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etc, espaço, tempo e crítica Revista Eletrôni a de Ciências Humanas e Sociais c e outras coisas ISSN 1981-3732 http://www.uff.br/etc 15 de Setembro de 2007, n° 2 (6), vol. 1 A (des)institucionalizacão das políticas regionais no Brasil* Maria Regina Nabuco Pesquisadora do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional - CEDEPLAR /UFMG in memoriam Resumo O objetivo central deste trabalho é analisar as políticas econômicas, que definiram as grandes linhas do planejamento regional, desde o Pós II Guerra até meados da década de 1990 com base nos principais marcos institucionais referentes às políticas regionais no Brasil. São discutidos aqui, assim, os principais programas que visavam promover o desenvolvimento regional, reduzir as desigualdades espaciais, ampliar a integração nacional, desconcentrar o desenvolvimento econômico e corrigir os desequilíbrios setoriais e sociais. A hipótese básica é a de que o Governo Federal Brasileiro, em consonância com as demandas políticas regionais, buscou promover tais objetivos através de normas institucionais que expressavam, num grau considerável, a pressão política das elites regionais. Já foram realizadas diversas avaliações desses programas. Agora, resta sistematizá-los e definir suas principais tendências macroespaciais. As normas legais que fundamentaram tais tendências são aqui consideradas no quadro geral das principais concepções teóricas relativas ao desenvolvimento regional no Brasil. Num segundo momento, o texto analisa o momento caracterizado pelo fim do regime militar, a crise econômica e a democratização, associado ao neoliberalismo e à globalização. O texto argumenta que o novo municipalismo que emerge neste contexto representa avanços em termos de políticas sociais locais, porém vem impedindo a emergência de articulações supra-locais a exemplo da gestão metropolitana. Palavras-Chave – políticas regionais, municipalismo, Brasil. The (de)institutionalization of regional policies in Brazil Abstract The central objective of this work is to analyze the economic policies that had defined the great lines of regional planning, from World War II to the mid-1990, concerning the main institucional landmarks of Brazil's regional policies. Hence, the paper discusses the main programs that aimed at promoting regional development, reducinge spatial inaqualities, expanding national integration, deconcentrating economic development, and correcting sectorial and social inequalities. The basic hypothesis is that Brazilian Federal Government, in accordance with regional political demands, attempted to promote such objectives through institucional norms that expressed, to a considerable extent, the political pressure of regional elites. * Uma primeira versão desse artigo foi apresentada em Mesa-Redonda do VI Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa e em Planejamento Urbano e Regional (ANPUR) realizado em Brasília em maio de 1995. Sua publicação foi autorizada por Ana Luiza Nabuco Palhano, filha da autora. A Comissão Editorial, atendendo às normas de publicação da revista, acrescentou ao texto o resumo e o correspondente abstract. etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2 (6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 65 Recebido para Publicação em 30.06.2007. Maria Regina Nabuco Many evaluations of these programs have already been made. Now it is time to organize them and to define their main macrospatial trends. The supporting legislation is considered within the general framework of the main theoretical conceptions concerning regional development in Brazil. Secondly the paper analyses the moment characterized by the end of the military regime, economic crisis, and democracy, associated to neoliberalism and globalization. It argues that the new municipalism that emerges in such context constitutes real improvement in local social policies, but is also a hindrance to supra-local political articulations, such as metropolitan policies. Key- Words – regional policies, municipalism, Brazil 1. INTRODUÇÃO Tendo em vista os principais marcos institucionais referentes às políticas regionais no Brasil, este trabalho tem como objetivo central analisar as políticas econômicas, que definiram as grandes linhas do planejamento regional, desde o Pós II Guerra até os dias atuais. Desta forma, serão discutidos os principais programas que tiveram como propósito promover o desenvolvimento econômico regional (industrial e agrícola), reduzir as desigualdades espaciais, ampliar a integração territorial nacional, desconcentrar o desenvolvimento econômico e corrigir os desequilíbrios setoriais e sociais, quando regionalmente considerados. Nossa hipótese básica é a de que o Governo Federal Brasileiro, em consonância com as demandas políticas regionais, buscou promover tais objetivos através, principalmente, de normas institucionais que expressavam, num grau considerável, a pressão política das elites regionais. A grande extensão territorial brasileira, as fortes diferenças climáticas e geológicas entre suas regiões, a preocupação com a integração nacional, aliadas à forte influência política das elites de regiões menos desenvolvidas (com forte representatividade no Congresso Nacional) e à necessidade da promoção da acumulação capitalista no país, são considerados como fortes razões para justificar a mobilização do aparelho estatal no apoio e desenvolvimento de políticas regionais. Muitas destas políticas permaneceram no campo das idéias ou foram incipientemente implementadas (falta de recursos e/ou de acompanhamento na execução dos projetos). A maioria delas não atingiu suas metas, muito embora os recursos tenham sido significativos (desperdício, improvisação administrativa, fatores conjunturais, para citar apenas alguns dos problemas). A avaliação econômica-social da maioria dos programas regionais já foi realizada por pesquisadores e instituições (França, 1984; PIMES, 1984; Guimarães Neto, 1989; Albuquerque, 1976; Jatobá, 1979). Resta proceder a uma sistematização destes programas, inseridos na política regional global do país e definir suas principais tendências macroespaciais. As normas legais que fundamentaram estas tendências serão aqui consideradas no quadro geral das principais concepções teóricas sobre a questão do desenvolvimento regional. 2. O pós-guerra e o princípio do planejamento regional no Brasil No Pós II Guerra o Brasil iniciava os primeiros passos na direção do planejamento regional. Apesar da importância das teorias que consideravam o atraso regional como questão de tempo e conseqüência da escassez de recursos naturais, já surgiram interpretações que consideravam necessárias intervenções públicas no mercado, a fim de eliminar as barreiras contra uma integração regional plena. Estas análises se baseavam nas contribuições de autores adeptos da teoria da "causação cumulativa e circular", que etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 66 A (des)institucionalizacão das políticas regionais no Brasil? apontavam uma tendência de as regiões mais desenvolvidas sustentarem e incrementarem o seu crescimento econômico, enquanto as mais atrasadas permaneceriam estagnadas ou até mesmo declinariam (Myrdal, 1957). Neste sentido, a Constituição Federal de 1946 apresentava alguns dispositivos importantes com respeito ao desenvolvimento da Região Amazônica e às secas periódicas que atingiam a Região Nordeste do País. Foram assim criados, através de recursos financeiros nunca inferiores a três por cento da renda tributária federal, planos de defesa contra as secas da Região Nordeste. Os Estados incluídos no chamado Polígono das Secas deveriam, semelhantemente ao Governo Federal, destinar três por cento de suas rendas tributárias aos serviços assistenciaisdas populações atingidas pelo flagelo climático, dando preferência à construção de açudes em regime de cooperação1. No que diz respeito à Região Amazônica previa-se um plano de valorização econômica da Região, através de aplicações, durante um mínimo de vinte anos, do mesmo percentual aqui referido para o Nordeste, com respeito às rendas tributárias, da União e dos Estados. Esta disposição constitucional transformou-se, via regulamentação em 1953, no I Plano de Valorização Econômica da Amazônia, criando sua respectiva Superintendência.2 1 Previamente à constituição de 1946, já existia o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) que teve origem na Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS), primeiro órgão público de caráter regional, criado em 1909. Transformada em Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS). Em 1919, a instituição voltou-se para a consolidação de obras de engenharia, preocupando-se com a implantação de infra- estrutura regional, que incluía a construção de estradas, portos, eletrificação, campos de pouso, açudes, poços e canais. Desde 1945, o DNOCS tem se dedicado, principalmente, ao aproveitamento hídrico da região, onde se sobressai a construção de açudes para abastecimento, piscicultura e irrigação (DNOCS, 1983 e 1991). 2 A Amazônia dispunha, desde 1942, do Banco de Crédito da Borracha S/A, com o objetivo de fornecer assistência financeira e técnica para as atividades de extração, comércio e industrialização da borracha. Além disso, o Foi ainda através da Constituição Federal de 1946 que se institucionalizaram recursos (um por cento da receita tributária da União) para um plano de aproveitamento das potencialidades econômicas do Rio São Francisco e seus afluentes3. Ao iniciar o apoio público às regiões menos desenvolvidas, o Estado brasileiro buscava, não só reduzir as diferenças regionais, como também criar ali infra- estrutura mínima com objetivo de atrair investimentos. Acreditava-se, então, que o Estado fosse forte e capaz o bastante para atingir dois objetivos aparentemente conflitantes: resolver o problema das disparidades regionais, cujas principais conseqüências recaíam sobre a população das regiões atrasadas - desemprego, miséria, desnutrição, etc - e ao mesmo tempo tornar estas regiões mais atraentes para o mercado capitalista. Contando com grande oferta de mão-de-obra, mercado consumidor urbano de pequenas proporções, mas importador de bens e serviços do resto do País/Mundo, e Banco era o responsável exclusivo pelas operações finais de compra e venda da borracha. Com a decadência da borracha, foi transformado em Banco de Crédito da Amazônia S/A (1950), propiciando a ampliação do campo de atuação o Banco, oferecendo recursos para o financiamento de atividades agrícolas, pecuárias, industriais, melhorias dos meios de transporte, etc. Finalmente, pela Lei nº 5.122, de 28.09.66, o Banco de Crédito da Amazônia S/A foi transformado em Banco da Amazônia S/A, possibilitando a implantação na Região Amazônica, de um banco de desenvolvimento regional (Mahar, 1978). 3 Em 1945, foi criada a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (CHESF), outorgando-lhe a concessão, para aproveitamento progressivo da energia hidráulica do Rio São Francisco. O objetivo principal da CHESF era assegurar o suprimento de energia elétrica à Região Nordeste, com o intuito de dar suporte ao desenvolvimento sócio-econômico. Em 1948, criou-se, sob inspiração da experiência norte-americana da Tennessee Valley Authority (TVA), a Comissão do Vale, do São Francisco, com vistas no desenvolvimento, no Vale, da agricultura, indústria, irrigação e transportes, ao incremento da imigração e da colonização, à assistência às famílias a ao apoio à educação e a saúde. Em 1967, a Comissão foi extinta e criou-se a Superintendência do Vale do São Francisco (SUVALE). Em 1974, esta Superintendência foi substituída pela Companhia de Desenvolvimento do vale do São Francisco (CODEVASF) que, como empresa pública, passou a atuar sobre uma área de 640 mil quilômetros quadrados, correspondendo a 7,4% do território nacional. Suas atribuições principais referem-se à coordenação de programas e projetos de outros organismos públicos e privados, a nível federal, estadual e municipal (CHESF, 1988; Souza, 1979; CODEVASF, 1985). etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 67 Maria Regina Nabuco subsídios governamentais na oferta de bens públicos, o capital começa a acorrer para as regiões subdesenvolvidas do País, mais claramente a partir dos Anos Cinqüenta. Com efeito, em 1952 foi criado o Banco do Nordeste do Brasil (BNB), sociedade anônima, aberta, de economia mista, com sede e domicílio na cidade de Fortaleza, com área de atuação básica restrita aos Estados compreendidos no Polígono das Secas. Como instituição financeira de investimentos, iniciou então assistência financeira e técnica a empreendimentos de interesse econômico e social localizados na Região Nordeste. Os recursos à disposição do BNB são provenientes de repasses e refinanciamentos do Fundo constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) (BNB, 1992). A expressão máxima de planejamento regional no Brasil, no entanto, foi a criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), em 1959. Surgiu como órgão capaz de definir e implementar um conjunto de políticas para a modernização da estrutura sócio- econômica nordestina. Inicialmente, a SUDENE concentrava seus esforços na realização de pesquisas, estudos e levantamentos básicos, sendo seus primeiros investimentos direcionados para a construção da infra-estrutura regional (rodovia, eletrificação, etc). Esses investimentos eram organizados e orientados por intermédio dos Planos Diretores de Desenvolvimento, elaborados pela SUDENE e aprovados pelo Congresso Nacional (SUDENE, 1990). A principal fonte de recursos financeiros da SUDENE provinha do "Sistema 34/18"4, 4 O “Sistema 34/18” era formado pelo artigo 34, da Lei nº 3.995, de 14.12.61, que aprovou o primeiro Plano Diretor da SUDENE e pelo artigo 18, da Lei nº 4.239 de 27.06.63, que aprovou o segundo Plano Diretor. O artigo 34 facultava às pessoas jurídicas, constituídas de 100% de capital nacional, a reduzirem até 50% do imposto de renda devido, para reinvestimento ou aplicações em indústrias consideradas de interesse para o desenvolvimento do Nordeste. O artigo 18 manteve, aperfeiçoou e ampliou a política de incentivos fiscais. Ele permitiu o abatimento de até 75% sobre o imposto de instituído em 1961, com base na facultação, às pessoas jurídicas, de deduzirem até 75% no Imposto de Renda devido. Estes recursos foram aplicados em projetos agropecuários e, principalmente, industriais, julgados pela SUDENE de grande interesse para o Nordeste. Entre os vários programas e atividades desenvolvidos pelo órgão, destacam-se a mobilização de cooperação externa (OEA, ONU, CEPAL, UNESCO, OIT etc), a cooperação técnica e financeira aos Estados e Municípios, a investigação sistemática dos recursos naturais e da dinâmica da economia regional, a avaliação da administração pública no Nordeste, a coordenação e supervisão de programas, projetos e serviços, entre outras atividades (SUDENE, 1990). No tocante às décadas de Cinqüenta e Sessenta, pode-se dizer, de maneira geral, que a política regional respondeu às tensões políticas (elevada representatividade no Congresso Nacional de deputados destas regiões) e se configurou mais como política assistencial de caráter territorial. Neste sentido, não alterou a lógica básica do modelo de acumulação desenvolvimentistae modernizante do País. Os movimentos sociais e políticos nordestinos que reivindicavam mudanças profundas na sociedade, como, por exemplo, a reforma agrária, foram contrarrestados rapidamente pelo golpe militar de 1964, que instaurou a ditadura no Brasil. renda, caso a pessoa jurídica utilizasse esse montante para a aquisição de obrigações do Fundo de Investimentos para o Desenvolvimento Econômico e Social do Nordeste (FIDENE). Além isso, o artigo estendeu a dedução de 50% nas declarações do imposto de renda para as pessoas jurídicas de capital estrangeiro e para as inversões compreendidas em projetos agrícolas. Em 12.12.74, através do Decreto-lei nº 1.376, foi criado o Fundo de Investimentos do Nordeste (FINOR), com o objetivo de solucionar alguns problemas criados pelo “Sistema 34/18”, como por exemplo, a cobrança de altas taxas de captação e a demora na implantação dos projetos privados (SUDENE, 1990). etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 68 A (des)institucionalizacão das políticas regionais no Brasil? 3. O golpe militar de 1964 e um novo ciclo de políticas regionais 3.1. A Região Nordeste diante da reestruturação da política de incentivos fiscais A partir de 1964 assiste-se a um novo ciclo de políticas regionais no Brasil, cuja maturação e real expressão vai se consubstanciar nos Anos Setenta, através de apoio institucional a novas áreas (fronteira agrícola), perdendo o Nordeste e o Norte a posição anterior de regiões privilegiadas como únicas absorvedoras de programas de incentivos fiscais. Esta perda vai ser verificada mais enfaticamente a partir do início dos Anos Setenta, quando da criação de outros programas regionais (PIN, PROTERRA) e setoriais (FISET – pesca, florestamento e reflorestamento, turismo, etc.) que disputarão o volume de recursos financiados através da dedução sobre o Imposto de Renda devido pelas empresas5. Ao examinarmos a Tabela 1 e a Tabela 2 a seguir, não verificamos uma nítida subtração dos incentivos fiscais recebidos 5 O Fundo de Investimentos Setoriais (FISET) foi criado pelo Decreto-Lei nº 1.376, de 12.12.74, o qual unificou a sistemática de incentivos fiscais setoriais que estava dispersa entre vários decretos-lei: a pesca no Decreto-Lei nº 221, de 28.02.67, florestamento e reflorestamento no Decreto-Lei nº 1.134, de 16.11.70, o turismo no Decreto- Lei nº 1.191, de 27.10.71, a Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A (EMBRAER) no Decreto-Lei nº 770, de 19.08.69, o Fundo de Recuperação econômica do Estado do Espírito Santo (FUNRES) no Decreto-Lei nº 880, de 18.09.69 e a Fundação MOBRAL no Decreto-Lei nº 1.274, de 30.05.73. Esse mecanismo de incentivo fiscal permitia, às pessoas jurídicas, deduzirem dos respectivos impostos de renda devidos, as seguintes alíquotas: a) até 8%, no caso do FIEST - Turismo, para projetos de turismo aprovados pelo Conselho Nacional de Turismo; b) até 25%, no caso do FISET - pesca, para projetos de pesca aprovados pela Superintendência de Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE); c) até os percentuais a seguir enumerados, no caso do FISET – Florestamento e Reflorestamento, para projetos aprovados pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF): ano-base de 1974 – 45%; ano-base de 1975 – 40%; ano-base de 1976 – 35%; ano-base de 1977 – 30%; e ano-base de 1978 e seguintes – 25%. d) até 33%, no caso do Fundo de Recuperação Econômica do Estado do Espírito Santo; e) até 1%, em novas ações da Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A (EMBRAER); e f) até 1 %, em projetos específicos de alfabetização de Fundação MOBRAL. pelo Nordeste (Sistema 34/18 - 1962/74 e FINOR 1975/agosto de 1992). Na verdade, as reduções que se observaram ao longo do período 1962/92 correspondem muito mais aos ciclos recessivos da economia brasileira como um todo. Isso significa que o Nordeste, embora disputando com outras regiões e setores recursos financeiros provenientes do Governo Federal, soube inserir-se também no projeto militar desenvolvimentista dos Anos Sessenta e Setenta. É interessante verificar, pela Tabela 1, a rápida evolução positiva no valor dos Recursos 34/1, no período 1962/74, antes da criação do FINOR, em 1974. Apesar de nos três anos iniciais do Programa de Incentivos Fiscais 34/18, os recursos terem se situado abaixo de 120 milhões de dó1ares, nos anos correspondentes ao "Milagre Econômico Brasileiro (1965/1974)", o nível situou-se, em média, em torno de 263 milhões. TABELA 1 - Nordeste: evolução dos recursos 34/18 - 1962/74 (em USS 1.00) Anos Recursos 34/18 1962 32.651.410 1963 24.483.017 1964 61.606.520 1965 183.842.963 1966 200.988.194 1967 250.486.283 1968 259.891.857 1969 321.520.730 1970 340.550.183 1971 258.102.701 1972 229.868.679 1973 278.255.678 1974 310.470.451 Total 2.752.718.666 FONTE: Banco do Nordeste do Brasil S/A. Departamento de Mercado de Capitais (DEMEC). apud NABUCO & MESQUITA, 1993. A SUDENE adquiriu ainda maior importância por ser administradora do FINOR, um dos principais instrumentos fiscais e financeiros destinados à região pelo Governo Federal. O FINOR não alterava o mecanismo de dedução do imposto de renda das pessoas etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 69 Maria Regina Nabuco jurídicas, mas estabelecia que a opção exercida em favor do Nordeste deveria dar origem a Certificados de Investimentos (CI), os quais seriam trocados automaticamente por quotas do FINOR no prazo de um ano. Desse modo, a empresa com projeto aprovado pela SUDENE não precisaria mais partir para a obtenção dos recursos dos incentivos fiscais junto aos depositantes das deduções do imposto de renda, uma vez que os desembolsos previstos no projeto seriam liberados automaticamente pelo FINOR. Além das deduções do imposto de renda, a receita do Fundo inclui a subscrição de quotas pela União, a subscrição voluntária de quotas por pessoas físicas e jurídicas e os resultados da aplicação dos recursos, entre outras receitas (SUDENE, 1990). De 1975 até agosto de 1992, foram alocados cerca de US$ 5.03 bilhões de incentivos fiscais do FINOR, conforme a Tabela 2. TABELA 2: Nordeste: evolução dos recursos do FINOR 1975/Agosto de 1992 (Em US$ 1.00) Anos Recursos do FINOR 1975 373.740.033 1976 254.497.748 1977 285.520.185 1978 271.852.797 1979 211.296.285 1980 180.743.521 1981 224.152.558 1982 256.876.440 1983 303.194.664 1984 261.195.440 1985 273.009.707 1986 449.496.986 1987 393.368.646 1988 284.227.755 1989 264.541.038 1990 366.593.614 1991 221.817.144 Até Agosto de 1992 158.416.861 Total 5.034.538.422 FONTE: Banco do Nordeste do Brasil S/A . Departamento de Mercado de Capitais (DEMEC). APUD: NABUCO & MESQUITA. 1993. apud NABUCO & MESQUITA, 1993. Com o FINOR, que agilizou a aplicação de recursos advindos dos incentivos fiscais, ampliam-se ainda mais as transferências governamentais (média anual em torno de 287 milhões de dólares), sendo mais expressivos, neste sentido, os anos que correspondem a ciclos expansivos da economia nacional, como, por exemplo, os períodos 75/78 e 86/88. 3.2. A Incorporação da "Amazônia Legal" A centralização administrativa, institucionalizada após o golpe militar de 1964, concentra ainda mais poder e recursos financeiros no Governo Federal. Este persistiu na política do desenvolvimento regional do Pós-Guerra, ampliando as aplicações de verbas federais nas regiões atrasadas (como vimos, através de incentivos fiscais, Tabelas 1 e 2). Neste sentido, é importante registrar o caso dos incentivos fiscais para a "Amazônia Legal" (Leis nº 4.216 e 5.174, de 06.05.63 e de 27.10.66, respectivamente). Estas leis estenderam para a Amazônia os benefícios fiscais referentes ao Nordeste. Este mecanismo de incentivo fiscal para a Amazônia vigorou até o ano de 1974, tendo sidocaptado no período de 1968/74 cerca de US$ 765.481 mil, conforme mostra a Tabela 3. TABELA 3: Amazônia Legal: Evolução dos incentivos fiscais, 1963/74 (em us$ mil) Anos Lei Nº 4.216 Lei Nº 5.174 TOTAL 1963 3.372 3.372 1964 5.427 5.427 1965 13.623 13.623 1966 35.380 35.380 1967 60.030 60.030 1968 78.267 78.267 1969 102.252 102.252 1970 125.868 125.868 1971 90.5913 90.5913 1972 69.308 69.308 1973 . 76.987 76.987 1974 104.369 104.369 TOTAL 57.802 707.679 765.481 FONTE: MAHAR, Dennis J. Desenvolvimento Econômico da Amazônia. apud NABUCO & MESQUITA, 1993. A partir de 1975, com a criação do Fundo de Investimento da Amazônia (FINAM), Decreto-lei nº 1.376, de 12.12.74, o processo de captação de etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 70 A (des)institucionalizacão das políticas regionais no Brasil? recursos foi agilizado, buscando-se eliminar as cobranças de altas taxas de captação de recursos. No período 1975/86 foram alocados cerca de US$ 1.38 milhões desse incentivo fiscal, de acordo com a Tabela 4. TABELA 4 - Amazônia Legal: Evolução dos recursos do FINAM - 1975/86 (em USS mil) Anos Valor líquido disponível para aplicacão 1975 101.813 1976 80.645 1977 101.597 1978 120.037 1979 117.545 1980 111.812 1981 141.300 1982 175.712 1983 95.482 1984 71.814 1985 69.795 1986 196.071 Total 1.383.623 FONTE: Anuário Econômico-Fiscal, vários números. apud NABUCO & MESQUITA, 1993. Além do objetivo de estimular o desenvolvimento econômico-social de uma região atrasada, os incentivos fiscais para investimentos na Amazônia buscavam outras metas, além das perseguidas pela SUDENE. Uma delas era de natureza geopolítica, ou seja, a consideração de que era necessária uma maior integração territorial do espaço nacional. Era necessário efetuar a consolidação das nossas fronteiras em espaços contíguos aos nossos vizinhos latino- americanos. A esta visão militarizada ela integração regional da Amazônia, juntaram-se outras, como por exemplo, a necessidade de absorção ali ele parte importante do excedente estrutural de mão-de-obra gerada pela expansão da industrialização nos centros urbanos, e pela modernização agrícola que, desde o final dos Anos Sessenta, iniciara um processo de expulsão de mão-de-obra de grandes proporções. Além disto, incorporar a Amazônia significava também ampliar o espaço para a mobilização do capital do Centro-Sul do País, através do investimento em terras de preço quase nulo, mas de valor inestimável, quando considerada a possibilidade de sua exploração futura, via descoberta de novas tecnologias para uso econômico do solo, sua importância internacional como reserva florestal e animal etc. Foi durante este período de incorporação da Amazônia através, principalmente, de aplicações financeiras dos incentivos fiscais, que se ampliaram as análises e pesquisas sobre o tema da fronteira agrícola, sua existência e mesmo sua extinção (Mahar, 1978; Ianni, 1979; Sawyer, 1979). Estas análises, em geral apontam para o fato de que os recursos provenientes do FINAM se dirigiram fundamentalmente à compra especulativa de terras onde a "grilagem", usurpação e violência foram os traços marcantes do processo de ocupação. Um outro objetivo defendido pelo Governo Militar com respeito à incorporação da Amazônia foi o de levar a efeito uma Reforma Agrária deixando intocável a propriedade rural no resto do País. O Estatuto da Terra, aprovado pelo Congresso Nacional, em 1966, propunha a Reforma Agrária em latifúndios e/ou terras improdutivas. A expansão demográfica em direção à Amazônia no final dos Anos Sessenta e, especialmente, nos Anos Setenta, serviu como argumento de que era possível assentar colonos sem- terra em terras devolutas, sem tocar na propriedade privada. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) desenvolveu então um processo de assentamento em pequenos lotes de terra, especialmente em Rondônia6. Para lá seguiram milhões de brasileiros do Nordeste, Goiás, Minas Gerais, Paraná, 6 Ao programa de incentivos fiscais da SUDAM e da SUDENE, incorporou-se com o objetivo de maior integração da região ao Centro-Sul do País, o Programa de Integração Nacional (PIN), criado através do Decreto- Lei nº 1.106, de 16.06.70. O Programa previa investimentos em obras de infra-estrutura e, na sua primeira etapa (1971/74), a construção das rodovias Transamazônica e Cuiabá-Santarém, além de um plano de irrigação para o Nordeste. O Decreto estabelecia que 30% do total de dedução do imposto de renda destinado à aplicação em incentivos fiscais seriam direcionados para o PIN. etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 71 Maria Regina Nabuco Rio Grande do Sul e São Paulo, em geral expulsos do campo pela expansão da produção da soja e da cana-de-açúcar (Projeto Pro-Álcool). Sem infra-estrutura adequada, e sem apoio técnico e jurídico, estes assentamentos logo se transformaram em propriedades de "grileiros", devastando as matas e explorando recursos minerais. Com a alta dos preços do petróleo nos Anos Setenta, os primeiros resultados da expansão demográfica e econômica para a Amazônia, onde os insucessos da pesquisa tecnológica com respeito à possibilidade de uma agricultura racional já se verificavam, a região perdeu importância como objetivo de programas de desenvolvimento regional. A produtividade agrícola era baixa, o controle climático era impossível de ser obtido, os capitalistas do sul já haviam "fechado" as melhores terras à continuidade da expansão da fronteira e, ademais, os custos de transporte da região aos mercados consumidores do Centro-Sul tornavam-se proibitivos com os então elevados preços dos combustíveis. 3.3. As políticas regionais para ocupação da fronteira agrícola brasileira A partir de meados dos Anos Setenta, surgem os grandes programas federais para a expansão agrícola e agroindustrial do Centro-Oeste do País. Estes programas foram antecedidos em termos da preocupação comum em relação ao estímulo à agricultura e à agroindústria, pelo PROTERRA (Programa de Redistribuição de Terras e de Estímulo à Agroindústria do Norte e do Nordeste). Criado em 1971 (Decreto-lei nº 1179, de 06.07.71), o PROTERRA tinha como objetivo básico facilitar o acesso do homem à terra e promover a agroindústria da região compreendida nas áreas de atuação da SUDAM e da SUDENE. Os recursos eram provenientes, principalmente, da alíquota de 20% incidente sobre o total das importâncias deduzidas do imposto sobre a renda das pessoas jurídicas (incentivo fiscal). O PROTERRA, assim como o PIN (Plano de Integração Nacional) na área da SUDAM, visavam, na sua concepção original, reorientar o modelo de desenvolvimento regional, baseado na industrialização via substituição de importações. Este modelo privilegiava o desenvolvimento urbano, em detrimento das grandes parcelas populacionais do meio rural. Desta forma, estes dois programas direcionariam seus esforços para as principais causas da pobreza rural: desigual distribuição e utilização da terra e deficiente integração regional. Os instrumentos utilizados pelo PROTERRA foram os seguintes: aquisição ou desapropriação de terras julgadas de interesse social; empréstimos fundiários para pequenos e médios produtores rurais; financiamento de projetos destinados à expansão da agroindústria; subsídio ao uso de insumos modernos; garantia de preços mínimos para os produtos exportáveis; e assistência financeira aos serviços de pesquisa agrícola, sistemas de armazenagem, comercialização, transporte, energia elétrica e outros. No período de 1974/86, o Tesouro Nacional destinou cerca de US$ 5,1 bilhões para aplicação nos programas de investimentos do PIN. De acordo com a Tabela5, podemos observar que a transferência de recursos atingia uma média anual de 395,7 milhões de dólares, importância muito superior às médias anuais do FINAM (US$ 115 milhões) e do FINOR (287 milhões). Também no período de 1974/86, o PROTERRA foi responsável pela captação de US$ 3,4 bilhões, que eram valores líquidos disponíveis para aplicação. etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 72 A (des)institucionalizacão das políticas regionais no Brasil? TABELA 5: Programa de Integração Nacional (PIN) evolução dos recursos, 1974/86 (Em US$ mil) Anos Valor Líquido disponível para aplicação 1974 318.923 1975 370.266 1976 361.225 1977 441.241 1978 475.260 1979 422.292 1980 386.255 1981 518.756 1982 545.830 1983 317.820 1984 255.561 1985 253.405 1986 477.385 TOTAL 5.144.219 Fonte: Anuário Econômico-Fiscal, vários números. apud NABUCO & MESQUITA, 1993. Conforme a Tabela 6, verificamos que a média anual de recursos do PROTERRA atingia a importância de 263,8 milhões de dólares, o que se configurava como um importante apoio financeiro à zona rural das Regiões Norte e Nordeste. TABELA 6: Programa de redistribuição de terras e de estímulo à agroindústria do norte e do nordeste (PROTERRA) evolução dos recursos, 1974/86 (em us$ mil) Anos Valor líquido disponível para aplicação 1974 212.622 1975 246.840 1976 240.813 1977 294.158 1978 316.838 1979 281.528 1980 257.503 1981 345.837 1982 363.886 1983 211.880 1984 170.374 1985 168.937 1986 318.257 TOTAL 3.429.473 FONTE: Anuário Econômico-fiscal, vários números. APUD: NABUCO & MESQUITA 1993. A preocupação com a ocupação da fronteira agrícola nos Anos Setenta, em especial com direção ao Centro-Oeste do Pais, tinha como base o otimismo com relação à teoria das vantagens comparativas. A grande disponibilidade de terras boas e baratas surgia como um recurso de extrema importância numa conjuntura internacional de aumento dos preços de matérias-primas e alimentos. Desta forma, os programas regionais implementados à época (PRODOESTE, POLOCENTRO, POLONOROESTE, POLOAMAZÔNIA, PADAP, PRODECER etc) romperam com os anteriores, onde a ênfase situava-se na questão dos desequilíbrios regionais, que deveriam ser resolvidos via ações governamentais. No caso dos programas de incorporação da fronteira agrícola, a questão da desigualdade regional não se colocava, mas sim a necessidade de ampliar a produção econômica, via modernização agrícola. A fronteira, especialmente a do Centro-Oeste, era enaltecida pelos seus aspectos geográfico/locacionais, ao contrário das abordagens em relação ao Nordeste, que enfatizavam seus problemas. Neste sentido, a Constituição de 1967, que foi substituída praticamente "in totum" pela Emenda Constitucional nº1, de 17.10.69, registrou pouca preocupação com a questão das desigualdades regionais, estabelecendo apenas a obrigação da União com respeito à execução de planos regionais de desenvolvimento (artigo 8º). Os Anos Setenta representam, desta forma no Brasil, o período em que a questão da integração nacional e dos desequilíbrios regionais é vista como passível de solução via articulação entre o Estado e o grande capital privado, nacional e estrangeiro. O Estado associava-se aos empreendimentos via melhoria na infra-estrutura (estradas, energia rural, tecnologia) ou até mesmo como parceiro nos investimentos (petroquímica no Nordeste, por exemplo). Além destes apoios, o setor privado beneficiava-se, como vimos, do mecanismo de dedução do imposto de renda das pessoas jurídicas para fins de investimento (FINOR, FINAM, etc). etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 73 Maria Regina Nabuco Em 08.11.71, através do Decreto-Lei nº 1.192, foi instituído o Programa de Desenvolvimento do Centro-Oeste (PRODOESTE), com o objetivo de incrementar o desenvolvimento econômico dos Estados de Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal. O Programa previa a aplicação de recursos nas seguintes atividades: implantação e pavimentação de rede rodoviária básica; construção de estradas vicinais, de redes de armazéns e silos, de usinas de beneficiamento e frigoríficos; e realização de obras de saneamento em geral. Os recursos do PRODOESTE eram incluídos nas dotações orçamentárias do Ministério dos Transportes e do Interior. Com a finalidade de acelerar o desenvolvimento sócio-econômico do Vale do São Francisco, foi criado o Programa Especial para o Vale do São Francisco (PROVALE), pelo Decreto Lei nº 1.207 de 07.02.72. Os recursos provenientes do PIN, do PROTERRA e de dotações orçamentárias seriam aplicados nos seguintes serviços: realização de obras de urbanização, infra-estrutura social, saneamento e irrigação; apoio aos programas de colonização; implantação de projetos de reflorestamento e parques nacionais; me1horamentos das condições de navegabilidade do Rio São Francisco; dentre outros. Pelo Decreto nº 74.794, de 30.10.74, foi criado o Programa de Desenvolvimento de Áreas Integradas do Nordeste (POLONORDESTE), que tinha como finalidade principal a modernização das atividades agropecuárias de determinados pólos agrícolas do Nordeste. Os recursos para execução do POLONORDESTE eram provenientes, principalmente, do PIN, do PROTERRA e do Fundo de Desenvolvimento de Programação Integrados (FDPI). Programa semelhante ao POLONORDESTE era o Programa de Pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia (POLAMAZÔNIA), Decreto nº 74.607, de 25.09.74, que selecionava quinze áreas prioritárias da Amazônia para o recebimento de investimentos públicos, visando ao aproveitamento integrado das potencialidades agropecuárias, agroindustriais, florestais e minerais. Os recursos do POLAMAZÔNIA eram provenientes do PIN, PROTERRA e FDPI. No sentido de promover o desenvolvimento e a modernização das atividades agropecuárias no Centro-Oeste e no Oeste do Estado de Minas Gerais, foi criado o Programa Desenvolvimento dos Cerrados (POLOCENTRO), pelo Decreto nº 75.320, de 29.01.75. O programa selecionava áreas com características de cerrado para serem incorporadas à agropecuária, mediante investimentos nas atividades de pesquisa, experimentação, florestamento/reflorestamento, assistência técnica e fortalecimento da infra-estrutura básica de apoio (estradas vicinais, eletrificação rural, armazenagem etc). Os recursos eram provenientes do FDPI, do Fundo de Desenvolvimento de Áreas Estratégicas (FDAE), de dotações orçamentárias do Ministério da agricultura e de financiamentos internos. O Programa Especial de Desenvolvimento do Pantanal (PRODEPAN), foi instituído em maio de 1974, objetivando "promover o melhor aproveitamento econômico dos recursos naturais do Pantanal Matogrossense". O programa contemplava a aplicação de recursos na infra-estrutura de transportes terrestres, na regularização dos cursos de água, na expansão da oferta de energia, na promoção da industrialização de matérias-primas locais, dentre outras atividades. O Programa Especial de Desenvolvimento da Região de Grande Dourados (PRODEGRAN), tinha como finalidade básica a ampliação da produção de cereais e oleaginosas, na Região de Dourados, Mato Grosso do Sul, mediante o direcionamento de investimentos para as seguintes etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 74 A (des)institucionalizacão das políticas regionais no Brasil? atividades: combate e prevenção da erosão; mecanização dos cultivos; estímulo ao processo cooperativo de comercialização; armazenagem etc. Estes programas têm várias características comuns. Foram criados na primeira metade da década de Setenta ("Milagre Brasileiro") e se assentam na idéia de polarização do desenvolvimento econômico, ou seja, acreditam que é possível a desconcentração geográfica do desenvolvimento, via criação de pólosregionais em regiões de "fronteira"7. A modernização agrícola ou "Revolução Verde", apoiada em crédito rural abundante e a taxa de juros negativa, tendo em vista a elevação da inflação no período, geraria aumento da oferta de alimentos e matérias-primas agrícolas (com o objetivo principal de exportação), constituindo economias de aglomeração no cerrado, através da ampliação do mercado local para insumos, máquinas, indústrias agro-alimentares, serviços financeiros etc. (FRANÇA. 1984; DINIZ, 1987). A norma institucional que permitiu 7 O melhor exemplo de programa regional se firma na idéia de desconcentrar geograficamente a produção econômica via criação de pólos foi a criação da Zona Franca de Manaus (Decreto-Lei nº 288, de 28.02.67), como uma área de livre comércio de importação e exportação e de incentivos fiscais. A sua criação objetivava promover o desenvolvimento da Amazônia Ocidental, através do estabelecimento de um centro comercial, industrial e agropecuário. Os incentivos fiscais do decreto-lei previam a isenção dos impostos de importação e sobre produtos industrializados incidentes sobre as mercadorias estrangeiras utilizadas tanto para o consumo interno da Zona Franca como para a industrialização. No entanto, armas e munições, perfumes, fumo, bebidas alcoólicas e automóveis estavam fora desse benefício fiscal. Além disso, toda a mercadoria exportada pela Zona Franca para o estrangeiro estava isenta do imposto de exportação. Na verdade, a Zona Franca se assemelhava a um país estrangeiro, onde as compras de mercadorias do território nacional equivaleriam a uma exportação brasileira. A recente Constituição Federal prorrogou até o ano 2013 o funcionamento da Zona Franca com suas características de área de livre comércio exterior e de incentivos fiscais. No âmbito estadual, a Zona Franca contava ainda com auxílios fiscais provenientes de restrições da arrecadação do imposto sobre circulação de mercadorias e serviços (ICMS) e no âmbito municipal a prefeitura concedia isenções sobre o pagamento dosa seus impostos específicos. Obviamente, é praticamente impossível quantificar o montante de incentivos fiscais federais, estaduais e municipais que foram direcionados para a Zona Franca de Manaus. Entretanto, não resta dúvida de que eles foram fundamentais na industrialização e no povoamento da região, bem como no forte crescimento do seu comércio interno e externo. a incorporação da fronteira do Centro- Oeste brasileiro (Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Oeste de Minas Gerais e da Bahia) não foi, pois, a Constituição de 1967, mas sim o II Plano de Desenvolvimento Econômico (II PND, 1975/1979), que deu consistência ideológica e política á formulação destes programas e á incorporação capitalista das terras do "cerrado". O II PND definiu como uma das principais linhas programáticas a integração das regiões brasileiras e a aproximação do urbano e rural. (Lavinas e Nabuco, 1991). Com recursos financeiros estatais abundantemente distribuídos aos médios e grandes proprietários para custeio, investimento e comercialização dos produtos, a agricultura brasileira expandiu-se em direção ao Centro-Oeste, gerando o período das "supersafras" (especialmente soja e milho). Este processo levou à redução da produção per capita dos alimentos básicos do mercado interno, maior concentração fundiária, especialização das novas empresas rurais em produtos de exportação e utilização de recursos de crédito rural na compra de terras. Desta forma, a questão dos "desequilíbrios regionais" ou do desenvolvimento econômico das regiões atrasadas competiu com as novas necessidades de expansão capitalista no Centro-Oeste (crédito farto e construção de infra-estrutura básica). A partir da segunda metade da década de Setenta, alguns programas de desenvolvimento de regiões atrasadas foram elaborados, mas não foram capazes de oferecer eficientes resultados sócio-econômicos. Um exemplo destes programas é o Sertanejo (criado através do Decreto nº 78.229, cujo nome completo era Programa Especial de Apoio ao Desenvolvimento da Região Semi-Árida do Nordeste), que objetivava fortalecer as economias dos pequenos e médios produtores do semi- árido por intermédio de núcleos de etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 75 Maria Regina Nabuco prestação de serviços e de assistência técnica. Os recursos oriundos do PIN e do PROTERRA seriam utilizados como crédito para financiamento dos agricultores estabelecidos em áreas periodicamente afetadas pelas secas. Além do Sertanejo, foram implantados os seguintes programas: Programa de Aproveitamento de Recursos Hídricos do Nordeste – PROHIDRO (EM/CDE nº 10/79), o Programa de Apoio às Populações Pobres das Zonas Canavieiras do Nordeste – PROCANOR (Decreto nº 84.096/79) e o Programa de Pesquisas do Trópico Semi-Árido – TSA (Decreto nº 74.911/74) Outros programas similares buscavam reativar áreas de pequena produção estagnada, como o PRODEMATA, MG II e o PROVARZEAS, em Minas Gerais. O PROVARZEAS (Programa Nacional de Aproveitamento de Várzeas Irrigáveis) foi, mais tarde, estendido para o resto do País, na busca de viabilizar a pequena produção elevando seus níveis de emprego e renda por intermédio do aumento da produção e produtividade. A avaliação destes programas evidenciou sua baixa eficiência no atingimento das metas propostas. Desta forma pode-se dizer que as políticas regionais dos anos Setenta basearam-se no tripé constituído pelas teorias de polarização, aglomeração e modernização agrícola. O POLOCENTRO tinha como objetivo incorporar 3,7 milhões de hectares de "cerrado" no período 1975-79, através de financiamento com 12 meses de prazo. A concentração deste crédito foi de tal ordem que, no período 75-79, cerca de 70% do total foi distribuído entre os estratos de área superior a 750 hectares. Após sua desativação no final dos Anos Setenta (ineficiência produtiva, intensificação do processo inflacionário, esgotamento dos recursos financeiros internos), criou-se o PROCEDER (Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o desenvolvimento Agrícola da Região dos Cerrados), com recursos nacionais e japoneses. Já instalada uma razoável infra-estrutura nos cerrados via POLOCENTRO, o PROCEDER passou a desenvolver programas de assentamento de colonos, via apoio de cooperativas e compra de terras pela CAMPO (empresa agropecuária, constituída de duas "holdings", a JADECO, japonesa, e a BRASAGRO, brasileira). Estava assim coroada a expansão da fronteira do Centro-Oeste, alcançando agora também os Estados de Tocantins, Rondônia, Sudoeste do Piauí, Maranhão e Bahia, via incorporação da mais moderna tecnologia agrícola, em bases empresariais. Para ter- se uma idéia da importância da fronteira do Centro-Oeste, no período 1974/92, sua participação na produção nacional de grãos cresceu de 21% para 33%. Enquanto isto, as regiões de ocupação antiga seguiam dois caminhos: aprofundavam seu processo de estagnação (Nordeste do Brasil, Norte e Leste de Minas Gerais, espírito Santo e Rio de Janeiro) ou adquiriam novas vantagens comparativas (Paraná, com a substituição do café pela soja; São Paulo, com a expansão da soja, cana-de-açúcar e frutas; a expansão da cultura de trigo e soja nos demais Estados do Sul etc). 4. A transição democrática dos anos oitenta: irrigação e a "desconcentração concentrada" A crise econômica dos Anos Oitenta no Brasil (em especial nos anos 80/83) vai reforçar as desigualdades espaciais no Brasil, cuja nova configuração já se desenhava nos Anos Setenta, como vimos. Assiste-se ao que já se convencionou chamar de "desconcentração concentrada" (Azzoni, 1986; Diniz, 1991), ou seja, ao espraiamento industrial da industrialização paulista em direção às regiões que lhe são próximas, como o Sulde Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Do ponto de vista etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 76 A (des)institucionalizacão das políticas regionais no Brasil? agrícola, os projetos que resistem à crise também são os que se situam próximos à São Paulo, em especial o triângulo Mineiro, o Sudoeste de Minas, Mato Grosso do Sul e os Estados Sulinos. Algumas "manchas" de industrialização, no entanto, são visíveis em algumas poucas regiões que não pertencem a este seleto grupo dos que apresentam algum crescimento. Pode-se citar a química na Bahia, o reflorestamento no Espírito Santo, a produção de frutas irrigadas ao longo do Rio São Francisco, a produção de novos materiais no Rio Grande do Norte, a indústria têxtil e de confecções no Ceará etc. (Diniz, 1991). A maioria destes projetos foi gerada por programas regionais, como o FINOR, PROINE (Programa de Irrigação do Nordeste) etc. No caso do FINOR (Tabela 2), a partir de 1979 até a primeira metade da década de Oitenta, assiste-se a uma visível redução de seus recursos. A média anual, no período, de cerca de US$ 250 milhões, contrasta com a média do período anterior, 1970/78, de US$ 290 milhões. Mas, com os anos da recuperação parcial ou conjuntural da crise econômica nacional (1986/90) estes recursos voltam a crescer e vão se situar em um patamar médio anual bastante elevado – US$ 350 milhões – considerando-se todo o período de sua vigência (1962/91, incluindo o programa anterior – os Recursos 34/18, Tabela 1). O PROINE8 foi, em termos de programa de desenvolvimento regional, a grande novidade dos Anos Oitenta. Na verdade tratava-se de um sub-programa do PRONI (Programa Nacional de 8 O Programa de Irrigação do Nordeste (PROINE) foi instituído pela Lei nº 7.499, de 26.06.86, no contexto do I Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova República, do Presidente José Sarney. No período de 1986/90, foram reservados recursos na ordem de US$ 4,305 bilhões, provenientes do PIN, PROTERRA, FINSOCIAL, do Orçamento da União, de empréstimos do sistema BNDES / FINAME, do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Entre os objetivos do programa destacavam-se o aumento da produção e da produtividade agrícola, implantação de projetos irrigados, criação de empregos estáveis e bem remunerados, fortalecimento dos serviços de pesquisa e assistência técnica, estímulo à agroindústria regional, etc. Irrigação), criado no Governo Sarney (1985), para o prosseguimento da modernização agrícola. Foi, para tanto, criado um Ministério Especial – Ministério da Irrigação, cujo principal objetivo era aumentar a área irrigada nacional em mais de 2 milhões de hectares, sendo 700 hectares situados no Nordeste. Estas metas seriam obtidas no período 1986/89, como parte do Plano de Metas, cujo objetivo principal seria produzir em 1989, 71,6 milhões de toneladas de grãos. A irrigação seria, segundo o referido Plano, o principal fator para esta expansão (Nabuco, 1987). Na verdade, através do apoio á produção agrícola nos anos 1986, 1987, 1988 (política de estímulo ao aumento dos preços mínimos, ampliação do crédito de investimento e custeio etc), o Brasil conheceu elevadas taxas de grãos, mas que não tiveram continuidade no início dos Anos Noventa. Desta forma, o recrudescimento da crise financeira do Estado Brasileiro, a redução dos preços internacionais dos alimentos e a pouca eficiência produtiva e financeira da irrigação, especialmente irrigação por aspersão ("pivots-centrais"), impossibilitaram a continuidade dos programas modernizantes da agricultura dos "cerrados" brasileiros. Sobrevivem, no final do Oitenta e início dos Noventa alguns poucos projetos, como o PROCEDER II, cujos colonos se encontram, de maneira geral, fortemente endividados com o sistema financeiro que gerencia o crédito agrícola. No Nordeste brasileiro (região da SUDENE) também sobrevivem alguns poucos projetos ligados à pequena produção agrícola, como o Programa de Apoio ao Pequeno Produtor Rural (PAPP), criado em 01-04-85, pelo Decreto nº 91.179, que absorveu o POLONORDESTE, o Projeto Sertanejo, o PROHIDRO e o PROCANOR. O PAPP objetivava elevar os níveis de emprego e de renda dos pequenos produtores agropecuários, por intermédio do etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 77 Maria Regina Nabuco aumento da produção e da produtividade. Por fim, a crise econômica que se aprofunda no final dos Oitenta, porém, torna ainda mais escassos os recursos para ações de política pública (ver redução dos recursos do FINOR, a partir de 1987, Tabela 2) 5. A constituição de 1988 e o governo Collor: regionalismo versus localismo A promulgação da Constituição de 5 de outubro de 1988 foi o coroamento do processo de abertura democrático iniciado no governo militar do General Figueiredo (1979/85). Nesse sentido, a elaboração da Constituição foi caracterizada pela forte pressão de classes sociais, grupos e estamentos organizados da sociedade, que procuravam influenciar os constituintes no sentido de faze-los votar conforme os interesses desses grupos. Assim, o texto final da Constituição não revela organicidade ou consistência ideológica, acolhendo em graus variados grande diversidade de demandas sociais, fruto dos "lobbies" militares, regionais, empresariais, neoliberais, do operariado, religiosos, conservadores (latifundiários), profissionais liberais e organizações emergentes (consumidores, ambientalistas etc) etc. O "lobby" regional teve uma participação significativa neste processo, sendo obtidas conquistas inéditas para as regiões menos desenvolvidas do País. O enfoque do apoio do desenvolvimento regional foi contemplado nos seguintes artigos: a. terceiro, que estabelece como um dos objetivos fundamentais da república a redução das desigualdades sociais e regionais; b. 21-IX e 48-IV, que impõem à União a elaboração e execução de planos regionais de ordenação do espaço e de desenvolvimento sócio econômico, após suas devidas apreciações pelo congresso Nacional; c. 43º, que dispõe sobre a criação da Lei Complementar para reduzir as desigualdades regionais e, no seu segundo parágrafo, aborda a questão dos incentivos regionais, podendo estes compreender juros favorecidos para atividades estratégicas, isenções, reduções ou diferimento temporário de tributos federais, prioridade para o aproveitamento de recursos hídricos nas regiões sujeitas a secas periódicas, além de outros incentivos; d. 151º, que concede à União o poder de criação de incentivos fiscais, com vistas à promoção do equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes regiões do País; e. 165º, que trata especificamente do Plano Plurianual e dos Orçamentos. O Plano Plurianual abordará regionalizadamente as diretrizes e metas para as despesas de capital. O Orçamento Fiscal e o de Investimentos, cuja função central é a redução das desigualdades inter-regionais, deverão acompanhar um demonstrativo regionalizado sobre os efeitos de insenções e subsídios de natureza tributária e creditícia; f. 192º, que dispõe sobre o depósito e a aplicação, pelas instituições regionais de crédito, dos recursos financeiros concernentes a programas e projetos de caráter regional; e x� nas “Disposições Transitórias”, o artigo 40 mantém a Zona Franca de Manaus, com suas características de área livre de comércio exterior e de incentivos fiscais, por um período mínimo de vinte e cinco anos e o artigo 42 obriga a União a aplicar dos recursos destinados à irrigação, durante quinze anos, 20% na Região Centro-Oeste e 50% na Região Nordeste. etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 78 A (des)institucionalizacão das políticasregionais no Brasil? No entanto, com exceção das “Disposições Transitórias”, os artigos constitucionais acima mencionados não tiveram ainda um impacto sobre as regiões menos desenvolvidas, uma vez que a efetiva implementação desses artigos depende da formulação de leis complementares, que até o momento não foram elaboradas. Situação oposta, com respeito à viabilidade atual de implementação das questões regionais pela União é apresentada pelo artigo 159 da Constituição, uma vez que, em 27/09/89, ele foi regulamentado pela Lei nº 7.827. Este dispositivo constitucional resgatou a contínua aplicação de recursos nas regiões menos desenvolvidas do País, na medida em que obrigou a União a entregar às instituições financeiras regionais, três por cento do total arrecadado com impostos sobre renda e proventos de qualquer natureza e sobre produtos industrializados. Esses recursos não podem ser aplicados em empréstimos, assistências ou a fundo perdido e devem contemplar programas de financiamento ao setor produtivo das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. No caso da Região Nordeste, metade dos recursos deve ser direcionada para o semi-árido. De acordo com a Tabela 7, no período de setembro/89 a dezembro/92, o Tesouro Nacional transferiu cerca de US$ 2,55 bilhões para o Fundo Constitucional das Regiões Norte, Nordeste e Centro- Oeste. TABELA 7: Evolução dos recursos do fundo constitucional das regiões Norte, Nordeste e Centro- Oeste do Brasil. Setembro de 1989/1992 (Em US$ mil) Anos Valor líquido disponível para aplicação 1989 445,197 1990 927,573 1991 627,292 1992 549,560 TOTAL 2.549,622 FONTE: Boletim Mensal do Banco Central do Brasil, vários números. apud NABUCO & MESQUITA, 1993. Fazendo uma análise dos números do fundo, verificamos que a média anual dos últimos três anos alcança a importância de 701 milhões de dólares, o que é uma média significativa relativamente às outras médias do FINOR (US$ 287 milhões), FINAM (US$ 115 milhões), PIN (US$ 395, 7 milhões) e PROTERRA (US$ 263,8 milhões), Observamos também que, no ano de 1990, época da implantação do Plano Collor, a arrecadação dos dois principais tributos federais – Imposto de Renda e IPI – teve uma expressiva elevação e nos anos seguintes, período da política econômica recessiva do Ministro Marcílio e do “impeachment” do Presidente, há uma queda substancial na receita tributária. Tudo isso é refletido na captação de recursos do Fundo Constitucional. Aliás, o “Plano Collor” ou “Plano Brasil Novo” consistia em um conjunto de medidas provisórias, posteriormente aprovadas pelo Congresso Nacional e transformadas em leis, expedidas pelo Presidente Fernando Collor de Mello no dia da sua posse, em 15/03/90. Essas medidas provisórias envolviam uma ampla reforma econômico-financeira e administrativa no País e a sua consistência macroeconômica estava fundamentada em instrumentos de políticas monetária, fiscal e de rendas. Na área monetária, a principal medida dizia respeito à retenção vigorosa dos ativos financeiros, o que resultou e uma forte redução do estoque nominal de moeda. As medidas fiscais do Plano incorporavam a suspensão de incentivos fiscais, a incidência do Imposto sobre Operações Financeiras sobre os ativos financeiros retidos, combate à sonegação fiscal, programa de privatização de estatais, reforma administrativa, criação e aumento de alíquotas de alguns impostos e a redução do serviço da dívida pública interna. A política de renda contemplava reajuste das tarifas públicas, congelamento provisório e posterior etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 79 Maria Regina Nabuco prefixação de preços e nova política salarial (Barbosa, 1990). Na verdade, o “Plano Collor” compreendia duas vertentes ideológicas de política econômica: uma neoliberal e outra social-democrata. As medidas de austeridade na política monetária e nos gastos da administração pública e no processo de desregulação da economia, entre outras, demonstravam a opção neoliberal do Plano. Por outro lado, a vertente social-democrata estava de certo modo presente na adoção do congelamento de preços e do gatilho salarial. (Paiva, 1990). No tocante à questão regional, o Plano incorporava principalmente as seguintes medidas: revogação das isenções/reduções do Imposto de Importações e do IPI, dentro do sistema de Regimes Especiais de Importação, inclusive no âmbito da SUDENE e da SUDAM (Lei nº 8. 032, de 12/04/90), e suspensão, por 180 dias, dos benefícios fiscais relacionados ao FINOR, FINAM e ao Fundo de Recuperação Econômica do Espírito Santo (FUNRES) Lei nº 8.034, de 12/04/90. A revogação das isenções/reduções do Imposto de Importação e do IPI estava vinculada à política de abertura/desregulamentação da economia. Para as regiões menos desenvolvidas, essa medida representava uma redução da transferência de recursos tributários da União para o setor privado regional. Assim, sem esse benefício tributário, as indústrias regionais que importavam máquinas, equipamentos, matérias-primas etc, se defrontaram com uma elevação dos custos. A suspensão do FINOR, FINAM e FUNRES implicou interrupção na transferência da parcela dos incentivos fiscais às regiões menos desenvolvidas. Essa medida paralisou, temporariamente, a implantação de novos projetos industriais e agrícolas considerados de relevante interesse para essas regiões. Dessa forma, podemos inferir que o “Plano Collor” priorizou uma política econômica centrada principalmente nas questões macroeconômicas de curto prazo ou conjunturais e, nesse contexto, a problemática regional foi tratada subsidiariamente. Como vimos, as medidas de caráter regional eram instrumentos de uma política fiscal austera, cujo objetivo precípuo residia no combate à inflação. Noutras palavras, as decisões executivas foram tomadas e implementadas sem um estudo ou avaliação prévia dos seus impactos sobre as regiões menos desenvolvidas do País. Por outro lado, o Governo Collor exprimiu, desde a campanha presidencial, propostas de política que unem, paradoxalmente, modernidade (livre mercado, desenvolvimento tecnológico, expansão em direção ao mercado internacional, privatização, enxugamento da máquina administrativa do Estado etc.) e apoio aos “descamisados”, ou seja, à massa não organizada, especialmente à população rural e urbana das regiões mais atrasadas. O Governo Collor, na verdade, reproduziu a ambigüidade contida na Constituição Federal de 1988 e, neste sentido, também acolheu demandas regionais, consubstanciadas, por exemplo, na tentativa de levar à frente uma “Política de Governadores” e de apoiar-se e elites regionais (rolagem da dívida dos usineiros). A descentralização administrativa, propiciada pela Constituição de 1988 (Reforma Tributária) gerou uma nova territorialidade que não se limitou aos contornos geográficos e administrativos existentes até então. A maior participação dos municípios nos recursos financeiros gerados pela nova tributação confere a estes maior capacidade para planejar e executar suas ações9. 9 Rocca (1992) mostra que, pela nova Constituição, a carga tributária descentralizou-se rapidamente. O Fundo de Participação dos Estados ampliou-se de 14% para 25%; o Fundo de Participação dos Municípios passou de 17% para 22,5%; e o Fundo Especial (Norte, Nordeste, etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 80 A (des)institucionalizacão das políticas regionais no Brasil? Desta forma, a grande proposta regionalizante da Constituição de 1988 foi a descentralização administrativa, onde sua face mais visível é a municipalização. Não é coincidência que a este processo corresponda, a nível mundial, o fenômeno da globalização, onde as “cidades mundiais” ocupam papel de destaque na produção,concentração e distribuição de riquezas. Os serviços modernos ligados à produção industrial (financeiros, de pesquisa e desenvolvimento, consultoria, informática, etc) adquiram maiôs importância, quer como geradores de excedente e emprego, quer como polarizadores de atividades industriais e agrícolas. Ao ganhar maior autonomia financeira, os municípios adquirem real especialidade, no sentido de maior capacidade de formuladores de política. Ganha também maior dimensão p localismo, onde a vizinhança, os movimentos comunitários e as variadas normas de integração social (religião, educação etc) são fatores rapidamente colocados na agenda do desenvolvimento econômico e social. Este tipo de movimento administrativo/espacial tem raízes no neoliberalismo dos Anos Oitenta, quando ressurge o mito de que apenas as comunidades são morais e autônomas, enquanto o Estado apresenta-se intrinsecamente burocrático, corrupto e dominado pelas elites. Este é um equívoco não só de princípios, como também de política econômica. O desenvolvimento econômico e social pode iniciar-se localmente, através da demanda e pressões de comunidades e grupos organizados, mas sem o apoio dos governos municipais, estaduais e federal, pouco se pode fazer. A ação local para o poder requer um estado forte. Os Centro-Oeste), de 2% para 3%. No total, esta descentralização significou uma ampliação de 33% para 47% destas transferências. conflitos locais não podem ser localmente contidos. Eles devem atingir as arenas regionais e nacionais porque, caso contrário, não terão eficácia permanente. O objetivo de longo prazo das políticas locais é reequilibrar a estrutura de poder na sociedade. (Friedmann, 1992) e, portanto, deve direcionar-se a âmbitos regionais mais amplos, que envolvem regiões metropolitanas, municípios vizinhos, unidades federativas, reservas ambientais, zonas agroecológicas, bacias fluviais, etc. 6. Emergência do municipalismo Desta forma, os quase cinqüenta anos de institucionalização das políticas regionais para o Brasil podem ser classificados em pelo menos quatro formas de intervenção pública. Os anos compreendidos entre os primeiros programas de desenvolvimento regional implementados dentro do espírito da Constituição de 1946 e o início dos Anos Setenta representam uma política que privilegiou o combate ao atraso via ações territoriais, de caráter geográfico/climático. O “círculo vicioso da pobreza” foi aqui detectado como causado principalmente pelas desvantagens comparativas das regiões atrasadas (problemas da seca, baixa fertilidade das terras). Uma visão mais refinada desta interpretação é representada pelas análises da SUDENE que aponta, ademais, a organização econômica e social da agricultura nordestina, como um dos fatores fundamentais do atraso. O governo militar implantado em 1964 inicia um novo ciclo de políticas regionais, caracterizado pelo extremo centralismo das decisões políticas e pela ênfase em políticas de integração regional. O Nordeste deixa de ser a principal região alvo de políticas, incluindo-se outras áreas também relevantes: Amazônia e Centro-Oeste. Reforça-se o sistema do desenvolvimento regional via incentivos fiscais, unindo-se etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 81 Maria Regina Nabuco o capitalismo industrial do Centro-Sul às oportunidades de ampliação do mercado, especialmente no Nordeste. No caso da nova fronteira agrícola (Amazônia e Centro-Oeste), a ligação com o Centro-Sul dá-se menos através da expansão do mercado consumidor e mais através da incorporação de terras baratas à produção agrícola. Estado e empreendimento privado unem-se via fartos recursos oficiais, despendidos em grandes programas territoriais, via melhorias na infra-estrutura, crédito farto e barato, “joint-ventures”, etc. Com os primeiros sinais da crise econômica no final dos Anos Setenta, a escassez de recursos públicos obrigou os governos regionais (estaduais) a uma série de estratégias de captação de recursos. Uma delas fico classicamente conhecida como “estratégia participativa de administração” (Gómez de Souza, 1991) em que à maior participação popular gerada pelos movimentos sociais contra a ditadura militar, somou-se a ação de alguns governos estaduais e municipais democratas, eleitos por via direta. Este processo de ampliação da participação democrática nas decisões de política ampliou-se, a nível federal, com a Nova República do Governo Sarney (1985/90). Com a eleição de Collor (1990), a complexa combinação entre o neoliberalismo, revigorado a partir do processo de reestruturação industrial nos países desenvolvidos, e o clientelismo/populismo dos “descamisados” encontra sua expressão territorial na descentralização administrativa, ou localismo. Os municípios adquirem maior visibilidade na implementação das políticas territoriais, expressão da redobrada importância que assume a produção de serviços modernos, sediados nas cidades e expressando o que de mais moderno o capitalismo mundial nos Anos Noventa. Somam-se, assim, neoliberalismo, globalização, possibilidade de inserção do país no Primeiro Mundo e municipalismo. Algumas experiências recentes de administração municipal num país periférico como o Brasil têm buscado alternativas que levam em consideração a busca da modernidade, mas incluindo novas formas de gestão do espaço público e privado, no sentido do avanço da qualidade de vida para os cidadãos. A nova agenda governamental é a busca dos direitos humanos urbanos universais, através da redução da desigualdade do acesso dos serviços sociais. Para tanto, “complementa-se” a lógica do conflito entre classes e setores da sociedade, com a lógica da renegociação “ad-hoc”. Estado e sociedade buscam a governabilidade local, ampliando-se a participação política daqueles que são capazes de formular demandas (ex: orçamento participativo), tornando o processo administrativo de alocação de recursos mais transparente. Ademais, cria-se nas cidades brasileiras nos Anos Noventa, uma série de Conselhos ligados à Política Urbana (paritários, consultivos, deliberativos), sos mais diversos setores (Moradia, Meio Ambiente, Criança e Adolescente, Abastecimento, etc), de caráter pluralista, ampliando-se o leque de possibilidades de arranjos entre organizações governamentais e não governamentais. Estes novos arranjos ou parcerias, que em grande medida reduzem a capacidade e o poder de atuação dos partidos políticos e do legislativo, buscam nova governabilidade, baseando-se em três fatos: 1. novo papel econômico do Estado – mais reduzido e ágil – mas ainda garantindo a manutenção de ciclos econômicos, expansivos, tendo em vista que as cidades periféricas brasileiras não contêm (ou apenas rarissimamente) o núcleo gerador do progresso técnico. Embora cada vez menos presente nos setores dinâmicos da economia, o Estado se faz presente etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 82 A (des)institucionalizacão das políticas regionais no Brasil? nos chamados setores estratégicos (não atrativos ao capital privado) e no apoio à pesquisa e desenvolvimento tecnológico; 2. nova ordenação do espaço público, através da permissão ou concessão de uso a grupos privados, desde que os contratos incluam benefícios sociais mais amplos, como melhoria da qualidade dos produtos oferecidos, preços com margem de comercialização controlada, melhoria sanitária e ambiental das áreas, etc. 3. nova estratégia política, com a institucionalização de alianças de negociação/harmonização entre governo, sindicatos, associação de consumidores e produtores, etc, formas que competem com o canal convencional de deliberação do Estado. Esta busca de governabilidade atravésda ampliação da participação da sociedade na administração municipal (democracia radical), adaptando-se à nova divisão internacional e inter- regional do trabalho e suas repercussões locais, apresenta, no entanto, fragilidades que podem comprometê-la. Em primeiro lugar, as dificuldades (financeiras, burocráticas, públicas) de cumprir o programa de governo, frustrando as expectativas dos cidadãos, em especial, dos interesses organizados. Em segundo, a incapacidade de incluir a massa dos cidadãos que, crescentemente, encontram-se fora do mercado de trabalho e, conseqüentemente, fora do mercado de bens e serviços. Mesmo com a virtual retomada do ciclo expansivo da economia nacional e seus rebatimentos locais, sabe-se que o desenvolvimento hoje se dá em uma correspondente ampliação da oferta de trabalho. O conflito social se expressa, não só através da oferta da propriedade da terra e do capital e da redistribuição da renda, mas se torna mais visível através da marginalidade, miséria e violência urbanas. Com isto, a governabilidade pode se romper, assegurando-se a regulação da sociedade apenas através de maior repressão. Como neste caso amplia- se o número de elementos não negociáveis entre sociedade e estado, corre-se o risco da igual ampliação de movimentos que excluem o estado, apoiados em identidades coletivas que não se baseiam em posições contratuais, em relação ao mercado de trabalho. Estes movimentos em geral possuem uma concepção negativa da política, buscando sua unidade através de uma utopia conservadora, reduzindo-se cada vez mais as relações interorganizacionais e a solidariedade orgânica (faccionismo). Se a saída da crise econômica não nos oferece garantia de ampliação do emprego e redistribuição de renda, a questão da exclusão de grande parte dos cidadãos da participação política (problema da “governance”) relativiza o otimismo com que foi inicialmente tratada a questão do municipalismo, localismo ou descentralização espacial das políticas públicas. Às virtudes da democracia direta – maior transparência do setor público, maior controle por parte dos cidadãos, maior autonomia e flexibilidade das decisões locais, etc, contrapõem-se problemas, como a restrição a solidariedade territorial mais ampla, percepção fragmentada dos problemas sociais e isolamento das cidades de sua realidade regional, do ponto de vista de sua economia. Ademais, esta nova modalidade de “estado do bem- estar”, em que governos municipais buscam, durante a crise, expandir/melhorar os serviços públicos, enquanto abrem o leque de oportunidades de parceria cm o setor privado (por escassez de recursos e reconhecimento da necessidade de reforma do estado) pode propiciar cada vez mais o acomodamento dos chamados movimentos reivindicativos de valores, ampliando-se aqueles que se baseiam apenas nos interesses redistributivistas. É etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 83 Maria Regina Nabuco preciso que a busca da governabilidade através da negociação e da parceria não leve ao enfraquecimento dos partidos competitivos, retirando sua vitalidade e a repassando para os movimentos que reduzem a solidariedade interinstitucional e territorial. Impossível buscar a “governance” municipal sem consonância com políticas de âmbito nacional, estadual e supra-local. Pode-se mesmo dizer que sem a esfera supra- local, corremos o risco de continuarmos combinando a velha fórmula federativa brasileira: centralismo, clientelismo e localismo. (Pacheco, 1994) A este respeito, é interessante observar que, mesmo entre as políticas públicas que sofreram algum processo de descentralização ou desconcentração administrativas, pós Constituição de 1988, a dinâmica tem sido falha em vários sentidos. Em primeiro lugar, a descentralização administrativa foi iniciada, de maneira geral, pelos municípios, numa verdadeira investida para a resolução dos graves problemas locais, sem aguardar que as outras esferas federativas agissem no mesmo sentido, a fim de renovar-se a antiga articulação espacial pré-1988 (Lavinas & Nabuco, 1994b). No que diz respeito á Constituição, há referência setoriais específicas apenas à saúde e educação, artigos 198 e 211, respectivamente. As demais políticas continuam carecendo, não só de Leis complementares para "fixação de normas para a cooperação entre a União e os estados, o DF e os municípios" (Artigo 23, inciso VIII), como também da garantia das transferências financeiras necessárias à sua implantação. Ademais, para que o maior dinamismo recente dos municípios não transforme este processo em um conjunto de experiências bem sucedidas, mas isoladas ("prefeiturização") e dispersas geograficamente, é necessária também a coordenação do governo federal, estipulando prioridades, evitando a dispersão de recursos e a superposição de projetos (Lavinas & Nabuco, 1994a). Análises recentes revelaram que a Constituição/88 "permitiu uma repartição mais equânime das transferências federais para os estados". Mas os estados não podem ser tecnicamente definidos como "escala espacial predominante nos processos econômicos, sociais e políticos", não podem ser considerados como regiões, no verdadeiro sentido deste termo (Lavinas, Magina & Silva, 1994). É neste sentido que, além da transferência compensatória, em casos específicos, é necessário ampliar-se também em direção às regiões menos desenvolvidas, o volume dos financiamentos com recursos federais. Apesar de ter-se ampliado em período recente, o volume de transferências para os estados, e de este ter-se concentrado em regiões como o Nordeste (33% das transferências correntes no período 1982-88), o montante de financiamentos supera em muito o das transferências (segundo ainda Lavinas, Magina & Silva, 1994, no período acima referido, o primeiro foi cinco vezes maior que o segundo). Isto significa que às transferências compensatórias deverá ser acrescida a preocupação com o aumento de financiamento para projetos econômicos em regiões menos desenvolvidas, com preocupações de repercussões econômico/sociais de âmbito local e supra-local não necessariamente federativo (regional igual à estadual ou à soma de estados). Somente com esta preocupação é que os três níveis espaciais objeto de políticas públicas – local, supra- local e nacional poderão articular-se com eqüidade e eficiência. 7. O Município: "Território democrático da ingovernabilidade?" Para superar as limitações do municipalismo aqui já referidas – isolamento, fragmentação e incapacidade de resolução dos graves problemas etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2(6), VOL. 1, 15 de setembro de 2007, ISSN 1981-3732 84 A (des)institucionalizacão das políticas regionais no Brasil? econômicos (inserção periférica na divisão internacional do trabalho) e sociais (a não "governance") – é necessário uma inserção mais articulada às esferas regionais e nacional do planejamento. Isto significa que, muito embora sejam hoje os municípios a arma privilegiada para a melhoria das condições de vida da população, esta tendência pode ser reduzida ou mesmo contraarrestada por impossibilidade de sua reprodução a nível mais amplo. No caso mais específico de desenvolvimento econômico – avanço tecnológico, aumento da renda e possibilidade de geração de novos empregos – é indispensável ações de planejamento a nível supra-local, que garantam não só maiores ganhos de escala, mas contínua articulação de bens, serviços e conhecimento científico. Quer chamemos a esta nova região de supra-local (para diferencia-la do "regional" que, muitas vezes, se confunde com unidade federativas), ou de funcional, tendo em vista que são, em geral, conurbações urbanas definidas por proximidade e fluxos de bens, serviços e população), é necessário conferir-se um nível superior de institucionalização a tais regiões. O não reconhecimento
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