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Departamento de Engenharia Civil Universidade de Aveiro Resistência de Materiais CABOS Humberto Varum Julho 2007 Cabos Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro Humberto Varum 1 / 30 CABOS 1 – Generalidades Figura 1 – Cabos e “caminho de forças” O cabo é um elemento estrutural importante e muito utilizado. Devido ao seu pequeno diâmetro comparado com o seu comprimento, e à sua própria constituição, considera-se perfeitamente flexível, como se em cada uma das suas secções transversais houvesse uma rótula. Um cabo, portanto, não tem resistência à torção, nem à flexão, nem ao esforço transverso, nem à compressão. Só pode haver esforço normal de tracção dirigido em cada ponto segundo a tangente ao eixo do cabo (Figura 2) e que, por vezes, se designa por tensão no cabo. Este modelo traduz muito bem a realidade e permite que o cabo possa transmitir também um esforço normal de compressão, como se explica a seguir. Figura 2 – Esforço normal de tracção num cabo Note-se que um cabo não carregado não tem forma definida, é totalmente flexível e não pode suportar nenhuma força. É precisamente o esforço de tracção que, pondo o cabo em tensão, define ao mesmo tempo a sua configuração. Portanto, para se tornar rígido um cabo é preciso traccioná-lo pelo que não se pode conceber uma estrutura em cabos sem ser previamente carregada. Cabos Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro Humberto Varum 2 / 30 O peso próprio da estrutura basta, por vezes, para garantir esta pré-carga (peso próprio do tabuleiro das pontes suspensas, por exemplo), mas por vezes é preciso criar essa pré-tensão nos cabos da estrutura logo na fase da sua montagem por uma operação de pré-tensão que introduz tracções iniciais nos cabos (coberturas com membranas leves, por exemplo). Para entender-se a necessidade desta operação e para imaginar-se uma maneira de a realizar basta pensar no que se passa quando se monta uma tenda de campismo ou quando se abre um guarda-chuva (a tela da tenda ou do guarda-chuva é uma rede de cabos em miniatura). Figura 3 – Exemplos de estruturas de cabos 1.1 – Pré-tensão A pré-tensão faz-se em quase todas as estruturas de cabos, pois oferece três vantagens essenciais: Torna rígida a estrutura e define a sua geometria; Permite um controlo dos esforços internos, isto é, uma distribuição harmoniosa dos esforços totais (pré-tensão e esforços provenientes do carregamento); Permite absorver os esforços de compressão devidos ao carregamento. Com feito, se um elemento de cabo estiver submetido a uma tracção inicial P , ele pode suportar que se lhe sobreponha uma compressão N , desde que PN Cabos Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro Humberto Varum 3 / 30 Figura 4 – Graças à pré-tensão P, um cabo pode transmitir um esforço normal de compressão N, desde que Ncom mais vantagens por uma pré-compressão introduzida no betão através de um cabo traccionado apoiado no próprio betão. A tracção no cabo transforma-se, por reacção, num esforço de compressão no betão (Figura 11). Além disso, dando uma ligeira curvatura ao cabo, faz-se com que este suporte o peso próprio da viga de betão. Figura 11 – Viga de betão pré-esforçada por um cabo curvo A maior parte das grandes estruturas de betão (vigas, lajes, placas, cascas, membranas, pontes) são hoje pré-esforçadas por longos cabos curvos. 4 – Catenária Seja ( )p s uma carga uniformemente distribuída ao longo do comprimento de um cabo (suspensão em catenária), por exemplo, o peso próprio do cabo. Figura 12 – Catenária Figura 13 – Equilíbrio de um troço de cabo Cabos Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro Humberto Varum 8 / 30 Da geometria: dytg dx ϕ = (1) Do equilíbrio de forças: p stg H ϕ ⋅ = (2) Igualando as expressões (1) e (2), virá: dy p s dx H ⋅ = Fazendo p Ha = , poder-se-á escrever a seguinte relação diferencial de onde se pode deduzir a equação da catenária: dy s dx a = De seguida apresentam-se as expressões fundamentais para a análise de um cabo com suspensão em catenária. A dedução das mesmas pode encontrar-se em C. Quaresma [3]. Equação da catenária ( ) xy x a ch a ⎛ ⎞= ⋅ ⎜ ⎟ ⎝ ⎠ Demonstrar que esta equação do cabo satisfaz a equação diferencial. Cabos Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro Humberto Varum 9 / 30 Comprimento da catenária 2 2 ls a sh a ⎛ ⎞= ⋅ ⋅ ⎜ ⎟⋅⎝ ⎠ ( ) xs x a sh a ⎛ ⎞= ⋅ ⎜ ⎟ ⎝ ⎠ Esforço de tracção em cada ponto da catenária ( ) ( )N x p y x= ⋅ (referido ao sistema de eixos indicados na Figura 13) Equações simplificadas dos cabos em catenária 2 ( ) 2 x xy x a ch a a a ⎛ ⎞= ⋅ ≅ +⎜ ⎟ ⋅⎝ ⎠ 3 2( ) 6 x xs x a sh x a a ⎛ ⎞= ⋅ ≅ +⎜ ⎟ ⋅⎝ ⎠ Nota: A validade de todas estas expressões anteriores só se verifica para os eixos representados na Figura 13, dependente do parâmetro a. 4.1 – Exercício Dois cabos estão ligados a uma torre de transmissão em B. Uma vez que a torre é esbelta, a componente horizontal da resultante das forças exercidas pelos cabos em B tem de ser nula. Sabendo que a massa por unidade de comprimento é de 0.4 kg/m, determine: a) a flecha h; b) a máxima força de tracção em cada cabo. comprimento total da catenária comprimento de um troço da catenária Cabos Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro Humberto Varum 10 / 30 Figura 14 – Dois cabos em catenária ligados a uma torre de transmissão Resolução a) ?h = 0 4 9 81 3 924p m g . . . N/m= ⋅ = × = ( ) xy x a ch a Ha p ⇒ = ⋅ ⇒ = Figura 15 – Equação geral da catenária Cabo 2 ( 60.0l m= ): ( )2 2 2 2 2 xy x a ch a Ha p ⎛ ⎞ ⇒ = ⋅ ⎜ ⎟ ⎝ ⎠ ⇒ = Figura 16 – Catenária 2 2( 30.0; 3.0)C CEm C x y a= = + ⇒ 2 2 2 2 30.03.0 150.5a a ch a m a ⎛ ⎞ ⇒ + = ⋅ ⇔ =⎜ ⎟ ⎝ ⎠ 2 2 3 924 150 5 590 6 H p a . . . N= ⋅ = × = Cabos Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro Humberto Varum 11 / 30 Cabo 1 ( 90.0l m= ): ( )1 1 1 1 1 xy x a ch a Ha p ⎛ ⎞ ⇒ = ⋅ ⎜ ⎟ ⎝ ⎠ ⇒ = Figura 17 – Catenária 1 1 2 1 1590 6 150 5H H . N p a a . m= = = ⋅ ⇒ = Porque em B apenas surge reacção vertical, dadas as características de ligação da torre à sua fundação 1( 45.0; )B BEm B x y a h= = + ⇒ 1 1 1 45.0a h a ch a ⎛ ⎞ ⇒ + = ⋅ ⇔⎜ ⎟ ⎝ ⎠ 6.78h m= b) ?máxN = ( ) ( ) má x má xN x p y x N p y= ⋅ ⇒ = ⋅ Cabo 1: 1 1 1 1 150 5 6 78 157 28 ,máx ,A ,By y y a h . . . m= = = + = + = 1 1 3 924 157 28 617 16 ,má x ,máxN p y . . . N= ⋅ = ⋅ = Cabo 2: 2 2 2 2 3 0 153 5,máx ,B ,Cy y y a . . m= = = + = 2 2 602 33 ,má x ,máxN p y . N= ⋅ = ∴ 617 16 má xN . N= nos apoios e surge no cabo 1, junto aos seus apoios Cabos Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro Humberto Varum 12 / 30 5 – Cabo parabólico Cabo sujeito a uma carga uniformemente distribuída ao longo de uma linha horizontal (suspensão em parábola), como por exemplo o cabo de uma ponte suspensa (ver Figura 6). 5.1 - Cabo parabólico com amarrações ao mesmo nível Figura 18 – Cabo parabólico com apoios ao mesmo nível a) b) Figura 19 – Equilíbrio de um troço de cabo parabólico: a) equilíbrio das forças envolvidas, b) geometria Por equilíbrio: 0 0 . 0 (3) x y F dH H const dVF p dx dV p dx ⎧ = ⇒ = ⇒ = ⎪ ⎨ = ⇒ ⋅ = ⇒ =⎪⎩ ∑ ∑ dytg dx ϕ = (4) ( )V x tg H ϕ = (5) da geometria do troço de cabo (Figura 19-b) do equilíbrio de forças na secção do cabo (Figura 19-a); N constitui uma força equivalente ao sistema de forças V e H Cabos Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro Humberto Varum 13 / 30 Igualando as expressões (4) e (5), virá: H xV dx dy )( = Derivando a expressão anterior em ordem a x: ( )2 2 1 d V xd y dx H dx = ⋅ Sabendo, do equilíbrio de forças verticais (expressão 3) que: dV p dx = , virá: ∴ 2 2 d y p Hdx = Esforço de tracção no cabo 2 2 2 2 1 1V dyN H V H H H dx ⎛ ⎞ ⎛ ⎞ ⎜ ⎟= + = ⋅ + = ⋅ +⎜ ⎟ ⎜ ⎟⎝ ⎠ ⎜ ⎟ ⎝ ⎠ (6) Da análise desta expressão, deduz-se: quanto maior for a inclinação do cabo, maior será o esforço axial de tracção N ( H é constante); no vértice do cabo, 0ϕ = , o esforço axial N no cabo é igual à força horizontal H. Geometria do cabo A partir da equação diferencial do cabo, pode-se determinar a equação que define a geometria do cabo. Equação diferencial do cabo parabólico H = const. dy tg dx ϕ= Cabos Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro Humberto Varum 14 / 30 H p dx xyd =2 2 )( Integrando a expressão duas vezes em relação a x: 1 )( Cx H p dx xdy +⋅= 2 1 22 py( x ) x C x C H = ⋅ + ⋅ + ⋅ em que as constantes de integração 1C e 2C dependem das condições fronteira (nos apoios). Seja o cabo parabólico de flecha máxima f, vão l, amarrações A e B ao mesmo nível e origem do sistema de eixos no vértice do cabo, como representado na Figura 20: Figura 20 – Cabo parabólico de flecha máxima f e apoios ao mesmo nível Para a determinação das constantes 1C e 2C , considerem-se as seguintes condições fronteira: No vértice, para: 20 0 0x y C= → = ⇒ = No vértice, e por simetria, a tangente ao cabo é horizontal ( 0ϕ = ). Assim, para: 10 0 0dyx C dx ϕ= → = = ⇒ = Cabos Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro Humberto Varum 15 / 30 Equação do cabo parabólico ∴ 2 ( ) 2 p xy x H ⋅ = ⋅ Para 2 2 2 8 8 l p l p lx y f f H H f ⋅ ⋅ = → = ⇒ = ⇒ = ⋅ ⋅ (7) Inclinação do cabo em cada ponto ( ) 2 ( ) 8dy x p x f xx dx H l ϕ ⋅ ⋅ ⋅ = = = (8) Esforço de tracção no cabo parabólico De (6), sabe-se: 2 ( ) 1 dyN x H dx ⎛ ⎞= ⋅ + ⎜ ⎟ ⎝ ⎠ Introduzindo as expressões deduzidas para H e ( )dy x dx (expressões 7 e 8, respectivamente), virá: 22 2 8( ) 1 8 p l f xN x f l ⋅ ⋅ ⋅⎛ ⎞= ⋅ + ⎜ ⎟⋅ ⎝ ⎠ ∴ 22 2( ) 8 lN x p x f ⎛ ⎞ = ⋅ +⎜ ⎟⋅⎝ ⎠ Pode-se concluir que N é máximo em A e B. Assim: 22 2 2 8 4máx l l lN N x p f ⎛ ⎞⎛ ⎞= = ± = ⋅ +⎜ ⎟⎜ ⎟ ⋅⎝ ⎠ ⎝ ⎠ Cabos Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro Humberto Varum 16 / 30 Note-se que a validade desta expressão só se verifica para cabos parabólicos com as extremidades à mesma altura, isto é, com os apoios A e B à mesma cota. Comprimentodo cabo parabólico Entre 2A lx = − e 2B lx = + o comprimento total do cabo, s, é dado pela expressão: 2 22 2 2 4 161 16 ln 2 8 f l fls l f f l ⎛ ⎞⋅ + + ⋅ ⎜ ⎟= ⋅ + ⋅ + ⋅ ⎜ ⎟⋅ ⎝ ⎠ 5.2 – Exercício Uma passagem suspensa para peões apresenta o esquema e dimensões representados na Figura 21. Sabendo que o passadiço deverá suportar uma carga uniformemente distribuída de 7.5 kN/m2 (peso próprio já incluído), dimensione a área de cada um dos cabos de aço, e calcule o respectivo comprimento. Dados: 1860ydf MPa= a) b) Figura 21 – Ponte suspensa: a) alçado; b) perfil transversal Cabos Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro Humberto Varum 17 / 30 Resolução 27 5 7 5 4 0 30 0p . kN / m p . . . kN / m= ⇒ = × = Figura 22 – Cabo parabólico Para um cabo parabólico ( ) 2 2 p xy x H ⇒ ⋅ = ⋅ Para o sistema de eixos adoptado, o ponto B tem as coordenadas ( );2 l f : Em B, 6 0 1 52B B lx . m y f . m= = → = = 230 0 6 01 5 360 2 . .. H kN H × = ⇔ = ⋅ ( ) 22 2 8 lN x p x f ⎛ ⎞ = ⋅ +⎜ ⎟⋅⎝ ⎠ O esforço máximo, máxN , acontece em A e em B, isto é, para 2 lx = ± Mas, o esforço máximo pode ainda ser calculado por outra via: 2 2 B BN H V= + H é constante em todo o cabo parabólico Cabos Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro Humberto Varum 18 / 30 Por equilíbrio (de meio cabo): 0yF = ⇒∑ 180BV kN= Figura 23 – Equilíbrio de metade do cabo 2 2 2 2360 180 402 5B BN H V . kN= + = + = 180 26 57 360 B B Varctg arctg . º H ϕ = = = Figura 24 – Esforço máximo no cabo (em B) Como calcular a secção do cabo sA ? 4 2 2 3 402 5 2 16 10 2 16 1860 10 máx s s yd N .A A . m . cm f −= ⇔ = = × = × Como a ponte é suspensa por dois cabos, 2 2 21 08 4 cabo cabo caboA . cm r φπ π= = ⋅ = ⋅ 1 174 0 587 cabo cabo . cm r . cm φ⇒ = ⇒ = Cálculo do comprimento do cabo: ( ) 2 22 2 2 4 16112 16 2 8AB f l fls s l m l f ln f l ⎛ ⎞⋅ + + ⋅ ⎜ ⎟= = = + ⋅ + ⋅ ⋅ ⎝ ⎠ 12 483ABs . m= considerando que a solicitação é dada já com os seus valores de cálculo (de dimensionamento) Cabos Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro Humberto Varum 19 / 30 5.3 – Cabo parabólico com amarrações a diferentes níveis Figura 25 – Cabo parabólico com amarrações a diferentes níveis Para o cabo parabólico com apoios A e B a diferentes níveis (cotas), e para um referencial x0y centrado no vértice do cabo, como representado na Figura 25, a equação do cabo parabólico será dada pela expressão: H xpxy ⋅ ⋅ = 2 )( 2 Por condições de geometria: a b b a l l l f f h + =⎧ ⎪ ⎨ ⎪ − =⎩ ( ) ( ) 9 10 sendo h a diferença de cotas entre os apoios A e B. Aplicando a equação do cabo aos pontos A e B (apoios), virá: Cabos Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro Humberto Varum 20 / 30 2 2 2 2 2 2 2 2 a a a b a b b b p lf H p l p lH f f p lf H ⎧ ⋅ =⎪ ⋅⎪ ⎪ ⋅ ⋅⎪ ⇒ = =⎨ ⋅ ⋅⎪ ⎪ ⎪ ⋅ =⎪ ⋅⎩ Substituindo as expressões de af e bf em (10), virá: b af f h− = 2 2 2 2 b ap l p l h H H ⋅ ⋅ ⇔ − = ⋅ ⋅ 2 2 2 b a h Hl l p ⋅ ⋅ ⇔ − = (11) Com as expressões (9) e (11) podem-se calcular os valores de al e bl : ( ) 2 a b b a a b l l l h Hl l l l p + =⎧ ⎪ ⎪ ⎪ ⇔⎨ ⎪ ⎛ ⎞ ⋅ ⋅⎪ − ⋅ + =⎜ ⎟⎜ ⎟⎪ ⎝ ⎠⎩ 2 a b b a l l l h Hl l p l + =⎧ ⎪⇔ ⋅ ⋅⎨ − =⎪ ⋅⎩+ (12) 22 b h Hl l p l ⋅ ⋅ ⋅ = + ⇔ ⋅ 2b l h Hl p l ⋅ = + ⋅ E, de (12) virá: 2a l h Hl p l ⋅ = − ⋅ somando as duas equações = l Cabos Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro Humberto Varum 21 / 30 ∴ 2 2 a b l h Hl p l l h Hl p l ⋅⎧ = −⎪ ⋅⎪ ⎨ ⋅⎪ = + ⎪ ⋅⎩ Força horizontal nas secções do cabo Sabendo que 2 2 a a p lH f ⋅ = ⋅ e 2a l h Hl p l ⋅ = − ⋅ , virá: constffhf h lpH baa ⇒⎟ ⎠ ⎞ ⎜ ⎝ ⎛ ⋅±+⋅ ⋅ = 22 2 Comprimento do cabo x yxxs 2 3 2)( ⋅+= O comprimento total do cabo s será: a bs s s= + ( ) 22 3 a a a a a fs s x l l l = − = − = + ⋅ ( ) 22 3 b b b b b fs s x l l l = = = + ⋅ De onde: 2 22 3 a b a b a b a b f f s s s l l l l ⎛ ⎞ = + = + + ⋅ +⎜ ⎟ ⎝ ⎠ Note-se que estas expressões só são válidas para um sistema de eixos centrado no vértice do cabo parabólico. Cabos Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro Humberto Varum 22 / 30 5.4 – Exercício O cabo AB suporta uma carga uniformemente distribuída segundo a direcção horizontal de 45 kg/m, como se representa na Figura 26. Sabendo que em B o cabo forma com a horizontal um ângulo de 35º ( )Bϕ , determine: a máxima força de tracção no cabo; e, a distância vertical af , de A ao vértice do cabo. Figura 26 – Cabo parabólico com apoios a diferentes níveis Resolução 45 45 9 81 441 45 0 44145 p kg / m . . N / m . kN / m= = ⋅ = = Figura 27 – Determinação das coordenadas de A e B no referencial x0y Cabos Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro Humberto Varum 23 / 30 Equação da parábola: ( ) 2 2 p xy x H ⋅ = ⋅ ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 2 2 2 2 2 1.8 1.8 2 2 B B B A B A A A p x y x H py x y x m x x H p x y x H ⎫⋅ = ⎪⋅ ⎪⎪ − = ⇒ − =⎬ ⋅⎪⋅ ⎪= ⎪⋅ ⎭ 2 2 3.6 12.0 B A A B Hx x p x x ⋅⎧ − =⎪ ⎨ ⎪ + =⎩ ( )35 'B By xϕ = ° = ( ) ( )' ' 35 0.611 180 B B p xp xy x y x rad H H π ⋅⋅ = ⇒ = °⋅ = = ° 0.611 Bx H p = ⋅ 2 2 3.6 0.611 12.0 0.611 B A A B Hx x p x H p x H p ⎧ ⋅ − =⎪ ⎪ ⎪ + ⋅ =⎨ ⎪ ⎪ = ⋅⎪ ⎩ (13) (14) (15) De (14) pode-se escrever: 0.61112Ax H p = − ⋅ substituindo Ax e Bx em (13), virá: 2 2 0.611 0.611 3.612 HH H p p p ⎛ ⎞ ⎛ ⎞ ⋅ ⋅ − − ⋅ =⎜ ⎟ ⎜ ⎟ ⎝ ⎠ ⎝ ⎠ incógnita Cabos Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro Humberto Varum 24 / 30 Fazendo: 0.611k p = , para simplificar a expressão, virá: 2 2k H⇒ ⋅ 2 2144 24 k H k H− + ⋅ ⋅ − ⋅ 3.6 0 3.624 144 H p k H p − ⋅ = ⇔ ⎛ ⎞ ⇔ ⋅ − ⋅ =⎜ ⎟ ⎝ ⎠ 5.74H kN= ( ) ( ) 2 2 4.047 0.629 2 7.953 2.429 2 A A A B B B p xx m y x m H p xx m y x m H ⎧ ⋅=⎧ = =⎪⎪ ⎪ ⋅⇒⎨ ⎨ ⋅⎪ ⎪= = =⎩ ⎪ ⋅⎩ ( ) ( ) 1.8B Ay x y x m− = (c.q.d.) ( ) 0.629A ay x f m= = ( ) ?máx máx BN N x N= = = Por equilíbrio: 0 1.787y A AF V p x kN= ⇒ = ⋅ =∑ 2 2 6.019A AN V H kN= + = Figura 28 – Equilíbrio do cabo à esquerda do vértice 0 3.511y B BF V p x kN= ⇒ = ⋅ =∑ 2 2 6.735B BN V H kN= + = Figura 29 – Equilíbrio do cabo à direita do vértice alternativamente, podia ser calculado por: 2 2 2a a b p l hH f f f h ⋅ ⎛ ⎞= ⋅ + − ⋅⎜ ⎟ ⎝ ⎠ Cabos Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro Humberto Varum 25 / 30 6.735máx BN N kN∴ = = Cálculo do comprimento do cabo: ( ) 22 3 ys x x x = + ⋅ 4.112 12.560 8.447 a a b b s m s s s m s m = ⎫ ⎪ = + =⎬ ⎪= ⎭ O comprimento do cabo poderia ser calculado alternativamente através da expressão: 2 22 3 A B A B A B y ys x x x x ⎛ ⎞ = + + ⋅ +⎜ ⎟ ⎝ ⎠ 6 – Cabo sob a acção de forças concentradas Quando um cabo está carregado com forças verticais concentrados, basta conhecer as coordenadas de um só dos pontos de aplicação das forças concentradas para poder calcular através das equações de equilíbrio: as coordenadas dos restantes pontos que definem a geometria do cabo; os esforços e tensões em todos os troços rectilíneos do cabo; e, o comprimento do cabo, que é a soma dos comprimentos dos vários troços rectilíneos. Figura 30 – Cabo sob a acção de forças concentradas Cabos Departamentode Engenharia Civil da Universidade de Aveiro Humberto Varum 26 / 30 6.1 – Exercício Um cabo de peso próprio desprezável está sujeito às cargas apresentadas na Figura 31. Determine as reacções nos apoios, calcule o esforço nos vários troços do cabo, e defina completamente a sua geometria. Figura 31 – Cabo sujeito a forças concentradas Resolução Cálculo das reacções nos apoios: Figura 32 – Cálculo das reacções nos apoios 0 0 0 20 40 40 0 20 0 2 0 4 0 20 10 0 40 12 0 40 0 0 4 0 0 5 0 x A E y A E A E E esq B A A F H H F V V M . V . H . . . M . V . H ⎧ = ⇔ + = ⎪ = ⇔ + = + +⎪ ⎨ = ⇔ − ⋅ + ⋅ + × + × + × =⎪ ⎪ = ⇔ ⋅ + ⋅ =⎩ ∑ ∑ ∑ ∑ O momento em qualquer secção do cabo é zero! Os cabos não absorvem momentos. Cabos Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro Humberto Varum 27 / 30 100 10 480 0 125 A E A E E E A A H H V V V H V . H = −⎧ ⎪ + =⎪⇔ ⎨ ⋅ − =⎪ ⎪ = − ⋅⎩ 231 1 231 1 28 89 71 11 A E A E H . kN H . kN V . kN V . kN = − ⎧ ⎪ = ⎪⇔ ⎨ = ⎪ ⎪ = ⎩ Cálculo dos esforços no cabo por troços (equilíbrio dos nós e geometria do cabo): 0 10 20 6 0esq C A c AM H y V= ⇔ − ⋅ + ⋅ − ⋅ =∑ 0 731 cy . m⇔ = 2 731Cf . m∴ = Figura 33 – Flecha no nó C 0 8 0dir D E E DM V H f= ⇔ − ⋅ + ⋅ =∑ 2 462 Df . m⇔ = Figura 34 – Flecha no nó D Equilíbrio do nó D: Figura 35 – Equilíbrio do nó D 1 2 462 17 11 8 0 .arctg . º . α = = 2 0 269 7 66 2 0 2 0 C Df f .arctg arctg . º . . α − = = = 1 2 1 2 0 0 40 00 x DE CD DE CDy F N cos N cos N sen N senF α α α α ⎧ = ⋅ − ⋅ =⎧ ⎪ ⎪ ⇔ ⎨ ⎨ ⎪ ⎪ ⋅ − ⋅ − == ⎩⎩ ∑ ∑ Cabos Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro Humberto Varum 28 / 30 232 96 241 57 CD DE N . kN N . kN = ⎧ ⎪⇔ ⎨ ⎪ = ⎩ Equilíbrio do nó C: Figura 36 – Equilíbrio do nó C 3 2 731 2 5 2 205 6 0 . .arctg . º . α − = = 2 30 0x CD BCF N cos N cosα α= ⇔ ⋅ − ⋅ = ⇔∑ 231 05BCN . kN⇔ = Equilíbrio do nó B: Figura 37 – Equilíbrio do nó B 4 0 5 7 13 4 0 .arctg . º . α = = 3 40 20 0y BC BAF N sen N senα α= ⇔ − ⋅ + ⋅ − =∑ 232 91BAN . kN⇔ = Cabos Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro Humberto Varum 29 / 30 Geometria do cabo: 7 – O cabo e o arco A forma de equilíbrio de um cabo é o polígono funicular. Um cabo com amarrações de nível, com peso próprio desprezável, sujeito a uma carga p uniformemente distribuída ao longo do vão tem a forma de uma parábola. Trocando-se o sinal da carga p, V e H, o equilíbrio mantém-se, mas o cabo ficaria comprimido em todos os seus pontos. Figura 39 – Exemplos de estruturas em arco Suponha-se agora que o cabo é rígido em compressão e inverta-se a sua concavidade: obtém-se um arco em que a componente horizontal H se torna, ao nível dos apoios, o impulso do arco. Assim, sob a acção de uma carga uniformemente distribuída ao longo da horizontal, o arco parabólico fica somente comprimido sem qualquer esforço de corte ou momento-flector. Pode-se construir um arco com pedras justapostas. Ao eixo do arco (parábola) chama-se linha de pressões. É assim que funcionam as construções antigas em que domina o peso próprio da estrutura: abóbadas em pedra ou tijolo, pontes em arco, arcos e abóbadas em catedrais, etc. Figura 38 – Configuração final do cabo Cabos Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro Humberto Varum 30 / 30 Figura 40 – Analogia de esforços entre o cabo e o arco 8 – Questões de revisão 1) Considere um cabo de peso próprio desprezável onde descarregam duas forças concentradas verticais de valor P. Os apoios do cabo estão à mesma cota e a distância entre eles é de l. Considerando que uma das forças está afastada l/3 do apoio da esquerda, e a outra força está afastada l/3 do apoio da direita, calcule o esforço máximo no cabo em função da flecha máxima. 9 – Bibliografia [1] J. Mota Freitas; Sebenta de Resistência de Materiais, FEUP, 1978 [2] V. Dias da Silva; “Mecânica e Resistência dos Materiais”, 2ª edição, Ediliber Gráfica Coimbra, 1999 [3] C. Quaresma; Apontamentos sobre “Cabos”, Resistência dos Materiais, UA, 2001 [4] H. Varum; “Exercícios resolvidos sobre cabos”, Apontamentos da disciplina de Estruturas Isostáticas, UA, 2004