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1 DIREITO PROCESSUAL CIVIL II Prof.º Kleber Galerani @klebergalerani / @klebergalerani ROTEIRO DO MÓDULO 11 PROCEDIMENTO COMUM – FASE DECISÓRIA OBJETIVO analisar a fase decisória do procedimento comum; LEITURA OBRIGATÓRIA: GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. 13 ed. São Paulo: SaraivaJur, 2022. Livro VII – DO PROCESSO E DO PROCEDIMENTO. 5 – FASE DECISÓRIA 2 MÓDULO 11 – PROCEDIMENTO COMUM – FASE DECISÓRIA A) SENTENÇA CONCEITO - é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487 (conteúdo), põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução. ESPÉCIES o TERMINATIVAS extinguem o processo sem resolução de mérito (hipóteses do art. 485) o DEFINITIVAS juiz resolve o mérito, pondo fim ao processo ou à fase cognitiva (art. 487) Revestem-se da autoridade da coisa julgada material e podem ser objeto de ação rescisória. o Não há diferença entre as duas espécies de sentença, no que concerne ao tipo de recurso adequado: contra ambas caberá a apelação. REQUISITOS ESSENCIAIS DA SENTENÇA (relatório, motivação e dispositivo) o RELATÓRIO - que deverá conter os nomes das partes, a identificação do caso, com a suma do pedido e da contestação, bem como o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo. o MOTIVAÇÃO – art. 93, IX, CF - O juiz deve expor as razões pelas quais acolhe ou rejeita o pedido formulado na petição inicial, apreciando os seus fundamentos de fato e de direito (causas de pedir) e os da defesa. A falta de fundamentação, no entanto, tornará nula a sentença, cabendo ao juiz pronunciar-se sobre todas as questões essenciais que possam repercutir sobre o resultado, sob pena de ser citra petita. 3 Hipóteses – art. 489, § 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida;1 II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso; III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. o DISPOSITIVO - É a parte final da sentença, em que o juiz decide se acolhe, rejeita o pedido ou se extingue o processo, sem examiná-lo. Todos os pedidos formulados na petição inicial (e na contestação, nos casos de ação dúplice ou na reconvenção) devem ser examinados pelo juiz, sob pena de a sentença ser citra petita. Se houver mais de uma ação, embora único o processo, a sentença, também única, deverá examinar todas as pretensões formuladas. Ex.: reconvenção e denunciação da 1 Ao proferir a sentença, o juiz desenvolve um raciocínio silogístico, pois parte de uma premissa maior (o que dispõe o ordenamento jurídico) para uma premissa menor (o caso concreto) para poder extrair a conclusão. É preciso que a sentença indique com clareza em que medida aquela norma invocada pode funcionar como premissa maior, aplicável ao caso concreto sub judice. 4 lide. Em contrapartida, o juiz não pode examinar pretensões não formuladas. Ao promover o julgamento, deve ficar adstrito à ação que foi proposta, observando as partes, as causas de pedir e os pedidos, elementos identificadores da ação. Sob pena de a sentença ser extra ou ultra petita, não pode conceder pretensões em relação a pessoas que não foram parte; nem fundamentar a sua pretensão em causas de pedir não formuladas ou conceder algo diferente ou a mais do que foi postulado. Somente o dispositivo da sentença de mérito se revestirá da autoridade da coisa julgada material. DEFEITOS DA SENTENÇA o SENTENÇA EXTRAPETITA – é aquela na qual o juiz concede pedido diverso daquele postulado pelo autor: Art. 492. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, ... ou em objeto diverso do que lhe foi demandado. o SENTENÇA ULTRA PETITA - é aquela em que o juiz julga a pretensão posta em juízo, mas condena o réu em quantidade superior à pedida. Art. 492. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado. se houver recurso, não haverá necessidade de o tribunal declará-la nula, bastando-lhe que reduza a condenação aos limites do que foi postulado. Se houver trânsito em julgado, caberá ação rescisória, cujo objeto será apenas desconstituir a sentença, naquilo que ela contenha de excessivo. 5 o SENTENÇA INFRA OU CITRA PETITA Não há uniformidade de nomenclatura a respeito. Por sentença infra ou citra petita denominamos aquela em que o juiz deixa de apreciar uma das pretensões postas em juízo, não aprecia um dos pedidos, quando houver cumulação. Se não o fizer, quais serão as providências que o prejudicado deve tomar? A providência mais adequada será opor embargos de declaração, nos quais se pedirá ao juiz que supra a omissão e se pronuncie a respeito da pretensão, sanando o vício. Se o prejudicado não opuser embargos de declaração, mas apelação, invocando a omissão da sentença, o tribunal poderá: o a) anulá-la, e determinar a restituição dos autos à instância de origem, para que profira outra, desta feita completa, se não puder desde logo examinar o pedido; o b) julgar o pedido não apreciado, em vez de anular a sentença, desde que todos os elementos para tanto estejam nos autos (art. 1.013, III). DA POSSIBILIDADE DE CORRIGIR A SENTENÇA o Art. 494. Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la: I - para corrigir-lhe, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais ou erros de cálculo; II - por meio de embargos de declaração. É o recurso adequado quando a sentença padecer de erro material, omissão, contradição ou obscuridade. 6 DOS EFEITOS DA SENTENÇA o há três tipos de tutela nos processos de conhecimento: a declaratória, a constitutiva e a condenatória. o TUTELA DECLARATÓRIA a ação será declaratória quando a pretensão do autor se limitar ao pedido de declaração. se limita a que o juiz declare a existência ou inexistência de uma relação jurídica, ou a autenticidade ou falsidade de um documento (CPC, art. 19). tem por finalidade afastar uma crise de incerteza. não produz nenhuma modificação, nem de uma situação fática, nem de uma relação jurídica. O que ela faz é solucionar uma incerteza, uma dúvida. Exemplo: ações de investigação de paternidade. Uma vez que a tutela declaratória não cria relações jurídicas, mas apenas declara se elas existem ou não, a sua eficácia é ex tunc. Por exemplo: na hipótese já citada, declarada a paternidade, a eficácia retroagirá ao nascimento do autor. o TUTELA CONSTITUTIVA É aquela que tem por objeto a constituição ou desconstituição de relações jurídicas. As sentenças podem ser constitutivas positivas ou negativas, também chamadas desconstitutivas, conforme visem criar relações até então inexistentes ou desfazer as que até então existiam. As sentenças constitutivas têm eficácia ex nunc, produzem efeitos a partir de então, do momento em que se tornam definitivas, sem eficácia retroativa. 7 Ex.:em ação de divórcio, o casamento considerar-se-á desfeito somente após a sentença, com trânsito em julgado. Elas não precisam ser executadas, já que produzem efeitos por si mesmas. o TUTELA CONDENATÓRIA impõe ao réu uma obrigação, consubstanciada em título executivo judicial. A partir dela abre-se ao autor a possibilidade de valer-se de uma sanção executiva para obter o seu cumprimento. Ela é aquela que impõe uma obrigação que precisa ser cumprida. têm eficácia ex tunc, pois retroagem à data da propositura da ação. SUB-ESPÉCIES TUTELA MANDAMENTAL o aquela em que o juiz emite uma ordem, um comando, que deve ser cumprido pelo réu. o Cabe à lei estabelecer as sanções aplicáveis para o descumprimento da ordem e os mecanismos de que o juiz pode se utilizar para torná-la efetiva. o São exemplos as sentenças proferidas em mandado de segurança e nas ações que tenham por objeto obrigações de fazer, não fazer ou entregar coisa (arts. 497 e 498 do CPC). TUTELAS EXECUTIVAS LATO SENSU o Distinguem-se por prescindirem de uma fase de execução. o Se a obrigação não for cumprida pelo devedor, o Estado tomará as providências necessárias para que o seja, independentemente dele. 8 o É o que ocorre nas ações de despejo ou nas possessórias, em que o juiz determina a retomada de bem. o Ele determinará a expedição de mandado de despejo ou de reintegração de posse, sem necessidade de instauração de fase executiva, nem do uso de meios de coerção. DA SENTENÇA QUE CONDENA À DECLARAÇÃO DE UMA EMISSÃO DE VONTADE o Art. 501. Na ação que tenha por objeto a emissão de declaração de vontade, a sentença que julgar procedente o pedido, uma vez transitada em julgado, produzirá todos os efeitos da declaração não emitida. a sentença, sendo possível, produzirá os mesmos efeitos que a declaração de vontade não emitida ou que o contrato não firmado. Ex.: contratos de compromisso de compra e venda, em que, com o pagamento da última parcela, o compromissário comprador tem o direito de obter do promitente vendedor a escritura pública do imóvel adquirido. DOS CAPÍTULOS DA SENTENÇA o A sentença forma um todo, um conjunto único. Porém, é possível decompô-la em capítulos, cada qual contendo o julgamento de uma pretensão distinta. o É a teoria dos capítulos que permite preservar uma sentença, transitada em julgada, na qual o juiz tenha deixado de apreciar uma das pretensões. Aquilo que ele apreciou é válido e será preservado; a omissão quanto ao restante não contamina o que foi validamente apreciado, cabendo ao interessado ajuizar 9 nova demanda, reiterando o pedido a respeito do qual não houve pronunciamento. o O mais importante nessa teoria não é que a sentença contenha numerosos capítulos, mas que eles possam ser considerados autônomos, estanques, para fins de recursos, ação rescisória, nulidades etc. DA SENTENÇA E OS FATOS SUPERVENIENTES o “Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou extintivo do direito influir no julgamento do mérito, caberá ao juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou a requerimento da parte, no momento de proferir a sentença” (art. 493, CPC). DOS EFEITOS SECUNDÁRIOS DA SENTENÇA o em caso de improcedência, as liminares concedidas em favor do autor no curso do processo serão revogadas, ainda que não tenha havido manifestação expressa do juiz a respeito, uma vez que aquilo que foi decidido em caráter provisório não pode subsistir ao definitivo. o condenação do vencido nas verbas de sucumbência. B) DA COISA JULGADA A coisa julgada é mencionada na Constituição Federal como um dos direitos e garantias fundamentais. O art. 5º, XXXVI, estabelece que a lei não poderá retroagir, em prejuízo dela. Essa garantia decorre da necessidade de que as decisões judiciais não possam mais ser alteradas, a partir de um determinado ponto. Do contrário, a segurança jurídica sofreria grave ameaça. 10 A coisa julgada não é um dos efeitos da sentença, mas uma qualidade deles: a sua imutabilidade e indiscutibilidade. O trânsito em julgado está associado à impossibilidade de novos recursos contra a decisão, o que faz com que ela se torne definitiva, não podendo mais ser modificada. DAS FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DA COISA JULGADA o COISA JULGADA FORMAL - é a imutabilidade dos efeitos da sentença no próprio processo em que foi proferida; o COISA JULGADA MATERIAL - é a imutabilidade dos efeitos da decisão de mérito em qualquer outro processo. A coisa julgada material pressupõe decisão de mérito, que aprecie a pretensão posta em juízo, favorável ou desfavoravelmente ao autor. A compreensão do tema pressupõe que se conheça e se saiba identificar, com clareza, os elementos da ação: partes, causa de pedir e pedido. A coisa julgada material constitui óbice à nova ação, que tenha os mesmos três elementos que a anterior, já julgada. A alteração de qualquer das partes, autor ou réu, dos fatos em que se fundamenta o pedido e do objeto da ação, tanto o imediato (provimento jurisdicional postulado) quanto o mediato (bem da vida), modifica a ação e a afasta. COISA JULGADA REBUS SIC STANTIBUS o A expressão rebus sic stantibus traduz a ideia de as coisas permanecerem iguais, idênticas. o Em regra, havendo coisa julgada material, não é mais possível rediscutir a questão já definitivamente julgada. o Mas há certas situações, expressamente previstas em lei, em que a imutabilidade dos efeitos da decisão só persiste enquanto 11 a situação fática que a ensejou permanecer a mesma, ficando autorizada a modificação, desde que haja alteração fática superveniente. Exemplo: ações de alimentos e as indenizatórias por ato ilícito, em que há fixação de pensão alimentícia de cunho indenizatório (art. 533, § 3º, do CPC). A regulamentação do direito material é de ordem tal a impedir que a questão fique definitivamente julgada, uma vez que o valor da pensão está sempre condicionado à capacidade do devedor, e à necessidade do credor, podendo ser revisto sempre que uma ou outra se alterarem. DOS LIMITES SUBJETIVOS DA COISA JULGADA o Dizem respeito às pessoas para quem a sentença torna-se indiscutível. o clássica a afirmação de que “a coisa julgada faz lei entre as partes”, assertiva que encontra respaldo no art. 506 do CPC: “A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros”. (embora eventualmente possa beneficiá-los). o Exemplo: ação cível contra empresa, em virtude de ato praticado por terceiro. Funcionário que foi condenado em ação criminal. DOS MECANISMOS PELOS QUAIS SE PODE AFASTAR A COISA JULGADA o A coisa julgada material impede a rediscussão daquilo que ficou decidido em caráter definitivo. Mas o CPC prevê mecanismos pelos quais se pode afastá-la, seja desconstituindo-a, seja declarando-lhe a inexistência. Tais mecanismos são: ação rescisória, prevista no art. 966 do CPC; a impugnação ao cumprimento de sentença, quando o objeto for desconstituir ou declarar ineficaz o título; 12 a ação declaratória de ineficácia (querela nullitatis insanabilis). C) DA AÇÃO RESCISÓRIA CONSIDERAÇÕES GERAIS o em casos excepcionais, porém, a lei permite a utilização de ação autônoma de impugnação, cuja finalidade é desconstituir a decisão de mérito transitada em julgado. o Nela, ainda é possível postular a reapreciação daquilo que foi decidido em caráter definitivo. o Não se trata de um recurso, pois pressupõe que todos já se tenham esgotado. o Exige que tenha havido o trânsito em julgado da decisão de mérito. o Consiste em uma ação cuja finalidade é desfazer o julgamento já tornado definitivo. o Pode-se dizer, de maneira geral, que é o veículo adequado para suscitar nulidades absolutas que contaminaram o processo ou a decisão. o Quando o vício é daqueles quedesaparecem quando o processo se encerra, não cabe a ação rescisória. Ela exige que a nulidade seja absoluta, que se prolongue para além do processo. Exemplo: se o processo for conduzido por um juiz suspeito, cumpre às partes reclamar, arguindo a suspeição; ou ela é acolhida, o que ensejará o refazimento dos atos decisórios, se necessário, ou não é acolhida, ou nem mesmo suscitada, caso em que o vício desaparece. NATUREZA JURÍDICA DA AÇÃO RESCISÓRIA o natureza primordial é desconstitutiva. 13 Isso porque toda ação rescisória tem de ter o juízo rescindente, o pedido de desconstituição total ou parcial do julgamento anterior transitado em julgado. Mas, além dele, quando for o caso, a rescisória poderá ter também o juízo rescisório, em que o tribunal proferirá novo julgamento da questão anteriormente decidida. O juízo rescisório pode ter qualquer tipo de natureza: condenatória, constitutiva ou declaratória. E, sendo condenatória, pode ainda ter natureza mandamental ou executiva lato sensu. REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE o DUAS GRANDES CATEGORIAS: os comuns a todas as ações, como o preenchimento das condições da ação rescisória – interesse e legitimidade; e os requisitos específicos. o CONDIÇÕES INTERESSE - Só tem interesse em propô-la aquele que puder auferir algum proveito da rescisão, alguma melhora de sua situação, caso o julgamento anterior seja rescindido e outro seja proferido em seu lugar. TRÂNSITO EM JULGADO - Enquanto não há trânsito em julgado, a decisão deverá ser impugnada por meio do recurso adequado É possível a rescisória de uma sentença, ainda que contra ela, no prazo apropriado, não tenha sido interposto recurso nenhum. Basta apenas que tenha havido o trânsito em julgado. LEGITIMIDADE Art. 967. Têm legitimidade para propor a ação rescisória: 14 o I - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a título universal ou singular; Também aqueles que, em razão de intervenção de terceiros, assumiram essa qualidade. É o caso do denunciado e dos chamados ao processo. o II - o terceiro juridicamente interessado; O terceiro que tem interesse jurídico é aquele que poderia ter ingressado no processo, na qualidade de assistente. o III - o Ministério Público: a) se não foi ouvido no processo em que lhe era obrigatória a intervenção; b) quando a decisão rescindenda é o efeito de simulação ou de colusão das partes, a fim de fraudar a lei; c) em outros casos em que se imponha sua atuação; o IV - aquele que não foi ouvido no processo em que lhe era obrigatória a intervenção. há casos em que a lei determina a intervenção obrigatória de determinadas pessoas ou entes no processo. É o caso, por exemplo, do curador especial em favor do réu revel citado fictamente ou do réu revel preso. Se eles não forem ouvidos e o juiz proferir decisão de mérito desfavorável ao curatelado, eles estarão legitimados a propor ação rescisória. 15 C1) HIPÓTESES DE CABIMENTO (CPC, ART. 966) O rol é taxativo e não comporta ampliações, nem utilização da analogia, para hipóteses não expressamente previstas. Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: I - se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou corrupção do juiz; II - for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente; III - resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei; IV - ofender a coisa julgada; V - violar manifestamente norma jurídica; VI - for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória; VII - obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável; VIII - for fundada em erro de fato verificável do exame dos autos. I - SE VERIFICAR QUE FOI PROFERIDA POR FORÇA DE PREVARICAÇÃO, CONCUSSÃO OU CORRUPÇÃO DO JUIZ;2 o Não é preciso que o juiz tenha sido condenado em processo crime A existência do ilícito pode ser demonstrada na própria rescisória. 2 A prevaricação é o ato de “retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal” (CP, art. 319). A concussão consiste em “exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida” (CP, art. 316). A corrupção passiva em “solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar a promessa de tal vantagem” (art. 317). 16 o Não haverá incompatibilidade entre sentença penal absolutória e a procedência da ação rescisória por esse fundamento. II - FOR PROFERIDA POR JUIZ IMPEDIDO OU POR JUÍZO ABSOLUTAMENTE INCOMPETENTE; o só haverá nulidade em caso de incompetência absoluta ou de impedimento, pois se a incompetência foi relativa ou o juiz suspeito, o vício terá se sanado no curso do processo. III - RESULTAR DE DOLO OU COAÇÃO DA PARTE VENCEDORA EM DETRIMENTO DA PARTE VENCIDA OU, AINDA, DE SIMULAÇÃO OU COLUSÃO ENTRE AS PARTES, A FIM DE FRAUDAR A LEI; o há dolo da parte vencedora quando ela engana o juiz ou a parte contrária para influenciar o resultado do julgamento o há coação quando ela incute no adversário fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família ou a seus bens. o para que possa ensejar a rescisória, é preciso que isso tenha sido determinante para o resultado. o colusão3 é o acordo entre as partes litigantes para enganar o juiz em detrimento de terceiro. Exemplo: alguém que queira fugir da obrigação de pagar seus credores, e se conluie com um amigo para que ajuíze ação como credor preferencial, para ter prioridade no recebimento. IV - OFENDER A COISA JULGADA; o não pode haver novo pronunciamento judicial sobre pretensão já examinada por decisão transitada em julgado e acobertada pela autoridade da coisa julgada material. Nem mesmo a lei pode retroagir para prejudicá-la. 3 Fundamento - Art. 142. Convencendo-se, pelas circunstâncias, de que autor e réu se serviram do processo para praticar ato simulado ou conseguir fim vedado por lei, o juiz proferirá decisão que impeça os objetivos das partes, aplicando, de ofício, as penalidades da litigância de má-fé. 17 Por isso, uma nova decisão, que reforme o decidido pela anterior, poderá ser rescindida. V - VIOLAR MANIFESTAMENTE NORMA JURÍDICA; o Não se considera violação manifesta da norma jurídica a decisão que deu a ela uma interpretação razoável, ainda que não predominante, ou ainda que divergente de outras dadas pela doutrina e jurisprudência. o Nesse sentido, a Súmula 343 do STF: “Não cabe ação rescisória por ofensa a literal disposição de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais”. o É preciso que a decisão seja incompatível com a norma jurídica, não podendo haver coexistência lógica das duas. o Mas caberá a ação rescisória, se a decisão não der ao texto de lei interpretação razoável, isto é, der uma interpretação que absolutamente não se conforma com o texto literal da lei ou com o seu espírito. VI - FOR FUNDADA EM PROVA CUJA FALSIDADE TENHA SIDO APURADA EM PROCESSO CRIMINAL OU VENHA A SER DEMONSTRADA NA PRÓPRIA AÇÃO RESCISÓRIA; o É indispensável que a prova falsa tenha sido determinante do resultado, que este não possa subsistir sem ela. VII - OBTIVER O AUTOR, POSTERIORMENTEAO TRÂNSITO EM JULGADO, PROVA NOVA CUJA EXISTÊNCIA IGNORAVA OU DE QUE NÃO PÔDE FAZER USO, CAPAZ, POR SI SÓ, DE LHE ASSEGURAR PRONUNCIAMENTO FAVORÁVEL; o O autor, a que alude o dispositivo legal, não é o da ação originária, cuja decisão se pretende rescindir, mas o da própria rescisória, que pode ter figurado como autor ou réu daquela. o A prova nova não é aquela cuja constituição operou-se após a decisão transitada em julgado, mas cuja existência, embora 18 anterior, era ignorada pelo autor da ação rescisória, ou de que ele não pôde fazer uso, por circunstâncias alheias à sua vontade. o É preciso ainda que o documento seja tal que possa assegurar, por si só, pronunciamento favorável. VIII - FOR FUNDADA EM ERRO DE FATO VERIFICÁVEL DO EXAME DOS AUTOS. o § 1º Há erro de fato quando a decisão rescindenda admitir fato inexistente ou quando considerar inexistente fato efetivamente ocorrido. o Só cabe a rescisória se a existência ou inexistência do fato não tiver sido expressamente apreciada pela decisão. C2) PROCEDIMENTO DA AÇÃO RESCISÓRIA COMPETÊNCIA o A ação rescisória de sentença deve ser proposta perante o Tribunal que teria competência para julgar recursos contra ela; se de acórdão, a competência será do mesmo Tribunal que o proferiu, mas o julgamento será feito por um órgão mais amplo. Por exemplo: para rescindir acórdão proferido por três desembargadores, a ação rescisória deverá ser julgada por turma composta de cinco; se o acórdão foi proferido por cinco, a rescisória será julgada por sete. PETIÇÃO INICIAL o conter os requisitos do art. 319 do CPC e indicar os três elementos da ação: as partes, o pedido e a causa de pedir. 19 o rescisão pode englobar a decisão toda, ou apenas um dos seus capítulos, caso em que somente estes serão substituídos pela nova decisão. o a causa de pedir deve corresponder a uma ou mais das hipóteses do art. 966. CAUÇÃO o art. 968, II, obriga o autor a “depositar a importância de 5% (até o limite de 1.000 salários mínimos) sobre o valor da causa, que se converterá em multa, caso a ação seja, por unanimidade de votos, declarada inadmissível ou julgada improcedente”. Sem o depósito, a inicial será indeferida. o caso a rescisória venha a ser julgada procedente, o dinheiro será restituído ao autor. também haverá restituição se o resultado lhe for desfavorável, mas não por unanimidade de votos. o não haverá restituição em caso de desistência ou de extinção por abandono. o quando o autor for o Ministério Público, pessoa jurídica de direito público, Defensoria Pública ou beneficiário da justiça gratuita, não haverá necessidade de caução. TUTELA PROVISÓRIA o Art. 969 - A propositura da ação rescisória não impede o cumprimento da decisão rescindenda, ressalvada a concessão de tutela provisória. o para o deferimento da tutela de urgência é indispensável a plausibilidade do pedido de rescisão e o risco de prejuízo irreparável ou de difícil reparação, caso o cumprimento da decisão não seja suspenso. 20 CITAÇÃO E DEFESA o estando em termos a inicial, o relator determinará a citação dos réus, assinalando-lhes o prazo nunca inferior a quinze nem superior a trinta dias para, querendo, apresentar resposta. o feita pelos meios previstos em lei. o se os réus forem revéis, não haverá a presunção de veracidade decorrente da revelia, uma vez que já existe sentença transitada em julgado. A INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO o só intervirá na ação rescisória como fiscal da ordem jurídica quando preenchidos os requisitos da sua intervenção. DO JULGAMENTO o depois de colhidas as manifestações das partes e do Ministério Público, quando for o caso de sua intervenção, a ação rescisória será julgada, na forma do art. 974 do CPC. o cumprirá ao tribunal, em caso de procedência, rescindir a decisão (juízo rescindente) e, se for o caso, promover o novo julgamento (juízo rescisório). o a competência para proferir o juízo rescisório é do mesmo órgão que fez o juízo rescindente, não importando que a rescisão seja de sentença ou de acórdão. CABE RECURSO DO ACÓRDÃO QUE JULGAR A RESCISÓRIA? o Se ele padecer de erro material, obscuridade, omissão ou contradição, cabem embargos de declaração; e o eventual recurso extraordinário ou especial, nos casos dos arts. 102, III, e 105, III, da CF. 21 CABE RESCISÓRIA DE RESCISÓRIA? o Se a ação rescisória for julgada pelo mérito, e o acórdão padecer de algum dos vícios enumerados no art. 966 do CPC, será possível ajuizar rescisória da rescisória. Exemplo: pode ocorrer que, por em equívoco, o Tribunal reconheça a existência de decadência e julgue a rescisória extinta, com resolução de mérito. Mais tarde, se verifique que houve erro na contagem do prazo. Será possível rescindir o acórdão proferido na primeira rescisória. PRAZO o 2 ANOS o É decadencial o “o direito à rescisão se extingue em dois anos contados do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo”. Súmula 401 do Superior Tribunal de Justiça acrescenta que “o prazo decadencial da ação rescisória só se inicia quando não for cabível qualquer recurso do último pronunciamento judicial”. o Há duas exceções ao prazo de dois anos a contar do trânsito em julgado da última decisão: a hipótese do art. 966, VII, em que o prazo será contado da data da descoberta da prova nova, observado o prazo máximo de cinco anos contado do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo; e a hipótese de simulação ou colusão, em que o prazo da rescisória para o terceiro prejudicado e para o Ministério Público, que não interveio no processo, correrá a partir do momento em que ambos têm ciência da simulação ou colusão. 22 D) DOS OUTROS MECANISMOS DE IMPUGNAÇÃO DAS SENTENÇAS TRANSITADAS EM JULGADO Há dois outros mecanismos, além da rescisória, pelos quais se pode impugnar uma sentença transitada em julgado. AÇÃO ANULATÓRIA OU DECLARATÓRIA DE NULIDADE (art. 966, § 4º, do CPC) o cabe contra os atos de disposição de direitos, praticados pelas partes ou por outros participantes do processo e homologados pelo juízo, bem como os atos homologatórios praticados no curso da execução. o sempre que a sentença for apenas de homologação, como ocorre quando há acordo entre os litigantes, a ação rescisória não será o mecanismo adequado para impugnação, mas as ações anulatórias ou declaratórias de nulidade, previstas para os atos jurídicos em geral. o a sentença é proferida apenas para extinguir o processo, mas não é ela que confere obrigatoriedade ao acordo. o que deve ser rescindido não é a sentença, mas o ato de disposição de direito homologado. Ou seja, o objeto da rescisão é a transação, ou ato de disposição dos litigantes. como a transação ou disposição é negócio jurídico civil, a rescisão opera-se na forma da lei civil, que prevê hipóteses de nulidade ou anulabilidade dos atos jurídicos em geral. o DAS DECISÕES QUE RECONHECEM PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA depois do trânsito em julgado, exige-se ação rescisória, e não a anulatória ou declaratória, porque estas só cabem quando a intervenção do juízo é meramente homologatória, sem conteúdo decisório. 23 DAS AÇÕES DECLARATÓRIAS DE INEFICÁCIA o a ação rescisória cabe quando o processo ou a decisão contiver uma nulidade absoluta. o Superado o prazo, o vício que os contamina estaria sanado, pois até as nulidades absolutas têm um limite para serem alegadas. Mas tem-se admitido uma categoria de vícios mais graves, que não se sanariam nem com o transcurso in albis do prazo das ações rescisórias. Os processos e as decisões que os contenham seriam ineficazes. Não se trata de inexistência física ou material, pois a sentença foi proferida e pode estar produzindo efeitos, mas de ineficácia decorrente de um vício insanável,o que enseja não a ação rescisória, mas a declaratória de ineficácia, a querela nullitatis insanabilis, que, diferentemente daquela, não tem prazo. É proposta em primeiro grau de jurisdição, e não no tribunal, como a rescisória. Como não há unanimidade doutrinária sobre a admissão da ação declaratória, nem sobre os atos ineficazes, o STJ tem admitido certa fungibilidade entre as duas ações, isto é, tem autorizado o ajuizamento da rescisória, mesmo naquelas situações em que se poderia concluir pela falta de um pressuposto processual de eficácia, desde que ajuizada dentro do prazo decadencial. Encerrado o conteúdo previsto no Plano de Ensino de Direito Processual Civil II. Agradeço a paciência, dedicação e atenção ao longo de todo esse ano. Sucesso, meus amados e queridos estudantes. Prof. Kleber Galerani