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10/11/2023, 10:21 A Sociolinguística
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00334/index.html# 1/53
Objetivos
Módulo 1
A Sociolinguística Variacionista
Descrever o objeto e o objetivo da Sociolinguística
Variacionista.
Acessar módulo
Módulo 2
O surgimento da Sociolinguística
Reconhecer o contexto teórico do surgimento da
Sociolinguística Variacionista.
A
Sociolinguística
Prof. Diogo Oliveira Ramires Pinheiro
Descrição
Descrição do objeto, objetivo e contexto
teórico da Sociolinguística Variacionista,
apresentando seus conceitos básicos e o
preconceito linguístico.
Propósito
Adotar uma atitude científica baseada na
ausência de preconceito e na análise
sistemática de dados empíricos diante da
variação linguística a fim de permitir uma
abordagem adequada nos estudos
linguísticos.
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10/11/2023, 10:21 A Sociolinguística
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00334/index.html# 2/53
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Módulo 3
Conceitos teóricos variacionistas
Identificar os conceitos de variedade, variável, variante e
condicionador.
Acessar módulo
Módulo 4
Variedades linguísticas e preconceito
linguístico
Relacionar variedades linguísticas e preconceito linguístico.
Acessar módulo
Introdução
Se você já se surpreendeu com o sotaque de moradores de outro
estado, entrou em uma briga feroz na internet em torno das
palavras biscoito e bolacha ou fez cara de ponto de interrogação
diante de alguma expressão usada por um familiar mais velho,
então você já teve a oportunidade de constatar uma obviedade:
pessoas diferentes falam de formas diferentes.
Se você já tentou ler um livro do século XVI (digamos, Os
Lusíadas) com o texto original, um poema do século XIV (como
aquelas cantigas trovadorescas que estudamos na escola) ou
mesmo um jornal do início do século XX, já teve a oportunidade

10/11/2023, 10:21 A Sociolinguística
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00334/index.html# 3/53
de constatar uma segunda obviedade: as línguas mudam com o
tempo.
O que você talvez não saiba é que esses dois fenômenos —
chamados tecnicamente de variação linguística e de mudança
linguística — são parte fundamental e inevitável de qualquer
língua humana. Tão fundamental e tão inevitável que existe toda
uma área da Linguística dedicada unicamente a estudá-los. Essa
área atende por quatro nomes: Sociolinguística Variacionista,
Sociolinguística Laboviana, Sociolinguística Quantitativa,
Sociolinguística da Variação e Mudança.
Usaremos preferencialmente o primeiro nome, mas você pode
escolher o rótulo de sua preferência. O importante é entender o
funcionamento da teoria — e o que ela nos ensina sobre a
diversidade linguística e o preconceito. Então, mãos à obra!
1
A Sociolinguística Variacionista
Ao final deste módulo, você deverá ser capaz de descrever o objeto e o objetivo da Sociolinguística Variacionista.
10/11/2023, 10:21 A Sociolinguística
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Fundamentos da
Sociolinguística
Premissa
Uma boa maneira de começarmos a conhecer a Sociolinguística
Variacionista é examinando a constituição interna da palavra
sociolinguística. Como você pode notar, esse termo resulta da
combinação de dois elementos: a palavra linguística e o radical sócio,
que significa social (por exemplo, um problema socioeconômico é um
problema simultaneamente social e econômico).
Essa observação nos dá a primeira pista: a Sociolinguística
Variacionista investiga a relação entre linguagem e sociedade. Esse é
um bom começo, porque nos permite diferenciar a Sociolinguística
Variacionista de campos como:

Psicolinguística
Investiga a relação
entre linguagem e
mente.

Neurolinguística
Estuda a relação entre
linguagem e cérebro.
A verdade é que muitas outras áreas também se debruçam sobre a
relação linguagem-sociedade e, consequentemente, localizam-se em
uma zona de interseção entre a Linguística e as Ciências Sociais. Por

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isso, precisamos ser um pouco mais específicos e fazer a seguinte
pergunta:
O que a Sociolinguística Variacionista estuda que as
demais áreas interessadas no binômio linguagem-
sociedade não estudam?
A Sociolinguística Variacionista tem como objeto de estudo específico
os fenômenos intimamente relacionados da variação linguística e da
mudança linguística. Mas, convenhamos, essa resposta não ajuda muito
se não formos capazes de definir, com precisão, os seus dois conceitos-
chave: variação linguística e mudança linguística.
Variação linguística X Mudança linguística
Variação linguística é o fenômeno segundo o qual duas ou mais formas
diferentes apresentam o mesmo significado referencial. Em outras
palavras, dizemos que duas formas estão em variação quando elas
podem ser usadas para dizer a mesma coisa.
As palavras mexerica e bergamota, embora sejam formas distintas,
referem-se ao mesmo alimento; logo, dizemos que se encontram em
variação. Da mesma maneira, as pronúncias “escrever” e “escrevê”
denotam exatamente a mesma ação (o ato de produzir um texto
escrito); logo, trata-se, mais uma vez, de formas em variação.
Por que falamos em significado referencial, em vez de dizer,
simplesmente, significado?
Resposta
Há um bom motivo. Ocorre que, na opinião
de muitos linguistas, duas formas diferentes
nunca terão exatamente o mesmo
significado. Por exemplo, as palavras fezes e
merda se referem ao mesmo objeto (o
excremento de humanos e animais), mas
têm conotações claramente distintas:
enquanto a primeira é mais técnica (e talvez
dê um ar de autoridade a quem a emprega), a
segunda é chula (e pode fazer seu usuário
parecer uma pessoa grosseira). Por causa
dessas diferenças, dizemos que fezes e
merda não são sinônimos perfeitos. Apesar
disso, esses termos são, sim, sinônimos
referenciais, isto é, denotam a mesma

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A variação pressupõe, portanto, coexistência entre duas (ou mais)
formas que competem pela expressão de um significado.
O que acontece se uma das formas em
competição desaparecer da língua, encerrando
assim a disputa?
Nesse caso, não falamos mais em variação, e sim em mudança
linguística. Considere, por exemplo, o caso dos pronomes você e Vossa
Mercê no português brasileiro (PB). Segundo Lopes e Duarte (2003), por
algum tempo, eles estiveram em variação (competiam pela expressão
do significado: segunda pessoa do singular), mas, em algum momento
do século XVIII, o você venceu a disputa: seu uso disparou, o de Vossa
Mercê caiu a zero e, com isso, o sistema do PB se modificou.
O que esse exemplo mostra é que mudança pressupõe variação: o
desaparecimento de Vossa Mercê (mudança) só aconteceu após um
período em que Vossa Mercê e você coexistiam, competindo pela
expressão de um mesmo significado referencial (variação). O contrário,
porém, não é verdadeiro: é possível que duas ou mais formas
permaneçam indefinidamente em variação, sem que nunca uma delas
ganhe a disputa — quando isso acontece, dizemos que se trata de
variação estável, e não de mudança.
entidade objetiva. E, como vimos, isso basta
para serem considerados formas em
variação.
Resumindo
Mudança pressupõe variação, mas variação
não implica necessariamente mudança.
Podemos então deixar estabelecido que o
objeto de estudo da Sociolinguística
Variacionista são os fenômenos da variação
linguística e da mudança linguística.

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Mas, na prática, quando um sociolinguista está
trabalhando na sua pesquisa, qual é a sua
tarefa? O que ele se propõe a fazer?
Certamente, o objetivo do pesquisador não será o de meramente
constatar a existência de um caso de variação (“as formas aipimpois são sinais que correspondem de
forma exata ao referente ou à realidade, possuindo
semelhança física com o objeto.
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Parabéns! A alternativa A está correta.
Alguns sinais ou signos são icônicos, ou seja, são denominados de
ícones. O ícone é um sinal que tem semelhança com o objeto que
ele representa, como ocorre no caso da imagem da caveira para
representar perigo. Assim, o ícone ocorre quando o signo
representa o objeto por semelhança de qualidades.
2 - Características da linguagem humana
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car as características da
linguagem humana.
A linguagem humana
As quatro características
Das propriedades mais específicas que cooperam para que a linguagem
humana seja flexível e versátil, há quatro características que
frequentemente são apontadas:
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
Dualidade ou dupla articulação

Arbitrariedade

Independência de estímulo

Produtividade
Essas características tornam a linguagem, do ponto de vista linguístico,
exclusiva dos seres humanos. Vamos conhecê-las!
A dualidade
Também chamada de dupla articulação. A partir do século XIX, os
estudiosos da linguagem passaram a entender que a língua é articulada,
constituindo-se em uma das características que a tornam diferente da
forma de comunicação dos animais.
O termo articulação vem do latim articulus, que tem tanto o sentido de
“junta dos ossos” ou “nó das plantas” quanto o sentido de “ligação,
conexão, relação das partes de um discurso; membro de uma frase”
(SARAIVA, 2000).
A articulação na linguagem refere-se ao fato de
os enunciados poderem ser desmembrados em
partes, já que surgem do resultado da união de
elementos que podem ser encontrados em
outros enunciados.
Dito de outra forma, pronunciamos as palavras porque os sons que as
compõem se combinam ou se articulam. Veja a sentença a seguir:
Os atletas correram a maratona.
Essa frase pode ser dividida em unidades menores, como:
Os
atletas
10/11/2023, 10:17 Linguagem e Linguística
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correram
a
maratona
Para formar frases, o falante escolhe, entre os vocábulos que estão em
sua mente, aqueles que em determinado contexto têm o efeito desejado,
articulando-os de acordo com as regras da sentença naquela língua.
Cada um dos vocábulos constitui um elemento autônomo, podendo
aparecer em outras sentenças da língua, dependendo das necessidades
do usuário.
Continuando a análise da frase, cada um desses vocábulos resulta da
união morfológica, ou seja, a sentença pode ser reduzida a unidades
menores, como em:
União morfológica
A morfologia estuda a estrutura, a formação, a flexão e a articulação dos
vocábulos. A união morfológica designa, então, a articulação entre as
formas mínimas elementares da estrutura dos vocábulos, incluindo os
radicais e os morfemas. O morfema é a menor unidade de funcionamento
na composição (estrutura) da palavra ou do vocábulo, sendo, portanto, a
unidade linguística mínima que possui significado (RIBEIRO, 2013).
Plural
os atletas
Singular
oø atletaø
O símbolo ø é usado para indicar uma ausência ou uma forma nula, no
caso, a ausência da consoante -s. Na Matemática, este mesmo símbolo
é usado para representar o conjunto vazio.
Perceba a oposição entre a presença do -s (em “os” e “atletas”) e a sua
ausência (em “o” e “atleta”). Lembre-se de que o símbolo ø é usado para
indicar uma ausência ou uma forma nula, no caso, a ausência da
consoante -s, que gera uma diferença de valor no vocábulo, deixando de
ter a marca de plural e indo para o singular. A conclusão à qual você
deve chegar é que o -s é uma desinência de número usada para indicar
o plural. Situação parecida acontece com a forma verbal “correram”.
Vamos observar a seguir:
Desinência
Um morfema ou elemento final que indica as variações ou flexões de
nomes (substantivos, adjetivos etc.) e verbos.

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Note que o -m indica que o verbo está na 3ª pessoa do plural; o -ra- é
uma marca de pretérito; o -e- indica que se trata de um verbo da 2ª
conjugação. Todos esses elementos, os chamados morfemas, dão
sentido aos vocábulos ou à estrutura gramatical. Eles se identificam
com radicais, vogais temáticas, prefixos, sufixos e outros elementos da
estrutura gramatical.
A frase pode ainda ser dividida em unidades menores: os fonemas. Essa
divisão se relaciona com a base sonora das palavras, ou seja, são partes
que compõem a estrutura fonológica do vocábulo e apresentam
funções diferentes. Se fizermos a troca de um fonema por outro,
teremos um outro vocábulo.
Fonemas
Segmento mínimo ou a menor unidade, no campo fônico (som), destituída
de sentido, ou seja, não apresenta isoladamente um significado, um
conceito ou uma ideia (RIBEIRO, 2013). Os fonemas não correspondem
necessariamente às letras da grafia usual e são representados por letras
entre barras. Também são considerados uma subdivisão da sílaba e são
estudados pela fonologia (CÂMARA Jr., 1996).
A palavra
Maratona
Os fonemas da
palavra
/m/, /a/, /r/, /a/, /t/, /o/,
/n/, /a/
Assim, podemos entender que a linguagem verbal ou a língua é
articulada, pois as sentenças são o resultado da união de elementos
menores. A dupla articulação ou dualidade acontece porque as
unidades mínimas se combinam ou se articulam em dois níveis:
Morfemas
correra/m
corre/ø∅
corr/e

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A primeira articulação, as combinações dos morfemas, dá
significação ou sentido gramatical.
Fonemas
A segunda articulação, as relações combinatórias dos fonemas,
tem apenas função distintiva.
Qual a vantagem da dupla articulação? A grande vantagem da dupla
articulação da linguagem é que ela permite uma melhor adaptação das
línguas às necessidades da comunicação humana, facilitando o
processo e diminuindo o esforço do falante.
Essa economia fica clara quando vemos que a formação do masculino e
do feminino se dá por meio de palavras diferentes, como em
homem/mulher, boi/vaca e outros. Na maioria das vezes, o processo é
mais econômico e utilizamos apenas uma mudança morfológica para
flexionar, por exemplo, o número ou o gênero das palavras: cantor,
cantora, cantores.
A arbitrariedade
Este conceito diz respeito à relação existente entre a forma e
o significado, entre o sinal e a mensagem. A linguagem opera com
elementos que buscam retratar a realidade. Vejamos alguns exemplos:
A sequência de sons “cavalo” serve para representar o conceito que
temos do animal.
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A série fônica “amor” representa um sentimento.
Assim, a linguagem humana se vale de um processo de representação
ou simbolização, mas esse processo é arbitrário, ou seja, não há
nenhuma relação direta entre a sequência de sons e o seu significado,
não há uma relação natural, por exemplo, entre o nome e o sentido que
ele designa.
Exemplo
É arbitrário o fato de utilizarmos a palavra maçã para um referente que
corresponde à fruta que você conhece e que todos nós podemos comer.
Não há um motivo natural, uma relação de causa e efeito para
chamarmos de maçã um determinado fruto. Prova disso é que
utilizamos palavras diferentes em outros idiomas para fazermos
referência ao mesmo fruto: em inglês, usa-se a palavra apple; em
alemão, usa-se a palavra apfel; em francês, usa-se a palavra pomme, em
espanhol, usa-se a palavra manzana.
A arbitrariedade na língua é, assim, uma manifestação da referência
simbólica que a língua faz à realidade. Os elementos dalinguagem não
constituem a realidade em si, eles fazem referência à realidade, ou
representam a realidade, por meio dos signos linguísticos. (DALLIER,
2015)
A independência de estímulo
A independência de estímulo na linguagem humana está relacionada ao
fato de não haver conexão entre as palavras e as situações em que elas
são utilizadas. Segundo Lyons (1987), não há uma previsibilidade de se
dizer determinadas palavras em função da situação vivenciada pelo
falante, assim como se prevê um comportamento habitual, a partir das
próprias situações.
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Exemplo
Você não pronuncia a palavra livro todas as vezes que vê ou folheia um
livro. Por outro lado, é possível que essa palavra seja dita em situações
nas quais as pessoas não estejam vendo ou folheando um livro.
Da mesma forma, não é provável que, ao passar por inúmeras situações
preocupantes, você pronuncie a palavra preocupado todas as vezes. A
probabilidade de usar essa palavra não seria maior nessa situação do
que a de utilizá-la em outro contexto.
A independência de estímulo também tem a ver com a criatividade no
uso da língua.
De acordo com Lyons (1987), um enunciado
que falamos em dada ocasião é, em princípio,
não predizível, e não pode ser descrito
apropriadamente, no sentido técnico desses
termos (independência de estímulo e
criatividade), como uma resposta a algum
estímulo identi�cável, linguístico ou não
linguístico.
Assim, uma criança, quando está adquirindo a língua, não produz os
enunciados apenas a partir dos estímulos externos que recebe.
A produtividade
A produtividade de um sistema linguístico possibilita a construção e a
interpretação de novas frases ou novos textos. Assim, a partir de um
número limitado de elementos, a linguagem nos mostra possibilidades
infinitas de combinação.
O conjunto limitado de letras ou de sons da língua portuguesa, por
exemplo, permite a produção de uma infinidade de frases ou textos.
Isso quer dizer que com apenas 26 letras do nosso alfabeto podemos
escrever tudo o que quisermos ou imaginarmos.
Assim, em função da produtividade, a linguagem não apresenta um
limite definido, não exige a mera reprodução de mensagens previamente
compartilhadas.
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Cada falante de uma língua pode fazer, e acabará fazendo, combinações
únicas e, ainda assim, será compreendido, desde que a mensagem
utilize o mesmo código que o receptor domina (BORBA, 1998). Lyons
(1987) afirma que a produtividade linguística também se manifesta no
fato de a criança, ainda muito cedo, produzir construções gramaticais
que jamais ocorreram antes em sua experiência.
Essas características da linguagem humana têm sido objeto de estudo
de vários pesquisadores, principalmente a partir do estabelecimento da
ciência da linguagem – a Linguística – no começo do século XX. Mais à
frente, você conhecerá alguns estudos que antecedem o surgimento da
Linguística para, depois, conferir como e por que ela surgiu.
Características da linguagem
Para saber mais sobre as características da linguagem, assista ao vídeo
a seguir.

10/11/2023, 10:17 Linguagem e Linguística
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00081/index.html# 21/47
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
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https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00081/index.html# 22/47
Identifique as características ou propriedades que tornam a
linguagem, do ponto de vista linguístico, exclusiva dos seres
humanos.
Parabéns! A alternativa C está correta.
A linguagem humana se caracteriza por possuir dois níveis de
estrutura que se combinam, o que é denominado de dualidade;
também apresenta uma relação na motivada, arbitrária, entre o som
e o sentido das palavras, o que é denominado arbitrariedade; além
disso, a forma como respondemos por meio da língua a um
determinado estímulo não é automática e previsível, o que é
denominado independência de estímulo; por fim, a linguagem
humana tem como característica a possibilidade de combinar e
recombinar elementos, o que é chamado de produtividade.
Questão 2
A combinação na língua entre unidades mínimas tanto por meio
dos morfemas, que dão significação ou sentido gramatical, quanto
por meio dos fonemas, que têm função distintiva, é uma
característica da linguagem identificada com a
A
Dupla articulação, arbitrariedade, dependência de
estímulo e improdutividade.
B Flexibilidade, versatilidade, causalidade e dualidade.
C
Dualidade ou dupla articulação, arbitrariedade,
independência de estímulo e produtividade.
D
Dualidade, arbitrariedade, previsibilidade e
produtividade.
E
Interatividade, não arbitrariedade, dependência de
estímulo e produtividade.
A produtividade.
B arbitrariedade.
10/11/2023, 10:17 Linguagem e Linguística
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00081/index.html# 23/47
Parabéns! A alternativa D está correta.
A dupla articulação ou dualidade acontece porque as unidades
mínimas se combinam ou se articulam em dois níveis: o dos
morfemas e o dos fonemas. A primeira articulação, as
combinações dos morfemas, dá significação ou sentido gramatical.
A segunda articulação, as relações combinatórias dos fonemas,
tem apenas função distintiva.
3 - Os estudos pré-linguísticos
Ao �nal deste módulo, você será capaz de distinguir os estudos da
linguagem no período pré-linguístico.
Estudos sobre a linguagem
Antiguidade
Os estudos sobre a linguagem tornaram-se cada vez mais importantes e
abundantes nas últimas décadas. Embora o século XX tenha sido um
marco para o estabelecimento de uma ciência da linguagem, é relevante
conhecer alguns estudos realizados ao longo de muito tempo,
remontando inclusive à Antiguidade Clássica.
C independência de estímulo.
D dupla articulação.
E versatilidade.
10/11/2023, 10:17 Linguagem e Linguística
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00081/index.html# 24/47
Antiguidade Clássica
É um período bem abrangente da história da europa que se inicia com a
poesia grega de Homero, aproximadamente no século VIII a.C., e se estende
até a queda do Império Romano, no século V d.C. A Antiguidade Clássica,
desse modo, compreende as civilizações grega e romana em um período de
grande riqueza filosófica, literária e artística.
Os primeiros estudos são denominados paralinguísticos, pois eram
mais voltados às análises filosóficas e às abordagens da natureza
biológica da linguagem, em vez de se limitarem a aspectos próprios da
linguagem. Platão e Aristóteles são exemplos de pensadores que
estudaram a linguagem privilegiando uma análise filosófica. Veja:
Platão
Filósofo grego que nasceu em Atenas por volta do ano 427 a.C. e
morreu na mesma cidade em 347 a.C.. Ele entendia que a
linguagem afastava o homem do mundo das ideias, o lugar da
verdade, por isso toda fala deveria ser comprometida com a
verdade. Platão foi, provavelmente, o primeiro a classificar as
palavras em nomes e verbos (BRANDÃO, 1976).
Aristóteles
Filósofo grego, discípulo de Platão, nascido em Estagira, em 384
a.C., e falecido em Atenas, em 322 a.C. Compreendia a linguagem
como suporte para reflexão filosófica e meio de manifestação de
valores e crenças. Pela linguagem se deveria buscar a verdade
(exigência de certezas) e descobrir de modo especulativo o que é
adequado para persuadir em cada situação (BRANDÃO, 1976).
Grécia
Na Grécia, havia a ideia de explicar a relação entre o conceito e a palavra
utilizada para designá-lo. Uma questão importante era: haveria alguma
relação entre a palavra e seu significado? Também havia discussões
sobre o processo de funcionamento das línguas. Vejamos, por exemplo,
dois embates que ocorriam sobre essa discussão.
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Naturalistas e convencionalistas
Discutiam se o processo da língua era algo normal ou se ele obedecia a
determinadas convenções estabelecidas pela sociedade.
Analogistas e anomalistas
Discutiam se os processos linguísticos seguem analogias, imitações ou
se, por outro lado, são tão desorganizados que não obedecem a nenhum
princípio.
Ainda na Antiguidade Clássica, houve outra tradição de estudo da
linguagem, dessa vez, preocupada em definir o certo e o errado no
modelo utilizado pelas classes letradas, o que deu origem aos estudos
gramaticais. Entre os gregos, Dionísio da Trácia (170 a.C. – 90 a.C.)
organizou a primeira gramática sistemática do grego por volta do século
II a.C. Nessa gramática, ele categorizou as classes de palavras em:
 Nome
 Verbo
 Particípio
 Artigo
 Pronome
 Preposição
 Advérbio
10/11/2023, 10:17 Linguagem e Linguística
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00081/index.html# 26/47
Ele também atribuiu certas categorias gramaticais a essas classes, que
são:
Tipo
Primitivo e derivado.
Forma
Simples e composta
Gênero
Neutro, feminino e masculino
Número
Singular, plural e dual
Caso
Nominativo, acusativo, genitivo, dativo etc.
Sobre a categoria caso, vale dizer que consiste em uma noção
gramatical relacionada ao valor ou à função sintática que uma palavra
possui na frase. O caso é representado por uma terminação, ou seja, a
palavra muda sua forma para indicar a alteração do seu valor ou da sua
função na frase. Por exemplo:
O caso nominativo tem valor de sujeito ou de predicativo do
sujeito.
O acusativo corresponde ao objeto direto.
O genitivo, ao complemento nominal.
O dativo possui valor de objeto indireto.
 Conjunção
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Lembrando também que a descrição gramatical era baseada em
determinado modelo ou paradigma.
Roma
No século II a.C., o filósofo Marco Terêncio Varrão (116 a.C. – 27 a.C.)
dedicou-se aos estudos gramaticais na tentativa de classificar a
gramática como ciência e arte. Varrão fazia a distinção entre variação
natural (flexão) e variação voluntária (derivação). Vejamos:
Quando uma palavra recebe marcas de tempo, de modo e
gênero, fica caracterizada a flexão.
Quando palavras novas surgem a partir de uma outra. Por
exemplo, em português, o verbo cantar aparece no dicionário
apenas na forma infinitiva porque as outras seriam variações do
mesmo verbo, como cantei, cantava, cantamos etc. Porém, o
mesmo dicionário apresenta cantar, cantor, cantoria e cantata,
todas essas formas oriundas de uma primitiva.
Varrão também propôs um sistema dividido em classes de palavras a
partir de contrastes de flexão ou variação. Como outros estudiosos
gregos, Varrão reconheceu que o caso e o tempo eram as categorias
que primariamente serviam para diferenciar os vocábulos com flexão
das línguas clássicas. (ROBINS, 1983).
Tradição hindu
Também houve a preocupação na Antiguidade, da parte de vários
estudiosos, de compreender a língua dos textos clássicos. Fora da
cultura ocidental antiga, também houve estudos sobre a linguagem,
como aconteceu na tradição hindu.
Flexão 
Derivação 
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Por volta do século IV a.C., entre os hindus, já eram realizados estudos
sobre a linguagem por meio dos mitos e das lendas. Também havia
eruditos que buscavam entender o funcionamento da língua.
Inicialmente, como afirma Lyons (1979), eram discussões religiosas
inspiradas nos hinos sagrados dos hindus, com o objetivo de não
permitir que o texto sagrado fosse corrompido. Tempos depois, Panini,
um antigo gramático hindu, passou a fazer descrições cuidadosas da
língua.
No século II a.C., outro gramático, Pantañjali, explicou as regras e os
estudos realizados por Panini. De acordo com Câmara Jr. (2011), esses
dois gramáticos hindus lançaram a base da gramática do sânscrito, uma
língua ancestral do Nepal e da Índia.
Segundo Robins (1983), todos esses antigos estudos da linguagem
ofereceram uma terminologia que foi traduzida e adaptada ao latim,
passando a constituir os fundamentos de quase dois mil anos de teoria
gramatical e de ensino e estudo do grego e do latim.
Assim, boa parte da nomenclatura adotada nos estudos gramaticais e
linguísticos atuais surge na Antiguidade e, à medida que as pesquisas
avançam, evidencia-se a necessidade de novos termos para dar conta
dessas demandas explanatórias.
Idade Média
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Segunda metade do século V
No início da Idade Média, na segunda metade do século V, Prisciano de
Cesareia, um gramático romano que ministrou aulas em Constantinopla,
ampliou o conceito de classes de palavras para:
 Nome (incluindo adjetivos)
 Verbo
 Particípio
 Pronome
 Advérbio
 Preposição
 Interjeição
 Conjunção
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Idade Média
De acordo com Robins (1983), Prisciano também percebia, como os
demais gramáticos da Antiguidade, que a letra era ao mesmo tempo a
menor unidade gráfica e a menor unidade fonológica.
Meados do século XIII
Ao avançarmos no período da Idade Média, em meados do século XIII,
encontramos os estudiosos conhecidos como modistas, voltados para o
entendimento do modo como os termos da língua passam a ter
significação. Eles perceberam que a estrutura das línguas é universal, o
que existe em uma língua, existe na outra, em termos de estrutura.
Surgem, então, as chamadas gramáticas especulativas, que tinham o
objetivo de integrar a descrição gramatical à teoria filosófica da
escolástica, tomando como base o que Prisciano já havia feito.
Escolástica
Método para pensar e aprender que conciliava a fé cristã com o
pensamento racional.
Atenção!
Os gramáticos especulativos ensinavam que a palavra não representa
diretamente a natureza da coisa significada, mas apenas como ela
existe de uma maneira ou de um modo: uma substância, uma ação, uma
qualidade. (BORBA, 1998)
Essa gramática baseava-se na ideia de que a língua é um espelho que
reflete a realidade subjacente aos fenômenos do mundo físico. Desse
modo, tentava-se determinar de que forma a palavra se vinculava à
inteligência e à coisa que ela representava.
Século XVI
De acordo com Petter (2003), houve uma numerosa tradução de livros
sagrados para diversas línguas no século XVI graças à Reforma
Protestante, ainda que o latim se mantivesse como língua universal.
Ao mesmo tempo, os viajantes trouxeram seus conhecimentos das
línguas com as quais tiveram contato, desconhecidas na Europa até
aquele momento.
No início desse século, foi lançado o primeiro dicionário poliglota do
mundo.
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Séculos XVII e XVIII
Entre os séculos XVII e XVIII, a preocupação com os modelos anteriores
continua. Por isso, em 1660, na França, surge a Gramática de Port-Royal,
escrita pelo padre, teólogo e filósofo Antoine Arnauld e pelo monge e
gramático Claude Lancelot. Essa gramática passa a ser o modelo para
muitas gramáticas daquele momento. O consenso na época é que a
linguagem estava fundada na razão e refletia o pensamento, logo, os
princípios de análise deveriam ser universais para qualquer língua.
Lyons (1987) afirma que, nesse período, a preocupação era “demonstrar
que a estrutura da língua é um produto da razão e que as diferentes
línguas são apenas variedades de um sistema lógico e racional mais
geral”.
Século XIX
O conhecimento cada vez maior da linguagem provoca o interesse pelas
línguas faladas, ao invés de análises abstratas sobre a linguagem, como
era o costume anteriormente. Segundo Petter (2003), é nesse períodoque surgem as chamadas gramáticas comparadas e a linguística
histórica. Torna-se evidente que as línguas passam por transformações
ao longo do tempo, independentemente da vontade dos falantes,
seguindo as necessidades próprias da língua. Vejamos alguns autores
que se destacaram nessa época:
Wilhelm von Humboldt
No início do século XIX, o filósofo e linguista prussiano Wilhelm
von Humboldt, fundador na Alemanha da Universidade de Berlim,
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“procurou estabelecer o mecanismo e a natureza da linguagem
por meio de raciocínios gerais que se aplicam ao funcionamento
das línguas em particular”.
Humboldt entendia a língua como energia ou força criadora de
cada um, não sendo apenas um produto a ser utilizado pelos
falantes. Desse modo, a língua exerceria grande influência no
modo como os falantes percebem e organizam a realidade, o
mundo dos objetos, e em torno disso sua própria mente ou
pensamento. (BORBA, 1998)
Franz Bopp
No começo do século XIX, o alemão Franz Bopp, linguista e
professor na Universidade de Berlim, publica um estudo
comparando o grego, o latim, o persa e o germânico. Tem-se o
início da chamada linguística histórica, que ressaltava as
semelhanças entre as línguas, evidenciando que muitas delas
tinham um ancestral comum.
De acordo com Petter (2003), a descoberta de semelhanças entre
essas línguas e grande parte das línguas europeias evidenciou
que existia entre elas uma relação de parentesco, que elas
constituíam, portanto, uma família, a indo-europeia, cujos
membros tinham uma origem comum, o indo-europeu, ao qual se
pode chegar por meio do método histórico-comparativo.
Os estudos no século XIX, identificados com a linguística histórica e
atrelados à gramática comparada, levavam em conta a mudança das
línguas e procuravam descobrir sua história, comparando, por exemplo,
línguas europeias a outras mais antigas ou ancestrais. Tudo isso
contribuiu para o fortalecimento de um sistema próprio para tratar
exatamente da linguagem (o que chamamos de metalinguagem), para o
estabelecimento de símbolos e para o desenvolvimento de recursos
para descrição de uma língua. Além disso, os estudos ao longo do
século XIX prepararam o terreno para o surgimento da Linguística como
ciência da linguagem no início do século XX.
Linha do tempo
Para saber mais sobre os estudos da linguagem ao longo do tempo,
assista ao vídeo a seguir.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
No período chamado pré-linguístico, especialmente na Grécia e
Roma antigas, os primeiros estudos da linguagem se distinguem
por serem:
Parabéns! A alternativa A está correta.
Os primeiros estudos são denominados paralinguísticos, pois eram
mais voltados para análises filosóficas e abordagens da natureza
biológica da linguagem, em vez de se limitarem a aspectos próprios
da linguagem. Platão e Aristóteles são exemplos de pensadores
que estudaram a linguagem privilegiando uma análise filosófica.
Questão 2
A
estudos paralinguísticos, porque se caracterizavam
por análises filosóficas e abordagens da natureza
biológica da linguagem, em vez de examinar os
aspectos próprios da linguagem.
B
estudos gramaticais históricos e comparativistas,
porque abordavam a evolução das línguas e
comparavam línguas mortas a línguas vivas.
C
estudos modistas, porque se ocupavam do modo
como as palavras produzem sentido.
D
estudos históricos e etimológicos, porque
investigavam a formação das línguas europeias a
partir de um tronco linguístico comum.
E
estudos semióticos que utilizavam conceitos
teóricos sofisticados e complexos.
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No século XIX, os estudos pré-linguísticos devem ser distinguidos
como:
Parabéns! A alternativa D está correta.
Os estudos da linguagem no século XIX correspondem à linguística
histórica e estão relacionados com a gramática comparada,
focando na mudança das línguas e na descoberta de sua história,
comparando, por exemplo, línguas europeias a outras mais antigas
ou ancestrais.
A
investigação científica da linguagem, que valorizava
o estado da língua, em vez de se ocupar de suas
mudanças históricas.
B
estudos que não contribuíram para o
estabelecimento de uma metalinguagem ou
linguagem própria no estudo da língua.
C
estudos de gramática especulativa identificados
com a filosofia escolástica e a retomada de
pensadores como Platão e Aristóteles.
D
estudos identificados com a linguística histórica e a
gramática comparada, que prepararam o terreno
para o surgimento da Linguística como ciência da
linguagem no início do século XX.
E
investigação científica, sistemática e metódica a
partir do estabelecimento de área reconhecida
academicamente.
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4 - O estabelecimento da Linguística
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a Linguística como
ciência da linguagem.
A Linguística como ciência da
linguagem
Até o início do século XX, os estudos linguísticos não possuíam
autonomia, pois estavam submetidos a outras áreas, como a Lógica, a
Filosofia, a História e a Literatura. Mas, a partir desse momento, os
estudos linguísticos começam a se preocupar apenas com os fatos da
linguagem, usando métodos científicos para estabelecer hipóteses e
sistematizando os dados, com um quadro teórico para tal empreitada.
Surge, então, a Linguística Moderna, ou simplesmente Linguística, a
ciência da linguagem, tendo como marco de sua fundação os estudos
de Ferdinand de Saussure.
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Ferdinand de Saussure
Ferdinand de Saussure (1857-1913) foi um importante filósofo e linguista
suíço. Na Alemanha, estudou química, física, grego, latim, sânscrito, celta e
indiano. Com apenas 24 anos, na França, começou a ensinar linguística
histórica em uma universidade. Seus cursos ficaram famosos e, em 1891,
voltou para Genebra, sua cidade natal, onde ministrou aulas até 1911. As
aulas entre 1907 e 1911, conhecidas como Curso de Linguística Geral, são
a base para a Linguística Moderna.
Segundo Alkmin (2004), desde as tradições antigas de estudo da
linguagem até o surgimento da Linguística, os estudos se vinculavam ao
contexto e às questões de sua época. Por isso,
“As teorias da linguagem, do passado ou atuais,
sempre re�etem as concepções particulares do
fenômeno linguístico e as compreensões
distintas do papel deste na vida social”.
Assim, nos diferentes momentos históricos, “as teorias linguísticas
definem, a seu modo, a natureza e as características relevantes do
fenômeno linguístico. E, evidentemente, a maneira de descrevê-lo e de
analisá-lo”.
Veja algumas definições ou conceitos para a Linguística:
A ciência que investiga os fenômenos relacionados à linguagem
e que busca determinar os princípios e as características que
regulam as estruturas das línguas. (SILVA, 2007)
A ciência que se se interessa pelo conjunto estruturado dos
recursos linguísticos que expressa as relações, funções e
categorias relevantes para a interpretação dos enunciados
(dimensão sintática); pelos modos de representação da
realidade, tomados como sistema de referência para essa
interpretação (dimensão semântica); pelos mecanismos que
relacionam essa interpretação a determinados estados de fato,
nas coordenadas espaço-temporal e interpessoal (dimensão
dêitico-referencial), e a determinadas situações de uso, inclusive
paraavaliar os enunciados, do ponto de vista de sua adequação
a determinadas ações e a determinados propósitos (dimensão
Definição de Silva 
Definição de Franchi 
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pragmático-discursiva) ou do ponto de vista de sua verdade ou
falsidade (dimensão lógica). (FRANCHI, 1990)
A ciência que tem um objeto de estudo próprio: a capacidade da
linguagem, que é observada a partir dos enunciados falados e
escritos. Esses enunciados são investigados e descritos à luz de
princípios teóricos e de acordo com uma terminologia específica
e apropriada. A universalidade desses princípios teóricos é
testada através da análise de enunciados em várias línguas. A
Linguística tende a ser empírica, e não especulativa ou intuitiva,
assim, tende a basear suas descobertas em métodos rígidos de
observação. Ou seja, a maioria dos modelos linguísticos
contemporâneos trabalha com dados publicamente verificáveis
por meio de observações e experiências. Estreitamente
relacionada ao caráter empírico da Linguística está a atitude não
preconceituosa em relação aos diferentes usos da língua. Essa
atitude torna a Linguística, primordialmente, uma ciência
descritiva, analítica e, sobretudo, não prescritiva. (CUNHA;
COSTA; MARTELLOTA, 2008)
A Linguística surge como uma forma de descrever e de compreender o
mistério de uma pessoa ser capaz de se comunicar com outra por
intermédio de sinais que são percebidos sensorialmente, ou seja, ela se
volta para o estudo dos códigos que usamos para realizar a
comunicação. Ocupa-se, inicialmente, da descrição e da análise da
estrutura e do funcionamento da língua, a partir da observação dos
fatos linguísticos.
O Linguista e seu método
Se a Linguística é a ciência que estuda a linguagem, quem é o linguista?
Cunha, Costa e Martellota (2008) afirmam que o linguista é o
profissional ou pesquisador que trabalha “suas observações sobre a
linguagem, relacionando-as a uma teoria linguística construída para
esse propósito. A partir dessa teoria, criam-se métodos rigorosos para a
descrição das línguas”.
Os estudos da Linguística não têm
necessariamente a ver com a aprendizagem de
muitas línguas, em ser um poliglota, mas o
linguista deve ser capaz de discutir sobre uma
Definição de Cunha, Costa e Martellota 
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ou mais línguas, conhecer seu funcionamento,
suas semelhanças e suas diferenças.
Diferentemente da gramática normativa, a gramática que aprendemos
na escola, a Linguística está mais preocupada em explicar e descrever
fatos, indo além do conceito de certo e errado, descrevendo padrões
sonoros, lexicais e gramaticais existentes na língua, sem avaliar se seu
uso é bom ou ruim, belo ou feio. Sobre isso, imagine a seguinte
situação:
Exemplo
Jorge gosta de música clássica e Ana prefere ouvir músicas eletrônicas.
Ambos jamais poderão dizer que o seu estilo musical é melhor ou pior
que o do outro, pois aí entram critérios subjetivos, de gosto pessoal e de
formação cultural de cada pessoa.
Em relação ao uso da língua, as variações existem, mas não tornam
aquele modelo melhor ou pior do que outro. Por isso, as variações da
pronúncia, do vocabulário e da sintaxe dos moradores de uma zona rural
com pouco acesso à escola não são julgados engraçados ou errados
pela Linguística, mas são analisados e explicados dentro de um quadro
teórico específico.
Qual a metodologia que o linguista utiliza?
A metodologia do linguista foca principalmente na língua oral de
determinada comunidade, mas em segunda instância pode analisar
a escrita também. A prioridade da língua oral na Linguística difere da
abordagem tradicional ou mesmo da gramática escolar, mais
preocupadas com o modelo literário utilizado na língua. Dado o prestígio
da língua escrita na maioria das sociedades do mundo, é difícil
convencer o leigo da importância do estudo da oralidade, indo além do
modelo escrito, tipográfico.
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A Linguística desenvolveu uma metodologia com a intenção de
descrever e analisar a língua a partir de conjunto de dados coletados,
o corpus. Esse conjunto não é formado apenas por frases corretas do
ponto de vista da gramática normativa, mas de tudo aquilo que é
efetivamente realizado. Essa postura teórica e metodológica dá à
Linguística o seu caráter científico fundamentado na observação dos
fatos linguísticos e na objetividade, livre de estigmas sociais ou mesmo
culturais.
Segundo Cunha, Costa e Martellota (2011), pode-se afirmar que a
Linguística executa duas tarefas principais:

“O estudo das línguas particulares como um fim em si mesmo, com o
propósito de produzir descrições adequadas de cada uma delas”.

“O estudo das línguas como um meio para obter informações sobre a
natureza da linguagem de um modo geral”.
A Linguística, portanto, entende que nenhuma língua é intrinsecamente
superior ou inferior à outra, porque todo sistema linguístico é capaz de
transmitir de forma adequada a cultura do povo que fala determinada
língua. Assim, uma língua minoritária, falada por alguns povos
indígenas, por exemplo, não é inferior a uma língua falada por milhões
de usuários, como o inglês.
As áreas da Linguística
Segundo Petter (2003), a área da Linguística pode ser dividida da
seguinte maneira, levando em conta o foco de análise:
Trata de uma língua, descrevendo-a simultaneamente no tempo,
analisa as relações existentes entre os fatos linguísticos em um
estado da língua, além de fornecer dados que confirmam ou não
as hipóteses. Modernamente, ela cede lugar à Linguística
Teórica, que constrói modelos teóricos, mais do que descreve.
Linguística descritiva (ou sincrônica) 
Linguística histórica (ou diacrônica) 
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Analisa as mudanças que a língua sofre através dos tempos,
preocupando-se, principalmente, com as transformações
ocorridas.
Procura estudar questões sobre como as pessoas, usando suas
linguagens, conseguem comunicar-se; quais propriedades todas
as linguagens têm em comum; qual conhecimento uma pessoa
deve possuir para ser capaz de usar uma linguagem e como a
habilidade linguística é adquirida pelas crianças.
Utiliza conhecimentos da Linguística para solucionar problemas,
geralmente referentes ao ensino de línguas, à tradução ou aos
distúrbios de linguagem.
Engloba todas as áreas, sem um detalhamento profundo.
Fornece modelos e conceitos que fundamentarão a análise das
línguas.
A partir disso, surgiram outras vertentes como:

Sociolinguística
Busca analisar a relação da língua e da sociedade.

Neurolinguística
Estuda o comportamento da língua no cérebro, no processamento das
informações.

Psicolinguística
Linguística teórica 
Linguística Aplicada 
Linguística Geral 
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Tenta explicar a aquisição da linguagem, seja a língua nativa ou uma
estrangeira.

Etnolinguística
Trabalha a relação da língua e da cultura, entre outras áreas.
Assim, ao longo do século XX, a área da Linguística foi se constituindo
de forma interdisciplinar, com o interesse e a contribuição dessas áreas
do conhecimento.
Divisões da Linguística
Para saber mais sobre as subdivisões da Linguística, assista ao vídeo a
seguir.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
O caráter científico da Linguística deve ser reconhecido porque
A
a Linguística desenvolveu uma metodologia com a
intenção de avaliar a língua,a partir de um conjunto
de dados coletados, para estabelecer o que é
correto e quais usos da língua são superiores e
quais são inferiores.
B
a observação dos fatos linguísticos a partir da
subjetividade do pesquisador permite identificar
qual sistema linguístico não é capaz de transmitir a
cultura do povo que o utiliza.
C
a língua é estudada do ponto de vista da gramática
normativa, com uma metodologia que prescreve o
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Parabéns! A alternativa D está correta.
A Linguística desenvolveu uma metodologia própria para descrição
e análise da língua a partir da observação do sistema da língua e da
coleta de dados dessa língua. Assim, a Linguística se estabeleceu
como área e disciplina acadêmica, não mais limitada ao estudo da
história da língua ou da abordagem etimológica e gramatical.
Questão 2
Assinale a alternativa que apresenta uma afirmação identificada
com o caráter científico da Linguística e do trabalho do linguista.
certo e o errado no uso da linguagem.
D
a metodologia utilizada tem a intenção de descrever
e analisar a língua, a partir de dados coletados,
estabelecendo uma postura teórica e metodológica
fundamentada na observação dos fatos linguísticos
e na objetividade.
E
é empregado o método histórico que busca
reconstruir a história das línguas e o
estabelecimento de sua origem.
A
O linguista é o pesquisador que especula sobre a
linguagem, relacionando suas observações com o
senso comum.
B
A partir de determinada teoria, criam-se métodos de
análise para estabelecimento de regras gramaticais
das línguas.
C
Os estudos da Linguística devem, obrigatoriamente,
conduzir ao aprendizado de muitas línguas a fim de
formar poliglotas.
D
O linguista deve ser capaz de pesquisar uma ou
mais línguas, descrevendo seu funcionamento e
elementos comuns ou distintos.
E
O linguista deve atuar a partir das teorias e métodos
estabelecidos na filosofia ou ciências sociais, que
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Parabéns! A alternativa D está correta.
Cunha, Costa e Martellota (2008) afirmam que, se a Linguística é a
ciência que estuda a linguagem, o linguista é o profissional ou
pesquisador que trabalha suas observações sobre a linguagem,
relacionando-as a uma teoria linguística construída para esse
propósito. A partir dessa teoria, criam-se métodos rigorosos para a
descrição das línguas. Assim, os estudos da Linguística não têm
necessariamente a ver com a aprendizagem de muitas línguas, em
ser um poliglota, mas o linguista deve ter a competência de discutir
sobre uma ou mais línguas, conhecer seu funcionamento, suas
semelhanças e suas diferenças.
Considerações �nais
Como todas as outras ciências, a Linguística serve para ampliar o
conhecimento e a compreensão da realidade, do mundo. No caso da
Linguística, o que se quer conhecer e pesquisar é uma das mais
importantes características do ser humano: a linguagem. As aplicações
dos estudos linguísticos surgem em decorrência do conhecimento
construído. Por meio da pesquisa dos linguistas, pode-se compreender
as estruturas e o funcionamento das línguas, inclusive daquelas mais
desconhecidas e remotas; elaborar teorias sobre a aquisição da
linguagem; reconhecer os fenômenos de mudança e de variação na
língua; obter subsídios ou fundamentos para metodologias de ensino
das línguas; descobrir as relações entre linguagem e pensamento,
linguagem e sociedade, linguagem e cultura, entre outras possibilidades.
Podcast
Para encerrar, ouça um resumo sobre os principais assuntos abordados
neste conteúdo.
tradicionalmente estudam a linguagem.

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Confira as indicações que separamos especialmente para você!
Acompanhe a entrevista com o professor Mário Perini, da UFMG, Sobre
língua, linguagem e Linguística, feita pela Revista Virtual de Estudos da
Linguagem - ReVEL, vol. 8, n. 14, 2010.
Para uma visão mais ampla e detalhada da história dos estudos
linguísticos, leia o artigo Evolução dos estudos linguísticos, da
professora Lucia F. Mendonça Cyranka, da UFJF, publicado na Revista
Práticas de Linguagem. v. 4, n. 2, jul./dez. 2014.
Referências
BORBA, F. S. Introdução aos estudos linguísticos. 12. ed. Campinas:
Pontes 1998.
BRANDÃO, R. O. A tradição sempre nova. São Paulo: Ática, 1976.
CÂMARA JR., J. M. Dicionário de linguística e gramática. 15. ed.
Petrópolis: Vozes, 1996.
CÂMARA JR., J. M. História da linguística. 7. ed. Petrópolis: Vozes,
2011.
DALLIER, L. C. Linguística. Rio de Janeiro: SESES, 2015.
LYONS, J. Introdução à linguística teórica. São Paulo: Edusp, 1979.
LYONS, J. Linguagem e Linguística: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC,
1987.
MARTELLOTA, M. E. Dupla articulação. In: MARTELOTTA, M. E. (org.).
Manual de linguística. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2011.
RIBEIRO, M. P. Gramática aplicada da língua portuguesa. 22. ed. Rio de
Janeiro: Metáfora, 2013.
ROBINS, R. H. Pequena História da Linguística. Rio de Janeiro: Ao Livro
Técnico, 1983.
SANTAELLA, L. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 1983.
SARAIVA, F. R. S. Dicionário latino-português. 11. ed. Rio de Janeiro:
Garnier, 2000.
SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, Edusp, 1969.
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10/11/2023, 10:17 Linguagem e Linguística
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MARTELOTTA, M. E. (org.). Manual de linguística. 2. ed. São Paulo:
Contexto, 2011.
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Objetivos
Módulo 1
O estruturalismo linguístico
Descrever os conceitos gerais do estruturalismo linguístico e
suas características.
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Módulo 2
Dicotomias saussureanas
O
estruturalismo
de Ferdinand
de Saussure
Prof. Nataniel dos Santos Gomes
Descrição
Apresentação do conceito de estruturalismo
proposto por Ferdinand de Saussure e de
suas principais ideias para o campo da
Linguística.
Propósito
Conhecer as principais ideias defendidas por
Ferdinand de Saussure no estabelecimento
da Linguística como ciência para progredir
nos estudos da linguagem.
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Definir as dicotomias saussureanas.
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Módulo 3
Características do signo linguístico
Identificar as características do signo linguístico.
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Introdução
No começo do século XX, o nome de Ferdinand de Saussure se
estabeleceu como o grande fundador da Linguística Moderna.
Suas elaborações teóricas acerca da linguagem lançaram as
bases dos estudos linguísticos ao longo do século passado.
É claro que outras correntes teóricas ampliaram ou mesmo
superaram algumas abordagens e conceitos de Saussure. Por
isso, estudar as ideias desse pensador e teórico é fundamental.
Neste conteúdo, você conhecerá o arcabouço teórico
desenvolvido por Saussure – o estruturalismo linguístico –, com
destaque para os diversos pares conceituais por ele propostos.
1

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O estruturalismo linguístico
Ao final deste módulo, você será capaz de descrever os conceitos gerais do estruturalismo linguístico e suas características.
Saussure e a LinguísticaModerna
A Linguística é uma ciência relativamente nova em comparação a outras
ciências humanas. Os estudos linguísticos passaram a ter status de
ciência no início do século XX com Ferdinand de Saussure (1857-
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1913) e os fundamentos teóricos por ele apresentados em seu Curso de
Linguística Geral, ministrado em Genebra.
Saussure nasceu em Genebra, Suíça. Na Alemanha, estudou Química,
Física, grego, latim, sânscrito, celta e indiano. Com apenas 24 anos,
começou a ensinar linguística histórica em uma universidade francesa.
Seus cursos ficaram famosos e, em 1891, voltou para Genebra, onde
ministrou aulas até o ano de seu falecimento.
Com o início da Linguística como ciência e disciplina autônoma,
surgiram elaborações teóricas que permitiram caracterizar a língua
como uma estrutura. Os estudos de Saussure deram base a uma
corrente teórica denominada estruturalismo, embora o linguista suíço
usasse o termo sistema em vez de estrutura para definir a língua como
um todo em que as partes estão relacionadas para sua organização em
um sistema coerente, conforme você aprenderá mais adiante.
Saussure apresentava as partes do sistema como um
conjunto de unidades em que acontecem correlações e
oposições. Um exemplo das relações entres as partes
do sistema da língua seriam as combinações de
formas mínimas que resultam em unidades
linguísticas superiores.
É o que ocorre com as sílabas formando uma palavra ou, ainda, no
exemplo da composição da palavra aguardente, em
que ardente determina o termo água, resultando em uma palavra
composta, conforme visto a seguir:
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No Brasil, o estruturalismo impactou fortemente os estudos linguísticos,
a começar pelo reconhecimento da Linguística como ciência autônoma
nos anos 1960. Naquela época, muitos pesquisadores experientes
foram atraídos por essa área de conhecimento, entre eles Joaquim
Mattoso Câmara Júnior, o primeiro doutor em Linguística do país. Tais
estudiosos usavam a Linguística como uma disciplina auxiliar para os
estudos literários.
O estruturalismo venceu a resistência de outras escolas de análise, mas
foi superado por novas tendências nos estudos linguísticos, ainda que
tenha continuado a se desenvolver e seja muito importante para a
compreensão da constituição da Linguística.
Conceito de estruturalismo
linguístico
Não se pode falar de um estruturalismo apenas, já que o termo é
utilizado em diversas áreas das ciências humanas, como a Antropologia,
a Sociologia, a Psicologia e a Linguística. O surgimento do
estruturalismo foi um dos acontecimentos de maior destaque para o
pensamento científico do século XX. Sem ele é impossível entender
inúmeros progressos das ciências humanas a partir de pesquisas
ligadas à linguagem.
O estruturalismo linguístico se consolidou com a publicação do livro
Curso de Linguística Geral, considerado uma obra póstuma de Saussure
em função de ter sido escrito por alguns de seus alunos da Universidade
de Genebra, utilizando anotações de aulas entre os anos de 1907 e
1911.
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Foto da capa original do livro Curso de Linguística Geral, 1916.
Segundo essa corrente teórica,
A língua apresenta-se como o conjunto de estruturas,
possibilidades e oposições funcionais.
Assim, tudo o que pode ser dito, enquanto for compreensível pelos
usuários, admite múltiplas realizações sem que a inteligibilidade seja
atingida, estando em constante mudança para satisfazer as
necessidades da comunidade.
Segundo Costa (2011), o estruturalismo entende que a língua é formada
por elementos coesos, que estão inter-relacionados e funcionam a partir
de um conjunto de regras, constituindo uma organização, um sistema ou
uma estrutura. Desse modo, o próprio sistema tem leis internas que
estruturam a organização dos seus elementos. Vejamos a definição do
linguista Mattoso Câmara Júnior para estruturalismo:
Estruturalismo [é a] propriedade que
têm os fatos de uma língua de se
concatenarem por meio de
correlações e oposições,
constituindo em nosso espírito uma
rede de associações ou estrutura. É
por isso que se diz ser a língua um
sistema. Trata-se, entretanto, de
uma estrutura dinâmica, para servir
às mais variadas e inesperadas
necessidades da comunicação, e
que nunca é cabal, mas sempre está
em elaboração. O caráter
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incompleto da estrutura linguística
explica não só a irregularidade e a
exceção no plano da sincronia, mas
também as mudanças linguísticas.
(CÂMARA JUNIOR, 1996, p.111)
Conforme a definição de Câmara Júnior,
A estrutura ou o sistema linguístico são mais amplos
do que a norma gramatical, porque contêm tudo o que
é possível e vão além do que é realizado.
Assim, a estrutura é também um sistema de possibilidades, pois uma
língua não é apenas aquilo que já foi feito por meio de determinado
procedimento, mas é também o que, mediante tal recurso, pode-se
fazer. Ou seja, não é somente passado e presente, uma vez que possui
uma dimensão de futuro, sempre criando possibilidades novas.
Essa é a dimensão de futuro do sistema linguístico, que usa elementos
da própria língua para criar novas possibilidades. Logo, é tarefa do
linguista analisar a organização e o funcionamento dos elementos que
constituem a língua.
Exemplo
Veja o exemplo seguinte, extraído do livro de
contos Tutameia: terceiras estórias, do
escritor brasileiro Guimarães Rosa:
“Desistindo do elevador,
embriagatinhava escada acima”.
(ROSA, 1969, 104)
Embora o dicionário não traga o
verbo embriagatinhar, o leitor é capaz de
entender, sem muita dificuldade, que a
personagem estava tão embriagada que
subia as escadas engatinhando.

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Ainda no exemplo anterior, podemos notar a aproximação e a
organização de determinadas unidades linguísticas para formar uma
palavra nova, fenômeno que ocorre constantemente na língua em todos
os níveis estruturais por possuírem características semelhantes e
obedecerem a princípios de funcionamento.
Para entender o conceito de sistema, Saussure usa várias vezes a
analogia de um jogo de xadrez. No jogo, o material de que as peças são
constituídas não é relevante, pois importa como elas se relacionam
entre si, as regras e a função de cada uma em relação à outra.
Vale lembrar que não é o conhecimento das regras normativas
encontradas nos livros de gramática que determinará o funcionamento
do jogo, se assim fosse, aqueles que tiveram pouco acesso aos estudos
não conseguiriam se comunicar.
De acordo com Costa (2011, p.115), a língua, para o estruturalismo,
“deve ser estudada em si mesma e por si mesma. Tudo aquilo que não
pertence ao campo linguístico deve ser deixado de fora da análise, já
que a preocupação é com a estrutura a partir de relações/regras
internas, deixando de lado relações da língua com a sociedade, com a
cultura ou mesmo com a geografia ou qualquer outro tipo de relação
que não seja exclusivamente ligada ao sistema linguístico”.
O estruturalismo norte-
americano
O estruturalismo norte-americano é apresentado de maneira
independente da proposta europeia de Saussure. De acordo com o
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professor e linguista Marcos Antônio Costa (2011), a corrente
estruturalista norte-americana tem as seguintes suposições:
As línguas apresentam uma estrutura específica.
A estrutura é divididaem três subsistemas: fonológico,
morfológico e sintático.
O subsistema é formado por unidades: para a fonologia, o
fonema; para a morfologia, o morfema; e para a sintaxe, o
sintagma.
A descrição linguística deve começar pelas unidades mais
simples.
As unidades devem ser definidas a partir de sua posição
estrutural.
A semântica é excluída, já que a descrição usa da objetividade
absoluta.
O estruturalismo norte-americano, na visão do professor Marcos
Antônio Costa (2011), estabelece que, para estudar a língua, são
necessárias as seguintes condições:
Para a vertente norte-americana do estruturalismo, as partes da língua
se organizam em posições específicas que se relacionam entre si. Trata-
se de um método exclusivamente descritivo e indutivo que explica por
que as frases não são simples sequências de elementos, mas
constituintes formados por unidades inferiores. Portanto, uma frase é o
resultado de diversas camadas de constituintes. Veja, a seguir, como
são esses dois métodos:
Descritivo
Para a linguística estruturalista, o que importa é a descrição da
estrutura e do funcionamento da língua tal como ela se
Conjunto variado de sentenças 
Inventário de sentenças 
Regras de combinação 
Análise de elementos 
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apresenta em determinado momento em vez de normatizar ou
prescrever como deve ser seu funcionamento. Por isso, o
método adotado é o descritivo.
Indutivo
Para a linguística estruturalista, o método indutivo é
caracterizado pelo estudo formal da língua, partindo das
unidades mais simples para as maiores, já que as frases são
formadas por combinações de construções.
Exemplo da aplicação do método indutivo, a frase “o menino comeu a
maçã” é composta pelos sintagmas “o menino” e “comeu a maçã”.
Esses sintagmas, por sua vez, são compostos pelas palavras “o”,
“menino”, “comeu”, “a”, “maçã”; e ainda pelos morfemas “o”, “menin”, “o”,
“com”, “eu”, “a”, “maçã”; e por fim pelos fonemas /o/ /m/e/n/in/u/
/k/u/m/e/u/ /a/ /m/a/s/ã/.
Os sintagmas, as palavras, os morfemas e os fonemas são
considerados unidades ou camadas que relacionadas entre si resultam
na frase do nosso exemplo: “O menino comeu a maçã”.
O modo de análise do estruturalismo norte-americano é bastante formal
e restringe sua abordagem à classificação dos elementos que aparecem
nos dados coletados e à identificação das leis que regem tais
combinações.
Panorama do estruturalismo
norte-americano
Neste vídeo, o linguista e professor Nataniel Gomes nos apresenta o
estruturalismo norte-americano e faz um comparativo entre as duas
teorias. Vamos lá!

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Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo
que você acabou de estudar.
Módulo 1 - Vem que eu te explico!
O estruturalismo linguístico
Módulo 1 - Vem que eu te explico!
A noção de sistema no estruturalismo

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Questão 1
Assinale a alternativa que descreve corretamente o estruturalismo
linguístico proposto por Ferdinand de Saussure.

Vamos praticar alguns
conceitos?
Falta pouco
para atingir
seus
objetivos.
A
O entendimento da língua como um sistema pode
recorrer à analogia com o jogo de xadrez, porque o
mais importante na língua é como os elementos
internamente se relacionam entre si, quais as regras e
o modo de funcionamento deles.
B
A língua é um sistema ou uma estrutura, por isso o
mais importante são as regras normativas das
gramáticas escolares e não o funcionamento interno
dos elementos da língua.
C
A língua, apesar de ser um sistema, deve ser estudada
priorizando as relações sociais de seus falantes ou
usuários.
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Questão 2
A corrente estruturalista norte-americana pode ser adequadamente
descrita por meio de qual característica?
D
O estudo da língua como um sistema permite
confirmar que os falantes ou usuários com pouco
acesso aos estudos não conseguem se comunicar.
E
O estudo da língua deve ser centrado nos aspectos
culturais, sociais e externos ao seu sistema.
Responder
A
O estruturalismo norte-americano entende que as
partes da língua são organizadas em posições
indefinidas e aleatórias, possuindo autonomia entre si.
B
O método dedutivo e exclusivamente interpretativo
caracteriza o estudo da língua e da estrutura das
frases no estruturalismo norte-americano.
C
Uma frase deve ser entendida como a sobreposição
de elementos isolados que se constituem em
sequências simples.
D
As unidades ou camadas da língua são consideradas
a partir das relações que estabelecem entre si, como
pode ser descrito na análise das diversas
combinações entre os sintagmas, as palavras, os
morfemas e os fonemas encontrados na frase “O
menino comeu a maçã”.
E
Os sintagmas, os morfemas e os fonemas são
considerados elementos isolados na frase, sem
relação entre si, como exemplificado na frase “O
menino comeu a maçã”.
Responder
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2
Dicotomias Saussureanas
Ao final deste módulo, você será capaz de definir as dicotomias saussureanas.
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As três dualidades
Você sabe o que é uma dicotomia?
O termo se refere à divisão de um conceito em duas partes, formando
um par opositivo.
Ao estudarmos Saussure, encontramos as chamadas dicotomias.
Algumas das principais dualidades propostas por Saussure são:

Língua e fala

Sincronia e diacronia

Sintagma e paradigma
Língua e fala
Comecemos com a dicotomia língua e fala, ou langue e parole, se
fôssemos utilizar os termos franceses originalmente empregados por
Saussure. Para explicar o conceito de língua, é importante relembrar que
ela faz parte da linguagem.
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Para Saussure (1996), a linguagem é um objeto duplo, pois
um fenômeno linguístico apresenta perpetuamente
duas faces que se correspondem e das quais uma não
vale senão pela outra.
A linguagem é multiforme e heteróclita, enquanto a língua é o aspecto
social, coletivo, compartilhada entre os falantes como uma herança
recebida de seus antepassados.
Para Saussure (1996, p.95), “a língua constitui um sistema de valores
puros que nada determina fora do estado momentâneo de seus termos,”
ou seja, a pureza tem a ver com os valores que se dão no ato da fala.
Ainda segundo o teórico, “A língua é necessária para que a fala seja
inteligível e produza todos os seus efeitos; mas esta é necessária para
que a língua se estabeleça.” (1996, p.27).
Logo, a língua funciona como um princípio de ordenação, que se
configura fala e promove a modernização do sistema linguístico. O
falante pega as peças, como no jogo de xadrez, seguindo princípios e
organizando o sistema linguístico.
Dessa forma, temos o seguinte:
Coletivo Individual
Exemplo
Saussure (1996) dá o seguinte exemplo:
“Dizemos homem e cachorro porque antes
de nós se disse homem e cachorro”. O
exemplo mostra que não ocorrem mudanças
repentinas ou mesmo individuais na língua,
sendo ela, portanto, resistente à mudança.
Por outro lado, Saussure afirma que, para
haver mudança na língua, as alterações
deverão ocorrer nos atos da fala, que se
constituem numa manifestação individual da
língua.

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Língua Fala
Para Saussure, não é possível conceber um sem o outro. A língua,
portanto, é um sistema coletivo utilizado para a comunicação dos
indivíduos na sociedade, sendo parte essencial da linguagem.
O autor também afirma que a língua é um tesouro depositado no
cérebro dos usuários de uma mesma comunidade linguística e declara
que ela decorre de um contrato feito entre os falantes, justificando o seu
caráter social. Ninguém, de forma individual, pode criar nem modificar a
língua.
Quando Saussure (1996) se refere à fala, afirma que ela constitui o uso
individual do sistema linguístico, sendo um ato individual de vontade e
de inteligência. O usuário combina as unidades disponíveis no sistema
linguístico para expressar seu pensamento, sendo um mecanismo
psicofísico que exterioriza tais combinações, ou seja, torna-se uma
manifestação prática e concreta da língua por determinado falante.
Por isso, afirma-se que a fala é individual e está submetida às regras da
língua, que podem ser modificadas, desde que outro usuário a quem a
informação é endereçada aceite a mudança. Nesse sentido, a mudança
começa pela fala até chegar à língua.
Há uma comparação da língua com o dicionário que pode ajudar a
compreender melhor o conceito de fala. O linguista brasileiro Edward
Lopes explica essa analogia da língua com o dicionário:
Saussure compara a língua a um
dicionário, cujos exemplares
tivessem sido distribuídos entre
todos os membros de uma
sociedade. Desse dicionário (ao
qual deveríamos acrescentar, para

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sermos mais precisos, uma
gramática), que é a langue, cada
indivíduo escolhe aquilo que serve
aos seus propósitos imediatos de
comunicação. Essa parcela
concreta e individual da langue,
posta em ação por um falante em
cada uma de suas situações
comunicativas concretas, chamou-a
Saussure parole (em português
“fala” ou “discurso)”.
(LOPES, 2005, p.77)
Diante do conceito e da distinção de língua e fala, Saussure estabelece
que o objeto de estudo da Linguística é a língua e não a fala, que é vista
como secundária.
A língua é comum a todos, sendo essencial na atividade de
comunicação e não uma manifestação específica de cada um, como é o
caso da fala. Por isso, toda a preocupação extralinguística é
abandonada e a estrutura linguística é estudada a partir de relações
internas da língua.
Lembre-se de que para Saussure não se pode estudar as relações
internas da língua de forma isolada. A língua é essencial para que a fala
seja entendida e o usuário possa se comunicar. Além disso, ela se forma
a partir de sua manifestação individual, a fala, que é uma forma
concreta de uso.
Veja a imagem a seguir:
Circuito da comunicação para Saussure (1996).
A imagem mostra como Saussure entendia o processo de comunicação.
O termo comunicação vem do verbo latino comunicare, que significa
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tornar comum, ou seja, são necessários alguns elementos comuns para
que haja comunicação. São necessários dois indivíduos que falem a
mesma língua e usem signos comuns aos dois.
Atividade discursiva
Refletindo sobre a questão, responda:
Em uma palestra, é possível haver comunicação?
Digite sua resposta aqui
Chave de resposta
Os indivíduos envolvidos na comunicação precisam falar a mesma
língua, caso contrário, não haverá comunicação entre eles. Por exemplo,
os dois devem ser falantes da língua portuguesa e usar elementos
comuns aos dois. É relativamente comum encontrar pessoas que falam
a mesma língua que nós, mas usam um vocabulário muito específico
que impede a comunicação. Elas falam, mas não estabelecem
comunicação.
Se todos os requisitos são acompanhados, cada um dos usuários da
imagem apresenta uma fala característica, individual, pertencente a
determinada língua, o que não prejudica a comunicação entre eles.
Diferença entre língua e fala
Neste vídeo, o professor Luís Dallier comenta as diferenças entre langue
e parole. Vamos assistir!


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Antes de conhecer a próxima dicotomia de Saussure, confira uma
síntese da distinção entre língua e fala:
Langue
Língua
Sistema global de
regularidades
Caráter coletivo
Social, exterior ao
indivíduo
Convencional
Homogênea
Interesse prioritário do
linguista; pode ser
estudada
separadamente
Parole
Fala
Formada por
expressões reais em si
Caráter individual
Atividade linguística
concreta e individual
Exprime pensamento
pessoal
Heterogênea
Considerada acessória
e acidental
Sincronia e diacronia
Para entender a dicotomia sincronia e diacronia, vamos conhecer os
fatos a seguir:

 No início do século XIX, os pesquisadores notaram
muitas semelhanças entre determinadas línguas.
Assim, buscou-se reunir as línguas em grupos ou
famílias, método que ficou conhecido como
histórico-comparativo.
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Vamos entender melhor agora cada um desses conceitos:
Veja no gráfico a seguir um exemplo da diferença entre diacronia e
sincronia:
Diacronia X sincronia
 A partir de 1870, os chamados neogramáticos
criticaram o método histórico-comparativo,
demonstrando que as mudanças linguísticas
seguiam certa regularidade, independentemente da
vontade dos falantes e, por isso, afastaram-se das
especulações pouco científicas e subjetivas para
seguirem o rigor científico no entendimento das
mudanças ocorridas nas línguas ao longo do
tempo.
 Saussure se diferencia ao estabelecer que o estudo
da língua pode se dar em um eixo diacrônico,
relacionado aos fatos que se sucedem com uma
língua no decorrer do tempo, ou em um eixo
sincrônico, relacionado ao que é simultâneo ou
coexistente em uma língua.
Sincronia 
Diacronia 
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Nas linhas horizontais, vemos o estudo sincrônico, enquanto na linha
vertical, a abordagem diacrônica.
Ao estudar a forma verbal ponere no latim, temos um estudo sincrônico
(linhas horizontais), da mesma forma ao estudar o verbo poer no
português antigo e pôr e suas variantes atuais no nosso português.
Porém, ao estudar as mudanças do latim até o português atual, do
português antigo ao atual ou do latim ao português antigo, tem-se o
estudo diacrônico (linha vertical), ou seja, são abordadas as mudanças
ocorridas durante um espaço de tempo.
A sincronia e a diacronia podem ser comparadas da seguinte maneira:
A sincronia pode ser comparada a uma fotografia,
assim como um texto descritivo.
A diacronia pode ser comparada a um filme, assim
como uma narrativa, uma sucessão de eventos.
A metáfora do jogo de
xadrez

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Neste vídeo, veremos que Saussure identificava, no tabuleiro de um jogo
de xadrez, comparações com os enfoques sincrônico e diacrônico.
Depois de apontar a diferença entre as duas formas de investigação
linguística, Saussure defende que a prioridade está sobre o olhar
sincrônico da língua, ou seja, o estruturalismo deve privilegiar o sistema
da língua, que se configura a partir de suas relações internas em
determinado momento.
Sintagma e paradigma
Saussure identifica na língua dois tipos de relação: as sintagmáticas e
as paradigmáticas. Essas relações evidenciam como as unidades que
constituem o sistema relacionam-se umas com as outras, organizando a
estrutura da língua. 
Para Saussure, asrelações entre os sintagmas estão baseadas na
linearidade da língua, ou seja, a noção é que a língua é constituída de
elementos que se sucedem um após o outro na cadeia da fala. Essa
relação entre os elementos é chamada de sintagma. Assim, um termo
terá valor quando contrastado com o anterior, o posterior ou ambos,
porque um sintagma não pode aparecer ao mesmo tempo que o outro.
Por isso, Saussure afirma:
O sintagma se compõe sempre de
duas ou mais unidades
consecutivas (por exemplo: re-ler,
contra todos; a vida humana, Deus é
bom; se fizer bom tempo, sairemos
etc.).
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(SAUSSURE, 1996, p.142)
As relações sintagmáticas se originam das diversas combinações entre
esses elementos.
Lembre-se das aulas de análise sintática na escola. Era pedido que os
termos das orações fossem classificados como sujeito, predicado,
objeto direto, complemento nominal, adjunto adverbial, entre outros. O
que o professor estava pedindo era que aquele sintagma fosse
classificado de acordo com a gramática normativa. Além disso, em
nossa fala, organizamos as frases a partir de sintagmas, e não de
palavras soltas. Nós fazemos isso a todo instante, como você pode ver
no exemplo a seguir:
Agora veja a definição de sintagma dada por Câmara Jr.:
Exemplo
Daniel comprou um pão na padaria no
domingo.
Temos: “Daniel”, “comprou”, “um pão”, “na
padaria” e “no domingo”. Tais sintagmas
podem ser colocados em diversas posições
da sentença, como em:
(1) Daniel comprou, no domingo, um pão na
padaria.
(2) No domingo, Daniel comprou um pão na
padaria.
(3) Daniel comprou na padaria, no domingo,
um pão.
Mas o sintagma não pode ser quebrado ou
invertido, como em:
(1) * Daniel comprou pão um na padaria no
domingo.
(2) * na Daniel comprou um pão padaria no
domingo.
(3) * Daniel comprou um pão na padaria
domingo no.
Lembre-se de que o asterisco (*) indica que a
frase é agramatical, ou seja, não é possível
na língua.

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Termo estabelecido por Saussure
para designar a combinação das
formas mínimas numa unidade
linguística superior. De acordo com
o espírito da definição implícita em
Saussure, entende-se atualmente
por sintagma apenas um conjunto
binário (duas formas combinadas)
em que um elemento determinante
cria um elo de subordinação com
outro elemento, que é o
determinado. Quando a combinação
cria uma mera coordenação entre os
elementos, tem-se, ao contrário,
uma sequência.
(CÂMARA, Jr., 1996, p.135)
Quando o falante une duas ou mais unidades, como nos exemplos
anteriores, ele está combinando sintagmas e são criadas diversas
relações que se articulam entre si, com várias possibilidades de
associação entre essas unidades.
Nessa dicotomia, encontramos também as relações paradigmáticas.
Os paradigmas são manifestados por relações de
associação mental entre a unidade linguística que está
em determinada posição na frase e todas as outras
que estão ausentes, mas que pertencem à mesma
classe daquela e que poderiam substituí-la naquele
contexto.
Por exemplo, a palavra sapateiro está associada a sapato e à sapataria,
com base no radical sapat. Da mesma forma, o sufixo -eiro pode nos
levar a outra série de paradigmas, como violeiro, cabelereiro, livreiro e
outros. Assim, o funcionamento da língua ocorre porque ela é um
sistema formado por associações, combinações e exclusões.
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Paradigmas da raiz “sapat”.
Câmara Júnior define paradigma como “Conjunto de formas linguísticas
que se associam por um traço linguístico permanente, que é o
denominador comum de todas elas. Na base desse traço, estabelecem-
se correlações e as oposições entre os membros do paradigma.” (1996,
p.145).
Para Joaquim Mattoso Câmara Júnior, o paradigma trabalha com
relações inspiradas em combinações, ou seja, é o material que está na
mente do falante para que possa ser escolhido, dentro de uma lista de
possibilidades.
Por isso, a relação sintagmática se dá pela ausência, já que a escolha de
um elemento automaticamente exclui os outros e um elemento se
discerne do outro na relação.
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo
que você acabou de estudar.
Recomendação
Vale lembrar que, no paradigma, elementos
podem ser associados, mesmo que o
sentido seja outro. Trata-se de um
repositório ou memória em que estão
inúmeras possibilidades retiradas da língua.


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Módulo 2 - Vem que eu te explico!
Porque a langue é o objeto de estudo de
Saussure?
Módulo 2 - Vem que eu te explico!
As relações sintagmáticas e paradigmáticas
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Questão 1
Ao estudarmos Saussure, deparamo-nos com as dicotomias
língua/fala e sincronia/diacronia, apresentadas em seu Curso de
Linguística Geral. Definir essas dicotomias implica afirmar
corretamente que

Vamos praticar alguns
conceitos?
Falta pouco
para atingir
seus
objetivos.
A
a língua (langue) tem caráter individual em oposição
ao caráter coletivo da fala (parole). Seu estudo é
denominado sincrônico quando o enfoque são as
mudanças ocorridas ao longo do tempo.
B
a língua tem caráter individual, concreto e não
sistêmico. Além disso, seu estudo é denominado
diacrônico quando o enfoque é simplesmente o
passado da língua.
C
a língua pode ser caracterizada como coletiva e
social. Seu estudo é denominado diacrônico quando o
enfoque são as mudanças ocorridas ao longo de
determinado período de tempo.
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Questão 2
Assinale a alternativa que apresenta uma definição correta das
relações sintagmática e paradigmática:
D
a linguagem tem um lado social ou coletivo, que
corresponde à fala.
E
a fala é a dimensão coletiva da língua e seu estudo
diacrônico é privilegiado no estruturalismo linguístico.
Responder
A
O sintagma é baseado na noção de que os elementos
da língua se sobrepõem, sem linearidade, enquanto o
paradigma é uma relação em que os elementos são
combinados apenas quando o sentido de cada um é o
mesmo.
B
O sintagma é baseado na noção de que a língua é um
sistema em que os elementos se sucedem um após o
outro na cadeia da fala, tendo valor quando
contrastado com outro elemento, enquanto o
paradigma é uma relação que se manifesta como um
eixo de possibilidades de elementos estabelecidos na
memória do usuário da língua.
C
Quando os elementos linguísticos estão isolados na
língua, tem-se um paradigma, e quando acontecem
combinações ou associações a partir da memória ou
repertório linguístico, tem-se o sintagma.
D
A relação sintagmática é aquela em que um elemento
pode aparecer ao mesmo tempo que o outro, ou seja,
a escolha de um elemento não exclui
automaticamente os outros elementos.
E
Os eixos sintagmático e paradigmático são
semelhantes, ou seja, eles correspondem a um
mesmo modo de organização ou estruturação da
língua
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3
Características do signo linguístico
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as características do signo linguístico.
Responder
10/11/2023, 10:18 O estruturalismo de Ferdinand de Saussure
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O signo linguístico
Ao afirmar que a línguae
mandioca estão competindo pela expressão do mesmo significado
referencial”) ou de mudança (“declaro encerrada a competição entre
Vossa Mercê e você: o você ganhou”). Mais do que isso, ele quer
explicar o que leva o falante a escolher uma forma em detrimento de
outra (no caso da variação) e o que leva uma forma a permanecer no
sistema linguístico enquanto outra desaparece (no caso da mudança).
O papel do sociolinguista
Um sociolinguista deve buscar correlações sistemáticas entre o uso da
língua e um conjunto de fatores sociais e/ou linguísticos.
Por exemplo, pense novamente na alternância entre mexerica e
bergamota. Você provavelmente sabe que essas duas formas estão
associadas a regiões geográficas distintas:
A primeira é muito usada no Sudeste e no Centro-Oeste
do Brasil, ao passo que a segunda se destaca na
Região Sul. Pronto: você acaba de estabelecer uma
correlação sistemática entre o uso da língua (emprego
mais frequente das palavras mexerica ou bergamota) e
um fator de natureza social (a região geográfica em
que o falante vive).
Agora pense no outro caso de variação: a alternância entre “escrever” e
“escrevê”. Note que esse par de palavras é apenas um exemplo; o
mesmo tipo de alternância ocorre com muitos outros pares, “cantar”
versus “cantá”, “flor” versus “flô”.
Comentário

10/11/2023, 10:21 A Sociolinguística
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A essência do trabalho de um sociolinguista variacionista consiste
exatamente em procurar correlações entre:
A maneira como as
pessoas falam
Por exemplo: “mexerica”
ou “bergamota”;
“escrever” e “flor” ou
“escrevê” e “flô”.
Os fatores de
natureza social ou
linguística
Refere-se a região
geográfica do falante ou
classe gramatical da
palavra.
Por que isso é importante? Por um motivo simples: ao fazer isso, a
Sociolinguística Variacionista consegue demonstrar o seguinte:
A variação linguística é condicionada (não
livre) e sistemática (não aleatória).
Em princípio, alguém poderia supor que a escolha por uma forma ou por
outra é gratuita, imotivada: o falante usaria ora “mexerica”, ora
“bergamota” — ou ora “flor”, ora “flô” — sem que nada condicionasse
suas escolhas. Seria como se ele sorteasse uma das variações ao
acaso. E, como resultado, teríamos, para cada sistema linguístico, uma
variabilidade desordenada, aleatória. Não seria possível identificar
qualquer padrão coletivo. Contudo, as coisas não funcionam assim.
A Sociolinguística Variacionista tem sido capaz de identificar certas
correlações sistemáticas entre o uso da língua e fatores de natureza
social e linguística — coisas como “no Sul, usa-se mais bergamota do
Pensando sobre esses diferentes casos,
você talvez tenha a sensação de que o
apagamento do /R/ final é mais comum em
verbos (“escrevê”, “cantá”) do que em
substantivos (“amô”, “ditadô”). Pronto: você
acaba de estabelecer uma correlação
sistemática entre o uso da língua
(manutenção ou apagamento do /R/ final) e
um fator de natureza linguística (a classe
gramatical da palavra).

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que no Sudeste e no Centro-Oeste” ou então “em verbos, apaga-se o /R/
final mais frequentemente do que em substantivos”.
Ora, a própria existência dessas correlações sugere
que o falante não é inteiramente livre para escolher
entre uma forma ou outra: pelo contrário, ele sofre
condicionamentos. Como resultado, quando
analisamos o uso linguístico de diferentes
comunidades, encontramos padrões.
E essa é a ideia central da Sociolinguística Variacionista: por mais que o
sistema linguístico seja variável, essa variabilidade não implica caos e
aleatoriedade — pelo contrário, ela é regular e sistemática.
Sejamos justos: é claro que os sociolinguistas vão muito além de
simplesmente dizer que “pessoas de uma região tendem a falar assim,
pessoas de outras regiões tendem a falar assado”. Existem pelo menos
cinco razões para isso:
Comentário
A variável será o /R/ final de palavra. Já as
variantes — isto é, as alternativas disponíveis
para a expressão dessa variável — são a
realização do /R/ e o apagamento do /R/.

 Coletam e analisam dados
sistematicamente (isto é, gravam e
transcrevem a fala das pessoas ou
reúnem textos escritos por elas).
 Quanti�cam esses dados e os
submetem a métodos estatísticos
avançados.
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A Sociolinguística
Neste vídeo, o professor aborda o ofício do sociolinguista e sua relação
com outras subáreas, como: a Análise da Conversa, a Etnografia da Fala,
a Sociolinguística Interacional, a Análise do Discurso Francesa, a Análise
do Discurso Crítica e a Sociologia da Linguagem.
 Consideram múltiplos fatores para
um mesmo fenômeno e buscam
entender as relações entre esses
fatores.
 Investigam não apenas o modo
como as pessoas falam (e
escrevem), mas também suas
percepções, crenças e atitudes em
face de diferentes usos
linguísticos.
 Fazem generalizações a partir da
análise de diferentes fenômenos,
isto é, depois de analisar diferentes
casos particulares de variação e
mudança (nós versus a gente; Vossa
Mercê versus você), procuram
chegar a uma teoria geral que
explique como se dão a variação e
a mudança nas línguas humanas.

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Síntese
Completando essa apresentação inicial da Sociolinguística
Variacionista, sintetizaremos o que vimos neste módulo em cinco
breves pontos:

O objeto de estudo da Sociolinguística Variacionista são os
fenômenos (fortemente relacionados) da variação linguística e
da mudança linguística.

A relação entre variação e mudança é tal que a segunda
pressupõe a primeira, mas a primeira não implica
necessariamente a segunda.

O objetivo da Sociolinguística Variacionista é identificar os
fatores capazes de explicar a variação e a mudança
linguísticas.

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Por trás desse objetivo está a premissa de que a variação

Essa sistematicidade advém da existência de correlações
sistemáticas entre a heterogeneidade da estrutura linguística e
um conjunto de fatores de natureza social e gramatical.
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo
que você acabou de estudar.
Módulo 1 - Vem que eu te explico!
Diferença entre variação e mudança
linguística
Módulo 1 - Vem que eu te explico!
O papel do sociolinguista

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Questão 1
Assinale a alternativa que descreve adequadamente o objeto e o
objetivo da Sociolinguística Variacionista.

Vamos praticar alguns
conceitos?
Falta pouco
para atingir
seus objetivos.
A
Sociolinguística Variacionista tem como objeto de
estudo somente a mudança linguística e como
objetivo os fatores que explicam essa mudança.
B
O objeto de estudo da Sociolinguística Variacionista é
tão somente a variação linguística e seu objetivo é a
compreensão dos fatores que impedem essas
variações.
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Questão 2
Assinale a alternativa que melhor descreve o vínculo entre variação
e mudança linguísticas.
C
A Sociolinguística Variacionista tem como objeto de
estudo a língua e seu objetivo é simplesmente
constatar a existência de um caso de variação.
D
O objeto de estudo da Sociolinguística Variacionista
são a variação e a mudança linguísticas; seu objetivo
de estudo está centrado nos fatores que as explicam.
E
O objeto de estudo da Sociolinguística Variacionista é
o padrão ou norma da língua e seu objetivo é o
estabelecimento daé um sistema de signos, Saussure define o signo
linguístico a partir da união psíquica entre um significado e um
significante, que são partes absolutamente inseparáveis, o que torna
impossível um sem o outro.
O significado seria equivalente a um conceito, ou seja, é uma
contraparte inteligível. Já o significante se aproxima da noção de
imagem acústica, mas não é o som material, e sim a impressão do som,
a parte sensível do signo.
Veja a imagem a seguir:
A natureza do signo linguístico.
No exemplo anterior, Saussure demonstra o funcionamento do signo
linguístico a partir de um conceito manifestado pelo desenho do cavalo
e da árvore. Esse conceito é imediatamente associado à imagem
acústica de cavalo e árvore.
Atenção!
Note que Saussure usa as palavras em latim
para que ninguém acredite que a relação
entre o significado e o significante tem
alguma aproximação com a realidade que
não seja a imposição. O “signo linguístico
une não uma coisa e uma palavra, mas um

10/11/2023, 10:18 O estruturalismo de Ferdinand de Saussure
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O signo só existe se tiver o conceito e a imagem acústica reunidos por
esse vínculo indissociável. Normalmente, confunde-se palavra escrita ou
falada com o signo, mas ela é apenas uma parte visível do signo.
O signo linguístico.
O signo só existe se tiver o conceito e a imagem acústica reunidos por
esse vínculo indissociável. Normalmente, confunde-se palavra escrita ou
falada com o signo, mas ela é apenas uma parte visível do signo. O
conceito também não deve ser associado a uma coisa, o que seria uma
simplificação muito grande, afinal, podemos nos referir a conceitos
abstratos, como amor, alegria, entre outros, que não coisas. Por isso,
mais adiante, Saussure passa a empregar os termos significado e
significante para definir o signo.
Veja a próxima imagem, que ilustra o pensamento saussureano:
O signo linguístico.
conceito e uma imagem acústica.”
(SAUSSURE, 1996, p.79)
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Ao ouvir o significante árvore, virá à mente do usuário da língua o
conceito do que está sendo denominado árvore, e não o conceito ou
sentido de uma caneta ou de um carro.
É interessante notar que um mesmo significante pode ter mais de um
significado, como acontece com a polissemia (a palavra adquire um
novo sentido). O significante cabra possui significados distintos nas
frases a seguir:

A cabra invadiu o terreno.

Ele era um cabra da peste.

Não achei o pé de cabra.
Também é possível encontrarmos significantes distintos com um
mesmo significado, como ocorre em abóbora e jerimun, palavras que
designam o mesmo fruto.
Signo linguístico
Neste vídeo, o linguista Antônio Suarez Abreu trata do conceito de signo
linguístico a partir de Saussure e de outros linguistas que vieram depois
dele.

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Arbitrariedade e linearidade
do signo linguístico
Assim como a língua é imposta como uma herança, o signo também é
recebido de períodos anteriores e apresenta duas características
essenciais: a arbitrariedade e a linearidade.
Saussure explica a arbitrariedade do signo linguístico como “o laço que
une o significante ao significado é arbitrário ou então, visto que
entendemos por signo o total resultante da associação de um
significante com um significado, podemos dizer mais simplesmente: o
signo linguístico é arbitrário.” (SAUSSURE, 1996, p.81).
A união entre um significado e um significante é
imposta, não existe nenhum tipo de vínculo causal
entre os dois.
Qual é a relação existente entre uma palavra como cadeira e seu
conceito? Nenhuma. Apenas a imposição ou algo convencional, não
motivado naturalmente. Por isso que em outras línguas o conceito de
cadeira será representado por outras formas.
Atenção!
A ideia de “mar” não está ligada por relação
alguma interior à sequência de sons m-a-r
que lhe serve de significante; poderia ser
representada igualmente bem por outra
sequência, não importa qual; como prova,
temos as diferenças entre as línguas e a
própria existência de línguas diferentes: o

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Desse modo, para Saussure, o significado ou conceito atrelado a um
significante não depende da livre escolha de quem fala, já que o usuário
da língua não tem ao alcance a possibilidade de “trocar alguma coisa
num signo, uma vez que esteja ele estabelecido num grupo linguístico”.
A conclusão, portanto, é “que o significante é imotivado, isto é, arbitrário
em relação ao significado, com o qual não tem nenhum laço natural na
realidade.” (SAUSSURE, 1996, p.83).
Se a relação entre o significado e o significante não pode ser alterada, o
usuário, para transmitir suas ideias, precisa utilizar o sistema linguístico
conforme os outros falantes pertencentes à mesma comunidade
linguística. E se por um lado o signo linguístico é arbitrário, Saussure
lembra que pode haver relativa motivação entre o significado e o
significante em alguns casos.
O princípio fundamental da
arbitrariedade do signo não impede
distinguir, em cada língua, o que é
radicalmente arbitrário, vale dizer,
imotivado, daquilo que só o é
relativamente. Apenas uma parte
dos signos é absolutamente
arbitrária; em outra, intervém um
fenômeno que permite reconhecer
graus no arbitrário sem suprimi-lo: o
signo pode ser relativamente
motivado.
(SAUSSURE, 1996, p.152)
Seguindo ainda a lógica das dicotomias para explicar o sistema da
língua, Saussure apresenta dois tipos de arbitrariedade:
significado da palavra francesa boeuf (“boi”)
tem por significante b-o-f de um lado da
fronteira franco-germânica, e o-k-s (ochs) do
outro. (SAUSSURE, 1996, p.81-82).
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Absoluta Relativa
A arbitrariedade absoluta pode ser exemplificada pelos números dez e
nove, que isolados são totalmente arbitrários, manifestando uma
relação imotivada. Ao combinar os dois números para formar dezenove,
tem-se uma atenuação da arbitrariedade, pois dezenove originou-se dos
signos ou palavras anteriores (dez e nove). Os significados anteriores
servem para o entendimento do terceiro signo, portanto, temos a
arbitrariedade relativa.
A arbitrariedade do signo linguístico pode se contrapor à associação
com a realidade encontrada no símbolo. O símbolo é motivado, ou seja,
de alguma forma tem uma relação de causalidade ou proximidade com
o mundo.
Para explicar essa diferença, Saussure apresenta o símbolo da justiça, a
deusa grega Têmis, com os olhos vendados, segurando a balança em
uma mão e a espada na outra. Ao olhar para o símbolo da justiça,
entende-se o seu papel de ser imparcial e de pesar os fatos. O signo tem
uma relação arbitrária, imposta convencionalmente, com o conceito de
justiça.

Exemplo
Outro exemplo para arbitrariedade absoluta é
a palavra livro, enquanto livreiro é exemplo
de arbitrariedade relativa, pois se trata de
uma derivação.

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Outra característica defendida por Saussure sobre o signo linguístico é
sua linearidade. Nas palavras dele, “o significante, sendo de natureza
auditiva, desenvolve-se no tempo: a) representa uma extensão, e b) essa
extensão é mensurável numa só dimensão: é uma linha.” (1996, p.84).
A parte material do signo, ou seja, o significante, é linear. Isso se
concretiza nas formas fônicas, nos significantes acústicos que se
manifestam um após outro, gerando uma cadeia. Segundo Saussure
(1996, p.84),
esse caráter apareceimediatamente quando os
representamos pela escrita e substituímos a sucessão
do tempo pela linha espacial dos signos gráficos.
Se tomarmos a palavra cavalo e a segmentarmos em c-a-v-a-lo ou ca-va-
lo, como na seguinte imagem, temos uma manifestação da linearidade
no fato de identificarmos uma sequencialidade ou ordem que não pode
ser rompida ou subvertida sob pena de dissolvermos o significante e o
desprovermos de seu significado. (DALLIER, 2015, p.60).
Segmentação da palavra “cavalo”.
O signo não tem necessariamente associação com a escrita, mas serve
para ilustrar a relação da linearidade do significante, uma letra de cada
vez, assim como ocorre na sequência fônica.
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Se o signo mantém o aspecto da imutabilidade para que a língua seja
preservada e compreendida pelos usuários, é na arbitrariedade que
surgem as mudanças linguísticas. Para que a mudança ocorra, é preciso
que outros membros da coletividade concordem, processo que se dá
por meio do tempo, da língua e dos falantes.
A mudança linguística não surge da noite para o dia. É um processo
gradativo que começa com a variação. Por exemplo, a forma “Vossa
Mercê” não foi simplesmente substituída por “você” em um instante.
“Vossa Mercê” era amplamente utilizada, até que algumas pessoas
passaram a produzir a forma “vosmecê”, que foi substituindo a forma
anterior e alcançou uma nova variação: “você”. Atualmente,
encontramos também a forma oral “cê”. Em outras palavras, a mudança
linguística começa pela variação e, com o tempo, acontece o abandono
da forma mais antiga. Observe:
Não se deve confundir mudança linguística com atualização ortográfica.
A ortografia é a forma estabelecida como correta para se escrever. Se
cada indivíduo escrevesse da forma como se fala, em um espaço curto
de tempo haveria tantas possibilidades de escrita que seria difícil ler um
texto e, por isso, são estabelecidos certos padrões.
Um exemplo de atualização ortográfica foi a mudança de escrita da
palavra “pharmácia” para farmácia ou as alterações ocorridas
recentemente em palavras como “idéia” e “vôo”, que perderam o acento
gráfico. Nesses casos, não houve alteração de som, de morfologia ou
mesmo de sentido, apenas modificou-se a grafia. Essas transformações
acontecem para suprir as necessidades da sociedade, mas não podem
ser vistas como mudança linguística.
Vossa Mercê Vosmecê

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Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo
que você acabou de estudar.
Módulo 3 - Vem que eu te explico!
Arbitrariedade absoluta e relativa
Módulo 3 - Vem que eu te explico!
Linearidade do signo linguístico
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Questão 1
Devemos identificar como característica do signo linguístico, de
acordo com Saussure, a relação significante/significado. Assinale a
alternativa que identifica corretamente aspectos do conceito de
significante e significado.

Vamos praticar alguns
conceitos?
Falta pouco
para atingir
seus
objetivos.
A
O significante e o significado são partes do signo
linguístico que podem ser separadas, podendo uma
existir sem a outra.
B
O significante é equivalente a um conceito e o
significado corresponde a uma imagem acústica, a
parte sensível do signo.
C
O significado é equivalente a um conceito e o
significante corresponde a uma imagem acústica, a
parte sensível do signo.
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Questão 2
Considerando que aipim, mandioca e macaxeira são termos
diferentes para designar o mesmo tipo de planta e que manga pode
designar tanto uma fruta quanto uma parte da camisa ou da blusa,
identifique a alternativa que corretamente apresenta uma afirmativa
sobre a relação significante/significado.
D
O significante é o som material ou a forma da palavra
escrita, enquanto o significado é a coisa de que
falamos.
E
Significado e significantes são conceitos que definem
o signo linguístico a partir da união não psíquica entre
as partes materiais da língua.
Responder
A O significante manga possui um único significado.
B
Os significantes aipim, mandioca e macaxeira
possuem significados diferentes.
C
Manga é exemplo de que um mesmo significante
pode ter mais de um significado, enquanto aipim,
mandioca e macaxeira exemplificam significantes
distintos com um mesmo significado.
D
Significantes diferentes nunca podem ter um mesmo
significado e um único significante não pode ter
significados diferentes.
E
Significantes diferentes sempre terão significados
diferentes, não havendo exceção.
Responder
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Considerações �nais
O estudo de dicotomias como língua/fala e diacronia/sincronia, além
dos conceitos de arbitrariedade e linearidade, evidenciam que, para
Saussure, a língua é um sistema, ou seja, uma estrutura.
Ao estudar a língua como sistema, sob o enfoque sincrônico,
destacando as relações sintagmáticas, você deve ter percebido que a
língua é uma rede de elementos interligados com regras próprias que
determinam e controlam o uso da própria língua (BORBA, 1998). Sob o
enfoque diacrônico, por sua vez, nota-se que ao longo do tempo podem
ocorrer mudanças no sistema da língua. A perspectiva estruturalista, no
entanto, vê as mudanças linguísticas como um todo orgânico que se
move, e não as partes isoladamente (BORBA, 1998, p.32).
É bom lembrar, ao final deste conteúdo, que o foco dos estudos
estruturalistas não foram as mudanças ocorridas na língua ao longo do
tempo, mas o estudo da língua como um sistema ou estrutura em
determinado momento. Outras correntes e teorias linguísticas
posteriores ao estruturalismo de Saussure acabaram resgatando a
dimensão diacrônica e até mesmo os aspectos sociais e culturais no
estudo da língua.
Podcast
Ouça um resumo sobre os principais assuntos abordados
neste conteúdo.
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Você pode aprofundar seus conhecimentos sobre o estruturalismo
proposto por Saussure lendo o artigo Saussure e o estruturalismo:
retomando alguns pontos fundamentais da teoria saussuriana, das
professoras Alessandra da Silveira Bez e Carla de Aquino.
Outro texto que ajuda a aprofundar os estudos sobre o estruturalismo,
partindo de Saussure e chegando até outros linguistas que vieram
depois dele, é o artigo O Estruturalismo, do linguista Mattoso Câmara Jr.
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Referências
BORBA, F. S. Introdução aos estudos linguísticos. 12. ed. Campinas:
Pontes, 1998.
CÂMARA JR., J. M. Dicionário de linguística e gramática. Petrópolis:
Vozes, 1996.
COSTA, M. A. Estruturalismo. In: MARTELOTTA, M. E. (org). Manual de
linguística. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2011, pp. 113-126.
DALLIER, L. C. Linguística. Rio de Janeiro: SESES, 2015.
LOPES, E. Fundamentos da linguística contemporânea. 19. ed. São
Paulo: Cultrix, 2005.
RIBEIRO, M. P. Gramática aplicada da língua portuguesa. 22. ed. Rio de
Janeiro: Metáfora, 2013.
ROSA, J. G. Tutameia. 2. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968.
SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. 20. ed. São Paulo: Cultrix,
1996.
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10/11/2023, 10:21 O Funcionalismo
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Objetivos
Módulo 1
Vertentes europeia e norte-americana
do funcionalismo
Descrever o funcionalsimo em suas vertentes europeia e norte-
americana.
Acessar módulo
Módulo 2
Iconicidade e
gramaticalização
O
Funcionalismo
Prof.ª Lana Mara Rodrigues Rego
Descrição
O funcionalismo linguístico e suas vertentes:
europeia e norte-americana. O princípio da
iconicidade e o processo de
gramaticalização. Diferenças entre
funcionalismo e formalismo.
Propósito
Identificar os conceitos e as contribuições do
funcionalismo linguístico em suas vertentes
europeia e norte-americana permite avaliar
sua relação com o formalismo linguístico e
reconhecer o desenvolvimento dos estudos
linguísticos ao longo do século XX.
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10/11/2023, 10:21 O Funcionalismo
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Identificar o princípio de iconicidade e o processo de
gramaticalização.
Acessar módulo
Módulo 3
A relação entre as abordagens
formalista e funcionalista
Relacionar a abordagem formalista à abordagem funcionalista.
Acessar módulo
Introdução
Ao conhecermos os estudos linguísticos ao longo do século XX,
percebemos que o estruturalismo e o gerativismo foram duas
abordagens bastante importantes. Apesar de suas contribuições,
essas abordagens eram mais formalistas e não davam conta da
linguagem como instrumento de interação social.
Nesse contexto, a corrente linguística que surgiu buscando
explicar a língua a partir das situações de comunicação ou do
contexto discursivo foi denominada funcionalismo linguístico.
Por isso, vamos conhecer os conceitos e as contribuições do
funcionalismo linguístico no cenário dos estudos linguísticos.
Bons estudos!

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1
Vertentes europeia e norte-americana do funcionalismo
Ao final deste módulo, você será capaz de descrever o funcionalsimo em suas vertentes europeia e norte-americana.
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Contextualizando
Estudar a língua a partir da análise de seu uso, principalmente por meio
da coleta e do registro da fala de seus usuários, é um procedimento
muito importante para os estudos linguísticos. Por tanto, nada melhor
do que começarmos este módulo analisando o relato abaixo.
Relato de corpus
Acompanhe o áudio e a transcrição baseados no relato de opinião de
uma informante do corpus elaborado pelo Grupo de Estudos Discurso &
Gramática, seção Rio de Janeiro.
Na transcrição, apresentada no vídeo anterior, são usados os seguintes
sinais:

Saiba mais
Corpus é o conjunto de textos escritos e
registros orais para fins de análise dos dados
reais de determinada língua. A partir de
critérios estabelecidos previamente, esses
dados são coletados para serem objetos de
pesquisa.

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Indica qualquer tipo de pausa
Indica ruptura ou truncamento
Representa palavras ou segmento
incompreendidos
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Representa alongamento de vogal
Leia o trecho da transcrição, dando atenção especial aos elementos em
destaque.
"O que adianta... um casamento tão lindo... gastam tanto... pra no final
eh... viv/ fica dois... três dias juntos... () até dois... três dias... depois se
separam... entendeu? eu acho isso aí um absurdo... porque... poxa... eu...
sei lá... (né?) sabe? eu a vida::/ tudo bem... está tudo difícil... né? mas a
pessoa... eu acho a pessoa tem que saber... diretamente aquilo que
quer..."(VOTRE; OLIVEIRA, 1995)
O que os elementos destacados sinalizam?
Oralidade
Eles são chamados de marcadores
discursivos. Considerados,
tradicionalmente, como vícios de
linguagem, esses elementos, típicos da
oralidade, são usados para a organização
da fala. Perceba como eles exercem
a função de preencher o vazio da fala
enquanto o falante reorganiza suas ideias
no momento da interação.
 1 de 2 
Funcionalismo europeu
O surgimento da Linguística como ciência da linguagem, no início do
século XX, a partir dos estudos de Ferdinand de Saussure, consagra o
entendimento de que a língua é um sistema ou uma estrutura autônoma
cujo funcionamento de seus elementos internos se dá por meio de
relações ou combinações.
 
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Ferdinand de Saussure
Porém, a visão estruturalista de Saussure, que considera a língua como
um sistema autônomo, acabou sendo colocada em questão para
privilegiar a língua como sistema funcional, que é utilizado tendo em
vista determinado objetivo ou finalidade.
A noção de função ganhou força nas discussões de linguistas
posteriores a Saussure. Parte desses linguistas era membro da Escola
de Praga, que é originária do Círculo Linguístico de Praga, fundado em
1926 pelo linguista tcheco Vilém Mathesius (1882-1945).
Surge, então, a abordagem funcionalista, caracterizada pela concepção
da língua como instrumento de comunicação e interação. O que
significa que a estrutura ou o sistema da língua está sujeito às situações
de comunicação, que acabam influenciando a estrutura gramatical da
língua.
Contribuições dos linguistas
da Escola de Praga
Fonologia
Os estudos funcionalistas da Escola de Praga ficaram mais conhecidos
por terem como foco a Fonologia. Chama a atenção o trabalho de
Nicolai Trubetzkoy (1890-1938), responsável pelos fundamentos para o
desenvolvimento dessa área. Na concepção de Trubetzkoy e de seus
seguidores: 
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Os fonemas não são
elementos mínimos
em si, mas feixes ou
conjunto de traços
distintivos
simultâneos. 
(CUNHA, 2009, p. 160)
Para compreender melhor, observe este exemplo:
Articulação do fonema /p/ 
O fonema /p/ é constituído dos traços: oclusivo,
bilabial, surdo.
Articulação do fonema /b/
O fonema /b/ é constituído dos traços: oclusivo,
bilabial, sonoro.
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Logo, /p/ e /b/ diferem quanto à sonoridade, e esse traço [ + ou - sonoro]
que distingue pares mínimos, como as palavras ‘pata’ e ‘bata’ (CUNHA,
2009, p. 160).
Morfologia
As contribuições dos linguistas da Escola de Praga, entretanto, não se
limitam apenas à Fonologia. 
Roman Jakobson (1886-1982) destacou-se por sua contribuição à
Morfologia, introduzindo o conceito de marcação, aplicado inicialmente
em Fonologia.
Comentário
Na Fonologia, é muito comum apresentar os
traços distintivos a partir de um esquema
binário marcado pelos sinais + e – , que
representam presença/ausência de
determinada propriedade fônica.

Saiba mais
A marcação na Morfologia pode ser
exemplificada tomando a categoria de
gênero. A forma menina [+ feminino] é
marcada. Em oposição a menino [–
feminino], forma não marcada. Assim, o
termo marcado carregaria uma marca
semântica de gênero (menina), enquanto o
termo não marcado não carregaria marca.
Uma consequência disso é que o termo
marcado teria uma distribuição na língua
mais restrita do que o termo não marcado
(MÄDER, 2015, p. 104). 

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Vejamos um exemplo na Morfologia, com relação à categoria de
número:
A forma crianças contém o traço [+ plural] e seria considerada
uma forma marcada.
Em oposição à forma criança, que não contém o traço plural [- plural] e
seria, portanto, uma forma não marcada.
Identi�caçãodas funções
da linguagem
Outra contribuição de Jakobson é a identificação das funções da
linguagem, a partir de estudos realizados por outro linguista do Círculo
de Praga, o alemão Karl Bühler (1879-1963).
As funções identificadas por Bühler são:
Referencial ou
representativa
 Relacionada ao referente, ou seja, ao que se representa
da realidade ou ao qual a língua se refere (ênfase no
referente). Exemplos de situações em que predomina a
função referencial: notícia de jornal, manual com a
descrição de um aparelho, rótulo de embalagem de
produtos alimentícios.
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Emotiva ou
expressiva
 Relacionada à exteriorização ou manifestação de
emoções, opiniões ou juízos de quem se expressa ou se
comunica (ênfase no emissor). Exemplos de
predomínio da função emotiva: artigos de opinião, carta
pessoal, declaração de amor. 
Apelativa ou
conativa
 Relacionada a quem recebe a mensagem (ênfase no
receptor). Exemplos de predomínio da função apelativa:
usar verbos no imperativo nas propagandas, chamar a
atenção do interlocutor durante uma conversa. 
Já as funções elaboradas por Jakobson são: 
Fática
 Relacionada ao estabelecimento inicial de contato entre
os interlocutores (ênfase no meio ou canal de
comunicação). Exemplo: no início de um telefonema:
“Alô, tem alguém aí? Alô! Oi, tudo bem?”
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Metalinguística
 Relacionada às explicações ou aos esforços de
decifração do código utlizado na comunicação (ênfase
no código). Exemplos: o verbete de um dicionário, a
explicação de um conceito. 
Função poética
 Relacionada à mensagem, quando se volta para si
mesma, recebendo um tratamento mais cuidadoso ou
que provoque algum estranhamento ou efeito estético
(ênfase na mensagem). Exemplos: texto poético, slogan
criativo. 
Teoria da perspectiva
funcional da sentença
Com foco na estrutura gramatical das línguas, o fundador do Círculo
Linguístico de Praga, Vilém Matheusius(1882-1945), lançou a Teoria da
perspectiva funcional da sentença. Segundo ele, a organização sintática
dos elementos na oração (a posição e a relação dos termos em
determinada frase) é motivada pelo contexto discursivo em que ela
ocorre. Confira o exemplo e entenda melhor:
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Enunciados como "Você é bobo!" e "Bobo é você!" não podem ser vistos
como versões alternativas de dizer o mesmo conteúdo, considerando
que os dois enunciados não seriam utilizados na mesma situação de
comunicação. Motivações relacionadas ao contexto de utilização da
língua levariam o falante a escolher uma forma, e não outra. 
Os exemplos (A) e (B), a seguir, são versões diferentes da mesma
sentença, com as palavras mudando de ordem em função de uma
situação de comunicação específica. Veja:
(A) José chegou ontem à noite
O item (A) pode ser a resposta à pergunta: “Quem chegou?” ou
“José chegou?” 
(B) Ontem à noite José chegou
O item (B) pode ser a resposta para a pergunta “Quando o José
chegou?”, pressupondo que há algum dado já conhecido e uma
nova informação. 
Pode-se constatar que a maneira como as frases são organizadas
indica que há partes com mais informação nova do que outras partes
das frases, o que caracteriza a perspectiva funcional da sentença. 
Comentário
Outros nomes importantes do funcionalismo
europeu: Michael K. Halliday (Inglaterra) e
Simon C. Dik (Holanda). Ambos, na década

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Funcionalismo norte-
americano
Na década de 1970, nos Estados Unidos, o funcionalismo ganhou força
a partir do trabalho de Dwight Bolinger (1907-1992), além de um grupo
de pesquisadores na Califórnia. Outros funcionalistas também
desenvolveram seus trabalhos em diversas partes dos Estados Unidos,
como o linguista Robert Van Valin (1952) em Nova York, atualmente
professor na Universidade de Düsseldorf, na Alemanha.
Alguns linguistas funcionalistas norte-americanos tiveram formação no
gerativismo, mas passaram a buscar alternativas teóricas para abordar
melhor os fenômenos estudados. 
Gerativismo é uma corrente de estudos da ciência da linguagem que
teve início nos Estados Unidos, no final da década de 1950, a partir dos
trabalhos do linguista Noam Chomsky, professor emérito de Linguística
do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).
Na teoria gerativa, as línguas deixam de ser interpretadas como um
comportamento socialmente condicionado e passam a ser analisadas
como uma faculdade mental natural. A linguagem é analisada de forma
matemática e abstrata (formal) (KENEDY, 2009, p. 127 e 130). 
A língua passa a ser investigada a partir do contexto linguístico e da
situação extralinguística (elementos externos à língua). Busca-se,
portanto, uma Linguística com foco no uso. A sintaxe, que trata das
relações formais entre os elementos da sentença, deve ser investigada a
de 1970, apresentaram interesse nos
pressupostos teóricos funcionalistas. Dik
ganhou notoriedade com o desenvolvimento
da Teoria da Gramática Funcional. 
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partir da língua em uso, pois a sua forma está relacionada às estratégias
utilizadas pelos falantes no momento da interação. 
Marcos do funcionalismo
norte-americano
Vejamos mais profundamente algus marcos do funcionalismo norte-
americano:
Foco do funcionalismo
norte-americano
Os funcionalistas buscam verificar o modo como os usuários da língua
se comunicam eficientemente.
Um dos pontos-chave do funcionalismo norte-
americano é entender que a forma como os elementos
da língua se organizam não deve ser descrita ou
explicada sem levar em conta que a estrutura da língua
tem uma função comunicativa. Isso quer dizer que o
estudo da língua precisa levar em conta o contexto da
situação de comunicação, o contexto.
Funcionalismo no Brasil
Você sabia que também houve estudos funcionalistas por aqui? Assista
ao vídeo e saiba mais!
1976 
1979 
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Vamos começar!
Entenda sobre o funcionalismo no Brasil.
Na transcrição da fala logo no começo deste módulo, é possível
perceber que a informante planeja o que está falando no momento da
interação. Por essa razão, é possível notar a dificuldade em manter a
linearidade ou evitar repetições e interrupções.
Aquele é um exemplo de que a fala apresenta interrupções, pausas e
hesitações para se pensar no que acabou de falar ou mesmo no que
será dito adiante. Isso mostra que vamos reorganizando nossa fala por
meio de reflexões, reavaliações ou adendos a partir do que acabou de
ser dito, tudo isso enquanto continuamos falando, como acontece numa
conversação.
Assim, expressões como “... poxa...... sei lá... (né?) sabe?” são exemplos
de marcadores da fala, usados para viabilizar o processamento das
informações enquanto falamos e marcar para o ouvinte que estamos
reformulando nosso pensamento. Com isso, também ganhamos tempo
para reorganizar as ideias e dar continuidade à fala (MARTELOTTA et al.,
1996, p. 62).
Além do que você aprendeu até agora sobre o funcionalismo, há alguns
princípios dessa corrente linguística que ainda devem ser trabalhados,
como o princípio da iconicidade e da gramaticalização, assunto do
próximo módulo.
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo
que você acabou de estudar.
Módulo 1 - Vem que eu te explico!


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Teoria da perspectiva funcional da sentença
Módulo 1 - Vem que eu te explico!Foco do funcionalismo norte-americano

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Questão 1
O funcionalismo linguístico deve ser adequadamente descrito como
Questão 2
O funcionalismo norte-americano ganha força na década de 1970.
Uma de suas características pode ser descrita corretamente como:
Vamos praticar alguns
conceitos?
Falta pouco
para atingir
seus
objetivos.
A
corrente teórica que reproduziu os princípios de
Saussure, focando a estrutura gramatical
independentemente do objetivo do uso da língua. 
B
abordagem que se caracteriza por uma concepção de
língua como um fim em si mesma, importando mais o
estudo de seus aspectos formais e internos. 
C
abordagem teórica que identifica a língua como um
sistema separado e independente das situações de
comunicação. 
D
corrente teórica em que a função de comunicação e
expressão é central e a linguagem é atividade dirigida
para um fim específico. 
E
corrente teórica que aborda a língua a partir de uma
concepção inatista e abstrata.
Responder
10/11/2023, 10:21 O Funcionalismo
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2
Iconicidade e gramaticalização
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar o princípio de iconicidade e o processo de gramaticalização.
A
investigação da língua a partir do contexto linguístico
e da situação extralinguística.
B
foco na estrutura gramatical, ou seja, apenas na forma
linguística. 
C rejeição de uma linguística com foco no uso. 
D
ênfase na estrutura linguística independentemente do
seu uso.
E
investigação da sintaxe da língua a partir de estruturas
idealizadas e abstratas.
Responder
10/11/2023, 10:21 O Funcionalismo
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Princípio da iconicidade
Para começar, vejamos a comparação de algumas formas!
O que o indivíduo está usando para forçar a abertura da janela? Por que
será que chamamos o objeto utilizado por ele de “pé de cabra”? Vamos
comparar as formas? 
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https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00015/index.html# 21/44
Você consegue observar alguma semelhança entre a ferramenta e o
animal? Por que será que isso ocorre?
Essas questões podem nos ajudar a pensar sobre o funcionalismo
linguístico, principalmente em relação ao princípio da iconicidade.
Vamos descobrir o que é?
Para os funcionalistas, a iconicidade é a correlação natural entre forma
e função, ou seja, entre a expressão (código linguístico) e seu conteúdo.
Esse entendimento era contrário ao princípio da arbitrariedade
elaborado por Saussure, que defendia uma relação não motivada, não
natural, sem causalidade, entre a forma (expressão) e o conteúdo
(sentido).
Comentário
Além do princípio de iconicidade e do
processo de gramaticalização, há outros
princípios e categorias centrais do
funcionalismo norte-americano, como
informatividade, marcação, transitividade e
plano discursivo. 

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A versão mais forte do princípio da iconicidade foi proposta por Dwight
Bolinger. Ele defendia que:
A condição natural de
uma língua é
preservar uma forma
para um signi�cado e
um signi�cado para
uma forma.
(BOLINGER, 1977, apud MARTELOTTA et al., 1996)
Uma forma com várias
funções e uma função com
várias formas
De acordo com a versão original do princípio de iconicidade, há uma
única forma linguística para expressar uma ideia. No entanto, quando se
observam os processos de variação e de mudança linguísticas, verifica-
se que essa relação isomórfica (de um para um – entre forma e
conteúdo) nem sempre ocorre. Há casos em que há duas ou mais
formas alternativas de dizer a mesma coisa (CUNHA, 2009).
Essa versão inicial do princípio, portanto, foi reformulada devido aos
estudos sobre os processos de variação e mudança linguísticas que
apontam a existência de uma forma que desempenha várias funções ou
uma função que é desempenhada por várias formas.
Veja algumas situações na Língua Portuguesa que ilustram o fato de
uma forma apresentar várias funções e de uma função poder ser
exercida por várias formas (CUNHA; OLIVEIRA; MARTELOTTA, 2003):
Uma forma com várias funções
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Uma função com várias formas
Mudança linguística e
iconicidade
O caráter dinâmico das línguas aponta para o fato de que algumas
formas linguísticas, com o uso, passam a exercer outras funções. Perde-
se, total ou parcialmente, o significado original. Pode-se dizer, com isso,
que há fenômenos linguísticos que mudam com o tempo, em função do
uso da língua. Um exemplo interessante é a conjunção embora, cuja
relação entre forma e significado passa a ser aparentemente arbitrária
com a mudança ao longo do tempo. 
Em boa hora
Era medieval
Embora
Atualidade



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A conjunção embora, atualmente, é utilizada com valor concessivo
(Embora Paulo tenha trabalhado muito no final de semana, foi
demitido.). No entanto, na era medieval, embora apresentava também
valor temporal, significando em boa hora.
Naquela época, "essa expressão era comumente acrescida a
determinadas frases em virtude da crença de que o sucesso dos atos
estava relacionado ao momento em que eram praticados" (CUNHA,
2009, p. 167).
Observa-se que, ao longo do tempo, a expressão em boa hora passa a
ter a sua forma diminuída.
A necessidade de reformular a versão inicial do princípio de iconicidade
levou os funcionalistas a propor três subprincípios relacionados à
quantidade de informação, ao grau de integração entre os constituintes
da expressão e do conteúdo e à ordenação sequencial dos segmentos. 
Veja mais informações sobre cada um deles:
Processo de
gramaticalização
Outro pressuposto teórico do funcionalismo é o processo de
gramaticalização: itens que fazem parte do léxico e das construções
sintáticas passam a ser utilizados com novas funções gramaticais. 
O processo de gramaticalização é considerado um
processo de regularização do uso da língua e está,
portanto, relacionado à variação e à mudança
linguísticas. 
Para os funcionalistas, a gramática de uma língua é uma estrutura
maleável. Por isso, novas formas e novos rearranjos são feitos.
Quantidade de informação 
Grau de integração entre constituintes e conteúdo 
Ordenação sequencial dos segmentos 
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Ao analisar alguns processos de gramaticalização, é possível identificar
que a forma deixa de fazer referência a algo do mundo real para assumir
funções de caráter gramatical. De modo geral, percebe-se um desgaste
fonético da forma e a perda da expressividade (CUNHA, 2009).
Veja algumas situações (CUNHA et al., 2003, p. 174):
Trajetória de substantivos e verbos para conjunções
Trajetória de nomes e verbos para morfemas
O termo gramaticalização pode ser entendido em seu sentido amplo
(lato sensu) e em seu sentido específico (stricto sensu). Em sentido
amplo, as mudanças ocorrem no interior da própria gramática. Em
sentido específico, o processo de gramaticalização envolve formas que
migram do léxico para a gramática (CUNHA et al., 2003). A pesquisa
desenvolvida pela professora Leonor Oliveira, sobre a trajetória do
pronome onde, é um exemplo de estudo que enfoca a
gramaticalização lato sensu.
Atenção!
É bom lembrar que, para os funcionalistas, a
gramática é o conjunto de padrões ou de
regularidades da língua que se estabelecem
pelo uso da própria língua. Nesse sentido, o
uso da língua acaba moldando a gramática,
ou seja, torna regular as formas de organizar
a fala. 

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Oliveira (2000) destaca em seu trabalho o deslizamento de sentido da
forma onde, que tem novas funções na própria gramática, passando de
pronome relativo com o sentido de espaço físico para designar espaço
de tempo e, em seguida, como marcador discursivo.
Veja alguns exemplos de contextos reais de uso da língua, retirados do
corpus do Grupo de Estudos Discurso e Gramática, seção Natal:
Espaço físico
“Aí ele tinha... tinha o porão... onde
guardava as ferramentas...”
 1 de 3 
Como exemplo da gramaticalização stricto sensu, é possível citar a
investigação da professora Maria Aparecida da Silva Andrade (SILVA,
2000) sobre a trajetória de mudança do verbo ir, que passa de verbo
pleno a verbo auxiliar:
 
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Construção metafórica
Lembra do exemplo do “pé de cabra”? Agora que você já conhece o
princípio de iconicidade e o processo de gramaticalização, que tal
analisá-lo?
Trata-se de uma construção metafórica, em que um novo sentido é
atribuído. Observe que, por um processo de transferência semântica,
uma mesma forma passa a expressar novas ideias. Para entender mais
sobre isso, veja como os funcionalistas investigam uma base corporal
da metáfora.
Um dos recursos
mais comuns de
deslizamento de
sentido e de
indiretividade é a
metáfora.
(VOTRE apud MARTELOTTA et al., 1996)
Para o autor, o corpo (humano) serve como a base para a construção de
metáforas comuns no dia a dia. Assim, as metáforas são construídas a
partir do nosso corpo. Partindo dele, temos a concepção de objetos
com os quais lidamos
Veja alguns exemplos citados por ele:
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Apoiou o pé da cadeira numa pedra.
Está com uma cabeça de prego no joelho.
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Apoiou as costas do sofá na perna da mesa.
Quebrou o bico da prancha contra um coral.
Iconicidade e
gramaticalização
Confira um resumo dos principais aspectos sobre iconicidade e
gramaticalização estudados neste módulo.

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Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo
que você acabou de estudar.
Módulo 2 - Vem que eu te explico!
Mudança linguística e iconicidade
Módulo 2 - Vem que eu te explico!
O conceito de gramaticalização

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Questão 1
Identifique a afirmação que corresponde ao princípio da
iconicidade, seja no seu sentido original e mais forte, seja na sua
reformulação em função das mudanças e variações da língua.

Vamos praticar alguns
conceitos?
Falta pouco
para atingir
seus
objetivos.
A
A relação não natural entre expressão e conteúdo
caracteriza a arbitrariedade da língua, manifestada no
fato de a forma de uma palavra não ter relação de
causalidade com seu conteúdo ou sentido.
B
O sufixo -inho nas palavras criancinha, paizinho,
gentinha e devagarzinho demonstra uma forma com
uma única função, apontando para ausência de
causalidade.
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Questão 2
Assinale a alternativa em que o conceito do processo de
gramaticalização é apresentado e ilustrado corretamente.
C
As diversas formas para função de impessoalização
do agente da ação verbal não ilustra uma das
reformulações do princípio de iconicidade original.
D
Em sua versão original e mais forte, o princípio da
iconicidade defendia que a condição natural de uma
língua é preservar uma forma para um significado, e
um significado para uma forma.
E
O princípio da iconicidade corresponde à relação não
natural entre forma e conteúdo, apontando para a não
causalidade da língua.
Responder
A
O termo gramaticalização pode ser entendido apenas
em seu sentido específico (stricto sensu), como
exemplificado no verbo ir, que sempre aparece como
verbo pleno. 
B
O termo gramaticalização pode ser entendido em seu
sentido amplo (lato sensu), como exemplificado no
invariável do pronome relativo onde. 
C
A gramaticalização corresponde às mudanças que
ocorrem no interior da própria gramática, como
exemplificado nas mudanças de sentido do pronome
relativo onde. 
D
A gramaticalização possui apenas sentido específico
(stricto sensu), ilustrado pelas mudanças que ocorrem
no interior da própria gramática.
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3
A relação entre as abordagens formalista e funcionalista
Ao final deste módulo, você será capaz de relacionar a abordagem formalista à abordagem funcionalista.
E
No interior da gramática da língua, não ocorrem
mudanças, conforme se atesta no uso do pronome
relativo onde.
Responder
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Contexto teórico do
formalismo
Ao conhecer, brevemente, o histórico dos estudos funcionalistas na
Europa e nos Estados Unidos, você observou que os funcionalistas
consideram que a investigação linguística deve ir além da estrutura
gramatical, pois, nessa investigação, não se pode descartar a análise do
contexto discursivo e da motivação para os fatos linguísticos.
Essa abordagem se opõe ao modo como a Linguística era feita na
época. O estruturalismo e o gerativismo, correntes da Linguística que
têm como nomes importantes, respectivamente, os linguistas Ferdinand
de Saussure e Noam Chomsky, caracterizam uma abordagem formalista
dos estudos de uma língua.
Vamos entender a diferença entre essas abordagens?
Com Saussure, a Linguística se firma como ciência da
linguagem, tendo como seu objeto de estudo definido a língua e
como metodologia a descrição e análise dos elementos formais
de sua estrutura interna. 
Para Saussure, a língua deve ser vista como uma estrutura ou um
sistema autônomo. Essa é a base para os estudos
estruturalistas, nos quais a língua é concebida como um sistema
com um conjunto de elementos organizados, constituindo um
todo. A tarefa do linguista, por sua vez, é analisar a estrutura da
língua, ou seja, sua organização estrutural.
O foco no estruturalismo, a partir de Saussure, é a investigação
de aspectos fonéticos, fonológicos e sintáticos da língua.
Questões relacionadas ao significado – questões semânticas – e
relacionadas às situações comunicativas em que o falante se
encontra – questões pragmáticas – não foram contempladas
nas análises estruturalistas. De acordo com Ilari (2009, p. 58),
para os estruturalistas, o sistema deve ser o objeto de estudo
Estruturalismo de Saussure Gerativismo de Chomsky
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das pesquisas linguísticas, “e não as mensagens a que ele serve
de suporte”. 
Se, para Saussure, a Linguística deve se ocupar com a investigação da
língua, para Chomsky, o foco deve ser o funcionamento da faculdade da
linguagem. Ambos desconsideram a investigação da língua em uso,
caracterizando, portanto, uma abordagem formalista dos estudos
linguísticos, o que se opõe à corrente funcionalista.
Abordagem formalista X
abordagem funcionalista
Para Neves (1997), a abordagem formalista ou polo formalista tem seus
maiores expoentes no Estruturalismo norte-americano (representado
por Boomfield, Harris e outros) e, em um sentido menos rigoroso, no
gerativismo de Noam Chomsky. Por outro lado, o polo funcionalista tem
seus representantes na Escola de Praga e nos modelos de gramática de
Halliday e Dik.
Veja os principais representantesde cada abordagem:
Objeto de estudo da
linguística funcional
Em oposição à abordagem formalista, o linguista francês André Martinet
(1908-1999), representante do funcionalismo europeu fora da Escola de
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Praga e fundador da Sociedade Internacional de Linguística Funcional,
aponta a competência comunicativa como o verdadeiro objeto de
estudos da Linguística.
Conforme André Martinet (apud NEVES, 2018, p. 16), cabe à Linguística
investigar o modo como as pessoas conseguem se comunicar pela
língua. Essa ideia opõe-se ao pensamento de Saussure e de Chomsky,
que consideram a língua como um fenômeno isolado. Assim, de acordo
com os funcionalistas, a língua serve a uma variedade de propósitos.
Um deles é efetuar a comunicação. 
O foco do funcionalismo é o uso da
língua, visando verificar as
regularidades observadas nesse uso
a partir da análise do contexto
discursivo. Para os funcionalistas, a
análise da estrutura gramatical
dentro de toda a situação
comunicativa merece destaque,
uma vez que a situação
comunicativa explica ou mesmo
determina a estrutura gramatical. 
(REGO, 2009, p. 54)
Assim, os funcionalistas tratam a gramática como uma estrutura
maleável, que se adapta aos contextos comunicativos e às
necessidades cognitivas dos falantes. Desse modo, por exemplo, não é
possível compreender o fenômeno sintático sem considerar os
contextos discursivos, ou seja, as situações em que a língua é utilizada.
São essas situações de comunicação e de uso que acabam
estabelecendo a forma de a língua se organizar; dito de outra forma,
constituem a gramática da língua.
O paradigma formal e o
paradigma funcional
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Comparativo entre os
paradigmas formal e
funcional
Entenda a distinção entre o paradigma formal e o paradigma funcional.
Vejamos o quadro de distinção entre o paradigma formal e o paradigma
funcional :
Tópicos Paradigma Formal
Paradigma
Funcional
Como definir a
língua
Como conjunto de
orações.
Como instrumen
de interação soc
Principal função da
língua 
É a expressão de
pensamentos. 
É a comunicaçã
Correlato
psicológico 
Competência:
capacidade de
produzir, interpretar
e julgar orações. 
Competência
comunicativa:
habilidade de
interagir
socialmente com
língua. 
O sistema em uso 
O estudo da
competência tem
prioridade sobre o
da atuação. 
O estudo do
sistema deve fa
se dentro do
quadro de uso. 
Língua e
contexto/situação 
As orações da
língua devem
descrever-se
independentemente
do
contexto/situação. 
A descrição das
expressões deve
fornecer dados
para a descrição
seu funcioname
em dado contex
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Tópicos Paradigma Formal
Paradigma
Funcional
Aquisição da
linguagem
Faz-se no uso de
propriedades
inatas, com base
em um input
restrito e não
estruturado de
dados. 
Faz-se com a aj
de um input
extenso e
estruturado de
dados apresenta
no contexto
cultural. 
Universais
linguísticos
São propriedades
inatas do
organismo
humano. 
Explicam-se em
função de
restrições:
comunicativas;
biológicas ou
psicológicas;
contextuais. 
Relação entre a
sintaxe, a
semântica e a
pragmática 
A sintaxe é
autônoma em
relação à
semântica; as duas
são autônomas em
relação à
pragmática; as
prioridades vão da
sintaxe à
pragmática, por via
da semântica. 
A pragmática é 
quadro dentro d
qual a semântic
a sintaxe devem
ser estudadas; a
prioridades vão 
pragmática à
sintaxe, por via d
semântica. 
No quadro, observamos como a visão sobre língua, uso, aquisição e
gramática é distinta nas duas abordagens. Resumidamente, a conclusão
é que os formalistas veem a língua como “um objeto autônomo, cuja
estrutura independe de seu uso em situações comunicativas reais”
(KENEDY; MARTELOTTA, 2003, p. 20). Para os funcionalistas, por sua
vez, a língua é um instrumento de comunicação que varia e muda.
Portanto, é necessário investigar seu funcionamento. 
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo
que você acabou de estudar.
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Módulo 3 - Vem que eu te explico!
Objeto de estudo da linguística funcional
Módulo 3 - Vem que eu te explico!
Os enfoques distintos entre formalismo e
funcionalismo

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Questão 1
Diferentemente dos formalistas, os funcionalistas estudam a língua
no seu contexto de uso. Nesse sentido, é fundamental analisar: 
Questão 2
Analise as afirmativas a seguir, considerando a relação entre
formalismo e funcionalismo.
I - Paradigma formal: define a língua como conjunto de orações.
Paradigma funcional: define a língua como instrumento de
interação social.
Vamos praticar alguns
conceitos?
Falta pouco
para atingir
seus
objetivos.
A
O contexto discursivo em que ocorre a comunicação e
a motivação para os fatos linguísticos. 
B
A capacidade inata necessária para desenvolver uma
língua e os aspectos mentais na produção linguística. 
C
O modelo formal de descrição teórica de uma língua,
com foco na estrutura gramatical. 
D
A competência linguística para produzir os
enunciados conforme os estudos gerativistas. 
E
Os aspectos diacrônicos da língua, com foco na sua
reconstituição.
Responder
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II - Paradigma formal: principal função da língua é a expressão de
pensamentos. Paradigma funcional: principal função da língua é a
comunicação.
III - Paradigma formal: sobre a língua e o contexto/situação: as
orações da língua devem descrever-se independentemente do
contexto/situação. Paradigma funcional sobre a língua e o
contexto/situação: a descrição das expressões deve fornecer
dados para a descrição de seu funcionamento em determinado
contexto.
IV - Paradigma formal: universais linguísticos são aspectos da
linguagem vinculados ao uso da língua e às restrições do contexto.
Paradigma funcional: universais linguísticos são propriedades
inatas do organismo humano.
Está correto apenas o que se afirma em:
Considerações �nais
Você estudou os pressupostos teóricos do funcionalismo, corrente da
Linguística que se ocupa em investigar o fenômeno linguístico a partir
do seu uso, ou seja, em contextos reais de interação. Diferentemente da
abordagem formalista, os funcionalistas afirmam que a estrutura da
língua não pode ser investigada sem referência à sua função
comunicativa, ou seja, sem investigar seus contextos de uso e os
propósitos comunicativos dos interlocutores. 
Após um breve histórico sobre o funcionalismo europeu, você também
conheceu o funcionalismo norte-americano e dois de seus pressupostos
A I e II
B II e IV.
C I, II e III.
D II, III e IV.
E III e IV.
Responder
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teóricos: o princípio de iconicidade e o processo de gramaticalização.
Este aprendizado deve levá-lo a perceber que as línguas do mundo são
dinâmicas e que, com o uso, algumas formas linguísticas passam a
exercer outras funções para atender às necessidades comunicativas
dos seus usuários. Com o funcionalismo e sua relação de oposição ao
formalismo, você certamente ampliou a visão sobre como pode ser feita
uma investigação linguística. 
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Para aprofundar seus estudos sobre o funcionalismo, procure o
artigo Uma visão geral da gramática funcionalista, da linguista
Maria Helena de Moura Neves.
Para ler textos sobre a aplicação dos conceitos do funcionalismo,
consulte o livro Funcionalismo e estudo de gramática,
disponibilizado gratuitamente.
Referências
BOLINGER, D. Meaning and form. Londres: Longman, 1977.
BORBA, F. S. Introdução aos estudos linguísticos. 12. ed. Campinas:
Pontes, 1998.
CUNHA, M. A. da. Funcionalismo. In: MARTELOTTA, M. E. T. (org.).
Manual de Linguística. São Paulo: Contexto, 2009.
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00015/index.html
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00015/index.html
10/11/2023, 10:21 O Funcionalismo
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CUNHA, M. A. et al. Pressupostos teóricos fundamentais. In: CUNHA,
Maria Angélica da; OLIVEIRA, Mariângela Rios de; MARTELOTTA, Mário
Eduardo (orgs.). Linguística funcional: teoria e prática. Rio de Janeiro:
DP & A, 2003.
DIK, C. S. Some principles of functional grammar. In: DIRVEN, R.; FRIED,
V. (ed.). Functionalism in linguistics. Philadelphia: John Benjamins, 1987.
p. 81-100.
DUBOIS, J. et al. Dicionário de linguística. São Paulo: Cultrix, 2006.
ILARI, R. O estruturalismo linguístico: alguns caminhos. São Paulo:
Cortez, 2009.
KENEDY, E. Gerativismo. In: MARTELOTTA, M. E. T. (org.). Manual de
linguística. São Paulo: Contexto, 2009.
KENEDY, E; MARTELOTTA, M. E. T. A visão funcionalista da linguagem
no século XX. In: CUNHA, Maria Angélica da; OLIVEIRA, Mariângela Rios
de; MARTELOTTA, Mário Eduardo (orgs.). Linguística funcional: teoria e
prática. Rio de Janeiro: DP & A, 2003.
LYONS, J. Linguagem e linguística: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC,
1987.
MÄDER, G. R. C. Masculino genérico e sexismo gramatical. Dissertação
(Mestrado em Linguística) – Centro de Comunicação e Expressão,
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, 2015.
MARTELOTTA, M. E.; VOTRE, S. J.; CEZARIO, M. M. Gramaticalização no
português do Brasil. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1996.
NEVES, M. H. de M. A gramática funcional. São Paulo: Martins Fontes,
1997.
NEVES, M. H. de M. A gramática funcional: interação, discurso e texto.
São Paulo, Contexto: 2018.
OLIVEIRA, L. A. B. de. A trajetória de gramaticalização do onde. In:
FURTADO DA CUNHA, Maria Angélica. (org.). Procedimentos discursivos
na fala de Natal: uma abordagem funcionalista. Natal: EDUFRN, 2000. p.
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REGO, L. M. R. O funcionalismo. In: MOLLICA, M. C. (org.). Linguagem
para formação em Letras, Educação e Fonoaudiologia. São Paulo:
Contexto, 2009.
SILVA, M. A. O processo de gramaticalização do verbo ir. Dissertação
(Mestrado em Estudos da Linguagem) – Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, Natal, RN, 2000.
VOTRE, S.; OLIVEIRA, M. R. A língua falada e escrita na cidade do Rio de
Janeiro: materiais para seu estudo. Rio de Janeiro: UFRJ, 1995.
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10/11/2023, 10:20 O gerativismo de Chomsky
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O gerativismo de Chomsky
Prof. Alessandro Boechat de Medeiros
Descrição
O conceito de gramática gerativa, as dicotomias
competência/desempenho e língua-E/língua-I. Principais definições e
argumentações que fundamentam as ideias que alicerçam a teoria
gerativa.
Propósito
Compreender as principais ideias e os argumentos defendidos por
Noam Chomsky e outros linguistas gerativistas na revolução cognitiva
permite a identificação das importantes influências na ciência da
linguagem até os dias de hoje.
Objetivos
Módulo 1
A gramática gerativo-
transformacional
10/11/2023, 10:20 O gerativismo de Chomsky
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Descrever o conceito de gramática gerativo-transformacional.
Módulo 2
A gramática universal
Reconhecer o conceito de gramática universal e suas diferentes
formulações.
Módulo 3
Aquisição da linguagem
Relacionar as implicações da gramática universal à aquisição da
linguagem.
Introdução
A linguagem humana é inata, nascemos com ela, ou é algo que
temos de aprender? O que torna possível qualquer ser humano
adquirir uma língua? Por que a criança, antes mesmo de ir à
escola, é capaz de elaborar sentenças que nunca falou e que
apresentam alguma ordem ou relação sintática?
Essas são algumas questões que provavelmente já vieram à sua
mente ao refletir sobre a linguagem ou ao observar como uma
criança ainda muito novinha começa a pronunciar as primeiras
palavras. Na verdade, vários pensadores e pesquisadores se
ocuparam de problemas relacionados à linguagem humana e ao
modo como ela se manifesta e se desenvolve.
Na Filosofia, nas Ciências Sociais, na Psicologia e na Linguística,
há diferentes metodologias, enfoques e teorias para desvendar e
compreender o fenômeno da linguagem. Na primeira metade do

10/11/2023, 10:20 O gerativismo de Chomsky
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00433/index.html# 3/52
século XX e no começo de sua segunda metade, correntes
teóricas na Psicologia e até na Linguística defendiam que ela se
desenvolve no ser humano, principalmente, a partir de
condicionamentos e respostas a estímulos externos, ou seja, a
criança começa a falar imitando alguns comportamentos e
formando determinados hábitos.
No final dos anos 1950, o linguista norte-americano Noam
Chomsky provocou uma revolução na maneira de pensar o
fenômeno da linguagem humana ao propor uma teoria inovadora
da aquisição da linguagem. Para isso, Chomsky elaborou
conceitos originais sobre a gramática e o funcionamento da
língua.
Neste conteúdo, você vai estudar os principais conceitos que
norteiam a linguística de Chomsky, comumente denominada
linguística gerativa, elaborados desde o início da primeira metade
do século XX e desenvolvidos ainda nas primeiras décadas do
século XXI.
1 - A gramática gerativo-transformacional
Ao �nal deste módulo, você será capaz de descrever o conceito de
gramática gerativo-transformacional.
10/11/2023, 10:20 O gerativismo de Chomsky
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00433/index.html# 4/52
Contexto do surgimento do
gerativismo
Muitos assumem como marco inicial da escola gerativa na Linguística
(também conhecida como gramática gerativo-transformacional ou,
simplesmente, gramática gerativa) a publicação do livro Syntactic
structures em 1957, de autoria de Noam Chomsky. No Brasil, Estruturas
sintáticas foi publicado em 2015.
No entanto, ainda em 1957, Chomsky submeteu sua famosa resenha
para o livro Verbal behavior, escrito por Burrhus Frederic Skinner. Apesar
de ter sido submetida em 1957, a resenha só foi publicada dois anos
depois.
O livro Estruturas sintáticas e a resenha de Chomsky fizeram uma crítica
contundente à pesquisa linguística até aquele momento. Vejamos dois
exemplos dessa crítica a seguir:
Noam Chomsky
Além de linguista, filósofo e matemático de fama internacional,
Chomsky também tornou-se uma celebridade pelo seu ativismo
político. Professor por mais de 40 anos no Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (MIT), mudou-se para a Universidade do Arizona, em
Tucson, em 2017.
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Psicólogos behavioristas
Explicavam os fenômenos da mente por meio da análise dos
comportamentos que podem ser observados, ou seja, eles
propunham uma análise experimental do comportamento. Os
behavioristas estudavam as relações entre os estímulos e as
respostas que os indivíduos davam ao serem estimulados.
Linguistasestruturalistas
 Mostrar as limitações dessas
abordagens e de suas concepções.
 Questionar a ideia de que a aquisição da
linguagem decorre da formação de
hábitos ou da imitação de certos tipos
de comportamentos, como defendiam
psicólogos behavioristas e boa parte
dos linguistas estruturalistas nos
Estados Unidos.
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O linguista Leonard Bloomfield, um importante representante da
explicação comportamental para a aquisição da linguagem,
entendia que a língua se adquire por meio da repetição. O ato de
fala corresponderia a um tipo específico de comportamento,
enquanto a comunicação seria um tipo de resposta a um
estímulo.
Assim, seria acertado dizer que esses dois trabalhos, complementares
por natureza, são o que historicamente pavimenta a perspectiva gerativa
no mundo das ideias linguísticas do século XX.
Chomsky será, com efeito, a figura central nesse movimento, redefinindo
os objetivos da ciência linguística e cunhando uma série de conceitos
que passam a orientar as pesquisas sobre línguas naturais a partir de
1960. Particularmente, ele propõe um retorno ao racionalismo dentro do
estudo da linguagem, contrariando tanto o pensamento de matriz
empirista, que orienta a psicologia behaviorista, quanto o estruturalismo
americano na Linguística.
Talvez você esteja se perguntando:
O que significa ser racionalista ou empirista?
Em linhas gerais, de maneira bastante resumida, os racionalistas
defendem que trazemos ideias inatas, conhecimentos que não
adquirimos (os quais, de fato, não podemos adquirir) com a experiência.
São como proposições impressas em nossa mente/cérebro desde o
nascimento.
Já o empirismo, que tem como expoente no século XVII o pensador
liberal inglês John Locke (1632-1704), alega que somos tabula rasa, ou
seja, que não possuímos conhecimentos inatos, não nascemos com
ideias impressas em nossa mente. Para essa corrente, temos
determinadas habilidades, faculdades, que nos tornam capazes de
converter experiências em conhecimento.
Observe a seguinte proposição:
John Locke (1632-1704)
Filósofo inglês que, além de ser um expoente do Empirismo, era
também um importante representante do individualismo liberal. Na
política, Locke defendeu ideias liberais e foi o primeiro a apresentar a
divisão do Estado em três poderes distintos. Em sua obra Ensaio
acerca do entendimento humano, publicada em 1689, Locke
apresenta sua teoria sobre a aquisição do conhecimento.
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"Se a é igual a b,e b é igual a c,então a é igual a c."
Conhecida como a propriedade de transitividade da relação de
igualdade, essa proposição nos ajuda a entender as perspectivas
racionalista e empirista. Observe a comparação a seguir:
Perspectiva
racionalista
A proposição exprime
um conhecimento que
todos nós possuímos,
mesmo que não
tenhamos consciência
disso. Um
conhecimento que já
trazemos conosco
quando nascemos, uma
ideia inata.
Perspectiva
empirista
A proposição é
aprendida ou formulada
a partir das
experiências e de
nossas capacidades de
fazer analogias e de
capturar elementos
comuns de experiências
distintas.
É importante isto ficar claro: as capacidades ou habilidades assumidas
pelos empiristas não são conhecimentos ou ideias.
Curiosidade
Os gramáticos de Port Royal, no século XVII, são alguns dos expoentes
do racionalismo europeu.
Gramáticos de Port Royal
A Gramática de Port Royal surgiu na França, em 1660, escrita pelo
padre, teólogo e filósofo Antoine Arnauld e pelo monge e gramático
Claude Lancelot. Essa gramática passou a ser o modelo para muitas
gramáticas daquele momento. O consenso na época é que a
linguagem estava fundada na razão e refletia o pensamento. Logo,
os princípios de análise deveriam ser universais para qualquer língua.

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A Linguística norte-americana do século XX - particularmente aquela
influenciada pela psicologia behaviorista - terá uma clara orientação
empirista, assumindo que nossas dotações naturais não passam de
faculdades que nos permitem fazer generalizações, abstrações etc. Ela
também defende que nossos comportamentos linguísticos são
consequência de uma complexa trama de estímulos, de respostas a
esses estímulos (normalmente imitação de comportamentos de outros)
e de reforços positivos ou negativos a tais respostas ao longo de nossa
história individual.
Chomsky, no entanto, questiona esse quadro. Ele mostra que boa parte
do que sabemos sobre a língua não está presente nos estímulos
linguísticos que recebemos. Para ele, as faculdades de generalização e
abstração, entre outras, assumidas pelos empiristas não são suficientes
para explicar os conhecimentos linguísticos que os falantes adultos
detêm de sua língua.
Noam Chomsky.
Desse modo, se parte do que sabemos da língua não
está nos estímulos que recebemos, para onde nos
conduz Chomsky?
Reflita um pouquinho sobre isso antes de seguir.
Resposta
Se pelo menos uma parte daquilo que sabemos não está nos estímulos
(na experiência), essa parte não pode ser explicada por qualquer
perspectiva empirista - e, em particular, pelo behaviorismo. Logo, é
preciso retomar a posição racionalista para explicar pelo menos uma
parte do conhecimento linguístico dos falantes adultos.
Conhecido como argumento da pobreza do estímulo, esse argumento
será detalhado mais adiante. É com base nele que a escola gerativa,
racionalista do ponto de vista filosófico, propõe uma forma de inatismo
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ou nativismo para explicar a aquisição da língua. Ela defende que os
seres humanos vêm ao mundo dotados de conhecimentos
especificamente linguísticos (ou princípios linguísticos estruturantes);
impressos em sua mente, eles facilitam ou mesmo possibilitam a
aquisição de uma língua natural.
Tais princípios estão presentes no estado inicial da faculdade da
linguagem humana, chamada por Chomsky de gramática universal. Eles
possibilitam a aquisição da linguagem, ou seja, são a causa da
universalidade, rapidez e uniformidade da aquisição linguística entre
humanos.
Conceito de gramática
gerativa
Ao contrário da concepção de gramática como um conjunto de regras
prescritivas para falar e escrever corretamente, o conceito de gramática
na Filosofia, na Linguística e, em particular, na gramática gerativa é
completamente outro.
Assumindo que uma língua L seja um conjunto de sentenças finitas em
extensão constituídas de um conjunto finito de elementos (CHOMSKY,
1957), Chomsky entende por gramática gerativa dessa língua L um
sistema de regras explícito que fornece descrições estruturais
completas e bem definidas de todas as sentenças de L - e somente
delas (CHOMSKY, 1965).
Simplificando, tal gramática, esse sistema de regras
explícito, bem definido e completo, será capaz de gerar
todas as (infinitas) frases da língua L sob análise - e
somente as frases dessa língua.
Outras teorias linguísticas que forneçam gramáticas explícitas capazes
de gerar todas as sentenças de uma língua fornecerão gramáticas
gerativas dessa língua.
Atenção!
O gerativismo chomskyano se distingue de outras teorias linguísticas
gerativas modernas essencialmente por postular a existência de um tipo
específico de regra: as transformações.
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Modernamente, as transformações se traduzem pela regra de
deslocamento de constituintes. Uma regra de deslocamento serve para
dar conta de sentenças.
Exemplo
Quem o Mário encontrou na livraria?
Na sentença, o pronome interrogativo “Quem” é um objeto direto
(complementodo verbo), mas não está na posição tradicional de objeto
– ele está deslocado para o início da frase. Uma maneira de lidar com o
fato de o objeto direto estar em uma posição que não a dele é dizer que
as regras do sistema linguístico incluem deslocamentos de
constituintes, regras que movem um constituinte de uma posição para
outra dentro da sentença.
No exemplo, o objeto está sendo movido da posição tradicional de
objeto direto, junto ao verbo, para o início da frase. Ele, portanto,
continua sendo objeto direto e interpretado como tal, mas está sendo
pronunciado em outra posição.
Até aqui, a gramática (ou gramática gerativa) vem sendo entendida
como uma teoria linguística sobre as regras ou os princípios que geram
as sentenças de determinada língua L, qualquer que seja a natureza
dessa teoria.
O termo “gramática”, porém, tem outra acepção: sistema de regras ou
princípios internalizados, representados na mente dos falantes de
determinada língua L, aqueles que dão forma a suas sentenças e lhes
permitem produzir e entender as frases dessa língua. Conhecido como
gramática universal, esse conceito será trabalhado posteriormente.
Ao longo deste conteúdo, você deverá ficar bem atento, pois encontrará
o termo “gramática” de maneira ambígua.
Gramática gerativa
Teoria linguística sobre o conhecimento linguístico de um falante.
Gramática universal
É o próprio conhecimento linguístico representado na mente
dessefalante.
Autonomia da sintaxe
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Talvez a mais famosa frase de Noam Chomsky seja “Colorless green
ideas sleep furiously”, (ideias verdes sem cor dormem furiosamente),
encontrada no livro Estruturas sintáticas. A frase, que reúne muitas
contradições semânticas, é perfeita do ponto de vista sintático.
Talvez você esteja se perguntando:

Como se dorme furiosamente?

Como uma ideia pode dormir?

Como um substantivo abstrato colorido é sem cor ao mesmo tempo?
Os falantes de inglês sabem que essa frase não viola nenhuma regra
sintática e conseguem inclusive atribuir o contorno prosódico correto à
sentença (a entoação correta à frase), embora a sentença não tenha
nenhum sentido. Veja que, se a sequência fosse Ideas furiously colorless
sleep green, os falantes de inglês saberiam não se tratar de uma
sentença de sua língua e não conseguiriam atribuir o contorno
prosódico certo a ela.
Se a sintaxe de uma sentença não fosse independente de seu
significado, esperaríamos que os falantes do inglês considerassem a
famosa frase de Chomsky malformada ou, pelo menos, anômala do
ponto de vista estritamente sintático. Mas não é isso que acontece.
O exemplo nos mostra que a baixa frequência de uma frase tampouco
influencia o julgamento do falante: a frase de Chomsky era
completamente nova para os leitores da época; portanto, sua frequência
de uso era zero. Mesmo assim, os falantes não a julgavam anômala ou
malformada do ponto de vista estritamente sintático.
A conclusão que se tira a partir dessa discussão é que
a sintaxe é autônoma, ou seja, não é derivada ou
redutível ao significado, nem está sujeita à frequência.
Por outros termos: não é o significado que determina a
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natureza e a forma das regras sintáticas. Tampouco é a
familiaridade com uma frase que nos diz se ela é bem
ou malformada sintaticamente.
Competência e
desempenho
Os conceitos de competência e desempenho aparecem no livro
Aspectos da teoria da sintaxe, de Chomsky, publicado pela primeira vez
em 1965 (tendo uma edição portuguesa traduzida de 1975). Esse livro
traz, em seu primeiro capítulo, uma série de conceitos que permanece
até hoje.
Esses conceitos são importantes não só para os gerativistas, como
também para os seus críticos. Trataremos dos principais a seguir.
Competência
É simplesmente o conhecimento especificamente linguístico,
internalizado, que um falante adulto possui de determinada língua L, o
conhecimento de uma gramática específica, que caracteriza única e
explicitamente todas as sentenças dessa língua L. Tal conhecimento
inclui o conjunto de regras ou princípios particulares que constitui essa
gramática (regras sintáticas, fonológicas, propriedades do vocabulário
etc.).
Exemplo
Uma regra que os falantes de todas as variedades de português
conhecem e que, portanto, faz parte de sua competência é aquela que
estabelece que os artigos, definidos ou indefinidos, submetem-se à
flexão de gênero e número (isso não é uma propriedade de qualquer
língua; no inglês, por exemplo, os artigos não apresentam flexão).
Outro exemplo de conhecimento linguístico particular que possuímos
sobre a nossa língua é o do princípio que nos permite omitir objetos
(complementos) de verbos quando esses objetos são tópicos
discursivos (aquilo de que se fala no discurso).
Observe o diálogo a seguir:
10/11/2023, 10:20 O gerativismo de Chomsky
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Você sabe onde está aquela
caneta com várias cores que eu
comprei ontem?
Eu tinha deixado Ø em cima da
escrivaninha. Você já viu Ø lá?
No diálogo anterior com os falantes A e B, o objeto direto (indicado com
um Ø) do verbo não está expresso nas sentenças de B, mas é
recuperado do contexto (é aquilo de que se fala). De maneira
interessante, o apagamento do objeto é proibido em línguas, como, por
exemplo, o inglês ou o francês (é preciso que haja um pronome na
posição de objeto), mesmo quando se trata de um tópico do discurso.
Os modelos linguísticos que a gramática gerativa tem formulado ao
longo dos anos são todos modelos de competência, isto é, procuram
caracterizar aquilo que os falantes sabem sobre essa língua, incluídas aí
as propriedades que ela compartilha com todas as outras.
Os modelos gerativos são, portanto, modelos do que os falantes sabem
sobre sua língua, e não do que fazem com esse conhecimento.
Desempenho
É o uso que o falante faz de sua competência linguística. Ao contrário
da competência, que é um conjunto de representações mentais estáveis
(um estado da mente, uma propriedade sua), o desempenho é afetado
por inúmeros fatores.
Muitos fatores não são linguísticos, como limitações de memória,
dificuldades no processamento sentencial, indecisões e reelaborações,
entre outros elementos imponderáveis do contexto, da situação de uso.
Por isso, o desempenho pode não refletir perfeitamente a competência,
ainda que dependa dela.
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Língua-E e língua-I
É interessante perceber que os dados linguísticos que a criança recebe
na fase de aquisição da língua são retirados do desempenho dos
falantes ao seu redor, mas o desempenho deles frequentemente não
reflete de forma perfeita sua competência. Isso, entretanto, não impede
que as crianças adquiram a língua falada por essas pessoas que estão
no seu entorno.
Língua-E e língua-I
No livro Conhecimento linguístico: sua natureza, origem e uso, publicado
em 1986, Chomsky apresenta dois conceitos fundamentais: língua-E e
língua-I.
Língua-E (língua externa)
É a língua em sua dimensão sociológica, política e até
histórica: a língua não individual. Exemplos de língua-E: a língua
portuguesa objeto de acordos ortográficos, exigida em
concursos públicos, ensinada nas gramáticas normativas; a
própria noção de língua cunhada por Saussure no Curso de
Linguística Geral; os dados linguísticos que os adquirentes de
uma língua recebem na fase de aquisição (as produções
linguísticas dos falantes no seu entorno). A língua-E, ao
contrário da língua-I, apresenta dificuldades para estabelecer
10/11/2023, 10:20 O gerativismo de Chomsky
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00433/index.html# 15/52
descrições científicas ou filosóficas sobre suavariedade culta.
Responder
A
Variação e mudança são fenômenos semelhantes,
porém independentes.
B
Variação e mudança são fenômenos mutuamente
dependentes, de maneira que um não existe sem o
outro.
C Mudança pressupõe variação, mas não vice-versa.
D Mudança é o mesmo que variação estável.
E
Mudança e variação linguísticas são fenômenos
distintos que ocorrem principalmente na língua
escrita.
Responder
10/11/2023, 10:21 A Sociolinguística
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00334/index.html# 15/53
2
O surgimento da Sociolinguística
Ao final deste módulo, você deverá ser capaz de reconhecer o contexto teórico do surgimento da Sociolinguística Variacionista.
10/11/2023, 10:21 A Sociolinguística
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A institucionalização da
Sociolinguística
Vamos observar alguns acontecimentos sobre o primeiro uso da palavra
sociolinguística:
10/11/2023, 10:21 A Sociolinguística
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00334/index.html# 17/53
Evidentemente, Labov não foi a primeira pessoa a desenvolver um
estudo relacionando a heterogeneidade linguística a variáveis sociais.
Mas sua dissertação de mestrado e tese de doutorado, concluídas
respectivamente em 1963 e 1964, tiveram papel fundamental no
estabelecimento da Sociolinguística Variacionista como movimento
autoconsciente e na sua consolidação como disciplina autônoma.
Depois de sua aposentadoria, Labov detém o título de Professor Emérito
de Linguística da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos.
Nem a conferência nem a obra resultante dela
se limitavam à área conhecida atualmente
como Sociolinguística Variacionista.
Pelo menos três áreas estavam implicadas: a Etnografia da Fala, a
Sociologia da Linguagem e, claro, a Sociolinguística Variacionista. Todas
elas têm algo em comum: o interesse pela linguagem em uso no
contexto social.
Tendências da Linguística
hegemônica do século XX
Para Calvet (2002), a obra Sociolinguistics representa o rompimento
com o tipo de estudo da linguagem que caracterizou os dois
paradigmas linguísticos mais bem-sucedidos do século XX: a
Linguística Estrutural (paradigma hegemônico, grosso modo, na
primeira metade do século passado) e a Linguística Gerativa (que se
impôs como paradigma dominante a partir dos anos 1960).
Vamos lembrar duas características desses paradigmas:

Constituição de um objeto homogêneo

10/11/2023, 10:21 A Sociolinguística
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00334/index.html# 18/53
Adoção de uma abordagem imanentista
Agora vamos ver o objetivo e conhecer o autor de cada uma:
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Homogeneidade e imanência
da linguagem
Tanto Saussure quanto Chomsky estavam, é claro, trabalhando com
idealizações: nenhum deles achava de verdade que qualquer
agrupamento de falantes pudesse ser linguisticamente homogêneo.
Mas os dois acreditavam — e não há mal nenhum nisso — que o estudo
científico da linguagem seria mais produtivo se abstraísse as diferenças
individuais no uso da língua.
Em Linguística, dizemos que uma abordagem é imanentista quando ela
focaliza a língua em si mesma, isto é, desconectada de fatores externos
ao próprio sistema linguístico. Que fatores seriam esses? Podem ser
muitos, incluindo:
10/11/2023, 10:21 A Sociolinguística
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00334/index.html# 20/53

A estrutura da sociedade

A cultura

O funcionamento da mente humana

O uso linguístico concreto
Resumindo
A emergência da Sociolinguística
Variacionista deve ser entendida, portanto,
como uma espécie de reação a duas fortes
tendências da Linguística hegemônica do
século XX: a homogeneidade e a imanência.
Assim, ao se institucionalizar, em meados
dos anos 1960, o que a Sociolinguística
Variacionista faz é oferecer uma maneira
alternativa de se fazer Linguística, cuja
principal característica é o interesse por
estudar não o sistema linguístico em si
mesmo, mas o uso linguístico inserido na
vida social.


10/11/2023, 10:21 A Sociolinguística
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00334/index.html# 21/53
Estudos sociolinguísticos no
Brasil
Assista ao vídeo que traz uma panorâmica dos estudos
sociolinguísticos no Brasil.
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo
que você acabou de estudar.
Módulo 2 - Vem que eu te explico!
Contexto histórico do surgimento da
Sociolinguística
Módulo 2 - Vem que eu te explico!
Reação da Sociolinguística à abordagem
imanentista da língua

10/11/2023, 10:21 A Sociolinguística
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Questão 1
Assinale a alternativa em que é possível reconhecer corretamente o
contexto teórico que marca o início da Sociolinguística.

Vamos praticar alguns
conceitos?
Falta pouco
para atingir
seus objetivos.
A
Os estudos sociolinguísticos dão continuidade aos
estudos e às premissas teóricas de Ferdinand de
Saussure.
10/11/2023, 10:21 A Sociolinguística
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Questão 2
A Sociolinguística buscou correlacionar a estrutura linguística à
estrutura social. Ao fazer isso, logo no seu surgimento, com qual
premissa dos paradigmas estruturalista e gerativista a
Sociolinguística rompeu?
B
Os estudos sociolinguísticos dão continuidade aos
estudos e às premissas teóricas de Noam Chomsky.
C
Os estudos sociolinguísticos dão continuidade às
abordagens que abstraem as diferenças individuais no
uso da língua.
D
Os estudos sociolinguísticos rompem com a premissa
da constituição de um objeto homogêneo e da adoção
de uma abordagem imanentista.
E
Os estudos sociolinguísticos reforçam a abordagem
homogênea e imanentista da linguagem.
Responder
A A autossuficiência do sistema linguístico.
B A arbitrariedade do signo.
C A existência de uma gramática universal.
D
A diferenciação entre relações sintagmáticas e
paradigmáticas.
E O desprezo pelos estudos diacrônicos.
Responder
10/11/2023, 10:21 A Sociolinguística
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3
Conceitos teóricos variacionistas
Ao final deste módulo, você deverá ser capaz de identificar os conceitos de variedade, variável, variante e condicionador.
10/11/2023, 10:21 A Sociolinguística
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Conceito de variedade
Neste módulo, apresentaremos alguns conceitos teóricos que formam o
arcabouço variacionista. Trataremos, especificamente, de quatro
grandes conceitos:
Variedade
Variante
Variável
Condicionador
Esses conceitos são as principais ferramentas analíticas à disposição
de um sociolinguista para lidar com problemas de variação.
Variedade
Uma variedade é a forma de falar própria de determinado grupo social.
Por exemplo, podemos nos referir à variedade carioca, à variedade
acreana ou à variedade da Zona Leste da cidade de São Paulo. Nesses
casos, os grupos sociais citados são, respectivamente, o conjunto dos
habitantes da cidade do Rio de Janeiro, o conjunto dos habitantes do
estado do Acre e o conjunto de moradores da Zona Leste paulistana.
A região geográfica não é o único parâmetro social que nos permite
definir uma variedade. Um sociolinguista pode estabelecer a variedade a
ser estudada a partir de qualquer parâmetro que lhe pareça relevante,
por exemplo:

Idade

Grau de escolaridade

Gênero/sexo
10/11/2023, 10:21 A Sociolinguística
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
Assim, podemos falar na variedade dos falantes com mais de 60 anos,
com ensino superior completo e do gênero feminino. E, é claro,
podemos ainda combinar esses parâmetros, o que vai conduzir a
recortes mais específicos de grupos sociais: a variedade dosnatureza ou para
responder a questões, como, por exemplo, sobre onde ela se
localiza.
Língua-I (língua interna ou individual)
Língua interna é a gramática (sistema de regras ou de
princípios) internalizada pelo falante como resultado do
processo de aquisição. Trata-se de um conceito que, em
grande medida, confunde-se com o de competência, pois
caracteriza o corpo de conhecimentos estritamente linguísticos
que o falante adulto detém da língua que usa. Podemos pensar
que a língua-I seja um estado da mente de um falante, sendo
considerada uma condição estável, isto é, que não sofre
mudanças importantes depois de atingida. Chomsky (1994)
afirma que a língua-I é um objeto legítimo de investigação
científica que permite uma investigação sistemática. Isso
ocorre porque a língua-I constitui algo que indiscutivelmente
existe na mente de um falante, sendo um estado dessa mente,
que pode ser descrita.
Componentes de uma
gramática gerativa
chomskyana
Os linguistas estruturalistas já haviam percebido, antes mesmo de
Chomsky, que a única maneira de fazer uma descrição adequada e útil
de determinada língua seria dividir essa descrição em níveis. Assim,
uma língua poderia ser descrita, por exemplo, em seu nível fonológico
ou no morfossintático.
10/11/2023, 10:20 O gerativismo de Chomsky
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00433/index.html# 16/52
A gramática gerativa propõe uma divisão em, pelo menos, três níveis:
sintático, fonológico e semântico-pragmático.
No livro Aspectos da teoria da sintaxe, Chomsky (1975) defende que tais
níveis de descrição correspondem a componentes de uma teoria das
competências linguísticas. Ou seja, nossa competência linguística é
organizada de tal modo que ela reconhece, pelo menos, três tipos de
regras (ou de princípios): sintáticas, fonológicas e semânticas.
Desse modo, a teoria do conhecimento linguístico dos falantes (de sua
competência) tem o seguinte desenho simplificado:
Estruturalistas
São teóricos vinculados ao estruturalismo linguístico, corrente que
se inicia com Ferdinand de Saussure e seu entendimento de que a
língua é um sistema articulado no qual seus elementos se
concatenam por meio de correlações e oposições. Cada elemento
tem seu valor a partir de sua posição no sistema ou na estrutura.
Assim, fonemas, morfemas e sintagmas se combinam em diferentes
níveis para formar a estrutura da língua.
Esquema simplificado da teoria do conhecimento linguístico dos falantes.
Como vimos na imagem anterior, Chomsky (1975) impõe uma
organização lógica entre tais componentes, havendo uma assimetria
entre elas: a sintaxe é a componente central, responsável pela
combinação dos itens para a geração de sentenças, enquanto a
componente fonológica e a semântica são interpretativas, já que
simplesmente interpretam o que a componente central, a sintaxe, gera.
Chomsky (1975) argumenta que a sintaxe precisa ter precedência lógica
sobre a fonologia e a semântica, pois a estrutura sintática define a
estrutura fonológica e o significado de uma sentença. Assim, as setas
saem da sintaxe para as outras componentes da gramática, mas não há
setas apontando tais componentes de volta para a sintaxe nem ligando
a fonologia à semântica.
10/11/2023, 10:20 O gerativismo de Chomsky
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No caso da fonologia, a maneira como os constituintes estão
organizados sintaticamente na frase nos diz como será a distribuição de
acentos e a prosódia da sentença.
As línguas costumam evitar choques de acentos. Ou
seja, evitam que sílabas de acento forte fiquem
imediatamente adjacentes a outras de acento forte e
que sílabas de acento fraco fiquem imediatamente
adjacentes àquelas de acento fraco.
A estrutura fonológica de uma única palavra e de uma sequência de
palavras procura, portanto, alternar as sílabas fortes com as fracas. Na
palavra “borboleta”, há: uma sílaba forte, bor, com um acento secundário
(uma espécie de tônica um pouco mais fraca); uma sílaba fraca, bo; a
sílaba mais forte de todas, que é a tônica da palavra, le; e, por fim, outra
sílaba fraca, ta. Veja que ocorre uma alternância, evitando os choques
de acentos mencionados (SANDALO; TRUCKENBRODT, 2002).
Verifique um exemplo com sequência de palavras:
1.
Ao pronunciarmos o constituinte
nominal “café quente”, fazemos
um ajuste para evitar que as
íl b tô i fé d “ fé”
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No entanto, o interessante sobre essa regra fonológica, que ajusta os
acentos para evitar o choque, é que ela leva em conta a estrutura
sintática, não se aplicando sob certas circunstâncias. Por exemplo, na
frase “café queima”, não fazemos a transferência do acento para a
primeira sílaba de café, apesar de, não transferindo o acento, ficarmos
com duas sílabas fortes (tônicas) adjacentes.
Veja a explicação acerca desse exemplo:
Café quente Café queima
sílabas tônicas fé, de “café”, e
quen, de “quente”, fiquem juntas.
2.
Para isso, fazemos o
deslocamento do acento de fé
para ca na palavra “café”. Trata-
se da retração do acento.
3.
Sendo assim, pronunciamos
cáfe, e não café. Com a
transferência de acento, criamos
a alternância e evitamos o
choque.
4.
Desse modo, ca fica forte com o
deslocamento; fé fica fraca;
quen continua forte; e te
continua fraca.
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Um choque acontece
dentro de um
constituinte nominal,
que define um sintagma
fonológico (uma
unidade da estrutura
prosódica de uma
sentença), e a regra que
desloca o acento se
aplica.
Um acento se encontra
no constituinte nominal
sujeito da sentença
(“café”, que será um
sintagma fonológico), e
o outro acento está no
predicado (“queima”,
que é outro sintagma
fonológico). Nesse
caso, o choque
acontece na fronteira
entre dois sintagmas
fonológicos, e a regra
não se aplica.
No fim das contas, o que encontramos, portanto, são regras fonológicas
que precisam “ver” a estrutura sintática. Com isso, a componente
sintática tem de preceder a fonológica.
No lado da semântica, fica claro que a interpretação que damos a uma
frase é crucialmente dependente da estrutura sintática dela. Isso mostra
que a componente sintática também deve preceder a componente
semântica em nossa competência, como no caso de “café quente”.
O mesmo caso, porém, não expressa o que fazemos quando
formulamos ou processamos sentenças. Não se trata, afinal, de um
modelo de desempenho, como já dissemos. O que ele expressa é o que
o falante sabe sobre sua língua – ou seja, repetindo, é um modelo de
competência.
Gramática gerativo-
transformacional
O vídeo a seguir traz importantes comentários sobre a gramática
gerativo-transformacional.


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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Assinale a alternativa que descreve corretamente um conceito
pertencente ao gerativismo.
Parabéns! A alternativa A está correta.
A
A competência nomeia um conjunto de
conhecimentos inatos que corresponde à gramática
internalizada ao final do processo de aquisição da
língua.
B
A língua-I é um conjunto de conhecimentos
especificamente gramaticais externado pelo falante,
caracterizando a faculdade da linguagem ligada à
alfabetização.
C
O desempenho de um falante ao usar sua língua não
pode ser afetado por fatores diversos, pois se trata
de habilidade restrita aos conhecimentos
linguísticos.
D
A gramática gerativa é um conjunto de habilidades
não inatas que promove a aquisição da língua,
correspondendo ao conceito de desempenho.
E
O conjunto de habilidadesque contribui para a
aquisição de uma língua é denominado
competência, sendo um aparato inato.
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A competência é o conjunto de conhecimentos estritamente
linguísticos internalizados, isto é, a gramática internalizada ao final
do processo de aquisição pelos falantes de uma língua. Não se
trata de um conjunto de habilidades ou faculdades que facilita a
aquisição de uma língua. A noção de competência, de influência
racionalista, jamais seria definida em termos de habilidades ou
capacidades constituintes de um aparato inato que facilitam ou
possibilitam a aprendizagem. A visão racionalista defende
conhecimentos inatos, não capacidades ou habilidades inatas,
ainda que elas possam existir.
Questão 2
A teoria linguística que trata das regras ou dos princípios que geram
as sentenças de determinada língua, assim como da possibilidade
de as línguas apresentarem sentenças cujos constituintes podem
ser deslocados ou pronunciados em lugares diferentes, é uma
descrição da:
Parabéns! A alternativa B está correta.
A gramática gerativo-transformacional corresponde ao conceito
relacionado tanto às regras que permitem a produção ou geração
de frases possíveis em determinada língua quanto às regras de
transformação ou deslocamento de um constituinte da frase para
uma posição que não é a convencional.
A Gramática normativa ou prescritiva.
B Gramática gerativo-transformacional.
C Gramática universal.
D Dicotomia competência/desempenho.
E Gramática estruturalista
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2 - A gramática universal
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer o conceito de
gramática universal e suas diferentes formulações.
Concepção de gramática
universal
A gramática universal é o estágio inicial da faculdade da linguagem,
como já mencionamos anteriormente. A essa altura, você talvez esteja
se perguntando:
Mas o que está incluído na gramática universal, uma
vez que esse estado inicial não é uma “folha de papel
em branco” (tabula rasa)?
Nas décadas de 1960 e 1970, Chomsky e os gerativistas defendiam que
as línguas eram sistemas de regras particulares.
Assim, as regras seriam aprendidas pelos falantes a partir dos dados,
mas a gramática universal, o estado inicial da faculdade de linguagem
na mente deles, fornecia aos indivíduos certas restrições sobre os tipos
de regras linguísticas possíveis.
Atenção!
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Uma das restrições mais importantes é: as regras das línguas nunca
levam em conta (pelo menos não somente) a ordem das palavras numa
sentença, mas uma estrutura de constituintes subjacente a essa ordem
(uma estrutura de fato hierárquica, em que constituintes estão contidos
em outros constituintes).
O que isso significa? Vejamos o caso clássico da posição do auxiliar do
inglês em perguntas polares.
No inglês, a sentença declarativa em (A) tem uma versão interrogativa
em (B), em que John e o auxiliar na terceira pessoa, has (tem, em
português), trocam de ordem. Observe:
Perguntas polares
Perguntas cujas respostas são sim ou não.
John has read a book.
Has John read a book?
Uma regra para a formação da interrogativa em (B) perfeitamente
compatível com (A) seria: para formar uma interrogativa polar, ou seja,
uma pergunta cuja resposta seja “sim” ou “não”, em inglês, inverta a
ordem do primeiro verbo auxiliar que aparece na sequência de palavras
da contraparte declarativa com o que vem antes desse verbo.
A regra diz, então, para tomar o primeiro verbo em (A), has, e invertê-lo
de posição com o que vem antes, John, para gerar (B). Observe que essa
é uma regra que só olha para a ordem dos elementos na frase – procura
o primeiro verbo auxiliar na sequência de palavras.
A frequência de perguntas polares nas conversas dos falantes de inglês
é muito baixa; a maioria absoluta das ocorrências de perguntas polares
é perfeitamente compatível com a regra enunciada acima. Trata-se,
portanto, de uma regra que descreve a maioria absoluta dos dados que
supostamente uma criança receberia na fase de aquisição.
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No entanto, essa não é a regra correta.
Se ela se aplicar à frase (A) a seguir, por exemplo, tomará o verbo
auxiliar be na terceira pessoa do singular, is (é, em português), e não o
verbo has, gerando a saída incorreta em (B). A pergunta polar correta é
apresentada em (C).
The lad who is singing has read a
book
O rapaz que está cantando leu um livro.
Is the lad who singing has read a
book?
Sentença inaceitável do ponto de vista gramatical.
Has the lad who is singing read a
book?
O rapaz que está cantando leu um livro?
Algumas perguntas emergem dessa discussão:
 Por que a língua inglesa não possui a
regra baseada somente na ordem como
t l d i ?
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A resposta de Chomsky a tais perguntas será a seguinte:
Resposta
Porque o estado inicial da faculdade da linguagem, a gramática
universal, só admite regras dependentes de estrutura, e nunca aquelas
exclusivamente dependentes da ordem linear dos itens. Ou seja, nossa
mente já vem equipada com o conhecimento de que as regras nas
línguas naturais devem levar em conta estruturas hierárquicas de
constituintes na sua formulação, mas não exclusivamente a ordem das
palavras na sentença. A regra correta envolve uma noção estrutural, a de
sujeito sentencial, uma categoria que pode incluir até outro verbo dentro
de si em uma oração relativa, como vemos em (A), e a inversão se dará
entre o auxiliar que concorda com o sujeito e esse sujeito, como
verificamos em (C).
a postulada acima?
 Se a regra proposta acima é compatível
com a imensa maioria dos dados, por
que as crianças em fase de aquisição
nunca cometem erros em seu
comportamento linguístico compatíveis
com tal regra?
 Por que as crianças nunca produzem
coisas como (B) durante a fase de
aquisição?
 Por que elas nunca supõem uma regra
baseada somente na ordem das
palavras, já que ela é compatível com a
imensa maioria dos dados – e é mais
simples do que a regra verdadeira?
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Até o final dos anos 1970, os gerativistas supunham que a gramática
universal incluísse um conhecimento sobre os tipos de regras
linguísticas possíveis, e não o conhecimento das regras particulares das
línguas em si, que só poderiam ser aprendidas a partir dos dados
linguísticos, como é o caso da regra de inversão do auxiliar inglês que
discutimos acima. Tratava-se de um conhecimento sobre as categorias
universais, como nomes e verbos, e de um critério para a avaliação de
gramáticas alternativas em relação aos dados linguísticos disponíveis.
Essa dotação facilita a aquisição da linguagem, pois diminui o número
de hipóteses que a criança precisa formular na aquisição das regras de
uma língua.
Mas o que isso quer dizer?
Lembre-se do exemplo anterior, da inversão do auxiliar do inglês em
perguntas polares.
Resumindo
Como as crianças em fase de aquisição já sabem que as regras devem
fazer referência à estrutura de constituintes, e não somente à ordem das
palavras, elas não formularão uma regra que procura pelo primeiro verbo
numa sequência de itens (como a regra errada que propusemos antes)
nem precisarão confrontar essa regra com os dados relevantes – os
quais, nesse caso, são escassos – para excluí-la. Ora, com menos
regras para testar, seu trabalho é diminuído de maneira drástica.
Ao longo da década de 1970, os linguistas gerativistas, estudando
diversas línguasdiferentes, perceberam que muitas regras que eles
propunham para descrevê-las compartilhavam princípios bastante
abstratos. Era comum que, nessas pesquisas, conjuntos de regras
fossem substituídos por princípios mais gerais nas descrições que
esses linguistas faziam.
Eles ainda perceberam que esses princípios, bastante abstratos e gerais,
estavam presentes em todas as línguas ou variavam de forma limitada
entre elas.
Desse modo, a concepção de língua como conjunto de regras
particulares começou a ser substituída pela de língua como conjunto de
princípios com a possibilidade de variação paramétrica (princípios
universais da linguagem presentes com alguma variação em diferentes
línguas). A gramática universal, o estado inicial da faculdade da
linguagem, passa, portanto, a ser entendido de outro modo: ela incluirá
tanto princípios universais (que valem para todas as línguas, como é o
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caso da restrição sobre regras discutida acima) quanto princípios que
variam de maneira restrita, os parâmetros.
Os dados linguísticos disponíveis na fase de aquisição mostram às
crianças como elas devem fixar esses parâmetros. Uma língua-I será
essencialmente uma combinação específica de fixações paramétricas,
sendo atingida ao final da fase de aquisição.
Gramática universal:
princípios e parâmetros
O livro Lectures on government and binding, publicado em 1981, reúne
um conjunto de palestras ministradas dois anos antes por Noam
Chomsky na Universidade de Pisa. Baseado em estudos realizados por
vários linguistas confrontando famílias de línguas, o autor conduz uma
discussão bastante detalhada sobre o parâmetro pro-drop e suas
consequências.
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Esse livro é considerado um marco inicial da teoria de princípios e
parâmetros, redefinindo os significados de língua, gramática e gramática
universal.
Talvez você esteja se perguntando:
pro-drop
Redução da expressão inglesa pronoun-dropping para se referir à
possibilidade de omitir o sujeito numa sentença.
O que é o parâmetro pro-drop? O que é parâmetro? O
que é princípio?
Um princípio será uma propriedade universal, que é encontrada em
todas as línguas. Um importante princípio das línguas naturais humanas
(talvez a sua propriedade mais importante) é o do encaixe, que dá conta
da chamada recursividade linguística.
Quanto aos constituintes, o princípio do encaixe nos diz que podemos
encaixar um dentro do outro. Nos exemplos a seguir, encaixaremos
orações relativas (entre colchetes) dentro de orações relativas:
Pedro arrumou um gato.
Pedro arrumou um gato [que só
gosta de comida enlatada].
Pedro arrumou um gato [que só
gosta de comida enlatada [que
seja importada do Japão]].
Podemos encaixar subordinadas dentro de subordinadas, como você
pode ver a seguir:
Exemplo
Pedro disse [que Maria contou [que Augusto concluiu [que Manuela
acredita [que a vida é bela]]]].
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Apesar de restrições em uma ou outra construção específica, todas as
línguas admitem algum tipo de encaixe – e, por isso, trata-se de um
princípio, uma propriedade universal.
O princípio do encaixe é muito importante, pois permite que as línguas
humanas usem meios finitos (um número finito de palavras e de
princípios ou regras de combinação dessas palavras) para gerar um
número infinito de sentenças.
Outro exemplo de princípio é o princípio C da teoria da ligação. Observe
as sentenças a seguir.
Ele disse que João tomou sorvete
na praça.
João disse que ele tomou sorvete
na praça.
Na sentença A, o pronome ele não pode referir-se a João, mas, na
sentença B, pode.
A restrição em A é uma propriedade universal das línguas: será
verificada tanto no português quanto no chinês, assim como no kaigang
(língua indígena brasileira do tronco Jê falada em São Paulo, Paraná,
Santa Catarina e Rio Grande do Sul). Também é uma restrição que não
faz referência à ordem dos constituintes, apesar de parecer que sim –
atendendo, portanto, à exigência de que regras ou restrições sempre se
apliquem sobre constituintes hierarquicamente organizados.
Observe esta sentença:
O rapaz que o viu disse que João tomou sorvete na
praça.
Veja que, na sentença anterior, o pronome átono o vem antes do nome
próprio João; no entanto, a correferência entre o pronome o e o nome
próprio João é permitida. Logo, não é o fato de o pronome vir antes do
nome que proíbe a correferência.
Você verá mais sobre esse princípio adiante, mas é importante mostrar,
com os dois exemplos citados, que há leis universais às quais as
línguas obedecem independentemente das culturas a que essas línguas
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estão ligadas ou de suas histórias. Essas leis serão chamadas de
princípios.
O conceito de parâmetro
O que é parâmetro pro-drop
Vamos tratar do conceito de parâmetro, procurando compreender o que
é o parâmetro pro-drop.
Algumas línguas, como o inglês e o francês, não permitem orações sem
um sujeito expresso (desde que o verbo não esteja no modo
imperativo). Isso quer dizer que sempre deve haver um sujeito expresso
na sentença, mesmo que ele não se refira a nada.
Na sentença em inglês a seguir, cujo verbo descreve um fenômeno da
natureza, há um pronome neutro, it, como sujeito da sentença. Esse
pronome não se refere a nada no mundo; está lá somente para realizar
uma função sintática obrigatória.
A mesma exigência não se aplica ao português e ao espanhol, como
vemos em (B) e (C), em que a mesma frase é dita em três idiomas
diferentes:
It rained a lot yesterday.
Choveu muito ontem.
Ayer llovió mucho.
Uma língua pro-drop permite (obriga, em certos casos), portanto, que a
função sintática de sujeito fique sem uma expressão fonológica para
ela. Línguas que não são pro-drop, como o francês e o inglês, não o
permitem.
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Atenção!
A propriedade pro-drop traz consigo outras propriedades para o sistema
linguístico. Por exemplo, elas permitem a posposição do sujeito
(Chegou a encomenda ainda há pouco); as que não são pro-drop não
permitem.
É importante entender que, segundo a teoria de princípios e parâmetros,
o estado inicial da faculdade de linguagem dos seres humanos, sua
gramática universal, é dotado de um princípio relativo à realização dos
sujeitos das sentenças nas línguas e que esse princípio tem duas
opções paramétricas: ou uma língua é pro-drop, ou não.
O adquirente da língua (a criança em fase de aquisição) conhecerá
previamente essas duas opções e fixará uma ou outra a depender dos
dados que receber: se perceber que a língua que está adquirindo tem
muitas frases sem o sujeito expresso, ou com posposição do sujeito, ou
com expletivos nulos, entre outras coisas, ela fixará pro-drop
positivamente; se não encontrar nenhuma dessas coisas ou encontrar
muito poucos exemplares delas, vendo-as somente em construções
marcadas, ela fixará o parâmetro pro-drop negativamente.
Parâmetro da ordem entre
núcleo e complemento
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Outro parâmetro é o da ordem entre núcleo e complemento. Ele nos diz
qual é a ordem entre núcleos e complementos de constituintes
sintáticos que uma língua apresenta./p>
Mas você deve estar se perguntando:
O que é um núcleo de um constituinte sintático?
Os constituintes sintáticos têm sempre um elemento que “pede” outros
e que define qual é a categoria do constituinte inteiro.
Exemplo
Um verbo transitivo pede um complemento verbal, um objeto, e a
combinaçãodesse verbo com seu complemento será um sintagma
verbal. Uma preposição pede um complemento, um objeto (ela nunca
pode ocorrer sozinha), e a combinação dessa preposição com seu
complemento será um sintagma preposicional, e assim por diante.
O que o parâmetro da ordem atesta é o seguinte: ou os núcleos estão à
direita dos complementos, ou à esquerda deles. O português é uma
língua de núcleo à esquerda; já o japonês, à direita.
Ou seja, no português, verbos e nomes ficarão à esquerda de seus
complementos; conjunções, à esquerda das orações; e auxiliares, à
esquerda dos verbos principais. Além disso, haverá preposições. Já no
japonês, essas ordens serão todas invertidas, havendo posposições, e
não preposições. Esse parâmetro tem impacto dramático na ordem final
dos constituintes na sentença.
Apresentaremos a seguir uma sentença em português e como ela seria
na ordem de uma língua com o parâmetro da ordem fixado de outro
modo, como acontece no japonês:
Pedro perguntou se João tinha
tomado sorvete.
Pedro João sorvete tomado tinha
se perguntou.
Mais uma vez, o valor do parâmetro será fixado a partir dos dados. A
criança em fase de aquisição sabe que todo constituinte sintático tem
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um núcleo e que a relação linear entre o núcleo e o complemento se
apresentará numa das duas opções acima (dois conhecimentos inatos
fornecidos pela gramática universal). Identificando os núcleos dos
constituintes e seus complementos, ela conseguirá fixar o parâmetro
com poucos dados linguísticos.
Atenção!
A presença de dois parâmetros na gramática universal possibilita a
existência de quatro línguas distintas. Cada língua (gramática) particular
será uma combinação específica de fixações paramétricas. Se todos os
parâmetros tiverem somente duas opções, o número de gramáticas
possíveis será calculado pela fórmula simples dois elevado ao número
de princípios com opções paramétricas fornecido pela gramática
universal.
Assim, se a gramática universal incluir, digamos, 20 parâmetros, ela
possibilitará a existência de, pelo menos, 1.048.576 gramáticas (línguas)
distintas. Hoje, mais ou menos 6 mil línguas distintas são faladas no
mundo inteiro.
Princípios e parâmetros
Assista ao vídeo a seguir com comentários sobre princípios e
parâmetros e exemplos do parâmetro pro-dop.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Assinale a afirmação compatível com as concepções de gramática
universal apresentadas neste módulo e propostas pela teoria
gerativa em linguística.
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Parabéns! A alternativa B está correta.
A gramática universal não é o estado final do processo de aquisição
da linguagem (uma língua particular), mas o seu estado inicial,
anterior aos estímulos linguísticos e à fixação dos parâmetros (ou à
aquisição dos sistemas de regras das línguas particulares). Essa
gramática é o estado da faculdade da linguagem que contém
virtualmente todas as línguas e gramáticas possíveis.
Questão 2
Analise as afirmativas a seguir considerando que, na gramática
universal, um princípio é uma propriedade universal encontrada em
todas as línguas e um parâmetro, uma variação ou restrição desse
princípio em determinadas línguas.
I. Na frase “It rained a lot yesterday”, ocorre o parâmetro pro-drop
(supressão do sujeito).
II. Na frase “Choveu muito ontem”, há o exemplo de ocorrência do
parâmetro pro-drop.
III.Em “Ayer llovió mucho”, acontece a omissão do sujeito.
Está correto apenas o que se afirma em:
A Conjunto de possibilidades sobre os tipos de regras
da gramática normativa.
B
Estado inicial da faculdade da linguagem rico em
estrutura.
C
O estado atingido pela faculdade da linguagem ao
final do processo de aquisição.
D
O estado da faculdade da linguagem referente às
regras de uma língua específica.
E
O estado da faculdade da linguagem que
corresponde a dados concretos de um idioma.
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Parabéns! A alternativa E está correta.
A afirmativa I está errada, porque ela contém um exemplo de língua
que não apresenta o parâmetro pro-drop, já que o inglês obriga a
presença do sujeito na sentença. No caso, o sujeito é o “it”, mesmo
sendo um pronome neutro. As afirmativas II e III estão corretas,
pois reconhecemos nelas o parâmetro pro-drop pelo fato de o
sujeito ser omitido.
3 - Aquisição da linguagem
Ao �nal deste módulo, você será capaz de relacionar as implicações
da gramática universal à aquisição da linguagem.
A I.
B II.
C III.
D I e II.
E II e III.
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O argumento da pobreza de
estímulo
O argumento da pobreza do estímulo fundamenta a orientação
racionalista no estudo da aquisição da linguagem humana. Ele se baseia
no fato de que os conhecimentos linguísticos que os falantes adultos
têm de sua língua excedem bastante as informações contidas nos
dados linguísticos a que eles foram expostos durante a aquisição dessa
língua.
De maneira mais precisa, a questão é que várias gramáticas diferentes
(diversos sistemas de regras ou de princípios diferentes) são
compatíveis com os dados que servem de estímulos linguísticos
primários para as crianças em fase de aquisição. Se os falantes,
portanto, só aprendessem a partir dos dados linguísticos, esperaríamos
que eles não atingissem consistentemente a gramática da língua falada
no entorno. No entanto, eles atingem essa gramática.
Resumindo
Ninguém pode aprender uma gramática somente a partir da experiência.
Para que essa ideia fique mais clara, retomemos o princípio C da teoria
da ligação, visto anteriormente quando estudávamos a noção de
princípio na gramática universal. Vamos também retomar os mesmos
exemplos:
Ele disse que João tomou sorvete
na praça.
João disse que ele tomou sorvete
na praça.
Como você viu antes, algo impede a correferência entre o pronome e o
nome próprio “João” em A, ou seja, “ele” e “João” não se referem à
mesma pessoa. No entanto, em B, existe a correferência, pois “João” e
“ele” se referem à mesma pessoa.
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O problema relevante aqui é que os dados linguísticos
primários recebidos pelas crianças em fase de
aquisição são compatíveis tanto com uma gramática
que não inclua o princípio C quanto com uma
gramática que o inclua.
Mesmo que as crianças em fase de aquisição não encontrassem
situações em que “ele” e “João” se refiram à mesma pessoa em
sentenças semelhantes à sentença A, nada as obriga a supor que essa
correferência não poderá acontecer em outros contextos de fala, ou
com verbos novos para ela, ou qualquer outra coisa que possamos
imaginar.
Contando somente com os dados linguísticos (positivos) que recebe, a
criança jamais terá elementos suficientes para aprender que a falta de
correferência observada em frases semelhantes à A decorre de uma
restrição que, independentemente do contexto, vale sempre.
Argumento da pobreza de
estímulo na aquisição da
linguagem
Observe neste vídeo comentários importantes sobre o argumento da
pobreza de estímulo na aquisição da linguagem.
Além do argumento da
pobreza de estímulo em
aquisição da linguagem

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A tese nativista (ou inatista) é também reforçada por diversos achados
observacionais e experimentais em aquisição da linguagem.
A primeira coisa que se observa éa seguinte: a produção linguística das
crianças em fase de aquisição não é mera imitação do comportamento
linguístico dos adultos. Ela está sujeita a limitações de seu estágio, isto
é, da fase correspondente em que a criança está na aquisição.
Exemplo
As crianças muitas vezes regularizam flexões de verbos irregulares e
produzem formas como “Eu sabo”, ainda que nunca tenham ouvido tal
forma regular em seu ambiente linguístico. Logo, elas não estão
imitando o comportamento de alguém nesse caso.
Além disso, mesmo que tentem imitar os adultos, as crianças estão
limitadas pela fase de aquisição na qual se encontram. Se, em
determinada fase da aquisição, elas usarem de modo inconsistente (ou
simplesmente não usarem) preposições, conjunções e verbos auxiliares,
continuarão a fazer isso mesmo ao tentar reproduzir a frase de um
adulto com todos esses itens.
As crianças tampouco aprendem as formas corretas de sua língua por
meio de correções dos adultos, as quais, na visão dos behavioristas,
seriam reforços negativos a determinados tipos de comportamentos
linguísticos.
Você deve estar se perguntando:
Por que isso acontece?
Observe os aspectos descritos na sequência e entenda esses
comportamentos linguísticos:
Em primeiro lugar, os adultos não costumam corrigir aspectos
formais, erros gramaticais das sentenças que as crianças
produzem, mas corrigem essencialmente os problemas na
expressão de suas mensagens. Ou seja, as correções são muito
mais voltadas para o que elas queriam dizer e não conseguiram
do que para o fato de não terem usado um auxiliar correto ou de
terem criado uma flexão verbal inesperada.
Além disso, é comum que as crianças não deem atenção a esse
tipo de correção. Não é implausível imaginar que, ao corrigir uma
Correção de aspectos formais 
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criança que disse “Eu sabo”, explicando para ela que não é “Eu
sabo”, e sim “Eu sei”, ela responda: “Não, mamãe, sou eu que
sabo!”.
Em segundo lugar, um fato atestado experimentalmente em
aquisição infantil são os períodos críticos. Uma gama de
estudos experimentais mostra coisas extraordinárias sobre as
janelas de aquisição de tipos específicos de conhecimentos
linguísticos.
A existência de tais janelas sugere um programa biológico de
desenvolvimento da aquisição da linguagem em interação com
os estímulos linguísticos recebidos e reforça obviamente a tese
nativista.
Em terceiro lugar, é preciso dizer que a existência de
determinados tipos universais linguísticos favorece a visão
nativista. Tomemos mais uma vez o princípio C da teoria da
ligação como exemplo.
Não há qualquer impedimento lógico para a existência de uma
língua cuja gramática viole esse princípio em algum recanto ou
capital do mundo. No entanto, nenhuma língua estudada até
agora faz isso. A única resposta plausível para tal é que o
princípio C é uma propriedade da espécie humana; portanto,
nenhuma língua natural humana o violará.
Em quarto e último lugar, existem as seguintes evidências para a
existência de um estado inicial rico da faculdade da linguagem e
talvez de um programa biológico de desenvolvimento específico
para essa cognição específica, complementando o argumento da
pobreza do estímulo:
Mesmo quando as condições de exposição aos dados
linguísticos são restritas ou anormais, a aquisição de uma
Janelas de aquisição 
Tipos universais linguísticos 
Outras evidências biológicas 
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língua sempre acontece com crianças normais;
Essa aquisição obedece aos mesmos estágios
independentemente da língua-alvo, isto é,
independentemente de a criança estar no processo de
aquisição do português, do alemão, do árabe ou do japonês;
A aquisição é relativamente rápida e eficaz.
Gramática universal e
aquisição da linguagem
Como vimos anteriormente, o estado inicial da faculdade da linguagem,
chamado na literatura gerativista de gramática universal, é bastante rico.
Isso facilita a aquisição de qualquer língua natural humana, justamente
porque todas as línguas possíveis (gramáticas) já existem, pelo menos
virtualmente, na mente dos seres humanos desde o nascimento.
Conduzidos por pesquisadores norte-americanos, vários estudos
experimentais com crianças apresentam resultados importantes para a
visão nativista - em particular, para a teoria de princípios e parâmetros.
Curiosidade
Algo interessante apontado por esses estudos é que os “erros”
cometidos pelas crianças em fase de aquisição são, em sua maioria,
“acertos” em outras línguas.
Já se sabia que os erros das crianças são bastante restritos. O dado
relevante das pesquisas de autores norte-americanos, como, por
exemplo, Charles Yang (2002), é que uma criança em processo de
aquisição em um ambiente de falantes de inglês pode construir frases
seguindo regras da gramática do chinês, por exemplo, mas nunca frases
obedecendo a regras ou princípios que não encontramos em nenhuma
língua.
Note que uma regra gramatical do chinês não está certamente nos
dados de inglês que a criança recebe. Portanto, ela não aprende essa
regra dos dados.
Yang (2002) explica esse fato usando a teoria de princípios e
parâmetros:
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De posse das variações paramétricas fornecidas pela
gramática universal, as crianças vão atribuindo
continuamente pesos probabilísticos para os valores
de um parâmetro ao longo do período de aquisição
com base nos dados linguísticos que recebem.
Vejamos uma situação que pode ajudar a entender essa questão.
Exemplo
Durante algum tempo, as produções linguísticas de uma criança em
ambiente anglófono (falantes nativos do inglês) podem ocorrer sem
sujeito expresso, como se o parâmetro pro-drop (que permite a omissão
do sujeito) fizesse parte da língua inglesa. É interessante o fato de que
todas as crianças em fase de aquisição de qualquer língua produzam
sentenças sem sujeito expresso.
Segundo a teoria de Yang (2002), isso acontece porque a criança ainda
não possui evidência suficiente para atribuir alta probabilidade à ligação
negativa do parâmetro. Ela ainda não considera altamente provável que
a sua língua seja uma que não é pro-drop.
A pesquisa demonstra que o espaço de erros possíveis que as crianças
podem cometer durante a aquisição é restrito pela variação paramétrica
fornecida pela gramática universal.
Os estágios da aquisição da
linguagem e o período
crítico
A aquisição é um processo uniforme entre as diferentes línguas, ou seja,
o desenvolvimento independe da língua-alvo da aquisição. Observe
alguns marcos importantes:
 A partir dos seis meses de idade, as crianças
balbuciam. Entre o oitavo e o nono mês, elas estão
produzindo sons da língua que vão adquirir. Esses
sons ainda são desprovidos de significado:
l íl b CV ( t l)
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algumas sílabas CV (consoante-vogal), por
exemplo, vêm repetidas. É um período em que a
criança restringe o seu inventário de sons –
inicialmente amplo – ao dos sons da língua-alvo da
aquisição. Contudo, elas já conseguem identificar a
prosódia da língua que estão adquirindo e distingui-
la da de outras línguas.
 Em algum momento do final do primeiro ano ou do
início do segundo ano de vida, as crianças
começam a produzir sentenças de uma só palavra.
Esse período é chamado de estágio holofrástico.
Holofrase é uma palavra com o sentido de uma
frase ou sentença.
 No início do terceiro ano de vida (aos dois anos de
idade), já são produzidas sentenças curtas com
mais palavras, mas ainda imperfeitas na utilização
do vocabulário gramatical. Trata-se do estágio
telegráfico. Nesse estágio, a produção linguística
da criançaenvolve basicamente as palavras de
classes abertas (nomes, verbos, adjetivos,
advérbios). O uso de palavras funcionais (como
ti j õ i õ t ) é b t t
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É interessante notar que, tanto no estágio telegráfico quanto no
holofrástico, a criança demonstra que sua produção está aquém de sua
competência.
No estágio em que suas frases se resumem a uma palavra somente, fica
claro que as crianças querem dizer muito mais do que a palavra
isoladamente veicula, como se aquela palavra x estivesse incluída em
uma frase, como, por exemplo, “Quero x” ou “Faça x”. Além disso,
experimentos controlados revelaram que elas são capazes de distinguir
agentes e pacientes de sentenças simples com verbos transitivos, o que
mostra claramente que sua competência linguística naquele momento
excede o que elas produzem – que ainda não são frases.
O desenvolvimento gramatical das crianças ao longo do terceiro ano de
vida é espantoso. Quando chegam aos três anos, elas já formam frases
usando perfeitamente os itens funcionais que não usavam
adequadamente; além disso, suas frases já se assemelham muito, do
ponto de vista gramatical, àquelas produzidas pelos adultos, com
subordinação e outras estruturas sofisticadas.
Atenção!
Além desse andamento uniforme, que é observado independentemente
da língua, uma gama variada de pesquisas tem mostrado que há um
período crítico para a aquisição da linguagem, cujo término se dá no
início da puberdade. Segundo Lenneberg (1967), é nesse período que a
lateralização cerebral se completa, ou seja, é na puberdade que o
processo que leva à distribuição das funções entre os hemisférios
cerebrais termina.
É por isso que, entre outras coisas, danos físicos na região do cérebro
responsável pela linguagem após a puberdade produzem perdas
permanentes das capacidades linguísticas da vítima. Havendo, portanto,
um período crítico, alguém que não tenha sido exposto a dados
linguísticos nesse período não adquirirá uma gramática.
artigos, conjunções, preposições etc.) é bastante
inconsistente ou não acontece.
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Referentes às chamadas crianças selvagens, diversos casos
documentados evidenciam que, se uma pessoa não for exposta a dados
linguísticos até o início da puberdade, não conseguirá internalizar uma
gramática, mesmo que consiga aprender um vocabulário relativamente
rico.
Exemplo
Um dos casos mais tristes e dramáticos é o da menina Genie, uma
californiana mantida em cativeiro pelo pai dos 20 meses aos 13 anos de
idade, sofrendo maus-tratos e ficando subnutrida e sem contato
linguístico com ninguém. No caso de Genie, ela aprendeu um
vocabulário variado, mas não conseguia produzir frases bem formadas
com ele. De fato, a pesquisa mostrou que a linguagem que ela aprendeu
se manifestava no hemisfério direito, e não no esquerdo, como acontece
com a imensa maioria dos falantes de qualquer língua.
Os fatos apresentados anteriormente constituem evidências
importantes a favor de um desenvolvimento biologicamente definido de
uma cognição específica – a da linguagem – e favorecem uma
abordagem que combina orientação racionalista com ciências naturais
(e com a metodologia das ciências naturais), como é o caso da
abordagem gerativa para o estudo da linguagem.
Por fim, é importante esclarecer que, mesmo tendo uma determinação
biológica, a aquisição depende da experiência deflagradora. Ou seja:
Ainda que exista todo um programa biológico (uma
dotação genética) seguido pela criança no processo de
aquisição e mesmo assumindo que a aquisição conte
com um estágio inicial bastante rico, não há aquisição
sem experiência.
Dessa forma, a internalização de uma gramática resulta de uma
interação complexa entre um programa biológico predefinido e
especificamente linguístico e a experiência linguística.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Assinale a alternativa que relaciona corretamente o conceito de
gramática universal à aquisição da linguagem.
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Parabéns! A alternativa C está correta.
A gramática universal é o estado inicial da faculdade da linguagem
com princípios e parâmetros. Um desses parâmetros é denominado
pro-drop. Em línguas que não são pro-drop, que obrigam a
expressão do sujeito, a criança acaba produzindo sentenças sem
um sujeito explícito, o que evidencia uma característica universal da
faculdade da linguagem: construção de frases sem sujeito no
processo de aquisição de qualquer língua.
A
A gramática universal corresponde ao estado
intermediário da faculdade da linguagem e atua na
aquisição da língua, fornecendo regras para que
cada um fale corretamente seu idioma.
B
Todas as línguas ou gramáticas possíveis existem
virtualmente na mente dos seres humanos desde o
nascimento. Por isso, as crianças não cometem
erros nem há variação de parâmetros que devam ser
considerados.
C
O estado inicial da faculdade da linguagem possui
princípios e parâmetros; em relação ao parâmetro
chamado pro-drop, observa-se que as crianças em
fase de aquisição de qualquer língua produzem
frases sem sujeito expresso.
D
Ainda que a faculdade da linguagem em seu estado
inicial seja limitada e pobre, as crianças, quando
expostas a uma língua, não cometem erros nem
reproduzem frases diferentes do que ouvem dos
falantes no seu entorno.
E
A construção de frases sem sujeito por parte de
uma criança evidencia a necessidade de
alfabetização antes da idade escolar.
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Questão 2
Considerando o que você estudou sobre o processo de aquisição
da linguagem neste módulo, assinale a alternativa correta.
Parabéns! A alternativa B está correta.
O estágio holofrástico se caracteriza pela produção de frases de
uma única palavra. Aos seis meses, a criança apenas balbucia
sons. O processo de aquisição é uniforme entre as línguas. No
estágio telegráfico, o uso de termos funcionais ainda é imperfeito.
A
Com seis meses de idade, as crianças já produzem,
em média, todos os sons da língua que estão
adquirindo.
B
No estágio holofrástico, entre o primeiro e o
segundo ano, a criança passa a produzir palavra
com o sentido de uma frase.
C
A aquisição é um processo não uniforme e que
acontece de modo diverso nas diferentes línguas.
D
No estágio telegráfico, o uso de termos funcionais,
como preposições, artigos e conjunções, já
acontece perfeitamente.
E
Os estágios holofrástico e telegráfico são
correspondentes ao balbucio de sons.
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Considerações �nais
Você aprendeu que a linguística gerativa se propõe a descrever as
línguas naturais de maneira muito precisa e acurada, além de explicar
como essas línguas são adquiridas.
Um dos conceitos estudados, o argumento da pobreza do estímulo,
mostra que a orientação empirista das abordagens tradicionais é
insuficiente para explicar a riqueza e a complexidade dos
conhecimentos linguísticos dos adultos. Por isso, o gerativismo adota
uma orientação nativista ou inatista e afirma que o estado inicial da
faculdade da linguagem é rico.
O gerativismo de Noam Chomsky chama de gramática universal o
estado inicial da faculdade da linguagem. Atualmente, os gerativistas
propõem que essa gramática inclua princípios (propriedades universais)
e parâmetros (variações limitadas para alguns desses princípios). Essa
proposta tem a capacidade de explicar a rapidez, a facilidadee o
sucesso na aquisição da linguagem por parte das crianças, além de
justificar a grande variedade das línguas do mundo.
A gramática gerativa chomskyana se mantém como uma das principais
vertentes da pesquisa linguística, produzindo descrições minuciosas de
línguas pouco ou muito investigadas, além de possibilitar estudos
interdisciplinares com a Biologia, a Psicologia e as Neurociências.
Podcast
Para terminar, ouça este podcast com alguns pontos importantes sobre
o gerativismo de Chomsky.

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Leia as indicações:
Para aprofundar o conhecimento sobre aquisição da linguagem e as
pesquisas desenvolvidas na segunda metade do século XX, leia o
artigo Aquisição da linguagem: uma retros pectiva dos últimos trinta
anos, da linguista Letícia Correa, publicado na revista Delta.
Você pode estudar mais sobre o gerativismo de Chomsky lendo o
interessante artigo Noam Chomsky e o funcionamento da
linguagem: menos é mais!, de Paulo Ângelo Araújo-Adriano e
Williane Corôa, publicado no Blog de Linguística da UNICAMP.
Referências
CHOMSKY, N. A review of B. F. Skinner’s verbal behavior. In: Language,
35, n. 1, 1959, p. 26-58.
CHOMSKY, N. Aspectos da teoria da sintaxe. Coimbra: Armenio Amado,
1975
CHOMSKY, N. Estruturas sintáticas. Petrópolis: Vozes, 2015.
CHOMSKY, N. Lectures on government and binding. Dordrecht: Foris,
1981.
CHOMSKY, N. O conhecimento da língua: sua natureza, origem e uso.
Lisboa: Caminho, 1994.
LENNEBERG, E. Biological foundations of language. Nova York: John
Wiley, 1967.
SANDALO, F.; TRUCKENBRODT, H. Some notes on phonological phrasing
in brazilian portuguese. In: CSIRMAZ, A.; LI, Z.; NEVINS, A.; VAYSMAN,
O.; WAGNER, M. (orgs.). Phonological answers: MIT working papers in
Linguistics, n. 42, 2002, p. 285-310.
SKINNER, B. F. Verbal behavior. Cambridge: B. F. Skinner Foundation,
1957.
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YANG, C. D. Knowledge and learning in natural language. Oxford: Oxford
University Press, 2002.
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Agora, vamos conhecer dois importantes conceitos:
Pensando especificamente na realidade sociolinguística do Brasil, fica
claro que a norma padrão é, de fato, apenas uma idealização.
Não existe nenhum grupo social cuja forma de falar corresponda
integralmente a esse conjunto de prescrições.
Isto é, no Brasil, nenhuma variedade linguística real — ou seja,
empiricamente atestável na realidade sociolinguística — inclui todos os
usos ditados pela tradição gramatical.
Mas, você pode estar pensando, nem a variedade culta?
Certamente, não. Por exemplo, eu, que uso (por definição) a variedade
culta, acabo de virar para a minha mulher e dirigir a ela o seguinte
enunciado: “Me diz depois o que você acha deste texto que eu estou
escrevendo?”. Segundo a tradição gramatical, eu não poderia ter
empregado a próclise (“me diz”) no início do enunciado, mas essa forma
Norma culta 
Norma padrão 
10/11/2023, 10:21 A Sociolinguística
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de falar é corriqueira para mim. Esse uso, portanto, pertence à norma
culta, mas não à norma padrão.
Variável e variante
Tendo estabelecido o conceito de variedade, passemos agora às noções
de variável e variante. Para compreendê-las, procure responder às
seguintes perguntas:
Agora podemos voltar aos termos variável e variante. Em
Sociolinguística Variacionista, a palavra variável é usada em referência a
qualquer aspecto do sistema linguístico que admite variação. Já o
termo variante faz referência às diferentes formas que competem pela
realização da variável.
Em uma pesquisa variacionista, o linguista tipicamente elegerá uma
variável e investigará quais são as variantes que podem realizá-la. Por
exemplo: se você decidir estudar a alternância entre nós e a gente na
expressão da 1ª pessoa do plural, então sua variável será a 1ª pessoa
do plural (é um aspecto do sistema linguístico que admite variação, e
Resumindo
A norma culta é uma variedade
empiricamente atestável, isto é, a forma de
expressão própria de um grupo social real
(os falantes com maior prestígio social). Já a
norma padrão é apenas um conjunto de
prescrições gramaticais registrado nas
gramáticas normativas. Em tese, a norma
padrão pode ou não coincidir com alguma
variedade real (como a variedade culta); no
Brasil, certamente isso não ocorre.

Quantos pronomes diferentes o sistema do português
brasileiro nos disponibiliza para que expressemos a ideia
de 1ª pessoa do singular?

E quanto à 1ª pessoa do plural? 
10/11/2023, 10:21 A Sociolinguística
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por isso foi eleito como objeto do seu estudo) e suas variantes serão o
nós e o a gente (as diferentes formas disponíveis para a realização da
variável).
O diagrama a seguir sintetiza essa ideia:
Vamos considerar um segundo exemplo. Imagine a seguinte situação:
Temos aqui, claramente, um caso de variação. Por isso, vale a pena
perguntar:
Caso você decida desenvolver uma pesquisa
sobre esse tema, qual será a variável e quais
serão as variantes do seu estudo?
A variável será o /R/ final de palavra. Já as variantes — isto é, as
alternativas disponíveis para a expressão dessa variável — são a
Exemplo
Como um pesquisador experiente, você
observa uma oscilação na maneira como as
pessoas realizam o “r” em final de palavras
no português brasileiro: em algumas
situações elas efetivamente produzem o
som do “r” (cantar, ator), em outras parecem
suprimi-lo (“cantá”, “atô”).

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realização do /R/ e o apagamento do /R/.
A explicação que vimos até aqui está sintetizada na tabela a seguir:
EXEMPLO DE
ALTERNÂNCIA
VARIÁVEL VARIANTES
Nós saímos X A
gente saiu
1ª pessoa do plural
- Nós
- A gente
Cantar X “Cantá”
Ator X “Atô”
/R/ em final de
palavra
- Presença do /R
- Ausência do /R
Diogo Pinheiro.
A variação afeta todos os componentes de um sistema linguístico,
ocorrendo nos seguintes níveis:
Comentário
Não diga que as variantes são “cantar”
versus “cantá” ou “ator” versus “atô”. Esses
são apenas exemplos. Na sua pesquisa,
você não está interessado em nenhuma
palavra específica (seja ela “cantar”, “ator” ou
qualquer outra). Você está interessado na
variação entre a realização ou o apagamento
do /R/.

Lexical 
Fonológico 
Morfológico 
Morfossintático 
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Variante de prestígio e
variável estigmatizada
Ao analisar as variantes na língua, é possível notar que, muitas vezes,
existe entre elas uma diferença relativa ao prestígio social. Isto é, em
alguns casos, uma das variantes é socialmente valorizada ao passo que
as demais são socialmente desvalorizadas.
A Sociolinguística Variacionista se refere a esses dois tipos de variantes,
respectivamente, como:

Variante de
prestígio
Atribui prestígio às
pessoas que a
empregam.

Variante
estigmatizada
Funciona como estigma
social para quem as
emprega.
A variante de prestígio corresponde à forma prescrita pela norma
padrão, ao passo que as variantes estigmatizadas tendem a ser formas
não padrão. Um exemplo claro disso diz respeito ao fenômeno da
concordância nominal, como podemos identificar na alternância “os
filhos” X “os filho”.
Nesse caso, a forma não padrão (sem marcação de plural no nome) é
uma variante estigmatizada, ou seja, um uso linguístico que tende a ser
revestido de um julgamento social negativo. Ao mesmo tempo, vemos
que a forma padrão (com marcação de plural no nome) é uma variante
de prestígio, tendo, portanto, a capacidade de conferir aos seus falantes
uma avaliação favorável.
Nem sempre as diferentes variantes de um fenômeno variável podem
ser hierarquizadas quanto ao grau de prestígio (ou estigma) que elas
“colam” no seu usuário.
Sintático 

10/11/2023, 10:21 A Sociolinguística
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Além disso, pode ainda acontecer de uma variante originalmente
estigmatizada perder seu estigma com o tempo. Segundo Coelho et al.
(2015), é o que estaria ocorrendo, na expressão da 1ª pessoa do plural,
com a variante “a gente”: embora se trate de uma forma não
reconhecida pela tradição normativa (e, portanto, não pertencente ao
português padrão), esse pronome estaria deixando de ser percebido
como inapropriado (mesmo para contextos formais).
Às vezes, é possível vislumbrar o significado social de uma variante por
meio de uma análise sociolinguística que focalize a maneira como as
pessoas falam: se sujeitos altamente escolarizados evitam determinada
forma, ao passo que falantes menos escolarizados não o fazem, isso
pode significar que a forma em questão é socialmente estigmatizada.
Mas essa abordagem é insuficiente por pelo menos duas razões:

As pessoas podem
avaliar negativamente
uma forma e ainda
assim empregá-la ou
julgar positivamente
determinada forma e
não a empregar
consistentemente.

As formas linguísticas
podem evocar muitos
outros significados
sociais para além do
prestígio e do estigma
associados à educação
formal.
Na pesquisa sociolinguística, é interessante investigar não apenas o
modo como as pessoas se expressam (por exemplo, analisando textos
orais produzidos por elas em uma entrevista), mas também como elas
Exemplo
Em relação à regra variável posição do
sujeito, não há qualquer razão para supor
que a variante sujeito pré-verbal (“o João
chegou”) seja mais ou menos estigmatizada
do que a variante sujeito pós-verbal (“chegou
o João”). Nesse caso, simplesmente não
pesa, sobre qualquer uma das variantes,
algum tipo de condenação por parte da
tradição normativa.


10/11/2023, 10:21 ASociolinguística
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percebem e avaliam a sua própria fala e a dos outros (por exemplo, por
meio de questionários em que o falante deve indicar se uma forma
sugere que seu usuário é inteligente, confiável etc.).
O tipo de estudo que se volta para a investigação das crenças e das
atitudes linguísticas constitui uma das ramificações da Sociolinguística
Variacionista.
Variedade, variável e variante
Neste vídeo, o professor Diego Pinheiro abordará como combinar os três
conceitos estudados: variedade, variável e variante.
Condicionadores
Passemos agora ao próximo conceito central do arcabouço
variacionista: o de condicionador. Para um sociolinguista, não basta
constatar que, por exemplo, o sistema do português disponibiliza as
variantes com “r” e sem “r” para o fenômeno variável realização do /R/
em final de palavra. Também queremos responder às seguintes
perguntas:

Quais falantes, em que
contextos, tendem a
usar a variante com ”r”?

Quais falantes, em
quais contextos,
priorizam a variante
sem “r”?


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Para dar conta desse tipo de pergunta, os sociolinguistas utilizam o
conceito de condicionador. Condicionadores são os fatores que
favorecem a “escolha” de uma ou outra variante.
O nome condicionador vem exatamente da ideia de que esses fatores
condicionam o comportamento linguístico do falante (embora não o
determinem de modo definitivo e inescapável). Para entender que
fatores seriam esses, pense novamente nas palavras terminadas em
/R/, como “cantar” e “ator”.
Talvez perceba que pessoas com baixa escolaridade usam mais
frequentemente formas do tipo “atô” do que pessoas com alto grau de
escolarização. Se isso for verdade, você poderá dizer que o grau de
escolaridade condiciona o comportamento dos falantes em relação ao
fenômeno variável realização do /R/ em final de palavra (pessoas com
baixa escolaridade teriam mais chance de apagar o “r”). Em outras
palavras, você terá descoberto que o fator grau de escolaridade é um
condicionador relevante para esse fenômeno variável.
Mas talvez você tenha tido um insight diferente e imaginado o seguinte:
ao menos para algumas pessoas, é mais provável que elas digam
“cantá” (ou “comê”, “fazê” etc.) do que “atô” (ou “amô”, “flô” etc.).
Comentário
Colocamos a palavra “escolha” entre aspas
porque ela pode sugerir que o emprego de
determinada forma seria sempre consciente
e deliberado — o que, muitas vezes, não é o
caso.

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Nesse caso, falando em termos um pouco mais técnicos, a
probabilidade de ocorrência do apagamento depende de a palavra ser
um verbo (como “cantar”) ou um nome (como “ator”).
Se isso for verdade, você poderá dizer que a classe gramatical da
palavra condiciona o comportamento do falante (ele terá mais chance
de apagar o “r” se estiver pronunciando um verbo). Em outras palavras,
você terá descoberto que o fator classe gramatical é um condicionador
relevante para esse fenômeno variável.
Comparando os dois condicionadores descobertos (hipoteticamente)
por você, verificamos que eles têm naturezas diversas: enquanto o grau
de escolaridade é um fator de natureza social (externo ao sistema
linguístico em si mesmo), a classe gramatical é um fator de natureza
linguística (diz respeito a uma informação que faz parte do
Saiba mais
Condicionador ou variável independente?
Em artigos e livros de Sociolinguística
Variacionista, você talvez se depare com a
expressão “variável independente”. Ela
significa exatamente o mesmo que
condicionador. Ou seja, quando o artigo
disser “analisando a variável independente
grau de escolaridade...”, você pode ler como
“analisando o condicionador grau de
escolaridade...”.

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conhecimento linguístico do falante). Essa observação mostra
claramente que existem duas categorias de condicionadores:
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo
que você acabou de estudar.
Módulo 3 - Vem que eu te explico!
O conceito de condicionadores
Módulo 3 - Vem que eu te explico!
Grau de escolaridade como condicionador
Externos 
Internos 
Resumindo
Até aqui, você pôde identificar as quatro
principais ferramentas analíticas da
Sociolinguística Variacionista, que
correspondem ao conceito de: variedade,
variável, variante e condicionador. Esses
quatro conceitos estão também
relacionados com o objeto de estudo e o
objetivo da Sociolinguística Variacionista.


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Questão 1

Vamos praticar alguns
conceitos?
Falta pouco
para atingir
seus objetivos.
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O apagamento do “r” no final de palavras, como em “atô” e “cantá”, é
um fenômeno variável que tem mais chance de acontecer quando
se tem baixa escolaridade. A atuação do fator grau de escolaridade
nesse caso deve ser identificada com qual conceito do arcabouço
teórico da Sociolinguística Variacional?
Questão 2
Suponha que você comece a reparar no fato de que algumas
pessoas tendem a falar “blusa” e “planta” enquanto outras falam
com mais frequência “brusa” e “pranta”. Diante disso, você decide
então estudar a realização do /l/ em grupo consonantal,
observando a variação entre a pronúncias com [l] e a pronúncia com
[ɾ]. Em relação a esse estudo, os três elementos sublinhados devem
ser identificados, respectivamente, com quais conceitos teóricos?
A
Condicionador, porque o grau de escolaridade é um
fator condicionador para o fenômeno variável.
B
Variável, porque o grau de escolaridade é um aspecto
do sistema linguístico que admite variação.
C
Variante, porque o grau de escolaridade é uma forma
de realização da variável.
D
Variedade, porque a escola possui uma forma de falar
própria.
E
Variação, porque o ambiente escolar valoriza os
registros mais informais.
Responder
A
Variante de prestígio; variante estigmatizada; variável
independente.
B Variável; variante de prestígio; variante estigmatizada.
C
Variável independente; variável dependente;
condicionador.
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4
Variedades linguísticas e preconceito linguístico
Ao final deste módulo, você deverá ser capaz de relacionar variedades linguísticas e preconceito linguístico.
D Prestígio encoberto; norma padrão; norma culta.
E
Condicionador, variante de prestígio; variável
independente.
Responder
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O preconceito linguístico
Nos dias atuais, felizmente, parte da sociedade brasileira tem falado
muito sobre os mais diversos tipos de preconceito: de raça/etnia, de
religião, de gênero, de orientação sexual, de idade. Mas um tipo
específico de preconceito ainda não recebeu a atenção que merece: o
preconceito linguístico.
Preconceito é um julgamento infundado sobre as
capacidades de uma pessoa — e sua consequente
exclusão de certos espaços sociais, em particular as
esferas de poder — com base em algum atributo da sua
identidade. Quando esse julgamento se baseia em
atributos étnico-raciais, trata-se de racismo. Quando
esse julgamento toma como base a idade da vítima,
trata-se de etarismo. E, evidentemente, quando a base
do julgamento são as marcas gramaticais presentes na
fala de determinado falante, trata-se de preconceito
linguístico.
A premissa que sustenta o preconceito linguístico é a de que certos
usos seriam inerentemente inferioresa outros. Em favor dessa tese,
encontram-se, no senso comum, dois argumentos distintos:
Os dois argumentos, embora distintos, sustentam o mesmo raciocínio,
que pode ser sintetizado assim:
Ineficiência comunicativa 
Irregularidade estrutural 
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
Em comparação com as
variantes de prestígio,
as formas
estigmatizadas são
inerentemente
inferiores, por serem
comunicativamente
ineficientes ou
gramaticalmente
desestruturadas (ou as
duas coisas ao mesmo
tempo).

Logo, usuários dessas
formas são menos
capazes que usuários
das variantes de
prestígio, porque se
expressam pior ou
pensam pior (ou as
duas coisas ao mesmo
tempo).
Como se vê, esse raciocínio serve para justificar a discriminação dos
usuários das variantes estigmatizadas (e sua consequente exclusão de
uma série de espaços da vida social): a ideia é a de que, se eles de fato
são menos capazes (como seu uso linguístico provaria), sua
marginalização não seria infundada.
Variantes e variedades
Variantes estigmatizadas e sua e�ciência
Comecemos pelo primeiro argumento: o de que variantes
estigmatizadas seriam deficientes do ponto de vista comunicativo. Para
entender por que essa ideia não passa de um mito, considere a
sentença “eu vi os menino tudo” — um uso fortemente estigmatizado e
afastado tanto da norma padrão quanto das variedades cultas do
português brasileiro.

Comentário
Desconstruir essa ideia, porém, não é difícil:
se demonstrarmos que o ponto (1) é falso, o
ponto (2) cai por terra automaticamente.

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Apesar de todo esse estigma, ninguém tem qualquer dificuldade de
entender o que essa frase quer dizer: que o falante (“eu”) constatou
visualmente (“vi”) a presença da totalidade dos seres humanos de
pouca idade (“os menino tudo”). Se é assim, então não há nenhuma
razão para afirmar que a sentença “eu vi os meninos todos” transmite
melhor a mensagem pretendida do que “eu vi os menino tudo”.
Não há qualquer evidência de que também não conseguiríamos
entender um tratado de Física Quântica ou um poema do Castro Alves
(1847-1871) se alguns elementos dos seus sintagmas nominais não
tivessem o -s exigido pela norma padrão. Quer ver? Tente você mesmo
com estes versos de O Navio Negreiro:
Stamos em pleno mar... Abrindo as vela
Ao quente arfar das viração marinha.
Variedades não padrão e suas regras
Passemos agora ao segundo mito: a ideia de que falantes que usam
formas não padrão, do tipo “os menino tudo”, falam “sem regras” — isto
é, de modo assistemático, aleatório, bagunçado e desleixado. Mais uma
vez, é fácil provar que isso não é verdade. Para isso, compare as
sentenças abaixo:
a) Eu vi os menino tudo.
b) Nós compramos os livro tudo.
Comentário
Se você não teve dificuldade em
compreender a mensagem, fica
demonstrado que usos socialmente
estigmatizados não são comunicativamente
inferiores aos socialmente prestigiados.

1 2 3 4
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Você já deve ter ouvido alguém falar frases como (1.a.) e (1.b.), mas
provavelmente nunca ouviu usos do tipo (2), (3) e (4). O que isso
mostra? Simples: quem fala “os menino tudo” e “os livro tudo” está
seguindo, com certo rigor, uma exaustiva lista de regras. Eis algumas
delas:
A concordância não padrão com “tudo” exige, obrigatoriamente, artigo
no plural, nome no singular e a palavra “tudo” após o nome (ainda que
isto seja uma simplificação, já que outros elementos, além de artigos,
podem aparecer à esquerda do nome). Ao usar a variante não padrão, os
falantes observam todas essas regras. Caso não o fizessem, isto é, caso
sua fala fosse de fato aleatória, eles diriam ora “os menino tudo”, ora
“menino os tudo”. Evidentemente, isso não acontece — logo, a única
conclusão possível é a de que esses falantes estão seguindo regras. Ou
seja, sua fala é padronizada.
Nota-se que variedades não padrão, ao contrário do
que muitos pensam, são comunicativamente
eficientes, sistemáticas e regulares. Em outras
palavras, conseguimos desmontar os dois argumentos
normalmente utilizados para sustentar a tese de que
 Coloque o artigo sempre antes do
nome — nunca depois (como
mostra a impossibilidade de 2).
 Você pode colocar o artigo no
plural e o nome do singular, mas
nunca o contrário (como mostra a
impossibilidade de 3).
 O quanti�cador “tudo” deve
obrigatoriamente vir após o nome
quanti�cado, nunca antes dele
(como mostra a impossibilidade de
4).
10/11/2023, 10:21 A Sociolinguística
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certas formas linguísticas seriam inerentemente
melhores que outras.
E, uma vez que essa tese é derrubada, a conclusão decorrente dela
também se desmonta: se variantes estigmatizadas não são
inerentemente piores, então seus usuários não são pessoas menos
capazes (nem quanto à capacidade comunicativa nem quanto à
capacidade cognitiva).
Existe um falar certo ou
errado?
Se nenhuma forma linguística é inerentemente melhor do que outra, ou
seja, se não existe nenhuma razão comunicativa ou gramatical para
preferir uma variante A (“os meninos”) em detrimento de uma variante B
(“os menino”), então, qual é o critério usado pelas gramáticas
normativas para decidir quais usos são “certos” e quais são “errados”?
Em poucas palavras, o problema aqui é social, e não linguístico, veja a
seguir com mais detalhes.
Atenção!
O preconceito linguístico, além de ser
discriminatório e excludente, baseia-se em
um raciocínio infundado, sem sustentação
científica. Para se sustentar, o discurso
preconceituoso depende de uma premissa
que é objetivamente falsa: a de que algumas
formas linguísticas seriam inerentemente
melhores que outras. Desmontando-se esse
argumento, o raciocínio se desfaz, e fica
claro que não existe qualquer base científica
para se discriminar e excluir as pessoas
devido ao seu modo de falar.

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Se o problema fosse linguístico, bastaria às classes populares aprender
a norma padrão (ou a norma culta) e elas seriam rapidamente
catapultadas para o topo da pirâmide social. Mas essa é uma visão
ingênua. Na realidade, a dinâmica é a seguinte:
Re�exão
A norma padrão é moldada com base na fala
de uma elite socioeconômica, de maneira
que a forma de expressão própria dessa elite
é tomada como o padrão de correção
gramatical (o falar “certo”, o falar “bonito”).
Por isso, se você quiser saber por que uma
forma é tratada como erro atualmente, deve
procurar a resposta não na forma linguística
em si — quer dizer, em alguma propriedade
fonológica, morfológica ou sintática —, mas
na história social da língua, cujas
circunstâncias em algum momento terão
estigmatizado esse uso como feio, errado e
condenável.

 As pessoas são divididas entre
melhores e piores com base em
algum fator independente, não
linguístico (pode ser o patrimônio,
o fenótipo, as duas coisas juntas ou
qualquer outro fator relevante em
uma sociedade).
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Que lição devemos tirar disso tudo?
Devemos entender que, em se tratando de uso linguístico, não existe
“certo” e “errado”? Não existe erro gramatical? Todas as formas de falar
são igualmente válidas? Vamos com calma. Para responder a perguntas
desse tipo, precisamos antes estabelecer o que entendemos por “certo”
e “errado”.
E o problema é que existem, pelo menos, três definições possíveis.
Sendo assim, o primeiro passo é explicitar cada uma delas:
De�nição 1
Certa é a forma comunicativamente mais eficiente; errada é a
forma que produz uma comunicação precária,do ponto de
vista do entendimento mútuo.
De�nição 2
 Decide-se que a forma de falar das
“pessoas melhores” é certa e bonita
— o que signi�ca que, se a fala
delas mudar, o padrão de correção
gramatical muda junto (ou, pelo
menos, seus novos usos não serão
estigmatizados).
 Nesse cenário, as “pessoas piores”
não têm muita saída — primeiro,
porque elas �carão eternamente
correndo atrás do padrão de
correção dos eleitos; segundo,
porque elas já serão portadoras de
outras marcas que as estigmatizam
independentemente da linguagem.
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C é fl d ã l id d d é
De�nição 3
Certa é a forma revestida de prestígio social; errada é a forma
socialmente estigmatizada.
Pronto: agora que nós estabelecemos, com clareza, os possíveis
significados das noções de “certo” e “errado”, podemos oferecer
respostas simples, diretas e objetivas (no sentido de serem
objetivamente verdadeiras e não meras opiniões) às perguntas acima:
De�nição 1
Se assumirmos a definição 1, então não existe “certo” e
“errado” na língua.
De�nição 2
Se assumirmos a definição 2, então são possíveis usos certos
e usos errados, mas os erros são pouco frequentes e não
dependem de escolarização.
De�nição 3
Se assumirmos a definição 3, então existe “certo” e “errado” na
língua, e os erros são bastante frequentes e altamente
dependentes do processo de escolarização.
Vamos explicar cada uma das respostas:
Definição 1 
Definição 2 
Definição 3 
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As coisas ficam mais claras quando substituímos termos altamente
polissêmicos como “certo” e “errado” por expressões com significado
inequívoco. Os linguistas dizem que “não existe certo e errado”?
Depende. Objetivamente, os linguistas dizem que:
Preconceito linguístico
Neste vídeo, o professor Diego Pinheiro abordará como o preconceito
linguístico propõe um desafio aos profissionais da educação e o que
esses profissionais podem fazer para não reforçar/reproduzir
preconceitos.
 Não existem variantes melhores ou
piores comunicativamente.
 Não existem variantes mais ou
menos bem estruturadas
gramaticalmente, mas existem
usos esporádicos assistemáticos.
 Existem variantes bem-vistas e
malvistas pela sociedade. Se isso
signi�ca que existe ou não “certo e
errado”, depende de como você
de�ne esses conceitos — mas a
essa altura isso já não deverá mais
ser tão relevante.

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Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo
que você acabou de estudar.
Módulo 4 - Vem que eu te explico!
Variantes estigmatizadas e sua eficiência
Módulo 4 - Vem que eu te explico!
Variedades não padrão e suas regras

10/11/2023, 10:21 A Sociolinguística
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Questão 1
A atitude de desprezo ou menosprezo em relação à variedade
linguística do outro se configura como preconceito porque

Vamos praticar alguns
conceitos?
Falta pouco
para atingir
seus objetivos.
A
é preciso demonstrar respeito a todas as pessoas,
independentemente do grau de sofisticação da sua
fala.
B
a estruturação gramatical dos usos linguísticos é
menos importante que a capacidade de se fazer
entender.
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Questão 2
Assinale a alternativa que apresenta adequadamente a posição dos
linguistas em relação às variantes linguísticas, levando em conta a
situação do preconceito linguístico.
C
todas as variedades linguísticas são igualmente
estruturadas do ponto de vista gramatical e eficientes
do ponto de vista comunicativo.
D
não é justo discriminar uma pessoa se ela tiver sido
vítima da falta de acesso à escolarização.
E
a língua culta é o registro universal e que deve ser
prestigiado em todas as situações de comunicação
Responder
A
O preconceito linguístico é injustificável porque os
linguistas afirmam de forma absoluta e
independentemente de qualquer sentido que não
existe “certo e errado”.
B
Os linguistas dizem objetivamente que não existem
variantes melhores ou piores comunicativamente.
C
Os linguistas entendem que todas as variantes são
bem vistas pela sociedade, portanto não há razão
para o preconceito linguístico.
D
Os linguistas defendem um único sentido para os
termos “certo” e “errado”.
E
Os linguistas argumentam que as variedades
linguísticas impedem a comunicação entre os
usuários da língua.
Responder
10/11/2023, 10:21 A Sociolinguística
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Considerações �nais
Procuramos oferecer uma apresentação panorâmica do campo da
Sociolinguística Variacionista. Isso inclui especificar o objeto e o
objetivo da disciplina (em contraste com outras áreas afins dos estudos
da linguagem), contextualizar historicamente o seu surgimento,
apresentar e ilustrar seus principais conceitos teóricos (variedade,
variável, variante e condicionador) e desenvolver uma breve discussão
sobre preconceito linguístico.
Esperamos que você possa tanto mergulhar por conta própria na vasta
literatura científica da área (vida profissional) quanto contribuir para a
adoção e disseminação de atitudes não preconceituosas em relação à
linguagem (vida social).
Podcast
Neste podcast, Diego Pinheiro responde às perguntas de Luís
Dallier sobre os estudos na área da Sociolinguística.
00:00 19:19
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Leia o texto Condicionantes externos e internos, do linguista e professor
Diogo Pinheiro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, para
aprofundar o conceito de condicionadores na Sociolinguística
Variacional e verificar o resultado de pesquisas acadêmicas sobre esse
assunto tanto na língua portuguesa quanto na língua inglesa.
Para avançar no estudo dos conceitos principais da Sociolinguística
Variacional e conhecer aplicações desses conceitos em estudos da
língua inglesa, leia o texto Juntando tudo: variedade, variável e variante
em um estudo de William Labov, de Diogo Pinheiro.
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00334/index.html
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00334/index.html
10/11/2023, 10:21 A Sociolinguística
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00334/index.html# 52/53
Se você quiser conhecer a história dos estudos sociolinguísticos no
Brasil, leia o artigo Sociolinguística no/do Brasil, da linguista e
professora Raquel Freitag.
Referências
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Sociolinguistics Conference 1964. The Hague, Paris: Mouton, 1966.
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Parábola, 2002.
CHOMSKY, N. Aspects of the theory of syntax. Cambridge, MA: MIT
Press, 1965.
COELHO, I. L. et al. Para conhecer Sociolinguística. São Paulo: Contexto,
2015.
CURRIE, H. C. A projection of socio-linguistics: the relationship of
speech to social status. The Southern Speech Journal, v. 18, n. 1, p. 28-
37, 1952.
ECKERT, P. Variation and the indexical field. Journal of Sociolinguistics,
v. 12, n. 4, p. 453-476, 2008.
ECKERT, P. Jocks and burnouts: social categories and identities in the
High School. New York / Londres: Teachers College Press, 1989.
GRYNER, H.; OMENA, N. P. A interferência das variáveis semânticas. In:
MOLLICA, M. C.; BRAGA, M. L. (orgs.). Sociolinguística: o tratamento da
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KENEDY, E. A antinaturalidade de pied-piping em orações relativas. Tese
(Doutorado em Linguística) – Universidade Federal do Rio de Janeiro,
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LOPES, C.; DUARTE, M. E. L. De Vossa Mercê a você: análise da
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OMENA, N. P. A referência à primeira pessoa do plural: variação ou
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PAIVA, M. C. O percurso da monotongação de [ey]: observações no
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ROMANO, V. P. Em busca da falares a partir de áreas lexicais no Centro-
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de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de
Londrina, Londrina, 2015.
10/11/2023, 10:21 A Sociolinguística
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00334/index.html# 53/53
SCHERRE, M. M. P.; NARO, A. J. Mudança sem mudança: a concordância
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VIEIRA, M. J. B. Variação das preposições em verbos de movimento.
Signum, v. 12, n. 1, p. 423-445, 2009.
WEINREICH, U.; LABOV, W.; HERZOG, M. I. Fundamentos empíricos para
uma teoria da mudança linguística. Tradução: Marcos Bagno. São
Paulo: Parábola, 2006.
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10/11/2023, 10:17 Linguagem e Linguística
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00081/index.html# 1/47
Linguagem e Linguística
Prof. Nataniel dos Santos Gomes
Descrição
Introdução aos conceitos básicos sobre a linguagem e suas
características, abordando sucintamente os estudos da linguagem e a
definição da Linguística como ciência da linguagem.
Propósito
Compreender alguns conceitos acerca dos estudos da linguagem no
contexto do surgimento da Linguística para se familiarizar com o campo
do estudo científico da linguagem.
Objetivos
Módulo 1
Linguagem e signo
Descrever o conceito de linguagem.
Módulo 2
Características da linguagem
humana
Identificar as características da linguagem humana.
10/11/2023, 10:17 Linguagem e Linguística
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/00081/index.html# 2/47
Módulo 3
Os estudos pré-linguísticos
Distinguir os estudos da linguagem no período pré-linguístico.
Módulo 4
O estabelecimento da Linguística
Reconhecer a Linguística como ciência da linguagem.
Introdução
O interesse pela linguagem há muito tempo está presente na
história da humanidade, manifestando-se na literatura, na filosofia
e até mesmo em tradições religiosas muito antigas, como no
relato da criação do mundo por meio da palavra ou da linguagem,
encontrado no livro bíblico de Gênesis. O interesse vem da
tentativa de entender como as experiências podem ser trocadas,
como se pode falar do que existia antes de nós ou do que ainda
nem surgiu.
A linguagem é um fenômeno impressionante. Ela está presente
em praticamente todos os momentos, do nascimento até o fim da
vida. Durante sua jornada, o ser humano transita pelos mais
variados e complexos sistemas de comunicação. A linguagem é
capaz de fazer tudo isso com alguns poucos elementos, como
veremos mais adiante, permitindo a produção e a compreensão
de informações.
O autor C. S. Lewis, por exemplo, na saga As Crônicas de Nárnia,
descreve a fundação do mundo mágico de Nárnia. Os
personagens são levados a outra dimensão, na qual o leão Aslam
está criando seu fantástico universo. Para começarmos este
conteúdo, assista ao vídeo que apresenta um interessante trecho
do livro O sobrinho do mago, deste autor.

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1 - Linguagem e signo
Ao �nal deste módulo, você será capaz de descrever o conceito de
linguagem.
Linguagem
O termo linguagem tem vários significados. É usado com mais
frequência para caracterizar o processo de comunicação.
Nesse sentido, as línguas naturais, ou seja, aquelas que se desenvolvem
de forma espontânea em uma comunidade, como o português, o inglês
e o francês, entre outras, são instrumentos que servem para a
comunicação entre os falantes de uma língua, entendida aqui,
inicialmente, como um sistema vocal utilizado por membros de um
grupo social ou de uma comunidade de falantes.
Assim, a linguagem é, neste primeiro sentido, uma habilidade que os
seres humanos têm de se comunicar por intermédio de línguas.
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Comunicação
Comunicação vem do latim communicare, que significa tornar algo comum.
É por meio da comunicação que os seres humanos partilham diferentes
informações entre si, sendo essencial para a vida em sociedade.
Nem todas as línguas são naturais. Existem também as chamadas
línguas artificiais, criadas por um grupo de indivíduos, sem passar por
um processo de mudança ou de transformação resultante da vida
cultural de algum povo. São, portanto, línguas inventadas. Por exemplo:

Os fãs da franquia cinematográfica Star Trek criaram diversas línguas
artificiais, inventadas.

O esperanto é uma língua internacional, artificial ou planejada, que não
pertence de modo natural a nenhuma comunidade ou país.
Esperanto
Língua artificial e universal criada em 1887 por Ludwik Lejzer Zamenhof
(1859 - 1917), médico polonês de origem judaica, que ainda na
adolescência elaborou a primeira versão do esperanto. No Brasil, o
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esperanto é utilizado desde 1890. O alfabeto dessa língua é composto por
28 letras, baseado no alfabeto latino. Cada letra corresponde a um único
som. A gramática do esperanto possui apenas 16 regras básicas. Por ser
uma língua planejada, um de seus princípios é evitar a polissemia, por isso,
as palavras possuem apenas um sentido. Há vários livros publicados e
vídeos na Internet falados em esperanto.
Atenção para não confundir línguas artificiais com línguas mortas, que
são aquelas não mais faladas, mas que apresentam registro
documental, podendo ser estudadas na atualidade. Um dos exemplos
mais citados é o latim que, apesar de não ser falado como primeira
língua ou língua materna em nenhum lugar do mundo, possui vasto
material disponível.
Como a linguagem pode ser classi�cada?
De acordo com o sistema de sinais que a linguagem utiliza, ela pode ser
classificada em:
Linguagem verbal
Caracteriza-se pelo uso de sinais verbais para a comunicação, ou
seja, vale-se da palavra falada ou escrita. Nesse caso, as línguas
naturais, como o português, o inglês, o espanhol, o japonês, o
árabe etc., são exemplos de linguagem verbal, seja na
modalidade escrita ou oral.
Linguagem não verbal
Caracteriza-se pelo uso de outros tipos de sinais, que não sejam
as palavras, tais como as cores, os gestos, os desenhos e os
sinais sonoros. Alguns exemplos encontrados em nosso
cotidiano são os sinais de trânsito que orientam os motoristas, as
bandeiras nas pistas de Fórmula 1, as expressões faciais e os
silvos dos guardas no trânsito.
Vamos fazer um teste? O que você pensa ao se deparar com a imagem
a seguir?
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Automaticamente você deve tê-la associado a algum tipo de perigo e
risco. De fato, ela transmite uma informação. Esse tipo de elemento é
chamado de ícone, que em grego significa imagem. O ícone é um sinal
que se assemelha ao objeto por ele representado, como a fotografia, o
desenho e a estátua.
Agora, quando você vê uma nuvem escura no céu, com o que a associa?
Podemos associá-la à noção de que provavelmente vai chover. A nuvem
é um exemplode índice, ou seja, um sinal indicador, pois, segundo Yoda
e Nagata (2018), indica algo tendo como fundamento a existência
concreta deste e está diretamente ligado ao objeto.
Qual é a principal diferença entre as duas manifestações, ícone e índice?
Confira agora:
Ícone
Ao usar o desenho de
uma caveira, evidencia
sua elaboração
intencional para
transmitir uma
informação a um
receptor.
Índice
Ao usar o exemplo da
nuvem escura,
evidencia a falta da
intenção de se
estabelecer
comunicação.

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Os conceitos de ícone e índice foram desenvolvidos por Charles Sanders
Peirce (1839-1914), filósofo, linguista, físico e matemático norte-
americano, considerado um dos fundadores da Semiótica Moderna. A
Semiótica pode ser definida como a ciência ou doutrina formal dos
signos ou, como afirma Santaella (1983), a ciência de toda e qualquer
linguagem. O signo, por sua vez, pode ser definido como uma coisa que
representa uma outra coisa: seu objeto. Ele só pode funcionar como
signo se carregar esse poder de representar, substituir uma outra coisa
diferente dele.
Signos
Para saber mais sobre a diferença entre ícone e índice, assista ao vídeo
a seguir.
Linguagem e interação
Até aqui, você deve ter percebido que o conceito de linguagem é bem
abrangente, pois engloba todos os sinais ou signos utilizados na
expressão ou na comunicação, incluindo a linguagem verbal e a não
verbal. A língua, nesse contexto, é considerada uma das possibilidades
ou manifestação da linguagem e, por isso, pode ser identificada com a
linguagem verbal.
As diferentes formas de linguagem, incluindo a língua, a mais
importante delas, vão além da expressão do que temos em mente e da
sua função como meio ou instrumento para nossa comunicação.
A linguagem deve ser entendida como uma
forma ou um processo de interação entre os
seres humanos.
A língua é usada para se praticar ações, agir sobre o outro ou reagir ao
que se ouviu. Interagimos por meio da língua e produzimos sentido
dentro de um contexto social, histórico e ideológico. Imagine a seguinte
situação:

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Parece simples, mas essa situação envolve a interação entre a mente e
a realidade sociocultural do emissor e receptor para produzir e entender
as estruturas e os significados da língua.
Veja, a seguir, como se realiza esse processo:
Emissor
O indivíduo que fala realiza uma atividade sociocognitiva extremamente
complexa, codificando os pensamentos em palavras, que são
combinadas para formar frases, as quais são pronunciadas,
modularizando o som que sai da boca, para um receptor em
determinado contexto.
Receptor
O indivíduo que recebe a informação, também passou por uma tarefa
bastante complexa, decodificando os sons da fala que são dirigidos a
ele, de modo a identificar as palavras e frases para conseguir interpretar
as informações.
Mais do que isso, para informar exatamente o horário, em vez de apenas
e simplesmente responder: “sei que horas são”, foi preciso identificar a
intenção da pergunta: “você sabe que horas são?”. A linguagem humana,
então, pode ser descrita como um fenômeno geral e abrangente que se
refere a todo e qualquer sistema de expressão, comunicação e interação
humana utilizando-se de diversos e variados signos.
 Jonas está tomando café da manhã tranquilamente
em sua casa. De repente, percebe que pode estar
atrasado para chegar ao trabalho e pensa: “Não vou
chegar a tempo!”
 Sem um relógio ou celular por perto, pergunta para
a sua esposa: “Você sabe que horas são?”
 Parece claro que a intenção de Jonas é ser
informado sobre qual horário o relógio está
marcando, e não se a sua esposa sabe ou não o
horário. Sua interlocutora, compreendendo o que
Jonas tem em mente, olha o celular e responde:
“São seis e meia!”.
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Se quali�camos a linguagem como humana,
quer dizer que os animais não se comunicam
nem possuem linguagem?
Há estudiosos que identificaram padrões de comunicação entre certas
comunidades de outros seres vivos, o que poderia levar ao
questionamento sobre a possibilidade de se falar em linguagem animal.
De acordo com Petter (2003), um desses pesquisadores foi o zoólogo
alemão Karl von Frisch que, em 1959, publicou um estudo sobre o
sistema de comunicação das abelhas.
A abelha-operária, quando encontra alimento, volta à colmeia e leva a
informação às outras abelhas por meio do tipo de voo que realiza.
Se o sustento está próximo, ela voa em círculos.
Se o sustento está longe, ela voa em forma de oito.
Uma conclusão possível é que as abelhas podem reter informação em
algum tipo de memória, produzir essa mensagem por meio de
comportamentos e compreender a informação. Mas, o que alguns
chamariam de linguagem animal, de acordo com Petter, “não se deixa
analisar e decompor em elementos menores.” (PETTER, 2003, p.16-17).
A abelha não produz um diálogo, não cria uma mensagem a partir de
uma outra. Seu conteúdo é único, no caso, o alimento, e não possui
variação, exceto pelo tipo de voo sobre a distância em que o sustento
está. Por isso, “a comunicação das abelhas não é uma linguagem, é um
código de sinais”. Isso seria evidenciado pelas seguintes características:
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conteúdo fixo;
mensagem invariável;
relação a uma só situação;
transmissão unilateral;
enunciado indecomponível.
Assim, teríamos de ampliar bastante o conceito de linguagem para
afirmar que os animais possuem uma linguagem. Perceba que a
linguagem que nós, seres humanos, utilizamos, em particular a língua,
possui características que não são encontradas em outras formas ou
outros padrões de comportamentos animais.
Diferença entre ícone e
índice
Para saber mais sobre a diferença entre ícone e índice, assista ao vídeo
a seguir.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Assinale a alternativa que apresenta a descrição mais completa do
conceito de linguagem.
A
A linguagem é o processo de comunicação
constituído pelas línguas naturais.
B
A linguagem é a expressão do pensamento por meio
da língua.
A linguagem é um fenômeno geral e abrangente que
engloba qualquer sistema de expressão,
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Parabéns! A alternativa C está correta.
A linguagem humana se refere a todo e qualquer sistema de
expressão, comunicação e interação humana utilizando-se de
diversos e variados signos. Assim, a linguagem não se reduz à
língua, à linguagem verbal ou mesmo às línguas naturais, pois
abrange linguagens que utilizam outros tipos de signos, como a
linguagem da música, da dança ou do gestual.
Questão 2
Alguns dos sinais ou signos que constituem a linguagem podem ser
descritos como:
C comunicação e interação humana por meio da
diversidade de signos.
D
A linguagem é a capacidade, tanto dos seres
humanos quanto dos animais, de dialogar e interagir
por meio das línguas artificiais.
E
A linguagem é o sistema de signos verbais que
permitem a comunicação por meio da fala.
A
Icônicos, porque são sinais que têm semelhança
com o objeto que representam, como o ícone de
uma caveira representando perigo e risco.
B
Indicadores, porque são sinais que indicam o
sentido abstrato de uma palavra, como o índice
exemplificado na palavra nuvem.
C
Verbais, porque estão centrados apenas na palavra
falada.
D
Não verbais, porque estão centrados apenas na
palavra escrita.
E
Simbólicos,

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