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<p>203</p><p>Q</p><p>ue</p><p>st</p><p>õe</p><p>s</p><p>de</p><p>v</p><p>es</p><p>ti</p><p>bu</p><p>la</p><p>r</p><p>10. (Fuvest-SP) Leia o trecho do conto Minha gente, de</p><p>Guimarães Rosa, e responda ao que se pede.</p><p>Oh, tristeza! Da gameleira ou do ingazeiro,</p><p>desce um canto, de repente, triste, triste, que</p><p>faz dó. É um sabiá. Tem quatro notas, sempre</p><p>no mesmo, porque só ao fim da página é que ele</p><p>dobra o pio. Quatro notas, em menor, a segunda</p><p>e a última molhadas. Romântico.</p><p>Bento Porfírio se inquieta:</p><p>− Eu não gosto desse passarinho!… não</p><p>gosto de violão… De nada que põe saudades na</p><p>gente.</p><p>J. Guimarães Rosa. Minha gente. Sagarana.</p><p>a) No trecho, a menção ao sabiá e a seu canto, enfatica-</p><p>mente associados a “Romântico” e a “saudades”, indica</p><p>que o texto de Guimarães Rosa pode remeter a um</p><p>poema, dos mais conhecidos da literatura brasileira,</p><p>escrito em um período em que se afirmava o nacio-</p><p>nalismo literário. Identifique o poema a que remete o</p><p>texto de Rosa e aponte o nome de seu autor.</p><p>Com as referências citadas, podemos relacionar o texto de Rosa ao</p><p>poema “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias.</p><p>b) Considerando o trecho no contexto de Sagarana, a</p><p>provável referência, nele presente, a um autor brasi-</p><p>leiro indica que Guimarães Rosa é um escritor nacio-</p><p>nalista, que rejeita o contato com línguas e culturas</p><p>estrangeiras? Justifique sucintamente sua resposta.</p><p>Guimarães Rosa é um autor conhecido por utilizar uma linguagem muito</p><p>peculiar em seus textos, remetendo à fala característica do Sertão de</p><p>Minas Gerais. Ao contrário de rejeitar as línguas estrangeiras, utiliza-as</p><p>para a composição de neologismos, como o próprio nome Sagarana,</p><p>que advém da composição “saga” (da língua escandinava, que significa</p><p>“lenda”) mais “rana” (do tupi, que significa “semelhante a”).</p><p>11. (UERJ) Leia o texto a seguir:</p><p>Um certo Miguilim morava com sua mãe, seu</p><p>pai e seus irmãos, longe, longe daqui, muito de-</p><p>pois da Vereda-do-Frango-d’Água e de outras</p><p>veredas sem nome ou pouco conhecidas, em</p><p>ponto remoto, no Mutum. No meio dos Campos</p><p>Gerais, mas num covoão1 em trecho de matas,</p><p>terra preta, pé de serra.</p><p>Miguilim tinha oito anos. Quando completara</p><p>sete, havia saído dali, pela primeira vez: o Tio</p><p>Terêz levou-o a cavalo, à frente da sela, para ser</p><p>crismado no Sucuriju, por onde o bispo passava.</p><p>Da viagem, que durou dias, ele guardara atur-</p><p>didas lembranças, embaraçadas em sua cabeci-</p><p>nha. De uma, nunca pôde se esquecer: alguém,</p><p>que já estivera no Mutum, tinha dito: – “É um</p><p>lugar bonito, entre morro e morro, com muita pe-</p><p>dreira e muito mato, distante de qualquer parte;</p><p>e lá chove sempre…”</p><p>Mas sua mãe, que era linda e com cabelos</p><p>pretos e compridos, se doía de tristeza de ter de</p><p>viver ali.</p><p>Queixava-se, principalmente nos demorados</p><p>meses chuvosos, quando carregava o tempo, tudo</p><p>tão sozinho, tão escuro, o ar ali era mais escuro;</p><p>ou, mesmo na estiagem, qualquer dia, de tardinha,</p><p>na hora do sol entrar. – “Oê, ah, o triste recanto…”</p><p>– ela exclamava. Mesmo assim, enquanto esteve</p><p>fora, só com o Tio Terêz, Miguilim padeceu tanta</p><p>saudade, de todos e de tudo, que às vezes nem</p><p>conseguia chorar, e ficava sufocado. E foi desco-</p><p>brir, por si, que, umedecendo as ventas com um</p><p>tico de cuspe, aquela aflição um pouco aliviava.</p><p>Daí, pedia ao Tio Terêz que molhasse para ele o</p><p>lenço; e Tio Terêz, quando davam com um riacho,</p><p>um minadouro2 ou um poço de grota, sem se apear</p><p>do cavalo abaixava o copo de chifre, na ponta de</p><p>uma correntinha, e subia um punhado d’água. Mas</p><p>quase sempre eram secos os caminhos, nas cha-</p><p>padas, então Tio Terêz tinha uma cabacinha que</p><p>vinha cheia, essa dava para quatro sedes; uma ca-</p><p>bacinha entrelaçada com cipós, que era tão formo-</p><p>sa. – “É para beber, Miguilim…” – Tio Terêz dizia,</p><p>caçoando. Mas Miguilim ria também e preferia não</p><p>beber a sua parte, deixava-a para empapar o lenço</p><p>e refrescar o nariz, na hora do arrocho. Gostava do</p><p>Tio Terêz, irmão de seu pai.</p><p>Quando voltou para casa, seu maior pen-</p><p>samento era que tinha a boa notícia para dar à</p><p>mãe: o que o homem tinha falado – que o Mutum</p><p>era lugar bonito… A mãe, quando ouvisse essa</p><p>certeza, havia de se alegrar, ficava consolada.</p><p>Era um presente; e a ideia de poder trazê-lo des-</p><p>se jeito de cor, como uma salvação, deixava-o fe-</p><p>bril até nas pernas. Tão grave, grande, que nem</p><p>o quis dizer à mãe na presença dos outros, mas</p><p>insofria por ter de esperar; e, assim que pôde es-</p><p>tar com ela só, abraçou-se a seu pescoço e con-</p><p>tou-lhe, estremecido, aquela revelação.</p><p>GUIMARÃES ROSA. Manuelzão e Miguilim. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.</p><p>1covoão: baixada estreita e profunda</p><p>2minadouro: olho-d’água, quase sempre nascente de um</p><p>córrego ou de um ribeirão</p><p>D0-LIT-EM-3013-CA-VU-233-256-LA-M011.indd 203 7/15/15 10:55 AM</p><p>204</p><p>Guimarães Rosa se caracteriza pela linguagem insti-</p><p>gante que encanta e desconcerta, permitindo ao lei-</p><p>tor familiarizar-se com o potencial criativo da Língua</p><p>Portuguesa. Observe o fragmento do texto:</p><p>Tão grave, grande, que nem o quis dizer à</p><p>mãe na presença dos outros, mas insofria por ter</p><p>de esperar; […]</p><p>Aponte o significado do prefixo da palavra subli-</p><p>nhada e explicite, em uma frase completa, o sentido</p><p>dessa palavra.</p><p>O prefixo “in” empregado na palavra tem o significado de “dentro; para</p><p>dentro”. O sentido dessa palavra pode ser entendido como “sofrer por</p><p>dentro”, uma vez que o menino guardava o sofrimento com ele e sofria por</p><p>isso.</p><p>12. (PUC-SP) A respeito do conto “São Marcos”, em Sa-</p><p>garana, de João Guimarães Rosa, é incorreto afir-</p><p>mar que:</p><p>a) é um conto de linguagem marcadamente sinestési-</p><p>ca, isto é, que ativa os órgãos sensoriais como meios</p><p>de conhecimento da realidade, em suas diferentes</p><p>situações narrativas.</p><p>b) refere as ações domingueiras do personagem nar-</p><p>rador Izé, que se embrenha no mato, carregando</p><p>uma espingarda a tiracolo com o firme propósito</p><p>de caçar irerês, narcejas, jaburus e frangos-d’água.</p><p>c) desenvolve um tenebroso caso de ação sobrenatu-</p><p>ral, por obra de um feiticeiro, que produz cegueira</p><p>temporária no protagonista e da qual ele se safa</p><p>por meio de uma reza brava, sesga, milagrosa</p><p>e proibida.</p><p>d) vem introduzido por uma epígrafe, extraída da cul-</p><p>tura popular, das cantigas do sertão e que condensa</p><p>e dá, sugestivamente, o tom da narrativa.</p><p>e) caracteriza o espaço dos bambus, lugar onde se</p><p>encontram gravados os nomes dos reis leoninos</p><p>e onde se trava floral desafio entre o narrador e</p><p>Quem será.</p><p>13. (PUC-SP) João Guimarães Rosa escreveu Sagarana em</p><p>1946, obra composta de nove contos, entre os quais se</p><p>destaca “O Burrinho Pedrês”. Leia o trecho que segue.</p><p>Galhudos, gaiolos, estrelos, espácios, com-</p><p>bucos, cubetos, lobunos, lompardos, caldeiros,</p><p>cambraias, chamurros, churriados, corombos,</p><p>cornetos, bocalvos, borralhos, chumbados, chi-</p><p>tados, vareiros, silveiros… E os tocos da testa</p><p>do mocho macheado, e as armas antigas do boi</p><p>cornalão…</p><p>Deste trecho é correto afirmar que é marcadamente</p><p>ritmado e sonoro. Esses efeitos se alcançam por causa:</p><p>a) de uma possível métrica presente no trecho, ca-</p><p>racterizada como redondilha menor, e da presen-</p><p>ça de aliterações.</p><p>b) da diversidade de tipos de bois e do jogo contras-</p><p>tivo de termos que designam essa diversidade.</p><p>c) das medidas dos diferentes segmentos frásicos e</p><p>pela dominante presença da redondilha maior.</p><p>d) da enumeração caótica estabelecida no jogo adje-</p><p>tivo dos termos e pela rima interna na constitui-</p><p>ção dos pares vocabulares.</p><p>e) do jogo sonoro provocado por dominância de vo-</p><p>gais fechadas e pela presença de cadência de sons</p><p>apenas longos e átonos.</p><p>14. (UFSM-RS) Leia o trecho a seguir.</p><p>NA ESTRADA das Tabocas, uma vaca viaja-</p><p>va. Vinha pelo meio do caminho, como uma cria-</p><p>tura cristã. A vaquinha vermelha, a cor grossa e</p><p>afundada − o tom intenso de azamar. Ela soleva-</p><p>va as ancas, no trote balançado e manso, seus</p><p>cascos no chão batiam poeira.</p><p>Primeiras estórias, de Guimarães Rosa.</p><p>Assinale verdadeira (V) ou falsa (F) em cada</p><p>uma</p><p>das afirmativas que se relacionam com a passagem</p><p>transcrita do conto Sequência, de Guimarães Rosa.</p><p>( ) Pelo modo como trata as referências, pode-se</p><p>afirmar que o narrador produz uma transfigu-</p><p>ração estilística do universo do sertão.</p><p>( ) A maneira como utiliza as adjetivações e as defi-</p><p>nições indica que o narrador interpreta o mundo</p><p>a partir de sua materialidade concreta.</p><p>( ) O uso da primeira pessoa leva o narrador a se con-</p><p>fundir com o animal que domina a cena transcrita.</p><p>( ) “ batiam poeira” significa que, ao bater no chão,</p><p>os cascos da vaca levantavam poeira.</p><p>A sequência correta é:</p><p>a) V − F − V − F</p><p>b) V − V − F − F</p><p>c) F − V − V − F</p><p>d) F − F − V − V</p><p>e) V − V − F − V</p><p>12. O conto não pode ser reduzido às ações domingueiras do personagem Izé, que,</p><p>aliás, não era caçador, mas um grande admirador da natureza.</p><p>13. Podemos observar algumas características da escrita de Rosa, que são a ex-</p><p>ploração da musicalidade por meio de recursos da linguagem, como a presença de</p><p>aliterações e assonâncias, e o emprego de redondilhas menores (pentassílabos).</p><p>V</p><p>V</p><p>F</p><p>V</p><p>14. Apenas a terceira assertiva está in-</p><p>correta, pois não é empregada a primeira</p><p>pessoa e o narrador não se confunde com</p><p>o animal descrito na cena.</p><p>D0-LIT-EM-3013-CA-VU-233-256-LA-M011.indd 204 7/15/15 10:55 AM</p><p>205</p><p>Q</p><p>ue</p><p>st</p><p>õe</p><p>s</p><p>de</p><p>v</p><p>es</p><p>ti</p><p>bu</p><p>la</p><p>r</p><p>15. (UFPE) Observe a imagem a seguir, leia os textos e</p><p>responda à questão.</p><p>(Rembrandt. Pavões mortos).</p><p>O peru, imperial, dava-lhe as costas para rece-</p><p>ber sua admiração. Estalara a cauda, e se entufou,</p><p>fazendo roda: o raspar das asas no chão – brusco,</p><p>rijo, se proclamara. Belo, belo! Tinha qualquer coi-</p><p>sa de calor, poder e flor, um transbordamento. Sua</p><p>ríspida grandeza tonitruante. Sua colorida empáfia.</p><p>Satisfazia os olhos, era de se tanger trombeta. […]</p><p>Pensava no peru, quando voltavam. Só pudera tê-lo</p><p>um instante, ligeiro, grande, demoroso. Saiu, sôfre-</p><p>go de o rever. Não viu: imediatamente. Só umas pe-</p><p>nas, restos, no chão. – ‘Ué, se matou. Amanhã não é</p><p>o dia de anos do doutor?’ Tudo perdia a eternidade</p><p>e a certeza; num lufo, num átimo, da gente as mais</p><p>belas coisas se roubavam. Como podiam? Por que</p><p>tão de repente? Só no grão nulo de um minuto, o</p><p>Menino recebia em si um miligrama de morte.</p><p>Guimarães Rosa, “As margens da alegria”, in: Primeiras Estórias.</p><p>Ah! não, minha Marília,</p><p>aproveite o tempo, antes que faça</p><p>o estrago de roubar ao corpo as forças,</p><p>e ao semblante a graça!</p><p>Tomás Antônio Gonzaga, Marília de Dirceu</p><p>Oh não aguardes que a madura idade</p><p>Te converta essa flor, essa beleza,</p><p>Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.</p><p>Gregório de Matos, Obra poética completa</p><p>( ) Carpe Diem – frase em latim de um poema de</p><p>Horácio, popularmente traduzida para Colha o</p><p>dia ou Aproveite o momento – é uma mensagem</p><p>que pode ser subentendida na imagem e nos tex-</p><p>tos anteriores.</p><p>( ) A percepção sobre a fugacidade do tempo na li-</p><p>teratura é exclusiva do Arcadismo, como mostra</p><p>o poema de Tomás Antônio Gonzaga.</p><p>( ) Sacrificados, os pavões na natureza-morta de</p><p>Rembrandt, assim como o peru imperial na estó-</p><p>ria de Rosa, alertam a criança-protagonista para</p><p>a efemeridade da beleza.</p><p>15. Apenas a segunda e a última assertivas estão incorretas, pois a fugacidade</p><p>do tempo não é tema exclusivo do Arcadismo, aparece também em outras escolas</p><p>literárias; além disso, o menino, no conto de Rosa, não se confronta com a morte</p><p>de sua mãe.</p><p>V</p><p>F</p><p>V</p><p>( ) No livro Primeiras Estórias, o primeiro conto, “As</p><p>margens da alegria”, e o último, “Os cimos”, se</p><p>complementam, apresentando as mesmas per-</p><p>sonagens no mesmo ambiente.</p><p>( ) Nos poemas anteriores, a aflição dos poetas recai</p><p>sobre a consciência da inevitabilidade da futura</p><p>decrepitude e morte da mulher amada, assim</p><p>como no conto de Rosa, o Menino se angustia</p><p>porque sabe que sua mãe vai morrer.</p><p>16. (UFF-RJ) Concebido como uma homenagem ao es-</p><p>critor João Guimarães Rosa, no cinquentenário de</p><p>Grande Sertão: Veredas, o romance Nhô Guimarães,</p><p>de Aleilton Fonseca, apresenta uma linguagem de</p><p>forma imaginativa, em que o personagem, ao narrar</p><p>histórias e causos em boa parte inspiradas no imagi-</p><p>nário popular brasileiro e no vasto universo rosiano,</p><p>relembra seu velho amigo Nhô Guimarães.</p><p>Texto I</p><p>O senhor… mire, veja: o mais importante e</p><p>bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não es-</p><p>tão sempre iguais, ainda não foram terminadas</p><p>− mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou</p><p>desafinam, verdade maior. É o que a vida me en-</p><p>sinou. Isso que me alegra montão.</p><p>Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas.</p><p>Texto II</p><p>Ah, meu senhor, a vida é cheia de espanto. A</p><p>gente pisca, uma coisa acontece! Já lhe aconteceu</p><p>de sua natureza amarrar, empatando fazer uma</p><p>coisa? Isso tem gente que repele. Eu não insisto se</p><p>dentro de mim uma voz me fala. Desmanchar via-</p><p>gem, desistir de negócio, mudar de caminho, des-</p><p>cobrir a intenção de certos amigos. É uma voz da</p><p>gente, lá dentro, tentando dizer o futuro. Eu digo e</p><p>repito ao senhor: escute seu pressentimento. É um</p><p>conselho que a gente dá de si para si mesmo, ou</p><p>revela aos outros, para prevenir certos fatos.</p><p>Aleilton Fonseca. Nhô Guimarães.</p><p>a) Os Textos I e II apresentam marcas linguístico-</p><p>-discursivas que caracterizam uma interlocução do</p><p>narrador. Transcreva, de cada um dos textos, um</p><p>fragmento que apresenta essas marcas de interlocu-</p><p>ção, identifique-as e justifique seu emprego.</p><p>Alguns trechos que se podem destacar a respeito de marcas da</p><p>interlocução do narrador são: o emprego do vocativo “senhor”, em “O</p><p>senhor… mire, veja” e em “Eu digo e repito ao senhor”, respectivamente,</p><p>nos textos I e II. Outra marca desse aspecto é o uso do verbo no</p><p>imperativo, que demonstra a interlocução, como em “mire”, “veja”,</p><p>“escute seu pressentimento” etc.</p><p>V</p><p>F</p><p>D0-LIT-EM-3013-CA-VU-233-256-LA-M011.indd 205 7/15/15 10:55 AM</p><p>206</p><p>A narrativa psicológica</p><p>1. (UFSC)</p><p>Nascera inteiramente raquítica, herança do ser-</p><p>tão – os maus antecedentes de que falei. Com dois</p><p>anos de idade lhe haviam morrido os pais de febres</p><p>ruins no sertão de Ala goas, lá onde o diabo perde-</p><p>ra as botas. Muito depois fora para Maceió com a</p><p>tia beata, única parenta sua no mundo. Uma outra</p><p>vez se lembrava de coisa esquecida. Por exemplo</p><p>a tia lhe dando cascudos no alto da cabeça porque</p><p>o cocoruto de uma cabeça devia ser, imaginava a</p><p>tia, um ponto vital. Dava-lhe sempre com os nós</p><p>dos dedos na cabeça de ossos fracos por falta de</p><p>cálcio. Batia mas não era somente porque ao bater</p><p>gozava de grande prazer sensual – a tia que não</p><p>se casara por nojo – é que também considerava</p><p>de dever seu evitar que a menina viesse um dia a</p><p>ser uma dessas moças que em Maceió ficavam nas</p><p>ruas de cigarro aceso esperando homem. Embora</p><p>a menina não tivesse dado mostras de no futuro vir</p><p>a ser vagabunda de rua. Pois até mesmo o fato de</p><p>vir a ser uma mulher não parecia pertencer à sua</p><p>vocação. A 1mulherice só lhe nasceria tarde porque</p><p>até no capim vagabundo há desejo de sol. As pan-</p><p>cadas ela esquecia pois esperando-se um pouco a</p><p>dor termina por passar. Mas o que doía mais era</p><p>ser privada da sobremesa de todos os dias: goia-</p><p>bada com queijo, a única paixão de sua vida. Pois</p><p>não era que esse castigo se tornara o predileto da</p><p>tia sabida? A menina não perguntava por que era</p><p>sempre castigada mas nem tudo se precisa saber e</p><p>não saber fazia parte importante de sua vida.</p><p>LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. p. 28.</p><p>Com base no texto, na leitura do romance A hora da</p><p>estrela, lançado em 1977, e no contexto de sua publi-</p><p>cação, assinale a(s) proposição(ões) correta(s).</p><p>01. Macabéa, personagem central de A hora da estre-</p><p>la, mantém ao longo da vida uma crença cega na</p><p>igreja, traço incutido pela tia beata que a obri-</p><p>gara a decorar e a repetir os padre-nossos e as</p><p>ave-marias desde menina.</p><p>02. No romance A hora da estrela, a autora tentou</p><p>ocultar-se por trás do pseudônimo de Rodrigo</p><p>S. M., um narrador onisciente intruso que busca</p><p>o</p><p>tempo todo problematizar o processo de criação.</p><p>04. O vocábulo “mulherice” (ref. 1) é um neologismo</p><p>derivado do substantivo mulher. Diferentemente</p><p>da condição física atribuída automaticamente às</p><p>pessoas do sexo feminino, o narrador dá a entender</p><p>que a “mulherice” seria constituída pela persona-</p><p>gem ao longo do tempo, física e psicologicamente.</p><p>08. A datilógrafa Macabéa adorava goiabada com</p><p>queijo, divertia-se recortando anúncios de jor-</p><p>nais velhos, bebia o mesmo refrigerante que todos</p><p>bebem, passeava aos finais de semana no cais e</p><p>dividia seu quarto com outras cinco meninas, to-</p><p>das de nome Maria. Essa associação de Macabéa</p><p>a banalidades, gostos, comportamentos e pessoas</p><p>comuns ajuda a compor a imagem de uma mulher</p><p>sem traços próprios, cópia sem viço de tantas ou-</p><p>tras sertanejas indigentes.</p><p>1. As assertivas 01, 16 e 32 estão incorretas. A personagem Macabéa não tem</p><p>uma crença cega na igreja; além disso, a obra não tem como enfoque a problemá-</p><p>tica da modernização das cidades, e o título da obra faz referência a um momento</p><p>específico da vida da personagem.</p><p>b) Na progressão de sentido no fragmento de Nhô</p><p>Guimarães (Texto II), há uma frase do narrador</p><p>que sintetiza o seu discurso. Transcreva essa frase</p><p>e explique o seu sentido no texto.</p><p>A frase referente é “Eu digo e repito ao senhor: escute seu</p><p>pressentimento. É um conselho que a gente dá […]”. Essa frase sintetiza</p><p>o discurso do narrador sobre as escolhas da vida, sobre mudar o</p><p>caminho.</p><p>17. (ITA-SP)</p><p>Miguilim espremia os olhos. Drelina e a Chica</p><p>riam. Tomezinho tinha ido se esconder.</p><p>− Este nosso rapazinho tem a vista curta.</p><p>Espera aí, Miguilim…</p><p>E o senhor tirava os óculos e punha-os em</p><p>Miguilim, com todo o jeito.</p><p>− Olha, agora!</p><p>Miguilim olhou. Nem não podia acreditar!</p><p>Tudo era uma claridade, tudo novo e lindo e dife-</p><p>rente, as coisas, as árvores, as caras das pessoas.</p><p>Via os grãozinhos de areia, a pele da terra, as</p><p>pedrinhas menores, as formiguinhas passeando</p><p>no chão de uma distância. E tonteava. Aqui, ali,</p><p>meu Deus, tanta coisa, tudo… O senhor tinha re-</p><p>tirado dele os óculos, e Miguilim ainda apontava,</p><p>falava, contava tudo como era, como tinha visto.</p><p>Mãe esteve assim assustada; mas o senhor dizia</p><p>que aquilo era do modo mesmo, só que Miguilim</p><p>também carecia de usar óculos, dali por diante.</p><p>João Guimarães Rosa. Manuelzão e Miguilim.</p><p>Considere as seguintes afirmações sobre o trecho an-</p><p>terior:</p><p>I. Na narrativa, transparece o universo infantil,</p><p>captado pela ótica da criança.</p><p>II. Há o uso de recursos linguísticos, como ritmo,</p><p>rima e figuras de linguagem, que desfazem as</p><p>fronteiras entre prosa e poesia.</p><p>III. A narrativa reporta ao mundo rústico do sertão</p><p>pela ótica de um narrador externo à comunidade.</p><p>Está(ão) condizente(s) com o trecho:</p><p>a) apenas I.</p><p>b) apenas II.</p><p>c) I e II.</p><p>d) I e III.</p><p>e) II e III.</p><p>17. As afirmações corretas são apenas a I e a II; a</p><p>III está incorreta, pois como se observa no trecho</p><p>o narrador está no mundo do menino Miguilim,</p><p>fazendo que tudo que ele veja, a realidade ao seu</p><p>redor, ganhe destaque mágico.</p><p>D0-LIT-EM-3013-CA-VU-233-256-LA-M011.indd 206 7/15/15 10:55 AM</p><p>207</p><p>Q</p><p>ue</p><p>st</p><p>õe</p><p>s</p><p>de</p><p>v</p><p>es</p><p>ti</p><p>bu</p><p>la</p><p>r</p><p>16. O romance de Clarice Lispector distancia-se, pelo</p><p>tempo e pela temática, da geração de 1930; ainda</p><p>carrega parte da crítica social característica da-</p><p>quele momento, mas a imagem da menina cuja</p><p>herança do sertão é o raquitismo de retirante</p><p>fica em segundo plano, ganhando maior relevo</p><p>a problemática da modernização das cidades de</p><p>Maceió e do Rio de Janeiro, locais onde Macabéa</p><p>tenta ganhar a vida.</p><p>32. O título da obra revela forte ironia, tendo em</p><p>vista que é algo que nunca se concretiza: a hora</p><p>da estrela, quando finalmente Macabéa brilha-</p><p>ria tal qual suas artistas de cinema preferidas,</p><p>não ocorre, devido ao acidente fatal sofrido pela</p><p>protagonista.</p><p>Soma: 14 (02 + 04 + 08)</p><p>2. (UPF-RS)</p><p>Só se espiaram realmente quando as malas</p><p>foram dispostas no trem, depois de trocados os</p><p>beijos: a cabeça da mãe apareceu na janela.</p><p>Catarina viu então que sua mãe estava enve-</p><p>lhecida e tinha os olhos brilhantes.</p><p>O trem não partia e ambas esperavam sem</p><p>ter o que dizer. A mãe tirou o espelho da bolsa</p><p>e examinou-se no seu chapéu novo, comprado</p><p>no mesmo chapeleiro da filha. Olhava-se com-</p><p>pondo um ar excessivamente severo onde não</p><p>faltava alguma admiração por si mesma. A fi-</p><p>lha observava divertida. Ninguém mais pode</p><p>te amar senão eu, pensou a mulher rindo pelos</p><p>olhos; e o peso da responsabilidade deu-lhe à</p><p>boca um gosto de sangue. Como se “mãe e fi-</p><p>lha” fosse vida e repugnância. Não, não se po-</p><p>dia dizer que amava sua mãe. Sua mãe lhe doía,</p><p>era isso. A velha guardara o espelho na bolsa,</p><p>e fitava-a sorrindo. O rosto usado e ainda bem</p><p>esperto parecia esforçar-se por dar aos outros</p><p>alguma impressão da qual o chapéu faria parte.</p><p>A campainha da Estação tocou de súbito, houve</p><p>um movimento geral de ansiedade, várias pes-</p><p>soas correram pensando que o trem já partia:</p><p>mamãe! disse a mulher. Catarina! disse a velha.</p><p>Ambas se olhavam espantadas, a mala na cabe-</p><p>ça de um carregador interrompeu-lhes a visão e</p><p>um rapaz correndo segurou de passagem o bra-</p><p>ço de Catarina, deslocando-lhe a gola do vesti-</p><p>do. Quando puderam ver-se de novo, Catarina</p><p>estava sob a iminência de lhe perguntar se não</p><p>esquecera de nada…</p><p>– …Não esqueci de nada? perguntou a mãe.</p><p>LISPECTOR, Clarice. Laços de família.</p><p>No texto anterior, a autora:</p><p>a) emprega palavras comuns, por vezes combina-</p><p>das de modo inesperado, para desvelar a men-</p><p>tira constituinte de uma relação familiar feita de</p><p>frases e gestos convencionais.</p><p>b) escolhe um vocabulário nobre e raro e uma sin-</p><p>taxe complexa e difícil para desvelar a mentira</p><p>constituinte de uma relação familiar feita de fra-</p><p>ses e gestos cerimoniosos.</p><p>2. A autora faz uso de palavras simples, comuns, de fácil leitura e fluência do texto,</p><p>buscando, ao mesmo tempo, mostrar a fraca relação afetiva entre mãe e filha, que</p><p>demonstram quase ou nenhuma afinidade entre si, fato perceptível por meio da</p><p>descrição dos gestos e das palavras de Catarina e sua mãe.</p><p>c) escolhe um vocabulário nobre e raro e uma sinta-</p><p>xe complexa e difícil para ocultar a mentira cons-</p><p>tituinte de uma relação familiar feita de frases e</p><p>gestos convencionais.</p><p>d) representa a corrente caótica da consciência de</p><p>uma das personagens, abstendo-se de descre-</p><p>ver os comportamentos banais, exteriormente</p><p>observáveis.</p><p>e) representa, de modo cinematográfico, os compor-</p><p>tamentos convencionais das personagens, absten-</p><p>do-se de revelar o mal-estar interior que alguma</p><p>delas possa viver.</p><p>3. (Unifesp) Leia o texto para responder à questão.</p><p>A sensível</p><p>Foi então que ela atravessou uma crise que</p><p>nada parecia ter a ver com sua vida: uma crise</p><p>de profunda piedade. A cabeça tão limitada,</p><p>tão bem penteada, mal podia suportar perdoar</p><p>tanto. Não podia olhar o rosto de um tenor en-</p><p>quanto este cantava alegre – virava para o lado</p><p>o rosto magoado, insuportável, por piedade, não</p><p>suportando a glória do cantor. Na rua de repente</p><p>comprimia o peito com as mãos enluvadas – as-</p><p>saltada de perdão. Sofria sem recompensa, sem</p><p>mesmo a simpatia por si própria.</p><p>Essa mesma senhora, que sofreu de sensibili-</p><p>dade como de doença, escolheu um domingo em</p><p>que o marido viajava para procurar a bordadeira.</p><p>Era mais um passeio que uma necessidade. Isso</p><p>ela sempre soubera: passear. Como se ainda fos-</p><p>se a menina que passeia na calçada. Sobretudo</p><p>passeava muito quando “sentia” que o marido</p><p>a enganava. Assim foi procurar a bordadeira, no</p><p>domingo de manhã. Desceu uma rua cheia de</p><p>lama, de galinhas e de crianças nuas – aonde</p><p>fora se meter! A bordadeira, na casa cheia de fi-</p><p>lhos com cara de fome, o marido tuberculoso – a</p><p>bordadeira recusou-se a bordar a toalha porque</p><p>não gostava de fazer ponto de cruz! Saiu afron-</p><p>tada e perplexa. “Sentia-se” tão suja pelo calor</p><p>da manhã, e um de seus prazeres era pensar que</p><p>classe. A tarefa de Olímpico tinha</p><p>o gosto que se sente quando se fuma um cigarro</p><p>acendendo-o do lado errado, na ponta da cortiça.</p><p>O trabalho consistia em pegar barras de metal</p><p>que vinham deslizando de cima da máquina para</p><p>colocá-las embaixo, sobre uma placa deslizante.</p><p>Nunca se perguntara por que colocava a barra</p><p>embaixo. A vida não lhe era má e ele até econo-</p><p>mizava um pouco de dinheiro: dormia de graça</p><p>numa guarita em obras de demolição por cama-</p><p>radagem do vigia.</p><p>V</p><p>F</p><p>V</p><p>V</p><p>F</p><p>7. (UFTM-MG) De acordo com as informações textuais,</p><p>Macabéa e Olímpico têm em comum o fato de que</p><p>ambos:</p><p>a) aparentam estar despreocupados com seu futuro</p><p>financeiro.</p><p>b) desejam ardentemente mudar de condição social.</p><p>c) demonstram ter grande ambição e espírito aven-</p><p>tureiro.</p><p>d) são um tanto alienados com relação às condições</p><p>em que vivem.</p><p>e) realizam um trabalho altamente qualificado, mas</p><p>são mal pagos.</p><p>8. (UFTM-MG) Uma característica que A hora da estrela</p><p>compartilha com outros textos produzidos pelo</p><p>Neomodernismo brasileiro (ou Geração Modernista</p><p>pós 1945) é:</p><p>a) o enfoque histórico, retratando o passado brasileiro.</p><p>b) o propósito nacionalista, com heróis idealizados.</p><p>c) o uso de uma linguagem distante do cotidiano.</p><p>d) a criação de personagens burlescos e pouco com-</p><p>plexos.</p><p>e) o tom intimista, de investigação psicológica.</p><p>Texto para as questões 9 e 10.</p><p>7Domingo ela 4acordava mais cedo para ficar</p><p>mais tempo sem fazer nada.</p><p>O pior momento de sua vida era 5nesse dia</p><p>ao fim da tarde: caía em 2meditação inquieta,</p><p>o vazio do seco domingo. Suspirava. 3Tinha</p><p>saudade de quando era pequena – farofa seca –</p><p>e pensava que fora feliz. Na verdade por pior a</p><p>infância é sempre encantada, 6que susto. Nunca</p><p>se queixava de nada, sabia que as coisas são</p><p>assim mesmo e – quem organizou a terra dos</p><p>homens? […] 1Juro que não posso fazer nada por</p><p>ela. Afianço-8vos que se eu pudesse melhoraria</p><p>as coisas. Eu bem sei que dizer que a datilógrafa</p><p>tem o corpo cariado é um dizer de brutalidade</p><p>pior que qualquer palavrão.</p><p>Clarice Lispector, A hora da estrela.</p><p>9. (Mack-SP) Nas alternativas abaixo, transcrevem-se</p><p>adaptações de comentários críticos colhidos em bi-</p><p>bliografia especializada. Todos se referem à produ-</p><p>ção de Clarice Lispector, exceto:</p><p>a) A linguagem contém como que uma armadilha: a</p><p>sua simplicidade enganosa. Nem pela escolha dos</p><p>vocábulos, nem por sua construção frásica parece</p><p>ultrapassar um tom de coloquialismo e de narra-</p><p>ção sem surpresas.</p><p>b) É essa existência absurda, ameaçadora e estranha,</p><p>revelando-se nos indivíduos e a despeito deles, o</p><p>único fundo permanente de encontro ao qual as</p><p>personagens se destacam e de onde tiram a densi-</p><p>dade humana que as caracteriza.</p><p>c) Em sua ficção, o cotidiano é, a partir de certo mo-</p><p>mento, completamente desagregado.</p><p>7. Apesar de assumirem posições das quais sentiam orgulho, Olímpico – que não</p><p>tinha consciência da cadeia produtiva da fábrica – e Macabéa recebiam mal pelo</p><p>trabalho que realizavam, mostrando que estavam alienados às condições em que</p><p>viviam.</p><p>8. A profundidade do retrato psicológico dos personagens ganha outro valor nas</p><p>obras de Clarice e Guimarães Rosa, por exemplo. Busca-se captar, em tom inti-</p><p>mista, o interior psicológico dos personagens, seus medos, sentimentos, questões</p><p>existenciais.</p><p>9. A alternativa e é a única que aborda características que não vemos presentes</p><p>nas obras de Clarice.</p><p>D0-LIT-EM-3013-CA-VU-233-256-LA-M011.indd 209 7/15/15 10:55 AM</p><p>210</p><p>d) Pensar é a concretização, materialização do que</p><p>se pré-pensou.</p><p>e) O poeta é um fingidor. Finge tão completamente que</p><p>chega a fingir que é dor a dor que deveras sente.</p><p>12. (PUC-PR) Observe o seguinte fragmento do con-</p><p>to “Felicidade Clandestina”, do livro com o mesmo</p><p>nome, escrito por Clarice Lispector.</p><p>Mas que talento tinha para a crueldade. Ela</p><p>toda era pura vingança, chupando balas com ba-</p><p>rulho. E como essa menina devia nos odiar, nós</p><p>que éramos imperdoa velmente bonitinhas, es-</p><p>guias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exer-</p><p>ceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na mi-</p><p>nha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações</p><p>a que ela me submetia: continuava a implorar-</p><p>-lhe emprestados os livros que ela não lia.</p><p>Até que veio para ela o magno dia de começar</p><p>a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como</p><p>casualmente, informou-me que possuía As Reina-</p><p>ções de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um</p><p>livro grande, meu Deus, era um livro pra se ficar</p><p>vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E com-</p><p>pletamente acima de minhas posses. Disse-me</p><p>que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e</p><p>que ela o emprestaria.</p><p>Fonte: Clarice Lispector, “Felicidade Clandestina”</p><p>Na relação entre as personagens se verificam as se-</p><p>guintes temáticas presentes no todo da obra de Cla-</p><p>rice Lispector:</p><p>a) A desigualdade social, presente no fato de não se</p><p>dividir um bem material, o livro, e a competitivi-</p><p>dade entre as mulheres.</p><p>b) A importância da leitura como fator de inclusão</p><p>social, já que, entre as personagens, a mais rica</p><p>impede o acesso da mais pobre ao livro desejado.</p><p>c) A complexidade e as contradições dos relacio-</p><p>namentos humanos, que envolvem, no caso da</p><p>narradora, a servidão voluntária em nome de um</p><p>benefício eventual e, no caso da antagonista, a</p><p>compensação dos traumas de sua “inferioridade”</p><p>pelo exercício do poder.</p><p>d) A agressividade natural das crianças e a inter-</p><p>textualidade com a obra de Monteiro Lobato,</p><p>principal influência literária sofrida por Clarice</p><p>Lispector.</p><p>e) A religiosidade − presente na expressão “era um</p><p>livro grosso, meu Deus” − e a crença nos valores</p><p>cristãos como o perdão, que, ao final, a narradora</p><p>dirigirá à sua antagonista.</p><p>13. (UEG-GO)</p><p>Escrever aliviou-a. Estava de olheiras pela</p><p>noite não dormida, cansada, mas por um instan-</p><p>te – ah como Ulisses gostaria de saber – feliz.</p><p>Porque, se não expressara o inexpressível silên-</p><p>cio, falara como um macaco que grunhe e faz</p><p>gestos incongruentes, transmitindo não se sabe</p><p>o quê. Lóri era. O quê? Mas ela era.</p><p>LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres.</p><p>Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 39.</p><p>12. Com exceção da alternativa c, as demais alternativas apresentam realidades bem</p><p>distantes do que se observa no trecho e com relação à produção da autora. Clarice prio-</p><p>riza a complexidade e as contradições do “eu” do ser humano, tratando nesse texto das</p><p>relações humanas e do sentimento que as envolve.</p><p>d) Numa obra literária, para que o jogo da linguagem</p><p>tenha a propriedade reveladora, é necessário que</p><p>a linguagem, além de ser instrumento da ficção,</p><p>seja também, de certo modo, o seu objeto, como</p><p>de fato ocorre nos textos da autora.</p><p>e) O mitopoético foi a solução romanesca adotada pela</p><p>autora. Uma obra de tão aguda modernidade que,</p><p>paradoxalmente, se nutre de velhas tradições, as mes-</p><p>mas que davam à gesta dos cavaleiros feudais a aura</p><p>do convívio com o sagrado e o demoníaco.</p><p>10. (Mack-SP) Assinale a alternativa correta.</p><p>a) Um narrador de terceira pessoa, observador, des-</p><p>creve, “de fora”, a figura feminina; essa distância</p><p>justifica o seguinte comentário: Juro que não pos-</p><p>so fazer nada por ela […] se eu pudesse melhoraria</p><p>as coisas (ref. 1).</p><p>b) O relato põe em evidência traços caracterizadores</p><p>da personagem: o rancor (meditação inquieta, o</p><p>vazio do seco domingo – ref. 2) e a frustração (Ti-</p><p>nha saudade – ref. 3).</p><p>c) O tempo da narração coincide com o tempo dos</p><p>acontecimentos vivenciados pela personagem,</p><p>como prova o uso do imperfeito – acordava (ref.</p><p>4) – e do pronome “esse” (nesse, ref. 5).</p><p>d) Há segmentos que expressam a fusão das vozes</p><p>no fluxo narrativo, como, por exemplo, que susto</p><p>(ref. 6).</p><p>e) Embora o narrador deixe no relato índices de sua</p><p>rejeição às atitudes da personagem – a referência</p><p>à preguiça (ref. 7), por exemplo – evita tratá-la de</p><p>forma desrespeitosa, como prova o uso do prono-</p><p>me vos (ref. 8).</p><p>11. (UFF-RJ)</p><p>Tudo o que aqui escrevo é forjado no meu</p><p>silêncio e na penumbra. Vejo pouco, ouço quase</p><p>nada. Mergulho enfim em mim até o nascedou-</p><p>ro do espírito que me habita. Minha nascente é</p><p>obscura. Estou escrevendo porque não sei o que</p><p>fazer de mim. Quer dizer: não sei o que fazer</p><p>com meu espírito. O corpo informa muito. Mas</p><p>eu desconheço as leis do espírito: ele vagueia.</p><p>Meu pensamento, com a enunciação das palavras</p><p>mentalmente brotando, sem depois eu falar ou es-</p><p>crever – esse meu pensamento de palavras é pre-</p><p>cedido por uma instantânea visão sem palavras,</p><p>do pensamento – palavra que se seguirá, quase</p><p>imediatamente – diferença espacial de menos de</p><p>um milímetro. Antes de pensar, pois, eu já pensei.</p><p>Clarice Lispector. Um sopro de vida.</p><p>Assinale a opção que corresponde ao pensamento</p><p>de Clarice Lispector sobre a criação literária, no tex-</p><p>to lido.</p><p>a) A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino lei-</p><p>tor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te</p><p>com um piparote e adeus.</p><p>b) Não colhas no chão o poema que se perdeu.</p><p>c) Vozes da infância, contai a história da vida boa</p><p>que nunca veio.</p><p>10. O discurso pautado pelo fluxo de consciência é algo constante nos contos</p><p>de Clarice. Nesse trecho, observamos que a expressão “que susto” é advinda da</p><p>personagem, que “entra” no discurso do narrador.</p><p>11. No trecho, a autora aborda o momento de sua escritura, utilizando a me-</p><p>talinguagem. Como a autora menciona, a escrita é apenas seu pensamento se</p><p>materializando em palavras, e o pensar é a concretização do momento anterior ao</p><p>pensar, isto é, o pré-pensar.</p><p>D0-LIT-EM-3013-CA-VU-233-256-LA-M011.indd 210 7/15/15 10:55 AM</p><p>211</p><p>Q</p><p>ue</p><p>st</p><p>õe</p><p>s</p><p>de</p><p>v</p><p>es</p><p>ti</p><p>bu</p><p>la</p><p>r</p><p>Dentre as características da narrativa de Uma apren-</p><p>dizagem ou O livro dos prazeres, de Clarice Lispector,</p><p>no trecho anterior, é predominante:</p><p>a) a experiência epifânica diante do inusitado detalhe.</p><p>b) a expressão alegórica de fusão do ser humano com o</p><p>animal.</p><p>c) a não linearidade do discurso em prol do fluxo de</p><p>consciência.</p><p>d) a emancipação da autoconsciência do ser feminino.</p><p>14. (PUC-RJ)</p><p>Feliz aniversário</p><p>A família foi pouco a pouco chegando. Os que</p><p>vieram de Olaria estavam muito bem vestidos</p><p>porque a visita significava ao mesmo tempo um</p><p>passeio a Copacabana. A nora de Olaria apare-</p><p>ceu de azul-marinho, com enfeites de paetês e</p><p>um drapejado disfarçando a barriga sem cinta.</p><p>O marido não veio por razões óbvias: não que-</p><p>ria ver os irmãos. Mas mandara sua mulher para</p><p>que nem todos os laços fossem cortados – e esta</p><p>vinha com o seu melhor vestido para mostrar que</p><p>não precisava de nenhum deles, acompanhada</p><p>dos três filhos: duas meninas já de peito nas-</p><p>cendo, infantilizadas com babados cor de rosa</p><p>e anáguas engomadas, e o menino acovardado</p><p>pelo terno novo e pela gravata.</p><p>Tendo Zilda – a filha com quem a aniversa-</p><p>riante morava – disposto cadeiras unidas ao lon-</p><p>go das paredes, como numa festa em que se vai</p><p>dançar, a nora de Olaria, depois de cumprimen-</p><p>tar com cara fechada aos de casa, aboletou-se</p><p>numa das cadeiras e emudeceu, a boca em bico,</p><p>mantendo sua posição ultrajada. “Vim para não</p><p>deixar de vir”, dissera ela a Zilda, e em seguida</p><p>sentara-se ofendida. As duas mocinhas de cor de</p><p>rosa e o menino, amarelos e de cabelo penteado,</p><p>não sabiam bem que atitude tomar e ficaram de</p><p>pé ao lado da mãe, impressionados com seu ves-</p><p>tido azul-marinho e com os paetês.</p><p>Depois veio a nora de Ipanema com dois ne-</p><p>tos e a babá. O marido viria depois. E como Zilda</p><p>– a única mulher entre os seis irmãos homens e</p><p>a única que, estava decidido já havia anos, tinha</p><p>espaço e tempo para alojar a aniversariante –,</p><p>e como Zilda estava na cozinha a ultimar com a</p><p>empregada os croquetes e sanduíches, ficaram:</p><p>a nora de Olaria empertigada com seus filhos de</p><p>coração inquieto ao lado; a nora de Ipanema na</p><p>fila oposta das cadeiras fingindo ocupar-se com o</p><p>bebê para não encarar a concunhada de Olaria;</p><p>a babá ociosa e uniformizada, com a boca aberta.</p><p>E à cabeceira da mesa grande a aniversarian-</p><p>te que fazia hoje oitenta e nove anos.</p><p>LISPECTOR, Clarice. Laços de família. Rio de Janeiro:</p><p>José Olympio, 1979, p. 59-60.</p><p>Há trinta anos morria uma das mais importantes es-</p><p>critoras brasileiras – Clarice Lispector. Sua obra, com-</p><p>posta basicamente de romances e contos, representa</p><p>uma tentativa de decifrar os mistérios da criação e a</p><p>densidade das relações humanas. A partir da leitura</p><p>13. O que é predominante nesse romance é a forma como a autora apresenta a</p><p>mulher, seu amadurecimento nas relações; nesse texto, prioriza-se a análise psico-</p><p>lógica do ser feminino e mostra-se seu poder de conscientização amadurecido e</p><p>desenvolvido – a emancipação da autoconsciência do ser feminino.</p><p>do fragmento do conto “Feliz aniversário” transcrito</p><p>anteriormente, responda à seguinte pergunta: que</p><p>relação pode ser estabelecida entre o título do texto e</p><p>o comportamento das personagens?</p><p>Considerando o trecho que foi apresentado e fazendo uma relação com a</p><p>palavra “feliz”, do título, observamos um teor irônico, pois, segundo o que</p><p>é descrito da festa e das personagens, há certa contradição com relação às</p><p>atitudes esperadas em uma festa de aniversário – o momento deveria ser</p><p>um encontro familiar alegre e, na descrição da festa, as pessoas estão lá por</p><p>obrigação e sem partilhar o momento.</p><p>15. (UFU-MG) Leia o fragmento a seguir, extraído da</p><p>narrativa “Amor”, de Clarice Lispector.</p><p>Sua precaução reduzia-se a tomar cuidado</p><p>na hora perigosa da tarde, quando a casa esta-</p><p>va vazia sem precisar mais dela, o sol alto, cada</p><p>membro da família distribuído nas suas funções.</p><p>Olhando os móveis limpos, seu coração se aper-</p><p>tava um pouco em espanto. Mas na sua vida não</p><p>havia lugar para que sentisse ternura pelo seu</p><p>espanto − ela o abafava com a mesma habilida-</p><p>de que as lides em casa lhe haviam transmitido.</p><p>Saía então para fazer compras ou levar objetos</p><p>para consertar, cuidando do lar e da família à re-</p><p>velia deles. Quando voltasse era o fim da tarde e</p><p>as crianças vindas do colégio exigiam-na. Assim</p><p>chegaria a noite, com sua tranquila vibração. De</p><p>manhã acordaria aureolada pelos calmos deve-</p><p>res. Encontrava os móveis de novo empoeirados</p><p>e sujos, como se voltassem arrependidos. Quan-</p><p>to a ela mesma, fazia obscuramente parte das</p><p>raízes negras e suaves do mundo. E alimentava</p><p>anonimamente a vida. Estava bom assim. Assim</p><p>ela o quisera e escolhera.</p><p>Marque a alternativa que não condiz com a leitura</p><p>da narrativa.</p><p>a) A existência da personagem Ana corresponde à</p><p>consciência do oculto e do relativo do ser. O gran-</p><p>de perigo é a percepção do cotidiano vazio à sua</p><p>volta.</p><p>b) Ana “alimentava anonimamente a vida” ao impri-</p><p>mir no seu dia a dia uma percepção profunda e</p><p>positiva de si mesma.</p><p>c) Ana se agarrava aos objetos, às tarefas e aos de-</p><p>veres para afogar seu desejo de viver e de encon-</p><p>trar um mundo que poderia lhe trazer prazer e, ao</p><p>mesmo tempo, sofrimento.</p><p>d) A frase “Sua precaução reduzia-se a tomar cuidado</p><p>na hora perigosa da tarde” configura-se como uma</p><p>tensão que é recorrente nos enredos clariceanos.</p><p>15. O conto de Laços de família mostra a problemática feminina, a dualidade entre</p><p>a liberdade e a vida doméstica. A personagem Ana é retratada no seu momento</p><p>cotidiano, alheia aos problemas do mundo, revelando seus pensamentos mais pro-</p><p>fundos até atingir a epifania e, depois, voltar ao normal, para sua vida de antes.</p><p>Ana não demonstra uma percepção positiva de si mesma.</p><p>D0-LIT-EM-3013-CA-VU-233-256-LA-M011.indd 211 7/15/15 10:55 AM</p><p>212</p><p>O Pós-MOdernisMO iiTeMA</p><p>12</p><p>semos a sustentar uma besta à argola, e sem es-</p><p>perança de pago [...], então que vá para viena”.</p><p>SARAMAGO, José. A viagem do elefante, São Paulo,</p><p>Companhia das Letras, 2008, p. 13.</p><p>bisbilhava: murmurava</p><p>abespinhado: zangado, irritado, agastado</p><p>Dos fragmentos abaixo, extraídos da obra de José</p><p>Saramago, apenas um expõe os sentimentos contra-</p><p>ditórios da esposa de Dom João III, rei de Portugal e</p><p>dos Algarves, dona Catarina D’Áustria, em</p><p>relação ao</p><p>“magnífico exemplar de elefante asiático” oferecido</p><p>como presente de casamento ao arquiduque austría-</p><p>co Maximiliano II.</p><p>O fragmento em que se expõe esses sentimentos da</p><p>rainha é:</p><p>a) “Estive a pensar, (disse o rei) acho que deveria ir</p><p>ver Salomão [...]. Sendo cinco horas, quero quatro</p><p>cavalos à porta do palácio, recomende que aquele</p><p>que montarei seja grande, gordo e manso, nunca</p><p>fui de cavalgadas, e agora ainda menos, com esta</p><p>idade e os achaques que ela trouxe.” (p. 16-18)</p><p>b) “Só partiram passadas às cinco horas e meia por-</p><p>que a rainha, ao saber da excursão que se estava</p><p>preparando, declarou que também queria ir. Foi</p><p>difícil convencê-la de que não tinha qualquer sen-</p><p>tido fazer sair um coche só para ir a Belém, que</p><p>era onde havia sido levantado o cercado para Sa-</p><p>lomão. E certamente, senhora, não quererá ir a</p><p>cavalo, disse o rei [...]”. (p. 18)</p><p>c) “A rainha acatou a mal disfarçada proibição e re-</p><p>tirou-se, murmurando que Salomão não tinha,</p><p>em todo o portugal, e mesmo em todo o universo</p><p>mundo, quem mais lhe quisesse. [...] catarina de</p><p>áustria exibia agora assomos de paladino arre-</p><p>pendimento que quase a tinham levado a desafiar,</p><p>pelo menos nas formas, a autoridade de seu se-</p><p>nhor, marido e rei”. (p. 18)</p><p>d) “Se o arquiduque aceitar o elefante, o problema</p><p>resolver-se-á por si mesmo, ou melhor, resol-</p><p>vê-lo-á a viagem para Viena, e, se não o aceitar,</p><p>então será o caso para dizer, uma vez mais, com</p><p>a milenária experiência dos povos, que, apesar</p><p>das decepções, frustrações e desenganos que são</p><p>o pão de cada dia dos homens e dos elefantes, a</p><p>vida continua. Salomão não tem nenhuma ideia</p><p>do que o espera”. (p. 19)</p><p>e) “O elefante morreu [...] no último mês de mil</p><p>quinhentos e cinquenta e três. A causa da morte</p><p>não chegou a ser conhecida, ainda não era tem-</p><p>po de análises de sangue, radiografias do tórax,</p><p>endoscopias, ressonâncias magnéticas e outras</p><p>observações que hoje são o pão de cada dia para</p><p>os humanos, não tanto para os animais, que sim-</p><p>plesmente morrem sem uma enfermeira que lhes</p><p>ponha a mão na testa”.</p><p>2.Os sentimentos da rainha estão mais bem expostos em c, pois se sente con-</p><p>trariada quando o marido a dissuadiu (imperativamente) de não fazer parte da</p><p>excursão.</p><p>Prosa contemporânea: Portugal e</p><p>Brasil</p><p>1. (UFRGS-RS) No bloco superior, estão listados dois</p><p>períodos de tempo presentes no romance História do</p><p>cerco de Lisboa, de José Saramago; no inferior, episó-</p><p>dios do romance.</p><p>Associe adequadamente o bloco inferior ao superior.</p><p>1. Século XX: o presente</p><p>2. Século XII: o passado</p><p>( ) História de amor entre Raimundo e Maria Sara.</p><p>( ) História de amor entre Mogueime e Ouroana.</p><p>( ) Trabalho de revisão de textos.</p><p>( ) Confronto entre portugueses e mouros.</p><p>( ) Escrita de um livro sobre a história portuguesa.</p><p>A sequência correta de preenchimento dos parênte-</p><p>ses, de cima para baixo, é</p><p>a) 2 – 1 – 1 – 1 – 2.</p><p>b) 2 – 2 – 1 – 2 – 1.</p><p>c) 1 – 1 – 2 – 1 – 2.</p><p>d) 1 – 2 – 1 – 2 – 1.</p><p>e) 1 – 2 – 2 – 2 – 1.</p><p>2. (UFPA)</p><p>A viagem do elefante, de José Saramago,</p><p>narra a viagem, de Lisboa até Viena, de um ele-</p><p>fante asiático (ao qual José Saramago chamou</p><p>Salomão), presente de D. João III a seu primo Ma-</p><p>ximiliano II, arquiduque da Áustria. O tempo da</p><p>narrativa é o século XVI e a obra enfatiza, entre</p><p>outras coisas, contradições e fraquezas humanas</p><p>encarnadas pelos personagens e criticadas pelo</p><p>narrador.</p><p>“A rainha bisbilhava uma oração, principiara</p><p>já outra, quando de repente se interrompeu e gri-</p><p>tou, Temos o Salomão, Quê, perguntou o rei, per-</p><p>plexo, sem perceber a intempestiva invocação ao</p><p>rei de judá, Sim, senhor, Salomão o elefante, E</p><p>para que quero eu aqui o elefante, perguntou o</p><p>rei já algo abespinhado, Para o presente, senhor,</p><p>para o presente de casamento, respondeu a rai-</p><p>nha, pondo-se de pé, eufórica, excitadíssima,</p><p>Não é presente de casamento, Dá o mesmo. O</p><p>rei acenou com a cabeça lentamente três vezes</p><p>seguidas, fez uma pausa e acenou outras três</p><p>vezes, ao fim das quais admitiu, Parece-me uma</p><p>ideia interessante, É mais do que interessante, é</p><p>uma ideia boa, é uma ideia excelente, retrucou a</p><p>rainha com um gesto de impaciência, quase de</p><p>insubordinação, que não foi capaz de reprimir,</p><p>há mais de dois anos que esse animal veio da ín-</p><p>dia, e desde então não tem feito outra coisa que</p><p>não seja comer e dormir a dorna da água sempre</p><p>cheia, forragens aos montões, é como se estivés-</p><p>1</p><p>2</p><p>1</p><p>2</p><p>1</p><p>1. A sequência que relaciona corretamente as informações é 1, 2, 1, 2, 1, pois no livro há duas narrativas que se passam em séculos diferentes: século XX – a história portugue-</p><p>sa é um plano do presente; a história do protagonista Raimundo, revisor, e sua amada Maria Sara se passa no presente; século XII – o confronto entre portugueses e mouros,</p><p>ao mesmo tempo em que se conta a história de amor entre Mogueime e Ouroana.</p><p>D0-LIT-EM-3013-CA-VU-257-278-LA-M012.indd 212 7/16/15 5:43 PM</p><p>213</p><p>Q</p><p>ue</p><p>st</p><p>õe</p><p>s</p><p>de</p><p>v</p><p>es</p><p>ti</p><p>bu</p><p>la</p><p>r</p><p>3. (UFSM) Assinale a alternativa correta a respeito da</p><p>ficção de Rubem Fonseca.</p><p>a) Salienta-se como prosa de caráter intimista.</p><p>b) Traça um painel histórico do século XIX.</p><p>c) Inscreve-se na vertente do realismo fantástico.</p><p>d) Identifica-se pela ênfase de cunho regionalista.</p><p>e) Usa a violência como matéria-prima dos relatos.</p><p>4. (UERJ)</p><p>Texto I</p><p>Durante mais de trinta anos, o bondezinho</p><p>das dez e quinze, que descia do Silvestre, para-</p><p>va como burro ensinado em frente à casinha de</p><p>José Maria, e ali encontrava, almoçado e pontual,</p><p>o velho funcionário.</p><p>Um dia, porém, José Maria faltou. O motor-</p><p>neiro batia a sirene. Os passageiros se impacien-</p><p>tavam. Floripes correu aflita a avisar o patrão.</p><p>Achou-o de pijama, estirado na poltrona, que-</p><p>rendo rir.</p><p>— Seu José Maria, o senhor hoje perdeu a hora!</p><p>Há muito tempo o motorneiro está a dar sinal.</p><p>— Diga-lhe que não preciso mais.</p><p>A velha portuguesa não compreendeu.</p><p>— Vá, diga que não vou... Que de hoje em</p><p>diante não irei mais.</p><p>A criada chegou à janela, gritou o recado. E o</p><p>bondezinho desceu sem o seu mais antigo pas-</p><p>sageiro.</p><p>Floripes voltou ao patrão. Interroga-o com o</p><p>olhar.</p><p>— Não sabes que estou aposentado?</p><p>(...)</p><p>Interrompera da noite para o dia o hábito de</p><p>esperar o bondezinho, comprar o jornal da ma-</p><p>nhã, bebericar o café na Avenida, e instalar-se à</p><p>mesa do Ministério, sisudo e calado, até às de-</p><p>zessete horas.</p><p>Que fazer agora?</p><p>Não mais informar processos, não mais preo-</p><p>cupar-se com o nome e a cara do futuro Ministro.</p><p>Pela primeira vez fartava a vista no cenário</p><p>de águas e montanhas que a bruma fundia.</p><p>(...)</p><p>Floripes serviu-lhe o jantar, deixou tudo arru-</p><p>mado, e retirou-se para dormir no barraco da filha.</p><p>Mais do que nunca, sentiu José Maria naque-</p><p>la noite a solidão da casa. Não tinha amigos, não</p><p>tinha mulher nem amante. E já lera todos os jor-</p><p>nais. Havia o telefone, é verdade. Mas ninguém</p><p>chamava. Lembrava-se que certa vez, há uns</p><p>quinze anos, aquela fria coisa, pendurada e mor-</p><p>ta, se aquecera à voz de uma mulher desconheci-</p><p>da. A máquina que apenas servia para recados ao</p><p>armazém e informações do Ministério transforma-</p><p>ra-se então em instrumento de música: adquirira</p><p>alma, cantava quase. De repente, sem motivo, a</p><p>voz emudecera. E o aparelho voltou a ser na pare-</p><p>3. As obras de Rubem Fonseca têm com tema o ambiente urbano, focalizando a</p><p>violência.</p><p>de do corredor a aranha de metal, sempre calada.</p><p>O sussurro da vida, o sangue de suas paixões pas-</p><p>savam longe do telefone de Zé Maria...</p><p>Como vencer a noite que mal começava?</p><p>(...)</p><p>O telefone toca. Quem será? (...)</p><p>Era engano! Antes não o fosse. A quem esta-</p><p>ria destinada aquela voz carregada de ternura?</p><p>Preferia que dissesse desaforos, que o xingasse.</p><p>(...)</p><p>Atirou-se de bruços na cama. E sonhou. So-</p><p>nhou que conversava ao telefone e era a voz da</p><p>mulher de há quinze anos... Foi andando para o</p><p>passado... Abriu-se-lhe uma cidade de monta-</p><p>nha, pontilhada de igrejas. E sempre para trás</p><p>— tinha então dezesseis anos —, ressurgiu-lhe</p><p>a cidadezinha</p><p>onde encontrara Duília. Aí pa-</p><p>rou. E Duília lhe repetiu calmamente aquele</p><p>gesto, o mais louco e gratuito, com que uma</p><p>moça pode iluminar para sempre a vida de um</p><p>homem tímido.</p><p>Acordou com raiva de ter acordado, fechou os</p><p>olhos para dormir de novo e reatar o fio de sonho</p><p>que trouxe Duília. Mas a imagem esquiva lhe es-</p><p>capou, Duília desapareceu no tempo.</p><p>(...)</p><p>Toda vez que pensava nela, o longo e inex-</p><p>pressivo interregno* do Ministério que chegava</p><p>a confundir-se com a duração definitiva de sua</p><p>própria vida apagava-se-lhe de repente da me-</p><p>mória. O tempo contraía-se.</p><p>Duília!</p><p>Reviu-se na cidade natal com apenas dezes-</p><p>seis anos de idade, a acompanhar a procissão</p><p>que ela seguia cantando. Foi nessa festa da</p><p>Igreja, num fim de tarde, que tivera a grande</p><p>revelação.</p><p>Passou a praticar com mais assiduidade a</p><p>janela. Quanto mais o fazia, mais as colinas da</p><p>outra margem lhe recordavam a presença cor-</p><p>poral da moça. Às vezes chegava a dormir com</p><p>a sensação de ter deixado a cabeça pousada no</p><p>colo dela. As colinas se transformavam em seios</p><p>de Duília. Espantava-se da metamorfose, mas se</p><p>comprazia na evocação.</p><p>(...)</p><p>Era o afloramento súbito da namorada (...).</p><p>ANÍBAL MACHADO. A morte da porta-estandarte e Tati, a garota e outras histórias.</p><p>Rio de Janeiro: José Olympio, 1976.</p><p>*Interregno: intervalo</p><p>Texto II</p><p>Ele está cansado, é quase meia-noite, e pode</p><p>afinal voltar para casa. (...). No edifício da esqui-</p><p>na, o mesmo cachorro de focinho enterrado na</p><p>lata de lixo. Ao passar sob as árvores, ao menor</p><p>arrepio do vento, gotas borrifam-lhe o rosto, que</p><p>ele não se incomoda de enxugar.</p><p>Ao mexer no portão, o cachorrinho late duas</p><p>vezes — estou aqui, meu velho — e, por mais</p><p>D0-LIT-EM-3013-CA-VU-257-278-LA-M012.indd 213 7/15/15 10:56 AM</p>onde encontrara Duília. Aí pa-
rou. E Duília lhe repetiu calmamente aquele 
gesto, o mais louco e gratuito, com que uma 
moça pode iluminar para sempre a vida de um 
homem tímido.
Acordou com raiva de ter acordado, fechou os 
olhos para dormir de novo e reatar o fio de sonho 
que trouxe Duília. Mas a imagem esquiva lhe es-
capou, Duília desapareceu no tempo.
(...)
Toda vez que pensava nela, o longo e inex-
pressivo interregno* do Ministério que chegava 
a confundir-se com a duração definitiva de sua 
própria vida apagava-se-lhe de repente da me-
mória. O tempo contraía-se.
Duília!
Reviu-se na cidade natal com apenas dezes-
seis anos de idade, a acompanhar a procissão 
que ela seguia cantando. Foi nessa festa da 
Igreja, num fim de tarde, que tivera a grande 
revelação.
Passou a praticar com mais assiduidade a 
janela. Quanto mais o fazia, mais as colinas da 
outra margem lhe recordavam a presença cor-
poral da moça. Às vezes chegava a dormir com 
a sensação de ter deixado a cabeça pousada no 
colo dela. As colinas se transformavam em seios 
de Duília. Espantava-se da metamorfose, mas se 
comprazia na evocação.
(...)
Era o afloramento súbito da namorada (...).
ANÍBAL MACHADO. A morte da porta-estandarte e Tati, a garota e outras histórias. 
Rio de Janeiro: José Olympio, 1976.
*Interregno: intervalo 
Texto II
Ele está cansado, é quase meia-noite, e pode 
afinal voltar para casa. (...). No edifício da esqui-
na, o mesmo cachorro de focinho enterrado na 
lata de lixo. Ao passar sob as árvores, ao menor 
arrepio do vento, gotas borrifam-lhe o rosto, que 
ele não se incomoda de enxugar.
Ao mexer no portão, o cachorrinho late duas 
vezes — estou aqui, meu velho — e, por mais 
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