Prévia do material em texto
ORIENTAÇÕES DE COMO PROCEDER EM CASOS DE AMEÇA E INVASÃO DE PROPRIEDADE RURAL Em razão da recente onda de invasões de terras rurais no País, a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins – FAET, visando contribuir com a proteção integral da posse dos produtores rurais do estado, resolve proceder com as presentes orientações, caso algum produtor rural sofra alguma ameaça ou invasão de sua propriedade. 1. AMPARO CONSTITUCIONAL E LEGAL O direito de propriedade, previsto no art. 5º, inciso XXII, da Constituição Federal de 1988, é um dos princípios fundamentais de uma Democracia, tendo o Estado o dever de garantir sua integral proteção. O artigo 1.210 do Código Civil estabelece que o possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. Já o artigo 1.228 do Código Civil estabelece que o proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. Portanto, diante de uma tentativa da iminência ou da invasão de propriedade rural, o possuidor/proprietário poderá se utilizar de meios legais para se manter, resguardar ou reaver o bem imóvel. 2. DAS RESPONSABILIZAÇÕES CRIMINAIS SOBRE AS INVASÕES E DA VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO A invasão de propriedade, sob qualquer pretexto, é CRIME! O Código Penal, em seu artigo 161, §1º, inciso II, tipifica como crime, punível com detenção, de um a seis meses, e multa, o “ato de invadir, com violência ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno ou edifício alheio para o fim de esbulho possessório”. Da mesma forma, o artigo 202 do Código Penal tipifica como crime a conduta de “invadir ou ocupar estabelecimento industrial, comercial ou agrícola, com o intuito de impedir ou embaraçar o curso normal do trabalho, ou com o mesmo fim danificar o estabelecimento ou as coisas nele existentes ou delas dispor, estabelecendo pena de reclusão, de um a três anos, e multa. Além da invasão, o artigo 150 do Código Penal também descreve como crime a violação de domicílio o ato de entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências, sendo que a pena do referido crime poderá ser agravada se ocorrer as seguintes situações: a. A violação do domicílio ocorrer durante o período noturno; b. Ou o alvo se um lugar ermo/desabitado; c. Com emprego de violência ou arma; d. Por duas ou mais pessoas concorrerem com a violação do domicílio. A legislação penal, no § 4º do art. 150, conceitua a expressão “casa” como sendo: a. Qualquer compartimento habitado; b. Aposento ocupado de habitação coletiva; c. Compartilhamento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade. 3. DOCUMENTOS IMPORTANTES PARA DEMONSTRAR A POSSE/PROPRIEDADE a. Escritura Pública registrada em cartório – matrícula do imóvel (Formal de Partilha, certidão de inteiro teor ou outro título de propriedade); b. Contrato particular de promessa de compra e venda, em que haja cláusula que preveja a transmissão da posse; c. Inscrição Estadual; d. CCIR – Incra; e. ITR’s pagos – Receita Federal; f. CAR e SIGEF, ambos registrados; g. CERTIDÃO POLICIAL – Boletim de Ocorrência; h. Comprovantes de gastos no imóvel rural, em nome do possuidor/proprietário (Recibos, Notas Fiscais de compra e venda de insumos e/ou animais, etc.); i. Comprovantes de vínculos trabalhistas e recolhimento de encargos; j. Fotografias, prints de tela, áudios, gravações, e-mails; k. Comprovante de pagamento da contribuição da CNA; l. Testemunhas/Declarações; m. Contas de energia e água; n. Demais documentos que julgar importante. DICA: esses documentos não devem ser arquivados somente no imóvel rural, pois em caso de invasão os mesmos poderão ficar em poder dos invasores, o que dificultará a comprovação da posse. 4. DAS MEDIDAS PREVENTIVAS A SEREM TOMADAS ANTES DA OCORRÊNCIA DE INVASÕES: a. Ter em mãos os contatos de emergência e da polícia rural da região ou da unidade mais próxima. b. Avisar ao respectivo Sindicado Rural do Município e à Federação de Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins - FAET possível aglomeração incomum (acampamentos, movimentações de veículos e pessoas com adornos do grupo invasor) perto de rodovias e das propriedades rurais. c. Manter contato constante com os meios de comunicações das polícias rurais e com os vizinhos (telefone, whatsapp, rádio) para uma ação rápida e tempestiva. d. Manter atualizado o inventário de todos os bens, móveis e semoventes, benfeitorias, avaliação do imóvel (se possível com ART ou reduzido a termo em cartório, para que seja tornado público), relação dos animais atualizada junto ao ADAPEC, SEFAZ, Imposto de Renda (com respectivos valores), pois em caso de invasão com depredação e destruição de coisas, o produtor rural poderá buscar as devidas reparações por perdas e danos. e. Manter contas de prestação de serviços públicos em nome do possuidor (fornecimento de água ou energia), fotos ou mesmo documentos legais, como um contrato particular de promessa de compra e venda, em que haja cláusula que preveja a transmissão da posse. f. Manter o contato atualizado de testemunhas, que tenham condições de indicar o possuidor/proprietário do imóvel invadido. g. Possuir o contato atualizado de advogado de sua confiança para prestar assessoramento e propor as medidas jurídicas necessárias. h. Manter contato frequente com produtores rurais da região e o Sindicato local. 5. DAS MEDIDAS A SEREM TOMADAS NA IMINÊNCIA OU OCORRÊNCIA DE INVASÕES: Caro produtor, caso identifique a possibilidade de ameaça ao seu direito de posse, imediatamente, se dirija ou entre em contato com a polícia local para registro da OCORRÊNCIA. Em seguida, COMUNIQUE o fato ao Sindicato Rural local e à FAET, para acompanhamento e orientações. Na oportunidade, contate um advogado de sua confiança para promover a pertinente medida judicial. RESUMO: a. Ligar imediatamente no 190 e informar o crime; b. Registrar o boletim de ocorrência na polícia local; c. Indicar, com máxima precisão, a possível data da invasão (dia e hora) e, sempre que possível, registrar o ocorrido por fotos e vídeos; d. Encaminhar fotografias, vídeos e rol de testemunhas, se possível; e. Informar e identificar, sempre possível, o quantitativo de invasores, seus líderes, se estavam armados, se estavam de carro, moto, cavalo, se ameaçaram ou machucaram pessoas que estavam na fazenda invadida; f. Enumerar o que foi destruído, danificado ou abatido (em caso de animais); g. Caracterizar, se possível, o crime praticado (ameaça, esbulho possessório, invasão, lesão corporal, porte ilegal de arma de fogo etc.); h. Informar o Sindicado Rural local e/ou a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins – FAET sobre o ocorrido, para acompanhamento e orientações; i. Informar os produtores rurais da região sobre o ocorrido; j. Constituir advogado de sua confiança, apresentando-lhe a documentação que comprove a posse ou titularidade do imóvel rural invadido; k. Obtida decisão liminar e caso ocorra demora no seu cumprimento em razão da ausência de força policial para assegurar a diligência, informar a FAET para providências junto às autoridades públicas.