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<p>Universidade Federal de Minas Gerais</p><p>Programa de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo [NPGAU]</p><p>Arquitetura como interface</p><p>Prof.: Ana Baltazar</p><p>Doutoranda: Camila Matos</p><p>novembro, 2018.</p><p>Ficção visionária como método de pesquisa sócio-espacial:</p><p>as narrativas de mulheres idosas das vilas da Serra.</p><p>Resumo</p><p>O presente artigo desenvolve-se no âmbito da minha pesquisa de doutorado, cujo</p><p>principal objeto de investigação é uma série de entrevistas realizadas com mulheres</p><p>idosas moradoras das vilas do Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte. Os registros</p><p>dessas entrevistas são documentos preciosos que dizem do processo de formação das</p><p>vilas da Serra e do crescimento de Belo Horizonte, a partir da perspectiva dessas</p><p>mulheres, que trabalharam diretamente na construção, no cuidado doméstico, em</p><p>fábricas, bares e como empregadas domésticas em “casas de família”. O trabalho dessas</p><p>mulheres, assim como outros aspectos de sua existência, permanecem apartados das</p><p>narrativas oficiais sobre a cidade contemporânea, ao passo que resguardam uma</p><p>potência de questionamento de suas principais bases: o discurso sobre o trabalho</p><p>produtivo formal que oculta os trabalhos informais e de reprodução da vida, a lógica de</p><p>apropriação e lucro que oculta lógicas de colaboração não fundadas no acúmulo, assim</p><p>como outras ficções do poder hegemônico que modelam o real de acordo com seus</p><p>interesses. Este trabalho reflete sobre o percurso que tenho percorrido no esforço de</p><p>elaborar um método de pesquisa que incorpore as histórias narradas por essas</p><p>mulheres. Em primeiro lugar, apresento uma breve aproximação bibliográfica do tema</p><p>das ficções no contexto de pesquisas sociológicas. Depois, apresento experiência de</p><p>trabalho de campo nas vilas da Serra e o relato das mulheres entrevistadas. Em um</p><p>terceiro momento, faço uma pequena análise sobre oito obras que podem informar o</p><p>desenvolvimento de trabalhos narrativos. Finalmente, analiso dois ensaios</p><p>desenvolvidos a partir do trabalho de campo realizado até agora.</p><p>�1</p><p>Introdução</p><p>O presente artigo desenvolve-se no âmbito da minha pesquisa de doutorado, cujo</p><p>principal objeto de investigação é uma série de entrevistas realizadas com mulheres</p><p>idosas moradoras das vilas do Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte. Essas 1</p><p>entrevistas foram feitas no contexto de uma outra pesquisa, desenvolvida por uma rede</p><p>internacional (POP - Place-Making with Older People), e que tem por objetivo</p><p>compreender como pessoas idosas experienciam os espaços urbanos onde vivem e</p><p>como sua inserção na vida urbana poderia ser estimulada. 2</p><p>As entrevistas – algumas realizadas ao longo de caminhadas em percursos cotidianos</p><p>com as idosas e outras estacionárias – seguiam um roteiro que questionava as idosas</p><p>sobre aspectos bem precisos e concretos de sua experiência na cidade. O modo como</p><p>costumavam responder, porém, era bem impreciso e, por isso mesmo, bastante rico.</p><p>Ainda durante essa primeira fase do trabalho de campo, ficou claro que a estrutura da</p><p>pesquisa em rede não teria condições (nem era esse o seu objetivo) de trabalhar com o</p><p>grau de complexidade desses relatos e terminaria por sintetizar as respostas para,</p><p>simplesmente, responder às perguntas que haviam sido previamente elaboradas. Era</p><p>necessário desenvolver uma forma de tratar esses registros para que não se perdessem</p><p>no fluxo de informações imposto pela pesquisa POP.</p><p>É nesse contexto que surge a inquietação que me motivou a iniciar a pesquisa de</p><p>doutorado da qual deriva este artigo. O desafio inicial que se desenha é justamente esse:</p><p>como trabalhar esses relatos e acessar de forma mais potente aquilo que eles contêm</p><p>que contribuiria para um entendimento mais profundo e complexo sobre o</p><p>desenvolvimento de Belo Horizonte nos últimos cinquenta anos e, mais</p><p>A pesquisa de doutorado até então intitulada “O processo de formação do Aglomerado da Serra a 1</p><p>partir das narrativas de mulheres da geração pioneira” está sendo desenvolvida junto ao Programa</p><p>de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFMG.</p><p>Place-Making with Older People (POP). Pesquisa em rede com a Heriot-Watt University, em 2</p><p>Edimburgo, no Reino Unido e com três universidades do Brasil: UFMG, Belo Horizonte; UFPEL,</p><p>Pelotas; e UNB, Brasília.</p><p>�2</p><p>especificamente, sobre a vida dessas mulheres, cuja experiência pode dar pistas sobre</p><p>outras lógicas e modos de fazer que estão além do trabalho produtivo capitalista.</p><p>O trabalho dessas mulheres, assim como outros aspectos de sua existência,</p><p>permanecem apartados das narrativas oficiais sobre as cidades contemporâneas, ao</p><p>passo que resguardam uma potência de questionamento de suas principais bases: o</p><p>discurso sobre o trabalho produtivo formal que oculta os trabalhos informais e de</p><p>reprodução da vida, a lógica de apropriação e lucro que oculta lógicas de colaboração</p><p>não fundadas no acúmulo, assim como outras ficções do poder hegemônico que</p><p>modelam o real de acordo com seus interesses.</p><p>Este trabalho reflete sobre o percurso que tenho percorrido no esforço de elaborar um</p><p>método de pesquisa que incorpore as histórias narradas por essas mulheres. Em</p><p>primeiro lugar, apresento uma breve aproximação bibliográfica do tema das ficções no</p><p>contexto de pesquisas sociológicas e sócio-espaciais. Depois, apresento de maneira</p><p>mais direta a experiência de trabalho de campo nas vilas da Serra e o relato das</p><p>mulheres entrevistadas. Em um terceiro momento, faço uma pequena análise sobre</p><p>oito obras que podem informar o desenvolvimento de trabalhos narrativos ou</p><p>ficcionais. Finalmente, analiso dois ensaios desenvolvidos a partir do trabalho de</p><p>campo realizado até agora.</p><p>Narrativas, ficções, poder e imaginação</p><p>Toda história, seja oficial ou não, é uma ficção criada a partir dos interesses específicos</p><p>de quem a narra. Seu caráter ficcional, entretanto, costuma ser omitido por seus</p><p>narradores, que esforçam-se por legitimar suas histórias e lhes atribuir status de</p><p>verdade. A história oficial é mais uma narrativa construída e difundida por</p><p>coletividades em posições de poder até se tornar parte do senso comum e ser</p><p>incorporada à memória, ao cotidiano e, finalmente, à identidade das pessoas.</p><p>O ocultamento desse caráter ficcional, muitas vezes faz com que situações</p><p>historicamente construídas sejam entendidas como naturais ou essenciais à natureza</p><p>�3</p><p>humana. Problematizar e desconstruir esses processos históricos é, portanto,</p><p>fundamental para a imaginação de futuros alternativos ou de aspectos do passado</p><p>quem tenham permanecido suprimidos até então.</p><p>O filósofo estadunidense David Boje definiu uma categoria de análise discursiva que</p><p>chamou narratologia realista. Essa categoria diz respeito especificamente às narrativas</p><p>que buscam ocultar os elementos de ficcionalidade lhe permeiam e que se auto-</p><p>outorgam o valor de espelho da realidade.</p><p>Na narratologia realista, as histórias das pessoas e das organizações são tratadas</p><p>como objetos mortos e o contexto em que foram vividas não é explorado. […] Os</p><p>eventos são agrupados cronologicamente para que soem mais realistas. A história</p><p>se torna o espelho cristalino de um realismo objetivo com pouca ou nenhuma</p><p>atenção empírica ao contexto de desempenho comportamental em que as histórias</p><p>foram socialmente encenadas ou ao modo como estão situadas no interior de</p><p>discursos políticos e econômicos. Histórias realistas imitam o naturalismo</p><p>fornecendo detalhes narrativos ricos, fatos científicos, referências e cronologias</p><p>que autenticam seu caráter como algo não-morto e não-ficcional . (Boje et al, 2001) 3</p><p>O processo de naturalização de processos históricos mobiliza documentos,</p><p>testemunhos e diferentes fontes de informação que operam como distintivos de</p><p>veracidade. Por outro lado, outras narrativas que poderiam ameaçar sua credibilidade</p><p>são muitas vezes ocultadas, silenciadas, assim como são marginalizados os</p><p>protagonistas de suas histórias. Contar histórias e, sobretudo, tê-las</p><p>ouvidas envolve</p><p>uma disputa de poder.</p><p>A construção da história oficial confere visibilidade a determinados eventos ao passo</p><p>que oculta outros para criar narrativas lineares e coesas que fornecem suporte a ideias e</p><p>pensamentos específicos. Essas ideias ou ideologias, moldam também a forma como</p><p>Livremente traduzido pela autora. No original: In realist narratology people and organizational 3</p><p>stories are treated as dead objects without exploring lived context. […] Events are strung together</p><p>into chronologies to vibrate with realness. Story becomes a transparent mirror of an objective</p><p>realism with little or no empirical attention to the behavioural performance context in which</p><p>stories were socially enacted or to their embedded situation within situated political and economic</p><p>discourses. Realism stories mimic naturalism by supplying rich narrative details, scientific facts</p><p>and figures, references and chronology to authenticate their performance as non-dead and non-</p><p>fiction.</p><p>�4</p><p>imaginamos coletivamente, nossos desejos, prospecções, nossa capacidade de pensar</p><p>futuros, de vislumbrar cenários e organizações sócio-espacial alternativas e, ainda,</p><p>nossa capacidade de diálogo com grupos que vivem em outras lógicas e epistemes. Em</p><p>última instância, a ficção construída pelas narrativas oficiais corrobora com a</p><p>manutenção e reprodução de privilégios das classes dominantes e o faz, justamente, ao</p><p>apagar narrativas dissidentes.</p><p>Na contramão da historiografia oficial e das narratologias realistas, a escritora Walidah</p><p>Imarisha (2016) elabora a categoria literária ficção visionária, cujas principais</p><p>representantes são outras escritoras estadunidenses negras ou de origem latina, dentre</p><p>as quais destaca-se o trabalho de Octavia Butler . 4</p><p>A ficção visionária apropria-se de elementos explicitamente ficcionais, inclusive de</p><p>recursos narrativos típicos das ficções científicas, como a viagem no tempo, com o</p><p>propósito de recontar as histórias de grupos tradicionalmente oprimidos e imaginar</p><p>cenários futuros alternativos. Imarisha destaca sua importância enquanto método</p><p>criativo para grupos historicamente oprimidos engajados em lutas por justiça social.</p><p>Apesar de nossa habilidade para analisar e criticar, a esquerda se enraizou naquilo</p><p>que é. Nós frequentemente esquecemos de vislumbrar aquilo que pode vir a ser.</p><p>Esquecemos de escavar o passado em busca de soluções que nos mostrem como</p><p>podemos existir de outras formas no futuro. Por isso acredito que nossos</p><p>movimentos por justiça precisam desesperadamente da ficção científica. […] N ó s</p><p>começamos […] com a crença de que toda articulação política é ficção científica.</p><p>Quando falamos sobre um mundo sem prisões; um mundo sem violência policial;</p><p>um mundo onde todo mundo tem comida, roupas, abrigo, educação de qualidade;</p><p>um mundo livre da supremacia branca, patriarcado, capitalismo, heterossexismo;</p><p>estamos falando sobre um mundo que não existe atualmente. E sonhá-lo</p><p>coletivamente significa que podemos começar a trabalhar para fazê-lo existir.</p><p>(Imarisha, 2016.)</p><p>O intuito principal dessas ficções visionárias não é exatamente construir uma utopia</p><p>em que grupos oprimidos vencem seus opressores, mas mais do que isso, imaginar</p><p>Octavia Butler é uma escritora negra estadunidense que explora o gênero da ficção científica para 4</p><p>abordar temas como racismo, questões feministas, o sistema de hierarquias contemporâneas e as</p><p>possibilidades de sobrevivência de minorias em situações de profunda desigualdade.</p><p>�5</p><p>formas de sobrevivência em cenários profundamente distópicos, por vezes</p><p>assustadoramente semelhantes à realidade.</p><p>Mulheres idosas nas vilas da Serra</p><p>O primeiro contato com as mulheres se deu no Centro de Referência e Assistência</p><p>Social (CRAS) da Vila Nossa Senhora de Fátima, no Aglomerado da Serra, na regional</p><p>Centro-Sul de Belo Horizonte. A equipe de pesquisadores entrou em contato com a</p><p>direção do CRAS que lhes indicou uma professora de educação física que orientava uma</p><p>turma de ginástica para idosos. Durante dois meses, os pesquisadores iam ao CRAS</p><p>duas vezes por semana e entrevistavam participantes da ginástica indicados pela</p><p>professora. Dos 46 participantes da pesquisa na Serra, foram 33 mulheres e 13 homens.</p><p>Embora todos esses participantes tenham histórias de vida que merecem ser contadas,</p><p>ficou evidente que a desigualdade social e espacial da qual as favelas são produtos e</p><p>(re)produtoras pesa particularmente sobre as mulheres. Uma parte imensa das</p><p>carências estruturais foram e são suportadas, amenizadas e compensadas pelo</p><p>"trabalho de sombra" que elas realizam e que permanece invisibilizado. Trabalho de</p><p>sombra, no conceito de Ivan Illich (1918), significa trabalho não-pago, realizado para dar</p><p>conta de necessidades que as modernas sociedades industriais criam, mas que não são</p><p>supridas pelos bens e serviços que essas sociedades produzem na forma de</p><p>mercadorias. Ele inclui desde a educação (formal e informal) para o trabalho</p><p>assalariado até as ações que o consumo de mercadorias exige para que de fato se</p><p>tornem valores de uso. Em particular, ele inclui o trabalho doméstico</p><p>predominantemente realizado por mulheres. A divisão sexual desse trabalho impõe às</p><p>mulheres todas as funções relacionadas à chamada reprodução: a limpeza da casa, o</p><p>preparo de alimentos, o cuidado os idosos e as crianças, assim como a manutenção</p><p>física e psíquica dos assalariados da família. No caso das vilas da Serra, além do</p><p>trabalho de reprodução na própria casa, muitas mulheres precisaram e ainda precisam</p><p>vender sua força de trabalho em empregos mais ou menos formais.</p><p>�6</p><p>O roteiro utilizado nas entrevistas havia sido previamente e era comum a todas as</p><p>cidades participantes da pesquisa POP. As questões eram precisas e, em geral, tinham</p><p>relação com a materialidade de suas experiências na cidade. No entanto, as idosas</p><p>costumavam responder de forma mais indireta e por meio de histórias.</p><p>Perguntávamos, por exemplo, sobre as condições das calçadas, sobre a qualidade dos</p><p>espaços verdes, sobre os horários das linhas de ônibus ou sobre o respeito aos assentos</p><p>prioritários em transportes públicos e as idosas nos respondiam contando histórias de</p><p>seu passado e de seu cotidiano presente. Os registros dessas entrevistas são</p><p>documentos preciosos que dizem do processo de formação das vilas e do crescimento</p><p>de Belo Horizonte a partir da perspectiva dessas mulheres, que trabalharam</p><p>diretamente na construção, no cuidado doméstico, em fábricas, bares e como</p><p>empregadas domésticas em “casas de família” . 5</p><p>Uma primeira inquietação em relação a esses registros, dizia respeito à informações</p><p>que não “cabiam" no modelo estabelecido pela pesquisa POP. Sendo assim, para que</p><p>aquilo que não interessava às suas questões centrais não se perdesse, seria necessário</p><p>elaborar um método para trabalhar com esses dados em sua complexidade. No</p><p>contexto da pesquisa em rede, até então foram produzidos pela equipe de Belo</p><p>Horizonte dois relatórios e um artigo que aborda a experiência particular dessa geração</p><p>pioneira de mulheres de envelhecer junto a um lugar que anteriormente não estava</p><p>ocupado, portanto não existia como tal.</p><p>A pesquisa de doutorado tem investigado formas de lidar com essas narrativas e de</p><p>compor uma história (ou uma multiplicidade de histórias) que dêem conta explicitar</p><p>questões estruturais no processo de ocupação do espaço e de formação das vilas. A</p><p>elaboração de uma narrativa ficcional a partir de uma perspectiva mais próxima às</p><p>moradoras da geração pioneira permitirá uma disputa com o discurso dominante que</p><p>em geral reduzem a favela a um lugar de miséria, criminalidade e escassez. Esses</p><p>Trabalho em “casas de família” é como as entrevistadas costumam chamar o trabalho doméstico 5</p><p>terceirizado.</p><p>�7</p><p>relatos, ao contrário, revelam histórias de colaboração, sobrevivência e produção de</p><p>outras lógicas sociais e outros modos de viver, bem como uma força extraordinária</p><p>de</p><p>criação em um ambiente atravessado por profundas desigualdades.</p><p>A ficção visionária como método de pesquisa sócio-espacial pode ser um modo de</p><p>superar os vícios e as categorizações dominantes no discurso acadêmico, que não</p><p>raramente é incorporado às narrativas hegemônicas e lhes confere legitimidade e</p><p>soberania frente a histórias dissidentes marginalizadas.</p><p>Uma breve análise de oito obras narrativas</p><p>Como exercício empírico, me propus analisar oito obras narrativas, uma escrita no final</p><p>do séc. XIX, uma no final do séc. XX e seis contemporâneas. O livro News From Nowhere,</p><p>do britânico William Morris; as videoartes Vera Cruz, da artista brasileira Rosângela</p><p>Rennó, Conakry, da artista portuguesa Grada Kilomba e SuperRio Superficções, do artista</p><p>belga Guerreiro do Divino Amor; os filmes Born In Flames, da cineasta estadunidense</p><p>Lizzie Borden e A cidade é uma só? do diretor brasileiro Adirley Queiróz; e as instalações</p><p>�8</p><p>Tabela 01: Dados técnicos das obras analisadas</p><p>Ano Linguagem Autor País</p><p>News From Nowhere 1890 Literatura William Morris Inglaterra</p><p>Born In Flames 1983 Cinema Lizzie Borden Estados Unidos</p><p>Vera Cruz 2000 Videoarte Rosângela Rennó Brasil</p><p>A cidade é uma só? 2013 Cinema Adirley Queiróz Brasil</p><p>40 Nego Bom é um real 2013 Instalação Jonathas de Andrade e</p><p>Silvan Kaelin</p><p>Brasil</p><p>SuperRio Superficções 2016 Videoarte Guerreiro do Divino Amor Brasil</p><p>Conakry 2016 Videoarte Grada Kilomba, Filipa</p><p>César e Diana McCarthy</p><p>Portugal</p><p>Profecias 2018 Instalação Randolpho Lamonier Brasil</p><p>40 Nego Bom é um real e Profecias dos artistas brasileiros Jonathas de Andrade e</p><p>Randolpho Lamonier, respectivamente.</p><p>Para analisar as obras, defini três categorias principais. O gênero as distingue entre</p><p>utopias, nos casos em que as narrativas se desenvolvem em um universo onde a</p><p>orientação política do narrador realiza-se de maneira ideal e a sociedade vive em</p><p>situação de justiça plena; distopias, nos casos em que as situações de desigualdade e</p><p>injustiça social agravam-se para além dos limites estabelecidos no presente; ou ficções</p><p>visionárias, nos casos em que as narrativas apropriam-se ou mesmo inventam</p><p>documentos e fatos históricos para reelaborar um processo ocorrido no passado ou</p><p>imaginar futuros possíveis.</p><p>O exercício de reelaborar o passado traz à luz alguns dos elementos deliberadamente</p><p>ocultados pela história oficial e pode revelar de forma mais complexa estruturas de</p><p>poder e disputas em seu redor ou motivar a mobilização de grupos socialmente</p><p>excluídos (ou perversamente incluídos), ocultados ou silenciados. Já o esforço de</p><p>imaginar um futuro, seja ele utópico ou distópico, pode ajudar a desenhar aquilo que,</p><p>enquanto sociedade, desejamos ou tememos.</p><p>A temporalidade, portanto, as organiza em uma cronologia de acordo com o período em</p><p>que se passa a narrativa e o momento em que foi produzida. Com isso procuro observar</p><p>qual a relação de proximidade histórica direta entre narrador e objeto da narrativa. Essa</p><p>categoria é meramente analítica, não me interessa impor uma linearidade temporal a</p><p>trabalhos que não foram criados segundo essa lógica. Interessa-me, sim, perceber a que</p><p>tempo histórico ou imaginário recorrem e que recursos tomam emprestado para</p><p>construir suas narrativas . 6</p><p>Com base no trabalho que se passa em tempo mais remoto em relação ao momento em que foi 6</p><p>realizado – Vera Cruz, em 1500 – estabeleceu-se o que seria o passado distante, o passado próximo é</p><p>tudo aquilo que se passou no máximo 50 anos do momento que o trabalho foi criado. E o que está</p><p>entre 500 e 50 anos foi categorizado simplesmente como passado. A mesma escala temporal vale</p><p>para as temporalidades futuras.</p><p>�9</p><p>Em cada um desses exercícios, o presente articula papéis diferentes. Ao reelaborar o</p><p>passado, o presente é situado em processos que conhecemos apenas em parte. O</p><p>retorno ao passado pode recontar a história desses processos, apresentar novos</p><p>elementos e compor novas complexidades. Ao imaginar o futuro, o presente se</p><p>manifesta como o campo de ação onde estão as ferramentas e onde ocorrem os</p><p>processos que construirão um futuro mais utópico ou mais distópico.</p><p>Por fim, procuro observar qual a relação de proximidade social, seja de classe ou</p><p>identitária entre narradores e objetos da narrativa. Este exercício é importante tanto</p><p>para marcar o lugar social de onde o narrador fala, ou seja, o seu lugar de fala, como</p><p>para compreender que tipo de deslocamento é necessário para que represente uma</p><p>realidade alternativa.</p><p>News From Nowhere, 1890</p><p>Em News From Nowhere, William Morris cria o personagem William Guest (um de seus</p><p>alter egos), que dorme uma noite, após uma calorosa discussão com seus colegas de liga</p><p>socialista e acorda em uma Londres pós-revolucionária que vive uma utopia comunista</p><p>�10</p><p>Tabela 02: Dados narrativos das obras analisadas</p><p>Gênero Temporalidade Proximidade</p><p>entre narrador e</p><p>objeto</p><p>News From Nowhere Utopia Futuro próximo Muito próximo</p><p>Born In Flames Ficção visionária Futuro próximo Muito próximo</p><p>Vera Cruz Ficção visionária Passado distante Muito distante</p><p>A cidade é uma só? Ficção visionária Presente Próximo</p><p>40 Nego Bom é um real Ficção visionária Passado Distante</p><p>SuperRio Superficções Distopia Presente Próximo</p><p>Conakry Ficção visionária Passado próximo Distante</p><p>Profecias Utopia Futuro próximo Próximo</p><p>autogestionária. Em seu primeiro passeio pela cidade que agora se chama Nowhere,</p><p>encontra o barqueiro Hammond, que lhe explica o longo processo histórico através do</p><p>qual a revolução foi implementada. Em Nowhere, as relações de trabalho foram</p><p>substituídas por relações de cooperação e instituições fundamentais como a fábrica e a</p><p>família foram abolidas.</p><p>Morris não explica a viagem no tempo nem especifica a cronologia de Nowhere.</p><p>Apenas se pode deduzir que tudo se passaria lá pelo século XXII. A sociedade</p><p>utópica não é um socialismo de Estado, mas um comunismo puro, autogestionário.</p><p>O dinheiro não foi substituído por cartões de crédito, nem os salários por uma</p><p>bolsa-cidadão, porque não existem mais transações de equivalentes. As nações não</p><p>estão pacificadas, porque não há nações. A emancipação das mulheres não se</p><p>limita ao trabalho, porque não há convenções para constituir famílias ou grupos de</p><p>coabitação, nem as mães são responsabilizadas por aquilo que os filhos se tornam.</p><p>A escola não ficou gratuita para todos, porque as crianças são livres e não existe</p><p>educação formal nem sistema de ensino. A erudição não foi universalizada, porque</p><p>o conhecimento erudito passou a ser apenas um tipo de conhecimento entre</p><p>outros, do qual se ocupa quem quer, enquanto as universidades se transformaram</p><p>em lugares onde as pessoas se reúnem para aprender e pesquisar em qualquer fase</p><p>da vida. Não há universalização do consumo refinado da grande arte, porque, em</p><p>vez de consumir arte, as pessoas a fazem. Não existem jornadas prescritas, idade</p><p>para começar ou encerrar a vida produtiva, exército industrial ou coisa semelhante,</p><p>porque cada um trabalha no que gosta, se e quando quiser, por prazer no processo e</p><p>no produto. Não há nem mesmo tecnologias espetaculares, porque a sociedade de</p><p>Nowhere ultrapassou esse ideal e tornou suas máquinas discretas, silenciosas e não</p><p>muito importantes. (KAPP, 2016.)</p><p>Born In Flames, 1983</p><p>Born In Flames é um longa metragem que se passa em uma Nova Iorque dos anos 1980</p><p>que acaba de viver uma revolução socialista. A agenda do novo governo, ainda que</p><p>apresente uma série de avanços sociais, mantém uma estrutura de desigualdade,</p><p>sobretudo em relação às mulheres. Nesse contexto, grupos de mulheres insurgentes</p><p>começam a se manifestar primeiro nas periferias racialmente segregadas da cidade e</p><p>depois em bairros predominantemente brancos. A partir dessa narrativa, Lizzie Borden</p><p>consegue articular uma rica discussão sobre temas do feminismo interseccional e</p><p>desconstruir o discurso socialista não contempla questões relacionadas ao gênero, raça,</p><p>�11</p><p>sexualidade</p><p>e sua manifestação nos corpos que encarnam essas desigualdades e nos</p><p>espaços que as materializam.</p><p>Vera Cruz, 2000</p><p>Em Vera Cruz, Rosângela Rennó faz um documentário ficcional sobre a chegada dos</p><p>colonizadores portugueses ao Brasil em 1500. O vídeo é composto de imagens</p><p>indecifráveis, como um filme impossível que teria se desgastado com o tempo – cerca</p><p>de 400 anos da invenção do cinema. O som também é uma camada ruidosa, que em</p><p>alguns momentos parece o vento, em outros é só chiado. As únicas informações</p><p>explícitas estão nas legendas, inspiradas nas cartas oficiais de Pero Vaz de Caminha ao</p><p>Rei de Portugal e dizem da assimetria do encontro entre europeus e nativos, ilustram o</p><p>momento embrionário da presença colonial no Brasil, quando portugueses oferecem</p><p>figo, vinho e água aos indígenas, que cospem e recusam.</p><p>A cidade é uma só?, 2013</p><p>A cidade é uma só? é um filme construído a partir de dois eixos narrativos principais que</p><p>se atravessam, mas principalmente, a partir de duas estratégias fílmicas: a documental</p><p>e a ficcional. Ao confundir as as duas estratégias, Adirley Queiróz questiona qual das</p><p>duas seria mais eficaz para dar a ver o ponto central do filme, que é o processo de</p><p>exclusão de pessoas pobres para as margens geográficas e políticas nas cidades</p><p>brasileiras. Em momento nenhum é exatamente claro que elementos são de fato</p><p>ficcionais ou “reais" e esse jogo é o que permite que o problema a ser tratado pelo filme</p><p>se evidencie e seja potencializado.</p><p>40 Nego Bom é um real</p><p>40 Nego Bom é um real é uma instalação que recria o ambiente de uma fábrica de doces</p><p>de banana no interior de Pernambuco e decupa o processo de feitura dos doces, através</p><p>de uma série de desenhos e fichas que descrevem os trabalhadores da fábrica. Ao</p><p>descrever os personagens e ilustrar o modo como trabalham, os artistas explicitam as</p><p>relações de exploração e as reminiscências escravagistas que sustentam aquele sistema.</p><p>�12</p><p>As fichas dos funcionários possuem um número de identificação, uma breve descrição</p><p>de suas funções e sua relação com o dono da fábrica e, ao final, sua remuneração.</p><p>01</p><p>Um respeito danado. Existia alguma coisa no jeito de papai respeitar ele que fazia</p><p>ele igual a papai mesmo sem ser. Os dois se admiravam muito. Até que veio a lei</p><p>que só podia trabalhar de carteira assinada, e eles – que até então se acertavam com</p><p>amizade, casa pra morar, gentileza e favores – se assustaram. Papai propôs assinar</p><p>um contrato que dizia que tava tudo bem do jeito que estava e ele se recusou. Papai</p><p>adoeceu. Ficou de cama em pensar que ele pôs em duvida a palavra dele. Três dias</p><p>depois chegou ele arrependido. Decidiu assinar o contrato e a amizade durou até o</p><p>fim da vida dos dois.</p><p>______________________________</p><p>Uma casa e uma arma</p><p>Ajuda semanal com feira e mantimentos. 7</p><p>Conakry</p><p>Conakry é um vídeo de curta duração trabalha sobre uma série de imagens produzidas</p><p>entre 1972 e 1980 no contexto do processo de independência da Guiné-Bissau, por</p><p>estudantes de audiovisual educados em Cuba. Após a morte de Amílcar Cabral, líder do</p><p>partido socialista e protagonista do movimento por independência, 40 horas de vídeo</p><p>ficaram guardados no Instituto Nacional do Cinema e Audiovisual da Guiné Bissau e</p><p>apenas em 2012, foram levados a Berlim, onde foram digitalizados.</p><p>Ao longo do vídeo, Grada Kilomba fala sobre a importância que essas imagens teriam</p><p>tido durante a sua formação escolar e da importância que têm para o mundo, devido ao</p><p>fato de terem sido produzidas pelos colonizados em processo de emancipação,</p><p>enquanto historicamente, as narrativas coloniais são ficções construídas pelos</p><p>colonizadores que, estrategicamente, ocultam e destroem evidências que poderiam</p><p>sustentar narrativas em contestação.</p><p>Exemplo de ficha que compõe a instalação 40 Nego Bom é um real, de Jonathas de Andrade e 7</p><p>Silvain Kaelin.</p><p>�13</p><p>SuperRio Superficções, 2016</p><p>SuperRio Superficções é um vídeo de curta duração que se apropria da linguagem de</p><p>telejornais e reportagens televisivas para fazer uma crítica aos discursos de poder que</p><p>estruturam aquilo que chama “sociedade carioca”. Uma apresentadora narra um texto</p><p>em que explica como funcionam a vida comum e as disputas narrativas no Rio de</p><p>Janeiro. Dentre as “superficções”, estão o discurso da natureza exuberante, do medo e</p><p>violência, do fundamentalismo religioso, da cordialidade e do mito da democracia</p><p>racial.</p><p>O vídeo possui um tom satírico que reúne diversas imagens de computação gráfica com</p><p>uma identidade visual semelhante à de canais de televisão aberta. Também intercala</p><p>imagens e falas de pessoas de diferentes setores da sociedade, comprometidas com</p><p>diferentes discursos. Esse jogo de imagens e texto cria um tensionamento que explicita</p><p>algumas das contradições inerentes a esses discursos.</p><p>SuperRio é o gêmeo superficcional do Rio de janeiro; um ecossistema de superficções</p><p>que interferem na construção da cidade e do imaginário coletivo. InfraRio é o</p><p>substrato sobre o qual se constrói SuperRio. Ele vem à tona em forma de</p><p>supererupções dos supervulcões. Tal substrato é composto pela superescravidão, que</p><p>rege inconscientemente as relações humanas e estrutura a sociedade supercarioca.</p><p>As Supermídias têm papel primordial no ecossistema supercarioca, pois encenam,</p><p>caracterizam e multiplicam as superficções. Atuam como inúmeras camadas</p><p>nebulosas modificando a percepção da realidade. 8</p><p>Texto narrado no vídeo SuperRio Superficções.8</p><p>�14</p><p>Figura 01: SuperRio Superficções, 2016. Guerreiro do divino amor.</p><p>Profecias, 2018</p><p>A instalação Profecias é composta de uma série de painéis de tecido costurado e bordado</p><p>pelo artista mineiro Randolpho Lamonier. As profecias abordam questões</p><p>contemporâneas e desenham cenários em um futuro próximo onde os grupos</p><p>oprimidos “derrotam" ou vingam-se de seus opressores. O trabalho estimula um</p><p>imaginário político de pautas positivas a partir dessas provocações que deslocam e</p><p>invertem posições de poder estabelecidas e naturalizadas.</p><p>Dois ensaios para a construção de uma ficção a partir da experiência</p><p>nas vilas da Serra.</p><p>A elaboração de uma ficção representa uma tentativa de descolamento do discurso</p><p>acadêmico no sentido de incorporar mais efetivamente a complexidade dos relatos</p><p>trabalhados na pesquisa. É necessário, portanto, uma investigação estética, e nesse</p><p>sentido também política, sobre que forma seria mais potente para dar a ver as questões</p><p>levantadas pelas entrevistadas, sem reduzi-las às ferramentas discursivas que já estão à</p><p>disposição na tradição acadêmica.</p><p>Algumas questões surgem nesse esforço: como o trabalho a ser elaborado pode</p><p>reconhecer e problematizar a distância entre mim e as demais interlocutoras? Como eu</p><p>posso me implicar nessa distância, de modo a não naturalizar os diferentes lugares</p><p>�15</p><p>Figura 02: Profecias, 2018. Instalação. Randolpho Lamonier.</p><p>sociais que ocupamos? Que linguagem seria mais efetiva para as questões que eu</p><p>pretendo levantar? Que recursos narrativos podem ser mobilizados nesse sentido?</p><p>No esforço de experimentar diferentes possibilidades narrativas e linguagens artísticas,</p><p>produzi alguns trabalhos a partir do material produzido durante o trabalho de campo</p><p>do primeiro ano da pesquisa POP.</p><p>– Copiou. Monitora todos os passos, 2017</p><p>Esse vídeo-narrativa foi produzido no contexto da disciplina Práticas espaciais da arte</p><p>contemporânea e outras epistemologias, lecionada pela professora Renata Marquez no</p><p>NPGAU.</p><p>Foi o primeiro esforço de trabalhar a experiência de pesquisa nas vilas da Serra. Aqui eu</p><p>me incluo enquanto personagem do vídeo, narrado em primeira pessoa. O texto é um</p><p>trecho do caderno de campo que registrava minhas visitas ao Aglomerado da Serra</p><p>durante a fase de entrevistas caminhadas e entrevistas estacionadas da pesquisa POP.</p><p>O texto aborda a minha posição ambígua enquanto pesquisadora em campo. Isso é</p><p>discutido ao narrar um episódio em que, durante uma</p><p>entrevista caminhada, a equipe</p><p>de pesquisadores foi seguida por um jovem que mantinha uma distância constante e</p><p>utilizava um walkie talkie. Em determinado momento ele se aproxima, fala no rádio</p><p>“Copiou. Monitora todos os passos” e fotografa o meu rosto com seu aparelho celular.</p><p>Subo o olhar, vejo que ele me olha e me fotografa com seu smartphone. Em um</p><p>primeiro momento, sinto meu corpo formigar desde o pescoço até os tornozelos.</p><p>Ele parece envergonhado ao ser percebido. Eu também. […]</p><p>Sigo como se não o tivesse visto. Penso que nunca fui objeto de investigação, de</p><p>registro minucioso ou inspeção, como o que faço ali sem lhe pedir licença. […]</p><p>Há, entre nós, uma diferença de poder, de lugar de poder, que não é individual.</p><p>Trata-se de redes às quais estamos ligados, elas tecem a nossa existência em um</p><p>mesmo mundo e agora estamos ligados um ao outro. […] 9</p><p>Trecho do texto narrado no vídeo – Copiou. Monitora todos os passos.9</p><p>�16</p><p>Essa situação provoca um tensionamento sobre quem seria observador e observado</p><p>nesse caso. O vídeo busca explorar alguns dos questionamentos</p><p>Narrar a diferença, 2018</p><p>O segundo trabalho é um projeto expográfico para uma instalação desenvolvido como</p><p>produto para a disciplina Ateliê de Fotografia, lecionada pela professora Patrícia</p><p>Azevedo na graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFMG, que</p><p>acompanhei como ouvinte no início do ano.</p><p>Esse trabalho busca, sobretudo, encontrar soluções para a questão sobre incorporar a</p><p>distância social que pesquisadores ocupam em relação aos sujeitos da pesquisa. Um de</p><p>seus propósitos é, portanto, aproximar esses personagens de maneira</p><p>“despersonalizada" como estratégia para que essa distância seja explicitada.</p><p>A instalação seria composta de uma série de estações. Cada estação representa uma</p><p>personagem diferente, entre pesquisadores e entrevistadas. Na estação há uma ficha</p><p>com alguns eventos importantes da vida de cada uma dessas personagens e um vídeo.</p><p>�17</p><p>EX</p><p>PO</p><p>SI</p><p>Ç</p><p>ÃO</p><p>PA</p><p>IN</p><p>ÉI</p><p>S</p><p>vídeo</p><p>ficha</p><p>áudio</p><p>Figura 04: Narrar a diferença - projeto expográfico.</p><p>As fichas seriam compostas após uma série de entrevistas com pesquisadoras e</p><p>moradoras idosas do Aglomerado da Serra e da análise desse material.</p><p>O vídeo mostra, em uma primeira camada, um caminho percorrido no Google Street</p><p>View desde um ponto próximo até a casa da personagem. Em uma segunda camada,</p><p>surgem algumas fotos feitas pela entrevistada. Finalmente, o áudio é composto por</p><p>trechos das entrevistas gravadas.</p><p>Inferências preliminares e prospecções</p><p>A partir da análise dos trabalhos artísticos aqui abordados é possível apontar que o</p><p>recurso da ficção é, de fato, efetivo para representar processos sociais e questões</p><p>políticas de maneira direta e potente, em um nível que as ferramentas discursivas mais</p><p>caras à tradição acadêmica não tem sido capaz de acessar.</p><p>A depender de que questões se quer explicitar ou problematizar é preciso definir que</p><p>linguagem expressiva seria mais adequada. Neste sentido, é importante seguir com a</p><p>pesquisa de referências artísticas e aprofundá-la. É preciso ainda aprofundar a</p><p>fundamentação teórica no que diz respeito às narrativas, oralidades e ao recurso das</p><p>ficções como estratégia de investigação sócio-espacial.</p><p>Em relação aos registros que já estão disponíveis – entrevistas em áudio, fotografias,</p><p>mapas etc. – é relevante fazer novas experimentações em relação à linguagem e ao</p><p>conteúdo.</p><p>Por fim, parece imprescindível retornar a campo. Para tal, é importante trabalhar no</p><p>sentido de desenvolver um método orientado especificamente para essa pesquisa de</p><p>doutorado – em contraposição às entrevistas já realizadas no contexto de outra</p><p>pesquisa. Ou seja, um método que estimule a fala das entrevistadas e que informe de</p><p>maneira mais consistente a escuta da pesquisadora.</p><p>�18</p><p>Referências bibliográficas</p><p>BOJE, David; ALVAREZ, Rossana; SCHOOLING, Bruce. Reclaiming story in organization:</p><p>narratologies and action sciences. In: WESTWOOD, R. LINSTEAD, S. (Ed.). The</p><p>language of organization. Londres: Sage, 2001. Pgs. 132-175.</p><p>GUERREIRO DO DIVINO AMOR. SuperRio Superficções. 2016. Vídeo. Cor. 9’04s.</p><p>Disponível em: . Consultado em: 18/11/2018.</p><p>IMARISHA, Walidah. Reescrevendo o futuro. Artigo Online. Nov./2016. Traduzido por</p><p>Jota Mombaça. Disponível em: . Consultado em: 10/11/2018.</p><p>ILLICH, Ivan. Shadow Work. Londres: Marion Boyars Publishers, 1981. Disponível em:</p><p>. Consultado em: 19/11/2018.</p><p>KAPP, Silke. Lugar nenhum. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, número 09, página 02 -</p><p>09, 2016.</p><p>MATOS, Camila. – Copiou. Monitora todos os passos. 2017. Vídeo. Cor. 6’45s.</p><p>�19</p>