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LINDB - LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO À LINDB (ART. 1º AO 3º) ..........................................................................3 Vigência da Lei .....................................................................................................................................................................3 2. APLICAÇÃO E INTEGRAÇÃO DA NORMA JURÍDICA ..................................................5 Características Básicas de uma Lei .............................................................................................................................5 Formas de Integração ........................................................................................................................................................5 3. APLICAÇÃO DA NORMA JURÍDICA NO TEMPO ........................................................... 7 Produção de Efeitos da Norma Jurídica .....................................................................................................................7 Direito adquirido ...............................................................................................................................7 4. APLICAÇÃO DA NORMA JURÍDICA NO ESPAÇO .........................................................9 Questões de Direito Internacional .................................................................................................................................9 5. ANTINOMIAS JURÍDICAS .............................................................................................13 Conceito ................................................................................................................................................................................. 13 Critérios de Solução .......................................................................................................................................................... 13 Exemplos: .............................................................................................................................................................................. 14 6. ALTERAÇÕES DA LEI 13.655/2018 .............................................................................15 Valor Jurídico ....................................................................................................................................................................... 15 Invalidação de Ato .............................................................................................................................................................. 15 Normas de Gestão Pública ............................................................................................................................................ 16 Regime de Transição ........................................................................................................................................................ 16 Revisão de Validade de Ato ............................................................................................................................................ 16 Aplicação de Direito Público ...........................................................................................................................................17 Compensação por Benefícios .......................................................................................................................................17 Segurança Jurídica ........................................................................................................................................................... 18 www.trilhante.com.br 3 1. Introdução à LINDB (art. 1º ao 3º) Antigamente, a LINDB era chamada Lei de Introdução ao Código Civil, ou LICC, promulgada pelo Decreto-Lei Nº 4.657 de 1942. Nesse contexto, a LICC/42 era tratada como um conjunto de normas de introdução ao Direito Civil/Privado. Contudo, as normas do referido texto legal não tratavam apenas de direito privado. Mais se encaixavam numa teoria geral do direito do que no ramo do direito civil. Por essa razão, foi promulgada a Lei nº 12.376 de 2010 ou Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. A LINDB é composta por apenas 30 artigos nos quais aborda a vigência da lei, a aplicação da norma jurídica no tempo e no espaço, fontes do direito, etc. Vigência da Lei O direito brasileiro é filiado ao sistema jurídico da Civil Law, de origem romano-germânica, no qual a lei é a fonte primária de todo o sistema jurídico. Atualmente, existe um pro- cesso de valorização da jurisprudência, ou seja, do conjunto das decisões e intepreta- ções dos tribunais superiores, ao adaptarem-se as normas às situações de fato. Ainda assim, a lei segue sendo a fonte primária do direito brasileiro. Art. 1º. Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada. § 1° Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada. § 2º (Revogado pela Lei nº 12.036, de 2009). § 3º Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação. § 4º As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. Portanto, é possível que a lei não comece a vigorar quarenta e cinco dias depois de publicada, mas antes ou depois, desde que expressamente disposto no texto legal. A contagem desse prazo dá-se a partir da data da publicação e do último dia do prazo, entrando a lei em vigor no dia subsequente ao dia do fim do prazo. EXEMPLO: Uma lei é publicada no Diário Oficial da União, do dia 24 de Agosto de 2017, com previsão de entrada em vigor 45 dias após publicação. Contando-se o dia da publicação (24/04/2017) e o último dia (07/06/2017), a lei começará a vigorar no dia 08/06/2017. www.trilhante.com.br 4 PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE No art. 2 da LINDB está consagrado o princípio da continuidade da lei. Art. 2°. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. § 1° A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. § 2° A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. § 3° Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. A lei posterior revoga a anterior • quando determina isto expressamente, • quando contraria de algum modo a lei anterior ou, ainda, • quando regula inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. ATENÇÃO: Salvo disposição em contrário, a lei revogada não volta com a extinção da lei que revogou a sua vigência! Assim, se uma lei A revogou a lei B, a lei B não volta a vigorar por caso a lei A perca sua vigência, a não ser por disposição expressa. Excepcionalmente, a lei revogada voltará a viger quando a lei posterior for declarada inconstitucional ou quando for concedida a suspensão cautelar da norma impugnada. A maneira mais comum para se retirar a eficácia de uma norma jurídica é a REVOGAÇÃO. A revogação de uma lei pode ser: • Revogação total, ou ab-rogação: neste caso, a norma perde totalmente seu efeito. Ex.: Código Civil de 2002, revogou o Código Civil de 1916. • Revogação parcial, ou derrogação: neste caso, uma lei torna sem efeito parte de uma lei anterior. Além disso, a revogação pode também ser expressa, quando a lei posterior expressamente revogar a anterior ou tácita, quando a lei posterior for simplesmente incompatível com a anterior. www.trilhante.com.br 5 2. Aplicação e Integração da Norma Jurídica Características Básicas de uma Lei • Generalidade: a norma jurídica dirige-se a todos os cidadãos sem qualquer distinção.• Imperatividade: impõe deveres e condutas aos cidadãos. • Permanência: perdura até que seja revogada ou perca a eficácia. • Competência: tem que ser emanada por autoridade competente e ter seguido um processo de elaboração. • Autorizante: autoriza certas condutas do indivíduo. • Obrigatoriedade: ninguém pode deixar de cumprir a lei dizendo que não a conhece ou não sabia de sua existência. Isto não é absoluto, há o erro de direito: por exemplo, é admitido vício substancial na realização do negócio jurídico quando houve claro erro de direito se este erro não consistiu em recusa a aplicação da lei e se for o único ou principal motivo do negócio jurídico celebrado. Formas de Integração O ordenamento jurídico não é perfeito, de modo que muitas vezes as leis são omissas, deixando lacunas. Assim, para decidir-se, o juiz deve fazer uso de formas de integração da norma jurídica. Assim dispõe o Art. 4 da LINDB. Art. 4°. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. ANALOGIA Aplicação de uma norma próxima ou de um conjunto de normas próximas, se não houver norma aplicável ao caso Ex.: o Art. 499 do Código Civil/2002 refere-se exclusivamente ao casamento mas se aplica, por analogia, aos companheiros em união estável. Analogia e interpretação extensiva são conceitos que não se confundem. A analogia é o preenchimento de uma lacuna por meio da comparação da situação em tela com outra situação legalmente prevista. Assim, amplia-se o sentido da norma para alcançar uma situação distinta daquela prevista. Já a interpretação extensiva é a extensão do sentido da lei realizada pelo aplicador do direito para dar mais sentido à norma, conforme as situações para que foi criada. Exemplo de interpretação extensiva são as causas de suspeição do juiz (art. 254, CPP), nas quais deve se incluir também o jurado, afinal, trata-se de um magistrado, ainda que leigo. www.trilhante.com.br 6 Importante, ainda, lembrar que nem todas as normas são passíveis da aplicação de analo- gia ou interpretação extensiva. Normas que restringem a autonomia privada e liberdade da pessoa humana não podem ser objeto de analogia ou de interpretação extensiva PRINCÍPIOS São regras de conduta expressas, ou não, no ordenamento jurídico que servem para nortear o juiz na aplicação da norma, do ato ou do negócio jurídico. De maneira geral, os princípios não se encontram positivados no sistema normativo. A função social do contrato é um exemplo de princípio que se encontra explícito no Código Civil/2002, mas que se aplica, também, ao Código de Defesa do Consumidor e à Consolidação da Leis de Trabalho (CLT), ainda que não se encontre expressamente em nenhuma das duas leis. EQUIDADE Pode ser entendida como o bom senso necessário ao juiz ao julgar. É o julgamento feito com base na sincera convicção daquilo que é justo. Importante pontuar que é distinto julgar com ou por equidade: julgar com equidade tra- ta-se disto que explicamos. Significa decidir-se com a justiça do caso concreto, ainda que utilizando-se do regulamento jurídico; Julgar por equidade significa julgar sem considerar as regras jurídicas, mas considerando outras regras e o bom senso. Em muitos ramos, a equidade é uma fonte do direito, a exemplo do direito do trabalho e do direito do consumidor. COSTUMES São práticas comuns, reiteradas, que possuem conteúdo jurídico relevante e lícito. Podem ser classificados em: • Costumes segundo a lei - têm previsão expressa no texto legal. Ex.: art. 187 do CC. • Costumes na falta da lei - são aqueles aplicados quando a lei for omissa. Ex.: reconhecimento do cheque pré-datado. • Costumes contra a lei – que não são e não podem ser admitidos pelo direito. www.trilhante.com.br 7 3. Aplicação da Norma Jurídica no Tempo Produção de Efeitos da Norma Jurídica A norma jurídica, em regra, é criada para valer para o futuro, não voltando-se ao passado. Contudo, em alguns casos, a norma jurídica criada pode também atingir fatos passados, desde que respeitados certos parâmetros e princípios. Conforme o Art. 5º, XXXVI da Constituição Federal/98, a lei promulgada não poderá prejudicar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Já o Art. 6º da LINDB prevê: Art. 6º. A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. § 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. § 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso. Direito adquirido Direito adquirido é o conceito mais amplo dentre os três, englobando os outros. É que, no ato jurídico perfeito e na coisa julgada (a qual já transitou em julgado), já há direitos consolidados. Essa proteção aos atos jurídicos perfeitos, aos direitos adquiridos e às coisas julgadas, contudo, não é absoluta. No caso de ação de investigação de paternidade julgada improcedente antes da existência do exame de DNA, por exemplo, desconsidera-se a coisa julgada, visto que, nesse caso, a aplicação absoluta da norma geraria prejuízos ao investigando. Ora, a coisa julgada nessa hipótese não é absoluta, sendo possível nova ação! Outro exemplo está no Art. 2.035 do CC/2002, no qual se consagra o princípio da retroatividade justificada: Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução. www.trilhante.com.br 8 Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos. Concluindo, a proteção do direito adquirido, que é um dos pilares da segurança jurídica, se levada ao pé da letra, engessa todo o ordenamento jurídico. Por isso, é essencial a ponderação de valores e princípios para verificar se o direito adquirido deve ser relativizado. www.trilhante.com.br 9 4. Aplicação da norma jurídica no espaço Questões de Direito Internacional Ainda na LINDB, os Arts. 7º ao 19º vão inserir-se na área do direito internacional, tanto público quanto privado. As regras dispostas adiante vão tratar da competência concorrente no âmbito internacional em diversas questões de direito, isto é, fixar direcionamentos para a solução de lides que envolvam pessoas de diferentes nacionalidades, a aplicação de diferentes ordenamentos ou, ainda, questões de ordem pública. DIVÓRCIO Art. 7º. A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família. § 1° Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração. § 2° O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes. § 3° Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal. § 4° O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal. § 5° O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros e dada estaadoção ao competente registro. § 6° O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem brasileiros, só será reconhecido no Brasil depois de 1 (um) ano da data da sentença, salvo se houver sido antecedida de separação judicial por igual prazo, caso em que a homologação produzirá efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das sentenças estrangeiras no país. O Superior Tribunal de Justiça, na forma de seu regimento interno, poderá reexaminar, a requerimento do interessado, decisões já proferidas em pedidos de homologação de sentenças estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os efeitos legais. § 7° Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-se ao outro cônjuge e aos filhos não emancipados, e o do tutor ou curador aos incapazes sob sua guarda. § 8° Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de sua residência ou naquele em que se encontre. O parágrafo 6º deste artigo é alvo de muitas críticas pois, depois da emenda constitucional nº 66 de 2010, a separação judicial e os prazos mínimos para o divorcio foram banidos do sistema jurídico nacional. O uso do termo “chefe de família”, no parágrafo 7º, também é, e deve ser, alvo de objeções, visto que a Constituição Federal de 1989 e o Código Civil de 2002 aboliram esse termo (pois que representa um conceito já ultrapassado) do direito de família brasileiro. www.trilhante.com.br 10 BENS Art. 8°. Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados. § 1° Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens moveis que ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares. § 2° O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se encontre a coisa apenhada. No caso do transporte de bens moveis, será aplicada lei do pais do proprietário. Já o penhor, regula-se pelo domicilio da pessoa que tiver posse da coisa penhorada. OBRIGAÇÕES Art. 9°. Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem. § 1° Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato. § 2° A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente. Resumidamente, será observada a lei do país onde se constituíram as obrigações. Os dois parágrafos do artigo regem as duas exceções existentes: a primeira diz respeito às obrigações a serem cumpridas no Brasil que dependem de forma essencial, como escritura pública, por exemplo; já a exceção de que trata o segundo artigo diz que a obrigação resultante do contrato será considerada constituída no lugar em que residir o proponente. O parágrafo 2º do Art. 9 º da LINDB confronta-se com o Art. 435 do Código Civil que diz que será considerado celebrado o contrato onde ele foi proposto. Para resolver essa questão, leva-se em consideração o princípio da especialidade, assim, deve-se utilizar o Código Civil/2002 no caso de contratos nacionais, e o artigo da LINDB deve ser aplicado aos contratos internacionais. MORTE Art. 10°. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens. § 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus. § 2° A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder. www.trilhante.com.br 11 ORGANIZAÇÕES - SOCIEDADES E FUNDAÇÕES Art. 11. As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e as fundações, obedecem à lei do Estado em que se constituírem. § 1° Não poderão, entretanto ter no Brasil filiais, agências ou estabelecimentos antes de serem os atos constitutivos aprovados pelo Governo brasileiro, ficando sujeitas à lei brasileira. § 2° Os Governos estrangeiros, bem como as organizações de qualquer natureza, que eles tenham constituído, dirijam ou hajam investido de funções públicas, não poderão adquirir no Brasil bens imóveis ou susceptíveis de desapropriação. § 3° Os Governos estrangeiros podem adquirir a propriedade dos prédios necessários à sede dos representantes diplomáticos ou dos agentes consulares. COMPETÊNCIA DA AUTORIDADE JUDICIÁRIA BRASILEIRA Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação. § 1° Só à autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações relativas a imóveis situados no Brasil. § 2° A autoridade judiciária brasileira cumprirá, concedido o exequatur e segundo a forma estabelecida pele lei brasileira, as diligências deprecadas por autoridade estrangeira competente, observando a lei desta, quanto ao objeto das diligências. Assim, haverá atuação da autoridade judiciária brasileira quando o réu for domiciliado no brasil, ou aqui for ser cumprida a obrigação. Os contratos cuja obrigação será cumprida no Brasil são de competência do juízo brasileiro, por exemplo. No caso de imóvel situado no Brasil, é exclusiva a competência da autoridade judiciária brasileira. FATOS OCORRIDOS NO EXTERIOR E ÔNUS DA PROVA Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei brasileira desconheça. Art. 14. Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir de quem a invoca prova do texto e da vigência. Acerca das provas, deve ser aplicada norma do país onde ocorreram os fatos. Nao serão aceitas, no Brasil, provas desconhecidas ou que não foram aceitas no país dos fatos. Ainda, se o juiz desconhece as normas do país estrangeiro de ocorrência dos fatos, pode exigir que a pessoa explique a norma, bem como que prove a existência das normas que afirma existir. EXECUÇÃO DE SENTENÇAS ESTRANGEIRAS NO BRASIL Para que seja possível a execução de sentenças estrangeiras no Brasil, faz-se necessário: www.trilhante.com.br 12 1. Que tenha sido julgada por juízo competente; 2. Que tenha sido realizada a citação ou que haja prova de revelia; 3. Que tenha passado em julgado, bem como pelas demais formalidades necessárias à execução no lugar em que foi proferida; 4. Que tenha sido traduzida por intérprete autorizado; 5. Que tenha sido homologada pelo STJ Se, nesses casos de execução de sentença estrangeira, tiver que ser aplicada a lei estrangeira, será observada esta lei, não sendo válida qualquer remissão que se faça a qualquer outra lei. Por último, acerca do tema, prevê o Art. 17 da LINDB: Art. 17.As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes. Acerca dos casamentos realizados no exterior, prevê o Artigo 18: Art. 18. Tratando-se de brasileiros, são competentes as autoridades consulares brasileiras para lhes celebrar o casamento e os mais atos de Registro Civil e de tabelionato, inclusive o registro de nascimento e de óbito dos filhos de brasileiro ou brasileira nascido no país da sede do Consulado. (Redação dada pela Lei nº 3.238, de 1957) § 1º As autoridades consulares brasileiras também poderão celebrar a separação consensual e o divórcio consensual de brasileiros, não havendo filhos menores ou incapazes do casal e observados os requisitos legais quanto aos prazos, devendo constar da respectiva escritura pública as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns e à pensão alimentícia e, ainda, ao acordo quanto à retomada pelo cônjuge de seu nome de solteiroou à manutenção do nome adotado quando se deu o casamento. (Incluído pela Lei nº 12.874, de 2013) Vigência § 2º É indispensável a assistência de advogado, devidamente constituído, que se dará mediante a subscrição de petição, juntamente com ambas as partes, ou com apenas uma delas, caso a outra constitua advogado próprio, não se fazendo necessário que a assinatura do advogado conste da escritura pública. ATENÇÃO: Como citado anteriormente, não existem mais, no ordenamento jurídico pátrio, nem prazos, nem a separação judicial. Por fim, ainda, a LINDB esclarece que são válidos todos os atos indicados neste artigo e celebrados pelos cônsules brasileiros na vigência do Decreto-Lei 4657/1942, a LICC, desde que se preencham todos os requisitos legais. www.trilhante.com.br 13 5. Antinomias Jurídicas Conceito A antinomia jurídica pode ser conceituada como a presença de duas normas conflitantes válidas e emanadas de autoridade competente, sem que se saiba qual deve ser aplicada ao caso concreto. A solução de conflitos entre normas não diz respeito à revogação. Critérios de Solução Para se solucionar a presença de antinomias jurídicas quando no caso concreto, existem alguns critérios -os chamados metacritérios- que foram formulados pelo professor Norberto Bobbio. São eles: 1. Critério Cronológico: a partir deste, uma norma posterior deve prevalecer sobre uma norma anterior. 2. Critério da especialidade: segundo este, uma norma específica prevalece sobre uma geral. 3. Critério hierárquico: uma norma superior prevalece sobre a norma inferior (Ex.: Constituição prevalece sobre norma ordinária). ATENÇÃO: Os metacritérios não têm a mesma força de aplicação. Enquanto o critério hierárquico é o mais forte deles, o critério cronológico é o mais fraco, sendo o critério da especialidade um intermediário entre os dois. A partir da formulação dos metacritérios, as antinomias passaram a ser classificadas: QUANTO AO GRAU: • Antinomias de primeiro grau: conflito de normas envolvendo um dos critérios; • Antinomias de segundo grau: conflito de normas envolvendo dois dos critérios. QUANTO À NATUREZA: • Antinomias aparentes: são aquelas antinomias cuja resolução pode se dar por meio da aplicação de um dos metacritérios; • Antinomias reais: aquelas que não podem ser resolvidas por meio dos metacritérios. www.trilhante.com.br 14 Exemplos: ANTINOMIAS DE PRIMEIRO GRAU APARENTE • Em um conflito entre uma norma posterior e uma anterior, pelo critério cronológico, vai prevalecer a norma posterior; • Em um conflito entre uma norma geral e uma especial, pelo critério da especialidade, vai prevale- cer a norma especial; • Em um conflito entre uma norma superior e uma inferior, pelo critério hierárquico, vai prevalecer a norma superior. ANTINOMIAS DE SEGUNDO GRAU APARENTE • Em um conflito entre uma norma especial anterior e uma norma geral posterior, aplica-se o critério da especialidade, prevalecendo a norma especial e anterior; • Em um conflito entre uma norma superior anterior e uma inferior posterior, pelo critério cronológi- co, vai prevalecer a posterior inferior. ATENÇÃO: O conflito entre uma norma geral superior e uma norma especial inferior é uma antinomia real. Nesse caso, não é possível estabelecer um metacritério geral e a doutrina se divide. Nesse caso, dois caminhos podem ser adotados pelo poder legislativo e pelo judiciário: o legislativo pode criar terceira norma falando qual das duas anteriores deve ser aplicada; já o judiciário pode decidir adotando o princípio máximo da justiça: pode aplicar os art. 4 e 5 da LINDB usando uma das normas para resolver o caso concreto ou, ainda, o art. 8 do CPC/2015. www.trilhante.com.br 15 6. Alterações da Lei 13.655/2018 Valor Jurídico Iniciando as alterações trazidas pela Lei 13.655/18, temos a adição do art. 20, que veda a utilização de valores jurídicos abstratos como fundamentação das decisões nas diversas esferas do Poder Público. A preocupação do artigo é garantir uma fundamentação adequada para a decisão, cumprindo com princípios constitucionais. Vejamos: Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão. Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta ou da invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face das possíveis alternativas. O parágrafo único consolida o princípio básico da motivação das decisões judiciais, evitando que os conflitos sejam resolvidos pela parcialidade ou pessoalidade. A motivação busca garantir que as decisões judiciais sejam adequadas ao caso e cumprar com as bases do interesse público. Invalidação de Ato Quando se trata da aplicação da lei, também é necessário avaliar as hipóteses em que um ato jurídico cumpre com os seus requisitos de validade. A LINDB traz um dispositivo onde a declaração de nulidade dos atos se vincula também ao princípio da motivação, mas adiciona principalmente a necessidade de descrever as consequências jurídicas dessa nulidade. Vejamos: Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas consequências jurídicas e administrativas. A preocupação com a proporcionalidade também é evidente, já que as condições de regularização dos atos não pode ser excessivamente onerosa para o sujeito nem prejudicar os interesses gerais ou o interesse público. Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o caso, indicar as condições para que a regularização ocorra de modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos interesses gerais, não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos. www.trilhante.com.br 16 Normas de Gestão Pública Basicamente, o art. 22 trata da interpretação de normas que impõem sanções relacionadas à Gestão pública. Sobre esse ponto, vale comentar que as circunstâncias do exercício da função pública são levadas em conta. Isso quer dizer que a posição de servidor público acarreta uma certa exposição e dificuldade específica, exigindo maior cuidado na análise das condutas. É importante observar cautelosamente as condutas porque muitos dos atos de servidores na Administração pública podem gerar responsabilização penal além das consequências administrativas. Portanto, a norma impõe a análise dos aspectos práticos de cada conduta, a gravidade real das infrações cometidas e os danos gerados. Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos administrados. § 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, serão consideradas as circunstâncias práticas que houverem imposto, limitado ou condicionado a ação do agente. § 2º Na aplicação de sanções, serão consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que dela provierem para a administração pública, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes do agente. § 3º As sanções aplicadas ao agente serão levadas em conta na dosimetria das demais sanções de mesma natureza e relativas ao mesmo fato. Regime de Transição A interpretação ou orientação nova sobre determinado tema pode gerar sanção ou punição de maneira inesperada para os administrados, portanto é necessário que seja estabelecido um período de transição para que os sujeitos afetados pelo ordenamento adaptem-se às mudanças sem grande onerosidade. Art. 23. A decisão administrativa, controladora ou judicial que estabelecer interpretação ou orientação nova sobre norma de conteúdo indeterminado, impondonovo dever ou novo condicionamento de direito, deverá prever regime de transição quando indispensável para que o novo dever ou condicionamento de direito seja cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente e sem prejuízo aos interesses gerais. Revisão de Validade de Ato Os atos jurídicos como os contratos, os ajustes ou as normas administrativas já produzidos podem passar por revisão quanto à sua validade, observando o disposto no art. 24 da LINDB quanto às orientações gerais da época. Basicamente, uma interpretação posterior advinda de ato público ou jurisprudência não pode invalidar situações plenamente constituídas. www.trilhante.com.br 17 Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção já se houver completado levará em conta as orientações gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança posterior de orientação geral, se declarem inválidas situações plenamente constituídas. Parágrafo único. Consideram-se orientações gerais as interpretações e especificações contidas em atos públicos de caráter geral ou em jurisprudência judicial ou administrativa majoritária, e ainda as adotadas por prática administrativa reiterada e de amplo conhecimento público. Aplicação de Direito Público Trazendo uma certa flexibilização na aplicação do Direito Público, usualmente regido pelo princípio da estrita legalidade, a LINDB prevê a celebração de compromisso com os interessados em atos administrativos com a finalidade de eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa. Tal compromisso deve atender aos interesses gerais, de forma eficiente e proporcional ao conflito encontrado. Vale comentar que a celebração deste compromisso não equivale à uma exoneração completa de deveres ou responsabilidades, mas apenas representa uma solução jurídica adequada. Por fim, o artigo em questão ressalta que o acordo realizado deve ter clareza e estabelecer corretamente as obrigações das partes, os prazos pertinentes e as sanções aplicáveis em caso de descumprimento. Art. 26. Para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na aplicação do direito público, inclusive no caso de expedição de licença, a autoridade administrativa poderá, após oitiva do órgão jurídico e, quando for o caso, após realização de consulta pública, e presentes razões de relevante interesse geral, celebrar compromisso com os interessados, observada a legislação aplicável, o qual só produzirá efeitos a partir de sua publicação oficial. § 1º O compromisso referido no caput deste artigo: I - buscará solução jurídica proporcional, equânime, eficiente e compatível com os interesses gerais; III - não poderá conferir desoneração permanente de dever ou condicionamento de direito reconhecidos por orientação geral; IV - deverá prever com clareza as obrigações das partes, o prazo para seu cumprimento e as sanções aplicáveis em caso de descumprimento. Compensação por Benefícios Tratando de um tema menos complexo, o art. 27 da LINDB aborda a compensação devida à Administração por conta de benefícios indevidos percebidos pelos envolvidos ou até mesmo prejuízos causados no processo. www.trilhante.com.br 18 A decisão necessita de fundamentação e o compromisso entre os envolvidos é lícito. Art. 27. A decisão do processo, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, poderá impor compensação por benefícios indevidos ou prejuízos anormais ou injustos resultantes do processo ou da conduta dos envolvidos. § 1º A decisão sobre a compensação será motivada, ouvidas previamente as partes sobre seu cabimento, sua forma e, se for o caso, seu valor. § 2º Para prevenir ou regular a compensação, poderá ser celebrado compromisso processual entre os envolvidos. Segurança Jurídica Como ponto importante final, a LINDB trata da segurança jurídica e da responsabilização dos magistrados por dolo ou erro grosseiro. A importância destes dispositivos está na tentativa de garantir maior previsibilidade aos segurados e permitir a edição de orientações de interpretação sobre a lei, por meio de súmulas. Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em caso de dolo ou erro grosseiro. Art. 30. As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica na aplicação das normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas administrativas e respostas a consultas. Parágrafo único. Os instrumentos previstos no caput deste artigo terão caráter vinculante em relação ao órgão ou entidade a que se destinam, até ulterior revisão. www.trilhante.com.br /trilhante /trilhante /trilhante LINDB - Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro http://www.facebook.com/trilhante http://www.instagram.com/trilhante http://www.facebook.com/trilhante http://instagram.com/trilhante http://www.youtube.com/trilhante