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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica Tatuagem: Um estudo toxicológico das tintas e da sua remoção Daniel Hiroshi Nakamura Devidis Trabalho de Conclusão do Curso de Farmácia-Bioquímica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo. Orientador: Prof. Dr. Mauricio Yonamine São Paulo 2019 SUMÁRIO Pág. LISTA DE ABREVIATURAS ................................................................... 1 RESUMO ...................................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ............................................................................. 5 1.1 História da tatuagem ........................................................ 1.2 Onde fica depositado a tinta de tatuagem na pele .................... 1.3 Riscos da tatuagem .......................................................... 2 OBJETIVOS ................................................................................ 3 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................. 3.1 Estratégia de pesquisa ...................................................... 3.2 Critérios de inclusão ........................................................ 3.3 Critérios de exclusão ........................................................ 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................... 4.1 Tipos de riscos ................................................................ 4.1.1 Fototoxicidade ...................................................... 4.1.2 Risco de reações graves a tinta .................................. 4.2 Como a tinta de tatuagem é vista pelos órgãos reguladores ........ 4.3 Sobre a tinta de tatuagem .................................................. 4.4 Motivos para retirar a tatuagem .......................................... 4.5 Histórico e métodos de remoção de tatuagem ......................... 4.5.1 Métodos mecânicos ................................................ 4.5.2 Métodos químicos .................................................. 4.5.2.1 Relato de caso: remoção com fenol ................. 4.5.3 Métodos térmicos .................................................. 4.6 Toxicologia da remoção da tatuagem .................................... 5 CONCLUSÃO ............................................................................... 6 BIBLIOGRAFIA ............................................................................. 5 7 7 8 8 8 9 9 9 9 9 11 11 13 18 19 20 20 21 22 24 30 32 1 LISTA DE ABREVIATURAS 1,4-DCB 1,4- diclorobenzeno 2,5-DCA 2,5- dicloroanilina 2,5-MNA 2–metil-5-nitroanilina 4-NT 4- nitrotolueno ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária CFU Unidade formadora de colônias (do inglês, Colony Forming Unit) FDA Food and Drug Administration HPLC Cromatografia líquida de alta performance (do inglês, High Performance Liquid Chromatography) IARC International Agency for Research on Cancer ISO International Organization for Stardardization NBR Norma Brasileira Nd YAG Neodímio granada de ítrio e alumínio (do inglês, neodymium-doped yttrium aluminium garnet) PAHs Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (do inglês, polycyclic aromatic hydrocarbons) PR 22 Pigmento vermelho 22 (do inglês, Pigment Red 22) PY 74 Pigmento amarelo 74 (do inglês, Pigment Yellow 74) RDC Resolução de diretoria colegiada SED Dose eritemal padrão SSL Radiação solar simulada THF Tetraidrofurano UV Ultravioleta 2 3 RESUMO DEVIDIS, D. H. N. Tatuagem: Um estudo toxicológico das tintas e da sua remoção. 2019. no. 19f. Trabalho de Conclusão de Curso de Farmácia- Bioquímica – Faculdade de Ciências Farmacêuticas – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019. Palavras-chave: Tatuagem. Tinta. Remoção. Toxicidade. Fotodecomposição. A tatuagem é uma prática adotada mundialmente e representa um importante fenômeno socio cultural. Foi adotada por centenas de anos, assumindo diferentes significados de país para país. A tatuagem tem sido utilizada para expressar não apenas um simples ornamento de corpo da moda, mas com o aumento da popularidade, tem sido verificado aumento no potencial de complicação e eventos adversos. Há risco de transmissão de hepatite B, de hepatite C e do vírus da imunodeficiência humana. Há também o relato de reações alérgicas aos pigmentos empregados, relatos de presença de metais pesados na tinta, e o registro de reações no momento da retirada das tatuagens. A quebra das partículas dos pigmentos gera produtos de decomposição, que se mostram tóxicos ou até cancerígenos. Os objetivos deste trabalho foram apresentar os riscos da tatuagem, da tinta e da remoção para esclarecer uma maior ciência do assunto. A revisão bibliográfica foi realizada utilizando bases de dados eletrônicos e os artigos selecionados, seguiram critérios de inclusão e exclusão pré-definidos, resultando em 20 artigos. Estudos mostraram que uso de pigmento amarelo 74 como pigmento em tintas de tatuagem pode resultar em um risco aumentado de toxicidade no local da tatuagem a partir de produtos de fotodecomposição deste pigmento. Grande quantidade de carbono preto e compostos adicionais, como os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, um potencial genotóxico, podem ser encontrados na pele tatuada e linfonodo regional mesmo após anos da realização da tatuagem. Entende-se que a tatuagem não pode ser considerada uma prática totalmente segura mas em relação à riscos de contaminação cruzada, há meios que que ajudem a diminuir riscos de contaminação; em relação às tintas, devemos cobrar dos fabricantes para que possam fornecer produtos de maior segurança. 4 5 1 INTRODUÇÃO 1.1 História da tatuagem A prática da ornamentação da pele é um hábito tão antigo quanto a civilização, tendo sido encontrada em múmias do período entre 2000 e 4000 a.C. [7], outros encontram a tatuagem presente na humanidade pelo menos desde o final do período neolítico, com espécimes encontrados em 3300-3200 a.C. [1]. A tatuagem é uma forma de arte que tem existido por muitos milhares de anos. Referências a tatuagem pode ser encontradas em antigas escritas do Egito, Mesopotâmia, China, Japão e Oceania [6]. A prática da tatuagem tem sido adotada por vários séculos pelo mundo todo assumindo diferentes significados de um século para outro. Tatuagem tem sido utilizado para expressar não apenas um ornamento moderno mas também uma filiação à grupos socioculturais particulares [2], ligações com tribos, identificação social e expressão artística pessoal [6]. Tatuagens mais antigas foram provavelmente derivadas de fuligem ou carvão com inclusão ocasional de minerais ou produtos vegetais disponíveis localmente [14]. Não se sabe ao certo sua origem. Alguns autores acreditam que ela possa ter surgido em várias partes do globo, de forma independente; outros creem que ela tenha sido difundida pelo mundo com as grandes navegações dos países europeus [7]. O termo tatuagem deriva do taitiano “tau” ou “tatau”, que significa “ferida, desenho batido”. Trata-se de uma onomatopeia relacionada ao som produzido pelo instrumento utilizado para bater no tronco oco [7]. O termo inglês tattoo foi introduzido pelo explorador inglês James Cook quando de seu retorno à Europa, em julho de 1769. Posteriormente, foi traduzido para outras línguas [7]. Apesar da longa história da tatuagem tanto no leste e oeste, Capitão James Cook frequentemente recebe os créditos com a descoberta da tatuagem no século XVIII durante sua expedição no Pacífico. No Taitiem 1769 e Havaí em 1778, Cook encontrou uma população densamente tatuada que depositava corante na pele pela batida de instrumentos afiados [5]. 6 Na Europa e Estados Unidos, tatuagem era anteriormente uma moda marginal, serviam de uma marca para tribos como marinheiros e soldados [1]. Na Europa, a prática da tatuagem era predominante entre os marinheiros e outros membros da classe trabalhadora a partir do início do século XX. Mais tarde, tatuagens atribuiu afiliações a certos grupos, como os motociclistas ou presos. Na década de 1980, o movimento punk e o gay adotaram uma modificação corporal invasiva, principalmente como um protesto contra as normas da sociedade conservadoras da classe média [13]. Na contemporaneidade, a tatuagem adquiriu uma nova forma de ser assumida e de ser praticada socialmente. É cada vez mais frequente e corriqueiro ver corpos tatuados em distintos setores sociais, sem restrições (ou poucas existindo) de gênero, idade ou status. É evidente que a tatuagem deixou de ser uma prática exclusiva da marginalidade e começou a inserir-se em novos contextos sociais, ganhando outros significados [9]. Muitos indivíduos fazem a sua primeira tatuagem nas idades de 16-20 anos e com até 36% das pessoas com menos de 40 anos tendo pelo menos uma tatuagem [1]. Em alguns casos eles são realizados por médicos profissionais para razões médicas. Por exemplo, tatuagem são usadas efetivamente para técnicas de camuflagem em algumas condições patológicas de pele (e.g. alopecia), em mascarar cicatrizes, ou em plástica, reconstrutiva, cirurgia maxilofacial (e.g. reconstrução da auréola do mamilo e lábio leporino) [3], para corrigir características indesejáveis após lesão traumática da pele (e. g. após queimaduras ou cirurgia) ou para corrigir condições indesejadas da pele (e.g. vitiligo) [6], como cobertura permanente para pele descolorida ou desfigurada [4]. Outros adquiriram tatuagens cosméticas em sobrancelhas, lábios e bochechas como maquiagem definitiva [4]. Tendências sociais e culturais atuais continuam a popularizar a tatuagem, e um número crescente de adolescentes está adquirindo tatuagens [4]. 7 1.2 Onde fica depositado a tinta de tatuagem na pele Tatuagem é o método de usar a agulha ou algum outro objeto afiado para forçar sólidos coloridos suspensos através da epiderme para a derme. A deposição dermal do material é importante para a longevidade da tatuagem e, em humanos, o pigmento da tatuagem é tipicamente depositada na primeira metade ou a um terço da derme [6]. Este processo garante que o pigmento não possa ser removido e simultaneamente o organismo é exposto ao ingrediente na tatuagem colorida em uma via direta e por um tempo prolongado [2]. O material pigmentado na tinta de tatuagem pode ficar entre o espaço intersticial ou retirada pelas células dermais através da fagocitose [6]. Uma fração desconhecida do pigmento injetado é removida da pele através do sistema linfático. Como resultado, pigmentos de tatuagem podem ser encontrados nos gânglios linfáticos localizados próximos à tatuagem [12]. 1.3 Riscos da tatuagem Tatuar não é tão seguro quanto a maioria dos consumidores pensa [3]. Considerando o propósito decorativo das maiorias das tatuagens, o risco deveria ser minimizado para obter uma otimização da razão risco-benefício [3]. O principal risco associado a tatuagem era previamente más condições de higiene e associado ao risco de infecção [1]. Tatuar envolve ultrapassar a barreira da pele e isto carrega algum risco de infecção porque a superfície da pele não é estéril. Cerca de 1-5% das pessoas tatuadas têm infecções bacterianas após receberem uma tatuagem. Estas infecções podem ser locais e superficiais ou mais severas como casos sistêmicos, com patógenos abrangendo específicas cepas de bactérias assim como comunidades multi bacterianas, fungos, vírus transmitidos pelo sangue como hepatite C, B ou HIV. Apesar da dificuldade de tratar, infecções com fungo e vírus são raros. Infecções bacterianas são mais proeminentes em relação a outras infecções, grupo A Staphylococcus spp (eg, Staphyloccus 8 aureus), Streptococcus spp (eg, Streptococcus pyogenes), micobactéria (não- tuberculosa e tuberculosa) e pseudomonas [1]. A esterilidade da tinta é um fator importante, como mais de 10% das tintas banidas apresentaram riscos microbiológicos [3]. As complicações associadas com a tatuagem incluem, fototoxicidade (pigmento amarelo), reações alérgicas (granulomatosa, liquenóide), reação pseudo linfomatosa e rejeição imunológica da tatuagem (reação atrasada de hipersensibilidade) [4]. 2. OBJETIVOS Este trabalho teve por objetivo elaborar uma revisão com a finalidade de abordar a composição das tintas de tatuagem, alertar sobre os riscos toxicológicos destas, comparar como a legislação em diferentes países regem a regularidade das tintas e diminuem os riscos da tatuagem, e também compreender e enfatizar os riscos da remoção da tatuagem. 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Estratégias de pesquisa A pesquisa bibliográfica foi realizada por bases de dados como Pubmed, UpToDate, Lilacs e Web of Sciente. Foram utilizadas na busca, as palavras-chave "tattoo", "toxicity", "ink", "pigment", "history", "photodecomposition", "phototoxicity", "removal", "laser", "Q-Switched" e seus correspondentes na língua portuguesa "tatuagem", "toxicidade", "tinta", "pigmento", "história", "fotodecomposição", "fotólise", "fototoxicidade", "remoção". 9 3.2. Critérios de inclusão A revisão compreende de artigos publicados nos anos de 2004 até 2019, que foram pré-selecionados a partir do título. Para assuntos de interesse que não se encaixaram neste período, foi selecionada a referência mais atual possível. Realizou-se a leitura do resumo dos artigos, e na ausência deste, realizou-se a leitura dos subtítulos a fim de entender o conteúdo. Foram incluídos estudos publicados nas línguas inglesa e portuguesa, revisões e relatos de casos. 3.3. Critérios de exclusão Exclusão dos artigos cujos títulos não possuíam relação com o tema deste trabalho e ao ler o artigo selecionados, caso este não fosse agregar conteúdo ao trabalho, também era excluído. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Tipos de Risco As complicações associadas com a tatuagem incluem, fototoxicidade (pigmento amarelo), reações alérgicas (granulomatosa, liquenóide), reação pseudo linfomatosa e rejeição imunológica da tatuagem (reação atrasada de hipersensibilidade) [4]. 4.1.1 Fototoxicidade Foi relatado que o pigmento amarelo 74 (PY74) estava presente em tintas 10 de tatuagem obtidas na Europa. O PY74 foi identificado em seis das sete tintas de tatuagem por comparação dos tempos de retenção de HPLC e espectros de absorbância dos componentes de eluição com PY74 autêntico [6]. PY74 e outros pigmentos monoazo não são fabricados para consumo ou aplicação de contato direto com a derme em humanos e não está listado como aditivo de cor aprovado para uso em alimentos, medicamentos, cosméticos ou dispositivos médicos [14]. O PY74 possui uma banda de absorção com um máximo de 416nm, e a exposição à luz diminuiu a absorbância a uma taxa de aproximadamente 0,42 AU/h sob essas condições [6]. Os espectros de absorção não formaram pontos isosbésticos, o que indicou que o PY74 foi fotodecomposto em produtos que também eram lábeis. A diminuição da absorbância a 416nm foi acompanhada por um aumento na absorbância a 280-295nm [6]. Amostras de PY74 saturadas em tetraidrofurano (THF) (= 0,25 mM) foram expostas a luz solar simulada e depois submetidas a análise por HPLC para determinar a quantidade de PY74 remanescente e para investigar quaisquer produtos de decomposição. A cromatografia foi monitorizada a 254nm. PY74 eluiu a cerca de 40 min e foi essencialmente o único composto na soluçãonão exposta. Às 0,5 e 1h, os produtos de fotodecomposição foram observados e eluídos com tempos de retenção entre 32 e 37 min. A exposição adicional da solução à luz solar simulada resultou na geração de produtos com menor retenção (isto é, polaridade aumentada), com os maiores picos de HPLC eluindo entre 13 e 18 min [6]. A exposição do PY74 à luz solar simulada produziu produtos de fotodecomposição que foram separados por HPLC [6]. Um total de 11 produtos de fotólise foram isolados, purificados e submetidos à análise por RMN e EM [6]. O estudo de Cui et al. foi desenhado para identificar os produtos após a decomposição fotoquímica de PY74 em THF e não foi projetado para imitar as condições que existiriam para um pigmento de tatuagem na pele onde oxigênio estaria presente e o pigmento sólido poderia estar tanto em um ambiente aquoso ou lipídico [6]. O estudo sugere que a ativação fotoquímica de pigmentos de tatuagens in situ durante exposição à luz solar, bronzeamento ou remoção a laser 11 possa gerar produtos tóxicos [6]. Em resumo, o estudo sugere que o uso de PY74 como pigmento em tintas de tatuagem pode resultar em um risco aumentado de toxicidade no local da tatuagem a partir de produtos de fotodecomposição de PY74, contaminação por impurezas nos pigmentos ou geração fotoquímica do Tipo II de O2 [6]. 4.1.2 Risco de reações grave a tinta Em um relato de caso, publicado no American Journal of Emergency Medicine por Hesser et al., um marinheiro homem de 21 anos de idade sem problemas médicos realizou uma nova tatuagem em sua panturrilha direita duas semanas antes da apresentação. Ele reclamou de uma dor, erupções cutâneas pruriginosas em sua perna por uma semana, mais nítido em torno do local da tatuagem. Ele também relatou calafrios, artralgia e mialgia pelos três dias anteriores. [17]. Apesar da vasculite ser relativamente comum, vasculite por hipersensibilidade à tinta de tatuagem é extremamente raro. A complicação mais comum de tatuagem é a celulite infecciosa. A biópsia punch deste paciente revelou vasculite leucocitoclástica [17]. A cor de tinta mais comum que leva a reações cutâneas em tatuagens é a vermelha, como visto nesta tatuagem. Curiosamente, o paciente já havia recebido outras tatuagens menos coloridas sem evento adverso [17]. Paciente foi admitido no hospital e tratado com corticosteróides sistêmicos por 4 dias. Ele foi liberado com prednisona e colchicina. Apesar de sua pele apresentar manifestações e artralgia ter melhorado, ele precisou de muletas para andar quatro semanas após a apresentação inicial [17]. 4.2 Como a tinta de tatuagem é vista pelos órgãos reguladores Nos Estados Unidos, as tintas para tatuagem são considerados cosméticos, 12 mas nenhuma foi aprovada pelo Food and Drug Admnistration (FDA) para injeção na derme [3]. A FDA tem considerado a tatuagem intradermal e maquiagem permanente como cosméticos pois estes são aplicados ao corpo com o propósito de alterar a aparência e promover atratividade [6]. No entanto, como o negócio de tatuagens é pequeno e não é lucrativo em comparação com outras indústrias, como cosméticos ou revestimentos industriais, o fabricante de pigmentos não faz nenhum esforço para desenvolver e produzir pigmentos específicos para esta aplicação [22]. Obviamente, esses pigmentos geralmente não cumprem os limites de pureza para metais pesados, aminas aromáticas nocivas e outros prescritos na resolução da União Européia ResAP (2008) sobre tintas de tatuagem, porque os pigmentos são produzidos para outras aplicações, onde limites mais altos são tolerados [22]. Desde que a resolução da União Européia sobre tintas de tatuagem foi lançada, a segurança desses produtos aumentou de forma mensurável devido ao melhor controle de qualidade das matérias-primas pigmentadas na produção de tinta e aos limites de impureza definidos aos quais os fabricantes podem se referir [22]. No Brasil, a tinta de tatuagem é regulada pela Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), onde a resolução de diretoria colegiada (RDC) Nº55, de 6 de agosto de 2008, que dispõe sobre o registro de produtos utilizados no procedimento de pigmentação artificial permanente da pele, e dá outras providências, indica a tinta de tatuagem sendo necessária ser registrada na forma de apresentação estéril. Na parte 2, item 2.1, a tinta de tatuagem é definida como pigmentação exógena implantada na camada dérmica ou na camada subepidérmica da pele, com o objetivo de embelezamento ou correção estética. No item 5.2., sobre os requisitos para registro, para demonstrar segurança e eficácia dos produtos implantáveis devem ser apresentados relatórios de avaliação biológica e revisão de literatura conforme Norma Brasileira (NBR) Organização Internacional para Padronização (ISO) 10993-1 e relatório de gerenciamento de risco, conforme norma NBR ISO 14971, além do atendimento 13 aos requisitos estabelecidos na Resolução da Diretoria Colegiada - RDC nº 56, de 6 de abril de 2001, que dispõe sobre os requisitos essenciais de segurança e eficácia de produtos para saúde [19]. A RDC No 185, de 22 de outubro de 2001, é o regulamento técnico que trata do registro, alteração, revalidação e cancelamento do registro de produtos médicos, onde define a tinta de tatuagem como qualquer produto médico projetado para ser totalmente introduzido no corpo humano ou para substituir uma superfície epitelial ou ocular, por meio de intervenção cirúrgica, e destinado a permanecer no local após a intervenção. Também é considerado um produto médico implantável, qualquer produto médico destinado a ser parcialmente introduzido no corpo humano através de intervenção cirúrgica e permanecer após esta intervenção por longo prazo [20]. De acordo com a legislação vigente brasileira, as tintas devem ser estéreis e devem demonstrar seguraça e eficácia [28, 29]. Porém, o estudo de Laux et al., mesmo tintas rotuladas como estéreis, não apresentaram esterilidade [1]. 4.3 Sobre a tinta da tatuagem Existe a ideia comum de que os pigmentos são inertes e não causam problema para a saúde humana. Na verdade, em literatura, reação adversa devido a sais de metais inorgânicos em pessoas tatuadas são bem documentadas [2]. As tintas utilizadas são de variadas origens e sem padronização ou controle [7] e geralmente contém pigmentos e corantes não especificamente produzidos ou autorizados para o uso subcutâneo [3]. Pigmentos orgânicos e metais (i.e., Al, Ca, Cd etc) são frequentemente combinados para criar diferentes tons, brilhos ou sombras de cores [2]. No entanto, metais tóxicos como manganês, chumbo e vanádio têm sido reportados em concentrações tão altas quanto graves, μg/g de tinta [1]. Análises de tintas comerciais mostram que titânio, bário, alumínio e cobre são predominantemente usados como corantes, ao passo que antimônio, arsênio, cádmio, cromo, cobalto, chumbo e níquel tendem a ser contaminantes [1]. De fato, os sais de dicromato, 14 Co, Cd e Hg foram considerados a base para as cores verde, azul, amarelo e vermelho, enquanto o óxido de ferro, dióxido de titânio, C e Mn são predominantemente nas tintas marrom, branco, preto e violeta [2]. Um total de 56 cores foram compradas de 4 diferentes fornecedores de tinta de tatuagem: 13 cores “Starbrite Colors”; 10 cores “Millennium Colorworks Inc.”; 13 cores “Intenze Prod.”; 20 cores “Diabolo by Deep Colours”. Todos os metais medidos estavam presentes em todas as cores; apenas Hg estava sob o limite de quantificação em 16 deles. As tintas variaram na composição metálica de fabricante para fabricante e de cor para cor e mesmo entre pigmentos da mesma cor, mas, como tendência geral, Al, Ba, Cu, Fe e Sr foram os componentes principais (de poucos μg/g a dezenas de mg/g) em todas as 56 cores [2]. As concentrações de Cr, Mn, Ni, Pb e V variaram na faixang/g - μg/g. Cádmio, Co, Hg e Sb foram os elementos menos concentrados, isto é, de unidades de ng/g a centenas de ng/g. Cr apresentou a maior concentração seguida de Ni e depois de Co [2]. Na presença de irritantes e/ou após exposições repetidas ao Co, Cr e Ni, tais indivíduos raramente reagem a níveis abaixo de 10 ppm. Por esta razão, recomenda-se que as tintas de tatuagem não contenham mais de 5 ppm de Co, Cr e Ni ou para uma melhor proteção da saúde, os níveis não devam exceder 1 ppm [2]. Em uma comparação dos níveis de Cr e Ni contidos nas cores produzidas pelas 4 empresas, com o limite de segurança de 1 ppm, uma alta porcentagem (62,5%) de tintas apresentou o nível de Cr fora do limite. Esses resultados indicaram que o contato da pele com quantidades de Cr e Ni contidas nas tintas pode representar um sério risco para o desenvolvimento de patologias dermatológicas em pacientes tatuados [2]. A tinta preta natural é obtida da magnetita e da wustita (óxidos de ferro) ou carbono amorfo da combustão. Casos de sensibilização da pele devido a pigmentos negros estão em um número muito baixo. O óxido de ferro presente na tinta usada para criar uma pigmentação permanente da sobrancelha foi responsável pelo desenvolvimento de dermatite granulomatosa [2]. 15 O estudo de Forte et al., visou caracterizar a composição metálica de 56 tintas de tatuagem do mercado e chamar a atenção para o risco associado à saúde humana. A contribuição relativa do metal para as composições de tinta de tatuagem foi altamente variável entre amostras, marcas e até mesmo entre pigmentos da mesma cor. Alumínio, Ba, Cu, Fe e Sr foram os principais metais. Metais alergênicos como Cr, Ni e Co estavam acima do limite alergológico seguro de 1 ppm em 35, 9 e 1 casos, respectivamente. Elementos tóxicos como Cd, Mn, Pb, Sb e V estavam acima de 1 ppm em alguns casos, enquanto Hg estava em traços. Deve-se levar em consideração que o tempo de contato entre a pele e as tatuagens é bastante longo e isso permite uma exposição contínua a metais tóxicos e/ou alergênicos com consequente acúmulo [2]. A demanda por um número crescente de tonalidades e intensidade de cores levou os fabricantes a substituir os sais inorgânicos por pigmentos orgânicos para evitar a potencial toxicidade dos sais metálicos [4]. Enquanto tintas coloridas tradicionais de tatuagem continham metais, tintas coloridas modernas contém pigmentos orgânicos, como corantes azo para tintas vermelhas e amarelas ou ftalocianinas para tintas azuis e verdes [10]. Estudos anteriores têm mostrado que certos corantes azo podem liberar compostos prejudiciais depois de exposição a luz natural e ultravioleta (UV) [10]. Além do mais, provável carcinogênico humano 3,3-diclorobenzidina é usado como intermediário na fabricação de alguns corantes azo e tem sido identificado em tintas de tatuagem na Europa [10]. Seis hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs) foram identificados na tinta de tatuagem preta incluindo o possível carcinogênico humano naftaleno (Classe 2B, de acordo com a International Agency for Research on Cancer - IARC). Pireno e fluoreteno foram encontrados em altas concentrações na tinta, com uma concentração total de PA, 1,1 g/g tinta, acima de duas vezes o máximo permitido de concentrações de PAH em tinta de tatuagem (0,5 ppm ou g/g tinta) aconselhado pelo Council of Europe [10]. De 2008 a 2013 autoridades de saúde da Suíça analisou 416 amostras de 73 marcas diferentes de tintas de tatuagem. Eles identificaram 39 corantes orgânicos, nenhum deles foi testado alguma vez para o uso em contato com o 16 corpo humano, e foi achado que o uso destes aumentaram de 39% para 56% entre 2009 e 2011. Maioria das tintas consistem em maior parte de pigmentos insolúveis dispersos em água, além dos aditivos como os formulantes, dispersantes e conservantes [1]. Grande quantidade de carbono preto e compostos adicionais, como os PAHs, um potencial genotóxico, podem ser encontrados na pele tatuada e linfonodo regional mesmo após anos da realização da tatuagem. O mesmo é esperado para compostos azo ou policíclicos em muitas tatuagens coloridas [1]. Na Europa, de 2007 a 2017, 190 tintas de tatuagem ou produtos de maquiagem definitiva (126 dos quais são importados dos Estados Unidos) foram retirados do mercado ou banidos seguidos de alertas para a European Rapid Alert System for dangerous non-food products (RAPEX). Destes produtos, 37% continha aminas aromáticas (ou pigmentos azo liberando aminas aromáticas sob degradação catalisada por UV), 32% continha PAHs, enquanto 14% ou menos continham níquel, chumbo, bário, arsênio, cádmio, zinco, cromo, cobalto, e/ou cobre excedendo os níveis recomendados [3]. Esterilidade é outro problema importante, como mais de 10% das tintas banidas apresentaram riscos microbiológicos [3]. Tintas têm sido subestimadas como a fonte de contaminação bacteriana. Investigadores têm reportado que até 20% das tintas amostradas estavam contaminadas, com bactérias, contagem acima de 108 CFU por ml, incluindo as tintas rotuladas como estéreis [1]. Considerando o risco relevante de infecção associado à injeção no tecido subcutâneo, tintas de tatuagem deveriam cumprir com os mesmos requisitos de esterilidade de produtos medicinais parenterais [3]. Preocupações sobre nanotoxicidade aumentaram depois da primeira demonstração que nanopartículas podem penetrar barreiras biológicas e interagir com alvos intra e extra celulares, causando a perturbação das funcionalidades fisiológicas do tecido e induzir a processos inflamatórios. Por exemplo, muitos resultados publicados documentados que nanopartículas carbono negro que pode ser encontrado na tinta de tatuagem, pode ser tóxica para a célula e animais modelo, afetando a funcionalidade de diferentes órgãos (e.g. o sistema 17 cardiovascular). Nanotoxicidade do carbono negro parece ser causada por diferentes mecanismos: a ativação de vias pró-inflamatórias, o aumento de espécies radicais, a disfunção no metabolismo celular, e dano ao DNA. Minghetti et al. cita que o estudo de Schreiver et al., demonstrou pela primeira vez em humanos que nanopartículas de pigmentos com cerca de 20-180nm podem ser encontradas no linfonodo de indivíduos tatuados. Isto fornece forte evidência que a longa exposição pode causar mudanças biomoleculares no tecido cutâneo. Entretanto a correlação causa-efeito não tem sido estabelecida, é notável que a maior incidência de tatuagem relacionada ao evento adverso foi observado em tatuagens pretas, que são as tintas mais ricas em termo de nanomateriais. Um alto número de reclamações sobre sintomas menores após a tatuagem em indivíduos com tatuagens pretas comparadas àquelas tatuadas em vermelho, que são conhecidas por possuir uma elevada prevalência de eventos adversos, especialmente quando sais de mercúrio estão presentes como corantes [3]. Estudos na Dinamarca mostram que eventos adversos crônicos são dominados por reações de natureza alérgica, permanecendo o vermelho a cor mais problemática [1]. Além disso, a perda significativa de massa de pigmento da área tatuada encontrado em estudos de longo prazo sugere que os nanomateriais do pigmento podem atingir a corrente sanguínea, resultando em um maior risco de exposição sistêmica a nanomateriais. De fato, algumas evidências publicadas sugerem que os nanomateriais podem se distribuir em diferentes órgãos após uma injeção intradérmica, aumentando as preocupações sobre o destino dos nanomateriais do pigmentos e seu impacto na fisiologia e funcionalidade dos órgãos e tecidos [3]. Por causa da alta concentração em tintas de tatuagem, corantes dominam o foco analítico, e conservantes e impurezas parecem ser considerado como um problema menor. Entretanto, na Suiça, conservantes banidos para o uso em cosméticos foram encontrado em até 14% de 416 amostrastestadas. Entre estas substâncias banidas foram 1,2-benzisotiazol-3 [2H]-ona (benzisotiazolinona; 56 amostras, 0-4-245 mg/kg), 2-octil-4-isotiazolin-3-ona (octilinona; 15 amostras, 40- 450 mg/kg), fenol (12 amostras, 40-4300 mg/kg), formaldeído (55 amostras, 0,004- 18 0,3%) e os conhecidos sensibilizadores fortes metilisotiazolinona/ metilcloroisotiazolinona (21 amostras, 0-5-82 mg/kg). Outras substâncias incluídas N-nitrosaminas, como N-nitrosodietanolamina (56 amostras, até 24 mg/kg), N- nitrosomorfolina (nove amostras, até 625 μg/kg), N-nitrosodibutilamina (duas amostras, até 93 μg/kg) e N-nitrosodimetilamina (uma amostra, 17 μg/kg). As amostras continham também outros ingredientes não divulgados, por exemplo, β- naftol etoxilado (15 amostras), nonilfenol etoxilado (sete amostras) ou octilfenol etoxilado (oito amostras) [1]. Sendo estes conservantes e impurezas causadoras de algumas reações adversas reportadas pela tatuagem [1]. 4.4 Motivos para retirar a tatuagem Na pesquisa de Armstrong, et al., 105 participantes relataram um total de 190 tatuagens, uma média de quase duas tatuagens por pessoa; 56% tinham uma tatuagem e 43% tinham duas ou mais tatuagens. 60% tinham suas tatuagens há pelo menos 14 anos antes de solicitar a remoção a laser. 22% tiveram suas tatuagens por uma média de 5 anos antes de ter vontade de remover e 11% estavam solicitando a remoção depois de ter tatuagens por 1 ano ou menos. A maioria eram adolescentes solteiros no momento da tatuagem (75% tinha entre 12 e 19 anos) e estava no ensino médio (64%) [8]. A média de duração ou permanência da tatuagem antes da remoção foi de 14 anos (dois meses a 48 anos) [7]. Motivações internas para a remoção de tatuagem se tornaram evidente. Assunto fortemente de acordo com sentimentos internos de dissociação com o passado na melhora da auto identidade como "ajudar a me sentir melhor comigo mesma" (85%), "remover este desenho que estou cansado de ter" (78%), e "aumentar a credibilidade com os amigos" (67%). Eles enfatizaram discordar fortemente que eles queriam suas tatuagens removidas por causa de emprego ou figuras autoritárias, ou para melhorar os seus empregos. A vasta maioria não se identificou com as afirmações como "fazer algo que alguém com autoridade sugere" (89%), ou "conseguir um novo emprego com salário maior" (83%), 19 "competitividade" (75%), ou "progresso" (73%) [8]. A motivação para a remoção é muito mais relacionado com a melhora da auto-imagem do que fatores externos e concretos, como discriminação no trabalho. Mudanças positivas pessoais, maturidade, e uma auto-imagem mais saudável são características de pessoas que estão em busca de remoção de sua tatuagem [8]. 4.5 Histórico e métodos de remoção de tatuagem O primeiro relato de tentativa de remoção de tatuagem foi de Aécio de Amida, um médico grego que descreveu a salabrasão em 543. Desde então, as técnicas de remoção de tatuagens incluíram a destruição ou remoção das camadas externas da pele por métodos mecânicos, químicos ou térmicos. Pela danificação da epiderme, o pigmento é então capaz de migrar transdermicamente através da pele nua para a superfície. A resposta inflamatória, combinada com o aumento da atividade macrofágica e fagocitose, permite que o pigmento adicional seja expelido durante a fase de cura [11]. A remoção da tatuagem pode ser atingida por uma variedade de métodos. O processo pode ser doloroso, custoso, incompleto ou acompanhado por resultados estéticos não desejados. Excisão cirúrgica, dermoabrasão, criocirurgia, peeling químico e ondas contínuas de laser têm sido utilizados para tratar a tatuagem porém carrega um risco de escarificações e remoção incompleta [4]. A técnica utilizada era a dermoabrasão, que possui destruição não seletiva do tecido e pode remover a tatuagem parcial ou completamente [18]. O procedimento cirúrgico é uma técnica antiga, mas também é utilizado atualmente; contudo, apresenta bons resultados somente se há pele suficiente e apresenta uma condição desfavorável, devido à cicatriz em consequência da incisão [18]. A luz intensa pulsada e os lasers de Diodo e de Alexandrita, cada um com seu comprimento de onda, também são tecnologias atuais capazes de remover tatuagens [18]. Todos os aparelhos de laser são compostos por meio ativo, sistema de entrega da luz e fonte de energia. O meio ativo, chamado de lasing 20 médium (localizado dentro da cavidade óptica), é a substância que produz o feixe de luz e determinará o comprimento de onda do laser [18]. Possíveis complicações de remoção de tatuagem assistida por laser incluem transiente ou permanente hipopigmentação, hiperpigmentação pós inflamatória (tipos de pele escura), alergia sistêmica ou reação granulomatosa localizada à partícula da tinta, cicatrizes atróficas e mudanças na textura [4]. 4.5.1 Métodos Mecânicos A excisão cirúrgica da pele contendo pigmento de tatuagem é outra alternativa. A excisão cirúrgica é uma opção potencial para a remoção de pequenas tatuagens localizadas em áreas de flacidez adequada da pele ou para tatuagens cosméticas ou traumáticas [11]. Uma vantagem da excisão cirúrgica é a possibilidade de remoção completa da tatuagem em um único procedimento; no entanto, para tatuagens maiores, especialmente em áreas com maior tensão da pele, a remoção completa da tatuagem pode implicar várias cirurgias, juntamente com maior risco de complicações. Efeitos adversos foram relatados com excisões cirúrgicas, incluindo a necessidade de fechamento de feridas complexas, o que pode complicar a cicatrização de feridas, possíveis enxertos de pele, cicatrização hipertrófica ou queloide e possível distorção tecidual ou anatômica, todas as quais podem ser menos aceitáveis cosmeticamente para o paciente do que a tatuagem original [11] 4.5.2 Métodos químicos O método de extração química foi desenvolvido recentemente como uma forma de remoção de tatuagens faciais e corporais. O produto Rejuvi Tattoo Removal contém apenas ingredientes cosméticos tais como água deionizada, óxido de zinco, óxido de magnésio, óxido de cálcio, isopropanol, trietanolamina e 21 ácido benzóico. Esta composição tem baixa toxicidade na pele e também é bastante anti-séptica. A área da pele tratada forma uma crosta com pigmentos de tatuagem que então descasca em 10 a 20 dias. Recomenda-se realizar o tratamento em uma área de tatuagem não superior a 15 cm2 a fim de controlar o nível de desconforto após o tratamento [16]. Hipopigmentação e cicatrizes são potenciais efeitos colaterais [4]. Opções futuras de tratamento incluem creme tópico de imiquimod 5%. Um estudo avaliou isotretinoína, imiquimod ou ambos para remoção de tatuagem em porquinhos-da-índia. Após a aplicação da tinta de tatuagem, o creme de imiquimod foi aplicado em um conjunto de porquinhos-da-índia a cada seis horas por sete dias. Aos 28 dias, o pigmento era pouco perceptível na microscopia, mas inflamação e fibrose estavam presentes. Foi descoberto que o creme de imiquimod é o tratamento tópico mais eficaz, mas são necessários estudos humanos adicionais. [4] 4.5.2.1 Relato de caso: remoção com fenol No relato de caso por Li et al., publicado no Journal of Forensic Sciences, é relatado um homem de 21 anos que foi submetido a uma tentativa de remoção de uma grande tatuagem de dragão sob a parte superior do peito, ombros traseiros e braço direito, utilizando uma máquina de tatuagem que injetou uma solução contendo fenol. No final do procedimento de 3 horas, ele desmaiou e morreu [21]. A primeira remoção ocorreu 20 dias antes e utilizou uma máquina de tatuagem para injetar uma “solução eliminadora de tatuagem” que continha uma concentração incerta de fenol na derme. Dada a extensão da tatuagem, o próximo procedimento durou aproximadamente três horas. Nofinal desta sessão, o falecido supostamente deixou a sala e depois caiu do lado de fora, sem fôlego, e morreu em poucos minutos [21]. O exame interno revelou congestão pulmonar e edema, mas nenhuma outra anormalidade. O exame histológico das áreas da pele lesionada mostrou 22 coleções de líquido eosinofílico com um infiltrado inflamatório crônico mínimo em áreas melhor preservadas com áreas focais de necrose dérmica [21]. A toxicologia foi positiva para o fenol no sangue cardíaco e no tecido hepático. Os efeitos tóxicos do fenol são bem reconhecidos e podem resultar em danos ao coração, fígado e rins. Podem ocorrer mortes por cardiotoxicidade. No caso relatado, o fenol foi injetado diretamente na derme [21]. A detecção de fenol em amostras de sangue e fígado post-mortem, combinada com a história de colapso repentino após injeções subcutâneas prolongadas de fenol em um jovem saudável, estava de acordo com um caso muito incomum de cardiotoxicidade letal por fenol [21]. 4.5.3 Métodos térmicos Lasers têm sido utilizados para remover tatuagens desde a década de 1970 e passou por muitos avanços [11]. O laser de argônio é um laser de ondas contínuas que emite luz azul- verde não ionizante e pode ser absorvido preferencialmente pelo pigmento da tatuagem. Devido à emissão contínua de laser, no entanto, as primeiras tentativas de usar este laser para remoção de tatuagens resultaram em cicatrizes devido à energia térmica excessiva que se espalhou dos grânulos da tatuagem para a pele ao redor [11]. O laser de dióxido de carbono emite energia a 10.600nm e é usado para ablação superficial do tecido. Devido às excelentes propriedades de absorção deste comprimento de onda pela água, o laser de dióxido de carbono vaporiza a pele superficial, tornando isto uma opção potencial para remover a pele que contém pigmentos da tatuagem indesejável. O laser de dióxido de carbono pode ser útil, especialmente para a remoção de tatuagens cosméticas na face, como a tatuagem labial ou delineadora das pálpebras; entretanto, é impraticável para áreas fora da face ou para tatuagens grandes e extensas, onde a deposição de pigmentos da tatuagem é mais profunda e os riscos de cicatriz pós-operatória e 23 hipopigmentação de longo prazo são altos. [11] Os lasers Q-switched tornaram-se mais populares nos últimos anos para remoção de tatuagens e agora são o tratamento de escolha para remoção de tatuagens. Q-switching refere-se a um interruptor que permite a liberação de toda a energia em um pulso poderoso, de modo que o alvo seja aquecido tão rapidamente que se rompa, permitindo a fototermólise seletiva. O laser Q-switched mostrou fornecer remoção eficaz de tatuagens com efeitos colaterais mínimos [11]. Ele permite restringir a lesão tecidual no tecido-alvo, permitindo a preservação de outros cromóforos na pele (como melanina, hemoglobina, água), dependendo do comprimento de onda do sistema de laser [11, 27]. A energia absorvida pelo cromóforo é convertida em calor. O pigmento fica na derme, dentro dos fibroblastos e macrófagos. Depois da exposição ao laser, a produção de CO2e vapor d’água na derme causa o branqueamento da pele, o que explica a remoção da tinta em partes, sendo que outra parte do pigmento será fagocitada [18]. As substâncias que compõem a tinta do pigmento vão influenciar no resultado do tratamento. Cada componente químico é sensível a um comprimento de onda e, nas embalagens das tintas que são usadas para tatuagens, não há descrição da composição. Todos esses fatores fazem com que o processo de remoção não seja 100% garantido. Nenhum método de remoção de tatuagem é perfeito mas o laser Q-switched é amplamente utilizado e tem se mostrado muito eficaz [18]. E existem três tipos de lasers Q-switched comercialmente utilizados: Rubi, Alexandrite e Nd YAG. Cada um é mais específico para determinada cor. Na hora da escolha, deve-se levar em consideração também: cor da pele do paciente, área, duração de pulso e fluência. Além do pigmento preto, o Nd YAG é muito eficiente para clarear as seguintes cores: vermelho, marrom e laranja. As cores amarela e branca são mais resistentes e o terapeuta pode optar por usar lasers ablativos [18]. As tatuagens amadoras precisam de uma média de quatro a seis tratamentos a laser (com seis a oito semanas de intervalo) para remover materiais 24 à base de carbono. As tatuagens profissionais têm uma média de oito a doze tratamentos devido a uma alta concentração de partículas de tinta no fundo da derme [4]. Para Burris e Kim, os diferentes métodos de remoção de tatuagens, nenhum provou ser perfeito, e eventos adversos podem ocorrer em todos os métodos de remoção. O tratamento a laser Q-switched é amplamente utilizado para remoção de tatuagens e pode ser bastante eficaz. É, portanto, o padrão de atendimento hoje. Para cada paciente, o médico deve fazer um histórico detalhado e determinar o laser correto a ser usado, pois variará com base nos pigmentos da tatuagem, na cor da pele e na etiologia da tatuagem. Muitas tatuagens na cultura ocidental são compostas de várias cores, o que pode exigir o uso de uma variedade de sistemas a laser de diferentes comprimentos de onda. Há pesquisas em andamento em busca de um método com depuração completa dos pigmentos e baixa incidência de efeitos adversos [11]. 4.6 Toxicologia da remoção da tatuagem Milhões de pessoas são tatuadas com tintas que contêm pigmentos azo, frequentemente usados para tatuar por causa de sua intensidade e longevidade de cor. Estes pigmentos azo são principalmente fabricados para outros propósitos, tais como impressão, pintura de carros e coloração de vários produtos de consumo, geralmente contêm dióxido de titânio para clarear os tons. Os pigmentos contidos nas tintas de tatuagem são fabricados para outros usos sem histórico estabelecido de uso seguro em humanos e são injetados na pele em altas densidades (2,5 mg/cm2) [12]. Os pigmentos de tatuagem disseminam-se após a tatuagem por todo o corpo humano e apesar de que alguns possam fotodecompor no local da injeção por exposição à luz solar ou laser, a extensão do transporte ou fotodecomposição sob condições in vivo permanece desconhecida [1, 12]. Nós sabemos tão pouco sobre o destino fisiológico ou toxicológico do pigmento da tatuagem após a fotólise induzida por laser [1]. 25 Ao tatuar a pele, os pigmentos são injetados como uma suspensão na pele usando agulhas. Uma fração dos pigmentos permanece na derme causando a cor da tatuagem, enquanto uma fração desconhecida do pigmento injetado é removida da pele através do sistema linfático. Como resultado, pigmentos de tatuagem podem ser encontrados nos gânglios linfáticos localizados próximos à tatuagem [12]. Pigmentos de tatuagem em solução podem ser decompostos por radiação solar ou por luz laser decompondo em produtos como 2-metil-5-nitroanilina (2,5- MNA), 4-nitrotolueno (4-NT), 2,5-dicloroanilina (2,5-DCA) e 1,4-diclorobenzeno (1,4-DCB). O 4-NT é genotóxico num ensaio de linfócitos humanos. O 2,5-MNA, também referido como 5-nitro-o-toluidina, pode causar disfunção hepática, como mostrado em trabalhadores de uma fábrica de tintura para cabelo. Além disso, o 2,5-MNA e alguns dinitrotoluenos são mutagênicos em Salmonella typhimurium YG. 1,4-DCB induziu tumores renais em camundongos machos e tumores hepáticos em camundongos machos e fêmeas, ao passo que 2,5-DCA foi nefrotóxico em camundongos. Sugerimos que a decomposição do pigmento também ocorra dentro da pele quando a pele tatuada é exposta à luz [12]. No estudo de Engel et. al., foi utilizado um modelo animal estabelecido (camundongos sem pêlos SKH-1) e tatuaram os camundongos nas costas com um pigmento de tatuagem amplamente utilizado (pigmento vermelho 22 - PR 22) para investigar in vivo, o transportee a decomposição do pigmento induzida pela luz [12]. A solução de tinta de tatuagem foi preparada suspendendo PR22 a 25% (p⁄v) em glicerol aquoso a 10% (previamente esterilizado por passagem através de um filtro de 0,22 μm) [12]. Na oitava semana de idade, os camundongos (n = 19) foram anestesiados via administração intraperitoneal de pentobarbital de sódio (25 mg/kg de peso corporal). Todos os camundongos foram tatuados com PR22. As tatuagens foram feitas por uma única passada longitudinalmente no dorso, utilizando uma máquina de tatuagem comercial [12]. Os camundongos foram asfixiados com dióxido de carbono em diferentes 26 momentos após a tatuagem. A pele tatuada foi excisada e congelada a -80°C. Uma biópsia por punch foi feita com um diâmetro de 5 mm em todas as amostras de pele. O peso da biópsia foi de cerca de 35 mg. O tecido da biópsia foi desintegrado e os pigmentos juntamente com os produtos de decomposição foram extraídos. Os 19 camundongos do estudo foram agrupados da seguinte forma [12]: Grupo 1: Um dia após a tatuagem, os pigmentos foram extraídos das biópsias por punch (cinco camundongos) e a quantidade de pigmento extraído é referida como a concentração inicial de pigmento na pele [12]. Grupo 2: Sete camundongos foram mantidos por 10 dias para se recuperar da tatuagem e foram expostos a radiação solar simulada [1.4 Dose Eritemal Padrão (SED)/Radiação Solar Simulada (SSL) dia] por 32 dias, resultando em uma exposição total de 44.8 SED. A radiação solar simulada gera luz com qualidades espectrais nos comprimentos de onda UV e visível similares à luz solar terrestre. Os camundongos foram asfixiados, a pele tatuada removida e a extração da pele resultou na análise da concentração de pigmentos e na determinação de possíveis produtos de decomposição na pele [12]. Grupos 3a, b: Sete camundongos recuperaram da tatuagem durante dez dias e depois foram mantidos sob luz ambiente normal durante os 32 dias seguintes. Os camundongos foram asfixiados, removeu-se a pele tatuada e foi cortada em duas partes iguais e as peças foram separadas em dois grupos (grupo 3a, grupo 3b). A extração do pigmento das biópsias cutâneas do grupo 3a permite quantificar a concentração do pigmento e os possíveis produtos de decomposição na pele após 42 dias da tatuagem. Calculou-se a diminuição dos pigmentos que é predominantemente devido ao transporte de pigmento no corpo do camundongo comparando os resultados dos grupos 1 e 3a. Os pedaços de pele do grupo 3b foram completamente irradiados com uma exposição radiante de 2,5 J/cm2por pulso único usando um laser Nd: YAG duplicado em frequência a um comprimento de onda de 532nm (exposição radiante total: 165 J/cm2 por cada amostra de pele). A extração das biópsias cutâneas (grupo 3b) resultou em concentração de pigmento e possíveis produtos de decomposição na pele após exposição à 27 radiação laser. Calculamos a diminuição dos pigmentos como resultado da irradiação com laser comparando os resultados dos grupos 3a e 3b. [12] As amostras de pele extraídas foram filtradas usando filtro de politetrafluoretileno. As amostras (20 μl) foram analisadas usando um modelo 1100 HPLC equipado com uma coluna analítica C18 e um detector de matriz de diodos. Os dados foram analisados usando um HPLC-3D-ChemStation [12] As concentrações de PR 22, 2,5-MNA, 4-NT e Naftol AS nas soluções foram determinadas usando um método padrão interno [12]. Os valores dos pigmentos extraídos e produtos de decomposição são mostrados como valores médios ± desvio padrão das médias de extração. Os valores representam a média e desvio padrão (σ) de cada grupo consistindo de cinco camundongos (extração após um dia; grupo 1), sete camundongos (exposição à radiação solar; grupo 2) e sete camundongos (luz ambiente, exposição a laser; grupos 3a, b). Um teste t-Student bilateral foi usado para comparar as diferenças entre os grupos [12]. Extração após 1 dia: O pigmento da amostra de pele (grupo 1) foi extraído e analisado, o que resultou em uma média de 36,5μg de PR 22 detectado por punch (σ 26%), a variação nos valores não depende o modo de extração e parece ser causado pela variação na tatuagem manual. Calculamos que 584,0μg de PR 22 foram tatuados por rato [12]. Extração após 42 dias: O pigmento dos espécimes de pele do grupo 3a foi extraído e quantificado, obtendo-se uma média de 24,9μg de PR 22 por punch (σ 24%). Isso resultou em um cálculo de 398,4μg PR 22 por animal tatuado. A comparação dos valores entre os grupos 1 e 3a demonstrou uma redução de 32% da PR 22 durante os 42 dias [12]. Extração após 42 dias com 32 dias de exposição à radiação solar: A extração do PR 22 e seus produtos de decomposição da pele dos camundongos do grupo 2 foi realizada para determinar o efeito da radiação solar na deposição de PR 22 na pele. Foram detectados 9,9μg de PR 22 por punch (σ 64%) e calculou-se uma dose total de 158,4μg de PR 22 por animal. Os produtos de decomposição 2,5-MNA e 4-NT estavam abaixo do limite de detecção do nosso 28 sistema e não foram detectados [12]. Extração após 42 dias e irradiação à laser: Após irradiação com laser da pele do rato no grupo 3b, a pele foi extraída e analisada, o que resultou na detecção de uma quantidade média de 12,3μg de PR 22 por punção e 196,8μg de PR 22 por animal (σ 16%). Esta é uma diferença de 201,6μg de PR 22 por animal que foi clivado pelo laser e decomposta em 2,5-MNA, 4-NT e NAS. Estes produtos de decomposição foram detectados na pele extraída após irradiação com laser (grupo 3b) a 0,1 μg de NAS por punch (σ 28%), 0,3 μg de 2,5-MNA por punch (desvio padrão relativo 27%) e 0,1 μg 4-NT por punção (desvio padrão relativo 28%). Com base no esquema de decomposição, calculou-se que apenas cerca de 8% do PR22 decomposto foi diretamente detectado como 2,5-MNA e 4-NT [12]. Após tatuar a pele, parte do pigmento depositado na derme é transportado para fora da pele. Consequentemente, os pigmentos estão em contato direto com o tecido dérmico e o sistema linfático, e podem ter uma longa residência nos linfonodos ou em outros órgãos devido à sua insolubilidade. No caso de um camundongo modelo, a pele é mais fina e pode reagir de forma diferente à exposição a compostos químicos, quando comparados com a pele humana [12]. Primeiro, uma pequena fração de pigmento pode ser perdida dentro de poucas horas após a tatuagem, devido à cicatrização ou perda da epiderme da lesionada. Em segundo lugar, o pigmento é transportado através do sistema linfático para os gânglios linfáticos e, talvez, outros órgãos [12]. Quase todos os pigmentos de tatuagem não apresentam pureza farmacêutica. Os pigmentos que são usados para constituir tintas de tatuagem são tipicamente retirados da indústria química. Estes pigmentos são fabricados para outras aplicações e não são destinados para contato com a pele humana [12]. Nas tatuagens, o tatuador insere cerca de 250 mg de pigmento junto das impurezas na pele para uma tatuagem de tamanho médio de 100cm2 (2,5 mg/cm2). Se extrapolar o resultado do camundongo para humanos, cerca de 80mg do pigmento (32%) seria transportado pelo corpo humano (e.g. linfonodos) ou cerca de 150 mg seria decomposto pela radiação solar produzindo aminas possivelmente carcinogênicas [12]. 29 Um estudo conduzido por Schreiver et al, testou os efeitos de lasers utilizados para remoção de tatuagem no pigmento azul B15:3. Até onde sabemos, a ftalocianina de cobre (também chamada azul de ftalocianina ou pigmento B15:3) é o único pigmento orgânico azul atualmente usado em tintas de tatuagem no mercado europeu [15]. Aplicou-se condições de pirólise para simular a decomposição induzida pelo laser e dependente da temperatura da ftalocianina de cobre do pigmento azul. Para provar a relevância do padrão de produtos de decomposição detectados da ftalocianinade cobre, realizou-se experimentos de irradiação com lasers Q- Switched de rubi e de Nd YAG. Na dermatologia clínica, entre outros, os lasers de rubi são comumente usados para a irradiação de tatuagens coloridas [15]. Tanto a irradiação com laser Q-Switched rubi (694 nm) e a fragmentação mediada por pirólise da ftalocianina de cobre do pigmento azul resultam no mesmo padrão de produtos principais de clivagem (isto é, benzeno, benzonitrilo,1,2-benzeno dicarbonitrilo e HCN). Por outro lado, quantidades maiores de produtos de fragmentação não foram detectadas pela aplicação do comprimento de onda de 1.064 nm nem do comprimento de onda de 532 nm de um laser Nd: YAG. Como a ftalocianina de cobre é incapaz de absorver quantidades significativas de luz visível (verde) a 532 nm ou luz infravermelha a 1.064 nm, não é surpresa que os lasers Nd: YAG nesses comprimentos de onda se revelem ineficazes na dermatologia clínica quando se trata à remoção de tatuagens de cor azul. Enquanto concentrações crescentes de benzeno e HCN sob irradiação com laser de rubi indicam a geração de temperaturas em depósitos de pigmentos de pelo menos 800°C [15]. Entre todos os compostos que emergem da irradiação com laser de rubi da ftalocianina de cobre, o HCN é de particular relevância devido à sua forte toxicidade celular. Há muito tempo é conhecido como gás incolor altamente tóxico, de ação rápida. Dependendo da concentração inalada, pode causar efeitos tóxicos e morte por parada cardíaca em segundos [15]. Do ponto de vista toxicológico, qualquer possibilidade de surgimento de HCN durante a remoção a laser de depósitos de pigmento na pele em indivíduos 30 tatuados deve ser considerado como uma preocupação com a saúde. Demonstrou-se que a toxicidade celular do HCN, na verdade, ocorre em células da pele humana in vitro em concentrações que estão na faixa dos níveis observados como resultado da clivagem da ftalocianina de cobre mediada por laser Q-Switched de rubi. Assim, os níveis, cerca de 0,2 a 1,1 mM de HCN que foram formados de forma dependente da dose com o tratamento com laser de rubi de 0,2-2,5 mg/ml de pigmento em suspensão estão dentro e além da faixa de concentração deste composto tem mostrado exercer toxicidade celular [15]. Os níveis de substâncias químicas perigosas, tais como HCN, de surgirem da remoção a laser de tatuagens na pele humana in vivo podem variar grandemente em função do tamanho da tatuagem, concentração do pigmento e localização, dose de irradiação e comprimento de onda aplicado. Ainda assim, níveis tão altos quanto 1,1 mM de HCN, medidos no estudo, com irradiação de 2,5 mg/ml de dispersão de pigmento in vitro, corresponderiam à 29,7μg de HCN por ml de volume [15]. É claro que o impacto do laser e sua eficiência de quebra dos pigmentos, bem como a biocinética do possível HCN surgido no tecido vivo da pele, são atualmente desconhecidos mas certamente requerem investigação no futuro [15]. 5. CONCLUSÃO A tatuagem vem apresentando ser uma arte difundida mundialmente e aceita pela sociedade, e com isso traz a responsabilidade dos fabricantes de fornecerem os produtos para tatuagem com maior controle da qualidade e com segurança. Atualmente, apesar de haver uma preocupação maior, as tintas ainda têm a presença de contaminantes e/ou metais alergênicos, sendo necessário também mais estudos para entender melhor a toxicidade dos pigmentos orgânicos e inorgânicos nesta presente. Para isso, devemos exigir das indústrias, descrever as informações da composição das tintas, para que o consumidor saiba o que está 31 entrando em seu corpo e para o profissional que irá remover a tatuagem torne este procedimento mais eficiente. As resoluções da ANVISA não pedem a necessidade de que um tatuador deve possuir algum certificado que prove seu conhecimento em cuidados básicos de saúde para evitar riscos como a contaminação cruzada, importância da higiene e do descarte de lixo biológico; sendo necessária a presença de uma maior fiscalização para a regularização desta profissão e procedimento, levando à um menor gasto com saúde do cliente e tatuador. A remoção da tatuagem contém riscos como os queloides, cicatrizes e despigmentações, e esta deveria ser feita por um profissional da saúde especializado para que possa ser evitado estes eventos adversos ou casos mais graves. Portanto, exigir que este procedimento deva ser realizado por um profissional da saúde capaz de avaliar os riscos da remoção e retirar com maior eficiência. A regularização e fiscalização apresentam benefícios para o mundo da tatuagem, tanto para o tatuador quanto para o consumidor, com menores gastos em saúde e fornecer um procedimento mais seguro para cliente. 32 6. BIBLIOGRAFIA [1] LAUX, Peter et al. A medical-toxicological view of tattooing. The Lancet, v. 387, n. 10016, p. 395-402, 2016. [2] FORTE, Giovanni et al. Market survey on toxic metals contained in tattoo inks. Science of the total environment, v. 407, n. 23, p. 5997-6002, 2009. [3] MINGHETTI, Paola et al. The safety of tattoo inks: Possible options for a common regulatory framework. Science of The Total Environment, v. 651, p. 634- 637, 2019. [4] SWEENEY, Susan M. Tattoos: a review of tattoo practices and potential treatment options for removal. Current opinion in pediatrics, v. 18, n. 4, p. 391-395, 2006. [5] DE MOLL, Ellen H. Tattoos: from ancient practice to modern treatment dilemma. Cutis, v. 101, n. 5, p. E14, 2018. [6] CUL, Yanyan et al. 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