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Júlia Perez
Respiração
1. Funções das vias respiratórias
1.1 Controle neural:
· Dilatação simpática
 O controle dos bronquíolos pelas fibras nervosas simpáticas é fraco. Entretanto, a árvore brônquica é muito mais exposta à norepinefrina e epinefrina liberadas na corrente sanguínea pela estimulação simpática da medula da glândula adrenal.
 A norepinefrina, principalmente, por causa de sua maior estimulação dos receptores beta-adrenérgicos, causa DILATAÇÃO da árvore brônquica.
· Constrição parassimpática
 Algumas fibras derivadas do nervo vago penetram no parênquima pulmonar. Esses nervos secretam acetilcolina, e causam a CONSTRIÇÃO moderada dos bronquíolos.
 Diversas substâncias formadas nos pulmões são frequentemente muito ativas em produzir a constrição bronquiolar, como a histamina e a substância de reação lenta da anafilaxia, que são liberadas pelos mastócitos durante reações alérgicas.
1.2 Reflexos mecânicos:
· Reflexo da tosse
 Os brônquios, a traqueia, e até mesmo os bronquíolos terminais e alvéolos, são sensíveis à materiais e substâncias estranhas que causam irritação e iniciam o reflexo da tosse.
 Impulsos neurais aferentes passam das vias respiratórias, principalmente pelo nervo vago, ao bulbo, onde uma sequência automática de eventos é disparada por circuitos neuronais locais:
· um grande volume de ar são rapidamente inspirados;
· a epiglote se fecha e as cordas vocais são fechadas para aprisionar o ar no interior dos pulmões;
· os músculos abdominais se contraem, consequentemente, a pressão nos pulmões aumenta rapidamente;
· as cordas vocais e epiglote subitamente se abrem, e o ar explode em direção ao exterior.
· Reflexo do espirro
 O estímulo que inicia o reflexo do espirro é a irritação das vias nasais. Impulsos aferentes passam do quinto par craniano ao bulbo, onde o reflexo é disparado.
 Uma série de reações semelhantes às do reflexo da tosse acontece, entretanto, a úvula é deprimida, de forma que grandes quantidades de ar passam rapidamente pelo nariz, ajudando a limpar as vias nasais.
1.3 Funções respiratórias do nariz:
 Conforme o ar passa pelas cavidades nasais, ele é aquecido, umidificado e é parcialmente filtrado. Esses eventos são chamados de função de condicionamento do ar das vias respiratórias superiores.
 Os pelos das narinas são importantes para a filtração de grandes partículas. Muito mais importante, entretanto, é a remoção de partículas por precipitação turbulenta (o ar passando pelas vias nasais, choca-se contra as conchas, o septo e a parede da faringe). Sempre que o ar se choca contra estruturas obstrutivas, ele muda a direção de seu movimento, como as partículas são mais pesadas, elas não mudam de direção facilmente, sendo capturadas pelo revestimento mucoso e transportadas pelos cílios à faringe para serem deglutidas.
 Das partículas remanescentes, muitas fixam-se nos bronquíolos menores como resultado da precipitação gravitacional. Algumas difundem-se contra as paredes alveolares e aderem ao líquido alveolar. Muitas partículas que se tornam aprisionadas nos alvéolos são removidas pelos macrófagos alveolares.
2. Edema pulmonar
 Qualquer fator que cause a elevação da pressão do líquido intersticial pulmonar irá causar um preenchimento rápido dos espaços intersticiais e dos alvéolos pulmonares do grandes quantidades de líquido livre.
 Causas mais comuns insuficiência cardíaca esquerda ou doença da válvula mitral, com grandes elevações da pressão venosa pulmonar e “alargamento” dos espaços intersticiais e dos alvéolos; lesão das membranas dos capilares pulmonares causada por infecções por pneumonia ou inalação de gases tóxicos (gás cloro ou dióxido de enxofre), que causam um rápido vazamento de proteínas plasmáticas e líquido dos capilares para os espaços intersticiais dos pulmões e para os alvéolos.
3. Trocas gasosas
3.1 Difusão gasosa e pressões parciais:
 A pressão do gás nas superfícies das vias respiratórias e dos alvéolos é proporcional à soma das forças de impacto de todas as moléculas daquele gás que atinge a superfície. Isso significa que a pressão é diretamente proporcional à concentração das moléculas de gás.
Lei de Henry a pressão parcial é determinada pela concentração do gás e do seu coeficiente de solubilidade
Pressão parcial = concentração de gás dissolvido/coeficiente de solubilidade
 A pressão parcial do gás alveolar tende a forçar moléculas para o sangue dos capilares. Por outro lado, as moléculas que estão dissolvidas no sangue podem escapar de volta para o alvéolo.
 Difusão de gases entre os alvéolos e os capilares a difusão efetiva é determinada pela diferença entre as pressões parciais alveolares e capilares; se a pressão for maior na fase gasosa nos alvéolos, então mais moléculas se difundirão para o sangue, como ocorre como O2; por outro lado, se a pressão for maior no estado dissolvido no sangue, então a difusão efetiva ocorrerá para a fase gasosa nos alvéolos, como acontece com o CO2. 
A pressão de vapor da água, na temperatura corporal (37 oC) é de 47 mmHg.
 
 Difusão dos gases através dos líquidos quando a pressão parcial do gás é maior em uma área do que em outra, haverá difusão efetiva da área de alta pressão para a de baixa pressão.
 Fatores que afetam a difusão gasosa em líquidos solubilidade do gás no líquido, área de corte transversal, a distância pela qual o gás precisa se difundir, o peso molecular do gás e a temperatura do líquido.
 Difusão dos gases através dos tecidos os gases da respiração são solúveis nos lipídios e, portanto são solúveis nas membranas celulares; logo, a principal limitação é a intensidade com que os gases conseguem se difundir pela água tecidual em vez de através das membranas celulares.
1.2 Composições do ar alveolar e do ar atmosférico:
 O ar alveolar é diferente do ar atmosférico devido ao fato de o ar alveolar ser substituído apenas parcialmente pelo ar atmosférico; de o oxigênio ser constantemente absorvido pelo sangue; do dióxido de carbono se difundir constantemente do capilar para os alvéolos; e do ar seco que entra nas vias ser umidificado.
· Intensidade de renovação do ar alveolar
 Capacidade funcional residual média dos pulmões o volume de ar remanescente nos pulmões ao final da expiração (2300 mililitros).
 Contudo, apenas 350 mililitros de ar novo é inspirado, e esse mesmo volume é expirado. Portanto, o volume de ar alveolar substituído por ar atmosférico novo a cada ciclo respiratório é de um sétimo do total, de maneira que são necessárias várias respirações para ocorrer uma troca de grande parte do ar alveolar.
 Essa substituição lenta é importante para evitar mudanças repentinas nas concentrações de gases no sangue. Isso torna mecanismos de controle respiratório mais estáveis, além de ajudar a evitar aumentos e quedas excessivas da oxigenação tecidual, da concentração de CO2, e do pH , quando a respiração é interrompida temporariamente.
· Concentração de oxigênio e dióxido de carbono
 A concentração de O2 nos alvéolos e sua pressão parcial são controladas pela intensidade de absorção de O2 pelo sangue e pela intensidade de entrada do gás nos pulmões pelo processo ventilatório.
 A pressão parcial de CO2 alveolar aumenta na proporção direta da excreção de gás carbônico e diminui na proporção inversa da ventilação alveolar.
· Composição do ar expirado
 É determinada pela quantidade de ar expirado do espaço morto e pela quantidade de ar alveolar.
1.3 Difusão de gases através da membrana respiratória:
 Unidade respiratória composta do bronquíolo respiratório, ductos alveolares, átrios e alvéolos.
 Camadas da membrana respiratória camada de líquido revestindo o alvéolo e contendo surfactante que reduz a tensão superficial do líquido alveolar; epitélio alveolar, composto por células pavimentosas; membrana basal epitelial;espaço intersticial delgado entre o epitélio alveolar e a membrana capilar; membrana basal capilar; e membrana endotelial capilar.
 Fatores que afetam a intensidade da difusão através da membrana respiratória espessura da membrana, a área superficial da membrana, o coeficiente de difusão do gás na substância da membrana, e a diferença de pressão parcial do gás entre ambos os lados da membrana.
· Capacidade de difusão da membrana respiratória
 É definida como o volume de gás que se difundirá através da membrana a cada minuto para a diferença de pressão de 1 mmHg.
 Durante exercício ou outras condições que aumentem o fluxo de sangue pulmonar e a ventilação alveolar, a capacidade de difusão aumenta até o máximo (65 mL/min/mmHg). Esse aumento é causado por fatores como a abertura dos capilares pulmonares, melhor equiparação entre a ventilação dos alvéolos e a perfusão dos capilares alveolares com o sangue (proporção ventilação-perfusão).
4. Transporte de gases
 Os sistemas respiratório e circulatório funcionam em conjunto para transportar oxigênio suficiente, dos pulmões para os tecidos, a fim de manter a atividade celular normal e transportar dióxido de carbono, dos tecidos para os pulmões, de onde será eliminado na expiração. O CO2, um produto do metabolismo celular ativo da glicose, é transportado por veias sistêmicas até os pulmões, onde é expirado. 
 Para aumentar a captação e o transporte desses gases entre os pulmões e os tecidos, alguns mecanismos especializados possibilitam a ocorrência simultânea da captação do O2 e da expiração do CO2. 
4.1 Transporte de oxigênio:
 O oxigênio é transportado, pelo sangue, em duas formas dissolvido; e ligado à hemoglobina. 
 Uma pequena porcentagem de O2 está na forma dissolvida, e sua contribuição para o transporte do gás sob é quase desprezível. Contudo, isso pode passar a ser fator importante na hipoxemia grave. 
 A ligação do O2 à Hb, formando oxi-hemoglobina no interior das hemácias, é o principal mecanismo de transporte desse gás. 
· Hemoglobina 
 A molécula da Hb é uma proteína com dois componentes principais quatro grupos heme não-proteicos, cada grupo contendo ferro na forma reduzida (ferro ferroso ou Fe2+), que é o sítio de ligação do O2; e a parte globínica, que consiste em quatro cadeias polipeptídicas (duas cadeias de α-globina e duas de β-globina).
A ligação do O2 à Hb altera a capacidade da Hb de absorver luz. Esse efeito é responsável pela diferença da cor observada entre o sangue arterial oxigenado (vermelho) e o sangue venoso desoxigenado (vermelho-azulado de tonalidade escura). 
 A ligação do O2 à Hb e a sua dissociação ocorrem rapidamente, o que facilita o transporte do O2, porque os glóbulos vermelhos permanecem pouco tempo no interior dos capilares. 
 Mioglobina proteína que apresenta estrutura e função similares às da Hb; tem apenas uma subunidade da molécula de Hb; auxilia na transferência do O2 do sangue para as células musculares e também no armazenamento do O2. 
As anormalidades da molécula de Hb resultam de mutações que afetam a sequência dos aminoácidos (doença falciforme), ou a disposição das cadeias polipeptídicas da porção globínica e, como consequência, causa alteração da função. Compostos como o CO, os nitritos (óxido nítrico [NO]) e os cianetos são capazes de oxidar a molécula de ferro do grupo heme, que passa do estado ferroso reduzido para o estado férrico (Fe3+), o que reduz a capacidade do O2 de se ligar à Hb.
· Curva de dissociação da oxi-hemoglobina 
 Nos alvéolos, a maior parte do O2 do plasma se difunde para as hemácias e se liga quimicamente à Hb. Esse processo é reversível, de modo que a Hb entrega seu O2 para o tecido. 
 O gráfico ilustra a relação entre a Po2, no sangue, e o número de moléculas de O2 ligadas à Hb. Ele demonstra a dependência da saturação da Hb em relação à PO2. 
 Parte plana da curva a queda da PO2, dentro da faixa de variação da pressão parcial (100 a 60 mmHg), tem efeito mínimo sobre a saturação da Hg, que permanece num nível suficiente para que o transporte e a liberação do O2 sejam normais. 
 Parte inclinada da curva (< 60 mmHg) grande quantidade de O2 é liberada da Hb com apenas pequena alteração da PO2, o que facilita a liberação do O2 e sua difusão para o tecido. 
 P50 ponto da curva no qual 50% da Hb está saturada com O2; corresponde a 27 mmHg, em adultos normais.
 Deslocamento da curva de dissociação da oxi-hemoglobina A curva é deslocada para a direita quando a afinidade da Hb pelo O2 diminui, o que aumenta a dissociação do O2. Como consequência, em dada Po2 menos Hb está ligada ao O2, o que aumenta a P50. Quando a afinidade da Hb pelo O2 aumenta, a curva se desloca para a esquerda, o que reduz a P50. Nesse estado, a dissociação do O2 e sua liberação para o tecido são inibidas. 
· pH e CO2 o aumento da produção de CO2 pelo tecido e da liberação desse gás para o sangue leva à formação de H+ e à diminuição do pH e, como consequência, a curva se desloca para a direita; esse deslocamento é benéfico, porque auxilia o O2 a se libertar da Hb para se difundir nos tecidos. O deslocamento para a direita resulta de diminuição do pH e de efeito direto do CO2 sobre a Hb; esse efeito do CO2 sobre a afinidade da Hb pelo O2 (efeito Bohr), aumenta a captação do O2 nos pulmões e a liberação desse gás para os tecidos. De modo inverso, à medida que o sangue passa pelos pulmões o CO2 é expirado, e, como consequência, ocorre aumento do pH, o que produz um deslocamento da curva de dissociação da oxi-hemoglobina para a esquerda. 
A elevação da temperatura corporal, observada durante os exercícios físicos, desloca a curva para a direita e permite que mais O2 seja liberado para os tecidos, em razão do aumento da demanda. Durante o tempo frio, a queda da temperatura do corpo, sobretudo das extremidades, desloca a curva de dissociação do O2 para a esquerda (maior afinidade da Hb pelo O2). Nesse caso, a Po2 pode estar normal, mas a liberação do O2 nas extremidades é dificultada. Esse é o motivo pelo qual essas áreas exibem cor azulada quando expostas ao frio.
· 2,3-difosfoglicerato as hemácias não têm mitocôndrias e, sua respiração celular baseia-se na glicólise anaeróbica; durante a glicólise formam-se grandes quantidades de um intermediário metabólico, o 2,3-DPG, e a afinidade da Hb pelo O2 diminui à medida que os níveis de 2,3-DPG aumentam; como consequência, a curva de dissociação se desloca para a direita. A ligação do 2,3-DPG à Hb produz efeito alostérico que inibe a ligação do O2. As condições que aumentam os níveis de 2,3-DPG incluem a hipóxia, a diminuição da Hb e o aumento do pH. 
· Monóxido de carbono o CO liga-se ao grupo heme da molécula de Hb no mesmo sítio de ligação do O2, formando a carboxi-hemoglobina (HbCO). A afinidade do CO pela Hb é bem maior que a do O2. Na presença de CO, a afinidade da Hb pelo O2 aumenta; isso desloca a curva de dissociação para a esquerda, o que impede ainda mais o desligamento do O2 e sua liberação para os tecidos. 
· Saturação, teor e liberação de oxigênio 
 A saturação de O2 (SO2) refere-se à quantidade de O2 ligada à Hb em relação à quantidade máxima de O2 que é capaz de se ligar à Hb. 
 A ligação de uma molécula de O2 a grupo heme de uma molécula de Hb aumenta a afinidade dessa molécula por outra molécula de O2. 
 O teor de O2 do sangue corresponde à soma do O2 ligado à Hb com o dissolvido.
 O teor de oxigênio diminui quando os níveis de CO2 e CO estão aumentados.
 O aporte de oxigênio para os tecidos depende de vários fatores débito cardíaco, teor de Hb no sangue e a capacidade dos pulmões de oxigenar o sangue. 
 Nem todo o O2 transportado pelo sangue é liberado nos tecidos. A Hb deixa os pulmões com saturação de 75%, mas apenas cerca de 25% são na verdade utilizados pelos tecidos. 
 A hipotermia, o relaxamento dos músculos esqueléticos eo aumento do débito cardíaco reduzem o consumo de O2. De modo inverso, a diminuição do débito cardíaco, a anemia, a hipertermia e os exercícios físicos aumentam o consumo de O2. 
 A hipóxia tecidual refere-se à condição na qual a quantidade de O2 disponível para as células é insuficiente para manter, de modo adequado, o metabolismo aeróbico. Como consequência, o metabolismo anaeróbico é estimulado, ocorrendo a elevação dos níveis de lactato e H+ e a subsequente formação de ácido láctico, podendo levar à diminuição do pH sanguíneo. Há quatro tipos principais de hipóxia tecidual, o tipo mais comum é a hipóxia hipóxica, que é causada por várias doenças pulmonares (doença pulmonar obstrutiva crônica, fibrose pulmonar, doenças neuromusculares) que levam à diminuição da PaO2 ou da CaO2, com a subsequente redução da liberação de O2 aos tecidos. Existe ainda a hipóxia (estagnação) circulatória, a hipóxia anêmica e a hipóxia histotóxica.
· Eritropoiese 
 A oxigenação dos tecidos depende da concentração da Hb e, consequentemente, do número de hemácias na circulação. A produção de glóbulos vermelhos (eritropoiese) na medula óssea é controlada pelo hormônio eritropoietina, que é sintetizado pelas células intersticiais do córtex renal. Embora os níveis de Hb sejam normalmente estáveis, a redução da liberação de O2, da concentração de Hb e da PaO2 estimula a secreção de eritropoietina. A doença renal crônica danifica as células intersticiais do córtex renal e, consequentemente, suprime a capacidade dessas células de sintetizar eritropoietina. A falta de eritropoietina leva à anemia e à diminuição da Hb. 
4.2 Transporte de dióxido de carbono:
· Metabolismo da glicose e produção de CO2
 A proporção entre o CO2 expirado e o O2 captado é denominada proporção de troca respiratória (80 de CO2 para cada 100 de O2), nos tecidos, essa proporção é chamada de quociente respiratório. 
 A capacidade de armazenamento de CO2 do corpo é maior que a capacidade de armazenamento de O2, por isso a PaO2 é muito mais sensível a mudanças na ventilação que a PaCO2. Enquanto a PaO2 depende de vários fatores, além da ventilação alveolar, a PaCO2 só depende da ventilação alveolar e da produção de CO2. 
· Bicarbonato e transporte de CO2 
 No sangue, o CO2 é transportado nas hemácias, principalmente como bicarbonato (HCO3- ) mas também como CO2 dissolvido e como compostos carbamínicos (o CO2 se liga a proteínas do plasma e à Hb). 
 Assim que o CO2 se difunde através do tecido e penetra no plasma ele se dissolve rapidamente. A reação do CO2 com a H2O, dando origem a ácido carbônico (H2CO3), é a principal via para a formação de HCO3- nos glóbulos vermelhos. 
CO2 + H2O ↔ H2CO3 ↔ H+ + HCO3-
 Essa reação é catalisada, no interior das hemácias, pela enzima anidrase carbônica. O HCO3- se difunde para fora dos glóbulos vermelhos em troca de íons Cl- — fenômeno conhecido como desvio de cloreto, que auxilia a célula a manter o equilíbrio osmótico. 
 Essa reação química é reversível, ela pode se deslocar para a direita, formando mais HCO3-, quando uma quantidade maior de CO2 proveniente dos tecidos entra no sangue, ou pode se deslocar para a esquerda, à medida que o CO2 é exalado nos pulmões, reduzindo assim a quantidade de HCO3-. 
 O H+ livre se liga à Hb, sendo dessa forma rapidamente tamponado. O tamponamento é fundamental para manter a reação no sentido da síntese do HCO3-. Níveis elevados de H+ livre (pH baixo) deslocam a reação para a esquerda.
· Curva de dissociação do CO2 
 A curva de dissociação do CO2, no sangue é linear e diretamente relacionada à PCO2. 
 O grau de saturação da Hb com O2 tem efeito importante sobre a curva de dissociação do CO2. Embora o O2 e o CO2 se liguem à Hb em sítios diferentes, a Hb desoxigenada tem afinidade maior pelo CO2 que a Hb oxigenada. Assim, o sangue desoxigenado (sangue venoso) capta espontaneamente e transporta mais CO2 que o sangue oxigenado (sangue arterial). 
 A Hb desoxigenada forma mais facilmente compostos carbamínicos e, também, se liga mais facilmente aos íons H+ livres liberados durante a formação do HCO3-. O efeito das variações do nível de saturação da oxi-hemoglobina sobre a relação entre o teor de CO2 e a PCO2 é conhecido como efeito Haldane, e é revertido nos pulmões quando o O2 é transportado dos alvéolos para os glóbulos vermelhos. Esse efeito é ilustrado pelo deslocamento para a esquerda da curva de dissociação do CO2 no sangue venoso, quando comparado com o sangue arterial.
4.3 Regulação da concentração dos íons H+ e equilíbrio ácido-básico:
 A hiperventilação aguda resultante de exercício físico ou ansiedade reduz a PCO2 e, como consequência, aumenta o pH (alcalose respiratória). De modo inverso, quando a PCO2 aumenta em resposta à hipoventilação causada por dose excessiva de depressor respiratório o pH diminui (acidose respiratória). As perturbações do balanceamento ácido-básico também são causadas por distúrbios metabólicos, como a acidose metabólica (acidose láctica, cetoacidose e insuficiência renal) e a alcalose metabólica (hipocalemia, hipocloremia, vômitos, altas doses de esteroides).
5. Regulação da respiração
 O controle ventilatório inclui a geração e a regulação do ritmo da respiração, pelo centro respiratório do tronco cerebral, e sua modificação pela informação gerada pelos centros cerebrais superiores e receptores sistêmicos. A função da respiração, do ponto de vista mecânico, é minimizar o trabalho, e do ponto de vista fisiológico, é a manutenção dos gases sanguíneos.
5.1 Centro respiratório:
 Se compõe por diversos grupos de neurônios localizados bilateralmente no bulbo e na ponte do tronco cerebral.
 Se divide em três grupos principais de neurônios grupo respiratório dorsal, situado na porção dorsal do bulbo, responsável pela inspiração; grupo respiratório ventral, localizado na parte ventrolateral, encarregado da expiração; e o centro pneumotoráxico, encontrado na porção dorsal superior da ponte, responsável pelo controle da frequência e da amplitude respiratória.
 O centro consiste em duas partes principais o gerador de padrão ventilatório, que gera o padrão rítmico; e o integrador, que controla a geração do padrão, processa as informações geradas por centros cerebrais superiores e pelos quimiorreceptores e controla a frequência e a amplitude do padrão ventilatório. 
· Quimiorreceptores e mecanorreceptores
 Quimiorreceptores centrais estão situados, no SNC, logo abaixo da superfície ventrolateral do bulbo; detectam a variação da PCO2 e do pH dos fluidos intersticiais, no tronco cerebral, e modulam a ventilação. 
 Quimiorreceptores periféricos estão localizados em células especializadas do arco aórtico (corpos aórticos) e da bifurcação das artérias carótidas internas e externas (corpos carotídeos); detectam a PO2, a PCO2 e o pH do sangue arterial, e enviam essa informação para o núcleo integrador do bulbo pelos nervos vago e glossofaríngeo. 
 A estimulação dos mecanorreceptores pulmonares e dos nervos sensoriais, em resposta ao insuflar dos pulmões ou às substâncias irritantes ou à liberação de mediadores locais, modifica o padrão ventilatório. Os feixes nervosos que vão do centro do controle respiratório até neurônios motores, controlam os músculos da respiração e determinam o padrão rítmico automático respiratório. Neurônios motores controlam a atividade dos músculos da respiração (diafragma, intercostais e acessórios). 
 A respiração voluntária não passa pelo centro do controle respiratório no tronco cerebral. Porém, ao se prender a respiração o controle ventilatório automático eventualmente se sobrepõe ao esforço voluntário e limita sua duração.
· Padrão respiratório
 A ritmicidade inerente à respiração é originada no bulbo. 
 Não há um grupo específico de neurônios identificado como o “marca-passo” respiratório, porém, dois núcleos estão envolvidosno padrão respiratório grupo respiratório dorsal (GRD), composto de células do núcleo do trato solitário (NTS); e o grupo respiratório ventral (GRV).
 No nível do centro de controle respiratório a inspiração e a expiração ocorrem em três fases uma inspiratória e duas expiratórias. 
 A inspiração começa com aumento repentino da descarga das células do NTS, seguido por aumento uniforme em "rampa" da frequência das descargas durante a inspiração. Isso leva à contração progressiva dos músculos respiratórios durante a respiração automática. Ao final da inspiração, evento de desligamento (offswitch) resulta em diminuição acentuada da descarga neuronal, e começa a expiração. No início da expiração (fase I da expiração), um aumento da descarga neuronal inspiratória diminui a velocidade da fase expiratória ao aumentar o tônus dos músculos inspiratórios e a descarga neuronal expiratória. Essa descarga inspiratória diminui até cessar completamente na fase II da expiração. 
 Reflexo de Hering-Breuer é um reflexo inspiratório inibitório originado em receptores de estiramento aferentes, localizados nos músculos lisos das vias aéreas; o aumento da insuflação do pulmão estimula esses receptores de estiramento e resulta em expiração precoce pela estimulação dos neurônios associados à fase de desligamento inibitório do controle dos músculos inspiratórios. 
 Assim, a respiração rítmica depende de controle respiratório contínuo (tônico), mediado pelo GRD, e de controle expiratório intermitente (dividido em fases) realizado pelo cérebro, tálamo, nervos craniais e tratos sensoriais ascendentes da medula espinal.
5.2 Resposta ao dióxido de carbono:
 A ventilação é regulada pela PCO2, pela PO2 e pelo pH do sangue arterial. 
 A frequência e a amplitude da respiração são controladas para manter a PaCO2 próxima de 40 mmHg. As variações da PaCO2 são detectadas por quimiorreceptores periféricos e centrais que transmitem a informação para os centros respiratórios do bulbo. Em seguida, o centro de controle respiratório regula a ventilação-minuto e, assim, mantém a PCO2 arterial dentro dos valores normais. 
 A resposta ao aumento da PaCO2 fica ainda mais aumentada quando a PaO2 é baixa. Quando a PaO2 está diminuída a ventilação é maior, independentemente do valor da PaCO2.
 A curva da resposta ventilação-minuto como função do CO2 inspirado é chamada de resposta ventilatória e é amplificada pelos baixos níveis de O2. Assim, a ocorrência de hipercapnia ou de hipoxemia tem efeito aditivo na informação, enviada por quimiorreceptores, e no estímulo ventilatório resultante.

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