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ZOONOSES 
AULA 5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Mariana Forgati 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Nesta aula, veremos que a proximidade do ser humano com outras 
espécies de animais, embora traga muitos benefícios, também pode ser bastante 
prejudicial. 
Veremos que os animais de companhia podem atuar como vetores de 
patógenos para o ser humano. Além disso, veremos as características gerais, 
bem como formas de controle de populações de animais sinantrópicos, 
principalmente pombos, roedores, quirópteros, bem como artrópodes que atuam 
como vetores de patógenos. 
Como vimos em conteúdos anteriores, animais sinantrópicos são aqueles 
adaptados a viver junto ao ser humano (syn – junto; anthro – humano), 
principalmente no ambiente urbano. Tratam-se de animais com relevância para 
a saúde pública por serem potenciais agentes causadores de zoonoses, e que 
se encontram no ambiente urbano principalmente em decorrência da ocupação 
humana dos ambientes naturais de forma desordenada. 
TEMA 1 – ANIMAIS DE COMPANHIA 
A relação do ser humano com outras espécies de animais é bastante 
antiga. A domesticação dos animais pelo ser humano data de aproximadamente 
12 mil anos. A partir de então, os animais de companhia, especialmente cães e 
gatos, foram submetidos, por seleção natural e artificial, a inúmeras alterações 
em relação ao seu temperamento, tamanho corporal, cor e outras características 
morfológicas, favorecendo a convivência com o ser humano. 
Atualmente, os animais de companhia estão presentes em 40% de lares 
ao redor do mundo (Bueno, 2020). Essa maior proximidade, apesar de trazer 
inúmeros benefícios, pode prejudicar o ser humano. Isso porque cães gatos 
participam dos ciclos biológicos de inúmeras zoonoses, tais como raiva, 
dermatofitose, esporotricose, salmonelose, toxoplasmose, giardíase, 
toxocaríase, larva migrans cutânea, hidatidose, leptospirose etc. 
A seguir, estão listadas algumas medidas profiláticas que, se adotadas 
pelo tutor responsável, minimizam os riscos de se contrair uma zoonose: levar o 
animal de companhia a visitas regulares ao médico veterinário para controle de 
parasitos internos e externos; manter a vacinação em dia; higienizar os locais 
onde os animais permanecem. 
 
 
3 
A principal problemática em relação aos animais domesticados está na 
superpopulação de cães e gatos errantes, especialmente nos países em 
desenvolvimento, o que favorece a transmissão e disseminação de diversas 
zoonoses. Outra questão é referente aos animais semidomiciliados, ou seja, 
animais com livre acesso às ruas podem entrar em contato com animais 
infectados e, ao retornarem para suas residências, podem carregar diversos 
patógenos para sus tutores (Andrade; Rossi, 2019). 
A Organização Mundial de Saúde recomenda as seguintes medidas 
preventivas a serem adotadas pelo Poder Público, para o controle da população 
de animais errantes: 
• Esterilização dos animais; 
• Promoção de uma ampla cobertura vacinal; 
• Incentivo à educação para uma guarda responsável; 
• Controle do comércio e criadouro de animais; 
• Identificação e registro dos animais; 
• Recolhimento seletivo dos animais de rua. 
TEMA 2 – POMBOS 
Os pombos são aves pertencentes ao gênero Columba, o qual inclui mais 
de 50 espécies, que se distribuem ao redor de todo o globo terrestre, sendo que 
a espécie mais bem adaptada ao ambiente urbano é Columba livia domestica. 
Esses animais vivem de quatro a seis anos nos ambientes urbanos, sendo que, 
no período reprodutivo e sob condições favoráveis, as fêmeas ovopositam de 10 
a 14 ovos por ano (Schuller, 2005). 
Essas aves, que foram introduzidas no Brasil em meados do Século XVI, 
têm sido favorecidas nos grandes centros urbanos pela ausência de predadores 
naturais, oferta abundante de abrigo (vãos e frestas da arquitetura urbana) e, 
principalmente, abundância de alimento em decorrência das atividades humanas 
(essas aves possuem pouca seletividade alimentar). Os pombos são tão 
dependentes dos seres humanos para a alimentação, que foi relatada a 
eliminação de uma população bastante numerosa de pombos em uma ilha 
inglesa após desocupação humana da mesma (Nunes, 2003). 
Além dos problemas sanitários, que discutiremos com mais detalhes na 
sequência, os pombos trazem problemas estéticos, uma vez que suas fezes, 
 
 
4 
além de causar sujidade nos locais públicos, danificam estruturas arquitetônicas, 
como prédios, monumentos, estátuas etc. Ainda se poderiam mencionar os 
problemas estruturais que o acúmulo de fezes, penas e restos de ninhos podem 
causar em decorrência do entupimento de calhas e sistemas de drenagem de 
água de chuva. 
Os pombos são importantes e conhecidos agentes causadores de 
zoonoses, uma vez que podem carregar uma série de microrganismos 
patogênicos e parasitas. 
Por exemplo, ectoparasitos dos pombos, como ácaros e carrapatos, 
podem infestar os moradores dos centros urbanos. Lembrando que os ácaros e 
carrapatos, além de problemas alérgicos, podem veicular microrganismos 
patogênicos, como os causadores da babesiose e doença de Lyme. 
Suas fezes podem ser portadoras de uma série de microrganismos 
causadores de doenças, como psitacose, salmonelose, histoplasmose, 
criptococose, toxoplasmose, shiguelose, listeriose, aspergilose, além de 
processos dermatológicos e respiratórios diversos (Nunes, 2003). 
Sendo assim, é fundamental o controle de pombos nos ambientes 
urbanos, já que, quanto maior o número de indivíduos, maior será o perigo de 
exposição aos agentes patogênicos liberados nas excretas dessas aves. 
Nunes (2003) elencou algumas medidas de controle de pombos nos 
ambientes urbanos, agrupando-as em cinco categorias: de baixo impacto; de 
baixo impacto e risco a outrem; medidas proibidas; medidas duráveis; e medidas 
complementares. 
Dentre as medidas de baixo impacto, podemos listar: inclinação de 
superfície de pouso; uso de estruturas que impeçam ou desestabilizem o pouso; 
emprego de espantalhos; emprego de refletores luminosos; emprego de aves de 
rapina; equipamentos sonoros de ultrassom; tiros de ar comprimido. 
Como medidas de baixo impacto e de risco a seres humanos e/ou outros 
animais temos o uso de: sonorizadores diversos; fogos de artifício; gel irritante 
de contato; cercas eletrificadas; armadilhas para captura; e quimioesterelizantes 
a base de hidrocloro (utilizado como método contraceptivo). 
Os pombos, apesar de serem animais introduzidos, são classificados 
como animais da fauna brasileira, de acordo com a portaria 20 do IBAMA 
(24/03/1994), sendo, portanto, passíveis de abrigo legal pela lei de crimes 
ambientais (Lei n. 9.605 de 1999). Logo, algumas medidas de controle são 
 
 
5 
proibidas, como: uso de armas de fogo, envenenamento e captura e soltura em 
outras áreas. 
Como mediadas duráveis, temos: vedação de espaços e vãos nas 
construções urbanas; e uso de abrigos controlados. 
Por fim, como sugestões de medidas complementares, temos: a 
destinação dos resíduos em geral; controle de formas alternativas de 
fornecimento voluntário de alimento; controle dos ectoparasitos; limpeza e 
desinfecção de locais de abrigo; e educação, orientação e esclarecimento da 
população a respeito da problemática. 
Essas medidas de controle somente serão efetivas se forem realizadas 
vistorias zoossanitárias periódicas nos locais afetados pela superpopulação de 
pombos, bem como no entorno desses ambientes, de modo a serem definidas 
medidas mais adequadas a cada situação. 
Por fim, não podemos deixar de comentar a importância de ações 
preventivas, nesse caso. Portanto, além do envolvimento das autoridades 
públicas, que deverão destinar verbas e capacitação técnica, é necessário que 
a comunidade local seja envolvida nesse processo. Logo, programas 
permanentes de educação e esclarecimento da comunidade sobre a 
problemática são fundamentais para que tais medidas decontrole tenham 
sucesso. 
TEMA 3 – ROEDORES 
Os roedores são mamíferos da ordem Rodentia, maior ordem de 
mamíferos, cuja principal característica é a presença de dois pares de dentes 
incisivos com crescimento contínuo. Existem cerca de 2 mil espécies de roedores 
espalhadas ao redor do mundo, o que corresponde a aproximadamente 40% das 
espécies de mamíferos existentes e conhecidas. Esse sucesso na ocupação de 
diversos ambientes se deve principalmente à sua adaptabilidade à uma 
variedade de condições abióticas e baixa especificidade alimentar. 
Dentre os roedores sinantrópicos, três espécies se destacam como 
potenciais transmissoras de zoonoses: Rattus novergicus, Rattus rattus e Mus 
musculus, os quais serão melhor caracterizados a seguir. 
Rattus novergicus (Figura 1), popularmente conhecido como ratazana ou 
rato de esgoto, é o maior roedor da família Muridae. Como principais 
características morfológicas desse roedor, temos: pelagem espessa com 
 
 
6 
coloração acastanhada na região dorsal e acinzentada na região ventral; o 
comprimento da cauda é menor que a do corpo e cabeça juntos; e o fato de que 
os adultos pesam de 200 a 350 gramas. São animais noturnos, que vivem em 
bandos, abrigando-se, preferencialmente, em tocas escavadas no solo. 
Entretanto, nos centros urbanos, eles vivem em redes de esgoto e de águas 
pluviais, depósitos de lixo etc. O controle desses animais é dificultado devido à 
neofobia, ou seja, medo daquilo que é novo; eles possuem aversão a iscas 
utilizadas para a captura. 
Figura 1 – Rattus norvergicus, popularmente conhecido por ratazana 
 
Crédito: Holger Kirk/Shutterstock. 
Rattus rattus (Figura 2) é o rato de telhado, que busca abrigo nos estratos 
mais altos do ambiente, como vãos, telhados e sótãos. Apesar de sua coloração 
ser semelhante à de R. novergicus, eles possuem a cauda maior que o 
comprimento do corpo e da cabeça juntos, além de terem menor tamanho 
corporal (100 a 200 gramas). São animais noturnos e também apresentam 
neofobia, apesar de menos acentuada que a das ratazanas. 
 
 
 
 
 
7 
Figura 2 – Rattus rattus, rato de telhado, rato preto ou rato de forro 
 
Crédito: Eric Isslee/Shutterstock. 
Mus musculus é o camundongo, com menor tamanho dentre as três 
espécies (15 a 20 gramas) e menor relevância epidemiológica. Por seres animais 
diminutos, noturnos e silenciosos, conseguem infestar residências e pontos 
comerciais durante muito tempo, sem serem notados. Entretanto, normalmente, 
as infestações por M. musculus são de fácil controle por rodenticidas (veneno de 
rato). 
Dentre as zoonoses transmitida pelos roedores, a mais preocupante é a 
leptospirose, cujo reservatório mais importante é R. norvegicus. A espécie 
Leptospira interrogans, sorovar Icterohaemorrhagiae, é altamente adaptada a 
este reservatório, no qual a infecção renal e eliminação pela urina podem durar 
anos (Bharti et al, 2003). 
Sendo assim, é fundamental que medidas de vigilância e controle da 
população urbana de roedores sejam realizadas, principalmente de forma 
programada, coordenada, em situações específicas, segundo critérios 
epidemiológicos e em consonância com as medidas propostas e preconizadas 
pelo Ministério da Saúde e por legislação vigente (Brasil, 2016). 
É importante mencionar que todas as ações, sejam de vigilância, 
prevenção, controle ou monitoramento, devem seguir protocolos que minimizem 
custos e riscos envolvidos, sejam para o ser humano, sejam para outros seres 
vivos. 
A seguir, estão relacionados alguns dos componentes do manejo 
integrado de roedores urbanos (Brasil, 2016): 
• Inspeção do local infestado; 
• Identificação da(s) espécie(s) infestante(s); 
• Medidas preventivas e corretivas (antirratização) – educação em saúde. 
 
 
8 
• Adoção de medidas de controle (desratização), com a proposta de 
reduzir, a níveis toleráveis, a infestação por roedores. Os únicos raticidas 
(ou rodenticidas) permitidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária 
(ANVISA) são os anticoagulantes à base de hidroxicumarina, nas formas 
de: pó de contato (usado exclusivamente no interior das tocas), isca 
granulada e isca ou bloco impermeável (parafinado ou extrusado). A 
seguir, veremos que o controle de cada espécie de roedor requer uma 
forma preferencial de hidroxicumarina. 
Para o controle de R. novergicus, a forma mais eficiente é aplicação de 
pó de contato no interior das tocas. Já o controle de R. rattus é mais eficiente 
com a utilização da isca granulada acondicionada em porta-iscas. Por se tratar 
de uma espécie encontrada comumente dentro do ambiente domiciliar, sendo 
que o controle químico envolve riscos aos moradores do local; devido ao seu 
comportamento neofílico (atração pelo que é novo), o controle de M. musculus é 
eficiente através do uso de rodenticidas em caixas porta-iscas, com iscas na 
forma granulada. 
Após o controle da infestação, é necessário que sejam adotadas ações 
de monitoramento, para avaliar a efetividade das medidas de controle e, se 
necessário, abordar uma nova estratégia de controle. 
É importante ressaltar que muitas das intervenções dependem de 
serviços que fogem ao escopo da área de vigilância de zoonoses. Como o 
manejo ambiental com o objetivo de controle de roedores requer melhorias na 
infraestrutura urbana e a mudança de comportamento da população, é possível 
que ocorram reinfestações locais previamente controlados (Brasil, 2016). 
TEMA 4 – QUIRÓPTEROS 
Os quirópteros compreendem uma ordem de mamíferos voadores 
extremamente rica e diversificada, conhecida por morcegos. No Brasil, os 
quirópteros representam a segunda maior ordem de mamíferos, com 170 
espécies de morcegos (Paglia et al. 2012), muitas delas endêmicas. 
Esses animais exploram recursos alimentares e ocupam ambientes 
bastante diversos, podendo ser encontrados em praticamente todos os domínios 
morfoclimáticos terrestres, exceto em locais com grandes altitudes, polos e 
algumas ilhas oceânicas. Além disso, desempenham papel ecológico de muita 
 
 
9 
relevância, como polinização, dispersão de sementes e controle de insetos, 
sendo essenciais para a manutenção dos ecossistemas naturais. Entretanto, 
devido ao fato de algumas espécies conviverem com os seres humanos nos 
ambientes urbanos e por serem potenciais transmissores de zoonoses, esses 
animais apresentam importância para a saúde pública (Silva et al., 2013). 
Muitas espécies de quirópteros vêm sofrendo um processo de 
sinantropização, devido à expansão urbana e agrícola, o que contribui com a 
supressão dos seus habitats naturais. O ambiente urbano contribui 
principalmente para o estabelecimento de quirópteros fitófagos, já que a 
vegetação urbana tem potencial para ser fonte de alimento para a família dos 
quirópteros filostomídeos. Assim como a iluminação pública favorece a 
concentração de insetos, atraindo, dessa forma, quirópteros insetívoros 
(Pacheco et al., 2010). 
O processo sinantrópico de algumas espécies de quirópteros causam 
diversos transtornos aos seres humanos, como: adentramento nas edificações 
e defecação nos ambientes urbanos, bem como maior proximidade aos animais 
domésticos. 
Os quirópteros estão associados a zoonoses causadas por vários tipos de 
agentes etiológicos, como protozoários (tais como Plasmodium, causador da 
malária, Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas, e Leishmania, 
causador da leishmaniose), vírus (além do vírus causador da raiva, pertencente 
à família Rhabdoviridae, vírus das famílias Arenaviridae, Coronaviridae, 
Flaviviridae, Herpesviridae e Togaviridae, muitas das quais associadas a 
infecções virais emergentes), bactérias (como as dos gêneros Pasteurella, 
Salmonella, Escherichia e Yersinia) e fungos (como Histoplasma capsulatum, 
causador da histoplasmose; Corrêa et al., 2013). 
Dentre as infecções zoonóticas citadas anteriormente, a raiva é aquela 
mais associada à presença dos quirópteros.Desde o início do Século XX, 
Desmodus rotundus (Figura 3), a principal espécie hematófaga do Brasil, tem 
sido associada à transmissão da raiva. Atualmente, essa espécie é considerada 
o mais importante reservatório e vetor desta doença, apesar do aumento no 
número de identificação do vírus da raiva em morcegos não hematófagos, em 
partes, devido ao maior número de estudos realizados com animais e à maior 
divulgação dos casos na mídia (Corrêa et al., 2013). Entretanto, segundo os 
dados dos Centros de Controle de Zoonoses (CCZs), os morcegos molossídeos 
 
 
10 
são os mais envolvidos nos adentramentos em edificações e, portanto, 
representam risco em potencial para os seus moradores (Pacheco et al., 2010). 
No estado de São Paulo, por exemplo, a espécie frugívora Artibeus lituratus e a 
insetívora Molossus nigricans são as mais comumente encontradas com o vírus 
rábico (Sodré et al., 2010). No Paraná, entre 2004 e 2008, as espécies mais 
encaminhadas pelos CCZs, o Laboratório Central do Estado (LACEN), foram 
Molossus molossus, Molossus rufus e A. lituratus, sendo a última com maior 
número de indivíduos positivos para a raiva (Pacheco et al., 2010). 
Figura 3 – Desmodus rotundus principal espécie hematófaga do Brasil, sendo 
associado, também, à transmissão do vírus da raiva 
 
Crédito: Mendesbio/Shutterstock. 
O controle das populações de quirópteros nos ambientes urbanos é 
bastante complexa. Além do pouco conhecimento sobre o comportamento das 
espécies no ambiente urbano, a captura, coleta e manejo de morcegos devem 
ser precedidos de autorização de órgãos ambientais. Além disso, essas ações 
somente podem ser executadas por profissionais habilitados e cadastrados no 
Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (Brasil, 2016). 
Um plano de ação eficiente para o controle das populações de quirópteros 
nos ambientes urbanos requer, segundo Pacheco e colaboradores (2010): 
 
 
11 
• Levantamento das espécies e número de indivíduos; 
• Monitoramento dessas populações; 
• Incremento de estudos sobre a biologia, ecologia e comportamento 
(etologia) das espécies sinantrópicas; 
• Implementação de Centro de Estudos e Anilhamento de Morcegos 
(CEAM), para a compreensão das dinâmicas populacionais; 
• Estudos epidemiológicos para a melhor compreensão morcego-homem; 
• Elaboração de programas de educação ambiental e em saúde, para 
orientação da população sobre a relevância ecológica dos morcegos, bem 
como desmistificar da ideia do "morcego meramente transmissor de 
doenças", ao mesmo tempo, trazer informações relevantes para a 
prevenção de zoonoses transmitidas por esses animais; 
• Atuação em conjunto com as Secretaria de Obras e demais órgãos 
responsáveis pela normatização das edificações e planejamento urbano, 
de modo a reduzir dois dos fatores de crescimento populacional desses 
animais nas áreas urbanas: abrigo e alimento; 
• Construção de abrigos artificiais, objetivando estudos científicos, turismo, 
educação ambiental, avaliando o convívio dos morcegos em relação à 
população humana, sem causar danos ao meio ambiente; 
• Incentivo do uso de espécies vegetais fornecedoras de alimento para 
morcegos fitófagos nos planos de recuperação de áreas degradadas em 
locais distantes dos centros urbanos; 
• Campanhas eficientes de vacinação animal. 
A expectativa é que, com o aumento de informações, exista maior suporte 
aos programas de controle das zoonoses transmitidas pelos quirópteros nos 
ambientes urbanos. 
TEMA 5 – ARTRÓPODES VETORES DE DOENÇAS 
Antes de abordarmos os principais artrópodes vetores de zoonoses 
propriamente ditos, precisamos revisar o conceito de vetor. Para a Parasitologia, 
vetor é o veículo capaz de transmitir o parasito entre hospedeiros. O vetor pode 
ser fômite (ou inanimado), mecânico (quando está envolvido apenas com o 
transporte do parasito) ou biológico, quando está envolvido no ciclo de vida do 
parasito, além da sua transmissão para o hospedeiro definitivo. 
 
 
12 
O controle dos vetores é precedido de sua captura e identificação, bem 
como definição da área de abrangência do vetor, sendo essa a área prioritária e 
alvo para a aplicação das medidas de controle vetorial. 
Na Tabela 1, você poderá verificar quais são os principais vetores de 
infecções com grande relevância epidemiológica no Brasil (Aedes aegypti, 
Anopheles, Lutzomyia, triatomíneos, carrapatos e pulgas), em qual ciclo 
parasitário, determinado vetor está envolvido, quais suas principais 
características, medidas de identificação espécie e área-alvo, bem como 
medidas de controle propostas no Manual de Vigilância, Prevenção e Controle 
de Zoonoses, do Ministério da Saúde (Brasil, 2016). 
 
 
 
13 
Tabela 1 – Identificação e medidas de controle dos principais artrópodes vetores 
de patógenos no Brasil 
Aedes aegypti 
Ciclo 
biológico 
envolvido 
Características Identificação da 
espécie e da área-
alvo 
Controle 
-dengue; 
-
chikungunya; 
-zika; 
- febre 
amarela 
(urbano) 
- repasto 
sanguíneo das 
fêmeas e 
ovoposição 
crepuscular; 
- ovos 
depositados 
na superfície 
da água; 
- preferência 
por recipientes 
escuros ou 
sombreados 
- coleta e 
identificação de 
ovos, larvas e 
pupas requer visita 
domiciliar (equipe 
técnica 
capacitada) 
QUÍMICO: uso criterioso 
de inseticidas; 
MECÂNICO: manejo 
ambiental para eliminar 
vetor (ex. eliminar focos 
de água parada); 
BIOLÓGICO: 
predadores (peixes e 
invertebrados 
aquáticos) e patógenos 
(Bacillus thuringiensis 
israelenses) e insetos 
geneticamente 
modificados 
Anopheles 
Ciclo 
biológico 
envolvido 
Características Identificação da 
espécie e da área-
alvo 
Controle 
- malária - fêmeas 
hematófagas, 
mais ativas no 
início da noite; 
- procria-se em 
águas de baixo 
fluxo, 
profundas, 
límpidas e 
sombreadas, 
- estudos para 
verificar alterações 
do horário de 
atividade; 
- reconhecimento 
do território, 
composição e a 
caracterização das 
espécies 
ocorrentes como 
QUÍMICO: borrifação 
residual intradomiciliar; 
mosquiteiros 
impregnados com 
inseticidas de longa 
duração; nebulização 
espacial. 
MECÂNICO: drenagem, 
aterro ou modificação do 
fluxo de água (caso de 
 
 
14 
com pouco 
aporte de 
matéria 
orgânica e sais 
subsídio para a 
definição de áreas 
receptivas (onde a 
presença, a 
densidade e a 
longevidade do 
vetor tornam 
possível a 
transmissão 
autóctone). 
criadouros 
permanentes); limpeza 
da vegetação das 
margens; 
BIOLÓGICO: exige-se 
avaliação criteriosa para 
a utilização de 
biolarvicidas, 
acompanhado de 
intervenções de controle 
vetorial destinadas a 
mosquitos adultos. 
Lutzomyia 
Ciclo 
biológico 
envolvido 
Características Identificação da 
espécie e da área-
alvo 
Controle 
- 
leishmaniose 
visceral (LV 
ou calazar); 
- 
leishmaniose 
tegumentar 
(LT ou úlcera 
de Bauru) 
- fêmeas 
hematófagas 
crepuscular e 
noturna; 
- ovopositam 
em locais 
úmidos ricos 
em matéria 
orgânica em 
decomposição 
e protegidos 
da luz. 
- LV: investigação 
entomológica em 
áreas de surtos, 
com transmissão 
moderada e 
intensa; 
- LT: estudos 
bioecológicos das 
espécies vetoras. 
QUÍMICO: O controle 
químico (inseticidas de 
ação residual) é 
indicado em áreas com 
registro do primeiro caso 
autóctone de LV; no 
caso de LT – mais de um 
caso humano num 
período máximo de 6 
meses ou ocorrência em 
crianças menores de 10 
anos. 
MECÂNICO: forma 
preventiva de redução 
de criadouros. 
BIOLÓGICO: não há 
recomendações 
Triatomíneos 
 
 
15 
Ciclo 
biológico 
envolvido 
Características Identificação da 
espécie e da área-
alvo 
Controle 
- doença de 
Chagas 
- hemípteros 
hematófagos; 
- vivem em 
domicílios e 
peridomicílios, 
principalmente 
em residências 
precárias. 
- alimentos 
(açaí) 
- vigilância ativa – 
pesquisa 
programada;- vigilância passiva 
– notificação da 
presença dos 
insetos pelos 
moradores 
- vigilância do 
processamento do 
açaí (térmico) 
QUÍMICO: o uso de 
inseticidas piretroides 
de ação residual, 
aplicado no intra e 
peridomicílio, é 
recomendado apenas 
em situações 
específicas. 
MECÂNICO: tratamento 
térmico do açaí 
BIOLÓGICO: não há 
recomendações. 
Carrapato (Amblyomma cajennense) 
Ciclo 
biológico 
envolvido 
Características Identificação da 
espécie e da área-
alvo 
Controle 
- febre 
maculosa 
- doença de 
Lyme 
- aracnídeo 
hematófago; 
- larvas 
conhecidas 
por micuins; 
- adultos 
conhecidos 
por carrapato-
estrela; 
- verificar a 
presença da 
população de 
vetores 
estabelecida; 
- verificar 
presença de 
condições naturais 
favoráveis para o 
estabelecimento 
da população. 
- objetivo de manter 
níveis mínimos de 
infestação; 
QUÍMICO: 
recomendado em caso 
de surtos de febre 
maculosa, em áreas 
superpovoadas (decisão 
conjunta entre 
diferentes esferas e de 
acordo com a legislação 
ambiental vigente), ou 
infestações 
intradomiciliares. Obs: é 
recomendado o controle 
periódico com 
 
 
16 
carrapaticidas em 
animais domésticos e de 
produção. 
MECÂNICO: 
manutenção de 
vegetação rasteira. 
BIOLÓGICO: não há 
recomendações. 
pulgas 
Ciclo 
biológico 
envolvido 
Características Identificação da 
espécie e da área-
alvo 
Controle 
- peste 
bubônica; 
- tifo 
- inseto 
sifonáptero 
hematófago 
com 
preferência 
parasitária em 
roedores. 
- ações de 
vigilância devem 
ser constantes nas 
áreas focais (de 3 
em 3 anos), o que 
requer a captura e 
exame das pulgas. 
QUÍMICO: uso de 
inseticidas (carbamatos) 
associada a 
desratização (quando 
for o caso de pulgas 
contaminadas) 
MECÂNICO E 
BIOLÓGICO: não há 
recomendações. 
Fonte: Forgati, 2021. 
Lembrando que, além das medidas de controle químico, mecânico e 
biológico propostas, devem ser implantadas medidas de educação em saúde 
continuadas voltadas para a prevenção da doença de transmissão vetorial alvo, 
para que a própria população seja ativa no controle das zoonoses. 
NA PRÁTICA 
Gostaria de propor algumas questões para revisar todo o conteúdo visto 
ao longo dessa aula sobre animais sinantrópicos. 
• Qual a definição de animais sinantrópicos? 
• Quais são as principais espécies sinantrópicas dos ambientes urbanos? 
• Quais os fatores envolvidos no estabelecimento de diferentes espécies 
nos ambientes urbanos? 
 
 
17 
• O que garante o sucesso na ocupação dos ambientes urbanos por 
espécies originalmente silvestres? 
• Qual é a maior problemática relacionada aos animais de companhia? 
• Quais as principais zoonoses transmitidas pelos animais sinantrópicos 
vistos ao longo desta aula? 
• Quais medidas são comuns a todas as espécies sinantrópicas vistas ao 
longo da nossa aula? 
FINALIZANDO 
Nessa aula conhecemos alguns dos animais sinantrópicos, ou seja, que 
vivem em proximidade com o ser humano, e que podem ser vetores de inúmeras 
zoonoses. 
Dentre os animais vistos nesta aula, aqueles que o ser humano traz 
voluntariamente para sua residência são os animais de companhia, 
especialmente cães e gatos. Esses animais participam do ciclo de inúmeros 
patógenos e precisam de consultas periódicas com um médico veterinário para 
controle parasitário e regularização das vacinas, sendo o problema maior 
envolvido com os animais errantes e semidomiciliados. 
Pombos e algumas espécies de roedores (R. norvergicus, R. rattus e M. 
musculus) são bastante adaptados aos ambientes urbanos, principalmente 
devido à grande disponibilidade de alimento e de locais para abrigo. Os 
quirópteros fitófagos e insetívoros, principalmente, vêm sofrendo um processo 
de sinantropização, devido à expansão urbana e agrícola. 
Muitos artrópodes atuam como vetor mecânico ou biológico de patógenos 
causadores de zoonoses. Nesta aula, vimos que cada espécie possui suas 
particularidades em relação aos mecanismos de controle, que devem seguir 
protocolos baseados em evidências científicas e que respeitem a legislação 
ambiental vigente, principalmente no que se diz respeito ao uso de inseticidas. 
Com isso, além de se obter sucesso no controle vetorial, evitam-se a seleção de 
linhagens resistentes, a exposição desnecessária da população a compostos 
potencialmente tóxicos e a contaminação ambiental. 
Embora todas as espécies sinantrópicas estudadas nesta aula tenham 
suas particularidades, algo que é comum na maioria dos casos é a maior 
proliferação de animais nas áreas urbanizadas, como consequência da 
 
 
18 
ocupação humana de forma desordenada, o que desafia a nossa capacidade de 
apresentar soluções a tempo de conter o avanço dessas espécies. 
 
 
 
19 
REFERÊNCIAS 
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