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<p>CS&D | BP</p><p>1/12</p><p>EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE PEDRINHAS (SE)</p><p>PROCESSO n.º 202389200576</p><p>SEAC – SERGIPE ADMINISTRADORA DE CARTÕES E SERVIÇOS S/A (BANESE CARD), com nova</p><p>denominação social MULVI – INSTITUIÇÃO DE PAGAMENTO S/A., pessoa jurídica de direito privado,</p><p>inscrita no CNPJ/MF sob o nº. 03.847.413/0001-02 Rua Gutemberg Chagas, nº 222, Bairro Inácio Barbosa,</p><p>CEP: 49040-780, Aracaju/SE, vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por seus advogados</p><p>infra assinados, constituídos nos termos do instrumento de mandato em anexo, nos autos da ação movida</p><p>por JOSE CLAUDIO DA CONCEIÇÃO e JOSEFA REJANE DA CONCEIÇÃO, apresentar sua resposta na forma</p><p>de:</p><p>CONTESTAÇÃO</p><p>Pelas razões de fato e de direito adiante delineadas:</p><p>1. Preliminar de ausência de interesse de agir (art. 18, §1º do CDC): estorno</p><p>realizado, não restam pendências esvaindo-se o interesse de agir, perda do</p><p>objeto;</p><p>2. Não aplicação da inversão do ônus da prova em favor do consumidor: Não há</p><p>nos autos, documentação que ateste que a parte autora tivesse contactado esta</p><p>requerida para a solução do ocorrido;</p><p>3. Impugnação ao pedido de danos materiais. Estorno realizado; lançamento de</p><p>crédito na fatura da parte autora - inaplicabilidade do parágrafo único do artigo</p><p>42 do CDC – ausência de má-fé.</p><p>4. Inexistência de danos morais: Rompimento Do Nexo De Causalidade - Por</p><p>Culpa Exclusiva De Terceiro Ou Do Consumidor, bem como, suposto</p><p>lançamento da dívida errônea na fatura, em si considerado, não é fonte de</p><p>abalo à honra ou imagem.</p><p>RESUMO DA TESE DA</p><p>CONTESTAÇÃO</p><p>CS&D | BP</p><p>2/12</p><p>1. DA SÍNTESE DA PETIÇÃO INICIAL E DA REALIDADE DOS FATOS</p><p>Trata-se de ação na qual a parte requerente alega que em 13/05/2023 realizou uma compra e que após</p><p>o cancelamento de forma unilateral por parte da requerida Magazine Luiza realizou novo pedido, porém</p><p>houve cobrança no cartão utilizado na fatura referente as duas compras.</p><p>Requer dano moral e material.</p><p>Em síntese o necessário.</p><p>Pois bem, a priori, cumpre destacar que em nenhum momento a presente Contestante se omitiu de</p><p>solucionar qualquer pretensão da parte autora, o que restará demonstrando no discorrer desta</p><p>manifestação. É bem verdade que a exordial está confusa, alegando fatos que estão totalmente</p><p>distorcidos.</p><p>Destaca-se que se trata de uma compra confirmada automaticamente, sem qualquer pedido de</p><p>cancelamento da compra por parte do lojista e nem por parte dos autores. Sendo assim, o valor contestado</p><p>foi estornado em sua totalidade em 09/07/2024, época em que a presente requerida teve ciência do</p><p>presente feito. Vejamos abaixo:</p><p>CS&D | BP</p><p>3/12</p><p>Diante disso, podemos perceber que o estorno foi realizado no dia 09/07/2024 no valor completo de R$</p><p>1.899,69. Ora resta claro que o caso da parte autora foi resolvido ASSIM QUE A EMPRESA OBTEVE</p><p>CONHECIMENTO DO CASO, NO CASO COM A CITAÇÃO.</p><p>A mesma afirma que tentou resolver, porém não conseguiu, o que é TOTALMENTE INVERÍDICO, pois NUNCA</p><p>EXISTIU QUALQUER CONTATO DA AUTORA OU DO LOJISTA MAGAZINE LUIZA.</p><p>Destaca-se que esse estorno estará na próxima fatura (tendo em vista a data do fechamento da fatura),</p><p>não havendo nenhuma cobrança indevida, conforme podemos ver no saldo atualizado.</p><p>Logo, a conduta da requerida não possui qualquer vedação legal e não se enquadra em nenhuma das</p><p>práticas abusivas previstas no Art. 39, do CDC.</p><p>É de suma importância ressaltar que a empresa reclamada é uma empresa jurídica de direito privado, que</p><p>preza pela segurança de seus clientes, qualidade de seus serviços, prestando-os com perfeição e conta</p><p>com uma excelente equipe que trabalham com integridade, profissionalismo e comprometimento.</p><p>A pretensão da requerente de responsabilizar esta Contestante por eventuais descumprimentos de</p><p>obrigações contratuais firmados por terceiro, não merece prevalecer, pois do contrário restariam</p><p>contrariados não somente o princípio da reserva legal, entre outros dispositivos. E, não é admissível dar-</p><p>se a uma norma Constitucional interpretação que possa reduzir-lhe a efetividade, a capacidade de</p><p>alcançar o FIM a que se dirige.</p><p>A realidade dos fatos será exposta a seguir, em especial rebatendo o dano material inexistente, tampouco</p><p>reparação moral ou constituição de repetição in débito.</p><p>2. AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR (artigo 18, §1º) – DA AUSÊNCIA DE PRETENSÃO RESISTIDA. DA PERDA</p><p>DO OBJETO.</p><p>Antes de proceder à escorreita impugnação dos argumentos meritórios da presente lide, nos cumpre</p><p>arguir, em sede de preliminar, pela ausência de interesse de agir da parte autora, o que acarreta por</p><p>consequência, na extinção do feito sem resolução de mérito.</p><p>Ocorre que no presente caso, a parte autora relata fatos a qual não trouxe comprovações, quanto a</p><p>contatar a empresa, e mesmo que tenha ocorrido precisaria de uma comprovação de cancelamento para</p><p>devido estorno. Portanto, inexiste qualquer pretensão resistida.</p><p>Destaca-se mais uma vez que as compras somente foram estornadas no presente momento, pois somente agora</p><p>a requerida teve ciência desse problema!</p><p>CS&D | BP</p><p>4/12</p><p>Nos cumpre destacar que se trata de verdadeiro direito do fornecedor de produto ou serviço, a</p><p>reparação/solução do vício do Produto ou do Serviço. Deste modo, constitui dever do consumidor</p><p>oportunizar a reparação/solução pela seara administradora no referido prazo. Vejamos a jurisprudência</p><p>abaixo:</p><p>RECURSO INOMINADO. VÍCIO DO PRODUTO. APARELHO CELULAR. PARTE</p><p>AUTORA QUE ENTREGOU O PRODUTO NA ASSISTÊNCIA TÉCNICA PARA ANÁLISE</p><p>DO DEFEITO, MAS NÃO MANDOU NOVAMENTE DENTRO DO PRAZO DO ART.</p><p>18, §1º, CDC. NECESSIDADE DE POSSIBILITAR AO FORNECEDOR O CONSERTO NO</p><p>PRAZO LEGAL. AUSÊNCIA DE PROVAS DA NEGATIVA DA EMPRESA OU DA</p><p>EXISTÊNCIA/NATUREZA DO VÍCIO. AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR. CARÊNCIA</p><p>DA AÇÃO. EXTINÇÃO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. SENTENÇA MANTIDA.</p><p>RECURSO APENAS DO AUTOR. RECURSO CONHECIDO E</p><p>DESPROVIDO. (Recurso Inominado nº 201901001495 nº único0001492-</p><p>29.2019.8.25.9010 - Turma Recursal do Estado de Sergipe, Tribunal de Justiça</p><p>de Sergipe – Relator (a): Pablo Moreno Carvalho da Luz - Julgado em</p><p>18/07/2019).</p><p>Posto isto, inexiste qualquer interesse de agir na restituição de valor pago, pois restará comprovado que</p><p>não se tratou de repetição indébito, revelando-se inútil qualquer pleito judicial acerca da ação, conforme</p><p>destaca a doutrina sobre o tema:</p><p>"É por isso que se afirma, com razão, que há falta de interesse processual</p><p>quando não mais for possível a obtenção daquele resultado almejado - fala-se</p><p>em 'perda do objeto' da causa." (DIDIER JR, Fredie. Curso Processual Civil. Vol.</p><p>1. 19ª ed. Editora JusPodivm, 2017. p. 405), desprovida se encontra de interesse</p><p>de agir para o ajuizamento deste feito, motivo pelo qual o mesmo deve ser</p><p>extinto sem resolução de mérito.</p><p>A doutrina ao lecionar sobre o tema destaca:</p><p>"O interesse de agir concerne à necessidade e à utilidade da tutela jurisdicional</p><p>pedida pelo demandante. A legitimidade para causa (ou legitimatio ad causam),</p><p>que não se confunde com a legitimidade para o processo (ou legitimatio ad</p><p>processum, conhecida ainda como capacidade para estar em juízo), concerne à</p><p>pertinência subjetiva da ação, atine à titularidade (ativa e passiva) da ação. Para</p><p>postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade." (MITIDIERO, Daniel.</p><p>CS&D | BP</p><p>5/12</p><p>ARENHART, Sérgio Cruz. MARINONI, Luiz Guilherme. Novo Código de Processo</p><p>Civil Comentado - Ed. RT, 2017. e-book, Art. 17).</p><p>Por fim, restando caracterizada a carência da ação, uma vez que a ação proposta pelo contestante não</p><p>demonstra o seu interesse de agir e o seu interesse processual de litigar, constituindo-se lide temerária,</p><p>motivo suficiente para ser declarada a carência</p><p>da ação proposta.</p><p>3. DA AUSÊNCIA DE VEROSSIMILHANÇA NAS ALEGAÇÕES AUTORAIS — NÃO APLICAÇÃO DA INVERSÃO DO</p><p>ÔNUS DA PROVA EM FAVOR DO CONSUMIDOR — DA APLICAÇÃO ÔNUS DA PROVA DO 373 DO CPC.</p><p>Cumpre-nos reiterar que, não obstante, os fatos narrados pela parte autora, não há nos autos qualquer</p><p>indício probatório do que alega. Ocorre que, o pleito da exordial encontra-se muito subjetivo, não</p><p>havendo nos autos qualquer indício capaz de corroborar as suas alegações. Nesse sentido, não temos:</p><p>- Comprovante de contato com a presente requerida;</p><p>- Comprovante de cancelamento enviado a presente contestante.</p><p>Vejamos o artigo 6º do CDC, in verbis:</p><p>Art. 6º São direitos básicos do consumidor: VIII - a facilitação da defesa de seus</p><p>direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo</p><p>civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele</p><p>hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;</p><p>Lado outro, dado a não aplicação da inversão do ônus da prova, deve ser aplicado ao caso a regra contida</p><p>no art. 373 do CPC, em que é de responsabilidade do autor quanto ao fato constitutivo de seu direito.</p><p>Ante exposto, pugna pela NÃO INVERSÃO DO ÔNUS PROBANDI, devendo a parte autora comprovar as</p><p>suas alegações, sob a pena de ter os seus pedidos, julgados totalmente improcedentes.</p><p>CS&D | BP</p><p>6/12</p><p>4. DO MÉRITO - DA IMPUGNAÇÃO AO PEDIDO DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO - ESTORNO REALIZADO.</p><p>INEXISTÊNCIA DE MÁ-FÉ DA EMPRESA ACIONADA.</p><p>Na presente demanda inexiste dano material alegado, visto que o ressarcimento material pleiteado foi</p><p>ESTORNADO, conforme demonstrado. Na presente demanda inexiste dano material alegado, visto que</p><p>o ressarcimento material pleiteado foi ESTORNADO, conforme demonstrado.</p><p>Consoante explanado nos tópicos supra, o caso dos autos trata-se de uma compra cancelada. Logo</p><p>quando a ré teve ciência dos fatos e comprovação do cancelamento, fez de logo a devida apuração com</p><p>o estorno. Inexistiu nos autos, qualquer ação de má-fé da empresa requerida, esta realizou todo o</p><p>procedimento interno para averiguar a situação, finalizando a mesma com o crédito do valor devido.</p><p>Logo, todo o procedimento foi finalizado, sendo estornado todo o valor da compra. Os documentos em</p><p>anexo comprovam todos esses fatos.</p><p>Outrossim, para que o dano seja efetivamente reparável, é necessária a conjugação dos seguintes</p><p>requisitos mínimos: a) violação de um interesse jurídico patrimonial ou extrapatrimonial; b) nexo de</p><p>causalidade c) certeza do dano — somente o dano certo, efetivo, é indenizável e; subsistência do dano.</p><p>Pois bem, são esses os três requisitos básicos para se poder atribuir o qualificativo “reparável” ao dano.</p><p>Deste modo, ao averiguar os fatos trazidos pelo reclamante na peça inicial, não se vislumbra a</p><p>conjugação de tais requisitos. O primeiro não se verifica porque não houve violação de um interesse</p><p>jurídico demonstrado a priori, já que não se vislumbra nos autos, o vício alegado, tão pouco a omissão</p><p>desta requerida na sua solução.</p><p>O segundo, não há nenhum liame de nexo de causalidade entre o suposto dano e conduta da ré. E o</p><p>terceiro, não havendo os dois últimos, não há que se falar em subsistência do dano.</p><p>Nesse sentido, não tendo sido trazido aos autos prova da existência de dano causado pela Requerida, a</p><p>parte autora pretende reparação com base hipotética, todavia, pelo que consta nos arts. 927 do Código</p><p>Civil, não cabe reparação de dano hipotético ou eventual, necessitando tais danos de prova efetiva.</p><p>Colaciona a seguir, algumas jurisprudências que ratificam o que exposto, qual seja:</p><p>APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE RELAÇÃO</p><p>CONTRATUAL C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS</p><p>MORAIS. RESPONSABILIDADE CIVIL. RELAÇÃO DE CONSUMO. EMPRÉSTIMO</p><p>CONSIGNADO. PESSOA IDOSA E ANALFABETA. DESCONTO INDEVIDO EM</p><p>CS&D | BP</p><p>7/12</p><p>BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DA AUTORA. NÃO COMPROVAÇÃO DA</p><p>REGULARIDADE DO PACTO. NECESSIDADE DE INSTRUMENTO PÚBLICO OU, SE</p><p>PARTICULAR, POR INTERMÉDIO DE PROCURADOR CONSTITUÍDO. RESTITUIÇÃO</p><p>DOS VALORES DESCONTADOS DE FORMA SIMPLES. AUSÊNCIA DE MÁ-FÉ DA</p><p>INSTITUIÇÃO BANCÁRIA. COMPROVAÇÃO DO DEPÓSITO DE QUANTIA OBJETO</p><p>DO CONTRATO. COMPENSAÇÃO DE CRÉDITOS/VALORES DESCONTADOS E</p><p>DEPOSITADOS NA CONTA DA AUTORA DEVIDAMENTE OBSERVADA PELA</p><p>SENTENÇA A QUO. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. VERBA HONORÁRIA</p><p>MANTIDA. HONORÁRIOS RECURSAIS DEVIDOS. SENTENÇA INALTERADA.</p><p>RECURSOS CONHECIDOSE IMPROVIDOS. DECISÃO UNÂNIME. I –</p><p>O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras. Sendo</p><p>assim, à atividade bancária aplica-se a teoria da responsabilidade objetiva, de</p><p>acordo com os art. 3º e 14 do CDC, que impõem à instituição financeira o dever</p><p>de responder objetivamente pelos danos causados a clientes e terceiros; II –</p><p>Conduta negligente do banco no ato da contratação, apta a anular o contrato</p><p>firmado entre as partes por vício formal; III – Devolução simples dos valores</p><p>descontados, ante a ausência de má-fé do requerido. IV – Compensação</p><p>proporcional entre o valor depositado em favor da autora e a quantia a ser</p><p>restituída à mesma, devidamente observada pela sentença de piso. V -</p><p>Inexistência de dano moral diante da comprovação de que a parte autora</p><p>recebeu quantia relativa ao empréstimo consignado em questão. Ausência,</p><p>ademais, de inscrição do seu nome nos cadastros de inadimplentes, como</p><p>SPC/SERASA. VI – A conduta da instituição financeira não causou sentimentos</p><p>negativos à parte autora ou ofensa a seus direitos de personalidade. VII – Verba</p><p>honorária mantida. VIII – Honorários recursais devidos. IX – Recursos</p><p>conhecidos e improvidos. Decisão unânime. (Apelação Cível nº 201700804231</p><p>nº único0000827- 71.2016.8.25.0036 - 2ª CÂMARA</p><p>CÍVEL, Tribunal de Justiça de Sergipe - Relator(a): Alberto Romeu Gouveia Leite</p><p>- Julgado em 20/03/2018).</p><p>Observe que no caso em concreto, todo procedimento foi realizado dentro do prazo legal. Tanto</p><p>é verdade, que todos os valores foram estornados.</p><p>5. ROMPIMENTO DO NEXO DE CAUSALIDADE - INEXISTÊNCIA DE RESPONSABILIDADE POR CULPA</p><p>EXCLUSIVA DO CONSUMIDOR</p><p>No presente caso, trata-se de culpa exclusiva da parte autora ou do lojista, no caso do Magazine Luiza, por</p><p>não comprovar o cancelamento da compra em questão com o BaneseCard de forma devida. A doutrina</p><p>ao lecionar sobre o tema, esclarece sobre esta excludente de responsabilidade:</p><p>CS&D | BP</p><p>8/12</p><p>"A terceira excludente de responsabilidade admitida</p><p>expressamente pelo CDC (artigo 12, § 3º, III, e artigo 14, § 3º, II)</p><p>é a culpa exclusiva do consumidor ou a culpa exclusiva de</p><p>terceiro. Trata-se, como se deduz, de outra hipótese de</p><p>rompimento do nexo causal entre a conduta do fornecedor e o</p><p>dano sofrido pelo consumidor, pelo advento de outra conduta</p><p>que, tendo sido realizada, demonstra-se que tenha dado causa</p><p>ao evento danoso. No caso, a conduta que vem a causar o</p><p>dano, afastando por isso a relação de causalidade com respeito</p><p>ao comportamento do fornecedor, é a conduta do próprio</p><p>consumidor que tenha sido vítima do dano (culpa exclusiva da</p><p>vítima) ou de qualquer outro terceiro com a mesma</p><p>característica." (MIRAGEM, Bruno. Curso de Direito do</p><p>Consumidor - Editora RT, 2016. versão e-book, 3.2.4.3. Culpa</p><p>exclusiva do consumidor ou de terceiro).</p><p>Logo, resta comprovado que a responsabilidade civil pressupõe a existência de nexo causal, e, uma vez</p><p>demonstrado que o dano adveio exclusivamente da conduta da consumidora ou de terceiros, HÁ</p><p>ROMPIMENTO DO NEXO DE CAUSALIDADE E CONSEQUENTE EXCLUSÃO DA OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR</p><p>DO FORNECEDOR de produtos e serviços.</p><p>Por todo o exposto é de ser reconhecida a improcedência da demanda.</p><p>6. DA INEXISTÊNCIA DE DANOS MORAIS — MERO DISSABOR</p><p>A Requerente pleiteia indenização por danos morais, entretanto, cabe destacar,</p><p>em nome do princípio</p><p>da eventualidade, que a parte adversa deixou de mencionar qualquer dano passível de reparação civil.</p><p>O instituto do dano moral não pode ser malsinado com o escopo vil de “subtrair da caixa de Pandora do</p><p>Direito milhares de centenas de cruzeiros”, como fatalistamente dispusera HUMBERTO THEODORO</p><p>JÚNIOR. Assim, inexistente lesão à honra da parte adversa (artigo 5º, V e X, CF), fica evidente a</p><p>insubsistência do pleito de indenização por danos morais.</p><p>Numa última vertente argumentativa, impõe-se gizar que a Contestante não praticou nenhum ato ilícito</p><p>(artigo 186 do Código Civil), desautorizando, por conseguinte, a sua responsabilização civil (artigo 927 do</p><p>Código Civil). Descabido o pleito indenizatório.</p><p>CS&D | BP</p><p>9/12</p><p>Desse modo, conclui-se que os pressupostos que caracterizam a responsabilidade civil são: (i) a</p><p>ocorrência de ato ilícito, comissivo ou omissivo; (ii) a configuração do dano, de ordem material ou moral;</p><p>e, (ii) o nexo de causalidade entre a conduta precedente e o dano. Entre esses três corolários adotados</p><p>pelo vigente Código Civil, merece especial destaque, no caso dos autos, a figura do dano.</p><p>Com efeito, o requerente limita-se a incluir no rol de pedidos a condenação do Réu no pagamento de</p><p>indenização por danos morais, contudo, não indica nenhuma causa de pedir que embase tal pretensão,</p><p>apenas afirma que o requerido ocasionou dano a requerente.</p><p>Tal pedido deve ser indeferido. Ademais, fica especificamente impugnada essa temática com arrimo nos</p><p>fundamentos a seguir delineados:</p><p>Em primeiro lugar, cumpre ressaltar a absoluta inexistência de ilícito cometido pelo Contestante. Com</p><p>efeito, como já exaustivamente exposto, a ré agiu estritamente na legalidade, vez que realizou os devidos</p><p>estornos e lançamentos de créditos de forma correta.</p><p>A situação narrada nos autos não trouxe nenhum abalo à moral ou à honra da parte Autora. Do mesmo</p><p>modo, os fatos sucedidos não implicaram em abalo à boa fama da parte adversa. Verifique se que a parte</p><p>Autora nem sequer teceu considerações a respeito de quais teriam sido os danos morais por si</p><p>suportados, mas tão-somente referentes presunções.</p><p>Ora Excelência, pretende-se, nesse sentido, ser vítima de ofensa moral indenizável apenas por conta de</p><p>cobrança de compra que foi realizada de fato, em si considerado, fato que obviamente não é fonte de</p><p>abalo à honra ou imagem, nem tampouco causa de sofrimento relevante a ponto de provocar</p><p>perturbação psíquica apreciável no indivíduo, não passando da esfera do mero aborrecimento e não</p><p>gerando direito indenizatório.</p><p>E não se diga que bastaria a prova do ato ilícito para a identificação de dano moral ressarcível. O raciocínio</p><p>de que o dano está in re ipsa é enganoso e não pode ser acolhido indiscriminadamente, admite-se</p><p>especificamente quanto a casos em que, por sua natureza, o simples reconhecimento da lesão a</p><p>determinados valores pessoais já permita, de per si, identificar abalo moral relevante, sem necessidade</p><p>de demonstração dos desdobramentos em concreto, como se tem no tocante a anotações cadastrais</p><p>restritivas, morte de entes familiares, dores ou deformações físicas.</p><p>Mesmo nesses casos, insista-se, não é que se dispense a indagação sobre o reflexo moral, ou que se tenha</p><p>por suficiente o reconhecimento de ato contrário ao Direito. O que se tem, apenas, são hipóteses a tal</p><p>ponto evidentes de afetação grave a direitos da personalidade que a mera caracterização objetiva de</p><p>eventos dessa ordem permite, ao contrário do caso ora analisado, a afirmação da existência de dano</p><p>indenizável.</p><p>Bem a esse propósito já se manifestou o Egrégio Superior Tribunal de Justiça:</p><p>CS&D | BP</p><p>10/12</p><p>"I - Para se presumir o dano moral pela simples comprovação do ato ilícito, esse</p><p>ato deve ser objetivamente capaz de acarretar a dor, o sofrimento, a lesão aos</p><p>sentimentos íntimos juridicamente protegidos; Hipótese em que, não obstante</p><p>ser incontroversa a ocorrência do ato ilícito, não restou comprovado que de tal</p><p>ato adveio qualquer consequência capaz de configurar o dano moral que se</p><p>pretende ver reparado." (STJ, AgRg no REsp 970422/MG,3 T., rei Min. Sidnei</p><p>Beneti, j . 21/08/2008).</p><p>Assim, não há dúvidas que se estar diante de mero aborrecimento, não passível de indenização em danos</p><p>morais, assim aduz a jurisprudência:</p><p>Processual. Ilegitimidade ad causam passiva. Reconhecimento em demanda</p><p>declaratória de inexistência de relação jurídica, cumulada com indenização por</p><p>dano moral, quanto a estabelecimento comercial que realizou transação com</p><p>terceiro de posse de cartão de crédito clonado em nome do autor. Sentença</p><p>que entende ser a responsabilidade da administradora do cartão. Matéria,</p><p>todavia, que diz respeito ao mérito. Litigiosidade devidamente configurada</p><p>entre o autor e a ré, nos limites dos pedidos pelo primeiro formulado em face</p><p>da segunda. Carência afastada nesse particular. Sentença reformada</p><p>parcialmente. Apelação do autor provida para tal fim. Julgamento da causa na</p><p>sequência pelo próprio Tribunal, nos termos do art. 515, § 3o, do CPC.Contrato.</p><p>Fraude. Reconhecimento pela ré do uso abusivo do nome do autor por terceiro</p><p>falsário. Inexistência de relação jurídica entre as partes. Pedido declaratório em</p><p>tal sentido acolhido. Ausência, contudo, de dano moral. Simples lançamento de</p><p>dívida inexistente, de pequeno valor, na fatura do cartão de crédito, que não</p><p>configura ofensa a direitos da personalidade. Mero aborrecimento. Indenização</p><p>descabida. Demanda parcialmente procedente. (TJ-SP - APL:</p><p>463862820098260405 SP 0046386- 28.2009.8.26.0405, Relator: Fabio Tabosa,</p><p>Data de Julgamento: 22/03/2011, 2ª Câmara de Direito Privado, Data de</p><p>Publicação: 29/03/2011)</p><p>Portanto, diante desse cenário, espera-se deste MM. Juízo o devido prestígio aos termos da lei civil acerca</p><p>da responsabilidade civil, aos entendimentos doutrinários e aos precedentes jurisprudencial, para que,</p><p>em notório comprometimento com a busca da Justiça, sejam rechaçadas as absurdas pretensões</p><p>autorais, que claramente têm o intuito de somente inferir, em meras celeumas corriqueiras da vida</p><p>cotidiana, o sofrimento danos morais de monta extraordinária.</p><p>CS&D | BP</p><p>11/12</p><p>7. DA EVENTUALIDADE DO QUANTUM DEBEATUR</p><p>Na remotíssima hipótese de condenação, impende ressaltar que a indenização por dano moral não</p><p>pode ser utilizada como fonte de enriquecimento ilícito.</p><p>A quantificação da indenização por danos morais compete ao magistrado, o qual, por intermédio de</p><p>arbitramento, há de sopesar a condição socioeconômica do ofendido de forma a minimizar a dor e atingir</p><p>o status quo ante. Com efeito, o escopo do instituto em tela não é alterar a qualidade de vida do lesado,</p><p>mas sim reparar-lhe a perda sofrida.</p><p>O arbitramento deve ser pautado nos princípios da proporcionalidade e razoabilidade, ex vi do artigo 5.º,</p><p>V e X, da Constituição da República, traduzida na legislação ordinária do artigo 944 do Código Civil/2002.</p><p>Assim, no caso em voga, caso o Contestante venha a ser condenado, pede seja a indenização cingida ao</p><p>montante de R$ 100,00 (cem reais).</p><p>8. DOS PEDIDOS</p><p>Diante o exposto, REQUER a Vossa Excelência:</p><p>a) O acolhimento da preliminar de ausência de interesse de agir, pois, desprovida se encontra de interesse</p><p>para o ajuizamento deste feito do art. 18, §1º do CDC, motivo pelo qual o mesmo deve ser extinto sem</p><p>resolução de mérito;</p><p>b) Que Vossa Excelência se digne de acompanhar o feito até decisão final para julgar improcedente a ação</p><p>condenando-se a parte adversa no pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes,</p><p>arbitrados em 20% (vinte por cento) do valor da causa, na hipótese de haver recurso inominado,</p><p>pugnando-se pelo não deferimento de Justiça Gratuita em benefício da Requerente;</p><p>d) A não inversão do ônus probandi, devendo a parte</p><p>autora comprovar as suas alegações na forma do</p><p>art. 373 do CPC, sob a pena de ter os seus pedidos, julgados totalmente improcedentes;</p><p>e) Que seja julgado improcedente o pedido de danos morais e materiais;</p><p>f) Protesta provar o alegado por todos os meios em direito admitidos, especialmente pelo depoimento</p><p>pessoal da Parte Autora e pela juntada de novo documento.</p><p>CS&D | BP</p><p>12/12</p><p>Termos em que, pede deferimento.</p><p>Aracaju/SE, 09 de agosto de 2024.</p><p>VIRGÍNIA DE SANTANA FONTES</p><p>OAB/SE 10.363</p>