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DESENVOLVIMENTO DO TURISMO NO PÓLO SATERÊ Diagnóstico Preliminar Produto 1 Novembro / 2006 Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 1 Sumário 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS............................................................................ 4 2 CARACTERIZAÇÃO DO PÓLO DE ECOTURISMO SATERÊ ........................................ 9 2.1 Histórico da Ocupação........................................................................... 9 2.1.1 Maués ...................................................................................... 9 2.1.2 Boa Vista do Ramos..................................................................... 10 2.1.3 Barreirinha............................................................................... 11 2.1.4 Parintins.................................................................................. 12 2.1.5 Nhamundá................................................................................ 13 2.2 Localização e acesso............................................................................ 14 2.3 Caracterização dos Aspectos Naturais ....................................................... 16 2.3.1 Clima e Hidrografia .................................................................... 16 2.3.2 Relevo e Recursos Minerais............................................................ 19 2.3.3 Solos ...................................................................................... 20 2.3.4 Tipologia Vegetal ....................................................................... 21 2.3.5 Fauna ..................................................................................... 27 2.3.6 Unidades de Conservação.............................................................. 30 2.4 Caracterização dos Aspectos Sócio-Econômicos e Culturais Relevantes................ 32 2.4.1 Dinâmica Populacional ................................................................. 32 2.4.2 Educação, Saúde e Saneamento Básico.............................................. 33 2.4.3 Núcleos Comunitários e Aspectos Organizacionais ................................ 34 2.4.4 Populações Indígenas e o Ecoturismo................................................ 34 2.4.5 Panorama Econômico................................................................... 51 2.4.6 Panorama Cultural...................................................................... 53 2.4.7 Aspectos Institucionais, Programas e Projetos..................................... 59 2.4.8 Questões Ambientais Relevantes..................................................... 60 3 CARACTERIZAÇÃO DE POTENCIALIDADES ECOTURÍSTICAS...................................62 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................78 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................79 Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 2 Lista de Siglas e Abreviaturas AAM - Associação Amazonense dos Municípios AMAZONASTUR - Empresa Estadual do Turismo do Amazonas AMAZÔNIA LEGAL - A Amazônia Legal é um Decreto Lei 5173, que abrange a totalidade dos estados do Acre, Amazonas, Roraima, Rondônia, Pará, Amapá, Mato Grosso e Tocantins, participando parcialmente o estado do Maranhão, em 500.631.680 habitantes. É representada por seus ambientes naturais, elevo e áreas protegidas de Terras Indígenas e áreas de Conservação. AOBT - Associação dos Operadores de Barcos de Turismo do Amazonas APEAM - Associação dos Pescadores do Amazonas BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento BOH - Boletim de Ocupação Hoteleira CAT – Central de Atendimento ao Turismo CI – Conservação Internacional CNTUR - Conselho Nacional do Turismo COIAB - Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira DEPRO - Departamento do Turismo e Promoção EMAMTUR - Empresa Amazonense de Turismo EMBRATUR - Instituto Brasileiro do Turismo FECAP – Festival de Canção de Purus FEMUSA – Festival de Música Sacra FEPI - Fundação Estadual de Políticas Indígenas do Amazonas FNRH - Ficha Nacional de Registro de Hóspedes FUCAPI – Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica FUNAI - Fundação Nacional dos Índios FUNASA – Fundação Nacional da Saúde FUNGETUR - Fundo Geral do Turismo GIT - Gerência de Interiorização do Turismo GTC / Pesca - Grupo Técnico de Cooperação Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 3 IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH – Índice de Desenvolvimento Humano IPAAM - Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas ISA - Centro Ecumênico de Documentação e Informação MMA - Ministério do Meio Ambiente OMT - Organização Mundial do Turismo ONG – Organização Não Governamental PIB – Produto Interno Bruto PNDPA - Programa Nacional de Desenvolvimento da Pesca Amazônica (Responsabilidade do MMA) PNMT - Programa Nacional de Municipalização do Turismo PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PPA – Plano Plurianual PROECOTUR - Programa de Desenvolvimento Ecoturismo (na Amazônia Legal) PRT - Programa de Regionalização do Turismo SDS - Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequenas Empresas SEC - Secretaria do Estado da Cultura, Turismo e Desporto SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial SNUC - Sistema Nacional de Unidade de Conservação da Natureza SPI – Serviço de Proteção aos Índios SUPEC - Secretaria de Cultura, Esporte e Estudos Amazônicos TI – Tribo Indígena Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 4 1 Considerações Iniciais A Indústrias Criativas – Estratégias e Projetos, empresa de consultoria contratada pela Amazonastur – Empresa Estadual de Turismo do Governo do Amazonas, em parceria com o Ministério do Turismo na execução do Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazônia Legal – PROECOTUR, apresenta o Diagnóstico Turístico Preliminar do Pólo Saterê – Amazonas, resultado dos estudos e levantamentos bibliográficos realizados sobre os cinco municípios que integram o Pólo: Barreirinha, Boa Vista do Ramos, Maués, Nhamundá e Parintins. Esta etapa de elaboração do Diagnóstico permitiu identificar e caracterizar parcialmente a oferta e demanda turística da área-objeto de estudo, a partir de fontes secundárias disponíveis. Destaca-se que neste mês de novembro e dezembro de 2006 realizam-se as verificações de campo dos consultores integrantes da equipe de trabalho, cujas coletas de dados e informações devem ser confrontados com a pesquisa de gabinete realizada a fim de subsidiar a análise SWOT do diagnóstico final, apoiando a realização de seu Seminário e que precede à confecção do Produto 2 – o Diagnóstico Turístico Final do Pólo Saterê – Amazonas, previsto para fins de dezembro de 2006. Estes estudos visam contribuir para a melhoria da qualidade de vida das populações envolvidas, conservação do patrimônio natural e cultural, fortalecimento institucional, criação de alternativas econômicas, como também o incremento do ecoturismo como opção de desenvolvimento sustentável, por meio da elaboração das Estratégias de Desenvolvimento do Turismo Sustentável no Pólo Saterê – Amazonas, iniciativa do Proecotur, sobre o qual elencamos diretrizes a fim de que seja compreendido seu contexto, conforme segue: Linhas Gerais do Proecotur O Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazônia Legal – Proecotur é uma iniciativa do Governo Brasileiro firmada por meio de um contrato de empréstimo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID. Tem como executor o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério Turismo - MTur, e em parceria com o Instituto Brasileiro de Turismo – Embratur, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama e os Estados da Amazônia Legal. A coordenaçãoapresentar: o bico-de-papagaio, o murumuru, o cacaueiro (árvore da família das esterculiáceas, conhecido também como cacauzeiro, os frutos são o cacau) e o patuá. Alguns municípios do pólo evidenciam a riqueza e diversidade deste cenário. Parintins é um exemplo, pois mesmo inserida dentro de um contexto urbano, a paisagem da ilha retrata lagos e igarapés, com árvores centenárias, como castanheiras e canaranas.75 No período da seca, de julho a dezembro, é mais fácil ver as praias e belezas naturais ao seu entorno. 2.3.5 Fauna76 Estimativas recentes apontam que a região abriga cerca de 2,5 milhões de espécies de insetos, dezenas de milhares de espécies de plantas vasculares, cerca de duas mil espécies de peixes, além de 950 espécies de pássaros e 200 espécies de mamíferos.77 A riqueza da fauna, com várias espécies ainda não estudadas e identificadas pela ciência é incalculável na área de abrangência do pólo. O levantamento foi realizado através de bibliografias partindo do contexto do Pólo do Amazonas, mesmo ainda não evidenciado as exatas naturezas que compõe a região estudada. Trata-se portando de um diagnóstico geral potencial da região, não pretendendo ser este um inventário prospectivo biológico, intencionado a funilar à cada etapa de trabalho os referenciais encontrados especificamente no Pólo Saterê. Esta será uma abordagem de difícil exatidão, uma vez que a distribuição geográfica das espécies é um constante desafio. a. Peixes A ictiofauna amazônica é caracteristicamente pouco conhecida, com um total estimado variando entre 1.000 a 5.000 espécies. Aproximadamente 1.800 estão descritas cientificamente e até as mais comumente consumidas pela população ainda apresentam problemas de ordem taxonômica. (BÖHLKE, et al.,1978). Esses são algumas espécies encontradas no pólo: Pirarara (Phractocephalus hemioliopterus), Traíra (Hoplias malabaricus), Tucunaré-Açu, mais conhecido por Tucunaré (Cichla), Cachara ou Surubim (Pseudoplatystoma fasciatum), Dourada (Brachyplathystoma flavicans), Jundia, Piraíba, Barbado ou Piranambu ou Barba-Chata (Piniampus pirnampu), Bicuda (Boulengerella), Cachorra (Hydrolycus scomberoides), Curimatá (Prochilodus), Jacundá (Crenicichla), Jatuarana (Brycon), Jurupensém ou Bico-de-Pato (Surubim), Jurupoca (Hemisorubim platyrhynchos), Mandi ou Bagre (Pimelodus), Matrinxã (Brycon), Pacu (Piaractus mesopotamicus), Piau-Três-Pintas ou Aracu-Comum ou Aracu-Cabeça-Gorda (Leporinus friderici), Surubim-Chicote ou Surubim- 75 GUIA Philips – Amazônia Brasil. 2001. p..152 76 AMAZONAS. Secretaria do Meio Ambiente. Plano de desenvolvimento do pólo de ecoturismo do Estado do Amazonas: descrição e contextualização global do pólo de ecoturismo do Estado do Amazonas. 2001. p. 25. 77 Disponível em: . Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 28 Lenha ou Peixe-Lenha (Sorubimichthys planiceps), Tambaqui (Colossoma macropomum), Pirapitinga ou Caranha (Piaractus brachypomus) e Jaraquis. Assim como em algumas regiões do país, na Amazônia os peixes constituem a principal fonte de proteína das populações riberinhas. A pesca esportiva também movimenta um grande mercado de turismo, tanto ao longo da costa como em regiões interiores como a Bacia Amazônica e justamente na região do Pólo que possui um enorme potencial78, pela presença de Tucunarés (Cichla ocellaris) no Rio Urubu, em Nhamundá. O Tucunaré, conhecido como ‘Embaixador dos Rios’, é original da Amazônia. Este peixe habita vários Estados e Regiões brasileiras, como São Paulo, Bahia, a Costa Nordestina e o Pantanal. É versátil, vive em água parada e se adapta com facilidade ao ambiente, além disso, é o grande chamariz de público internacional.79 b. Anfíbios A classe Amphibia inclui as Cecilias (Ordem Gymnophiona com cerca de 150 espécies), as Salamandras (Ordem Caudata com cerca de 400 espécies) e os sapos, rãs e pererecas (Ordem Anura com cerca de 3.700 espécies). Existem, portanto, apenas 3 ordens viventes, com cerca de 4.200 espécies atuais. Embora existam variações na forma do corpo e nos órgãos de locomoção, pode-se dizer que a maioria dos anfíbios atuais tem uma pequena variabilidade no padrão geral de organização do corpo.80 Muitas espécies, sensíveis a alterações ambientais como o desmatamento, aumento de temperatura ou poluição, são consideradas excelentes bioindicadores. Algumas espécies como a perereca – Phyllomedusa sp têm sido alvo de estudos bioquímicos e farmacológicos, para isolamento de substâncias com possíveis usos medicinais. Na Amazônia estima-se a presença de mais de 160 espécies (BRASIL, MMA, 1998). c. Répteis A Classe Reptilia inclui as tartarugas, cágados e jabotis (Odem Chelonia), lagartos (Ordem Sauria), cobras (Ordem Ophidia), crocodilos e jacarés (Ordem Crocodilia). Na Amazônia estima-se a presença de 550 espécies de répteis (BRASIL, MMA, 1998). Muitas espécies de serpentes das famílias Colubridae, Boidae e Viperidae apresentam hábito alimentar rodentívoro, sendo vertebrados predadores de pragas. As famílias Viperidae (gêneros Bothrops, Bothriopisis e Lachesis) e Elapdae (gênero Micrurus) possuem cobras 78 AMAZONAS. Secretaria do Meio Ambiente. Plano de desenvolvimento do pólo de ecoturismo do Estado do Amazonas: descrição e contextualização global do pólo de ecoturismo do Estado do Amazonas. 2001. p. 35. 79 PESCA Amadora Brasil - esporte e turismo: o mais completo roteiro da pesca amadora do Brasil. p.78. 80 AMAZONAS. Secretaria do Meio Ambiente. Plano de desenvolvimento do pólo de ecoturismo do Estado do Amazonas: descrição e contextualização global do pólo de ecoturismo do Estado do Amazonas. 2001. p. 36. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 29 peçonhentas e potencialmente perigosas aos humanos, pois podem causa graves acidentes ofídicos81. Podemos destacar entre os répteis que ocorrem na área do Pólo, os jacarés, principalmente (Melanosucus niger) que chega a medir cerca de 6 metros, o jacaré-açu como o jacaré-tinga é encontrado em florestas alagadas e lagos cobertos com vegetação em volta dos rios. A cobra-papagaio encontra-se nas matas de capoeira, a sucuri (Eunectes murinus) que pode alcançar até 10 metros, habita beira dos rios e águas rasas; a surucucu, florestas tropicais úmidas. Os quelônios fazem parte da dieta do ribeirinho, bem como são também consumidos pelas populações dos grandes centros urbanos como Manaus. Mesmo sendo ilegal, a sua comercialização continua. d. Aves A Amazônia é uma região onde se verifica maior riqueza ornitológica do Brasil (SOUZA, 1998). Na região do Pólo Saterê, são facilmente avistados o gavião-real (Harpia harpyja), ocupante do topo da cadeia alimentar. Variedades de psitacídeos, a arara-azul-grande, que habita as margens dos rios, cerrados e onde ocorre o buriti, o papagaio-verdadeiro, na mata úmida ou seca e beira de rios; a ararajuba que faz parte do Amazonas e Rondônia, Pará e oeste do Maranhão; o galo-da-serra, habitante do interior da mata, serras, escarpas, grutas e desfiladeiros encachoeirados. Esses são mais facilmente avistados através dos vôos e vocalizações. Existe uma variedade de Apodiformes (beija-flores) dotados de plumagens coloridas, ocorrendo no interior das matas, bem como nas bordas florestais alimentando-se do néctar das flores, assim como os tucanos (Ramphastos sp), o tucano-toco que fica em árvores ocas, buracos, barrancos e cupinzeiros presentes em matas ciliares82. e. Mamíferos O Brasil ocupa a 1ª. posição no ranking mundial em número de espécies de mamíferos com 524 espécies conhecidas. Na região do Pólo encontra-se grande riqueza mastozoológica, sendo ainda uma região muito pouco estudada sob o ponto de vista de inventário de mamíferos. Na área de abrangência do Pólo Saterê pode-se encontrarespécies do topo da cadeia alimentar como a onça-pintada (Panthera onça), que se encontra em florestas e savanas, ariranhas (Pteronura brasiliesis) freqüentadoras de regiões úmidas, bem como alguns representantes de veados, como o veado-mateiro que habita as margens dos rios da Ordem Artiodactyla. São relativamente comum nos rios e igapós da região, o boto-cor-de-rosa. No que tange a preservação dos mamíferos, pode-se considerar satisfatório o status de conservação das 81 Ibid, p.36. 82 AMAZONAS. Secretaria do Meio Ambiente. Plano de desenvolvimento do pólo de ecoturismo do Estado do Amazonas: descrição e contextualização global do pólo de ecoturismo do Estado do Amazonas. 2001. p. 37. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 30 espécies existentes na região, com exceção do sauim-de-coleira (Saguinos bicolor), endêmico nas áreas de florestas adjacentes à Manaus, que se encontra em situação crítica de ameaça, devido à expansão urbana. Ele caracteriza o ambiente arborícola, a América Central e América do Sul. Os Primatas, como o macaco Uacari, que habita ambientes arborícolas, o macaco uacari, que habita ambientes arborícolas e o macaco-coatá em florestas primárias no nordeste da Amazônia, também podem ser mais facilmente localizados nas áreas de floresta primária de terra firme, ou mesmo em suas bordas, em busca de alimentos ou mesmo movimentando-se em suas áreas domicilares. Já o sagüi-de-duas cores é encontrado em florestas primárias no nordeste da Amazônia. Os mamíferos das florestas tropicais são raramente avistados, devido à técnica evolutiva de hábitos sedentários nos ambientes de florestas e a técnica da camuflagem que se fazem uso a maioria deles, bem como também o hábito de fugir ante a qualquer presença humana. Os predadores são muito difíceis de serem observados devido aos seus hábitos noturnos ou crepusculares (EMMONS; FEER, 1990). Na região do Pólo há ocorrência de um grande número de quirópteros (morcegos), podendo-se registrar a existência da ocupação de todos os nichos ecológicos conhecidos para esta grande Ordem de mamíferos, como: morcegos hematófagos, carnívoros, insetívoros, frugívoros, nectários e pescadores.83 2.3.6 Unidades de Conservação “As Unidades de Conservação – UC’s – são áreas que pertencem ao patrimônio comum, voltadas à proteção de espaços naturais representativos de ecossistemas importantes, ou com características especiais do ponto de vista ambiental. São porções do espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instruído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção para a conservação da natureza, dos seus processos ecológicos fundamentais e da sua biodiversidade. O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), criado pela Lei N. 9.985 de 18 de julho de 2000, é constituído pelo conjunto das unidades de conservação federais, estaduais e municipais, estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação.”84 83 AMAZONAS. Secretaria do Meio Ambiente. Plano de desenvolvimento do pólo de ecoturismo do Estado do Amazonas: descrição e contextualização global do pólo de ecoturismo do Estado do Amazonas. 2001. p. 30. 84 AMAZONAS. Secretaria do Meio Ambiente. Plano de desenvolvimento do pólo de ecoturismo do Estado do Amazonas: descrição e contextualização global do pólo de ecoturismo do Estado do Amazonas. 2001. p. 39. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 31 O Estado do Amazonas, com apenas 2% de desflorestamento, abriga grande variedade de ecossistemas. Possuem cerca de 18 milhões de hectares de áreas protegidas, sob a forma de Unidades de Conservação. Em sua área territorial, encontram-se 57 unidades de conservação legalmente criadas representando 15% do seu espaço territorial (MESQUITA & IRVING, 2002). Após pesquisas iniciais com dados baseados em guias, sites de pesquisas e livros, os indicadores afirmam a existência de quatro Unidades de Conservação no Pólo Saterê, sendo 3 em Maués e um em Nhamundá / Parintins, são as reservas do Desenvolvimento Sustentável do Urariá (Maués), localizada em área rural na região acima do Paraná do Urariá. Engloba 59.137.129 hectares e perímetro de 142.207 metros. É composta por um complexo hidrográfico diversificado, entre paranás, furos, igarapés, cotias, pacas, tatus, capivaras, botos, onças. A melhor época para se ver os animais é entre os meses de dezembro e julho85; e a Reserva Saterê-Maué (Maués), em área rural, está localizada nas margens dos rios Maraú e Urupadi, numa área de 750 mil hectares. Nativos habitam a região desde tempos ancestrais e são donos de grande tradição cultural. Os Saterê-Maué recebem educação bilíngue desde 1996 para fortalecerem sua organização. As visitas são feitas com agendamento na Secretaria Municipal de Turismo86. Também oferece parques, como o Parque Nacional da Amazônia (Maués), localizado em Maués/ Itaituba – PA. Criada em 19 de fevereiro de 1974, é um parque que abriga uma amostra da maior floresta equatorial do planeta. Trilhas e picadas abertas pelos habitantes levam a cachoeiras, serras e praias às margens do rio Tapajós. Há locais para observação de pássaros, fauna, ictiofauna e flora exuberantes. O local não está aberto à visitação, sendo necessário o acompanhamento de um guia87. O Parque Estadual Nhamundá, localizado em Nhamundá e Parintins, foi criado em 9 de março de 1990, numa área aproximada de 195.900 hectares88. A prática do ecoturismo vem privilegiando-as, atraindo visitantes que buscam na natureza novas formas de lazer e recreação. 85 Fonte: Amazonas BR. 86 Fonte: Amazonas BR e Amazonas Guide. 87 Fonte: Guia Philips. 88 Fonte: Amazonas BR. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 32 2.4 Caracterização dos Aspectos Sócio-Econômicos e Culturais Relevantes 2.4.1 Dinâmica Populacional Conforme já mencionado, os municípios do Pólo Saterê pertencem a microrregião Parintins e macrorregião centro. A maior cidade em é Maués, com 39.988 km², seguida de Nhamundá 14.106 km², Parintins e Barreirinha com aproximadamente 5.952 e 5.751 cada e Boa Vista do Ramos, 2.587.89 Em termos de população, dados do IBGE no ano de 2005, constatou Parintins com 109.150 habitantes, Maués com 45.813, em terceiro lugar Barreirinha com 26.373, seguindo Nhamundá, 16.630 e Boa Vista do Ramos, com 12.286 habitantes. A densidade demográfica, conota em 2005 18,34 habitantes por km² em Parintins, 4,75 em Boa Vista do Ramos, 4,59 em Barreirinha, Nhamundá e Maués com menos de 2. A taxa de mortalidade infantil apresenta valor de 40,3 em todos os municípios do pólo, com dados desatualizados pelo IBGE, datando 1998. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), aponta dados semelhantes entre eles, com valores que pontuam de 0,642 à 0,696. Os valores referenciados do PIB (Produto Interno Bruto) foram extraídos do IBGE em 2002. A relação se refere ao PIB municipal em mil reais e per capitã em reais, nessa ordem: 230.625 e 2.354 em Parintins, 78.234 e 1.845 em Maués, 46.668 e 1.933 em Barreirinha, 34.472 e 2.171 em Nhamundá e 27.830 e 2.480 em Boa Vista do Ramos. Nota-se que a os valores gradativos estão identificados pela renda municipal, sendo que a per capita a situação é diferente, notando a seqüência Boa Vista do Ramos, Parintins, Nhamundá, Barreirinha e Maués. A participação setorial está definida entre agropecuária, indústria e serviços. A tabela utilizada como fonte de referência avalia Barreirinha como melhor município de desenvolvimento agrícola, com 18,5%, seguindo Nhamundá e Parintins, em 14%, Boa Vista do Ramos e Maués, com 12,9% e6,6% respectivamente. Boa Vista do Ramos se destaca quanto a oferta de serviços em 76,4%. Os demais caem pouco a porcentagem, sendo Nhamundá 75,3% e Maués 73,9%, e Barreirinha e Parintins com 68%. O setor de indústria é mais desenvolvido em Maués, apresentando uma porcentagem superior em 19,1%, depois Parintins com 17,4%, Barreirinha 13,6% e Nhamundá e Boa Vista do Ramos com pouco mais de 10%. A receita tributária de cada município apresenta grandes diferenças. Os valores estão convertidos em real: em primeiro lugar Parintins com R$ 2.335.222,00, depois Maués, com R$ 89 Fonte: IBGE. 2005. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 33 610.065,75, Nhamundá R$ 135.723,08, Barreirinha, R$ 31.061,65 e Boa Vista do Ramos R$ 21.965,12. A receita tributária per capitã segue quase a mesma seqüência na ordem das cidades, alterando apenas as duas últimas: Parintins (R$ 23,40), Maués (R$ 14,20), Nhamundá (R$ 8,48), Boa Vista do Ramos (R$ 1,93) e Barreirinha (R$ 1,27).90 O valor da PEA está relacionado em referenciais ocupado e desocupado. Segundo fontes do IBGE 2000, Barreirinha se encontra 94% ocupada contra 5,9% desocupada. Boa Vista do Ramos 89,6% de 10,3% desocupada. Maués 87,3 ocupada enquanto 10,3% em situação contrária. Nhamundá 92,6% contra 7,3% desocupada e finalmente Parintins, 84,3% ocupada de 15,6% desocupada.91 2.4.2 Educação, Saúde e Saneamento Básico A porcentagem da taxa de analfabetismo em Barreirinha e Nhamundá chega a uma média de aproximadamente 14%, Maués 12% e Parintins e Boa Vista do Ramos mais de 9%.92 Os domicílios permanentes93 estão divididos entre urbano e rural, sendo que 57,75% do total da população do pólo estão em área urbana e 42,24% em área rural. Em Barreirinhas a maior parte da população se concentra em área rural, esta 59,1%, também Boa Vista do Ramos com 52,54% e Nhamundá 59,7%. Já Parintins e Maués tem concentração de habitantes em zona urbana, especificando 67,7% e 53,4%, nessa ordem. Esses domicílios apresentam rede geral de água, esgoto, coleta de lixo, iluminação elétrica e linha telefônica. Os que apresentam rede geral de água somam um total de 1.841 domicílios, sendo 59,1% em área rural e 40,9% urbana. Com exceção de Boa Vista dos Ramos, os demais municípios possuem rede de água em área rural. Quanto ao tratamento de esgoto, o processo é contrário, 97% é localizado nas cidades, sendo inexistente tal tratamento nas zonas rurais das cidades de Maués e Nhamundá. Domicílios com iluminação elétrica somam 82% em área urbana e 17,6% em área rural, assim também ocorre com a coleta de lixo, perceptível 99% em área urbana, demonstrando pouca quantidade em Maués e Parintins. Domicílios que possuem linha telefônica estão localizados na cidade, apenas Barreirinha e Maués podem usufruir deste fator em área rural, totalizando 98% urbano e 2% respectivamente. Em suma, do total dos domicílios do pólo, 0,65% recebem tratamento de esgoto, 4,5% coleta de lixo, 66,5% tem energia elétrica, 11,57% tem telefone e 5,8% usufrui rede geral de água.94 Segundo a DATASUS 2005, todas as cidades do pólo oferecem leitos hospitalares. 53,1% em Parintins, 23,2% em Maués, 10,5% em Nhamundá, 7% em Boa Vista do Ramos e 5,9% em Barreirinha, esta também apresenta correio e banco postal. 90 Fonte: Seplan AM. 2003. 91 Disponível em: http://www.mte.gov.br/Empregador/caged/default.asp no link "Informações para o Sistema Público de Emprego e Renda - Dados por Município". 92 Disponível em: http://www.mte.gov.br/Empregador/caged/default.asp no link "Informações para o Sistema Público de Emprego e Renda - Dados por Município". 93 Fonte: IBGE 2000. 94 Fonte: IBGE 2000 e cálculo direto. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 34 As agências bancárias se encontram em números limitador, Parintins oferece 4 e Maués 3, uma em Barreirinha e Nhamundá e Boa Vista do Ramos não possui.95 2.4.3 Núcleos Comunitários e Aspectos Organizacionais96 O desenvolvimento de uma pesquisa de Turismo Sustentável, de acordo com o enquadramento do Ecoturismo, se encontra diretamente relacionado com iniciativas de fortalecimento da participação e do envolvimento da comunidade, do desenvolvimento de programas formais e informais, assim como, na perspectiva de atuação interinstitucional e no desenvolvimento de recursos humanos com base local. A mobilização comunitária e seu engajamento no processo de tomada de decisões constituem elementos centrais de sustentabilidade de projetos de desenvolvimento. O processo participativo ao longo da implantação de programas dessa natureza permite que o entendimento da problemática local, e a identificação de necessidades essenciais incorporadas à visão do projeto contribuam para um engajamento efetivos dos diversos atores sociais envolvidos, assim como para o desenvolvimento de uma postura pró-ativa na resolução de problemas. O desenvolvimento de atividades ecoturísticas e áreas protegidas (...) é uma questão que deve ser trabalhada sob a ótica do processo participativo levando-se em conta que a estratégia de implantação e gestão em áreas protegidas, originalmente de responsabilidade integral do poder público, constitui um atual modelo capaz de contribuir com o fortalecimento de participação comunitária e com o processo de resolução de conflitos locais. Envolver os atores sociais nos respectivos municípios trabalhados, poderá tornar possível a implantação de uma proposta integrada, visando o desenvolvimento turístico de molde sustentável para o Pólo do Saterê. 2.4.4 Populações Indígenas e o Ecoturismo A maior parte das terras indígenas brasileiras está na região, onde moram aproximadamente 200 mil índios. A área concentra a grande maioria das 180 línguas indígenas faladas por 206 etnias no Brasil. Estes idiomas representam metade de todos os empregados por populações indígenas nas Américas, embora viva no Brasil no máximo 1% do total dos índios do continente. Os números revelam também o grau de fragilidade destas culturas: além de 80 etnias terem desaparecido só nos últimos 100 anos, das 206 sobreviventes, 110 contam com menos de 400 indivíduos falantes de sua língua. A população indígena na Amazônia consiste hoje do que restou de um número que se aproximava de seis milhões, em 1500, antes da chegada dos europeus. Desde então os índios da região têm diminuído de forma drástica, 95 Fonte: Seplan AM. 2005. 96 AMAZONAS. Secretaria do Meio Ambiente. Plano de desenvolvimento do pólo de ecoturismo do Estado do Amazonas: descrição e contextualização global do pólo de ecoturismo do Estado do Amazonas. 2001. p. 59. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 35 especialmente no século XX. Existiam 230 grupos tribais na Amazônia brasileira em 1900. Em 1947, só sobraram 143. Embora a população de muitas tribos tenha se estabilizado, várias correm o risco de extinção97 (...). Muitas tribos foram aniquiladas, outras foram escravizadas, algumas sofreram com doenças introduzidas na região, como tuberculose, gripe, doenças venéreas, catapora e sarampo98 (...). As tribos eram muito adaptadas ao local. Durante a estação seca, cultivavam milho e mandioca e também pescavam. O peixe era seco e preservado em óleo de ovos de tartaruga. Com os mantimentos guardados na estação seca, era possível sobreviver na época de cheias. No entanto, como os colonizadores da região também preferiam as áreas ao longo do rio, esses grupos logo foram extintos. As tribos indígenas possuem um conhecimento sofisticado dos ecossistemas e da agricultura. Várias espécies, alimentícias ou não, que ainda são usadas hoje, foram domesticadas pela população da Amazônia. Vivendo tanto na região de florestas alagadas como na terra firme, os índios conhecem e utilizam uma grande variedade de plantas, como tubérculos, bulbos,sementes, frutas, castanhas e outros produtos vegetais. 99 (...) As terras indígenas atuais representam quase 20% da área total da Amazônia Legal Brasileira, sendo que as reservas biológicas compreendem somente 4% do total. Já o tradicional conflito entre terras indígenas (TI) e unidades de conservação (UC´s), aparece hoje em 117.724 km² desses dois tipos de áreas sobrepostas. Só em 18 de junho de 2000 criou-se a lei que prevê o gerenciamento das unidades de conservação de acordo com políticas indigenistas e ambientais, garantindo-se a sobrevivência física e cultural das comunidades que habitam essas áreas, caso do Pico da Neblina ou do Cabo Orange.100 Fontes bibliográficas citam diversas vezes nomes de tribos indígenas que habitaram e povoaram alguns municípios da cidade do Pólo, porém, o material levantado oferece poucos subsídios teóricos para o presente documento. Neste instante, é considerável apontar em Nhamundá as tribos que habitaram a região: Uabois ou Jamundás; Cuniris; Guncari101 (sem dados para este) e as que contribuíram com a história de Parintins, a tribo Parintintin e a Saterê-Mawé, localizados em Barreirinhas, Maués, Parintins, Itaituba e Aveiro (AM e PA). Tribo Parintintin102 Quando os Parintintin foram “pacificados” pela Funai, em 1922, seu território se estendia da região leste do rio Madeira até a boca do rio Machado, à leste do rio Maici. Hoje a maioria da população habita em duas Terras Indígenas no município de Humaitá, no estado do Amazonas. Ambas foram homologadas em 1997 (Dec. s/n publicado no DOU em 04/11). A TI 97 GUIA Philips – Amazônia Brasil. 2001. p. 82. 98 Ibid, p. 82. 99 GUIA Philips – Amazônia Brasil. 2001. 334 p. 83. 100 Ibid, p. 84. 101 Disponível em: . 102 Disponível em: . Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 36 Ipixuna tem extensão de 215.362 hectares e nela moravam 54 pessoas em 1999 (Funai/PIN Kagwahib). A TI Nove de Janeiro possui 228.777 hectares e em 2000, era habitada por 80 indivíduos (Funai/ADR Porto Velho). Os Parintintin são os que habitam mais ao norte, no alto e médio do rio Madeira, no Amazonas. Em seu sentido mais amplo, a designação Kagwahiva ou Kagwahiva’nga significa "nossa gente", em oposição a tapy'yn, "inimigo". Os grupos que se identificam como Kagwahiva são falantes de uma língua da família Tupi-Guarani. Dentre eles, é possível discernir dois dialetos mais importantes: aquele falado mais ao norte, entre os Parintintin, os Tenharim, os Juma e os Jiahui; e o falado pelos grupos mais ao sul, os Urueu-wau-wau, Amondawa e Karipuna, distintos por algumas poucas, mas significativas diferenças de vocabulário. Todos presumivelmente são descendentes dos "Cabahyba" que habitavam as nascentes do rio Tapajós no final do século XVIII e início do XIX, e que constituem um dos grupos designados por Carl Friedrich von Martius como "Tupi Centrais". Estes incluíam, além dos Kagwahiva, os Kayabi (cuja língua possui pronomes diferenciados por gênero, como entre os Kagwahiva) e os Apiaká. Entre as singularidades dos Kagwahiva em relação aos outros Tupi-Guarani, destaca-se a organização social em metades exogâmicas com nomes de pássaros. Em 2000, somavam um número de 156. Os Parintintin integram o conjunto de 'pequenos grupos que se autodesignam Kagwahiva, mas que hoje são conhecidos por nomes separados, muitos deles dados por grupos inimigos. Há registros escassos sobre os Parintintin – relatos sobre seus ataques ao longo do rio Madeira – anteriores à sua “pacificação”, que se deu por uma expedição liderada por Curt Nimuendajú em 1922. Semelhanças fonéticas com os Urubu Ka'apor do Maranhão sugerem uma origem costeira do grupo, confirmada por narrativas orais sobre uma jornada rio acima de uma “terra sem água” até sua localização presente, atravessando uma área extensa em que não se via margens por dois dias (possivelmente o baixo Amazonas). A primeira referência histórica aos Kagwahiva data do final do século XVIII, quando, de acordo com pesquisa de Nimuendajú, eles estavam localizados na confluência dos rios Arinos e Juruena, formadores do Tapajós. Nimuendajú (1924) reconstruiu a história do seu grupo ancestral, chamado "Cabahyba" por Martius, o qual fez uma primeira menção a eles no Tapajós em 1797. Os Kagwahiva foram expulsos do Tapajós por portugueses e Munduruku em meados do século XIX, dispersando-se na direção oeste rumo ao Madeira (Menenedez 1989), onde os Parintintin estão agora situados; mas também ao rio Machado, onde Lévy-Strauss, e antes dele Rondon e Nimuendajú, encontrou os "Tupí-Cawahíb"; e, ainda, ao longo do Machado até a região central de Rondônia, em cujas terras altas estão hoje os Urueu-wau- wau, Amondawa e Karipuna. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 37 Ao longo da história, as fissões constituíram um processo continuado. Os muitos grupos Kagwahiva em guerra uns com os outros na região devem ter se dividido depois de chegarem na área, vindo sucessivamente do Tapajós. No que concerne aos Parintintin, tratava-se de um pequeno grupo guerreiro que durante o final do século XIX e início do XX esteve em conflito com seringueiros ao longo dos 400 Km do rio Madeira, depois de ter sido levado do Tapajós, pelos Munduruku, até a região do Madeira. No final do século XIX, é provável que Byahú fosse o chefe de todos os Parintintin. Após sua morte (em uma emboscada de um Pirahã), eles se dividiram em subgrupos: o filho de Byahú, Pyrehakatú, subiu ao vale do Ipixuna e se tornou chefe ali; enquanto Diai'í, depois da morte de Byahú, liderou o deslocamento de um grupo até a região do alto Maici, onde Nimuendajú estabeleceu seu posto de pacificação; um terceiro grupo rumou para o sul, perto da boca do rio Machado, liderado por Uarino "Quatro Orelhas". Depois da pacificação, postos do SPI (Serviço de Proteção aos Índios, órgão precursor da Funai) foram instalados. Um deles em um canavial no Ipixuna, e outro perto do seringal Calamas. Em 1942, quando o SPI passava por uma crise econômica e institucional, sua atuação no local foi encerrada sob o pretexto de punir um chefe insurgente, o filho adotivo de Pyrehakatu, Paulinho Neves (Ijet), que então se tornou o chefe na área do Ipixuna. Grupos Parintintin também viviam perto de Três Casas, no seringal de Manuel Lobo, o qual chamou o SPI para iniciar a pacificação em 1922. Posteriormente, nos anos 70, foi instalado ali um posto indígena, já sob a gestão da administração da Funai em Porto Velho. As aldeias Parintintin não são muito grandes. Sobretudo desde a redução populacional decorrente do contato, as aldeias contam tipicamente com três a cinco famílias nucleares. Antes da “pacificação”, as aldeias maiores, sob a liderança de Pyrehakatú, contavam com pouco mais de duas ou três vezes esse tamanho. Geralmente, as aldeias localizam-se à beira de igarapés, que dão acesso ao transporte por canoas e à pesca. A configuração tradicional da aldeia consiste numa única casa comunal (ongá) na qual cada família nuclear ocupava um segmento entre os pilares centrais e as paredes laterais, onde penduravam suas redes. Apenas excepcionalmente grandes aldeias possuíam duas casas. Ao redor da casa, ou entre as duas casas, ficava a praça (okará), que era rigorosamente mantida limpa de mato, e uma boa aldeia também deveria possuir árvores frutíferas. Após anos de contato com a sociedade não- indígena, a ongá foi substituída por casas que comportam apenas a família nuclear, de formato semelhante às casas dos seringueiros, feitas de madeira, com dois quartos separados e um cômodo aberto na frente. Uma aldeia atualmente comporta em média três ou quarto dessas casas. Como entre os demais Kagwahiva, a organização social Parintintin é composta por metades nomeadaspor espécies de pássaros com características contrastantes. Cada metade corresponde a um grupo patrilinear exogâmico (ou seja: os indivíduos pertencem à metade de seu pai e só podem casar com alguém da metade oposta): os myt_m (mutum, ave doméstica Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 38 comestível) e o kwandú (harpia, gavião). A metade Kwandú é ainda associada à arara de cabeça vermelha, taravé. Enquanto todos os Kagwahiva têm o mutum como uma metade, a outra é identificada por diferentes araras: taravé entre os Tenharim, kanindé (a arara azul e amarela) entre os Urueu-wau-wau), e ainda uma arara diferente entre os Karipuna. O sistema se complexifica com um terceiro grupo, os Gwyrai’gwára, que são considerados Kwandú mas casam indiscriminadamente com outros Kwandú ou com Mutum. Eles são identificados com o japú, um pássaro amarelo que constrói seu ninho em galhos sobre rios e igarapés. Como o padrão de casamento parintintin é uxorilocal (o homem vai viver com a família da esposa) e as metades patrilineares, estas não possuem correspondente geográfico. Os Kagwahiva parecem ser os únicos dentre todos os grupos Tupi-Guarani que possuem metades exogâmicas. É pouco provável que as metades tenham sido incorporadas de seus inimigos tradicionais, os Munduruku, pois suas metades Vermelha e Branca têm estrutura diversa. A fonte mais provável parece ser os Rikbaktsa, que eram vizinhos do grupo ancestral Cawahib no rio Arinos e que têm um par de metades com nomes de pássaros: especialmente os amarelos e araras vermelhas. A terminologia de parentesco Parintintin corresponde a um sistema de duas seções ajustado a tais metades, com termos de sibling extensivos à mesma geração de membros de uma mesma metade, sendo o irmão da mãe e a irmã do pai identificados como afins classificatórios. Todos os primos cruzados (filho da irmã do pai ou do irmão da mãe de sexo oposto ao sujeito em questão) de mesma geração são membros de metades opostas e são designados amotehé, um termo que significa “amante” em outras línguas Tupi-Guarani, isso porque são potencialmente casáveis. Um aspecto do parentesco Parintintin que não foi verificado entre os demais Kagwahiva são as séries distintas de termos para parentes mortos. Para falar de um parente falecido, não se pode usar o termo que se usava para se referir a ele quando estava vivo. Há uma série de termos de parentesco exclusivos para parentes mortos, alguns deles acrescentando o sufixo -ve’e ao termo de parentesco regular, mas alguns são completamente diferentes: “pai”=rúva, “pai falecido” = poría. O casamento Parintintin é tradicionalmente definido por uma série de arranjos desde o nascimento. Quando nasce uma criança, ela deve ser nomeada pelo irmão da mãe que tenha uma criança pequena de sexo oposto. No ritual de menarca (primeira menstruação) da sobrinha, esta pode casar-se com seu primo cruzado, filho de seu nomeador. Na cerimônia, a noiva é dada por dois irmãos reais ou classificatórios (os primos paralelos). Esses irmãos, em contrapartida, ganham o direito de um deles dar o nome para o filho que ela vir a ter e, assim, garantir o parentesco daquela criança com um filho seu. Um homem conclui seu casamento por meio de um período de “serviço da noiva”, em que trabalha para o sogro (tutý). Com o final desse período, cerca de cinco anos no caso da primeira esposa, e menos para uma subseqüente, o casamento é considerado inteiramente realizado. O casal então se muda para seu próprio setor na maloca (ongá), ou, mais recentemente, está livre para construir sua própria residência. Nesse ponto, o genro está em princípio livre para deixar a Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 39 aldeia (se ele convencer sua esposa); mas na prática o casal usualmente continua no grupo da esposa, e o marido se torna um dos genros que seguem o sogro. A poligamia era praticada, preferencialmente entre irmãs, mas nunca foi muito popular por causa da complexidade das relações familiares envolvidas. Um homem com cinco esposas é ridicularizado por sua imprudência. Quando um homem casa-se pela segunda vez, a primeira esposa é considerada livre para deixá-lo se ela quiser; mas em alguns casos é a própria esposa que pede ao marido para que se case com sua irmã. Muitos casamentos ainda seguem as regras de metades exogâmicas, mas é muito difícil para jovens encontrarem cônjuges apropriados da metade oposta e o sistema de relações sociais vem sendo alterado. A monogamia é fortemente sugestionada pela missão salesiana, que vem uma vez por ano sacramentar os casamentos, assim como pela população local não-indígena, que freqüentemente configura entre os padrinhos de casais Parintintin. Durante o período do serviço da noiva, o casal e seus filhos são considerados parte da unidade doméstica do pai da esposa. Eles penduram suas redes na seção do sogro na maloca (ou, hoje em dia, no quarto de sua família) e cozinham no mesmo fogo. O genro entrega toda a sua caça para que o sogro a distribua, e conserta sua casa. Ele não tem uma roça própria, mas ajuda a limpar o terreno da roça do sogro. Esse ciclo de desenvolvimento é seguido mais estritamente no caso do primeiro casamento de um homem. Quando alguém do casal já foi ou é casado, o novo par tem mais autonomia. As crianças pequenas são carregadas no colo da mãe para que tenham livre acesso a seu seio e são por ela cuidadas até cerca de três anos. Como duas crianças não devem ser cuidadas pela mãe simultaneamente, se uma nasce antes que a outra tenha desmamado e adquirido maior autonomia, ela não é cuidada pela mãe, mas pela irmã mais velha. Para evitar essa situação, um grande esforço é feito para se ter crianças com intervalos de no mínimo cinco anos, usando ervas contraceptivas. As crianças que já aprenderam a andar passam aos cuidados de uma irmã maior. Nem sempre esta aceita a tarefa de bom grado, mas um laço especial geralmente acaba crescendo entre a criança e aquele que a cuidou. Às crianças é dada uma considerável liberdade de escolha, e punições físicas são fortemente evitadas; assim como o valor da generosidade é estimulado desde muito cedo.O primeiro nome é dado a uma criança (mbotagwaháv, “nome de brincadeira”) por um irmão da mãe em uma cerimônia de nomeação. Na iniciação masculina, o menino recebe sua tatuagem facial e seu primeiro ka’á, estojo peniano, de um irmão do pai, que o presenteia com um novo nome, associado à uma metade, que substitui seu nome de nascimento. Posteriormente, novos nomes são assumidos conforme mudanças de status social pelas quais passa o indivíduo, como casamento ou a entrada em uma nova fase da vida, ou ainda em certos eventos especiais: uma mulher no nascimento de seu primeiro filho (a) ou um homem que tirou a cabeça de um inimigo (prática que já não ocorre hoje em dia). A iniciação feminina ocorre na menarca, quando a garota é isolada por dez dias numa rede atrás de um compartimento e fica restrita a rigorosos tabus de gestos e alimentação. No final Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 40 ela é carregada para o rio por seu pai ou por um irmão e é ritualmente banhada, sendo então tatuada no rosto. Seu casamento com o primo cruzado (idealmente) ocorre em seguida. Resultando da combinação de metades exogâmicas patrilineares com o serviço da noiva, uma maloca Parintintin consiste em um pai e filhas de uma metade, e genros da metade oposta. O irmão da mãe (tutý), como futuro sogro, é tratado com o mesmo respeito que o pai. É com o irmão do pai (ruvý) e com a irmã da mãe (hy'ý) que as relações mais próximas e afetivas são estabelecidas A liderança em sociedades kagwahiva recai primordialmente no líder do grupo doméstico ou aldeia, chamado mborerekwára'ga, "aquele que nos mantêm unidos", ou, mais freqüentemente, ñanderuviháv, que pode ser entendido ainda como "nosso co-residente" (- ruv, "estar em”, “morar em"), ou ainda como "a pessoa denosso pai" (do nome ruv-, "pai"). Entre os Parintintin, além desse líder/sogro, há o líder regional, geralmente de um trecho de rio (ñanderuvihavuhú/ mborerekwaruhú). Um homem que casa suas filhas pode se tornar o núcleo de uma aldeia, com um grupo de genros seguidores. Freqüentemente a autoridade do líder é reforçada por um irmão dividindo a liderança, ga-irúno. A esposa do líder também é uma parceira crucial, com importantes obrigações de hospitalidade e como líder das mulheres na aldeia. Tradicionalmente, o líder se retira desse cargo quando sua primeira mulher morre. Ele pode ser sucedido por um filho ou um genro. Um filho que passa a suceder seu pai pode ser dispensado do serviço da noiva, ou tê-lo abreviado. O modo de controle de conflitos e comportamentos inadequados nos grupos Parintintin é evitá-los. Uma grande ênfase na socialização infantil é dada na asserção à competição e à violência nas brincadeiras. Um líder trabalha para amenizar conflitos no grupo mais por meio da persuasão e mediação do que por coerção. No caso de conflitos irreconciliáveis, uma das partes deixa o grupo. Assim, conflitos intragrupais desdobram-se na formação de novos grupos, resvalando numa situação de rivalidade e antagonismo entre grupos vizinhos. A guerra era um importante aspecto cultural dos Parintintin antes do contato, assim como era nas sociedades Tupi da costa. Ataques eram liderados por ñimboipára'nga, "organizadores de ataque”, cuja posição apenas durava o tempo do embate. O prestígio masculino nesse período pré-contato era dado sobretudo pela captura de uma cabeça de inimigo, que deveria ser exibida em uma akangwéra torýva ("dança da cabeça-prêmio"), exuberante festividade que celebrava o feito. O captor da cabeça adquiria então o honorável status de okokwaháv. Há evidências do consumo ritual de certas partes do inimigo morto como forma de adquirir suas qualidades, ou para que as mulheres tenham um filho homem. Após arrancar a cabeça do inimigo, o matador era obrigado a passar um período de reclusão ritual, como a que passava a mulher em sua primeira menstruação. Após esse período ele ganhava um novo nome. A cosmologia Parintintin tem como expressão central o mito de Pindova'úmi'ga (ou Mbirova'úmi'ga), o poderoso ancestral chefe/xamã que criou a Gente do Céu (Yvága'nga) que aparece para os xamãs em suas cerimônias. Na narrativa mítica, Pindova'úmi'ga vai sucessivamente ao céu, ao rio, no subsolo e ao interior de uma árvore, encontrando-os já Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 41 ocupados por, respectivamente, muitos espíritos, peixes, fantasmas e abelhas. Ele ergue então sua casa do trecho de floresta mais fértil para o segundo nível do céu, que ainda estava vazio, onde ele e seu filho se tornam a Gente do Céu. Modelo mítico para os xamãs, Pindova'úmi'ga deve ser distinto do criador-trickster Mbahíra (Maír em outras mitologias Tupi), que trouxe o fogo aos homens e deu origem a muitos itens e práticas culturais, assim como deu forma à paisagem. Um terceiro ancestral, a “Mulher Velha” (Ngwãiv_) foi cremada por seus filhos e transformada em cultivares como milho, mandioca e outros tubérculos. Tabus alimentares constituem uma parte sólida e central da vida dos Parintintin mais velhos. Diferentes tipos de comida são evitados (principalmente peixe, carne e mel) durante a gravidez e depois do nascimento da criança. Evitar em razão de doenças, especialmente em crianças, são estendidas aos parentes mais próximos. Lidar com mandioca é perigoso quando se está doente. Em outro exemplo, o sexo é proibido quando o timbó (por sua associação ao sêmen) está sendo usado no envenenamento de peixes. E sexo entre primos paralelos (membros da mesma metade) causa a morte dos filhos dos transgressores. Certas práticas fazem um caçador paném, incapaz de matar certas espécies de animais ou peixes. Caçadores que suspeitam estar paném hoje vão a um curandeiro para se livrarem desse estado. A cura com plantas era feita por um xamã (ipají) em uma cerimônia chamada tocaia ("caçada cega"). O ipají deveria entrar em transe em um pequeno cômodo (tocaia) na praça, fazendo uma viagem espiritual em todos os patamares do cosmos para convencer os espíritos a virem soprar no paciente e recuperá-lo. Um outro xamã poderia sair da tocaia e conversar com os espíritos. As regiões visitadas pelo xamã em seu transe correspondem aos patamares do cosmos visitados por Pindova'úmi'ga. A viagem é concluída com uma visita de convencimento à Gente do Céu, e por fim ao próprio Pindova'úmi'ga. Cada espírito poderia se anunciar com uma canção específica (entoada através da voz do ipají na tocaia), e era respondida pelo ipají que estava fora, que deveria pedir sua ajuda. O sonhar é estreitamente associado ao xamanismo. Um ipají ou um aprendiz podem encontrar espíritos em seus sonhos. Pessoas comuns podem ter sonhos premonitórios, principalmente relativos a sucesso em caçadas, ou à doença e morte. Mas um xamã pode controlar a chegada do futuro em seus sonhos. Os Ipají, inclusive, nasciam por meio de sonhos: um ipají poderia sonhar com um espírito particular, ou com uma Gente do Céu, que anunciava seu nascimento de uma mulher específica. O próximo filho dessa mulher então seria destinado ao aprendizado do xamanismo pelo xamã que sonhou, e o espírito que renasceu nele poderia ser seu rupigwára, o espírito agente de seu poder. O rito religioso central dos Parintintin é a cerimônia de cura por um ipají, mas já não é mais praticada. A cadeia de transmissão do conhecimento xamanístico foi quebrada pela morte prematura de muitos xamãs por epidemias após o contato. Muitas das crianças sonhadas pelo último ipají ainda estão vivas, mas ele morreu antes que pudesse transmitir- lhes seu conhecimento. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 42 Os Parintintin hoje viajam para Humaitá ou Porto Velho e usam o sistema público de saúde; mas de forma suplementar aos medicamentos dos brancos, eles sempre recorrem a curandeiros regionais, cujos métodos remetem a antigas tradições ibéricas de cura e a práticas indígenas. Tradicionalmente, a economia kagwahiva é baseada na caça, pesca, coleta e agricultura de coivara. A pesca era feita com arco e flecha em canoas ou, durante a estação chuvosa, em plataformas triangulares (mbytá) feitas de varas amarradas entre árvores no trecho de floresta alagado. Quando as chuvas cessam, áreas que restam alagadas na floresta são também envenenadas com timbó, e os peixes bóiam na superfície, quando são flechados. A caça, hoje feita com armas de fogo, antes era realizada com flechas. Partes da caça ou da pescaria eram distribuídas pelos caçadores de acordo com os laços familiares. Tradicionalmente, os homens limpam o terreno para a roça na estação seca e as mulheres são responsáveis pelo plantio e colheita. Os homens, porém, sempre ajudam suas esposas na colheita, mesmo porque o trabalho na roça também é entendido como uma ocasião para atividades sexuais. Atualmente, porém, pela influência da população regional não-indígena, a colheita de mandioca e outros produtos é primordialmente uma atividade familiar. Homens e mulheres também hoje trabalham juntos na feitura da farinha de mandioca e do beiju. Os campos para os roçados eram limpos anualmente em áreas selecionadas pelos líderes, que podiam designar locais específicos para cada núcleo familiar. Ao pedir ajuda da coletividade para limpar o terreno, um homem deveria promover uma festa em retribuição. As plantas tradicionalmente cultivadas incluíam uma grande variedade de milho, a qual foi perdida. Hoje eles cultivam mandioca e muitas variedades de batatas e inhames. Árvores frutíferas são plantadas em áreas próximas à aldeia. As frutas são coletadas ou derrubadas de árvores altas com varas por mulheres e crianças. Tracajás também são capturados na floresta, e os ovos deixados nas praias na estação seca sãomuito procurados. Há também dezenas de variedades de mel são conhecidas. O principal transporte no cotidiano dos Parintintin hoje é a canoa. Algumas delas são ainda feitas de troncos de árvores, mas a maioria é comprada de não-indígenas. Os mais velhos fazem excelentes arcos e flechas. As redes eram confeccionadas de algodão plantado nas aldeias pelas mulheres; mas agora são feitas de um material menos resistente comprado no comércio. A fabricação de objetos de cerâmica não consta na memória dos Parintintin vivos. Utensílios de metal comprados são usados para cozinhar; eles foram introduzidos mesmo antes do contato oficial por meio de ataques às casas de seringueiros. Mulheres, e hoje também alguns homens fazem excelentes cestos, inclusive para transporte em expedições de caça. O dinheiro hoje é necessário, sobretudo para a compra de armas de fogo. Os Parintintin são muito pressionados economicamente, principalmente pelas frentes do extrativismo, como Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 43 os seringueiros. A exploração indevida dos recursos de seu território por migrantes não- indígenas ameaçam sua sobrevivência. Tribo Sateré-Mawé103 Inventores da cultura do guaraná, os Sateré-Mawé domesticaram a trepadeira silvestre e criaram o processo de beneficiamento da planta, possibilitando que hoje o guaraná seja conhecido e consumido no mundo inteiro. São chamados regionalmente "Mawés''. Ao longo de sua história, já receberam vários nomes, dados por cronistas, desbravadores dos sertões, missionários e naturalistas: Mavoz, Malrié, Mangnés, Mangnês, Jaquezes, Magnazes, Mahués, Magnés, Mauris, Mawés, Maragná, Mahué, Magneses, Orapium. Autodenominam-se Sateré-Mawé. O primeiro nome - Sateré - quer dizer "lagarta de fogo'', referência ao clã mais importante dentre os que compõem esta sociedade, aquele que indica tradicionalmente a linha sucessória dos chefes políticos. O segundo nome - Mawé - quer dizer "papagaio inteligente e curioso'' e não é designação clânica. A língua Sateré-Mawé integra o tronco lingüístico Tupi. Segundo o etnógrafo Curt Nimuendaju (1948), ela difere do Guarani-Tupinambá. Os pronomes concordam perfeitamente com a língua Curuaya-Munduruku, e a gramática, ao que tudo indica, é tupi. O vocabulário mawé contém elementos completamente estranhos ao Tupi, mas não pode ser relacionado a nenhuma outra família lingüística. Desde o século XVIII, seu repertório incorporou numerosas palavras da língua geral. Os homens atualmente são bilíngües, falando o Sateré-Mawé e o português, mas a maioria das mulheres, apesar de três séculos de contato com os brancos, só fala a língua Sateré-Mawé. Os Sateré-Mawé habitam a região do médio rio Amazonas, na divisa dos estados do Amazonas com o Pará. A Tribo Indígena Andirá-Marau foi demarcada em 1982 e homologada em 1986 com 788.528 hectares, nos municípios de Maués, Barreirinha, Parintins, Itaituba e Aveiro (AM e PA). Segundo estimativa da Funai de 1987, existiam 4.710 Sateré-Mawé. Desde 1981 houve apreciável expansão demográfica do grupo. Dados mais recentes da Funasa (Fundação Nacional da Saúde) e da ONG Ameríndia Cooperação dão conta de um total de 3.872 habitantes na área Andirá (que reúne 42 aldeias) e 3.078 habitantes na área Marau (que reúne 31 aldeias). Em 1999, o total da população Satere-Mawé é, portanto de 6.950 pessoas. É importante salientar que, a partir da década de 1970, intensifica-se notavelmente o fluxo migratório em direção a Manaus. Em 1981, o antropólogo Jorge Osvaldo Romano contou 88 Sateré-Mawé vivendo na periferia dessa cidade. No final da década de 1990, esse número cresceu significativamente, chegando a algo próximo de 500 Sateré-Mawé, distribuídos entre diferentes conjuntos habitacionais na zona Oeste de Manaus. O modo de sustento dessa população urbana está baseado, na maioria dos casos, na venda de artesanato para turistas. 103 Disponível em: . Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 44 Os Sateré-Mawé estão estabelecidos nos denominados sítios. Nesses espaços, cada família elementar possui sua residência, na qual se encontra o fogo que serve tanto para preparar a comida, como para aquecer e reunir os moradores; a cozinha, construída a meio caminho entre a casa e o rio, onde os homens torram o guaraná e as mulheres preparam a farinha de mandioca; e, também, o porto, como é conhecido o local às margens dos rios e igarapés, onde a família toma banho, lava a roupa, deixa a mandioca de molho, lava o guaraná e ancora suas canoas. Os sítios congregam todas as plantações que são propriedades de cada família elementar: os guaranazais, as roças de mandioca, jerimum, cará, batata doce e outros tubérculos, bem como os pomares. Eles são organizados sob a autoridade do chefe da família extensa, que aí reside com as famílias dos seus filhos e seus netos. O chefe desta organiza a produção do sítio, orientando as atividades econômicas dos seus filhos e genros. É ele que convida os parentes e conhecidos de outros sítios ou aldeias para reforçar seu contingente de trabalho, quando necessário, reunindo-os nos puchiruns. Nessas ocasiões, ele ordena que se cace, pesque e torre farinha para prover alimentos aos participantes desses trabalhos coletivos. Durante os puchiruns, ele acompanha de perto as atividades agrícolas: abertura das roças de mandioca e guaraná, limpeza dos guaranazais, assim como o beneficiamento do guaraná. São ainda atributos do chefe da família extensa mandar construir casas, ordenar que se limpe o lugar - atividade que eles chamam de faxina -, mandar efetuar os diversos tipos de coleta e assessorar a comercialização da produção agrícola e artesanal dos seus familiares e agregados. Os sítios são, portanto, um domínio privado, onde a terra e os demais recursos da natureza são apropriados pelas famílias elementares, que se submetem à autoridade do chefe do grupo familiar, tradicionalmente reconhecido como o dono do lugar. Assim, o sítio é o grupo local latu sensu, funcionando como unidade básica da organização política e econômica dos Sateré-Mawé, podendo vir a se transformar em aldeia quando o número de famílias elementares aumenta ou quando, independentemente disto, seu chefe passa a ser visto como um tuxaua. Isso pode ocorrer desde que ele ganhe prestígio junto a seus pares, pela generosidade, pela habilidade nas transações comerciais, pelo entrosamento com os tuxauas mais próximos, assim como com o tuxaua geral. Atualmente, a maior parte das aldeias obedece ao traçado de um arruado, semelhante aos povoados da região. Aí, encontramos as residências das famílias elementares, as cozinhas, os portos, igrejas de diferentes congregações, a escola e enfermaria. Assim como nos sítios, também nos arredores das aldeias localizam-se as roças de mandioca, os guaranazais, os pomares e demais plantações, que pertencem a cada família elementar. Toda aldeia possui um tuxaua, o chefe do lugar, pessoa que está investida de autoridade para resolver brigas e conflitos internos, convocar reuniões, marcar festas e rituais, orientar as atividades agrícolas e as transações comerciais, mandar construir casas etc. Cabe ainda ao tuxaua hospedar os visitantes demonstrando sua generosidade e procedendo à função cerimonial de oferecer çapó - guaraná em bastão ralado na água, bebida cotidiana, ritual e religiosa, que é consumida em grandes quantidades. Ao tuxaua, como a qualquer chefe de Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 45 família extensa, compete também administrar os interesses de sua própria família, responsabilidade que ele assume de modo incisivo, principalmente quando se trata de solucionar brigas e determinar as atividades agrícolas e comerciais. Ele também administra os interesses das demais famílias extensas e elementares que aí residem, mas nesse caso,o faz de forma mais flexível. Nesse sentido, é possível dizer que a unidade mínima constitutiva da aldeia é sempre a família extensa do tuxaua. A aldeia pode constituir-se também dessa família acrescida por famílias elementares, ou ainda por um conjunto de famílias extensas, cujos chefes de família se submetem à influência política do tuxaua local. A autoridade política do tuxaua transcende os limites da aldeia, estendendo-se conforme seu desempenho como chefe de aldeia e de acordo com suas relações com os demais tuxauas Sateré-Mawé e, sobretudo, com o tuxaua geral. Podemos observar que, contemporaneamente, o grau de influência política de um tuxaua oscila segundo inúmeros critérios, dos quais se destacam: o clã ao qual pertence, suas relações de parentesco e prestígio junto aos demais tuxauas, seu conhecimento sobre o tempo dos antigos (história e mitologia Sateré-Mawé), sua capacidade como orador, seu grau de generosidade, sua tradição como agricultor e beneficiador do guaraná, sua habilidade para o comércio, a maneira como conduz os problemas internos de sua comunidade e a tônica de suas relações com os agentes da sociedade envolvente, principalmente a Funai, os patrões e os políticos locais. Pode-se dizer que o tuxaua geral é aquele que consegue um bom desempenho em todas essas áreas. Além dos chefes de família extensa, dos tuxauas e dos tuxauas gerais, ainda há lugar na organização política Sateré-Mawé para a figura do capitão, instituída pelo SPI e reforçada pela Funai. Ao capitão cabe a função de intermediar as relações dos Sateré-Mawé com os brancos, mais especificamente fazer a ponte entre as chefias tradicionais dessa sociedade com as autoridades da sociedade nacional. O capitão contracena principalmente com autoridades exógenas: o chefe de Posto, o delegado, o superintendente e o presidente da Funai, prefeitos, padres e pastores. Muitas vezes são esses agentes do Estado e das congregações religiosas atuantes na área que instituem o capitão, e prosseguem manobrando- o em função dos seus interesses. Essa realidade, somada ao fato dele não ser um chefe tradicional, transforma-o numa figura controvertida dentro da esfera política Sateré-Mawé. A subsistência baseia-se na agricultura, em que se destacam os plantios de guaraná e as roças de mandioca. A farinha é a base da alimentação, sendo também comercializada em larga escala para as cidades vizinhas de Maués, Barreirinha e Parintins. Plantam ainda, para consumo próprio, o jerimum, a batata doce, o cará branco e roxo, e uma infinidade de frutas, em maior escala a laranja. Além de exímios agricultores, são também caçadores e coletores. Mel, castanha, diferentes qualidades de coquinhos, formigas e lagartas complementam sua dieta. Coletam ainda breu, cipós e vários tipos de palhas que servem para o consumo, além se serem comercializados na cidade. Caçando e pescando, os homens participam da dieta alimentar, juntamente com a farinha de mandioca, beiju e tacacá feitos pelas mulheres. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 46 Os Sateré-Mawé possuem rica cultura material, sendo os teçumes sua maior expressão. Eles designam por teçume o artesanato confeccionado pelos homens com talos e folhas de caranã, arumã e outros, com os quais fazem peneiras, cestos, tipitis, abanos, bolsas, chapéus, paredes, coberturas de casas etc. Grande ênfase é dada ao Porantim na cosmologia Sateré-Mawé. O Porantim é uma peça de madeira com aproximadamente 1,50m de altura, com desenhos geométricos gravados em baixo relevo, recobertos com tinta branca, a tabatinga. Sua forma lembra a de uma clava de guerra ou a de um remo trabalhado. Possui um leque de atributos: é o legislador social e a tribo freqüentemente se refere a ele como sendo sua Constituição ou sua Bíblia. Possui poderes de entidade mágica, uma espécie de bola de cristal que prevê acontecimentos, podendo andar sozinho para apartar desavenças e conflitos internos. É também o suporte onde estão gravados, de um lado, o mito da origem ou a história do guaraná, e de outro, o mito da guerra. Posiciona-se, portanto, para a sociedade que o talhou, como instituição máxima, aglutinando as esferas política, jurídica, mágico-religiosa e mística. Segundo relatos dos velhos Sateré-Mawé, seus ancestrais habitavam em tempos imemoriais o vasto território entre os rios Madeira e Tapajós, delimitado ao norte pelas ilhas Tupinambaranas, no rio Amazonas e, ao sul, pelas cabeceiras do Tapajós. Eles referem ao seu lugar de origem como sendo o Noçoquém, lugar da morada de seus heróis míticos. Estão localizados na margem esquerda do Tapajós, numa região de floresta densa e pedregosa, ''lá onde as pedras falam''. Nunes Pereira, que viveu com esse povo na década de 1950, conta que ''os lagos e rios piscosíssimos que irrigam as terras em que viveram outrora os Maués e, bem assim, as florestas e campinaranas ricas em caças de toda espécie, deveriam constituir, numa época mais remota, uma paisagem magnífica para as atividades desse povo. À representação panteísta do Noçoquem, - sítio onde se encontravam todas as plantas e animais úteis aos Maués, segundo a Lenda do Guaraná, deveriam corresponder, outrora, o território por eles ocupado''. Os Sateré-Mawé tiveram seu primeiro contato com os brancos na época de atuação da Companhia de Jesus, quando os jesuítas fundaram a Missão de Tupinambaranas, em 1669. Segundo Bettendorf, "Em 1698 os Andirá acolheram o Padre João Valladão como missionário. É impossível localizar os Maraguá precisamente, mas eles viviam num lago, entre os rio Andirá e Abacaxi, provavelmente no baixo Maués-Açu, que se espraia para formar uma espécie de lago. Eles tinham três vilas, uma próxima da outra" (1910:36). Em 1692, após terem matado alguns homens brancos, o governo declarou uma guerra justa (legal) contra eles, parcialmente evitada pelos índios, uma vez que estes foram avisados e se espalharam, sendo que somente alguns ofereceram resistência. A partir do contato com os brancos, e mesmo antes disso, devido às guerras com os Munduruku e Parintintim, o território ancestral dos Sateré-Mawé foi sensivelmente reduzido. Em 1835 eclodiu a Cabanagem na Amazônia, principal insurreição nativista do Brasil. Os Munduruku e Mawé (dos rios Tapajós e Madeira) e os Mura (do rio Madeira), bem como grupos indígenas do rio Negro, aderiram aos cabanos e só se renderam Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 47 em 1839. Epidemias e atroz perseguição aos grupos indígenas que com eles combatiam, devastaram enormes áreas da Amazônia, deslocando esses grupos dos seus territórios tradicionais ou reduzindo-os. Relatos dos viajantes confirmam que de fato houve redução territorial a partir do século XVIII, e mencionam a área compreendida pelo rio Marmelos, Sucunduri, Abacaxis, Parauari, Amana e Mariacuã como território tradicional dos Sateré- Mawé. Esses relatos confirmam também que as cidades de Maués (AM), Parintins (AM) e Itaituba (PA) foram fundadas sobre sítios Sateré-Mawé, coincidindo com passagens da história oral deste povo. Pensando em termos de macro-território, a ocupação da Amazônia pelos civilizados - termo usado pelos Sateré-Mawé para designar todos aqueles que não são Sateré-Mawé: caboclos, brancos, estrangeiros, com exceção das outras nações indígenas - restringiu consideravelmente seu território tradicional. Primeiro, foram as tropas de resgate e as missões jesuíta e carmelita; depois iniciou-se a busca desenfreada das drogas de sertão; em seguida a extração da seringa; e finalmente a expansão econômica das cidades de Maués, Barreirinha, Parintins e Itaituba para o interior dos municípios, alocando fazendas, extraindo pau-rosa, abrindo garimpos, dominando a economia indígena através de seus regatões. Em 1978, quando iniciado o processo de demarcação do território, as aldeias, sítios, roças, cemitérios, territórios de caça, pesca, coleta e perambulaçãosituavam-se entre e ao redor dos rio Marau, Miriti, Urupadi, Manjuru e Andirá. Os Sateré-Mawé consideravam essa extensão de terra como sendo sua, apesar de saberem que ela representava apenas uma pequena parcela do que já havia sido seu território tradicional. Do ponto de vista da tribo, eles conseguiram manter parte privilegiada do território. São tradicionalmente índios da floresta do centro, como eles próprios falam. Até o começo do século XX escolhiam lugares preferencialmente nas regiões centrais da mata, próximas às nascentes dos rio, para implantarem suas aldeias e sítios. Nessas regiões, a caça é abundante; encontram-se em profusão os filhos de guaraná (como chamam, em português, as mudas nativas da Paullinia Sorbilis); existe grande quantidade de palmeiras como o açaí, tucumã, pupunha e bacaba, que sazonalmente comparecem na dieta alimentar; os rios são igarapés estreitos, com corredeiras e água bem fria. Esse é o ecossistema por excelência dos Sateré-Mawé e podemos observar, ainda hoje, que as aldeias que guardam formas de vida tradicionais ''como no tempo dos velhos'' (plano espacial, arquitetura, roças, rituais etc.) situam-se nessas regiões. As características desses nichos ecológicos eram essenciais à reprodução da vida tradicional dos Sateré-Mawé até o começo do século XX. Conforme os relatos dos índios mais velhos, as antigas aldeias Araticum Velho e Terra Preta, ambas situadas na cabeceira do rio Andirá, foram o pólo de dispersão das atuais 42 aldeias encontradas nas margens desse rio. Da mesma forma, a aldeia Marau Velho, que se localizava na nascente do rio Marau, foi o núcleo inicial das atuais 31 aldeias situadas no mesmo rio, bem como das aldeias que encontramos nos rios Miriti, Manjuru e Urupadi. Estas três aldeias desapareceram em torno da década de Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 48 20, mas ainda podemos observar seus sinais na capoeira, resquícios de suas implantações nas cabeceiras dos rios. A proliferação de aldeias situadas nas margens dos rios Marau e Andirá vem ocorrendo há aproximadamente 80 anos e se deve às interferências na vida tradicional dos Sateré-Mawé, ocasionadas pelas missões religiosas, pelo extinto SPI pela atual Funai, como também pela pressão dos regatões e pelas epidemias. Todos esses fatores levaram os Sateré-Mawé a terem vontade de ficar mais próximos das cidades de Maués, Barreirinha e Parintins. Inventores da cultura do Guaraná, os Sateré-Mawé transformaram a Paullinia Cupana, uma trepadeira silvestre da família das Sapindáceas, em arbusto cultivado, introduzindo seu plantio e beneficiamento. O guaraná é uma planta nativa da região das terras altas da bacia hidrográfica do rio Maués-Açu, que coincide precisamente com o território tradicional Sateré- Mawé. Os mesmos se vêem como inventores da cultura dessa planta, auto-imagem justificada no plano ideológico por meio do mito da origem, segundo o qual seriam os Filhos do Guaraná. O guaraná é o produto por excelência da economia Sateré-Mawé, sendo, dos seus produtos comerciais, o que obtém maior preço no mercado. É possível ainda pensar que a vocação para o comércio demonstrada por eles se explica na importância do guaraná na sua organização social e econômica. A primeira descrição é datada de 1669, ano que coincide com o primeiro contato do grupo com os brancos. O padre João Felipe Betendorf descrevia, em 1669, que "tem os Andirazes em seus matos uma frutinha que chamam guaraná, a qual secam e depois pisam, fazendo dela umas bolas, que estimam como os brancos o seu ouro, e desfeitas com uma pedrinha, com que as vão roçando, e em uma cuia de água bebida, dá tão grandes forças, que indo os índios à caça, um dia até o outro não têm fome, além do que faz urinar, tira febres e dores de cabeça e cãibras". Em 1819, o naturalista Carl von Martius recolheu na região de Maués uma amostra de guaraná, denominado-a Paullinia Sorbilis. Martius observou que na época já existia intenso comércio de guaraná, enviado a locais distantes como o Mato Grosso e a Bolívia. Assim, em 1868, Ferreira Pena escreve: ''Cada ano descem pelo Madeira mercadores da Bolívia e Mato-Grosso dirigindo-se à Serpa e Vila Bela Imperatriz, para onde trazem seus gêneros de exportação e donde recebem os de importação. Daí antes de regressarem vão a Maués, donde levam mil arrobas de guaraná, regressando então em ubás, carregadas daqueles e deste último gênero, que eles vão vender nos departamentos de Beni, Santa Cruz de La Sierra e Cochabamba na Bolívia e nas povoações do Guaporé e seus afluentes''. O comércio do guaraná sempre foi intenso na região de Maués, não só o realizado pelos Sateré-Mawé, mas também pelos civilizados. A procura deste produto deve-se às propriedades de estimulante, regulador intestinal, antiblenorrágico, tônico cardiovascular e afrodisíaco. No entanto, é como estimulante que o guaraná, depois de beneficiado, é mais procurando, pois contém alto teor de cafeína (de 4 a 5%), superior ao chá (2%) e ao café (1%). Existe uma distinção entre o guaraná de excelente qualidade beneficiado pelos Sateré-Mawé - chamado guaraná das terras, guaraná das terras altas e guaraná do Marau - e o guaraná beneficiado Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 49 pelos civilizados na região de Maués, chamado guaraná de Luzéia - antigo nome desta cidade - , de qualidade inferior porque produzido sem os conhecimentos e apuro das práticas tradicionais dos índios. O guaraná das terras sempre foi o mais procurado e, no entanto, os Sateré-Mawé vendem, no máximo, duas toneladas do produto por ano, e apenas nos anos de excelente safra. Já o guaraná de Luzéia, muito inferior, é produzido em larga escala; só uma empresa de comercialização do produto em Maués afirma vender 40 toneladas anuais. O çapó, guaraná em bastão ralado na água, bebida cotidiana, ritual e religiosa, consumida por adultos e crianças em grandes quantidades. O preparo e consumo do çapó seguem uma série de práticas que somadas resultam em uma sessão ritual. A natureza do ritual de consumo do guaraná é, porém, diversa da de um ritual formal, como são a da Festa da Tocandira ou a da leitura do Porantim. Uma sessão de çapó foi descrita por Anthony Henman: "Essas práticas são essencialmente as mesmas em todas as circunstâncias, tanto se o çapó for preparado para o círculo familiar mais íntimo, ou para um encontro de todos os homens adultos durante uma festa ou reunião política. Cabe à mulher do anfitrião ralar o guaraná, operação feita com uma língua de pirarucu ou uma pedra lisa e quadrada de basalto. Uma cuia aberta da espécie Crescentia cujete é colocada em cima de um suporte chamado patauí e enchida de água até um quarto do seu volume total. A ação de 'ralar' o guaraná molhado não busca a transformação do bastão em pó, como ocorre com o guaraná seco. Antes, trabalha-se o guaraná para que se forme uma baba, uma viscosidade que adere ao ralo e ao pedaço do bastão em uso, sendo dissolvida n'água mediante a periódica submersão dos dedos da raladora. Depois de preparado, o çapó é de novo diluído com água guardada ao lado da ''dona'' do guaraná em uma cabaça da espécie Lagenaria siceraria. A cuia, já a essas alturas cheia até um pouco mais da metade de çapó, e entregue pela mulher ao seu marido, que toma apenas um pequeno gole antes de passá-la aos outros presente, normalmente prestigiando os mais velhos ou alguns visitantes importantes, se os houver. Daí em diante, a cuia passa de mão em mão observando a proximidade física dos participantes, e não um rígido esquema de hierarquia, sendo acompanhado durante as sessões noturnas por um grande cigarro de tabaco enrolado numa casca de árvore. O nome tauarí indica tanto o cigarro feito, como a casca e a própria árvore (Couratari tauary). Nem sempre a cuia e o tauarí fazem uma volta circular, sendo mais comum que passem em uma linha reta de um participante ao próximo,voltando pela mesma linha até chegar de novo nas mãos do dono. Quando são muitas as pessoas presentes, observa-se a formação de duas ou mais linhas deste tipo, já que uma só cuia raramente é tomada por mais de oito ou dez pessoas. O participante que não tiver muita vontade de tomar guaraná não irá rechaçar a oferta da cuia, mas manterá as formalidades, bebendo um golinho mínimo para não ofender o anfitrião. Outro detalhe importante é que ninguém acaba a bebida que tiver na cuia, e mesmo se receber uma quantidade mínima, cuidará de deixar sempre um resquício para devolver ao dono. Só este é que tem o direito de encerrar formalmente a sessão de çapó; o que ele pode fazer pessoalmente, ou passando o restinho para um membro de sua família, acompanhado pela frase wai'pó (''olha o rabo''). Durante o intervalo em que a cuia circula entre as pessoas presentes, a mulher do anfitrião Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 50 continuará esfregando o pedaço de guaraná contra o ralo, juntando uma baba que será prontamente dissolvida n'água assim que a cuia voltar às suas mãos.'' (1983:26-27) Cabe observar que cada sessão da çapó tem várias rodadas da bebida, ou seja, a mulher do dono da casa (ou sua filha, ou sua neta) irá preparar várias cuias de çapó conforme a disposição dos visitantes e familiares para tomar çapó e conversar. O çapó é a bebida que os Sateré-Mawé utilizam durante seus resguardos. As mulheres durante a menstruação, gravidez, pós-parto e luto e os homens na Festa da Tocandeira, no luto e quando acompanham suas mulheres durante o resguardo do pós-parto. O ritual da Tocandira coincide com a época do fábrico e dura aproximadamente 20 dias. Os índios referem-se a este ritual como ''meter a mão na luva'', também conhecido pelos regionais como ''Festa da Tocandira''. Trata-se de um rito de passagem - onde os meninos tornam-se homens - de extraordinária importância para os Sateré-Mawé, com cantos de exaltação lírica para o trabalho e o amor, e cantos épicos ligados às guerras. As luvas utilizadas durante este ritual são tecidas em palha pintada com jenipapo, e adornadas com penas de arara e gavião; nelas, o iniciado enfia a mão para ser ferroado por dezenas de formigas tocandiras (Paraponera clavata). Pode-se dizer que é durante o fábrico, termo regional também utilizado pelos Sateré-Mawé para indicar as várias etapas do beneficiamento do guaraná, que a vida social se intensifica. A partir do que observamos, o fábrico potencializa ao máximo a maneira de ser desta sociedade, trazendo para a vida social cotidiana toda uma gama de fenômenos que se encontram ocultos ou obscuros em outras épocas do ano. É um período que se renova a cada ano com a chegada da colheita do guaraná, permitindo-os comungarem com sua gênese mítica, revigorando-se etnicamente. O fábrico é um ciclo produtivo predominantemente masculino. Observamos que existe uma relação entre a divisão sexual do trabalho e a divisão do trabalho por faixa etária. Essa sociedade prescreve para as atividades mais simples do fábrico - que não dependem de tanta arte e experiência - mãos de variadas idades. Mas, ao se tratar das tarefas mais sofisticadas, encontraremos sempre mãos de pessoa adultas ou idosas cuidando do guaraná. Somando a prescrição sexual com a faixa etária resulta que a colheita dos cachos, a descasca do guaraná cru, a lavagem do guaraná, a torrefação, a descasca do guaraná torrado e a pilação, são tarefas quase que exclusivamente masculinas, cobrindo a faixa etária dos meninos aos adultos. A participação do sexo feminino ocorre apenas quando se descasca o guaraná cru e o guaraná torrado, que são consideradas atividades bem simples dentro do cômputo geral do fábrico. Só é permitida a participação das meninas nas atividades acima mencionadas antes da primeira menstruação, porque depois do primeiro resguardo as meninas ganham o estatuto social de mulheres, transformando-se em esposas e mães em potencial. As três atividades finais do fábrico são as que exigem maior depuramento, uma vez que incidem decisivamente na qualidade do produto final - o pão de guaraná. É por este motivo que a modelagem dos pães, sua lavagem e defumação são entregues exclusivamente nas mãos de pessoas adultas ou velhas. Segundo a prescrição da divisão sexual do trabalho e da divisão do trabalho por faixa etária, apenas os homens adultos e velhos podem se encarregar da modelagem dos pães de guaraná e do controle da defumação. A lavagem dos pães de guaraná Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 51 se distingue radicalmente das outras atividades do fábrico porque é o único momento onde as mulheres, literalmente, põem a mão na massa. A sociedade Sateré-Mawé prescreve que somente as mulheres adultas (mães) e velhas (avós) recebem das mãos dos padeiros, após breve descanso nos talos de bananeira, os pães de guaraná ainda frescos, moles e de cor castanha, para serem demorada e caprichosamente lavados. A lavagem dos pães de guaraná constitui-se, sem dúvida, no trabalho mais delicado do fábrico, o que não é suficiente para explicar a incursão feminina dentro do universo eminentemente masculino. A quebra de tabu ocasionada pela entrada das mulheres (que já ficaram menstruadas e já tem marido, filhos e netos) no fábrico de forma tão determinada, só pode ser compreendida através dos mitos. As mulheres Sateré-Mawé estão representadas, em síntese, no corpus mítico sateré-mawé, pelas figuras femininas de Uniaí, Onhiámuáçabê e Unhanmangarú, que são ora irmãs de Anumaré (Deus), ora irmãs de Ocumaató e Icuaman (os irmãos gêmeos). Essas mulheres míticas possuem um leque de atributos e prerrogativas, que encontram ressonância na vida social Sateré-Mawé, mesmo que de forma invertida ou oposta. É seguindo essa trilha que podemos entender a participação das mulheres no fabrico, precisamente na lavagem dos pães de guaraná, uma vez que elas ocupam a posição de Onhiámuáçabê na "História do Guaraná'' - a mulher-xamã, esposa e mãe. Onhiámuáçabê, através de práticas xamanísticas, cuja tônica central é a lavagem do cadáver do filho com sua saliva e o sumo de plantas mágicas, faz nascer a primeira planta de guaraná, inaugurando a agricultura, ressuscitando seu filho - o primeiro Sateré-Mawé -, e fundando a sociedade. É interessante notar que na sociedade Sateré-Mawé cabe exclusivamente aos homens a função de pajés, ao contrário de alguns mitos, em que esses papéis são reservados às mulheres. Da mesma forma, a vida social reserva aos homens a tarefa de beneficiar o guaraná, quando nos mitos é função da mulher de cuidar do guaraná. Provavelmente, são essas inversões que permitem a quebra de tabu na divisão sexual de trabalho no fábrico, resguardando para as mulheres a continuidade das suas funções míticas na vida social. 2.4.5 Panorama Econômico “O setor primário de Parintins apresenta em sua economia destaques na agricultura, pecuária, pesca, avicultura e extrativismo vegetal. A agricultura é representada pelas culturas temporárias de abacaxi, arroz, batata-doce, cana-de-açúcar, feijão, fumo, mandioca, melancia, melão e milho. Como cultura permanente oferece abacate, banana, cacau, café, caju, coco, laranja, limão, pimenta-do-reino e tangerina. A pecuária é a atividade de maior peso no setor primário, compreendendo principalmente a criação de bovinos, em seguida os suínos. A produção de carne e leite destina-se ao consumo local e ao envio para outros municípios. A avicultura é subsidiada no interior dos domicílios, sendo representada principalmente pela criação de galinhas, perus, patos, marrecos e gansos. O extrativismo vegetal é pouco representativo no setor primário, destacando a exploração de borracha, cumaru, gomas não elásticas, madeira, óleo de copaíba e puxuri”. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 52 O setor secundário envolve as indústrias de esquadrias e peças metálicas, gelo, redes e tapetes,está a cargo da Unidade de Gerenciamento do Programa – UGP, no âmbito da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável e da Secretaria de Coordenação da Amazônia, juntamente com os Núcleos de Gerenciamento do Programa – NGP, instituídos nos Estados e no Ibama. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 5 Objetivos do Proecotur O Proecotur foi concebido com a finalidade de fomentar diretrizes para o ecoturismo, maximizar os benefícios econômicos sociais e ambientais, gerar alternativas de atividades que não degradem o meio ambiente, criar empregos, renda e oportunidades de desenvolvimento econômico, garantindo o desenvolvimento sustentável da Região Amazônica. A meta do programa é viabilizar o desenvolvimento do ecoturismo na Região Amazônica Brasileira, estabelecendo a base de investimentos públicos necessários para a atração de investidores privados. O propósito é estabelecer uma estrutura adequada e implementar as condições necessárias, incluindo os investimentos requeridos, que possibilitarão aos nove Estados da Amazônia Brasileira (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) se preparar para administrar suas áreas selecionadas para o ecoturismo de forma responsável e adequada, com planejamento, assistência técnica e capacitação. O Proecotur tem como objetivos específicos: proteger os atrativos ecoturísticos; implementar infra-estrutura básica de serviços; criar ambiente de estabilidade; avaliar o mercado nacional e internacional; propor base normativa; capacitar recursos humanos; estimular a utilização de tecnologias apropriadas; valorizar as culturas locais e contribuir para a conservação da biodiversidade. Fases do Programa O Programa foi concebido em duas fases: a Fase I, de Pré-Investimentos e a Fase II, de Investimentos. A Fase I, em andamento, tem como finalidade o planejamento estratégico dos investimentos a serem implementados na Fase II, centrada em pólos de desenvolvimento ou zonas prioritárias para investimentos. O poder público investirá em projetos para atrair empreendimentos ecoturísticos e normatização das atividades, ao priorizar o planejamento de roteiros que propiciem a integração entre os Pólos, com o objetivo de maximizar a competitividade da região como destino ecoturístico, minimizar os riscos financeiros dos empreendimentos a serem implantados em cada Pólo e a concorrência entre os Estados, mediante a identificação de nichos de mercado diferenciados para cada Estado. Componentes do Proecotur O programa foi estruturado em 3 componentes principais e atividades relacionadas, como segue abaixo. 1. Planejamento de Ecoturismo para a Região da Amazônia: 1.1 Estratégia para Turismo Sustentável na Amazônia Legal: prevê uma avaliação estratégica para determinar o alcance, os principais pontos, as oportunidades e as restrições a serem considerados em relação ao potencial de desenvolvimento do turismo nessa região. Este estudo deverá articular as oportunidades e restrições Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 6 ao desenvolvimento do turismo sustentável da região nos próximos 10 anos, e servirá de referência para futuros investimentos; 1.2 Estratégias Estaduais e Locais de Ecoturismo: estratégias de ecoturismo para os estados do Acre, Amapá e Roraima. As estratégias incluirão recomendações específicas para o potencial dos Estados, desenvolvimento do ecoturismo sustentável em áreas geográficas selecionadas e serão usadas como referência para investimentos futuros. Também serão empreendidas estratégias locais específicas de ecoturismo para avaliar as oportunidades do potencial de desenvolvimento sustentável em quatro novas localidades que poderão tornar-se novas áreas prioritárias para ecoturismo, e; 1.3 Estudos para gerenciamento e/ou estabelecimento de áreas protegidas: (na maior parte Parques Nacionais já existentes e novos Parques Estaduais). Serão preparados planos de manejo para definir claramente a demanda para o uso compatível e incompatível dessas novas áreas. Estes planos também definirão uma infra-estrutura em pequena escala necessária às áreas estabelecidas e seus entornos. 2. Planejamento de Ecoturismo dos Pólos: 2.1. Planejamento das Áreas Priorizadas para Ecoturismo: o propósito é preparar e implementar nos pólos os planos principais que possibilitem aos estados de Mato Grosso, Pará, Rondônia, Amazonas, Maranhão e Tocantins gerenciar suas áreas de ecoturismo; 2.2. Investimentos Chave para os Pólos: estão sendo efetuados investimentos necessários e vitais em infra-estrutura para a proteção das áreas naturais existentes e/ou para facilitar a recepção do ecoturista durante o período de execução do programa proposto; e 2.3. Estudos de Projetos de Infra-Estrutura para um Segundo Estágio de Investimentos: atividade para financiar projetos para serem implementados na segunda fase. 3. Fortalecimento Institucional: 3.1. Assistência Técnica e Melhores Práticas: será efetuado o levantamento das melhores práticas para o ecoturismo, englobando a área de gerenciamento de negócios, conservação da biodiversidade e uso de tecnologia apropriada, tais como o uso de energia limpa, tratamento biológico de esgotos, técnicas construtivas apropriadas. Essas práticas serão disseminadas na forma de publicações (manuais) que servirão de base para a oferta de Assistência Técnica aos investidores; inicialmente essa assistência será providenciada para negócios Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 7 na área de ecoturismo que já estão operando nas áreas selecionadas do programa, em seguida será expandido para os novos investimentos; 3.2. Capacitação em Ecoturismo: O processo de capacitação do PROECOTUR foi planejado para ser realizado em quatro etapas: Sensibilização, Oficinas de Planejamento, Cursos Específicos e Seminários. As Ações de Sensibilização consistem de reuniões de trabalho com as lideranças comunitárias e oficinas nos municípios dos respectivos pólos de ecoturismo da Amazônia. Para a realização das Oficinas de Planejamento foi estabelecido com a EMBRATUR, por meio do Programa Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT, Uma parceria entre os dois programas. Os Cursos Específicos serão realizados em parceria com Instituições de Ensino que possuam reconhecida experiência na área e representações em todos os estados da Amazônia Legal; 3.3. Gerenciamento: o programa financiou o estabelecimento de uma unidade de execução técnica a nível federal e a manutenção de unidades de co-execução a nível estadual. Pólos de Ecoturismo Os Pólos são as zonas prioritárias nas quais o poder público implantará projetos e normas visando à atração de empreendimentos ecoturísticos particulares. Não são necessariamente definidos geograficamente podendo consistir de corredores turísticos ou de grupos de atrativos complementares unidos por um roteiro turístico. Seu planejamento visa maximizar a competitividade da Região como destino de ecoturismo internacional; minimizar a concorrência entre Estados, mediante a identificação de nichos de mercado diferenciados para cada Estado; maximizar a viabilidade econômica e minimizar os riscos financeiros dos empreendimentos de ecoturismo a serem implantados em cada Pólo. A proposta do PROECOTUR é integrar os Pólos de ecoturismo por meio de roteiros com atrativos complementares, dotando-os de toda infra-estrutura e serviços públicos e privados para atendimento aos visitantes. O Pólo Ecoturístico do Acre conta com os atrativos da floresta de terra firme e o movimento dos seringueiros em defesa das reservas extrativistas. O Amapá atrai turistas à Linha do Equador e ao fenômeno da pororoca, como são chamadas as ondas que resultam do avanço das águas do Oceano Atlântico sobre os rios. Já o Amazonas se posiciona como porta de entrada para o ecoturismo e oferece ecolodges e serviços de padrão internacional. O Maranhãobeneficiamento de malva, sacos, fios, tela, juta, beneficiamento de arroz, moinho de café, pau-rosa, estaleiros, serrarias, olarias e marcenarias. Já o terciário compreende o comércio varejista e atacadista e serviços de hotéis, agências de viagem, agências bancárias, restaurantes, cinemas, hospitais, oficinas mecânicas, clínicas odontológicas e médicas. "104 “A cidade de Barreirinha praticamente se iguala a Parintins em termos do desenvolvimento econômico da agricultura permanente e temporária, classificada no setor primário diferindo apenas no destaque na produção da mandioca, acrescidos de juta, malva e tomate. Sua pecuária apresenta a mesma produção, enquanto a pesca é praticada em moldes artesanais para o consumo local. Não é representativo para a formação da economia do setor. A avicultura possui caráter doméstico e de subsistência. O extrativismo vegetal indica um peso relativo pequeno para a formação do setor primário, sendo demonstrado pela exploração da castanha, madeira e também o camaru. O setor secundário é explorado em usinas de beneficiamento de arroz, olaria, mercearias e padarias, enquanto o terciário é semelhante às atividades de Parintins, em menor número de opções: comércio varejista e atacadista, serviços hoteleiros e pensões”.105 “Boa Vista do Ramos apresenta em seu setor primário, a agricultura como estrutura econômica do município de maior importância, revelando como principais produtos da cultua temporária a mandioca (principal resultado agrícola), seguida do milho, melancia, feijão e arroz e da cultura permanente o guaraná, a laranja, a banana, o limão e o café. Sua pecuária é vasta em relação aos demais municípios, consistindo no desenvolvimento de espécies como bovinos, bufalinos, ovinos e caprinos. A pesca não é organizada ou controlada, portanto não existe registro ou estrutura para armazenar e conservar o peixe que será consumido na entre- safra.Também similar aos demais municípios do pólo, a avicultura é caracterizada como atividade e consumo doméstica, com a criação de galinhas e frangos. O extrativismo vegetal ocorre de forma ampla. Entre os produtores extrativos tradicionais, destaca-se a madeira em toras, camaru, juta, malva e castanha-do-pará, observando que nesses produtos não são manifestados o município numa patente evasão de divisas financeiras. Podemos destacar ainda as frutas regionais tais como a pupunha, tucumã, açaí, bacaba, patauá e maracujá do mato. Uma atividade explorada atualmente é a hortifruticultura, que acontece através o cultivo de verduras, legumes e frutas que surgem de acordo com a respectiva época do ano, como o tomate, maxixe, pimentão, cebolinha, couve, feijão, pepino, batata-doce, cará, jerimum, laranja, limão, cupuaçu, tangerina, abacate, manga, abacaxi, goiaba. 104Disponível em:. 105 Disponível em: . Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 53 O setor secundário de Boa Vista do Ramos é encontrado nas indústrias tipo serraria e padaria. Já o terciário é explorado no comércio varejista com produtos diversificados, desde gêneros alimentícios ao material de construção, incluindo medicamentos em geral e outros. No setor de serviços se verifica a atividade de carpinteiro, costureira, pintor, mestre de obras, construtor.”106 Nhamundá comparada às demais cidades do pólo apresenta carência econômica em seus setores. O primário, por exemplo, não apresenta expressão econômica na agricultura, focando somente o consumo local. A pecuária é a atividade de maior importância para a formação do setor, principalmente a pecuária de corte, que contribui na renda do município. A pesca também tem caráter esportivo e artesanal para o consumo local, mas ao apontar o extrativismo vegetal, em Nhamundá se encontra a maior reserva mineral do Brasil em bauxita e jazida de calcário (cimento). O setor terciário atua em dois segmentos: o comércio varejista e os restaurantes como serviços.107 2.4.6 Panorama Cultural No presente momento, dos subsídios pesquisados para formatar este diagnóstico, foram encontrados dados na cidade de Parintins a respeito da existência de Sítios Históricos com 78 edificações, Sítio Arqueológico da Valéria e Sítio Histórico de Vila Amazônia (colonização japonesa/juta). Incrementando a pesquisa, o município também dispõe do Complexo Esportivo e Turístico do Cantagalo. Artesanato O artesanato em geral é confeccionado pela cultura indígena, que demonstra em todos os aspectos de seu conteúdo, precisão de detalhes, combinação de cores e criatividade, baseados nos elementos da natureza, desde instrumentos primitivos a adereços que complementam e ornamentam lugares, pessoas e ambientes, transformando a matéria-prima em obras e recursos indispensáveis nos afazeres diários. A cerâmica indígena elabora peças de barro cozidas durante uma semana com cinzas de caraipé (árvore nativa da Amazônia) dentro de um buraco cavado no chão. Finda esta etapa, cada peça recebe uma camada de copal (resina de jatobá) que impermeabiliza as peças. Essa técnica que já existia quando Cabral chegou no Brasil. O Tipiti é um artefato feito com tala de arumã utilizado para espremer a mandioca ralada no início do processo de fabricação da farinha. A cestaria em palha de tucumã são fios trançados da folha de tucumã e tingidos com pigmentos encontrados na floresta, como o urucum, técnica esta que vem sendo resgatada há pouco tempo. As fibras de palmeira, tucum-do-brejo, cabeça-de-preguiça, aninga, caroá, embira, envira, miriti e juta são fibras utilizadas na fabricação de utensílios, como cestos e jogos americanos. A balata são pequenos objetos fabricados pelo látex extraído de duas árvores sapotáceas da região 106 Disponível em: . 107 Disponível em> . Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 54 amazônica. O trançado de guarumã é originário das comunidades caboclas do interior. As talas extraídas do caule da planta guarumã são utilizadas na fabricação de cestos. Já o maracá é fabricado pelos caboclos das comunidades ribeirinhas da Amazônia. É um choacalho utilizado no acompanhamento rítmico de danças e músicas, podendo ser encontrado na Fucapi - Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (fibra e madeira). Em Maués, o Artesanato de Guaraná é a atividade em que as famílias locais utilizam o guaraná como material para produzir pequenas peças que retratam animais e objetos de uso diário. O artesanato de Parintins é local e confeccionado com madeira, raízes de árvores, jutas, cipós, palhas, sementes, fibras naturais e penas artificiais, miniaturas dos bois esculpidas em gesso e isopor. Gastronomia As principais iguarias são: açaí, arroz branco, aruanã, bacaba, bacuri, bolo de guaraná, bolo de macaxeira, broa, buriti, creme de banana pacova, cupuaçu, farinha de mandioca, graviola, jaraqui (peixe popular no estado, comido com pimentas e farinha de mandioca), mandioca, maracujá-do-mato, matrinxã, molho de tucupi (molho apimentado extraído da raiz da mandioca), mungunzá, murici, pacu, pamonha, patoá, pimentas variadas, pirarucu ao forno, pupunha, quebra-queixo, sorva, surubim, taperebá, tapioca, tucum. Parintins abriga estabelecimentos que oferecem pratos típicos da culinária local. O sabor dos peixes oferecidos pelos rios que banham a ilha de Tupinambarana e a carne de búfalo dos rebanhos locais destaca-se na cozinha parintinense. Pode-se degustar pratos como o tambaqui moqueado, antigamente enrolado pelos indígenas em folhas de guarumã e defumado um buraco de areia, a caldeirada de tucunaré com pirão escaldado, o pirarucu assado, o bodó ao tucupi,um peixe cozido com um líquido amarelado proveniente do sumo da mandioca ralada, e os bolinhos de piracuí, outro pescado regional. As especialidades são servidas em restaurantes da cidade, mas também pode-se provar comidas típicas em banquinhas de rua, como as da tatacazeiras, que servem o tacacá, é uma sopa tradicionalmente tomada no fim da tarde feita com tucupi, contendo goma extraída da mandioca, jambú uma folha que deixa a boca “dormente” e camarão. Ao lado do porto, no mercado central, vendem-se frutas típicas, como mari-mari, biriba, jenipapo, pupunha e tucumã. Os oradores têm hábito de comer sanduíche com a polpa do tucumã no café da manhã.108 Alguns costumes são particulares de cada município, tendo em vista as peculiaridades das atividades em que gira a economia. A Massa do Guaraná é feita exclusivamente no Centro Cultural de Artesanato de Maués. É uma massa feita pelos índios Saterê-Maué (amêndoa raspada e água). 108 GUIA Philips – Amazônia Brasil. 2001. p. 157. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 55 Danças, Músicas e Lendas Misturando mitologia, adereços alegóricos e batidas de tambor na disputa entre os bois Garantido e Caprichoso, o Festival do Boi de Parintins já é reconhecido internacionalmente por sua dimensão e originalidade. Em cada grupo apresentam-se cerca de 3.500 pessoas, chamadas brincantes, acompanhados por carros alegóricos que chegam a 15 metros de altura. A festa é uma manifestação de herança indígena na quase representa lendas da floresta e história de resistência cultural na Amazônia. Como um ritual xamânico, as dançarinas encenam episódios inspirados no Quarup, na saga dos Tupinambás, na chegada dos portugueses e em eventos históricos selecionados anualmente pela diretoria de arte dos bois. Figuram indígenas como o pajé ou a cunhã-poranga e personagens folclóricos do boi-bumbá maranhense, representadas pelo grupo da vaqueirada, pela sinhazinha da fazenda, pai- francisco da fazenda e mãe-catirina. Uma das histórias conta que os bois nasceram de uma disputa amorosa, no início do século 20, entre o maranhense Lindolfo Monteverde e seu primo, Luiz Gonzaga, por uma moça de Parintins, conhecida como Dona Isolina. A disputa deu origem à competição entre os bois, depois que Lindolfo saiu do Galante (hoje Caprichoso) e fundou o Garantido. A cada ano, os dois buscariam incrementar as apresentações com beleza e novos elementos folclóricos como uma forma de conquistar o coração da moça. Com a projeção da festa, Parintins chega a recebe 100 mil visitantes nos três últimos dias de junho.109 Algumas danças, músicas e lendas se espalham e enfeitiçam os visitantes e moradores do Pólo, fascinados pela cultura de um povo, com ricas histórias e crendices transferidas de geração em geração. Matinta Perera: não possui forma definida, se assemelhando a uma velha com o corpo suspenso ou a um pássaro. Em cada localidade, a lenda é atribuída a alguma velha ermitã que à noite se transforma em Matinta e sobrevoa as casas das pessoas que a trataram mal durante o dia para assustá-las e atormentar as criações de galinhas, porcos, cavalos e cachorros110; Mapinguari: os caboclos descrevem o Mapinguari como um bicho com o corpo de homem, repleto de pelos e com apenas um olho no meio da testa. Sua boca se estende até a barriga e sua pele é parecida com couro de jacaré, além de possuir uma armadura nas costas semelhante ao casco de tartaruga. Segundo a lenda, o Mapinguari ataca os caçadores durante o dia111; Curupira: descrito como um menino de estatura baixa, cabelos cor de fogo e pés com calcanhares para frente, o curupira tem a função de proteger a mata e seus 109 GUIA Philips – Amazônia Brasil. 2001. p. 156. 110 Fonte desconhecida. 111 Fonte desconhecida. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 56 habitantes, punindo seus agressores. Ainda, há casos em que os Curupiras se encantam por crianças pequenas, que são levadas para a floresta e devolvidas aos pais depois de sete anos112; Mandioca: a lenda diz que numa certa tribo nascera uma índia de pele branca, chamada Mani, que seria na realidade um presente do deus Tupã. A índia era querida por todos e tratada como uma jóia rara, mas num certo dia veio a adoecer e morreu. No lugar onde foi enterrada, brotou uma planta diferente, cuja raiz era parecida com uma batata. Um índio partiu a raiz ao meio e constatou que ela era branca como a índia Mani. Por isso, a raiz recebeu o nome de “Mani Oca” (carne de Mani), assumindo a forma atual “mandioca113”; Gente que vira bicho: pessoas que em noite de luar se isolam da sociedade para se transformarem em animais, como cavalo, porco, cobra, cachorro, entre outros. Depois de vagar pela noite, o bicho volta a ser gente, veste suas roupas que ficaram escondidas em algum local ermo e volta para casa, com a certeza de que na próxima noite de lua o destino baterá a sua porta114; Guaraná: diz a lenda que na tribo Maués nasceu um menino muito bonito, inteligente e esperto, amado por todos. Mas Jurupari, o espírito do mal, ficou com inveja do indiozinho e numa emboscada, transformou-se em cobra e o matou. Arrasada de tristeza, toda a tribo chorou junto ao corpo do menino, quando o deus Tupã enviou um raio que caiu ao lado de seu corpo. A mãe entendeu que era um recado de Tupã e enterrou os olhos do indiozinho, para que nascesse uma planta tão viva e forte e que pudesse trazer tanta felicidade quanto o menino trouxe para a tribo. E foi assim que dos olhos do pequeno índio nasceu o guaraná. Guará, na língua indígena, significa “o que tem vida, gente”, e ná, “igual, semelhante”. Assim, traduzida, a palavra guaraná significa “Bagos iguais a olhos de gente”;115 Outra lenda afirma que “a origem do guaraná, segundo os Saterê-Maués, é que havia três irmãos, dois rapazes e uma moça, sendo os dois primeiros muito preguiçosos e dependentes da irmã. Esta ficou grávida e deu à luz a um menino de belos olhos negros, que foi assassinado aos cindo anos pelos tios invejosos. A mãe retirou-lhe então os olhos e plantou-os como sementes pedindo à Tupã que lhe devolvesse a vida em forma de vegetal”116; Cunhã e o Marupiara: havia na selva um casal muito apaixonado, Cunhã e Marupiara. Um dia Marupiara convidou Cunhã para pescar e enquanto os dois pescavam e namoravam no lago, o céu ficou encoberto e uma forte chuva de vento amedrontou o casal, que tentou desesperadamente alcançar a margem do rio. Chegando à margem, 112 Fonte desconhecida. 113 Fonte desconhecida. 114 Fonte desconhecida. 115 Fonte desconhecida. 116 GUIA Philips – Amazônia Brasil. 2001. p. 322. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 57 em meio a raios e trovoadas, o casal se abraçou e tocou o chão, rezando para que deus Tupã os protegesse. Mesmo assim, um raio atingiu o casal apaixonado, mas a natureza, cúmplice daquele amor, transformou Cunhã na palmeira uricuri e Marupiara no cipó apuí, que estão sempre entrelaçados nas matas amazônicas117; Origem do Rio Amazonas: existia na selva amazônica dois noivos apaixonados: o Sol, dono do dia, e a Lua, dona da noite. Apesar de apaixonados, eles nunca poderiam se casar, pois o amor ardente do sol queimaria toda a Terra e o choro triste da Lua a afogaria. Assim, o casal se separou e a Lua chorou durante todo um dia e uma noite. Suas lágrimas escorreram por morros e serras até alcançar o mar, que não queria aceitar tanta água. Estranhamente, as lágrimas da Lua encravaram um imenso vale, onde um rio extenso apareceu: era o rio Amazonas, o rio-mar da Amazônia118; Amazonas ou Icamiabas: lenda que conta a origem do nome do estado e do rio Amazonas. Os primeiros europeus que chegaram à região contaram ter encontrado tribos de mulheres guerreiras com costumes semelhantes aos dasAmazonas da Capadócia, na Ásia Menor. A tribo era composta apenas por mulheres que só buscavam homens para procriação e quando tinham filhos meninos, os entregavam aos pais. Os índios chamavam a tribo de Icamiabas, que significa “mulheres sem marido”. Diziam também que as Icamiabas presenteavam os homens após a cópula com pequenos artefatos semelhantes a sapos entalhados em pedra de jade ou nefrita, chamada de Muiraquitã119; Muiraquitã: são objetos esculpidos em pedras, geralmente verdes - jadeíta e nefrita, por exemplo - representando animais da floresta. Possui poderes mágicos e segundo a lenda, as pedras eram esculpidas pela tribo feminina das Icamiabas e presenteadas a guerreiros120; Cobra-Grande: segundo a lenda, numa das tribos amazônicas vivia uma velha que comia crianças. Ao ser atirada num rio pela população horrorizada com a sua crueldade, a velha foi salva por Anhangá, o espírito do mal, o qual lhe deu um filho, que posteriormente foi transformando em igarapés, é o mito mais poderoso e complexo das águas amazônicas. Mágica, irresistível, polifórmica, aterradora121 ( ...). Tem a princípio, a forma de uma sucuriju ou uma jibóia comum. Com o tempo adquiri grande volume e abandona a floresta para ir para o rio. Os sulcos que deixa a sua passagem, transformam-se em igarapés. Habitam a parte mais funda do rio, os poções, aparecendo vez por outra na superfície122;. 117 Fonte desconhecida. 118 Fonte desconhecida. 119 Fonte desconhecida. 120 Fonte: Amazonas BR. 121 Fonte: Amazonas BR. 122 CASCUDO, Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. 1998. p. 290. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 58 Vitória régia: segundo a lenda, uma índia chamada Naia, encantada pelas belezas da lua, sempre tentava tocá-la para tornar-se tão linda e luminosa quanto ela. Ao ver a lua banhando-se num lago, a índia mergulhou nas águas, esquecendo que não sabia nadar (...)123. O nome vitória-régia foi dado pelo naturalista Lindley em homenagem à rainha Vitória da Inglaterra124; Boto: animal que ao se transformar em belo rapaz, encanta as mulheres da comunidade que o vêem e corre atrás dos meninos ( ...)125. O boto seduz as moças ribeirinhas aos principais afluentes do rio Amazonas e é o pai de todos os filhos de responsabilidade desconhecida. Nas primeiras horas da noite, transforma-se em um rapaz bonito, alto, branco, forte, grande dançador e bebedor, e aparece nos bailes, namora, conversa, freqüenta reuniões e comparece fielmente aos encontros femininos. Antes da madrugada, pula para a água e volta a ser um boto (...)126 ; Iara: mulher bela e sedutora que encanta os homens que a vêem banhar-se nua, os quais perdem a noção do perigo e se atiram nas águas, quase nunca retornando ou então, retornando delirantes(...)127. Nome convencional e literário da mãe-d’água ( ...) em todo o Brasil conhece-se por mãe d’água a sereia européia alva, loura, meia peixe, cantando para atrair o enamorado que morre afogado querendo acompanhá-la para bodas no fundo das águas128. Construções Históricas O município de Maués abriga construções históricas que merecem destaque: Casa Paroquial é uma construção histórica localizada no Largo Marechal Deodoro. Construída na década de 1930, está em bom estado de conservação, mantendo as características arquitetônicas da época. Não possui sistemas de cartão de crédito e débito como forma de pagamento; Obelisco, construção histórica localizada na Praça Coronel João Verçosa. Construído na década de 1950, registra o local onde culminou o final da Cabanagem, histórica revolução em que os últimos 880 revoltosos (cabanos) foram obrigados a prestar juramento de fidelidade à Constituição no local, não possui cartão de crédito e débito; Prédio do Fórum é uma construção histórica, estrutura semelhante a um ancoradouro. Não possui cartão de crédito e débito; 123 Amazonas BR. 124 GUIA Philips – Amazônia Brasil. 2001. p. 331. 125 Amazonas BR. 126 CASCUDO, Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. 1998. p. 181. 127 Amazonas BR. 128 CASCUDO, Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. 1998. p. 532. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 59 Usina de Pau-Rosa, construção histórica localizada Avenida Antártica. Uma das poucas usinas de pau-rosa no estado. Possui uma área de 74 hectares e ainda utiliza o primeiro maquinário usado para a extração do óleo, também não aceita cartão de crédito e débito. Pertencente a Parintins, algumas edificações fazem parte do cartão postal do município. Vila Amazônica, construção histórica formada de ruínas da década e 1930, ruínas de uma vila que foi resultado da vinda de japoneses para a região, estimulados pelo cultivo de juta; Catedral Nossa Senhora do Carmo Igreja do Sagrado Coração de Jesus, construída em 1883; Teatro da Paz; Teatro Dom Arcângelo Cérqua. 2.4.7 Aspectos Institucionais, Programas e Projetos Ao convalidarmos ideais da gestão púbica, é necessário obter sensíveis percepções e conhecer a atuação para que não conflite com as estratégias inseridas na área de influência. Para isso deve-se avaliar: a atuação dos órgãos públicos de turismo, ou seja, se as ações são iniciadas e concluídas, se o apoio do governo chega aos municípios, se é deficiente a articulação entre estado e municípios, se as parcerias entre instituições é limitada, se os recursos para fomento do turismo são limitados, se as manifestações culturais têm apoio, etc. Ao mesmo tempo, avaliar a atuação dos gestores públicos de turismo - se é fragmentada (apresenta descontinuidade das ações) e ineficiente (em função de se estar iniciando a prática da atividade turística). As bibliografias estudadas subentendem a existência na região de planos de desenvolvimento turístico, porém o plano estratégico do Pólo está fase inicial de elaboração, assim como o Plano Estadual de Turismo do Amazonas e afins, tais como os Planos Diretores dos Municípios e PPA (Plano Plurianual). Para concretização e sucesso na viabilização da atividade, é necessário que haja articulação entre iniciativa privada, setor público e terceiro setor na região, sendo necessário o estreitamento de canais de comunicação e a integração no desenvolvimento mútuo dos atores envolvidos. A comunidade local deve perceber o turismo como atividade econômica importante, pois o que ocorre atualmente é o pouco comprometimento com a atividade turística, focada apenas nos eventos de grande porte, tais como o Festival do Boi. Essa falta de sensibilidade reduz o trade turístico da região.129 Diante as análises acima citadas e 129 AMAZONAS. Secretaria do Meio Ambiente. Plano de desenvolvimento do pólo de ecoturismo do Estado do Amazonas: descrição e contextualização global do pólo de ecoturismo do Estado do Amazonas. 2001. s.p. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 60 abordadas, é fato concluir a atuação empreendedora no local, avaliando a capacitação dos agentes. 2.4.8 Questões Ambientais Relevantes “As ameaças à Amazônia são muitas. Três delas são, de longe, as de maior relevância: a pecuária bovina extensiva, a exploração da madeireira predatória e a continuidade das colonizações públicas e privadas. Estas, combinadas, são responsáveis por mais de 95% da área adulterada da Amazônia. Segundo os estudos do IMAZON (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), ‘a criação de gado bovino é uso dominante nas áreas desmatadas, representando 77% da área convertida em uso econômico.´ Até 2002, o INPE calculava que 582 mil km² de floresta amazônica haviam sido desmatados (área equivalente a toda região Sul do Brasil). Porém, se considerarmos as áreas atingidas e já abandonadas, bem como as áreas onde as madeireiras realizaram coletas seletivas, e somá-las as áreas desmatadas acima,é provável que se conclua que nos últimos 40 anos conseguimos a ousadia de alterar significativamente 20% da Amazônia. Esta é uma área próxima a 1 milhão de km² (100 milhões de hectares), ou seja, uma área superior a toda a região Sul acrescida de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. (…). Entre as principais conseqüências estão o sofrimento do índio e do caboclo, o desmatamento, a queimada, a poluição dos rios e a extinção da biodiversidade. Em geral, o caos não se estabelece por uma razão isolada, por exemplo, em função da pecuária extensiva ou do garimpo – e sim por uma mescla de razões, envolvendo duas, três ou quatro forças que atuam simultaneamente, competindo muitas vezes entre si. (…). São as seguintes ameaças: A pecuária bovina extensiva; Soja: de alimento à ração para o gado chique; A exploração madeireira predatória; O modelo fundiário adotado; O narcotráfico e a guerrilha; Tráfico de animais e plantas (biogrilagem); A caça predatória; As grandes obras (hidrelétricas, hidrovias e estradas); O garimpo; Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 61 A pesca predatória.”130(…) “Estas dez ameaças citadas apresentam entre suas principais conseqüências, ora isoladamente ora em conjunto, direta ou indiretamente, o aumento da área desmatada (…)”.131 Infelizmente, “está se eliminando o mais rico banco de genes do planeta. Com relação à perda das espécies de algas, besouros, abelhas, aves, peixes e árvores (…). Mais que espécies, perdem-se sistemas organizados e inter-relacionados. Os cientistas não sabem quanto tempo é necessário para recuperar áreas degradadas.“132 130 MEIRELLES FILHO, João. O livro de ouro da Amazônia. 2004. p.150. 131 Ibid, p. 214. 132 MEIRELLES FILHO, João. O livro de ouro da Amazônia. 2004. p.219. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 62 3 Caracterização de Potencialidades Ecoturísticas No contexto brasileiro, por sua riqueza natural e cultural a Amazônia emerge como umas das regiões prioritárias para as conservações de recursos naturais e a construção de modelos de desenvolvimento capazes de valorizar e proteger a base natural, resgatar e preservar o patrimônio cultural e assegurar benefícios às populações locais. Sob esse enfoque, o ecoturismo é reconhecido como importante alternativa para o desenvolvimento regional.133 “O turismo é um fenômeno social complexo e diversificado. Há diversos tipos de turismo, que podem ser classificados por diferentes critérios”134. Pela diversidade identificada de atrativos naturais e culturais, há muitas formas de turismo a ser explorada nos municípios do Pólo Saterê, pois o viajante pode caracterizar perfis diversos, cuja identidade definirá o destino, tempo, hábitos e atividades que melhor aproveitem o tempo livre disponível. Para isso deve-se determinar sua origem, volume de pessoas, classe, autonomia, duração da viagem, tipo de alojamento, e seus objetivos, e adaptar formas e pacotes ensejados. Os eventos que constam no calendário dos municípios oferecem ofertas que podem ser exploradas e divididas nas seguintes segmentações: Turismo de Natureza e Ecoturismo, Turismo Religioso, Turismo de Terceira Idade, Turismo Regional, Turismo de Eventos, Cruzeiros, Turismo de Pesca, Turismo Científico, Turismo de Interesse Específico, Turismo Histórico, Turismo de Negócios e Turismo Cultural. De acordo com as definições de turismo, se foi verificado uma forma de incorporar cada evento em seu devido destino, adaptando algumas vezes um evento em mais de uma segmentação. O Pólo de Saterê é conhecido como pólo turístico, exercendo ações governamentais com participação da sociedade civil e do setor privado. Ele apresenta diversas formas exploráveis de turismo de acordo com o material analisado: Turismo de Natureza e Ecoturismo “A floresta amazônica é normalmente relacionada a um ambiente vasto, imutável e uniforme. Sua composição, no entanto, varia significativamente e muitos ecossistemas, com vegetação, relevo e fauna específicos, compõem o conjunto da floresta. (...) É considerada 133 Disponível em: . 134 BARRETO, Margarita. Manual de iniciação ao estudo do turismo. 2000.p. 17. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 63 um mosaico com inúmeras variações, tais como as várzeas, igapós, campinaramas, cerrados e campos. (...) Mangues também compõem a diversidade da floresta.”135 Somado a valorização econômica e social do local, alguns pontos se destacam, como os lagos que compõem o cenário da paisagem do Pólo. Em Parintins se destaca o Lago do Macuricanã, há 45 quilômetros atravessando o Rio Amazonas e ramais menores na margem oposta. Santuário ecológico da região, possui duas paisagens distintas: na época da seca, ente julho e dezembro, é entrecortado por furos e igarapés e serve de habitat para araras e papagaios, animais mais presentes nestes meses. Nos troncos das árvores observam-se orquídeas e bromélias e a marca d´água deixada na última cheia. De fevereiro a junho, um grande lago é formado e outras espécies de aves aquáticas, como as gaivotas, vêm se alimentar.136 Banhadas pelas águas de rios menores que formam lagoas naturais, encontramos pequenas praias onde são encontradas diversas “ilhotas”. A praia de Uaicurapé é uma delas, sendo as mais famosas a Praia do Papagaio e a de Itaracoera. A melhor época para visitá-las é entre julho e setembro. Esta última é bastante visitada, na maior parte das outras ilhas é possível ficar sozinho durante o dia todo.137 Os rios Parananema e Macurany apresentam uma imensa variedade de aves nativas que sobrevoa suas margens e não raramente botos desfilam pelo curso de água. Os rios podem ser contemplados em um passeio de ônibus pelo entorno da ilha ou em volta de barco, na qual o visitante tem a oportunidade de ver o castanhal nativo da região de Itaúna, com árvores com mais de 30 metros, além de conhecer a fabricação de farinha de mandioca nos minifúndios locais. Barcos para o passeio podem ser alugados no porto da cidade.138 Maués oferece ao turista diversos rios com águas límpidas que permitem a prática da caça subaquática e vê se firmando como grande pólo turístico do estado e eventos. O componente natureza pode diminuir a sazonalidade do fluxo na região, utilizando-se ainda de atrativos fixos, como praias, florestas, lagos. (Ver Caracterização dos Aspectos Naturais). Turismo Religioso A crença da população amazônica está presente em seu calendário, que traduz em demonstrações de fé e divindade. Durante o ano, santos e padroeiros são homenageados, seja individualmente ou como manifestações comunitárias nas ruas das cidades. Alguns exemplos dessas festas típicas religiosas são: Festa de Nossa Senhora do Bom Socorro (Barreirinha), Festa do Padroeiro São Sebastião (Boa Vista dos Ramos), em Nuamundá a Festa Cristã de São Sebastião, Festa Junina de São Pedro, Festa do Divino Espírito Santo, Festival de Nossa Senhora da Conceição em Maués, Festa de Nossa Senhora da Assunção, Festa do Padroeiro 135 GUIA Philips - Parques nacionais Brasil: o único guia que desvenda a maior biodiversidade do planeta. 1999. p. 42. 136 GUIA Philips – Amazônia Brasil. 2001. p. 154. 137 Ibid, p.156. 138 Ibid, p.157. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 64 Santo Antônio, Festa Junina e em Parintins, Dia de Reis, Encenação da Paixão de Cristo e Paixão de Cristo139. Turismo de Terceira Idade Muitas são as manifestações religiosas e culturais dos ribeirinhos e caboclos da região, atraindo um público que guarda tradição de lendas e crendices, valores espirituais que passa de geração em geração. Estes eventos são na maioria de cunho religioso. Turismo Regional São na maioria, festas tradicionais,que atraem as pessoas que residem no município ou próximo a eles. As comemorações geralmente têm finalidades culturais onde o deslocamento se faz por pessoas de uma mesma região, como: aniversário dos municípios, comemorado por todas as cidades do Pólo, a Semana da Pátria, festa cívica que conta com a participação dos alunos das escolas do município e, durante a semana, as escolas realizam trabalhos pedagógicos com a temática da Independência do Brasil, onde são esperadas duas mil pessoas no município de Boa Vista do Ramos, Festa Junina, Ceia de Ano Novo (Nhamundá). Turismo de Eventos O Pólo além do cenário paisagístico que o envolve, insere dento da cultura local, mitos, lendas, histórias e estórias, formas atrativas e convidativas para participação desse universo alavancando o desenvolvimento econômico oportuno. Dentre eles, o calendário exibe: a Carnailha, Carnaval, festivais, torneio, Festa do Tucunaré, Festa do Guaraná, Festival Folclórico Touro Negro e Branco, Festival de Bacaba, Festa do Caju, Festa do Marinheiro, Festa do Trabalhador em Boa Vista do Ramos (manifesta o resultado da produção rural, com premiação para os melhores), Festa do Tucunaré e Festival Folclórico (um festival junino de folguedo com a participação de Bois-Bumbás, quadrilhas e outras modalidades de danças, onde 10 mil pessoas são esperadas em Boa Vista do Ramos), assim como o Festival Misto do Bodó e Festival do Boi Bumbá, Festival Folclórico da Ilha de Vera Cruz (festa junina com apresentação de boi bumbá, danças folclóricas e bandas de comunidades do interior do Município. Ocorre na área urbana de Maués), Festival de Verão (os visitantes podem praticar esportes diversos, sendo o chamariz a escolha da "Garota Bronze" - Maués), Festival de Arte e Cultura Maués , Festa do Amor (Nhamundá), Festa do Tucunaré (em Nhamundá, um dos maiores eventos de pesca da Amazônia. Há também torneios de nado e canoagem, além da pesca do tucunaré e a escolha da "Garota Tucunaré"), Festival de Pesca do Peixe Liso (Comunidade do Paraná do Espírito Santo) em Parintins, Festival de Verão de Parintins (evento esportivo anual onde ocorre nos Lagos Aningá, Parananema, Macurany, Valéria, Laguinho e Murituba), Festival de Verão do Cabury (Parintins), Festival de Verão do Uaicupará (Parintins), Projeto Esporte Solidário em Parinitins, Pesca Esportiva em Lagos do Zé Açu e 139 Amazonas Guide, Amazonas BR e Disponível em: .www.amazonia.com.br. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 65 Uaicurapá (Parintins) e a Festa do Boi de Parintins, que merece destaque especial: Parintins abriga o maior evento folclórico da Amazônia, o Festival do Boi de Parintins, nos três últimos dias do mês de junho. A cultura que envolve a festa pode ser observada o ano todo, nas pinturas das paredes de prédios públicos, nos muros das praças, no artesanato, inspirado nos boi-bumbás, assim como nas toadas (músicas do festival), que começam a tocar nas rádios a partir de abril.140 Cruzeiros Segundo dados levantados na pesquisa de abordagem aos “Indicadores de Turismo em do Estado do Amazonas em 2004”, através da Empresa Estadual de Turismo – Amazonastur -, importantes fatores são determinantes para análise e averiguação da demanda neste turismo que constantemente acresce ao mercado como novas fontes de recursos exploráveis à economia. “As informações expostas nesses indicadores de turismo (...) dos cruzeiros marítimos que na capital aportam e do turismo da pesca esportiva, dão conta de que o movimento turístico do estado está gradativamente crescendo.”141 “Na temporada 2004/2005, aportaram em Manaus, 25 dos 27 navios de cruzeiros marítimos previstos. Nesta temporada chegaram 7.853 passageiros, a grande maioria de origem estrangeira, acompanhados de 4.959 tripulantes. Comparando com a temporada 2003/2004, quando aportaram 19 navios com 9.896 passageiros e 4.087 tripulantes, constata-se que houve um decréscimo entre uma temporada e outra da ordem de 8,37%.” (...) Os Cruzeiros Marítimos chegam a Manaus através de 02 rotas: uma que vem do Caribe/EUA e outra proveniente do Rio de Janeiro. A Rota Caribe/EUA: o navio entra por Macapá (se não for grande, passa pelos canais de Breves), pára em Santarém / Alter do Chão, vem pelo Rio Amazonas, pára na Boca da Valéria em Parintins e finalmente chega em Manaus. Algumas vezes no caso de navios de porte médio e pequeno, entram no Rio Negro e vão até Anavilhanas. O caminho de regresso segue o mesmo percurso da vinda. No caso dos navios pequenos, depois de Manaus, sobem o Rio Solimões até Tabatinga, atravessam para Perú até Iquitos onde entram mais passageiros e retornam a Manaus. ”142 140 GUIA Philips – Amazônia Brasil. 2001. p. 152. 141EMPRESA ESTADUAL DE TURISMO (Amazonastur). Indicadores de turismo do estado do Amazonas,. 2005. 68 p. 142 EMPRESA ESTADUAL DE TURISMO (Amazonastur). Indicadores de turismo do estado do Amazonas,. 2005. p. 58 Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 66 TABELA DE CHEGADA DE CRUZEIROS MARÍTIMOS EM MANAUS TEMPORADA 2004/2005143. ITEM NAVIOS QTDE DE PASSAGEIROS QTDE DE TRIPULANTES DATA DA CHEGADA DATA SAÍDA 1 TS Maxim Gorkiy 608 340 07/11/04 09/11/04 2 MV Silver Wind 320 210 15/11/04 18/11/04 3 MS Prinsendam 772 443 04/12/04 05/12/04 4 MS Mona Lisa 889 330 08/01/05 10/01/05 5 MS Vistamar 239 110 07/02/05 07/02/05 6 MS Seven Seas Mariner 490 445 11/02/05 12/02/05 7 MS Vistamar 210 110 22/02/05 23/02/05 8 MS Seabourn Pride 146 160 26/02/05 28/02/05 9 MS Insígnia 479 400 28/02/05 03/03/05 10 MS Vistamar 265 106 04/03/05 04/03/05 11 MV Braemar 509 320 10/03/05 11/03/05 12 MS Marco Pólo 578 368 11/03/05 13/03/05 13 MS Vistamar 210 110 19/03/05 20/03/05 14 MS Bremen 115 80 23/03/05 24/03/05 15 MS Andréa 77 48 30/03/05 30/03/05 16 MV Explorer 100 75 02/04/05 02/04/05 17 MS Alexander Von Humboldt 266 240 06/04/05 06/04/05 18 MS Bremen 115 80 09/04/05 09/04/05 19 MS Andréa 77 48 16/04/05 16/04/05 20 MS Alexander Von Humboldt 266 240 16/04/05 16/04/05 21 MV Polar Pioneer 41 18 16/04/05 16/04/05 22 MV Explorer 100 75 20/04/05 20/04/05 23 MS Royal Princess 840 500 20/04/05 22/04/05 24 MV Polar Pioneer 41 18 03/05/05 03/05/05 25 MV Explorer 100 75 08/05/05 09/05/05 EM 2004 1.700 993 EM 2005 6.153 3.956 TEMPORADA 2004-2005 7.853 4.949 Curiosidades: Faz parte do roteiro do Seven Seas Mariner, incluindo onze noites: de Fort Lauderdale, na Flórida, a Manaus, incluindo Princess Cays (Bahamas), San Juan (porto Rico), Roseau (Dominica), Barbados, Ilha do Diabo (Guiana Francesa), Alter do Chão e Parintins. Saídas em 9 de Janeiro, desde US$ 5.321,00. Na Nascimento, (11) 3156.9944, www.nascimento.com.br.144 Turismo de Pesca “O Amazonas tem grande potencial para explorar esse seguimento turístico pela imensidão de seus rios e a riqueza de sua fauna aquática, por essa razão este ano estar-se quantificando 143 Ibid, p.50. 144 Fonte: Revista Cruzeiros e Viagens, p 48. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 67 esse ramo turístico neste indicador. Assim sendo, na temporada 2003/2004 foi registrada a presença de 3.990 turistas de pesca esportiva no Amazonas, sendo o tempo médio gasto nessa atividade são 7 dias de hospedagem. Esse seguimento gasta em média R$ 1.000,00 além do valor do pacote que custa, dependendo da operadora e do valor agregado, de US$ 220,00 a US$ 3950,00145”. TABELA DE OPERADORES DE PESCA ESPORTIVA TEMPORADA 2003/2004146. OPERADORES QTDE DE TURISTAS VALOR PACOTE GASTO MÉDIO PERMANÊNCIA MÉDIA AMAZON CLIPPER CRUISES 280 US$1.800,00 R$ 1.000,00 7 Dias AMAZÔNIA RAIN FOREST 350 R$ 2.800,00 De R$300,00 a R$500,00 7 Dias BELLE AMAZON TURISMO 130 R$ 2.950,00 R$500,00 7 Dias (pesca 5) FONTUR R$ 968,00 13 horas NEGROTUR TURISMO 1100 US$ 3.950,00 7 Dias O PESCADOR DA AMAZÔNIA 420 R$ 2.000,00 R$ 1.500,00 7 Dias SANTANA TUR. ECOL. FISHING SAFARI 800 US$ 14.400,00 para 12 pessoas R$ 1.000,00 7 Dias SELVATUR 220 US$ 1.500,00 a US$2.400,00 7 Dias CIATUR 110 R$ 450,00 / US$220,00 R4 1.000,00 7 Dias POUSADA RIO ROOSEVELT 440 US$ 1.950,00 6 Dias BARCO WINNER 140 R$ 2.200,00 7 Dias TOTAL 3.990 Fonte: estimativa dos operadores e IPAAM. Em Nhamundá, no Rio Urubu, local de encontro de peixes são os tucunarés. Turismo Científico “A biodiversidade amazônica é tamanha que não há outro lugar no planeta com uma variedade tão grande de espécies de pássaros, peixes, sapos e insetos.”147 A abordagem à fauna e flora desperta interesse por estudiosos e pesquisadores diante a gama dessas espécies e ganha relevância pela peculiaridade e os benefícios individuais das espécies. “Muitos dos animais funcionam como controladores naturais de pragas, dispersores de sementes, além de serem responsáveis pela polinização de uma grande variedade de plantas. Existem mais de 300 espécies diferentes de árvores por hectare ma floresta e ais de 80% delas só ocorrem na 145 145EMPRESA ESTADUAL DE TURISMO (Amazonastur). Indicadores de turismo do estado do Amazonas,. 2005. 68 p.SILDA da, Oreni Campelo Braga. “Indicadores de Turismo em do Estado do Amazonas em 2004” – Amazonastur. P. 54. 146 Ibid, p.54. 147 GUIA Philips – Amazônia Brasil. 2001. p. 28. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 68 região. Além disso, o número de animais e vegetais ainda desconhecidos para a humanidade é muito significativo na Amazônia. Estas espécies, não descobertas, aliadas ao potencial químico e gens que reservam, são preciosas fontes de alimentação, curas para doenças e inúmeros outros benefícios ainda não previstos pelo homem.148” (Ver Tipologia Vegetal e Fauna). Turismo de Interesse Específico “Atualmente, o turismo de interesse específico é para público restrito, por tratar-se de programas caros e muito direcionados. Pode ser chamado este tipo de turismo de seletivo ou alternativo” 149. Oferece ampla variedade de opções, podendo ser citadas algumas ofertas atuais, como tours de dez dias percorrendo florestas em busca de diferentes tipos de vida animal e vegetal, para biólogos ou pessoas interessadas (...). Há ainda muitas formas de turismo de aventura que se encaixam dentro desta tipologia, tais como a pesca. Turismo Histórico “A história arqueológica da Amazônia não é unanimidade entre os cientistas: muitas áreas nunca foram pesquisadas, e as que foram, são motivos de debates. Os dados dos Sítios Arqueológicos, já estudados, no entanto, indicam que os primeiros habitantes da região, ancestrais dos índios e caboclos que ocupam a área atualmente, eram caçadores e coletores especializados na exploração de recursos da floresta tropical. As informações arqueológicas que existem sobre a Amazônia são mais complexas quando se referem aos princípios da ocupação humana na região, há cerca de 10 mil anos. A mesma certeza não se têm quanto ao que aconteceu nos cinco ou seis mil anos subseqüentes. É provável que essas lacunas nas pesquisas resultem de problemas relativos à visibilidade dos Sítios Arqueológicos da área. Muitos desses sítios estariam hoje submersos, em função da elevação do nível do mar há alguns mil anos. Algumas das evidências mais antigas da ocupação humana na América do Sul vêm da Amazônia. (...) As peças da Amazônia parecem ter sido produzidas por grupos que praticavam uma economia voltada para a exploração da fauna aquática dos rios e do litoral atlântico.”150 (Ver Panorama Cultural). Apenas o município de Parintins apresenta Sítios Arqueológicos com 78 edificações. Turismo de Negócios Segundo alguns autores151, esse tipo de turismo não é propriamente entendido como efeito de turismo, pois é uma atividade onde o lazer não é a ação principal envolvida, onde a pessoa está realmente a trabalho e não por vontade própria, e também porque a atividade não é lucrativa. Entretanto, a pessoa que viaja a negócios por motivos profissionais ou para eventos, acaba por muitas vezes desfrutando da infra-estrutura e oferta local. Ocorre no Pólo 148 Ibid, p. 28.Fonte: Amazônia Brasil. Guia Philips. P. 30. 149 BARRETO, Margarita. Manual de iniciação ao estudo do turismo. 9ª. Ed. Campinas: Papirus, 2000.p. 20. 150 Fonte: Amazônia Brasil. Guia Philips. P. 56. 151 Fonte: BARRETTO, Margarita. Manual de Iniciação ao Turismo. P.21. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 69 Saterê alguns exemplos claros dessa tipologia de turismo: as feiras agropecuárias e industriais como a Exposição Agropecuária de Barreirinha e Feira Industrial em Maués e Parintins, em Boa Vista do Ramos a Festa do Trabalhador e a Festa do Produtor Rural e o Festival do Beijú – Agrovila do Mocambo (Parintins)152. Turismo Cultural Festas como o Festival Folclórico, Tiago de Melo (casa e obras), Festival da Canção de Purus – FECAP (durante dez dias há leilões, festas de rua, bingo e diversas apresentações de dança. O ponto alto do evento são as procissões pelas ruas), Ensaios dos Bois Bumbas (Parintins), Festival de Música Sacra – FEMUSA (Parintins), Ritual de Morte do Boi Garantido (Pairitins), Soltura dos Quelônios (Parintins), Festival dos Bois em Miniatura (Parintins), Currais dos Bois (Parintins). No Amazonas a beleza e a diversidade de paisagens naturais são diferentes de região para região, exercendo fascínio sobre o imaginário global. A riqueza de seu patrimônio natural e cultural credencia o Estado para a pratica do ecoturismo, confirmando sua vocação para o desenvolvimento dessa modalidade.153 Ressalvas são feitas para as atrações do Pólo, como o Bumbódromo, localizado entre a Avenida das Nações e a Rua Paraíba, no centro da cidade. Construído em 1988, o Centro Cultural e Esportivo de Parintins é chamado de “Bumbódromo” por ser o local onde os bois Garantido e Caprichoso se apresentam nas últimas noites de junho. É usado o ano todo para eventos culturais e, durante a festa, chega a receber 60 mil pessoas por noite. Seu formato é o boi: a cabeça representada pela tribuna, os chifres pelos acessos laterais e o contorno do animal pela arquibancada. As torcidas ficam separadas em uma arquibancada vermelha e outra azul.154. O Curral do Boi Caprichoso, na Rua Gomes de Castro, s/n, centro. Simbolicamente o curral é onde o boi permanece fora da época do festival. No folclore ele foge para este local no fim da festa, no dia 19 e julho, e só retorna no dia 20 de abril, com a “Alvorada”, movimento que percorre as ruas do seu reduto – área da cidade onde estão os adeptos do boi – durante a madrugada. A partir de 26 de abril, os ensaios, abertos a visitantes, começam a ser realizados no curral. O território do Caprichoso está localizado no lado esquerdo da Catedral de Nossa Senhora do Carmo. Nesta região vive a maioria dos brincantes do boi, em casas pintadas em tons de azul.155 O Curral do Boi Garantido, situado na Rodovia Odovaldo Novo, km 1. O calendário dos ensaios do Garantido começa com uma alvorada festiva, no dia 31 de abril, quando os brincantes saem as ruas acordando a cidade ao rufar dos tambores. Voltado para o Rio Amazonas, o curral deste boi fica na parte “vermelha” da cidade. Se o Garantido vence o festival, é feita uma festa que começa no dia primeiro de julho e vai até o dia 17 do mesmo mês. É tradição jogar fora todas as fantasias e alegorias no 152 Fontes: Amazonas Guide, Guia 4 rodas, Amazonas Guide e www.amazonia.com.br. 153Disponível em:. 154 GUIA Philips – Amazônia Brasil. 2001. 334 p. 153. 155 Ibid, p.153. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 70 final das festividades.156 A Feira do Produtor acontece todo o domingo na Rua Rui Barbosa, centro. Reúne habitantes de comunidades da área rural de Parintins que vêm vender na cidade os produtos extraídos e fabricados a partir do conhecimento tradicional. Na feira, encontram-se espécies de ingás, beribás, pupunhas, além de grande diversidade de farinhas, variações do guaraná e plantas medicinais.157 O inventário levantado dos atrativos naturais e culturais do Pólo não se mantém de forma isolada. É necessário que se haja convergência entre a infra-estrutura de apoio dos municípios resultando assim na multiplicação de oferta e benefícios para o investimento local e contínuo. Para isso foi realizado, subsidiado nas informações atuais, um levantamento entre as cidades do Pólo quanto aos serviços de infra-estrutura básica oferecidos: Infra-estrutura Barreirinha Nhamundá Parintins Boa Vista do Ramos Maués Água (SAAE) ok Ok Ok - - Loteria - 2 Ok - - Energia (CEAM) Ok Ok Ok - - 156 GUIA Philips – Amazônia Brasil. 2001. 334 p. 153. 157 Ibid, p. 153. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 71 Comunicação Telefonia Ok Posto Telemar - - - Telefonia Móvel - Ok - - - Internet - Ok - - - Rádio Comunitária - Ok - - - Cyber Café - Ok - - - Jornal - Jornal da Ilha Parintins em Tempo - - - Correio Ok 2 - - - Emissora de TV - TV Alvorada A Crítica RBN Rede Amazônica - - - Rádio - Radioclube Radio Alvorada Tiradentes - - - Infra-estrutura Barreirinha Nhamundá Parintins Boa Vista do Ramos Maués Saúde Hospital Ok 2 - - - Posto de Saúde - 5 - - - Segurança Corpo de Bombeiros - Ok - - - Delegacia - 2 - - - Posto Policial - Ok - - - Transporte Barcos - Ok - - - Aeroporto - Ok - - - Capitania de Portos - Ok - - - Porto Moderno - Ok - - - Táxi (Moto-taxi ou tricicleiros) - Ok - - - Educação Escolas - Ok - - - Universidade - UEA UFAM UNITINS - - - Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 72 Bancos Banco Postal Ok Ok - - - Caixa Eletrônico - Ok - - - Banco - Bradesco - - - Serviços Diversos Supermercados - Casa Góes Baranda Alfa Casa Sony Triunfante Iam - - - Mercado - Leopoldo da Silva Neves - - - Feira - Ok - - - Açougue - Ok - - - Hospitalidade Hotel 3 1 12 1 6 Pousada Ok 2 2 Ok 4 Albergues Ok Ok 2 Ok Ok Infra-estrutura Barreirinha Nhamundá Parintins Boa Vista do Ramos Maués Restaurante 3 1 30 2 12 Bar/Boite Ok Ok 11 Ok Ok Agência Ok Ok 6 Ok Ok CAT Ok Ok 1 Ok Ok Espaço para Eventos Ok Ok 6 Ok Ok Estádio de Futebol Ok Ok Ok Ok Ok Academia Ok Ok 2 Ok - Quadra Poliesportiva Ok Ok Ok Ok Ok O turismo é um setor econômico de potencial desenvolvimento no município de Maués, devido à existência de várias áreas de beleza natural como cachoeiras, grutas e reservas indígenas. Tendo o guaraná como principal fonte de recursos, sendo exportado para países como Alemanha, Estados Unidos e Japão, Maués orgulha-se por ostentar uma das mais belas orlas fluviais do Estado do Amazonas, com aproximadamente 6 km de praias contínuas. Parintins, cidade de aproximadamente 100 mil habitantes é palco de uma das maiores manifestações de cultura popular do mundo, o Festival Folclórico de Parintins, espetáculo de rara beleza onde se pode ver todo o talento e criatividade do homem da Amazônia além de suas lendas e tradições. O ritmo das toadas é contagiante e os Bois Caprichoso (azul e branco) e Garantido (vermelho e branco) empolgam suas torcidas e visitantes transmitindo alegria nas suas apresentações realizadas na arena do bumbódromo (...). Mas nem só de folclore vive o Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 73 parintinense. Devotos de Nossa Senhora do Carmo, realizam anualmente (...) uma das maiores festas religiosas do Estado, arrebanhando verdadeiras multidões nos onze dias da festa que culmina com a procissão em louvor à santa , um espetáculo de devoção refletido no primor da decoração das ruas, nas alegorias e no brilho dos fogos de artifício, um espetáculo à parte. A Cidade dispõe de uma boa infra-estrutura com bares, restaurantes e hotéis de excelente qualidade além de oferecer várias opções de turismo e lazer com destaque para a praia de Uaicurapá, que no verão atraia multidões e transforma-se em palco para shows, festivais de música e concursos de beleza; a Vila Amazônia, agrovila que preserva na suntuosidade da arquitetura antiga, a memória da colônia japonesa; e a comunidade da Valéria que possui um rico e curioso sítio arqueológico158 De acordo com o levantamento da infra-estrutura básica das cidades do Pólo e sua oferta, apontando seus atrativos naturais e culturais, tem-se um ponto de partida dos locais e eventos onde a exploração da atividade do turismo possa ser iniciada, reformulada e analisada, direcionando de melhor forma ao ambiente e à população que articulará esse novo contexto de maneira sustentável e rentável. Por outro lado, deve-se conhecer a oferta, o fluxo de turistas, a origem e identidade dos mesmos para melhor alavancar ao destino o turista que o permeia. Investigações realizadas contribuem para a compreensão e identificação desse cenário em contexto mercadológico, como pesquisas recentes realizadas pelo Amazonastur identificando as características dos hóspedes brasileiros dos estados emissores para a cidade de Manaus, tabela representativa do fluxo turístico segundo o tipo de hospedagem e permanência e tabela do fluxo turístico geral segundo FNRH (Ficha Nacional de Registro de Hóspedes) e BOH (Boletim de Ocupação Hoteleira), e por último e também relevante, oficina elaborada na região do Pólo Saterê identificando entraves para a aplicação do turismo sustentável no local. Desenvolvida pela Empresa Estadual de Turismo, Amazonastur, pesquisa aplicada em 2004 que releva as principais características dos hóspedes brasileiros dos estados emissores para Manaus159: 35,30% são provenientes do Estado de São Paulo; os Estados do Rio de Janeiro, Distrito Federal, Pará e Roraima, também ocupam lugar de destaque como aqueles que mais enviaram turistas para Manaus. A Permanência Média dos hóspedes nacionais foi de 3,09 dias, a média de idade foi de 40,6 anos, e, a maioria é do sexo masculino (74,70%). O motivo de viagem que mais se destaca é a viagem de negócios, que corresponde a 41,91% do motivo de viagem dos hóspedes nacionais. O meio de transporte mais utilizado é o avião com 64,04%, devido às dificuldades para se chegar à região por outro meio. Engenharia é a profissão da maioria dos hóspedes que visitam o Amazonas com 13,59% do total. A seguir temos uma tabela que mostra o total de hóspedes, tempo médio de permanência, média de idade e a 158 Disponível, em: . 159 EMPRESA ESTADUAL DE TURISMO (Amazonastur). Indicadores de turismo do estado do Amazonas: ano base 2004. 2005. p. 09. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 74 proporção de homens e mulheres distribuídos por estado emissor, onde destacamos os dez estados que mais envia turistas ao Amazonas. Esses dados implicam no estudo do tipo da oferta que será analisada de acordo com o perfil e fluxo de turistas no local. Esses dados uma vez levantados e analisados, somados aos levantamentos no Pólo Saterê com os eventos que mais geram empregos e movem a economia do Pólo, determinarão a exploração sustentável dos destinos. TABELA DO FLUXO TURÍSTICO TOTAL, SEGUNDO O TIPO DE HOSPEDAGEM E A PROCEDÊNCIA EM 2004160. PROCEDÊNCIA TIPO DE HOSPEDAGEM Brasileiros Estrangeiros Não Especificou TOTAL HOTÉIS URBANOS REGISTRADOS (2) 79.047 39.340 44.169 162.556 HOTÉIS URBANOS NÃO REGISTRADOS 15.938 4.193 - 20.131 ALOJAMENTOSDE SELVA (2) 2.989 8.069 2.670 13.728 CRUZEIROS MARÍTIMOS (1) - 12.830 - 12.830 PESCA ESPORTIVA - 3.990 - 3.990 TOTAL ANUAL 97.974 68.422 46.839 213.235 TABELA DO FLUXO TURÍSTICO GERAL EM 2003 E 2004, SEGUNDO AS FNRHs161. Hotéis registrados Hotéis não registrados Alojamento de selva Cruzeiro marítimo Pesca esportiva TOTAL GERAL 2004 162.556 20.131 13.728 12.830 3.990 213.235 2003 142.202 20.996 11.173 18.969 3.775 197.115 Crescimento (%) 14,31% -4,12% 22,87% -32,36% 5,70% 8,18% Obs. O decréscimo no seguimento de cruzeiro marítimo se deve a ausência do barco Arcádia que transportou 4.153 turistas na temporada 2002-2003 e que não veio na temporada 2003- 2004. 160 EMPRESA ESTADUAL DE TURISMO (Amazonastur). Indicadores de turismo do estado do Amazonas: ano base 2004. 2005. p.58. 161 Íbis, p. 59. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 75 TABELA DO FLUXO TURÍSTICO GERAL DE 2003 E 2004, SEGUNDO OS BOHs162. Anos Hotéis registrados Hotéis não Registrados (1) Alojamento de selva Cruzeiro marítimo Pesca esportiva TOTAL GERAL 2004 210.234 63.070 17.872 12.830 3.990 307.996 2003 187.556 56.266 16.452 18.969 3.775 283.018 Crescimento (%) 12,09% 12,09% 8,63% -32,36% 5,70% 8,83% Obs.: O decréscimo no seguimento de cruzeiro marítimo se deve a ausência do barco Arcádia que transportou 4.153 turistas na temporada 2002-2003 e que não veio na temporada 2003- 2004. (1) – As informações da hotelaria urbana não registrada representam em média 30% da hotelaria urbana registrada. (2) – O total real de turistas que vieram ao Estado do Amazonas em 2004 foi de 307 mil visitantes, levando-se em consideração a tabela do fluxo com base nos BOHs, com o percentual de 30% da hotelaria urbana não registrada. Em 2003, foi de 283 mil visitantes, tendo por base os mesmos fatores. Segundo oficina realizada na região durante o desenvolvimento do Plano Estadual de Turismo do Amazonas, pôde-se identificar alguns entraves para a aplicação do turismo sustentável no local: Carência no transporte coletivo urbano; Qualidade no atendimento e nos serviços oferecidos; Empresário não investe em seu próprio negócio; Encarecimento dos produtos e serviços; “Exploração do turismo, e não do turista” (citados diversas vezes); Desarticulação entre os atores; Conhecimento “parcial” da potencialidade turística (por parte de trade e comunidade); Pouco apoio à realização de outras manifestações folclóricas; Inexistência de agência de receptivo local; Não há barcos turísticos fazendo o receptivo, apenas barcos adaptados; Inexistência de hotéis de natureza; 162 EMPRESA ESTADUAL DE TURISMO (Amazonastur). Indicadores de turismo do estado do Amazonas: ano base 2004. 2005. p. 59. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 76 Política municipal de incentivo e divulgação do turismo carentes; Esforço concentrado apenas nos Bois; Carência de incentivo ao setor artístico; Energia elétrica inviabiliza empreendimentos; Serviço inconstante; Carência de envolvimento da comunidade com o turismo; Pouca sensibilização e conscientização para com o turismo; Exploração sexual do turismo; Inexistência de museus e cinemas; Inexistência de local para exposições artísticas. Os fatores acima relacionados e analisados conferem algumas proposições para problemas levantados durante dados pertinentes surgidos que possam ter efeitos negativos para a aplicação sustentável das estratégias: Criação de campanha de sensibilização da comunidade para a ação turística; Implantação de sistema de informações turísticas; Criação de organização de gestão para o pólo; Desenvolvimento de estudos para melhora da performance dos barcos regionais e análise de alternativas de combustível para barcos (mais baratas); Utilização de fontes alternativas de energia; Criação de espaços culturais e artísticos; Tombamento do centro cultural histórico de Parintins; Criação de sistema de proteção do patrimônio cultural do pólo; Criação de centros de referência culturais nos municípios do pólo; Elaboração de projeto para manutenção do patrimônio artístico do pólo (AAPP); Fortalecer o CAT de Parintins; Criar CATs no pólo; Promoção de intercâmbios entre artistas do Pólo Saterê e outros pólos; Valorização da culinária local; Parcerias com as secretarias de educação para um maior conhecimento da cultural local. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 77 Dentro das perspectivas, gera-se levantamento de impactos do turismo no pólo, esses serão avaliados e analisados no decorrer do projeto, potencializando os positivos e estudando os negativos para que haja concordância entre os meios e aproveitamento rentável para a sustentabilidade planejada. POSITIVOS163 NEGATIVOS Geração de emprego e renda Oportunidade de primeiro emprego Emprego como gerador de oportunidade Conhecimento Hospitalidade Reconhecimento do profissional da arte Desperta criatividade dos artistas Captação de recursos e benefícios Maior investimento em infra-estrutura Exigência por qualidade no atendimento Investimento nos eventos Proliferação do lixo sem tratamento adequado Exploração sexual infanto-juvenil Biopirataria Êxodo da população de outros municípios para um só pólo Supervalorização do turismo de eventos Choque cultural e perda de valores tradicionais Degradação do meio ambiente Exploração do turista Poluição dos rios por embarcações Aumento da violência (roubos, etc) Dificuldade na comunicação Altos índices de acidentes de trânsito Globalização do boi prejudica a identidade local 163 AMAZONAS. Secretaria do Meio Ambiente. Plano de desenvolvimento do pólo de ecoturismo do Estado do Amazonas: descrição e contextualização global do pólo de ecoturismo do Estado do Amazonas. Manaus, 2001. 101 p. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 78 4 Considerações Finais A sistematização desses dados e informações sobre a situação do turismo nos municípios que abrangem o Pólo Saterê está sendo confrontada com as percepções e interpretações dos consultores e pesquisadores nas visitas técnicas à oferta turística regional e demanda turística circulante atualmente na área-objeto de estudo, bem como de seu sistema de gestão institucional e suar articulação com o setor privado e o terceiro setor, seja por meio de fontes secundárias regionais ou primárias nas constatações de campo. Nesse sentido, é importante ressaltar que este diagnóstico preliminar visa estabelecer um pré-conceito do perfil e potencialidades do Pólo Saterê em relação à atividade turística e que deve sofrer atualização e complementação de dados e informações. Assim, o amadurecimento do documento propiciará melhores condições para a realização do Seminário de Análise SWOT, precedendo a edição do Diagnóstico Turístico Final do Pólo Saterê – Amazonas, de forma a condicionar a concepção das melhores estratégias de fomento e gestão de seu desenvolvimento turístico sob bases sustentáveis. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 79 5 Referências Bibliográficas AMAZONAS. Secretaria do Meio Ambiente. Plano de desenvolvimento do pólo de ecoturismo do Estado do Amazonas: descrição e contextualização global do pólo de ecoturismo do Estado do Amazonas. Manaus, 2001. 101 p. AMAZONAS: a mais rica e exuberante biodiversidade do Brasil. Folha do turismo: o maior jornal brasileiro de turismo. Manaus: Grupo Folha Dirigida/Amazonastur, 30 ago. 2006. p.4. ___________ a mais rica e exuberante biodiversidade do Brasil. Folha do turismo: o maior jornal brasileiro de turismo. Manaus: Grupo Folha Dirigida/Amazonastur, 30 ago. 2006. p.7 ___________ a mais rica e exuberante biodiversidadedo Brasil. Folha do turismo: o maior jornal brasileiro de turismo. Manaus: Grupo Folha Dirigida/Amazonastur, 30 ago. 2006. p.8. BARRETO, Margarita. Manual de iniciação ao estudo do turismo. 9ª. Ed. Campinas: Papirus, 2000.164 p. BENI, Mário Carlos. Análise Estrutural do Turismo. São Paulo: Senac, 1998. 427 p. BRASÍLIA. Ministério do Meio Ambiente. Informações extraídas da rede básica de transportes da Amazônia: situação do transporte ferroviário. Sant´anna, José Alex de. Brasília: IPEA, 1998. CASCUDO, Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. 9.ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998. 930 p. CUNHA, Manuela Carneiro da (Org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. 609 p. Disponível em: . Acesso em: 30 out. 2006. Disponível em: . Acesso em: 11 nov. 2006. Disponível em: . Acesso em: 08 nov. 2006. Disponível em: . Acesso em: 08 nov. 2006. Disponível em: . Acesso em: 08 nov. 2006. Disponível em: . Acesso em: 08 nov. 2006. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 80 Disponível em: . Acesso em: 31 out. 2006. EMPRESA ESTADUAL DE TURISMO (Amazonastur). Indicadores de turismo do estado do Amazonas: ano base 2004. Amazonas, mar. 2005. 68 p. GUIA Philips – Amazônia Brasil. São Paulo: Horizonte Geográfico/Publifolha, 2001. 334 p. GUIA Philips - Parques nacionais Brasil: o único guia que desvenda a maior biodiversidade do planeta. São Paulo: Empresa das Artes/Publifolha, 1999. 383 p. MEIRELLES FILHO, João. O livro de ouro da Amazônia: mitos e verdades sobre a região mais cobiçada do planeta. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. 397 p. PESCA Amadora Brasil - esporte e turismo: o mais completo roteiro da pesca amadora do Brasil. São Paulo: Empresa das Artes/Abril, 2001. 312 p.. Dados de Planilhas e Tabelas em Excel: Amazonas BR Amazonas Guide DATASUS 2005 IBGE 2005. INFRAERO Citações Tribo Parintintin BETTS, LaVera. 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Guaraná, olho de gente. Dir.: Aurélio Michiles. Vídeo Cor, 40 min., 1982. Prod.: Cinevídeo Céuvagem. O sangue da terra. Dir.: Aurélio Michiles. Vídeo Cor, 35 min., 1983. Prod.: Cinevídeo.promove a Floresta dos Guarás, com aves, manguezais e pesca artesanal. O pólo do Mato Grosso destaca as áreas para observação de pássaros e a transição entre cerrado e floresta. O Pólo do Pará oferece roteiros partindo de Santarém para as águas verdes do rio Tapajós e as praias com areias brancas de Alter do Chão. O Pólo Ecoturístico de Rondônia investe no Vale do Guaporé, onde se associam os ecossistemas do cerrado, do pantanal e da floresta. Roraima apresenta grande diversidade de atrativos que vão de pinturas rupestres a Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 8 paisagens com montanhas tropicais e savanas abertas. E no Tocantins há a região do Cantão, a bacia do rio Araguaia e a Ilha do Bananal - maior ilha fluvial do mundo - além do Jalapão, região árida com dunas peculiares, nascentes, rios e cachoeiras com águas cristalinas. O PROECOTUR vai tornar acessível, de forma sustentável, cenários como esses que há séculos povoam a imaginação da humanidade. Uma pequena amostra da grande riqueza que está guardada na Amazônia Brasileira. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 9 2 Caracterização do Pólo de Ecoturismo Saterê 2.1 Histórico da Ocupação 2.1.1 Maués “Em 1796 aconteceu o primeiro marco oficial, de grande impacto na confecção política da sociedade Maueense: sob as ordens do Conde dos Arcos de Belém – Governador do Grão Pará e Rio Negro, atual Manaus – é composta a comitiva por dois capitães portugueses, Luiz Pereira da Cruz e José Rodrigues Preto, com a incumbência de recuperar a Missão Maraguases, a Uacituba dos indígenas. Dois anos depois foi finalmente fundada a Luzéa, nome construído coma junção dos dois capitães Luiz e José. Em 1850 a Comarca do Amazonas é elevada a Província, com seus 40 mil habitantes em quatro municípios: Manaus, Tefé, Barcelos e Luzéa. O município perde dois anos depois parte do seu território com o desmembramento de Parintins e em 1856 perde também a subordinação do termo da Vila de Borba para Manaus. Em 9 de setembro de 1865, a sede do município passa a chamar-se Vila da Conceição de Maués. A Proclamação da República manteve a Vila da Conceição de Maués como município (o que não ocorreu com a maioria das vilas existentes) e nomeou seu primeiro intendente o Sr. Antônio José Verçosa. Em 04 de novembro de 1892, finalmente foi oficializado pela Lei Estadual N.º 35, o nome que a população já adotara a muito tempo para o município e sua sede – Maués. Em 5 de novembro de 1895, é criada pela Lei Estadual N.º 137, sancionada pelo Governador Dr. Eduardo Ribeiro, a Comarca de Maués, tendo como primeiro juiz o Dr. Octaviano de Siqueira Cavalcante. A produção em torno de 1.200 toneladas por ano e a cotação do produto no mercado, fez com que Maués crescesse rapidamente ns anos 80. O destino da cidade fez com que muito ouro fosse produzido nesse período no garimpo do Amaná. Maués comemora seu aniversário no dia 25 de junho, e seu nome significa papagaio curioso e inteligente, origem da língua tupi. É também conhecida por cidade ‘Cidade do Guaraná’, exportando para outros Estados do país e para o exterior”1. 1 Disponível em: . Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 10 2.1.2 Boa Vista do Ramos “A história do município se prende diretamente à de Maués. Em 1798 é fundada a Aldeia da Lusea. No decorrer da primeira metade do século XIX, a região é palco de sangrentos conflitos entre brancos e índios, sendo também afetada pela sedição dos cabanos. Quando em 1850 é criada a Província do Amazonas, Lusea é um doa 14 municípios existentes. Destacando-se pelo seu progresso em 1892, tem seu nome mudado para Maués e em 1895 passa a ser sede de comarca. A trajetória do então povoado de Boa Vista, desenrolou-se da seguinte maneira: através do Decreto-Lei Estadual N.º 196 de 01 de dezembro de 1938, o povoado de Boa Vista foi elevado a categoria de Zona Distrital. Na administração do Governador Dr. Plínio Ramos Coelho, através da Lei N.º 117 de 29 de dezembro de 1956, foi estabelecida uma nova ordem de divisão territorial, administrativa e judiciária para o estado do Amazonas, passando o então povoado de Boa Vista a condição de sub-distrito do município de Maués. Com a publicação da Lei N.º 1 de 12 de abril de 1961, fato ocorrido já no governo do Prof. Gilberto Mestrinho de Medeiros Raposo, fica criado o município com a denominação de Boa Vista do Ramos em virtude do mesmo situar-se geograficamente no Paraná do Ramos. Na administração do Dr. Arthur Cezar Ferreira Reis, através da Lei N.º 41 de 24 de Julho de 1964, foram extintos todos os municípios criados pela Lei N.º 1 de 12 de abril de 1961, com base no fato de que nos mesmos nunca havia acontecido processo eleitoral, sendo suas áreas reincorporadas aos municípios dos quais haviam sido anteriormente desmembrados. No caso Boa Vista do Ramos, voltou a condição de sub-distrito do município de Maués, Lei N.º 1.012 de 31 de dezembro de 1970, fato ocorrido já no governo do Sr. Danilo Duarte de Mattos Areosa. Em 10 de dezembro de 1981 pela Emenda Constitucional N.º 12, a Vila de Boa Vista do Ramos, mais outros territórios do município de Maués, além de áreas adjacentes dos municípios de Barreirinha e Urucurituba, passam a construir o novo município de Boa Vista do Ramos. Durante a administração do governador Dr. José Lindoso, por força da Emenda Constitucional N.º 12 de 10 de dezembro de 1981, promulgada pela Mesa da Assembléia Legislativa do estado do Amazonas, o sub-distrito de Boa Vista do Ramos volta à condição de município, desmembrado dos municípios de Maués, Urucurituba e Barreirinha. Seus limites geográficos foram estabelecidos através do Decreto N.º 6.158, de 25 de fevereiro de 1982. A instalação do município verificou-se com a realização das eleições gerais de 1982, mediantes a posse do prefeito, vice-prefeito e câmara de vereadores. Pode-se dizer que Boa Vista do Ramos originou-se com as primeiras casas de palha, ainda no Século passado, onde se destacava como líder principal, o Sr. Antero Roberto Pimentel, conhecido também como ‘Antero Gaivota’, comerciante e proprietário da casa comercial ‘Boa Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 11 Vista’. Já no início deste século ela adquiria conotação de povoado com a chegada das famílias de Bento Barroso Pinheiro dos Santos, Hermínio Rolim da Cruz, José Dinelly Pimentel e Graciliano Faria dos Santos. Boa Vista do Ramos comemora seu aniversário na data de 12 de abril”.2 2.1.3 Barreirinha “Criada em 1892, foi originado de um pequeno povoado surgido em meados de 1830 às margens do Rio Andirá, (...) que banha as praias de Barreirinha.”3 Diz-se que a denominação de ‘Andirá”, provém da grande quantidade de morcegos de asas pretas e cabeça branca existentes no local, aos quais os índios titulavam ‘Andirá’. Essa designação se estendeu ao rio, considerado principais da Região Amazônica, onde posteriormente foi povoado”.4 “Em 27 de outubro de 1851 chega ao local o padre Manoel Justiniano de Seixas, da Companhia de Jesus. O povoado tinha então de seis a oito barracas cobertas de palha. Com auxílio dos moradores, ele constrói uma capela sob a Invocação de Nossa Senhora do Bom Socorro. Em 23 de outubro de 1852, pela Lei N.º 06, a missão de Andirá é elevada à Curato, com subordinação a Vila Bela da Imperatriz. Em 17 e novembro de 1853, pela Lei Provincial N.º 14, é criado distrito no município de Parintins, com a denominação de Nossa Senhora de Andirá. Em 09 de novembro de 1858, pela Lei Provincial N.º 92, o distrito passa a denominar-se simplesmente Andirá. Em 13 de maio de 1873, pela Lei N.º 263, a sede do distrito é transferida para o local denominado de Barreirinha, por desmembramento do município de Parintins. Em 04 de novembro de 1892, pela Lei Estadual N.º 33, é criado oTermo Judiciário do Município. Nos tempos que se seguiram à sua criação, a economia do município de Barreirinha atingiu franca expansão, devido, sobretudo à exportação dos produtos regionais – castanha, guaraná, borracha, cacau, pirarucu, cumaru e madeira. Em decorrência disto, recebeu a Menção Honrosa na Exposição Universal de Bruxelas em 1910, e participou um ano depois da Exposição Internacional da Indústria de Lavoura em Turim, na Itália, onde recebeu medalha de bronze. Nos anos de 1920 ocorreram fatos lamentáveis que desestruturaram completamente sua economia, tais como invasões/saques, enchentes que devastaram as plantações de juta e cacau. Isto levou a sua destruição. Pelos Atos Estaduais N.º 45, de 1930 e N.º 33, de 14 de setembro de 1931 é suprimido o município de Barreirinha, que volta a fazer parte de Parintins, sob simples condição de Delegacia Municipal. Em 1935, ressurge o município de Barreirinha. Na primeira eleição 2 Disponível em: . 3 AMAZONAS: a mais rica e exuberante biodiversidade do Brasil. Folha do turismo: o maior jornal brasileiro de turismo. 30 ago. 2006. p.4. 4 Disponível em:. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 12 realizada após a restauração foi eleito seu prefeito o Sr. Militão Soares Dutra. O Termo Judiciário também foi restaurado, ficando subordinada a comarca de Parintins. Em 31 de março de 1938, pelo Decreto-Lei Estadual N.º 441, o Termo Judiciário de Barreirinha é transferido para jurisdição da Comarca de Maués. Em 24 de dezembro de 1952, pela Lei Estadual N.º 226, é criada a Comarca de Barreirinha. Já em 10 de dezembro de 1981, pela Emenda Constitucional N.º 12, parte do território é desmembrada em favor do novo município Boa Vista do Ramos”.5 A pesca é um meio de subsistência da população ribeirinha. “Registros ainda dão conta de que o guaraná, fruto amazônico tão conhecido, foi descoberto pelos índios Sateré-Mawé, que vivem às margens do Rio Andirá, na fronteira entre Amazonas e Pará”.6 Este povo indígena pode ser considerado praticamente o criador do cultivo e inventor do processo de extração do guaraná da trepadeira silvestre.7 2.1.4 Parintins “O município de Parintins como quase todos os demais municípios brasileiros, foi primitivamente habitado por indígenas. Sua descoberta ocorreu em 1749, quando descendo o Rio Amazonas, o explorador José Gonçalves da Fonseca notou uma ilha que, por sua extensão, se sobressaía das outras localizadas à direita do grande rio. A fundação da localidade só foi realizada em 1796, por José Pedro Cordovil, que veio com seus escravos e agregados para se dedicar à pesca do pirarucu e à agricultura, plantio de mandioca, cacau e tabaco, chamando- a Tupinambarana. A Rainha Dona Maria I deu-lhe a ilha de presente. Ali instalado, fundou uma fazenda de cacau, dedicando-se à cultura desse produto em grande escala. Ao sair dali, algum tempo depois, Cordovil ofereceu-a para D. Maria I e o pequeno povoado foi elevado à categoria de Missão com o nome de Vila Nova da Rainha, passando a ser dirigida pelo Frei José das Chagas. Devido ao grande progresso da Missão, em 1833, a eficiente atuação do Frei José provocou um surto de progresso e desenvolvimento na Vila, mediante a organização da comarca do Alto Amazonas. Em 25 de Julho de 1833, o nome passou a ser Freguesia de Nossa Senhora do Carmo de Tupinambarana. Tupinambarana era uma simples freguesia quando iniciou a Revolução dos Cabanos no Pará e se alastrou por toda a província. O vigário Padre Antônio Torquato de Souza, teve a atuação destacada durante a revolta, servindo de delegado dos aos legalistas no Baixo Amazonas. Talvez porque Tupinambarana estivesse bem defendida, foi poupada pelo ataque dos “Cabanos”. 5 Disponível em:. 6 AMAZONAS: a mais rica e exuberante biodiversidade do Brasil. Folha do turismo: o maior jornal brasileiro de turismo. 2006. p. 4. 7 Ibid, p. 4. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 13 Em 24 de outubro de 1848, pela Lei Provincial do Pará N.º 146, elevou a freguesia a categoria de vila, com a denominação de Vila Bela de Imperatriz, e constituiu um município até então ligado à Maués. Em 15 de outubro de 1852, pela Lei N.º 2 é confirmada a criação do município. Em 14 de março de 1853, dá-se a instalação do município de Parintins. Em 24 de setembro de 1858, é criada pela Lei Provincial a Comarca, compreendendo os termos judiciários de Vila Bela da Imperatriz e Vila Nova da Conceição. A homenagem aos seus mais antigos habitantes, os índios, ocorreu em 30 de outubro de 1880, pela Lei Provincial N.º 499, a sede do município recebe foros de cidade e passou a denominar-se Parintins. Em 1881, foi desmembrado do município de Parintins o território que constituiu o município de Vila Nova de Barreirinha. A primeira eleição realizada na ilha data julho de 1893 e teve a participação de 498 cidadãos, que elegeram superintendente da cidade o coronel José Furtado Belém, fundador oficial do Boi Caprichoso. A divisão administrativa de 1911, figura o município com quatro distritos: Parintins, Paraná de Ramos, Jamundá e Xibui. Em primeiro de dezembro de 1938, pelo Decreto-Lei Estadual n.º 176, é criado o distrito da Ilha das Cotias. Em 1943, aparece no quadro da divisão administrativa com um distrito apenas, Parintins. Em 24 de setembro de 1952, pela Lei Estadual N.º 226, a comarca de Parintins perde os termos judiciários de Barreirinha e Urucará, que são transformados em comarcas. Em 19 de dezembro de 1956, pela lei Estadual N.º 96 é desmembrado do município de Parintins o distrito da Ilha das Cotias, que passa a constitui o distrito de Nhamundá. Em 10 de dezembro de 1981, pela Emenda Constitucional N.º 12, o território de Parintins é acrescido do distrito de Mocambo”.8 2.1.5 Nhamundá “Habitavam primitivamente na Região de Nhamundá os índios Uabois ou Jamundás, Cuniris, Guncari. Em 19 de dezembro de 1955, pela Lei Estadual N.º 96, o distrito da Ilha das Cotias é desmembrado de Parintins e passa a construir o município autônomo de Nhamundá, com sede na vila de Afonso de Carvalho. Em 31 de janeiro de 1956, instala-se o novo município, nomeado pelo governador do estado, o Sr. Pedro Macedo de Albuquerque. O município de Nhamundá celebra aniversário na data de 31 de outubro. O significado do seu nome é explicado pelo rio Nhamundá que banha as terras do município a quem empresta o nome. É o célebre rio cuja foz em 1541 foi o cenário do famoso encontro entre Francisco Orellana e grupo com as mulheres guerreiras a quem o espanhol denominou de ‘Amazonas’. 8 GUIA Philips – Amazônia Brasil. 2001. p. 154. Disponível em: . Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 14 As mesmas guerreiras eram conhecidas por seus irmãos silvículas pela denominação de ‘Icamiabas’, que significa ‘mulheres sem marido”.9 2.2 Localização e acesso O Amazonas é o maior Estado do Brasil, com uma superfície atual de 1.558.987 Km², localizado na porção Norte do país, grande parte dele ocupado por reserva florística e fauna associada e outra parte pela água da maior Bacia Hidrográfica do planeta. O acesso à Região é feito principalmente por via fluvial ou aérea10. O Pólo Saterê está localizado na porção leste do Estado do Amazonas, entre o trajeto fluvial da capital Manaus e a foz do Rio Amazonas, junto ao Oceano Atlântico. Os municípios do Pólo pertencem à microrregião de Parintins e a macrorregião centro.11 As cidades de Boa Vista dos Ramos, Barreirinha, Parintins e Nhamundá estão localizadas na 9ª. Sub-Região (Região Baixo do Amazonas), exceto Mauésque ocupa a localização no Município Médio do Estado do Amazonas. Algumas delas fazem limite com o Estado do Pará pela sua proximidade ao leste, como Barreirinha, Parintins, Nhamundá e Maués, que faz fronteira com as cidades de Jacareacanga, Aveiro e Itaituba. Os acessos são na maioria realizados por via fluvial, destacando volume hidrográfico que rodeia o pólo. Das cindo cidades, apenas em Barreirinha, Maués e Parintins o acesso também pode ser realizado via aérea. Mesmo com referenciais em comum, cada uma se difere entre os municípios limítrofes. Banhada pelas águas do Rio Maués-Açu, Maués é confinante com as cidade de Boa Vista do Ramos, Barreirinha, Itacotiara, Apuí, Borba, Nova Olinda do Norte, situada a 268 quilômetros da capital em linha reta por terra e 365 quilômetros via fluvial12. A partir de Manaus até o município de Itacoatiara faz-se percurso de ônibus que dura quatro horas de viagem. De lá até Maués, utiliza-se uma lancha, numa viagem de cinco horas de duração. Vale ressaltar que por via fluvial os barcos partem de Manaus todos os dias até às 17 horas e o tempo estimado de viagem é de cerca de 18 horas13. Por via aérea, há vôos as segundas, quartas e sextas-feiras14. Já Boa Vista do Ramos faz limite com os municípios de Barreirinha, Maués, Itacoatiara, Urucurituba e os distritos: Boa Vista do Ramos e Massauari, Boa Vista do Ramos e Lago Preto, Lago Preto e Massauari, estando distante a 270 quilômetros da capital em linha reta e 367 quilômetros da capital por via fluvial.15 9 Disponível em:. 10 Disponível em:. 11 IBGE 2005. 12 Disponível em:. 13 AMAZONAS: a mais rica e exuberante biodiversidade do Brasil. Folha do turismo: o maior jornal brasileiro de turismo. 2006. p. 8. 14 Guias Amazonas e AM Guide. 15 Disponível em:. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 15 Barreirinha localiza-se a extremo dos Municípios de Parintins, Maués, Boa Vista dos Ramos e Urucurituba, também os Distritos de Ariaú e Cametá, Ariaú e Barreirinha, Ariaú e Freguesia do Andirá, Cametá e Pedras, Cametá e Barreirinha, Pedras e Barreirinha, Barreirinha e Freguesia do Andirá. Está a 420 quilômetros até Manaus e em linha reta, à distância de 372 quilômetros da capital do Estado.16 A cidade de Parintins fica na ilha de Tupinambarana, à margem direita do Rio Amazonas. Faz limite com os municípios de: Barreirinha, Urucurituba, Nhamundá e o distrito de Mocambo e Parintins, numa distância de 370 quilômetros até Manaus, e em linha reta, à distância de 325 quilômetros da capital do Estado. 17 Ela está inserida nos principais eixos fluviais que perpassam o estado do Amazonas: no circuito Belém/Manaus e Santarém/Manaus. Parintins também de destaca por ser uma das cidades ribeirinhas mais importantes, no quilômetro 996. Os portos de Tabatinga, Caoari, Itacoatiara e Parintins estão localizados no Rio Amazonas, tendo concepção de engenharia de porto fluvial e apresentam acentuada percentagem de freqüência de embarcações típicas de navegação interior. Na realidade, são pequenos portos, cuja implantação objetivou servir às cidades sem outro meio de transporte de superfície que não o hidroviário. Os portos de Parintins e Itacoatiara, por serem mais próximas de Manaus, têm função suplementar ao porto maior de Manaus, além de desempenhar o papel de acesso às embarcações de porte que trafegam pelo rio Amazonas. O município de Nhamundá limita-se com os municípios de Parintins, Urucará e Roraima. Próximo a pólo, a aproximadamente 350 quilômetros, está situada a capital do Estado do Amazonas, Manaus. Apresentando infra-estrutura de apoio completa. A cidade dispõe do Aeroporto Eduardo Gomes, recebendo vôos internacionais e nacionais, responsável pelo emprego de aproximadamente 3,3 mil pessoas, entre funcionários da Infraero, órgãos públicos, concessionários, empresas aéreas e de serviços auxiliares, oferece uma moderna infra-estrutura aeroportuária. O aeroporto possui dois terminais de passageiros: um para atender à aviação regular e outro para atender à aviação regional e três terminais de carga. As companhias aéreas que operam regularmente no Terminal I são: Varig, Vasp, Gol, Nordeste e LLOYD Aéreo Boliviano.18 (...) O Aeroporto Internacional Eduardo Gomes é o terceiro em movimentação de cargas do Brasil, por onde passa a demanda de importação e exportação do Pólo Industrial de Manaus.19 A cidade de Parintins comporta vôos diários vindos do Aeroporto Eduardo Gomes em Manaus para o Aeroporto Júlio Belém localizado em Parintins. 16 Disponível em:. 17 Disponível em:. 18 Fonte: INFRAERO. 19 Fonte: INFRAERO. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 16 2.3 Caracterização dos Aspectos Naturais O Pólo, através das atividades de turismo, apresenta importante perspectiva para o desenvolvimento do Estado do Amazonas. A diversidade de ecossistemas naturais presentes garante excepcionalidades competitivas em relação ao mercado ecoturístico nacional. A rica diversidade de sistemas vegetais, associada à diversidade da fauna e flora e a complexidade de recursos hídricos, constituem potencialidades naturais ímpares para o desenvolvimento da atividade ecoturística nos municípios do Pólo, garantindo-lhe uma situação de destaque e colocando-o como de extrema importância quanto à conservação e à preservação da vida animal e vegetal.20 2.3.1 Clima e Hidrografia No Estado do Amazonas o clima predominante é equatorial úmido, com temperatura média / dia / anual de 26,7 ºC, com variações médias entre 23,3 ºC e 31,4 ºC. A umidade relativa do ar fica em torno de 80% e o estado possui apenas duas estações bem definidas: chuvosa (inverno) e seca ou menos chuvosa (verão).21 Os municípios que compõem o pólo apresentam algumas particularidades entre elas Parintins, com temperatura média de 26,3ºC, Barreirinhas com temperatura média de 27ºC e clima tropical chuvoso e úmido22. A cidade de Maués tem temperatura média de 29ºC23 e apresenta clima equatorial, quente e úmido. É banhada pelas águas do Rio Maués-Açu. A temperatura média de Boa Vista do Ramos é de 27ºC e Nhamundá: 26,3ºC24. “Sofrendo influência de vários fatores como precipitação, vegetação e altitude, a água forma na Região a maior rede hidrográfica do planeta. Os rios amazonenses são praticamente navegáveis durante todo o ano. Outros como o Negro, Alto Madeira, Urubu, Aripuanã, Branco e Uaupés são obstruídos pelas formações em degraus, o que não impede sempre a navegação ordinária, salvo as corredeiras do Alto Madeira e a famosa cachoeira das Andorinhas, no rio Aripuanã (...). O Rio Amazonas é internacionalmente conhecido como o maior do mundo em volume de água, sua descoberta aconteceu em 1500 na embocadura pelo espanhol Vicente Yanez Pinzon, que o chamou "Mar Dulca", e por Francisco Orelhana que o percorreu de oeste para leste em 1541, dando-lhe o nome em homenagem às presumíveis mulheres guerreiras encontrada na foz do Rio Nhamundá. (...) Tem o curso calculado em 6.300 quilômetros, incluindo-se o 20 AMAZONAS. Secretaria do Meio Ambiente. Plano de desenvolvimento do pólo de ecoturismo do Estado do Amazonas: descrição e contextualização global do pólo de ecoturismo do Estado do Amazonas. 2001. p. 21. Comentários baseados no Plano de Desenvolvimento do Pólo de Ecoturismo do Estado do Amazonas. p.21. 21 Dispoível em: . 22 Fonte: AM Guide. 23 Algumas fontes indicam queMaués tem temperatura média de 28ºC. 24 Disponível em: . Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 17 Ucaiale. Seu arco atlântico tem a extensão de 400 quilômetros. Nasce presumivelmente na lagoa Santana (Andes Ocidentais), onde sua bacia de recepção é um rio de geleira. O segundo rio mais importante do Estado é o Negro. Ele também foi descoberto por Francisco Orelhana, em 3 de junho de 1541. Sua nascente fica na Colômbia, aos 2° de latitude norte, na região de Popaiã. Tem 1.551 quilômetros de curso, dos quais cerca de 50 obstruídos por corredeiras e saltos medíocres. Dos rios amazonenses é o que possui o maior aglomerado de ilhas no curso inferior, o Arquipélago de Anavilhanas, verdadeiro labirinto onde se perdem pilotos experimentados. Abaixo fica a imensa baia de Buiaçu, onde a lenda coloca a morada da Cobra Grande ("búia" quer dizer cobra e "açu", grande).”25 Por muito tempo, os rios constituíram importantes elementos de integração territorial. Como únicas vias de acesso, os rios permitem o contato entre diferentes comunidades instaladas em suas margens, e também o escoamento de produção em toda área, bem como funcionam como mantenedores de recursos para a alimentação e sobrevivência de grande parte das populações ribeirinhas. (...) Além da importância econômica e social adquirida durante a história de ocupação da área, os rios da região são importantes atrativos ecoturísticos, apresentando inúmeras praias, cachoeiras, furos, igarapés e várzeas. São de enorme beleza cênica, com paisagens ainda preservadas e pouco visitadas26. O município de Barreirinha oferece como atrativo natural a praia de Barreirinhas e o rio Andirá, que banham praias de areias claras. É o único rio da cidade, considerado um dos principais da região amazônica, onde posteriormente foi povoado. A cidade de Boa Vista dos Ramos dispões de dois rios: o rio Laguinho e o rio Curuçá. Ambos localizados em área rural, o Laguinho tem acesso em 10 minutos a pé27. “Mais conhecida como ‘Terra do Guaraná’, seu principal meio de subsistência, Maués (...) tem muito a oferecer em termos de atrativos naturais. A cidade está localizada na margem da Baía de Maués. Formada pelo Rio Maués, é um bom local para passeios de barco28. No passeio dos Rios Parauari e Amaná, encontram-se as quedas Apuí, Jutaí, Grande, Genipapo, Goiabal e São Pedro. O barco sai de Maués e percorre o rio Pararuari até entrar no rio Amaná29. Durante o verão – período entre agosto e dezembro – quando as chuvas diminuem e acontece a vazante dos rios, Maués ganha praias fluviais, formadas pelo rio Maués-Açu (...). Neste local acontece o Encontro das Águas dos Rios Maués-Açu e do Paraná do Urariá, onde se percebe o contraste das águas barrentas do Paraná do Urariá com as águas escuras do rio Maués-Açu30. O Salto do Amaná antes da atividade garimpeira era um igapó. A cachoeira tem 35 metros no 25 Disponível em: . 26 AMAZONAS. Secretaria do Meio Ambiente. Plano de desenvolvimento do pólo de ecoturismo do Estado do Amazonas: descrição e contextualização global do pólo de ecoturismo do Estado do Amazonas. 2001. p. 21. 27 Fonte: Amazonas Guide. 28 Fonte: Amazonas BR/ Amazonas Guide. 29 Fonte: Amazonas BR. 30 Fonte: Amazonas BR/ Amazonas Guide. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 18 período de seca e 20 metros no período de cheia.31 Maués oferece (...) corredeiras, cachoeiras e grutas, preservando quase a totalidade de sua área praticamente intocada pelas mãos do homem.”32 Além das Corredeiras do Alto Nhamundá, o município de exibe dois rios, o Rio Cabory e o Rio Jacaré33. Algumas referências citam o Rio Urubu34 localizado em Nhamundá como importante local, pois é onde se realiza o Turismo de Pesca, espaço de encontro de peixes tucunarés, o mais cobiçado pelos pescadores. Entre agosto e fevereiro, surgem praias de areia branca, água escura e fauna e flora abundante no Rio Uaicurapá em Parintins, e em outubro ocorre o festival de verão com concurso de beleza nas proximidades do rio35. A Região do Parananema-Macurany é composta por vários rios de águas escuras que circundam a ilha, com opções de lazer: natação, esqui aquático, passeios de jet-ski, lancha e canoa, oferecendo restaurantes à margem do lago. Localizadas no rio que leva mesmo nome, estão as praias de Uaicurapé e a Praia do Varre Vento36. As praias são banhadas pela água de rios menores que formam lagos naturais onde estão localizadas diversas “ilhotas”, cercadas de areias por todos os lados, algumas podendo ser contornadas a pé. As mais famosas são a praia da Ilha do Papagaio, que serve de dormitório para esta ave e a praia de Itaracuera, com areias brancas e vegetação nativa, de onde se tem um panorama de outras ilhas.37 Os rios estão localizados a oito quilômetros pela estrada Odovaldo Novo e ramais, ou 15 quilômetros de barco, descendo o rio Amazonas e contornando a ilha. Circundam a ilha de Tupinambarana, na margem oposta à cidade de Parintins,38 a praia de Barreirinha. Praias e ilhas são famosas pela paisagem de Maués. As praias encontradas são seis: a Praia da Avenida Antártica, localizada no Bairro de Santa Teresa, tem como atrativos palmeiras, bares, lanchonetes e um centro de artesanato caboclo e indígena,39 a Praia da Ponta da Maresia, com um quilômetro de extensão e é onde ocorrem os eventos ao ar livre,40 a Praia do Éden, localizada no Bairro do Éden, é a praia mais afastada da orla fluvial,41 a Praia do Lombo, situada na frente da sede do município,42 a Praia do Itamarati43 e a Praia de Vera Cruz, esta localizada do outro lado do rio, na comunidade da ilha de Vera Cruz44, situada em 31 Fonte: Amazonas BR. Fonte: AMAZONAS: a mais rica e exuberante biodiversidade do Brasil. Folha do turismo: o maior jornal brasileiro de turismo. 2006. p. 8. 33 Amazonas Guide. 34 PESCA amadora Brasil - esporte e turismo: o mais completo roteiro da pesca amadora do Brasil. 001. p. 81. 35 Fonte: Amazonas Guide. 36 Fonte: Amazonas BR/ Amazonas Guide. 37 GUIA Philips – Amazônia Brasil. 2001. p.156. 38 Ibid, p. 157. 39 Fonte: Amazonas BR/ Amazonas Guide. 40 Fonte: Amazonas BR/ Amazonas Guide. 41 Fonte: Amazonas BR/ Amazonas Guide. 42 Fonte: Amazonas BR/ Amazonas Guide. 43 Fonte: Amazonas Guide. 44 Fonte: Fonte: Amazonas BR/ Amazonas Guide. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 19 frente à cidade e a apenas dez minutos de ‘voadeira’ (barco pequeno com motor potente), é muito procurada pelos moradores, apresentando extensas praias de areias brancas, formações rochosas que aparecem na época da vazante. Os moradores da ilha são os maiores produtores de farinha de mandioca do município. É a única praia permanente do município na época da cheia do rio. A Praia da Liberdade em Nhamundá é principal praia e marco da cidade, acolhendo um teatro para apresentações de eventos e concertos, além de um complexo esportivo45, somando a Praia Daguary e a Praia Juruá.46 As praias fluviais, que se estendem ao longo de seis quilômetros de orla contínua e as ilhas não são os únicos atrativos da região. Os lagos e parques também complementam seus atrativos. A duas horas e trinta minutos de barco pelo Porto da Francesa está o Lago do Macuricanã, localizado em Parintins. O lago faz parte do cenário paisagístico do pólo, sendo ele um santuário ecológico da região, agregando valor ao ecoturismo local, pois concentra inúmeras espécies de peixes e aves exóticas. Na época de seca (julho a dezembro) é marcado por igarapés; na cheia (fevereiro a junho) forma-se um grande lago.47 Boa Vista do Ramos complementa o cenário com o Lago Paranazinho, onde se chega em cinco minutos de barco48. Maués proporciona os Lago Apoquitauamiri, o Lago das Garças, o Lago Estanislau, o Lago Lombo e o Lago Moraes49.Nhamundá devido a sua localização também se faz privilegiada pelos atrativos que do município dela fazem parte: o Lago de Faro, formado pelo rio Nhamundá, o Lago Uruá, o Lago Xixiáe o Lago Macuricanã, situado em Nhamundá e Parintins.50 Dentre as diversas possibilidades de passeio pela região, estão justamente os de barco pelas ilhas de Maués. A Ilha do Sol é o local onde artesãos e pescadores vendem barcos. Há praias a 30 minutos de ‘voadeira’51 e A Ilha dos Papagaios, situada em Nhamundá52. Localizadas no Rio Uaicurapá em Parintins, estão as ilhas das Guaribas, das Onças e do Pacoval.53 2.3.2 Relevo e Recursos Minerais Diferentemente do que se tem divulgado, a Região Amazônica não é uma vasta planície, mas sim uma peneplanície, notada pelas elevações que se podem observar próximas às calhas, como as serras de Maraguases e Maracaçu, em Parintins, as da Lua e outras antes do altiplano guianense. É no Estado do Amazonas que se encontram os pontos mais elevados do 45 Fonte: Amazonas Guide. 46 Fonte: Amazonas Guide. 47 Fonte: Amazonas BR/ Amazonas Guide. 48 Fonte: Amazonas Guide. 49 Fonte: Amazonas Guide. 50 Fonte: Amazonas Guide. 51 Fonte: Amazonas BR. 52 Fonte: Amazonas Guide. 53 Fonte: Amazonas BR/ Amazonas Guide. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 20 Brasil: o Pico da Neblina, com 3.014 metros de altitude, e o 31 de Março, com 2.992 m de altitude, ambos na fronteira. A geologia da área apresenta diversidade de recursos. Em Parintins, descendo seis quilômetros do rio Amazonas de barco estão as Ruínas da Vila Amazônica, são as estruturas da vila construída por japoneses no início dos anos de 1930. Em suas edificações estão traços da cultura da juta na Amazônia: um pagode, casa típica japonesa de barro com chão de madeira, armazéns e prensas utilizadas na época. À frente do conjunto estão uma igreja e um casarão azulejado da década de 40 que foram deixados pelos portugueses após a segunda guerra. Perto das ruínas há um estreitamento do Rio Amazonas que acumula pedras, permitindo aos pescadores nativos realizar a pescaria de arribação, que acontece quando os cardumes de jaraquis, curimatãs e pacus sobem o rio e podem ser capturados sem grande esforço entre os meses de abril e maio.54 A Serra de Parintins é a única elevação considerável em todo o município. Descendo 50 quilômetros o Rio Amazonas e ramais menores, possui 15255 metros de altitude e é recoberta por espessa vegetação de floresta nativa, está quase configurada na divisa com o estado do Pará. O acesso é por barco pelo rio Amazonas ou de balsa até a Vila Amazônica mais estrada de terra.56 Ribeirinhos que habitam a comunidade de Santa Rita da Valéria, no lago da beira da serra, têm descoberto cerâmicas arqueológicas que reforçam a história de que ali viveu a tribo Parintintin, responsável pelo nome do município. Na comunidade local, observa-se o casario de palafitas, típicos da várzea amazônica, e pode-se ouvir lendas como a do mosteirinho do século XVII que estaria enterrado na serra junto com um sino de ouro.57 O Morro de Santa Rita, localizado no Bairro Agrovila de Valéria engloba lagos, rios, fauna e flora abundantes.58 Abriga o Lago da Valéria, região ideal para os apreciadores da pesca esportiva. O acesso é realizado através de barco pelo Rio Amazonas ou de balsa até a Vila Amazônica e estrada de terra. Esta localidade tem sido ponto de parada para visitação de cruzeiros transatlânticos no percurso até Manaus. Em Nhamundá se encontra a Serra do Especho da Lua (Icamiabas), o Monte Yacy-Uaruá, que chega ao destino em 45 minutos de barco. Local das lendárias índias Amazonas que deram nome ao Estado59. 2.3.3 Solos Os solos encontrados no Alto do Rio Negro são: Podzólico Hidromórfico e o Latossolo Vermelho Amarelo. Nas áreas correspondentes ao Médio Amazonas, Médio e Baixo Rio Negro e 54 GUIA Philips – Amazônia Brasil. 2001. p. 156. 55 Algumas fontes indicam que a Serra de Parintins tem 154 metros de altitude. 56 Fonte: Amazonas BR/ Amazonas Guide. 57 GUIA Philips – Amazônia Brasil. 2001. p.157. 58 Fonte: Amazonas Guide. 59 Fonte: Amazonas Guide. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 21 Baixo Solimões, os solos predominantes são: o Podzólico Vermelho-Amarelo, o Latossolo Amarelo (Maués) e o Plintossolo. Solos Aluviais (Boa Vista dos Ramos). Latossolo Amarelo: ocorre em relevo plano a suave ondulado, com cobertura vegetal dominantemente florestal, originando-se de sedimentos pertencentes ao Terciário, com perfil bastante evoluído. Caracterizam-se por apresentar horizonte B Latossólico, avançado grau de intemperismo. É normalmente composto por óxidos hidratados de ferro e alumínio, com argila do tipo 1:1. Apresenta baixa capacidade de troca de cátions, baixa saturação de base e elevado grau de floculação de argilas. A baixa fertilidade desses solos é atribuída a pobreza mineral do material de origem e também a extrema lixiviação das bases devido a excessiva pluviosidade. Devido a suas características físicas, são solos aptos à exploração racional, desde que sejam melhoradas as suas condições de fertilidade e que seja corrigida sua elevada acidez através do emprego de insumos adequados. Dessa forma os latossolos-amarelo prestam para a exploração de culturas de ciclo longo como o guaraná (Paulina cupana), o dendê (Elaelis melanococca), a pimenta do reino (Piper nigrum), a seringueira (Hevea brasiliensis), fruteiras tropicais dentre outras. Também podem ser utilizados para o cultivo de mandioca (Manihot esculenta), cana-de-açúcar (Saccharum officinarum) e malva (Malva silvestris), além de sua utilização para a formação de pastagens e para a silvicultura. 2.3.4 Tipologia Vegetal A flora do Pólo é diversificada e muito utilizada na elaboração de medicamentos e cosméticos, sendo constantemente estudada e pesquisada. Fazem parte deste contexto: Açaizeiro60 (Euterpe Oleracea): a árvore do açaí tem a altura de 20 a 25 metros com tronco múltiplo de no máximo 25 centímetros de diâmetro. Uma touceira chega ter até 25 plantas e a freqüência da árvore no baixo Amazonas forma populações homogêneas. Encontra- se em todo o estuário do Rio Amazonas, mas a terra do açaí é a cidade de Codajas (AM). Produz sementes quase o ano inteiro, mas a maturação dos frutos ocorre com mais intensidade entre julho a dezembro. Em cachos, os frutos têm coloração violácea e peso médio de 1grama, sendo que cada inflorescência fornece a até 6 quilos de frutos. Estes são muito apreciados pela população amazônica para fabricação do vinho de açaí, e nas camadas mais pobres são a principal fonte de proteína alimentar. Curiosidades: com propriedades energéticas e antioxidantes, a polpa do açaí virou moda no sudeste do país e nos Estados Unidos. Ainda assim só 850 toneladas por mês de polpa são consumidas pela região centro–sul, enquanto que em Belém o consumo de açaí fresco chega a 4,5 mil toneladas por mês. A madeira é utilizada pelos ribeirinhos para estacas e assoalhos, e as folhas para a cobertura das casas; a semente fornece um substrato orgânico muito valorizado na horticultura e artesanato locais. Na floresta, os coletores de açaí trabalham em família e só em tempo seco, pois os troncos ficam muito escorregadios quando chove. Eles escalam a árvore com a ajuda 60 GUIA Philips – Amazônia Brasil. 2001. p. 314. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 22 de uma peçonha, anel torcido em oito feitos com fibras da mata, que passada em volta dos pés, permite melhor apoio sobre o tronco. Andiroba61 (Carapa Guianesis): esta árvore pertence a família do mogno. Pode ser encontrada na Amazônia em regiões alagadiças. Espécie de grande porte, sua altura varia de 20 a 30 metros, com tronco de 50 a 120 centímetros de diâmetro, apresentando umacasca grossa. Suas folhas são compridas, variando de 85 a 115 centímetros; as flores são de cor creme e os frutos em forma de cápsula, contêm quase sempre seis sementes. Quando caem no chão, se não são germinadas rapidamente, acabam sendo devoradas por insetos ou roedores. Geralmente a andiroba floresce de agosto e outubro e dá frutos entre janeiro e maio. Curiosidades: seu óleo, extraído da semente, tem propriedades medicinais e é usado para alívio de pancadas, hematomas e inchaços. Também é utilizado como antiinflamatório e contra dor de garganta. O óleo é também empregado pela indústria de cosméticos, como matéria prima para fazer xampus, sabonetes e cremes, velas e repelente de insetos. Quando se queima, o bagaço do fruto libera uma fumaça, que serve como repelente de mosquitos. A madeira é de ótima qualidade, imune ao ataque de cupins, muitas vezes comparada ao mogno. Pode ser usada na construção civil ou para fazer mastros, bancos de barco e navios. Bromélias62 (Aechemia Ferandae): as bromélias são plantas da família da Bromeliáceas, que apresentam folhas rígidas, espinhentas e serrilhadas. O mais famoso exemplar dessa família é o abacaxi, mas a variedade é muito grande; apresentam mais de mil espécies nos países de clima tropical. Todas elas acumulam água e detritos nos centros das folhas em forma de funil. Espécie endêmica da Amazônia, ela se distingue pela coloração diferenciada das folhas, verde na face superior e avermelhada na inferior. Suas flores são de forma esférica e globosa. Curiosidades: também chamada gravatá e caraguatá, as bromélias são muito procuradas para decoração, por isso algumas espécies começam a correr risco de exploração descontrolada. Elas podem ser epífitas, rupículas, isto é, crescem em pedras e solos pedregosos ou terrestres. Essas últimas, ao contrario das epífitas, não possuem o funil central para acumular água e nutrientes, mas para compensar lançam raízes ao solo. Buriti63 (Mauritia Flexuosa): é uma palmeira de porte elegante, podendo atingir até 35 metros de altura. Possui folhas grandes em formato de estrela. As flores estão dispostas em longos cachos de até três metros de comprimento e possuem coloração amarelada, surgindo de dezembro a abril. Já o fruto é castanho-avermelhado, com superfície revestida por escamas brilhantes. Sua semente é oval e a amêndoa comestível. Seu cultivo ocorre naturalmente, aparecendo tanto isolado como em grupo, de preferência em terrenos pantanosos. Curiosidades: cada planta costuma possuir de cinco a sete cachos com 400 a 500 frutos cada. Sua polpa é consumida na forma de doce, suco, sorvete ou vinho de buriti. As 61 GUIA Philips – Amazônia Brasil. 2001. p. 315. 62 Ibid, p.318. 63 GUIA Philips – Amazônia Brasil. 2001. p.318. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 23 folhas do buriti são usadas na fabricação de cordas e as raízes na medicina popular; já o tronco, serve para a produção de canoas. Camu-camu64 (Myrciaria Dúbia): nativa da Amazônia ocidental, este arbusto atinge no máximo três metros de altura. Seu caule é liso e ramificado e parte dele permanece submerso ao longo do ano. Prefere regiões alagadas, como beira de rios e lagos. Suas flores brancas formam grupos de três a quatro, exalando um forte odor. A planta jovem tem as folhas avermelhadas, que vão se tornando verdes e brilhantes à medida que envelhecem. Frutifica de novembro a março quando surge o fruto avermelhado, ácido, que vai ficando roxo-escuro à medida que amadurece. Sua casca é resistente e a polpa aguosa, envolvendo sementes esverdeadas. Curiosidades: também conhecido como caçari e cauari, tem um teor de vitamina C superior ao da acerola. É usado como isca por pescadores na Amazônia, principalmente na captura do tambaqui. O fruto e a casca são usados para fazer refrescos, sorvetes, picolés, geléias, doces e licores. Inicia a frutificação aos três anos, produzindo de 500 a 1000 frutos por planta. Castanha-do-Brasil65 ou Castanha-do-Pará (Bertolletia Excelsa): a castanheira tem altura de 30 a 50 metros, mas pode chegar excepcionalmente a 60 metros. Seu fruto, chamado localmente de ouriço, pesa entre 500 a 1500 gramas e contém de 15 a 24 sementes (castanhas). É característica de mata alta de terra firme, não inundável, de toda a Amazônia. Embora ocorra em determinados locais em grande freqüência, formando chamados castanhais, está sempre em associação com outras espécies de grande porte. Floresce entre os meses de novembro e fevereiro e seus frutos amadurecem entre dezembro e março. As castanhas são de semente apreciadas internacionalmente, sendo bastante oleosas, de formato agudo e mais ou menos triangular. Curiosidades: os frutos da castanheira são coletados quando caem do pé, pesam mais de um quilo e possuem um orifício cujo diâmetro não permite a passagem da quinzena de amêndoas que possui, obrigando os castanheiros a usar um facão para liberar a semente. A espécie é o oitavo produto extrativista nacional e o segundo na Amazônia, depois da borracha. Alguns pesquisadores consideram a distribuição da castanha na Amazônia como sendo de origem antrópica (feita pelo homem); sabe-se que os índios Kaiapó plantam a castanheira em florestas e clareiras naturais. As árvores aparecem também em terras pretas antropogênicas e próximas a sítios arqueológicos. (...) O óleo proveniente das castanhas também tem sido exportados para a fabricação de cosméticos no exterior. Cupuaçu66 (Theobroma Grandiflorum): da mesma família do cacau, tem origem amazônica e frutifica em árvores pequenas de até dez metros de altura se forem cultivadas, e cerca de dezoito metros se forem silvestres. As folhas são simples e inteiras, longas – de até 35 centímetros de comprimento -, de coloração ferrugem numa das faces. As folhas vermelho- 64 Ibid, p. 319. 65 Ibid, p. 320. 66 GUIA Philips – Amazônia Brasil. 2001. p. 321. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 24 escuras prendem-se diretamente no tronco. O fruto é oval, com até 25 centímetros de comprimento, de casca dura e lisa e cor castanho-escura. A polpa é branca, ácida e aromática. Frutifica de janeiro a maio, com menos intensidade de janeiro a abril. Curiosidades: o cupuaçu é considerado por muitos, uma fruta saborosa e pode pesar mais de dois quilos; uma árvore produz em média 20 frutas por ano. O suco, sorvete e doce são populares em toda região Amazônica (...). O suco das folhas do cupuaçu é usado no tratamento de bronquites e infecções renais. Da semente do cupuaçu pode se extrair um óleo usado tanto para o fabrico do cupulate (chocolate de cupuaçu) quanto para a indústria de cosméticos. Guaraná 67(Paullinia Cupana): é uma planta nativa da Amazônia, em forma de arbusto ou cipó lenhoso. É composto de flores brancas, masculinas e femininas, que surgem de julho a setembro. O fruto possui cerca de 2,5 centímetros de diâmetro, com tom vermelho- alaranjado quando maduro. As sementes são negro-brilhosas, com a metade inferior recoberta um arilo branco, confunde com a aparência de um olho humano. Frutifica de janeiro a março. Curiosidades: foram os índios Saterê-Maué (AM) que descobriram as propriedades do guaraná na amazônia; fora da região, é a Bahia o estado pioneiro da cultura deste fruto. A cada dia amplia-se a cultura do guaraná, devido ao aumento da demanda para fabricação de bebidas e fármacos, que servem principalmente como antitérmicos, antineurálgicos, antidiarréicos e estimulantes poderosos. Mogno68 (Switenia Macrophylla): árvore que pode atingir até 30 metros de altura, ocorrendo em toda região Amazônica, mas é característica da floresta clímax de terra firme, sobretudo as de solo mais argilosos. Seu tronco varia de 50 a 80 centímetros de diâmetro e as folhas são compostas. Floresce durante os meses de novembro e janeiro e os frutosiniciam a maturação no mês de setembro, prolongando-se até meados de novembro. É muito ornamental quando usada na arborização de parques e jardins. Curiosidades: mogno está em extinção devido ao excesso de exploração da espécie para uso de mobiliário de luxo, objeto de adornos, painéis, acabamentos internos, entre outros. A madeira possui altíssima resistência ao ataque de cupins. Orquídea Vermelha69 (Cattleya Violácea): a família das orquidáceas é uma das mais numerosas da flora mundial, são dois mil gêneros, com cerca de 35 mil espécies naturais e outros 50 mil híbridos feitos em laboratório. Cerca de 90% das espécies são hermafroditas, pois o aparelho reprodutivo inclui tanto órgãos femininos como masculinos. A polinização é feita geralmente por insetos, atraídos pela coluna carnosa que fica na pétala mais colorida das três que formam a flor. Esta espécie apresenta flores avermelhadas ou arroxeadas. Curiosidades: por sua beleza, é muito coletada na Amazônia, o que ameaça a espécie. Apesar 67 Ibid, p. 322. 68 GUIA Philips – Amazônia Brasil. 2001. p. 325. 69 Ibid, p.326. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 25 de serem consideradas plantas “novas” no reino vegetal, as orquídeas são muito conhecidas do homem há muito tempo. Foram catalogadas pelos chineses há cerca de quatro mil anos. Pau-Rosa70 (Aniba Rosaeodora): árvore da floresta de terra firme que pode atingir 30 metros de altura e, seu tronco, mais dois metros de diâmetro. Floresce de maneira irregular e a floração nem sempre é seguida de frutificação. É encontrado em toda a Amazônia, mas observam-se variações entre as populações das Guianas e Amapá e as do sul da região Amazônica. Árvores com diâmetro superior a dez centímetros encontram-se em densidade inferior a uma unidade por hectare. O pau-rosa é de difícil acesso e os que se encontram próximo aos rios já foram explorados há muito tempo para servir como ingredientes de produtos da indústria cosmética e perfumaria. Curiosidades: é também conhecido como pau- rosa-do-oiapoque. A exploração do pau-rosa para obtenção de uma essência conhecida como linalol acarreta o desaparecimento do recurso. Mas hoje há existem pesquisas que demonstram ser possível extrair o óleo do pau-rosa a partir de galhos e folhas, o que pode indicar uma forma de seu extrativismo sustentável em um futuro próximo. Anualmente são cortadas mais de três mil árvores para extração desse óleo. Apesar de sua síntese existir, há 30 anos¸ a indústria, principalmente a cosmética, prefere o produto natural ao sintetizado. Os frutos são muito apreciados por papagaios e araras, sendo muitas vezes devorados antes da maturação, sobrando poucos para reprodução da árvore. Pupunha71 (Bactris Gasipaes): palmeira que pode chegar a 20 metros de altura e 15 a 25 centímetros de diâmetro no tronco, apresenta aproximadamente 20 folhas de três a quatro metros de comprimento. As folhas possuem um cheiro característico que atrai milhares de insetos polinizadores. Os frutos podem ter a casca vermelha, amarela, alaranjada ou verde, e a parte comestível é espessa e carnosa. Na Amazônia, após serem cozidos com sal, são consumidos junto com café, sendo ricos em proteínas, cálcio e ferro. A frutificação é longa, indo de novembro a junho. A árvore ocorre em toda a Amazônia, Nordeste, norte da América do Sul e América Central. Curiosidades: a pupunha é considerada a alternativa ecológica para o palmito, pois a árvore não morre com seu corte, e diferente do palmito juçara da Mata Atlântica, o palmito da pupunha quase não tem fibras. A pupunha é uma cultura permanente que permite o corte ao longo do ano todo por um período de 20 anos, sendo que cada hectare plantado rende até 2,2 toneladas de palmito de boa qualidade. (...) A pupunha é rica em vitamina A e tem taxa zero de colesterol, mas nunca se deve comer uma pupunha crua devido à presença de ácido oxálico, que inibe a digestão e pica a língua; deve ser cozida por 50 a 80 minutos e depois descascada. Seringueira72 (Hevea Brasiliensis): aparece na margem dos rios e em lugares inundáveis da mata de terra firme, em toda a região Amazônica. Chega a 30 metros de altura com tronco de 30 a 60 centímetros de diâmetro. Na floresta Amazônica, há mais de onze espécies de 70 Ibid, p.327. 71 GUIA Philips – Amazônia Brasil. 2001. p. 328. 72 Ibid, p. 329. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 26 seringueiras, todas do gênero Hevea e muito parecidas com a H. Brasiliensis. Florescem a partir de agosto, prolongando-se até o início de novembro. Já os frutos começam a amadurecer no período de abril a maio. Suas amêndoas fornecem um óleo secativo usado pela indústria de tintas, mas o maior valor da árvore é o látex, extraído do seu tronco, que é transformado em borracha. Curiosidades: a resina desta árvore foi usada primeira para fazer seringas, daí o nome de seringueira. Sua exploração representou a maior atividade econômica da região Amazônica entre os anos de 1870 e 1910, principalmente pela descoberta da borracha vulcanizada (que não amolece com o calor) em 1844, por Charles Goodyear, e a invenção do pneu em 1888 por John Boyd Dunlop. Atualmente, a borracha nacional vem retomando forças. O governo do Acre tem investido em tornar as alternativas de coleta de borracha e castanha sustentáveis do ponto de vista social, econômico, político e ambiental. O látex produzido em alguns locais é vendido para a fabricação de preservativos no Sul do país. Urucum73 (Bxa Orellana): é uma espécie de arbusto que chega no máximo a cinco metros, com tronco de quinze a vinte centímetros de diâmetro. Ocorre em toda floresta, da região Amazônica até a Bahia, mas preferencialmente em solo férteis e úmidos de beira de rios. As sementes são produzidas em grande quantidade o ano todo e disseminadas tanto pelo homem como por animais que se alimentam de seus frutos. Floresce durante a primavera e o início do verão e os frutos amadurecem no final do verão e início do outono. É também conhecida como uma planta medicinal, já que suas sementes são utilizadas contra bronquite e febre, e também como cosmético. Curiosidades: as matérias de cor amarela e vermelha, conhecidas como colorau pela população, são extraídas da polpa que envolve as sementes, sendo empregadas na culinária e na indústria alimentar, além das indústrias de impressão e de tecidos. É empregada pelos índios amazônicos para tingir a pele, como repelente de insetos e para rituais religiosos. É cultivada em muitas regiões do país para exploração de suas sementes e como planta ornamental, principalmente pela rapidez de seu crescimento em ambientes secos. Vitória-Régia74 (Victoria Amazônica): é uma planta aquática com folhas com cerca de 40 centímetros de diâmetro e margens sinuosas. Pode chegar, no entanto, a até 1,2 de diâmetro. As flores possuem de oito a quinze centímetros de diâmetro e contém de doze a vinte e três pétalas muito perfumadas. Possui um fruto carnoso endurecido, com numerosas sementes. No inferior das folhas flutuantes há uma rede de nervuras e compartimentos cheios de ar, recobertos com espinhos. Curiosidades: quando as lagoas onde vivem secam, as cápsulas de sementes ficam enterradas na lama até o retorno da água, na próxima cheia, para então germinar. Existem muitas espécies de animais aquáticos que utilizam as raízes destas espécies para se abrigar, alimentar e produzir. Polinizada por somente uma espécie de besouro, que é atraído pelo forte cheiro que suas flores brancas exalam. 73 GUIA Philips – Amazônia Brasil. 2001. p. 331. 74 Ibid, p.331. Diagnóstico Preliminar Pólo Saterê 27 Algumas citações foram levantas, porém ausentam de significado presente durante a primeira análise bibliográfica do diagnóstico, mas vale