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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS 
LINGUÍSTICOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS - SP
2 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 4 
2 A LÍNGUA COMO OBJETO CIENTÍFICO .................................................................. 5 
2.1 A língua como conteúdo de ensino ........................................................................ 12 
2.2 Subáreas da linguística .......................................................................................... 14 
2.3 Linguística aplicada e linguística teórica ................................................................ 20 
3 O QUE É LINGUAGEM? .......................................................................................... 24 
3.1 Os estudos da linguagem ...................................................................................... 26 
3.2 O campo de estudos linguísticos ........................................................................... 28 
4 OS CONCEITOS DE SISTEMA, NORMA, FALA, SINCRONIA E DIACRONIA ....... 30 
4.1 Relação entre fala e norma .................................................................................... 33 
4.2 Sincronia, diacronia e fator tempo ......................................................................... 34 
4.3 Variações da língua ............................................................................................... 35 
4.4 Tipos de variação linguística .................................................................................. 36 
4.4.1 Variações diatópicas ............................................................................................ 36 
4.4.2 Variações diacrônicas .......................................................................................... 37 
4.4.3 Variações diastráticas .......................................................................................... 38 
4.4.4 Variações diafásicas ............................................................................................ 39 
4.5 Variação linguística e preconceito linguístico ........................................................ 39 
5 GÍRIAS ..................................................................................................................... 40 
5.1 Perspectiva social: surgimento e crescimento ....................................................... 42 
6 NORMA ORAL, NORMA ESCRITA E FATORES DE UNIFICAÇÃO LINGUÍSTICA 46 
6.1 A globalização e os fatores de unificação da Língua Portuguesa .......................... 46 
6.2 Existe uma norma oral? Análise sincrodiacrônica da língua falada ....................... 49 
6.3 Análise diacrônica da norma escrita ...................................................................... 50 
7 CONCEITOS DE SIGNO EM SAUSSURE E PEIRCE............................................. 55 
7.1 Conceito de signo: Saussure e Peirce ................................................................... 55 
7.2 Tipos característicos de signo: ............................................................................... 58 
7.3 Características do signo em Saussure .................................................................. 59 
7.3.1 Arbitrariedade ...................................................................................................... 59 
7.3.2 Linearidade do significante .................................................................................. 59 
 
3 
 
7.3.3 Imutabilidade ....................................................................................................... 60 
7.3.4 Mutabilidade ........................................................................................................ 60 
7.4 Classificação dos signos em Peirce ....................................................................... 61 
7.4.1 Signos icônicos .................................................................................................... 61 
7.4.2 Signos indiciais .................................................................................................... 63 
7.5 Signos simbólicos .................................................................................................. 64 
8 SEMÂNTICA ............................................................................................................ 65 
8.1 A semântica no passado ........................................................................................ 67 
8.2 A semântica no presente ....................................................................................... 71 
9 SEMÂNTICA COGNITIVA ....................................................................................... 74 
9.1 Linguística cognitiva e semântica cognitiva ........................................................... 74 
9.2 Linguística cognitiva e semântica cognitiva ........................................................... 76 
9.3 O conceito de categorização e a teoria prototípica ................................................ 77 
9.4 O fenômeno da metáfora ....................................................................................... 80 
10 SEMÂNTICA FORMAL: DIFERENTES ABORDAGENS ......................................... 82 
10.1 A semântica formal e o estudo do significado ........................................................ 82 
10.2 Princípio da composicionalidade............................................................................ 85 
10.3 Recursividade na semântica formal ....................................................................... 87 
REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 92 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao 
da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro, quase improvável, um aluno se 
levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que 
seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a 
pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, 
é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao 
protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida 
e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
2 A LÍNGUA COMO OBJETO CIENTÍFICO 
Na história dos estudos linguísticos (Neves, 2003, 2005), tem-se com os gregos, 
por volta do século V a.C., o início das primeiras análises sobre a natureza da linguagem, 
estas ainda de caráter filosófico. Na ocasião a língua era vista como expressão do 
pensamento e por isso toda atividade em torno da mesma centrava-se nas técnicas do 
discurso, da persuasão, enfim, na arte retórica. Construir enunciados sem defeitos e 
eficazes dizia respeito ao resultado que se obtinha com o uso das técnicas da retórica, 
especialmente na política. 
Fonte de: www.linguisticadescomplicadaa.com 
Em razão disso, estudar a língua era muito mais um exercício de compreensão de 
texto do que propriamente de análise da língua. Aos poucos, contudo, as pesquisas 
tomaram aspecto linguístico: o gênero das palavras, a diferença entre substantivo e 
verbo, a natureza do signo e a denominação. Mais tarde, porém, já durante o século IV 
a.C., surgiram questionamentos sobre os tempos verbais e o conceito de conjunção.Lembramos ainda que o procedimento geral dos estudos gregos era o da definição e 
classificação, o qual será posteriormente imitado nas gramáticas alexandrinas e 
ocidentais, exercendo influência na metodologia de ensino da língua durante séculos 
 
6 
 
mais tarde. Posteriormente, nos séculos III e II a.C., os estoicos começaram a analisar 
enunciados e, com isso, o estudo das conjunções passou a se destacar, embora com 
base apenas em seu valor lógico; estudava-se também o artigo e seu caráter articulador. 
Na segunda metade do século II a.C. já se considerava o critério morfológico da 
flexão, bem como um quadro de categorias gramaticais para língua grega, que veio a se 
tornar o modelo para a organização das classes de palavras da gramática ocidental. 
Nesse momento, ainda não havia espaço para o estudo da sintaxe, então deixada de 
lado com a finalidade de garantir o caráter puramente linguístico dos estudos. 
Neves (2003, p.51) comenta que, condicionada por sua finalidade prática, a 
gramática elege para exame, em especial, a fonética e a morfologia, fixando-se nos fatos 
de manifestação depreensível, passíveis de organização em quadros concretos. Se 
considerada nesse estágio, a sintaxe teria fatalmente compromisso com a lógica, 
constituindo uma deriva das considerações filosóficas. 
Portanto, a sintaxe é praticamente ignorada, não tendo lugar nessa nova disciplina, 
que, pelas condições de surgimento, só tem sentido se empírica. Em razão dessa recusa 
inicial ao estudo da sintaxe, sob pena de comprometer o caráter linguístico das 
investigações, é possível concluir que, já nessa época, havia a percepção de que algo 
nesse nível de análise estava fora do que era considerado o sistema da língua. 
Ainda no século II d.C., teve início algumas pesquisas relacionadas a fenômenos 
sintáticos, com Apolônio Díscolo. Todavia, a sintaxe era vista como o conjunto de regras 
que regem a síntese dos elementos que constituem a língua (NEVES, 2003) e tinha seu 
escopo nos limites da oração (o que não deixou de significar certo avanço nas pesquisas). 
Temos registros de que estudos gramaticais de uma língua diferente do grego, o 
latim clássico, foram iniciados em Roma, no século I d.C. Durante a Idade Média, 
receberam destaque as pesquisas em fonética de Donato, em que comparou o latim com 
o grego; e os estudos de Prisciano, que propôs uma definição de sintaxe do Ocidente: “a 
disposição que visa à obtenção de uma oração perfeita” (SILVA, 1996). As gramáticas 
desses autores foram usadas como manuais de ensino durante toda a Idade Média e os 
estudos gramaticais que se seguiram foram baseadas nessas obras. 
Durante o Renascimento (séculos XV a XVIII) surgiram gramáticas das línguas 
vernáculas (Gramática de la lengua castellana, de Antonio de Nebrija, 1492; Gramática 
 
7 
 
da linguagem portuguesa, de Fernão de Oliveira, 1536; a gramática de João de Barros, 
1540), mas fortemente inspiradas nas gramáticas clássicas de até então (AZEVEDO, 
2001). 
Durante os séculos XVII e XVIII, o Racionalismo reforçou a ligação entre a 
linguagem e o pensamento, considerando “abusos” ou “imperfeições” tudo o que não se 
adequasse a essa concepção de língua. Nessa época foram produzidas a Grammaire 
générale et raisonnée, de PortRoyal, e a Gramática filosófica da língua portuguesa, de 
Jeronymo Soares Barbosa (AZEVEDO, 2001). 
Esse panorama histórico da língua enquanto objeto científico, até o século XVIII, 
através da constituição da disciplina gramatical, nos ajuda a compreender as razões de 
um ensino de língua arraigado na análise de sua estrutura, na concepção de língua como 
“bom uso” e no apego à nomenclatura, uma vez que, como já dito, o mesmo procedimento 
das pesquisas serviria, posteriormente, ao ensino. 
Fonte de: www.letronomia.com.br 
Toda a pesquisa sobre a língua até a consolidação da Linguística como ciência foi 
motivada pela observação e descrição de um modelo selecionado (considerado correto 
pelos estudiosos) e no estabelecimento de paradigmas. Somente a partir do século XIX, 
os estudos linguísticos começaram a se desvincular da tradição gramatical e a 
 
8 
 
desenvolver metodologias próprias e mais específicas, encaminhando-se para a 
constituição da Linguística Moderna, embora o ensino da língua mantivesse sua 
referência na tradição gramatical. 
Nessa época começaram a privilegiar a comparação das línguas com o objetivo 
de deduzir os princípios gerais de sua organização e encontrar um elemento comum que, 
pudesse explicar a natureza da linguagem. A gramática histórico-comparativa ocupou-
se, essencialmente, da investigação das unidades lexicais, gramaticais e sonoras das 
línguas. Através do Estruturalismo, teve início o estudo sincrônico das línguas, contudo, 
ainda que esse movimento tenha significado certo rompimento com as concepções 
historicistas e logicistas da gramática tradicional (AZEVEDO, 2001, p.23), o foco ainda 
era a estrutura da língua, a partir do princípio de que todo significado se estabelecia pela 
oposição entre os elementos do sistema. 
No campo da fonologia, suas contribuições são inquestionáveis e, na sintaxe, 
estabeleceu classes de palavras melhor definidas que as propostas pela gramática 
tradicional por meio das análises em constituintes imediatos e da formulação de regras 
sintagmáticas, que decompunham os enunciados com o objetivo de descrever a estrutura 
da oração. Tendo, entretanto, esse tipo de gramática se mostrado inadequado para 
explicar alguns fenômenos como a topicalização e a ambiguidade, por exemplo, um novo 
modelo de análise foi proposto pelo linguista americano Chomsky (1957; 1965), em 
meados do século XX; sua proposta, mais elaborada, tinha por objetivo dar conta de 
fenômenos dessa natureza, não explicados até então. Conforme Cervoni (1989), a 
grande crítica de Chomsky aos estruturalistas foi a não consideração, por parte destes, 
da criatividade como característica da linguagem. 
A abordagem de Chomsky pretendia considerar aspectos subjetivos da linguagem, 
no entanto, mostrou-se também limitada por atribuí-los unicamente ao sistema e por 
assumir a linguagem como um módulo mental autônomo. Contudo, sua importância é 
indiscutível por ter colocado a sintaxe como elemento central nos estudos linguísticos, 
assumindo a frase como unidade fundamental da gramática e ampliando definitivamente 
o escopo das investigações. 
Até essa ocasião, eram os níveis fonológico e morfológico que sobressaíam nas 
pesquisas. Sua proposta de uma Gramática Gerativa (1957, 1965) estabelecia dois níveis 
 
9 
 
de representação do enunciado: a estrutura profunda, ou EP (que determinaria a 
interpretação semântica dos enunciados, seu conteúdo, podendo ser manifestada 
“superficialmente” de diferentes maneiras), e a estrutura superficial, ou ES (que 
determinaria a organização dos elementos e a forma fonética das sentenças), as quais 
se comunicavam por meio de regras transformacionais, podendo estas ser obrigatórias 
ou facultativas. 
É possível afirmar que a grande limitação do projeto chomskyano está na própria 
concepção de língua/linguagem que o motivou: a língua como manifestação de uma 
capacidade inata, comum a todos os indivíduos (EP) e apenas exteriorizada de maneiras 
distintas (ES). Tentando descrever a competência linguística de um Falante/Ouvinte 
ideal, Chomsky (1957; 1965) abstraiu elementos como memória, intenção, contexto etc., 
e a língua continuou a ser encarada como um sistema fechado, determinado por regras 
imanentes, e independente de suas condições de uso. Por isso a teoria mostrou-se 
incompetente para explicar satisfatoriamente diversos fenômenos da língua, 
principalmente por não considerar a intervenção de fatores não linguísticos na 
organização dos elementos. 
Fonte de: www.medium.com 
 
10 
 
A sintaxe, que nessa ocasião se tornou objeto de estudo da ciência linguística é 
uma sintaxe autônoma, desvinculadados sentidos (da semântica) e das intenções 
comunicativas (da pragmática). Ainda que seja, no gerativismo, o essencial da língua, é 
limitada a regras apreensíveis entre os elementos do sistema linguístico. 
O interesse pelo conhecimento da língua com base apenas em sua estrutura 
morfossintática, mesmo trazendo grandes e importantes contribuições ao 
desenvolvimento da Linguística, em geral, e de disciplinas específicas, como o 
Processamento Automático de Línguas Naturais foi insuficiente para explicar seu 
funcionamento pragmático e discursivo, tornando-se inevitável a busca pela 
compreensão de elementos externos ao sistema linguístico, mas atuantes no seu uso 
(BARCELLOS, 2016). 
Devido a natureza heterogênea da linguagem, diversos estudiosos começaram a 
investigar fatores extralinguísticos presentes no uso da língua e determinantes na sua 
organização. Todas, no entanto, tendo em comum a consideração do uso linguístico, ou 
seja, das condições de produção e recepção dos enunciados a orientação argumentativa 
dos enunciados marcada por conjunções (DUCROT, 1987); as ações produzidas por um 
enunciado por meio de diferentes forças ilocucionárias impregnadas a ele (AUSTIN, 
1975, com a Teoria dos Atos de Fala); os fenômenos de ambiguidade e pressuposição, 
que trazem o não dito ao texto (GRICE, 1981; 1982); a coesão e a coerência textuais 
(Linguística Textual); aspectos históricos, sociais e ideológicos presentes nos enunciados 
(Análise do Discurso); experiências perceptivas e de conceptualização do mundo que 
interferem no uso na linguagem (Linguística Cognitiva); fatores sociais que interferem no 
uso da língua, como variação de idade, gênero, classe social, escolaridade 
(Sociolinguística), entre outros. 
Esses estudos definem como campo de investigação um continuum que vai do 
cotexto (que foca nas relações intratextuais, aspectos diretamente ligados à 
materialidade linguística, mas que ultrapassam o nível da sentença) ao contexto (cuja 
ênfase está nos aspectos que caracterizam as condições de produção/compreensão dos 
enunciados e a influência que exercem em sua organização). 
 
11 
 
Admite-se, porém, que a organização dos elementos da língua é motivada não 
apenas por características dos elementos linguísticos, mas também por fatores 
extralinguísticos, também constitutivos da natureza da linguagem, que interferem direta 
ou indiretamente em sua organização. A língua, vista como um sistema complexo, 
constantemente se adapta às situações de uso, o que é contrário à ideia de um sistema 
fechado e autônomo (SILVA, 1996). 
Fonte de: www.ciberduvidas.iscte-iul.pt 
 A conclusão a que se chega é que, enquanto objeto científico, o estudo da língua 
compreende um longo processo de descobertas, iniciado a partir da análise de sua 
estrutura e consolidado em diversas teorias que se desenvolveram conforme as 
situações de uso da língua e as necessidades do Falante. O mesmo, entretanto, não se 
pode defender sobre a língua enquanto conteúdo de ensino. Segue algumas 
considerações sobre isso. 
 
12 
 
2.1 A língua como conteúdo de ensino 
Segundo documentos históricos, até o século XIX, o ensino de língua materna era 
baseado unicamente na tradição gramatical iniciada com os gregos e propagada ao longo 
de todos esses séculos através das obras inspiradas nessa tradição. O pensamento 
dominante era de que o conhecimento da estrutura da língua (morfologia e sintaxe) 
garantiria o domínio das habilidades de produção e compreensão de textos, em todas as 
instâncias de comunicação, o mesmo procedimento das investigações linguísticas (ou 
seja, da língua enquanto objeto científico) era utilizado no ensino: descrição, observação 
de paradigmas e classificação. 
Isso se deve em virtude do apego à nomenclatura gramatical no ensino da língua, 
além da consideração de apenas uma variante como correta: a variante culta. A partir daí 
se conclui que tanto a herança dos estudos clássicos quanto a concepção de que a língua 
estava pronta e deveria ser apropriada determinaram o ensino de língua materna tal como 
se faz tradicionalmente. 
Quanto ao ensino de Língua Portuguesa no Brasil, temos a informação de que até 
a década de 1950 a escola não era acessível a todos, mas somente à elite, que já possuía 
certo domínio da norma culta padrão, uma vez que, desde muito cedo, adquiria o hábito 
de leitura, cabendo à escola o ensino da gramática normativa. Segundo Geraldi (1993, 
p.116), “os professores eram da elite ‘cultural’ e os alunos, da elite ‘social’; os alunos 
aprendiam, apesar das evidentes falhas didáticas”. 
O Ministério da Educação e Cultura (MEC) corrigiu o problema da variação de 
nomenclatura utilizada pelos professores, ao reunir um grupo de gramáticos com a tarefa 
de compilar termos técnicos no campo da gramática, os quais deveriam ser empregados 
uniformemente em todo o país. A partir de então foi estabelecida a Nomenclatura 
Gramatical Brasileira (NGB), em 1959, cujo objetivo era unificar o tratamento à língua. 
Conforme a NGB, a nomenclatura gramatical deveria ser bem fixada pelo aluno, a fim de 
que este assimilasse o conteúdo das aulas. Logo, o apego à nomenclatura herdado da 
tradição grego-latina foi ainda reforçado com a NGB. 
Por conta disso, a língua enquanto conteúdo de ensino, permanece ligada à 
abordagem tradicional e é, nas aulas de gramática, o estudo de um sistema fechado, 
 
13 
 
exemplo de uso correto, cujo principal exercício continua sendo detectar os paradigmas 
e classificá-los, na esperança de que por meio dessa prática o aluno adquira seu domínio 
(BARCELLOS, 2016). Aos poucos, no entanto, a realidade do ensino revela um 
verdadeiro caos, levando muitos estudiosos, em consonância com as novas abordagens 
linguísticas, a atribuir sua principal causa ao ensino da gramática (que correspondia, 
então, ao ensino de língua). 
Durante a década de 1980 diversos trabalhos acadêmicos foram produzidos 
questionando o ensino da gramática normativa, e começa a se manifestar no ensino de 
Língua Portuguesa o resultado das novas ciências linguísticas: Sociolinguística, 
Linguística Textual, Pragmática, Análise do Discurso, entre outras. Na década de 1990, 
mais precisamente no ano de 1997, foram definidos os Parâmetros Curriculares 
Nacionais (PCN’s) pelo Ministério da Educação e Cultura, tendo em viista padronizar e 
orientar o ensino a partir de teorias mais modernas, por meio da abordagem da língua 
em todas as suas modalidades expressivas, sem privilegiar uma ou outra variante. 
Passa a ser discutido então a questão do preconceito linguístico, sendo o ensino 
de gramática considerado um dos grandes aliados desse preconceito. Nesse momento, 
o foco do ensino passa a ser a produção e compreensão de textos a partir do estudo dos 
diversos gêneros textuais, dos mecanismos de coesão e coerência, das características 
do contexto de produção dos textos estudados. A gramática recebe fortes críticas, em 
razão de seu normativismo e pelo apego à nomenclatura. Ainda assim, não se propõe 
uma nova abordagem para o seu ensino, e o foco das aulas de Língua Portuguesa passa 
a ser atividades de leitura, produção e compreensão de textos. 
É preciso observar, no entanto, que, migra-se de um extremo, o ensino da 
gramática por si mesma, desconsiderando-se o contexto, a outro, o trabalho com 
texto/contexto, não levando em consideração que o texto é construído também pela 
gramática. Contudo, o resultado das avaliações de desempenho linguístico dos alunos 
continua insatisfatório, mesmo com essas mudanças, como se pode constatar pelos 
dados oficiais do Enem. 
Tendo todas essas considerações em vista, podemos afirmar que o problema 
nunca esteve necessariamente no ensino da gramática, mas em como se deu esse 
ensino, e qual era o objetivo pretendido com ele. Associar o histórico dos estudos 
 
14 
 
científicos sobre a língua e as práticas utilizadas para seu ensino podeesclarecer muitos 
pressupostos equivocados sobre o ensino de gramática. Abordá-la separada do uso, com 
o objetivo de classificar os elementos linguísticos (como propõe a abordagem tradicional), 
de fato, não garante o desenvolvimento do aluno em termos de competência linguística. 
Em contrapartida, no entanto, não se pode negar que a gramática de uma língua 
está na base de qualquer atividade de uso da linguagem. É importante, também, explicar 
que o termo “gramática” (com sentido amplo) está sendo usado em referência ao conjunto 
de elementos lexicais e propriedades sintáticas da língua, bem como às suas 
características estruturais e funcionais, e não à gramática normativa (prescrição de uma 
determinada variante da língua). 
Ao considerar a gramática, a partir da interação entre os usuários, é procurar 
compreender de que maneira a organização dos elementos linguísticos reflete as 
intenções do Falante. Nesse sentido, o ensino da gramática é abordado aqui como uma 
ferramenta para resolver possíveis problemas de comunicação/uso da língua. Quando 
consideramos que os alunos demonstram grande dificuldade ao ler e escrever textos, 
atividades que compreendem a seleção e a concatenação de ideias, indivíduos, fatos e 
discursos, apresenta-se um novo olhar sobre a sintaxe, elemento este fundamental na 
arquitetura de um texto; especificamente, procura-se descrever e analisar algumas 
orações subordinadas do português em contextos reais de uso, com o intuito de 
demonstrar de maneira concreta a possibilidade de uma abordagem gramatical que seja 
diferente da tradicional (BARCELLOS, 2016). 
2.2 Subáreas da linguística 
A linguística é uma disciplina científica que estuda o funcionamento da linguagem 
e das línguas naturais em diferentes níveis e perspectivas. As linhas de investigação se 
tornaram subáreas dentro da linguística que atuam sob uma metodologia interdisciplinar. 
As principais linhas de investigação na linguística contemporânea são: fonética, 
fonologia, morfologia, semântica, sintaxe, pragmática e estudos do discurso. 
A fonética estuda os segmentos sonoros, privilegiando as características físicas e 
fisiológicas, ou seja, os sons divisíveis que podem ser medidos fisicamente. Eles são 
 
15 
 
chamados de fones, unidades mínimas que se organizam linearmente em variadas 
línguas. Esses fones ocorrem um após o outro, não podem ser pronunciados ao mesmo 
tempo. 
A descrição desses sons é feita por meio de três dimensões: articulatória-motora, 
auditiva, perceptual e acústica. A primeira analisa as reações do aparelho fonador, a 
segunda lida com a percepção do ouvinte, e a terceira observa as propriedades físicas 
da onda sonora produzida pela passagem pelo aparelho articulador. Cada uma dessas 
dimensões apresenta um componente: frequência, amplitude e tempo. 
Esses três componentes permitem a análise dos aspectos segmentais e 
suprassegmentais da fala. A fonologia lida com os aspectos segmentais e 
suprassegmentais dos sons da fala. Os aspectos segmentais são aqueles que podem 
ser detectados nos próprios sons. Esse é o caso do modo de articulação e dos 
articuladores que o produzem (ativo e passivo). Já os aspectos suprassegmentais não 
podem ser detectados nos sons. É necessário que eles estejam em um sintagma para 
que as propriedades sejam percebidas. É o caso do acento e do tom. Se na fonética o 
som é visto sob o ponto de vista físico, na fonologia, é visto sob o ponto de vista da 
semiótica. Nas palavras de Paulo Chagas de Souza e Raquel Santana (2003, p. 35) “[…] 
os sons não são vistos apenas como sons em si mesmos, mas em termos das relações 
que estabelecem entre si e das relações que os unem ao plano do conteúdo”. Nas 
análises fonológicas se evidencia o caráter linguístico da pesquisa. Por exemplo, 
constata-se que: 
[…] dois sons diferentes, mas materialmente semelhantes podem funcionar como 
se fossem o mesmo elemento ou como se fossem elementos diferentes. É o que 
Saussure tinha em mente quando elaborou o conceito de valor, que é algo relativo a cada 
sistema linguístico. O mesmo som encontrado em sistemas linguísticos distintos pode 
apresentar valores diferentes, dependendo de suas relações com os demais elementos 
existentes. Assim, o valor de um elemento não é apenas aquilo que é, mas também aquilo 
que ele não é, ou seja, a quais outros elementos ele é igual e de que outros elementos 
ele é diferente (SOUZA; SANTANA, 2003, p. 37). 
A linguística estuda as formas das palavras por meio da morfologia. No século XIX, 
investigou-se as raízes do indo-europeu para tentar encontrar a origem da linguagem. 
 
16 
 
Porém, o que esse estudo permitiu foi, por meio do estudo comparativo entre línguas, a 
formulação de uma tipologia morfológica. As línguas poderiam ser de três tipos: isolantes 
(as palavras não podem ser segmentadas em partes menores), aglutinantes (as palavras 
combinam raízes e afixos) e flexionais (as raízes se combinam a elementos gramaticais, 
que indicam a função das palavras). Com o tempo, viu-se que as línguas não podem ser 
totalmente de um tipo, principalmente, com os estudos de línguas que não faziam parte 
do domínio indo-europeu. Constatou-se, também, que o critério sintático é a melhor 
opção para determinar a definição de palavra: “[…] o elemento mínimo que pode ocorrer 
livremente no enunciado ou pode sozinho constituir um enunciado” (PETTER, 2003, p. 
62). Os critérios semântico e fonológico são considerados pela maioria dos linguistas 
como insuficientes, pois não determinam o que é uma palavra, por exemplo, nas línguas 
polissintéticas. 
Nesse caso, entende-se por palavra uma sequência sonora que corresponde a 
uma resposta mínima a uma pergunta. Além disso, percebeu-se que há unidades 
mínimas com significado, chamadas de morfemas. Se o morfema é considerado a 
unidade mínima, é sinal de uma pesquisa relacionada ao estruturalismo, que buscava 
identificar os morfemas nas diferentes línguas. Nos estudos de morfologia, há dois 
campos: morfologia lexical e morfologia flexional. A primeira investiga os mecanismos de 
formação de palavras novas, e a segunda estuda os mecanismos de informações 
gramaticais. Já a sintaxe estuda o conhecimento inato do usuário da língua sobre a 
organização dos itens lexicais para formar itens lexicais complexos, sequências 
complexas e formações cada vez mais complexas até chegar ao nível da sentença. Essa 
competência linguística diz respeito também às combinações intermediárias: na 
formação de uma sentença, não há linearidade e sim hierarquia. Esmeralda Vailati 
Negrão e Ana Paula Scher Evani de Carvalho Viotti (2003, p. 82) afirmam: 
Essa nossa competência também nos indica que uma sentença se constitui de 
dois tipos de itens lexicais: de um lado, estão aqueles que fazem um tipo particular de 
exigência e determinam os elementos que podem satisfazê-la; e, de outro, estão os itens 
lexicais que satisfazem as exigências impostas pelos primeiros. Portanto, a finalidade dos 
estudos de sintaxe é verificar como esse conhecimento linguístico pode ser usado na 
análise das estruturas das sentenças de uma língua. 
 
17 
 
 
 
Os estudos de sintaxe observam todos os itens lexicais de uma língua para 
organizá-los em grupos, de acordo com os comportamentos comuns. São as chamadas 
categorias gramaticais. Estudar a estrutura das sentenças é uma tarefa que envolve a 
ativação de um conhecimento que o usuário da língua já tem. Para tanto, é preciso 
enfatizar que a sentença surge da estruturação hierárquica entre categorias gramaticais. 
 
 
 
A semântica, por sua vez, estuda sistematicamente o sentido das línguas naturais. 
Que sentido é esse? Para começar, é importante lembrar da definição de signo: é a 
relação entre um significante e um significado, ou seja, de uma imagem acústica (de 
ordem fonológica) desse signo e de seu conceito (de ordem semântica). Pietroforte e 
Lopes (2003, p. 115) afirmamque: 
Se as expressões das línguas humanas apontam para conceitos situados fora 
delas e concebidos como independentes desta ou daquela língua natural, isso quer dizer 
que tais conceitos são universais, logo imutáveis para todo e qualquer ser humano, pouco 
importando em que cultura este tenha nascido e sido criado. 
Saussure e os estudiosos que compartilham de suas ideias postulam que a 
linguagem está presente em todas as atividades humanas. Logo, ela pode ser a fonte de 
inspiração, de sentido, e não as coisas. Eles tratam, dessa forma, do mundo de sentido 
 
18 
 
construído pelo homem, por isso defendem que as línguas sejam estudadas a partir da 
forma como elas interpretam e categorizam o mundo material, atribuindo-lhe sentido. Isso 
significa que a semântica linguística, na atualidade, está mais voltada à retórica do que 
às questões filosóficas e mentais (o que é real, como o cérebro funciona, por exemplo). 
Atualmente, valorizam-se também traços semânticos provenientes do contexto. 
 
 
Fonte de: www.abstracta.pro.br 
 
Nesse sentido, as acepções de dicionários não são rechaçadas e sim 
transformadas parcialmente, de acordo com a intersubjetividade do discurso. O 
desenvolvimento de várias semânticas (textual, semântica cognitiva, lexical, 
argumentativa, discursiva) revela que existem diferentes percepções do que é significado 
e que o estudo do sentido pode ser realizado sob diferentes fundamentos e perspectivas. 
A pragmática estuda o uso da língua, isto é, refere-se à utilização prática da linguagem. 
Suas pesquisas estão diretamente ligadas à dimensão chamada de enunciação 
(capacidade do falante de produzir enunciados). (FIORIN, 2003). 
Isso significa que há fatos linguísticos que dependem da enunciação para que 
sejam entendidos. Esse é o caso de palavras utilizadas para marcar tempo e lugar, como 
“agora”, “amanhã”, “eu”, “isto”: o sentido delas dependerá da situação de enunciação. 
José Luiz Fiorin (2003, p. 163) afirma que há dois conjuntos em um texto: “[…] a 
 
19 
 
enunciação enunciada, que é o conjunto de marcas, nele identificáveis, que remetem à 
instância de enunciação; o enunciado, que é a sequência enunciada desprovida de 
marcas de enunciação”. Além disso, há dois elementos essenciais para a enunciação: o 
tempo e o espaço, pois uma pessoa realiza um enunciado em um lugar e um momento. 
Esse sujeito é, portanto, o ponto de referência. Entretanto, nem sempre a pessoa do 
discurso evidencia quem é esse sujeito. 
É comum que os brasileiros misturem as flexões dos verbos conjugados na 
segunda e na terceira pessoa do singular, por exemplo, como em: “Tu encontrou aquele 
livro”, em vez de “Tu encontraste aquele livro”. Daí a importância da situação de 
enunciação. Ela especifica e determina quem são os participantes do ato de 
comunicação. Os estudos do discurso examinam a linguagem enquanto discurso, ou 
seja, observam a organização global do texto: as relações entre a enunciação e o 
discurso enunciado e entre o discurso enunciado e os fatores sócio históricos que o 
compõem. Portanto, a análise do discurso aproxima-se da semiótica, pois ambos 
analisam o texto (e não palavras ou frases) e buscam os sentidos do texto, isto é, o que 
constrói os sentidos desse texto. Nessa perspectiva: 
[…] o texto se organiza e produz sentidos, como um objeto de significação, e 
também se constrói na relação com os demais objetos culturais, pois está inserido em 
uma sociedade, em um dado momento histórico e é determinado por formações 
ideológicas específicas, como um objeto de comunicação. Definido, dessa forma, por 
uma organização linguístico-discursiva e pelas determinações sócio históricas, e 
construído, portanto, por dois tipos de mecanismos e de procedimentos que muitas vezes 
se confundem e misturam, o texto, objeto da semiótica, pode ser tanto um texto 
linguístico, indiferentemente oral ou escrito, quanto um texto visual, olfativo ou gestual, 
ou, ainda, um texto em que se sincretizam diferentes expressões, como nos quadrinhos, 
nos filmes ou nas canções populares (BARROS, 2003, p. 188). 
Em síntese, a linguística atua em diversos campos relacionados à linguagem. 
Suas principais subáreas são, na realidade, oriundas das partes constituintes da língua. 
Entretanto, de acordo com o enfoque dos estudos linguísticos, surgem diferentes áreas, 
como a linguística aplicada. 
 
20 
 
2.3 Linguística aplicada e linguística teórica 
Em meados do século XX, a linguística passou a ser vista como ciência e, junto 
com esse destaque para a análise das questões relacionadas à língua, surgiram 
diferentes estudos que partiam da abstração do conhecimento linguístico. A linguística 
aplicada apareceu como uma dessas possibilidades, visando aplicar esse conhecimento 
linguístico em situações reais de uso da linguagem. (BARROS, 2003, p. 188). 
O marco inicial da linguística aplicada foi o curso ministrado por Charles Fries e 
Robert Lado na Universidade de Michigan. O foco do curso era o ensino de línguas por 
meio da linguística contrastiva. O cenário histórico era propício a isso, pois, com a 
Segunda Guerra Mundial, foi necessário que falantes de diferentes línguas conseguissem 
se comunicar. Entretanto, nessa época, os métodos de ensino e aprendizagem de língua 
estrangeira foram questionados. As propostas da linguística aplicada passaram a ser 
ouvidas. Inicialmente era chamada de linguística aplicada ao ensino de línguas. 
Nessa época, os estudos de linguística e de linguística aplicada foram subsidiados 
pelo interesse no treinamento linguístico para fins militares. De qualquer maneira, as 
pesquisas linguísticas foram conduzidas porque havia expectativas quanto a suas 
aplicações. Todavia, não se pode negar que esses investimentos contribuíram também 
com a linguística teórica. O linguista Noam Chomsky, inclusive, recebeu subsídios por 
organizações ligadas às questões de guerra. 
Nos anos 1950, Chomsky apresentou a teoria linguística gerativo-
transformacional, contra a qual a linguística aplicada se posicionou. A intenção era 
mostrar que o interesse primordial da linguística aplicada era a resolução de problemas 
linguísticos, por isso se focou na linguagem em uso. Contudo, esse posicionamento se 
apresentou na mesma época em que Chomsky se tornava mundialmente conhecido. 
Ele analisava a língua em sua abstração e não no uso que dela fazem os falantes 
de uma determinada comunidade linguística em situações reais de fala. Dessa forma, 
passaram a predominar os estudos formalistas com base gerativista. Esse predomínio se 
deve à aproximação da linguística aos estudos das ciências naturais, o que a tornou mais 
científica. Além disso, havia uma ênfase na imanência da língua: o gerativismo propõe 
representações para as estruturas das línguas chamadas de universais linguísticos. Elas 
 
21 
 
seriam características compartilhadas por todas as línguas do mundo e que constituiriam 
uma Gramática Universal, condição inata a todos os seres humanos. 
 
 
Fonte de: vaidebolsa.com.br 
 
O programa de Chomsky apresentava formalizações precisas e de abstração pura, 
o que proporcionou à linguística um caráter formal. O reconhecimento mundial desse 
programa levou os teóricos da língua que a tratavam como representação cultural a uma 
dificuldade de visibilidades. Aliás, muitos pesquisadores passaram a conceber esse tipo 
de estudo da língua como uma atividade menor de pesquisa. Mesmo assim, a linguística 
Aplicada permaneceu enfatizando os aspectos sociais de forma densa. Segundo 
Rajagopalan (2006, p. 157), “[…] a questão social não é uma preocupação da linguística 
teórica: mesmo quando a questão social é invocada, é como se o social entrasse como 
acréscimo a considerações já feitas sobre o indivíduo concebido ‘associalmente’”. 
Coube à linguística aplicada tomar emprestadas, da linguística formal, teorias 
abstratas prestigiadas para, com base nelas, propor alternativasde solução a questões 
práticas de uso da linguagem. Portanto, como a linguística aplicada não criava teorias, 
teria, apenas, de aplicar as teorias produzidas nos estudos formalistas. Nesse sentido, 
Widdowson (1996, p. 125) afirma que a linguística aplicada é “[…] uma área de 
 
22 
 
investigação que procura estabelecer a relevância de estudos teóricos da linguagem para 
problemas cotidianos nos quais a linguagem está implícita”. 
Enquanto Brumfit (1995, p. 27) diz que é uma “[…] investigação teórica e empírica 
de problemas reais nos quais a linguagem é uma questão central […]”. Por sua natureza 
prática, a linguística aplicada foi muita utilizada nas escolas, como uma forma de atender 
às demandas de revisão dos postulados de ensino da língua focados nas normas 
gramaticais. Além disso, o linguista aplicado se envolveu com questões relacionadas às 
políticas educacionais, à avaliação e à aquisição de uma segunda língua. Maingueneau 
(1996) afirma que a linguística aplicada tem três características principais: 
1. responde a uma demanda social; 
2. faz empréstimos a diferentes domínios científicos e técnicos; 
3. é avaliada por seus resultados. 
Evidencia-se, assim, que o foco da linguística aplicada estava relacionado a 
acessar os problemas de linguagem conforme eles ocorriam na realidade. Nas escolas, 
começou-se a enfatizar a investigação da produção textual, isto é, na análise da produção 
da linguagem em detrimento da análise do produto (a redação). Esse contexto favoreceu 
a ligação da linguística aplicada com outras áreas das ciências humanas, como a 
psicologia e a psicolinguística, principalmente. Entretanto, convocou também outros 
campos, e essa relação identificou a linguística aplicada como articuladora de diversos 
domínios do saber que estejam ligados à linguagem. 
Esses avanços da linguística aplicada contribuíram para que ela fosse tratada 
como uma forma de refletir sobre o processo de ensino e aprendizagem de língua, 
avaliando, por exemplo, qual a melhor metodologia e estratégias de ensino. A partir de 
seus estudos, surgiram pesquisas sobre produção textual, material didático, bilinguismo, 
aprendizagem de segunda língua, interação verbal, avaliação e metodologia de ensino, 
análise do discurso pedagógico, socioconstrução da aprendizagem, compreensão e 
leitura. Como se vê, o foco das pesquisas do linguista aplicado passou a ser temas de 
relevância social. A finalidade passou a ser encontrar respostas teóricas que gerassem 
benefícios sociais. 
Disso, surgiram investigações sobre as relações de poder na formação do sujeito 
na linguagem e por meio dela. Os estudos linguísticos aplicados, portanto, focaram no 
 
23 
 
olhar crítico sobre a linguagem. Isso provocou uma responsabilidade a esses estudiosos: 
a necessidade de criar um projeto político pedagógico que tentasse transformar uma 
sociedade estruturada de forma desigual. Houve, dessa forma, uma expansão da 
atuação da linguística aplicada, que passou a tratar de conscientização linguística, 
formas de aprendizagem de línguas a partir de interações dialógicas, aprendizagem 
baseada no contexto, entre outros. 
 
 
Fonte de: www.catho.com.br 
 
Desse modo, áreas dos estudos linguísticos (sociolinguística interacional, 
linguística textual, análise do discurso, entre outras) auxiliaram no estudo do caráter 
social, cultural e histórico do uso da língua. Evidencia-se, assim, que a redefinição do 
objeto de estudo da linguística aplicada extrapola o universo escolar e ocupa um espaço 
mais amplo na sociedade por focar nos usos da língua, considerando contextos 
diferentes e interações variadas. Moita Lopes (2006, p. 18) questiona: 
Como é possível pensar que teorias linguísticas, independentemente das 
convicções dos teóricos, poderiam apresentar respostas para a problemática do 
ensinar e do aprender em sala de aula? Uma teoria linguística pode fornecer uma 
descrição mais acurada de um aspecto linguístico do que outra, mas ser 
completamente ineficiente do ponto de vista do ensinar e do aprender línguas. 
 
24 
 
Para esse estudioso, a linguística aplicada contemporânea seria capaz de interagir 
com outras áreas do conhecimento para relacionar teoria e prática, porque “[…] é 
inadequado construir teorias sem considerar as vozes daqueles que vivem as práticas 
sociais que queremos estudar; mesmo porque, no mundo de contingências e de 
mudanças velozes em que vivemos, a prática está adiante da teoria […]” (LOPES, 2006, 
p. 31). 
Resumidamente, a linguística é concebida como ciência, porque tem um objeto de 
estudo estabelecido, que é a língua, e um método de estudo, que é histórico-comparativo. 
É uma área que está presente em muitos outros campos relacionados à linguagem. 
Conforme os enfoques dos estudos linguísticos, então, surgem diferentes áreas, como a 
linguística aplicada. Com a expansão dos princípios e das fronteiras, a linguística 
aplicada passou a se preocupar com as alternativas para problemas de linguagem a fim 
de que os seres humanos tivessem acesso a diferentes aspectos que envolvem suas 
vidas: políticos, econômicos, sociais e culturais. 
3 O QUE É LINGUAGEM? 
O título dessa seção é certamente provocativo, pois não existe resposta simples 
para a pergunta “o que é linguagem”? Para John Lyons (1987), em sua obra Linguagem 
e linguística: uma introdução, esse questionamento equivale a um outro “o que é a vida? 
”, “cujas pressuposições circunscrevem e unificam as ciências biológicas” (p. 15). 
 
 
Fonte de: www.thisismoney.co.uk 
 
25 
 
Por isso mesmo essa pergunta tem recebido múltiplas respostas, conforme os 
conhecimentos, crenças e ideologias dos estudiosos em cada época (cf. KRISTEVA, 
1988). De modo geral, é bastante comum o emprego do termo linguagem para referir os 
diversos processos comunicativos. 
É nessa direção que Sapir (1929, p. 8) define a linguagem como “um método 
puramente humano e não instintivo de se comunicarem ideias, emoções, desejos por 
meio de símbolos puramente produzidos”. 
Essa definição, tal como apresentada, compreende os conceitos de linguagem 
escrita, linguagem corporal, linguagem da dança etc. Mas não são todos os estudiosos 
que observam a linguagem como instituição puramente humana. Numa proposta mais 
abrangente, o termo se aplica a qualquer processo de comunicação; assim, é possível 
conceber conceitos como “linguagem das abelhas”, “linguagem dos golfinhos” etc. Note-
se que essa concepção de linguagem, que enfoca a comunicação e a interação, implica, 
em todo o caso, a ideia de que as línguas naturais, como, por exemplo, o português, o 
inglês ou o birmanês, constituem formas de linguagens. 
No decurso da história, muitos outros conceitos foram associados a esse termo. 
Podemos notar, por exemplo, que Schleicher, no século XIX, observou a linguagem como 
um organismo vivo; Humboldt a definiu como atividade humana. Sob outro enfoque, a 
linguagem pode ser concebida como resultado de uma atividade psíquica. Uma definição 
predominante na atualidade é a de linguagem como capacidade propriamente humana 
de falar e compreender uma língua. 
Nessa concepção, conforme proposta no interior da teoria gerativa, a linguagem é 
uma característica mental, inata à espécie humana. O que se enfoca, nesse caso, não é 
sua função comunicativa ou interativa, mas seus aspectos estruturais. Com efeito, para 
Chomsky (1980, p. 9), iniciador do modelo gerativo, importa descobrir, por meio dos 
estudos da linguagem, “os princípios abstratos que governam sua estrutura e uso, 
princípios universais por necessidade biológica e não por simples acidente histórico, e 
que decorrem de características mentais da espécie humana”. 
 
26 
 
 
Fonte de: repositorio.unifesp.br 
 
Podemos admitir várias outras definições para o termo linguagem; todavia, mais 
que estender a lista de conceitos, importa compreender que não existem, nesse caso, 
concepções certas e erradas,mas tão somente divergências de pontos de vista, de 
abordagens, de escopos teóricos que, em conjunto, constroem a história da Linguística. 
3.1 Os estudos da linguagem 
Sabemos que os estudos sobre a linguagem são remotos e envolvem reflexões de 
campos distintos: linguística, antropologia, sociologia, história etc. Todavia, não se pode 
dizer, ao certo, quando a linguagem se converteu em objeto de investigação e análise. 
Efetivamente, conforme observa Mattoso Câmara (1975, p. 16), é pelo desenvolvimento 
da sociedade que se criam condições favoráveis à manifestação dos estudos da 
linguagem. Das múltiplas motivações para a definição desse campo de estudos, a 
invenção da escrita, pelo impacto dos fatores socioculturais e estruturais que lhes são 
inerentes, certamente constitui um fato especialmente relevante (CÂMARA JR., 1975). 
Os primeiros estudos sobre a linguagem provavelmente nasceram com as 
demarcações entre as diferentes classes sociais. Conforme propõe Mattoso, numa 
 
27 
 
sociedade desigual, os grupos socialmente privilegiados impõem seus usos linguísticos 
aos demais. Surgem, nesse contexto, os “estudos do certo e do errado”, ou seja, estudos 
normativo-descritivos que visam à conservação da linguagem supostamente “correta” 
das classes superiores. De outra parte, os contatos culturais e linguísticos estimularam 
as comparações sistemáticas entre línguas distintas. Ademais, numa perspectiva ampla, 
os processos naturais de mudança linguística fomentaram, desde a antiguidade, os 
estudos filológicos da linguagem (CÂMARA JR., 1975). 
Na antiguidade grega, o desenvolvimento do pensamento filosófico propiciou, 
ainda, o surgimento dos “estudos lógicos da linguagem”. Já no período evolucionista, os 
avanços científicos facilitaram o assentamento dos estudos biológicos da linguagem 
(CÂMARA JR., 1975). 
Maior impacção decorre, por fim, da compreensão da linguagem como 
manifestação cultural e de sua observação como objeto de estudo histórico. Nessa 
direção, manifestam-se os estudos descritivos, que visam explicar a origem e 
desenvolvimento sócio-histórico da linguagem e/ ou sua real função na sociedade. 
 
 Figura – Linguagem. Fonte: Itabuna Centenaria, 2015. 
Devemos notar que na análise de Mattoso Câmara Jr., somente os estudos 
históricos e descritivos da linguagem constituem a essência da ciência linguística, porque 
 
28 
 
desenvolvem um método científico para focalização do objeto de estudo e, ainda, se 
voltam à explanação de seu funcionamento no contexto social e/ ou à explicação de sua 
origem ou desenvolvimento através do tempo (op. cit., 1975, p. 19- 20). 
Observa-se que o ponto de vista de Mattoso, conforme propõe Cristina Altman 
(2009), é parcial e fortemente restritivo, já que deixa fora da linguística os traços de sua 
própria história, cooperando, assim, para a implantação, no Brasil, de uma disciplina 
descontínua, filiada unicamente a uma tradição europeia. 
De fato, Mattoso Câmara Jr., tal como vários outros linguistas que o seguiram, 
situa a linguística (propriamente dita) na Europa do século XIX, introduzida especialmente 
pelos estudos histórico-comparativos dos neogramáticos e pelas iniciativas de Saussure, 
conforme veremos na próxima aula. Todavia, retomando as palavras de Robins (2004, p. 
4):” a linguística europeia não teria alcançado a posição em que hoje está se não 
houvesse se enriquecido com as ideias dos trabalhos desenvolvidos fora da Europa [...]”. 
 
3.2 O campo de estudos linguísticos 
Apresentaremos alguns conceitos e pressupostos da Linguística com o fim de 
firmar as bases teóricas das discussões propostas em nosso curso. É importante 
observar, ainda, que alguns desses conceitos são retomados na formulação dos 
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). 
Levando em conta as diferentes culturas, várias são as motivações para o 
desenvolvimento do campo de estudos linguísticos. Mesmo por isso, diversos estudiosos 
enfatizam a impertinência de uma história da linguística estabelecida em ordem 
 
29 
 
cronológica. Na Índia Antiga, por exemplo, prevaleceu a preocupação com a 
compreensão correta dos textos religiosos dos “Vedas”, enquanto na Grécia, o estudo da 
linguagem se vincula às discussões filosóficas, apresentando-se como uma via possível 
para acessar o conhecimento da realidade. 
Já no período helenístico, em Alexandria, o enfoque recaiu na análise dos diversos 
estágios da língua e nos traços distintivos do dialeto grego, com o fim de explanar os 
textos literários (CÂMARA JR., 1975, p. 26-27). É somente no século XVIII que os estudos 
da linguagem adquirem mais especificidade, pelo desenvolvimento da linguística 
histórico-comparativa: 
 
No século XIX, tornaram-se mais precisos os métodos de análise dos estudos 
linguísticos. Assenta-se, definitivamente, o método comparativo, que consiste na análise 
e comparação entre diferentes línguas, com o fim de verificar suas (co) relações histórico-
genéticas. Essas investigações permitiram a apreensão de características comuns a 
diversas línguas e/ ou famílias linguísticas. 
No final do século XIX, um outro grupo de linguistas conhecidos como 
neogramáticos acrescentam outra novidade aos estudos da linguagem: eles criticam o 
descritivismo da linguística histórico-comparativa e se propõem a apreender, a partir de 
um conjunto de postulados teóricos, os princípios da mudança linguística (WEEDWOOD, 
2002; FARACO, 2011; entre outros). Nesse momento se lançam as bases da linguística 
moderna. 
 
 
30 
 
4 OS CONCEITOS DE SISTEMA, NORMA, FALA, SINCRONIA E DIACRONIA 
Vamos começar com um exemplo: Você conhece a tartaruga-gigante, também 
chamada de tartaruga-de-couro? Sabia que restam apenas aproximadamente 250 
exemplares vivendo nos oceanos? Sim, ela é um dos animais ameaçados de extinção. 
Bom, em relação a esse fato, podemos apenas nos contentar em saber que ela está em 
extinção, que restam poucos exemplares na natureza e propor ações de preservação. 
Por outro lado, podemos nos interessar em saber o porquê desse animal estar em 
extinção, analisar a história da espécie ao longo dos anos, preocuparmo-nos com as 
causas que desencadearam o processo de extinção. São duas maneiras diferentes, 
porém válidas, de se analisar um acontecimento e mostra que estabelecer uma relação 
temporal com o fato linguístico? Essa e outras questões serão discutidas neste texto. 
Agora você aprenderá os conceitos de sistema, norma, fala, sincronia e diacronia, bem 
como as relações percebidas entre eles. 
Pensar os conceitos de sistema, língua e fala nos remete ao estruturalismo e 
instiga a reflexão sobre em quais situações a normatização é pertinente. Ferdinand de 
Saussure, ao expor sua abordagem à linguística nos cursos ministrados na Universidade 
de Genebra, que vieram a compor a obra póstuma Curso de Linguística Geral, propunha 
a analogia da língua com a música: “[...] a língua pode ser comparada a uma sinfonia, 
cuja realidade independe da maneira por que é executada; os erros que podem cometer 
os músicos que a executam não comprometem em nada tal realidade”. (SAUSSURE 
apud BARBISAN, 1975, p.26.). Para o linguista, a língua é abstrata, assim como a 
música, pois tem lugar no processo psíquico e constitui um sistema real de signos 
linguísticos que independem da execução. Por execução, entende-se a fala, processo 
fisiológico, secundário na perspectiva saussureana, que depende do falante. Observe o 
circuito da fala, proposto por Saussure: 
 
31 
 
 
 
A imagem ilustra a relação entre língua e fala na concepção de Saussure. Os 
conceitos e as imagens acústicas, desencadeadas por estímulos auditivos, são formadas 
no cérebro e, por isso, associadas à psique. Constituem, portanto, o conjunto de signos 
linguísticos que compõem a língua, objeto de estudos linguísticos. A língua é um 
construto social, independente do falante, uma vezque seu locus é a psique. 
Consequentemente, os estímulos gerados no processo psíquico ativam o processo 
fisiológico da fala, conhecido por fonação que, por usa vez, servirá de estímulo acústico 
motivador do processo psíquico no ouvinte. 
Mas afinal, o que levou Saussure a optar pela escolha da língua como objeto de 
estudos? 
Segundo Barros, “A proposta de Saussure de ver na língua o objeto da Linguística 
decorre da constatação de que a linguagem é um aglomerado confuso de coisas que [...] 
está a cavaleiro de diferentes domínios, tais como a Psicologia, a Antropologia, a 
Gramática normativa, a Filologia, etc.” (BARROS, 2013, P.10.) e, por outro lado, “a língua 
tem definição autônoma, é vista como sistema, é norma para todas as manifestações da 
linguagem, portanto, pode ser estudada cientificamente”. (BARROS, 203, P.10). O 
linguista escolhe a língua como objeto de estudo, justamente por ela não estar sujeita à 
intervenção humana e por ser um construto social, compartilhado pela comunidade 
linguística de natureza, segundo ele, concreta, assimilada passivamente pelos sentidos. 
 
32 
 
Já a fala estaria condicionada à vontade do falante, tornando a utilização da língua 
apenas um simples acessório da linguagem. Para Saussure, a fala está subordinada à 
língua. (BARROS, 203, P.10). 
Cabe salientar que a perspectiva saussureana não desconsidera a importância da 
fala, tampouco rechaça o seu estudo. O linguista reconhece a interdependência entre 
língua e fala e, inclusive, atribui à fala a evolução da língua. Entretanto, afirma não ser 
possível reunir ambas em um mesmo estudo, sugere que se tenha uma Linguística da 
língua (essencial) e uma Linguística da fala (secundária, mas não menos importante). 
 
 
 
Agora, você pode perceber o porquê dos estruturalistas manterem seu foco nos 
estudos de documentos escritos, pois a maneira de estudar um objeto que se forma no 
processo psíquico do falante é através da escrita. Para os estruturalistas, a escrita 
representa a língua, já que é executada conforme as normas convencionadas pela 
comunidade linguística. 
 
33 
 
4.1 Relação entre fala e norma 
Por norma, entende-se o conjunto de regras que orienta a utilização correta dos 
signos linguísticos que compõem determinada língua. No exemplo anterior, nem todas 
as falas obedecem à norma padrão da língua portuguesa, entretanto, elas não são 
consideradas erros pelos linguistas ou sociolinguistas, pois a fala não está sujeita às 
normas da língua. 
A gramática normativa agrega as normas da língua, ou seja, ela não descreve a 
língua como realmente se evidencia, mas sim como deve ser materializada pelos 
falantes, constituída por um conjunto de sinais (as palavras) e por um conjunto de regras, 
de modo a realizar a combinação desses. (DUARTE, 2016, P.1.). 
A norma padrão da língua portuguesa, que consta nas gramáticas, versa apenas 
sobre a língua escrita. Não só o fato de falar em desacordo com a norma, não se configura 
em um erro, como também cogitar aplicar as regras que constam na gramática em todos 
os contextos de fala pode ser inadequado. Por exemplo, qualquer pessoa em um jantar 
com amigos, poderá dizer “Por favor, me passa o arroz”! sem infringir norma alguma. Já 
se uma pessoa, no mesmo jantar disser “Por obséquio, queira me passar o arroz”. Ela 
estaria proferindo uma fala inadequada ao contexto informal de um jantar entre amigos, 
apesar da frase estar seguindo, perfeitamente, as regras gramaticais da língua 
portuguesa. 
Na fala, o processo de adequação da linguagem representa a única norma a ser 
seguida. O conjunto de regras prescritivas que constam na gramática, construto social 
estabelecido, na maioria das vezes, pelas classes dominantes, não exerce domínio sobre 
a fala. 
 
 
 
34 
 
4.2 Sincronia, diacronia e fator tempo 
Existe racismo hoje no Brasil? As pessoas afrodescentes são discriminadas hoje 
no Brasil, por quê? Convido você a refletir sobre essas duas perguntas. Que resposta 
você daria para a primeira? E para a segunda? Pense um pouco... 
Independente da resposta dada com base na sua reflexão, pense: para responder 
a primeira pergunta, você precisou relembrar suas aulas de história, lá da educação 
básica? Não, com certeza bastou você pensar na realidade atual, no ano de 2016, certo? 
E, para responder a segunda, bastou olhar para hoje, avaliar somente a sociedade atual? 
Não, com certeza você foi obrigado a lembrar da sua querida professora, ou do seu 
querido professor, de ensino fundamental. Precisou considerar o processo de 
colonização de nosso território, levou em consideração o terrível período da escravidão, 
considerou o desenvolvimento da economia com base na mão de obra negra, etc. 
Retratar o porquê de um fenômeno, compreender sua essência, sempre requer uma 
análise temporal de vários fatores. 
Para responder às perguntas, você utilizou dois processos de análise: a sincronia 
e a diacronia. Na sincronia, se estuda o hoje no contexto atual; já na diacronia, se estuda 
todo o processo de construção do contexto que acabou por gerar o hoje. 
A língua é um sistema de signos. Todas as línguas do mundo sofrem 
transformações, e esse processo pode ser analisado tanto sincronicamente (em um 
período de tempo específico) como de forma diacrônica (processo que analisa a evolução 
linguística através dos tempos). 
O processo da sincronia de mostra eficaz, principalmente, na análise da língua 
falada, pois está sofre variações linguísticas sistemáticas, perceptíveis em um intervalo 
de tempo específico. Segundo Tarallo (1986), pode-se observar: 
• A língua falada é heterogênea e variável. 
• A variabilidade da fala é passível de sistematização. 
Por outro lado, se você desejar analisar as transformações da língua escrita, 
regida pela gramática prescritiva, será necessário utilizar o processo diacrônico, pois 
pode levar várias gerações até que uma transformação seja incorporada à gramática de 
uma língua. 
 
35 
 
A análise diacrônica da fala é interessante para que você perceba como surgem 
alterações na língua falada em curtos espaços de tempo. Um exemplo interessante é 
observar as gírias que surgiram em determinadas épocas e compará-las com as atuais. 
Quando dizemos que a língua portuguesa é oriunda do Latim, estamos nos referindo a 
uma análise diacrônica. De fato, como salienta Celso F. da Cunha, quando você traça a 
linearidade histórica de nossa “língua brasileira”, nota que ela provém da língua 
portuguesa, que por sua vez provém do latim, que se entronca na grade família das 
línguas indo-europeias. (CUNHA apud ASSUNÇÃO, 2016, P.1). 
 
4.3 Variações da língua 
A língua não é regida por normas fixas e imutáveis, muito pelo contrário: assim 
como a sociedade é totalmente mutável, a língua pode transformar-se através do tempo 
por causa de vários fatores vindos da própria sociedade. Se compararmos textos antigos 
com atuais, perceberemos grandes mudanças no estilo e nas expressões. Com certeza 
você já percebeu que, mesmo dentro de um mesmo país, existem várias maneiras de se 
falar uma língua, no nosso caso, a Língua Portuguesa. As pessoas se comunicam de 
formas diferentes e múltiplos fatores devem ser considerados, tais como a época, a 
 
36 
 
região geográfica, a idade, o ambiente e o status sociocultural dos falantes. Nós 
costumamos adequar o nosso modo de falar ao ambiente e ao nosso interlocutor e não 
falamos da mesma forma que escrevemos. 
 
Fonte de: www.estudopratico.com.br 
Segundo Antunes (2003), fazendo uma viagem pelas diferentes regiões 
brasileiras, descobriremos que diferentes linguajares norteiam a convivência dos 
falantes. Isso acontece em razão da classe social, faixa etária, aspectos da própria 
região, entre outros. 
4.4 Tipos de variação linguística 
As variações linguísticas ocorrem principalmente nos âmbitos geográficos, 
temporais e sociais. 
4.4.1 Variações diatópicas 
 
As variações diatópicas,também chamadas de variações regionais ou 
geográficas, são variações que ocorrem de acordo com o local onde vivem os falantes, 
sofrendo sua influência. Este tipo de variação ocorre porque diferentes regiões têm 
diferentes culturas, com diferentes hábitos, modos e tradições, estabelecendo assim 
diferentes estruturas linguísticas. 
 
37 
 
Exemplos de variações diatópicas 
Diferentes palavras para os mesmos conceitos: 
• aipim, mandioca, macaxeira; 
• abóbora, jerimum, moranga; 
• sacolé, dindim, geladinho. 
Diferentes sotaques, dialetos e falares: 
• dialeto caipira; 
• dialeto gaúcho; 
• dialeto baiano. 
Reduções de palavras ou perdas de fonemas: 
• véio (velho); 
• muié (mulher); 
• cantá (cantar); 
• enxovar (enxoval). 
4.4.2 Variações diacrônicas 
Segundo Antunes (2003), as variações diacrônicas, também chamadas de 
variações históricas, são variações que ocorrem de acordo com as diferentes épocas 
vividas pelos falantes, sendo possível distinguir o português arcaico do português 
moderno, bem como diversas palavras que ficam em desuso. 
Exemplos de variações diacrônicas 
Palavras que caíram em desuso: 
• vossemecê; 
• botica; 
• comprir. 
 
38 
 
Grafias que caíram em desuso: 
• flôr; 
• pharmácia; 
• seqüencia. 
Vocabulário e expressões típicas de uma determinada faixa etária: 
• Você é um chato de galocha! 
• Ele é maior barbeiro. 
• Vai catar coquinho. 
4.4.3 Variações diastráticas 
As variações diastráticas, também chamadas de variações sociais, são variações 
que ocorrem de acordo com os hábitos e cultura de diferentes grupos sociais. Este tipo 
de variação ocorre porque diferentes grupos sociais possuem diferentes conhecimentos, 
modos de atuação e sistemas de comunicação, Antunes (2003). 
Exemplos de variações diastráticas 
Gírias próprias de um grupo com interesse comum, como os skatistas: 
• Prefiro freestyle. 
• O gringo tem um carrinho irado. 
• O silk do skate tá insano. 
Jargões próprios de um grupo profissional, como os policiais e militares: 
• Ele deu sopa na crista. 
• Vamos na rota dele. 
• Não mexe com meu peixe. 
 
39 
 
4.4.4 Variações diafásicas 
As variações diafásicas, também chamadas de variações situacionais, são 
variações que ocorrem de acordo com o contexto ou situação em que decorre o processo 
comunicativo. Há momentos em que é utilizado um registro formal e outros em que é 
utilizado um registro informal, Antunes (2003). 
Exemplos de variações diafásicas 
Linguagem informal, considerada menos prestigiada e culta, usada quando há 
familiaridade entre os interlocutores da comunicação ou em situações descontraídas. 
• Fala, garoto! Beleza? 
• Rola um cinema hoje? 
• Cadê Pedro? Cê viu ele? 
Linguagem formal, considerada mais prestigiada e culta, usada quando não há 
familiaridade entre os interlocutores da comunicação ou em situações que requerem uma 
maior seriedade. 
• Bom dia! Tudo bom com você? 
• Querem ir ao cinema hoje? 
• Onde está Pedro? Você viu-o? 
4.5 Variação linguística e preconceito linguístico 
O preconceito linguístico surge porque nem todas as variações linguísticas 
usufruem do mesmo prestígio. Algumas são consideradas superiores, mais corretas e 
cultas e outras são consideradas menos cultas ou mesmo incorretas. Preconceito 
linguístico ocorre sempre que uma determinada variedade é referida com um tom 
pejorativo e depreciativo, estando associada a situações de deboche ou até de violência, 
o que contribui para a exclusão social de diversos indivíduos e grupos. É urgente 
 
40 
 
compreender e aceitar que todas as variedades linguísticas são fatores de 
enriquecimento e cultura, não devendo ser encaradas como erros ou desvios. 
5 GÍRIAS 
As Gírias são fenômenos linguísticos utilizados num contexto informal, sendo 
muita utilizada entre os jovens. São palavras ou frases não-convencionais segundo a 
norma culta, as quais são utilizadas em algumas regiões e culturas, por determinados 
grupos e/ou classes sociais. Por exemplo, no grupo da escola, do trabalho, dentre outros. 
 
Fonte de: www.rederiohoteis.com 
 
Luft (2005, p.410) esclarece que a ausência de uniformidade na sociedade e, 
consequentemente, a existência de divisões em seu interior com interesses, princípios e 
valores específicos tem como resultado a criação de uma linguagem própria que oferece 
identidade ao grupo: 
 A gíria se dá quando um grupo utiliza palavras do português dando-lhes novos 
sentidos, criando um léxico especial, uma ‘língua’ entendida somente pelos iniciados. A 
gíria está associada a grupos que necessitam de uma identidade, como grupos de jovens, 
marginais, segmentos sociais de contestação. 
 
41 
 
 A gíria é, portanto, uma variante linguística da língua. Não existe isoladamente, 
mas necessita do inter-relacionamento entre diversos fatores, como, por exemplo: social 
(indivíduo); histórico (tempo); regional (espaço); econômico, etc. 
Definimos gíria como variação da linguagem inserida em um processo gradual de 
mudança. Numa primeira fase, a gíria advém de grupos sociais restritos, recebendo a 
denominação de gírias de grupo. Podemos citar: 
1. Prisões: cavalo doido, mano, xadrez, xilindró (como os escravos brasileiros 
chamavam seus esconderijos no mato). 
2. Escolas: cdf, patavina (na idade média os alunos ridicularizavam o ensino de 
latim, cita-se o autor Titus Livius Patavinus) 
3. Hippies: paz e amor; curtição. 
4. Igreja: arco da velha (expressão do evangelho, simbolizando a paz, a aliança 
entre Deus e o homem). 
 Esses são pequenos exemplos de gírias que fazem parte de alguns grupos de 
nossa sociedade formuladores de novos vocábulos, de acordo com seu meio e vivência. 
Wagner (2008, p.62) cita algumas gírias incorporadas pela sociedade atual, cuja origem 
foi proveniente dos hippies e toxicômanos: 
 (...) palavras que originalmente caracterizam um grupo social passam a ser 
usadas por todos, mesmo por pessoas que não aceitam o grupo do qual se originaram. 
Há palavras ou expressões que tiveram sua origem no linguajar dos hippies e dos 
toxicômanos e que hoje todos utilizam: barato, paz e amor, bicho, sacou, curtiu, curtição, 
etc. 
 Percebemos que esses vocábulos restritos inicialmente a uma pequena parcela 
da sociedade, com o tempo, adquirem amplitude maior e, tão logo, migram para a 
linguagem comum da sociedade em geral, tornando-se gíria. Nesta segunda fase, a gíria 
recebe a denominação de gíria comum. Para Preti (2004, p.66) a gíria comum é “o 
momento em que, pelo contato dos grupos restritos com a sociedade, essa linguagem se 
divulga, torna-se conhecida, passa a fazer parte do vocabulário popular”, ou seja, é o 
momento que o vocábulo de um grupo singular se dissemina a todos os demais, 
consequentemente, sua identificação inicial não tem mais efeito. 
 
42 
 
 A gíria comum permite que a mensagem transmitida não seja comprometida em 
seu entendimento entre os indivíduos com diversidade socioeconômica e cultural 
envolvidos no ato comunicativo, ou seja, todos os receptores passam a compreender a(s) 
mensagem(ns) que está sendo veiculada pelo(s) emissor(es). Nesta perspectiva, a gíria 
não desvirtua a função plena da linguagem que consiste na comunicação, interação e 
vivência humana. É claro que a incorporação da gíria na linguagem de toda uma 
sociedade só se torna viável devido as transformações e mobilidades dos costumes e 
práticas sociais, as quais permitem uma abertura às variações linguísticas. Se 
estivéssemos em uma sociedade fechada, estratificada e restrita a mudanças seria 
inviável a difusão, incorporação e aceitação da gíria. 
Fonte de: www.cursopapo.wordpress.com 
5.1 Perspectiva social: surgimento e crescimento 
 
 A gíria não é fenômeno recente, sempre se fez presente na língua de todas as 
épocas e povos, exercendo a representação de um determinado grupo. Podemos dizer 
que seu surgimento data a partir da abertura democrática da sociedademoderna que 
fortaleceu os meios de expressão popular com sua linguagem e comunicação natural. 
De acordo com Preti (2004, p.70), a relação direta com a sociedade, com a representação 
 
43 
 
de nossos sentimentos e criticidade do mundo são fatores essenciais para o surgimento 
e crescimento da gíria: 
 Vocabulário ágil, não raro agressivo, a gíria passou a refletir, na sua efemeridade, 
na alteração constante de seus significados, a própria instabilidade e dinâmica do mundo 
contemporâneo, marcado pela mudança veloz de seus valores, pela competição e 
agressividade. 
 Notamos que não é fácil especificar o surgimento da gíria, principalmente porque 
suas primeiras manifestações eram tipicamente orais. Este fato acarreta dificuldade na 
comprovação do uso das variações linguísticas pelos indivíduos. Neste sentido, só nos 
torna oportuno especificar o surgimento da gíria a partir de sua manifestação escrita. 
Preti (2004, p.71) menciona que na França, na Idade Média, os primeiros vocábulos gírios 
documentados remetem à linguagem dos mascates (comerciantes ambulantes ou 
corporações criminosas depois da Guerra dos Cem Anos). 
Na Itália por volta do século XV e na Espanha no século XVI datam os primeiros 
registros gírios. No século XVI, em Portugal, muitas obras de Gil Vicente demonstram o 
uso de vocábulos populares ligados à profissão. Segundo Luft (2005, p.310), os escritos 
e peças de Gil Vicente “apresentam normalmente um tom moralizante, de raiz católica, e 
são muitas vezes dominadas pela ironia e pelo humor”, além disso, ostenta “os mais 
diversos linguajares da sociedade”. A origem da gíria no Brasil teve início no fim do 
século XIX, mais precisamente no Rio de Janeiro, capital do Brasil, emanada pelo teatro 
realista e pela prosa dos romancistas do Naturalismo. Neste momento, Aluísio Azevedo 
teve grande destaque na literatura brasileira com seus romances naturalistas. Com 
eminência citamos “O cortiço” publicado em 1890. O autor de tendência naturalista 
focaliza, através de “O Cortiço”, a vida cotidiana em uma habitação coletiva da cidade do 
Rio de Janeiro, meio onde se proliferam vícios e misérias, crimes, roubos e imoralidades. 
De acordo com Maia (1990, p.201), a obra apresenta “forte conteúdo social, nos quais 
denuncia o preconceito de cor e de classe, a ambição do enriquecimento fácil e os 
problemas morais e sociais de seu tempo”. Torna-se enriquecedor a transcrição de um 
trecho de “O Cortiço” (p. 85-88): 
Foi um forrobodó valente. A Rita Baiana essa noite estava veia para a coisa; 
estava inspirada! divina! Nunca dançara com tanta graça e tamanha lubricidade! 
 
44 
 
Também contou. E cada verso que vinha de sua boca de mulata era um arrulhar 
choroso de pomba no cio. E o Firmo, bêbado de volúpia, enroscava-se todo ao 
violão; e o violão e ele gemiam com o mesmo gosto, grunhindo, ganindo, miando, 
com todas as vozes de bichos sensuais, num desespero de luxúria que penetrava 
até ao tutano como línguas finíssimas de cobra. Jerônimo não pôde conter-se: 
no momento em que a baiana, ofegante de cansaço, caiu exausta, assentando-
se ao lado dele, o português segredou-lhe com a voz estrangulada de paixão: - 
Meu bem! Se você quiser estar comigo, dou uma perna ao demo! O mulato não 
ouviu, mas notou o cochicho e ficou de má cara, a rondar disfarçadamente o rival 
(...) Mas lá pelo meio do pagode, a baiana caíra na imprudência de derrear-se 
toda sobre o português e soprar-lhe um segredo, requebrando os olhos. Firmo, 
de um salto, aprumou-se então defronte dele, medindo-o de alto a baixo com um 
olhar provocador e atrevido. Jerônimo, também posto de pé, respondeu altivo 
com um gesto igual. Os instrumentos calaram-se logo. Fez-se um profundo 
silêncio. Ninguém se mexeu do lugar em que estava. E, no meio da grande roda, 
iluminados amplamente pelo capitoso luar de abril, os dois homens, perfilados 
defronte um do outro, olhavam-se em desafio (...) Piedade erguera-se para 
arredar o seu homem dali. O cavouqueiro afastou-a com um empurrão, sem tirar 
a vista de cima do mulato. - Deixa-me ver o que quer de mim este cabra!...rosnou 
ele. (...) 
Fonte de: www.guiadoestudante.abril.com.br 
Lima Barreto, em 1923, redigiu uma sátira social e política – “Os Bruzundangas”. 
Na verdade, esse título, cujo significado era “confusões” e “atrapalhadas”, representava 
uma gíria frequentemente utilizada em textos escritos do jornalismo popular e também 
muito expressiva na fala e “na linguagem dos boêmios, da gente de teatro, dos sambistas, 
dos moradores dos morros e favelas, da polícia, dos marginais, e até do povo em geral” 
 
45 
 
(Preti, 2004, p. 75). A partir dos anos trinta a gíria se destacou com a música popular 
brasileira, através da figura do sambista do morro. Com ênfase na linguagem dos morros 
que se disseminava pela cidade, Noel Rosa, artista da música popular brasileira, compôs 
“Não tem tradução” em oposição ao português de Portugal, em 1923: 
 O cinema falado é o grande culpado da transformação Dessa gente que sente 
que um barracão prende mais que o xadrez Lá no morro, seu eu fizer uma falseta 
A Risoleta desiste logo do francês e do Inglês A gíria que o nosso morro criou 
Bem cedo a cidade aceitou e usou Mais tarde o malandro deixou de sambar, 
dando pinote Na gafieira dançar o Fox-Trote Essa gente hoje em dia que tem a 
mania da exibição Não entende que o samba não tem tradução no idioma francês 
Tudo aquilo que o malandro pronuncia Com voz macia é brasileiro, já passou de 
português Amor lá no morro é amor pra chuchu As rimas do samba não são I love 
you E esse negócio de alô, alô boy e alô Johnny Só pode ser conversa de 
telefone. 
 
 É explícito nesta composição de Noel Rosa a utilização de diversas gírias, como 
por exemplo: “xadrez” (prisão), “pinote” (sair de forma rápida), “pra chuchu” (bastante, 
muito). Mas o grande destaque que podemos retirar desta produção é sua alusão à 
existência, uso e vulgarização da gíria pela população que não demonstra nenhuma 
resistência “a gíria que o nosso morro criou/ bem cedo a cidade aceitou e usou” (linhas 
5-6). Rosa esclarece que os grupos se tornam aptos à criação de gírias pois a sua 
“maciez” no ato de falar, o desprendimento e ausência de formalidade se constituem 
elementos propícios para uma fluidez melhor do ato comunicativo. Por fim, também 
podemos citar o fato do samba e da gíria não terem “tradução”, ou seja, seu valor, sentido 
e entendimento se fazem exclusivamente em sua origem. 
Já desde o início do século XX renomados prosadores incorporavam com louvor 
as variações linguísticas em suas obras. Mencionamos Graciliano Ramos, José Lins do 
Rego e Jorge Amado, na “Geração de 45”. Na década de 60 citamos o cronista Fernando 
Sabino. Todos se destacaram no emprego da sintaxe falada, dos regionalismos e, 
sobremaneira, das gírias. Após a década de sessenta a propagação da gíria pela 
população foi bem notável. Não só a literatura e a música, mas também o cinema e o 
teatro, o futebol e os meios de comunicação em geral passaram a desenvolver e 
vulgarizar novos vocábulos. 
 
46 
 
Concomitante surge a Sociolinguística, nova corrente linguística, que propiciou 
entendimento às variações da nossa língua. Sua contribuição ao fenômeno gírio foi 
importante ao minimizar os velhos paradigmas existentes na sociedade que denegriam 
qualquer vocábulo que não fizesse parte da linguagem formalizada. A partir de então, 
as gírias só vieram a desempenhar seu crescimento em nossa sociedade. 
Vejamos, assim, que a Sociolinguística somado ao desempenho de ilustres 
autores já citados, foram elementos contributivos à aceitação das variações linguísticas 
a partir do seu entendimento e afirmação pela ciência e do seu uso em grandes obras 
literárias brasileira. Segundo Preti (2004, p. 120) “na literatura há uma tendência para 
aceitar melhor a contribuição da língua oral, no sentido de caracterizar, dar um tom maisrealista às vozes das personagens e do narrador de primeira pessoa”, ou seja, a literatura 
exerce contribuição à sociolinguística à medida que valoriza a espontaneidade e o 
dinamismo da língua fala em face da situação interacional. 
6 NORMA ORAL, NORMA ESCRITA E FATORES DE UNIFICAÇÃO LINGUÍSTICA 
6.1 A globalização e os fatores de unificação da Língua Portuguesa 
A globalização constitui um processo sócio-político-econômico, que tende a 
homogeneizar a cultura e linguística. A língua, pode ser comprovadamente heterogênea, 
não deve estar sujeita à homogeneização. 
A diversidade linguística, constituída de diferentes falas, e a uniformidade, 
caracterizada como aquela que disciplina e nivela linguisticamente, constituem a 
dinamicidade da língua. Os indivíduos, inconscientemente, a incorporam na linguagem 
individual e acabam por atualizá-la coletivamente. Não existe um equilíbrio nessa ação, 
pois observa-se que no léxico e na fonologia existe uma diversidade maior. Já na 
morfossintaxe essa transformação é menor, pois ela tende a manter seu perfil tradicional. 
 
 
47 
 
Fonte de: www.super.abril.com.br 
No Brasil as variações quanto ao léxico são perceptíveis, uma vez que um falante 
da região nordeste se diferencia de um falante da região sul, porém, quanto à 
morfossintaxe, é possível observar uma certa unidade. A linguagem falada em 
determinadas regiões, principalmente os falantes da zona urbana, contribuem para a 
unificação da fala regional, uma vez que se fazem entender ao longo de todo o território 
brasileiro (BARCELLOS, 2016). 
É importante salientar que uma pessoa adota determinados comportamentos 
linguísticos, oriundos da sua comunidade, e acabam por se tornar convenções, originam 
normas, as quais denominamos processo de uniformização. 
 
48 
 
 
 
 
 
49 
 
6.2 Existe uma norma oral? Análise sincrodiacrônica da língua falada 
A princípio, não. Se por norma você entende o conjunto de regras que orienta a 
utilização correta dos signos linguísticos que compõem determinada língua, não existe 
uma norma oral. Por outro lado, quando uma expressão é utilizada, com frequência, na 
fala de determinada comunidade linguística, considera-se que essa expressão integra a 
norma oral dessa comunidade (BARCELLOS, 2016). 
Da mesma forma, se uma expressão é utilizada, mas não com tanta frequência 
pelos falantes da comunidade linguística, é considerada uma expressão de uso. Para 
determinar a frequência do uso de uma expressão, considera-se um contingente de 50% 
ou mais dos falantes da amostra de determinada comunidade linguística. Assim, se 
menos de 50% dos falantes analisados emprega a expressão em questão, ela se torna 
de uso. Ao passo que, se 50% ou mais dos falantes utiliza tal expressão em sua fala 
espontânea, ela passa a ser considerada norma oral de determinada comunidade 
linguística. 
O fenômeno da normatização da língua pode ser analisado sob várias 
perspectivas. A perspectiva linguística que incluiu na dicotomia língua/fala de Saussure 
o conceito de norma, a caracteriza como um sistema de imposições socioculturais que 
varia conforme a comunidade de fala. Nessa perspectiva, a norma corresponde à tradição 
linguística a que todos os falantes estão submetidos e obedecem naturalmente. 
Na perspectiva pragmática, temos a norma objetiva, que constitui a língua falada 
cotidianamente nos grupos sociais; a norma prescritiva, inserida na escola, que orienta o 
uso de regras extraídas da língua literária e, por sua vez, tem por base a escrita; e a 
norma subjetiva, que representa a maneira ideal de fala almejada pelos falantes. 
Na perspectiva socioantropológica, existe a norma explícita, retratada nas 
gramáticas e nos dicionários e aplicada nas escolas, e a norma implícita, integrada por 
cada grupo social, cujas mudanças acompanham as sofridas pelo grupo social. 
Em outras palavras, pode-se sintetizar o conceito de norma oral como “o resultado 
do uso linguístico de um dado segmento social e esse uso, por tradicional, é preservado 
e varia de acordo com as possibilidades de realização que o usuário faz da língua. Então, 
um falante que tem conhecimento da prescrição linguística, naturalmente, alinhará sua 
 
50 
 
linguagem o quanto possível a ela, a depender da situação de comunicação” (LEITE, 
2006, 9.181). 
Portanto, para perceber uma norma oral, é preciso observar a fala da comunidade 
linguística considerando um período específico, ou seja, fazer uma análise sincrônica da 
fala espontânea dos falantes. Por outro lado, a análise diacrônica das falas espontâneas 
de determinadas comunidades linguísticas, permite-nos perceber as diversas normas 
orais instauradas na comunidade através dos tempos. 
6.3 Análise diacrônica da norma escrita 
Para começar, você vai, primeiro, relembrar em que consiste uma análise 
diacrônica. O termo diacronia refere-se a um estudo de um processo através do tempo. 
Portanto, uma análise diacrônica da norma escrita da Língua Portuguesa se dispõe a 
traçar sua evolução temporal. O processo da diacronia constitui uma excelente 
metodologia de análise da língua escrita, pois nos permite estudar registros antigos que 
representam as normas da época nas quais foram escritos. 
A análise de documentos do século XVI ao XIX, comprova que a língua portuguesa 
sofreu modificações periodizadas, marcadas por ciclos sucessivos, que diferem entre si, 
tanto por fatores internos, como por fatores externos. Os textos permitem identificar 
variações linguísticas, que constituem fatores internos à língua, bem como perceber as 
mudanças de contexto histórico da época na qual o texto foi produzido, esses fatores são 
considerados externos. 
A língua portuguesa, que aparece nos documentos e textos até o final da Idade 
Média, representa o que se costuma chamar de português arcaico. 
 
51 
 
 
 
A nomenclatura de português arcaico, atribuída à língua do período compreendido 
entre o século XIII e o século XVI, foi estabelecida por Leite de Vasconcelos. Outros 
autores, entretanto, estipulam outras nomenclaturas e subdividem o período, como você 
pode observar na Tabela abaixo. 
 
52 
 
 
Datar o início do período arcaico não constitui tarefa árdua, pois foi nos primórdios 
do sec. XIII que surgiram os documentos escritos. Entretanto, é difícil precisar o término 
desse período. Alguns autores apresentam como marco final do período arcaico o final 
do séc. XV, quando surge o primeiro livro impresso. Outros, atribuem o final do período 
ao surgimento da primeira gramática da língua portuguesa, em meados do século XVI. 
 
53 
 
Longe ainda de ser parecido com o português contemporâneo, o período entre o 
séc. XVI e o final do século XVIII, demarca o português clássico. 
 
 
Segundo (BARCELLOS, 2016), somente nos séculos XIX, a língua portuguesa se 
aproxima do português de Portugal dos dias atuais. Essa frase é reconhecida como 
português europeu moderno. Já no final do século XX, tem início a discussão sobre uma 
nova variação da língua: o português brasileiro. 
Os estudos que têm por base a teoria gerativista, proposta por Noam Chomsky, 
defendem a ideia da demarcação dos períodos com base na gramática. Para eles, o que 
determina o surgimento de uma nova variação da língua, é o surgimento de uma 
 
54 
 
padronização diferente da anterior. Apenas quando a norma escrita, considerada o 
padrão da língua, reconhece as mudanças linguísticas, ao incluí-las em sua gramática, a 
língua efetivamente sofre uma variação. Seguindo essa corrente, as pesquisadoras 
Galves, Namiute e Sousa, afirmam “Consideramos que os primeiros documentos escritos 
do português correspondem a gramática do Português Arcaico. Mas o primeiro ponto de 
inflexão de nossa periodização estaria situado já na virada entre os séculos XIV e XV, e 
corresponderia a emergência de uma gramática a que denominamos o Português Médio. 
A segunda inflexão se situa no início do séculoXVIII, e corresponderia a 
emergência da gramática do Português Europeu Moderno (isto, no que respeita a língua 
falada na Europa; paralelamente, além disso, uma outra gramática há de ser reconhecida 
– o Português Brasileiro [...]). Consideramos, portanto, três fases ou períodos principais 
para a língua em Portugal: o Português Arcaico, o Português Médio, e o Português 
Europeu Moderno. [...] Essas diferenças podem ser explicadas, em boa medida, pelo fato 
de que na periodização que propomos, importa o momento do surgimento de novas 
forma, enquanto na periodização tradicional importa o momento do desaparecimento das 
formas antigas” (GALVES et al., 2006, p.4). 
Na verdade, as duas correntes, tradicional ou gerativista, determinam suas 
periodizações com base em eventos que configuram um período de transição entre as 
gramáticas, conhecido por competição de gramáticas. Essa transição caracteriza-se por 
ser um período no qual “tendo surgido uma inovação linguística (em geral, pela fonte da 
língua oral), ela tardará a se incorporar na escrita padrão” (GALVES et al., 2006, p.16). 
A datação dos períodos com base histórica, observa o momento em que a língua escrita 
sofre a mudança, ou seja, o desaparecimento das formas antigas de se escrever. 
Enquanto a datação, com base na gramática, parte do momento em que a oralidade 
começa a sofrer alterações, ou seja, do surgimento das novas formas da fala, preocupa-
se também com “as condições de aquisição que levaram à mudança” (GALVES et al., 
2006, p.17). 
 
 
55 
 
7 CONCEITOS DE SIGNO EM SAUSSURE E PEIRCE 
Os estudos sobre os signos chegaram ao final do século XIX organizados em duas 
vertentes, transformadas em Ciências. Sem ter conhecimento um do outro, Saussure 
estruturou as bases de uma Ciência da Língua, a Semiologia, tendo o signo como 
unidade mínima, enquanto Peirce desenvolveu a Semiótica, considerando o signo a 
representação de alguma outra coisa, a partir da qual construímos argumentos lógicos, 
ou seja, pensamos. 
 
 
Fonte de: www.docplayer.com.br 
 
Serão apresentados os conceitos de signo diádico e suas características, em 
Saussure, e triádico e passível de classificação, em Peirce. Os tipos característicos de 
signos em Saussure são arbitrariedade, linearidade do significante, imutabilidade e 
mutabilidade. Peirce classifica os signos, apontando suas relações em tipologias 
triádicas. Entre elas, considera a mais importante a segunda triconomia dos signos, 
ícone, índice e símbolos (BARCELLOS, 2016). 
7.1 Conceito de signo: Saussure e Peirce 
O modelo semiológico de Saussure foi elaborado com a finalidade de analisar a 
natureza no signo linguístico. O signo é visto como unidade básica da linguagem, 
considerando que toda a língua seria um sistema de signos. A relação do signo linguístico 
 
56 
 
para Saussure (2006) é diádica, pois é uma entidade psíquica de “duas faces”; ou seja, 
a relação entre um significado (conceito) e um significante (imagem acústica). O 
significado é o conceito, a ideia do significante. O significante não é o som material, físico, 
mas a representação mental desse som. 
A Semiótica de Peirce (2010), por seu lado, está ligada aos seus estudos de 
Lógica, entendendo o signo como o correlato a partir do qual se desencadeia o processo 
de semiose. Na visão de Peirce (2010), portanto, o signo é qualquer coisa que representa 
alguma coisa que é representada, ou seja, o representamen é a coisa que representa, o 
objeto é a coisa representada e o interpretante é um terceiro que faz a mediação do 
sentido entre o representamen e o objeto. Essa definição de interpretante não existe na 
concepção de signo em Saussure e é o que caracteriza a relação triádica em Peirce. 
 
 
Fonte de: www.amusearte.hypotheses.org 
 
Na Figura abaixo, indica-se o diagrama do conceito de signo em Saussure (2006) 
e em Peirce (2010). 
 
 
57 
 
 
Para Saussure (2006), o signo é uma entidade entre a representação mental do 
som (significante) e a ideia (significado). Nesse modelo, não existe nada fora do sistema 
de significado e significante, ou seja, fora da Linguagem. Compreende que tanto o 
significante quanto o significado são de ordem linguística e se unem em nosso cérebro 
por associação, independentemente de qualquer objeto externo, porque não há objeto 
de referência. O pensamento antes da língua é uma massa amorfa. 
Em Peirce (2010), o signo é global e não segmentado porque evoca referentes e 
suscita interpretações. É justamente por isso que na visão de Peirce o signo é triádico e 
não diádico, como o de Saussure. Se o interpretante não existisse nesse modelo, o 
representamen não apareceria como representação do objeto. Para Peirce (2010), o 
signo só é signo por ser interpretado como tal. O signo, dessa maneira, representa um 
objeto e todo objeto pode vir a ser um signo. 
Essa correlação entre os três elementos é dinâmica porque o representamen 
representa o objeto e o interpretante faz com que ele seja percebido, e, 
concomitantemente, o que é interpretado é a representação do objeto e pode se tornar 
um novo representamen reiniciando o processo. Esse movimento é denominado semiose 
ilimitada. 
No diagrama mostrado na Figura abaixo, é possível observar essa correlação: 
 
58 
 
 
 
Nessa perspectiva, é o objeto que gera a linguagem, porque não há nada no 
interior da mente do ser humano que não tenha passado pelos sentidos (ver, ouvir, 
cheirar, sentir ou tocar). Em Saussure (2006), é importante reforçar, nada existe fora da 
linguagem. 
7.2 Tipos característicos de signo: 
Saussure e Peirce Saussure (2006) trabalha na esfera da linguagem, ou seja, o 
signo se constrói numa relação diádica entre seu significante e significado. Nesse 
processo de produção cultural, os signos adquirem características e não classificação. 
Peirce (2010), ao contrário, entende o signo como unidade da Lógica, mediada 
pelos sentidos. Com isso, insere o referente no processo. Em Peirce (2010), todo o signo 
representa um objeto através do processo de semiose, tendo a mediação de um 
interpretante. Isso torna possível classificar, ou tipificar, o signo. As matrizes dos 
modelos, Saussure na Linguística e Peirce na Lógica, promovem essa diferença que é 
fundamental para a compreensão da Semiologia e da Semiótica. 
 
 
 
59 
 
7.3 Características do signo em Saussure 
7.3.1 Arbitrariedade 
 
O signo linguístico é arbitrário porque entre o significante (imagem acústica) e o 
significado (conceito) não existe uma relação lógica, racional, motivada ou natural. Para 
Saussure (2006, p. 82), “[...] todo meio de expressão aceito numa sociedade repousa em 
princípio num hábito coletivo, ou, o que vem a dar na mesma, na convenção.”. A imagem 
acústica “cachorro” não tem relação direta com o conceito cachorro, só está relacionado 
porque a língua é uma convenção. Isso porque cachorro poderia ser denominado 
linguisticamente por “choco” ou “carrocho” em sua formulação, ou seja, ser definido com 
outro nome. 
 
7.3.2 Linearidade do significante 
 
O significante (imagem acústica) é de natureza auditiva e considerado de caráter 
linear. Esse caráter acontece porque a língua é processada no tempo, o fonema é 
pronunciado um de cada vez, a fim de efetuá-lo, formando uma cadeia lógica de signos 
de maneira sucessiva. Saussure (2006, p. 84) entende que “Esse caráter aparece 
imediatamente quando representamos pela escrita e substituímos a sucessão do tempo 
pela linha espacial dos signos gráficos.”. Por exemplo: O cachorro é o melhor amigo do 
homem. Ao ler ou falar a palavra “cachorro”, cada letra ocupa um lugar: “c-a-c-h-o-r-r-o”. 
E assim também ocorre com a frase, primeiro se pronuncia cada palavra sucessivamente, 
uma após a outra, onde cada palavra ocupa um lugar. É impossível pensar e falar duas 
palavras ao mesmo tempo. Todo mecanismo da língua para ter algum sentido precisa 
seguir esse princípio da linearidade.60 
 
 
Fonte de: www.docplayer.com.br 
7.3.3 Imutabilidade 
 
O aspecto de imutabilidade da língua parte de uma convenção arbitrária. Uma vez 
constituída e aceita como regra, serve para todos. O tempo e a tradição estão 
relacionados com a preservação da convenção da língua, pois esta é um produto herdado 
de gerações anteriores já constituída. Saussure (2006, p. 88) escreve que “Dizemos 
homem e cachorro porque antes de nós se disse homem e cachorro.”. Devido a essa 
circunstância, se exclui qualquer modificação linguística de maneira geral ou repentina; 
porque para constituir uma língua é necessária uma infinidade de signos; além da língua 
ser um sistema complexo, pois só se pode compreendê-la pela reflexão. Mesmo os que 
fazem uso no cotidiano a ignoram. Há, também, a resistência inércia coletiva a toda 
novidade, ou alteração, porque a língua está relacionada com a herança de uma época 
precedente, devido à solidariedade com o passado e com as convenções linguísticas 
impostas. 
O significante em relação ao significado (a ideia) parece ser escolhido, mas em 
relação à comunidade linguística que o utiliza não é porque é imposto. Simplesmente se 
faz uso das convenções linguísticas com base na tradição. 
 
7.3.4 Mutabilidade 
 
O tempo tem a função de conservar a língua, mas também de modificá-la. Muitas 
vezes a língua deixa de ser uma convenção de quem a criou e passa a pertencer a outra 
 
61 
 
massa social. Não são os indivíduos que modificam a língua porque ela é intangível. Ela 
se modifica devido à dinâmica da ação social. O princípio de alteração ocorre na língua 
porque há uma continuidade. A alteração assume diversas formas que podem funcionar 
isoladas, ou combinadas, levando a um deslocamento entre o significado e o significante. 
Exemplo: Vossa Mercê > você. 
Para Saussure (2006, p. 91), “[...] o tempo altera todas as coisas [...]”, e nem a 
língua tem como fugir a essa regra. 
7.4 Classificação dos signos em Peirce 
A classificação de Peirce (2010) baseia-se na natureza da relação entre os 
correlatos sígnicos. São três triconomias fundamentais que estabelecem a relação entre 
o signo que representa, o objeto representado e o interpretante. Como vimos, essas 
relações apresentam ainda caracteres de qualidade, existência e lei, constituindo três 
triconomias igualmente triádicas. Peirce (2010) considera a segunda triconomia, relação 
entre o signo e o objeto, a mais determinante por mediar nossa relação com o mundo. 
Os signos, dessa maneira, adquirem caracteres icônicos, indiciais e simbólicos. 
 
7.4.1 Signos icônicos 
 
Os ícones são os signos mais fáceis de serem reconhecidos porque guardam uma 
relação de semelhança, ou não, com o que representam. Nesse último caso, mantêm 
relação pelo caráter de qualidade. São de caráter de aproximação, no sentido de “isso 
parece com, ou lembra, aquilo”. Peirce (2010) considera os hieróglifos egípcios um 
exemplo, considerando-os um tipo de ícone não lógico por ser ideográfico. A fórmula 
algébrica pode igualmente ser referida como ícone, devido às regras de comutação, 
associação e distribuição de símbolos; ou seja, representam um conhecimento 
matemático. Também é um ícone no momento que se representa, mas os signos 
algébricos (os números) que formam essa equação não são ícones por serem signos 
convencionais. Analise a Figura abaixo. 
 
 
62 
 
 
 
Pela semelhança com o que se pretende representar, a fotografia, a caricatura, ou 
o desenho que algum artista fez de uma estátua, de uma construção arquitetônica, a 
partir de sua contemplação (PEIRCE, 2010), constitui igualmente um ícone. Observe a 
Figura a seguir. 
 
 
 
63 
 
7.4.2 Signos indiciais 
 
Os indiciais são os primeiros signos utilizados pelo ser humano. Depende de uma 
associação de contiguidade com a representação. Eles são associativos, sempre vêm 
vinculados ou conectados àquilo que representam. De maneira que, quando se percebe, 
lembra-se imediatamente daquilo através da experiência adquirida. No entanto, não há 
associação por semelhança. Para Peirce (2010, p. 67), “Tudo o que nos surpreende é 
índice, na medida em se assinala a junção entre duas porções de experiência.”. Pode-se 
exemplificar com um violento relâmpago que indica que algo aconteceu, embora não 
sabemos o quê. Isso está relacionado com outra experiência, a chuva. 
Existem alguns índices que são instruções mais ou menos detalhadas, indicando 
o que o indivíduo precisa fazer, ocorrendo uma relação de experiência direta com a coisa 
significada. Peirce (2010) apresenta um exemplo de índice a partir de uma instrução: 
 
64 
 
“Guarda Costeira divulga ‘aviso aos navegantes’, dando a latitude e longitude, quatro ou 
cinco posições de objetos importantes, etc… e dizendo há um rochedo, ou um banco de 
areia, ou uma boia, ou barco-farol”. A mensagem nesse caso indica lugar de perigo. 
Também, temos como palavras indiciais as preposições e as frases preposicionais, como 
“à direita” ou “à esquerda”. Veja a Figura abaixo. 
7.5 Signos simbólicos 
Os signos simbólicos são de caráter convencional, baseados em acordos e leis. 
São signos mais complexos porque não guardam relação de semelhança ou proximidade 
com a coisa representada. Como apresenta Peirce (2010), o símbolo é aplicável a 
qualquer coisa que possa transmitir a ideia relacionada à palavra. Um exemplo possível 
é a palavra “pássaro” que, quando associada a uma representação imagética, pode 
significar matrimônio ou paz. O signo, nesse caso, estabelece uma relação simbólica e 
só existe por causa dessa relação estabelecida por convenção com o seu objeto, ou seja, 
a ideia da “mente-que-usa-o-símbolo” (PEIRCE, 2010). 
 
 
 
65 
 
Os conceitos de signo de Saussure (2006) e Peirce (2010) se aproximam apenas 
em relação à comunicação, que se fundamenta na aplicabilidade do signo. No processo 
de constituição, eles se diferenciam em várias premissas. O modelo saussuriano do signo 
linguístico é diádica e linguística, enquanto em Peirce o modelo de signo é lógico e 
triádico. 
O campo de análise de Saussure (2006) é a linguagem, especificamente a língua, 
a qual considera subjetiva, abstrata e de ordem psíquica. Já em Peirce (2010), o campo 
de análise é a lógica e a relação com a natureza e a cultura. No signo peirciano, a 
subjetividade ocorre de maneira consensual, a partir das experiências que passam pelos 
sentidos. O interpretante, responsável por mediar a relação entre o representamen e o 
objeto, configurando a relação triádica, é social e constitui-se em um pensamento 
subjetivo. 
Como os estudos de Saussure (2006) realçam a esfera da linguagem, os signos 
apresentam características que são a arbitrariedade, linearidade, imutabilidade e 
mutabilidade. Já em Peirce (2010), os estudos são no campo da lógica, tipificando os 
signos. Esse pressuposto levou a uma classificação tricotômica com relações igualmente 
triádicas. Considera os signos mais relevantes, os relacionados à segunda tricotomia do 
signo, ou seja, os que denominam a relação com o objeto: ícone, índice e símbolo. 
8 SEMÂNTICA 
Em geral, semântica é definida como o estudo dos significados das línguas 
(CANÇADO, 2008). Com isso, mais especificamente, diremos que essa é a área da 
Linguística que se ocupa dos processos lógicos, cognitivos e discursivos responsáveis 
pela produção e pela compreensão dos significados de palavras, frases e enunciados 
que se manifestam nas situações de uso da língua. 
Dessa forma, para entender de que forma se estabelecem os significados de 
palavras e frases (tanto para quem as produz quanto para quem as interpreta), a 
semântica investiga, dentre outras coisas: 
 
 
 
66 
 
• As propriedades formais que compõem os conceitos; 
• Os conhecimentos dos falantes a respeito daquilo que falam e ouvem (ou 
escrevem e leem); 
• As pistas contextuais que orientam os sentidos de palavras e frases. 
 
Assim, osestudos em semântica devem ser capazes de explicar, por exemplo, 
como é possível que produzamos uma metáfora como “Estou morrendo de fome” sem 
dar a entender que estamos realmente prestes a morrer, no sentido literal, e como é 
possível entendermos essa metáfora mesmo sabendo que ninguém, de fato, perderá a 
vida. 
Por conta da forma como os estudos em semântica entendem o seu objeto, isto é, 
o significado, podemos falar em duas concepções básicas dessa ciência (TAMBA-MECZ, 
2006). 
A primeira concepção de semântica, que chamaremos de semântica lexical, 
recebe esse nome porque se ocupa pontualmente dos significados das palavras, 
precisamente das unidades lexicais (LEWIS, 1993). Uma unidade lexical equivale a 
qualquer palavra (ou combinação de palavras) que constitua uma unidade de 
significação, ou seja, que esteja dotada de um significado elementar próprio. Alguns 
exemplos simples de unidades lexicais, em português, são as palavras “telefone”, “bonito” 
e “comprar”, e as palavras compostas “livro didático”, “mal-humorado” e “fim de semana”. 
A segunda concepção de semântica, da qual faz parte, por exemplo, a semântica 
frásica (ou frástica), refere-se a uma ciência mais abrangente, pois assume, como objeto 
de estudo, o significado de quaisquer unidades que compõem uma língua, quer sejam 
palavras, sintagmas, frases ou, até mesmo, as relações entre frases. De acordo com essa 
concepção, uma sentença como “Estou morrendo de fome” pode significar muito mais do 
que a simples soma dos significados das palavras que a compõem, pois contém, além 
das propriedades lexicais, aspectos pragmáticos e discursivos relativos ao contexto em 
que é enunciada. 
É importante observar, aliás, que, quando se trata da produção e da compreensão 
dos significados de palavras e sentenças, em situações concretas de uso da linguagem, 
a semântica acaba dialogando com outra área da linguística que é a pragmática. 
 
67 
 
Pragmática é a ciência que estuda, basicamente, o sentido e a função que os enunciados 
cumprem em contextos específicos de uso. São os aspectos pragmáticos, por exemplo, 
que nos ajudam a lidar, de uma maneira mais apropriada, com sentenças como “Você 
tem horas?”. 
Se levássemos em consideração somente as relações semânticas dessa sentença 
com os significados mais convencionais que ela pode denotar, teríamos, para essa 
pergunta, respostas muito literais, como “Sim, tenho” ou “Não, não tenho”. No entanto, 
em situações concretas de uso, devemos ser capazes de identificar, além das suas 
relações semânticas, as funções pragmáticas por trás dessa sentença, como a intenção 
do falantes que a enuncia. Nesse caso, uma resposta mais adequada para a pergunta 
“Você tem horas?” seria o horário que o relógio marca no momento em que ela é feita. 
 
8.1 A semântica no passado 
De acordo com um esquema proposto pela linguista francesa Iréne TambaMecz 
(2006), o percurso dos estudos dos significados das línguas pode ser dividido em três 
momentos principais, que são definidos, em princípio, pelos fenômenos semânticos que 
compõem o seu foco de investigação. Dentro desse esquema, os estudos são agrupados 
em: 
• Semântica histórica; 
• Semântica estruturalista; 
• Semântica em teorias linguísticas. 
 
68 
 
A semântica histórica teve início em 1883, ano em que foi publicado, na França, o 
artigo seminal “As leis intelectuais da linguagem” (BREAL, 1883), estendendo-se até as 
primeiras décadas do século XX. Pode ser caracterizada por duas preocupações básicas 
em relação aos significados. Por ser alinhada à tradição daquela época (investigar a 
história da gramática das línguas [ a sua filologia]), a primeira dessas preocupações está 
voltada aos estudos cronológicos dos fenômenos semânticos, que envolve a descrição e 
o registro da origem e da mudança dos significados das palavras ao longo do tempo. 
A outra preocupação é baseada, sobretudo, nas descobertas científicas feitas pelo 
naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882), nas décadas de 1850 a 1870, a respeito 
da evolução dos seres vivos. De fato, comparando as línguas a espécies de seres vivos 
(que surgem, evoluem e desaparecem em função das condições que a natureza impõe), 
a semântica histórica demonstra um grande interesse, também, em desvendar os 
princípios ou as leis gerais que determinariam as mudanças de significação nas línguas. 
Alguns representantes importantes da semântica histórica são o filólogo francês Michel 
Bréal (1832-1915) e o linguista e medievalista alemão Jost Trier (1894-1970). 
 
 
 
69 
 
O início da fase estruturalista da semântica pode ser atribuído à publicação da 
obra célebre Curso de linguística geral, do linguista e filósofo suíço Ferdinand de 
Saussure (1857-1913). Embora muitos estudiosos, na época do lançamento dessa obra, 
continuassem interessados em descrever a trajetória diacrônica (ou seja, evolutiva) dos 
significados das línguas, uma boa parte dos estudos em semântica, desenvolvidos a 
partir desse período, já começava a dar uma atenção maior à dimensão sincrônica (ou 
seja, estática) desse fenômeno, trazendo para dentro dessa ciência os postulados e 
princípios propostos por Saussure (2012). 
 De modo geral, as preocupações dos estudos identificados com a semântica 
estruturalista giram em torno das relações entre os vários significados, atrelados aos seus 
significantes (SAUSSURE, 2012), no interior das línguas como sistema fechados. Uma 
das investigações que esses estudos empreendem, por exemplo, é a de elencar tantas 
propriedades semânticas (em termos de traços distintivos) quantas sejam necessárias e 
suficientes para definir cada conceito e determinar o seu lugar dentro desse sistema. 
Outro tipo de investigação característico desse período é o que busca organizar as 
palavras das línguas em campos semânticos, com base nas relações que existem entre 
os seus significados. 
 Alguns estudiosos importantes da fase estruturalista da semântica são o linguista 
dinamarquês Louís Hjelmslev (1899-1965), o linguista alemão Leo Weisberger (1899-
1985) e o linguista inglês John Lyons (1932-). Essa fase perder o fôlego em meados da 
década de 1960, quando surgiram diversos estudos em semântica vinculados às 
diferentes teorias linguísticas, muitas hoje consolidadas como áreas autônomas. 
 
 
70 
 
A partir da década de 1960, os estudos em semântica começam a se desenvolver 
no âmbito de determinadas escolas linguísticas, identificando-se com os postulados e 
modelos pertinentes a elas, como o princípio da cooperação, do filósofo britânico H. Paul 
Grice (1913-1988), a gramática gerativa, introduzida pelo linguista norte-americana 
Eleanor Rosch (1938-). 
Embora as suas preocupações, no que se refere à investigação dos significados 
das línguas, estejam alinhadas aos propósitos e enfoques de cada escola, esses estudos 
ainda guardam alguns pontos em comum. Por exemplo, algo que passa caracterizar os 
estudos em semântica, de um modo geral, é o fato de que o seu objeto de investigação 
não mais se limita somente aos significados das palavras (ou das unidades lexicais), mas 
se estende aos significados que podem ser atribuídos a estruturas sintáticas completas. 
Em outras palavras, podemos dizer que os estudos dos significados, nesse 
período, representam uma semântica tanto das palavras quanto das frases (e, até 
mesmo, das relações entre frases). Outras preocupações mais pontuais giram em torno, 
ainda, de como as estruturas mentais dos falantes ou os aspectos contextuais, 
pertinentes aos eventos concretos de uso da linguagem, podem interferir na 
determinação dos significados de palavras e frases. É essa diversidade de teorias 
semânticas que, a propósito, constitui o cenário dos estudos dos significados das línguas 
atualmente. 
 
 
 
71 
 
8.2 A semântica no presente 
Atualmente, a semântica constitui uma ciência tão produtiva e relativamente 
abrangente dentro do campo dosestudos da linguagem que podemos falar de várias 
semânticas, ou, mais especificamente, de várias teorias semânticas. Essas teorias se 
reconhecem em função da maneira como abordam o seu objeto, isto é, os significados 
das línguas. Cançado (2008) sugere, nesse sentido, três grupos principais de teorias 
semânticas: 
• Teorias de abordagem referencial; 
• Teorias de abordagem mentalista; 
• Teorias de abordagem pragmática. 
 
O primeiro grupo, o das teorias semânticas de abordagem referencial, investiga os 
significados em função da relação entre, de um lado, as palavras e, de outro, as entidades 
do mundo que essas palavras devem representar. Uma teoria importante que podemos 
identificar como de abordagem referencial é a teoria denominada semântica formal, 
desenvolvida por estudiosos como o matemático e filósofo alemão F. Gottlob Frege 
(1848-1925) e o matemático e filósofo polonês Alfred Tarski (1901-1983). 
 
 
 
Duas noções fundamentais podem ser relacionadas a essa teoria: a de 
composicionalidade (FREGE, 2009), o significado das suas partes. Em outras palavras, 
diremos, então, que a nossa compreensão do significado de uma sentença qualquer 
 
72 
 
dependerá, essencialmente, dos significados das palavras e dos sintagmas que a 
compõem. 
Para a noção de condição de verdade (TARSKI, 2007), postula-se que, para 
determinar o significado de uma sentença, precisamos conhecer em que condições ela 
seria verdadeira. Por exemplo, podemos compreender o significado da sentença “Maria 
é esposa de Pedro” na medida em que identificamos as condições que devem existir para 
que ela seja verdadeira no mundo, ou seja, que uma pessoa chamada de Maria seja, de 
fato, casada com outra pessoa chamada de Pedro. 
O segundo grupo de teorias semânticas, as de abordagem mentalista, tratam dos 
significados a partir da relação das palavras e frases não com as respectivas entidades 
no mundo, mas com aquilo que conhecemos (ou, ainda, com as nossas representações 
mentais) a respeito dessas entidades. Duas teorias, pelo menos, fazem parte desse 
grupo: a semântica cognitiva e a semântica representacional. 
Desenvolvida inicialmente pelos linguistas norte-americanos George Lakoff (1941-
) e Ronald Langacker (1942-), a semântica cognitiva como veremos abaixo mais 
precisamente se coloca, dentro dos estudos da linguagem, como uma dissidência da 
gramática gerativa principalmente, Chomsky (1978). Um postulado fundamental dessa 
teoria semântica é o de que os significados da nossa língua se organizaram dentro da 
nossa mente, ou do nosso sistema conceptual, em termos de sistemas abstratos (ou 
esquemas) de elementos inter-relacionados. 
Dessa forma, o significado de uma palavra qualquer, como, por exemplo, 
“domingo”, é determinado, dentre outras coisas, pelo sistema abstrato de conceitos do 
qual ela faz parte (nesse caso, um esquema de “semana”) e que reúne outros elementos 
relacionados a ela (como “segunda-feira”, “terça-feira”, “quarta-feira”, etc). Para 
compreendermos o significado de “domingo”, portanto, precisamos conhecer todo o 
esquema em que esse conceito está inserido. 
Já a semântica representacional, proposta pelo linguista norte-americano Ray 
Jackendoff (1945-), pode ser caracterizada como uma contraparte da gramática gerativa 
nos estudos dos significados. Um dos postulados que aquela teoria semântica 
compartilha com essa teoria sintática, por exemplo, é o de que os diferentes aspectos da 
linguagem (ou seja, a sua fonologia, sintaxe, semântica, etc.) seriam processados por 
 
73 
 
módulos mentais autônomos. Ou seja, para a semântica representacional, as 
representações mentais que dão conta dos significados da nossa língua estariam 
localizadas em um compartimento próprio dentro da nossa mente. 
Por fim, temos o conjunto de teorias semânticas de abordagem pragmática, que 
estuda de que maneira se estabelecem os significados de palavras e frases nas situações 
concretas de uso da linguagem. Uma primeira representante desse grupo é a teoria dos 
atos de fala, cujos teóricos mais célebres são o filósofo inglês John Austin (1911-1960) e 
filósofo norte-americano John Searle (1932-). 
O que essa teoria argumenta, basicamente, é que os enunciados, além de um 
significado convencional, também desempenham uma função específica, socialmente 
convencionalizada, como informar, persuadir, prometer, etc. Os enunciados são 
considerados atos (de fala), nesse caso, porque possuem algum efeito sobre o arranjo 
contextual em que são proferidas. Considere, por exemplo, as sentenças “Você poderia 
fechar a janela, por favor?” e “Está muito frio aqui dentro”. Embora denotem significados 
diferentes, ambas podem propor que a mesma ação seja tomada: uma por meio de uma 
ordem direta; a outra por meio de uma insinuação. 
 
 
 
74 
 
Duas outras teorias importantes, que podemos classificar como de abordagem 
pragmática, são a semântica argumentativa, proposta pelo linguista francês Oswaldo 
Ducrot (1930-), e a análise do discurso, inaugurada pelo filósofo, também francês, Michel 
Pêcheux (1938-1983). A primeira delas orienta o estudo dos significados diante das 
intenções e pressuposições implicadas no uso das sentenças, não propriamente da sua 
estrutura sintática. Dessa forma, o que interessa para essa teoria é o fato de uma mesma 
sentença, como, por exemplo, “Estou sem dinheiro” pode ter mais de um significado, 
dependendo das intenções do falante. Por sua vez, a análise do discurso propõe o estudo 
dos significados em função das condições sociais, históricas, políticas, etc. da sua 
produção, ou seja, das relações de poder (ideológicas) entre os interlocutores. 
9 SEMÂNTICA COGNITIVA 
9.1 Linguística cognitiva e semântica cognitiva 
Antes de conhecer a distinção entre semântica cognitiva e linguística cognitiva, é 
importante que você esteja familiarizado com a trajetória teórica do gerativismo. Essa 
corrente pavimentou o que viria a ser uma nova vertente da linguística e da semântica. 
 
O ponto de partida: gerativismo 
 
Com a publicação da obra Estruturas Sintáticas, por volta de 1950, Noam 
Chomsky revolucionou a linguística. Esse estudioso norte-americano trouxe ao seio da 
disciplina questões relacionadas à linguagem como um sistema autônomo (assim como 
outras faculdades mentais, por exemplo, a memória, o pensamento matemático, etc.), 
inato (depositado na mente das pessoas) e comum a todos os seres humanos. Com isso, 
uma abordagem mais formalista ganhou espaço na linguística, com ênfase nas “[...] 
características internas da língua, seus constituintes e as relações entre eles” (CORTEZ, 
2011, p. 58). A partir daí, nasceram conceitos importantes, como os de gramática 
universal, competência e desempenho linguístico. 
 
75 
 
Chomsky (1972) considerou que as línguas naturais são frutos de princípios inatos 
e autônomos. Para ele, a linguagem é uma característica biológica e incrustada no DNA 
humano. Assim, cada ser humano, por meio de inputs (informações linguísticas 
disponíveis no ambiente em que o falante está), estabelece as regras e normas de uma 
língua. Ao definir um conjunto limitado de combinações por meio dessas normas, o 
falante desse idioma consegue produzir infinitas frases (daí o nome “gerativismo”). Tal 
produção não depende do estímulo/resposta advindo do meio para determinar o 
comportamento, contrariando a hipótese behaviorista. 
Por ter uma abordagem mais universalista da língua (entendida como algo comum 
a todos os seres humanos), Chomsky (1972) buscou analisar sentenças idealizadas, e 
não sentenças contextualizadas e reais. Além disso, devido ao privilégio dado ao estudo 
das regras e normas internalizadas em cada falante, o autor constatou que a sintaxe é o 
nível gramatical mais alto de todos (em detrimento da fonética, da morfologia, da 
semântica, etc.). Todavia, a partir de 1980, diversos linguistas revisitaram as 
contribuições de Chomsky, tecendouma série de críticas. Tais críticas, mais tarde, 
acabaram criando uma nova vertente da linguística, a linguística cognitiva, que por sua 
vez originou a semântica cognitiva. 
 
O surgimento da linguística cognitiva 
 
Em 1980, George Lakoff, Ronald Langacker e Eleanor Rosch iniciaram uma série 
de questionamentos ao gerativismo. Um desses questionamentos dizia respeito à noção 
de que a linguagem seria uma faculdade autônoma na mente humana, como se fosse 
independente de outras faculdades mentais, indo de encontro ao princípio da 
modularidade. Na verdade, a mente funciona de maneira integrada. Logo, é “[...] 
fundamental levar em consideração os processos de pensamento subjacentes à 
utilização de estruturas linguísticas e sua adequação aos contextos reais nos quais essas 
estruturas são construídas” (MARTELOTTA; PALOMANES, 2012, p. 179). 
Considere ainda o seguinte: 
[...] a proposta cognitivista leva em conta aspectos relacionados a restrições 
cognitivas que incluem a captação de dados da experiência, sua compreensão e 
 
76 
 
seu armazenamento na memória, assim como a capacidade de organização, 
acesso, conexão, utilização e transmissão adequada desses dados 
(MARTELOTTA; PALOMANES, 2012, p. 179). 
Dessa forma, a linguística cognitiva procurou estudar a “[...] relação sistemática 
entre linguagem, pensamento e experiência” (MARTELOTTA; PALOMANES, 2012, p. 
179). No Quadro abaixo, a seguir, veja as principais diferenças entre o gerativismo e a 
linguística cognitiva. 
 
 
9.2 Linguística cognitiva e semântica cognitiva 
 
Como você viu, a partir dos estudos de Langacker, de Rosch e, sobretudo, de 
Lakoff , uma nova vertente linguística foi criada: a linguística cognitiva. A linguística 
cognitiva “[...] interessa-se pelo conhecimento através da linguagem e procura saber 
como é que a linguagem contribui para o conhecimento do mundo” (SILVA, 1997, p. 3). 
Além disso, o falante de uma língua adquire um status relevante nesse processo, pois 
ele “[...] não é mais visto como um mero manipulador de regras preestabelecidas, mas 
como um produtor de significados em situações comunicativas reais nas quais interage 
com interlocutores reais” (MARTELOTTA; PALOMANES, 2012, p. 181). 
Nesse contexto, uma das dimensões em que a linguística cognitiva busca 
compreender a maneira pela qual a linguagem auxilia no conhecimento de mundo é a 
 
77 
 
semântica, principalmente em relação ao significado. Assim, a semântica cognitiva foi 
constituída como um ramo da linguística cognitiva: ela tem o intuito de estudar o 
significado a partir da perspectiva cognitiva. Isso quer dizer que “[...] o significado de uma 
expressão linguística não reflete diretamente a relação entre ‘palavra’ e ‘mundo’, mas é 
sempre mediado por processos inerentes à cognição humana” (FERRARI, 2010, p. 151). 
 
 
9.3 O conceito de categorização e a teoria prototípica 
Você já sabe que a semântica cognitiva, braço da linguística cognitiva, destina-se 
a estudar o sentido a partir da perspectiva da cognição. Esta, por sua vez, estabelece 
que o sentido se configura por meio da mediação dos processos da cognição humana, 
sendo que a experiência do sujeito é parte integrante desse cenário. 
De acordo com Silva (1997, p. 6), “[...] a interpretação e a aquisição de novas 
experiências, é feita à luz de conceitos e categorias já existentes, que, por isso mesmo, 
funcionam como modelos interpretativos, como paradigmas”. Ainda segundo Silva (1997, 
p. 6), “Uma das capacidades cognitivas fundamentais é a categorização, isto é, o 
processo mental de identificação, classificação e nomeação de diferentes entidades 
como membros de uma mesma categoria”. 
Ou seja, para a semântica cognitiva, o conceito de categorização é relevante, uma 
vez que ele pode ser considerado um dos elementos-chave do processo de significação. 
Para compreender melhor tal conceito, considere as definições a seguir. 
• Peixes: animais que nascem e vivem na água. 
• Mamíferos: animais vertebrados que têm mamas. 
 
78 
 
Por meio da sua vivência, o falante, articulando os seus conhecimentos da língua, 
estabelece mentalmente categorias de diferentes seres do mundo. A categoria “peixes”, 
por exemplo, se define por um conjunto de características específicas. Da mesma forma, 
na categoria “mamíferos”, há uma série de singularidades. Logo, o conceito de 
categorização diz respeito às categorias, as quais “[...] se formam e se definem em termos 
de ‘condições necessárias e suficientes’ (isto é, através de propriedades individualmente 
necessárias e conjuntamente suficientes) ”; consequentemente, “[...] os elementos de 
uma categoria têm o mesmo estatuto (não havendo, pois, graus de representatividade) ” 
(SILVA, 1997, p. 7). 
Esse conceito, na verdade, não é novo. Ele já existe desde Aristóteles e foi 
revisitado pela filosofia da linguagem de Wittgenstein e pela antropologia cultural de 
Berlin e Kay (FERRARI, 2010). Contudo, o conceito de categorização possui limitações, 
como você pode ver a seguir: 
Se, por um defeito de nascença, surgir um tigre com apenas três patas, ele 
deixaria de ser tigre? E se, por acaso, algum tigre resolver incluir vegetais em 
sua dieta, ele deixa de ser tigre? [...] Certamente, problemas dessa natureza 
interferem na aceitação de uma definição de conceito que use a noção de 
condições suficientes e necessárias (CANÇADO, 2005, p. 94). 
Considere mais uma vez o exemplo mencionado anteriormente: reflita agora sobre 
o caso da baleia, uma vez que ele produz uma inconsistência nas categorias de 
mamíferos e peixes. A baleia possui características de ambos os grupos. Logo, o conceito 
de categorização, para a semântica cognitiva, apresenta limitações e insipientes. 
Devido a isso, Rosch (1978) criou a teoria prototípica, ou teoria dos protótipos. De 
acordo com essa teoria, as categorias se comportam, na verdade, a partir da dinâmica 
entre núcleo e periferia. Observe a Figura abaixo. 
 
79 
 
 
 
Pela teoria prototípica, o elemento central carrega mais definições e características 
da categoria do que o elemento periférico. Note que a passagem é gradual de dentro 
para fora e vice-versa. Além disso, um elemento pode ser a interface entre duas ou mais 
categorias. É o que você pode ver na Figura abaixo. 
 
 
 
Essa teoria se reflete no dia a dia da língua, principalmente no aspecto semântico. 
Para Cançado (2005, p. 94), “A baleia é um animal que tanto possui propriedades da 
categoria MAMÍFERO como propriedades da categoria PEIXE. Por isso, muitos falantes 
são incapazes de dizer, com certeza, se a baleia é um peixe ou um mamífero”. 
Aliás, é interessante ressaltar o que Chiavegatto (2009, p. 82) pontua acerca dos 
desdobramentos causados por essa tomada de posicionamento teórico: 
 
80 
 
A possibilidade de que processos cognitivos e construções linguísticas façam 
parte de categorias prototípicas é fundamental para a análise de uma série de 
fenômenos em linguística cognitiva. Pode explicar, por exemplo, a polissemia, a 
abrangência das correspondências metafóricas e as diferentes naturezas de 
introdutores de espaços mentais. 
Dessa forma, no próximo tópico, você vai se aprofundar na teoria prototípica, 
relacionando o processo de significação com um dos fenômenos mais instigantes e 
pesquisados pela semântica cognitiva, a metáfora. 
9.4 O fenômeno da metáfora 
Como você viu, para a semântica cognitiva, o processo de significação se 
configura a partir da articulação entre as diversas faculdades mentais e as experiências 
dos usuários de uma língua no seu agir no mundo. Por isso, essa articulação permite 
uma categorização dos falantes em relação ao mundo pela linguagem. 
Entretanto, a categorização da realidade muitas vezes esbarra em sentidos que 
possuem características menos palpáveis, ou seja, mais abstratos, os quais demandam 
processos cognitivos mais elaborados. É nesse contexto que surgem as metáforas,fenômeno semântico muito estudado pela semântica cognitiva. Como Chiavegatto (2009) 
expôs anteriormente, as construções linguísticas e processos cognitivos pautados na 
categorização, sobretudo prototípica, permitem explicar fenômenos semânticos mais 
plásticos e intangíveis. Veja: 
[...] devido à nossa experiência física de ser e de agir no mundo de perceber o 
ambiente à nossa volta, de mover nossos corpos, — de exercitar e de 
experienciar forças, etc., formamos estruturas conceituais básicas com as quais 
organizamos o nosso pensamento sobre outros domínios mais abstratos 
(CANÇADO, 2005, p. 102). 
Uma forma de isso ocorrer é por meio da metáfora. De acordo com Lakoff e 
Johnson (2003), o processo cognitivo da metáfora realizado pelo falante almeja construir 
um sentido a partir da projeção de domínios, com o intuito de materializar um conceito 
impalpável. 
Cançado (2005, p. 97) mostra que a metáfora se estabelece a partir da 
aproximação e da atribuição do domínio-fonte e do domínio-alvo: “[...] o ponto de chegada 
 
81 
 
ou o conceito descrito é conhecido, geralmente, como o domínio do alvo (do inglês, target 
domain); [...]. Enquanto o conceito comparado, ou a analogia, é conhecida como o 
domínio da fonte (do inglês, source domain)”. Para exemplificar a metáfora, Lakoff e 
Johnson (2003) utilizam o caso clássico “argumentação é guerra” (Quadro abaixo). 
 
 
 
Como você pode observar, o domínio-fonte projeta sentidos (inclusive frutos de 
experiências reais do falante) no domínio-alvo. Isso faz com que a argumentação, uma 
abstração, adquira características oriundas do domínio-fonte. 
Considere o seguinte: 
 
Entre os dois domínios estabelecem-se analogias estruturais: os participantes de 
uma discussão correspondem aos adversários de uma guerra, o conflito de 
opiniões corresponde às diferentes posições dos beligerantes, levantar objeções 
corresponde a atacar e manter uma opinião a defender, desistir de uma opinião 
corresponde a render-se, etc. Tal como uma guerra, uma batalha ou uma luta, 
também uma discussão, um debate ou o processo de argumentação pode dividir-
se em fases, desde as posições iniciais dos oponentes até a vitória de um deles, 
passando por momentos de ataque, defesa, retirada, contra-ataque (SILVA, 
1997, p. 13). 
 
Chiavegatto (2009, p. 89) mostra que a metáfora também influencia outros 
processos de significação: 
 
Com as informações que são transferidas entre os domínios, construímos novos 
significados com relações que se processam no contexto. [...]. As 
correspondências efetuadas podem explicar, por exemplo, processos figurativos 
como as metáforas e suas extensões em figuras como analogias, comparações, 
personificações, hipérboles, eufemismos. 
 
 
82 
 
A metáfora, à luz da semântica cognitiva, se constitui a partir da dinâmica dos 
domínios, os quais não só estruturam o pensamento humano, como também auxiliam na 
significação, bem como na compreensão do mundo pelo falante. 
Até aqui, você estudou os pressupostos teóricos fundamentais da semântica 
cognitiva. Como você viu, ela é um braço da linguística cognitiva, que surgiu a fim de 
questionar os princípios gerativistas. De modo ímpar, a linguística cognitiva trouxe para 
a semântica a cognição como elemento importante do processo de significação. 
Além disso, como você viu, para a semântica cognitiva, o sentido é estabelecido 
entre a palavra e o mundo, em um processo mediado pela cognição humana. Nesse 
processo, a interpretação se configura a partir de formulações de categorias que 
classificam e organizam a realidade. Porém, a categorização não é feita de maneira 
engessada e estanque. Na verdade, ela se comporta por meio de protótipos, aliando 
elementos com um maior conjunto de características (nucleares) a elementos com um 
menor conjunto de características (periféricos). 
Por último, você estudou a relação entre a categorização e a metáfora, que se 
mostra um fenômeno importante na significação. Afinal, por meio da projeção de 
domínios, a metáfora permite expandir e atribuir novos sentidos às mais distintas 
expressões linguísticas. 
10 SEMÂNTICA FORMAL: DIFERENTES ABORDAGENS 
10.1 A semântica formal e o estudo do significado 
Originada a partir dos estudos sobre lógica desenvolvidos pelo filósofo Richard 
Montague em meados do século XX, a semântica formal é uma vertente da semântica. 
Ela estuda o significado com base na perspectiva da referencialidade, ou seja, a partir da 
noção de que as línguas estabelecem uma referência aos objetos do mundo (CANÇADO, 
2005). 
Assim, o conceito de referencialidade é fundamental para essa vertente da 
semântica. A referencialidade está ligada ao “[...] fato de que as línguas naturais são 
utilizadas para falar sobre objetos, indivíduos, fatos, eventos, propriedades [...] descritos 
 
83 
 
como externos à própria língua [...]” (MÜLLER; VIOTTI, 2016, p. 2), articulando tanto o 
conhecimento do falante sobre o seu idioma quanto o conhecimento que ele tem do 
mundo à sua volta. Para compreender melhor como funciona a referencialidade, observe 
a Figura abaixo, a seguir. 
 
O significado e a condição de verdade 
Como você viu, a referencialidade é uma característica básica da semântica 
formal. A partir dela, outra singularidade emerge. Tal singularidade é descrita por Müller 
e Viotti (2016, p. 138): 
Por esta razão, na Semântica Formal, o significado é entendido como uma 
relação entre a linguagem por um lado, e, por outro, aquilo sobre o qual a 
linguagem fala. Este “mundo” sobre o qual falamos quando usamos a linguagem 
pode ser tomado como o mundo real, parte dele, ou mesmo outros mundos 
ficcionais ou hipotéticos. 
Nesse contexto, para essa vertente da semântica, “[...] dar o significado de uma 
sentença é dizer em que condições essa sentença seria verdadeira [...]” (CANÇADO, 
2005, p. 140). Assim, o significado está diretamente associado ao conceito de condição 
de verdade, que você vai conhecer melhor a seguir. Considere está sentença como 
exemplo: 
 
Um homem pulou o muro. 
 
Agora veja o que Cançado (2005, p. 140) afirma sobre ela: “Se tentarmos explicar 
o significado da sentença [...], diríamos que ela significa que uma pessoa, com as 
 
84 
 
qualidades normalmente atribuídas a homem (sexo masculino, adulto...) fez um 
movimento para ultrapassar um obstáculo, chamado muro [...]”. Se você precisasse 
definir em que condições essa sentença seria aceita como verdadeira, teria a seguinte 
resposta: a sentença “Um homem pulou o muro” será verdadeira quando 
(a) existir no mundo a que se faz referência um ser com características masculinas 
e que seja adulto; 
(b) e esse ser fizer uma ação de transpor um obstáculo fruto de uma construção 
vertical de alvenaria. 
 
Logo, para que essa sentença tenha condições de verdade, um conjunto de 
circunstâncias deve ser atendido. Um homem não pode pular um muro se só houver uma 
mulher trocando o pneu de um carro, pois essa condição de verdade não é compatível 
com a sentença anterior. É por isso que a base da semântica formal, bem como a sua 
maneira de investigar o significado, é referencial, e não mentalista ou enunciativa. Caso 
não se estabeleça a referencialidade entre uma língua natural e o mundo ao qual essa 
língua faz referência, o significado não é estabelecido. 
Aliás, outra questão importante, que você não pode confundir com a anterior, é se 
a sentença é verdadeira ou não. Isso é completamente diferente do conceito de condição 
de verdade. Considere novamente o exemplo anterior. Se um homem realmente pulou, 
a sentença é verdadeira. Seguindo a mesma lógica, se um homem realmente não pulou, 
a sentença é falsa. Porém, antes de se afirmar que a sentença é verdadeira ou falsa, é 
imprescindível que exista um ser humano do sexo masculino, adulto, praticando a ação 
de transpor um muro, ou seja, a condição de verdade da sentença é essencial. 
A fim de arrematar isso, Cançado(2005, p. 140–141) comenta que é possível 
saber quais são as condições em que uma sentença é verdadeira sem saber se ela é 
verdadeira ou não: “[...] o que precisa ficar claro é que o significado da sentença está 
associado às condições de verdade da sentença, e não à sua verdade ou falsidade [...]”. 
 
 
 
 
 
85 
 
10.2 Princípio da composicionalidade 
Você já viu como a semântica formal estuda o significado, principalmente por meio 
da perspectiva da referencialidade. Você também conheceu o conceito de condição de 
verdade. Agora, você vai estudar outro conceito importante para essa vertente da 
semântica, o princípio da composicionalidade. 
Como pontua Cançado (2005), o princípio da composicionalidade afirma que o 
significado de uma sentença é fruto do significado dos seus itens lexicais mais a 
combinação sintática deles. Considere o seguinte: 
Se soubermos o significado das partes da sentença e soubermos as regras que 
explicitam como combinar essas partes, então podemos deduzir o significado da 
sentença, ou seja, se soubermos o significado das unidades e regras para montá-
las em unidades mais complexas, então poderemos construir e interpretar uma 
infinidade de sentenças novas, assim como explicar por que certas interpretações 
não são possíveis (CANÇADO, 2005, p. 141). 
Aliás, Müller e Viotti (2016) elaboram um comentário pertinente no que diz respeito 
à produtividade que as línguas naturais possuem em função de tal princípio. Veja: 
As línguas naturais nos permitem produzir e compreender constantemente 
significados novos. E isto não só pela sua flexibilidade na criação de palavras 
novas, mas principalmente porque elas nos permitem produzir e compreender 
sentenças completamente novas. Isso é possível porque a partir do significado 
dos itens lexicais e da maneira com estes se compõem derivamos o significado 
das unidades complexas. Ou seja, cada parte de uma sentença contribui de uma 
forma sistemática para seu significado (MÜLLER; VIOTTI, 2016, p. 139). 
Esse comentário é bastante pertinente. Imagine que os idiomas são organismos 
humanos e que as palavras são as células, unidades menores e mais simples. Essas 
unidades permitem construir unidades maiores e mais complexas. 
 
 
 
 
86 
 
Aplicação do princípio da composicionalidade 
 
Como você viu, a semântica formal estuda o significado a partir da perspectiva da 
referencialidade. Assim, para que o significado se estabeleça, deve haver um conjunto 
de circunstâncias básicas, ou seja, a condição de verdade. Depois que isso estiver 
consolidado, o falante de uma língua pode compreender o sentido de um enunciado por 
meio do princípio da composicionalidade. Tal princípio, como você já sabe, afirma que o 
significado de um enunciado está ligado ao significado dos seus itens lexicais, bem como 
à maneira pela qual esses itens estão dispostos sintaticamente (CANÇADO, 2005). 
Considere como exemplo a sentença a seguir: 
 
(1) João abraça Maria. 
 
Na sentença (1), existem três itens lexicais: 
 
• “João”, nome de uma pessoa do gênero masculino; 
• “abraça”, ação de dar um abraço em alguém; 
• “Maria”, nome de uma pessoa do gênero feminino. 
 
Agora considere a disposição sintática desses itens da sentença (1). Observe que 
a sentença (S) é constituída de um sintagma nominal (SN) e de um sintagma verbal (SV). 
O SN é formado por um núcleo (N), no caso, “João”. Por sua vez, o SV é formado por um 
verbo (V), “abraça”, e um SN, “Maria”. Isso que você acabou de ler pode ser representado 
pela Figura abaixo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
87 
 
 
 
A partir da disposição sintática da sentença, mais os significados particulares de 
cada item lexical, tem-se a seguinte situação: para entender o significado de S, é preciso 
entender o significado de SN e SV. Para entender o SN, é preciso entender o significado 
de N. Para entender o significado de SV, é necessário entender o significado de V e de 
SN. 
Logo, conhecendo a composição dos itens lexicais e de seus respectivos 
significados, é possível compreender o significado total da sentença. É em virtude disso 
que o princípio da composicionalidade tem esse nome. Por meio da composição de 
unidades menores e simples, pode-se entender as unidades maiores e complexas. 
10.3 Recursividade na semântica formal 
Agora você vai ver como categorizar os elementos de recursividade da semântica 
formal. Como você viu antes, o princípio da composicionalidade afirma que “[...] o 
significado de uma sentença não é determinado apenas pelo significado de suas 
palavras, mas também por sua estrutura gramatical [...]” (MÜLLER; VIOTTI, 2016, p. 141). 
Por sua vez, Oliveira (2001, p. 143) pontua que, considerando os pressupostos da 
semântica formal, “Um falante, quando interpreta uma sentença qualquer, atribui 
referências aos nomes que utiliza, relacionando, de algum modo, a cadeia sonora a 
 
88 
 
objetos no mundo [...]”. Para Oliveira (2001), dependendo do modo como o falante 
relaciona a língua com o mundo, sobretudo por meio de sentenças, há determinada 
construção de significados. 
É nesse contexto que os elementos recursivos de acarretamento, pressuposição, 
paráfrase, contradição e ambiguidade se inserem. A seguir, você vai conhecer a definição 
desses elementos e ver alguns exemplos práticos, com o intuito de categorizá-los. 
 
Acarretamento 
 
O acarretamento, segundo Cançado (2005), ocorre a partir da seguinte lógica: a 
verdade de uma sentença consequentemente leva à verdade de outra, e, por sua vez, o 
conteúdo expresso na segunda está contido na primeira. A fim de compreender melhor, 
observe as sentenças a seguir: 
 
(2) Carlos continua doente. 
(3) Carlos adoeceu na infância. 
 
Note que, se (2) é verdadeiro, consequentemente (3) também será. Além disso, a 
informação de (3) está contida em (2); logo, a sentença (2) acarreta a sentença (3). Outro 
detalhe frisado por Cançado (2005) em relação ao acarretamento é relativo à assimetria. 
Você pode perceber isso tomando novamente como exemplo as sentenças (2) e (3). 
Como (2) acarreta (3), não pode haver o caminho inverso, isto é, (3) acarretando (2). 
Müller e Viotti (2016, p. 145) também comentam sobre o acarretamento: 
Acarretamento é uma relação de sentido fundamental entre sentenças e 
determina alguns de nossos padrões de inferência. Por exemplo, se (a) e (b) são 
verdadeiras, nós sabemos que (c) é verdadeira. Podemos dizer que (a) e (b) 
juntas acarretam (c) porque a situação descrita por (a) e (b) juntas é suficiente 
para descrever a situação em (c). 
Você pode ver isso no exemplo a seguir. 
(4) Jupará é mamífero. 
(5) Jupará é notívago. 
(6) Jupará é mamífero e notívago. 
 
89 
 
Note que as sentenças (4) e (5) acarretam (6), porque as duas primeiras juntas 
descrevem a última. Caso isso esteja em um texto, o acarretamento pode se mostrar um 
aliado relevante na interpretação textual. 
 
Pressuposição 
 
A pressuposição, como afirma Cançado (2005), é uma espécie de acarretamento, 
porém ocorre de forma mais implícita. Ou seja, a pressuposição não está totalmente 
explícita no material linguístico. Nesse sentido, a pressuposição implica uma afirmação 
antecipada. Para entender isso melhor, veja o exemplo apresentado por Müller e Viotti 
(2016): 
 
(7) A Maria parou de fumar. 
 
Quando você lê essa sentença, pode fazer a afirmação antecipada de (7): 
 
(8) A Maria fumava. 
 
Note que, antes de parar de fumar, necessariamente deve haver a ação de fumar. 
Logo, a sentença (8) traz uma suposição anterior à apresentada em (7), isto é, uma 
pressuposição. Complementando a fala das autoras, Cançado (2005, p. 33) indica que a 
pressuposição “[...] é derivada a partir da estrutura linguística da própria sentença; são 
determinadas construções, expressões linguísticas, que desencadeiam essa 
pressuposição [...]”. De fato, no sintagma verbal de (7), existe o verbo “parou” e também 
há o sintagma preposicional “defumar”, que só poderia existir devido ao verbo “fumava” 
de (8). 
 
Paráfrase 
 
Segundo Cançado (2005, p. 28), “Quando temos uma relação simétrica, ou seja, 
a sentença (a) acarreta a sentença (b) e a sentença (b) também acarreta a sentença (a), 
temos a relação de paráfrase [...]”. Diferentemente do que ocorre no acarretamento, em 
 
90 
 
que as sentenças são assimétricas, ou seja, uma sentença está contida na outra, fazendo 
com que uma acarrete a outra, e não o contrário, na paráfrase o acarretamento é mútuo. 
Para entender isso com mais clareza, veja estes exemplos de acarretamento: 
(9) Carlos continua doente. 
(10) Carlos adoeceu na infância. 
 
Agora veja estes exemplos de paráfrase: 
(11) Governo Federal atrasa os salários dos servidores. 
(12) Governo Federal não paga o ordenado dos funcionários públicos na data 
prevista. 
 
A informação de (10) está contida em (9), sendo que (9) acarreta (10), isto é, o 
conteúdo expresso na segunda sentença consequentemente levou à primeira, portanto 
há uma relação assimétrica. No entanto, isso não ocorre em (11) e (12). Nessas duas 
últimas sentenças, a relação é assimétrica, sendo que o significado ocorre tanto em (11) 
quanto em (12). Assim, a paráfrase pode ser formada tanto por itens lexicais sinônimos 
como por estruturas sintáticas distintas, mas que mantenham a mesma relação entre os 
objetos descritos. 
 
Contradição 
 
A contradição, como afirma Cançado (2005, p. 47), ocorre quando “[...] dois fatos 
descritos pela sentença não podem se realizar ao mesmo tempo e nem nas mesmas 
circunstâncias no mundo [...]”. Veja o exemplo a seguir: 
(13) Esta mesa é quadrada. 
(14) Esta mesa é redonda. 
 
91 
 
Tanto (13) quanto (14) fazem referência a um mesmo objeto no mundo. Todavia, 
não é possível que tal objeto tenha formatos espaciais de quadrado e redondo ao mesmo 
tempo. Ainda no que tange à contradição, Müller e Viotti (2016) fazem uma ressalva 
pertinente: recorrentemente, itens lexicais com significados opostos estão presentes em 
contradições, mas algumas vezes isso não quer dizer que necessariamente sejam 
contraditórios. Para compreender isso, veja o caso a seguir: 
(15) Carlos nasceu na Bahia. 
(16) Carlos morreu na Bahia. 
 
Embora (15) e (16) contenham itens lexicais com significados opostos, eles não 
envolvem contradição. Nesse caso, são “momentos extremos do processo de viver”. Isto 
é, como os verbos estão no pretérito, é possível uma pessoa, em um momento da vida, 
nascer e, em outro momento, morrer na Bahia. 
 
Ambiguidade 
 
Para Cançado (2005), a ambiguidade diz respeito a uma imprecisão de 
significados em uma sentença. Um exemplo clássico disso são as palavras homônimas, 
isto é, aquelas que possuem a mesma escrita, mas têm significados diferentes. Veja um 
exemplo: 
(17) Ele estava irado. 
 
Em (17), o item lexical “irado” pode tanto significar algo muito bom quanto um 
comportamento colérico, raivoso. Müller e Viotti (2016) pontuam que a ambiguidade 
também pode ocorrer por meio de uma construção sintática específica, como no exemplo 
a seguir: 
(18) Os alunos e os professores inteligentes participaram do simpósio. 
 
Essa construção sintática pode remeter a dois significados: 
(18a) [[Os alunos e os professores] inteligentes] participaram do simpósio. 
 
ou ainda 
 
(18b) [[Os alunos] e [os professores inteligentes]] participaram do simpósio. 
 
92 
 
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