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~ MEDEL.E77l0 Capitulolp ELETROfi$10LQGIA CARpiAtA I - Principios Básicos da Elctrofisiotogia 1) Sistema de Condução 2) O Começo de Tudo Potoncia.l de Repouso formação do Impulso Elétrico Condução do Impulso Elétr ico Acoplamento ExcitaçãowContração 11 - Bases Teóricas da Eletrocardiografta 1) Teor ia de Oipolo 2) Ativação do Coração At ividade Elétrica Atrial Atividad0 Elétrica do NAVe do Sistema His·Purkinje Atividade Elétrica Ventricular 111- Api!-ndice - Canais Iônicos 1) Célula do Resposta Rápida 2) Célula do Resposta Lonta IV - Caderno de Exctc:fcios V - Quadro de Resumos Capitulo 2: O ptstúRetos ELETRotincos I -Introd ução 11 - Distú rbios do Potássio 1) Hipercalemia 2) Hipocalemia UI - Distúrbios do Cãtcio 1) Hipercalc.emia 2) Hipocalcemia IV - Apêndice - Digital V - Cademo de Exerdcios VI - Quadro de Resumos VIl - Ele-trocardiograma na Prâtica Capitulo 3: O TRAÇADO ELETROCARp!OGRÁFICO I - Derivações do Eletrocatdiograma 1) Formação do Traçado 2) Sist ema de Detivaçõas ViolO DIINTRODuçlO (MEOCOOE) Oef'lvações do Plano Frontal Curk>sidades: WiUen Einthoven Derivações d o Plano Horizontal Outras Derivações 11 - Eletrocardiograma Normal 1) Parâmetros do Papel e Registro Volume :1 2) Ciclo Cardiaco o Traçado Eletrocardiogrâflco OndaP Intervalo c Segmento PR Complexo QRS SegmentoST OndaT Inter valo QT OndaU 3) Avaliação do Ritmo e da Frequência Cardíaca Análise do Ritmo Análise da Frn:qufind a Cardiaca 4) As Variações da Normalidade Rotações Cardiacas Padrão Juve-nil Ropolarização Prococe O Coração d o At leta 5) Rotina do Análise do Traçado 111 - Apêndice - Problemas Técnicos 1) lnvetsão de Eletrodos 2) Artefato~ IV - caderno de Exerd cios V - Quadro de- Rasumos VI- Eletrocardiograma na Prát ica ' I o Caprtu o 4: SOBRECARGAS CAVrtÁR!A$ I - Sobracarga Atrial Direita 1) causas 2) Critérios Eletrocardiográf1cos 11 - Sobrecarga Atrial Esquerda 1) causas 2) Critérios Eletrocardiográf1cos 111 - Sobrecarga Biatriat 1) causas 2) Critérios Eletrocardiográficos IV - Sobrecarga Ventricular Esquerda 1) causas 2) Critérios Etotrocardiográf1cos Critérios de Voltagem do Complexo QRS Escore de Pontos: Critério de Romhilt-Estes Sobr ecarga Sist6lica X Sobrecarga Diast6Uca V- Sobrecarga Ventricular Direita 1) Cau sas 2) Critérios Eletrocardiogrãf1cos VI - Sobrecarga Biventricular VIl - Caderno de Exerdcios VIII - Quadro de Resumos IX- Elet rocardiograma na Prática o Capitulo 5: BLOQUEIOS DE RAMO I -Organização Elét rica 1) Ativação Ventricular Normal 11 - Bloq ueio de Ramo Direito 1) Fisiopatologia 2) Manifest ações Eletrocardiogrãf1cas 3) Graus de Bloqueio de Ramo Direit() UI - Bloqueio de Ramo Esquerdo 1) Fisiopatologia 2) Manifest ações Eletrocardiogrãf1cas 3) Graus de Bloqueio de Ramo Esquerdo IV - Implicações Clinicas dos Bloqueios de Ramo 1) CaUSàS 2) Prognóstico V - Cademo de Exercidos VI - Quadro de Resumos VIl - Ele-trocardjograma na Prática Capitulo 6: O HEHIBLOQUE!O$ OU BLOQUEIOS fASCICULARES l - Organização Elétrica Curiosidades: Maurtcio Bernardo Rosenbaum li - Hemibloqueio Anterior Esquerdo (HBAE) 1) Fisiopa:tologia e Ativação Ventricular 2) Manifest ações Eletrocardiogrâfocas Plano Frontal Plano Horizontal Outros Achados 3) Diagnóst icos Diferenciais. Alterações simuladas. pelo HBAE Efeitos -do ~BAE sobre outros diagnóst i cos 4) Implica ções Clínicas UI - Hemibloqueio Posterior Esquerdo (HBPE) 1) Fi.siopa:tologia e Ativação Ventricular 2) Manffestações Eletrocardiogrãf•ca.s. Plano Frontal Plano H:orizontal Outros Achados 3) Oiagnó.sticos Diferenciais Alterações simuladas pelo HBPE Efeitos Orona riano e, assim como o NSA, é formado por células que apresentam automatismo.repercussões eletrocardio gráficas? Como as fases do potencial de ação são mar cadas prind palmente por fluxos de cátions, não é surpresa que mudanças nas concentrações do potássio e cálcio sejam as mais frequente mente identificadas neste contexto. Você pode estar se perguntando: "Mas e o sódio?'. Apesar de o sódio ser um cátion fundamental na geração do potend al de ação, ele não afeta de forma significativa o eletrocardiograma, talvez por in fluenciar pouco o potencial de repouso dia célu la, sendo basicamente um íon cuja entrada na célula promove a sua despolarização. ATENÇAO!!! Dentre todos os d istúrbios eletroliticos, as alterações que podem realmente acar retar alterações eletrocardiogrâficas sig nificativas são: Hipercalemia, Hipc;cale mia, Hipercalcemia e Hipocalcemia. -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAPin.u> 2 • J5 O ts JU:Isros ELETROLITICOS Embora, por definição, o diagnóstico destas alterações seja laboratorial, o eletrocardio grama é um método rápido e prático que permite identificar, á beira do leito, s inais que apontam para a presença. de a lguns destes. distúrbios. Há inclusive a possibilida de de estimar a gravidade do distúrbio labo- ratorial com uma pequena margem de erro - as modificações eletrocardiográficas an dam em paralelo com a severidade da alte ração eletrolít ica. Isto possibilita a instituição de uma terapia potencialmente salvadora antes mesmo que o resu ltado laboratorial esteja dispon ivel. OIS URBIOS DO POTASSIO Apenas 2% do potássio corporal está presente no meio extracelular, fazendo dele o principal íon do meio intracelular. Assim, seu valor séri co normal é de apenas 3,5 a 5,5 mEq/L e a definição de hipercalemia e de hipocalemia é feita quando seus valores, encontram-se res pectivamente acima e abaixo destes. A influência do potássio no potencial de ação. Certamente, você ainda se lembra da parti cipação do potássio no potencial de ação dos miócitos card iacos, mas não custa nada fi xarmos esse conceito, certo? Nesse momen- to, é importante recordarmos que o potássio tem maior influência em 2 processos: (1) repolarização de todas as células cardíacas por conta da abertura de canais que permitem o seu efluxo (saída) para o meio extracelular; (2) manu tenção do potencial de repouso das células de resposta rápida (Figura 1). Assim, as al terações do potássio constituem o grupo mais comum de distúrbios eletrolíticos com capacidade de modific;~r o traçado eletro cardiográfico. Além disso, a elevada freq;uência da hipo e hipercalemia na prática clínica e as características típicas das alterações no traça do também facilitam o diagnóstico. Variação Iônica Intracelular e a Mudança do Potencial de Ação Resposta Rllplda Resposta Lenta o · 60 · 60 · 90 F I G U RA 1: A& P R INC IPAI S I N F'LUÊ NCI A S 00 POTÁSSI O SÃO N A R E POLARI ZAÇÃO I F'A S E 3) O E AMSAS A S c f:LUL A S E N A MAN UTENÇÃO 00 POTENCI AL O E R E POUS O O A S C É L U LAS O E R ESPOS TA RÁPIDA t F"AS E 4), HIPERCALEMIA Lembre-se que o potencial de repouso do miócito cardíaco era determinado basicamen te pela diferença entre o potássio intracelular (muiio concentrado) e o exiracelu lar (pouco concentrado), que acabava fazendo com que boa parte deste íon saísse da célula a favor de seu grad iente de concentração até que se encontrasse um equilíbrio e létrico em torno de -90 mV. Na hipercalemia, essa diferença de concen tração é aienuada (o meio exiracelular au menta sua concentração de potássio), de modo que, o "novo equilíbrio elétrico" canse- -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAPin.u> 2 • J6 O ts JU:Isros ELETROLITICOS gue se r alcançado com uma menor saída de potássio, implicando em um novo potencial de repouso menos negativo (menos nega tivo que - 90 mv). Essa alteração muda bastante o comporta mento e létrico do coração e podemos perceber as seguintes alterações sequenciais: ( 1) A repolarização é encurtada: fica mais fá cil o potencial de ação voltar ao seu novo potencial de repouso após a despolarização, já que esse novo potencial é menos negativo. Com o tempo de repolarização encurtando-se, a onda T também dura menos tempo tornao- do-se majs a lta e apjcu!ada (formato de tenda) e, como conseauência o intervalo QTtambém é encurtado. (2) Alteraç.ão da despolarização: quanto mais próximo de O estiver o potencial de repouso, menos canais de sódio estão dis poníveis para desencadear uma nova des polarização, o que torna as ativações atríais e ventriculares mais lentas, bem como a propagação desses estímu los pelo tecido elétrico do coração. Assim, esse novo po tencial menos negativo acarreta um a larga mento do complexo QRS e um achatamen to da onda e. Pena de Morte Cerca de 74 países e 32 estados americanos adotam a pena de morte e, atualmente, a injeção letal é o meio de execução mais empregado nos EUA. onde sucedeu a cadeira elétrica. que, por sua vez, sucedeu a câmara ode gâs e esta, a guilhotina e a forca. O protocolo de injeção mais usado envolve a combinação de 3 drogas, administradas na sequência : (1) Sarbíturico (ação hipnótico-sedativa para perda da consciência): o mais classicamente usado é o tiopentato de sódio (tíopental) •. (2) Bloqueio neuromuscular (paralisia de musculatura respiratória): para este propósito, usa se o pancurônio (pavulon). (3) Cloreto de Potássio (produção da parada cardíaca): a hipercalemia interfere nas propriedades elétricas do coração. • No final de 2010, a empresa que produzia o üopentato de sódio para comercialização nos Estados Unidos (Hospira), ao discordar do propósito de seu uso e ter dificuldade em manter a sua produção, decidiu retirar a droga do mercado. Alguns estados americanos já terminaram seus estoques e muitos passaram a planejar o uso da injeção letal com o protocolo de apenas 1 droga, adotando outro barbitúrico- o fenobarbital- em dose alta. Em geral, existe certa correlação entre os ní veis sérícos de potássio e os achados eletro cardiográficos , entretanto o traçado a inda pode ser normal mesmo com níveis laborato riais muito elevados. Considerando-se o traçado eletrocardiográfi co, podemos dizer que as alterações relacio nadas à hiperpotassemia geralmente progri dem da direita para esquerda (onda T complexo QRS - onda P) à medida que os níveis de potássio aumentam. ! J 'Ji '-r• V3 I F'IGU R A 2 : ONDA T EM TENDA • PRI M EIRA A LTERAÇÃO D A H IP ERCAI..EM IA. -··- MEOr:u: tRO :-lr': C APin.u> 2 • J7 O ts JU:Isros ELETROLITICOS Hjpercalemja I eye (5 5 7 O mEQI! ) A onda T é o primeiro componente a sofrer com a hipercalemia, já podendo se observar alguma manifestação a partir de um potássio sérico de 5,5 mEq/L. Ela assume uma morfologia simé trica, apiculada e mais estreita, apesar de au mentar em amplitude: este padrão é conhecido com onda T em teacta (Figura 2) e justifica também um encurtamento do intervalo QT. Essa onda T alta e apiçulada pode nos fuer lembrar do quê? Você verá no capitulo 12, que essa caracterís tica se assemelha a um processo de isquemia miocárdica e, de fato, é um importante diagnós tico diferencial. Mas perceba: no caso da hiper calemia, a tendência é que alteração da onda T seja d isseminada, ou seja, su~a em qualquer registro eletrocardiográfico. Enquanto, na do ença coronariana, ela respeitará a parede do coração em sofrimento - aparecerá somente no traçado que registre a parede i squêmica. Hipercalemia Moderada (7,0 - 9 O mEq/Ll Quando os níveis de potássio passam de 7,0 mEq/L, já começa a ocorrer uma lentificação da geração da fase O do potencial de ação e da propagação do estimulo entre os miócitos. Assim, observa-se um alargamento do com plexo QRS e da onda P, que também sofre uma redução de amplitude. Eventualmente, o intervalo PRpoderá aumentar, o que., como veremos no capítulo 10, caracteriza um Blo queio Atrioventricular (BAV) de 1° grau, j á que demonstra um alentecimento da passagem do estímulo dos átrios para os ve ntrícu los. Estas alterações progridem de forma proporcional à elevação do potássio sérico, com a onda e tornando-se cada vez majs achatada e o ORS mais alargado . Com valores acima de 8 mEq/L, a onda P some completamente, por causa de um compro metimento avançado da condução intra -atrial, embora o nodo sinusal ainda perma neça funcionante nesta situação. Desta for ma, ele continua atuando como o nnarca -passo cardíaco, mas dependendo quase exclusivamente dos feixes internodais (e não mais dos miócitos atriais) para que o e·stímu lo alcance o nodo AV e, em segu ida, os ven trículos. Portanto, é estabelecido um ritmo sinusal sem formação de onda P, chamado de ritmo sinoveatricular, que, no traçado, é praticamente indistinguível de um ritmo jun cional ou ventricular. FIG U RA 3: O N D A T ALTA E A PIC ULADA I"'EM TEND A'') A S S O C I A D A A O A C HAT AMENTO DA O NDA P S à O ACHAD O S CLÁS S IC OS D A HIPER C A LEM IA. -··- MEOr:u:tRO :-lr': CAPin.u> 2 • J 8 O ts JU:Isros ELETROLITICOS 0 11 I" p~ ...A A I r ~. I? P" F"'II3 U RA 4: ONDAS T E M TEND A - GRANDE MARCA DA H IPER C A L EMIA, C O MPL-EXO S QRS N à O PREC EDIDOS POR OND A p, E S S 1E R ITMO GERALME N TE S ERI A CHAMADO OE .JUNCIONA L t MAS É I MPO S S i V EL D lrERE NCIAR D E UM R ITM O S I NOVE NTRICULA.R (RITMO S I N U SAL S EM ONOA P V t S Í VEL ), Hjperçalemja Graye (> 9.0 mEq/L ) E possível observar alteracões do seamen to sr. prjncjpalmente o sypradesnjyela· mentq, (segmento ST deslocado para uma altura acima da linha de base), que inclusive poderá ser confundido com um infarto ou pericardite. Este fenômeno provavelmente é resultado da formação de um gradiente elé trico entre as regiões mais afetadas pela hi percalemia e aquelas ainda poupadas ou menos acometidas, uma vez que a distribui ção do potássio extracelular não é completa mente homogênea. Isto é conhecido como padrão de pseudoinfarto ou corrente de lesão dialisável, uma vez que reverte completamen te após a correção da hipercalemia durante a diálise. O achado eletrocardiográfico mais grave da hipercalemia - que é um indício de uma parada cardíaca iminente- é a fusão do complexo QRS com a onda T, não havendo segmento QT identificável. Este padrão é conhecido como "onda em sino" e some com pletamente se o tratamento correto for insti tuído imedia tamente. Veja na Tabela 1 os principais achados da hipercalemia. Vale lembrar que esta progressão nem sem pre ocorre de forma previsível, ainda que seja uma maneira didática e prática para estimar o valor sé rico de potássio. A parada cardíaca, por exemplo, pode ocorrer com níveis meno res do que 12 mEq/L, apesar de invariavel mente se estabelecer acima deste corte . K "lmtq/ll Prtnclp;us Achados Eletrocardlogràficos ECG 3,5-5,5 -T~..,.., L 5,5- 7 · Onda r em "tenda· (.alta e aplcttada ) ~ • Eoo.ttamento do intfl\'illlo QT 7-9 -Aia-doQRS ·Achatamento ou desape.tedmento da ooda P (ritmo sii'IOYef'ltrioJar) -10- >9,0 • k&s5o do compleloo o:tS ((JI'Tt ondtt T ( orxk.1 em sinQ) -AA >12,0 • Assbtolol ou flbrilclç3o~ TABELA 1. -··- MEOr:u:tRO :-lr': C APin.u> 2 • J9 O ts JU:Isros E LETROLITICOS FIGURA 5 : ONDAS T APICULAOAS, QRS A LARGAD O E O N O A E M S INO E M 011, AVF' E DE V 2 A VS ( C OMP LEXO QR S S SE CON TINU A D IR ETAMENTE COM A O N DA T ): HIPERCAL E M I .A.. HIPOCALEMIA Depois de entendido o comportamento elétri co da hipercalemia, a compreensão da hipo calemia fica facil itada ... Lembre-se, mais uma vez, que o potencial de repouso do miócito cardíaco é determinado basicamente pela diferença entre o potássio intracelular (muito concentrado) e o extracelular (pouco concen trado), que faz com que parte dele saia da célula a favor de seu gradiente de concentra ção, encontrando um equilíbrio elétrico em torno de -90 mV. Na hipocalemia, essa dife rença de concentração é intensificada (o meio extrace lular reduziu sua concentração de potáss io), de modo que, o "novo equilíbrio elétrico· só é alcançado com uma maiorsaida de potássio, implicando em um novo poten cial de repouso mais negativo {mais nega tivo qu•e - 90 mv): dizemos que a célula está hiperpolarizada. Essa a lteração muda a propriedade elétrica do coração: (1) A repolarização é mais lenta: com o novo potencial de repouso mais negativo, torna-se mais difícil para a célula voltar a esse patamar, de modo que ela gasta mais tempo para fazê-lo. Com o tempo de repolarização mais largo, ª onda I também dura mais temoo e se toma de menor amplüude assjm como o jnterva!o OI sofre um alargamento. o que, predispõe a fenô menos arritmogênicos, especialmente a uma arritmia denominada Torsades des Pointes. (2) Alteração da despolarização: quanto mais afastado de O estiver o potencial de repouso, mais canais de sódio estão disponíveis para desencadear uma nova despolarização, que passa a acontecer com mais intensidade, tor nando as ativações atriais e ventriculares mais rápidas. Isso pode causar um aumento da amplitude da onda P e também predispor a batimentos ectópicos. Com estes conceitos de eletrofisiologia, fica mais fácil entender as mudanças eletrocardio gráficas associadas à hipocalemia, que ten dem a ocorrer somente abaixo de 2.8-3 mEq/L O sinal mais precoce é a reducão da .ampli tyd e e ayme nto da dyracão da onda r. que ganha um aspecto mais achatado (base mais larga). Em seguida, surge também o achado mais típico da hipocalemia: aumento da onda U. • A teoria mais aceita hoje para explicar o au mento desta onda neste distúrbio eletrolítico é a ocorrência de uma repolarização tardia das fibras de Purkinje, que resulta em uma separação da onda Tem 2 componentes: o 1° componente comporta-se como a onda T original, enquanto o 2° componente atrasado acaba sendo chamado de onda U. Esta onda U patológica tem características distintas da onda U fisiológica: sua amplitude ultrapassa 25% do tamanho da onda T (comporlamenio que a onda U fisiológica não tinha}, podendo até ultrapassá-la em hipocalemias graves, -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAPin.u> 2 • 40 O ts JU:Isros ELETROLITICOS quando a onda U poderá ser confundida com a onda Te até mesmo mascarar a onda P do ciclo seguinte. Além disso, a onda U mais proeminente as sociada à onda T reduzida acaba dando a impressão de um aumento do intervalo D T, quando, na realidade, a fusão desta onda U com a porção terminal da onda T faz com que o intervalo que està sendo aferido seja o QU e não o Q T. Mas isso não pode ser conside rado um equívoco interpretativo, pois, como vimos, essa onda U nada mais é que um componente atrasado da onda L. Então, na hipoca lemia, a medida do intervalo QT ver dadeiro deve mesmo incluir a onda U, sendo mensurado, portanto, pelo intervalo QU. Este fenômeno, como já ci tado, aumen ta o risco de Torsades des Pointes. A onda P e o complexo QRS também podem ser afetados pela hipocalemia devido às pro priedades de alteração na despolarízação ci tadas anteriormente. A despolarização mais rápida causa um aumento da amplitude da onda P. Já o complexo QRS, nas hipocale mias graves, pode sofrer um prolongamento. • Esse alargamento do QRS na hipocalemia - situação .que acelera a despolarização - pode parecer paradoxal, mas tem explicação ... Na realidade, em hipocalemias muito graves, os miócitos ventriculares passam a reter mais cálcio no seu interior, o que altera o s·eu po tencial de repouso e volta a deixá-lo mais próximo de .0, o que, como vimos na hlperca lemia, lentifica a despofarização. Veja na Tabela 2 os principais achados da hipocalemia; com atenção especial ao aumen to progressivo da onda U em concordância com a evolução da alteração eletrolítica. K"i n'i4ll I Principais Achados Eletrocardíográficos ECG 2,8 • Achotamentoda onda T ~ · ~ecimerloda onda T ~ 2,5 • -..da onda u - Plobpi~e>JtOdo inleMioQT (na~. "ernlo QU) • Ondi: p apio lladi· Onda U proeminente ~ 2 • 41 O ts JU:Isros ELETROLITICOS Acompanhe os ECGs a seguir ... - Hipocalemia F'"IGU RA 6: ONDA T ACHATADA E CONC OMITAN TE SURGt MEN TO DE O N DA U (V 1 A V6J DÃO A IMPR ESSÃO DE UM A L ARG AMEN TO DO t NT'ERVALO ~T ( NA REAI!..I DADE, UM I NTERVALO ~UJ, 0111 aVF F'"IGURA 7: ONDAS U MAIS PRO EMI NENTES QUE AS ON DAS T E S PECIALMENTE DE V3 A VS, HAVENDO UMA APAREN TE F"USÁO DE AMBAS EM VS E V6, DANDO, MAI S U MA V EZ, U MA C LARA IMPRESSÃO DE P R O LONGAMEN TO DO I N T ERVALO QT (NA R E ALIDADE, UM INTERVAL O i~U), -··- MEOr:u:tRO :-lr': CAPin.u> 2 • 42 O ts JU:Isros ELETROLITtCOS Naturalmente, os distúrbios do potássio que sejam suspeitados por uma alteração eletrocardiografica devem ser confinnados pela dosagem laboratorial da calemia e uma abordagem terapêutica deve ser prontamente assumida. Tratamento da HIPERcalemla (1) Sempre que o paciente apresentar alterações eletrocardiográficas secundanas á hipercalemia, devemos infundir glyconato de cálcio antes de reduzir o ni'vel sécico do potássjo. O cálcio não odiminui a calemia, mas é um elemento estabilizador da membrana do miócito, podendo prevenir a parada cardiaca! Esta medida não se faz necessaria na ausência de alteraç-ões ao ECG. ·A hipercalemia reduziu o potencial transmembrana de repouso (deixou-o •menos negativo~ passando, por exemplo, de -90 mV para -80 mV). Isso é um problema porque, os canais de sódio necessários para a despol.arização só estão plenamente abertos no chamado potencial limiar de -70 mV. Eis o dado fisiológico: para estes canais de sódio abrirem de forma correta, eles precisam tomar uma espécie de "choque•, eles precisam sentir essa variação intensa do potencial transmembrana ao redor dele (de -90 mV até -70 mV). Se não houver essa variação, os canais de sódio não se abrem corretamente. Quando a hipercalemia torna o potencial de repouso menos negativo (-90 mV para -80 mV), esse novo potencial acaba ficando muito próximo do "potenciattimiar e, nesse momento, a variação inicial de voltagem é muito pequena (-80 mv até ,70 mV). Os canais de sódio não tomam o "choque· necessário e acabam não abrindo em sua plenitude. A infusão do cálcio aftera o potencial limiar trazendo-o também para um valor mais baixo (-60 mV). Agora, a membrana vai voltar a sofrer uma grande variação de voltagem até atingir o limiar (-80 mv até- -60 mV). Ou sej a, os canais de sódio voltam a sentir o "choque" e voltam a funcionar corretamente. Por isso que popularmente se diz que o "gluconato de cálcio estabiliza a membrana do miócito cardiaco". ··A única situação em que o uso do gluconato de cálcio não é consensual é na hipercalemia secundária á intoxicação digitálica. Isso se j ustifica pelo fato do digital em excesso causar por si só um aumento da concentração intracelular de cálcio (como veremos no apêndice deste capitulo e também no capitulo 13) que poderia ser ainda intensificado com o uso de um fármaco contendo esse eletrólito, o que, em teoria, aumenta o risco de arritmias. (2) Depois da infusão do gluconato de cálcio, devemos assumir medidas que promovam u ma redycão da calemja, mesmo qye de toona transitória. São estratégias que induzem a entrada do potássio para o interior celular: - Glicoinsulinoterapia (10 unidades de insulina+ 50 g de glicose em 20 minutos). - Bicarbonato de sódio (50 ml da solução a 8,4% - correr em 20 min). - Beta2-agonista inalatório (nebulizar com 10 gts de fenoterol ou salbutamol). (3) Como as medidas citadas anteriormente só reduzem o potássio sérico por cerca de 3-4 horas, devemos, a seguir, adotar estratégias que promovam uma redução de!jn!tiva da calemla . São altemativas que levam á salda de potássio do corpo: - Resina de troca (poliestirenossulfato de cálcio, conhecido como Sorcal8 - 1 envelope 818h): promove a perda fecal do potassio ao trocar cálcio pelo potássio na mucosa colônica. - Furosemida: diurético que aumenta a excreção renal de potassio!!! (01 cp 40 mgldia, via oral). - Dia lise (em casos refratários). Tratamento da HIPOcalemla Aqui, não há muito mistério ... A ideia é promover a reposição de potássio, que até pode ser feita por via oral ou enteral, mas, em situações com alterações no ECG, a via venosa é a indlc~da. - Xarope de KCL a 6%: 1 medida VO 8/Sh. - Hipocalemia grave (K 2 • 43 O ts JU:Isros E LETROLITICOS O corpo humano apresenta uma enorme reserva de cálcio que é estocado quase que exclusiva mente ao longo do esqueleto na forma de hidro xiapatita: cerca de 99% encontram-se nos ossos e apenas 1% no sangue. Deste percentual san guíneo, metade ainda está ligada a proteínas - especialmente albumina, cujo nível sérico inter fere na calcemia. O restante encontra-se basica mente na forma ionizada, que é aquela que verdadeiramente se "relaciona" com os tecidos. E é exatamente essa fração ionizada que é rigidamente controlada pelo sistema endócri no: a secreção de paratormônio (PTH) pode elevar a calcemia por seus efeitos em ossos, rins e intestino, uma vez que intensifica a re absorção óssea, aumenta a reabsorção tubu lar renal de cálcio e eleva a absorção intestinal de cálcio dependente de vitamina O. O valor normal do cálcio total é de 8,5 a 10,5 mg/dl, enquanto da sua forma ionizada é de 4,5 a 5 ,5 mg/dl. Assim, a definição de hiper calcemia e de hipocalcemia é feita quando seus v alares encontram-se respectivamente acima e abaixo destes. Valores normais: Cálcio total= 8,5-10,5 mg/dl Cálcio ionizado= 4,5-5,5 mg/dl • Alguns laboratórios podem usar outras unidades, como mmoVL ou mEq/L. No caso do cálcio. 1 mgldl equivale a O, 25 mmoVL e 0.5 mEq/L. Por exemplo: Cálcio total = 2, 1 - 2, 6 mmoi/L A influência do cálcio no potencial de ação Saiba que a concentração intracelular de cálcio no músculo cardíaco é cerca de 1 O"" mmoi/L, enquanto a extracelular fica, como visto, em tomo de 2 mmoi/L. Essa discrepância faz com que o gradiente de concentração direcione, com intensidade, o cálcio para dentro da célula. Mas em que momentos essa entrada de cálcio ga nha importância no potencial de ação? Se for necessário, reveja, mais uma vez, a Figura 1... (1) Nas célu las de resposta rápida, a entra da de cálcio tem grande partic ipação na fase 2 do potencial de ação (platô ou repo lariza ção lenta), que é o momento de inscrição do segmento ST. Vale lembrar que estre trecho no eletrocardiograma corresponde principal mente à fase de platô do potencial de ação das células do feixe de His, das fibras de Purkinje e dos miócitos ventriculares. Será exatamente no segmento sr (e , por conse quência, no intervalo on que perceberemos adiante as mais significativas consequências das alterações calcêmicas! (2) Já, nas células de resposta lenta (células automáticas), o influxo de cálcio participa das fases O (despolarização lenta) e 4 (repouso) . • Além disso, vale lembrar que o cálcio é o grande responsável pelo processo de aco plamento entre a excitação e a contração dos miócitos cardíacos. PROPADAQÃO 00 IMPIJL6Q NO CORAÇÃO F'IGURA 8: OIS D ISTÚRBI OS DO C Á L C IO AFETAM A F'ASE DE PLATÔ 0 0 POTENCI AL DE AÇÃO DAS CÉL U L AS DE RESPOSTA RÁP IDA, QUE É A PRI NCIPAL RESPON S.ÁVEL P ELA IN SCRIÇÃO DO SEGMENTO S T NO ECG. -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAPin.u> 2 • 44 Ots JU:Isros ELETROLITICOS Apesar desta ampla participação do cálcio na elelrofisiologia das células cardíacas, as mu danças no traçado eletrocardiográfico só ocor rem nas variações extremas da concentraçãode cálcio extracelular. Portanto, diferente do que ocorre com o potássio, não há uma boa correlação entre as alterações eletrocardio gráficas e a progressão dos distúrbios da cal cem ia, seja para mais ou para menos. O ele trocardiograma não deverá ser utilizado como um instrumento diagnóstico inicial para a hiper ou hipocalcemia. ---------------------------------------------------------------------- HIPERCALC EMIA Conforme já compreendido; os achados elelro cardiográficos mais característicos dos distúr bios da calcem ia estão relacionados a mudan ças da duração do intervalo QT, especificamen te na porção do segmento ST. Na hipercalce mia, o aumento do cálcio extracelular intensifi ca a sua entrada durante a fase de platô (fase 2), tom ando-a mais curta e, por co:nsequência, encurtando também o segmento ST e, por ta bela, o intervalo QT. Portanto, o encurtamento do intervalo QT às cus tas de uma redução do segmento ST é a alteração eletrocardiográfica mais ca racterística da hipercalcemia. Em alguns casos, o segmento ST pode tornar -se tão curto que o QRS surge demasiada mente aproximado da onda T ... Neste momen to, podem surgir outras 2 alteraç 2 • 45 O ts JU:Isros E LETROLITICOS Hlperealcemla I c...., F IGURA 1 O: AUSÊN C IA 0 0 SEG MENTO ST E INT ERVALO Q T C URTO . r~r-~~ ~l ~.~~~~~~~~~·~V-l ~~~--~V~2--~--~~.l:__l~ ~~V3~V6 rn ~-i'-~J--~~~r=f~~~-~' ~~~~~~~~ F" lO U RA 1 1: N O TE O E NCU RTA M ENTO 00 SEGMEN T O S T B EM COMO SEU SUP RA O E V3 A V6 E A ON DA .J OE O SBORN E M V2 E V6 (A CAL C E M I A E R A OE 1 S ,S MG/OL). Onda J de Osborn e Hipotermia A "onda J de Osborn' - descrita por John J. Osborn em 1953-é uma deflexão positiva do ponto J (surge no ECG semelhante a uma pequena onda R secundária - r') que, embora tipicamente seja descrita em situações de hi potermia (temperatura corporal 2 • 46 O ts JU:Isros E LETROLITICOS • - • - c ONOA ~ DE OSBORN ACOMPANHA A GR.AVIDAOE OA HIPOTERMt A • A ACENTUAÇÃO D O EN TALHE 0 0 POTEN C I A L DE AÇÃO EPI CÁRDI CO Ê A RAZÃO DO SUlR G t MENTO DESTA ALTERAÇÃO ELETROCARDt OGRÁF'"ICA. Outras alterações da hjpotermja· A hipotermia reduz a despolarização espon tânea das células automáticas e prolonga o potencial de ação do miocárdio, de modo que podem ser observadas outras alterações além da onda J de Osborn: bradicardia sinusal, prolongamento de PRJQRS/QT, arritmias atriais, fibrilação ventricular, assistolia e ar tefatos (por tremor do paciente). 0NOA ~ DE 0SS O RN NA H f POTERMIAo HIPOCALCEMIA A hipocalcemia provoca efeitos exatamente opostos sobre o potencial de ação em com paração com aqueles associados à hiper calcemia, ou seja, o que ocorre de mais significativo é um prolongamento da fase 2 (platô) das célu las de resposta rápida. As alterações no traçado tendem a ser ob servadas quando o cálcio sérico cai abaixo de 7 a 8 mgldl. Mais uma vez, a principal alteração eletrocardiográfica diz respeito à duração do intervalo QT, j á que o segmento ST é a porção predominantemente afetada por sua correlação com a fase 2 • 47 O ts JU:Isros E LETROLITICOS FII3URA 1 2 . O tratamento de hipercalcemia d iscreta ( 14 mg/dl) devem receber tratamento independa de seu quadro clínico . Tratamento da HIPERcalcemia A abordagem geralmente é f e i ta com a administração simultânea de: (1) Hidratação venosa com solução salina: infusão de 200-300 mlih, objetfvando um débito urinário de 100-1 50 ml/h. (2) Calcitonina (4U/kg IM ou SC 12/12h): aumenta a excreção renal de cálcio e reduz a reabsorção óssea. Seu efeito tem uma duração limitada a cerca de 48h. (3) Bifosfonados (como pamidronato 60-90 mgiVem 2-4h): reduzem a reabsorção óssea e, em alguns casos, seu efeito perdura por 2 semanas. • Alguns autores ainda defendem administração de furosemida após a hidratação venosa, mas, com o advento dessas drogas inibidoras da reabsorção óssea, tal medida não é mais considerada fundamental. Tratament·o da HIPOcalcemia Casos com alterações no ECG (QT longo) ou sintomáticos (te tania, espasmo carpopedal...) devem receber reposição de cálcio por via intravenosa. Recomenda-se gluconato de cálcio 1-2 g em 10-20 minutos (1 -2 ampolas de 10 ml a 10%). * É comum a concomitância com hipomagnesemia, de modo que, se esta estiver presente, deve ser corrigida inicialmente com 2 g de sulfato de magnésio em 10-20 minutos (2 .ampolas de1Om/ a 1 0%). DIGITAL PESAR 00 CAPÍ'rUL O 1 3 DE NOSSO MATERIA L SE:R oeoJCAOO ÀS A~PE.RCUSSÓES E L e-TROCAROIOGRÁF'tCAS OE ALGU NS M li:OICAM I!N"rOS, APAOVI!I'rAMOS UM PeQUE:NO ESPAÇO F'I NAL NE:ST'E C APÍT U LO PARA ALGUNS 9RitVES COMEN"fÁtUOS SOBRE: U M GRUPO OE !='Â~MACOS O~NOMINAOOS "' DIGITAI S ,. , QUE TÊM A CAPACt OAOE: DE. ASSI M COMO OS 0 1STÚR910S ELETROLÍTICOS . ALTERAR 0 FLUXO IÔNI CO NOS M I ÓCITOS CAR D Í ACOS. F"'II3URA 14: EF'EITO OIG IT Á L ICO - IHF'RA D E ST EM up D E PEDREI R O" OU «ei GOOE DE SALVADOR DAL I .,, MECANISMO DE AÇÃO São drogas que bloqueiam a bomba Na'/K• A TPase e, por consequência, levam ao acúmu lo de Na• intracelular e aumentam a quantidade de K• no extracelular (inclusive há o potencial de complicar com hipercalemia). A maior concen tração d e sódio dentro da célula irá interferir na ação de outro transportador iônico existente em sua membrana: o trocador Na'/Ca· •, que pas sará a transportar menos Na• para dentro e menos Ca .. para fora, aumentando a concen tração intracelular desse último. Ou seja, esse acúmulo de cálcio acaba mimetizando a conse- quência da hipercalcemia, encurta a repolariza ção e diminui o segmento ST, o qual costuma ficar indusive um pouco desnivelado para baixo, ganhando um aspecto denominado "em pá de pedreiro", que alguns autores também denomi nam de "Bigode de Salvador Dali". Você reparou no que acabou de ler? Podemos dizer que o d igital, ao acumular po tássio inicialmente no extracelular e causar uma maior concentração de cálcio no intracelular, mimetiza as consequências da hipercalemia e da hipercalcemia, reduzindo o intervalo QT. São 3 as grandes causas de encurtamento do intervalo QT: - Hipercalemia: associação com outras alterações (onda Tem tenda, QRS alargado ... ) -Hiperca/cemia: encurtamento isolado do segmento ST, que muitas vezes encontra-se até ausente. - (Efeito Digitálico: associação com infra de ST em aspecto de pá de pedreiro. • t=m 1999, foi descrita a ''Síndrome do Intervalo QT curto (SQTS)", considerada uma patologia arritmogênica associada à fibrilação atrial, sincope e morte súbita, especialmente em jovens e crianças. Ela serà discutida com mais detalhes no capítulo 14. -··- MEOr:u: tRO :-lr: CAPin.u> 2 • 49 O ts JU:Isros ELETROLITtCOS Essas -características descritas são esperadas em qualquer paciente usuário de digital em sua dose terapêutica, sendo agrupadas sob o nome de "efeito digitálico". Entretanto, este fármaco em doses intoxicantes induz o surgimento de dife rentes arrítmias que iremos ver ao longo do cu r so. Não podemos confundir essas possibilidades de repercussão do digital no eletrocardiograma: -Efeito digitálico (impregnação)· infra de ST com aspecto em "pá de pedreiro", encurta mento do segmento ST.e intervalo QT. - lntoxicacão digitálica: extrassístole ventri cular, taquicardia atrial com bloqueio, taqui cardia juncional, taquicardia ven tricular bi direcional. MEOEtE'IRO CAPITU..O 2 • .,.. ) Ots1UIS1os Eu:motlncos BAIXO, SELECIONAMOS A L GUNS EXERCÍCIOS PARA CUE V OCÊ SEDIMENTE, OE MODO DEf"INITIVO, DS CONCEITOS OBTIDOS AO LONGO 00 CAPÍTULO E T ENHA MAt S TRANQUIL IOAOE , SEGURANÇA E BASE TEÓRI C A PARA A VANÇAR AO PRÓXI MO TEMA. MÃOS À OBRA! 1 - Qual alteração eletrolítica apresenta esta progressão eletrocardiográfica (A~B~C~D)? A 8 A) Hipocalemia. D) Hipercalcemia. B) Hipercalemia. C) Hipocalcemia. E) Nenhuma das anteriores. 2 - Qual alteração eletrolítica apresenta esta progressão eletrocardiográfica (A~B~C)? A) Hipocalemia. 8) Hipercalemia. C) Hipocalcemia. O) Hiperulcemia. E) Nenhuma das anteriores. Comentário: O fato da onda T ter ficado alta e apiculada - a chamada onda T em tenda -já aponta para o diagnóstico de hipercale mia. Outras alterações ain da corroboram tal diagnós tico: achatamento progres sivo da onda P (terminando com um ritmo sinoventricu lar- sem onda P e alarga mento do QRS). Resposta certa: letra 8. Comentário: A evolução ele trocardiográfica demonstra um claro encurtamento pro gressivo do intervalo QT, entretanto 2 alterações ele trolíticas acarretam isso: hi percalemia (letra 8) e hiper calcemia (letra D), Qual mar car? A grande dica acaba sendo a coexistência ou não de outras alterações de hi percalemia, como onda T apiculada (isso não ocorreu no ao longo da progressão) e onda P achatada. Então esse ''simples" comporta mento eletrocardiográfico de um encurtamento do interva lo QT às custas de uma redu ção da duração do segmento ST é mais compatível com hipercalcemia. Resposta cer ta: letra D. MEOEtE'IRO 3 - Qual alteração eletrolítica apresenta esta progressão eletrocardiográfica (A~B~C~D)? A A) Hipocalemia. 8) Hipercalemia. C) Hipocalcemia. O) Hipercalcemia. E) Nenhuma das anteriores. C APITU..O 2 • .... I Ots1UIS1os Eu:motlncos Comentário: Clássica de· mais/ Chama a nossa aten· ção o comportamento das ondas Te U: enquanto a primeira progressivamente sofre um achatamento, a segunda vai aumentando ... Nos casos mais graves (si· tuação D), a onda U inclu· sive parece ser uma onda T, dando a impressão de um alargamento do interva· lo QT. Além disso, a onda f' também sofre alteração e tem a sua amplitud'e au· mentada na evolução ele· trocardiográfica. Esse é o comportamento padrão das hipocalemias. Respos· ta certa: letra A. 4- Qual é o provável d istúrbio responsável por este eletrocardiograma? DI A) Hipo 8 mEq!L está associada ao encontro do chamado ritmo sinoventricular, isto é, sem a formação da onda P, embora a origem do estímulo seja ainda o nodo sinus.af. O alargamento do QRS também se faz presente nas hipercalemias a partir de 7 mEq/L... Resposta certa: letra 8. MEOEtE'IRO C APITU..O 2 • .,.. J. Ots1UIS1os Eu:motlncos 5- Qual é o provável distúrbio responsável por este eletrocardiograma? A) Hipocalemia. 8) Hipercalemia. C) Hipocalcemia. O) Hipercalcemia. E) Nenhuma das anteriores. Comentário: O traçado mostra um ritmo sinusal com FC em tomo de70 bpm. Mas o que chama a atenção é o infra de ST associado ao aparecimento da onda U (como foi assinalado abaixo). Nesta situação, deve ser dosado o nível sérico do potássio pela forte possibilidade de hipocalemia. Resposta certa: letra A. 6- Mulher de 63 anos com câncer de mama metas tático apresenta-se com fraqueza mus· cu lar e constipação. Qual é o provável d istúrbio responsável por este eletrocardiograma? OI • YR VI v• 1 ' ' IA 1\. IA r' • "Y ·y T 011 •Vl 011 •VF A) Hipocalemia. B) Hipercalemia. n01 • • , .. ._ C) Hipocalcemia. L-~M-~--~~--~~~---~~~~M-~--~~ O) Hipercalcemia. E) Nenhuma das anteriores. Comentário: Traçado bastante representativo ... Verificamos um ritmo sinusal, mas com um segmento ST extremamente encurtado- praticamente inexistente- o que resultou também em um encurtamento do intervalo QT. Lembre-se das 3 grandes causas para um QT curto: digital (apresentaria um infra de ST em aspecto de pá de pedreiro, o que não ocorreu), hipercalemia (teria outras alterações, como onda Tem tenda, QRS alargado, o que também não houve) e hipe.rcalcemia (a grande marca é um segmento ST encurtado - muitas vezes ausente). A história relatada no enunciado corrobora a suspeição diag· nóstica: a metâstase óssea da neoplasia mamária pode ser a causa da elevação do cálcio e as manifestações de fraqueza e constipação são compatíveis com hiperca/cemia. Res posta certa: letra D. MEOEtE'IRO C APITU..O 2 • .,.. ' Ots1UIS1os Eu:motlncos 7 - Idoso com confusão mental e insuficiência renal aguda. Qual é o provável comporta· mento laboratorial do paciente? A) c.a- = 14,1 mgldl. 8) K" = 1,8 mEqiL.aVR C) ca- = 7,1 mgldl. O) K" = 8,0 mEqiL. E) Digoxina = 11 nglml. Comentário: O paciente até se encontra em ritmo sinusa~ mas com diversas alterações eletrocardiográficas. Há um alargamento tão expressivo do complexo QRS; a onda T encontra-se um pouco mais apiculada, a onda P está um pouco achatada e há um gran de prolongamento do intervalo PR: alterações compatíveis com hipercalemia. A insu· ficiê·ncia renal - relatada no enunciado - deve ser a responsável por esta alteração eletrolítica. Para sedimentação de conceito, compare este traçado com o do exercício anterior: ambos mostraram um segmento STencurtado,.mas, na hipercalemia, há uma onda Tem tenda associada ao achatamento de P e ao alargamento do QRS, caracterís ticas ausentes na hipercalcemia. Resposta certa: letra D. 8- Homem de 35 anos com di arreia realiza ECG. Se você dispusesse de apenas uma solic itação laboratorial para confirmar sua principal hipótese, qual você faria? OI oVR V1 Y4 fl.......\. ~ oVL 0111 oVF V3 V6 , I .i .l. I l "' I I • .,. "T T I T ..... ~ í MEOEtE'IRO C APITU..O 2 • .,.. .J Ots1UIS1os Eu:motlncos A) Potássio. B) Cálcio. C) Sódio. O) Albumina. E) Cloro. Comentário: O traçado mostra um paciente em ritmo sinusal com frequência de 75 bpm (aprenderemos a contar frequência no próximo capítulo). A avaliação grosseira do intervalo Qr mostra que ele se encontra alargado (no próximo capítulo, também aprenderemos, com detalhes, como medir este intervalo e qual é o valor exa-to de sua normalidade). Mas qual foi a razão para isso? O que ocorreu no traçado foi o surgimento de uma onda U que se fundiu à onda r , formando um intervalo QU, que, de fato, dá a impressão de ser um intervalo QT alargado ... Algumas derivações do traçado (DI/, V4 e V6) permitem visualizar que não se trata de uma onda Túnica. Esta alteração é clássica da hipocalemia. Resposta certa: letra A . 9- Qual é o provável d istúrbio responsável por este eletrocardiograma? '~ ~ ~ -lrRj ~r r-~-]- f ~l~~j·-vL ~+-r .....,_....L---+-:J:""-~-'1~-· ..__1 _.,._a . t~A-~-f'.i---.L-..-.. J-j"-' 1-t-: -+--L- ~.._t___.=t -t_ A) Hipoçalemia. B) Hipercalemia. C) Hipocalcemia. O) Hipercalcemia. E) Nenhuma das anteriores. Comentário: Vamos analisar o ECG ... O ritmo é sinusal com frequência cardíaca em torno de 68 bpm e não há desvio de eixo. A onda P, o intervalo PR e o complexo QRS não apresentam alterações, mas o intervalo QT parece alargado ... As principais causas para esta alteração são hipocalemia (às custas do surgimento de onda U e desapare cimento da onda r , o que não parece ter ocorrido), hipocalcemia, síndrome do QT lon go congênita (patologia discutida com detalhes no capítulo 14) e drogas (como veremos no ca·pítulo 13, alguns lármac-os podem prolongar este intervalo). Dentre as opções listadas, ficamos com a hipocalcemia. Resposta certa: letra C. MEOEtE'IRO C APITU..O 2 • .,.. _)l Ots1UIS1os Eu:motlncos 1 O- O traçado é compatível com todas as opções listadas abaixo, EXCETO: ou fLL A) Hipocalemia. B) Hipocalcemia. C) Risco de Torsades des Pointes. O) Efeito Digitálico. E) Sindrome do QT Longo Congênita. Comentário: Questão mais complexa, porém bastante int 2 • 56 O ts JU:Isros ELETROLITICOS Para visualizar os gabaritos acesse a imagem com seu respectivo código alfanumérico disponibilizado na área restrita de nosso portal na internet ou leia o código através do MEDCODE. Cód. 301c2r ACHATADA CURTO ALTA LONGO (RISCO DE TORSADES CURTO 48 MED~I!!lto CAFITU.O 2 . OlS~IOS E t.eTROl h tCOS Para visualizar os exames complementares de cada situação, acesse a imagem com seu respectivo código alfanumérico disponibilizado na área restrita de nosso portal na internet ou leia o código através do MEDCODE. SITUA ÃO 01-Í Ao avaliar o início do seu in tema to, Marilda afirma estar adorando os plantões obrigatórios na Emer gência do Hospital Universitário: são casos novos todos os dias (uma média de 10 a cada hora ... ), discussão com os staffs (até 2 da manhã ... ), res ponsabilidade na divisão do horário noturno (me tade da noite acordada ... } e ainda é remunerada por tudo isso (meio salário mínimo ... ). As 3 horas da manhã do último plantão, recebeu um pacien te diabético queixando-se de fraqueza muscular. Ela solicitou um eletrocardiograma (PROJEÇÃO 1} e questionou o paciente sobre a presença de dor precordial. Diante da negativa, foi dormir des preocupada. Pela manhã, repetiu o exame (PRO JEÇÃO 2} e, achando curiosa a modificação do padrão elétrico, procurou o seu staft ... Cód. 301c2s1a Có~301c2s1b 1 -Descreva as alterações eletrocardiográficas presentes em cada um dos ECGs. 2 - Qual é a causa para este comportamento eletrocardiográfico? 3-Sintetize a proposta terapêutica para o caso. Coo. 301c2s1a ELETROCARDIOGRAMA NA PRÁTICA Sjtuação 1 PROJEÇÃO 1 Cód. 301c2s1b ELETROCARDIOGRAMA NA PRÁTICA Sjtuação 1 PROJEÇÃO 2 ELETROCARDIOGRAMA NA PRÁTICA Sjtuação 1 1· EcG 1 :Onda Tem tenda, ausência de onda P (ritmo sinoventricular?) ECG 2: Alargamento do QRS, aspecto sinusoidal. 2· Hipercalemia. 3- (1) Gluconato de cálcio. (2) Glicoinsulinoterapia (10 unidades de insulina+ 50g de- glicose em 20 minutos)+ Bi· carbonato de sódio (50mL) + beta2-agonista. (3) Furosemida. 48 MED~I!!lto CAFITU.O 2 . OlS~IOS E t.eTROl h tCOS Para visualizar os exames complementares de cada situação, acesse a imagem com seu respectivo código alfanumérico disponibilizado na área restrita de nosso portal na internet ou leia o código através do MEDCODE. Na semana seguinte, Marilda aten de o caso de uma senhora de 68 anos que foi levada à Emergência Cód. 30 1c2s2 1 - Qual foi a alteração metabólica de base responsável pelo comportamento eletrocar· diográfico? 2-Qual foi a razão do mal-estar da paciente durante a realização do ECG? 0 11 0 111 por familiares com queixa de fraqueza muscular há 2 semanas, associada a câimbras nos membros inferiores e fadiga. Na anamnese, refere presença de diarreia com fezes liquidas há 6 meses, tendo perdido 30% do seu peso nesse periodo. Interes sada pelo caso (e ainda traumatizada pelo plantão da semana anterior), Marilda resolve fazer uma anuscopia e, durante a inspeção, encontra uma grande lesão na porção distai do reto. Durante a reai zação do eletrocardiograma (PROJEÇÃO), a paciente sentiu-se maL. 3 - Qual é o antiarrítmico de escolha na abor· dagem da alteração descrita no item anterior? 4- Qual é a provável natureza da lesão en· contrada na inspeção anal? V2 ·~· ' ' vs I - ELETROCARDIOGRAMA NA PRÁTICA Sjtuação 2 1- Hipocalemia. 2- Evolução com Torsades dês Pointes. 3- Sulfato de Magnésio. 4-Adenoma viloso (tumor viloso do retossigmoide produz secreção rica em potáss io). 48 MED~I!!lto C AFITU.O 2. OlS~IOS E t.eTROlhtCOS Para visualizar os exames complementares de cada situação, acesse a imagem com seu respectivo código alfanumérico disponibilizado na área restrita de nosso portal na internet ou leia o código através do MEDCODE. ' ' -' !:; ITl.J.AÇÃD ~O-~ Após orientar a remarcação da consulta da paciente anterior no Ambulatório de Nefrologia, Marilda atendeum novo paciente, Airton, de 53 anos com queixa de dor abdo- iil minai intensa, associada a náuse- as e vômitos. Refere que a dor C6d. 301c2s3 iniciou-se no epigastro, mas apresenta irradia ção para o dorso. No exame físico, o paciente encontra-se agitado, febril e com equimoses periumbilicais. Enquanto aguarda a chegada dos exames laboratoriais solicitados, Marilda aval ia cuidadosamente o eletrocardiograma do paciente (PROJEÇÃO). IJ 1 - A alteração eletrocardiográfica é secun dária a que alteração metaból ica? 2 - Qual é a doença de base do paciente? V3 ELETROCARDIOGRAMA NA PRÁTICA Situação 3 1·Hipoçalçemia. 2·Panc:reatite Aguda. MEOna R.o SITUAÇÃO 04 No final do plantão, Marilda - já cansada - re solve fugir sorrateiramente da Emergência e passear pelas Enfermarias com o intuito de co nhecer o perfil de alguns pacientes internados. No leUo 5 da enfermaria íii A, interessa-se pelo caso de Amai- do, um homem negro de 66 anos, Cód. 301c2•4 CAPIT\.\.0 2 • 58 O tsn:MIIOS ELETROÚTICOS internado para investigação de dor lombar há 3 meses e emagrecimento de 5 kg no periodo. Ao conversar com o paciente, descobre que, no último semestre, apresentou 2 episódios de in fecção respiratória e um quadro de pielonefrite. Marilda procura pelo prontuário do paciente no escaninho e encontra, além do eletrocardiogra ma (PROJEÇÃO), os seguintes exames labora toriais: hemácias 2.950.000/mm3, hemoglobina 8,1 g/dl, hematócrito 26%, leucócitos 6.700/mm' com diferencial normal, Ureia 114 mg/dl, creati nina 4,4 mg/. 100 mm. 1 - A alteração eletrocardiog ráfica é secun dária a que alteração metabólica? 2- Qual é a doença de base do paciente? 3 - De que maneira a doença de base causa a alteração metabólica citada no item 1? t:~~f av~ t iv -~ ~~ 1 I"""'~V4; 1 ~ ~rit ·r~ ~-~Wltttt ·~~-JU ('~ ~ f'tm rr~vn ...l. ~ ............ 011 I I t::"" ""í."r' Y....:..M-\-yv.. V""""V ...... \""""\"""~'r"" 1 i--"ir--'+ r 'f."'i"'i:' ELETROCARDIOGRAMA NA PRÁTICA Situação 4 1·Hiper çaJçemia. 2·Mieloma Múltiplo. 3·Destruição Óssea. TRAÇADO ELETRDCARDIDGRÁFICD 0 ENT ENDI M ENT O DA ELETR OF'H itO LOG IA C ARDÍ A C A NOS ,:"ORN E:CE:U A B AGAGEM T E ÓRIC A NECESSÁRIA PARA A A D EQUA D A COMPREEN SÃO 00 TRA ÇAO O V IS T O N O E L E"l'"R OCA R O IOGR A M A . A G O RA, é ~URA ~ÍSICA ! MAS, C ALMA! É A PARTE F'ÁCIL O A F"ÍS IC A . .. ANT ES Q U E RETO R N E M, EM SUA C ABEÇ A , OS F'ANTASMIAS DEIXA DOS P A R A T R Á S N O ENS I NO M É DIO. VOC~ V A I P E R CEBER Q U E O ENTE:N O IM E:NTC E L fiRO C AROI OG R Á F'ICO é MAI S F"ÁCI L D O Q U E S E: PODERI A I M A G INAR . .JÁ T EMOS O CON H ECI MEN T O D E QUE O C O MPORTAME NTO E LfTR IC O DAS CÉLUL.A S C AR D Í A C A S G ERA U MA A LT E RAÇÃO D E POTE N C IAL E L f.TR I CO N A S U P E RF'ÍC I E OE SUA S M EM àRAN A S , F"OR M AN O O UM V E T OR Q U E A COM P AN H A0 S E:N T I O O O A C O R RENTE ELÉTR I C A . EsS E VETOR P ODÊ S E R PERCE B I D O PELO E L ETRO C A R D IO G RAMA Q U f: PRO DUZ U M T RAÇ A DO C O RRE:SP ONOE:N TE . MAS C O M O 0 ELE'rR OCAA O I O G RAM A F'A Z ISSO? É E XAT AM E:NTE: O QU E VAMOS ÊSTUOAR A P AR'ri R OE A G O R A! APR OVEIT E: .. . DERIVAÇDES DO EL:ETROCARDIDGRAMA FORMAÇÃO DO TRAÇADO S em dúvida, a parte do eletrocardiograma considerada mais complexa pela maioria dos alunos é o entendimento sobre as bases físicas que geram o seu traçado. Portanto , mais uma vez, não pule essa parte. Ela é também de fun damen1al importância na interpretação correta do ECG e nós até já havíamos ini ciado o seu entend imento no 1° capitulo ao visualizarmos o "rosto" de um traçado eletrocardíográfico. Já compreendemos que o comportamento da atividade elétrica cardíaca pode ser visualiza do através de vetores. Como estes são a re presemação de um dipolo, isto é. de uma di ferença de cargas, basta pensarmos em uma forma de mensurar esta variação e létrica. Para isso, podemos colocar o coração entre 2 ele trodos (um negativo e outro positivo) que vão nos dizer a diferença de potencial entre eles. Nós chama mos a linha imaginária que une esses eletrodos de derivação. Para unirmos o conceito fisico, acompanhe, com atenção, a Figura 1 ... Colocamos o coração no meio da derivação - que, no caso, apresenta um eixo diagonal - e representamos al-gumas possibilidades de posição vetorial. Lembre que, por motivos de padronização, quando o vetor resultante aponta para o eletrodo positivo, a onda gerada no registro eletrocardiográfico é positiva: é a chamada deflexão positiva (em outras pala vras, o traçado · sobe"). Da mesma forma, se o vetor se afasta da derivação positiva, a deflexão será negativa (ou seja, o traçado "desce") .. Quan do o vetor for perpendicular ao eixo da derivação, o traçado será isodifásico (deflexão positiva e negativa do mesmo tamanho) ou, até mesmo, isoelétrico (sem qualquer deflexão). 60 -··- MEOr:u:t RO :-lr': CAPIJULO 3 . TIUIÇAOO 61 ELETROCARDIO~ÁFICO ~I GI URA 1 : REPR E S ENTAÇÃO O A ATt V I D AOE ELÉTRICA 0 0 C O RAÇÃO DEPEN DE DA POS I Ç Ã O DO V ETOR EM REL A Ç Ã O AO EI X O D A DER IVAÇÃO . Entretanto, todos concordamos que enxer gar a a tividade elétrica através de uma úni ca derivação seria um grande desperdício ... Seria como regravar o filme Matrix sem usar aqueles recursos de filmagem onde o ator parava suspenso no ar e a câmera movia-se ao redor dele, mostrando-o sob todos os ângulos (Figura 2)! Assim, para que não fosse desperdiçado um método tão rico como o eletrocard iograma, fo i criado um sistema de derivações que avalia o compor tamento elétrico por ângulos dite rentes, mas de forma simultânea. F"I GU R A 2 , SISTEMA DE DERIVAÇÕES A disposição das derivações foi feita de uma forma que permitisse a visualização da ati vidade elétrica cardíaca de uma maneira tridimensionaL Assim, elas foram divididas em plano frontal e horizontal (Figura 3). F'l G U RA 3 : P L A N O S A PARTtR OOS QUA I S SÃO C O N S TRUf DAS A S DER I VAÇÕ E S DO EC G .. A) Derivações do Plano Frontal As primeiras 3 derivações foram criadas por Willen Einthoven em 1913 e são consi deradas derivações bi polares, exatamen te por serem constru ídas da forma clássica que vimos anteriormente: entre dois eletro dos de pol aridade diferente polaridades diferentes (positivo e negativo). Para isso, Einthoven usou 3 eletrodos dis postos de tal forma - ombro esquerdo, om bro direito e púbis - que formassem um triângulo equilátero ("Triângulo de Eintho ven•), cujo núcleo era o centro elétrico do coração. Dessa forma, ele conseguiu criar 3 derivações (os 3 lados do triângulo) ao longo do plano frontal, que foram chamadas de DI, DI I e DI II (Figura 4). -··- MEOr:u: t RO :-lr': C APIJULO 3 - TIUIÇAOO 62 ELETROCARDIO~ÁFICO Os eletrodos são colocados nos ombros e no púbis hoje em dia? Na realidade, não! O próprio Einthoven, j á na sua época, estabeleceu a convenção de usar outras posições ele tricamente compa- tíveis, mas anatomicamente mais simples para a colocação dos e letrodos. Sendo assim, o ombro d ireito virou braço direito; o ombro esquerdo tornou -se braço esquer do; e o púbis transformou-se na perna es querda. FIGU R A 4 : T R I  NGUL O O E EIN T lHOV EN - F O RMAÇÃO OAS P R IMEI RAS DER IVAÇÕES. A partir desta disposição, foram criadas as derivações bipolares do plano frontal, que são utilizadas até hoje. Vamos conhecê-las um pouco melhor? Enlão, observe a Figura 5 enquanto continua a leitura. A derivação DI é obtida colocando o eletrodo positivo no braço esquerdo e o eletrodo nega tivo no braço direito. Assim, esta derivação registra a diferença de potencial entre braço esquerdo e braço direito! No registro da derivação 0 11, o eletrodo posi tivo é conectado à perna esquerda e o eletro do negativo ao braço direito. O esta forma, demonstra a diferença de potencial entre a perna esquerda e o braço direito ... Já para a obtençãoda derivação 0111, o ele trodo positivo é colocado também na perna esquerda, enquanto o eletrodo negativo, no braço esquerdo. É por isso que esta derivação mensura a diferença de potencial entre a per na esquerda e o braço esquerdo. Vamos começar a usar estes conhecimenios? Como já sabemos, a atividade elétrica do co ração vai gerar um vetor e ele poderá ser projetado nestas derivações criadas . Se a projeção deste vetor apontar para o eletrodo positivo ("olho elétrico") da derivação, o regis tro gerado será de uma onda positiva, mas, caso o vetor se afaste da derivação positiva, o registro será de uma onda negativa. Repare, na Figura 6, que, se projetarmos o vetor na derivação OI, ele aponta para o seu eletrodo positivo, de forma que a onda gerada será majoritariamente positiva, o mesmo acon tecendo quando a projeção é feita em 011. Já quando realizamos a projeção em 0 111, perce bemos que a direção agora é para o eletrodo negativo, gerando uma onda com um predo mínio negativo. Assim, a análise da variação morfológica de qualquer onda no registro ao longo das deri vações do plano frontal permite determinar o posicionamento espacial bidimensional do vetor representativo de um fenômeno de das polarização ou repolarização (esquerda x di reiia & para cima x para baixo). -··- MEOr:u: t RO :-lr': C APIJULO 3 . TIUIÇAOO 63 ELETROCARDIO~ÁFICO FI GUR A 5! DER IVAÇÕES B IPOLARES DO P L ANO F"RO N TAL - D I , O I I E 01 11. F"I I3 URA 6 : A P R O .JE ÇÃO DO V ETO R E M O I E 0 11 APONTA PARA O E L ETRODO P O S ITIV O , ENQ U A N TO QUE SUA PRO .J EÇÀ O E M 01 11 SE A F ASTA D E STE E L ETRODO - O N O A P O SITI V A EM 0 1 E 011 ; O NDA NEGATIVA E M 011 1, Existem mais derivações no plano frontal? Claro! São 6 derivações frontais no total, ou seja, faltam ainda mais 3 .. . Estas outras são consideradas derivações unipolares porque captam a diferença de potencial entre um ele trodo positivo e um ponto de potencial zero. Vamos entender como se chegou a elas com um pouco de história ... O americano Frank Wilson (1890-1952) per cebeu, em 1934, que o centro elétrico do coração apresentava um potencial próximo a zero-. Esse ponto ficou conhecido como "Terminal Central de Wilson". Nesse cenário, Wilson desenvolveu três derivações no pla no frontal que refletem a diferença de poten cial entre cada um dos vértices do Triângu lo de Eint hoven e o centro elétrico do coração (VL, VR e VF), representadas na Figura 7. Só existia um pequeno problema: pela proxi midade do "Terminal Central" em relação aos eleirodos, o sinal gerado era muiio fraco e, portanto, o traçado eletrocardiográfico tinha amplitude reduzida, sendo de difícil distinção ... Assim, em 1'942, outro americano, Goldberger, elaborou um sistema de amplificação do sinal elétrico, dando origem às derivações que são utilizadas até o presente: aVR, aVL e aVF (a de "aumentada"). Perceba, desde já, que es sas letras (R, L e F) não existem à toa! Elas marcam o potencial de 3 pontos: o braço di reito (do inglês righl), braço esquerdo (do in glês, left) e da perna/pé esquerdo (do inglês foot) e estão representadas na Figura 8. F"IG U RA 7. MEOCLEtRO 9""F) CAPiruu> 3 • TAAÇAoo 64 Et.e:TROCAROIOGRN:"ICO DERIVAÇÕE:S 00 PLANO FRONTAL - - Derivação Tipo Diferenças de Potenciais DI Bipolar Braço Esquerdo (+)-Braço Direito (-) Dll Bipolar Perna !Esquerda (+)-Braço Direito (-) 0111 Bipolar Perna Esquerda (+) -Braço Esquerdo (-) aVR Unipolar Braço Direito ( +) - Zero aVL Unipolar Braço Esquerdo (+) -Zero aVF Unipolar Perna Esquerda(+) - Zero TABELA 1, Como o eletrocardiograma é uma ferramen ta que avalia a atividade elétrica do coração de modo simultãneo através de um sistema de derivações, devemos, nesse momento, aprender uma simples maneira de represen tar os eixos das 6 derivações do plano fron ta l em uma única imagem - o chamado sistema hexaxial (Figura 9) ou a "rosa dos ventos do ECG". A forma correta de fazer isso é reposicionar os seus eixos de modo que todos eles se cruzem em um ponto úni co. Esse ponto representa, na verdade, a origem do vetor no espaço e, a part ir dele, consegu iremos, de maneira s imultânea, projetá-lo nas 6 derivações! Observe que as derivações são separadas por um ângulo de 30°, e que as partes sólidas correspondem às metades positivas e as pontilhadas, às negativas. Por convenção, o correto é reo resentar as decjyacões através de uma seta gye yaj do eletrodo oegatjyo para o eletrodo positivo Assjm. se a projeção do vetor !lyer o mesmo sentido da derjvação será gerada yma onda posjtjya o contrário ocorrendo Quando a pro jecllo do vetor estiver voltada oara o sentido oposto ao da deàyação fFiqura 10). ~ absolutamente imprescindível que você te nha entendido as informações desse capitulo até esse momento! Vamos resumir? Os deta lhes históricos de Einthoven, Wilson e Gold berger, bem como o tipo de derivação (uni ou bipolar) são interessantes para quem está aprendendo ECG, mas tem pouca utilidade prática .. . O que não podemos perder de vista é que, até agora , foram apresentadas as 6 derivações do plano frontal (DI, Dll, Dlll, aVR, aVL e aVF) que sempre são pensadas de modo simultâneo na interpretação eletrocar diográfica e por Isso devemos saber construir esse sistema hexaxial da rosa dos ventos. J!i!lJllilliJli!j·i•i#l#b 'J'IJLL~i'J !!: h J1 r' ;.,J.~.P/.!!N Considerado o "Pai da Eletrocardlografia", Einthoven nasceu em 1860 em Semarang (atual Indonésia) e faleceu aos 67 anos em 29 de Se lembro de 1927 em leíden (Holanda), Antes de Elnthoven, já se sabia que o coração apresentava propriedade elétrica, mas, até então, ela só efa avaliada inserindo-se ele1rodos diretamente no coração! Para solucionar esse obslâculo, ele criou o seu galvanômetro de corda em 1901, que já conseguia medir pequenas quantidades de corrente. Os aperfeiçoamentos de tal protótipo nos levaram ao aparelho de eletrocardiograma tal qual conhecemos hoje. Por sua contribuição à ciência, foi agraciado com o prêmiO Nobel de Fisiologia e MediCina em 1925. Ao recebê-lo, Einthoven declarou que ·um novo capítulo se abria no aprendizado das doenças do coração, não por obra de um só homem, mas pelo trabalho conjugado de muitos homens de talento que, espalhados pelo mundo e sem respeitar fronteiras polltícas, convergiam seus esforços para um propósito comum: avmentar nosso conhecimento da doença. para alívio da humanidade sofredora", Sábias palavras! -··- ME Or:u: t RO :-lr': CAPIJULO 3 . TIUIÇAOO 65 ELETROCARDIO~ÁFICO FIGURA 8: DERIVAÇÕES UNI POLARES DO PLANO f"RONTAL - AVR , AVL E AVF'. ..... -...... !0111 FIGURA 9: SISTEMA HEXAXIAL • REPRESEN TAÇÃO S IMULTÂN EA DAS 6 DERIVAÇÕES DO PLANO f"RONTAL IA ••ROSA DOS VENTOS.., DO ELETROCARDIOGRAMA) , ~aVR)-150° ------------+1800 +120° +60° (0111) +90° (011) 0 @l2S1 FIGURA 1 O: A PRO.JEÇÃO 00 VCTOR EM CADA DERIVAÇÃO CON STRÓI TRAÇADOS DIFERENTES. -··- MEOr:u: t RO :-lr': CAPIJULO 3 . TIUIÇAOO 66 ELETROCARDIO~ÁFICO Mas como utilizamos este sistema na prática? Basta percebermos que a polaridade da onda estudada em cada uma das 6 derivações re presenta uma pequena informação sobre a posição de seu vetor no espaço. Portanto, temos que juntar todos estes "pontos de vista" que cada derivação fornece até que seja al cançado o intervalo exato em que o vetor se encontia naquele sistema hexaxia l. O sistema de eixos é muito mais utilizado para determinação do vetor médio da despolariza ção ventricular (complexo QRS no ECG), ape sar de funcionar com qualquer onda no traçado. Como o QRS, com muita frequência não é uma onda única no ECG e sim um complexo de ondas, temos que fazer algumas ressal vas para avançarmos no raciocínio ... Quan do o vetor da despolarização ventricular tiver o mesmo sentido da derivação, o QRS for mado naquela derivação será predominan tente positi vo (mesmo que tenha alguma pequena onda negativa). Ao contrário, quan do o vetor ti ver sentido oposto ao da deriva ção, o QRS será predominantemente nega tivo. Já quando o vetor for exatamente per pendicular à derivação, a soma das áreas das ondas positivas e negativas será zero. Nestes casos, o complexo será isod ifásico (uma deflexão positiva e outra negativa com a mesma área), ou mesmo isoelétrico (linha reta). Vamo·s nos familiarizar com estas mor fologias mais comuns de complexo QRS na Figura 11. FIG UR A 1 1 . CÁLCULO DO EIXO ELÉTRICO DO QRS NO PLANO FRONTAL O primeiro passo para calcular o eixo elé trico médio do QRS- eixo médio da des polariz:ação ventricular- é isolar o vetor em um dos quatro quadrantes principais, sepa rados por ângulos de 90°. Para sistemati zarmos esse processo, basta que tenhamos inicialmente em nossa mente aquele eixo hexaxial e, em seguida, fixemos nossa atenção somente em DI e aVF. Veja na Fi gura f 2 que os semicírculos escuros repre sentam os intervalos definidos quando DI ou aVF são positivos. Olhe novamente para o sistema hexaxial e perceba que a polaridade do QRS em DI de fine se o vetor está orientado para esquerda (positivo) ou direita (negativo), enquanto aVF nos informa se está para baixo (positivo) ou para cima (negativo). Portanto, considerando a interseção destas duas derivações, teremos a definição de que quadrante o e ixo elétrico do QRS se encontra (Figura 13). ·•-r ' .... ... rD)t •W tDn ..... !'lO U RA 12, Uma vez re·alizado esse passo inicial, basta agora olhar para as derivações que não cru zam o quadrante encontrado (Tabela 2) para achar o intervalo mínimo de 30° onde estará contido o vetor. Por exemplo, se o eixo está entre o• e +90°, teríamos que olhar para Dll l (perpendicu lar a +30°) e aVL (perpendicular a +60°) - confira estas posições no sistema de eixos que criamos. Ao adotarmos esta. estra tégia e avaliarmos a morfologia do QRS nes tas derivações, saberemos em que intervalo exato de o• a 90° se encontra o eixo elétrico. -··- M EOr:u: t RO :-lr': CAPIJULO 3 . TIUIÇAOO 67 ELETROCARDIO~ÁFICO OI aVF -90· ' ' I • ' ' ' I ' OI aVF + ' + o• ~1800 -----------------+-------- DI aVF + + +900 OI + aVF + F IGURA I 3: A P O LARIDADE 00 REGISTR O E M OI E AVF' DETERMINA O QUADRANTE D A ATIVIDADE ELETR ICA, TABELA 2. Será q-ue eu entendi mesmo? Para sedimentarmos esse conhecimento ad quirido, veja o exemplo da Figura 14. No eletrocardiograma estão d ispostas so mente as derivações do plano frontal. A po laridadle predominante do QRS em DI e aVF é positiva e, portanto já podemos isolar o quadrante entre o• e +90°. o próximo passo é olhar para as derivações que não cruzam este quadrante: 0 111 e aVL... Neste caso, o QRS em 0111 também esiá positivo (veja o traçado!), o que coloca o e ixo entre +30° e +90° (perceba que, entre o• e +30°, 0 111 seria negativo!). Por último, analisamos aVL: como a polaridade do QRS é predominantemente positiva, o e ixo está entre +30° e +60°. Se aVL fosse negativo, o intervalo seria entre +60° e +90°. Viu como é fácil? E pode ficar ainda mais simples ... Neste momento, vamos explicitar um macete bastante vá lido na determinação da posição de um vetor: a chamada "Regra das Perpen diculares". Como já havia sido mencionado anteriormente, quando o complexo QRS é isodifásico ou isoelétrico em uma derivação qualquer, significa que o vetor é perpendicu lar àquela derivação. Assim, encontrar o eixo nestes casos toma-se mais fácil! Basta de terminarmos inicialmente o quadrante onde o vetor está situado-o que já sabemos fazer ao olhar para DI e aVF. A seguir, procuramos se existe uma derivação isoelétrica ou isod i fásica: o vetor é perpendicular a ela, apon tando para o quadrante encontrado. Veja, na Figura 15, que o QRS é positivo em OI e aVF, logo o vetor está entre o• e 90°. Em seguida. percebemos que 0 111 esiá isoelétrico, o que faz com que o vetor esteja perpendicular a esta derivação, ou seja, exatamente a +30°. -··- MEOr:u: t RO :-lr': DI 011 0111 (aVR)-1 aVR aVL aVF FIGURA 1 4 . -1200 ' ' ' ' +120" (DI li) ' -+90" (a V F) CAPIJULO 3. TIUIÇAOO 68 ELETROCARDIO~ÁFICO -80' I I I I I +60" (011) (aVL) RESUMINDO: POSSIB L DAOES P.ARA O CÁLCULO DO E I XO DO QRS. Possi biljdade I (1) Definir o quadrante: olhar para DI e aVF. (2) Ol har para as derivações que não cruzam o quadrante- encontrado. Possj bilidade 11 (1) Definir o quadrante: olhar para DI e aVF. (2) Regra das Perpendiculares: encontrar a derivação isoelétrica ou isod ifâsica ~ o eixo estará perpendicular a ela. Agora, vamos treinar! Veja os exemplos a seguir e determine o eixo médio do QRS, ou seja, o sentido da despola rização ventricular. Se necessário, desenhe ao lado o eixo hexaxial para ajudâ-lo .. . DI 011 Dlll aVR aVL aVF FIGURA 1 S. -90" -1200 ~ ' I ' I ' I \ / -30"(aVL) ' +120" (0111) +90" (a V F) +60" (011) MEOr:u: t RO Eixo médio do QRS ~ -··-:-lr': CAPIJULO 3. TIUIÇAOO 69 ELETROCARDIO~ÁFICO Eixo médio do QRS = +30• a +60•. MEOr:u: t RO Eixo médio do QRS • -··-:-lr': CAPIJULO 3. TIUIÇAOO 69 ELETROCARDIO~ÁFICO Eixo médio do QRS =-60• (desvio para esquerda). MEOr:u: t RO Eixo médio do QRS s: -··-:-lr': CAPIJULO 3. TIUIÇAOO 70 ELETROCARDIO~ÁFICO Eixo médio do QRS = + 90'. MEOr:u: t RO Eixo médio do QRS • -··-:-lr': CAPIJULO 3 . TIUIÇAOO 70 ELETROCARDIO~ÁFICO Eixo médio do QRS = · 30•. ME Or:u: t RO Eixo médio do QRS = -··-:-lr': CAPIJULO 3 . TIUIÇAOO 70 ELETROCARDIO~ÁFICO Eixo médio do QRS = + 60• a + 90•. -··- MEOr:u:t RO :-lr': CAPIJULO 3. TIUIÇAOO 71 ELETROCARDIO~ÁFICO B Deriva ões do Plano Horizontal Não esqueça que as derivações do plano frontal representam uma orientação apenas bidimensional dos vetores, não nos informan do sobre seus sentidos anteroposteriores. Esta noção é dada pelas derivações precordiais que compõem o plano horizontal, dispostas ao longo do gradil costaL Elas permitem uma análise tridimensional da atividade elétrica cardíaca. As precordiais são unipolares e re gistram a diferença de potencial entre os ele trodos positivos localizados ao longo do tórax e o "Terminal Central" que já conhecemos. A Figura 16 mostra o posicionamento correto dos 6 e letrodos que fazem parte deste plano (V I , V2, V3, V4, VS e V6). Apesar de anatomicamente as 6· derivações não estarem exatamente no mesmo plano, para fins de interpretação do ECG assume-se que elas estejam. Como estas derivações es tão mais próximas ao coração do que as do plano frontal, a amplitude do registro eletro cardiográfico costuma ser maior neste plano horizontaL A localização específica de cada eletrodo permite a visualização de partes di ferentes do coração. Isto será fundamental para compreender, mais tarde, as diferentes morfologias de complexo QRS observadas ao longo destas derivações precordi.ais. Comece a perceber que, na posição normal do coração, o ventrículo direito (VD) localiza -se logo atrás do estemo, enquanto o ventrí culo esquerdo (VE) está deslocado para a esquerda. Pela diferença de massa cardíaca (VE muito maior do que VD), a princípio nem enxergaremos muito bem a ativação do ven- trículo direito ... Deste modo, VI e V2 repre sentam melhor o septo interventricular (e eventualmente o próprio VD); já V3 e V4 "en xergam" melhor a parede anterior do VE; en quanto VS e V6 são as ideais para a parede lateral do ventrículo esquerdo (Figura 17). C) Outras Derivações Existem outras derivações que podem ser utilizadas e1111 situações excepcionais, ajudan do na interpretação do registro. Um exemplo são as precordiais direitas (Figura 18) , muito utilizadas para diagnosti car o infarto do ventrículo d ireito na presen ça de infarto inferior (assunto do Capítulo 12). Neste caso, basta inverter a posição de VI e V2 e posicionar os demaise letro dos á d ireita exatamente como uma imagem em espelho das precord iais esquerdas, que acabamos de visualizar. Nesse contexto, os mais úteis são V3R e V4R - boas deri vações para se "enxergar" as alterações do ventrículo d ire ito. " Com relaçã.o à nomenclatura, apesar destas de~ rivações colocadas na parle direita do tórax serem denominadas precordiais direitas. este termo tam· bém e frequentemente utilizado para se referir às derivações precordiais clássicas, que não estão localizadas tão á esquerda, isto é, V1, V2 e V3. Além disso, nos casos em que há também suspeita de infarto de parede posterior do VE, podemos lançar mão de V7 e V8 (5' espaço intercostal na linha axilar posterior e linha es capular posterior, respectivamente). -··- MEOr:u: t RO :-lr': FIGURA 1 6: D ERIVAÇÕES PRECOROI A IS, CAPIJULO 3. TIUIÇAOO 72 ELETROCARDIO~ÁFICO -··- MEOr:u: t RO :-lr': riGURA 17. F'IG·URA 18: DERI VAÇÕES PRE E ~ I ' I I t- · .:::: ; -+- .., v ~ ~ ~ 1- >-- / I ·a ~: • ,, r d p I STo I T I - I I I I I S I I I > I I QRS I I I E I I I I I :i I lntervolo I RI QT ~ : i ' .... _ .... .... ' -F"IGURA 2 1 . O registro eletrocardiográfico pode ser inter pretado como um gráfico de voltagem X tem po, representando as diferenças de poten ciais que ocorrem ao longo de um ciclo car díaco (Figura 19). O papel utilizado para interpretação do registro é mílimetrado, de marcando quadrados de 1 e 5 mm através, respectivamente, de linhas claras (formam "quadradinhos") e escuras (formam "quadra dões·). A voltagem é representada no e ixo vertica l, onde cada milímetro do papel repre senta O, 1 mV. O aparelho deve sempre ser calibrado antes de iniciar o regist ro para que esta proporção (1 mV = 10 mm) seja respei tada. O tempo é representado no eixo hori zontal, onde cada quadradinho de 1 mm corresponde a 0,04s ou 40ms {velocidade padrão de registro de 25 mm/s). Estes parâmetros são considerados como padrões para realização de um eletrocardio grama convencional. Entretanto, em situações onde a baixa ou elevada amplitude do registro dificultam a sua interpretação, o e letrocardió grafo pode ser reprogramado para expressar uma voltagem maior (2N) ou menor (N/2), respec tivamente. Além disso, a velocidade do papel também pode ser lentificada (ex.: 50 mm/s ),. o que muitas vezes facilita a análise de certas taquiarritmias. Como saber se o ECG está " no padrão"? Descobrir se a velocidade utilizada foi a pa dronizada é simples, pois, geralmente, a ve- locidade do papel aparece explicitada no mesmo. Então, basta procurar se está escrito 25 mm/s. Já a voltagem utilizada é represen tada, em ge·ral, por um retângulo no início de cada traçado do ECG (Figura 20). Assi m, um retângulo com uma altura de 2 •quadradões· (10 mm) mostra que o aparelho foi calibrado com padrão clássico. Se o retângulo tiver ape nas 1 "quadradão" (5 mm) de altura, é indica tivo de que foi usada a metade do padrão clássico, isto é. N/2. Ocasionalmente, você ainda verá um retângulo que sobe 2 "quadra dões" e, em seguida, desce para apenas 1 "quadradão", significando que as derivações frontais (OI, 011 , 0 111, aVR, aVL e aVF) estão com padrão clássico (N), enquanto as precor diais (V1 a V6) estão com N/2. CICLO CARDÍACO E TRAÇADO ELETROCARDIOGRÁFICO Em qualquer sistema muscular do organismo a excitação precede a contração. Portanto, no eletrocardiograma as ondas representativas da ativação de cada região antecedem, por alguns milissegundos, a contração cardíaca em si. Um traçado eletrocardiográfico é composto por on das, segmentos e intervalos que juntos com põem o ciclo elétrico cardíaco (Figura 21 ). As ondas devem sempre ser avaliadas quan to à morfologia, amplitude (altura), duração (largura) e polaridade. Os segmentos repre- -··- MEOr:u: t RO :-lr': CAPIJULO 3- TIUIÇAOO 77 ELETROCARDIO~ÁFICO sentam os momentos em que não há formação de diferenças de potencial, o que significa que todas as células (ou, pelo menos, a maioria delas) estão despolarizadas ou em repouso elétrico. Por este motivo, os segmentes são isoelétricos (linha reta), ou seja, não apresen tam deflexões. Por último, os intervalos são compostos por combinações específicas de ondas e segmentos. Analisaremos agora cada um destes elementos. OndaP A onda P corresponde à despolarização dos átrios. Como foi visto no 1° capítulo, a ativação do átrio direito forma a sua parte inicial, ha vendo, em seguida, um período de interseção dos dois átrios, enquanto somente o átrio es querdo é responsável por gerar a parte final. Classicamente, os alunos guardam o concei to de que as duas melhores derivações para se analisar as propriedades da onda P (mor fologia, duração e amplitude) são Dll (plano frontal) e V1 (plano horizontal). Por que esta regra? Mais do que gravar essa informação, devemos entendê-la. Para isso, temos que re cordar a posição dos vetores de despolariza ção atrial no espaço ... Perceba na Figura 22 que a despolar ização do átrio tem um sentido de "direita para es querda• e de "cima para baixo·, ou seja, exa tamente a orientação da derivação 0 11 , que une o braço direito à perna esquerda. Assim, a tendência é que a onda P tenha a sua maior amplitude nesta derivação,Porém, como sua frequência de despolarização é mais lenta que a do NSA (40-60 vezes por minuto), em situações normais ele não apre senta função de marca-passo. O NAV está encarregado de •atrasar" a condução atrio ventricular do estímulo para permitir que a contração atrial preceda a contração ventri cular, possibilitando assim um esvaziamento adequado do átrio durante a diástole. Esta propriedade do NAV também é importante para preservar os ventrículos de eventuais taquiarritrnias atriais que poderiam degenerar para arritmias ventriculares malignas, caso este "filtro" não estivesse presente. Esta é a chamada "condução decremental", ou seja, à medida que o estímulo alcança o NAV, ocorre uma queda progressiva da eficácia da propagação através dele. O SISTEMA HIS-PURK!NJE (SHP) origina -se do NAV à medida que sua estrutUJra en trelaçada gradualmente se torna ordenada. No feixe de His, as células são orientadas de fonma longitudinal e apresentam uma bainha de colágeno, penmitindo um aumento da ve locidade de condução até atingir seu pico nas fibras de Purkinje. O feixe de His divide-se ainda em ramos direito e esquerdo, sendo que o primeiro segue até a base do músculo papilar anterior direito sem sofrer bifurcação alguma. O ramo esquerdo origina dois hemi fasciculos: o anterossuperior e o pos teroin ferior, que seguem para seus respectivos músculos papilares. Tais hemifascículos e o ramo direito caminham através do subendo cárdio até originarem as fibras de Purkinje, que então chegam até os miócitos ve-ntricu lares, configurando as tenminações periféri cas do sistema de condução. Para visualizar o funcionamento do sis tema de condução cardíaco, acesse o vídeo (código: 30112), disponibilizado na área restrita de nosso portal na internet, ou leia o código através ~ doMEDCODE: -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAP!TlA.O 1 . ELETROf~OOV. CAAot.CA Figura 28 de Kent Figura 2C O sistema de condução cardíaco pode apresentar variações patológicas: são as chamadas •vias acessórias• que comunicam diretamente os átrios com os venttfculos. Esta espécie de •atalho" atrioventricular, evita a passagem do estimulo pelo NAV, que, como vimos, lentificava a condução elétrica. Estas vias ganharão mais. importância quando estudarmos as sfndromes de pré-excitação ventricular. As três principais vias acessórias são: o feixe de James, o feixe de Kent e as fibras de Mahaim. O Feixe de James (Figura 2A) é constitufdo por fibras de condução rápida que comunlcar.n o feixe internodal posterior com o feixe de His, [()(mando assim um verdadeiro desvio do NA V. O Feixe de Kept (Figura 2B), que pode estar presente em recém-nascidos até os seis meses. de idade, comunica diretamente o átrio com o ventrículo numa via de condução formada exclusivamente por miócitos, devido a uma falha no Isolamento do corpo fibroso. Ele pode estar presente no átrio esquerdo (mais comum) ou direito. Por último, as Fibras de Mahajm (Figura 2C) comunicam a parte mais inferior do NAV ou feixe de His com a parte superior do septo lnlervenlricular, [()(mando um desvio precoce do sistema de condução intravenlrlcular. 7 -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAP!TlA.O 1 . 8 ELETROf~OOV. CAAot.CA O COMEÇO DE TUDO .•. Vocês já se perguntaram como o coração é capaz de continuar a apresentar cont ração mesmo após ter sido retirado do corpo? Logicamente, como o fenômeno contrátil é prece dido de um fenômeno elétrico, tal fato só pode ser possível se o coração possuir um si stema elétrico independente do restante do corpo e que tenha ainda a capacidade de gerar impulsos nervosos de modo autônomo. E é exatamente isso que acontece! A essa capacidade de geração espontânea de um impulso elétrico (ou corrente elétrica) damos o nome de automatismo cardíaco. Aliás, se essa proprie dade cardíaca não existisse, o primeiro transplante cardíaco realizado em Dezembro de 1967 continuaria, ainda hoje, sendo apenas um sonho. A capa da revista americana semanal Time Magazine de 15 de Dezembro de 1967 trazia o Dr. Chrisliaan Barnard, pioneiro no transplante cardfaco, tendo realizado a primeira cirurgia deste tipo 12 dias antes no Hospital Groote Schuur, na Alrica do Sul. Ele transplantou o coração de Denise Ann Darvall, 25 anos, que morrera em um acidente de carro, para louls Washkansky, 57 anos, que viveu apenas 18 dias após a cirurgia, vitima de uma pneumonia. A realização da cirurgia só foi possível após o conhecimento da propriedade de automatismo cardfaco, que permite que um coração. mesmo desnervado. mantenha sua propriedade contrátil. Mas como uma corrente elétrica é formada? Entenda que a corrente elétrica. nada mais é que um fluxo de elétrons - partículas que, por definição, têm carga negativa. Ou seja, alguma coisa tem que acontecer para pro piciar essa movimentação de elétrons. Va mos usar um exemplo bem familiar para que você entenda! Pense, nesse momento, em uma p ilha ou uma bateria comum ... Pense mesmo! A pilha que, por exemplo, faz fun cionar o controle remoto da sua televisão ou que é capaz de ligar uma lâmpada .. . Lem bre-se de que ela tem 2 pólos: um positivo e outro negativo. Quando esses pólos são conectados a um circuito elétrico, eles for mam o incentivo necessário para o fluxo de elétrons acontecer: eles saem do pólo ne gativo para o pólo positivo - está formada a corrente elétrica. Concluindo, as pilhas e baterias conseguem formar uma corrente porque são estru turas que tem o que cha mamos de um dipolo, isto é, um pólo nega tivo e um pólo positivo. E o coração? Já conhecemos o seu circuito elétrico (sistema de condução), mas, para ter uma corrente elétrica atravessando sua extensão, e le precisa formar esse dipolo. Ele consegue isso ao alterar a carga que existe em sua membrana. E um processo que parece complexo, mas que, na verda de, tem até uma lógica interessante para acontecer .. . Pode soar estranho em um primeiro momento. mas entenda que a célula cardíaca no seu estado de repouso já está polarizada! Ela já apresenta o seu meio extracelular positivo e o intracelular negativo - a membrana celular impede a existência de corrente elétrica entre estes 2 meios. Mas, como todas as células estão dessa maneira, não há um dipolo entre elas e assim, não há corrente elétrica. Portan to, em algum momento, uma célula cardíaca inverte essa polaridade, ficando com o extra celular negativo. Com 2 pólos diferentes, o coração, assim como a pilha, consegue formar uma corrente elétrica (Figura 3). -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAP!TlA.O 1 . 9 F I GU R A 3 . A ) Potencial de Repouso Nesse momento, vamos entender como a cé lula consegue ficar polarizada no seu "repou so", como ela consegue inverter essa polari dade para formar a corrente elétrica e como essa inversão é transmitida célula a célula para que a corrente elétrica se perpetue pelo coração. A célula miocárdica em repouso apresenta diferentes concentrações intra e extracelulares de íons que permitem a manutenção de um potenc ial transmembrana de repouso entre -65 e .go mV (essa variação depende do t ipo ce lular - veremos isso adiante), ou seja, o meio extracelular é mais eletropositivo do que o in tracelular. Apesar de vários cátions e ãnions participarem da manutenção deste potencial, os dois principais íons responsáveis por esta propriedade são o potássio (K') e o sódio (Na'), especia lmente o primeiro. O principal fator para manutenção do potencial de repouso transmembrana da célula cardíaca com sua típica negatividade intracelular é a bomba de Na' /K' ATPase. Sua ação envolve jogar 3 Na• para fora da célula, enquanto co loca apenas 2 K• para o meio intracelular, o que contribui para tomar o interior mais nega tivo (saíram 3 cargas positivas e entraram apenas 2 ... ). Em outras palavras, poderíamos afirmar que, sem ela, não haveria. a formação do potencial iransmembrana. A bomba de Na•/ K• ATPase é o começo de tudo!: ELETROf~OOV. CAAot.CArazão pela qual Dll acaba sendo a melhor derivação para avaliar as propriedades dessa onda. A sua morfologia habitual em Dll é arredondada e monofásica (apenas uma onda positiva), po dendo apresentar pequenos entalhes que, em condições normais, não se distanciam por mais de 30 ms. Os Vetores da Ativação dos Átrios A E - Vetor de Atlvaçio doAIIto lilll SAP - Vetor Médio da A~ FIGURA 22. E qual o motivo de V1 também ser especial aqui? Entenda que o posicionamento de V1 e V2 na parte anterior do tórax permite que os vetores atriais direito e esquerdo sejam visualiza.dos de um ângulo onde apresentam sentidos opostos. Assim, nestas derivações, a onda P apresenta uma morfologia bifásica (positiva e negativa), onde a parte positiva representa a ativação do -··- MEOr:u:t RO :-lr': CAPIJULO 3. TIUIÇAOO 7 8 ELETROCARDIO~ÁFICO átrio direito (vetor "aponta" para os eletrodos de V1 e V2) e parte negativa a do átrio esquer do (vetor "foge" dos eletrodos), fato que é ainda mais pronunciado em VI. Deste modo, esta derivação consegue avaliar o comportamento de ambos os átrios de forma separada. A duração da onda Pé diretamente proporcional á idade e inversamente à frequência cardíaca, e não deve exceder 100 ms. Sua amplitude não deve ultrapassar 2, 5 mm em Dll e I ,5 mm em V1 (parte positiva)- Figura 23. Por último, já vi mos qu:e sua polaridade nas derivações do plano frontal depende da orientação do vetor médio da despolarização atrial, que geralmente é em tomo de +60°, mas pode ficar entre 00 (pessoas longi lineas) e +90° (pessoas brevilineas). Assim, em indivíduos normais ela sempre deverá ser posi tiva em DI, Dll e aVF e negativa em aVR, apre sentando polaridade variável em Dlll e aVL. Intervalo e Segmento PR O segmento PR corresponde à l inha isoelé trica que se inicia exatamente quando ter- -Significado: despolarização atrial. - Eixo· médio: o• a +90•. mina a onda P e vai até o começo do com plexo QRS. Ele representa a condução do estímulo a través do nodo atrioventricular, do feixe de His e das fibras de Purkinje e sua duração é inversamente proporcional à fre quência car'd iaca. É importante sempre pes quisarmos desníveis deste segmento (com parar com a linha de base do início da onda P), pois sua presença está associada a al gumas doenças importantes como a pericar dite (infradesnível), que será estudada no Cap ílulo 14. O intervalo PR é a associação da onda P com o segmento PR. Na prática , a análise deste intervalo é uma referência mais fide digna da condução atrioventricu lar, po is representa o deslocamento do estímulo des de o nodo sinusal até os miócitos ventricu lares. A duração normal do intervalo PR deve ficar entre 1 20 ms e 200 ms. Valores abaixo desta faixa devem levantar a suspeita de pré-excitação ventricular (Capítulo 14), en quanto uma duração maior, por definição, corresponde a um bloqueio atrioventricular de primeiro grau (Capítulo I 0). • Formato: monofásica, positiva e arredondada em Dll / bifásica em VI . -Duração (largura): até 100 ms (ou 2,5 quadradinhos), embora alguns autores considerem até 120 ms (ou 3 quadradinhos). -Amplitude (altura): até 2,5 mm em Dll (ou 2,5 quadradinhos) e até 1,5 mm em VI. Onda P normal 2,5mm 1,5mm F"IGUR:A 2:3. -··- MEOr:u: t RO :-lr': CAPIJULO 3 . TIUIÇAOO 79 ELETROCARDIO~ÁFICO ·Significado: condução atrioventricular • Formato: vai do início da onda P até o início do complexo QRS • Dur.ação (largura) : 120 a 200 ms (3 a 5 quadradinhos) Com lexo QRS O complexo QRS representa o processo de despolarização ventricular e pode ser compos to por apenas uma onda ou conjun-to de ondas. Ele é constituído pelas resultantes dos vetores formados durante a ativação ventricular e se inicia n.a primeira onda do complexo, terminan do no ponto J (junção da última onda do com plexo com o segmento ST). É exatamente pelo fato da despolarização ventricular ser represen tada por mais de um vetor (lembre: septo médio, parede livre de VE e parede basal) que o com plexo QRS pode apresentar mais de uma onda! Mas como são definidas as ondas do QRS? Onda Q- 1' onda negativa. Sua duração não deve ser maior do que 0,04 seg {1 quadradi nho) e sua amplitude não pode exceder um terço da onda R no mesmo complexo (exceto em 0111 e aVR) Onda R- 1' onda positiva j_ y Onda S-onda negativa que sucede a onda R Onda R'- 2 ' onda positiva Onda S'- onda negativa que sucede a onda R' • Concluindo; todas as ondas posftivas (para cima) são chamadas de R, enquanto as ondas negativas (para baixo) podem ser Q (antecede onda R e só pode exis tir uma por complexo) e ondas S (após onda R). Por convenção, a onda com maior área re cebe uma letra maiúscula e a letra com me nor área, letra minúscula. Quando as ondas apresentam a mesma área, ambas são c las si ficadas com uma letra maiúscu la. Se o complexo não apresenta onda R (polaridade toda negativa), sua morfo logia é denomina da QS. Ao longo dos próximos capítulos, veremos também como diferentes patologias podem a lterar estes padrões em derivações específicas. Por enquanto, como um treinamento, defina abaixo as morfologias do complexo QRS ... - FIGURA 24. A duracão do complexo QRS geralmente não ultrapassa 100 ms em indivíduos normais e valores maiores ou iguais a 120 ms são sempre sinal de patologia, indicando, na maioria das vezes, algum distúrbio de condução intraven tricular (como bloqueio de ramo). A duração é diretamente proporcional à idade e tamanho do coração e inversamente à frequência cardíaca. A onda com a maior amplitude do complexo deve ter, no mínimo, 5 mm no plano frontal e 8 mm no horizontal (derivações precordiais). Quando nenhuma onda de qualquer derivação no plano frontal e horizontal for maior do que estes valo res, haverá, por definição, baixa voltag:em do complexo QRS, que pode estar associada a diversas patologias como o derrame pericárdico. amiloidose, enfisema pulmonar e hipotireoidis mo. Estas d oenças podem influenciar tanto a quaniidade de dipolos gerados, quanio a resis tência do meio condutor que transmite as dife renças de potenciais para os eletrodos. R pura QS QR RSR' -··- MEOr:u: t RO :-lr': CAPIJULO 3. TIUIÇAOO 80 ELETROCARDIO~ÁFICO Em rel ação à voltagem máxima do QRS, os valores são mais variados e não há um ponto de corte universalmente aceito. Exis tem diversos critérios que são utilizados para diagnosticar sobrecarga ventricular esquerda que dependem da presença de certos cortes de amplitude. Este tema serà abordado com detalhes no próx imo capítu lo (Sobrecargas Cavitárias). De uma forma geral, a amplitude do complexo QRS é maior em indivíduos magros (menor resis tência da parede torácica) e naqueles com maior massa card íaca (maíor quantidade de dípolos). Por último, o eixo médio do complexo QRS, no plano frontal, pode ficar entre -30° e +90° dependendo do biotipo do paciente (longilíne os _, mais próximo de +90°; brevil íneos _, mais próximo de -30°). Em geral, ele fica em torno de +60°: lembre-se que deverá ser sem pre positivo em DI, Dll e aVF e negativo em aVR, podendo ser variável em DI II e aVL. Já no p lano horizon tal, o comportamento do QRS é característico e interessante: ele vai se tornando gradualmente positivo de V1 a V6 (Figura 25). Isso porque, à medida que os eletrodos vão se aproximando do ventrí culo esquerdo, passam a observar a fren te do vetor de maior amplitude da despolariza ção ventricular (2° vetor - parede livre do VE). Assim, o eixo médio do QRS, no p lano horizontal, apresenta uma orientação per pendicular a V3 e V4 (morfolog ias isodifási cas RS, ou já positivo com morfologia Rs), e aponta para trás e para esquerda (negati vo com morfologia rS em V1 e V2; e positivo em V5 e V6 com morfologia qRs ou qR). • O momento em que o QRS troca de pola ridade no plano horizontal é chamado de "zona de transição" e geralmente ocorre em V3 ou V4.Veremos mais ad iante que a onda Q deve ser analisada com mais atenção, pois alte rações nela podem significar um infarto ... A onda a deve ter uma duração 60 bpm, o intervalo RR será 1 s, portanto o QTc será menor que o QT medido. O valor normal do QTc não deve ser maior do que 440 ms. Uma forma prátjca e rápida de avaliar a duracão do intervalo OT é lembrar qye quando a freguêocia card jaça está entre 60 e 1 00 bpm ele sempre dgyerá ser menor do que a metade do intervalo R-R. Fórmulas para QTc Apesar da Fórmula de Bazett ser a mais popular para a correção do intervalo QT, ela perde um pouco em acurácía quando a FC do paciente encontra-se anormal, ou seja, fora do intervalo entre 60 e 100 bpm. Outras fórmulas são tão ou mais eficazes que Bazett - algumas inclusive mais simples: - Fórmula de Hodges: QTc = QT + 1. 75 (FC-60) - Fórmula de Framingham: QTc = QT + 0,154(1-RR} - Fórmula de Fridericia: QTc = QT I RR0•33 -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAPIJULO 3. TIUIÇAOO 8 3 ALTERAÇÕES DO INTERVALO QT - Aumento da duração: Síndrome do QT longo congênita (Lange-Nielsen, Romano-Ward), distúrbios eletrolíticos (hipocalcernia, hipocalemia), drogas (ex.: amiodarona, quinidina, sotalol, cloroquina, antidepressivos tricíc licos, haloperidol. .. ). A consequência mais grave associada do prolongamento do QTc é a taquicardia ventricular polimórfica do tipo Torsades des Pointes. COMO MEDIR O INTERVALO OT Apesar de pouco conhecida, a forma mais correta de medir o intervalo QTconsiste em desenhar uma l inha de base tendo como referência o segmento PR e, em seguida, desenhar uma linha tangente à deflexão {descida) da onda T. O intervalo QT começa no início do QRS e termina no ponto onde a tangente corta a linha de base. ' ......... 011001 vs - u - FIGURA 27 , Assim, podemos perceber alguns conceitos que. sem essa bagagem teórica, poderiam passar despercebidos: lnl âQT F IGURA28, -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAPIJULO 3- TIUIÇAOO 84 ELETROCARDIO~ÁFICO Onda U A pequena onda U sucede a onda T e está presente em 40-50% da população, sendo me lhor visualizada em V2 e V3. Sua amplitude é proporcional à da onda T, não ultrapassando 25% da voltagem desta onda. Além disso, em condições normais estas duas ondas sempre apresentam a mesma polaridade. IExiste muita controvérsia em relação à sua origem, mas se acredita que ela poderia representar a repola- rização do sistema His-Purkinje ou das células M, encontradas na parede livre do ventrículo esquerdo e cuja fase 3 do potencial de ação é mais longa do que a dos miócitos ventriculares. De qualquer forma, diversas doenças podem influenciar sua amplitude (ex.: hipocalemia aumento) e polaridade (ex.: sobrecarga do ventrículo esquerdo - inversão). A tabela abaixo resume as características dos itens eletrocardiográficos: ITEM DURAÇÃO (MS ) I AMP L ITUDE (MM) E I XO MÉDI O Onda P Intervalo PR --------------------- +60o (O a +90 5 no plano frontal e > 8 no horizonta I +60o (-30o a +90") Positivo em DI, Dll e f-----------1 aVF Negativo em aVR Intervalo QT Até 440 - - --- -----·- ---------- Segmento ST - - .. - . . . . .. Onda T Onda U Sem padronização Até 25% da onda T +45o (O a +90•) Positivo em DI, Dlt e emaVR TABELA 4, AVALIAÇÃO DO RITMO E DA FREQUÊNCIA CARDÍACA Análise do Ritmo Para que o ritmo cardíaco seja caracterizado como normal, a sequência temporal das ondas e segmentos revisados acima deve ser res peitada em todos os ciclos (onda P, segmen to PR, complexo QRS, segmento ST e onda n. O fator mais importante a ser analisado é a origem do estímulo responsável pela des polarização ventricular. Esta será a região que estará ditando o ritmo cardíaco! Como, em condições fisiológicas, o estímulo é gerado no nado s inusal, o ritmo cardíaco normal é clas sificado como sinusal (frequência normal em repouso de 60 a 100 bpm - lembre que, no coração. quem é mais rápido comanda). Eletrocardiograficamente, este ritmo é carac ierizado por uma regularidade dos ciclos e pela presença de uma onda P com as característi cas descritas (polaridade, morfologia, ampli- tude e duração) precedendo todos os comple xos QRS. E fundamental que estas proprieda des sejam analisadas, pois a simples presen ça de uma onda P antes de cada complexo ventricular s ignifica apenas que o local com função de marca-passo está em um dos. átrios, mas não ne•cessariamente no nado sinusal .. . RITMO SINUSAL (CR I TÉR I OS) Onda P precede todos os complexos QRS Onda P: positiva em DI e Dlt; negativa em aVR Intervalo PR: constante ese aproxima de -300 (horizontalização- a gran de dica é o complexo QRS negat ivo em 0111), como em indivíduos brevilíneos, ou +120° (ver ticalização - a grande dica é o complexo negativo em aVL), como nos longilíneos. Veja na Figura 32 como a polaridade do QRS poderá se modificar de acordo com a rotação. (2) EIXO LONGITUDINAL Olhando o coração no sentido de sua. ponta até a base, definimos o eixo longitudinal por onde poderão ocorrer as rotacões horária e anti-horária. Estas rotações alteram o QRS tanto no pia no frontal quanto horizontal. RO[AÇÃO HORARIA Nesta rotação, VD é deslocado para frente e para a esquerda, VE vai para trás e o septo interventricuJar fica também mais anteriorizado e para a esquerda. No plano fronial, o (peque no) vetor do septo passa a apontar para DI e -··- MEOr:u: t RO :-lr': CAPIJULO 3- TIUIÇAOO 88 ELETROCARDIO~ÁFICO fugir d·e Dlll, enquanto o (grande) vetor da parede livre do VE foge de DI e se direciona para D 11 1. Isso gera um QRS com morfologia rS em DI e qR em Dl ll: é formado o padrão S1-Q3 (ondaS em DI e Q em Dllll). No plano horizontal, surge a característica mais impor tante: estas rotações influenciam o padrão de transição do complexo QRS (de p redominan temente negativo em V1 para positivo em V6). Quando o coração está numa posição inter- mediária (sem rotação), esta transição ocorre em V3 e V4 (Figura 33). Entretanto, na rotação horária, como o VD está mais para a esquerda, a transição é mais tardia, podendo cursar com ondas S proeminentes até VS - mais raramen te até V6 (Figura 34). • Essa rotação costuma estar associada à verticalização, sendo, portanto, mais encon trada em pacientes longilíneos. F" I G U RA 32 : VE:A:T ICA~I%AÇÁO/LONBILfl'fE:O I,AV L N E:ISA T I VOJ lt M OAI%0N T A \.I ZAÇÁOitB REVU .. ÍN 20 t 0 1lt NEGAT IV O,, Trans.lçlo norm•t r,.nsrçõo hlrdia 1 fb) ' -tt++-t- :1 ' : Pt*çlo I hortril F'IG U RA 34: R OTAÇÃO H O RÁRIA - Z ONA OE T RAN S IÇÃO TARD IA, -··- M EOr:u: t RO :-lr': CAPIJULO 3 . TIUIÇAOO 89 ELETROCARDIO~ÁFICO ROTAÇÃO ANTI-HORA RIA Nesta rotação, o VE é a câmara que vem mais para frente, o VD fica mais para trás e o septo se volta um pouco mais para a direita. Assim, no plano frontal, o vetor do septo passa a fugir de OI e apontar para 0 111, enquanto o vetor da parede livre do VE se direciona para OI e foge de OIIL Isso gera um QRS com morfologia qR em OI e rS em 0111: é o denominado padrão Resposta: i l'ilf 1'!!'1 il I~'- ~~- I: Vi\. !:/ I' oj r Q1-S3 (onda Q em OI e Sem 0111). Já no plano horizontal, como o VE está mais para frente, a transição é mais precoce (Figura 35). • Essa rotação costuma estar associada à horizontalização, sendo, portanto, mais encon trada em pacientes brevilíneos. Faça você mesmo: quem é longili neo e brevilineo abaixo? * ''. '" "~ 'f ~· 4 ;.. '- ;;, ' ' ':/ . lmn · -~ ' ... •! . 111: :~ liiJm;r ~~ ~ 4 ~- ·' I 'E l!r F•' ·H .. •. r I .... ;;·· ... ·~ ;i I ' e: *' +;;j :IL , .. I . ' A IJI "' .. .. .. J = ?'' ~ ~ .. ... I= .. '" I ""'- . . ' "" "'·F- • . " " ' f"l b ~~--· ~ f+ 1-- ... I Resposta: Resposta: Brevlllneo. Resposta: Longillneo. -··- MEOr:u: t RO :-lr': CAPIJULO 3 . TIUIÇAOO 90 ELETROCARDIO~ÁFICO Translçlo precoce : (c) J_j_j_J_ Poslçlo anti-horária F"IG U RA 3 5 : ROTA Ç Ã O A N TI•H O RÁRIA - ZON A DE TRAN S IÇ Ã O P RECO C E . (3) EIXO TRANSVO:RSAL As últimas rotações ocorrem em torno do eixo transversal, que é perpendicular ao longitudi nal. Estas rotações resultam num desvio da pon taG . t RELAT IVAM ENT E C OMU M N OS O t:PA A A R M OS COM U M T R A Ç A D O C H E IO OE IN T E R F"ERÊNCIA S O U Mll:SMó ~Uf NÃO R~SPr!1TA U MA LIN HA b ~ B A SE: SÃO EXI!:M P LO S OE PROBLEM A S TéCNI· COS Q U E T AM BéM CEVEM SER OE NOSSO O O · M iN tO P ARA A CORRETA AVALIA ÇÃO E LE"TR OCA R · O IOGR Á F'ICA 00 P A C IENTE. INVERSÃO DE ELETRODOS A troca de eletrodos é um erro comum na realização do ECG, podendo comprometer sua in terpretação e levar a diagnósticos equivocados! Alteração em DI: Progressão normal da onda R nas precord íais Entre os Membros Superiores A onda P e o complexo QRS ficam negativos em OI. Nesse contexto, temos a obrigação de diferenciar uma simples troca de eletrodos de uma dextrocardia (Figura 38). Para isso, de vemos aval i ar a progressão da onda R ao longo das derivações precordiais e, obviamen te, examinar o precórdio: - Progressão normal da onda R de V 1 a V6 (vai se tomando positiva) e precórdio com ictus tópico: TROCA DE ELETRODOS. - Auséncia de progressão da onda R de V1 a V6 e precórdio sem ictus à esquerda: DEX TROCARDIA. Entre os Membros Superior e Inferior - Braço e perna direitos (Figura 39): Sinal redu zido em 011, pois esta derivação passa a mensu rar a diferença de potencial entre a pema direita e a esquerda. Já as derivações OI e 0 111 passam a construir imagens em espelho entre si. QRS eonda P negatiVos Ausência de r:----1t--'- progressão da V1 I V6 onda R nas precordiais DE_XTRCCARDIA FI GURA 3 8. -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAPIJULO 3 . TIUIÇAOO 94 ELETROCARDIO~ÁFICO NORMAL TROO.OE El.ETRODOS DI DIZ DIIZ or e on1 s :1o i~gcns e. espel ho sinal reduzido F"I GURA 39. - Braço e perna esquerdos: Reversão das de rivações DI e 011 entre si; inversão da deriva- ção 0111; reversão das derivações aVL e aVF entre si. ARTEFATOS Artefatos de Movimentos Podem ocorrer por movimentos voluntários ou até mesmo por tremores involuntários, como os do parkinsonismo. A linha de base do ECG aparece ondulada e irregular, principalmente nas derivações do eixo frontal - que usam os membros como posicionamento dos eletrodos. F'I GURA 40. '=uga ~a !-_in_ h a_ de_E~ase Normalmente, ocorre por realização do ECG prontamente após colocação de uma deri vação ou após cardioversão elétrica. Mas pode também surgir em virtude de um mo- vimento torácico mais exuberan te durante a respiração ou pela colocação inadequada do eletrodo (ex.: em cima de uma estrutura óssea). -··- MEOr:u: t RO :-lr': CAPIJULO 3 . TIUIÇAOO 95 ELETROCARDIO~ÁFICO F I GURA 4 1 . lnte rferê ncia E létrica É normalmente causada pela proximidade de algum d ispositivo elétrico, o que acaba produ zindo um artefato caracterizado pela alteração DI D li da linha de base-geralmente um pouc:o mais grossa e irregular e em todas as derivações (diferente dos artefatos de movimento). F I GURA 4 2. Sinal Fraco Pode ocorrer por problemas técnicos, como colocação inadequada dos eletrodos e cabos danificados, ou mesmo pelo fato da amplitude do QRS ser pequena demais para ser regis- Irada na voltagem padrão. Nesse último con texto, como percebemos ao longo do capítulo, devemos reiniciar o registro optando por nova detecção de voltagem. MEOEtE'IRO CAPITULO 3 • TRAÇADO ELETFtOC.AROIOGR.ÃFICO é AIXO, SeLE:CI ONA MCJS ALGUNS EXERCÍCIOS PARA Q U t! VOC€- St:OIM IE:N TE., D E: MODO O Ef"I N ITIVO. OS CONC!:ITOS OB'riO OS AO LON G O 00 CAPÍTULO E: TENHA M A I S 'rR ANQ UIL IOA O f::. SE:GUR ANÇA E âAS!t TEÓRICA PAR A AVAN ÇAF:l AO PRÓXIMO T EMA. MÃOS À OSRA ! 1 - Marque a opção que contenha apenas derivações bipolares do plano frontal: A) V1 , V2, V3, V4, V5 e V6. 8) OI, 011, 0111. C) aVR, aVL, aVF. O) 011, V2. E) V1, V2, V3, DI, 011, 0111. 2 - Que derivação avalia a corrente elétrica na direção do braço direito para o braço esquerdo? A) V1. 8) 011. C) V2. O) aVF. E) DI. Come-ntário: Para a confecção das deriva ções bipolares do plano frontal (DI, DI/, 3-Para a adequada realização do eletrocar diograma, devemos saber onde colocar os eletrodos que irão avaliar a atividade elétri· ca no eixo frontal. Qual é a alternativa que melhor descreve o seu posicionamento? A) amarelo - braço direito I verde - perna direita I vermelho -braço esquerdo I preto - perna esquerda. 8 ) amarelo- braço esquerdo I verde - bra ço direito I vermelho - perna direita I preto - perna esquerda. C) amarelo - perna esquerda I verde- per na direita I vermelho -braço direito I preto - braço esquerdo. O) amarelo - braço esquerdo I verde - per- Comentário: Questão simples e conceitual. Existem 6 derivações no eixo frontal: 3 bipolares que avaliam a atividade elétrica pela diferença de potencial entre 2 eletrodos {DI, D/1 e D/JI) e 3 unipolares que avaliam a diferença de potencial entre 1 eletrodo e um ponto central de polaridade nula (aVR, aVF e aVL). Resposta certa: letra B. D/11), colocam-se eletrodos no braço direito, no braço esquerdo e na perda esquerda (para mimetizar o triângulo de Einthoven). O eixo da derivação DI vai exatamente da direita para a esquerda, ou seja, avalia a diferença de potencial entre braço esquer do (eletrodo positivo) e braço direito (ele trodo negativo). Já DI/ é perna esquerda(+) - braço direito (-); e Dfll é perna esquerda (+) - braço esquerdo (-). l?esposta certa: letra E. na esquerdla I vermelho - braço direito I preto- perna direita. E) amarelo - braço direito I verde - perna esquerda I vermelho - braço esquerdo I preto- perna direita. Comentário: Ainda hoje, muitos aparelhos de ECG usam os pregadores de cores vari áveis para o posicionamento dos eletrodos do eixo frontal, por isso é importante conhe cê-los. Os -eletrodos do braço esquerdo, braço direit;o e perna esquerda correspon dem aos vértices do triângulo de Einthoven, enquanto o eletrodo da perna direita serve como um eletrodo terra. A questão é con ceitual. Resposta certa: letra D. MEOEtE'IRO 4 - Com relação às derivações precordiais, assinale a adequada posição do eletrodo de V5: A) 2• espaço intercostal à esquerda na linha paraesternal. 8) s• espaço intercostal à esquerda na linha axila anterior. C) s• espaço intercostal à esquerda na linha axila média. O) s• espaço intercostal à esquerda na linha axila posterior. E) 2• espaço intercostal à direita na linha paraesternal. 5 - Para a adequada defin ição do eixo elétrico da despolarização ventricular (QRS) no plano frontal, quais são as 2 primeiras derivações que devem ser analisadas? A) DI e 011. 8) V1 e V2. C) 011 e 0111. O) DI e aVF. E) 0111 e aVL. Comentário: Inicialmente, deve-mos dividir o plano frontal em 4 quadrantes através dos C APITULO 3 • TRAÇADO ELETFtOC.AROIOGR.ÃFICO Comentário: Vamos relembrar o adequado posicionamento dos eletrodos do eixo horizontal (derivações precordiais) ... V1- 4• espaço intercostal na linha paraestemal direita I V2 - 4° espaço intercostal na linha paraesternal esquerda I V3- equidistante a V2 e V4 I V4 - 5° espaço intercostal à esquerda na linha hemiclavicular I V5 - 5° espaço intercostal à esquerda na linha axilar anterior I V6- s• espaço intercostal à esquerda na linha axilar média. Resposta certa: letra B. eixos perpendiculares de DI e aVF. A polaridade do registro em DI e a VF é que irá determina o quadrante da atividade elétrica: (1) DI + I aVF + : entre o• e +90° (inferior esquerdo) (2) DI + I aVF - : entre- o• e -90° (superior esquerdo) (3) DI - I a VF - : entre -90° e 180° (superior direito) (4) DI- I aVF + : entre +90° e 1so• (inferior direito) Resposta certa: letra D. 6- Determine o eixo do QRS deste ECG no planto frontal: n DIÍI • ' '. . A J l n -· 11 A) En1re -30° e o•. 8) o•. C) +30°. O) En1re +&o• e +90°. E) Indeterminado. • ? aVF l j I · v Comentário: Cálculo de eixo elétrico é um conceito primordial para o entendimento da Eletrocardiografíal Isso deve-sermuito bem • - · ' · I _ I ... ,,. .. , .... , .. ~ trabalhado até que se tome algo natural para você ... Em 1° lugar, olhamos para DI e aVF: positivo nos 2 já sabemos que o eixo está entre o• e +900, o que não resolve a que-stão. Ao procurarmos a existência de uma derivação isoelétrica, encontramos D/11. Assim, o eixo !Hlrá também perpendicular a esta derivação: exatamente- em +30°. Resposta certa: letra C. MEOEtE'IRO 7- Deiermine o eixo do QRS deste ECG: ., DI. ,li ;;... U""- ,u, IE 1 ~ . ':! E 1•:mm ·- A) .go•. B) Entre -30° e o•. C) 00. O) Entre o• e +30°. E) +&o•. ... ,._ ~···~ 1:· I t .íl l.l . •i i i - . Comentário: Vamos lá/ Olhamos para DI e aVF, percebemos que o QRS é positivo em .ambas as derivações (é discretamente Là~~~ I l! ii =i= .'ltíi I" ~I ;;; ,;-_,;., : ill/: 1 ;L 1''. Ih '" ,,, ,,., '.i' I>; i.:lit. 1: ii '.f .. :: ' o; i C APITULO 3 · TRAÇADO ELETFtOC.AROIOGR.ÃFICO ,li I" H. " lif '' '*'·t. I ' ii I; :;, rl!i, I • ,, positivo em aVF), o que já coloca o eixo entre o• e +90°. Não encontramos nenhuma derivação isoelétrica, o que nos obriga mesmo a olhar para as 2 derivações que não cruzam o quadrante: DI/I e, se necessário, aVL. Em DI//, temos o QRS negativo, o que deixa obriga o eixo a ser menor que +30°. Pronto: temos um eixo entre ()O e +30°. Resposta certa: letra D. 8 - Determine o eixo do QRS no planto frontal deste outro ECG: li •• •• ••• til '" J MEOEtE'IRO A) En.tre +90° e +120°. B) +306• C) En,tre -30° e -60°. D) En,tre -120• e -1so•. E) Entre ·150° e 180°. Comentário: Este é um eixo bastante alterado ... Vamos lá/ Analisando DI e aVF, C APITULO 3 • TRAÇADO ELETFtOC.AROIOGR.ÃFICO percebemos que o QRS é negativo em ambos, o que deixa o eixo entre -906 e 1806 (quadrante superior direito) ... Devemos agora analisar as derivações que não cruzam este quadrante: DI/I e aVl.. É discretamente positivo em DJ/1, o que deixa o eixo entre -150° e 180". Resposta certa: E. 9- Determine o eixo do QRS no planto frontal de mais este ECG: In 11111 ~ ~ IQe A) Entre +30° e +60°. 8) +30°. C) +60°. D) -1so•. E) Entre +60" e +906• 1IUll --.Jiov-- 11\1 Comentário: Com DI e aVF são positivos, o eixo certamente está o• e +90°. Não há derivação isoelétrica (cuidado, pois DI/I é 1 O - As derivações V3R e V4R s ão usadas para enxergar principalmente que região cardíaca? A) Ventriculo direito. 8) Átrio direito. C) Átrio esquerdo. D) Septo. E) Parede posterior do ventrículo esquerdo. Comentário: As derivações VJR e V4R são posicionadas nas mesmas referências to- IIWl A fl(}1 I ~ ~ 1\'lS ~ positiva ... ), o que nos obriga a olhar para as derivações que não cruzam este quadrante: D/11 e aVL. É discretamente positivo em D/11, o que deixa o eixo entre +ao• e +90"', que ainda é um intervalo muito impreciso. Como, em aVL, o QRS também é positivo, sabemos que o eixo só poderá estar agora entre +30° e +60°. Resposta certa: A. rácicas das clássicas derivações V3 e V4, porém no Jado direito do tórax. Sendo assim, são úteis para avaliação do ventrí culo direito. Só para recordar, a avaliação da parede posterior do ventrículo esquer do é feita também com derivações pouco usuais: V7 e VB (5' espaço intercostal na linha axilar posterior e linha escapular posterior, respectivamente). Resposta certa: letra A. J MEOEtE'IRO CN'iTULO 3 . TAAÇ;o.OO I I) ELETFtOC.AROIOGR.ÃFICO 11 - Qual é aproximadamente a frequência cardíaca no ECG abaixo? A)40 bpm. 8) 50 bpm. C) 60 bpm. O) 90 bpm. E) 100 bpm. Comentário: Se quiséssemos ser absoluta mente precisos, poderíamos usar a "Regra 12-Qualéafrequéncíacardíacaaproximada? A) 75 bpm. 8) 100 bpm. C) 125 bpm. O) 140 bpm. E) 17S. bpm. Comentário: Ao usarmos a "Regra dos 300" (300/quadradrões), vemos que a distância 13-Qual é a frequência aproximada? A)60 bpm. 8) 90 bpm. C) 120 bpm. O) 140 bpm. E) Indeterminada. Comentário: Este eletrocardiograma não apresenta um ritmo regular, o que nos impossibilita de usar a "Regra dos 1500" e a "Regra dos 300". A única alternati va possível dos 1500" (1500/quadradinhos), que te ríamos 1500 I 38 = 39 bpm. Ao usarmos a "Regra dos 300" (300/quadradrôes), vemos que, do 2• QRS para o 3° QRS, a distância fica entre 7 quadradões (43 bpm) e 8 quadradões (37 bpm). Resp os ta certa: letra A. fica entre 2 quadradões (150 bpm) e 3 quadradões (100 bpm). Como está mais próxima de 2 quadradôes, a frequência real estará mais próxima de 150 bpm. Pela "Regra dos 1500" (1500/quadradinhos), teríamos 1500 I 11 = 136 bpm. Resposta certa: letra D. é usar a "Regra dos 3 segundos", onde contamos quantas ondas R existem num espaço de 3 segundos (15 quadradões) e depois muiUplicamos por 20 para termos um valor aproximado da frequência cardíaca. Ao utilizarmos os 15 primeiros quadra dões, enxergamos 7 ondas R, o que é compatível com uma frequência de 140 bpm. Resposta certa: letra D. MEOEtE'IRO C APITUlO 3 . TRAÇADO I ELETFtOC.AROIOGR.ÃFICO 14 - Marque a alternativa ERRADA com relação ao ECG abaixo: A) Sua frequência cardíaca é de aproxima· damente 75 bpm. 8) A onda P está nonnal. C) A duração do intervalo PRé de 160 ms. O) O complexo QRS dura menos de 120 ms. E) A morfologia do complexo QRS é Rs. Com&ntário: Vamos avaliar cada alternati· va ... A -CERTA: A distância entre cada onda R é de aproximadamente 4 quadradrões, o que, pela "Regra dos 300" &quivale a 75 bpm. B-CERTA: A onda P tem uma duração de 80 ms (2 quadradinhos) e uma amplitude de 2 mm, características de normalidade. C - CERTA: Do início da onda P ao início do QRS contamos 4 quadradinhos, ou seja, 160 ms, o que dá um caráter de nor· ma/idade parti li condução lktrioventricu/ar, uma vez que o intervalo PR nonnal deve variar &ntre 120 e 200ms. D - CERTA: O complexo QRS não ultrapassa nem m&smo 80 ms (2 quadradinhos). E- ERRADA : Perceba que o compl&xo QRS inicia com uma pequena onda negativa (onda q), de modo que sua morfologia é qRs. Respos ta certa: letra E. 15 - Avalie o ECG abaixo e aponte a causa mais provável para a alteração encontrada: ~"f >i;ll~~ : .;,.j.. I I I I I ""'+-f- 1 I .,...,..,. ~· : I .1 -lll':l•';. I I l •não só a onda P, como também o complexo QRS e a onda T são também negativas em DI. Há 2 diagnósticos diferenciais para esse comportamento: inversão dos eletrodos dos membros superiores (letra A) ou dextrocardia (letra E)! A grande dica para diferenciar as 2 MEOEtE'IRO entidades é a avaliação da progressão do complexo QRS nas derivações precordiais: não haverá progressão na dextrocardia (como no ECG da questão), pois a ativação do ventrículo esquerdo ocorrerá da esquerda para a direita, cada vez mais "fugindo" dessas derivações; já, na inversão dos eletrodos, a progressão ocorrerá normalmente .. Em termos clínicos, a dextrocardia costuma fazer parte do "situs CN'iTULO 3. TAAÇ;o.OO I J ELETFtOC.AROIOGR.ÃFICO inversus ", condição em que o.s órgãos (inclusive os abdominais) foram formados em posição invertida. A dextroversão (letra D) é uma condição onde o coração está apenas localizado no lado direito do tórax, mas a organização das câmaras cardíacas não se modifica: átrio e ventrículo esquerdos permanecem á esquerda e .átrio e ventrículo direitos continuam á direita. Resposta certa: letra E. 18 - Qual a principal alteração presente neste ECG? A) Rotação horária. B) Dextrocardia. C) Troca de eletrodo. D) Rotação anti-horária. E) Padrão Juvenil. Comentário: A grande alteração deste traçado é a negatividade da onda P e do complexo QRS em DI. Nesta situação, só há 2 possibilidades: dextrocardia (letra 8) ou inversão dos eletrodos dos membros superiores (letra C). A melhor forma de diferenciá-los é avaliar a progressão do complexo QRS nas derivações precordiais, poís não existirá na dextrocardia. Reveja o traçado: o QRS vai normalmente tomando· se positivo de V1 a V6, isto é, mantém sua progressão normal. Resposta certa: letra C. MEOEtE'IRO CN'iTULO 3 . TAAÇ;o.OO I 4 ELETFtOC.AROIOGR.ÃFICO 19-Avalie o traçado eletrocardiográfico abaixo e assinale a alternativa ERRADA. A) O ei xo do QRS está normal. 8) Há uma taquicardia sinusal. C) O intervalo QT corrigido está dentro da normalidade. D) A on da P está alargada. E) O complexo QRS tem duração normal. Comentário: Vamos avaliar cada alternativa ... A- CERTA: o QRS está positivo em DI e aVF, o que já coloca o eixo entre o e +90°. De modo mais preciso, como ele se aproxima do iso difasismo em aVL, podemos afirmar que o eixo encontra-se a +60°. 8 - CERTA: a onda P precedendo cada QRS e sendo positiva em DI e DI/ configura um ritmo sinusal, mas a frequência cardíaca superior a 100 bpm (cer ca de 115 bpm) é definidor de uma taquicar dia. C- CERTA: O valor do QTc é aproxima damente 380 ms {além de uma discreta hepatomegalia não dolorosa. 1 ·Qual o diagnóstico mais provável? Jus· tifique. 2- Como explicar o desconforto respirató· rio do paciente? 3 - Explique o aparente paradoxo entre o laudo ecoc:ardiográfico e o achado do ele trocardiog rama. ELETROCARDIOGRAMA NA PRÁTICA Sjtuação 3 1·Amil oidose. 2-Mioc:ard iopatia Restritiva. l -Dissociação massa-voltagem: o espessamento não é por hipertrofia, mas sim por infil tração amiloide. SOBRECARGAS CAVITÁRIAS AO L ONGO DOS PRIM E IROS CAPÍT'U LOS. ENT E ND EM OS A SASE 00 F U N C IO NAM E N TO ELÉTRICO DO CORAÇà O E SUA REPRESENT AÇà O NO R M AL AO E L E"''R OCARO IOGRAM A. DEST A F'"ORMA, F INCAMOS 0 P ILAR D E S U STENTA!fÂO TE6RI CA PARA QUE POSSAM OS, A PARTI R D E AGORA . C0N S1'R U IR O RAC I OCÍNIO DIANTE DE A LTERAÇÕES PATOLÓGICAS E N CON T RADAS NOS T RAÇADOS lt:L eTROCAR OIOGRÁt:"I COS . N ES.,.E CAPÍTULO . ESTUDAREM OS AS SOB R ECARGAS ATRIA I S E VE:N1'RIC:ULARES . COM ÊNFASE NAS MANI~ESTAÇ6ES Ê L I:'rROCAROJOGRÁF'ICAS DESTAS ENTIOAOES. MUITOS AUTORES TAM SÉ:M U T I L I ZAM OS TERMOS .. H I PERTROf>IA " . "' CRESC, ME:NTO'• E '0 0 I L A'TAÇÂO .. PARA D ESCREVER ESTES F'EN6MENOS, EMBORA SE.JAM I DEAIS NA OESCR IÇÁO D E EXAMES DE I MAGEM E EST UDOS ANA"fÔ MICCS . • . ASS IM O TERMO " SOBRECAR GA'• É M A I S APROPRIADO E SERÁ U TIL I ZAD O COM MAI OR F'RE:QU ÊNCI A AO L ONGO DAS PR6XI M AS PÁGI NAS. ~~~-·SOBRECARGA A R A I.!! DIRE A-~~~§ CAUSAS P ara compreendermos as etiologias das sobrecargas cavitárias, devemos ter em mente que, como o nosso sisiema card io circulatório é uma estru tura totalmente fe- chada, qualquer alteração volumétrica ou pressórica acaba sendo transmitida retro gradamente. Assim , para listarmos as cau sas de sobrecarga atrial direita, basta pen sarmos em alterações anatomicamente posteriores a esta cavidade: qualquer enti dade que produza um aumento das pres sões de ench imento do lado direito do co ração poderá levar ao aumento volumétrico do átrio direito. Dentre as valvopatias, as disfunções (este nose e/ou insuficiência) da valva tricúspide são as que cursam com maiores diâmetros de átrio direito. Isso porque uma tricúspide disfuncionanie pode rapidamenie aira.palhar o esvaziamento do átrio d ireito (estenose), 108 -··- MEOr:u: t RO :-lr': CAP!TlA.O 4 • 1 09 SOBReCARGAS CA.VITÁRIAS ou até mesmo permitir um retorno de sangue regurg itado do ventrícu lo (insuficiência). De uma forma ou de outra, essa câmara cardí aca fica sobrecarregada e isto acarretará em alterações e letrocardiográficas ttípicas! Etlole>gias Adquiridas - Valvopatias: tricúspide (principal), pulmooar. estágios avançados de lesões milrais e a6rti cas. - Outras causas de Hi pertensão Arterial Pul monar (Ex.: DPOC, em bolia pulmonar). - Forame Oval Patente - Teiralogla de Fallot - Alresla lricúspide - Persistência do canal arterial - Anomalia de Ebsteln - Sfndrome de Lutem- bach.-"e,_.r _ T ABELA 1. Obviamente, pelo fato da valva pu lmonar tam bém se situar do lado direito do coração, suas patologias também tem o potencial de induzir essa sobrecarga ... Além das patologias valva res à direita, as disfunções da valva mitral, e mais raramente da valva aórtica, também po deriam. em estágios mais avançados üá com hipertensão arterial pulmonar), gerar uma sobrecarga deste átrio. Isso porque uma hi pertensão do leito arterial do pulmão dificulta a ej eção do sangue do ventrícu lo direito, o que, de forma retrógrada, sobrecarregará tam bém o átrio direito ... Dentro deste raciocínio, todas as causas de hipertensão arterial pul monar (ex: DPOC e embolia pulmonar) apre sentam-se como potenciais etiologias de au mentos pressóricos do lado direito do coração. As cardiopatias congênitas também devem ser lembradas, como o forame oval patente, a te- tralogia de Fallot, a alresia tricúspide, a persis tência do canal arterial e a anomalia de Ebsteín (implantação baixa da valva tricúspide com redução da cavidade do ventrículo direito e aumento do átrio direito). A síndrome de Lutem bacher (associação de estenose mitral reumá tica com comunicação interatrial congênita) pode cursar com aumentos biatriais importan tes, afetando o lado direito tanto pelo defeito do septo inleratrial quanto pela hipertensão arterial pulmonar associada à este no se mitral. CRITÉRIOS ELETROCARDIOGRÁFICOS Embora a sobrecarga atrial direita possa cursar com alterações no segmento PR, no complexo QRS e, até mesmo, no segmento ST, sem dú vidas é na onda P que suas marcas são mais evidentes, algo facilmente compreensíve l, uma vez que esta é a onda da despolarização atrial! OndaP As modifica·ções da onda P são observadas principalmente nas derivações Dll e V I , o que é até intuitivo, uma vez que aprendemos que Dll é a melhor derivação para observar o fenô meno de ativação atrial e VI é uma derivação precordial onde este fenômeno tem uma repre sentação eletrocardiográfica diferenciada (onda bifásica). Entretanto, para compreendermos estas mudanças, temos que recordar como essa onda é formada (Figura 2). Lembra? A sua parte inicial corresponde à despolarização solitária do átrio direito, havendo, em seguida, um período de interseção entre a ativação dos dois átrios, enquanto a parte final representa a despolarização do átrio esquerdo. A Onda P e a Ativação Atrial FIGURA 2: O AO É RES,PON• SÁVEL PELA AMPLITUDE: (AL• T URA) DA O NDA P, ENQUAN• TO O AE É RESPONSÁVEL PELA D URAÇÃO ( LARGURA). -··- MEOr:u: t RO :-lr': CAP!TlA.O 4 • 11 0 SOBReCARGAS CA.VITÁRIAS Desta forma, não há dúvida de que a sobre carga do átrio direito acaba aumentando o tamanho do vetor médio que despolariza os átrios - isso aumenta a amplitude da onda eletrocardiográfica e a torna mais. pontiaguda - e ainda o desloca um pouco mais para a direita. Naturalmente, como o vetor continua apontando para baixo, tais alterações serão mais evidentes nas derivações inferiores, isto é, 0 11, 10111 e aVF. Outro comportamento interessante é notado em V1... Como, nesta derivação, normalmente a onda Pé bifásica (área positiva - AO; área ne gativa - AE), as sobrecargas de cada átrio po dem ser facilmente diferenciadas. Nesta deriva ção (e em V2 também), um aumento da ampli tude da parte positiva (AO) acima de 1 ,5mm é observado na sobrecarga atrial direita. Note que, mesmo nestas sobrecargas do átrio direito, sua ativação termina antes do átrio esquerdo, não havendo repercussão sobre a • ' ' '_l - H+;_:_ ;__t ·H-i ' - t ----:__J._IT~-·-r 11Tr I duração da onda. Por conta disso, a sobre carga atrial direita não alarga a onda P. Sedimentando as alterações da onda P ... 1) Aumento da amplitude da onda P (> 2 ,5 mm em Dll e/ou > 1,5 mm em V1) 2) Onda P pontiaguda (principalmente em DI I, 0111 e aVF) - também chamada de onda P pu/mona/e 3) Desvio da onda P para a direita (entre +60° e +90°) Vale ressaltar que ondas P pontiagudas tam bém podem ser identificadas em situaç-ões de aumento da atividade simpática (taqui cardia sinusal), não sendo exclusivas da sobrecarga atrial direita . Além disso, raramente o e ixo fi cará acima de +90° (onda P negativa em DI) e, quando isto ocorrer, devemos pensar em ritmo de átrio esquerdo ou dextrocardia, pois seriam situações onde evidentemente o estí mulo sairia da esquerda para a direita. -: · LLH-L.LLi-H_j_j-' -'--~-_;__L , l r Til · ~ 1---r-r-. ' I FIGURA 3: S O BRECARGA D E ÁTRIO D I R EITO - ONDA P P O NTI AGUDA E A LTA EM O I I E COIM AUME N TO D A PORÇÃO P O S ITIVA E M V 1, P pulmonale x P congenitale A onda P pulmonale (imagem 1} faz referéncia àquela encontrada em etiologias adquiridas e tem exatamente as alterações descritas anteriormente, ou seja, inclusive com desvio do eixo da onda P para a direita, o que faz com que ela em 0 111 seja maior que em DL Já a onda P congenitale (imagem 2}, como o próprio nome sugere, está associadaa etiolo gias congênitas e não é comum o desvio do eixo para a direita. Isso porque, nesses casos, o coração encontra-se habitualmente horizontalizado, o que inclusive desvia o eixo de P para a esquerda e faz com que a onda P em DI seja maior que em DIIL De qualquer forma, atualmente estes termos são pouco utilizados, pois estudos de necrop sía e com análise ecocardiográfica têm revelado que estes critérios apresentam baixa cor relação com o volume e pressão do átrio direi to. -··- MEOr:u: t RO :-lr': CAP!TlA.O 4 - 111 SOBReCARGAS CA.VITÁRIAS SOBRECARGA DE Á T RIO D I REIT O (CRI T ÉRIOS) OndaP - 011 : Aumento da amplítude (>2,5 mm) e apiculada (P pu/mona/e) - V1: Porção positiva > 1 ,5 mm - Desvio do eixo para direita (> +600) TABELA 2, Surge mais alguma alteração eletrocardiográfica? A resposta aqui é ... sim! Ainda podem ocor rer alterações no segmento PR e no complexo QRS, entretanto, do ponto de vista prático, tais modificações têm pouco significado e acabam não entrando como critérios para o diagnósti co. De qualquer modo, iremos fOfmalizar es sas repercussões a seguir. Segmento PR A repolarização atrial tem uma duração supe rior ao processo de despolarização, ocorrendo, portanto, de modo muito mais disperso e, as sim, em geral insuficiente para gerar qualquer representação no ECG. Na sobrecarga atrial, com a maior massa a ser repolarizada, even tualmente podemos enxergar uma onda repo larizante que, como sabemos, tem sentido inverso à onda P. Assim é possível existir um infradesnivelamento do segmento PR e até mesmo do segmento ST. Complexo QRS O complexo QRS também está sujeito a mu danças secundárias à sobrecarga atria l direi ta. Estas alterações são sinais indiretos que se tornam importantes em situações onde não há onda P no traçado, como em uma ar ritmia chamada fibrilação atrial. A mais importante atteração do QRS é o cha mado Sinal de Peiíaloza e Tranchesi, onde este complexo apresenta uma baixa voltagem em V1, corn um súbito aumento da amplitude nas derivações subsequentes (Figura 5). Isto é explicado pela interposição do átrio direi to dila tado entre o eletrodo de V1 e o ventrículo direito, dificultando o registro da atividade elétrica des ia última câmara. Uma vez não havendo esta interferência nas derivações seguintes, o com plexo QRS retoma sua vottagem normal. -··- MEOr:u: t RO :-lr': CAP!TlA.O 4 - 112 SOBReCARGAS CA.VITÁRIAS Outra alteração possível, é o surg imento do padrão qR em V1, podendo ser explicado pela sobrecarga ventricular direita- frequen temente associada a estes distúrbios- que, ao induzir a rotação do coração, altera o 1 o vetor da despolarização ventricular (o vetor do septo médio). Essa rotação exacerbada faz com que esse 1° vetor, que antes apon tava para V1 passe até a se afastar dele (Figura 6). Sobreurv• At•lal Dlrolta .. .. .. ... . .. F"IGU R A 4. F"IGU R A 5 : S INAL DE ~ENALOZA E T RAN C H ESI ( TRANSIÇÃO BRUSCA DO Q RS DE V 1 PARA V2l E UM S INAL I N D IR E T O O E S O SRE CARG A A T R I AL O IRE.I T A. Normal Aumento de AO e VO Padrlo qR em VI F"IGU R A 6. -··- MEOr:u: t RO :-lr': CAP!TlA.O 4 - 11 3 SOBReCARGAS CA.VITÁRIAS CAUSAS F"I GURA 7 , Seguindo a mesma linha de raciocínio das causas de aumento do átrio direi to, fica fácil deduzir quais doenças poderiam d ilatar o átrio esquerdo. Os mesmos princípios de sobrecar ga de volume e/ou pressão também se aplicam neste caso, podendo resultar de doenças ad quirida.s ou congênitas. Etiologlas I Etiologias Ad uirldas Con ênltas - Hipertensão Arterial - Persistência do Canal Arterial - Valvopatias: aórtica e mitral - Coarctaçã.o de aorta - Miocardiopatia H~ pertrófica - Valvopatias: aórtica e mitral T ABELA 3. Entre as causas adquiridas, a hipertensão ar terial sistêmica complicando com uma hipertro fia ventricular esquerda (HVE) provavelmente é a causa mais comum. O raciocínio é o mesmo daquele que fizemos na sobrecarga atrial direi ta ... Isso porque uma hipertensão do leito arte rial sistêmico dificulta a ejeção do sangue do ventrículo esquerdo, o que, de forma retrógra da, sobrecarregará também o átrio deste lado ... Outras causas de hipertrofia e sobrecarga de pressão do VE, como a estenose aórtica e miocandiopatia hipertrófica, também apresen tam o mesmo potencial. Além disso, a disfunção sistólica do VE (situações onde o coração per de força contrátil, como infarto agudo do mio cárdio, insuficiência aórtica grave e miocardio patias dilatadas) iambém eleva a pressão dentro desta câmara por aumentar o volume sanguíneo residual dentro da cavidade após cada sístole. As patologias da valva mitral, principalmente a estenose, são as que cursam com maiores diâmetros de átrio esquendo. As cardíopatias congênitas também são uma causa importante de sobrecarga atrial es querda. A persistência do canal arterial, co arctação da aorta e as valvopatias esquerdas (estenose aórtica e mitral) são exemplos de más formações que podem gerar uma sobre carga desta cavidade. CRITÉRIOS ELETROCARDIOGRÁFICOS Diferente do átrio direito, as alterações eletro cardiográficas sugestivas de sobrecarga atrial esquerda são restritas à onda P. Existem 6 critérios principais que são utilizados: (1 ) au mento da duração da onda P; (2) lndice de Morris; (3) lndice de Macruz; (4) Onda P mi tra/e; (5) Aumento da área da onda P; (6) Desvio do eixo elétrico da onda P para esquer da. Em geral, estes critérios apresentam uma sensibilidade baixa a intermediária (30-60%) com uma boa especificidade (90% ). AUMENTO DA DURAÇÃO DA ONQA P Como a despolarização do átrio esquerdo é re presentada pela parte final da onda P, o que se observa é um acréscimo na sua duração com pouca repercussão sobre a amplitude. Lembra da duração normal da onda P? O corte mais aceito que acompanha uma razoável sensibi lidade e especificidade é de 100 ms (2,5 qua dradinhos), embora alguns autores só consi derem uma onda P alargada quando > 120 ms. ÍND I CE DE MORRIS O índice de Morris talvez seja o critério mais conhecido de sobrecarga atrial esquerda e corresponde ao aumento da área da parte negativa da onda P em V1 acima de 1 mm (1 "quadradinho"). Outros fatores que podem produzir este padrão são a hipertensão arterial sistêmica (mesmo na ausência de crescimen io do áirio esquerdo) e o posic iona menio equivocadamente elevado do eletrodo de V1 (2° ou 3° espaço intercostal direito). -··- MEOr:u: t RO :-lr': CAP!TlA.O 4 - 114 SOBReCARGAS CA.VITÁRIAS ONDA P M ITRALE A morfologia chamada de P mitra/e correspon de a uma onda bifida, com os dois picos se parados por mais de 30ms. Esta alteração ocorre mais frequentemente em DI, 011, aVL e de V2 a V4 e cada pico representa a ativação sequencial dos dois átrios. • Quando a diferença entre os p icos é maior ou igual a 60ms, deve-se pensar num alente cimento da condução através do feixe de Ba chman (aquele que leva o estímulo efélfico até o átrio esquerdo). Este feixe pode ser lesado em condições como: isquemia ou infarto atrial, miocardite e pericardite constrictiva. Veja nas Figuras 8A e 88 as três principais alterações da sobrecarga atrial esquerda. Í NDICE DE MACRUZ O índice de Macruz é a relação entre a du ração da onda P e o segmento PR, que, em condições normais, fica entre 1 e 1, 7. Lembre que o intervalo PRé composto pela onda P e segmento PR. Assumindo que a condução atrioventricular (intervalo PR) se mantenha constante, um aumento isolado da onda P (tempo de ativação atrial) irá reduzir o seg mento PR e aumentar o índice: quando esta relação é> 1,7, deve-se suspeitar de sobre carga atrial esquerda. Por outro lado, quando há uma sobrecarga atrial direita, pode haver um aumento do segmento PR sem prolongar a duração da onda P, o que reduziria o índice até mesmo para valores inferiores a 1. DESVIO DO EIXO ELÉTRICO E ÁREA OAONDAP Estes dois últimoscritérios são menos uti lizados na prática e correspondem ao des vio do eixo elétrico médio da despolarização Sobru•Jil Atrlal Esquerda lt •• •• atrial e ao aumento da área da onda P em DI I. O desvio do eixo raramente ultrapassa o• e também pode ocorrer em pacientes bre vilíneos. Neste caso, a polaridade da onda P tende a ser negativa em 0 111 (eixo 100 ms (> 2,5 quadradinhos) Onda P bífida (P mitra/e) lndlce de Morris: fase negativa da onda P em V1 com área> 1 mm (> 1 quadradinho) lndice de Macruz: onda P I segmento PR > 1 ,7 TABEL A 4. ........._ ,._ • ·- F I GURA BA: AS 3 PRINC IPAIS A LTERAÇÕES DA SOBRECARGA ATRIA L ESQUERDA. ... ... F'IGURA Se. -··- MEOr:u: t RO :-lr': CAP!TlA.O 4 - 11 5 SOBReCARGAS CA.VITÁRIAS Sobrecarga Biatrial IJ li 111 ... eU .., T ~ L ~ I. ~ .. " ,. F"IGURA 9. SOBRECARGA BIATRIA L !C R I TÉRIOS) Onda Pem 011 com aumento da amplitude (> 2,5 mm) e da duração(> 100 ms) indice de Morris: fase negativa da onda P em V1 com área> 1 mm (> 1 quadradinho) T AB ELA S. CAUSAS Todas as causas de sobrecarga atrial esquer da podem, em fases avançadas, levar à so brecarga do átrio direito se não forem adequa damente tratadas. Isto ocorre pelo aumento da pressão retrógrada através do leito vascu lar pulmonar que, eventualmente, repercute sobre as câmaras direitas. Há também a pos sibilidade da coexistência de lesõe-s em ambos os lados do coração que justifiquem as dilata ções (ex.: cardiopaiia reumáiica com acome timento mitral e tricúspide ). CRITÉRIOS ELETROCARDIOGRÁFICOS Não há critério específico que indique a pre sença de sobrecarga biatrial. O que se obser va é uma combinação variável dos achados relacionados ao acometimento de cada átrio, de modo que a grande dica é o aumento si multâneo da duracão e da amplitude da onda E. Observe, na Figura 9, um aumento conco mitante da duração (120 ms) e amplitude (3 mm) da onda P em Dll. Veja iambém, em V1, a presença do indice de Morris. -··- MEOr:u:tRO :-lr': CAP!TlA.O 4 - 116 SOBReCARGAS CA.VITÁRIAS O ventrículo esquerdo (VE) é a cavidade com maior massa muscular do coração, sendo responsável pela maior parte do peso cardí aco total, que normalmente varia entre 250 g e 390 g . Assim, o complexo QRS é pratica mente uma representação exclus iva da a tiva ção do VE, com o ventrículo direito (VD) apresentando pouca ou nenhuma participa ção. Isto ocorre porque, como os dois são ativados quase simultaneamente, os vetores gerados pela menor massa do VD são anula dos temporalmente pelos do VE. Este concei to é fundamental para entender a dificu ldade de se caracterizar a sobrecarga do ventrículo esquerdo no eletrocardiograma, principalmen te em seus estágios iniciais, pois, mesmo em condições normais, o VE já é predominante. Portant o, a massa do VE precisa estar consi derave lmente aumentada (geralmente acima de 450 g) para haver qualquer t ipo de reper cussão eletrocardiográfica. _ CAUSAS De uma forma geral, a hipertrofia ventricular esquerda (HVE) pode ser classificada em pri mária e secundária. As causas primárias mais comuns são as miocardiopatias hipertróficas, que amiúde apresentam-se de forma assimé trica, acometendo a região septal ou apical (Cardiomiopatia de Yamaguch i) com maior frequência. As causas secundárias podem ser divididas ainda em sobrecargas de volume (aumento de pré-carga) e pressão (aumento de pós- -carga). Nos dois casos, há um aume-nto do estresse sobre a parede do VE, estimulando -o a hipertrofiar. Desde agora, para que não haja confusão com estes termos de fis iologia cardíaca, lembre-se: - PRE-CARGA =tensão na parede ventricular no final da d iástole (depende principalmente do retomo venoso). - PóS-CARGA = tensão na parede ventricu lar no momento da sístole (depende princi palmente da resistência vascular periférica, que tem íntima relação com a pressão arterial do paciente). Assim, a sobrecarga de pressão resu lta de uma maior resistência à saída de sangue do ventrículo durante a sístole, sendo seus prin cipais exemplos a hipertensão arterial sistê mica, a estenose aórtica e a coarctação de aorta. Desta forma, o resultado é uma. hiper trofia concêntrica, com um aumento da espes sura da parede e redução da cavidade ventri cular, com a adição de novos sarcômeros sendo feita em paralelo: como se o coração ficasse musculoso (Figura 10). Por outro lado, a sobrecarga de volume é consequência de um aumento do fluxo dias tólico para o VE, resultando numa hipertrofia excêntrica. Nesta situação, há um aumento dos diâmetros cavitários devido à adição dos sarcômeros em série e alongament o dos miócitos individuais: como se o coração fi casse "inchado". Exemplos de etiologias que cursam com aumento do volume diastólico final são as insuficiências valvares (aórtica e/ou mitral) . Tipos de Hipertrofia Ventricular F'IG U R A 1 Q , -··- MEOr:u: t RO :-lr': CAP!TlA.O 4 - 117 S OBReCARGAS CA.VITÁRIAS ' CRITÉRIOS ELETROCARDIOGRÁFICOS Critérios de Voltagem do Complexo QRS A despolarização ventricular na presença de hipertrofia segue a mesma sequência de ati vação do coração normal. A diferença funda mental está nos vetores resultantes, cujas amplitudes são maiores como consequência do aumento do número de dipolos gerados pela massa ventricular hipertrofiada. A princi pal repercussão eletrocardiográfica deste fe nômeno é o aumento da amplitude do com plexo .QRS. ou seja, a sobrecarga de VE é apenas uma exacerbação da normalidade. Existe derivação para onde preferencial mente devemos olhar? De certa forma sim ... Mas não há qualquer mis tério aqui! Como o VE ficou sobrecarregado, é até simples raciocinarmos que o QR:S ficará mais positivo nas derivações para onde aponta o seu vetor (lado esquerdo) e mais negativo naqueles de onde "foge• o vetor (lado direito). Assim, ha verá um aumento das ondas positivas (R) nas derivações "esquerdas· (DI, aVL, VS e V6) e das ondas negativas (S) nas direitas (aVR, V1 e V2). Mas, afinal, existem ou não critérios ele trocardiográficos? Claro! Dezenas; mais de 30 critérios eletro cardiográficos de sobrecarga do VE j á foram propostos ao longo dos anos e. de uma for- ma geral, eles tendem a ser pouco sensíveis e muito específicos (sua ausência não exclui o diagnóstico, enquanto sua presença prati camente o confirma). Os critérios i solados de voltagem mais aplica dos são: o de Sokolow-1 yon: Cornell; Cornell product (ou Cornell modificado); Gubner; e Lewis, entretanto os 3 últimos têm uso muito restrito na prática. ÍNDIGE QE SQKQLQW-LYQN O índice de Sokolow-Lyon é o mais antigo e conheddo dos critérios (criado em 1949), sendo muito usado pela sua fácil reprodução. O critério é positivo se a soma da onda S de V1 com onda R de V5 (ou V6) for maior que 35 mm. Para gravar: S(V1) + R(V5 ou V6) > 35 mm • Indivíduos íavens (principalmente com menos de 30 anos) podem apresentar este índice na ausência de sobrecarga do VE, constituindo um grupo importante a ser lembrado quando este critério for encontrada na eletrocardiograma. Assim, nesta faixa etária, o ponta de corte a ser considerado é de 40 mm. INDICE DE CORNELLMas ainda falta alguma coisa, como pode ser observado na Tabela 1 .. . TABELA 1 - CONCENTRAÇÕES DOS PRI NCI P A I S Í ONS NOS MEI OS I N T RA E EXT RACELU L A R IM EQ/ LI on Intracelular Extracelular K' 155 5 Na· 12 145 -Mg- 15 2 -- - c a- - _ Desprezível_ 1- 2 Ct· 8 110 HCO · 8 27 ' -1- Outros 166 17 ânlons CÁTIONS + o o ÁNIONS Se a soma de cátlons e ânlons é sempre nula, como o miócito cardíaco pode ler um potencial de repouso? De fato, se somarmos as cargas positivas e ne gativas totais, chegaremos a um valor nulo. Mas entenda que, na realidade, o gradiente de con centração que existe para cada tipo de íon cria um fluxo iônico através da membrana celular (do "mais concentrado para o menos concentrado"). Esse fluxo acontece com todos os íons, mas, como a membrana do miócito cardíaco é mais permeável ao potássio, o fluxo desse íon é mais pronunciado que o dos demais, de fomna que ele é quem mais contribui para alterar a polari dade celular durante o repouso. Sendo assim, podemos dizer que o potássio é considerado o grande "maestro• do potencial de repouso transmembr:ana; é a saída do potássjo gue deixa a célula inicialmente polarizada! Acompanhe o raciocínio a seguir (Figura 4) ... Como já percebemos, há mais potássio no intra do que no extracelular por ação da bomba de Na'/K• ATPase, o que gera um gradiente de concentração para este íon (imagem B ). Des ta forma, ele começa a sair da célula, acentu ando o gradiente elétrico: como tem carga positiva, sua saída intensifica a negatividade na porção intracelular da membrana (imagem C). Se nada acontecesse, o poiássio sairia de forma continua da célula sempre a favor de seu gradiente de concentração. Entretanto, lembre ·Se que, pelo gradiente elétrico, a porção intra celular está negativa e isso é um estímulo para o retomo do potássio para o interior celular, já que ele tem carga positiva. Então, chega um momento em que o gradíente de concentração (que "joga• o potássio de volta para fora da célula) e o gradiente elétrico (que "puxa" o po tássio para o interior celular) se equivalem (Imagem D).Acélula, enfim, pode "descansar": é finalizado o processo de criação do potencial de repouso transmembrana, que oscila entre -65 e -90 mV (imagem E). c .... , ... o 1 . 1 o El.ETROF"$0lOGIA CAAOIACA FIGUR A 4. RESUMINDO: f O - lfl - ROUSC T:RA - Por ação Inicial da bomba de Na'/K' ATPase. há um gradiente de concentração (força dlfuslonai) "jogando" o potássio para fora da oéiula. ao mes mo tempo em que existe um gradiente elétrico (força elétriea) que o atrai de volta para dentro. Quando as forças elétrica e difusional forem Iguais em módulo. ocorrerá um equilibrio dinâmico. Nesse inslante. a diferença de potencial entre os meios Interno e externo gira em torno de ·65 a -90 mV: é o Chamado potencial de repouso: diz- -se que a célula está "polarizada". ·Perceba que. por convenção. a referéncla do potencialtrsnsmembrana é o meio intracelular: potencialtrsnsmembrana negativo signlfíca que o intracelular está negativo (e o extracelular, por consaquéncia. positivo). - Até aqui, entendemos que o miócito cardíaco, em seu estado normal de repouso, tem seu meio extracelular positivo e o seu Intracelular negativo. Mas, para surgir a corrente elétrica (ou impulso elétrico) na superfície das células cardíacas. tem que existir um d ipolo entre estas células para que aquele nuxo de elé trons do controle remoto também ocorra aqui... Esse será o nosso entendimento a partir de agora: como o miócito consegue inverter sua polaridade em cada região do coração. Esta "troca· de um estado negativo Intracelu lar para um valor positivo é chamada de po· tenclal de ação e tem a seguinte sequência: (1) o potencial transmembrana inicia em seu estado de repouso negativo (-65 a -90 mV) célula está polarizada. (2) torna-se positivo (despolarização) . (3) em seguida, retoma para o potencial de repouso negativo (repolarização). -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAP!TlA.O 1 - 11 ELETROf~OOV. CAAot.CA Algumas áreas são boas formadoras de im pulso elétrico e outras são ótimas condutoras B) Formação do Impulso Elétrico RB'OUSO (Ntl IK"A.,_) upoe •••z•çAo (Mida do I( I do impulso elétrico. Vamos entender essas diferenças ..• F"I GU RA !S. Quando estudamos o circuito elétrico do cora ção momentos atrás, vimos que algumas regi ões são dotadas de automatismo. isto é, con seguem gerar automaticamente um impulso elétrico-nesse momento, conseguimos enten der que são áreas capazes de inverter sua polaridade de modo automático. Dizemos que têm a função de "marca-passo" e são encon tradas basicamente nos nados sjn usa! e atrjo ventricular (Figura 5). Seu potencial de repouso fica em tomo de -65 mV, mas elas possuem canais de cálcio (Ca .. ) que automaticamente se abrem próximo a esta polaridade, permitindo o influxo (entrada) gra dual desse cátion para o interior celular que se encontrava negativo. Assim, a entrada de cálcio inverte lentamente a polaridade da cé lula, ou seja, o meio intracelular torna-se po sitivo (despolarização). Pronto! Nesse exato momento, com a troca de cargas, é criado um dipolo no extracelular. Agora, foi formada a corrente elétrica que se gue em direção ao sisiema de condução. Sua propagação dependerá de células especiali zadas na condução rápida do impulso como veremos logo a seguir ... Por enquanto, vamos nos fixar na·s células formadoras do impulso; as células automáticas! Como vimos, elas sofreram despolarização pela entrada de cálcio e agora precisam ser repolarizadas. Qual é mesmo o íon que dá po laridade às células cardíacas? O potássio! Assim, abrem-se canais de K', fato que propicia a saída deste íon para o extracelular a favor de seu gradiente de concentração. Como agora saem cargas positivas, o interior vai voltando a ser eletronegativo (repolarização ). A célula en tão retoma ao seu potencial de repouso. A sequência de eventos do potencial de ação destes tipos celulares é: -Repouso (Na'IK' ATPase) - Despolarização (entrada de cálcio) - Repolarização (saída de potássio) O potencial de ação com a inversão de poten cial transmembrana pode ser representado graficamente (Figura 6). Como estas células auiomáticas iêm uma despolarização mais vagarosa, s.ão chamadas de "células de res posta lenta". -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAP!TlA.O 1 - 12 ELETROf~OOV. CAAot.CA ~~ ----;ttc-- -10 ·120'-~-.... ~ ..... ~- 'T .. po l-1 o 100 200 300 f"'G U RA 6: P OTENC I A L OE AÇÃO OAS C ÉLULAS OE R ESP O STA LENTA. - - z•o;Ao (_.,.,..., DL*RR•çAO lAtida de IEntre 1985e 1987, um grupo da Universidade de Cornell, nos EUA, desenvolveu um critério de voltagem para sobrecarga do VE baseado no sexo do paciente (critério de voltagem gênero-especifico). Basta somar a onda R de aVL com a onda S de V3 e, se o resultado for maior que 28 mm em homens e 20 mm em mulheres, o índice será considerado positivo. Ativação Ventricular na Sobrecarga de VE F"'IGURA 11: SOBRE C ARGA DE VE NÁO A L T E R A A A TIVAÇÃO VENTRt· C U L AR ( PER CEBA QUE O Q R S CONT IN U A SE P o S:ITIVANOO DE: V 1 A V6), M AS Cl F'AZ COM MAI S IN T ENSI DADE {MAI OR AM· P L IT UDE DO QRS ) , -··- MEOr:u: t RO :-lr': CAP!TlA.O 4 - 11 8 S OBReCARGAS C A.VITÁRIAS Para gravar: R(aVL) + S(V3) > 28 mm (homem) ou > 20 mm (mulher} ATENÇAO!!! Os critérios de Sokolow-Lyon e Cornell são os preconizados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) como os melhores índices de voltagem para o diagnóstico de sobrecarga ventricular esquerda. São esses que você tem que memorizar! Í NOI CE DE CORNELL MODIFICADO Posteriormente, o critério de Cornell sofreu uma modificação, onde a amplitude do com plexo 35 mm Cornell R(aVL) + S(V3) > 28 mm ou 20 mm Com ell Product [R(aVL) + S(V3) + 8 se mulher] x duração QRS 17 mm maís trabalhosa. Nem pense em usá-lo na prática; só saiba que ele existe ... I NDICE DE GUBNER Muíto pouco utílízado, o critério de Gubner repre senta a soma da onda R de DI com a S de 0111. Quando este valor for maior ou ígual a 25 mm, o critério é positivo: R(DI) + S(D//1) 2: 25 mm. CRITÉRIO DE LEWIS Outro critério que vale ser lembrado, porém muíto pouco utílízado é o de Lewis. Neste ín dice, deve-se subtrair a polaridade resultante (onda R - onda S) encontrada em OI II daque la de DI, ou seja, acaba sendo a subtração do valor algébrico de 0 111 do valor algébrico de OI. Um resultado superior a 17 mm é su gestivo de sobrecarga deVE: [R{DI) - S(DI)) - [ R(D//1) - S(D//1)) > 17 mm. Reveja, na tabela 6, os critérios eletrocardío gráficos de ampli tude para sobrecarga ven tricular esquerda, com as respectivas sensi bilidades e especificidades médías. De uma forma geral, são critérios de baíxa se nsibilí dade (não atingem 30%), mas de alta espe cificidade (ultrapassando 90%), sígníticando que sua ausência não excluí o díagnóstíco, mas sua presença pra ticamente o confirma. Lembre-se que os únicos que devem ser memorizados são Sokolow-Lyon e Cornell ... SENS IB IL IDAOE ESPEC i r:-I C I OAOE 24% 87% 15,7% 95,2% 19,8% 92% 13,9% 93,25% 18% 98% T A BE L A 6, MEOr:u: t RO Quantos cri térios ... Vamos treinar? -··-:-lr': CAP!TlA.O 4 - 119 SOBReCARGAS CA.VITÁRIAS Tente aplicar, nos exemplos abaixo, os critérios preconizados pela SBC que você acabou de estudar. .. 1) Mulher de 44 anos com válvula aórtica bicúspide. Ot vs..., ... ......~_. Sokolow-Lyon: Corn,.ll: Concf.usão: 2) Homem de 79 anos com hipertensão arterial sistêmica de longa data. •VR Vl V4 Vl 0111 •VF V3 V6 lliill Sokolow-Lyon: C orne li: Conclusão: Sokolow-Lyon: SV1 (25) + RVS (11) - 36 mm. Com,.ll: RaVL (16) + SV3 (7) - 23 mm. V> ~w -~- Conclusão: Critérios da SBC pos ltlvos para sobrecarga de VE. -- ~V8 ' r1 ' c 011 aVL 0111 ••• Sokolow-Lyon: SV1 (18) + RVS (13) ~ 31 mm. Cornell: RaVL (21) + SV3 (7) ~ 28 mm. V1' A c~- /1 r; _ j . i ,...,. .;. • Concfusilo: Não há cri térios da SBC para sobrecarga de VE. VA" ~ ,I l - j ' ys • •• -··- MEOr:u: t RO :-lr': CAP!TlA.O 4 - 120 SOBReCARGAS CA.VITÁRIAS Limitações dos Critérios Eletrocardiográficos de anJplitude do QRS para o diagnóstico de Sobrecarga de VE Com o os critérios que nós vimos dependem de aumentos da voltagem do complexo QRS, é preciso primeiramente esclarecer alguns pontos. A amplitude do complexo QRS depende de diversos fatores além da massa ventricular. O eletrocardiograma representa apenas cerca de 10 a 15% da amplitude da despolarização de uma única fibra miocárdica se o eletrodo estivesse posicionado diretamente sobre ela. Grande parte desta atividade elétrica é perdida no trajeto do estimulo até a pele. As variáveis que influenciam esta perda são a conformação da parede torácica (proximidade- do coração com a superfície), condutividade pulmonar (ex. : o DPOC tende a gerar uma baixa voltagem pelo maior aprisionamento de ar no tórax) e a gordura epicárdica . Além disso, como estes critérios foram elaborados para o diagnóstico de sobrecarga nos casos de H VE simétrica, há uma perda maior ainda de sensibilidade quando se tenta aplicá-los aos crescimentos assimétricos. Vale mencionar também que o infarto agudo do miocárdio pr-évio e o bloqueio de ramo direito reduze-m a sensibilidade de qualquer critério que utiliza a amplitude do QRS. O primeiro devido à fibrose e o segundo por direcionar os vetores da despolarização para direita. Estas entidades serão estudas em capítulos futuros. Por último, existe o problema destes critérios não terem sido estudados em todas as etiologias de sobrecarga ventricular esquerda, o que pode dificultar a sua generalização na prática. De qualquer forma, este sistema. é, se-m dúvida nenhuma, a forma mais completa de se avaliar a presença de sobrecarga ventricular esquerda no eletrocardiograma. O uso paralelo dos critérios de voltagem pode acrescentar ainda mais em sensib!idade. Escore de Pontos: Critério de Romhilt-Estes Para suprir algumas limitações dos critérios de voltagem do QRS, foi elaborado, por Romhilt -Estes, um grupo de critérios que associava diversas alterações relacionadas à sobrecarga do VE no traçado e não somente a amplitude do complexos QRS. De acordo com o peso de cada alteração, foram-lhes atribuídas pontua ções diferentes. Os 3 critérios maiores recebem 3 pontos cada; o único critério interme-diário conta 2 pontos e os 2 menores, apenas 1 pon to cada. Se a soma de todos for igual a 4 pontos, a presença de sobrecarga de VE é provável, enquanto valores 2: 5 praticamen te confinmam o diagnóstico. Crjtérjos Majores Os três critérios maiores (3 pontos cada) são: índice de Morris; critério de voltagem do QRS e o padrão strain da repolarização ventricular. Í NDICE DE M ORRIS A sobrecarga atrial esquerda, sugerida, nes te caso, pelo índice de Morris, é um achado indireto de acometimento do ventrículo es querdo, pois elevações de pressão dentro desta cavidade são transmitidas retrograda mente para o átrio. Raramente, esta pode ser a única alteração no eletrocardiograma su gestiva de sobrecarga do VE. Entretanto, este critério só é· válido na ausência de estenose mitral, que, por s i só, poderia j usti ficar uma sobrecarga do átrio esquerdo na ausência de doença ven tricular. CRITÉRIOS DE VOLTAGEM DO QRS O critério de voltagem considerado aqui não corresponde a nenhum daqueles que j á fo ram discut idos. Neste caso, considerando-se primeiramente o plano horizonial, se a onda R de V5 e/ou V6 ou a onda S de V 1 eJou V2 for superior ou igual a 30 mm, deve-se atribuir -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAP!TlA.O 4 • 121 SoBReCARGAS CA.viTARtAS 3 pontos à soma do escore. No p lano frontal, valoriza-se qualquer onda R ou S maiorou igual a 20 mm. PADRÃO STRAIN O último critério maior está relacionado a uma alteração secundária da repolarização ventri cular (capítulo 3), consequente a modificações da despolarização. Nesta situação, a onda T tende a manter sua assimetria, porém assume uma polaridade oposta (negativa) à do com plexo QRS, associada, muitas vezes, ao infra desnivelamento do ponto J e se-gmento ST. Este padrão de in vers ão assim étrica da onda T é denominado de strain e deve ser pesqui:sado no plano horizontal em V5 e V6 e frontal em DI e aVL (derivações esquerdas), valendo 3 pontos. Entretanto, h.á ainda um detalhe importante: se o paciente estiver utili zando um digital (ex.: digoxina), podem ocor rer alterações semelhantes do segmento ST e onda T ("pá de pedreiro") induzidas por esta droga, o que atrapalha a interpretação do pa drão strain. Assim, neste caso, o critério só vale 1 ponto. F"II3 U RA 1 2 : PADRÃO S TRAtN DE VE - INV E R • SÃO ASSIMÉTRICA O A O NDA T NAS DERIVAÇÕES ESQUER D A S (VS, V61 0 1, AVL), Critério Intermediário A sobr·ecarga do ventrículo esquerdo inten sifica a orientação do eixo da das polarização ventricular para este lado. Se o desvio for além de -30°, este critério é considerado positivo e o paciente ganha 2 pontos. Mas aqui vale um detalhe: diversos trabalhos já mostraram que a sobrecarga de VE, por si só, não desviaria o eixo da despolarização para e·squerda nessa magnitude! Na reali dade, quando isto ocorre, é si nal de que houve um alentecimeni o da condução pelo feixe anterossuperior do ramo esquerdo (chamado de hemibloqueio anterior esquer- do, que será visto no capitulo 6). De qual quer maneira, entra como critério pelo fato de tal alteração ser relativamente frequente em pacientes com sobrecarga deVE devido à fibrosa de feixes de condução que frequen temen te acompanha as mudanças anatõmi cas secundárias à sobrecarga ventricu lar. Crjtérjos Menores Os dois cri térios menores também podem ser consequência do comprometimento do sistema de condução ou simplesmente pelo aumento da massa ventricu lar que precisa ser ativada. TEMPO DE ATIVAÇÃO VENTRICULAR (TA VI Corresponde ao tempo entre o início do com plexo QRS e o pico da onda R, ou tempo de inscrição da def/exão intrinsecoide (Figu ra 13). Se for maior ou igual a 50 ms, vale 1 ponto no escore, sendo melhor visualizado em VS e V6. • Na prática, é diflcil determinar 50ms: como um quadradinho tem 40 ms, seria o equivalente a 1 quadradinho .e mais Y. de outro ... O que fica impra ticável! Para facilitar, guarde que o TAV deve ser > 40 ms, o que vai colocá-lo na proximidade dos 50ms ... 1'1 E ........... Yt 11 I ' ' ~ I l t t * L ~ 1 t - ~ "I .I l I I FIG U RA 1:3: 0 TEMPO D E ATI V AÇà O V ENTRI• C U LAR (T A V J OU OEf'"\.E XÃO INTR t S ECO l D E COR • R E S PONDE A O T E M PO ENTR E O INÍ C t O 00 Q R S ATÉ O PIC O DA O N D A R . -··- MEOr:u: t RO :-lr': CAP!Tl-'.0 4 • 122 SOBReCARGAS CA.VITÁRIAS DURAÇÃO DO COMPLEXO QRS O último critério menor (1 ponto) é o aumento da duração do complexo QRS (~ 90 ms) em qualquer derivação. Isso porque uma maior massa ventricular pode, de fato, acabar ele vando o tempo de despolarização. • Embora atualmente considera-se que um QRS normal possa chegar até 120 ms e geralmente nem ultrapasse os 100 ms, esse critério é antigo e o valor de 90 ms continuou ... Reveja, na tabela 7, o sistema de escore de pontos de Romhilt-Estes para o diagnóstico de sobrecarga ventricular esquerda. Em ter mos de acurácia, o resultado é semelhante aos critérios de amplitude: baixa sensibilidade (54%) e alta especificidade (97%). Uma pon tuação de 4 pontos apenas sugere o diag nóstic-o, enquanto valores 2:5 confirmam o diagnóstico eletrocardiográfico. Sobrecarga Sistólica X Sobrecarga Diastól ica A diferenciação eletrocardiográfica dos tipos de sobrecarga do VE é extremamente d idá tica, mas infelizmente é pouco confiável... A principal diferença entre as duas classifica ções ocorre na repolarização ventricular (segmento ST e onda T) , sendo melhor ob- servada nas derivações esquerdas (DI, aVL, VS e V6): - SOBRECARGA SISTÓLICA (Figura 14): é o comportamento clássico; já descrito com o padrão stra[n (inversão assimétrica da onda T em V5, V6, DI e aVL), com tendência também ao infradesnivelamento do segmento ST. É mais característico de situações de sobrecar ga de pressão, como na hipertensão arterial sistêmica e na estenose aórtica. - SOBRECARGA DIASTÓLICA (Figura 15): ocorre um discreto supradesnivelamento do seg mento ST com concavidade para cima, seme lhante á morfologia da repolarização pre-coce e da pericardite. A onda Ttoma-se simétrica, pon tiaguda e com a amplitude aumentada, adquirin do um aspecto que lembra a hipercalemia e a isquemia subendocárdica. É mais caracteristico de situações de sobrecarga de volume, como nas insufiCiências valvares (aórtica e/ou mitral). • Esta classificação foi proposta nos anos 50 por Cabrera e se defende que o padrão entllo classi ficado como sobrecarga diastólica nada mais é do que a fase inicial de qualquer processo qua possa aumentar tanto a pré quanto a pós-carga ventricu lar. Lembre-se que a sobrecarga não tratada é um fenômeno contínuo, que, em suas fases finais, independentemente do processo inicial, evoluiu com dilatação importante da cavidade ventricular e disfunção tanto diastóllca quanto sist6Jica. Critérios Maiores Aumento da Amplitude do Complexo QRS Plano Horizontal: S(V1 ou V2) ou R(V5 ou V6) 35 mm Cometi : R(aVL) + S(VJ) > 28 mm (homem) ou> 20 mm (mulher) TABELAS , 11 •• •• '" F I GURA 1 4 . ... 11 .. •• Sokolow-lyon: SV1 (18) + RVS (31) ~ 49 mm. Comei i: RaVL (1 5) + SV3 (10) ~ 25 mm. Critério de Pontos: (3) + (3) + (3) .•. Conclusão: Sobrecarga deVE. ... ... -··- MEOr:u: t RO :-lr': CAP!TlA.O 4 - 124 SOBReCARGAS CA.VITÁRIAS Sobrecargo Ventrlc11lar Esquerda do Tipo Olut611ca 11 .. •• ... '" FIG U RA 1 5 . As repercussões eletrocardiográficas da so brecarga do ventrículo direito são ainda me nos sensíveis do que as do ventrículo esquer do. Fato que não é difícil de entender, pois, como já visto, o eletrocardiograma é quase que uma representação exclusiva da ativida de elétrica do VE. Logo, para que a sobrecar ga do VO comece a se manifestar, ele tem que estar muito sobrecarregado, pois somente assim seus dipolos irão "puxar" as resultantes vetoriais para direita. Como a massa ventricu lar esquerda é cerca de três veze·s maior que a direita, o VO pode dobrar a sua massa sem que haja mudanças eletrocardiográficas. Entretanto, quando há sobrecarga do VO no eletrocardiograma, percebemos que os veto res resultantes da ativação dos ventrículos tornaram-se completamen te diferentes do padrão normal e daquele observado na sobre carga do VE, que era apenas uma exacerba ção da normalidade. CAUSAS . - Todos os conceitos já discutidos em rela- ção às causas de sobrecarga do VE tam bém valem para oVO, especificamenteem relação às variações na pré ou pós-carga. Assim, compõem esta lista as pato logias da valva tricúspide e pu lmonar; más for mações congênitas com desvio de san gue da esquerda para direita, sobrecarre gando este lado (comunicação interatrial e comunicação interventricular, chamadas de CIA e CIV, respectivamente) ; Tetralogia de Fallot (a hipertrofia do ventrículo direi to é um do:s componentes da tetralogia ... ) e todas as causas de hipertensão arterial pulmonar (principalmente o tromboembo lismo pu lmonar e as doenças pulmonares obstrutivas crônicas evolu indo com cor pul monale, que significa exatamente uma so brecarga deVO secundária a alterações do pulmão). • Não se esqueça também de que todas as causas de sobrecarga das cavidades esquerdas tém po tencial de acometer, de forma retrógrada, o lado direito se cursarem com hlperlensllo atterial pul monar (o que geralmente só ocorre em fases avan çadas), especialmente a estenose mitral. -··- MEOr:u: t RO :-lr': CAP!TlA.O 4 • 125 SOBReCARGAS CA.VITÁRIAS CRITÉRIOS ELETROCARDIOGRÁFICOS Como no caso do ventrículo esquerdo, os prin cipais critérios de sobrecarga ventricular direita dependem da voltagem do complexo QRS e, por isso, esbarram em limitações de sensibilida de, apesar de serem razoavelmente específicos. Para oompreendermos, sem sobressattos, estes critérios eletrocardiográficos, é importante a percepção de como se modifica a ativação elé trica ventricular neste novo cenário (Figura 16), na SobnK:arga de VD • F'IGU!RA I 6: SOSRt!CARGA DE VO MODIFICA A A T I VAÇÃO V E NTR I CULAR (t='~RCEBA QUt! 0 QRS t. M A I S POSITIVO E M V l E V2 ~ MAIS NEGATIVO EM VS C V6) . Entendendo a sequência vetorial da despo larização ventricular na sobrecarga de VD ... O primeiro vetor (septo médio) geralmente não sofre alteração (exceto em sobrecargas graves) e continua a ser orientado para frente e para a direita, sendo formado pela despolarização do septo a partir do ramo esquerdo do sistema de condução. Nada de novo até aqui.. .. Em segui da, surgem as primeiras modificações, pois, embora a despolarízação da pared.e livre deVE se mantenha orientada para a esquerda, a ati vação de VD, antes inexpressiva do ponto de vista e letrocardiográfico, agora é mais impo nente que a própria ativação da cãmara esquer da. Deste modo, é produzido um vetor domi nante de toda a despolarízação ventricular que aponta para a direita, "puxando" o eixo médio para este lado. O último vetor (da parede basal) não é modificado nesta situação. Mas como essa modificação se traduz no ele1rocardiograma? Critérios de Voltagem Os critérios de voltagem para sobrecarga do VD são praticamente exclusivos das derivações precordiais. De uma forma geral, o que se vê é um aumento da onda R em V1 e V2 e/'ou sua diminuição em VS e V6, com o oposto aconte cendo com a onda S. Em outras palavras. o complexo QRS torna-se posjtjyo em V1 e V 2 e negatjyo em ys e V6! Os critérios mais sen síveis são aqueles que utilizam as precordiais esquerdas, enquanto as atterações das precor diais direitas são mais específicas. Veja, na tabela abaixo, os principais critérios de volta gem associados à sobrecarga do VD. P RECOR D I A I S P RECORDIA I S D IREI T AS ESQ U ERDAS CV 1 E V2) IVS E V6 ) R>7mm S>7mm S1 RIS 7 mml QRS negativo em VS e V6: OndaS predominante em VS e V6 (> 7 mml Padrão straln em V1 e V2 (Inversão assimétrica da onda 7} Desvio do eixo para direita (entre +120" e +180°) Padrão QR em V1 (sinal de maior Qravidadel Au mento do tempo de ativação ventricular ildeftexão lntrinsecoidel >50 ms ' Sinais Indiretos: sobrecarga de AO; rotação horária (padrão S 103 e transição !ardia do QRS); I ponta para trás (S 1 S2S3) T AB ELA 1 O, MEOr:u: t RO .. .. T y- n -··-:-lr': •• .,. .. .J. - ~ - • li an r CAP!TlA.O 4 - 127 SOBReCARGAS CA.VITÁRIAS ... ~ F I G U RA 1 9 : S O S R ECARG.A OE VO (PAC I E N TE C O M C O R PUL M O N ALE G R A V E ), Estes critérios são pouco sensíveis para o diagnóstico quando utilizados isoladamente, apesar de relativamente específicos. Assim, sempre que possível, eles devem ser empre gados em conjunto. Dll 0111 ;A-- •VR •Vl Agora é com você: assinale os sinais de sobrecarga ventricular direita no exemplo abaixo ... Critérios Eletrocardiográficos: • Cód. 301c4m1 Para visualizar o gabarito acesse a imagem com seu respectivo código alfanumérico disponi bilizado na área restrita de nosso portal na internet ou leia o código através do MEDCODE. - Alteração da amplitude do QRS: QRS positivo em V1 -Padrão qR em V1 - Padrão strain em V1 - Desvi o do eixo do QRS para di re ita (entre +120° e +150°) - Rotação horária S 1 Q3 OBS: Não há sinais de sobrecarga do AOe nem aumento do tempo de ativação ventricular. -··- MEOr:u: t RO :-lr': CAP!TlA.O 4 • 12 8 S OBReCARGAS CA.VITÁRIAS Com relação ao ORS· - Sot>recarga deVE (exacerba a amplitude das ondas normais): ondaS mais alta em V1 e onda R mais alta em V6 - Sot>recarga de VD (inverte a polaridade das ondas normais): QRS positivo em VI (onda R predominante) e negativo em V6 (ondaS predominante). Aqui, há também um desvio do QRS para direita (> +120•) SOBRECARGA BIVENTRICULAR Como foi dito no caso da sobrecarga biatrial, qualquer causa de sobrecarga do VE pode, em fases avançadas, cursar com uma sobre carga do VD através da geração de hiperten são arterial pulmonar retrogradamente. Já entre as cardiopatias congênitas,. vale desta car aquelas que podem resultar na síndrome de Eisenmenger (ex. : CIV - comunicação interventricular I CIA- comunicação intera trial), quando a sobrecarga do VD é desen volvida até antes do VE. " Síndrome de Eisenmenger decorre de qualquer cardiopaüa congênita que apresente inicialmente um shunt esquerda~direita. mas que, ao aumentar o huxo sanguineo pulmonar pela maior quantidade de sangue no lado direlto do coraçãO 7 mm). C) lnfradesnivelamento do segmento ST e inversão assimétrica da onda T em V6. O) OndaS em V2 l!: 30 mm. E) Desvio do eixo do QRS no plano fron· tal para além de -30°. Comentário: Devemos ter a capacidade de reconhecer uma sobrecarga ventricular esquerda no eletrocardiograma! Esse re· conhecimento pode ser feito através de critérios de amplitude do QRS, como Sokolow-Lyon e Come//, mas o Escore de Romhilt-Estes também deve ser memori· 3 -A presença de uma onda P com dura· ção de 140 ms nos permite colocar que alteração no laudo do ECG? A) Sobrecarga de átrio esquerdo. B) Sobrecarga de ventrículo esquerdo. C) Sobrecarga biairial. O) Sobrecarga de átrio esquerdo e ventri· culo esquerdo. destas câmaras cardíacas. Como a ativa· ção do átrio direito é responsável pela porção inicial desta onda, sua sobrecarga não terá repercussão na sua duração, mas sim na sua amplitude, que, como critério, ficará > 2,5 mm (mais facilmente percebido em DI/). Uma onda P com as pecto bífido (P mitra/e), com aumento expressivo de sua porção negativa em V1 (índice de Morris) ou de maior duração são características de sobrecarga atrial esquerda. Resposta certa: letra C. zado. Este inclui 6 critérios divididos entre maiores, intermediários e menores. Os critérios maiores valem 3 pontos e são: indice de Morris marcando a sobrecarga atrial esquerda frequentemente associada à HVE (letra A), maior amplitude do QRS, como onda S (V1 ou V2) ou onda R (V5 ou V6) l!: 30 mm (letra D) e o padrão de strain em derivações esquerdas (letra C). O úni co critério intermediário é o desvio do eixo médio do QRS para esquerda além de -300, que vale 2 pontos e, na realidade, já marca a presença de hemibloqueio anterior es· querdo, patologia também muito associa da à HVE. Os critérios menores somam 1 ponto cada e são tempo de ativação ven tricularda repolarizaçâo com o surgimento de inversão assimétrica da onda Tem deri vações direitas (letra C ERRADA - V6 é derivação esquerda ... ). Uma hipertrofia significativa de VD chega a induzir uma importante rotação horária do coração, o que faz com que o vetor do septo médio (1° vetor da ativação ventricular) passe a ser orientado para a esquerda, afastando -se de V1, o que explica o padrão qR em V1 (letra A). Resposta certa: letra C. VD desvia eixo para direita e torna as precordiafs deste lado positivas e com padrão strain I sobrecarga de VE pode cursar com desvio do eixo para es quer da e aumenta a positividade das precor diais deste lado que também passam a ter padrão strain). E a sobrecarga biven tricu/ar? Essa pode apresentar uma mes cla entre sobrecarga de VD e VE, mas pode ter um padrão mais específico, denominado Sinal de Katz-Wachtel, que é exatamente o achado de QRS amplo e ísodifásíco do tipo RS nas precordiaís intermediárias (V2 a V4). Ao lado está o ECG do paciente para que você enxer gue, mais uma vez, esta alteração: MEOEtE'IRO Dll •Vl Dll 6 - Assinale as alteraç,ões presentes no ECG abaixo de uma criança com uma cardiopatia congênita cianótica. A) Sobrecarga atrial direita + Sobrecarga do ven trículo direito. B) Sobrecarga biatrial + Sobrecarga do ventrículo esquerdo. C) Sobrecarga do ventrículo direito. O) Sobrecarga biatrial + Sobrecarga do ventrículo direito. E) Sobrecarga atrial esquerda. Comentário: Ao iniciannos a interpretação do ECG, vemos que o ritmo é sinusal e que a frequência cardíaca está normal. Passaria mos então para as "letras" ... Logo de cara: onda P/ Atente para sua amplitude e seu forma to em DI/: onda apiculada e com altura de4 mm (muito acima dos 2,5 mm nonnais). Concfusão neste ponto: sobrecarga de átrio direito! Não há duração aumentada dessa onda P para se pensar em uma concomitân· cia de sobrecarga de átrio esquerdo também. Mas, ao analisannos V1, percebemos um componente nega6vo muito profundo, maior que 1 mm, o que configura o índice de Mor- CAPil"'-0 4 - I J. SOBRECARGAS CA.VITAAIAS V4 Vl V$ ris, sugestivo de sobrecarga atrial esquerda também. Só como um detalhe: muitos auto· res não consideram tal alteração pelo fonna· to mais estreito da sua porção negativa e a chamam de pseudossobrecarga atrial es· querda. Ate-ntaremos agora para o QRS ... Seu eixo não chega a estar desviado, mas já mostra uma tendência de deslocamento para esquerda (entre O e --300). Veja sua amplitude: onda S profunda em V1 e onda R altíssima em V6 com concomitante padrão stram nes· sa derivação (onda T com inversão assimé trica e infradesnive/amento do segmento ST}: sobrecarga do ventrículo esquerdo. Concluí mos que o gabarito só poderia ser a letra 8. Para enriquecer: qual o diagnóstico clínico? O mais provável é tratar-se de uma atresia tricúspíde, onde não há comunicação entre AD e VD (válvula ausente ou imperfurada), o que obriga a existência de defeitos associa· dos para pennitir a mistura do sangue sisté mico e pulmonar: ocorre comunicação inter· atrial (CIA) e, muitas vezes, também uma comunicação interventricular (CIV). Assim, o sangue passa de AD para AE e deste para VE. Resposta certa: letra 8. MEOEtE'IRO C.t.PilLl.O 4- I SOBRECARGAS CA.VITAAIAS DLJ aVR "ir ~[ rr ou aVl V2 vs~ 0111 [f. 7- O que você enxerga no próximo ECG? . rO'ry ·" ,.:. '_jf . . ... .... ·' l; 0111 . . I ,.._...,._ '"--: ,.., .. .. .. .. ···- f."•· r"• l"i "n -n • ; r{; . . . !• i . ·t . . llf ~~ . - - ;,:! ~~ ~~~- ~!.. " 'ri' ~ I I. i I ,1' .. .. . ""'. l fiiiT' . .. Lfo; ~ •A . ' ' .. 'j.:., {• . ...,.: ~ \~ A) Sobrecarga atrial direita + Sobrecarga do ve ntriculo direito. B) Sobrecarga biatrial + Sobrecarga do ventrículo esquerdo. C) Sobrecarga do ventrículo direito. O) Sobrecarga biatrial + Sobrecarga do ventrículo direito. E) Sobrecarga atrial esquerda. Comentário: Já estamos craques em in· terpretar ECG de modo organizado! A frequência ê de 100 bpm, o ritmo ê sinu· ~""+ - sal, então vamos às letras ... A onda P, já está diferente ... Repare nela em D/1: tem quase 4 mm(!) e um formato apiculado: isso é sobrecarga atrial direita. Aqui exis· te outra alteração por esta sobrecarga: em V1, a amplítude da onda Pé maior que 1,5 mm. E o QRS? Seu eixo está desviado para a direita entre +120° e +150°, há um predomínio de onda R em V1 (> 7 mm) e de onda S em V5 e V6 (também > 7 mm): todos são critérios de sobrecarga de VD. Resposta certa: letra A. s MEOEtE'IRO CAPil"'-0 4 - I 4 SOBRECARGAS CA.VITAAIAS 8- O que você colocaria no laudo desse ECG e que tipo de doença valvar cardfaca o paciente tem? t>ll~\- IV f A) Sobrecarga de AE + sobrecarga de VD: esten ose mitral. B) Sobrecarga de AE + Sobrecarga deVE: esten ose aórtica. C) Sobrecarga de AE: estenose tricúspide. O) Sobrecarga de AO+ Sobrecarga de VD: insuficiência tricúspide. E) Sobrecarga de AE +Sobrecarga de VD: insufic iência mitral. Comentário: Inicialmente, vamos nos ater ao ECG- que é o principal foco do nosso material! Ao iniciarmos a interpretação do ECG, vemos que o ritmo é sinusal e que a frequência cardíaca está baixa (cer ca de 55 bpm). Passaríamos então para as "letras" ... Logo de cara: onda P/ Ela dura 120 ms em DI/, o que já configure um alargamento, mas como alguns autores interpretam essa duração como ainda 9 - Qual seria o diagnóstico do próximo ECG baseando-se nas derivações DI, 011, 0111, V1, V2 e V3? A) Sobrecarga atrial direita + Sobrecarga do ve ntriculo direito. B) Sobrecarga biatrial + Sobrecarga do ventrículo esquerdo. C) Sobrecarga do ventrículo direito. D) Sobrecarga biatrial + Sobrecarga do ventrículo direito. E) Sobrecarga atrial esquerda. normal, repare agora em V1 ... Não há dú· vida: temos o índice de Morris nesta de rivação (perceba a porção negativa da onda P): isso já configura uma sobrecar ga de AE ..• Outra alteração está no com· plexo QRS ... Se você ainda não calculou o eixo médio no plano frontal, tente fazê -lo agora. Mas tente mesmo ... Negativo em DI e aVF: está no 4• quadrante {entre ·900 e 180•)! Pelo isodifasismo em DI/I, concluímos que se encontra a -150•. Além disso, em V1 e V2, o QRS está positivo com onda R bastante alta e há um padrão strain. Esses achados nos fazem concluir que também existe uma sobrecarga de ventrículo direito. A associação de sobre carga de AE e VD aponta para o diagnós· tico de estenose mitral (na insuficiência mitral, também é esperada uma sobrecar ga de VE). Resposta certa: letra A. Comentário: A onda P, em DI/, está alar gada e bifida (P mitra/e), o que aponta para uma sobrecarga atrial esquerda. Em V1, a onda P tem seu componente positi vo maior que 1,5 mm, demonstrando a presença concomitante de sobrecarga do átrio direito. Com relação ao QRS, sua negatividade em DI sugere um desvio para a direita, enquanto a presença de ondas R proeminentes em V1 e > 7 mm atestam a presença de sobrecarga do ventrículo direito. Resposta certa: letra D. MEOEtE'IRO CAPil"'-0 4 - I ~ SOBRECARGAS CA.VITAAIAS 10- Qual(is) a(s) câmara(s) cardíaca(s) com sobrecarga no ECG abaixo? '11 .b.. A) Átrio direito. B) Átrio esquerdo. C) Ambos os átrios. O) Átrio esquerdo e ventriculo direito. E) Ventriculo direito. Comentário: Neste ECG, o ritmo é sinusal e a frequência cardíaca está em torno de 75 bpm. A onda P não apresenta qualquer alteração de amplitude ou duração ... Mas o QRS está fora dos padrões de norma lidade! Com relação ao eixo no plano frontal, como é negativo em DJ e isodifá sico em DI/, concluímos que está a -150°. Além disso, nas precordíais direitas (V1 . ' e V2), percebe-se um predomínio de onda R, inclusive com amplitude > 7 mm em V1. Isso tudo nos permite confirmar a presença de sobrecarga de ventrículo direito. Além do mais, o padrão qR em V1 nos é indicativo de uma sobrecarga muito severa a ponto de causar uma rotação horária do coração, fazendo com que o vetor do septo médio (1° vetor da ativação ventricular) passe a ser orien tado para a esquerda, "fugindo" de V1 (repare também no padrão 51 Q3- onda S em DI e onda Q em D/11- também com patível com rotação horária). Resposta certa: letra E. MEOr:u:t RO -··-:-lr': CAP!TlA.O 4 - 136 S OBReCARGAS CA.VITÁRIAS Para visualizar os gabaritos acesse a imagem com seu respectivo código alfanumérico disponibilizado na área restrita de nosso portal na internet ou leia o código através do IIAEDCODE Cód. 301c4r fNDICE DE MORRIS MEOELEl'RO C'.s>iTU.O 4 • 13 7 SOBRECARGAS CAVITARIA.S Para visualizar os eletrocardiogramas de cada situação, acesse a imagem com seu respectivo código alfanumérico disponibilizado na área restrita de nosso porta! na internet ou leia o código através do MEDCODE. SITUAÇÃO 01 No hospftal onde faz atendimento ambulatorial às 2~, 4u e 6M feiras, você conhece Claudenilson, um homem de 58 anos que foi à coosutta de ro tina no Ambulatório de Clínica Médica-é apenas o 4° paciente do dia de um total de 31 , sem con siderar os "encaixes" que certamente estão por vir ... Ele é portador de hipertensão arterial e dis lipidemia. fazendo uso regular de hidroclorotiazi da 25 mg ao dia e atorvastatina 40 mg à noite. Não há atteração em seus níveis pressóricos, assim como seus últimos exames laboratoriais estão normais. O paciente não fez o ECG solici tado e você se prepara para liberá-lo, mas é apanhado por um sentimento de culpa: não po deria finalizar uma consutta clínica em 4 minutos! Assim, imbuído do mais nobre "espírito de cui dar", você decide por examiná-lo. Durante a palpação do precórdio, percebe um ictus cordis propulsívo e, na avaliação da pressão arterial, é encootrado um valor de 150 x 94 mmHg. Buscando fechar uma linha de raciocínio, você solicita um eletrocardiograma (PROJEÇÃO). ~ Cod. 301c4s1 1-Qual a alteração presente no ECG? Ela pode ser corroborado com algum critério eletrocardiográfico? 2 - Qual é a provável causa da alteração do ECG? 3 - Você modificaria algo na prescrição do paciente? SITUAÇÃO 02 A 16• paciente do dia é Mariângela, uma jovem senhora de 42 anos, que procurou o Ambulatório de Clínica Médica por queixa de cansaço que se acentuou aos esforços nos últimos meses, além de disfagía e apa recimento recente e insidioso de rouquidão. Nega tabagismo, hipertensão ou diabetes. Refere não fazer uso crônico de q uiTU.O 4 • 13 7 SOBRECARGAS CAVITARIA.S Para visualizar os eletrocardiogramas de cada situação, acesse a imagem com seu respectivo código alfanumérico disponibilizado na área restrita de nosso porta! na internet ou leia o código através do MEDCODE. SITUAÇÃO 01 No hospftal onde faz atendimento ambulatorial às 2~, 4u e 6M feiras, você conhece Claudenilson, um homem de 58 anos que foi à coosutta de ro tina no Ambulatório de Clínica Médica-é apenas o 4° paciente do dia de um total de 31 , sem con siderar os "encaixes" que certamente estão por vir ... Ele é portador de hipertensão arterial e dis lipidemia. fazendo uso regular de hidroclorotiazi da 25 mg ao dia e atorvastatina 40 mg à noite. Não há atteração em seus níveis pressóricos, assim como seus últimos exames laboratoriais estão normais. O paciente não fez o ECG solici tado e você se prepara para liberá-lo, mas é apanhado por um sentimento de culpa: não po deria finalizar uma consutta clínica em 4 minutos! Assim, imbuído do mais nobre "espírito de cui dar", você decide por examiná-lo. Durante a palpação do precórdio, percebe um ictus cordis propulsivo e, na avaliação da pressão arterial, é encootrado um valor de 150 x 94 mmHg. Buscando fechar uma linha de raciocínio, você solicita um eletrocardiograma (PROJEÇÃO). ~ Cod. 301c4s1 1-Qual a alteração presente no ECG? Ela pode ser corroborado com algum critério eletrocardiográfico? 2 - Qual é a provável causa da alteração doECG? 3 - Você modificaria algo na prescrição do paciente? ELETROCARDIOGRAMA NA PRÁTICA Situação 1 1· Sobreçarga Ventricular Esquerda; Escore de pontos: 8 pontos lndice de Sokolow: 44 mm Cornell: 46 mm. 2· Hipertensão Arterial. 3· Sim: acrescentaria IECA. MEOELEl'RO SITUAÇÃO 02 A 16• paciente do dia é Mariângela, uma jovem senhora de 42 anos, que procurou o Ambulatório de Clínica Médica por queixa de cansaço que se acentuou aos esforços nos últimos meses, além de disfagia e apa recimento recente e insidioso de rouquidão. Nega tabagismo, hipertensão ou diabetes. Refere não fazer uso crônico de qualquer medicação, afirmando sempre ter sido uma mulher saudável, exceto pelos episódios recorrentes de dor de garganta que apre sentara durante a infância e o inicio da ado lescênci a, mas que hoje não a incomodam mais. Já trazia consigo um Rx de tórax que mostrava parênquima pulmonar sem alte rações, mas era perceptível a elevação do brônquio-fonte esquerdo. Para complementação da investigação do quadro, você então solicita um eletrocardio grama, que é realizado em poucos minutos {PROJEÇÃO). 11 11 •• '" 4- Se, após 3 anos sem acompan hamento médico, a paciente retomasse ao seu am bulatório com este novo ECG (PROJ EÇÃO), que conclusões seriam possíveis? C'.s>iTU.O 4 • 13 7 SOBRECARGAS CAVITARIA.S 1 - Descreva as alterações eletrocardio gráficas encontradas e sua conc lusão sobre elas. 2 - Qual é a causa mais provável desta al teração cardiológica na situação clínica apresentada? 3 - Como explicar a disfagia e a rouq uidão da paciente? E a elevação do brônquio ·fonte esquerdo na radiografia torácica? '" ELETROCARDIOGRAMA NA PRÁTICA Sjtuação 2 1- lndic;e de Morris t alargamento da onda P: aumento de átrio esquerdo. 2- Estenose mitral por sequela ele lesão reumática. 3- Aumento de Átrio Esquerdo comprimindo esôfago e n. laríngeo recorrente e deslocan do cranialmente o brônquio-font e esquerdo. 4- Evol ução com Sobrecarga Ventricular Direita. MEOELE'tR.O 2 - Qu al é a causa mais provável desta al teraçã.o cardiológica na situação clínica apresentada? 3 - Como explicar a disfagia e a rouquidão da pac;iente? E a elevação do brônquio· -fonte esquerdo na radiografia torácica? 4- Se, após 3 anos sem acompanhamento médico , a paciente retornasse ao seu am bulatório com este novo ECG (PROJEÇÃO), que conclusões seriam possiveis? Cod. 301c2s2b íii O fim d!a tarde começava a se anunciar e você se despede do 30° paciente agendado. Fal tava apenas Dona Marina, que dormia con fortavelmente com a cabeça apoiada sobre o ombro esquerdo há 3 horas. Você imediata mente a chama e começa o atendimento. Mal começou a anamnese e sua secretária entra esbaforida pela porta dos fundos do ambulatório. - Doutor. pelo amor de Deus, me ajudai Tem uma senhora gritando .. . A filha dela . .. A criança ainda não foi atendida hoje! -Mas eu não sou o pediatra! Avisa que a pediatria é no 2• andar. .. - você retrucou. - Pois é doutor, eu sei ... Mas o pediatra não veio e aquela senhora disse que a filha tem uma doença no coração e que precisa da consulta de rotina! Você, sem acreditar no que estava aconte cendo. solic" a à Dona Marina que espere mais um pouco no corredor e pede que a mãe C•oPiTU.O 4 - 13 8 SOBRECARGAS CAVITAAIAS entre. Era um dos "encaixes", que aconteceria mais cedo ou mais tarde ... A história da criança era instigante .. . Tratava -se de Britney, de 7 anos de idade, acompa nhada desde o nascimento pelo ambulatório de Cardiologia Pediátrica e que voltara hoje somente para uma consulta de rotina. A mãe conta que a criança nasceu bem. mas, em poucos meses, começou a apresentar ciano se de extremidades. sendo diagnosticada sua cardiopatia. Posteriormente, Britney alé me lhorou, mas de 2 meses para cá, a cianose voltou a aparecer. especialmente após ativida de fisica. A mãe notou também um surgi mento eventual de edema de membros inferiores. Buscando compreender ainda mais o caso da jovem, você acessa a rede de informática do ambulatório, onde consegue um ECG recente (PROJEÇÃO) e o ecocardiograma realizado 3 semanas antes. í1i Cod. 301c2s3a 1 - Qual a alteração presente no eletro· cardiograma? Justifique. 2- O eletrocardiograma é compativet com os achados ecoc ardiográficos (PROJE· ÇÃO)? Justifique. ~ Cod. 301c2s3b 3 - Qual a cardiopatia de base da paciente? lt=:::::=== SITUAÇÃOÍ04"~- Enfim, Dona Marina, sua última paciente do dia, poderá ser atendida - pelo menos é as- MEOCLetRO I ----=siTUAÇÃOl 0~3,~ -- ~~- - O fim da tarde começava a se anunciar e você se despede do 300 paciente agendado. Fal tava apenas Dona Marina, que dormia con fortavelmente com a cabeça apoiada sobre o ombro esquerdo há 3 horas. Você imediata mente a chama e começa o atendimento. Mal começou a anamnese e sua secretária entra esbaforida pela porta dos fundos do ambulatório. · Doutor, pelo amor de Deus, me ajuda! Tem uma senhora gritando ... A filha dela ... A criança ainda não foi atendida hojel • Mas eu não sou o pediatra I Avisa que a pediatria é no 2• andar .. . - voc-ê retrucou. • Pois é doutor, eu sei .. . Mas o pediatra nêo veio e aquela senhora disse que a filha tem uma doença no coração e que precisa da consulta de rotina! Você, sem acreditar no que estava aconte cendo, solicita à Dona Manna que espere mais um pouco no corredor e pede que a mãe entre. Era um dos "encaixes·, que acontece ria mais cedo ou mais tarde .. . 2 - O el etrocardiograma é compatlvel com os achados ecocardlográflcoa (PROJE CÃOl? Justifique. 3-Qual a cardiopatia de base da paciente? r OI J ....... .... CAPiHA.0 4 . I 8 S OBRECARGAS CAVITAAIAS A história da criança era instigante ... Tratava ·se de Britney, de 7 anos de idade, acompa nhada desde o nascimento pelo ambulatório de Cardiologia Pediátríca e que voltara hoje somente para uma consulta de rotina. A mãe conta que a criança nasceu bem, mas, em poucos meses, começou a apresentar ciano se de extremidades, sendo diagnosticada sua cardiopatia. Posteriormente, Brítney até me lhorou, mas de 2 meses para cá, a cianose voltou a aparecer, especialmente após ativida de física. A mãe notou também um surgimento eventual de edema de membros infenores. Buscando compreender ainda mais o caso da jovem, você acessa a rede de informática do ambulatório, onde consegue um ECG recente (PROJEÇÃO) e o ecocardiograma realizado 3 semanas antes. 1 - Qual a alteração presente no e letro card iograma? J ustifique. ~ .rt-Jih-~v-L_,., -.,,,--J-I·.,_,v2 ""r-~ .fl.i:'lll l .L IJ~F3 1--l +~ ... V~6~-... 1--...!_,....., ELETROCARDIOGRAMA NA PRÁTICA Sjtuação 2 1-Sobrecarga de AD; onda P alta e apiculada em Dll e V1. 2-Sim: aumento de AO e redução deVO ... 3-Anomalia de Ebstein: válvula tricúspide com folhetos anômalos (má-formação congênita). MEOELE'tR.O SITUACÃO 04''-de possíveis altera ções secundárias da repolarização ventricular. Como a ativação ventricular é anômala e mais lenta, surgem complexos QRS com morfo· loqja djferente e alargados. É importante frisar que o termo bloqueio ex pressa inadequadamente o que realmente aconte-ce neste grupo de distúrbios, pois acaba transmitindo uma ideia de tudo ou nada no processo de condução do estímulo, E isso não é uma verdade absoluta! O que ocorre na rea lidade são alentecimentos variáveis da condu ção que podem ser quantificados e letrocardio graficamente em primeiro, segundo e terceiro graus de acordo com a sua magnitude. Alguns autores preferem utilizar os termos bloqueio de ramo completo (equivalente ao de 3° grau) e incompleto (equivalente aos de 1°' e 2° graus). Será que existe outra "dica" eletrocardio· gráfica? OK, vamos à 2• dica então: também vai exis tir uma alteração do processo de repolarização ventricular! Leia devagar para facilitar seu processo de entendimento ... Como um ramo foi bloqueado, o ventrículo deste lado será despolarizado mais tardiamente, assim o vetor final da despolarização "aponta" para o lado do ramo bloqueado. Naturalmente, como o outro ventrículo foi ativado antes. ele iniciará seu processo de repolarização mais cedo também. Sendo assim, o sentido do processo de repolarização também caminhará no sen tido do lado do ramo bloqueado, de forma que o vetor da repolarização (que, lembre-se, tem sentido contrário ao do processo repolarizan te) "aponta" para o lado oposto ao do ramo bloqueado. Isso quer dizer que os vetores da despolarização (complexo QRS) e da repola rização ventricular (onda T) têm sentidos opostos (Figura 1). Ficou confuso? Então, vamos entender com um exemplo prático ... No bloqueio de ramo direito- que veremos a seguir-o estímulo não desce adequadamen te por este ramo, sendo assim o VD é o último a se despolarizar, de modo que o vetor final da despolarização aponta para a direita. Já que o VE se despolarizou antes, ele será o 1• a se re polarizar, de forma que a repolarização também caminha para a direita. Assim, o vetor da repolarização (que tem sentido contrário ao do processo repolarizante) apontará para o sentido oposto, isto é, para a esquerda. As sim, os vetores da despolarização (complexo QRS) e da repolarização ventricular (onda T) acabam tendo sentidos opostos ·o-• --rOIM&t"l .... ,..,.. ..... TI_ ....... _.. .... ,..._ .. F I G U RA 1: NOS BL-OQUEIOS D E RAMO. OS PRO· CESSOS DE OESPOLARIZAÇÁO E REPOLARIZAÇÀO VENT RICULAR APONTAM PARA O LADO DO RAMO BLOQUEADO - CJ R S APONTA PARA A D I R EÇÃO LESADA E" A ONDA T PARA O S E"NTIOO OPOSTO. Desta forma, nos bloqueios completos de ramo, percebemos que a onda T (e o segmen to ST) apresenta sempre uma polaridade oposta a do complexo QRS! Só tome um cuidado nesse momento! Nem todo traçado com QRS alargado carac teriza um b loqueio de ramo ... Veremos nos próximos capítulos que, quando o coração tem seu ritmo comandado pelo ventrículo e não pelo nado sinusal (exemplos: ritmo idioventri cular, taquicardia ventricular), o QRS também alarga. O que a gente entende por bloqueio de ramo é que o estímulo, após ser gerado pelo nado sinusal, tentou descer em direção aos ventrículos, mas não conseguiu percorrer um de seus ramos. Assjm no bloguejo de ramo é aerado um QRS alargado precedido de onda p RESUMINDO: ' . i . ' . Duas condições caracterizam os bloqueios com pletos de ramos: • QRS alargadopara direita, porém com maior lentidão). Ativação Ventricular no BRD F I G URA 4 : EC O NO BLOQ U E IO O E RAM O D I R E I T O , Assim, em V1 e V2 (principalmente em V1 ) - que são derivações localizadas um pouco mais à direita, teremos uma 1" onda positiva (onda r), uma 2" onda negativa (onda s) e uma 3• onda mais alargada novamente po sitiva (chamada de onda R'), cuja área varia de acordo com a gravidade do bloqueio. Esta última é, sem dúvida, a principal manifesta ção eletrocardiográfica, pw ois representa a despolarização atrasada do VD. Desde agora, fixe sua atenção na morfologia clássica do QRS em V1 no contexto de BRD: -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAP!TlA.O 5 • 145 8LOOLGOS OE RAMO rSR'. É uma marca deste distúrbio, também conhecida como morfologia em "M" ou em "ore lha de coelho" (Figura 5). F"IGURA 5 : R sR• C OM R' E M EN TALHE E A MOR FOL O G I A C LÁS S ICA DO Q R S EM V 1 N O CONTEXTO D E BR O , Por oUJtro lado, em VS e V6 (principalmente em V6)- que são derivações à esquerda, o que se observa é exatamente a morfologia oposta (padrão qRS), pois teremos uma 1" onda negativa (onda q), uma 2• onda posit iva (onda R) e a 3" onda também negativa (onda S) e que tende a ser larga e espessada(> 40 ms) por representar a despolarização lenta e tardia do VD, que depende de uma condução do tipo miócito-a-miócito. Esse a largamente retilíneo da porção final do complexo QRS é conhecido como entalhe ou meseta e é clássico dos bloqueios de ramo mais avançados. As outras derivações intermediárias (V3 e V4) apresentam uma grande variação morfológica. Independente das possibilidades de morfolo gia, não podemos perder de vista o principal, que é o padrão típico em V1 e V6 (Figura 6). V t v. 1- ;. A \[f . I \ \{ rSR' ( RS F I G U RA 6. RESUMINDO: As " R s o BRD V1 = onda R' alargada (padrão rSR'} V6 =ondaS alargada (padrão qRS) No plano frontal, as alterações não são tão típicas e o eixo médio do complexo QRS pode estar normal ou eventualmente desviado para a direita . Mesmo assim, existem alterações morfológicas que sugerem o diagnóstico, de acordo com o mesmo raciocínio do plano ho rizontal: onda R' ampla nas derivações d ireitas (neste caso,. especificamente em aVR) e onda S espessada e alargada nas derivações es querdas (principalmente em OI). Ou seja, aVR assemelha-se a V1 enquanto DI, a V6 ... Ainda existem mais manifestações eletro cardiográticasl Outros três fatores, que não são específicos do BRO, também são encontrados: o aumento da duração tota l do complexo QRS, aumento do tempo de ativação ventricular e as alterações secundárias da repolarização ventricular. DURAÇÃO DO COMPLEXO QRS Nos distúrbios mais brandos, a duração d'o com plexo QRS pode ser normal ou discretamente aumentada. Entretanto, à medida que o atraso da condução pelo ramo direito aumenta, maior será a contribuição do salto de onda para a ati vação lentifi-cada do VD. Portanto, nos graus mais avançados, a maior ocorrência de condu ção do tipo miócito-miócito resulta em complexos alargados, com durações superiores a 1 20 ms. TEMPO DE ATIVAÇÃO VENTRICULAR Da mesma forma, o tempo de ativação ventri cular aumenta nas derivações direitas para va lores acima de 50ms (enquanto pemnanece normal em V5 e V6) e, na presença de uma onda R, deverá ser medido até o seu pico (Figura 7). ALTERAÇÕES SECUNDÁRIAS DA REPOLARIZAÇÂO VENTRICULAR As alterações da repolarização ventricular manifesiam-se por desníveis do segmenio sr (ponto J) e inversões na polaridade da -··- MEOr:u: t RO :-lr': CAP!TlA.O 5- 146 8LOOLGOS OE RAMO onda Tem relação ao complexo QRS. Como já foi dito, estas mudanças ocorrem como consequência da despolarização anômala e tardia do ventriculo direito, resultando numa repolarização mais precoce do VE. Assim, enquanto os vetores terminais da despola rização ventricular estão d irecionados para direita, aqueles correspondentes à repolari zação voltam-se para esquerda, de forma exatamente oposta. Nas derivações direitas (V1 e V2), onde o QRS serà predominante mente positivo, espera-se um infradesn ive lamento do segmento ST e inversão da onda T, que permanece assimétrica. Nas deriva ções e-squerdas (VS, V6 e OI), onde a onda S (negativa) torna-se proeminente, o seg mento ST pode ficar supradesnivelado e a onda T ainda permanece positiva. Para re sumir: surgem alterações do ST-T opos tas ao QRS. I F"I GURA 7. Agora , a tenção para uma terminologia clás sica de ser encontrada em eletrocardiogra fia! Aqui, como vimos, houve uma modifica ção da expressão elétrica da repolarização. j á que a onda T passou a ter polaridade oposta ao QRS. Mas como essa mudança de comportamento não surgiu de uma alte ração primária da própria repolarização e sim de uma modificação do processo de despolarização, ela é chamada de alteração secundárja da repolarjzação yentrjcular. • Em algumas situações, como na isquemia, a onda T pode aparecer invertida, mas por uma alteração do próprio processo de repo/arização, constituindo uma alteração primária da repo/ari zaçáo ventricular. Ufa! Que tal sedimentarmos as manifesta ções eletrocardiográficas de BRD? Reveja, na ttabela abaixo, os principais acha dos sugestivos de bloqueio de ramo direito avançado no ECG. Os três primeiros critérios são os mais importantes para o diagnóstico de BRD avançado. BLOQUEIO OE R AMO D I REITO ( C RIT É R I OS) Duração do QRS 2: 120 ms V1 (e V2): padrão rsR' com R' espessada V6 (e VS, DI, aVL): ondaS alargada (> 40 ms ou superior .à onda R) Alterações Secundárias da Repolarização Ventricular: ST-T opostos ao QRS Tempo de Ativação Ventricular em V1 e/ou V2 > 50 ms TABELA 1. GRAUS DE BLOQUEIO DE RAMO DIREITO Os critérios e letrocardiográficos descritos até o momento referem-se aos graus mais avançados de bloqueio do ramo direito. Entretanto, em ca sos mais brandos, nem todos os achados esta rão presentes em sua plenitude. Assim, atual mente a gravidade do bloqueio pode ser quan tificada eletrocardiograficamente em três graus. O principal achado que diferencia os bloqueios de 1° e 2• graus (ou incompletos) do bloqueio de 3° grau (ou completo) é a duração do QRS: quando é maior ou igual a 120 ms, já con figura o nível mais avançado de bloqueio dentro desta classificação. Mas não é ape nas essa diferença ... No BRD de 1° grau, já podem ser identificadas algumas mudanças morfológicas no QRS que sugerem um alentedmento da parte final da despolarização, mas, como regra, em V1, a onda r' apresenta uma área menor do que a onda r inicial e a onda S reduz o seu tamanho. Já nas derivações esquerdas (VS, V6, DI e aVL), há um alargamento discreto na onda s. O BRD de primeiro grau não produz alterações se cundárias da repolarização ventricular. No BRD de 2° gray, o maior atraso na condu ção já pode gerar o salto de onda tão carac ierísiico do bloqueio mais avançado e, por isso, os vetores terminais do QRS são mais proeminentes. Portanto, nas precordiai s direi- -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAP!TlA.O 5 • 14 7 8LOOLGOS OE RAMO tas (especialmente V1) deverá haver uma onda R' com área maior do que a primeira onda r do complexo. Nas derivações esquer das, a onda s sofre um novo aumento, porém sem preencher os critérios para um BRD de terceiro grau (onda S > 40ms ou superior a onda R). Neste grau de bloqueio, já ocorrem alterações secundárias da repolarização ven tricular, repercutindo sobre o segmento ST e onda T da mesma forma que foi e-xposta para o BRD de terceiro grau (vetores em sentidos opostos aos da despolarização ), Por último, vale mencionar que, no BRD de 3° grg.u, a onda R em V1 e/ou Sem V6 podem sofrer um a largamento tão expressivo que adquirem um aspecto parecido com uma mesa e, por isso, a escola mexicana o denominou de "meseta", termo amplamente empregado. Agora, podemos organizar a representação eletrocardiográfica da progressãodo BRD na Tabela 2. Vamos treinar? • • - - - -~~ _,_ I"' ~ ...Jr..- • • .. • • -+-' ~ ~~ RESPOSTA: Analise os ECGs a seguir e indique o grau de BRD presernte ... bemplos V1 V6 Normal [t] [±j BAOd:-lr': CAP!TlA.O 1 - 1 3 ELETROf~OOV. CAAot.CA cado pela abertura de canais de cálcio (Ca .. ), que entra na célula e se contrapõe à saída de K·. Logo em seguida, a entrada de Ca .. se reduz, mas é mantida a saída de K', fato que finatiza a repola rização já que são cargas positivas saindo e fa zendo com que o interior volte a ficar negativo. A sequência de eventos fica: - Repouso (Na"/K' ATPase) - Despolarízação (entrada de sódio) - Repolarízação (saída de potássio) - lentifi cada pela entrada de cálcio Mais uma vez, o potencial de ação pode ser representado graficamente (Figura 8). Como estas células de condução têm uma despola rização instantânea, são chamadas de "células de resposta rápida". Potenclol de Açlo C"ula do Respcsta RAplda I ---,...---~------- - 80 - -120 __ ................ _ ... __ Tempo(ms) O 100 200 300 ~H3URA 8: P O TEN C I A L OE AÇÃO DAS CÉL ULAS DE RESP OSTA RÁPIDA, Mas não existem diferentes tip0cs de canais de Na• , K• e C a••? Isso é até verdade, mas apresentá-los a você nesse momento não ajudaria em nada no en tendimento da eletrofisiologia cardíaca; pelo contrário: atrapalharia ... São vários canais (só de K• são 7 tipos descritos!) que, em última análise geram os fluxos iônicos que foram de monstrados até aqui. Se tiver curiosidade, ao final do capítulo, existe um "Apêndice" para abordagem específica dos diferentes canais. Que tal relacionar alguns conceitos com a prática médica? As drogas chamadas de bloqueadores de canal de cálcio (como diltiazem e verapamil) agem exatamente bloqueando o influxo (en irada) de Ca '". Se pensarmos na redução do influxo nas células de resposta lenta, a con sequência será uma maior dificuldade para despolarizar a célula, sendo assim h.á uma redução do automatismo cardíaco. A reper cussão clínica é uma bradicardia! Se pensar mos na redução do influxo de C a .. nas células de resposta rápida haverá, menos cálcio dis ponível para contração muscular dos m iócitos ventriculares, reduzindo a força contrátil (efei to in o trópico negativo). O sistema nervoso autônomo (simpático e parassimpático) possui grande influência tan to sobre a função de marca-passo das células do nodo sinusal quanto sobre a velocidade de condução das outras populações celulares do sistema. O estímulo simpático é um estímulo adrenérgico , ou seja, realizado pelos hormô nios chamados catecolaminas: adrenalina e noradrenalina. A ação adrenérgica em recep tores do t ipo j3 aumenta o influxo de cálcio, resultando numa maior velocidade de despo larização das células de resposta lenta (maior automatismo sinusal). Por este motivo que -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAP!TlA.O 1 - 14 ELETROf~OOV. CAAot.CA drogas bloqueadoras adrenérgícas (como os ~-bloqueadores) têm a capacidade de reduzir a frequência cardíaca. Tudo tem explicação! Quer ver mais um exemplo? Teremos um capitulo bem mais adiante para aprendermos a ação das drogas antíarrítmí- cas, mas podemos antecipar algumas con clusões ... A propafenona é uma droga conhe cida pelo seu efeito de bloqueio de canais de sódio, o que lentifica a formação de poten ciais de ação nas células de resposta rápida, reduzindo a condução elétrica: consequência que pode ser suficiente para interromper uma taquiarritmia (arritmia com frequência cardía ca elevada). o potencial de ação das células cardlacas é didaticamente dividido em rases: (1) AUTOMATISMO (Célula de Resposta lenta}: - Fase O (Despolarização lenta}: Entra Ca" -Fase 2 (Repolarização lenta): Sai K' - Fase 3 (Repolarização Final): Sai K' - Fase 4 ("Repouso Elétrico"}: Entram Ca" e Na· • Nas células de resposta lenta, não existe a fase 1 . .. É interessante notar que estas células nilo costumam permanecer em um potencial de repouso constante, uma vez que, logo em .seguida. emendam uma nova despolar/2ação espont§nea. Isso ocorre pela entrada lenta e continua de Ca" e um pouco também de Na• até que um lnffuxo mais intenso de Ca" cause uma nova despolarização lenta. (2} CONDUÇÃO (Célula de Resposta Rápida}: - Fase O (Despolarização Rápida): Entra Na· • Fase 1 (Repolarização Transitória}: Saí K' - Fase 2 (Platô ou Repolarlzação Lenta}: Entra Ca" e sal K' · Fase 3 (Repolarização Final}: Sai K· - Fase 4 (Repouso Elétrico}: Sai Na· e entra K' (bomba Na·IK· ATPase} Variação 16nica Intracelular e a Mudança do Potencial de Ação Resposta Lenta Resposta Rápida l K' 0 111.. ! K' (!) o --- t ca'* l ----- f Na' @ l K' ® -60 \ tK• l Na' "ª -90 F"IGURA 9. -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAP!TlA.O 1 - 1 5 ELETROf~OOV. CAAot.CA Se existem diferentes áreas do sistema de condução com propriedade de autornat:fsrno , que o nodo slnusal é o comandante do ritmo cardíaco? Ao estudarmos os diferentes padrões de potencial de ação. vimos que as células de resposta lenta não chegam a manter uma estabilidade elétrica em seu potencial de repouso, de forma que, logo após sofrerem repolarização, apresentam entrada de cargas positivas, atingem um potencial l imiar e, erofim, autodespolarizam-se. A esse fenômeno damos o nome de despolarização diastólica. Essas células são encontradas principalmente nos nodos sinusal (NSA) e atrioventricular (NAV), mas lambém podem estar presentes nos folhelos das válvulas mitral e trieúspide, nos átrios, nas fibras de Purkinje, no óstio do seio coronário, entre outros. O interessante é que as células automáticas do NSA (células. P) são as fibras com frequência intrlnseca mais rápida (em média, 60 a 100 vezes. por minuto). seguidas pelas fibras do NAV. Por esse motivo, são o marca-passo normal do coração: seu estimulo gera a propagação de um impulso que despolarize as demais células cardlacas, inclusive as automáticas, que, por terem rrequência intrln seca menor, são despolarizadas sistematicamente pelo ímpulso gerado no NSA e, dessa forma, não se expressam. Isso é o que chamamos de ritmo sinusal, isto é, o impulso nasce no NSA e Induz uma frequência cardiaca de 60 a 100 bpm. Esse fenômeno é chamado de "Inibição automática por supraestimulação" (ou "overdrive supression"). Em outras palavras. a região de maior frequência inibe as demais- o mais rápido é quem comanda! Mas. se, por algum motivo, o nodo sinusal falhar, quem assume o ritmo é o nodo AV, que tem uma frequência automática de 40-60 vezes por minu to (é o chamado ritmo idiojunc ional - fazendo referência ao termo junção AV). Da mesma forma, se o nodo AV também falhar, a tendência é que um foco ventricutar nas fibras de Purkinje assuma o ritmo, mas agora com uma frequência de apenas 8- 40 vezes por minuto (é o chamado ritmo idioventricular). Com o impulso nascendo no nodo sinusal e sendo conduzido para as demais áreas do co ração, conseguimos visualizar, na Figura 10, os diferentes tipos de potencial de ação varian do de acordo com a localização e função da célula no sistema de condução. PROPAGAÇÃO 00 IMPUL.SO N O CORAÇÃO de PIJrklnje t:::::::J ECG FIGURA 1 O: POTE NCI A I S DE AÇÃO A O LON G O 00 S ISTE MA D E COND UÇÃO - N O TE O POTE NCIAL DE RESPO S T A L E N TA NOS NOOOS S I NUSAL E AV E O POTEN C I AL OE RESPO STA RÁPIDA NAS DEMAI S L OCAL I DADES. -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAP!TlA.O 1 - 16 ELETROf~OOV. CAAot.CA D) Acoplamento excitação-contração Até o momento, já temos o conceito de que o impulso elétrico é gerado e propagado por um fluxo iônico intenso através das membranas cardíacas e a razão de sua existência é induzir posteriormente a contração cardíaca. Mas como isso é feito? Como conseguimos enfim juntar o estímulo elétrico excitatório e o fenô meno mecânico contrátil? Lembra do Complexo Actina-Miosina? Nós estudamos isso na graduação, mas não há aquí no que se alongar .. . Só relembre que, dentro de cada fibra muscular cardíaca, exis te uma maquinária contrátil que i nclui 2 pro teínas chamadas actina e miosína, as quais precisam interagir para gerar uma contração. Só que existe um problema:supradesnivelado e a onda T é positiva e assimétrica, enquanto em VS, V6, DI e aVL observa-se exatamente o oposto. Que ta I sedimentarmos também as manifes tações eletrocardiográficas de BRE? Reveja, na tabela a seguir, os principais achados sugestivos de bloqueio de ramo esquerdo avan çado no ECG. Os três primeiros critérios são os mais importantes para o seu diagrnóstico. B L OQU E IO OE RAMO ESQU EROO CCRITÉRIOS) Duração do QRS ~ 120 ms V1 (e V2): padrões QS ou rS alargados V6 (e VS, DI, aVL): onda R pura alargada ou com entalhe Alterações Secundárias da Repoiarização Ventricular: ST-T opostos ao QRS Tempo de Ativação Ventricular em V5 e/ou V6 > 50 ms T ABELA 3. GRAUS DE BLOQUEIO DE RAMO ESQUERDO Em alguns casos, o distúrbio de condução pelo ramo esquerdo não é grave o suficiente para manifestar todas as alterações descritas acima no ECG. Por este motivo, assim como foi men cionado para o BRD, a gravidade do BRE também pode ser quantificada eletrocardio graficamente em três graus. O que foi expos to até agora é típico do BRE de 3° grau (ou completo), onde o salto de onda está presen te de forma significativa. Por oUJtro lado, no BRE de 1° grau, este fe nômeno não ocorre e o VE ainda é ativado pela condução através do ramo esquerdo, a qual é feita apenas de forma mais leniificada. Entretanto, a formação do vetor do septo médio já é comprometida, sendo- a ausência de onda q em VS, V6, DI e aVL a primeira manifestação eletrocardiográfica do BRE leve. Em alguns casos, pode haver um pe queno entalhe na fase ascendente da onda R nestas derivações. Apesar da onda r em V1 e V2 ainda estar presente nestes casos. ela tem sua amplitude reduzida com a men cionada ausência do vetor do septo médio. A duração do QRS é normal e jamais ultra passa 120 ms, pois isto já caracterizaria um bloqueio de 3° grau. Como não ocorre o sal to de onda, não são observadas alterações secundárias da repolarização ventricular. • Vale ressaltar ainda que este grau de bloqueio é frequente nos traçados que preenchem critérios para sobrecarga de VE. Nestes casos. quando estilo presentes alterações secundárias da repo larização ventricular devido à sobrecarga (padri!o strain), o diagnóstico diferencial torna-se diflcil com um BRE de 2° grau. .. .., VI Y6 ...... I In ~ BREdo [1j ~ t' vr•u ~~~~n~ ""-o Semtlt«~lo·~ , .. 8REdt ta ~ 2" 9f'•u hi,I1MOS 'r:.:'.: o AJ• ttttJo 1to~o 1M ltpol.lll.t{IO Met~- -~ ·~leio ~ ~ ,.9' ... PoNifMOS ...,_0 Or'IPSMINMU -r .. -CM) 1'10!M Ofl • l)Orl'lf, T ABELA 4. No BRE de 2° grau, o salto de onda através do septo interventricular já é formado. Por tanto, além -de estarem presentes as mudan ças descritas no BRE de 1° grau, já podem ser observados padrões OS nas precordiais direitas V1 e V2 (eventualmente a té V4 ). A -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAP!TlA.O 5 - 151 8LOOLGOS OE RAMO duração do QRS aumenta, mas não chega a 120 ms. Porém, talvez a alteração mais sig nificativa em relação ao bloqueio de 1 • grau seja a presença de alterações secundárias da repolarização, com o segmento sr e onda T apresentando polaridades opostas em re lação ao QRS. De uma forma simplificada, quando estão presen tes os critérios morfoló gicos do complexo QR S e há alterações se cundárias da repolarização, uma duração do QRS menor que 120 ms define o traçado como um BRE de 2• grau. RESPOSTA: JUSTIFICATIVA: RESPOSTA: JUSTIFICATIVA: Como já entendemos, a configuração de um BRE de 3• grau é feita quando, além dos acha dos clássicos do QRS e repolarização ventri cular já mencionados. houver uma duração aumentada da despolarização ventricu lar e a presença do padrão de "meseta• da onda R em V5, V6, DI e aVL ou da onda Sem V1 e V2. Vamos treinar? Analise os ECGs abaixo e indique o grau de BRE presente,, ... oiL '" "" ., ,. ~ RESPOSTA: Bloqueio de Ramo Esquerdo de 2• grau (ou Incompleto). JUSTIFICATIVA' Padrão QS em V1 , R pura em V6 com alteração secundária de repolarização, · mas QRS que não ultrapassa 120 ms. RESPOSTA: Bloqueio de Ramo Esquerdo de 3• grau (ou completo). JUSTIFICATIVA: Padrão QS em V1 , R pura em V6 com alteração secundária de repolarlzação, QRS com 140ms. -··- MEOr:u: tRO :-lr': Cód. 301c5m2 CAP!TlA.O 5 - 152 8 LOOLGOS OE RAMO Para visualizar o gabarito acesse a imagem co.m seu respectivo código alfanumérico disponibilizado na área restrita de nosso portal na internet ou leia o código através do MEDCODE. Eixo do QRS no contexto de BRE O eixo médio da despolarização ventricular noBRE estará voltado, na maioria das vezes, para esquerda, geralmente não ultrapassando --30°: foca entre -300 e+ 60°. E é importante frisar que os graus do bloqueio não interler.em no eixo do QRS. Porém, quando existe um desvio para a esquerda além de -30°, deve-se assumir que há lesão concomitante ou desproporcional do fascículo ântero-superior (chamado de hemiblo queio anterior esquerdo: HBAE), conceito que entenderemos melhor no próximo capítulo. Da mesma forma, um eixo para a direita além de +60° nos faz pensar na associação com alguma condição que induza verticalização do coração como enfisema pulmonar. Assim, poderemos concluir: - BRlE com eixo entre -30° e +60°: BRE puro - BRlE com eixo além de -30°: BRE + HBAE - BRIE com eixo além de +60°: BRE com verticalização do coração Até esse momento, jâ vimos 2 condições (sobrecarga de VE e BRE) que carregam uma ten dência de deslocarem o eixo do QRS para o lado esquerdo, entretanto percebemos que esse desvio não ultrapassa -300 se estas condições aparecerem de forma isolada. Desta forma, jà começamos, desde jâ, a ter o conceito de que a grande dica de um hemibloqueio anterior es querdo sera o encontro do eixo a lém desse valor. -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAP!TlA.O 5 - 15 J 8LOOLGOS OE RAMO Vamos tentar relacionar o conhecimento eletrocardiográfico recém-adquirido com a prática médica! A pergunta que se impõe nesse momento é "o que dev:emos fazer se nos depararmos com um ECG cujo tra çado configura um bloqueio de ramo?". Até porque é uma situação que certamente vai ocorrer conosco em algum momento (se é que já não ocorreu!). A prevalência dos blo queios de ramo aumenta consideravelmente com o avançar da idade, sendo inferior a 2% nos pacientes com 50 anos, mas atingindo os 18% naqueles com 80 anos de idade - em todas as faixas etárias, o BRD é mais co mum que o BRE. Isso é justificado especial mente pelas características anatômicas do ramo direito, que se assemelha a um "ma carrão", ou seja, é longo e fino, sendo mais susceptível a lesões. Mas, respondendo à pergunta in icial, deve mos fazer 2 avaliações dianie de um bloqueio de ramo: (1) investigar sua causa; (2) deter minar o prognóstico do paciente_ CAUSAS Q s bloqueios de ramo podem surgir em co rações normais ou associados a alguma do ença cardíaca estrutural, com destaque para: Cardiopatia lsquêmica A isquemia pode provocar lesão direta dos ramos direito e esquerdo, sendo ambos irri gados por ramos septais da artéria descen dente anterior (DA). Cardiopatia Hipertensiva A hipertensão arterial pode alterar a muscula tura do VE, inclusive do septo interventricular por onde passam os ramos direito e esquer do que podem ser danificados. • Ganham destaque também situações que ele vam a pressão em VD, sobrecarregando esta câmara, o que pode provocar disfunção contrá- -··- MEOr:u:tRO :-lr': CAP!TlA.O 5 • 154 8LOOLGOS OE RAMO IH (cor pu/mona/e) e, o que nos interessa nesse momento, /es!lo do ramo direito: embolia pul monar, DPOC. Miocardiopatia Dilatada A alteração da musculatura cardíaca danifica a arquitetura normal do sistema dle condução por graus variáveis de fibrose. E veja que interessante: em um paciente com insuficiên cia cardíaca (I CC), a presença de BRE pode piorar a inda mais a ejeção do sangue ventri cular. Acompanhe o raciocínio: noBRE, como o VD é despolarizadoprimeiro, ele se contrai antes que o VE, o que atrapalha a dinâmica contrátil ventricular por fazer com que o sep to interventricular contraia alguns milissegun dos com antecedência em relação à parede livre do VE - é o chamado dessincronismo ventricular, que prejudica ainda mais o de sempenho cardíaco, exacerbando os sinto mas de disfunção miocárdica. Esse é um fenômeno interessante e deve ser levado em consideraç.ão na estratégia terapêutica desse grupo de pacientes. • Nesta situação. a estratégia de "Ressincroni· zação Card/aca" com um marca-passo biventri· cu/ar pode ser benéfica: são colocados cabos de marca-passo que despolarizam sim ultaneamen· te os 2 ventrlculos, fazendo com que ele voltem a contrair ao mesmo tempo. Veremos mais de· talhes sobre isso no Capitulo 11 dedicado aos marca-passos. Miocardiopatia Chagásica A Doença de Chagas, na sua fase crônica, pode induzir fibrose do tecido elétrico de con dução do coração. • Um conhecimento muito clássico é de que o BRD é o distúrbio de condução mais comumen· te observado no acometimento cardlaco da Do· ença de Chagas (40-60% dos cass), estando frequentemente associado ao hem/bloqueio anterossuperior esquerdo, que estudaremos no próximo capitulo. Cardiopatia Congênita Aqui as associações mais típicas são com BRD: comunicação interairial (frequente mente. o BRD é o único achado clinico que sugere a presença de tal malformação) , Do- ença de Ebstein, Tetralogia de Fallot, per sistência do canal arterial, comunicação in terventricular e a transposição dos grandes vasos. Em sua maioria, são situações que sobrecarregam o VD, o que pode provocar lesão do ramo direito. Distúrbios Degenerativos do Sistema de Condução (Doença de Lev-Lenegre~ A Doença de Lev-Lenêgre é uma condição que progressivamente gera fibrose e calcifi cação de todo sistema de condução card ia co (por isso são também associados a bloqueios atrioventriculares). Embora com frequência seja utilizada uma denominação única, a do ença de Lev é referida como "esclerose da parte esquerda do esqueleto cardíaco· por iniciar com calcificação do anel mitral e aór tico que, em seguida, progride para o si stema de condução. Por outro lado, a doença de Lenêgre é um processo esclerótico primário já do sistema de condução. Outras causas que podem ser citadas: mio cardite, valvopatias e miocardiopatias infiltra tivas (amiloidose, hemocromatose, sarcoidose e Doença de Gaucher). PROGNÓSTICO - Pacientes com coração normal: prognóstico não se altera cem BRD, mas, com BRE, há maior desenvolvimento de doença cardiovas cular no futuro. - Paciente com cardiopatia estrutural: a pre sença de q ualquer bloqueio de ramo está associada à maior mortalidade (principal mente BRE). Essa associação de pior prognóstico com BRE justifica-se pelo fato da lesão do ramo direito ser mais fácil de ocorrer Qembre-se que, por ser um "macarrão", é mais susceptível a lesões). Assim, o BRD já é induzido por alterações pouco inten sas (e pouco graves), ou seja, com risco não tão atto de levar à mortalidade. Em contrapartida, como a lesão do ramo esquerdo é mais difícil, apenas condições já mais graves (e com maior mortalidade) conseguem induzir BRE. Em outras palavras, para uma cardiopaiia induzir bloqueio de ramo, ela já é de maior gravidade, especial mente para induzir BRE. MEOr:u: tRO -··-:-lr': CAP!TlA.O 5 - 155 8LOOLGOS OE RAMO Padrão de pseudo-BRD Existem síndromes arritmogênicas específocas com padrões elelrocardiográficos semelhantes ao B RD que serão detalhadas no Capítulo 14 de nosso material: ''Síndrome de Brugada" e "Dísp/asia Arritmogêníca do vo· (DAVD). São situações em que não há lesão no ramo direito - portanto não há BRD por definição, mas o QRS tem morfologia rSR' em V1. A razão para esse comportamento é uma alteração em canais de sódio da musculatura deVO em Brugada e uma substituição fibrogordurosa da musculatura de VD na Displasia Arntmogênica. A melhor maneira de termos a certeza de que estamos diante de um pseudo-B RD é encontrarmos as outras alterações eletrocardiográficas de cada uma destas sindromes. - Brugada: supradesnível do segmento ST com um aspecto descendente em V1 e V2. - DAVD: onda épsilon em V1 e V2 (deflexão anormal entre o final do complexo QRS e o início da onda T). Slndrome de Brugada ~ "" 1\ 1\ • . .. - . \ 1 Displasia Arritmogênica deVO ! ; ! I V1 : • ... \ ~ --"" :.'>. . I I v ~ v • v . - P I GURA 12: MEOEtE'IRO C.t.PilLl.O :5 - I .... _)I 8LOOLEiOS OE R.t. MO BAIXO, SEL f:CIO NAMOS A L GUNS EXERCÍC IOS PARA Q U E VOCÊ SEOIME: N TE, OE: M OOO OeFI N IT IVO, OS CONCEITOS OBTI OOS AO L ONGO 00 CAPÍTUL O E ít:NH A M A I S 'rRANQUI L I OAOe . SEGU RANÇA E 9ASE ,.~ÓRICA PARA AVAN Ç A R - C::..-' AC PR6XIM 0 T t:MA. MÃOS À Oâ~A! 1 -Quais são as principais características de um bloqueio de ramo de 3.0 grau (ou compl eto) ao ECG? A) QRS ~ 120 ms e inversão do ST-T em relação à orientação do QRS B) QRS com aumento de sua amplitude e duraçãopercor re miócito a miócito para chegar ao VE, gerando um outro vetor que aponta para este lado (mais uma vez na direção de V6). Por último, a parede do VE é despofariza da por completo, o que gera mais um ve tor para a esquerda (de novo apontando para V6). Como todos os vetores apontam para esta derivação, forma-se um padrão R puro. Resposta certa: letra 8. 4- Qual é o diagnóstic·o eletrocardiográfico? A) BRD incompleto. 8) BRD completo. C) BRE incompleto. O) BRE completo. E) Nenhuma das opções. Comentário: O ritmo é, mais uma vez, si· nu sal (onda P positiva em DI/ e seguida de QRS) e com frequência de 75 bpm. É fácil perceber que o complexo QRS está gros- seiramente alargado (em torno de 160 ms - 4 quadradinhos) ... Já sabemos que será um bloqueio de ramo completo! BRD ou BRE? Observe o padrão rS em V1 (também presente em V2): uma pequena e discre tíssima onda r (positiva) seguida de uma profunda e alargada onda S ... Já em V6 (e também nas derivações esquerdas: VS, DI e aVL) temos o padrão de R puro! São as "marcas" doBRE. Resposta certa: letra D. MEOEtE'IRO 5- Qual é o diagnóstico eletrocardiográfico? CAPil"'-0 5 - I w J 8LOOLEiOS OE R.t. MO .I Vl 1.,.._, 11 t A) 8RD incompleto. 8) 8RD completo. C) 8RE incompleto. D) 8RE completo. E) Nenhuma das opções. Comentário: O ritmo é sinusal com fre quência cardíaca em torno de 65 bpm. Em V1, percebe-se o padrão rSR' e, em V6, um discreto alargamento da onda S. Isso é BRD! Como não há alargamento do QRS (não chega a 120 ms) e nem mesmo opo sição de ST-T com relação ao próprio QRS, não pode ser BRD completo (3° grau). Fi camos então com o diagnóstico de BRD incompleto. Para sermos mais precisos, como R' > r, temos um BRD de 2° grau. Resposta certa: letra A. 6 - Qual é o diagnóstic,o eletrocardiográfico? A) 8RD incompleto. 8) 8RD completo. C) 8RE incompleto. D) 8RE completo. E) Nenhuma das opções. Comentário: Vamos á análise ... O ritmo é sinusal (onda P positiva em DI/ e segui da sempre de um complexo QRS) e ta quicárdico (frequência cardíaca um pou co acima de 100 bpm). É simplesmente uma taquicardia sinusal. Percebemos as grandes "marcas" do BRD: (1) V1 com padrão rSR'; (2)V6 (assim como VS, DI e MEOEtE'IRO aVL) com um claro alargamento da onda S. Verifique que o QRS está alargado (exatamente em 120 ms) e repare na po· laridade invertida do ST-Tem compara· CAPil"'-0 5 - I w J 8LOOLEiOS OE R.t. MO ção com o QRS- isso fica evidente em V1. Ficamos então com o diagnóstico de BRD completo (ou de 3° grau). Resposta certa: letra B. 7 - Qual é o diagnóstic,o eletrocardiográfico? A) BRD incompleto. 8) BRD completo. C) BRE incompleto. O) BRE completo. E) Nenhuma das opções. Comentário: Vamos interpretar este ECG! O ritmo é sinusal; frequência cardíaca em torno de 93 bpm e eixo do QRS pró ximo de +300 ... Não há alterações de onda P ou mesmo do complexo QRS ... Não existe achado nenhum de bloqueio de ramo. Um ECG absolutamente normal! Resposta certa: letra E. 8- Avalie o eletrocardiograma abaixo e assinale a única característica dentre as cita· das que está ausente no traçado. ~~"1'-:aVR I ,4:N;1r-N-~r~~~h-H ~J~~I"''V2 N NI":>--.J'\W'III\.rv,~w..w ~~~~•VF~~~~~~~~~l~ ~~~·\z~~::J.L~~J:~ A) Bloqueio de ramo direito. 8) Taquicardia sinusal. C) Desvio do eixo para a esquerda. D) Padrão RSr' em V1. E) Bloqueio de ramo incompleto. MEOELE'IRO Comentário: Ótima questão para agregar conhecimento .. . Vamos usar tudo que aprendemos até aqui/ Vamos à frequên· c ia: poderíamos usar qualquer derivação, mas utilize o Dl/longo (última derivação no traçado) e observe que os complexos QRS estão espaçados praticamente por 2 quadradões, isto é, a frequência gira em torno de 150 bpm (está taquicárdico!). A onda P é positiva em DI e Dlf e sempre seguída de complexo QRS, logo o ritmo é sinusal ... Isso é uma taquicardia sinusa/ (letra 8 certa). Vamos ao eixo da ativação CAPiTl.0.0 5 - I ) BLOOLEiOS OE R.t. MO ventricular: DI e aVF positivos configuram um eixo entre o• e +90°, ou seja, não há qualquer desvio (letra C errada). Em V1, verificamos o padrão clássico do BRD (RSr'), bem como um discreto aumento da onda Sem VS e V6, também compatível com tal bloqueio. Como o complexo QRS não está alargado, assumimos que existe um BRD incompleto (letras A, D e E cer tas). Para sermos um pouco mais preci sos, o encontro de R > r ' caracteriza um BRD ainda de t• grau ... Resposta a ser marcada: letra C. MEOr:u: tRO íi Cód. 301c5r -··-:-lr': CAP!TlA.O 5 - 161 8LOOLGOS OE RAMO Para visualizar os gabaritos acesse a imagem com seu respectivo código alfanumérico disponibilizado na área restrita de nosso portal na internet ou leia o código através do MEDCODE. Cód. 301c5r osR' COM R' ALARGADA $ALARGADA PADRÃO QS OU RS AUSÊNCIA DE Q R PURA ALARGADA MEOElEl'R.ó CJoPiTU.O .s- 16 2 BLOOLEtOS oe RA.t.to SITUAÇÃO O I 1 - Qual é a alteração presente no eletro· cardiogramá atual? Dona Maria, uma senhora de 73 anos, porta dora de diabetes e dislipidemia, faz acompa nhamento médico regular em uma Clinica pró xima a sua residência, onde lhe foi solicitada a realização de um eletrocardiograma pelo novo cardiologista do local. A este, Dona Maria avisa que trouxe o exame realizado há 2 anos, onde, segundo lhe informaram, existia uma "atteração zinha". Apreensiva, ela agora quer saber se o novo eletrocardiograma está normal... BeATU•• 2 - Houve alguma alteração em compara· ção com o eletrocardiograma realizado 2 anos antes? RO ANIIOO ta UtD- :,~.~ ~~~l't-V- 4 '~,....,-.IIi-11 :~ ~ •r VLI ~ r\ ~JJ ~~ 0111 i '"""'""' r VF J 3- Qual é a mais provável causa da alte· ração eletrocardiográfica encontrada? ELETROCARDIOGRAMA NA PRÁTICA Sjtyaç;lo 1 1· Bloqueio de Ramo Direito çompleto (ou de 3" grau). 2· Evolução do BRD: inçompleto (2" grau) para completo (3"grau). J. Doença de Lev-Lenégre. MEom .. o : .. ~ SITUAÇÃO ô2 ~ CAP~ws•sy!OpMfdlO.§ot,all~ '!l"·'i"~~'i!laWJll&lat~~'!lWI'~ ,., .• I)WIWIQtÇ~Af.~ l-.~~À't~ tar'*!:!JW}atll!!.-J!I, FIGURA 1: AS RAMIF"ICAÇÕES DO CIRCUI TO EL~ÉTR!CO CARDÍACO, C omo estudado no capítulo anterior, o ramo direito segue seu trajeto até o miocárdio da parede ventricular sem sofrer ramificações significativas, enquanto o ramo esquerdo logo emite 2 fascícu los principais: o anierossupe rior e o posteroinferior. Na realidade, hoje, sabemos que as subd ivisões deste ramo apresentam muitas variações anatômicas: fascículos mais ou menos espessos, mais ou menos longos, e certas pessoas possuem também um fascículo médio-septal ou ante romedial (Figura 1). Os mecanismos de lesão mais comuns destes feixes são por fibrose ou necrose. 164 -··- MEOr:u:tRO :-lr': CAPIT'-'-06- 165 HEI.IIBLOOUEIOS ou Bt.OOOEIOS fASC.CUlARES Muitos autores se referem aos fascículos como "divisões·, de modo que não é incomum encon· trarmos denominações do tipo: divisão ante rossuperior do ramo esquerdo; divisão poste roinferior do ramo esquerdo ... Por conta disso, os hemibloqueios são também chamados de bloque·ios fasciculares ou, até mesmo, blo queios divisionais. Existe alguma " dica" eletrocardiográfica da ocorrência de um HEMIBLOQUEIO? Não exatamente ... Vimos que os bloqueios de ramo tinham "marcas· eletrocardiográficas exa tamente por existir a necessidade do estímulo elétrico atravessar o septo interventricular miá cito a miócito (salto de onda), o que implicava no alargamento do complexo QRS. Já, nos hemibloqueios, o impulso elétrico con segue descer através dos ramos - ou através de parte deles - de forma que não se fará necessário atravessar o septo para despolarizar toda a massa ventricular do lado oposto. Assim, o com plexo QRS não está. a prjncjpjo. alargado. I SINÔNIMOS DE UMA MESMA ALTERAÇÃO: - Hemíbloqueío - Bloqueio fascicular - Bloqueio divisional ' rníílillJ®MiiJlWl ' 'Mll\~1 :-.J:f~ tlll = ~r~J'tNr~~!!l ~EJ:~.J'.~]'~.;J ... ~LJ'bl Considerado o "Descobridor dos Hemibtoqueios", Dr. Rosenbaum nasceu em 1921 em Carlos Casares-província de Buenos Aires - e faleceu aos 81 anos em 4 de Maio de 2003. Na Argentilla, ele observou, na Doença de Chagas, um importante mo delo experimental de desordem na cor~dução intraventricular, de modo que, na época, formulou e confirmou a hipótese da existéncia de 3 fas cículos para condução do impulso elétrico que poderiam ser bloqueados de forma independente: o ramo direito, a divisão anterossuperior do ramo esquerdo e a divisão posteroinferior do ramo esquerdo. A estes bloqueios independentes dos fascículos à esquerda, ele deu o nome de hemiblo queios, escrevendo em 1967 um livro dedicado a eles. O que sempre aumentou exponencialm ente a admiração do meio cien tífico com relação a este argentino foi a sua origem humilde e de poucos recursos. Em v irtude disso, Dr. Rosenbaum gostava de repetir que "quando se é de um país menos influente do Hemisfério Sul, você- pre cisa de imaginação e tenacidade para alcançar o sucesso". Não há duvida de que ele teve ... HEMIBt.:DQUEID :A:NTERfOR ESQUERDO HB:A:E FISIOPATOLOGIA E ATIVAÇÃO VENTRICULAR Q bloqueio do fascículo anterossuperio r gera o distúrbio de condução ventricular denomi nado Hemibloqueio Anterior Esquerdo (HBAE) ou Bloquei o D iv is iona l An leroSsu perio r (BOAS), que é um dos bloqueios intraventri culares mais comuns devido à natureza mais delicada de sua estrutura. Além de ser um fascículo mais fino, sua localização cruzando o trato de saída do ventrículo esquerdo facili ta a lesão pelo próprio fluxo sanguíneo. -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAPIT~.é fundamen tal para entender como se comporta o eixo do complexo QRS na vigência de HBAE, que, sem dúvida, é o principal critério eletrocardiográfico. O segundo vetor gerado na presença deste dis túrbio de comlução é o principal determinante do eixo médio d a ativação ventricular, que se toma desviado para esquerda. necessariamente ultra passando -30° (OI positivo, aVF negativo e 011 negativo). Neste aspecto, existe alguma contro vérsia na l~eratura quanto ao ponto de corte do para se caracterizar o diagnóstico de HBAE, pois alguns autores, como a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), utilizam -45° ao invés d e -300. Com um corte de -45°, o diagnóstico fica mais específico e menos sensível. Na prática, um eixo do QRS além de -300 deve, no mínimo, sugerir a presença d e HBAE. (Tabela 1). EIXO ALÉM DE -30° É O PRINCIPA L CRITÉRIO ELETROCARDIOGRÁFI CO PARA O DIAGNÓSTICO DE HBAE• Conclusão· DI+ I Dll-/ aVF- "A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) con sidera o ponto de corte em -45°. OUTRAS CAUSAS OE DESVI O 00 E I XO 00 Q R 5 PARA E SQU EROA IAM Inferior Enfisema Pulmonar Ritmo de Marca passo com estimulação do ápice doVD Síndrome de Wolff-Parkinson-White Hipercalemia Cardiopatias Congênitas (atresia tricúspi'de, CIA, CIV) TA BEL A 1 . RS NAS DERIVAÇÕEs oA PAREDE INFER IOR cou, 0 111 "A ~Sobrecarga deVE" e a "Horizontalização .. consü· E AV Ft coM oNoA s EM 011 1 MAJOR Q U E EM ou : 12> tuem situações com tendéncia do eixo para a esquer· QR N A S DERI V AÇÕES E S QUERDAS CO I E AVU. da,. mas nãO chega a Ultrapassar .3()0, -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAPIT~.OndaS em 011 Presença de onda Sem VS e V6 -• Outros achados poss/vets: redução da amplttude da onda R em V5 e V6 e tempo de ativação ventncu/ar 'f '. i • ! ' ' t ' - d I I. .r: -te= ..,b; fu t i . . H· L T . J-L' FIGURA 8 .. HBAE NO PLANO HORIZONTAL: POUCA PROGRESSÃO DA ONDA R E PRESENÇA DE ONDAS A T É V •6. -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAPIT"'-06· 169 HEI.IIBLOOUEIOS ou Bt.OOOEIOS fASC.CUlARES Veja um exemplo clássico abaixo ... F I GURA 9. D IAGNÓSTICOS D IFERENCIA IS Dois aspectos interessantes dos hemiblo queios de uma forma geral são as doenças que eles podem simular e os seus efeitos so bre as manifestações de outras patologias associadas. Alterações s imuladas pelo HBAE ROTAÇÃO ANTI-HORÁRIA No plano frontal, o padrão morfológico 01 S3 pode simular uma rotação anti-h orária do coração (capítulo 3), sendo o desvio do eixo para esquerda além de -30° um importante fator diferenciador, uma vez que, nesta rotação isoladamente, este n ivel de desvio não ocorre. SOBRECARGA DEVE ! PLANO FRONTAL} Outro diagnóstico que pode ser erroneamen te feito é o de sobrecarga deVE (capítulo 4) pelos critérios de Cornell (RaVL + SV3 > 20 ou 28 mm) ou de Gubner (R1 + S3;;, 25 mm), devido à onda R ampla de OI e aVL e onda S profunda de 0111 que acompanham o HBAE. Neste caso, o escore de pontos de Romhilt -Estes é útil para fazer o diagnóstico diferen cial, uma vez que ele utiliza ou!Y'os critérios além da amplitude do QRS. I NFARTO As ondas q observadas em DI e aVL podem simular um infarto lateral, apesar dos critérios definidores de uma onda q de necrose (dura ção> 40 ms e/ou amplitude >1/3 da onda R em no mínimo duas derivações de uma mes ma parede - capítulo 12) raramente estarem presentes no hemibloqueio isoladamente. Efeitos do HBAE Sobre Outros Diagnósticos SOBRECARGA DEVE ! PLANO HCJRIZQNTAU A sobrecarga de VE. que pode ser erronea mente diagnosticada no plano frontal na vi gência de HBAE, pode não ser identificada no plano horizontal pelos critérios de amplitude quando ela realmente estiver presente. Isto ocorre devido à redução da amplitude da onda R em VS e V6, associada a um aumento con comitante d.a onda S. Desta forma, o critério de Sokolow-Lyon poderia ser prejudicado (menos sensível), assim como o escore de pontos, que considera a amplitude da onda R ;;, 30 mm ne·stas derivações como um critério maior. Este conceito apresenta grande impor tância, pois este hemibloqueio frequentemen te está associado à sobrecarga de VE, cuj o diagnóstico deverá ser buscado por diversos critérios diferentes nesta s ituação. SOBRECARGA DEVO Por outro lado, a sobrecarga de VD pode difi cultar o diagnóstic-O de HBAE no plano frontal por desviar o eixo médio do QRS para d ireita, neutralizando os efeitos do hemibloqueio so bre o eixo. Entretanto, um fato que deve ser percebido é que, como a sobrecarga de VD provoca um a rotação horária do c.oração no plano frontal (ver capítulo 4), espera-se a for mação de um padrão S1Q3, com uma onda r na parte final das derivações inferiores (prin cipalmente 0111 ). Quando, houver evidências desta sobrecarga associada a uma onda q em DI e aVL e uma onda r inicial em 0111, significa que o começo da ativação do VE está d irecio nado para baixo e para esquerda ( despolari zação rápida pelo fascículo posteroinferior). Isto não só é incompatível com uma rotação horária, como sugere exatamente o oposto. Assim, estas morfologias poderão ser as úni cas evidências de um atraso da condução pelo hemifascículo anterossuperior na presença de uma sobrecarga do VD. -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAPIT,.,06- 170 HEI.IIBLOOUEIOS ou Bt.OOOEIOS fASC.CUlARES I i 1 DA.~ CD, Cc>loniN- •.r-......_..._., J.f-- F"IGU R A 1 O : SUPRI MENTO ARTERIAL DOS FAS C Í CULOS À ESQUERDA. IMPLICAÇÕES CLINICAS Inicialmente, é importante ressaltar que o HBAE pode ser encon trado em ind ivíduos saudáveis. Na população geral, a incidência deste hemibloqueio varia de 0,9 a 6,2% e não confere um maior risco de morbimortalidade cardiovascular. Com re lação às patologias, sabemos que, devido às suas propriedades anatômicas, o fascículo anterossuperior podeser lesado por doenças que acometem o trato de saída do VE, a parte anterior do septo interventricular ou a parede anterolateral. A hipertensão arte rial e as valvopatias áorticas, apresentam este potencial pela sua capacidade de modificar estruturalmente o VE, provocando hipertrofia e áreas de fibrose. A doença isquêmica tam bém é uma causa importante de HBAE, assim como as miocardiopatias, especialmente a chagásica. Em pacientes idosos, a Doenças de Lev- Lenêgre é uma possível etiologia de HBAE, como já era para os bloqueios de ramo. Nesse momento, é válido ressaltar alguns pontos específicos sobre a doença isquêmica e a Doença de Chagas .. . I NFARTO O HBAE é observado em cerca de 4% de todos os infartos, sendo o distúrbio de condução in traventricular mais comum relacionado ao in farto de parede anterior. A irrigação deste he mifascículo é feita basicamente por ramos septais da artéria descendente anterior, justifi cando a sua alta susceptibilidade à isquemia, uma vez que não possui um múltiplo suprimen to arterial. Porém, é interessante nota r, pela Figura 10, que a ocorrência deste hemibloqueio em um cenário de síndrome coronariana aguda não parece determinar um prognóstico ruim, uma vez que, ao ter um suprimento arterial simples e único, basta um infarto de tamanho pequeno para induzir tal tipo de lesão. DOENÇA DE CHAGAS A doença de Chagas deve sempre ser lembra da como uma possível etiologia de um IHBAE, principalmente quando houver um BRD asso ciado. O BRD é o distúrbio de condução mais comum da miocardiopatia chagásica (40 a 60% dos casos) e cerca de 50% destes pacientes também apresentam acometimento do fascí culo anterossuperior. Estes distúrbios de con dução podem surgir numa fase ainda assinto mática da doença, mesmo sem haver doença estrutural detectável. O mecanismo responsá vel é a fibrose do sistema de condução. ATENÇAOIII HBAE + BRD: Pensar sempre em DOENÇA DE CHAGAS PRINCIPAIS CAUSAS OE H BAE Hipertensão Arterial Sistêmica Coronariopatia Doença de Chagas Valvopatia aórtica Doença de Lev-Lenêgre TABEL A 3 , -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAPIT'-'-06- 171 H EI.IIBLOOUEIOS ou Bt.OOOEIOS fASC.CUlARES HEMIBt.:OQUEIO POSTERIOR ESQUERDO !HBP ) FIGU R A 1 1. FISIOPATOLOGIA E ATIVAÇÃO VENTRICULAR O bloqueio do fascículo posteroinferior gera o distúrbio de condução ventricular denomi nado IHemibloqueio Posterior Esquerdo (HBPE) ou Bloqueio Divisional Posterolnferior (BDPI), no qual a ativação ventricular ocorre de forma exatamente oposta ao que foi des crito para o HBAE. Assim, as primeiras regiões a serem despola rizadas neste caso são aquelas supridas dire tamen te pelo hemifascículo sem lesão, ou seja, as paredes anterossuperior e lateral do VE. Es.te evento gera um 1 • vetor direcionado para cima, para frente e para esquerda (cerca de -60°) durante os primeiros 40 ms do pro cesso. Consequentemente, a parede infere posterior é despolarizada mais tardiamente (além de 40 ms) pela condução do estímulo através de conexões entre as redes de Pur1 +120.). • Vale notar que é configurado, no plano frontal, o padrão de S1q3 (ondaS em DI e onda q em D/11), classicamente relacionado à rotação horá ria do coração. Entretanto, neste caso, a rctaçt!o ocorre com a alça de ativação, não estando re lacionada com a posição anatômica do coração dentro do tórax. Perceba, neste momento, que as morfolo gias descritas nas derivações esquerdas (rS) e inferiores (qR) no HBPE (Figura 15) cor respondem, respectivamente , àquelas en contradas nas derivações inferiores (rS) e esquerdas (qR) no HBAE, pois os dois dis túrbios produzem alças de ativação exata mente opostas. Outra característica fundamental do H BPE no plano frontal é o desvio do eixo médio do QRS oara d jrejta, geralmente além de +90° (DI negativo, aVF positivo) e eventual mente acima de +120° (aVR positivo). Este desvio é consequência do segundo vetor que, por possuir uma maior amplitude, tende a ser o principal determinante da orientação média da ativação ventricular. Entretanto, esta ca racterística não é exclusiva do HBPE, poden do estar pre·sente em outras cond ições ainda mais frequentes, como o BRD e a sobrecarga do VD (tabela abaixo). O U T RAS CAU SAS OE DESVIO 00 E I XO DO QRS PARA D IREI T A Infarto Lateral I Embolia Pulmonar Pneumopatias Crônicas (ex.: DPOC) I Sfndronne de Wolff-Parkinson-White com via acessória à esquerda Sobrecarga do Ventrieulo Direito Dextrocardi a Cardiopatias Congênitas (ex.: CIA, Doe•nça de Ebstein) Verticallzação (não ultrapassa +120°) TABELA 4. Enquanto o HBAE é uma causa frequente de desvio do eixo para a esquerda, o HBPE é uma causa rara de desvio do eixo para a direita ... De um modo geral, existem 3 prin cipais causas de desvio do eixo para a di reita em adultos: Sobrecarga de VD, infarto lateral e HBPE, sendo este último um diag· nóstico de- exclusão. -··- MEOr:u:tRO :-lr': CAPIT'-'-06- 173 H EI.IIBLOOUEIOS ou Bt.OOOEIOS fASC.CUlARES F I I3UR.A 1 5 ~ H B P E N O P L A NO F'RO NTAL: C 1 ) Q R N A S DER I V A Ç ÕES DA P A REDE t N F'ERIOR (011 , 0 111 E AVF ) C O M ONDA R EM 0 11 1 M A IOR Q U E EM 011 ; C2 ) RS NAS OERt VAÇÕES ESQUER D AS ( 0 1 E AVL). Plano Horizontal Nas derivações precordiais, as mudanças não são grosseiras e, por isso, possuem menor importância diagnóstica. Entretanto, o seu entendimento é válido por possibilitar a reali zação de diagnósticos diferenciais com outros distúrb ios. A orientação do 1 • vetor para cima e para esquerda resu lta na diminuição ou mesmo desaparecimento da onda r de V1 e da onda q de V5 e V6. Além disso, a orientação do 2° vetor para baixo e para direita resulta num nnenor crescimento da onda R ao lon go do plano horizontal, assim como a redu ção de sua amplitude em V5 e V6. Por este mesmo motivo,a onda S tende a permane cer a té as precord iais esquerdas (Figura 16), dificu ltando ainda mais o diagnóstico diferencial com a sobrecarga de VD, além de mascarar uma possível sobrecarga de VE associada. Outros Achados Assim como no HBAE, a duração do QRS, o tempo de ativação e a repolarização ventricu lar também podem ser afetados. A duração total da despolarização ventricular aumenta pouco e raramente ultrapassa 1 00 ms, sendo consequência da ativação anôma la e tardia da região posteroinferior do VE. O TAV caracteristicamente aumenta em 0 111 e/ ou aVF (;, 45 ms), por estas derivações "visu alizarem· melhor a região posteroinferior (onde a ativação está atrasada) e por estarem no final da alça de despolarização. O TAV deverá ser maior nestas derivações do que em V6. Por último, a onda T pode sofrer alterações secundárias que dependem do grau de aco metimento do hemifascículo, mas ainda assim permanece com sua morfologia assimétrica. Reveja, na tabela abaixo, os critérios sugesti vos HBPE isolado no ECG (em negrito, as alterações mais importantes). FI GURA 1 6 • H BPE NO P L A NO HORI ZONTA L : POUCA P R OGR E SSÃO D A O N D A R E P R ESENÇ A DE OND A S ATÉ VS ( E E V E NTUAL MENTE V 6 ). -··- MEOr:u:tRO :-lr': CAPIT'-'-06- 174 H EI.IIBLOOUEIOS ou B t.OOOEIOS fASC.CUlARES HEMIBLOQUE-10 POSTERIOR ESQU ERDO (CRI TÉRIOS) Desvio do eixo do QRS para direita além de +90° (geralmente em torno de +12o•; Ausência de outra explicação para o desvio do eixo para a direita (ex.; HVO) QRS estreito Onda R em 011 Presença de ondaS em V5 (e V6) • Outros achados posslveis: reduçfJO da amplitude da onda R em VS e V6 e tempo de ativação ventricular « 45 ms em DI/ e/ou aVF. T ABEL A 5 . D IAGNÓSTICOS D IFERENCIAI S Alguns autores acreditam que o diagnóstico eletrocardiográfico de HBPE é apenas presun tivo, uma vez que existem diversas outras condições que podem desviar o eixo do QRS para direita. Assim, é sempre importante que os dados clínicos do paciente sejam levados em consideração, além de ser necessário pesquisar as mudanças morfológicas no plano frontal para que se possa determinar a orien tação da alça de ativação ventricular. Alterações Simuladas pelo HBPE SOBRECARGA DEVO Por conta do desvio de eixo para a direita, a sobrecarga de VO é o principal diagnós- tico a ser diferenciado do HBPE e nem sem pre isto é possível somente através do ele trocardiograma. No plano frontal, o que deve chamar a atenção é a orien tação dos veto res terminais, que, no HBPE, resulta numa onda R que aumenta de 011 para 0 111, além de não haver uma onda S nessas deriva ções. A sobrecarga do VO não apresenta estas propriedades. A lém disso, as precor diais direitas também podem ajudar, pois uma onda R ampla em Y1 - uma vez afas tado BRO - tende a favorec-er o diagnóstico de sobrecarga do VO. A ondaS aumentada em V5 e V6 pode ocorrer nos dois casos e não ajuda no diagnóstico diferencial. Por último, uma sobrecarga do átrio direito as sociada poderá ser um sinal indireto de acometimento do VO. FIGURA 1 7: PADRÃO S 1 Q3T 3 ( OU SI N A L DE MCGINN•W H t TE) SUGERE E MBOLIA PU L MON AR - O N DAS EM OI, O N DA Q EM 0111 E INVERSÃO DE ONDA. TEM 0111. ROTAÇÃO HORÁRIA No plano frontal, outro diagnóstico que deve ser lembrado é a rotação horária do coração que também cursa com um padrão S1-Q3, além de poder esiar associado a.o desvio do eixo para direita e à transição tardia do QRS nas precordiais. Assim, a diferenciação deste fenômeno com um HBPE isolado pode não ser possível . I NFARTO O infarto de parede lateral poderá desviar o eixo elétrico para direita ao amputar a onda R de OI, produzindo um padrão QS. -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAPIT'-'-06· 175 HEI.IIBLOOUEIOS ou Bt.OOOEIOS fASC.CUlARES Entretanto, este diagnóstico é facilmente dife renciado do HBPE porque não serão represen tadas as ondas correspondentes aos dois veto res principais que caracterizam o hemibloqueio. EMBOLIA PULMONAR Outro diagnóstico importante de ser lembra do quando ocorre um desvio do e ixo do QRS para direita no plano frontal, associado à presença de ondas S e Q proeminentes em DI e 0!11 respectivamente, e ainda com uma inversão da onda Tem Dlll, é a embolia pul monar. Este é o clássico padrão conhecido como S1Q3T3, ou sinal de McGinn-White (Figura 17) , que nem sempre resulta num desvio do eixo médio e cuja especificidade para ta l d iagnóstico é baixa. Entretanto, a suspeita aumenta se houver sina is de sobre carga de VD, principalmente o strain nas derivações precordiais direitas, o que tende a ser um sinal indireto de uma embolia de grande monta. Efeitos do HBPE Sobre Outros Diagnósticos Devemos sempre estar atentos aos efeitos dos hemibloqueios sobre o rendimento diagnóstico de outros distúrbios no eletrocardiograma. SOBRECARGA DEVE A sobrecarga ventricu lar esquerda tem re conhecimento dificu ltado pelos. efeitos do HBPE sobre a amplitude das principais on das utilizadas nos critérios de amplitude. A redução da onda R de DI e aVL e da onda S de D I II no plano frontal e da onda R de VS e V6 no plano frontal, reduz a sensibilidade dos critérios de Sokolow-Lyon e Cornell. Mesmo o escore de pontos de Romhilt-Estes é prejudicado, pois o eixo desviado para direita e as alterações secundárias da onda T afetarão a análise dos critérios. Resta so mente a sobrecarga do átrio esquerdo como um sinal indireto na ausência das alterações clássicas do QRS. Perceba que- o diagnós tico pelos critérios de amplitude tornou-se menos sensível, mas ainda com a mesma elevada especificidade. Portanto, se estive rem presentes, deverão ser valorizados. I NFARTO No capítulo 12, veremos que os infartos antigos geram uma onda q grande (chamada de onda q patológica) na parede infartada. Pois bem, eventualmente, o HBPE pode ocultar as ondas q patológicas de um infarto de pare-de inferior. Isto acontece porque logo após os primeiros 40ms, as resultantes vetoriais já apontam em dire-ção às derivações inferiores, na presença deste hemibloqueio. Assim, há uma redução da amplitude e duração da onda q e um aumento da onda R em DI I, Dlll e aVF (Figura 18). F"IGURA 1 B: HBPE PODE 0 1.,-f CULTAR O D I AG• N ÓSTICO DE INFARTO OE PAREDE IN F'ER IOR - MAIS DETALHE S NO CAPÍTULO 1 2. IMPLICAÇÕES CLINICAS O HBPE isolado é o distúrbio de condução in traventricula r mais raro graças à baixa vulnera bilidade do fascículo posteroinferior. Esta pro priedade é consequência de sua localização afastada do t rato de saída do VE (menor turbu lência sanguínea), maior espessura, menor comprimento e dupla irrigação sanguínea, re cebendo sangue tanto da artéria descendente anterior (que é ramo da coronária esquerda) quanto da coronária direita (Figura 10). Portan to, quando este hemifascículo é lesado, existe uma grande probabilidade de já haver um aco metimento do ramo direito (o mais vulnerável) e até mesmo do fascículo anterossuperior. O que mais se observa na prática é a associação do HBPE com o BRD, sendo a lesão do fascí culo posteroinferior, em geral, já um sinal de bloqueio atrioventricular total (BAVT) iminente. Na prática médica, dificilmente nos depa ramos com HBPE puro: o mais comum é seu aparecimento em conjunto com IBRDI -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAPIT'-'-06· 176 HEI.IIBLOOUEIOS ou Bt.OOOEIOS fASC.CUlARES O HBPE é um sinal inespecífico de doença cardíaca e apesar do trabalho original de Rosenbaum (o "Descobridor dos Hemiblo queios") ter considerado a miocardiopatia chagásica a sua causa mais frequente, al guns autores reconhecem a doença corona riana como a etio logia mais comum. Vale ressaltar que uma importante razão para esta divergência é a diferença de pre·valência da doença de Chagas entre os países de onde os dados foram coletados. Apesar de sua baixa incidência(em torno de 0,5% dlos casos de miocardiopatia chagási- ca e doença coronariana), sua presença está relacionada a um pior prognóstico. Por exemplo, a associação de BRD com HBPE na evolução do infarto está relacionada a uma letalidade de 80-87% nas primeiras semanas após o evento. Isto é compreensí vel, uma vez que seria necessário um aco metimento no mínimo biarterial, já que, como dito, o fascículo posteroinferior apresenta dupla irrigação sanguínea. Outras etiologias menos frequentes incluem; doença de Lev-Lenegre, cardiopatia hiper tensiva e valvopatias aórticas. Desvio do QRS Esquerda (além de Direita (além de -30°) +90°) Estreito( S de qR (R de Dlll >R de DIIJ Dll) TABELA 6. A maioria dos auiores aiualmenie já admiie que o ramo esquerdo possa apresentar uma terceira divisão conhecida como fascículo ante- romedial (ou médio-septal), que desce pelo sep to interventricular. Alguns trabalhos chegaram a encontrar este ramo em 65% das pessoas. -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAPIT~. BRD* > BRE > HBPE "Alguns autores consideram BRO mais comum que o HBAE Existe nomenclatura especial para a associa· ção de bloqueios? Os termos mais consagrados referem-se à quantidade de fascículos acometidos, de for ma que se usa comumente a nomenclatura "Bloqueios bifascic.ulares e trifasciculares· . A definição clássica do BLOQUEIO BIFASCI CULAR refere-se aos distúrbios de condução abaixo do nado AV em que o ramo direito e um dos 2 principais fascículos do ramo es querdo (anterossuperior ou posteroinferior) são envolvidos. • Alguns autores (como a Sociedade Europeia de Cardiologia) incluem também nessa def/niçi!o o bloqueio de ramo esquerdo, pelo fato deste implicar no bloqueio de seus 2 fase/cu/os ao mesmo tempo. O termo BLOQUEIO TRIFASCICULAR é clas sicamente aplicado nos casos em que há um bloqueio bifascicular associado ao aumento do intervalo PR (que é a definição de bloqueio atrioventricular de 1° grau- assunto do capi tulo 10). • Alguns autores também incluem na definiçi!o da lesão tritasc/cular os casos que envolvem o blo queio do mmo direito e dos 2 fase/cu/os esquerdos ou mesmo o· bloqueio de mmo altemante (BRE alternando com BRD). Essa confusão de termos fez com que o con glomerado americano definidor de diretrizes cardiológicas (American Co/lege ofCardiology I American Heart Association I Heart Rhythm Society) recomendasse a abolição deles em 2009, mas, de qualquer forma, são termos já muito difundidos. Como reconhecer um bloqueio bifascicular? Inicialmente, devemos identificar a presença do BRD. Depois, é preciso verificar se existe des vio do eixo do QRS compatível com algum tipo de hemibloqueio ... No capitulo anterior, vimos que o BRD pode, eventualmente, até desviar oeixo para a d ireita, mas nunca para a esquerda! Isso facilita o diagnóstico de BRD + HBA.E, pois enc.ontraremos o eixo desviado para a esquer da (além de -30°). Mas acaba dificuttando o diagnóstico de BRD + HBPE, já que ambos têm a capacidade de desviar o eixo para a direita. Nesta situação, seremos obrigados a analisar a morfologia do QRS em 011, 0111 e aVF ... BRD + HBAE: A ASSOCIAÇÃO MAIS COMUM A associação de bloqueio do ramo direito com hemibloqueio anterossuperior esquerdo é a mais comum entre os distúrbios de condução intraventricular, sendo descrita em cerca de 1% de toda popu lação hospitalizada. Sua presença está frequentemente relacionada à Doenca de Chagas (até 40% dos casos) e doença coronariana, apesar de também ser observada nas doenças degenerativas do sisiem.a de condução (Lev-Lenegre ), cardio patia h ipertensiva, valvopatias aórticas e cardiopatias congênitas. A expli·cação mais coerente para a elevada incidência desta combinação de distúrbios é a proxim idade anatômica do ramo direito e do fascículo an terossuperior. A evolução para bloqueio atrio ven tricular tota l (BAVT) pode ocorrer em cerca de 11 % dos casos. Os achados e le trocardiográficos re·velam uma combinação das alterações relaciona das a cada distúrbio isoladamente. lsio ocor re porque, enquanto o HBAE modifica a parte inicial e intermediária do processo de -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAPIT'-'-0 6- 180 HEI.IIBLOOUEIOS ou Bt.OOOEIOS f ASC.CUlARES ativação ventricu lar, o BRD influencia as porções finais. Assim, as alterações apresen tam pouca superposição temporal. tendendo a respeitar uma sequência que é claramente identificada no traçado. risticamente desviado para a esquerda (além de -30°). Por último, como o plano horizontal é pouco influenciado pelo HBAE, as precor diais permanecem com o padrão de· BRD, revelando rSR' ou R puro entalhado em V1 (dependendo do grau de BRD) e onda S alar gada em V5 e V6 (Figura 19). O plano frontal mantém o padrão rS nas deri vações inferiores (com ondaS em Dlll >onda S em 0 11) e a onda q inicial em DI e aVL ca racterísticos do HBAE, além da onda S alar gada em DI consequente ao BRD. De qualquer maneira, o eixo do QRS encontra -se caracte- Vincul o cerebral: BRD com eixo desviado para a esquerda (além de -30°) = BRD+ HBAE Bloqueio Blfasclcular {8AO + HBAE) - - F"' GURA 1 9: ASS OCIAÇÃO DE BRO COM HBAE : tl) R P U R O E N T A LHADO EM VI (QUASE UM RSR'l, A L ÉM DE O NDA S LARGA EM V S E V6 SÃO D O BRO.; (2) D E SVIO 00 E I X O P ARA A ESQUE RDA IALÉM DE .. 300) 0 A L ÉM DE RS EM 011, 0111 E AVF' SÃO 00 HBAE. Enaltecido como o desbravador da "Doença de Chagas', Carlos Chagas nasceu em 1878 no município de Oliveira - Minas Gerais - e faleceu aos 55 anos em 8 de Novembro de 1934. Ele foi o primeiro e o único cientista na história da medicina a descrever, de modo integral, uma doença infecciosa: o patógeno (Trypanosoma cruzi - homenagem ao seu amigo Oswaldo Cruz), o vetor (barbeiro: Triatoma infestans), os hospedeiros, as manifestações clínicas e a epidemiologia. Publicou sua descoberta em 1909 denominando a doença de Tripanosomíase americana, mas Dr. Miguel Couto - então membro da Academia Nacional de Medicina - logo propôs o nome de Doença de Chagas. A repercussão da descoberta rapidamente ganhou o mundo e Carios Chagas foi agraciado com diversos prêmios e homenagens, chegando a receber duas indicações para o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina, mas não ganhou em nenhuma delas .. _ As questões parecem ter sido basicamente políticas: além da pouca credibilidade e respeito entre pesquisadores de países centrais em relação aos dos países periféricos, alguns médfcos brasileiros também rejeitavam as descobertas de Chagas! É como se diz: "A invej a de muitos anuncia o merecimento de alguns .. . ". -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAPIT'-'-06- 181 H EI.IIBLOOUEIOS ou Bt.OOOEIOS fASC.CUlARES BRD + HBPE ------------ Esta combinação é mais rara do que a anterior, entretanto já é mais frequente do que o HBPE isolado e está relacionada á miocardiopatia chagásica e doença coronariana. Na fase aguda do infarto, a ocorrência de BRD + HBPE é sinal de doença coronariana mais extensa, estand o associada a um pior prognóstico. lembra do motivo? Como o feixe posteroinfe rior tem dupla irrigação arterial (descendente anterior e coronária direita), é necessária uma doença isquêmica biarterial, portanto de maior gravidade para lesá-lo ... Apesar de o traçado apresentar características dos dois distúrbios de condução, com o HBPE alterando a parte inidal e média do QRS e o BRD, a final, neste caso há uma maior sobrepo sição dos dois eventos do que no B RD + HBAE. Como ficaria então o aspecto eletrocardio grãfico? Por conta do HBPE, o começo da ativação ventricular envolve a parte anterossuperior do VE seguida pela posteroinferior, d irecionando os vetores desta fase inicialmente para cima e para esquerda e, depois, para baixo e para a direita. No plano frontal, isto resulta nas co nhecidas morfologias qR nas derivações infe riores (com onda R de 0111 >onda R de 011 ) e rS nas esquerdas (OI e aVL). Em seguida, ocorre a despolarização do VO após o estímu lo atravessar o septo interventricular, com os vetores resultantes orientados para dire ita. O BRD não altera de forma s ignificativa estas morfologias relacionadas ao HBPE, pois este hemibloqueio já direcionava as forças vetoriais finais para d ireita. No plano horizontal, predominam as morfolo gias associadas ao BRD, porém com peque nas modificações consequentes ao HBPE. A onda q em VS e V6 não está presente pela ausência de formação do vetor do septo mé dio. Além disso, a onda S de VS e V6 poderá estar com sua amplitude reduzida, porque, apesar de ambos os distúrbios produzirem esta onda nas derivações precordiais esquer das, o BRD resulta numa orientação dos ve tores para cima, enquanto o HBPE os d irecio na para baixo. Ocorre assim um pequeno grau de antagonismo dos vetores finais relaciona dos aos dois processos. I Vínculo cerebral : BRD com qR em 011, 0111 e aVF = BRD + HBPE I BRD 2° grau + HBPE o ~ \'í'íJ m om m F"I GU R A 20: A SSOC I A Ç Ã O D E BR O C O M H BPE : { l t RSR' E M Vl , A L ÉM OE O N DA S LARG A EM V S E V6 S à O 00 B ROj ( 2 t Q R E M 0 111 E AVF S à O 0 0 HBPE, -··- MEOr:u:tRO :-lr': CAPIT'-'-06- 182 H EI.IIBLOOUEIOS ou Bt.OOOEIOS fASC.CUlARES BRE + HBAE & BRE + HBPE Estes d istúrbios não são comple tamente aceitos na l iteratura, pois algu ns autores acreditam não ser possível identificar um atraso na condução dos hemifascícu los es querdos na presença de um acometimento do próprio tronco do ramo esquerdo . Já ou tros autores afirmam ser possível que, no BRE, um dos fascículos estej a "mais bloque ado" do que o outro, causando um desvio do eixo do QRS para a esquerda (HBAE) ou para a direita (HBPE). • E interessante notar que. como n.a arquitetura elétrica do coração, o ramo esquerdo surge antes que seus fase/cu/os, o traçado e/etrocardiográfico da associação de BRE com um hemib/oqueio mostrará alterações induzidas pelo bloqueio de ramo no inicio da ativação ventricular, enquanto as alterações causadas pelo bloqueio fascicular serão percebidas melhor no final do QRS. B E +HBAE O BRE + HBAE é mais comumente observa do na doença coronariana e cardiopatia hí pertensiva. Neste traçado, as partes iniciais do complexo QRS apresentam evidências de BRE tal qual já conhecemos: ausência de onda q em DI, aVL, VS e V6 e redução ou amputação da onda r em V1, devido á falta do vetor do septo médio. Entretanto, enquan to noBRE isolado a região final a ser ativada é a parede latera l do VE, na presença de HBAE concomitante os últimos vetores são mais d írecionados para cima e para trás, de vido à despolarização tardia da região ante rossuperior. Isto produz um desvio do eixo do QRS no plano frontal para valores em torno de -45° a -60°e poderá resultar em pequenas ondas Sem VS e V6, que não são caracterís ticas do BRE, mas ocorrem no HBAE, como vimos no início do capítulo. São formadas também as morfologías rS em Dl t Dlll e aVF (com ondaS em DI II >ondaS em DI I), com patíveis com HBAE (Figura 21). Vínculo cerebral : BRE com eixo desviado para a esquerda além de -30° = BRE + HBAE BRE + HBPE O BRE + HBPE, além de também estar mais associado à cardiopatia isquêmica, segue o mes mo princípio fisiopatológíco do BRE + HBAE. Desta forma, o início da ativação ventrictJiar re flete os feitos do BRE e o seu final manifesta a presença de· um atraso maior através do fascí culo posteroinferior. Não há onda q em DI, aVL, VS e V6 (características doBRE), e as derivações inferiores revelam as morfologias qR (com onda R em Dlll > onda R em Dll) - características do HBPE. Entretanto, um dado que deve chamar a atenção no plano frontal é o desvio do eixo médio do QRS para direita (em tomo de +100°) devido à despolarização tardia da parede posteroinferíor. Esta propriedade do HBPE produzirá do is efei tos que podem confundir a interpretação do traçado se a análise não for feita de forma mi nuciosa. Primeiro, a morfologia do QRS em DI (e também em aVL) tenderá a ser predominan temente negativa (rS) modificando o aspecto clássico doBRE nesta derivação de R puro. Se as precordíaís não forem analisadas (V1 man tém o padrão OS ou rS doBRE), esta morfolo gia em DI poderá inclusive passar a impressão de um BRD. Segundo, poderá ser observada também uma pequena onda S nas derivações precordíais esquerdas (VS e V6). Veja na Figura 22 um traçado de BRE + HBPE. Note que DI apresenta um padrão su gestivo de BRD (rS), que não é confirmado no plano horizontal. O eixo está desviado para direita (+90° a +120°) e há ondaS em VS. Vínculo cerebrai :BRE com eixo desviado para a direita = BRE + HBPE -··- MEOr:u: tRO :-lr': ~ i r !' "'" ' OI aVR Vl/1 ..... lt ~ --~ ,.- >J "' :!::±::- ; ~ft ou •Vl V2A- 'Y "V • "' I v L I v v v - I ~'ih-(\.-., 1\: aVJ:_ J ON DA 8 EM 0111. BRE 3° grau+ HBPE :~ .~ ~ , :!lJ ~ ~ ~ ll~ ....... I /'- \ I \.I ..... fJ N J !-"" h/ rv I i\!AI ~ ·~ l f\!líl " ~ OOl !A 1\ IA li'\ .___.. / " __.., í -.. r' - ,(' ' I-' w ' I ./ L ' IV I FIGURA 22: ASSOCIAÇÃ-O DE BRE COM H BPE: () ) BRE: QS ALARGADO E M Vl + R PURA ALARGADA E M V6 ; 121 HBPE: QR EM 011 , 0111 E AVF'" CONDA R EM 0 111 > ON DA R EM 0111, -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAPIT'-'-0 6 - 184 H EI.IIBLOOUEIOS ou Bt.OOOEIOS fASC.CUlARES BLOQUEIO TRIFASCICULAR A combinação de BRD + HBAE (ou HBPE) + BAV de 1 • (intervalo PR > 200 ms) é co nhecida como bloqueio trifascicu lar. O tra çado apresenta evidências de um atraso da condução pelo ramo dire ito e pe lo fascículo anterossuperior (ou posteroinferior no caso de HBPE), além de um pro longamento do intervalo PR. Este intervalo re·presenta o tempo que leva para o estímulo chegar do nado s inusal até o miocárdio ventricu lar. Assim, o seu aumento na presença ode um atraso evidente através do ramo direito e de um dos hemifasciculos esquerdos é um sinal indireto de que o outro fascículo do ramo esquerdo também deverá estar com a con dução comprometida. F IG U R A Z 3: B l.O ii;IUEIO T R IFA S CI C ULAR: I 11 B RD 3 ° GRAU i CZ J H BAE C E IXO ALÉ M D E •3 Q OJ; ( 3 ) BAV 1 a G R AU (PR > 200 M S ) . Outras formas de bloqueio trifascicular in cluem: (1) Bloqueio de ramo altemante (BRE alternando com BRD em um mesmo traçado); .. B loquejos Bjfasçjçulares· (1) BRD + HBAE: (2) BRE + BAV de 1°grau (muitos autores não consideram tal associação). - Sinais de BRD: rSR' em V1 e onda S alargada em V6 - Sinais de HBAE: desvio do e ixo para a esquerda além de -30° (011 negativo); rS em 011, 0111 e aVF (com ondaS em 0111 >ondaS em 011) (2) BRD + HBPE: - Sinais de BRD: rSR' em V1 e onda S alargada em V6 - Sinais de HBPE: qR em 011, 0111 e aVF (com onda R em 0111 >onda R em 011) (3) BRE (classificação discutível: seria HBAE + HBPE) (4) BRE + HBAE (existência discutível): - Sinais de BRE: ondaS alargada em V1 (rS ou QS) e onda R pura alargada em V6 -Sinais de HBAE: desvio do e ixo para a esquerda além de -30° (011 negativo); rS em 011, 0111 e aVF (com onda Sem 0111 >ondaS em 011) (5) BRE + HBPE (existência discutível): - Sinais de BRE: ondaS alargada em V1 (rS ou QS) e onda R pura alargada em V6 - Sinais de HBPE: desvio do eixo para a direita; qRem 011 , 0111 e aVF (com onda R em 0111 >onda R em 011); DI perde o padrão doBRE e mantém o padrão negativo do HBPE (rS) - B loquejo s Trjfasçjçulares· (1) BRD + HBAE (ou HBPE) + BAV 1° grau: -··- MEOr:u:tRO :-lr': CAPIT'-'-06- 185 H EI.IIBLOOUEIOS ou Bt.OOOEIOS fASC.CUlARES - Sinais de BRD: rSR' em V1 e onda S alargada em V6 - Sinais de HBAE ou HBPE - Sinal de BAV 1 • grau: intervalo PR > 200 ms (assunto do capítulo 9) (2) Bloqueio de ramo altemante ou bilateral (BRE alternando com BRD) (3) BRE + BAV 1° grau (classificação discutível: seria HBAE + HBPE + BAV 1° grau) A s divisões do ramo direito em fascículos ocorrem mais tardiamente, de modo que seus bloque-ios fasciculares têm pouquíssimo inte resse prático. Iremos citá-los buscando a construção de um material didático completo dentro da eletrocardiografia ... Do ponto de vista de comportamento vetorial, os bloqueios divisionais direitos ·se asseme lham aos esquerdos. Com os fascículos à direita agora bloqueados, chama atenção a expressão de vetores terminais orientados para a direita, uma vez que não há oposição de forças esquerdas - parede livre de VE e regiões basais esquerdas já se ativaram. Este entendimento é importante porque o processo inicial de despolarização ventricular não so frerá modificações. Vale lembrar que, como nos demais bloqueios divisionais, não ocorre alargamento do QRS, o qual permanece onda S em D lll). A derivação aVR chama atenção por apresentar um QRS positivo com padr.ão qR, onde a onda R é inclusive mais espessa. O eixo encontra-se bastante desviado, orientan do-se entre -45° e -180°. -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAPIT~.o sítio de intera ção entre ambas fica escondido. Para todo problema tem que existir uma solução e aqui a solução chama-se cálcio! Ele altera a con- formação do complexo contrátil e consegue assim expor o sítio de ligação actina-m iosina. Para resumir, faz-se necessária a entrada de Ca .. na fibra cardíaca ... E a participação do potencial de ação nes sa história? Simples! Sabemos que as grandes áreas contráteis do nosso coração são os átrios e os ventrículos, que, como aprendemos ante riormente, apresentam potencial de ação do tipo "resposta rápida". Assim, naquela fase de platô (Fase 2), há um influxo de cálcio que já passa a interagir com toda maquinária contrátil. Além disso, o próprio influxo de câl cio induz uma organela intracelular chamada retículo sarcoplasmático - rica neste íon - a liberar mais cálcio para o interior da célula, o que intensifica a contração .. . Pronto, está feito o acoplamento excitação-contração! BAS S TEORIC)lo;S D A E L:ETROC A R lOGRA I A TEORIA DE D IPOLO A s bases celulares da geração e condução do impulso cardíaco já abordadas ainda não explicam como o eletrocard iograma seria capaz de registrar todos aqueles eventos. A teoria do dipolo é o elo entre a eletrofisiologia e o registro eletrocardiográfico. O dipolo é um conceito físico simples que representa um "sistema formado por duas cargas do mesmo valor, porém de polaridades opostas, sepa radas por uma distância qualquer". Se parar mos para pensar, um dipolo aparece na membrana da célula no momento da altera ção de sua polaridade pela formação do po tencial de ação! Concorda? Para não ficar qualquer dúvida, continue a leitura e observe a Figura 11. Jun ões Comunicantes F"'II3 UR A 1 1 : 0 V ETOR DI P OLO Q U E REP RES EN TA A D E S POLARf ZAÇÃO TEM O MESMO S ENTIDO DO P R Ó PRIO F'ENÔMENO OE OES POLARfZ A Ç À O. -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAP!TlA.O 1 - 17 ELETROf~OOV. CAAot.CA Conforme vimos anteriormente, quando a cé lula ca rdíaca está em repouso, a sua polari dade externa é posit iva em relação à interna. Porém, como estas duas regiões são separa das por uma barreira de alta resistência (mem brana celular), não há formação de uma cor rente elétrica entre elas. Entretanto, quando a célula é estimulada, sua superfície externa toma-se negativa em relação ao interior e, principalmente, em relação às célu las vizinhas que ainda não foram a tivadas. Assim, são formados djpolos entre a superfície da célula já despoladzada (negativa) e as células vizi nhas a inda em repouso (positivas). O dipo!o classicamente pode ser representado oor um vetor que oor convencão sempre apon ta para o lado das cargas posjtjyas Perceba que a propagação do estimulo elétrico célula -a-célula forma uma espécie de onda despola rizante que encontra áreas positivas pela frente (ainda não despolarizadas) e deixa um "rastro" de áreas negativas para trás. Ou seja, o vetor que representa a despolarização aponta no mesmo sentido do processo despolarizante. • A razão do vetor de um dipolo apontar sempre para o lado positivo tem um motivo físico: o que se movimenta e forma a corrente efétrica são os elétrons (cargas negativas), de modo que a orientação do vetor demonstra o sen6do destas cargas (do nega6vo para o positivo), que nada mais é que o senUdo da corrente elétrica. O eletrocard iograma, ao utilizar eletrodos que detectam esse comportamento elétrico, é capaz de medir estas resultantes vetoriais a cada momento da ativação cardíaca, representando -as na forma de ondas, intervalos e segmentos. Percebemos, pelo comportamento do potencial de ação, que "tudo que despolarize, repolariza a seguir", ou seja, as células voltam a possuir o potendal transmembrana que tinham anterior mente. Sendo assim, as cargas voltam a se in verter no momento da repolarização e o fenô meno repolarizante é propagado célula a célula. Note, entretanto, que agora o vetor da repola rização tem orientação inversa em comparação com o sentido do processo de repolarização. Claro! Quando ocorre o evento repolarizante, a superfície da célula volta a ser positiva, en quanto a célula adjacente a ser repolarizada ainda está negativa. Como o vetor "vai do ne gativo para o positivo" ele é orientado d.a célu la ainda despolarizada para a célula que j á se repolarizou. Veja abaixo: FII3URA 1 Z: 0 V E TOR O I POLO QUE R EPRESENTA A REPO LARIZAÇÃO TEM O SEN T I DO O POS TO AO FENÔMENO DE REP OLARIZAÇÀO. Como fazer o elo com a representação eletrocardiográfica? Já nesse primeiro capítulo, o eletrocardiogra ma começa a mostrar um pouco do seu "ros to"! O ideal é usarmos um modo universal de avaliar a progressão da despolarização e da repolarização, ou seja, a progressão do vetor do dipolo. Utiliza-se o que chamaremos, des- de agora, de derivação, que nada mais é que um eixo entre 2 eletrodos - um positivo e ou tro negativo, capaz de medir as diferenças de potencial ent re eles. Por convenção, a d ireção da derivação também é voltada para o eletro do positivo (Figura 13). Na prática, o que se faz é posicionar os 2 eleirodos de modo que o coração fique entre eles, o que será descrito com mais detalhes no capítulo 3. -··- MEOr:u:tRO :-lr': CAP!TlA.O 1 • 1 8 ELETROf~OOV. CAAot.CA FI GURA 1 3, O EIXO DA DER IVAÇÃO A P O N TA P A R A O E LET R ODO P O SIT IVO A derivação funciona como uma espécie de "olho e lélrico", acompanhando o comporta mento dos vetores. Como isso ocorre? Em 1° lugar, devemos entender que nem sem pre o eixo da derivação será semelhante ao do vetor. Assim, o correto é inicialmente pro jetar perpendicularmente o vetor no e ixo da derivação. Quando a resultante vetorial "apon tar" para o e letrodo positivo, ou seja, tiver a mesma direção da derivação, o registro gera do no eletrocardiograma será de uma onda positiva e vice-versa (Figura 14). Dito de outra forma, o registro é posjtjyo Q••ando o e fietrodo positivo enxergar o vetor se aproximando dele. Como o que interessa de fato é a relação do vetor com o eletrodo positivo, este é chamado por muitos autores de "eletrodo expiOI'ador". Ele é o verdadeiro "olho elétrico· de uma de rivação eletrocardiográfica! ' ':11,, -' F I G URA 14: 0 EC I3 TERÁ UMA O N D A POS IT I V A ( "' SOBE' •) SEMPRE Q UE O VET OR A P ON TAR PAR A O E LETRODO POSITI V O O A DERIVAÇÃO ( ,_.ELETRO DO E XPLOR A D O R'' ), Colocamos na Figura 15 diversas possibilida des de registro eletrocardiográfico na depen dência da relação do vetor com a derivação. Por exemplo, perceba no último registro que, quando TODAS as células estão em repouso ou des polarizadas não há formação de dipolo e nem de vetores, porque não há diferenças de carga elétrica em suas superfícies. Assim, nestas fases da ativação do coração, o regis iro eleiiocardiográfico é isoelétrico (uma linha horizontal). Veja que interessante; comece a enxergar o "rosto" de um eletrocardiograma' No capítulo 3, iremos, com calma, relacionar o coração com algumas derivações específi cas, o que i rá nos possibilitar enxergar não só o "rosto•, mas todo o traçado eletrocardio gráfico. Não vamos queimar etapas! Nesse momento, preocupe-se apenas em entender que a atividade elétrica cardíaca é represen tada através de vetores e os mesmos são visualizados pelo ECG através de derivações consiru idas com 2 eletrodos que são coloca dos no tórax do paciente em posições que estudaremos bem mais adiante. -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAP!TlA.O 1 - 19 ELETROf~OOV. CAAot.CA FIGURA 15: ••RoSTO" 00 E C G - O R E G I STRO E L ÉTRICO DO VETOR D E PEN D E OA RELAÇÃO COM A D E R I VAÇÃO UTILIZADA, ATIVAÇÃO DO CORAÇÃO A sequência temporal e espacial que caracte riza o processo de ativação do coração é es sencial para que haja o sincronismo mecânico atrioventricular (despolarização atrial -> repo larização atrial -> despolarização ventricular -> repolarização ventricular). Em cada etapa do processo, há aregíã.o - que se dirige para a dí reíta e para baixo. Este comportamento explica a ocorrência de um padrão rS em DI e de uma onda IR pura em 0 11. O eíxo então se encontra em torno de +90°. Bloqueio Dlvlsional Póstero-lnferior Direito FIGURA 25, MEOEtE'IRO CAPfTLl.O 6- HEI.í!BLOOUEIOS ou BlOOOEIOS fASC.C:UlARES lu SAI X O , SEL ECI O N A M OS ALGUN S EXE:Aé::ÍCt OS PARA QUE: VOCÊ S!tOIM E N rE:, D E M COO O EF'fN ITIVO. tOS CONCEITOS OBTI DOS AO L ONGO O C CAPÍTUL O ~ TENHA MAI S 'rFIAN Q U I L t OAOE, SEGURAN ÇA § E aAS~ TEÓRI CA PARA AVANÇAR AO PRÓ:XI MO 'rEM A. M ÃOS À OBRA! 1 - Assinale a opção que apresenta as características do hemibloque i o anterior esquerdo. A) Oe.svio do eixo para a direita, padrão qR em 011, 0111 e aVF. B) Desvio do eixo para a d ireita, padrão rS em 011, 0111 e aVF. C) Desvio do eixo para a esquerda, padrão rS em 011, 0111 e aVF. O) Desvio do eixo para a esquerda, padrão qR em 011, 0111 e aVF, QRS onda Sem 0111. Comentário: Tenha em mente os critérios diagnósticos; sempre eles ... Em primeiro lugar, como não há um bloqueio de ramo, não haverá alargamento do complexo QRS. Em segundo lugar, o bloqueio do fascícu lo anterossuperior (gerador do HBAE) muda a ativação ventricular, fazendo com que esta se inicie pela porção posteroínfe rior do VE e depois suba para despolarizar a região anterossuperior esquerda. De modo simples, é como se a ativação an dasse para baixo no início e, no final, fizes se 11meia·volta" e subisse. Ou seja, as de- 2- Dentre as alternativas abaixo, marque aquela que NÃO condiz com uma carac teristica do hemibloqueio posterior es querdo. A) De.svio do eixo para a direita. B) Duração do QRS :S 100 ms. C) Onda R em 0111 > onda R em 011. O) Alteração incomum. E) Padrão rS em 011, 0111 e aVF. Comentário: Neste tipo de hemibloqueio, a parede posteroinferiordo VE é ativada mais tarde em comparação com a região anteros superior. Deste modo, se fôssemos pensar em uma espécie de alça de ativação, teria- rivações inferiores enxergam um 1• vetor se aproximando (onda r- positiva) e um 2° vetor se distanciando (onda S - negativa). Como o principal determinante do eixo da despolarízação ventricular acaba sendo o último momento da ativação, o eixo encon tra-se desviado para a esquerda além de -30". Nesse mesmo pensamento, estando o eixo ele é quase paralelo a D/11, o que faz com que a onda Sem DI/I tenha maior am plitude que a ondaS em DI/. Resposta cer ta: letra C. Reveja abaixo os principais critérios do HBAE: - Desvio do eixo do QRS para esquerda além de -30° (geralmente entre -45° e -60°). · QRS estreito Onda S em DI/. mos um sentido inicial de despolarização direcionado para cima e para a esquerda e posteriormente para baixo e para direita. A consequéncia é um padrão rS nas deriva ções esquerdas (DI e a VL) qR nas inferiores (DI/, DI/I e a VF) - o que já deixa a letra E in correta. Como o 2" vetor tem maior amplitu de, o eixo médio do QRS acaba sendo des viado para a direita e, como a direção deste l"vetoré praticamente perpendicular a DI//, a onda R nesta derivação é maior do que a onda R em DI/ (letras A e C corretas). Além disso, como não é um bloqueio de ramo, o alentecime-nto da ativação ventricular não é significativo, de modo que o QRS é estreito MEOEtE'IRO (letra 8 co"eta). Por último, este tipo de hemib/oqueio é o distúrbio de condução intraventricular mais raro graças à baixa vulnel'abilidade do fascículo posteroinferior, uma vez que é espesso e tem "farta" ímga ção sanguínea. Resposta a ser marcada: letra E. Reveja abaixo os príncípaís critérios do HBPE: CAP!Tc Onda R em DI/. 3 - Qual é o diagnóstico eletrocardiográfico? Dlll ~ rr--Tr --_-...:, ....... í.J~-"--.,..-;1 ~ ~~~~~~~~~ A)HBAE. B) HBPE. C)BDAM. O) BRO + HBAE. E) BRO + HBPE. Comentário: Na nossa rotina de análise do ECG, verificamos um ritmo sinusal com uma frequência cardíaca em torno de 83 bpm ... Ao verificarmos o eixo do QRS, percebemos que está desviado para a es· querda além de -30" (DI posítívo, enquanto aVF e DI/ estão negativos). Isso por si só já nos permitiria presumir o diagnóstico de HBAE. Mas ainda verificamos outras características: padrão qR em derivações esquerdas (DI e aVL) e padrão rS em deri· vações inferiores (DI/, DI/I e aVF), sendo onda S em DI/I maior que onda S em DI/. Alguma dúvída? Resposta certa: letra A. 4- Qual é o diagnóstic·o eletrocardiográfico? ' 011 ir' ~Ir n~~~·V~F~~--r---~-~--~~~~1~v-·~~--~~~ A) HBAE. C) BOAM. B) HBPE. O) BRO + HBAE. MEOEtE'IRO E) BRO + HBPE. Comentário: Temos um ritmo sinusal com FC de praticamente 60 bpm ... Não há alte· ração de onda P ou de intervalo PR, mas o complexo QRS encontra-se grosseira· mente alargado (quase 160 ms). BRD ou BRE? As morfologias em V1 (rSR? e V6 (onda-S alargada) nos permite afirmar que CAP!Tcgeração de milhares dipolos à medida que várias células despolarizam-se simultaneamente. Mas, naturalmente, a ava liação não é feita com milhares de vetores: na realidade, acaba sendo formado um vetor resultante de cada etapa, que representa a direção, o sentido e o módulo de todo proces so elétrico daquele exato momento. Vamos avaliar essa sequência de ativação elétrica do coração, imaginando que a en xergássemos através de uma derivação com um eixo semelhante ao do próprio co ração (Figura 16). -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAP!TlA.O 1 - 20 ELETROf~OOV. CAAot.CA F"II3URA 16, Os Vetores da At1vaçáo dos Atnos F"II3URA 1 7. A) Atividade Elétrica Atrial Como v imos, a a tividade elétrica inicia-se no nodo s inusat devido às propri edades de marca-passo de suas células. Como esta é uma região que apresenta uma massa des prezível, os vetores formados s.ão insignifi cantes e sua ativação não é reg istrada pelo eletrocardiograma. A partir deste ponto, o estímulo segue ao lon go da parede atrial direita despolarizando tam bém o sepio inierairial, o feixe de Bachmann e, em seguida, o átrio esquerdo. O vetor resul tante da ativação do átrio direito aponta para baixo, para frente e levemente para esquerda. enquanto a do átrio esquerdo se dirige para trás, para esquerda e um pouco para baixo. A resultante destes dois vetores segue para bai xo e para esquerda, de forma praticamente paralela ao plano frontal (Figura 17). Tal vetor é o responsável pela geração da chamada onda P no registro eletrocardiográfico. • Muita atenção: os termos "para esquerda" e ''para direita • são sempre com relação ao pa ciente! Ao visualizarmos tais processos em uma imagem (como na Figura 17), devemos lembrar que o paciente está voltado para nós .. . Cuidado para não causar confusão! -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAP!TlA.O 1 • 21 ELETROf~OOV. CAAot.CA Como estamos enxergando a ativação atrial através de uma derivação com eixo seme lhante ao do coração e com o eletrodo posi tivo ("o lho elétrico") na porção mais baixa. percebemos que o vetor da ativação atrial tem a mesma direção da derivação, o que fará com que essa onda P será positiva no eletro cardiograma (Figura 18). Por ser ativado primeiro, o átrio direito (AO) é responsável pela porção inicial da onda. Em seguida, ocor re um momento de sobreposição das duas ativações e a parte final sendo composta so mente pela atividade atrial esquerda (AE). A Onda P e a Ativação Atrial f"II3 U RA 1 8 . O processo de repolarização atria l inicia-se logo a pós o término da despolarização. Como a primeira reg ião a se repolarizar cor responde à mesma que havia. iniciado a despolarização, o processo começa no nodo sinusal e segue o mesmo caminho da onda de ativação. Porém, enquanto na despolari zação o vetor resultante orien tava-se no mesmo sentido que a onda de ativação, na repolarização, como sabemos, e les ocorrem em sentidos contrários. Assim , quando a repolarização estiver em andamento o vetor apontará em um sentido exatamente inverso ao vetor da despolarização, ou seja, para cima e para direita. No eletrocardiograma, geralmente não se observa uma onda de repolarização atrial por 2 motivos: (1) a maior parte do processo coincide com o momento de despolarização ventricular, sendo ocu lta do por esta; (2) a repolarização, por ser mais len ta, gera vetores de pequena magnitude, produzindo portanto potenciais baixos, que não são percebidos pela derivação. B) Atividade Elétrica do NAVe do Sistema His·Purkinje O estímulo alcança o nodo atrioventtricular (NAV) antes de completar a despolarização dos átrios e, portanto, antes até do término da onda P. Este fato reforça o conceito de que a condução sinoventricular (do nado si nusal aos ventrículos) é quase independente da ativação dos átrios, provavelmente graças aos feixes internodais. Mas, como as células desse nodo conduzem o estímulo de forma lenta, elas causam um atraso para o início da despolarização ventri cular, o que é muito importante: assegura que os ventrículos só sejam ativados (e depois contraiam) após a ativação (e contração) atrial, mantendo o sincronismo atrioventricular. De qualquer maneira, como existem pou cas células no nodo AV (e no sistema His -Purkinje abaixo dele), também não é perce bido qualquer vetor, o que deixa o registro isoelétrico (linha reta) até o início da despo larização ventricular. Essa condução através do NAV e sistema His-Purkinje corresponde basicamente ao chamado segmento PR no registro eletrocard iográfico. C) Atividade Elétrica Ventricular Após o sistema His-Purkinje, o estímulo chega aos miócitos ventriculares, cuja despolariza ção pode se r representada temporalmente por três vetores principais (Figura 19). Estes ve tores são representados no traçado eletrocar diográfico pelo que chamamos de complexo QRS. Apesar dos ramos direito e esquerdo serem ativados praticamente de modo simul tâneo, a descida inicial do estimulo é discre tamente mais rápida pelo ramo esquerdo, o que faz com que o septo interventricular seja ativado da esquerda para a direita. Assim, o primeiro vetor é uma resultante que aponta para frente, para direi ta e para baixo. Este é o vetor do septo médio e se inscreve cerca de 10 ms após o início da ativação ventricular. -··- MEOr:u:tRO :-lr': CAP!TlA.O 1 • 22 ELETROf~OOV. CAAot.CA Em seguida, a onda despolarizante chega simultaneamente a ambos os ventrículos, mas, como a massa esquerda é considera velmente maior, o vetor resultante aponta para esquerda e para trás (para cima ou para baixo). Este é o vetor da oarec!e livre do ven túculo esquerdo e apresenta a maior ampli tude dos três vetores da despolarização ventricular, ocorrendo aos 40 ms. O último vetor é orien tado para trás e para cima (para esquerda ou direita), fruto da despolarização da parede basal dos ventrículos (yetorbasaO, após c.erca de 60ms. O processo de despolarização ventricular é um fenômeno contínuo, sendo a sua divisão temporal em vetores uma forma simplificada e didática de descrevê-lo, além de ser útil para explicar certas patologias e com preen der a geração das diferentes morfologias do complexo QRS observadas no eletrocardio grama, como veremos no capitulo 3. Todo processo de despolarização ventricular, assim como o atrial, pode ser representado por um vetor médio: esta medida é chamada de eixo médio do complexo QRS (SÃQRS). Diversas patologias podem alterar este eixo, sendo o seu cálculo - também feito no capí tulo 3 - uma ferramenta indispensável duran te a análise do traçado eletrocardiográfico. Muitos gostam de visualizar de modo tridi mensional esse processo de despolarização ventricular: é a chamada representação ve torcardiográfica (Figura 20). FIGURA 1 9 : A T I VAÇ Ã O VEN T RICU L A R E SEUS V ETORES SEQ UENCIALM ENT E R EPR E S ENTAO OS, ~ ·~---· ·-- .. F'II3URA 20 : V ETORCA ROIOGRAM A O A OES POL A R f ZAÇ ÃO V ENTRICU LAR. -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAP!TlA.O 1 - 2 3 ELETROf~OOV. CAAot.CA Alguns autores descrevem 4 e não apenas 3 vetores da despolarização ventricular. Quando essa descrição estiver presente é porque foi considerado, como 2• vetor, o vetor do septo baixo que é gerado predominantemente pela condução do Impulso através do ramo direito até a região baixa do septo interventricular. Este vetor orienta-se para frente, para esquerda e para baixo, sendo gerado cerca de 20ms após o inicio da despolarização ventricular. Utilizando esta interprelação. a sequência vetorial seria a seguinte: FII3U R A 21. ~IGURA 22: N o s VEN• TRÍCULOSt COMO AS ÚL• T f MAS ÁRE AS A S E REM OESPOLAR IZAOAS SÃO AS PRIMEIRAS A SE REPOLA• R IZAREM , OS VETO RES OA O E SPO LARI ZAÇÂO E OA REPOLARIZAÇÃO (SETAS AZU I S) TÊM O MESM O SENTt OOt SENDO O BSER • VAOAS OA M ESMA MANE I• RA P E LAS D E R I VAÇÕES ( " OLHOS ELÉTRI COS'' ) , O QUE FAZ COM QUE O C OM• PLEXO QRS E A ONOA T TENHAM A M ESMA POL A • R IOAOE N O ECG. AllvldHe et .. rlca do -•çM • ---4i • • • .. F'IGURA 23: ATI V f OAOE ELéTR IC A 0 0 CO RAÇÃO E SUA R E PERCUSSÃO N O ECG - ( l) DESPOLAR IZAÇÃO ATRI AL.IONOA P; C2 , 3 E 4) DESPOLARIZAÇÃO VENTRI CULAR/ COMPLEXO QRS; CS ) REPOLARIZAÇÂO VEN TRIC ULAR/ONOA T. -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAP!TlA.O 1 • 24 ELETROf~OOV. CAAot.CA Após o complexo QR S, observa-se um seg mento isoelétrico denominado segmento ST, onde, apesar de já haver atividade re polarizante, a pequena massa ventricular envolvida nesta fase a inda não é suficiente para gerar dipolos (e vetores) que causem alguma repercussão no traçado. A junção do complexo QRS com o segmento ST no eletrocardiograma é chamada de ponto J, que represen ta o fim da despolarização de todo tecido ventricu lar. Repolarização ventricular: um processo diferente ... Enquanto nos átrios a primeira região a se despolarizar é a mesma a iniciar a repolari zação, nos ventrículos o processo é diferen te e as últ imas áreas a serem despolarizadas são as primeiras a se repolarizarem (Figura 22)! Portanto, apesar do sentido do processo de repolarização ser o inverso da despolari zação, os vetores resultantes de ambos apre sen tam a mesma orientação. Assim, em situ ações normais, a onda de repolarização ventricular - onda T- possui a mesma pola ridade do complexo QRS. O processo repolarizante apresenta um eixo médio denominado SÂT, dirigido para baixo e p PRs para esquerda, que também se altera em cer tas patologias. As alterações da repolarização ventricular podem ser divididas em primárias e secundárias. As primárias são aquelas que afetam diretamente a repolarização, como a isquemia, enquanto as secundárias são con sequências de alterações na despolarização, como ocorre nos bloqueios de ramo. Tais pa tologias serão abordadas com mais detalhe nos capítulos subsequentes. Alguns traçados de ECG ainda apresentam uma onda U após a onda T, representando uma repolarização tardia de algumas regiões ventriculares. Na Figura 23, reunimos todos os vetores resultantes da atividade elétrica do coração que são os grandes responsáveis pelas on das observadas no eletrocardiograma. lem bre que estes vetores são avaliados por derivações e, na dependência de sua rela ção com o eixo da derivação usada, serão produzidas ondas positivas ou negativas. Na Figura 2.4, temos um traçado eletrocardio gráfico normal com suas respectivas ondas, segmentos e intervalos (onda + segmento). No capitulo 3, estudaremos estes componen tes com mais detalhes. J T I I I QRS : Intervalo PR Intervalo QT I F I GURA 2 4, -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAP!TlA.O 1 - 25 ELETROf~OOV. CAAot.CA A INVERSÃO DO SENTIDO DA REPOLARIZAÇÃO VENTRICULAR Como vimos, a repolarlzação do ventriculo não se Inicia na mesma região que começou a despolarização. A justifiCativa para este fenômeno é o prolongamento dos potenciais de ação das células endocárdicas em relação às epicárdicas. Uma hipótese seria a menor perfusão sangulnea do endocárdio durante a sístole ventricular, devido á compressão sofrida pelas pequenas artérias desta região. Como o enaocárdio só é perlundido na diástole ventricular e o eplcárdio continuamente, o primeiro estaria submetido a uma menor lavagem intersticial de escórias metabólicas e lons, como o potássio. Consequentemente, uma maior concentração local de potássio poderia resultar num menor gradiente de salda deste cátion e, assim, retardar a repolarização. Esla possibilidade é reforçada pela ocorrência da inversão da polaridade da onda T em relação ao QRS em situações de isquemia epicãrdlca, quando então esta reg ião repolariza mais tardiamente. I m!IIJ-1~~ ' Por que PQRST e não ABCDE? Einthoven, considerado o "Pai da Eletrocardiografia" foi o primeiro a enxergar as 5 deflexões do ECG. A escolha de P para começar a nomeá-las foi uma simples convenção matemática utilizando as letras da 2' metade do alfabeto. Na realidade, a 2' metade começaria na letra N, mas esta era amplamente usada pelos matemáticos para outros fins. A seguir seria a letra O, que também já era utilizada para marcar origem das coordenadas de elxos cartesianos. P é simplesmente a próxíma letra! 24 MEDe4e4ro APÊNDICE ' . . --------------- C ANAIS I ÔN IC O S O I~ÍC IO 00 ENTEN D I M ENTO SOBRE E L ETR OF'ISIO LOGIA CAR DfACA. VIMOS Cr;IUE O POTEN C IA L OE A ÇÃO É F'O RMA DO P ELO F"L UXO OE (QNS A T R AVÉS OE CANAIS D ISPO STOS N A MEM B R ANA D AS CÉLU LAS CAR O fAC AS. VAMO S R E VER O MESMO PROC ESSO ANT E R IO RM ENTE APREND I DO. M A S AGO R A D I F'E R EN C IAN D O COM E X ATI D à O OS T I P OS D E CANA I S U T I L IZADOS . CÉLULA DE RESPOSTA RÁPIDA Seu potencial de repouso é de -90 mV, mas, ao receber um estimulo elétrico através das junções comunicantes, o potencia l é reduzido até -70 mV, o chamado "potencial limiar". É apenas neste momento que são abertos os "canais de sódio de resposta rápida· (1 •• ). tam bém chamados de "canais de sódio voltagem -dependentes", j á que precisam desta altera ção de potencial para abrirem. O que interes sa é que agora surge um grande influxo (en trada) de carga positiva (Na•), o que eleva quase que instantaneamente o potencial para cerca de +20 mV. Esta é a fase O do potencial de ação: DESPOLARIZAÇÃO. • Muitos autores classificam a despolarização das células de resposta rápida como um fenô meno do tipo "tudo ou nada •: se não atingirem o potencial limiar, nada acontece; mas se este for atingido, lodos os canais de sódio se abrem completamente. Como os principais respon sáveis pela despolarização são os canais de sódio, estas células são também chamadas de ·'sódio-dependentes"_ Ao atingir esse potencial, o canal de sódio se fecha, o que é útil para ev" ar uma possível lise celular pela sobrecarga de Na• e, conse quentemente, de água ("água anda junto com o sódio"). Mas, na realidade, o acontecimento mais importante é a abertura transitória de canais de potássio, permitindo a saída deste íon a favor do seu gradiente (canal I,.- "tran sient outward'), o que induz uma discreta re polarização, aproximando o potencial de Omv. Esta é a fase 1 do potencial de ação: REPO LARIZAÇÃO TRANSITÓRIA. • Um outro fluxo iônico que pode contribuir para esta fase é entrada de cloro, que tem carga negativa. Canais Iônicos Resposta Répida "' Resposta Lenta t K"tllpoU I ~ (j) ® I ~ " tK"!IlpoiJ I L f- -- tca~ Q,----{'ipoL) t Na' .J. K' (lfo>o IJ o • 60 .... \,.) @ \ tK· -t Na® · lO · lO F'I G U RA 2 5: C A N A IS f Ô NICOS RES P ONSÁVEIS PELA G ERAÇà O 00 P OTENC IAL OE A Ç Ã O . -··- MEOr:u: tRO :-lr': CAP!TlA.O 1 - 27 ELETROf~OOV. CAAot.CA PERIODO REFRATÁRIO Quando a célula é despolarizada, ela passa por um periodo em que pennanece inexcitável, ou seja. mesmo que chegue mais um estímulo, um novo potencial de ação não é desencadeado em cima daquele que já se encontra em curso. Essa característica é chamada de Período Refratário e é um útil instrumento para evitar ativ·ações excessivas que poderiam desencadear uma taquicardia. O período refratário da célula de resposta rápida pode ser dividido ainda em 2: (1) perfodo Refl'atárjo Absot11to ro;t Efetivo)· a célula não será ativada, pois não há qualquer canal de sódio dlspnfveL Este só começará a ter possibilidade de- abertura, quando o potencial se aproximar de -60mV (metade inferior da fase 3), momento em que os canais de sódio recuperam sua capacidade de serem ativados. (2) Período Relxatárjo Relativo· a partir de -60mV, a célula até pode voltar a ser ativada, mas apenas com estfmulos supralimiares (acima do limiar normal), uma vez que poucos canais de sódio estariam disponíveis para serem abertos. Ou seja. para serem efetivos, os estfmulos nessa área deverão ser mais fortes que aqueles capazes de resultarem em uma resposta propagada na fase 4 . • .... o ... / . - " " '-_..__ ..._•_'tocto_.. ... _ ...... _.. .. _ ,. ... _ T....,o~) O 100 200 JOO FII3URA 26. Agora, o efluxo (saída) de potássio vai conti nuar. porém através de um canal diferente (1. ). De qualquer maneira, essa saída de carga positiva é contrabalanceada principalmente pela entrada de cálcio através de canais do tipo L (lc. ,). que ganha essa denominação por sua abertura mais duradoura (do inglês, "long -lastinff). Desta forma, o potencial é mantido na forma de um platô em valores. próximos a O mV. Esta é a fase 2 do potenc ial de ação: PLA TO ou REPOLARIZAÇÃO LENTA. Com pouco tempo, a corrente de cálcio é re duzida, enquanto a permeabilidade ao potás sio pelos mesmos canais IK é intensificada. Como agora saem cargas positivas (K') sem serem contrabalanceadas, o potencial vai se reduzindo e a repolarização propriamente dita ocorre. Esta é a fase 3 do potencial de ação: REPOLARIZAÇÃO FINAL. A célu la então retoma ao seu potencial de repouso (em torno de -90 mV), que, como vimos, é mantido principalmente pela ação da bomba de Na•fK• ATPase. Esta é a fase 4 do potencial de ação: REPOUSO ELÉTRICO. • Nas células de resposta rápida, a fase de repouso até pode apresentar uma leve tendên cia à despolarização espontânea pela possível presença de um outro tipo de canal de sódio OJ. Mas, mesmo que esteja presente, essa atividade espontânea nâo comanda o co!âção pelo fato de ser feita em uma frequência muito mais baixa que a sinusal (30-40 bpm). CÉLULA DE RESPOSTA LENTA Como foi fa lado, este tipo celular não costu ma permanecer em um potencial de repouso constante, ou seja, é facilmente passível de autoexcitação: é aquela propriedade do au- MEOr:u: tRO -··-:-lr': CAP!TlA.O 1 - 2 8 ELETROf~OOV. CAAot.CA tomatismo cardíaco já comentada . .. Essa autoexcitação ocorre principalmente pelo influxo espontâneo de cálcio através de ca nais do tipo T (lc •. r), que ganha essa deno minação por sua abertura mais transitória (do inglês, "transíenf'), mas também recebe in fluência da entrada espontâne·a de sódio (canal 1 1 - "funny"). Deste modo, o potencial de repouso que ficava em torno de -65 mV vai gradualmente se reduzindo. polaridade da célula, ou seja, seu potencial transmembrana toma-se positivo. Esta é a fase O do potencial de ação: DESPOLARIZA ÇÃOLENTA. • Como os principais responsáveis pelo fenô meno de despolarização neste tipo celular são os canais de cálcio, muitos autores chamam estas células de "cálcio-dependentes•. Quando o potencial é reduzido até -40 mV, atingimos o "potencial limiar" da célula de reposta lenta. Nesse momento, abrem-se ou tros tipos de canais de cálcio - os do tipo L (lc •. ,). que, como vimos, também são encon trados nas células de resposta rápida. Assim, a entrada extra de cálcio inverte lentamente a Após esta etapa, os canais de potássio (I, ) vão sendo gradativamente abertos, até que a sa ída de cargas positivas (potássio) ultrapassa a sua entrad!a (cálcio), caracterizando as fases 2 e 3: REPOLARIZAÇÃO LENTA e REPOLA RIZAÇÃO FINAL. A célula então retoma ao seu potencia l de repouso na fase 4: REPOU SO ELETRICO. CANAI S MECANI S M O OE AÇÁO Sódio de resposta -Célula de resposta rápida (Fase 0/Despolarização rápida.): rápida (1,..) abertura no limiar de -'70 mV oom Intensa entrada de Na', fechando em seguida com cerca de +20 mV e só podendo ser reativados em torno de -60 mV. Potássio (1,.) I -Cé1uta de resposta rápida (Fase 11Repolarização Transitória): , abertura transitória permitindo salda momentânea de potássio. Cálcio -Célula de resposta rápida (Fase 21Piató): entrada de ca - tipo L (te;,.,) balanceada pela saída de K' . - Célula de resposta lenta (Fase 0/Despolarlzação): abertuA seguir, ocorre uma repolarização tran·sitória que aproxima seu potencial de O m\1, perma necendo em torno desse valor na fase seguinte de platô. O potencial de ação é completado com a repolarização final, onde a célula retoma ao seu potencial de repouso (volta a ficar polarizada). Res posta certa: letra 8. 5- Um vetor perpendicular ao eixo de uma derivação eletrocardiográfica se expressa de qual maneira no traçado? A) Pequena deflexão positiva. 8) Grande deflexão positiva. C) Traçado isoelétrico. O) Pequena deflexão negativa. E) Grande deflexão negativa. Comentário: Se a projeção do vetor no eixo da derivação tiver o mesmo sentido dela, o registro no ECG será de uma onda (ou de flexão) positiva; enquanto se tiver o sentido oposto, surgirá uma onda negativa. Se o vetor for perpendicular ao eixo da derivação, surgirá, no traçado, uma linha isoelétrica ou um traçado isodifásico (igualmente positivo e negativo). Resposta certa: letra C. 6 - Com relação à formação do eletrocar diograma, assinale a alternativa CORRETA: A) A onda T corresponde à repolarização atrial. 8) A onda P representa a atividade elétrica do nodo sinusal. C) O átrio esquerdo é despolarizado antes do átrio direito. C.t.Pill.l.O 1 - Et.ETROFtSJOt.OGtA CARDIACA O) O complexo QRS é a representação elé trica da repolarização ventricular. E) A onda T geralmente tem a mesma po· laridade do complexo QRS. Comentário: Lembre-se que a atividade elé trica norma /mente é formada no no do sinu sal, que, pela sua reduzida massa celular, não tem representação eletrocardiográfica (letra 8 errada). A seguir, o impulso é condu zido através dos átrios, formando a onda P, que corresponde à despolariução atrial - sendo o átrio direito despolarizado momen tos antes que o átrio esquerdo e, portanto, é o responsável pela porção inicial desta onda (letra C errada). O estimulo alcança o nodo atrioventricular e, depois, despolariza os ventrículos, dando origem ao complexo QRS (letra D errada). A repo/arização ventricular é expressa pela onda r no ECG, enquanto a repolarização atrial, em geral, não é repre sentada (letra A errada). Devemos lembrar que, como o sentido do processo de repola rização ventricular (epicárdio - endocárdio) é oposto ao sentido da despolarização (en docárdio -> epicárdio), estes 2 processos são represe.ntados por vetores com a mesma orientação, formando, portanto, complexo QRS e onda r com a mesma polaridade. Res posta certa: letra E. 7 - O diltiazem é um fármaco conhecido por suas propriedades como bloqueador de canal de cálcio cardiosseletivo, i sto é, com maior magnitude de ação nas c élulas cardíacas. Deste modo, em que fase do potencial de ação é esperada a sua inter· ferência direta mais pronunciada? A) Despolarização das células de resposta rápida. 8) Repolarização de todas as células car díacas. C) Repolarização transitória das células de resposta rápida. O) Repouso elétrico das células de respos ta rápida. E) Despolarização das células de resposta lenta. Comentário: Para responder a esta pergun ta, bastaria que recordássemos a ação dos canais de cálcio ... Nas células de resposta rápida, sua ação principal é na fase de pia- ) MEOELE'IRO tô, enquanto, nas células de resposta lenta, há interferência deste ion no repouso e/é• trico e na despolarização. Para sermos um pouco mais precisos, a ação do diltiazem é mais expressiva nos canais de cálcio responsáveis pela despolarização das cé· lulas de resposta lenta, razão pela qual é um fármaco reconhecido por seu efeito bradic ardizante. Resposta certa: letra E. 8 - Com relação ao potencial de ação das células cardíacas, qual é o conceito de "período refratário"? A) Periodo sem atividade elétrica. B) Período em que a atividade &létrica do coraçã o não é percebida pelo el.etrocardio· grama. C) Período em que a célula cardíaca per· manece inexcítável mesmo que seja esti· mulada por potenciais que atinjam seu li· miar de despolarízação. O) Período em que a célula não pode ser excitada por nenhum tipo de estímulo elétrico. E) Período em que mesmo potenciais su· blimiares conseguem despolarizar a célula. Comentário: O período refratário começa assim que ocorre a despolarização da cé· lula cardíaca e compreende 2 momentos: um em que a célula não consegue ser a ti· vada por nenhum tipo de estimulo (perío· do refratário absoluto) e outro em que a célula só é novamente ativada por estímu los acima de seu limiar, isto é, supralimia· res (período refratário relativo). Resposta certa: letra C. C.t.Pill.l.O 1 - Et.ETROFtSJOt.OGtA CARDIACA 9-No eletrocardiograma, a onda T rep