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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE GABRIELA STENGEL DE CARVALHO PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO: VANTAGENS E DESVANTAGENS DA INSTITUIÇÃO DE UMA HOLDING FAMILIAR COMO INSTRUMENTO PARA UMA SUCESSÃO MAIS ECONÔMICA E DESBUROCRATIZADA São Paulo 2023 GABRIELA STENGEL DE CARVALHO PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO: VANTAGENS E DESVANTAGENS DA INSTITUIÇÃO DE UMA HOLDING FAMILIAR COMO INSTRUMENTO PARA UMA SUCESSÃO MAIS ECONÔMICA E DESBUROCRATIZADA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para obtenção do título de Bacharel no Curso de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie. ORIENTADORA: PROF. DRA. ANA CLÁUDIA SCALQUETTE São Paulo 2023 GABRIELA STENGEL DE CARVALHO PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO: VANTAGENS E DESVANTAGENS DA INSTITUIÇÃO DE UMA HOLDING FAMILIAR COMO INSTRUMENTO PARA UMA SUCESSÃO MAIS ECONÔMICA E DESBUROCRATIZADA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para obtenção do título de Bacharel no Curso de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Aprovada em: _________________________ BANCA EXAMINADORA __________________________________ Examinador(a): ______________________ __________________________________ Examinador(a): ______________________ __________________________________ Examinador(a): ______________________ 3 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO: VANTAGENS E DESVANTAGENS DA INSTITUIÇÃO DE UMA HOLDING FAMILIAR COMO INSTRUMENTO PARA UMA SUCESSÃO MAIS ECONÔMICA E DESBUROCRATIZADA Gabriela Stengel de Carvalho1 RESUMO O presente artigo analisa as vantagens e desvantagens da constituição de uma sociedade empresária, denominada Holding Familiar, como ferramenta de planejamento sucessório, servindo como uma alternativa para realizar a “sucessão em vida” evitando conflitos familiares durante a partilha dos bens após o falecimento, economizando tempo e recursos que seriam gastos em processos judiciais e extrajudiciais de inventário. A pesquisa destaca que a utilização da Holding Familiar é viável e vantajosa sob a legislação brasileira, uma vez que proporciona economia fiscal e possibilita que a sucessão não precise passar pelo processo de inventário quando estruturada de maneira adequada, aliviando a carga para as famílias envolvidas na sucessão. Palavras-chave: Sucessão; Planejamento Sucessório; Holding; Patrimônio. ABSTRACT This article examines the advantages and disadvantages of succession planning through the establishment of a company, known as a Family Holding, as a succession planning instrument, serving as an alternative to carry out "succession during one's lifetime", avoiding family conflicts during the distribution of assets after the passing, and saving time and resources that would be spent on judicial and extrajudicial probate processes. The research highlights that the use of the Family Holding is both viable and advantageous under Brazilian legislation, since it provides tax savings and allows the succession to skip the inventory process when structured appropriately, relieving the burden on families involved in the succession. Keywords: Succession; Succession Planning; Holding; Assets. Sumário: Introdução. 1. Introdução à Holding Familiar. 1.1. Constituição e Integralização do Capital Social. 2. Planejamento Sucessório e Tributário na Constituição da Holding Familiar. 2.1. Proteção Patrimonial Familiar. 2.2. A Incidência do Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD). 2.3. O Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI). 2.4. A Tributação de Renda na Holding Familiar. 3. Vantagens e Limites Legais da Holding Familiar. 3.1. Diminuição de Conflitos e Eficiência Tributária. 3.2. Cláusulas Especiais. 3.3. Respeito à Legítima dos Herdeiros Necessários. 3.4. Desconsideração da Personalidade Jurídica. Considerações Finais. Referências. 1Graduanda em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. 4 INTRODUÇÃO O artigo tem como objetivo explorar uma abordagem alternativa para o planejamento sucessório, destacando que não é estritamente necessário seguir o processo tradicional da sucessão. Além do uso do testamento, que é amplamente conhecido como uma ferramenta de planejamento sucessório, existem outras maneiras de planejar a sucessão que podem ser mais eficazes. Embora a morte seja inevitável, os avanços na área jurídica oferecem maneiras de reduzir a burocracia e os custos associados à sucessão. Este estudo apresenta um instrumento específico chamado de Holding Familiar, que é uma empresa de responsabilidade limitada usada como uma ferramenta de destaque no planejamento sucessório. Serão discutidas de forma clara e objetiva as possíveis vantagens e desvantagens desse dispositivo, que, embora seja relativamente novo na legislação brasileira, tem se mostrado um meio eficaz e vantajoso de planejar a sucessão. Esse tipo de planejamento representa uma estratégia vital, permitindo que o detentor do patrimônio, ainda em vida, estabeleça de forma consciente como seus bens serão distribuídos entre os herdeiros. Isso proporciona uma segurança considerável e evita a necessidade de passar por procedimentos dispendiosos de inventário, seja na esfera judicial ou extrajudicial. Além disso, em certos casos, o uso da Holding Familiar pode resultar em vantagens tributárias significativas, reduzindo as obrigações fiscais e as despesas relacionadas à transferência de bens. Uma outra vantagem notável está relacionada ao tempo necessário para concluir o planejamento sucessório. Comparado aos procedimentos envolvidos na transferência de propriedade de bens, a Holding Familiar frequentemente acelera esse processo, economizando um tempo significativo. Essa economia de tempo é especialmente relevante quando comparada ao prolongado processo de inventário, que pode ser atrasado por disputas entre herdeiros, avaliações de ativos e acordos sobre como dividir os custos processuais, emolumentos cartorários e honorários advocatícios, entre outros. No entanto, este estudo busca abordar uma questão crucial: se o planejamento sucessório por meio da criação de uma Holding Familiar é vantajoso em todas as circunstâncias ou se existem situações específicas em que essa estratégia pode não ser recomendada. Dessa forma, será apresentada uma análise detalhada sobre a viabilidade prática desse instituto, sua eficácia 5 na otimização do processo sucessório, benefícios fiscais e segurança jurídica para todas as partes envolvidas, assegurando a preservação integral de seus direitos. 1 INTRODUÇÃO À HOLDING FAMILIAR Empresas familiares enfrentam desafios internos que podem afetar suas operações, especialmente quando familiares são também sócios. Uma abordagem eficaz para lidar com os conflitos familiares é criar uma sociedade holding, que tem se mostrado uma estratégia eficiente no planejamento de sucessões. Isso envolve a criação de uma empresa familiar durante a vida do patriarca. O termo "holding", derivado do inglês "to hold" (segurar), não se limita apenas a manter ativos, mas também implica em ter domínio sobre eles. De acordo com a legislação brasileira, uma holding é uma sociedade cujo objetivo principal é a participação em outras empresas, conforme definido no artigo 2º, § 3º, da Lei das Sociedades Anônimas (Brasil, 1976), que regulamenta as empresas holdings no Brasil. Nesse sentido, Roberta Nioac Prado (2011, p. 279) traz um conceito de holding, nos seguintes termos: A Holding, em sentido amplo, é um modelo de sociedade que possui uma participação em outras sociedades, como acionista ou quotista, tendo personalidade jurídica própria, cujo capital social,necessidade de preservar a integridade do sistema jurídico e assegurar a proteção dos credores contra abusos empresariais. A desconsideração da personalidade jurídica ocorre quando um sócio, de maneira indevida, esvazia o patrimônio da sociedade e o incorpora ao seu patrimônio pessoal. Nesses casos, é possível aplicar a desconsideração inversa da personalidade jurídica quando o esvaziamento e a ocultação de ativos ocorrem no sentido oposto, ou seja, quando ativos que originalmente pertenciam ao patrimônio do sócio são transferidos para o patrimônio da sociedade. Em relação à constituição de um grupo econômico, é fundamental que exista um interesse comum que integre as atividades das empresas e as leve a atuar de forma coordenada. A caracterização de um grupo econômico entre empresas é prevista no parágrafo 2º do artigo 2º da CLT, que estabelece que "Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade econômica, serão, para os efeitos da relação de emprego, solidariamente responsáveis a empresa principal e cada uma das subordinadas." 31 Portanto, ao aplicar a desconsideração da personalidade jurídica, o princípio da entidade, que estabelece que o patrimônio da empresa não se confunde com o patrimônio dos sócios, será flexibilizado para evitar abusos praticados pelos sócios por meio da pessoa jurídica, com a intenção de contornar as normas legais e prejudicar os direitos de terceiros. Nesse sentido, a doutrina acredita que a ferramenta mais eficaz para combater a desvio da legítima e fraudes aos direitos sucessórios dos herdeiros por meio do uso indevido e abusivo da pessoa jurídica é a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica. Essa abordagem tem como finalidade anular atos simulados e fraudulentos, visando a restituição das porções da herança que foram indevidamente retidas dos herdeiros. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando a alta carga tributária que incide sobre as atividades de pessoas e empresas, torna-se crucial adotar mecanismos legais que ofereçam opções mais vantajosas para reduzir os custos tributários relacionados às sucessões. Além disso, é importante buscar alternativas que permitam que as empresas prosperem e protejam o patrimônio para as futuras gerações, evitando conflitos familiares e garantindo a continuidade dos negócios. O processo de sucessão hereditária no Brasil é restritivo em termos de planejamento sucessório, envolvendo procedimentos caros, burocráticos e demorados. Muitas vezes, esses procedimentos não atendem às necessidades das famílias que passam por eles, não apenas devido aos encargos financeiros, mas também devido aos conflitos familiares que podem surgir. Lidar com a situação do patrimônio deixado pelo falecido em um momento tão delicado pode levar a disputas familiares, tornando o processo de luto ainda mais difícil e problemático para a família. Nesse contexto, tem surgido a ideia de distribuir os bens familiares ainda em vida como uma alternativa para reduzir o ônus financeiro e burocrático resultante das normas civis. Uma dessas alternativas é a criação de uma empresa holding familiar patrimonial, cujo objetivo é administrar, preservar e organizar os bens de uma família. Isso torna possível transferir o patrimônio enquanto os membros da família ainda estão vivos, potencialmente eliminando a necessidade de inventário e reduzindo a carga tributária. A holding familiar é uma sociedade criada para atender às necessidades de uma família específica e pode ser usada como parte do planejamento patrimonial e sucessório. Nesse cenário, a família interessada cria uma holding familiar patrimonial e transfere o patrimônio 32 que seria objeto de sucessão por meio da integralização do capital social, distribuindo-o aos sucessores por meio de doação de quotas. Esse modelo demonstra ser vantajoso em relação a outras formas de planejamento, uma vez que a transferência do patrimônio de uma pessoa física para uma pessoa jurídica pode resultar em economia tributária significativa. Além disso, as quotas doadas podem incluir uma cláusula de reserva de usufruto vitalício, permitindo que o doador mantenha o controle do patrimônio até sua morte, concedendo aos futuros herdeiros apenas a propriedade das quotas. Quando o usufruto chega ao fim após a morte do doador, basta fazer uma alteração no registro da sociedade, e os herdeiros se tornam proprietários legítimos das quotas, dispensando a necessidade de um inventário, uma vez que o falecido não deixou bens a serem inventariados. Em resumo, a holding familiar se mostra um meio eficaz de planejamento sucessório, oferecendo vantagens tanto no processo sucessório quanto em termos de economia tributária. Embora o planejamento tributário seja um aspecto importante, não deve ser o único foco do planejamento sucessório. Além disso, um planejamento mal elaborado ou mal executado pode resultar em desvantagens, litígios entre herdeiros e aumentar desnecessariamente os custos com impostos. No entanto, a análise tributária também pode fornecer segurança jurídica aos envolvidos, protegendo os herdeiros de aumentos nas alíquotas de impostos de transmissão causa mortis e doação ou da criação de novos impostos que possam afetar o patrimônio. Portanto, o custo tributário da criação da holding deve ser avaliado considerando todas as vantagens relacionadas ao planejamento sucessório. REFERÊNCIAS BAGNOLI, Martha Gallardo Sala. Holding Imobiliária como Planejamento Sucessório. São Paulo: Quartier Latin, 2016. BARRETO, Ricardo Lourenço da Silva. O Planejamento Tributário nas Holdings Familiares. Âmbito Jurídico, dez. 2016. Disponível em: http://ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=18260. Acesso em: 5 out. 2023. BIANCHINI, Julian et al. Holding como Ferramenta de Sucessão Patrimonial: um estudo sob o ponto de vista da assessoria contábil. Revista de Administração, Contabilidade e Econpomia da Fundace, v. 5, n. 2, 2014. BRASIL. Congresso Nacional. 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A doutrina classifica esta sociedade em duas categorias distintas: a empresa holding pura, criada unicamente com o propósito de se envolver em outra empresa, e a empresa holding mista, que não apenas investe em outras empresas, mas também se envolve em atividades adicionais, como operações comerciais e prestação de serviços (Hungaro, 2009). Segundo Teixeira (2007, p. 1), a holding é pura: (...) quando de seu objetivo social conste somente a participação no capital de outras sociedades, isto é, uma empresa que, tendo como atividade única manter ações de outras companhias, as controla sem distinção de local, podendo transferir sua sede social com grande facilidade. 6 Em contrapartida, a holding é mista: (...) quando, além da participação, ela exerce a exploração de alguma atividade empresarial. Na visão brasileira, por questões fiscais e administrativas, esse tipo do holding é a mais usada, prestando serviços civis ou eventualmente comerciais, mas nunca industriais. Diante dessa afirmação é necessário, como veremos adiante, estabelecer se a holding deverá ser uma Sociedade Simples Limitada ou simplesmente uma Limitada, porém só excepcionalmente uma Sociedade Anônima. (Teixeira, 2007, p. 1). Porém, é crucial destacar que, dentro dessas duas categorias principais, a sociedade pode se ramificar em várias outras formas, dependendo do propósito para o qual foi estabelecida. Dessa forma, Mamede (2019, p. 30) menciona várias categorias, incluindo a holding pura, a holding de controle, a holding de participação, a holding de administração, a holding patrimonial e a holding imobiliária. Entre essas, é relevante enfocar especialmente a holding patrimonial, que tem como objetivo ser a proprietária e gestora de um determinado conjunto de ativos, veja-se: Embora o artigo 2 o , § 3 o , da Lei 6.404/76, nada fale a respeito, é possível também que se constitua uma sociedade com o objetivo de ser a proprietária (a titular) de um determinado patrimônio, entre bens imóveis, bens móveis, propriedade imaterial (patentes, marcas etc.), aplicações financeiras, direitos e créditos diversos. Desse patrimônio podem constar, inclusive, quotas e ações de outras sociedades. (Mamede, 2019, p. 30). Portanto, podemos compreender que, no sentido amplo, a função principal de uma holding é gerir os ativos da empresa que controla e, muitas vezes, deter o controle acionário de outras empresas. Porém, além disso, uma holding pode ser uma empresa individual, não participando de outras empresas, mas focada apenas em controlar o patrimônio dos sócios. Isso é feito visando à segurança patrimonial, organização dos recursos, administração dos bens, aproveitamento de benefícios fiscais e planejamento da sucessão hereditária (Mamede; Mamede, 2017). Assim, a utilização da holding é abrangente, uma vez que pode ser empregada não apenas para controlar outras empresas, mas também para administrar um patrimônio diversificado, exercendo controle sobre todos esses ativos. Nesse sentido, ensinam Fabio Pereira da Silva e Alexandre Alves Rossi (2015, p. 16): 7 Quando se fala em grandes corporações, a holding tem um papel primordial na consolidação do poderio económico do grupo empresarial por meio do exercício de controle centralizando. Possibilitando que a gestão estratégica do conglomerado seja unificada. Por sua vez, na holding familiar, embora esses objetivos não sejam descartados, a intenção se fundamenta para garantir a manutenção do património conquistado por seus membros, incluindo o sucesso de eventuais empresas pertencentes à família perpassando a geração atual. Desta forma, existe a possibilidade de criar uma holding familiar, que não possui uma classificação distinta, mas é mencionada na literatura como uma adaptação de outras categorias. Essa modalidade é estabelecida para atender às necessidades de um grupo familiar e pode, portanto, assumir qualquer uma das formas já mencionadas, desde que satisfaça as exigências da família que a criou (Mamede, 2019). Portanto, compreende-se que a holding familiar, quando utilizada para fins de planejamento sucessório, é essencialmente uma variação da holding patrimonial, não sendo uma categoria independente, mas sim uma aplicação específica de uma das modalidades mencionadas. 1.1 CONSTITUIÇÃO E INTEGRALIZAÇÃO DO CAPITAL SOCIAL Inicialmente, a criação de uma holding ocorre por meio da elaboração de um estatuto ou contrato social, dependendo do formato societário escolhido (Mamede, 2019). Nesse contexto, é fundamental compreender que ao estabelecer uma holding, está-se formando uma entidade empresarial, e, portanto, o primeiro passo é determinar sua natureza, que pode ser empresarial ou simples. A partir desse ponto, a decisão sobre o tipo societário deve ser tomada, o que terá impacto na responsabilidade dos sócios. Assim, a formação da holding é delineada pela escolha da natureza e do tipo societário, devendo seguir os procedimentos específicos exigidos por cada um deles. A respeito da natureza da sociedade, Mamede (2019, p. 126) afirma: De abertura, a diferença está no registro: sociedades simples são registradas nos Cartórios de Registro Público de Pessoas Jurídicas; sociedades empresárias, por seu turno, nas Juntas Comerciais. A distinção não é singela, considerando que as Juntas Comerciais têm um controle mais rígido sobre os atos empresariais, atos societários e afins. A interferência dos Registradores é, habitualmente, bem menor, assim como seu 8 poder de intervenção, ao contrário do que se passa com as Juntas, que têm órgãos deliberativos com poder para julgamento, ainda que contra eles se possa recorrer ao Judiciário. Os registradores têm o poder de suscitar dúvidas junto ao Poder Judiciário. Aqui, também, há uma outra distinção importante: muitas das discussões sobre os atos da Junta Comercial deverão ser submetidas à Justiça Federal, já que desempenham função federal delegada. Em oposição, os atos registrais civis são discutidos na Justiça Estadual. Nesse contexto, Prado (2011) esclarece que "a holding pode ser estabelecida sob qualquer formato societário, uma vez que se trata de uma característica da empresa e não se limita a um tipo societário específico". Prado (2018) ainda explica que "a criação de uma holding de controle da empresa operacional pode auxiliar na solução de questões relacionadas à gestão e ao controle". Portanto, função principal da holding é assegurar a perpetuação do patrimônio familiar investido na empresa, promovendo uma gestão eficaz e eliminando atividades operacionais que possam causar prejuízos financeiros aos sócios. Além disso, é fundamental abordar a questão da integralização do capital social. Conforme Mamede (2019, p. 135) explica, "o capital social é o montante de investimento feito pelos sócios na empresa, ou seja, o valor destinado para a realização de seu objeto social". Esse valor deve ser estabelecido no ato de constituição da empresa e não é obrigatório que seja em dinheiro; os sócios podem optar por contribuir com bens. O importante é que o valor seja expresso em moeda corrente. No entanto, nas sociedades simples, é possível integralizar o capital social por meio da prestação de serviços. O referido autor ainda sustenta que: É de se destacar que a transferência de bens para a sociedade, a título de integralização do capital social, pode fazer-se tanto pelo valor de mercado, também chamado de valor venal (o valor pelo qual efetivamente pode ser vendido), quanto por seu valor escritural, vale dizer, pelo valor que está escriturado na declaração de bens da pessoa ou, em se tratando de empresário ou pessoa jurídica, pelo valor que consta de seus registros contábeis(Mamede, 2019, p. 140). Dessa forma, a holding patrimonial, em primeiro lugar, consiste principalmente em ativos que serão transferidos para compor o capital social. Nesse contexto, o fundador da holding é responsável por essa transferência, convertendo seus próprios bens em parte do capital da empresa. 9 2 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO E TRIBUTÁRIO NA CONSTITUIÇÃO DA HOLDING FAMILIAR É comum evitar a contemplação da eventualidade do falecimento de um ente querido e, consequentemente, adiar a reflexão sobre a distribuição dos bens após o óbito. Além do aspecto emocional e da angústia que essas reflexões podem causar, surgem frequentemente questões relativas à partilha dos bens, que por vezes geram conflitos entre os membros da família. Para evitar tais desconfortos, a abordagem mais recomendável é a realização de um planejamento sucessório e tributário em vida, que pode ser realizado através da instituição de uma holding familiar, tendo como objetivo garantir a preservação e a continuidade da estrutura organizacional, ao mesmo tempo em que antecipa como os bens que serão transferidos aos herdeiros. Essa estratégia também visa minimizar os altos encargos fiscais relacionados à herança e ao inventário. Segundo Oliveira (1999, p. 32), no Brasil, a criação de holdings tem aumentado consideravelmente. Uma das vantagens desse tipo de sociedade reside na facilidade que proporciona para a sucessão empresarial, permitindo a consolidação de todos os ativos da pessoa física no patrimônio dessa empresa, o que, por sua vez, possibilita a transferência de quotas ou ações para os herdeiros, enquanto o indivíduo mantém o usufruto, ou seja, a capacidade de administrar seus bens. Isso destaca a importância de um planejamento fiscal e tributário adequado ao utilizar essa ferramenta. Em suma, o planejamento sucessório é a estratégia que busca definir a maneira mais adequada e organizada de distribuir os bens durante a vida e organizar a sucessão patrimonial, o que equivale a um "inventário em vida". A herança representa o conjunto indivisível de ativos transferidos para os sucessores por meio do espólio após o falecimento. Neste sentido, destaca- se a avaliação sobre o planejamento sucessório trazida por Mamede (2018, p. 111): Não se pode deixar de considerar o custo elevado da ausência de um plano sucessório e, mesmo, da preparação de pessoas para que venham eventualmente a ocupar a administração societária a bem da proteção dos interesses familiares. Através de uma estratégia de sucessão cuidadosamente elaborada, é viável destinar uma parte dos bens até mesmo a herdeiros que não estão previstos na legislação, incluindo pessoas que não fazem parte da descendência legítima, como também regulamentando a situação dos 10 bens do cônjuge, sendo tal possibilidade examinada mais adiante. Por sua vez, o adequado planejamento financeiro pode acarretar na prevenção de potenciais controvérsias e litígios relacionados à herança, promover um ambiente familiar harmonioso, assegurar a rápida disponibilização e destinação dos recursos do espólio, garantir a continuidade das operações da empresa, obter benefícios fiscais não apenas durante o processo de partilha dos bens, mas também para a sustentabilidade do negócio. Dessa forma, ao realizar o planejamento sucessório familiar com o auxílio de uma holding, é possível acessar vantagens tributárias significativas, contribuindo para uma melhor proteção do patrimônio e a potencial redução da carga fiscal. Neste sentido, acerca da definição do planejamento tributário, disciplina James Marins (2002, p. 33): (...) denomina-se planejamento fiscal ou tributário latu sensu a análise do conjunto de atividades atuais ou dos projetos de atividades econômico-financeiras do contribuinte (pessoa física ou jurídica), em relação ao seu conjunto de obrigações fiscais com o escopo de organizar suas finanças, seus bens, negócios, rendas e demais atividades com repercussões tributárias, de modo que venham a sofrer o menor ônus fiscal possível. Porém, de acordo com a perspectiva dos autores Gladston e Eduarda Mamede (2017, p. 105), a fim de alcançar benefícios fiscais, o planejamento tributário precisa estar em harmonia com a situação específica da família que está estabelecendo a holding: É preciso compreender a realidade vivida pela empresa e seus sócios (família) para aferir se a constituição de uma holding é uma vantagem. Em muitos casos, simplesmente não é. (...) A holding pode se tornar um polo para a consolidação de posturas uniformes, definidas em conformidade com as melhores práticas tributárias, não só visando a economia no recolhimento de impostos, taxas e contribuições, mas também evitando a verificação de erros e os respectivos prejuízos que podem causar ao caixa. Nesse contexto, é relevante salientar alguns dos principais mecanismos disponíveis na estrutura da holding que têm o potencial de reduzir a carga tributária. No entanto, é crucial sempre levar em consideração os requisitos essenciais para que essas vantagens sejam efetivamente obtidas, avaliando cuidadosamente as características da família e da própria holding a fim de identificar as melhores estratégias a serem adotadas. 11 Para a autora Daiille Costa Toigo (2016, p. 93): O escopo do planejamento sucessório é estruturar o patrimônio familiar apenas para evitar disputas futuras, promover a perpetuação, mas também para protegê-lo e garantir melhor inteligência fiscal e consequentemente economia tributária. A análise é casuística, pois cada família tem uma estrutura única e ativos e, próprios, desde imóveis até produtos financeiros, embarcações. Portanto, conclui-se que não existe uma abordagem de planejamento sucessório universal que seja adequada para todas as situações. Pelo contrário, o planejamento sucessório deve ser desenvolvido com base na realidade específica e no patrimônio que se pretende resguardar. Isso requer uma análise detalhada realizada por um profissional do direito, que avaliará se é necessário implementar o planejamento sucessório, levando em consideração a natureza dos ativos da família. 2.1 PROTEÇÃO PATRIMONIAL FAMILIAR A holding representa uma estratégia fundamental para a preservação do patrimônio, garantindo a continuidade do negócio, mesmo na ausência do administrador principal. De acordo com Loeblein (2017), a holding oferece inúmeros benefícios para seus detentores, uma vez que sua estrutura é altamente adaptável e pode ser vista como uma extensão da própria estrutura familiar. O planejamento sucessório desempenha um papel fundamental em empresas familiares, conforme destacado por Gallotti e Mendonça (2017), uma vez que, conforme os autores, apenas 30% dessas empresas conseguem realizar efetivamente a transição para a segunda geração. A falta de preparo dos sucessores pode levar à dissipação do patrimônio, o que pode ser evitado com um planejamento que leve em consideração não apenas as necessidades do negócio, mas também o desenvolvimento e o envolvimento dos futuros gestores da empresa. É crucial definir claramente o papel do sucessor e estabelecer uma estrutura que faça sentido para a continuidade do negócio, incluindo a presença de um administrador competente para orientar a empresa. Vale ressaltar que o planejamento sucessório atua como uma salvaguarda para o patrimônio da empresa, permitindo a seleção cuidadosa dos sucessores encarregados de liderar a empresa após o falecimento ou afastamento do fundador. Isso evita incertezas e desafios que podem surgir durante a transição (Madaleno, 2014). 12 Segundo os autores Weinstein (1999), Ward (1987) e Venter, Bosholff e Maas (2005), a preparação do sucessor é uma das características mais cruciais associadas à sobrevivência da empresa na próxima geração. A holding familiar permite que os membrosda família proprietária tenham um papel ativo na gestão e no controle das diferentes empresas e ativos do grupo, enquanto também facilita a transferência gradual de responsabilidades para a próxima geração. É neste ponto que a preparação do sucessor se destaca como essencial. Além disso, a seleção do sucessor deve ser criteriosa, levando em consideração não apenas o parentesco, mas também a competência e a aptidão para liderar a empresa. Dessa forma, a holding familiar oferece uma estrutura que permite a avaliação e a preparação adequada dos candidatos à sucessão. Neste sentido, conforme observado por Vidigal (1996), é bastante comum surgirem desentendimentos familiares durante a transição de gerações em uma empresa. Isso ocorre, principalmente, devido à ausência de um planejamento adequado por parte do fundador da empresa, que frequentemente continua a liderar a empresa até uma idade avançada, não dando aos seus sucessores a oportunidade de assumirem o comando. Portanto, ao empregar a holding familiar como uma estratégia no planejamento patrimonial, é possível estabelecer diretrizes para a gestão das empresas, identificando os herdeiros mais qualificados para assumir responsabilidades administrativas de forma profissional. O fundador da empresa pode fazer essa divisão de ativos em vida, retendo o controle sobre o patrimônio até o momento de seu falecimento, decidindo quem irá gerenciar a empresa e seus bens quando não estiver mais presente. Dessa forma, a holding patrimonial assegura a preservação do patrimônio que será transferido, uma vez que o fundador transfere seus ativos para a empresa como parte da integralização do capital social, permitindo a mitigação das complicações associadas ao seu falecimento, evitando conflitos entre herdeiros e simplificando o processo de sucessão, que muitas vezes é complexo em razão das disposições trazidas pelo Código Civil (Mamede, 2019). O que ocorre é que a propriedade dos bens muda de mãos, ou seja, de pessoas físicas passa para uma única pessoa jurídica, que passa a usufruir de todos os benefícios e obrigações relacionados a essa posição. Assim, a sucessão hereditária ocorre nas quotas e ações da sociedade, como mencionado por Gladston Mamede (2019, p. 118): "a sucessão hereditária ocorre não nos ativos ou na empresa em si ou nas participações sociais nas empresas operacionais, mas nas participações sociais na holding”. Segundo Daille Costa Toigo (2016, p. 103): 13 Em outras palavras, com a constituição dessas holdings, em vez de os familiares serem proprietários de cada bem individualmente considerado, eles serão sócios dessa sociedade, e esta, por sua vez, será a real proprietária de todos os bens. E o contrato social, ou estatuto, estabelecerá as regras e métodos para a administração de todo o patrimônio alocado na holding e, por consequência evitará dissabores e conflitos entre os entes familiares, e como forma de planejamento sucessório mostra-se extremamente eficaz para fazer a transição entre gerações. Assim, quando o patriarca fizer a integralização do capital social, ele estará realizando a doação das quotas aos seus herdeiros, de acordo com suas preferências, mas respeitando sempre as disposições do direito sucessório. Essa doação pode ser realizada com certas restrições, ou seja, por meio de cláusulas contratuais específicas. O objetivo dessas cláusulas é proteger o beneficiário potencial em relação à gestão e ao uso de seus bens enquanto o doador estiver vivo, como destacado por Moretta (2019). Em relação ao direito de usufruto, Gladston Mamede (2019, p. 119) ensina: Alternativamente, há o recurso ao usufruto: transfere-se aos herdeiros apenas a nua propriedade dos títulos societários (quotas ou ações), mantendo o(s) genitor(es) a condição de usufrutuários, ou seja, podendo exercer os direitos relativos àqueles títulos e, dessa maneira, podendo manter a administração da holding e, com ela, o controle das sociedades operacionais e demais investimentos da família. Adicionalmente, conforme será exposto mais adiante, é possível também empregar cláusulas restritivas, tais como as de incomunicabilidade, inalienabilidade e impenhorabilidade, conforme mencionado por Cristiana Sanchez Gomes Ferreira e Carolina Fagundes Leitão (2016, p. 17): O doador das quotas ou ações pode, inclusive, gravar os títulos, como já se viu, com a cláusula de inalienabilidade, nos termos do art. 1.911 do CC49, que, por sua vez, implica em impenhorabilidade e incomunicabilidade – mas, obrigatoriamente, fundamentando este ato, caso seja realizado através de testamento, consoante dispõe o art. 1.848 do CC. Tatiana Moretta (2019) observa que, uma vez que a doação das quotas é efetuada com a reserva do direito de usufruto, no momento do falecimento do doador, basta apresentar a 14 certidão de óbito à junta comercial competente para eliminar a condição de usufruto. Como resultado, os herdeiros adquirem plenos direitos de propriedade sobre suas quotas, tornando desnecessário o processo de inventário. Dessa forma, a utilização de uma holding no planejamento sucessório não apenas simplifica a distribuição dos ativos, mas também permite que o detentor do patrimônio a ser transmitido mantenha o controle sobre esses ativos. Isso pode ser alcançado por meio de cláusulas contratuais e dispositivos jurídicos que acomodem essa intenção, ou permitindo que os herdeiros administrem individualmente suas respectivas partes. 2.2 A INCIDÊCIA DO IMPOSTO DE TRANSMISSÃO CAUSA MORTIS E DOAÇÃO (ITCMD) Como mencionado no contexto do planejamento sucessório envolvendo uma holding familiar, após a integralização do capital social da holding, um dos primeiros passos consiste na doação das quotas sociais pelo patriarca aos herdeiros, com a manutenção do direito de usufruto vitalício em seu favor. Nesse cenário, ocorre o evento que desencadeia a incidência do Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD). Esse imposto, de responsabilidade dos estados, encontra sua base na Constituição Federal de 1988, conforme disposto no artigo 155, da seguinte maneira: Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: I - transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos; § 1º O imposto previsto no inciso I: I - relativamente a bens imóveis e respectivos direitos, compete ao Estado da situação do bem, ou ao Distrito Federal II - relativamente a bens móveis, títulos e créditos, compete ao Estado onde se processar o inventário ou arrolamento, ou tiver domicílio o doador, ou ao Distrito Federal (Brasil, 1988). Ademais, também encontra previsão nos arts. 35 a 42 do Código Tributário Nacional, nos termos: Art. 35. O imposto, de competência dos Estados, sobre a transmissão de bens imóveis e de direitos a eles relativos tem como fato gerador: I - a transmissão, a qualquer título, da propriedade ou do domínio útil de bens imóveis por natureza ou por acessão física, como definidos na lei civil; 15 II - a transmissão, a qualquer título, de direitos reais sobre imóveis, ex-ceto os direitos reais de garantia; III - a cessão de direitos relativos às transmissões referidas nos incisos I e II. Parágrafo único. Nas transmissões causa mortis, ocorrem tantos fatos geradores distintos quantos sejam os herdeiros ou legatários (Brasil, 1966). Quando se trata de questões de sucessão por óbito, a abertura do processo sucessório e, consequentemente, a origem do fato gerador do ITCMD se materializam de forma automática no momento do falecimento de uma pessoa natural. Essa disposição encontra fundamento no artigo 1.784 do Código Civil, que estabelece: "Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários" (Brasil, 2002). Quanto à base de cálculo desse imposto,o artigo 38 do Código Tributário Nacional estipula que: "Art. 38. A base de cálculo do imposto é o valor venal dos bens ou direitos transmitidos" (BRASIL, 1966). Por outro lado, a alíquota aplicável é definida pelo Senado Federal, conforme previsto no artigo 155, IV da Constituição Federal. Atualmente, essa alíquota máxima está estabelecida em 8% de acordo com a Resolução nº 9 do Senado Federal. Em outras palavras, nenhum ente federativo pode estabelecer uma alíquota superior a 8% ao criar e aplicar o ITCMD. Vale ressaltar que as alíquotas podem variar de um estado para outro, desde que estejam dentro do limite máximo de 8% (Barreto, 2016). Nesse contexto, é importante notar que o ITCMD é devido quando ocorre a doação das quotas pelo patriarca aos herdeiros. Portanto, a primeira conclusão que podemos tirar desse cenário é que a utilização da holding familiar como parte do planejamento sucessório não tem o poder de eliminar a carga tributária. Assim, a afirmação de que a holding é uma maneira de "evitar" a tributação do patrimônio é imprecisa. No que diz respeito ao pagamento do imposto em questão na doação de quotas, é importante mencionar que a legislação varia de acordo com cada Estado. Por exemplo, no Estado de São Paulo, a tributação do ITCMD é regulamentada pela Lei nº 10.705/2000, que estabelece uma alíquota de 4%, conforme o artigo 16 da referida lei. Além disso, em São Paulo, é possível efetuar o pagamento do ITCMD de forma fracionada, sendo 2/3 no momento da doação e 1/3 na extinção do usufruto, que ocorre com a morte do usufrutuário (Viscardi, 2013). Essa possibilidade de pagamento fracionado pode ser especialmente vantajosa para uma holding familiar, especialmente quando o patrimônio em questão é de alto valor. Dessa forma, tendo em vista que a base de cálculo do ITCMD na doação das quotas pode variar dependendo da legislação estadual, quando as quotas são doadas em vida, algumas 16 legislações permitem que o cálculo do ITCMD seja baseado no valor patrimonial das quotas, em vez do valor de mercado das participações. Isso pode resultar em uma economia tributária significativa para a família, uma vez que o cálculo do imposto é feito com base no valor no momento da transferência, que é menor do que o valor de mercado no futuro. Diferentemente, no caso de sucessão após a morte (causa mortis), em que o ITCMD é frequentemente calculado com base no valor venal ou de mercado dos bens e direitos recebidos pelos herdeiros. Nesse caso, após a morte, os bens são avaliados pelo seu valor de mercado atual, que pode ser significativamente maior do que o valor de aquisição original. Como resultado, o valor do ITCMD a ser pago pode ser substancial. (Mendes, 2015). Em outras palavras, em situações específicas, o simples fato de haver uma discrepância entre o custo original de compra de um bem e o montante total do ITCMD pode resultar em economia significativa de impostos. No entanto, é fundamental analisar cuidadosamente se o custo de aquisição do bem é realmente menor do que seu valor de mercado antes de tomar qualquer decisão. Nesse contexto, os autores Gladston e Eduarda Mamede (2017, p. 103) destacam a relação entre o ITCMD e a holding, fazendo uma comparação com o processo de inventário: No Brasil, essa transferência, entre vivos (intervivos) ou causada pela morte (causa mortis), é tributada. A bem da precisão, não há distinção nos encargos tributários entre a doação em vida e a transferência dos mesmos bens em função da morte, haja ou não um testamento. Essa tributação é de 4% sobre o valor dos bens transferidos. No entanto, há vantagens laterais que não podem ser desconsideradas. De abertura, a simplicidade do procedimento de doação, que consome infinitamente menos tempo do que o processo de inventário, ainda que haja testamento e consenso entre os herdeiros. 2.3 O IMPOSTO DE TRANSMISSÃO DE BENS IMÓVEIS (ITBI) Além da questão relacionada ao Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), é importante mencionar que a holding familiar também pode ter um tratamento específico quando se trata do Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI). Este imposto é de competência municipal para sua instituição e incide sobre a transmissão de bens imóveis mediante atos onerosos intervivos, ou seja, em vida, como previsto no artigo 156 da Constituição Federal de 1988. 17 No entanto, é fundamental destacar que o ITBI e o ITCMD têm suas particularidades. Enquanto o ITCMD se relaciona com a transmissão de bens por herança ou doação, o ITBI incide sobre a transmissão de bens imóveis que envolvem contraprestação financeira entre as partes. Portanto, mesmo que ambos os impostos estejam previstos no Código Tributário Nacional e na Constituição, eles se aplicam a situações diferentes e possuem regras distintas em relação à sua incidência e cálculo: Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: II - transmissão "intervivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição; § 2º O imposto previsto no inciso II: II - compete ao Município da situação do bem (Brasil, 1988). De acordo com esse dispositivo legal, a competência para a instituição do ITBI é atribuída aos municípios onde os bens imóveis estão localizados. Portanto, as regras e regulamentos relacionados a esse imposto devem ser estabelecidos por leis municipais específicas. (Barreto, 2016). Além disso, é importante ressaltar alguns pontos relevantes sobre a incidência do ITBI no contexto das holdings, especialmente examinando as disposições que tratam das hipóteses de não incidência. No caso de uma holding patrimonial ou imobiliária cujo capital social tenha sido integralizado com bens imóveis, existe a possibilidade de não incidência desse imposto, conforme estabelecido no artigo 36 do Código Tributário Nacional (CTN): Art. 36. Ressalvado o disposto no artigo seguinte, o imposto não incide sobre a transmissão dos bens ou direitos referidos no artigo anterior: I - quando efetuada para sua incorporação ao patrimônio de pessoa jurídica em pagamento de capital nela subscrito (Brasil, 1966); Entretanto, é fundamental observar que a integralização do capital social da holding com imóveis nem sempre resulta na isenção tributária. Nesse sentido, é necessário considerar as disposições do artigo 37 do CTN e do artigo 156, §2º, inciso I, da Constituição Federal de 1988 (CF/88): 18 Art. 37. O disposto no artigo anterior não se aplica quando a pessoa jurídica adquirente tenha como atividade preponderante a venda ou locação de propriedade imobiliária ou a cessão de direitos relativos à sua aquisição. § 1º Considera-se caracterizada a atividade preponderante referida neste artigo quando mais de 50% (cinqüenta por cento) da receita operacional da pessoa jurídica adquirente, nos 2 (dois) anos anteriores e nos 2 (dois) anos subseqüentes à aquisição, decorrer de transações mencionadas neste artigo. § 2º O imposto previsto no inciso II: I - não incide sobre a transmissão de bens ou direitos incorporados ao patrimônio de pessoa jurídica em realização de capital, nem sobre a transmissão de bens ou direitos decorrente de fusão, incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica, salvo se, nesses casos, a atividade preponderante do adquirente for a compra e venda desses bens ou direitos, locação de bens imóveis ou arrendamento mercantil (Brasil, 1966); Analisando a norma constitucional mencionada, a transferência dos imóveis do patriarca para a constituição da holding familiar, como parte da integralização do capital social, só estará sujeita à incidência do ITBI quando a atividade principal da sociedade for relacionada à locação e venda desses imóveis,o que pode ser chamado de "atividade imobiliária". Não haverá a incidência do ITBI, por exemplo, quando a atividade principal da sociedade for apenas a administração desses bens. De acordo com essas disposições, em situação normal, o ITBI não será aplicado à integralização do capital social da holding. No entanto, para confirmar essa condição, a holding deve comprovar que sua atividade principal não está relacionada com a obtenção de receitas provenientes de aluguéis ou vendas de imóveis. O parágrafo 1º do artigo 37 do CTN estabelece que uma atividade é considerada predominante se a receita gerada por transações envolvendo aluguel e venda de imóveis for superior a 50%, considerando os dois anos anteriores e os dois anos seguintes à aquisição. Quando examinados os dois impostos mencionados, torna-se evidente que a formação de uma holding familiar não resulta na ocorrência simultânea do fato gerador para ambos os tributos. No caso de uma transmissão onerosa, incide o ITBI, caso contrário, ou seja, nos casos das transmissões não onerosas, incidirá o ITCMD. Naturalmente, outras transações diversas realizadas pela holding podem desencadear a obrigação de recolher os mencionados impostos, de acordo com as circunstâncias do fato gerador tributário (Barreto, 2016). Nesse contexto, mesmo com a incidência do imposto municipal, a criação da sociedade pode ser vantajosa devido à economia na tributação do lucro e da receita bruta. Após a integralização dos bens pelas pessoas físicas, a holding será responsável por receber as receitas ou aluguéis gerados pelo patrimônio. Esses rendimentos serão tributados na pessoa jurídica, o 19 que representa uma considerável vantagem fiscal, como será abordado posteriormente no contexto da tributação da renda (Mendes, 2015). 2.4 A TRIBUTAÇÃO DE RENDA NA HOLDING FAMILIAR Uma das vantagens mais significativas da criação de uma holding está relacionada à tributação de seus rendimentos, ou seja, ao Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ). Nesse contexto, é crucial comparar a tributação dos rendimentos em uma pessoa jurídica com a de uma pessoa física, a fim de identificar as principais vantagens fiscais disponíveis. O imposto sobre a renda é regulado pelo artigo 153, inciso III, da Constituição Federal e pelos artigos 43 a 45 do Código Tributário Nacional, conforme disposto a seguir: Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: III - renda e proventos de qualquer natureza; (Brasil, 1988). Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e proventos de qualquer natureza tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica: I - de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos; II - de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos patrimoniais não compreendidos no inciso anterior (Brasil, 1966). De acordo com essas disposições, o Imposto de Renda é uma responsabilidade do governo federal e é aplicado sobre a renda, que engloba o resultado financeiro gerado a partir do capital, trabalho ou de ambos em conjunto. Além disso, qualquer tipo de provento é considerado no cálculo do imposto. Para esclarecer, o conceito de renda, conforme definição de Lima Gonçalves (2002, p. 180), se refere a um aumento no patrimônio, que pode se manifestar tanto em dinheiro quanto em bens: Renda haverá, portanto, quando houver sido detectado um acréscimo, um plus; tenha ele, ou não, sido consumido; seja ele, ou não, representado por instrumentos monetários, direitos, ou por bens, imateriais ou físicos, móveis ou imóveis, agora não importa (...) Para que algo seja considerado renda, é essencial que ocorra um aumento no patrimônio, podendo este aumento ser representado por qualquer tipo de direito ou bens, independentemente 20 de sua natureza, contanto que seja possível mensurar seu valor em moeda. Essa definição é fundamentada na ideia de que a renda é um acréscimo ao patrimônio líquido de uma pessoa (Gonçalves, 2002). Quando se analisa a tributação, nota-se que a holding, operando sob o regime de lucro presumido, está sujeita a uma taxa de impostos que varia de 11,33% a no máximo 14,54% da receita bruta da empresa. Em contrapartida, para pessoas físicas, a alíquota do Imposto de Renda pode chegar a 27,5%, dependendo do valor total dos rendimentos auferidos, conforme mencionado anteriormente (Mendes, 2015). É importante também ressaltar que os lucros e dividendos distribuídos aos acionistas pela holding não estão sujeitos a uma nova tributação pelo Imposto de Renda na pessoa física, uma vez que tais rendimentos não são considerados tributáveis, conforme estabelecido pelo artigo 10 da Lei 9.249/95: Art. 10. Os lucros ou dividendos calculados com base nos resultados apurados a partir do mês de janeiro de 1996, pagos ou creditados pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real, presumido ou arbitrado, não ficarão sujeitos à incidência do imposto de renda na fonte, nem integrarão a base de cálculo do imposto de renda do beneficiário, pessoa física ou jurídica, domiciliado no País ou no exterior (Brasil, 1995). Em relação às vendas de imóveis, as regras fiscais diferem para pessoas físicas e holdings familiares. Para pessoas físicas, quando ocorre a venda de um imóvel, a carga tributária é de 15% sobre o ganho de capital obtido, ou seja, sobre a diferença entre o valor da venda e o valor informado na Declaração de Imposto de Renda. Por outro lado, no caso de uma holding patrimonial que vende um imóvel, a carga tributária é consideravelmente mais baixa. Ela enfrenta um custo tributário final de aproximadamente 5,93%, acrescido de um adicional que equivale a cerca de 6,54% sobre o valor total da alienação, não sendo aplicado sobre o ganho de capital, como na tributação de pessoas físicas (Viscardi, 2013). Diante desse cenário, pode-se concluir que a criação de uma holding familiar, especialmente sob o formato de holding patrimonial, pode ser muito mais vantajosa em termos de carga tributária, uma vez que a tributação é consideravelmente menor do que a que uma pessoa física teria que suportar. 3 VANTAGENS E LIMITES LEGAIS DA HOLDING FAMILIAR 21 A formação de Holdings Familiares, ao longo do tempo, ampliou seu propósito, transcendo a mera busca por benefícios fiscais. Atualmente, essa forma de sociedade é adotada por várias razões, incluindo o controle das empresas, facilitação da sucessão, centralização da administração, eficiência tributária e benefícios fiscais legais. No entanto, é importante entender que ao criar uma holding familiar, há vantagens e desvantagens significativas a serem consideradas. Sob uma perspectiva econômica, é importante destacar que a constituição de uma holding familiar acarreta despesas significativas tanto na fase de estabelecimento quanto na de manutenção, devido aos procedimentos de registro e conformidade necessários, que muitas vezes demandam um investimento inicial considerável. Por outro lado, conforme apontado por Silva e Rossi (2017, p. 84), nos métodos tradicionais, que demandam a realização, por exemplo, do inventário, é comum que a família seja obrigada a vender um de seus ativos para conseguir pagar o imposto que deve ser liquidado antecipadamente. Dessa forma, a adoção de uma holding familiar pode criar uma configuração tributária mais vantajosa como alternativa. Outra vantagem é a capacidade de estabelecer cláusulas de incomunicabilidade e impenhorabilidade, que protegem os ativos contra partilhas decorrentes de separações ou divórcios, desde que dentro dos limites legais e das legítimas dos herdeiros necessários. No entanto, é crucial destacar que a criação de uma holding não deve ser usada para contornar a lei. O abuso ou uso inadequado dessa estratégia pode levar à desconsideração da personalidadejurídica da holding, resultando em consequências legais adversas. Em suma, a formação de uma Holding Familiar oferece benefícios importantes, no entanto, também apresenta desafios e deve ser estabelecida de maneira estritamente legal e ética. Executivos e famílias interessados devem avaliar cuidadosamente suas necessidades e objetivos antes de decidir pela criação de uma holding, buscando sempre formas legais de obter os benefícios desejados. Adiante serão elencadas as principais vantagens e limites legais enfrentados pela constituição de um Holding Familiar. 3.1 DIMINUIÇÃO DE CONFLITOS E EFICIÊNCIA TRIBUTÁRIA A criação de uma holding familiar apresenta uma série de benefícios, sendo notável a sua capacidade de efetivamente prevenir conflitos familiares durante o processo de sucessão. Conforme anteriormente apresentado, a constituição de uma holding familiar oferece uma 22 oportunidade única de integralizar o patrimônio dos fundadores na empresa, doando quotas aos herdeiros com reserva de usufruto, substituindo a necessidade de um testamento e eliminando a necessidade de um processo judicial de inventário, conhecido por ser moroso e propenso a conflitos familiares. Conforme Pozzetti (2018) destaca, a sucessão é um método de transmissão de herança que frequentemente apresenta desafios, e o planejamento desempenha um papel crucial na prevenção de conflitos de diversas naturezas. Ao permitir que a sucessão seja determinada durante a vida, essa ferramenta contribui para a preservação tanto dos bens quanto das relações familiares, evitando disputas e possíveis consequências negativas no processo. Outro ponto crucial é que a holding familiar pode ser uma ferramenta eficaz para a gestão dos negócios familiares, permitindo a definição de regras de administração e a identificação de herdeiros mais capacitados para uma gestão profissional. Consequentemente, isso contribui para assegurar a continuidade das operações empresariais após o falecimento do fundador, prevenindo conflitos e preservando tanto o acervo patrimonial quanto a satisfação dos herdeiros. A constituição da holding familiar também desempenha um papel fundamental na redução de litígios durante a sucessão. O sucessor pode ser escolhido sem a necessidade de um testamento, o que ajuda a prevenir disputas familiares dispendiosas e demoradas. Além disso, a holding oferece um ambiente dedicado para resolver quaisquer conflitos que possam surgir, separando, assim, questões familiares das empresariais. De acordo com Milhomem (2018), nos casos em que surgem conflitos, a própria holding fornece um espaço para a resolução dessas questões, evitando a necessidade de litígios. Além disso, dentro desse sistema, os envolvidos são capazes de separar problemas familiares de questões relacionadas à administração da empresa. Quanto à possibilidade de recolher o tributo de forma segregada, é possível evitando o pagamento integral de uma só vez, pode ser uma estratégia altamente vantajosa para uma holding familiar, especialmente quando se lida com um patrimônio de grande valor. Bianchini (2014) observa que o processo de sucessão em empresas familiares pode ser dispendioso para os herdeiros, devido aos impostos e tributos que incidem sobre a transferência de posse. Portanto, o planejamento sucessório também considera as despesas e a forma de condução desse processo, garantindo que os herdeiros tenham meios para cumprir todas as etapas. 23 No contexto do planejamento sucessório, uma etapa inicial envolve a doação das quotas sociais do patriarca aos herdeiros, com a reserva de usufruto vitalício em seu favor. No entanto, essa doação desencadeia a incidência do Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) no momento da realização e novamente quando o usufruto é extinto. Além disso, em uma holding familiar, haverá a incidência de tributação sobre a integralização do capital social da empresa, considerando a incidência do Imposto de Renda (IR) e do Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI). No entanto, mesmo quando esses tributos estão presentes, a constituição da holding ainda pode ser vantajosa devido à eficiência tributária superior em comparação com a tributação nas pessoas físicas. Em suma, embora a holding não evite a incidência de tributos, pode reduzir seu impacto, dependendo das circunstâncias específicas. A eficiência tributária pode resultar de uma antecipação planejada do pagamento do imposto sobre a herança, evitando surpresas com aumentos futuros das alíquotas. É importante destacar que, em um planejamento tributário mal elaborado ou com uma gestão inadequada, a carga tributária pode ser maior, tornando essencial um planejamento cuidadoso e uma estratégia de gestão eficaz. 3.2 CLÁUSULAS ESPECIAIS O Código Civil, em seu artigo 1911 (Brasil, 2002), aborda a cláusula de inalienabilidade, que implica em impenhorabilidade e incomunicabilidade, e que pode ser aplicada aos bens doados. A Súmula nº 49 do Supremo Tribunal Federal (Brasil, 2015) esclarece que a cláusula de inalienabilidade também inclui a incomunicabilidade dos bens. De acordo com a definição de Gomes (2004), a cláusula de inalienabilidade proíbe a transferência dos bens doados, seja de forma gratuita ou onerosa, aos herdeiros ou legatários. Por outro lado, a incomunicabilidade restringe a inclusão desses bens na comunhão estabelecida no casamento, enquanto a impenhorabilidade impede a sua penhora. Embora essas cláusulas sejam autônomas, a cláusula de inalienabilidade, de acordo com Fioranelli (2008, p. 24-25), prevalece sobre as outras devido ao seu interesse social, absorvendo as demais. Bagnoli (2016, p.59) destaca que a cláusula de inalienabilidade garante que o bem doado não seja transferido para terceiros, respeitando a vontade do doador. No contexto do planejamento sucessório, segundo Silva e Rossi (2017, p. 116), é comum usar a cláusula de inalienabilidade por meio de uma holding familiar para proteger o patrimônio 24 contra interferências de pessoas externas à família, impedindo que os herdeiros alienem suas quotas sociais. Em relação à cláusula de incomunicabilidade, ela é importante em regimes de casamento, como a comunhão universal de bens, onde todos os bens presentes e futuros são comunicados, exceto os bens doados com essa cláusula, de acordo com o artigo 1.668 do Código Civil (Brasil, 2002). No entanto, importante ressaltar que os frutos gerados por esses bens, mesmo com a cláusula de incomunicabilidade, integram o patrimônio do casal e podem ser usufruídos por ambos durante o casamento, semelhante à distribuição de lucros das quotas do capital social. Por fim, é possível incluir uma cláusula de reversão no patrimônio doado, estabelecendo que, se o donatário falecer antes do doador, o patrimônio retornará para o doador, conforme o artigo 547 do Código Civil (Brasil, 2002). Pablo Stolze Gagliano (2021, p.57) define a cláusula de reversão de forma simples como o retorno do bem doado ao doador em caso de falecimento do donatário. 3.3 RESPEITO À LEGÍTIMA DOS HERDEIROS NECESSÁRIOS No sistema jurídico brasileiro, a condição de herdeiro necessário é conferida a grupos específicos de pessoas e sua regulamentação é estabelecida pelo artigo 1845 do Código Civil de 2002. Esse dispositivo estabelece uma uma hierarquia na sucessão legítima, sendo os primeiros convocados os descendentes, seguidos pelos ascendentes e posteriormente o cônjuge sobrevivente. Muitos estudiosos do direito defendem que o companheiro deve ser incluído nesse grupo, sendo igualado ao cônjuge, como herdeiro necessário. Isso se deve ao reconhecimento pelo Supremo Tribunal Federal da inconstitucionalidade do artigo 1790 do Código Civil, o que implica que não pode haver distinção no direito sucessório entre cônjuges e companheiros. Essa decisão não se limita apenas aodireito de concorrência, mas abrange mais amplamente o tratamento igualitário dessas duas categorias2. A lei assegura aos herdeiros necessários o direito a metade da herança, conforme previsto no artigo 1846 do Código Civil de 2002: "pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima". Ademais, a intervenção do 2STF – Tema 498: É inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros prevista no art. 1790 do CC/2002, devendo ser aplicado, tanto nas hipóteses de casamento quanto nas de união estável, o regime do art. 1829 do CC/2002 25 Estado na legítima também é prevista em casos de sucessão testamentária. Nesse cenário, o legislador restringiu a autonomia do testador, que só pode dispor da metade da herança quando há herdeiros necessários, de acordo com o artigo 1789 do Código Civil: "havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor de metade da herança" (Brasil, 2002). Carlos Maximiliano (1952, p. 361) explicava que essas disposições legais são normas obrigatórias que limitam a vontade do autor da herança e refletem o princípio da intangibilidade da legítima. Isso significa que a legítima não pode ser reduzida em sua essência ou valor por meio de cláusulas testamentárias. Portanto, apesar de no planejamento sucessório, elaborado por meio da instituição de uma holding, ser possível destinar uma parte dos bens a herdeiros que não estão previstos na legislação, incluindo pessoas que não fazem parte da descendência legítima, se faz necessário que seja respeitada a metade dos bens da herança destinada aos herdeiros necessários. Tal proteção com relação à legítima dos herdeiros necessários é o principal obstáculo à autonomia do autor da herança no planejamento sucessório. Essas normas impedem que o autor disponha de seu patrimônio, independentemente da forma escolhida, de maneira que prejudique a parte legalmente reservada aos herdeiros necessários ou imponha restrições ao direito de propriedade sobre essa parcela. Desta forma, com o objetivo de evitar a redução da parcela legalmente destinada aos herdeiros necessários, a legislação estabelece mecanismos de proteção à legítima, tais como a redução das disposições testamentárias excedentes e das doações inoficiosas, bem como impõe o dever de colação, conforme previsão dos artigos 1966 e 1967 do Código Civil. Neste sentido, segundo Mario Luiz Delgado e Jânio Urbano Marinho Junior (2020, p. 331), “o princípio da intangibilidade da legítima materializa-se, por sua vez, na possibilidade de redução das disposições testamentárias, de redução das doações inoficiosas e no instituto da colação, representando, portanto, a principal limitação ao planejamento sucessório”. Assim, os autores finalizam: O desafio que se coloca, nessa perspectiva, é a utilização desse instrumento levando- se em conta a restrição da legítima que – embora possa ser questionada doutrinariamente diante de todas as transformações da atual sociedade brasileira – não pode ser ignorada, sob pena de configurar fraude à lei ou mesmo abuso de direito”. (Delgado; Marinho Junior. 2020, p. 331) 26 No que diz respeito às doações inoficiosas, o artigo 549 do Código Civil estipula a nulidade, no momento em que o doador faz a liberalidade, das doações que ultrapassam a parte da herança que este teria direito a dispor em testamento. Silvio de Salvo Venosa (2016, p.364) explica que, “sem esse princípio presente no ato da liberalidade em vida, facilmente se burlaria a garantia da legítima. Por isso, a lei estipula que a doação dos pais aos filhos importa em adiantamento de legitima”. O dever de colação encontra sua previsão legal nos artigos 2002 e 2003 do Código Civil. Conforme estabelecido pelo artigo 2002, os descendentes que participam da sucessão do mesmo ascendente são obrigados a igualar as legítimas, trazendo para a partilha da herança o valor das doações que receberam do ascendente em vida. A não observância desse dever pode resultar em sonegação. O artigo 2003 estabelece que a colação visa a igualar, conforme as proporções estipuladas no Código, as legítimas dos descendentes e do cônjuge sobrevivente. Além disso, os donatários que, no momento do falecimento do doador, já não possuírem os bens doados também estão sujeitos ao dever de colação. A colação, como explica Maria Berenice Dias (2019, p. 823), é essencialmente o dever dos herdeiros de apresentar ao juízo as doações que receberam, a fim de possibilitar a divisão equitativa da herança. Esse mecanismo garante que as doações realizadas durante a vida do doador sejam consideradas no momento da partilha, evitando que a legítima seja prejudicada. Continua a autora explicando que: (...) todo ato de liberalidade em favor de um dos descendentes precisa ser conferido quando da abertura da sucessão, para comprovar se a doação extrapolou ou não a parte disponível da herança. Isto porque, os bens doados em vida são reconhecidos como retirados da legítima dos herdeiros necessários e não da metade disponível (Dias, 2019, p. 823). Tanto a doutrina quanto a prática jurídica reconhecem a ocorrência comum de atos simulados no contexto do planejamento sucessório, com o propósito de contornar a legítima dos herdeiros. Um dos exemplos mais frequentes, identificados na prática, envolve a simulação de uma venda que, aparentemente, respeita a legalidade, mas que, na verdade, encobre uma doação feita com o objetivo de beneficiar um membro da família (Madaleno, 2009). Logo, para combater essas práticas fraudulentas, a colação, a doação inoficiosa e a redução das disposições testamentárias são utilizadas para proteger a legítima dos herdeiros, que pode ser comprometida por meio de ações fraudulentas, simuladas e abusivas que não 27 respeitam os limites legais e se desviam do propósito lícito do planejamento sucessório. Portanto, o planejamento sucessório deve ser conduzido dentro dos parâmetros legais, garantindo o respeito à legítima e sua intangibilidade. Dentro do contexto de ações que desrespeitam ou fraudam a lei, tem se tornado lamentavelmente comum a criação de sociedades jurídicas com o propósito de contornar as regras imperativas destinadas à proteção da legítima, frequentemente respaldadas por mecanismos legais estabelecidos no campo do Direito Empresarial. A doutrina fornece exemplos nos quais o autor da herança estabelece uma sociedade empresarial e emprega táticas que incluem a inclusão de terceiros como sócios em uma capacidade meramente nominal, com o propósito de justificar a participação desses terceiros, o que prejudica os herdeiros necessários (Delgado; Marinho Junior, 2020, p. 338). Além disso, pode ser realizado pelo autor da herança a distribuição das quotas ou ações da empresa de maneira desigual entre os herdeiros, ultrapassando limites legais, ou seja, excedendo a parte disponível, e a transferência gradual de quotas sociais em favor de um ou mais herdeiros, enquanto prejudica outros (Hironaka; Cahali, 2012, p. 460). Além disso, uma pessoa jurídica criada para a partilha em vida da herança entre os herdeiros, mesmo que inicialmente respeite os limites legais da legítima dos herdeiros, pode, por meio de uma operação de aumento do capital social por um ou mais sócios, diluir a participação dos herdeiros na empresa, que não participaram da subscrição, reduzindo sua parte na herança. Isso significa uma redução na quota do herdeiro sobre a herança, uma vez que seu percentual de propriedade comum na empresa se torna menor devido à diluição (Hironaka; Cahali, 2012, p. 460). Assim, apesar de em tais situações o negócio jurídico ser real, este é fraudulento, uma vez que esta intrinsicamente ligado ao propósito de fraudar a reserva sobre a legítima conferida aos herdeiros necessários. Sempre que a legítima dosherdeiros necessários for desrespeitada, o negócio jurídico poderá ser considerado nulo de acordo com o art. 166, VI, do Código Civil, que estabelece a nulidade de qualquer negócio jurídico que tenha como objetivo fraudar uma lei imperativa. Além disso, de acordo com Rolf Madaleno (2009, p. 296), nem sempre as ferramentas usualmente utilizadas para a proteção da legítima serão eficazes para corrigir desigualdades na divisão do patrimônio hereditário, nos casos em que o autor da herança fizer uso indevido de uma pessoa jurídica para transferir bens de seu patrimônio em prejuízo de alguns ou todos os herdeiros necessários. Portanto, a doutrina converge para a ideia de que a desconsideração da 28 personalidade jurídica é o meio mais apropriado para prevenir a violação das normas de ordem pública por meio da utilização indevida da pessoa jurídica, conforme afirma Mario Luiz Delgado e Jânio Urbano Marinho Junior (2020, p. 335): A partir desta constatação, tem-se sustentado a possibilidade de aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica (disregard of legal entity), com a finalidade de se invalidar estes atos fraudulentos praticados por meio da sociedade, contra herdeiros necessários, podendo o juiz descartar a personalidade jurídica utilizada em abuso, em fraude, ou e detrimento da ordem pública, para lesar um quinhão hereditário, exatamente como previsto pelo art. 50 do Código Civil. O procedimento encontra-se atualmente previsto no CPC/2015. Dado o valor significativo dessa abordagem, vamos agora examinar com maior profundidade o conceito de desconsideração da personalidade jurídica no contexto do planejamento sucessório. 3.4 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA Com base nas conclusões deste estudo, a criação de uma holding familiar é uma estratégia comumente empregada no planejamento patrimonial das famílias. No entanto, é fundamental destacar que o uso dessa prerrogativa legal não deve ser motivado por intenções ilegais, como a tentativa de contornar direitos sucessórios, evadir obrigações fiscais, fraudar credores, ou violar quaisquer outros direitos de terceiros estabelecidos por lei. Caso contrário, os atos jurídicos realizados podem ser considerados nulos. Portanto, apesar do reconhecimento da autonomia da vontade no planejamento sucessório por meio da criação de uma holding, é essencial respeitar os limites legais estabelecidos. Por exemplo, não é permitido que as disposições relativas ao patrimônio familiar prejudiquem os direitos dos herdeiros necessários ou de terceiros. Além das ferramentas convencionais do Direito Sucessório, como a limitação das disposições em testamento, a anulação de doações excessivas e o dever de colação, outras opções legais como a desconsideração da personalidade jurídica, a desconsideração inversa da personalidade jurídica e a desconsideração por grupo econômico podem ser acionadas. É importante ressaltar que as entidades jurídicas têm personalidade jurídica própria, e seus ativos não devem ser confundidos com os ativos dos sócios. No entanto, em situações excepcionais, essa autonomia e independência legal das pessoas jurídicas podem ser ignoradas 29 por meio da desconsideração da personalidade jurídica. Esse recurso é aplicado em circunstâncias específicas, quando se identifica que a entidade jurídica foi utilizada como instrumento para cometer fraude, abuso de direitos ou confusão patrimonial, como explicado por Fabio Ulhoa Coelho (1989, p.54). Sobre o tema Rolf Madaleno (2014) explica que: A boa-fé é um modelo de comportamento esperado de um bom chefe de família, de um profissional ou de um empresário, sócio ou administrador, qual seja, é dever de qualquer cidadão, devendo obrar com lealdade e com a diligência de um bom homem de negócios, evitando sua inclinação por qualquer manobra fraudulenta, contrariando os deveres éticos e jurídicos de um empresário. A desconsideração da personalidade jurídica tutela o princípio da boa-fé e não se compadece com o uso de formas jurídicas, quando mascaram o propósito de elidir legítimas obrigações. Também na prática brasileira vem sendo utilizada a fórmula societária para partilhar em vida, quinhões ou meações desiguais, servindo a desconsideração da personalidade jurídica para afastar o uso impróprio e abusivo da pessoa jurídica com o intuito de fraudar direitos inerentes ao Direito de Família e ao Direito das Sucessões. A utilização incorreta do planejamento sucessório na tentativa de contornar a lei também é identificada pelos autores Flávio Tartuce e Giselda Hironaka (2019), que fazem referência aos autores Mario Luiz Delgado e Jânio Urbano Marinho Junior, conforme suas palavras: Apesar dessas múltiplas opções, não se pode negar que, nos últimos anos, o planejamento sucessório tem sido utilizado com o intuito de praticar fraudes, buscando, muitas vezes, a malfadada “blindagem patrimonial”, especialmente de devedores contumazes. Tal preocupação não passou despercebida por Mário Luiz Delgado e Jânio Urbano Marinho Júnior, que citam as holdings familiares, muitas vezes utilizadas como “fachada” por sócios de fato, para desvios patrimoniais e de finalidade da pessoa jurídica, visando à fraude à execução ou em face de credores. Segundo eles: a proliferação de situações como essas, de mau uso do planejamento sucessório por profissionais inescrupulosos, com intuito de fraude, compromete e enfraquece essa importante ferramenta, na medida em que se põe sob suspeita diversos atos e negócios jurídicos realizados em vida pelo autor da herança e resultando nas maiores controvérsias sucessórias levadas ao Poder Judiciário. A segurança jurídica que seria propiciada pelo planejamento sucessório, dando lugar a imbróglios intermináveis, os quais, não raro, implicam em deterioração do acervo hereditário (Delgado; Marinho Junior, 2020). Assim, como uma solução para esses tipos de atos falsos e fraudulentos praticados pela entidade empresarial, incluindo os casos em que há suspeita de evasão à legítima através do uso da pessoa jurídica, podemos recorrer à aplicação do conceito de disregard, mais conhecido 30 como desconsideração da personalidade jurídica. Esse conceito encontra-se estabelecido no artigo 50 do Código Civil de 2002 e nos artigos 133 a 137 do Código de Processo Civil de 2015. Rolf Madaleno (2014), citando Roberto Martinez Ruiz, ensina que: Embora, em princípio, sócios e sociedade não se confundam como titulares do personalidades e patrimônios diferentes, a teoria da desestimação inclina-se em convencer da existência de casos excepcionais, onde deve ser superada esta separação patrimonial entre a pessoa jurídica e seus componentes, coibindo a fuga ou a limitação da responsabilidade dos sócios ou da sociedade. A personalidade jurídica precisa ser desconsiderada quando seus integrantes se escondem por detrás da máscara societária e empregam o instituto da personalidade jurídica para atingir, pelo abuso do direito, pela confusão patrimonial, ou pela fraude, finalidades totalmente condenáveis e incompatíveis com o Direito e com o objeto social da empresa, causando, sobretudo, incontáveis prejuízos a terceiros, como facilmente pode acontecer em detrimento do primado básico de proteção da legítima, suscitando como bem aponta Roberto Martinez Ruiz , litígios entre irmãos, que não raro transitam pela jurisdição penal, quebrando sempre e, em qualquer hipótese, o ideal de união da família, e litígios igualmente frequentes entre madrasta e enteados. É importante ressaltar que, na aplicação da desconsideração da personalidade jurídica, é essencial demonstrar a presença de elementos que justifiquem a medida, tais como o desvio de finalidade e a confusão patrimonial, com o intuito de fraudar os direitos dos credores. Esse instituto legal tem seus fundamentos na