Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

<p>2017	-	02	-	06</p><p>Revista	de	Direito	Constitucional	e	Internacional</p><p>2016</p><p>RDCI	VOL.96	(JULHO-AGOSTO	2016)</p><p>DIREITOS	FUNDAMENTAIS</p><p>3.	O	DIREITO	DE	RESISTÊNCIA	E	AS	MANIFESTAÇÕES	POPULARES	NO	BRASIL</p><p>3.	O	direito	de	resistência	e	as	manifestações	populares	no</p><p>Brasil</p><p>The	right	of	resistance	and	popular	manifestations	in	Brazil</p><p>(Autor)</p><p>MARCELO	BUCZEK	BITTAR</p><p>Doutorando	e	mestre	em	Direito	pela	Pontifícia	Universidade	Católica	de	São	Paulo.	Professor	assistente	mestre</p><p>em	Direito	Constitucional	da	Faculdade	de	Direito	da	PUC/SP,	com	experiência	na	área	de	Educação,	com	ênfase</p><p>em	ensino	superior,	atuando	principalmente	nos	seguintes	temas:	direito	constitucional,	ordem	federal,	direito</p><p>administrativo,	direito	educacional,	responsabilidade	civil	do	Estado.	Foi	professor	de	Direito	Constitucional	da</p><p>UNISO	e	UNISAL.	Procurador	Chefe	da	Procuradoria	Geral	da	Universidade	de	São	Paulo.	mbittar@usp.br</p><p>Sumário:</p><p>I	Introdução</p><p>II	A	previsão	legal	do	direito	de	resistência</p><p>III	Limitações</p><p>IV	Espécies</p><p>V	O	direito	de	resistência</p><p>VI	Movimentos	sociais</p><p>VII	Conclusão</p><p>VIII	Bibliografia</p><p>Área	do	Direito:	Constitucional</p><p>Resumo:</p><p>Esse	artigo	trabalha	a	hipótese	do	direito	de	manifestação	e	a	legitimidade	do	direito	de	resistência	como</p><p>forma	de	expressão	de	insatisfação	do	cidadão	diante	de	fatos,	opiniões,	atos	de	governo	vigente	e	passados,</p><p>propostas	 ideológicas	 etc.,	 como	 exercício	 da	 liberdade	 e	 da	 defesa	 da	 dignidade	 da	 pessoa	 humana.	 O</p><p>direito	 de	 resistência	 é	 utilizado	 com	 o	 propósito	 de	 defender	 a	 dignidade	 dos	 indivíduos	 e	 tem	 sido</p><p>utilizado	pela	 humanidade	desde	 remotos	 tempos	 como	direitos	 fundamentais.	 É	 possível	 afirmar	que	 o</p><p>direito	de	resistência,	encontra-se	implícito	em	nossa	Carta	Republicana,	e	desobriga	o	cidadão	de	aceitar</p><p>injustiças,	políticas	e	atitudes	que	desrespeitem	direitos	humanos,	sustentado	nos	princípios	da	liberdade	e</p><p>da	dignidade	da	pessoa	humana.</p><p>Abstract:</p><p>This	article	deals	with	the	possibility	of	manifestation	of	law	and	the	legitimacy	of	the	right	of	revolution	as</p><p>a	 form	 of	 citizen	 expression	 of	 dissatisfaction	 in	 the	 face	 of	 facts,	 opinions,	 acts	 of	 current	 and	 past</p><p>government,	 ideological	 proposals	 etc.,	 as	 an	 exercise	 of	 freedom	 and	 the	 defense	 of	 dignity	 of	 human</p><p>person.	The	right	of	resistance	is	used	for	the	purpose	of	defending	the	dignity	of	individuals	and	has	been</p><p>used	by	mankind	since	ancient	times	as	fundamental	rights.	It	can	be	argued	that	the	right	of	resistance,	is</p><p>implicit	 in	 our	 Republican	 Charter	 and	 relieve	 the	 citizen	 to	 accept	 injustices,	 policies	 and	 actions	 that</p><p>violate	human	rights,	supported	the	principles	of	freedom	and	human	dignity.</p><p>Palavra	Chave:	Constitucional	-	Direitos	Humanos	-	Resistência	-	Liberdade	e	dignidade	da	Pessoa</p><p>Humana.</p><p>Keywords:	Constitutional	-	Human	rights	-	Resistance	-	Freedom	and	Dignity	of	the	Human	Person.</p><p>I.	Introdução</p><p>O	direito	de	resistência	remonta	a	própria	história	da	humanidade,	como	forma	de	manifestação	do	direito</p><p>natural	que	se	expressava,	por	exemplo,	nas	atitudes	com	o	objetivo	de	preservar	a	vida	em	decorrência</p><p>das	manifestações	do	meio	 ambiente	que	 lhe	 afetavam	como	 frio,	 chuva,	 ataque	de	 animais	 e	de	outros</p><p>seres	humanos.</p><p>Decorre	de	um	impulso	do	intimo	do	ser	humano,	cujo	ato	nem	sempre	emana	do	mandamento	legal,	mas</p><p>de	um	senso	de	sobrevivência	e	de	preservação	até	certo	ponto	incontrolável.</p><p>Na	 Antiguidade	 o	 direito	 de	 resistência	 foi	 reconhecido	 em	 diversos	 eventos,	 como	 no	 antigo	 Egito,	 na</p><p>Mesopotâmia,	com	os	hebreus,	os	fenícios	e	os	persas,	passando	pela	Grécia	e	Roma.</p><p>Passamos	 rapidamente	 à	 Idade	 Média	 com	 o	 desenvolvimento	 do	 feudalismo,	 as	 grandes	 invasões	 e	 o</p><p>movimento	 das	 Cruzadas	 contra	 os	 "infiéis",	 a	 aliança	 firmada	 entre	 a	 burguesia	 e	 a	 realeza	 contra	 os</p><p>senhores	feudais.	A	Guerra	dos	Cem	Anos	(1337	a	1453),	a	Grande	Peste	e	a	revolta	camponesa	decorrente</p><p>do	aumento	dos	 impostos	e	o	desejo	de	 liberdade,	que	alcançou	a	França	em	1358,	propagando-se	para	a</p><p>Inglaterra,	desencadeando	movimentos	significativos	como	o	Constitucionalismo,	a	Revolução	Francesa	e	a</p><p>Revolução	Americana.</p><p>O	advento	da	Magna	Charta	Libertatum	(1215),	por	sua	vez	contribuiu	sobremaneira	para	o	surgimento	das</p><p>liberdades	públicas,	consagrando	diversos	direitos	fundamentais	como	o	habeas	corpus,	o	direito	de	ação,	a</p><p>ampla	defesa	e	o	contraditório	dentre	outros.</p><p>Santo	Tomás	de	Aquino, 1	ao	se	referir	sobre	a	dignidade	da	pessoa	humana,	explica	que	o	homem	é	uma</p><p>substância	racional	porque	tem	o	domínio	de	seus	atos,	agindo	por	si	mesmo	e	não	pelo	comando	de	outros</p><p>seres.	Em	outras	palavras,	o	homem	é	livre,	pois	tem	o	poder	de	determinar-se,	de	agir	por	si	mesmo.	Isso</p><p>lhe	confere	uma	superioridade	em	relação	a	todas	as	outras	substâncias	(entes)	que	não	compartilham	da</p><p>mesma	 potência.	 Essa	 superioridade	 é	 chamada	 expressamente	 de	 dignidade:	 "Ora,	 é	 grande	 dignidade</p><p>subsistir	em	uma	natureza	racional.	Por	isso	dá-se	o	nome	pessoa	a	todo	indivíduo	dessa	natureza,	como	foi</p><p>dito".	A	dignidade	humana	deriva	da	racionalidade,	afirma	Tomás	de	Aquino. 2</p><p>A	obra	de	Giovanni	Pico	della	Mirandola 3	(1463/1494),	filósofo	neoplatônico	e	humanista	do	Renascimento</p><p>Italiano,	tem	como	objetivo	principal	conciliar	religião	e	filosofia.	Assim	como	o	seu	mestre	Marcílio	Ficino,</p><p>baseava	as	suas	concepções	principalmente	em	Platão,	em	oposição	a	Aristóteles.</p><p>Em	sua	obra	MIRANDOLA	defende	a	visão	da	dignidade	humana	como	capacidade	de	autodeterminação	e</p><p>criação	 a	 partir	 da	 transformação	 da	 natureza.	 A	 razão	 e	 a	 inteligência	 do	 homem	 não	 possuem</p><p>exclusivamente	um	alcance	ético,	mas	 também	um	viés	poiético	 (de	poiésis:	produção,	 fabricação).	É	sua</p><p>visão	 do	 homem	 que	 o	 torna	 elo	 entre	 duas	 eras,	 a	medieval	 e	 a	moderna.	 A	 liberdade	 é	 o	 dom	 que	 o</p><p>homem	 recebeu.	 Sua	 dignidade	 está	 em	 saber	 usá-lo	 bem,	 transformando	 o	 mundo	 e	 a	 si	 mesmo	 em</p><p>direção	ao	melhor:	 "Que	a	nossa	alma	seja	 invadida	por	uma	sagrada	ambição	de	não	nos	contentarmos</p><p>com	as	coisas	medíocres,	mas	de	anelarmos	às	mais	altas,	de	nos	esforçarmos	por	atingi-las,	com	todas	as</p><p>nossas	energias,	desde	o	momento	em	que,	querendo-o,	isso	é	possível".</p><p>O	 melhor,	 assim,	 é	 tudo	 aquilo	 que	 eleva	 o	 homem,	 que	 o	 torna	 construtor,	 criador,	 uma	 espécie	 de</p><p>demiurgo	do	mundo,	aproximando-o	de	Deus.	É	isso	que,	segundo	MIRANDOLA,	converte	o	homem	em	um</p><p>ser	digno,	merecedor	de	respeito	por	parte	dos	outros	homens:	o	auto	aperfeiçoamento,	a	capacidade	de	se</p><p>tornar,	pelo	uso	da	razão,	um	"animal	celeste",	próximo	à	máxima	perfeição. 4</p><p>Na	 Idade	 Moderna,	 a	 era	 da	 expansão	 marítima	 e	 comercial	 europeia,	 com	 os	 descobrimentos,	 o</p><p>renascimento	 na	 Europa	 Central,	 na	 Inglaterra	 e	 na	 França,	 a	 Reforma	 da	 Igreja.	 O	 absolutismo	 na</p><p>Inglaterra	 e	 na	 França,	 a	 formação	 das	 colônias	 inglesas	 na	 América	 do	 Norte	 e	 a	 independência	 dos</p><p>Estados	Unidos	da	América.</p><p>A	Declaração	Americana,	ocorrida	logo	a	partir	da	Independência	das	Colônias	em	1776,	despontando	como</p><p>a	mais	importante	a	Declaração	do	Estado	de	Virgínia,	cujo	artigo	1º	prescrevia:</p><p>Que	todos	os	homens	são,	por	natureza,	igualmente	livres	e	independentes,	e	têm	certos	direitos	inatos,	dos</p><p>quais,	 quando	 entram	em	estado	de	 sociedade	não	podem	por	 qualquer	 acordo	privar	 ou	 despojar	 seus</p><p>pósteros	e	que	são:	o	gozo	da	vida	e	da	liberdade	com	os	meios	de	adquirir	e	de	possuir	a	propriedade	e	de</p><p>buscar	e	obter	a	felicidade	e	segurança.</p><p>As	influências	dessas	Declarações	são,	em	parte,	as	mesmas	da	Declaração	Francesa,	por	autores	como	Jonh</p><p>Locke,	Montesquieu	e	Rousseau	e	o	liberalismo	inglês	que	sempre	repercutiu	em	sua	colônia	americana.</p><p>Observe-se	que	a	Constituição	Federal	americana	de	1878	não	incluía,	 inicialmente,	nenhuma	Declaração</p><p>de	Direitos,	no	entanto,	dois	anos	depois,	foram	votados	dez	artigos	adicionais,	por	meio	de	emendas,	que</p><p>continham	a	consagração	dos	direitos	fundamentais,</p><p>alargados	por	emendas	posteriores.</p><p>A	 "Declaração	 dos	 Direitos	 do	 Homem	 e	 do	 Cidadão	 de	 1789 5"	 -	 Declaração	 Francesa	 (26.08.1789)	 -,</p><p>lembrando	 que	 a	 Queda	 da	 Bastilha	 deu-se	 em	 14	 de	 julho	 de	 1789,	 e	 que	 muito	 foi	 influenciada	 por</p><p>Rousseau,	em	sua	obra	Contrato	social,	Montesquieu,	O	Espírito	das	Leis	dentre	outras.</p><p>A	 importância	 histórica	 da	 queda	 da	 Bastilha	 é	 um	dos	 aspectos	 da	 Revolução	 Francesa	 que,	 segundo	 o</p><p>historiador	Bernard	Epin, 6	"sem	saber,	forjaram	o	símbolo	moderno	da	liberdade	conquistada	pelo	povo".</p><p>Sem	adentrar	a	questões	ideológicas	a	respeito	da	sua	origem,	se	liberal	ou	marxista,	fato	é	que	os	atores	da</p><p>Revolução,	homens	 e	mulheres,	 fizeram	a	Revolução	de	1798	ao	defenderem	os	princípios	de	 Igualdade,</p><p>Liberdade	 e	 Fraternidade,	 como	 sendo	 válidos	 a	 todos,	 marcos	 da	 humanidade,	 contrários	 ao</p><p>autoritarismo.</p><p>Posteriormente	os	constituintes	franceses	preferiram	inspirar-se	em	Locke,	e	Volteire,	tal	como	absorvido</p><p>pelas	Declarações	Americanas.</p><p>Não	 se	 pode	 deixar	 de	 acrescentar	 a	 Declaração	 Universal	 de	 Direitos	 do	 Homem,	 da	 Organização	 das</p><p>Nações	Unidas,	em	1948,	marco	histórico	dos	direito	humanos.</p><p>Dentre	 outros	 pensadores	 daquela	 época	 -	 Iluministas	 -	 Emannuel	 Joseph	 de	 Sieyès, 7	 em	 sua	 obra	 "A</p><p>Constituinte	Burguesa",	trata	do	tema	referente	ao	Terceiro	Estado,	e	foi	precursor	da	teoria	da	titularidade</p><p>do	 poder	 pertencente	 ao	 povo,	 da	 representatividade	 e	 da	 necessidade	 de	 uma	 constituinte	 para	 a</p><p>elaboração	 das	 normas	 racionais	 preconizadas	 pelo	 Constitucionalismo,	 que	 é	 um	 movimento</p><p>político/ideológico	 contrário	 ao	 Absolutismo	 e	 que	 preconiza	 normas	 racionais	 para	 governantes	 e</p><p>governados.</p><p>Esse	movimento	 -	Constitucionalismo	 -	 levou	a	passagem	do	Estado	Absolutista	para	o	Estado	de	Direito,</p><p>que	tem	as	seguintes	características	básicas:	superioridade	da	Constituição,	divisão	do	exercício	do	poder,</p><p>superioridade	da	lei	e	a	garantia	dos	direitos	individuais.	É	no	Estado	de	Direito	que	os	direitos	individuais</p><p>e	 as	 garantias	 aos	 direitos	 individuais,	 ou	 direito	 de	 resistência,	 têm	 maior	 destaque,	 como	 forma	 de</p><p>controle	dos	atos	estatais,	ou	autodefesa	da	sociedade,	cuja	titularidade	pertence	ao	cidadão,	mesmo	que	o</p><p>governo	não	admita	ser	opressivo: 8</p><p>Jamais	 um	 governo	 admite	 que	 seja	 opressivo,	 não	 apoiando	 de	modo	 algum	a	 resistência	 que	 se	 possa</p><p>oferecer	 à	 sua	 atitude.	 A	 teoria	 da	 resistência	 é	 uma	 categoria	 jurídica	 que	 faz	 parte	 dos	 direitos	 da</p><p>cidadania,	que	perde	conteúdo	quando	positivado.</p><p>Karel	 Vasak, 9	 influenciado	 por	 aqueles	 princípios,	 identifica	 três	 gerações	 de	 direitos	 fundamentais,	 a</p><p>saber	 a	 liberdade,	 a	 igualdade	 e	 a	 fraternidade,	 e	 que	 orienta	 importante	 classificação	 de	 direitos</p><p>fundamentais	atuais,	trabalhada	por	Paulo	Bonavides	em	sua	obra	Direito	Constitucional.</p><p>Esse	direito	de	resistência	é	 inerente	à	pessoa	humana,	devendo	ser	classificado	como	uma	 liberdade	ou</p><p>direito	fundamental	de	primeira	geração.</p><p>Na	Idade	Contemporânea	temos	a	exemplo	a	Independência	do	Brasil.</p><p>Esse	 rápido	e	despretensioso	histórico	 tem	o	objetivo	de	 ilustrar	 com	alguns	episódios	da	humanidade	a</p><p>ocorrência	 da	 manifestação	 do	 direito	 de	 resistência,	 ora	 do	 indivíduo,	 ora	 de	 uma	 classe	 social,</p><p>deflagrados	por	fenômenos	de	expressão	do	poder,	em	regra	discrepantes	dos	interesses	sociais	prevalentes</p><p>e	contrários	aos	valores	e	conceito	de	justiça	da	época.</p><p>II.	A	previsão	legal	do	direito	de	resistência</p><p>Maria	 Garcia, 10	 com	 propriedade	 singular,	 aduz	 que:	 "A	 identidade	 democrática	 ocorre	 entre	 povo	 e</p><p>governo,	 governantes	 e	 governados,	 o	 povo	 como	 titular	 efetivo	 do	 poder	 político	 ("é	 cada	 indivíduo</p><p>obedecendo,	em	última	análise,	não	às	ordens	e	determinações	de	um	poder	superior	e	estranho,	mas	às</p><p>suas	próprias	ordens	e	determinações,	pois	cada	indivíduo,	na	democracia,	concorre	para	a	formação	dela.</p><p>Como	 observa	 Kelsen,	 democracia	 é	 autodeterminação,	 formulação	 de	 normas	 jurídicas	 por	 aqueles</p><p>mesmos	que	devem	obedecê-las,	com	exclusão	de	toda	influência	estranha")".</p><p>A	atual	Constituição	da	República	brasileira	 traz	 como	garantias	 fundamentais	o	mandado	de	 segurança</p><p>individual,	 o	mandado	de	 segurança	 coletivo,	 o	mandado	de	 injunção,	 o	habeas	data,	 o	habeas	corpus,	 a</p><p>ação	popular,	como	instrumentos	democráticos	de	resistência	do	indivíduo	face	atos	ilegais	ou	praticadas</p><p>com	abuso	de	poder	ou	desvio	de	finalidade	pelo	agente	político.</p><p>O	direito	de	resistência,	entendido	como	garantia	individual	ou	coletiva	regida	pelo	direito	constitucional,</p><p>está	a	serviço	da	proteção	a	liberdade,	da	democracia	e	também	das	transformações	sociais	(...). 11</p><p>A	Justiça	do	Trabalho	tem	reconhecido	o	exercício	do	direito	de	resistência	do	trabalhador	ao	descumprir</p><p>ordem	ilícita:</p><p>DIREITO	 DE	 RESISTÊNCIA.	 JUSTA	 CAUSA.	 A	 recusa	 do	 empregado	 de	 cumprir	 ordens	 que	 afrontem	 o</p><p>ordenamento	 jurídico	 não	 caracteriza	 ato	 de	 indisciplina	 ou	 insubordinação.	 No	 caso	 em	 análise,	 o</p><p>reclamante	 era	 encarregado	 de	 produção	 e	 não	 aplicou	 a	 ordem	de	 reduzir	 o	 intervalo	 de	 subordinado</p><p>para	30	minutos,	medida	que	ofenderia	o	art.	 71	da	 CLT. 12</p><p>No	Direito	Penal	temos	o	entendimento	de	que	ao	preso	reserva-se	o	direito	de	fugir,	estando	preso,	como</p><p>reconhecimento	do	direito	de	resistência,	e	não	se	trata	de	defender	o	direito	de	fugir,	mas	sim	o	de	manter-</p><p>se	em	liberdade,	até	porque,	no	Brasil,	fugir	ou	tentar	fugir	da	prisão	é	considerado	falta	grave,	conforme	a</p><p>Lei	de	Execuções	Penais, 13	o	que	pode	retardar	a	progressão	do	regime	prisional,	ou	fazê-lo	regredir.</p><p>É	 direito	 natural	 do	 homem	 fugir	 de	 um	 ato	 que	 entenda	 ilegal.	 Qualquer	 um	 de	 nós	 entenderia	 dessa</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1943%5C%5C5-1&fromProview=true&fcwh=true&unit=A.71&unit2Scroll=LGL-1943-5-1|A.71&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1943%5C%5C5&fromProview=true&fcwh=true&unit=&unit2Scroll=LGL-1943-5|&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>forma.	É	algo	natural,	é	inato	ao	homem. 14</p><p>Como	decorrência	do	direito	à	 liberdade,	o	direito	de	resistência	 tem	fundamento	constitucional,	que	em</p><p>seu	artigo	5º,	§	2.º,	prescreve	que:</p><p>§	2.º	Os	direitos	e	garantias	expressos	nesta	Constituição	não	excluem	outros	decorrentes	do	regime	e	dos</p><p>princípios	por	ela	adotados,	ou	dos	 tratados	 internacionais	em	que	a	República	Federativa	do	Brasil	 seja</p><p>parte.</p><p>Desse	modo,	 é	 correto	 concluir	que	 se	de	um	 lado	 temos	a	 falta	de	expressa	previsão	 legal	ao	direito	de</p><p>resistência,	de	outro	temos	assegurado	o	direito	à	liberdade	e	à	dignidade	humana	que	devem	ser	exercidos</p><p>de	forma	ampla,	considerando	aqui	a	interpretação	extensiva	dos	termos,	nos	levando	a	assertiva	de	que	o</p><p>direito	 de	 resistência	 é	 implícito	 em	 nosso	 ordenamento	 jurídico	 e,	 de	 toda	 sorte,	 não	 sendo	 proibido	 é</p><p>permitido	ao	particular	seu	exercício,	em	decorrência	 lógica	do	princípio	da	 legalidade,	mesmo	sofrendo</p><p>certas	limitações	no	seu	exercício.</p><p>III.	Limitações</p><p>O	direito	 de	 resistência,	 decorrente	 do	 próprio	 sistema	 normativo,	 tem	 limitações	 constitucionais	 a	 essa</p><p>forma	de	ação	política,	que	deve	conformidade	com	os	princípios	democráticos,	tal	qual,	por	sua	vez,	a	ação</p><p>armada,	 consoante	 artigo	 5º,	 XLIV,	 da	Constituição	da	República,	 constituindo	 em	 crime	 contra	 a	 ordem</p><p>constitucional.	A	 respeito	da	 resistência	 ilícita,	 temos	os	 seguintes	 tipos	penais:	os	 crimes	constitucionais</p><p>(art.	 5º,	XLIV,	da	 CF),	o	crime	de	resistência	(art.	 329	do	 CP)	e	o	crime	de	desobediência	(art.</p><p>330	do</p><p>CP).</p><p>IV.	Espécies</p><p>O	direito	de	resistência	é	gênero	do	qual	são	espécies,	em	rol	não	exaustivo:	a)	objeção	de	consciência;	b)</p><p>greve	política;	 c)	desobediência	civil;	d)	direito	à	revolução;	e)	princípio	da	autodeterminação	dos	povos.</p><p>Para	 José	 Carlos	 Buzanello, 15	 a	 objeção	 de	 consciência	 é	 a	 recusa	 ao	 cumprimento	 dos	 deveres</p><p>incompatíveis	 com	as	 convicções	morais,	políticas	e	 filosóficas,	numa	pretensão	de	direito	 individual	em</p><p>dispensar-se	da	obrigação	jurídica	imposta	pelo	Estado	a	todos.</p><p>A	 objeção	 de	 consciência	 se	 caracteriza	 por	 um	 teor	 de	 consciência	 razoável,	 e	 pouca	 publicidade	 e	 de</p><p>nenhuma	 agitação,	 objetivando,	 no	 máximo,	 um	 tratamento	 alternativo	 ou	 alterações	 na	 lei.	 O</p><p>reconhecimento	jurídico	da	objeção	de	consciência	se	dá	via	constitucional,	regulamentado	em	parte	por	lei</p><p>especial	 e,	 ainda,	 por	 decisão	 judicial.	 Assente	 como	 direito	 fundamental	 na	 Constituição	 de	 1988,	 o</p><p>instituto	 jurídico	 da	 objeção	 de	 consciência	 se	 dá	 em	 duas	 perspectivas:	 uma,	 como	 escusa	 genérica	 de</p><p>consciência	(art.	 5º,	VIII,	da	 CF)	e	outra,	como	escusa	restritiva	ao	serviço	militar	(art.	 143,	§	1.º,	da</p><p>CF).	Pelo	sistema	constitucional,	o	preceito	especial	combina	com	o	preceito	genérico,	no	caso,	a	objeção	de</p><p>consciência	 ao	 serviço	 militar.	 O	 direito	 de	 greve,	 manifestação	 coletiva	 de	 determinada	 classe	 de</p><p>trabalhadores	que	se	opõem	ao	empregador	em	razão	de	determinações	abusivas	ou	desautorizadas	por</p><p>convenção	coletiva	de	trabalho,	ou	de	caráter	político,	como	o	movimento	por	tarifas	zero	de	transporte	e</p><p>outras	manifestações	contrárias	ao	governo.</p><p>O	 direito	 de	 revolução	 quer	 iniciada	 por	movimento	 popular,	 ou	 por	 determinada	 classe	 (fator	 real	 de</p><p>poder	 segundo	Ferdinand	Lassale) 16	 -	 como	o	exército	 -,	 que	busca	a	 imposição	de	nova	ordem	 jurídica,</p><p>conhecida	por	golpe	de	Estado,	em	razão	direta	da	insatisfação	com	as	diretrizes	adotadas	pelo	governo	ou</p><p>em	razão	de	 atos	 reiterados	de	 improbidade	na	administração	 estatal.	Ainda	o	direito	de	 resistência	 em</p><p>decorrência	dos	fundamentos	da	autodeterminação	dos	povos,	de	natureza	política	 (art.	 4.º,	III,	da</p><p>CF),	 que	 assegura	 a	 livre	 organização	 política	 e	 a	 soberania	 do	 povo	 de	 um	 determinado	 Estado.</p><p>Internamente	ou	em	caráter	nacional	está	vinculado	ao	direito	político	positivo	ativo	 (direito	de	votar)	e</p><p>passivo	 (direito	 de	 ser	 votado),	 ou	 de	 cidadania,	 com	 a	 participação	 efetiva	 na	 escolha	 de	 seus</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1988%5C%5C3&fromProview=true&fcwh=true&unit=A.5&unit2Scroll=LGL-1988-3|A.5&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1988%5C%5C3&fromProview=true&fcwh=true&unit=&unit2Scroll=LGL-1988-3|&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1940%5C%5C2&fromProview=true&fcwh=true&unit=A.329&unit2Scroll=LGL-1940-2|A.329&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1940%5C%5C2&fromProview=true&fcwh=true&unit=&unit2Scroll=LGL-1940-2|&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1940%5C%5C2&fromProview=true&fcwh=true&unit=A.330&unit2Scroll=LGL-1940-2|A.330&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1940%5C%5C2&fromProview=true&fcwh=true&unit=&unit2Scroll=LGL-1940-2|&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1988%5C%5C3&fromProview=true&fcwh=true&unit=A.5&unit2Scroll=LGL-1988-3|A.5&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1988%5C%5C3&fromProview=true&fcwh=true&unit=&unit2Scroll=LGL-1988-3|&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1988%5C%5C3&fromProview=true&fcwh=true&unit=A.143&unit2Scroll=LGL-1988-3|A.143&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1988%5C%5C3&fromProview=true&fcwh=true&unit=&unit2Scroll=LGL-1988-3|&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1988%5C%5C3&fromProview=true&fcwh=true&unit=A.4&unit2Scroll=LGL-1988-3|A.4&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1988%5C%5C3&fromProview=true&fcwh=true&unit=&unit2Scroll=LGL-1988-3|&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>representantes	 e	 nas	 decisões	 políticas.	 Internacionalmente	 é	 o	 direito	 de	 lutar	 contra	 a	 ocupação</p><p>estrangeira	do	território	(invasão	estrangeira),	pelo	restabelecimento	da	soberania	e	da	ordem	jurídica.</p><p>A	 desobediência	 civil	 é	 forma	 de	 participação	 política	 indireta	 da	 sociedade	 nas	 decisões	 do	 Estado,	 e</p><p>ressurge	no	século	XIX,	vinculada	à	questão	dos	impostos	e	à	cidadania,	pela	obra	de	Henry-David	Thoreau,</p><p>cujo	título	original	consta,	expressivamente,	On	the	duty	of	civil	desobedience.</p><p>José	Carlos	Buzanello 17	 bem	 sintetiza	 as	 características	 dessa	 espécie	 de	 direito	 de	 resistência:	 a)	 é	 uma</p><p>forma	 particularizada	 de	 resistência	 e	 qualifica-se	 na	 ação	 pública,	 simbólica	 e	 ético-normativa;	 b)</p><p>manifesta-se	de	forma	coletiva	e	pela	ação	"não-violenta";	c)	quer	demonstrar	a	injustiça	da	lei	ou	do	ato</p><p>governamental	 mediante	 ações	 de	 grupos	 de	 pressão	 junto	 aos	 órgãos	 de	 decisão	 do	 Estado;	 d)	 visa	 à</p><p>reforma	jurídica	e	política	do	Estado,	não	sendo	mais	do	que	uma	contribuição	ao	sistema	político	ou	uma</p><p>proposta	para	o	aperfeiçoamento	 jurídico.	Propõe	apenas	a	negação	de	uma	parte	da	ordem	 jurídica,	 ao</p><p>pedir	 a	 reforma	ou	a	 revogação	de	um	ato	oficial	mediante	 ações	de	mobilização	pública	dos	 grupos	de</p><p>pressão	 junto	 aos	 órgãos	 de	 decisão	 do	 Estado.	 A	 desobediência	 civil	 na	 perspectiva	 constitucional</p><p>brasileira	decorre	da	cláusula	constitucional	aberta,	que	admite	outros	direitos	e	garantias,	e	dos	princípios</p><p>do	regime	adotado	(art.	 5.º,	§	2.º,	da	 CF)	e	liga-se	especialmente	aos	princípios	da	proporcionalidade	e</p><p>da	solidariedade,	que	permitem	protestos	contra	atos	que	violem	esses	princípios	da	ordem	política.</p><p>Assim	 é	 que	 constatamos	 a	 existência	 de	 direitos	 e	 garantias	 expressos	 e	 implícitos	 na	 Constituição,	 de</p><p>modo	a	permitir	a	ilação	de	que	o	direito	de	resistência	é	decorrência	lógica	do	exercício	da	cidadania,	logo,</p><p>é	obrigação	do	titular	do	poder.</p><p>V.</p><p>O	direito	de	resistência</p><p>Uma	vez	mais	vem	ao	encontro	o	entendimento	de	Maria	Garcia 18	ao	ressaltar	o	pensamento	de	Hannah</p><p>Arendt	de	que	o	verdadeiro	conteúdo	da	liberdade	não	são	as	conquistas	da	igualdade,	da	possibilidade	de</p><p>reunião,	 o	 direito	 de	 petição,	 as	 liberdades	 que	 hoje	 associamos	 ao	 governo	 constitucional	 -	 "às	 quais</p><p>poderíamos	acrescentar	nossas	próprias	aspirações	a	sermos	libertados	da	penúria	e	do	medo"	-	todas	essas</p><p>conquistas	que	são,	de	fato,	"essencialmente	negativas",	são	produtos	da	libertação,	mas	"não	constituem,</p><p>absolutamente,	 o	 verdadeiro	 conteúdo	 da	 liberdade,	 a	 qual	 significa	 participação	nas	 coisas	 públicas	 ou</p><p>admissão	ao	mundo	político".</p><p>O	direito	de	resistência	tem	previsão	na	Declaração	Universal	dos	Direitos	do	Homem:</p><p>Artigo	19.º</p><p>Todo	 o	 indivíduo	 tem	 direito	 à	 liberdade	 de	 opinião	 e	 de	 expressão,	 este	 direito	 implica	 a	 liberdade	 de</p><p>manter	as	suas	próprias	opiniões	sem	interferência	e	de	procurar,	receber	e	difundir	informações	e	ideias</p><p>por	qualquer	meio	de	expressão	independentemente	das	fronteiras.</p><p>Trata-se	 de	 direito	 fundamental	 que	 diz	 respeito	 à	 manifestação	 dos	 sentimentos	 do	 indivíduo,	 sua</p><p>criatividade,	juízo	de	valor,	conceitos.	A	Constituição	da	República	traz	em	seu	artigo	5.º,	IX,	que	o	direito	de</p><p>expressão	manifestação	por	meio	de	juízos	de	valor.</p><p>A	liberdade	de	expressão	se	manifesta	de	diversas	formas	e	oportunidades,	quer	na	opinião,	 informação,</p><p>escolha,	livre	arbítrio,	no	trabalho,	no	laser,	na	política,	na	religião	e	outras.</p><p>A	 liberdade	 de	 expressão,	 sobretudo	 em	 política	 e	 questões	 públicas	 é	 o	 suporte	 vital	 de	 qualquer</p><p>democracia.	Os	governos	democráticos	não	controlam	o	conteúdo	da	maior	parte	dos	discursos	escritos	ou</p><p>verbais.	Assim,	geralmente	as	democracias	têm	muitas	vozes	exprimindo	ideias	e	opiniões	diferentes	e	até</p><p>contrárias. 19</p><p>A	 democracia	 depende	 de	 uma	 sociedade	 civil	 educada	 e	 bem	 informada	 cujo	 acesso	 à	 informação	 lhe</p><p>permite	participar	tão	plenamente	quanto	possível	na	vida	pública	da	sua	sociedade	e	criticar	funcionários</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1988%5C%5C3&fromProview=true&fcwh=true&unit=A.5&unit2Scroll=LGL-1988-3|A.5&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1988%5C%5C3&fromProview=true&fcwh=true&unit=&unit2Scroll=LGL-1988-3|&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>do	governo	ou	políticas	insensatas	e	tirânicas.	Os	cidadãos	e	os	seus	representantes	eleitos	reconhecem	que</p><p>a	democracia	depende	de	acesso	mais	amplo	possível	a	ideias,	dados	e	opiniões	não	sujeitos	a	censura.</p><p>A	 proteção	 da	 liberdade	 de	 expressão	 é	 um	 direito	 chamado	 negativo,	 exigindo	 simplesmente	 que	 o</p><p>governo	 se	 abstenha	 de	 limitar	 a	 expressão,	 contrariamente	 à	 ação	 direta	 necessária	 para	 os	 chamados</p><p>direitos	afirmativos.	Na	sua	maioria,	as	autoridades	em	uma	democracia	não	se	envolvem	no	conteúdo	do</p><p>discurso	escrito	ou	falado	na	sociedade.</p><p>A	 liberdade	 de	 expressão	 é	 um	 direito	 fundamental,	 mas	 não	 é	 absoluto,	 e	 não	 pode	 ser	 usado	 para</p><p>justificar	a	violência,	a	difamação,	a	calúnia,	a	subversão	ou	a	obscenidade.	As	democracias	consolidadas</p><p>geralmente	requerem	um	alto	grau	de	ameaça	para	 justificar	a	proibição	da	 liberdade	de	expressão	que</p><p>possa	 incitar	 à	 violência,	 a	 caluniar	 a	 reputação	 de	 outros,	 a	 derrubar	 um	 governo	 constitucional	 ou	 a</p><p>promover	um	comportamento	licencioso.	A	maioria	das	democracias	também	proíbe	a	expressão	que	incita</p><p>ao	ódio	racial	ou	étnico.</p><p>Veremos	esses	reflexos	da	liberdade	de	expressão,	na	forma	do	exercício	do	direito	de	resistência,	ocorrido</p><p>nas	chamadas	Manifestações	de	Julho	de	2013	ocorridas	no	Brasil.</p><p>VI.	Movimentos	sociais</p><p>A	intervenção	do	Estado	na	vida	cotidiana	suscitou	a	ação	coletiva	popular,	frequentemente	sob	a	forma	de</p><p>resistência	 ao	 Estado,	 mas	 algumas	 vezes	 assumindo	 o	 caráter	 de	 novas	 reivindicações.	 Quando	 as</p><p>autoridades	do	Estado	tentaram	obter	recursos	e	aquiescência,	elas,	os	outros	detentores	de	poder	e	grupos</p><p>de	 cidadãos	 comuns	 negociaram	 novos	 acordos	 sobre	 as	 condições	 em	 que	 o	 Estado	 podia	 extrair	 ou</p><p>controlar,	e	os	tipos	de	exigências	que	os	detentores	de	poder	ou	o	povo	comum	podiam	fazer	ao	Estado. 20</p><p>Reinhard	Bendix,	que	trata	da	emergência	dos	estados	nacionais	na	Europa,	em	Kings	or	People:	Power	and</p><p>the	Mandate	 to	 Rule 21,	 procura	 entender	 a	 razão	 para	 a	 emergência	 da	 soberania	 popular	 e	 a	 crise	 da</p><p>dominação	tradicional	ou	dinástica,	no	mundo	ocidental,	a	chamada	"especificidade	do	Ocidente".	A	força</p><p>da	 nova	 legitimidade	 da	 ordem	 social	 e	 da	 autoridade	 pública,	 a	 figura	 do	 cidadão,	 e	 o	 declínio	 da</p><p>legitimidade	 dos	 velhos	 monarcas,	 do	 conceito	 tradicional	 de	 soberania,	 dinastias	 de	 descendentes	 de</p><p>heróis	 de	 guerra	 e	 grandes	 estadistas,	 enfraquecidos	 diante	 da	 nova	 fonte	 de	 legitimidade	 política,	 o</p><p>mandato	popular.</p><p>"A	 mudança	 nas	 relações	 sociais	 e	 na	 estrutura	 de	 poder	 político	 é	 acompanhada	 por	 movimentos	 de</p><p>protestos,	 crises	 de	 legitimidade,	mobilização	 social	 e	 a	 emergência	 de	 um	novo	 padrão	 de	 direitos	 que</p><p>toma	corpo	na	ideia	de	Cidadania".</p><p>O	mundo,	na	década	de	1960/1970,	apresentava	manifestações	que	refletiram	o	espírito	de	uma	época	de</p><p>intensa	 contestação	 dos	 padrões	 sociais,	 das	 influências	 estrangeiras,	 de	 uma	 geração	 de	 jovens	 que</p><p>buscavam	liberdade	através	de	ideais	contraculturais,	políticos	e	revolucionários.</p><p>Essas	décadas	foram	significativas	em	termos	de	manifestação	social	e	cultura.</p><p>Em	agosto	de	1961,	ocorre	a	construção	do	Muro	de	Berlim,	separando	a	Alemanha	em	Oriental	e	Ocidental,</p><p>esta	capitalista.</p><p>No	final	da	década	de	1960	intensificaram-se	os	protestos	nos	Estados	Unidos	e	no	mundo	contra	a	Guerra</p><p>do	Vietnã	(1955/1975),	fortalecendo	movimentos	pacifistas,	o	Festival	de	Woodstock	que	exemplificou	a	era</p><p>comunista	comunistacomunistacomunista	e	a	contracultura	do	final	dos	anos	1960	e	começo	de	70.</p><p>Em	1963	ocorreu	a	Marcha	sobre	Washington,	onde	ativistas	negros	e	brancos	marcharam	reivindicando</p><p>direitos	 civis	aos	negros,	 a	 favor	da	 igualdade	dos	direitos	 civis	para	 todos	os	 cidadãos,	o	que	 colaborou</p><p>para	que	Martin	Luther	King	viesse	a	receber	o	Prêmio	Nobel	da	Paz	por	seus	esforços	pacíficos	pelo	fim	da</p><p>segregação	racial	e	pelos	direitos	civis	dos	negros	nos	Estados	Unidos,	em	1964.</p><p>Na	França,	em	maio	de	1968	instala-se	a	greve	geral.	Alguns	filósofos	e	historiadores	afirmaram	que	essa</p><p>rebelião	 foi	 o	 acontecimento	 revolucionário	mais	 importante	 do	 século	 XX,	 porque	 não	 se	 deveu	 a	 uma</p><p>camada	 restrita	 da	 população,	 como	 trabalhadores	 ou	 minorias,	 mas	 a	 uma	 insurreição	 popular	 que</p><p>superou	barreiras	étnicas,	culturais,	de	idade	e	de	classe.</p><p>No	Brasil,	em	1984,	após	duas	décadas	intimidadas	pela	repressão,	o	movimento	das	"Diretas	Já"	ressuscitou</p><p>a	esperança	e	a	coragem	da	população.	Além	de	poder	eleger	um	representante,	a	eleição	direta	sinalizava</p><p>mudanças	também	econômicas	e	sociais.	Lideranças	estudantis,	da	UNE	(União	Nacional	dos	Estudantes),</p><p>sindicatos	 como	a	 CUT	 (Central	Única	 dos	 Trabalhadores),	 intelectuais,	 artistas	 e	 religiosos	 reforçaram	o</p><p>coro	 pelas	 "Diretas	 Já".	 A	 proposta	 de	 emenda	 constitucional	 pelas	 eleições	 diretas	 foi	 rejeitada	 pelo</p><p>Congresso	Nacional	 em	 votação	 de	 25	 de	 abril	 de	 1984.	 As	 eleições	 diretas	 para	 presidente	 do	 Brasil	 só</p><p>ocorreram	em	1989,	após	ser	estabelecida	na	Constituição	de	1988.</p><p>Em	1992,	após	muitos	anos	de	ditadura	militar	e	eleições	indiretas,	uma	campanha	popular	tomou	as	ruas</p><p>para	 pedir	 o	 afastamento	 de	 Fernando	 Collor	 de	Melo	 do</p><p>cargo	 de	 presidente.	 Acusado	 de	 corrupção	 e</p><p>esquemas	 ilegais	 em	seu	governo,	 a	 campanha	 "Fora	Collor"	mobilizou	muitos	 estudantes	que	 saíram	às</p><p>ruas	com	as	caras	pintadas	para	protestar	contra	o	presidente	corrupto.</p><p>No	 dia	 29	 de	 setembro	 de	 1992	 cerca	 de	 100	mil	 pessoas	 acompanharam	a	 votação	 do	 impeachment	 de</p><p>Collor	no	Congresso,	o	qual	foi	aprovado	por	441	votos	favoráveis	e	apenas	38	contrários.	Fernando	Collor</p><p>foi	cassado,	perdendo	o	cargo	e	tendo	seus	direitos	políticos	suspensos	por	oito	anos.</p><p>Em	 julho	 de	 2009,	 as	 eleições	 do	 Irã	 foram	extremamente	 disputadas	 entre	 o	 então	 presidente	 do	 Irã,	 o</p><p>conservador	Mahmoud	Ahmadinejad,	e	o	ex-premiê	moderado	Mir	Hossein	Mousavi.	Quando	Ahmadinejad</p><p>foi	reeleito	com	62,6%	dos	votos,	Mousavi	alegou	fraude	nas	eleições	e	pediu	para	que	uma	nova	votação</p><p>fosse	 realizada.	Milhares	de	manifestantes	que	 contestaram	os	 resultados	nas	urnas	 saíram	às	 ruas,	 fato</p><p>sem	precedentes	no	país	persa	desde	a	Revolução	Islâmica,	em	1979.</p><p>Em	dezembro	de	2010,	Mohamed	Bouazizi,	um	vendedor	de	frutas	e	vegetais	na	cidade	de	Sidi	Bouzid,	teve</p><p>seus	produtos	confiscados	por	um	agente	municipal	e	apanhou	quando	tentou	reagir.	Ele	então	ateou	fogo</p><p>ao	próprio	corpo,	desatando	protestos	na	cidade	no	centro	do	país.	As	manifestações	se	espalharam	pelo</p><p>país	e	passaram	a	refletir	uma	série	de	descontentamentos	da	população	com	o	governo,	desencadeando	o</p><p>movimento	que	ficou	conhecido	como	a	Primavera	Árabe,	onda	de	protestos	contra	regimes	autocráticos</p><p>no	Oriente	Médio	e	norte	da	África	países	árabes	e	contra	as	condições	de	vida	da	população.</p><p>Em	janeiro	de	2011,	Inspirados	na	revolta	da	Tunísia,	ativistas	do	Egito	tomam	as	ruas	durante	um	feriado</p><p>nacional	ligado	às	Forças	Armadas,	chamando	a	data	de	"Dia	de	Fúria".	Milhares	marcharam	no	centro	de</p><p>Cairo,	capital	do	país,	em	direção	à	Praça	Tahrir,	que	virou	o	epicentro	da	revolta.	Logo,	as	manifestações	se</p><p>espalharam	por	todo	o	país,	culminando	com	o	fim	dos	30	anos	do	governo	de	Hosni	Mubarak.</p><p>Em	 fevereiro	de	2011,	na	Libia,	 famílias	de	prisioneiros	que	 foram	alvo	de	um	massacre	pelas	 forças	do</p><p>regime	de	Muamar	Kadafi	em	1996	fizeram	uma	manifestação	pacífica	pelas	ruas	de	Benghazi	pedindo	por</p><p>direitos	humanos	e	democracia.	A	violência	começou	quando	forças	de	segurança	prenderam	Fathi	Terbil,</p><p>um	 jovem	advogado	e	ativista.	Em	questão	de	horas,	 centenas	 se	 reuniram	do	 lado	de	 fora	da	delegacia</p><p>pedindo	a	libertação	de	Terbil.	Os	protestos	se	intensificaram	em	Benghazi	e,	com	o	estímulo	das	revoltas</p><p>egípcia	e	tunisiana,	logo	se	espalharam	pelo	país	e	viraram	uma	violenta	guerra	civil,	que	culminou	com	a</p><p>morte	do	líder	Muamar	Kadafi	pelos	opositores	em	outubro	daquele	ano.</p><p>Em	março	de	2011,	após	as	prisões	de	ao	menos	15	crianças	por	pichar	grafites	nos	muros	de	uma	escola</p><p>contra	 o	 governo	 do	 presidente	 Bashar	 al-Assad	 provocaram	 revolta	 na	 população	 que	 saiu	 às	 ruas	 em</p><p>manifestações.	Logo,	os	protestos	 se	espalharam	por	províncias	no	centro	do	país	até	alcançar	Damasco,</p><p>capital	e	sede	do	governo	Assad.	Desde	dezembro	de	2011,	a	ONU	reconhece	que	o	país	está	em	guerra	civil,</p><p>que	continua	ativa	atualmente	(2016).</p><p>Em	setembro	de	2011	iniciou-se	o	movimento	"Ocupe	Wall	Street",	deflagrado	em	Nova	York	(EUA)	e	depois</p><p>em	cidades	em	cerca	de	80	países,	com	manifestações	contra	a	concentração	de	renda	nos	EUA,	e	pediram	o</p><p>fim	 da	 influência	 das	 corporações	 financeiras	 no	 governo,	 do	 favorecimento	 dos	 ricos,	 e	 melhoras	 no</p><p>sistema	de	saúde	e	de	educação.</p><p>Outras	manifestações	de	igual	importância	ocorreram	pelo	mundo	reivindicando	respeito	à	liberdade	e	à</p><p>dignidade	das	pessoas.</p><p>No	Brasil,	um	ato	que	começou	no	dia	06	de	junho	2013,	devido	ao	aumento	das	passagens	de	transporte</p><p>público	 que	 passariam	 de	 R$	 3,00	 para	 R$	 3,20,	 é	 considerada	 o	 marco	 zero	 da	 maior	 sequência	 de</p><p>manifestações	sociais	desde	a	era	Collor. 22</p><p>No	 ano	 de	 2014,	 com	 a	 realização	 da	 Copa	 do	Mundo	 FIFA	 no	 Brasil,	 eclodiram	 diversas	manifestações</p><p>sociais	contrárias	à	sua	realização,	sendo	em	24.04.2014	em	São	Paulo,	em	11.07.2014,	em	Brasília	e,	no	Rio</p><p>de	 Janeiro,	 houve	 manifestação	 promovida	 pelos	 comitês	 populares	 da	 Copa	 e	 a	 Frente	 Independente</p><p>Popular-RJ,	 com	 passeatas	 e	 distribuição	 de	 panfletos	 no	 final	 de	 semana,	 nas	 redes	 sociais	 (corrente</p><p>identificada	por	#OLegadoDaCopa	e	#ATropaDoBrasil),	para	ocorrer	após	a	final	em	quatro	cidades-sede.	A</p><p>Articulação	 Nacional	 dos	 Comitês	 Populares	 da	 Copa	 (Ancop)	 e	 os	 demais	 movimentos	 sociais	 que</p><p>participam	do	Encontro	dos	Atingidos	-	Quem	Perde	com	os	Megaeventos	e	Megaempreendimentos	em	Belo</p><p>Horizonte,	realizaram	protestos	e	mobilizações	durante	o	Mundial.</p><p>Motivada	pela	 grave	 crise	hídrica	que	 assola	 o	Brasil,	 principalmente	 em	São	Paulo,	movimentos	 sociais</p><p>realizaram	protestos	contra	falta	de	água. 23</p><p>Tivemos	ainda	as	manifestações	 sociais	 "Fora	Dilma",	 "Fora	Renan	Calheiros",	 "Fora	Globo",	 "Não	à	Cura</p><p>Gay",	que	previa	autorizar	psicólogos	a	oferecer	tratamento	para	a	homossexualidade,	"Não	à	PEC-33",	que</p><p>reduziria	o	poder	do	STF	(Supremo	Tribunal	Federal),	"Não	à	PEC-37",	que	tiraria	o	poder	de	investigação</p><p>do	Ministério	Público,	"Fora	aos	partidos	políticos",	"Barbosa	Presidente",	dentre	outras. 24</p><p>Todas	essas	manifestações	sociais	servem	para	demonstrar	que	também	no	Brasil	o	direito	de	resistência</p><p>está	presente,	como	instrumento	de	garantia	de	liberdade	e	da	dignidade	da	pessoa,	embora	não	expresso</p><p>na	Constituição	da	República.</p><p>Observo	que	o	projeto	de	lei	-	PL	2016/15	-,	de	autoria	do	Poder	Executivo,	que	altera	a	Lei	12.850,	de	02	de</p><p>agosto	de	2013,	e	a	Lei	10.446,	de	8	de	maio	de	2002,	dispõe	sobre	organizações	terroristas	e	prevê	a	pena	de</p><p>reclusão	 de	 12	 a	 30	 anos	 em	 regime	 fechado,	 sem	 prejuízo	 das	 penas	 relativas	 a	 outras	 infrações</p><p>decorrentes	desse	crime.</p><p>Todavia,	 a	 esse	 respeito,	 grupos	 sociais	 e	 juristas	argumentam	que	esse	projeto	de	 lei	poderá	 considerar</p><p>terrorismo	os	protestos	realizados	por	grupos	sociais,	que	não	raramente	foram	palco	do	uso	de	violência,</p><p>destruição	patrimonial	pública	e	privada,	cuja	autoria	muitas	vezes	foi	imputada	ao	grupo	chamado	"Black</p><p>Bloc".</p><p>Muito	 embora	 o	 texto	 do	 projeto	 de	 lei	 traga	 como	 exceção	 a	 conduta	 individual	 ou	 coletiva	 nas</p><p>manifestações	 políticas,	 nos	 movimentos	 sociais,	 sindicais,	 religiosos	 ou	 de	 classe	 profissional	 se	 eles</p><p>tiverem	 como	 objetivo	 defender	 direitos,	 garantias	 e	 liberdades	 constitucionais,	 todavia	 sem	 prejuízo</p><p>desses	atos,	quando	mesclados	com	violência,	continuarem	sujeitos	aos	crimes	tipificados	no	Código	Penal</p><p>(Decreto-Lei	2.848/1940).</p><p>É	exatamente	na	possibilidade	de	entender	que	tais	movimentos	sejam	classificados	como	violentos	ou	que</p><p>não	 estejam	 propriamente	 defendendo	 direitos,	 garantias	 ou	 liberdades	 constitucionais	 que	 traz	 a</p><p>preocupação	de	que	venha	cercear	o	direito	de	resistência	como	forma	de	expressão	da	cidadania.</p><p>Essa	 preocupação	 não	 é	 vã.	 Basta	 que	 os	 representantes	 do	 Executivo,	 dependendo	 do	 objetivo	 da</p><p>manifestação	ser	ou	não	favorável	aos	seus	interesses,	podem	aplicar	a	regra	em	comento	com	todo	o	rigor</p><p>ao	classificar	a	manifestação	como	sendo	agressiva	ou	que	não	se	enquadre	na	exceção	prevista	na	norma,</p><p>utilizando	 de	 interpretação	 singular	 e	 subjetiva,	 em	 absoluto	 cerceamento	 da	 liberdade	 de	 expressão,</p><p>manifestação,	opinião	dentre	outros.</p><p>Os	 protestos	 servem	 para	 testar	 qualquer	 democracia.	 Assim	 o	 direito	 a	 reunião	 pacífica	 é	 essencial	 e</p><p>desempenha	um	papel	fundamental	na	facilitação	do	uso	da	liberdade	de	expressão.	Uma	sociedade	civil</p><p>permite	o	debate	vigoroso	entre	os	que	estão	em	profundo	desacordo.</p><p>O	desafio	para	uma	democracia	é	o	equilíbrio:	defender	a	liberdade	de	expressão	e	de	reunião	e	ao	mesmo</p><p>tempo	impedir	o	discurso	que	incita	à	violência,	à	intimidação	ou	à	subversão. 25</p><p>VII.	Conclusão</p><p>Em	uma	democracia	os	cidadãos</p><p>devem	concordar	em	seguir	as	regras	e	deveres	que	regem	a	sociedade	em</p><p>que	estão	inseridos	e	ao	cumprirem	com	suas	obrigações	passam	a	ter	o	direito	de	exigir	do	governo	a	sua</p><p>contrapartida,	sem	que,	com	isso,	abdiquem	de	suas	garantias	e	liberdades,	incluindo	ai	a	de	discordar	e	de</p><p>criticar	o	governo.	É	o	exemplo	do	exercício	da	cidadania,	qual	seja,	do	povo	participar	efetivamente	das</p><p>decisões	políticas	de	seu	país.</p><p>Como	 exercício	 dessa	 atividade,	 as	 pessoas	 que	 não	 estão	 satisfeitas	 com	 seus	 líderes	 são	 livres	 para	 se</p><p>organizarem	e	pleitearem	pacificamente	as	mudanças	necessárias.	Caso	seja	em	período	eleitoral,	poderá</p><p>fazê-lo	 em	 campanhas,	 atividades	 sociais,	 participando	 como	 candidato,	 no	 exercício	 de	 seus	 direitos</p><p>políticos	positivos	ativos,	ou	passivos	mediante	voto.</p><p>Mas	quando	fora	de	períodos	de	renovação,	pode	utilizar-se	das	manifestações	populares,	lembrando	que	a</p><p>democracia	 exige	 a	 participação	 permanente	 e	 ativa	 do	 povo.	 É	 o	 que	 faz	 da	 democracia	 o	 que	 ela</p><p>realmente	é.</p><p>De	 toda	 forma,	 o	 debate	 franco,	 livre,	 aberto,	 pacífico,	 geralmente	 é	 a	 opção	 que	 traz	 resultados</p><p>interessantes	para	a	democracia,	até	porque	previne	contra	erros	graves	oriundos	de	medidas	unilaterais</p><p>ou	permeados	por	interesses	particulares.</p><p>VIII.	Bibliografia</p><p>AQUINO,	Santo	Tomás	de.	Discurso	sobre	a	dignidade	do	homem.	Edições	70	-	Brasil,	2006.</p><p>BENDIX,	Reinhard.	Kings	or	people:	power	and	the	mandate	to	rule.	California	Universit,	1978.</p><p>BONAVIDES,	Paulo.	Curso	de	direito	constitucional.	Malheiros,	2009.</p><p>COSTA,	Nelson	Nery.	Teoria	e	realidade	da	desobediência	civil.	Forense,	1990.</p><p>EPIN,	Bernard	et	alii.	A	revolução	francesa:	ela	inventou	nossos	sonhos.	São	Paulo:	Editora	Brasiliense,	1989.</p><p>GARCIA,	 Maria.	 A	 desobediência	 civil	 como	 defesa	 da	 constituição.	 Revista	 Brasileira	 de	 Direito</p><p>Constitucional.	n.	2.	jul.-dez.	2003.</p><p>LASSALE,	Ferdinand,	O	que	é	uma	constituição	política?.	Pillares,	2015.</p><p>NOVOA,	Eduardo.	O	direito	como	obstáculo	à	transformação	social.	Porto	Alegre:	S.	A.	Fabris,	1988.</p><p>SIEYÈS,	Emmanuel	Joseph.	A	Constituinte	burguesa.	Freitas	Bastos	Editora,	2014.</p><p>TILLY,	Charles.	Coerção,	capital	e	Estados	europeus.	São	Paulo:	Edusp.	1996.</p><p>Revista	Legis	Augustus	(Revista	Jurídica).	Vol.	3.	n.	1.	p.	16-23,	set.	2010.</p><p>©	edição	e	distribuição	da	EDITORA	REVISTA	DOS	TRIBUNAIS	LTDA.</p><p>Declaração	dos	Direitos	do	Homem	e	do	Cidadão,	1789.</p><p>MELLO,	Marco	Aurélio	de.	STF,	no	julgamento	do	ex-banqueiro	Salvatore	Cacciola.</p><p>Sites	consultados:</p><p>[http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/1199-1213-1-PB.pdf].	Acesso	em:	06.03.2015.</p><p>[http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/1199-1213-1-PB.pdf].	 Acesso	 em:	 06.03.2015,	 ao</p><p>citar	 Henry	 Thoreau	 in	 Desobedecendo:	 a	 desobediência	 civil	 e	 outros	 escritos.	 2.	 ed.	 Tradução	 de	 José</p><p>Augusto	 Drumond.	 Rio	 de	 Janeiro:	 Rocco,	 1986;	 Antonio	 Carlos	 Wolkmer.	 Desobediência	 civil	 nas</p><p>sociedades	democráticas.	Revista	Sequência.	Florianópolis:	UFSC/CPGD,	n.	20,	1990,	p.	20-39.</p><p>[http://www.embaixada-americana.org.br/democracia/speech.htm].	Acesso	em:	01.12.2015.</p><p>[http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/12/1390207-manifestacoes-nao-foram-pelos-20-centavos.shtml].</p><p>Acesso	em:	29.10.2015.</p><p>Pesquisas	do	Editorial</p><p>LIMITES	DA	RESPONSABILIDADE	CIVIL	EM	FACE	DO	DIREITO	FUNDAMENTAL	À	LIBERDADE</p><p>DE	MANIFESTAÇÃO,	de	Luiz	Edson	Fachin	-	Soluções	Práticas	-	Fachin	1/345</p><p>LIBERDADE	DE	MANIFESTAÇÃO	DO	PENSAMENTO	-	O	BRASIL	E	O	SISTEMA</p><p>INTERAMERICANO	DE	PROTEÇÃO	AOS	DIREITOS	HUMANOS,	de	Lucas	Costa	da	Rosa	-	RDCI</p><p>92/2015/129</p>

Mais conteúdos dessa disciplina