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<p>Analise do acórdão RE1054110 de 09/05/2019 sobre o tranporte individual remunerado de passageiros por aplicativo</p><p>Primeiramente, devemos compreender o significado de alguns termos usados durante a análise. O primeiro é Recurso Extraordinário (RE) que é um tipo de recurso interposto perante o Supremo Tribunal Federal (STF) no Brasil. Ele é utilizado quando há uma questão constitucional relevante e se busca a revisão de decisões proferidas por tribunais inferiores. O RE é cabível quando a matéria discutida ultrapassa os interesses das partes envolvidas, apresentando relevância e repercussão geral, ou seja, impacto significativo além do caso individual.</p><p>O outro termo é Acórdão, que significa uma decisão colegiada proferida por um tribunal. Geralmente, ele é emitido por tribunais superiores ou de segunda instância. O acórdão resume os fundamentos legais da decisão do tribunal, apresentando argumentos jurídicos, interpretações de leis, análises de precedentes e as razões pelas quais a decisão foi tomada. Ele tem o papel de consolidar o entendimento jurídico sobre a matéria em questão e servir como referência para casos futuros.</p><p>O Recurso Extraordinário em questão é interposto contra o acórdão RE1054110 de 09/05/2019 que declarou a inconstitucionalidade de uma lei municipal que proibiu o transporte remunerado de passageiros por motoristas de aplicativos como Uber, Cabify e 99. A questão jurídica envolve a licitude da atuação de motoristas privados em plataformas de transporte compartilhado, contestando normas que proíbem ou restringem desproporcionalmente o transporte privado. O tribunal destaca a inconstitucionalidade dessas normas, argumentando que não há exclusividade do modelo de táxi, contrariando a livre iniciativa e concorrência. O acórdão ressalta a estratégia constitucionalmente adequada de admitir uma modalidade de transporte submetida a menor regulação, incentivando a inovação e beneficiando a mobilidade urbana.</p><p>A União Federal, detentora da competência legislativa sobre trânsito e transporte, estabeleceu diretrizes regulatórias para o transporte privado por aplicativo, cujas normas devem ser seguidas pelos municípios e pelo Distrito Federal. O recurso extraordinário é desprovido, com a fixação de teses de julgamento que afirmam a inconstitucionalidade da proibição ou restrição do transporte privado individual e a necessidade de conformidade com as diretrizes federais na regulamentação e fiscalização pelos entes municipais.</p><p>Os Ministros do Supremo Tribunal Federal, sob a presidência do Ministro Dias Tofolli, decidiram, por unanimidade, negar provimento ao recurso extraordinário no tema 967 de repercussão geral, conforme o voto do Relator. Posteriormente, fixaram a tese de repercussão geral, declarando a inconstitucionalidade da proibição ou restrição do transporte privado individual por motoristas de aplicativos, por violação aos princípios da livre iniciativa e concorrência. Além disso, afirmaram que os Municípios e o Distrito Federal não podem contrariar os parâmetros estabelecidos pelo legislador federal em sua competência para regulamentação e fiscalização do transporte privado individual de passageiros.</p><p>O acórdão recorrido afirmou que os municípios têm competência para regulamentar o transporte urbano local, mas essa competência está condicionada aos princípios constitucionais. Declarou a inconstitucionalidade material de uma lei municipal que proibiu o transporte remunerado de passageiros por motoristas de aplicativos. A Câmara Municipal de São Paulo recorreu, alegando violação a dispositivos constitucionais e buscando a reforma do acórdão. A Confederação Nacional de Serviços contestou, defendendo sua legitimidade para a ação. A Procuradoria Geral da República opinou pelo desprovimento do recurso, destacando a inconstitucionalidade da lei municipal em relação à competência legislativa federal e à livre iniciativa. O recurso teve repercussão geral reconhecida, tratando da proibição do uso de carros particulares para transporte remunerado de passageiros. Diversas partes interessadas, incluindo Uber, taxistas e outras entidades, solicitaram ingresso como amicus curiae.</p><p>O Tribunal de Justiça de São Paulo considerou a lei inconstitucional, e a Câmara Municipal recorreu ao Supremo Tribunal Federal. A argumentação envolve alegações de violação de diversos artigos da Constituição Federal, especialmente relacionados à competência legislativa. A recorrente argumenta que o tribunal estadual citou artigos constitucionais que não são suficientes para embasar a inconstitucionalidade da lei municipal. Além disso, questiona a legitimidade da entidade que propôs a ação e defende a competência do município para legislar sobre transporte individual remunerado de passageiros. O caso envolve a discussão sobre a natureza da atividade de transporte privado individual por aplicativo, considerando princípios constitucionais, legislação nacional de mobilidade urbana e a autonomia municipal.</p><p>A AGU argumenta que a Lei Federal 12.587/2012 estabelece diretrizes para a Política Nacional de Mobilidade Urbana, destacando a natureza pública e privada dos serviços de transporte urbano. Argumenta que proibir motoristas de aplicativos prejudica a livre iniciativa e concorrência, infringindo princípios constitucionais. O CADE destaca que novos prestadores beneficiam a concorrência e os consumidores. A restrição é considerada inconstitucional, pois viola o princípio da livre concorrência. Recomenda-se a improcedência do recurso extraordinário.</p><p>Em decisão posterior, o Tribunal, por unanimidade, negou provimento ao recurso extraordinário, conforme o voto do Relator. O Tribunal também deliberou fixar a tese de repercussão geral em assentada posterior.Na sessão presidida pelo Ministro Dias Toffoli, estavam presentes os Ministros Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia, Luiz Fux, Rosa Weber, Roberto Barroso, Edson Fachin e Alexandre de Moraes. A Procuradora-Geral da República, Dra. Raquel Elias Ferreira Dodge, também estava presente.</p>