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<p>- -1</p><p>A relação jurídico-tributária</p><p>Lucas Gomes da Silva</p><p>Introdução</p><p>As nossas relações possuem um motivo: afinidade, afeto, necessidade, etc. A relação jurídico-tributária, porém,</p><p>não surge de uma escolha nossa; não nasce de um ato de vontade. Origina-se de uma obrigação tributária, a qual</p><p>surge com a prática de qualquer ato previsto na legislação tributária (vínculo jurídico/hipótese de incidência)</p><p>como fato gerador de uma prestação em favor do Estado. Por exemplo, possuir um veículo automotor gera a</p><p>obrigação de pagar o IPVA. Em decorrência dessa obrigação de pagar o tributo, nascerá uma relação entre o</p><p>proprietário do veículo (devedor do tributo/sujeito passivo) e o Estado (credor do tributo/sujeito ativo). Essa é</p><p>a relação jurídico-tributária. Vamos aprender mais?</p><p>Ao final desta aula, você será capaz de:</p><p>• definir os principais elementos da relação jurídico-tributária, identificando sujeitos, objeto e causa.</p><p>Sujeitos da relação jurídico-tributária</p><p>Segundo Cassone (2018), o núcleo do Direito Tributário é a obrigação tributária e todas as suas complexidades,</p><p>tanto pela forma como ocorre quanto por sua exigibilidade. Esse ramo do Direito é de natureza obrigacional, pois</p><p>seu objeto é a arrecadação do tributo.</p><p>Então, praticado o fato descrito pela lei tributária, nasce a obrigação tributária, estabelecendo-se a relação</p><p>jurídica entre duas pessoas: o sujeito ativo, ou credor (União, estados, DF ou municípios – conforme a</p><p>competência sobre o tributo), e o sujeito passivo, ou devedor (contribuinte que praticou o fato gerador</p><p>tributário) (CASSONE, 2018).</p><p>Figura 1 - Obrigação tributária</p><p>Fonte: Adaptada de Sabbag, 2017.</p><p>Além disso, para Sabbag (2017), são elementos da relação tributária: (arts. 119 e 120, CTN), sujeito ativo</p><p>•</p><p>- -2</p><p>Além disso, para Sabbag (2017), são elementos da relação tributária: (arts. 119 e 120, CTN), sujeito ativo</p><p>(arts. 121 a 123, CTN), (art. 113, CTN) e (arts. 114 e 115, CTN).sujeito passivo objeto causa</p><p>Sujeito ativo</p><p>A sujeição ativa relaciona-se ao polo ativo da relação jurídico-tributária e diz respeito ao lado credor da relação</p><p>intersubjetiva tributária, no caso, entes que devem proceder à invasão patrimonial para a retirada compulsória</p><p>de valores, como pagamento do tributo (SABBAG, 2017).</p><p>Conforme o Código Tributário Nacional (CTN – art. 119): “Sujeito ativo da obrigação é a pessoa jurídica de</p><p>direito público titular da competência para exigir o seu cumprimento” (BRASIL, 1966). Contudo, é importante</p><p>salientar que existem dois tipos de sujeito ativo: direto e indireto.</p><p>a) Sujeito ativo direto: entes tributantes – União, estados, municípios e Distrito Federal (art. 41, I, II, III do</p><p>Código Civil, Lei n. 10.406/2002), com competência tributária, ou seja, poder legiferante de instituição de tributo</p><p>(SABBAG, 2017).</p><p>b) Sujeito ativo indireto: entes parafiscais – CREA, CRM, CRC, entre outros), com capacidade tributária ativa, ou</p><p>seja, poder de arrecadação e fiscalização de tributo (SABBAG, 2017).</p><p>Figura 2 - Sujeitos ativos</p><p>Fonte: Adaptada de Sabbag, 2017.</p><p>Os sujeitos ativos indiretos são titulares das funções arrecadatórias ou fiscalizatórias de tributos através de</p><p>delegação, a chamada parafiscalidade. Conforme o art. 7º do CTN, podem executar leis, serviços, atos ou decisões</p><p>administrativas em matéria tributária, conferida por uma pessoa jurídica de direito público a outra (BRASIL,</p><p>1966).</p><p>- -3</p><p>Vamos entender agora quem é o sujeito passivo na relação jurídico-tributária. Acompanhe!</p><p>Sujeito passivo</p><p>A sujeição passiva diz respeito ao polo passivo da relação jurídico-tributária, no caso, ao lado devedor da relação</p><p>intersubjetiva tributária: os entes destinatários da invasão patrimonial na retirada compulsória de valores, com</p><p>pagamento de tributos (ou multas) (SABBAG, 2017).</p><p>Segundo o art. 121, CTN, o sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou</p><p>penalidade pecuniária. É chamado contribuinte quando tenha relação pessoal e direta com a situação que</p><p>constitua o fato gerador; é chamado responsável quando, sem estar na condição de contribuinte, sua obrigação</p><p>decorra de disposição expressa em lei (BRASIL, 1966).</p><p>Sobre os sujeitos passivos, contribuinte e responsável, Sabbag (2017) ensina que o sujeito passivo da obrigação</p><p>acessória é quem está obrigado às prestações positivas ou negativas acerca da arrecadação ou fiscalização de</p><p>tributos. Didaticamente, na sujeição passiva também temos dois tipos de sujeitos: direito e indireto.</p><p>a) Sujeito passivo direto (art. 121, § único, I, CTN): é o contribuinte, aquele que tem uma relação pessoal e</p><p>direta com o fato gerador (SABBAG, 2017).</p><p>b) Sujeito passivo indireto (art. 121, § único, II, CTN): é o responsável, a terceira pessoa escolhida por lei para</p><p>pagar o tributo, sem que tenha realizado o fato gerador (SABBAG, 2017).</p><p>Constituem exemplo de sujeição passiva indireta, no Direito Tributário, contribuinte absolutamente incapaz (art.</p><p>SAIBA MAIS</p><p>Parafiscalidade é a delegação de capacidade tributária ativa que a pessoa política, por meio de</p><p>lei, faz à terceira pessoa. Somente pode ocorrer em favor de pessoas jurídicas de direito</p><p>público (autarquias) e de pessoas jurídicas direito privado com finalidade pública (entes</p><p>paraestatais: SESI, SESC, SENAI, SENAC). Para entender mais termos do mundo jurídico,</p><p>consulte “Dicionário Jurídico”, de Sidou (2016).</p><p>EXEMPLO</p><p>Depois de obter a sua Carteira Nacional de Habilitação, com o dinheiro que havia juntado, Enzo</p><p>comprou um veículo automotor e registrou-o em seu nome. Com base no art. 155, III, da</p><p>Constituição Federal, enquadra-se na hipótese de incidência do IPVA. Como Enzo é</p><p>proprietário de veículo automotor, configurou-se o fato gerador do tributo, nascendo a</p><p>obrigação tributária. Dessa obrigação, Enzo é o sujeito passivo, e o estado onde está registrado</p><p>o seu veículo é o sujeito ativo.</p><p>- -4</p><p>Constituem exemplo de sujeição passiva indireta, no Direito Tributário, contribuinte absolutamente incapaz (art.</p><p>134, I, CTN), bem imóvel alienado com dívidas de IPTU (art. 130, CTN), bem móvel alienado com dívidas de IPVA</p><p>(art. 131, I, CTN), responsabilidade de terceiros (art. 134, CTN), entre outros.</p><p>Objeto da relação jurídico-tributária</p><p>O objeto da relação jurídico-tributária é a prestação a que se submete o sujeito passivo diante do fato gerador da</p><p>obrigação tributária. Pode ser uma prestação dotada de patrimonialidade ou de instrumentalidade (SABBAG,</p><p>2017).</p><p>Figura 3 - Relação jurídico-tributária - supremacia do interesse público</p><p>Fonte: Shutterstock, 2019.</p><p>O objeto da relação jurídico-tributária é uma obrigação que, conforme o art. 113 do CTN, pode ser principal ou</p><p>acessória: é principal quando surge com a ocorrência do fato gerador, tendo como objeto o pagamento de tributo</p><p>ou penalidade pecuniária, extinguindo-se com o crédito dela decorrente; é acessória quando decorre da</p><p>legislação tributária, tendo como objeto as prestações, positivas ou negativas, no interesse da arrecadação ou da</p><p>fiscalização dos tributos (BRASIL, 1966).</p><p>Ainda para Sabbag (2017), o objeto da obrigação tributária é a prestação a que deve se submeter o contribuinte</p><p>ou o responsável. Tal prestação pode ser de cunho pecuniário ou não pecuniário. No primeiro caso, a obrigação</p><p>será principal; no segundo caso, será acessória.</p><p>a) Obrigação principal: é uma prestação designativa do ato de pagar afeta ao tributo e à multa. Representa uma</p><p>“obrigação de dar”, com cunho de patrimonialidade (SABBAG, 2017).</p><p>b) Obrigação acessória: é a prestação positiva ou negativa; atos “de fazer” ou “não fazer”, despidos de</p><p>patrimonialidade. Assim, o agir ou o não agir, dissociados do ato de pagar, podem ser obrigações tributárias</p><p>acessórias ou deveres do contribuinte. Por exemplo: emitir notas fiscais, escriturar livros fiscais, entregar</p><p>declarações, não trafegar com mercadoria desacompanhada de nota fiscal, não obstar o livre acesso da</p><p>fiscalização à empresa (art. 200 do CTN) (SABBAG, 2017).</p><p>- -5</p><p>Por fim, o descumprimento de uma obrigação acessória faz nascer uma obrigação principal, com</p><p>relação à multa,</p><p>conforme o art. 113, § 3º, do CTN (SABBAG, 2017).</p><p>Causa da relação jurídico-tributária</p><p>A causa da obrigação tributária é o vínculo jurídico motivador da relação jurídico-obrigacional entre o sujeito</p><p>ativo e o sujeito passivo (SABBAG, 2017).</p><p>De acordo com os arts. 114 e 115 do CTN, o fato gerador da obrigação principal é a situação definida em lei como</p><p>necessária e suficiente à sua ocorrência; o fato gerador da obrigação acessória é qualquer situação que, na forma</p><p>da legislação aplicável, impõe a prática ou a abstenção de ato que não configure obrigação principal (BRASIL,</p><p>1966).</p><p>FIQUE ATENTO</p><p>A legislação deve indicar as pessoas que serão responsáveis pelo cumprimento das obrigações</p><p>acessórias, conforme os interesses da arrecadação ou da fiscalização dos tributos. Destaca-se</p><p>que, mesmo nos casos em que o contribuinte ou o responsável não estejam obrigados em</p><p>relação à obrigação principal, a acessória subsiste.</p><p>FIQUE ATENTO</p><p>Pelo princípio da legalidade estrita, no Direito Tributário, há assuntos que são prerrogativas</p><p>exclusivas da lei regular. Só a lei pode, por exemplo, instituir ou extinguir tributos. Diversos</p><p>temas de Direito Tributário são objetos da legalidade estrita. Alguns doutrinadores</p><p>denominam esse império da lei em alguns temas de: estrita legalidade, tipicidade fechada</p><p>(regrada ou cerrada) e reserva legal.</p><p>- -6</p><p>Figura 4 - Fato gerador da obrigação tributária</p><p>Fonte: Adaptada de Sabbag, 2017.</p><p>Perceba que, enquanto se associou o fato gerador da obrigação principal à lei, atrelou-se o fato gerador da</p><p>obrigação acessória à legislação tributária. A necessidade da lei em sentido estrito (reserva de lei, em sentido</p><p>formal) ocorre no bojo da obrigação principal, e não no da obrigação acessória (SABBAG, 2017).</p><p>Fechamento</p><p>Neste tema, aprendemos que a relação jurídico-tributária é marcada pela verticalidade, em que o Estado ou fisco,</p><p>sujeito ativo da relação jurídica, em decorrência da supremacia do interesse público, goza de prerrogativas sobre</p><p>o sujeito passivo da relação jurídico-tributária, que é o cidadão/contribuinte. Vimos que a obrigação tributária,</p><p>objeto da relação jurídica, nasce do fato gerador, previsto em uma hipótese de incidência elencada na legislação</p><p>que institui o tributo.</p><p>Nesta aula, você teve a oportunidade de:</p><p>• definir os principais elementos da relação jurídico-tributária, identificando sujeitos, objeto e causa.</p><p>Referências</p><p>BRASIL. [Constituição (1988)]. . Brasília: CongressoConstituição da República Federativa do Brasil de 1988</p><p>Nacional, 1988.</p><p>BRASIL. . Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas</p><p>gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Brasília: DF, 1966.</p><p>CASSONE, V. . 28. ed. São Paulo: Atlas, 2018.Direito tributário</p><p>SABBAG, E. de M. . 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.Manual de Direito Tributário</p><p>SIDOU, J. M. O. : Academia Brasileira de Letras Jurídicas. 11. ed., rev. e atual. Rio de Janeiro: Dicionário Jurídico</p><p>Forense, 2016.</p><p>•</p><p>Introdução</p><p>Sujeitos da relação jurídico-tributária</p><p>Obrigação tributária</p><p>Sujeito ativo</p><p>Sujeitos ativos</p><p>Sujeito passivo</p><p>Objeto da relação jurídico-tributária</p><p>Relação jurídico-tributária - supremacia do interesse público</p><p>Causa da relação jurídico-tributária</p><p>Fato gerador da obrigação tributária</p><p>Fechamento</p><p>Referências</p>

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