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<p>2017 - 02 - 06</p><p>Revista de Direito Constitucional e Internacional</p><p>2016</p><p>RDCI VOL.96 (JULHO-AGOSTO 2016)</p><p>DIREITOS FUNDAMENTAIS</p><p>3. O DIREITO DE RESISTÊNCIA E AS MANIFESTAÇÕES POPULARES NO BRASIL</p><p>3. O direito de resistência e as manifestações populares no</p><p>Brasil</p><p>The right of resistance and popular manifestations in Brazil</p><p>(Autor)</p><p>MARCELO BUCZEK BITTAR</p><p>Doutorando e mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professor assistente mestre</p><p>em Direito Constitucional da Faculdade de Direito da PUC/SP, com experiência na área de Educação, com ênfase</p><p>em ensino superior, atuando principalmente nos seguintes temas: direito constitucional, ordem federal, direito</p><p>administrativo, direito educacional, responsabilidade civil do Estado. Foi professor de Direito Constitucional da</p><p>UNISO e UNISAL. Procurador Chefe da Procuradoria Geral da Universidade de São Paulo. mbittar@usp.br</p><p>Sumário:</p><p>I Introdução</p><p>II A previsão legal do direito de resistência</p><p>III Limitações</p><p>IV Espécies</p><p>V O direito de resistência</p><p>VI Movimentos sociais</p><p>VII Conclusão</p><p>VIII Bibliografia</p><p>Área do Direito: Constitucional</p><p>Resumo:</p><p>Esse artigo trabalha a hipótese do direito de manifestação e a legitimidade do direito de resistência como</p><p>forma de expressão de insatisfação do cidadão diante de fatos, opiniões, atos de governo vigente e passados,</p><p>propostas ideológicas etc., como exercício da liberdade e da defesa da dignidade da pessoa humana. O</p><p>direito de resistência é utilizado com o propósito de defender a dignidade dos indivíduos e tem sido</p><p>utilizado pela humanidade desde remotos tempos como direitos fundamentais. É possível afirmar que o</p><p>direito de resistência, encontra-se implícito em nossa Carta Republicana, e desobriga o cidadão de aceitar</p><p>injustiças, políticas e atitudes que desrespeitem direitos humanos, sustentado nos princípios da liberdade e</p><p>da dignidade da pessoa humana.</p><p>Abstract:</p><p>This article deals with the possibility of manifestation of law and the legitimacy of the right of revolution as</p><p>a form of citizen expression of dissatisfaction in the face of facts, opinions, acts of current and past</p><p>government, ideological proposals etc., as an exercise of freedom and the defense of dignity of human</p><p>person. The right of resistance is used for the purpose of defending the dignity of individuals and has been</p><p>used by mankind since ancient times as fundamental rights. It can be argued that the right of resistance, is</p><p>implicit in our Republican Charter and relieve the citizen to accept injustices, policies and actions that</p><p>violate human rights, supported the principles of freedom and human dignity.</p><p>Palavra Chave: Constitucional - Direitos Humanos - Resistência - Liberdade e dignidade da Pessoa</p><p>Humana.</p><p>Keywords: Constitutional - Human rights - Resistance - Freedom and Dignity of the Human Person.</p><p>I. Introdução</p><p>O direito de resistência remonta a própria história da humanidade, como forma de manifestação do direito</p><p>natural que se expressava, por exemplo, nas atitudes com o objetivo de preservar a vida em decorrência</p><p>das manifestações do meio ambiente que lhe afetavam como frio, chuva, ataque de animais e de outros</p><p>seres humanos.</p><p>Decorre de um impulso do intimo do ser humano, cujo ato nem sempre emana do mandamento legal, mas</p><p>de um senso de sobrevivência e de preservação até certo ponto incontrolável.</p><p>Na Antiguidade o direito de resistência foi reconhecido em diversos eventos, como no antigo Egito, na</p><p>Mesopotâmia, com os hebreus, os fenícios e os persas, passando pela Grécia e Roma.</p><p>Passamos rapidamente à Idade Média com o desenvolvimento do feudalismo, as grandes invasões e o</p><p>movimento das Cruzadas contra os "infiéis", a aliança firmada entre a burguesia e a realeza contra os</p><p>senhores feudais. A Guerra dos Cem Anos (1337 a 1453), a Grande Peste e a revolta camponesa decorrente</p><p>do aumento dos impostos e o desejo de liberdade, que alcançou a França em 1358, propagando-se para a</p><p>Inglaterra, desencadeando movimentos significativos como o Constitucionalismo, a Revolução Francesa e a</p><p>Revolução Americana.</p><p>O advento da Magna Charta Libertatum (1215), por sua vez contribuiu sobremaneira para o surgimento das</p><p>liberdades públicas, consagrando diversos direitos fundamentais como o habeas corpus, o direito de ação, a</p><p>ampla defesa e o contraditório dentre outros.</p><p>Santo Tomás de Aquino, 1 ao se referir sobre a dignidade da pessoa humana, explica que o homem é uma</p><p>substância racional porque tem o domínio de seus atos, agindo por si mesmo e não pelo comando de outros</p><p>seres. Em outras palavras, o homem é livre, pois tem o poder de determinar-se, de agir por si mesmo. Isso</p><p>lhe confere uma superioridade em relação a todas as outras substâncias (entes) que não compartilham da</p><p>mesma potência. Essa superioridade é chamada expressamente de dignidade: "Ora, é grande dignidade</p><p>subsistir em uma natureza racional. Por isso dá-se o nome pessoa a todo indivíduo dessa natureza, como foi</p><p>dito". A dignidade humana deriva da racionalidade, afirma Tomás de Aquino. 2</p><p>A obra de Giovanni Pico della Mirandola 3 (1463/1494), filósofo neoplatônico e humanista do Renascimento</p><p>Italiano, tem como objetivo principal conciliar religião e filosofia. Assim como o seu mestre Marcílio Ficino,</p><p>baseava as suas concepções principalmente em Platão, em oposição a Aristóteles.</p><p>Em sua obra MIRANDOLA defende a visão da dignidade humana como capacidade de autodeterminação e</p><p>criação a partir da transformação da natureza. A razão e a inteligência do homem não possuem</p><p>exclusivamente um alcance ético, mas também um viés poiético (de poiésis: produção, fabricação). É sua</p><p>visão do homem que o torna elo entre duas eras, a medieval e a moderna. A liberdade é o dom que o</p><p>homem recebeu. Sua dignidade está em saber usá-lo bem, transformando o mundo e a si mesmo em</p><p>direção ao melhor: "Que a nossa alma seja invadida por uma sagrada ambição de não nos contentarmos</p><p>com as coisas medíocres, mas de anelarmos às mais altas, de nos esforçarmos por atingi-las, com todas as</p><p>nossas energias, desde o momento em que, querendo-o, isso é possível".</p><p>O melhor, assim, é tudo aquilo que eleva o homem, que o torna construtor, criador, uma espécie de</p><p>demiurgo do mundo, aproximando-o de Deus. É isso que, segundo MIRANDOLA, converte o homem em um</p><p>ser digno, merecedor de respeito por parte dos outros homens: o auto aperfeiçoamento, a capacidade de se</p><p>tornar, pelo uso da razão, um "animal celeste", próximo à máxima perfeição. 4</p><p>Na Idade Moderna, a era da expansão marítima e comercial europeia, com os descobrimentos, o</p><p>renascimento na Europa Central, na Inglaterra e na França, a Reforma da Igreja. O absolutismo na</p><p>Inglaterra e na França, a formação das colônias inglesas na América do Norte e a independência dos</p><p>Estados Unidos da América.</p><p>A Declaração Americana, ocorrida logo a partir da Independência das Colônias em 1776, despontando como</p><p>a mais importante a Declaração do Estado de Virgínia, cujo artigo 1º prescrevia:</p><p>Que todos os homens são, por natureza, igualmente livres e independentes, e têm certos direitos inatos, dos</p><p>quais, quando entram em estado de sociedade não podem por qualquer acordo privar ou despojar seus</p><p>pósteros e que são: o gozo da vida e da liberdade com os meios de adquirir e de possuir a propriedade e de</p><p>buscar e obter a felicidade e segurança.</p><p>As influências dessas Declarações são, em parte, as mesmas da Declaração Francesa, por autores como Jonh</p><p>Locke, Montesquieu e Rousseau e o liberalismo inglês que sempre repercutiu em sua colônia americana.</p><p>Observe-se que a Constituição Federal americana de 1878 não incluía, inicialmente, nenhuma Declaração</p><p>de Direitos, no entanto, dois anos depois, foram votados dez artigos adicionais, por meio de emendas, que</p><p>continham a consagração dos direitos fundamentais,</p><p>alargados por emendas posteriores.</p><p>A "Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 5" - Declaração Francesa (26.08.1789) -,</p><p>lembrando que a Queda da Bastilha deu-se em 14 de julho de 1789, e que muito foi influenciada por</p><p>Rousseau, em sua obra Contrato social, Montesquieu, O Espírito das Leis dentre outras.</p><p>A importância histórica da queda da Bastilha é um dos aspectos da Revolução Francesa que, segundo o</p><p>historiador Bernard Epin, 6 "sem saber, forjaram o símbolo moderno da liberdade conquistada pelo povo".</p><p>Sem adentrar a questões ideológicas a respeito da sua origem, se liberal ou marxista, fato é que os atores da</p><p>Revolução, homens e mulheres, fizeram a Revolução de 1798 ao defenderem os princípios de Igualdade,</p><p>Liberdade e Fraternidade, como sendo válidos a todos, marcos da humanidade, contrários ao</p><p>autoritarismo.</p><p>Posteriormente os constituintes franceses preferiram inspirar-se em Locke, e Volteire, tal como absorvido</p><p>pelas Declarações Americanas.</p><p>Não se pode deixar de acrescentar a Declaração Universal de Direitos do Homem, da Organização das</p><p>Nações Unidas, em 1948, marco histórico dos direito humanos.</p><p>Dentre outros pensadores daquela época - Iluministas - Emannuel Joseph de Sieyès, 7 em sua obra "A</p><p>Constituinte Burguesa", trata do tema referente ao Terceiro Estado, e foi precursor da teoria da titularidade</p><p>do poder pertencente ao povo, da representatividade e da necessidade de uma constituinte para a</p><p>elaboração das normas racionais preconizadas pelo Constitucionalismo, que é um movimento</p><p>político/ideológico contrário ao Absolutismo e que preconiza normas racionais para governantes e</p><p>governados.</p><p>Esse movimento - Constitucionalismo - levou a passagem do Estado Absolutista para o Estado de Direito,</p><p>que tem as seguintes características básicas: superioridade da Constituição, divisão do exercício do poder,</p><p>superioridade da lei e a garantia dos direitos individuais. É no Estado de Direito que os direitos individuais</p><p>e as garantias aos direitos individuais, ou direito de resistência, têm maior destaque, como forma de</p><p>controle dos atos estatais, ou autodefesa da sociedade, cuja titularidade pertence ao cidadão, mesmo que o</p><p>governo não admita ser opressivo: 8</p><p>Jamais um governo admite que seja opressivo, não apoiando de modo algum a resistência que se possa</p><p>oferecer à sua atitude. A teoria da resistência é uma categoria jurídica que faz parte dos direitos da</p><p>cidadania, que perde conteúdo quando positivado.</p><p>Karel Vasak, 9 influenciado por aqueles princípios, identifica três gerações de direitos fundamentais, a</p><p>saber a liberdade, a igualdade e a fraternidade, e que orienta importante classificação de direitos</p><p>fundamentais atuais, trabalhada por Paulo Bonavides em sua obra Direito Constitucional.</p><p>Esse direito de resistência é inerente à pessoa humana, devendo ser classificado como uma liberdade ou</p><p>direito fundamental de primeira geração.</p><p>Na Idade Contemporânea temos a exemplo a Independência do Brasil.</p><p>Esse rápido e despretensioso histórico tem o objetivo de ilustrar com alguns episódios da humanidade a</p><p>ocorrência da manifestação do direito de resistência, ora do indivíduo, ora de uma classe social,</p><p>deflagrados por fenômenos de expressão do poder, em regra discrepantes dos interesses sociais prevalentes</p><p>e contrários aos valores e conceito de justiça da época.</p><p>II. A previsão legal do direito de resistência</p><p>Maria Garcia, 10 com propriedade singular, aduz que: "A identidade democrática ocorre entre povo e</p><p>governo, governantes e governados, o povo como titular efetivo do poder político ("é cada indivíduo</p><p>obedecendo, em última análise, não às ordens e determinações de um poder superior e estranho, mas às</p><p>suas próprias ordens e determinações, pois cada indivíduo, na democracia, concorre para a formação dela.</p><p>Como observa Kelsen, democracia é autodeterminação, formulação de normas jurídicas por aqueles</p><p>mesmos que devem obedecê-las, com exclusão de toda influência estranha")".</p><p>A atual Constituição da República brasileira traz como garantias fundamentais o mandado de segurança</p><p>individual, o mandado de segurança coletivo, o mandado de injunção, o habeas data, o habeas corpus, a</p><p>ação popular, como instrumentos democráticos de resistência do indivíduo face atos ilegais ou praticadas</p><p>com abuso de poder ou desvio de finalidade pelo agente político.</p><p>O direito de resistência, entendido como garantia individual ou coletiva regida pelo direito constitucional,</p><p>está a serviço da proteção a liberdade, da democracia e também das transformações sociais (...). 11</p><p>A Justiça do Trabalho tem reconhecido o exercício do direito de resistência do trabalhador ao descumprir</p><p>ordem ilícita:</p><p>DIREITO DE RESISTÊNCIA. JUSTA CAUSA. A recusa do empregado de cumprir ordens que afrontem o</p><p>ordenamento jurídico não caracteriza ato de indisciplina ou insubordinação. No caso em análise, o</p><p>reclamante era encarregado de produção e não aplicou a ordem de reduzir o intervalo de subordinado</p><p>para 30 minutos, medida que ofenderia o art. 71 da CLT. 12</p><p>No Direito Penal temos o entendimento de que ao preso reserva-se o direito de fugir, estando preso, como</p><p>reconhecimento do direito de resistência, e não se trata de defender o direito de fugir, mas sim o de manter-</p><p>se em liberdade, até porque, no Brasil, fugir ou tentar fugir da prisão é considerado falta grave, conforme a</p><p>Lei de Execuções Penais, 13 o que pode retardar a progressão do regime prisional, ou fazê-lo regredir.</p><p>É direito natural do homem fugir de um ato que entenda ilegal. Qualquer um de nós entenderia dessa</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1943%5C%5C5-1&fromProview=true&fcwh=true&unit=A.71&unit2Scroll=LGL-1943-5-1|A.71&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1943%5C%5C5&fromProview=true&fcwh=true&unit=&unit2Scroll=LGL-1943-5|&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>forma. É algo natural, é inato ao homem. 14</p><p>Como decorrência do direito à liberdade, o direito de resistência tem fundamento constitucional, que em</p><p>seu artigo 5º, § 2.º, prescreve que:</p><p>§ 2.º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos</p><p>princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja</p><p>parte.</p><p>Desse modo, é correto concluir que se de um lado temos a falta de expressa previsão legal ao direito de</p><p>resistência, de outro temos assegurado o direito à liberdade e à dignidade humana que devem ser exercidos</p><p>de forma ampla, considerando aqui a interpretação extensiva dos termos, nos levando a assertiva de que o</p><p>direito de resistência é implícito em nosso ordenamento jurídico e, de toda sorte, não sendo proibido é</p><p>permitido ao particular seu exercício, em decorrência lógica do princípio da legalidade, mesmo sofrendo</p><p>certas limitações no seu exercício.</p><p>III. Limitações</p><p>O direito de resistência, decorrente do próprio sistema normativo, tem limitações constitucionais a essa</p><p>forma de ação política, que deve conformidade com os princípios democráticos, tal qual, por sua vez, a ação</p><p>armada, consoante artigo 5º, XLIV, da Constituição da República, constituindo em crime contra a ordem</p><p>constitucional. A respeito da resistência ilícita, temos os seguintes tipos penais: os crimes constitucionais</p><p>(art. 5º, XLIV, da CF), o crime de resistência (art. 329 do CP) e o crime de desobediência (art.</p><p>330 do</p><p>CP).</p><p>IV. Espécies</p><p>O direito de resistência é gênero do qual são espécies, em rol não exaustivo: a) objeção de consciência; b)</p><p>greve política; c) desobediência civil; d) direito à revolução; e) princípio da autodeterminação dos povos.</p><p>Para José Carlos Buzanello, 15 a objeção de consciência é a recusa ao cumprimento dos deveres</p><p>incompatíveis com as convicções morais, políticas e filosóficas, numa pretensão de direito individual em</p><p>dispensar-se da obrigação jurídica imposta pelo Estado a todos.</p><p>A objeção de consciência se caracteriza por um teor de consciência razoável, e pouca publicidade e de</p><p>nenhuma agitação, objetivando, no máximo, um tratamento alternativo ou alterações na lei. O</p><p>reconhecimento jurídico da objeção de consciência se dá via constitucional, regulamentado em parte por lei</p><p>especial e, ainda, por decisão judicial. Assente como direito fundamental na Constituição de 1988, o</p><p>instituto jurídico da objeção de consciência se dá em duas perspectivas: uma, como escusa genérica de</p><p>consciência (art. 5º, VIII, da CF) e outra, como escusa restritiva ao serviço militar (art. 143, § 1.º, da</p><p>CF). Pelo sistema constitucional, o preceito especial combina com o preceito genérico, no caso, a objeção de</p><p>consciência ao serviço militar. O direito de greve, manifestação coletiva de determinada classe de</p><p>trabalhadores que se opõem ao empregador em razão de determinações abusivas ou desautorizadas por</p><p>convenção coletiva de trabalho, ou de caráter político, como o movimento por tarifas zero de transporte e</p><p>outras manifestações contrárias ao governo.</p><p>O direito de revolução quer iniciada por movimento popular, ou por determinada classe (fator real de</p><p>poder segundo Ferdinand Lassale) 16 - como o exército -, que busca a imposição de nova ordem jurídica,</p><p>conhecida por golpe de Estado, em razão direta da insatisfação com as diretrizes adotadas pelo governo ou</p><p>em razão de atos reiterados de improbidade na administração estatal. Ainda o direito de resistência em</p><p>decorrência dos fundamentos da autodeterminação dos povos, de natureza política (art. 4.º, III, da</p><p>CF), que assegura a livre organização política e a soberania do povo de um determinado Estado.</p><p>Internamente ou em caráter nacional está vinculado ao direito político positivo ativo (direito de votar) e</p><p>passivo (direito de ser votado), ou de cidadania, com a participação efetiva na escolha de seus</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1988%5C%5C3&fromProview=true&fcwh=true&unit=A.5&unit2Scroll=LGL-1988-3|A.5&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1988%5C%5C3&fromProview=true&fcwh=true&unit=&unit2Scroll=LGL-1988-3|&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1940%5C%5C2&fromProview=true&fcwh=true&unit=A.329&unit2Scroll=LGL-1940-2|A.329&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1940%5C%5C2&fromProview=true&fcwh=true&unit=&unit2Scroll=LGL-1940-2|&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1940%5C%5C2&fromProview=true&fcwh=true&unit=A.330&unit2Scroll=LGL-1940-2|A.330&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1940%5C%5C2&fromProview=true&fcwh=true&unit=&unit2Scroll=LGL-1940-2|&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1988%5C%5C3&fromProview=true&fcwh=true&unit=A.5&unit2Scroll=LGL-1988-3|A.5&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1988%5C%5C3&fromProview=true&fcwh=true&unit=&unit2Scroll=LGL-1988-3|&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1988%5C%5C3&fromProview=true&fcwh=true&unit=A.143&unit2Scroll=LGL-1988-3|A.143&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1988%5C%5C3&fromProview=true&fcwh=true&unit=&unit2Scroll=LGL-1988-3|&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1988%5C%5C3&fromProview=true&fcwh=true&unit=A.4&unit2Scroll=LGL-1988-3|A.4&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1988%5C%5C3&fromProview=true&fcwh=true&unit=&unit2Scroll=LGL-1988-3|&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>representantes e nas decisões políticas. Internacionalmente é o direito de lutar contra a ocupação</p><p>estrangeira do território (invasão estrangeira), pelo restabelecimento da soberania e da ordem jurídica.</p><p>A desobediência civil é forma de participação política indireta da sociedade nas decisões do Estado, e</p><p>ressurge no século XIX, vinculada à questão dos impostos e à cidadania, pela obra de Henry-David Thoreau,</p><p>cujo título original consta, expressivamente, On the duty of civil desobedience.</p><p>José Carlos Buzanello 17 bem sintetiza as características dessa espécie de direito de resistência: a) é uma</p><p>forma particularizada de resistência e qualifica-se na ação pública, simbólica e ético-normativa; b)</p><p>manifesta-se de forma coletiva e pela ação "não-violenta"; c) quer demonstrar a injustiça da lei ou do ato</p><p>governamental mediante ações de grupos de pressão junto aos órgãos de decisão do Estado; d) visa à</p><p>reforma jurídica e política do Estado, não sendo mais do que uma contribuição ao sistema político ou uma</p><p>proposta para o aperfeiçoamento jurídico. Propõe apenas a negação de uma parte da ordem jurídica, ao</p><p>pedir a reforma ou a revogação de um ato oficial mediante ações de mobilização pública dos grupos de</p><p>pressão junto aos órgãos de decisão do Estado. A desobediência civil na perspectiva constitucional</p><p>brasileira decorre da cláusula constitucional aberta, que admite outros direitos e garantias, e dos princípios</p><p>do regime adotado (art. 5.º, § 2.º, da CF) e liga-se especialmente aos princípios da proporcionalidade e</p><p>da solidariedade, que permitem protestos contra atos que violem esses princípios da ordem política.</p><p>Assim é que constatamos a existência de direitos e garantias expressos e implícitos na Constituição, de</p><p>modo a permitir a ilação de que o direito de resistência é decorrência lógica do exercício da cidadania, logo,</p><p>é obrigação do titular do poder.</p><p>V.</p><p>O direito de resistência</p><p>Uma vez mais vem ao encontro o entendimento de Maria Garcia 18 ao ressaltar o pensamento de Hannah</p><p>Arendt de que o verdadeiro conteúdo da liberdade não são as conquistas da igualdade, da possibilidade de</p><p>reunião, o direito de petição, as liberdades que hoje associamos ao governo constitucional - "às quais</p><p>poderíamos acrescentar nossas próprias aspirações a sermos libertados da penúria e do medo" - todas essas</p><p>conquistas que são, de fato, "essencialmente negativas", são produtos da libertação, mas "não constituem,</p><p>absolutamente, o verdadeiro conteúdo da liberdade, a qual significa participação nas coisas públicas ou</p><p>admissão ao mundo político".</p><p>O direito de resistência tem previsão na Declaração Universal dos Direitos do Homem:</p><p>Artigo 19.º</p><p>Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, este direito implica a liberdade de</p><p>manter as suas próprias opiniões sem interferência e de procurar, receber e difundir informações e ideias</p><p>por qualquer meio de expressão independentemente das fronteiras.</p><p>Trata-se de direito fundamental que diz respeito à manifestação dos sentimentos do indivíduo, sua</p><p>criatividade, juízo de valor, conceitos. A Constituição da República traz em seu artigo 5.º, IX, que o direito de</p><p>expressão manifestação por meio de juízos de valor.</p><p>A liberdade de expressão se manifesta de diversas formas e oportunidades, quer na opinião, informação,</p><p>escolha, livre arbítrio, no trabalho, no laser, na política, na religião e outras.</p><p>A liberdade de expressão, sobretudo em política e questões públicas é o suporte vital de qualquer</p><p>democracia. Os governos democráticos não controlam o conteúdo da maior parte dos discursos escritos ou</p><p>verbais. Assim, geralmente as democracias têm muitas vozes exprimindo ideias e opiniões diferentes e até</p><p>contrárias. 19</p><p>A democracia depende de uma sociedade civil educada e bem informada cujo acesso à informação lhe</p><p>permite participar tão plenamente quanto possível na vida pública da sua sociedade e criticar funcionários</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1988%5C%5C3&fromProview=true&fcwh=true&unit=A.5&unit2Scroll=LGL-1988-3|A.5&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>https://signon.thomsonreuters.com/?productid=WLBR&returnto=http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/authentication/signon&bhcp=1&redirect=/maf/app/document?stid=st-rql&marg=LGL%5C%5C1988%5C%5C3&fromProview=true&fcwh=true&unit=&unit2Scroll=LGL-1988-3|&mdfilter=exclude-ficha-ind-comun</p><p>do governo ou políticas insensatas e tirânicas. Os cidadãos e os seus representantes eleitos reconhecem que</p><p>a democracia depende de acesso mais amplo possível a ideias, dados e opiniões não sujeitos a censura.</p><p>A proteção da liberdade de expressão é um direito chamado negativo, exigindo simplesmente que o</p><p>governo se abstenha de limitar a expressão, contrariamente à ação direta necessária para os chamados</p><p>direitos afirmativos. Na sua maioria, as autoridades em uma democracia não se envolvem no conteúdo do</p><p>discurso escrito ou falado na sociedade.</p><p>A liberdade de expressão é um direito fundamental, mas não é absoluto, e não pode ser usado para</p><p>justificar a violência, a difamação, a calúnia, a subversão ou a obscenidade. As democracias consolidadas</p><p>geralmente requerem um alto grau de ameaça para justificar a proibição da liberdade de expressão que</p><p>possa incitar à violência, a caluniar a reputação de outros, a derrubar um governo constitucional ou a</p><p>promover um comportamento licencioso. A maioria das democracias também proíbe a expressão que incita</p><p>ao ódio racial ou étnico.</p><p>Veremos esses reflexos da liberdade de expressão, na forma do exercício do direito de resistência, ocorrido</p><p>nas chamadas Manifestações de Julho de 2013 ocorridas no Brasil.</p><p>VI. Movimentos sociais</p><p>A intervenção do Estado na vida cotidiana suscitou a ação coletiva popular, frequentemente sob a forma de</p><p>resistência ao Estado, mas algumas vezes assumindo o caráter de novas reivindicações. Quando as</p><p>autoridades do Estado tentaram obter recursos e aquiescência, elas, os outros detentores de poder e grupos</p><p>de cidadãos comuns negociaram novos acordos sobre as condições em que o Estado podia extrair ou</p><p>controlar, e os tipos de exigências que os detentores de poder ou o povo comum podiam fazer ao Estado. 20</p><p>Reinhard Bendix, que trata da emergência dos estados nacionais na Europa, em Kings or People: Power and</p><p>the Mandate to Rule 21, procura entender a razão para a emergência da soberania popular e a crise da</p><p>dominação tradicional ou dinástica, no mundo ocidental, a chamada "especificidade do Ocidente". A força</p><p>da nova legitimidade da ordem social e da autoridade pública, a figura do cidadão, e o declínio da</p><p>legitimidade dos velhos monarcas, do conceito tradicional de soberania, dinastias de descendentes de</p><p>heróis de guerra e grandes estadistas, enfraquecidos diante da nova fonte de legitimidade política, o</p><p>mandato popular.</p><p>"A mudança nas relações sociais e na estrutura de poder político é acompanhada por movimentos de</p><p>protestos, crises de legitimidade, mobilização social e a emergência de um novo padrão de direitos que</p><p>toma corpo na ideia de Cidadania".</p><p>O mundo, na década de 1960/1970, apresentava manifestações que refletiram o espírito de uma época de</p><p>intensa contestação dos padrões sociais, das influências estrangeiras, de uma geração de jovens que</p><p>buscavam liberdade através de ideais contraculturais, políticos e revolucionários.</p><p>Essas décadas foram significativas em termos de manifestação social e cultura.</p><p>Em agosto de 1961, ocorre a construção do Muro de Berlim, separando a Alemanha em Oriental e Ocidental,</p><p>esta capitalista.</p><p>No final da década de 1960 intensificaram-se os protestos nos Estados Unidos e no mundo contra a Guerra</p><p>do Vietnã (1955/1975), fortalecendo movimentos pacifistas, o Festival de Woodstock que exemplificou a era</p><p>comunista comunistacomunistacomunista e a contracultura do final dos anos 1960 e começo de 70.</p><p>Em 1963 ocorreu a Marcha sobre Washington, onde ativistas negros e brancos marcharam reivindicando</p><p>direitos civis aos negros, a favor da igualdade dos direitos civis para todos os cidadãos, o que colaborou</p><p>para que Martin Luther King viesse a receber o Prêmio Nobel da Paz por seus esforços pacíficos pelo fim da</p><p>segregação racial e pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, em 1964.</p><p>Na França, em maio de 1968 instala-se a greve geral. Alguns filósofos e historiadores afirmaram que essa</p><p>rebelião foi o acontecimento revolucionário mais importante do século XX, porque não se deveu a uma</p><p>camada restrita da população, como trabalhadores ou minorias, mas a uma insurreição popular que</p><p>superou barreiras étnicas, culturais, de idade e de classe.</p><p>No Brasil, em 1984, após duas décadas intimidadas pela repressão, o movimento das "Diretas Já" ressuscitou</p><p>a esperança e a coragem da população. Além de poder eleger um representante, a eleição direta sinalizava</p><p>mudanças também econômicas e sociais. Lideranças estudantis, da UNE (União Nacional dos Estudantes),</p><p>sindicatos como a CUT (Central Única dos Trabalhadores), intelectuais, artistas e religiosos reforçaram o</p><p>coro pelas "Diretas Já". A proposta de emenda constitucional pelas eleições diretas foi rejeitada pelo</p><p>Congresso Nacional em votação de 25 de abril de 1984. As eleições diretas para presidente do Brasil só</p><p>ocorreram em 1989, após ser estabelecida na Constituição de 1988.</p><p>Em 1992, após muitos anos de ditadura militar e eleições indiretas, uma campanha popular tomou as ruas</p><p>para pedir o afastamento de Fernando Collor de Melo do</p><p>cargo de presidente. Acusado de corrupção e</p><p>esquemas ilegais em seu governo, a campanha "Fora Collor" mobilizou muitos estudantes que saíram às</p><p>ruas com as caras pintadas para protestar contra o presidente corrupto.</p><p>No dia 29 de setembro de 1992 cerca de 100 mil pessoas acompanharam a votação do impeachment de</p><p>Collor no Congresso, o qual foi aprovado por 441 votos favoráveis e apenas 38 contrários. Fernando Collor</p><p>foi cassado, perdendo o cargo e tendo seus direitos políticos suspensos por oito anos.</p><p>Em julho de 2009, as eleições do Irã foram extremamente disputadas entre o então presidente do Irã, o</p><p>conservador Mahmoud Ahmadinejad, e o ex-premiê moderado Mir Hossein Mousavi. Quando Ahmadinejad</p><p>foi reeleito com 62,6% dos votos, Mousavi alegou fraude nas eleições e pediu para que uma nova votação</p><p>fosse realizada. Milhares de manifestantes que contestaram os resultados nas urnas saíram às ruas, fato</p><p>sem precedentes no país persa desde a Revolução Islâmica, em 1979.</p><p>Em dezembro de 2010, Mohamed Bouazizi, um vendedor de frutas e vegetais na cidade de Sidi Bouzid, teve</p><p>seus produtos confiscados por um agente municipal e apanhou quando tentou reagir. Ele então ateou fogo</p><p>ao próprio corpo, desatando protestos na cidade no centro do país. As manifestações se espalharam pelo</p><p>país e passaram a refletir uma série de descontentamentos da população com o governo, desencadeando o</p><p>movimento que ficou conhecido como a Primavera Árabe, onda de protestos contra regimes autocráticos</p><p>no Oriente Médio e norte da África países árabes e contra as condições de vida da população.</p><p>Em janeiro de 2011, Inspirados na revolta da Tunísia, ativistas do Egito tomam as ruas durante um feriado</p><p>nacional ligado às Forças Armadas, chamando a data de "Dia de Fúria". Milhares marcharam no centro de</p><p>Cairo, capital do país, em direção à Praça Tahrir, que virou o epicentro da revolta. Logo, as manifestações se</p><p>espalharam por todo o país, culminando com o fim dos 30 anos do governo de Hosni Mubarak.</p><p>Em fevereiro de 2011, na Libia, famílias de prisioneiros que foram alvo de um massacre pelas forças do</p><p>regime de Muamar Kadafi em 1996 fizeram uma manifestação pacífica pelas ruas de Benghazi pedindo por</p><p>direitos humanos e democracia. A violência começou quando forças de segurança prenderam Fathi Terbil,</p><p>um jovem advogado e ativista. Em questão de horas, centenas se reuniram do lado de fora da delegacia</p><p>pedindo a libertação de Terbil. Os protestos se intensificaram em Benghazi e, com o estímulo das revoltas</p><p>egípcia e tunisiana, logo se espalharam pelo país e viraram uma violenta guerra civil, que culminou com a</p><p>morte do líder Muamar Kadafi pelos opositores em outubro daquele ano.</p><p>Em março de 2011, após as prisões de ao menos 15 crianças por pichar grafites nos muros de uma escola</p><p>contra o governo do presidente Bashar al-Assad provocaram revolta na população que saiu às ruas em</p><p>manifestações. Logo, os protestos se espalharam por províncias no centro do país até alcançar Damasco,</p><p>capital e sede do governo Assad. Desde dezembro de 2011, a ONU reconhece que o país está em guerra civil,</p><p>que continua ativa atualmente (2016).</p><p>Em setembro de 2011 iniciou-se o movimento "Ocupe Wall Street", deflagrado em Nova York (EUA) e depois</p><p>em cidades em cerca de 80 países, com manifestações contra a concentração de renda nos EUA, e pediram o</p><p>fim da influência das corporações financeiras no governo, do favorecimento dos ricos, e melhoras no</p><p>sistema de saúde e de educação.</p><p>Outras manifestações de igual importância ocorreram pelo mundo reivindicando respeito à liberdade e à</p><p>dignidade das pessoas.</p><p>No Brasil, um ato que começou no dia 06 de junho 2013, devido ao aumento das passagens de transporte</p><p>público que passariam de R$ 3,00 para R$ 3,20, é considerada o marco zero da maior sequência de</p><p>manifestações sociais desde a era Collor. 22</p><p>No ano de 2014, com a realização da Copa do Mundo FIFA no Brasil, eclodiram diversas manifestações</p><p>sociais contrárias à sua realização, sendo em 24.04.2014 em São Paulo, em 11.07.2014, em Brasília e, no Rio</p><p>de Janeiro, houve manifestação promovida pelos comitês populares da Copa e a Frente Independente</p><p>Popular-RJ, com passeatas e distribuição de panfletos no final de semana, nas redes sociais (corrente</p><p>identificada por #OLegadoDaCopa e #ATropaDoBrasil), para ocorrer após a final em quatro cidades-sede. A</p><p>Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (Ancop) e os demais movimentos sociais que</p><p>participam do Encontro dos Atingidos - Quem Perde com os Megaeventos e Megaempreendimentos em Belo</p><p>Horizonte, realizaram protestos e mobilizações durante o Mundial.</p><p>Motivada pela grave crise hídrica que assola o Brasil, principalmente em São Paulo, movimentos sociais</p><p>realizaram protestos contra falta de água. 23</p><p>Tivemos ainda as manifestações sociais "Fora Dilma", "Fora Renan Calheiros", "Fora Globo", "Não à Cura</p><p>Gay", que previa autorizar psicólogos a oferecer tratamento para a homossexualidade, "Não à PEC-33", que</p><p>reduziria o poder do STF (Supremo Tribunal Federal), "Não à PEC-37", que tiraria o poder de investigação</p><p>do Ministério Público, "Fora aos partidos políticos", "Barbosa Presidente", dentre outras. 24</p><p>Todas essas manifestações sociais servem para demonstrar que também no Brasil o direito de resistência</p><p>está presente, como instrumento de garantia de liberdade e da dignidade da pessoa, embora não expresso</p><p>na Constituição da República.</p><p>Observo que o projeto de lei - PL 2016/15 -, de autoria do Poder Executivo, que altera a Lei 12.850, de 02 de</p><p>agosto de 2013, e a Lei 10.446, de 8 de maio de 2002, dispõe sobre organizações terroristas e prevê a pena de</p><p>reclusão de 12 a 30 anos em regime fechado, sem prejuízo das penas relativas a outras infrações</p><p>decorrentes desse crime.</p><p>Todavia, a esse respeito, grupos sociais e juristas argumentam que esse projeto de lei poderá considerar</p><p>terrorismo os protestos realizados por grupos sociais, que não raramente foram palco do uso de violência,</p><p>destruição patrimonial pública e privada, cuja autoria muitas vezes foi imputada ao grupo chamado "Black</p><p>Bloc".</p><p>Muito embora o texto do projeto de lei traga como exceção a conduta individual ou coletiva nas</p><p>manifestações políticas, nos movimentos sociais, sindicais, religiosos ou de classe profissional se eles</p><p>tiverem como objetivo defender direitos, garantias e liberdades constitucionais, todavia sem prejuízo</p><p>desses atos, quando mesclados com violência, continuarem sujeitos aos crimes tipificados no Código Penal</p><p>(Decreto-Lei 2.848/1940).</p><p>É exatamente na possibilidade de entender que tais movimentos sejam classificados como violentos ou que</p><p>não estejam propriamente defendendo direitos, garantias ou liberdades constitucionais que traz a</p><p>preocupação de que venha cercear o direito de resistência como forma de expressão da cidadania.</p><p>Essa preocupação não é vã. Basta que os representantes do Executivo, dependendo do objetivo da</p><p>manifestação ser ou não favorável aos seus interesses, podem aplicar a regra em comento com todo o rigor</p><p>ao classificar a manifestação como sendo agressiva ou que não se enquadre na exceção prevista na norma,</p><p>utilizando de interpretação singular e subjetiva, em absoluto cerceamento da liberdade de expressão,</p><p>manifestação, opinião dentre outros.</p><p>Os protestos servem para testar qualquer democracia. Assim o direito a reunião pacífica é essencial e</p><p>desempenha um papel fundamental na facilitação do uso da liberdade de expressão. Uma sociedade civil</p><p>permite o debate vigoroso entre os que estão em profundo desacordo.</p><p>O desafio para uma democracia é o equilíbrio: defender a liberdade de expressão e de reunião e ao mesmo</p><p>tempo impedir o discurso que incita à violência, à intimidação ou à subversão. 25</p><p>VII. Conclusão</p><p>Em uma democracia os cidadãos</p><p>devem concordar em seguir as regras e deveres que regem a sociedade em</p><p>que estão inseridos e ao cumprirem com suas obrigações passam a ter o direito de exigir do governo a sua</p><p>contrapartida, sem que, com isso, abdiquem de suas garantias e liberdades, incluindo ai a de discordar e de</p><p>criticar o governo. É o exemplo do exercício da cidadania, qual seja, do povo participar efetivamente das</p><p>decisões políticas de seu país.</p><p>Como exercício dessa atividade, as pessoas que não estão satisfeitas com seus líderes são livres para se</p><p>organizarem e pleitearem pacificamente as mudanças necessárias. Caso seja em período eleitoral, poderá</p><p>fazê-lo em campanhas, atividades sociais, participando como candidato, no exercício de seus direitos</p><p>políticos positivos ativos, ou passivos mediante voto.</p><p>Mas quando fora de períodos de renovação, pode utilizar-se das manifestações populares, lembrando que a</p><p>democracia exige a participação permanente e ativa do povo. É o que faz da democracia o que ela</p><p>realmente é.</p><p>De toda forma, o debate franco, livre, aberto, pacífico, geralmente é a opção que traz resultados</p><p>interessantes para a democracia, até porque previne contra erros graves oriundos de medidas unilaterais</p><p>ou permeados por interesses particulares.</p><p>VIII. Bibliografia</p><p>AQUINO, Santo Tomás de. Discurso sobre a dignidade do homem. Edições 70 - Brasil, 2006.</p><p>BENDIX, Reinhard. Kings or people: power and the mandate to rule. California Universit, 1978.</p><p>BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. Malheiros, 2009.</p><p>COSTA, Nelson Nery. Teoria e realidade da desobediência civil. Forense, 1990.</p><p>EPIN, Bernard et alii. A revolução francesa: ela inventou nossos sonhos. São Paulo: Editora Brasiliense, 1989.</p><p>GARCIA, Maria. A desobediência civil como defesa da constituição. Revista Brasileira de Direito</p><p>Constitucional. n. 2. jul.-dez. 2003.</p><p>LASSALE, Ferdinand, O que é uma constituição política?. Pillares, 2015.</p><p>NOVOA, Eduardo. O direito como obstáculo à transformação social. Porto Alegre: S. A. Fabris, 1988.</p><p>SIEYÈS, Emmanuel Joseph. A Constituinte burguesa. Freitas Bastos Editora, 2014.</p><p>TILLY, Charles. Coerção, capital e Estados europeus. São Paulo: Edusp. 1996.</p><p>Revista Legis Augustus (Revista Jurídica). Vol. 3. n. 1. p. 16-23, set. 2010.</p><p>© edição e distribuição da EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS LTDA.</p><p>Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, 1789.</p><p>MELLO, Marco Aurélio de. STF, no julgamento do ex-banqueiro Salvatore Cacciola.</p><p>Sites consultados:</p><p>[http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/1199-1213-1-PB.pdf]. Acesso em: 06.03.2015.</p><p>[http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/1199-1213-1-PB.pdf]. Acesso em: 06.03.2015, ao</p><p>citar Henry Thoreau in Desobedecendo: a desobediência civil e outros escritos. 2. ed. Tradução de José</p><p>Augusto Drumond. Rio de Janeiro: Rocco, 1986; Antonio Carlos Wolkmer. Desobediência civil nas</p><p>sociedades democráticas. Revista Sequência. Florianópolis: UFSC/CPGD, n. 20, 1990, p. 20-39.</p><p>[http://www.embaixada-americana.org.br/democracia/speech.htm]. Acesso em: 01.12.2015.</p><p>[http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/12/1390207-manifestacoes-nao-foram-pelos-20-centavos.shtml].</p><p>Acesso em: 29.10.2015.</p><p>Pesquisas do Editorial</p><p>LIMITES DA RESPONSABILIDADE CIVIL EM FACE DO DIREITO FUNDAMENTAL À LIBERDADE</p><p>DE MANIFESTAÇÃO, de Luiz Edson Fachin - Soluções Práticas - Fachin 1/345</p><p>LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO - O BRASIL E O SISTEMA</p><p>INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS, de Lucas Costa da Rosa - RDCI</p><p>92/2015/129</p>