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Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Instituto Integrado de Saúde Graduação em Enfermagem CÁSSIA DE PAULA PIRES SÍFILIS GESTACIONAL: caracterização da gestante e ocorrência de transmissão vertical Campo Grande, MS 2018 CÁSSIA DE PAULA PIRES SÍFILIS GESTACIONAL: caracterização da gestante e ocorrência de transmissão vertical Projeto de pesquisa do Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Orientador(a): Prof. Enf. Dr. Rodrigo Guimarães dos Santos Almeida Coorientador(a): Enf. Mestranda Caroliny Oviedo Fernandes Linha de pesquisa: O cuidado em Saúde e Enfermagem. Campo Grande, MS 2018 AGRADECIMENTOS À minha família e amigos, pelo suporte, apoio e paciência em todos os momentos da minha graduação, principalmente nos momentos de dificuldades. A minha base que nunca me deixou cair, não importasse qual o desafio enfrentado. Ao meu namorado, que se mostrou ser o melhor parceiro de vida que eu poderia ter escolhido, que esteve comigo até nos dias mais atarefados e me ajudou muito mesmo não conhecendo o tema. À Enf. Mestranda Caroliny Oviedo Fernandes, por toda a compreensão e colaboração, foi essencial para a conclusão deste trabalho. Obrigada pelo tempo que dedicou a mim e que a nossa amizade se perpetue por anos. À Prof. Maria Auxiliadora Gerk por ter me convidado para fazer parte desta pesquisa. Obrigada por me mostrar um exemplo de profissional a ser seguido, que trata todos com amor e carinho. Ao Prof. Enf. Rodrigo Guimarães dos Santos Almeida, pela orientação, paciência e compreensão. Obrigada por me orientar e me amparar em mais esta etapa do sonho de graduação. Aos amigos e colegas de curso, que ao longo dos anos de graduação também atuaram como suporte, me auxiliando nos momentos de dúvida e necessidade, e sendo parte da construção do conhecimento adquirido em grupo. Aos professores e colaboradores do curso de Enfermagem e demais que passaram pela minha graduação, pelos ensinamentos, por serem exemplos de profissionais competentes, éticos e humanos, e pela gentileza de dividirem um pouco de seu conhecimento comigo. Aos integrantes da banca examinadora, pela dedicação e tempo disponibilizados para avaliação deste trabalho, e pelos auxílios necessários. PIRES, C.P. Sífilis gestacional: caracterização da gestante e ocorrência de transmissão vertical. Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de Bacharelado em Enfermagem. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, 2018 . RESUMO Introdução: A sífilis é uma doença infectocontagiosa sexualmente transmissível, caracterizada por manifestações cutâneas e sistêmicas, porém curável com o uso de Penicilina Benzatina como primeira escolha. A sífilis pode acontecer durante a gestação, sendo esta a forma mais preocupante, pois traz diversas complicações para o concepto. O diagnóstico é realizado por meio de testes treponêmicos e não treponêmicos, geralmente durante as consultas de pré-natal. Nos últimos anos, se tornou um grande problema de saúde pública, com números crescentes de casos no Brasil e no Mundo. O enfermeiro possui grandes responsabilidades na detecção, diagnóstico e tratamento da infecção, sendo um dos grandes pilares da prevenção. Objetivo: Conhecer o perfil epidemiológico das gestantes com diagnóstico de sífilis atendidas na Rede Municipal de Saúde de Campo Grande/MS (REMUS/MS) no período de 2011 a 2017. Material e método: Trata-se de uma pesquisa descritiva, transversal, retrospectiva, quantitativa com dados secundários de fichas de notificação de sífilis gestacional e congênita. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/UFMS sob o parecer nº 2.166.457. Resultados: Foram analisados 2056 casos notificados durante o período do estudo, incluindo todas as suas variáveis. Foi observado que o ano de 2017 concentrou 25% dos casos de sífilis gestacional desde 2011. Quanto ao perfil sociodemográfico, predominou as mulheres adultas jovens, pardas, com baixa escolaridade, residentes da região sanitária Anhanduizinho e estavam no 1° trimestre da gestação (34,7%). Os testes treponêmicos foram os mais utilizados e a fase clínica apresentada pela gestante no momento do diagnóstico foi a fase terciária. O tratamento foi considerado inadequado em 41,1% dos casos e o tratamento do parceiro foi inadequado em 38,9%. Estes casos geraram 40% de casos de sífilis congênita. Conclusão: Evidenciou-se que a vulnerabilidade social, econômica e cultural está diretamente ligada a vulnerabilidade na saúde. Não obstante, o não tratamento do parceiro foi fator determinante para os casos de possível reinfecção. Novos estudos se fazem importante junto à temática, principalmente com estratégias de fortalecimento a atenção primária, para que seja possível intervir em casos iniciais e assim, alcançar todas as metas de prevenção e controle que forem impostas. Descritores: Sífilis, Gestantes, Enfermagem, Perfil de Saúde. ABSTRACT Introduction: Syphilis is an infectious, sexually transmitted disease characterized by cutaneous and systemic manifestations, but curable with the use of penicillin benzathine as the main choice. Syphilis can occur during pregnancy, this being the most worrisome form, bringing several complications to the concept. The diagnosis is made through treponemal and non-treponemal tests, usually during prenatal consultations. In recent years, it has become a major public health problem, with increasing numbers of cases in Brazil and in the World. Nurses have great responsibilities in the detection, diagnosis and treatment of infection, being one of the main pillars of prevention. Objective: To know the epidemiological profile of pregnant women diagnosed with syphilis treated at the Municipal Health Network of Campo Grande/MS (REMUS/MS) from 2011 to 2017. Material and methodology: This is a descriptive, cross-sectional, retrospective, quantitative research with secondary data from notification record of gestational and congenital syphilis. This project was approved by the Ethics and Research Committee of the Federal University of Mato Grosso do Sul/UFMS upon the advice n° 2.166.457. Results: A total of 2056 cases reported during the study period were analysed, including all variables. It was observed that the year 2017 concentrated 25% of cases of gestational syphilis since 2011. Concerning the sociodemographic profile, the predominance was young adult women, black women with low education level and residents of the Anhanduizinho health region and was in the first trimester of gestation (34.7%). The treponemal tests were the most used and the clinical phase presented by the pregnant woman at the time of diagnosis was the tertiary phase. The treatment was considered inadequate in 41.1% of the cases and the partner treatment was inadequate in 38.9%. These cases generated 40% of cases of congenital syphilis. Conclusion: It has been shown that social, economic and cultural vulnerability is directly linked to vulnerability in health. Nevertheless, the non- treatment of the partner was a determining factor for cases of possible reinfection. New studies become important along the subject, mainly with strategies to strengthen primary care, so that it is possible to intervene in initial cases and thus, to achieve all the prevention and control goals that are imposed. Key words: Syphilis, Pregnant women, Nursing, Health profile LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Fluxograma de diagnóstico da sífilis com utilização de teste rápido treponêmico . 17 Figura 2 - Fluxograma de Teste não-treponêmico confirmado por testeOs achados mostram que do número total de parceiros, 803 (38,9%) receberam tratamento inadequado, seguidos de 684 (33,1%) onde o tratamento não foi realizado. Somente 569 (27,5%) dos parceiros que foram informados, receberam o tratamento adequado de acordo com a fase clínica apresentada pela gestante. Esses dados podem ser corroborados com um estudo realizado em 2017, onde foi observado que o parceiro não recebeu o tratamento adequado em 79,9% (95) dos casos. Este dado confirma que além das dificuldades no tratamento da gestante e mesmo que ela seja tratada adequadamente, o parceiro pode ser o 40 grande responsável pelo alto risco de reinfecção da gestante antes do parto (LIMA et al., 2017; DANTAS et al., 2017). Dentre os motivos para o não tratamento do parceiro observados nas fichas de notificação, a ausência de contato entre parceiro e gestante foi o motivo predominante, em 365 casos (17,8%). Além disso, 135 (6,6%) parceiros foram informados, porém não compareceram ao serviço de saúde. Foram pontuados ainda, 50 casos que se recusaram a realizar o tratamento (2,4%), 105 (5,1%) receberam diagnóstico tardio (durante ou depois do parto), 28 (1,4%) eram parceiros institucionalizados (privados de liberdade ou internados em hospitais), 5 (0,2%) relataram alergia a penicilina e 48 (2,3%) possuíam cicatriz sorológica na gestante por meio da contagem de titulação da bactéria. Foi visto que dos 2255 casos de sífilis gestacional notificados no município de Campo Grande de 2011 a 2017, 907 resultaram em sífilis congênita. Se 2255 representam 100% dos casos, significa que 40,25 (907) tiveram um desfecho desfavorável e com grandes consequências ao concepto. Sabe-se que a sífilis congênita é a maior causa de morte neonatal e má formação congênita, e por este motivo, seu alto índice indica certo fracasso da assistência, principalmente da atenção básica onde existe a possibilidade de intervir. (BRASIL, 2012; DOMINGUES; LEAL, 2016). O enfermeiro possui grandes responsabilidades, pois é o profissional habilitado a realizar as consultas pré-natal de baixo risco, utilizar os testes rápidos, classificar corretamente a infecção, prescrever o tratamento correto e os cuidados necessários sobre a doença para a comunidade (BRASIL, 2012). Ainda segundo o autor, sabe-se que para a realização do tratamento correto, é necessário que haja vínculo entre paciente-profissional e o enfermeiro esta habilitado para criar este vínculo e dar continuidade a investigação do caso por meio de consultas de rotina e visita domiciliar. Acredita-se que o profissional enfermeiro é capaz de reverter a realidade da sífilis no cenário atual e que um maior comprometimento para a realização de um pré-natal de qualidade, composto por todos os itens preconizados pelo MS, é necessário. A partir de domínio do assunto, será possível transmitir informações e orientar a população sobre a doença e assim, reduzir os casos. Na atenção básica, a busca ativa das gestantes é essencial para que nenhum caso seja subnotificado e quando detectado, é imprescindível que haja o preenchimento correto dos itens da ficha, pois somente conhecendo o seu perfil predominante, será possível investir em sua prevenção para o público correto. Enfatiza-se que a educação 41 dos profissionais enfermeiros e da comunidade de forma contínua é fundamental para o controle dos casos. 42 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo evidenciou que a vulnerabilidade social, econômica e cultural está diretamente ligada a vulnerabilidade na saúde. Os grupos mais acometidos pela sífilis são os grupos negligenciados e que mais necessitam do Sistema Único de Saúde e de sua assistência diferenciada. O sistema de notificação compulsória para os casos de sífilis se tornou grande aliado na luta contra a doença e embora ainda existam relatos de subnotificação, sabe-se que um grande progresso foi realizado. No decorrer dos últimos anos, a assistência pré-natal tem se demonstrado extremamente importante para que os objetivos da saúde sejam atingidos. A sífilis durante a gestação teve a sua prevalência controlada por um tempo, porém, observou-se aumento na incidência dos casos da doença causada pela bactéria Treponema Pallidum durante a gravidez nos últimos 5 anos. Apesar dos esforços, observa-se que há um caminho longo a ser percorrido para que a meta de controle da doença seja alcançada. O ressurgimento dos casos de sífilis gestacional e congênita demonstra que a assistência pré-natal no Brasil não tem sido eficiente para prevenir, identificar, e dar continuidade ao tratamento de tais agravos. Evidenciou-se que o enfermeiro possui grandes responsabilidades dentro do serviço de saúde e a falta de conhecimento do profissional em relação ao tratamento de acordo com a fase clínica, evidencia grande fragilidade na educação e capacitação destes. Mesmo no protocolo antigo, poucos casos foram tratados adequadamente, evidenciando a necessidade de grandes investimentos na educação permanente. A crise no abastecimento da penicilina pode não ser um problema tão grave quanto a falta de conhecimento sobre a doença entre profissionais e população. Para seu tratamento, é imprescindível a formação de vínculo entre profissional e gestante, evidenciando a importância da atenção básica e de equipes de saúde comprometidas. Viu-se a importância de ações na saúde do homem e principalmente, a quebra de preconceitos da sociedade para que o parceiro seja incluído no cuidado. Por fim, considera-se que a quantidade de dados ignorados e preenchimento inadequado da ficha foram as maiores limitações deste estudo, ressaltando assim, a importância da qualidade dos registros e investigação fidedigna dos casos, para promover acompanhamento adequado a gestante e do seu parceiro. Novos estudos se fazem importante junto à temática, principalmente com estratégias de fortalecimento a atenção primária, para 43 que seja possível intervir em casos iniciais e assim, alcançar todas as metas de prevenção e controle que forem impostas. 44 8 REFERÊNCIAS ANDRADE, S.M.O. A pesquisa científica em saúde: concepção, execução e apresentação. Campo Grande: Ed. UFMS, 2015. AQUINO, G.T.; SILVA, H.C.G. Perfil das Mulheres Portadoras de Sífilis Gestacional em Santa Catarina no ano de 2012. Arq. 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(n=2056) ................................................................................................................................... 30 Tabela 2 - Características sociodemográficas das gestantes com sífilis notificadas nos serviços de saúde, entre os anos de 2011 a 2017, Campo Grande/MS, 2018. (n=2056) ........................ 31 Tabela 3 - Fase clínica da sífilis nas gestantes notificadas nos serviços de saúde, entre 2011 e 2017, Campo Grande/MS, 2018. (n=2056) .............................................................................. 31 Tabela 4 - Testes realizados para detecção de sífilis nas gestantes notificadas nos serviços de saúde, entre 2011 e 2017, Campo Grande/MS, 2018. (n=2056) .............................................. 32 Tabela 5 - Proporção do esquema terapêutico realizado para sífilis nas gestantes notificadas nos serviços de saúde, entre 2011 e 2017, Campo Grande/MS, 2018. (n=2056) ..................... 32 Tabela 6 – Realização de teste confirmatório para sífilis e esquema de tratamento prescrito aos parceiros, entre 2011 a 2017, Campo Grande/MS, 2018. (n=2056) .................................. 33 Tabela 7 - Motivo de não tratamento do parceiro encontrados e notificados nos serviços de saúde, entre 2011 e 2017, Campo Grande/MS, 2018. (n=2056) .............................................. 34 Tabela 8 - Relação de casos de sífilis gestacional e de sífilis congênita encontrados e notificados nos serviços de saúde, entre 2011 e 2017, Campo Grande/MS, 2018 ................... 34 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CEP CTA DANT FTA-Abs Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos Centro de Testagem e Aconselhamento Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissiveis Fluorescent Treponemal Antibody Absorption HIV IM Human Immunodeficiency Virus Intramuscular IST IV Infecção Sexualmente Transmissível Intravenosa MS Ministério da Saúde OMS PLANURB REMUS Organização Mundial de Saúde Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano Rede Municipal de Saúde de Campo Grande SC Sífilis Congênita SG SESAU Sífilis Gestacional Secretária Municipal de Saúde SINAN SPSS TCLE TPHA Sistema de Informação de Agravos de Notificação Statistical Package for the Social Sciences Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Treponema Pallidum Hemagglutinatio Test UFMS VDRL VO Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Venereal Disease Research Laboratory Via Oral SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 10 2 REVISÃO DE LITERATURA 11 2.1 SÍFILIS GESTACIONAL .................................................................................................. 12 2.2 EPIDEMIOLOGIA DA SÍFILIS ........................................................................................ 12 2.3 ETIOLOGIA, TRANSMISSÃO E PATOGÊNESE .......................................................... 13 2.4 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA SÍFILIS GESTACIONAL ............................... 15 2.5 CONTROLE DA SÍFILIS GESTACIONAL E SEUS DESAFIOS ................................... 20 2.6 O PAPEL DO ENFERMEIRO NO ACOMPANHAMENTO DE GESTANTES COM SÍFILIS ..................................................................................................................................... 21 2.7 SÍFILIS CONGÊNITA ....................................................................................................... 22 2.7.1 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO .............................................................................. 23 3 OBJETIVOS 25 3.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................... 25 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................. 25 4 MATERIAL E MÉTODO 26 4.1 TIPO DE ESTUDO ............................................................................................................ 26 4.2 LOCAL E PERÍODO DA PESQUISA .............................................................................. 26 4.3 POPULAÇÃO/AMOSTRA ............................................................................................... 27 4.3.1 Critérios de inclusão ........................................................................................................ 27 4.3.2 Critérios de exclusão ....................................................................................................... 27 4.4 COLETA DE DADOS ....................................................................................................... 27 4.5 ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................................... 28 4.6 ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS ...................................................................................... 28 5 RESULTADOS ................................................................................................................... 30 6 DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 35 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 42 8 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 44 ANEXOS ................................................................................................................................ 48 APENDICE ............................................................................................................................ 55 10 1 INTRODUÇÃO A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cerca de um milhão de pessoas do mundo são infectadas por diversas IST diariamente. Dentre elas destacamos a sífilis, tema do presente trabalho, que é responsável por mais de 300 mil óbitos fetais e neonatais, além de mais de 215 mil crianças com morte prematura no mundo (BRASIL, 2017). Em Campo Grande, de acordo com dados do SINAN, no ano de 2016 foram 114 casos de sífilis congênita notificados, representando taxa de incidência de 8,47/1000 nascidos vivos (CAMPO GRANDE, 2017). A sífilis é uma doença infectocontagiosa sexualmente transmissível antiga, causada pelo agente etiológico Treponema pallidum, sendo que este pode atravessar a barreira placentária e, por via hematogênica, atingir a corrente sanguínea fetal. A sífilis gestacionalse divide em fases clínicas, sendo primária, secundária e latente (terciária), possuindo ainda diversas consequências para a gestante, mas principalmente para o feto da gestante, que pode ser acometido pela sífilis congênita. O diagnóstico é realizado por meio de testes treponêmicos e não treponêmicos. A principal forma de tratamento da sífilis é por meio do uso da penicilina benzatina, conforme o estágio clínico da doença apresentada no momento do diagnóstico. (VERONESI, 2009; BRASIL, 2012; BRASIL, 2015). O enfermeiro possui grandes responsabilidades na detecção, diagnóstico e tratamento da infecção. No Brasil, existem programas de saúde voltados para a prevenção da sífilis, porém, nos últimos anos, observou-se que a incidência de sífilis gestacional aumentou por diversos motivos tais como acesso limitado aos cuidados de saúde em algumas comunidades e, mais recentemente, pela falta do principal componente de tratamento: a penicilina (BRASIL, 2012). Nessa linha, a ficha de notificação compulsória utilizada pelos profissionais dos serviços de saúde, atua como um importante alimento para o banco de dados do serviço, permitindo assim, a elaboração de um perfil de atenção e cuidade. Diante do exposto, este trabalho tem como objetivo conhecer o perfil epidemiológico das gestantes com diagnósticos de sífilis atendidas na Rede Municipal de Saúde de Campo Grande/Mato Grosso do Sul no período de 2011 a 2017. 11 2 REVISÃO DE LITERATURA A sífilis é uma doença infectocontagiosa sexualmente transmissível registrada pela primeira vez há quase 500 anos com incidência crescente nas últimas duas décadas e conjunto com a infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), por diversos motivos como o acesso limitado aos cuidados de saúde em algumas comunidades e, mais recentemente, pela falta do principal componente de tratamento: a penicilina (VERONESI, 2009; MILANEZ et al., 2008). A sífilis é caracterizada por apresentar manifestações cutâneas e sistêmicas, curável e exclusiva do ser humano, sendo sua transmissão predominantemente sexual. É causada pelo agente etiológico Treponema pallidum, uma bactéria Gram-negativa. Por ser uma infecção sexualmente transmissível (IST), a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que existem aproximadamente 12 milhões de casos novos por ano (FIGUEIRÓ-FILHO, 2012). Uma das maiores complicações da sifílis gestacional, é a sífilis congênita devido a transmissão vertical por via transplacentária em qualquer momento da gestação ou estágio clínico da doença (DOMINGUES; LEAL, 2016). A transmissão vertical, de mãe para feto, é frequentemente transplacentária com taxa de 80% e pode ocorrer na passagem do feto pelo canal do parto (BRASIL, 2015). A origem do nome Sífilis procede da obra de Girolamo Fracastoro (1478-1553), um médico e poeta que vivia em Verona. Seu trabalho “Syphilis sive Morbus Gallicus” (1530) é uma trilogia e apresenta o personagem chamado Syphilus, um pastor de rebanhos comandado pelo rei Alcihtous. Na obra, um outro personagem, Apolo (Deus da mitologia grega), destrói grande parte da vegetação da área que Syphilus utilizada para alimentar o seu rebanho, o que causou tamanha revolta, a ponto que Syphilus irritado com a situação, prometeu devoção a seu rei e não a Apolo. Apolo então, se ofende e amaldiçoa as pessoas com uma terrível doença, chamada Syphilis (TAMPA et al., 2014). Ainda segundo os mesmos autores, o agente etiológico foi descoberto em 1905 por Fritz Schaudinn e Paul Erich Hoffman e, apesar de antiga, ainda é uma doença estigmatizada causando vergonha as pessoas infectadas. Cada país cuja população foi afetada pela infecção culpou as nações vizinhas, às vezes inimigos, pela ocorrência dos surtos. Assim, existem várias teorias explicativas para o surgimento da sífilis. A mais utilizada, segundo Veronesi (2009), é a “Teoria Colombiana’’, que afirma a origem da sífilis no continente americano e transportada para a Europa, África e Ásia por volta de 1490, época das viagens de Cristóvão 12 Colombo. Outras teorias como a unitária, propõe a existência de uma única doença, em que seu agente etiológico tenha sofrido modificações até chegar a conhecida Treponema pallidum. (VERONESI, 2009; LINS, 2014). 2.1 SÍFILIS GESTACIONAL A sífilis gestacional tem grande importância epidemiológica devido ao risco da transmissão vertical ao feto ocasionando a sífilis congênita. O Treponema pallidum pode atravessar a barreira placentária e, por via hematogênica, penetrar na corrente sanguínea fetal. Quanto mais recente for a infecção, maior o número de espiroquetas circulantes e, portanto, maior a chance de transmissão placentária. Entretanto, infecções antigas podem levar a formação progressiva de anticorpos pela mãe, atenuando a infecção do neonato, com possibilidade de de lesões tardias como pneumonia, feridas no corpo, cegueira, surdez, deficiência intelectual ou até mesmo evoluir para o óbito (RUANO et al., 2008). Segundo Domingues e Leal (2016), os fatores de risco associados a transmissão da sífilis gestacional para sífilis congênita são relacionados as condições sociais da gestante com a doença como a renda baixa, baixa escolaridade e o inicio do pré-natal tardio. O mesmo estudo expõe que as taxas de óbito fetal foram 6 vezes maiores do que o observado em mulheres sem diagnóstico de sífilis, evidenciando assim a grande importância do tratamento da sífilis antes ou durante a gestação. 2.2 EPIDEMIOLOGIA DA SÍFILIS A OMS estima que cerca de um milhão de pessoas do mundo são infectadas por diversas IST diariamente. No caso da sífilis, além de elevar os riscos de infecção por HIV, também é responsável por mais de 300 mil óbitos fetais e neonatais, além de mais de 215 mil crianças com morte prematura no mundo (BRASIL, 2017). A notificação dos casos de sífilis passou a ser obrigatória em 1986, porém, a notificação de sífilis na gestação foi percebida como compulsória e um problema isolado somente em 2005, de acordo com a Portaria n° 33 de 14 de julho de 2005. Além da notificação, os esforços para detecção das IST também passaram a ser vistas durante o pré- natal dentro da Rede Cegonha e outras políticas que contribuem para a ampliação do acesso ao diagnóstico de sífilis e seu rápido tratamento (BRASIL, 2017). 13 A faixa etária de maior ocorrência da sífilis é geralmente em adultos sexualmente ativos de 20 a 29 anos, seguido de adolescentes e pessoas de meia-idade. De acordo com Brasil (2016) houve um aumento de aproximadamente 21 vezes de casos de 2005 (1.600) a 2015 (33.381) e uma redução de 54,3% em 2016 (15.247). Além da sífilis gestacional, considera-se importante as taxas de sífiis adquirida, uma vez que o parceiro é um dos maiores responsáveis pela reinfecção da gestante. Em 2016 foram 87.593 casos de sífilis adquirida no Brasil. Os casos notificados em 2016 apresentaram maior prevalência no primeiro trimestre gestacional na faixa etária de 20 a 29 anos (%). Com relação às complicações, no ano de 2015 foram registrados 221 óbitos por sífilis congênita no Brasil, sendo nove na região Centro- Oeste (BRASIL, 2016). Estima-se que surgem 12 milhões de casos novos de sífilis por ano no mundo todo, sendo os países em desenvolvimento os mais acometidos pela infecção. O principal desfecho e que traz mais preocupações, é a sífilis congênita, onde estima-se que 500 mil conceptos morrem por ano no mundo (CAMPOS et al., 2010). Em Campo Grande, de acordo com dados do SINAN, no ano de 2016 foram 114 casos de sífilis congênita notificados, representando taxa de incidência de 8,47/1000 nascidos vivos (SESAU, 2017). Este número aumentou em relação aos últimos anos, dado este que será confirmado nesta pesquisa em questão. 2.3 ETIOLOGIA, TRANSMISSÃO E PATOGÊNESE A bactéria Gram-negativa penetra na pele e mucosas alcançando a corrente linfática em horasou dias com período de incubação de 10 a 90 dias com média de três semanas e após até o aparecimento da primeira lesão, chamada de cancro duro. O quadro clínico que caracteriza o período secundário surge de quatro a 10 semanas depois do início do cancro cujos principais sintomas podem ser mal-estar, febre, mialgia, artralgia, rash generalizado, lesões papulosas, pápulo escamosas, queda de pêlos, cabelos, lesões mucosas e linfadenopatia (VERONESI, 2009). Clinicamente, a sífilis é classificada em primária, secundária, latente e tardia ou terciária (ver Quadro 1). Geralmente, a primeira manifestação clínica são lesões ulcerosas na genitália ou região anal, o que pode contribuir para a transmissão de HIV e hepatites B e C (VERONESI, 2009; RUANO et al., 2008,). As características clínicas de cada fase podem ser vistas na tabela a seguir: 14 Quadro 1 - Fases clínicas de manifestação da sífilis Fase clínica Sinais/sintomas Local de manifestação Evolução clínica Primária Desenvolvimento do cancro duro no local de inoculação, indolor e de bordos duros e elevados, altamente infecciosa. Colo uterino ou na mucosa vaginal ou vulvar. Pode ser intra ou extra genital. Por ser indolor, a pessoa não percebe e a infecção desaparece espontaneamente em um período de 2 a 8 semanas independente do tratamento. Secundária Pode causar exantema maculopapular disseminado, febre, perda de peso, alopecia irregular e lesões genitais denominadas condilomas planos. Lesões cutaneomucosas sintomáticas. Micropoliadenopatia. Pode haver envolvimento ocular (ex: uveíte), hepático e neurológico (ex: alterações nos pares cranianos, meningismo). Surge de 1 a 2 meses após o desaparecimento do cancro duro. Essas manifestações podem surgir de 6 semanas a 6 meses após o surgimento do cancro duro e geralmente desaparecem de 2 a 6 semanas se não tratadas. Latente É o período entre a sífilis secundária e terciária. O maior risco dessa fase é a transmissão transplacentária. Pode ocorrer nos primeiros quatro anos após o primeiro contato com a bactéria. Assintomática, com testes imunológicos reagentes. Tem duração variável de pessoa para pessoa, porém pode ser classificada em latente recente, quando sua duração for inferior a 1 ano e latente tardia, quando for maior que esse período. Terciária As manifestações clínicas incluem a forma de goma, doença cardiovascular e a neuro-sífilis. Quadro cutâneo destrutivo e formação de gomas sifilíticas que podem ocorrer em qualquer órgão. Acometimento cardiovascular, neurológico (neuro- sífilis) e ósseo. Ocorre em um terço dos pacientes não tratados nos estágios anteriores. Pode se manifestar de 2 a 40 anos após o primeiro sintoma da doença, sendo de manifestação rara em mulheres no período fértil. Fonte: Adaptado de LINS, 2014 Geralmente as manifestações do secundarismo desaparecem sem tratamento e, em média, seis meses após a involução do quadro clínico do período secundário, os indivíduos entram em período de latência. É no período de latência que a sorologia é positiva e a clínica assintomática podendo permanecer nesse estágio por tempo indeterminado. Em outras 15 pessoas, podem surgir lesões gromosas, cardiovasculares e/ou neurológicas, sendo estas manifestações clássicas do terciarismo luético (RUANO et al., 2008; VERONESI, 2009). Além disso, a sífilis também pode ser classificada em duas fases: a fase recente, com duração aproximada de um ano, compreendendo as manifestações primárias, secundárias e o início da latência, e a fase tardia, caracterizada pela latência tardia e os quadros clínicos da sífilis terciária. Geralmente, a doença é detectada nesses estágios, porém é difícil diferenciar a fase latente precoce da tardia (BRASIL, 2014). 2.4 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA SÍFILIS GESTACIONAL O diagnóstico da sífilis é dividido em 2 categorias: exames diretos e testes imunológicos. Os exames diretos são aqueles em que o material da lesão é coletado e analisado, buscando a presença de espiroquetas. Os exames de campo escuro (exame direto da linfa da lesão) e histopatólogico são os mais importantes, entretanto os testes imunológicos são mais utilizados e podem ser divididos em treponêmicos e não-treponêmicos. 16 Quadro 2 - Testes realizados para diagnóstico de sífilis Testes imunológicos Características Testes Treponêmicos São testes de fácil manuseio e interpretação. Detectam a presença do Treponema pallidum, sendo estes testes específicos e confirmatórios. Os testes treponêmicos não são capazes de diferenciar uma infecção ativa da cicatriz sorológica. Os testes mais comuns são o FTA-Abs (Fluorescent Treponema Antibody Absorvent Test), o ELISA (teste imunoenzimático, Western Blot (WB) e os testes imunocromatográficos (testes rápidos), prova de Nichols (antígenos de cepas patogênicas) Não-treponêmicos São testes quantitativos que se expressam por meio de titulação, como 1:2, 1:4. São testes importantes para o diagnóstico e seguimento terapêutico, pois seu resultado permite interpretação de infecção ativa e a fase que a doença se apresenta. Podem se tornar reativos a partir da segunda semana após o aparecimento dos primeiros sintomas como o cancro duro e apresenta títulos elevados em casos de sífilis secundária. O VDRL pode se positivar 4 a 5 semanas após a infecção. O RPR é bastante rápido, apresentando resultado em até 60 minutos. VDRL (Veneral Disease Research Laboratory) e RPR (Rapid Plasm Reagin). Fonte: Adaptado de AVELLEIRA; BOTTINO, 2006; BRASIL, 2012 Os testes treponêmicos são confiáveis na determinação de uma infecção sifilítica, presente ou passada, visto que os resultados normalmente não se negativam mesmo após a total cura da infecção, permanecendo positivos por toda a vida do paciente, que é a chamada cicatriz sorológica (BRASIL, 2012). Entretanto, o tratamento precoce pode prevenir a soropositividade e também negativar reações já positivas (LINS, 2014). Segundo a Portaria n° 3.242 de 30 de Dezembro de 2011, o diagnóstico da Sífilis apresenta um fluxograma, pois os testes se dividem em treponêmicos e não treponêmicos, como evidenciado a seguir. 17 Figura 1 - Fluxograma de diagnóstico da sífilis com utilização de teste rápido treponêmico Fonte: BRASIL, 2016, p. 42 Figura 2 - Fluxograma de Teste não-treponêmico confirmado por teste treponêmico Fonte: BRASIL, 2016, p. 35 18 Figura 3 - Fluxograma de diagnóstico laboratorial reverso de sífilis baseado em testes imunológicos automatizados Fonte: BRASIL, 2016, p. 38 O tratamento da sífilis é dependente do estágio clínico e indiferente á gestação. O medicamento de padrão ouro é a Penicilina G Benzatina (NORWITZ, 2012). A penicilina foi reconhecida pela 69° Assembleia Mundial de Saúde, em maio de 2016 como essencial para o tratamento da sífilis, sendo este motivo de preocupação devido a sua escassez (BRASIL, 2016). Devido a crise da penicilina, o Ministério da Saúde alterou o esquema de tratamento da sífilis em 2015. Este estudo considerou os casos notificados de 2011 a 2017 e por este motivo, os dois esquemas serão considerados válidos se forem realizados de forma correta. Seguem quadros a seguir: 19 Quadro 3 - Esquema antigo de tratamento da Sífilis Estágio da Sífilis Tratamento de escolha Tratamento alternativo Sifilis primária Penicilina G benzatina, 2.400.000 UI, por via intramuscular, em dose única – 1.200.000 UI, em cada glúteo Doxiciclina 100 mg, VO, 2xdia, por 15 dias (exceto para gestantes); Ceftriaxona 1g, IV ou IM, 1xdia, por 8 a 10 dias para gestantes e não gestantes Sifilissecundária ou latente recente Penicilina G benzatina, 2.400.000 UI, por via intramuscular, uma vez por semana, durante 2 semanas, na dose total de 4.800.00 UI A tetraciclina ou eritromicina, durante 30 dias, é recomendada para pacientes que tenham alergia a penicilina Sifilis terciária ou latente tardia Penicilina G benzatina, 2.400.000 UI, por via intramuscular, uma vez por semana, durante 3 semanas, na dose total de 7.200.000 UI Doxiciclina 100 mg, VO, 2xdia, por 30 dias (exceto para gestantes); Ceftriaxona 1g, IV ou IM, 1xdia, por 8 a 10 dias para gestantes e não gestantes. Fonte: Adaptado de BRASIL, 2012 Quadro 4 - Esquema atual de tratamento da Sífilis Estágio da Sífilis Tratamento de escolha Tratamento alternativo Sifilis primária, sífilis secundária e latente recente (até um ano de duração) Penicilina G benzatina, 2.400.000 UI, por via intramuscular, em dose única – 1.200.000 UI, em cada glúteo Doxiciclina 100 mg, VO, 2xdia, por 15 dias (exceto para gestantes); Ceftriaxona 1g, IV ou IM, 1xdia, por 8 a 10 dias para gestantes e não gestantes Sífilis latente tardia (mais de um ano de duração) ou latente com duração ignorada e sífilis terciária Penicilina G benzatina, 2,4 milhões UI, IM, (1,2 milhão UI em cada glúteo), semanal, por três semanas. Dose total de 7,2 milhões UI Doxiciclina 100 mg, VO, 2xdia, por 30 dias (exceto para gestantes); Ceftriaxona 1 g, IV ou IM, 1xdia, por 8 a 10 dias para gestantes e não gestantes Neurossífilis Penicilina cristalina, 18-24 milhões UI/dia, IV, administrada em doses de 3-4 milhões UI, a cada 4 horas ou por infusão contínua, por 14 dias Ceftriaxona 2 g, IV ou IM, 1xdia, por 10 a 14 dias Fonte: Adaptado de BRASIL, 2015. No caso das mulheres gestantes, o tratamento permanece o mesmo, com excessão do uso das tetraciclinas. A penicilina é o tratamento mais utilizado por apresentar raros casos de reações adversas e alergias. Além disso, a penicilina é capaz de atravessar a barreira 20 transplacentária, mantendo altos níveis séricos, maiores que do próprio Treponema pallidum (BRASIL, 2012). A penicilina benzatina é um dos antibióticos mais antigos da história e recentemente tem passado por dificuldades em seu abastecimento mundial. O Brasil já declarou a falta do medicamento em diversas notas técnicas. Devido o seu baixo custo para produção e venda, poucas indústrias farmacêuticas produzem a droga. A demanda mundial não está sendo atendida e por isso os casos de sífilis tem tido um aumento significativo, gerando preocupação da Organização Mundial de Saúde, pois confronta as políticas adotadas (TAYLOR et al., 2016). 2.5 CONTROLE DA SÍFILIS GESTACIONAL E SEUS DESAFIOS Como já foi mencionado, a sífilis gestacional é uma doença que traz grandes preocupações para a saúde mundial. Por este motivo, no Brasil, existem políticas públicas que contribuem no cumprimento das metas estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde, por exemplo, a Rede Cegonha. Inicialmente, em 2007, o Brasil implementou o Plano Operacional para Redução da Transmissão Vertical do HIV e da Sífilis, após o Pacto pela Saúde em 2006, sendo o objetivo geral reduzir a transmissão vertical do HIV e da sífilis com vistas na eliminação da sífilis congênita em todo o território nacional. Para isso, foram estabelecidas metas específicas como aumentar a cobertura de testagem para o HIV e Sífilis no pré-natal, aumentar a cobertura de tratamento adequado nas gestantes com sífilis, incluindo o tratamento adequado dos parceiros sexuais, ampliar a cobertura das ações de profilaxia da transmissão vertical do HIV e da sífilis em gestantes/parturientes e em crianças expostas (BRASIL, 2007). Depois, a Rede Cegonha, instituída pela Portaria n° 1.449 em 24 de Junho de 2011, é uma estratégia que visa implementar uma rede de cuidados as gestantes, parturientes e puérperas que prevê todos os seus direitos reprodutivos e atenção humanizada no ciclo gravídico-puerperal e atenção integral a saúde da criança. Propõe a implementação de caderneta da gestante, teste rápido para as principais sorologias de IST, transporte e regulação dos atendimentos, acompanhamento nutricional da gestante e acompanhamento do crescimento fetal e da criança (BRASIL, 2011). Segundo Vasconcelos et al. (2016) traz diversos desafios para a implementação e sucesso do controle da sífilis, sendo o desconhecimento sobre a doença, as formas de 21 prevenção e tratamento os fatores mais comuns para adesão do tratamento. Além disso, a dor ocasiada no momento da administração e a quantidade de doses necessárias contribuem para o abandono do tratamento. Foi relatado também que a baixa condição socioeconômica também pode dificultar a adesão ao tratamento do parceiro (VASCONCELOS et al., 2016). Pode-se concluir que mesmo com os esforços do Ministério da Saúde para aumentar a cobertura do diagnóstico e tratamento da doença, alguns fatores tem influência direta e consequentemente, ainda são necessárias novas medidas. 2.6 O PAPEL DO ENFERMEIRO NO ACOMPANHAMENTO DE GESTANTES COM SÍFILIS A consulta de enfermagem é essencial para funcionamento da Rede Cegonha. O enfermeiro é apto para realizar e acompanhar o pré-natal de baixo risco na Atenção Básica desde o Decreto n° 94.406 de 1987 e deve oferecer um atendimento de qualidade e prever possíveis IST’s já na primeira consulta, com a realização do teste rápido (VDRL) e solicitação de exame sorológico na primeira consulta e após o terceiro trimestre gestacional (BRASIL, 2011; MATOS; COSTA, 2015). É importante que o enfermeiro esteja habilitado a explicar sobre a doença e suas consequências para a saúde, sem que haja a necessidade de encaminhamento para outros serviços. Além disso, o enfermeiro é responsável por realizar a notificação compulsória da sífilis na gestante, no parceiro e também da sífilis congênita, se houver. O enfermeiro atua também no tratamento da gestante, logo na primeira consulta. Após a realização de teste rápido, o enfermeiro está habilitado a prescrever e administrar a penicilina benzatina (tratamento de primeira escolha) para a gestante e para tratamento concomitante do parceiro. Em caso de alergia ao medicamento, o enfermeiro pode encaminhar a gestante/parceiro para o Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) para dessensibilização. A equipe de enfermagem deve compreender o tratamento e eventuais efeitos colaterais, para que possa aconselhar e perceber as alterações do organismo durante o tratamento (MATOS; COSTA, 2015; NUNES et al, 2017). Destacam-se ainda, as ações educativas para jovens e adultos sobre prevenção e eventuais consequências da ausência de tratamento adequado. A educação a respeito da relação sexual protegida, com o uso de preservativo é extremamente importante para a prevenção da sífilis e de outras IST’s. Além disso, o enfermeiro deve observar a 22 vulnerabilidade social e econômica do paciente, para que possa atuar conforme a realidade e se adequar a realidade. Em casos de sífilis congênita, é importante que se realize a busca ativa da criança para que o tratamento ocorra de forma adequada (MATOS; COSTA, 2015). 2.7 SÍFILIS CONGÊNITA A sífilis congênita acontece em decorrencia da disseminação hematogênica do Treponema pallidum da gestante não tratada ou inadequadamente tratada para o seu bebê, por via transplacentária (SÃO PAULO, 2008). Ainda segundo o mesmo autor, uma vez que ocorre a transmissão da sífilis, cerca de 40% dos casos podem evoluir para aborto espontâneo, natimorto e óbito perinatal. A transmissão pode ocorrer em qualquer estágio clínico que a gestante apresente, sendo possível até mesmo a transmissão no momento do parto. Além disso, as consequências da sífilis congênita podem variar de acordo com o tempo de exposição do feto e do estágio clínicoda doença materna, sendo que quanto mais avançada a infecção na mãe, menor o risco de transmissão vertical, e por isso o tratamento precoce é tão importante (SARACENI, 2005; PIRES et al., 2014). A sífilis congênita, inicialmente, pode ser assintomática e suas características variam conforme sua classificação. A SC pode ser dividida em 2 períodos: Quadro 5 - Principais sintomas da sífilis congênita e suas classificações Sintomas Sífilis Congênita Precoce (até os 2 anos de idade) Os principais sintomas são: lesões cutaneomucosas, como placas mucosas, lesões palmo-plantares, fissuras radiadas periorificiais, condilomas planos ano-genitais e hepatoesplenomegalia. Em alguns casos (mais raros), podem apresentar também lesões ósseas, manifestas por periostite e osteocondrite (ex. pseudo-paralisia de Parrot); lesões do sistema nervoso central (ex. convulsões, meningite); lesões do aparelho respiratório (pneumonia alba) e rinite sanguinolenta Além disso, segundo Saraceni et. al. (2005), a prematuridade e o baixo peso ao nascer também são sinais que podem se manifestar na sífilis congênita, estando relacionados diretamente com os óbitos fetais. Sífilis Congênita Tardia Fronte olímpica, mandíbula curva, arco palatino elevado, tríade de Hutchinson (dentes de Hutchinson, ceratite intersticial, lesão do VIII par craniano), nariz em sela, tíbia em lâmina de sabre, surdez, retardo mental e hidrocefalia. Fonte: Adaptado de SONDA et al., 2013 23 2.7.1 Diagnóstico e tratamento De acordo com o Plano Operacional para Redução da Transmissão Vertical do HIV e da Sífilis de 2007, um dos objetivos é realizar o exame VDRL duas vezes durante a gestação, porém, foi visto que somente o 1° teste é realizado por boa parte das gestantes, sendo que a 2° fase é coletada apenas em no máximo, 20% das mulheres (BRASIL, 2007). A partir de um resultado de VDRL maior que 1:8, já está indicado a investigação para sífilis congênita. A doença pode ser investigada através de microscopia de campo escuro da placenta ou cordão umbilical. Em casos onde existe a possibilidade de neurossífilis, é importante solicitar também uma punção lombar, radiografia de ossos longos, hemograma e teste anti-HIV (SONDA et al, 2013). O tratamento da sífilis congênita dependerá de quatro fatores: confirmação de sífilis gestacional, adequação ao tratamento, presença de evidências clínicas, laboratoriais e radiológicas no neonato e comparação da sorologia não-treponêmica materna e do neonato (SONDA et al, 2013). O tratamento é realizado com penicilina conforme os critérios determinados pelo Ministério da Saúde: Em casos de recém-nascido sintomático com alteração clínica, sorológica, radiológica e/ou hematológica, cuja mãe com sífilis foi adequadamente tratada, ou cuja mãe com sífilis não foi tratada ou foi inadequadamente tratada e em recém- nascido de mães tratadas, que possuem VDRL maior que o materno, ou menor ou igual ao materno sem possibilidades de seguimento clínico, ambos os casos com alterações nos exames; Recém-nascidos assintomáticos de mães incorretamente tratadas, ou de mães tratadas sem possibilidade de acompanhamento clínico, ambos os casos com exames e VDRL negativos; e em recém-nascidos, de mães tratadas, que possuem VDRL menor ou igual ao materno, com outros exames negativos. Quadro 6 - Esquema de tratamento da sífilis congênita em RN sintomático Idade Tratamento Nos primeiros 7 dias de vida Penicilina G cristalina na dose de 50.000 UI/Kg, por via endovenosa, de 12 em 12 horas. A partir dos 10 dias de vida Penicilina G cristalina na dose de 50.000 UI/Kg, por via endovenosa, 8 em 8 horas, durante 10 dias. Ou penicilina G procaína 50.000UI/Kg, via intramuscular, dose única diária, durante 10 dias. Fonte: BRASIL, 2016 24 Quadro 7 - Esquema de tratamento da sífilis congênita em RN assintomático Idade Tratamento Com menos de 30 dias de vida Penicilina G benzatina, 50.000 UI/Kg, dose única, intramuscular Com mais de um mês de vida Penicilina G cristalina, de 4 em 4 horas ou penicilina G procaína de 12 em 12 horas, durante 10 dias. Fonte: BRASIL, 2016 Após a realização do tratamento, é importante que seja realizado o seguimento do caso, sendo que este consiste em consultas ambulatoriais mensais até os 6 meses de vida e bimensais dos 6 aos 12 meses. O exame de VDRL deverá ser realizado com 1 mês, 3, 6, 12 e 18 meses de idade, sendo que após 2 resultados negativos, o seguimento pode ser interrompido. Após os 18 meses, recomenda-se realizar o exame TPHA ou FTA-Abs para confirmação do caso. Além, é recomendável que consultas oftalmológicas, neurológicas e audiológicas sejam realizadas a cada 2 anos (BRASIL, 2016). 25 3 OBJETIVOS 3.1 OBJETIVO GERAL Descrever o perfil epidemiológico das gestantes com diagnóstico de sífilis atendidas na Rede Municipal de Saúde de Campo Grande/Mato Grosso do Sul (REMUS/MS) no período de 2011 a 2017. 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS a) Determinar a ocorrência de sífilis gestacional e congênita; b) Caracterizar as gestantes quanto a idade, estado civil, raça/cor, escolaridade e trimestre gestacional de diagnóstico de sífilis; c) Identificar as fases clínicas de maior frequência da sífilis em gestantes e o esquema de tratamento prescrito as gestantes e aos seus parceiros sexuais; d) Listar os motivos para o não tratamento do parceiro sexual; 26 4 MATERIAL E MÉTODO 4.1 TIPO DE ESTUDO Trata-se de uma pesquisa descritiva, transversal, retrospectiva, quantitativa com dados secundários. Os estudos transversais medem a prevalência da doença e, por essa razão, são frequentemente chamados de estudos de prevalência (BONITA; BEAGLEHOLE; KJELLSTROM, 2010). Sendo assim, os estudos transversais descrevem uma situação ou fenômeno em um momento não definido, e é utilizado quando a exposição é relativamente constante no tempo e o efeito (ou doença) é crônico (HOCHMAN et al., 2005). Portanto, esse modelo apresenta-se como uma fotografia ou corte instantâneo que se faz de uma população por meio de uma amostragem, examinando-se nos integrantes da casuística ou amostra, a presença ou ausência da exposição e a presença ou ausência do efeito ou doença (HOCHMAN et al., 2005). São úteis para enfatizar as características de determinada população e seus hábitos de vida relacionados a saúde, além de ser um método barato e de fácil condução (BONITA; BEAGLEHOLE; KJELLSTROM, 2010). Os estudos descritivos são baseados em como é e como está determinada situação, neste caso, busca trazer qual a situação atual dos casos de sífilis em gestantes na cidade de Campo Grande. Estudos descritivos são o primeiro passo para hipóteses que buscam explicar algo e servem de subsídio para estudos posteriores (ANDRADE, 2015). 4.2 LOCAL E PERÍODO DA PESQUISA O estudo foi realizado no período de julho de 2017 a novembro de 2018 no Município de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. No estado de Mato Grosso do Sul, a economia gira em torno do comércio, pecuária e agroindústria. Porém, segundo SISGRAN (2010), 4,59% da população vive abaixo da linha da pobreza (com menos de R$ 140,00). A capital do estado de Mato Grosso do Sul é Campo Grande, que está localizado na região Centro Oeste. Possui área de 8.092,95 km² e segundo o Censo de 2010, possuí 786.797 mil habitantes, sendo que de 1970 a 2000, a população de Campo Grande se tornou 5 vezes maior. Campo Grande é composta por 74 bairros e está dividido em 7 regiões, o Centro, Anhanduizinho, Segredo, Prosa, Bandeira, Lagoa e 27 Imbirussu, além da área rural. A região do Anhanduizinho é a mais populosa e conta com 185.558 mil habitantes (SISGRAN, 2010). 4.3 POPULAÇÃO/AMOSTRA Todas as fichas de notificação de sífilis gestacional preenchidas e inseridas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) no período de janeirode 2011 a dezembro de 2017 pelas instituições de Saúde que compõem a Rede Municipal de Saúde de Campo Grande, Mato Grosso do Sul Foram incluídas nesta pesquisa as mulheres a partir da adolescência, ou seja, a partir dos 10 anos de idade conforme definição da OMS (2011). 4.3.1 Critérios de inclusão a) Casos de sífilis gestacional confirmada com teste treponêmico e/ou não treponêmico reagentes; b) Residentes em Campo Grande/Mato Grosso do Sul; c) Mulheres a partir dos 10 anos de idade atendidas na REMUS. 4.3.2 Critérios de exclusão a. Casos de sífilis gestacional fora do período estabelecido; b. Casos de sífilis em gestantes residentes em outros municípios diferentes de Campo Grande; c. Casos de sífilis gestacional em gestantes residentes em áreas rurais e periurbanas; d. Casos de cicatriz sorológica em gestantes. 4.4 COLETA DE DADOS A Ficha de Notificação de Sífilis Gestacional (ANEXO A) é preenchida por todos os profissionais de saúde no momento de diagnóstico da presença da doença na gestante, geralmente após o teste rápido no pré-natal. A ficha de notificação é realizada por meio de entrevista individual, e preenchida em 2 vias: uma via fica na unidade que notificou o caso e 28 uma deve ser encaminhada para o setor municipal responsável pela Vigilância Epidemiológica ou Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissiveis (DANT), para digitação e consolidação dos dados. Desta forma, a pesquisadora estará coletando os dados já preenchidos, arquivados e transmitidos ao SINAN (dados secundários). Para a coleta de dados foi criado um instrumento adaptado da Ficha de Notificação de Sífilis Gestacional (ANEXO B) para guiar na seleção dos dados do SINAN. As variáveis do estudo foram: dados sócio-demográficos (idade, raça/ cor, estado civil, escolaridade e trimestre gestacional no momento de diagnóstico da sífilis); dados clínicos, de diagnóstico e de tratamento da gestante (classificação clínica, resultado de teste treponêmico e não- treponêmico, terapêutica utilizada) e dados de tratamento do parceiro (realização do tratamento, terapêutica utilizada e motivo para o não tratamento). Estes dados foram coletados de janeiro a abril de 2018. 4.5 ANÁLISE DOS DADOS Após a coleta os dados foram transcritos e organizados em planilhas por meio do programa Microsoft Excel® 2010. Posteriormente, as informações foram analisadas estatisticamente por meio por meio do programa estatísticos Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 24. Os resultados deste estudo foram apresentados na forma de estatística descritiva por meio de tabelas. 4.6 ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS A pesquisa foi desenvolvida de acordo com as normas da Resolução 466/12 (BRASIL, 2013) do Conselho Nacional de Saúde e o projeto submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos (CEP) da Fundação Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). Por tratar-se de pesquisa em fonte de dados secundária foi solicitada dispensa do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ao CEP/UFMS, bem como foi encaminhado o Termo de Compromisso de Manuseio de Informações de Banco de Dados (ANEXO C) assinado pela pesquisadora, Mestranda Caroliny Oviedo Fernandes . 29 Este estudo faz parte de um projeto maior intitulado “Perfil epidemiológico das mulheres atendidas na Rede Municipal de Saúde de Campo Grande/Mato Grosso do Sul ”, coordenado pela orientadora Profª. Drª. Maria Auxiliadora de Souza Gerk . O mesmo foi aprovado pelo CEP/UFMS sob o parecer nº 2.166.457, CAAE nº 69740517.8.0000.0021 (ANEXO D) e autorizado pela Secretaria Municipal de Saúde Pública de Campo Grande, Mato Grosso do Sul – SESAU (ANEXO E). 30 5 RESULTADOS Foram diagnosticados 2056 casos de sífilis gestacional, sendo o ano de 2017 com a maior frequência (515/25%), quatro vezes maior que 2011 (130/6,4%) e 1,3 vezes que 2016 (398/19,4%). Tabela 1 - Distribuição de casos de sífilis gestacional de acordo com o ano de ocorrência notificadas nos serviços de saúde, entre os anos de 2011 a 2017, Campo Grande/Mato Grosso do Sul, 2018. (n=2056) Ano n % 2011 130 6,3 2012 193 9,4 2013 249 11,8 2014 243 11,4 2015 328 16,0 2016 398 19,4 2017 515 25,0 A idade predominante das mulheres foi de 20 a 29 anos (1034/50,3%), sendo que 153 (7,4%) gestantes tinham 19 anos e portanto, consideradas adolescentes segundo da Organização Mundial de Saúde. Em relação a raça/cor, prevaleceram as negras (1289/62,7%), seguido das brancas (605/29,4%). Quanto a escolaridade, quando indicada, foi visto que poucas possuíam formação superior sendo que a maioria possuía até 12 anos de estudo (1543/96,4%). Do total, 1173 gestantes (57,1%) tiveram o diagnóstico de sífilis tardiamente (2° e 3° trimestre gestacional). Um terço das gestantes residia na região Anhanduizinho (699/34%). 31 Tabela 2 - Características sociodemográficas das gestantes com sífilis notificadas nos serviços de saúde, entre os anos de 2011 a 2017, Campo Grande/Mato Grosso do Sul, 2018 (n=2056) Variáveis n % Idade De 10 a 19 anos 533 25,9 20 a 29 anos 1034 50,3 30 a 39 anos 435 21,2 40 anos ou mais 54 2,6 Cor da pele Amarela 16 0,8 Indígena 23 1,1 Preta 129 6,3 Branca 605 29,4 Parda 1160 56,4 Escolaridade Até 9 anos 843 41,0 De 10 a 12 anos 700 34,0 Mais de 12 anos 57 2,8 Trimestre gestacional Primeiro 714 34,7 Segundo 617 30,0 Terceiro 556 27,0 Ignorado/informado 169 8,2 Região de residência Anhanduizinho 699 34,0 Bandeira 286 13,9 Centro 49 2,4 Imbirussu 218 10,6 Lagoa 344 16,7 Prosa 167 8,1 Segredo 282 13,7 Quanto à fase clínica da doença, foi visto que a maioria foi classicada como latente (510/24,8%) seguido por primária (354/17,2%). Porém, foram encontrados muitos dados ignorados e não informados (562/27,3%). Tabela 3 - Fase clínica da sífilis nas gestantes notificadas nos serviços de saúde, entre 2011 e 2017, Campo Grande/Mato Grosso do Sul, 2018. (n=2056) Fase clínica n % Primária 354 17,2 Secundária 40 1,9 Terciária 590 28,7 Latente 510 24,8 Ignorado/não informado 562 27,3 32 Quanto aos testes realizados para detecção da infecção, foram utilizados testes treponêmicos (confirmatórios) e não treponêmicos. Os testes treponêmicos foram os mais utilizados com 1872 (91,1%) resultados reagentes. Já entre os testes não treponêmicos, 417 (20,3%) não foram realizados. Tabela 4 - Testes realizados para detecção de sífilis nas gestantes notificadas nos serviços de saúde, entre 2011 e 2017, Campo Grande/Mato Grosso do Sul, 2018. (n=2056) Variáveis n % Teste treponêmico Reagente 1877 91,1 Não-reagente 29 1,4 Não realizado/ignorado 155 7,5 Teste não treponêmico Reagente 1254 61,0 Não reagente 260 12,6 Não realizado/ignorado 417 20,3 Após confirmação da infecção e da fase clínica apresentada, o tratamento foi prescrito. Porém, foram encontrados dados que não condizem com a fase clínica, sendo assim considerados de tratamento inadequado. Além disso, pode ser observado que em muitos casos (204/9,9%) o tratamento não foi realizado, indo contra as recomendações do Ministério da Saúde. Menos da metade das mulheres (1006/49%) foram consideradas adequadamente tratados em relação a dose de penicilina e fase clínica da gestante. Tabela 5 - Proporção do esquema terapêutico realizado para sífilis nas gestantes notificadas nos serviços de saúde, entre 2011 e 2017, Campo Grande/Mato Grosso do Sul, 2018. (n=2056) Tratamento da gestante n % Adequado 1006 48,7 Inadequado 846 41,1 Não realizado 204 9,9 Além disso, em apenas 51,4% dos casos o parceiro realizou o tratamento juntamente com a gestante. Quanto ao tratamento do parceiro, a grande maioria apresentou tratamento inadequado (alguns pelos mesmos motivos da gestantes como doseequivocada para a fase clínica) sendo estes 38,9% (803 casos), seguido de tratamento não realizado (684/33,1%) e tratamento adequado com poucos casos, somente 27,5% (569 casos). 33 Tabela 6 – Realização de teste confirmatório para sífilis e esquema de tratamento prescrito aos parceiros, entre 2011 a 2017, Campo Grande/Mato Grosso do Sul, 2018. (n=2056) Variáveis n % Realização do teste Sim 1056 51,4 Não 873 42,5 Ignorado/não informado 127 6,2 Esquema terapêutico Adequado 569 27,5 Inadequado 803 38,9 Não realizado 684 33,1 A ficha de notificação com relação ao parceiro é composta de seis itens: 1) ausência de contato, 2) parceiro comunicado, mas não compareceu, 3) parceiro não informado sobre a doença, 4) parceiro realizou os testes, porém apresentou resultado não reagente, 5) parceiro recusou, e 6) parceiro apresentou outro motivo. A ausência de contato foi o motivo mais encontrado (365/17,8%). Entre os outros motivos, estes são descritos como observação na ficha de notificação e trouxeram variáveis como paciente institucionalizado, diagnóstico tardio, alergia a penicilina, entre outros. Foi visto que mesmo com a vasta possibilidade de motivos para o não tratamento do parceiro, a grande maioria não foi justificada, sendo não informada no ato da notificação (1144/55,6%). Foi visto que alguns casos não foram preenchidos corretamente, sendo que muitos dados foram descritos posteriormente nas observações. 34 Tabela 7 - Motivo de não tratamento do parceiro encontrados e notificados nos serviços de saúde, entre 2011 e 2017, Campo Grande/Mato Grosso do Sul, 2018. (n=2056) Variáveis n % Motivos descritos na ficha Ausência de contato 365 17,8 Não compareceu 135 6,6 Não comunicado 16 0,8 Não reagente 66 3,2 Recusou 50 2,4 Outro 264 12,8 Não informado 1160 56,4 Outros motivos (observação) Aborto 7 0,3 Alergia 5 0,2 Ausência de contato 419 20,4 Cicatriz 14 2,3 Diagnóstico tardio 105 5,1 Institucionalizado 28 1,4 Não compareceu 142 6,9 Não comunicado 28 1,4 Não reagente 66 3,2 Óbito 4 0,2 Particular 1 0,0 Recusou 59 2,9 Não informado 1144 55,6 Quanto ao desfecho dos casos de sífilis gestacional, a tabela abaixo mostra que dos 100% de casos notificados com sífilis gestacional (sem a aplicação de nenhum critério de exclusão), 40,22% resultaram em sífilis congênita. Tabela 8 - Relação de casos de sífilis gestacional e de sífilis congênita encontrados e notificados nos serviços de saúde, entre 2011 e 2017, Campo Grande/Mato Grosso do Sul, 2018 Variáveis n % Sífilis gestacional 2255 100,0 Sífilis congênita 907 40,2 35 6 DISCUSSÃO O presente estudo trouxe diversos achados importantes de caracterização da população de gestantes mais acometidas por sífilis. Estudos como este se fazem de suma importância no sentido de conhecer a população acometida e assim, contribuir para a criação e implementação de novas medidas de prevenção e controle (TRAVAIM et al, 2017). O perfil sociodemográfico predominante neste estudo inclui mulheres adultas jovens, pardas, com baixa escolaridade e residentes da região sanitária Anhanduizinho. A atenção ao pré-natal é destacada como sendo fundamental para avaliar a qualidade da assistência, conhecer o perfil sociodemográfico das mulheres e promover o melhor desfecho para a gestante e para o concepto no pós parto (NUNES et al., 2017; VIELLAS et al., 2014). O diagnóstico da sífilis durante a gestação tiveram seus números quadriplicados nos últimos anos, sendo 130 (6,4%) em 2011 e 515 (25%) em 2017 e este número pode ser atribuído ao aumento no número de notificações e, consequentemente, a qualidade das ações de vigilância epidemiológica direcionadas a saúde da mulher durante o pré-natal (LIMA et al., 2017). A meta de redução dos casos, instituída pelo MS, trazia que até 2015, o número de casos de sífilis congênita deveria ser menor que 0,5 caso/1000 nascidos vivos. Porém, este estudo mostrou que houve um grande aumento ao longo dos anos, principalmente de 2015 a 2017, o que contraria totalmente a meta posta pelo MS (BRASIL, 2014). Quanto à idade, durante o período do estudo foi visto que o maior número de casos ocorreu entre mulheres gestantes na faixa etária de 20 a 29 anos, que confirma o encontrado por Nonato et al. (2015) e Domingues et al. (2014), sendo que esta faixa etária traz preocupações aos serviços de saúde por ser justamente o período de idade fértil da mulheres. Além disso, nesse estudo observou-se um número elevado de casos de gestantes com sífilis menores de 19 anos, com 533 casos (25,8%), e acrescenta esta faixa etária na categoria de risco para adquirir a doença, sendo que em 2014, este número não passou dos 20% (18,2%) (VIELLAS et al., 2014). Ainda segundo Viellas et al (2014), o aumento no número de notificações de gestantes adolescentes, de baixa escolaridade (ainda em idade escolar), nos chama a atenção pelo fato de que estas tem iniciado a vida sexual mais cedo e de forma desprotegida. Percebe-se também uma melhoria quanto a eficácia dos programas de saúde e vigilância (VIELLAS et al., 2014). Neste contexto, pode-se afirmar que falar sobre o tema é de extrema importância para garantir a prevenção. O uso de preservativo deve ser incentivado mesmo que este assunto 36 ainda seja tabu dentro do ambiente escolar. Orienta-se ainda que as ações incentivem as adolescentes a iniciar a vida sexual mais tarde, pois é quando estas adolescentes terão maior conhecimento sobre os riscos de doenças e sobre os métodos contraceptivos e protetivos, sendo a educação sexual de extrema importância neste contexto (BRASIL, 2012; SARACENI et al., 2005; SILVA; BENITO, 2016). Em relação a raça/cor das gestantes, os resultados deste estudo trouxeram que a maioria dos casos acontecem em gestantes pardas, sendo 1160 (56,4%), seguido por 605 (29,4%) brancas. Constata-se também um número considerável de gestantes indígenas, com 23 casos (1,1%) visto que o acesso a saúde e pré-natal nessa população é dificultado pela distância do serviço e fatores culturais. Estes resultados vão em concordância com os resultados encontrados em outros estudos, onde as mulheres pardas se demonstraram a maioria e as mulheres indígenas correspondiam a uma proporção menor, uma vez que também são minoria comparadas a população geral (DANTAS et al., 2017; DOMINGUES et al., 2014). No Brasil, o ensino fundamental possuí 9 anos de duração, período este compreendido do 1° ao 9° ano. O ensino médio corresponde a 3 anos, sendo colocado então 12 anos de estudo. As mulheres com baixa escolaridade (aquelas com menos de 9 anos de formação) são a maioria das acometidas pela sífilis gestacional. Neste estudo, as mulheres com formação de até 9 anos predominaram com 843 casos (41%), seguido pelas mulheres que concluiram de 10 a 12 anos 700 casos (34%). As gestantes com educação superior apresentaram-se em menor número, são 57 (2,8%), já que se espera que essas mulheres tenham conhecimento acerca dos métodos de prevenção e da importância do tratamento, durante o pré-natal (FIGUEIRÓ- FILHO, 2011). Outros estudos relatam que pessoas com menor escolaridade estão mais suceptíveis a doenças infectocontagiosas, principalmente pela falta de informação a respeito da prevenção (AQUINO; SILVA, 2015; SOUZA; BENITO, 2016). Em estudo nacional, foi encontrado que mulheres com baixa escolaridade foram 3 vezes mais acometidas pela sífilis gestacional (DOMINGUES et al., 2014). Em Campo Grande, a região com o menor índice de qualidade de vida é a região do Anhanduizinho. Esta região, concentrou os maiores achados de sífilis neste estudo, sendo 699 casos (34%) e é a região com a menor densidade demográfica, a pior renda per capita e taxa de alfabetismo e a maior vulnerabilidade econômica (CAMPO GRANDE, 2013). Mais uma vez,é evidenciado a vulnerabilidade em todas as esferas (econômica, social e geográfica) das gestantes mais acometidas com sífilis durante a gestação. Na região Lagoa foram 344 casos 37 (16,75). Ainda, no último relatório de Campo Grande (2013), esta região figurava em terceiro lugar em índice de qualidade de vida. Apesar da sifilis gestacional apresentar seu perfil voltado para as classes vulneráveis, este estudo mostrou que todas as populações necessitam de informações sobre a doença e seus métodos de prevenção independente das questões que tangem os determinantes sociais de saúde. Com a implantação do Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN), com as constantes ações e investimentos da Vigilância Epidemiológica, e com a ampliação do acesso ao serviço de saúde (principalmente com as equipes de Estratégia de Saúde da Família), os números de notificações de sífilis gestacional aumentaram consideravelmente. Uma vez mais investigados, os casos de sífilis quintuplicaram nos últimos 5 anos. Estima-se que 94% das gestantes das Américas, comparecem a pelo menos uma consulta pré-natal, porém, o preconizado pelo MS são seis consultas (PAHO, 2016). No caso da região Centro-Oeste, foi visto em estudo do ano de 2014 que a realização da assistência pré-natal foi de 98,7%, evidenciando uma ótima cobertura pré-natal, o que comprova a adesão das gestantes a rede de saúde da mulher (VIELLAS et al., 2014). O pré- natal é um momento de grande importância para a vida da mulher e do seu concepto, e é neste momento que dentre os vários exames que se realiza a essa atenção, esta o teste VDRL já na primeira consulta e posteriormente outro teste no 3° trimestre de gestação (FIGUEIRÓ- FILHO, 2011). Neste estudo, foi encontrado que 714 (34,7%) gestantes se encontravam no 1° trimestre gestacional no momento do diagnóstico e consequentemente da notificação. O diagnóstico no início da gestação é fundamental para que o tratamento seja realizado de maneira adequada e que haja uma diminuição nos riscos de transmissão vertical. Dentre as investigadas, 617 gestantes (30%) estavam no 2° trimestre e 556 (27%) estavam no 3° trimestre da gestação. Estes dados demonstram que apesar da alta cobertura de pré-natal, isto não garante qualidade, visto que menos da metade das gestantes recebe o tratamento correto e muitas ainda iniciam as consultas após o 1° trimestre gestacional. Vale destacar ainda, que em 169 (8,2%) casos, os dados foram ignorados ou não informados, o que pode demonstrar uma falha nas notificações, pois é dever do profissional notificar os dados de forma correta, para que sejam um importante aliado na prevenção das doenças. As consequências e gravidade da sífilis congênita variam de acordo com o tempo de exposição do feto e a fase clínica da mãe no momento de transmissão. Segundo Saraceni et al. (2005), quanto mais avançada a infecção, menor o risco de transmissão. Em números, a taxa 38 de infecção materna varia de 70 a 100% nas fases primárias e secundária e somente 30% nas fases terciária e latente (BRASIL, 2006). Nesta pesquisa, a fase clínica mais encontrada foi a terciária, em 590 gestantes (28,7%), diferentemente de estudos anteriores. Gestantes classificadas na fase latente foram 510 (24,8%), resultado parecido com o encontrado no estudo de Dantas et al. (2017) onde foram 25% (3 do total de 12 casos) com sífilis latente. Os casos ignorados ou não informados foram 562, equivalente a 27,3%, número extremamente alto e que pode ser entendido como a falta de conhecimento do profissional acerca dos sinais e sintomas de cada fase clínica ou classificações feitas de maneira equivocada, não sendo realizada a devida investigação dos casos. O fato é que quanto mais avançada é a fase clínica, maior é a dose de tratamento com Penicilina Benzatina e maior a necessidade de formação de vínculo com a gestante para que ela não abandone o tratamento e consiga também, informar o parceiro da necessidade de todas as doses prescritas. Quanto aos testes realizados para detecção e confirmação da sífilis, predominaram os testes treponêmicos, com 1901 (92,5%) realizações seguidos dos testes não-treponêmicos, com 1514 testes (73,6%), Isto significa que os testes treponêmicos foram os testes de primeira escolha justamente por sua característica de teste rápido, com menor custo e eficazes. Conforme recomendação do MS, os testes rápidos devem ser realizados já na primeira consulta pré-natal, com leitura imediata para que a detecção da infecção na gestante e no parceiro sejam tratadas da forma mais rápida possível (BRASIL, 2012). Apesar de ser o teste de escolha, não deve ser o único teste a ser realizado, principalmente por conta da importância da titulação encontrada em testes não treponêmicos (AVELLEIRA; BOTTINO, 2006). Neste estudo, foi visto que muitas gestantes apresentaram altas titulações, indicando assim, fases iniciais da doença e trazendo riscos maiores de transmissão vertical, pois o número de espiroquetas circulantes é maior (VERONESI, 2009). Como já citado, o tratamento da sífilis é feito com Penicilina Benzatina. A dose é prescrita de acordo com a fase clínica da doença na gestante, e teve uma alteração em sua dose no ano de 2015. Por este motivo, sua classificação foi realizada de acordo com a adequação ou não do tratamento prescrito a gestante. Para que a gestante seja considerada adequadamente tratada, o tratamento deverá ser finalizado até 30 dias antes do parto, ser realizado concomitantemente com o tratamento do parceiro e com Penicilina G Benzatina com a dose equivalente a fase clínica apresentada pela gestante no momento do diagnóstico (CAMPOS et al., 2010). Neste estudo observou-se que menos de 50% (1006 casos) das gestantes receberam o tratamento de forma correta, evidenciando assim, uma problemática os 39 casos de transmissão vertical. Teixeira et al. (2015) trazem em seu estudo que das 39 investigadas, somente 21% das gestantes realizaram o tratamento adequado, 36% realizaram tratamento inadequado, em 15% o tratamento não foi realizado e em 28% esta informação foi ignorada. Com isto, pode-se evidenciar que existe uma deficiência da assistência pré-natal quanto ao tratamento, pois os casos estão sendo detectados e notificados, porém, não recebem o tratamento correto. Isto pode significar uma grande falta de conhecimento dos profissionais quanto ao esquema de tratamento preconizado pelo MS. Foi visto que muitos casos em fase primária e secundária foram tratados como terciária. Isto contribui para os gastos desnecessários de penicilina benzatina e favorece a falta do remédio no serviço de saúde, visto a sua crise mundial como já foi explicado anteriormente. Segundo Dantas et al. (2017), quanto ao tratamento do parceiro sexual viu-se que existe uma grande resistência na sua realização. Resistência essa tanto do parceiro, quanto do profissional que acompanha o período. Neste estudo, foi possível verificar que 873 (42,5%) parceiros não realizaram o teste confirmatório para sífilis e 127 (6,2%) sequer foram informados da importância deste. A construção histórica acerca da saúde do homem pode ser um fator para esta resistência, pois o papel designado ao homem era o de provedor da família, sendo que este não adoecia e até hoje, muitos homens acreditam que não precisam de prevenção em saúde. Além do mais, falar de IST é considerado tabu, podendo ser considerado como traição da mulher, o que leva muitas ao medo de informar o parceiro que está infectada e isto dificulta o seu tratamento e favorece sua reinfecção (CAMPOS et at., 2012). A população masculina também carece de cuidados, porém, muitos profissionais ainda não estão habilitados a recebê-los nos serviços de saúde, pois exigem abordagem diferenciada e muitos não sabem conduzir um plano terapêutico individual para esta população específica (LIMA et al., 2017).