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Indaial – 2022 AgrícolA Prof.ª Mariana Lima do Nascimento 1a Edição EntomologiA Elaboração: Prof.ª Mariana Lima do Nascimento Copyright © UNIASSELVI 2022 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Impresso por: C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI. Núcleo de Educação a Distância. NASCIMENTO, Mariana Lima do. Entomologia Agrícola. Mariana Lima do Nascimento. Indaial - SC: UNIASSELVI, 2022. 210 p. ISBN 978-65-5646-470-1 ISBN Digital 978-65-5646-465-7 “Graduação - EaD”. 1. Entomologia 2. Agrícola 3. Brasil CDD 632.7 Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 A produção agrícola enfrenta diferentes desafios, buscando suprir a demanda alimentar de uma população cada vez maior. Problemas como a perda da fertilidade do solo e a escassez de água em algumas regiões; a perda da biodiversidade dos ecossistemas; a falta de recursos financeiros e humanos e a competição por recursos naturais – incluindo a competição com as pragas agrícolas – têm provocado a necessidade de se buscar meios de produção sustentáveis. A agricultura deve ser pautada em intervenções racionais, que permitam um certo nível de equilíbrio nos agroecossistemas, garantindo uma produção compatível com a sustentabilidade e trazendo benefícios econômicos e ambientais aos agricultores e à sociedade. Assim, faz-se necessário conhecer aspectos inerentes a cada elemento presente no ambiente de produção, de forma que seja possível realizar uma intervenção adequada e eficiente, garantindo a segurança alimentar no futuro. Infestações por pragas agrícolas são resultado da manipulação dos ecossiste- mas naturais pelo homem, sobretudo, em razão da remoção da vegetação natural para a implantação de monoculturas por longos períodos. Isso proporciona um ambiente al- tamente favorável para o aumento populacional de insetos e ácaros herbívoros com potencial para causar danos imensuráveis às plantas cultivadas. Pensando em susten- tabilidade, reforça-se a necessidade de entender as características desses organismos e a sua interação com as plantas dentro de um sistema de produção, de modo que seja possível prever e antecipar aos possíveis danos provocados por eles. Nesse sentido, este livro destina-se a realizar uma introdução à Entomologia Agrí- cola, ramo da ciência que se ocupa em estudar insetos e ácaros e sua relação com os seres humanos, o meio ambiente e outros organismos – principalmente às culturas agrícolas. Na Unidade 1, será possível obtermos uma visão geral sobre os insetos e ácaros, revisando características morfológicas, anatômicas e fisiológicas desses organismos, bem como entendermos o conceito de praga e a importância de estudá-las. Além disso, identi- ficaremos os principais grupos de pragas que ocorrem em plantas de interesse econômico. Em seguida, na Unidade 2, estudaremos os principais sistemas e métodos de controle de pragas, com enfoque no manejo integrado de pragas. Também será possível obter noções sobre a toxicologia dos inseticidas. Por fim, na Unidade 3, identificaremos as principais pragas das culturas de importância agrícola, florestal e ornamental, bem como aprenderemos conceitos essenciais para a aplicação do Plano de Manejo Integrado de Pragas. Prof.ª Mariana Lima do Nascimento APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Preparamos também um novo layout. 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O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confi ra, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO À ENTOMOLOGIA AGRÍCOLA ................................................... 1 TÓPICO 1 - UMA VISÃO GERAL SOBRE OS INSETOS E ÁCAROS .........................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 1.1 CARACTERÍSTICAS DOS INSETOS ...................................................................................................4 1.1.1 Anatomia externa dos insetos .................................................................................................4 1.1.2 Anatomia interna e fisiologia dos insetos .......................................................................... 10 1.1.3 Reprodução e desenvolvimento dos insetos .................................................................... 14 2 CARACTERÍSTICAS DOS ÁCAROS ................................................................................... 17 2.1 ANATOMIA EXTERNA, INTERNA E FISIOLOGIA DOS ÁCAROS ....................................................17 2.2 REPRODUÇÃO E DESENVOLVIMENTO DOS ÁCAROS ................................................................20 RESUMO DO TÓPICO 1 ......................................................................................................... 21 AUTOATIVIDADEnos insetos são os Túbulos de Malpighi (BUZZI, 2013). Trata-se de tubos estreitos, localizados entre o intestino médio e o posterior, que têm a função de coletar resíduos dos fluidos corporais, repassando-os para o intestino – de forma semelhante aos rins humanos. O número de de Malpighi variam de espécie para espécie, as baratas, por exemplo, apresentam mais de cem (GALLO et al., 2002). O sistema respiratório dos insetos apresenta uma série de pequenos tubos ramificados (traqueias), além de tubos microscópicos (traquéolas) e sacos aéreos, que mantêm contato com os órgãos e tecidos internos do corpo, funcionando como reservatórios de ar (GALLO et al., 2002). O sistema traqueal pode ser aberto ou fechado. O primeiro se abre para o exterior por meio de uma série de poros semelhantes a válvulas (espiráculos), localizados em ambos os lados do abdome. Os espiráculos não só permitem a troca respiratória, como também atuam na perda de água. A maioria dos insetos se reproduzem de forma sexuada e por oviparidade, com os óvulos das fêmeas desenvolvendo-se após a fusão com o espermatozoide depositado pelo macho. Os sistemas reprodutores dos insetos são formados por pares de glândulas sexuais oriundas da endoderme (GALLO et al., 2002). Nas fêmeas, o aparelho reprodutor é composto por um par de ovários e dois ovi- dutos laterais, formando um oviduto central. O oviduto central se estende até a vagina, que apresenta uma abertura para o exterior, na região da vulva. O sistema também inclui um par de glândulas acessórias e uma espermateca em forma de bolsa na qual, após a 12 cópula, o esperma é armazenado (GALLO et al., 2002). Os ovos geralmente são deposi- tados por meio de um ovipositor localizado na região posterior do abdome. Em alguns insetos, contudo, tal estrutura é ausente ou perdeu sua função como, por exemplo, em abelhas em que o ovipositor foi transformado em ferrão (MATUSHKINA, 2011). Os insetos machos possuem dois testículos, que se abrem por meio de um duto comprido (vaso deferente) que se dilata, formando uma vesícula seminal na qual o esperma é armazenado. As vesículas seminais, juntamente com um par de glândulas acessórias, abrem-se em um único duto ejaculatório que se estende até o gonóporo localizado no oitavo segmento abdominal (BUZZI, 2013). Nos insetos, a fecundação ocorre quando o óvulo é por um dos espermatozoides que deixam a espermateca. Nesse momento, os núcleos se fundem, formando o ovo ou zigoto, dando origem a um novo indivíduo, cujos cromossomas foram fornecidos em metades por ambos os genitores (GALLO et al., 2002). O aparelho nervoso dos insetos consiste em um cérebro, composto por células nervosas (neurônios) especializadas para as funções de sensação, condução e coorde- nação. O cérebro é conectado aos olhos compostos, às antenas e às peças bucais, há também um cordão nervoso central que se estende dorsalmente até o tórax e abdome. O cordão nervoso inclui uma série de agregações chamadas gânglios, das quais surgem vários nervos laterais. O cérebro ocupa grande parte da cabeça e é o principal centro de controle do corpo; os gânglios, no entanto, gerenciam outras atividades (como o movi- mento dos apêndices), independentes do cérebro (GALLO et al., 2002). Os insetos ainda possuem órgãos de sentido e sistemas muscular e glandular. Os órgãos de sentido compreendem um conjunto de órgãos e receptores responsáveis pela captação dos cinco sentidos: visão, tato, audição, olfato e gustação (GALLO et al., 2002) Em relação à visão, os insetos podem apresentar dois tipos de aparelhos fotorreceptores – os olhos compostos e os ocelos. Os olhos compostos são típicos de insetos adultos. Têm formato convexo, redondo, oval etc. e localizam-se na cabeça. São formados por estruturas minúsculas chamadas omatídeos, cujo número varia conforme o habitat e comportamento do inseto (GALLO et al., 2002). Formigas operárias do gênero Solenopsis que vivem abaixo do solo têm cerca de seis a nove omatídeos. Por outro lado, os machos, que saem à procura de fêmeas no voo nupcial, apresentam 400. A mosca- doméstica e a abelha têm cerca de 4.000 e as libélulas, 28.000 omatídeos (GALLO et al., 2002). Os ocelos ou olhos simples estão presentes, sobretudo, em estádios larvais, mas também em insetos adultos. Dependendo do local onde se encontram, podem ser chamados de ocelos laterais ou dorsais (BUZZI, 2013). O senso tátil nos insetos é percebido por receptores mecânicos denominados sensilos. Os sensilos assumem um aspecto oco ou de cerda, contendo neurônios em sua base. Esses receptores ocorrem em número elevado ao longo do corpo dos insetos, sobretudo nas larvas. Assim como o tato, a audição nos insetos é percebida por 13 receptores mecânicos presentes no tímpano – os sensilos escolopóforos. Outros tipos de receptores são os denominados “órgãos de Johnston”, presente nas famílias Culicidae e Chironomidae. O olfato, por sua vez, é percebido por receptores químicos, conhecidos como sensilos basicônico e placódeo. Esse sentido está inserido, geralmente nas antenas, como em baratas, por exemplo, que localizam os alimentos movendo-as em todas as direções. Por fim, o gosto dos alimentos nos insetos é percebido por sensilos que comumente ficam localizados no tarso e na parte distal da tíbia (GALLO et al., 2002). O sistema glandular é composto por glândulas dotadas de dutos que secretam hormônios necessários ao desenvolvimento do inseto. Existem dois tipos de glândulas principais: as glândulas exócrinas, que secretam substâncias para o exterior do corpo e as glândulas endócrinas, que não possuem dutos, ejetando os hormônios diretamente na hemolinfa, que os distribui pelo corpo do inseto (GALLO et al., 2002). Dentre as glândulas exócrinas principais, encontram-se as de: veneno, espuma, repelentes, atraentes, repelentes, dentre outras. • Glândulas de veneno (ou de defesa) – Ficam na base do ferrão ou ovipositor e são muito comuns em espécies de himenópteros sociais, como abelhas e vespas, que secretam um fluido cáustico através de um poro existente na parede do aguilhão. Em outros insetos, como taturanas e lagartas-de-fogo, elas se juntam a setas ou espinhos que, ao se quebrarem, liberam o líquido acumulado, causando dores e lesões na pele (GALLO et al., 2002). • Glândulas de espuma – Conhecidas como glândulas de Bateli, são comuns em ninfas de cigarrinhas da família Cercopidae e secretam um material de consistência mucilaginosa, formando uma espécie de espuma característica, muitas vezes encontrada em plantas atacadas (GALLO et al., 2002). • Glândulas repelentes – Como o nome sugere, são estruturas especializadas que funcionam como órgãos de defesa, repelindo eventuais predadores por meio da secreção de substâncias. Os fluidos apresentam um odor fétido, característico da espécie que os produzem. São comuns em percevejos da família Pentatomidae e em baratas (GALLO et al., 2002). • Glândulas atraentes – São uma das mais importantes para os insetos, pois atuam na síntese de secreções chamadas feromônios. Os feromônios são mensageiros quí- micos usados na comunicação entre as espécies, induzindo-as a um determinado tipo de comportamento, como a aproximação de sexos (feromônios sexuais, comuns em insetos da ordem Lepidoptera); a agregação de indivíduos em um local específico (feromônios de agregação, típicos da família Scolytidae); a marcação de caminhos e trilhas (feromônios marcadores de trilhas, presentes em himenópteros sociais como abelhas, formigas, mamangavas etc.); o alarme (feromônios de alarme, também ca- racterístico de insetos sociais como as abelhas); dentre outros (GALLO et al., 2002). As glândulas endócrinas não possuem canal próprio, secretando os hormônios endócrinos diretamente na hemolinfa. Dentre as principais incluem-se, os corpos cardíacos, os corpos alados, as glândulas protorácicas e as gônadas sexuais (LEITE, 2011). 14 • Corpos cardíacos – Estão envolvidos no estoque e liberação do neuro-hormônio docérebro (e.g. o hormônio protorácico trópico – HTTP). • Corpos alados – Situam-se no cérvix do inseto, sintetizando o hormônio juvenil (HJ) sem armazená-lo. • Glândulas protorácicas – Responsáveis pela produção do hormônio de muda (ecdizona). Essas glândulas são inativadas durante a metamorfose, na maioria dos insetos. • Gônadas sexuais – Sintetizam o ecdizona em insetos adultos. 1.1.3 Reprodução e desenvolvimento dos insetos Os insetos possuem uma capacidade reprodutiva elevada. Geralmente, a reprodução depende do encontro entre os dois sexos e a fecundação do óvulo pelo espermatozoide. Contudo, também existem outros modos de reprodução nos quais não ocorre a fecundação (BUZZI, 2013). A grande maioria dos insetos se reproduzem por oviparidade. Esse tipo de re- produção tem início com a deposição dos ovos pelas fêmeas, os quais dão origem às larvas ou ninfas, que até chegarem à fase adulta, passam por vários estágios chamados instares. Os ovos podem ser depositados separadamente ou em massas, nas plantas (e.g. mariposas, percevejos etc.), no solo (e.g. gafanhotos, grilos etc.) sobre animais (pio- lhos), no interior de outros insetos (parasitoides), dentre outros locais. Alguns insetos, como baratas e louva-a-deus, possuem uma cápsula de proteção aos ovos chamada ooteca (GALLO et al., 2002). Há também a reprodução por viviparidade. Insetos vivíparos dão origem diretamente a ninfas ou larvas vivas, em vez de ovos. A viviparidade pode abranger outros tipos: ovoviviparidade, na qual a fêmea deposita ovos que possuem embriões desenvolvidos ou larvas recém eclodidas; viviparidade adenotrófica, em que, após a eclosão, as larvas permanecem no corpo da fêmea se alimentando de substâncias nutritivas e, quando depositadas, rapidamente empupam; viviparidade na hemocele, quando os ovos são depositados na hemocele e as larvas, ao completar o desenvolvimento, devoram a fêmea; viviparidade pseudoplacentária, quando o embrião é desenvolvido por uma extensão da vagina, sendo alimentado por estruturas semelhantes a placentas (GALLO et al., 2002). Nem todos os insetos se reproduzem de forma sexuada, não ocorrendo, portanto, a fecundação. Em algumas espécies, os machos podem ser extremamente raros ou desconhecidos. Nesses casos, a reprodução ocorre por partenogênese. A reprodução por partenogênese pode dar origem apenas a indivíduos fêmeas, quando é chamada partenogênese telítoca (ocorre em pulgões, certos dípteros e alguns coleópteros); apenas à indivíduos machos, denominada partenogênese arrenótoca (encontrada em moscas brancas e em vários himenópteros) ou anfítoca, quando se originam ambos os sexos (observada em insetos da ordem Thysanoptera) (GALLO et al., 2002). 15 Durante o crescimento, os insetos podem passar por processos fisiológicos resultantes de estímulos ambientais. O principal deles é a dormência, uma condição fisiológica que atrasa ou interrompe sua reprodução e crescimento sob condições adversas. Pode ser chamada de hibernação quando se trata de temperaturas abaixo do ideal. De acordo com Leite (2011), existem três tipos de dormência em insetos: quiescência, oligopausa e diapausa. A quiescência é a resposta do inseto a mudanças ambientais súbitas, não an- tecipadas e acíclicas, normalmente de curta duração. Geralmente resulta em atraso na reprodução e desenvolvimento do inseto. A oligopausa é um período determinado de dormência em resposta a alterações climáticas cíclicas e duradouras. Ocorre uma dimi- nuição ou paralisação do crescimento ou reprodução. Para isso, os insetos se utilizam de reservas nutricionais anteriormente acumuladas, contudo, podem vir a se alimentar periodicamente. A diapausa é o tipo de dormência mais avançado, ocorre em condições ambientais cíclicas, extremas e duradouras. Requer um período preliminar no qual o inseto acumula reservas e sintetiza hormônios envolvidos no controle do metabolismo. Na diapausa, o inseto não se alimenta e o retorno das condições favoráveis não cessa imediatamente tal processo (LEITE, 2011). O desenvolvimento de um inseto envolve tanto o seu crescimento em tamanho quanto a sua mudança de forma. Existe o desenvolvimento embrionário (fase de ovo) e o pós-embrionário (LEITE, 2011). O desenvolvimento embrionário ocorre após a fecundação do óvulo pelo espermatozoide, dando origem ao núcleo zigótico, e termina com a eclosão da forma imatura (larva ou ninfa) em espécies de reprodução sexuada. Já em espécies partenogênicas, o início do desenvolvimento do embrião ocorre mediante algum estímulo externo, como a entrada de oxigênio no ovo ou a deposição dos ovos em algum substrato (GALLO et al., 2002). O desenvolvimento pós-embrionário se inicia com a emergência do ovo, abrange o crescimento das formas jovens e termina com a emergência dos adultos. Esse processo é marcado pela transformação dos insetos imaturos em organismos adultos e inclui uma série de transformações (sobretudo a troca do tegumento) conhecidas como metamorfose (GALLO et al., 2002). A metamorfose é um processo fisiológico que ocorre na maioria dos insetos, os quais são reconhecidos como metabólicos. Contudo, existem insetos em que a forma do corpo em cada estádio não difere tanto em relação a estádios anteriores, exceto pela mudança de tamanho. Esses insetos atingem a maturidade sem sofrer metamorfose e são denominados ametabólicos ou ametábolos (GALLO et al., 2002; LEITE, 2011). A depender do tipo de metamorfose sofrido, os insetos metabólicos são classificados em hemimetabólicos (hemimetábolos) ou holometabólicos. 16 Os insetos hemimetabólicos apresentam uma metamorfose incompleta, caracterizada pela ausência de pupa. Os indivíduos recém-eclodidos parecem adultos, exceto pelo tamanho. Há ausência de asas e órgãos genitais maduros. As formas jovens (também chamadas ninfas) passam por diversas ecdises até o adulto tomar forma, com o desenvolvimento dos apêndices. Dentre os insetos hemimetábolos, incluem-se, gafanhotos, baratas, percevejos, cigarrinhas, cupins etc. (GALLO et al., 2002). A metamorfose completa (holometabolia) abrange as fases de ovo, larva, pupa e adulto. Ocorre uma mudança abrupta entre as formas jovens, incluindo a fase de pupa – o último instar antes da emergência do adulto. É típico de besouros, borboletas, mariposas, moscas, pernilongos, abelhas, formigas, pulgas etc. (GALLO et al., 2002). A maioria dos insetos holometabólicos apresentam apenas um tipo de larva, contudo, algumas espécies apresentam larvas com formatos variados, sendo divididos em quatros grupos principais: • Vermiforme – Larva ápoda, sem pernas, em que geralmente a cabeça não é diferenciada. É comum em moscas. • Campodeiforme – Larvas alongadas, achatadas dorsoventralmente, com antenas e pernas torácicas bem desenvolvidas. Observadas em joaninhas. • Eruciforme – Característica das borboletas e mariposas, cujas larvas recebem o nome de lagartas. O corpo é mais ou menos cilíndrico, com pernas torácicas e abdominais bem desenvolvidas. Podem, ainda, apresentar o corpo revestido por pelos urticantes, como nas taturanas. • Escarabeiforme – Larvas com corpo espesso, carnudo e encurvado em forma de C. Apresentam cabeça e pernas torácicas bem desenvolvidas e ausência de pernas abdominais. São comuns em besouros escaravelhos. Os insetos apresentam dois tipos de pupas principais: exaradas – alguns ou todos os apêndices (e. g. antenas, pernas, peças bucais, asas) são livres, ou seja, independentes do corpo; e obtecta – todos os apêndices ficam presos ao corpo. A pupa obtecta pode não conter nenhuma proteção, sendo chamada pupa nua, ou pode ser envolvida por uma proteção de fios de seda, caracterizando a pupa em casulo. Existem também pupas em estojo que, além de fios, têm em sua composição pedaços de ramos, folhas, detritos, dentre outros (GALLO et al., 2002). Apresentamos as principais características dos insetos, abordando aspectos relativos à morfologia externa, anatomia interna e fisiologia. No próximotópico daremos início a revisão acerca dos ácaros, os quais, apesar de existirem em menor número, são igualmente importantes para o estudo da Entomologia Agrícola. 17 2 CARACTERÍSTICAS DOS ÁCAROS Assim como os insetos, os ácaros são organismos agrupados dentro do Filo Arthro- poda. Os ácaros são frequentemente estudados pela Entomologia devido ao fato de serem pragas agrícolas economicamente importantes. Além disso, alguns ácaros também são pra- gas domésticas, vetores de doenças em humanos e animais (MORAES; FLECHTMANN, 2008). Os ácaros pertencem à Classe Arachnida, que apresenta as seguintes carac- terísticas: corpo dividido em duas regiões (tagmas), prossoma (anterior) e opistossoma (posterior). O prossoma é formado por um ácron e seis segmentos, coberto por um es- cudo. O opistossoma é constituído por até 12 segmentos e um télson. O prossoma não possui antenas, sendo formado por um par de quelíceras, um par de pedipalpos e qua- tro pares de pernas – uma exceção ocorre na família Eriophyidae, na qual as espécies possuem apenas 2 pares de pernas. O opistossoma não possui apêndices. As trocas gasosas são realizadas por meio de traqueias, pulmões foliáceos (filotraqueias) ou por difusão através da parede do corpo (MORAES; FLECHTMANN, 2008). 2.1 ANATOMIA EXTERNA, INTERNA E FISIOLOGIA DOS ÁCAROS Pertencentes a ordem Acari, os ácaros diferem dos demais aracnídeos por não terem o corpo segmentado. Em relação aos insetos (que possuem o corpo dividido em cabeça, tórax e abdome) os ácaros possuem apenas duas regiões: o gnatossoma, formado por um par de quelíceras (peças bucais) e um par de palpos; e o idiossoma, onde ficam as pernas (HOY, 2011). Os ácaros não possuem cabeça. O primeiro par de pernas é especializado, contendo cerdas sensoriais e outros receptores. De certa forma, as pernas funcionam de maneira similar às antenas e olhos dos insetos. Esses órgãos apresentam os segmentos: coxa, trocanter, fêmur, joelho, tíbia, tarso e pré-tarso (HOY, 2011). O exoesqueleto dos ácaros é muito semelhante ao dos insetos, sendo formado por epiderme, camada de Schmidt, endocutícula e epicutícula. Essa região apresenta canais po- rosos que surgem das células epidérmicas subjacentes à camada de Schmidt e passam pela endo e epicutícula. Tais estruturas são capazes de transportar secreções epidérmicas para a camada mais superficial do corpo. A epiderme também contém cerdas, que variam na forma e função, sendo comumente utilizadas durante a identificação das espécies (HOY, 2011). Como a maioria dos ácaros não possuem olhos, as cerdas são mecanismos importantes de interação com o ambiente. Essas estruturas são táteis, sensíveis ao dióxido de carbono (CO2), vibrações, calor, umidade, feromônios (sinais químicos percebidos dentro da espécie) e cairomônios (sinais químicos percebidos entre as espécies (HOY, 2011). 18 Apesar da falta de olhos, os ácaros são capazes de sentir o fotoperíodo, o que influencia se há necessidade de entrarem em diapausa ou se desenvolvem continuamente. Algumas espécies apresentam sensibilidade ao calor e tendem a se afastar de locais onde há intensa luminosidade, como mecanismo de sobrevivência (MORAES; FLECHTMANN, 2008). O gnatossoma (composto pelas quelíceras e pedipalpos) é uma estrutura móvel, que se articula com o idiossoma por meio de uma membrana. Essa estrutura pode variar entre as espécies de ácaros devido, sobretudo, ao tipo de hábito alimentar. Os carrapa- tos, por exemplo, têm um hipóstomo especializado – um órgão perfurante, com dentes retorcidos que dificultam a retirada das peças bucais do seu hospedeiro. Por outro lado, ácaros que se alimentam de plantas possuem quelíceras em forma de estilete. Os pe- dipalpos são apêndices sensoriais, por vezes, modificados para prender os alimentos. Além disso, são utilizados para limpar as quelíceras após a alimentação (HOY, 2011). Figura 4 – Anatomia externa de um ácaro Fonte: adaptado de Mullen e Oconnor (2019) A fisiologia interna dos ácaros se apresenta de modo semelhante aos insetos, sendo composta por órgãos e sistemas espalhados por todo o corpo, promovendo as mais diversas atividades biológicas. Em nosso livro, abordaremos os sistemas circulatório, digestivo, excretor, respiratório, reprodutor, bem como, o sistema nervoso e órgãos do sentido (HOY, 2011). 19 O sistema circulatório dos ácaros abrange a cavidade corporal, onde os órgãos internos são banhados pela hemolinfa. De forma semelhante aos insetos, a hemolinfa desempenha papéis importantes, como o transporte de nutrientes, hormônios e produtos de excreção. Adicionalmente, esse fluido é capaz de garantir firmeza ao corpo do ácaro, permitindo a movimentação das diferentes estruturas pela variação da pressão hidrostática do corpo (MORAES; FLECHTMANN, 2008). O sistema digestivo dos ácaros é constituído pela boca, que se estende até uma faringe, além do esôfago, estômago ou ventrículo, intestino delgado, intestino posterior e cavidade retal posterior. O estômago contém pares de cecos gástricos que atuam no armazenamento de alimentos, o que permite longos períodos sem alimentação. Há também um ou dois pares de Túbulos de Malpighi (órgãos excretores) conectados ao intestino posterior. Assim como nos insetos, esses órgãos absorvem o material residual da cavidade corporal e o transformam em compostos orgânicos que são excretados pelo orifício anal (HOY, 2011). A respiração dos ácaros se dá, sobretudo, pela superfície da cutícula ou por meio de um sistema de traqueias que se irradiam por todo o corpo. As traqueias permitem a troca de oxigênio e dióxido de carbono e ajudam a controlar a perda de água em algumas espécies (MORAES; FLECHTMANN, 2008). O sistema reprodutor dos ácaros machos e fêmeas varia muito, tanto em estrutura, quanto em posição nas diferentes espécies. De uma forma geral, a transferência de esperma pode ocorrer de forma direta ou indireta. Na transferência direta, os machos se utilizam de estruturas especiais chamadas ventosas, para segurar as fêmeas durante a cópula, e transferir o espermatóforo através da abertura vaginal. A transferência indireta ocorre quando os machos depositam os espermatozoides em um substrato. Estes são coletados pelas fêmeas e armazenados no receptáculo seminal (HOY, 2011). Os ácaros possuem um sistema nervoso central bem desenvolvido. Estes animais possuem órgãos sensoriais (chamados setas) que enviam estímulos ao sistema nervoso central, permitindo a realização de diferentes funções. Os tricobótrios, por exemplo, são um tipo de seta capaz de perceber o movimento do ar. Setas conhecidas como eupatídios estão ligadas à detecção de moléculas presentes no substrato, permitindo a percepção do gosto. Já os solenídios são setas encontradas na parte dorsal do tarso e atuam na percepção do olfato (MORAES; FLECHTMANN, 2008). 20 2.2 REPRODUÇÃO E DESENVOLVIMENTO DOS ÁCAROS Assim como os insetos, os ácaros podem se reproduzir de forma sexuada (quando há fecundação) ou por partenogênese (sem fecundação). Quanto ao desenvol- vimento, os ácaros em sua maioria são ovíparos. Há também aqueles que se desenvol- vem por ovoviviparidade, em que os ovos são postos contendo um embrião em estágio avançado de desenvolvimento (MORAES; FLECHTMANN, 2008). No desenvolvimento pós-embrionário, os ácaros podem passar por seis estádios ou ínstares: pré-larva, larva, protoninfa, deutoninfa, tritoninfa e adulto. Esses estádios são delimitados ela ocorrência de ecdises, que são marcadas por períodos de inatividade (dormência) (HOY, 2011). De um modo geral, a larva de um ácaro é hexápode (possui seis pernas). No estágio larval, os ácaros apresentam pouca ou nenhuma esclerotização e não apresentam órgãos genitais visíveis. Em alguns grupos, a larva não se alimenta, enquanto, em muitos outros, é voraz (MORAES; FLECHTMANN, 2008). A primeira ninfa (chamada protoninfa) normalmente é ativa e, assim como a larva, pode se alimentar ou não. A partir da fase de protoninfa,o ácaro apresenta quatro pares de pernas, exceto os Eriophyoidea (dois pares), alguns Podapolipidae (um a três pares) e alguns Tenuipalpidae (três pares) (MORAES; FLECHTMANN, 2008). Na maioria dos ácaros, a segunda ninfa (denominada deutoninfa), apresenta a mesma estrutura dos adultos, diferindo destes em tamanho e padrão de esclerotização. Nesse estádio, os indivíduos são muito resistentes a condições adversas e geralmen- te apresentam estruturas especializadas de fixação nos hospedeiros, com a finalidade se transportar para outros ambientes, mais adequados ao seu desenvolvimento. Esse processo de transporte é conhecido como forese, também relatado em outros grupos de animais. A tritoninfa é um estádio característico de Astigmata e Ixodida, mas pouco frequente em outros grupos de ácaros (MORAES; FLECHTMANN, 2008). O desenvolvimento do ácaro desde a fase de ovo ao estádio adulto, pode levar de poucos dias a várias semanas ou meses, conforme a espécie e as condições ambientais. Temperatura, umidade, luz e disponibilidade de alimento têm um efeito significativo no desenvolvimento de uma determinada população (HOY, 2011). 21 Neste tópico, você aprendeu: • A entomologia agrícola é o ramo da Entomologia que estuda as pragas agrícolas (insetos e é ácaros), os quais estão agrupados no filo Arthropoda e na classe Insecta (insetos) ou Arachnida (ácaros), dentro do Reino Animal. Os insetos apresentam, como características principais, o corpo dividido em cabeça, tórax e abdome; um par de antenas; um par de mandíbulas; dois pares de maxilas; três pares de pernas e, em sua maioria, dois pares de asas. O corpo dos insetos é envolvido externamente pela cutícula, a qual é renovada periodicamente, marcando a mudança de estádio de vida. Na cabeça dos insetos estão presentes órgãos sensoriais importantes, como os olhos e as antenas; além do aparelho bucal – mastigador ou sugador – que caracteriza o tipo de hábito alimentar. • Os insetos possuem órgãos (como olhos, antenas e sensilos) envolvidos na per- cepção de diferentes sentidos, além dos aparelhos circulatório, digestivo, excretor, respiratório, reprodutor, nervoso e glandular; os quais atuam em diferentes funções fisiológicas, sendo passíveis de sofrerem influências de fatores externos (sobretudo àqueles relacionados à ação humana), que podem afetar o comportamento destes organismos. • Diferentemente dos insetos, os ácaros possuem o corpo divido em duas regiões: o gnatossoma, formado por um par de quelíceras (peças bucais) e um par de palpos; além do idiossoma, onde ficam as pernas. A fisiologia interna dos ácaros se apre- senta de modo semelhante aos insetos, sendo composta por estruturas sensoriais (cerdas e pedipalpos) e os sistemas (circulatório, digestivo, excretor, respiratório, reprodutor e nervoso), espalhados por todo o corpo, promovendo as mais diversas atividades biológicas. RESUMO DO TÓPICO 1 22 AUTOATIVIDADE 1 Os insetos pertencem à Classe Insecta dentro do Filo Arthropoda. De acordo com as características dos insetos, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Possuem quatro pares de pernas; um par de antenas; corpo dividido em cabeça e segmentos; respiração por traqueias; excreção por Túbulos de Malpighi. b) ( ) Possuem três pares de pernas; dois pares de antenas; corpo divido em cabeça, tórax e abdome; respiração por brânquias; excreção por glândulas verdes. c) ( ) Possuem três pares de pernas; um par de antenas; corpo divido em cabeça, tórax e abdome; respiração por traqueias; excreção por Túbulos de Malpighi. d) ( ) Possuem um par de pernas; quatro pares de antenas; corpo divido em cefalotórax e abdome; respiração por traqueias, excreção por glândulas verdes. 2 Trata-se de um processo no qual a cutícula velha é degradada por enzimas (quitinases e proteases) e substituída por outra nova, marcando a mudança de estádio dos insetos. Acerca disso, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Deposição. b) ( ) Diapausa. c) ( ) Cópula. d) ( ) Ecdise. 3 A maioria dos ácaros não possui olhos. Apesar disso, esses organismos desenvolveram estruturas sensoriais capazes de detectar luminosidade, temperatura, CO2 , vibrações e feromônios. Sobre o nome dessas estruturas, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Quelíceras. b) ( ) Élitros. c) ( ) Apêndices. d) ( ) Cerdas. 4 Insetos e Ácaros pertencem a Classes distintas dentro do Filo Arthropoda. Comente sobre as principais diferenças na morfologia externa desses dois organismos. 5 Os insetos são organismos evoluídos, diversificados e adaptados a diferentes am- bientes. Esses animais desenvolveram hábitos alimentares específicos, que variam de espécie para espécie. Isso é possível devido a modificações no aparelho bucal, o qual, em linhas gerais, pode ser do tipo mastigador ou sugador. Explique a principal diferença entre esses dois tipos de aparelho bucal, citando exemplos de insetos que os possuem. 23 A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS PRAGAS AGRÍCOLAS 1 INTRODUÇÃO Conforme vimos no Tópico 1 desta unidade, a Entomologia Agrícola é a ciência encarregada de estudar os insetos e ácaros de interesse para a agricultura, especialmente, aquelas espécies que podem vir a se tornar pragas. Iniciaremos este tópico trazendo o conceito entomológico de praga agrícola e os desdobramentos relevantes em torno dessa definição. Segundo Gallo et al. (2002), praga é todo aquele organismo capaz de reduzir a produção e qualidade das culturas agrícolas, podendo causar danos diretos – quando, por exemplo, desfolham completamente uma planta; ou danos indiretos, ao transmitirem doenças às plantas atacadas. De acordo com Picanço (2010), o conceito de praga agrícola abrange duas filosofias distintas, que utilizam métodos específicos para o seu reconhecimento e controle. Dessas filosofias, derivam dois sistemas de manejo de pragas: o sistema convencional, em que um organismo só é considerado praga quando se constata a sua presença em determinada cultura; e o Manejo Integrado de Pragas (MIP), que só considera praga o organismo que, em dado momento, causa danos econômicos a uma cultura. Conforme Picanço (2010), o sistema convencional de controle de pragas é considerado ultrapassado e ineficiente, uma vez que as medidas de controle – que se baseiam, sobretudo, no método químico – são adotadas quando o organismo já está presente na lavoura, independentemente de outros fatores. Apesar disso, continua sendo o sistema mais adotado na agricultura devido a aspectos como: ausência de informações técnicas sobre o manejo de pragas para a maioria das culturas, desinformação e falta de comunicação entre técnicos e agricultores; interesses econômicos voltados à venda de agroquímicos; falta de políticas agrícolas baseadas em critérios técnicos; dentre outros (PICANÇO, 2010). Como consequência, a adoção do sistema convencional não promove o controle adequado das pragas, eleva o custo de produção, polui o meio ambiente e causa problemas à saúde dos agricultores e consumidores (PICANÇO, 2010). No sistema convencional, o controle de pragas é caracterizado pelo uso indiscriminado de pesticidas, resultando em diversos danos ao meio ambiente, como: contaminação da água, do solo e dos alimentos, intoxicação de pessoas, resistência de pragas, patógenos e ervas daninhas, redução da biodiversidade, alterações na ciclagem de nutrientes e matéria orgânica. Outro grave problema (que vêm aumentando UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 24 consideravelmente nos últimos anos) é a morte de insetos benéfi cos, incluindo inimigos naturais e polinizadores importantes, como as abelhas. A utilização massiva dos pesticidas é motivada, principalmente, pelo fácil acesso por parte dos agricultores, pelos resultados a curto prazo e pela ampla divulgação e facilidade de manipulação desses produtos (ZANUNCIO JUNIOR et al., 2018). Diante da insustentabilidade do sistema convencional, a longo prazo, no início da década de 1960, uma nova fi losofi a de controle de pragaspassou a ser promovida e adotada mundialmente: tratava-se do Manejo Integrado de Pragas (MIP) (WAQUIL; VIANA; CRUZ., 2005). De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o MIP é um sistema de manejo de pragas que leva em consideração aspectos como o ambiente e a dinâmica populacional da espécie, utilizando técnicas apropriadas que visam manter a população da praga em níveis abaixo daqueles capazes de causar danos econômicos à cultura atacada (WAQUIL; VIANA; CRUZ., 2005). No MIP, os métodos de controle são utilizados de forma isolada ou associados harmoniosamente, numa estratégia baseada em análises de custo/benefício que levam em consideração o interesse e/ou o impacto sobre os produtores, sociedade e meio ambiente (VALICENTE, 2015). Maiores detalhes sobre o MIP e seus componentes serão apresentados na próxima unidade desta disciplina. ESTUDOS FUTUROS 2 TIPOS DE PRAGAS Didaticamente, é possível organizar as pragas em diferentes grupos. Essa classifi cação leva em consideração certas características, como a parte da planta afetada pela praga e o nível populacional, em que é necessário a adoção de um determinado tipo de controle. Nesse sentido, de acordo com Galo et al. (2002) e Picanço (2010), as pragas em relação à parte da planta atacada, podem ser classifi cadas da seguinte forma: • Praga direta – Atacam diretamente o produto a ser comercializado. Exemplo: as moscas-das-frutas (Anastrepha spp. e Ceratitis capitata), que atacam diferentes culturas frutíferas (acerola, laranja, manga, uva, goiaba, pêssego, maracujá, dentre outras), perfurando a superfície e a poupa dos frutos, depreciando-os comercialmente. 25 • Praga indireta – Atacam órgãos vegetais que não serão comercializados (como raízes, caules e folhas), afetando a fisiologia da planta (diminuindo a absorção e transporte de água, por exemplo). Durante a alimentação, essas pragas também podem transmitir patógenos (sobretudo, viroses), facilitar a entrada e a proliferação de fungos e bactérias ou injetar substâncias toxicogênicas na planta hospedeira. Exemplo: Helicoverpa armigera é uma lagarta que causa danos às folhas, vagens e flores da cultura da soja. Outro exemplo é o percevejo-marrom (Euschistus heros) que suga as hastes, ramos e plântulas de soja, além de injetar toxinas que causam a deformação das folhas. As pragas também podem ser classificadas de acordo com o nível populacional atingido durante o ciclo de determinada cultura. Essa classificação leva em considera- ção o quantitativo da população, isto é, a densidade populacional em que é necessária a adoção de medidas preventivas para evitar prejuízos econômicos à cultura (GALLO et al., 2002). Antes de seguirmos para essa classificação, é necessário entendermos alguns conceitos sobre densidade populacional e como isso tem influência no manejo de pragas. A densidade populacional é um parâmetro ecológico, sendo definida como a relação entre o número de organismos e a área ocupada por eles. Normalmente é estimada por meio de amostragens populacionais como, por exemplo, o método da marcação e recaptura. Esse método consiste em coletar, por um processo qualquer de levantamento, um número de indivíduos presentes em determinada cultura de interesse, marcá-los, soltá-los, e depois recapturá-los pelo mesmo processo (GALLO et al., 2002). A densidade populacional seria obtida pela seguinte fórmula: Em que: D = densidade populacional estimada; N = número total de indivíduos capturados; M = número de indivíduos marcados e soltos; R = número de indivíduos marcados e recapturados (GALLO et al., 2002). Com base na densidade populacional, são estabelecidos três níveis populacionais importantes para o correto manejo das pragas: nível de equilíbrio (NE), nível de controle (NC) e nível de dano econômico (NDE). O nível de equilíbrio corresponde à densidade populacional média da praga ao longo do tempo, sem que ocorra nenhuma mudança drástica. O nível de controle é a densidade populacional da praga na qual medidas de controle devem ser tomadas para evitar prejuízos econômicos (MICHEREFF FILHO, 2013). Já o nível de dano econômico representa a densidade populacional da praga na qual ela causa prejuízos econômicos de valores iguais ao custo de seu controle (PICANÇO, 2010). Apresentados os conceitos sobre os níveis de equilíbrio, controle e dano econômico, seguiremos para a classificação baseada na densidade populacional, conforme Picanço (2010): 26 • Organismos não praga – São aqueles em que a densidade populacional nunca atinge o nível de controle. Representam a maioria das espécies encontradas nas lavouras, incluindo os insetos benéficos. Figura 5 – Esquema da densidade populacional de um organismo não praga Figura 6 – Esquema da densidade populacional de uma praga-chave (principal) Fonte: adaptado de Picanço (2010) Fonte: adaptado de Picanço (2010) Textos- Rubik Light (tamanho 10 espaçamento 14) Títulos- -Títulos de primeira ordem são (Neo Sans - tam 15 - esp 18 - Caixa alta - Negrito) -Títulos de segunda ordem são (Neo Sans - tam 15 - esp 18 - Caixa alta - regular) -Títulos de terceira ordem são (Neo Sans - tam 15 - esp 18 - Apenas a primeira letra em maiúsculo - regular) D en si da de p op ul ac io na l Tempo (dias) NÍVEL DE DANO ECONÔMICO (NDE) NÍVEL DE EQUILÍBRIO (NE) • Praga-chave ou principal – São organismos que costumam atingir o nível de con- trole, demonstrando elevado potencial de dano econômico. Representam o ponto chave para a definição de um sistema de manejo. Geralmente, quando se combate a praga-chave, as demais são controladas. Formam um grupo seleto – em muitas culturas só ocorre uma praga-chave. Exemplo: A broca da cana-de-açúcar (Diatra- ea saccharalis) é considerada a principal praga da cultura. Na fase jovem, a lagarta se alimenta de folhas e, posteriormente, abre galerias no colmo, causando prejuízos como, perda de peso e morte das gemas, tombamento das plantas, secamento dos ponteiros (coração morto) e enraizamento aéreo (ROSSETTO; SANTIAGO, 2011). Textos- Rubik Light (tamanho 10 espaçamento 14) Títulos- -Títulos de primeira ordem são (Neo Sans - tam 15 - esp 18 - Caixa alta - Negrito) -Títulos de segunda ordem são (Neo Sans - tam 15 - esp 18 - Caixa alta - regular) -Títulos de terceira ordem são (Neo Sans - tam 15 - esp 18 - Apenas a primeira letra em maiúsculo - regular) D en si da de p op ul ac io na l Tempo (dias) NÍVEL DE DANO ECONÔMICO (NDE) NÍVEL DE EQUILÍBRIO (NE) Uso de controle 27 Figura 7 – Esquema da densidade populacional de uma praga ocasional (secundária) Fonte: adaptado de Picanço (2010) • Praga ocasional ou secundária – Os indivíduos ocorrem em baixas populações e raramente alcançam o nível de controle. Exemplo: Mosca-branca na cultura dos citros. Textos- Rubik Light (tamanho 10 espaçamento 14) Títulos- -Títulos de primeira ordem são (Neo Sans - tam 15 - esp 18 - Caixa alta - Negrito) -Títulos de segunda ordem são (Neo Sans - tam 15 - esp 18 - Caixa alta - regular) -Títulos de terceira ordem são (Neo Sans - tam 15 - esp 18 - Apenas a primeira letra em maiúsculo - regular) D en si da de p op ul ac io na l Tempo (dias) NÍVEL DE DANO ECONÔMICO (NDE) NÍVEL DE EQUILÍBRIO (NE) Uso de controle • Praga severa – São pragas que podem atingir o nível de dano econômico com frequência, caso não se adote rapidamente alguma medida de controle. Por outro lado, a densidade populacional tende a cair rapidamente após a realização do manejo. Exemplo: Formigas saúvas (Atta spp.) em pastagens. Figura 8 – Esquema da densidade populacional de uma severa Fonte: adaptado de Picanço (2010) Textos- Rubik Light (tamanho 10 espaçamento 14) Títulos- -Títulos de primeira ordem são (Neo Sans - tam 15 - esp 18 - Caixa alta - Negrito) -Títulos de segunda ordem são (Neo Sans - tam 15 - esp 18 - Caixa alta - regular) -Títulos de terceira ordem são (Neo Sans - tam 15 - esp 18 - Apenas a primeira letra em maiúsculo- regular) D en si da de p op ul ac io na l Tempo (dias) NÍVEL DE DANO ECONÔMICO (NDE) NÍVEL DE EQUILÍBRIO (NE) NÍVEL DE EQUILÍBRIO Uso de controle (Modi�cado após o controle) 28 Como podemos perceber, o conceito de praga está intimamente relacionado à atividade humana (notadamente a produção de alimentos). Trata-se, portanto, de um conceito antropogênico, relativo no tempo e espaço. Assim, o que é praga para um agricultor pode não ser para outro que cultiva a mesma cultura. Além disso, o que é praga numa região pode não o ser em outra. Mais ainda, uma praga importante hoje não será necessariamente praga amanhã. FONTE: INSECTA UFV. Manejo Integrado de Pragas. Universidade Federal de Viçosa, 2004. Disponível em: https://bit.ly/3DSa8Wh. Acesso em: 25 maio 2022. ATENÇÃO 2.1 ASPECTOS QUE CONTRIBUEM PARA O SURGIMENTO DE PRAGAS NA AGRICULTURA É possível atribuir a ocorrência de pragas na agricultura a uma série de fatores, incluindo o processo de domesticação de plantas pelo homem, o monocultivo, as falhas no planejamento do sistema de produção, os equívocos no uso de fertilizantes e praguicidas, dentre outros aspectos (PICANÇO, 2010). O processo de domesticação das plantas pelo homem é, talvez, o principal fator de contribuição para ocorrência de pragas na agricultura. Isso porque, as plantas que são cultivadas hoje sofreram modificações genéticas para apresentar características agronômicas desejáveis como, aumento de produtividade e uniformidade, redução da síntese de compostos tóxicos, perda dos meios de dispersão etc. e, consequentemente, perderam, ao longo do tempo, muitos mecanismos naturais de defesa contra o ataque de pragas (BESPALHOK. GUERRA; OLIVEIRA, 2014). O surgimento de pragas agrícolas também se deve à monocultura. Sabe-se que com a expansão da agricultura no decorrer do tempo, os ecossistemas naturais deram lugar a agroecossistemas modificados, com impactos, sobretudo, na biodiversidade e capacidade de autorregulação desses ambientes. A produção da mesma cultura num mesmo local e por um longo período favoreceu a seleção de organismos específicos, com alta capacidade de reprodução e colonização, que encontraram um ambiente favorável ao seu desenvolvimento, em razão da elevada disponibilidade de alimentos e baixa competição intra e interespecífica (AGUIAR-MENEZES et al., 2007). Outro fator que eleva a incidência de pragas na agricultura são as falhas no planejamento dos sistemas de produção. São exemplos disso: a escolha de variedades suscetíveis ao ataque de determinada praga-chave, a não adoção da rotação de culturas, a utilização do sistema de plantio direto, a inobservância do período de vazio sanitário, dentre outros (PICANÇO, 2010). 29 A utilização inadequada dos insumos – especialmente adubos e pesticidas – também pode favorecer o aparecimento de pragas nos cultivos agrícolas. Uma adubação ineficiente pode resultar em uma planta malnutrida, que por sua vez, estará mais sujeita ao ataque de insetos e ácaros. Por outro lado, a utilização de inseticidas e acaricidas não seletivos, pode resultar na morte de inimigos naturais dessas pragas. Equívocos na dosagem (sobretudo, a superdosagem) podem contribuir para o desenvolvimento da resistência das pragas a esses produtos (SANTOS, 2007). 2.2 INJÚRIAS PROVOCADAS PELAS PRAGAS AGRÍCOLAS Como já se sabe, as pragas podem provocar prejuízos quando sua densidade populacional se encontra acima do nível de dano econômico. Também sabemos que nem sempre insetos e ácaros atingem esse nível (como as pragas secundárias e organismos-não praga). O que ocorre é que existem situações nas quais a planta é capaz de tolerar as injúrias sofridas. Injúrias são lesões provocadas nos órgãos ou tecidos das plantas. De acordo com Gallo et al. (2002), os tipos de injúria podem ser característicos de determinada espécie de praga ou grupo de pragas que atacam órgãos específicos. Esses ataques ocorrem nas culturas propriamente ditas ou nos produtos armazenados após a colheita (PICANÇO, 2010). A seguir serão apresentados diferentes tipos de injúrias em plantas e produtos armazenados, bem como exemplos de pragas causadoras das respectivas lesões (GALLO et al., 2002; SANTOS, 2007). • Destruição de folhas, ramos, botões florais, casca ou fruto das plantas – Esse tipo de injúria normalmente é provocado por insetos que possuem aparelho bucal do tipo mastigador. Exemplo: lagartas, besouros, gafanhotos, formigas-cortadeiras e larvas de moscas. • Sucção da seiva de folhas, botões florais, ramos ou frutos – Tipo de lesão provocada por insetos de aparelho bucal do tipo sugador. As plantas atacadas, comumente, apresentam sintomas típicos como, amarelecimento, engruvinhamento ou necrose das folhas, secamento dos ramos, dentre outros. Exemplo: percevejos, pulgões, cigarrinhas, tripes e cochonilhas. • Broqueamento ou anelamento da casca, ramos, frutos e sementes; ou viver na superfície das folhas – Essas pragas, geralmente, agem destruindo o mesófilo e abrindo galerias (minas) na superfície foliar. Exemplo: besouros, lagartas e larvas. • Formação de tumores (galhas) que servem de abrigo e alimento – Exemplo: larvas de vespas e moscas. • Ataque às raízes ou colo da planta – Esse tipo de ataque, geralmente, ocasiona o tombamento das plantas. No campo, é possível observar o aparecimento de reboleiras, bem como, plantas amareladas e raquíticas. Exemplo: besouros, lagartas, cigarras, cupins e larvas de moscas. 30 • Destruição de folhas, ramos, botões florais, casca ou frutos da planta durante a postura – Exemplo: besouros, cigarras, moscas e grilos. • Disseminação de outros insetos para a planta – Muito comum em formigas, que transportam outras pragas, como cochonilhas. Isso se deve a simbiose existente entre ambas as espécies: as formigas consomem os açúcares sintetizados pelas cochonilhas e, em contrapartida, oferecem proteção contra inimigos naturais. Nesse caso, as formigas não atacam as plantas, mas as cochonilhas sim. • Disseminação ou favorecimento ao ataque de patógenos (vírus, fungos e/ou protozoários), injetando-os nos tecidos da planta ao se alimentar, transportando-os por galerias ou provocando um ferimento por onde o causador da doença penetra na planta – Exemplo: percevejos, besouros, cochonilhas, pulgões, tripes, dentre outros. • Consumo e/ou contaminação do produto armazenado por meio das secreções, excreções ou postura de ovos, tornando-o impróprio para consumo – essas pragas são muito comuns em grãos armazenados após a colheita, como feijão e milho. Exemplo: carunchos, gorgulhos, besouros e traças. 31 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu: • O conceito de praga agrícola, definida por Gallo (2002) como aquele organismo capaz de reduzir a produção e qualidade das culturas agrícolas, podendo causar danos diretos – quando, por exemplo, desfolham completamente uma planta; ou danos indiretos, ao transmitirem doenças às plantas atacadas. • As diferenças entre os sistemas de manejo de pragas convencional e Manejo Integrado de Pragas (MIP), sendo o MIP considerado mais eficiente e sustentável, por empregar métodos de controle de forma isolada ou associada harmoniosamente, numa estratégia baseada em análises de custo/benefício, considerando o interesse e/ou o impacto sobre os produtores, sociedade e meio ambiente • As diferentes classificações de pragas agrícolas, que levam em consideração a parte da planta afetada (praga direta e indireta) e o nível populacional correspondente a necessidade de adoção de medidas de controle (organismos não-praga, praga- chave ou principal, praga ocasional ou secundária e praga severa). • Os fatores que contribuíram para o surgimento de pragas na agricultura, como a domesticação de plantas pelo homem, o monocultivo, as falhas no planejamento dos sistemas de produção, os equívocos no uso de fertilizantes e praguicidas, dentre outros aspectos. • Os tipos de danos provocados por diferentes grupos de pragasagrícolas, como as injúrias em órgãos vegetais (especialmente, folhas, ramos, flores e frutos) causadas por insetos mastigadores e sugadores; a disseminação ou favorecimento ao ataque de fitopatógenos (em virtude, sobretudo, do ataque de insetos sugadores); além da contaminação de produtos armazenados, seja por meio do consumo ou da excreção/postura de ovos pelas pragas (como carunchos e gorgulhos), tornando- os impróprios para comercialização. 32 AUTOATIVIDADE 1 De acordo com Gallo et al. (2002), praga é todo aquele organismo capaz de reduzir a produção e qualidade das culturas agrícolas, podendo causar danos diretos ou indiretos. Do conceito de praga derivam dois sistemas de manejo: o sistema tradicional e o manejo integrado de pragas. Com base nessas definições, analise as afirmações a seguir: GALLO, D. O. et al. Entomologia agrícola. Entomologia agrícola. Piracicaba: FEALQ, 2002. I- O conceito de Manejo Integrado de Pragas (MIP) surgiu no início da década de 1960. Esse sistema representa a adoção de práticas sustentáveis, visando manter a população da praga abaixo dos níveis de dano econômico. II- No sistema tradicional, os métodos de controle são usados de forma harmoniosa, numa estratégia baseada em análises de custo/benefício, que levam em consideração aspectos como, o impacto sobre os produtores, sociedade e meio ambiente. III- O sistema tradicional é considerado ultrapassado e ineficiente, uma vez que as medidas de controle são tomadas quando constatada a presença da praga na lavoura. Além disso, o principal método de controle é o químico, causando danos ao meio ambiente e a saúde dos agricultores e consumidores. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença III está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença II está correta. 2 As pragas podem ser classificadas em diferentes grupos, com base na parte da planta atacada (pragas diretas ou indiretas) ou de acordo com a sua dinâmica populacional (organismos não pragas; pragas-chave ou principais; pragas ocasionais ou secun- dárias e pragas severas). Com base nesses conceitos classifique as sentenças em V para verdadeiro e F para falso: ( ) Pragas-chave ou principais são organismos que, frequentemente, atingem o nível de controle, possuindo elevado potencial de dano econômico. Um exemplo é a broca da cana-de-açúcar (Diatraea sacharallis). ( ) Pragas diretas são aquelas que atacam partes vegetais que não serão comercia- lizadas. Durante a alimentação, esses organismos podem transmitir patógenos à cultura atacada ou injetar toxinas que alteram a estrutura das plantas. São exem- plos, a Helicoverpa armigera e o percevejo marrom, ambos na cultura da soja. 33 ( ) Pragas ocasionais ou secundárias são aqueles organismos em que a densidade populacional nunca atinge o nível de controle, como por exemplo, a mosca-branca na cultura do citros. Assinale a alternativa que representa a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F b) ( ) V – F – V c) ( ) F – V – F d) ( ) F – F – V 3 A densidade populacional é um parâmetro ecológico que estabelece a relação entre o número de indivíduos de uma população de pragas e a área ocupada por essa população. Esse parâmetro é importante para a definição de três níveis populacionais, que servem como referência para a tomada de decisão no manejo de pragas: nível de equilíbrio, nível de controle e nível de dano econômico. Com base nessas informações, assinale a alternativa INCORRETA: a) ( ) O nível de equilíbrio corresponde a densidade populacional média da praga ao longo do tempo, sem que ocorra nenhuma alteração drástica. b) ( ) O nível de dano econômico corresponde a densidade populacional da praga na qual medidas de controle devem ser tomadas para evitar prejuízos econômicos. c) ( ) O nível de dano econômico representa a densidade populacional da praga na qual ela causa prejuízos econômicos de valores iguais ao custo do seu controle. d) ( ) O nível de controle corresponde a densidade populacional da praga na qual medidas de controle devem ser tomadas para evitar prejuízos econômicos. 4 Disserte sobre como a manipulação dos ecossistemas naturais e a utilização inadequada de inseticidas podem favorecer a ocorrência de pragas na agricultura. 5 Comente sobre danos provocados por pragas agrícolas de aparelho bucal dos tipos mastigador e sugador, em plantas e produtos armazenados, citando exemplos de pragas relacionadas às respectivas injúrias. 34 35 TÓPICO 3 - PRINCIPAIS GRUPOS DE PRAGAS DE PLANTAS DE INTERESSE ECONÔMICO 1 INTRODUÇÃO Na agricultura, o conceito de inseto-praga está intimamente relacionado aos efeitos econômicos produzidos pela sua alimentação nas plantas. Como visto anteriormente, apenas quando a densidade populacional atinge determinado nível populacional, que acarretará um prejuízo para a planta. Entende-se por praga agrícola uma população de organismos capazes de causar danos às plantas, afetando no rendimento da colheita e qualidade dos produtos e subprodutos, através do consumo direto dos seus tecidos ou de órgãos, frutos ou sementes, ou até mesmo através da transmissão de doenças e competição por espaço e nutrientes (GALLO et al., 2002). Neste tópico 3, abordaremos os principais grupos de pragas agrícolas, suas características morfológicas e os prejuízos provocados por suas populações nas plantas. UNIDADE 1 2 IDENTIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS GRUPOS DE PRAGAS AGRÍCOLAS Os principais grupos de pragas agrícolas são o grupo dos ácaros e o dos insetos. Os principais ácaros-pragas de plantas são: os ácaros vermelhos, os ácaros brancos e os microácaros. 2.1 ÁCAROS Os ácaros compreendem muitos artrópodes incluídos na subclasse Acari da classe Arachnida, da qual também pertencem os escorpiões, as aranhas, os opiliões e os carrapatos, que apresentam como característica a presença de quelíceras como peças bucais e ausência de antenas. Eles diferem dos demais aracnídeos por não terem segmentação (corpo indiviso), porém, sua estrutura mais marcante é o gnatossoma. Os ácaros são facilmente distinguidos dos insetos porque, de um modo geral, apresentam quatro pares de patas no estágio adulto e não apresentam antenas. Os ácaros são, geralmente, pequenos e apresentam como característica principal a redução da segmentação (Figura 1). 36 Os ácaros apresentam uma amplitude de hábitos alimentares muito maior do que observada em qualquer outro grupo de Arachnida. A sua habilidade de ingerir alimento líquido e particulado de origem vegetal é excepcional, outros alimentam-se de material vegetal vivo e outros ainda são onívoros, alimentando-se de matéria orgânica vegetal e animal em decomposição, bactérias e até nematoides (FLECHTMANN, 1975, 1985). Nesta unidade, estudaremos, especificamente, os ácaros fitófagos, que incluem espécies que se alimentam da parte aérea e subterrânea de plantas, podendo causar prejuízos econômicos a diversas culturas de valor comercial (FLECHTMANN, 1975, 1985). 2.1.1 Ácaros fitófagos Dentre as espécies de ácaros fitófagos, podemos destacar a família Tetranychidae, que engloba cerca de 60% das espécies de ácaros fitófagos pragas de importância agrícola mundial. A espécie Tetranychus urticae, conhecida popularmente como ácaro rajado, é uma espécie de ácaro que causa danos em culturas como morango, rosa, tomate, vi- deira, algodão, feijão, pêssego. A descoloração de folhas e a perda da capacidade fo- tossintética e eventual morte das folhas são consequências de altas infestações deste ácaro nas culturas. Além dos problemas citados anteriormente esse ácaro ainda possui a capacidade de produzir uma quantidade significativa de teia (MENEZES et al., 2007). Figura 9 – Lavoura de soja com alta infestação de ácaros (A) e teia do ácaro rajado (B) Fonte: adaptado de Aguiar-Menezes (2007) No entanto, outras famílias como a Eriophyidae, Tenuipalpidae e Tarsonemidatambém apresentam espécies de ácaros de grande importância para a agricultura. As espécies da família Eriophyidae são em geral bastante específicas, possuindo a importante característica de coevolução com a planta hospedeira, as principais espécies pragas dessa família são: Aculops lycopersici (tomate), Eriophyes gerreronis (coqueiro) e Phyllocoptruta oleivora (citros). 37 Figura 10 – Phyllocoptruta oleivora (A) frutos de citros atacado pela praga (B) Figura 11 – Ácaro vetor da leprose dos citros (Brevipalpus phoenicis) Fonte: adaptado de Portal Syngenta (2022) Fonte: agrolink.com.br/upload/problemas/Brevipalpus_phoenicis101.jpg. Acesso em: 5 set. 2022. Na família Tenuipalpidae, a espécie Brevipalpus phoenicis é uma espécie de grande importância para a cultura dos citros, devido à transmissão do vírus da leprose dos citros. Na família Tarsonemidae, o ácaro-branco, Polyphagotarsonemus latus, É considerado praga de culturas como algodão, feijão, mamão, erva-mate e pimentão no Brasil. Produtos armazenados, como sementes, grãos, farelos, farinhas, frutas secas, queijos e outros são frequentemente atacados por ácaros, que os danificam por consumirem partes do produto e pelos seus excrementos (AGUIAR-MENEZES, 2007). 38 Figura 12 – Ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus) Fonte: Koppert (2022, s.p.) Outras espécies de ácaros fitófagos merecem destaque por provocarem danos de importância econômica nas culturas atacadas, por exemplo, Mononychellus tanajoa (mandioca), Oligonychus ilicis (café), O. yothersi (erva-mate), Panonychus ulmi (maça) e P. citri (citros) (FLECHTMANN, 1975, 1985). 2.2 INSETOS Os insetos causam danos diretos à planta, atacando o produto a ser colhido, ou indiretos, quando atacam partes da planta que não serão comercializadas, mas que alteram processos fisiológicos, com reflexos na produção. Alguns insetos também atuam como transmissores de patógenos vegetais. Como consequências desses ataques nas plantas, podemos citar alguns tipos de danos: diminuição do crescimento e produção; o aumento da atividade metabólica; destruição de folhas, ramos, casca ou fruto; broqueamento ou anelamento de cascas, ramos, frutos e sementes e danos nas raízes ou colo das plantas. Já nos grãos e produtos armazenados pode destacar a alimentação de todo ou de parte do produto e a contaminação do produto com suas secreções, excreções, ovos ou alguma parte do corpo (GALLO et al., 2002; PICANÇO, 2010). 2.3 PRINCIPAIS GRUPOS DE INSETOS-PRAGA Na Tabela 2 estão listadas características das ordens dos principais grupos de insetos-praga de plantas. Tabela 2 – Características das principais ordens de insetos-praga de plantas Ordem Nome vernacular Aparelho bucal Asas Ciclo de vida Lepidoptera Borboletas e mariposas Sugador 2 pares membranosas com Completo Coleoptera Besouros Mastigador escamas 2 pares [1o par é endurecido (élitro)] Completo 39 Fonte: Picanço (2010, s.p.) Hymenoptera Formigas, vespas e abelhas Mastigador 2 pares Completo Diptera Moscas Embebedor 2 pares (1 membranoso e outro modificado em balancins) Completo Homoptera Cigarras, cigarrinhas, pulgões, Sugador 2 pares [Membranosas ou o 1o par (tegminas) Incompleto psilídeos e cochonilhas Hemiptera Percevejos Sugador 1o par tem uma parte mais rigida Incompleto (Heteroptera) outra mais flexivel (hemiélitro) Isoptera Cupins Mastigador 2 pares membranosas Incompleto Orthoptera Grilos e gafanhotos Mastigador 2 pares (1o tégminas) Incompleto Thysanoptera Tripes Sugador Franjeadas Incompleto 2.4 LEPIDOPTEROS Seus adultos são chamados de mariposas (noturnos e de cores não aparentes) ou borboletas (diurnos e de cores vistosas), possuem asas membranosas com escamas e aparelho bucal sugador. Suas larvas são chamadas de lagartas e possuem cabeça visível, três pares de pernas no início do corpo e pernas no final do corpo. Os lepidópteros são pragas na fase jovem (lagarta) e se alimentam do tecido vegetal com seu aparelho bucal do tipo mastigador. As lagartas podem ser de três tipos básicos dependendo do número de pseudopernas. As lagartas podem ser de três tipos básicos dependendo do número de pseudopatas: lagartas (com quatro pares de pseudopatas), lagartas falsa-medideiras (com dois pares de pseudopatas) e lagartas medideiras (com um par de pseudopatas) (GALLO et al., 2002). 40 Figura 13 – Lagarta falsa-medideira desfolhando a cultura da soja Fonte: Sanches et al. (2020, s.p.) 2.5 COLEOPTEROS O nome desta Ordem de insetos faz referência às asas anteriores endurecidas (do grego koleos = estojo e pteron = asas). Os adultos de Coleoptera são conhecidos popularmente por besouros e podem ser encontrados em quase todos os ambientes. Os coleópteros possuem o primeiro par de asas endurecido (élitro). Suas larvas possuem cabeça visível, três pares de pernas no início do corpo ou não. Eles são pragas tanto na fase de larva quanto na fase adulta e possuem o aparelho bucal do tipo mastigador. A Ordem é composta por cerca de 350 mil espécies, o que representa 40% de todos os insetos e 30% dos animais, formando o maior grupo de organismos da Terra (LAWRENCE; BRITTON, 1991). No Brasil, são registradas aproximadamente 28 mil espécies pertencentes a 105 famílias (COSTA; IDE, 2006). Algumas famílias da ordem coleóptera possuem importância econômica significativa, devido ao grande número de espécies consideradas pragas agrícolas. Aqui estudaremos algumas famílias de maior relevância agrícola. 2.5.1 Scarabaeidae Os indivíduos dessa família possuem antenas do tipo lamelada, constituída por lamelas moveis. Possuem também as tíbias anteriores mais ou menos dilatadas, com as margens externas denteadas. As larvas são subterrâneas e do tipo escarabeiforme. As espécies mais importantes são Euetheola humilis e Macrodactylus pumilio, que são vaquinhas que atacam flores de diversas plantas (GALLO et al., 2002). 41 Figura 14 – Adulto de Euetheola humilis (A) e danos causados pela praga na cultura de eucalipto (B) Figura 15 – Bicudo do algodoeiro (Anthonomus grandis) (A) e Broca de bananeira (Cosmopolites sordidus) (B) Fonte: Bernardi et al. (2008) Fonte: Ambrogi et al. (2009) e Aomidoribiocontrol (2020) 2.5.2 Curculionidae Possuem cabeça prolongando em um rostro, na extremidade do qual se encontra o aparelho bucal mastigador. Antenas geralmente genículo-clavadas ou genículo- capitadas. O rostro é mais ou menos alongadado, reto ou curvo cilíndrico, voltado para baixo. Suas larvas são do tipo curculioniforme, são fitofagos tanto na fase adulta quanto na fase larval. Algumas das espécies de maior relevância agrícola são: Anthonomus grandis (bicudo-do-algodoeiro), Oryzophagus oryzae (gorgulho-aquático-do-arroz), Eutinobothrus brasiliensis (broca-da-raíz-do-algodoeiro), Cosmopolites sordidus (broca ou moleque-da-bananeira) Sitophilus oryzae (gorgulho-do-arroz), S. zeamais (gorgulho que ataca milho), entre outras (GALLO et al., 2002). 2.5.3 Tenebrionidae Possuem coloração uniforme negra ou parda, estes insetos possuem tamanho e formas muito variadas. Possuem antenas curtas, podendo ser moniliformes filiformes, serreadas ou clavadas. Suas larvas são do tipo elateriformes. Muitas espécies desta família atacam produtos armazenados, no entanto, algumas atacam as folhagens de plantas. As espécies mais importantes são: Tribolium castaneum e T. confusum, que atacam grãos armazenados (principalmente milho) (GALLO et al.,2002). 42 Figura 16 – Adulto de Tribolium castaneum Fonte: https://bit.ly/3dM0VEd. Acesso em: 5 set. 2022. 2.6 HIMENÓPTEROS As formigas organizam-se em colônias e são pragas na fase adulta. As formigas podem ser pragas (formigas cortadeiras) ou inimigos naturais (formigas predadoras), de acordo com seu hábito alimentar (GALLO et al., 2002). As formigas cortadeiras têm coloração amarronzada e no topo de sua cabeça possuem uma reentrância pronunciada, diferente das formigas predadoras que têm diversas colorações e a reentrância no topode sua cabeça não é profunda (GALLO et al., 2002). 2.6.1 Formigas saúvas As formigas saúvas pertencem ao gênero Atta, possuem ninhos com grande quantidade de terra solta e possuem três pares de espinhos no seu dorso. Figura 17 – Formiga saúva cabeça-de-vidro (Atta laevigata) Fonte: https://bit.ly/3dP5zBl. Acesso em: 5 set. 2022. 2.6.2 Formigas quénquéns As formigas quenquéns pertencem ao gênero Acromyrmex, possuem quatro pares de espinhos no seu dorso e seus ninhos são pequenos 43 Figura 18 – Quenquém-de-árvore (Acromyrmex coronatus) (A) e Formiga caiapó (Acromyrmex coronatus subterraneus) (B) Fonte: https://bit.ly/3UFP4bn. Acesso em: 5 set. 2022. 2.7 DIPTEROS As moscas são pragas de plantas, tanto na fase jovem como na fase adulta, possuem um par de asas membranosas e aparelho bucal embebedor. Suas larvas são vermiformes (sem cabeça e pernas aparentes) (GALLO et al., 2002). 2.7.1 Mosca minadora As moscas minadoras são insetos pertencentes à ordem Diptera, família Agromy- zidae. São vulgarmente conhecidas como bicho mineiro, minador, riscador de folha, entre outros. Os adultos são pequenas moscas de coloração preta com manchas amarelas. As larvas confeccionam minas finas e “serpenteadas” nas folhas (GALLO et al., 2002). Figura 19 – Mosca minadora na cultura do tomate Fonte: Revista Cultivar (2022, s.p.) 2.7.2 Moscas-das-frutas Pertencentes a família Tephritoidea, que dentro da ordem Diptera é a família de maior importância agrícola, com as espécies de moscas-das-frutas Ceratitis capitata (mosca-do-mediterrâneo) e Anastrepha grandis (mosca-das-cucurbitáceas-sul-ame- ricana). Suas larvas desenvolvem-se nas polpas dos frutos, os tornando inviáveis. São extremamente prejudiciais para fruticultura (GALLO et al., 2002). 44 Figura 20 – Adultos de Ceratitis capitata (A) e Anastrepha grandis (B) Fonte: Sedq Healthy Crops (2022, s.p.) e Bolzan et al. (2016, s.p.) 2.8 HEMIPETEROS Os hemípteros possuem aparelho bucal do tipo sugado labial tetraqueta, nor- malmente dois pares de asas, sendo o anterior, em geral, mais rígido que o posterior. Neste livro, consideramos a ordem dividida em três subordens, são elas: Sternorrhyncha (Cochonilhas, moscas-brancas, pulgões e psilideos), Auchenorryncha (cigarras e cigar- rinhas) e Heteroptera (percevejos, barbeiros etc.). Veremos a seguir algumas famílias de maior importância agrícola. 2.8.1 Aleyrodidae São hemipteros pequenos com quatro asas membranosas, na fase adulta essas asas são cobertas por uma substância pulverulenta, de onde vem o nome comum de moscas-brancas. Entre as espécies mais importantes dessa família encontram-se a Aleurothrisxus floccosus, que ataca folhas dos citros e a Bemisia tabaci praga em feijoeiro, soja e algodão (GALLO et al., 2002). Figura 21 – Ovos e adultos de mosca-branca (Bemisia tabaci) em folha de feijão Fonte: Araújo (2016, s.p.) 45 Figura 22 – Pulgões da espécie Macrosiphum-euphorbiae Figura 23 – Adultos, macho (esquerda) e fêmea (direita) da cigarra-do-cafeeiro Quesada gigas Fonte: Inrae (2022, s.p.) Fonte: adaptada de Souza, Reis e Silva (2007) 2.8.2 Aphididae É a família dos pulgões. A maioria das espécies de importância econômica pertencem a esta família. São insetos pequenos de no máximo 5 mm de comprimento, pouco esclerotizados, ovalados e de coloração variável (GALLO et al., 2002). 2.8.3 Cicadoidea É a família da cigarra, as cigarras caracterizam-se pelo seu órgão sonoro situado no abdome, este órgão é mais desenvolvido em indivíduos machos. As cigarras sugam ramos novos das plantas, onde as fêmeas depositam os seus ovos. A partir dos ovos nascem as ninfas que se aprofundam no solo para se alimentar sugando as raízes (GALLO et al., 2002). 2.8.4 Cercopidae Compreende insetos vulgarmente conhecidos como cigarrinhas. São hemipteros pequenos, o adulto suga a parte aérea das plantas, onde se movimenta bastante, já a forma jovem pode ser localizada junto às raízes e no colo das plantas onde permanece sugando (Figura 24) (GALLO et al., 2002). 46 Figura 24 – Adulto de cigarrinha das pastagens (Deois flavopicta) Figura 25 – Adulto de percevejo verde da soja (Nezara viridula) Fonte: Insetologia (2022, s.p.) Fonte: Pereira (2021, s.p.) 2.8.5 Pentatomidae Conhecidos como percevejos, estes insetos possuem antenas de 5 segmentos e escutelo bastante desenvolvido. As espécies mais importantes são: Oebalus poecilus, conhecido como percevejo-frade ou chupão, que ataca o arroz; Nezara viridula, percevejo verde, que ataca várias frutas e leguminosas (GALLO et al., 2002). 2.9 ORTÓPTEROS O grupo dos ortópteros é composto por gafanhotos, esperanças, grilos, paqui- nhas e taquarinhas. Estes insetos possuem o terceiro par de pernas do tipo saltatório, cabeça muito variável quanto a forma e consideravelmente prolongada entre os olhos. Alguns ortópteros produzem sons, sendo os mais conhecidos aqueles produzidos pelos grilos, gafanhotos e esperanças. O canto desses insetos é conseguido por estridulações, atritando uma parte do corpo contra outra. Nos grilos, por exemplo, o aparelho estridulatório está localizado na base das tégminas, em geral a tégmina direita cobre a esquerda (GALLO et al., 2002). 47 Figura 26 – Gafanhoto migratório sul-americano (Schistocerca cancellata) (A) e gafanhoto-crioulo (Rhammatocerus schistocercoides) (B) Fonte: Pinto (2020, s.p.) Figura 27 – Macho (esquerda) e fêmea (direita) de Gryllus bimaculatus Fonte: Weissman e Gray (2019, s.p.) 2.9.1 Acrididae Compreende os gafanhotos. Os acridídeos podem ser divididos em dois grupos de acordo com seu comportamento: sedentários e migradores. As espécies sedentárias possuem hábitos solitários, causando poucos estragos de ordem agrícola. Já as espécies migradoras podem formas as chamadas “nuvens de gafanhotos” que devastam plantações inteiras, causando sérios prejuízos (GALLO et al., 2002). 2.9.2 Gryllidae Agrupa os grilos, são conhecidas mais de 2000 espécies. Estes insetos são de modo geral terrestres e de hábitos noturnos. As espécies de solo se alimentam de matéria orgânica de origem animal e vegetal, danificando raízes. Entre as espécies mais comuns, destaca-se o grilo caseiro Gryllus bimaculatus, que ataca hortaliças (GALLO et al., 2002). 48 LESTE DA ÁFRICA ENFRENTA INVASÕES DE GAFANHOTOS “SEM PRECEDENTES” Bruno Carbimatto Desde dezembro de 2019, enormes nuvens de gafanhotos vêm atacando plantações de países do leste e sudeste da África, acendendo alertas globais em uma das regiões mais carentes do planeta. A crise foi desencadeada por ciclones na Península Arábica seguidos por chuvas intensas, que criaram condições climáticas propícias para a reprodução desenfreada de enormes populações dos insetos. Do Iêmen, os gafanhotos cruzaram o Chifre da África e chegaram à Somália, onde um novo ciclone potencializou ainda mais a reprodução. A região está acostumada com invasões do tipo desde sempre – tanto que elas inspiraram a passagem bíblica sobre as “pragas do Egito”. Mas a nova crise, de acordo com a ONU, é “sem precedentes”. Na Somália e na Etiópia as nuvens são as maiores em 25 anos; no Quênia, o problema é o mais grave em pelo menos 70 anos, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Gafanhotos-do-deserto são insetos herbívoros que podem chegar a 10 cm de comprimento. Em busca de alimento, eles invadem plantações e as devoram, e por isso são consideradas pragas agrícolas. O problema é ainda maior na região, que é uma das mais pobres do mundo e que já convive com a segurança alimentar constantemente ameaçada – 19 milhões de pessoas na região sofrem com a fome, segundo a organização Food Security and Nutrition Working Group. As nuvens invasoras são tão grandes e numerosas que chegam a bloquear a luz do sol. Cada gafanhoto pode comer o equivalente a seu próprio peso em um único dia, e por isso são tão destrutivos. Além disso, os insetos são rápidos, e conseguem percorrer distâncias de 150 km por dia. Organizaçõesinternacionais como a ONU vêm considerando o problema como uma de suas prioridades e buscando recursos para ajudar a conter a invasão. O Fundo Central de Resposta de Emergência da ONU já liberou 10 milhões de dólares para lidar com a crise, e a FAO está em processo de liberar mais 70 milhões. As medidas tomadas até agora, que incluem a pulverização de inseticidas com aviões, não têm tido muito efeito diante as proporções bíblicas das nuvens e precisam ser intensificadas com urgência. LEITURA COMPLEMENTAR 49 O problema pode aumentar se nada for feito, alertam especialistas, porque um novo ciclo de reprodução dos animais está para começar. Estimativas apontam que o número de gafanhotos pode aumentar até 500 vezes até junho. É provável que as nuvens se espalhem para países vizinhos como Uganda e Sudão do Sul, e algumas previsões dizem que eles podem chegar bem mais longe, incluindo até na Índia. Em seu Twitter, António Guterres, secretário-geral da ONU, chamou atenção do mundo para o problema, e lembrou que os eventos extremos como esse estão relacionados com as mudanças climáticas. Fonte: https://super.abril.com.br/sociedade/leste-da-africa-enfrenta-invasoes-de-gafanhotos-sem-prece- dentes/. Acesso em: 22 jun. 2022. 50 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu: • A identificação dos principais grupos de insetos-praga, incluindo espécies pertencentes as principais ordens de interesse econômico (Lepidoptera, Coleoptera, Hymenoptera, Diptera, Homoptera, Hemiptera, Isoptera, Orthoptera e Thysanoptera); abrangendo aspectos descritivos e biológicos destas pragas. • A identificação dos principais grupos de ácaros fitófagos, incluindo espécies per- tencentes as famílias de maior importância para a agricultura, como Tetranychidae, Eriophyidae, Tenuipalpidae, Tarsonemida; abordando aspectos descritivos e bioló- gicos destas pragas. • O modo de ação destas pragas, incluindo os danos em culturas de interesse eco- nômico e que são característicos de um determinado grupo de pragas, incluindo a sintomatologia atribuída ao seu ataque. 51 AUTOATIVIDADE 1 Os representantes da ordem Coleoptera são insetos popularmente conhecidos como besouros e podem ser encontrados em quase todos os ambientes. Acerca disso, assinale a alternativa CORRETA em relação às pragas pertencentes a esta ordem: a) ( ) Os adultos são coloridos, pequenos e possuem o primeiro par de asas semelhantes às asas de baratas (tégminas). b) ( ) Os representantes desta ordem não possuem asas. c) ( ) São pragas tanto na fase de larva como na fase adulta e possuem aparelho bucal mastigador. d) ( ) Os adultos são semelhantes às cigarrinhas com suas asas dispostas de forma semelhante ao casco dos navios. e) ( ) Possuem aparelho bucal mastigador, dois pares de asas membranosas iguais e metamorfose gradual. 2 As moscas-das-frutas são consideradas as pragas mais nocivas para a fruticultura, com restrições em quase todos os países importadores. No Brasil, destacam-se as pertencentes a dois gêneros Anastrepha e Ceratitis. Analise as sentenças abaixo: I- Os adultos são pequenas moscas (??Mm de comprimento, largura?) de coloração preta com manchas amarelas. As larvas confeccionam minas finas e “serpenteadas” nas folhas. II- Possuem asas membranosas com escamas e aparelho bucal sugador. III- A espécie de maior importância é a Ceratitis capitata, chamadas de moscas-das- frutas do mediterrâneo devido a sua origem e possuem o tórax escuro. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3 Os danos que os Insetos-pragas causam em plantas são variáveis e podem ser observados em todos os órgãos vegetais, podendo ser diretos, quando atacam o produto a ser comercializado, ou indiretos, quando atacam as estruturas vegetais que não serão comercializadas (folhas e raízes, por exemplo). Podemos considerar um inseto como praga em determinada planta, quando: 52 ( ) A densidade populacional atinge determinado nível populacional. ( ) Acarreta um prejuízo para a planta. ( ) No momento em que se hospeda e se alimenta da planta. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – V – F. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 A definição de inseto-praga é fundamentada no ponto de vista antropocêntrico e não leva em consideração o seu papel ecológico específico. Neste contexto: você tem duas espécies de herbívoros ocorrendo na sua lavoura, como um deles em um dado tempo será considerado praga e o outro não? Por quê? 5 “Pragas causam perdas de até R$ 55 bilhões à agricultura no Brasil”. Estudo revela que cerca de 7,7% da produção agrícola brasileira é perdida todos os anos. Este não é um problema que assusta apenas o Brasil. Com o aumento do comércio mundial de alimentos, os países ficaram mais vulneráveis à introdução de espécies exóticas, as quais podem comprometer as plantações locais devido à falta de predadores naturais. Neste contexto, liste alguns danos provocados por insetos-praga em plantas e em seus produtos. AGROLINK. Pragas causam perdas de até R$ 55 bilhões à agricultura no Brasil. Disponível em: https://bit.ly/3LLEQ54. Acesso em: 6 set. 2022. 53 REFERÊNCIAS AGRO LINK. Besouro castanho (Tribolium castaneum). Disponível em: https://bit. ly/3UC2Ewx. Acesso em: 22 jul. 2022. AGROLINK. Pragas causam perdas de até R$ 55 bilhões à agricultura no Brasil. Disponível em: https://bit.ly/3LLEQ54. Acesso em: 6 set. 2022. AGUIAR-MENEZES, E. de L. Diversidade vegetal: uma estratégia para o manejo de pragas em sistemas sustentáveis de produção agrícola. Seropédica: Embrapa Agrobiologia, 2004, 68 p. Embrapa Agrobiologia. Documentos, 177. Disponível em: https://bit.ly/3RiatnW. Acesso em: 22 maio 2022. AMBROGI, B. G. et al. Feromônios de agregação em curculionidae (insecta: coleoptera) e sua implicação taxonômica. Química Nova, São Paulo, v. 32, n. 8, p. 2151-2158, 2009. AOMIDORI BIOCONTROL. Cosmopolites sordidus. 2020. Disponível em: https://bit. ly/3Sk58Om. Acesso em: 22 jul. 2022. ARAÚJO, S. J. de. 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Coleoptera. In: COSTA, C; IDE, S.; SIMONKA, C. E. Insetos imaturos: metamorfose e identificação. Editora Holos: Ribeirão Preto. 2006. 54 FLECHTMANN, C. H. W. Ácaros de Importância Agrícola. São Paulo: Livraria Nobel S.A., 1985. FLECHTMANN, C. H. W. Elementos de Acarologia. São Paulo: Livraria Nobel S.A., 1975. GALLO, D. O. et al. Entomologia agrícola. Piracicaba: FEALQ, 2002. HILLYER, J.; PASS, G. The Insect Circulatory System: structure, function, and evolution. Annual Review of Entomology, San Francisco, v. 65, n. 1, p. 121-143, 7 jan. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3rdTCZc. Acesso em: 22 maio 2022. INSETOLOGIA. Identificação de insetos: cigarrinha das pastagens em minas gerais. Cigarrinha das Pastagens em Minas Gerais. Disponível em: https://www.insetologia.................................................................................................................. 22 TÓPICO 2 - A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS PRAGAS AGRÍCOLAS ............................. 23 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 23 2 TIPOS DE PRAGAS ........................................................................................................... 24 2.1 ASPECTOS QUE CONTRIBUEM PARA O SURGIMENTO DE PRAGAS NA AGRICULTURA ..........28 2.2 INJÚRIAS PROVOCADAS PELAS PRAGAS AGRÍCOLAS ............................................................29 RESUMO DO TÓPICO 2 ......................................................................................................... 31 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 32 TÓPICO 3 - PRINCIPAIS GRUPOS DE PRAGAS DE PLANTAS DE INTERESSE ECONÔMICO .......35 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 35 2 IDENTIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS GRUPOS DE PRAGAS AGRÍCOLAS ........................ 35 2.1 ÁCAROS .................................................................................................................................................35 2.1.1 Ácaros fitófagos ..........................................................................................................................36 2.2 INSETOS ................................................................................................................................................38 2.3 PRINCIPAIS GRUPOS DE INSETOS-PRAGA .................................................................................38 2.4 LEPIDOPTEROS ...................................................................................................................................39 2.5 COLEOPTEROS ................................................................................................................................... 40 2.5.1 Scarabaeidae ............................................................................................................................. 40 2.5.2 Curculionidae ............................................................................................................................ 41 2.5.3 Tenebrionidae ............................................................................................................................ 41 2.6 HIMENÓPTEROS ..................................................................................................................................42 2.6.1 Formigas saúvas ........................................................................................................................42 2.6.2 Formigas quénquéns...............................................................................................................42 2.7 DIPTEROS ............................................................................................................................................43 2.7.1 Mosca minadora .........................................................................................................................43 2.7.2 Moscas-das-frutas ...................................................................................................................43 2.8 HEMIPETEROS .....................................................................................................................................44 2.8.1 Aleyrodidae .................................................................................................................................44 2.8.2 Aphididae ....................................................................................................................................45 2.8.3 Cicadoidea..................................................................................................................................45 2.8.4 Cercopidae .................................................................................................................................45 2.8.5 Pentatomidae ...........................................................................................................................46 2.9 ORTÓPTEROS .......................................................................................................................................46 2.9.1 Acrididae ...................................................................................................................................... 47 2.9.2 Gryllidae ....................................................................................................................................... 47 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 48 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................ 50 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................. 51 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 53 UNIDADE 2 — MÉTODOS DE CONTROLE DE PRAGAS ........................................................57 TÓPICO 1 — CONTROLE DE PRAGAS: CONSIDERAÇÕES GERAIS .....................................59 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................59 2 MÉTODOS DE CONTROLE DE PRAGAS ...........................................................................59 2.1 MÉTODO LEGISLATIVO .....................................................................................................................60 2.2 MÉTODOS MECÂNICOS .....................................................................................................................63 2.3 MÉTODOS FÍSICOS .............................................................................................................................64 2.4 MÉTODOS CULTURAIS .......................................................................................................................65 2.5 MÉTODO DE CONTROLE POR COMPORTAMENTO ...................................................................... 67 2.6 MÉTODO GENÉTICO E DE RESISTÊNCIA DE PLANTAS ..............................................................69 2.7 MÉTODO QUÍMICO ................................................................................................................................71 2.8 MÉTODO BIOLÓGICO .......................................................................................................................... 74 2.8.1 Controle Biológico Clássico .................................................................................................... 75 2.8.2 Controle Biológico Natural .................................................................................................... 76 2.9 CONTROLE DE PRAGAS AGRICULTURA ORGÂNICA ...................................................................78 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 80 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................81 TÓPICO 2 - MANEJO INTEGRADO DE PAGAS ................................................................... 83 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 83 2 ETAPAS PARA ELABORAÇÃO DE UM PROGRAMA DE MIP ........................................... 83 2.1 PLANO DE AMOSTRAGEM CONVENCIONAL ................................................................................85 2.2 PLANO DE AMOSTRAGEM SEQUENCIAL .....................................................................................com.br/2018/11/cigarrinha-das-pastagens-deois-em.html. 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TÓPICO 1 – CONTROLE DE PRAGAS: CONSIDERAÇÕES GERAIS TÓPICO 2 – MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS TÓPICO 3 – NOÇÕES SOBRE TOXICOLOGIA DOS INSETICIDAS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 58 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 2! Acesse o QR Code abaixo: 59 TÓPICO 1 — CONTROLE DE PRAGAS: CONSIDERAÇÕES GERAIS UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Conforme vimos na unidade anterior, as pragas são organismos que podem atacar e destruir completamente as culturas agrícolas. Elas podem provocar a morte das plantas, reduzir drasticamente o seu crescimento e produtividade ou afetar a qualidade dos produtos armazenados, causando prejuízos econômicos elevados aos produtores. Também vimos na unidade anterior que existem dois sistemas de controle de pragas: o sistema convencional, caracterizado pela ampla utilização (e, muitas vezes isolada) de produtos químicos; e o Manejo Integrado de Pragas (MIP), que abrange um conjunto de técnicas sustentáveis que visam manter a população da praga abaixo do nível de dano econômico. Diversas técnicas de proteção foram desenvolvidas para prevenir ou minimizar os prejuízos provocados pelo ataque de pragas no campo (perdas pré-colheita) ou durante o armazenamento dos produtos (perdas pós-colheita). Essas técnicas envolvem a edição de normas regulamentadoras, a adoção de práticas culturais, a modificação genética de insetos e plantas, o uso de outros organismos, a utilização de diferentes tipos de produtos, dentre outras. Ao longo desta unidade, estudaremos os principais métodos empregados no controle de pragas, como o método legislativo; os métodos mecânicos, físicos e culturais; o método de controle por comportamento; os métodos genéticos e de resistência de plantas; o método químico e o método biológico. Abordaremos também o MIP, enfocando aspectos como: avaliação da área, tomada de decisão e plano de amostragem. Por fim, apresentaremos conceitos importantes sobre toxicologia de inseticidas, incluindo a classificação, a toxicidade, os riscos e a legislação que rege o seu uso. 2 MÉTODOS DE CONTROLE DE PRAGAS De acordo com Picanço (2010), a escolha do método a ser utilizado no controle de pragas deve ser feita com base em aspectos técnicos (eficácia), socioeconômicos (condições do usuário) e ambientais (efeitos sobre o meio ambiente e a saúde humana). É importante lembrar que não existe apenas uma abordagem correta para o controle de insetos e ácaros e, que nem todos os métodos serão adequados ou eficientes. O sucesso da escolha também dependerá da cultura e da praga envolvidos. 60 2.1 MÉTODO LEGISLATIVO Conforme Gallo et al. (2002), esse método consiste na criação de leis, decretos e portarias federais, estaduais ou municipais, que regem o cumprimento de medidas de controle, tais como: • Serviço quarentenário – Tem a função de evitar a entrada de pragas exóticas e impedir sua disseminação no território do país, estado ou município. Também é responsável por evitar a dispersão de pragas nativas nesses locais. No Brasil, o serviço quarentenário é executado pelo Serviço de Defesa Sanitária Vegetal,vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), cujos técnicos fiscalizam portos, aeroportos e fronteiras, visando tratar, destruir ou impedir a entrada de vegetais atacados, deixando-os em um período de quarentena. O serviço quarentenário também atua na exportação e importação de produtos agrícolas e florestais atacados por pragas (MOURA, 2015). Isso se deve ao avanço da globalização, que permite o transporte de pessoas e mercadorias em grande volume e com rapidez. Como consequência, o risco de introdução de pragas em países onde não ocorrem está cada vez maior. Desse modo, diversos países criaram barreiras alfandegárias proibindo a importação de determinada planta hospedeira de uma praga exótica (GALLO et al., 2002). O Brasil, por exemplo, não pode exportar frutas in natura para países como Estados Unidos e Japão, uma vez que isso cria o risco de introduzir espécies de moscas-das-frutas nesses países, os quais gastaram milhões de dólares para erradicá-las de seu território. Desse modo, ao banir a entrada de frutas in natura nesses locais, o serviço quarentenário evita uma nova infestação (GALLO et al., 2002). Por outro lado, existem exceções, como os melões cultivados no semiárido do Rio Grande do Norte, que podem ser exportados para os EUA, pois são cultivados em área livre da mosca-das-cucurbitáceas (Anastrepha grandis). Isso demonstra que o conhecimento da distribuição geográfica de uma praga quarentenária é de suma importância para a exportação/importação de determinado produto vegetal (GALLO et al., 2002). Uma praga quarentenária é qualquer espécie, raça ou biótipo de vegetais, animais ou agente patogênicos nocivos para os vegetais ou produtos vegetais (GALLO et al., 2002). As pragas quarentenárias têm importância econômica potencial para as áreas onde ainda não estão presentes, ou, quando encontradas, não estão amplamente distribuídas, mas sob controle oficial. A simples presença desses organismos em dado local pode comprometer a comercialização de produtos, por danificar ou destruir cultivos, plantações e colheitas, e ser um empecilho às exportações (EMBRAPA, 2022). A Convenção Internacional de Proteção Fitossanitária (CIPF), promovida pela FAO no ano de 1997, fundamentou o conceito de pragas quarentenárias, classificando esses organismos em dois grupos: a1 e A2 (GALLO et al., 2002; BARBOSA et al., 2014). Pragas quarentenárias A1 são aquelas que têm importância econômica potencial para uma área de risco e não estão presentes na área. As pragas quarentenárias A2 possuem importân- 61 cia econômica potencial para uma área de risco, possuem disseminação restrita e estão sob controle oficial (BARBOSA et al., 2014). Além disso, na CIPF realizada em 2002, foi estabelecido o conceito de pragas não quarentenárias regulamentadas (PNQR). As PNQR são as pragas que, embora se encontrem amplamente difundidas na área, estão sob re- gulamentação oficial por serem de interesse econômico (BARBOSA et al., 2014). De acordo com o §1º do Art. 4ª da Instrução Normativa nº 45 do MAPA, publicada em 22 de agosto de 2018, as listas de Pragas Quarentenárias Ausentes (A1), Presentes (A2) e Não Quarentenárias Regulamentadas serão publicadas no Diário Oficial da União (DOU) por meio de ato normativo da Secretaria de Desenvolvimento Agrário e disponibilizadas de forma periódica no portal institucional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), no endereço www.agricultura.gov.br. IMPORTANTE Além de possuírem legislação própria, os países podem se unir para a criação de leis relacionadas às pragas fitossanitárias de interesse em comum. Na América do Sul foi criado o Comitê de Sanidade Vegetal do Cone Sul (COSAVE), uma Organização Regional de Proteção Vegetal (ORPF), instituída no âmbito da Convenção Internacional de Prote- ção dos Vegetais (CIPV) e que engloba Argentina, Brasil, Chile, Paraguai, Peru e Uruguai (COSAVE, 2015). A COSAVE estabelece critérios para o reconhecimento de pragas no território desses países e divulga, periodicamente, listas das pragas quarentenárias A1 e A2 encontradas em cada país (GALLO et al., 2002). Além disso, a COSAVE estabelece mecanismos para evitar, conter, controlar ou erradicar pragas, por meio da normatiza- ção da produção, movimentação, armazenamento de produtos e atividade regular das pessoas, bem como pela criação de esquemas para a certificação fitossanitária (GALLO et al., 2002). Em relação ao Brasil, a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 (Lei de Cri- mes Ambientais) em seu artigo 61 dispõe que “disseminar doença ou praga ou espécies que possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas” é crime, com pena de reclusão, de um a quatro anos, e multa (BRASIL, 1998). Como vimos, cada país tem sua forma de lidar com as pragas quarentenárias. No Brasil existem tratamentos fitossanitários que visam eliminar eventuais pragas quarentenárias, permitindo a exportação dos produtos para outros países (GALLO et al., 2002). Conforme Gallo et al. (2002), esses tratamentos consistem em: • Fumigação – Emprego de brometo de metila (concentração de 32 g m3 durante 2 horas) para o controle de pragas em grãos armazenados. • Irradiação – Utilização de raios gama do Cobalto (60Co) ou Césio (137Cs) ou raios de elétron com energia de radiação de até 10 MeV. Além de controlar a infestação de pragas, a radiação atua na conservação dos frutos, pelas reduções do amadureci- mento e da contaminação microbiana. 62 • Tratamento a frio – Consiste no emprego de baixas temperaturas, geralmente em câmaras frias, onde as frutas permanecerão por um período que varia em função da praga a ser eliminada. Para a mosca-mexicana (Anastrepha ludens), por exemplo, nas culturas da uva e do pêssego, a temperatura da polpa deve ser mantida a 0,55 ºC por 18 dias, 1,11 ºC por 20 dias ou 1,66 ºC por 22 dias. É possível combinar o tratamento a frio com a fumigação, reduzindo o tempo de exposição ao frio para 4 dias sob temperatura de 1,11 ºC, na cultura do pêssego, por exemplo. • Tratamento a quente – Consiste no emprego de vapor d’água ou da hidrotermia. Com relação ao vapor d’água, a temperatura é aumentada gradativamente até que o centro da polpa da fruta atinja 43,3 ºC em 8 horas. Essa temperatura deve ser mantida por 6 horas. Já no tratamento hidrotérmico, a fruta é submersa na água, no mínimo 9 cm abaixo da superfície. O tratamento se inicia quando a temperatura da polpa atinge 21,1 ºC e sua duração varia entre 65 e 90 minutos, dependendo do tipo e tamanho do fruto. • Atmosfera controlada – Técnica utilizada em alguns países que consiste em criar ambientes nos quais a concentração de gases atmosféricos é controlada. O tratamento pode envolver o emprego de baixa concentração de oxigênio (até 2%) ou altos níveis de dióxido de carbono (entre 5 e 60%) ou uma combinação de ambos. Tabela 1 – Tratamentos quarentenários adotado em algumas frutíferas Fonte: adaptado de Gallo et al. (2002) Fruta Tratamento Fumigação Tratamento a frio Tratamento a quente Irradiação Banana X Manga X X Melão X Pêssego X X Uva X Além dos tratamentos fitossanitários, no Brasil existem medidas obrigatórias de controle direcionadas à cultura do algodão. Os produtores de algodão são obrigados a destruir os restos culturais anualmente, até a data de 15 de julho, para prevenção contra o ataque da broca e da lagarta rosada (Decreto nº 19.594-A, de 27 de julho de 1950 ) (GALLO et al., 2002). Essa medida também contribui para a redução da população do bicudo-do-algodoeiro. No Rio Grande do Sul, existe a Lei nº 2.869 de 25 de junho de 1956 , que estabelece a coleta e queima obrigatória dos galhos de acácia negra para diminuir a infestação do besouro-serrador (Oncideres impluviata) (GALLO et al., 2002). 63 2.2 MÉTODOS MECÂNICOS O controle mecânico inclui medidas que envolvem o emprego de máquinas ou métodos manuais. São adotadas práticas como a instalação de armadilhas adesivase barreiras, bem como a catação manual; as quais resultam na redução ou supressão das populações de pragas (PICANÇO, 2010). A seguir são apresentados alguns tipos de controle mecânico: • Armadilhas adesivas – Consistem em placas adesivas de tamanho variável, geralmente contendo iscas que atraem as pragas para a captura em massa. Estão disponíveis, sobretudo, nas cores amarela e azul, que são atrativos visuais para diversos insetos (e.g. pulgões, tripes, lagartas, besouros e moscas) (SORENSEN; MOHANKUMAR; THANGARAJ, et al., 2016). • Barreiras – São práticas que visam impedir ou dificultar o acesso das pragas às plantas. São exemplos de barreiras: valas feitas no solo para reter populações de gafanhotos ou curuquerê-dos-capinzais (Mocis latipes), cessando sua migração entre áreas de cultivo (PICANÇO, 2010); ensacamento dos frutos visando o controle de pragas frugívoras (como as mosca-das-frutas) em culturas como goiaba e pêssego de mesa (RAGA e GALDINO, 2019); uso de cercas para captura de insetos voadores (tripes, por exemplo) (SORENSEN; MOHANKUMAR; THANGARAJ, 2016); cobertura do solo com matéria orgânica, ou artificialmente, com o uso de filmes plásticos que são capazes de repelir os insetos – técnica conhecida como “mulching”, frequentemente adotada no Brasil, na cultura do melão (YURI et al., 2014). • Coleta e destruição manual – Também chamada catação, esse é considerado o mais antigo método de controle mecânico de pragas e consiste na coleta manual e destruição de ovos, larvas, ninfas ou pragas em estádio adulto. É uma prática comum em locais com boa disponibilidade de mão de obra barata e quando se trata de pragas facilmente observáveis (ovos e indivíduos grandes), pouco ativas ou quando ocorrem em áreas pequenas/restritas (SORENSEN; MOHANKUMAR; THANGARAJ, 2016). • Impacto – É uma prática comum em moinhos de farinhas visando o manejo de pragas de produtos armazenados. São utilizados equipamentos que lançam os grãos contra um anteparo, matando os insetos localizados no exterior ou interior dos grãos (PICANÇO, 2010). • Óleos, sabões e surfactantes – São substâncias empregadas, sobretudo, no controle de pragas em cultivos orgânicos de hortaliças. Esses produtos afetam o sistema respiratório de insetos e ácaros e, por vezes, agem como uma barreira a oviposição (SORENSEN; MOHANKUMAR; THANGARAJ, 2016). • Pano-de-batida – Consiste em um pano ou plástico branco de 1 m de comprimento por 1 mde largura contendo, nas extremidades, uma bainha onde são inseridos dois cabos de madeira (CORRÊA-FERREIRA et al., 2010). É usado no controle de pragas frugívoras, quando, ao se bater seguidamente no tronco, os indivíduos são deslocados para panos ou plásticos estendidos no solo sob a copa das árvores. Essa técnica também é usada para a amostragem e acompanhamento da população de pragas da soja, por exemplo (PICANÇO, 2010). 64 2.3 MÉTODOS FÍSICOS Os métodos físicos visam reduzir as populações de pragas por meio de mecanismos que afetam as condições físicas do ambiente onde as pragas se encontram e, consequentemente, o seu comportamento. Os efeitos desse tipo de controle variam desde a agitação até a mortalidade dos indivíduos. Três tipos de técnicas se destacam no controle físico: o controle da temperatura e da umidade e a utilização de radiação eletromagnética (SORENSEN; MOHANKUMAR; THANGARAJ, 2016). • Controle da temperatura – Os insetos e ácaros são sensíveis a variações na tem- peratura. Extremos de temperatura alta (acima de 50 ºC) ou baixa (abaixo de 5º C) podem paralisar as atividades de algumas pragas ou causar sua mortalidade. É um método frequentemente utilizado no controle de pragas de produtos armazenados (GALLO et al., 2002). • Controle da umidade – Assim como a temperatura, as pragas têm sua atividade impactada pela alteração da umidade. O secamento dos grãos antes do armazenamento é uma medida de controle muito utilizada para erradicar algumas pragas de produtos armazenados (PICANÇO, 2010). • Utilização de radiação eletromagnética e ondas sonoras – A radiação eletro- magnética pode afetar o comportamento das pragas de diferentes formas. Duran- te o dia, a emissão de ondas eletromagnéticas de curto comprimento causa efeitos químicos como a ionização de átomos, afetando pragas de hábito diurno. Por outro lado, as ondas de longo comprimento provocam aquecimento e, como são emitidas durante a noite, afetam pragas de hábito noturno. No controle de pragas, as faixas do espectro mais usadas são as radiações ultravioletas (UV), luz visível e infravermelho (IV). Adicionalmente, os insetos podem ter seu comportamento alterado em função da emissão de ondas sonoras (GALLO et al., 2002), conforme demonstrado a seguir: a) Pragas de hábito diurno – Durante o dia, a radiação eletromagnética se manifesta por meio da cor do substrato. Sabe-se que as pragas são capazes de detectar cores imperceptíveis aos seres humanos, uma vez que elas detectam o UV e o IV. Sabe- se, também, que as pragas podem reagir às diferentes cores, tendo por elas um comportamento de atração ou repelência. Isso faz com que seja possível utilizar as cores como estratégia para o controle de pragas. O pulgão (Myzus persicae), por exemplo, é repelido ao pousar em superfícies que emitem radiação UV. Portanto, a utilização de materiais que refletem UV é uma estratégia para o controle dessa praga. A palha de arroz ou a cal são exemplos de materiais refletivos de ultravioleta, as quais podem ser colocadas nas superfícies das áreas de cultivos suscetíveis ao pulgão. Já os adultos de mosca-branca (Bemisia tabaci) e mosca-minadora (Liriomyza sp.) são atraídos pela cor amarelo-ouro. Desse modo, a utilização de armadilhas adesivas com essa cor pode ser uma estratégia eficaz para atrair e capturar essas pragas, diminuindo sua população no campo (GALLO et al., 2002). b) Pragas de hábito noturno – Durante a noite, a radiação de onda longa emitida é na faixa do infravermelho distante. Por meio dos olhos compostos e sensilos presentes nas antenas, os insetos são capazes de detectar o IV e se orientar durante 65 a noite. Inclusive, são capazes de reconhecer não só o melhor hospedeiro (aquele mais suscetível ao ataque), como partes vegetais específicas. Como exemplo, a lagarta-da-espiga do milho (Helicoverpa zea) consegue se orientar em campo pelo IV emitido e selecionar as espigas em épocas ideais de serem atacados. Como forma de controle, alguns cultivares de milho que emitem certos comprimentos de onda IV desfavoráveis à praga (na faixa entre 8 e 14 m) têm sido desenvolvidos (GALLO et al., 2002). O infravermelho também tem sido usado como forma de monitoramento de pragas em plantas por meio do sensoriamento remoto (GALLO et al., 2002). A luz visível também é capaz de afetar pragas de hábito diurno ou noturno. O foto- período, por exemplo, interfere no desenvolvimento dos insetos, inclusive provocando a dia- pausa em algumas espécies tais como Grapholita molesta e Tibraca limbativentris) (PICAN- ÇO, 2010). De forma geral, os insetos reagem mais aos comprimentos de onda na luz verde (além da luz UV) e menos à luz amarela e vermelha (GALLO et al., 2002). Com base nessa ca- racterística são desenvolvidas armadilhas luminosas, como àquelas que possuem lâmpadas emissoras de UV, atraindo insetos fototrópicos positivos de voo noturno (PICANÇO, 2010). Em relação ao som, os insetos podem perceber faixas de frequências que ultra- passam 20 khz (o som conhecido como ultrassom, imperceptível pelo ouvido humano). Existem duas formas principais para o controle de insetos utilizando o som: (i) por meio do aquecimento e ressonância causados pela intensa energia empregada; (ii) por meio do emprego de diferentes frequências, que causam atração ou repelência. Em relação ao aquecimento e ressonância, o emprego do som se restringe a ambientes confinados, devido ao alto custo desse tipo de energia. Como exemplo de controle, o emprego de ondas sonoras de 39 khz causou a mortalidadetotal de Sitophilus oryzae, uma praga de grãos armazenados (GALLO et al., 2002). O emprego de frequências de som para atração ou repelência de insetos afeta o comportamento desses, não causando, diretamente, sua mortalidade. Como atraente, o som tem sido empregado no controle de pernilongos e paquinhas, ao simular o som emitido pelas fêmeas e assim capturar os machos. Como repelente, os ultrassons de 25 a 50 khz simulam os sons produzidos por morcegos preda- dores de mariposas, afastando essas pragas das plantas hospedeiras (GALLO et al., 2002). Outros métodos de controle físico têm sido utilizados em situações específicas, como o uso do fogo controlado (no combate a cochonilhas em pastagens e cana-de- açúcar); a queima de restos culturais (no controle da broca, do bicudo e da lagarta-rosada em algodoeiro); e a irrigação por inundação ou a drenagem do solo (no controle de pragas como gorgulhos-aquáticos e pão-de-galinha, em arroz irrigado) (GALLO et al., 2002). 2.4 MÉTODOS CULTURAIS São os mais antigos métodos de manejo das populações de pragas. Consistem em práticas culturais que requerem conhecimentos prévios sobre a Biologia e Ecologia das pragas. De acordo com Hill (2022) essas práticas se baseiam, sobretudo, em três tipos de estratégias: 66 1. tornar o ambiente desfavorável para as pragas, interferindo nas suas preferências por oviposição, bem como na localização das plantas hospedeiras por indivíduos em diferentes estádios de vida (HILL, 2022); 2. tornar a cultura indisponível para a praga no espaço e no tempo, baseando-se na bioecologia da praga, especialmente nos seus hábitos de dispersão e hibernação (HILL, 2022); 3. reduzir a sobrevivência da praga, seja pela criação de condições favoráveis ao desen- volvimento de inimigos naturais, ou alterando a suscetibilidade das plantas ao ataque de pragas (HILL, 2022). Dentre as práticas culturais mais comuns, destacam-se: • Adubação – Parte-se da premissa de que uma planta equilibrada nutricionalmente apresenta maior resistência ao ataque de pragas. Entretanto, deve-se tomar cuidado com os excessos. Por exemplo, o excesso da adubação nitrogenada na cultura do ar- roz favoreceu a incidência do percevejo-do-colmo (MARTINS et al., 2021). Já a aplica- ção de altas doses de fósforo e potássio contribuíram para o aumento populacional do percevejo-verde-pequeno na cultura da soja (CARDOSO; CIVIDANES; NATALE, 2002). • Culturas armadilhas – Culturas armadilhas (muitas vezes pequenos cultivos realizados antes da cultura principal) são plantas atraentes que podem ser usadas para desviar o ataque de pragas da principal. A cultura armadilha deve ser colhida e os restos culturais destruídos antes que as pragas se reproduzam (HILL, 2022). • Destruição de plantas voluntárias e plantas daninhas – As plantas voluntárias são aquelas plantas da cultura que germinam e emergem após a sua colheita (AGRO BAYER BRASIL, 2022). Tanto as plantas voluntárias, quanto as plantas daninhas, são muito atrativas para pragas e servem como hospedeiros alternativos, sendo um ponto focal para futuras infestações. Durante a destruição dessas plantas, contudo, deve-se tomar o cuidado para não destruir possíveis habitats de inimigos naturais (HILL, 2022). • Época de plantio e colheita – Para algumas pragas, uma simples antecipação ou adiamento do plantio ou colheita pode causar uma diminuição no ataque. Essas ações permitem que as plantas se estabeleçam e tolerem os ataques de pragas, ou ainda, que o seu ciclo não coincida com a época em que a praga é abundante ou está em período de oviposição (HILL, 2022). Como exemplo, a antecipação da época do plantio na cultura do algodão é realizada no controle da lagarta-rosada. A colheita antecipada é utilizada como controle do gorgulho-do-milho. Já a antecipação do plantio do sorgo é útil no controle da mosca-do-sogro (GALLO et al., 2002). • Espaçamento e densidade de plantio – A alteração da disposição das plantas na área de cultivo tende a afetar a população de pragas existente no local. Na cultura do café, por exemplo, a adoção de espaçamentos menores (plantios mais adensados) criam um microclima úmido, desfavorável ao desenvolvimento do bicho-mineiro (REVISTA CULTIVAR, 2020). Por outro lado, a broca-do-café se desenvolve melhor em ambientes úmidos, fazendo com que plantios mais espaçados, com menor umidade, maior arejamento e penetração de luz, reduzam a incidência da praga (CHBAGRO, 2021). • Irrigação – Em locais onde há disponibilidade de água em abundância, a irrigação por inundação pode ser usada no controle de pragas (HILL, 2022). Em outras áreas, a irri- gação por aspersão pode contribuir para a redução da população de pragas pequenas, como os pulgões, tripes etc. que são eliminados por lavagem (GALLO et al., 2002). 67 • Isolamento da cultura – A localização das culturas umas em relação às outras e o seu grau de isolamento podem afetar a probabilidade de serem invadidas por pragas. A instalação de novos cultivos em locais isolados de outros do mesmo tipo ou de plantas nativas que hospedam pragas em comum é uma maneira de reduzir a probabilidade de ataque (HILL, 2022). • Manejo das áreas adjacentes – As áreas do entorno (bordaduras) podem ser manejadas de maneira que proporcionem condições favoráveis aos inimigos naturais das pragas. Podem ser usadas plantas com flores atrativas para predadores e parasitas, tornando o ambiente inóspito para as pragas (HILL, 2022). • Poda – É uma técnica empregada em culturas perenes como meio de controle de pragas como brocas, cochonilhas etc. É frequentemente realizada na fruticultura (GALLO et al., 2002). • Preparo do solo – O preparo do solo pode ser uma forma de controle de pragas edáfi- cas de diversas maneiras: (1) trazendo larvas e pupas para a superfície do solo, expon- do-as à insolação direta, aos impactos das gotas de chuva, e à predação; (2) provo- cando danos diretos às pragas que habitam o solo; (3) destruindo resíduos culturais, que abrigam pragas que podem invadir novas lavouras; (4) enterrando os resíduos a profundidades nas quais a emergência das pragas se torne impossível (HILL, 2022). • Rotação de culturas – Uma rotação efetiva é aquela em que uma planta de uma família é sucedida por outra de família diferente que não seja hospedeira da praga a ser controlada. As rotações mais comuns incluem gramíneas, leguminosas e raízes/tubérculos. Esse método é eficaz no controle de pragas que têm alcance e dispersividade reduzidos e/ou que não sobrevivem por mais de uma safra longe de seus hospedeiros. As pragas mais sujeitas à – rotação de culturas são espécies pouco móveis, que habitam o solo, que apresentam uma gama restrita de hospedeiros e que têm ciclo de vida de 1 ano ou mais (HILL, 2022). • Sistema de plantio direto - Se, por um lado, a adoção desse sistema de cultivo tende a favorecer algumas pragas que habitam o solo (devido às alterações que provoca no regime hídrico, estrutura, temperatura, disponibilidade de nutrientes etc.), o microclima criado pode ser danoso a populações de pragas da parte aérea, uma vez que favorece o desenvolvimento de agentes patogênicos, como o fungo Entomophthora, que ataca pulgões (GALLO et al., 2002). 2.5 MÉTODO DE CONTROLE POR COMPORTAMENTO As pragas utilizam odores para seleção do hospedeiro, escolha de locais de oviposição, acasalamento, organização das atividades sociais, defesa contra predadores e diversos outros tipos de comportamento (PICANÇO, 2010). No controle de pragas, a manipulação comportamental envolve o uso de substâncias químicas denominadas semioquímicos. Os semioquímicos podem ser feromônios (envolvidos na comunicação entre indivíduos da mesma espécie) ou aleloquímicos (envolvidos na comunicação entre indivíduos de espécies diferentes) (GALLO et al., 2002). 68 Em relação a utilização de feromônios, o controle de pragas pode ser feito de algumas formas (PICANÇO, 2010): a) Planta isca – São colocados feromônios em faixas de culturasarmadilhas instaladas em áreas próximas à cultura principal, as quais servirão de isca para atração, captura e destruição da praga (PICANÇO, 2010). b) Confundimento – As áreas são saturadas com feromônio sexual, reduzindo as chances de encontros e/ou agregação dos sexos e, consequentemente, dificultando o acasalamento das pragas. (PICANÇO, 2010). Quanto ao uso de aleloquímicos no controle de pragas, tais substâncias podem ser empregadas como atraentes ou repelentes (GALLO et al., 2002), conforme demonstrado a seguir: a) Atração com plantas iscas – Podem ser usadas partes da própria planta como atraentes de alimentação por conterem elementos nutritivos como terpenos, glico- sídeos, fenóis, alcaloides etc., essas substâncias acabam sendo detectadas pelos órgãos sensitivos das pragas, atraindo-as (GALLO et al., 2002). Como exemplo, para atração e controle do moleque-da-bananeira (Cosmopolites sordidus) são cortadas seções de pseudocaule de bananeira em formato de telha ou queijo. Já para a broca- -do-olho-do-coqueiro (Rhynchophorus palmarum), as iscas consistem em pedaços de estirpe de 0,50 m com a parte aparada para baixo. Após alguns dias, os besouros alojados são coletados e destruídos (PICANÇO, 2010). b) Atração com outros produtos – Pode-se utilizar outros estimulantes alimentares que não sejam a cultura propriamente dita. Como exemplos de atrativos incluem-se o sal de cozinha (percevejos da soja); iscas açucaradas (moscas-das-frutas); iscas com farináceos (grilos, mariposas, lesmas e formigas) (PICANÇO, 2010). c) Repelência – Repelentes são substâncias de baixo peso molecular, geralmente voláteis, que afastam as pragas da fonte produtora. Como exemplo, podem ser citados os óleos de citronela, de pinheiro e de eucalipto. O uso de folhas secas de eucalipto-cheiroso (Eucalyptus citriodora), por exemplo, tem sido recomendado para o controle de gorgulhos (GALLO et al., 2002). Pós feitos a partir de casca de laranja e folhas de erva-de-santa-maria também apresentado bons resultados no controle de insetos como o caruncho-do-feijoeiro (GALLO et al., 2002). Além do uso de feromônios e aleloquímicos, outro método de controle por comportamento é a esterilização de insetos. Atualmente, o método mais usado é a esterilização de machos por radiação ionizante, proveniente de radioisótopos como o Co60 e Cs137. Essa técnica consiste na exposição de indivíduos machos a raios gama, e posterior liberação na natureza. Tal exposição provoca quebras nas células germinativas, induzindo a mutações letais nos espermatozoides. Quando os óvulos de fêmeas selvagens são fertilizados pelo esperma de machos irradiados, a divisão celular é rompida e o embrião morre (IMPERATO; RAGA, 2015). Se muitos machos estéreis forem 69 liberados na natureza, essa técnica pode erradicar uma praga em curto prazo, desde que o local onde se deseja realizar o controle seja isolado de outras áreas e/ou protegido contra imigrações de populações de áreas adjacentes (GALLO et al., 2002). 2.6 MÉTODO GENÉTICO E DE RESISTÊNCIA DE PLANTAS A resistência de plantas a insetos pode ser considerada um método de controle cultural, mas para fins didáticos, esse método será abordado em um tópico separado. Por resistência de plantas, entende-se o uso de variedades de plantas resistentes, capazes de suprimir os danos causados por pragas de insetos. Por ser uma prática que não causa prejuízos ao ambiente, nem representa um ônus adicional ao produtor, a resistência das plantas deve ser usada em conjunto com outras técnicas de controle de pragas (GALLO et al., 2002). No sentido mais amplo, a resistência de plantas é definida como a soma relativa das qualidades hereditárias presentes numa planta que diminuem a intensidade do dano provocado pela praga quando comparado ao dano causado a uma planta sem essas qualidades (GALLO et al., 2002). Na prática, uma cultivar resistente é aquela que produz mais em relação a uma cultivar suscetível, quando ambas são atacadas por pragas em um mesmo nível populacional (TEETES, 1985). Isso significa que a resistência das plantas é relativa, pois baseia-se na comparação com plantas sem os caracteres de resistência, ou seja, plantas suscetíveis (TEETES, 1985). Os genótipos podem apresentar diferentes níveis de resposta em relação ao ataque de pragas, o que permitiu se estabelecer cinco graus de resistência: imunidade, alta resistência, resistência moderada, suscetibilidade e alta suscetibilidade (GALLO et al., 2002). A seguir serão detalhados cada um deles, conforme Gallo et al. (2002): 1. Imunidade – Quando a planta não sofre dano da praga sob nenhuma hipótese. Trata-se de um conceito teórico, uma vez que o simples fato de o inseto estar presente, se alimentando, já descartaria o uso desse termo. 2. Alta resistência – A planta sofre um dano pequeno em comparação com as demais. 3. Resistência moderada – A planta sofre um dano um pouco menor em relação às demais. 4. Suscetibilidade – O dano na planta é semelhante ao que ocorre nas demais. 5. Alta suscetibilidade – A planta sofre um dano maior que as demais. De acordo com Teetes (1985), a resistência de plantas também pode ser analisada de outro modo, levando-se em consideração a modificação na relação entre a praga e sua planta hospedeira. Com base nisso, serão apresentados três tipos principais de resistência: antibiose, antixenose (ou não preferência) e tolerância. 70 1. Antibiose – De acordo com Picanço (2010), a resistência por antibiose pode resultar em situações como: aumento da mortalidade de larvas jovens, crescimento anormal, conversão alimentar prejudicada, dificuldade para empupar, má-formação de adultos, anomalias no armazenamento de reservas para a dormência, decréscimo na fecun- didade e redução da longevidade e reprodução da praga. Essas situações podem ser causadas por uma série de fatores, tais como: presença de substâncias tóxicas na planta, como enzimas ou compostos que inibem os processos digestivos normais, e consequentemente, afetam a conversão dos alimentos em nutrientes essenciais. 2. Antixenose – É expressa pela não preferência do inseto a uma planta resistente, para atividades como alimentação, oviposição, ou abrigo, em comparação com uma planta suscetível. 3. Tolerância – Trata-se da capacidade da cultura em suportar as injúrias sofridas pela praga, sem que isso afete a produtividade (PIANÇO, 2010). A tolerância pode resultar da presença dos seguintes fatores, que podem atuar em conjunto ou isoladamente: vigor das plantas; regeneração dos tecidos injuriados; produção adicional de ramos; utilização pela praga de partes não vitais da planta; compensação lateral por plantas vizinhas (PICANÇO, 2010). Ainda sobre a tolerância, existem alguns casos em que as plantas individuais de uma determinada área são susceptíveis, contudo, o conjunto de todas as plantas é tolerante ao ataque de pragas. A soja, por exemplo, é um bom exemplo de planta em que há compensação pela comunidade (PICANÇO, 2010). Em alguns casos pode acontecer um fenômeno chamado “pseudoresistência”, quando algumas plantas sofrem menos danos que outras, sem que de fato sejam resistentes. Para Gallo et al. (2002), existem três casos principais de pseudoresistência: 1. Escape – As plantas não são atacadas por mero acaso. Apesar de mais comum em baixos índices de infestação de pragas, o escape pode acontecer sob altas infestações. Normalmente é detectado nas repetições de experimentos ou em testes de progênie. 2. Evasão hospedeira ou assincronia fenológica – Nesse caso, a fase de maior suscetibilidade da planta coincide com o período em que a densidade populacional da praga está reduzida. Com base nisso, podem ser utilizados variedades mais precoces para controlar certas pragas, como é o caso da mosca-do-sorgo. 3. Resistência induzida – Como o próprio nome sugere, as plantas são induzidas (por meio de fatores bióticos, como o próprio ataque de pragas e abióticos, como estresse hídrico, metaispesados etc.) a produzirem substâncias de defesa conhecidas como fitoalexinas. Também podem ser considerados como pseudoresistência as situações nas quais a proporção de órgãos praguejados é menor devido ao fato de a planta produzi- los em maior quantidade para compensar o menor tamanho. Isso ocorre, por exemplo, em cultivares de soja com grãos menores que são menos danificados pelos percevejos (GALLO et al., 2002). 71 De modo geral, o uso de variedades resistentes a pragas é econômica e ecologi- camente vantajoso. Os benefícios econômicos se devem tanto pela redução dos prejuízos provocados em razão das injúrias nas plantas (reduzindo sua produtividade), quanto pela economia em função da não aplicação de inseticidas (que teriam sido aplicados em varie- dades suscetíveis). Além disso, muitas vezes as sementes de cultivares resistentes a de- terminadas pragas não custam mais, ou há uma pequena diferença de preço em relação às cultivares suscetíveis. Os benefícios ambientais se devem ao aumento da diversidade de espécies no agroecossistema, em parte devido à redução no uso de inseticidas. O au- mento da diversidade de espécies aumenta a estabilidade do ecossistema, promovendo um sistema mais sustentável pela preservação dos recursos naturais (TEETES, 1985). No Brasil, a utilização de variedades resistentes por meio de plantas transgênicas tem sido um dos métodos utilizados no manejo de pragas. Essa tecnologia se baseia no uso de plantas geneticamente modificadas com genes provenientes de outra espécie que conferem resistência a pragas. Um dos maiores casos de sucesso é a utilização de plantas transgênicas (e.g. milho e soja) que contém genes da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), os quais são responsáveis pela produção de toxinas bioinseticidas (conhecidas como proteínas cry) que afetam o trato digestivo, causando o vazamento de íons e dano osmótico às células do intestino, assim como a desintegração do mesêntero, o que leva a morte dos insetos que se alimentam dessas plantas (LIMA, 2013). 2.7 MÉTODO QUÍMICO Inseticidas e acaricidas são substâncias químicas ou biológicas que aplicadas di- reta ou indiretamente sobre insetos e ácaros, em doses adequadas, provocam sua morte. Existe uma dose mínima necessária desses produtos para matar a praga. A concentração da dose varia conforme os produtos existentes, diferentes reações fisiológicas dos insetos e ácaros etc. (GALLO et al., 2002). Devido à sua toxicidade em relação ao homem, animais e plantas, houve a necessidade de se estabelecer normas quanto ao uso desses produ- tos, de forma que o controle de pragas e aumento da produção ocorra com consequên- cias reduzidas a outros organismos e ao meio ambiente (GALLO et al., 2002). O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) criou o AGROFIT, um banco de dados para a consulta sobre agrotóxicos e afins registrados para uso no Brasil. Essa ferramenta possibilita a utilização de filtros de pesquisa por marca comercial, cultura, ingrediente ativo, classificação toxicológica e classificação ambiental, permitindo o acesso a informações sobre produtos registrados para controle de pragas (insetos, doenças e plantas daninhas), com textos explicativos e fotos. Você pode acessá-lo por meio do seguinte endereço eletrônico: hhttp://agrofit. agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons. DICA 72 Existem diversas formulações de inseticidas que permitem que o produto seja utilizado da forma mais conveniente ao usuário. Desse modo, são empregadas algumas técnicas como a mistura de substâncias inertes, sólidas ou líquidas (GALLO et al., 2002). Os compostos inertes são substâncias de baixo custo, neutras e que são utilizadas para a diluição do inseticida puro, funcionando como um veículo do produto. São exemplos de inertes, amianto, apatita, areia, argila calcinada, atapulgita, bentonita, calcita, caolim, diluentes vegetais (polpas, farinhas, resíduos vegetais diversos), enxofre, talco etc. Esses produtos funcionam bem na diluição dos inseticidas empregados na forma de pó (GALLO et al., 2002). A seguir serão apresentadas algumas formulações de inseticidas (e acaricidas) encontrados no mercado (GALLO et al., 2002). 1. Pó seco – Ou apenas pó para aplicação em sementes, plantas, animais ou no solo. 2. Pó molhável – Nessa formulação o produto recebe um agente molhante, que é uma substância de alto grau de absorção, que permite a formação de suspensões estáveis em água. 3. Pó solúvel – Formulação em que os ingredientes ativos são sólidos e solúveis em água. Apresentam aspecto moído ou de pequenos cristais que devem ser dissol- vidos em água antes da aplicação. É a formulação ideal uma vez que permite uma mistura perfeita. 4. Granulados – São formulados na forma de grânulos pequenos, empregados normalmente no controle de pragas do solo, ou, quando sistêmicos, para o controle de algumas pragas sugadoras da parte aérea das plantas. 5. Concentrados emulsionáveis, emulsão concentrada ou emulsões e dispersões aquosas – Os produtos são dissolvidos em determinados solventes, em concentrações elevadas e adicionados a substâncias emulsificantes. Quando misturados com água, formam emulsões de aspecto leitoso. 6. Aerossóis – São acondicionados em recipientes resistentes a pressões, uma vez que com estes são adicionados solventes altamente voláteis, os quais em contato com o meio ambiente, evaporam, deixando as partículas inseticidas em suspensão no ar. 7. Microencapsulado – Nessa formulação, as partículas do inseticida são envolvidas por uma parede fina e porosa composta por polímeros. Esse revestimento é chamado de microcápsula e assegura uma liberação mais lenta do produto, com maior segurança para o aplicador. 8. Espalhantes adesivos – São substâncias adesivas que permitem a fixação dos inseticidas na superfície das plantas, permitindo uma maior eficiência de aplicação. Geralmente são adicionados às soluções aquosas ou suspensões que serão pulverizadas nas folhagens ou frutas, permitindo que o produto cubra os tecidos vegetais com maior uniformidade. Existem diversas classificações de inseticidas, as quais serão abrangidas com maior detalhe no tópico sobre toxicologia de inseticidas. Por hora, falaremos sobre inseticidas sistêmicos e de contato. 73 Os inseticidas sistêmicos são aqueles que, aplicados nas folhas, ramos, raízes ou no solo, são absorvidos pela planta e translocados com a seiva para várias regiões, atuando sobre insetos sugadores, ou, algumas vezes, sobre os mastigadores em estágios iniciais de desenvolvimento (GALLO et al., 2002). Esses produtos apresentam vantagens como: menor desequilíbrio biológico; ação quase que exclusiva sobre insetos sugadores (possibi- litando o controle daqueles que se encontram em locais de difícil penetração dos insetici- das de contato); menor perda em função da lavagem por chuva ou irrigação; não requerem uma cobertura perfeita sobre as plantas. Como desvantagens incluem-se a ação quase que exclusiva sobre pragas sugadoras; baixíssima eficiência em plantas de porte elevado; não funcionam em plantas que se encontram em período de repouso; geralmente são muito tóxicos ao homem, sobretudo, por ação de contato (GALLO et al., 2002). Os inseticidas de contato, como o próprio nome sugere, são aqueles em que a eficiência da aplicação depende da penetração do produto na superfície do corpo das pragas. A vantagem do uso desses produtos está no amplo espectro de pragas que podem ser controladas (pois não há restrições quanto ao tipo de aparelho bucal das pragas, nem ao porte da planta). Por outro lado, apresentam desvantagens como, necessidade de boa cobertura das plantas, limitações quanto ao controle de pragas que ficam localizadas em superfícies protegidas (no interior das folhas e do solo, por exemplo) e baixa seletividade aos inimigos naturais (GALLO et al., 2002). A aplicação dos inseticidas pode ser feita de diversas formas (polvilhadeiras, granuladeiras, pulverizadores,dentre outros). A seguir são elencadas algumas dessas formas de aplicação (GALLO et al., 2002): • Polvilhadeiras – São máquinas que possuem um depósito com agitador mecânico, uma moega de alimentação e um regulador de saída do pó, que é impulsionado pela corrente de ar que é produzida por diversos processos, que dependem do tipo de máquina. Há polvilhadeiras manuais (possuem uma ventoinha que é acionada por uma alavanca pela mão do aplicador) que possuem um baixo alcance, com a faixa de tratamento alcançando aproximadamente cinco metros; motorizadas (a corrente de ar é produzida por um motor, seja acionando uma ventoinha ou produzindo diretamente a corrente de ar), as quais atingem faixas de tratamento de 10 a 20 metros; tratorizadas (a corrente de ar é produzida pelo motor, atingindo uma faixa de tratamento de 20 a 50 metros); avião (o pó é aplicado e propagado pelo próprio motor do avião ou pelo deslocamento de ar provocado pela própria velocidade do avião, com a faixa de tratamento atingindo de 15 a 20 metros. • Granuladeiras – Possuem depósito com moega de alimentação e regulador de saída, contendo agitador ou não. Podem ser manuais, a tração animal, tratorizadas e por avião. A granuladeira mais simples conhecida e difundida é a matraca, que foi inspirada na semeadora manual. É muito utilizada na cultura de café e citros para aplicação de inseticida granulado no solo. 74 • Pulverizadores – São máquinas em que o líquido é bombeado por pressão para o bico, quando parte-se ao ser lançado ao ar, por descompressão. São formados por tanque ou depósito, bomba, câmara de ar, tubulações, bicos e registro, podendo ou não conter reguladores de pressão. Podem ser manuais, motorizados e tratorizados. Ainda há a aplicação de inseticidas por via aérea, com a utilização de aviões dotados de barras com vários bicos, e que aplicam inseticidas de diferentes formulações. O emprego do controle químico deve ser precedido da realização de amostragens da intensidade de ataque das pragas à cultura. Esse tipo de controle só deve ser adotado quando a densidade das pragas for igual ou superior aos níveis de controle. Também devem ser levados em consideração, aspectos como: seletividade de inseticidas, rotação de produtos, uso de espalhantes adesivos na calda, emprego de equipamento de proteção individual pelos aplicadores, descarte correto de embalagens, armazenamento adequado dos produtos, prevenção e cuidados para se evitar intoxicações e treinamento dos aplicadores (PICANÇO, 2010). Adicionalmente, no controle químico, os produtos devem ser escolhidos de forma criteriosa. Deve-se atentar ao seu registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e a liberação do uso pelo órgão estadual competente. Também se faz necessário observar se o produto não apresenta fitotoxicidade à cultura, bem como preferir o uso de produtos pouco ou não tóxicos ao homem e outros animais, com o objetivo de oferecer menores riscos de intoxicação aos aplicadores e a fauna do agroecossistema. O período de carência do produto também deve ser respeitado, tomando-se os cuidados necessários para que não ocorra a contaminação dos recursos naturais (PICANÇO, 2010). 2.8 MÉTODO BIOLÓGICO De acordo com Gallo et al. (2002), Controle Biológico é um fenômeno natural entendido como a regulação da população de plantas e animais por inimigos naturais, que são conhecidos como agentes de mortalidade biótica. Toda espécie de planta ou animal tem inimigos naturais que os atacam em qualquer estágio da vida. Os insetos e ácaros, por exemplo, possuem parasitoides e predadores, que podem ser outros insetos ou microrganismos, como: fungos, bactérias, vírus, protozoários e nematoides (também chamados de entomopatógenos). O Controle Biológico hoje é considerado um alicerce do Manejo Integrado de Pragas, uma vez que os inimigos naturais mantêm as pragas em equilíbrio, sendo os principais responsáveis pela mortalidade natural nos agroecossistemas. De acordo com os procedimentos adotados (introdução, conservação e multiplicação), o controle biológico pode ser dividido em Controle Biológico Clássico, Natural e Aplicado (GALLO et al., 2002). 75 2.8.1 Controle Biológico Clássico O Controle Biológico Clássico é o método mais antigo de controle biológico e consiste na introdução de inimigos naturais importados da região nativa das pragas exóticas presentes no país, visando o seu controle (GALLO et al., 2002). Diversos inimigos naturais de pragas foram introduzidos no Brasil, conforme a tabela a seguir: Tabela 2 – Inimigos naturais introduzidos no Brasil visando ao controle de algumas pragas Inimigo natural Praga alvo Acarophenax lacunatus Pragas de produtos armazenados Apanteles gelechiidivorus, Trichogramma pretiosum Traça do tomateiro (Tuta absoluta) Aphelinus abdominalis, Aphelinus asychis, Aphelinus flavipes Aphelinus varipes; Aphidius colemani, Aphidius ervi, Aphidius picipes, Aphidius rhopalosiphi, Aphidius uzbekistanicus, Ephedrus plagiator, Lysiphlebus testacei- pes, Praon gallicum, Praon volucre; Coccinella septem- punctata e Hyppodamia quinquensignata Pulgões em trigo Cephalonomia stephanoderis Broca do café Cotesia flavipes Xanthopimpla stemmator Broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis) Deladenus siricidicola Vespa-da-madeira (Sirex noctilio) Diachasmimorpha longicaudata Moscas-das-frutas Epidinocarsis diversicornis, Acerophagus coccois, Aenasius vexans Cochonilha-da-mandioca (Phenacoccus herreni) Neodusmetia sangwani Cochonilha-das-pasta- gens (Antonina graminis) Phytoseiulus persimilis, Typhlodromus pyri, Typhlodroma- lus tenuiscutus, Amblyseius californicus Ácaros em hortaliças, grandes culturas e fruteiras Podisus maculiventris Lepidoptera Prospaltella berlesi Conchonilha-branca-do- -pessegueiro (Psudaula- caspis pentagona) Trichogramma atopovirilia Ovos da lagarta-do- cartucho-do-milho (Spodoptera frugiperda) Fonte: adaptado de Picanço et al. (2010) 76 2.8.2 Controle Biológico Natural O Controle Biológico Natural refere-se à conservação ou incremento das populações de inimigos naturais que ocorrem naturalmente nos agroecossistemas (GALLO et al., 2002). De acordo com Picanço (2010) e Michereff Filho et al. (2013), isso pode ser feito dos seguintes modos: • Uso de inseticidas seletivos (seletividade fisiológica de inseticidas); • Manutenção de plantas floríferas nas áreas de entorno, visto que estas fornecem alimento complementar, refúgio e local para reprodução de predadores e parasitoides; • Manutenção da cobertura do solo com vegetação ou cobertura morta (palhada); • Adoção do plantio direto ou cultivo mínimo; • Uso de policultivos (consórcios ou faixas de cultivo); • Preservação das áreas de mata nativa no entorno da cultura, as quais atuam como ilhas de reposição de inimigos naturais; • Uso de produtos alternativos (sobretudo, inseticidas) de baixo impacto sobre inimigos naturais. O uso de inseticidas seletivos talvez se constitua como o principal instrumento de preservação das populações de inimigos naturais nos sistemas agrícolas. A seletividade pode ser classificada em seletividade ecológica e fisiológica. A seletividade fisiológica consiste no uso de inseticidas que sejam mais tóxicos à praga do que aos seus inimigos naturais. Já a seletividade ecológica relaciona-se a formas de utilização dos inseticidas de modo a minimizar a exposição do inimigo natural ao inseticida (PICANÇO, 2010). Assim, para a preservação dos inimigos naturais, é preciso utilizar inseticidas que possuam seletividade fisiológica. Quando usados na dose recomendada, os inseticidas que possuem seletividade fisiológica reduzem a mortalidade dos inimigos naturais em até 80%. Adicionalmente, se faz necessário reduzir a exposição dos inimigos naturais aos produtos químicos, por meio do uso de inseticidas com seletividade ecológica (PICANÇO, 2010). De acordo com Picanço (2010), isso pode ser feito dos seguintes modos: • Horáriode aplicação dos produtos – Aplicações devem ser realizadas em horários de baixa temperatura do ar (entre o final da tarde e o início da manhã). Nesses períodos, a movimentação dos inimigos naturais é menor e, portanto, eles estão menos expostos a ação dos inseticidas. • Redução do contato dos produtos com os inimigos naturais – Isso pode ser fei- to, por exemplo, estudando os hábitos dos inimigos naturais. Sabe-se que a aplicação por pulverização afeta significativamente os indivíduos que estão sobre as plantas. Já a aplicação via solo, afeta diretamente àqueles que vivem no interior do solo. Conhe- cendo isso, o responsável pela aplicação deve usar o produto de modo que cause o menor impacto, como por exemplo, a utilização de inseticidas sistêmicos (caso os ini- migos naturais se encontrem no solo), pois este será translocado via sistema vascular para a parte aérea das plantas, afetando as pragas que atacam aquela região. Além 77 disso, deve-se verificar o tipo de aparelho bucal desses agentes, uma vez que inimi- gos naturais de aparelho bucal do tipo mastigador são menos afetados por inseticidas sistêmicos em relação àqueles que apresentam o tipo sugador. Para entender melhor o conceito de Controle Biológico Aplicado, precisamos diferenciar predadores de parasitoides. Predadores são organismos de vida livre durante todo o seu ciclo de vida, e que matam a presa para depois se alimentarem. Geralmente são maiores do que suas presas e precisam consumir mais de um indivíduo para completar o seu desenvolvimento (GALLO et al., 2002). Um exemplo de uso de predadores no Controle Biológico Aplicado é a utilização de joaninhas (Cryptolaemus montrouzieri) sobre cochonilhas e pulgões (SANCHES; CARVALHO, 2010). Os parasitoides, por sua vez, causam uma mortalidade lenta das presas, pois precisam do hospedeiro vivo, produzindo os nutrientes a serem consumidos por eles. Geralmente só precisam de um indivíduo para completar o seu ciclo. Um exemplo de uso de parasitoides no Controle Biológico Aplicado é a vespa Cotesia flavipes sobre lagartas da broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis) (SOUZA et al., 2014). IMPORTANTE No Brasil a primeira introdução de inimigos naturais foi realizada em 1921, com a importação de Prospaltela berlesi (Aphelinidae) oriunda dos EUA para o controle da cochonilha-branca-do-pessegueiro (Pseudaulacaspis pentagona). Atualmente, diversos inimigos naturais são produzidos em biofábricas instaladas em diversas localidades e comercializados para uso em programas de Controle Biológico Aplicado de pragas agrícolas (GALLO et al., 2002) (Tabela 3). Tabela 3 – Exemplos de inimigos naturais comercializados no Brasil para uso no Controle Biológico Aplicado Inimigo natural Praga alvo Predadores Podisus spp. (Hemiptera) Lagartas desfolhadoras de eucalipto Parasitoides Parasitoides de larvas Cotesia flavipes (Hymenoptera) Broca da cana-de-açúcar (D. saccharalis) Parasitoides de ovos Trichogramma galloi (Hymenoptera) Broca da cana-de-açúcar e outros lepidópteros Trichogramma pretiosum (Hymenoptera) Traça do tomateiro e outros lepidópteros Trissolcus basalis (Hymenoptera) Percevejos da soja 78 Entomopatógenos (controle microbiano) Bactérias entomopatogênicas Bacillus thuringiensis var. kurstaki Lagartas (Lepidoptera) Fungos entomopatogênicos Beauveria bassiana Ácaro rajado, broca do café e moleque da bananeira Metarhizium anisopliae Cigarrinhas da cana,cigarrinhas de pastagem e cupins Sporothrix insectorum Percevejo-de-renda-da-seringueira (Leptopharsa heveae) Vírus entomopatogênicos Baculovirus anticarsia Lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis) Baculovirus spodoptera Lagarta-do-cartucho-do-milho (Spodoptera frugiperda) Fonte: adaptado de Picanço (2010) Como todo método de controle de pragas, o Controle Biológico apresenta vantagens e desvantagens que devem ser analisadas pelo usuário para uma boa tomada de decisão. Entre as vantagens, incluem-se a proteção da biodiversidade do agroecossistema; a especificidade (não causa desequilíbrios na comunidade); a ausência de resíduos (em alimentos, água e solo); a ausência de danos a insetos polinizadores; o aumento do lucro do agricultor e a redução da dependência de produtos derivados de petróleo. Como desvantagens do Controle Biológico estão a especificidade (pragas requerem inimigos naturais específicos, logo, em culturas que possuem muitas pragas talvez seja necessário a complementação com outros métodos de controle); por vezes, esse método é de difícil implantação pelo nível cultural do agricultor, pois requer um conhecimento tecnológico mais aprofundado (GALLO et al., 2002). 2.9 CONTROLE DE PRAGAS AGRICULTURA ORGÂNICA O pesquisador Francis Chaboussou formulou em 1967 a Teoria da Trofobiose, segundo a qual “todo processo vital está na dependência da satisfação das necessidades dos organismos vivos, sejam eles vegetais ou animais”. Isso significa que a planta, ou mais precisamente, o órgão vegetal, será atacado somente quando seu estado bioquímico, determinado pela natureza e pelo teor de substâncias nutritivas solúveis (tais como, açúcares e aminoácidos), corresponder às exigências tróficas (de alimentação) da praga ou do patógeno em questão. Com base nisso, a agricultura orgânica tem se baseado no equilíbrio nutricional (químico e fisiológico) das plantas, buscando maior estabilidade energética e metabólica do vegetal (GALLO et al., 2002, s.p.). 79 Como principais medidas de controle orgânico de pragas nos agroecossistemas, incluem-se, o emprego de variedades resistentes e de adubos orgânicos associados à aplicação de fitoprotetores (fungos, bactérias e vírus), além de extratos de plantas inseticidas e caldas fertiprotetoras ou fitoestimulantes (sulfo-cálcica, bordalesa, viçosa, dentre outras) e biofertilizantes líquidos (GALLO et al., 2002). O uso de produtos à base de microrganismos como fungos (Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae) em dosagens variadas (de 1 a 5 kg/ha), tem sido adotado de forma eficiente no controle de Cosmopolites sordidus, Tetranychus urticae, pulgões e cochonilhas no contexto da agricultura orgânica de vários países, inclusive o Brasil (GALLO et al., 2002). Extratos de plantas da família Meliaceae, como santa-bárbara (Melia azedarach) e, sobretudo, o nim (Azadirachta indica) vêm sendo utilizados no controle de pragas de plantas e parasitas de animais. O nim tem como princípio ativo a azadiractina, bem como outros triterpenoides e limonoides, que agem em conjunto, aumentando a ação inseticida e acaricida desses produtos (GALLO et al., 2002). As caldas sulfocálcica, bordalesa e viçosa, são exemplos de caldas fertiprotetoras usadas no controle de pragas e reestabelecimento do equilíbrio trófico das plantas (pelo fornecimento de nutrientes como cálcio, cobre, enxofre e outros nutrientes). A caldasulfocálcica é uma mistura de polissulfetos de cálcio resultante de uma reação de oxirredução do enxofre na mistura com o cálcio, após dissolução e fervura em água quente. Já as caldas bordalesa e viçosa, são derivadas da mistura do sulfato de cobre com óxido de cálcio ou cal virgem (GALLO et al., 2002). Já os biofertilizantes líquidos são produtos que resultam da fermentação aeróbica ou anaeróbica de resíduos orgânicos de origem animal e vegetal, aplicados na forma de caldas fertiprotetora. Devido à sua composição (enzimas, antibióticos, vitaminas, toxinas, fenóis, ésteres fitormônios e ácidos), além de promover a nutrição das plantas, esses produtos possuem uma ação inseticida/acaricida ou de repelência a insetos e ácaros (GALLO et al., 2002). 80 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu: • O Controle Legislativo consiste na criação de normas que regem o cumprimento de medidas de controle, sobretudo em relação aos serviços quarentenários. • O Controle Mecânico envolve a instalação de armadilhas adesivas e barreiras, bem como, a catação manual; resultando na redução ou supressão das populaçõesde pragas. • O Controle Físico consiste na manipulação do ambiente, abrangendo a modificação de temperatura e umidade; e a utilização de radiação eletromagnética e ondas sonoras. • O Controle Cultural envolve a adoção de práticas agronômicas visando tornar o ambiente desfavorável para as pragas; a cultura indisponível paras as pragas no espaço e no tempo; e reduzir a sobrevivência das pragas no campo. • O Controle por Comportamento envolve o uso de semioquímicos (envolvidos na co- municação dentro da mesma espécie) ou aleloquímicos (entre espécies diferentes). • O Controle Genético (Resistência de Plantas) consiste no uso de variedades de plantas resistentes, sendo uma prática considerada pouco danosa ao meio ambiente. • O Controle Químico abrange o uso de inseticidas e acaricidas cuja concentração da dose varia conforme os produtos existentes, as diferentes reações fisiológicas dos insetos e ácaros, dentre outros aspectos. Além disso, existem diversas formulações e métodos de aplicação desses produtos. • O Controle Biológico visa a mortalidade natural das pragas no campo, podendo ser natural (incremento das populações de inimigos naturais que ocorrem naturalmente nos agroecossistemas) ou aplicado (liberação de predadores ou parasitoides nos agroecossistemas, após sua produção massal em laboratório) • O Controle Orgânico abrange o emprego de variedades resistentes e de adubos orgânicos associados ao uso de fitoprotetores (fungos, bactérias e vírus), além de extratos de plantas inseticidas e caldas fertiprotetoras ou fitoestimulantes (sulfo- cálcica, bordalesa, viçosa, dentre outras) e biofertilizantes líquidos . 81 AUTOATIVIDADE 1 A Convenção Internacional de Proteção Fitossanitária (CIPF), promovida pela FAO no ano de 1997, fundamentou o conceito de pragas quarentenárias, classificando esses organismos em dois grupos: a1 e A2. Com base nessa classificação, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Pragas quarentenárias A1 são aquelas que têm importância econômica potencial para uma área de risco, estando presentes na área. b) ( ) Pragas quarentenárias A1 são aquelas que têm importância econômica potencial para uma área de risco, possuem disseminação restrita e estão sob controle oficial. c) ( ) Pragas quarentenárias A1 são aquelas que têm importância econômica potencial para uma área de risco e não estão presentes na área. d) ( ) As pragas quarentenárias A2 possuem importância econômica potencial para uma área de risco, estando presentes na área. 2 O controle mecânico inclui medidas que envolvem o emprego de máquinas ou métodos manuais. São adotadas práticas como a instalação de armadilhas adesivas e barreiras, bem como a catação manual; as quais resultam na redução ou supressão das populações de pragas. Com base nos conceitos vistos, analise as sentenças a seguir: I- A técnica conhecida como “mulching” consiste na cobertura do solo com filmes plásticos, sendo eficiente no controle de pragas que habitam o solo. II- A coleta e destruição manual (também chamada catação) é uma forma de controle mecânico de pragas e consiste numa prática comum em locais com baixa disponibilidade de mão de obra, sendo ideal para pragas pequenas e muito ativas. III- Surfactantes são substâncias que afetam o sistema respiratório de insetos e ácaros e, por vezes, agem como uma barreira a oviposição Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3 Os métodos físicos visam reduzir as populações de pragas por meio de mecanismos que afetam as condições físicas do ambiente onde as pragas se encontram e, consequentemente, o seu comportamento. De acordo com os conceitos obtidos sobre o controle físico, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: 82 ( ) A manipulação da umidade pode ser utilizada no controle de pragas. O secamento dos grãos antes do armazenamento, por exemplo, é eficiente na erradicação de algumas pragas de produtos armazenados. ( ) Insetos e ácaros são tolerantes a variações na temperatura. Essas pragas mantem sua atividade normalmente, mesmo em temperaturas abaixo de 5 ou acima de 50 ºC. ( ) O conhecimento sobre o hábito das pragas (diurno ou noturno) pode servir de base para a adoção de controle utilizando a radiação eletromagnética. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 Os métodos culturais são os mais antigos métodos de manejo das populações de pragas. Consistem em práticas culturais que requerem conhecimentos prévios sobre a Biologia e Ecologia das pragas. Disserte sobre as três principais estratégias sobre as quais se baseiam o controle cultural. 5 Controle Biológico é um fenômeno natural entendido como a regulação da população de plantas e animais por inimigos naturais, que são conhecidos como agentes de mortalidade biótica. Existem três principais métodos de Controle Biológico: Clássico, Natural e Aplicado (ou artificial). Disserte sobre cada um deles. 83 MANEJO INTEGRADO DE PAGAS 1 INTRODUÇÃO Conforme vimos na unidade anterior, existem dois sistemas de manejo de insetos e ácaros, os quais utilizam métodos específicos para o reconhecimento e controle dessas pragas: o sistema tradicional, considerado ultrapassado e ineficiente e o Manejo Integrado de Pragas (MIP), que é um conjunto de métodos utilizados de forma isolada ou em conjunto, de forma harmoniosa, baseado em análises de custo/ benefício e que levam em consideração o interesse e/ou o impacto sobre os produtores, sociedade e meio ambiente (VALICENTE, 2015). O MIP envolve um somatório de conhecimentos tecnológicos em diversas áreas (Entomologia, Fitotecnia, Fisiologia vegetal, Matemática, Economia, Ciência da computação etc.) para que seja possível formar uma estrutura capaz de tomar decisões eficazes no emprego de novos métodos de controle. Essa estrutura, por vezes complexa, leva em consideração os efeitos negativos de cada método de controle na sociedade e no meio ambiente e procura utilizar o máximo de agentes naturais de controle do meio (físico e biológico), inclusive manipulando-os, considerando os aspectos ecológicos e econômicos das culturas e das pragas. O MIP utiliza técnicas que visam manter as populações de insetos-praga abaixo do nível de dano econômico, as quais podem ser, inclusive, integradas com inseticidas, desde que tal integração seja feita de forma harmoniosa (GALLO et al., 2002?). Neste sentido, no Tópico 2, abordaremos aspectos inerentes a implementação de um Programa de MIP, sobretudo em relação aos seus componentes (diagnose ou avaliação do agroecossistema, tomada de decisão e seleção dos métodos de controle (estratégias e táticas do MIP), conforme descrito por Gallo et al. (2002) e Picanço (2010). UNIDADE 2 TÓPICO 2 - 2 ETAPAS PARA ELABORAÇÃO DE UM PROGRAMA DE MIP Conforme já vimos anteriormente, o MIP se baseia num conjunto de técnicas de controle que são realizadas a partir de análises de custo/benefício que visam um menor impacto socioambiental. Deve-se ter em conta, ainda, que o MIP não se trata somente do uso de vários métodos de controle de forma desornada, mas da adoção de práticas que interagem entre si, dentro dos preceitos ecológicos, econômicos e sociais que são a base do manejo de pragas (GALLO et al., 2002). De acordo com Gallo et al. (2002), as principais etapas para a elaboração de um programa de manejo de pragas em uma cultura, incluem: 84 1. Identifi cação das pragas mais importantes (pragas-chave): Envolve a identifi cação taxonômica e a bionomia dessas pragas (Biologia, hábitos, hospedeiros, inimigos naturais associados, dentre outros). 2. Análise dos inimigos naturais: a observação da presença de inimigos naturais indica um potencial de mortalidade natural nos agroecossistemas.A partir disso, pode-se estabelecer técnicas de criação de inimigos naturais para liberação, conservação e manutenção, bem como técnicas de produção de patógenos (controle biológico). 3. Avaliação dos fatores climáticos que afetam a dinâmica populacional da praga e de seus inimigos naturais. 4. Estabelecimento dos níveis de dano econômico e de controle: esses níveis devem ser determinados com base na fenologia da planta (por exemplo, em qual estádio vegetativo ou reprodutivo a cultura está mais vulnerável ao ataque da praga) além dos custos de controle da praga, os custos dos prejuízos causados pelo seu ataque e o preço da produção. 5. Avaliação populacional ou amostragem. 6. Avaliação dos métodos mais adequados para incorporação a um programa de manejo. O primeiro passo para a implementação de um programa de MIP numa cultura é a identifi cação do agente causal de um determinado sintoma na planta. Por exemplo, uma folha que apresenta clorose pode ter sido atacada por um inseto sugador, mas também por uma doença causada por um fi topatógeno, um desequilíbrio nutricional ou uma fi to- toxicidade pela ação de um herbicida. Por isso, em um programa de MIP é de fundamental importância conhecer as pragas-chaves de uma cultura (GALLO et al., 2002). Na unidade anterior, vimos o conceito de pragas e a sua classifi cação (pragas diretas e indiretas, organismos não praga, pragas-chave ou primária, praga ocasional ou secundária e praga severa) bem como a defi nição de nível de equilíbrio, de controle e de dano econômico. Caso sinta necessidade, você pode revisitar esse conteúdo, uma vez que tais defi nições são uteis para uma melhor compreensão acerca do MIP. ATENÇÃO Após a identifi cação das principais pragas de uma cultura, é necessário estabelecer um plano de amostragem de pragas. A amostragem tem por objetivo verifi car-se o nível das populações de pragas e dos inimigos naturais nas lavouras. A amostragem deve representar bem a realidade, ser rápida (com duração de, no máximo, uma hora/talhão), de fácil execução para o agricultor e barata (não elevando os custos de produção). A elaboração de planos de amostragem requer estudos prévios nos campos de cultivo comerciais de forma a se obter uma amostragem adequada (PICANÇO, 2010). 85 Figura 1 – Etapas para tomada de decisão em um programa de Manejo Integrado de Pragas Fonte: adaptada de Gallo et al. (2002) Textos- Rubik Light (tamanho 10 espaçamento 14) Títulos- -Títulos de primeira ordem são (Neo Sans - tam 15 - esp 18 - Caixa alta - Negrito) -Títulos de segunda ordem são (Neo Sans - tam 15 - esp 18 - Caixa alta - regular) -Títulos de terceira ordem são (Neo Sans - tam 15 - esp 18 - Apenas a primeira letra em maiúsculo - regular) AMOSTRAGEM ATINGIU O NC? NÃO SIM CONTROLAR Há dois tipos de planos de amostragem: os convencionais e os sequenciais. Os planos amostragem convencionais são mais simples e adequados para usuários iniciais. Por sua vez, a amostragem sequencial é mais complexa e, portanto, mais adequada para usuários mais experientes, que já empregam os planos convencionais de amostragem há algum tempo (PICANÇO, 2010). 2.1 PLANO DE AMOSTRAGEM CONVENCIONAL O plano convencional é executado por dois grupos de pessoas: os pragueiros e os monitores. Geralmente, os pragueiros formam duplas compostas por um anotador e um avaliador, as quais fazem a avaliação da intensidade do ataque de pragas, bem como o quantitativo de inimigos naturais presentes nos talhões (PICANÇO, 2010). Os monitores, por sua vez, ficam encarregados pelo tratamento dos dados coletados pelos pragueiros. Eles calculam a intensidade média de ataque das pragas nos talhões, além da densidade populacional dos inimigos naturais. São os monitores quem decide em qual talhão se faz necessário o controle das pragas. Os monitores também fazem a supervisão do trabalho dos pragueiros (PICANÇO, 2010). O plano de amostragem convencional envolve os seguintes componentes segundo PICANÇO (2010): a) Divisão da área em talhões – Os talhões podem ser agrupados por genótipo, idade, espaçamento, sistema de condução, tipo de solo, topografia etc. b) Tipo de caminhamento – O caminhamento representa a forma de deslocamento na área de amostragem. A Figura 2 traz um esquema para melhor compreensão desse componente. Os retângulos representam o talhão onde a amostragem será realizada. As linhas dentro do retângulo representam a forma de caminhamento durante a coleta das amostras. A forma de caminhamento mais usual é a em pontos distribuídos de forma regular ao longo do talhão. 86 Figura 2 – Esquema representativo de tipos de caminhamento para realização de amostragem convencional Fonte: adaptada de Picanço (2010) c) Amostras – As amostras correspondem a unidade de avaliação da praga ou inimigo natural. Pode ser uma área de avaliação, uma planta ou parte da planta (caule, folha, fruto, flor, dentre outros). d) Técnica de Amostragem – É a forma de obtenção das amostras, que pode ser por contagem direta da população da praga ou indiretamente por meio do uso de armadilhas, bandejas, pano de batida, lupa, dentre outras. e) Número de amostras/talhão – Na amostragem convencional esse número é fixo. f) Época e frequência de amostragem - A amostragem deve ser feita periodicamente, sobretudo, nos períodos de maior incidência das pragas e de maior suscetibilidade da cultura. Em culturas anuais, hortaliças e ornamentais, as amostragens, normalmente, são realizadas a cada semana. Por outro lado, em culturas perenes, as amostragens têm um intervalo de 15 dias (em períodos de maior incidências) ou 30 dias, para os períodos de menor incidência. Abaixo poderemos observar um exemplo de amostragem convencional para a cultura da lima ácida Tahiti: 87 Fi gu ra 3 – Fi ch a pa ra a m os tr ag em d e pr ag as e d oe nç as e m li m a ác id a Ta hi ti Fo nt e: S an to s Fi lh o (2 00 9, s .p .) 88 2.2 PLANO DE AMOSTRAGEM SEQUENCIAL O plano sequencial de amostragem é executado por um grupo de pessoas que no campo avaliam e tomam decisão de controle. Esse tipo de amostragem é mais representativa e assegura uma economia de até 70% do tempo, custo e mão de obra. Por outro lado, requer usuários mais qualificados (PICANÇO, 2010). Os planos sequenciais apresentam os mesmos componentes do plano convencional, exceto pelo número de amostras que varia a cada talhão (PICANÇO, 2010). A tomada de decisão é feita pelas seguintes faixas de decisão: não controlar a praga; controlar a praga; continuar amostrando até que seja tomada uma decisão (GALLO et al., 2002). A seguir serão apresentadas algumas especificidades dos planos sequenciais de amostragem, de acordo com Picanço (2010): • O número de amostras colhidas varia, de modo que garanta uma boa precisão da amostragem. Assim são produzidas tabelas que possuem três colunas: na primeira contém o número de amostras, na segunda o limite inferior e na quarta coluna o limite superior. Na terceira coluna são anotados, cumulativamente, os dados provenientes das amostragens (ver Tabela 1). • Se a unidade amostral está infestada pela praga, ela recebe nota “0”, e quando não está, a nota “1”, com os dados anotados de forma cumulativa. Caso a população da praga seja menor ao valor do limite inferior, a decisão é de não controlar a praga. Se for maior ou igual ao limite superior, decisão será pelo controle da praga. Por outro lado, se o valor for intermediário entre os limites inferior e superior, deve-se realizar mais amostragens até que esta caia em uma das duas situações anteriores. Se na última linha do quadro o valor oriundo das anotações cumulativas ainda for intermediário aos limites inferior e superior, deve-se reamostrar esse talhão num período próximo. Quadro 1 – Planto de amostragem sequencial para o bicho-mineiro-do-cafeeiro (Leucoptera coffeella) Planta Limite inferior Número acumulativo Limite Superior 1 - - 2 - - 3 - - 4 - - 5 - - 688 2.3 DESAFIOS PARA O MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS .............................................................90 RESUMO DO TÓPICO 2 ......................................................................................................... 91 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 92 TÓPICO 3 - NOÇÕES SOBRE TOXICOLOGIA DOS INSETICIDAS ........................................95 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................95 2 LEI Nº 7.802, DE 11 DE JULHO DE 1989 ..........................................................................95 2.1 CONCEITOS INICIAIS ...........................................................................................................................95 3 TOXICIDADE DOS INSETICIDAS ......................................................................................97 3.1 TOXICIDADE DOS INSETICIDAS ....................................................................................................... 97 3.1.1 Efeitos colaterais dos inseticidas em seres humanos e animais ...................................98 3.1.2 Resíduos de inseticidas em vegetais ...................................................................................99 3.1.3 Tríplice lavagem e destinação final das embalagens vazias ........................................100 4 CLASSIFICAÇÃO DOS INSETICIDAS .............................................................................100 4.1 CLASSES DOS INSETICIDAS ..........................................................................................................100 4.1.1 Inseticidas inorgânicos ..........................................................................................................100 4.1.2 Derivados de plantas ou inseticidas botânicos ................................................................101 4.1.3 Biológicos ou Bioinseticidas ..................................................................................................101 4.1.4 Óleos minerais ..........................................................................................................................102 4.1.5 Reguladores de crescimento ...............................................................................................102 4.1.6 Organoclorados ........................................................................................................................102 4.1.7 Organofosforados ....................................................................................................................102 4.1.8 Carbamatos ..............................................................................................................................103 4.1.9 Piretroides .................................................................................................................................103 4.1.10 Fumigantes ............................................................................................................................103 5 FORMULAÇÃO DE AGROTÓXICOS ................................................................................ 104 5.1 COMPONENTES DE UMA FORMULAÇÃO .....................................................................................104 5.1.1 Tipos de formulação de agrotóxicos ...................................................................................105 6 RECEITUÁRIO AGRONÔMICO .........................................................................................106 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................... 110 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................... 115 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 116 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 118 UNIDADE 3 — MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DE CULTURAS AGRÍCOLAS, FLORESTAIS E ORNAMENTAIS ..................................................................123 TÓPICO 1 — MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DE CULTURAS AGRÍCOLAS .................125 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................125 2 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DE GRANDES CULTURAS .....................................125 2.1 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS NO ALGODOEIRO ............................................................... 125 2.1.1 Pulgões ....................................................................................................................................... 126 2.1.2 Bicudo-do-algodoeiro ........................................................................................................... 126 2.1.3 Lagarta-da-maçã .................................................................................................................... 126 2.1.4 Lagarta-rosada ........................................................................................................................ 127 2.1.5 Curuquerê-do-algodoeiro ..................................................................................................... 127 2.1.6 Amostragem ............................................................................................................................. 127 2.1.7 Controle Cultural ...................................................................................................................... 129 2.1.8 Controle Comportamental .................................................................................................... 129 2.1.9 Controle Legislativo ................................................................................................................ 129 2.1.10 Controle Biológico.................................................................................................................. 129 2.1.11 Controle Químico .................................................................................................................... 129 2.2 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM ARROZ..........................................................................130 2.2.1 Cupins ........................................................................................................................................130 2.2.2 Bicho-bolo (pão de galinha) ..................................................................................................131 2.2.3 Larva-arame ............................................................................................................................131 2.2.4 Lagarta-elasmo. .....................................................................................................................131 2.2.5 Gorgulhos-aquáticos (bicheira-do-arroz) ....................................................................... 132 2.2.6 Percevejo-do-colmo ............................................................................................................ 132 2.2.7 Percevejo-do-grão ................................................................................................................. 132 2.2.8 Lagartas desfolhadoras ........................................................................................................ 133 2.2.9 Amostragem ........................................................................................................................... 133 2.2.10 Controle Cultural ................................................................................................................... 134 2.2.11 Controle Varietal ..................................................................................................................... 134 2.2.12 Controle Biológico .................................................................................................................- - 7 - - 8 - 9 - 10 - 5 11 1 6 12 1 6 89 Fonte: adaptada de Picanço (2010) Tabela 4 – Níveis de ação para o ácaro-da-falsa-ferrugem e ácaro-da-leprose em Citros Fonte: adaptado de Gallo et al. (2002) 13 1 6 14 2 7 15 2 7 16 2 7 17 3 8 18 3 8 19 3 8 20 4 9 21 4 9 22 4 9 23 5 10 24 5 10 25 5 10 26 6 12 27 6 12 28 6 12 29 7 12 30 7 12 A seguir serão apresentados exemplos de níveis de ação para duas pragas dos citros (ácaro-da-falsa-ferrugem e ácaro-da-leprose), levando-se em consideração os planos de amostragem convencional e sequencial (GALLO et al., 2002). Praga Inspeção Níveis de ação Ácaro- da-falsa- ferrugem Em 20 plantas ao acaso, analisar 3 frutos/planta. Visar apenas 1 cm² em frutos verdes ou folhas quando não houver frutos. Olhar no lado da fruta ou na parte inferior da folha. Convencional: 30% com 5 ácaros/ cm², 10% de frutos com 20 ácaros/ cm² em frutos para mercado e 10% com 30 ácaros/cm² ou 20% com 20 ácaros/cm² para indústria. Sequencial: mercado – 90%; indústria – 80%. Ácaro-da- leprose Em 20 plantas ao acaso, analisar 2 frutos e ramos/planta. Visar todo o fruto, dando preferência aos que tenham verrugose e estejam no interior da copa ou ramos internos com 20 cm de comprimento. Convencional: 10% de frutos com pelo menos 1 ácaro quando houver sintomas de ataque e 15% quando não houver sintomas. Sequencial: talhão com infecção – 90%; sem infecção – 80%. 90 2.3 DESAFIOS PARA O MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS É inegável que no Brasil houve um grande avanço nos últimos anos com a conscientização da necessidade em se reconhecer as pragas, os inimigos naturais e, por meio de amostragens, o nível de controle dessas pragas, de modo a agir no momento adequado (GALLO et al., 2002). A adoção de um MIP tem como consequência a redução do uso de inseticidas (GALLO et al., 2002). Contudo, é importante lembrar que os produtos químicos ainda são necessários a muitas culturas. Portanto é importante integrá-los de forma harmoniosa no controle de pragas, bem como dar preferência a produtos que causem menos impacto aos seres humanos, inimigos naturais e ao meio ambiente. Além disso, é importante incorporar estratégias de manejo de resistência de pragas a pesticidas, pois a evolução da resistência de insetos tem sido um ponto preocupante para o manejo de pragas (GALLO et al., 2002). Programas de MIP bem-sucedidos no mundo inteiro têm sido associados a produção de alimentos de consumo diferenciado (como por exemplo, os produtos orgânicos, da linha verde), o que ajuda a incrementar o lucro dos produtores que adotam o MIP, incentivando mais produtores a adotar essa tecnologia (BUENO et al., 2020). É importante entender que o MIP não é um princípio que se aplica de forma estrita e homogênea a todas as situações, mas sim uma filosofia, influenciada por diversos fatores, que deve orientar os seus usuários a se valerem do método mais apropriado, com a ferramenta de manejo de pragas disponível para cada situação. Espera-se que com isso, a implementação de programas de MIP se consolidem, cada vez mais, contribuindo para a segurança alimentar e sustentabilidade das gerações futuras (BUENO et al., 2020). 91 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu: • O Manejo Integrado de Pragas busca a integração de diferentes métodos de controle de pragas, levando em consideração o custo-benefício dessas práticas sobre a sociedade e o meio ambiente. • A elaboração de um Programa de Manejo Integrado de Pragas envolve o cumprimento de etapas como a identificação das pragas mais importantes, a análise dos inimigos naturais, a avaliação de fatores climáticos que exerçam influência sobre a ecologia das pragas, o estabelecimento racional de níveis de dano econômico e de controle, a avaliação populacional das pragas e a tomada de decisão, utilizando-se os métodos de controle mais adequados para cada situação. • As especificidades dos planos convencional e sequencial de amostragem, incluindo as vantagens e desvantagens relativas à escolha por um ou outro método e como podem ser realizados em situações práticas. 92 AUTOATIVIDADE 1 Existem dois sistemas de manejo de insetos e ácaros, os quais utilizam métodos específicos para o reconhecimento e controle dessas pragas: o sistema tradicional e o Manejo Integrado de Pragas (MIP). Acerca do conceito de MIP, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Esse sistema de manejo de pragas leva em consideração apenas os aspectos econômicos, deixando de lado os efeitos do controle de pragas sobre a sociedade e o meio ambiente b) ( ) O MIP se baseia no uso de vários métodos de controle de forma desornada, sem interação umas com as outras. c) ( ) O MIP envolve um somatório de conhecimentos tecnológicos em diversas áreas (entomologia, fitotecnia, fisiologia vegetal, matemática, economia, ciência da computação etc.) para que seja possível formar uma estrutura capaz de tomar decisões eficazes no emprego de novos métodos de controle. d) ( ) No MIP não se pode utilizar o método químico em conjunto com outros métodos de manejo. 2 A elaboração de um programa de MIP envolve diversas etapas. Acerca dessas etapas, analise as sentenças a seguir: I- Para a identificação das pragas-chave é suficiente o reconhecimento dos aspectos bionômicos (biologia, hábitos, hospedeiros, inimigos naturais, dentre outros), sendo irrelevante a classificação taxonômica dos indivíduos. II- A observação da presença de inimigos naturais indica um potencial de mortalidade natural nos agroecossistemas. A partir disso, pode-se estabelecer técnicas de criação de inimigos naturais para liberação, bem como técnicas de produção de patógenos (Controle Biológico). III- O estabelecimento dos níveis de dano econômico e controle devem ser determinados com base na fenologia da planta como, por exemplo, no estádio vegetativo ou reprodutivo em que cultura está menos vulnerável ao ataque da praga. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 93 3 Após a identificação das principais pragas de uma cultura, é necessário estabelecer um plano de amostragem de pragas. De acordo com conceitos obtidos sobre planos de amostragem, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) A amostragem deve representar bem a realidade, ser lenta, de fácil execução para o agricultor e barata. ( ) Por se tratar de uma técnica simples e de fácil execução, não é necessário realizar estudos prévios para a confecção dos planos de amostragem. ( ) A amostragem tem por objetivo verificar o nível das populações de pragas e dos inimigos naturais nas lavouras.. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 No MIP, a amostragem de pragas envolve duas estratégias principais: a amostragem convencional e a amostragem sequencial. Disserte sobre as diferenças entre essas técnicas. 5 Em relação ao plano de amostragem convencional, existem dois agentes que exercem papeis diferentes, mas fundamentais para a eficiência dessa técnica: os pragueiros e os monitores. Disserte sobre o papel de cada um. 94 95 TÓPICO 3 - NOÇÕES SOBRE TOXICOLOGIA DOS INSETICIDAS 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, abordaremos noções básicas sobre a toxicologia dos inseticidas, que são produtos químicos largamente utilizados no controle de pragas, que quando apli- cados direta ou indiretamente sobre os insetos, em concentrações adequadas, provo- cam a sua morte. Entenderemos que os aspectos como a produção, a comercialização, a exportação, a importação, a pesquisa, a experimentação, a embalagem, e rotulagem, o registro, a destinação final das embalagens e os resíduos em alimentos, são disciplinados pela Lei no 7802 de 11/07/1989, regulamentada pelo Decreto n° 4.074 de04/01/2002. Aprenderemos que a escolha de um inseticida deve-se levar em consideração não apenas a sua eficácia, bem como outros aspectos relevantes, como a seletividade aos inimigos naturais de pragas, toxicidade ao homem e animais, persistência no meio ambiente e custo do produto. Nós veremos que o Brasil é o primeiro consumidor mundial de agrotóxicos, os quais são utilizados no controle de pragas de importância Agrícola e de interesse Médico-Veterinário. UNIDADE 2 2 LEI Nº 7.802, DE 11 DE JULHO DE 1989 A lei nº 7.802, de 11 de julho de 1989, dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, destino dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências (BRASIL, 1989). Veremos alguns conceitos importantes para o aprofundamento do estudo dos inseticidas de acordo com o estabelecido na lei. 2.1 CONCEITOS INICIAIS Para efeitos desta lei, consideram-se (BRASIL, 1989): • Aditivo – Substância ou produto adicionado a agrotóxicos, componentes e afins, para melhorar sua ação, função, durabilidade, estabilidade e detecção ou para facilitar o processo de produção. 96 • Adjuvante – Produto utilizado em mistura com produtos formulados para melhorar a sua aplicação. • Agente biológico de controle – Organismo vivo de ocorrência natural, ou obtido por manipulação genética, introduzido no ambiente para o controle de uma população ou de atividades biológicas de outro organismo vivo considerado nocivo. • Agrotóxicos e afins – Produtos ou agentes de processos físicos, químicos ou biológicos destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou plantadas, e de outros ecossistemas e de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-la da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como as substâncias e produtos, empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento. • Componentes – Princípios ativos, produtos técnicos, suas matérias-primas, ingredientes inertes e aditivos usados na fabricação dos agrotóxicos e afins. • Ingrediente inerte ou outro ingrediente – Substância ou produto não ativo em relação à eficácia dos agrotóxicos e afins, usado apenas como veículo, diluente ou para conferir características próprias às formulações. • Matéria-prima – Substância, produto ou organismo utilizado na obtenção de um ingrediente ativo, ou de um produto que o contenha, por processos químico, físico ou biológico. • Princípio ativo ou ingrediente ativo – Agente químico, físico ou biológico que confere eficácia aos agrotóxicos e afins. • Produto formulado – Agrotóxico ou afim obtido a partir do produto técnico ou de pré-mistura, por intermédio de processo físico, ou diretamente de matérias-primas por meio de processos físicos, químicos ou biológicos. • Produto formulado equivalente – Produto que, se comparado com outro produto formulado já registrado, possui a mesma indicação de uso, produtos técnicos equivalentes entre si, a mesma composição qualitativa e cuja variação quantitativa de seus componentes não o leve a expressar diferença no perfil toxicológico e ecotoxicológico frente ao do produto em referência. • Produto técnico – Produto obtido diretamente de matérias-primas por processo químico, físico ou biológico, destinado à obtenção de produtos formulados ou de pré- -misturas e cuja composição contenha teor definido de ingrediente ativo e impurezas, podendo conter estabilizantes e produtos relacionados, tais como isômeros. • Produto técnico equivalente – Produto que tem o mesmo ingrediente ativo de outro produto técnico já registrado, cujo teor, bem como o conteúdo de impurezas presentes, não variem a ponto de alterar seu perfil toxicológico e ecotoxicológico. • Equipamento de Proteção Individual (EPI) – Todo vestuário, material ou equipamento destinado a proteger pessoa envolvida na produção, manipulação e uso de agrotóxicos, seus componentes e afins. • Intervalo de reentrada – Intervalo de tempo entre a aplicação de agrotóxicos ou afins e a entrada de pessoas na área tratada sem a necessidade de uso de EPI. • Intervalo de segurança ou período de carência, na aplicação de agrotóxicos ou afins: 97 a) antes da colheita: intervalo de tempo entre a última aplicação e a colheita; b) pós-colheita: intervalo de tempo entre a última aplicação e a comercialização do produto tratado; c) em pastagens: intervalo de tempo entre a última aplicação e o consumo do pasto; d) em ambientes hídricos: intervalo de tempo entre a última aplicação e o reinício das atividades de irrigação, dessedentação de animais, balneabilidade, consumo de alimentos provenientes do local e captação para abastecimento público; e) em relação a culturas subsequentes: intervalo de tempo transcorrido entre a última aplicação e o plantio consecutivo de outra cultura. • Limite Máximo de Resíduo (LMR) – Quantidade máxima de resíduo de agrotóxico ou afim oficialmente aceita no alimento, em decorrência da aplicação adequada numa fase específica, desde sua produção até o consumo, expressa em partes (em peso) do agrotóxico, afim ou seus resíduos por milhão de partes de alimento (em peso) (ppm ou mg/kg). • Manipulador – Pessoa física ou jurídica habilitada e autorizada a fracionar e reembalar agrotóxicos e afins, com o objetivo específico de comercialização. • Receita ou receituário – Prescrição e orientação técnica para utilização de agrotóxico ou afim, por profissional legalmente habilitado. 3 TOXICIDADE DOS INSETICIDAS A Toxicologia pode ser definida como a ciência básica que estuda os venenos. En- tendemos por veneno, qualquer agente capaz de produzir uma resposta deletéria em um sistema biológico, afetando seriamente sua função ou levando-o à morte (OLIVEIRA, 2009). 3.1 TOXICIDADE DOS INSETICIDAS A classificação toxicológica dos inseticidas consiste na classificação dos produtos técnicos e das formulações levando em consideração os seus aspectos toxicológicos (OLIVEIRA, 2009). Tabela 5 – Toxicidade de inseticidas e provável dose oral letal para humanos Taxa de toxicidade ou classe Dosagem Provável dose letal para um adulto médio Praticamente não tóxico >15 g/kg Mais do que 1 litro Levemente tóxico 5-15 g/kg Entre 0,5 litro e 1 litro Moderadamente tóxico 0.5-5 g/kg Entre 30 mL e 0,5 litro Muito tóxico 50-500 mg/kg Entre 1 colher de chá e 30 Ml 98 Extremamente tóxico 5-50 mg/kg Entre 76 gotas e 1 colher de chá Super tóxicosão a rota de administração e a duração, e a frequência de exposição (OLIVEIRA, 2009). Os inseticidas podem causar dois tipos de intoxicação: toxicidade aguda ou crônica, ou seja, causada pela exposição (OLIVEIRA, 2009): • Intoxicação aguda – Curto período de exposição de uma dose única ou doses repetidas por períodos >24 horas. É resultante da absorção de doses relativamente altas num curto espaço de tempo, através das vias oral e dérmica, sendo expressa pela dose letal 50% (DL50), que é a quantidade do produto, em mg/peso corpóreo, capaz de provocar a morte de 50% dos animais submetidos a dosagem. 99 • Intoxicação crônica – Exposição repetida por longos períodos. Para muitos químicos, efeitos de exposição crônica e aguda são bastante diferentes. É resultante da absorção de doses relativamente pequenas a curto e a longo prazos, fornecendo informações a respeito da toxicidade acumulativa de um agente tóxico. 3.1.2 Resíduos de inseticidas em vegetais Apesar dos inseticidas serem amplamente utilizados no controle de pragas, são passíveis de acarretar a presença de resíduos tóxicos em vegetais, cujo consumo representa um grave risco potencial à saúde. A sua ingestão contínua, mesmo de pequenas doses subletais pode provocar efeitos deletérios sobre a saúde humana. O controle dos níveis de resíduos nos alimentos, deve ser uma preocupação de saúde pública (OLIVEIRA, 2009). Nesse sentido, devemos compreender algumas definições: • Resíduo de agrotóxico – Substância ou mistura de substâncias remanescentes ou existentes em alimentos ou no meio ambiente decorrente do uso ou da presença de agrotóxicos e afins, inclusive quaisquer derivados específicos, tais como produtos de conversão e de degradação, metabólitos, produtos de reação e impurezas, consideradas tóxicas e ambientalmente importantes (OLIVEIRA, 2009). • Limite máximo de resíduo (LMR) – Quantidade máxima de resíduo legalmente aceita no alimento, em decorrência da aplicação adequada numa fase específica, desde sua produção até o consumo, expressa em partes (em peso) do agrotóxico ou seus derivados por um milhão de partes de alimento (em peso) (ppm ou mg/kg) (OLIVEIRA, 2009). • Ingestão diária aceitável (IDA) – Quantidade estimada de substância presente nos alimentos que pode ser ingerida diariamente ao longo da vida, sem oferecer risco apreciável à saúde do consumidor, expressa em miligrama de substância por quilograma de peso corpóreo (mg/kg p.c.) (OLIVEIRA, 2009). • Ingestão diária máxima teórica (IDMT) – Quantidade máxima estimada de resíduo de agrotóxico em alimentos ingerido per capita diariamente, assumindo-se que os alimentos apresentam resíduos nas concentrações dos valores da Mediana de Resíduos de Estudos de Campo (MREC), os valores médios de consumo de alimentos e de peso corpóreo de uma população, expressa em miligrama de resíduo por quilograma de peso corpóreo (mg/kg p.c.). (OLIVEIRA, 2009). • Ingestão máxima estimada aguda (IMEA) – Quantidade máxima estimada de resíduo de agrotóxico ingerida durante um período de até 24 horas, assumindo-se que o alimento consumido apresenta resíduo de agrotóxico na concentração do MCR (Maior Concentração de Resíduo) ou MREC (Mediana dos Resíduos dos Estudos de Campo), expressa em miligrama de resíduo por quilograma de peso corpóreo (mg/kg p.c.) (OLIVEIRA, 2009). 100 3.1.3 Tríplice lavagem e destinação final das embalagens vazias Após o uso de produtos agrotóxicos, as embalagens vazias precisam der des- cartadas de maneira correta e segura para evitar contaminação do homem, animais do- mésticos e ambiente. É extremamente importante que o resto do produto, que ainda per- manece no interior da embalagem, seja retirado e descartado. No caso de embalagens metálicas plásticas e de vidro que contiveram produtos fitossanitários para serem apli- cados diluídos em água, a remoção é feita por meio de tríplice lavagem (OLIVEIRA, 2009). Na tríplice lavagem, a embalagem vazia deve ser enxaguada três vezes para eli- minar, o máximo possível, as sobras do produto. Após a lavagem, as embalagens devem ser inutilizadas (danificadas para que não sejam usadas como recipiente novamente). Isso pode ser feito por meio de uma perfuração no fundo do recipiente, por exemplo. Após a inutilização, os frascos devem ser mantidos em um local seguro. É possível verifi- car com o revendedor do produto se ele pode recolher esse material ou o próprio usuário pode levá-lo a um local indicado, geralmente um posto de recebimento ou na própria loja, respeitando o prazo de exigência, que é de até um ano (FUNDAÇÃO ROGE, 2020). Esta medida de segurança torna possível a reciclagem do material usado na fabricação da embalagem de produtos fitossanitários. Nessa operação deve-se sempre tomar os cuidados necessários, como por exemplo, utilizar equipamentos de proteção individual adequados como: luvas, avental, botas, óculos protetores ou protetor facial (OLIVEIRA, 2009). 4 CLASSIFICAÇÃO DOS INSETICIDAS Existem diversas maneiras de classificar os inseticidas, porém, neste livro os classificaremos segundo o critério da origem e natureza química (OLIVEIRA, 2009). 4.1 CLASSES DOS INSETICIDAS Os inseticidas são divididos em classes de acordo com a sua origem e natureza química (OLIVEIRA, 2009). A seguir veremos cada uma delas. 4.1.1 Inseticidas inorgânicos Produtos à base de arsênico, flúor, tálio, enxofre e dióxido de sílica, este obtido de fósseis de algas diatomáceas. As minúsculas partículas deste produto absorvem a cama- da protetora de cera que recobre o corpo dos insetos, provocando perda de água e con- sequente desidratação e morte entre dois e 14 dias após a exposição (OLIVEIRA, 2009). 101 4.1.2 Derivados de plantas ou inseticidas botânicos São exemplos desta classe as piretrinas, rotenona, nicotina e o nim (Azadirachta indica), esses produtos são aplicados como extratos aquosos, alcóolicos, metanólicos, etanólicos, óleos (fixos e essenciais), pós e em mistura com água, em formulações comerciai (óleos emulsionáveis). Atuam por contato, ingestão e fumigação, provocando mortalidade, repelência, deterrência alimentar, redução no crescimento, efeitos morfogenéticos e redução na fertilidade e fecundidade (OLIVEIRA, 2009). 4.1.3 Biológicos ou Bioinseticidas São produtos contendo organismos vivos, derivados desses organismos, ou obtidos através de manipulação genética (OLIVEIRA, 2009). • Bactérias – Utilizado em grande escala, o Bacillus thuringiensis var. kurstaki (Btk) conhecido comercialmente como Dipel e B. thuringiensis subsp. aizawai (Bta), que se encontra no comércio com o nome comercial de Xentari®, são um grande exemplo de sucesso dessa classe de inseticidas, sendo recomendados para o controle de lagartas. A bactéria atua por ingestão, e no trato digestivo da lagarta, que tem pH alcalino, ocorre a dissolução do cristal tóxico (delta endotoxina). A lagarta para de se alimentar e, posteriormente, apresenta paralisia intestinal. A morte pode ocorrer por toxemia ou septicemia (OLIVEIRA, 2009). • Abamectina – Inseticida, acaricida e antihelmíntico, isolado de produtos de fermentação da bactéria Streptomyces avermetilis. Inibe o sistema neurotransmissor GABA (ácido gama aminobutírico) nas junções neuromusculares de insetos e ácaros (OLIVEIRA, 2009). • Spinosynas (Spinosad) – São um grupo de moléculas derivadas naturalmente de uma nova espécie de Actionomicetos, Saccharopolyspora spinosa, que é caracterizada como uma bactéria. Provoca excitação do sistema nervoso dos insetos, levando a contrações involuntárias dos músculos, prostação com tremores e, finalmente, paralisia (OLIVEIRA, 2009). • Fungos – Metarhizium anisopliae, utilizado no controle de cigarrinhas da cana-de- açúcar e de pastagens, pragas de grãos armazenados e cupins. Beauveria bassiana, é utilizado no controle da broca-gigante da cana-de-açúcar, cupins, moleque- da-bananeira, ácaro rajado etc., são exemplos desta classe. Os fungos atuam nos insetos via tegumento (OLIVEIRA,2009). • Vírus – São exemplos de vírus: Baculovirus anticarsia; B. erinyis; B. spodoptera utilizados, respectivamente, no controle da lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis), mandarová da mandioca (Erinyis ello) e lagarta do cartucho do milho (Spodoptera frugiperda); são específicos em e, de um modo geral, seletivos aos inimigos naturais (OLIVEIRA, 2009). 102 4.1.4 Óleos minerais São produtos emulsionáveis derivados do petróleo, são amplamente utilizados no controle de cochonilhas e ácaros, provocando a morte por asfixia. Estes produtos apresentam baixa toxicidade para vertebrados (OLIVEIRA, 2009). 4.1.5 Reguladores de crescimento Atuam por ingestão e contato, sendo muito eficazes no controle de lagartas e larvas de besouros. Apresentam seletividade a predadores e parasitoides e baixa toxicidade para os vertebrados. São divididos em três grupos (OLIVEIRA, 2009): • Inibidores da síntese de quitina – são derivados da aciluréia e benzoiluréias e agem impedindo a ecdise dos insetos, em virtude da sua interferência na síntese de quitina. Deste modo, o inseto tem a sua fisiologia comprometida durante a ecdise, não forma uma nova cutícula, não consegue se livrar da exúvia e morre. • Agonistas do ecdisteroide – é formado pelos agonistas do ecdisteróide, compostos que têm a mesma ação do hormônio da ecdise. Pertencentes ao grupo das bisacilhidrazinas, estes compostos interagem com o receptor de proteínas do ecdisteróide, provocando uma estimulação direta deles. Provocam a indução de ecdise letal e prematura (acelerador de ecdise) e efeito esterilizante. • Análogos do hormônio juvenil – Pertencem ao grupo químico piridiléter. Agem nos estágios mais sensíveis do desenvolvimento dos insetos, como no final do último instar larval ou ninfal, alongando a duração do instar, formando uma larva ou ninfa superdesenvolvida, larva-pupa ou pupa-adulto ou ninfa-adulto intermediários. Tem também ação ovicida, agindo nos estágios iniciais da embriogênese. Em adultos de algumas espécies podem provocar uma redução na fertilidade. 4.1.6 Organoclorados Os inseticidas organoclorados já não são comercializados no Brasil, devido a sua alta persistência no meio ambiente e alto grau de toxicidade crônica, acumulando-se nos tecidos gordurosos, sendo capaz de provocar câncer. São exemplos: o DDT, BHC, clordane, entre outros (OLIVEIRA, 2009). 4.1.7 Organofosforados São derivados de ácidos como o fosfórico e tionofosfórico, geralmente são mais tóxicos para os vertebrados em relação a outros grupos de inseticidas. São inibidores a colinesterase (mediador químico da transmissão sináptica), provocando acúmulo de acetilcolina interferindo no curso das sinapses. Possui modo de atuação variado, podem atuar por de contato, ingestão, profundidade ou ação translaminar e fumigação, e em alguns casos apresentam propriedades sistêmicas (OLIVEIRA, 2009). 103 4.1.8 Carbamatos São derivados dos ácidos N-metil carbâmico e N-N-dimetil carbâmico. São inibidores da acetilcolinesterase. Atuam por contato, ingestão e fumigação, e alguns são sistêmicos. Exemplos comuns são o carbaryl, methomyl, carbofuran e aldicarb (OLIVEIRA, 2009). 4.1.9 Piretroides São ésteres derivados do ácido crisantêmico. São tóxicos do axônio, atuando nos canais de sódio. Atuam por contato e ingestão. De um modo geral, são menos tóxicos em relação aos organofosforados, no entanto, são bastante efetivos no controle de pragas, sendo rapidamente hidrolizados e eliminados intactos ou sob a forma de metabólitos tóxicos. São exemplos: fenvalerate permetrina, cipermetrina, fenpropatrina e deltametrina (OLIVEIRA, 2009). 4.1.10 Fumigantes São inseticidas que atuam na forma gasosa, penetrando pelos estigmas ou espiráculos dos insetos, contendo na sua fórmula um ou mais halogêneos (Cl, Br ou F). São exemplos de inseticidas fumigantes (OLIVEIRA, 2009): • Brometo de metila - É um gás liquefeito sob pressão, contendo na sua formulação brometo de metila e cloropicrina (substância que provoca lacrimejamento, prevenindo a intoxicação). É um produto extremamente tóxico, pertencente à classe toxicológica I. Tem ação inseticida, fungicida e nematicida. A absorção ocorre por via dérmica e via respiratória. A intoxicação aguda provoca depressão no SNC, pneumonite química, edema pulmonar, hepatite e nefrite tóxicas. O contato direto com o produto provoca a formação de vesículas na pele e ulcerações na córnea e mucosas. • Fosfina (Gastoxin, Gastoxin Pasta) - É um gás pertencente ao grupo dos fosfetos metálicos (fosafeto de alumínio e fosfeto de magnésio), encontrado nas formulações de pastilha, pasta, tabletes, sachês, sendo extremamente tóxico (Classe toxicológica I). Os fosfetos na presença de umidade liberam fosfina, que provoca inibição dos sistemas enzimáticos celulares, produzindo edema pulmonar, depressão do sistema nervoso central, mediocardite tóxica e colapso circulatório. • Sulfonamidas fluoralifáticas - Como exemplo, cita-se a isca granulada Mirex-S, utilizada no controle das formigas saúvas e quenquéns. • Fenil pirazol - Cita-se como exemplo o Fipronil, usado no controle de insetos como cupins e baratas, larva alfinete (Diabrotica speciosa), larva arame (Conoderus scalaris), de tripes, curuquerê e bicudo-do-algodoeiro. É também utilizado na formulação de isca granulada para o controle da formiga saúva. Atua no sistema nervoso central, como inibidor do receptor GABA. 104 • Neonicotinoides - Como exemplo dessa classe podemos destacar o Imidacloprid, usado em esguicho (“drench”) e imersão para tratamento de sementes, produto sistêmico, sendo muito eficientes no controle de insetos picadores-sugadores, como moscas-brancas, afídeos, tripes, psilídeos etc. Este inseticida imita o neurotransmissor acetilcolina, levando nos vertebrados a uma hiperexcitação do sistema nervoso, causando perda da coordenação muscular, convulsões e morte por falha respiratória. 5 FORMULAÇÃO DE AGROTÓXICOS De acordo com o decreto nº 4.074, de 4 de janeiro de 2002 , que regulamenta a Lei n° 7.802, de 11 de julho de 1989 , agrotóxicos são produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou plantadas, e de outros ecossistemas e de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como as substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento (OLIVEIRA, 2009). Para produção dos agrotóxicos é necessária a transformação do produto técni- co, através de processos físicos, químicos e biológicos, para que mesmo possa ser uti- lizado convenientemente, esse processo é chamado de formulação (OLIVEIRA, 2009). 5.1 COMPONENTES DE UMA FORMULAÇÃO • Princípio ativo (p.a) ou ingrediente ativo (i.a) – Trata-se da substância ativa responsável pela eficácia contra pragas (OLIVEIRA, 2009). • Componentes inertes – São substâncias não ativas, sendo que cada uma delas tem sua função em uma determinada formulação. São exemplos de componentes inertes (OLIVEIRA, 2009): a) Argila, talco, caolim. Componentes de pós secos. b) Aditivos. Melhoram a ação, função, estabilidade e durabilidade. c) Anticompactantes. Impedem que o produto perca a sua fluidez durante o armazenamento. d) Antiespumantes. Impedem a formação de espuma. Antioxidantes – impedem a oxidação do produto. e) Bactericidas. Impedem a proliferação de bactérias no produto. f) Corantes. Dão cor aos produtos (aspecto e segurança visual). g) Dispersantes – Dispersam as partículas sólidas na água. h) Emulsificantes – Emulsificam o i.a. em água. 105 i) Molhantes – Proporcionam uma rápida umectação do produto quando o mesmo entre em contato com a água. j) Solventes – Dissolvem o i.a. sólido para obtenção de uma formulaçãolíquida. 5.1.1 Tipos de formulação de agrotóxicos De acordo com Oliveira (2009), existem diversos tipos de formulações de agrotóxicos, variando conforme o objetivo final de sua aplicação, são exemplos: 1) Formulações para aplicação direta • Pó seco (DP). • Granulado (GR). • Microgranulado (MG). • Granulado encapsulado (CG). • Suspensão ultrabaixo volume (SU). • Ultrabaixo volume (UL). • Líquido para pulverização (eletrodinâmica) (ED). 2) Formulações para tratamento de sementes • Pós (DS). • Emulsão (ES). • Suspensão concentrada (SC). • Solução (LS). • Pó solúvel (SS). 3) Formulações para diluição em água • Concentrado emulsionável (EC). • Concentrado dispersível (DC). • Concentrado solúvel (SL). • Pó molhável (WP). • Pó solúvel (SP). • Suspensão concentrada (SC). • Granulado dispersível (WG). • Granulado solúvel (SG). • Suspensão de encapsulado (SC). 4) Formulações especiais • Aerosol (AE). • Gás liquefeito sob pressão (GA). • Concentrado para termonebulização (HN). 106 • Gerador de gás (GE). • Isca (RB). 5) Adjuvantes para agrotóxicos (formulações). • Adjuvantes – melhorar a eficácia do agrotóxico. • Espalhantes – modificar as propriedades de umectação, dispersibilidade, espalhamento e/ou emulsificação do agrotóxico. • Espalhante adesivo – além das características dos espalhantes, aumenta a adesividade do agrotóxico no alvo desejado. 6 RECEITUÁRIO AGRONÔMICO O uso inadequado de produtos na agricultura, provoca efeitos negativos na sanidade das plantas. Para assegurar o uso adequado desses produtos adotou-se o receituário agronômico, elaborado de acordo com os preceitos técnico-agronômicos (OLIVEIRA, 2009). O receituário agronômico deve ser elaborado obedecendo ao seguinte esquema (GALLO et al., 2002, s.p.): (i) Identificação do técnico com suas qualificações e área de atuação; (ii) identificação do consulente e seu endereço; (iii) Identificação do problema; (iv) prescrição técnica: após a identificação do problema, o técnico deve definir a metodologia a ser empregada para solucionar o caso; (v) recomendação de produto químico com seu princípio ativo e marca comercial, incluindo a formulação e quantidade recomendada por unidade de área ou por volume da calda a ser aplicada. Em casos normais, pode-se recomendar as prescrições da bula, contida nos rótulos das embalagens comerciais; (vi) fazer constar os efeitos colaterais que podem surgir quando os produtos químicos não forem convencionalmente aplicados, afetando outros organismos participantes dele agroecossistema; (vii) Ao assinar o receituário, o técnico deve colocar a data e o número do CREA que o habilitou. No rodapé deve ser impressa a recomendação: “Ao retornar sobre o mesmo problema, trazer esta receita”. 107 Figura 5 – Modelo da ficha do receituário agronômico (frente e verso) 108 109 Fonte: Docsity (2012, on-line) 110 VENENO À NOSSA MESA – O BRASIL É O PAÍS QUE MAIS CONSOME AGROTÓXICOS Antony Corrêa Jade Azevedo Lucas Souza Os últimos anos foram considerados anos atípicos, nos quais, as condições de vida e subsistências de trabalhadoras e trabalhadores foi severamente afetada. No Brasil, temos a triste marca de 163.406 mortes pelo novo coronavírus até a metade do mês de novembro. Em contrapartida, há setores e grupos de empresas que parecem passar pelo oposto, com conquistas e lucros durante este período. Foi o que aconteceu com a indústria do agro-minério-negócio, além do aumento do seu Produto Interno Bruto (PIB) em cerca de 2,42% de janeiro a fevereiro de 2020, é crescente as aprovações de registros de agrotóxicos para fabricação e uso em nosso país Nos cinco primeiros meses daquele ano, em plena pandemia sanitária de Co- vid-19, o Ministério da Agricultura já havia publicado o registro de 150 agrotóxicos para uso no Brasil. Destes, 118 agrotóxicos foram liberados só entre março e maio, com 84 deles destinados agricultura e 34 para uso na indústria. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), aponta que parte dessas novas mercadorias devem ser reavaliadas, pelas possíveis ligações a casos de câncer. Concomitante a isso, as empresas que con- centram a produção de veneno, já haviam solicitado a liberação de mais 216 produtos. O número de aprovações nos primeiros meses do ano foi maior do que o ocorrido no mesmo período de 2019. O que é preocupante, já que no ano de 2018 havia batido o recorde de aprovações, com 474 novos produtos anualmente. Em setembro de 2020 já havíamos atingido a marca de 315 novas autorizações publicadas, como se pode observar no gráfico a seguir. Como informa a Agência Repórter Brasil (2020), entre os agrotóxicos aprovados estão produtos que foram banidos em outras nações, como o Fipronil, inseticida banido em 2004 na França, o Clorotalonil, banido na União Europeia e Estados Unidos, e o Clorpi- rifós, banido na União Europeia. Estes dois últimos, por afetarem o as células favorecendo o aparecimento de câncer, e neurotoxicidade que afeta o desenvolvimento humano. As aprovações só foram possíveis pelo fato de serem enquadradas como atividades essenciais durante a pandemia. As licenças para fabricação de veneno se distribuem entre 53 empresas de 11 países. No entanto, diferente de 2019, este ano, os registros se concentram nas mãos de empresas brasileiras, com destaque a AllierBrasil. LEITURA COMPLEMENTAR 111 Uma herança para produzir alimentos lucro No Brasil, o uso do agrotóxico foi integrado ao Plano Nacional de Desenvolvimen- to Agrícola (PNDA) de 1975, que incentivou financeiramente as indústrias de fabricação desses produtos, e contribuiu na difusão do argumento da produção de alimentos em es- cala para resolver o problema da fome no mundo. O Brasil, hoje, é o terceiro maior produtor de alimentos do mundo e o segundo maior exportador, atrás apenas dos Estados Unidos. E mesmo ao liderar essas produções de larga escala como a soja, o milho e carne, a fome no Brasil tem aumentado. O que suscita as questões: que tipo de “alimento” é produzido? Mercadoria? Para quem? Com que qualidade nutricional? E a que custo? De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados em setembro deste ano, a fome, insegurança alimentar grave, atingiu cerca de 4,6% da população entre 2017 e 2018. São mais de 10 milhões de brasileiros com menos do que o necessário para suprir as demandas nutricionais. Essa pesquisa é apresentada, cinco anos depois do Brasil ter saído do mapa da fome. Estatística da qual o país tem se aproximado rapidamente com os desmontes da política de segurança alimentar. Outro argumento para o agrotóxico defendido por corporações transnacionais é que isso re- presenta a modernização da técnica e agricultura. Ao investigar o tema, se percebe que a aplicação do agrotóxico no agronegócio é mais do que um melhoramento técnico. É uma articulação política e econômica entre latifundiários, indústrias transnacionais químicas e de biotecnologia que trabalham pelo mercado, o que amplia a taxa de lucro e o poder político global desses conglomerados. 112 O agronegócio financia a política No Brasil, existe uma articulação se torna nítida ao olharmos para os financiado- res da Frente Parlamentar da Agropecuária, popular bancada ruralista. Essa, recebe re- cursos do Instituto Pensar Agro, financiado por 38 associações do agronegócio ─ con- glomerados que concentram o controle deste ramo no país e no mundo. No Infográfico a seguir podemos observar 12 dessas associações, que exercem maior influência. Brasil: O maior consumidor de agrotóxicos A média anual de uso dos agrotóxicos no Brasil entre 2012 e 2014 totalizaram 877.782 toneladas, de acordo com o atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e conexões com a União Europeia de 2017, contabilizando: 334.628 toneladas no Centro- Oeste, 244.911 no Sul, 188.512 no Sudeste, 101.460 no Nordeste e 28.271 no Norte. Em 2017, com cerca de 550 mil toneladas de ingredientes ativos, o Brasil alcançou o título de maior consumidorde agrotóxicos em volume de produto do planeta ㅡ de acordo com os dados da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados apresentados em audiência de 2019 em Brasília. Leonardo Melgarejo, engenheiro agrônomo e integrante do Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos, comenta que existem estudos que tentam dizer o contrário, e são amplamente divulgados em órgãos institucionais, pela Frente Parlamentar da Agricultura, a bancada ruralista. Esses “números são feitos com base [na venda e] no valor do agrotóxico utilizado por hectare”, o que coloca países como o Japão na frente do Brasil. Podemos ter a falsa impressão de que esses países consomem mais veneno, por gastarem mais dólares em agrotóxicos que são mais seguros. “Nessa conta parece que no Brasil se usa menos do que fato é utilizado. Nós usamos mais venenos e os piores venenos”, alerta Melgarejo. O pesquisador destaca como confiável o método produzido na Universidade Federal do Mato Grosso, por Wanderlei Pignati, que considera para o cálculo os principais municípios produtivos, a área cultivada das principais culturas e as informações dos produtos mais aplicados. Isso permite chegar a uma média que extrapolam para toda a área cultivada, e se estima os dados que faltam das vendas ilegais de agrotóxicos. Essa estimativa é de “um bilhão de litros de agrotóxicos por ano. Dá uns 30% a mais do que as vendas contabilizadas pelo IBAMA”, observa. Melgarejo observa que a flexibilização da legislação tem aumentado o descuido com a informação e consequentemente a contaminação. Um exemplo recente é o caso do Paraquat, proibido em 2017 pela ANVISA, com o prazo de três anos para a retirada do produto do mercado brasileiro. Em setembro, o produto deveria ser banido e excluído de todas as prateleiras. Contrariando as suas decisões anteriores a Anvisa cedeu às pressões do agronegócio e autorizou o uso do estoque de Paraquat. 113 Entenda um pouco mais: o que são agrotóxicos? De acordo com o decreto nº 4.074, de 4 de janeiro de 2002, os agrotóxicos são: produtos e componentes resultantes de processos físicos, químicos ou biológicos. Destinados ao uso nos setores de produção, armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na produção de florestas nativas ou implantadas. Também são utilizados em outros ecossistemas com a finalidade de alterar a composição da flora e fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos. São conhecidos ainda como substâncias e produtos desfolhantes, dessecantes, estimulantes e inibidores de crescimento. Um marco regulatório da Anvisa de 2019, alterou a classificação de toxicidade dos agrotóxicos, adotando o padrão internacional, com cinco divisões, o Sistema Globalmente Harmonizado de Classificação e Rotulagem de Produtos Químicos (GHS). Por este novo padrão, são considerados venenos extremamente tóxicos apenas aqueles produtos que causarem morte horas depois do contato ou ingestão pelo indivíduo. Agrotóxicos “pouco tóxicos” não terão mais a advertência de risco no rótulo. Dessa forma, dos agrotóxicos aprovados no início do ano, apenas seis produtos haviam sido classificados como extremamente ou altamente tóxicos. Podemos observar esta nova classificação no infográfico. O veneno paira no ar Pode ser considerado um agrotóxico todo produto que for tóxico para a agricultura e pecuária. Leonardo Melgarejo, aponta que os agrotóxicos podem ser extratos de plantas como também de síntese química. Esse último, predomina na agricultura atualmente, e são formulações desenvolvidas em laboratórios que geram o xenobiótico. Essas substâncias têm uma finalidade específica, como matar determinado inseto, entretanto possuem ações colaterais. Um exemplo desse efeito colateral citado pelo engenheiro agrônomo, é a “luta dos produtores de uva contra os produtores de soja, quando os produtores de soja usam o 2,4-D, que é um herbicida para limpar as suas lavouras”. O que acontece é que este herbicida fica à deriva no ar, atinge os parreirais dos vizinhos, e afeta a produção das uvas. Caso semelhante é relatado pela agricultora assentada Maria Aparecida Mota Be- larmindo (Cida), 43 anos, natural da Paraíba, e moradora do Assentamento Olívio Albani, em Campo Erê, Santa Catarina. Ela nos relatou o caso ocorrido na região em 2007, em que fazendeiros despejavam veneno sobre o acampamento localizado entre os latifúndios. “Quando a gente veio para cá, eles passavam de avião o veneno, nas propriedades deles, a gente fica bem no meio, e nos quatro lados tem fazendeiro. A gente denunciou para Ministério Público, para IBAMA, para a FATMA, para tudo”, lembra a camponesa. Ela conta que logo em seguida da aplicação dos agrotóxicos, muita gente ficou doente por causa das águas, daquele veneno. Parte das pessoas afetadas foram internada no hospital em Campo Erê e parte em Palma Sola. Entre os sintomas estava 114 a diarreia e vômito. Cida, relembra que os vizinhos durante este período continuaram a aplicação do veneno até o final da safra, e depois que o caso repercutiu, passaram a fazer as aplicações com máquinas de solo. Ela associa alguns problemas na saúde mental das pessoas no assentamento à exposição ao veneno, “tem bastante gente muito ansiosos, nervosos aqui no assentamento, por causa disso, por causa do veneno”. Outro problema que permanece atualmente, é a monocultura de pinus que cerca a vizinhança, e que Cida também considera um veneno para a saúde. A camponesa e assentada relata que depois de um longo período, mesmo não havendo mais aplicação de veneno por aviões, os impactos da persistência do agrotóxico e envenenamento da terra são perceptíveis. “A gente plantava as frutas e não dava nada, principalmente a parreira, a uva, não dava por causa dos venenos da soja”. Ela relata, que mesmo com barreiras contra o veneno, seu vizinho seguia a plantação de soja. “Teve uma época ali que as minhas uvas não vinham por causa disso […] aqui no assentamento [agora] é proibido plantar soja por causa do veneno, porque ele é muito mais forte, mata mais, e traz outras doenças e outras pragas”, destaca. Cida e tantas outras camponesas e camponeses que produzem agroecologica- mente e/ou que estão em processo de transição são pontos de resistência que em meio às contradições do sistema e violência do agro-minério-negócio, florescem por meio de suas experiências ancoradas em um projeto de sociedade e de campo que é popular e que respeita às formas milenares de produzir da natureza. Neste atual cenário do Brasil o debate sobre a produção de alimentos e uso de agrotóxicos é constante dentro da luta dos Movimentos Sociais pelo direito à alimen- tação e Reforma Agrária Popular, que discute técnicas agrícolas, pecuárias, questões políticas, conômicas, sociais e formativas de concepção de mundo, enquanto projeto de campo e sociedade. Neste bojo, publicaremos ao longo das semanas o “Especial Agro é tóxico”, com o intuito de pôr elementos para a discussão sobre: o cenário nacional, a legislação sobre agrotóxico, saúde e contaminação e a contraposta que vem sendo construída pelos movimentos sociais do campo, por meio da agroecologia e Reforma Agrária Popular. FONTE: https://www.ecodebate.com.br/2020/11/16/veneno-a-nossa-mesa-o-brasil-e-o-pais-que-mais- -consome-agrotoxicos/. Acesso em: 15 jul. 2022. 115 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu: • As principais terminologias utilizadas para os inseticidas, seus componentes e afins, de acordo com a Lei nº 7.802, de 11 de julho de 1989, popularmente conhecida como “Lei dos Agrotóxicos”. • A classificação toxicológica dos inseticidas, que leva em consideração a provável dosagem letal para um adulto médio, bem como a classificação toxicológica com base em faixas de cores. • Os tipos de efeitos colaterais decorrentes da exposição de seres humanos e animais a inseticidas, especialmente, os conceitos de intoxicação aguda e crônica, as implicações dos resíduosem plantas; bem como a prática da tríplice lavagem e a destinação final de embalagens vazias. • As diferentes formas de classificação dos inseticidas, incluindo os inseticidas orgâ- nicos, derivados de plantas (botânicos), biológicos (bioinseticidas), óleos minerais, reguladores de crescimento, organoclorados, organofosforados, carbamatos, pire- troides e fumigantes. • Os conceitos associados a formulações de agrotóxicos, incluindo a definição de princípio ativo e componentes inertes, bem como as diferentes formulações para cada tipo de aplicação; além dos preceitos necessários para a elaboração de um receituário agronômico. 116 AUTOATIVIDADE 1 Com base nos conceitos introduzidos pela Lei 7.802, de 11 de julho de 1989 , que trata dos agrotóxicos, seus componentes e afins, assinale a alternativa CORRETA: BRASIL. Constituição (1989). Lei nº 7.802, de novembro de 2011. Dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências. Brasília, 11 jul. 1989. Disponível em: . a) ( ) Entende-se por agrotóxicos e afins os produtos ou agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, cuja finalidade é provocar uma da ação danosa a todos seres vivos encontrados na fauna e flora brasileira. b) ( ) Intervalo de reentrada é o intervalo de tempo entre a última aplicação e a comercialização do produto tratado. c) ( ) Período de carência é Intervalo de tempo entre a aplicação de agrotóxicos ou afins e a entrada de pessoas na área tratada sem a necessidade de uso de EPI. d) ( ) Princípio ativo é o agente químico, físico ou biológico que confere eficácia aos agrotóxicos e afins. 2 A Toxicologia pode ser definida como a ciência básica que estuda os inseticidas, que podem ser classificados com base em classes e faixas de cores associadas ao seu grau de toxicidade. Com base nisso, analise as seguintes afirmações: I- Produtos da classe IV são classificados como extremamente tóxicos e recebem a faixa vermelha. II- Produtos da classe III são classificados como pouco altamente tóxicos e recebem a faixa amarela. III- Produtos da classe I são classificados como extremamente tóxicos e recebem a faixa vermelha. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 117 3 De acordo com os conceitos obtidos sobre o processo de tríplice lavagem das embalagens, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Após o uso de produtos agrotóxicos, as embalagens vazias podem ser reaproveitadas para outras formas de uso, como por exemplo, reservatórios de água para consumo de animais. ( ) Devido ao fato de as embalagens estarem vazias, o uso de equipamentos de proteção individual durante a tríplice lavagem é dispensável. ( ) Após passarem pela tríplice lavagem, todas as embalagens de agrotóxicos devem ser inutilizadas para que não possam ser reutilizadas na propriedade. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 Inseticidas biológicos ou bioinseticidas são produtos que contêm organismos vivos, derivados desses organismos, ou obtidos através de manipulação genética. Disserte sobre a utilização de bactérias para a produção de bioinseticidas. 5 O uso inadequado de produtos na agricultura, provoca efeitos negativos na sanidade das plantas. Para assegurar o uso adequado desses produtos adotou-se o receituário agronômico, elaborado de acordo com os preceitos técnico-agronômicos. Neste contexto, elenque os principais itens a serem checados na elaboração de um receituário agronômico. 118 REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DEFENSIVOS PÓS PATENTE (AENDA). Toxicidade é mais que as 4 faixas dos rótulos. 2022. 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Regulamenta a Lei no 7.802, de 11 de julho de 1989, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências. Brasília, 04 jan. 2002. Disponível em: . Acesso em: 10 set. 2022. BRASIL. Lei nº 7.802, de 11 de julho de 1989. Dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências. Disponível em: https://bit.ly/35JtFJI. Acesso em: 10 jul. 2022. BRASIL. 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TÓPICO 1 – MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DE CULTURAS AGRÍCOLAS TÓPICO 2 – MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DE PLANTAS ORNAMENTAIS TÓPICO 3 – MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DE PLANTAS FLORESTAIS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 124 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 3! Acesse o QR Code abaixo: 125 TÓPICO 1 — MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DE CULTURAS AGRÍCOLAS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, nas unidades anteriores, aprendemos conceitos importantes a respeito da morfologia e fisiologia de insetos e ácaros. Além disso, estudamos o conceito de praga agrícola e a sua importância, os principais métodos de controle de pragas adotados na agricultura – principalmente o Manejo Integrado de Pragas – e, por fim, os aspectos fundamentais sobre a toxicologia de inseticidas. Ao longo desta unidade, reuniremos os conceitos obtidos nas unidades anterio- res, de forma que seja possível identificar as principais pragas que ocorrem em culturas agrícolas (sobretudo, em grandes culturas, hortaliças, pastagens e grãos armazenados), além daquelas que ocorrem em culturas utilizadas para fins ornamentais e florestais. Serão apresentadas, nos próximos tópicos, as principais pragas para cada cultura abordada, levando-se em consideração algumas características, como: morfologia da praga, condições favoráveis a sua ocorrência, modo de ação, tipo de dano causado etc. Também serão tratados aspectos referentes à diagnose, ao sistema de tomada de decisão e aos principais métodos de controle disponíveis, elementos essenciais para a elaboração de um Plano de Manejo Integrado de Pragas racional e eficiente. 2 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DE GRANDES CULTURAS Serão apresentadas, agora, as principais pragas que ocorrem em grandes culturas. Descreveremos as características e as injúrias provocadas pelas pragas das seguintes culturas: algodoeiro, arroz, cafeeiro, cana-de-açúcar, feijoeiro, milho e soja. Também serão descritos os componentes do MIP (diagnose, sistema de tomada de decisão e os métodos de controle) comumente adotados. 2.1 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS NO ALGODOEIRO São consideradas pragas-chave do algodoeiro os seguintes insetos: pulgões, bicudo-do-algodeiro, lagarta-da-maçã, lagarta-rosada e o curuquerê (PICANÇO, 2010). A seguir, falaremos sobre cada uma delas. 126 2.1.1 Pulgões São representados por duas espécies – Aphis gossypii e Myzus persicae (GALLO et al., 2002). Descrição – Aphis gossypii é uma das primeiras pragas que ocorrem no algodoeiro, surgindo logo após a germinação das plantas. Os indivíduos medem aproximadamente de dois a três mm de comprimento, possuem corpo mole e apresentam coloração amarela-esverdeada, marrom ou preta (GALLO et al., 2002). Myzus persicae é uma espécie vulgarmente conhecida como pulgão verde. É encontrada frequentemente em solanáceas e crucíferas e surge esporadicamente associada com A. gossypii. Esses pulgões podem ser confundidos com o pulgão-do- algodoeiro, visto que ambos são amarelos-claros. Contudo, M. persicae tem o corpo mais alongado, escuro, cilíndrico em toda sua extensão e proporcionalmente menor (GALLO et al., 2002). Prejuízos – Esses insetos sugam seiva, causando murchamento e secamento das plantas; encarquilhamento das folhas e deformação das brotações, sendo comum o apare- cimento de fumagina. Além disso, são insetos vetores de viroses, principalmente da doença conhecida como “azul do algodão”, que é considerada o principal problema da cultura no Brasil, devido ao plantio de variedades muito suscetíveisa esta doença (PICANÇO, 2010). 2.1.2 Bicudo-do-algodoeiro Descrição – O bicudo (Anthonomus grandis) é um besouro de 7 mm de com- primento, que apresenta coloração cinza ou castanha, rostro alongado compreendendo à metade do comprimento do corpo. Possui dois espinhos no fêmur do primeiro par de pernas (GALLO et al., 2002). Prejuízos – Essa praga costuma atacar no horário compreendido entre 9 e 17 ho- ras. As larvas têm coloração esbranquiçada e atacam os botões florais, as flores e a maçã da planta. Os ovos (em média 100 a 300 unidades por ciclo) são colocados em cavidades abertas nos botões florais ou nas maçãs. Essa praga causa queda anormal de botões florais, flores e maçãs, podendo causar redução na produção de até 70% (PICANÇO, 2010). 2.1.3 Lagarta-da-maçã Descrição – O adulto da lagarta-da-maçã (Heliothis virescens) é uma ma- riposa que apresenta as asas anteriores esverdeadas com três faixas avermelhadas. Esses insetos medem aproximadamente de 25 a 35 mm de envergadura. As lagar- tas têm coloração variável, podendo ser verdes, amarelas, pardas ou rosadas, com 127 faixas escuras pelo corpo e cabeça marrom. Os ovos (em média 600 por fêmea, por postura) são brancos, cilíndricos, colocados nos ponteiros, folhas e sépalas das plantas (GALLO et al., 2002). Prejuízos – Destroem as maçãs e botões, favorecendo a entrada de patógenos (PICANÇO, 2010). 2.1.4 Lagarta-rosada Descrição – Os adultos da lagarta-rosada (Pectinophora gossypiella) são mariposas que medem cerca de 15 a 19 mm de envergadura, com asas posteriores de coloração bronzeada. As lagartas apresentam um aspecto esbranquiçado nos dois primeiros estágios, atingindo a coloração rosada posteriormente. Os ovos são branco- esverdeados, colocados isoladamente ou em grupos de 5 a 100 unidades nas brácteas das maçãs (GALLO et al., 2002). Prejuízos – Provocam a destruição dos botões florais, o que impede a abertura das pétalas, causando o aspecto de flor em "roseta" (não há formação da maçã). Quando as lagartas atacam as maçãs, podem destruir as fibras e sementes. Um sintoma característico do ataque da lagarta rosada é a formação de maçãs defeituosas, que não se abrem normalmente (conhecidas como “carimãs”) (GALLO et al., 2002). 2.1.5 Curuquerê-do-algodoeiro Descrição – O curuquerê (Alabama argillacea) é uma mariposa de coloração marrom-avermelhada, com variando de 35 a 40 mm de envergadura, com manchas circulares escuras nas asas anteriores. As lagartas apresentam coloração esverdeada (em baixas infestações) ou preta (em altas infestações), com várias listras longitudinais. Cada fêmea pode colocar 500 ovos, em média. Esses são pequenos, de coloração esverdeada, depositados sob as folhas, geralmente ao anoitecer (GALLO et al., 2002). Prejuízos – Atacam o limbo foliar, devorando-o quase completamente, destruindo as nervuras maiores e os pecíolos, o que reduz drasticamente a produção. Em média, uma lagarta é capaz de consumir cerca de 66 cm² de uma folha de algodoeiro. Caso não controlada, a praga pode causar prejuízos de até 30% (GALLO et al., 2002). 2.1.6 Amostragem A amostragem das pragas-chave do algodoeiro deve ser realizada em área mínima de 10 ha em cada talhão de 100 ha. Podem ser feitas a amostragem convencional ou sequencial (GALLO et al., 2002). 128 Na amostragem convencional, a frequência de levantamentos a serem realizados semanalmente depende do estágio fenológico da cultura, conforme apresentado na Tabela 1 (GALLO et al., 2002). Tabela 1 – Frequência da amostragem convencional de pragas do algodoeiro Fonte: adaptada de Picanço (2010) Tabela 2 – Nível de controle das principais pragas do algodoeiro no Brasil Número de levantamentos por semana Fase da cultura 1 Até o florescimento 2 Do florescimento ao 1º capulho 1 Do 1º capulho a colheita A amostragem sequencial é feita conforme a tabela apresentada no tópico 2 da unidade anterior. Podem ser atribuídas notas de 0 (botão danificado) ou 1 (botão não danificado). Posteriormente, soma-se o resultado de cada amostragem ao valor registrado anteriormente. Se cair entre os números da tabela, continuar. Se cair no limite inferior, aplica-se o controle, caso caia além do limite máximo, a praga não deve ser controlada. Deve-se continuar a amostragem até o final da tabela e repetir a amostragem a cada dois ou três dias (PICANÇO, 2010). O número total de amostras varia de acordo com o tipo de amostragem. No método convencional são realizadas entre 50 a 100 amostras por hectare, feitas em caminhamento tipo “zig-zag” ou demarcando-se cinco pontos por amostragem, de onde serão retiradas 10 ou 20 amostras. No método sequencial são necessários, ao menos 10 amostras (PICANÇO, 2010). Com base na amostragem, determina-se o nível de controle (Tabela 2). Praga Época de ocorrência Parte amostrada Nível de controle Nível de não-ação Pulgão Até 60 dias Ponteiro 60% das plantas atacadas 22% de inimigos nos ponteiros Bicudo-do- algodoeiro 50 dias até o final botões florais utilizando o feromônio grandlure 10% botões atacados - Lagarta- da-maçã 70-120 dias plantas ovos: 20% ponteiros atacados lagartas: 15% ponteiros atacados ou 10 adultos/ armadilha 1,0 predador chave/planta 129 Fonte: adaptada de Picanço (2010) Lagarta- rosada 80-120 dias plantas 5% maçãs atacadas 10 adultos/armadilhas - Curuquerê- do- algodoeiro 90-140 dias Plantas 2 lagartas/planta 25% de desfolha 0,5-1,0 predador por presa/planta 2.1.7 Controle Cultural De acordo com Picanço (2010), o controle cultural pode ser feito da seguinte forma: a) Escolha de variedades de algodoeiro – A variedade IAC-20, por exemplo, é precoce e tem ciclo determinado, favorecendo o controle do bicudo e da lagarta rosada. b) Remoção e destruição de restos culturais – Por serem potenciais focos de disseminação de pragas, é importante retirar os botões florais e maçãs novas que estiverem no solo e destruí-los. 2.1.8 Controle Comportamental No Brasil são utilizados feromônios como método integrante do MIP, visando a amostragem da população do bicudo, da lagarta-da-maçã e lagarta-rosada (vide controle por comportamento na unidade anterior) (PICANÇO, 2010). 2.1.9 Controle Legislativo O arranquio e a queima dos restos vegetais têm como objetivo a redução da população de pragas como a lagarta-rosada e o bicudo. No Estado de São Paulo, existe um Decreto determinando a realização dessa medida até o dia 15 de julho todos os anos (PICANÇO, 2010). 2.1.10 Controle Biológico O controle biológico aplicado pode ser feito por meio da liberação do parasitoide de ovos do gênero Trichogramma, para controle do curuquerê-do-algodeiro e da lagarta-da-maçã. As liberações do parasitoide devem ser feitas a partir da ocorrência de ovos da praga, variando de 60.000 a 90.000 indivíduos/ha (GALLO et al., 2002). 2.1.11 Controle Químico O controle químico pode ser feito de diferentes formas: 130 a) Tratamento de sementes – Para o controle de pragas como os pulgões, podem ser usadas sementes previamente tratadas com produtos químicos sistêmicos, co- nhecidas genericamente como “sementes pretas” ou “roxas”, que têm essa coloração por causa da adição de carvão ativado ou silicato de alumínio, respectivamente, para alertar o agricultor acerca do perigo dos produtos usados, em virtude de sua alta toxicidade (GALLO et al., 2002). b) Granulados sistêmicos no sulco – Visando ao controle de pulgões e como alternativa ao tratamento de sementes, podem ser utilizados granulados sistêmicos como imidacloprid (GALLO et al., 2002). c) Iscas para mariposas – Para o controle de pragas como o curuquerê, a lagarta- da-maçã e a lagarta-rosada, podem ser preparadas iscas com 1 kg de melaço + 10 L de água + 25 g de metomil 21,5 OS, utilizando-se 0,5 L em 15 m lineares de cultura, a cada 50 m (GALLO et al., 2002). 2.2 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM ARROZ As pragas-chave da cultura do arroz podem ser divididas em dois grupos – pragas de solo, que danificam o sistemaradicular e a parte inferior do colmo – e pragas da parte aérea, que danificam a parte superior do colmo, causam desfolha e atacam os grãos. Essas pragas podem, ainda, ser agrupadas de acordo com o tipo de cultivo (sequeiro ou irrigado). São pragas-chave que atuam no solo e atacam o arroz em sequeiro, os cupins, o bicho-bolo (também chamado pão-de-galinha), a larva-arame e a lagarta-elasmo. Em arroz irrigado, os gorgulhos-aquáticos (também conhecidos como bicheira-do-arroz) são considerados pragas de solo; já os percevejos do colmo e do grão e as lagartas desfolhadoras são pragas da parte aérea (GALLO et al., 2002). 2.2.1 Cupins Descrição – Existem várias espécies de cupins que atacam a cultura do arroz de sequeiro (Syntermes molestus, Procornitermes spp., Cornitermes spp.), sendo S. molestus o mais comum. Essas pragas, também conhecidas como “formigas-brancas” ou “térmitas”, possuem aparelho bucal mastigador e são polífagos, o que as tornam pragas importantes para outras culturas (PICANÇO, 2010). Os cupins são insetos sociais, de hábito subterrâneo e que constroem ninhos de di- ferentes formatos. Esses insetos vivem em colônias constituídas por formas sexuadas (com- postas pelo casal real e cupins alados com dois pares de asas membranosas) e assexuadas (formadas pelas operárias e pelos cupins soldados, ápteros, de cinco a dez mm de compri- mento, sem olhos e ocelos, diferindo assim das formas sexuadas) (GALLO et al., 2002). As operárias constituem a maioria da população e possuem coloração branca ou amarelo-clara, assumindo todas as funções na colônia, exceto a procriação. Os soldados, por sua vez, possuem cabeça volumosa, coloração marrom-amarelada e 131 mandíbulas bem desenvolvidas. Atuam na defesa do ninho, em colaboração com as operárias (PICANÇO, 2010). Prejuízos – Essas pragas podem destruir as raízes total ou parcialmente, e a parte aérea da planta. Como sintomas, as plantas apresentam uma aparência seca, desprendendo-se facilmente do solo. Em horários com pico de insolação, as folhas se enrolam rapidamente. A ação dos cupins é mais intensa se o local já foi cultivado anteriormente por alguma gramínea e em solos do Cerrado (PICANÇO, 2010). 2.2.2 Bicho-bolo (pão de galinha) Descrição – Compreendem três espécies distintas (Euetheola humilis, Dyscinetus sp. e Stenocrates sp). As três espécies possuem uma coloração marrom- escura a preta. Os adultos de E. humilis, Dyscinetus sp. e Stenocrates sp. medem 16, 20 e 21 mm de comprimento, respectivamente. Os adultos surgem após períodos chuvosos e colocam ovos no solo, onde ocorre a eclosão de larvas que medem cerca de 3 mm. Essas larvas possuem uma cabeça marrom-clara, abdome com extremidade escura, e chegam a medir 50 mm. É nesse estágio que ocorrem os ataques, sendo as larvas popularmente conhecidas como bicho-bolo ou pão de galinha. O período larval tem duração média de 20 meses (PICANÇO, 2010). Prejuízo – O ataque das larvas às raízes provoca o amarelecimento e definhamento das plantas, que podem morrer, ocasionando falhas nas lavouras (GALLO et al., 2002). 2.2.3 Larva-arame Descrição – Os adultos da larva-arame (Conoderus scalaris) são besouros de coloração preta, que medem, aproximadamente, 16 mm de comprimento, e possuem élitros pardos, ferrugíneos, pontuados com quatro manchas pretas (PICANÇO, 2010). Prejuízos – As larvas-arame destroem as raízes, ocasionando o amarelecimento e morte das plantas de arroz. As touceiras danificadas são destacadas com facilidade (GALLO et al., 2002). 2.2.4 Lagarta-elasmo. Descrição – Os adultos da lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus) são mariposas que medem entre 15-25 mm de envergadura e possuem asas de coloração pardo-avermelhada. As lagartas têm aproximadamente 15 mm de comprimento, são ativas e possuem cor verde-azulada, sendo a cabeça pequena e de cor marrom-escura (PICANÇO, 2010). 132 Prejuízos – Em arroz de sequeiro, o ataque dessa praga ocorre junto ou pouco abaixo da superfície do solo, onde as lagartas abrem galerias em direção ao centro das hastes. Esse ataque causa um sintoma conhecido como “coração morto”, caracterizado pelo secamento da folha central, que é facilmente destacada quando puxada. Essa é uma praga limitante para a cultura do arroz no Cerrado. Plantas recém-germinadas são mais sensíveis ao ataque da lagarta-elasmo, sendo comum observar muitos falhas na cultura, obrigando o replantio (GALLO et al., 2002). 2.2.5 Gorgulhos-aquáticos (bicheira-do-arroz) Descrição – Os gorgulhos-aquáticos (também conhecidos como bicheira- do-arroz) são a principal praga do arroz irrigado, sobretudo em culturas formadas por meio de mudas. Existem três espécies de destaque (Oryzophagus oryzae, Helodytes foveolatus e Lissorhoptrus tibialis), com O. oryzae representando 70% da população em relação às demais (GALLO et al., 2002). Os adultos possuem rostro e medem entre 2,0 e 9,0 mm de comprimento. As larvas são brancas, com cabeça amarela, cerdas ralas sobre o corpo e com ausência de pernas (ápodas) (PICANÇO, 2010). Prejuízos – As larvas atacam as raízes das plantas, abrindo galerias e cortando- -as em todas as direções, fazendo com que as plantas atacadas exibam uma coloração clorótica. Os adultos se alimentam do parênquima das folhas, deixando orifícios da largura de suas mandíbulas. Variedades precoces tendem a ser mais afetadas que as tardias. Em plantios cultivados há mais tempo, os prejuízos podem chegar a 30% (GALLO et al., 2002). 2.2.6 Percevejo-do-colmo Descrição – Os adultos do percevejo-do-colmo (Tibraca limbativentris) possuem 15 mm de comprimento, coloração marrom clara dorsalmente e marrom escura ventralmente. As ninfas possuem coloração variável, sendo mais escuras no quinto instar. Solos com umidade elevada ou cultivados após a produção de gramíneas favorecem a ocorrência de altas populações da praga (PICANÇO, 2010). Prejuízos – Ao sugar a haste do arroz, a praga causa um estrangulamento na planta devido a inoculação de toxinas. O ataque resulta em sintomas conhecidos como "coração morto" e "panícula branca" (PICANÇO, 2010). 2.2.7 Percevejo-do-grão Descrição – Há três espécies de destaque (Oebalus poecilus, Oebalus ypsilon- griseus e Oebalus grisescens). Oebalus poecilus também é conhecido por outros no- mes populares, como percevejo-sugador, chupão ou frade. Em certas regiões, é a praga mais importante da cultura (GALLO et al., 2002). Os adultos têm coloração marrom-clara 133 e medem de 8 a 10 mm de comprimento. Oebalus poecilus possui duas manchas en- curvadas no pronoto, de coloração amarelada e três manchas amarelas nos hemiélitros. Oebalus ypsilongriseus apresenta três manchas nos hemiélitros, não possuindo no pro- noto. Oebalus grisescens não possui manchas amarelas (PICANÇO, 2010). As posturas, normalmente, são realizadas nas folhas, podendo ocorrer também no colmo e panícu- las. São colocados 3.000 ovos por fêmea, em média (GALLO et al., 2002). Prejuízos – Tais pragas são sugadoras agindo, principalmente, sobre grãos em estado leitoso, que podem ser totalmente esvaziados ou ficarem atrofiados. Quando o ata- que ocorre em grãos em estado firme, formam-se pontos escuros na casca e brancos no endosperma. Como consequência, os grãos ficam “gessados”, quebrando-se facilmente no beneficiamento e adquirem menor peso (GALLO et al., 2002; PICANÇO, 2010). 2.2.8 Lagartas desfolhadoras Descrição – Há três espécies em destaque: curuquerê-dos-capinzais (Moscis latipes) (ver em pragas de pastagens); lagarta-do-cartucho-do-milho (Spodoptera frugiperda) (ver em pragas do milho) e Leucania humidicola (GALLO et al., 2002). Os adultos de L. humidicola são lagartas de coloração variável (verde a parda), medindo cerca de 40 mm de comprimento, e que se alimentam das folhas de arroz (GALLO et al., 2002). São pragas de solo, onde ocorre o empupamento. Os adultos possuem entre 30 e 35 mm de envergadura, e coloração, geralmente parda, colocando grupos de ovos sobre as plantas (GALLO et al.,135 2.2.13 Controle Químico ................................................................................................................... 135 2.3 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS NO CAFEEIRO ................................................................... 135 2.3.1 Broca-do-café ......................................................................................................................... 135 2.3.2 Bicho-mineiro .......................................................................................................................... 136 2.3.3 Amostragem ............................................................................................................................ 136 2.3.4 Controle Cultural ..................................................................................................................... 137 2.3.5 Controle Biológico .................................................................................................................. 137 2.3.6 Controle Químico .................................................................................................................... 137 2.4 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM CANA-DE-AÇÚCAR ..................................................138 2.4.1 Broca-da-cana-de-açúcar ...................................................................................................138 2.4.2 Broca-gigante ......................................................................................................................... 139 2.4.3 Cigarrinhas-da-cana-de-açúcar ....................................................................................... 139 2.4.4 Amostragem ............................................................................................................................140 2.4.5 Controle Cultural ......................................................................................................................141 2.4.6 Controle Biológico .................................................................................................................. 142 2.4.7 Controle Químico..................................................................................................................... 142 2.5 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS NO FEIJOEIRO .................................................................. 143 2.5.1 Cigarrinha-verde ...................................................................................................................... 143 2.5.2 Mosca-minadora ................................................................................................................... 143 2.5.3 Mosca-branca ........................................................................................................................ 143 2.5.4 Vaquinhas .................................................................................................................................144 2.5.5 Lagarta-elasmo ou broca-do-colo ...................................................................................144 2.5.6 Amostragem ............................................................................................................................144 2.5.7 Controle Cultural ..................................................................................................................... 145 2.5.8 Controle Comportamental ................................................................................................... 145 2.5.9 Controle Biológico .................................................................................................................. 145 2.5.10 Controle Químico ..................................................................................................................146 2.6 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM MILHO ..........................................................................146 2.6.1 Lagarta-elasmo .......................................................................................................................146 2.6.2 Lagarta-rosca ..........................................................................................................................146 2.6.3 Lagarta-do-cartucho ............................................................................................................ 147 2.6.4 Lagarta-da-espiga ................................................................................................................ 147 2.6.5 Amostragem ............................................................................................................................ 147 2.6.6 Controle Cultural .....................................................................................................................148 2.6.7 Controle biológico ...................................................................................................................148 2.6.8 Controle Químico .................................................................................................................... 149 2.7 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM SOJA ............................................................................ 149 2.7.1 Percevejo-verde ....................................................................................................................... 149 2.7.2 Percevejo-marrom ..................................................................................................................150 2.7.3 Lagarta-da-soja ......................................................................................................................150 2.7.4 Helicoverpa armigera .............................................................................................................150 2.7.5 Amostragem ..............................................................................................................................151 2.7.6 Controle Cultural ..................................................................................................................... 152 2.7.7 Controle Comportamental ..................................................................................................... 152 2.7.8 Controle por resistência de plantas ................................................................................... 153 2.7.9 Controle Biológico ................................................................................................................... 153 2.7.10 Controle Químico ................................................................................................................... 153 3 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DE HORTALIÇAS ...................................................153 3.1 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM CEBOLA E ALHO ......................................................... 154 3.1.1 Tripes em cebola e alho .......................................................................................................... 154 3.1.2 Ácaros ......................................................................................................................................... 154 3.2 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM TOMATE, BERINJELA E PIMENTÃO ....................... 155 3.2.1 Traças ......................................................................................................................................... 155 3.2.2 Mosca-minadora .................................................................................................................... 155 3.2.3 Mosca-branca ......................................................................................................................... 155 3.2.4 Tripes ......................................................................................................................................... 156 3.2.5 Pulgão-verde ........................................................................................................................... 156 3.3 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM BATATA ........................................................................ 157 3.3.1 Vaquinha2002). Prejuízos – Essas pragas causam desfolha chegando, em algumas ocasiões, a destruir completamente a cultura (GALLO et al., 2002). 2.2.9 Amostragem De acordo com Picanço (2010), a amostragem de pragas na cultura do arroz pode ser feita tomando-se cinco pontos a cada 10 ha, em plantas que ocuparem 1 m² em cada ponto. Exemplos de técnicas de amostragem para diferentes tipos de praga serão apresentadas na Tabela 3, abaixo: Tabela 3 – Técnicas de amostragem para diferentes pragas do arroz. Praga Técnicas de amostragem Lagarta-elasmo Avaliação da % de plantas com sintoma de ataque Gorgulhos-aquáticos Avaliação do número de larvas presentes nas raízes usando- se peneira 134 Percevejo-do-colmo Contagem do número de insetos/m2 usando-se rede de varredura Percevejo-do-grão Contagem do número de insetos/m2 usando-se rede de varredura Lagartas desfolhadora Avaliação da % de desfolha Fonte: adaptada de Picanço (2010) Tabela 4 – Níveis de ação para as principais pragas do arroz no Brasil Fonte: adaptada de Picanço (2010) Na Tabela 4 a seguir, apresentaremos os níveis de ação para algumas pragas da cultura do arroz (PICANÇO, 2010). Praga Níveis de ação Cupins Quando o plantio anterior tiver apresentado manchas de plantas atacadas, correspondentes a 10% da área. Lagarta- elasmo tabelas de amostragem sequencial já confeccionadas (PICANÇO, 2010). 2.3.4 Controle Cultural Dentre as técnicas recomendadas incluem-se: não usar espaçamento maior que o recomendado para a cultivar; utilizar mudas sadias; fazer uma adubação equilibrada; evitar a utilização de cobertura morta; manejar o mato nas ruas (eficaz contra o bicho- mineiro). Adotar plantios mais espaçados, que permitam a penetração da luz solar; iniciar a colheita, quando necessário, do talhão mais infestado; eliminar talhões velhos e improdutivos (lavouras abandonadas); realizar a poda de lavouras muito fechadas (eficaz contra a broca-do-café), dentre outros procedimentos (PICANÇO, 2010). 2.3.5 Controle Biológico O Controle Biológico Clássico pode ser eficiente contra a broca-do-café, mediante a presença de inimigos naturais como a “Vespa de Uganda” (Prorops nasuta) e a “Vespa da Costa do Marfim” (Cephalonomia stephanoderis), que parasitam as larvas e pupas dessa praga (PICANÇO, 2010). Para o controle natural do bicho mineiro são indicados predadores como as vespas (Pronectarina sylveirae, Brachygastra lecheguana, Synoeca surinama, Polybia scutellaris e Eumenes sp). A preservação destes predadores é favorecida em cultivos realizados próximos a matas e capoeiras, uso de inseticidas seletivos, preservação dos ninhos na lavoura e pela execução do MIP na cultura (PICANÇO, 2010). 2.3.6 Controle Químico Além das recomendações gerais para o controle químico (ver na unidade anterior), é importante evitar o uso de piretroides, pois causam desequilíbrio às populações de ácaros inimigos naturais do bicho-mineiro. Também recomenda-se direcionar as pulverizações 138 para atingirem o adulto no período de trânsito da broca-do-café (PICANÇO, 2010). A aplicação de inseticidas granulados sistêmicos exige umidade no solo, e estes devem ser levemente incorporados ou aplicados via sulco (PICANÇO, 2010). 2.4 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM CANA-DE-AÇÚCAR Na cultura da cana-de-açúcar, as pragas de maior importância são: a broca-da- cana-de-açúcar, a broca-gigante e as cigarrinhas (PICANÇO, 2010). A seguir, falaremos sobre cada uma delas. 2.4.1 Broca-da-cana-de-açúcar Descrição – O adulto da broca-da-cana (Diatraea saccharalis) é uma mariposa que possui asas anteriores de coloração amarelo-palha, com desenhos pardacentos e asas posteriores esbranquiçadas, e com 25 mm de envergadura (GALLO et al., 2002). As lagartas possuem coloração branco-amarelada, com pintas pretas. A oviposição é imbricada nas folhas (assemelhando-se a um couro de cobra ou escamas de peixe), sendo depositados um número variável de ovos (entre 5 e 50 por fêmea) (PICANÇO, 2010). As lagartas recém-nascidas alimentam-se inicialmente do parênquima foliar, avançando para a bainha e, após a primeira ecdise, penetram no colmo, perfurando-o e abrindo galerias de baixo para cima. Quando atingem o desenvolvimento completo, assumem uma coloração amarelo-pálida, de cabeça-marrom, e abrem um orifício para o exterior, fechando-o com fios de seda e serragem. Posteriormente, empupam, sendo a coloração castanha. Ficam nesse estágio por 9 a 14 dias, quando o adulto emerge do orifício aberto anteriormente pela lagarta (GALLO et al., 2002). Prejuízos – As lagartas causam prejuízos diretos, com a abertura de galerias que causam perda de peso na cana e provocam morte das gemas, causando falhas na germinação. Além disso, as galerias circulares que a broca faz seccionam o colmo, provocando o tombamento das plantas pelo vento. Em plantas jovens a broca produz o secamento dos ponteiros (“coração morto”). Também pode ocorrer o enraizamento aéreo e brotações laterais em função do ataque da praga (GALLO et al., 2002). Danos indiretos são provocados pela exposição da cultura aos patógenos, que infectam a planta por meio das aberturas deixadas pela broca. Um exemplo é a podridão vermelha do colmo, que pode abranger toda a região compreendida entre as diversas galerias. Os fungos causadores da podridão vermelha (Colletotrichum falcatum e Fusarium moniliforme) invertem a sacarose, diminuindo a pureza do caldo, reduzindo seu rendimento em açúcar e álcool (GALLO et al., 2002). 139 2.4.2 Broca-gigante Descrição – Os adultos da broca-gigante (Telchin licus) têm cerca de 35 mm de comprimento e 90 mm de envergadura das asas. São de coloração escura, com algumas manchas brancas na região apical e uma faixa transversal branca nas asas anteriores. As asas posteriores são envolvidas por uma faixa curva e transversal de cor branca e sete manchas vermelhas na margem externa. As fêmeas depositam entre 50 e 100 ovos, em touceiras velhas, em meio a detritos e caules cortados. Esses ovos têm uma cor rosada e posteriormente se tornam verde-alaranjados. As lagartas são grandes, podendo chegar a 80 mm de comprimento e 12 mm de largura, com o período larval durando de 2 a 10 meses (GALLO et al., 2002). Prejuízos – Nos locais onde está presente (alguns estados do Nordeste), essa praga tem grande relevância, destacando-se como a principal praga da cultura. Pode ocasionar prejuízos de 20 a 60%, afetando a produção de cana, açúcar e álcool. O principal tipo de dano é resultante das galerias verticais realizadas no colmo, podendo destruí-lo completamente. A broca-gigante também pode reduzir o poder vegetativo da cultura, induzir o surgimento do “coração morto” e criar portas de entrada para patógenos causadores de podridões. Devido ao hábito de postura, os prejuízos são maiores em canaviais mais velhos (GALLO et al., 2002). 2.4.3 Cigarrinhas-da-cana-de-açúcar Descrição – Há duas espécies de cigarrinhas de grande importância para a cana-de-açúcar: a cigarrinha-da-folha (Mahanarva posticata) a cigarrinha-das-raízes (Mahanarva fimbriolata) (PICANÇO, 2010). Os adultos de M. posticata possuem coloração avermelhada, com ou sem man- chas longitudinais nas asas e medem cerca de 12 mm de comprimento. As fêmeas depo- sitam os ovos nas bainhas das folhas, onde ocorre a eclosão das ninfas (PICANÇO, 2010). Na espécie M. fimbriolata, os adultos possuem duas manchas vermelhas nas asas tégminas e medem entre 12 e 13 mm de comprimento. As formas jovens, por falta de umidade, produzem uma espuma protetora, para se protegerem da seca. Portanto, sua ocorrência se correlaciona positivamente com o excedente hídrico e temperatura do solo (GALLO et al., 2002). Prejuízos – As cigarrinha-das-folhas sugam a seiva das plantas, provocando a “queima” das folhas, que se manifestam por meio de estrias longitudinais de coloração amarelada no limbo, com as pontas enroladas, assemelhando-se ao crestamento por falta de água (GALLO et al., 2002). Em ataques intensos os colmos definham, diminuindo- se consideravelmente o espaço intermodal. Essa praga tem grande relevância nos estados do Nordeste, com a perda de açúcar podendo atingir até 17% em Pernambuco (GALLO et al., 2002). 140 A cigarrinha-da-raiz tem se tornado uma praga importante no Estado de São Paulo, após a redução das queimadas. Em áreas de “cana crua”, seu prejuízo pode chegar a 11% na produtividade agrícola, com redução de 1,5% de açúcar. Os problemas são maiores nos cortes subsequentes à cana-planta (GALLO et al., 2002). 2.4.4 Amostragem O método de amostragem para a broca-da-cana também pode ser tomado para a broca-gigante. Consiste em levantamentos realizados em duas situações: canaviais desenvolvidos ou canaviais em desenvolvimento (PICANÇO, 2010). a) Amostragem em canaviais desenvolvidos – Deve-se coletar 30 canas/ha (antes ou após a queima do canavial para corte), em cinco pontos ao acaso. A cana coletada deve ser aberta no sentido longitudinal, determinando-se a "intensidade de infestação" (% I.I.) com a seguinte fórmula (PICANÇO, 2010): b) Amostragem em canaviais em desenvolvimento (a partir dos primeiros entrenós visíveis) Deve-se verificar a presença com corações mortos em cada talhão do canavial, dirigindo-se a amostragem para os últimos entrenós em formação e para plantascom "coração morto". O NC é a intensidade de infestação (%I.I) = 5% (PICANÇO, 2010). Para as cigarrinhas, a amostragem deve ser feita, sobretudo, após períodos secos e frios. Para a cigarrinha-da-folha, o procedimento consiste em tomar 25 canas ao acaso, em cada lavoura, separando uma cana em cada touceira. As folhas devem ser destacadas, contando-se as ninfas e adultos sob as bainhas e olhaduras (PICANÇO, 2010). Em cigarrinha-da-raiz deve-se tomar 2,5 metros lineares em quatro pontos do talhão. Nas áreas a serem avaliadas faz-se a limpeza ao redor do sulco e das entrelinhas, removendo-se toda a cobertura vegetal existente (ervas daninhas, palhiço, dentre outros). Conta-se os adultos, ninfas (pequenas, médias e grandes) e a quantidade de plantas no local (PICANÇO, 2010). De acordo com Picanço (2010), a seguir, são apresentados os níveis de controle para as cigarrinhas na cana-de-açúcar, de acordo com a espécie e o estádio em que se encontra (Tabela 5). 141 Tabela 5 – Níveis de controle para cigarrinhas em cana-de-açúcar. Fonte: adaptada de Picanço (2010) Estádio Cigarrinha-das-folhas Cigarra-da-raiz Adulto ≥ 2,5 ninfas/cana ≥ 0,75 adulto/cana Ninfa ≥ 0,75 adulto/cana 4 ou 12 ninfas/metro linear* * O nível de controle de 4 ninfas/metro linear é utilizado no Controle Biológico, quando há predominância de ninfas pequenas e médias. O nível de controle de 12 ninfas/metro linear é utilizado para controle químico, quando há predominância de ninfas grandes. 2.4.5 Controle Cultural De acordo com Picanço (2010), o controle cultural das pragas da cana-de- açúcar pode ser feito mediante o emprego de técnicas como: a) Moagem rápida da cana – Trata-se de uma técnica eficaz no controle da broca da cana-de-açúcar. A moagem rápida da cana tem por finalidade reduzir os efeitos danosos provocados pelos fungos do complexo das podridões. Também permite a destruição de larvas e pupas dos insetos. b) Uso de cultura armadilha – Pode-se utilizar plantas armadilhas, como o milho, para atrair e capturar a broca-da-cana (D. saccharalis), por exemplo. c) Manejo da colheita – A queima dos canaviais para colheita e a queima do palhiço remanescente desfavorecem a D. saccharalis e as cigarrinhas. A colheita sem desponte, quando a %I.I. for maior que 5%, também pode reduzir as populações da broca. d) Preparo do solo – Um bom preparo do solo, durante a renovação de canaviais infestados pela broca gigante e larvas de besouros, é uma tática eficiente de controle. Para maior eficiência, é necessário atentar-se para algumas características das pragas. Por exemplo, para o controle de M. fryanus, a época ideal para se revolver o solo se dá nos meses mais secos e frios do ano, na região sudeste (de março a agosto). Nesse período, o número de larvas da praga, nos primeiros 30 centímetros do solo, é maior. e) Uso de variedades resistentes – Existem variedades mais ou menos suscetíveis ao ataque de D. saccharalis. Ademais, há variações na intensidade de infestação em uma mesma variedade, de acordo com a região em que está sendo cultivada, ou mesmo, variações de acordo com o ciclo da cultura (cana-planta ou cana-soca). Algumas variedades, apesar de produtivas, possuem baixo vigor de gemas em períodos secos (por exemplo, RB 72454). Em solos arenosos, as injúrias de pragas de rizomas e raízes causam maiores problemas de estresse hídrico e variedades com baixo vigor de gemas não deve ser plantadas. 142 2.4.6 Controle Biológico Em cana-de-açúcar, o controle biológico é uma técnica que vem sendo utilizada em grandes proporções, sendo bem-sucedida em conjunto com outros métodos. As práticas mais comuns são a criação e liberação das vespas Cotesia flavipes (parasitoide de larvas de D. saccharalis) e Trichogramma galloi (parasitoide dos ovos de D. saccharalis); e a utilização do fungo Metarhizium anisopliae (parasitoide de ovos e larvas recém eclodidas da broca-da-cana) (PICANÇO, 2010). Para um controle mais eficiente, essas liberações devem ocorrer, prioritariamente, em talhões de cana-planta, seguida de cana-soca (2ª folha) cultivada em locais onde a intensidade de infestação (I.I.) foi superior a 5%. A liberação é feita quando aparecerem os primeiros “corações mortos”, geralmente, em canaviais com três a seis meses de plantio ou corte (soca). A quantidade recomendada varia de 6.000 vespas/ha (Cotesia flavipes) a 130.000 vespas/ha (Trichogramma galloi) (PICANÇO, 2010). Quanto ao procedimento, C. flavipes é liberada com base na dispersão média (cerca de 35 m), devendo ocorrer em ponto pontos por hectare. Os pontos devem distar de 25 m dos carreadores e 50 m entre si. São usados copinhos contendo pupas, que devem ser abertos quando pelo menos 80% dos adultos tiverem emergido. O copo é aberto e caminha-se de um ponto ao outro. No final, o copo com as "massas" pode ser colocado preso entre a bainha e o colmo da cana (PICANÇO, 2010). A liberação de T. galloi é feita com base na distância mínima possível de ser alcançada a partir do ponto de soltura (20 m), devendo ocorrer em nove pontos por hectare. Os pontos devem distar de 20 m dos carreadores e 30 m entre si. O procedimento de liberação é semelhante ao de C. flavipes (PICANÇO, 2010). A liberação deve ocorrer em períodos frescos do dia (nascer do sol ou anoitecer). Deve-se evitar dias chuvosos, conservando as vespas recém-emergidas em ambientes refrigerados (20-25 ºC) ou em geladeira (parte inferior) por dois a três dias, para T. galloi, ou três a cinco, para C. flavipes. Durante o período de armazenamento, o uso de mel na alimentação de C. flavipes aumenta a sua longevidade (PICANÇO, 2010). A aplicação do fungo M. anisopliae tem se mostrado eficiente no controle de D. saccharalis: Normalmente utilizam-se cerca de 500 g de conídios/ha. No Nordeste, foram observados resultados satisfatórios no período de novembro a fevereiro, quando as condições climáticas (temperatura e umidade) favorecem o desenvolvimento do patógeno. As aplicações de M. anisopliae podem ser realizadas com auxílio de pulverizadores tratorizados (PICANÇO, 2010). 2.4.7 Controle Químico Realizado mediante o uso racional de inseticidas registrados para a cultura (GALLO et al., 2002). 143 2.5 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS NO FEIJOEIRO As principais pragas da cultura do feijoeiro são, a cigarrinha verde, a mosca- minadora, a mosca-branca, as vaquinhas e a lagarta-elasmo (PICANÇO, 2010). A seguir, falaremos sobre cada uma delas. 2.5.1 Cigarrinha-verde Descrição – Os adultos da cigarrinha-verde (Empoasca kraemeri) apresentam coloração verde, medindo cerca de 3 mm de comprimento. As fêmeas depositam os ovos ao longo das nervuras das folhas, numa média 60 de ovos por ciclo. As ninfas têm coloração verde-clara, sendo desprovidas de asas. Os adultos deslocam-se com rapidez, geralmente em movimentos laterais. O ciclo completo da praga dura em torno de 3 semanas (GALLO et al., 2002). Prejuízos – A praga suga a seiva ao mesmo tempo em que injeta toxinas e provoca o enfezamento das plantas (semelhante a sintomas de viroses). Em ataques intensos, as plantas passam a mostrar os folíolos enrolados para baixo ou arqueados, ocorrendo o amarelecimento das margens das folhas, culminando em seu secamento (GALLO et al., 2002). 2.5.2 Mosca-minadora Descrição – Ver em pragas do tomate, berinjela e pimentão. Prejuízos – Geralmente, o aparecimento da mosca-minadora (Liriomyza spp.) ocorre no início da cultura, especialmente em épocas de estiagem. As galerias abertas no mesófilo foliar provoca o secamento das folhas do feijoeiro. 2.5.3 Mosca-branca Descrição – Ver em pragas do tomate, berinjela e pimentão. Prejuízos – Os prejuízos causados pela mosca-branca (Bemisia tabaci) são os derivados da transmissão de viroses como o mosaico dourado e o mosaico anão, principalmente durante a fase de florescimento do feijão (GALLO et al., 2002). 144 2.5.4 Vaquinhas Descrição – No feijoeiro ocorrem três espécies principais (Diabrotica speciosa,Cerotoma arcuata e Cerotoma unicornis). Os adultos de D. speciosa são pequenos besouros verdes, com manchas amarelas. As larvas possuem uma placa escura na extremidade dorsal posterior do corpo. Os adultos de C. arcuata são pequenos besouros (5 a 6 mm de comprimento) amarelos e que possuem pontuações pretas e uma mancha escura no abdome. As fêmeas depositam os ovos no solo, onde eclodem larvas de coloração branco-leitosa. Cerotoma unicornis se diferencia de C. arcuata pela ausência da mancha escura no abdome (PICANÇO, 2010). Prejuízos – Nas três espécies, os adultos consomem as folhas e, em altas populações, reduzem a produção do feijoeiro. As larvas se alimentam das raízes e nódulos e podem, também, atacar as sementes em germinação. Os ataques resultam na desfolha (adultos) e morte de plantas (larvas) (PICANÇO, 2010). 2.5.5 Lagarta-elasmo ou broca-do-colo Descrição – Ver em pragas do algodão. Prejuízos – As lagartas abrem galerias na região do colo da planta, provocando o secamento e a morte de plantas jovens. Quando em repouso, a lagarta se aloja em abrigos laterais feitos de excrementos, terra, teia, dentre outros (GALLO et al., 2002) São observados maiores prejuízos em épocas secas, sobretudo, em solos do Cerrado (PICANÇO, 2010). 2.5.6 Amostragem A amostragem pode ser feita por talhão (1 talhão/ha) ou por pontos (5 pontos/ ha). Na Tabela 6, a seguir, são apresentados o nível de controle para algumas das principais pragas do feijoeiro (PICANÇO, 2010). Tabela 6 – Nível de controle para algumas das principais pragas do feijoeiro. Fonte: adaptada de Picanço (2010) Praga Unidade amostral Nível de controle Cigarrinha-verde 5 folíolos/ponto 2 insetos/folíolo Mosca-branca 5 folíolos/ponto 2 insetos/folíolo Desfolhadores 1 metro de fileira/ha Até 20 dias – 20% de desfolha Após 20 dias – 30% de desfolha 145 Tabela 7 – Principais inimigos naturais das pragas do feijoeiro Fonte: adaptada de Picanço (2010) 2.5.7 Controle Cultural No MIP cultura do feijoeiro, algumas medidas culturais podem ser adotadas (PICANÇO, 2010): a) Densidade de plantio – Pode-se aumentar a densidade de plantio em regiões e/ou épocas de alta incidência de lagartas-elasmo e demais pragas de solo. b) Irrigação – A adoção de irrigação pode ser eficaz no controle da lagarta-elasmo. c) Zoneamento de plantio – Deve-se evitar o cultivo de feijoeiro próximo, no tempo e espaço, da cultura da soja, visando prevenir o ataque da Mosca-branca. d) Consórcio com milho – Isso reduz o ataque, principalmente, de cigarrinhas. e) Preparo do solo – Uma boa aração e gradagem, expõem as pragas de solo a predadores e raios solares. 2.5.8 Controle Comportamental Armadilhas adesivas amarelas podem ser utilizadas visando ao controle de moscas-branca, mosca-minadora e pulgões. Para o controle de vaquinhas pode ser usado um macerado feito da própria praga. Nesse caso, a quantidade de macerado a ser aplicado em campo é de 1000 vaquinhas/ha (PICANÇO, 2010). 2.5.9 Controle Biológico Na Tabela 7, a seguir, apresenta os principais inimigos naturais de pragas do feijoeiro (PICANÇO, 2010). Como vimos na unidade anterior, um bom programa de MIP deve estabelecer práticas que preservem a população de inimigos naturais, estimulando o Controle Biológico natural. Inimigo natural (família ou gênero) Função do inimigo natural Praga alvo Carabidae Predador Pragas de solo Geocoris Predador Lagartas desfolhadoras Nabis Predador Lagartas desfolhadoras Chrysoperla Predador Ovos de lagartas Braconidae Predador Mosca-branca 146 2.5.10 Controle Químico Deve-se seguir as recomendações gerais para o controle químico, como por exemplo: nos períodos secos e quentes do ano, realizar pulverizações preventivas, com o objetivo de evitar que a praga se instale na cultura; fazer a pulverização de defensivos de maneira homogênea, pulverizando de baixo para cima, atingindo os ovos e adultos que se encontrem na face inferior das folhas; rotacionar produtos químicos de moléculas diferentes, mitigando as chances de resistência da praga aos defensivos utilizados; dentre outras técnicas (PICANÇO, 2010). 2.6 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM MILHO As pragas-chave da cultura do milho são a lagarta-elasmo, a lagarta-rosca, a lagarta-do-cartucho e a lagarta-da-espiga (PICANÇO, 2010). 2.6.1 Lagarta-elasmo Descrição – Ver em pragas do algodão. Prejuízos – Elasmopalpus lignosellus ataca plantas de milho com até 30 cm de altura, destruindo a gema apical e provocando a morte da folha ainda enrolada. A morte dessa folha central ocasiona o sintoma de “coração morto”. Quando essa folha é aberta é possível ver orifícios redondos uns ao lado dos outros. Essa praga é comum em solos arenosos e épocas secas após as primeiras chuvas. Os maiores prejuízos ocorrem 30 dias após a germinação das plantas. Em áreas irrigadas os ataques são reduzidos (GALLO et al., 2002). 2.6.2. Lagarta-rosca Descrição – Os adultos da lagarta-rosca (Agrotis ipsilon) são mariposas de 35 mm de envergadura cujas asas anteriores são marrons, com algumas manchas pretas e asas posteriores semitransparentes. As fêmeas colocam em média 1.000 ovos nas folhas. As lagartas têm coloração pardo-acinzentada escura, atingindo até 45 mm de comprimento. Essa lagarta tem hábitos noturnos, ficando enroladas e abrigadas no solo durante o dia (GALLO et al., 2002). Prejuízos – Cortam as plantas rente ao solo. Cada uma pode destruir até quatro plantas com 10 cm de altura (GALLO et al., 2002). 147 2.6.3. Lagarta-do-cartucho Descrição – A lagarta-do-cartucho (S. frugiperda) também é conhecida popularmente por lagarta-dos-milharais ou lagarta-militar. Os adultos são mariposas que põe em média de 1.500 a 2.000 ovos na face superior das folhas. As lagartas, de cor cinza-escuro a marrom, eclodem três dias após a postura, passando a se alimentar das folhas mais jovens do milho, raspando-as. Atacam também as folhas centrais, destruindo-as completamente (GALLO et al., 2002). Prejuízos – Essa praga ataca o cartucho do milho, destruindo-o completamente, sendo possível observar uma grande quantidade de excreções na planta. As lagartas mais novas apenas raspam as folhas, mas quando se desenvolvem, passam a fazer furos até danificá-las completamente, culminando na destruição do cartucho. A produção da cultura pode ser reduzida em até 20% (GALLO et al., 2002). 2.6.4 Lagarta-da-espiga Descrição – A lagarta-da-espiga (Helicoverpa zea) é uma mariposa que põe ovos nos “cabelos” das espigas. Durante o seu ciclo, uma fêmea chega a colocar de 400 a 3.000 ovos. Após 3 a 5 dias, lagartas de coloração de coloração branca e cabeça marrom eclodem. Inicialmente se alimentam dos “cabelos” novos (estilos-estigmas), posteriormente passam a atacar os grãos novos. Ao final do desenvolvimento, as lagartas passam a apresentar uma coloração variável (verde, marrom, branco sujo e até preto com listras) com listras longitudinais, de duas a três cores. Prejuízos – É uma praga muito nociva à cultura, prejudicando a produção de três modos: 1. quando atacam os “cabelos”, impede a fertilização e, consequentemente, a produção de espigas (surgem falhas); 2. quando se alimentam de grão leitosos, os destroem; e, finalmente, 3. os orifícios deixados na planta são portas de entrada para microrganismos causadores de podridões (GALLO et al., 2002). 2.6.5 Amostragem A amostragem de lagartas do milho pode ser feita após o plantio, selecionando- se 5 pontos/gleba ao acaso na lavoura e amostrando-se 100 plantas/ponto. Ao final é feita a contagem do número de plantas atacadas. Na tabela abaixo são apresentados os níveis de controle para algumas das principais pragas da cultura. 148 Tabela 8 – Níveis de controle para algumas das principais pragas do milho no Brasil. Fonte: adaptada de Picanço (2010) Praga Época de ocorrência Parte amostrada Nível de controle Lagarta-do-cartucho Até 30 dias Plantas 20% de plantas atacadas Lagarta-elasmo Até 30 dias Plantas 3% de plantas atacadasLagarta-rosca Até 30 dias Plantas 3% de plantas atacadas 2.6.6 Controle Cultural A seguir serão apresentadas algumas das principais táticas de controle cultural adotadas em programas de MIP para a cultura do milho (PICANÇO, 2010): a) Modo de plantio – A adoção de plantios mais adensados e a manutenção da umidade adequada do solo podem ser eficientes no controle da lagarta-elasmo, lagarta-rosca e outras pragas subterrâneas de solo, que reduzem o "stand" da cultura. b) Rotação de culturas – Tal prática geralmente contribui para a diminuição de populações de insetos-praga que possuem uma parte do seu ciclo no solo, como as lagartas do cartucho e elasmo. c) Incorporação de restos culturais – Essa prática pode reduzir populações de insetos-praga que permanecem nos restos culturais, como as lagartas do cartucho e elasmo. d) Época de cultivo – Pragas como as lagartas do cartucho e elasmo têm maior incidência em anos ou épocas muito secas. Evitar o cultivo nessas condições pode reduzir as chances de ataques. Tabela 9 – Principais inimigos naturais da lagarta-do-cartucho do milho (S. frugiperda). 2.6.7 Controle biológico A Tabela 9 abaixo apresenta os principais inimigos naturais de S. frugiperda (PICANÇO, 2010). Inimigo natural (IN) Fase de ataque pelo IN Nome científico Nome popular Telemonus remus Vespinha Ovo Trichograma spp. Vespinha Ovo Doru luteipes Tesourinha Ovos e larvas Clelonus insularis Vespa Ovos e larvas Chrysoperla externa Crisopídeo Ovos e larvas 149 Fonte: adaptada de Picanço (2010) Campoletis flavicincta Vespa Larva Eiphosoma spp. Vespa Larva Outro exemplo de controle biológico é o uso de Baculovirus spodoptera, um produto desenvolvido pela EMBRAPA/CNPMS (Sete Lagoas-MG), para o controle de S. frugiperda. A dosagem recomendada é de 10 lagartas infectadas em 600 mL de água ou 50 g de pó/ha. A aplicação deve ocorrer após 40 a 45 dias do plantio (época de maior infestação), e quando as lagartas apresentarem no máximo 1,5 cm de comprimento. Na pulverização deve se utilizar bico tipo leque 8004 ou 6004, de preferência à tarde ou no início da noite (PICANÇO, 2010). 2.6.8 Controle Químico Deve-se seguir as recomendações gerais para o controle químico (ver em controle químico, na unidade anterior). 2.7 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM SOJA São consideradas pragas-chave da cultura da soja, as seguintes pragas: percevejo-verde, percevejo-marrom, lagarta-da-soja e Helicoverpa armigera (PICANÇO, 2010). A seguir, falaremos sobre cada uma delas. 2.7.1 Percevejo-verde Descrição – Os adultos do percevejo-verde (Nezara viridula) medem entre 13 e 17 mm de comprimento, de cor verde, às vezes escura, com a face ventral verde-clara e antenas avermelhadas. As formas jovens têm uma coloração escura, com manchas vermelhas, amarelas e pretas, tendo o hábito de se aglomerar sobre a planta. Cada fêmea põe até 200 ovos, dispostos em placas hexagonais na face inferior das folhas. Quando eclodem, as formas jovens se alimentam de seiva, introduzindo o aparelho bucal nos tecidos vegetais (folhas, hastes e frutos) (GALLO et al., 2002). Prejuízos – Os prejuízos resultam da sucção de seiva dos ramos, hastes e vagens. As toxinas injetadas por essa praga provocam a retenção foliar (também conhecida como soja louca), quando as folhas não caem normalmente, dificultando a colheita mecânica (GALLO et al., 2002). 150 2.7.2 Percevejo-marrom Descrição – Os adultos do percevejo-marrom (Euchistus heros) medem cerca de 11 mm de comprimento, apresentando coloração marrom, com uma meia-lua branca no final do escutelo e 2 espinhos laterais no protórax. As posturas são feitas em fileira dupla, sendo os ovos de coloração amarelada. As ninfas são marrons ou cinza, com bordos serrados (GALLO et al., 2002). Prejuízos – Os danos são similares aos provocados pelo percevejo-verde. 2.7.3 Lagarta-da-soja Descrição – O adulto da lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis) é uma mariposa de cor pardo-acinzentada. Quando em repouso, as asas anteriores recobrem o corpo, surgindo uma linha que a divide ao meio, continuando na asa posterior. Medem 40 mm de envergadura, sendo encontradas durante o dia em locais sombreados próximos à base das plantas. Os ovos, de coloração verde, são postos isoladamente na face inferior das folhas, de onde eclodem lagartas, após cinco dias. Essas lagartas medem até 30 mm, podem apresentar cor verde, pardo-avermelhada e até preta, com cinco listras brancas longitudinais no corpo. Possuem quatro pares de pernas falsas e basta tocar nas plantas para que todas as lagartas caiam no solo (GALLO et al., 2002). Prejuízos – As lagartas atacam as folhas, raspando-as enquanto jovens e provo- cando pequenas cloroses. À medida que crescem, ficam vorazes, destruindo completamente as folhas, danificando também as hastes mais finas. Estima-se que A. gemmatalis consuma cerca de 90 cm² de folhas até completar o seu desenvolvimento (GALLO et al., 2002). 2.7.4 Helicoverpa armigera Descrição – Os adultos da lagarta Helicoverpa (Helicoverpa armigera) são mariposas que apresentam manchas em formato de rim na parte central das asas anteriores, sendo as asas posteriores de coloração mais clara e com a margem exterior mais escuras. As fêmeas podem colocar até 3.000 ovos por ciclo. As lagartas possuem coloração variável (do branco-avermelhado ao tom esverdeado), dependendo do tipo de alimentação. Helicoverpa armigera é favorecida por clima seco e quente, condição que acelera o seu ciclo de desenvolvimento. Apresenta elevada capacidade de sobrevivência em ambientes adversos, com excesso de calor, frio ou seca. Essa praga também apresenta uma grande capacidade de dispersão (AGRO BAYER BRASIL, 2022). Prejuízos – Helicoverpa armigera é uma praga polífaga, sendo também importante para outras grandes culturas (como algodão e milho). Em soja, há preferência pelas estruturas reprodutivas, como flores e vagens. O ataque ocasiona perdas na cultura de até 40% (AGRO BAYER BRASIL, 2022). 151 2.7.5 Amostragem Na cultura da soja a amostragem pode ser feita pelo método do pano (ver na unidade anterior) ou pelo índice de desfolha. A seguir, na Tabela 10, são apresentadas a quantidade de amostras a serem feitas de acordo com o tamanho do talhão. O Quadro 1 e a Tabela 11 tratam sobre a ficha de amostragem de pragas em campo e níveis de controle das principais pragas, respectivamente (PICANÇO, 2010). Tabela 10 – Número geral de amostras em relação ao tamanho do talhão (pragas da soja). Quadro 1 – Exemplo de ficha de amostragem para pragas da cultura soja. Fonte: adaptada de Picanço (2010) Fonte: adaptado de Picanço (2010) Tamanho do talhão (ha) Número de amostras Até 10 6 pontos de amostragem Entre 10-30 8 pontos de amostragem Entre 31-100 10 pontos de amostragem Acima de 100 Subdividir a área em talhões menores FICHA DE AMOSTRAGEM DE CAMPO Propriedade: Data: Cultivar: Município: ( ) Antes da floração ( ) Floração ( ) Formação de vagens ( ) Maturação PRAGAS PONTOS DE AMOSTRAGEM Lagarta-da-soja Percevejo-verde Percevejo-marrom Desfolhamento Tabela 11 – Níveis de controle para algumas das principais pragas da soja. Fonte: adaptada de Picanço (2010) Pragas Época Níveis de controle Percevejos Formação de vagens a maturação fisiológica 4 percevejos > que 5 mm por amostragem (grãos) 2 percevejos > que 5 mm em produção de sementes Lagartas desfolhadoras Antes do florescimento Após o florescimento 40 lagartas > 1,5 cm ou 30% de desfolha 40 lagartas > 1,5 cm ou 15% de desfolha 152 2.7.6 Controle Cultural Algumas práticas culturais são eficientes no controle de percevejos, incluindo o uso de variedades de ciclo curto (escapam da época de maior população da praga); plantio em épocas distintas (interfere na dinâmica de pragas) e o uso de plantas armadilhas nos entornos, para atrair os percevejos a serem eliminados pelo controle químico. O feijão-caupi (Vigna unguiculata), por exemplo, é uma espécie efetiva para a atração de percevejos(PICANÇO, 2010). Em relação às lagartas, pode-se utilizar espaçamentos maiores e semeaduras tardias, práticas que interferem na população de insetos desfolhadores, como A. gemmatalis (PICANÇO, 2010). 2.7.7 Controle Comportamental O sal de cozinha pode ser usado de forma integrada com inseticidas. Trata- se de uma substância que atua como um estimulante alimentar, permitindo um maior contato entre defensivo e percevejo, reduzindo a quantidade de uso desses produtos (PICANÇO, 2010). O procedimento de preparo ocorre da seguinte forma: deve-se diluir aos poucos o sal com a água colocando, por último, o inseticida no pulverizador. Para equipamentos terrestres, a concentração é de 0,5% = 500 g para cada 100 l de calda preparada; para aplicação aérea, de 0,75%. Após o uso deve-se lavar os equipamentos com detergente neutro ou óleo mineral, para evitar corrosão. A seguir, é mostrado como a mistura de inseticidas com sal de cozinha podem reduzir a dose recomendada dos produtos (Tabela 12) (PICANÇO, 2010). Tabela 12 – Dosagem de inseticidas sem e com a utilização de sal de cozinha na calda Fonte: adaptada de Picanço (2010) Ingrediente ativo Dose recomendada (g.i.a./ha) Dose com sal de cozinha (g.i.a./ha) Carbaril 800 400 Endossulfan 437,5 219 Fenitrotiom 500 250 Fosfamidom 600 300 Metamidofós 300 150 Paratiom metílico 480 240 Triclorfom 800 400 153 2.7.8 Controle por resistência de plantas No mercado, existem diversas variedades de soja resistentes a diferentes pragas. Por exemplo, a variedade IAC-100 apresenta resistência e/ou tolerância ao ataque de percevejos. O genótipo IAC 78-2318 tem sido estudado pela potencial resistência múltipla a várias pragas da soja, incluindo lagartas desfolhadoras (PICANÇO, 2010). 2.7.9 Controle Biológico Na cultura da soja, alguns métodos de controle biológico aplicado vêm tendo destaque nos últimos anos. Dentre eles, a utilização do Baculovirus anticarsia no controle de lagartas desfolhadoras. A utilização desse agente deve ocorrer com base no NC para cultura, que é de 40 lagartas e quando pelo menos 80% das lagartas apresentarem tamanho menor que 1,5 cm. (PICANÇO, 2010). Esse vírus demora até 10 dias para matar as lagartas, mas os efeitos já podem ser observados após quatro dias da aplicação, quando as pragas cessam sua alimentação. Ao adoeceram, as lagartas migram para os ponteiros da planta (PICANÇO, 2010). Existem receitas caseiras que consistem na utilização de 50 lagartas doentes (± 16 g), maceradas, coadas e diluídas em 100-200 L de água/ha. Os produtores também podem encontrar o produto (na formulação pó molhável) comercializado por algumas unidades da EMBRAPA/CNPS (Londrina-PR); UEPAE (Dourados-MS), cooperativas e empresas credenciadas (PICANÇO, 2010). A vespa Trissolcus basalis é outro agente de Controle Biológico para percevejos da soja. Cada fêmea parasita, em média, 250 ovos de N. viridula. A EMBRAPA/CNPSo mantém criações massais desse microhimenóptero para utilização no campo. A liberação deve ocorrer em períodos de menor insolação no final da floração e em diferentes locais. A quantidade liberada deve ser de aproximadamente 15 mil adultos/ha. É importante evitar aplicações de defensivos na época da liberação (PICANÇO, 2010). 2.7.10 Controle Químico Deve-se seguir as orientações gerais para o controle químico (ver em controle químico, na unidade anterior). 3 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DE HORTALIÇAS Neste momento, apresentaremos a você, acadêmico, as principais pragas que ocorrem em hortaliças cultivadas no Brasil. Além disso, serão descritas as características e as injúrias provocadas pelas pragas das seguintes culturas: cebola e alho, tomate, 154 berinjela e pimentão, batata, cenoura, morango, brássicas e curcubitáceas. Também serão descritos os componentes do MIP (diagnose, sistema de tomada de decisão e os métodos de controle) comumente adotados. 3.1 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM CEBOLA E ALHO As liliáceas, representadas pelas culturas de maior importância – cebola e alho – são infestadas por diversas pragas, principalmente por tripes e ácaros (PICANÇO, 2010). A seguir, falaremos sobre essas pragas. 3.1.1 Tripes em cebola e alho Descrição – Essa praga é considerada a mais importante para a cultura da cebola. Os adultos têm coloração variável de amarelo-claro a marrom, medindo cerca de 1mm de comprimento e 2 mm de envergadura. Os ovos (entre 20 e 100 por ciclo) são colocados em tecidos mais tenros, como as bainhas das folhas, onde eclodem as formas jovens que passam a sugar a seiva da bainha das folhas (GALLO et al., 2002). Prejuízos – Em ataques intensos, sobretudo durante períodos de seca, são observadas áreas esbranquiçadas ou prateadas no mesófilo foliar. À medida que os ataques aumentam, a planta adquire uma coloração amarelo-esverdeada, até secar completamente. Como consequência, os bulbos ficam consideravelmente menores e de má qualidade. Indiretamente, os tripes podem transmitir viroses (GALLO et al., 2002). 3.1.2 Ácaros Descrição – Há dois tipos de ácaros de grande importância para as liliáceas: o ácaro eriofiídeo (Eryophes tulipae) e o ácaro do bulbo (Rhizoglyphus sp.) (PICANÇO, 2010). Eryophes tulipae são ácaros de forma alongada vermiforma, característica dos eriofiídeos. Se agrupam nas dobras das folhas e sobre os “dentes de alho” (bubilhos) no bulbo. Rhizoglyphus sp. tem um corpo esférico, esbranquiçado, medindo cerca de 0,3 a 0,6 mm de comprimento, com pernas e mandíbulas de coloração marrom (GALLO et al., 2002). Esse ácaro ocorre em solos ricos em matéria orgânica e em ambientes com temperaturas entre 16-27°C (PICANÇO, 2010). Prejuízos – O ataque de ácaros causa o retorcimento das folhas, sendo comum o surgimento de estrias, manchas cloróticas e o secamento desses órgãos. É comum observar um nanismo acentuado nas plantas e o “chochamento” total do bulbo, em decorrência do ataque da praga (GALLO et al., 2002). 155 3.2 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM TOMATE, BERINJELA E PIMENTÃO As traças, a mosca-minadora, a mosca-branca e os pulgões são os insetos considerados pragas-chave em tomate, berinjela e pimentão; (PICANÇO, 2010). A seguir, falaremos sobre cada uma delas. 3.2.1 Traças Descrição – Há duas espécies principais (Tuta absoluta e Phthorimaea oper- culella). Os adultos de T. absoluta são mariposas pequenas de cor cinza, com cerca de 10 mm de envergadura. Cada fêmea coloca em média 50 ovos. As lagartas medem até 9 mm, são esverdeadas e com uma mancha parda no dorso (GALLO et al., 2002). Phthori- maea operculella é uma mariposa de cor acinzentada, medindo de 10 a 12 mm de enver- gadura. A fêmea pode colocar em média 300 ovos nas folhas, em campo ou em depósi- tos dos produtos. Após a eclosão, as lagartas penetram nas folhas e frutos, minando-os. Sua coloração é branca, com o dorso ligeiramente rosado; e com manchas escuras na cabeça, no protórax e no penúltimo segmento abdominal (GALLO et al., 2002). Prejuízos – Tuta absoluta ataca toda a planta, em qualquer estádio de desenvolvimento. Essa praga abre galerias nas folhas, ramos e gemas apicais, onde destroem brotações novas. Atacam também os frutos, depreciando-os comercialmente. Phthorimaea operculella abre galerias superficiais nos frutos, atacando o pedúnculo, principalmente no período de maturação (GALLO et al., 2002). 3.2.2 Mosca-minadora Descrição – Os adultos da mosca-minadora (Liriomyza spp.) são pequenas moscas de cor preta, com a região inferior do abdome amarela, medindo cerca de 2 mm de comprimento. As larvas são ápodas, com 1mm de comprimento e coloração branco- amarelada (PICANÇO, 2010) Prejuízos – As larvas confeccionam minas serpenteadas no mesófilo foliar, provocando o secamento e a queda das folhas (PICANÇO, 2010). 3.2.3 Mosca-branca Descrição – A mosca branca (Bemisia tabaci) possui dois biótipos: a e B (ou Bemisia argentifolii). São insetos pequenos, medindo cerca de 1 mm de comprimento e possuem quatro asas membranosas recobertas poruma pulverulência branca. Cada fêmea coloca em média 110 (B. tabaci) ou 300 ovos (B. argentifolii), os quais são 156 depositados na face inferior das folhas, ficando presos por um pequeno pedúnculo. Após a eclosão, as ninfas passam a sugar as folhas, fixando-se posteriormente aos tecidos, como cochonilhas (GALLO et al., 2002). Prejuízos – Causam danos diretos e indiretos. Diretamente, a sucção da seiva favorece o desenvolvimento da fumagina, provocando um amadurecimento irregular dos frutos, deixando-os com aspecto esponjoso, o que afeta a qualidade do tomate para a indústria. Os danos indiretos decorrem da transmissão do vírus do grupo geminivírus, que provoca nanismo acentuado, enrugamento severo das folhas terminais e amarelecimento completo da planta (GALLO et al., 2002). 3.2.4 Tripes Descrição – Há duas espécies mais comuns (Frankliniella schultzei e Thrips palmi). Os adultos de F. schultzei possuem coloração variável, medindo de 1 a 3 mm de comprimento, reconhecíveis por lentes de aumento por apresentarem asas franjadas. Vivem nas folhas, causando dobramento das bordas para cima, provocando estrias brancas ou prateadas. Os adultos de T. palmi medem 1 mm de comprimento e possuem coloração amarelada. As ninfas são ápteras e de coloração amarelada. Tanto os adultos quanto as ninfas vivem na face inferior das folhas (GALLO et al., 2002). Prejuízos – Ao sugar a seiva de plantas doentes, os tripes (F. schultzei) se tornam vetores de doenças com o “vira-cabeça” do tomateiro. Ao se locomoverem pelos cultivos, inoculam a doença em plantas sadias. As plantas atacadas apresentam inicialmente folhas bronzeadas e, posteriormente, estrias escuras no caule, além de manchas amareladas nos frutos verdes. Os sintomas culminam no encurvamento das extremidades dos ponteiros. Dependendo da época e infestação da praga, toda a produção pode ser comprometida. Em relação a T. palmi, há um prateamento da folha da berinjela e deformação dos frutos, os quais apresentam a casca rugosa e áspera (GALLO et al., 2002). 3.2.5 Pulgão-verde Descrição – (ver em algodoeiro). Prejuízos – Os adultos de Myzus persicae atacam as folhas e ramos jovens, sugando a seiva. Como consequências, provocam o enrolamento e engruvinhamento das folhas. Indiretamente, transmitem doenças (mosaicos) como o “vírus Y”, “topo amarelo” e “amarelo baixeiro”. Essa espécie encontra melhores condições de desenvolvimento em pimentão e pimenta (GALLO et al., 2002). 157 3.3 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM BATATA A cultura da batata apresenta como pragas-chave, a vaquinha, os pulgões, a traça- da-batata e a mosca-minadora (PICANÇO, 2010). A seguir, falaremos sobre cada uma delas. 3.3.1 Vaquinha Descrição – (ver em feijoeiro) Prejuízos – Também conhecida como larva-arame, essa praga ataca os tubérculos, reduzindo o peso destes e propiciando a entrada de fungos e bactérias (PICANÇO, 2010). 3.3.2 Pulgões Descrição – Há duas espécies importantes: Macrosiphum euphorbiae e Myzus persicae (ver em algodoeiro). Os adultos de M. euphorbiae medem de três a quatro mm de comprimento. Apresentam coloração esverdeada, com cabeça e tórax amarelados e antenas escuras. Os pulgões desenvolvem-se em cerca de 10 dias, sendo a reprodução partenogênicas, sem a necessidade da presença do macho. São gerados cerca de 80 indivíduos por fêmea (GALLO et al., 2002). Prejuízos – Além dos danos provocados pela sucção da seiva, essas pragas dis- seminam viroses, como o vírus Y (PVY), mosaico A (mosaico leve) e, principalmente, o ví- rus do enrolamento das folhas (degenerescência da batata semente) (GALLO et al., 2002). 3.3.3 Traça-da-batata Descrição – O adulto da traça-da-batata (P. operculella) é uma mariposa de coloração cinzenta, medindo cerca de 10 a 12 mm de envergadura. As asas anteriores são de cor cinza mais escuras em relação às posteriores e com manchas pretas irregulares. Cada fêmea coloca, em média, 300 ovos, tanto nas folhas quanto nos tubérculos, no campo ou em depósitos. Após a eclosão, as lagartas fazem minas nas folhas. Estas possuem cerca de 12 mm de comprimento; são de coloração branca, com a parte dorsal ligeiramente rosada; e a cabeça, o protórax e o penúltimo segmento do abdome com manchas escuras (GALLO et al., 2002). Prejuízos – Trata-se de uma praga bastante prejudicial à batata. Inicialmente, atacam as folhas e, quando estas secam, migram para os tubérculos onde abrem galerias, podendo destruí-los completamente. Seus danos continuam após o transporte dos tubérculos aos depósitos de beneficiamento, onde a praga continua se desenvolvendo (GALLO et al., 2002). 158 3.3.4 Mosca-minadora Descrição – Ver em pragas do tomate, berinjela e pimentão. Prejuízos – Como o nome sugere, a mosca-minadora (Lyriomyza spp.) faz minas nas folhas, provocando seu secamento. Os ataques são mais comuns em épocas de seca (GALLO et al., 2002). 3.4. MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM CENOURA A principal praga da cultura da cenoura é o pulgão-da-cenoura (PICANÇO, 2010). A seguir, falaremos sobre esta praga. 3.4.1 Pulgão-da-cenoura Descrição – Os adultos do pulgão-da-cenoura (Cavariella aegopodii) são ovalados, medindo 2 mm de comprimento, possuindo dois sifúnculos ao final do abdome. Geralmente, são encontrados em colônias. As formas ápteras apresentam coloração verde, com sifúnculos dilatados. Já os insetos alados têm cor verde escura, com antenas curtas (PICANÇO, 2010). Prejuízos – Essa praga suga a seiva, provocando o definhamento das folhas e reduzindo o crescimento das plantas (PICANÇO, 2010). 3.5 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM MORANGO A cultura do morangueiro tem como principal praga, o ácaro-rajado (PICANÇO, 2010). A seguir, falaremos sobre ele. 3.5.1 Ácaro-rajado Descrição – Os adultos do ácaro-rajado (Tetranychus urticae) apresentam cor esverdeada, com manchas dorsais escuras e medem cerca de 0,5 mm. Essa praga vive em colônias na face inferior das folhas, onde se observa a presença abundante de teias (PICANÇO, 2010). Prejuízo – Atacam a região abaxial das folhas, sugando o líquido citoplasmático e tornando-as cloróticas. Os danos provocam uma queda drástica na produção da cultura (GALLO et al., 2002). 159 3.6 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM BRÁSSICAS São consideradas pragas-chaves em brássicas, os seguintes insetos: pulgão- -das-brássicas, traça-das-brássicas, curuquerê-da-couve, falsa-medideira-das brás- sicas e mosca-branca (PICANÇO, 2010). Falaremos sobre cada uma delas a seguir. 3.6.1 Pulgão-das-brássicas Descrição – O pulgão-das-brássicas (Brevicoryne brassicae) pode apresentar duas formas: alada e áptera. A forma alada mede cerca de 2 mm de comprimento, pos- suindo coloração verde, com a cabeça e tórax pretos e o abdome verde, com manchas escuras no dorso. Os sifúnculos são curtos e pretos, a codícola também é preta. A for- ma áptera também é esverdeada, mas com o corpo recoberto por uma camada cerosa branca. Geralmente, formam grandes colônias nas folhas (GALLO et al., 2002). Prejuízos – Os danos são provenientes da sucção de seiva, causando o engru- vinhamento das folhas, prejudicando o desenvolvimento da planta (GALLO et al., 2002). 3.6.2 Traça-das-brássicas Descrição – A traça-das-brássicas (Plutella xylostella) é uma mariposa de coloração parda, medindo aproximadamente 10 mm de comprimento. Possui manchas claras no dorso, as quais assumem o formato de um diamante quando fechadas (PICANÇO, 2010). As fêmeas depositam os ovos na face inferior das olhas, isolados ou em grupos de dois ou três. A eclosão ocorre após três ou quatro dias da postura. As lagartas possuem coloração verde-clara, com a cabeça parda e sobre o corpo há pequenos pelos escuros e esparsos. Inicialmente, penetram nas folhas, se alimentando do parênquima e da epiderme destas. Posteriormente, mais desenvolvidas, passam a atacar a epiderme foliar (GALLO et al., 2002). Prejuízos – Destroem a face externa ou interna das folhas, inutilizando-as para consumo (GALLO et al., 2002). 3.6.3Curuquerê-da-couve Descrição – O adulto do curuquerê-da-couve (Ascia monuste orseis) é uma borboleta com asas de coloração branco-amarelada e bordos marrom-escuro, medindo 50 mm de envergadura. A fêmea deposita os ovos na face inferior das folhas em grupos separados, os quais ficam eretos no sentido de seu maior eixo (GALLO et al., 2002). As lagartas desenvolvidas medem cerca de 35 mm de comprimento, sendo de coloração cinza-esverdeada, com cabeça preta e listras longitudinais esverdeadas (PICANÇO, 2010). 160 Prejuízos – Após a eclosão, as lagartas atacam as folhas, danificando quase toda a folhagem, dizimando as plantações (GALLO et al., 2002). 3.6.4 Falsa-medideira-das-brássicas Descrição -Também conhecida como lagarta-mede-palmo, a falsa-medideira- das-brássicas (Trichoplusia ni) é uma mariposa de 25 mm de envergadura. A sua cor é parda, apresentando na asa anterior uma mancha branco-prateada. As lagartas são verdes, medem palmo e atingem até 30 mm de comprimento (GALLO et al., 2002). Prejuízos – Atacam as folhas das brássicas, fazendo orifícios e inutilizando-as (GALLO et al., 2002). 3.6.5 Mosca-branca Descrição – Ver em pragas do tomate, berinjela e pimentão. Prejuízos – Sugam a seiva das folhas, favorecendo o aparecimento de fumagina. Em brócolis, causam a doença do talo branco (GALLO et al., 2002). 3.7 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM CUCURBITÁCEAS As cucurbitáceas têm como principais pragas, a broca-das-cucurbitáceas e a mosca-branca (PICANÇO, 2010). A seguir, falaremos sobre elas. 3.7.1 Brocas-das-cucurbitáceas Descrição – Há duas espécies (Diaphania nitidalis e Diaphania hyalinata). Os adultos de D. nitidalis são mariposas de 30 mm de envergadura e 15 mm de comprimento. Apresentam coloração marrom-violácea e asas com área central amarela e bordas escuras irregulares. As fêmeas fazem a postura nas folhas, ramos, flores ou frutos, e suas lagartas, que são esverdeadas, atingem 20 mm de comprimento. Tais lagartas se alimentam de qualquer parte da planta, preferindo os frutos (GALLO et al., 2002). Diaphania hyalinata tem as mesmas características da espécie anterior (hábito e ocorrência), diferendo apenas a coloração das asas dos adultos, as quais são brancas, semitransparentes e com uma faixa escura e retilínea nas bordas (PICANÇO, 2010). Prejuízos – Atacam folhas, brotações, ramos e, sobretudos, os frutos. Os brotos novos atacados e os ramos ficam com as folhas secas. Nos frutos, abrem galerias e destroem a polpa, dando origem a podridões, inutilizando-os comercialmente (GALLO et al., 2002). 161 3.7.2 Mosca-branca Descrição – Ver em pragas do tomate, berinjela e pimentão. Prejuízos – A mosca-branca (B. tabaci) suga a seiva das folhas, atrasando o desenvolvimento das plantas e favorecendo o aparecimento de fumagina. Em abóbora, causa o prateamento das folhas (GALLO et al., 2002). 3.8 AMOSTRAGEM E TOMADA DE DECISÃO NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM HORTALIÇAS Em hortaliças, a amostragem é realizada dividindo-se as lavouras em talhões. Cada talhão deve conter uma única cultura, genótipo, idade e sistema de cultivo. A partir disso, amostram-se 40 plantas em 10 pontos aleatórios no talhão (PICANÇO, 2010). É importante realizar amostragens semanais, verificando-se os órgãos infestados. A amostragem de pragas desfolhadoras deve ser feita avaliando-se o terço- médio dossel, em culturas de maior porte. Em olerícolas de pequeno porte, é necessário avaliar todas as folhas. As folhas, devem ser batidas em bandejas plásticas brancas (34 x 28 x 4,5 cm), contando-se os insetos que caírem. Tratando-se de insetos minadores, deve-se anotar a presença de minas nas folhas. Para ácaros, deve-se utilizar lupa de mão com aumento de 10 x, avaliando-se 1 cm² de limbo foliar no terço-médio da parte abaxial das folhas (PICANÇO, 2010). Em relação a brocas do caule, durante a amostragem, é necessário anotar se este está atacado. Já para pragas de flores e frutos, deverão ser amostrados cinco destes órgãos por planta, sempre verificando se estão atacados. Deve-se amostrar frutos em estágio inicial de desenvolvimento. Excepcionalmente, a amostragem de moscas-das-frutas em cucurbitáceas é feita mediante o uso de armadilhas tipo McPhail (PICANÇO, 2010). Os dados oriundos das avaliações devem ser registrados em planilha e comparados aos níveis de controle (Tabela 13). A tabela a seguir apresenta níveis de controle para diferentes grupos de pragas em hortaliças (PICANÇO, 2010). Tabela 13 – Níveis de controle para diferentes grupos de pragas em hortaliças. Grupos de pragas Nível de controle Desfolhadores 10% de desfolha Minadores de folhas 10% de desfolha Sugadores 1 inseto/amostra Ácaros 10% de folhas atacadas 162 Pragas de flores 5% de flores atacadas Pragas de frutos (exceto mosca-das-frutas) 4% dos frutos atacados Mosca-das-frutas em cucurbitáceas 1 adulto/armadilha/semana Fonte: adaptada de Picanço (2010) 3.9 TÉCNICAS DE CONTROLE NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM HORTALIÇAS Existem diversas técnicas que podem ser adotadas visando ao manejo integrado de pragas de hortaliças. Essas práticas baseiam-se, principalmente, no uso de estratégias como: manipulação do ambiente de cultivo, bem como o uso dos controles mecânico, comportamental, biológico e químico (PICANÇO, 2010). 3.9.1 Manipulação do ambiente de cultivo Também chamado de controle cultural, a manipulação do ambiente de cultivo em hortaliças pode ser realizada do seguinte modo, de acordo com Picanço (2010): a) Seleção de locais para implantação do cultivo: • deve-se evitar cultivos próximos a espécies de plantas hospedeiras das mesmas pragas; • é recomendável, quando possível, instalar os cultivos próximo a matas, uma vez que estas possuem ninhos de vespidae, importantes predadores de lagartas; • evitar locais próximos a estradas em períodos de seca, uma vez que pode haver o acúmulo de poeira nas folhas, fornecendo abrigo para a oviposição de ácaros fitófagos. b) Eliminação de restos culturais e de cultivos abandonados • É importante incorporar os restos culturais, a pelo menos 20 cm de profundidade. Em cultivos hidropônicos ou canteiros suspensos, os restos culturais devem ser transferidos para outro local e incorporados ao solo. • Faz-se necessário realizar a destruição de plantios hortícolas abandonados, para que não se tornem focos de disseminação de pragas. • A catação de flores e frutos caídos é outra prática importante, que tem a finalidade de eliminar larvas e pupas que se encontram no interior destas estruturas. Por meio desse manejo, é possível diminuir futuras infestações de pragas como, moscas- das-frutas e brocas em cucurbitáceas e traças e brocas em tomateiro. 163 c) Aumento da diversidade de plantas hospedeiras • O plantio alternado de culturas (rotação de culturas) que não sejam hospedeiras das mes- mas pragas, aumenta a diversidade no local e reduz as populações de pragas-chave. • Pode-se adotar plantios em faixas de cultivo ao redor dos talhões de hortaliças, utilizando-se plantas de intensa floração como crotalária, sorgo ou milho, para atrair inimigos naturais, aumentando o controle Biológico natural. d) Época de cultivo Em cultivos de subsistência, recomenda-se o plantio em épocas de menor ocorrência de pragas. No cultivo de hortaliças, contudo, não é possível adotar tal procedimento. Por se tratar de sistemas que visam um alto retorno econômico, os produtores acabam por escolher épocas em que os preços dos produtos são mais atrativos. O problema é que, na maioria das vezes, tais épocas coincidem com a máxima ocorrência de pragas. Assim, se em dada época de cultivo, o produtor espera uma elevada intensidade de ataque de pragas, ele deve ser extremamente cuidadoso, executando práticas adequadas de manejo (PICANÇO, 2020). Uma das práticas mais importantes é a amostragem, que deve ser feita de forma precisa, no sentido de detectar a ocorrência de populações de pragas em níveis que demandem a adoção de medidas de controle,principalmente o químico (PICANÇO, 2020). e) Densidade de plantio: Maiores densidades de plantio favorecem o aumento da umidade do ar, provocando a mortalidade de pragas devido a ação de fungos entomopatogênicos. Por outro lado, essa prática pode dificultar a aplicação de inseticidas e acaricidas, reduzindo sua cobertura nos órgãos-alvo. Deve-se, portanto, avaliar caso a caso (PICANÇO, 2010). f) Redução do período de cultivo O cultivo em tempo reduzido diminui a exposição das culturas às pragas. Pode-se fazer uso de variedades mais precoces ou de técnicas como a poda apical do tomateiro (PICANÇO, 2010). g) Manejo da nutrição da cultura: Plantas nutricionalmente equilibradas são menos suscetíveis a danos provocados por pragas, ao passo que excessos ou deficiências podem ser prejudiciais. Por exemplo, adubação nitrogenada em excesso favorece o aumento de ácaros e insetos minadores (mosca-minadora e traças) e sugadores (tripes, pulgões, moscas- brancas e cigarrinhas). Tal fato decorre da maior concentração de nutrientes na seiva, principalmente de aminoácidos livres (PICANÇO, 2010). 164 O excesso de adubação também pode contribuir para o aumento do tamanho das plantas, dificultando a aplicação de inseticidas e acaricidas. É possível, também, que ocorra o prolongamento do período vegetativo, reduzindo as defesas morfológicas das plantas (como espessura da epiderme e cutícula), tornando-as suscetíveis ao ataque de pragas desfolhadoras, como vaquinhas e lagartas (PICANÇO, 2010). 3.9.2 Controle Mecânico No MIP de hortaliças, o controle mecânico baseia-se, sobretudo, na coleta manual e destruição de ovos, larvas e ninfas ou formas adultas facilmente visíveis, a exemplo de pulgões, ovos de curuquerê em brássicas e lagartas de hortaliças em geral (PICANÇO, 2010). 3.9.3 Controle por comportamento No Brasil, existem feromônios registrados para uso no MIP de pragas de hortaliças, como os sexuais da traça do tomateiro, broca-pequena-do-tomate, broca- gigante-do-tomate e traça-das-brássicas (PICANÇO, 2010). 3.9.4 Controle Biológico No MIP de hortaliças faz-se necessário o uso de práticas que contribuam para a preservação e incremento do controle biológico natural, tais como (PICANÇO, 2010): • Uso defensivos seletivos, promovendo o aumento da diversidade dos agroecossistemas. • Aplicação de defensivos em horários de baixa temperatura do ar (esses períodos coincidem com a menor presença de inimigos naturais) e apenas quando a intensidade de ataque da praga for igual ou superior ao nível de controle. • Evitar uso indiscriminado de fungicidas, já que muitos destes apresentam efeito "deletério" sobre fungos entomopatogênicos. • Utilizar B. thuringiensis var. kurstaki para o controle de lagartas nas culturas de couve, melão, pepino e tomateiro. O uso desta bactéria apresenta uma série de vantagens, como a preservação do controle biológico natural e baixíssima toxidade ao homem. Por outro lado, é de ação lenta, dificultando assim, o controle de altas infestações de pragas. Também é baixa a eficiência no controle de lagartas em instares finais, ou quando estas se encontram alojadas no interior de órgãos das plantas como folhas, caule e frutos. 165 3.9.5 Controle Químico Deve-se selecionar produtos com registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e liberação do uso pelo órgão estadual competente. É recomendável que as aplicações sejam realizadas em períodos de temperatura mais amena. Quando possível, deve-se optar por defensivos de baixa toxidade ao homem, reduzindo os riscos de intoxicação dos aplicadores. Também é importante respeitar o período de carência dos produtos, preservando-se dessa forma a saúde dos consumidores. O uso de inseticidas e acaricidas deve ser feito em conjunto com outras táticas de manejo integrado, como a amostragem da intensidade de ataque de pragas às culturas, devendo-se optar por esse tipo de controle em último caso, ou seja, quando a densidade das pragas for igual ou superior aos níveis de controle (PICANÇO, 2010). 4 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DE FRUTÍFERAS Neste momento, apresentaremos as principais pragas que ocorrem em frutíferas cultivadas no Brasil. Serão descritas as características e as injúrias provocadas pelas pragas das seguintes culturas: abacateiro, abacaxi, bananeira, citros, coqueiro, goiabeira, mamoeiro, mangueira, videira e maracujazeiro. Também serão descritos os componentes do MIP (diagnose, sistema de tomada de decisão e os métodos de controle) comumente adotados. 4.1 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS NO ABACATEIRO A cultura do abacateiro tem como praga-chave a broca-do-fruto (PICANÇO, 2010). A seguir, falaremos sobre suas características. 4.1.1 Broca-do-fruto Descrição – A broca-do-fruto (Stenoma catenifer) é uma mariposa que mede cerca de 15 mm de envergadura. Possui manchas escuras no tórax e asas de coloração amarelo-palha, com pontuações pretas na borda exterior (GALLO et al., 2002). Os ovos são branco-esverdeados, tem forma oblonga e apresentam estrias longitudinais, medindo creca de 0,5 mm de comprimento. As lagartas recém eclodidas são branco- acinzentadas, com a cabeça escura, e chegam a medir até 20 mm (PICANÇO, 2010). Prejuízos – Destroem a polpa dos frutos pequenos, e quando atingem as sementes, eles geralmente caem (GALLO et al., 2002). 166 4.2 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS NO ABACAXI As principais pragas da cultura do abacaxi são a broca-do-fruto e a cochonilha- pulverulenta (PICANÇO, 2010). A seguir, falaremos sobre elas. 4.2.1 Broca-do-fruto Descrição – A broca-do-fruto (Strymon megarus) é uma borboleta que possui asas anteriores de cor cinza-brilhante, apresentando nos bordos uma faixa escura acompanhada de uma franja branca (GALLO et al., 2002). O segundo par de asas apresenta manchas laranjas na margem externa e um par de apêndices filamentosos, com extremidades brancas. Os ovos são colocados sobre as escamas da inflorescência, antes ou depois da abertura das flores (PICANÇO, 2020) Após a eclosão, as lagartas penetram no ponto de formação, rompendo o parênquima e provocando a exsudação de um material resinoso, inicialmente incolor, mas que, em contato com o ar, passa a ter uma cor marrom. Essas substâncias são observadas na parte externa ou interna do fruto broqueado. A “resinose” provocada pela lagarta no fruto é diferente da “gomose” provocada pelo fungo, uma vez que a resinose se forma entre os frutilhos, já a gomose, no centro deles (GALLO et al., 2002). Prejuízos – A lagarta abre galerias no interior do fruto. Essas galerias ficam cheias de resina, que altera o cheiro e sabor do fruto. Como consequência, o abacaxi perde o valor comercial. Muitos frutos atacados podem, ainda, apresentar deformações (GALLO et al., 2002). 4.2.2 Cochonilha-pulverulenta Descrição – A fêmea adulta da cochonilha-pulverulenta (Dysmicoccus brevipes) tem formato ovalado e possui uma coloração rosada, sendo recoberta por uma secreção pulverulenta de cera branca e possuindo filamentos ao redor do corpo (PICANÇO, 2010). Medem cerca de 3 mm de comprimento e sem a secreção cerosa, aproximadamente 1 mm. O macho, com exceção do primeiro instar, difere da fêmea, sendo menor, alado e possuindo o corpo distinto em cabeça, tórax e abdome, com um par de filamentos caudais longos e brancos (PICANÇO, 2010). Essas cochonilhas são encontradas nos frutos, axilas das folhas e raízes do abacaxi (GALLO et al., 2002). Prejuízos – É tida como a praga mais importante da cultura, pois ao sugar a seiva da planta, injeta uma toxina responsável pelo sintoma conhecido como “murcha do abacaxi”. A praga costuma colonizar as raízes e axilas das folhas, podendo ser encontrada nos frutos e rebentos, sugando a seiva. Essas cochonilhas vivem em simbiose, com as formigas, especialmente a lava-pé (GALLO et al., 2002). 167 4.3 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS NA BANANEIRA A broca-da-bananeira ou moleque-da-bananeira, a broca-gigante-da- bananeira e os tripes da erupção e ferrugemdos frutos são as principais pragas da cultura (PICANÇO, 2010). A seguir, falaremos sobre estas pragas. 4.3.1 Broca-da-bananeira Descrição – A broca-da-bananeira (Cosmopolites sordidus), vulgarmente conhecida por “moleque-da-bananeira” é um inseto amplamente distribuído por todas as regiões do Brasil (GALLO et al., 2002). Trata-se de um besouro pequeno, de coloração preta, élitros estriados longitudinalmente, rostro semelhante a um "bico" e que tem o hábito de fingir-se de morto quando capturado. É ativo apenas à noite e, durante o dia, costuma se abrigar em locais úmidos e sombreados junto às touceiras, entre as bainhas foliares ou em restos culturais (PICANÇO, 2010) Prejuízos – As larvas costumam abrir galerias no rizoma e em partes inferiores do pseudocaule. Tais orifícios são porta de entrada para o agente causal do "Mal- do-Panamá”. Em decorrência das injúrias, as folhas ficam amareladas e secam, já os brotos morrem devido à destruição da gema apical. Os frutos perdem tamanho e peso; ocorrendo também o tombamento das plantas, devido à ação dos ventos e ao peso dos cachos (PICANÇO, 2010). Estima-se que uma bananeira com cerca de 12 larvas sofre perda quase total, sendo comuns quedas de 20 a 50% na produção em locais infestados pela praga (GALLO et al., 2002). 4.3.2 Broca-gigante-da-bananeira Descrição – Ver em pragas da cana-de-açúcar. Prejuízos – Abre galerias no interior do pseudocaule, comprometendo severamente a planta e consequentemente a produção, devido ao tombamento e morte (AMBIENTE BRASIL, 2022). 4.3.3 Tripes da erupção dos frutos Descrição – Os tripes da erupção dos frutos (Frankniliella ssp.) apresentam coloração branca ou amarelo-clara quando jovens, e marrom-escura quando adultos. Podem ser encontrados nas flores jovens da bananeira que estão abertas, ou alojados nas brácteas e frutos jovens. O ciclo de desenvolvimento dessa praga varia entre 13 e 29 dias. Quando pupa, preferencialmente se aloja no solo, abaixo do cacho de bananas (PORTAL AGROPECUÁRIO, 2022). 168 Prejuízos – Inicialmente surgem pequenas erupções marrom-escuras nos pontos de oviposição da praga, que chegam ser ásperas ao tato. Em grandes infestações, a casca dos frutos pode ficar totalmente escura devido ao grande número de erupções. Observa-se um ponto escuro no centro da erupção circundado por um anel verde- escuro que desaparece quando o fruto amadurece. A oviposição pode ocorrer nos brotos ou nas bordas das bainhas, e após a eclosão, as larvas se dirigem aos frutos, onde se alimentam (MANEJE BEM, 2022). 4.3.4 Tripes ferrugem dos frutos Descrição – Há duas espécies principais (Caliothrips bicinctus e Tryphactothrips lineatus). Os adultos medem até 1,2 mm de comprimento, possuindo coloração amarron- zada. Se alojam nas inflorescências entre as brácteas do coração e entre os frutos. Com o ataque dessas pragas, as bananas adquirem coloração marrom-avermelhada, lembrando a ferrugem, por isso recebem esse nome (PORTAL AGROPECUÁRIO, 2022). Prejuízos – Larvas e adultos alimentam-se da seiva da casca dos frutos, provocando os sinais típicos do ataque do inseto. Inicialmente, surgem pequenas manchas enegrecidas ou vermelho-esbranquiçadas. Em frutos com 32 mm de diâmetro, a epiderme perde o brilho no local atacado. Posteriormente, surgem manchas de coloração castanha-avermelhada, que observadas sob lupa, mostram-se com pequenas rachaduras na epiderme. As rachaduras são decorrentes da perda de elasticidade da epiderme, a qual não acompanha o crescimento do fruto, ocorrendo, em casos de infestação, severa e em frutos mais desenvolvidos, o fendilhamento da casca (AGROLINK, 2022). 4.4 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM CITROS São pragas-chave em citros as moscas-das-frutas, a larva-minadora-dos- citros, o bicho-furão, o ácaro-da-ferrugem e o ácaro-da-leprose (PICANÇO, 2010). A seguir, falaremos sobre cada uma delas. 4.4.1 Moscas-das-frutas Descrição – Há três espécies de mosca-das-frutas de grande relevância para os citros (Ceratitis capitata, Anastrepha fraterculus e Anastrepha obliqua) (GALLO et al., 2002). Ceratitis capitata, conhecida por “mosca-do-mediterrâneo”, é a mais importante das três espécies citadas. O adulto é uma mosca que mede de 4 a 5 mm de comprimento por 10 a 12 mm de envergadura, apresentando coloração predominantemente amarela. Os olhos são castanhos violáceos. O tórax é preto na face superior, com desenhos simétricos brancos. O abdome é amarelo com listras transversais acinzentadas. As asas têm uma transparência rosada em listras amarelas, sombreadas (GALLO et al., 2002). 169 Após o acasalamento, a fêmea procura frutos próximos à maturação e quando os localiza procura o melhor local para oviposição. Encontrado o local, introduz o ovipositor por meio da casca no mesocarpo. Após isso, faz um movimento para alargar o orifício, a fim de inserir uma câmara, onde coloca de 1 a 10 ovos, dependendo do fruto. Os ovos passam por um período de incubação (2 a 6 dias) (GALLO et al., 2002). Após a eclosão, as larvas entram no endocarpo, ou polpa, abrindo galerias em direção ao centro. Quando completamente desenvolvidas, medem oito mm de comprimento, sendo de coloração branco-amarelada, afilada na parte anterior, truncada e arredondada na posterior. Quando retiradas de seu ambiente, dobram o corpo e saltam. Após o período larval, as larvas abandonam o fruto e caem no solo, onde se transformam em pupa, e após 10 a 12 dias emergem os adultos, retomando-se o ciclo. Uma fêmea de mosca-das-frutas pode viver até 10 meses, colocando nesse período cerca de 800 ovos (GALLO et al., 2002). As espécies A. fraterculus e A. obliqua são similares externamente. O adulto mede aproximadamente 6,5 mm de comprimento, de coloração predominantemente amarela e uma mancha em formato de S que vai da base à extremidade da asa. No bordo posterior da asa e junto desta, há sombreadas de preto. A separação das duas espécies é feita examinando-se o ápice do ovipositor da fêmea. A biologia é semelhante à de C. capitata (GALLO et al., 2002). Prejuízos – As larvas danificam a polpa dos frutos, que apresentam um pequeno orifício externo, envolvido por uma mancha de coloração marrom. Neste orifício (feito pelo ovipositor), há o apodrecimento, que resulta na queda do fruto. C. capitata dispõe de um ovipositor mais curto, atacando somente as laranjas que se encontram num estágio de maturação mais avançado. Já as moscas do gênero Anastrepha, por ter um ovipositor mais longo, conseguem atacar frutos em qualquer estágio (PICANÇO, 2010). 4.4.2 Larva-minadora-dos-citros Descrição – A larva-minadora-dos-citros (Phyllocnistis citrella) é uma peque- na mariposa de coloração castanho-prateada, medindo cerca de 1 mm de comprimento. Possui asas franjadas, com pontuações pretas no bordo das asas anteriores. A larva apre- senta coloração variada, sendo branca no início do desenvolvimento e se tornando ama- rela ao final, quando atinge aproximadamente três mm de comprimento (PICANÇO, 2010). Prejuízos – Atacam principalmente as folhas mais novas, abrindo minas típicas de cor prateada, tornando as folhas mais retorcidas e secas. Em decorrência do ataque há redução da fotossíntese e, consequentemente, do crescimento e desenvolvimento das brotações e produtividade da planta. O principal problema, contudo, é o favorecimento à disseminação do cancro cítrico causado pela bactéria Xanthomonas axonopodis pv. Citri, que se aproveita das lesões provocadas pela larva-minadora (GALLO et al., 2002). 170 4.4.3 Bicho-furão Descrição – O bicho-furão (Gymnadrosona aurantianum) é uma mariposa com cerca de 17 mm de envergadura, coloração marrom-escura, com a cabeça alaranjada. A fêmea possui as asas mais escuras que o macho, com uma mancha característica marrom-clara ao redor da margem exterior (PICANÇO, 2010). A postura é feita nos frutos, sendo 1 ovo por fruto. Após alguns dias nascem as lagartas que atacam frutas maduras ou verdes, abrindo galerias internas e alimentando-se das.................................................................................................................................... 157 3.3.2 Pulgões ..................................................................................................................................... 157 3.3.3 Traça-da-batata ..................................................................................................................... 157 3.3.4 Mosca-minadora ....................................................................................................................158 3.4. MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM CENOURA...................................................................158 3.4.1 Pulgão-da-cenoura ................................................................................................................158 3.5 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM MORANGO ...................................................................158 3.5.1 Ácaro-rajado .............................................................................................................................158 3.6 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM BRÁSSICAS ................................................................ 159 3.6.1 Pulgão-das-brássicas ............................................................................................................ 159 3.6.2 Traça-das-brássicas .............................................................................................................. 159 3.6.3 Curuquerê-da-couve ............................................................................................................ 159 3.6.4 Falsa-medideira-das-brássicas .........................................................................................160 3.6.5 Mosca-branca .........................................................................................................................160 3.7 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM CUCURBITÁCEAS ......................................................160 3.7.1 Brocas-das-cucurbitáceas....................................................................................................160 3.7.2 Mosca-branca ...........................................................................................................................161 3.8 AMOSTRAGEM E TOMADA DE DECISÃO NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM HORTALIÇAS ................................................................................................................................161 3.9 TÉCNICAS DE CONTROLE NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM HORTALIÇAS ....... 162 3.9.1 Manipulação do ambiente de cultivo .................................................................................. 162 3.9.2 Controle Mecânico ..................................................................................................................164 3.9.3 Controle por comportamento ..............................................................................................164 3.9.4 Controle Biológico .................................................................................................................164 3.9.5 Controle Químico .................................................................................................................... 165 4 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DE FRUTÍFERAS ....................................................165 4.1 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS NO ABACATEIRO ............................................................... 165 4.1.1 Broca-do-fruto ......................................................................................................................... 165 4.2 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS NO ABACAXI ...................................................................... 166 4.2.1 Broca-do-fruto ........................................................................................................................ 166 4.2.2 Cochonilha-pulverulenta ...................................................................................................... 166 4.3 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS NA BANANEIRA .................................................................167 4.3.1 Broca-da-bananeira ................................................................................................................167 4.3.2 Broca-gigante-da-bananeira...............................................................................................167 4.3.3 Tripes da erupção dos frutos ................................................................................................167 4.3.4 Tripes ferrugem dos frutos...................................................................................................168 4.4 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM CITROS ........................................................................168 4.4.1 Moscas-das-frutas .................................................................................................................168 4.4.2 Larva-minadora-dos-citros ................................................................................................. 169 4.4.3 Bicho-furão .............................................................................................................................. 170 4.4.4 Ácaro-da-ferrugem ............................................................................................................... 170 4.4.5 Ácaro-da-leprose .................................................................................................................. 170 4.5 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS NO COQUEIRO ................................................................... 171 4.5.1 Broca-do-pecíolo ..................................................................................................................... 171 4.5.2 Broca-do-pedúnculo-floral ................................................................................................. 171 4.5.3 Broca-do-olho-do-coqueiro ............................................................................................... 172 4.6 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS NA GOIABEIRA .................................................................. 172 4.6.1 Mosca-das-frutas ................................................................................................................... 172 4.6.2 Gorgulho-da-goiaba ............................................................................................................. 172 4.6.3 Psilídeo ...................................................................................................................................... 173 4.7 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS NO MAMOEIRO .................................................................. 173 4.7.1 Ácaro-branco ............................................................................................................................ 173 4.7.2 Ácaro-rajado ............................................................................................................................ 174 4.7.3 Ácaro-plano .............................................................................................................................. 174 4.8 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM MANGUEIRA ............................................................... 174 4.8.1 Moscas-das-frutas ................................................................................................................. 174 4.9 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM VIDEIRA ....................................................................... 174 4.9.1 Filoxera-da-videira .................................................................................................................. 175 4.10 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS NO MARACUJAZEIRO ................................................... 175 4.10.1 Lagartas-desfolhadoras ....................................................................................................... 175 4.10.2 Percevejos ...............................................................................................................................176polpas (GALLO et al., 2002). Prejuízos – O ataque provoca a perda total do fruto, que cai e apodrece. A diferença do ataque do bicho-furão comparado ao da mosca-das-frutas são os excrementos (e restos de alimentação) lançados pelo primeiro para fora da casca. Esses excrementos endurecem e ficam grudados ao local de penetração, na casca. Esse local fica endurecido, diferenciando-se do ataque por mosca-das-frutas, cujo orifício de penetração fica mole e se apertado o fruto, dele sairá um líquido (GALLO et al., 2002). 4.4.4 Ácaro-da-ferrugem Descrição – O ácaro da ferrugem (Phyllocoptruta oleivora) tem aspecto vermiforme, de tamanho muito reduzido, medindo 0,15 mm de comprimento. Possuem apenas dois pares de pernas. Para observá-lo é necessária uma lupa de aumento (se parecem com uma pequena vírgula, de coloração amarela). Essa praga é favorecida pelo aumento da umidade do ar, que coincide com a época de florescimento da cultura (GALLO et al., 2002). Prejuízos – Os indivíduos infestam folhas, brotos e frutos novos. Nas folhas causam a "mancha de graxa" (manchas escuras observadas na epiderme, semelhante à mancha de graxa sobre papel). Ao perfurarem a epiderme, causam o rompimento de glândulas de óleo, que em contato com os raios solares, oxidam-se, escurecendo os frutos (estes sintomas são conhecidos como: falsa ferrugem, ferrugem ou mulata) (GALLO et al., 2002). Tais prejuízos são consideráveis, especialmente, quando a produção se destina ao mercado de frutas frescas, para consumo in natura. Pode ocorrer perda de peso de até 4 g/fruto atacado (PICANÇO, 2010). 4.4.5 Ácaro-da-leprose Descrição – O ácaro-da-leprose (Brevipalpus phoenicis) é achatado dorsoventralmente e possui coloração alaranjada, quatro pares de pernas e mede 0,3 mm de comprimento. Possui manchas escuras de tamanhos e formas variáveis no dorso (GALLO et al., 2002). 171 Prejuízos – Atacam folhas, ramos e frutos, transmitindo o vírus da leprose dos citros. O ataque faz com que folhas e frutos caiam da planta e os ramos passem a apresentar rachaduras (PICANÇO, 2010). 4.5 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS NO COQUEIRO A cultura do coqueiro possui três coleobrocas como pragas-chave, a broca-do- pecíolo, a broca-do-pedúnculo-floral e a broca-do-olho-do-coqueiro (PICANÇO, 2010). A seguir, falaremos sobre cada uma delas. 4.5.1 Broca-do-pecíolo Descrição – O adulto da broca-do-pecíolo (Amerrhinus ynca) é um besouro de hábito diurno, medindo 2 cm de comprimento e de cor amarelo-acinzentado, com diversos pontos pretos brilhantes e salientes, principalmente sobre as asas e no pronoto. A fêmea deposita seus ovos na face ventral da raque da folha. Após a eclosão, a larva penetra na raque foliar e abre galerias longitudinais, destruindo os vasos de condução da seiva. Ao penetrar na raque, uma resina escura extravasa pelo orifício e se solidifica, ficando presa à raque no local da penetração, caracterizando a presença da praga na cultura (PICANÇO, 2010). Prejuízos – As folhas atacadas se quebram facilmente, reduzindo a copa das árvores e interferindo na produção (GALLO et al., 2002). 4.5.2 Broca-do-pedúnculo-floral Descrição – Também conhecida por broca-do-cacho-do-coqueiro (Homalino- tus coriaceus) é um besouro de coloração preta, medindo entre 25 e 30 mm de compri- mento. As fêmeas costumam depositar os ovos no pedúnculo floral (daí o nome popular da praga). É possível, contudo, que a oviposição aconteça antes da emissão da primeira inflorescência, sendo nesse caso, realizada na bainha foliar. As larvas desenvolvidas chegam a medir entre 40 e 50 mm de comprimento, tem um aspecto recurvados e pos- suem coloração branca, com a cabeça ferrugínea (PICANÇO, 2010). Prejuízos – Os danos são provocados pelas larvas, que abrem galerias no pedúnculo floral interrompendo o fluxo de seiva e promovendo a queda de flores e frutos. As formas adultas também são prejudiciais ao coqueiro uma vez que ao se alimentarem, dilaceram o tecido de flores e frutos novos, secando-os (PICANÇO, 2010). 172 4.5.3 Broca-do-olho-do-coqueiro Descrição – O adulto da broca-do-olho-do-coqueiro (Rhynchophorus palma- rum) é um besouro de coloração preta, com tamanho que varia entre 3,5 e 6,0 cm de comprimento. Possui bico recurvado, forte, medindo 1,0 cm de comprimento; asas ex- ternas curtas, sendo a parte terminal do abdome exposta e com oito estrias longitudi- nais. Esse inseto possui hábito gregário, sendo mais ativo durante o dia. Os indivíduos são atraídos pelo odor de fermentação liberado por palmeiras com ferimentos, doentes ou em senescência. A larva tem a cabeça castanho-escura; corpo recurvado, sendo mais volumoso no meio e afilado nas extremidades, subdividido em 13 anéis, com colo- ração branco-creme e ápoda. Desenvolve-se no interior da planta, abrindo galerias nos tecidos tenros da região apical (PICANÇO, 2010) Prejuízos – Os danos são causados tanto pelas larvas, quanto pelos adultos. As larvas se alimentam dos tecidos tenros da planta, confeccionando galerias e destruindo o broto terminal (palmito). Em decorrência, as folhas mais novas mostram sinais de amarelamento, murchamento e finalmente se curvam e secam, indicando a morte da planta. Os adultos são vetores do nematoide Bursaphelenchus cocophilus, agente causal da doença letal conhecida por anel-vermelho. O coqueiro torna-se suscetível ao ataque de R. palmarum a partir do segundo ano de plantio (PICANÇO, 2010). 4.6 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS NA GOIABEIRA A cultura goiabeira tem como pragas-chave, a mosca-das-frutas, o gorgulho- da-goiaba e o psilídeo. A seguir, falaremos sobre cada uma dessas pragas. 4.6.1 Mosca-das-frutas Descrição – Ver em manejo integrado de pragas em citros. Prejuízos – Constituem a principal praga da cultura, uma vez que os frutos atacados se tornam impróprios para consumo (GALLO et al., 2002). 4.6.2 Gorgulho-da-goiaba Descrição – Os adultos do gorgulho-da-goiaba (Conotrachelus psidii) são pequenos besouros pardo-escuros, que medem seis mm de comprimento. As fêmeas perfuram os frutos verdes e coloca um ovo em cada orifício. Após a eclosão, as larvas, que são ápodas, brancas e com um cm de comprimento, se aprofundam nos frutos e destroem as sementes (GALLO et al., 2002). 173 Prejuízos – As larvas broqueiam a polpa dos frutos, destruindo as sementes e provocando também a queda dos frutos, o que reduz a produção da cultura (GALLO et al., 2002). 4.6.3 Psilídeo Descrição – O psilídeo (Trizoida sp.) é um inseto sugador de seiva, de cor verde, sendo que os machos apresentam a face dorsal do tórax e o abdome pretos, medindo cerca de 2 mm de comprimento. As fêmeas depositam os ovos ao longo dos ramos dos ponteiros e folhas novas. Dos ovos nascem as ninfas, de cor rósea, cobertas por secreção de cera esbranquecida e corpo achatado, as quais passam a sugar a seiva dos bordos das folhas e, devido às toxinas injetadas, enrolam-se e deformam-se (GALLO et al., 2002). Prejuízos – Prejudicam as folhas que, com o tempo, tornam-se necróticas e acabam caindo (GALLO et al., 2002). 4.7 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS NO MAMOEIRO As principais pragas da cultura do mamoeiro são o ácaro-branco, o ácaro-rajado e o ácaro-plano (GALLO et al., 2010). A seguir, falaremos sobre cada uma destas pragas. 4.7.1 Ácaro-branco Descrição – As formas adultas do ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus) são imperceptíveis a olho nu. As fêmeas apresentam coloração branco-amarelada bri- lhante e medem cerca de 0,15 mm de comprimento por 0,11 mm de largura. Os machos têm a mesma coloração das fêmeas, contudo são menores, medindo cerca de 0,14 mm de comprimento por 0,08 mm de largura. Os ovos são postos de forma isolada na face inferior das folhas novas. Cada fêmea pode depositar cerca de 25 a 30 ovos por ciclo. Tais pragas costumam ser encontradas em folhas jovens, localizadas no ápice (ponteiro) da planta ou nas brotações laterais, geralmente em regiões meristemáticas (PICANÇO, 2010). Prejuízos – Alimentam-se da epiderme das folhas,4.11 AMOSTRAGEM E TOMADA DE DECISÃO NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DE FRUTÍFERAS ................................................................................................................................176 4.12 TÉCNICAS DE CONTROLE NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DE FRUTÍFERAS .......177 4.12.1 Controle Cultural .....................................................................................................................177 4.12.2 Controle Físico ....................................................................................................................... 179 4.12.3 Controle Biológico ................................................................................................................. 179 4.12.4 Controle Químico .................................................................................................................180 5 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DE PASTAGENS .....................................................180 5.1 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DE PERFILHOS ..................................................................180 5.1.1 Cigarrinha-das-pastagens ....................................................................................................180 5.2 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DESFOLHADORAS ............................................................181 5.2.1 Formigas-cortadeiras ..............................................................................................................181 5.3 AMOSTRAGEM E TOMADA DE DECISÃO NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM PASTAGENS .................................................................................................................................182 5.4 TÉCNICAS DE CONTROLE NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM PASTAGENS ........182 5.4.1 Controle Cultural ......................................................................................................................182 5.4.2 Controle por resistência de plantas ...................................................................................183 5.4.3 Controle Biológico .................................................................................................................183 5.4.4 Controle Químico ....................................................................................................................184 6 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DE GRÃOS ARMAZENADOS ..................................184 6.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS ..............................................................................................................184 6.2 CLASSIFICAÇÃO DAS PRAGAS PRODUTOS ARMAZENADOS ................................................184 6.2.1 Quanto ao hábito alimentar .................................................................................................184 6.2.2 Quanto ao produto armazenado ........................................................................................185 6.3 MONITORAMENTO DE PRAGAS DE PRODUTOS ARMAZENADOS .........................................185 6.3.1 Termometria ..............................................................................................................................185 6.3.2 Sistema acústico ....................................................................................................................185 6.3.3 Armadilhas contadoras de insetos ....................................................................................186 6.4 TÉCNICAS DE CONTROLE NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DE PRODUTOS ARMAZENADOS .................................................................................................................................186 RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................187 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................188 TÓPICO 2 - MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DE PLANTAS ORNAMENTAIS ............... 191 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 191 2 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS ORNAMENTAIS GERAIS ....................................... 191 2.1 MANEJO INTEGRADO DE INSETOS SUGADORES ...................................................................... 192 2.2 MANEJO INTEGRADO DE INSETOS MINADORES ...................................................................... 192 2.2.1 Mosca-minadora...................................................................................................................... 192 2.3 MANEJO INTEGRADO DE INSETOS DESFOLHADORES........................................................... 192 2.3.1 Vaquinhas .................................................................................................................................. 192 2.3.2 Lagartas .................................................................................................................................... 193 2.4 MANEJO INTEGRADO DE INSETOS BROQUEADORES ............................................................ 193 2.4.1 Vespinha .................................................................................................................................... 193 2.4.2 Broca-do-olho do coqueiro ................................................................................................ 193 2.5 AMOSTRAGEM E TOMADA DE DECISÃO NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM PLANTAS ORNAMENTAIS ......................................................................................................... 194 2.5.1 Método de amostragem das pragas ................................................................................... 194 2.5.2 Amostragem de mosca-branca .......................................................................................... 194 2.5.3 Amostragem de insetos minadores ................................................................................... 194 2.5.4 Amostragem de insetos desfolhadores ............................................................................ 194 2.5.5 Amostragem de insetos broqueadores ............................................................................ 195 2.6 TÉCNICAS DE CONTROLE NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS EM PLANTAS ORNAMENTAIS................................................................................................................................... 195 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................196 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 197 TÓPICO 3 - MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DE PLANTAS FLORESTAIS ..................199 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................199 2 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DO EUCALIPTO ................................................... 200 2.1 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DE VIVEIRO ........................................................................200 2.1.1 Lagarta-rosca ...........................................................................................................................200 2.1.2 Cupins .......................................................................................................................................200 2.2 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DE MUDAS NO CAMPO ..................................................200 2.2.1 Cupins subterrâneos .............................................................................................................200 2.3 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DE TRONCO ......................................................................201 2.3.1 Coleobrocas ..............................................................................................................................201 2.3.2 Cupins .......................................................................................................................................2012.4 MANEJO INTEGRADO DE INSETOS DESFOLHADORES ........................................................ 202 2.4.1 Formigas-cortadeiras ............................................................................................................ 202 2.4.2 Lagartas-desfolhadoras ...................................................................................................... 202 3 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DO PINUS .............................................................. 203 3.1. Vespa-da-madeira .......................................................................................................................... 203 4 TÁTICAS DE CONTROLE NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DE PLANTAS FLORESTAIS .................................................................................................................. 203 4.1 AMOSTRAGEM DE PRAGAS ........................................................................................................... 203 4.2 CONTROLE EM MUDAS NO VIVEIRO ........................................................................................... 204 4.3 CONTROLE EM MUDAS E CULTURAS ESTABELECIDAS NO CAMPO .................................. 204 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................. 205 RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................... 207 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 208 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................210 1 UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO À ENTOMOLOGIA AGRÍCOLA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • entender o conceito de inseto e ácaro e a defi nição de entomologia agrícola; • obter uma visão geral sobre as principais características dos insetos e ácaros; • reconhecer a importância da entomologia agrícola no estudo das pragas de plantas de interesse econômico; • identifi car os principais grupos de pragas de plantas de interesse econômico; A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – UMA VISÃO GERAL SOBRE OS INSETOS E ÁCAROS TÓPICO 2 – A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS PRAGAS AGRÍCOLAS TÓPICO 3 – PRINCIPAIS GRUPOS DE PRAGAS DE PLANTAS DE INTERESSE ECONÔMICO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 UMA VISÃO GERAL SOBRE OS INSETOS E ÁCAROS 1 INTRODUÇÃO De acordo com Gallo et al. (2002), a Entomologia (do grego entomon: insetos, logos: estudo) pode ser compreendida como a ciência que estuda os insetos e sua relação com os seres humanos, plantas e animais, subdividindo-se, respectivamente, em Entomologia Médica, Entomologia Agrícola e Entomologia Veterinária. Em nosso livro, daremos um maior enfoque à Entomologia Agrícola – área que procura estudar as pragas agrícolas (insetos e ácaros) nocivas às plantas cultivadas pelo homem – abrangendo aspectos como identificação, controle e manejo integrado. Para iniciarmos o estudo das pragas agrícolas, é importante fazermos uma breve revisão sobre conceitos de Entomologia geral, abordando as características dos insetos e ácaros, as quais serão úteis à medida que avançamos para os próximos tópicos. Começaremos a nossa revisão falando sobre os insetos, por sua abundância e importância para a Entomologia Agrícola. Devido ao grande número de insetos presentes na Terra, houve a necessidade de ordená-los em certos grupos, classificando-os. Atualmente, sabe-se que os insetos estão agrupados no Filo Arthropoda, dentro do Reino Animal. Conforme Gallo et al. (2002), o Filo Arthropoda abrange aproximadamente 80% do Reino Animal. Dentro desse Filo, os insetos compartilham diversas características com outros animais: 1) pernas e antenas articuladas e pareadas; 2) corpo segmentado com exoesqueleto formado por quitina, trocado periodicamente com o seu crescimento; 3) aparelho circulatório dorsal; 4) cavidade corporal constituída por hemocele (sistema circulatório aberto); 5) tecido muscular estriado; 6) sistema nervoso central e ventral formado por cérebro e cordão nervoso ventral ganglionar; 7) simetria bilateral. O Filo Arthropoda, por sua vez, é dividido em várias Classes: Chilopoda, Diplopoda, Crustacea, Symphyla, Arachnida e Insecta – a qual pertencem os insetos (Tabela 1). Os insetos são caracterizados por apresentar: 1) corpo dividido em cabeça, tórax e abdome; 2) um par de antenas; 3) um par de mandíbulas; 4) dois pares de maxilas (maxila e lábio); 5) tórax composto por três pares de pernas e, em sua maioria, dois pares de asas; 6) abdome carente de apêndices ambulatórios; 7) aparelho genital próximo à extremidade posterior e 8) desenvolvimento geralmente por metamorfose (de forma completa ou incompleta) (GALLO et al., 2002). TÓPICO 1 - UNIDADE 1 4 Tabela 1 – Quadro comparativo entre as principais classes de Arthropoda Fonte: adaptada de https://planetabiologia.com/filo-dos-artropodes/. Acesso em: 10 maio 2022. Características Classes Insetos Aracnídeos Crustáceos Quilópodes Diplópodes Exemplo Mosca, besouro e cupim Ácaro, aranha e carrapatos Camarão, lagosta e siri Lacraia e centopeia Piolho-de- cobra Número de pernas Três pares Quatro pares Variável Um par por segmento Dois pares por segmento Número de Antenas Um par Ausentes Dois pares Um par Um par Divisão do corpo Cabeça, tórax e abdome Cefalotórax e abdome Cefalotórax e abdome Cabeça e segmentos Cabeça, tórax curto e segmentos Respiração Traqueias Filotraqueias e traqueias Brânquias Traqueias Traqueias Excreção Túbulos de Malpighi Túbulos de Malpighi e glândulas coxais Glândulas verdes ou antenais Túbulos de Malpighi Túbulos de Malpighi 1.1 CARACTERÍSTICAS DOS INSETOS Devido à enorme quantidade e diversidade de insetos existentes na Terra, a Entomologia passou a estudar as características externas e internas destes animais. A classificação taxonômica ao nível de espécie é frequentemente realizada com base nos detalhes das estruturas morfológicas externas como, por exemplo, segmentos de antenas, nervura de asas, presença de espinhos e escamas, dentre outras. O estudo das estruturas internas dos insetos, como os sistemas circulatório, digestório, excretor, reprodutor e nervoso, permite a compreensão do seu comportamento na natureza e a sua relação com o homem. 1.1.1 Anatomia externa dos insetos O corpo de um inseto é constituído por três partes: cabeça, tórax e abdome, como ilustrado pela Figura 1. A cabeça contém os olhos, órgãos sensoriais (incluindo antenas especializadas) e partes da boca (e.g. mandíbula, maxilas e lábio). O tórax é dividido em protórax, mesotórax e metatórax e cada um desses subsegmentos contém um par de pernas. O meso e o metatórax são os locais de fixação das asas, caso o inseto as possua. O abdome é segmentado e concentra grande parte dos órgãos internos. Os segmentos do abdome possuem um par de orifícios, denominados espiráculos, os quais são utilizados durante a respiração (BUZZI, 2013). 5 Figura 1 – Anatomia externa de um gafanhoto Fonte: adaptada de Siedle, Tumbrinck e Tzirkalli (2016) Textos- Rubik Light (tamanho 10 espaçamento 14) Títulos- -Títulos de primeira ordem são (Neo Sans - tam 15 - esp 18 - Caixa alta - Negrito) -Títulos de segunda ordem são (Neo Sans - tam 15 - esp 18 - Caixa alta - regular) -Títulos de terceira ordem são (Neo Sans - tam 15 - esp 18 - Apenas a primeira letra em maiúsculo - regular) Cabeça Tórax Abdome Fovéola Fastígio Antena Ocelo Sulco Labro Mandíbula Lábio Maxilar Palpos Arólio Tarso 1-3 Prosterno Fémur posteriorTíbia Joelho Esternito Ovipositor Térgito Cerco Asas posteriores Asas anteriores Orgão auditivo Carena mediana do tórax Carena lateral do tóraxPró-Meso-MetatóraxOlhos Cada segmento de um inseto é formado por três regiões: uma região dorsal, conhecida como tergo ou noto; uma região ventral, também chamada de esterno; e uma região lateral, composta por um esclerito direito e outro esquerdo, chamada pleura. Os segmentos podem ser unidos de forma rígida ou envolvidos por membranas flexíveis que permitem sua movimentação (BUZZI, 2013). O corpo dos insetos é envolvido externamente por uma região chamada tegumen- to (também chamado de esqueleto externo ou exoesqueleto). O tegumento é constituído por três camadas: cutícula (mais externa); epiderme (abaixo da cutícula) e membrana ba- sal (abaixo da epiderme). Essas camadas são compostas, principalmente, por quitina – um polissacarídeo presente na estrutura de muitos artrópodes – e proteína. O tegumento dos insetos possui diferentes funções, tais como, proteção dos órgãos internos contrafatores externos como, danos mecânicos, penetração de substâncias químicas e organismos pa- togênicos; proteção contra temperatura e umidade excessivas; transporte de substâncias para dentro e fora do corpo e fixação dos músculos e de alguns órgãos (BUZZI, 2013). A cutícula é a camada mais externa do tegumento. Ela é formada por materiais secretados pelas células epidérmicas e varia em espessura, flexibilidade, permeabilidade e rigidez, dependendo da espécie. Após a sua deposição, a cutícula pode se tornar mais rígida e escura pela adição de melanina, durante um processo chamado esclerotização. A epiderme é a parte viva do tegumento. É constituída por uma camada de células onde estão as glândulas que secretam a cutícula e o fluído responsável pela dissolução da velha cutícula antes da muda do inseto. A membrana basal é a porção mais interna do tegumento, onde se ligam os músculos (GALLO et al., 2002). O crescimento dos insetos é marcado por diferentes estádios nos quais ocorre a ecdise (também chamada de muda). A ecdise é um processo caracterizado pela substituição da cutícula velha por outra nova. Esse fenômeno envolve a síntese de enzimas (proteases 6 e quitinases) capazes de degradar a cutícula. O inseto abandona a cutícula velha por meio da linha ecdisial, que fi ca localizada na região dorsal da cabeça e do tórax. Para isso, alguns insetos utilizam movimentos peristálticos, pressão sanguínea, outros engolem ar ou água. Com o avanço do novo estádio, as glândulas da epiderme secretam substâncias que formarão novas camadas da parede do tegumento (BUZZI, 2013). Muitas características externas da cutícula de insetos adultos como, por exemplo, coloração, detalhes de pontuação e formato, são específi cas de uma determinada espécie. Além disso, o corpo do inseto é envolvido por cerdas, pelos, escamas, espinhos e protuberâncias que, frequentemente, são utilizados para a identifi cação de grupos ou espécies individuais. NOTA A cabeça fi ca na região anterior do corpo de um inseto. Trata-se de uma cápsula que envolve o cérebro e contém as peças bucais, os olhos e um par de antenas sensoriais. Os insetos possuem três pares de apêndices móveis formando as peças bucais, as mandíbulas, as maxilas e o lábio. As peças bucais são órgãos sensoriais geralmente destinados à alimentação e consistem em um labro (lábio superior), um par de mandíbulas, um par de maxilas, um lábio (lábio inferior) e uma hipofaringe. A este conjunto dá-se o nome de aparelho bucal. Apesar das peças bucais serem as mesmas para todos os insetos, o aparelho bucal desses animais pode variar na forma, tamanho e função, de acordo com o seu hábito alimentar. Assim, os aparelhos bucais podem ser divididos em dois grupos: mastigador e sugador (BUZZI, 2013). O aparelho mastigador, ou triturador, é considerado o mais primitivo, sendo observado em diversos insetos (formigas, besouros, gafanhotos etc.). É composto por um par de mandíbulas, um par de maxilas, um lábio e uma hipofaringe, que são utilizados para cortar, manipular e mastigar os alimentos, além de serem mecanismos de predação, cópula e defesa (BUZZI, 2013). O aparelho bucal sugador é encontrado em insetos que não mastigam o alimen- to. As peças bucais são alongadas, formando um tubo alongado, denominado rostro, por meio do qual os líquidos são sugados. Existem três variações do aparelho bucal sugador: picador-sugador, sugador-lambedor e sugador maxilar (GALLO et al., 2002). O aparelho picador-sugador é característico dos percevejos, cigarrinhas, cochonilhas, moscas-bran- cas, dentre outros, e é formado por um rostro segmentado, o qual contém duas mandí- bulas e duas maxilas (também chamadas de estiletes) que têm a função de perfurar o tecido da presa (BUZZI, 2013). O aparelho sugador-lambedor é característico das abelhas, formigas e mamangavas. Nas formigas e vespas as peças bucais se assimilam às do apa- relho bucal mastigador, mas são adaptadas para lamber alimentos líquidos (néctar, sucos de frutas e água). Em abelhas, as mandíbulas e o labro são utilizados para prender presas, 7 morder ou manipular cera ou ouros materiais durante a construção do ninho. O aparelho bucal sugador-maxilar é característico de borboletas e mariposas, que se alimentam ge- ralmente do néctar de flores. Nesses insetos, o rostro é alongado e enrolado em forma de espiral, e recebe o nome de espirotromba ou probóscide (BUZZI, 2013). A cabeça dos insetos possui um par de olhos compostos, multifacetados, que são capazes de formar as imagens. Outros possuem apenas olhos simples (chamados oocelos), que atuam na percepção da luz. Também na cabeça ficam as antenas, que estão presentes na maioria dos adultos e em alguns insetos imaturos. As antenas são apêndices móveis, articulados e segmentados, inseridos na cavidade antenal. São órgãos sensoriais que têm a função de tato, olfato, audição e gustação. As antenas são formadas por antenômeros ou artículos e apresentam três partes distintas: escapo, pedicelo e flagelo (GALLO et al., 2002). De acordo com Gallo et al. (2002), as antenas variam de acordo com o formato e a disposição dos antenômeros, sendo classificadas em diferentes tipos: • Aristada – O flagelo possui apenas um antenômero globoso e com pelo (arista), sendo típica das moscas. • Clavada – A região conectada à cabeça é estreita, ocorrendo uma pequena dilatação na outra extremidade. Esse tipo de antena se caracteriza pelo aumento progressivo dos segmentos, de uma extremidade a outra. • Capitada – Similar à antena clavada, mas com os últimos antenômeros dilatados, estão presentes em besouros da família Scolytidae. • Denteada – Os antenômeros possuem bordas arredondadas com formato de dentes, são comuns em vagalumes. • Estiliforme – A extremidade do antenômero é mais alongada parecendo um estilete, é a antena típica de mutucas e mariposas. • Flabeada – Os antenômeros se expandem lateralmente e apresentam aspecto de folhas ou lâminas, como em algumas espécies de besouros lampirídeos microimenópteros. • Filiforme – Os antenômeros são iguais em tamanho e vagamente alongados, formando um fio. É a antena das baratas, grilos, esperanças, dentre outros insetos. • Furcada – Os antenômeros formam uma bifurcação de dois ramos, na forma da letra Y. Estpresente em alguns microimenópteros. • Fusiforme – Os antenômeros do meio da antena são maiores que os da base e dos extremos, tomando a forma de um fuso. É comum em algumas mariposas. • Geniculada – Apresenta o escapo longo e dobrado, formando um ângulo, semelhante a um joelho. Está presente em formigas, abelhas, vespas e mamangavas. • Imbricada – Antenômeros em formato de taças, com o eixo de um encaixando no ápice do outro. É encontrada em alguns besouros da família Carabidae. • Lamelada – Os antenômeros terminais se expandem lateralmente, ficando sobrepostos quando juntos, com aspecto de folha. É a antena característica de besourosda família Scarabaeidae. 8 • Monoliforme – Os segmentos são arredondados como as contas de um rosário. Está presente em cupins. • Pectinada – Os antenômeros apresentam expansões laterais longas e finas, semelhantes a um pente. É comum, sobretudo, nos machos de mariposas. • Serreada – Os segmentos possuem expansões laterais pontiagudas, como os dentes de uma serra. É comum em besouros das famílias Buprestidae e Melyridae. • Setácea. – Os antenômeros diminuem de diâmetro desde a base até a extremidade da antena, semelhante a uma seta. É comum em serra-paus e gafanhotos. • Composta – Trata-se da junção de mais de um tipo de antena exposta acima como, por exemplo, geniculo-clavada. Figura 2 – Diferentes tipos de antenas Fonte: https://bit.ly/3C9tW62. Acesso em: 17 maio 2022. O tórax dos insetos é o local onde estão inseridos os apêndices locomotores (pernas e asas). As pernas são apêndices utilizados em atividades como locomoção, escavação do solo, coleta de alimentos, predação, dentre outas. Os insetos possuem três pares de pernas articuladas – um para cada segmento toráxico. Em cada perna há quatro partes principais: coxa, fêmur, tíbia e tarso. Entre a coxa e o fêmur existe um pequeno segmento, chamado trocânter (GALLO et al., 2002). Assim como outras partes do corpo, as pernas dos insetos apresentam uma estrutura básica que sofre modificações de acordo com a espécie e/ou função que desempenham na natureza. As pernas ambulatórias não possuem modificações especiais e são o tipo mais básico, presente na maioria dos insetos, como em baratas, besouros, borboletas, formigas, mariposas, moscas. Por outro lado, em alguns insetos o primeiro par de pernas pode ser adaptado para apreender presas (raptatório), característico do louva-a-deus; modificado para escavar o solo (fossorial ou escavadora) como o dos escaravelhos. Alguns insetos como gafanhotos, grilos, esperanças, possuem pernas traseiras modificadas para saltar (saltadoras). Outros insetos, como os piolhos, possuem pernas adaptadas para agarrar o pelo do hospedeiro (escansoriais). Existem, ainda, pernas modificadas para recolher e transportar grãos de pólen (coletoras) como é o caso 9 das abelhas (GALLO et al., 2002). Cabe destacar que apresentamos apenas os principais tipos de pernas, contudo é muito comum observar uma enormidade de tipos de pernas em meio à diversidade de insetos encontrados na natureza. As pernas saltadoras são resultantes do desenvolvimento do fêmur e da tíbia dos insetos, que funcionam como uma alavanca que impulsiona o inseto para a frente durante os saltos. Estudos indicaram que uma pulga pode saltar 110 vezes o seu comprimento. É como se uma criança de 1,5 metros de altura conseguisse saltar cerca de 170 metros, o equivalente a um prédio de 50 andares (BERENBAUM, 2008). INTERESSANTE As asas dos insetos são evaginações do corpo, articuladas com o tórax e localizadas lateralmente, possuindo um conjunto de veias ou nervuras, chamadas de nervação ou venação. Os insetos, no estágio adulto, podem ter dois pares de asas (tetrápteros), unidos ao mesotórax e no metatórax. Contudo, existem insetos com apenas um par de asas (dípteros) e aqueles desprovidos de asas na fase adulta (ápteros). Outros, apesar de possuírem asas, não as usam para voo, como alguns fasmídeos e o bicho-da-seda (GALLO et al., 2002). Segundo Gallo et al. (2002), dependendo da espécie, os insetos podem apresentar diferentes tipos de asas, sendo os principais: • Élitros – Asas anteriores duras e sem nervuras aparentes, que recobrem as asas posteriores do tipo membranosa. São comuns em alguns besouros e tesourinhas. • Halter – Também chamadas de balancins, são atrofi adas e têm como função o equilíbrio do inseto. São observadas em moscas, pernilongos, mutucas etc. • Hemiélitros – Asas cuja parte basal é dura (cório) e apical fl exível (membrana). São as asas anteriores dos percevejos. • Membranosa – Asa fi na e fl exível, com nervuras distintas. É encontrada na maioria dos insetos (par posterior). Apresentam-se nuas ou cobertas por pelos ou escamas; • Pseudo-halter – São asas anteriores atrofi adas, típicas da ordem Strepsiptera. • Tégminas – Apresentam forma de pergaminho, com aspecto coriáceo e nervuras visíveis. São características das baratas, louva-a-deus, grilos, gafanhotos, dentre outros. 10 Figura 3 – Exemplo de asas tégminas Fonte: https://dhierich.wixsite.com/blogdageral/tipos-de-asas. Acesso em: 26 set. 2022. O abdome é a terceira região do corpo dos insetos, caracterizado pela quantidade de segmentos (geralmente 12) e ausência de apêndices locomotores (BUZZI, 2013). Trata-se de uma região altamente especializada, contendo as principais vísceras e os espiráculos, locais onde são produzidos a maior parte dos movimentos respiratórios. É no abdome que ficam as aberturas genitais (relacionadas aos órgãos de cópula e oviposição), as estruturas do canal digestivo e os apêndices abdominais: cercos, cornículos, estilos, ovipositor, urogonfo, brânquias, dentre outros (GALLO et al., 2002). De acordo com a ligação ao tórax, o abdome dos insetos pode ser séssil, livre ou pedunculado. O abdome séssil é unido ao tórax em toda sua dimensão. É observado em baratas, gafanhotos, besouros, dentre outros. O abdome livre apresenta uma constrição incipiente na união do abdome com o tórax. É característico das moscas, abelhas, bor- boletas etc. Já o pedunculado apresenta uma constrição marcante, com o 1º segmento abdominal fundido ao metatórax. É o caso das formigas e vespas (GALLO et al., 2002). 1.1.2 Anatomia interna e fisiologia dos insetos A anatomia interna e fisiologia explicam a forma e funcionamento dos órgãos, sistemas e aparelhos dos insetos (GALLO et al., 2002). Inclui também o estudo do tegumento, conforme já vimos no tópico anterior. Neste tópico, daremos enfoque ao aparelho circulatório, ao aparelho digestivo e sistema de excreção, aos aparelhos respiratório e reprodutores, ao sistema nervoso e aos órgãos do sentido, bem como ao sistema glandular. O sistema circulatório dos insetos difere do de outros animais superiores, uma vez que, normalmente, não têm a função de transporte de oxigênio e remoção de gás carbônico do corpo. Esse sistema age como um meio de trocas químicas entre os órgãos, permitindo o transporte de substâncias nutritivas, produtos de excreção, hormônios, dentre outros (GALLO et al., 2002). 11 O aparelho circulatório compreende uma cavidade corporal (chamada hemocele) que se estende por toda a cabeça, tórax e abdômen, alcançando os apêndices. Essa cavidade é preenchida por um fluido, geralmente transparente, com aspecto de sangue, chamado hemolinfa. A hemolinfa banha os órgãos e tecidos e circula internamente por meio de um coração tubular que se estende da metade dorsal da cabeça até a ponta do abdome (HILLYER; PASS, 2020). Esse fluido também funciona como mecanismo hidráulico, controlando a pressão do sangue durante certos eventos como a eclosão, ecdise, dentre outros (GALLO et al., 2002). O aparelho digestivo dos insetos consiste em um tubo digestivo (canal alimentar) que percorre o seu corpo no sentido longitudinal, estendendo-se da boca ao ânus. Esse tubo é segmentado em três partes: um intestino anterior (estomodeo), um intestino médio (mesêntero) e um intestino posterior (proctodeo) (BUZZI, 2013). Tanto a forma quanto o diâmetro do tubo digestivo, estão relacionados com o hábito alimentar dos insetos. Nas baratas, que se alimentam de materiais sólidos, o tubo digestivo é mais largo, reto e curto, dispondo de proteção contra ferimentos mecânicos. Já em insetos que se alimentam de seiva ou néctar, o tubo digestivo é mais delgado, com curvas que permitem maior contato com o alimento líquido (GALLO et al., 2002). A digestão e absorção de nutrientes ocorrem no intestino médio, já a absorção de água é feita pelo intestino posterior, o qual também armazena resíduos destinados à excreção. Os principais órgãos de excreção