiro, 
enquanto o perigo da inflação é enorme.

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