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ESTÉTICA FACIAL II Katiane Aparecida Soaigher Novas tecnologias em estética Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar as técnicas de indução percutânea de colágeno facial. Descrever os tratamentos estéticos veganos. Listar as inovações tecnológicas aplicadas à estética. Introdução O mercado da estética está em contínuo crescimento e, a cada ano, conta com novas tecnologias, vários tipos de equipamentos e técnicas, que acrescentam recursos aos procedimentos já executados. Neste capítulo, você vai conhecer algumas dessas novidades já divul- gadas pela mídia e que são procuradas pelos clientes. Irá aprender sobre a importância da indução à síntese de colágeno e como esse processo ocorre por meio do microagulhamento. Você conhecerá uma inovação em tratamentos estéticos, que é a proposta vegana, e a importância do conhecimento desse assunto para a possível manutenção da saúde e da sustentabilidade. Serão abordados também alguns equipamentos eletroestéticos, como o ultrassom focalizado e a laserterapia, e a sua utilização em conjunto em protocolos faciais. 1 Indução à síntese de colágeno O colágeno é uma fi bra proteica presente na derme, a camada mais profunda do tecido tegumentar, que é responsável por grande parte da sustentação da pele como um todo. Com o processo do envelhecimento, é comum que ocorra diminuição e enrijecimento das fi bras de colágeno, que leva a problemas es- téticos, como fl acidez e rugas. Por isso, a indução à produção de novas fi bras de colágeno é um bom recurso para tratamentos estéticos faciais, corporais e capilares. As Figuras 1 e 2 apresentam as fi bras colágenas e a sua relação com a pele jovem e a envelhecida e com as irregularidades na pele (BORGES, 2010). Figura 1. Fibras de colágeno em pele jovem e em pele envelhecida. Fonte: Adaptada de gritsalak karalak/Shutterstock.com. Colágeno e a idade Pele jovem Pele envelhecida Na pele jovem, as fibras estão entrelaçadas e próximas umas das outras e formam uma rede de sustentação. Já na pele envelhecida, o número de fibras é menor, e as existentes estão desorganizadas ou rompidas, o que compromete a sustentação da pele. Figura 2. Fibras de colágeno e sua relação com as irregularidades na pele. Fonte: Adaptada de Designua/Shutterstock.com. Pele mais lisa, espessa e firme Rugas profundas Epiderme Derme Hipoderme Pele jovem Pele envelhecida Colágeno Fibroblasto Elastina Ácido hialurônico Para minimizar o processo de degradação e a perda gradual natural das fibras colágenas, novas fibras podem ser formadas por meio da técnica de Novas tecnologias em estética2 microagulhamento. É uma técnica que utiliza diferentes tipos de dispositivos com pequenas e finas agulhas que perfuram a pele para estimular a produção de colágeno (FABBROCINI et al., 2009). O microagulhamento é uma excelente técnica para abrir canais de perme- ação de princípios ativos chamados de drug delivery (entrega de drogas) que permite a distribuição transdérmica de ativos específicos até as camadas mais profundas. Para potencializar o tratamento, pode ser utilizada uma variedade de cosméticos que também induzem a produção de colágeno, como fator de crescimento fibroblástico ácido (aFGF), firmadores da pele, hidroxiprolisilane, entre outros (FABBROCINI et al., 2009). A técnica de indução de colágeno é indicada para diversos tratamentos faciais, os mais comuns são: rejuvenescimento facial e tratamento de rugas; diminuição de poros; amenização de cicatrizes de acne; permeação de ativos. Dispositivos utilizados no microgulhamento Existem dois tipos de dispositivos utilizados como ferramentas para a indução de colágeno: Derma roller — instrumento mais tradicional, é um pequeno rolo de polietileno em forma de tambor recoberto por diversas agulhas finas com cerca de 0,1 mm de diâmetro. Essas agulhas são feitas de aço inoxidável cirúrgico ou liga de titânio, com diferentes milímetros de comprimento que variam de 0,5 a 3 mm, e são posicionadas de forma paralela em várias fileiras, perfazendo um total de 180 a 540 unidades, em média, número que varia segundo o fabricante. O instrumento é de uso único e é pré-esterilizado por irradiação gama (Figura 3) (DO- DDABALLAPUR, 2009). 3Novas tecnologias em estética Figura 3. Microagulhamento com o dispositivo derma roller. Fonte: Robert Przybysz/Shutterstock.com. Smart derma pen ou smart pen — ferramenta mais recente, é uma caneta cuja ponteira de agulhas pode ser retirada, descartada e substituída por outra. As ponteiras podem conter 1, 9, 12, 24 ou 36 agulhas com comprimento de 0,25 a 3 mm. Nesse sistema, o tamanho delas pode ser controlado diretamente no aparelho, assim como a velocidade da aplicação. Para um procedimento mais uniforme na aplicação com o smart pen, a ponteira mais adequada é a de 36 agulhas (Figura 4). Figura 4. Microagulhamento com o dispositivo smart pen. Fonte: Robert Przybysz/Shutterstock.com. Novas tecnologias em estética4 É importante lembrar que para cada afecção e para cada cliente há uma indicação de dispositivo, cada caso deve ser avaliado de maneira criteriosa. Para lesões mais profundas como rugas, cicatrizes atróficas ou hipertróficas de acne, são utilizadas agulhas entre 2 e 3 mm de comprimento; para lesões medianas podem ser utilizadas agulhas de 1 a 1,5 mm; e para lesões super- ficiais ou para drug delivery podem ser utilizadas as agulhas de até 1,5 mm, de acordo com a espessura da pele (BORGES; SCORZA, 2016). Na grande maioria dos casos, o comprimento da agulha escolhido é o de 1mm, que leva a uma agressão satisfatória e induz de forma suficiente a produção de colágeno; porém a seleção do tamanho ideal de agulha dependerá do objetivo do tratamento e da extensão da área a ser tratada, por exemplo, em procedimentos faciais, o pescoço e o colo podem ser incluídos (PERNA et al., 2019). Os principais pontos a serem considerados para aplicação do derma roller e do smart pen são apresentados no Quadro 1, a seguir. Preparação Atentar para todas as medidas de biossegurança, como a utilização de equipamentos de proteção individual (EPIs) e esterilização do local. Higienizar e esfoliar a pele do paciente antes da aplicação de produtos antissépticos. Aplicar anestésico tópico (lidocaína 5%) e deixar agir por 20 minutos. Retirar o anestésico para iniciar a aplicação dos dispositivos. Quadro 1. Considerações sobre a aplicação do derma roller e do smart pen (Continua) 5Novas tecnologias em estética Aplicação Manusear o derma roller de forma precisa, com pressão mediana sobre a pele; no caso do smart pen, não é preciso aplicar pressão, apenas segurá-lo de maneira firme sobre a pele. Passar os dispositivos sobre a pele de forma rápida, pois caso o movimento seja muito lento, a sensação dolorosa será acentuada sem necessidade. Fazer a aplicação em diferentes direções: na horizontal, na vertical e na diagonal, para a direita e para a esquerda, especialmente na aplicação do derma roller. No caso do smart pen, esse tipo de aplicação também é válido, mas não tão necessário, pois com esse dispositivo a aplicação unidirecional tende a ser naturalmente homogênea. Passar o derma roller e o smart pen em torno de 4 a 6 vezes, mas, se houver sangramento antes disso, o número de aplicações deverá ser menor. Em alguns casos, verifica-se a possibilidade de até 8 aplicações, mas esse número depende da resposta da pele. Estirar a região com as mãos para a aplicação adequada sobre o sulco é recomendado quando houver a presença de sulcos na pele, como o sulco nasogeniano, ou quando houver presença de rugas profundas. Formar uma prega para melhor manuseio é recomendado quando houver presença de depressões de baixo relevo na pele, como as geradas por cicatrizes de acne (cicatriz atrófica). Limpar toda a região com soro fisiológico e aplicar o cosmético favorávelao quadro apresentado. Recomendação de aplicação Realizar o número de sessões para tratamentos faciais indicado, que é em torno de 4 para afecções como rugas finas e poros dilatados. Para permeação de ativos o número poderá ser maior. Respeitar o intervalo de 30 dias entre as sessões para indução de colágeno no tratamento das rugas. Essa é uma regra geral, porém cada caso pode ser avaliado de forma individual. Quadro 1. Considerações sobre a aplicação do derma roller e do smart pen (Continuação) (Continua) Novas tecnologias em estética6 Fonte: Adaptado de Borges e Scorza (2016). Princípios ativos Os principais princípios ativos utilizados após a indução de colágeno por meio do microagulhamento são vitamina C, vitamina A, ácido hialurônico, fatores de crescimento. Contraindicações Má cicatrização, queloide, diabetes, rosácea ativa, uso de anticoagulantes, doenças relacionadas à formação do colágeno, feridas abertas, acne pustulosa, herpes ativa, infecções e inflamações cutâneas, gravidez, uso do medicamento isotretinoína. Efeitos adversos Os efeitos indesejáveis que podem ocorrer e que, em geral, estão associados à aplicação inadequada são: sangramento excessivo durante a sessão; hiperemia acentuada; dor no local do tratamento após a sessão; descamação intensa; edema importante; marcas semelhantes a arranhões; hipercromia pós-inflamatória; inflamação; infecção. Cuidados posteriores Aplicar filtro solar apenas após 24 horas do procedimento, tomando o cuidado de escolher formulações que possuam ativos com ação calmante, de preferência. Observar o fototipo da pele, pois dependendo do caso, procura-se um preparo prévio com uso de despigmentantes para não gerar uma lesão intensa. Orientar o cliente para usar fotoprotetor diariamente e repassar durante o dia, sob o risco de hiperpigmentação. Caso o cliente utilize cosméticos faciais, deve interromper por 1 dia e, depois, voltar a aplicá-los, desde que sejam de conhecimento do profissional. No caso de irritação da pele ou calor excessivo no dia seguinte, o cliente pode fazer compressas frias e entrar em contato com o profissional que realizou a aplicação. Quadro 1. Considerações sobre a aplicação do derma roller e do smart pen (Continuação) 7Novas tecnologias em estética A indução de colágeno feita por meio do microagulhamento é uma técnica que exige cuidados especiais quanto à assepsia do local e dos utensílios. As regras de biossegurança devem ser levadas à risca, pois é um tratamento invasivo que abre portas de entrada para microrganismos potencialmente nocivos. Vale lembrar que o derma roller é um dispositivo descartável, de uso único, e que deve ser rejeitado no coletor de perfurocortantes. O mesmo vale para as ponteiras de agulhas utilizadas no smart pen. 2 Tratamentos estéticos veganos O constante crescimento da indústria de cosméticos é notável e, com isso, surgem novos desafi os e novas possibilidades. O mercado está cada vez mais exigente e a busca pela manutenção da saúde e pela preservação do meio ambiente são temas que se relacionam, pois são desejos e necessidades dos atuais consumidores e dos profi ssionais da área (FRANCA, 2018). Nesse cenário, surgem os cosméticos veganos, aqueles que utilizam extratos vegetais na fabricação. Para que possam receber essa denominação, esses pro- dutos devem ter toda ou grande parte de sua composição de origem vegetal. A produção desses cosméticos envolve também a preocupação da não utilização de testes feitos em animais para a preservação do bem-estar animal. A necessidade de fabricação e utilização dos cosméticos veganos se deve ao fato de que compostos industrializados são, em geral, mais alergênicos, e podem levar, com mais frequência, a quadros de patologias quando utilizados de forma rotineira por um período de tempo (FRANCA, 2018). Muitos desses compostos industrializados têm potencialidade cancerígena, como as substân- cias xenobióticas, que não são comuns ao organismo humano e que, ao serem descartadas (resíduos gerados após retirada de creme hidratante corporal no banho, por exemplo), geram danos irreversíveis ou de longo prazo ao meio ambiente (SILVA; DALL'IGNA, 2018). É por isso que a preocupação com o conhecimento e a utilização desses produtos deve fazer parte da rotina de estudos dos profissionais da área da estética e da cosmetologia. Os extratos vegetais já são utilizados há muito tempo em diversas preparações cosméticas e seus benefícios já são cientificamente comprovados. Porém, o que se identifica na maioria dos produtos com extratos Novas tecnologias em estética8 vegetais, é que a porcentagem de concentração dos extratos é muito pequena em relação aos compostos industrializados. A intenção na produção dessa nova geração de cosméticos é contrária a isso: aumentar a porcentagem de extratos naturais vegetais e diminuir a porcentagem de princípios ativos com potencialidade nociva ao organismo humano e ao meio ambiente (GONÇAL- VES; HENKES, 2016). Os cosméticos veganos estão no mercado há vários anos e são constituídos por produtos com baixa ou nenhuma concentração de compostos industriali- zados. Para a elaboração de um cosmético vegano prioriza-se a utilização de matérias primas naturais, ou seja, princípios ativos e demais compostos de origem natural. Além disso, esses produtos tendem a possuir embalagens sustentáveis que possam ser facilmente recicladas ou, caso descartadas no meio ambiente, se degradem mais facilmente. Esses cosméticos estão presentes em diferentes formulações, tanto nos cosméticos faciais como nos corporais e capilares (ROCHA, 2016). No que se trata de cosméticos faciais veganos, citamos os seguintes exemplos: sabonetes em barra compostos por óleo de abacate e extrato de alecrim; demaquilantes compostos por óleo de coco; tônicos faciais com extratos de frutas; cremes faciais compostos por emulsão de óleo de girassol. Desde que o produto seja composto principalmente por produtos de origem natural vegetal (pelo menos 90%) e não haja nenhuma relação de sua fabricação com algum tipo de tortura animal ou utilização de compostos de origem animal (como o mel por exemplo), então ele é um cosmético vegano (LARIO, 2016). A conservação dos cosméticos veganos tende a ser mais rigorosa do que a conservação dos cosméticos naturais, pois os extratos vegetais propiciam a proliferação de micro-oganismos. Isso não quer dizer que a potencialidade do tratamento almejado seja menor, apenas que o prazo de validade tende a ser mais curto e, por isso, na compra desses produtos, a quantidade deve ser controlada para que se evitem desperdícios. A conservação em geladeira ou não dependerá dos ativos adicionados e esse tipo de informação deve estar presente no rótulo. Em geral, produtos veganos com substâncias voláteis como os óleos essenciais por exemplo, devem ser guardados em ambientes com temperatura de 25oC, em média, sem iluminação direta (ROCHA, 2016). 9Novas tecnologias em estética Substâncias xenobióticas são aquelas que não são comuns ao nosso organismo e que podem ser nocivas. Para saber mais sobre os riscos provenientes dessas substâncias e sobre alternativas cosméticas não nocivas, leia o artigo “Risco cosmético e alternativas para substâncias xenobióticas”, de Grace Rovena Teles V. Silva e Dhébora Mozena Dall’lgna. Princípios ativos vegetais O Quadro 2 apresenta alguns princípios ativos vegetais com ação comprovada pela ciência e que podem ser utilizados em cosméticos veganos. Princípio ativo Ação Extrato de camomila Extrato de calêndula Calmante Extrato de tília Emoliente, calmante, adstringente Extrato de alecrim Analgésica, anti-inflamatória, anti-fúngica Extrato de agrião Tônica, anti-inflamatória, cicatrizante Extrato de bardana Detox, purificante Extrato de sálvia Antisséptica, anti-inflamatória Extrato de hamamélis Adstringente Extrato de castanha da Índia Adstringente, clareadora,anti-inflamatória Quadro 2. Princípios ativos vegetais (Continua) Novas tecnologias em estética10 Para entender um pouco mais sobre a importância da utilização de cosméticos naturais e o seu impacto no meio ambiente, leia o artigo “Produção de cosméticos de forma mais sustentável”, de Jennifer Sumar Gonçalves e Jairo Afonso Henkes. 3 Inovações tecnológicas em estética facial É necessário conhecer as diversas inovações tecnológicas aplicadas à estética existentes no mercado para melhor atender a clientela, que está sempre em busca de novidades. É comum que os clientes já tenham uma opinião pré- -formada sobre os procedimentos de seu interesse e, se o profi ssional não os conhecer ou não souber a forma como ele é divulgado na mídia, é possível Fonte: Adaptado de Rebello (2019). Princípio ativo Ação Ginseng Ativa a circulação, anti-inflamatória Aloe vera Anti-inflamatória, cicatrizante Óleo de abacate Cicatrizante, nutritiva Ginkgo biloba Aumenta a elasticidade, anti- estresse, ativa a circulação Macadâmia Hidratante, regeneradora Óleo de coco Umectante Extrato de açafrão Adstringente, anti-inflamatória Romã Antioxidante Óleo de jaborandi Emoliente, nutritiva Óleo essencial de melaleuca Antisséptica, cicatrizante Quadro 2. Princípios ativos vegetais (Continuação) 11Novas tecnologias em estética que o indivíduo não se sinta seguro para realizar o procedimento. Portanto, a seguir, veremos algumas das tecnologias utilizadas na atualidade, como o ultrassom focalizado, a laserterapia e a ledterapia. Ultrassom focalizado Entre os equipamentos eletroestéticos mais comentados no momento, está o ultrassom focalizado. Por meio de energia ultrassônica de alta potência, o instrumento gera um grande nível de cavitação instável levando a um efeito térmico lesivo (ablativo) em um determinado ponto e com profundidade que pode ser controlada. Diferentemente do ultrassom comum, a energia não se dispersa, fi ca focalizada, tendo, então, seus efeitos potencializados (BORGES, 2010). O ultrassom focalizado tem como característica um material piezoelétrico convergente que gera uma ultracavitação convergente em único ponto; já o ultrassom convencional tem como característica a cavitação plana (Figura 5) (BORGES; SCORZA, 2016). Figura 5. Diferença entre feixe ultrassônico plano e focalizado. Fonte: Adaptada de Loja Estética ([20––]). Transdutor plano Ultrassom plano Cavitação estável Lipólise Ultrassom focalizado Cavitação instável Apoptose ou morte celular programada Pele Gordura Músculo Pele Gordura Músculo Área focal Novas tecnologias em estética12 O ultrassom focalizado de alta intensidade (HIFU) é bem conhecido no ramo da estética corporal e indicado para tratamento da gordura localizada, pois, por meio de alta energia, causa ablação nas células adiposas sem lesar o tecido adjacente. Para tratamentos faciais, o ultrassom microfocalizado (MFU) é utilizado, pois, diferentemente do HIFU, utiliza energia em menor intensidade para tratar camadas mais superficiais da pele (CALÇADA; SILVA, 2017). O MFU é uma técnica indicada para flacidez tissular pois, por meio da produção de temperaturas entre 60 e 70ºC, provoca um pequeno ponto de coagulação térmica menor do que 1mm, atingindo, dessa forma, a camada reticular da derme, da subderme e o sistema muscular aponeurótico superficial, sem lesar as camadas acima delas, ou seja, a epiderme e a camada papilar da pele. Essa técnica promove uma contratura imediata do colágeno, que leva a uma neocolagênese e a um remodelamento (Figura 6) (BORGES; SCORZA, 2016; SILVA; FERREIRA; NASCIMENTO, 2016). Figura 6. Aplicação facial do MFU com a área demarcada previamente. Fonte: karelnoppe/Shutterstock.com. Quando os efeitos fisiológicos são desencadeados pela ação térmica, poderá haver a instalação dos efeitos clínicos desejados. Por exemplo, quando há diminuição de fibras elásticas, há o estímulo de produção de nova elastina, que favorece a sustentação da pele e melhora, assim, quadros de flacidez. O 13Novas tecnologias em estética ultrassom focalizado também é indicado para rugas e rejuvenescimento facial por aumentar a produção de colágeno e elastina e favorecer a permeação de princípios ativos (BORGES; SCORZA, 2016). Um dado verificado entre os resultados obtidos com equipamentos de HIFU tem relação com a frequência que eles utilizam, o depósito de energia que, em geral, está entre 4 e 10 MHz. Com a utilização de energias menores do que esses valores, entre 2 e 3 MHz, verificou-se que os equipamentos produziram uma contração difusa das fibras de colágeno. Em relação ao modo de aplicação na face utiliza-se, em geral, o modo estacionário perpendicular à pele. Para estabelecer o tempo de irradiação total do ultrassom, deve-se levar em conta o tempo de disparo em cada ponto. que pode ser programado pelo terapeuta ou estará já estabelecido pelo fabricante. Esse tempo total estará dependente também do tamanho da área a ser tratada e do número de passadas (CALÇADA; SILVA, 2017). Alguns equipamentos oferecem ponteiras específicas para determinado nível de profundidade, de acordo com as orientações do fabricante. Não há consenso e padrão para a fabricação dos equipamentos de HIFU ou de MFU. A técnica de aplicação do ultrassom focalizado envolve os seguintes passos: 1. selecionar a área de tratamento; 2. calcular a área da região por centímetros quadrados, aproximadamente 5 cm; 3. utilizar moldes próprios para marcar com caneta a região a ser tratada; 4. rosquear a ponteira escolhida no aplicador; 5. colocar filme PVC no aplicador; 6. colocar gel de condução no transdutor do aplicador; 7. aplicar o gel condutor na pele; 8. posicionar o transdutor na pele para iniciar a aplicação, respeitando a distância de 5 mm para cada disparo. O método pode gerar desconforto e não é livre de riscos, portanto, o tera- peuta deve estar habilitado para sua utilização. Existem algumas contraindi- cações como as seguintes: infecção ativa; lesão da pele; acne; gravidez; implantes; Novas tecnologias em estética14 queloides; preenchimentos; indivíduo tabagista ou em uso de medicamentos que interfiram na cicatrização. Laserterapia O laser de baixa intensidade gera efeitos de grande interesse na estética. “Laser” é uma abreviatura de light amplifi cation by stimulated emission of radiation, que signifi ca amplifi cação da luz por emissão estimulada de radiação. Ao contrário da luz solar e da luz incandescente, que emitem radiação em todas as direções e de todo o espectro de comprimento de onda, a luz do laser tem características diferentes, como ser monocromática, ou seja, de uma única cor, ter coerência entre as fases da onda, ser colimada por ter uma única direção e ter polarização (LINS et al., 2010). A laserterapia pode ser utilizada também no corpo, mas é utilizada prin- cipalmente em tratamentos faciais. Em razão de sua ação bioestimuladora que auxilia no reparo tecidual, está indicada tanto para disfunções estéticas quanto para tratamentos de vários processos patológicos, visto que a luz do laser sobre os tecidos aumenta o grau de atividade mitótica e biológica das células, e a luz, sendo um tipo de energia, é essencial para manter a homeostase do organismo (MARTINS et al., 2013). Existem dois tipos de laser (AGNE, 2015): Laser de baixa intensidade ou potência (LIB) — não produz nenhum efeito térmico a ser considerado e suas reações são praticamente de fotobioestimulação celular. Pode ocorrer aumento da temperatura local com a aplicação do LIB em razão do incremento do metabolismo celular e da vasodilatação local (Figura 7). Laser de alta potência — tem uma ação ablativa, é térmico e causa lesão nos tecidos. 15Novas tecnologias em estética Figura 7. Aplicação facial do LBI. Fonte: Aleksandr Lupin/Shutterstock.com. A teoria de interação entre o laser e o tecido está apoiada na absorção ou na atração de determinado comprimento deonda por um alvo específico. O laser pode ser absorvido pela superfície da epiderme da pele ou por uma substância no tecido chamada cromóforo, que absorve a energia do seu feixe de luz (AGNE, 2015). Na estética, o comprimento de onda utilizado está entre 630 e 660 nm, denominado de laser vermelho (visível); e o comprimento de onda acima de 800 nm, em torno de 804 nm, chamado laser infravermelho (não visível). Ambos apresentam os mesmos efeitos, que serão relatados a seguir. Em relação aos efeitos do LIB, pode-se citar o mais característico que é o de fotobiomodulação. Ele favorece o aumento do tecido de granulação (necessário para a cicatrização), a neoformação de vasos sanguíneos e a regeneração de linfáticos, a proliferação de fibroblastos, o aumento da síntese de colágeno, e ainda, os efeitos anti-inflamatório e analgésico. O LIB ajuda no rejuvenescimento da pele aumentando a produção de colágeno e diminuindo sua degradação. Está indicado para afecções faciais que necessitem de cicatrização e efeito anti-inflamatório (acne, pós-cirurgia plástica), afecções em que seja necessário o efeito de biomodulação (rosácea, alergias), e para rugas e flacidez pelo incremento da síntese de colágeno (AGNE, 2015). Novas tecnologias em estética16 Os parâmetros de dosagem indicados para as afecções citadas acima estão entre 4 e 6 j/cm2, dose corroborada por diversos estudos já realizados para cicatrização da pele, para afecções faciais assim como capilares. Para a aplicação do laser, é necessário o uso de óculos próprios para pro- teção do profissional e do cliente. A pele deve ser higienizada e esfoliada (opcional) e estar completamente limpa, livre de oleosidade, sem resíduo de cosméticos. Após o procedimento, pode ser seguido o protocolo eleito. A técnica de aplicação do LIB tem três tipos, os quais: Pontual — consiste em aplicar certos níveis de energia em um deter- minado ponto. Feita a aplicação em um ponto, inicia-se a aplicação em outro, posicionado a ponteira de forma centralizada. Por zona — o feixe de laser é aplicado sem movimentá-lo em uma área determinada, atingindo toda a região. Esta técnica se restringe ao laser visível. Varredura — o laser é aplicado na região escolhida, movimentado de forma lenta. Para saber mais sobre a ação do LIB no tecido tegumentar e sua atuação na estética, leia o artigo “Laser de baixa potência na estética — Revisão de literatura”. Saiba mais Ledterapia O LED (do inglês, light emitting diode) tem ação semelhante ao laser de baixa potência, porém transmite cores diferentes e, para cada cor, há uma indicação terapêutica. Na emissão de sua energia luminosa, realiza fotoestimulação dos tecidos aumentando as taxas de DNA e RNA e o metabolismo local, gerando, assim, efeitos fi siológicos desejáveis. A energia proveniente da luz dos LEDs age diretamente sobre as células (na permeabilidade da membrana celular), em suas organelas (mitocôndrias), em suas proteínas (colágeno e elastina) e em seus processos fisiológicos (sín- tese de ATP). 17Novas tecnologias em estética Para uso na estética, são disponibilizados os seguintes tipos de LEDs: LED vermelho (620 a 680 nm) — atua no processo inflamatório, au- xilia o processo de cicatrização e estimula a formação de fibroblastos, beneficiando o estado geral da pele. É indicado para tratamentos de rejuvenescimento (VARGAS et al., 2016). LED âmbar (590 nm) — possui ação drenante e desintoxicante, estimula a circulação sanguínea e incrementa o metabolismo. É indicado para síntese de colágeno. LED verde (515 a 570 nm) — indicado para quadros de hiperpigmentação e diminuição de edemas. LED azul (420 a 490 nm) — tem importante ação nos quadros de acne por apresentar características bactericidas. Também é utilizado para clareamento e hidratação em razão de sua ação na quebra das pontes de hidrogênio entre as células. Para realizar a aplicação da ledterapia, basta higienizar e esfoliar (opcional) a pele anteriormente, posicionar a luz próxima à face aplicando pontualmente toda a região a ser tratada. O tempo de aplicação por ponto fica em torno de 40 a 60 segundos e, quando aplicado na face toda, estima-se a duração de 20 minutos. Os óculos de proteção devem ser sempre utilizados tanto pelos profissionais quanto pelos clientes, e, após a aplicação do LED, pode ser seguido o protocolo previsto. O LED azul pode ser aplicado em uma pele acneica, concentrando a aplicação nas regiões onde houver pápulas e pústulas. Após a aplicação do LED, pode-se utilizar uma máscara facial secativa e anti-inflamatória. Para cada tipo de afecção pode-se trocar a cor (comprimento de onda) e utilizar um cosmético com ação específica. Novas tecnologias em estética18 AGNE, J. E. Eletrotermofototerapia. 3. ed. São Paulo: Andreoli, 2015. BORGES, F. S. Dermato-funcional: modalidades terapêuticas nas disfunções estéticas. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Phorte, 2010. BORGES, F.; SCORZA, F. A. (org.). Terapêutica em estética: conceitos e técnicas. São Paulo: Phorte, 2016. CALÇADA, A. L.; SILVA, A. C. O uso do ultrassom microfocalizado no tratamento da hipotonia cutânea facial. 2017. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Estética) – Centro Universitário Hermínio da Silveira, Rio de Janeiro, 2017. Disponível em: https://www. ibmr.br/files/tcc/o-uso-do-ultrassom-microfocalizado-no-tratamento-da-hipotomia- -cutanea-facial-aline-lopo-calcada-e-amanda-campos-da-silva.pdf. Acesso em: 14 abr. 2020. DODDABALLAPUR, S. 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No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Novas tecnologias em estética20