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<p>Vestibulares</p><p>Classes do Nome - Pronomes</p><p>GR0344 - (Pucrj)</p><p>Assinale a alterna�va em que está corretamente indicada</p><p>a sequência dos referentes dos termos sublinhados no</p><p>seguinte trecho do Texto.</p><p>“Precisamos dar mais atenção a como os ar�stas</p><p>realmente pensam nas e com as artes — as novas ideias</p><p>que lhes ocorrem, incluindo novas “ideias de arte” ou</p><p>ideias a respeito de suas a�vidades, de seus próprios</p><p>materiais ou ins�tuições —, e depois a como essas ideias</p><p>se enquadram em campos mais amplos, que envolvem</p><p>muitos outros discursos: as ciências, a polí�ca e até a</p><p>própria filosofia."</p><p>a) ar�stas – ideias – campos</p><p>b) ideias – a�vidades – discursos</p><p>c) artes – ideias – materiais</p><p>d) ar�stas – artes – campos</p><p>GR0076 - (Insper)</p><p>Leia o texto para responder à questão.</p><p>27 de janeiro</p><p>Africa</p><p>Nas minhas andanças, fui parar na África e lá</p><p>conversei com aqueles homens da Unesco, os bons, não</p><p>os burocratas. Um deles me disse: “Cada vez que morre</p><p>um velho africano é uma biblioteca que se incendeia.”</p><p>Fiquei pensando no nosso índio. Pensando na</p><p>Amazônia. Indio, escritor e árvore — as três espécies em</p><p>processo de ex�nção. Condenadas ao aniquilamento, o</p><p>índio principalmente. Será que antes de chegarmos à</p><p>solução final do nosso problema indígena teremos tempo</p><p>de captar um pouco da sua arte e de sua vida, nas quais o</p><p>sagrado e a beleza se confundem para alimentar nossa</p><p>cultura e nosso remorso?</p><p>(Lygia Fagundes Telles. A disciplina do amor, 1980.)</p><p>Em “Será que antes de chegarmos à solução final do</p><p>nosso problema indígena teremos tempo de captar um</p><p>pouco da sua arte e de sua vida, nas quais o sagrado e a</p><p>beleza se confundem para alimentar nossa cultura e</p><p>nosso remorso?” (2º parágrafo), o termo sublinhado</p><p>refere-se a</p><p>a) “cultura” e “remorso”.</p><p>b) “arte” e “vida”.</p><p>c) “sagrado” e “beleza”.</p><p>d) “solução final” e “problema indígena”.</p><p>e) “beleza” e “cultura”.</p><p>GR0074 - (Famerp)</p><p>Considere a �rinha Garfield, de Jim Davis.</p><p>O pronome “este”, no terceiro quadrinho,</p><p>a) refere-se ao presente do personagem, em que não há</p><p>diversão.</p><p>b) retoma o sen�do das palavras “o mundo”.</p><p>c) refere-se ao período em que o mundo diverte o</p><p>personagem.</p><p>d) aponta para um momento em que o desejo do</p><p>personagem se realizaria.</p><p>e) retoma o sen�do da frase “o mundo existe para me</p><p>diver�r”.</p><p>1@professorferretto @prof_ferretto</p><p>GR0365 - (Uerj)</p><p>CIVILIZAÇÃO</p><p>A matéria saiu no New York Times, foi publicada</p><p>na Folha de São Paulo; deveria ser bibliografia obrigatória</p><p>do ensino fundamental à pós-graduação, deveria ser</p><p>colada aos postes, lançada de aviões, viralizada nas redes</p><p>sociais, impressa em san�nhos, guardada na carteira, no</p><p>bolso ou no su�ã e lida toda vez que a desilusão, o</p><p>desespero, a melancolia ou mesmo o tédio batesse na</p><p>porta, batesse na aorta: “Para salvar Stradivarius, uma</p><p>cidade inteira fica em silêncio”.</p><p>Antonio Stradivari viveu entre 1644 e 1737 em</p><p>Cremona, norte da Itália, cidadezinha que hoje conta com</p><p>72.267 habitantes. Durante algumas décadas dos séculos</p><p>XVII e XVIII, Stradivari produziu instrumentos de corda,</p><p>como violinos, cujos sons quase quatro séculos de</p><p>conhecimento acumulado não foram capazes de igualar.</p><p>Por muito tempo permaneceu um mistério o que</p><p>fazia aqueles instrumentos tão diferentes dos demais,</p><p>fabricados antes ou depois. Estudos recentes, porém,</p><p>mostraram que, para além da artesania magistral do</p><p>luthier*, um tratamento químico dado à madeira, à</p><p>época da fabricação, interfere na qualidade do som dos</p><p>instrumentos.</p><p>O tempo de uso também entra na equação: a</p><p>secura da madeira e a distância entre as fibras, causada</p><p>pela oxidação, são razões pelas quais, segundo o dr.</p><p>Hwan-Ching Tai, autor de um estudo de 2016, “esses</p><p>velhos violinos vibram mais livremente, o que permite a</p><p>eles expressar uma gama mais ampla de emoções”.</p><p>Se é verdade que os violinos Stradivarius, como</p><p>muitos vinhos, melhoraram com o tempo, é inexorável</p><p>que, em algum momento, avinagrem. Pois esse momento</p><p>se aproxima: depois de quase quatrocentos anos</p><p>espalhando a melhor música que já foi ouvida, os</p><p>violinos, violoncelos e violas de Cremona estão a�ngindo</p><p>seu limite. Logo estarão frágeis demais para serem</p><p>tocados e serão, segundo Fausto Cacciatori, curador do</p><p>Museu do Violino de Cremona, “colocados para dormir”.</p><p>Antecipando-se ao sono derradeiro, os</p><p>moradores de Cremona criaram o Projeto Stradivarius.</p><p>“Por cinco semanas, quatro músicos, tocando dois</p><p>violinos, uma viola e um violoncelo, farão centenas de</p><p>escalas e arpejos, usando técnicas diferentes com arcos,</p><p>ou dedilhando as cordas”, sob “trinta e dois microfones</p><p>de alta sensibilidade”. Três engenheiros de som,</p><p>trancados num quar�nho à prova de qualquer ruído, no</p><p>auditório do museu, gravarão cada uma das centenas de</p><p>milhares de variações sonoras, de modo que, no futuro,</p><p>será possível compor músicas com o som dos</p><p>Stradivarius.</p><p>O projeto já estava quase saindo do papel em</p><p>2017 quando os idealizadores perceberam que o barulho</p><p>em torno do museu impossibilitaria as gravações. O</p><p>prefeito de Cremona, então, permi�u que as ruas da</p><p>região fossem fechadas até que a úl�ma nota fosse</p><p>imortalizada. A cidade calou-se e os Stradivarius</p><p>começaram a cantar.</p><p>Até meados de fevereiro, os 72.267 moradores</p><p>da cidadezinha italiana deixarão de buzinar suas</p><p>lambretas, “nonas” evitarão gritar às janelas e amigos</p><p>cochicharão pelas mesas dos cafés para que daqui a</p><p>quatrocentos anos um garoto em Cremona, Mumbai ou</p><p>Reykjavik possa compor uma música com as notas únicas</p><p>e inimitáveis saídas de instrumentos feitos à mão por um</p><p>homem que morreu quase um milênio antes de esse</p><p>garoto nascer. Acho que é disso que estamos falando</p><p>quando falamos em civilização.</p><p>ANTONIO PRATA. Adaptado de www1.folha.uol.com.br,</p><p>27/01/2019.</p><p>* Luthier: profissional especializado em instrumentos de</p><p>cordas.</p><p>Acho que é disso que estamos falando quando falamos</p><p>em civilização. (úl�mo parágrafo, itálico)</p><p>O termo “disso” se refere a pra�camente toda a crônica</p><p>de Antonio Prata e pode ser resumido como o esforço da</p><p>comunidade para:</p><p>a) renovar sua história social</p><p>b) divulgar seu folclore regional</p><p>c) preservar sua herança cultural</p><p>d) pesquisar seu cancioneiro popular</p><p>GR0075 - (Mackenzie)</p><p>(Adaptada)</p><p>Mesmo que o homem conseguisse construir um</p><p>computador que fizesse tudo o que é normalmente</p><p>atribuído a processos mentais quando feito pelo</p><p>homem, isso não implicaria que o homem nada mais é do</p><p>que uma máquina. Sem o programa correspondente, um</p><p>computador nada pode fazer em relação à linguagem. É o</p><p>programa, e não as ferragens, que é responsável pela</p><p>habilidade do computador de simular um</p><p>comportamento inteligente. Há aqueles</p><p>que sustentariam que o programa está para o</p><p>computador como a mente está para o cérebro, e que</p><p>considerando o cérebro humano vivo como um</p><p>computador programado, de finalidades especiais,</p><p>podemos contornar, se não resolver, o problema</p><p>tradicional mente corpo. Seja como for, temos que</p><p>enfa�zar que a inteligência ar�ficial é em sineutra e não</p><p>agride nem a dignidade humana nem a liberdade da</p><p>vontade.</p><p>Adaptado de John Lyons, em Lingua(gem) e Linguís�ca,</p><p>1981.</p><p>2@professorferretto @prof_ferretto</p><p>Considere as seguintes afirmações sobre os termos</p><p>destacados no texto.</p><p>I. O pronome “isso” refere-se ao que é afirmado</p><p>anteriormente.</p><p>II. A forma verbal “sustentariam” apresenta um tempo</p><p>que denota ideia de possibilidade, de algo possível, mas</p><p>não efe�vamente certo.</p><p>III. A par�cula “si” refere-se à expressão inteligência</p><p>ar�ficial.</p><p>Assinale a alterna�va correta.</p><p>a) Apenas a afirmação I está correta.</p><p>b) Apenas a afirmação II está correta.</p><p>c) Apenas a afirmação III está correta.</p><p>d) Todas as afirmações estão corretas.</p><p>e) Nenhuma das afirmações está correta.</p><p>GR0370 - (Uerj)</p><p>SONETO II</p><p>O tempo acaba o ano, o mês e a hora,</p><p>A força, a arte, a manha, a fortaleza;</p><p>O tempo acaba a fama e a riqueza,</p><p>O tempo o mesmo tempo de si chora.</p><p>O tempo busca e acaba o onde mora</p><p>Qualquer ingra�dão, qualquer dureza,</p><p>Mas não pode acabar minha tristeza,</p><p>Enquanto não quiserdes vós, Senhora.</p><p>O tempo o claro dia torna escuro,</p><p>E o mais ledo1 prazer em choro triste;</p><p>O tempo</p><p>mecânica da descrição do elo não se</p><p>cons�tui em conhecimento do objeto. Por isso, é que a</p><p>leitura de um texto, tomado como pura descrição de um</p><p>objeto é feita no sen�do de memorizá-la, nem é real</p><p>leitura, nem dela portanto resulta o conhecimento do</p><p>objeto de que o texto fala.</p><p>Creio que muito de nossa insistência, enquanto</p><p>professoras e professores, em que os estudantes “leiam”,</p><p>num semestre, um sem-número de capítulos de livros,</p><p>reside na compreensão errônea que às vezes temos do</p><p>ato de ler. Em minha andarilhagem pelo mundo, não</p><p>foram poucas as vezes em que jovens estudantes me</p><p>falaram de sua luta às voltas com extensas bibliografias a</p><p>serem muito mais “devoradas" do que realmente lidas ou</p><p>estudadas. [...]</p><p>A insistência na quan�dade de leituras sem o</p><p>devido adentramento nos textos a serem</p><p>compreendidos, e não mecanicamente memorizados,</p><p>revela uma visão mágica da palavra escrita. Visão que</p><p>urge ser superada. A mesma, ainda que encarnada desde</p><p>outro ângulo, que se encontra, por exemplo, em quem</p><p>escreve, quando iden�fica a possível qualidade de seu</p><p>trabalho, ou não, com a quan�dade de páginas escritas.</p><p>No entanto, um dos documentos filosóficos mais</p><p>importantes de que dispomos, As teses sobre Feuerbach,</p><p>de Marx, tem apenas duas páginas e meia.</p><p>Parece importante, contudo, para evitar uma</p><p>compreensão errônea do que estou afirmando, sublinhar</p><p>que a minha crí�ca à magicização da palavra não</p><p>significa, de maneira alguma, uma posição pouco</p><p>responsável de minha parte com relação à necessidade</p><p>que temos, educadores e educandos, de ler, sempre e</p><p>seriamente, os clássicos neste ou naquele campo do</p><p>saber, de nos adentrarmos nos textos, de criar uma</p><p>disciplina intelectual, sem a qual inviabilizamos a nossa</p><p>prá�ca enquanto professores e estudantes.</p><p>Paulo Freire</p><p>Analise o excerto dado e os itens lexicais nele</p><p>destacados:</p><p>A insistência na quan�dade de leituras sem o</p><p>devido adentramento nos textos a serem</p><p>compreendidos, e não mecanicamente memorizados,</p><p>revela uma visão mágica da palavra escrita.</p><p>Visão que urge ser superada. A mesma,</p><p>ainda que encarnada desde outro ângulo, que se</p><p>encontra, por exemplo, em quem escreve, quando</p><p>iden�fica a possível qualidade de seu trabalho, ou não,</p><p>com a quan�dade de páginas escritas.</p><p>Sobre esse fragmento, é INCORRETO afirmar:</p><p>a) A palavra “outro”, pronome indefinido, refere-se ao</p><p>substan�vo “ângulo”, com ele concordando em gênero</p><p>e número.</p><p>b) O item “mesmo” (e flexões), segundo a gramá�ca</p><p>norma�va, não deve subs�tuir pronome pessoal – o</p><p>correto seria “Ela, ainda que...”.</p><p>c) O item lexical “que”, nas duas ocorrências destacadas,</p><p>é pronome rela�vo e retoma o termo “visão”.</p><p>d) O pronome possessivo “seu” concorda com o</p><p>substan�vo a que antecede, porém retoma outro</p><p>pronome, “quem”, sujeito do verbo “escrever”.</p><p>GR0626 - (Ufrgs)</p><p>18@professorferretto @prof_ferretto</p><p>A pesquisa em gramá�ca (2) também tem seus</p><p>mistérios (1) – aspectos da língua que (8) ninguém</p><p>conseguiu (4) até hoje formular direito. Acho que não</p><p>exagero se disser que a maioria dos fenômenos</p><p>grama�cais já observados não tem uma explicação (5)</p><p>sa�sfatória. Vejamos (12) um exemplo.</p><p>Sabemos que, em muitas frases, o sujeito exprime o</p><p>ser que pra�ca a ação (ou, mais exatamente, que causa o</p><p>evento). Isso acontece na frase: Minervina entortou meu</p><p>guarda-chuva. Acontece que (14), com o verbo entortar</p><p>(19), nem sempre o sujeito exprime quem pra�ca a ação.</p><p>Se não houver objeto, isto é (6), se só houver o sujeito e</p><p>o verbo, o sujeito exprime quem (22) sofre a ação, como</p><p>em Meu guarda-chuva entortou. Essa frase,</p><p>naturalmente (25), não significa (7) que o guarda-chuva</p><p>(24) pra�cou a ação de entortar alguma coisa, mas que</p><p>ele (23) ficou torto. Mesmo se o sujeito fosse o nome de</p><p>uma pessoa (que, em princípio, poderia pra�car uma</p><p>ação), o efeito se verifica: Minervina entortou. Essa frase</p><p>quer dizer que Minervina ficou torta, não que ela (9)</p><p>entortou alguma coisa.</p><p>A mudança de significado do sujeito que vimos (13)</p><p>acima acontece com muitos verbos do português (20);</p><p>por exemplo, quebrar, esquentar, rasgar (28). Uma vez</p><p>que é bastante regular, esse comportamento (10) deve</p><p>(ou deveria) (26) ser incluído na gramá�ca portuguesa.</p><p>Agora, o mistério: em certos casos, o fenômeno da</p><p>mudança de significado do sujeito não ocorre, e ninguém</p><p>sabe ao certo por quê. Assim, podemos dizer O leite</p><p>esquentou, e isso significa que o leite se tornou quente,</p><p>não que ele (11) esquente alguma coisa. Mas na frase</p><p>Esse cobertor esquenta, entende-se (17) que o cobertor</p><p>esquenta a gente (isto é, causa o aquecimento (21)), e</p><p>não que ele se torne (18) quente. Ninguém sabe direito</p><p>(15) por que verbos como esquentar (e vários outros</p><p>(27)) não se comportam como o esperado em frases</p><p>como essa. Provavelmente, o fenômeno tem a ver com a</p><p>situação evocada pelo verbo. Mas falta ainda um estudo</p><p>sistemá�co (3), e, por enquanto, esses fatos não cabem</p><p>em teoria nenhuma.</p><p>Enfim, para quem gosta de certezas e seguranças,</p><p>tenho más no�cias: a gramá�ca não está pronta. Para</p><p>quem gosta de desafios, tenho boas no�cias: a gramá�ca</p><p>não está pronta. Um mundo (16) de questões e</p><p>problemas con�nua sem solução, à espera de novas</p><p>ideias, novas análises, novas cabeças.</p><p>(Adaptado de: PERINI, M. A. Pesquisa em gramá�ca. In:</p><p>Sofrendo a gramá�ca: ensaios sobre linguagem. São</p><p>Paulo: Á�ca, 2000. p. 82-85.)</p><p>Assinale a alterna�va em que se estabelece uma relação</p><p>correta entre um pronome ou expressão e aquilo a que</p><p>se refere.</p><p>a) seus mistérios (1) – mistérios da pesquisa em</p><p>gramá�ca.</p><p>b) que (8) – língua.</p><p>c) ela (9) – essa frase.</p><p>d) esse comportamento (10) – comportamento das</p><p>frases.</p><p>e) ele (11) – o fenômeno da mudança de significado.</p><p>GR0024 - (Ufsc)</p><p>Considerando a norma padrão escrita e o uso de “aonde”</p><p>e “onde” no texto, atribua verdadeiro (V) ou falso (F) às</p><p>afirma�vas abaixo.</p><p>(__) “Onde” pode ser subs�tuído por “em que” sem</p><p>prejuízo de significado.</p><p>(__) “Aonde” pode ser subs�tuído por “no qual” sem</p><p>prejuízo de significado.</p><p>(__) “Onde” exprime ideia de movimento.</p><p>(__) “Onde” e “aonde” são preposições.</p><p>(__) “Aonde” está acompanhado de um verbo de</p><p>movimento.</p><p>Assinale a alterna�va que apresenta a sequência</p><p>CORRETA, de cima para baixo.</p><p>a) V – V – F – F – F</p><p>b) V – F – F – V – V</p><p>c) F – V – V – V – V</p><p>d) F – F – F – V – V</p><p>e) V – F – F – F – V</p><p>GR0025 - (Ufrr)</p><p>Brasil é país mais preocupado com no�cias falsas, diz</p><p>estudo global</p><p>Na opinião dos autores, a polarização polí�ca</p><p>nesses países, provocada por eleições, pode ter</p><p>19@professorferretto @prof_ferretto</p><p>favorecido essa percepção</p><p>Por Agência Brasil</p><p>16 jun 2018</p><p>O Brasil aparece como o país mais preocupado</p><p>com as chamadas “no�cias falsas” (fake news) em um</p><p>estudo global que analisou a realidade de 37 nações. Dos</p><p>entrevistados brasileiros, 85% manifestaram preocupação</p><p>com a veracidade e a possibilidade de manipulação nas</p><p>no�cias lidas. A lista é seguida por Portugal (71%),</p><p>Espanha (69%), Chile (66%) e Grécia (66%).</p><p>Na opinião dos autores, a polarização polí�ca</p><p>nesses países provocada por eleições, referendos e</p><p>outros grandes processos de disputa na sociedade</p><p>podem ter favorecido essa percepção.</p><p>(...) Quando tomada a amostra de forma</p><p>conjunta, a média geral das pessoas consultadas pelo</p><p>levantamento preocupadas com a veracidade das</p><p>informações lidas na Internet ficou em 54%.</p><p>O Relatório sobre No�cias Digitais do Ins�tuto</p><p>Reuters, uma das mais importantes pesquisas do mundo</p><p>sobre o tema, foi divulgado nesta semana. O</p><p>levantamento fez entrevistas para iden�ficar hábitos de</p><p>consumo da população em relação a veículos de mídia e</p><p>produtos jornalís�cos.</p><p>Percepção</p><p>Os autores da pesquisa apontam uma percepção</p><p>maior do que a realidade vivida pelas pessoas. Do total</p><p>dos entrevistados, 58% disseram estar preocupados com</p><p>no�cias “fabricadas”, mas apenas 26% conseguiram</p><p>iden�ficar casos concretos. Essa diferenciação,</p><p>entretanto, não foi feita por país, não permi�ndo</p><p>iden�ficar se essa disparidade ocorre nas nações onde a</p><p>preocupação foi maior, como no Brasil.</p><p>“Quando olhamos para os resultados do nosso</p><p>estudo, descobrimos que quando</p><p>consumidores falam</p><p>sobre ´fake news´ eles estão preocupados também com</p><p>mau jornalismo, prá�cas de caça de cliques e</p><p>enviesamento”, argumentam os autores da pesquisa.</p><p>Providências</p><p>Mesmo assim, as pessoas consultadas colocaram</p><p>a necessidade de providências sobre o assunto. Na</p><p>avaliação dos entrevistados, os principais responsáveis</p><p>por adotar medidas de combate às chamadas no�cias</p><p>falsas deveriam ser os veículos tradicionais de mídia</p><p>(75%) e as plataformas digitais (71%).</p><p>Na compreensão dos autores, essa percepção</p><p>estaria relacionada ao fato de muitas reclamações com</p><p>foco na veracidade ou manipulação estarem relacionadas</p><p>a mídias tradicionais, e não a conteúdos fabricados por</p><p>sites desconhecidos.</p><p>A adoção de alguma regulação pelo Estado para</p><p>atacar o problema ganhou aceitação sobretudo entre</p><p>asiá�cos (63%) e europeus (60%). Na Europa, a regulação</p><p>do tema tem ganhado espaço. No úl�mo ano, a</p><p>Alemanha aprovou uma lei que passa a responsabilidade</p><p>pela fiscalização de conteúdos falsos e ilegais às</p><p>plataformas. No Brasil, já há diversos projetos de lei</p><p>tramitando no Congresso visando estabelecer regras</p><p>sobre o tema.</p><p>Disponível em: . Acesso em: 20/07/2018.</p><p>No trecho: “... não permi�ndo iden�ficar se essa</p><p>disparidade ocorre nas nações onde a preocupação foi</p><p>maior, como no Brasil.”, o termo destacado foi</p><p>corretamente u�lizado em:</p><p>a) Onde estão indo as pessoas naquele carro?</p><p>b) Aquela situação onde eu fui envolvida me prejudicou</p><p>muito.</p><p>c) Ouvi uma história onde a personagem principal era</p><p>uma menina extraterrestre.</p><p>d) O ar�sta deve ir onde o povo está.</p><p>e) Gostaria de estar na cidade onde nos conhecemos.</p><p>GR0675 - (Espm)</p><p>Ultra aequinoxialem non peccari</p><p>A primeira vez que deparei com a máxima que</p><p>encabeça este ar�go foi ouvindo “Não Existe Pecado ao</p><p>Sul do Equador”, de Chico Buarque e Rui Guerra. A</p><p>canção, que fazia parte originalmente da peça “Calabar”</p><p>(banida pela censura no início dos anos 70), ganhou vida</p><p>própria na voz insinuante e melindrosa de Ney</p><p>Matogrosso, como tema da novela “Pecado Rasgado”, da</p><p>TV Globo, em 1978. Tempos de diástole. Anos mais tarde,</p><p>voltei a tropeçar nela. Curiosamente, a máxima aparecia</p><p>em nota de rodapé de “Raízes do Brasil” (1936), obra-</p><p>prima do historiador paulista (e pai de Chico) Sérgio</p><p>Buarque de Holanda: “Corria na Europa, durante o século</p><p>17, a crença de que aquém da linha do Equador não</p><p>existe nenhum pecado: Ultra aequinoxialem non peccari.</p><p>Barlaeus, que menciona o ditado, comenta-o, dizendo:</p><p>‘Como se a linha que divide o mundo em dois hemisférios</p><p>também separasse a virtude do vício’”. (...)</p><p>Mas o que despertou o meu interesse pela máxima</p><p>seiscen�sta não foi a mera paixão de an�quário – a</p><p>curiosidade ociosa que impele o historiador de ideias ao</p><p>encalço, por vezes febril, de uma genealogia recôndita1.</p><p>Foi a súbita percepção do uso diametralmente oposto</p><p>que pai e filho – historiador e poeta –fizeram dela.</p><p>Aos olhos de Sérgio Buarque, a máxima tem</p><p>conotação fortemente nega�va. Ela reflete a realidade</p><p>amarga do ambiente de desregramento, permissividade e</p><p>egoísmo anárquico – os desmandos da luxúria e da</p><p>cobiça” de que fala Paulo Prado em “Retrato do Brasil”</p><p>(1928) – criado pela aventura colonial europeia nos</p><p>trópicos. (...)</p><p>Na poé�ca de Chico Buarque, porém, o sinal se</p><p>inverte. A ausência da noção de pecado não reflete mais</p><p>20@professorferretto @prof_ferretto</p><p>a nossa incapacidade secular de criar uma é�ca cívica e</p><p>um Estado moderno – de estabelecer regras impessoais</p><p>que tornem a nossa convivência menos violenta, iníqua2</p><p>e precária–, mas passa a ser vista como a senha da</p><p>realização terrena vedada ao puritano – a busca do</p><p>prazer sem peias3 e sem culpa no plano da afe�vidade</p><p>pessoal.</p><p>Onde o historiador lamenta, o compositor festeja. A</p><p>canção de Chico e Guerra nos convida a desfrutar o</p><p>instante – “ubi bene, ibi patria” (“onde se está bem, aí é a</p><p>pátria”) – e faz a celebração dionisíaca do excesso e da</p><p>libidinagem.</p><p>(Eduardo Gianne�, economista, professor, Folha de</p><p>S.Paulo, 04 de março de 1999)</p><p>1recôndita: escondida, oculta.</p><p>2iníqua: Perversa, malévola; extremamente injusta.</p><p>3peias: embaraços, impedimentos, estorvos, empecilhos.</p><p>No texto II, na frase: “A primeira vez que deparei com a</p><p>máxima que encabeça este ar�go”, o uso do pronome</p><p>demonstra�vo “este” se deve ao fato de:</p><p>a) referir-se ao elemento mais próximo (“ar�go”) em</p><p>oposição ao mais distante (“máxima”).</p><p>b) tratar-se de um assunto (“ar�go”) que ainda vai ser</p><p>dito ou mencionado.</p><p>c) tratar-se de um assunto (“ar�go”) que já foi dito ou</p><p>mencionado.</p><p>d) o elemento a que se refere (“máxima") estar próximo</p><p>da primeira pessoa, próximo do emissor, no caso o</p><p>autor do texto.</p><p>e) o elemento a que se refere (“ar�go”) estar próximo da</p><p>segunda pessoa, próximo do receptor, no caso o leitor.</p><p>GR0676 - (Espm)</p><p>Três anos após o ápice da crise de refugiados na</p><p>Europa, boa parte dos europeus apoiam os acolhimentos</p><p>de imigrantes fugidos de países violentos ou em guerra,</p><p>mas desaprovam a forma com que a União Europeia lida</p><p>com a questão.</p><p>(Folha de S.Paulo, 17/03/2019.)</p><p>Subs�tuindo-se o complemento da forma verbal</p><p>“apoiam” por um pronome pessoal oblíquo, tem-se:</p><p>a) apoiam-os.</p><p>b) apoiam-los.</p><p>c) apoiam-nos.</p><p>d) apoiam-lhes.</p><p>e) apoiam os.</p><p>GR0744 - (Unesp)</p><p>Leia a fábula árabe “Um cachorro e um abutre”, cuja</p><p>autoria é desconhecida.</p><p>Certa feita, um cachorro roubou um naco de carne de</p><p>um abatedouro e correu em direção ao rio, em cujas</p><p>águas viu o reflexo do naco de carne, bem maior do que</p><p>o naco que carregava. Largou-o então, e um abutre</p><p>desceu e agarrou a carne, enquanto o cachorro corria</p><p>atrás do naco maior, mas nada encontrou. Retornou para</p><p>pegar a carne que antes carregava, mas também não a</p><p>encontrou. Pensou então: “A ilusão me fez perder o bom</p><p>senso, e acabei sem aquilo que eu já �nha por ir atrás</p><p>daquilo que eu não alcançaria.”</p><p>(Mamede Jarouche (org.). Fábulas árabes: do período</p><p>pré-islâmico ao século XVII, 2021.)</p><p>No trecho “em cujas águas viu o reflexo do naco de</p><p>carne”, o termo sublinhado pertence à mesma classe</p><p>grama�cal daquele sublinhado em</p><p>a) “mas também não a encontrou”.</p><p>b) “um cachorro roubou um naco de carne”.</p><p>c) “enquanto o cachorro corria atrás do naco maior”.</p><p>d) “Largou-o então”.</p><p>e) “Retornou para pegar a carne”.</p><p>GR0753 - (Albert Einstein)</p><p>Leia a crônica “A decadência do Ocidente”, de Luis</p><p>Fernando Verissimo.</p><p>O doutor ganhou uma galinha viva e chegou em casa</p><p>com ela, para alegria de toda a família. O filho mais</p><p>moço, inclusive, nunca �nha visto uma galinha viva de</p><p>perto. Já �nha até um nome para ela – Margarete – e</p><p>planos para adotá-la, quando ouviu do pai que a galinha</p><p>seria, obviamente, comida.</p><p>— Comida?!</p><p>— Sim, senhor.</p><p>— Mas se come ela?</p><p>— Ué. Você está cansado de comer galinha.</p><p>— Mas a galinha que a gente come é igual a esta</p><p>aqui?</p><p>— Claro.</p><p>Na verdade o guri gostava muito de peito, de coxa e</p><p>de asa, mas nunca �nha ligado as partes ao animal. Ainda</p><p>mais aquele animal vivo ali no meio do apartamento.</p><p>O doutor disse que queria a galinha ao molho pardo.</p><p>Há anos que não comia uma galinha ao molho pardo. A</p><p>empregada sabia como se preparava galinha ao molho</p><p>pardo?</p><p>A mulher foi consultar a empregada. Dali a pouco o</p><p>doutor ouviu um grito de horror vindo da cozinha. Depois</p><p>21@professorferretto @prof_ferretto</p><p>veio a mulher dizer que ele esquecesse a galinha ao</p><p>molho pardo.</p><p>— A empregada não sabe fazer?</p><p>— Não só não sabe fazer, como quase desmaiou</p><p>quando eu disse que precisava cortar o pescoço da</p><p>galinha. Nunca cortou um pescoço de galinha.</p><p>Era o cúmulo. Então a mulher que cortasse o pescoço</p><p>da galinha.</p><p>— Eu?! Não mesmo!</p><p>O doutor lembrou-se de uma velha empregada da sua</p><p>mãe. A Dona Noca. Não só cortava pescoços de galinhas,</p><p>como fazia isto com uma certa alegria assassina. A</p><p>solução era a Dona Noca.</p><p>— A Dona Noca já morreu — disse a mulher.</p><p>— O quê?!</p><p>— Há dez anos.</p><p>— Não é possível! A úl�ma galinha ao molho pardo</p><p>que eu comi foi feita por ela.</p><p>— Então faz mais de dez anos que você</p><p>não come</p><p>galinha ao molho pardo.</p><p>Alguém no edi�cio se disporia a degolar a galinha.</p><p>Fizeram uma rápida enquete entre os vizinhos. Ninguém</p><p>se animava a cortar o pescoço da galinha. Nem o</p><p>Rogerinho do 701, que fazia coisas inomináveis com</p><p>gatos.</p><p>— Somos uma civilização de frouxos! — sentenciou o</p><p>doutor.</p><p>Foi para o poço do edi�cio e repe�u:</p><p>— Frouxos! Perdemos o contato com o barro da vida!</p><p>E a Margarete só olhando.</p><p>Luis Fernando Verissimo. A mãe do Freud, 1997.</p><p>O termo negritado em “— Mas a galinha que a gente</p><p>come é igual a esta aqui? (6º parágrafo) pertence à</p><p>mesma classe grama�cal daquele sublinhado em:</p><p>a) “Alguém no edi�cio se disporia a degolar a galinha.”</p><p>(20º parágrafo).</p><p>b) “O doutor ganhou uma galinha viva e chegou em casa</p><p>com ela, para alegria de toda a família.” (1º parágrafo).</p><p>c) “Ninguém se animava a cortar o pescoço da galinha.”</p><p>(20º parágrafo).</p><p>d) “Depois veio a mulher dizer que ele esquecesse da</p><p>galinha ao molho pardo.” (9º parágrafo).</p><p>e) “O doutor disse que queria a galinha ao molho pardo.”</p><p>(9º parágrafo).</p><p>GR0777 - (Afa)</p><p>Assinale a alterna�va que apresenta incorreção</p><p>quanto ao emprego do pronome rela�vo:</p><p>a) Situado no Norte de Minas Gerais, mas podendo estar</p><p>em toda parte, o sertão é o reino onde formas de vida</p><p>rús�cas e uma paisagem selvagem e bela se espelham</p><p>e por vezes se transfiguram.</p><p>b) No texto, a mistura de romance narra�vo oral toma</p><p>forma de um monólogo na fala de um velho sertanejo,</p><p>Riobaldo, que narra sua vida de aventuras a um</p><p>interlocutor da cidade.</p><p>c) O sertão é o vasto campo da guerra jagunça, mais ao</p><p>mesmo tempo também, o espaço da travessia solitária</p><p>de um herói de romance que se interroga sobre o</p><p>sen�do da existência.</p><p>d) Ao abrir-se o livro o ex-jagunço surge como um</p><p>contador de casos, especulando sobre a existência do</p><p>demônio, que pode estar misturado em tudo e cuja a</p><p>sombra se intromete no interior de sua própria</p><p>consciência.</p><p>22@professorferretto @prof_ferretto</p><p>a tempestade em grã2 bonança.</p><p>Mas de abrandar o tempo estou seguro</p><p>O peito de diamante, onde consiste</p><p>A pena e o prazer desta esperança.</p><p>1 ledo − alegre</p><p>2 grã − grande</p><p>No soneto II, marcas enuncia�vas que representam os</p><p>interlocutores do poema estão presentes</p><p>nos seguintes versos:</p><p>a) O tempo acaba a fama e a riqueza, / O tempo o</p><p>mesmo tempo de si chora.</p><p>b) Mas não pode acabar minha tristeza, / Enquanto não</p><p>quiserdes vós, Senhora.</p><p>c) O tempo o claro dia torna escuro, / E o mais ledo</p><p>prazer em choro triste;</p><p>d) O peito de diamante, onde consiste / A pena e o</p><p>prazer desta esperança.</p><p>GR0066 - (Ibmec)</p><p>ÁRIES (21 mar. a 20 abr.)</p><p>Lunação em signo complementar destaca importância</p><p>das relações em sua vida nas próximas semanas. Cuide</p><p>de sua rede social, mostre-se atencioso com as pessoas.</p><p>Seu sucesso é resultado disso também e agora essa</p><p>questão tem importância suprema. Cul�ve o tato.</p><p>(Folha de S. Paulo, Ilustrada, Astrologia, Barbara Abramo,</p><p>29 set. 2008.)</p><p>Em "Seu sucesso é resultado disso também e agora essa</p><p>questão tem importância suprema.", os termos "disso" e</p><p>"essa":</p><p>a) Referem-se a algo que ainda vai ser explicitado no</p><p>texto.</p><p>b) Referem-se aos termos citados anteriormente no</p><p>texto, "sua rede social" e "atencioso com as pessoas".</p><p>c) Referem-se a algo que está próximo ao emissor do</p><p>texto.</p><p>d) Poderiam ser subs�tuídos por "aquilo" e "aquela",</p><p>sem prejuízo de sen�do para o texto.</p><p>e) Poderiam ser subs�tuídos por "isto" e "aquilo", sem</p><p>prejuízo de sen�do para o texto.</p><p>GR0080 - (Efomm)</p><p>Como Dizia Meu Pai</p><p>Já se tomou hábito meu, em meio a uma</p><p>conversa, preceder algum comentário por uma</p><p>introdução:</p><p>— Como dizia meu pai...</p><p>Nem sempre me reporto a algo que ele</p><p>realmente dizia, sendo apenas uma maneira coloquial de</p><p>dar ênfase a alguma opinião.</p><p>De uns tempos para cá, porém, comecei a</p><p>perceber que a opinião, sem ser de caso pensado, parece</p><p>de fato corresponder a alguma coisa que Seu Domingos</p><p>costumava dizer. Isso significará talvez — Deus queira —</p><p>que insensivelmente vou me tomando com o correr dos</p><p>anos cada vez mais parecido com ele. Ou, pelo menos,</p><p>me iden�ficando com a herança espiritual que dele</p><p>recebi.</p><p>3@professorferretto @prof_ferretto</p><p>Não raro me surpreendo, antes de agir, tentando</p><p>descobrir como ele agiria em semelhantes circunstâncias,</p><p>repe�ndo uma a�tude sua, até mesmo esboçando um</p><p>gesto seu. Ao formular uma ideia, percebo que estou</p><p>concebendo, para nortear meu pensamento, um</p><p>princípio que, se não foi enunciado por ele, só pode ter</p><p>sido inspirado por sua presença dentro de mim.</p><p>— No fim tudo dá certo...</p><p>Ainda ontem eu tranquilizava um de meus filhos</p><p>com esta frase, sem reparar que repe�a literalmente o</p><p>que ele costumava dizer, sempre concluindo com olhar</p><p>travesso:</p><p>— Se não deu certo, é porque ainda não chegou</p><p>no fim.</p><p>Gosto de evocar a figura mansa de Seu</p><p>Domingos, a quem chamávamos paizinho, a subir</p><p>pausadamente a escada da varanda de nossa casa, todos</p><p>os dias, ao cair da tarde, egresso do escritório situado no</p><p>porão. Ou depois do jantar, sentado com minha mãe no</p><p>sofá de palhinha da varanda, como namorados, trocando</p><p>no�cias do dia. Os filhos guardavam zelosa distância, até</p><p>que ela ia aos seus afazeres e ele se punha à disposição</p><p>de cada um, para ouvir nossos problemas e ajudar a</p><p>resolvê-los. Finda a úl�ma audiência, passava a mão no</p><p>chapéu e na bengala e saía para uma volta, um encontro</p><p>eventual com algum amigo. Regressava religiosamente</p><p>uma hora depois, e tendo descido a pé até o centro,</p><p>subia sempre de bonde. Se acaso ainda estávamos</p><p>acordados, podíamos contar com o saquinho de balas</p><p>que o paizinho</p><p>nunca deixava de trazer.</p><p>Costumava se distrair realizando pequenos</p><p>consertos domés�cos: uma boia de descarga, a bucha de</p><p>uma torneira, um fusível queimado. Dispunha para isso</p><p>da necessária habilidade e de uma preciosa caixa de</p><p>ferramentas em que ninguém</p><p>mais podia tocar. Aprendi com ele como é indispensável,</p><p>para a boa ordem da casa, ter à mão pelo menos um</p><p>alicate e uma chave de fenda. Durante algum tempo</p><p>andou às voltas com o velho relógio de parede que fora</p><p>de seu pai, hoje me pertence e amanhã será de meu</p><p>filho: estava atrasando. Depois de remexer durante vários</p><p>dias em suas entranhas, deu por findo o trabalho,</p><p>embora ao remontá-lo houvessem sobrado umas</p><p>pecinhas, que alegou não fazerem falta. O relógio passou</p><p>a funcionar sem atrasos, e as ba�das a soar em horas</p><p>desencontradas. Como, aliás, acontece até hoje.</p><p>Tinha por hábito emi�r um pequeno sopro de</p><p>assovio, que tanto podia ser indício de paz de espírito</p><p>como do esforço para controlar a perturbação diante de</p><p>algum aborrecimento.</p><p>— As coisas são como são e não como deviam ser.</p><p>Ou como gostaríamos que fossem.</p><p>Este pronunciamento se fazia ouvir em geral</p><p>quando diante de uma fatalidade a que não se poderia</p><p>fugir. Queria dizer que devemos nos conformar com o</p><p>fato de nossa vontade não poder prevalecer sobre a</p><p>vontade de Deus – embora jamais fosse assim eloquente</p><p>em suas conclusões. Estas quase sempre eram, mesmo,</p><p>eivadas de certo ce�cismo preven�vo ante as esperanças</p><p>vãs:</p><p>— O que não tem solução, solucionado está.</p><p>E tudo que acontece é bom — talvez não</p><p>chegasse ao cúmulo do o�mismo de afirmar isso, como</p><p>seu filho Gerson, mas não vacilava em sustentar que toda</p><p>mudança é para melhor: se mudou, é porque não estava</p><p>dando certo. E se quiser que mude, não podendo fazer</p><p>nada para isso, espere, que mudará por si.</p><p>[...]</p><p>Tudo isso que de uns tempos para cá me vem</p><p>ocorrendo, às vezes inconscientemente, como legado de</p><p>meu pai, teve seu coroamento há poucos dias, quando eu</p><p>ia caminhando distraído pela praia. Revirava na cabeça,</p><p>não sei a que propósito, uma frase ouvida desde a</p><p>infância e que fazia parte de sua filosofia: não se deve</p><p>aumentar a aflição dos aflitos. Esta máxima me conduziu</p><p>a outra, enunciada por Carlos Drummond de Andrade no</p><p>filme que fiz sobre ele, a qual certamente Seu Domingos</p><p>perfilharia: não devemos exigir das pessoas mais do que</p><p>elas podem dar. De repente fui fulminado por uma</p><p>verdade tão absoluta que �ve de parar, completamente</p><p>zonzo, fechando os olhos para entender melhor. No</p><p>entanto era uma verdade evangélica, de clareza cin�lante</p><p>como um raio de sol, cheguei a fazer uma vênia de</p><p>gra�dão a Seu Domingos por me havê-la enviado:</p><p>— Só há um meio de resolver qualquer</p><p>problema nosso: é resolver primeiro o do outro.</p><p>Com o tempo, a cidade foi tomando</p><p>conhecimento do seu bom senso, da experiência</p><p>adquirida ao longo de uma vida sem maiores ambições:</p><p>Seu Domingos, além de representante de umas firmas</p><p>inglesas, era procurador de partes — solene designação</p><p>para uma a�vidade que hoje talvez fosse referida como a</p><p>de um despachante. A princípio os amigos, conhecidos, e</p><p>depois até desconhecidos passaram a procurá-lo para</p><p>ouvir um conselho ou receber dele uma orientação.</p><p>Era de se ver a romaria no seu escritório todas as</p><p>manhãs: um funcionário que dera desfalque, uma mulher</p><p>abandonada pelo marido, um pai agoniado com</p><p>problemas do filho — era gente assim que vinha buscar</p><p>com ele alívio para a sua dúvida, o seu medo, a sua</p><p>aflição. O próprio Governador, que não o conhecia</p><p>pessoalmente, certa vez o consultou através de um</p><p>secretário, sobre questão administra�va que o</p><p>atormentava. Não se falando nos filhos: mesmo depois</p><p>de ter saído de casa, mais de uma vez tomei trem ou</p><p>avião e fui colher uma palavra sua que hoje tanta falta</p><p>me faz.</p><p>Resta apenas evocá-la, como faço agora, para me</p><p>servir de consolo nas horas más. No momento, ele</p><p>próprio está aqui a meu lado, com o seu sorriso bom.</p><p>4@professorferretto @prof_ferretto</p><p>SABINO, Fernando. A volta por cima. In: Obra</p><p>Reunida v. III. Rio de Janeiro: Ed. Nova Aguilar, 1996.</p><p>(Texto adaptado)</p><p>Com base no texto, responda à questão que se segue.</p><p>Assinale a opção em que a palavra sublinhada pertence a</p><p>uma categoria diferente dos demais pronomes.</p><p>a) “Gosto de evocar a figura mansa de Seu Domingos, a</p><p>quem chamávamos paizinho [...].” (9°§)</p><p>b) “[...] repe�ndo uma a�tude sua até mesmo esboçando</p><p>um gesto seu.” (5°§)</p><p>c)</p><p>“Já se tomou hábito meu, em meio a uma conversa</p><p>[...].” (1°§)</p><p>d) “Durante algum tempo andou às voltas com o velho</p><p>relógio de parede que fora de seu pai [...].” (10°§)</p><p>e) “Ou depois do jantar, sentado com minha mãe no sofá</p><p>[...].” (9°§)</p><p>GR0335 - (Fuvest)</p><p>Psicanálise do açúcar</p><p>O açúcar cristal, ou açúcar de usina,</p><p>mostra a mais instável das brancuras:</p><p>quem do Recife sabe direito o quanto,</p><p>e o pouco desse quanto, que ela dura.</p><p>Sabe o mínimo do pouco que o cristal</p><p>se estabiliza cristal sobre o açúcar,</p><p>por cima do fundo an�go, de mascavo,</p><p>do mascavo barrento que se incuba;</p><p>e sabe que tudo pode romper o mínimo</p><p>em que o cristal é capaz de censura:</p><p>pois o tal fundo mascavo logo aflora</p><p>quer inverno ou verão mele o açúcar.</p><p>Só os banguês que-ainda purgam ainda</p><p>o açúcar bruto com barro, de mistura;</p><p>a usina já não o purga: da infância,</p><p>não de depois de adulto, ela o educa;</p><p>em enfermarias, com vácuos e turbinas,</p><p>em mãos de metal de gente indústria,</p><p>a usina o leva a sublimar em cristal</p><p>o pardo do xarope: não o purga, cura.</p><p>Mas como a cana se cria ainda hoje,</p><p>em mãos de barro de gente agricultura,</p><p>o barrento da pré-infância logo aflora</p><p>quer inverno ou verão mele o açúcar.</p><p>João Cabral de Melo Neto, A Educação pela Pedra.</p><p>* banguê: engenho de açúcar primi�vo movido a força</p><p>animal.</p><p>Na oração “que ela dura” (v. 4), o pronome sublinhado</p><p>a) não tem referente.</p><p>b) retoma a palavra “usina” (v. 1).</p><p>c) pode ser subs�tuído por “ele”, referindo-se a “açúcar”</p><p>(v. 1).</p><p>d) refere-se à “mais instável das brancuras” (v. 2).</p><p>e) equivale à palavra “censura” (v. 10).</p><p>GR0081 - (Unimontes)</p><p>Crianças, crueldade e Jus�ça</p><p>Bullying é o comportamento agressivo, intencional</p><p>e repe�do contra alguém por conta de alguma</p><p>caracterís�ca ou situação peculiar. É um desequilíbrio de</p><p>poder que afeta sobretudo crianças e adolescentes em</p><p>escolas e em outros ambientes de convivência, mas que</p><p>também inferniza a vida de adultos.</p><p>Por alguma razão psicológica, pessoas sentem</p><p>prazer em humilhar, provocar sofrimento. Reunidas,</p><p>mul�plicam agressões verbais ou �sicas contra quem se</p><p>destaca pela diferença: obesidade, altura, pele, nariz,</p><p>�midez, roupa. Filiação, raça, falta de habilidade para o</p><p>esporte, aplicação nos estudos ou dificuldade de</p><p>aprendizado também dão origem a maus-tratos,</p><p>isolamento e depressão.</p><p>A internet amplia seus efeitos.</p><p>Fonte: CARVALHO FILHO, Luis Francisco. Crianças,</p><p>crueldade e Jus�ça. Folha de S. Paulo. Co�diano, 1.º ago.</p><p>2015, B2. Adaptado.</p><p>“A internet amplia seus efeitos.” (úl�mo período)</p><p>Em destaque nesse trecho, o pronome, de acordo com os</p><p>encadeamentos das ideias no texto, reporta-se a</p><p>a) razão psicológica.</p><p>b) Jus�ça.</p><p>c) internet.</p><p>d) bullying.</p><p>GR0314 - (Unesp)</p><p>Leia o capítulo CXVII do romance Quincas Borba, de</p><p>Machado de Assis.</p><p>A história do casamento de Maria Benedita é</p><p>curta; e, posto Sofia a ache vulgar, vale a pena dizê-la.</p><p>Fique desde já admi�do que, se não fosse a epidemia das</p><p>Alagoas, talvez não chegasse a haver casamento; donde</p><p>se conclui que as catástrofes são úteis, e até necessárias.</p><p>Sobejam exemplos; mas basta um contozinho que ouvi</p><p>em criança, e que aqui lhes dou em duas linhas. Era uma</p><p>vez uma choupana que ardia na estrada; a dona, — um</p><p>triste molambo de mulher, — chorava o seu desastre, a</p><p>poucos passos, sentada no chão. Senão quando, indo a</p><p>passar um homem ébrio, viu o incêndio, viu a mulher,</p><p>perguntou-lhe se a casa era dela.</p><p>5@professorferretto @prof_ferretto</p><p>— É minha, sim, meu senhor; é tudo o que eu</p><p>possuía neste mundo.</p><p>— Dá-me então licença que acenda ali o meu</p><p>charuto?</p><p>O padre que me contou isto certamente</p><p>emendou o texto original; não é preciso estar</p><p>embriagado para acender um charuto nas misérias</p><p>alheias. Bom padre Chagas! — Chamava-se Chagas. —</p><p>Padre mais que bom, que assim me incu�ste por muitos</p><p>anos essa ideia consoladora, de que ninguém, em seu</p><p>juízo, faz render o mal dos outros; não contando o</p><p>respeito que aquele bêbado �nha ao princípio da</p><p>propriedade, — a ponto de não acender o charuto sem</p><p>pedir licença à dona das ruínas. Tudo ideias consoladoras.</p><p>Bom padre Chagas!</p><p>(Quincas Borba, 2012.)</p><p>No trecho “Sobejam exemplos; mas basta um contozinho</p><p>que ouvi em criança, e que aqui lhes dou em duas</p><p>linhas.” (1º parágrafo), a inclusão do leitor na narra�va</p><p>pode ser constatada pelo termo</p><p>a) “basta”.</p><p>b) “ouvi”.</p><p>c) “aqui”.</p><p>d) “lhes”.</p><p>e) “dou”.</p><p>GR0338 - (Fuvest)</p><p>A taxação de livros tem um efeito cascata que acaba</p><p>custando caro não apenas ao leitor, como também ao</p><p>mercado editorial – que há anos não anda bem das</p><p>pernas – e, em úl�ma instância, ao desenvolvimento</p><p>econômico do país. A gente explica. Taxar um produto</p><p>significa, quase sempre, um aumento no valor do</p><p>produto final. Isso porque ao menos uma parte desse</p><p>imposto será repassada ao consumidor, especialmente se</p><p>considerarmos que as editoras e livrarias enfrentam há</p><p>anos uma crise que agora está intensificada pela</p><p>pandemia e não poderiam re�rar o valor desse imposto</p><p>de seu já apertado lucro. Livros mais caros também</p><p>resultam em queda de vendas, que, por sua vez,</p><p>enfraquece ainda mais editoras e as impede de inves�r</p><p>em novas publicações – especialmente aquelas de menor</p><p>apelo comercial, mas igualmente importantes para a</p><p>pluralidade de ideias. Já deu para perceber a confusão,</p><p>não é? Mas, além disso, qual seria o custo de uma</p><p>sociedade com menos leitores e menos livros?</p><p>Taís Ilhéu. “Por que taxar os livros pode gerar retrocesso</p><p>social e econômico no país”. Guia do Estudante.</p><p>Setembro/2020. Adaptado</p><p>No texto, os pronomes em negrito referem-se,</p><p>respec�vamente, a:</p><p>a) taxação de livros, mercado editorial, crise, queda de</p><p>vendas.</p><p>b) taxação de livros, leitor, crise, queda de vendas.</p><p>c) efeito cascata, mercado editorial, crise, queda de</p><p>vendas.</p><p>d) efeito cascata, mercado editorial, livrarias, livros.</p><p>e) efeito cascata, leitor, crise, livros.</p><p>GR0082 - (Ifal)</p><p>“HÁ EMBUTIDA NAS OBRAS de Aristóteles uma ideia</p><p>medular, que escapou à percepção de quase todos os</p><p>seus leitores e comentaristas, da An�guidade até hoje.</p><p>Mesmo aqueles que a perceberam — e foram apenas</p><p>dois, que eu saiba, ao longo dos milênios — limitaram-se</p><p>a anotá-la de passagem, sem lhe atribuir explicitamente</p><p>uma importância decisiva para a compreensão da</p><p>filosofia de Aristóteles. No entanto, ela é a chave mesma</p><p>dessa compreensão, se por compreensão se entende o</p><p>ato de captar a unidade do pensamento de um homem</p><p>desde suas próprias intenções e valores, em vez de julgá-</p><p>lo de fora; ato que implica respeitar cuidadosamente o</p><p>inexpresso e o subentendido, em vez de sufocá-lo na</p><p>idolatria do “texto” coisificado, túmulo do pensamento. A</p><p>essa ideia denomino Teoria dos Quatro Discursos. Pode</p><p>ser resumida em uma frase: o discurso humano é uma</p><p>potência única, que se atualiza de quatro maneiras</p><p>diversas: a poé�ca, a retórica, a dialé�ca e a analí�ca</p><p>(lógica).”</p><p>CARVALHO, O. de. Aristóteles em nova perspec�va:</p><p>Introdução à teoria dos quatro discursos. Campinas (SP):</p><p>Vide editorial, 2013, pp.21-2.</p><p>Na frase a seguir, �rada do texto acima, “… o discurso</p><p>humano é uma potência única, que se atualiza de quatro</p><p>maneiras diversas: a poé�ca, a retórica, a dialé�ca e a</p><p>analí�ca (lógica)”, a palavra destacada é um pronome</p><p>rela�vo, definido como sendo “a palavra que, vindo</p><p>numa oração, se refere a termo de outra [oração]”</p><p>(ALMEIDA, N. M. de. Gramá�ca metódica da Língua</p><p>Portuguesa. 43.ª ed. São Paulo: Saraiva, 1999, § 371, p.</p><p>202).</p><p>Assinale a opção em que se apresenta o termo</p><p>subs�tuído pelo pronome que.</p><p>a) humano.</p><p>b) potência única.</p><p>c) poé�ca.</p><p>d) retórica.</p><p>e) dialé�ca.</p><p>GR0255 - (Unesp)</p><p>6@professorferretto @prof_ferretto</p><p>Leia o conto “A moça rica”, de Rubem Braga (1913-1990)</p><p>A madrugada era escura nas moitas de mangue,</p><p>e eu avançava no batelão 1 velho; remava cansado, com</p><p>um resto de sono. De longe veio um rincho 2 de cavalo;</p><p>depois, numa choça de pescador, junto do morro,</p><p>tremulou a luz de uma lamparina.</p><p>Aquele rincho de cavalo me fez lembrar a moça</p><p>que eu encontrara galopando na praia. Ela era corada,</p><p>forte. Viera do Rio, sabíamos que era muito rica, filha</p><p>de</p><p>um irmão de um homem de nossa terra. A princípio a</p><p>olhei com espanto, quase desgosto: ela usava calças</p><p>compridas, fazia caçadas, dava �ros, saía de barco com os</p><p>pescadores. Mas na segunda noite, quando nos juntamos</p><p>todos na casa de Joaquim Pescador, ela cantou; �nha</p><p>bebido cachaça, como todos nós, e cantou primeiro uma</p><p>coisa em inglês, depois o Luar do sertão e uma canção</p><p>an�ga que dizia assim: “Esse alguém que logo encanta</p><p>deve ser alguma santa”. Era uma canção triste.</p><p>Cantando, ela parou de me assustar; cantando,</p><p>ela deixou que eu a adorasse com essa adoração súbita,</p><p>mas �mida, esse fervor confuso da adolescência –</p><p>adoração sem esperança, ela devia ter dois anos mais do</p><p>que eu. E amaria o rapaz de suéter e sapato de basquete,</p><p>que costuma ir ao Rio, ou (murmurava-se) o homem</p><p>casado, que já �nha ido até à Europa e �nha um</p><p>automóvel e uma coleção de espingardas magníficas.</p><p>Não a mim, com minha pobre flaubert 3, não a mim, de</p><p>calça e camisa, descalço, não a mim, que não sabia lidar</p><p>nem com um motor de popa, apenas tocar um batelão</p><p>com meu remo.</p><p>Duas semanas depois que ela chegou é que a</p><p>encontrei na praia solitária; eu vinha a pé, ela veio</p><p>galopando a cavalo; vi-a de longe, meu coração bateu</p><p>adivinhando quem poderia estar galopando sozinha a</p><p>cavalo, ao longo da praia, na manhã fria. Pensei que ela</p><p>fosse passar me dando apenas um adeus, esse “bom-dia”</p><p>que no interior a gente dá a quem encontra; mas parou,</p><p>o animal resfolegando e ela respirando forte, com os</p><p>seios agitados dentro da blusa fina, branca. São as duas</p><p>imagens que se gravaram na minha memória, desse</p><p>encontro: a pele escura e suada do cavalo e a seda</p><p>branca da blusa; aquela dupla respiração animal no ar</p><p>fino da manhã.</p><p>E saltou, me chamando pelo nome, conversou</p><p>comigo. Séria, como se eu fosse um rapaz mais velho do</p><p>que ela, um homem como os de sua roda, com calças de</p><p>“palm-beach”, relógio de pulso. Perguntou coisas sobre</p><p>peixes; fiquei com vergonha de não saber quase nada,</p><p>não sabia os nomes dos peixes que ela dizia, deviam ser</p><p>peixes de outros lugares mais importantes, com certeza</p><p>mais bonitos. Perguntou se a gente comia aqueles cocos</p><p>dos coqueirinhos junto da praia – e falou de minha irmã,</p><p>que conhecera, quis saber se era verdade que eu nadara</p><p>desde a ponta do Boi até perto da lagoa.</p><p>De repente me fulminou: “Por que você não</p><p>gosta de mim? Você me trata sempre de um modo</p><p>esquisito...” Respondi, estúpido, com a voz rouca: “Eu</p><p>não”.</p><p>Ela então riu, disse que eu confessara que não</p><p>gostava mesmo dela, e eu disse: “Não é isso.” Montou o</p><p>cavalo, perguntou se eu não queria ir na garupa. Inventei</p><p>que precisava passar na casa dos Lisboa. Não insis�u, me</p><p>deu um adeus muito alegre; no dia seguinte foi-se</p><p>embora.</p><p>Agora eu estava ali remando no batelão, para ir</p><p>no Severone apanhar uns camarões vivos para isca; e o</p><p>relincho distante de um cavalo me fez lembrar a moça</p><p>bonita e rica. Eu disse comigo – rema, bobalhão! – e fui</p><p>remando com força, sem ligar para os respingos de água</p><p>fria, cada vez com mais força, como se isto adiantasse</p><p>alguma coisa.</p><p>(Os melhores contos, 1997.)</p><p>1 batelão: embarcação movida a remo.</p><p>2 rincho: relincho.</p><p>3 flaubert: um �po de espingarda</p><p>“Duas semanas depois que ela chegou é que a encontrei</p><p>na praia solitária; eu viajava a pé, ela veio galopando a</p><p>cavalo” (4º parágrafo)</p><p>Os termos sublinhados cons�tuem, respec�vamente,</p><p>a) ar�go, preposição, ar�go.</p><p>b) ar�go, preposição, preposição.</p><p>c) pronome, ar�go, ar�go.</p><p>d) pronome, preposição, preposição.</p><p>e) pronome, ar�go, preposição.</p><p>GR0374 - (Unicamp)</p><p>7@professorferretto @prof_ferretto</p><p>No contexto deste grafite, as frases “menos presos</p><p>polí�cos” e “mais polí�cos presos” expressam</p><p>a) uma relação de contradição, uma vez que indicam</p><p>sen�dos opostos.</p><p>b) uma relação de consequência, já que a diminuição de</p><p>um grupo conduz ao aumento de outro.</p><p>c) uma relação de contraste, pois reivindicam o aumento</p><p>de um �po de presos e a redução de outro.</p><p>d) uma relação de complementaridade, porque remetem</p><p>a subconjuntos de uma mesma categoria.</p><p>GR0348 - (Puccamp)</p><p>Os anos seguintes à proclamação da</p><p>Independência, em 7 de setembro de 1822, foram</p><p>marcados por agitações polí�cas e intensas negociações</p><p>sobre a criação da nação brasileira e a definição de um</p><p>perfil de Estado nacional. Era preciso inves�r na</p><p>formação de uma elite intelectual capaz de gerir a pátria</p><p>recém-emancipada, ins�tuindo-lhe uma iden�dade</p><p>própria, em oposição à portuguesa. Mais do que novas</p><p>leis, o país precisava de uma consciência jurídica, que</p><p>deveria emanar de cursos estabelecidos em território</p><p>nacional. Foram esses, entre outros, os argumentos que</p><p>deram o tom das discussões polí�cas que culminaram</p><p>nas duas primeiras faculdades de direito do Brasil, em</p><p>agosto de 1827, em São Paulo e Recife. “A criação de</p><p>escolas de direito nas regiões Sul e Norte, como se dizia à</p><p>época, pretendia integrar as diferentes regiões do país,</p><p>fortalecendo a unidade territorial”, explica a advogada e</p><p>historiadora Ana Paula Araújo de Holanda, da</p><p>Universidade de Fortaleza, Ceará.</p><p>A proposta de criação de um curso de direito foi</p><p>apresentada em 1823. Tratava-se de um pedido de</p><p>brasileiros matriculados na Universidade de Coimbra, em</p><p>Portugal, onde a maioria dos que pretendiam seguir nas</p><p>profissões jurídicas estudava. O projeto, apresentado</p><p>pelo advogado Fernandes Pinheiro, foi encaminhado para</p><p>debate na Assembleia, e logo iniciaram-se as divergências</p><p>sobre a localização dos cursos. Os debates transcorreram</p><p>de forma apaixonada. “Os parlamentares advogavam em</p><p>favor de suas províncias de origem, já que desses cursos</p><p>sairia a elite polí�ca do país”, comenta a advogada e</p><p>historiadora Bistra Stefanova Apostolova, da Faculdade</p><p>de Direito da Universidade de Brasília. O projeto</p><p>aprovado na Assembleia Geral, no entanto, não rompeu</p><p>totalmente com a tradição jurídica portuguesa. Houve</p><p>desencontros entre as intenções dos parlamentares e a</p><p>prá�ca, segundo Bistra. Adotaram-se provisoriamente os</p><p>Estatutos da Universidade de Coimbra.</p><p>Ambas as faculdades tornaram-se importantes</p><p>polos inspiradores das artes literárias e poé�cas</p><p>nacionais, contribuindo para a construção da iden�dade</p><p>nacional. As ins�tuições também foram importantes para</p><p>os principais movimentos cívicos, literários e polí�cos</p><p>que se seguiram ao longo das décadas no país, como os</p><p>que levaram à proclamação da República, em 1889, e à</p><p>Abolição, um ano antes.</p><p>(Adaptado de ANDRADE, Rodrigo de Oliveira. “Para</p><p>formar homens de lei”. Revista Pesquisa Fapesp,</p><p>out/2017)</p><p>“[...] ins�tuindo-lhe uma iden�dade própria” (1º</p><p>parágrafo)</p><p>O termo sublinhado acima refere-se a</p><p>a) elite.</p><p>b) nação.</p><p>c) pátria.</p><p>d) iden�dade.</p><p>e) formação.</p><p>GR0072 - (Pucmg)</p><p>A importância do ato de ler</p><p>Rara tem sido a vez, ao longo de tantos anos de</p><p>prá�ca pedagógica, por isso polí�ca, em que me tenho</p><p>permi�do a tarefa de abrir, de inaugurar ou de encerrar</p><p>encontros ou congressos. Aceitei fazê-la agora, da</p><p>maneira, porém, menos formal possível. Aceitei vir aqui</p><p>para falar um pouco da importância do ato de ler.</p><p>Me parece indispensável, ao procurar falar de tal</p><p>importância, dizer algo do momento mesmo em que me</p><p>preparava para aqui estar hoje; dizer algo do processo</p><p>em que me inseri enquanto ia escrevendo este texto que</p><p>agora leio, processo que envolvia uma compreensão</p><p>crí�ca do ato de ler, que não se esgota na decodificação</p><p>pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que</p><p>se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A</p><p>leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a</p><p>posterior leitura desta não possa prescindir da</p><p>con�nuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade</p><p>se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a</p><p>ser alcançada por sua leitura crí�ca implica a percepção</p><p>das relações entre o texto e o contexto. Ao ensaiar</p><p>escrever sobre a importância do ato de ler, eu me sen�</p><p>levado - e até gostosamente - a "reler" momentos</p><p>fundamentais de minha prá�ca, guardados na memória,</p><p>desde as experiências mais remotas de minha infância,</p><p>de minha adolescência, de minha mocidade, em que a</p><p>compreensão crí�ca da importância do</p><p>ato de ler se veio</p><p>em mim cons�tuindo.</p><p>Ao ir escrevendo este texto, ia "tomando</p><p>distância” dos diferentes momentos em que o ato de ler</p><p>se veio dando na minha experiência existencial. Primeiro,</p><p>a “leitura” do mundo, do pequeno mundo em que me</p><p>movia; depois, a leitura da palavra que nem sempre, ao</p><p>8@professorferretto @prof_ferretto</p><p>longo de minha escolarização, foi a leitura da</p><p>“palavramundo”.</p><p>A retomada da infância distante, buscando a</p><p>compreensão do meu ato de “ler” o mundo par�cular em</p><p>que me movia – e até onde não sou traído pela memória</p><p>-, me é absolutamente significa�va. Neste esforço a que</p><p>me vou entregando, recrio, e revivo, no texto que</p><p>escrevo, a experiência vivida no momento em que ainda</p><p>não lia a palavra. Me vejo então na casa mediana em que</p><p>nasci, no Recife, rodeada de árvores, algumas delas como</p><p>se fossem gente, tal a in�midade entre nós - à sua</p><p>sombra brincava e em seus galhos mais dóceis à minha</p><p>altura eu me experimentava em riscos menores que me</p><p>preparavam para riscos e aventuras maiores.</p><p>A velha casa, seus quartos, seu corredor, seu</p><p>sótão, seu terraço - o sí�o das avencas de minha mãe -, o</p><p>quintal amplo em que se achava, tudo isso foi o meu</p><p>primeiro mundo. [...] Os "textos", as "palavras”, as</p><p>"letras” daquele contexto - em cuja percepção</p><p>experimentava e, quanto mais o fazia, mais aumentava a</p><p>capacidade de perceber - se encarnavam numa série de</p><p>coisas, de objetos, de sinais, cuja compreensão eu ia</p><p>apreendendo no meu trato com eles nas minhas relações</p><p>com meus irmãos mais velhos e com meus pais.</p><p>Os “textos”, as “palavras”, as “letras” daquele</p><p>contexto se encarnavam no canto dos pássaros - o do</p><p>sanhaçu, o do olhapro-caminho-quem-vem, o do bem-te-</p><p>vi, o do sabiá; na dança das copas das árvores sopradas</p><p>por fortes ventanias que anunciavam tempestades,</p><p>trovões, relâmpagos; as águas da chuva brincando de</p><p>geografia: inventando lagos, ilhas, rios, riachos. Os</p><p>“textos”, as “palavras”, as “letras” daquele contexto se</p><p>encarnavam também no assobio do vento, nas nuvens do</p><p>céu, nas suas cores, nos seus movimentos; na cor das</p><p>folhagens, na forma das folhas, no cheiro das flores - das</p><p>rosas, dos jasmins -, no corpo das árvores, na casca dos</p><p>frutos. Na tonalidade diferente de cores de um mesmo</p><p>fruto em momentos dis�ntos. [...]</p><p>Daquele contexto faziam parte igualmente os</p><p>animais: os gatos da família, a sua maneira manhosa de</p><p>enroscar-se nas pernas da gente, o seu miado, de súplica</p><p>ou de raiva; Joli, o velho cachorro negro de meu pai, o</p><p>seu mau humor toda vez que um dos gatos incautamente</p><p>se aproximava demasiado do lugar em que se achava</p><p>comendo [...].</p><p>Daquele contexto - o do meu mundo imediato -</p><p>fazia parte, por outro lado, o universo da linguagem dos</p><p>mais velhos, expressando as suas crenças, os seus gostos,</p><p>os seus receios, os seus valores. Tudo isso ligado a</p><p>contextos mais amplos que o do meu mundo imediato e</p><p>de cuja existência eu não podia sequer suspeitar. No</p><p>esforço de re-tomar a infância distante, a que já me</p><p>referi, buscando a compreensão do meu ato de ler o</p><p>mundo par�cular em que me movia, permitam-me</p><p>repe�r, re-crio, re-vivo, no texto que escrevo, a</p><p>experiência vivida no momento em que ainda não lia a</p><p>palavra. E algo que me parece importante, no contexto</p><p>geral de que venho falando, emerge agora insinuando a</p><p>sua presença no corpo destas reflexões. [...]</p><p>Mas, é importante dizer, a “leitura” do meu</p><p>mundo, que me foi sempre fundamental, não fez de mim</p><p>um menino antecipado em homem, um racionalista de</p><p>calças curtas. A curiosidade do menino não iria distorcer-</p><p>se pelo simples fato de ser exercida, no que fui mais</p><p>ajudado do que desajudado por meus pais. E foi com</p><p>eles, precisamente, em certo momento dessa rica</p><p>experiência de compreensão do meu mundo imediato,</p><p>sem que tal compreensão �vesse significado</p><p>malquerenças ao que ele �nha de encantadoramente</p><p>misterioso, que eu comecei a ser introduzido na leitura</p><p>da palavra.</p><p>A decifração da palavra fluía naturalmente da</p><p>“leitura” do mundo par�cular. Não era algo que se</p><p>es�vesse dando superpostamente a ele. Fui alfabe�zado</p><p>no chão do quintal de minha casa, à sombra das</p><p>mangueiras, com palavras do meu mundo e não do</p><p>mundo maior dos meus pais. O chão foi o meu quadro-</p><p>negro; gravetos, o meu giz. Por isso é que, ao chegar à</p><p>escolinha par�cular de Eunice Vasconcelos [...] já estava</p><p>alfabe�zado. Eunice con�nuou e aprofundou o trabalho</p><p>de meus pais. Com ela, a leitura da palavra, da frase, da</p><p>sentença, jamais significou uma ruptura com a "leitura"</p><p>do mundo. Com ela, a leitura da palavra foi a leitura da</p><p>“palavramundo”.</p><p>Paulo Freire</p><p>A velha casa, seus quartos, seu corredor, seu</p><p>sótão, seu terraço - o sí�o das avencas de minha mãe -, o</p><p>quintal amplo em que se achava, tudo isso foi o meu</p><p>primeiro mundo. (...) Os "textos", as "palavras”, as</p><p>"letras” daquele contexto - em cuja percepção</p><p>experimentava e, quanto mais o fazia, mais aumentava a</p><p>capacidade de perceber - se encarnavam numa série de</p><p>coisas, de objetos, de sinais, cuja compreensão eu ia</p><p>apreendendo no meu trato com eles nas minhas relações</p><p>com meus irmãos mais velhos e com meus pais.</p><p>Sobre elementos de coesão presentes no excerto, avalie</p><p>as afirma�vas:</p><p>I. “... o quintal amplo em que se achava....” → “em que”,</p><p>rela�vo, pode ser subs�tuído por “no qual” ou “onde”,</p><p>sem alteração do sen�do.</p><p>II. “.... daquele contexto – em cuja percepção...” → “em</p><p>cuja” poderia ser subs�tuído por “em que”, sem</p><p>alteração funcional ou de sen�do.</p><p>III. “... tudo isso foi o meu primeiro mundo” → os</p><p>pronomes “tudo isso” retomam, de forma resumi�va,</p><p>uma série de elementos enumerados.</p><p>IV. “experimentava e, quanto mais o fazia, mais</p><p>aumentava...” → o conec�vo usado empresta um sen�do</p><p>de consequência aos fatos indicados.</p><p>9@professorferretto @prof_ferretto</p><p>Estão corretas as afirma�vas presentes apenas em:</p><p>a) I e III.</p><p>b) I, II e III.</p><p>c) II e IV.</p><p>d) III e IV.</p><p>GR0078 - (Espm)</p><p>Os fenômenos da linguagem examinavam-se</p><p>outrora apenas à luz da gramá�ca e da lógica, e já era</p><p>muito se a análise reconhecia como palavras exple�vas</p><p>ou de realce os termos sobejantes 1unidos à oração ou</p><p>nela encravados.</p><p>Hoje que a ciência da linguagem inves�ga os</p><p>fatos sem deixar-se pear 2por an�gos preconceitos, já</p><p>não podemos levar essas expressões à conta das</p><p>superfluidades nem ainda atribuir-lhes papel decora�vo,</p><p>o que seria contrassenso, uma vez que rareiam no</p><p>discurso eloquente e retórico e se usam a cada instante</p><p>justamente no falar desataviado de</p><p>todos os dias.</p><p>Uma coisa é dirigirmo-nos à cole�vidade, a</p><p>pessoas desconhecidas, de condições diversas, e que nos</p><p>ouvem caladas; outra coisa é tratar com alguém de perto,</p><p>falar e ouvir, e ajeitar a cada momento a linguagem em</p><p>atenção a essa pessoa que está diante de nós, para que</p><p>fique sempre bem impressionada com as nossas palavras.</p><p>(Said Ali, Meios de Expressão e Alterações Semân�cas,</p><p>RJ)</p><p>1 sobejantes: demasiados, excessivos, de sobras.</p><p>2 pear: prender.</p><p>No segundo parágrafo, no segmento: ...nem ainda</p><p>atribuir-lhes papel decora�vo..., o pronome pessoal</p><p>oblíquo “lhes” tem como referência no texto:</p><p>a) essas expressões</p><p>b) palavras exple�vas</p><p>c) os fatos</p><p>d) an�gos preconceitos</p><p>e) superfluidades</p><p>GR0272 - (Unesp)</p><p>Leia o trecho do conto-prefácio “Hipotrélico”, que integra</p><p>o livro Tutameia, de João Guimarães Rosa.</p><p>Há o hipotrélico. O termo é novo, de</p><p>impesquisada origem e ainda sem definição que lhe</p><p>apanhe em todas as pétalas o significado. Sabe-se, só,</p><p>que vem do bom português. Para a prá�ca, tome-se</p><p>hipotrélico querendo dizer: an�podá�co, sengraçante</p><p>imprizido; ou, talvez, vice-dito: indivíduo pedante,</p><p>importuno agudo, falto de respeito para com a opinião</p><p>alheia. Sob mais que, tratando-se de palavra inventada, e,</p><p>como adiante se verá, embirrando o hipotrélico em não</p><p>tolerar neologismos, começa ele por se negar</p><p>nominalmente a própria existência.</p><p>Somos todos, neste ponto, um tento ou cento</p><p>hipotrélicos? Salvo o excepto, um neologismo contunde,</p><p>confunde, quase ofende. Perspica-nos a inércia que</p><p>soneja em cada canto do espírito, e que se refestela com</p><p>os bons hábitos estadados. Se é que</p><p>um não se assuste:</p><p>saia todo-o-mundo a empinar vocábulos seus, e aonde é</p><p>que se vai dar com a língua �da e herdada? Assenta-nos</p><p>bem à modés�a achar que o novo não valerá o velho;</p><p>ajusta-se à melhor prudência relegar o progresso no</p><p>passado. [...]</p><p>Já outro, contudo, respeitável, é o caso — enfim</p><p>— de “hipotrélico”, mo�vo e base desta fábula diversa, e</p><p>que vem do bom português. O bom português, homem-</p><p>de-bem e mui�ssimo inteligente, mas que, quando ou</p><p>quando, neologizava, segundo suas necessidades ín�mas.</p><p>Ora, pois, numa roda, dizia ele, de algum sicrano,</p><p>terceiro, ausente:</p><p>— E ele é muito hiputrélico...</p><p>Ao que, o indesejável maçante, não se contendo,</p><p>emi�u o veto:</p><p>— Olhe, meu amigo, essa palavra não existe.</p><p>Parou o bom português, a olhá-lo, seu tanto</p><p>perplexo:</p><p>— Como?!... Ora... Pois se eu a estou a dizer?</p><p>— É. Mas não existe</p><p>Aí, o bom português, ainda meio enfigadado,</p><p>mas no tom já feliz de descoberta, e apontando para o</p><p>outro, peremptório:</p><p>— O senhor também é hiputrélico...</p><p>E ficou havendo.</p><p>(Tutameia, 1979)</p><p>Retoma um termo mencionado anteriormente no texto a</p><p>palavra sublinhada em:</p><p>a) “Ao que, o indesejável maçante, não se contendo,</p><p>emi�u o veto:” (6º parágrafo)</p><p>b) “— O senhor também é hiputrélico...” (12º parágrafo)</p><p>c) “Para a prá�ca, tome-se hipotrélico querendo dizer:”</p><p>(1º parágrafo)</p><p>d) “— Como?!... Ora... Pois se eu a estou a dizer?” (9º</p><p>parágrafo)</p><p>e) “Parou o bom português, a olhá-lo, seu tanto</p><p>perplexo:” (8º parágrafo)</p><p>GR0304 - (Unesp)</p><p>Leia a crônica “Elegia do Guandu”, de Carlos Drummond</p><p>de Andrade, publicada originalmente em 2 de novembro</p><p>de 1974.</p><p>10@professorferretto @prof_ferretto</p><p>E se reverenciássemos neste 2 de novembro os</p><p>mortos do Guandu, que descem a correnteza, a caminho</p><p>do mar - o mar que eles não alcançam, pois encalham na</p><p>areia das margens, e os urubus os devoram?</p><p>Perdoai se apresento matéria tão feia, em dia de</p><p>flores consagradas aos mortos queridos. Estes não são</p><p>amados de ninguém, ou o são de mínima gente. Seus</p><p>corpos, não há quem os reclame, de medo ou seja lá pelo</p><p>que for.</p><p>Se algum deles tem sorte de derivar pela res�nga</p><p>da Marambaia e ali é recolhido por pescadores - ah, peixe</p><p>menos desejado - ganha sepultura anônima, que a</p><p>piedade dos humildes providencia. Mas não é prudente</p><p>pescar mortos do Guandu: há sempre a perspec�va de</p><p>interrogatórios que fazem perder o dia de trabalho, às</p><p>vezes mais do que isso: a liberdade, que se confisca aos</p><p>suspeitos e aos que explicam mal suas pescarias</p><p>macabras.</p><p>São marginais caçados pela polícia ou por outros</p><p>marginais, são suicidas, são acidentados? Di�cil classificá-</p><p>los, se não trazem a marca registrada dos trucidadores ou</p><p>estes sinais: mãos amarradas, amarrado de vários corpos,</p><p>pesos amarrados aos pés. Estes úl�mos são mortos fáceis</p><p>de catalogar, embora só se lhes vejam as cabeças em</p><p>rodopio à flor d’água, mas os que vêm boiando e fluindo,</p><p>fluindo e boiando, em sonho aquá�co deslizante, estes</p><p>desesperaram da vida, ou a vida lhes faltou de surpresa?</p><p>Os mortos vão passando, procissão falhada. Eis</p><p>desce o rio um lote de seis, uns aos outros ligados pela</p><p>corda fraternizante. É espetáculo para se ver da janela de</p><p>moradores de Itaguaí, assistentes ribeirinhos de novela</p><p>de espaçados capítulos. Ver e não contar. Ver e guardar</p><p>para conversas ín�mas:</p><p>- Ontem, na �ntura da madrugada, passaram três</p><p>garrafinhas. Eu vi, chamei a Teresa pra espiar também...</p><p>Garrafinhas chamam-se eles, os trucidados com</p><p>chumbo aos pés, e não mais como ficou escrito em livros</p><p>de cartório. O garrafinha nº1 não é diferente do</p><p>garrafinha nº2 ou 3. Foram todos nivelados pelo Guandu.</p><p>Como frascos vazios, de pequeno porte e nenhuma</p><p>importância, lá vão rio abaixo, Nova Iguaçu abaixo, rumo</p><p>do esquecimento das garrafas e dos crimes que</p><p>cometeram ou não cometeram, ou dos crimes que neles</p><p>foram come�dos.</p><p>[⋯]</p><p>O Guandu não responde a inquéritos nem a</p><p>repórteres. Não dis�ngue, carrega. Não comenta, não</p><p>julga, não reclama se lhe corrompem as águas;</p><p>transporta. Em sua impessoalidade serve a desígnios</p><p>vários, favorece a vida que quer se desembaraçar da</p><p>morte, facilita a morte que quer se libertar da vida. Pela</p><p>jus�ça sumária, pelo absurdo, pelo desespero.</p><p>Mas não é ao Guandu que cabe dedicar uma</p><p>elegia, é aos mortos do Guandu, nos quais ninguém</p><p>pensa no dia de pensar os e nos mortos. Os criminosos,</p><p>os não criminosos, os que se destruíram, os que</p><p>resvalaram. Mortos sem sepultura e sem lembrança.</p><p>Trágicos e apagados deslizantes na correnteza.</p><p>Passageiros do Guandu, apenas e afinal.</p><p>(Carlos Drummond de Andrade. Os dias lindos, 2013.)</p><p>O termo sublinhado em “Estes úl�mos são mortos fáceis</p><p>de catalogar, embora só se lhes vejam as cabeças em</p><p>rodopio à flor d’água” (4º parágrafo) pertence à mesma</p><p>classe grama�cal do termo sublinhado em:</p><p>a) “Mas não é prudente pescar mortos do Guandu” (3º</p><p>parágrafo)</p><p>b) “Eis desce o rio um lote de seis, uns aos outros ligados</p><p>pela corda fraternizante” (5º parágrafo)</p><p>c) “Di�cil classificá-los, se não trazem a marca registrada</p><p>dos trucidadores” (4º parágrafo)</p><p>d) “É espetáculo para se ver da janela de moradores de</p><p>Itaguaí” (5º parágrafo)</p><p>e) “Estes não são amados de ninguém, ou o são de</p><p>mínima gente” (2º parágrafo)</p><p>GR0295 - (Unesp)</p><p>Trecho do drama Macário, de Álvares de Azevedo.</p><p>MACÁRIO (chega à janela): Ó mulher da casa! olá! ó de</p><p>casa!</p><p>UMA VOZ (de fora): Senhor!</p><p>MACÁRIO: Desate a mala de meu burro e tragam-ma</p><p>aqui...</p><p>A VOZ: O burro?</p><p>MACÁRIO: A mala, burro!</p><p>A VOZ: A mala com o burro?</p><p>MACÁRIO: Amarra a mala nas tuas costas e amarra o</p><p>burro na cerca.</p><p>A VOZ: O senhor é o moço que chegou primeiro?</p><p>MACÁRIO: Sim. Mas vai ver o burro.</p><p>A VOZ: Um moço que parece estudante?</p><p>MACÁRIO: Sim. Mas anda com a mala.</p><p>A VOZ: Mas como hei de ir buscar a mala? Quer que vá a</p><p>pé?</p><p>MACÁRIO: Esse diabo é doido! Vai a pé, ou monta numa</p><p>vassoura como tua mãe!</p><p>A VOZ: Descanse, moço. O burro há de aparecer. Quando</p><p>madrugar iremos procurar.</p><p>OUTRA VOZ: Havia de ir pelo caminho do Nhô Quito. Eu</p><p>conheço o burro...</p><p>MACÁRIO: E minha mala?</p><p>A VOZ: Não vê? Está chovendo a potes!...</p><p>MACÁRIO (fecha a janela): Malditos! (a�ra com uma</p><p>cadeira no chão)</p><p>O DESCONHECIDO: Que tendes, companheiro?</p><p>MACÁRIO: Não vedes? O burro fugiu...</p><p>O DESCONHECIDO: Não será quebrando cadeiras que o</p><p>chamareis...</p><p>MACÁRIO: Porém a raiva...</p><p>11@professorferretto @prof_ferretto</p><p>[...]</p><p>O DESCONHECIDO: A mala não pareceu-me muito cheia.</p><p>Sen� alguma coisa sacolejar dentro. Alguma garrafa de</p><p>vinho?</p><p>MACÁRIO: Não! não! mil vezes não! Não concebeis, uma</p><p>perda imensa, irreparável... era o meu cachimbo...</p><p>O DESCONHECIDO: Fumais?</p><p>MACÁRIO: Perguntai de que serve o �nteiro sem �nta, a</p><p>viola sem cordas, o copo sem vinho, a noite sem mulher</p><p>– não me pergunteis se fumo!</p><p>[...]</p><p>MACÁRIO: E vós?</p><p>O DESCONHECIDO: Não vos importeis comigo. (�ra outro</p><p>cachimbo e fuma)</p><p>MACÁRIO: Sois um perfeito companheiro de viagem.</p><p>Vosso nome?</p><p>O DESCONHECIDO: Perguntei-vos o vosso?</p><p>MACÁRIO: O caso é que é preciso que eu pergunte</p><p>primeiro. Pois eu sou um estudante. Vadio ou estudioso,</p><p>talentoso ou estúpido, pouco importa. Duas palavras só:</p><p>amo o fumo e odeio o Direito Romano. Amo as mulheres</p><p>e odeio o roman�smo.</p><p>O DESCONHECIDO: Tocai! Sois um digno rapaz. (apertam</p><p>a mão)</p><p>MACÁRIO: Gosto mais de uma garrafa de vinho que de</p><p>um poema, mais de um beijo que do soneto mais</p><p>harmonioso. Quanto ao canto dos passarinhos, ao luar</p><p>sonolento, às noites límpidas, acho isso sumamente</p><p>insípido. Os passarinhos sabem só uma can�ga. O luar é</p><p>sempre o mesmo. Esse mundo é monótono a fazer</p><p>morrer de sono.</p><p>O DESCONHECIDO: E a poesia?</p><p>MACÁRIO: Enquanto era a moeda de ouro que corria só</p><p>pela mão do rico, ia muito bem. Hoje trocou-se em</p><p>moeda de cobre; não há mendigo, nem caixeiro de</p><p>taverna que não tenha esse vintém azinhavrado 1.</p><p>Entendeis-me?</p><p>O DESCONHECIDO: Entendo. A poesia, de popular</p><p>tornou- se vulgar e comum. An�gamente faziam-na para</p><p>o povo; hoje o povo fá-la... para ninguém...</p><p>(Álvares de Azevedo. Macário/Noite na taverna, 2002.)</p><p>1 azinhavrado: coberto de azinhavre (camada de cor</p><p>verde que se forma na super�cie dos objetos de cobre ou</p><p>latão, resultante</p><p>da corrosão destes quando expostos ao</p><p>ar úmido).</p><p>Retoma um termo mencionado anteriormente no texto a</p><p>palavra sublinhada em:</p><p>a) “O DESCONHECIDO: Perguntei-vos o vosso?”</p><p>b) “O DESCONHECIDO: Não será quebrando cadeiras que</p><p>o chamareis…”</p><p>c) “A VOZ: Não vê? Está chovendo a potes!…”</p><p>d) “A VOZ: Mas como hei de ir buscar a mala? Quer que</p><p>vá a pé?”</p><p>e) “MACÁRIO: Esse mundo é monótono a fazer morrer</p><p>de sono.”</p><p>GR0070 - (Pucgo)</p><p>O emprego adequado do pronome rela�vo confere</p><p>qualidade ao texto e o aproxima mais da norma padrão</p><p>da língua. Avalie o emprego do pronome rela�vo nas</p><p>orações a seguir:</p><p>I - Ele saiu do banco no qual mantém uma conta.</p><p>II - Esteve par�cipando de um jantar na empresa da qual</p><p>está engajado.</p><p>III - Assumiu o cargo do qual lutava desde que se formara.</p><p>IV - Atravessou a rua, parou diante da vitrine, e admirou a</p><p>joia com a qual sonhava.</p><p>Marque a única alterna�va que apresenta todos os</p><p>itens corretosquanto ao emprego do pronome rela�vo:</p><p>a) I e II apenas.</p><p>b) I e IV apenas.</p><p>c) II e III apenas.</p><p>d) III e IV apenas.</p><p>GR0286 - (Unesp)</p><p>Leia o poema “Ausência”, de Carlos Drummond de</p><p>Andrade.</p><p>Por muito tempo achei que a ausência é falta.</p><p>E las�mava, ignorante, a falta.</p><p>Hoje não a las�mo.</p><p>Não há falta na ausência.</p><p>A ausência é um estar em mim.</p><p>E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus</p><p>braços,</p><p>que rio e danço e invento exclamações alegres,</p><p>porque a ausência, essa ausência assimilada,</p><p>ninguém a rouba mais de mim.</p><p>(Corpo, 2015.)</p><p>Os três pronomes “a” do poema referem-se,</p><p>respec�vamente, a</p><p>12@professorferretto @prof_ferretto</p><p>a) ausência, falta, ausência.</p><p>b) ausência, ausência, falta.</p><p>c) falta, falta, ausência.</p><p>d) falta, ausência, ausência.</p><p>e) falta, ausência, falta.</p><p>GR0083 - (Uece)</p><p>[...] Uma noite de inverno, gelada e nevoenta,</p><p>cercava a criaturinha. Silêncio completo, nenhum sinal de</p><p>vida nos arredores. O galo velho não cantava no poleiro,</p><p>nem Fabiano roncava na cama de varas. Estes sons não</p><p>interessavam Baleia, mas quando o galo ba�a as asas e</p><p>Fabiano se virava, [123]emanações familiares revelavam-</p><p>lhe a presença [124]deles. Agora parecia que a fazenda se</p><p>�nha despovoado.</p><p>Baleia respirava depressa, a boca aberta, os</p><p>queixos desgovernados, a língua pendente</p><p>e insensível. Não sabia o que �nha sucedido. [129]O</p><p>estrondo, a pancada que recebera no quarto e a viagem</p><p>di�cil no barreiro ao fim do pá�o desvaneciam-se no seu</p><p>espírito.</p><p>Provavelmente estava na cozinha, entre as</p><p>pedras que serviam de trempe. Antes de se deitar, sinhá</p><p>Vitória re�rava dali os carvões e a cinza, varria com um</p><p>molho de vassourinha o chão queimado, e aquilo ficava</p><p>um bom lugar para cachorro descansar. O calor</p><p>afugentava as pulgas, a terra se amaciava. E, findos os</p><p>cochilos, numerosos preás corriam e saltavam, um</p><p>formigueiro de preás invadia a cozinha.</p><p>A tremura subia, deixava a barriga e chegava ao</p><p>peito de Baleia. Do outro peito para trás era tudo</p><p>insensibilidade e esquecimento. Mas o resto do corpo se</p><p>arrepiava, espinhos de mandacaru penetravam na carne</p><p>meio comida pela doença.</p><p>Baleia encostava a cabecinha fa�gada na pedra.</p><p>A pedra estava fria, certamente sinhá Vitória �nha</p><p>deixado o fogo apagar-se muito cedo.</p><p>Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo</p><p>cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um</p><p>Fabiano enorme. [156]As crianças se espojariam com ela,</p><p>rolariam com ela num pá�o enorme, num chiqueiro</p><p>enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos,</p><p>enormes.</p><p>RAMOS, Graciliano. Vidas secas, 82ª ed. Rio de Janeiro:</p><p>Record. 2001. p. 85-91.</p><p>Os pronomes servem para criar uma cadeia de referência</p><p>a elementos que são retomados ao longo do texto.</p><p>Aplicando esta ideia ao excerto do romance de Vidas</p><p>Secas, é correto afirmar que</p><p>a) em “As crianças se espojariam com ela” (ref. 156), o</p><p>pronome ela se refere à sinhá Vitória, mãe das</p><p>crianças.</p><p>b) no trecho “[...] emanações familiares revelavam-lhe a</p><p>presença deles (ref. 123), o uso do pronome lhe faz</p><p>referência à Baleia.</p><p>c) no enunciado “O estrondo, a pancada que recebera no</p><p>quarto e a viagem di�cil no barreiro ao fim do pá�o</p><p>desvaneciam-se no seu espírito” (ref. 129), o</p><p>pronome seu está se referindo a Fabiano.</p><p>d) a forma pronominal deles (ref. 124) retoma a</p><p>expressão estes sons.</p><p>GR0077 - (Fgv)</p><p>Leia o texto para responder à questão.</p><p>Modos de xingar</p><p>— Biltre!</p><p>— O quê?</p><p>— Biltre! Sacripanta!</p><p>— Traduz isso para português.</p><p>— Traduzo coisa nenhuma. Além do mais,</p><p>charro! Onagro!</p><p>Parei para escutar. As palavras estranhas</p><p>jorravam do interior de um Ford de bigode. Quem as</p><p>proferia era um senhor idoso, terno escuro, fisionomia</p><p>respeitável, alterada pela indignação. Quem as recebia</p><p>era um garotão de camisa esporte; dentes clarinhos</p><p>emergindo da floresta capilar, no interior de um fusca.</p><p>Desses casos de toda hora: o fusca bateu no Ford.</p><p>Discussão. Bate-boca. O velho usava o repertório de</p><p>xingamentos de seu tempo e de sua condição: professor,</p><p>quem sabe? leitor de Camilo Castelo Branco.</p><p>Os velhos xingamentos. Pessoas havia que se</p><p>recusavam a usar o trivial das ruas e botequins, e iam</p><p>pedir a Rui Barbosa, aos mestres da língua, expressões</p><p>que cas�gassem fortemente o adversário. Esse material</p><p>seleto vinha esmaltar ar�gos de polêmica (polemizava-se</p><p>muito nos jornais do começo do século), discursos</p><p>polí�cos (nos intervalos do estado de sí�o, é lógico) e um</p><p>pouco os incidentes de calçada.</p><p>A maioria, sem dúvida, não se empenhava em</p><p>requintes.</p><p>(Carlos Drummond de Andrade. “Modos de xingar”. As</p><p>palavras que ninguém diz, 2011.)</p><p>Na oração “— Traduzo coisa nenhuma” (5° parágrafo), o</p><p>termo sublinhado pertence à mesma classe de palavras</p><p>do termo sublinhado em:</p><p>13@professorferretto @prof_ferretto</p><p>a) O lugar certo onde ocorreu a ba�da entre o Ford e o</p><p>fusca eu não lembro agora.</p><p>b) O senhor do Ford proferia ofensas ao jovem do fusca,</p><p>pensando estar fazendo o certo.</p><p>c) Para muitos, não era certo ofender com palavras</p><p>simples, �nham que cas�gar.</p><p>d) Em um bate-boca, ninguém acaba falando certo, já</p><p>que as ofensas prevalecem.</p><p>e) Na fala do senhor idoso, o jovem</p><p>iden�ficou certo termo que desconhecia.</p><p>GR0073 - (Fgvrj)</p><p>Ambiente de startups parece mágico, mas burnout em</p><p>mentores é alerta à comunidade</p><p>[1] A pandemia acelerou a digitalização dos</p><p>negócios, alterou o comportamento do consumidor e</p><p>abriu ainda mais espaço para as novas tecnologias — não</p><p>à toa �vemos recordes de inves�mentos nas startups</p><p>brasileiras.</p><p>[5] Acredito que este ano não será diferente. O</p><p>mercado está bastante aquecido e é possível que muitos</p><p>novos unicórnios, como chamamos as empresas com</p><p>valor de mercado de 1 bilhão, surjam ainda neste</p><p>primeiro semestre.</p><p>[9] O ambiente de startups parece mágico, mas a</p><p>verdade é que, há tempos, tenho visto CEOs no fundo do</p><p>poço. São pessoas talentosas, cria�vas e com paixão. Que</p><p>dão o melhor de si, mas que se esquecem da ferramenta</p><p>mais importante que possuem: o hardware da própria</p><p>mente.</p><p>As conexões sociais são um dos pilares mais</p><p>importantes e poderosos para proteger a nossa mente.</p><p>[14] Várias pesquisas apontam o aumento de transtornos</p><p>mentais durante a crise da Covid-19 em todo o mundo.</p><p>Um deles é a síndrome de burnout, que apresenta</p><p>sintomas similares aos da ansiedade e da depressão. A</p><p>diferença é que o fator determinante para essa síndrome</p><p>é única e exclusivamente o trabalho.</p><p>Numa tradução livre, burnout significa</p><p>“totalmente queimado”. O corpo [20] queima os fusíveis</p><p>e desliga para evitar uma sobrecarga fatal do sistema. É</p><p>um nível de estresse extremo que leva o profissional à</p><p>exaustão �sica e mental.</p><p>Com o isolamento social, é muito mais fácil as</p><p>pessoas mergulharem profundamente e sem qualquer</p><p>restrição no home office. O trabalho antes “full �me” foi</p><p>subs�tuído pelo “full life” — muitos já não conseguem</p><p>separar vida profissional e pessoal. [25] Você vai se</p><p>desconectando do próprio corpo, despersonalizando-se,</p><p>e não ouve os primeiros sinais de exaustão, como dores</p><p>de cabeça e insônia recorrente.</p><p>Trabalhamos com tecnologia, mas não somos</p><p>robôs. Temos emoções e às vezes elas gritam dentro da</p><p>gente pedindo socorro</p><p>e, se não ouvimos, o corpo dá um</p><p>jeito de se fazer escutar.</p><p>[31] É notável a diferença entre a estrutura de</p><p>negócio de uma startup e a de empresas tradicionais. As</p><p>startups crescem de maneira exponencial e nós, de carne</p><p>e osso, podemos não acompanhar esse ritmo frené�co.</p><p>O ambiente de inovação é muito compe��vo e</p><p>existe uma baita pressão. Quem está à frente dos</p><p>negócios muitas vezes nem consegue cogitar a</p><p>possibilidade de fazer um intervalo ou se dar um</p><p>pequeno descanso por causa do sen�mento de culpa. Ter</p><p>estresse é normal e até nos ajuda a tomar decisões no</p><p>trabalho e na vida pessoal. Em excesso, porém, pode</p><p>gerar doenças psicossomá�cas. Ao insis�r, chegamos em</p><p>nosso limite, que é o burnout.</p><p>É preciso entender de uma vez por todas que</p><p>respeitar o próprio corpo e mente também é cuidar da</p><p>sua startup e dos seus colaboradores. Respire, medite,</p><p>dance e reconheça momentos que te façam sen�r mais</p><p>leve com a vida.</p><p>Beatriz Bevilaqua,</p><p>h�ps://www1.folha.uol.com.br 6/3/2021. Adaptado.</p><p>Na frase “que apresenta sintomas similares aos da</p><p>ansiedade e da depressão” (L. 16), empregou-se “aos”</p><p>para evitar a repe�ção de palavra anterior. Recurso</p><p>também des�nado a evitar repe�ção de termo anterior</p><p>ocorre em:</p><p>a) “A pandemia acelerou a digitalização dos negócios,</p><p>alterou o comportamento do consumidor e abriu</p><p>ainda mais espaço para as novas tecnologias”. (ref. 1)</p><p>b) “O ambiente de startups parece mágico, mas a</p><p>verdade é que, há tempos, tenho visto CEOs no fundo</p><p>do poço”. (ref. 9)</p><p>c) “Várias pesquisas apontam o aumento de transtornos</p><p>mentais durante a crise da Covid-19 em todo o</p><p>mundo”. (ref. 14)</p><p>d) “Você vai se desconectando do próprio corpo,</p><p>despersonalizando-se, e não ouve os primeiros sinais</p><p>de exaustão, como dores de cabeça e insônia</p><p>recorrente”. (ref. 25)</p><p>e) “É notável a diferença entre a estrutura de negócio de</p><p>uma startup e a de empresas tradicionais”. (ref. 31)</p><p>GR0307 - (Unesp)</p><p>Leia o soneto “Descreve o que era naquele tempo a</p><p>cidade da Bahia”, do poeta Gregório de Matos (1636-</p><p>1696).</p><p>A cada canto um grande conselheiro,</p><p>Que nos quer governar cabana e vinha*;</p><p>Não sabem governar sua cozinha,</p><p>14@professorferretto @prof_ferretto</p><p>E podem governar o mundo inteiro.</p><p>Em cada porta um bem frequente olheiro,</p><p>Que a vida do vizinho e da vizinha</p><p>Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha**,</p><p>Para o levar à praça e ao terreiro.</p><p>Muitos mulatos desavergonhados,</p><p>Trazidos sob os pés os homens nobres***,</p><p>Posta nas palmas toda a picardia,</p><p>Estupendas usuras nos mercados,</p><p>Todos os que não furtam muito pobres:</p><p>E eis aqui a cidade da Bahia.</p><p>(Gregório de Matos. Poemas escolhidos, 2010.)</p><p>* Vinha: terreno com videiras.</p><p>** Esquadrinha: examina minuciosamente.</p><p>*** Trazidos sob os pés os homens nobres: na visão de</p><p>Gregório de Matos, os mulatos em ascensão subjugam</p><p>com esperteza os verdadeiros “homens nobres”.</p><p>No soneto, o pronome “o” refere-se a</p><p>a) “mundo”.</p><p>b) “terreiro”.</p><p>c) “conselheiro”.</p><p>d) “olheiro”.</p><p>e) “vizinho”.</p><p>GR0079 - (Uema)</p><p>O fragmento a seguir foi extraído do capítulo Despedida</p><p>às travessuras. Nele, narram-se as traquinagens de</p><p>Leonardo durante uma procissão que representava a via-</p><p>sacra.</p><p>[...] Era a via-sacra do Bom Jesus.</p><p>Há bem pouco tempo exis�am ainda em certas</p><p>ruas desta cidade cruzes negras pregadas pelas paredes</p><p>de espaço em espaço.</p><p>Às quartas-feiras e em outros dias da semana</p><p>saía do Bom Jesus e de outras igrejas uma espécie de</p><p>procissão composta de alguns padres conduzindo cruzes</p><p>[...] Caminhavam eles em charola atrás da procissão,</p><p>interrompendo a cantoria com ditérios em voz alta, ora</p><p>simplesmente engraçados, ora pouco decentes; levavam</p><p>longos fios de barbante, em cuja</p><p>extremidade iam penduradas grossas bolas de cera. Se ia</p><p>por ali ao seu alcance algum infeliz, a quem os anos</p><p>�vessem despido a cabeça dos cabelos, colocavam-se em</p><p>distância conveniente e, escondidos por trás de um ou de</p><p>outro, arremessavam o projé�l que ia bater em cheio</p><p>sobre a calva do devoto; puxavam rapidamente o</p><p>barbante, e ninguém podia saber donde �nha par�do o</p><p>golpe. Essas e outras cenas excitavam vozeria e</p><p>gargalhadas na mul�dão.</p><p>Era a isto que naqueles devotos tempos se</p><p>chamava correr a via-sacra.</p><p>ALMEIDA, M. A. Memórias de um Sargento de Milícias.</p><p>Porto Alegre: L&PM, 2015.</p><p>Os pronomes demonstra�vos, em certos contextos, além</p><p>de sua função coesiva, atuam como recurso es�lís�co.</p><p>Em “Era a isto que naqueles devotos tempos se chamava</p><p>correr a via-sacra.”, o pronome “isto”, ao retomar o</p><p>parágrafo anterior, e associado ao adje�vo devotos,</p><p>sugere, na fala do narrador, um tom</p><p>a) confessional.</p><p>b) convencional.</p><p>c) comovido.</p><p>d) deprecia�vo.</p><p>e) vacilante.</p><p>GR0535 - (Pucpr)</p><p>Este ano é um ano de libertação para Charlo�e</p><p>Gainsbourg (Londres, 50 anos). (...). “Para mim, foi di�cil</p><p>deixar para trás os seis anos que moramos em Nova York,</p><p>em que fui muito feliz, e voltar a Paris, a cidade que</p><p>conheço tão bem com todos os seus fantasmas. Percebi</p><p>que este ano estava dedicado aos meus pais, que foi uma</p><p>necessidade”.</p><p>Disponível em: . Acesso em: 29/8/21.</p><p>A combinação “Para mim, foi”, destacada no texto, é</p><p>a) incorreta porque o pronome oblíquo “mim” não pode</p><p>anteceder verbo.</p><p>b) inadequada porque o pronome deveria ser “eu” para</p><p>ser sujeito do verbo.</p><p>c) uma maneira de representar a informalidade da fala</p><p>da ar�sta, traduzida do francês.</p><p>d) correta porque o pronome pessoal não ocupa a</p><p>função de sujeito.</p><p>e) adequada porque exerce função de objeto direto na</p><p>organização da frase em que ocorre.</p><p>GR0312 - (Unesp)</p><p>15@professorferretto @prof_ferretto</p><p>Na fala do pai, os dois pronomes rela�vos “que” referem-</p><p>se, respec�vamente, a</p><p>a) “vida” e “Deus”.</p><p>b) “momento” e “caminho”.</p><p>c) “Deus” e “caminho”.</p><p>d) “momento” e “Deus”.</p><p>e) “vida” e “fortuna”.</p><p>GR0067 - (Cefet-mg)</p><p>O coração roubado</p><p>Eu cursava o úl�mo ano do primário e como já</p><p>estava com o diplominha garan�do, meu pai me deu um</p><p>presente muito cobiçado: Coração, famoso livro do</p><p>escritor italiano Edmondo de Amicis, bestseller mundial</p><p>do gênero infantojuvenil. Na página de abertura lá estava</p><p>a dedicatória do velho, com sua inconfundível letra</p><p>esparramada. Como todos os garotos da época,</p><p>apaixonei-me por aquela obra-prima e tanto que a levava</p><p>ao grupo escolar da Barra Funda para reler trechos no</p><p>recreio.</p><p>Justamente no úl�mo dia de aula, o das</p><p>despedidas, depois da fes�nha de formatura, voltei para</p><p>a classe a fim de reunir meus cadernos e objetos</p><p>escolares, antes do adeus. Mas onde estava o Coração?</p><p>Onde? Desaparecera. Tremendo choque. Algum colega</p><p>na certa o furtara. Não teria coragem de aparecer em</p><p>casa sem ele. Ia informar à diretoria quando, passando</p><p>pelas carteiras, vi a lombada do livro, bem escondido sob</p><p>uma pasta escolar. Mas... era lá que se sentava o Plínio,</p><p>não era? Plínio, o primeiro da classe em aplicação e</p><p>comportamento, o exemplo para todos nós. Inclusive o</p><p>mais limpinho, o mais bem penteadinho, o mais tudo.</p><p>Confesso, hesitei. Desmascarar um ídolo? Podia ser até</p><p>que não acreditassem em mim. Muitos invejavam o</p><p>Plínio. Peguei o exemplar e o guardei em minha pasta.</p><p>Caladão. Sem revelar a ninguém o acontecido. Lembro do</p><p>abraço que Plínio me deu à saída. Parecia segurando as</p><p>lágrimas. Balbuciou algumas palavras emocionadas. Mal</p><p>pude retribuir, meus braços se recusavam a apertar o</p><p>cínico.</p><p>Chegando em casa minha mãe estranhou que eu</p><p>não es�vesse muito feliz. Já preocupado com o ginásio?</p><p>Não, eu amargava minha primeira decepção. Afinal,</p><p>Plínio era um colega que devíamos imitar pela vida afora,</p><p>como costumava dizer a professora. Seria mais di�cil</p><p>sobreviver sem o seu exemplo. Por outro lado,</p><p>considerava se não errara em não delatá-lo. “Vocês estão</p><p>todos enganados, e a senhora também, sobre o caráter</p><p>de Plínio. Ele roubou meu livro. E depois ainda foi me</p><p>abraçar...”.</p><p>Curioso, a decepção prolongou-se ao livro de</p><p>Amicis, verdadeira vitrina de qualidades morais dos</p><p>alunos de uma classe de escola primária. A história de</p><p>um</p><p>ano le�vo coroado de belos gestos. Quem sabe o</p><p>autor não conhecesse a fundo seus próprios</p><p>personagens. Um ingênuo como nossa professora.</p><p>Esqueci-o.</p><p>Passados muitos anos reconheci o retrato de</p><p>Plínio num jornal. Advogado, fazia rápida carreira na</p><p>Jus�ça. Recebia cumprimentos. Brrr. Magistrado de</p><p>futuro o tal que furtara meu presente de fim de ano! Que</p><p>toldara muito cedo minha crença na humanidade! Decidi</p><p>falar a verdade. Caso alguém se referisse a ele, o que</p><p>passou a acontecer, eu garan�a que se tratava de um</p><p>ladrão. Se roubava já no curso primário, imaginem</p><p>agora... Sempre que o rumo de uma conversa levava às</p><p>grandes decepções, aos enganos de falsas amizades, eu</p><p>contava, a quem quisesse ouvir, o episódio do</p><p>embusteiro do Grupo Escolar Conselheiro Antônio Prado,</p><p>em breve desembargador ou secretário de Jus�ça.</p><p>− Não piche assim o homem adver�u-me minha</p><p>mulher.</p><p>− Por que não? É um ladrão!</p><p>− Mas quando pegou seu livro era criança.</p><p>− O menino é o pai do homem reba�a,</p><p>vigorosamente.</p><p>Plínio fixara-se como um marco para mim. Toda</p><p>vez que o procedimento de alguém me surpreendia, a</p><p>face oculta de uma pessoa era revelada, lembrava-me</p><p>irremediavelmente dele. Limpinho. Penteadinho. E com a</p><p>mão de gato se apoderando de meu livro.</p><p>Certa vez tomara a sua defesa:</p><p>− Plínio, um ladrão? Calúnia! Re�re-se da minha</p><p>presença!</p><p>Quando o desembargador Plínio já estava</p><p>aposentado mudei-me para meu endereço atual. Durante</p><p>a mudança alguns livros despencaram de uma estante</p><p>16@professorferretto @prof_ferretto</p><p>improvisada. Um deles, Coração, de Amicis. Saudades.</p><p>Havia quantos anos não o abria? Quarenta ou mais?</p><p>Lembrei da dedicatória de meu falecido pai. Ele �nha boa</p><p>letra. Procurei-a na página de rosto. Não a encontrei.</p><p>Teria a �nta se apagado? Na página seguinte havia uma</p><p>dedicatória. Mas não reconheci a caligrafia paterna.</p><p>“Ao meu querido filho Plínio, com todo amor e</p><p>carinho de seu pai”.</p><p>REY, Marcos. O coração roubado. In: MACEDO, Adriano</p><p>(org.). Retratos da escola. Belo Horizonte: Autên�ca.</p><p>2012. p. 69-71.</p><p>Considerando-se a leitura do 3º e do 4º parágrafos, em</p><p>“Esqueci-o”, o pronome sublinhado retoma a expressão:</p><p>a) Plínio.</p><p>b) exemplo.</p><p>c) ano le�vo.</p><p>d) livro de Amicis.</p><p>e) Nenhuma das alterna�vas anteriores.</p><p>GR0262 - (Unesp)</p><p>O caboclo mal-encarado que encontrei um dia</p><p>em casa do Mendonça também se acabou em desgraça.</p><p>Uma limpeza. Essa gente quase nunca morre direito. Uns</p><p>são levados pela cobra, outros pela cachaça, outros</p><p>matam-se.</p><p>Na pedreira perdi um. A alavanca soltou-se da</p><p>pedra, bateu-lhe no peito, e foi a conta. Deixou viúva e</p><p>órfãos miúdos. Sumiram-se: um dos meninos caiu no</p><p>fogo, as lombrigas comeram o segundo, o úl�mo teve</p><p>angina e a mulher enforcou-se.</p><p>Para diminuir a mortalidade e aumentar a</p><p>produção, proibi a aguardente.</p><p>Concluiu-se a construção da casa nova. Julgo que</p><p>não preciso descrevê-la. As partes principais apareceram</p><p>ou aparecerão; o resto é dispensável e apenas pode</p><p>interessar aos arquitetos, homens que provavelmente</p><p>não lerão isto. Ficou tudo confortável e bonito.</p><p>Naturalmente deixei de dormir em rede. Comprei móveis</p><p>e diversos objetos que entrei a u�lizar com receio, outros</p><p>que ainda hoje não u�lizo, porque não sei para que</p><p>servem.</p><p>Aqui existe um salto de cinco anos, e em cinco</p><p>anos o mundo dá um bando de voltas. Ninguém</p><p>imaginará que, topando os obstáculos mencionados, eu</p><p>haja procedido invariavelmente com segurança e</p><p>percorrido, sem me deter, caminhos certos. Não senhor,</p><p>não procedi nem percorri. Tive aba�mentos, desejo de</p><p>recuar; contornei dificuldades: muitas curvas. Acham que</p><p>andei mal?</p><p>A verdade é que nunca soube quais foram os</p><p>meus atos bons e quais foram os maus. Fiz coisas boas</p><p>que me trouxeram prejuízo; fiz coisas ruins que deram</p><p>lucro. E como sempre �ve a intenção de possuir as terras</p><p>de S. Bernardo, considerei legí�mas as ações que me</p><p>levaram a obtê-las.</p><p>Alcancei mais do que esperava, mercê de Deus.</p><p>Vieram-me as rugas, já se vê, mas o crédito, que a</p><p>princípio se esquivava, agarrou-se comigo, as taxas</p><p>desceram. E os negócios desdobraram-se</p><p>automa�camente. Automa�camente. Di�cil? Nada! Se</p><p>eles entram nos trilhos, rodam que é uma beleza. Se não</p><p>entram, cruzem os braços. Mas se virem que estão de</p><p>sorte, metam o pau: as tolices que pra�carem viram</p><p>sabedoria. Tenho visto criaturas que trabalham demais e</p><p>não progridem.</p><p>Conheço indivíduos preguiçosos que têm faro:</p><p>quando a ocasião chega, desenroscam-se, abrem a boca</p><p>– e engolem tudo.</p><p>Eu não sou preguiçoso. Fui feliz nas primeiras</p><p>tenta�vas e obriguei a fortuna a ser-me favorável nas</p><p>seguintes. Depois da morte do Mendonça, derrubei a</p><p>cerca, naturalmente, e levei-a para além do ponto em</p><p>que estava no tempo de Salus�ano Padilha. Houve</p><p>reclamações.</p><p>– Minhas senhoras, seu Mendonça pintou o</p><p>diabo enquanto viveu. Mas agora é isto. E quem não</p><p>gostar, paciência, vá à jus�ça.</p><p>Como a jus�ça era cara, não foram à jus�ça. E eu,</p><p>o caminho aplainado, invadi a terra do Fidélis, paralí�co</p><p>de um braço, e a dos Gama, que pandegavam no Recife,</p><p>estudando Direito. Respeitei o engenho do Dr.</p><p>Magalhães, juiz. Violências miúdas passaram</p><p>despercebidas. As questões mais sérias foram ganhas no</p><p>foro, graças às chicanas de João Nogueira.</p><p>Efetuei transações arriscadas, endividei-me,</p><p>importei maquinismos e não prestei atenção aos que me</p><p>censuravam por querer abarcar o mundo com as pernas.</p><p>Iniciei a pomicultura e a avicultura. Para levar os meus</p><p>produtos ao mercado, comecei uma estrada de rodagem.</p><p>Azevedo Gondim compôs sobre ela dois ar�gos, chamou-</p><p>me patriota, citou Ford e Delmiro Gouveia. Costa Brito</p><p>também publicou uma nota na Gazeta, elogiando-me e</p><p>elogiando o chefe polí�co local. Em consequência</p><p>mordeu-me cem mil-réis.</p><p>(S. Bernardo, 1996.)</p><p>“Na pedreira perdi um. A alavanca soltou-se da pedra,</p><p>bateu-lhe no peito, e foi a conta. Deixou viúva e órfãos</p><p>miúdos. Sumiram-se: um dos meninos caiu no fogo, as</p><p>lombrigas comeram o segundo, o úl�mo teve angina e a</p><p>mulher enforcou-se.” (2º parágrafo)</p><p>Os pronomes sublinhados referem-se, respec�vamente, a</p><p>17@professorferretto @prof_ferretto</p><p>a) “alavanca”, “um”, “viúva e órfãos”.</p><p>b) “pedra”, “um”, “meninos”.</p><p>c) “pedra”, “alavanca”, “viúva e órfãos”.</p><p>d) “alavanca”, “pedra”, “viúva e órfãos”.</p><p>e) “alavanca”, “pedra”, “meninos”.</p><p>GR0069 - (Pucmg)</p><p>A importância do ato de ler</p><p>Con�nuando neste esforço de “re-ler”</p><p>momentos fundamentais de experiências de minha</p><p>infância, de minha adolescência, de minha mocidade, em</p><p>que a compreensão crí�ca da importância do ato de ler</p><p>se veio em mim cons�tuindo através de sua prá�ca,</p><p>retomo o tempo em que, como aluno do chamado curso</p><p>ginasial, me experimentei na percepção crí�ca dos textos</p><p>que lia em classe, com a colaboração, até hoje recordada,</p><p>do meu então professor de língua portuguesa. Não eram,</p><p>porém, aqueles momentos puros exercícios de que</p><p>resultasse um simples dar-nos conta de uma página</p><p>escrita diante de nós que devesse ser cadenciada,</p><p>mecânica e enfadonhamente “soletrada” e realmente</p><p>lida. Não eram aqueles momentos “lições de leitura”, no</p><p>sen�do tradicional desta expressão. Eram momentos em</p><p>que os textos se ofereciam à nossa inquieta procura,</p><p>incluindo a do então jovem professor José Pessoa.</p><p>Algum tempo depois, como professor também</p><p>de português, nos meus vinte anos, vivi intensamente a</p><p>importância de ler e de escrever, no fundo</p><p>indicotomizáveis, com os alunos das primeiras séries do</p><p>então chamado curso ginasial. A regência verbal, a</p><p>sintaxe de concordância, o problema da crase, o</p><p>sincli�smo pronominal, nada disso era reduzido por mim</p><p>a tabletes de conhecimentos que devessem ser engolidos</p><p>pelos estudantes. Tudo isso, pelo contrário, era proposto</p><p>à curiosidade dos alunos de maneira dinâmica e viva, no</p><p>corpo mesmo de textos, ora de autores que</p><p>estudávamos, ora deles próprios, como objetos a serem</p><p>desvelados e não como algo parado, cujo perfil eu</p><p>descrevesse. Os alunos não �nham que memorizar</p><p>mecanicamente a descrição do objeto, mas apreender a</p><p>sua significação profunda. Só apreendendo-a seriam</p><p>capazes de saber, por isso, de memorizá-la, de fixá-la. A</p><p>memorização</p>