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Princípios ligados diretamente ao processo 
Princípio do devido processo legal 
O princípio do devido processo legal é uma garantia basilar 
do processo penal, e que abarca outras tantas garantias 
constitucionais. Trata-se de uma forma de assegurar a todos 
um julgamento justo. O julgamento justo, por sua vez, 
pressupõe o respeito as regras do processo penal e a 
observância de garantias constitucionais, como o 
mencionado devido processo legal, por exemplo. Busca-se, 
com isso, proteger o cidadão contra o uso arbitrário do poder 
punitivo estatal. 
Esse princípio está previsto no art. 5º, LIV da Constituição 
Federal, que determina que ninguém será privado da 
liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. 
O exame desse princípio, originário do due process of law, 
nos permite identificar alguns direitos ou prerrogativas 
essenciais à sua configuração como garantia da ordem 
constitucional. São exemplos de tais prerrogativas: 
• O direito ao processo ou garantia de acesso ao 
Poder Judiciário. 
• O direito à citação e ao conhecimento prévio do 
teor da acusação. 
• O direito a um julgamento público e célere. 
• O direito ao contraditório e à plenitude de defesa. 
• O direito de não ser processado e julgado com base 
em leis ex post facto. 
• O direito à igualdade entre as partes. 
• O direito de não ser processado com base em 
provas ilícitas. 
• O direito à gratuidade de justiça. 
• O direito à observância do princípio do juiz natural. 
• O direito ao silêncio ou a não autoincriminação. 
• O direito à prova. 
• O direito de presença e de participação ativa nos 
atos de interrogatório judicial. 
Assim, o devido processo legal garante ao acusado um 
processo justo, em que todas as garantias previstas na 
Constituição e nas leis sejam observadas e, ao final, a 
prolação de uma sentença por um juiz imparcial. 
Princípio da busca da verdade real 
Também chamado de princípio da verdade material ou da 
verdade substancial, determina que, no processo penal, 
devem ser realizadas as diligências necessárias e adotadas 
todas as providências cabíveis para tentar descobrir como os 
fatos realmente se passaram, de forma que o jus 
puniendi seja exercido com efetividade em relação àquele 
que praticou ou concorreu para a infração penal. 
No entanto, é necessário ter em vista que a procura da 
verdade real não pode implicar violação de direitos e 
garantias estabelecidos na legislação. Assim, temos como 
exemplos de exceções à verdade real: a inadmissibilidade das 
provas obtidas por meios ilícitos (art. 5º, LVI, da CF) e a 
impossibilidade de revisão criminal contra a sentença 
absolutória transitada em julgado. 
Importante destacar que muitos criticam a ideia de que se 
deve buscar a verdade real. Confira o que pensa Aury Lopes 
Junior: 
A visão de que o processo penal busca a mitológica verdade 
real é um ranço inquisitório superado há séculos. Trata-se de 
uma concepção vinculada ao sistema inquisitório e aos 
sistemas autoritários, que em nome da busca da verdade 
legitimaram as maiores atrocidades que a história da 
humanidade conheceu. Ademais é uma tese absurda, na 
medida em que confunde o real com o imaginário, pois o 
crime é sempre passado, logo, nunca é real. É memória, 
história, imaginação. É sempre imaginário, nunca é real. 
(LOPES JUNIOR, 2019, p. 513) 
Dessa forma, a crítica a tal noção se encontra no fato de que 
nunca se irá alcançar a verdade real, servindo esse princípio, 
muitas vezes, para justificar a atuação de ofício do 
magistrado, violando o sistema acusatório previsto na 
Constituição. 
Princípio da publicidade 
O princípio da publicidade determina que o Estado garanta a 
transparência a seus atos, reforçando, com isso, a ideia de 
independência, imparcialidade e responsabilidade do juiz. 
A publicidade surge como uma garantia individual, 
determinando que os processos civis e penais sejam, em 
regra, públicos, para evitar abusos dos órgãos julgadores, 
limitar formas opressivas de atuação da justiça criminal e 
facilitar o controle social sobre o Judiciário e o Ministério 
Público. 
Esse princípio está previsto expressamente na Constituição: 
Art. 93, IX - Todos os julgamentos dos órgãos do Poder 
Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as 
decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a 
presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus 
advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a 
preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo 
não prejudique o interesse público à informação. 
E também no Código de Processo Penal: 
Art. 792 - As audiências, sessões e os atos processuais serão, 
em regra, públicos e se realizarão nas sedes dos juízos e 
tribunais, com assistência dos escrivães, do secretário, do 
oficial de justiça que servir de porteiro, em dia e hora certos, 
ou previamente designados. 
(CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, DECRETO-LEI Nº 3.689/1941) 
Dessa forma, como visto, tal princípio se consagra como uma 
verdadeira garantia para o acusado, que estará menos 
suscetível a eventuais violências ou arbitrariedades por parte 
do Estado. 
Princípio do contraditório (art. 5º, LV, CF) 
O princípio do contraditório é considerado um dos princípios 
centrais do processo judicial moderno, sendo elemento 
substancial do acesso à Justiça, possuindo diversos 
desdobramentos. Nas palavras de Leonardo Greco: 
Numa noção elementar poderia ele ser definido como o 
princípio que impõe ao juiz a prévia audiência de ambas as 
partes antes de adotar qualquer decisão (auditur et altera 
pars) e o oferecimento a ambas das mesmas oportunidades 
de acesso à justiça e de exercício do direito de defesa. 
Assim sendo, trata-se do direito assegurado às partes de 
serem cientificadas de todos os atos e fatos havidos no curso 
do processo, podendo manifestar-se e produzir as provas 
necessárias antes de o magistrado decidir. 
Tal princípio possui expressa previsão na Constituição 
Federal que afirma, em seu art. 5º, LV, que aos litigantes, em 
processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral 
são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os 
meios e recursos a ela inerentes. 
Logicamente, tal concepção não determina um total 
distanciamento do magistrado, pelo contrário, este deve 
efetivamente integrar o contraditório, ordenando e 
equilibrando a atuação das partes de maneira a garantir a 
isonomia processual. 
Na realidade, no exercício do contraditório, o magistrado 
assume uma posição de controle, a partir da qual pode e 
deve agir para equacionar a ação dos envolvidos, garantindo 
um tratamento igualitário, sempre com o cuidado de não 
afetar a sua parcialidade, tema a ser tratado no tópico 
seguinte. 
Atenção! 
Esse princípio é mitigado em determinados casos, como 
ocorre no denominado contraditório diferido ou postergado, 
no qual a ciência ou impugnação do investigado ou acusado 
ocorre em momento posterior. Em tais situações, a urgência 
da medida ou a sua natureza exige um provimento imediato, 
sob pena de prejuízo ao processo ou, no mínimo, de 
ineficácia da determinação judicial. 
Princípio da ampla defesa 
A ampla defesa traduz o dever do Estado de facultar ao 
acusado toda a defesa possível quanto à imputação que lhe 
foi realizada. 
É bem verdade que grande parte da doutrina entende que o 
contraditório e o direito de defesa são distintos. Entretanto, 
mesmo esta concorda que são indissolúveis, afinal é do 
contraditório que surge o exercício da ampla defesa. Não é 
outro o entendimento de Marco Antonio Rodrigues: 
Para que se possa definir o conteúdo do contraditório, é 
preciso primeiro verificar sua relação com a ampla defesa, já 
que ambos estão previstos no artigo 5º, LV da Lei Maior. Com 
efeito, não se trata de sinônimos, até porque não seria útil 
que o legislador estabelecesse em um mesmo dispositivo 
duas previsões de sentido idêntico. 
Assim, a ampla defesase constitui num elemento do 
contraditório, pois aquele significa permitir às partes que 
apresentem adequadamente as alegações que embasem sua 
pretensão ou defesa, com a consequente possibilidade de 
provar seus argumentos, bem como de interpor os recursos 
cabíveis em face das decisões proferidas. 
O exercício da ampla defesa é de fundamental importância 
na concretização do contraditório e da justiça. Afinal, o que 
fundamenta o acesso à justiça é a busca pela verdade — seja 
real ou processual — e somente por meio da garantia às 
partes dos meios para reconstruir os fatos é que se torna 
possível aplicar o direito de forma legítima. Na realidade, a 
própria essência do contraditório se consubstancia em uma 
fórmula para buscar a verdade. 
A concepção moderna da garantia da ampla defesa reclama, 
para a sua verificação, seja qual for o objeto do processo, a 
conjugação de três realidades procedimentais, 
genericamente consideradas, a saber: a) o direito à 
informação; b) a bilateralidade da audiência; e c) o direito à 
prova legalmente obtida ou produzida. 
É importante destacar ainda que, para a doutrina, a ampla 
defesa pode ser exercida de duas formas distintas: 
autodefesa e defesa técnica. 
A autodefesa é realizada facultativamente pelo próprio 
agente, sendo permitido calar-se ou trazer qualquer 
elemento de convicção, ainda que não jurídico, o que pode 
ser bastante útil perante os jurados no tribunal do júri, que 
decidem de acordo com a íntima convicção. 
Já a defesa técnica é realizada obrigatoriamente por 
advogado habilitado, conforme o art. 261 do CPP, não 
podendo o réu se autorrepresentar no processo penal, a não 
ser que seja advogado (art. 263 do CPP), sendo esta defesa 
irrenunciável. 
A falta de defesa técnica, no processo penal, nos termos da 
Súmula nº 523 do STF, constitui nulidade absoluta, mas, se 
for deficiente apenas, só anulará o processo caso exista 
prova do prejuízo do réu. 
Por fim, é preciso ressaltar que não é suficiente garantir à 
parte, como exercício da legítima defesa, o direito à prova e 
a possibilidade de participar do processo, sendo essencial a 
efetiva capacidade de influenciar o julgador na tomada de 
sua decisão. Assim, de nada adianta a parte produzir provas 
e evidências se o magistrado não está inclinado ou obrigado 
a considerá-las. 
Princípios ligados diretamente às partes 
Princípio do in dubio pro reo 
Também chamado de princípio da prevalência do interesse 
do réu, favor rei, favor libertatis ou favor inocente, esse 
princípio privilegia a garantia da liberdade em detrimento da 
pretensão punitiva do Estado, decorrendo diretamente da 
presunção de inocência. 
Segundo tal princípio, a dúvida deve militar em favor do 
acusado. Dessa forma, na ponderação entre o direito de 
punir do Estado e o status libertatis do imputado, este último 
deve prevalecer. 
A doutrina indica que tal princípio está previsto 
implicitamente no art. 386, VII do Código de Processo Penal, 
que determina que o juiz absolverá o réu quando não existir 
prova suficiente para condenação. 
Destaca-se que esse princípio é mitigado em determinados 
momentos, como na decisão de pronúncia, em que não se 
exige a certeza da autoria do crime, mas apenas a existência 
de indícios suficientes e prova da materialidade, imperando, 
nessa fase final da formação da culpa, o chamado in dubio 
pro societate. 
Da mesma forma, tal princípio também é mitigado na 
decisão de recebimento da denúncia, ou seja, caso haja 
dúvida sobre a pertinência da ação penal, deve ela ser 
admitida. 
Princípio da presunção de inocência 
Esse princípio está previsto no art. 5º, LVII da Constituição 
Federal que determina que ninguém será considerado 
culpado até o trânsito em julgado de sentença penal 
condenatória. 
Também chamado de princípio do estado de inocência ou da 
situação jurídica de inocência ou da não culpabilidade, esse 
princípio deve ser considerado em três momentos distintos: 
1. Na instrução processual, como presunção legal 
relativa de não culpabilidade, invertendo-se o ônus 
da prova. 
2. Na avaliação da prova, impondo-se a valoração das 
provas em favor do acusado quando houver dúvidas 
sobre a existência de responsabilidade pelo fato 
imputado. 
3. No curso do processo penal, como parâmetro de 
tratamento ao acusado, em especial no que 
concerne à análise quanto à necessidade ou não de 
sua segregação provisória. 
O princípio de presunção de inocência é de extrema 
importância no direito processual penal, pois impõe que o 
réu deve ser considerado inocente até a última decisão. Da 
mesma forma, também permite ao réu o uso de todos os 
meios para que prove sua inocência. 
Ocorre que tal entendimento somente prevaleceu até 2016, 
quando, no julgamento do HC 126292, o STF decidiu que era 
possível a execução provisória da pena, desde que proferido 
acórdão condenatório em segundo grau. Contudo, em novo 
julgamento, a Corte revisou seu entendimento sobre o tema 
e decidiu nas ADC 43/DF, 44/DF e 54/DF, em 7 de novembro 
de 19, que a execução provisória da pena ofende o princípio 
da presunção de inocência, sendo este o entendimento mais 
atual. 
Cabe ressaltar que, no que se refere ao tribunal do júri, a Lei 
nº 13.964/2019 trouxe uma importante previsão acerca das 
apelações oriundas dos julgamentos plenários. Atualmente, 
admite-se a execução provisória da pena nos casos de 
condenação no tribunal do júri a uma pena igual ou superior 
a 15 anos de reclusão. Dessa forma, segundo o art. 492, §4º 
do CPP, a apelação nesses casos não terá efeito suspensivo, 
salvo determinadas exceções. 
Art. 492 
§4º - A apelação interposta contra decisão condenatória do 
Tribunal do Júri a uma pena igual ou superior a 15 (quinze) 
anos de reclusão não terá efeito suspensivo. 
§5º Excepcionalmente, poderá o tribunal atribuir efeito 
suspensivo à apelação de que trata o §4º deste artigo, 
quando verificado cumulativamente que o recurso: 
I - não tem propósito meramente protelatório; e 
II - levanta questão substancial e que pode resultar em 
absolvição, anulação da sentença, novo julgamento ou 
redução da pena para patamar inferior a 15 (quinze) anos de 
reclusão. 
§6º O pedido de concessão de efeito suspensivo poderá ser 
feito incidentemente na apelação ou por meio de petição em 
separado dirigida diretamente ao relator, instruída com 
cópias da sentença condenatória, das razões da apelação e 
de prova da tempestividade, das contrarrazões e das demais 
peças necessárias à compreensão da controvérsia. 
(CÓDIGO DO PROCESSO PENAL, DECRETO-LEI Nº 
3.689/1941) 
Por fim, importante destacar que a decisão do STF que 
firmou o entendimento de que é inconstitucional a execução 
provisória da pena deve ser aplicada às penas restritivas de 
direitos. Não é outro o entendimento do STJ sobre o tema, 
com forme a Súmula nº 643: “A execução da pena restritiva 
de direitos depende do trânsito em julgado da condenação.” 
Princípio ne procedat judex ex officio 
Também conhecido como princípio da ação, princípio da 
demanda ou princípio da iniciativa das partes, consolida a 
regra da inércia da jurisdição e produz consequências 
práticas importantes em relação ao desenvolvimento do 
processo. 
Esse princípio se desenvolveu no direito romano e busca 
estabelecer a independência e imparcialidade da 
magistratura, determinando que o juiz não deve agir de 
ofício, ou seja, sem a provocação das partes. 
Com base nesse princípio, o STF editou a Súmula nº 160, que 
determina: “É nula a decisão do Tribunal que acolhe, contra 
o réu, nulidade não arguida no recurso da acusação, 
ressalvados os casos de recurso de ofício”. 
Importante destacar que, mesmo sendo aplicável tal 
princípio ao direito processual penal brasileiro, tanto o 
Código de Processo Penal, quanto leis penais extravagantes 
preveem diversas hipóteses em que o juiz pode agir de ofício. 
Cite-se, como exemplo,o art. 156 do CPP e o art. 4º da Lei de 
Lavagem de Dinheiro. 
Princípios ligados diretamente ao juiz 
Princípio da imparcialidade do juiz 
A imparcialidade significa que o magistrado, situando-se no 
vértice da relação processual triangulada entre ele, a 
acusação e a defesa, deve possuir capacidade objetiva e 
subjetiva para solucionar a demanda, isto é, julgar de forma 
equidistante, vinculando-se apenas às leis, aos fatos e às 
provas. 
A imparcialidade do julgador é princípio basilar do processo 
e imprescindível para que seu desenvolvimento conduza a 
uma sentença justa. Afinal, a ideia de um terceiro alheio aos 
interesses das partes é essencial para um processo legítimo. 
Como afirma Renato Brasileiro: 
[...] a necessidade de um terceiro imparcial é a razão de ser 
da própria existência do processo, enquanto forma de 
heterocomposição de conflitos, sendo inviável conceber a 
existência de um processo em que a decisão do feito fique a 
cargo de um terceiro interessado em beneficiar ou prejudicar 
uma das partes. 
O juiz imparcial é aquele que ocupa a posição do Estado no 
processo, ou seja, de um terceiro supraordenado às partes. 
Assim, deve ser aquele que não possui qualquer interesse na 
causa, senão a resolução do conflito em conformidade com 
o sistema jurídico vigente. 
Para evitar a contaminação da imparcialidade do juiz que 
atua na fase da investigação, a Lei nº 13.964/2019 trouxe a 
figura do juiz das garantias, que, em suma, é o juiz que atua 
da fase das investigações até o recebimento da inicial 
acusatória, quando então dá lugar ao juiz da instrução e 
julgamento. 
No entanto, vale lembrar que o STF, por meio de medida 
cautelar proferida monocraticamente pelo min. Luiz Fux no 
bojo das Ações Diretas de Inconstitucionalidade 6300, 6305, 
6299 e 6298, decidiu suspender, até o julgamento do mérito 
da ação penal, todos os dispositivos da nova legislação que 
versam sobre o juiz das garantias. 
Atenção! 
Embora prezem pela imparcialidade do juiz, diversos 
dispositivos do Código de Processo Penal permitem a 
atuação de ofício do magistrado, o que, para muitos 
doutrinadores, representa uma clara violação a tal 
princípio. 
Princípio do juiz natural 
O princípio do juiz natural, decorrente da Constituição (art. 
5º, XXXVII e LIII), apresenta três facetas: i) somente aqueles 
investidos legalmente de jurisdição podem exercê-la; ii) 
ninguém será processado e julgado por um órgão instituído 
após o fato (vedação ao juízo de exceção); e iii) deve haver 
uma distribuição específica e taxativa da competência para o 
julgamento. 
Assim, esse princípio consiste objetivamente no direito que 
cada cidadão possui de conhecer previamente o juiz ou 
tribunal responsável por julgá-lo, caso pratique uma conduta 
em dissonância com o ordenamento jurídico estabelecido. 
Dessa forma, é verdadeiro fundamento do Estado 
democrático de direito. 
Parte da doutrina fala ainda no princípio do promotor 
natural. Para esse princípio, veda-se a designação arbitrária, 
pela chefia da instituição, de promotor para patrocinar caso 
específico, ou seja, o promotor natural há de ser sempre 
aquele previamente estatuído em lei. 
Princípio da motivação 
A exigência de motivação, prevista no art. 93, IX, da CF e no 
art. 381 do CPP, tem a finalidade de permitir às partes a 
impugnação das decisões tomadas no âmbito do Poder 
Judiciário, conferindo, ainda, à sociedade a garantia de que 
essas não resultam de posturas arbitrárias. 
Destaca-se que, no tribunal do júri, há mitigação da 
obrigatoriedade de motivação, pois o conselho de sentença, 
formado por juízes leigos, não pode motivar nem 
fundamentar o seu entendimento, vigorando o princípio da 
incomunicabilidade dos jurados e da íntima convicção. 
Com base no princípio da motivação, a Lei nº 13.964/2019 
trouxe a determinação de que decisões que decretem 
medidas cautelares diversas da prisão deverão ser 
justificadas e fundamentadas. 
Art. 282, §3º - Ressalvados os casos de urgência ou de perigo 
de ineficácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de 
medida cautelar, determinará a intimação da parte contrária, 
para se manifestar no prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada 
de cópia do requerimento e das peças necessárias, 
permanecendo os autos em juízo, e os casos de urgência ou 
de perigo deverão ser justificados e fundamentados em 
decisão que contenha elementos do caso concreto que 
justifiquem essa medida excepcional. 
(CÓDIGO DO PROCESSO PENAL, DECRETO-LEI Nº 
3.689/1941) 
Da mesma forma, o legislador determinou expressamente a 
necessidade de motivação das decisões que decretam a 
prisão preventiva e indicou ainda o que não se deve 
considerar como decisão devidamente fundamentada. 
Art. 312 
§2º - A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser 
motivada e fundamentada em receio de perigo e existência 
concreta de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem 
a aplicação da medida adotada. [...] 
Art. 315 - A decisão que decretar, substituir ou denegar a 
prisão preventiva será sempre motivada e fundamentada. 
§1º Na motivação da decretação da prisão preventiva ou de 
qualquer outra cautelar, o juiz deverá indicar concretamente 
a existência de fatos novos ou contemporâneos que 
justifiquem a aplicação da medida adotada. 
§2º Não se considera fundamentada qualquer decisão 
judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: 
I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato 
normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a 
questão decidida; 
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem 
explicar o motivo concreto de sua incidência no caso; 
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer 
outra decisão; 
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no 
processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada 
pelo julgador; 
V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, 
sem identificar seus fundamentos determinantes nem 
demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles 
fundamentos; 
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou 
precedente invocado pela parte, sem demonstrar a 
existência de distinção no caso em julgamento ou a 
superação do entendimento. 
(CÓDIGO DO PROCESSO PENAL, DECRETO-LEI Nº 
3.689/1941) 
Por fim, a ausência de motivação por parte do magistrado 
leva ao reconhecimento da nulidade das decisões proferidas, 
conforme determina a Constituição Federal em seu art. 93, 
IX. 
Estrutura do processo penal: sistemas penais 
A estrutura do processo penal sofreu grandes alterações ao 
longo dos séculos, sempre acompanhando os dogmas, as 
ideologias e a estrutura social e política vigente, se mais 
punitiva ou libertária. Dessa maneira, é possível associar o 
sistema processual penal estabelecido com o viés 
democrático ou autoritário de determinado governo ou 
nação. 
Como dito, o processo funciona como garantia, instrumento 
de controle do poder do Estado. Assim, pela forma que este 
é conduzido, é possível verificar-se maior ou menor o grau 
de proteção dos direitos humanos fundamentais do sujeito 
submetido a ele. Não é outra a opinião de José Frederico 
Marques: 
O processo é instrumento de atuação estatal vinculado, 
quase sempre, às diretrizes políticas que plasmam a 
estrutura do Estado. Impossível, por isso, subtrair a norma 
processual dos princípios que constituem a substância ética 
do Direito e a exteriorização de seus ideais de justiça. No 
processo penal, então, em que as formas processuais se 
destinam a garantir direitos imediatamente tutelados pela 
Constituição, das diretrizes políticas desta é que partem os 
postulados informadores da legislação e da sistematização 
doutrinária. 
No mesmo sentido, Cândido Rangel Dinamarco afirma o 
seguinte: 
O processualista moderno adquiriu a consciência de que, 
como instrumento a serviço da ordem constitucional, o 
processo precisarefletir as bases do regime democrático, 
nela proclamadas; ele é, por assim dizer, o microcosmo 
democrático do Estado de direito, com as conotações da 
liberdade, igualdade e participação (contraditório), em clima 
de legalidade e responsabilidade. 
Como veremos nos tópicos seguintes, o sistema acusatório 
possui características democráticas, observando os direitos e 
as garantias das partes envolvidas. Já o sistema inquisitório, 
mais próximo de modelos autoritários, apresenta 
características que, muitas vezes, colidem com os direitos 
fundamentais dos acusados. 
Sistema acusatório 
Em oposição ao sistema inquisitorial, o sistema acusatório 
caracteriza-se pela clara distinção entre as funções de julgar 
e de acusar. Da mesma forma, a iniciativa probatória deve ser 
das partes, mantendo-se o juiz afastado, apenas como um 
terceiro imparcial, sem interferir de qualquer modo na 
investigação e na coleta da prova. Este é o entendimento de 
Geraldo Prado: 
A construção teórica do princípio acusatório há de 
consumar-se mediante oposição ao princípio inquisitivo. São 
antagônicas as funções que os sujeitos exercem nos dois 
modelos de processo. É desse antagonismo, portanto, que as 
diferenças devem ser extraídas. 
Assim, se na estrutura inquisitória o juiz ‘acusa’, na 
acusatória a existência de parte autônoma, encarregada da 
tarefa de acusar, funciona para deslocar o juiz para o centro 
do processo, cuidando de preservar a nota de imparcialidade 
que deve marcar a sua atuação. 
Em tal sistema, ambas as partes — acusação e defesa — têm 
tratamento igualitário, predominando o procedimento oral, 
a publicidade dos atos, o contraditório e a ampla defesa. 
Assim, o sistema acusatório possui estrutura e mecanismos 
de zelar pela imparcialidade do julgador. Nesse sentido, veja 
o que afirma Aury Lopes Junior: 
É importante destacar que a posição do ‘juiz’ é fundante da 
estrutura processual. Quando o sistema aplicado mantém o 
juiz afastado da iniciativa probatória (da busca de ofício da 
prova), fortalece-se a estrutura dialética e, acima de tudo, 
assegura-se a imparcialidade do julgador. 
O estudo dos sistemas processuais penais na atualidade tem 
que ser visto com o ‘olhar da complexidade’ e não mais com 
o ‘olhar da Idade Média’. Significa dizer que a configuração 
do ‘sistema processual’ deve atentar para a garantia da 
‘imparcialidade do julgador’, a eficácia do contraditório e das 
demais regras do devido processo penal, tudo isso à luz da 
Constituição. Assegura a imparcialidade e a tranquilidade 
psicológica do juiz que irá sentenciar, garantindo o trato 
digno e respeitoso com o acusado, que deixa de ser um mero 
objeto para assumir sua posição de autêntica parte passiva 
do processo penal. 
Em última análise, é a separação de funções e, por 
decorrência, a gestão da prova na mão das partes e não do 
juiz (juiz-espectador), que cria as condições de possibilidade 
para que a imparcialidade se efetive. Somente no processo 
acusatório-democrático, em que o juiz se mantém afastado 
da esfera de atividade das partes, é que podemos ter a figura 
do juiz imparcial, fundante da própria estrutura processual. 
Assim, conforme dito, o processo acusatório tem como uma 
de suas principais características a separação entre o juiz e 
as partes, não interferindo o julgador na investigação e na 
instrução processual, sendo efetivamente garantida sua 
imparcialidade até o julgamento final. Não é outro o 
entendimento de Luigi Ferrajoli ao diferenciar os dois 
modelos: 
Está claro que aos dois modelos são associáveis sistemas 
diferentes de garantias, sejam orgânicas ou procedimentais: 
se o sistema acusatório favorece modelos de juiz popular e 
procedimentos que valorizam o contraditório como método 
de busca da verdade, o sistema inquisitório tende a 
privilegiar estruturas judiciárias burocratizadas e 
procedimentos fundados nos poderes instrutórios do juiz, 
compensados talvez pelos vínculos das provas legais e pela 
pluralidade dos graus de juízo (instâncias). 
Em suma, no sistema acusatório, existe separação entre os 
órgãos incumbidos de realizar a acusação e o julgamento, o 
que garante a imparcialidade do julgador e, por conseguinte, 
assegura a plenitude de defesa e o tratamento igualitário das 
partes. 
Sistema brasileiro 
Atualmente, há quem defenda a existência de um sistema 
misto, decorrente da composição dos sistemas inquisitório e 
acusatório. Seria, assim, um sistema que possui 
características de ambos. Grande parte da doutrina afirma 
que o Brasil adota tal sistema, predominando na fase pré-
processual (fase de investigação) o modelo inquisitorial e na 
fase processual (instrução e julgamento) o modelo 
acusatório. 
É importante mencionar a crítica que parte da doutrina faz à 
qualificação de um sistema processual penal como misto, em 
razão da impossibilidade de existirem sistemas inteiramente 
puros, sendo todos mistos, uns se aproximando do 
inquisitorial e outros do acusatório. 
Também é importante sublinhar a crítica que sustenta a 
impossibilidade de um sistema misto, apoiado em dois 
princípios que se excluem reciprocamente: o inquisitorial e o 
acusatório. 
Analisando o sistema processual penal brasileiro atual, é 
possível perceber claramente de que modelo ele se 
aproxima. Evidente tal proximidade com o modelo 
inquisitório, quando, apesar de muitas reformas, ainda 
permanecem dispositivos que dão amplos poderes ao 
julgador para intervir na produção probatória: 
Art. 156 - A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, 
sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: 
I - ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a 
produção antecipada de provas consideradas urgentes e 
relevantes, observando a necessidade, adequação e 
proporcionalidade da medida; 
II - determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir 
sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida 
sobre ponto relevante. 
[...] 
Art. 209 - O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir 
outras testemunhas, além das indicadas pelas partes. 
[...] 
Art. 234 - Se o juiz tiver notícia da existência de documento 
relativo a ponto relevante da acusação ou da defesa, 
providenciará, independentemente de requerimento de 
qualquer das partes, para sua juntada aos autos, se possível. 
Um dos fundamentos mais utilizados para a concessão de 
tais “poderes” é o de que caberia ao magistrado a busca pela 
“verdade real”. Entretanto, sob o manto de tal justificativa, 
permite-se que o juiz, supostamente imparcial, atue de 
maneira ativa na investigação e na instrução. 
É preciso destacar que a interpretação sistemática da 
Constituição Federal do Brasil estabelece a garantia de que o 
processo penal deve seguir o sistema acusatório. Tal 
constatação decorre dos próprios princípios estabelecidos, 
como a dignidade da pessoa humana, a valorização do 
homem, bem como a própria transição de um regime 
autoritário para um regime democrático. 
Adicionalmente, diversos são os institutos e as garantias 
previstas constitucionalmente que decorrem do sistema 
acusatório: i) contraditório e ampla defesa; ii) devido 
processo legal; iii) presunção de inocência; iv) publicidade 
dos atos; e v) titularidade do Ministério Público sobre a ação 
penal pública. 
Fontes e sujeitos 
Podemos definir como fonte do direito tudo aquilo de que 
provém um preceito jurídico. Sabemos que o processo penal 
é um meio necessário para a aplicação do direito material. 
Ele é representado por um conjunto de procedimentos que 
vinculam os sujeitos e as partes do processo a fim de trazer 
legitimidade ao exercício do poder punitivo do Estado, 
buscando evitar eventuais abusos. Dessa forma, as fontes 
são pilares que servem de suporte para a interpretação 
precisa do sistema. 
As fontes do direito processual são divididas basicamente em 
duas: 
Fonte Material: É a fonte de produção, refere-se ao ente que 
temcompetência para elaborar as normas, ou seja, é aquela 
que cria o direito. No que se refere às fontes materiais, o art. 
22, inciso I, dispõe que compete privativamente à União 
legislar sobre direito civil, comercial, penal, processual, 
eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do 
trabalho. Assim, no caso do direito processual penal, o poder 
constituinte originário definiu que cabe à União legislar 
sobre sua estrutura e seus pilares fundamentais. 
Fonte Formal: É aquela que revela o direito. As fontes 
formais se subdividem em fontes primárias ou imediatas, 
que são as leis, a Constituição Federal, as emendas à 
constituição, os tratados, convenções e regras de direito 
internacional, e fontes secundárias ou mediatas, que são a 
analogia, os costumes, a jurisprudência, a doutrina e os 
princípios gerais do direito. 
Sujeito processual, por sua vez, é definido como toda pessoa 
que intervém na relação jurídico-processual, ou seja, aqueles 
que atuam no processo. Tal sujeito pode ser classificado 
como principal ou secundário. 
Os sujeitos principais participam da relação em caráter de 
obrigatoriedade, de modo que, sem eles, não se constitui um 
processo. São sujeitos processuais principais: 
• juiz; 
• acusado; 
• Ministério Público; 
• querelante. 
Deles, forma-se a relação angular-processual, estando o juiz 
acima e entre as partes em decorrência de sua 
imparcialidade. 
Sujeitos processuais secundários (acessórios ou colaterais), 
por sua vez, integram a relação processual sem caráter de 
obrigatoriedade. Em suma, sua presença é facultativa. É 
chamado também de colateral, haja vista que se agregam ao 
polo ativo ou passivo processual. Fazem parte desse grupo o 
assistente de acusação, o fiador do réu e os auxiliares da 
justiça. 
Aplicação da lei processual penal no espaço 
O processo penal, em todo o território nacional, rege-se pelo 
Código de Processo Penal. Tal regra está prevista em seu art. 
1º, caput, que adotou, quanto ao alcance de suas normas, o 
princípio da territorialidade, segundo o qual seus 
dispositivos se aplicam a todas as ações penais que tramitem 
pelo território brasileiro. 
Destaca-se que o Código de Processo Penal adota o princípio 
da territorialidade absoluta (locus regit actum), no sentido 
de que, no Brasil, não se admite a aplicação de direito 
processual estrangeiro, apesar de se admitir a aplicação de 
regras de direito internacional. 
Da mesma forma, o CPP adota, ainda, o princípio da 
territorialidade estrita, pois a lei processual penal brasileira, 
ao contrário do que ocorre com a lei penal, não possui 
extraterritorialidade. Entretanto, isso não significa que ela 
não possa ser aplicada a crimes cometidos fora do território 
nacional, para isso, basta que o crime seja julgado em 
território nacional. Assim dispõe o Código de Processo Penal 
sobre o tema: 
Art. 1º - O processo penal reger-se-á, em todo o Território 
Brasileiro, por este Código, ressalvados: 
I - os tratados, as convenções e regras de direito 
internacional; 
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da 
República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com 
os do Presidente da República, e dos ministros do STF, nos 
crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, §2º, e 
100); 
III - os processos da competência da Justiça Militar; 
IV - os processos da competência do tribunal especial 
(Constituição, art. 122, nº 17); 
V - os processos por crimes da imprensa. 
Diante disso, é possível verificar que o próprio Código de 
Processo Penal elenca hipóteses em que este não terá 
aplicação, ainda que o fato tenha ocorrido em território 
nacional. 
Os tratados, as convenções e as regras de direito 
internacional, firmados pelo Brasil, mediante aprovação por 
decreto legislativo e promulgação por decreto presidencial, 
afastam a jurisdição brasileira, ainda que o fato tenha 
ocorrido no território nacional, de modo que o infrator será 
julgado em seu país de origem. É o que ocorre, por exemplo, 
com agentes diplomáticos aqui acreditados, como 
embaixadores e secretários de embaixadas. 
Outra hipótese indicada expressamente é aquela em que 
devem ser aplicadas as prerrogativas constitucionais do 
presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes 
conexos com os do presidente da República, e dos ministros 
do STF, nos crimes de responsabilidade. Essa hipótese se 
refere aos crimes de natureza político-administrativa, e não 
aos delitos comuns, sendo o julgamento dessas infrações 
realizado pelo Poder Legislativo e não pelo Judiciário. 
Atenção! 
Os processos de competência da Justiça Militar, isto é, os 
crimes militares, seguem os ditames do Código de Processo 
Penal Militar (Decreto-lei nº 1.002, de 21 de outubro de 
1969), e não da legislação processual comum. 
Quanto aos processos por crimes da imprensa, vale destacar 
que o Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADPF 
130-7/DF, declarou que tal norma não foi recepcionada pela 
Constituição, de modo que, atualmente, os antigos crimes da 
Lei de Imprensa (Lei nº 5.250, de 9 de fevereiro de 1967) 
deverão ser enquadrados, quando possível, na legislação 
comum, e a apuração ocorrerá nos termos do Código de 
Processo Penal. 
Por fim, importante indicar que o art. 5º, §4º, da CF prevê 
que o Brasil se submete à jurisdição do Tribunal Penal 
Internacional. Dessa forma, ainda que um delito seja 
cometido em território nacional, havendo denúncia a esse 
tribunal, o agente deverá ser entregue para que lá seja 
julgado, aplicando-se as regras de direito internacional. 
Aplicação da lei processual penal no tempo 
Como regra geral, aplica-se o princípio do efeito imediato ou 
princípio da aplicação imediata ou sistema do isolamento 
dos atos processuais. Assim dispõe o CPP: 
Art. 2º - A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem 
prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei 
anterior. 
(CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, DECRETO-LEI Nº 3.689/1941) 
Dessa forma, o art. 2º do CPP adotou o princípio da imediata 
aplicação da lei processual penal, também chamado de 
princípio tempus regit actum. De acordo com esse princípio, 
os novos dispositivos processuais podem ser aplicados a 
crimes praticados antes de sua entrada em vigor. Assim, para 
a definição da lei aplicável, considera-se a data da realização 
do ato e não a data da infração penal. 
Ante o exposto, a lei processual será aplicada 
imediatamente, ainda que prejudicial ao réu. Destaca-se que 
não há violação ao art. 5º, XL, da CF, pois a vedação 
incorporada nesse dispositivo constitucional não se refere às 
normas puramente processuais penais, mas apenas às 
normas de natureza penal. 
Vale ressaltar que o art. 3º da Lei de Introdução ao CPP 
dispõe que “o prazo já iniciado, inclusive o estabelecido para 
a interposição de recurso, será regulado pela lei anterior, se 
esta não prescrever prazo menor do que o fixado no CPP”. 
Assim, se um determinado prazo já estiver em andamento, 
incluindo o prazo recursal, valerá o prazo da lei anterior se o 
prazo da nova lei for menor do que aquele outro. Tal situação 
apresenta uma hipótese de ultratividade da lei processual 
penal. 
É importante, contudo, diferenciar as chamadas normas 
processuais heterotópicas e normas processuais mistas ou 
híbridas: 
Normas processuais heterotópicas: Como sabemos, normas 
processuais são aquelas que regulamentam aspectos 
relacionados ao procedimento ou à forma dos atos 
processuais, possuindo aplicações imediatas. Já as normas 
materiais são aquelas que objetivam assegurar direitos ou 
garantias, possuindo efeitos retroativos nas hipóteses que 
beneficiam o réu, mas jamais retroagindo para prejudicá-lo. 
Ocorre que existem determinadas regras que, apesar de 
inseridas em diplomas processuais penais, possuem 
conteúdo material, retroagindo para beneficiar o réu. 
Outras, ao revés, incorporadas a leis materiais,apresentam 
um conteúdo processual, regendo-se pelo critério tempus 
regit actum. Essas são chamadas de normas heterotópicas. 
Normas processuais híbridas: São aquelas que possuem 
preceitos de direito material e de direito processual. Nessas 
hipóteses, prevalece o conteúdo material da norma, assim 
devem respeitar o princípio que veda a aplicação retroativa 
da lei penal quando seu conteúdo for prejudicial ao réu. Ou 
seja, a regra de irretroatividade não se aplica às normas 
processuais que também possuem em seu conteúdo 
natureza de direito material.

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