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ROTAVÍRUS e-Book DICA! Veja como aproveitar ao máximo o seu e-Book! SUMÁRIO: Acesse rapidamente o sumário sempre que quiser ir diretamente para outro capítulo. QR CODE: Aponte a câmera do seu celular para o QR code e clique no link. DICA! Veja como aproveitar ao máximo o seu E-book! SUMÁRIO: Acesse rapidamente o sumário sempre que quiser ir diretamente para outra temática. QR CODE: Aponte a câmera do seu celular para o QR code ou clique no link.Ao longo do seu E-book, você observará o ícone do SUMÁRIO, no canto superior da tela, à direita - basta clicar e ele irá te direcionar ao sumário inicial. No decorrer do E-book você irá observar a presença de um QR Code, o qual, ao apontar a câmera do seu celular, te direcionará para os Materiais Complementares da Trilha de Conhecimento ou para links da web, que são relevantes para o aprofundamento do tema estudado. 2023. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde. Esta obra é disponibilizada nos termos da Licença Creative Commons – Atribuição – Não Comercial – Compartilhamento pela mesma licença 4.0 Internacional. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte. A coleção institucional do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde pode ser acessada, na íntegra, na Câmara Brasileira do Livro (CBL) - https://www.cblservicos.org.br Elaboração, distribuição e informações: MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente - SVSA SRTV 702, Via W5 Norte Edifício PO 700, 7º andar CEP: 70723-040 – Brasília/DF Tel.: (61) 3315-3777 E-mail: gabnetesvsa@saude.gov.br CONSELHO NACIONAL DE SECRETARIAS MUNICIPAIS DE SAÚDE – Conasems Esplanada dos Ministérios, Bloco G, Anexo B, Sala 144 Zona Cívico-Administrativo, Brasília/DF CEP: 70058-900 Tel.:(61) 3022-8900 Núcleo Pedagógico Conasems Rua Professor Antônio Aleixo, 756 CEP 30180-150 Belo Horizonte/MG Tel: (31) 2534-2640 Diretoria Conasems Presidente Hisham Mohamad Hamida Vice Presidente Nilo César Do Vale Baracho Sayonara Moura De Oliveira Cidade Diretor Administrativo Marcel Jandson Menezes Diretor Financeiro Cristiane Martins Pantaleão Secretário Executivo Mauro Guimarães Junqueira Organização: Núcleo Pedagógico do Conasems Supervisão-geral: Rubensmidt Ramos Riani Coordenação Pedagógica Cristina Fatima dos Santos Crespo Valdívia França Marçal Coordenação Educacional Kelly Cristina Santana Coordenação-técnica: Edilson Correa de Moura Luisa Wenceslau Elaboração de texto: Wellington Luiz Rodrigues Magalhaes Designers Instrucionais: Jacqueline Cristina dos Santos Lais Soares Pereira German Pollyanna Lucarelli Coordenação de desenvolvimento gráfico: Cristina Perrone Diagramação e projeto gráfico: Aidan Bruno Alexandre Itabayana Bárbara Napoleão Bruno Vianna Caroline Boaventura Elen Eres Alves Lucas Mendonça Ygor Baeta Lourenço Fotografias e ilustrações: Fototeca do Conasems Imagens: Envato Elements https://elements.envato.com Freepik https://br.freepik.com Revisão linguística: Keylla Manfili Fioravante Assessoria executiva: Conexões Consultoria em Saúde Ltda. Tiragem: 1ª edição – 2023 – versão eletrônica Brasil. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde Ebook Rotavírus [livro eletrônico] / Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde ; [elaboração de texto Wellington Luiz Rodrigues Magalhaes]. -- 1. ed. -- Brasília, DF : CONASEMS, 2023. PDF Vários colaboradores. Bibliografia. ISBN 978-85-63923-40-0 1. Doenças imunológicas - Prevenção 2. Educação a distância 3. Rotavírus I. Magalhaes, Wellington Luiz Rodrigues. II. Título. CDD-614.4 23-173673 NLM-WA-100 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Índices para catálogo sistemático: 1. Epidemiologia : Saúde pública 614.4 Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129 https://www.cblservicos.org.br Siglas ANVISA | Agência Nacional de Vigilância Sanitária. ESPGHAN | The European Society for Paediatric Gastroenterology Hepatology and Nutrition. IgA | Imunoglobulina A. MS | Ministério da Saúde. nm | Unidade de medida de comprimento do sistema métrico (bilionésimo de metro ou milionésimo de milímetro). NSP | Proteína Não-estrutural. OMS | Organização Mundial da Saúde. PCR | Técnica baseada na Reação em Cadeia da Polimerase. PNI | Programa Nacional de Imunização. RV | Rotavírus. SUS | Sistema Único de Saúde. VP | Proteína viral. Figura 1|Representação gráfica 3D de vírions de Rotavírus (partículas virais). – pág 14 Figura 2| Representação esquemática da estrutura da partícula de Rotavírus. - pág 21 Tabela 1| Características das vacinas Rotarix e RotaTeq contra o rotavírus. - pág 64 Tabela 2| Manifestações extraintestinais da infecção por Rotavírus. - pág 82 Lista de Figuras e Tabelas 08 11 22 29 32 45 38 Introdução A Doença Histórico Inicial Transmissão Diagnóstico Sintomatologia 57 Tratamento Prevenção 71 85 Efeitos Adversos Conclusão 88Bibliografia BOAS- VINDAS Neste E-book descreveremos os aspectos históricos, epidemiológicos e clínicos da infecção pelo vírus da Rotavírus, seu impacto na humanidade e as medidas de tratamento e de prevenção disponíveis. Além do E-book, você também terá acesso à Teleaula, à Aula Web e a outros Materiais Complementares que compõem a Trilha de Conhecimento. Este é o seu E-book de Rotavírus. Bons estudos! 7 Introdução A diarreia continua sendo um importante problema de Saúde Pública no mundo. Nos países em desenvolvimento, cerca de 12 ou mais episódios anuais de diarreia ocorrem nos primeiros cinco anos de vida da criança. Anualmente, aproximadamente, 4,6 milhões de mortes pediátricas (em torno de 25 a 30% de todos os óbitos entre crianças menores de 5 anos), podem ser atribuídas à diarreia aguda. 4,6 milhões de crianças morrem, anualmente, em decorrência da diarreia aguda. 9 Apesar de vivermos na era dos satélites e da nanotecnologia, uma fração significativa da população humana global ainda está ameaçada por doenças diarreicas. O agente viral mais notável são os Rotavírus, uma das principais causas de Gastroenterite infantil em todo o mundo, tanto em países desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento. Esse patógeno infecta não apenas crianças, mas, também, adultos, e a infecção pode ocorrer repetidamente em humanos, do nascimento à velhice. As crianças pequenas são os sujeitos mais vulneráveis e a prevalência da infecção difere de acordo com a idade, sendo significativamente maior no grupo com menos de dois anos de idade. Em razão desse cenário, este curso tem o objetivo de aprofundar os seus conhecimentos sobre os Rotavírus como agentes etiológicos virais responsáveis por um número expressivo de casos de diarreia. Falaremos dos sintomas, do diagnóstico, do tratamento e da prevenção. Muitos agentes diferentes, incluindo vírus, bactérias e parasitas podem causar diarreia aguda. Convidamos você a nos acompanhar nesta jornada! 10 A doença Começaremos nossa conversa sobre Rotavírus, relembrando o que são vírus. Os vírus são parasitas intracelulares compostos por um genoma de Ácido Nucléico (RNA ou DNA), que está envolto em uma partícula de capsídeo protéico e/ou envelope lipídico. A replicação do genoma e a montagem do vírion são processos centrais nos ciclos de vida de todos os vírus. Em muitos casos, um vírus, primeiramente, fará várias cópias de seu genoma e, em seguida, empacotará essas cópias em capsídeos ou envelopes virais recém-formados. A partícula do vírus se liga à célula hospedeira antes de penetrá-la. Dessa forma,o vírus usa a maquinaria da célula hospedeira para replicar seu próprio material genético e, uma vez que a replicação tenha sido completada, suas partículas deixam o hospedeiro por brotamento ou explosão para fora da célula (lise). 12 À medida que a partícula viral recém-formada empurra a membrana plasmática da célula hospedeira, uma porção adere a ela. A membrana plasmática envolve o vírus e se torna o envelope viral. O vírus, então, é liberado da célula. Esse processo consome lentamente a membrana celular do hospedeiro e, geralmente, leva à morte celular. As partículas de vírus saem da célula hospedeira para o espaço extracelular, resultando na morte da célula hospedeira e, uma vez que tenha escapado, está pronto para entrar em uma nova célula e se multiplicar. 13 Em 1978, o nome Rotavírus foi oficialmente aceito pelo Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus. Na década de 1950 o Rotavírus foi descoberto em swabs retais de macacos. As descobertas a respeito desse vírus se deu ao longo de duas décadas: Em 1973, Bishop e colaboradores observaram, também, por meio de Microscopia Eletrônica, no epitélio duodenal de crianças com diarreia, um vírus de 70 nm. Em 1974, Thomas Henry Flewett sugeriu o nome Rotavírus, devido a sua aparência característica de roda quando observado ao microscópio eletrônico. Na década de 1960, foi descoberto em biópsia intestinal de camundongos por microscopia eletrônica. Figura 1: Representação gráfica 3D de vírions de Rotavírus (partículas virais). Fonte: Biblioteca de Imagens de Saúde Pública (CDC, 2022). Disponível em: https://www.cdc.gov/rotavirus/about/photos.html. Acesso em: 29 out. 2022. 14 Ruth Bishop é uma virologista australiana. Ela e sua equipe do Royal Children's Hospital, em Melbourne, identificaram, pela primeira vez, o que hoje é conhecido como Rotavírus, no fluido intestinal de crianças com Gastroenterite não bacteriana. Essa descoberta, bem como seu trabalho posterior no desenvolvimento de uma vacina, lhe rendeu a Medalha Florey, em 2013, tornando-a a primeira mulher a receber o prestigioso reconhecimento biomédico. A equipe de Bishop também desenvolveu um teste para diagnosticar a infecção por Rotavírus e entender melhor como o sistema imunológico responde ao vírus. Ao falarmos de Rotavírus, Ruth Bishop será sempre lembrada! 15 Fonte: https://www.abc.net.au/news/2013-10-28/scientist-recognised-for-developing-rotavirus-vaccine/5050610 Acesso em: 18 jan. 2023. https://www.abc.net.au/news/2013-10-28/scientist-recognised-for-developing-rotavirus-vaccine/5050610 Antes dessa descoberta, um agente etiológico bacteriano, viral ou parasitário, podia ser detectado em apenas 10% a 30% das crianças com diarreia. Em poucos anos, o Rotavírus passou a ser reconhecido como a causa mais comum de diarreia em lactentes e crianças pequenas em todo o mundo, sendo responsável por, aproximadamente, um terço dos casos de diarreia grave que requerem hospitalização. Os Rotavírus, e outros membros da família Reoviridae, diferem dos demais vírus na medida em que replicam seus genomas em conjunto com a montagem do vírion. Especificamente, o genoma de Rotavírus de RNA de fita dupla segmentado é copiado dentro de um intermediário de montagem subviral, que se torna um vírion infeccioso maduro. Ruth Bishop Fonte: https://www.abc.net.au/news/2013-10-28/scien tist-recognised-for-developing-rotavirus-vaccine/ 5050610 Acesso em: 18 jan. 2023. 16 https://www.abc.net.au/news/2013-10-28/scientist-recognised-for-developing-rotavirus-vaccine/5050610 https://www.abc.net.au/news/2013-10-28/scientist-recognised-for-developing-rotavirus-vaccine/5050610 https://www.abc.net.au/news/2013-10-28/scientist-recognised-for-developing-rotavirus-vaccine/5050610 O processo de montagem de replicase. Uma característica chave do processo de montagem de replicase é que a Polimerase do Rotavírus (VP1) só é ativa quando ligada à proteína de casca central (VP2), dentro dos limites de um intermediário de montagem. No entanto, existem várias lacunas no conhecimento sobre a estrutura e composição dos intermediários de montagem inicial para Rotavírus, e o mecanismo pelo qual o VP2 se engaja e ativa o VP1 não é completamente compreendido. 17 O vírus é composto por três conchas concêntricas, que envolvem 11 segmentos de genes. A camada mais externa contém duas proteínas importantes, que induzem anticorpos neutralizantes, as quais, acredita-se, estarem envolvidas na proteção imunológica. São elas: VP4 - ou Proteína P VP7 - ou Proteína G Até agora, dez espécies de Rotavírus (A a J) foram identificadas. Dessas dez espécies, quatro delas (A, B, C e H) causam doenças humanas, sendo a espécie de Rotavírus A (apresentando as cepas Wa, DS-1 e AU-1) a mais significativa. 18 O produto do 6º gene dos Rotavírus do grupo A codifica VP6, a proteína viral mais abundante, que é o principal determinante da reatividade do grupo, alvo de ensaios diagnósticos comuns, e que contém o antígeno usado para classificar, de forma detalhada, os Rotavírus nos subgrupos I e II. As proteínas do capsídeo externo VP7 - a Glicoproteína ou Proteína G (codificada pelo gene 7, 8 ou 9, dependendo da cepa) -, e VP4 - a Protease Clivada ou Proteína P (codificada pelo segmento gênico 4) -, determinam a especificidade do sorotipo e formam a base da classificação binária (tipo G e P) dos Rotavírus. A maioria das cepas humanas pertence ao grupo A, embora os grupos B e C tenham sido, ocasionalmente, associados a doenças humanas. 19 Os Rotavírus, membros da família Reoviridae, são caracterizados por seu genoma de RNA de fita dupla segmentado (11 segmentos). Ambas as proteínas, G e P, induzem anticorpos neutralizantes e podem estar envolvidas na imunidade protetora. 20 O Rotavírus é um dos 13 agentes etiológicos da diarreia medidos no Global Burden of Disease Study 2019 (GBD, 2019), estudo sistemático voltado à produção de estimativas comparáveis da carga de doenças, incluindo diarreia por Rotavírus, por idade, sexo, localização geográfica e ano, de 1990 a 2016. Esse estudo descreve a incidência e mortalidade de infecção por Rotavírus em crianças menores de 5 anos, e revela a necessidade urgente de intervenções para reduzir o risco, tratar episódios e prevenir a diarreia por Rotavírus. Figura 2: Representação esquemática da estrutura da partícula de Rotavírus. VP: proteína viral; NSP: proteína não-estrutural. Fonte: Estes et al. (2007), p. 1358. As proteínas G e P podem estar envolvidas na imunidade protetora, pois induzem anticorpos neutralizantes. 21 Histórico Inicial Em 1980, o Rotavírus foi reconhecido como a causa mais comum de Gastroenterite grave em bebês e crianças pequenas nos Estados Unidos. A diarreia, geralmente, é um sintoma de uma infecção no trato gastrointestinal, que pode ser causada por uma variedade de organismos bacterianos, virais e parasitários. A maioria dos casos de diarreia aquosa aguda é causada por vírus (Gastroenterite viral), e, entre eles, os mais comuns em crianças são os Rotavírus. Na era pré-vacina, o Rotavírus foi responsável por até 500.000 mortes anuais de crianças em todo o mundo. 23 A doença diarreica é reconhecida em humanos desde a antiguidade, mas, até o início da década de 1970, uma etiologia bacteriana, viral ou parasitária em crianças podia ser detectada em menos de 30% dos casos. Como vimos, anteriormente, Ruth Bishop e sua equipe observaram uma partícula de vírus no tecido intestinal de crianças com diarreia, por meio de micrografia eletrônica. A figura, abaixo, mostra a distribuição geográfica das taxas de mortalidade associadas ao Rotavírus entre crianças menores de 5 anos, em 2016: Fonte: Troeger et al. (2018), p. 962 Quase todas as crianças não vacinadas experimentam um ou mais episódios de diarreia por Rotavírus,independentemente de suas condições de vida, até os cinco anos de idade. De 30 a 50% dos casos de hospitalização por Doença Diarreica, em menores de 5 anos, estão associados ao Rotavírus, com pico de incidência em crianças de 6 a 24 meses de idade. Como existem diversos sorotipos de Rotavírus, a Gastroenterite pode ocorrer mais de uma vez. A primeira infecção, geralmente, é a mais grave. 24 Nas populações insulares é constante ao longo do ano, com um pico moderado nos meses mais frios e secos. Em climas temperados, a diarreia por Rotavírus ocorre em picos sazonais durante os meses mais frios. Um dos agravantes dos aspectos clínicos em crianças é que, muitas vezes, elas sofrem múltiplos episódios de infecção por Rotavírus, pois vários sorotipos estão presentes na população e tanto a vacina quanto a doença anterior falham em fornecer imunidade total, mesmo que as infecções subsequentes sejam menos graves do que as primeiras. Os Rotavírus são importantes patógenos entéricos. Entram pela boca e a replicação viral ocorre no epitélio viloso do intestino, sendo uma das principais causas de Gastroenterite em bebês e crianças pequenas. A infecção por Rotavírus é uma das principais causas de hospitalização em crianças. A doença é um problema de saúde global. Contudo, a maioria dos casos ocorre em países em desenvolvimento. 25 Uma possível causa pela baixa taxa de infecção nessa faixa etária são os anticorpos maternos passivos e, possivelmente, também, por causa da amamentação. Até dois terços das crianças com Gastroenterite grave por Rotavírus mostram a presença de antígeno desse vírus no soro (antigenemia), bem como podem apresentar o RNA de Rotavírus detectado nesse soro. A infecção pode resultar em diminuição da absorção intestinal de sódio, glicose e água, redução dos níveis de lactase intestinal, fosfatase alcalina e atividade da sacarase, podendo levar à diarreia. O Rotavírus é muito estável e pode permanecer viável no ambiente por semanas, ou meses, se a desinfecção não ocorrer. Por que bebês com menos de 3 meses de idade têm taxas, relativamente, baixas de infecção por Rotavírus? Manifestações clínicas que merecem atenção: A infecção por Rotavírus em bebês e crianças pequenas pode levar à diarreia grave, desidratação, desequilíbrio eletrolítico e acidose metabólica. 26 Crianças imunocomprometidas, devido à Imunodeficiência Congênita, por transplante de medula óssea ou de órgãos sólidos, podem apresentar Gastroenterite grave ou prolongada por Rotavírus e podem ter evidências de anormalidades resultantes em múltiplos sistemas de órgãos, particularmente, o rim e o fígado. Os níveis séricos de IgA do Rotavírus medidos logo após a infecção natural em crianças, geralmente, se correlacionam com os níveis de IgA intestinal e parecem se correlacionar com a proteção. Uma explicação para infecções recorrentes por Rotavírus é que a proteção contra a reinfecção é mediada pela IgA intestinal, que não é duradoura em humanos. Para as famílias, além dos desgastes físico e emocional, a hospitalização de uma criança geram, também, desgastes financeiros. Relação entre IgA e proteção: Uma outra explicação, é que a proteção depende de anticorpos neutralizantes para uma ou ambas as proteínas rotavirais externas altamente variáveis. O reservatório do Rotavírus é o trato gastrointestinal e as fezes de humanos infectados. Embora a infecção ocorra em muitos mamíferos não humanos, acredita-se que a transmissão de animais para humanos seja incomum e, provavelmente, não leve à doença clínica, pois essas cepas animais são antigenicamente distintas daquelas que causam infecção humana. 27 As infecções por Rotavírus incorrem em grandes custos diretos de hospitalização e ambulatório para os Sistemas de Saúde. As infecções também causam grandes custos indiretos às sociedades - relacionados a perdas de produtividade, ao transporte e à acomodação durante o tratamento. O custo da hospitalização de uma criança pode ser devastador para as famílias e, mesmo quando o tratamento é ambulatorial, os pais podem perder muitas horas de trabalho. Os custos para as famílias, geralmente, incluem tratamento, transporte e salários perdidos. 28 Transmissão ● Por via fecal-oral. ● Por contato próximo de pessoa a pessoa. ● Por fômites como brinquedos e outras superfícies ambientais contaminadas. A transmissão por meio da água ou de alimentos contaminados é incomum. O vírus pode ser eliminado da orofaringe em crianças que sofrem de doenças do trato respiratório superior, com ou sem envolvimento do trato gastrointestinal. Isso sugere que as gotículas respiratórias são uma fonte adicional de transmissão. 30 A transmissão se dá por diferentes formas: Os Rotavírus são eliminados em alta concentração nas fezes de pessoas infectadas, começando dois dias antes do início da diarreia, perdurando por vários dias após o início dos sintomas. Em pessoas imunocomprometidas, o vírus pode se manter presente nas fezes por mais de 30 dias após a infecção. Por essa razão, a disseminação é comum em famílias, instituições, hospitais e creches. Os achados do Rotavírus em recipientes para descarte de fraldas, em brinquedos, em torneiras, em trocadores de fraldas, em áreas de lavagem das mãos e, até mesmo, em áreas de preparação de alimentos são sugestivos de seu alto potencial de disseminação na maioria das casas ou creches. As crianças costumam ser vistas colocando brinquedos na boca, enquanto brincam, ou coçando as gengivas com eles quando estão perto do início da dentição. Tais objetos, quando contaminados, podem transmitir RV de forma eficiente no processo. No ano de 2018, a OMS declarou que o Rotavírus é a causa mais comum de Doença Diarreica grave e mata, aproximadamente, 215.000 crianças a cada ano. (OMS, 2018). Fômites: Qualquer partícula capaz de transportar germes patogênicos. 31 Fonte: https://www.dicio.com.br. Acesso em: 18 jan. 2023. https://www.dicio.com.br Diagnóstico A infecção por Rotavírus está associada a grandes quantidades de vírus eliminados nas fezes, tornando o vírus fácil de detectar por Microscopia Eletrônica, Ensaio Imunoenzimático (ELISA) ou visualização direta do RNA genômico viral em extratos fecais. O RNA de fita dupla é altamente estável e pode ser extraído, separado por Eletroforese em Gel de Poliacrilamida (PAGE) e Corado com Prata ou Brometo de Etídio. O diagnóstico laboratorial da infecção por Rotavírus envolve o teste de amostras frescas de fezes, ou swabs retais, de pacientes diarreicos para a presença do vírus, o antígeno específico do vírus ou o RNA. A detecção direta de Rotavírus envolve o uso de Microscopia Eletrônica (ME), um método sensível e altamente específico. Uma modificação recente, utilizando micropartículas magnéticas funcionalizadas com anticorpos monoclonais, aumentou a capacidade de capturar, concentrar, separar e detectar partículas infecciosas de Rotavírus em amostras clínicas. No entanto, o método de EM é caro, requer pessoal altamente treinado e é trabalhoso para a detecção de rotina de Rotavírus em um grande número de espécimes. É importante você saber que: Os kits de detecção de antígeno disponíveis comercialmente (ELISA, Imunocromatografia ou Aglutinação de Látex) são usados, principalmente, para o diagnóstico de Rotavírus. 33 Vejamos algumas técnicas utilizadas para detectar a doença: A Técnica de Aglutinação de Látex é rápida e simples de realizar. Não há a necessidade de equipamentos sofisticados, tornando-a útil na detecção de surtos da doença, especialmente, em locais com poucos recursos, onde os meios para reconhecimento de Rotavírus são escassos. Essa técnica é a plataforma de triagem de antígeno mais amplamente explorada, devido a sua alta sensibilidade, especificidade e adaptabilidade a um grandevolume de amostras. Técnica da Aglutinação de Látex 35 Técnica baseada na Reação em Cadeia da Polimerase A técnica baseada na Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) (por exemplo, transcrição reversa (RT)-PCR, qPCR, PCR em tempo real), que detecta RNA na amostra clínica, é um método mais sensível do que a plataforma de detecção de antígeno, mas, até o momento, continua a ser, principalmente, uma ferramenta de pesquisa. O sequenciamento de VP7, VP4 e outros segmentos do genoma é necessário para a genotipagem de cepas de Rotavírus circulantes. 35 O cultivo de Rotavírus em Cultura de Células ajuda a confirmar a viabilidade viral e, também, melhora a detecção molecular do vírus, que pode estar presente em concentrações muito baixas nas amostras clínicas ou ambientais. Embora os métodos baseados em Cultura de Células sejam altamente sensíveis, são trabalhosos, caros, demorados, altamente suscetíveis à contaminação e, muitas vezes, não são solicitados para o diagnóstico clínico. O cultivo de Rotavírus em Cultura de Células As técnicas de sequenciamento convencionais têm as desvantagens de serem trabalhosas, de baixo rendimento e caras. Ensaios de RT-qPCR mais recentes, especialmente, TaqMan, têm sido usados para superar os desafios de RT-PCR convencional e sequenciamento. Técnicas de sequenciamento 36 Comparado com outros métodos, a PCR quantitativa em tempo real tem vantagens de maior especificidade, sensibilidade, genotipagem, capacidade de multiplexação, processamento de amostras de alto rendimento, tempo de resposta mais rápido e precisão quantitativa. Vários kits de imunoensaios estão disponíveis para identificação rápida de subgrupos e sorotipos de vírus em amostras fecais. Esses kits, no entanto, não detectam vírus que não sejam do grupo A. Recentemente, um ELISA, baseado em proteína recombinante, foi desenvolvido para detectar Rotavírus do grupo B, mas ainda não está amplamente disponível. Testes comerciais de detecção de antígenos para Rotavírus do grupo C também não estão disponíveis no momento. 37 Sintomatologia O período de incubação da diarreia por Rotavírus é curto - geralmente, inferior a 48 horas. As manifestações clínicas da infecção variam e dependem se é a primeira infecção ou uma reinfecção. Os mecanismos que desencadeiam o vômito, normalmente, observado na doença, podem ser o resultado da liberação precoce de Citocinas agindo centralmente, ou do retardo do esvaziamento gástrico. O esvaziamento gástrico pode ser o resultado de um aumento nos hormônios gastrointestinais, como, por exemplo, Secretina, Gastrina e Colecistoquinina ou a ativação dos nervos vagais associados à infecção por Rotavírus. Essa continua sendo uma área para estudos futuros. A infecção pode ser assintomática, pode causar diarreia aquosa autolimitada ou resultar em diarreia desidratante grave, com febre e vômitos. Até um terço das crianças infectadas pode ter uma temperatura superior a 39°C. A primeira infecção após os 3 meses de idade é, em geral, a mais grave. Os sintomas gastrointestinais, frequentemente, desaparecem em 3 a 7 dias. 39 A intolerância à lactose pode ocorrer por um período de tempo após a infecção por Rotavírus. É conhecida como intolerância à lactose 'secundária' ou 'adquirida'. A intolerância à lactose leva a: Todos esses sintomas ocorrem após a ingestão de leite e derivados. A condição só melhora quando a infecção termina e o revestimento intestinal se cura. Um fator importante, e que merece atenção, é o desenvolvimento da intolerância a lactose em razão do Rotavírus. O revestimento do intestino pode ser danificado pelo episódio de Gastroenterite, acarretando a falta da enzima lactase, necessária para ajudar a digerir a lactose do açúcar do leite. 40 • Inchaço. • Dores na barriga. • Gases. • Fezes aquosas. Geralmente, observada em crianças entre quatro meses e dois anos de idade. Recém-nascidos prematuros. Recém-nascidos a termo. Crianças mais velhas e adultos. Até 30–50% dos membros da família de uma criança infectada podem ser coinfectados. É importante lembrar que, os fatores de risco típicos e a apresentação clínica da doença por Rotavírus incluem diferentes graus de gravidade, sinais e sintomas associados, além de apresentar complicações significativas. Veja, abaixo: A desidratação é a maior preocupação em crianças, devido a essa faixa etária ser mais vulnerável à perda de líquidos e de eletrólitos, por meio dos vômitos e da diarreia, pois têm peso corporal menor. Doença subclínica a leve Doença leve Doença moderada Doença grave 41 No caso de desidratação grave, a criança pode apresentar outros sintomas, como: • Sonolência. • Pele pálida ou manchada. • Mãos ou pés frios. • Poucas fraldas molhadas. • Respiração rápida e, muitas vezes, superficial. Situações assim enquadram-se em emergência médica e se faz necessária a atenção médica imediata! 42 É necessário monitorar a criança, cuidadosamente, quanto a sintomas de desidratação, como: • Boca seca. • Pele fria. • Falta de lágrimas ao chorar. • Micção reduzida. • Olhos fundos. Antes de finalizarmos a seção sobre sintomatologia, é preciso reforçar alguns pontos! 43 As características clínicas e fecais da diarreia por Rotavírus são inespecíficas, e doenças semelhantes podem ser causadas por outros patógenos. Como resultado, a confirmação de uma Doença Diarreica, como Rotavírus, requer testes laboratoriais. Geralmente, considera-se que a diarreia por Rotavírus está, mais provavelmente, associada à febre, vômitos e desidratação do que a diarreia causada por outros patógenos. Desidratação. Fadiga severa. Irritabilidade. Vômito. Dor abdominal. Febre alta. O sintoma mais comum do Rotavírus é a diarreia grave e a criança pode, também, apresentar sintomas como: 44 Tratamento A diarreia, resultante do Rotavírus, pode levar, rapidamente, à desidratação e hospitalização ou até à morte de crianças que não recebem tratamento em tempo hábil. Atualmente, não há medicamentos antivirais específicos para tratar a infecção por Rotavírus. No intestino delgado, o transporte de sódio e de glicose estão acoplados, o que significa que a glicose também promove a absorção de solutos e água. Por essa razão, o manejo clínico da diarreia e da desidratação, associado ao Rotavírus em crianças, baseia-se, principalmente, na administração de soluções de reidratação oral - que são misturas equilibradas de glicose e eletrólitos, que estimulam a absorção de água, a fim de evitar a desidratação. 46 O estado de hidratação das crianças que sofrem de Rotavírus deve ser avaliado e o paciente deve ser apoiado com nutrição. A desnutrição pode predispor as crianças a uma maior suscetibilidade a infecções gastrointestinais. O Rotavírus desempenha um papel importante nesse ciclo destrutivo, uma vez que a diarreia prejudica a capacidade do intestino de absorver nutrientes, levando ao agravamento da desnutrição. A continuação da dieta habitual e da ingestão adequada de líquidos é recomendada para crianças com mínima ou nenhuma desidratação. A dieta regular de uma criança reduz a duração da diarreia. A amamentação deve ser continuada em lactentes que são amamentados. Para bebês que são alimentados com fórmula, deve-se manter a diluição habitual. Líquidos como água pura, refrigerantes, suco de maçã ou caldo de galinha não representam alternativas viáveis à terapia de reidratação oral, devido à sua hiperosmolaridade e incapacidade de repor adequadamente o sódio, o potássio e o bicarbonato. Além disso, esses fluidos, principalmente água e suco de maçã, podem resultar em Hiponatremia. 47 O principal foco terapêutico da diarreia por Rotavírus é a reidratação para repor a perda de líquidos, para prevenir a acidose e distúrbios eletrolíticos, além de oferecer suporte nutricional. Por maisde duas décadas, a OMS recomendou a solução padrão de reidratação oral à base de glicose (90 mmol/L de sódio, 111 mmol/L de glicose e uma osmolaridade total de 311 mmol/L). No entanto, estudos subsequentes mostraram que, quando comparada com a solução padrão, a reidratação oral de osmolaridade reduzida está associada a menos infusões intravenosas não programadas, menor volume de fezes, menos vômitos e ausência de risco aumentado de Hiponatremia. Como base nos estudos, a OMS passou a recomendar o uso rotineiro de uma solução com osmolaridade reduzida para os casos de diarreia não-cólera: Sódio 75 mmol/L Glicose 75 mmol/L Osmolaridade total 224 mmol/L 48 Assista à Aula Web para mais informações sobre o tratamento preconizado pelo Ministério da Saúde. Como avaliar a desidratação em crianças com diarreia? Classificação A: sem desidratação visível Classificação B: alguma desidratação Classificação C: desidratação grave Sinais de classificação Nenhum dos sinais. Dois ou mais sinais. Dois ou mais sinais. Nível de consciência Bem alerta. Inquieto ou irritável. Letárgico ou inconsciente. Olhos Os olhos não estão fundos. Olhos fundos. Olhos fundos. Capacidade de ingestão de líquidos Bebe normalmente e não há sede excessiva. Sedento, bebe avidamente. Bebe mal ou não consegue beber. Pinça da pele (turgor) A pele retorna imediatamente ao estado original. Há uma diminuição moderada no turgor da pele. O pinçamento da pele retorna em 2 segundos. Você observou que os níveis de classificação B e C têm como critério de classificação a presença de dois ou mais sinais contidos na tabela? Fique atento quanto à classificação. 49 Fonte World Gastroenterology Organisation, 2012, p. 9 (Adaptado). Análise do manejo medicamentoso e as indicações mais recentes no tratamento da desidratação em crianças com diarreia. Dor e febre Paracetamol ou Dipirona. Antieméticos Segundo a OMS, não há indicação de antieméticos no tratamento da diarreia aguda. Considera-se que os vômitos tendem a desaparecer concomitantemente à correção da desidratação. O MS não recomenda a sua utilização de forma rotineira. Porém, existem algumas situações em que podem ser utilizados. A ESPGHAN (European Society for Paediatric Gastroenterology Hepatology and Nutrition) considera que a Ondansetrona pode proporcionar uma redução na frequência de vômitos, na necessidade de hidratação parenteral e de internação hospitalar. 50 Comprimidos com 4mg. A diretriz Íbero-Latinoamericana recomenda o emprego da Ondansetrona para os pacientes com diarreia aguda, com vômitos frequentes. A dose recomendada de Ondansetrona é: 0,1mg/kg (0,15-0,3/kg), até o máximo de 4 mg, por via oral ou intravenosa. O antiemético Ondansetrona pode ser encontrado em duas apresentações: Ampola com 4mg/2ml. Antibióticos O uso de antibióticos é restrito aos casos de disenteria (diarreia com sangue, muco ou pus), normalmente causados por infecções bacterianas e na cólera. Por essa razão, não têm indicação no tratamento da diarreia por Rotavírus. 51 A terapia antiviral para infecção por Rotavírus foi estudada, mas permanece, ainda, em estágios pré-clínicos. Antidiarreicos A Racecadotrila é um inibidor da Encefalinase. Essa enzima é responsável pela degradação das Encefalinas produzidas pelo sistema nervoso entérico. As Encefalinas com ação mais duradoura, em função da menor atividade da Encefalinase, reduzem a secreção intestinal de água e eletrólitos que se encontra aumentada nos quadros de diarreia aguda. A diretriz Ibero Latino-americana de tratamento de diarreia aguda, por qualquer causa, considera que a Racecadotrila pode ser utilizada como coadjuvante no tratamento da diarreia aguda, pelo seu efeito na redução das perdas diarreicas e na duração da diarreia, como foi demonstrado em ensaios clínicos e metanálise. Trata-se de um medicamento com eficácia e segurança, que não interfere na motilidade intestinal, portanto, não retardando a eliminação viral. A dose recomendada é de 1,5mg/kg de peso corporal, três vezes ao dia. É contraindicado para menores de 3 meses. A Racecadotrila é uma substância encontrada em sachês (pó) com 10mg e 30mg ou comprimidos com 100mg. 52 Em adultos não deve ser utilizada dose superior a 400mg por dia. O tratamento com a Racecadotrila deve ser interrompido, assim que cesse a diarreia. Probióticos São úteis como coadjuvantes no tratamento das diarreia por qualquer etiologia infecciosa, em conjunto com outras medidas terapêuticas básicas, ou seja, terapia de reidratação e manutenção da alimentação. Não há demonstração de que os probióticos diminuem as perdas diarreicas. No entanto, determinadas cepas, conforme demonstrado em ensaios clínicos duplo-cego, controlados por placebo e metanálises, proporcionam uma redução de, aproximadamente, 24 horas na média da duração da diarreia aguda. As cepas consideradas como tendo evidências suficientes, e que foram recomendadas tanto pela ESPGHAN como pela diretriz Ibero Latino-americana, para o tratamento coadjuvante da diarreia aguda são: • Lactobacillus GG. • Saccharomyces Boulardii. • Lactobacillus Reuteri DSM 1793811,16,25. 53 Vale lembrar, que o Lactobacillus GG não é comercializado no Brasil. As doses recomendadas são: • Saccharomyces Boulardii- 250-750mg/dia (habitualmente 5-7 dias) • Lactobacillus GG - ≥ 1010 CFU/dia (habitualmente 5-7 dias) • L Reuteri - 108 a 4 x 108 (habitualmente 5-7 dias) • L Acidophilus LB -min 5 doses de 1010 CFU >48 h, máximo 9 doses de 1010 CFU, por 4 a 5 dias. Outros probióticos estão em estudo, mas apenas essas cepas têm evidências suficientes para merecer recomendação como coadjuvante no tratamento da diarreia aguda. 5554 A Organização Mundial da Saúde recomenda a ingestão oral de zinco, durante 10 a 14 dias, para todos os episódios de diarreia. Em crianças com até os seis meses de vida, a dosagem é de 10mg/dia e, para aquelas acima dessa idade, 20mg/dia. As diretrizes da OMS (2014), para o manejo da diarreia pediátrica, incluem a amamentação continuada para reduzir a duração e a gravidade da diarreia. O leite materno contém componentes bioativos, como anticorpos, antioxidantes, nutrientes e hormônios, que protegem a criança de patógenos específicos ou famílias de patógenos, e conferem imunidade mucosa ao bebê. 55 É importante, além dessas medidas, o aconselhamento e a educação aos cuidadores para prevenção. Cabe ao médico avaliar a condição da criança, a fim de determinar o melhor tratamento. Desidratação leve Solução de reidratação oral: 10-20 ml/kg, após cada episódio de diarreia ou crise de vômito. Desidratação moderada Solução de reidratação oral: pelo menos 80ml/kg, a cada 4 horas (por exemplo: 15ml/kg a cada 15 minutos). Reavaliar a cada 4 horas. Hospitalização. Reposição de fluido intravenoso (solução isotônica). Uso de sonda nasogástrica, se a administração intravenosa não for possível. Reavaliar a cada 15-30 minutos. Desidratação grave 56 Prevenção O desenvolvimento de infraestruturas de água, de saneamento e de saúde, como solução para intervir na via da doença, requer um longo prazo e um compromisso financeiro contínuo. Vale ressaltar, que mesmo onde ocorreram melhorias no saneamento, higiene e acesso à água potável não foram obtidos impactos significativos na redução da incidência da doença por Rotavírus. As vacinas foram desenvolvidas como prevenção de primeira linha contra a doença por Rotavírus e demonstraram reduzir, drasticamente, a incidência da doença e o ônus da hospitalização. Países mais pobres apresentaram menor redução nos índices de diarreia por esse vírus, mesmo após a vacinação. Falaremos, mais adiante,especificamente, sobre as vacinas. Como você já sabe, a transmissão de doenças em escalas endêmicas e epidêmicas deve-se, principalmente, ao acesso insuficiente à água potável, além de infraestruturas inadequadas de saneamento, drenagem e cuidados de saúde. Em alguns casos, esses fatores são agravados por desastres naturais ou convulsões sociais. 58 A falta de acesso à água potável é um risco para saúde. Como prevenir o surto da doença em ambiente familiar? O risco dos membros da família introduzirem o Rotavírus em casa é constante. Ele pode não ser reconhecido até que ocorra um surto de infecção no ambiente familiar. Isso significa, que uma boa higiene diária, incluindo a higiene alimentar, é essencial. Em situações em que haja o risco de propagação da infecção em casa, medidas básicas de higiene devem ser implementadas com rigor. Deve-se lembrar, que o Rotavírus pode ser transmitido por pessoas que não apresentam sintomas (assintomáticas), por aquelas que, aparentemente, se recuperaram da doença ou por aquelas que, ainda, não desenvolveram sintomas. 59 Veja, abaixo, medidas de higiene que também se aplicam à prevenção da propagação da infecção no local de trabalho e nas escolas. Oriente o seu paciente quanto a essas informações: Lavar sempre as mãos antes e depois de utilizar o banheiro. Higienizar bem os alimentos. Utilizar apenas água potável. Lavar e desinfetar as superfícies usadas na preparação de alimentos. Ensacar e manter o lixo fechado. Usar sempre a privada. Manter o aleitamento materno, evitando o desmame precoce. Prevenir por meio da vacinação. 60 As estratégias para combater o Rotavírus ganharam um reforço! Em 2005, a Organização Mundial da Saúde recomendou a inclusão de uma vacina contra o Rotavírus nos Programas Nacionais de Imunização da região da Europa e das Américas. Em 2009, a recomendação foi estendida a todos os países, como parte de uma estratégia abrangente para controlar as Doenças Diarreicas, com a ampliação da prevenção básica, como lavagem adequada das mãos, água melhorada e saneamento. O reforço no tratamento veio com a inclusão da Solução de Reidratação Oral de baixa Osmolaridade e Zinco. 61 Embora as crianças possam ser infectadas com Rotavírus, quatro a cinco vezes, nos primeiros dois anos de vida, a incidência de Gastroenterite grave por este vírus é reduzida a cada infecção repetida. Portanto, vacinas vivas atenuadas, administradas oralmente, foram desenvolvidas, imitando o efeito da infecção natural e prevenindo a doença grave por Rotavírus. Uma vacina contra o Rotavírus recombinante humano Rhesus (Rotashield, Wyeth) foi licenciada nos Estados Unidos, em 1998, após mostrar alta eficácia contra Gastroenterite grave por Rotavírus em ensaios clínicos randomizados. A Rotashield foi recomendada para imunização de rotina de lactentes naquele país no mesmo ano, mas teve que ser suspensa um ano depois, pois estudos observacionais, pós-licenciamento, detectaram sua associação a um evento adverso grave, a Intussuscepção. Intussuscepção: forma de obstrução intestinal que, muitas vezes, requer cirurgia e está associada à alta letalidade, se não tratada. 62 RotaTeq e Rotarix foram testadas em ensaios clínicos randomizados de 60.000–70.000 bebês, para avaliar o risco de Intussuscepção, antes do seu licenciamento, não sendo encontrado aumento do risco, durante o período de 30 a 42 dias pós-vacinação, após as três doses de RotaTeq ou duas doses de Rotarix, respectivamente. Duas outras vacinas orais vivas contra o Rotavírus, uma Pentavalente bovina-humana rearranjada (RotaTeq, Merck) e uma Monovalente humana (Rotarix, GSK Biologicals), estavam em estágios avançados de testes clínicos quando a Rotashield foi suspensa. Sete anos, e várias milhões de mortes depois, duas empresas (Merck e GSK) lançaram suas vacinas no mercado, em 2006 (Rotarix e RotaTeq, respectivamente), o que levou a uma redução de 90% nas hospitalizações por diarreia. A tabela, a seguir, mostra um comparativo das características das vacinas Rotarix e RotaTeq: 63 Tabela 1: Características das vacinas Rotarix e RotaTeq contra o rotavírus: Características Rotarix RotaTeq Composição Estirpe única de Rotavírus humano (P1A[8], G1). Cinco rearranjos de G/P humanos com Rotavírus bovino cepa WC3 (P7[5], G6): G1 × WC3; G2 × WC3; G3 × WC3; G3 × WC3; P1A[8] × WC3. Número de doses necessárias 2 doses orais. 3 doses orais. Programação* Dose 1: mínimo 6 semanas de idade. Dose 2: ≥ 4 semanas depois; completa com 24 semanas de idade. Dose 1: 6–12 semanas de idade. Doses 2 e 3: intervalos de 4 –10 semanas; completa com 32 semanas de idade. Dose Cada dose (1–1,5 ml) contém pelo menos 106,0 medianas de cultura de células infecciosas. Cada dose (2 ml) contém pelo menos 2,0–2,8×10 6 unidades infecciosas por rearranjo. Validade 36 meses. 24 meses. Armazenar 2–8°C, protegido da luz. 2–8°C, protegido da luz. Contraindicações História de hipersensibilidade à vacina ou a qualquer dos seus componentes; história de malformação congênita não corrigida do trato gastrointestinal, que predisponha à Intussuscepção; história de Doença de Imunodeficiência Combinada grave; história de Intussuscepção. História de hipersensibilidade à vacina ou a qualquer dos seus componentes; história de Doença de Imunodeficiência Combinada grave; história de Intussuscepção. *As idades para as doses da vacina variam de acordo com as recomendações de cada país e Calendários de Vacinação (OMS, 2017). 64 Fonte: OMS, 2017, p. (Adaptado). Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/275689/A70_R14-en.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 23 set. 2022. Outras vacinas foram desenvolvidas recentemente e algumas outras estão em processo de desenvolvimento. O PNI opera dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), com financiamento público, para fornecer acesso universal às vacinas recomendadas. Em 2006, o Ministério da Saúde introduziu a vacina contra o Rotavírus de cepa única, a Rotarix, simultaneamente, em todos os 27 estados, por meio de seu Programa Nacional de Imunização (PNI), a fim de acelerar o alcance do quarto Objetivo de Desenvolvimento do Milênio, qual seja: a redução da mortalidade infantil em dois terços, em crianças menores de cinco anos, em relação ao nível de 1990. Para saber quais são essas vacinas, clique aqui ou escaneie o QR code para fazer o download. 65 http://www.abrasco.org.br/UserFiles/File/13%20CNS/SABROZA%20P%20ConcepcoesSaudeDoenca.pdf O governo federal compra as vacinas, que são distribuídas aos Programas de Imunização Estaduais e Municipais e fornecidas, gratuitamente, nas Unidades de Saúde de todo o país. A vacinação produziu importante redução no números de mortes e de internação infantil. 66 O aumento da cobertura vacinal da vacina contra o Rotavírus produziu uma importante redução da morbimortalidade, relacionada ao Rotavírus na infância, salvando a vida de milhares de crianças em todo o mundo. No entanto, em muitos locais ainda não se alcançou a cobertura vacinal de 100%, o que significa que há espaço para avanços na redução da mortalidade na infância por essa causa. A primeira dose pode ser administrada entre 6-14 semanas, e a segunda dose entre 14-24 semanas de idade. Além de salvar vidas, a vacina contra Rotavírus também diminui a carga sobre os Sistemas de Saúde, reduzindo o número de internações hospitalares por diarreia. Gomes e colaboradores (2021) analisaram a influência da vacina contra o Rotavírus nas taxas de hospitalizações e óbitos por Gastroenterite, em crianças menores de 5 anos, antes e após a inclusão da vacina, entre 2001 a 2018. As pesquisas constataram que houve uma redução expressiva das hospitalizações em todas as regiões brasileiras, com destaque para a Região Nordeste, onde o aumentoda vacinação foi inversamente proporcional ao número de casos de Rotavírus. 67 O Ministério da Saúde recomenda uma cobertura vacinal de pelo menos 90%, para se obter a imunidade coletiva. Rotavírus humano - % cobertura vacinal por Região-Ano. Um importante alerta! Seu papel é fundamental na conscientização da sociedade sobre a importância da vacinação! Acesse, no menu, o Material complementar e leia o artigo: “Influência da vacina Contra o Rotavírus humano em hospitalizações por Gastroenterite em crianças no Brasil”. Se estiver lendo esse material no formato impresso, escaneie o QR code para fazer o download. Apesar de ter atingido percentual superior, chegando a quase 100%, em 2015, esses números têm declinado ao longo dos anos, como pode ser observado nas estatísticas, abaixo: 68 Fonte: SISPNI, 2022, p. . Disponível em: http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=0202&id=11637. Acesso em: 19 set. 2022. A vacinação pode ser coadministrada com as demais vacinas, exceto junto com a oral contra Poliomielite (nos países onde sua administração persiste). Há, portanto, a recomendação de não administrá-la na mesma consulta. Essa recomendação mundial se deve ao fato de que a vacina tem se mostrado altamente eficaz na prevenção de Gastroenterites e, consequentemente, tem sido eficaz para a redução de internações, economizando recursos econômicos e sociossanitários. A imunização contra o Rotavírus é universalmente recomendada. 69 No Brasil, duas vacinas estão disponíveis, sendo uma oferecida no PNI e outra somente na rede privada. São elas: Rotarix e RotaTeq. Disponível somente na rede privada. Pentavalente. Aplicada em três doses. Vacina RotaTeq Faz parte do Programa Nacional de Imunizações (PNI). Monovalente. Aplicada em duas doses. Vacina Rotarix 70 Efeitos Adversos Está doente no momento da vacinação, embora um simples resfriado ou outra doença menor não deva impedir a vacinação. Teve uma reação alérgica grave a uma dose anterior da mesma vacina. Sofre de Imunodeficiência Combinada grave, uma doença genética. Teve uma Intussuscepção no passado. Está fora da faixa etária indicada. Cabe ao médico decidir se a criança deve ou não receber essa vacina se: ● Apresentar alguma anormalidade no sistema digestivo ou sofrer de uma Doença Gastrointestinal. ● Tiver problemas no sistema imunológico, devido a doenças como Câncer. ● Estiver tomando esteróides ou outros medicamentos que enfraquecem o sistema imunológico. ● Estiver em tratamento de quimioterapia e/ou radioterapia. Em alguns casos é indicado adiar ou evitar a vacinação contra o Rotavírus. É importante avaliar se a criança: O médico deve avaliar se os benefícios de vacinar superam seus riscos potenciais. 72 Medidas de Controle de Infecção Hospitalar. As diretrizes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) recomendam o isolamento de contato, incluindo quartos privativos. O isolamento deve ser continuado durante toda a duração da doença. As diretrizes também exigem o uso de luvas, lavagem adequada das mãos e uso de aventais, se houver a possibilidade de sujeira com material infeccioso. O transporte do paciente deve ser feito apenas para fins essenciais e é necessária a limpeza diária do ambiente. O equipamento de assistência ao paciente deve ser dedicado ou limpo entre cada uso. Pacientes com idadeAlém da Gastroenterite aguda, a infecção por Rotavírus tem sido associada a: • Distúrbios neurológicos. • Hepatite. • Colestase. • Diabetes tipo 1. • Doença Respiratória. • Miocardite. • Insuficiência Renal. • Trombocitopenia. Evidências crescentes têm apontado a ligação entre o Rotavírus e o desenvolvimento de uma série de Doenças Autoimunes em indivíduos suscetíveis, como a consequência sistêmica mais impactante. 78 Como a detecção de antigenemia de Rotavírus não é uma ferramenta diagnóstica de rotina, seu impacto como patógeno em crianças é subestimado, especialmente, na ausência de diarreia, em que a investigação diagnóstica de rotina não é comumente utilizada. Diante dessas constatações, Rivero-Calle e colaboradores (2016) propuseram o modelo iceberg de infecção por Rotavírus, como forma de demonstrar que suas manifestações vão além da Gastroenterite aguda, como apresentado na Figura, a seguir: Proposta do modelo “iceberg” de infecção por Rotavírus. Fonte: Rivero-Calle et al., 2016, p. 101 (Adaptado). 79 As convulsões são uma manifestação clínica preocupante As convulsões podem constituir a manifestação extraintestinal mais frequentemente reconhecida da infecção por Rotavírus, e seu papel como causa de convulsão ou Doença Neurológica clínica está bem estabelecido na literatura científica, tendo sido constatado por Lee e colaboradores, em 2018, uma incidência de 4,0% a 7,7% dos pacientes, respectivamente. Em 2015, Payne e colaboradores descreveram lesões difusas da substância branca cerebral em neonatos com convulsões associadas ao Rotavírus. Entretanto, o mecanismo fisiopatológico da convulsão induzida pelo Rotavírus permanece indefinido. 80 A disseminação viral sistêmica ocorre e pode produzir várias outras manifestações extraintestinais, como, por exemplo, as convulsões. Além disso, a infecção pode ser um gatilho para o desenvolvimento de patologia autoimune em indivíduos com um fundo genético específico, por meio de um mecanismo proposto de quebra da tolerância imunológica em idades precoces. O papel do Rotavírus como desencadeador ambiental de várias Doenças Autoimunes tem sido foco de interesse nos últimos anos. Atenção especial tem sido dada à Doença Celíaca, uma Enteropatia Autoimune, em que uma alta frequência de infecções por Rotavírus pode aumentar o risco de Doença Celíaca na infância, em indivíduos geneticamente predispostos. O estudo de Vodjani, em 2014, constatou que infecções frequentes por Rotavírus durante a infância desencadeiam um maior risco de Doença Celíaca. Da mesma forma, a infecção pelo Rotavírus tem sido apontada como um fator desencadeante do Diabetes Mellitus Tipo I - uma endocrinopatia autoimune que leva à destruição seletiva das células Betas Pancreáticas produtoras de Insulina. A proteína VP6 do Rotavírus também foi identificada, por Sarkar e colaboradores, em 2014, como uma ameaça potencial para a Miastenia Gravis - uma doença autoimune neurodegenerativa muscular crônica. Clique aqui e leia a matéria que traz dados importantes sobre a vacina de Rotavírus reduzir a incidência de Diabetes Tipo 1, em 41%. Se estiver lendo esse material no formato impresso, escaneie o QR code para fazer o download. 81 A tabela, abaixo, apresenta os principais achados envolvendo as manifestações extraintestinais do Rotavírus. Tabela 2: Manifestações extraintestinais da infecção por Rotavírus. 1 Sintomas/Doenças Infecciosas/Extraintestinais Sintomas neurológicos Convulsões afebris benignas. Convulsões febris. Outras convulsões. Epilepsia. Encefalite aguda. Cerebelite aguda. Encefalopatia (com padrão específico de substância branca na Ressonância Magnética). Paralisia Flácida Aguda Transitória. Síndrome de Opsoclonia-mioclonia. Complicações neonatais Enterocolite Necrosante Neonatal. Leucomalácia Periventricular Cística. Lesões Esplênicas (transitórias ou recorrentes) Artrite aguda Pneumonia Edema Infantil Hemorrágico Agudo Resposta Inflamatória Sistêmica Vasculite Cutânea Rabdomiólise Pancreatite Linfohistiocitose Hemofagocítica Reye e síndromes semelhantes Coagulação Intravascular Disseminada Hepatite Miocardite 2 Doenças Autoimunes Diabetes Mellitus. Doença Celíaca. Síndrome de Opsoclonia-mioclonia. Miastenia Gravis. Uveite. Fonte: Rivero-Calle et al., 2016, p. 103 (Adaptado). 82 Como a principal causa de Gastroenterite Aguda Grave, a infecção por Rotavírus tem um efeito substancial na morbidade e mortalidade de bebês e crianças pequenas. O Rotavírus infecta, principalmente, os Enterócitos intestinais e induz a diarreia aquosa por secreção. Além disso, a experimentação humana e animal demonstra que o tecido extraintestinal pode ser suscetível à infecção por Rotavírus, por sua vez, provocando mais patologia, que pode ser consequência da destruição mediada pelo vírus das células envolvidas, ou secundária indireta às respostas imunes antivirais. 83 Embora considerado um vírus entérico, o papel importante da infecção por Rotavírus em sítios extraintestinais e a impressão de que a infecção pode ter no tropismo tecidual e complicações em crianças não deve ser descartado pelo médico. Os médicos, especialmente os pediatras, que cuidam de crianças infectadas, devem estar cientes das possíveis complicações extraintestinais da infecção por Rotavírus. No entanto, o envolvimento do Rotavírus no dano tecidual extraintestinal é melhor documentado em modelos animais do que em humanos, havendo lacunas no entendimento dos mecanismos de patogênese. É de se esperar que, juntamente com a Gastroenterite mediada por Rotavírus, tais manifestações extraintestinais se tornem menos prevalentes, como consequência da introdução da vacinação. 84 Conclusão A diarreia causada pelo Rotavírus é um importante problema de saúde em todo o mundo. A imunização de rotina de crianças é a intervenção de Saúde Pública mais eficaz para o controle dessa infecção. Um progresso notável em nossa compreensão e gerenciamento da doença por Rotavírus foi feito com vacinas que salvam vidas, mas permanecem lacunas consideráveis em nosso conhecimento em termos de virologia básica e de aplicações práticas para melhorar a eficácia do tratamento e das vacinas. A introdução da vacina foi seguida por declínios significativos na proporção de casos de Gastroenterite aguda, causada por Rotavírus, entre crianças menores de 5 anos de idade. Mesmo com as vacinas usadas rotineiramente pelo PNI, continua sendo importante realizar uma vigilância para monitorar a Doença Diarreica. Os esforços de vigilância devem se concentrar no monitoramento das tendências da doença grave por Rotavírus, como hospitalizações e visitas aos Serviços de Emergência. Outro ponto importante refere-se à compreensão da doença e à aceitação da vacina entre os responsáveis pelas decisões de vacinação dos filhos, que devem ser alcançadas por meio de um canal de comunicação adequado. 86 O seu papel, enquanto profissional da saúde, é muito significativo no processo de tomada de decisão sobre vacinas, uma vez que os pais, geralmente, recorrem aos profissionais de saúde para aconselhamento. Por isso, é importante reforçar, sempre, a importância da vacinação. É importante que o médico e os demais profissionais da saúde conheçam o problema e a importância dos cuidados preventivos, principalmente, no que concerne à vacinação, educando o paciente (ou seu responsável) sobre o alto risco de infecção pelo Rotavírus e as consequências potencialmente graves da doença, em especial, a desidratação. 87 Bibliografia Referências BRASIL. Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações - SIPNI. Disponível em: http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=0202&id=11637. Acesso em: 19 set. 2022. CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION – CDC. Biblioteca de Imagens de Saúde Pública.Disponível em: https://www.cdc.gov/rotavirus/about/photos.html. Acesso em: 31 out. 2022. CENTRO INTERNACIONAL DE ACESSO A VACINAS. Janela de Informações sobre Vacinas e Epidemiologia (VIEW-hub) . agosto de 2021. Disponível em: http://www.view-hub.org/. Acesso em: 13 set. 2022. ESTES, M. K. et al. Rotaviruses. In: KNIPE, D. M. et al. (Eds.). Fields virology. 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