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Qual é a importância de Rodrigo S.M. 
em A Hora da Estrela?
Rodrigo S.M. desempenha um papel crucial em "A Hora da Estrela", não só por ser o narrador, mas também 
pela forma como influencia a compreensão da narrativa. Transcende a mera figura de um personagem 
secundário e se transforma em um elemento fundamental que entrelaça suas reflexões pessoais com a 
história de Macabéa, criando uma metanarrativa que explora a profundidade da condição humana e os 
dilemas sociais do Brasil da década de 1970.
Ao longo do livro, Rodrigo S.M. atua como uma lente pela qual o leitor interpreta a trama, e sua 
intervenção direta nos acontecimentos oferece um nível extra de introspecção e análise crítica. Ele emerge 
não apenas como um cronista, mas como um filósofo que medita sobre o significado do sofrimento, do 
anonimato, e da existência em um ambiente urbano hostil e indiferente.
A voz do narrador: Rodrigo S.M. é a voz que narra a história de Macabéa, mas o faz de forma peculiar, 
assumindo uma postura reflexiva e questionadora. Ele se coloca como um observador crítico da 
realidade, e sua voz reflete a complexidade do mundo em que Macabéa vive. Suas observações não são 
meras descrições; são análises penetrantes sobre a desigualdade e a indiferença social. Ele 
constantemente faz perguntas retóricas, convidando o leitor a considerar a fragilidade da vida de 
pessoas como Macabéa. Essas intervenções não só ajudam a delinear a narrativa, mas também 
carregam o peso das próprias dúvidas existenciais do narrador.
Uma relação complexa com Macabéa: A relação entre Rodrigo S.M. e Macabéa é marcada por uma 
dualidade: ele a observa com uma mistura de compaixão, ironia e, em alguns momentos, até mesmo 
um certo desprezo. Essa dualidade representa um microcosmo da relação entre o autor e seus 
personagens — uma mistura de domínio e vulnerabilidade. Apesar do seu olhar crítico, há momentos 
em que Rodrigo se vê refletido em Macabéa, na sua insignificância e luta invisível. A empatia e a 
distância coexistem numa tensão contínua entre estas duas figuras, refletindo a complexidade do 
envolvimento humano.
Um espelho da sociedade: Através de Rodrigo S.M., Clarice Lispector coloca em discussão a hipocrisia 
da sociedade carioca da época, sua superficialidade e a desigualdade social que a permeia. Mais do que 
um mero narrador, Rodrigo serve como um espelho que resguarda a superficialidade e a cegueira 
voluntária da elite carioca para com as realidades devastadoras enfrentadas por aqueles nas margens 
da sociedade. Ao representar a sociedade como autocentrada e negligente, Lispector, através de 
Rodrigo, tece uma crítica mordaz às estruturas sociais que perpetuam a desigualdade.
O peso da responsabilidade: Ao mesmo tempo em que Rodrigo S.M. se coloca como um observador 
distante, ele também carrega o peso da responsabilidade por contar a história de Macabéa, e isso o leva 
a questionar suas próprias ações e a própria condição humana. Ao narrar a vida de uma personagem 
que, de outra forma, passaria despercebida, Rodrigo carrega a responsabilidade ética de representá-la 
com autenticidade. Esse dilema narrativo reflete a luta interna de muitos escritores — a 
responsabilidade para com seus sujeitos e o potencial de exploração.
Em suma, Rodrigo S.M. é um personagem que, apesar de não ser o protagonista da história, assume um 
papel fundamental na trama, trazendo à tona a complexidade da narrativa e da própria sociedade 
brasileira da época. Sua figura provoca reflexões sobre a escrita, a representação e a conexão humana. Sua 
introspecção e abordagens multifacetadas fazem dele um veículo não apenas para a história de Macabéa, 
mas para uma meditação maior sobre a invisibilidade e a relevância narrativa em um mundo implacável e 
indiferente.

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