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Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado Direito Penal ■ QUESTÕES 1. (XVIII Exame de Ordem Unificado/FGV) Mário subtraiu uma TV do seu local de trabalho. Ao chegar em casa com a coisa subtraída, é convencido pela esposa a devolvê-la, o que efetivamente vem a fazer no dia seguinte, quando o fato já havia sido registrado na delegacia. O comportamento de Mário, de acordo com a teoria do delito, configura: A) desistência voluntária, não podendo responder por furto. B) arrependimento eficaz, não podendo responder por furto. C) arrependimento posterior, com reflexo exclusivamente no processo dosimétrico da pena. D) furto, sendo totalmente irrelevante a devolução do bem a partir de convencimento da esposa. RESPOSTA A) O instituto da desistência voluntária (art. 15, CP, 1ª parte) somente incide antes da consumação. No caso de Mário, o crime restou consumado. B) O instituto do arrependimento eficaz (art. 15, CP, 2ª parte) somente incide antes da consumação. No caso de Mário, o crime restou consumado. Trata-se efetivamente do instituto do arrependimento posterior, pois estão presentes os requisitos do art. 16, CP: “Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato vo- luntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços”. O reflexo ocorre no processo dosimétrico da pena, já que o arrependimento posterior é uma causa obrigatória de redução da pena. D) O instituto do arrependimento posterior (art. 16, CP) pres- supõe que o ato do sujeito seja voluntário (livre), ainda que não seja espontâneo (que nasça de ideia do próprio agente). 2. (XVIII Exame de Ordem Unificado/FGV) Glória é contratada como secretária de Felipe, um grande executivo de uma sociedade empresarial. Felipe se apaixona por Glória, mas ela nunca lhe deu atenção fora daquela necessária para a profissão. Felipe, então, simula a existência de uma reunião de negócios e pede para que a secretária fique no local para auxiliá-lo. À noite, Glória comparece à sala do executivo acreditando que ocorreria a reunião, quando é surpreendida por este, que coloca uma faca em seu pescoço e exige a práti- ca de atos sexuais, sendo, em razão do medo, atendido. Após o ato, Felipe afirmou que Glória deveria comparecer normal- mente ao trabalho no dia seguinte e ainda lhe entregou duas notas de R$ 100,00. Diante da situação narrada, é correto afirmar que Felipe deverá responder pela prática do crime de: A) violação sexual mediante fraude. B) assédio sexual. C) favorecimento da prostituição ou outra forma de explora- ção sexual. D) estupro. RESPOSTA A) O crime de violação sexual mediante fraude (art. 215, CP) é praticado sem violência ou grave ameaça à vítima, o que não foi o caso da ofendida Glória. B) O crime de assédio sexual (art. 216-A, CP) é praticado sem violência ou grave ameaça à vítima, o que não foi o caso da ofendida Glória. C) Felipe não induziu ou atraiu Glória à prostituição ou outra forma de exploração sexual (art. 228, CP). Felipe praticou o crime de estupro contra Glória, estando presentes todas as elementares do art. 213, CP: “Constran- ger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”. 3. (XVIII Exame de Ordem Unificado/FGV) No ano de 2014, Bruno, Bernardo e Bianca se uniram com a intenção de praticar, reiteradamente, a contravenção penal de jogo do bi- cho. Para tanto, reuniam-se toda quarta-feira e decidiam em quais locais o jogo do bicho seria explorado. Chegaram, efeti- vamente, em uma oportunidade, a explorar o jogo do bicho em determinado estabelecimento. Considerando apenas as informações narradas, Bruno, Bernardo e Bianca responderão: A) pela contravenção penal do jogo do bicho, apenas. B) pela contravenção penal do jogo do bicho e pelo crime de associação criminosa. C) pela contravenção penal do jogo do bicho e pelo crime de organização criminosa. D) pelo crime de associação criminosa, apenas. RESPOSTA O crime de associação criminosa, conforme o art. 288, CP, estará caracterizado com a associação de três ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes. Como o jogo do bicho é contravenção penal, e não crime, não inci- dirá o referido art. 288, CP. B) Não está caracterizado o delito de associação criminosa (art. 288, CP), pois não houve a reunião de três ou mais pessoas para a prática de crimes (o jogo do bicho é contra- venção penal). C) O crime de organização criminosa pressupõe, entre ou- tros requisitos, a existência de quatro ou mais pessoas (art. 1º, § 1º, Lei n. 12.850/2013), o que não ocorre na questão. D) Como dito, não há associação criminosa (art. 288, CP), já que o jogo do bicho não é crime, mas contravenção penal. 4. (XVIII Exame de Ordem Unificado/FGV) Cacau, de 20 anos, moça pacata residente em uma pequena fazenda no interior do Mato Grosso, mantém um relacionamento amoro- so secreto com Noel, filho de um dos empregados de seu pai. Em razão da relação, fica grávida, mas mantém a situação em 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 117_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 1 29/02/2024 18:36:5229/02/2024 18:36:52 2 AlexAndre SAlim Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado segredo pelo temor que tinha de seu pai. Após o nascimento de um bebê do sexo masculino, Cacau, sem que ninguém sou- besse, em estado puerperal, para ocultar sua desonra, leva a criança para local diverso do parto e a deixa embaixo de uma árvore no meio da fazenda vizinha, sem prestar assistência devida, para que alguém encontrasse e acreditasse que aquele recém-nascido fora deixado por desconhecido. Apesar de a fazenda vizinha ser habitada, ninguém encontra a criança nas 06 horas seguintes, vindo o bebê a falecer. A perícia confir- mou que, apesar do estado puerperal, Cacau era imputável no momento dos fatos. Considerando a situação narrada, é correto afirmar que Cacau deverá ser responsabilizada pelo crime de: A) abandono de incapaz qualificado. B) homicídio doloso. C) infanticídio. C) exposição ou abandono de recém-nascido qualificado. RESPOSTA A) De acordo com o art. 133, CP, caracteriza o crime de abandono de incapaz “Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono”. Como Cacau agiu “para ocultar sua desonra”, cometeu o crime de exposição ou abandono de recém-nas- cido (art. 134, CP), que está assim descrito: “Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria”. B) Não há homicídio doloso (art. 121, CP), pois Cacau não matou o filho de forma voluntária. C) Não há infanticídio (art. 123, CP), pois Cacau não matou o filho de forma voluntária. Cacau praticou exposição ou abandono de recém-nascido (art. 134, CP), já que abandonou o filho recém-nascido para ocultar desonra própria. O delito restou qualificado em face da morte da vítima (art. 134, § 2º, CP). 5. (XVIII Exame de Ordem Unificado/FGV) Maria mantém relacionamento clandestino com João. Acreditando estar grávida, procura o seu amigo Pedro, que é auxiliar de enfermagem, e implora para que ele faça o aborto. Pedro, que já auxiliou diversas cirurgias legais de aborto, acredi- tando ter condições técnicas de realizar o ato sozinho, aten- de ao pedido de sua amiga, preocupado com a situação pes- soal de Maria, que não poderia assumir a gravidez por ela anunciada. Durante a cirurgia, em razão da imperícia de Pedro, Maria vem a falecer, ficando apurado que, na verda- de, ela não estava grávida. Em razão do fato narrado, Pedro deveráresponder pelo crime de: A) aborto tentado com consentimento da gestante qualifica- do pelo resultado morte. B) aborto tentado com consentimento da gestante. C) homicídio culposo. D) homicídio doloso. RESPOSTA A) Há crime impossível em relação ao aborto, pois Maria não estava grávida. B) Há crime impossível em relação ao aborto, pois Maria não estava grávida. Alternativa correta. O agente deve responder por homicí- dio culposo, já que a morte de Maria se deu “em razão da imperícia de Pedro”. D) Pedro não matou Maria voluntariamente (homicídio dolo- so), mas sim em face da sua imperícia (homicídio culposo). 6. (XIX Exame de Ordem Unificado/FGV) Durante uma discussão, Theodoro, inimigo declarado de Valentim, seu cunhado, golpeou a barriga de seu rival com uma faca, com intenção de matá-lo. Ocorre que, após o primeiro golpe, pensando em seus sobrinhos, Theodoro percebeu a incorre- ção de seus atos e optou por não mais continuar golpeando Valentim, apesar de saber que aquela única facada não seria suficiente para matá-lo. Neste caso, Theodoro: A) não responderá por crime algum, diante de seu arrependi- mento. B) responderá pelo crime de lesão corporal, em virtude de sua desistência voluntária. C) responderá pelo crime de lesão corporal, em virtude de seu arrependimento eficaz. D) responderá por tentativa de homicídio. RESPOSTA A) O arrependimento de Theodoro não é causa de exclusão do crime. Como Theodoro, após o primeiro golpe, “optou por não mais continuar golpeando Valentim”, houve desistência voluntária (art. 15, CP, 1ª parte), devendo o agente respon- der por lesão corporal. C) Não se trata de arrependimento eficaz (o qual pressupõe esgotamento dos meios executórios), mas sim de desistên- cia voluntária (a qual não pressupõe esgotamento dos meios executórios). D) De acordo com a parte final do art. 15, CP, o agente so- mente responde pelos atos já praticados (no caso, lesão corporal). 7. (XIX Exame de Ordem Unificado/FGV) Pedro e Pau- lo bebiam em um bar da cidade quando teve início uma dis- cussão sobre futebol. Pedro, objetivando atingir Paulo, desfe- re contra ele um disparo que atingiu o alvo desejado e também terceira pessoa que se encontrava no local, certo que ambas as vítimas faleceram, inclusive aquela cuja morte não era queri- da pelo agente. Para resolver a questão no campo jurídico, deve ser apli- cada a seguinte modalidade de erro: A) erro sobre a pessoa. B) aberratio ictus. C) aberratio criminis D) erro determinado por terceiro. 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 217_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 2 29/02/2024 18:36:5229/02/2024 18:36:52 Direito Penal 3 Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado RESPOSTA A) Não há erro sobre a pessoa (art. 20, § 3º, CP), pois este pressupõe que o agente confunda a sua vítima com outra, o que não ocorreu. Houve erro na execução (erro de pontaria), conforme dis- posto no art. 73, CP: “Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pes- soa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela, atenden- do-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código”. C) Não há aberratio criminis ou delicti (art. 74, CP), uma vez que tal instituto incide quando há erro de pessoa para coi- sa ou de coisa para pessoa, o que não ocorreu. D) Não há erro determinado por terceiro (art. 20, § 2º, CP), pois a questão não refere que o agir de Pedro foi determi- nado por uma terceira pessoa. 8. (XIX Exame de Ordem Unificado/FGV) Após reali- zarem o roubo de um caminhão de carga, os roubadores não sabem como guardar as coisas subtraídas até o transporte para outro Estado no dia seguinte. Diante dessa situação, pro- curam Paulo, amigo dos criminosos, e pedem para que ele guarde a carga subtraída no seu galpão por 24 horas, admitin- do a origem ilícita do material. Paulo, para ajudá-los, permite que a carga fique no seu galpão, que é utilizado como uma oficina mecânica, até o dia seguinte. A polícia encontra na mesma madrugada todo o material no galpão de Paulo, que é preso em flagrante. Diante desse quadro fático, Paulo deverá responder pelo crime de: A) receptação. B) receptação qualificada. C) roubo majorado. D) favorecimento real. RESPOSTA A) Não há receptação (art. 180, CP), pois Paulo, com sua con- duta, não visou a alcançar vantagem econômica para si ou para terceiro. Ademais, Paulo não pretendia ter as coisas subtraídas para si de forma definitiva. B) Não há receptação qualificada (art. 180, § 1º, CP), pois Paulo, como dito, não buscou vantagem econômica para si ou para terceiro. Por ser amigo dos criminosos, Paulo de- cidiu ajudá-los, o que ocorreria por apenas 24 horas. C) Não há roubo majorado (art. 157, § 2º, CP), já que inexiste concurso de pessoas entre Paulo e os demais agentes. Não há liame subjetivo (requisito do concurso de pessoas) en- tre Paulo e os demais autores para a prática de roubo. Paulo responderá por favorecimento real (art. 349, CP), pois prestou aos criminosos, fora dos casos de coautoria ou receptação, auxílio destinado a tornar seguro o provei- to do crime. 9. (XIX Exame de Ordem Unificado/FGV) Em razão do aumento do número de crimes de dano qualificado contra o patrimônio da União (pena: detenção de 6 meses a 3 anos e multa), foi editada uma lei que passou a prever que, entre 20 de agosto de 2015 e 31 de dezembro de 2015, tal delito (Art. 163, parágrafo único, inciso III, do Código Penal) passaria a ter pena de 2 a 5 anos de detenção. João, em 20 de dezembro de 2015, destrói dolosamente um bem de propriedade da União, razão pela qual foi denunciado, em 8 de janeiro de 2016, como incurso nas sanções do Art. 163, parágrafo único, inciso III, do Código Penal. Considerando a hipótese narrada, no momento do julga- mento, em março de 2016, deverá ser considerada, em caso de condenação, a pena de: A) 6 meses a 3 anos de detenção, pois a Constituição prevê o princípio da retroatividade da lei penal mais benéfica ao réu. B) 2 a 5 anos de detenção, pois a lei temporária tem ultrativi- dade gravosa. C) 6 meses a 3 anos de detenção, pois aplica-se o princípio do tempus regit actum (tempo rege o ato). D) 2 a 5 anos de detenção, pois a lei excepcional tem ultrati- vidade gravosa. RESPOSTA A) Não foi editada lei penal mais benéfica que pudesse ser aplicada de forma retroativa. Ademais, deve ser aplicada a ultra-atividade gravosa da lei temporária. A questão traz exemplo de lei penal temporária, já que possui prazo de vigência previamente fixado (de 20-8- 2015 a 31-12-2015). Ainda que a denúncia tenha sido oferecida em janeiro de 2016, incidirá a pena mais grave em face da ultra-atividade gravosa, expressamente pre- vista no art. 3º, CP. C) Pelo princípio tempus regit actum, deveria ser aplicada a pena mais gravosa (2 a 5 anos de detenção). D) Lei excepcional é aquela que vige durante uma situação de anormalidade. Já a lei temporária é que vige durante um prazo prefixado. Como se vê, a questão traz exemplo de lei temporária, e não de lei excepcional. 10. (XIX Exame de Ordem Unificado/FGV) Durante uma operação em favela do Rio de Janeiro, policiais militares conseguem deter um jovem da comunidade portando um rá- dio transmissor. Acreditando ser o mesmo integrante do tráfi- co da comunidade, mediante violência física, os policiais exi- gem que ele indique o local onde as drogas e as armas estavam guardadas. Em razão das lesões sofridas, o jovem vem a fale- cer. O fato foi descoberto e os policiais disseram que ocorreu um acidente, porquanto não queriam a morte do rapaz por eles detido, apesar de confirmarem que davam choques elétri- cos em seu corpo molhado com o fim de descobrir o esconde- rijo das drogas. Diante desse quadro, que restou integralmente provado,os policiais deverão responder pelo crime de: A) lesão corporal seguida de morte. 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 317_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 3 29/02/2024 18:36:5229/02/2024 18:36:52 4 AlexAndre SAlim Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado B) tortura qualificada pela morte com causa de aumento. C) homicídio qualificado pela tortura. D) abuso de autoridade. RESPOSTA A) O dolo dos policiais não era de lesionar a vítima, mas sim de torturá-la. Os policiais praticaram tortura qualificada pela morte da vítima, devendo responder pelo crime previsto no art. 1º, § 3º, Lei n. 9.455/97. Trata-se de crime preterdoloso: há dolo na conduta antecedente (tortura) e culpa no resultado consequente (morte). C) O dolo dos policiais não era de matar a vítima, mas sim de torturá-la. D) A vítima foi constrangida com emprego de violência, o que lhe causou intenso sofrimento físico e mental. Tais elementares não estão na Lei de Abuso de Autoridade, mas sim na Lei de Tortura. 11. (XIX Exame de Ordem Unificado/FGV) Patrício, ao chegar em sua residência, constatou o desaparecimento de um relógio que havia herdado de seu falecido pai. Suspeitan- do de um empregado que acabara de contratar para trabalhar em sua casa e que ficara sozinho por todo o dia no local, Pa- trício registrou o fato na Delegacia própria, apontando, de maneira precipitada, o empregado como autor da subtração, sendo instaurado o respectivo inquérito em desfavor daquele “suspeito”. Ao final da investigação, o inquérito foi arquivado a requerimento do Ministério Público, ficando demonstrado que o indiciado não fora o autor da infração. Considerando que Patrício deu causa à instauração de inquérito policial em desfavor de empregado cuja inocência restou demonstrada, é correto afirmar que o seu comporta- mento configura: A) fato atípico. B) crime de denunciação caluniosa dolosa. C) crime de denunciação caluniosa culposa. D) calúnia. RESPOSTA Patrício praticou fato atípico, pois não há calúnia (o agen- te não buscou ofender a honra objetiva da vítima) nem denunciação caluniosa (o agente não buscou desencadear investigação policial contra pessoa inocente). B) O crime de denunciação caluniosa (art. 339, CP) pressu- põe o dolo direto, ou seja, a consciência e a vontade de registrar a ocorrência policial imputando ao ofendido cri- me de que o sabe inocente. C) O crime de denunciação caluniosa (art. 339, CP) não ad- mite a forma culposa. D) Não há calúnia (art. 138, CP), pois Patrício não registrou o fato na Delegacia de Polícia com o fim de ofender a honra objetiva do empregado, mas sim porque suspeitava dele. 12. (XX Exame de Ordem Unificado/FGV) Guilherme, funcionário público de determinada repartição pública do Es- tado do Paraná, enquanto organizava os arquivos de sua re- partição, acabou, por desatenção, jogando ao lixo, juntamente com materiais inúteis, um importante livro oficial, que veio a se perder. Considerando apenas as informações narradas, é correto afirmar que a conduta de Guilherme: A) configura crime de prevaricação. B) configura situação atípica. C) configura crime de condescendência criminosa. D) configura crime de extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento. RESPOSTA A) Não há prevaricação, pois o crime do art. 319, CP, é dolo- so, e o autor agiu com culpa (“desatenção”). Guilherme praticou fato atípico. Não há prevaricação, pois este crime não admite a forma culposa. Também não há condescendência criminosa, pois Guilherme não dei- xou de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo. Por fim, inexiste extravio, sonega- ção ou inutilização de livro ou documento, já que Gui- lherme não extraviou, sonegou ou inutilizou o livro ofi- cial, e sim, por culpa, jogou-o no lixo. C) Guilherme não praticou o crime do art. 314, CP, que pre- vê: “Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente”. D) Guilherme não praticou o crime do art. 320, CP, que pre- vê: “Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabi- lizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente”. 13. (XX Exame de Ordem Unificado/FGV) Wellington pretendia matar Ronaldo, camisa 10 e melhor jogador de fute- bol do time Bola Cheia, seu adversário no campeonato do bairro. No dia de um jogo do Bola Cheia, Wellington vê, de costas, um jogador com a camisa 10 do time rival. Acreditan- do ser Ronaldo, efetua diversos disparos de arma de fogo, mas, na verdade, aquele que vestia a camisa 10 era Rodrigo, adolescente que substituiria Ronaldo naquele jogo. Em virtu- de dos disparos, Rodrigo faleceu. Considerando a situação narrada, assinale a opção que indica o crime cometido por Wellington. A) Homicídio consumado, considerando-se as características de Ronaldo, pois houve erro na execução. B) Homicídio consumado, considerando-se as características de Rodrigo. C) Homicídio consumado, considerando-se as características de Ronaldo, pois houve erro sobre a pessoa. D) Tentativa de homicídio contra Ronaldo e homicídio culpo- so contra Rodrigo. RESPOSTA A) Não houve erro na execução (aberratio ictus – art. 73, CP), já que o autor confundiu a sua vítima com outra. 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 417_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 4 29/02/2024 18:36:5229/02/2024 18:36:52 Direito Penal 5 Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado B) São levadas em conta as características de Ronaldo, e não as de Rodrigo, conforme o disposto no art. 20, § 3º, CP. De acordo com o art. 20, § 3º, CP, “O erro quanto à pes- soa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualida- des da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime”. Assim, consideram-se as carac- terísticas de Ronaldo (vítima visada), e não as de Rodri- go (vítima atingida). D) Wellington responderá por um só crime: homicídio con- sumado, considerando-se as características da vítima vi- sada (Ronaldo). 14. (XX Exame de Ordem Unificado/FGV) Rafael foi condenado pela prática de crime a pena privativa de liberdade de 04 anos e 06 meses, tendo a sentença transitado em julgado em 10/02/2008. Após cumprir 02 anos e 06 meses de pena, obteve livramento condicional em 10/08/2010, sendo o mes- mo cumprido com correção e a pena extinta em 10/08/2012. Em 15/09/2015, Rafael pratica novo crime, dessa vez de rou- bo, tendo como vítima senhora de 60 anos de idade, circuns- tância que era do seu conhecimento. Dois dias depois, arre- pendido, antes da denúncia, reparou integralmente o dano causado. Na sentença, o magistrado condenou o acusado, re- conhecendo a existência de duas agravantes pela reincidência e idade da vítima, além de não reconhecer o arrependimento posterior. O advogado de Rafael deve pleitear: A) reconhecimento do arrependimento posterior. B) reconhecimento da tentativa. C) afastamento da agravante pela idade da vítima. D) afastamento da agravante da reincidência. RESPOSTA A) O instituto do arrependimento posterior (art. 16, CP) so- mente é aplicável nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, o que não é o caso (a questão fala em roubo). B) O delito de roubo consumou-se no momento em que, me- diante violência ou grave ameaça à vítima, Rafael tomou posse da coisa roubada (teoria da apprehensio ou amotio + Súmula 582, STJ). C) Se a vítima era idosa (60 anos), e tal circunstância era do conhecimento do agente, a incidência da agravante (art. 61, II, h,CP) é obrigatória. O advogado de Rafael deve pleitear o afastamento da agravante da reincidência (art. 61, I, CP), uma vez que o art. 64, I, CP refere: “Para efeito de reincidência: I – não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cum- primento ou extinção da pena e a infração posterior ti- ver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação”. Se Rafael obteve livramento condicional em 10-8-2010, e este prazo é computado para fins de depuração da rein- cidência, tem-se que os 5 anos referidos no art. 64, I, CP são contados desde aquela data (10-8-2010). Assim, quando Rafael praticou o roubo (15-9-2015), já havia transcorrido período superior a cinco anos, sendo, por- tanto, tecnicamente primário. 15. (XX Exame de Ordem Unificado/FGV) Aproveitan- do-se da ausência do morador, Francisco subtraiu de um sítio diversas ferramentas de valor considerável, conduta não assis- tida por quem quer que seja. No dia seguinte, o proprietário Antônio verifica a falta das coisas subtraídas, resolvendo se dirigir à delegacia da cidade. Após efetuar o devido registro, quando retornava para o sítio, Antônio avistou Francisco ca- minhando com diversas ferramentas em um carrinho, consta- tando que se tratavam dos bens dele subtraídos no dia anterior. Resolve fazer a abordagem, logo dizendo ser o proprietário dos objetos, vindo Francisco, para garantir a impunidade do crime anterior, a desferir um golpe de pá na cabeça de Antô- nio, causando-lhe as lesões que foram a causa de sua morte. Apesar de tentar fugir em seguida, Francisco foi preso por po- liciais que passavam pelo local, sendo as coisas recuperadas, ficando constatado o falecimento do lesado. Revoltada, a fa- mília de Antônio o procura, demonstrando interesse em sua atuação como assistente de acusação e afirmando a existência de dúvidas sobre a capitulação da conduta do agente. Considerando o caso narrado, o advogado esclarece que a conduta de Francisco configura o(s) crime(s) de: A) latrocínio consumado. B) latrocínio tentado. C) furto tentado e homicídio qualificado. D) furto consumado e homicídio qualificado. RESPOSTA A) Não há latrocínio, pois, no momento em que Francisco matou a vítima, o crime de furto já estava consumado (teo ria da apprehensio ou amotio). B) Como dito acima, não se fala em latrocínio (art. 157, § 3º, última parte, do CP), já que, no momento da morte da ví- tima, o delito de furto já estava consumado. C) O crime de furto se consumou (teoria da apprehensio ou amotio). De acordo com tese jurídica firmada no STJ, “Consuma-se o crime de furto com a posse de fato da res furtiva, ainda que por breve espaço de tempo e seguida de perseguição ao agente, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada” (STJ, 3ª Seção, REsp 1524450, j. 14-10-2015). Como Francisco agiu “para garantir a impunidade do cri- me anterior”, incidirá, além do furto consumado, o delito de homicídio qualificado (art. 121, § 2º, V, do CP). 16. (XX Exame de Ordem Unificado/FGV) Durante dois meses, Mário, 45 anos, e Joana, 14 anos, mantiveram relações sexuais em razão de relacionamento amoroso. Ape- sar do consentimento de ambas as partes, ao tomar conheci- mento da situação, o pai de Joana, revoltado, comparece à 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 517_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 5 29/02/2024 18:36:5229/02/2024 18:36:52 6 AlexAndre SAlim Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado Delegacia e narra o ocorrido para a autoridade policial, escla- recendo que o casal se conhecera no dia do aniversário de 14 anos de sua filha. Considerando apenas as informações narradas, é correto afirmar que a conduta de Mário: A) é atípica, em razão do consentimento da ofendida. B) configura crime de estupro de vulnerável. C) é típica, mas não é antijurídica, funcionando o consenti- mento da ofendida como causa supralegal de exclusão da ilicitude. D) configura crime de corrupção de menores. RESPOSTA O fato é atípico, pois o crime de estupro de vulnerável (art. 217-A, do CP) pressupõe que a vítima seja menor de 14 anos, o que não era o caso de Joana. B) Como dito, não há estupro de vulnerável, pois Joana, quando se relacionou sexualmente com Mário, não era menor de 14 anos. C) Não se fala em exclusão da ilicitude, mas da própria tipi- cidade, uma vez que ausente elementar típica dos crimes de estupro de vulnerável (“menor de 14 anos” – art. 217-A do CP) e estupro (“mediante violência ou grave ameaça” – art. 213 do CP). D) Mário não induziu pessoa menor de 14 anos a satisfazer a lascívia de outrem (art. 218 do CP). 17. (XXI Exame de Ordem Unificado/FGV) Revoltado com a conduta de um Ministro de Estado, Mário se esconde no interior de uma aeronave pública brasileira, que estava a servi- ço do governo, e, no meio da viagem, já no espaço aéreo equi- valente ao Uruguai, desfere 5 facadas no Ministro com o qual estava insatisfeito, vindo a causar-lhe lesão corporal gravíssi- ma. Diante da hipótese narrada, com base na lei brasileira, assinale a afirmativa correta. A) Mário poderá ser responsabilizado, segundo a lei brasilei- ra, com base no critério da territorialidade. B) Mário poderá ser responsabilizado, segundo a lei brasilei- ra, com base no critério da extraterritorialidade e princí- pio da justiça universal. C) Mário poderá ser responsabilizado, segundo a lei brasilei- ra, com base no critério da extraterritorialidade, desde que ingresse em território brasileiro e não venha a ser jul- gado no estrangeiro. D) Mário não poderá ser responsabilizado pela lei brasileira, pois o crime foi cometido no exterior e nenhuma das cau- sas de extraterritorialidade se aplica ao caso. RESPOSTA A aeronave pública brasileira é considerada extensão do território nacional, a teor do art. 5º, § 1º, do CP, aplicando- se, dessa forma, o princípio da territorialidade. B) Como dito, a aeronave pública brasileira é considerada ex- tensão do território nacional. Assim, o critério é o da ter- ritorialidade, e não o da extraterritorialidade. C) Conforme referido acima, a aeronave pública brasileira é considerada extensão do território nacional, devendo ser aplicado o princípio da territorialidade, e não o da extra- territorialidade. D) Mário poderá ser responsabilizado pela lei brasileira, de acordo com o disposto no art. 5º, caput e § 1º, do Código Penal. 18. (XXI Exame de Ordem Unificado/FGV) Carlos, 21 anos, foi condenado a cumprir pena de prestação de serviços à comunidade pela prática de um crime de lesão corporal cul- posa no trânsito. Em 1º-1-2014, seis meses após cumprir a pena restritiva de direitos aplicada, praticou novo crime de natureza culposa, vindo a ser denunciado. Carlos, após não aceitar qualquer benefício previsto na Lei n. 9.099/95 e ser realizada audiência de instrução e julgamento, é novamente condenado em 17-2-2016. O juiz aplica pena de 11 meses de detenção, não admitindo a substituição por restritiva de direi- tos em razão da reincidência. Considerando que os fatos são verdadeiros e que o Mi- nistério Público não apelou, o(a) advogado(a) de Carlos, sob o ponto de vista técnico, deverá requerer, em recurso, A) a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. B) a suspensão condicional da pena. C) o afastamento do reconhecimento da reincidência. D) a prescrição da pretensão punitiva. RESPOSTA Deve ser requerida a substituição da pena privativa de li- berdade por restritiva de direitos, já que a vedação legal se dá em relação à reincidência em crime doloso (art. 44, II, do CP), e não em crime culposo. B) De acordo com o art. 77, III, do CP, somente será aplicada a suspensão condicional da pena quando não for indicada ou cabível a substituição prevista noart. 44 do Código Penal. Portanto, como é possível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, resta pre- judicada a concessão do sursis. C) Carlos é reincidente, pois cometeu novo crime depois de transitar em julgado a sentença que, no País, o condenou por crime anterior (art. 63 do CP). D) Não há prescrição a ser arguida, pois a pena aplicada de 11 meses prescreve em três anos (art. 109, VI, do CP), prazo não verificado na questão. 19. (XXI Exame de Ordem Unificado/FGV) Carlos presta serviço informal como salva-vidas de um clube, não sendo regularmente contratado, apesar de receber uma gorje- ta para observar os sócios do clube na piscina, durante toda a semana. Em seu horário de “serviço”, com várias crianças brincando na piscina, fica observando a beleza física da mãe de uma das crianças e, ao mesmo tempo, falando no celular com um amigo, acabando por ficar de costas para a piscina. Nesse momento, uma criança vem a falecer por afogamento, fato que não foi notado por Carlos. 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 617_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 6 29/02/2024 18:36:5229/02/2024 18:36:52 Direito Penal 7 Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado Sobre a conduta de Carlos, diante da situação narrada, assinale a afirmativa correta. A) Não praticou crime, tendo em vista que, apesar de garan- tidor, não podia agir, já que concretamente não viu a criança se afogando. B) Deve responder pelo crime de homicídio culposo, diante de sua omissão culposa, violando o dever de garantidor. C) Deve responder pelo crime de homicídio doloso, em razão de sua omissão dolosa, violando o dever de garantidor. D) Responde apenas pela omissão de socorro, mas não pelo resultado morte, já que não havia contrato regular que o obrigasse a agir como garantidor. RESPOSTA A) Carlos, ao prestar serviço como salva-vidas, ainda que in- formalmente, assumiu a posição de garante, a teor do art. 13, § 2º, do CP. Assim, Carlos praticou crime omissivo impróprio de homicídio culposo (art. 121, § 3º, do CP). Como dito, Carlos cometeu o delito de homicídio culposo, pois, embora tenha agido sem intenção de produzir o re- sultado, tinha o dever jurídico de evitá-lo. C) Não há homicídio doloso, pois a questão não traz qualquer elemento indicativo de que Carlos quis o resultado ou as- sumiu o risco de produzi-lo. D) O garante não responde pela simples omissão (crime omissivo próprio ou puro), mas sim pelo resultado natura- lístico que deveria ter evitado e não evitou (crime omissi- vo impróprio, impuro ou comissivo por omissão). 20. (XXI Exame de Ordem Unificado/FGV) Felipe sempre sonhou em ser proprietário de um veículo de renomada marca mundial. Quando soube que uma moradora de sua rua tinha um dos veículos de seu sonho em sua garagem, Felipe combinou com Caio e Bruno de os dois subtraírem o veículo, garantindo que ficaria com o produto do crime e que Caio e Bruno iriam receber determinado valor, o que efetivamente vem a ocorrer. Após receber o carro, Felipe o leva para sua casa de praia, localizada em outra cidade do mesmo Estado em que reside. Os fatos são descobertos e o veículo é apreendido na casa de veraneio de Felipe. Considerando as informações narradas, é correto afir- mar que Felipe deverá ser responsabilizado pela prática do crime de A) furto simples. B) favorecimento real. C) furto qualificado pelo concurso de agentes. D) receptação. RESPOSTA A) Como o furto foi praticado mediante concurso de pessoas, o crime restou qualificado (art. 155, § 4º, IV, do CP). B) Felipe contribuiu para o resultado (subtração do automó- vel) antes da consumação do crime, de forma que há cri- me de furto (art. 155 do CP), e não de favorecimento real (art. 349 do CP). Como todos os agentes estavam conluiados para a prática da subtração do veículo da vítima, Felipe deverá respon- der por furto, o qual restou qualificado pelo concurso de pessoas (art. 155, § 4º, IV, do CP). D) Felipe contribuiu para o resultado (subtração do automó- vel) antes da consumação do crime, de forma que há cri- me de furto (art. 155 do CP), e não de receptação (art. 180 do CP). 21. (XXI Exame de Ordem Unificado/FGV) No curso de uma assembleia de condomínio de prédio residencial fo- ram discutidos e tratados vários pontos. O morador Rodrigo foi o designado para redigir a ata respectiva, descrevendo tudo que foi discutido na reunião. Por esquecimento, deixou de fazer constar ponto relevante debatido, o que deixou Lú- cio, um dos moradores, revoltado ao receber cópia da ata. Indignado, Lúcio promove o devido registro na delegacia própria, comprovando que Rodrigo, com aquela conduta, ha- via lhe causado grave prejuízo financeiro. Após oitiva dos moradores do prédio, em que todos confirmaram que o tema mencionado por Lúcio, de fato, fora discutido e não constava da ata, o Ministério Público ofereceu denúncia em face de Rodrigo, imputando-lhe a prática do crime de falsidade ide- ológica de documento público. Considerando que todos os fatos acima destacados fo- ram integralmente comprovados no curso da ação, o(a) advo- gado(a) de Rodrigo deverá alegar que A) ele deve ser absolvido por respeito ao princípio da correla- ção, já que a conduta por ele praticada melhor se ajusta ao crime de falsidade material, que não foi descrito na de- núncia. B) sua conduta deve ser desclassificada para crime de falsi- dade ideológica culposa. C) a pena a ser aplicada, apesar da prática do crime de falsi- dade ideológica, é de um a três anos de reclusão, já que a ata de assembleia de condomínio é documento particular, e não público. D) ele deve ser absolvido por atipicidade da conduta. RESPOSTA A) Rodrigo deve ser absolvido por atipicidade da conduta. Não há falsidade material (art. 297 do CP), pois o vício constatado na ata dizia respeito ao conteúdo do documen- to, e não à sua forma. B) O Código Penal não prevê o crime de falsidade ideológica (art. 299) culposa. C) Como dito acima, Rodrigo deve ser absolvido por atipici- dade da conduta, pois não agiu com dolo, e sim com culpa (esquecimento). O comportamento de Rodrigo não configura crime, ra- zão pela qual ele deverá ser absolvido por atipicidade da conduta. 22. (XXI Exame de Ordem Unificado/FGV) Alberto, policial civil, passando por dificuldades financeiras, resolve se valer de sua função para ampliar seus vencimentos. Para tanto, durante o registro de uma ocorrência na Delegacia onde 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 717_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 7 29/02/2024 18:36:5229/02/2024 18:36:52 8 AlexAndre SAlim Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado está lotado, solicita à noticiante R$ 2.000,00 para realizar as investigações necessárias à elucidação do fato. Indignada com a proposta, a noticiante resolve gravar a conversa. Dizen- do que iria pensar se aceitaria pagar o valor solicitado, a noti- ciante deixa o local e procura a Corregedoria de Polícia Civil, narrando a conduta do policial e apresentando a gravação para comprovação. Acerca da conduta de Alberto, é correto afirmar que configura crime de A) corrupção ativa, em sua modalidade tentada. B) corrupção passiva, em sua modalidade tentada. C) corrupção ativa consumada. D) corrupção passiva consumada. RESPOSTA A) Não há corrupção ativa (art. 333 do CP), que é crime prati- cado por particular contra a Administração em geral, pois Alberto é funcionário público e, como tal, cometeu o delito. B) Alberto praticou o crime de corrupção passiva (art. 317 do CP), que é formal e se consumou no momento em que o agente solicitou a vantagem indevida. Não há, portanto, que se falar em tentativa. C)Como referido acima, Alberto praticou o delito de corrup- ção passiva (art. 317 do CP), e não de corrupção ativa (art. 333 do CP). D) Alberto cometeu o crime de corrupção passiva (art. 317 do CP), que é delito funcional, uma vez que, na condição de funcionário público, solicitou vantagem indevida. A con- sumação ocorreu no exato momento em que a solicitação chegou ao conhecimento da vítima. 23. (XXII Exame de Ordem Unificado/FGV) A Delega- cia Especializada de Crimes Tributários recebeu informações de órgãos competentes de que o sócio Mário, da sociedade empresária “Vamos que vamos”, possivelmente sonegou im- posto esta dual, gerando um prejuízo aos cofres do Estado ava- liado em R$ 60.000,00. Foi instaurado, então, inquérito poli- cial para apurar os fatos. Ao mesmo tempo, foi iniciado procedimento administrativo, não havendo, até o momento, lançamento definitivo do crédito tributário. O inquérito poli- cial foi encaminhado ao Ministério Público, que ofereceu de- núncia em face de Mário, imputando-lhe a prática do crime previsto no art. 1º, inciso I, da Lei n. 8.137/90. Diante da situação narrada, assinale a afirmativa correta. A) Não se tipifica o crime imputado ao acusado antes do lan- çamento definitivo. B) Em razão da independência de instância, o lançamento de- finitivo é irrelevante para configuração da infração penal. C) O crime imputado a Mário é de natureza formal, consu- mando-se no momento da omissão de informação com o objetivo de reduzir tributo, ainda que a redução efetiva- mente não ocorra. D) O crime imputado a Mário é classificado como próprio, de modo que é necessária a presença de ao menos um fun- cionário público como autor ou partícipe do delito. RESPOSTA O fundamento está na Súmula Vinculante 24 do STF: “Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei n. 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo”. B) Não há, neste caso, independência entre as instâncias pe- nal e administrativa. C) O crime é material, conforme a Súmula Vinculante 24 do STF. D) O crime referido na questão – art. 1º, I, da Lei n. 8.137/90 – não é próprio (funcional), mas comum, ou seja, pratica- do por particulares. 24. (XXII Exame de Ordem Unificado/FGV) Acreditan- do estar grávida, Pâmela, 18 anos, desesperada porque ainda morava com os pais e eles sequer a deixavam namorar, utilizan- do um instrumento próprio, procura eliminar o feto sozinha no banheiro de sua casa, vindo a sofrer, em razão de tal comporta- mento, lesão corporal de natureza grave. Encaminhada ao hos- pital para atendimento médico, fica constatado que, na verda- de, ela não se achava e nunca esteve grávida. O Hospital, todavia, é obrigado a noticiar o fato à autoridade policial, tendo em vista que a jovem de 18 anos chegou ao local em situação suspeita, lesionada. Diante disso, foi instaurado procedimento administrativo investigatório próprio e, com o recebimento dos autos, o Ministério Público ofereceu denúncia em face de Pâ- mela pela prática do crime de “aborto provocado pela gestan- te”, qualificado pelo resultado de lesão corporal grave, nos ter- mos dos art. 124 c/c o art. 127, ambos do Código Penal. Diante da situação narrada, assinale a opção que apre- senta a alegação do advogado de Pâmela. A) A atipicidade de sua conduta. B) O afastamento da qualificadora, tendo em vista que esta somente pode ser aplicada aos crimes de aborto provoca- do por terceiro, com ou sem consentimento da gestante, mas não para o delito de autoaborto de Pâmela. C) A desclassificação para o crime de lesão corporal grave, afastando a condenação pelo aborto. D) O reconhecimento da tentativa do crime de aborto quali- ficado pelo resultado. RESPOSTA Como Pâmela “não se achava e nunca esteve grávida”, tra- ta-se de crime impossível (art. 17 do CP), em face da abso- luta impropriedade do objeto (não há feto a ser abortado). B) Não há o delito de autoaborto (art. 124, 1ª parte, do CP) em virtude do crime impossível (art. 17 do CP). C) Salvo em casos excepcionais, não se pune a autolesão no Brasil. D) Não há o delito de aborto qualificado pelo resultado (art. 127, do CP) em virtude do crime impossível (art. 17 do CP). 25. (XXII Exame de Ordem Unificado/FGV) Mariano, 59 anos de idade, possuía em sua residência 302 vídeos e fo- tografias com cenas de sexo explícito envolvendo adolescen- 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 817_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 8 29/02/2024 18:36:5329/02/2024 18:36:53 Direito Penal 9 Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado tes. Descobertos os fatos, foi denunciado pela prática de 302 crimes do art. 241-B da Lei n. 8.069/90 (“Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra for- ma de registro que contenha cena de sexo explícito ou porno- gráfica e nvolvendo criança ou adolescente”), em concurso material, sendo descrito que possuía o material proibido. Os adolescentes das imagens não foram localizados. Encerrada a instrução e confirmados os fatos, o Ministério Público pug- nou pela condenação nos termos da denúncia. Em sede de alegações finais, diante da confissão do acu- sado e sendo a prova inquestionável, sob o ponto de vista téc- nico, o advogado de Mariano deverá pleitear A) a absolvição de Mariano, tendo em vista que ele não par- ticipava de nenhuma das cenas de sexo explícito envolven- do adolescente. B) o reconhecimento de crime único do art. 241-B da Lei n. 8.069/90. C) o reconhecimento do concurso formal de crimes entre os 302 delitos praticados. D) a extinção da punibilidade do acusado, em razão do desin- teresse dos adolescentes em ver Mariano processado. RESPOSTA A) Mariano não poderá ser absolvido, pois a caracterização do crime pressupõe que o agente “possua” o material proi- bido, e não que participe efetivamente das cenas de sexo explícito envolvendo adolescentes. Ademais, conforme o art. 241-E do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/90), a expressão “cena de sexo explícito ou porno- gráfica” compreende qualquer situação que envolva crian- ça ou adolescente em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente para fins primordialmente sexuais. Há um só crime do art. 241-B do ECA. A quantidade de vídeos e fotografias poderá servir para exasperar a pena- -base (art. 59 do CP), mas não para caracterizar mais de um delito. Reforça o argumento o disposto no art. 241-B, § 1º, do ECA: “A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se de pequena quantidade o material a que se refe- re o caput deste artigo”. Ou seja, havendo pequena quan- tidade, existirá um só crime, com a pena diminuída de um a dois terços. C) Cada um dos 302 itens apreendidos (vídeos e fotografias) não caracteriza 302 delitos autônomos, razão pela qual não há que se falar em concurso formal de crimes (art. 70 do CP), mas sim em delito único. D) A lei não prevê causa extintiva da punibilidade em razão de eventual desinteresse dos adolescentes em ver o autor do crime processado. 26. (XXII Exame de Ordem Unificado/FGV) No dia 15 de abril de 2011, João, nascido em 18 de maio de 1991, foi preso em flagrante pela prática do crime de furto simples, sen- do, em seguida, concedida liberdade provisória. A denúncia somente foi oferecida e recebida em 18 de abril de 2014, oca- sião em que o juiz designou o dia 18 de junho de 2014 para a realização da audiência especial de suspensão condicional do processo oferecida pelo Ministério Público. A proposta foi aceita pelo acusado e pela defesa técnica, iniciando-se o perí- odo de prova naquele mesmo dia. Três meses depois, não ten- do o acusado cumprido as condições estabelecidas, a suspen- são foi revogada, o que ocorreu em decisão datada de 03 de outubro de 2014. Ao finalda fase instrutória, a pretensão puni- tiva foi acolhida, sendo aplicada ao acusado a pena de 01 ano de reclusão em regime aberto, substituída por restritiva de di- reitos. A sentença condenatória foi publicada em 19 de maio de 2016, tendo transitado em julgado para a acusação. Intimado da decisão respectiva, João procura você, na condição de advogado(a), para saber sobre eventual prescrição, pois tomou conhecimento de que a pena de 01 ano, em tese, prescreve em 04 anos, mas que, no caso concreto, por força da menoridade relativa, deve o prazo ser reduzido de metade. Diante desse quadro, você, como advogado(a), deverá esclarecer que A) ocorreu a prescrição da pretensão punitiva entre a data do fato e a do recebimento da denúncia. B) ocorreu a prescrição da pretensão punitiva entre a data do recebimento da denúncia e a da publicação da sentença condenatória. C) ocorreu a prescrição da pretensão executória entre a data do recebimento da denúncia e a da publicação da sentença condenatória. D) não há que se falar em prescrição, no caso apresentado. RESPOSTA A) Desde a vigência da Lei n. 12.234/2010, que deu nova re- dação ao § 1º do art. 110 do Código Penal, a prescrição, em nenhuma hipótese, pode ter por termo inicial data an- terior à da denúncia ou queixa. B) Foi aplicada ao réu pena de um ano, atingindo-se o prazo prescricional de quatro anos (art. 109, V, do CP). Como o acusado é menor de 21 anos ao tempo do crime, o prazo é reduzido de metade (art. 115 do CP), sendo fixado em dois anos. Entre a data do recebimento da denúncia (18-4- 2014) e a data da publicação da sentença condenatória (19- 5-2016) passaram-se dois anos e um mês. No entanto, deve ser levada em conta a causa suspensiva da prescrição disposta no art. 89, § 6º, da Lei n. 9.099/95 (“Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo”). Como o processo esteve suspenso durante pouco mais de três meses (entre 18-6-2014 e 3-10-2014), a prescrição não correu durante esse lapso temporal. Isso significa que não se alcançou o prazo de dois anos para que a prescrição da pretensão punitiva pudesse ser declarada. C) Não há que se falar em PPE (prescrição da pretensão exe- cutória), já que não ocorreu o trânsito em julgado para as duas partes, mas apenas para a acusação. Não há que se falar em prescrição no caso apresentado. 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 917_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 9 29/02/2024 18:36:5329/02/2024 18:36:53 10 AlexAndre SAlim Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado 27. (XXII Exame de Ordem Unificado/FGV) Tony, a pedido de um colega, está transportando uma caixa com cáp- sulas que acredita ser de remédios, sem ter conhecimento que estas, na verdade, continham Cloridrato de Cocaína em seu interior. Por outro lado, José transporta em seu veículo 50g de Cannabis Sativa L. (maconha), pois acreditava que poderia ter pequena quantidade do material em sua posse para fins medicinais. Ambos foram abordados por policiais e, diante da apreensão das drogas, denunciados pela prática do crime de tráfico de entorpecentes. Considerando apenas as informações narradas, o advo- gado de Tony e José deverá alegar em favor dos clientes, res- pectivamente, a ocorrência de A) erro de tipo, nos dois casos. B) erro de proibição, nos dois casos. C) erro de tipo e erro de proibição. D) erro de proibição e erro de tipo. RESPOSTA A) Somente há erro de tipo no primeiro caso. B) Somente há erro de proibição no segundo caso. Como Tony não sabia que estava transportando droga, in- correrá em erro de tipo, o qual incide sobre elemento constitutivo do tipo (“droga”, no caso) e tem fundamento no art. 20, caput, do CP. No que se refere a José, o erro é de proibição, o qual incide sobre o caráter proibitivo do fato (art. 21 do CP). José sabia que transportava droga, mas, naquela situação, achava que não praticava crime. D) Há erro de tipo no primeiro caso e erro de proibição no segundo caso. 28. (XXII Exame de Ordem Unificado/FGV) Gilson, 35 anos, juntamente com seu filho Rafael, de 15 anos, em di- ficuldades financeiras, iniciaram atos para a subtração de um veículo automotor. Gilson portava arma de fogo e, quando a vítima tentou empreender fuga, ele efetua disparos contra ela, a fim de conseguir subtrair o carro. O episódio levou o pro- prietário do automóvel a falecer. Apesar disso, os agentes não levaram o veículo, já que outras pessoas que estavam no local chamaram a Polícia. Descobertos os fatos, Gilson é denuncia- do pelo crime de latrocínio consumado e corrupção de meno- res em concurso formal, sendo ao final da instrução, após confessar os fatos, condenado à pena mínima de 20 anos pelo crime do art. 157, § 3º, do Código Penal, e à pena mínima de 01 ano pelo delito de corrupção de menores, não havendo re- conhecimento de quaisquer agravantes ou atenuantes. Reco- nhecido, porém, o concurso formal de crimes, ao invés de as penas serem somadas, a pena mais grave foi aumentada de 1/6, resultando em um total de 23 anos e 04 meses de reclu- são. Considerando a situação narrada, o advogado de Gilson poderia pleitear, observando a jurisprudência dos Tribunais Superiores, em sede de recurso de apelação, A) a aplicação da regra do cúmulo material em detrimento da exasperação, pelo concurso formal de crimes. B) a aplicação da pena intermediária abaixo do mínimo le- gal, em razão do reconhecimento da atenuante da confis- são espontânea. C) o reconhecimento da modalidade tentada do latrocínio, já que o veículo automotor não foi subtraído. D) o afastamento da condenação por corrupção de menor, pela natureza material do delito. RESPOSTA Conforme o disposto no art. 70, parágrafo único, do Códi- go Penal, “Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código”. Isso significa que, em- bora em regra seja melhor para o réu a exasperação da pena (toma-se a pena mais grave, que é aumentada de um certo percentual) do que o cúmulo material (somam-se todas as penas), quando a soma for mais benéfica ela de- verá prevalecer. No caso concreto apresentado, se as pe- nas fossem somadas (20 anos + 1 ano) chegaríamos a um total de 21 anos, o que é mais benéfico ao réu do que os 23 anos e 4 meses fixados na sentença. B) De acordo com a Súmula 231 do STJ, “A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal”. C) Como a vítima foi morta pelo agente, o latrocínio está con- sumado. O fundamento está na Súmula 610 do STF: “Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ain- da que não realize o agente a subtração de bens da vítima”. D) O crime de corrupção de menor (art. 244-B do ECA) é de natureza formal, e não material. Nesse sentido a Sú- mula 500 do STJ: “A configuração do crime do art. 244-B do ECA independe da prova da efetiva corrupção do me- nor, por se tratar de delito formal”. 29. (XXIII Exame de Ordem Unificado/FGV) Pedro, jovem rebelde, sai à procura de Henrique, 24 anos, seu inimi- go, com a intenção de matá-lo, vindo a encontrá-lo conversan- do com uma senhora de 68 anos de idade. Pedro saca sua arma, regularizada e cujo porte era autorizado, e dispara em direção ao rival. Ao mesmo tempo, a senhora dava um abraço de despedida em Henrique e acaba sendo atingida pelo dispa- ro. Henrique, que não sofreu qualquer lesão, tenta salvar a senhora, mas ela falece. Diante da situação narrada, em con- sulta técnica solicitada pela família, deverá ser esclarecido pelo advogado que a conduta de Pedro, de acordo com o Có- digo Penal, configura: A) crime de homicídio doloso consumado, apenas, com cau- sa de aumento em razão da idade da vítima. B) crime de homicídio doloso consumado, apenas, sem causa de aumento em razão da idade da vítima. C) crimes de homicídio culposo consumado e de tentativade homicídio doloso em relação a Henrique. D) crime de homicídio culposo consumado, sem causa de au- mento pela idade da vítima. 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 1017_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 10 29/02/2024 18:36:5329/02/2024 18:36:53 Direito Penal 11 Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado RESPOSTA A) A resposta à questão passa pela compreensão do instituto da aberratio ictus. Conforme o art. 73 do Código Penal, “Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execu- ção, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código (...)”. Assim, não incide a causa de aumento de pena em razão da idade da ofendida (senhora com 68 anos), já que devem ser levadas em conta as condições da vítima visada, e não as da vítima efetiva- mente atingida. Existe crime de homicídio doloso consumado, já que hou- ve a morte da idosa. No entanto, com fundamento no art. 73 do Código Penal, devem ser consideradas as condições ou qualidades pessoais de Henrique, que possui 24 anos idade, razão pela qual não incide a agravante prevista no art. 61, II, h, do Código Penal (“contra maior de 60 anos”). C) Não há homicídio culposo, já que Pedro agiu com animus necandi (dolo de matar). D) Como dito, não há homicídio culposo, já que Pedro atirou com dolo e não com culpa. 30. (XXIII Exame de Ordem Unificado/FGV) Roberta, enquanto conversava com Robson, afirmou categoricamente que presenciou quando Caio explorava jogo do bicho, no dia 3-3-2017. No dia seguinte, Roberta contou para João que Caio era um “furtador”. Caio toma conhecimento dos fatos, procu- ra você na condição de advogado(a) e nega tudo o que foi dito por Roberta, ressaltando que ela só queria atingir sua honra. Nesse caso, deverá ser proposta queixa-crime, imputando a Roberta a prática de: A) 1 crime de difamação e 1 crime de calúnia. B) 1 crime de difamação e 1 crime de injúria. C) 2 crimes de calúnia. D) 1 crime de calúnia e 1 crime de injúria. RESPOSTA A) Na conversa que travava com Robson, Roberta efetiva- mente praticou difamação (art. 139 do Código Penal). No entanto, no dia seguinte, ao falar com João, Roberta prati- cou injúria (art. 140 do Código Penal) e não calúnia (art. 138 do Código Penal). Isso porque o delito de calúnia pressupõe a imputação de fato determinado, o que não existiu com a referência a “furtador”. Há crime de difamação na primeira conversa, pois Rober- ta imputou fato ofensivo à reputação de Caio (honra obje- tiva), afirmando que ele explorava jogo do bicho. Na se- gunda conversa, Roberta ofendeu a dignidade ou decoro de Caio (honra subjetiva), ao chamá-lo de “furtador”. C) Não há calúnia nas imputações de Roberta. Na primeira, porque o jogo do bicho é contravenção penal, enquanto que o delito de calúnia (art. 138 do Código Penal) pressu- põe a imputação falsa de crime. Na segunda, porque a ca- lúnia exige a imputação de fato (falso e criminoso) deter- minado, o que inexistiu com aa menção a “furtador”. D) Não há, como dito, crime de calúnia, já que o jogo do bi- cho é contravenção penal, e não crime, conforme exigido pelo art. 138 do Código Penal. 31. (XXIII Exame de Ordem Unificado/FGV) Rafael e Francisca combinam praticar um crime de furto em uma residência onde ela exercia a função de passadeira. Deci- dem, então, subtrair bens do imóvel em data sobre a qual Francisca tinha conhecimento de que os proprietários esta- riam viajando, pois assim ela tinha certeza de que os pa- trões, de quem gostava, não sofreriam qualquer ameaça ou violência. No dia do crime, enquanto Francisca aguarda do lado de fora, Rafael entra no imóvel para subtrair bens. Ela, porém, percebe que o carro dos patrões está na garagem e tenta avisar o fato ao comparsa para que este saísse rápido da casa. Todavia, Rafael, ao perceber que a casa estava ocu- pada, decide empregar violência contra os proprietários para continuar subtraindo mais bens. Descobertos os fatos, Francisca e Rafael são denunciados pela prática do crime de roubo majorado. Considerando as informações narradas, o(a) advogado(a) de Francisca deverá buscar: A) sua absolvição, tendo em vista que não desejava participar do crime efetivamente praticado. B) o reconhecimento da participação de menor importância, com aplicação de causa de redução de pena. C) o reconhecimento de que o agente quis participar de crime menos grave, aplicando-se a pena do furto quali- ficado. D) o reconhecimento de que o agente quis participar de cri- me menos grave, aplicando-se causa de diminuição de pena sobre a pena do crime de roubo majorado. RESPOSTA A) Francisca não pode ser absolvida. Isso porque, de acordo com o art. 29, § 2º, do Código Penal, “Se algum dos concor- rentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á apli- cada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave”. B) Francisca não responderá por roubo com pena diminuída (participação de menor importância – art. 29, § 1º, do CP), mas sim por furto qualificado (crime que desejava prati- car – art. 29, § 2º, do CP). Francisca responderá por aquilo que quis cometer (furto qualificado), aplicando-se a pena do delito menos grave, na forma do art. 29, § 2º, do Código Penal. D) De acordo com o art. 29, § 2º, do Código Penal (coopera- ção dolosamente distinta), será aplicada a Francisca a pena do crime menos grave (furto), e não do mais grave (roubo). 32. (XXIII Exame de Ordem Unificado/FGV) Caio, Mário e João são denunciados pela prática de um mesmo cri- me de estupro (art. 213 do CP). Caio possuía uma condenação anterior definitiva pela prática de crime de deserção, delito militar próprio, ao cumprimento de pena privativa de liberda- 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 1117_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 11 29/02/2024 18:36:5329/02/2024 18:36:53 12 AlexAndre SAlim Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado de. Já Mário possuía uma condenação anterior, com trânsito em julgado, pela prática de crime comum, com aplicação ex- clusiva de pena de multa. Por fim, João possuía condenação definitiva pela prática de contravenção penal à pena privativa de liberdade. No momento da sentença, o juiz reconhece agra- vante da reincidência em relação aos três denunciados. Consi- derando apenas as informações narradas, de acordo com o Código Penal, o advogado dos réus: A) não poderá buscar o afastamento da agravante, já que to- dos são reincidentes. B) poderá buscar o afastamento da agravante em relação a Mário, já que somente Caio e João são reincidentes. C) poderá buscar o afastamento da agravante em relação a João, já que somente Caio e Mário são reincidentes. D) poderá buscar o afastamento da agravante em relação a Caio e João, já que somente Mário é reincidente. RESPOSTA A) Alternativa errada, pois somente Mário é reincidente. B) Caio e João não são reincidentes. Caio possui condenação anterior definitiva pela prática de crime de deserção, que é delito militar próprio. De acordo com o art. 64, II, do Código Penal, “Para efeito de reincidência: (...) II – não se consideram os crimes militares próprios (...)”. No que se refere a João, verifica-se que possui condenação definitiva pela prática de contravenção penal. Conforme o art. 7º da LCP – Lei das Contravenções Penais, “Verifica-se a rein- cidência quando o agente pratica uma contravenção de- pois de passar em julgado a sentença que o tenha condena- do, no Brasil ou no estrangeiro, por qualquer crime, ou, no Brasil, por motivo de contravenção”. Ou seja,se o agente foi condenado definitivamente por contravenção e depois vem a praticar crime, não há reincidência. C) Caio, como dito acima, não é reincidente. Mário é reincidente, pois possui condenação anterior, com trânsito em julgado, pela prática de crime comum. O fun- damento está no art. 63 do Código Penal: “Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no País ou no es- trangeiro, o tenha condenado por crime anterior”. 33. (XXIII Exame de Ordem Unificado/FGV) Catarina leva seu veículo para uma determinada entidade autárquica com o objetivo de realizar a fiscalização anual. Carlos, fun- cionário público que exerce suas funções no local, apesar de não encontrar irregularidades no veículo, verificando a inex- periência de Catarina, que tem apenas 19 anos de idade, exige R$ 5.000,00 para “liberar” o automóvel sem pendências. Ca- tarina, de imediato, recusa-se a entregar o valor devido e in- forma o ocorrido ao superior hierárquico de Carlos, que acio- na a polícia. Realizada a prisão em flagrante de Carlos, a família é comunicada sobre o fato e procura um advogado para que ele preste esclarecimentos sobre a responsabilidade penal de Carlos. Diante da situação narrada, o advogado da família de Carlos deverá esclarecer que a conduta praticada por Carlos configura, em tese, crime de: A) corrupção passiva consumada. B) concussão consumada. C) corrupção passiva tentada. D) concussão tentada. RESPOSTA A) Não há corrupção passiva (art. 317 do Código Penal), pois Carlos exigiu a vantagem indevida. O verbo “exigir” está no art. 316 do Código Penal (concussão), e não no art. 317 do Código Penal, que fala em “solicitar”, “receber” ou “aceitar promessa”. Carlos praticou o crime de concussão (“Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vanta- gem indevida”). O delito restou consumado, pois é formal, ou seja, não há necessidade de o funcionário público rece- ber a vantagem indevida para a consumação. C) Como dito acima, não houve corrupção passiva, mas con- cussão. D) O delito restou consumado, pois, conforme referido, trata- -se de crime formal. A consumação ocorreu no instante em que a exigência chegou ao conhecimento da vítima. 34. (XXIII Exame de Ordem Unificado/FGV) Pedro, quando limpava sua arma de fogo, devidamente registrada em seu nome, que mantinha no interior da residência sem adotar os cuidados necessários, inclusive o de desmuniciá-la, acaba, acidentalmente, por dispará-la, vindo a atingir seu vizinho Júlio e a esposa deste, Maria. Júlio faleceu em razão da lesão causada pelo projétil e Maria sofreu lesão corporal e debilida- de permanente de membro. Preocupado com sua situação ju- rídica, Pedro o procura para, na condição de advogado, orien- tá-lo acerca das consequências do seu comportamento. Na oportunidade, considerando a situação narrada, você deverá esclarecer, sob o ponto de vista técnico, que ele poderá vir a ser responsabilizado pelos crimes de: A) homicídio culposo, lesão corporal culposa e disparo de arma de fogo, em concurso formal. B) homicídio culposo e lesão corporal grave, em concurso formal. C) homicídio culposo e lesão corporal culposa, em concurso material. D) homicídio culposo e lesão corporal culposa, em concurso formal. RESPOSTA A) A alternativa está errada, pois não restou caracterizado o crime de disparo de arma de fogo (art. 15 da Lei n. 10.8263), que só existe na forma dolosa. Pedro disparou “acidentalmente” e “sem adotar os cuidados necessários”, ou seja, a título de culpa. B) A alternativa está errada, pois a lesão praticada é culposa, e não “grave”. A lesão corporal de natureza grave (art. 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 1217_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 12 29/02/2024 18:36:5329/02/2024 18:36:53 Direito Penal 13 Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado 129, § 1º, do Código Penal) só pode ser perpetrada na for- ma dolosa, o que não foi o caso de Pedro. C) A alternativa está errada, pois não houve concurso mate- rial de crimes (art. 69 do Código Penal), o qual pressupõe (i) pluralidade de condutas e (ii) pluralidade de resultados. No caso de Pedro houve uma só conduta. Pedro praticou homicídio culposo e lesão corporal culpo- sa em concurso formal de crimes (art. 70 do Código Pe- nal), o qual pressupõe (i) unidade de conduta e (ii) plura- lidade de resultados. 35. (XXIV Exame de Ordem Unificado/FGV) Cássio foi denunciado pela prática de um crime de dano qualificado, por ter atingido bem municipal (art. 163, parágrafo único, in- ciso III, do CP – pena: detenção de 6 meses a 3 anos e multa), merecendo destaque que, em sua Folha de Antecedentes Cri- minais, consta uma única condenação anterior, definitiva, oriunda de sentença publicada 4 anos antes, pela prática do crime de lesão corporal culposa praticada na direção de veí- culo automotor. Ao final da instrução, Cássio confessa integralmente os fatos, dizendo estar arrependido e esclarecendo que “perdeu a cabeça” no momento do crime, sendo certo que está traba- lhando e tem 03 filhos com menos de 10 anos de idade que são por ele sustentados. Apenas com base nas informações constantes, o(a) advo- gado(a) de Cássio poderá pleitear, de acordo com as previsões do Código Penal, em sede de alegações finais: A) o reconhecimento do perdão judicial. B) o reconhecimento da atenuante da confissão, mas nunca sua compensação com a reincidência. C) a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, apesar de o agente ser reincidente. D) o afastamento da agravante da reincidência, já que o cri- me pretérito foi praticado em sua modalidade culposa, e não dolosa. RESPOSTA A) De acordo com o art. 107 do Código Penal, “Extingue-se a punibilidade: (...) IX – pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei”. A lei, no entanto, não prevê o instituto do perdão judicial para o crime de dano qualificado. B) O advogado de Cássio deve pleitear a atenuante da confis- são (art. 65, III, d, do Código Penal). O equívoco, no en- tanto, está na segunda parte da alternativa: de acordo com o STJ, é possível a compensação da atenuante da confis- são com a agravante da reincidência. Como eventual condenação não poderá ser superior a 4 anos, já que o crime em exame tem pena máxima de 3 anos, e não foi praticado com violência ou grave ameaça a pessoa, é possível a substituição da pena privativa de li- berdade por pena restritiva de direito (art. 44, I, do CP). Ademais, o réu não é reincidente em crime doloso (art. 44, II, do CP), não havendo impedimento para a concessão do benefício. D) De acordo com o art. 63 do Código Penal, “Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no País ou no estran- geiro, o tenha condenado por crime anterior”. Portanto, não importa se o delito é doloso ou culposo, mas sim que tenha transitado em julgado e ainda não tenha transcorrido o pe- ríodo depurador da reincidência (art. 64, I, do CP). 36. (XXIV Exame de Ordem Unificado/FGV) Bárbara, nascida em 23 de janeiro de 1999, no dia 15 de janeiro de 2017, decide sequestrar Felipe, por dez dias, para puni-lo pelo fim do relacionamento amoroso. No dia 16 de janeiro de 2017, efetivamente restringe a liberdade do ex-namorado, trancan- do-o em uma casa e mantendo consigo a única chave do imó- vel. Nove dias após a restrição da liberdade, a polícia toma conhecimento dos fatos e consegue libertar Felipe, não tendo, assim, se realizado, em razão de circunstâncias alheias, a res- trição da liberdade por dez dias pretendida por Bárbara. Con- siderando que, no dia 23 de janeiro de 2017, entrou em vigor nova lei, mais gravosa, alterando a sanção penal prevista para odelito de sequestro simples, passando a pena a ser de 01 a 05 anos de reclusão e não mais de 01 a 03 anos, o Ministério Público ofereceu denúncia em face de Bárbara, imputando- -lhe a prática do crime do art. 148 do Código Penal (Sequestro e Cárcere Privado), na forma da legislação mais recente, ou seja, aplicando-se, em caso de condenação, pena de 01 a 05 anos de reclusão. Diante da situação hipotética narrada, é cor- reto afirmar que o advogado de Bárbara, de acordo com a ju- risprudência do Supremo Tribunal Federal, deverá pleitear: A) a aplicação do instituto da suspensão condicional do pro- cesso. B) a aplicação da lei anterior mais benéfica, ou seja, a aplica- ção da pena entre o patamar de 01 a 03 anos de reclusão. C) o reconhecimento da inimputabilidade da acusada, em ra- zão da idade. D) o reconhecimento do crime em sua modalidade tentada. RESPOSTA O crime previsto no art. 148 do Código Penal (Sequestro e Cárcere privado) é permanente, razão pela qual sua con- sumação se prolonga no tempo. Será aplicada a lei mais grave, por força da Súmula 711 do STF. Como a pena mí- nima não passa de 1 ano, é cabível o benefício da suspen- são condicional do processo (sursis processual), previsto no art. 89 da Lei n. 9.099/95. B) Como o crime é permanente, e a lei mais grave passou a incidir antes de cessar a permanência (libertação de Feli- pe), incide a Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”. Assim, Bárbara responderá pelo crime com a pena mais grave. C) O crime, como dito, é permanente. Assim, a consumação se prolongou no tempo, alcançando Bárbara já na sua maioridade. No dia em que Felipe foi resgatado, Bárbara já tinha 18 anos. 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 1317_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 13 29/02/2024 18:36:5329/02/2024 18:36:53 14 AlexAndre SAlim Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado D) O delito de sequestro ou cárcere privado consuma-se quando a vítima é privada de sua liberdade, o que ocorreu no caso. Assim, não há que se falar em tentativa. 37. (XXIV Exame de Ordem Unificado/FGV) Decidido a praticar crime de furto na residência de um vizinho, João procura o chaveiro Pablo e informa do seu desejo, pedindo que fizesse uma chave que possibilitasse o ingresso na residência, no que foi atendido. No dia do fato, considerando que a porta já estava aberta, João ingressa na residência sem utilizar a cha- ve que lhe fora entregue por Pablo, e subtrai uma TV. Chegan- do em casa, narra o fato para sua esposa, que o convence a devolver o aparelho subtraído. No dia seguinte, João atende à sugestão da esposa e devolve o bem para a vítima, narrando todo o ocorrido ao lesado, que, por sua vez, comparece à dele- gacia e promove o registro próprio. Considerando o fato narra- do, na condição de advogado(a), sob o ponto de vista técnico, deverá ser esclarecido aos familiares de Pablo e João que: A) nenhum deles responderá pelo crime, tendo em vista que houve arrependimento eficaz por parte de João e, como causa de excludente da tipicidade, estende-se a Pablo. B) ambos deverão responder pelo crime de furto qualificado, aplicando-se a redução de pena apenas a João, em razão do arrependimento posterior. C) ambos deverão responder pelo crime de furto qualificado, aplicando-se a redução de pena para os dois, em razão do arrependimento posterior, tendo em vista que se trata de circunstância objetiva. D) João deverá responder pelo crime de furto simples, com causa de diminuição do arrependimento posterior, enquan- to Pablo não responderá pelo crime contra o patrimônio. RESPOSTA A) João deverá responder pelo crime patrimonial, já que não houve arrependimento eficaz (art. 15 do CP), mas arrepen- dimento posterior (art. 16 do CP). O arrependimento eficaz somente incide quando o agente impede que o resultado se produza, o que não ocorreu na situação narrada. B) A uma, porque somente João responderá pelo crime. A duas, porque não se trata de furto qualificado, e sim de furto simples, já que João não utilizou a chave falsa. O que qualifica o delito é o “emprego” de chave falsa, de acordo com o art. 155, § 4º, III, do Código Penal. C) Como dito, somente João responderá pelo crime de furto simples. João responderá por furto simples, devendo incidir o arre- pendimento posterior previsto no art. 16 do Código Penal (“Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebi- mento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços”). Pablo não responderá pelo crime patrimonial, já que não prati- cou atos executórios do delito de furto. 38. (XXIV Exame de Ordem Unificado/FGV) No dia 28 de agosto de 2011, após uma discussão no trabalho quando todos comemoravam os 20 anos de João, este desfere uma facada no braço de Paulo, que fica revoltado e liga para a Po- lícia, sendo João preso em flagrante pela prática do injusto de homicídio tentado, obtendo liberdade provisória logo em se- guida. O laudo de exame de delito constatou a existência de lesão leve. A denúncia foi oferecida em 23 de agosto de 2013 e recebida pelo juiz em 28 de agosto de 2013. Finda a primei- ra fase do procedimento do Tribunal do Júri, ocasião em que a vítima compareceu, confirmou os fatos, inclusive dizendo acreditar que a intenção do agente era efetivamente matá-la, e demonstrou todo seu inconformismo com a conduta do réu, João foi pronunciado, sendo a decisão publicada em 23 de agosto de 2015, não havendo impugnação pelas partes. Sub- metido a julgamento em sessão plenária em 18 de julho de 2017, os jurados afastaram a intenção de matar, ocorrendo em sentença, então, a desclassificação para o crime de lesão cor- poral simples, que tem a pena máxima prevista de 01 ano, sendo certo que o Código Penal prevê que a pena de 01 a 02 anos prescreve em 04 anos. Na ocasião, você, como advogado(a) de João, considerando apenas as informações narradas, deverá requerer que seja declarada a extinção da punibilidade pela: A) decadência, por ausência de representação da vítima. B) prescrição da pretensão punitiva, porque já foi ultrapassa- do o prazo prescricional entre a data do fato e a do recebi- mento da denúncia. C) prescrição da pretensão punitiva, porque já foi ultrapassa- do o prazo prescricional entre a data do oferecimento da denúncia e a da publicação da decisão de pronúncia. D) prescrição da pretensão punitiva, porque entre a data do recebimento da denúncia e a do julgamento pelo júri de- correu o prazo prescricional. RESPOSTA A) Não há decadência no fato narrado, pois o crime original- mente denunciado era de homicídio tentado, que é proces- sado por ação penal pública incondicionada. Por outro lado, quando ouvida, a vítima “demonstrou todo seu in- conformismo com a conduta do réu”, o que pode ser toma- do como representação. O fato ocorreu em 28-8-2011 e a denúncia foi recebida em 28-8-2013. O prazo prescricional de 4 anos deve ser redu- zido de metade, pois João tinha 20 anos ao tempo do cri- me (art. 115 do CP). Contando-se 2 anos a partir da data do crime, a denúncia tinha que ter sido recebida até o dia 27-8-2013, às 24 horas, o que não ocorreu. Assim, deve ser declarada extinta a punibilidade do fato imputado a João, com fundamento no art. 107, IV, do Código Penal. C) O que interrompe a prescrição não é a data do ofereci- mento da denúncia, mas sim de seu recebimento (art. 117, I, do CP). D) Deveria ter sido considerada a data da publicação da sen- tença de pronúncia, mesmo que tenha ocorrido desclassi- ficação no Júri. O fundamento está na Súmula 191 do STJ: 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 1417_OAB Questoes Comentadas_DireitoPenal.indd 14 29/02/2024 18:36:5329/02/2024 18:36:53 Direito Penal 15 Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado “A pronúncia é causa interruptiva da prescrição, ainda que o Tribunal do Júri venha a desclassificar o crime”. 39. (XXV Exame de Ordem Unificado/FGV) Márcia e Plínio se encontraram em um quarto de hotel e, após discuti- rem o relacionamento por várias horas, acabaram por se ofen- der reciprocamente. Márcia, então, querendo dar fim à vida de ambos, ingressa no banheiro do quarto e liga o gás, apro- veitando-se do fato de que Plínio estava dormindo. Em razão do forte cheiro exalado, quando ambos já estavam desmaia- dos, os seguranças do hotel invadem o quarto e resgatam o casal, que foi levado para o hospital. Tanto Plínio quanto Márcia acabaram sofrendo lesões corporais graves. Registra- do o fato na delegacia, Plínio, revoltado com o comportamen- to de Márcia, procura seu advogado e pergunta se a conduta dela configuraria crime. Considerando as informações narra- das, o advogado de Plínio deverá esclarecer que a conduta de Márcia configura crime de: A) lesão corporal grave, apenas. B) tentativa de homicídio qualificado e tentativa de suicídio. C) tentativa de homicídio qualificado, apenas. D) tentativa de suicídio, por duas vezes. RESPOSTA A) A intenção de Márcia era matar (“dar fim à vida de am- bos”), e não lesionar. B) Não se pune a tentativa de suicídio no Brasil, mas sim a conduta de induzir, instigar ou auxiliar outrem a suicidar- se (art. 122 do Código Penal). Márcia praticou o crime de homicídio tentado, já que in- tencionava a morte de ambos, inclusive de Plínio. O delito está qualificado em face do recurso que impossibilitou a defesa do ofendido, uma vez que Plínio estava dormindo. D) Como dito, a tentativa de suicídio não é punida no Brasil, e sim o comportamento de convencer alguém a se matar. 40. (XXV Exame de Ordem Unificado/FGV) Francisco, brasileiro, é funcionário do Banco do Brasil, sociedade de eco- nomia mista, e trabalha na agência de Lisboa, em Portugal. Passando por dificuldades financeiras, acaba desviando di- nheiro do banco para uma conta particular, sendo o fato desco- berto e julgado em Portugal. Francisco é condenado pela infra- ção praticada. Extinta a pena, ele retorna ao seu país de origem e é surpreendido ao ser citado, em processo no Brasil, para responder pelo mesmo fato, razão pela qual procura seu advo- gado. Considerando as informações narradas, o advogado de Francisco deverá informar que, de acordo com o previsto no Código Penal, A) ele não poderá responder no Brasil pelo mesmo fato, por já ter sido julgado e condenado em Portugal. B) ele somente poderia ser julgado no Brasil por aquele mes- mo fato, caso tivesse sido absolvido em Portugal. C) ele pode ser julgado também no Brasil por aquele fato, sendo totalmente indiferente a condenação sofrida em Portugal. D) ele poderá ser julgado também no Brasil por aquele fato, mas a pena cumprida em Portugal atenua ou será computa- da naquela imposta no Brasil, em caso de nova condenação. RESPOSTA A) Conforme o art. 7º, I, b, do Código Penal, “Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I – os crimes: (...) b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Públi- co”. Trata-se de extraterritorialidade incondicionada, ra- zão pela qual poderá ser aplicada a lei brasileira ainda que o fato tenha sido praticado no estrangeiro. Nesta hipótese, “o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que ab- solvido ou condenado no estrangeiro” (art. 7º, § 1º, do Có- digo Penal). B) Conforme o § 1º do art. 7º do Código Penal, “Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro”. C) A pena cumprida em Portugal pode atenuar a pena impos- ta no Brasil, ou nela ser computada, na forma do art. 8º do Código Penal. De acordo com o art. 7º, I e § 1º, do Código Penal, o agente poderá ser julgado também no Brasil pelo mesmo fato. Ade- mais, “A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena im- posta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas” (art. 8º do Código Penal). 41. (XXV Exame de Ordem Unificado/FGV) Em 2014, Túlio foi condenado definitivamente pela prática de um crime de estupro ao cumprimento de pena de 6 anos. Após preencher todos os requisitos legais, foi a ele deferido livramento condi- cional. No curso do livramento, Túlio vem novamente a ser condenado definitivamente por outro crime de estupro pratica- do durante o período de prova. Preocupada com as consequên- cias dessa nova condenação, a família de Túlio procura o ad- vogado para esclarecimentos. Considerando as informações narradas, o advogado de Túlio deverá esclarecer à família que a nova condenação funciona, na revogação do livramento, como causa: A) obrigatória, não sendo possível a obtenção de livramento condicional em relação ao novo delito. B) obrigatória, sendo possível a obtenção de livramento con- dicional após cumprimento de mais de 2/3 das penas so- madas. C) facultativa, não sendo possível a obtenção de livramento condicional em relação ao novo delito. D) facultativa, sendo possível a obtenção de livramento con- dicional após cumprimento de mais de 2/3 das penas so- madas. RESPOSTA Conforme o art. 86, I, do Código Penal, “Revoga-se o li- vramento, se o liberado vem a ser condenado a pena pri- vativa de liberdade, em sentença irrecorrível: I – por cri- 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 1517_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 15 29/02/2024 18:36:5329/02/2024 18:36:53 16 AlexAndre SAlim Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado me cometido durante a vigência do benefício”. Trata-se de hipótese obrigatória. Ademais, “Revogado o livramento, não poderá ser novamente concedido, e, salvo quando a revogação resulta de condenação por outro crime anterior àquele benefício, não se desconta na pena o tempo em que esteve solto o condenado” (art. 88 do CP). B) Não é possível a obtenção de novo livramento condicio- nal, conforme o disposto no art. 88 do Código Penal. C) Não se trata de hipótese facultativa de revogação do bene- fício, mas sim de hipótese obrigatória. D) A hipótese de revogação, como dito, é obrigatória (art. 86, I, do CP). 42. (XXV Exame de Ordem Unificado/FGV) Laura, nascida em 21 de fevereiro de 2000, é inimiga declarada de Lívia, nascida em 14 de dezembro de 1999, sendo que o prin- cipal motivo da rivalidade está no fato de que Lívia tem inte- resse no namorado de Laura. Durante uma festa, em 19 de fevereiro de 2018, Laura vem a saber que Lívia anunciou para todos que tentaria manter relações sexuais com o referido na- morado. Soube, ainda, que Lívia disse que, na semana seguin- te, iria desferir um tapa no rosto de Laura, na frente de seus colegas, como forma de humilhá-la. Diante disso, para evitar que as ameaças de Lívia se concretizassem, Laura, durante a festa, desfere facadas no peito de Lívia, mas terceiros inter- vêm e encaminham Lívia diretamente para o hospital. Dois dias depois, Lívia vem a falecer em virtude dos golpes sofri- dos. Descobertos os fatos, o Ministério Público ofereceu de- núncia em face de Laura pela prática do crime de homicídio qualificado. Confirmados integralmente os fatos, a defesa técnica de Laura deverá pleitear o reconhecimento da: A) inimputabilidade da agente. B) legítima defesa. C) inexigibilidade de conduta diversa. D) atenuante da menoridade relativa. RESPOSTA Laura nasceu no dia 21-2-2000, portanto era menorde 18 anos ao tempo do fato (19-2-2018). Conforme o art. 27 do Código Penal, “Os menores de 18 (dezoito) anos são pe- nalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabe- lecidas na legislação especial”. É também o disposto no art. 228 da Constituição Federal. B) Não há legítima defesa, pois inexistiu agressão atual ou iminente contra Laura (art. 25 do Código Penal). C) Era exigível de Laura outra conduta, ou seja, ela poderia ter praticado outro comportamento, em situação de nor- malidade, conforme o ordenamento jurídico. D) A atenuante da menoridade relativa (art. 65, I, do CP) é aplicada quando o agente é menor de 21 anos ao tempo do fato, isto é, quando possui 18, 19 ou 20 anos de idade no momento do crime. Laura, como dito, tinha menos de 18 anos por ocasião do ocorrido. 43. (XXV Exame de Ordem Unificado/FGV) Juarez, com a intenção de causar a morte de um casal de vizinhos, aproveita a situação em que o marido e a esposa estão juntos, conversando na rua, e joga um artefato explosivo nas vítimas, sendo a explosão deste material bélico a causa eficiente da mor- te do casal. Apesar de todos os fatos e a autoria restarem prova- dos em inquérito encaminhado ao Ministério Público com rela- tório final de indiciamento de Juarez, o Promotor de Justiça se mantém inerte em razão de excesso de serviço, não apresentan- do denúncia no prazo legal. Depois de vários meses com omis- são do Promotor de Justiça, o filho do casal falecido procura o advogado da família para adoção das medidas cabíveis. No momento da apresentação de queixa em ação penal privada subsidiária da pública, o advogado do filho do casal, sob o pon- to de vista técnico, de acordo com o Código Penal, deverá im- putar a Juarez a prática de dois crimes de homicídio em: A) concurso material, requerendo a soma das penas impostas para cada um dos delitos. B) concurso formal, requerendo a exasperação da pena mais grave em razão do concurso de crimes. C) continuidade delitiva, requerendo a exasperação da pena mais grave em razão do concurso de crimes. D) concurso formal, requerendo a soma das penas impostas para cada um dos delitos. RESPOSTA A) Não há concurso material, pois o agente não praticou duas condutas (art. 69 do Código Penal), e sim uma só. B) Há concurso formal, pois o agente, mediante uma só con- duta, produziu dois resultados (art. 70 do Código Penal). No entanto, não se trata de concurso formal próprio ou perfeito, para o qual se aplica a regra da exasperação (art. 70, caput, 1ª parte, do CP), e sim de concurso formal im- próprio ou imperfeito, para o qual se aplica a regra do cúmulo material (art. 70, caput, 2ª parte, do CP), já que o agente atuou com desígnios autônomos (tinha intenção de causar a morte do casal). C) Não há continuidade delitiva (art. 71 do Código Penal), pois Juarez não praticou uma pluralidade de crimes da mesma espécie. Há concurso formal impróprio ou imperfeito, pois Juarez, mediante uma única conduta (jogar a bomba nas vítimas), causou dois resultados (morte de duas pessoas), os quais foram desejados pelo agente (desígnios autônomos). 44. (XXV Exame de Ordem Unificado/FGV) Flávia co- nheceu Paulo durante uma festa de aniversário. Após a festa, ambos foram para a casa de Paulo, juntamente com Luiza, amiga de Flávia, sob o alegado desejo de se conhecerem me- lhor. Em determinado momento, Paulo, sem qualquer violên- cia real ou grave ameaça, ingressa no banheiro para urinar, ocasião em que Flávia e Luiza colocam um pedaço de madei- ra na fechadura, deixando Paulo preso dentro do local. Apro- veitando-se dessa situação, subtraem diversos bens da resi- dência de Paulo e deixam o imóvel, enquanto a vítima, apesar de perceber a subtração, não tinha condição de reagir. Horas depois, vizinhos escutam os gritos de Paulo e chamam a Polí- 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 1617_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 16 29/02/2024 18:36:5329/02/2024 18:36:53 Direito Penal 17 Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado cia. De imediato, Paulo procura seu advogado para esclareci- mentos sobre a responsabilidade penal de Luiza e Flávia. Considerando as informações narradas, o advogado de Paulo deverá esclarecer que as condutas de Luiza e Flávia configu- ram crime de: A) roubo majorado. B) furto qualificado, apenas. C) cárcere privado, apenas. D) furto qualificado e cárcere privado. RESPOSTA Conforme o art. 157 do Código Penal, o crime de roubo é descrito da seguinte forma: “Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violên- cia a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, re- duzido à impossibilidade de resistência”. No caso propos- to houve roubo mediante a chamada violência imprópria, já que a questão deixa claro que a vítima “não tinha con- dição de reagir”. O crime está majorado em face do con- curso de pessoas (art. 157, § 2º, II, do CP). B) Não há apenas furto qualificado, pois a circunstância de o ofendido estar trancado no banheiro e não poder reagir configura violência imprópria, caracterizando, dessa for- ma, roubo. C) Não há cárcere privado, já que a intenção das autoras não é somente privar a vítima da sua liberdade, mas sim sub- trair-lhe o patrimônio. D) Não há furto e cárcere privado, mas roubo praticado me- diante violência imprópria, já que a vítima, por estar tran- cada no banheiro, não tinha condições de reagir. 45. (XXVI Exame de Ordem Unificado/FGV) Mário foi denunciado pela prática de crime contra a Administração Pública, sendo imputada a ele a responsabilidade pelo desvio de R$ 500.000,00 dos cofres públicos. Após a instrução e confirmação dos fatos, foi proferida sentença condenatória aplicando a pena privativa de liberdade de 3 anos de reclusão, que transitou em julgado. Na decisão, nada consta sobre a per- da do cargo público por Mário. Diante disso, ele procura um advogado para esclarecimentos em relação aos efeitos de sua condenação. Considerando as informações narradas, o advo- gado de Mário deverá esclarecer que: A) a perda do cargo, nos crimes praticados por funcionário público contra a Administração, é efeito automático da condenação, sendo irrelevante sua não previsão em sen- tença, desde que a pena aplicada seja superior a 4 anos. B) a perda do cargo, nos crimes praticados por funcionário pú- blico contra a Administração, é efeito automático da conde- nação, desde que a pena aplicada seja superior a 1 ano. C) a perda do cargo não é efeito automático da condenação, de- vendo ser declarada em sentença, mas não poderia ser aplica- da a Mário diante da pena aplicada ser inferior a 4 anos. D) a perda do cargo não é efeito automático da condena- ção, devendo ser declarada em sentença, mas poderia ter sido aplicada, no caso de Mário, mesmo sendo a pena inferior a 4 anos. RESPOSTA A) De acordo com o art. 92, parágrafo único, do Código Pe- nal, “Os efeitos de que trata este artigo não são automáti- cos, devendo ser motivadamente declarados na sentença”. Assim, a perda do cargo (art. 92, I, do CP), ainda que se trate de crime praticado por funcionário público contra a Administração Pública, não é efeito automático da conde- nação (regra geral). B) Conforme referido, a perda do cargo não é efeito automá- tico da condenação (regra geral). C) A perda do cargo poderia ser aplicada a Mário, já que ele foi condenado irrecorrivelmente à pena de 3 anos de re- clusão por crime contra a Administração, desde que hou- vesse motivação judicial na sentença. O fundamento está no art. 92, I, a, do CP: “São também efeitos da condena- ção: I − a perda de cargo, função pública ou mandato ele- tivo: a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Ad- ministração Pública”. Como dito, é possívela decretação da perda do cargo sem- pre que o funcionário público, pela prática de crime fun- cional, for condenado de forma definitiva à pena privativa de liberdade igual ou superior a um ano. O fundamento está no art. 92, I, a, do CP. 46. (XXVI Exame de Ordem Unificado/FGV) Jorge foi condenado, definitivamente, pela prática de determinado crime, e se encontrava em cumprimento dessa pena. Ao mes- mo tempo, João respondia a uma ação penal pela prática de crime idêntico ao cometido por Jorge. Durante o cumprimen- to da pena por Jorge e da submissão ao processo por João, foi publicada e entrou em vigência uma lei que deixou de consi- derar as condutas dos dois como criminosas. Ao tomarem conhecimento da vigência da lei nova, João e Jorge o procu- ram, como advogado, para a adoção das medidas cabíveis. Com base nas informações narradas, como advogado de João e de Jorge, você deverá esclarecer que: A) não poderá buscar a extinção da punibilidade de Jorge em razão de a sentença condenatória já ter transitado em jul- gado, mas poderá buscar a de João, que continuará sendo considerado primário e de bons antecedentes. B) poderá buscar a extinção da punibilidade dos dois, fazen- do cessar todos os efeitos civis e penais da condenação de Jorge, inclusive não podendo ser considerada para fins de reincidência ou maus antecedentes. C) poderá buscar a extinção da punibilidade dos dois, fazen- do cessar todos os efeitos penais da condenação de Jorge, mas não os extrapenais. D) não poderá buscar a extinção da punibilidade dos dois, tendo em vista que os fatos foram praticados anteriormen- te à edição da lei. RESPOSTA A) De acordo com o art. 2º do Código Penal, “Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 1717_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 17 29/02/2024 18:36:5329/02/2024 18:36:53 18 AlexAndre SAlim Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, apli- ca-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por senten- ça condenatória transitada em julgado”. Portanto, poderia ser buscada, sim, a extinção da punibilidade de Jorge, ain- da que a sentença tivesse transitado em julgado. B) Poderia ser buscada a extinção da punibilidade dos dois agentes. No entanto, a abolitio criminis somente faz ces- sar os efeitos penais da sentença condenatória, remanes- cendo os efeitos extrapenais. Poderia ser buscada a extinção da punibilidade dos dois agentes, cessando apenas os efeitos penais da condenação de Jorge, mas não os extrapenais. Jorge continuaria obri- gado, por exemplo, a reparar o dano. D) Poderia ser buscada a extinção da punibilidade dos dois agentes, já que a lei nova, se mais benéfica, deve retroagir. O fundamento está no art. 5º, XL, da Constituição Federal. 47. (XXVI Exame de Ordem Unificado/FGV) Preten- dendo causar unicamente um crime de dano em determinado estabelecimento comercial, após discussão com o gerente do local, Bruno, influenciado pela ingestão de bebida alcoólica, arremessa uma grande pedra em direção às janelas do estabe- lecimento. Todavia, sua conduta imprudente fez com que a pedra acertasse a cabeça de Vitor, que estava jantando no lo- cal com sua esposa, causando sua morte. Por outro lado, a janela do estabelecimento não foi atingida, permanecendo intacta. Preocupado com as consequências de seus atos, após indiciamento realizado pela autoridade policial, Bruno procu- ra seu advogado para esclarecimentos. Considerando a ocor- rência do resultado diverso do pretendido pelo agente, o advo- gado deve esclarecer que Bruno tecnicamente será responsabilizado pela(s) seguinte(s) prática(s) criminosa(s): A) homicídio culposo e tentativa de dano, em concurso mate- rial. B) homicídio culposo, apenas. C) homicídio culposo e tentativa de dano, em concurso for- mal. D) homicídio doloso, apenas. RESPOSTA A) O instituto da aberratio criminis ou delicti, conhecido em Direito Penal como resultado diverso do pretendido, está previsto no art. 74 do Código Penal nos seguintes termos: “Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execução do crime, sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previs- to como crime culposo; se ocorre também o resultado pre- tendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código”. Portan- to, Bruno deveria responder apenas por homicídio culposo. Como somente produziu o resultado diverso do pretendi- do (morte culposa da vítima), Bruno responde por homicí- dio culposo, com fundamento nos arts. 121, § 3º e 74, am- bos do Código Penal. C) Bruno não será responsabilizado pelo crime de dano ten- tado, já que, conforme o art. 74 do CP, a regra do concurso formal de crimes (art. 70 do CP) somente incide quando “ocorre também o resultado pretendido”. D) De acordo com o art. 74 do Código Penal, “o agente res- ponde por culpa, se o fato é previsto como crime culposo”. Assim, será imputado homicídio culposo a Bruno, e não homicídio doloso. 48. (XXVI Exame de Ordem Unificado/FGV) Cadu, com o objetivo de matar toda uma família de inimigos, prati- ca, durante cinco dias consecutivos, crimes de homicídio do- loso, cada dia causando a morte de cada um dos cinco inte- grantes da família, sempre com o mesmo modus operandi e no mesmo local. Os fatos, porém, foram descobertos, e o au- tor, denunciado pelos cinco crimes de homicídio, em concur- so material. Com base nas informações expostas e nas previ- sões do Código Penal, provada a autoria delitiva em relação a todos os delitos, o advogado de Cadu: A) não poderá buscar o reconhecimento da continuidade de- litiva, tendo em vista que os crimes foram praticados com violência à pessoa, somente cabendo reconhecimento do concurso material. B) não poderá buscar o reconhecimento de continuidade de- litiva, tendo em vista que os crimes foram praticados com violência à pessoa, podendo, porém, o advogado pleitear o reconhecimento do concurso formal de delitos. C) poderá buscar o reconhecimento da continuidade delitiva, mesmo sendo o delito praticado com violência contra a pessoa, cabendo, apenas, aplicação da regra de exaspera- ção da pena de 1/6 a 2/3. D) poderá buscar o reconhecimento da continuidade delitiva, mas, diante da violência contra a pessoa e da diversidade de vítimas, a pena mais grave poderá ser aumentada em até o triplo. RESPOSTA A) O fato de os crimes terem sido praticados com violência à pessoa não impede o reconhecimento da continuidade de- litiva. O fundamento está no art. 71, parágrafo único, do Código Penal: “Nos crimes dolosos, contra vítimas dife- rentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pes- soa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os ante- cedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código”. B) Como referido, é possível falar-se em crime continuado ainda que os delitos tenham sido praticados com violência à pessoa. C) Poderá ser buscado o reconhecimento da continuidade de- litiva. No entanto, a pena não será exasperada de 1/6 a 2/3 (caput do art. 71 do CP), mas sim aumentada até o triplo (parágrafo único do art. 71 do CP). 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 1817_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 18 29/02/2024 18:36:5329/02/2024 18:36:53 Direito Penal 19 Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizadoPoderá ser buscado o reconhecimento da continuidade de- litiva, aplicando-se o parágrafo único do art. 71 do Código Penal. Diante da violência contra a pessoa e da diversidade de vítimas, a pena mais grave será aumentada até o triplo. 49. (XXVII Exame de Ordem Unificado/FGV) Talles, desempregado, decide utilizar seu conhecimento de engenha- ria para fabricar máquina destinada à falsificação de moedas. Ao mesmo tempo, pega uma moeda falsa de R$ 3,00 (três re- ais) e, com um colega também envolvido com falsificações, tenta colocá-la em livre circulação, para provar o sucesso da empreitada. Ocorre que aquele que recebe a moeda percebe a falsidade rapidamente, em razão do valor suspeito, e decide chamar a Polícia, que apreende a moeda e o maquinário já fa- bricado. Talles é indiciado pela prática de crimes e, já na Dele- gacia, liga para você, na condição de advogado(a), para escla- recimentos sobre a tipicidade de sua conduta. Considerando as informações narradas, em conversa sigilosa com seu cliente, você deverá esclarecer que a conduta de Talles configura: A) atos preparatórios, sem a prática de qualquer delito. B) crimes de moeda falsa e de petrechos para falsificação de moeda. C) crime de petrechos para falsificação de moeda, apenas. D) crime de moeda falsa, apenas, em sua modalidade tentada. RESPOSTA A) Neste caso a lei prevê, excepcionalmente, a punição dos atos preparatórios. Portanto, está configurado o crime previsto no art. 291 do Código Penal. B) Não há crime de moeda falsa (art. 289 do Código Penal), em face da tese do crime impossível, previsto no art. 17 do Código Penal, já que a falsificação é grosseira (não existe moeda de 3 reais). Está configurado apenas o crime de petrechos para falsi- ficação de moeda, previsto no art. 291 do Código Penal, nos seguintes termos: “Fabricar, adquirir, fornecer, a títu- lo oneroso ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à falsificação de moeda: Pena – reclusão, de dois a seis anos, e multa”. D) Como dito, não há crime de moeda falsa (art. 289 do Có- digo Penal), consumado ou tentado. 50. (XXVII Exame de Ordem Unificado/FGV) No dia 05/03/2015, Vinícius, 71 anos, insatisfeito e com ciúmes em relação à forma de dançar de sua esposa, Clara, 30 anos mais nova, efetua disparos de arma de fogo contra ela, com a inten- ção de matar. Arrependido, após acertar dois disparos no pei- to da esposa, Vinícius a leva para o hospital, onde ela ficou em coma por uma semana. No dia 12/03/2015, porém, Clara veio a falecer, em razão das lesões causadas pelos disparos da arma de fogo. Ao tomar conhecimento dos fatos, o Ministério Público ofereceu denúncia em face de Vinícius, imputandolhe a prática do crime previsto no art. 121, § 2º, inciso VI, do Código Penal, uma vez que, em 9-3-2015, foi publicada a Lei n. 13.104, que previu a qualificadora antes mencionada, pelo fato de o crime ter sido praticado contra a mulher por razão de ser ela do gênero feminino. Durante a instrução da 1ª fase do procedimento do Tribunal do Júri, antes da pronúncia, todos os fatos são confirmados, pugnando o Ministério Público pela pronúncia nos termos da denúncia. Em seguida, os autos são encaminhados ao(a) advogado(a) de Vinícius para manifesta- ção. Considerando apenas as informações narradas, o(a) advogado(a) de Vinicius poderá, no momento da manifesta- ção para a qual foi intimado, pugnar pelo imediato: A) reconhecimento do arrependimento eficaz. B) afastamento da qualificadora do homicídio. C) reconhecimento da desistência voluntária. D) reconhecimento da causa de diminuição de pena da ten- tativa. RESPOSTA A) Não há arrependimento eficaz (art. 15, 2ª parte, do Código Penal), pois a vítima morreu. O instituto somente incide se houve “eficácia”, ou seja, se o agente tomou alguma pro- vidência e conseguiu evitar a produção do resultado. O fato ocorreu em 5-3-2015, e a qualificadora do femini- cídio somente passou a vigorar posteriormente, em razão da incidência da Lei n. 13.104, de 9-3-2015. Como a lex gravior não pode retroagir contra o réu, o advogado de Vinícius poderá postular o afastamento da qualificadora do homicídio. C) Não há desistência voluntária (art. 15, 1ª parte, do Código Penal), pois o agente não desistiu de prosseguir na execução, tendo disparado contra a vítima, duas vezes, para matá-la. D) O crime não foi tentado, já que a vítima morreu (homicí- dio consumado). 51. (XXVII Exame de Ordem Unificado/FGV) Pedro e Paulo combinam de praticar um crime de furto em determi- nada creche, com a intenção de subtrair computadores. Pedro, então, sugere que o ato seja praticado em um domingo, quan- do o local estaria totalmente vazio e nenhuma criança seria diretamente prejudicada. No momento da empreitada deliti- va, Pedro auxilia Paulo a entrar por uma janela lateral e de- pois entra pela porta dos fundos da unidade. Já no interior do local, eles verificam que a creche estava cheia em razão de comemoração do “Dia das Mães”; então, Pedro pega um lap- top e sai, de imediato, pela porta dos fundos, mas Paulo, que estava armado sem que Pedro soubesse, anuncia o assalto e subtrai bens e joias de crianças, pais e funcionários. Captadas as imagens pelas câmeras de segurança, Pedro e Paulo são identificados e denunciados pelo crime de roubo duplamente majorado. Com base apenas nas informações narradas, a de- fesa de Pedro deverá pleitear o reconhecimento da: A) participação de menor importância, gerando causa de di- minuição de pena. B) cooperação dolosamente distinta, gerando causa de dimi- nuição de pena. 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 1917_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 19 29/02/2024 18:36:5429/02/2024 18:36:54 20 AlexAndre SAlim Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado C) cooperação dolosamente distinta, gerando aplicação da pena do crime menos grave. D) participação de menor importância, gerando aplicação da pena do crime menos grave. RESPOSTA A) Na participação de menor importância (art. 29, § 1º, do Código Penal), os agentes respondem pelo mesmo crime, embora um deles – aquele que contribuiu de maneira me- nos decisiva para o resultado – receba pena menor. Já na cooperação dolosamente distinta (art. 29, § 2º, do Código Penal), um agente responderá por um crime mais grave (resultado do desvio subjetivo de conduta) e o outro por um crime menos grave (aquele que queria praticar na ori- gem). No caso apresentado, não há participação de menor importância (art. 29, § 1º, do CP), mas cooperação dolosa- mente distinta (art. 29, § 2º, do CP). B) Há cooperação dolosamente distinta, mas a consequência não é a diminuição da pena, e sim a aplicação da pena do crime menos grave. Há cooperação dolosamente distinta, gerando aplicação da pena do crime menos grave. O fundamento está no art. 29, § 2º, do CP: “Se algum dos concorrentes quis partici- par de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave”. D) Como dito, não há participação de menor importância. 52. (XXVII Exame de Ordem Unificado/FGV) Leonar- do, nascido em 20/03/1976, estava em dificuldades financei- ras em razão de gastos contínuos com entorpecente para con- sumo. Assim, em 05/07/2018, subtraiu, em comunhão de ações e desígnios com João, nascido em 01/01/1970, o apare- lho de telefonia celular de seu pai, Gustavo, nascido em 05/11/1957, tendo João conhecimento de que Gustavo era ge- nitor do comparsa. Após a descoberta dos fatos, Gustavo compareceu em sede policial, narrou o ocorrido e indicou os autores do fato, que vieram a ser denunciados pelo crime de furto qualificado pelo concurso de agentes. No momento da sentença, confirmados os fatos, o juiz reconheceu a causa de isençãode pena em relação aos denunciados, considerando a condição de a vítima ser pai de um dos autores do fato. Incon- formado com o teor da sentença, Gustavo, na condição de as- sistente de acusação habilitado, demonstrou seu interesse em recorrer. Com base apenas nas informações expostas, o(a) advogado(a) de Gustavo deverá esclarecer que: A) os dois denunciados fazem jus à causa de isenção de pena da escusa absolutória, conforme reconhecido pelo magis- trado, já que a circunstância de a vítima ser pai de Leonar- do deve ser estendida para João. B) nenhum dos dois denunciados faz jus à causa de isenção de pena da escusa absolutória, devendo, confirmada a au- toria, ambos ser condenados e aplicada pena. C) somente Leonardo faz jus a causa de isenção de pena da escusa absolutória, não podendo esta ser estendida ao coautor. D) somente João faz jus a causa de isenção de pena da escusa absolutória, não podendo esta ser estendida ao coautor. RESPOSTA A) Nenhum dos dois denunciados faz jus à causa de isenção de pena da escusa absolutória. Como o ofendido Gustavo é pessoa idosa (60 anos), não se aplicam as imunidades penais (art. 183, III, do CP). Ademais, em relação a João, também não incidem as imunidades penais, na forma do art. 183, II, do Código Penal. Como dito, nenhum dos dois denunciados pode ser bene- ficiado pelas escusas absolutórias, devendo ambos, uma vez confirmada a autoria, ser condenados pelo crime. C) Leonardo, como dito, não faz jus ao benefício, já que a vítima é pessoa idosa. D) João, como dito, não faz jus ao benefício, já que é partici- pante estranho ao crime, além de a vítima ser pessoa idosa. 53. (XXVII Exame de Ordem Unificado/FGV) Incon- formado com o fato de Mauro ter votado em um candidato que defendia ideologia diferente da sua, João desferiu golpes de faca contra seu colega, assim agindo com a intenção de matá-lo. Acreditando ter obtido o resultado desejado, João le- vou o corpo da vítima até uma praia deserta e o jogou no mar. Dias depois, o corpo foi encontrado, e a perícia constatou que a vítima morreu afogada, e não em razão das facadas desferi- das por João. Descobertos os fatos, João foi preso, denunciado e pronunciado pela prática de dois crimes de homicídio dolo- sos, na forma qualificada, em concurso material. Ao apresen- tar recurso contra a decisão de pronúncia, você, advogado(a) de João, sob o ponto de vista técnico, deverá alegar que ele somente poderia ser responsabilizado: A) pelo crime de lesão corporal, considerando a existência de causa superveniente, relativamente independente, que, por si só, causou o resultado. B) por um crime de homicídio culposo, na forma consumada. C) por um crime de homicídio doloso qualificado, na forma tentada, e por um crime de homicídio culposo, na forma consumada, em concurso material. D) por um crime de homicídio doloso qualificado, na forma consumada. RESPOSTA: A) João agiu com a intenção de matar a vítima, razão pela qual não pode ser responsabilizado por lesão corporal. B) Como dito, João agiu com dolo de matar, razão pela qual não pode ser responsabilizado por crime culposo. C) João não será responsabilizado por dois crimes, mas por um só. Incide, no caso, o instituto do dolo geral (dolus generalis): supondo ter produzido o resultado desejado, o agente pratica nova conduta, com nova finalidade, sendo esta última conduta a responsável por produzir o resultado buscado na origem. 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 2017_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 20 29/02/2024 18:36:5429/02/2024 18:36:54 Direito Penal 21 Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado Diante do instituto do dolus generalis, João responderá somente por um crime, homicídio doloso qualificado con- sumado, delito que desejava praticar desde a origem. 54. (XXVII Exame de Ordem Unificado/FGV) Cátia procura você, na condição de advogado(a), para que esclareça as consequências jurídicas que poderão advir do comporta- mento de seu filho, Marlon, pessoa primária e de bons ante- cedentes, que agrediu a ex-namorada ao encontrá-la em um restaurante com um colega de trabalho, causando-lhe lesão corporal de natureza leve. Na oportunidade, você, como advogado(a), deverá esclarecer que: A) o início da ação penal depende de representação da víti- ma, que terá o prazo de seis meses da descoberta da auto- ria para adotar as medidas cabíveis. B) no caso de condenação, em razão de ser Marlon primário e de bons antecedentes, poderá a pena privativa de liber- dade ser substituída por restritiva de direitos. C) em razão de o agressor e a vítima não estarem mais namo- rando quando ocorreu o fato, não será aplicada a Lei n. 11.340/06, mas, ainda assim, não será possível a transação penal ou a suspensão condicional do processo. D) no caso de condenação, por ser Marlon primário e de bons antecedentes, mostra-se possível a aplicação do sursis da pena. RESPOSTA A) De acordo com o art. 5º, III, da Lei n. 11.340/2006, as disposições da Lei Maria da Penha incidem “em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou te- nha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação”. Assim, o fato de as partes não estarem mais namorando não impede a aplicação da referida legislação especial. Dessa forma, não se fala em representação, con- forme refere a Súmula 542 do STJ: “A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência domés- tica contra a mulher é pública incondicionada”. B) Não será possível a substituição da pena privativa de liber- dade por restritiva de direitos, de acordo com a Súmula 588 do STJ: “A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou grave ameaça no am- biente doméstico impossibilita a substituição da pena pri- vativa de liberdade por restritiva de direitos”. C) Com efeito, não será possível a aplicação dos institutos da transação penal e da suspensão condicional do processo, conforme a Súmula 536 do STJ: “A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha”. No entan- to, como já referido, deverá incidir a Lei Maria da Penha. É possível a aplicação da suspensão condicional da pena (sursis), caso Marlon venha a ser condenado. Isso porque estão presentes os requisitos do art. 77 do Código Penal: “A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (qua- tro) anos, desde que: I – o condenado não seja reincidente em crime doloso; II – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do be- nefício; III – não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código”. 55. (XXVII Exame de Ordem Unificado/FGV) Vanessa cumpre pena em regime semiaberto em razão de segunda con- denação definitiva por crime de tráfico armado. Durante o cumprimento, após preencher o requisito objetivo, requer ao juízo da execução, por meio de seu advogado, a progressão para o regime aberto. Considerando as peculiaridades do caso, a reincidência específica e o emprego de arma, o magistrado, em decisão fundamentada, entende por exigir a realização do exame criminológico. Com o resultado, o magistrado compe- tente concedeu a progressão de regime, mas determinou que Vanessa comparecesse em juízo, quando determinado, para informar e justificar suas atividades; que não se ausentasse, sem autorização judicial, da cidade onde reside; e que prestas- se, durante o período restante de cumprimento de pena, servi- ços à comunidade. Intimada da decisão, considerando as in- formações expostas, poderá a defesa técnica de Vanessa apresentar recurso de agravo à execução, alegando que: A) a lei veda a fixação de condições especiaisnão previstas em lei. B) poderiam ter sido fixadas condições especiais não previs- tas em lei, mas não prestação de serviços à comunidade. C) não poderia ter sido fixada a condição de proibição de se ausentar da cidade em que reside sem autorização judicial. D) a decisão foi inválida como um todo, porque é vedada a exigência de exame criminológico para progressão de re- gime, ainda que em decisão fundamentada. RESPOSTA A) Não há vedação legal, já que a LEP (Lei n. 7.210/84), no seu art. 115, dispõe: “O Juiz poderá estabelecer condições espe- ciais para a concessão de regime aberto, sem prejuízo das seguintes condições gerais e obrigatórias: I – permanecer no local que for designado, durante o repouso e nos dias de folga; II – sair para o trabalho e retornar, nos horários fixa- dos; III – não se ausentar da cidade onde reside, sem auto- rização judicial; IV – comparecer a Juízo, para informar e justificar as suas atividades, quando for determinado”. O magistrado poderia ter fixado condições especiais, con- forme o citado art. 115 da LEP, mas não a pena restritiva de direitos de prestação de serviços à comunidade. O fun- damento está na Súmula 493 do STJ: “É inadmissível a fixação de pena substitutiva (art. 44 do CP) como condi- ção especial ao regime aberto”. C) A condição de proibição de ausentar-se da cidade em que reside sem autorização judicial está prevista de forma ex- pressa no art. 115, III, da LEP. D) De acordo com a jurisprudência dos Tribunais Superiores, é possível a determinação de exame criminológico, desde que em decisão motivada. Nesse sentido as Súmulas Vin- culante 26 do STF (“Para efeito de progressão de regime 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 2117_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 21 29/02/2024 18:36:5429/02/2024 18:36:54 22 AlexAndre SAlim Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado no cumprimento de pena por crime hediondo, ou equipa- rado, o juízo da execução observará a inconstitucionalida- de do art. 2º da Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo de- terminar, para tal fim, de modo fundamentado, a realiza- ção de exame criminológico”) e 439 do STJ (“Admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades do caso, desde que em decisão motivada”). 56. (XXVIII Exame de Ordem Unificado/FGV) Dou- glas foi condenado pela prática de duas tentativas de roubo majoradas pelo concurso de agentes e restrição da liberdade das vítimas (art. 157, § 2º, incisos II e V, c/c o art. 14, inciso II, por duas vezes, na forma do art. 70, todos do CP). No momento de fixar a sanção penal, o juiz aplicou a pena-base no mínimo legal, reconhecendo a confissão espontânea do agente, mas deixou de diminuir a pena na segunda fase. No terceiro momento, o magistrado aumentou a pena do máxi- mo, considerando as circunstâncias do crime, em especial a quantidade de agentes (5 agentes) e o tempo que durou a res- trição da liberdade das vítimas. Ademais, reduziu, ainda na terceira fase, a pena do mínimo legal em razão da tentativa, novamente fundamentando na gravidade do delito e naquelas circunstâncias de quantidade de agentes e restrição da liber- dade. Após a aplicação da pena dos dois delitos, reconheceu o concurso formal de crimes, aumentando a pena de um de- les de acordo com a quantidade de crimes praticados. O Mi- nistério Público não recorreu. Considerando as informações narradas, de acordo com a jurisprudência pacificada do Su- perior Tribunal de Justiça, o(a) advogado(a) de Douglas, quanto à aplicação da pena, deverá buscar: A) a redução da pena na segunda fase diante do reconheci- mento da atenuante da confissão espontânea. B) a redução do quantum de aumento em razão da presença das majorantes, que deverá ser aplicada de acordo com a quantidade de causas de aumento. C) o aumento do quantum de diminuição em razão do reco- nhecimento da tentativa, pois a fundamentação apresenta- da pelo magistrado foi inadequada. D) a redução do quantum de aumento em razão do reconhe- cimento do concurso de crimes, devido à fundamentação inadequada. RESPOSTA A) Foi determinada a pena mínima tanto na primeira fase (pena-base) quanto na segunda fase (pena provisória) do modelo trifásico de fixação da pena privativa de liberda- de. Dessa feita, conforme a jurisprudência dos Tribunais Superiores, a existência de atenuante não poderá diminuir a pena aquém do limite mínimo previsto em lei. Nesse sentido a Súmula 231 do STJ: “A incidência da circunstân- cia atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal”. B) O aumento na terceira fase não se dá unicamente pelo nú- mero de majorantes, exigindo motivação do juiz nesse sentido. É o que dispõe a Súmula 443 do STJ: “O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo circunstanciado exige fundamentação concreta, não sen- do suficiente para a sua exasperação a mera indicação do número de majorantes”. De acordo com o art. 14, parágrafo único, do Código Pe- nal, “Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, dimi- nuída de um a dois terços”. O magistrado não pode utili- zar as mesmas circunstâncias duas vezes (gravidade do delito, quantidade de agentes e restrição da liberdade), primeiro para aumentar a pena e depois para diminuí-la, sob pena de bis in idem. Ademais, para a redução atinente à tentativa, o juiz deve observar o itinerário percorrido pelo agente: quanto mais perto ele chegou da consuma- ção, menor deve ser a redução; quanto mais longe ele fi- cou da consumação, maior deve ser a redução. D) A quantidade de crimes praticados é o critério utilizado pela jurisprudência do STJ para o aumento de pena relativo ao concurso formal próprio ou imperfeito de crimes (art. 70, caput, 1ª parte, do CP). Assim: 2 crimes, aumento de 1/6; 3 crimes, aumento de 1/5; 4 crimes, aumento de 1/4; 5 crimes, aumento de 1/3; 6 ou mais crimes, aumento de 1/2. 57. (XXVIII Exame de Ordem Unificado/FGV) Frede- rico, de maneira intencional, colocou fogo no jardim da resi- dência de seu chefe de trabalho, causando perigo ao patrimô- nio deste e dos demais vizinhos da região, já que o fogo se alastrou rapidamente, aproximando-se da rede elétrica e de pessoas que passavam pelo local. Ocorre que Frederico não se certificou, com as cautelas necessárias, que não haveria nin- guém no jardim, de modo que a conduta por ele adotada cau- sou a morte de uma criança, queimada, que brincava no local. Desesperado, Frederico procura você, como advogado(a), e admite os fatos, indagando sobre eventuais consequências pe- nais de seus atos. Considerando apenas as informações narra- das, o(a) advogado(a) de Frederico deverá esclarecer que a conduta praticada configura crime de: A) homicídio doloso qualificado pelo emprego de fogo. B) incêndio doloso simples. C) homicídio culposo. D) incêndio doloso com aumento de pena em razão do resul- tado morte. RESPOSTA A) O dolo de Frederico estava dirigido à provocação do in- cêndio, e não à morte da criança, de forma que não se pode falar em homicídio doloso. B) Há incêndio doloso, mas não na forma simples, e sim na forma majorada, em face da morte da criança. C) Não se descarta o homicídio culposo. No entanto, a res- posta peca por não trazer o incêndio doloso. 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 2217_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 22 29/02/2024 18:36:5429/02/2024 18:36:54 Direito Penal 23 Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado Pelo princípio da especialidade, Frederico responderá por incêndio doloso (art. 250, caput, do CP) com aumentode pena em razão do resultado morte (art. 258 do CP). 58. (XXVIII Exame de Ordem Unificado/FGV) Fa- brício cumpria pena em livramento condicional, em razão de condenação pela prática de crime de lesão corporal grave. Em 10 de janeiro de 2018, quando restavam 06 meses de pena a serem cumpridos, ele descobre que foi novamente condenado, definitivamente, por crime de furto que teria praticado antes dos fatos que justificaram sua condenação pelo crime de lesão. A pena aplicada em razão da nova con- denação foi de 02 anos e 06 meses de pena privativa de li- berdade em regime inicial semiaberto. Apesar disso, somen- te procura seu(sua) advogado(a) em 05 de agosto de 2018, esclarecendo o ocorrido. Ao consultar os autos do processo de execução, o(a) advogado(a) verifica que, de fato, existe a nova condenação, mas que, até o momento, não houve revo- gação ou suspensão do livramento condicional. Consideran- do apenas as informações narradas, o(a) advogado(a) de Fa- brício, de acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, deverá esclarecer que: A) poderá haver a revogação do livramento condicional, ten- do em vista que a nova condenação por crime doloso, apli- cada pena privativa de liberdade, é causa de revogação obrigatória do benefício. B) não poderá haver a revogação do livramento condicional, tendo em vista que a nova condenação é apenas prevista como causa de revogação facultativa do benefício e não houve suspensão durante o período de prova. C) não poderá haver a revogação do livramento condicional, tendo em vista que a nova condenação não é prevista em lei como causa de revogação do livramento condicional, já que o fato que a justificou é anterior àquele que gerou a condenação em que cumpre o benefício. D) não poderá haver a revogação do livramento condicional, pois ultrapassado o período de prova, ainda que a nova condenação seja prevista no Código Penal como causa de revogação obrigatória do benefício. RESPOSTA A) O período de prova atinente ao livramento condicional concedido a Fabrício pelo crime de lesão corporal grave terminou em julho de 2018. Como até o dia 5 de agosto de 2018 não houve qualquer decisão judicial revogando ou suspendendo o benefício, deverá ser declarada extinta a pena imposta a Fabrício (pois ultrapassado o período de prova sem revogação do livramento condicional). B) Realmente não poderá haver a revogação do livramento condicional. No entanto, o erro da alternativa está em di- zer que a nova condenação é causa de revogação facultati- va do benefício, quando, na verdade, é causa de revogação obrigatória do livramento condicional (art. 86, II, do CP). C) Realmente não poderá haver a revogação do livramento condicional. No entanto, como dito acima, a nova conde- nação é, sim, prevista em lei como causa de revogação do benefício (art. 86, II, do CP). O livramento condicional não poderá ser revogado, já que ultrapassado o período de prova sem que o juiz tenha de- cidido pela revogação ou suspensão do benefício. Nesse sentido a Súmula 617 do STJ: “A ausência de suspensão ou revogação do livramento condicional antes do término do período de prova enseja a extinção da punibilidade pelo integral cumprimento da pena”. 59. (XXVIII Exame de Ordem Unificado/FGV) David, em dia de sol, levou sua filha, Vivi, de 03 anos, para a piscina do clube. Enquanto a filha brincava na piscina infantil, David precisou ir ao banheiro, solicitando, então, que sua amiga Carla, que estava no local, ficasse atenta para que nada de mal ocorresse com Vivi. Carla se comprometeu a cuidar da filha de David. Naquele momento, Vitor assumiu o posto de salva- vidas da piscina. Carla, que sempre fora apaixonada por Vi- tor, começou a conversar com ele e ambos ficam de costas para a piscina, não atentando para as crianças que lá estavam. Vivi começa a brincar com o filtro da piscina e acaba sofren- do uma sucção que a deixa embaixo da água por tempo sufi- ciente para causar seu afogamento. David vê quando o ato acontece através de pequena janela no banheiro do local, mas o fecho da porta fica emperrado e ele não consegue sair. Vitor e Carla não veem o ato de afogamento da criança porque esta- vam de costas para a piscina conversando. Diante do resulta- do morte, David, Carla e Vitor ficam preocupados com sua responsabilização penal e procuram um advogado, esclare- cendo que nenhum deles adotou comportamento positivo para gerar o resultado. Considerando as informações narradas, o advogado deverá esclarecer que: A) Carla e Vitor, apenas, poderão responder por homicídio culposo, já que podiam atuar e possuíam obrigação de agir na situação. B) David, apenas, poderá responder por homicídio culposo, já que era o único com dever legal de agir por ser pai da criança. C) David, Carla, Vitor poderão responder por homicídio cul- poso, já que os três tinham o dever de agir. D) Vitor, apenas, poderá responder pelo crime de omissão de socorro. RESPOSTA Carla e Vitor podiam agir para evitar a produção do resul- tado e estavam na posição de garantes. Carla comprome- teu-se a cuidar da filha de David (art. 13, § 2º, b, do CP) e Vitor era o salva-vidas da piscina (art. 13, § 2º, a, do CP). Assim, ambos poderão responder por homicídio culposo. B) David não poderá responder por homicídio culposo, já que, não obstante também tivesse o dever legal de impedir o resultado (posição de garante), não podia agir no caso concreto, pois a porta do banheiro ficou emperrada. C) David, como dito, não poderá responder por homicídio culposo. 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 2317_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 23 29/02/2024 18:36:5429/02/2024 18:36:54 24 AlexAndre SAlim Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado D) Não apenas Vitor, mas também Carla, poderão responder criminalmente. Ademais, não há omissão de socorro para eles, e sim homicídio culposo. 60. (XXVIII Exame de Ordem Unificado/FGV) Ga- briela, senhora de 60 anos, é surpreendida com a notícia de que seus dois netos, Pedro e Luiz, ambos com 18 anos de idade, foram presos em flagrante na mesma data, qual seja o dia 05 de setembro de 2018. Pedro foi preso e indiciado pela suposta prática de crime de racismo, enquanto Luiz foi abor- dado com um fuzil municiado, sendo indiciado pelo crime de porte de arma de fogo de uso restrito (art. 16 da Lei n. 10.826/03). Gabriela, sem compreender a exata extensão da consequência dos atos dos netos, procurou a defesa técnica deles para esclarecimentos quanto às possibilidades de pres- crição e concessão de indulto em relação aos delitos imputa- dos. Considerando as informações narradas, a defesa técnica de Pedro e Luiz deverá esclarecer que: A) ambos os crimes são insuscetíveis de indulto e imprescri- tíveis. B) somente o crime de porte de arma de fogo é imprescritível, enquanto ambos os delitos são insuscetíveis de indulto. C) somente o crime de racismo é imprescritível, enquanto apenas o porte do fuzil é insuscetível de indulto. D) somente o crime de racismo é imprescritível, não sendo nenhum deles insuscetível de indulto. RESPOSTA A) O crime de porte de arma de fogo de uso restrito não é imprescritível. B) Como dito, o crime de porte de arma de fogo de uso res- trito não é imprescritível. O crime de racismo é imprescritível (art. 5º, XLII, da CF), e o delito de porte de arma de fogo de uso restrito, por ser considerado crime hediondo à época deste Exame, era in- suscetível de indulto (art. 2º, I, da Lei n. 8.072/90). D) O crime de porte de arma de fogo de uso restrito, como dito, era considerado hediondo e, como tal, insuscetível de indulto. 61. (XXVIII Exame de Ordem Unificado/FGV) Sílvio foi condenado pela prática de crime de roubo, ocorrido em 10/01/2017, por decisão transitada em julgado, em 05/03/2018, à pena-base de 4 anos de reclusão,majorada em 1/3 em razão do emprego de arma branca, totalizando 5 anos e 4 meses de pena privativa de liberdade, além de multa. Após ter sido ini- ciado o cumprimento definitivo da pena por Sílvio, foi edita- da, em 23/04/2018, a Lei n. 13.654/18, que excluiu a causa de aumento pelo emprego de arma branca no crime de roubo. Ao tomar conhecimento da edição da nova lei, a família de Sílvio procura um(a) advogado(a). Considerando as informações ex- postas, o(a) advogado(a) de Sílvio: A) não poderá buscar alteração da sentença, tendo em vista que houve trânsito em julgado da sentença penal conde- natória. B) poderá requerer ao juízo da execução penal o afastamento da causa de aumento e, consequentemente, a redução da sanção penal imposta. C) deverá buscar a redução da pena aplicada, com afasta- mento da causa de aumento do emprego da arma branca, por meio de revisão criminal. D) deverá buscar a anulação da sentença condenatória, pug- nando pela realização de novo julgamento com base na inovação legislativa. RESPOSTA A) Conforme o art. 2º, parágrafo único, do Código Penal, “A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sen- tença condenatória transitada em julgado”. Assim, o advo- gado de Sílvio poderá, sim, buscar a alteração da sentença. O advogado de Sílvio poderá requerer ao juízo da execu- ção criminal o afastamento da majorante e, por conse- quência, a redução da pena imposta. O fundamento está na Súmula 611 do STF (“Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao Juízo das execuções a aplicação de lei mais benigna”) e no art. 66, I, da LEP (“Compete ao Juiz da execução: I – aplicar aos casos julgados lei poste- rior que de qualquer modo favorecer o condenado”). C) O advogado de Sílvio não deverá ajuizar revisão criminal (art. 621 do CPP), mas sim protocolar um requerimento dirigido ao juiz da execução penal. D) Não se trata de anulação da sentença condenatória, mas de pedido de redução da pena. 62. (XXIX Exame de Ordem Unificado/FGV) Inconfor- mado com o comportamento de seu vizinho, que insistia em importunar sua filha de 15 anos, Mário resolve dar-lhe uma “lição” e desfere dois socos no rosto do importunador, nesse momento com o escopo de nele causar diversas lesões. Duran- te o ato, entendendo que o vizinho ainda não havia sofrido na mesma intensidade do constrangimento de sua filha, decide matá-lo com uma barra de ferro, o que vem efetivamente a acontecer. Descobertos os fatos, o Ministério Público oferece denúncia em face de Mário, imputando-lhe a prática dos cri- mes de lesão corporal dolosa e homicídio, em concurso mate- rial. Durante toda a instrução, Mário confirma os fatos descri- tos na denúncia. Considerando apenas as informações narradas e confirmada a veracidade dos fatos expostos, o(a) advogado(a) de Mário, sob o ponto de vista técnico, deverá buscar o reco- nhecimento de que Mário pode ser responsabilizado: A) apenas pelo crime de homicídio, por força do princípio da consunção, tendo ocorrido a chamada progressão criminosa. B) apenas pelo crime de homicídio, por força do princípio da alternatividade, sendo aplicada a regra do crime pro- gressivo. C) apenas pelo crime de homicídio, com base no princípio da especialidade. D) pelos crimes de lesão corporal e homicídio, em concurso formal. 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 2417_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 24 29/02/2024 18:36:5429/02/2024 18:36:54 Direito Penal 25 Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado RESPOSTA O instituto da progressão criminosa é estudado dentro do princípio da consunção ou absorção. Há uma mutação do dolo do agente, que deverá responder apenas pelo crime mais grave. B) O fato não se resolve pelo princípio da alternatividade, mas pelo princípio da consunção ou absorção. Ademais, não se trata de crime progressivo (o agente, para praticar um delito, necessariamente passa por outro), mas de pro- gressão criminosa (mudança no dolo do agente). C) O fato não se resolve pelo princípio da especialidade. D) O agente não responde pelo concurso de crimes, mas so- mente pelo homicídio. 63. (XXIX Exame de Ordem Unificado/FGV) Em 5-10-2018, Lúcio, com o intuito de obter dinheiro para adqui- rir uma moto em comemoração ao seu aniversário de 18 anos, que aconteceria em 9-10-2018, sequestra Danilo, com a ajuda de um amigo ainda não identificado. No mesmo dia, a dupla entra em contato com a família da vítima, exigindo o paga- mento da quantia de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) para sua liberação. Duas semanas após a restrição da liberdade da vítima, período durante o qual os autores permaneceram em constante contato com a família da vítima exigindo o paga- mento do resgate, a polícia encontrou o local do cativeiro e conseguiu libertar Danilo, encaminhando, de imediato, Lúcio à Delegacia. Em sede policial, Lúcio entra em contato com o advogado da família. Considerando os fatos narrados, o(a) advogado(a) de Lúcio, em entrevista pessoal e reservada, de- verá esclarecer que sua conduta: A) não permite que seja oferecida denúncia pelo Ministério Público, pois o Código Penal adota a Teoria da Ação para definição do tempo do crime, sendo Lúcio inimputável para fins penais. B) não permite que seja oferecida denúncia pelo órgão minis- terial, pois o Código Penal adota a Teoria do Resultado para definir o tempo do crime, e, sendo este de natureza formal, sua consumação se deu em 5-10-2018. C) configura fato típico, ilícito e culpável, podendo Lúcio ser responsabilizado, na condição de imputável, pelo crime de extorsão mediante sequestro qualificado na forma con- sumada. D) configura fato típico, ilícito e culpável, podendo Lúcio ser responsabilizado, na condição de imputável, pelo crime de extorsão mediante sequestro qualificado na forma ten- tada, já que o crime não se consumou por circunstâncias alheias à sua vontade, pois não houve obtenção da vanta- gem indevida. RESPOSTA A) O Ministério Público poderá denunciar Lúcio, que passou a ser imputável durante a execução do crime. B) O Ministério Público poderá denunciar Lúcio. Como o crime de extorsão mediante sequestro é permanente, a sua consumação se prolonga no tempo, cessando apenas quando a vítima foi resgatada. Lúcio praticou fato típico, ilícito e culpável, devendo ser responsabilizado pelo crime de extorsão mediante seques- tro qualificado (art. 159, § 1º, do CP) na forma consuma- da. Incide, no caso, a inteligência da Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessa- ção da continuidade ou da permanência”. D) O crime restou consumado, e não tentado. A consumação ocorreu no momento em que a vítima foi privada da sua liberdade, prolongando-se até o resgate do ofendido. 64. (XXIX Exame de Ordem Unificado/FGV) Após dis- cussão em uma casa noturna, Jonas, com a intenção de causar lesão, aplicou um golpe de arte marcial em Leonardo, causan- do fratura em seu braço. Leonardo, então, foi encaminhado ao hospital, onde constatou-se a desnecessidade de intervenção cirúrgica e optou-se por um tratamento mais conservador com analgésicos para dor, o que permitiria que ele retornasse às suas atividades normais em 15 dias. A equipe médica, sem observar os devidos cuidados exigidos, ministrou o remédio a Leonardo sem observar que era composto por substância à qual o paciente informara ser alérgico em sua ficha de interna- ção. Em razão da medicação aplicada, Leonardo sofreu cho- que anafilático, evoluindo a óbito, conforme demonstrado em seu laudo de exame cadavérico. Recebidos os autos do inqué- rito, o Ministério Público ofereceu denúncia em face de Jonas, imputando-lhe o crime de homicídio doloso. Diante dos fatos acima narrados e considerandoo estudo da teoria da equiva- lência, o(a) advogado(a) de Jonas deverá alegar que a morte de Leonardo decorreu de causa superveniente: A) absolutamente independente, devendo ocorrer desclassifi- cação para que Jonas responda pelo crime de lesão corpo- ral seguida de morte. B) relativamente independente, devendo ocorrer desclassifi- cação para o crime de lesão corporal seguida de morte, já que a morte teve relação com sua conduta inicial. C) relativamente independente, que, por si só, causou o resul- tado, devendo haver desclassificação para o crime de ho- micídio culposo. D) relativamente independente, que, por si só, produziu o re- sultado, devendo haver desclassificação para o crime de lesão corporal, não podendo ser imputado o resultado morte. RESPOSTA A) A causa superveniente não é absolutamente, mas relativa- mente independente. Causa superveniente absoluta é a que não se origina da conduta do agente. Causa superve- niente relativa é a que se origina da conduta do agente. B) Jonas não poderá responder pelo resultado morte de Leo- nardo, já que este não era previsível ao agente agressor. C) Como dito, Jonas não poderá responder pelo resultado morte de Leonardo. Aplica-se o art. 13, § 1º, do CP: “A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 2517_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 25 29/02/2024 18:36:5429/02/2024 18:36:54 26 AlexAndre SAlim Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anterio- res, entretanto, imputam-se a quem os praticou”. Dessa forma, Jonas responderá por lesão corporal (art. 129 do CP), não podendo ser a ele imputado o resultado morte. 65. (XXIX Exame de Ordem Unificado/FGV) Sandra, mãe de Enrico, de 4 anos de idade, fruto de relacionamento anterior, namorava Fábio. Após conturbado término do rela- cionamento, cujas discussões tinham como principal motivo a criança e a relação de Sandra com o ex-companheiro, Fá- bio comparece à residência de Sandra, enquanto esta traba- lhava, para buscar seus pertences. Na ocasião, ele encontrou Enrico e uma irmã de Sandra, que cuidava da criança. Com raiva pelo término da relação, Fábio, aproveitando-se da dis- tração da tia, conversa com a criança sobre como seria legal voar do 8º andar apenas com uma pequena toalha funcio- nando como paraquedas. Diante do incentivo de Fábio, En- rico pula da varanda do apartamento com a toalha e vem a sofrer lesões corporais de natureza grave, já que cai em cima de uma árvore. Descobertos os fatos, a família de Fábio pro- cura advogado para esclarecimentos sobre as consequências jurídicas do ato. Considerando as informações narradas, sob o ponto de vista técnico, deverá o advogado esclarecer que a conduta de Fábio configura: A) conduta atípica, já que não houve resultado de morte a partir da instigação ao suicídio. B) crime de instigação ao suicídio consumado, com pena in- ferior àquela prevista para quando há efetiva morte. C) crime de instigação ao suicídio na modalidade tentada. D) crime de homicídio na modalidade tentada. RESPOSTA A) Fábio incentivou criança de 4 anos a jogar-se do 8º andar, comportamento que configura tentativa de homicídio. B) Não se trata de instigação ao suicídio (art. 122 do CP), mas de homicídio tentado (art. 121 c/c art. 14, II, ambos do CP). C) Como dito, não se trata do crime de instigação ao suicídio. Como a vítima é criança e, por tal razão, não tem capaci- dade plena de autodeterminação, Fábio cometeu o crime de homicídio, na modalidade tentada, já que a vítima não morreu por circunstâncias alheias à conduta do autor. Obs.: a Lei n. 13.968/2019 deu nova redação ao crime do art. 122 do CP. Atualmente, para a solução da questão, deveria ser observado o (novo) § 7º do art. 122 do Código Penal: “Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é come- tido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resis- tência, responde o agente pelo crime de homicídio, nos termos do art. 121 deste Código”. 66. (XXIX Exame de Ordem Unificado/FGV) João, por força de divergência ideológica, publicou, em 03 de fevereiro de 2019, artigo ofensivo à honra de Mário, dizendo que este, quando no exercício de função pública na Prefeitura do muni- cípio de São Caetano, desviou verba da educação em benefí- cio de empresa de familiares. Mário, inconformado com a falsa notícia, apresentou queixa-crime em face de João, sendo a inicial recebida em 02 de maio de 2019. Após observância do procedimento adequado, o juiz designou data para a reali- zação da audiência de instrução e julgamento, sendo as partes regularmente intimadas. No dia da audiência, apenas o quere- lado João e sua defesa técnica compareceram. Diante da au- sência injustificada do querelante, poderá a defesa de João requerer ao juiz o reconhecimento: A) da decadência, que é causa de extinção da punibilidade. B) do perdão do ofendido, que é causa de extinção da punibi- lidade. C) do perdão judicial, que é causa de exclusão da culpabilidade. D) da perempção, que é causa de extinção da punibilidade. RESPOSTA A) A decadência é a perda do direito de queixa ou de repre- sentação, em face do seu não exercício dentro do prazo legal. Na questão proposta, Mário apresentou a queixa- -crime de forma tempestiva. B) O perdão é um ato voluntário e bilateral, ou seja, o que extingue a punibilidade é o perdão aceito. A questão pro- posta em nenhum momento faz referência ao oferecimen- to e à aceitação do perdão. C) Além de a questão não ter feito referência ao perdão judi- cial, tal instituto somente é cabível em casos expressa- mente previstos em lei. O fato narrado na questão propos- ta não admite perdão judicial. Trata-se do instituto da perempção, que é causa extintiva da punibilidade (art. 107, IV, do CP). Dentre outras hipó- teses, considerar-se-á perempta a ação penal quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente (art. 60, III, do CPP). 67. (XXIX Exame de Ordem Unificado/FGV) Durante a madrugada, Lucas ingressou em uma residência e subtraiu um computador. Quando se preparava para sair da residência, ainda dentro da casa, foi surpreendido pela chegada do pro- prietário. Assustado, ele o empurrou e conseguiu fugir com a coisa subtraída. Na manhã seguinte, arrependeu-se e resolveu devolver a coisa subtraída ao legítimo dono, o que efetiva- mente veio a ocorrer. O proprietário, revoltado com a conduta anterior de Lucas, compareceu em sede policial e narrou o ocorrido. Intimado pelo Delegado para comparecer em sede policial, Lucas, preocupado com uma possível responsabili- zação penal, procura o advogado da família e solicita esclare- cimentos sobre a sua situação jurídica, reiterando que já no dia seguinte devolvera o bem subtraído. Na ocasião da assis- tência jurídica, o(a) advogado(a) deverá informar a Lucas que poderá ser reconhecido(a): A) a desistência voluntária, havendo exclusão da tipicidade de sua conduta. 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 2617_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 26 29/02/2024 18:36:5429/02/2024 18:36:54 Direito Penal 27 Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado B) o arrependimento eficaz, respondendo o agente apenas pelos atos até então praticados. C) o arrependimento posterior, não sendo afastada a tipicida- de da conduta, mas gerando aplicação de causa de dimi- nuição de pena. D) a atenuante da reparação do dano, apenas, não sendo, po- rém, afastada a tipicidade da conduta. RESPOSTA A) Nãohouve desistência voluntária, pois Lucas já havia sub- traído o computador da vítima. A desistência voluntária pressupõe que o agente, voluntariamente, desista de pros- seguir na execução do crime. B) Não houve arrependimento eficaz, pois Lucas não tomou qualquer providência para evitar a produção do resultado. Recorde-se que o crime de furto já estava consumado quando Lucas foi surpreendido pela vítima, delito que, em face da reação ao agente, transmudou-se em roubo impró- prio (art. 157, § 1º, do CP). C) Não houve arrependimento posterior (art. 16 do CP), já que este instituto somente é admissível em crimes pratica- dos sem violência ou grave ameaça à pessoa. Lucas praticou o delito de roubo impróprio, previsto no art. 157, § 1º, do Código Penal. O fato de ter devolvido, no dia seguinte, o bem subtraído somente funcionará como atenuante genérica em face da reparação do dano (art. 65, III, b, do CP). 68. (XXX Exame de Ordem Unificado/FGV) Regina dá à luz seu primeiro filho, Davi. Logo após realizado o parto, ela, sob influência do estado puerperal, comparece ao berçário da maternidade, no intuito de matar Davi. No entanto, pensan- do tratar-se de seu filho, ela, com uma corda, asfixia Bruno, filho recém-nascido do casal Marta e Rogério, causando-lhe a morte. Descobertos os fatos, Regina é denunciada pelo crime de homicídio qualificado pela asfixia com causa de aumento de pena pela idade da vítima. Diante dos fatos acima narrados, o(a) advogado(a) de Regina, em alegações finais da primeira fase do procedimento do Tribunal do Júri, deverá requerer: A) o afastamento da qualificadora, devendo Regina respon- der pelo crime de homicídio simples com causa de aumen- to, diante do erro de tipo. B) a desclassificação para o crime de infanticídio, diante do erro sobre a pessoa, não podendo ser reconhecida a agra- vante pelo fato de quem se pretendia atingir ser descen- dente da agente. C) a desclassificação para o crime de infanticídio, diante do erro na execução (aberratio ictus), podendo ser reco- nhecida a agravante de o crime ser contra descendente, já que são consideradas as características de quem se pretendia atingir. D) a desclassificação para o crime de infanticídio, diante do erro sobre a pessoa, podendo ser reconhecida a agravante de o crime ser contra descendente, já que são considera- das as características de quem se pretendia atingir. RESPOSTA A) Regina não praticou o crime de homicídio (art. 121 do CP). Regina praticou infanticídio, previsto no art. 123 do CP (“Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após”). Incide a figura do erro sobre a pessoa (art. 20, § 3º, do CP), pois Regina achou que estivesse matando o próprio filho. Não é possí- vel o reconhecimento da agravante de delito praticado contra descendente, pois “filho” já é elementar do crime de infanticídio. Ademais, conforme disposto no art. 61 do CP, as agravantes somente incidem “quando não consti- tuem ou qualificam o crime”. C) Não há aberratio ictus (art. 73 do CP) e nem pode ser re- conhecida a agravante de crime praticado contra descen- dente. D) Não pode ser reconhecida a agravante de crime praticado contra descendente. 69. (XXX Exame de Ordem/FGV) Gabriel foi condena- do pela prática de um crime de falso testemunho, sendo-lhe aplicada a pena de 03 anos de reclusão, em regime inicial aberto, substituída a pena privativa de liberdade por duas res- tritivas de direitos (prestação de serviços à comunidade e li- mitação de final de semana). Após cumprir o equivalente a 01 ano da pena aplicada, Gabriel deixa de cumprir a prestação de serviços à comunidade. Ao ser informado sobre tal situação pela entidade beneficiada, o juiz da execução, de imediato, converte a pena restritiva de direitos em privativa de liberda- de, determinando o cumprimento dos 03 anos da pena impos- ta em regime semiaberto, já que Gabriel teria demonstrado não preencher as condições para cumprimento de pena em regime aberto. Para impugnar a decisão, o(a) advogado(a) de Gabriel deverá alegar que a conversão da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade: A) foi válida, mas o regime inicial a ser observado é o aberto, fixado na sentença, e não o semiaberto. B) foi válida, inclusive sendo possível ao magistrado deter- minar a regressão ao regime semiaberto, restando a Ga- briel cumprir apenas 02 anos de pena privativa de liberda- de, pois os serviços à comunidade já prestados são considerados pena cumprida. C) não foi válida, pois o descumprimento da prestação de serviços à comunidade não é causa a justificar a conver- são em privativa de liberdade. D) não foi válida, pois, apesar de possível a conversão em privativa de liberdade pelo descumprimento da prestação de serviços à comunidade, deveria o apenado ser previa- mente intimado para justificar o descumprimento. RESPOSTA A) A conversão da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade não foi válida, já que o magistrado não determi- nou, primeiramente, a intimação de Gabriel para justifi- car o descumprimento. B) Como dito, a conversão não foi válida. 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 2717_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 27 29/02/2024 18:36:5429/02/2024 18:36:54 28 AlexAndre SAlim Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado C) O descumprimento da PSC (prestação de serviços à comu- nidade) pode, sim, justificar a conversão da PRD (pena restritiva de direitos) em PPL (pena privativa de liberdade). A conversão não foi válida. De acordo com o art. 44, § 4º, do CP, “A pena restritiva de direitos converte-se em priva- tiva de liberdade quando ocorrer o descumprimento injus- tificado da restrição imposta”. Conforme o enunciado, o magistrado, de imediato, converteu a PRD em PPL, sem antes ouvir a justificativa do condenado. Assim, antes da conversão, Gabriel deveria ter sido intimado para apresen- tar sua justificativa para o descumprimento. 70. (XXX Exame de Ordem Unificado/FGV) Durante ação penal em que Guilherme figura como denunciado pela prática do crime de abandono de incapaz (Pena: detenção, de 6 meses a 3 anos), foi instaurado incidente de insanidade mental do acusado, constatando o laudo que Guilherme era, na data dos fatos (e permanecia até aquele momento), inteira- mente incapaz de entender o caráter ilícito do fato, em razão de doença mental. Não foi indicado, porém, qual seria o trata- mento adequado para Guilherme. Durante a instrução, os fa- tos imputados na denúncia são confirmados, assim como a autoria e a materialidade delitiva. Considerando apenas as informações expostas, com base nas previsões do Código Pe- nal, no momento das alegações finais, a defesa técnica de Guilherme, sob o ponto de vista técnico, deverá requerer: A) a absolvição imprópria, com aplicação de medida de se- gurança de tratamento ambulatorial, podendo a sentença ser considerada para fins de reincidência no futuro. B) a absolvição própria, sem aplicação de qualquer sanção, considerando a ausência de culpabilidade. C) a absolvição imprópria, com aplicação de medida de se- gurança de tratamento ambulatorial, não sendo a sentença considerada posteriormente para fins de reincidência. D) a absolvição imprópria, com aplicação de medida de se- gurança de internação pelo prazo máximo de 02 anos, não sendo a sentença considerada posteriormente para fins de reincidência. RESPOSTA A) A sentença não pode ser considerada para fins de reinci- dência no futuro, já que é “absolutória imprópria” e não “condenatória”. De acordo com o art. 63 do CP, “Verifica- -se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior”. B) Deve ser requerida a absolvição imprópria de Guilherme, e não a absolvição própria.Ademais, para a aplicação de medida de segurança o pressuposto não é a culpabilidade, mas a periculosidade. Deve ser requerida a absolvição imprópria de Guilherme, com aplicação de medida de segurança de tratamento am- bulatorial, conforme disposto no art. 97, caput, do CP: “Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua inter- nação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a trata- mento ambulatorial”. De acordo com o enunciado, Gui- lherme praticou crime punido com detenção. Ademais, a sentença não pode ser considerada posteriormente para fins de reincidência, pois é absolutória imprópria, e não condenatória. D) A medida de segurança a ser aplicada é de tratamento am- bulatorial, e não de internação. 71. (XXX Exame de Ordem Unificado/FGV) Enquanto assistia a um jogo de futebol em um bar, Francisco começou a provocar Raul, dizendo que seu clube, que perdia a partida, seria rebaixado. Inconformado com a indevida provocação, Raul, que estava acompanhado de um cachorro de grande porte, atiça o animal a atacar Francisco, o que efetivamente acontece. Na tentativa de se defender, Francisco desfere uma facada no cachorro de Raul, o qual vem a falecer. O fato foi levado à autoridade policial, que instaurou inquérito para apuração. Francisco, então, contrata você, na condição de advogado(a), para patrocinar seus interesses. Considerando os fatos narrados, com relação à conduta praticada por Francis- co, você, como advogado(a), deverá esclarecer que seu cliente: A) não poderá alegar qualquer excludente de ilicitude, em ra- zão de sua provocação anterior. B) atuou escorado na excludente de ilicitude da legítima defesa. C) praticou conduta atípica, pois a vida do animal não é pro- tegida penalmente. D) atuou escorado na excludente de ilicitude do estado de ne- cessidade. RESPOSTA A) A provocação anterior não impede que Francisco alegue, em seu favor, causa excludente de ilicitude. Francisco atuou escorado na tese da legítima defesa (arts. 23, II, e 25, ambos do CP). Como o animal foi atiçado por Raul, a agressão é humana (o bicho foi usado como arma), a justificar a legítima defesa. C) Francisco praticou fato típico, mas lícito, em face da legí- tima defesa. D) Se o animal tivesse atacado Francisco sem ser atiçado pelo dono, estar-se-ia realmente diante do estado de ne- cessidade. No entanto, o cachorro foi atiçado por Raul, razão pela qual há agressão humana no caso. 72. (XXX Exame de Ordem Unificado/FGV) Mário trabalhava como jardineiro na casa de uma família rica, sendo tratado por todos como um funcionário exemplar, com livre acesso a toda a residência, em razão da confiança estabeleci- da. Certo dia, enfrentando dificuldades financeiras, Mário resolveu utilizar o cartão bancário de seu patrão, Joaquim, e, tendo conhecimento da respectiva senha, promoveu o saque da quantia de R$ 1.000,00 (mil reais). Joaquim, ao ser comu- nicado pelo sistema eletrônico do banco sobre o saque feito em sua conta, efetuou o bloqueio do cartão e encerrou sua conta. Sem saber que o cartão se encontrava bloqueado e a 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 2817_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 28 29/02/2024 18:36:5429/02/2024 18:36:54 Direito Penal 29 Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado conta encerrada, Mário tentou novo saque no dia seguinte, não obtendo êxito. De posse das filmagens das câmeras de segurança do banco, Mário foi identificado como o autor dos fatos, tendo admitido a prática delitiva. Preocupado com as consequências jurídicas de seus atos, Mário procurou você, como advogado(a), para esclarecimentos em relação à tipifi- cação de sua conduta. Considerando as informações expostas, sob o ponto de vista técnico, você, como advogado(a) de Má- rio, deverá esclarecer que sua conduta configura: A) os crimes de furto simples consumado e de furto simples tentado, na forma continuada. B) os crimes de furto qualificado pelo abuso de confiança consumado e de furto qualificado pelo abuso de confian- ça tentado, na forma continuada. C) um crime de furto qualificado pelo abuso de confiança consumado, apenas. D) os crimes de furto qualificado pelo abuso de confiança consumado e de furto qualificado pelo abuso de confian- ça tentado, em concurso material. RESPOSTA A) Não há dois crimes de furto, um consumado e outro tenta- do, mas um só. No segundo momento, quando Mário ten- ta novamente sacar valores da conta do patrão, o cartão já está bloqueado e a conta, encerrada. B) Não há dois crimes de furto, mas um só. Há somente um crime de furto qualificado pelo abuso de confiança consumado (primeiro comportamento de Má- rio). A segunda conduta de Mário será afastada pela tese do crime impossível (art. 17 do CP), uma vez que seria impossível a consumação do delito, já que a conta está encerrada e o cartão havia sido bloqueado. D) Não há dois crimes de furto, mas um só. 73. (XXXI Exame de Ordem Unificado/FGV) Maria, em uma loja de departamento, apresentou roupas no valor de R$ 1.200 (mil e duzentos reais) ao caixa, buscando efetuar o pagamento por meio de um cheque de terceira pessoa, inclu- sive assinando como se fosse a titular da conta. Na ocasião, não foi exigido qualquer documento de identidade. Todavia, o caixa da loja desconfiou do seu nervosismo no preenchimento do cheque, apesar da assinatura perfeita, e consultou o banco sacado, constatando que aquele documento constava como furtado. Assim, Maria foi presa em flagrante naquele momen- to e, posteriormente, denunciada pelos crimes de estelionato e falsificação de documento público, em concurso material. Confirmados os fatos, o advogado de Maria, no momento das alegações finais, sob o ponto de vista técnico, deverá buscar o reconhecimento: A) do concurso formal entre os crimes de estelionato consu- mado e falsificação de documento público. B) do concurso formal entre os crimes de estelionato tentado e falsificação de documento particular. C) de crime único de estelionato, na forma consumada, afas- tando-se o concurso de crimes. D) de crime único de estelionato, na forma tentada, afastan- do-se o concurso de crimes. RESPOSTA A) Não há concurso formal, e sim crime único de estelionato. O fundamento está na Súmula 17 do STJ: “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido”. B) Não há concurso formal, e sim crime único de estelionato. O fundamento está na Súmula 17 do STJ: “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido”. C) Há crime único de estelionato, porém na forma tentada, já que não houve o “prejuízo alheio”, elementar do crime previsto no art. 171 do Código Penal. Há crime único de estelionato. Como a vítima não sofreu prejuízo, o delito restou tentado. 74. (XXXI Exame de Ordem Unificado/FGV) Durante uma reunião de condomínio, Paulo, com o animus de ofender a honra objetiva do condômino Arthur, funcionário público, mesmo sabendo que o ofendido foi absolvido daquela imputa- ção por decisão transitada em julgado, afirmou que Artur não tem condições morais para conviver naquele prédio, porquan- to se apropriara de dinheiro do condomínio quando exercia a função de síndico. Inconformado com a ofensa à sua honra, Arthur ofereceu queixa-crime em face de Paulo, imputando- -lhe a prática do crime de calúnia. Preocupado com as conse- quências de seu ato, após ser regularmente citado, Paulo pro- cura você, como advogado(a), para assistência técnica. Considerando apenas as informações expostas, você deverá esclarecer que a conduta de Paulo configura crime de: A) difamação, não de calúnia, cabendo exceção da verdade por parte de Paulo. B) injúria, não de calúnia, de modo que não cabe exceção da verdade por parte de Paulo. C) calúniaefetivamente imputado, não cabendo exceção da verdade por parte de Paulo. D) calúnia efetivamente imputado, sendo possível o ofereci- mento da exceção da verdade por parte de Paulo. RESPOSTA A) O crime praticado por Paulo configura calúnia (art. 138 do CP), e não difamação (art. 139 do CP). Ademais, não cabe a exceção da verdade. B) O crime praticado por Paulo configura calúnia (art. 138 do CP), e não injúria (art. 140 do CP). Paulo praticou calúnia (“Art. 138 – Caluniar alguém, im- putando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena – detenção, de seis meses a dois anos, e multa”). Não cabe exceção da verdade em face do disposto no inciso III do § 3º do art. 138 do Código Penal: “III – se do crime imputa- do, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível”. D) Paulo praticou calúnia, mas não é possível o oferecimento da exceção da verdade. 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 2917_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 29 29/02/2024 18:36:5529/02/2024 18:36:55 30 AlexAndre SAlim Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado 75. (XXXI Exame de Ordem Unificado/FGV) Incon- formado por estar desempregado, Lúcio resolve se embriagar. Quando se encontrava no interior do coletivo retornando para casa, ele verifica que o passageiro sentado à sua frente estava dormindo, e o telefone celular deste estava solto em seu bolso. Aproveitando-se da situação, Lúcio subtrai o aparelho sem ser notado pelo lesado, que continuava dormindo profunda- mente. Ao tentar sair do coletivo, Lúcio foi interpelado por outro passageiro, que assistiu ao ocorrido, iniciando-se uma grande confusão, que fez com que o lesado acordasse e veri- ficasse que seu aparelho fora subtraído. Após denúncia pelo crime de furto qualificado pela destreza e regular processa- mento do feito, Lúcio foi condenado nos termos da denúncia, sendo, ainda, aplicada a agravante da embriaguez preordena- da, já que Lúcio teria se embriagado dolosamente. Conside- rando apenas as informações expostas e que os fatos foram confirmados, o(a) advogado(a) de Lúcio, no momento da apresentação de recurso de apelação, poderá requerer: A) o reconhecimento de causa de diminuição de pena diante da redução da capacidade em razão da sua embriaguez, mas não o afastamento da qualificadora da destreza. B) a desclassificação para o crime de furto simples, mas não o afastamento da agravante da embriaguez preordenada. C) a desclassificação para o crime de furto simples e o afas- tamento da agravante, não devendo a embriaguez do autor do fato interferir na tipificação da conduta ou na dosime- tria da pena. D) a absolvição, diante da ausência de culpabilidade, em ra- zão da embriaguez completa. RESPOSTA A) A embriaguez de Lúcio não o isenta de pena (art. 28, II, do CP). Ademais, não incide a qualificadora da destreza, pois o autor não usou uma habilidade especial para a prática do furto, aproveitando-se, isso sim, da circunstância de a ví- tima estar dormindo. B) Deve haver o afastamento da agravante da embriaguez preordenada, prevista no art. 61, II, “l”, do CP. Isso porque Lúcio não se colocou voluntariamente em estado de em- briaguez para praticar crimes, mas sim porque estava de- sempregado. Como não incide a qualificadora da destreza, deve ser postulada a desclassificação para o crime de furto sim- ples. Ademais, a embriaguez não deve interferir na tipifi- cação da conduta (art. 28, II, do CP) e nem na dosimetria da pena (art. 61, II, “l”, do CP). D) Lúcio não poderá ser absolvido com base na embriaguez completa. O fundamento está no art. 28, II, do Código Penal: “Não excluem a imputabilidade penal: (...) II – a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou subs- tância de efeitos análogos”. 76. (XXXI Exame de Ordem Unificado/FGV) Yuri foi denunciado pela suposta prática de crime de estupro qualifi- cado em razão da idade da vítima, porque teria praticado con- junção carnal contra a vontade de Luana, de 15 anos, median- te emprego de grave ameaça. No curso da instrução, Luana mudou sua versão e afirmou que, na realidade, havia consen- tido na prática do ato sexual, sendo a informação confirmada por Yuri em seu interrogatório. Considerando apenas as infor- mações expostas, no momento de apresentar alegações finais, a defesa técnica de Yuri deverá pugnar por sua absolvição, sob o fundamento de que o consentimento da suposta ofendi- da, na hipótese, funciona como: A) causa supralegal de exclusão da ilicitude. B) causa legal de exclusão da ilicitude. C) fundamento para reconhecimento da atipicidade da con- duta. D) causa supralegal de exclusão da culpabilidade. RESPOSTA A) O consentimento do ofendido somente exclui a ilicitude (causa supralegal) quando o dissenso da vítima não é ele- mento do tipo. B) O consentimento do ofendido não está previsto em lei (causa legal) como hipótese de exclusão da ilicitude. Quando o dissenso da vítima é elemento do tipo, o con- sentimento do ofendido funciona como causa de exclusão da tipicidade (hipótese de atipicidade da conduta). É o que ocorre no crime de estupro: “Art. 213 – Constranger al- guém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjun- ção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se prati- que outro ato libidinoso: Pena – reclusão, de 6 a 10 anos”. Não havendo “violência ou grave ameaça” contra a víti- ma, em face do seu consentimento, o fato é atípico. D) O consentimento do ofendido exclui a tipicidade (quando o dissenso da vítima é elemento constitutivo do tipo) ou a ilicitude (quando o dissenso da vítima não é elemento constitutivo do tipo), nunca a culpabilidade. 77. (XXXI Exame de Ordem Unificado/FGV) André, nascido em 21-11-2001, adquiriu de Francisco, em 18-11-2019, grande quantidade de droga, com o fim de vendê-la aos con- vidados de seu aniversário, que seria celebrado em 24-11- 2019. Imediatamente após a compra, guardou a droga no ar- mário de seu quarto. Em 23-11-2019, a partir de uma denúncia anônima e munidos do respectivo mandado de busca e apre- ensão deferido judicialmente, policiais compareceram à resi- dência de André, onde encontraram e apreenderam a droga que era por ele armazenada. De imediato, a mãe de André entrou em contato com o advogado da família. Considerando apenas as informações expostas, na Delegacia, o advogado de André deverá esclarecer à família que André, penalmente, será considerado: A) inimputável, devendo responder apenas por ato infracio- nal análogo ao delito de tráfico, em razão de sua menori- dade quando da aquisição da droga, com base na Teoria da Atividade adotada pelo Código Penal para definir o mo- mento do crime. B) inimputável, devendo responder apenas por ato infracio- nal análogo ao delito de tráfico, tendo em vista que o Có- 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 3017_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 30 29/02/2024 18:36:5529/02/2024 18:36:55 Direito Penal 31 Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado digo Penal adota a Teoria da Ubiquidade para definir o momento do crime. C) imputável, podendo responder pelo delito de tráfico de drogas, mesmo adotando o Código Penal a Teoria da Ati- vidade para definir o momento do crime. D) imputável, podendo responder pelo delito de associação para o tráfico, que tem natureza permanente, tendo em vista que o Código Penal adota a Teoria do Resultado para definir o momento do crime. RESPOSTA A) André deverá ser considerado imputável, pois “guardou” a droga até o dia 23-11-2019, ou seja, quando já tinha mais de 18 anos. Como a conduta “guardar” configura crime permanente, incide a Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente,se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”. B) Como dito, André deverá ser considerado imputável. André deve ser considerado imputável, com fundamento na Súmula 711 do STF. Veja-se que não há propriamente uma exceção à teoria da atividade, prevista no art. 4º do Código Penal, uma vez que o autor, mesmo depois de completar 18 anos, continuou praticando a conduta deli- tuosa (crime permanente). D) Para definir o tempo do crime, o Código Penal adota a teoria da atividade (art. 4º), e não a teoria do resultado. 78. (XXXII Exame de Ordem Unificado/FGV) João, em 17-6-2015, foi condenado pela prática de crime militar próprio. Após cumprir a pena respectiva, João, em 30-2-2018, veio a praticar um crime de roubo com violência real, sendo denunciado pelo órgão ministerial. No curso da instrução cri- minal, João reparou o dano causado à vítima, bem como, quando interrogado, admitiu a prática do delito. No momento da sentença condenatória, o magistrado reconheceu a agra- vante da reincidência, não reconhecendo atenuantes da pena e nem causas de aumento e de diminuição da reprimenda penal. Considerando as informações expostas, em sede de apelação, o advogado de João poderá requerer: A) o reconhecimento da atenuante da confissão e da causa de diminuição de pena do arrependimento posterior, mas não o afastamento da agravante da reincidência. B) o reconhecimento das atenuantes da reparação do dano e da confissão, mas não o afastamento da agravante da rein- cidência. C) o reconhecimento das atenuantes da confissão e da repara- ção do dano e o afastamento da agravante da reincidência. D) o reconhecimento da atenuante da confissão e da causa de diminuição de pena do arrependimento posterior, bem como o afastamento da agravante da reincidência. RESPOSTA A) Não pode ser invocada a causa de diminuição de pena do arrependimento posterior (art. 16 do CP), pois a reparação do dano ocorreu depois do recebimento da denúncia. B) Deve ser suscitado o afastamento da agravante da reinci- dência, na forma do art. 64, II, do CP. João admitiu a prática do delito (atenuante da confissão) e reparou o dano durante a instrução criminal (atenuante da reparação do dano). Ademais, para efeito de reincidência, não se consideram os crimes militares próprios (afasta- mento da agravante da reincidência). D) Não cabe, como dito, o arrependimento posterior. 79. (XXXII Exame de Ordem Unificado/FGV) Fran- cisco foi vítima de uma contravenção penal de vias de fato, pois, enquanto estava de costas para o autor, recebeu um tapa em sua cabeça. Acreditando que a infração teria sido pratica- da por Roberto, seu desafeto que estava no local compareceu em sede policial e narrou o ocorrido, apontando, de maneira precipitada, o rival como autor. Diante disso, foi instaurado procedimento investigatório em desfavor de Roberto, sendo, posteriormente, verificado em câmeras de segurança que, na verdade, um desconhecido teria praticado o ato. Ao tomar co- nhecimento dos fatos, antes mesmo de ouvir Roberto ou Fran- cisco, o Ministério Público ofereceu denúncia em face deste, por denunciação caluniosa. Considerando apenas as informa- ções expostas, você, como advogado(a) de Francisco, deverá, sob o ponto de vista técnico, pleitear: A) a absolvição, pois Francisco deu causa à instauração de investigação policial imputando a Roberto a prática de contravenção, e não crime. B) extinção da punibilidade diante da ausência de represen- tação, já que o crime é de ação penal pública condicionada à representação. C) reconhecimento de causa de diminuição de pena em razão da tentativa, pois não foi proposta ação penal em face de Roberto. D) a absolvição, pois o tipo penal exige dolo direto por parte do agente. RESPOSTA A) Imputar falsamente a prática de contravenção também pode configurar denunciação caluniosa (art. 339, § 2º, do CP). B) O crime é de ação penal pública incondicionada. C) Não há necessidade de propositura de ação penal para a consumação. O tipo penal efetivamente exige o dolo direto por parte do agente, consistente na expressão “de que o sabe inocente”. 80. (XXXII Exame de Ordem Unificado/FGV) Paulo é dono de uma loja de compra e venda de veículos usados. Pro- curado por um cliente interessado na aquisição de um veículo Audi Q7 e não tendo nenhum similar para vender, Paulo pro- mete ao cliente que conseguirá aquele modelo no prazo de sete dias. No dia seguinte, Paulo verifica que um carro, do mesmo modelo pretendido, se achava estacionado no pátio de um supermercado e, assim, aciona Júlio e Felipe, conhecidos furtadores de carros da localidade, prometendo a eles adqui- rir o veículo após sua subtração pela dupla, logo pensando na 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 3117_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 31 29/02/2024 18:36:5529/02/2024 18:36:55 32 AlexAndre SAlim Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado venda vantajosa que faria para o cliente interessado. Júlio e Felipe, tranquilos com a venda que seria realizada, subtraí- ram o carro referido e Paulo efetuou a compra e o pagamento respectivo. Dias após, Paulo vende o carro para o cliente. To- davia, a polícia identificou a autoria do furto, em razão de a ação ter sido monitorada pelo sistema de câmeras do super- mercado, sendo o veículo apreendido e recuperado com o cliente de Paulo. Paulo foi denunciado pela prática dos crimes de receptação qualificada e furto qualificado em concurso material. Confirmados integralmente os fatos durante a ins- trução, inclusive com a confissão de Paulo, sob o ponto de vista técnico, cabe ao advogado de Paulo buscar o reconheci- mento do: A) crime de receptação simples e furto qualificado, em con- curso material. B) crime de receptação qualificada, apenas. C) crime de furto qualificado, apenas. D) crime de receptação simples, apenas. RESPOSTA A) Paulo não praticou receptação, mas furto qualificado pelo concurso de pessoas. B) Como dito, Paulo não praticou receptação. Há relevância causal no comportamento de Paulo, pois ele induziu Júlio e Felipe à subtração do carro da vítima. To- dos respondem por furto qualificado. D) Conforme referido, Paulo não praticou receptação. 81. (XXXII Exame de Ordem Unificado/FGV) Paulo e Júlia viajaram para Portugal, em novembro de 2019, em come- moração ao aniversário de um ano de casamento. Na cidade de Lisboa, dentro do quarto do hotel, por ciúmes da esposa que teria olhado para terceira pessoa durante o jantar, Paulo veio a agredi-la, causando-lhe lesões leves reconhecidas no laudo pró- prio. Com a intervenção de funcionários do hotel que ouviram os gritos da vítima, Paulo acabou encaminhado para Delegacia, sendo liberado mediante o pagamento de fiança e autorizado seu retorno ao Brasil. Paulo, na semana seguinte, retornou para o Brasil, sem que houvesse qualquer ação penal em seu desfa- vor em Portugal, enquanto Júlia permaneceu em Lisboa. Ciente de que o fato já era do conhecimento das autoridades brasileiras e preocupado com sua situação jurídica no país, Paulo procura você, na condição de advogado(a), para obter sua orientação. Considerando apenas as informações narradas, você, como advogado(a), deve esclarecer que a lei brasileira: A) não poderá ser aplicada, tendo em vista que houve prisão em flagrante em Portugal e em razão da vedação do bis in idem. B) poderá ser aplicada diante do retorno de Paulo ao Brasil, independentemente do retorno de Júlia e de sua manifes- tação de vontade sobre o interesse de ver o autor respon- sabilizado criminalmente. C) poderá ser aplicada, desde que Júlia retorne ao país e ofe- reça representação no prazo decadencial de seis meses. D) poderá ser aplicada, ainda que Paulo venha a ser denun- ciado e absolvido pela justiça de Portugal. RESPOSTA A) A lei brasileira poderá ser aplicada.Trata-se de extraterri- torialidade condicionada, na forma do art. 7º, II, b, do CP, desde que presentes as condições do § 2º do art. 7º do Código Penal. A lei penal brasileira poderá ser aplicada desde que presen- tes, cumulativamente, as condições do art. 7º, § 2º, do CP (uma delas é “entrar o agente no território nacional”). A vítima não precisa representar, já que se trata de crime de ação penal pública incondicionada (Súmula 542 do STJ). C) A vítima, como dito, não precisa representar e nem retor- nar ao país. D) Uma das condições previstas no art. 7º, § 2º, do CP é “não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena”. 82. (XXXIII Exame de Ordem Unificado/FGV) Félix, com dolo de matar seus vizinhos Lucas e Mário, detona uma granada na varanda da casa desses, que ali conversavam tran- quilamente, obtendo o resultado desejado. Os fatos são desco- bertos pelo Ministério Público, que denuncia Félix por dois crimes autônomos de homicídio, em concurso material. Após regular procedimento, o Tribunal do Júri condenou o réu pe- los dois crimes imputados e o magistrado, ao aplicar a pena, reconheceu o concurso material. Diante da sentença publica- da, Félix indaga, reservadamente, se sua conduta efetivamen- te configuraria concurso material de dois crimes de homicí- dio dolosos. Na ocasião, o(a) advogado(a) do réu, sob o ponto de vista técnico, deverá esclarecer ao seu cliente que sua con- duta configura dois crimes autônomos de homicídio: A) em concurso material, sendo necessária a soma das penas aplicadas para cada um dos delitos. B) devendo ser reconhecida a forma continuada e, conse- quentemente, aplicada a regra da exasperação de uma das penas e não do cúmulo material. C) devendo ser reconhecido o concurso formal próprio e, consequentemente, aplicada a regra da exasperação de uma das penas e não do cúmulo material. D) devendo ser reconhecido o concurso formal impróprio, o que também imporia a regra da soma das penas aplicadas. RESPOSTA A) Não há concurso material (art. 69 do CP), pois houve uma única conduta por parte de Félix. B) Não há crime continuado (art. 71 do CP), pois houve uma única conduta por parte de Félix. C) Não há concurso formal próprio (art. 70, caput, 1ª parte, do CP), pois Félix agiu “com dolo de matar seus vizinhos Lucas e Mário”. Há concurso formal impróprio (art. 70, caput, 2ª parte, do CP), já que Félix, com uma única conduta, buscava dois resultados (mortes de Lucas e Mário). As penas devem ser somadas. 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 3217_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 32 29/02/2024 18:36:5529/02/2024 18:36:55 Direito Penal 33 Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado 83. (XXXIII Exame de Ordem Unificado/FGV) Vitor, embora não tenha prestado concurso público, está exercendo, transitoriamente e sem receber qualquer remuneração, uma função pública. Em razão do exercício dessa função pública, Vitor aceita promessa de José, particular, de lhe pagar R$ 500,00 (quinhentos reais) em troca de um auxílio relacionado ao exercício dessa função. Ocorre que, apesar do auxílio, José não fez a transferência do valor prometido. Os fatos são des- cobertos pelo superior hierárquico de Vitor, que o indaga so- bre o ocorrido. Na ocasião, Vitor confirma o acontecido, mas esclarece que não acreditava estar causando prejuízo para a Administração Pública. Em seguida, preocupado com as con- sequências jurídicas de seus atos, Vitor procura seu advogado em busca de assegurar que sua conduta fora legítima. Consi- derando apenas as informações narradas, o advogado de Vitor deverá esclarecer que sua conduta: A) não configura crime em razão de a função ser apenas transitória, logo não pode ser considerado funcionário pú- blico para efeitos penais, apesar de o recebimento de re- muneração ser dispensável a tal conceito. B) não configura crime em razão de não receber remunera- ção pela prestação da função pública, logo não pode ser considerado funcionário público para efeitos penais, ape- sar de o exercício da função transitória não afastar, por si só, tal conceito. C) configura crime de corrupção ativa, na sua modalidade tentada. D) configura crime de corrupção passiva, na sua modalidade consumada. RESPOSTA A) A conduta de Vitor configura crime, e ele é considerado funcionário público para fins penais, ainda que exerça função transitória (art. 327 do CP). B) A conduta de Vitor configura crime, e ele é considerado funcionário público para fins penais, ainda que exerça função sem remuneração (art. 327 do CP). C) Não há corrupção ativa (crime praticado por particular contra a Administração Pública), mas corrupção passiva (crime praticado por funcionário público contra a Admi- nistração Pública). Vitor é funcionário público para fins penais, tendo prati- cado corrupção passiva (art. 317 do CP). O crime se con- sumou no momento em que Vitor aceitou a promessa de vantagem indevida (não há necessidade de recebimento de tal vantagem para a consumação). 84. (XXXIII Exame de Ordem Unificado/FGV) João e Carlos procuram Paulo para que, juntos, pratiquem um crime de roubo de carga. Apesar de se recusar a acompanhá-los na ação delituosa, Paulo oferece a garagem de sua casa para a guarda da carga roubada, conduta que seria fundamental na empreitada criminosa, já que João e Carlos não teriam outro local para esconder os bens subtraídos. Apenas por terem conseguido o acordo com Paulo, João e Carlos operam a sub- tração. Ao chegarem à casa de Paulo, este lhes informa que a garagem estava ocupada naquele momento e não poderia mais ser utilizada. Assim, o trio que dividiria os lucros procu- ra o vizinho Pedro e, após contarem o ocorrido, pedem a ga- ragem emprestada por um tempo, proposta que é aceita por Pedro. Sendo todos os fatos apurados e recuperada a carga na garagem de Pedro, as famílias de Paulo e Pedro procuram um(a) advogado(a) para saber acerca da situação jurídica de- les. Na ocasião da assistência jurídica, o(a) advogado(a) deve- rá esclarecer que: A) ambos poderão ser responsabilizados pelo crime de roubo majorado. B) Paulo poderá ser responsabilizado pelo crime de roubo ma- jorado, enquanto Pedro, apenas pelo crime de receptação. C) Paulo poderá ser responsabilizado pelo crime de roubo majorado, enquanto Pedro, apenas pelo crime de favoreci- mento real. D) Pedro e Paulo poderão ser responsabilizados pelo crime de favorecimento real. RESPOSTA A) Pedro não responde por roubo, mas por favorecimento real. B) Como dito, Pedro responderá por favorecimento real. Paulo será responsabilizado por roubo, já que seu compor- tamento ocorreu antes da consumação. Por sua vez, Pedro será responsabilizado por favorecimento pessoal, já que seu comportamento ocorreu depois da consumação (do roubo). Pedro não responde por receptação, pois não tinha a intenção de ter a coisa para si de forma definitiva e nem de acrescentá-la ao seu patrimônio. D) Paulo, como dito, responde por roubo. 85. (XXXIII Exame de Ordem Unificado/FGV) Após o expediente, Márcio saiu com seus colegas de trabalho para comemorar o sucesso das vendas naquele mês e sua escolha como melhor funcionário do período. Ao chegarem ao bar, Márcio entregou a chave de seu carro aos colegas, alertando- -os que iria beber até se embriagar e cair. Após cumprir a promessa feita aos colegas, Márcio, completamente alterado, se dirigiu até o caixa do bar para pagar sua conta. Devido a divergências quanto à quantidade de bebida consumida, Már- cio iniciou uma forte discussão com o atendente do estabele- cimento e arremessou a garrafa de cerveja que segurava em sua direção, acertando a cabeça do funcionário e causando- -lhe ferimentos de natureza grave. Preocupado com as conse- quências jurídicas de seu ato, Márcio o(a) procura, na condi- ção de advogado(a),para assistência técnica. Considerando apenas as informações expostas, sob o ponto de vista técnico, você, como advogado(a), deverá esclarecer que a conduta pra- ticada por Márcio configura: A) crime de lesão corporal grave, diante da embriaguez cul- posa, podendo ser reconhecida causa de diminuição de pena, já que a embriaguez era completa. B) conduta típica e ilícita, mas não culpável, diante da em- briaguez culposa, afastando a culpabilidade do agente. 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 3317_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 33 29/02/2024 18:36:5529/02/2024 18:36:55 34 AlexAndre SAlim Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado C) crime de lesão corporal grave, com reconhecimento de agravante, diante da embriaguez preordenada. D) crime de lesão corporal grave, diante da embriaguez vo- luntária. RESPOSTA A) Não houve embriaguez culposa (o agente quer consumir a substância, mas não quer ficar embriagado, o que acaba ocorrendo por culpa), mas voluntária por parte de Márcio. B) Como dito, não se fala em embriaguez culposa. C) Não houve embriaguez preordenada (o agente se embria- ga para praticar crimes) por parte de Márcio. Houve embriaguez voluntária (o agente consome a subs- tância para ficar embriagado). Ademais, de acordo com o art. 28, II, do CP, a embriaguez voluntária não exclui a imputabilidade penal. 86. (XXXIII Exame de Ordem Unificado/FGV) Vitor foi condenado pela prática de um crime de lesão corporal leve no contexto da violência doméstica e familiar contra a mu- lher, sendo aplicada pena privativa de liberdade de três meses de detenção, a ser cumprida em regime aberto, já que era pri- mário e de bons antecedentes. Considerando a natureza do delito, o juiz deixou de substituir a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos e não aplicou qualquer outro disposi- tivo legal que impedisse o recolhimento do autor ao cárcere. No momento da apelação, a defesa técnica de Vitor, de acordo com a legislação brasileira: A) não poderá requerer a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, mas poderá pleitear a suspensão condicional da pena, que, inclusive, admite que seja fixada prestação de serviços à comunidade e limita- ção de final de semana por espaço de tempo. B) não poderá requerer a substituição da pena privativa deli- berdade por restritiva de direitos, mas poderá pleitear a suspensão condicional da pena, que não admite que seja fixada como condição o cumprimento de prestação de serviços à comunidade. C) não poderá requerer a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos e nem a suspensão condicional da pena, mas poderá pleitear que o regime aberto seja cumprido em prisão domiciliar com tornoze- leira eletrônica. D) poderá requerer a substituição da pena privativa de li- berdade por restritiva de direitos, que, contudo, não poderá ser apenas de prestação pecuniária por expressa vedação legal. RESPOSTA De acordo com a Súmula 588 do STJ, “A prática de cri- me ou contravenção penal contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos”. É possível, no entanto, que Vitor seja benefi- ciado com o sursis (arts. 77 e seguintes do CP). B) De acordo com o art. 78, § 1º, do CP, “No primeiro ano do prazo, deverá o condenado prestar serviços à comu- nidade (art. 46) ou submeter-se à limitação de fim de se- mana (art. 48)”. C) Vitor poderá requerer a suspensão condicional da pena (sursis). D) Vitor não poderá requerer a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos (Súmula 588 do STJ). 87. (XXXIV Exame de Ordem Unificado/FGV) Em um mesmo contexto, por meio de uma ação fracionada, Carlos praticou dois crimes autônomos cujas sanções penais, previs- tas no Código Penal, são de pena privativa de liberdade e pena de multa cumulativa. No momento de fixar a multa de cada um dos crimes, reconhecido o concurso formal, o magistrado aplicou a pena máxima de 360 dias para ambas as infrações penais, sendo determinado que o valor do dia-multa seria o máximo de 05 salários-mínimos, considerando, em ambos os momentos, a gravidade em concreto do delito. A pena privati- va de liberdade aplicada, contudo, por não ultrapassar 04 anos, foi substituída por duas restritivas de direitos. Carlos, intimado da sentença, procura você, como advogado(a), infor- mando não ter condições de arcar com a multa aplicada, já que recebe apenas R$ 2.000,00 (dois mil reais) mensais. Na ocasião, o(a) advogado(a) de Carlos deverá esclarecer ao seu cliente que: A) poderá ser buscada a redução do valor do dia-multa e da quantidade de dias aplicada, tendo em vista que em ambos os momentos deverá considerar o magistrado a capacida- de econômica financeira do réu e não a gravidade em con- creto do fato, podendo o próprio juiz do conhecimento deixar de aplicar multa com base na situação de pobreza do acusado. B) poderá ser buscada a redução do valor do dia-multa, que deverá considerar a capacidade econômica financeira do agente, ainda que a quantidade de dias-multa possa valo- rizar a gravidade em concreto do fato. C) poderá haver conversão da pena de multa em privativa de liberdade em caso de não pagamento injustificado da mesma. D) poderá a pena de multa de um dos delitos ser majorada de 1/6 a 2/3, de acordo com as previsões do Código Penal, diante do concurso formal de crimes, afastada a soma das penas. RESPOSTA A) Em relação ao valor do dia-multa, o juiz leva em conta a situação econômica do agente (art. 60, caput, do CP). Já em relação à quantidade de dias-multa, o magistrado con- sidera a gravidade em concreto do fato. Como o valor do dia-multa é fixado em consideração à situação econômica do réu, e Carlos recebe R$ 2.000,00 (dois mil reais) mensais, é legítima a postulação de redu- ção desta quantia. C) A multa que não foi paga deve ser executada (art. 51 do CP), e não convertida em prisão. 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 3417_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 34 29/02/2024 18:36:5529/02/2024 18:36:55 Direito Penal 35 Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado D) As penas de multa são somadas, conforme previsão do art. 72 do CP: “No concurso de crimes, as penas de multa são aplicadas distinta e integralmente”. 88. (XXXIV Exame de Ordem Unificado/FGV) Após ter sido exonerado do cargo em comissão que ocupava há mais de dez anos, Lúcio, abatido com a perda financeira que iria sofrer, vai a um bar situado na porta da repartição estadu- al em que trabalhava e começa a beber para tentar esquecer os problemas financeiros que viria a encontrar. Duas horas de- pois, completamente embriagado, na saída do trabalho, en- contra seu chefe Plínio, que fora o responsável por sua exone- ração. Assim, com a intenção de causar a morte de Plínio, resolve empurrá-lo na direção de um ônibus que trafegava pela rua, vindo a vítima efetivamente a ser atropelada. Levado para o hospital totalmente consciente, mas com uma lesão significativa na perna a justificar o recebimento de analgési- cos, Plinio vem a falecer, reconhecendo o auto de necropsia que a causa da morte foi unicamente envenenamento, decor- rente de erro na medicação que lhe fora ministrada ao chegar ao hospital, já que o remédio estaria fora de validade e sequer seria adequado no tratamento da perna da vítima. Lúcio foi denunciado, perante o Tribunal do Júri, pela prática do crime de homicídio consumado, imputando a denúncia a agravante da embriaguez preordenada. Confirmados os fatos, no mo- mento das alegações finais da primeira fase do procedimentodo Tribunal do Júri, sob o ponto de vista técnico, a defesa deverá pleitear: A) o afastamento da agravante da embriaguez, ainda que ade- quada a pronúncia pelo crime de homicídio consumado. B) o afastamento, na pronúncia, da forma consumada do cri- me, bem como o afastamento da agravante da embriaguez. C) o afastamento, na pronúncia, da forma consumada do cri- me, ainda que possível a manutenção da agravante da em- briaguez. D) a desclassificação para o crime de lesão corporal seguida de morte, bem como o afastamento da agravante da em- briaguez. RESPOSTA A) Não é adequada a pronúncia pelo crime de homicídio na forma consumada, já que o resultado morte da vítima Pli- nio não decorreu do comportamento de Lúcio, mas de erro médico-hospitalar. Além do afastamento da forma consumada do crime de homicídio, também deve ser postulado o afastamento da agravante da embriaguez (art. 61, II, ‘l’, do CP). C) Não é possível a manutenção da agravante da embriaguez preordenada, já que Lúcio não ingeriu bebida alcoólica com o fim de praticar crimes, mas sim “para tentar esque- cer os problemas financeiros que viria a encontrar”. D) Não é possível a desclassificação para o crime de lesão corporal seguida de morte, pois Lúcio agiu “com a inten- ção de causar a morte de Plínio”. 89. (XXXIV Exame de Ordem Unificado/FGV) Ga- briel, funcionário há 20 (vinte) dias de uma loja de eletrodo- mésticos, soube, por terceira pessoa, que Ricardo, seu amigo de longa data, pretendia furtar o estabelecimento em que tra- balhava, após o encerramento do expediente daquele dia, ape- nas não decidindo o autor do fato como faria para ingressar no local sem acionar o alarme. Ciente do plano de Ricardo, Ga- briel, pretendendo facilitar o ato de seu amigo, sem que aquele soubesse, ao sair do trabalho naquele dia, deixou proposital- mente aberto o portão de acesso à loja, desligando os alarmes. Ricardo, ao chegar ao local, percebeu o portão de acesso aber- to, entrou no estabelecimento e furtou diversos bens de seu interior. Após investigação, todos os fatos são descobertos. Os proprietários do estabelecimento lesado, então, procuram a as- sistência de um advogado, esclarecendo que tomaram conhe- cimento de que Ricardo, após o crime, falecera em razão de doença pré-existente. Considerando apenas as informações expostas, o advogado deverá esclarecer aos lesados que Ga- briel poderá ser responsabilizado pelo crime de: A) furto qualificado pelo concurso de pessoas. B) furto simples, sem a qualificadora do concurso de pessoas em razão da ausência do elemento subjetivo. C) furto simples, sem a qualificadora do concurso de pessoas em razão da contribuição ter sido inócua para a consuma- ção delitiva. D) favorecimento real, mas não poderá ser imputado o crime de furto, simples ou qualificado. RESPOSTA Gabriel poderá ser responsabilizado por furto qualificado pelo concurso de pessoas (art. 155, § 4º, IV, do CP). Para a configuração do concurso de agentes, não há necessidade de acordo prévio entre os sujeitos, bastando que um adira à vontade do outro. B) Trata-se de furto qualificado pelo concurso de pessoas, e não de furto simples. C) Trata-se de furto qualificado pelo concurso de pessoas, e não de furto simples. D) Poderá ser imputado o crime de furto qualificado, e não o de favorecimento real. Só há favorecimento real “fora dos casos de coautoria ou de receptação” (art. 349 do CP). Portanto, como no caso narrado há concurso de pessoas, todos respondem pelo mesmo crime (que, como dito, será furto qualificado). 90. (XXXIV Exame de Ordem Unificado/FGV) Rômu- lo, 35 anos, José, 28 anos e Guilherme, 15 anos, durante 3 (três) meses, reuniram-se, na casa da mãe do adolescente, para discutirem a prática de crimes considerados de menor poten- cial ofensivo. Ao descobrir o objetivo das reuniões, a mãe de Guilherme informou os fatos à autoridade policial, que instau- rou procedimento investigatório. Concluídas as investigações e confirmados os fatos, o Ministério Público ofereceu denún- cia, em face de Rômulo e José, pelo crime de organização cri- 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 3517_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 35 29/02/2024 18:36:5529/02/2024 18:36:55 36 AlexAndre SAlim Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado minosa com causa de aumento pelo envolvimento do adoles- cente. Considerando apenas as informações narradas, a defesa de Rômulo e José poderá pleitear, sob o ponto de vista técnico: A) a desclassificação para o crime de associação criminosa, apesar de possível a aplicação da causa de aumento pelo envolvimento de adolescente. B) o afastamento da causa de aumento pelo envolvimento de adolescente, apesar de possível a condenação pelo crime de constituição de organização criminosa. C) a absolvição dos réus, já que, considerando a inimputabi- lidade de Guilherme, não poderiam responder nem pela constituição de organização criminosa nem pela associa- ção criminosa. D) a desclassificação para o crime de associação criminosa, não havendo previsão de causa de aumento pelo envolvi- mento de adolescente, mas tão só se houvesse emprego de arma de fogo. RESPOSTA De acordo com o § 1º do artigo 1º da Lei n. 12.850/13, “Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e ca- racterizada pela divisão de tarefas, ainda que informal- mente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de in- frações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional”. Há, portanto, necessidade de ao menos 4 pessoas para a confi- guração da organização criminosa. Dessa forma, deve ser postulada a desclassificação para o delito de associação criminosa (art. 288 do CP), que exige, para a sua configu- ração, ao menos 3 pessoas. O parágrafo único do artigo 288 do Código Penal prevê as causas de aumento de pena: “A pena aumenta-se até a metade se a associação é arma- da ou se houver a participação de criança ou adolescente”. B) Como dito, não há organização criminosa. C) Não há organização criminosa, mas há associação crimi- nosa. Ainda que Guilherme seja adolescente, ele é consi- derado para fins de constituição do número legal (ao me- nos três pessoas, conforme art. 288 do CP). D) Está correta a desclassificação para associação criminosa. No entanto, incidirá a majorante pelo envolvimento do adolescente. 91. (XXXIV Exame de Ordem Unificado/FGV) Joana, sob influência do estado puerperal, levanta da cama do quarto do hospital, onde estava internada após o parto, com o propó- sito de matar seu filho recém-nascido, que se encontrava no berçário. Aproveitando-se da distração do segurança que, ao sair para ir ao banheiro, deixara sua arma sobre a mesa no corredor, Joana pega a arma e se dirige até o vidro do berçá- rio. Lá chegando, identifica o berço de seu filho, aponta a arma e efetua o disparo. Ocorre que, devido ao tranco da arma, Joana erra o disparo e atinge o berço onde estava o filho de Maria. Acerca do caso, é correto afirmar que Joana res- ponderá pelo crime de: A) homicídio, uma vez que acertou o filho de Maria e não o seu próprio filho. B) infanticídio, em razão da incidência do erro sobre a pessoa. C) infanticídio, em razão da incidência do erro na execução. D) infanticídio, em razão da incidência do resultado diverso do pretendido. RESPOSTA A) Não se trata de homicídio (art. 121 do CP), mas de infan- ticídio (art. 123 do CP). B) Trata-se de infanticídio. No entanto, o crime não se deu em face de erro sobre a pessoa (art. 20, § 3º, do CP). Neste, o agente confunde a sua vítima com outra. Trata-se de infanticídio, praticado em razão de erro na execução (aberratio ictus), previsto no art. 73 do CP. Nes- te, há acidente ou erro de pontaria.D) Trata-se de infanticídio. No entanto, o crime não se deu em face de resultado diverso do pretendido (aberratio cri- minis ou aberratio delicti), previsto no art. 74 do CP. Nes- te, há erro de pontaria de pessoa em face de coisa, ou de coisa em face de pessoa. 92. (35º Exame de Ordem Unificado/FGV) Para satisfa- zer sentimento pessoal, já que tinha grande relação de amiza- de com Joana, Alan, na condição de funcionário público, dei- xou de praticar ato de ofício em benefício da amiga. O supervisor de Alan, todavia, identificou o ocorrido e praticou o ato que Alan havia omitido, informando os fatos em proce- dimento administrativo próprio. Após a conclusão do proce- dimento administrativo, o Ministério Público denunciou Alan pelo crime de corrupção passiva consumado, destacando que a vantagem obtida poderia ser de qualquer natureza para tipi- ficação do delito. Confirmados os fatos durante a instrução, caberá à defesa técnica de Alan pleitear sob o ponto de vista técnico, no momento das alegações finais: A) o reconhecimento da tentativa em relação ao crime de corrupção passiva. B) a desclassificação para o crime de prevaricação, na forma tentada. C) a desclassificação para o crime de prevaricação, na forma consumada. D) o reconhecimento da prática do crime de condescendên- cia criminosa, na forma consumada. RESPOSTA A) Não há o crime de corrupção passiva (art. 317 do CP), mas de prevaricação (art. 319 do CP). Para a caracterização do delito de corrupção passiva, o agente deve solicitar, rece- ber ou aceitar promessa de vantagem indevida, condutas não praticadas por Alan. B) Há prevaricação, mas não na forma tentada. Tal delito é formal, e se consumou no momento em que Alan deixou de praticar o ato de ofício, independentemente de qual- quer outro resultado. Trata-se, conforme demonstrado, de prevaricação na for- ma consumada. 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 3617_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 36 29/02/2024 18:36:5529/02/2024 18:36:55 Direito Penal 37 Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado D) Não há condescendência criminosa, pois não estão pre- sentes as elementares do art. 320 do CP: “Deixar o funcio- nário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente”. 93. (35º Exame de Ordem Unificado/FGV) Natan, com 21 anos de idade, praticou, no dia 03 de fevereiro de 2020, crime de apropriação indébita simples. Considerando a pena do delito e a primariedade técnica, já que apenas respondia outra ação penal pela suposta prática de injúria racial, foi ofe- recida pelo Ministério Público proposta de acordo de não per- secução penal, que foi aceita pelo agente e por sua defesa téc- nica. Natan, 15 dias após o acordo, procura seu(sua) advogado(a) e demonstra intenção de não cumprir as condi- ções acordadas, indagando sobre aspectos relacionadas ao prazo prescricional aplicável ao Ministério Público para ofe- recimento da denúncia. O(A) advogado(a) de Natan deverá esclarecer, sobre o tema, que: A) enquanto não cumprido o acordo de não persecução penal, não correrá o prazo da prescrição da pretensão punitiva. B) será o prazo prescricional da pretensão punitiva pela pena em abstrato reduzido pela metade, em razão da idade de Natan. C) poderá, ultrapassado o prazo de 03 anos, haver reconheci- mento da prescrição da pretensão punitiva com base na pena ideal ou hipotética. D) poderá, ultrapassado o prazo legal, haver reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva entre a data dos fatos e do recebimento da denúncia, considerando pena em con- creto aplicada em eventual sentença. RESPOSTA De acordo com o art. 116, IV, do Código Penal, “Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre: (...) enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de não persecução penal”. B) O crime de apropriação indébita simples (art. 168, caput, do CP) é punido com a pena em abstrato de 1 a 4 anos e multa. Assim, a prescrição da pretensão punitiva pela pena em abstrato seria de 8 anos (art. 109, IV, do CP). Ademais, não há redução pela metade do prazo prescricional, pois Natan não é menor de 21 anos à época do crime. C) A prescrição virtual, ou pela pena hipotética, não é admi- tida pelos Tribunais Superiores. Nesse sentido a Súmula 438 do STJ: “É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal”. D) A prescrição da pretensão punitiva retroativa não pode re- troagir à data do crime. Nesse sentido o § 1º do artigo 110 do Código Penal: “A prescrição, depois da sentença con- denatória com trânsito em julgado para a acusação ou de- pois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplica- da, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa”. 94. (35º Exame de Ordem Unificado/FGV) No dia 31- 12-2020, na casa da genitora da vítima, Fausto, com 39 anos, enquanto conversava com Ana Vitória, de 12 anos de idade, sem violência ou grave ameaça à pessoa, passava as mãos nos seios e nádegas da adolescente, conduta flagrada pela mãe da menor, que imediatamente acionou a polícia, sendo Fausto preso em flagrante. Preocupada com eventual represália e tendo interesse em ver o autor do fato punido, em especial porque sabe que Fausto cumpre pena em livramento condicio- nal por condenação com trânsito em julgado pelo crime de latrocínio, a família de Ana Vitória procura você, na condição de advogado(a), para esclarecimento sobre a conduta pratica- da. Por ocasião da consulta jurídica, deverá ser esclarecido que o crime em tese praticado por Fausto é o de: A) estupro de vulnerável (Art. 217-A do CP), não fazendo jus Fausto, em caso de eventual condenação, a novo livramen- to condicional. B) importunação sexual (Art. 215-A do CP), não fazendo jus Fausto, em caso de eventual condenação, a novo livramen- to condicional. C) estupro de vulnerável (Art. 217-A do CP), podendo Faus- to, em caso de condenação, após cumprimento de deter- minado tempo de pena e observados os requisitos subjeti- vos, obter novo livramento condicional. D) importunação sexual (Art. 215-A do CP), podendo Fausto, em caso de condenação, após cumprimento de determina- do tempo de pena e observados os requisitos subjetivos, obter novo livramento condicional. RESPOSTA Fausto cometeu estupro de vulnerável (art. 217-A do CP), pois praticou atos libidinosos com menor de 14 anos. Ade- mais, não fará faz jus a novo livramento condicional, pois o delito de estupro de vulnerável é crime hediondo, e Fausto já cumpre pena em livramento condicional por cri- me hediondo (latrocínio). Nesse sentido o inciso V do ar- tigo 83 do Código Penal: “O juiz poderá conceder livra- mento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: (...) V – cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática de tortura, tráfi- co ilícito de entorpecentes e drogas afins, tráfico de pes- soas e terrorismo, se o apenado não for reincidente espe- cífico em crimes dessa natureza”. B) Não há o delito de importunação sexual, que vem assim descrito no Código Penal: “Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro: Pena – reclusão, de 1 a 5 anos, se o ato não constitui crime mais grave”. C) Como dito, Fausto não poderá obter novo livramento con- dicional. D) Como dito, não há o crime de importunação sexual. 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 3717_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 37 29/02/2024 18:36:5529/02/2024 18:36:55 38 AlexAndreSAlim Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado 95. (35º Exame de Ordem Unificado/FGV) Paulo foi condenado, com trânsito em julgado, pela prática do crime de lesão corporal grave, à pena de 1 ano e oito meses de reclusão, tendo o trânsito ocorrido em 14 de abril de 2016. Uma vez que preenchia os requisitos legais, o magistrado houve, por bem, conceder a ele o benefício da suspensão condicional da pena pelo período de 2 anos. Por ter cumprido todas as condições impostas, teve sua pena extinta em 18 de abril de 2018. No dia 15 de maio de 2021, Paulo foi preso pela prática do crime de roubo. Diante do caso narrado, caso Paulo venha a ser conde- nado pela prática do crime de roubo, deverá ser considerado: A) reincidente, na medida em que, uma vez condenado com trânsito em julgado, o agente não recupera a primariedade. B) reincidente, em razão de não ter passado o prazo desde a extinção da pena pelo crime anterior. C) primário, em razão de ter cumprido o prazo para a recupe- ração de primariedade. D) primário, em razão de a reincidência exigir a prática do mesmo tipo penal, o que não ocorreu no caso de Paulo. RESPOSTA A) De acordo com o art. 63 do CP, “Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior”. Ademais, o art. 64, I, do CP dispõe que “Para efeito de reincidência: I – não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido pe- ríodo de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o pe- ríodo de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação”. Dessa forma, sendo computado o período do sursis, o prazo de 5 anos (período depurador da reincidência) é contado a partir de 14-4-2016. Isso signi- fica que, na data de 15-5-2021, Paulo já havia retornado à condição de tecnicamente primário. B) Como dito, Paulo não é reincidente. Paulo é primário, com fundamento no art. 64, I, do Códi- go Penal. D) Paulo é primário, mas não em face de inexistência de re- incidência específica, e sim porque transcorreu o prazo do art. 64, I, do CP. 96. (36º Exame de Ordem Unificado/FGV) Robson, di- retor-presidente da Sociedade Empresária RX Empreendi- mentos, telefona para sua secretária Camila e solicita que ela compareça à sua sala. Ao ingressar no recinto, Camila é con- vidada para sentar ao lado de Robson no sofá, pois ele estaria precisando conversar com ela. Apesar de achar estranho o procedimento, Camila se senta ao lado de seu chefe. Durante a conversa, Robson afirma que estaria interessado nela e a convida para ir a um motel. Camila recusa o convite e, ato contínuo, Robson afirma que se ela não aceitar, nem precisa retornar ao trabalho no dia seguinte, pois estaria demitida. Camila, desesperada, sai da sala de seu chefe, pega sua bolsa e vai até a Delegacia Policial do bairro para registrar o fato. Diante das informações apresentadas, é correto afirmar que a conduta praticada por Robson se amolda ao crime de: A) tentativa de assédio sexual (Art. 216-A), não chegando o crime a ser consumado na medida em que se trata de cri- me material, exigindo a produção do resultado, o que não ocorreu na hipótese; B) assédio sexual consumado, uma vez que o delito é formal, ocorrendo a sua consumação independentemente da ob- tenção da vantagem sexual pretendida; C) fato atípico, uma vez que a conduta praticada por Rob- son configura mero ato preparatório do crime de assé- dio sexual, sendo certo que os atos preparatórios não são puníveis; D) importunação sexual (Art. 215-A), uma vez que Robson praticou, contra a vontade de Camila, ato visando à satis- fação de sua lascívia. RESPOSTA A) O crime de assédio sexual, previsto no art. 216-A do Có- digo Penal, não é delito material, mas formal. O crime, portanto, restou consumado. O crime de assédio sexual está assim descrito no art. 216- A do CP: “Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou as- cendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função”. Tratando-se de crime formal, não há necessidade de qualquer resultado (exemplo: relação sexual entre as partes) para a sua consumação. C) Não se trata de fato atípico, já que a conduta de Robson configura assédio sexual. D) Robson não praticou ato libidinoso contra a vítima, o que seria necessário para a caracterização do crime de impor- tunação sexual. 97. (36º Exame de Ordem Unificado/FGV) André, primário, e Fábio, reincidente, foram condenados por crime de latrocínio em concurso de pessoas. Durante a execução pe- nal, ambos requereram a progressão de regime, visto que já haviam cumprido parte da pena. André fundamentou seu pedido em “bom comportamento”, comprovado pelo diretor do estabelecimento prisional. Fábio, por sua vez, fundamen- tou seu pedido em razão de ter sido condenado na mesma época de seu comparsa, André. Dessa forma, segundo os princípios que regem a Execução Penal e o Direito Penal, é correto afirmar que: A) de acordo com o princípio da isonomia, que garante igual- dade de tratamento entre os presos, é vedada aplicação de frações de progressão de regime diferenciadas a cada um dos acusados. B) de acordo com o princípio da individualização da pena, o Juiz da execução penal deverá alterar as penas dos acusa- dos, conforme o comportamento prisional de cada um. C) é assegurada a progressão de regime aos crimes hedion- dos, mas a fração de progressão varia para cada indivíduo, ainda que ambos condenados pelo mesmo fato. 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 3817_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 38 29/02/2024 18:36:5529/02/2024 18:36:55 Direito Penal 39 Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado D) o princípio do livre convencimento motivado autoriza o Juiz a aplicar a progressão de regime no momento proces- sual que entender adequado, pois não há prazo para o Juiz. RESPOSTA A) O art. 112 da LEP (Lei de Execução Penal – Lei n. 7.210/84) estabelece frações de progressão de regime diferenciadas, levando em conta, por exemplo, se o crime foi praticado com ou sem violência/grave ameaça, bem como se o condenado é primário ou reincidente. B) O comportamento prisional do condenado não irá deter- minar a alteração da pena, embora seja considerado para o fim de verificação de certos institutos próprios da ex- ecução penal, como o trabalho, a saída temporária e a pro- gressão de regime. A progressão de regime é assegurada em face de qualquer crime, hediondo ou não. De acordo com o art. 112 da LEP, a fração de progressão irá variar para cada indivíduo (ai- nda que condenados pelo mesmo fato), devendo o juiz da execução verificar se o apenado é primário (fração mais branda) ou reincidente (fração mais rigorosa). D) O juiz da execução não poderá aplicar a progressão de regime no momento processual que entender adequado, já que o art. 112 da LEP determina a progressão diante do cumprimento de certos requisitos legais, como o adimple- mento de um quantum mínimo de pena. 98. (36º Exame de Ordem Unificado/FGV) Tainá, le- galmente autorizada a pilotar barcos, foi realizar um passeio de veleiro com sua amiga Raquel. Devido a uma mudança climática repentina, o veleiro virou e começou a afundar. Tainá e Raquel nadaram, desesperadamente, em direção a um tronco de árvore que flutuava no mar. Apesar de grande, o tronco não era grande o suficiente para suportar as duas ami- gas ao mesmo tempo. Percebendo isso, Raquel subiu no tron- co e deixou Tainá afundar, como único meio de salvar a própriavida. A perícia concluiu que a morte de Tainá se deu por afogamento. A partir do caso relatado, assinale a opção que indica a natureza da conduta praticada por Raquel. A) Raquel deverá responder pelo crime de omissão de so- corro. B) Raquel agiu em legítima defesa, causa excludente de il- icitude. C) Raquel deverá responder pelo crime de homicídio con- sumado. D) Raquel agiu em estado de necessidade, causa excludente de ilicitude. RESPOSTA A) Raquel não responderá por crime algum, já que agiu em estado de necessidade. B) Raquel não agiu em legítima defesa, mas, como dito, em estado de necessidade. Veja-se que na origem há uma situação de perigo (o veleiro começa a afundar), e não uma agressão. A palavra-chave do estado de necessidade é “perigo”. Já a palavra-chave da legítima defesa é “agressão”. C) Como dito, Raquel não responderá por crime algum, já que agiu em estado de necessidade. Raquel agiu em estado de necessidade, já que, para salvar a própria vida, subiu no tronco, que não suportou o peso das duas amigas. Trata-se do clássico exemplo da “tábua da salvação”, bastante comum na doutrina penal. O estado de necessidade, de acordo com o art. 23 do CP, é causa de exclusão da ilicitude. 99. (36º Exame de Ordem Unificado/FGV) Túlio e Alfredo combinaram de praticar um roubo contra uma jo- alheria. Os dois ingressam na loja, e Alfredo, com o em- prego de arma de fogo, exige que Fernanda, a vendedora, abra a vitrine e entregue os objetos expostos. Enquanto Alfredo vasculha as gavetas da frente da loja, Túlio ingres- sa nos fundos do estabelecimento com Fernanda, em busca de joias mais valiosas, momento em que decide levá-la ao banheiro e, então, mantém com Fernanda conjunção car- nal. Após, Túlio e Alfredo fogem com as mercadorias. Em relação às condutas praticadas por Túlio e Alfredo, assi- nale a afirmativa correta. A) Túlio e Alfredo responderão por roubo duplamente circun- stanciado, pelo concurso de pessoas e emprego de arma de fogo, e pelo delito de estupro, em concurso material. B) Túlio responderá por roubo circunstanciado pelo concur- so de pessoas e estupro; Alfredo responderá por roubo duplamente circunstanciado, pelo concurso de pessoas e emprego de arma de fogo. C) Alfredo e Túlio responderão por roubo circunstanciado pelo concurso de pessoas e emprego de arma de fogo; Túlio também responderá por estupro, em concurso material. D) Túlio e Alfredo responderão por roubo circunstanciado pelo concurso de pessoas e emprego de arma de fogo; Túlio responderá por estupro, ao passo que Alfredo re- sponderá por participação de menor importância no delito de estupro. RESPOSTA A) Está correto afirmar que Túlio e Alfredo responderão por roubo duplamente circunstanciado (concurso de pessoas + emprego de arma de fogo). No entanto, Alfredo não re- sponderá por estupro, crime que foi praticado unicamente por Túlio. B) A majorante do emprego de arma de fogo comunica-se a Túlio. Os dois agentes respondem, em concurso de pessoas, por roubo duplamente circunstanciado. Túlio ainda deverá ser responsabilizado por estupro, em concurso material com o delito contra o patrimônio. D) Alfredo, como dito, não irá responder por estupro. 100. (36º Exame de Ordem Unificado/FGV) Américo é torcedor fanático de um grande clube brasileiro, que disputa 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 3917_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 39 29/02/2024 18:36:5629/02/2024 18:36:56 40 AlexAndre SAlim Este conteúdo pertence ao livro OAB Primeira Fase Esquematizado – coordenador Pedro Lenza. Para mais informações consulte o site: https://www.editoradodireito.com.br/colecao-esquematizado todos os principais campeonatos nacionais e internacionais. Américo recebeu a notícia de que seu clube iria jogar uma partida no estádio de sua cidade, porém, ao tentar adquirir os ingressos, descobriu que estes já haviam se esgotado. André, seu vizinho, torcedor do time rival, sempre incomodado com os gritos de comemoração que Américo soltava em dias de jogo, resolveu se vingar, oferecendo ingressos falsos para Américo. Sem saber da falsidade, Américo aceitou a oferta, porém, no momento da concretização do pagamento, perce- beu, por sua acurada expertise no tema ingressos de futebol, que os ingressos eram falsos. Com base na situação hipoté- tica, é correto afirmar que a conduta de André corresponde ao crime de: A) “cambismo”, do Estatuto do Torcedor, na modalidade tentada. B) falsificação de documento público. C) estelionato, na modalidade tentada. D) uso de documento falso. RESPOSTA A) O crime de “cambismo” está previsto no art. 41-F do Es- tatuto do Torcedor (Lei n. 10.671/03) da seguinte forma: “Vender ingressos de evento esportivo, por preço superior ao estampado no bilhete”. André tentou vender ingressos falsos, e não ingressos por preço superior. B) Não há o crime de falsificação de documento público (art. 297 do CP), já que o ingresso para um jogo de futebol não é documento público. Ademais, o enunciado não deixa claro ter sido André o autor da falsificação. André, valendo-se de fraude (oferecimento de ingressos falsos à vítima), praticou estelionato. O crime não se con- sumou porque a vítima não sofreu prejuízo (Américo, no momento da concretização do pagamento, percebeu, por sua acurada expertise no tema ingressos de futebol, que os ingressos eram falsos). D) André não usou o documento falso (exemplo: não o apresen- tou a alguma autoridade), e sim tentou vendê-lo à vítima. 17_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 4017_OAB Questoes Comentadas_Direito Penal.indd 40 29/02/2024 18:36:5629/02/2024 18:36:56