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<p>Técnicas de Entrevista e</p><p>Interrogatório</p><p>Ministério da Justiça</p><p>Tarso Fernando Herz Genro</p><p>MINISTRO</p><p>Departamento de Polícia Federal</p><p>Luiz Fernando Côrrea</p><p>DIRETOR-GERAL</p><p>Diretoria de Gestão de Pessoal</p><p>Luiz Pontel de Souza</p><p>DIRETOR</p><p>Academia Nacional de Polícia</p><p>Anísio Soares Vieira</p><p>DIRETOR</p><p>Maurício Leite Valeixo</p><p>COORDENADOR DE ENSINO</p><p>MJ - Departamento de Polícia Federal</p><p>Diretoria de Gestão de Pessoal</p><p>Academia Nacional de Polícia</p><p>Técnicas de Entrevista e</p><p>Interrogatório</p><p>Gisélio Gonçalves Calixto</p><p>Luiz Bertrand Melzer</p><p>Paulo Tarso de Oliveira Gomes</p><p>Brasília-DF</p><p>Academia Nacional de Polícia</p><p>2008</p><p>Todos os direitos reservados</p><p>Este trabalho é propriedade da Academia Nacional de Polícia, não podendo ser copiado, totalmente</p><p>ou em parte, sem a prévia autorização da ANP, de acordo com a Lei 9.610 de 19 de fevereiro de</p><p>1998 (Lei dos Direitos Autorais).</p><p>Editoração: José Gleydiston de Aguiar Rocha</p><p>Revisão ortográfica: Síngrid de Freitas Bárbara/ Gilson Matilde Diana</p><p>Revisão pedagógica: Alex Cruz Brasil</p><p>Jadson Alves de Freitas</p><p>4ª Edição - 4ª Impressão - Maio/2008</p><p>Tiragem: 350 - Exemplares</p><p>Calixto, Gisélio Gonçalves</p><p>Técnica de entrevista e interrogatório/Gisélio G. Calixto,</p><p>Luiz Bertrana Melzer, Paulo Tarso de Oliveira Gomes. -</p><p>Brasília: Academia Nacional de Polícia, 2007.</p><p>65 p. ; 30cm.</p><p>1.Técnica de entrevista e interrogatório. I. Brasil.</p><p>Ministério da Justiça. Departamento de Polícia Federal.</p><p>343.132</p><p>C154t</p><p>Sumário</p><p>1 Introdução .......................................................................................................... 7</p><p>2 Comunicação ..................................................................................................... 9</p><p>2.1 Barreiras à comunicação</p><p>2.1.1 Falta de motivação</p><p>2.1.2 Barreiras psicológicas</p><p>2.1.3 Dificuldades de linguagem ........................................................................... 10</p><p>3 Colaboração e interação social .......................................................................... 11</p><p>3.1 Interação social</p><p>3.2 Programação neurolinguística ......................................................................... 12</p><p>3.2.1 Rapport</p><p>3.2.2 Saber perguntar .......................................................................................... 13</p><p>3.2.3 Saber ouvir ................................................................................................. 15</p><p>4 Detectando mentira ........................................................................................... 17</p><p>4.1 Movimento do corpo ...................................................................................... 18</p><p>4.2 Expressões faciais ........................................................................................... 19</p><p>4.3 Sintomas psicológicos</p><p>4.4 Paralinguagem</p><p>4.5 Mecanismos de defesa ................................................................................... 20</p><p>4.6 Características dos Mentirosos</p><p>5 Atributos pessoais do entrevistador/interrogador policial - EIPOL.......................... 23</p><p>6 Fatores de influência física e psicológica ............................................................. 25</p><p>7 Tipos comportamentais ...................................................................................... 29</p><p>8 Entrevista .......................................................................................................... 31</p><p>8.1 Conceito</p><p>8.2 Finalidade</p><p>8.3 Uso</p><p>8.4 Tipos ............................................................................................................. 31</p><p>8.5 Vantagens ...................................................................................................... 32</p><p>8.6 Desvantagens</p><p>8.7 Estrutura</p><p>8.7.1 Preparação</p><p>8.7.2 Apresentação ............................................................................................ 33</p><p>9.7.3 Comportamento do EIPOL ........................................................................... 34</p><p>9 Entrevista cognitiva ............................................................................................ 35</p><p>9.1 Reinstalação do contexto do evento</p><p>9.2 Trocando a ordem dos eventos ........................................................................ 36</p><p>9.3 Trocando a perspectiva dos eventos ................................................................. 37</p><p>10 Entrevista de informante ................................................................................... 39</p><p>11 Mitos da entrevista .......................................................................................... 41</p><p>12 Crítica ............................................................................................................ 43</p><p>13 Interrogatório .................................................................................................. 45</p><p>13.1 Conceito</p><p>13.2 Finalidade</p><p>13.3 Planejamento .............................................................................................. 46</p><p>13.4 Preparação .................................................................................................. 47</p><p>13.5 Estrutura ..................................................................................................... 49</p><p>13.5.1 Técnicas para reduzir resistência</p><p>13.5.2 Execução .................................................................................................. 51</p><p>13.6 Classificação .............................................................................................. 53</p><p>13.6.1 Narração espontânea</p><p>13.6.2 Interrogatório inquisitório direto .................................................................. 54</p><p>13.6.3 Interrogatório inquisitório reconstitutivo ...................................................... 55</p><p>13.6.4 Interrogatório acusatório</p><p>13.6.5 Interrogatório cruzado ou de contradição</p><p>13.6.6 Interrogatório de suspeitos de culpa incerta ou duvidosa ............................. 57</p><p>13.6.7 Interrogatório de suspeitos de culpa certa .................................................. 58</p><p>14 Uso de intérprete no interrogatório ................................................................... 59</p><p>15 Observações Finais ......................................................................................... 61</p><p>Bibliografia .......................................................................................................... 65</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>7</p><p>1 Introdução</p><p>No exercício das funções de polícia judiciária, os organismos policiais têm</p><p>como uma de suas principais atribuições a instrução do Inquérito Policial, por</p><p>meio do qual se busca colacionar todos os elementos de prova imprescindíveis à</p><p>persecução penal do infrator da norma, seja coletando e comprovando a materia-</p><p>lidade, seja identificando e individualizando a autoria do fato delituoso. Quanto</p><p>melhor e mais consubstanciada for a instrução do procedimento investigatório</p><p>(IPL), mais fácil será ao Estado cumprir o seu poder/dever de punir quem pratica</p><p>a conduta tipificada como infração penal (crime).</p><p>Para atingir tais objetivos, a polícia utiliza-se de várias técnicas de investigação,</p><p>que se entrelaçam e se completam; entre elas a Entrevista e o Interrogatório.</p><p>Potencialmente, a palavra falada é uma fonte substancial de prova e, em algu-</p><p>mas circunstâncias, a mais importante ou a única delas. Desse modo, nenhuma</p><p>investigação estará finalizada até que todas as testemunhas sejam entrevistadas e</p><p>todos os suspeitos interrogados. A eficiência na execução dessas tarefas resultará</p><p>numa maior confiabilidade com relação aos resultados obtidos.</p><p>Outros tipos de provas são importantes, todavia, os depoimentos de testemu-</p><p>nhas e as confissões de suspeitos constituem, quase sempre, os principais fatores</p><p>na solução de crimes, corroborando os elementos probantes (provas materiais)</p><p>já coletados no sentido de apontar a autoria do fato delituoso.</p><p>Em suma, pode-se afirmar que um crime só estará solucionado a partir do</p><p>momento em que restar</p><p>A maioria dos alunos policiais, entra na sala de aula com pouca ou quase</p><p>nenhuma experiência em entrevistas. Além disso, trazem consigo alguns mitos</p><p>que os instrutores devem, antes de qualquer coisa, tentar corrigir. Tais mitos, que</p><p>nascem principalmente de programas televisivos e outras mídias, são muito mais</p><p>difíceis de serem sanados do que propriamente o desconhecimento das técnicas</p><p>aplicáveis à entrevista/interrogatório. Esses mitos são:</p><p>1) Técnicas de entrevista não podem ser ensinadas: como muitos</p><p>mitos, este contém elementos de verdade suficientes para perpetuá-lo.</p><p>Porém, não é só a experiência que faz um bom entrevistador, uma</p><p>vez que aquele que inicia a prática com maus hábitos irá sempre</p><p>repeti-los. É necessário que o EIPOL aprenda as técnicas fundamen-</p><p>tais, aperfeiçoando-as com a prática;</p><p>2) Uma entrevista é uma lista de perguntas: como já citado ante-</p><p>riormente, a maioria dos EIPOL bem-sucedidos define a entrevista</p><p>como “uma conversa com um propósito definido”, por meio da qual</p><p>as técnicas devem ser empregadas no sentido de extrair a informação</p><p>desejada, e não apenas como uma lista de perguntas;</p><p>3) EIPOL já nascem feitos: certos atributos pessoais são importantes</p><p>para o sucesso da entrevista. Contudo, se não forem adequadamente</p><p>aplicados não surtirão os efeitos desejados;</p><p>4) O EIPOL deve ater-se aos fatos: ao contrário daqueles que sim-</p><p>plesmente obtêm informações de um livro, o EIPOL lida com uma</p><p>fonte de informações que envolve também emoções e sentimentos;</p><p>5) Ouvir é um processo natural, não uma habilidade: ao contrário</p><p>do que muitos pensam, ouvir é um processo ativo que requer con-</p><p>sideráveis esforços por parte do EIPOL;</p><p>6) Fazer anotações é de fundamental importância: enquanto perde</p><p>tempo fazendo longas anotações, o EIPOL não só deixa passar alguns</p><p>fatos importantes como também deixa de observar a comunicação</p><p>não-verbal da pessoa entrevistada;</p><p>7) O EIPOL deve dominar a situação: embora esta afirmativa não</p><p>esteja errada, o problema é a maneira como é interpretada. Ao en-</p><p>sinar aos novos investigadores que eles devem dominar a situação,</p><p>é provável que muitos se apresentem à testemunha com armas e dis-</p><p>tintivos à mostra. Isto certamente colocará a pessoa na defensiva.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>43</p><p>12 Crítica</p><p>Ao final do seu trabalho, o EIPOL deve fazer-se a seguinte pergunta: “Se eu</p><p>tivesse de repetir esta entrevista, o que faria diferente?” Com essa indagação,</p><p>surge uma chance de melhora, não importando se a pessoa confrontada é um</p><p>suspeito de assalto a banco ou a própria vítima de um crime. Contudo, muitos</p><p>policiais, até mesmo os mais experientes, costumam ter problemas ao responder</p><p>tal indagação.</p><p>Nessa linha de pensamento, os EIPOL devem analisar todo o processo, ou</p><p>não haverá progresso. Assim, devem perguntar: “Eu me preparei adequada-</p><p>mente? Desenvolvi e mantive o rapport, fiz perguntas abertas, ouvi e verifiquei</p><p>as respostas?” Essas e outras questões similares, baseadas na estrutura da entre-</p><p>vista, produzirão melhoria no desempenho do EIPOL. Para tanto, vale relembrar,</p><p>resumidamente, alguns pontos:</p><p>- desenvolver um plano de ação: revisão de dados pertinentes e</p><p>elaboração de questões que irão extrair as informações desejadas;</p><p>- conduzir a entrevista privativamente: evita distrações e interferên-</p><p>cias impróprias durante a entrevista;</p><p>- deixar o entrevistado à vontade: emoção e estresse produzem uma</p><p>testemunha difícil de ser avaliada; iniciar a entrevista sem conversas</p><p>ameaçadoras deixa a testemunha calma;</p><p>- deixar o entrevistado falar: uma das maiores falhas do EIPOL é falar</p><p>demais; ele deve controlar a entrevista, não dominá-la;</p><p>- saber questionar: saber “como” é tão importante quanto saber “o</p><p>que” perguntar; perguntas fáceis de ser entendidas evitam perda de</p><p>tempo em decifrá-las;</p><p>- selecionar as perguntas com cuidado: perguntas que exigem res-</p><p>postas “sim/não” apenas confirmam ou negam fatos; perguntas de</p><p>respostas abertas forçam o entrevistado a elaborar uma narrativa,</p><p>possibilitando melhor avaliação por parte do EIPOL;</p><p>- ser um bom ouvinte: o EIPOL deve focar sua atenção no que está</p><p>sendo dito e sobre como está sendo dito. Não deve se concentrar</p><p>na pergunta subseqüente e nem analisar a resposta antes que a</p><p>tenha terminado;</p><p>- não desafiar as respostas dadas: o EIPOL não deve externar suas</p><p>reações emocionais e deixar que sentimentos pessoais interfiram na</p><p>entrevista;</p><p>- estar no controle: durante a entrevista, algumas pessoas tentam se</p><p>afastar das questões apresentadas. O EIPOL precisa preparar-se</p><p>adequadamente a fim de assegurar que isto não ocorra;</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>44</p><p>- fazer pequenas anotações: elas permitem que o EIPOL se lembre</p><p>depois de detalhes importantes revelados durante a entrevista. Por</p><p>outro lado, as longas anotações interrompem o contato dos olhos e</p><p>levam o entrevistado a diminuir o ritmo das respostas;</p><p>- concluir a entrevista adequadamente: fazer um sumário logo</p><p>depois e aprender com a experiência.</p><p>Essas regras básicas são meras diretrizes a serem seguidas quando se realiza</p><p>uma entrevista. Embora não reduzam todos os problemas que possam surgir, aju-</p><p>dam a desenvolver as habilidades necessárias para criar um EIPOL de sucesso.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>45</p><p>13 Interrogatório</p><p>13.1 Conceito</p><p>“Interrogatório é o questionamento sistemático de um indi-</p><p>víduo no sentido de determinar o seu envolvimento num ato</p><p>criminoso”</p><p>Interrogar é perseguir por meio da comunicação (uso da pergunta e da per-</p><p>suasão) a realidade dos fatos que tenha interesse na esfera policial, objetivando</p><p>a revelação intencional de uma informação oculta. Geralmente essa informa-</p><p>ção tem caráter incriminatório ou absolutório. O interrogatório na investigação</p><p>criminal ou nas informações de segurança interna, bem como nos processos</p><p>administrativos, faz parte do procedimento operacional, e não do processo no</p><p>seu sentido jurídico.</p><p>Em sentido amplo, o termo INTERROGATÓRIO pode ser aplicado tanto às</p><p>entrevistas quanto aos interrogatórios propriamente ditos (em sentido estrito). De</p><p>fato, quando a autoridade policial ouve uma testemunha, o que se vê é uma</p><p>espécie de interrogatório porem que perguntas são formuladas. A grande dife-</p><p>rença entre a entrevista e o interrogatório é que, na primeira, o que se procura</p><p>são informações geralmente não incriminatórias, ao passo que no interrogatório</p><p>o propósito é a busca de informações de natureza específica, que pode incriminar</p><p>tanto o suspeito quanto outros indivíduos a ele vinculados.</p><p>Embora os processos sejam essencialmente os mesmos, o interrogatório tem</p><p>o objetivo adicional de fazer com que o indivíduo admita sua conexão ou parti-</p><p>cipação em fatos delituosos e, quase sempre, é dirigido a elementos hostis e não</p><p>cooperadores.</p><p>13.2 Finalidade</p><p>O Interrogatório na persecução penal tem dupla finalidade:</p><p>a) Comunicação entre autoridade ou agentes da autoridade versus in-</p><p>diciado-suspeito-testemunhas, visa a colher elementos de convicção</p><p>para a instrução do Inquérito Policial – Interrogatório Policial;</p><p>b) Ato formal – solene, previsto no artigo 185 do CPP – Interrogatório</p><p>judicial.</p><p>Considerado na lei como meio de prova e, na doutrina, também como meio</p><p>de defesa, o interrogatório é um ato de instrução, sob a presidência de um juiz,</p><p>em que este indaga ao réu sobre fatos narrados na denúncia ou queixa. Deve</p><p>ser executado no curso do processo, e sua falta é causa de nulidade quando</p><p>presente o acusado.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>46</p><p>13.3 Planejamento</p><p>De uma forma geral, alguns pré-requisitos devem ser levados em conta antes</p><p>de se iniciar qualquer interrogatório.</p><p>Suspeito:</p><p>(i) nome, idade, profissão ou ocupação;</p><p>(ii) Situação sociofinanceira;</p><p>(iii) Antecedentes;</p><p>(iv) Relação com a vítima (se for o caso).</p><p>Vítima:</p><p>(i) Nome, idade, profissão ou ocupação;</p><p>(ii) Situação sociofinanceira;</p><p>(iii) Antecedentes (se for o caso).</p><p>Cena do crime:</p><p>(i) Local e horário da ocorrência;</p><p>(ii) Modus operandi;</p><p>(iii) Evidências físicas coletadas;</p><p>(iv) Informações obtidas.</p><p>Sendo o interrogatório uma das mais eficientes armas para a obtenção e o</p><p>desenvolvimento das informações, evidentemente é necessário que seja cuidado-</p><p>samente planejado para que alcance o máximo de rendimento quando de sua</p><p>aplicação.</p><p>Esta planificação envolve dois aspectos:</p><p>1) O que é necessário saber, apurar ou esclarecer?</p><p>2) Como inquirir para atingir tal objetivo?</p><p>O que é necessário obter por meio de um interrogatório pode ser agrupado</p><p>em duas categorias de requisitos: os básicos e os específicos.</p><p>Em regra, os requisitos básicos são representados por elementos ainda com-</p><p>pletamente desconhecidos ao se iniciar um interrogatório. Compreendem, por</p><p>exemplo, a ficha biográfica completa do interrogado, suas atividades, relações,</p><p>contatos e conhecimentos sobre o caso que está sendo apurado.</p><p>Já os requisitos específicos dizem respeito ao conhecimento particular que</p><p>é necessário obter quanto a determinados elementos, fatos ou circunstâncias</p><p>compreendidos dentro do quadro geral da investigação.</p><p>O planejamento de um interrogatório tem, assim, dois objetivos principais:</p><p>a) Determinar a potencialidade do interrogado como fonte de infor-</p><p>mações;</p><p>b) Conseguir todas as informações que o interrogado possui.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>47</p><p>13.4 Preparação</p><p>a) Revista preliminar</p><p>O primeiro passo no trabalho preparatório é a realização de uma revista pre-</p><p>liminar no interrogado em busca de armas ou qualquer outro objeto que possa</p><p>causar danos ao interrogador.</p><p>b) Revista do local</p><p>O segundo passo é a revista do local ou área onde o suspeito foi detido,</p><p>em busca de qualquer evidência ou prova. Este passo deve realizar-se conforme</p><p>os procedimentos e as normas legais vigentes, tal como o Mandado de Busca e</p><p>Apreensão, quando necessário. As outras pessoas que se encontrarem presentes</p><p>no momento da apreensão deverão ser interrogadas sobre suas relações com o</p><p>suspeito. Durante a condução do suspeito à delegacia, devem ser adotadas as</p><p>medidas necessárias para evitar que haja envolvimento ou discussão sobre o motivo</p><p>da detenção. Contudo, deve-se permitir que o suspeito fale tanto quanto desejar,</p><p>pois assim poderá revelar informações importantes que mais tarde poderão ser</p><p>utilizadas no interrogatório.</p><p>c) Revista completa</p><p>Ao chegar à delegacia, o suspeito deve ser submetido a uma minuciosa revista.</p><p>Poderá ser desnudado, se for necessário. Se for encontrado objeto de grande</p><p>valor probatório, este poderá ser selecionado para ser utilizado como um trunfo</p><p>no interrogatório.</p><p>Ao se completar a revista do suspeito em busca de alguma prova ou evidência,</p><p>o passo seguinte é verificar os bancos de dados. Estes devem ser consultados</p><p>durante cada fase da investigação. Os arquivos de outras fontes também poderão</p><p>ser solicitados.</p><p>d) Planos do interrogatório</p><p>O último passo na preparação do interrogatório é o estabelecimento dos</p><p>planos físico e mental.</p><p>I - Plano físico</p><p>A primeira preocupação deverá ser a preparação do local do interrogatório.</p><p>O local ideal para o interrogatório de um suspeito deve ser fechado e contar</p><p>unicamente com o mobiliário indispensável: uma cadeira para o EIPOL e outra</p><p>para o suspeito. Contudo, o número de cadeiras poderá variar de acordo com o</p><p>número de interrogadores. O local deve ser desprovido de adornos a fim de não</p><p>causar a distração do interrogado. As janelas podem ser de vidros foscos, pintados</p><p>ou recobertos com madeira, tela ou persiana. Esta providência faz-se necessária</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>48</p><p>devido ao fato que, por um impulso natural, o suspeito procurará olhar pela janela,</p><p>caso ouça um ruído. Assim, isso deve ser evitado, na medida do possível.</p><p>Com o objetivo de se observar as reações físicas que o suspeito possa mani-</p><p>festar durante o interrogatório, o local deve ser iluminado convenientemente.</p><p>Se houver equipamento de gravação, já deverá estar pronto e discretamente</p><p>instalado.</p><p>O EIPOL deverá cuidar para que, durante o interrogatório, não haja inter-</p><p>rupções. Uma vez começado o trabalho, ninguém deverá entrar ou sair do local,</p><p>salvo se esta movimentação fizer parte da técnica de interrogatório aplicada.</p><p>Se houver espaço suficiente, poderá existir uma sala anexa, onde um monitor</p><p>permanecerá para auxiliar o interrogatório. Nesta sala de monitoração estarão:</p><p>o equipamento de gravação, telefone (para comunicação com o interrogador) e</p><p>o material necessário ao interrogatório. Desta sala, por meio de uma pequena</p><p>janela com vidro espelhado (oferece visão apenas de um lado), o monitor acom-</p><p>panhará o interrogatório.</p><p>II - Plano mental</p><p>Depois que o local do interrogatório estiver completamente pronto, o EIPOL</p><p>estudará que plano mental colocará em prática. Depois de rever o caso desde</p><p>o princípio, por meio de todos os dados reunidos, o EIPOL estará em condições</p><p>de iniciar o trabalho, devendo começar pelas seguintes fases: o que sabe, o que</p><p>ignora e o que espera obter.</p><p>a) O que sabe</p><p>O EIPOL deve expor, de forma breve, todos os fatores que se referem ao caso</p><p>e ao suspeito. Juntamente com essa relação, deve organizar uma lista ou um</p><p>questionário das perguntas pertinentes ao caso para verificar se as respostas do</p><p>suspeito estão ou não de acordo com as informações conhecidas.</p><p>b) O que ignora</p><p>O EIPOL deve incluir as perguntas referentes ao caso e que não foram escla-</p><p>recidas durante a investigação. São seis as perguntas básicas: QUEM – O QUE</p><p>– QUANDO – ONDE – POR QUE – COMO.</p><p>c) O que espera obter</p><p>Conterá o objetivo final do interrogatório. O fato de o suspeito vir a admitir que</p><p>é culpado ou que praticou o ato não é suficiente. Deve-se procurar obter todos os</p><p>esclarecimentos sobre o caso a fim de ter condições de prová-los plenamente.</p><p>d) Detalhes do interrogatório</p><p>Todos os detalhes do interrogatório deverão estar previstos no plano. Exemplo:</p><p>o interrogatório será realizado por um único EIPOL ou não? Em geral, é melhor</p><p>usar um único EIPOL. Em certos casos, porém, será aconselhável utilizar dois ou</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>49</p><p>três EIPOL. Quando se utiliza equipamento de gravação, os outros interrogadores</p><p>devem acompanhar o interrogatório de outra sala, operando o equipamento. Os</p><p>interrogadores deverão reunir-se com o interrogador chefe para preparar seus</p><p>planos. E este deverá repassar o caso com seus auxiliares e certificar-se de que eles</p><p>entendam todos os seus aspectos. Quando isto for obtido, deverá ser preparado</p><p>um sistema de sinais a ser utilizado como meio de comunicação entre os interro-</p><p>gadores, no sentido de indicar quem conduzirá a maior parte do interrogatório,</p><p>como assinalar que se deseja fazer uma pergunta, etc.</p><p>13.5 Estrutura</p><p>13.5.1 Técnicas para reduzir resistência</p><p>Estratagemas, insinuações e persuasões são formas para reduzir resistências.</p><p>Observe os exemplos expostos abaixo:</p><p>• Simular atitude hostil e amigável – Um EIPOL mostra-se hostil</p><p>em relação ao suspeito e dirige-lhe a palavra de maneira grosseira</p><p>e insultante. Um segundo investigador entra e reprova a atitude de</p><p>seu colega, com relação ao suspeito, e pede-lhe que deixe a sala.</p><p>Continua o interrogatório, solidarizando-se com o suspeito pelo mau</p><p>tratamento recebido. Policial bom e policial mau;</p><p>• Jogar um suspeito contra o outro – Interrogar alternadamente cada</p><p>suspeito e fazer cada um deles pensar que o outro fez admissões</p><p>que o culpam. Para levar mais longe este estratagema, faça com</p><p>que um dos suspeitos visualize o outro suspeito sendo interrogado.</p><p>O ardil assumirá um ar ainda mais verossímil se o suspeito puder</p><p>ouvir ou perceber o escrivão perguntar alguns dados ao outro sus-</p><p>peito e registrá-los, por exemplo: pedir ao suspeito que soletre seu</p><p>sobrenome, ou perguntar-lhe seu endereço;</p><p>• Ignorar o suspeito – Colocar o suspeito sentado em um lugar de</p><p>onde possa ser bem observado, enquanto o investigador e outros</p><p>suspeitos se locomovem, de um para o outro lado da sala, sem dar</p><p>sinal do que está acontecendo. Este tratamento resulta, muitas vezes,</p><p>em apreensão ou pânico e quebra de resistência do indivíduo;</p><p>• Mudar a ordem do interrogatório – Formular as questões obede-</p><p>cendo à ordem inversa da história contida no depoimento. O suspeito</p><p>poderá trair-se em detalhes contraditórios;</p><p>• Permitir que os comparsas fiquem juntos – Alguns, ou muitos</p><p>suspeitos, devem ser interrogados separadamente e depois, sob</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>50</p><p>qualquer pretexto, colocados juntos em uma sala onde estejam insta-</p><p>lados alguns aparelhos de escuta. Geralmente, esses indivíduos não</p><p>são cautelosos e começam logo a perguntar, uns aos outros, o que</p><p>aconteceu. Durante a conversação eles podem revelar informações</p><p>que os incriminem. O uso de tais informações, em interrogatórios</p><p>posteriores, pode apresentar excelentes resultados;</p><p>• Acentuar detalhes secundários – Se o investigador ignorar os</p><p>principais elementos de um crime e concentrar sua investigação em</p><p>detalhes secundários, talvez consiga dar a impressão ao suspeito de</p><p>que conhece vasta quantidade de informações sobre a transgressão,</p><p>ou que a linha de investigação é equivocada. Com tal comporta-</p><p>mento, provavelmente o suspeito sinta-se mais seguro e confiante e</p><p>conseqüentemente relaxe sua postura defensiva;</p><p>• Destruir álibis/ histórias de cobertura – Quando o suspeito disser</p><p>que está sendo injustamente acusado, pois se encontrava em deter-</p><p>minado local quando o crime foi cometido, o EIPOL deve perguntar-</p><p>lhe a respeito de fatos fictícios, supostamente ali ocorridos, ou fazer</p><p>referência à presença de pessoas imaginárias que lá se encontravam.</p><p>Em tais casos, quase sempre o suspeito fica muito embaraçado, pois</p><p>não poderá saber se não esteve lá; outras vezes poderá responder</p><p>afirmativamente, o que demonstrará estar mentindo, e seu álibi/ his-</p><p>tória de cobertura será desmontado, sendo então desmascarado.</p><p>• Exagerar a culpabilidade – Mostrar ao suspeito que, se não con-</p><p>fessar a realidade dos fatos, poderá responder por crime mais grave,</p><p>ademais a confissão demonstrará sua disposição em colaborar e</p><p>permitirá uma avaliação precisa de sua participação nos eventos</p><p>investigados.</p><p>Outras técnicas a serem observadas:</p><p>• Observação/escuta planejada – O suspeito pode ser colocado em</p><p>um local de onde possa perceber o que os EIPOL discutem em voz</p><p>baixa, levando-o a acreditar que eles têm uma prova incriminadora</p><p>muito forte. É aconselhável que durante a conversação os EIPOL</p><p>olhem para o lado do suspeito;</p><p>• Declarações contraditórias – Deve-se pedir ao suspeito que des-</p><p>creva sua história duas ou mais vezes, pretextando, de cada vez,</p><p>inconsistência nos detalhes ou na fraseologia de seu depoimento.</p><p>Isso pode fazer com que ele se traia e faça admissões que explicarão</p><p>as contradições;</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>51</p><p>13.5.2 Execução</p><p>Como visto anteriormente, apesar das peculiaridades de cada entrevista, a</p><p>maioria segue um formato geral em sua estrutura. O mesmo ocorre com o inter-</p><p>rogatório. A terminologia pode variar conforme o curso tomado, mas a maioria</p><p>dos EIPOL bem-sucedidos aplica muitas dessas técnicas e princípios básicos.</p><p>Fase 1 – Faça uma acusação</p><p>Há situações em que o EIPOL, após rever todos os detalhes de uma entrevista</p><p>bem conduzida, a despeito de todas as negativas por parte do suspeito, conclui</p><p>que identificou a pessoa certa. Ele também utiliza as técnicas da entrevista para</p><p>realçar seu entendimento sobre as motivações e valores do suspeito. Em seguida,</p><p>passa para a fase da acusação, deixando claro ao suspeito que todas as infor-</p><p>mações já obtidas levam à conclusão de que ele está mentindo, ou seja, que</p><p>não está admitindo a culpa pela realização ou participação no fato delituoso sob</p><p>investigação.</p><p>Sem a acusação, o interrogatório de fato não se inicia, e é isto que o diferencia</p><p>da entrevista. Muitos policiais, contudo, sentem certa dificuldade em chegar a tal</p><p>ponto, restringindo-se a discutir aspectos do crime ou outros assuntos sem cunho</p><p>acusatório que geralmente não surtem qualquer efeito no suspeito. Se não houver</p><p>imputação de culpa, não haverá uma negativa real. O suspeito simplesmente</p><p>ignorará o assunto.</p><p>Mesmo aquele que deseja confessar, raramente o fará se não for confrontado</p><p>com sua culpabilidade, já que a natureza humana resiste em fazer algo desa-</p><p>gradável, se outras opções existirem. Nesse sentido, sem uma acusação firme,</p><p>o suspeito continuará na esperança de poder optar por outras saídas. O papel</p><p>do EIPOL é justamente destruir essas esperanças como um primeiro passo para</p><p>chegar à confissão. Em suma: o suspeito deve saber que o EIPOL sabe que ele</p><p>é culpado.</p><p>Fase 2 – Apresente um atrativo</p><p>Desse ponto em diante, o EIPOL não deve mais tolerar qualquer discussão,</p><p>cortando imediatamente os comentários ou defesas apresentados pelo suspeito.</p><p>Deve deixar claro que toda história tem dois lados, mas que, até aquele momento,</p><p>ele só conhece um, daí a necessidade de ouvir a versão do suspeito sobre os</p><p>fatos.</p><p>Feita a acusação, o objetivo passa a ser a obtenção da confissão, a qual será</p><p>bastante facilitada caso o EIPOL apresente razões aceitáveis para tanto. Embora</p><p>muitos argumentos possam ser apresentados nesse sentido, eles basicamente se</p><p>resumem em três principais ou em sua combinação. Para selecionar o argumento</p><p>apropriado, o EIPOL deve decidir o que o suspeito em particular vai aceitar naquele</p><p>momento em particular, sem ater-se a regras gerais.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>52</p><p>As três razões principais resumem-se em:</p><p>a) redirecionar a culpa, ou seja, fazer crer ao suspeito que, embora</p><p>tenha realizado a ação ilícita, a culpa não foi sua, foi idéia de outra</p><p>pessoa;</p><p>b) proporcionar um bom motivo ou uma boa intenção no sentido</p><p>de sugerir ao suspeito que o seu comportamento tem justificativa.</p><p>Isto geralmente fornece a motivação necessária para a obtenção</p><p>da confissão;</p><p>c) reduzir a magnitude, que consiste em minimizar a natureza da</p><p>ofensa levando o suspeito a admitir sua culpabilidade em níveis</p><p>que ele próprio considere aceitáveis. Um bom exemplo seria fazer</p><p>a comparação de sua conduta com outra que poderia ter sido bem</p><p>mais grave.</p><p>Fase 3 – Impeça as negativas</p><p>Normalmente, o culpado oferece alguma negativa durante a fase de argumen-</p><p>tação do interrogatório, a qual pode ser aceita se ocorrer logo após a acusação.</p><p>Isso dá ao EIPOL a chance de avaliar sua validade. Contudo, após essa negativa,</p><p>nenhuma outra deve ser tolerada, senão poderá reforçar o desejo do suspeito em</p><p>resistir, tornando a confissão mais difícil.</p><p>Tratando-se de uma pessoa inocente, a partir do momento em que é acusada,</p><p>o interrogatório tende a terminar ali, já que em tais condições ela se sente insultada</p><p>e passa a negar firmemente a acusação ou até mesmo recusa- se a ouvir qualquer</p><p>outra coisa. As pessoas culpadas, porém, não se ofendem tão facilmente e, no</p><p>esforço de parecerem inocentes, fingem demonstrar uma tolerância excessiva a</p><p>todas as acusações. Tentam debater com o EIPOL e procuram colocar a negativa</p><p>sempre que este der uma pausa. Além disso, costumam interromper o EIPOL</p><p>com questões como: “posso dizer uma coisa?”. Se a permissão for concedida,</p><p>apresentam uma nova negativa.</p><p>Fase 4 - Evite os protestos</p><p>Quando a negativa é malsucedida, o culpado resolve partir para o protesto.</p><p>Imagine um exemplo em que o filho diz para a mãe: “mãe você sabe que eu não</p><p>pegaria aqueles biscoitos; não sei porque está me acusando, eu nem alcanço o</p><p>pote no armário”. Percebe-se que a criança em momento algum nega ter apanhado</p><p>os biscoitos.</p><p>Em vez disso, faz uma explanação sobre o motivo que aparente-</p><p>mente a impediria de fazer aquilo. Normalmente, tal tipo de protesto contém um</p><p>elemento de veracidade que possibilita ao acusado defender-se por meio de um</p><p>argumento tecnicamente viável. Assim, o EIPOL deve evitar tais protestos a fim</p><p>de não se envolver em argumentações vagas. No exemplo acima, nada impedia</p><p>que a criança tivesse usado uma cadeira.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>53</p><p>Fase 5 – Evite a distração (desligamento)</p><p>Quando as negativas e os protestos não surtem os efeitos desejados, a maioria</p><p>dos suspeitos tende a alterar-se com a situação, mas não o faz porque precisa</p><p>manter a expressão de inocência. Contudo, eles podem tentar escapar mental-</p><p>mente da situação, criando uma barreira invisível à comunicação que evitaria</p><p>ceder às acusações formuladas pelo interrogador. Assim, este deve ficar atento</p><p>à expressão do suspeito a fim de certificar-se de que ele esteja “ouvindo” suas</p><p>palavras. Para evitar o desligamento, deve diminuir a distância entre ele o suspeito,</p><p>assim como chamá-lo pelo primeiro nome ou até mesmo tocá-lo levemente para</p><p>que “volte” ao interrogatório.</p><p>Fase 6 – Ofereça uma boa/ má opção</p><p>Muitas pessoas gostam de ter opções porque acham que isso lhes dá uma</p><p>sensação de controle da situação. Não gostam da idéia de ser compelidas a terem</p><p>de fazer alguma coisa. Por outro lado, opções demais podem levar à indecisão.</p><p>Um vendedor de automóveis, por exemplo, geralmente tenta influenciar um com-</p><p>prador em potencial, alegando que aquele é o momento certo para a aquisição</p><p>do veículo, já que está com um ótimo desconto promocional por tempo limitado.</p><p>Eles fazem crer ao suposto comprador que, já que ele terá mesmo que adquirir o</p><p>carro, que o faça imediatamente para poupar o valor relativo ao desconto. Nesse</p><p>exemplo, o vendedor nem sequer chegou a perguntar à pessoa se ela quer ou</p><p>não comprar o produto. Simplesmente confrontou-a com uma opção boa (com</p><p>desconto) e outra ruim (sem desconto).</p><p>No caso do interrogatório, a mesma técnica pode ser usada com êxito.</p><p>Imaginando um caso de estupro, pode-se oferecer ao suspeito duas alternativas: a</p><p>de que ele é um ser desprezível por ter cometido um crime hediondo, premeditado</p><p>e violento; ou de que agiu por impulso e foi vítima das circunstâncias que fugiram</p><p>ao seu controle. É provável que o suspeito vislumbre algum benefício caso admita</p><p>ter agido da segunda maneira, e aí ele estará confessando a autoria do crime.</p><p>13.6 Classificação</p><p>13.6.1 Narração espontânea</p><p>É um relato contínuo e ordenado de um fato ou incidente ocorrido. É empre-</p><p>gado para conseguir um resumo rápido do que um indivíduo sabe ou daquilo</p><p>que se deseja que ele diga sobre determinado assunto.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>54</p><p>13.6.2 Interrogatório inquisitório direto</p><p>No interrogatório inquisitório direto, o EIPOL formula perguntas que vão</p><p>diretamente ao caso. É um interrogatório sistemático destinado a obter um relato</p><p>relacionado com um fato ou incidente. Tem por finalidade obter novas informações</p><p>ou preencher os detalhes omitidos durante a narração espontânea:</p><p>• Comece propondo questões que, provavelmente, não farão com que</p><p>o indivíduo se torne hostil;</p><p>• Faça as perguntas de maneira que os fatos se desenvolvam obede-</p><p>cendo a ordem da ocorrência ou em qualquer ordem sistemática;</p><p>• Faça apenas uma pergunta de cada vez e formule-a de forma a exigir</p><p>apenas uma resposta;</p><p>• Faça perguntas diretas e francas; nada de blefes, truques ou tiradas</p><p>inteligentes;</p><p>• Dê ao indivíduo tempo suficiente para responder, não o apresse;</p><p>• Tente ajudá-lo a lembrar, mas não sugira respostas e trate de não</p><p>deduzir uma determinada resposta apenas pela expressão facial,</p><p>gestos ou tipo de resposta dada;</p><p>• Se necessário, repita ou reformule as questões a fim de conseguir os</p><p>dados desejados;</p><p>• Veja se o indivíduo entendeu perfeitamente as respostas; se não forem</p><p>perfeitamente claras, faça com que as explique;</p><p>• Dê ao indivíduo a oportunidade de modificar as respostas;</p><p>• Separe os fatos de conclusões ou opiniões;</p><p>• Faça comparações percentuais, fracionárias, estimativas de tempo,</p><p>distância, tipos de carros, reconhecimento de pessoas, para determi-</p><p>nar a capacidade de julgamento e as informações do suspeito;</p><p>• Obtenha todos os fatos. Quase todo indivíduo pode fornecer mais</p><p>informações do que inicialmente admite saber;</p><p>• Depois de o interrogado ter feito sua exposição, faça perguntas</p><p>sobre cada assunto discutido. Pergunte-lhe sobre coisas de menor</p><p>importância, e as respostas, em geral, revelarão pistas de interesse</p><p>relacionadas com as informações anteriormente prestadas;</p><p>• Quando terminar o exame direto, peça ao indivíduo que resuma suas</p><p>informações e depois faça você mesmo um resumo delas. Peça ao</p><p>interrogado que confirme se as conclusões estão corretas.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>55</p><p>13.6.3 Interrogatório inquisitório reconstitutivo</p><p>No interrogatório inquisitório reconstitutivo, o EIPOL ajuda o interrogado a</p><p>lembrar-se de fatos, procurando estimular-lhe adequadamente a memória. Nesse</p><p>processo procura-se ajudar o suspeito (que nesse caso quer colaborar) a relembrar</p><p>certos fatos, fornecendo detalhes outros que, por indução ou dedução, reavivem a</p><p>memória. Deve-se ter o cuidado de não sugerir as respostas ao interrogado, sob</p><p>pena de o mesmo prestar declarações falsas. Pode-se ainda utilizar o processo</p><p>cronológico. Neste método, os fatos são bem situados no tempo e no espaço</p><p>pela rememoração de datas ou de situações marcantes.</p><p>13.6.4 Interrogatório acusatório</p><p>No interrogatório acusatório, o interrogado é apontado frontalmente como</p><p>praticante de algum ato ou como conhecedor de determinados fatos ou situações.</p><p>Essa técnica é utilizada para interrogar suspeitos de culpa certa ou quase certa.</p><p>Ex.: prisão em flagrante.</p><p>13.6.5 Interrogatório cruzado ou de contradição</p><p>É um interrogatório exploratório destinado a verificar a fidedignidade ou a</p><p>falsidade de afirmações anteriores, feitas pelo suspeito ou testemunha. É de grande</p><p>eficiência para testar a confiabilidade e coerência do testemunho e, elucidar infor-</p><p>mações contraditórias, preencher detalhes incompletos, avaliar a capacidade de</p><p>julgamento da testemunha e abalar a confiança dos transgressores.</p><p>O EIPOL deve sempre se mostrar amigável, porém reservado e insensível.</p><p>Faça com que o indivíduo repita o testemunho prestado sobre um fato ou</p><p>ocorrência algumas ou muitas vezes. Tente conseguir o maior número de detalhes</p><p>possíveis, sem, contudo, seguir uma ordem ou seqüência definida. Para melhor</p><p>se conseguir isso, devem-se fazer perguntas diferentes, de tempos em tempos,</p><p>sobre um mesmo assunto. Pergunte:</p><p>• O que aconteceu?</p><p>• Por que isso aconteceu?</p><p>• Quando isso aconteceu?</p><p>• Quem estava lá?</p><p>• O que foi fazer lá?</p><p>• O que aconteceu depois da ocorrência?</p><p>Inclua às vezes uma pergunta diferente ou detalhes relacionados com o fato.</p><p>Por exemplo:</p><p>• Onde você se encontrou com o acusado pela primeira vez?</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>56</p><p>• Sobre o que falaram nesse primeiro encontro?</p><p>• O acusado disse-lhe algo sobre seus planos antes do encontro</p><p>já mencionado?</p><p>• Quanto tempo decorreu depois que você teve conhecimento do</p><p>plano do acusado até o encontro mencionado?</p><p>Esteja atento para as respostas inconsistentes. Se ele lembrar-se de fatos, suas</p><p>respostas serão provavelmente verdadeiras. O indivíduo que mente acha neces-</p><p>sário inventar detalhes adicionais. E o que ocorre, em geral, é que ou indivíduo</p><p>se esquece do que afirmou anteriormente ou inventa detalhes que contradizem</p><p>suas declarações anteriores.</p><p>É permitido o uso de perguntas sugestivas ou influenciáveis durante o inter-</p><p>rogatório cruzado, tais como “Você viu o acusado golpear o supervisor, não viu?</p><p>Você não</p><p>teve dificuldade em distinguir João da Silva à noite, não foi? Você</p><p>estava a 1 km de distância do local?”.</p><p>Se muitas das perguntas tiverem por finalidade obter respostas falsas, o</p><p>interrogado poderá trair-se com afirmações falsas. Este método poderá ser de</p><p>grande ajuda para verificar a validade do testemunho prestado pela testemunha,</p><p>bem como para destruir a autoconfiança do infrator, mostrado como sugestão</p><p>a seguir:</p><p>• Faça perguntas sobre informações desconhecidas como se estas</p><p>já fossem conhecidas. Use um tom de voz ou expressão facial que</p><p>dêem, sutilmente, a impressão de astúcia;</p><p>• Escolha com critério as perguntas que têm probabilidade de obter</p><p>respostas verdadeiras, se você acertar várias suposições e for cau-</p><p>teloso, o depoente poderá ser grandemente influenciado pelo que</p><p>pensa que você sabe;</p><p>• Aponte as contradições. Geralmente é melhor fazer todas as pergun-</p><p>tas que estimulem respostas falsas, antes de mostrar ao interrogado</p><p>provas contraditórias ou que comprovem a falsidade de suas infor-</p><p>mações. Isso lhe dará chance para que arquitete grande número de</p><p>mentiras antes de aperceber-se de que está sendo levado a isso. Ao</p><p>verificar que caiu em contradição e suas mentiras foram descober-</p><p>tas, sua autoconfiança será totalmente destruída. Peça-lhe para que</p><p>explique as inconsistências ou contradições de suas informações.</p><p>Mostre-lhe que o estabelecimento de fatos anteriores, provas físi-</p><p>cas, circunstâncias contraditórias, etc, demonstrou serem falsas as</p><p>informações prestadas.</p><p>Qualquer explanação ou informação corrigida dadas pelo interrogado deve</p><p>ser submetida ao interrogatório direto.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>57</p><p>• Aponte-lhe os sinais físicos evidentes de quem mente, tais como</p><p>nervosismo , aparência de culpabilidade, boca seca, suor nas mãos,</p><p>etc. Isto geralmente, descontrola o interrogado e ajuda a destruir</p><p>sua autoconfiança;</p><p>• Raciocine com o interrogado. Peça-lhe para que se coloque no lugar</p><p>de um investigador, um juiz, um jurado ou de um cidadão. Mostre-</p><p>lhe depois os itens da prova, um a um e pergunte-lhe, após cada</p><p>item se não estaria convencido da mentira e da culpa, se tivesse de</p><p>julgar tais itens.</p><p>Exemplo: “Se você fizesse parte do júri, que pensaria de um homem que dis-</p><p>sesse que não conseguiu lembrar o nome de seus comparsas?”.</p><p>• Resuma os fatos conhecidos e compare-os com as informações</p><p>do interrogado.. Mostre-lhe depois como a conclusão lógica leva</p><p>a indicar que o indivíduo é culpado ou mente. Peça-lhe para que</p><p>explique, de uma vez, os itens contrários às provas; mostre-lhe quão</p><p>ilógicas foram suas respostas.</p><p>13.6.6 Interrogatório de suspeitos de culpa incerta ou</p><p>duvidosa</p><p>Geralmente, há três linhas de abordagem que se oferecem ao EIPOL:</p><p>a) Tratar o suspeito, desde o início do interrogatório, como se na reali-</p><p>dade fosse considerado culpado. (Vantagem do elemento-surpresa</p><p>ou identificação de indignação);</p><p>b) Tratar o suspeito, desde o início do interrogatório, como se fosse</p><p>inocente. Vantagem de que ele ficará mais à vontade e poderá se</p><p>trair, tornando-se menos cauteloso;</p><p>c) Assumir atitude neutra, evitando qualquer frase ou comentário que</p><p>possa pender para um sentido ou outro, até que alguma coisa indique</p><p>a inocência ou culpa do suspeito;</p><p>Deve-se também observar alguns aspectos, a saber:</p><p>1) Perguntar se sabe por que está sendo interrogado;</p><p>2) Perguntar o que sabe do fato sob investigação;</p><p>3) Obter do suspeito, detalhadas informações sobre suas atividades</p><p>antes, durante e depois do crime;</p><p>4) Ficar alerta sobre os álibis/história de cobertura. (Teste-o utilizando</p><p>as técnicas de interrogatório);</p><p>5) Pedir ao suspeito que relate tudo o que sabe acerca da ocorrência,</p><p>da vítima e de possíveis suspeitos;</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>58</p><p>6) Quando certos fatos sugestivos acerca da culpa do suspeito forem</p><p>conhecidos, perguntar sobre os mesmos de modo aparentemente</p><p>casual e como se tais fatos ainda não fossem sabidos;</p><p>7) Dar ao suspeito a oportunidade de mentir, a fim de que seja flagrado</p><p>em sua mentira. Isso lhe quebra a resistência.</p><p>13.6.7 Interrogatório de suspeitos de culpa certa</p><p>a) Emotivos</p><p>Indivíduos que cometem crimes no calor da paixão, do ódio ou da vingança</p><p>(agressores, homicidas, autores de crimes sexuais, etc.). Geralmente têm sentimento</p><p>de remorso, angústia ou arrependimento. Por isso, o EIPOL deve:</p><p>1) ostentar um ar de convicção da culpabilidade do interrogado;</p><p>2) apontar as provas circunstanciais indicativas de culpabilidade;</p><p>3) chamar a atenção do interrogado para os sintomas fisiológicos e</p><p>psicológicos de sua culpabilidade;</p><p>4) aparentar simpatia, reconhecendo que qualquer um nas mesmas</p><p>condições ou circunstâncias teria cometido o mesmo delito;</p><p>5) jogar a culpa nas vítimas (redirecionar). Nos casos de furto, rou-</p><p>bo e apropriação indébita, e aqui se refere de modo especial aos</p><p>criminosos primários, faça o jogo do suspeito, jogando a culpa na</p><p>sociedade, no patrão ou na vontade de enriquecimento rápido ou</p><p>na necessidade de conseguir o bem, objeto de crime;</p><p>6) condenar o cúmplice. “Eu sei que você foi influenciado pelos com-</p><p>panheiros e que deu azar”;</p><p>7) atuar como amigo e inimigo. Utilizar alternadamente os interroga-</p><p>dores, sendo um “bonzinho” e o outro o mau (carrasco).</p><p>b) Não emotivos</p><p>Indivíduos que cometem o crime para auferir vantagens. São, em geral, mer-</p><p>cenários, praticantes de crime contra o patrimônio, homicidas profissionais, etc.</p><p>Nesse caso, o EIPOL deve:</p><p>1) ostentar um ar de convicção da culpabilidade do interrogado;</p><p>2) apontar as provas circunstanciais indicativas da culpabilidade;</p><p>3) chamar a atenção do interrogado para os sintomas fisiológicos e</p><p>psicológicos de sua culpabilidade;</p><p>4) alertar o interrogado para a inutilidade da resistência;</p><p>5) quando houver insucesso na obtenção da confissão, tentar o uso</p><p>de uma ponte; procurar uma admissão acerca de algum delito de</p><p>natureza relativamente menor;</p><p>6) jogar um criminoso contra o outro, quando forem cúmplices.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>59</p><p>14 Uso de intérprete no interrogatório</p><p>Quando se utiliza um intérprete, é necessário que essa pessoa fale fluentemente</p><p>a língua do inquirido. O conhecimento de uma língua estrangeira, adquirido</p><p>apenas em escola, muitas vezes não é suficiente. Também não se deve usar um</p><p>intérprete que conheça mal sua própria língua. O intérprete precisa conhecer a</p><p>língua suficientemente bem para entender o que se deseja saber do depoente.</p><p>Precisa ter um bom vocabulário e saber como se constroem as sentenças, em</p><p>ambas as línguas, a fim de fazer uma tradução perfeita. Precisa estar apto a</p><p>transmitir informações ao indivíduo, bem como a refletir a atitude e a maneira de</p><p>expressão desejadas pelo investigador. Mais ainda, precisa estar apto a reconhecer</p><p>as peculiaridades das respostas do indivíduo e chamar a atenção para isso.</p><p>Se o intérprete for estrangeiro, certifique-se de que não é do mesmo lugar</p><p>do depoente a fim de evitar qualquer tendência pessoal, tais como amizade,</p><p>preconceito ou interesse comum.</p><p>Como deve se portar o intérprete durante a inquirição:</p><p>• Deve atuar somente como veículo de interpretação, passando as</p><p>informações entre o EIPOL e o inquirido;</p><p>• Imitar, o melhor possível, a inflexão de voz e os gestos do EIPOL;</p><p>• Não falar mais nada, além daquilo que lhe é dito pelo EIPOL;</p><p>• Transmitir a informação ao invés de tentar avaliar se ela é ou não va-</p><p>liosa. Isso inclui as observações ou exclamações mais significantes.</p><p>Observações</p><p>a) Mesmo que o inquirido conheça um pouco a língua falada pelo</p><p>EIPOL, ou vice-versa, todas as questões devem ser feitas por</p><p>meio do intérprete;</p><p>b) O EIPOL deve controlar o intérprete e por meio dele o depo-</p><p>ente. Geralmente, terá de se restringir ao emprego de métodos</p><p>rotineiros de entrevista e interrogatório, devido às limitações do</p><p>intérprete.</p><p>Quando terminar a inquirição, antes do inquirido</p><p>deixar o local, pergunte ao intérprete sua impressão sobre o</p><p>mesmo.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>61</p><p>15 Observações Finais</p><p>Direito de permanecer calado – STF “qualquer indivíduo que figure como</p><p>objeto de procedimentos investigatórios policiais ou que ostente em juízo a</p><p>condição jurídica de imputado, tem, dentre as várias prerrogativas que lhe são</p><p>constitucionalmente asseguradas, o direito de permanecer calado. Ninguém pode</p><p>ser constrangido a confessar a prática de um ilícito penal. À acusação é que</p><p>cumpre produzir a prova de culpabilidade do acusado”. (o art. 5º, inciso XLIII,</p><p>da Constituição Federal), a saber:</p><p>Art. 186 - Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro teor da</p><p>acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório,</p><p>do seu direito de permanecer calado e de não responder perguntas que lhe forem</p><p>formuladas. (Redação dada pela L-010.792-2003)</p><p>Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser</p><p>interpretado em prejuízo da defesa. (Acrescentado pela L-010.792-2003)</p><p>- Os riscos do uso da coação</p><p>As normas relativas aos depoimentos de testemunhas encontram-se descritas no</p><p>art. 202 e seguintes do Código de Processo Penal. No âmbito do Departamento de</p><p>Polícia Federal, o assunto está disciplinado na Instrução Normativa n° 011/2001</p><p>(item 51 e seguintes).</p><p>No Brasil, a proibição do uso de força é extensiva a todos os organismos</p><p>policiais (exceto nos casos de exclusão de ilicitude – Art. 23 do CP) e aplica-se</p><p>a todos os tipos de desconforto mental ou físico, bem como às ameaças ou pro-</p><p>messas impróprias. (Lei nº 9.455, de 7 de abril de 1997). Não se deve esquecer</p><p>também das garantias previstas no art. 5º da Constituição Federal.</p><p>- Obrigação de proteção dos direitos das testemunhas e suspeitos (Lei</p><p>nº 9.207/97 - Proteção de Testemunhas).</p><p>De acordo com a lei, o policial está obrigado a proteger os direitos do cida-</p><p>dão, bem como a salvaguardar o interesse público. Sob nenhuma circunstância</p><p>poderá justificar uma violação desse direito pelos seus próprios atos. O policial só</p><p>resolverá os crimes com sucesso se souber utilizar os processos que sejam legais</p><p>e moralmente corretos, aliados à sua habilidade e inteligência.</p><p>- As pessoas são a melhor fonte de informação</p><p>Geralmente, alguém conhece todos os detalhes importantes de um crime.</p><p>Várias outras pessoas podem conhecer o bastante para tornar possível juntar os</p><p>fatos. Se for possível obter eficazmente a informação de uma ou de ambas dessas</p><p>fontes, o caso estará solucionado, e os culpados, condenados.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>62</p><p>- O testemunho é quase sempre a melhor prova no tribunal</p><p>Muitos casos são ganhos ou perdidos no tribunal simplesmente em razão do</p><p>que dizem as testemunhas ou os acusados em seus depoimentos. Confissões ou</p><p>testemunhos podem ser inadmissíveis se ilegal ou impropriamente obtidos. Uma</p><p>investigação de um ato criminoso torna-se de pouco valor se a prova não puder</p><p>ser apresentada no tribunal.</p><p>Quando uma confissão é obtida por meio de um eficaz processo de interro-</p><p>gatório, o réu dificilmente contestará sua culpa.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Núcleo de Prática Cartorária (EPF)</p><p>76</p><p>SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL</p><p>MJ - DEPARTAMENTO DE POLÍCIA FEDERAL</p><p>UNIDADE DESCENTRALIZADA...</p><p>NOTA DE CIÊNCIA DAS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS</p><p>(NOME DA AUTORIDADE POLICIAL) Delegado(a) de Polícia Federal (classe,</p><p>matrícula), (lotação e exercício)</p><p>FAZ SABER</p><p>a (NOME DO CONDUZIDO, filiação, CI/CPF, data e local de nascimento, profissão, escolaridade, endereço residencial</p><p>e endereço comercial e telefones para contato), preso em flagrante delito</p><p>nesta data (NOME DO CONDUTOR, filiação, CI/CPF, data e local de nascimento, profissão, escolaridade, endereço</p><p>residencial e endereço comercial e telefones para contato), pelo (s) crime (s) previsto(s) no(s) (TIPIFICAÇÃO), que</p><p>o artigo 5º da Constituição Federal lhe assegura os seguintes direitos:</p><p>a) O respeito à sua integridade física e moral;</p><p>b) O de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;</p><p>c) A comunicação desta prisão à sua família ou a pessoa por si indicada; e</p><p>d) A identificação dos responsáveis por seu interrogatório policial.</p><p>Dada e passada nesta cidade, (nome da cidade), aos ___, (data por extenso) do mês de ____ do ano de</p><p>dois mil e _____ (data numérica).</p><p>(nome)</p><p>Delegado(a) de Polícia Federal</p><p>Classe ___, matrícula ___</p><p>CIENTE.</p><p>Data e Horário</p><p>________________________________________________________________.</p><p>O(a) PRESO(a)</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>63</p><p>Academia Nacional de Polícia - Núcleo de Prática Cartorária (EPF)</p><p>52</p><p>b) BOLETIM DE VIDA PREGRESSA;Núcleo de Prática Cartorária</p><p>49</p><p>Academia Nacional de Polícia</p><p>SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL</p><p>MJ - DEPARTAMENTO DE POLÍCIA FEDERAL</p><p>UNIDADE DESCENTRALIZADA......</p><p>Inquérito Policial nº (numero do IPL/Descentralizada)</p><p>BOLETIM DE VIDA PREGRESSA DO INDICIADO</p><p>Nome: _________________________________________________________________________________</p><p>Alcunha : ________________________________________________________________________________</p><p>Filiação: ________________________________________________________________________________</p><p>Residência atual: __________________________________________________________________________</p><p>Quais as cidades em que já residiu e em que períodos: ____________________________________________</p><p>Documento de Identidade : __________________________________________________________________</p><p>Se estrangeiro: ( ) Turista ( ) Temporário ( ) Permanente</p><p>( ) Clandestino ( ) Asilado</p><p>Grau de instrução</p><p>Profissão atual: ____________________________________________________________________________</p><p>Exerce sua profissão? Sim ( ) Não ( )</p><p>Onde exerce sua profissão? __________________________________________________________________</p><p>Há quanto tempo? _________________________________________________________________________</p><p>Qual o seu salário aproximado? _______________________________________________________________</p><p>Exerce alguma outra atividade remunerada? ____________________________________________________</p><p>Está desempregado? ______________________________________________________________________</p><p>Há quanto tempo? ________________________________________________________________________</p><p>Neste caso, como se mantém (e a família)? ___________________________________________________</p><p>Possui algum vício? Sim ( ) Não ( ) Qual? ____________________________________________</p><p>Se casado, vive com o cônjuge? Sim ( ) Não ( )</p><p>Núcleo de Prática Cartorária</p><p>50</p><p>Academia Nacional de Polícia</p><p>Concorre para a manutenção do cônjuge? Sim ( ) Não ( )</p><p>Se cônjuge exerce atividade remunerada? Sim ( ) Não ( ) Qual?</p><p>Número de pessoas que vivem sob sua dependência: _____________________________________________</p><p>Vivem em sua companhia? Sim ( ) Não ( )</p><p>Quantos trabalham? _______________________________________________________________________</p><p>Se os filhos, sendo menores, não vivem em sua companhia, quem cuida deles? ________________________</p><p>É de propriedade do indiciado o imóvel onde reside? Sim ( ) Não ( )</p><p>Como e quando adquiriu? __________________________________________________________________</p><p>Qual o seu valor aproximado? __________________________________________________________</p><p>Não sendo próprio, qual o aluguel? ___________________________________________________________</p><p>É proprietário de outros imóveis? Sim ( ) Não ( )</p><p>Onde estão situados? _____________________________________________________________________</p><p>Qual a renda desses imóveis? _______________________________________________________________</p><p>Possui outros bens? Sim ( ) Não ( )</p><p>Quais? ________________________________________________________________________________</p><p>Estado de ânimo com relação ao crime: ( ) Calmo ( ) Nervoso ( ) Atemorizado</p><p>( ) Indiferente ( ) Agressivo ( ) Cínico</p><p>( ) Arrependido ( ) Inconformado</p><p>OUTROS DADOS JULGADOS ÚTEIS: _______________________________________________________</p><p>_______________________________________________________________________________________</p><p>(Local e Data)</p><p>__________________________________</p><p>Assinatura e matrícula do Investigante</p><p>Vale lembrar que a atribuição de preencher o Boletim Individual de Vida Pregressa é do agente de</p><p>polícia federal, devendo o escrivão solicitar ao presidente do respectivo inquérito que determine tal medida, visto</p><p>que os serviços de correições têm combatido terminantemente o fato de os escrivães assinarem aquela peça.</p><p>c) PRONTUÁRIO DE IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL</p><p>Academia Nacional de Polícia - Núcleo de Prática Cartorária (EPF)</p><p>53</p><p>Vale lembrar que a atribuição de preencher o Boletim Individual de Vida</p><p>Pregressa é do agente de polícia federal, devendo o escrivão solicitar ao pre-</p><p>sidente do respectivo inquérito que determine tal medida, visto que os serviços</p><p>de correições têm combatido terminantemente o fato de os escrivães assinarem</p><p>aquela peça.</p><p>Núcleo de Prática Cartorária</p><p>50</p><p>Academia Nacional de Polícia</p><p>Concorre para a manutenção do cônjuge? Sim ( ) Não ( )</p><p>Se cônjuge exerce atividade remunerada? Sim ( ) Não ( ) Qual?</p><p>Número de pessoas que vivem sob sua dependência: _____________________________________________</p><p>Vivem em sua companhia? Sim ( ) Não ( )</p><p>Quantos trabalham? _______________________________________________________________________</p><p>Se os filhos, sendo menores, não vivem em sua companhia, quem cuida deles? ________________________</p><p>É de propriedade do indiciado o imóvel onde reside? Sim ( ) Não ( )</p><p>Como e quando adquiriu? __________________________________________________________________</p><p>Qual o seu valor aproximado? __________________________________________________________</p><p>Não sendo próprio, qual o aluguel? ___________________________________________________________</p><p>É proprietário de outros imóveis? Sim ( ) Não ( )</p><p>Onde estão situados? _____________________________________________________________________</p><p>Qual a renda desses imóveis? _______________________________________________________________</p><p>Possui outros bens? Sim ( ) Não ( )</p><p>Quais? ________________________________________________________________________________</p><p>Estado de ânimo com relação ao crime: ( ) Calmo ( ) Nervoso ( ) Atemorizado</p><p>( ) Indiferente ( ) Agressivo ( ) Cínico</p><p>( ) Arrependido ( ) Inconformado</p><p>OUTROS DADOS JULGADOS ÚTEIS: _______________________________________________________</p><p>_______________________________________________________________________________________</p><p>(Local e Data)</p><p>__________________________________</p><p>Assinatura e matrícula do Investigante</p><p>Vale lembrar que a atribuição de preencher o Boletim Individual de Vida Pregressa é do agente de</p><p>polícia federal, devendo o escrivão solicitar ao presidente do respectivo inquérito que determine tal medida, visto</p><p>que os serviços de correições têm combatido terminantemente o fato de os escrivães assinarem aquela peça.</p><p>c) PRONTUÁRIO DE IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>64</p><p>Núcleo de Prática Cartorária</p><p>72</p><p>Academia Nacional de Polícia</p><p>SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL</p><p>MJ - DEPARTAMENTO DE POLÍCIA FEDERAL</p><p>UNIDADE DESCENTRALIZADA......</p><p>ANTECEDENTES E CONDUTA SOCIAL</p><p>Termo Circunstanciado nº __________________</p><p>Nome: ______________________________________________________________</p><p>Alcunha: _____________________________________________________________</p><p>Filiação: ______________________________________________________________</p><p>____________________________________________________________________</p><p>Residência atual: ______________________________________________________</p><p>Quais as cidades que já residiu e em que períodos: ___________________________</p><p>____________________________________________________________________</p><p>____________________________________________________________________</p><p>Documento de Identidade nº _________________expedido por _________________</p><p>Se estrangeiro: ( ) Turista ( ) Temporário ( ) Permanente</p><p>( ) Clandestino ( ) Asilado</p><p>Grau de Instrução: _____________________________________________________</p><p>Profissão atual: _______________________________________________________</p><p>Onde exerce sua profissão? ______________________________________________</p><p>Há quanto tempo? ________________ Qual o salário aproximado? ______________</p><p>Exerce alguma outra atividade remunerada? ________________________________</p><p>Qual? _______________________________________________________________</p><p>Está desempregado? ______________ Há quanto tempo? _____________________</p><p>Neste caso, como se mantém (e a família)? _________________________________</p><p>____________________________________________________________________</p><p>Núcleo de Prática Cartorária</p><p>73</p><p>Academia Nacional de Polícia</p><p>Possui algum vício? ______________ Qual? ________________________________</p><p>Se casado, vive com o cônjuge? __________________________________________</p><p>Concorre para a manutenção do cônjuge?___________________________________</p><p>Se cônjuge exerce atividade remunerada? __________________________________</p><p>Qual? _______________________________________________________________</p><p>Número de pessoas que vivem sob a sua dependência: _______________________</p><p>Vivem em sua companhia? ( ) Sim ( ) Não</p><p>Quantos trabalham? ___________________________________________________</p><p>Se os filhos, sendo menores, não vivem em sua companhia, quem cuida deles?</p><p>_______________________________________________________________________</p><p>Em caso de condenação, como se manterá sua família? ________________________</p><p>____________________________________________________________________</p><p>É de propriedade do indiciado o imóvel onde reside? __________________________</p><p>Como e quando adquiriu? _______________________________________________</p><p>Qual o seu valor aproximado? ____________________________________________</p><p>Não sendo próprio, qual o aluguel? ________________________________________</p><p>É proprietário de outros imóveis? ______________ Onde estão situados?</p><p>__________________________________________________________________________________________</p><p>__________________________________________________________________________________________</p><p>__________________________________________________________________________________________</p><p>Qual a renda desses imóveis? ____________ Possui outros bens? _______________</p><p>Quais? ___________________________________ Valor: _____________________</p><p>Estado de ânimo com relação ao crime:</p><p>( ) Calmo ( ) Nervoso ( ) Atemorizado</p><p>( ) Indiferente ( ) Agressivo ( ) Cínico</p><p>( ) Arrependido ( ) Inconformado</p><p>ANTECEDENTES PENAIS:</p><p>OUTROS DADOS JULGADOS ÚTEIS:</p><p>Núcleo de Prática Cartorária</p><p>82</p><p>Academia Nacional de Polícia</p><p>__________________________________________________________________________________________</p><p>__________________________________________________________________________________________</p><p>________________________________________________</p><p>________________________________________</p><p>(Local e Data)</p><p>_____________________________________________</p><p>Assinatura e matrícula do Investigante</p><p>01 PROTOCOLO</p><p>SINIC – PRONTUÁRIO DE TERMO CIRCUNSTANCIADO 02 TIPO 03 REGISTRO FEDERAL</p><p>INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 010/02-DG/DPF</p><p>04 DELEGACIA INSTAURADORA DO TC 05 CIDADE 06 UF</p><p>07 Nº DO TC 08 DATA DE INSTAURAÇÃO DO TC</p><p>/ /</p><p>09 NOME COMPLETO DO AUTOR</p><p>10 ALCUNHA (S)</p><p>11 NOME DO PAI</p><p>12 NOME DA MÃE</p><p>13 SEXO 14 DT NASCIMENTO 5 LOCAL DE NASCIMENTO 16 UF</p><p>/ /</p><p>17 PAÍS DE NASCIMENTO 18 PAÍS DE NACIONALIDADE</p><p>19 DOCUMENTO DE IDENTIDADE 20 NÚMERO 221 ÓRGÃO EXPEDIDOR 22 F</p><p>23 CPF 24 TÍTULO DE ELEITOR / ZONA / SEÇÃO 225 PROFISSÃO</p><p>Serviço Público Federal</p><p>MJ – Departamento de Polícia Federal</p><p>Unidade Descentralizada...</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>65</p><p>Bibliografia</p><p>ALVES, Léo Silva. Interrogatório e confissão no processo disciplinar. DF:</p><p>Brasília Jurídica, 2000.</p><p>BERLO, David K. O processo de comunicação. Rio de Janeiro: Fundo de</p><p>Cultura, 2ª ed., 1968.</p><p>BROUGHAM, Charles G. Nonverbal communication. in: FBI law enforcement</p><p>bulletin. Quantico VA. 1992.</p><p>FEDERAL BUREAU OF INVESTIGATION. ACADEMY. Interview and interroga-</p><p>tion. 192nd. FBI National Academy. Quantico-VA. 1998.</p><p>FRITZEN, Silvio José. Exercícios de dinâmica de grupo e de relações huma-</p><p>nas. Petrópolis: Vozes, Vols. 1 a 3, 1973.</p><p>GARRETT, Annette. A entrevista, seus princípios e métodos. Rio de Janeiro:</p><p>Agir, 7ª ed., trad. de Maria de Mesquita Sampaio e outros, 1977.</p><p>HESS, John E. Interviewing and interrogation for law enforcement. Cincinnati-OH:</p><p>Anderson Publishing Co., 1997.</p><p>HOLMES, Warren. Listening for deception. Quantico-VA. 1997.</p><p>INSTITUTO Brasiliense de Programação Neurolingüística Use a cabeça! Brasília-</p><p>DF: Curso de programação neurolingüística. 1996. Fotocopiado.</p><p>JENKINS, David. Interview and Interrogation. Washington-DC: DEA. Interna-</p><p>tional Trainning Division, 1998.</p><p>LEIS, (Constituição Brasileira, Código de Processo Penal, Código Penal, Legis-</p><p>lação sobre Direitos da Pessoa Humana, Abuso de Autoridade, Lei nº 9.455/97</p><p>e nº 9207/97)</p><p>MINER, Edgar M. The importance of listening in the interview and interro-</p><p>gation process. In: FBI Law Enforcement Bulletin. Quantico- VA. 1984.</p><p>MINUCUCCI, Agostinho. Dinâmica de grupo: manual e técnicas. São Paulo:</p><p>Atlas, 3ª ed., 1977.</p><p>OLIVEIRA, Eudes. A técnica do interrogatório. DF: Revista dos Tribunais, 3ª</p><p>ed. 1993.</p><p>RYALS, James R. Successful Interviewing. In: FBI Law Enforcement Bulletin.</p><p>1991.</p><p>WEIL, P; TOMPAKOW, R. O corpo fala. Petrópolis-RJ: Vozes Ltda., 1999.</p><p>comprovada a sua materialidade e autoria. A primeira é</p><p>alcançada por meio da coleta e comprovação das evidências físicas, quando for</p><p>o caso; e a segunda por meio dos testemunhos e da confissão. Note-se então,</p><p>que duas dessas formas de comprovação de autoria estão relacionadas à fala,</p><p>à narrativa verbal sobre os aspectos específicos de um determinado fato delitu-</p><p>oso, seja pela confissão de um suspeito, seja pelo relato de uma testemunha ou</p><p>informante. Porém, para atingir esses objetivos, deve-se conhecer, identificar e</p><p>remover as várias barreiras que impedem as pessoas de transmitir as informações</p><p>que estão registradas em suas memórias ou de admitir a culpa pela realização</p><p>ou participação em um ato criminoso.</p><p>Para tanto, usam-se a entrevista e o interrogatório, técnicas eficientes que</p><p>devem ser aprimoradas tanto por meio de estudos e treinamentos especializados</p><p>quanto pela utilização da própria experiência do investigador/interrogador policial</p><p>- EIPOL.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>9</p><p>2 Comunicação</p><p>A entrevista e o interrogatório são formas de comunicação, entre o entre-</p><p>vistador/interrogador e o entrevistado/interrogado deve haver uma correspon-</p><p>dência recíproca, fundamentada na correção de atitudes, de gestos e de outros</p><p>meios de comunicação. As palavras adquirem grande variedade de significados</p><p>e valores dependendo da forma como são pronunciadas. Também não basta</p><p>ao entrevistador/interrogador fazer-se ouvir apenas. É necessário que provoque</p><p>no entrevistado/interrogado a vontade de falar, criando uma intercomunicação</p><p>duradoura, uma retroalimentação constante.</p><p>Como conseqüência da importância que a comunicação tem para a entrevista</p><p>e interrogatório, surge a necessidade de identificar as barreiras mais comuns à</p><p>comunicação a fim de promover a eliminação desses entraves.</p><p>2.1 Barreiras à comunicação</p><p>São os fatores que impedem ou dificultam a comunicação e conseqüentemente</p><p>o desenvolvimento da entrevista e do interrogatório, os quais podem ser reunidos</p><p>em três grupos principais:</p><p>2.1.1 Falta de motivação</p><p>Situações, problemas, estados de ânimo e desejos do entrevistador/entrevis-</p><p>tado poderão ter influência decisiva na condução da entrevista. Um entrevistado</p><p>que veja incluído nos temas da entrevista algum aspecto que se identifique com</p><p>seus desejos ou necessidades normalmente terá maior empenho em atender</p><p>às pretensões do entrevistador. Assim, discutir um problema que preocupe o</p><p>entrevistado, demonstrar interesse pela situação do mesmo, expressar palavras</p><p>de compreensão ou manifestar a vontade de ajudá-lo são formas de motivação</p><p>utilizadas pelo entrevistador.</p><p>O entrevistador deve conhecer os mecanismos da motivação para orientar</p><p>suas ações a partir dos dados sobre as necessidades, desejos e objetivos do</p><p>entrevistado. Uma entrevista planejada e conduzida com base em uma motivação</p><p>adequada alcançará, por certo, os objetivos propostos.</p><p>2.1.2 Barreiras psicológicas</p><p>Entre as barreiras à comunicação, essas são as de mais difícil trato. Contudo,</p><p>se forem corretamente identificadas poderão servir como poderoso aliado do</p><p>entrevistador. As barreiras psicológicas decorrem de defesas criadas por meio da</p><p>mobilização de forças internas do ser humano – forças dinâmicas de personalidade.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>10</p><p>Exemplos dessas defesas são a racionalização, a repressão, o deslocamento,</p><p>a projeção, o medo, a emoção, a insegurança, as patologias, o estresse,</p><p>etc.</p><p>2.1.3 Dificuldades de linguagem</p><p>As dificuldades de expressão oral tendem a diminuir o fluxo da conversação. A</p><p>entrevista com portadores dessas anomalias obriga o emprego de um entrevistador</p><p>bem capacitado e disposto a manter uma comunicação eficiente.</p><p>Em geral, essas anomalias são: gagueira, disfasia (distúrbio da palavra</p><p>devido à lesão do sistema nervoso central), dispnéia (dificuldade na respiração),</p><p>rouquidão, etc.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>11</p><p>3 Colaboração e interação social</p><p>3.1 Interação social</p><p>A vida em sociedade se faz dentro de um intrincado sistema de ações, idéias,</p><p>ideais e sentimentos entre grupos e indivíduos, uns influindo sobre os outros</p><p>e reciprocamente sofrendo influência. Isto é o que se chama interação social.</p><p>Resulta do incessante e multiforme contato social e tanto pode assumir o aspecto</p><p>construtivo da cooperação, como o aspecto divisionista da oposição. Cada ação</p><p>dá nascimento a uma reação e cada reação provoca um movimento como uma</p><p>contra-ação, até o infinito.</p><p>Dessa forma, a interação social pode ser vista como resultante de uma</p><p>comunicação bem feita e é possível bem utilizá-la a fim de se conseguir o que é</p><p>chamado de COLABORAÇÃO nas relações humanas.</p><p>O quadro seguinte resume o que foi dito:</p><p>COMUNICAÇÃO</p><p>Bem feita</p><p>INTERAÇÃO</p><p>Bem utilizada</p><p>Associação</p><p>Colaboração</p><p>Entrevista/Interrogatório</p><p>bem-sucedidos</p><p> </p><p></p><p>Para alguns pesquisadores, a personalidade humana pode ser dividida em</p><p>personalidade nuclear (constitucional/familiar) e personalidade periférica (social).</p><p>Além desses fatores já citados, o conhecimento de outros aspectos relativos à</p><p>estrutura da personalidade humana é essencial ao êxito do trabalho do entrevis-</p><p>tador/interrogador. É importante saber se as relações humanas foram normais,</p><p>afetivas ou traumáticas</p><p>Por personalidade nuclear entende-se a estrutura fixa e consistente, de bases</p><p>sólidas, tais como o temperamento, o caráter, etc. A personalidade periférica é</p><p>aquela que se desenvolve em função da influência do grupo social na formação</p><p>do indivíduo. O grupo social exerce marcante influência sobre a pessoa, por isso</p><p>é necessário que o entrevistador/interrogador tenha conhecimento sobre o meio</p><p>em que o indivíduo vive.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>12</p><p>Algumas experiências mostram que a personalidade periférica ou social é a</p><p>área onde podem ocorrer mudanças, desde que não sejam de todo incompatíveis</p><p>com a personalidade nuclear.</p><p>O ENTREVISTADOR/INTERROGADOR POLICIAL - EIPOL deve conhecer ao</p><p>máximo não só a personalidade periférica do entrevistado/interrogado, como</p><p>também a sua personalidade nuclear, visando a aproveitar as falhas dessa estru-</p><p>tura que levam a pessoa a apoiar-se no grupo como forma de sustentação de</p><p>sua personalidade global.</p><p>3.2 Programação neurolinguística</p><p>3.2.1 Rapport</p><p>Rapport é um termo de origem francesa que significa harmonia de relação,</p><p>concordância, afinidade, analogia. É um estado da mente, e embora muitas</p><p>pessoas assim entendam, poucas podem defini-lo. Palavras como empatia, gosto</p><p>e conforto chegam perto, mas não capturam a sua essência.</p><p>O termo está relacionado ao alcance de um estado de harmonia entre dois</p><p>indivíduos por meio de um processo informal, sem regras. Para alcançá-lo, é</p><p>necessário observar, perceber e fazer distinções do comportamento (verbal e não-</p><p>verbal) de outra pessoa. Para mantê-lo, é preciso acompanhar com discrição,</p><p>elegância e sutileza qualquer alteração de comportamento da outra pessoa.</p><p>As principais técnicas utilizadas para obtenção do Rapport são as seguintes:</p><p>• Expressões faciais - Levantar as sobrancelhas, apertar os lábios,</p><p>enrugar o nariz, etc., da mesma forma que a outra pessoa;</p><p>• Postura - Ajustar o corpo para combinar com a postura do corpo</p><p>do outro;</p><p>• Gestos - Imitar com elegância e sutileza os gestos da outra pes-</p><p>soa;</p><p>• Qualidades vocais - Empregar a mesma tonalidade, timbre, velo-</p><p>cidade, volume, hesitações, pontuação, etc.;</p><p>• Palavras processuais - Detectar e utilizar em sua própria linguagem</p><p>os predicados utilizados pela outra pessoa;</p><p>• Frases repetitivas - Utilizar frases repetitivas usadas pela outra</p><p>pessoa;</p><p>• Respiração - Ajustar a respiração para o mesmo ritmo da respiração</p><p>da outra pessoa;</p><p>• Espelhamento cruzado (mirroring) - Usar um aspecto de seu com-</p><p>portamento para imitar um aspecto diferente</p><p>do comportamento do</p><p>outro. Por exemplo, balançar suavemente uma parte de seu corpo</p><p>no mesmo ritmo da respiração do outro;</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>13</p><p>• Neurolinguística - Há cerca de vinte anos, Robert Bandler e John</p><p>Grinder, pesquisadores norte-americanos que examinaram as téc-</p><p>nicas aplicadas por psicoterapeutas de sucesso, descobriram que</p><p>entre eles era comum a habilidade de entrar em sincronização (in</p><p>sync) com seus pacientes, realçando a comunicação e melhorando</p><p>os resultados. Assim, desenvolveram um processo de modificação</p><p>de comportamento que eles mesmos passaram a denominar pro-</p><p>gramação neurolingüística, o qual se concentrava em adquirir</p><p>harmonia não por meio da vestimenta ou estilo de penteado, por</p><p>exemplo, mas por meio das palavras e ações. Dessa forma, eles</p><p>modelaram os seus comportamentos no desempenho de seus colegas</p><p>que consideravam comunicadores eficazes. Os dois pesquisadores</p><p>concluíram o que parecia óbvio: diferentes pessoas demonstram</p><p>diferentes peculiaridades e graus de dinamismo quando interagem</p><p>com outros. Eles também notaram o que não era tão óbvio assim: a</p><p>maioria dos comunicadores de sucesso tende a imitar ou “espelhar”</p><p>as peculiaridades e dinamismo daqueles com quem lidam. Pessoas</p><p>animadas, de fala rápida, parecem comunicar-se melhor com outras</p><p>também animadas e de fala rápida. Por outro lado, pessoas calmas,</p><p>de fala lenta, se correspondem melhor com aquelas que agem da</p><p>mesma maneira.</p><p>3.2.2 Saber perguntar</p><p>Saber como perguntar é tão importante quanto saber o que perguntar. E as</p><p>perguntas de fácil entendimento evitam que as pessoas se concentrem em decifrar</p><p>o seu significado.</p><p>As perguntas devem ser selecionadas cuidadosamente, evitando aquelas que</p><p>em inglês são denominadas close ended questions, ou seja, questões fechadas,</p><p>que sempre levam à resposta do tipo “sim/não”. As perguntas abertas - open</p><p>ended questions – forçam o entrevistado a elaborar a informação que dispõe,</p><p>narrando os fatos ao invés de simplesmente se deter em uma resposta afirmativa</p><p>ou negativa. Por exemplo, quando se está entrevistando uma testemunha de crime,</p><p>o EIPOL deve levá-la a narrar os fatos com suas próprias palavras, informando</p><p>tudo o que viu. Isso permite uma melhor aferição do grau de credibilidade da</p><p>informação. Além disso, o EIPOL deve estar ciente de que perguntas elabora-</p><p>das em série e aplicadas no início da entrevista condicionam o entrevistado a</p><p>acreditar que ele será indagado sempre que alguma informação for necessária,</p><p>caso contrário permanecerá calado. Ao fazer poucas perguntas, visando a criar</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>14</p><p>uma conversação, a pessoa perceberá que tudo o que sabe é significante e não</p><p>apenas a informação especificamente solicitada por meio de uma determinada</p><p>indagação. Não raro, pontos importantes deixam de ser abordados por simples</p><p>esquecimento por parte do EIPOL ao elaborar a pergunta certa.</p><p>É certo que muitas perguntas não podem ser respondidas simplesmente com</p><p>um “sim” ou “não”. O relato é imprescindível para um completo entendimento</p><p>dos fatos. Por outro lado, as perguntas fechadas podem ajudar no caso de uma</p><p>testemunha relutante, já que determinam o que será ou não respondido por</p><p>meio de respostas do tipo “sim/não”. Contudo, é igualmente certo que muitas</p><p>pessoas tendem a concordar apenas para ser agradáveis com o EIPOL ou por</p><p>não entenderem a pergunta, ou, ainda, por receio de discordar dele . Concordar</p><p>não significa que se esteja falando a verdade.</p><p>Há ainda o tipo de pergunta que sugestiona ou induz à resposta, surtindo o</p><p>mesmo efeito daquelas de respostas “sim/não”. Por exemplo, se uma testemunha</p><p>é questionada desta forma: “o que ele fez então, colocou a droga no bolso?”</p><p>Provavelmente provocará uma resposta afirmativa porque a testemunha não quer</p><p>parecer esquecida ou de pouca observação. Por outro lado, se a pergunta for no</p><p>estilo aberta: “o que o suspeito fez com as drogas?”, poderá levar a testemunha</p><p>a dizer que nada viu, e, caso isso tenha realmente acontecido, evitará uma falsa</p><p>informação ao EIPOL. Outros exemplos de perguntas abertas são: “o que acon-</p><p>teceu então?”, ou: “conte-me o que ele fez”.</p><p>Perguntas do tipo “pinga-fogo” devem também ser evitadas. Muitos policiais</p><p>gostam de emendar uma pergunta na outra antes mesmo de a precedente ter sido</p><p>respondida. Pode parecer eficiente, principalmente para aqueles que julgam ter</p><p>um raciocínio rápido, mas no fundo só serve para confundir a testemunha.</p><p>Imagine o seguinte cenário: após o assalto a uma loja, o policial aproxima-</p><p>se da vítima, que estava no caixa, e apresenta-se. Sentindo certa ansiedade nela,</p><p>dispensa algum tempo a fim de assegurar-lhe de que não há nada com que se</p><p>preocupar. Ele diz que entende o trauma pelo qual ela passou, serve-lhe um copo</p><p>de café e evita fazer qualquer pergunta até que a mesma se recomponha. Ele</p><p>então diz que precisa de sua ajuda e pede que narre os fatos desde o início. Ela</p><p>relata os fatos em ordem cronológica. Terminado o relato, o policial diz que ela</p><p>foi muito útil e que gostaria de rever toda a história, acrescentando que caso não</p><p>se incomode irá interrompê-la com algumas questões à medida que for falando.</p><p>Reiniciada a narrativa, ele passa a procurar por alguns outros detalhes que ela</p><p>talvez tenha esquecido de mencionar na primeira vez, tais como a possibilidade</p><p>de existência de uma outra testemunha, dados descritivos da arma utilizada pelo</p><p>assaltante, linguajar, sotaque, etc.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>15</p><p>Esse cenário ilustra uma situação com a qual se deparam muitos investigado-</p><p>res e que não resulta propriamente da inabilidade do policial em perguntar, mas</p><p>simplesmente de testemunhas que não conseguem responder apropriadamente.</p><p>Respostas como “eu não me lembro” ou “isso foi tudo o que eu vi” costumam</p><p>frustrar os investigadores que realmente buscam a verdade, daí a importância de</p><p>saber “como” e “o que” perguntar, a fim de extrair a informação mais fidedigna</p><p>possível.</p><p>Ainda dentro deste tópico, merece registro o fato de que, no passado, alguns</p><p>organismos policiais estrangeiros recorriam à hipnose como um meio de realçar</p><p>a memória. Os resultados satisfatórios apenas confirmavam o que muitos já sus-</p><p>peitavam: o problema principal não estava na falta de observação da testemunha,</p><p>mas, sim, na sua inabilidade de relembrar o que tinha visto.</p><p>3.2.3 Saber ouvir</p><p>Saber ouvir é uma das mais importantes habilidades para quem deseja se tornar</p><p>um entrevistador/interrogador de sucesso. São comuns as entrevistas e interroga-</p><p>tórios nos quais o EIPOL fala mais que a pessoa entrevistada/interrogada, em um</p><p>ritmo frenético e incessante de perguntas que impedem uma resposta completa;</p><p>antes mesmo de a pessoa responder à primeira pergunta, já lhe é dirigida outra,</p><p>como no exemplo acima sobre as perguntas do tipo “pinga-fogo”.</p><p>Após colocar o sujeito em um estado comunicativo, o EIPOL deve então</p><p>concentrar sua atenção na informação que busca, conduzindo-o para o tópico</p><p>desejado e permitindo que fale com um mínimo de interrupção. Nessa fase, o</p><p>EIPOL deve estar alerta para palavras inconsistentes ou omissões. Se isso ocorrer,</p><p>é necessário que faça algumas perguntas simplesmente para manter o entrevistado</p><p>falando, dentro do tópico que deseja.</p><p>É certo que perguntas inteligentes, contundentes, levam o suspeito a confes-</p><p>sar, mas quem confessa enquanto o EIPOL está falando? Ouvir é tão importante</p><p>quanto questionar.</p><p>Como mencionado no item anterior, quando se discorreu sobre as técnicas</p><p>relativas às perguntas, é importante que o EIPOL primeiro ouça a história completa,</p><p>passando logo após a questionar especificamente sobre questões cuidadosamente</p><p>construídas ao longo da narrativa do entrevistado/interrogado.</p><p>Outro aspecto importante a ser levado em conta em uma entrevista</p><p>é a lingua-</p><p>gem não-verbal (também chamada de comportamento ou comunicação não-ver-</p><p>bal). As palavras representam apenas uma pequena parte de qualquer mensagem;</p><p>65 % da comunicação se dá de forma não-verbal( fórmula de Meharabian).</p><p>Para “ouvir bem”, o EIPOL deve ampliar sua atenção para além das palavras,</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>16</p><p>estando atento ao tom de voz, contato de olhos, expressões faciais, gesticulação</p><p>das mãos, linguagem do corpo, vestimenta e ambiente. As emoções e atitudes</p><p>são normalmente expressadas por meio da linguagem não-verbal e dificilmente</p><p>por meio de meras palavras. Por exemplo, se um ouvinte diz a seu interlocutor:</p><p>“estou muito interessado no que você diz”, mas sem que essas palavras tragam</p><p>em si a intensidade de gestos do ouvinte, tom de voz e movimento do corpo, o</p><p>total da mensagem demonstrará pouco interesse e entusiasmo por parte dessa</p><p>pessoa. A linguagem não-verbal será mais detalhadamente tratada no tópico a</p><p>seguir sobre “detecção de mentiras”.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>17</p><p>4 Detectando mentira</p><p>Este tópico trata das alterações comportamentais que ocorrem quando as</p><p>pessoas mentem. Saber identificá-las é muito importante porque possibilita ao</p><p>EIPOL se orientar dentro de uma linha específica de questionamentos.</p><p>O exemplo a seguir foi extraído do Manual de Entrevista e Interrogatório da</p><p>Academia do FBI:</p><p>“Você confrontou algum tigre-de-dente-de-sabre ultimamente? Em caso</p><p>positivo, seu sistema nervoso reagirá da mesma forma que o dos seus ancestrais;</p><p>eles passaram para você o reflexo conhecido como a ‘síndrome do lute ou fuja’</p><p>(fight-or-flight syndrome). Este fenômeno realça as funções do organismo essen-</p><p>ciais à sobrevivência durante uma crise, enquanto põe de lado as outras funções</p><p>irrelevantes.” Incluem:</p><p>• liberação de açúcar e adrenalina na corrente sangüínea;</p><p>• aumento da pulsação e da respiração;</p><p>• ativação das funções das glândulas sudoríparas;</p><p>• dilatação das pupilas;</p><p>• desativação das funções das glândulas salivares;</p><p>• interrupção da digestão.</p><p>A versão moderna do exemplo do tigre-de-dente-de-sabre é representada</p><p>quando o EIPOL identifica a “culpa”. Em tais situações, ele solta a ameaça, e essa</p><p>ameaça irá produzir os efeitos que foram desenvolvidos no homem no decorrer</p><p>da sua evolução. O corpo prepara-se para fugir ou lutar. Porém, há situações</p><p>em que ele não poderá correr, lutar ou mesmo apresentar qualquer indicativo</p><p>de que deseja realizar uma daquelas duas ações. Esse conflito produz os seus</p><p>próprios sintomas, os quais, se observados, podem proporcionar mais insight</p><p>para o entrevistador.</p><p>Quase todas as pessoas demonstram certa ansiedade e nervosismo quando</p><p>estão prestes a ser entrevistadas/interrogadas por um EIPOL. Por isso, é impor-</p><p>tante atingir aquele estado de harmonia anteriormente citado, que é o Rapport,</p><p>inclusive com relação à pessoa culpada, a qual deve ser convencida de que não</p><p>há qualquer ameaça imediata.</p><p>Desenvolvido o Rapport, o EIPOL pode, por meio da observação enquanto</p><p>discute detalhes rotineiros, avaliar qual é o padrão de comportamento que o</p><p>entrevistado/interrogado apresenta quando está falando a verdade. Tal padrão</p><p>servirá de comparação quando a entrevista/interrogatório chegar aos pontos crí-</p><p>ticos, onde normalmente o entrevistado/interrogado mente. A fim de comprovar</p><p>essa afirmativa, deve o EIPOL ficar bem atento aos instantes iniciais da entrevista/</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>18</p><p>interrogatório, quando são dirigidas perguntas sobre as quais ele tem certeza que</p><p>a pessoa não irá mentir: dados pessoais, como filiação, endereço, profissão, etc.</p><p>Essa fase costuma ser encarada por muitos policiais como uma simples coleta</p><p>de informações que não nada têm a ver com o objetivo da investigação, daí o</p><p>costume de deixá-la exclusivamente a cargo de um outro funcionário( Boletim de</p><p>Vida Pregressa, por exemplo).</p><p>De uma forma geral, as pessoas exibem comportamentos constantes, espon-</p><p>tâneos e involuntários quando entrevistadas/interrogadas sob condições estres-</p><p>santes. Movimentos do corpo, posições corporais, expressões faciais, sintomas</p><p>psicológicos e paralinguagem refletem esses comportamentos não-verbais. Saber</p><p>interpretá-los, como dito anteriormente, é de fundamental importância para a</p><p>solução de um caso, como se verá a seguir.</p><p>4.1 Movimento do corpo</p><p>Uma pessoa calma, com uma face que não demonstra emoções, aliado a</p><p>braços, pernas, mão e pés ativos, representa um modelo distinto de decepção,</p><p>ou seja, de que está mentindo. Em regra, quando entrevistados/interrogados, os</p><p>suspeitos que mentem inclinam menos o corpo para frente e movem as pernas e</p><p>pés significativamente mais do que quando falam a verdade.</p><p>Muitas outras formas de comportamentos encontram-se elencadas nas obras</p><p>que tratam do tema. Os mais fáceis de serem interpretados são aqueles relacio-</p><p>nados aos movimentos de mãos e braços, os quais proporcionam ao EIPOL uma</p><p>avaliação crítica sobre os sentimentos da pessoa. Como exemplo, o entrevistado/</p><p>interrogado que mantém os braços cruzados de maneira frouxa pode indicar</p><p>relaxamento; quando cruzados firmemente e à altura do tórax pode significar</p><p>desafio ou recusa. Se tais gestos são difíceis de interpretar, deve o EIPOL prestar</p><p>atenção às mãos do entrevistado para ver se estão relaxadas ou pressionadas. Os</p><p>movimentos das mãos em geral indicam incerteza. Quando uma pessoa mente,</p><p>esses movimentos diminuem e são substituídos por encolhimento dos ombros.</p><p>Além disso, o ato de esfregar as palmas das mãos indica expectativa, enquanto</p><p>as batidas e dedilhar dos dedos demonstram nervosismo geralmente associado a</p><p>alguma mentira. A pessoa que gesticula na direção do peito é geralmente identi-</p><p>ficada como sincera e honesta, enquanto que outra que leva as mãos à direção</p><p>da boca está em dúvida sobre o que diz ou provavelmente está mentindo. Pessoas</p><p>confiáveis tendem a gesticular para o lado externo do corpo, ou seja, de dentro</p><p>para fora; as que mentem gesticulam ao contrário, de fora para dentro.</p><p>Existem várias outras modalidades de movimentos corporais que poderiam ser</p><p>aqui mencionadas, e embora muitas possam ser facilmente observadas, devem</p><p>ser consideradas apenas como uma parte da avaliação global da pessoa entrevis-</p><p>tada/interrogada, em sintonia com as demais técnicas aplicadas ao processo.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>19</p><p>4.2 Expressões faciais</p><p>Segundo pesquisadores, quando as expressões faciais são espontâneas, o</p><p>movimento dos músculos tende a ser igual em ambos os lados da face. Quando</p><p>são deliberados, por exemplo, quando a pessoa mente ou esconde algo, os mús-</p><p>culos do lado esquerdo da face movem-se mais que os do lado direito. Assim, um</p><p>observador astuto pode utilizar-se de tais assimetrias como um indício no sentido</p><p>de determinar se a pessoa está sendo sincera ou não.</p><p>Essas diferenças parecem ocorrer devido à maneira como o cérebro regula</p><p>os movimentos faciais. Os espontâneos passam pelo centro cognitivo do cérebro.</p><p>Já quando alguém conscientemente move uma parte da face, os sinais se dão no</p><p>córtex, que é a parte do cérebro que dirige as decisões conscientes e parece ser</p><p>mais forte no lado esquerdo do corpo.</p><p>Além desses indicadores faciais assimétricos, a face pode ainda revelar algu-</p><p>mas boas pistas quando combinada com outros comportamentos não-verbais. Por</p><p>exemplo, quando uma pessoa está mentindo, o estresse que se lhe acomete inter-</p><p>namente aumenta o ritmo de piscada dos olhos de uma para duas por segundo.</p><p>Esse tipo de estresse pode também fazer com que os olhos fiquem mais abertos</p><p>do que o normal. Em tais situações, a pessoa evita o contato de olhos com seu</p><p>interlocutor ou dirige o olhar para outro local.</p><p>4.3 Sintomas psicológicos</p><p>Quando uma pessoa mente, o seu corpo passa por uma série de mudanças,</p><p>entre elas o aumento da transpiração,</p><p>a palidez da pele, a pulsação acelerada e o</p><p>realce das veias da cabeça, pescoço e garganta. Também ocorre secura na boca,</p><p>mudanças respiratórias e alterações na fala. Em certos casos, até gagueira.</p><p>4.4 Paralinguagem</p><p>Há momentos durante a entrevista/interrogatório em que “o que” a pessoa diz</p><p>é menos importante do que “como” diz. O estudo da paralinguagem destina-se</p><p>a examinar a maneira como a pessoa fala e as características de sua voz, sem</p><p>ater-se às palavras. Quando corretamente aplicada, as variações podem indicar</p><p>o momento em que a pessoa mente. Nessas situações, ela fica menos fluente e</p><p>gagueja mais. As respostas são menos plausíveis, mais longas, e contêm mais frases</p><p>repetidas e inacabadas. A tentativa de enganar faz com que a pessoa também</p><p>fique nervosa, resultando no aumento do volume da voz, diminuição do ritmo da</p><p>fala, maior hesitação antes de responder e menos informações voluntárias. Há,</p><p>contudo, exceções. Quando a pessoa está sob influência de drogas, ou quando</p><p>se trata de criminosos profissionais ou habituais, é possível que não exibam um</p><p>comportamento não-verbal normal.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>20</p><p>Em suma, é certo afirmar que poucas pessoas enfrentam problemas de ansie-</p><p>dade quando falam a verdade. Porém, quando mentem, o corpo e a mente enviam</p><p>sinais involuntários que, corretamente interpretados, podem indicar tal situação.</p><p>A linguagem não-verbal é dinâmica e complexa, e, embora uma boa porção de</p><p>tempo, esforço e prática sejam necessários para tornar o EIPOL proficiente na</p><p>técnica de “ler” o comportamento não-verbal, o investimento poderá ser benéfico</p><p>e compensador.</p><p>4.5 Mecanismos de defesa</p><p>- Hostilidade: a mais freqüente. Até mesmo o inocente aparenta</p><p>hostilidade no início; acalma-se no decorrer do interrogatório e à</p><p>medida que outros problemas são resolvidos. O culpado ficará na</p><p>defensiva durante todo o interrogatório;</p><p>- Projeção: põe a culpa em todo o mundo;</p><p>- Desassociação: apresenta evasivas, usa palavras monossílabas e</p><p>evita especulações;</p><p>- Racionalização: “algumas pessoas merecem morrer ou serem rou-</p><p>badas, etc.”</p><p>4.6 Características dos Mentirosos</p><p>1. Falam na terceira pessoa: “eu vou dizer-lhe uma coisa, fulano de tal</p><p>(citando seu próprio nome) é um homem honesto”;</p><p>2. Chegam perto da verdade tentando demonstrar falta de medo,</p><p>aparentando confiança excessiva;</p><p>3. Oferecem admissões simbólicas, uma técnica utilizada para pare-</p><p>cer inocente: “eu não roubei esses cem, roubei dez em uma outra</p><p>ocasião”;</p><p>4. Admitem tudo que pode ser provado e nada mais;</p><p>5. Tentam evocar o sentimento de culpa no EIPOL: “você não imagina</p><p>o que é ser acusado falsamente”.</p><p>6. Utilizam-se de alguma referência: “veja o relatório policial, eu dei</p><p>essa informação lá ontem”.</p><p>7. Utilizam-se da técnica de argüir os aspectos legais do caso para</p><p>desviar a atenção da essência da situação;</p><p>8. Tentam desacreditar as testemunhas: “ela é vagabunda e usuária de</p><p>drogas. Por que você acredita nela?” Tentam conduzir o EIPOL ao</p><p>debate sobre a credibilidade da testemunha;</p><p>9. Tentam dispensar sumariamente o EIPOL: “você nunca entenderia</p><p>isso”;</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>21</p><p>10. Fazem um grande esforço para convencer, enquanto o inocente</p><p>irrita-se após algum tempo. Não é possível ofender a pessoa culpada</p><p>porque ela sabe que você está certo.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>23</p><p>5 Atributos pessoais do entrevistador/interrogador</p><p>policial - EIPOL</p><p>Atitudes e comportamentos</p><p>Conforme já visto no estudo do Rapport, para ser tornar um bom EIPOL, é</p><p>necessário que o indivíduo saiba ajustar o seu comportamento para se harmonizar</p><p>ou dominar os muitos traços e modos das pessoas com quem se comunica.</p><p>Algumas das atitudes importantes que devem ser observadas durante a con-</p><p>dução de uma entrevista ou interrogatório são:</p><p>• não prejulgue um suspeito ou testemunha;</p><p>• subjugue todos os preconceitos;</p><p>• mantenha uma mente aberta e receptiva a todas as informações;</p><p>• tente avaliar cada progressão dos fatos pelo seu próprio mérito;</p><p>• aprenda a refrear o impulso de tentar impressionar o suspeito ou</p><p>testemunha, a menos que tal ação seja usada especificamente como</p><p>uma técnica de interrogatório. Freqüentemente, os EIPOL, mesmo</p><p>sem intenção, fazem perguntas de forma a impressionar a pessoa</p><p>com sua importância ou capacidade. Isso ocorre sempre e resulta</p><p>em exibição de sarcasmo, raiva, desgosto e outros atos indesejáveis</p><p>que diminuem o respeito ao interrogador. O EIPOL deve sempre</p><p>suprimir seus próprios incentivos emocionais e aplicar todas as suas</p><p>faculdades visando ao seu objetivo;</p><p>• não subestime a estabilidade física ou mental da pessoa. Em algumas</p><p>ocasiões uma ou ambas as faculdades podem exceder à do EIPOL.</p><p>Contudo, sua posição oficial e treinamento especializado o qualifi-</p><p>cam a entrevistar e interrogar qualquer pessoa. Sempre trabalhe na</p><p>suposição de que o suspeito é inteligente;</p><p>• evite atitudes desdenhosas (exceto quando usadas como expediente</p><p>durante um interrogatório);</p><p>• evite zombarias;</p><p>• não ridicularize o interrogado;</p><p>• não banque o arrogante;</p><p>• não considere o sucesso como uma vitória;</p><p>• mantenha todas as promessas;</p><p>• não menospreze a pessoa ou sua informação;</p><p>• evite ao máximo citar personalidades, religião, política, assuntos que</p><p>possam causar controvérsias;</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>24</p><p>• seja justo;</p><p>• evite andar de um lado para o outro nas salas, ou dar sinais que</p><p>possam mostrar nervosismo de sua parte, a não ser quando se tratar</p><p>de uma técnica aplicada;</p><p>• evite criar uma impressão que demonstre que você é o único interes-</p><p>sado em uma confissão ou condenação;</p><p>• não grite;</p><p>• evite antagonizar a testemunha/interrogado;</p><p>• tente impressionar a pessoa, por meio de uma eficiente atividade,</p><p>usando sua competência;</p><p>• domine sem aparentar domínio, seja sério;</p><p>• seja um bom ouvinte, tenha paciência;</p><p>• mostre confiança na sua ação, seja persistente;</p><p>• seja profissional, objetivo e lógico;</p><p>• procure obter o máximo de dados possíveis em uma só entrevista/</p><p>interrogatório;</p><p>• não divulgue dados sigilosos;</p><p>• não entreviste/interrogue apressadamente.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>25</p><p>6 Fatores de influência física e psicológica</p><p>As condições físicas predominantes ou previstas podem freqüentemente ser</p><p>controladas ou neutralizadas por meio de alguns fatores expressos abaixo.</p><p>Fumo: O fumo diminui tanto a eficiência física quanto a mental. O fator</p><p>emocional é muito importante para determinar a freqüência com que fuma o</p><p>usuário mediano. Observando a proporção de cigarros fumados, pode-se, pos-</p><p>sivelmente, obter indicações sobre o temperamento emocional de um indivíduo</p><p>e as flutuações em que ele incorre.</p><p>O fumar proporciona um alívio emocional a muitos indivíduos. Durante os</p><p>períodos de interrogatório, em que é aconselhável manter o suspeito em estado</p><p>de excitação, pode ser vantajoso impedi-lo de fumar.</p><p>Tóxicos: Os opiáceos, compreendendo o ópio, a morfina, a heroína e outras</p><p>drogas semelhantes de combate à dor exercem um efeito depressivo sobre o</p><p>sistema nervoso central.</p><p>A cocaína, ao contrário, é uma droga estimulante. Ela causa uma sensação</p><p>de hilaridade, acelera o intelecto por curto espaço de tempo, fazendo o indiví-</p><p>duo parecer muito fluente em conversações. Mas ao final sempre propicia uma</p><p>sensação geral de depressão.</p><p>Os barbitúricos são drogas do tipo hipnótico ou sedativo que exercem um</p><p>efeito depressivo sobre o sistema nervoso central.</p><p>Em geral, nem os efeitos da depressão, nem os efeitos estimulantes dessas</p><p>drogas são úteis durante entrevistas ou interrogatórios. Sempre que possível, o</p><p>inquisitório de pessoas que estejam sob a influência de drogas deve ser retardado</p><p>até que elas alcancem um estado físico mais próximo do normal.</p><p>Álcool:</p><p>O álcool produz uma paralisia decrescente dos sistemas cerebral</p><p>e nervoso. O estímulo aparente do indivíduo deve-se à remoção das inibições</p><p>normais. Em ordem decrescente, surgem os seguintes sintomas em indivíduo sob</p><p>efeito do álcool:</p><p>• sensação de bem-estar;</p><p>• exultação;</p><p>• maior autoconfiança;</p><p>• perda do discernimento;</p><p>• loquacidade;</p><p>• entorpecimento dos sentidos;</p><p>• perda da habilidade;</p><p>• linguajar indistinto;</p><p>• distúrbio do equilíbrio;</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>26</p><p>• distúrbio visual com referência à cor, movimentos e percepção de</p><p>distância;</p><p>• apatia;</p><p>• tremores;</p><p>• cessão dos movimentos automáticos;</p><p>• transpiração;</p><p>• coma;</p><p>• morte (4% a 5% de álcool no sangue).</p><p>Nos estágios iniciais da intoxicação, ocorrem uma acentuada diminuição do</p><p>autocontrole e um enfraquecimento da força de vontade. Caso o suspeito esteja</p><p>intoxicado, é aconselhável adiar a inquisição formal até que ele esteja suficien-</p><p>temente sóbrio para ter consciência de seus direitos constitucionais e de posse</p><p>total de suas faculdades. As pessoas intoxicadas possuem reduzida habilidade de</p><p>forjar mentiras, entretanto, sofrem debilitação dos órgãos sensoriais e redução</p><p>na capacidade de discernimento e raciocínio. O investigador deve ser cauteloso</p><p>quanto às evidências fornecidas por pessoa sob efeito de álcool ou tóxicos.</p><p>Café e chá (cafeína): a cafeína, tanto do café quanto do chá, atua como</p><p>estimulante mental e físico, retardando consideravelmente o início da fadiga. Às</p><p>pessoas que estejam sendo reinquiridas ou interrogadas não se deve servir chá ou</p><p>café. Entretanto, durante entrevistas prolongadas com testemunhas amistosas, o</p><p>uso dessas bebidas poderá aumentar a disposição mental e auxiliar no processo</p><p>da recordação de detalhes.</p><p>Fome e sede: as distrações resultantes do desconforto gerado pela fome e pela</p><p>sede interferem de forma negativa tanto nas entrevistas como nos interrogatórios.</p><p>Como norma, deve-se fornecer comida e bebida a essas pessoas.</p><p>Fadiga: a fadiga resulta do consumo de alimentos e do acúmulo de produtos</p><p>residuais que diminuem a eficiência do corpo. Atividades físicas prolongadas ou</p><p>extremas, perda do sono e emoções fortes são fatores que geram a fadiga. A</p><p>recuperação física ocorre quando os produtos residuais são expulsos do sangue</p><p>ou a energia adicional é levada às células. A fadiga produz uma resistência</p><p>aumentada ao funcionamento do sistema nervoso. Os processos inibitórios men-</p><p>tais são também afetados pela fadiga e tendem a produzir reações que devem</p><p>ser observadas. Essa condição freqüentemente torna o indivíduo mais sensível à</p><p>persuasão e menos perspicaz durante a inquirição.</p><p>Idade: as crianças, freqüentemente, são boas informantes, entretanto, as</p><p>informações delas devem ser cautelosamente obtidas e cuidadosamente avaliadas.</p><p>Em alguns assuntos, elas observam melhor que os adultos, mas nem sempre são</p><p>capazes de diferenciar o que vêem realmente do que ouvem os outros dizerem.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>27</p><p>Uma imaginação fértil poderá criar informações deturpadas ou falsas. Algumas</p><p>crianças são excepcionalmente susceptíveis a sugestões. Adotam as expressões</p><p>de outros como próprias ou respondem com a resposta que crêem ser a desejada</p><p>em vez de relatarem os fatos somente. Elas geralmente se cansam com facilidade</p><p>e não devem ser interrogadas nestas condições. As pessoas idosas são muito</p><p>parecidas com as crianças no que se refere à susceptibilidade da sugestão. Em</p><p>alguns casos, são também vítimas de deficiências visual ou auditiva, memória</p><p>fraca ou engano e alucinações que podem afetar seus depoimentos.</p><p>Sexo: os homens geralmente são melhores testemunhas no que concerne às</p><p>coisas mecânicas, tais como automóveis, aviões, etc. As mulheres freqüentemente</p><p>estão mais bem informadas sobre assuntos sociais e acontecimentos da vizinhança.</p><p>Interessam–se pelas pessoas e suas atividades, roupas, características, etc. São</p><p>também mais emotivas que os homens.</p><p>Emoções: as emoções e atitudes de primordial importância para o investiga-</p><p>dor são a raiva, o medo e a neutralidade. Envolvem processos físicos e mentais</p><p>que preparam o indivíduo para enfrentar uma emergência inesperada. Durante</p><p>a raiva, o indivíduo está resolvido a enfrentar a emergência resistindo, inclusive</p><p>pelo combate físico, caso necessário. A raiva contra o EIPOL é quase sempre</p><p>prejudicial quando parte do suspeito que esteja sendo inquirido ou interrogado.</p><p>A raiva dirigida contra comparsas, cônjuge infiel, amigo traidor, etc., pode ser útil</p><p>durante as inquirições. Em geral, a raiva contra o EIPOL pode ser evitada tratando</p><p>o suspeito de maneira amistosa e passando a impressão de que o EIPOL não é</p><p>responsável, de modo algum, pelas dificuldades atuais ou passadas.</p><p>Durante o medo, a pessoa tende a escapar. Isso pode ser conseguido pelo</p><p>esforço físico ou pela anulação da emergência imediata, pelo abandono da</p><p>resistência e desenvolvimento de uma vontade de resolver o assunto mediante</p><p>cooperação e declaração da verdade. A emoção causada pelo medo é geralmente</p><p>benéfica quando se entrevistam testemunhas hostis ou se interrogam suspeitos.</p><p>Nas tentativas de obter depoimentos minuciosos de testemunhas amistosas, o</p><p>medo deve ser anulado. O medo resulta de qualquer perigo real ou imaginário.</p><p>Ele se desenvolve quando um indivíduo sabe o suficiente sobre uma situação para</p><p>perceber o perigo em potencial, mas não pode resolver satisfatoriamente a difi-</p><p>culdade. O medo pode ser reduzido ou eliminado, retirando-se a dificuldade real</p><p>ou imaginária ou encontrando-se uma solução que o indivíduo possa aceitar.</p><p>Na excitação neutra, o indivíduo é meramente preparado para enfrentar o que</p><p>quer que surja. A excitação neutra é de alguma importância pelo fato de afetar a</p><p>percepção da testemunha e poder transformar-se em medo ou raiva, alterando a</p><p>atitude mental. Geralmente surge quando o indivíduo tem consciência do perigo</p><p>que existe contra ele.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>28</p><p>As condições emocionais do corpo são freqüentemente derivadas “hábito”</p><p>desenvolvido por meio das repetidas reações emocionais a situações variadas.</p><p>Isso é chamado “reflexo” e existe em quase todas as pessoas no que diz respeito</p><p>à mentira e formas semelhantes de decepção. A maioria das pessoas demonstra</p><p>alguma emoção sempre que conscientemente diz uma mentira, não importando</p><p>qual seja. A raiva e a excitação estão também sujeitas a uma excitação de reflexo</p><p>condicionado que as faz surgir habitualmente em resposta às emergências ou</p><p>indicações de perigos em potencial.</p><p>Alucinações: percepção de sensações sem objeto que lhes dê causa direta.</p><p>Interpretação anormal das experiências ideativas, como percepções. As alucina-</p><p>ções são fenômenos psicopatológicos pelos quais as representações objetivas</p><p>parecem ao indivíduo como percepções verdadeiras. São comuns a diversos tipos</p><p>de alienação tais como: crises delirantes de natureza tóxica (álcool, entorpecentes,</p><p>etc). Normalmente são fáceis de detectar durante um interrogatório.</p><p>Fabulações: são processos normais, iniciados por perturbação causada por</p><p>amnésica parcial. O indivíduo preenche inconscientemente, com representações</p><p>subjetivas de aparência plausível, as lacunas da lembrança, os fluxos da memória.</p><p>Ilusão: percepção errônea de dados sensoriais presentes. Errada interpretação</p><p>de um fato ou de uma sensação. As ilusões são erros parciais conseqüentes do</p><p>jogo espontâneo da atividade imaginativa, dando lugar à alteração da percep-</p><p>ção ou da lembrança. Constituindo desvios ligeiros e passageiros do mecanismo</p><p>do conhecimento, assumem formas fundamentais, completando, transformando</p><p>ou combinando imagens incompletas ou esmaecidas. Assim, é evidente que o</p><p>interrogado poderá, mesmo com toda a boa vontade e desejo de cooperar, pres-</p><p>tar uma informação falsa, resultante de sua</p><p>interpretação falha ou errônea em</p><p>relação ao fato do qual teve conhecimento. Da mesma maneira, uma posição</p><p>mental fundamentalmente diversa entre ele e o interrogador poderá resultar em</p><p>informações falhas ou mesmo falsas por deficiência de interpretação daquilo que</p><p>está sendo transmitido.</p><p>Preconceito: uma pessoa que tenha preconceito contra alguma coisa poderá,</p><p>sem intenção de fazê-lo, prestar informação distorcida. Uma pessoa que deteste</p><p>o uso de bebidas alcoólicas poderá concluir que um vizinho que bebe estava</p><p>embriagado quando se envolveu em um acidente automobilístico. Se uma tes-</p><p>temunha odeia um suspeito, poderá prestar informações desairosas sobre ele e</p><p>ignorar as informações favoráveis.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>29</p><p>7 Tipos comportamentais</p><p>Empiricamente, os tipos psicológicos mais comumente encontrados nas entre-</p><p>vistas e interrogatórios são os expressos a seguir:</p><p>a) O “não sei de nada” – reluta em dar qualquer informação, alegando</p><p>ignorância do fato. Se a observação prévia tiver demonstrado não se</p><p>tratar realmente de ignorância do fato (ou simplesmente estupidez),</p><p>a melhor técnica é a de formular um grande número de perguntas</p><p>com respostas obrigatórias, inclusive de assuntos gerais (esportes,</p><p>mulheres, política, etc.), e assim mostrar ao indivíduo que ele não é</p><p>um imbecil. Mostrar, em seguida, a importância das informações que</p><p>ele pode fornecer e a inconveniência ou perigo de suas negativas,</p><p>inclusive quanto ao aspecto legal do falso testemunho;</p><p>b) O “desinteressado” – o que não tem a ver, nem liga àquilo que</p><p>não diz respeito ao seu próprio mundo, deve ser tratado da mesma</p><p>forma que o tipo anterior;</p><p>c) O “desconfiado” e o “tímido” – são dois tipos semelhantes que</p><p>requerem previamente a conquista da confiança, inclusive em entre-</p><p>vistas sucessivas e com a troca de interrogatórios ou de interrogadores</p><p>- algumas vezes o desconhecimento da real função do interrogador</p><p>ou a timidez do interrogado podem resultar no temor das conseqü-</p><p>ências que poderão advir se o nome do indivíduo aparecer ligado</p><p>ao caso;</p><p>d) O “falador” ou “papagaio” – deve ser conduzido com cuidado, mas</p><p>nunca interrompido. Só será capaz de relatar informações falando</p><p>muito e, se for interrompido bruscamente, poderá “fechar-se”;</p><p>e) O “egocêntrico” – é o centro do mundo e o dono da verdade.</p><p>Para ele é indispensável que fique bem claro o papel central que</p><p>desempenhará nos acontecimentos. Requer muito cuidado e paci-</p><p>ência. Em geral, a exploração da vaidade de tais tipos dá excelentes</p><p>resultados;</p><p>f) O “mudo” ou “fechado” – simplesmente se recusa a falar, é o mais</p><p>difícil de lidar, principalmente se tem uma ficha policial. A única</p><p>maneira será tentar quebrar o gelo com uma conversa banal para</p><p>ver se lhe conquista a confiança, mostrando então a importância</p><p>das suas informações;</p><p>g) O “cachaça” – os bêbados podem ser grandes informantes principal-</p><p>mente porque, em virtude de sua condição, passam despercebidos, e,</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>30</p><p>muitas vezes, não são tomadas maiores precauções em sua presença.</p><p>É preciso, contudo, avaliar as informações que fornecem;</p><p>h) Os “malucos” – podem também fornecer boas informações, pois</p><p>a vivacidade é uma das suas características. É evidente, porém, que</p><p>o valor de tais informações dependerá sempre do tipo e grau do</p><p>distúrbio apresentado. O casos de psicopatas devem ser tratados</p><p>por profissionais da área de saúde;</p><p>i) O “mentiroso” – nunca deve ser interrompido, nem decepcionado</p><p>inicialmente. Deve-se, pelo contrário, estimulá-lo falar e, só depois,</p><p>apontar uma série de inverosimilhanças ou de contradições; mostrar</p><p>que ele está mentindo, ameaçando-o com as providências legais a</p><p>respeito;</p><p>j) O “informante honesto” – não oferece dificuldades em qualquer</p><p>interrogatório adequadamente conduzida, não devendo ser confudi-</p><p>do com o informante “profissional”( aquele que busca obter alguma</p><p>vantagem com a informação que detém).</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>31</p><p>8 Entrevista</p><p>8.1 Conceito</p><p>“Entrevista é uma conversação relativamente formal com o</p><p>propósito de obter informação”.</p><p>A entrevista policial é, portanto, uma conversação mais ou menos formal. O</p><p>que a distingue da simples conversação é a existência de um propósito definido</p><p>(o objetivo). É geralmente utilizada com testemunhas, mas nada impede que seja</p><p>também empregada com pessoas potencialmente suspeitas de terem cometido o</p><p>crime sobre o qual se desenvolve a investigação. Uma vez confirmado tratar-se</p><p>de suspeito, passa-se à fase do interrogatório, como se verá no tópico que trata</p><p>do assunto.</p><p>8.2 Finalidade</p><p>• Recolher dados (obter informes);</p><p>• Informar (fornecer conhecimento);</p><p>• Influir sobre a conduta do entrevistado (motivar, orientar, aconselhar,</p><p>persuadir, etc.).</p><p>8.3 Uso</p><p>A entrevista é uma técnica aplicada em vários campos de atividades profissio-</p><p>nais. Em alguns, ela se situa como uma atividade auxiliar, ao passo que em outros</p><p>representa uma das principais técnicas (jornalismo, medicina, advocacia, etc.).</p><p>A entrevista, embora comumente utilizada para conhecimento de fatos rele-</p><p>vantes e objetivos, é também útil nas investigações de fatos subjetivos, tais como</p><p>opiniões, interpretações e atitudes da pessoa entrevistada. Mesmo que esses dados</p><p>possam ser obtidos por meio de outras fontes, às vezes até com maior precisão,</p><p>freqüentemente a entrevista se impõe para que se possa conhecer a reação do</p><p>indivíduo sobre um determinado fato, sua atitude e sua conduta.</p><p>8.4 Tipos</p><p>• Ostensiva: a entrevista ostensiva ocorre de maneira formal, isto é,</p><p>em decorrência de um acontecimento que tanto pode ser resultante</p><p>da iniciativa do entrevistador quanto do entrevistado. Nesse tipo de</p><p>entrevista, o EIPOL não omite sua condição de policial.</p><p>• Encoberta: ao contrário da entrevista ostensiva, na encoberta o</p><p>EIPOL, por conveniência da investigação, oculta sua condição de</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>32</p><p>policial e assume outra que lhe permita acesso ao entrevistado sem</p><p>revelar o real objetivo da entrevista.</p><p>A entrevista apresenta vantagens e desvantagens:</p><p>8.5 Vantagens</p><p>• Permite maior aproximação entre o entrevistado e o EIPOL;</p><p>• Permite colher respostas mais espontâneas e reveladoras;</p><p>• Dá oportunidade à verificação imediata de pontos obscuros e con-</p><p>fusos, eliminando dúvidas;</p><p>• Permite avaliação quanto à segurança e concordância das infor-</p><p>mações (seleção ou escolha das testemunhas e, por conseguinte, a</p><p>formação mais célere das provas ou indícios).</p><p>8.6 Desvantagens</p><p>• Requer uma preparação cuidadosa e por vezes demorada;</p><p>• Exige um entrevistador realmente capaz;</p><p>• Pode oferecer risco à segurança da operação, no caso de entrevista</p><p>encoberta.</p><p>8.7 Estrutura</p><p>Alguns procedimentos básicos devem ser seguidos pelo EIPOL para o sucesso</p><p>de uma entrevista. Evidentemente, o que se pretende mostrar a seguir são apenas</p><p>algumas noções elementares que se aplicam ao assunto, sem esgotar a matéria.</p><p>8.7.1 Preparação</p><p>Tanto as testemunhas propriamente ditas quanto qualquer pessoa que possa</p><p>cooperar com a polícia devem ser entrevistadas, sempre que possível, em ambien-</p><p>tes alheios ao ambiente policial, geralmente em casa ou no local de trabalho,</p><p>onde sintam-se mais confortáveis psicologicamente.</p><p>É necessário que o EIPOL se prepare adequadamente para a entrevista, desen-</p><p>volvendo um plano de ação. Geralmente, tal preparação não demanda muito</p><p>tempo e restringe-se a uma revisão mental dos detalhes do caso. É importante</p><p>que o EIPOL se familiarize com as informações disponíveis sobre a pessoa a ser</p><p>entrevistada, indagando se a testemunha já foi entrevistada antes; se já foi presa;</p><p>se está sendo procurada por algum crime; se é vítima de um crime, etc. O conhe-</p><p>cimento prévio desses detalhes pode evitar situações embaraçosas</p><p>ou até mesmo</p><p>perigosas para o policial. Caso isto não seja possível, a primeira providência a</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>33</p><p>ser tomada é tentar obtê-las logo no contato inicial, a fim de adotar as medidas</p><p>cabíveis e/ou elaborar a linha de questionamento.</p><p>Demonstrar interesse e conhecimento do que se busca é também fundamental.</p><p>Se o EIPOL aproxima-se do indivíduo e diz: “vamos ver o que eles querem que</p><p>eu te pergunte...”, estará revelando um desinteresse que refletirá negativamente</p><p>na disposição do entrevistado em falar. Essa é a falha mais comum na maioria</p><p>das entrevistas. Em geral, o policial realiza a tarefa como uma outra obrigação</p><p>qualquer, com a mesma frieza de quem elabora um ofício. O desinteresse do</p><p>investigador nasce exatamente de seu despreparo, aí incluído o desconhecimento</p><p>das técnicas apropriadas para a obtenção da informação que deseja e dos dados</p><p>inerentes ao caso específico em que está trabalhando.</p><p>8.7.2 Apresentação</p><p>A educação e o bom senso sugerem a necessidade de uma correta apresen-</p><p>tação, a qual deverá indicar o nome do EIPOL, autoridade/posição e o propósito</p><p>da entrevista. A inobservância dessa regra fará com que o entrevistado pergunte</p><p>ao entrevistador: “quem é você e o que deseja?”, invertendo-se as posições e</p><p>enfraquecendo, logo de início, o trabalho desenvolvido.</p><p>Embora o nome e a posição deixem pouca margem para flexibilidade, a</p><p>maneira como o EIPOL se apresenta pode ser determinante para o sucesso da</p><p>entrevista. É bom sempre ter em mente que “nunca se terá uma segunda chance</p><p>para causar a primeira impressão”. Se o EIPOL se dirige ao entrevistado em</p><p>tom de ameaça, dizendo, por exemplo: “eu fico muito nervoso quando alguém</p><p>mente para mim...”, é de se esperar que a pessoa fique ansiosa em colaborar?</p><p>Certamente que não. Uma linguagem sem ameaças costuma oferecer melhores</p><p>resultados, além de reduzir a ansiedade que normalmente os policiais desper-</p><p>tam nas testemunhas e suspeitos logo no primeiro contato. Nenhuma vantagem</p><p>advém de se colocar a pessoa na defensiva e aumentar-lhe a ansiedade pelo uso</p><p>de palavras ou de tom de voz ameaçadores. Por outro lado, se o EIPOL oferece</p><p>um questionamento demasiadamente aberto, pode fazer com que a testemunha</p><p>em potencial decida ou não cooperar com igual facilidade. Assim, o EIPOL deve</p><p>esforçar-se para que o ato de cooperar a recusa se mostre mais difícil que.</p><p>Certos policiais desenvolvem uma boa reputação por suas habilidades em</p><p>assegurar a cooperação de indivíduos, e os seus colegas geralmente não enten-</p><p>dem como isso pode ocorrer já que estão todos teoricamente no mesmo nível. A</p><p>diferença, em grande parte, deve-se exatamente à forma como se dá o contato</p><p>inicial com as testemunhas. Diferenças sutis na escolha das palavras durante a</p><p>apresentação têm um impacto significante na entrevista, como no exemplo do</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>34</p><p>EIPOL que chega à testemunha e diz: “precisamos conversar sobre o que acon-</p><p>teceu na noite passada”, ao invés de dizer: “gostaria de conversar sobre o que</p><p>aconteceu na noite passada”. No primeiro caso, o EIPOL não demonstra um</p><p>apelo ao sujeito, impõe, sim, uma afirmação que geralmente remove a opção</p><p>que o mesmo teria em cooperar ou não com ele. As pessoas facilmente declinam</p><p>de responder perguntas, mas isso será mais difícil quando se usam declarações</p><p>afirmativas.</p><p>9.7.3 Comportamento do EIPOL</p><p>Em suma, o EIPOL que não sabe ouvir interrompe a testemunha; concentra-se</p><p>nas perguntas em vez de nas respostas; esquece-se de dar seguimento a certas</p><p>questões com vistas a esclarecer alguma dúvida; é impaciente; não estabelece</p><p>contato de olhos; e toma notas de dados que não coincidem com a história</p><p>contada.</p><p>Finalizando este tópico do estudo, no qual se discorreu sobre a ESTRUTURA</p><p>DA ENTREVISTA, pode-se afirmar que, geralmente, um entrevistador será bem-</p><p>sucedido se adotar as seguintes atitudes:</p><p>• apresentar-se apropriadamente;</p><p>• desenvolver um plano de ação;</p><p>• deixar o entrevistado à vontade;</p><p>• deixar o entrevistado falar;</p><p>• selecionar as questões cuidadosamente;</p><p>• saber “como” e “o que” perguntar;</p><p>• ser um bom ouvinte;</p><p>• manter o controle da situação;</p><p>• fazer pequenas anotações;</p><p>• encerrar a entrevista apropriadamente;</p><p>• preparar um relatório em seguida;</p><p>• aprender com a experiência.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>35</p><p>9 Entrevista cognitiva</p><p>No estudo da estrutura da entrevista, alguns pesquisadores incluem um tópico</p><p>relativo à Entrevista Cognitiva. Tal modalidade tem por fim realçar a lembrança</p><p>da testemunha sem o estigma dos processos de retirada de informações por meio</p><p>da hipnose. Embora esse procedimento contenha pouca ou quase nenhuma</p><p>inovação, eles sistematizaram técnicas que os EIPOL, na maior parte do tempo,</p><p>usam apenas esporadicamente. As pesquisas realizadas sugerem que o enfoque</p><p>cognitivo nas entrevistas de testemunhas aumenta a quantidade de informação</p><p>obtida e, ao contrário da hipnose, não prejudica a credibilidade do testemunho</p><p>perante o judiciário.</p><p>As técnicas específicas de realce da memória utilizadas na entrevista cognitiva,</p><p>e que não fazem parte das tradicionalmente utilizadas na entrevista comum, são</p><p>as seguintes:</p><p>• Reinstalação do contexto do evento;</p><p>• Troca da ordem dos eventos;</p><p>• Troca da perspectiva do evento.</p><p>Entrevistas tradicionais de vítimas e testemunhas, similares às anteriormente</p><p>abordadas, costumam ser iniciadas com o EIPOL apresentando-se e tentando</p><p>colocar a pessoa à vontade antes de perguntar: “o que aconteceu?” ou “o que</p><p>você pode me contar sobre...?”. Logo após, são lançadas perguntas visando a</p><p>esclarecer os pontos omissos ou obscuros deixados pelas testemunhas. Os criado-</p><p>res da entrevista cognitiva sugerem que isto não costuma produzir bons resultados.</p><p>Pedir às pessoas que isolem eventos em suas mentes para então verbalizá-los</p><p>requer que elas operem numa espécie de vácuo.</p><p>Mesmo sem o trauma que freqüentemente resulta do envolvimento ou do dano</p><p>causados por um crime, a memória da pessoa funciona melhor quando as coisas</p><p>são colocadas dentro de um contexto. O uso da entrevista cognitiva contribui para</p><p>esse processo. “Você achou as chaves do seu carro por meio da repetição dos</p><p>passos anteriores?”. Ajude a testemunha a usar o mesmo processo.</p><p>9.1 Reinstalação do contexto do evento</p><p>Os EIPOL devem simplesmente se esforçar em restabelecer o ambiente, a</p><p>atmosfera, o cenário e as experiências pedindo à testemunha que reviva mental-</p><p>mente os eventos que ocorreram antes, durante e depois do crime.</p><p>Voltando ao exemplo sobre a cena de roubo na loja, na qual o EIPOL havia</p><p>se apresentado à vítima e solicitado sua colaboração, em vez de perguntar-lhe</p><p>o que aconteceu durante a ação criminosa, ele poderia proceder da seguinte</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>36</p><p>forma, usando a entrevista cognitiva: “que tal me contar como foi seu dia, desde</p><p>a hora que você se levantou, saiu de casa e chegou ao trabalho?”. À medida que</p><p>ela relata suas atividades, o entrevistador junta-se à conversação, discutindo os</p><p>eventos ocorridos, aí incluídos os problemas de mães que trabalham fora, o que</p><p>ela preparou para o café da manhã e qualquer outro detalhe que seja mencio-</p><p>nado. Somente após ambos desenvolverem um quadro claro daqueles eventos,</p><p>é que o EIPOL deve sugerir à vítima que descreva o seu percurso até o local de</p><p>trabalho. Essa nova etapa da conversação deve ser tratada da mesma maneira</p><p>que a anterior. Ele não deve fazer perguntas superficiais apenas para a testemunha</p><p>chegar logo às informações da cena do crime, mas, ao contrário, deve discutir</p><p>com ela detalhes de seu percurso até o trabalho, tais como a rota, as condições</p><p>de tempo e tráfego, coisas que ela observou pelo caminho e, finalmente, onde</p><p>estacionou o carro e o que ela percebeu naquele</p><p>momento. Com isso, ele não</p><p>quer que ela simplesmente descreva o seu dia, mas, sim, que o reviva. O EIPOL</p><p>então usa a mesma técnica para que ela descreva o momento em que chegou à</p><p>loja. No instante em que eles finalmente entram na discussão sobre o assalto, o</p><p>evento já está em um contexto, ou seja, não é apenas um evento isolado do dia.</p><p>Freqüentemente tal procedimento realça a habilidade para recordar. A testemu-</p><p>nha coloca o evento criminoso dentro de uma perspectiva e assim se concentra</p><p>e foca a situação melhor do que quando solicitada a descrever isoladamente um</p><p>determinado evento.</p><p>9.2 Trocando a ordem dos eventos</p><p>A fim de realçar ainda mais a memória da testemunha, o EIPOL deve entrar</p><p>em uma outra fase da entrevista cognitiva. É comum que as testemunhas liberem</p><p>as informações de forma cronológica. Contudo, quando assim agem, tendem a</p><p>apagar da memória a história contada, e isto resulta em um sumário baseado</p><p>naquilo que a testemunha considera importante. Embora os EIPOL freqüentemente</p><p>tentem sanar tais problemas por meio da advertência de que todos os detalhes - até</p><p>os mais insignificantes – são importantes, a maioria pode citar exemplos nos quais</p><p>dados importantes não foram mencionados porque a testemunha simplesmente</p><p>preferiu omiti-los. Assim, os EIPOL devem envidar todos os esforços no sentido</p><p>de encorajar a testemunha a contar tudo, embora tal tentativa em geral apenas</p><p>reduza essa tendência, sem eliminá-la.</p><p>Nesse sentido, deve-se utilizar uma técnica que leve a testemunha a contar</p><p>sua história em outra ordem cronológica, ou seja, trocando a seqüência de sua</p><p>lembrança, contando os fatos do final para o início. Isto fará com que cada evento</p><p>seja tratado isoladamente, evitando-se distorções e exageros que comumente</p><p>ocorrem quando os fatos fluem dentro de uma seqüência de eventos.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>37</p><p>Retornando ao exemplo estudado, deve o EIPOL perguntar à vítima sobre a</p><p>conversa que teve com o primeiro policial a chegar à loja, visando a saber o que</p><p>ela estava fazendo no exato momento em que isso ocorreu, assim como antes</p><p>e depois. Com essa linha de questionamento, o EIPOL gradualmente chegará</p><p>ao momento do roubo num segundo relato do crime de maneira inversa. Nesse</p><p>ponto, ela recordará os fatos como uma coleção de peças vista independente-</p><p>mente, como alguém que olha para um cenário e revela detalhes que esquecera</p><p>quando da narrativa verbal. Olhando para os estágios de um evento de trás para</p><p>a frente, a testemunha “verá” itens antes despercebidos.</p><p>9.3 Trocando a perspectiva dos eventos</p><p>Visando ainda a estimular a memória da testemunha, os EIPOL também</p><p>sugerem a troca de perspectiva sob o argumento de que a testemunha experi-</p><p>menta um evento apenas uma vez, embora possa percebê-lo sob vários ângulos.</p><p>A testemunha costuma fazer o relato inicial dentro de sua perspectiva pessoal e</p><p>dificilmente dela se afasta. Preparando-a para trocar fisicamente o posicionamento</p><p>de sua memória, o EIPOL dá-lhe a oportunidade de lembrar um pouco mais a</p><p>experiência pela qual passou. Assim, deve o EIPOL fazer com que a testemunha</p><p>considere, no seu relato, o ponto de vista de uma outra testemunha, vítima, ou</p><p>na perspectiva da lente de uma câmara fixada à parede.</p><p>Com essa técnica, é possível conduzir a vítima à discussão sobre o que teria</p><p>a câmera gravado, caso existisse uma naquele local. Essa técnica não apenas</p><p>leva a um replay do evento sob um ângulo diferente, como também neutraliza um</p><p>eventual trauma decorrente da situação: “rever um filme produz menos ansiedade</p><p>do que reviver um assalto à mão armada”.</p><p>A desvantagem do emprego da entrevista cognitiva é que na maioria dos casos</p><p>os policiais não dispõem do tempo necessário para conduzi-la apropriadamente.</p><p>Em uma cena de crime, por exemplo, o EIPOL tem de entrevistar o maior número</p><p>possível de pessoas, não podendo dispensar muito tempo a cada uma delas, sob</p><p>pena de as demais abandonarem o local. Contudo, a técnica é bastante útil e deve</p><p>ser empregada sempre que possível, principalmente em relação à testemunha que</p><p>o EIPOL considere ser a mais importante para o sucesso da investigação.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>39</p><p>10 Entrevista de informante</p><p>Alguns procedimentos especiais devem ser adotados ao se entrevistar infor-</p><p>mantes. O EIPOL, da mesma maneira como age com os cidadãos que querem</p><p>cooperar ou com testemunhas em geral, deve manter o controle da situação e</p><p>conduzir a entrevista com vistas a obter o máximo de informação útil. As regras</p><p>gerais para uma entrevista bem-sucedida devem também ser aplicadas quando</p><p>se entrevista informantes. Além disso, o policial que desempenha esse papel deve</p><p>tomar as devidas precauções para proteger tanto a sua integridade física quanto</p><p>a informação que não deseja revelar ao informante.</p><p>O local da entrevista deve ser escolhido pelo EIPOL. Geralmente, são utilizados</p><p>locais alheios ao ambiente policial, mas nem por isso na casa do informante ou</p><p>no seu trabalho. O melhor é que ocorra em um local neutro e reservado, tal como</p><p>um quarto de hotel. Depois do primeiro encontro, ou após o informante torna-se</p><p>ativo, os contatos devem ser feitos por meio de breves encontros ou por telefone.</p><p>É aconselhável, contudo, conduzir uma entrevista formal com todo informante</p><p>novo, adotando-se as medidas administrativas cabíveis.</p><p>Alguns fatores devem ser levados em consideração na escolha do local de</p><p>encontro com um informante:</p><p>1) segurança para o policial que realiza o trabalho;</p><p>2) privacidade, a fim de evitar que outras pessoas testemunhem o</p><p>encontro;</p><p>3) tempo suficiente para conduzir a entrevista sem interrupções;</p><p>4) espaço para anotações;</p><p>5) adoção das medidas administrativas pertinentes.</p><p>O progresso geral da entrevista deve seguir o mesmo modelo aplicável às</p><p>entrevistas em geral. O EIPOL deve estimular um fluxo narrativo, rever os deta-</p><p>lhes, esclarecer os pontos específicos e fazer as anotações necessárias. Fatores</p><p>adicionais a serem considerados em uma entrevista de informantes incluem o</p><p>seguinte:</p><p>1. Demonstre interesse em solucionar qualquer dificuldade que o infor-</p><p>mante eventualmente apresente, especialmente se essa dificuldade</p><p>estiver afetando sua atuação como colaborador;</p><p>2. Apóie a motivação que leva o informante a fornecer as informações;</p><p>3. Cheque dados e informações já conhecidas no sentido de testar a</p><p>confiabilidade do informante;</p><p>4. Mesmo que seja o caso, não demonstre que a informação recebida</p><p>já é conhecida ou que contradiz certos fatos. É muito importante</p><p>também que o policial não revele informações sensíveis durante a</p><p>entrevista, levando-se em conta que o informante pode estar apenas</p><p>querendo saber o que a polícia sabe sobre determinados assuntos.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>40</p><p>Assim, o EIPOLl precisa tomar cuidado para não revelar tudo o que sabe, ela-</p><p>borando com apuro suas perguntas. Não deve perguntar, por exemplo, sobre um</p><p>indivíduo específico ou um determinado local onde estejam guardados produtos</p><p>de crimes. Deve desenvolver a habilidade em ir do geral ao específico usando</p><p>um questionamento vago que não chame a atenção. Deve reagir com interesse</p><p>a informações já conhecidas se isso o levar a áreas onde novas informações</p><p>úteis possam ser obtidas. Além disso, o EIPOL precisa manter-se passivo ante</p><p>uma nova revelação a fim de resguardar a extensão do seu conhecimento prévio</p><p>acerca do assunto.</p><p>O final da entrevista com um informante deve ser marcado com expressões de</p><p>agradecimentos pela colaboração. O EIPOL deve deixar claro o valor da ajuda</p><p>que ele deu. Embora se saiba que a motivação dos informantes geralmente se</p><p>resume a dinheiro, vingança ou inveja, é certo reconhecer também que eles não</p><p>estão imunes aos efeitos positivos da cortesia e boa educação.</p><p>Academia Nacional de Polícia - Técnicas de Entrevista e Interrogatório</p><p>41</p><p>11 Mitos da entrevista</p>