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<p>DIREITO PENAL IV</p><p>Parte Especial do Código Penal</p><p>Prof.ª Dr.ª Michelle Gironda Cabrera</p><p>Doutora em Direito Socioeconômico e Desenvolvimento</p><p>Advogada criminalista</p><p>DOS CRIMES CONTRA A VIDA</p><p>Caso de diminuição de pena</p><p>§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.</p><p>Art. 121. Matar alguém:</p><p>Pena - reclusão, de seis a vinte anos.</p><p>DOS CRIMES CONTRA A VIDA</p><p>Homicídio qualificado</p><p>§ 2° Se o homicídio é cometido:</p><p>I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;</p><p>II - por motivo fútil;</p><p>III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;</p><p>IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;</p><p>V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:</p><p>Art. 121. Matar alguém:</p><p>Pena - reclusão, de seis a vinte anos.</p><p>Pena - reclusão, de doze a trinta anos.</p><p>Feminicídio</p><p>Pena - reclusão, de doze a trinta anos.</p><p>VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:</p><p>VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição:</p><p>VIII - (VETADO):</p><p>§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:</p><p>I - violência doméstica e familiar;</p><p>II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.</p><p>Homicídio qualificado</p><p>§ 2° Se o homicídio é cometido:</p><p>I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;</p><p>II - por motivo fútil;</p><p>III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que</p><p>V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:</p><p>a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:</p><p>Homicídio culposo</p><p>§ 3º Se o homicídio é culposo:</p><p>Aumento de pena</p><p>§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.</p><p>§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.</p><p>§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.</p><p>§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:</p><p>I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;</p><p>II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental;</p><p>III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima;</p><p>IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006</p><p>Pena - detenção, de um a três anos.</p><p>Introdução</p><p>O Código Penal brasileiro opta por dividir o homicídio em simples (doloso) e qualificado (doloso), seguindo o modelo português, separando as condutas imprudentes (culposas) em tópico à parte.</p><p>Oferece ainda distinção para situação de motivação social positiva, sob a forma de causa especial de diminuição de pena.</p><p>Objetivamente, a conduta mais temerária ou a aflição de vítima mais frágil conduzem a uma causa especial de aumento de pena.</p><p>Finalmente, reserva-se a possibilidade de concessão de perdão judicial em face de considerações a respeito do valor do resultado para o próprio autor do delito.</p><p>Homicídio qualificado</p><p>§ 2° Se o homicídio é cometido:</p><p>I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:</p><p>DO BEM JURÍDICO</p><p>Limites de alcance do tipo</p><p>O homicídio é uma violação do bem jurídico vida como tal considerado a partir do nascimento. A conduta de suprimir a vida de alguém já tipifica o crime de homicídio (distinção: vida intrauterina ou extrauterina).</p><p>Assim, a morte realizada durante o parto traduz o crime de homicídio, seja ela realizada pelo médico encarregado do parto ou qualquer terceiro, exceto a mãe que esteja sob influência de estado puerperal.</p><p>DO HOMICÍDIO SIMPLES</p><p>Matar é ceifar a vida, ato que presume a existência desta.</p><p>No homicídio se trata da vida independente, extrauterina, e não mais a vida em formação. Não há um conceito jurídico de vida nestes termos. A doutrina perde-se em referência à prova da existência de vida, de modo que hoje é insustentável adicionarem-se critérios biológicos aos conceitos jurídicos.</p><p>Também não existe razão lógica para deixar de oferecer um conceito jurídico fixo que permita um mínimo de segurança jurídica das decisões, e este conceito não precisa ser idêntico ao médico-clínico.</p><p>Assim: matar, para efeitos do tipo penal de homicídio, significa fazer cessar atividade encefálica onde esta preexistia.</p><p>DO HOMICÍDIO SIMPLES</p><p>A conduta descrita pelo tipo é COMISSIVA, mas nada impede que o crime seja realizado em omissão (própria ou imprópria?)</p><p>A elementar ALGUÉM significa uma pessoa humana viva.</p><p>O ato de dizimar uma grande quantidade de pessoas de modo sistemático pode caracterizar a hipótese de genocídio prevista no Estatuto de Roma, incorporado em nosso ordenamento jurídico através do Decreto nº 4.388/2002. neste diploma legal, o art. 6º prevê a hipótese de realização de homicídio através de vários membros de um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, praticado com intenção de destruí-lo, como a figura específica do genocídio.</p><p>DO HOMICÍDIO SIMPLES</p><p>A referência à pessoa humana viva implica que a agressão a um cadáver constitui outra espécie de delito, já que o cadáver, conquanto tenha sido de alguém, não é alguém. Uma pessoa é mais do que seu corpo, é um ser que atua em relações de comunicação, as quais cessam com a morte.</p><p>E, sendo o homicídio um crime que deixa vestígios, estes resultam, de regra, imprescindíveis para a demonstração do resultado morte. Isto não significa a necessidade da existência de um cadáver, conquanto seja isso o mais comum. O que é imprescindível é a realização de um auto de exame de corpo de delito, conforme prescreve o art. 158, CPP ou, na impossibilidade (corpo desapareceu): art. 167, CPP (prova pericial suprida por testemunhas).</p><p>DO HOMICÍDIO PRIVILEGIADO</p><p>ou</p><p>DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA</p><p>O agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, podendo o juiz reduzir a pena de 1/6 – 1/3</p><p>Trata-se de modalidade mista alternativa: possui elementos especializantes tanto de tipo objetivo como de tipo subjetivo.</p><p>Caso o ato de matar alguém (elemento comum entre homicídio privilegiado e simples) seja realizado por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob domínio de violenta emoção e, tendo havido provocação prévia da vítima (elementos especializantes),</p><p>incide o comando que determina a redução da pena.</p><p>DO HOMICÍDIO PRIVILEGIADO</p><p>ou</p><p>DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA</p><p>A motivação é individual e não se comunica a eventual partícipe.</p><p>RELEVANTE VALOR SOCIAL OU MORAL:</p><p>Não se trata de valor social / moral sem importância (observação quanto à não unicidade / padronização deste conceito)</p><p>Ex.: pai que mata o estuprador da própria filha</p><p>Ex. 2: eutanásia</p><p>Conceito de eutanásia: antecipar a morte de alguém, de modo suave e sem dor</p><p>Ortotanásia: limitação de tratamento médico e oferecimento de cuidados paliativos que proporcionem ao doente terminal uma morte sem padecimento desnecessário e em paz.</p><p>DO HOMICÍDIO PRIVILEGIADO</p><p>ou</p><p>DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA</p><p>DOMÍNIO DE VIOLENTA EMOÇÃO LOGO APÓS INJUSTA PROVOCAÇÃO DA VÍTIMA</p><p>Domínio não é mera influência: é situação emocional que se apossa do agente, que deve ser intensíssima e incontrolável. Emoção violenta.</p><p>Momento próprio: logo após , logo em seguida injusta provocação da vítima. Não cabe se for premeditado e se tiver dado tempo de pensar sobre a situação.</p><p>Caso não haja uma concreta imediação entre a provocação e a atuação, ainda poderá estar o sujeito sob a influência de emoção, situação que poderá clamar pela incidência da atenuante genérica do art. 65, III, “c”, última parte, CP.</p><p>A provocação deve ser injusta: injusto é conceito jurídico ou pode ser entendido como expressão coloquial?</p><p>Injusto é um conceito jurídico, não devendo ser entendida como mera expressão coloquial. (doutrina mais moderna)</p><p>Provocação injusta ≠ Agressão injusta</p><p>Atenuante genérica Legítima defesa</p><p>65, III, “c”, CP 25, CP</p><p>ou</p><p>homicídio privilegiado</p><p>121, §1º, CP</p><p>Homicídio qualificado</p><p>O homicídio conta com figuras típicas ditas qualificadas, ou seja, com fórmulas de tipos de ação que, por distintas razões, recebem um plus de desvalor.</p><p>HOMICÍDIO QUALIFICADO: 121, §2º, CP</p><p>Constituem tipos qualificados homicídios cometidos por determinados motivos, com determinadas finalidades especiais, ou por meio e modos excepcionalmente reprováveis, todos descritos no §2º do 121.</p><p>SE O CRIME É COMETIDO:</p><p>I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe</p><p>O legislador prescreveu uma fórmula consistente na exemplificação seguida de uma cláusula generalizante, remetendo à realização de interpretação analógica. Assinala como qualificado, assim, o homicídio praticado mediante paga ou promessa de recompensa ou outro motivo torpe.</p><p>MOTIVO TORPE</p><p>Motivo torpe é o abjeto, ignóbil, imoral, repugnante, o que ofende gravemente a moralidade media ou os princípios éticos dominantes (reflexão crítica sobre este conceito).</p><p>Um dos mais polêmicos temas sobre a qualificação torpe é a questão da vingança. Obviamente, em uma sociedade de padrão desejável, a vingança não é um valor moralmente apreciável ou desejável. Por vezes, porém, ela aparece como motivação derivada justamente de uma situação de privilégio, em que o algoz se coloca na condição de paladino ou justiceiro. Deve sempre se analisar caso a caso, para a solução ser a mais adequada possível.</p><p>Restringe-se ao plano econômico.</p><p>Mas, parece se tratar de uma aporia, pois outras motivações como a recompensa sexual, por exemplo, poderiam constituir motivo torpe, tão torpe quanto a paga financeira, ou a promessa de recompensa econômica.</p><p>PAGA OU PROMESSA DE RECOMPENSA</p><p>HOMICÍDIO QUALIFICADO: 121, §2º, CP</p><p>II. POR MOTIVO FÚTIL</p><p>Aqui, o legislador opta por um conceito. Fala em motivo fútil. A futilidade é a desproporcionalidade, ou seja, a fonte da reação homicida é a prática de alguma conduta cuja eventual característica ofensiva resulta absolutamente desproporcional.</p><p>Como um dado, no mínimo, curioso: tribunais consideram que a ausência de motivo não qualifica o homicídio</p><p>RESP 769651 SP, 5ª Turma do STJ, Relatora Ministra Laurita Vaz</p><p>Parece evidente que um motivo nulo, um não-motivo, representaria também futilidade, porém, em consonância com o princípio da legalidade (lex praevia, sctricta, scripta e certa), deve prevalecer o entendimento de uma interpretação restritiva e em favor do réu, não admitindo que se inclua a ausência de motivos como um item a mais na qualificação do homicídio, quando nada diz o Código a respeito.</p><p>III. com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum</p><p>Diversas expressões relacionadas a meios de execução do crime de homicídio. O legislador completa a descrição com cláusula de equiparação ou equivalência que abre passo à interpretação analógica. Ou seja, esse tipo qualificado deve ser lido como homicídio praticado mediante o emprego de veneno ou outro meio tão insidioso quanto o veneno; fogo, explosivo ou outro meio de que possa resultar perigo comum tanto quanto o fogo ou explosivo, etc. EXEMPLO: homicídio praticado por afogamento, resfriamento, adição de pó de vidro em comida.</p><p>IV. À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido</p><p>Boa parte dos homicídios são praticados por autores que são conhecidos de suas vítimas.</p><p>Recurso que impossibilita defesa da vítima significa uma providência especial, uma empreitada neste sentido. Daí que haja um plus de desvalorização na conduta daquele que mata a partir de um planejamento meticuloso de impedir reação de parte da vítima. Se o agente simplesmente se aproveita de situação de maior fragilidade ou risco a que a vitima se autocolocou, não incide a qualificadora. Ex. homicídio enquanto a vítima dormia ou olhava para o lado.</p><p>V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime</p><p>Aqui aparece um claríssimo especial fim de agir com qualificadora. O propósito do agente ao praticar o homicídio é assegurar a execução, a impunidade ou a vantagem derivada de outro crime qualquer, consumado ou tentado.</p><p>Este especial fim de agir precisa ter motivado o homicídio.</p><p>Ex. matar o vigia para invadir o domicílio.</p><p>Ex2: matar as testemunhas do crime anteriormente praticado.</p><p>image1.png</p><p>image2.jpeg</p>