Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

<p>Rosana Antunes</p><p>Revisão técnica:</p><p>Gustavo da Silva Santanna</p><p>Bacharel em Direito</p><p>Especialista em Direito Ambiental Nacional</p><p>e Internacional e em Direito Público</p><p>Mestre em Direito</p><p>Professor em cursos de graduação e pós-graduação em Direito</p><p>Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB -10/2147</p><p>D597 Direito constitucional I [recurso eletrônico] / Miriany Cristini</p><p>Stadler Ilanes... et al.; [revisão técnica: Gustavo da Silva</p><p>Santanna]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018.</p><p>ISBN 978-85-9502-445-8</p><p>1. Direito constitucional. I. Ilanes, Miriany Cristini</p><p>Stadler.</p><p>CDU 342</p><p>BOOK_Direito_Constitucional_I.indb 2 11/06/2018 15:36:44</p><p>Princípios fundamentais</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p> Analisar os princípios fundamentais da República Federativa do Brasil.</p><p> Explicar os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil.</p><p> Explorar os princípios que regem as relações internacionais da Repú-</p><p>blica Federativa do Brasil.</p><p>Introdução</p><p>Princípios fundamentais são decisões políticas concretizadas em normas,</p><p>que estão delineadas no sistema constitucional. Elas dão as noções, a</p><p>razão da existência e a manutenção do Estado brasileiro.</p><p>Neste capítulo, você vai estudar os princ��pios fundamentais da Re-</p><p>pública Federativa do Brasil, que são aqueles decorrentes do Título I,</p><p>arts. 1º a 4º, da Constituição Federal de 1988. Você estudará também a</p><p>independência e a harmonia dos poderes da República, que são regu-</p><p>lados pelo art. 2º. Esse tema se relaciona com a parte estrutural da nossa</p><p>organização política, porque aborda os fundamentos, os objetivos, a</p><p>repartição dos poderes, bem como os princípios que regem as relações</p><p>internacionais do nosso País.</p><p>Fundamentos da República Federativa do Brasil</p><p>Inicialmente, vale esclarecer que princípios constituem a base do sistema</p><p>jurídico de uma sociedade. Os seus objetivos visam tanto estabelecer</p><p>diretrizes para a vida social quanto direitos e deveres para os membros</p><p>da sociedade.</p><p>Vale ressaltar que os princípios fundamentais da República do Brasil estão</p><p>positivados na Constituição Federal de 1988. Estampado no caput do art. 1º da</p><p>Constituição, já encontramos o primeiro princípio fundamental: o princípio</p><p>republicano que traduz a nossa opção por uma república constitucional. No</p><p>art. 3º, encontramos o segundo princípio, o da separação de poderes.</p><p>Princípio republicano</p><p>A palavra república provém do termo romano res pública, que designa a</p><p>forma pela qual os romanos chamavam a sua organização política: “coisa</p><p>pública”. Por república entendemos a forma de governo na qual os dirigentes</p><p>são escolhidos pelo povo, diretamente ou por meio dos seus representantes,</p><p>para o exercício de um mandato temporário, ocorrendo o que chamamos</p><p>alternância de poder. Os governantes devem prestar contas aos governados,</p><p>de modo que, na república, há a responsabilidade do governante. Em oposi-</p><p>ção, temos a forma monárquica, em que há a presença de um monarca com</p><p>investidura de caráter hereditário e vitalício, recaído, por sucessão, em algum</p><p>membro da família reinante.</p><p>A doutrina de Direito Constitucional aponta as seguintes características</p><p>de um governo republicano:</p><p> eletividade;</p><p> temporalidade;</p><p> representatividade popular (pois os governantes são eleitos para re-</p><p>presentar o povo);</p><p> responsabilidade do governante.</p><p>Agora que já definimos o que é uma República, é necessário entender</p><p>a forma federativa de Estado, que é adotada pelo constituinte brasileiro. A</p><p>federação tem como umas das características a existência da disposição</p><p>constitucional de competência específica entre os seus componentes. Como</p><p>componentes da República Federativa do Brasil, temos a União, os Estados e</p><p>os municípios, que possuem autonomia administrativa, financeira e legislativa,</p><p>ou seja, são autônomos entre si. Portanto, há uma repartição constitucional de</p><p>competências entre os entes federados.</p><p>Outra característica da federação é a indissolubilidade dos seus membros,</p><p>para garantir a integralidade territorial. Contudo, é prevista a possibilidade</p><p>de intervenção nacional, segundo os ditames constitucionais. Os Estados-</p><p>-membros, os municípios e o Distrito Federal, que compõem a República</p><p>Princípios fundamentais2</p><p>Federativa do Brasil, não podem se unir para formar um novo Estado federado.</p><p>Com isso, queremos dizer que, em uma federação como a do Brasil, não há</p><p>direito a secessão. Qualquer tentativa separatista é tida pelo nosso ordenamento</p><p>como atentado à segurança nacional.</p><p>Em resumo, são características da federação:</p><p> indissolubilidade;</p><p> autonomia organizacional dos estados-membros;</p><p> repartição constitucional de competências entre os entes federados.</p><p>O Brasil adota como forma de Estado a federação, o que significa que o poder político</p><p>se distribui geograficamente com a formação de entes autônomos, mas nenhum</p><p>deles é soberano. A soberania pertence à República Federativa do Brasil, que, por sua</p><p>vez, é formada pela união indissolúvel da União, dos estados-membros, do Distrito</p><p>Federal e dos municípios.</p><p>Vamos continuar o desdobrando do art. 1º da Constituição Federal. Encon-</p><p>tramos nele o princípio do Estado Democrático de Direito, que é o Estado de</p><p>Direito democratizado. Entendemos como Estado Democrático de Direito a</p><p>organização política em que o poder emana do povo, que o exerce diretamente</p><p>ou por meio dos seus representantes. Tais representantes são escolhidos em</p><p>eleições livres e periódicas, mediante o sufrágio universal e o voto direto</p><p>e secreto, para exercer um mandato. No campo da relação concreta entre o</p><p>poder e os indivíduos, consideramos democrático aquele Estado de Direito</p><p>que se empenha em assegurar aos seus cidadãos o exercício dos direitos civis</p><p>e políticos, como também dos direitos econômicos.</p><p>O Estado Democrático de Direito é mais do que o conceito de Estado de</p><p>Direito, segundo a doutrina de Direito Constitucional, porque este representa</p><p>apenas o conceito de Estado no qual há a primazia da lei e o respeito à ordem</p><p>legal pelas autoridades públicas, enquanto o Estado Democrático de Direito</p><p>declara a existência de uma ordem legal que prima pela democracia, pelo</p><p>respeito aos direitos fundamentais e pela busca do bem comum.</p><p>3Princípios fundamentais</p><p>Presidencialismo é um sistema de governo comum às Repúblicas. Ele se configura a</p><p>partir da separação dos poderes em três esferas: Executivo, Legislativo e Judiciário. O</p><p>princípio da separação dos poderes está previsto no art. 3º da Constituição Federal</p><p>Brasileira e é um dos princípios fundamentais da República Federativa do Brasil.</p><p>Fundamentos da República Federativa do Brasil</p><p>Os incisos do art. 1º apresentam os cinco fundamentos republicanos brasileiros,</p><p>que serão detalhados a seguir.</p><p>Soberania — É a capacidade de criar o ordenamento jurídico próprio, editar</p><p>as suas normas e a sua ordem jurídica. Divide-se em soberania interna e</p><p>externa. Soberania interna é a supremacia do Estado, em relação à toda a</p><p>ordem interna, e soberania externa corresponde à sua independência no plano</p><p>internacional, de modo a agir apenas em coordenação a países estrangeiros,</p><p>e não em subordinação. Segundo Marcelo Caetano (1987, p. 169), soberania:</p><p>[...] é um poder político supremo e independente, entendendo-se por poder</p><p>supremo aquele que não está limitado por nenhum outro na ordem interna e</p><p>por poder independente aquele que, na sociedade internacional, não tem de</p><p>acatar regras que não sejam voluntariamente aceitas e está em pé de igualdade</p><p>com poderes supremos de outros povos.</p><p>Cidadania — É o gozo dos direitos civis e políticos de um Estado. Em um</p><p>conceito mais amplo, cidadania quer dizer a qualidade de ser cidadão e, con-</p><p>sequentemente, sujeito de direitos e deveres. Segundo Dalmo de Abreu Dallari</p><p>(2004), a cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a pos-</p><p>sibilidade de participar ativamente da vida e do governo do seu povo. Assim,</p><p>cidadania deve ser entendida como um processo contínuo,</p><p>uma construção</p><p>coletiva que almeja a realização dos direitos humanos e de uma sociedade</p><p>mais justa e solidária. A cidadania é ampla e abrange a dignidade da pessoa</p><p>humana e o direito a se ter direitos.</p><p>Princípio da dignidade da pessoa humana — É um fundamento e diz respeito</p><p>à inserção das pessoas dentro de um Estado Democrático de Direito, assegu-</p><p>rando o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança,</p><p>o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça, como valores de uma</p><p>Princípios fundamentais4</p><p>sociedade fraterna, fundada na harmonia social e comprometida. A dignidade,</p><p>como valor moral, é indispensável para a sociedade como um todo, porque deve</p><p>traduzir a segurança e a realização do objetivo de igualdade dos indivíduos no</p><p>meio onde vivem e que isso seja feito de forma harmônica e sem discriminação.</p><p>É bom que você fique atento ao fato que a dignidade da pessoa é conceito</p><p>anterior a qualquer ordenamento jurídico. Esse princípio foi reconhecido pelo</p><p>constituinte e elevado ao patamar de princípio constitucional, valor supremo</p><p>e classificado como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil.</p><p>O Estado existe para proporcionar dignidade ao indivíduo — e não o indivíduo nasce</p><p>em razão do Estado. Conforme a filosofia kantiana, o homem deve ser visto como um</p><p>fim em si mesmo, não simplesmente como um meio.</p><p>Valores sociais do trabalho e da livre iniciativa — Suscitam que no Brasil</p><p>é adotado o sistema capitalista. Esse sistema está calcado na liberdade de</p><p>empreendimento e propriedade. O Estado possui dois papéis fundamentais</p><p>nesse ponto: a regulamentação do sistema econômico, protegendo a valoração</p><p>do trabalho, quer em relação ao empregador, quer em relação a mudanças</p><p>econômico-sociais. É por intermédio do trabalho que o homem garante a</p><p>sua subsistência e o crescimento do país. A Constituição Federal prevê, em</p><p>diversas passagens, a liberdade, o respeito e a dignidade ao trabalhador. Nas</p><p>palavras de José Afonso da Silva (2006, p. 39):</p><p>A livre iniciativa é fundamento da ordem econômica. Ela constitui um valor</p><p>do Estado Liberal. Mas no contexto de uma Constituição preocupada com</p><p>a realização da justiça social, não se pode ter como um puro valor o lucro</p><p>pelo lucro. Os seus valores (possibilidade de o proprietário usar e trocar os</p><p>seus bens, autonomia jurídica, possibilidade de os sujeitos regularem as suas</p><p>relações do modo que lhes seja mais conveniente, garantia a cada um para</p><p>desenvolver livremente a atividade escolhida), hoje, ficam subordinados à</p><p>função social da empresa e ao dever do empresário de propiciar melhores</p><p>condições de vida aos trabalhadores, exigidas pela valorização do trabalho.</p><p>Pluralismo político — É o alicerce da democracia e o direito fundamental</p><p>para a forma representativa e democrática adotada pelo Estado brasileiro</p><p>para a organização do poder. O intuito do legislador constituinte é garantir</p><p>5Princípios fundamentais</p><p>a ampla, livre e efetiva participação popular na confecção e organização do</p><p>poder político, garantindo também liberdade à convicção fi losófi ca e política</p><p>e a possibilidade de organização e participação de partidos políticos. As-</p><p>sim, o pluralismo político coloca os valores democráticos como atributo da</p><p>estrutura estatal brasileira. A pluralidade de ideologias e de partidos indica</p><p>a solidifi cação de instituições, como a opinião pública livre, fundamentais à</p><p>preservação da democracia.</p><p>Princípio da separação dos poderes</p><p>Depois de analisarmos o princípio republicano e os seus fundamentos, vamos</p><p>analisar o art. 2º da Constituição Federal, que prevê o princípio da separação dos</p><p>poderes. Ele declara que são poderes da União, independentes e harmônicos entre</p><p>si, o Poder Legislativo, o Poder Executivo e o Poder Judiciário. Essa repartição</p><p>de poderes é de suma importância. Ela é imune a reformas que tente aboli-la do</p><p>nosso sistema constitucional. Ainda temos, no art. 2º, os seguintes princípios:</p><p>harmonia, independência, indelegabilidade, ressalvadas as exceções legais. Pela</p><p>teoria da tripartição dos poderes, cada Poder possui funções típicas: o Executivo</p><p>administra, o Judiciário julga e o Legislativo legisla e fi scaliza. Entretanto, tais</p><p>funções sofrem controles dos demais poderes em alguns momentos.</p><p>Importa saber que existe um sistema de controles recíprocos para os três poderes,</p><p>denominado sistema de freios e contrapesos. Isso ocorre para impedir a subsistência</p><p>de atos arbitrários. Nesse exercício de controle e balanceamento é que falamos da</p><p>teoria dos checks and balances, ou freios e contrapesos. Assim, os poderes da República</p><p>(Legislativo, Executivo, Judiciário) são exercidos pelo seu caráter de soberania, criando</p><p>mecanismos de controle recíproco, sempre como garantia de perpetuidade do Estado</p><p>Democrático de Direito.</p><p>Esses três poderes possuem funções típicas. O Legislativo tem a função</p><p>típica de legislar e fiscalizar, o Executivo, de administrar a coisa pública e</p><p>o Judiciário, de julgar, aplicando a lei a um caso concreto que lhe é posto,</p><p>resultante de um conflito de interesses, pacificando a sociedade. Contudo,</p><p>esses poderes desempenham também funções atípicas de maneira secundária.</p><p>Princípios fundamentais6</p><p>Vale comentarmos que, muito embora a Constituição tenha elencado três</p><p>poderes do Estado, seguindo a famosa teoria da separação dos poderes de</p><p>Montesquieu, atualmente o uso dos termos separação dos poderes ou divisão</p><p>dos poderes é alvo de críticas. Parte da doutrina sustenta que o poder do</p><p>Estado é único. Dessa forma, o que se separa não é o poder do Estado, mas o</p><p>exercício das funções executiva, legislativa e judiciária.</p><p>A organização e a estrutura do Estado podem ser analisadas sob três aspectos:</p><p> forma de governo — república ou monarquia;</p><p> sistema de governo — presidencialismo ou parlamentarismo;</p><p> forma de Estado — Estado unitário o Federação.</p><p>O Brasil adotou a forma republicana de governo, o sistema presidencialista de go-</p><p>verno, e a forma federativa de Estado.</p><p>Objetivos fundamentais da República</p><p>Federativa do Brasil</p><p>O Estado tem por obrigação defi nir os meios para que os objetivos da República</p><p>sejam implementados e realizados no cotidiano dos seus partícipes. De igual</p><p>forma, é dever estatal estabelecer os vetores gerais para a cooperação, a soli-</p><p>dariedade da sociedade que tutela, por meio de políticas públicas específi cas.</p><p>A Constituição da República, art. 3º, determina que o Estado atue no sentido</p><p>do pleno atendimento dos objetivos fundamentais. Esses objetivos preveem a</p><p>concretização de reais benefícios para o povo, construindo um patamar mínimo</p><p>de sobrevivência, para que não ocorra a instabilidade, tampouco o retrocesso</p><p>dos direitos já conquistados.</p><p>Assim, são objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil</p><p>(BRASIL, 1988, documento on-line):</p><p> construir uma sociedade livre, justa e solidária;</p><p> garantir o desenvolvimento nacional;</p><p> erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades</p><p>sociais e regionais;</p><p> promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,</p><p>idade e quaisquer outras formas de discriminação.</p><p>7Princípios fundamentais</p><p>O que está no art. 3º da Constituição Federal é o desenvolvimento desejado</p><p>pelo povo brasileiro e que deve ser perseguido incansavelmente, para que haja</p><p>liberdade com solidariedade e para que a desigualdade social e regional, que</p><p>levam à pobreza, à marginalização e à discriminação, seja erradicada. Também</p><p>para que o respeito à dignidade humana seja, efetivamente, uma realidade.</p><p>Assim, a Constituição, na qualidade de lei fundamental da República Federativa</p><p>do Brasil, exige a atuação das autoridades públicas no sentido de concretizar</p><p>todos os objetivos elencados por ela.</p><p>Foi Maquiavel, no século XV, que formulou de forma mais clara as formas de governo</p><p>existentes, quando afirmou existirem apenas duas nos Estados: repúblicas ou princi-</p><p>pados (ou monarquias).</p><p>Relações internacionais da República</p><p>O Estado brasileiro é uma</p><p>pessoa jurídica de direito público interno e inter-</p><p>nacional. Sendo assim, mantém relações político-jurídicas na sociedade de</p><p>outros Estados. A Constituição de 1988 estabeleceu no art. 4º os princípios</p><p>que governam as relações internacionais, fi xando determinados parâmetros</p><p>para a política externa brasileira.</p><p>São princípios que regem a República Federativa do Brasil em suas relações</p><p>internacionais: independência nacional; prevalência dos direitos humanos;</p><p>autodeterminação dos povos; não intervenção; igualdade entre os Estados;</p><p>defesa da paz; solução pacífica dos conflitos; repúdio ao terrorismo e ao ra-</p><p>cismo; cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; concessão</p><p>de asilo político. Vamos explorar um pouco cada um deles.</p><p>Princípio da independência nacional — Está ligado à ideia de soberania. Na</p><p>lição de Miguel Reale (2002, p. 127) soberania é “[...] o poder de organizar-</p><p>-se juridicamente e de fazer valer dentro do seu território a universalidade</p><p>das suas decisões nos limites dos fi ns éticos de convivência”. A soberania</p><p>é limitada pela ordem internacional, principalmente pelos imperativos da</p><p>coexistência de Estados soberanos, não podendo invadir a esfera de ação</p><p>das outras soberanias.</p><p>Princípios fundamentais8</p><p>Princípio da prevalência dos direitos humanos — Garante a proteção dos</p><p>direitos fundamentais do homem. Vai além dos interesses específi cos dos Estados,</p><p>funcionando como verdadeiras “garantias coletivas”. Segundo a doutrina de</p><p>Direito Constitucional, a institucionalização do direito internacional dos direitos</p><p>humanos surge com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada</p><p>pela Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) em 1948. Essa Assembleia</p><p>reconheceu a universalidade dos direitos humanos e busca a proteção de todas as</p><p>pessoas, sem quaisquer distinções. Esse princípio internacional também busca a</p><p>solidariedade entre os povos, superar antagonismos históricos, neutralizar o arbí-</p><p>trio, a intolerância e a discriminação em favor do direito a ter direitos. Isso vale</p><p>para o ponto de vista do Direito interno como também do Direito internacional</p><p>Autodeterminação dos povos — Esse princípio signifi ca o direito que tem</p><p>um País de escolher o seu próprio governo. Signifi ca que todas as nações têm</p><p>o direito de escolher a sua condição política, o desenvolvimento econômico</p><p>e social e como dispor das suas riquezas. Segundo José Afonso da Silva</p><p>(2006), cada país pode dispor das suas escolhas sem prejuízo das obrigações</p><p>que derivam da cooperação econômica internacional, baseada no princípio</p><p>de benefício recíproco, assim como do Direito internacional, pois em nenhum</p><p>caso um povo poderá se privar dos seus próprios meios de subsistência.</p><p>Princípio da não intervenção — Esse princípio signifi ca que nenhum Estado</p><p>pode intervir nos assuntos de outro Estado — cada Estado tem a sua própria</p><p>autonomia para administrar. Protegemos, assim, os assuntos de natureza interna,</p><p>proibindo a intervenção de outros Estados. Por esse princípio, o Estado brasileiro</p><p>deve repelir qualquer tentativa de ameaça à sua organização interna, que possa</p><p>prejudicar o seu desenvolvimento econômico, político, social e cultural. Nas</p><p>relações internacionais, é um princípio que protege, sobretudo, os países menos</p><p>desenvolvidos das interferências dos países considerados como grandes potências.</p><p>Princípio da igualdade entre os Estados — Segundo esse princípio, os</p><p>Estados são iguais entre si. É nesse sentido que se pode dizer que os Estados</p><p>são juridicamente iguais, que eles têm os mesmos direitos e deveres. A</p><p>partir dele, procuramos instaurar uma ordem econômica justa e equitativa,</p><p>com a abolição de todas as formas de dominação de um Estado por outro.</p><p>Esse princípio internacional é de grande importância, sobretudo, para os</p><p>países menos desenvolvidos, dando os mesmos direitos e deveres que os</p><p>países mais ricos. Possibilita uma defesa interna de proteção aos direitos,</p><p>não permitindo que ocorra a interferência externa dos outros Estados.</p><p>9Princípios fundamentais</p><p>Princípio da defesa da paz — Esse princípio se manifesta juridicamente</p><p>por uma declaração formal de paz entre os Estados, tendo em vista o direito</p><p>internacional da paz entre os países. A paz se caracteriza no sentido de ausência</p><p>de confl itos armados.</p><p>Princípios da solução pacífi ca dos confl itos — Por esse princípio, o Brasil</p><p>só recorre à guerra se não couber ou não for bem-sucedido na utilização dos</p><p>meios pacífi cos de solução de confl itos, regulados por órgãos internacionais</p><p>de segurança de que participa. Não se empenha em guerras de conquista,</p><p>direta ou indiretamente, por si ou em aliança com outro Estado. Esse princípio</p><p>expressa o temperamento pacífi co do povo brasileiro.</p><p>Princípio do repúdio ao terrorismo e ao racismo — Esse princípio expressa</p><p>a rejeição e repulsa por atos desumanos, como o terrorismo e o racismo. Nas</p><p>relações internacionais, diz respeito à promoção e a eliminação de todas as</p><p>formas de discriminação racial nas relações internacionais. O combate à</p><p>discriminação é instrumento que busca promover os direitos fundamentais,</p><p>principalmente no que concerne à igualdade entre as pessoas.</p><p>Princípio da cooperação entre os povos para o progresso da humanidade</p><p>— Esse princípio já está previsto em vários documentos internacionais. A</p><p>Carta das Nações Unidas defi ne a cooperação de uns Estados com os outros</p><p>como um dever. Cooperar signifi ca operar em conjunto, operar um com o</p><p>outro. Esse princípio transmite o dever de ajuda mútua entre os povos para o</p><p>progresso humano, por meio da solidariedade.</p><p>Princípio da concessão de asilo político — O asilo político é um mecanismo</p><p>utilizado nas relações internacionais com base no princípio da solidariedade</p><p>internacional. É um instrumento de proteção das pessoas, segundo o qual</p><p>o indivíduo solicita ao Estado o seu acolhimento por motivos de persegui-</p><p>ções políticas, religiosas ou decorrentes do exercício da livre manifestação</p><p>do pensamento. Assim, a política externa do Brasil estabelece a concessão</p><p>de asilo político como um dos princípios das relações internacionais, cujo</p><p>ato é de soberania estatal, de competência do presidente da República.</p><p>Esses são os princípios que regem as relações internacionais do Brasil. O</p><p>parágrafo único do art. 4º apresenta mais um princípio para o rol: o princípio</p><p>da formação de uma comunidade latino-americana de nações. Esse princípio</p><p>reconhece que as relações interestatais têm se desenvolvido de maneira a exigir</p><p>Princípios fundamentais10</p><p>maior cooperação entre os Estados. O Brasil busca, nos termos do parágrafo</p><p>único do art. 4º, maior integração econômica, política, social e cultural dos</p><p>povos da América Latina. Podemos citar, como exemplo, a organização do</p><p>Mercado Comum do Sul (Mercosul), que consiste na união aduaneira, com</p><p>objetivo basilar de criação de um mercado comum.</p><p>A título de exemplo, o Estado soberano tem o direito de controlar exclusivamente as</p><p>suas relações domésticas, de admitir e expulsar estrangeiros, de exercer a jurisdição</p><p>exclusiva sobre os crimes cometidos no seu território e de privilégios do seu corpo</p><p>diplomático em outros territórios</p><p>CAETANO, M. Direito Constitucional. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1987. v. 1.</p><p>DALLARI, D. A. Direitos humanos e cidadania. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2004.</p><p>REALE, M. Teoria do Direito e do Estado. São Paulo: Saraiva, 2002.</p><p>SILVA, J. A. Comentário contextual à Constituição. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.</p><p>Leituras recomendadas</p><p>CANOTILHO, J. J. G. Direito Constitucional. 6. ed. Coimbra: Almedina, 1993.</p><p>DALLARI, D. A. Elementos de teoria geral do Estado. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.</p><p>FRANÇA, P. G. Objetivos fundamentais da república federativa do Brasil e escolhas</p><p>públicas: perspectivas de caminhos constitucionais de concretização do desenvolvi-</p><p>mento intersubjetivo. Revista do Instituto do Direito Brasileiro, ano 2, n. 9, p. 9407-9419,</p><p>2013. Disponível em: .</p><p>Acesso em: 23 maio 2018.</p><p>LENZA, P. Direito Constitucional esquematizado. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.</p><p>MENDES, G. F.; COELHO, I. M.; BRANCO, P. G. G. Curso de Direito Constitucional. 2. ed.</p><p>São Paulo: Saraiva, 2008.</p><p>11Princípios fundamentais</p><p>https://www.cidp.pt/publicacoes/revistas/ridb/2013/09/2013</p><p>Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para</p><p>esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual</p><p>da Instituição, você encontra a obra na íntegra.</p><p>C10_Teoria_direitos_fundamentas.indd 8 01/06/2018 15:31:54</p>

Mais conteúdos dessa disciplina